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Jacques Berlioz
Monges e Religiosos
na Idade Média
Terramar
liste livro resulta de uma recolha de artigos inicialmente publicados
pela revista L'Histoire e posteriormente editados, sob a forma de
livro, pelas Éditions du Seuil. A apresentação de Jacques Berlioz
foi expressamente escrita para este livro.
FICHA TÉCNICA
Um êxito progressivo
por outro lado, uma diversidade real. Esta conjunção rara deve-se
ao génio do seu autor que, ao definir a vida monástica como
uma progressão para a união com Deus, se preocupou menos
em estabelecer um código jurídico do que em traçar um itinerário
espiritual, deixando assim a cada comunidade e a cada indivíduo
uma margem considerável de interpretação e de liberdade.
Notas
1
J. Dubois, Les Ordres Monastiques, Paris, PUF, 1985, e id., Sous
la Règle de Saint Benoit, Genebra, Droz, 1982.
2
A. de Vogüé, La Commimauté et 1'Abbé selon la Règle de Saint
Benoit, Paris, Desclée de Brouwer, 1961, p. 17.
3
Segundo a feliz expressão do historiador italiano G. Arnaldi, no
seu estudo "S. Benedetto guadagnato alia storia (in margine a una nuo-
va edizione delia regola)", publicado em La Cultura, 12, 1974, pp.
80-99.
4
Gregório Magno, Diálogos, II, 36: "Ele escreveu uma regra para
os monges, notável pela sua discrição e pela precisão do estilo."
5
Sobre os Padres do deserto e a sua concepção do monaquismo, ver
J.-C. Guy. Paroles des Anciens. Apophtègmes des Pères du Désert,
Paris, Éd. du Seuil, 1976, 186 pp.
6
A. de Vogüé, La Règle de Saint Benoit, t.l, Introdução, Paris, Le
Cerf, 1964, p.530.
7
RB, 48,5.
8
RB, 64, 1.
Orientação bibliográfica
1. Textos e documentos:
3. História do monaquismo:
A alma fendida
Notas
1
Baudri de Bourgueil, "Vita B. Roberti de Arbrissello", em Patrolo-
gie latine, t. 162. col.1043-1058. Não existe tradução em língua fran-
cesa desta Vida latina sobre a qual se apoia a primeira parte deste estudo.
2
Georges Duby, Le Chavalier, la Femme et le Prêtre, Paris, Hachette,
1981. Aí se encontrará o relato pormenorizado dos casamentos referidos
do rei Filipe I.
3
Marbode de Rennes, Epistola 6 em Patrologie Latine, t. 171, col.
1480-1492.
4
Dominique Iogna-Prat, "La femme dans la perspective péniten-
cielle des ermites du Bas-Maine", em Revue d'Histoire de la Spiritua-
lité, t. 53, 1977, pp. 47-64.
5
Geoffroy de Vendóme, Epístola 47 do livro IV, em Patrologie Lati-
ne, t. 157, col. 181-184.
6
"Vita altera B. Roberti de Arbrissello", em Patrologie Latine, t.
162, col. 1058-1078.
7
Este texto é reeditado por J. Dalarun em L 'Impossible Sainteté. La
Vie Retrouvée de Robert d'Arbrissel, Paris, Le Cerf, "Cerf Histoire",
1985, p.349.
8
Jules Michelet, Le Moyen Age, em Oeuvres Completes, Paris,
Flammarion, t. 4, 1974, pp. 459-460.
9
Texto editado por Jacques Dalarun em L'Impossible Sainteté (...),
pp. 207-298.
10
Sobre as ramificações deste tabu, ver J. Dalarun, "Eve, Marie ou
Madeleine: la dignité du corps féminin dans l'hagiographie médié-
vale", em Médiévales, n.° 8,1985, pp. 18-32.
" Ver L 'Impossible Sainteté (...).
Orientação bibliográfica
Notas
1
André Malraux, Les Chênes qu'on abat (...), Paris, Gallimard,
1971, p. 81; e cf. J. Berlioz, "De Gaulleet saint Bernard. Larencontre
de deux géants", em Cité, n.° 25, 1991, pp. 47-50.
2
Cf. Arsênio Frugoni, Arnaud de Brescia dans les Sources du XIle
Siècle, trad. francesa. A Boureau, Paris, Les Belles Lettres, 1993.
3
Cf. Anselme Dimier, "Outrances et roueries de saint Bernard", em
P ierre Abélard-Pierre le Vénérable, Paris, CNRS, 1975, pp. 655-670.
4
Dom Jean Leclercq, Nouveau Visage de Bernard de Clairvaux.
Approches psycho-historiques, Paris, Le Cerf, "Essais", 1976, p.47.
