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CAPITULO 1

A CONTRA -REFORMA
E 0 ALEM -MAR

São pecadores perfeitos: repelem o amor de Deus


e oulham -se dos defeltos.
Anchieta

SO o ükimo lugar estâ livre de inquietacOes; e


não por outro privilegio sendo por ser o mais
baixo.
Vieira

Tempo de reforma

Quando os primeiros jesuItas chegaram ao Brasil, em marco


de 1549, o ConcIlio de Trento estava prestes a encerrar sua

primeira fase. Reunira -se em 1545, e quatro anos depois seria


adiado em razão da peste que assolara a cidade-sede do en -

contro; reconvocado em 1562, após várias tentativas malogradas,


concluiria seus trabaihos no ano seguinte. Muitos anos se haviam
passado desde a primeira reuniâo e outros eram, em sua grande
maioria, os sacerdotes presentes a sessâo final, mas pouco se mo-
dificara no ânimo dos conciliares: aparentemente nao tomaram
qualquer resolucao de afronta ao protestantismo, já bem espa-
ihado pela Europa, conservando a Igreja numa posicão defensiva
ou, diria Delumeau, de "cidade sitiada".
como

Defesa do catolicismo frente ao avanço dos protestantes, eis


o que parece ter marcado as decisOes do
principal ConcIlio mo -

demo, eixo da assim chamada Contra -Reforma. Nenhuma dis- I.


posicâo de combate aos reformadores, nenhuma grande inovaçâo
de ordem jurIdica, mas tão-somente a reafirmacao de dogmas,
e estados que a
sacramentos Igreja defendia desde, pelo menos, a
Reforma Gregoriana dos séculos XII e XIII. John Bossy nos lem -

bra, a proposito, que a principal obra do ConcIlio repousou


r
menos na renovaçâo legislativa da Igreja do que na mucknça de p Christiana corria a!heio a Lei de Deus, a. piedade colorida pelo
atitude em relaço aos veihos códigos: nova disciplina corn res- paganismo, os grandes momentos da vida, como o batismo, o
peito a hierarquia eclesiástica; homogeneizacao da pastoral e da casarnento e a prOpria morte sofrendo pouquissima intervencâo
prática sacramental junto a massa dos fiéis; reforco da autoridade do clero e regulados, antes de tudo, pelas culturas e tradiçOes lo
-

episcopal'. Mas já nesse ponto, em meio a simples reafirmaçao da cais as quais a Igreja devia se adaptar. Descobriram -se rnais do
tradicâo eclesiástica romana, percebe-se o movimento de avanço que nunca, uma religiao folciorizada, moralidades impudicas
a luz
do catolicisrno e cia Igreja, fruto da profunda autocrItica de tem- dos mandamentos, e urn clero paroquial não somente desprepa-
pos idos, e que marcaria decisivamente o conjunto das sociedades rado, mas integrado a vida da comunidade, cujo dia -a -dia so p0
-

européias e näo européias nos Tempos Modernos. deria indicar o triunfo absoluto do Demônio na Terra. A que atri-
Resguardando seu meio contra a difusão luterana ou calvi- buir tantas epidemias, corno a Peste Negra, as guerras fratricidas

nista, insinuando avanços em novos territórios, a Contra -Reforma em solo cristao, as resistências e os avancos dos infieis e tantas
não esgotou, entretanto, no episódio do ConcIlio, nern se limi-
se
outras calamidades, señâo a fragilidade da Igreja ante os pecados
tou a reagir acuada contra a onda protestante. Foi, antes, a refor -

dessa humanidade apostata governada por LUcifer?


ma de uma
Igreja inquieta, sobretudo apOs o século XEV, corn a A situação do clero era particularrnente dramática ao iniciar
-

distância que a separava dos fiéis, para o se o século XVI, a começar pela freqUente ausência de vocação
que muito contribuIarn
o despreparo, o absenteismo e a ineficácia do
clero, desde a alta sacerdotal e qualificacao profissional dos curas paroquiais: entre
hierarquia aos curas paroquiais. 0 que levou os reformadores do as profissOes autorizadas aos padres pelos estatutos de urn bispa
-

século XVI a questionarem o estado clerical e o sacramento da or -

do alemão figuravam, entre outros ofIcios, os de jardineiro, Va-


denacao já era percebido no seio da Igreja pré-tridentina da -

queiro, agricultor, boticário e pescador, proibindo -se os de pres-


qua! sairam, alias, Lutero, Calvino, Zwing!io e tantos outros dissi- tarnista, cornerciante, taverneiro, traficante e advogado o que -

dentes. No plano institucional, a reordenaçao dos


bispados, pedra bern nos mostra quem cram ou podiam ser os encarregados da fé
angular do ConcIlio de Trento, fora já desenvolvida em várias nas paróquias da cristandade3. Exemplo notável de cura medieval
dioceses no século XV e no inIcio do XVI: Gui!!aurne
Briconnet, dá -nos o impetuoso Pierre Clergue, padre de MQhtaillou no
em Franca
(1472-1534), pretendera transformar a diocese de século XIV: sedutor de várias mulheres, para o que utilizava seu
Meaux em sé-modelo, do mesmo modo
que Gian Matteo Giberti,
em Verona (1527) e Francisco Ximenéz de Cisneros
poder na comunidade, chegou a recomendar a uma de suas
(1435-1517), arnantes, que dde engravidara, o uso de certa erva peculiar, con
-

cardeal primaz de Toledo. Todos procurararn estirnular a


devocao traceptiva para ambos os sexos4. Concubinário e urn pouco mago,
ao Evangelho entre os clerigos, prepara-los para o exercIcio da assirn o Le Roy Ladurie, e assim parece ter sido boa
qualifica
pastoral, disciplinar as ordens regu!ares, criar condiçOes, enfim, Europa medieval.
parte dos parocos na
para uma aproxirnaçao mais arnpla e profIcua entre a Igreja e os Os intelectuais de inicios do século XVI mostravam -se sobre-
leigos. Foram todos precursores do ConcIlio de Trento e da obra modo inquietos corn a decadência da cristandade, e desejavam
de urn Carlos Borromeu, em
Milão, ou de urn Frei Bartolorneu corn ardor aproximar a hurnanidade de Deus, qualquer que fosse
dos Mártires, em Braga,
empenhados em igual tarefa apOs meados a luta a ser travada corn o Demônio. Tal foi a substância do Hu
-

do século XVI. Pertenceram a Devotio


Moderna, nascida em fins manisrno Cristâo e, conseqUenternente, a da Reforrna e da Contra
-

do século XIV a partir da de


pregaçao Ruysbroeck,
"o admirável", Reforrna, do que resultou urn vasto e ambicioso prograrna de
ou de Geraldo Groote e os Irmâos da Vida
Comum, que acentua evangelização de massas em todos os domInios da vida social e
-

yarn a importância da
rneditaçao pessoal, da introspecçâo da fé e religiosa.Näo scm razão a moderna historiografia prefere falar em
da difusâo do cristianismo
pelo povo -

idéias que marcariam Reformas, pois ambas as vertentes, protestante e católica, parti-
Lutero, Calvino, Erasmo, Inácio de Loyola e muitos outros, católi -

iharam rnotivos comuns: nas palaras de urn historiador britânico,


cos ou
protestantes do século XVI. "a renovaçào da piedade cristâ dos dois séculos anteriores a
Sobretudo no século XV, a
Igreja parece ter despertado para 15OO", depurando -a do que julgavam ser supersticão herética ou
o
que o principal historiador das Reformas denominou
"!enda da sua propensão ao pecado. As reformas
Idade Media Cristã"2; descobriuse demonIaca, extirpando
que o cotidiano da Republica divergiram, e certo, em pontos fundamentais de ordern teologica,
XIII flãO anularam, contudo,
polItica ou tática: Os protestantes, radicalizando a crItica a estru- decisOes dos séculos
XII e
As
ritos tradicionais que,
de alto a baixo
tura eclesiástica, negararn
a autoridade
apostólica do Papa, con- e 05

testararn valor da maioria dos sacramentos, as normas comunitária5 casamento5 e uniOeS conjugais no
social, regulavam
o
questionararn o cell
dii escaha segundo tradicOes e
-

bato clerical (Lutero chamá -lo -ia


cniStaO. Variando regionalmente
as
hipócrita) e, sobretudo, negaram
a importância das obras terrenas como
meio possIvel de
ocidente
europeuS, OS ritOs matrimOfliais espeihavarn
salvaçao culturas dos pOVOS casamentos aten-
etema. A marca do pecado entre famIhias, e os próprios
as
original sobre a Humanidade frisa. uma alianca
a tnanSmiSsao do patni-
-

sernpre
-

a intenesses ligados
nos sempre Delumeau
afigurava -se para os protestantes muito
-

anteS de tudo
diam neforco
mais aterradora, indelével e irremissIvel. Mas as duas Reformas de poden, conserVacão de linhagens,
carninharam mônio, distnibUicão do que a bêncão
juntas no mais extraordinário processo de es cornuflais.
Mais importanteS
de sohidaried de casamentO" feitas
aculturaçao posto em prática no Ocidente. Pierre Bérard localiza as uniOes eram as "promessas
nessa
convergência de propósitos o nücleo da modernizaçao do
sacerd0tal os chamados esponsais
ou des
-

a famIhia da noiva
-

Ocidente, expresso no conflito então instaurado entre urna pelO homem corn gnandes festas
e troca de presentes,
mentalidade rural, popular, relativamente p0s6ri0S comernorad05
aos olhos da comunidade
envolvida a coabitacãO dos
ligada a sacralidades autorizavam ton
pagãs, e uma "ideologia proselitista", cristã e moderna, veiculada intervencão eclesiástica processo
-

nesse
A
futuros conjugeS. adaptou, em
por uma elite baseada na cultura escrita6. Processo do século XIII, mas se
comum as nou -se crescente a partir casamento não
duas Reformas e articulado, em diversos de cada lugar. 0 verdadeiro
aspectos, a concentracao
dos poderes estatais, ao geral, aos costumes matrimonial dos DoutoreS da Igreja,
forma -

Absolutismo, aos novos enquadramentos era, pois, o


sacramento
do sacerdote,
das populaçOes pelas dos nubentes diante
Monarquias e pelos Estados europeus. lizado no necebimento
mUtuo
plano social, comunitáriO
e
0 êxito do processo firmados
pressupunha, assirn, ampla reordena- mas sim os contratos no

ção da sociedade a luz dos valores cristãos,


reforma dos costumes e das moralidades
implicando profunda familiar.7 do lado catóhico,
vigentes. Na versão catO- meados do século XVI havia
Assim, em
lica da Reforma, do casamentO: reafirmá -lo
procurou -se jáantes de a propósitO
Trento, mas sobretudo duas frentes de combate Lutero o
após 1563, defender,o matrimônio enquanto sacramento e
institui- como sacramento diante da negacão protestante, pois
-lo em institui-
ção. Era assunto delicado, ja que a postura da
Igreja face do uma "necessidade fisica", e convertê
em
julgava apenas fiéis: eliminar
matrimônio sempre fora
problemática, e durante séculos perma- eclesiástica sobre a vida dos
necera o casamento como união
cão basilar da chancela ao menos, subordiná-lOs
a
profana, o "menor dos males", os ritos "populares" de casamento ou,
contra
remédio para os que não aspecto
-

-5e o sacramento
ao
conseguiam viver castos era o
que
-

cerimônia oficial, sobrepondO "a porta


pregava São Paulo na EpIstola aos CorIntios a hiturgia dos recebimentos
(I Cor,, VII, 8). Ate o tual das uniOes; uniformizar de
século XII foram
poucos, como Santo Agostinho, os ao profenimeflt0
das "palavras
que viram o da igreja", condici0nand005
casamento como
sagrado, mas mesmo o insigne teologo associava e de duas testemunhas; zelar pela
sacramento matrimonial corn presente" diante do pároco dos antigos impedimentoS
de
fidelidade e procriação, consideran obediência e regular as dispensas
do impura a
direito canônico julgava prejudiciais
ao ma
-

cOpula conjugal em si. Longos debates e muita hesi-


-

parentesco que o
tação precederam a inclusão do matrimônio
coabitacãodos noivos antes do recebimentO
mentos da
entre os sete sacra -

trimônio8, impedir a
matrimonial, so
Igreja o
que definitivamente ocorreu corn as Senten- a indissolubilidade
reforcar
-

ças de Pedro Lombardo em


in facie ecclesiae', no mais das vezes,
do
1150. A partir de então a
desponsatio admitida em casos excepciOflaiS9. PrOximo,
converteuse no sImbolo da o matrimôniO tnidentiflo

