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SEU NOME É MULHER

(Livro 1)
Por Gien Karssen

Tradução de Daniel e Eunice Machado


Originalmente publicado na Holanda sob o
titulo de Manninue Vrouu'en in de Bijbel,
copyright Buijten & Schipperheijn, Amsterdã 1974
Edição em língua portuguesa
© NÚCLEO – Centro de Publicações Cristãs, Ltda.
Apartado 1 - QUELUZ - Portugal
2000 exemplares Janeiro 1979
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 2

QUANDO lê a Bíblia, lê apenas as palavras? Não chega a sofrer a agonia com Ana, a
regozijar-se com Isabel e a sofrer com Maria? Em Seu Nome é Mulher, a autora Gien Karssen
ajuda-o a identificar-se com 24 mulheres da Bíblia. À medida que adquire uma melhor visão das
suas lutas, descobre princípios e aplicações relevantes para os nossos dias. Por exemplo:
 É solteira? Então, procure conhecer Lídia, uma comerciante do Novo Testamento que
aprendeu a estabelecer prioridades para Deus, para o ministério e para os negócios.
 Está a enfrentar a solidão? Aprenda como Ana a enfrentou na sua viuvez.
 É uma mãe com um filho em dificuldade? O Filho de Maria, Jesus foi perseguido e
morto pelas autoridades por causa do Seu alegado mau comportamento.

Jesus louvou a Rainha de Sabá por causa de se ter disposto a fazer uma viagem de cerca de
3200 quilômetros a fim de satisfazer o seu desejo de sabedoria. A leitura e o estudo de Seu Nome
é Mulher ajudá-lo-á na sua jornada pessoal em busca da sabedoria do espírito, na medida em que
descobrir como estas mulheres bíblicas aprenderam a viver dentro das suas circunstâncias. Por
que não começar já?
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Dedicatória

Dedico este livro aos meus muitos amigos integrados na organização "Os
Navegadores", em todo o mundo. O plano para o escrever começou a tomar forma
através do meu contato com mulheres jovens espalhadas pelo globo. Encontrei nelas a
mesma fascinação que eu sinto pelas vidas das mulheres da Bíblia.
Estou igualmente grata aos membros de muitos grupos de estudo bíblico, na
Holanda, que conferiram por mim as perguntas para o estudo bíblico no fim de cada
capítulo.
Recordo, além disso, muitos outros homens e mulheres que através dos seus
ensinos, exemplo e amor têm feito uma impressão indelével na minha vida. Penso no
primeiro Navegador que encontrei há anos, Dawson Trotman, o fundador da
organização, e nos muitos jovens que têm experimentado uma fé pessoal em Jesus
Cristo por meio do ministério dos Navegadores.
Todos eles revelara três coisas em comum: um grande amor a Deus, uma
profunda reverência pela Sua Palavra e uma paixão por partilharem as suas vidas com
outros. Duas palavras se aplicara a quase todos eles: o realismo e entusiasmo.
Através da minha comunhão com Os Navegadores, desenvolveu-se em mim o
desejo intenso de ser uma mulher segundo o coração de Deus. Por esta razão, Eva,
Sara e outras deste livro não são meras figuras dum passado obscuro e distante, mas
pessoas reais, vivas e cintilantes. O meu desejo é que cada Navegador que lê este
livro, e todos os outros meus amigos sejam do mesmo modo desafiados a viver de
todo o coração para Deus. O meu anseio é que sejam encorajados e edificados. E, ao
mesmo tempo, confio em que o livro provará ser um instrumento nas suas mãos, com
que poderão ajudar outros.
Com esta oração, envio SEU NOME É MULHER para o mundo
Gien Karssen
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ÍNDICE

Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
Sugestões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
Dados Biográficos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

Velho Testamento

1. Eva, a mãe de todos os seres humanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14


2. Sara, a princesa cuja nome está registrado com honra . . . . . . . 21
3. Rebeca, uma mulher com grande potencial, todavia... . . . . . . . 30
4. A esposa de Potifar, uma mulher dominada pelo sexo . . . . . . . 42
5. Miriã, uma líder que exagerou os seus méritos. . . . . . . . . . . . . 48
6. Raabe, uma meretriz na galeria dos heróis da fé . . . . . . . . . . . . 54
7. Penina, uma mulher vencida pelo ciúme . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
8. Ana, uma mulher que acreditava na oração . . . . . . . . . . . . . . . 63
9. A Rainha de Sabá, uma mulher que desejou ser mais sábia .... 70
10. A viúva de Sarepta, uma mulher que aceitou o desafio da fé ... 76
11. A Sunamita, uma mulher de pensamento e ação. . . . . . . . . . . . 81
12. A serva judia, uma menina que falou de Deus. . . . . . . . . . . . . . 86
13. Ester, uma rainha que arriscou a vida pelo seu povo. . . . . . . . . 90
14. A esposa de Jó, a mulher que disse não a Deus . . . . . . . . . . . . 98

Novo Testamento

15. Maria, a mais privilegiada entre as mulheres . . . . . . . . . . . . . 104


16. Isabel, forte de caráter e boa esposa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
17. Ana, uma mulher que não foi destruída por um coração ferido . . . 121
18. Uma viúva que sabia usar o dinheiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125
19. Marta de Betânia, uma mulher que deu prioridade a
questões secundárias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129
20. Maria de Betânia, uma mulher com intuição para
escolher o melhor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135
21. A Samaritana, uma mulher que disse sim a Jesus . . . . . . . . . 141
22. Dorcas, uma mulher que amava a Deus . . . . . . . . . . . . . . . . . 148
23. Lídia, uma comerciante que deu a Deus o primeiro lugar . . . 153
24. Priscila, uma valiosa colaboradora na pregação
do Evangelho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 158
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INTRODUÇÃO

Gien Karssen é uma narradora de histórias. Embora haja muitos estudos acerca
das mulheres da Bíblia, nunca li nenhum mais prático do que SEU NOME É
MULHER. Gien dá realmente vida a estas mulheres bélicas, enquanto vai observando
as suas ações e os resultados das suas vidas. Ela ajuda-o a extrair aplicações que são
relevantes para os nossos dias. Para aqueles que estão interessados em descobrir mais
a respeito de cada mulher, fornece perguntas para discussão no fim de cada capítulo.
Gien é uma das melhores professoras que eu conheço no treinamento de jovens
dirigentes de estudos bélicos. Ela leva a Palavra de Deus a referir-se a situações do dia
a dia.
A minha oração é que este livro atue como uma semente que produz multo fruto.

Corrie ten Boom


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PREFÁCIO

SEU NOME É MULHER


"Mulheres da Bíblia"

Eva. A primeira mulher. Igual ao homem; só diferia dele no que toca ao sexo.
Embora se tenha escrito muito sobre ela, o tema ainda não se encontra esgotado. Ela é
a mãe de todas as mulheres.
As mulheres deste livro não são fictícias. São reais. Viveram na história e, nos
seus desejos e problemas, nas suas esperanças e ambições, vivem ainda hoje entre nós.
Espero que enquanto lê a seu respeito, elas não só o fascinem mas lhe sirvam também
de advertência. Foi isso que aconteceu comigo enquanto escrevia a respeito delas.
A grande diferença entre as mulheres deste livro não está na sua categoria. Não
importa se uma é rica como a Rainha de Sabá ou pobre como a viúva do tempo de
Jesus, se é líder como Miriã ou desprezada como a mulher samaritana, se é solteira ou
casada. Esses pormenores não são importantes. A verdadeira diferença entre estas
filhas de Eva está em elas conhecerem a Deus ou não. A questão central ao estudar
cada uma delas é – Que lugar ocupou Deus na sua vida? A resposta a esta pergunta é
que decide quanto à felicidade e valor de cada uma delas. É esta a motivação que a
mantém em marcha.
As mulheres deste livro foram selecionadas nesta base. Irá descobrir que,
independentemente da idade, posição social ou ocupação, há uma coisa que todas elas
têm de enfrentar – a sua atitude para com Deus.
Se Ele recebe o lugar correto na vida, então a pessoa torna-se atraente dum modo
especial e útil. Se Ele fica ausente ou se não Lhe é dado o lugar próprio, então a vida
não tem verdadeiro propósito – não tem perspectiva.
Espero que descubra também que a Bíblia é um livro único e que, ao se
relacionar com esta mulheres, recomece com frescor e renovado entusiasmo a estudar
a Palavra de Deus.
Nota especial: Por favor, leia os textos bíblicos no princípio de cada capítulo.
Eles são necessários para a compreensão do mesmo.
Para aqueles que não desejam apenas ler a respeito destas mulheres, mas querem
também estudar as suas vidas, há perguntas para estudo bíblico no fim de cada
capítulo. A seção seguinte contém sugestões sobre como usar este livro em estudo
pessoal ou em grupo.
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SUGESTÕES

Como muitos outros, acho que a discussão se revela mais proveitosa quando
pequenos grupos de pessoas partilham o que a Bíblia lhes tem dito individualmente.
As sugestões que se seguem serão úteis aos que estiverem interessados em fazer
parte dum grupo de estudo bíblico ou em dirigi-lo.

SUGESTÕES PARA GRUPOS DE ESTUDO BÍBLICO

1. Comece com um grupo pequeno – em geral com o mínimo de seis e o máximo


de dez pessoas. Desse modo, o seu grupo será suficientemente grande para uma
discussão interessante, mas suficientemente pequeno para que cada membro possa
participar. Quando o número aumentar, inicie um segundo grupo.
2. Antes de principiar o grupo deve decidir com que freqüência se vão reunir.
Muitas pessoas talvez hesitem em se comprometer com algo de novo por um período
indefinido de tempo. Este problema pode ser resolvido se de antemão decidirem
reunir-se, por exemplo, quatro a seis vezes. Se depois desse período, resolverem
continuar, então combinem o número de reuniões.
3. Lembre-se de que um grupo de estudo bíblico deve estudar a Bíblia. Para
evitar que alguns se desviem do assunto, é aconselhável que cada participante faça
previamente o estudo em casa. Depois, a reunião poderá ser usada para a consideração
do trabalho preparado por cada pessoa. Os grupos desenvolvem-se quando cada
membro partilha as suas descobertas pessoais.
4. Acentue a necessidade de aplicar as lições aprendidas e ajudem-se uns aos
outros a fazer isso. Há uma necessidade muito maior de crescimento espiritual, do que
de aumento de conhecimento em si. De que maneira poderá influenciar a minha vida
aquilo que aprendi? – eis a pergunta que cada participante deve fazer a si mesmo e
responder durante cada discussão.
5. Antes de começar, determine assistir a todas as reuniões. Falte só quando for
absolutamente impossível estar presente. Se acaso não puder assistir, faça da mesma
maneira o estudo e compense-o na reunião seguinte.
6. Considere-se um membro do grupo. Sente-se à vontade para dar o seu
contributo. A falta de experiência não o deve impedir de tomar parte na discussão. Por
outro lado, resista à tentação de dominar o grupo.

SUGESTÕES PARA LÍDERES DE GRUPOS DE ESTUDO BÍBLICO

1. Assegure-se de que deu tempo suficiente ao seu próprio estudo bíblico e que o
completou.
2. Vá preparado. Anote os pontos que quer salientar. Aborde esses pontos com
perguntas.
3. Ensine, fazendo perguntas em vez de afirmações. Poucos alpinistas gostam de
ser transportados até ao cume. Deixe-lhes sentir a alegria de escalarem. Não seja o
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único a falar. Oriente de tal modo a discussão, que cada membro do grupo possa
participar.
4. Prepare perguntas que façam pensar. Levante questões que apliquem a Bíblia
aos problemas do dia a dia. Evite perguntas que possam ser respondidas com um mero
sim ou não.
5. Arranje de antemão o tempo e o local de encontro. (Um círculo é geralmente o
melhor). Comece e acabe à hora. Mantenha-se, discretamente, atento ao relógio.
6. Ore por si e por cada membro do grupo. Ore a fim de que Cristo fale a cada
pessoa presente através da Sua Palavra. Ore para que o Espírito Santo o torne sensível
às necessidades dos outros. A oração resulta em entusiasmo, e isto é absolutamente
essencial para o êxito da discussão.
Estas sugestões não se limitam a um certo tipo de estudo bíblico em grupo.
Podem-se usar os mesmos princípios para estudar livros da Bíblia, capítulos ou temas
bíblicos. Aqueles que não tiverem orientação prática para o estudo da Bíblia e desejem
recebê-la, poderão escrever para – Os Navegadores (The Navigators), P. O. Box 1659,
Colorado Springs, Colorado 80901, (USA) – a fim de colherem informações sobre o
seu material. Os seus estudos bíblicos personalizados têm provado ser muito efetivos e
úteis.