5
Sermón 83 (trad. francesa R. Aigran, Paris, Flammarion, 1929, p.
286).
6
Cf. Jacques Verger e Jean Jolivet, Bernard-Abélard (...), Paris,
Fayard-Mame, 1982, p.133; Paul Rousset, "Recherches sur Pémotivité
S. BERNARDO, O SOLDADO DE DEUS 51
Orientação bibliográfica
O IX centenário (1990) do nascimento de S. Bernardo foi motivo
para a realização de numerosos colóquios, em França e no estrangeiro,
que permitiram avançar de novo com as pesquisas sobre o abade de
Claraval, caídas um pouco no esquecimento (aliás continua a não existir
nenhuma biografia crítica do santo).
Sobre S. Bernardo:
* J. Berlioz, Saint Bernard en Bourgogne. Lieux et mémoire, Dijon,
Le Bien Public, 1990.
* Bernard de Clairvaux. Histoire, mentalités, spiritualité. Colóquio
de Liâo-CTteaux, Dijon, Paris, "Sources Chrétiennes", 380, Le Cerf, 1992.
* M.-M. Davy, Bernard de Clairvaux, Paris, Éditions du Félin, 1990.
Trata-se da edição revista do prefácio de S. Bernardo, Oeuvres, Paris,
Aubier, 1945.
* Dom J. Leclerq, Bernard de Clairvaux, Paris, Desclée de Brou-
wer, 1989.
* L. Pressouyre e T.N. Kinder, s/d, Saint Bernard et le Monde Cister-
cien, Paris, Caisse Nationale des Monuments Historiques et des Sites/
56 MONGES E RELIGIOSOS NA IDADE MÉDIA
/Sand, 2.a ed., revista e corrigida, 1992. (1.a ed., 1990). Importante obra
realizada por ocasião da exposição "S. Bernardo e a ordem cisterciense"
na Conciergerie de Paris (Dezembro 1990-Fevereiro 1991).
* L. Pressouyre,Le Rêve Cistercien, Paris, Gallimard, "Découvertes",
n.°95, 1990.
* E. Vacandard, Vie de Saint Bernard, Abbé de Clairvaux, 2 vols .,
4.a ed., Paris, 1910.
* J. Verger e J. Jolivet, Bernard-Abélard ou le Cloitre et 1'école,
Paris, Fayard-Mame, 1982.
Obras de S. Bernardo:
A formação escolar
A impossível tebaida
Artesão de paz
Notas
Orientação bibliográfica
a dormir com eles, a ficar a pão e água três vezes por semana, a
receber a sua flagelação ao domingo, na igreja, pelas mãos do
sacerdote.
A aplicação do voto de castidade provoca prescrições cheias
de desconfiança. As mulheres não são admitidas de pleno direi-
to na ordem, "pois sucede muitas vezes que a valentia masculi-
na fica enfraquecida pelo convívio com as mulheres". Todavia,
é possível recebê-las a título de meias-irmãs por "diversos cui-
dados prestados aos doentes e ao gado serem mais bem
assegurados pelas mulheres do que pelos homens". Mas devem
alojar-se num edifício separado, pois, em caso de coabitação,
"a castidade poderia eventualmente ser preservada, mas isso não
é seguro e, com o tempo, existe o risco de tal não terminar sem
escândalo". Os irmãos são aliás convidados a abster-se de falar
às mulheres, sobretudo às jovens, mesmo que sejam as irmãs ou
a mãe, pois isso é um sinal evidente de amor profano. Reco-
menda-se-lhes que não frequentem as cerimónias de casamen-
to, os torneios, os espectáculos, a não ser para desagravo ou
para conquistar almas. Finalmente, uma notação bizarra nos "cos-
tumes" da ordem enumera, "segundo os doutores de Paris e os
astrólogos", os trinta e dois dias nefastos do ano, de um a seis
segundo o mês, durante os quais se não deve empreender coisa
nenhuma: o ferido morreria, o recém-nascido não viveria por
muito tempo, o casamento malograr-se-ia.
A obra realizada pelos Teutónicos na Prússia durante dois
séculos foi considerável em todos os domínios. A actividade
primordial foi evidentemente a construção de castelos, primei-
ro em terra batida, protegidos por paliçadas e ramaria, depois
substituídos por um edifício de tijolos, uma vez que a pedra
escasseava na planície do Norte. O castelo teutónico era em
suma um mosteiro fortificado. Em volta de um pátio central
quadrado elevavam-se os edifícios de habitação, com as vastas
salas abobadadas do cabido, dos refeitórios e dos dormitórios.