Igreja, e o enlace dos corpos em


união espiritual entre Cristo e a "modelo gregoniano" de casamentO, homogeflea o sufi-
de sua signo união corporal. A acrescentou-lhe porém uma nova disciphina,
copula conjugal, profana eclesiástica o Unico, perfeito
e yen
-

em Santo Agostinho, assimilava -se ao ciente para fazer da cerimônia


rnlsterio da
encarnacao verdadeiro sacramento desde que o ma dadeiro casamento cristão.
trm-iorno se
baseasse no mUtuo a Reforrfla
a vida dos fiéis,
-

essencial dos ritos


consentimento dos nubentes. 0 No afã de controlar de perto
consistia sobre o casa-
Católica não se himitou a reafirmar dogmas
e regras
na
aceitacao
pelas "palavras de presente" recIproca pUblica dos
e
parceiros além e preo-
como norma geral.
Foi
cabia diante do sacerdote, a mento a fim de difundi-los
quem abencoar as rela
uniäo. a vida das familias,
-

a
cupou -se, como jamais o fizera, corn
10 11
Reforma Protestante que julgava charla-
çOes entre pais e flihos, maridos e esposas, Os sentimentos do
Combatida pela a

reformadores, tinha o poder


-

mésticos, a convivência diana nos mais variados aspectos. Embora tanice -

pois so Deus, pregavam os

de salvar ou condenar a confissâo sacramental foi peca-chave


O ConcIlio näo tenha explicitado qualquer decisäo acerca da
-,

familia, movimento da Contra -Reforma revelar-se -ja muitIssimo


o na estratégia da Contra -Reforma: valorizada enquanto sacramento
cioso dessa importante esfera da vida social, e renovada em sua técnica. 0 moderno confessionário, separando
multiplicando regras de telas ou grades, e posto a vista
e conseihos para o bem-viver doméstico confessor penitente
e por meio
por meio de catecismos,
uma das invençOes do Con
sumas e manuais de confissâo do pUblico no interior das igrejas, foi
-

impressos em escala cada vez


duo de Trento, abolindo -se as confissöes privadas
e intimas que,
major a partir do século XVI. Tudo parece indicar, diz -nos Plan -

drin, que Igreja tridentina vislumbrou na famIlia urn dos lugares


a
aproxirnando sacerdotes e filhas (ou filhos) espirituais, mais mci-
privilegiados da vida cristâ e, "talvez, porque a Reforma ihe havia tavam que coibiarn os pecados
da came13.
ajudado a tomar consciência da força dos laços domésticos e das E, ponto central da nova estratégia católica, que sern o nem

possibilidades que ofereciam para vigiar e educar a massa de tomar -se -iarn genuinarnente
a moral nem a religiosidade popular
fiéis"10. Foi portanto comum as duas Reformas
projeto de eclesiástico: profissionalizá -lo,
cristas, cumpria remodelar o corpo
o
dornesticaçao dos indivIduos via célula familiar. De igual modo o de seminários; estimular a vocação sa-
sobretudo corn a criação
foi, como veremos a seu
tempo, repressâo mais violenta das valorizando a
-a das imposicOes familiares e
a

relaçOes sexuais e das uniOes cerdotal, protegendo


ilIcitas, tanto as que transgrediam o dernais estados; zelar, enfim,
primazia do estado clerical sobre
os
casamento como as
que vicejavam a sua margem. seculares ou regulares, siste-
Vigilancia e repressâo variaram consideravelmente segundo pela austeridade moral dos clérigos, na medida
os paIses e,
ainda, conforme a natureza do delito praticado, de matizando -se as inspecOes diocesanas e vigiando -se,
modo que tanto a justiça civil como a do possivel, as ordens religiosas.
eclesiástica ou a inquisi-
da Re
torial tiveram alçada sobre os desvios morais Os ditames do ConcIlio de Trento e a politica global
-

entre os séculos XVI


desde o século XVI,
e XVIII. Mas, nos
paIses catOlicos, o mecanismo elementar de forma Católica espalharam -se pela Europa
e estratégias seja
controle das consciências e dos
comportamentos residiria no sa- embora a sisternática aplicacao de suas decisOes
cramento da penitência, na confissão auricular. século XVII. Em Franca, resolucOes trideritinas sofre -

tIpica do
as
Generalizada pelo
IV concIlio de Latrão Europa
(1215), estendjda obrigatoriarnente a todos alguma resistência por parte da monarquia,
mas na
ram
os fiejs na
Meridional forarn irnediatarnente acoihidas. Na Espanha, Felipe
época da Quaresma, a confissâo sacramental tomar-se II
-

ia, diz-nos Foucault, matriz da produçao discursiva sobre o sexo de 1564, ainda sob reserva
as recebeu triunfalmente em julho que
no 0cidente11. Datam do de 12
século XIII os modelos de sumas e ma -

das reais. Em Portugal, ato contInuo, o Alvará


prerrogativaS
nuais de confissäo deter
que se multiplicariarn por toda a Europa a de setembro de 1564 recornendou pronta observância das
-

a
partir do século XV, os quais, eliminando a sInodos encarregaram de
superficialidade dos minaçOes conciliares, e numerosos
-se

antigos penitenciais da Alta Idade Media de


limitados a enurnerar
adaptar as constituicOes da Igreja lusitana as resoluçOes
-

pecados e
respectivos castigos -, habilitariam os confessores a
decifraçaominuciosa de atos e Trento14.
intençOes, sentimentos e desejos. era governado pe
Na merioridade de D. Sebastião, Portugal
-

A argUição dos
penitentes e o atiçar de memOrias individuais no
rastreamento das lo Cardeal Infante D. Henrique, irmâo de D. João III e Inquisidor-
culpas basear-se -jarn, desde entao, nos dez man
damentos da Lei divina, Reino, Contra -Reforma não
-

nos cinco da Geral. Adotada oficialmenté no a


Igreja e, campo privilegiado
do confessor, nos sete pecados capitais'2. E, entre estes, a luxUria tardaria a se expandir Brasil, se lá já nâo estivesse desde os
para o

assumiria o lugar de major do Concilio. Afinal, já o dissemos de inIcio, pouco


destaque, assimilada em certos casos primeiros anos
ao crime de
heresia, ofensa ao primeiro e fundamental manda- antes de a afugentado os prelados de Trento, chegavam
Peste ter
desse
rnento da lei de Deus.
Adultérios, fornicacoes, incestos, violaçOes, a Bahia os padres Companhia de Jesus, ordem-modelo
da
bestiahdades sodomia,
masturbacoes sonhos eróticos, toques in novo tempo da cristaridade.
limos, polucoes noturnas: nenhum
-

ato, parceiro ou circunstãnda


deveria escapar a fala do
penitente, ao ouvido do confessor.
12 13
A Igreja e a missão
fé; o portuguêS
tern
obrigaYo de crer a
criStaos tern Todos Os reis são
Entre as
resolucOes do ConcIlio de
Trento, nenhurn
outrOs mais, de a prOpagar (...). e feito
desta. acäO de
a crer e,
é de Deus
que fora dado a expansâo católica no alérn hornenS; 0 rei de Portugal
considera esse descaso urn
-mar. Charles
reflexo acidental da
Boxer
polItica pOntjfIcja
obreus feit0S pelQ
ApeSar
das divergeflcias entre o EstadO e
a

no século
XVI, especialrnente or DeUS (...)" e dos conflitos que opuserarn
preocupada corn o avanço protes- forãrn poucaS -,
tante na
Europa reja
-e nãO estarlarnoS de acordo
Brasil,
açãO mis5i0flá
e corn a no
arneaça turca no Mediterráneo15
disso, a posiçao defensiva assurnida Além cloniahismo
e
indissolüvel entre a Cruz
pelo ConcIlio, bern corno a Boxer: "a alianca estreita e
composiçao rnajoritariarnente italiana dos corn Charles 0 altar, a Fe
e o Império, era urna das prin-
o levariam a
conciliares dificilmente 0 trono
e
ministros e
formular, ern meados daquele século, uma e a CorOa, aos monarcaS ibéricos,
ccmUnS
global para o Novo Mundo. Erarn outras as polItica cipaiS preocUPacoes
em geral"19.
objetivos alcançar: defesa
prioridades, outros os
miSS10nOs entre as Americas
entanto, as diferencas
a
dos sacrarnentos e do
ern face dos
direito canônjco Foram muitas,
no
eclesiástica
ataques protestantes e rnodificacao da no tocante a organizacãO
disciplina e da espanhola e portugUesa se fez
qualidade do corpo eclesiástico a firn de onde a administracã0 metropolitafla
da nova pastoral. Mas não capacitá4o ao exercIcjo secular. Na prirneira, o avanco da
subestirnemos as pretensôes da
notar desde
cedo, a Igreja acornpanhou pan passu arcebispados
já no próprio século XVI, escreve Igreja: havia quatro
Mullet16, o espIrito de defesa ce- modo que ate 1565 já
deu lugar ao de
ataque de rnissao, e a conqUi5t2t, de MexicO, Lirna e Bogota.
No Brasil,
em São Domingos,
e
partir do século XVII a instalados ter
perspectiva mundial da Contra -Reforma da instituicão eclesiástica parece
tucionais corn a adquiriu contornos insti- pelo cofltrári0, o pr0gre550
notável o processo
criaçao da Sagrada Congregaçao da a seguir corn
atraso
Da Fe (1622), Propaganda sido lento e arrastado, o quanto a ocupacão
que, sob o irnpulso de Monsenhor Francesco rnesmO se considerarmos
buscou supervisionar, orientar Ingoli, colonizatórj0, 1551, o bispado da
financiar a obra rnissionária no litoral. Criado em
mOstrOU5e apegada
e ao
rnundo descoberto
a Unica diocese colonial, cabendo-ihe
rNo ultrarnar Bahia foi por rnuito tempo imensa colônia
ibérico, por outro lado, a
expansao do catoli- administrar todos os negócioS ec1e5iá5tic05
na

cismo esteve incumbência inviável, so


-

presente desde os CentraliZacão inoperante,


cornecos da colOnizacao, portugUeSa.
rnulada nâo por da prelazia do Rio de Janeiro
esti- em
Roma, rnas pelos reis, que
exerciarn absoluto controle
através do padroado mente atenuada pela criacão rnais tarde20. So então,
sobre diocese cern anos
as
Igrejas espanhola 1576, transforrnada em
irnpulso no
estrutura eclesiástica ganhou
e
gues Na America portu-
Hispânjca, Reis CatOlicos
que tudo indica,
os a
providenciararn
e Carlos I cedo ao
territorial e a rnaior den
-

envjo de franciscanos dorninicanos, -Se a expansãO


o
nos e rnercedários agostinja -
Brasil, buscandO adequar ainda em 1676 seria criado
o
desenvolverem a catequese dos na-
para
sidade do processo colorlizatóriO:
-

tivos, lqgo seguidos pelos o do Maranhão;


e no
jesuItas, no ano seguinte
bispado de PernarnbUcO; do Pará (1719), Mariana (1745) e São
ern 1568 alérn de outras
ordens. Nos dornInjos
portugueses foram sernpre os século XVIII as dioceses
desde os prirnórdios da jesuItas que, de Goiás e Cuiabá,
arnbas em
expansão lograram obter a
prirnazia no Paulo (1745), além das prelazias os bispos
carnpo rnissjOnário a desde o século XVI
Francisco Xavier,
comecar pela India, onde,
dirigidos por 174521. Apesar das dificuldades, de organizar a Igreja
estiverarn antes rnesmo do na inglOria tarefa
o Brasil não foi ConcIlio de Trento. coloniais se ernpenharam sInodo na Bahia,
excecao a esse quadro, e desde Leitão chegou a realizar
um
1500 salientaram no Brasil. D. Pedro
se os
objetivos missionárjos da c0n5titUicOe5, embora, informa -nos
nha, flOSSO prirneiro cronista, escrevera
cOlonizacao. Pero Vaz de Carni- do qual resultaram algumas Somente no
de clerigos fosse letrado.
"acrescentarnento de flossa Santa Fe"
a D. Manoel exaltando Anchieta, nenhurn seus
suas própriaS cons
teria a Igreja Colonial
o
-

feita na terra corno a


principal obra a ser inIcio do século XVIiI da
descoberta e, rneio século 1707 pelo então ArceoiSPO
III a Tome de depois, lernbraria D. João tituicOes, decretadas no sinodo de
Souza: "a
principal coisa que me rnoveu a MonteirO da Vide.
as ditas
terras do Brasil foi para povoar Bahia, D. Sebastião na colônia, Gilberto
flossa santa fé catOlica"17 que a gente dela se convertesse Comentafld0 a organizacãO eclesiáStica arti-
na formacãO brasileira,
a
No século a igreja que age
primir sern
lugar a dvjdas seguinte, seria Vieira a ex Freyre afirmou: "(...) vão queixar
corn seu bispo
a que se
-

sentido missionarjo da
culando -a, não é a catedral
o
colonizacao: secular nern a igreja isolada
e sO, ou
da justica
os desenganad0S
15
do mosteiro ou abadia (...) [mas] a AculturacàO no trópico
capela do engenho"23. Clero
subserviente ao privatismo dos aculturacão
senhores, religiao circunscrita a DernoniZacãO da vida cotidiana das populacOes,
esfera das farnIlias poderosas,
igreja descentralizada, a estrutura fundarnentais da Reforma
eclesiástica colonial em nada istã, rnissão salvacionista, os traços
parecia concorrer para o êxito tn- atOlica na Europa estiverarn sirnultaneamente presentes nos
dentino no Brasil. A sólida
organizaçao de parOquias atreladas aos DmInios ibénicos do ultrarnar. Mas se nos voltarnos agora para
o

poderes episcopais, meta essencial da reforma preconizada em ha que considerar o espe-


Opico, outra deve ser a perspectiva:
Trento, esbarraria aqui na lenta e tardia criação de dioceses, descoberta de urn mundo novo, gentes
que se vincula a
na
frequente e prolongada vacância dos fico, o
bispados, na escassez e na
esconhecidas, terras estranhas, sem perder de
vista o fenôrneno
desqualificaçao do clero secular.
Mas foi sobretudo por rneio das missOes iaior do colonialisrno.
clássico
espIrito da Sérgio Buarque do Holanda já detectara, os
que o em seu
Contra -Reforma penetrou nas colônias ibéricas
antes que Trento forarn portugueses
'isão do Paralso, quão pouco irnaginosos
encerrasse suas atividades. Ao Brasil chegou pela voz dos arnericanos. Ao contrário
jesuItas O século XVT na retratacãO
dos trópicos
liderados por NObrega, ansiosos
para iniciar a conversâo das pelo genovês que o descobriu -,
LOS espanhóis a corneçar
-

gentes do trópico. Boxer concebeu a rnissão como instituiçâo de rnisténio do Novo


ncantados e rnaravilhados corn a paisagern e o
fronteira, tIpica da colonizaçao ibérica no u1trarnar24, mas nâo -iarn sobretudo práticos; elogio-
convérn esquecermos ter 4undo, osportugueses revelar-se
sido, antes, urna tática essencial da da imensidâo e da abundância das novas
Contra -Reforma corno urn os, é certo, no relato
todo, utilizada na Polônia, Tchecos- edenizadora que marcara os navegantes
erras, rnas sern a fantasia
Iováquia, SuIça, PaIses Baixos, Franca, em quase toda a Europa, o Descobrimento
le Castela. A atmosfera rnágica que. envolvia
enfim, desde que Rorna julgasse viável a reconversão de certas na America
)anecia "narefazer-se a rnedida em que penetrarnos
regiöes ao catolicismo, ou tencionasse consolidá -lo em areas fiéis, aventura rnaritima africana e asiática,
usitana"27. Calejados pela
compensando as deficiências do clero paroquia125. A rnissâo seu descobrirnento ou, no
rnáxi
portugueses nao edenizaram
-