SUGESTÕES PARA UM GRUPO DE DISCUSSÃO SOBRE EVA


(um exemplo para todas as mulheres)

1. Assegure-se de que todos os membros do grupo completaram o seu próprio


estudo. Aconselhe cada um deles a tomar notas durante a discussão.
2. Determine com antecedência que, como grupo, ireis restringir-vos apenas às
questões dadas para o estudo bélico ou a assuntos intimamente relacionados.
3. Deixe que toda a discussão se centre em torno da Bíblia. Pergunte sempre: "O
que é que diz a Bíblia sobre este assunto?"
4. O êxito de cada grupo de discussão sobre a Bíblia depende em grande medida
das perguntas que o líder faz e da maneira como começa e orienta a conversa. Eis
quatro tipos de perguntas:
a. Perguntas para iniciar a discussão.
b. Perguntas para orientar a discussão.
c. Perguntas que ajudam a esclarecer e a aprofundar o assunto.
d. Perguntas que estimulam a aplicação.
5. Exemplo das perguntas acima, em relação a Eva.
a. Perguntas para iniciar a discussão:
(1) O que é que aprendemos sobre Eva?
(2) O que é que aprendemos a respeito da serpente?
(3) O que é que aprendemos a respeito da tentação?
(4) O que é que aprendemos acerca dos resultados do pecado?
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Introduzindo deste modo cada ponto principal do estudo, evitará que se repitam
as tradicionais perguntas de estudo bíblico e garantirá uma discussão interessante. É
boa prática resumir um ponto antes de entrar no seguinte.
b. Perguntas para orientar a discussão:
(1) Alguém descobriu mais alguma coisa?
(2) Alguém tem qualquer outra coisa a acrescentar?
(3) Qualquer outra pessoa deseja ainda falar sobre o assunto?
Dirija-se a todo o grupo com este tipo de perguntas e não a uma pessoa em
particular. Isto proporciona uma discussão aberta em que todos os presentes podem
tomar parte.
c. Perguntas que ajudam a esclarecer e a aprofundar o assunto:
(1) Que é tentação?
(2) Que é pecado?
Prepare estas perguntas tendo em vista a ênfase de que o grupo mais precisa.
Arranje versículos bíblicos que ajudem a encontrar as respostas certas. Faça estas
perguntas no momento próprio da discussão, em linha com as perguntas mencionadas
acima em 5a (neste caso em 5a3 e 5a4).
d. Perguntas que estimulam a aplicação:
(1) Qual lhe parece ser o aviso mais importante desta história?
(1) Como é que isto afeta a sua vida individualmente?
Uma vez que as perguntas de aplicação podem ser feitas no fim da discussão
bíblica, poderá, dando a volta ao círculo, tentar que cada membro do grupo dê a sua
resposta pessoal. Eis algumas palavras a ter em mente quando se fazem perguntas: o
quê, como, porquê, quando.
6. Estabeleça um horário para si próprio a fim de garantir que cada parte da
discussão receba a atenção devida. Reserve tempo suficiente para aqueles pontos que
considera de maior importância. Uma vez que a última pergunta do estudo bíblico é de
aplicação, talvez queira enfatizá-la.
7. Muitas vezes, os participantes tímidos podem ser introduzidos na discussão,
pedindo-lhes que leiam um versículo bíblico. É difícil controlar os que querem
dominar a discussão. Muitas vezes, o fato de se pedir o contributo de outros ajuda. "O
que é que os outros pensam?" Em certos casos, é necessário falar em particular com a
pessoa demasiado faladora, explicando-lhe a necessidade de participação do grupo.
Para se voltar ao ponto em que se estava quando o assunto começa a afastar-se, pode-
se dizer "Talvez possamos discutir isto mais tarde, depois do estudo", ou ''Vamos,
como tinha sido combinado, procurar manter-nos dentro do assunto do nosso estudo".
8. Partilhar a aplicação é a parte mais importante da discussão. Procure deixar
tempo suficiente para que cada um dos presentes responda à última pergunta feita. A
resposta a essa pergunta deve ser pessoal, específica e prática. Eis um possível
exemplo duma aplicação sobre Eva: "A advertência mais importante para mim é que
tenho de estar certa de que posso ter vitória sobre a tentação. Decidi, portanto, ler a
Bíblia diariamente. Começarei hoje, lendo..."
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9. Se terminar a discussão com um período de oração, ore sobre os assuntos que


discutiram. Por exemplo, ore pela sua própria aplicação ou pela de qualquer outra
pessoa. Não force nada. Aconselhe orações breves. Alguém que seja demasiado tímido
para orar em voz alta poderá participar dizendo "Amém". À medida que for
aumentando a boa vontade do grupo, irá acontecendo o mesmo com a oração. Então,
poderão acrescentar-se outros pontos para intercessão.
10. Termine com a promessa de que no início da próxima reunião haverá tempo
para partilhar experiências relacionadas com as aplicações do grupo.

Esta orientação pode ser usada para todos os grupos de discussão acerca das
mulheres deste livro.

DADOS BIOGRÁFICOS

Gien Karssen foi criada num lar cristão e converteu-se aos doze anos, como
resultado das vidas e educação dos país. Quando tinha apenas seis semanas de casada,
os alemães levaram-lhe o marido para um campo de concentração, onde morreu.
Precisamente antes da morte, ele havia escrito Lucas 9:62 no seu diário: "Ninguém
que lança mão do arado e olha para trás é apto para o reino de Deus".
Este versículo tomou-se um desafio para Gien e tem dado propósito e direção à
sua vida. Firmando-se neste texto, verificou ser mais fácil enfrentar as dificuldades,
anular os seus próprios desejos e querer somente a vontade de Deus.
Gien conheceu Dawson Trotman, fundador de Os Navegadores, em 1948, em
Doom, na Holanda. Aí, ela começou o ministério de Os Navegadores, traduzindo para
o holandês o Sistema de Memorização por Tópicos da referida organização, e tratando
de todas as inscrições. Através dos anos tem desempenhado muitas responsabilidades
no trabalho de Os Navegadores. Em quase todos os continentes do globo se podem
encontrar jovens que têm sido pessoalmente ajudadas por Gien Karssen.
Gien é uma oradora popular, líder de estudos bíblicos e professora de novos
líderes, e tem muitos anos de experiência como escritora independente em periódicos
cristãos na Europa.
Seu Nome é Mulher é o primeiro livro dela.
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EVA, A MÃE DE TODOS OS SERES HUMANOS

"A mulher foi feita duma costela tirada do lado de Adão: não da cabeça para
dominar sobre ele, nem dos pés para ser pisada por ele, mas do lado para
ser igual a ele, de debaixo do braço para ser protegida e de junto do coração
para ser amada''.
Matthew Henry*

Gênesis 1:27, 28
Gênesis 2:18
Gênesis 2:20-25
Gênesis 3:1-20

Ela estava encantada com tudo o que via – tudo à sua volta era perfeito. A
natureza que contemplava era nova e repousante. O ar que respirava era puro e não
poluído. A água que bebia era clara e cintilante. Cada animal vivia harmoniosamente
com todos os outros.
O casamento dela era perfeito – a sua comunhão com Deus e com o mando
constituíam um gozo diário. Eva possuía tudo o que alguém poderia desejar.
Foi então que, um dia, uma voz vinda do jardim lhe perguntou: "É assim, que
Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim?"
Por que é que, perguntou ela a si mesma, nunca notei a beleza especial da árvore
que está no meio do jardim? E por que é que de repente toda a minha felicidade
parece depender de comer do seu fruto? Comer algo tão desejável só pode ser bom.
O seu desejo foi despertado. Não notou que estava a ser enganada – que a Palavra
de Deus fora torcida – que o amor de Deus estava sendo posto em dúvida.
Eva não sabia que quem lhe falava era Satanás disfarçado (Apoc. 20:2; 2 Cor.
11:14). Ele era e havia sido mentiroso e homicida desde o princípio (João 8:44),
querendo enganar as pessoas (1 Pe. 5:8). Não citou Deus com exatidão, mas aplicou as
suas próprias palavras (Gên. 2:16, 17).
O seu ataque à Palavra de Deus devia a tê-la prevenido para não lhe dar ouvidos.
Ela ainda podia ter escapado nesta fase da tentação (Tg. 4:7). Embora estivesse sobre
terreno perigoso, havia sido criada com uma vontade que era capaz de resistir ao
tentador. Não precisava dar oportunidade a Satanás para a enganar, prestando-lhe
atenção. Podia escolher. Mas, infelizmente, deu-lhe ouvidos. E o que é pior,
respondeu-lhe. Isto marcou o início da sua queda.
Como Satanás, Eva também torceu as palavras de Deus. Acrescentou "nem nele
tocareis..." ao que Deus havia dito, embora Deus nada tivesse dita com respeito a
tocar. Depois enfraqueceu a Sua ênfase sobre a morte, substituindo "morrereis" por
"para que não morrais".

*
Henry, Mathew. A Commentary on the Whole Bible (Um Comentário Sobre Toda a Bíblia), Vol. 1,
Fleming H. Revell. Old Tappan, N. J.
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A primeira investida de Satanás fora bem sucedida. Eva eslava disposta a ouvi-lo
e mesmo a demorar-se com ele. Isso aumentou a sua ousadia. Com toda a arrogância,
chamou a Deus mentiroso. Apresentou-O como Alguém que queria subjugar o homem
e limitar a sua felicidade, uma vez que tinha poder para o fazer.
"Morrer?" desdenhou ele. "Não morrereis de modo nenhum. Sereis mais felizes
do que alguma vez sonhastes. Sereis como Deus". Continuou a tentá-la, incitando-a à
independência. O seu apelo à desobediência foi fatal para Eva. A resistência dela
tinha-se desfeito quando se dispôs a argumentar com Satanás. Estendeu a mão e tomou
do fruto que o seu coração desejava.
Nessa altura, o mal já não podia ser evitado. Ela tinha-se emaranhado tanto nas
redes do enganador, que não seria capaz de escapar. Comeu do fruto. Mas o problema
não terminou aí. A mulher que foi enganada tomou-se, por seu turno, enganadora. Eva
enredou o marido no seu pecado. Sem protestar, este aceitou o fruto e comeu-o.
Nesse momento, toda a vida dela se modificou.
A criação operada por Deus era ideal. Era tão perfeita que Ele próprio ficou
satisfeito com ela, e salientou esse fato após cada ato criador.
Todavia, faltava alguma coisa. "Não é bom que o homem esteja só. Far-lhe-ei
uma auxiliadora", disse o Senhor Deus. Depois de o homem e a mulher terem sido
criados, a obra de Deus eslava completa e tudo era "muito bom" (Gên. 1:31). Eva era
uma criatura esculpida pela mão de Deus. Foi criada igual ao marido. A única
diferença entre eles era o sexo. Ela era única.
Como ser humano, ela foi, do mesmo modo que Adão, dotada de raciocínio e
entendimento. Por conseguinte, era a companheira dele nas conversas. E, como ele,
tinha uma relação pessoal com o seu Criador, a Quem devia obedecer. Juntamente
com Adão, Deus tomou Eva responsável pela execução das mesmas tarefas. À sua
maneira própria e específica ela devia ajudar a encher e a dominar a terra. Tinha uma
relação única com o marido. Partilhava a sua vida com ele. Completava-o. A sua
estrutura física tornava-a apropriada para ele, de modo que, juntos, podiam cumprir o
mandamento de Deus para se multiplicarem.
Embora feita depois de Adão, Eva não era certamente o resultado dum
"pensamento tardio". Era uma parte do plano original de Deus como Adão. Não podia
realizar-se sem ele, e ele não podia passar sem ela (1 Cor. 11:11, 12). Dentro do
casamento Eva estava sujeita a Adão (Efés. 5:22-24). Adão tinha sido indicado por
Deus para exercer a liderança e assim garantir a ordem social, pois Deus é um Deus de
ordem.
Como marido e mulher, Adão e Eva formavam um novo núcleo: um casal. Este
casal caracterizava-se por uma personalidade própria. Não era a soma de dois
indivíduos; era ele próprio uma nova entidade. O plano de Deus é que os cônjuges
vivam juntos em perfeita harmonia – que se sintam á vontade um com o outro, sendo
um numa união mantida pelo amor e respeito mútuos (Efés. 5:21).
Eva reconheceu quão rudemente havia sido enganada. Notou primeiro isso na sua
relação com Adão. Tinham-se sentido sempre à vontade um com o outro, exatamente
como Deus os criara. Mas agora sentiam-se subitamente tímidos e indefesos. A
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 13

