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Cultura

Cristianismo
O Cristianismo na história do Ocidente
(Aulas 12 e 13)

Édito de Milão (313) – Constantino


Um antes e
um depois

* O édito de Milão foi muito importante pois os Cristãos deixam de ser perseguidos. O
Cristianismo espalha-se bastante após este acontecimento. Há, posteriormente, um outro édito
em que o Império se torna oficialmente cristão.

“Os cristãos não se distinguem dos outros, nem pela região, nem pela língua, nem pelos
costumes. Não vivem em cidades à parte, não usam uma língua diferente dos outros, não têm
um estilo de vida extraordinário. A doutrina que propõem não é invenção de homens curiosos
(…) alguns moram em cidades gregas, outros em cidades bárbaras, conforme a sorte de cada
um; seguem os costumes locais quanto ao vestuário, à alimentação e a tudo o que se refere ao
estilo de vida, mas levam uma maneira de viver admirável e sem dúvida paradoxal. Moram na
própria pátria, mas como peregrinos. Enquanto cidadãos, de tudo participam, porém tudo
suportam como estrangeiros. Toda a terra estrangeira é pátria para eles, e toda a pátria é terra
estrangeira (…) Para simplificar, o que a alma é no corpo, os cristãos são no mundo. (in Carta a
Diogneto, 5 - Séc. II)

 O excerto da Carta a Diogneto explica o que são os cristãos. Clássico dos textos
cristãos onde se afirma que os cristãos vivem como as outras pessoas (podem ser de
todas as nacionalidades), adaptam-se aos costumes locais (vestem-se como as outras
pessoas), mas são também peregrinos (têm uma pátria celeste). Tensão entre pertencer ao
mundo celeste e viver no mundo terrestre.

Quando o Cristianismo passa a ser tolerado e, mais tarde, se torna a religião oficial do Império
Romano, o monaquismo (dos mosteiros) cresce muito e determina o desenvolvimento das
cidades e da cultura ocidental.

Origens do Monaquismo: “Os monges desempenharam um papel crucial no desenvolvimento


da civilização ocidental” (Woods, p. 31).

As primeiras formas de vida monástica surgem no Séc. III:

 Por esta altura havia mulheres que se consagravam individualmente a Deus como
virgens, dedicando-se a uma vida de oração e ascese e cuidando dos pobres e
doentes. Aqui tem origem a vida religiosa feminina.

Monges vão para o deserto – em tempo de perseguições e, também, em tempo de tolerância


(procurando fugir do mundo).

 Monarquismo Eremita:

• Monges sozinhos em silencio.

 Monarquismo Cenobita:

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• Monges em comunidade trabalhando e rezando em conjunto.

 Os primeiros monges eram mais eremitas, depois evoluíram para cenobitas, mas
também há mistura dos dois.

Filme: “ Um grande Silêncio”:

 Mostra a vida da Cartuxa. Segue a vida de um mosteiro em França da Ordem dos


Cartuxos, uma das Ordens mais austeras.

O nome maior do monaquismo Ocidental foi São Bento de Núrsia (480 – 547 d.C.).

Bento fundou doze pequenas comunidades de monges em Subiaco, a cerca de 60 km de


Roma.

Anos mais tarde fundou o Mosteiro de Montecassino, que é ainda habitado por monges.

Foi lá que compôs a famosa regra de S. Bento (por volta de 529), a qual, nos séculos
seguintes, seria adotada por quase todos os mosteiros da Europa (Woods, p. 33).

 Nome maior do monaquismo Ocidental foi São Bento de Núrsia. O adágio máximo
é: Ora et Labora (reza e trabalha). Filme que explica esta Ordem.

Quando os cristãos deixam de ser perseguidos, há uma proliferação de mosteiros de


eremitas e cenobitas. Começou por ser uma fuga dessa perseguição, mas depois
também há a necessidade de se retirarem para se sentirem fiéis ao Evangelho, a
questão da autenticidade.