)S
integrava ja uma estratégia ofensiva da Igreja, reunindo o que de ekgiar
mais caro havia no no, fizerarn -no desencantados,
rnais propagandisticos no

projeto tridentino: a aculturaçao massiva, po- em face dos anti


Jo que sonhadores no descrever, anestesiados
-

pular e rural, e não mais a pregação lirnitada aos centros urbanos, Paraiso Terreal rnuitos imaginaram
os mitos e lendas sobre que
o
como faziarn os franciscanos nos séculos XIV e XV. De entre os quais o
-culturaçao o sul do Equador. Para os lusitanos dos 1500,
e
catequese das massas, dernonizaçao e aculturaçao dos nâo ficava no Brasil e os poucos
campos, prOprio Caminha, o ParaIso
-

nisso residiu, em grande medida, no século


o essencial da Reforma Católica corno Simão de Vasconcelos
sua arnbiçao mundial. Baeta que afirmararn o contránio,
tê -lo dito por recurso de
em
Neves percebeu muito bern o
XVII, ou Rocha Pita no XVIII, parecern
caráter globalizante
da rnissao articulado a Contra -Reforma: "a
estilo, rnal revelando o porquê de urn Brasil paradisiaco.
rnissão quer alterar algurnas das caracteristicas
centrals da super -

Em seu el 0 Dzabo Terra de Santa Cruz, Laura de


e a
ficie sobre a qual quer deixar sua marca
(...) Este projeto se ins edenizacäo portuguesa do trópico,
re -

Mello Souza retornou a


-

e
taura perrnanenternente: e urn
processo, urn conjunto de poll -

descobrindo -a lirnitada, parcimoniosa e condicional. Edenizacão


ticas"26. nios. Louvor
A isso se propuserarn os
restnita a natureza, ao elogio de terras, rnatas, frutos,
jesuItas desde a fundaão da Corn da colônia não dispensav o quei-
as potencialidades nova que
-

panhia: "procurar incessanternente ajudar a salvaçao e do viver nos trópicos, onde o


dos próxirnos", e nao
perfeiçao xurne irritado contra o desconforto
apenas zelar pelas próprias alrnas. Tnidenti corn o horror dos calores e
elogio aos bons ares e clirnas convivia
-

nos avant Ia
leure, nâo por acaso viriam a gozar de enorrne pres- baratas que enxameavarn por
toda a
dos insetos, das pulgas e
tIgio junto a Curia Rornana, exercendo extraordinánia influência lembra -nos a autora a contar
parte. Nao esteve urn jesulta
-
-

nas decisOes do Concllio


por interrnédio de Diogo Laiñez, geral rnultidão" de insetos
da Cornpanhia. 45 grilos e 450 pulgas
entre a "grandissirna
rnissa, tudo o mais? Elogio a
sono, a mesa e
Pois foi essa "rnilIcia que perturbava a o
papal", corno a charnou Herculano, ainda condicional: as rnaravilhas da
que trouxe a Contra Reforrna ao
natureza nestrito, mitigado e

Brasil; trouxe -a antes de Trento, sentido se exploradas pela efetiva


antes rnesm de instalar-se
natureza brasilica so adquiniarn
o prirneiro bispado na Colônia.
17
16
Animalesco ou nobre, o Indio visto pelos espanhóis
seria,
colonizacão da terra. Pero de Magalhâes Gandavo, em 1576, e da Reconquista
infiel e o mouro. Embevecidos pela saga
Ambrósio Fernandes Brandão, no início do século
XVII, foram ainda, o
os recérn concluIra sua
"expoentes da vertente edenizadora", e tambérn mais insis- cantada em prosa e verso numa Espanha que
os -se herdeiros
os espanhóis na America julgavam
tentes em condicionar 0 "paraIso brasileiro" a vinda de vitória peninsular,
colonos, dos cruzados: Cortés chamou mesquitas ternplos de Tenoch
-

aos
ao trabaiho escravo, a difusão dos
engenhos e trapiches. Castillo compararia o triunfo casteihano
Afastando -se, porém, dessa esfera titian, e Bemal Diaz del
quase edênica cju preva- bataiha de Granada, exigindo do rei jguais be
-

leceu no retrato da natureza, Laura de Mello e sobre os astecas a


Souza descobrju o se viram contemplados os cavaleiros
de 149232.
sentido infernal da nefIcios corn que
colonizaçao; descobriu -o na descriçao dos espanhol, que seria próxima a
arnerIndios, das gentes estranhas aos olhos do europeu, A principal oscilação do imaginário
na oposicao entre o animal seiva
cujo tipo do portugUêS, residiu, porem,
-

fIsico, cor, hábitos e costumes se associararn a entre a conhecida execraçãode Sepülve-


manidades inferiores, decaIdas, diabOlicas. Laura
anirnalidade, a hu-
gem e o Indio homem;
nâo passavam de bárbaros idólatras,
da, pam quem os amerindios
nos rnostrou corn
brilho a recorrência de via animalescos
crenças antigas sobre o homem selvagern, de vida civil, ou de urn Oviedo, que os
seu parentesco corn os incapazes las
monstros medievais e a sutil defesa de Bartolorné de Casas, que os
transposição e rüsticos, e a radical
desse irnaginário pam corno legitima devo-
figura do indIgena: monstro por seu afas-
a
considerava tao humanos a ponto de admitir
tamento geográfico, Em relaçâo a espa-
selvagem por sua nudez, sua vida e seus ha -

çäo a vereraçào que


dedicavam a seus totens.

bitos, dos quais o mais repulsivo consistia na nhola, a primeira grande singularidade
da visao portuguesa acerca
antropofagia que
-

muitos julgaram derivar de hediondo


gosto péla came humana29. do Indio repousa no fato de terem sido os jesuitas os que mais
Mas a rejeiçao dos amerIndios Brasil. F a oscilação ideo-
produziram discursos a esse respeitomais
no
pelos portugueses não era
nova; acompanhava ou reeditava
imagens e discursos veiculados lOgica dos inacianos foi tambérn simples: como observou
inocentes que pecavam por
no cenário
hispano-arnericano dos séculos XV e XVI. Nas ditas Baeta Neves, ou bern os Indios seriam
Indias de Castela, näo obstante fosse mais da verdade cristã, ou bern teriam feito uma opcâo
forte a miragem pam- ignorância Deus em favor do Demo
disIaca do prirneiro encontro, tambérn os consciente pelo pecado, rejeitando a
-

Indios forarn detratados


duas altemativas a reproduzir o dilema
a medida que
avançava a conquista e que das ilhas caribenhas se ni033. Duas possibilidades, Souza considerou
passava ao continente entre o Céu e o Inferno, que Laura de Mello e
grandes imperios do Mexico e do
e aos
Peru. No entanto, o extensivo a própria Colônia.
imaginário casteihano foi au rnuitIssimo varia
Embora escassas, nao faltaram impressOes complacentes
-
em
do e a repulsa hostil
pôde conviver corn visOes complacentes e nudez que to-
relacão aos amerindios. Fernão Cardim'
viu na em
respeitosas, para o que concorreu, em certa rnedida, o extraor- honestidade
dinário porte das civilizaçOes asteca e dos andavarn uma prova do "estado de inocência, e
incaica. As oscilaçOes se achá-los ende-
fazern notar no próprio Diârio de modéstia" que entre si guardavarn, além de "pouco
Colombo: inebriado pela de paciência,
maravilha do Eden antilhano, moniados" e pacIficos. Nobrega, em raro instante
elogiaria os arawaks, "genie muito neles "papel branco"
juigou-os aptos a catequese, pois tudo
era
bonita" que de boa vontade acoihia os
marujos recém-chegados; foi ainda comum, entre
em que se podia "escrever a vontade".
E
mas ja na segunda viagem deplorava o nCimero dos "ferozes
enviados Lisboa e Roma, elogiar-se o
canibais", propondo ao rei enviá-los como escravos em troca de os relatórios jesuIticos a

que os indios
mantirnentos e armas30. No
Mexico, o irnpiedoso Hernán Cortés, progresso da catequese e a receptividade piedosa
da obra missio-
sempre pronto a ressakar, pam grandeza de seus devotavam aos padres da Companhia. A apologia
feitos, a fero- nária era, porem, exercIcio de perseveranca e recurso politico dos
cidade da resistência local, admitia ser
aquela gente "meihor que obedecer conseihos de Francisco Xavier,
a da
Africa", pois vivia em cidades corn ordern e inacianos; parecia aos

usava vestidos,
policiamento, que, antes de viajar ao Japão, em 1549, recornendou aos padres
calçados, e ornava -se corn preciosas jóias de ouro
e prata. Em carta de 1519 a Carlos I, adrnirava -se de
das Molucas como se devia escrever aos superiores da Europa:
edificantes; cuidado, näo escrevam
ver o
tinham e como viviam os quanto "(...) que seja sobre assuntos e
Indios, "considerando
gente barbara
ser
e tao
apartada do conhecirnento de Deus"31. Ao célebre sobre assuntos que nâo o sejam (...) Lernbrem-Se que muita gente
tador nâo faltou a conquis- vai ler essas cartas e, assirn, devern ser escritas de
forma a que
irnagem de nobles salvajes, que Sérgio Buarque
de Holanda percebeu todos fiquern edificados"35.
frequente na crônica casteihana.
18 19
No dia -a -dia da
catequese, na correspondêncja interna em nao se baseou tanto apa- na
que abordavam os problernas
se Mas dernOfliZacãO dos Indios
a cole-
especIficos da missâo e sobre- na presuncãO d qualquer pacto
tudo nos discursos voltados nte falta de govemO
ou
para os Indios, predorninaram, sem Cardim os vira "pouco
endemofliad0s", e
düvida, detraçao, DernôfliO.
a a
hostiizacao dos costumes, a ma vontade vo corn o
a veneracãO dos
trovOes, negando que
que Laura de Mello e Souza observou
nos jesuItas em face das nchieta so ihes atribuira DernôfliO"41. Usavam de feitiços,
o
gentes do trópico. Vêmo-la em quase todos os "comunicacao corn
padres, inclusive
vessem não por neles acreditarern,
entre os que mais se admitiam, e ouviam feiticeirOS
eles ajudavarn nas enferrnidades42.
empenharam em defender os Indios contra a odos
escravizacao Anchieta considerou-os "de tal forrna lisse Cardim, mas porque crer no Diabo?
bárbaros e a Deus, corno poderiarn
indômitos" que pareciarn
"aproxirnar-se mais a natureza das feras .final, se nao conheciarn matéria de fé, portanto,
a os jesuitas. Ern
que dos homens". Nóbrega, em seus era o que pensaVarn
Apontamentos de 1558, de certa anornia, urna
constatacâ0
-

recomendava castigo e
sujeiçäo dos aborigenes como ünico re Darece ter predominad0 a

do adoracãO satânica43.
Os
mais que
LngeflUa irreligiosidade,do
rnédio para cessar o sofrimento da
-

naçâo portuguesa no Brasil e, detrás dessa aparente


escrevendo da Bahia um ano de que a rnão Inimigo agia por
antes, confessara que, exceto dois indicios da iicenciosidade
ou três
padres, os demais tinham "pouco gosto inocência recoiherarn
os portugueses sobretudo da relacão
Nosso primeiro pelo gentio"36. viver os indios e, particularmente
provincial jesuIta parece ter sido o major detrator ern que julgavafli RepugnaVa1he5 antes de
dos Indios no século corn o prOpriO corpo.
), mesmo porque era o que mais escrevia que rnantinharn ininteligIvel ao europeU (e do arne-
assusta-
sobre o terna. E,
pregando no século XVII a missionarios de tudo, o "canibalism0", prática corroborava a visâo
mjssionári05), fato que
partida para o Amazonas, Vieira lhes diria dora para os
Mas inquie-
que Deus enviara monstruosO.
Tome, o
Apóstolo, rindio comO ser animalescO, selvagem e
pam evangelizar Brasil,
fim de castiga -lo consideraVarn falta de lei, au
-

o a
grande rnedida, que
o
por sua incredulidade: "(...) porque tava-os, em e as relacOeS
a
gente destas terras e a mais a exibicao do corpo
bruta, a mais ingrata, a mais inconstante, a mais avessa, sência de interdicOes quanto
a mais
trabalhosa de ensinar de sexuaiS.
quantas ha no rnundo"37. a nudez
Anirnalizaçao e demonizacao andaram de braços dados nesse ou religiosOs,
todos sem excecãO ressaltaram
Leigos naturalidade.
discurso, que, essencialmente jesuItico, embora muitos a registraSsem corn
espalhar-se -ia entre outros dos Indios, coisa cobrir",
religiosos leigos não estirnavam "nenhuma
F]
e ate bern
avancado o século XVIII. Nas dificul-
dades da catequese, no tardio Carninha, ao dizer que limitOu -se a constatar
descobrimento do inocentes. GandavO
cristâos, na origern dos Indios, em quase tudo se viatrópico pelos julgou -Os naturairnente traziam "descoberto quanto a
cobriarn no corpo, e
o
Dernônio, nada viram
Inirnigo, "lobo infernal". 0 ünico mito que em sua maioria, que
Forarn os jesuitas,
o o
edenizador genuina- natureza ihes deu"44. de torpezas
mente
português concorria para dernonizar os 1ndios38: se uma prova de
escândalO, ocasiâO
fora na nudez indigena de tal despudor,
verdade que o apóstolo Tome
deixara pegadas nas pedrs e nos e de ofensa a Deus.
DecifrandO a genealogia da nu
caminhos do Brasil (e os de Cam, que escarnecera
-

jesuItas as rastrearam a farta), näo resta- localizou -a no pecado


va dCvidas de NObrega isso exilado e condenado
a servi-
que a luz divina tocara o
trOpico sern que os Indios dez de seu pai, Noé, sendo por jesuitas
deixassem de pecar. Pecarninosa alias, outros frutos
aos

zia Nuno
era, alias, a doorigem gentio, di dão45. 0 pecado de Carn renderia, a origern legitirna
da
Marques Pereira, veriam
-

para quem alguns nele


indubitável descende
era no século seguinte, e
Indios de
-

rem os
das famIlias
escravidão no rnund046.
uma
que haviam migrado de Babel,
"por serern hornens soberbos, teimosos e não face a nudez dos in
-

o poder de Deus"39. Repetiu -se


quererem conhecer 0 horror quernanifestaVarn os jesuitas
exaustão parece rnesrno
antecipar
dios, especialrnente a das partes genitais,
que os nativos nâo
-, obsecada
pronunciavarn asletras F, L e R por não terern de ReformaS
as vezes, fé, lei e rei, o que
todo o rigor de urna época ternpo -

significava ye-los como pobres inocentes em ainda no século XVI,


estado de dos corpos: na Europa,
anomia, rnas pam os jesuItas
claro sinal da pela ocultacão exibissem seu
que eventualmente
era
anarquia diabólica interdicOes aos
em que viviam. 0 Inimigo estava em toda a cOmcçariarn as
qualquer lugar e
parte, e aos
soldados termas, rios ou ern