proteção da sua inocência desaparecera. Descobriram que não podiam ter uma relação
livre e natural. Começaram a esconder coisas um do outro. Verificaram que não
estavam apenas nus diante um do outro – estavam nus diante de Deus! A pureza havia
desaparecido. A sua natureza sem pecado fora destruída. A sua íntima relação com
Deus fora cortada. Em vez de se tomarem iguais a Ele, como Satanás havia prometido,
ficaram com medo e fugiram dEle.
Foi então que Deus entrou nesta desoladora situação. Ele tomou a iniciativa de os
procurar. Com quanta ternura os saudou. Começou com uma pergunta, não com uma
acusação. Deu-lhes a oportunidade de reconhecerem o seu pecado, mas eles não a
aproveitaram (Rm. 5:12,14). Considerou Adão responsável, uma vez que era ele o
cabeça da família.
Embora estivesse presente, Adão não impediu Eva de cometer o pecado. Na
realidade, juntou-se a ela. E culpou-a. "A mulher que me deste é que fez isto". Adão
falou como se estivesse acusando a Deus por lhe ter dado Eva.
Eva passou também a responsabilidade para outro. Acusou a serpente, embora, se
fosse honesta consigo mesma, tivesse de admitir que aceitara voluntariamente a sua
proposta. Era verdade que a tinha enganado, mas ela pecara por sua própria e livre
vontade. Ficara reprovada no teste a que foi submetida como ser humano para
obedecer voluntariamente a Deus, e em amor.
O juízo de Deus que se seguiu revelou-lhe o catastrófico impacto do seu ato. Não
só o belo jardim do Éden, mas todo o mundo foi amaldiçoado. O solo, antes sem ervas
daninhas, produziria agora espinhos e cardos. Os animais foram malditos. A
tranqüilidade do reino animal sobre o qual Adão e Eva tinham dominado, desfigurou-
se. O lobo e o cordeiro nunca mais comeriam pacificamente juntos. O mais forte
dominaria o mais fraco. O belo paraíso em que poderiam ter vivido felizes para
sempre, tinha-se tornado de um só golpe num paraíso perdido. Eles foram obrigados a
sair rapidamente, para que não comessem da árvore da vida e se vissem assim
forçados a viver eternamente como pecadores (Gên. 3:22,23).
Eva, que fora o término da criação de Deus – o último elo na cadeia de felicidade
sobre a terna – tinha jogado fora essa felicidade com a sua desobediência.
A alegria da maternidade seria temperada com dor e dificuldades. O aguilhão do
domínio afetaria agora a sua relação com o marido. Ele dominá-la-ia por causa do
pecado.
E embora Adão e Eva não morressem instantaneamente após o seu pecado no
jardim, a instituição da morte foi um dos resultados. Num segundo haviam-se tornado
seres humanos mortais, sob o domínio da morte.
Mas muito pior que a morte natural foi a morte espiritual, o vazio da separação de
Deus (Gên. 2:17; Efés. 2:1). Foi isso acima de tudo que Eva experimentou
dolorosamente no más íntimo do seu ser.

Eva estava só e passou um mau bocado durante o ato de dar à luz. Sendo a
primeira mulher sobre a terra, não tinha mãe, nem irmã, nem amiga que pudesse
partilhar dos seus sentimentos. Não havia ninguém a quem pedir conselho, nenhuma
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 14

outra mulher que pudesse ajudar no parto. E, que estranha experiência tornar-se mãe,
quando ela própria nunca havia sido filha. O que é que se deve fazer com uma
criança? Nestas circunstancias difíceis, não admira que Eva se voltasse para Deus.
"Dei à luz um homem com a ajuda do Senhor", disse ela, e sorriu para o bebê, Caim.
Adão e Eva não foram os únicos a serem punidos por pecarem contra Deus. O
castigo de Satanás foi muito maior. Ele foi informado da sua destruição por Alguém
cujo nome seria Emanuel, que nasceria da descendência de Eva (Isa. 7:14). Teria ela a
esperança e estaria na expectativa de que a criança que tinha nos braços fosse o
Messias prometido?

Eva foi uma demonstração viva de fé – fé em que uma pessoa nunca poderia
mergulhar tão fundo que não pudesse voltar-se de novo para Deus. E de esperança –
esperança de que Deus ia dar novas possibilidades, independentemente da grandeza do
pecado.
Eva ficou arrasada quando Caim matou o segundo filho que ela teve. Verificou
que tinha trazido ao mundo um homem pecador. Ele era um assassino. A terrível
extensão do seu ato no jardim tornou-se ainda mais evidente. Ela transmitira a morte
espiritual e física a Adão, e este a todas as pessoas nascidas (Rom. 3:10-12,23).
Nenhum ser humano voltaria jamais a viver em inocência como ela vivera. Cada
pessoa que nascesse pecada, não apenas por escolha, mas também devido a uma
pressão íntima. Todos travariam um combate interminável entre o bem e o mal. Todos
estariam separados de Deus pelo pecado. Não haveria qualquer exceção.
Satanás apela constantemente aos desejos do homem, tentando seduzi-lo. O
pecado e a morte entram em cena cada vez que alguém cede aos seus próprios desejos
(Tg. 1:14,15). Em todas as gerações haverá pessoas como Eva que são levadas pelo
desejo de terem o que os olhos cobiçam e de satisfazerem as inclinações da soberba (1
João 2:16). Satanás lenta movimentar todas as pessoas contra Deus, exatamente como
fez com Eva. Excita a rebelião e a ingratidão para levar os homens a cair como ele
caiu – por soberba (Isa. 14:12-14).
Mesmo muitos, muitos anos depois do Éden, quando o homem é remido por
Jesus Cristo (1 João 2:2) e todo aquele que crê pessoalmente nEle tem de novo acesso
a Deus (João 1:12), os melhores homens terão de reconhecer que, embora desejem
fazer o bem, são arrastados para o mal (Rom. 7:15-19). Só Jesus Cristo – Aquele que
foi anunciado – provou que o homem pode vencer a tentação, se se agarrar à Palavra
de Deus e viver de acordo com ela (Mat. 4:1-11).
Como conseqüência do pecado de Adão e Eva, as 1ágrimas, a tristeza e a dor que
as pessoas experimentam, agora, irão continuar até ao estabelecimento do novo Reino
(Apoc. 21:1,4). Até essa altura, todo o ser humano será atormentado pelo pecado. Até
lá, todos continuarão a ser avisados para não seguirem o exemplo de Eva 2 Cor. 11:3).
Pois Eva, a mãe de todos os viventes, fornece um exemplo assustador. Ela é a mulher
que admitiu o pecado no mundo, quando permitiu que Satanás a fizesse duvidar da
Palavra de Deus e do Seu amor.
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 15

Eva, a mãe de todos os viventes


(Gênesis 1:27,28; 2:18,20-25; 3:1-20)

Perguntas:
1. Leia Gênesis 1 e 2. Como e por quê foi criada Eva?
2. Quem era a serpente? (Apocalipse 20:2; João 8:44). Que táctica aplicou
quando enganou Eva?
3. De que forma o considera ainda a trabalhar, de acordo com Mateus 4:1-11 e
João 2:16?
4. Pode um ser humano resistir à tentação? Se sim, como?
5. Descreva a situação em que Eva vivia antes da queda.
6. Como se tornou a situação depois? Mencione todas as mudanças que possa
encontrar.
7. A seu ver, qual é o resultado de maior extensão do pecado de Eva?
8. Em seu entender, qual é a advertência mais importante desta história? Como é
que ela afeta pessoalmente a sua vida?

SARA, A PRINCESA CUJO NOME ESTÁ REGISTRADO COM HONRA

"Fé é confiança, segurança, crédito. É o sexto sentido que nos habilita a


apreender o campo espiritual invisível, mas real. No âmbito deste reino os
contatos são feitos diretamente com Deus." J. Oswald Sanders*

Gênesis 18:1-15
Gênesis 21:1-13
Hebreus 11:11
1 Pedro 3:6

A cena passa-se em Hebrom, dois mil anos antes de Cristo. Sara ri-se, mas não
por ser feliz. Ri-se por causa do que ouviu – que ela, uma mulher de 89 anos, daria à
luz um filho! Impossível!
Ela e o marido são demasiado velhos para terem um bebê. É biologicamente
impossível que ela possa ter um filho, embota o tenham esperado durante muitos anos.

*
Sanders, J. Oswald, Mighty Faith (Fé Poderosa), 1971, Moody Press, Chicago, Illinois.
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 16

Tinham vivido na convicção de que o próprio Deus lhes havia prometido um filho 25
anos antes, mas a promessa não fora cumprida. Devem ter-se enganado. Sara refletia
sobre aqueles anos...
Tinham vivido em Ur, um centro de cultura e comércio, no sul da Mesopotâmia.
Embora Ur já não estivesse no auge da sua história, ainda lhes tinha proporcionado
uma existência florescente. Os seus artífices só eram ultrapassados pelos do Egito. Os
barcos que chegavam ao porto traziam mercadorias do oriente para trocar por cereais
do local. Muitos cidadãos eram ricos e viviam em casas espaçosas.
Sara e Abraão tinham gostado do tempo que passaram lá, vivendo entre parentes
e amigos. Mas um dia, as suas vidas sofreram uma mudança radical. Deus apareceu a
Abraão (Gên. 11:31-12:5). A Sua aparição foi tão gloriosa (Atos 7:23), que não
admitira qualquer dúvida sobre quem Ele era. Tratava-se do verdadeiro Deus, não de
Sin, o deus da lua, que os antepassados de Abraão tinham adorado (Jos. 24:2). Deus
ordenou a Abraão que deixasse a sua terra e parentes e fosse para um lugar que Ele lhe
iria mostrar. A ordem ficou ligada a uma promessa: "E far-te-ei uma grande nação, e
abençoar-te-ei, engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção. E abençoarei os que
te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as
famílias da terra." (Gên. 12:2,3). Abraão obedeceu imediatamente. E Sara adaptara-se
à decisão. Tornaram-se de repente semi-nômades, em vez de habitantes duma cidade
rica e confortável.
Como acontece com a maior parte das mulheres, ela não achou fácil deixar para
trás o lar e os queridos, indo ao encontro dum futuro desconhecido. Mas obedeceu ao
marido e confiou no Deus que lhe falara.
Viajaram durante meses, movendo-se lentamente através da terra por causa do
seu gado. Finalmente chegaram a Haran, a cerca de 960 quilômetros para noroeste.
Ficaram lá durante muito tempo, e a vida tornou-se de novo um pouco mais
confortável, embota não tão luxuosa como havia sido em Ur. Todavia, era bastante
melhor do que a sua anterior existência errante.
Mas deu-se então outra mudança. Desta vez para sudoeste. Desfez-se assim más
um pouco da segurança de Sara. Tera, o pai deles, havia morrido. Ela era mera irmã de
Abraão. Mas não se tratava de algo invulgar, uma vez que as oportunidades de
casamento naqueles tempos eram muito limitadas, e a pessoa tinha, multas vezes, de
procurar uma companheira dentro do círculo íntimo da família. Com a morte do pai e
a ausência dos parentes que ficaram em Haran (Gên. 24:4,10; 27:43), a vida tornou-se
ainda mais solitária. Apenas Ló, um primo, tinha seguido com eles.
A despeito das suas perdas, duas coisas permaneceram inalteradas. Primeiro, eles
continuaram a crer nas promessas de Deus. Sentiam que ainda teriam o filho, apesar
de estarem a ficar velhos. Abraão já tinha 75, e ela 65. Em segundo lugar, continuaram
a experimentar um respeito e amor duradoiros em relação um ao outro.
Nem tudo foi fácil. Como Abraão, ela possuía uma personalidade forte, com um
caráter bem desenvolvido. Esforçou-se ao máximo para se ajustar e obedecer ao
marido. Possuía, sem dúvida, uma mente própria, todavia conseguiu dar-se a ele por
causa duma liberdade interior.
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 17