S. Escolástica

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S. Bento de Mosteiro de Montecassino


Núrsia

Regra de S. Bento: Ora et Labora

 A regra de S. Bento proporciona um estilo de vida ao mesmo tempo disciplinado e


moderado, o que facilitou a sua difusão pela Europa.

 Contrariamente a outras regras, a regra de S. Bento considerava que mos monges


deviam alimentar-se e dormir bem. Claro que o regime era mais austero em tempos
penitenciais, em particular na quaresma.

 Os mosteiros beneditinos eram independentes uns dos outros, sendo cada um deles
presidido por um abade, que dirigia a vida do mosteiro. Os monges beneditinos têm
voto de estabilidade.

 O mosteiro não fazia distinção de pessoas em função da sua classe social.

O monarquismo:

 Ao longo da história sucederam-se várias reformas da Ordem de S. Bento. Duas da


mais importantes são:

• Reforma de Cluny: foi criada em 910, em França, na cidade de Cluny. A


reforma de Cluny promoveu uma liturgia muito elaborada e foi criticada pelos
exageros arquitetónicos e artísticos.

• Reforma de Cister: fundada por alguns monges que abandonaram a Ordem de


Cluny, a Ordem de Cister (“monges brancos”) foi oficialmente reconhecida em
1119. promove os ascetismo e o rigor litúrgico. Um dos seus mais ilustres
membros foi S. Bernardo do Claraval (1090-1153).

• Reforma trapista: em 1662, Armand-Jean Le Bouthillier de Rancé reformou a


ordem de Cister.

Contributos civilizacionais dos Mosteiros:

 Agricultura e pecuária: “Os monges beneditinos foram os agricultores da Europa; foram


eles que arrotearam os grandes terrenos de cultivo, associando a agricultura à
pregação” (Woods, p. 35). Os monges desenvolveram técnicas de cultivo e de
irrigação, e promoveram o melhoramento das raças de Gado. Os monges foram
também pioneiros na produção de vinho (ex. Champanhe D. Pérignon).

 Tecnologia: Os monges foram grandes arquitetos da tecnologia medieval e eram


conhecidos pelas suas competências metalúrgicas. Foram também os monges a
construir os primeiros protótipos de máquinas voadoras. Os relógios mais antigos que
conhecemos foram inventados por eles.

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 Obras de caridade: Um dos aspetos mais importantes da espiritualidade monacal é a
hospitalidade. Os mosteiros funcionavam como estalagens gratuitas, proporcionando
locais de repouso tranquilos e seguros para os pobres. As portas estavam sempre
abertas para quem por lá passasse.

 O trabalho intelectual: Um dos contributos mais importantes dos mosteiros foi, além da
produção de obras originais, a preservação de grandes obras da Antiguidade clássica
(Platão, Aristóteles, Cícero, Lucano, Plínio, Estácio, Horácio, os Padres da Igreja, etc.).
Os monges copistas tiveram também um papel fundamental na preservação da bíblia,
da qual fizeram inúmeras cópias, muitas vezes adornadas com belíssimas iluminuras.
Aos mosteiros estavam geralmente associadas escolas. (Woods, pp. 46-52)

 Mosteiro de Alcobaça (construção iniciada em 1178 pelos monges de Cister)  já não


está ativo, mas albergou centenas de monges.

• Igreja do Mosteiro de Alcobaça.

 Aspeto dos claustros do Mosteiro dos Jerónimos,


Lisboa (fundado em 1946 por D. Manuel I e
entregue aos Monges da Ordem de S. Jerónimo)
 São Jerónimo traduziu para o Latim a Bíblia.

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A Universidade
Como é que avaliam a vossa experiência na universidade? Se pudessem, o que mudariam?

Sabe que as universidades surgiram na Idade Média, numa sociedade cuja mundo-vivência era a cristã?

Universidade de Oxford
A Igreja e a Universidade
“É à Idade Média que devemos um dos mais relevantes contributos intelectuais que a
civilização ocidental deu ao mundo, e que é um contributo realmente único: o sistema
universitário” (Woods, p. 53).