L
de Cristo, escreveu Baeta
Neves, cabia "ler essas marcas" e saber corpoern banhos pOblicos, Bologne, a mo-
ate que ponto o Demônio ocasiâo. Inaugurar-se -ia, lernbra-nOS Jean-Claude
conseguira embaralhá-1as4°. XVIII algumaS congregacoes
derna era do pudor, e no século
20 21
chegariam ate, por aversão a
banharem, nudea, a proibir Os
salvo por estritas
razOes de ordern religiosos de se matéria de incesto, poligamia e
Os habitantes
nus do médica47 tupinambás não cornetessem em

os meninos ensinan
Brasil seiscentista causaram outrOs mais; veihas, observou, granjeavam
-

desalento aos as
jesuItas, a cornecar por profundo
do -ihes 0 que nao sabiam53, e todos "sujidades"
so conversavam
vesti-los desde
que chegou a NObrega, que tudo fez para
lente dos padres Bahia quis dar a cometiam "a cada hora". Aos apetites libidinosos, certamente,
para os Indios roupa sobressa. que
0 peniS: "costu-
Sirnao
Rodrigues; batizados. pediu atribuiu 0 hábito que rnuitos tinham de engrossar
roupas ao padre
dios fiarem seus COnsiderou a PosSibilidade de os mam pôr nele o pêlo de urn bicho tao peçonhento que lho faz

algodao; e incluiu essa próprios in


vestidos de se ihe faz o seu cano tao disforrne
de
piano geral de logo inchar, corn o que
-

aldearnento de 1558. medida no nâo podem as muiheres esperar, nern sofrer"54. E,


Corpo dos indios, Juigava imperioso cobrir o grosso, que os
riarn nus alegando variadas razOes: o tratando do que pouquIssirnos ousavam falar,
comentou serem
vindouros. a ofensa a escándaio que da-
aos padres
"muito afeiçoados ao pecado nefando", do qual
não se envergo-
assistirern a ofIcios Deus, sobretijdo ao
divinos corn as "servia de macho" dele se vangloriava, tomando
cäo que Indias nuas vergon5 a mostr a nhavam, e o que
causariam nos cristão48 excita ao passo que alguns efeminados
Ihes o Era preciso essa "bestialidade por proeza",
corpo, urna vez
gente crista, e
batizados. pela nudez em Ocultar
armavarn tendas e se faziam de "mulheres publicas". 0 jesuIta
pelo que essa nudez si, descabida em Indias afei-
poderia incitar. Pero Correia insinuaria, alias, que tambérn algumas
Despudor na exibiçao do corpo, acrescido casando -se
e -se a sodomia, guerreando como os homens,
apego a vida promIscua de çoavam
primejros tudo isso licenciO5ide corn muiheres, e ficando mesmo injuriadas
se as nao tornassem
cronistas, a vassalagem comprovava aos olhos
dos nâo ter limite,
por rnachos55. Os pecados indigenas pareciarn
era o
Demônjo Fernao que flOSSOS indios
Cardim, prestavarn cronistas. E, assim, o jesuIta Antonio de
Indio, compararia o interior chegara a ver inocência na nudez
que ao
do que pensavam nossos
das ocas a um confessores inquirir aos Indios sobre
Onde o
fogo, aceso dia e labirinto infernal AraUjo recomendaria aos

de que noite, veräo cada ato luxurioso em particular, em vez de perguntar-ihes gene
-

se
utilizavam os
e
inverno, era a ünica
entanto, seria
aborigenes 0 que mais
lhe
roupa ricamente sobre o sexto e o nono mandamentos, preocupado
que viviam 100 ou aturdiria,
a
nurn so
promiscuidade em no
fato de a "lingua geral" não possuir vocábulos que expri-
lugar,
reunidas "sern 200 pessoas
corn o

cada casal em repartirnento algum ou missem nUmeros alérn de dez56.


do o que ihes
seu rancho
e "todos
a vista uns divisao",
dos outros" Da mais extremada luxuiria que se costurnava atribuir aos

aprazia, enquanto a casa fazen a adrnissao de


assirn era, indigenas passava -se, as vezes no mesmo texto,
-

expoe de inIcio o ardia em


chamas. Mas de alguma relaçâo
pelos padres49 jesuIta, antes de serem que entre eles havia casamentos
ou ânimo
convertidos no entanto, a idéia de que tais matrirnô-
Nudez e conjugal. Predominava,
promiscuidade duvidosos, urna vez que a poligamia, o
luto
desregrame0 nas relacoes combinavamse corn o rnais nios eram falsos ou
abso- e a instabilidade das
deduziram) os Obseadores semais foi o que
viram (ou
derespeito as regras de parentesco cristãs
dos primeiros tempos. invalidavam -nos ou dificultava aos observadores saber
Lorenzo dei unjOes
Medici, Vespucio diria Escrevendo a casados. Anchieta, nosso primeiro "etnO
rnulheres quais eram, de fato,
-

os
quantas que os
Indios tinharn
corn a queriam, o fliho se unindo tantas
logo", foi o rnais empenhado em decifrar a logica
matrimonial
innã, o primo corn a corn a
mae, "o irrnao
prirna, buscando demarcar a "verdadeira regra" das uniOes por
encOntra"50 e o
FOrnicacao poligamia e incestoencontrado corn a que indIgena,
meio de analogias com os preceitos cristãos57. Reconheceu
o
assim
que tambem viu em todos
o
jesuIta os graus foi identificou
1602: "sujIssjnios noJerônimo lege naturae,
in o ma
que Os Indios se casavam
-

carijos em
Rodrigues, Visitando
vIcio da os tio sobrinha e a interdição
uniam as trimOnio preferencial entre o materno e
filhas, os tios as car", diria, os pais se
descenderites "pela linha
cornvárias rnulheres e sobrinhas, os avôs as
rietas; os homens que havia de casamentos corn muiheres
ate mulheres
Soares de Souza corn "dois
maridos"5' Gabriel
dos machos" descobrindo, corn isso, a primazia do matrimônio
-

memorial corn o
chegou a
nornear urn dos avuncular patrilinearismo que regia o parentesco tupinambá58.
e o
tItulo "Que trata capItulos de seu de
escrevendo de da iuxjria
destes Confundiu-lhe, porern, como a todos os jesuitas, a variedade
rIndias. iuxuriosos
fato, o mais
compieto resurno das bárbarOs"52, muiheres que "coabitavam" ou tratavam sexualmente corn Os
extremo, nào havia pecado torpezas ame-
ao
homens. Seriam as temiricô mancebas de urn sO homem,
22 da came
que prisioneiras de guerra ou muiheres em geral? Seria agoacã
os 0

23
nome dado a
"barrega ou manceba comum a qualquer homem ou rigor dos impedirnentos: que
Sua Santi-
que Roma atenuasse
o
muiher?" indagava -se, Atordoaram -no, ainda, a deixasse
dade tivesse "largueza destes direitos positivos", e os
-

de fidelidade fragil existéncia


conjugal, a tolerância quanto ao adultério: como entre parentes por afinidade e
permitiam muitos maridos que suas mulheres padres celebrarern casarnentos de
homens pelos matos? Ou seriarn andassem corn mesmo consangUIneos ate
o segundo grau, pois o matrirnôniO
concubinas e nao esposas? da irma cá o seu verdadeiro
"tio corn sobrinha da parte era
Fosse pela
poligamia, pela instabilidade das uniOes, casamento"61. Era casá-los corn urna so muiher, ainda que
preciso
incestos pelos
ou
infidelidades, os jesuItas julgavam que, se casamentos a custa das regras oficiais.
havia, falsos, 0 ünico remédjo
eram
para os Indios era casá-los, cederam casarnento, e cederiam noutros
uni-los forma e na regra da
na
Os jesuitas no
ihe
Igreja o
que pressupunha muita o Céu ao Indio so porque
terrenos. Que não se negasse
-

instruçao moral ao lado da sistemátjca mu anos" não


locais. Foram eles incansávejs em demonizaçao das práticas faltava a roupa, dizia Nobrega: afinal, por
"tantos
da Companhia
andara sempre nu62? Nosso primeiro provincial
condenar os gentios ao Inferno
persistissern
4$
se no pecado mortal
da fornicaçao, e o. teatro ainda confissOes de indios por meio de intérpretes e
sem
düvida,
dos rneios mais foi, autoriZaria
engenhosos de faze -los ver e sentir a despeito das
quao apartados viviam de Deus em estimularia a rnissão na linguagem dos brasis,
suas incredulidades criticas do bispo Sardiriha. E Simão de Vasconcelos elogiaria o
libidinagens, Demonizaçao e
aculturaçao pela via do drama
e
ao estilo da terra, "batendo o pé, espal-
religioso, notável tática da Reforma Católica, padre Navarro por pregar
mando as mäos e fazendo as rnesmas pausas, quebras
e espantos
acionada Veiho Mundo. No
no principalmente
como no famoso Auto
trOpico usaram-na corn frequência, costumados entre seus pregadores"63: imitaçâo
das "gatirnonhas
de São
Lourenço, escrito pelo mesrno da flexibilidade da
Anchieta cerca de 1587: os dos pajés", observou Gilberto Freyre, prova
principais diabos apareciam au na do ânimo jesuitico, disposto a tudo para
figura de dois irnportantes chefes catequese, e também
indIgenas que haviam lutado ao aos confins do ultrarnar.

a
lado dos franceses no Rio de levar a Reforma CatOlica
Janeiro, Guaixará
Aimbirê, Os e
quais exaltavarn como obra sua a vida
desregrada dos amerIndjos.
Dançar, pintar-se de vermeiho, beber cauim ate Vicios do tropico, pecados do mundo
matar e vomitar,
corner
prisioneiros, fazer falsas confissOes, viver
amancebado lndios, demo
cometer
adultérjo, os bailes, os cantos e os jesuItas virarn os a
-

A ma vontade corn que os


prazeres, tudo enfim
era
imputado ao Demo e objeto de violencia da catequese, tudo isso
nização de costumes, a
Diabo-Mor, "Quem no mundo como eu vanglOria para Guaixará,
seus
rnodemo colonialismo, a sujeicâO dos po-
ao
prOprio Deus desafia?" pertence a história do do
exclamava, soberbo, o Satã tropical dos inacianos5, além-rnar, a escravidão e a exploracão
-

vos encontrados no
Mas a base da outro lado, corno mdi-
aculturacao praticada sobre os Indios no Novo Mundo pelos europeus. Integra, por
Brasil consistia em faze -los
casar, urna vez pacificados, verdadeira carnos de iniciO, o processo
rnais arnplo da Refoima Católica. 0
obsessäo dos padres a o do colonialismo euro-
julgar pela correspondência do século XVI. olhar que deforrnou o arnerindio foi
o ideal, nesse
ponto, era casá-los na observncia das mas seria ainda olhar tridentino da Contra -Reforma, o
regras que cêntrico, o
ConcIlio de Trento nâo tardaria as condicOes em que
a
homologar, e nos vários cate- mesmo que simultaneamente deplorava
cisrnos vertidos em de Deus, prOximos
"lInguas brasIlicas" encontramos viviam os fiéis da velha cristandade, afastados
preocupacao registrada a
corn
impedirnentos, proclarnas, palavras de pre do Inferno.
sente, testernunhas e o Novo Mundo no
-

tudo rnais60, Os inacianos As diferencas que separavarn o Veiho


e o
eram, porérn,
realistas, e o dia -a -dia da catequese fez -lhes ver que a missão lirniar da Epoca Moderna erarn em tudo extraordinárias: em
deveria adaptar-se ao Novo Mundo, recuar taticarnente frente as termos de religiâo, costumes, vida material, gentes, dimensOes
peculiaridades do trópico. Foi que os dois passariarn
a
esse o
percurso em
relaçao ao geográficas e, certamente, na posicâo
casamento, em
irnpressâo de licenciosidade absoluta cedeu
que a
desempenhar no modemo sisterna de trocas irnpulsionado pela
lugar reconhecimento de que os indios contraIarn nos dois
expansao ultramarina. Os conternporâfleOs perceberarn, inscrito
ao

e, ainda, de que havia matrirnônjo


normas a
regê -lo. E da lados do Atlântico, esse notável elenco de diferencas,
dos Indios ao condenaçao geral
Inferno, hornens corno
NObrega numa dimensão ja planetaria da Terra. Mas,
ao mesmo ternpo,
passararn a
suplicar
24
conceberam o fato de a Descob
populaçOes a luz da tradicional antro- Baeta Neves observou corn brilho
as novas

pologia cristã, urna alteridade total",


ii
que desde fins da Idade Media rompera as acharnento de
paredes não ter significado "o
dos rnosteiros das universidades e teriarn afast
e corn regiOes de si que se
aspirava a tornar-se modelo antes, "urn reencontro
de ética pam cristandade em geral. conhecimento das partes
espiritualrnente (...),
a
Antropologia tao antiga fIsica e
urn
0 Novo Mur
quanto o cristianismo dos apOstolos ou da
patrIstica, que pres- então dobradas, ocultas de rnapa".
urn rnesrno

supunha o desprezo pelo mundo terreno e pela prOpria criatura de diferent


acabaria, assim, hostilizado pelo que apresentava
hurnana, decaIda desde o erro de Adäo. A difusao da Devotio de igual: duplarnente animalescoe rnc
pelo que rnostrava
e a cornprovar quâo
Moderna, modelo ascético de vida que buscava aproxirnar o ho -

truoso, a exibir hurnanidades selvagens


de Deus, resgatando -o das trevas em
mern de Deus. Parece ter
que vivia, não estaria calda podia ser a hurnanidade ignorante
afastada do chamado Renascimento. Tratar-se OS DescobrirnefltoS e o hu.
essa a conexão predorninante
entre
-ia, no fundo
do século XVI, rnas' iiâo foi a Ui
-

escreve Delurneau
-, do mesmo humanismo nismo pessimista e triunfante
que, por rnültiplos
Frei
possibilidade de leitura aos conhecia oconternporâneOS.
carninhos e vertentes, buscava redirnir urna olhos dos
hurnanidade injusta,
obscurecida e decadente. 0 apego a cultura clássica, o sonho de cente do Salvador, que bern trópico, julgou que
resgatar urna Idade do Ouro perdida, a própria os homens corn o adntc
valorizaçao do dendo o Dernônio o controle sobre
saber experimental, tao caracterIstjcos do Arnéricas e ali construIra o
da rnesrna visão pessirnista do
Quattrocento, partiriarn cristianismO, rnigrara para as
cristanc
prirnro historiador idealizava, pois,
a
mundo, que seria ainda a dos reino67. Nosso
reforrnadores do século XVI. Humanismo rnundô descoberto
-i- far.
-