Sim, continuava ela nas suas reflexões, a sua relação com o marido era
determinada pela relação que mantinha com Deus. A sua fé em Deus fizera dela uma
mulher fiel e forte, capacitando-a a permanecer na vida intrépida e firme, vivendo
harmoniosamente com o marido (1 Pe. 3:1-7).
Porque ela procurou obedecer-lhe e dar-lhe o primeiro lugar, ele, por seu lado,
respeitava-a, dava ouvidos aos seus conselhos e honrava-a com o seu afeto.
Estimavam-se tanto quanto se amavam, discutindo juntos os assuntos de interesse
mútuo e diário. Uma vez que estavam abortos a Deus e um ao outro, o seu casamento
e vida espiritual eram fortes.
O tempo passou, e eles continuavam sem um filho. Entretanto, haviam chegado a
Siquem, onde Deus apareceu de novo e lhe disse: "À tua semente darei esta terra"
(Gên. 12:6,7).
Por fim, chegaram ao seu destino. E continuaram a esperar o filho prometido. Em
sinal de gratidão, Abraão edificou um altar a Deus. Mas, porque uma grande fome
vejo sobre a região, Abraão deslocou-se para o sul a fim de conseguir alimentar a
família e os animais. Fez isto por sua decisão, sem pedir conselho a Deus. Foram para
o Egito. Teriam ido numa direção que não agradava a Deus? A vida no Egito não foi
fácil. Em virtude de Sara ser bela, Abraão temeu pela sua vida, pensando que os
egípcios o matariam para se apoderarem dela. Por isso, pediu-lhe: "Por favor, diz-lhes
que és minha irmã, para que não tentem matar-me" (Gên. 12:13). Ele refugiou-se na
mentira por causa do medo, contudo era um homem que tinha, implicitamente,
confiado em Deus durante anos. E a respeito do seu amor por mim? – perguntou ela a
si mesma.
É verdade que no início das suas peregrinações tinham concordado em usar essa
táctica. Serenaram as consciências com o fato de que realmente não se tratava duma
mentira (Gên. 20:12,13). Na teoria isto parecia aceitável, mas na prática Sara sentia-se
traída.
Exatamente como Abraão suspeitara, a beleza dela foi notada, e acabou no harém
de Faraó. O medo que Abraão tivera de morrer não só pôs em perigo a pureza de Sara,
mas levara-a a sentir que ele agiu sem ter em consideração a promessa de um filho.
Mas o Deus em que ela tinha confiado interveio. Por meio de tormentos e
grandes pragas, Deus esclareceu a situação diante do rei pagão (Gên. 12:10-20). Como
conseqüência de todo esse assunto, ela perdeu alguma confiança no marido. Por
momentos, ele deixou o seu pedestal. Mais um pouco da segurança de Sara ficou
destruída.
Voltaram então para a terra que Deus lhes havia prometido, trazendo com eles
uma jovem escrava egípcia, Agar. À medida que os anos se passavam sem a vinda do
filho prometido, Abraão começou a interrogar-se sobre se a solução de Deus seria a de
um filho adotivo. Talvez esse filho fosse Eliezer, o homem mais importante da sua
casa (Gên. 15:1-4).
Mas não era esse o plano de Deus. Ele havia prometido que o herdeiro seria um
filho concebido por Sara. A promessa dum descendente continuou inalterada e foi
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 18

confirmada por juramento. (Gên. 15:5-21) Embora Deus repetisse as Suas promessas,
demorava em cumpri-las.
Ela sabia por experiência que para viver uma vida de fé, não só precisava de se
abster da segurança humana, mas também de ser paciente. A fé e a paciência andavam
juntas. Não podiam comprar-se facilmente como qualquer mercadoria, tinham de ser
aprendidas através da dura escola da vida. Precisavam ser exercidas (Heb. 6:13-15) e
eram provadas por atos concretos. Tanto ela como Abraão foram obrigados a aprender
que a fé tem de estar ancorada sobre a sólida base das promessas de Deus e não sobre
a areia das possibilidades humanas.
Mas Sara tornou-se impaciente. Considerando que já haviam passado os anos em
que poderia gerar um filho, sugeriu a Abraão que tomasse Agar, a serva egípcia, como
concubina. (Gn. 16) Exteriormente, ela tinha-se adaptado aos costumes do tempo.
Afinal de contas, coisas desse gênero ocorriam com freqüência. Provavelmente ela
poderia defender aquela sua ação na base da lei, referindo-se ao seu contrato de
casamento, em que prometera um filho ao marido. Mas o que fez estava errado,
porque revelava falta de fé.
O seu espírito de renúncia tinha-a levado a um grande sacrifício. Podia ter
apresentado a desculpa de que Deus não dissera que o filho prometido seria mesmo
dela. Mas será que tinha feito um sacrifício desnecessário por querer a todo o custo ver
a promessa de Deus cumprida, fosse como fosse, e no tempo por ela escolhido? O
longo tempo de espera, nessa altura, dez anos, tornou-se quase insuportável.
Provavelmente, o seu problema real não consistiu no fato de a sua paciência se ir
esgotando, mas em ter procurado por ela mesma a solução. Tomou nas mãos o seu
destino e saiu-lhe bem caro.
O que é que teria levado Abraão a dar-lhe ouvidos? Isso ainda não estava claro.
Mas, como Adão antes dele, tinha colhido o fruto amargo de atender a uma sugestão
errada da esposa. (Gên. 3:17) Oh, por que é que lhe dera ouvidos?
As conseqüências tornaram-se evidentes quase de imediato. O pecado da
descrença e da impaciência tinha começado a dar fruto pouco depois de a criança estar
no ventre de Agar. O lar patriarcal foi dilacerado com o descontentamento e falta de
paz. Agar havia revelado um sentimento de superioridade.
Sara esqueceu-se de que fora ela quem tomara a iniciativa daquele infeliz plano.
Porque se tinha afastado de Deus, negligenciou examinar-se a si mesma e arrepender-
se. Pelo contrário, tinha culpado o marido. Humilhou tão profundamente Agar, que, se
Deus não interferisse, a jovem teria provavelmente morrido. Sara degradara-se. Tinha
descoberto quão destruidores eram os poderes que uma pessoa pode manifestar
quando se afasta de Deus.
Tinha querido ganhar tempo. Ninguém podia saber, se, pelo contrário, isso
resultaria ou não em autêntica perda de tempo. Todavia, ela sabia que se haviam
passado 13 anos sem que Deus se tivesse revelado a Abraão. Como é que ele se tinha
sentido durante esse tempo?
Abraão estava ainda muito ocupado a servir os hóspedes que tinham surgido de
repente, sem saber donde, e se achavam diante dele. Durante a visita, Sara ajudou a
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 19

preparar a refeição. Quando chegou a hora de os servir, ficou na retaguarda, como era
costume no oriente, onde o mundo era dominado pelos homens.
A sua atenção foi despertada quando ouviu um deles perguntar: "Onde está Sara,
tua mulher?" Isto fez com que ela começasse a imaginar, enquanto se dirigia para a
entrada da tenda. Quem são estes homens? Como é que sabem o meu nome? Que mais
saberão eles a meu respeito? – perguntava ela a si mesma.
Abraão respondeu-lhes: "Está na tenda". Veio então aquela afirmação
surpreendente: "Tornarei a ti dentro dum ano; e eis que Sara, tua mulher, terá um
filho".
Os homens continuavam sentados, de costas para a tenda, e Sara achou que não
seria notada. Estava só com os seus pensamentos. Intimamente ria-se destas palavras.
Eles estavam realmente sendo muito delicados. Eram cavalheiros. Demonstravam a
sua gratidão pela hospitalidade, prometendo gentilmente um filho ao hospedeiro.
Subitamente, ela deixou de imaginar voltando de modo abrupto à realidade.
Atônita, ouviu em palavras os pensamentos que não chegara a pronunciar. O homem
perguntou: "Por que riu Sara, dizendo: Na verdade gerarei eu havendo já
envelhecido?" E continuou logo com estas impressionantes palavras: "Haveria coisa
alguma difícil ao Senhor?"
O Senhor? O Senhor?
Então, ela reconheceu-O, como Abraão já o tinha reconhecido. Não se tinha o
marido dirigido às três pessoas no singular, com "Meu Senhor"?
O próprio Senhor tinha descido do céu para falar com ela e confirmar
pessoalmente a promessa. "Ao tempo determinado tornarei a ti, por este tempo, e Sara
terá um filho". Profundamente perturbada, ela negou a sua falta de fé e disse: "Eu não
me ri". Sabia a resposta antes de Ele a ter dado: "Riste-te, sim".
Por que é que o Senhor não Se dirigiu a mim diretamente? – cismava ela. Porque
é um hábito oriental falar à mulher por intermédio do marido? Ou quereria Ele lembrar
a Abraão que, como a esposa, também ele tinha rido por descrer? Não tinha passado
muito tempo desde que Deus lhe repetira a promessa dum filho. Gên. 17. Pois Abraão
havia igualmente perdido a esperança de alguma vez chegar a ter um filho de Sara.
Eslava satisfeito com Ismael e tinha suplicado que Deus o aceitasse.
Pela primeira vez, Deus disse explicitamente que o filho da promessa seria o filho
de Sara. Como prova disso, tinha-lhes mudado os nomes. Em vez de Abrão, "Pai da
Altura'', dali em diante o nome dele seria Abraão, "Pai duma multidão". Sarai passou
para Sara, que significava "Princesa". O Senhor não tinha considerado suficiente dizer
apenas a Abraão que o tempo de espera estava a chegar ao fim. Tinha vindo também
para o dizer pessoalmente a Sara.
No ano seguinte, no tempo indicado por Deus, nasceu-lhes um filho. O nome que
Deus lhe deu, Isaque, significa "Riso". Enquanto vivessem, Isaque lembraria aos pais
o fato de que, com incredulidade, haviam posto um ponto de interrogação atrás do seu
nome, o qual Deus transformara em ponto de exclamação.
Os resultados do erro de Sara ao permitir que Agar se tornasse concubina de
Abraão continuaram a ser muito sérios. Uma vez que Ismael tinha escarnecido de
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 20

Isaque na festa em que este foi desmamado, Sara insistiu em que Abraão mandasse
embora Agar e Ismael. Houve tristeza no coração de Abraão, pois ele também sofria
pela participação que tivera no pecado. Contudo, Deus disse-lhe que desse ouvidos a
Sara. Assim, mandou embota a egípcia e o seu filho. Deus amava-os também, como a
história tem provado, mas estabeleceu-se aí uma separação distinta entre os
descendentes de Isaque e os de Ismael. Sara só viveu mais 37 anos depois do
nascimento de Isaque, por isso não viu a miséria e a tristeza desencadeadas pelos
descendentes dos dois filhos de Abraão.
Os árabes, descendentes de Ismael, e os judeus descendentes de Isaque, tornaram-
se inimigos constantes. Mesmo passados tantos séculos, os problemas do Médio
Oriente ainda aguardam solução.
Qual não seria a tristeza de Sara se soubesse que o seu ato de impaciência teve
efeitos tão sérios, e que a sua memória ficou manchada por ele. Mas a Bíblia não
termina a sua história em escala menor.
A primeira mulher que aparece na galeria dos heróis da fé, em Hebreus 11, é
Sara. Ela ficou registada com honra por causa da fé que demonstrou, não por causa
dos seus fracassos.
A sua fé majestosamente ilustrada no nascimento de Isaque cresceu durante a sua
longa existência. A vida tinha requerido de Sara muitos sacrifícios. Ela privou-se de
muitas coisas que amava e queria. Experimentou durezas e desapontamentos – tudo
sem murmurar. Era flexível em situações mutáveis. Adaptou-se ao marido. Pela sua
obediência a Abraão permitiu-lhe a ele obedecer a Deus.
Os cientistas descobriram que as emoções más podem fazer adoecer uma pessoa.
Dizem também que as emoções saudáveis governadas por um sentimento de
felicidade, satisfação e fé inquebrantável em Deus podem concorrer para a beleza
física, boa saúde e vida longa.

Teria sido esse o segredo da beleza e vitalidade exteriores de Sara? Pedra louva-a
pela beleza interior e desafia todas as mulheres a seguirem o seu exemplo. Pois Sara é
verdadeiramente uma princesa entre as mulheres.