“A instituição que hoje conhecemos, com as suas faculdades, os cursos, os exames e os graus
conferidos, bem como a distinção entre os níveis de graduação e pós-graduação, provém
diretamente do mundo medieval” (p. 53).

 As mais antigas universidades da Europa surgiram no séc. XII, a partir de escolas


das catedrais.

 Nas universidades, o método de ensino baseava-se num conjunto de livros (por


exemplo o Livro das Sentenças, de Pedro Lombardo ) que os professores comentavam
(Woods, p. 53).

 O papado teve um importante papel na criação e defesa das universidades, em


particular da sua autonomia. A concessão do alvará pontifício é um sinal deste papel.
Segundo o ponto de vista corrente, a universidade não podia conceder títulos sem a
autorização do papa, do rei ou do imperador.

 Dado que os estudantes não eram bem vindos em muitas das cidades onde
surgiram as universidades, a Igreja protegia os estudantes dando-lhes o estatuto de
clérigos (Woods, p. 56).

Estudos que se faziam nas universidades:

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 O trivium e o quadrivium.

Graus Académicos:

A era da
7 artes liberais Cursos
o Trivium: retórica, lógica ou Filosofia Natural;
dialética e gramática. Direito canónico e civil;
o Quadrivium: música, aritmética, Medicina;
geometria e Teologia.
astronomia.

Escolástica:

“A um certo nível, a Escolástica descrevia o trabalho escolar


levado a cabo nas escolas — ou seja, nas universidades da
Europa. O termo também pode designar o conteúdo do
pensamento dos intelectuais que refere, mas é mais eficaz
como designação do método por eles usado. De uma forma geral,
os escolásticos empenhavam-se no uso da razão, como
ferramenta indispensável aos estudos filosóficos e teológicos,
bem como na dialética, ou seja, na justaposição de posições
contrárias, seguida por uma resolução do assunto em causa,
através do recurso, quer à razão, quer à autoridade; a
dialética era o método mais adequado à resolução de
questões de interesse intelectual” (Woods, p. 65).

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À medida que esta tradição ia amadurecendo, foi-se tornando habitual os tratados escolásticos
seguirem um modelo fixo, constituído pelos seguintes passos: apresentação da questão;
consideração dos argumentos contra e dos argumentos a favor; formulação da opinião do
autor; resposta às objeções” (Woods, p. 65).

 Para Thomas Woods a Escolástica descrevia o trabalho escolar levado a cabo nas
escolas, nas universidades Europeias. Também tem a ver com o método: a razão, a
dialética (justaposição de posições contrárias), e à autoridade (Igreja e as escrituras, e
pessoas importantes como os filósofos antigos). Havia debates.

 Escolástica enquanto método: apresentação da questão, consideração dos argumentos


contra e dos argumentos a favor, formulação da opinião do autor, resposta às
objeções. São Tomás de Aquino na sua Suma Teológica usa este método. Suma:
Síntese de todas as opiniões que existem.

 Figuras importantes da Escolástica:

• Sto. Anselmo (1033-1109) – Conhecido por propor o argumento ontológico


para a existência de Deus: «aquilo maior do que o qual nada pode ser
pensado».

• Pedro Abelardo (1079-1142) – Autor de Sim e Não.

• Pedro Lombardo (1100-1160) – Autor das Sentenças.

• S. Tomás de Aquino (1225-1274) – Autor da Summa Theologiae  O seu


mestre foi o primeiro a traduzir Aristóteles do grego para latim. Portanto,
Aquino segue os ensinamentos de Aristóteles. Segue o método Escolástico –
antes de dar a minha opinião, procuro dizer o que os outros têm a dizer sobre
essa questão.

Método das disputationes ou disputatio (debate):

 Lançar uma questão.

 Estabelecer possíveis respostas.

 Discutir.

 Procurar uma conclusão.

• Haveria um debate, disputas intelectuais sobre determinado assunto, uma


dialética, para procurar uma conclusão.

A Igreja e a Ciência
Por que a ciência nasceu num ambiente cristão?