como
contraditório, sirnulta- européia demonizava o
e
nearnente criador e e de Espanha na rnesrna ép
pessimista, aberto aos mais variados campos alias, outrOs cronistas de Portugal
do saber, porérn melancOlico e Norte fizerarn o op
por isso ligado a difusâo da mais Houve, porérn, os que no hernisfériq,
rigorosa ascética já inventada no Ocidente; capaz de desalentados corn o ternpo ern
homens tao diferentes como Leonardo da Vinci e
produzir inspirados no rnundo novo e cristãs (era o
Lutero, Erasmo viviarn, projetararn sociedades genuinarnente
e Calvino, Giordano Bruno e macjo de Loyola. Cidade do So!, de Tornaso (
diziarn), justas e tolerantes. A
terreal, situava-se perto de Sri
0 impacto dos descobrirnentos nesse La
movirnento intelectual panella, quase urn paraIso do it
do Ocidente näo é fácil de avaliar. Roberto
Romano considerou -o ao sul do Equador, e a ilha do legendário Utopus,
decisivo nos rurnos que tornou o hurnanismo e toleri
europeu no século Thomas Moms, exernplo de equidade, temperanca
f
XVI: rnais individualista, da America: de suas rnaravilhas
possessivo e universalista, menos aberto cristãs, ficava nos confins
as diversidades do de origern que v
urn certo Rafael Hitlodeu, portuguêS
que parecia ser no século anterior65. Hurna- grega
nismo mais claramente corn Américo VespU
pessirnista, dirIarnos, estreitarnente vincu- anos .na ilha da utopia apOs naveg'ar
lado a inquietaçao das Reformas, e que, alérn de empenhar-se na rnediacOes, outras conexOes entre Vel,
Houve, pois, outras
depuraçao da cultura e religiosidade populares nos palses euro- Novo Mundo após o dos descobrirnentOS sobre o
impacto
peus, voltou -se contra as próprias manifestacoes da cultura em nenhurna delas pôde sobrepujar o
1

dita que transbordavarn


-

ginario do Ocidente. Mas através da


os limites de urna ordern
cional desprezo do mundo que, irradiando
-se
cristã renovada.
As descobertas podern ter provocado, como sua rnarca aos Ternpos
ModernoS.
sugere Romano, urn formas, imprirniria
acirramento da rnelancolja entre os "diretores de
consciêncja" do A dernonizacãO triunfaria toda a parte, a agressivida
ern

Ocidente, desencantados corn o rnundo conhecido e aterrados fossern do alérn -mar, fossei
abateria sobre todas as gentes,
ante a constataçao de seu Primeiro catec
que vasta porçäo do globo possuIa hurnani- velha cristandade. Lutero, prefaciando
dades que jarnais haviarn conhecido a cristãos, sâo
verdade cristä. A simulta- anirnalizaria os alemâes: "todos se denorninarn
neidade dos processos foi de não sabern nern c
qualquer rnodo notável: o Novo zados e recebern o Santo Sacramento,
e
Mundo a estimular o desencanto na velha MandarnentOS (...). Vivern
cristandade e sofrendo, Nosso, nern a Fe, nem os Dez
em escala
arnpliada, o impacto dessa mesma ética detratora do urn rebanho inconsciente,
corno sulnos desprovidos de ra2
homern colorida no trOpico por urn racisrno de diferentes e rnoralistas do
Seguindo-lhe o exernplo, alguns pregadores rnesmo a "india
-

rna-
tizes.
Curiosamente, a detraçao da humanidade parecia ecoar nos lo XVII, católicos ou protestantes chegariarn
dois lados do Atlântjco. pastoral: je
popular européia irredutIvel
acultura a nova os

26
de Huelva, a oeste de Sevilha, considerariam seus habitantes de São Vicente, apar-
estrago feito pelo demônio"
na capitania
"mais parecidos Indios do
-

aos
queoanhOis", e Sir Benjamin tando arnancebados do lugar.
RudyeddTsursando na Câmara dos Comunsëñi 1628, diria
que Escrevendo em junho de 1553, NObrega veria no célebre
havia partes
na Inglaterra Pals de Gales onde
exemplo perfeito do que faziam os portugueses
e no
cristianismo
Joao Ramaiho
o o
escasso, onde Deus sO ligeirarnente Brasil: sua vida corria a moda dos Indios, rodeado de mulheres
era era "rnelhor conhecido do no
que entre os Indios"70. Pensavam, pois, como o célebre Antonio nUrnero de filhos, os quais, mal atingiarn
Vieira que, pregando na Catedral de que ihe davam copioso
Lisboa, sentenciou: "Dizeis puberdade, seguiarn exemplo do pai, unindo -se a várias mu -

a o
que sois Cristãos? Assim é, [mas] somos cristãos de
meias, temos cuidarern irmãs ou parentas. Assim, indignava
-

iheres scm se eram


parte da Fe e faltamos outra (...), católicos do credo e pecado do de João
hereges dos se Nobrega, perpetuava -Se linhagem a
mandamentos (...). Este é o mundo em
que vivemos. Antes e Ramaiho, verdadeira petra scandali para os inacianos, "principal
depois de Noé, sempre foi o Dilüvio"71. frente sendo homern "muito conhecido
0 mundo tornar-se -ia, como
estorvo" que tinham pela
jamais o fora, urn grande vale Indios" de São Vicente. Homem difIcil,
de lagrirnas. E, na modéstia de urn relato de
o aparentado corn os

viagem emenda e vivia excomun-


Brasil, jesulta AntOnio Rodrigues
escrito no
prosseguia, pois se recusava a qualquer
padres. Mas João Ramaiho
o
resurniria a ética dos confessar aos
tempos: "ainda que ate agora
novos
gado por não querer -se
corn muitos perigos andei da qualidade dos colonos e de
nave -

era sornente o major exemplo


gando do sul, onde ha tantas tormentas
por este
povoarnento da Colônia: "(...)
mar a esta terra,
que poucos como se operava o
navios escapam, contudo
confesso, carIssimos irmãos, ate agora diria desalentado, não vieram senão dcstcrrados
da mais vii e
ter navegado por outro mar mais perigoso, que é deste mundo marcaria profunda-
perversa gente do Reino"73 imagem que
o e -

suas vaidades, onde tantos seperdem."72 mente nossos historiadores da colonização.


Os queixumes do provincial dirigir-se -iam, ainda,
contra os
Outras Faces do Pecado instaiacão do
clerigos seculares que chegavam ao Brasil após a

de coni-
Bispado da Bahia (1551), acusados de iguais pecados e
Fosse pela intolerância moral de seu rnau
que ostentavam por princlpio, vência corn os amancebamentos dos ieigos: "alérn
fosse pelo que observaram no inlcio da em pecado corn as
colonizaçao, os jesultas exempio e costumes", diziam "ser llcito estar
cedo perceberam que o mal não
campeava so entre o gentio. 0 escravas", absoiviam quantos os procu-
negras, sendo elas suas e
"excesso de liberdades", a "falta de lei" moral corn caminho
que o ame- ravarn em confissão, fazendo-ihes mui largo o estreito
rindio ofendia a Deus, viram-nas tambérn na evitarão
conduta dos por- do Céu. "A evitar pecados, [esse clerol não veio, nem se
tugueses recém-chegados do Reino.
nunca (...). Outras coisas veio fazer que YR. e cu deverlarnos
Principal porta-voz da lamOria inaciana no século XVI, chorar" -
escrevia ao Padre Sirnão Rodrigues em i553. Pas
-

NObrega não pouparia criticas aos primeiros colonos que, tao sados seis anos, Nobrega não mudaria de opinião,
em carta a

logo desembarcavam, tratavam de arnancebar-se corn as indias da Tome de Souza, denunciando padres que insistiarn em manter-se
terra, e não contentes corn esse já monstruoso
pecado, muitos se des próprios amancebados corn
suas escravas, "que para esse
uniam a várias mulheres de urna so
vez, prontos a copiar o estilo efeito escoihiarn as rnelhores e de mais preco". Estenderia, assirn,
dos caciques e dos
principais do gentio. Quase todos, ti dizia, -

ao clero colonial o juigarnento que


fizera dos desterrados que cá
nharn suas escravas "por mancebas" e outras livres
que pediam "escória" de destrula quanto se edificava
padres
aos indios
se lançavam: que
por mulheres, quando não as arrebatavam diretamente. não viessem, que nâo se embarcasse sacer
Brasii; melhor que
-

no
Cultivar o pecado e dar
escândalos, comprometendo corn isso a dote "scm ser sua vida muito aprovada" repetiria, incansável, o
-

base moral de toda a obra


missionária,eis oque parecia ser
principal objetivo desses colonos ao migrarem para o Brasil
o
jesulta-rn0r75. não
séculos seguintes, e
O juizo de Nobrega ecoaria nos
-

repetiria NObrega em várias de suas cartas. E, ad idênticas crIticas aos sacer


bispos e prelados repetiriam
se ousavarn
-

poucos
-

moestá -los, instando


para que sO India, os o firn do século XVIII. E boa parte
se casassem corn uma
dotes seculares da Coiônia ate
padres erarn logo arneacados, ofendidos e ate
perseguidos de historiadores assurniria, alias, a critica rnoraiista dos ma
-

nossos
-

relatava Leonardo
Nunes, que pretendera desfazer "o grande cianos -
corn exceção de Gilberto Freyre, adversário
mordaz dos
28
29
jesuIstas, que ma! disfarçou
benevolência com
sua
minou "abrasileiramento" do c!ero colonia!76. Mas
nossos

to de
padres não destoava, ao menos no

párocos da Igreja Católica, conforrne já salientamos. 0


o que deno-
a so!tura de

século XVI, do conjun -


i algum tempo

desonestassem
com
ou perpetuameflte
invadiarn mosteiros parr arrebatar
virgens ou
tias, primas e outras parentas;
no Brasil
esposas
as de
freiráticos que
eram os

Cristo; os que

viUvas honestas; os que fornicassem


os que violentassem Orfãs ou

despreparo dos curas levara Roma a incentivar missOes na Europa menores sob tutela; os que, vivendo
da hospedagern alheia,
ao longo dos sécu!os XVI e
dormissem corn parentas, criadas ou escravas brancas do anfitrião;
XVII, e muito antes do ConcI!io, em
1522, o Papado outorgaria privilegios na esfera rnulheres casadas, e as próprias adülteras,
os que dormissem corn
paroquial as a!coviteiros de
ordens religiosas atuantes no ultramar visando
suprir a falta e a em certas circunstâncias; as amantes de clerigos; os

desqualificaçao dos quadros secu!ares. No Brasi!, porém, a for do quarto grau; os ma


freiras, virgens, viüvas e parentas dentro
-

nâo provassem o
mação de urn "clero profissional" parece ter ma!ogrado desde o ridos que matassem esposas adU!teras, caso

inIcio, o que, somado a fragilidade da estrutura eclesiástica co!o- casamento corn as muiheres assassinadas. •o Além desses, a legis-
nial, rnuito comprometeu a eficácia das resoluçOes tridentinas. degredo parr feiticeiros, homicidas que e outros a
lação previa o

A combater acrescentaria corn o passar do tempo: hereges,


essas e outras dificuldades sempre estiverarn os prática judiciária
jesuItas, "donzelOes intransigentes" Para desespero dos jesultas,
nas palavras de Gilberto
Frey bIgamos, sodomistas, judaizantes...
de fato ap!icadas
-

que rnuitas !evou não poucas daquelas pena!idades forarn co -

re,
-

o vezes
Companhia a chocar-se corn a
a
da Coroa
polItica co!onizadora da mo verernos oportunamente.
A polItica de povoamento
Monarquia e corn poderosos interesses
escravistas ja esboçados confiimar função e a irnagern que
século XVI. E conhecida a portuguesa parece, assim,
no a
oposição de purgacâo",
que fizeram a escravidâo do amerIndio batizado, e tao Laura de Mello e Souza atribui a Colônia: "!ugar
grave XVI81.
quanto essa foi a contestaçao que, através da desde século
"purgatório da MetrOpole"
o
into!erância rnoral,
Tizerarn a polItica oficial de dirninuir a vinda
povoarnento da co!ônia. Povoar a Na medida do possIvel, os jesultas tentararn
viesse "rnelhor
qualquer preco, ainda que por intermédio de pecados, essa foi dos indesejáveis do Reino para a Colônia: que
sabidarnente a diretriz da polItica de bern", especialmente pessoas
colonizadora, e Gi!berto Preyre gente", que "mandassem homens
foi dos que mais insistirarn nesse fazern muito rnal"82,
ponto, relacionando a escassez casadas no lugar dos "degredados que cá
da populaçao desde 1549. Mas, colônia de exp!oracao, o
portuguesa, sua limitada capacidade migratória, reiterava Nobrega
corn a frouxidão da ortodoxia mora! a vinda de famI!ias
na
colonizaçao do Brasi178. Brasil nâo facilitaria, pelo menos no corneco,
de enri-
Nâo fa!taram de fato vozes oficiais a
incentivarern veladarnente as do Reino, estimu!ando antes os aventureiros desejosos
vinham a forca,
quecimento rápido, a!ém dos degredados que viver em terra
"solturas" que tanto incornodavarn os
jesuItas: Pero Borges, ouvi-
dor na Bahia, !embraria ao maioria, ternerosos de
monarca, em 1550, necessário quão homens errantes em sua
Cientes do que ani-
era "nâo se guardarern em
algurnas coisas" leis do Reino no
as estranha, ansiosos por voltarern a Portugal.
a extraçâo de riquezas e a
Brasi!; Duarte da Costa diria 1555 que, sendo o Brasil "terra maya a Coroa a colonizar o Brasil
-

em
tao (...) os jesuItas trataram de ao
nova e tao minguada", nãose poderia
povoar sem rnuitos ocupacão litorânea a todo custo -'
perdOes; Mern de rnenos atenuar as conseqUências
morais da irnigracão predo-
Sá, cinco anos
depois, tornaria a dizer que, se o
rei não fosse "fácil recusavam a casar corn suas
em
perdoar", nâo teria "gente no Brasi!"; e rninante. que os homens se
Alegando
solicitaram a D.
nosso primeiro
Bispo, tao rigoroso em várias matérias, afirrnaria escravas concubinas por nao quererem libertá-las,
tais matrimônios nâo forrariarn
que muitas coisas se haveriarn de "dissimu!ar", morrnente em terra Joâo III provisao declarando que
tao nova79. Muitos foram os muitos amancebados erarn ja
que !embrararn ao rei o as esposas Indias. Constatando que
imperioso voltar as esposas ou a
objetivo co!onizador, buscando provavelrnente neutralizar o furor casados no Reino, obrigavam -nos a para
.