Sara, a princesa cujo nome está registado com honra


(Gênesis 18:1-15; 21:1-3; Hebreus 11:1; 1 Pedro 3:6)

Perguntas:
1. Leia Hebreus 11:11 mais uma vez. Por que é que o nome de Sara é
mencionado entre os heróis da fé?
2. Compare 1 Pedro 3:6 com Efésios 5:22-33. O que é que o impressiona na sua
relação com o marido?
3. Quais as experiências da vida de Sara que, na sua opinião, deram oportunidade
de crescimento à sua fé? (Estude também as referências citadas em Gênesis
11,12 e 20).
4. Qual lhe parece ser o maior desafio à fé dela?
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 21

5. Que prova existe de que a fé de Sara também experimentou pontos baixos?


Que características negativas vê então? (Leia também Gênesis 16).
6. Quais os resultados que vê brotar da impaciência de Sara?
7. Ismael foi o pai dos árabes. Quais as conseqüências da vida de Sara que se
podem ver ainda no presente?
8. Que lições aprendeu da Sara? Escolha a mais importante e decida como é que
poderá aplicá-la na sua vida.

REBECA, UMA MULHER COM GRANDE POTENDIAL, TODAVIA ...

"Mulher virtuosa quem a achará? O seu valor muito excede o de rubis.'"


Salomão (Prov. 31:10)

Gênesis 24:1-28
Provérbios 31:10

I. A Proposta de Casamento
Começou quase como um conto de fadas. Um rapaz solteiro muito desejado, o
único filho dum pai rico e herdeiro duma grande fortuna (Gên. 24:34-36), andava à
procura de esposa. Mesmo antes de nascer, Deus tinha-lhe prometido que teria uma
enorme descendência. Havia-lhe dito também que faria com ele e com a sua
descendência um concerto eterno. Gên. 17:19; 12:2,3. Portanto, a mãe desses filhos e a
avó dos filhos deles tinha de ser escolhida com muito cuidado.
Isaque era esse jovem solteiro. O pai, Abraão, fez todos os preparativos para o
casamento – escolheu mesmo a noiva. Tinha enviado um homem em que podia
confiar, com tão delicada incumbência – provavelmente Eliezer, mordomo da sua casa
(Gên. 15:2-4) a Haran, na Mesopotâmia, onde Abraão vivera anteriormente. Alguns
dos seus parentes ainda moravam lá. Parecia-lhe que alguém do seu círculo familiar
seria a melhor garantia para uma união matrimonial harmoniosa. Eles teriam os
mesmos princípios e mútua compreensão.
Embora vivendo em Canaã, Isaque não estava autorizado a casar com uma
mulher da região, porque os cananeus estavam sob a maldição de Deus. Gên. 9:22-27.
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 22

Eram pagãos, pois não adoravam o Deus de Isaque, e o casamento com uma incrédula
daria origem a um par desigual aos olhos de Deus (2 Cor. 6:14).
Abraão, que desejava uma esposa escolhida por Deus para o seu filho, estava
convencido de que os casamentos deviam ser feitos no céu. Acreditava que Deus
estava pessoalmente interessado na união de duas pessoas. Afinal de contas, não tinha
Ele criado uma esposa especial para Adão, alguém com quem o primeiro homem
pudesse desfrutar uma felicidade perfeita?
Acreditava que Deus havia também escolhido uma esposa para Isaque. Na
qualidade de pai, podia dar riquezas ao filho, mas só o Senhor podia dar-lhe uma
esposa compreensiva (Prov. 19:14) – uma boa esposa é um dom e uma bênção do
Senhor (Prov. 18:22). Abraão tinha a certeza de que o próprio Deus Se encarregaria da
viagem, se ele lhe pedisse. Assim, encorajou o mordomo com a promessa de que o
Senhor Deus enviaria o Seu anjo diante dele para assegurar o contato com a mulher
adequada.
Após uma viagem de cerca de 880 quilômetros, Eliezer chegou a Haran, onde
vivia Naor, irmão de Abraão. Fez duas coisas logo que chegou. Orou pedindo ajuda, e,
depois, sendo um homem prático, foi para o lugar mais natural de ajuntamento do
povoado, o poço de água. Entardecia. Em breve as mulheres viriam buscar água.
Como é que escolheria a esposa apropriada para Isaque, dentre as muitas que
viriam ao poço? Qual delas teria Deus destinado para mulher do filho do seu Senhor?
Tudo dependia da direção de Deus, por isso Eliezer prosseguiu em oração. Pediu um
sinal pelo qual a pudesse reconhecer: "Que a jovem a quem eu pedir água e que
ofereça também de beber aos meus camelos seja a esposa que queres para Isaque". E,
sabendo que uma pessoa pode pedir tudo a Deus, suplicou êxito para aquele mesmo
dia.
Apesar de breve, esta oração revelava o grande discernimento do mordomo. As
mulheres orientais eram muito tímidas quando se encontravam com homens estranhos.
Portanto, se uma moça lhe respondesse com tanto à vontade, ele poderia considerar
isso como orientação de Deus.
Mas teria ele consciência de que a resposta à sua oração mostraria também outras
qualidades na jovem? Não era coisa simples tirar água para dez camelos. Seria
necessário tirar e transportar 120 a 240 litros. Isso exigia boa saúde e força física. A
mulher que iria ser o próximo elo na cadeia de muitos descendentes que Deus havia
prometido a Abraão precisaria de ser forte e saudável.
A ação revelaria também alguma coisa a respeito do seu caráter. Simpatia e
prontidão em servir deviam ser características da noiva de Isaque. Eficiência e
capacidade de fazer trabalho duro seriam benéficas na existência nômade que teria de
levar com o marido. Ser-lhe-ia útil também mostrar iniciativa quando tinha idéias
próprias.
Isaque, filho de pais idosos, permanecera solteiro até depois dos 40. Era muito
ligado à mãe. Não era homem de grandes feitos. A esposa precisaria de o
complementar, revelando qualidades que ele não possuía.
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 23

O servo de Abraão tinha orado silenciosamente. Ninguém ouvira o seu pedido,


senão Deus. Mal tinha acabado de orar quando algo dentro dele lhe disse que olhasse
para cima. Ali na sua frente viu uma moça com um cântaro ao ombro. Esbelta, jovem.
À medida que ela se aproximava, ele sentia uma convicção crescente de que essa era a
resposta à sua oração. Ali estava a noiva de Isaque!
O dia começara como qualquer outro para Rebeca. Não tinha recebido qualquer
indicação de que se trataria dum dia histórico. Não tinha a menor idéia de que estava
prestes a assumir o papel principal numa história de amor que iria enternecer os
corações durante milhares de anos, no futuro. O passeio diário ao poço era prosaico,
como o de ontem e de anteontem – mas neste dia, ao chegar ao poço percebeu uma
certa tensão no estranho que observava a sua chegada. Isso não a contrariou.
Correspondeu alegremente quando ele lhe pediu água.
Por que é que o bater do meu coração é tão leve, tão feliz – como se aguardasse
alguma coisa? – perguntava a si mesma. Parecia que algo do exterior lhe dava asas
aos pés e força extra aos braços. Queria fazer algo de especialmente amável a este
simpático velho. Por isso, ofereceu-se para dar também de beber aos camelos. Levou
muito tempo até todos os animais ficarem satisfeitos e, todavia, aquele sentimento leve
e feliz permanecia nela. Terminou eficientemente a árdua tarefa. Os olhos atentos do
estrangeiro não a tinham deixado um só instante. Examinava-a em silêncio.
Quando acabou o trabalho, ele deu-lhe presentes de ouro. Surpreendeu-a o fato de
ele dar um presente tão rico pelo pequeno favor, mas podia ver, pelas pessoas que
estavam com ele, que se tratava dum homem rico.
"Diz-me de quem és filha".
Ela notou a tensão reprimida na sua voz. Quando respondeu: "Sou a filha de
Betuel, filho de Milca e de Naor", ele inclinou a cabeça perante Deus e louvou-O.
Quando ouviu mencionar o nome bem conhecido do seu tio Abraão, durante a
oração, e verificou que este piedoso homem tinha feito aquela longa viagem com o
principal objetivo de se encontrar com a sua família, correu a casa a dizer-lhes.
Devido a toda aquela excitação, ninguém dormiu muito bem na casa de Betuel
naquela noite. Todos haviam chegado a uma conclusão depois de ouvirem a história
do homem – Deus estava a dirigir as coisas. Tinham ouvido como a busca da esposa
de Isaque se ancorava nas promessas do Senhor. Como o nascimento e a vida de
Isaque eram a prova de que Deus cumpria o prometido (Rom. 4:18-21; Heb. 11:17-
19), assim deveria o seu casamento estar ligado às Suas promessas. A confiança de
Abraão nessas promessas foi a razão das suas ações. Ao enviar Eliezer à procura da
noiva. Abraão estava convicto de que fazia a vontade de Deus, e tinha a certeza duma
resposta às suas orações.

Abraão e Eliezer não ficaram desapontados. Deus tinha-lhes mostrado claramente


o caminho. A direção de Deus foi depois confirmada pelo sentimento dos parentes. Na
cultura de Rebeca, o casamento não era algo a ser decidido só pelo par. Outros,
particularmente os pais, deviam dar o seu conselho.
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 24

Moisés escreveu mais tarde, como mandamento de Deus, que os filhos


devem obedecer aos pais (Dt. 5:16). Salomão sugeriu que e buscasse
conselho de outro antes de agir (Prov. 20:18). Se os pais e conselheiros
reagem positivamente à consideração de um casamento, e se, desde os
primeiros passos o casamento estiver baseado na Palavra de Deus e na
oração, então, como no caso de Rebeca e Isaque, pode-se concluir que Deus
está decididamente orientando as coisas.

Embora a família tivesse expressado a sua opinião, a última palavra pertencia a


Rebeca. Ele deu um "Sim" incondicional à pergunta: "Queres ir com este homem?" A
sua resposta constituiu um grande passo de fé. A distância entre o seu futuro lar e a
cidade dos pais, significava que provavelmente jamais regressaria. Seria uma
separação para toda a vida.
Rebeca, neta de Naor, demonstrou algo do mesmo tipo de fé de Abraão, irmão
de Naor. Quando soube a vontade de Deus, obedeceu sem reservas, como Abraão
havia feito. Estava pronta a ajustar a sua vida a tudo o que o seu futuro marido
exigisse dela.
Tiveram o seu primeiro encontro no campo. A pequenez da tenda tinha sido
demasiada para Isaque. Ele tinha saído para falar com Deus, sabendo que a caravana
poderia regressar qualquer dia.
Rebeca viu um homem que caminhava na direção da caravana. Quando soube
que era Isaque, cobriu o rosto com o véu, pois no oriente a noiva nunca mostrava o
rosto ao noivo, senão depois da cerimônia matrimonial.

O casamento é um símbolo do concerto entre Deus e a nação judaica (Osé.


2:18,19). No futuro, torna-se símbolo de Cristo e da sua Igreja (Efés.
5:23,24).

A noiva de Isaque deve ter-lhe recordado a mãe. Como Sara, Rebeca era
inteligente, enérgica, de vontade firme e muito bela. Possuía tudo o que ele poderia
desejar numa mulher. Isaque amou-a, e ela amou-o igualmente.
A história é muito mais interessante do que os contos de fadas, porque as pessoas
são de carne e osso, de emoções e de razão, de esperança e de desespero. Rebeca, uma
jovem desconhecida, tornou-se participante da história de Abraão, o pai da fé judaica,
o pai de todos os crentes, o amigo de Deus. Entrou pelo limiar dum futuro cheio de
promessas. O que é que iria ela fazer dele?