A igreja, por vezes situada no primeiro andar, era encimada por
um campanário quadrado que fazia também as vezes de torre de
OS CAVALEIROS TEUTÓNICOS 89
Comércio e cultura
Orientação bibliográfica
* Não existe um estudo global em francês sobre o assunto desde a
Histoire de l'Ordre Teutonique par un Chevalier de 1'Ordre, por
Wilhelm von Wal (um alemão), 3 vols., Paris e Reims, 1784.
OS CAVALEIROS TEUTÓNICOS 95
****
A PAISAGEM ARQUITECTÓNICA DO ANO MIL 101
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Igreja
da Trindade
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A PAISAGEM ARQUITECTÓNICA DO ANO MIL
Nota
1
R. Fossier, Enfance de l'Europe, Xe-XIle Siècle, t. 1, "Nouvelle
Clio", 17, PUF, 1982, p. 288.
Orientação bibliográfica
Gerona
Montserrat
MLDMRRÂNEO
Poüfei iSSiííISsl
FRANÇA
, Corunha
^ Mosteiros béneditin
MADRID
jfc Mosteiros cistercier
ESPANHA
¿> Colegiadas
^ Cartuxas
^ Limite da Catalunha
Fronteira de Estado
I 'I
AS ABADIAS DA CATALUNHA
Povoamento e defesa
Notas
1
Sacerdote espanhol que, no decurso do primeiro terço do século
XIX, visitou as principais igrejas de Espanha e fez, em cartas dirigidas
ao seu irmão, a descrição simultaneamente precisa e crítica dos ar-
quivos, tesouros e bibliotecas.
2
No decurso destes dois séculos, os condados catalães libertam-se
progressivamente da dependência do reino franco. O advento de Hugo
Capeto marca o termo desta marcha para a soberania, ao mesmo tempo
que os condados até então independentes começavam a agrupar-se em
torno do conde de Barcelona.
3
Elogio fúnebre enrolado num rolo de madeira, enviado às abadias
com as quais o defunto se achava em comunidade de orações.
Orientação bibliográfica
do com extremo rigor, era de urna solidez tal que o braço sul do
transepto, única parte poupada pela destruição do século XIX,
se mantém ainda de pé sem se ter movido uma polegada, nove-
centos anos após a sua construção.
Dois outros traços de arquitectura impressionaram, de um
ponto de vista mais profano, os contemporâneos: a claridade e
o asseio. Os mosteiros cluniacenses abrem-se amplamente ao
ar e à luz. Encontram-se aí duas canalizações, uma para a água
limpa, a outra para as águas usadas. Foram instalados, com a
mesma preocupação de higiene, latrinas e banho de estufa. A
enfermaria dispõe de uma sala para a limpeza da louça, de uma
outra para a lavagem dos pés, de uma terceira para o arranjo dos
defuntos... Este humanismo de todos os dias equilibra o que a
liturgia podia ter de grandioso. Na sua Vita Odilonis, o
monge-poeta Jotsaud, ao descrever, por volta de 1050, as
construções de Cluníaco II, usa com efeito frequentemente as
palavras "glória", "ornamento", "nobreza", "decoração". Isso
mesmo se aplica ainda mais à nova abacial e ao seu claustro,
ampliado pelo abade Pons de Melgueil (1109-1123). As
indicações dos costumes indicam tudo o que, num dia de festa
se pode acrescentar ao esplendor da igreja e do seu mobiliário:
cortinados, tapetes, círios, candeeiros, relicários e outros objectos
de arte. Tudo era feito para elevar a alma e mantê-la num estado
de satisfação e de quietude propícia à meditação: Cluníaco
tornara-se o centro de uma vida monástica irradiante, que ia
modelar em profundidade a vida espiritual do século.
Em 910, a abadia contava apenas doze monges. São
quatrocentos e cinquenta em 1156, no fim do quarto grande
reinado abacial, o de Pedro, o Venerável: a progressão do efectivo
foi constante até meados do século XII. Esta comunidade impõe
asi mesma um fervor litúrgico sem igual, pois a mais alta função
de um monge beneditino consiste em glorificar Deus por meio
da oração. A regra de S. Bento3, elaborada pelo fundador da
ordem por volta do 535 no Monte Cassino, ordena-lhe ainda
que se entregue ao trabalho e à lectio divina. Esta leitura das
coisas divinas duravacercade quatro horas, seis horas eram consa-
136 MONGES E RELIGIOSOS NA IDADE MÉDIA
Orientação Bibliográfica
Sobre o monaquismo cluniacense:
* A.H. Bredero, Cluny et Citeaux au Xlle Siècle. L 'histoire d'une
controverse, Amesterdão-Lille, APA Holland University Press, dif.
Presses universitaires de Lille, 1985.
* G. Charvin, Alias des Monastères de 1'Ordre de Cluny au Moyen
Age, anexo aos estatutos, cabidos gerais e visitas da Ordem de Cluny
Paris, 1977.