“Terá sido apenas por coincidência que a ciência moderna se desenvolveu num ambiente
essencialmente católico, ou terá sido a natureza do próprio catolicismo que permitiu que a
ciência se desenvolvesse? Só pelo facto de levantarmos esta questão, já estamos a transgredir
os limites da opinião corrente” (Woods, p. 75).

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 A opção pelo Logos (Razão) foi tomada pelos Cristãos no início, contra o misticismo
das práticas religiosas da altura. O universo tem uma ordem e nós podemos
compreender a razão do mundo.

A Igreja é hostil à ciência?

O caso Galileu:

“A versão parcial do caso Galileu que a maior parte das pessoas conhece é, em grande
medida, a responsável pela convicção generalizada de que a Igreja impediu o progresso da
investigação científica. No entanto, e mesmo que o caso Galileu se tivesse passado
exatamente como as pessoas julgam que se passou, dizia o cardeal John Henry Newman — o
famoso anglicano do século XIX que se converteu ao catolicismo —, chama a atenção o facto
de se tratar praticamente do único exemplo que é recorrentemente referido” (Woods, p. 75).

 Controvérsia. Justus Sustermans,


Galileu Galilei (1636)

(Aulas 14 e 15)

Relação entre Ciência e Religião


Relação entre ciência e religião: Conflito, independência, diálogo e integração. Para entrar em
diálogo, tenho que entrar na casa do outro. Quando não há abertura, não há diálogo.

Caso Galileu: marcou a mudança de cosmovisão (perspetiva sobre o cosmos). A Igreja de


então tinha na sua missão também a definição da cosmovisão, tinha poder institucional para
tal. Galileu estava ligado ao poder, tinha acesso a financiamento para fazer as suas
investigações. Galileu dá os primeiros passos na metodologia científica: não depende de
dogmas apriorísticos, mas entrega-se antes à observação e experimentação, e suporte
matemático do que se observa. Paralelamente ao desenvolvimento tecnológico com a luneta,
que lhe permite observar as sombras da Lua, Galileu começa a
traçar as leis das Física (as leis da Terra são iguais às leis do
Espaço, que viriam a ser consolidadas com Newton).

Relação entre religião e ciência pautada por problemas: na


religião Cristã, o problema do poder sempre foi muito central. A
Igreja Católica é fundada na figura de Jesus Cristo que é
despoderoso. A instituição acaba por esquecer essa figura de
despoder. Outro problema é a literalidade bíblica, que seria
mais fechada à alteração da cosmovisão.

É errado ligar a Igreja a uma anti-ciência, pois muitos dos


desenvolvimentos advêm de pessoas religiosas. Galileu acaba
por ir mais longe com as suas observações suportadas por uma
metodologia científica.

Há algumas posições em relação à ciência que são de evitar: cientificismo – fundamentalismo


em relação à ciência (a ciência é a única linguagem e metodologia de conhecer o mundo). Há
também posições em relação à história que devemos evitar:

 Sincronismo – olhar os acontecimentos de ontem com os olhos de hoje. Atitude


histórica leva-nos a tentar fazer uma imersão histórica nos acontecimentos, sem fazer
esse sincronismo. Tem que haver uma imersão no contexto.

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 Extrapolação – outra atitude a evitar na exploração histórica.

Antes do Galileu, e do Copérnico, a posição dominante era o geocentrismo – a Terra está no


centro, e os planetas giram à volta da Terra. Ptolomeu que nasceu no ano 90 depois de Cristo
foi o primeiro a falar deste modelo que explica como os planetas se moviam.

Modelo ptolemaico: já é uma cosmovisão que vem dos gregos, de Ptolomeu que já tinha feito
algumas hipóteses de que a Terra estava no centro do universo. Só que os gregos baseavam
as suas suposições no senso comum. Geocentrismo – Ptolomeu (90-168)

Galileu não foi para a fogueira, pois admitiu as fragilidades da sua teoria. Diz-se que ele disse
no fim “Nego, mas acredito que a Terra se move”.
Quando se fala em heliocentrismo, é a Galileu que se
atribui o suporte para a ideia de que a Terra não é o
centro do mundo, mas sim o Sol no nosso sistema solar.
Nicolau Copérnico foi o primeiro a apresentar um modelo
de um sistema heliocêntrico, mas foi Galileu quem
sustentou o modelo com observações científicas.