rigorista dos inacianos. buscá-!as ern usando todos os meios de que dispunham:
Portugal,
danacao etema, excornunhOes e, sobretudo,
E recusa
afã de povoar a Colônia,
no
ameacas de
Portugal utilizou -se sisternati- conduzia a dese-
camente do degredo, de absolvicao nas confissOes que as vezes
importante mecanismo co!onizador
o -

e, ainda, Os inaciaflOs as
depurador da
própria Metrópole. Dentre os vários crimes que o jada emenda. No entanto, que rnais suplicaram
o
base
direito régio penalizava corn o
degredo para o Brasil, as trans
autoridades metropolitanas foi o envio de rnu!heres brancas,
Colônia
-

gressOes morris nao foram as menos notáveis: condenados a viver para a construçao de uma ordem
familiar portuguesa na e

30 31

-
garantia de que as Indias ficariarn a salvo dos da cruzada tridefi-
pecados. E já clás- Jesuitas a frente, o discurso aterrorizante
sica a obsessão de Nóbrega a esse clamando todo e qualquer obstáculo, e a intimi-
respeito, inümeras tina dispôs -se a combater
pela vinda de órfãs, rnoças que dificilmente se casariarn em -se -ia logo corn a dos
daçao dos Indios no século XVI articular
vezes

Portugal, meretrizes, muiheres erradas, todas enfim, desde que colonos, uns e outros, cada qual a seu modo, merguihados no
brancas
e casadouras83. E, corn
efeito, Nóbrega foi urn grande Demônio. Já vimos, no Auto de São
pecado e govemados pelo
casamenteiro no século XVI: andou
"escogitando maridos e alco- Indios que, incré
destino que Deus traçara pam os
-

Lourenco, o
vitando namoros", tao logo vislumbrava a
possibilidade de matri- dubs por origem, ainda auxiliararn o herege frances: Guaixará
e

môniosM. de mortos, consumiriam dias


Aimbirê,demonizados depois seus

Empenhados em difundir casamentos e concorrer para o na condenação do Inferno, apOs se vangloriarem dos "pe-
eterna
povoamento da terra sem prejuIzo de Deus, os jesuItas acabaram cados indigenas" ousando obstar a divina obra dos padres. 0
cedendo no rigor das regras oficiais. Como nos matrimônios manti-
mdl- sentido da mensagern era claro e generalizante: os que
genas onde pediram dispensa destino semeihante ao de
pam casar tios maternos e vessem "costumes de gentio" teriam
-

sobrinhas, contrariando o
impedimento consangUIneo de segundo Guaixará, inglOrio rival de Deus. E tambérn nesse drama peda-
grau -, solicitaram o afrouxamento tias dois tipos de ameacas que a pastoral do
normas que
impediarn gógico combinaram -se os
portugueses de casarem corn mndias,
especialmente a que proibia medo apreciava vincular: o perigo da danação eterna
e o castigo

homens de esposarem muiheres se tivessem dormido haviam de fato


divino na Terra. Os Indios-diabos de Anchieta
os
corn
irmãs ou parentas da por desa-
cônjuge, prática habitual nas relaçOes morrido combate a
no e rnorreriarn
cruz, eternamente
sexuais dos prirneiros colonos. Em
agosto de 1553, na mesma fiarem a Lei de Deus.
carta em que solicitava esse
relaxamento da disciplina matri- primeiros tempos aplicar-se-ia
a mesma
Aos colonos dos
monial, Nobrega pedia ao padre Luiz Gonçalves da Cãmara verniz da cristandade que
pregacão, adaptada naturalmente
ao
que
confinnasse a morte da primeira eis o que os jesuI-
esposa de João Ramalho e que traziam de Portugal. Excomunhöes e ameaças,
obtivesse licença para casá -lo corn certa do primeiro século,
India, mae de seu flihos, tas mais despejararn nos ?obonos portugueses
"não obstante houvesse 'conhecido' outra sua irma escravistas, que tanto afeta
visando especialmente ambiçOes
-

e
quaisquer suas
parentes dela". Dois meses depois de considerá -lo yam a catequese, e seus desejos libidinosos, que comprornetiam
petra scandali
de São Vicente, percebera o moralista da
quanto podia usa -b na "conversão toda aobra missionária no alérn -mar. A obsessão
destes gentios". Domesticar o pecado de mil faces e convertê-bo fartamente
pregacão inaciana no sécubo XVI, sugerida
na corres-
em instrumento da nos sécubos seguin-
Fe, assim pretendiam os jesuItas levar a seria ainda ampliada
Reforma CatOlita ao ukramar. pondência dos padres,
sermonário católico
tes, espelhando a temática privilegiada pelo
, A
dos Tempos Modernos85.
intimidaçäo da Colônia insis-
Estigmatizacão dos desejos e das transgressOes sexuais,nossos
nada disso faltou em
téncia no castigo infernal ou terreno,
Organizar as massas corn base na famIlia cristã, faze -las crer em 1699, o padre
serrnOes dos séculos XVII e XVIII. Escrevendo
na verdade divina segundo as castidade o destino
regras da Igreja, o ampbo programa Manuel Bemardes relataria em seu Armas da
a m5derna Reforma
Católica carecia de outros meios além dos de dois amancebados, urn homem e sua comadre, habitanres d
njos institucionais e da disciplina eclesiástica homologados em Brasil no século XVI: depois de mortos, dizia, vinham todas a

Trento. A viabiizaçao da nova estátuas de fogo, "e logo


pastoral ou a modema difusão
-

noites a como dois


cavabo, vultos ou
do antigo cristianismo
pressupunha sistemática intirnidaçao dos contra o outro", saldos do Inferno a penar e arne-
-

partiam urn
fiéis, permanente ameaça corn os horrores que Deus reservava segundo pregador, apelaria a José de
aos que ousassem desviar
drontar a populacão, que, o

-se de si. A
irradiaçao dessa "pastoral do Anchieta para esconjurar a terrIvel visão. "Bern claramente se

medo", conforme a chamou Delumeau, não esteve ausente do culpa con


proporcionada
pena corn a
-

a
-

mostrou neste caso


Brasil Colônia formada de variadas
culturas, gentes e religiOes, cluiria -, pois a Escritura compara a luxüria ao fogo."
-

somente ocupada pam fornecer riquezas a MetrOpole, ter sido


e que por Mais convincente e aterrador que Bernardes parece
isso imporia muitos entraves ao catolicismo. Pereira, o "Peregrino da America", que andou
Nuno Marques
32 33

.1
então se
percorrendo o Brasil a inIcios do século XVIII. Pregando contra o discordaria do estilo demasiado "violento e tirânico" que
adultério, atribuiria mortes terrIveis a farnosos pecadores de quem usava
-

embora fosse inigualável na arte de intimidar. "0 estilo",


ouvira falar. Urn deles, morador em "ha de muito fácil e muito natural" e as palavras deviarn
Ilhéus, rnorreria degolado ao dizia, ser
as estrelas: "as
subir numa árvore e prender,
por obra divina, o pescoço entre os buscar os contrastes, cadenciadas, claras corno
claras altissimas. 0 estilo
gaihos mais altos: "e para que morresse solenemente corn algoz e estrelas são rnuito distintas, muito e

testemunha de vista em tao atroz muito alto; tao claro entendam os


pode ser muito claro que o
suplIcio, chamou pelo irmão, o e

qua! brevemente ihe acudiu, e vendo -o naquele horrive! estado, tao alto tenharn rnuito que entender os que
que não sabem, e que
sem saber determinar
-se, se resolveu a subir pela árvore cortada, sabern"91.
levando urn machado na mao: e Estilos de pregacão a parte, a pastoral do medo acabaria
na
quanto mais subia, mais o aper-
tava, oprimindo corn o peso do pau, ate que referências básicas pratica inti-
Colônia por adotar três
em sua
chegando junto do
padecente, se determinou a cortar urn dos gaihos que o pren- a exploracão social e as transgressOes
rnidatOria: a religiosidade,
diarn: e foi tal o golpe que, errando o
pau, ihe acertou no pesco- rnorais -

as mesmas, talvez, que simultaneamente norteavam a

ço e au o acabou de matar, e assim veio a morrer miseravelmente a realidade do trópico perce-


pregacãO no Velho Mundo, Aplicada
este soberbo
adültero, sendo e!e mesmo o motor e executor do recorrência desses temas na pregacão
bernos, já no século XVI, a
seu
castigo por haver ofendido a Deus e a seu prOximo". Assim inaciana: no da fé, a
carnpo preocupacão corn a incredulidade
terminavam sempre pecadores do dos indios resistência em assimilar a catequese; no campo
os
Peregrino: atirando -se de e sua
em escravizar a
altas jane!as, lançados ern abismos, soterrados por exp!osOes, ao social, a intimidacão dos colonos por sua avidez
que se acrescentava a purgação autOctone; em matéria moral, a ameaca contra todos
etema de suas almas pecadoras87. populacao in
Para livrar fiéis de tao terrIve! destino nossos Indios por perseverarern poligamias, adultérios,
-

os em
pregadores aos
-

colonos porque lhes


acenavam corn a
confissâo, ünico meio de reconciliá-los corn cestos e outras libidinagens naturais, e aos

várias rnulheres em
Deus, desde que confessassern perfeita e verdadeirarnente todos seguiarn exernplo, arnancebando-se corn
o
os pecados, sem suas almas e da prOpria atuação
missionária no con -

exceção. E que o fizessem contritamente, isto e, prejuIzo de


"corn dor, pesar,
detestaçao dos pecados e proposito firme de Lentamente, no transcurso do século XVII, a articulacão
junto.
nunca rnais pecar",
por amor a Deus. ConfissOes omisss ou desses ternas fazer rnais consistente, e novos conteOdos
iria se

pregação: de urn lado, descobrir


somente feitas por rnedo das Trevas não -se -ia o negro
teriarn, assim, o mesmo seriam agregados a
valor -

repetiarn a farta os cOdigos, surnas e manuais cató!icos. africano como alvo de culpabilizacão e objeto de exploracão so-
Já dizia Vieira no seu indefectIvel estilo arneacador: "(...) 0 inicialmente centrada nos costu-
cial e, de outro, a dernonizacão
pecado tern muitas portas para entrar, e urna sO para sair pelo conjunto da sociedade
é a que
mes amerIndios iria espaihar -se

Confissão. Pecar é abrir as portas ao Demônio escravidão, fundarnento da


[masi pecar e colonial atingindo, no limite, a própria
ernudecer é abrir-ihe as portas para colonização portuguesa no Brasil.
que entre e cerrar-lhe a porta
os indios do século
pam que não possa sair ( ..... '; e mudos era o
que mais havia no Se Cardirn pouco endernoniados
julgara
confessionário, prosseguia o jesuIta: mudos que silenciavarn, rnais curandeiros do que bruxos, o
XVI, se vim em seus pajés
inicio do século XVIII, não duvidaria
negavarn, ornitiarn, dissimulavarn, fazendo de suas falas imper- Peregrino da America, no
eitas a rnais completa de idolatria, supersticOes e feiti-
exemplos
homenagem ao Anjo das Trevas. A exi- amerindio
indigen2C)
em ver no
ência da contrição perfeita nâo
dispensava, pois, a atemorizaçao çarias. A suspeicão do pacto demonIaco na religiosidade
generalizada de todos os penitentes. tomar-se -ia mais nitida, superando as hesitaçOes dos primeiros
Nos séculos XVII e XVIII o serrnonário seria doravante o principal
religiosidade negra
barroco da Contra -
tempos92. Mas a
Reforrna desenvolveria ao rnáxirno sua técnica de da fé: Nuno Marques Pereira
pregação a base campo de demonizacão no campo
de irnagens sensIveis, veria no estrondo de tabaques, pandeiros, canzás, botijas
e cas-
ernocionantes, poderosas o suficiente pam
subjugar a rnente dos ouvintes e cativá-las pam as verdades da verdadeira "confusão do inferno",
tanhetas, tIpico dos calundus, a
de es
Igreja90. Urn padre frances recomendana ate o uso de urn "terceiro relacionando -a tambérn corn a conivência dos senhores
-

torn", grave e soturno, nos sermOes sobre a morte dos jesuitas dos séculos XVII
cravos. Perceberia, assim, a exemplo
massa. Vieira, mestre da
dirigidos a senhores em
pregaçao barroca em lingua portuguesa, r e XVIII, o interessados mostravam
quanto
-se os