* G. Duby, Adolescence de la Chrétienté Occidentale, Paris-Genebra,
Skira, 1966.
* J.-P. Migne, Patrologie Latine (sobre Odão, t. 133, Mayeul, t.
137, Odilon, t. 142, Hugues, t. 159, e Pedro, o Venerável, t. 189).
* M. Pacaut, L 'Ordre de Cluny, 909-1789, Paris, Fayard, 1986.
* J.-P. Torell, D. Bouthillier, Pierre le Vénérable, Abbé de Cluny.
Le courage et la mesure, Paris CLD, 1988.
* Le Gouvernement d'Hugo de Semur à Cluny. Actas do colóquio
científico internacional, Cluny, Setembro 1988.
* D. Jogna-Prat, B. Rosenwein, X. Barral i Altet, G. Barruol, Saint
Maieiil, Cluny et la Provence, expansión d'une abbaye à 1'aube du
Moyen Age, "Les Alpes de Lumières", 115, Mane, 1994.
Sobre a arquitectura:
* K. Conant, Cluny, les Eglises et la Maison du Chef d'Ordre (The
Medieval Academy of America, n.° 77), Màcon, 170 pp. 121 pl. (276
fig.).
* C. Heitz, "'Réflexions sur 1'architecture clunisienne", em Revue
de 1'Art, n.° 15, 1972, pp. 81-94.
* F. Salet, "Cluny III", em Bulletin Monumental, t. 126 (1968), pp.
235-292.
* P. Piva, Da Cluny a Polirone, un recupero essenziale del româ-
nico europeo, San Benedetto Po, 1980.
Claraval (Clairvaux), de abadia a prisão
Jean-François Leroux-Dhuys
Notas
1
Sobre as polémicas e os "combates" de Bernardo de Claraval, cf.
L'Histoire, n.° 35, pp. 16-21, versados neste volume.
2
L'Apologie (Apologia) (redigida entre 1123 e 1127), de onde
provém este trecho, é uma crítica de tudo o que não é o monaquismo
tal como o concebe Bernardo, quer se trate do primeiro Cister, de Saint-
-Denis ou de Cluny. Cf. Léon Pressouyre, Le Rêve Cistercien, Paris,
Gallimard, 1990.
3
Cf. André Vernet, La Bibliothèque de Clairvaux du Xlle aa XVIlIe
Siècle, t.l, catalogues et répertoirs, Paris, CNRS, 1979.
CLARAVAL, DE ABADIA A PRISÃO 155
Orientação bibliográfica
Sobre Claraval:
* L 'Abbaye de Clairvaux, número especial de Vie en Champagne,
1986.
* Histoire de Clairvaux. Actas do colóquio de Bar-sur-Aube/Clair-
vaux, 22-23 Junho 1990, Bar-sur-Aube, Association Renaissance de
PAbbaye de Clairvaux, 1991.
Sobre as prisões no século XIX:
* J.-G. Petit, Ces Peines obscures. La prison pénale en
France, 1780-1875, Paris, Fayard, 1990.
L'histoire publicou:
* "Saint Bernard, un prédicateur irrésistible", por André
Vauchez, n.° 47, pp. 26-29.
* "Saint Bernard, le soldat de Dieu", por Jacques Berlioz,
n.° 135, pp. 16-21, publicado neste volume.
A razão dos gestos:
por que se reza de joelhos
Jacques Berlioz
Notas
1
Jean-Claude Schmitt, La Raison des Gestes dans 1'Occident
Médieval, Paris, Gallimard, "Bibliothèque des histoires", 1990. Cf.
também J. Berlioz, N. Bériou e J. Longuère, s/d, Prier au Moyen Age.
Pratiques e expériences (Ve-XVe siècles), Turnhout, Brepols, "Témoins
de, notre Histoire", 1991; M.G. Briscoe e B.H. Jaye, Artes Praedicandi,
Artes Orandi, Turnhout, Brepols, "Typologie des sources du Moyen
Age occidental, 61", 1992.
2
E. Benaud, art. "Génutlexions et métanies", em Dictionnaire de
Spiritualité, t. 6, Paris, Beauchesne, 1965, col. 219.
3
Henri Leclercq, art. "Génuflexion", em Dictionnaire d'Archéologie
Chrétienne et de Liturgie, t. 6/1, Paris, 1924, col. 1020-21.
4
Paul Saenger, "Manières de lire médiévales", em Histoire de I 'Edi-
tion Françoise. I, Le Livre conquérant. Du Moyen Age au milieu du
XVIlie siècle, Paris, Fayard-Promodis, 2.a ed., 1989, pp. 131-141.
5
Sobre a antropologia histórica do gesto, cf. Jean-Claude Schmitt.