Nicolau Copérnico (1473-1543) era do clérigo, e foi o


primeiro a falar do modelo heliocêntrico. Matemático que
descobriu que fazia mais sentido colocar o Sol no centro
do sistema, mas estabeleceu apenas uma hipótese.

Nicolau Copérnico (1473-1543) – modelo heliocêntrico

Galileu confirmou a hipótese pela observação empírica. Galileu opera, então, uma mudança de
paradigma, de cosmovisão: eu vou observar o que realmente é. Verificou que Aristóteles dizia
coisas erradas, como o argumento de que as coisas não se estão a mover, e que, portanto, a

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Terra está parada. Galileu inventou / produziu a LUNETA – precursor do telescópio, que
permitiu ver que a Lua tinha crateras e montanhas, que não era um astro perfeito como dizia
Aristóteles.

 O sistema coperniciano não foi sujeito a qualquer censura formal pela Igreja até surgir
o caso Galileu.

 No final de 1610, o padre Cristovão Clavius escrevia a Galileu, informando-o de que os

seus colegas astrónomos jesuítas confirmavam as descobertas que ele tinha feito
através do telescópio.

 Em 1616, as autoridades da Igreja ordenaram-lhe que deixasse de apresentar a teoria


coperniciana como se fosse uma teoria verdadeira, embora continuasse a ter a
liberdade de a apresentar como uma hipótese. Galileu é condenado, e nega então a
teoria.

 Frase atribuída a Galileu: a Bíblia diz-nos como se vai para o Céu, não como é o céu.
São perguntas diferentes.

Revolução Coperniciana

 Mudança de Cosmovisão

 Com a Teoria da Evolução de Charles Darwin (A Origem das Espécies, 1859) acontece
o mesmo mais tarde.

 A noção de “Seleção natural” muda a cosmovisão:

• Como pode o ser humano considerar-se o centro da criação?  Pode ser


considerado um aprofundamento da religião Cristã, e não um conflito com.

 A figura de Teilhard de Chardin.

Teilhard de Chardin (1881-1955):

* Cosmogénese – surgimento do Universo.

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Biogénese – surgimento da vida.

Psicogénese – emergência da consciência de si mesmo.

<Há uma aglomeração de entes distintos que se juntam para dar origem a um outro (células
que dão origem a um ser vivo). O Amor (comunhão entre pessoas) pode ser escolhido para dar
sentido à vida, e ao próprio Universo, através do princípio da socialização e da personalização.

Bispo Robert Barron sobre Cientismo e Existência de Deus:

 https://www.youtube.com/watch?v=3ZkHv8iTJPo&t=107s

Concílio Vaticano II (1962-1965)

Vídeo: Papa João XXIII foi o papa que convocou o Concílio Vaticano II. Aparece também no
vídeo o Papa Paulo VI. Ocorre na Basílica de São Pedro em Roma.

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Dados gerais sobre o CV II:

 Um concílio ecuménico é uma reunião formal de todos os bispos da Igreja Universal.


Segundo a Igreja Católica, foram realizados 21 Concílios Ecuménicos. Desde a
separação da Igreja, houve 7 concílios.

 Os últimos dois concílios tinham sido o Concílio de Trento (1545-1563) e o Concílio


Vaticano I (1869-1870), que foi interrompido pela invasão dos Estados Pontifícios. No
concílio de Trento, foi o contexto da Reforma da Igreja – diferente da reforma de
Lutero.

 O papado de Pio XII (1939-1958) tinha sido longo e influente. Havia a ideia de que a
Igreja nunca mais precisaria realizar um concílio. Um bom Papa poderia cuidar de
todos os assuntos da Igreja. A sociedade estava a mudar muito rapidamente.

 O Papa João XXIII convoca o CV II em 1959 aos cardeiais e solenemente em 1962.