II Rebeca Toma a Sorte Dela Nas Suas Próprias Mãos


"Toda a mulher sábia edifica a sua casa, mas a tola derruba-a com as suas
próprias mãos." Salomão, Prov. 14:1
Gênesis 27:1-30
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 25

Gênesis 27:41-46

Rebeca ficou desconfiada quando viu o filho mais velho, Esaú, entrar na tenda de
Isaque. De que é que estariam a falar? – perguntava a si mesma. Levada pela
curiosidade, pôs-se a espiar o homem que muitos anos antes havia considerado como
um dom de Deus. Incrível!
A comunicação entre Rebeca e Isaque tinha-se tornado muito fraca. A unidade da
família havia-se desfeito. Estava dividida em dois mini-mundos. Um consistia de Jacó
e ela própria, outro de Isaque e Esaú. Parece que os filhos os tinham separado. Embora
gêmeos, os rapazes eram diferentes como o dia da noite.
O cabeludo Esaú era um homem rude, tanto fisicamente como no seu caráter
íntimo. Gostava de viver ao ar livre e tinha ganho a admiração do pai, pois Isaque
gostava da carne de caça que Esaú trazia para casa.
Jacó, o mais novo, era de constituição mais fraca e de caráter astuto. Ficava em
casa e era o preferido da mãe.
O fato de terem filhos devia concorrer para aproximar Isaque e Rebeca um do
outro, mas, infelizmente, parece que os afastou. O seu casamento foi prejudicado pelo
favoritismo.
O amor de Rebeca por Jacó baseava-se no que Deus havia dito antes dos filhos
nascerem. Mas naquele dia não tinha tempo para contemplações. Não era ocasião para
se distrair com o passado. Havia outras coisas a considerar. O futuro do seu querido
filho, Jacó, estava em jogo.
Evidentemente não lhe passou pela cabeça que o futuro também dizia respeito ao
povo de Deus, que envolvia o marido e Esaú. Não teve o cuidado de consultar a Deus
em relação ao seu plano, não obstante Ele haver feito predições definidas sobre o
futuro.
Rebeca, agora com 80 anos, não tinha perdido a sua vivacidade intelectual ou
rapidez de ação. Pôs-se à escuta à porta do marido.
Isaque tinha mais de 100 anos e estava a preparar-se para a morte. A bênção que
Deus havia passado para ele através de Abraão, queria agora transmiti-la – contra a
palavra de Deus – ao filho mais velho. Um ato tão solene entre pai e filho era sempre
celebrado com uma refeição. Rebeca ficou alarmada. Algo estava errado. Não tinha
Deus afirmado claramente antes dos filhos nascerem que o mais velho serviria o mais
novo? (Rom. 9:10-12) Esta promessa de Deus seria contrariada pelo que Isaque
planeava fazer. Tal não devia acontecer.
Rebeca compreendia porque é que Deus preferia Jacó. Esaú tinha dado provas de
que não tomava a sério os mandamentos de Deus. Tinha vendido o direito que lhe
pertencia como primogênito (Dt. 21:15-17) e que é santo aos olhos de Deus (Êxo.
13:2; Heb. 12:16). Considerando-o levianamente, tinha-o trocado por um prato de
comida. Gên. 25:29-34. Também se havia casado com mulheres pagãs. Tudo isso
havia causado muita tristeza aos pais. E embora Jacó não tivesse procedido bem
quando obteve pela astúcia o direito de primogênito, tinha pelo menos mostrado que
acreditava nele. A sua vida estava mais centralizada em Deus do que a de Esaú.
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 26

No passado, tristezas a respeito dos filhos tinham levado os pais a orar. Não tinha
sido a gravidez de Rebeca um resultado da intercessão de Isaque? E não havia Rebeca
buscado a Deus quando verificou com surpresa que duas crianças lutavam
mutuamente mesmo durante a gestação? (Gên 25:21-23).
É interessante notar que nestes dois casos de oração só é mencionado um dos
pais. Será isso devido à brevidade da história bíblica? Ou estariam eles já a adquirir o
hábito de não partilharem mutuamente os seus pensamentos? Teria a hábil e
inteligente Rebeca chegado a gostar realmente de Isaque, que era muito mais velho?
Ter-se-ia alguma vez Isaque esforçado para conquistar o seu amor? Seria este amor
intenso que dedicavam aos filhos um escape com vista a substituir a desunião dos seus
próprios corações? Ou ter-se-iam eles separado por atribuírem valor diferente à
palavra de Deus?
Um casamento que Deus compara à união entre Cristo e a Sua igreja só pode ser
feliz se os cônjuges se entenderem bem. Embora o homem e a mulher sejam iguais
diante de Deus, cada um tem responsabilidades diferentes dentro da união
matrimonial. O homem é o cabeça (1 Cor. 11:3,9). É responsável pela esposa. Deve
amá-la e orientá-la de acordo com a palavra de Deus (Efés. 5:21-23). Deve honrá-la
porque é a mais fraca dos dois (1 Pe. 3:7). A esposa tem de se ajustar ao marido. Ela
tem de lhe obedecer, seguir a sua liderança.
O segredo desta relação é Cristo. O casamento torna-se o que Deus quer que seja,
quando ambos os cônjuges se submetem um ao outro por honrarem a Cristo. Nesses
moldes, os cônjuges ajustam-se à ordem de Deus para a criação e experimentam uma
plena realização pessoal. Quando ambos concordam com estas condições, o casamento
decorre como uma unidade feliz e construtiva. Depois proporciona um lar e proteção
reais para cada membro da família, e torna-se a pedra basilar mais importante da
sociedade.
A maior ambição duma mulher que possui esta perspectiva é promover o bem
estar do marido: "Ela lhe faz bem e não mal todos os dias da sua vida." (Prov. 31:12).
Se ela trata da família levada por esta convicção, o marido e os filhos irão bendizê-la,
e considerar-se-ão felizes (Prov. 31:28).
Embora Rebeca não tivesse estes requisitos impressos em páginas, devia tê-los
conhecido como Sara (1 Pe. 3:6). Mas, infelizmente, não agiu de acordo com eles.
Isaque também não estava isento de culpas. Teria ele, como marido, exercido uma
correta liderança no sentido em que Deus a esperava?
Infelizmente, Rebeca tomou a sorte dela nas suas próprias mãos. Esta mulher que
antes tivera a fé bastante para confiar em Deus quanto a um futuro desconhecido,
sentia agora que tinha de O ajudar um pouco. Faltava-lhe a confiança em que o Deus
eterno era suficientemente poderoso para cumprir as Suas promessas a Jacó sem
intervenção humana. Ela não aproveitou esta oportunidade para discutir o assunto com
o marido. Uma oportunidade para se aproximarem, por necessidade, foi desprezada.
Decidiu, sem hesitar, enganar o marido, e defraudar Esaú.
Jacó também não estava preocupado com esse ato enganador, propriamente dito.
A sua única preocupação era que pudesse ser descoberto e acarretar sobre si uma
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 27

maldição. Rebeca estava preparada para fazer tudo em prol da sua causa. Será que o
abismo entre ela e Deus se tinha tornado tão grande que não temia a Sua maldição?
Pareceu atrevida quando disse: "Filho, sobre mim seja a tua maldição..."
A situação evoluiu rapidamente. Antes que Esaú entrasse na tenda do pai com o
guisado saboroso, Jacó roubou-lhe a bênção. Rebeca pensou que tinha ganho, mas
estava enganada. Havia perdido. A sua astúcia causou grande tristeza a Isaque. O
nome dele significava "Riso", mas nunca mais teve muito motivo para se rir. E se Esaú
alguma vez tinha respeitado a mãe, nunca mais isso aconteceria.
Rebeca tinha também prejudicado Jacó, seu preferido. Com a sua ajuda ele havia
enganado o pai, mentindo. Tinha caluniado o nome de Deus, quando disse ao pai que
Deus lhe havia dado rápido êxito na caça. Mas isso não era tudo. Jacó tinha-se tornado
perito como enganador. Conseguia ser tão astuto como a mãe. Que Deus o tivesse
abençoado apesar de tudo isso, só pela Sua graça, pois Jacó não tinha certamente
ganho a bênção.
Jacó iria aprender mais tarde, dolorosamente, que um enganador virá a ser
enganado. Primeiro seria enganado pelo sogro (Gên. 29:25), depois pelos próprios
filhos (Gên. 37:31-35). E também, quantas vezes teria Jacó perguntado a si mesmo se
era realmente um homem abençoado por Deus, uma vez que a mãe não tinha
permitido que Deus lhe provasse isso? A bênção roubada constituía uma possessão
duvidosa.
Foi igualmente por causa das ações de Rebeca que Esaú desejou matar Jacó mais
tarde. Isto, mais uma vez conduziu à decepção. Jacó teve de fugir da casa dos pais. O
irmão de Rebeca, Labão forneceu um bom esconderijo em Haran.
Depois de ter tratado de tudo com respeito a Jacó, agora um homem com mais de
40 anos, Rebeca foi ter com Isaque. Disse ao marido: "Estas mulheres estrangeiras são
um fardo. Preferia morrer a ver Jacó casar-se com uma delas." O que ela disse era
verdade. Isaque e Rebeca tinham sofrido muito por causa dos casamentos de Esaú.
Contudo, ela não proferiu qualquer palavra de arrependimento por tudo o que havia
feito.
Ela deu valor demais a si própria e fez uma falsa promessa a Jacó, dizendo-lhe
que o chamaria de volta quando a ira de Esaú tivesse desaparecido. Foi incapaz de
cumprir essa promessa, porque não viveu até ao regresso de Jacó. Viu pela última vez
o seu filho querido, quando este partiu em busca duma esposa. Quando voltou, 20 anos
mais tarde, o pai ainda estava vivo e Esaú reconciliou-se com ele, mas Rebeca já tinha
morrido.
Como Sara, Rebeca foi incapaz de prever todo o alcance dos efeitos dos seus
atos. O ódio despertado no coração de Esaú continuou pelas gerações futuras (Ezeq.
25:12,13). Durante muitos séculos, os edomitas, descendentes de Esaú, seriam
inimigos de Israel. Herodes o Grande, o homem que assassinou as crianças de Belém,
e o seu filho Herodes Antipas, o homem que ridicularizou Jesus durante o julgamento,
eram ambos edomitas, homens da Eduméia.
Rebeca, a mulher que tão cuidadosamente havia sido escolhida para esposa de
Isaque, uma mulher escolhida por Deus; não tinha cumprido a sua promessa que dela
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 28

se esperava. O seu princípio foi bom, mas o fim trouxe desapontamento, porque não
esperou em Deus (Sl. 27:14; 34:34). Tomou a sua sorte nas próprias mãos e não
permitiu que Deus lutasse por ela. Esquece de que aqueles que crêem não precisam se
precipitar. Não teve o cuidado de dar a Deus uma oportunidade para lhe mostrar o que
podia e queria fazer por aqueles que esperam nEle.

Rebeca, uma mulher com grande potencial, todavia...


I. A Proposta de Casamento (Gênesis 24:1-28,58-67)

Perguntas:
1. Descreva em poucas palavras como se processou o casamento de Isaque com
Rebeca.
2. De que é símbolo o casamento? (Efésios 5:23,24,32). Que conclusões pode
tirar daí?
3. Compare Gên. 24:3 com 2 Cor. 6:14. Que pode concluir disso?
4. Que lugar tem a oração nesta história?
5. O que é que o impressiona no que diz respeito à direção de Deus? (Leia
também o Salmo 32:8; 143:8).
6. De que maneira é que o princípio bíblico apresentado em Provérbios 20:18 se
aplica ao processo deste casamento?
7. O que é que podem aprender desta história os que andam à procura de um
companheiro para a vida?

II. Rebeca tomou a sorte dela nas suas próprias mãos


(Gênesis 27: 1-30,41-46).