"Gestes", Dictionnaire des Sciences Historiques, Paris, PUF, 1986,
pp. 300-305.
Guiberto de Nogent, o monge jornalista
Michel Parisse
Nota
1
GuibertdeNogent, Autobiographie. Introdução, edição e tradução
de Edmond-René Labande, Paris, Les Belles-Letres "Les Classiques
de 1'histoire de France au Moyen Age", 1981, 496 pp.
3. AS M U L H E R E S DE DEUS
Mulheres no deserto?
Pierre-Louis Gatier
Nota
Biografias
Léxico
ABBA (aba): pai, termo geral de respeito empregue em relação a
numerosos monges e que não significa forçosamente "superior de um
mosteiro".
182 MONGES E RELIGIOSOS NA IDADE MÉDIA
Orientação bibliográfica
Estudos:
P. Brown, La Société et le Sacré dans l 'Antiquité Tardive, Paris, Éd.
du Seuil, 1985 (recolha de artigos traduzidos).
P. Canivet, Le Monachisme Syrien selon Théodoret de Cyr, Paris,
Beauchesne, 1977.
D.J. Chitty, Et le Désert devint une Cité, Abadia de Bellefontaine,
1980 (tradução francesa).
A.-M. Vérilhac, éd., La Femme dans le Monde Méditérranéen, t. 1,
Antiquité, Lião, TMO, dif. De Boccard, 1985.
Textos:
R. Arnauld d'Andille, tradução (do século XVII) de Sofrónio, Vie
de Sainte Marie Egyptienne Pénitente, reed. Paris, J. Millón, 1985.
P. Canivet, tradução de Teodoreto de Ciro, Histoire des Moines de
Syrie, 2 ts., Paris, Le Cerf, 1977-1979.
A.-J. Festugière, Les Moines d'Orient (numerosos textos traduzi-
dos em francês), 4 ts. (7 vols.), Paris, Le Cerf, 1960-1965.
Romances:
A. France, Thais, Paris, 1890.
J. Lacarrière, Marie d'Égypte, Paris, Lattès, 1983.
As freiras
Michel Parisse
"Democratização "...
Orientação bibliográfica
a seu cargo, deve existir entre ela e ele acordo tácito sobre a
repartição das tarefas. E pois reunindo a documentação mais
vasta, mais variada, que se poderá apreender o nascimento e a
evolução desta forma de vida religiosa, a sua finalidade, a sua
organização, o seu lugar nas estruturas eclesiásticas e nas so-
ciedades que lhe permitiram desabrochar. Deste modo compreen-
deremos melhor por que razão a reclusão é, em larga medida,
uma especialidade feminina.
Despedir-se do mundo
O recluso surge na mesma época que o monge*. No final do
século III e início do século IV, no Egipto, muitos homens e
algumas mulheres seguiram o exemplo de Santo Antão
(aproximadamente 251-356). Aquele a quem chamaram o Pai
dos eremitas era originário de uma família abastada de Mênfis.
Aos vinte anos, ouviu o chamamento de Cristo (Mat. XIX, 21):
"Se queres ser perfeito (...), vende os teus bens e dá-os aos pobres
(...) depois vem e segue-me." Estes homens queriam estar sós
(em grego, monos, de que resultou a palavra monge em
português e, em francês, moine), com o Unico, romper com o
mundo (é o sentido da palavra anacorese*), instalar-se no de-
serto (eremos, "ermo", que deu o seu nome ao eremita), cons-
truir uma cabana ou encerrar-se numa gruta ou num sepulcro
não utilizado como fizeram os primeiros reclusos. A partir do
século IV, porém, é a vida em comunidade (o cenobitismo) que
leva a melhor. Os grandes fundadores, Pacómio, Basílio e em
breve Bento, o "Pai dos monges do Ocidente", não condena-
vam essas formas primitivas de recusa do mundo que haviam
sido o eremitismo* e a reclusão. Seria o mesmo que condenar o
próprio Santo Antão! Só para falar dela, uma vez que se tornou
"a" regra dos monges do Ocidente, a regra de S. Bento redigida
em meados do século VI, afirma mesmo que a solidão radical é
mais perfeita do que a vida em comunidade; mas é contudo mais
difícil, perigosa e inacessível aos que se iniciam. De facto, depois
204 MONGES E RELIGIOSOS NA IDADE MÉDIA
Léxico
Orientação bibliográfica
Notas
' Para citar apenas uma das últimas: Jean-Jacques Antier, Marthe
Robin. Le voyage immobiie, Paris, Perrin, 1991.
2
Rudolph M. Bell, L'Anorexie Sainte: jeüne et mysticisme du
Moyen Age à nos jours. Paris, PUF, 1994. Cf. também Ginette Raim-
bault e Caroline Éliacheff, Les Indomptabies. Figures de 1'anorexie,
Paris, O. Jacob, 1989.