34 35
deixar seus negros a margern da catequese, cultos da senzala
os a Deus, mas também por aglutinar os escravos, solidarizá-los,
deve-
funcionando como lenitivo das tensOes o conformismo genuinamente cristão que
geradas pela escravidâo. empalidecendo
A crItica demonizadora a
religiosidade das gentes de cor, niam cultivar.
dos Indios e sobretudo dos
africanos, acabaria por confundir-se 0 modelo patriarcal de famIlia, perfeitamente ajustado a
Colônia os limites que
pastoral dos novos tempos, extrapolaria
corn os ataques a
religiosidade popular vivida na Colônia por-
-
na

tuguesa, no século XVI, e cada vez mais sincrética no transcurso triunfo do "privatismo", da forca dos proprie-
devia guardar: o
da colonizaçao pela contInua do Estado levaria, nesse
agregação e justaposiçao de ele- tários rurais sobre os frágeis poderes
mentos amerIndios e africanos93. missão. Ficaram, pois, os jesultas a atorrnen
Contradiçao insolUvel da Re campo, a derrota da
-

forma Católica no Brasil, o pecaminosa, en


processo colonizatório fornecia a senhores pela onipotência arrogante e
-

tar os
Igreja a oportunidade de expandir-se no ultrarnar, ao rnesmo mise
para que suportasSem
o seu
-

aos escravos
quantO pregavam
corn máximo brilho
tempo operando -se a base da escravidão ravel estado. Vieira, uma vez mais, assurniria
em que, e da misci-
genação cultural, inviabilizava a "cristianizaçao das massas" levada o Inferno e a
aos senhores ameaçava corn
esse duplo papel: de
a efeito na
Europa. Nada parecia refrear, no entanto, o Impeto de rebelião se continuassern a supliciar os escravos e a impedi-los
seguidores de Trento; como na Europa, condenaram os escravos, que sofressern piamente
nossos os
abraçar o cnistianismo; aos

espetáculos profanos, a irreverência das festas populares, os di- irnitadores do martIrio de Cristo,
piores castigos e horrores pois, dinia
Reino dos Céus.97 Nosso principal jesuita
vertimentos, a mistura da piedade cristâ corn superstiçOes e não
deles seria o
crenças, o lado alegre do cotidiano, enfirn, aos pobres de Lisboa: não lamentassem
que rnarcava a vida outra coisa, pregando que
das populaçoes.94 Afinal, Cristo a comida, pois quanto mais esquálidos
fossern,
jarnais nra, diria Bossuet no século por faltar-ihes
XVII; "ser risIvel, concordaria Vieira, é a prirneira devorados seriarn na sepultura; ja os corpos dos nicos,
propriedade do menos
racional e a major não daniam para os
impropriedade da razão".95 "estando cheios e carnudos", que banquetes
Mas a condenaçao da vivência "corner para serem
profana da religiao pnivi- vermes? "Oh! triste destino" teniarn os nicos:
legiaria Brasil os cukos negros, e mais intimidados do mundo, lembra -nos Delu-
no
que os comidos." A logica do desprezo pelo
corn mais razão, de
a "recusa de toda sedicao e,
escravos seriarn
por isso os senhores, acusados de tolerantes e rneau, implicava
coniventes corn a prática dos calundus. Os
jesuitas tornar-se -jarn toda revoluçâo" .

os mais ferrenhos adversárjos dos rnétodos de da religiosidade sincrética e a cnItica


controle senhoriais Junto a desaprovacâo
na Colônia, na Colônia alinhania
multiplicando crIticas, nos séculos XVII e XVIII, a conservadora da escravidâo, a açâo tridentina
superexploraçao dos escravos, a crueldade das perrnanente ofensiva transgressôes do sexto man
-

contra as
puniçôes,
as rnás a
condicOes em que viviarn os catjvos, a resistêncja que os senhores que desde século XVI visaria
darnento -
ofensiva generalizada, o

opunham a catequese dos negros. Se corn respeito ao Indjo con a dos colonos por-
-
tanto a licensiosidade natural do Indio como
testaram a própria
escravização, limitaram-se no caso dos africa pecados da came, os que mais
-

tugueses,. e privilegiaria, entre os


nos a censurar os métodos
utilizados pelos senhores no a construção de uma ordern
"governo diretamente pareciam comprometer
Brasil: arnancebarnentos, concubinatos, incestos, poli-
dos escravos", Fizerarn -no,
porém, corn extrerno rigor e, ao estio familiar no
da pastoral, arneacavarn -nos corn a perdiçâo etema ou corn gamias, adultérios. Ofensiva que não pouparia leigos ou clerigos
a,
vingança divina na terra. Atiçavam, pois, nos senhores ou rnulheres, aos quais
leigos, o desregrados, Indios ou conversos, hornens
pânico que tinham da rebelião medo que também os se somariarn, no século XVII,
corn grande destaque os -

e
jesuitas
-
-

da Co
africanos. Jorge Benci os veria cornO os maiores pecadores
não conseguiam dissimular.
-

Donos de aos "vIcios da deso-


escravos e cruzados da Reforma Católjca
no ultra -

lônia, atnibuindo-lhes propensão natural


mar, os jesuItas idealizariam colônia escravista, porém cristä, mais inclinada e entregue aos
uma
nestidade"; nenhurna "nação era
onde as relaçoes entre senhores e cativos sendo "irnpossIvel achar-se urn
se baseariam em di -
vicios que a dos pretos", dizia,
reitos e deveres recIprocos, a
reproduzir o modelo rnonárquico e afnicano que não fosse desonesto", corno inviável era achar-se urn
patriarcal de familia que se buscava difundir no Veiho na lascIvia
Mundo. afnicano que nao fosse africano. Os negros excediarn
Articulando o propósito missjonárjo corn a aos "brutos mais libidinosos" e, ao contrário dos brancos, nao
realidade escravista da
colonizacao, demonizariarn a
religiosidade negra por ser ofensiva careciarn de rnestre lhes ensinasse
que
a arte dos pecados pois -

36 37

F BtGLtOTEC
ICHS / MAFPA
1.uFOP -
nela ja doutores.'°° Benci foi, talvez, o que mais insistiu
eram
6. Bérard, Pierre. Le sexe entre tradition et modernité (XV1e.-XVIlle.
inclinação dos negros para a fornicação, mas tanto ele co-
nessa siècles). Cahiers internationaux de sociologic, vol. 76, 1984, P.
136.
mo os jesuItas de seu In Le sexe et
tempo vinculariam as libidinagens africanas 7. Flandrin, Jean-Louis. La doctrine chrétienne du manage.
l'Occident. Paris, Seuil, 1981, p. 103. Métral, Manie-Odile.
ao desregrarnento da escravidâo. I.e manage:

Vieira, Antonil, Bencil, todos acusaram os senhores de no les hesitations de l'Occident. Paris, Aubier, 1977, p. 40-45; Duby,
combaterem a licenciosidade dos Le chevalier, la femme et le prêtre. Paris, Hachette, 1981, p.
negros, permitindo-ihes cultivar Georges.
os prazeres do
ócio, impedindo-os de aprender os mandamentos 189-197.
des
irnpedimentos dirirnentes (que anulavarn o casarnento),
-

da Igreja, recu.sando -se a casá-los na forma tridentina 8. Entre os


e, sobre-
tacarlamos os ligados ao parenteScO: natural (consanguinidade
ate 0
tudo, dando-Ihes o meihor exemplo de como viver em
pecado. quarto grau); espiritual (contraldo
no batismo, entre o que batiza e 0
De que maneira poderiam os
negros viver castamente inda- -

batizado, seu pai e sua mae); legal (proveniente


da adoçao e
gava -se Benci viam senhores "casados
se
muiheres contraldo entre perfilhante, perfilhado filhos da perfllha, bern
-

corn e que
dotadas assim de honra corno de formosura" deixarem-nas muiher do adotado e a adotante, e a rnulher do ado
"por
-

corno entre a
de afini-
tante e o adotado). Importante tarnbérn e o impedimento
uma escrava
enorrne, monstruosa vu"?'01 Apontando
e o
desregra-
mento dos escravos, os jesuItas denunciavarn os adultérios dos dade contraIda pelo marido corn todos os parentes consaflgUIneOs
o hornern e
senhores e das sinhas, condenavam a
promiscuidade sexual da da esposa ate o quarto grau e vice -versa e, ainda, entre
ilIcita Ce
casa-grande e a
miscigenaçao
que dela resultava e se irradiava todos os parentes de uma muiher corn quern tivesse copula
incluIa, porem, vánias outras
por toda a Colônia. Antonil não deixaria de ver soberba e vício na vice -versa). A lista de impedirnentos
irnpotência, falta de testernunhas, ausência de
casta dos mulatos,
gente ingovemavel, "salvo quando por alguma situaçOes, corno rapto,
V. rol completo ern Silva, Maria
desconfiança ou ciüme o amor se muda em ódio e sai armado de pároco e disparidade de religião. Colonial. São
todo gênero de crueldade e Beatriz B. Nizza da. Sistema de casamento no Brasil
rigor."102 Paulo, Edusp, 1984, p. 129-131.
Amerindios luxuriosos, colonos
insaciáveis, negros lascivos, 9. Segundo o direito canônico, os casos
ern que mais cabia o pedido
mulatas desinquietas, senhores
desregrados, sinhás enciurnadas, o de separacâo erarn: adultério, heresia, inclinação para o
mal (roubar,
pecado estava ern todas as gentes e lugares. A todos, sern ex- .
rnatar, corneter atos sexuals contra natura), maus-tratos, vontade de
ceção, cabia portanto intimidar, arneaçar, castigar foi o rnatar ou assassinar 0 cônjuge e loucura. V. Tarczylo, Theodore.
Sexe
que
-

pensaram os seguidores de Trento no ukramar et liberte au siécle des lumiêres. Paris, Presse de Ia Renaissance, 1983,
português. Aten-
dendo a tantas lamürias e apelos, Silva esclarece que o "divOrcio" nada mais era
já no prirneiro século nossos p. 242. M.B. Nizza da
bispos enviariarn visitadores a rastrear os pecados de todos e a do que a separacão, pois os cônjuges so podiarn voltar
a casan se

puni-los corn o rigor da lei eclesiástica. Nâo tardaria, ainda, para fosse dada sentença de matrirnônio nub. Op.cit., p.210.
Id. ibid., p. 120.
que o já célebre Santo Oficio lisboeta enviasse, ambérn 10. Flandrin, J. -L. Families. Paris, Seuil, 1984, p. 120.
o seu ele, da sexualidade: A vontade de saber. Rio
prOprio visitador, acrescentando a 11. Foucault, Michel. Hlstória
intimidação jesuItica o pânico
da fogueira inquisitorial. de Janeiro, Graal, 1977, p. 62.
Mandamentos da Lei de Deus: 1) Arnarás a urn so Deus; 2)
Não
12.
3) Guardarás domingos e festas; 4)
tornarás o Seu norne em vão;
Honrarás a teu pal e a tua mae; 5) Nao rnatarás; 6) Não fornicarás;
7)
NOTAS 9) Nao desejarás a
Não furtarás; 8) Não levantarás falso testernunho;
Manda
rnulher do prOxirno; 10) Não cobiçarás as coisas alheias.
-

1. Bossy, John. The Counter Reformation and the people of Catholic e aos dias santi
mentos da Igreja: 1) Ouvir missa aos dorningos
-

Europe. Past and present, 47, 1970, p. 53. ficados; 2) Confessar ao menos urna vez ao ano; 3) Cornungar pela
2. Delurneau, J. El catolicismo de Lutero a Voltaire Barcelona, Labor, a Igreja; 5) Pagan
Páscoa da Ressureição; 4) jejuar quando manda
1973, p. 199-210. dIzirnos e pnirnIcias. Os sete Pecados Capitais: 1) Soberba; 2)
1 Ava -

3. Id. ibid., p. 193.


reza; 3) LuxUria; 4) COlera; 5) Gula; 6) Inveja; 7) Preguica.
4. Ladurie, E. Le Roy. Montaillou, village occitan (de 1294 a 1324). 2. Un Sondeo la histonia de la
13. Sanchez Ortega, Maria Helena. en

ed. Paris, Gallimard, 1982,


P. 124-147; p. 190-192. sexualidad sobrefuentes inquisitoniales. Villanueva, J.P. (org.)
In La

5. Mullet, Michael. A Contra -Reforma. Lisboa, Gradiva, 1984, uisic espagnola. Madrid, Siglo XXI, 1980, p. 926.
p. 14.

38 39
14. Herculano, Alexandre. Fstudos sobre o casamento civil. 2 ed. Lisboa, 33. Neves, L.F.B. Op.cit., p. 60.
Tav-tres Cardoso e Irrnão, 1892, Belo Horizonte/
p. 187 e segs. Almeida, Fort .nato 34. Cardirn, Femão. Tratados da terra e gente do Brasil.
de. HistOria da Igreja em
Portugal. Porto, Livraria Civilizaçao Editora, São Paulo, Itatiaia/USP, 1980, p. 87-90.
1968, vol. 2, p. 511 e segs.
15. Boxer, Charles. A Igreja e a expando ibérica (1440-1770).
35. Apud Boxer, C. A Igreja..., p. 118.
EdiçOes 70, 1981, p. 101. Delurnean, J. El catolicismo..., p. 10.
Lisboa, 36. Leite, Serafim (org.). Novas cartas jesulticas. São Paulo, Cornpanhia
Editora Nacional, 1940, p. 73, 77.
16; Mullet, Op.cit., p. 21.
Vieira (sermOes). Lisboa,
17. 37. Cidade, Hemani (org.). Padre Antonio
Caminha, Pero Vaz de. Carta a El-Rei D.Manoel. Em 1 de maio de L. de M. e.
1500. Lisboa, J. Borsoi Agência Geral das Colônias, 1940, vol. 2, p. 321. Souza,
Impressor, 1939, P. 53. Carta a Djoão IlL Jaboatão, Frei Antonio de Santa Maria. Novo Orbe
op.cit., p. 49-71.
Apud Tapajós, Vicente. HistOria administrativa do Brasil. 2 ed. Rio Brasiliense de M. Go
Tipografia
Ser4fico Brasulico. Rio de Janeiro,
-

de Janeiro, Dasp, 1966, vol. 2,


p. 261. mes Ribeiro, 1858, vol. 2, p. 13.
18. Apud Hoomaert, Eduardo. A
Igreja no Brasil Colônia. (1500-1800). SB. de, op.cit., p. 104-125.
São Paulo, Brasiliense, 1982 (Col. Tudo é
38. Trata -se da "lenda de Surné". V. Holanda,
História, 45), p. 40. do Peregrino da Amé-
19. Boxer, C. A Igreja..., p. 98.
39. Pereira, Nuno Marques. Compêndio narrativo
rica. 6 ed. Rio de Janeiro, ABL, 1939, vol. 2, p.
26-27. A origern
20. Em fins do século XVIII America Andrés Rocha em seu
a
espanhola contava corn 8 hebréia dos Indios foi discutida por Diego
arcebispados e
bispados. Já no Brasil, ate 1551 a Igreja esteve
31 Tratado Unico y Singular del origen de los Indios,
1681. Ver
subordinada ao Arcebispado do Funchal,
cuja diocese, criada em Holanda, Sergio Buarque de, op.cit., p. 287-288.
1514, exercera poderes metropoliticos entre 1532 e 1550. 0
Bispado 40. Neves, L.F.B. op.cit., p. 44.
de Salvador, tao logo criado, foi subordinado
Arcebispado de 41. Anchieta. José de. Informac6es efragmentos histOricos (1584-1586).
ao
Lisboa (1551). V. Almeida, F. de,
op. cit., p. 23, 33-34. Mém da Pre -

Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1886, p. 28.