Perguntas:
1. O que caracterizou a Rebeca do estudo anterior?
2. O que é que revela Gênesis 27 a respeito da sua fé?
3. Que atitude a caracterizou como mãe?
4. Que razões poderia ela ter tido para tomar o futuro de Esaú e Jacó nas suas
próprias mãos? (Romanos 9:10-12).
5. Foi bom para ela intervir como fez? Por quê ou porque não?
6. Ao estudar Rebeca como esposa à luz de Efésios 5:21-33 e Provérbios 31:12,
que conclusões pode tirar?
7. Aprendeu certamente várias coisas diferentes com o exemplo de Rebeca.
Enumere-as pela ordem da sua importância, e pergunte a si mesmo que
benefício prático poderão elas ter para si.
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 29

A ESPOSA DE POTIFAR, UMA MULHER DOMINADA PELO SEXO

"De acordo com o pensamento bíblico, dois seres humanos que tenham
partilhado do ato sexual nunca mais serão os mesmos depois disso. Já não
podem agir em relação um ao outro coma se não houvessem tido essa
experiência. Isso faz do que se envolvem nele um casal, ligados um ao outro.
Isso cria o laço duma só carne, com todas as suas implicações''. Walter
Trobisch*

Gênesis 39:1-20
1 Tessalonicenses 4:3-5

A mulher de Potifar tinha tudo. Tinha um marido que exercia uma grande posição
como oficial de Faraó. Vivia numa casa espaçosa e luxuosamente mobiliada. Vivia
mergulhada em riqueza, alimento e vestuário. Dirigia o numeroso pessoal da sua casa,
que lhe satisfazia os mínimos desejos. Era uma mulher mimada.
Como egípcia, gozava também de uma liberdade maior do que a de muitas outras
mulheres do seu tempo. Podia-se concluir que ela se sentisse muito feliz, mas tal
conclusão provar-se-ia pouco perspicaz, pois a situação era realmente muito diferente.
Tem-se dito que as situações não fazem a pessoa; revelam-na. Isso é verdade no
caso da esposa de Potifar.
Ela aparece na Escritura em relação com José, o homem responsável pela casa do
seu marido. José, filho de Jacó e de Raquel, era um homem muito elegante quando
chegou à casa de Potifar, depois de haver sido vendido como escravo pelos seus
irmãos.
Mas a vida interior de José era mais notável do que a sua boa aparência, porque
ele caminhava intimamente com Deus. Diversas vezes, Deus tinha revelado a José o
*
Trobisch, Walter A. I Married You. (Casei Contigo) 1971, Harper & Row, Editores, Nova Iorque, N. I.
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 30

seu futuro, em sonhos. Essa fora uma das razões por que os seus irmãos sentiram
inveja dele. Haviam sentido que ele os olhava com desdém. Quando mais tarde
verificaram que o seu pai favorecia José, a sua fúria atingiu o auge. Livraram-se dele,
vendendo-o a mercadores que passavam por ali.
Contudo, em breve se tornou muito claro que Deus estava com José, pois para
onde quer que ele fosse, a bênção de Deus o seguia. Assim, a casa de Potifar foi
abençoada – por causa de José. A relação de apreciação e respeito mútuos cresceu
entre José e o seu senhor. Conseqüentemente, as responsabilidades de José
aumentaram até que, finalmente, ele tinha a seu cargo toda a casa.
A mulher de Potifar que, à primeira vista, parecia possuir tudo o que uma mulher
poderia desejar, sentia-se intimamente vazia, uma mulher sem propósito. Tinha tempo
demais à sua disposição. Estava casada com um homem para quem o trabalho
significava tudo. Embora a Bíblia não mencione filhos, se tivesse havido algum,
teriam sido, muito provavelmente, tratados por uma ama.
Talvez os seus sentimentos estivessem feridos, porque o marido não lhe
dispensava atenção que ela desejava. Uma vida vazia procura realização, e um coração
vazio anseia por satisfação. Por fim, a mulher de Potifar deu expressão aos desejos que
havia no seu coração.
Não reconheceu ela que era o caráter intrínseco da beleza, retidão e fidelidade de
José que atraía, não precisamente a sua aparência física? Não podia ela entender que o
que havia de especial a respeito dele era o fato de caminhar intimamente com Deus?
É evidente que não, pois ela humilhou-se a si própria e a José, não uma vez, mas
repetidamente. Ela impôs-se a si mesma e ao seu corpo a ele. Esperava encontrar
satisfação no sexo apenas. Não sabia que a sensação que tanto desejava só produziria
paixão, uma excitação emocional que consumia a sua vida, se o ato não fosse
fundamentado no amor e na segurança do casamento.

Mais tarde, Paulo advertiu contra o fato de o pecado controlar a vida da


pessoa (Rom. 6:12). O corpo não é para fornicação, mas para o Senhor (1
Cor. 6:13b). Deus espera que o corpo humano funcione como templo Seu (1
Cor. 6:19).

Na criação, Deus disse: "Portanto, deixará o varão o seu pai e a sua mãe e apegar-
se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne" (Gên. 2:24). Portanto, a sexualidade foi
incluída por Deus, para sempre, no calor, na segurança e no amor do casamento. Isto é
evidente pela Sua ordem – o tornarem-se uma só carne devia ser um resultado do
amor. A decisão de deixarem os pais – darem início à sua própria família –
providencia o ambiente próprio para a culminação do amor sexual. Sem estes pré-
requisitos, o sexo é um desejo veemente que consome, que pode degradar o ser
humano a um baixo nível animal. Isto resulta em auto-acusação, solidão e vergonha.
Provoca uma solidão ainda maior, pois o anseio por mais paixão sexual foi
introduzido. Finalmente resulta em total desolação. Toma-se um ciclo vicioso de
miséria.
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 31

O problema que a mulher de Potifar tinha à sua frente não podia ser
menosprezado, e, certamente, ela não podia encontrar uma solução para estes seus
problemas no sexo. A sexualidade, usada desta maneira, cria o seu próprio inferno.
José pôs imediatamente a tentação na sua perspectiva correta. Ele não a
minimizou, mas chamou-lhe o que ela era – pecado. Falou do grande respeito que
sentia para com o marido dela. Mas a sai grande preocupação era Deus. "Como, pois,
faria eu este tamanho mal e pecaria contra Deus?'' perguntou ele. José tinha razão; a
fornicação e o adultério são pecados, aos olhos de Deus. Cada ato de intercurso sexual
fora do casamento é um pecado que Deus abomina.
Deus não quer negar o prazer ao homem; deseja-lhe a maior e a melhor
felicidade. Quer protege-lo da destruição que sempre acompanha a imoralidade. Deus
não pode permitir que o maior dom terreno que Ele deu ao homem seja degradado e
desonrado.
A imortalidade é uma das armas mortais que vem diretamente do inferno e
destrói a pessoa que nela consente. José sabia isso bem, porque andava com Deus.
Sabia o que desagradava ao Criador.
"O que adultera com uma mulher está fora de si; só mesmo quem quer arruinar-se
é que pratica tal coisa. Achará açoites e infâmia, e o seu opróbrio nunca se apagará"
(Prov. 6:32,33). Embora Salomão escrevesse estas palavras muitos anos mais tarde,
José entendeu e aplicou este princípio na situação com a mulher de Potifar.
O fato de a mulher de Potifar não conhecer o Deus de Israel, não era desculpa.
Como qualquer outro ser humano, ela era uma pessoa moral inata. Estava
transgredindo uma lei da vida que Deus dera à humanidade na criação (Rom. 2:14,15).
Provou isso quando torceu a verdade, depois de José a ter rejeitado. Acusou-o da
imoralidade que ela própria tencionava cometer! A fuga precipitada de José, que deu
prova da sua pureza de caráter expô-la ainda mais e perverteu a sua mente. Sendo-lhe
superior, decidiu, sem quaisquer escrúpulos, arruinar a sua carreira e manchar o seu
bom nome.
Isto deu origem a um tempo difícil para José – uma estadia de muitos anos na
prisão. Sem dúvida, ele sentia-se ferido pelas acusações desonestas. Provavelmente,
sentiu-se também abandonado, uma vez que Potifar, aparentemente, não investigou a
situação. Todavia, é evidente que Potifar não acreditou na sua mulher, pois nesse caso
teria, certamente, mandado matar José.
José não se queixou. Para sua alegria, descobriu que mesmo as paredes da prisão
não excluíam Deus. Deus continuava com ele, como o havia feito na casa de Potifar.
Uma vez mais, José tornou-se uma bênção para aqueles que o rodeavam. Finalmente,
foi recompensado pela sua lealdade a Deus e ao seu senhor, e foi-lhe dado o governo
sobre todo o Egito. Era o primeiro abaixo de Faraó, o governador do Egito. Casou com
a filha de Faraó. Tomou-se Zafnath-Paneah, o protetor do povo. No devido tempo foi
capaz de salvar os irmãos que o haviam traído, quando eles estavam ameaçados pela
fome.
Não foi José quem saiu perdendo.
Foi a mulher de Potifar.
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 32

Nada mais se ouve a respeito dela – não por causa da enormidade do seu pecado,
mas porque ela não mostrou qualquer tristeza e não pediu perdão. Não pareceu desejar
qualquer conhecimento de Deus, embora Ele desejasse tanto dar-lhe alegria e
satisfação na vida, que a tinha tocado através da pessoa de José.
Ela podia ter encontrado vitória sobre os seus desejos sexuais, se os tivesse
reconhecido como pecado, a tempo. Podia mesmo ter ganho de novo o domínio da sua
mente e do seu corpo, depois de José a ter rejeitado a primeira vez. Podia ter
interrogado José a respeito do Deus que governava a sua vida.. Podia ter preenchido as
suas horas de ócio de um modo mais proveitoso.
A ociosidade tornou-se a mãe do seu vício, pois ela agiu levianamente com um
dos dons mais preciosos da vida – o tempo. Gastou-o inutilmente. A ociosidade
tornou-se o solo que nutriu os seus pensamentos pecaminosos. Só depois de ter
sucumbido a esses pensamentos perversos, é que ela se defrontou com o desejo de
pecar de fato. Sim, os nossos atos são fruto dos nossos pensamentos; os seus
pensamentos foram a origem da sua ruína. A pessoa torna-se o que pensa. A tentação
da mulher de Potifar não era rara. Milhões de pessoas hoje em dia estão sendo tentadas
da mesma maneira, porque Satanás anda continuadamente em derredor, bramando
como o leão, buscando a quem possa tragar 1 Ped. 5:8). Ele nunca mudará o seu
caráter.
A esposa de Potifar permitiu que a tentação se convertesse em pecado, porque
não refreou os seus desejos, antes, pelo contrário, consentiu que eles a seduzissem e
atraíssem para o pecado real (Tg. 1:14,15). Não tinha qualquer desejo de se corrigir.
Tinha o tempo, a inteligência e o potencial para usar a sua vida positivamente,
mas falhou. Portanto, nada de bom se pode dizer acerca dela. É trágico que tenha
vivido, sem ter deixado atrás de si qualquer impressão positiva.

A Esposa de Potifar, uma mulher dominada pelo sexo


(Gênesis 39:1-20; 1 Tessalonicenses 4:3-5)

Perguntas:
1. Em poucas frases, relate o que a Bíblia diz acerca da esposa de Potifar.
2. Que palavras usou José para pôr a proposta imoral dela na perspectiva correta?
3. Estude a lei de Moisés a respeito dos pensamentos de Deus sobre as relações
sexuais entre um homem e uma mulher que não são casados. (Deut.
22:13,14,20-22). O que é que o impressiona?
4. A esposa de Potifar não conhecia as leis de Deus. Por que é que a sua
ignorância não era desculpa? (Recorde Rom. 2:14,15).
5. Para quem foi criado o corpo humano, e porquê? (1 Cor. 6:13b,19,20).
6. Compare esta história com a advertência em 1 Tessalonicenses 4:3-5. Que
atitude Deus quer ver nas pessoas, em relação aos seus corpos?
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 33

MIRIÃ, UMA LÍDER QUE EXAGEROU EM SEUS MÉRITOS

"Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração. Prova-me e conhece os


meus pensamentos. E vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo
caminho eterno''.
Salmo 139:23,24, A Bíblia Viva.