Este Concílio tem três palavras/princípios fundamentais (três expressões chave que
ajudam a perceber a agenda do CV II):

• Ressourcement – renovação, regresso às fontes, às origens.

• Aggionamento – adaptação da linguagem à contemporaneidade. Relação da


Igreja com as rádios, televisões, etc.

• Development – desenvolvimento da tradição da Igreja.

No exercício cotidiano do nosso ministério pastoral ferem nossos ouvidos sugestões de almas,
ardorosas sem dúvida no zelo, mas não dotadas de grande sentido de discrição e moderação.
Nos tempos atuais, elas não veem senão prevaricações e ruínas; vão repetindo que a nossa
época, em comparação com as passadas, foi piorando; e portam-se como quem nada
aprendeu da história, que é também mestra da vida, e como se no tempo dos Concílios
Ecumênicos precedentes tudo fosse triunfo completo da ideia e da vida cristã, e da justa
liberdade religiosa. Mas parece-nos que devemos discordar desses profetas da desventura,
que anunciam acontecimentos sempre infaustos, como se estivesse iminente o fim do mundo.
(Papa João XXIII, Discurso de Abertura, n. 1)

A Igreja sempre se opôs a estes erros; muitas vezes até os condenou com a maior severidade.
Agora, porém, a esposa de Cristo prefere usar mais o remédio da misericórdia do que o da
severidade. Julga satisfazer melhor às necessidades de hoje mostrando a validez da sua
doutrina do que renovando condenações.
(Papa João XXIII, Discurso de Abertura, n. 2)

Algumas ideias fundamentais do Concílio:

 Participação plena, consciente e ativa na liturgia (Sacrosanctum concilium, n. 14).

 Abordagem personalista e trinitária da revelação divina; valorização do papel da


Sagrada Escritura (Dei verbum).

 Uma eclesiologia renovada: Igreja como sacramento e Igreja como Povo de Deus;
revalorização da pneumatologia; sacerdócio comum e sacerdócio ministerial (Lumen
gentium).

 Vocação universal à santidade: todos os batizados são chamados à santidade.

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 Valorização do papel dos leigos, cuja missão é ser presença da Igreja no mundo
(Gaudium et spes, n. 43).

 Valorização da colegialidade na Igreja, sobretudo entre os bispos (Lumen gentium 23).

 Direito à liberdade religiosa (Dignitatis humanae).

 Diálogo ecuménico: procurar a comunhão com os outros cristãos (Unitatis


redintegratio).

 Diálogo inter-religioso: compromisso da Igreja de entrar em diálogo com os membros


de outras tradições religiosas (Unitatis redintegratio, n. 3), especialmente o diálogo,
oração e cooperação pelo bem comum com os crentes das religiões abraâmicas.

Relação entre Ciência e Religião


Vídeo de Galileu Galilei e Dimitri Mendeliev  um e o outro, em física e em química, foram
pedras-chave na organização científica do mundo. Galileu foi o primeiro a ver o céu com o
telescópio, com uma tecnologia científica. Viu as luas de Saturno. Viu fenómenos semelhantes
aos terrenos.

Dimitri Mendeliev – pedra fundamental na construção da tabela periódica. Conseguiu organizar


cerca de 70 elementos diferentes, com contributos de outros colegas. Há um certo paralelismo
entre olhar o macro (Galileu) e olhar o microscópio. A reter que a tabela continua em aberto,
não está finalizada, continuam a descobrir-se novos elementos.

Há uma cosmovisão, uma visão do mundo moderno que nasce com Galileu. Depois o vídeo
salienta uma questão epistemológica importante: Ciência é uma empreitada em continuidade,
ou melhor dizendo, as verdades científicas são provisórias.

Há um certo conflito entre religião e ciência, e uma dessas barreiras prende-se com o
literalismo bíblico. É a atitude de ler os livros sagrados como literais. Posição de literalidade
bíblica é incompatível com a ciência.

Equívoco religioso: Deus não é convocável para explicar o mundo, mas para dar um significado
ao mundo. A ciência responde a perguntas do tipo: how? Como é que o mundo se organiza,
etc. A religião dá subsídios sobre perguntas do tipo: why? Finalidades, sentidos. Estas

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abordagens têm metodologias diferentes, e portanto, ambas devem estar cientes das suas
limitações.