lazia do Rio de Janeiro, criou -se a de
Pemambuco, em 1614, extinta 42. Cardirn, F. op.cit., p. 87.
logo em 1624. a realidade dos
21. 43. No entanto, desde Tornás de Aquino a Igreja admitia
Azzi, Riolando. A instituição eclesiástica durante e o DernOnio.
a
primeira época fatos rnágicos e presumia pactos entre os feiticeiros
colonial. In Hoonaert, E. et alii. HistOria da
Igreja no Brasil, 2 ed. Em seu Manual do Inquisidor (1376), Nicolau Ernérico forneceria os
Petrópolis, Vozes, p. 175-176. e vários tratados
22. Id. ibid., p. 176. Tais indicios que se deviam buscar do pacto dernoniaco,
ConstituiçOes jamais forarn impressas e obser- demonológicos forarn escritos nos séculos
XVI e XVII. V. Souza, L.
vadas, continuando a vigorar as de Lisboa, segundo Paulo, Atica, 1987 (Col.
Anchieta.
informaçao de de M. e Afeiticaria na epoca moderna. São

23. Principios, 116), p. 21-22; 38 e segs.


Freyre, Gilberto. Casa -Grande senzala. 16 ed. Rio de Janeiro, da Terra do Brasil. Belo
Magalhães. Tratado
e
José 44. Gandavo, Pero de
olyrnpio, 1973, p. 195.
Horizonte/São Paulo, Itatiaia/USP, 1980, p. 52.
24. Boxer, C. A Igreja...,
p. 93-95. do "Diálogo da
45. Assim o disse Mateus Nogueira, personagem
25. MUGpcit., p. 36-37; 63. conversão do gentio". V. Martins, Wilson. História
da inteligência
26. Neves, LuIs Felipe Baeta. 0 combate dos soldados de Cristo vol. 1 (1550-1794), p. 44.
na terra brasileira. São Paulo, Cultrix, 1978,
dospapagaios. Rio de Janeiro, Forense, 1978, p. 35. A economia crlstã dos senhores no go
46. Foi que disse Benci, Jorge.
-

o
27. Holanda, Sérgio Buarque de. Visdo do Paraiso. 3 ed. São
Paulo, verno dos escravos. São Paulo, Grijalbo, 1977.
Companhia Editora Nacional, p. 1-12. Histoire de Ia pudeur. Paris, Olivier Orban,
28.
47. Bologne, Jean-Claude.
Souza, Laura de Mello e. 0 Diabo e Terra de Santa Cruz São
a
1986, p. 18; 34 e segs.
Paulo, Companhia das Letras, p. 32-48. 48. Nóbrega, Manuel da. Cartas do Brasil e mais escritos (1549-1560).
Rio
29. Id. ibid., p. 49 e segs. 1886, 49-59.
de Janeiro, Irnprensa Nacional, p.
30. Colombo, Cristóvão. Diãrios da descoberta da America. Neves frisou bern essa
2 ed. Porto 49. Cardim, F. op.cit., p. 152. Luis Felipe Baeta
Alegre, LPM, 1984, p. 45 e 123, respectivarnente. no discurso jesuitico: da visão mono
prirneira mediacão sugerida
-

31. Cortés, Hemán. e conversos, 'os


A conquista do Mexico. Porto Alegre, LPM, 1986, p. lItica do gentio passou -se a distinçao entre indios
35, 47.
prirneiros sujeitos ao Diabo, e os segundos, a Deus". op.cit., p.63.
32. Rornano, Ruggiero. Mecanismos da con quista colonial. São Paulo, 50. VespUcio, Américo. Novo Mundo. Porto Megre, LPM, 1984, p. 94.

I
Perspectiva, 1973, p. 12-26; 73-74. Florestan Fernandes relacionou a poligamia indigena
corn o

40 41
A decisão final do
fundamento gerontocrático do sistema cultural
tupinambá, que 61. Cartas do Brasil.,., p. 109-110. (grifo nosso).
privilegiavaos grandes guerreiros, feiticeiros ou chefes de extensas ConcIlio de Trento na seção XXIV, cap. V, foi a de que sornente se
parentelas corn a oportunidade de se .unirem a várias esposas gtau em casos de grandes prIncipes
e causa
o
-

dispensasse
no segundo
que, alias, era proibido para as mulheres. V. Oanizaçdo social dos Silva, M.B.N. de, op. cit., p. 131.
pOblica. Ver
tupinambOs. 2 ed. São Paulo, Difel, 1963, P. 153. Também Gilberto 62. Cartas do Brasil..., p. 141-142. Neves, L.F.B., op.cit., p. 38-39;
75.
ireyre atribuiua
poligamia masculina menos ao desejo sexual do de. Crônica da Companhia deJesus. Petrópolis,
"interesse econômico de cercar-se o
63. Vasconcelos, Sirnão
que ao
caçador, o pescador ou Vozes, 1977, p. 221.
o guerreiro dos valores econôrnicos e segs. V. tb. Holanda, S.B.
vivos, criadores, que as 64. Delurneau, J. Le peché..., p. 30-41; 138
muiheres representam". Op.cit.,
p. 116. e, 0 Diabo..., p. 44.
de, op.cit., p. 181-182, e Souza, L. de
M.
51. NovasCartas...,p. 232. humanismo se orientou conforme dois
65. R. 1ornano afirma que o
-

52. Souza, Gabriel Soares de. Tratado descritivo do Bra.sil em 1587. 4 histOrico que quer trazer
eixos: "clássico (e gasto) do conhecimento
ed. São Paujo, Companhia Editora corn o prirneiro, e o
Nacional, 1971, p. 308-309. o passado ao presente e alimentar o Oltimo
53. Em virtude da falta de
parceiras jovens do espaco que se abre corn a
ja que o hornem so outro, de acordo corn o conhecimento
-

poderia se casar quando fizesse urn prisioneiro, além de outras e preponderante). E pros
exploracão do mundo" (deterrninante
-

restriçOes -, os mancebos tupinambás "contentavam -se corn as "Não é acaso que o primeiro hurnanismo
o que se
-

segue: por
veihas, apesar de as saberern estéreis". Femandes, F., op.cit., alirnenta unicamente do patrimOnio clássico
é mais aberto e mais
p. 158.
-

54. Jã em 1503 Américo VespOcio observara algo nele "encontramos ensaios de sincretismo entre rnundo
semelhante, também liberal", e
anirnado por urn espIrito de
reprovaçao. "Pois que as suas mulheres, clássico e cristianismo." Jáo segundo momento, "se deu lugar ao
sendo libidinosas, fazem inchar os rnernbros dos seus outro lado,
maridos a uma exato sentido do relativismo de urn Montaigne (...), por
tal grossura que disformes humanisrno estabelecerern urna
levou as grossas fileiras do
a
parecern e brutais, e isso corn urn seu
certo artifIcio e a mordida de animais
venenosos; e por causa dessa unicidade agressiva, voraz, esmagadora".
V. "Conquista, geografia e

coisa muitos deles o


perdem e ficarn eunucos". Op.cit., p. 94. hurnanismo" in op.cit., p. 97-100.
55. Novas Cartas..., p. 97. 0 mesmo dissera Gandavo
sobre essas mu -

66. Neves, L.F.B. 0p.cit., p. 32.


lheres. Op.cit., p. 57. Florestan Femandes afirma Brasil (1500-1627). São Paulo,
que a sodomia 67. Salvador, Frei Vicente do. Hlstória do
recebia o beneplácito social entre os
tupinambas, embora o. "papel MeihorarnentOs, 1975, p. 57.
passivo" exercido por hornens fosse Guirnarães Editores,
sujeito 68. Campanella, Tornrnaso. A cidade do sol. Lisboa,
a insultos
(utilizando -se
palavra "tivira"). Quanto as rnulheres que se "casavarn" entre
a
da ilha era Taprobana. Morus, Thomas.
Si, 1980, p. 13. 0 nome original
adquiriarn "toda espécie de parentesco adotivo e de obrigaçoes assu- 6. ed. Lisboa, Guimarães Editores, 1085, p. 27-28.
midas pelos hornens em seus casamentos".
A utopia.
0p.cit., p. 160-161. 69. Apud Souza, L. de M. e. 0p.cit.,p. 90.
56. Araüjo, Padre Antonio de. Catecismo na
lingua brasIlica (1618). Rio in early modern Europe. London,
70. Apud Burke, Peter. Popular culture
dejaneiro, PUG, 1952, p. 102-103. 208.
57. Temple Smith, 1978, p.
Anchieta, José de. Inforrnaçao dos dos Indios do Brasil. de Miguel Deslandes,
71. Vieira, AntOnio. SerrnOes. Lisboa, Typografia
casamentos
RJHGB, Torno 8, 1846, p. 254-261. 224-245.
1679-1689, vol. 1, p.
58. "A descendência real era contada na base dos e jesulta português na
parentescos con 72. Leite, S. AntOnio Rodrigues, soldado, viajante
-

sangUIneos, através da linha paterna."


Femandes, F., op. cit., p. 170. 63 (grifo nosso).
"0 casamento preferencial do tb America do Sul. ABN, 49, 1927, p.
matemo corn a fliha da irma re
Novas Cartas..., p. 46; 60.
-

73.
-

fletia -se na terminologia de


parentesco", sendo a sobrinha designada
pelo tio de "futura esposa". Id. ibid., p. 203. 74. Brasil..., p. 84; Novas Cartas..., p. 35.
Cartas do
59. Teatro deAnchieta. São Paulo, 75. Cartas do Brasil..., p. 77; 193-194.
Loyola, p. 145-158. "se não primou a não
76. Freyre, G. 0p.cit., p. 195: Nosso clero,
nunca,
60. Vários catecismos e manuais de confissão foram
irnpressos em
ser sob a roupeta de jesuita, pelo
ascetismo pela ortodoxia,
ou
lInguas "brasIlicas", tanto por jesuItas corno por outros religiosos (ver ou seja, pela subserviência
sempre se distinguiu pelo
brasileirismo",
bibliografia). Dentre os mais detalhados encontra -se o de AntOnio de e pela flexibilidade ou
aos grandes senhores, pelos arnancebarnentos
AraOjo, ja citado. A propósito da perspectiva mundial da Contra
exercIcio do sacerdOcio.
-

Reforrna, Charles Boxer nos informa sobre várias obras de negligência no


apoio a autorizavam as
missão publicadas no século XVI em
tagalo, chines, japonês (ro- 77. Boxer, C. op.cit., p. 86-87. Tais privilégios, que
colidir o reforço dos
majO, náuatle, etc. Op. cit., p. 57-62. ordens em relação ao episcopado, iriarn corn

43
vol. 14, p. 216.
diocesanos estabelecidos em Trento. No século XVI, 95. Vieira, A. op.cit., os letrados e a
poderes os
em Ideologia e escravidão:
jesuitas relutararn em entregar parOquias ao clero secular colonial. 96. Examinamos o assunto colonial. Petrópolis, Vozes, 1986, p.
socledade escravista no Brasil
78. Freyre, G. Op.cit., p. 245 e segs.
149-159.
79. Apud Pinho, Wanderley. Aspectos da História social da cidade de vol. 2, p. 78-114.
Salvador (1549-1650). Salvador, Prefeitura Municipal, 1968, p. 239- 97. Cidade, H. (org.). op.cit.,
vol. 7, p. 402-403.
240. 98. Vieira, A. 0p.cit.,
513.
80. Almeida, Cândido Mendes de (org.). Códigofllpino ou ordenaçöes e 99. Delumeau, J. Lepéché..., p.
leis do Reino de 100. Benci, J. op.cit., p.
178 e segs.
Portugal. Rio de
Janeirq, Tipografia do Instituto
Philomático, 1870, Livro V, TItulos XV, XVI, XVIII, XXI, XXIV, XXVI, 101. Id. ibid., p. 103. Brasil. São Paulo,
Cultura e opulência do
XI, XXXII, XXXVIII. 102. Andreoni, João Antonio.
160.
81. Souza, L. de M. e. Op.cit., p. 82 e segs. Companhia Editora Nacional, 1967, p.
82. Novas Cartas..., p. 60. Cartas do Brasil..., p. 59.
83. Carta.sdoBrasil..., p. 54-55; 79; 83-92; 98.
84, Pinho, W. Op.cit., p. 533. V. tb. Costa, Afonso. As orfds da Rainha
(base daformacdo dafamulia brasileira). Rio de Janeiro, 1950.
85. Analisando sermOes franceses do século XVI ao XVIII, Delumeau
constatou a forte recorrência de temas como a luxiria, a beleza
fisica, o traje feminino, a castidade, o casarnento e a viuvez, corn os
quais so rivalizaram as pregaçOes sobre roubo, dinheiro, avareza e
arnbição. V. Lepeché..., p. 477.
86. Bemardes, Manuel. Armas da castidade. Lisboa, 1699, p. 198.
87. Pereira, N.M. Op.cit., vol. 1, p. 49, 288-290.
88. Constituiçàes Primeiras do arcebispado da Bahla (1707). São Paulo,
1853, Livro I, XXXIV, parags. 131-132. Sobre rnanuais de confissão
v. Lima, Lana Lage da Gama.
portugueses: Aprisionando o desejo:
confissão e sexualidade. In Vainfas, Ronaldo (org.). História e

sexualidade no Brasil. Rio de Janeiro, Graal, 1986.


89. Vieira, A. Op.cit., vol. 2, p. 373-374.
90. Deyon, Pierre. Sur certaines formes de Ia propagande religieuse au
X\TIe. siècle.
AnnalesE.S.C., 1, 1981, p. 16-22.
91. Cidade, H. (org.). Op.cit., vol. 2, p. 248-249.
92. Pereira, N.M. Op.cit., vol. 1, p. 277-288. Nas Qltimas décadas do
século XVIII, a imagern do Indio iria desdobrar-se em dois sentidos
opostos: sua desvalorizaçao enquanto homern inferior e rude, in -

capaz de abracar o cristianismo mais por ignorância do que por


"inocência" ou apego ao Diabo, e sua glorificação pela primeira
literatura nativista. Ver, sobre o ültimo ponto, Souza, Antonio
Cândido de Mello e. Letras e idéias no Brasil Colonial. In Holanda.
S.B. de (org.). HGCB..., Tomo 1, vol. 2, p. 98.99. Dois caminhos,
duas possibilidades exprimiam, na figura do Indio, os conflitos de
urn colonialismo em crise.
93. Souza, L. de M.
Op.cit., p. 155-156.
e.

94. Delumeau, J. Lepechá.., p. 85, 144-145, 473-477, 487-488. 0 "Pere -

grino da America" reprovava "cornédias, passos, bailes, entretezes,


toques de viola e mUsicas desonestas". op.cit., vol. 1, p. 100-116.
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