3
A questão das "resistências" familiares às vocações religiosas
durante a Idade Média acaba de ser estudada por Alessandro Barbero,
I In santo in Famiglia. Vocazione religiosa e resísteme sbciali nell,
agiographia latina medievale, Turim, Rosenberg e Sellier, 1991.
4
Cf. Miri Rubin, Corpus Christi. The Eucharist in Late Medieval
('iilture, Cambridge University Press, 1991.
5
Algumas recebiam a comunhão das mãos de um anjo ou de uma
pomba, outras viam aparecer o menino Jesus na hóstia.
6
Caroline W. Bynum, Jeiines et Festins Sacres. Les femmes et la
nourriture dans la spiritualité médiévale, Paris, Le Cerf, 1994.
4. A ORDEM DOS IRMÃOS
PREGADORES E A
ORDEM DOS IRMÃOS
MENORES
As ordens mendicantes
Jacques Le Goff
Os pecados da cidade
Porquê esta atracção pelas cidades por parte das novas or-
dens? Na viragem do século XII para o século XIII, o grande
movimento de urbanização iniciado no século XI abarca, com
alguns desníveis, toda a Europa da cristandade latina: o norte de
França, a Flandres, a Renânia, o norte e o centro da Itália vão à
frente, mas da Escandinávia à Península Ibérica, da Inglaterra à
Polónia, um novo mundo urbano se afirma através dos novos
valores e dos comportamentos, do gosto pelas trocas, comerciais
ou intelectuais, do preço do trabalho, do tempo e do dinheiro
mais justamente calculado, da procura da segurança e do conforto
em novos códigos de habitação, de alimentação e de vestuário,
de novas formas de sociabilidade mais igualitárias, tais como a
corporação ou a confraria. A palavra que está na moda é univer-
sitas, que designa o conjunto dos cidadãos da cidade, dos homens
de um ofício e, nomeadamente, do novo ofício intelectual que
aparece nas escolas urbanas. Mas esses homens e essas mulheres
urbanizam-se sem se aperfeiçoarem. São entes duplamente
pecadores: aos pecados tradicionais do mundo rural e senhorial
donde vêm — orgulho e inveja — acrescentam-se os pecados
próprios da cidade — a cupidez (a avaritia, que destrona a su-
perbia da liderança dos sete pecados capitais) e as formas novas
da gula e da luxúria, neste universo de grande farra e de
prostituição. A cidade é pagã, há que convertê-la.
Pior ainda: a cidade é muitas vezes herética; a vaga das con-
testações heterodoxas, das quais as dos valdenses e dos cátaros
são as mais evidentes e as mais numerosas, ameaça o cristianis-
mo oficial. O clero secular, insuficiente em número, instrução e
bons costumes, o monaquismo dominado pelo desprezo pelo
mundo (contemptus mundi), a ideologia da solidão e a absorção
no contexto feudal são impotentes. A nova sociedade urbana
precisa de um apostolado novo. Esses novos apóstolos serão os
irmãos mendicantes. Mas antes de se instalarem nas cidades, as
novas ordens tiveram sérios problemas a resolver. Tendo be-
AS ORDENS MENDICANTES 229
As ordens mendicantes
Orientação bibliográfica
Obras em francês:
A. Vauchez, "Une campagne de pacification en Lombardie autour
de 1233. L'action politique des ordres mendiants d'aprés la réforme
AS ORDENS MENDICANTES 239
A mensagem espiritual
fazer ver para fazer crer. A inscrição na sua carne dos estigmas
da Paixão — as chagas das mãos, do pés e do lado — mostra
que esta maneira de viver a realidade do Evangelho se situa
muito para além do procedimento pedagógico ou do jogo.
De facto, foi primeiro na sua vida quotidiana que Francisco
se esforçou por imitar Cristo. Daí a importância, fundamental
aos seus olhos, da humildade e da pobreza. O próprio nome que
ele deu à sua ordem, os irmãos menores, atesta o apego que ele
sentia pela primeira destas virtudes. "Éramos simples e submis-
sos a todos" — diz ele no Testamento, ao evocar a época das
origens. E quando os seus companheiros lhe faziam queixas
por terem sido mal recebidos pelos sacerdotes e pelos bispos,
ele recomendava-lhes que não insistissem e se afastassem sem
recriminações ou sem fazer caso dos seus direitos. Quanto à po-
breza, sabemos que ela está no âmago da experiência francisca-
na. A entrada na ordem implicava aliás que se renunciasse a
todos os bens pessoais, que estes fossem distribuídos pelos po-
bres e que se ficasse apenas com uma túnica, umas ceroulas e
uma corda, uma vez que os irmãos menores, ao contrário dos
monges e dos outros religiosos, não deviam possuir nada, nem
de seu nem sequer em comum. Viver segundo o Evangelho era
recusar toda a segurança e entregar-se à providência no que se
referia à subsistência, ao alojamento e a todas as outras necessi-
dades. As polémicas que surgiram na ordem após a morte de S.