Na tentativa de clarificar essa complexa relação entre ciência e religião, o físico americano
Barbour propôs, nos finais do século XX, quatro dimensões: 1) conflito; 2) independência (não
têm nada a ver uma com a outra); 3) diálogo; 4) integração (possibilidade de interlaçar algumas
coisas que têm a ver com a ciência e com a religião. Pode ser mal-usada, ex. da teoria do
inteligent design – argumentos de natureza científica para explicar questões religiosas). Pode
ser chamada de complementaridade.

Radical materialista: acha que somos só átomos e moléculas. Posição metafísica ela própria, é
um ato de fé (a ciência proíbe aprioris desse género).

Realista crítico: somos átomos e moléculas, mas há algo mais.

Galileu: “O espírito Santo diz-nos como podemos ir para o céu, mas não como é o céu” (how).

https://pontosj.pt/opiniao/ciencia-e-religiao-conflito-independencia-dialogo-e-integracao/

Que desafios coloca à Fé Cristão?

Retomando ideias da aula anterior, é preciso deixar à ciência a explicação do mundo, e deixar
à religião as perguntas do sentido da vida, da compreensão, que ainda se mantêm atualmente,
ou se agudizam. Há nas posições religiosas uma resistência a esta separação. “Isto é um
milagre porque não se explica”. Um milagre tem a ver com o valor simbólico com uma
experiência sensível e única, e não tem nada a ver com explicações. Os contributos do tipo
explicativo devem vir unicamente da Ciência.

Como são os Cristãos afetados por esta cosmovisão? Quando a Terra e o Homem saem do
centro do sistema, passa a ser Deus no centro, mas a visão de Pierre Teilhard de Chardin é de
que Deus está em todo o lado, é transcendente. Panteísmo – ideia de Deus se funde com a
materialidade do Cosmos, que se liga bem com as religiões orientais. Chardain diz que tem
uma posição panenteísta, que é a ideia de que Deus transcende o mundo, mas o contém.

Para o Professor, o limite da relação de diálogo seria abalado se a cultura beliscasse o


verdadeiro dogma da Fé Cristã, de que “Deus é amor”. Qualquer visão que não suporte esta
ideia de que Deus é amor, é um limite a essa relação.

A ciência caracteriza-se por uma certa ausência de dogmas, por uma abertura ao que a
observação traga, mas há sempre crenças de partida (por ex., de que a realidade existe). Um
dos ataques ao fenómeno religioso e à Igreja Cristã é estar muito fechada nos seus dogmas,
mas estes têm natureza diferente. O dogma primário para o Professor João Paiva é a
afirmação de que Deus é amor. É uma estrutura mínima que permite uma abertura à novidade,
segundo o Professor.

Dogmas é um conteúdo de fé, e por isso, está ligado a uma atitude dogmática. Quando
dizemos que Jesus é verdadeiro Homem e verdadeiro Deus, são dogmas. É preciso ter fé.

Galileu, apesar do seu julgamento, era um homem de Fé, é considerado o pai de uma certa
teologia contemporânea, porque sabe separar as águas das perguntas. Daí a frase atribuída a
Galileu: “O Espírito Santo nos ensina a ir para o Céu, mas não como é o Céu”. É a importância
da separação das perguntas. Não nos diz como é o céu, no sentido de como são as coisas, na
sua componente material. Ciência é uma empresa que observa, mede, “logifica”, estabelece
em leis, tem capacidade preditiva, e pode levar à melhoria das condições de vida da
Humanidade. Com Galileu começa um possível relacionamento entre a colocação religiosa e a
científica. A visão de que é ciência ou religião (“science or religion”) é algo simplista, pois muita

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da atividade científica é praticada por pessoas crentes, religiosas, por isso, é possível esse
convívio, essa complementaridade.
(Aula 15)

Diálogo ecuménico e inter-religioso


Encontros de Assis (desde 1986)

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