Francisco em torno da noção de pobreza obscureceram um pouco
o sentido da sua escolha da "Pobreza" como do apego apaixo-
nado que ele lhe manifestava. Para ele, tratava-se menos de recu-
sar, a priori, toda a forma jurídica de propriedade (em 1213
aceitou que o conde Orlando de Chuisi lhe desse a localidade
de La Verna para aí estabelecer um eremitério) do que de aniqui-
lar em si mesmo o espírito de apropriação. Foi assim que dei-
xou um dia precipitadamente uma cela que os irmãos lhe tinham
preparado por um deles se lhe ter referido dizendo "a tua cela".
O facto de se instalar em algum sítio ou em alguma coisa que se
podia reivindicar como seu arriscava-se com efeito a afastar o
S. FRANCISCO DE ASSIS 257
Orientação bibliográfica
Vida de S. Francisco:
E. Renan, "Saint François d'Assise", em Nouvelles Etades d'Histoire
Religieuse, Paris, 1884, pp. 323-352.
P. Sabatier, Vie de Saint François, 2.° ed., Paris, 1931.
I. Gobry, Saint François d'Assise et l 'Esprit Franciscain, Paris, Ed.
du Seuil, 1977.
E. Longpré, Saint François d'Assise et son Expérience Spirituelle,
Paris, Éd. Franciscaines, 1966.
R. Manselli, François d'Assise, Paris, Éditions Franciscaines, 1981.
Cassetes-vídeo:
Podem ser adquiridas na France-Culture (Av. du Président-Kennedy,
n.° 116 Paris XVIe) as cassetes-vídeo da emissão "Un hornme, une
ville: saint François et Assise", que foi transmitida em Julho de 1981.
S. Domingos, "o mal-amado"
André Vauchez
Notas
1
Michelet, Oeuvres Completes, Paris, éd. P. Viallaneix, 1974, t. 4,
p. 657.
2
M.-H. Vicaire, Histoire de Saint Dominique, Paris, Le Cerf, 1982,
2 vols. Trata-se da segunda edição, muito corrigida e enriquecida, de
uma obra aparecida com o mesmo título em 1957. G. Bedouelle, Do-
minique ou la Grâce de la Parole, Paris, Fayard/Mame, col. "Douze
hommes dans l'histoire de l'Église", 1982; W. A. Hinnebusch, Breve
Histoire de l 'Ordre Dominicain, Paris, Le Cerf, 1990.
Estêvão de Bourbon, o inquisidor exemplar
Jacques Berlíoz
Notas
1
Os irmãos J. Quétif e J. Échard tinham-lhe dedicado uma impor-
tante nota no seu catálogo dos escritores dominicanos surgido em 1719.
2
A recolha de Etienne de Bourbon foi objecto de três teses da Ecole
desChartes, por J. Berlioz em 1977, D. Ogilvie-David em 1978eJ.-L.
Eichenlaub em 1984. A edição integral do tratado em língua francesa
encontra-se em preparação para as Éditions Brepols sob a direcção de
J. Berlioz. Entretanto, cf. a edição parcial de A. Lecoy de la Marche,
Paris, 1877.
3
M.-A. Chazaud, Etude sur ta Chronologie des Sires de Bourbon
(...), 1865, Moulins, 2.a ed., 1935, pp. 350-351.
4
O mal des ardents era uma doença terrível devida a um fungo
parasita do centeio. Provocava convulsões ou gangrena. A morte sobre-
vinha no meio de dores atrozes (cf.¿'Histoire, n.° 74, p. 66). [Nota da
edição portuguesa: trata-se de uma espécie de eripsela gangrenosa.
Ver: As Doenças Têm História, nesta mesma edição.]
5
J. Berlioz, "L'effondrement du mont Granier en Savoie (fin 1248)",
in Le Monde Alpin et Rhodanien. 1987/1-2, pp. 7-68.
6
V. Massignon, Etude sur la Transmission et les Représentations
des "exempla" d'Etienne de Bourbon (...) (Dissertação de mestrado,
Paris-I), 1976.
7
Alpaís, nascida na aldeia de Cudot (Yonne), de pais pobres, foi
atingida por uma doença grave aos doze anos de idade. Nossa Senhora
curou-a por volta de 1170. Manteve-se contudo de cama, sem receber
284 MONGES E RELIGIOSOS NA IDADE MÉDIA
Orientação bibliográfica
Notas
Orientação bibliográfica
Sobre S. Tomás:
M.D. Chenu, Introduction à l 'Etude de Saint Thomas d'Aquin, Mon-
tréal-Paris, Instituí d'Études Médiévales/Vrin, 1954; Saint Thomas et
la Théologie, Paris, Éd. du Seuil, 1959.
É. Gilson, Le Thomisme. Introduction à la Philosophie de Saint
Thomas d'Aquin, Paris, Vrin, 6.a ed., 1964.
J.A. Weisheipl, Frère Thomas d'Aquin. Sa Vie, sa Pensée, ses Oeu-
vres, trad. fr., Paris, Le Cerf, 1993.
J.-P. Torrell, Initiation à Saint Thomas d 'Aquin. Sa Personne et Son
Oeuvre, Friburgo-Paris, Éd. Univ. de Friburgo-Le Cerf, 1993.
Nota
1
O "comos" (kumis) é a bebida mongol por excelência. Trata-se de
soro de leite de égua fermentado.
Orientação Bibliográfica
Os textos:
Jean de Plan Carpin, Histoire des Mongols, trad. e anexos de J.
Becquet e L. Hambris, Paris, Maisonneuve, 1965.
Guillaume de Rubrouck, Voyage dans 1'Empire Mongol, trad. e
comentário de C. e R. Kappler, Paris, Payot, 1985; a mesma tradução,
apresentada, comentada e ilustrada pelos mesmos autores, Paris, Im-
primerie Nationale, 1993.
H. Yule, Cathay and the Way Thither, Londres, Hakluyt Society,
1886.
"Histoire du patriarche Mar Jabalah III et du moine Raban Çauma",
trad. de J.-B. Charbot, em Revue de 1'Orient Latin, t. 1, 1893.
Os estudos:
R. Grousset, L 'Empire des Steppes, Paris, Payot, 1965.
P. Pelliot, La Haute Asie, Paris, L'Édition Artistique (brochura de
GUILHERME DE RUBROUCK. ENTRE OS MONGÓIS 317
1. Obras de referencia:
Dois livros essenciais:
Mareei Pacaut, Les Ordres Monastiques et Religieitx au Moyen
Age, Paris, Nathan, 2.a ed., revista e aumentada, 1993 (série
fac. "Histoire"). Bibliografía publicada.
Gaston e Monique Duchet-Suchaux, Les Ordres Religeux. Guide
historique, Paris, Flammarion, 1993. Preciosas notas-devi-
das a dois arquivistas paleógrafos - , por ordem alfabética,
sobre as personagens, as abadias, os tipos de ordem, o fun-
cionamento do convento, os termos de direito ou de admi-
nistração que regulamentam a vida das ordens.
A ler igualmente:
Bernard Bligny, Saint Bruno le Premier C hartreux, Rennes,
Ouest-France, 1984.
Alain Demurger, Vie et Mortde l'Ordre du Temple, 1118-1314,
Paris, Éd. du Seuil, 2.a ed., revista e publicada, "Points His-
toire", 1989 (1.a ed., 1985).
324 MONGES E RELIGIOSOS NA IDADE MÉDIA
3. Reunir a documentação:
Para além das obras gerais e dos dicionários acima citados,
ver, para os trabalhos franceses recentes:
Société des Historiens Médiévistes de 1'Enseignement Supérieur,
L' Histoire Médiévale en France. Bilan et perspectives. Pre-
fácio de Georges Duby. Textos reunidos por Michel Balard,
Paris, Éd. du Seuil, 1991.
Société des Historiens Médiévistes de 1'Enseignement Supérieur,
Bibliographie de VHistoire Médiévale en France (1965-
BIBLIOGRAFIA GERAL 327
Indice geral
Apresentação
por Jacques Berlioz 5
1. FUNDAÇÕES E RENOVAÇÕES
Os Cavaleiros Teutónicos,
monges-soldados do germanismo
por Philippe Dollinger 77
Um Estado dentro do Estado, 83. Comércio e cultura, 89.
As abadias da Catalunha
por Michel Zimmermann 115
Grutas e ninhos de águia, 116. Povoamento e defesa, 123.
3. AS MULHERES DE DEUS
Mulheres no deserto?
por Pierre-Louis Gatier 169
As freiras
por Michel Parisse 185
O rigor das monjas, 190. "Democratização"... 193.
... e "reacção nobiliária", 195.
ÍNDICE GERAL 335
4. PREGADORES E MENORES
As ordens mendicantes
por Jacques Le Goff 227
Os pecados da cidade, 228. Uma palavra nova, 233.
Influência social e política, 235.
S. Francisco de Assis
por André Vauchez 243
A mensagem espiritual, 252.