Êxodo 15:19.21
Números 12:1-15
Números 20:1

Miriã tinha sido uma criança inteligente. A mãe prontamente lhe tinha confiado
uma responsabilidade de tal importância, que a vida do seu irmão mais novo dependia
do seu sucesso. Ela completou a sua tarefa com coragem e tato, pondo a sua mãe, uma
mulher hebréia, e uma princesa egípcia em contato mútuo. Assim, o irmão foi salvo,
beneficiando tanto a sua família como o povo de Deus. Êx. 2:1-10. A criança era
Moisés, mediador do velho concerto, o profeta que falou face a face com Deus.
Como adulta, Miriã foi uma mulher de valor. O seu caráter tinha sido formado no
seio de uma família onde a fé era uma realidade diária. Os seus pais haviam tido a
coragem, o amor e a habilidade para desafiarem as ordens dum rei tirano a fim de
salvarem a vida do seu filho mais novo. A família de Anrão e Joquebede foi a única na
existência de Israel, pois produziu três grandes líderes – Moisés, Arão e Miriã – que
serviram todos a nação, ao mesmo tempo.
"Certamente te fiz subir da terra do Egito, e da casa da servidão te remi; e pus
diante de ti a Moisés, a Arão e Miriã". Declarou Deus mais tarde, através do profeta
Miquéias (6:4). Quando Moisés conduziu o seu povo impertinente do Egito para
Canaã, foi auxiliado pelo seu irmão Arão, o sumo sacerdote, e pela sua irmã Miriã, a
profetisa.
Ela não era uma simples acompanhante. Era sua colaboradora, com
responsabilidades de liderança. Miriã, uma mulher solteira, foi chamada por Deus para
uma tarefa excepcional. Teve o privilégio de ser a primeira mulher profeta – porta-voz
de Deus.
Em atos e palavras ela proclamou a grandeza de Deus. A sua vida estava toda
concentrada em amar a Deus e ao Seu povo. Os seus dons e interesses eram demasiado
grandes para serem usados exclusivamente no reduzido círculo familiar. Israel tinha
muitas esposas e mães, mas uma só Miriã. Deus confiou-lhe uma posição elevada.
Uma nação inteira estava dependente dela. Recebeu a suprema satisfação na vida, ao
dedicar-se integralmente à sua tarefa.
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 34

Estava perto dos cem anos quando o milagre do Mar Vermelho assombrou as
multidões. A água que trouxe salvação ao povo de Deus confirmou a queda dos seus
inimigos. "Cantarei ao Senhor, porque sumamente se exaltou'', clamou Moisés depois;
" lançou no mar o cavalo e o seu cavaleiro" (Êx. 15:1). Depois de os homens terem
começado o cântico festivo, as mulheres continuaram. Desse dia em diante, Israel iria
continuar a cantar a respeito de vitórias excepcionais, por causa de Miriã. Ela foi a
primeira – de espírito enérgico e jovem, apesar da sua idade. Com o tamboril na mão,
continuou o cântico de Moisés. Encorajou as mulheres a dançarem em honra de Deus,
enquanto exultavam de alegria, "... cantai ao Senhor, porque sumamente se exaltou".
Miriã nasceu líder. As mulheres seguiam-na prontamente. E embora não
pudessem prever o futuro, o seu cântico tornou-se uma fonte inesgotável de apoio às
mulheres durante a sua longa peregrinação pelo deserto. Anda-se melhor enquanto se
canta, e a pessoa preocupa-se menos. Não havia meio de ela saber com que freqüência
seria necessário encorajarem-se umas às outras com a fidelidade de Deus. A viagem
foi longa por causa da desobediência do povo. Mas elas recobravam a coragem
enquanto cantavam, "ele lançou no mar o cavalo e o seu cavaleiro''. Contudo, o amor
próprio estava-se tornando fatal para Miriã.
Ela era uma mulher forte. A liderança vinha-lhe com facilidade. E, como muitas
vezes acontece, esta mesma força tornou-se a sua fraqueza. Tem-se dito que as
circunstâncias revelam o interior da pessoa. A circunstância que revelou o caráter de
Miriã foi o segundo casamento de Moisés, desta vez com uma mulher etíope.
Compreende-se que Miriã achasse isto difícil. Era estranho que Moisés, um
homem de Deus, casasse outra vez com uma mulher de outra nação. Ou estaria ela
simplesmente a reagir contra a presença de outra mulher na vida de Moisés,
especialmente por ela própria ser solteira? Estaria ela indignada porque ele se
satisfazia com uma mulher estrangeira, enquanto inúmeras outras mulheres israelitas
seriam mais adequadas? Estas perguntas não são respondidas nas Escrituras.
Moisés, o grande líder dos israelitas, era o irmão mais novo de Miriã, e ela estava
preocupada a seu respeito. Estava interessada em saber em que medida os resultados
deste casamento poderiam afetar o povo. O casamento teve lugar num período da
história em que os parentes, geralmente, decidiam sobre os assuntos do casamento.
Considerando a sua preocupação deste ponto de vista, pareceria ser uma reação
espiritual correta da parte duma mulher amadurecida. Mas estava longe disso.
Miriã, que tinha ascendido ao posto mais elevado até então exercido por uma
mulher, e foi nomeada por Deus na mesma ocasião, juntamente com os dois líderes
masculinos, tinha simplesmente ultrapassado os limites. Ela exagerou os seus méritos.
Considerou-se no mesmo nível de Moisés, e no seu orgulho subverteu a autoridade
dele. "Era ele, de fato, o líder dos três?" perguntou ela. "Não eram ela e Arão seus
iguais?"
Miriã não era motivada por um real interesse no bem-estar do povo, ou de
Moisés, mas por ciúme. Arão, o mais brando dos três, não pôde resistir à sua
dominadora irmã, e, por isso, acompanhou-a. Juntos, Miriã e Arão tentaram usurpar o
lugar de Moisés. Agindo assim, puseram em perigo a unidade e o futuro de toda a
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 35

nação. Além disso, tentaram impedir a revelação direta de Deus. Em lugar de


pensarem no bem-estar de todos os interessados, pensaram só egoisticamente.
Filipenses 2:14.
Deus criou o homem para se dar a si mesmo aos outros. Quando uma pessoa faz
isso, experimenta a maior felicidade. Os seus horizontes são enriquecidos e alargados.
Mas a sua vida toma-se pobre e limitada quando egoisticamente ele deseja
simplesmente receber – quando ele próprio é o centro do seu pensamento.
Moisés permaneceu calmo. Não mostrou qualquer desejo de se defender. Houve,
contudo, alguém que defendeu os interesses de Moisés, e esta tornou-se uma
experiência pavorosa para Miriã e Arão. Pois Deus ouviu no céu, soube e viu o que
estava acontecendo. Ele tomou imediatamente medidas para acabar com a rebelião
contra a liderança de Moisés e castigar os culpados.
Quebrantados e de joelhos trementes, Arão e Miriã apareceram diante de Deus.
Ouviram como Ele julgou a situação. Moisés, escutaram eles, não era apenas o líder
indiscutível, fora também investido numa posição mais alta do que todos os profetas.
Era evidente que Deus tinha escolhido Moisés para ser o mediador entre Ele e o
Seu povo. Ele respeitava de tal modo Moisés, que não falava com ele através de
enigmas vagos e sonhos obscuros. Pelo contrário, falava-lhe como um homem fala
com os seus amigos (Êx. 33:11), abertamente, naturalmente.
Miriã e Arão haviam atacado um homem altamente respeitado por Deus. Quando
Ele na Sua divina justiça e autoridade os chamou a contas, eles não se puderam
desculpar. No fim de contas, não tinham prejudicado Moisés, mas a si mesmos.
Moisés, o mediador apontado por Deus, era um tipo do Salvador que havia de vir.
Rejeitar Moisés era, de fato, rejeitar o Messias. Foi isto que tomou a situação tão séria.
Quando Deus os deixou na Sua ira, Miriã estava leprosa. Essa era a mais temível das
doenças, pois minava a força da pessoa que a tinha. Degradava-a com uma morte
lenta. Deus tinha-a marcado com a maldição da lepra.
A mulher que, durante anos, tinha ido à frente da multidão, cantando; que tinha
desafiado as outras mulheres a cantarem louvores a Deus, fora expulsa da posição de
liderança. A sua voz, que antes tão harmoniosamente havia louvado a Deus, gritava
agora um rouco "impura", "impura", quando alguém ficava ao seu alcance. Os
membros do seu corpo tornar-se-iam gradualmente mais e mais repugnantes, até que
finalmente cairiam. Ela atravessaria a vida aleijada e só, até à morte.
Miriã tinha de experimentar muito claramente quão grande fora o seu pecado aos
olhos de Deus. A vergonha do seu ato podia comparar-se à atitude de um pai que
cuspia na face do filho, publicamente. Portanto, ela tinha de sofrer o seu castigo
também em público, de modo que toda a gente pudesse ver como Deus castigava as
pessoas que tinha tão alto conceito de si próprias. Rom. 12:3. Miriã, a mulher valente e
ativa, não encontrou palavras para responder à sua maldição.
Arão recuperou primeiro a sua compostura e mostrou que tinha aceito a correção.
Ele disse a Moisés "Oh, meu Senhor'' – não lhe chamou "irmão", mas "senhor",
reconhecendo assim a liderança de Moisés. "Não ponhas sobre nós este pecado que
fizemos loucamente". Arão identificou-se completamente com o pecado de Miriã.
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 36

Depois, não foi ele, o sumo sacerdote, mas Moisés que suplicou a Deus pela cura dela.
Moisés não mostrou ter aprovado o julgamento de Deus nem repreendeu Miriã e Arão.
Simplesmente orou a Deus e a sua oração reduziu a sentença de Miriã de uma longa
vida de sofrimento a sete dias apenas.
A atitude de Miriã havia prejudicado não só a sua própria pessoa, mas também o
seu povo. A sua viagem fora retardada por causa do seu pecado. A nação inteira foi
impedida de avançar até que Miriã estivesse de novo com eles. Os sete dias que ela
passou como um proscrito devem ter dado a Miriã muito assunto para meditação.
Teria ela compreendido então que é o próprio Deus que elege os seus líderes? – que na
Sua ordem divina Ele confia a liderança àqueles que são suficientemente humildes
para desejarem servir? Luc. 22:24-27; 1 Ped. 5:5,6. Teria ela saído de lá uma melhor
pessoa? Teria ela sido purificada?
A Bíblia não registra qualquer rebelião posterior. Teria a experiência destruído a
força e a utilidade de Miriã? Teria ela perdido o seu dom da profecia? A Bíblia não o
diz, mas afirma que ela morreu antes do povo ter entrado na terra prometida.
Miriã era uma mulher que desempenhava uma função principal na sociedade.
Constituía uma posição excepcional a comissão que lhe havia sido dada por Deus. A
história de Miriã ofereceu um maravilhoso desafio enquanto usou a sua posição para
honrar a Deus. Uma pessoa que faz isto, dificilmente errará. Todavia, Miriã escapou-se
gradualmente do controle de Deus na sua vida, para assumir -ela própria esse controlo.
Isto aconteceu, sem dúvida, de modo tão sutil, que ela não reconheceu que a mudança se
estava dando. Talvez se ela tivesse sondado o seu coração honestamente e a tempo,
pudesse ter evitado o juízo de Deus. Provavelmente, não teria então ultrapassado os
limites, exagerando o seu valor.

Miriã, uma líder que exagerou os seus méritos


(Êxodo 15:19-21; Números 12:1-15; 20:1)

Perguntas:
1. O que é que descobriu com respeito à personalidade e caráter de Miriã?
2. Que lugar excepcional tinha ela entre o seu povo? (Miq. 6:4).
3. Como é que ela procedeu quando lhe foi dada autoridade, e como é que provou que
tinha um alto conceito de si mesma?
4. O que é que ensinam Filipenses 2:3,4 e Romanos 12:3 acerca da crítica e da
vanglória?
5. Quais foram os resultados do seu pecado, para com ela, e para os outros?
6. Formule o que aprendeu do seu exemplo. Como é que isto pode influenciar
favoravelmente a sua própria vida?

RAABE, UMA MERETRIZ NA GALERIA DOS


HERÓIS DA FÉ

''Conta dum estalajadeiro do tempo dos romanos:


Vinho e pão, 1 asse
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 37

Refeição quente, 2 asses


Palha para a mula, 2 asses
Uma rapariga, 8 asses"
P. S. Não há preço em separado para a cama; isso estava incluído no último
item." *

Josué 2:1-21
Josué 6:22-25

A Bíblia é um livro honesto que afirma os fatos como eles são – francamente.
Raabe, diz a Bíblia, era uma prostituta, uma mulher que vendia o seu corpo por
dinheiro. As pessoas têm tentado encobrir este fato triste, afirmando que ela era uma
estalajadeira. Talvez isto fosse verdade, mas permanece o fato de que se tratava de
uma mulher de moral corrupta.
Naquela época, os estalajadeiros eram mulheres, não homens. É interessante
notar que nas contas escritas dos tempos romanos, posteriores, era anotada uma certa
importância para a refeição e rapariga, mas o custo da cama não era mencionado –
aparentemente estava incluído no preço da moça. Ela fazia "serviço extra", oferecendo
o seu corpo, e isto ficava incluído na conta.
Uma vez que Raabe estava numa posição de alojar hóspedes, era natural que os
espiões de Josué fossem à sua estalagem. Jericó era uma cidade pequena, e a
estalagem de Raabe era provavelmente o único lugar para passar a noite.
Teria Raabe suspeitado que estes estrangeiros – homens decentes sem motivos
escondidos – eram israelitas? A Bíblia não o diz, mas mostra que, imediatamente,
entrou em campo a contra espionagem. O rei ouviu que os espiões judeus estavam na
cidade e pediu a sua imediata captura.
Entretanto, Raabe tomou consciência da verdadeira identidade dos seus hóspedes
e tinha-os já escondido no telhado, debaixo de canas de linho. Uma vez que era tempo
de colheita e a cidade murada era pequena, os habitantes das reduzidas casas das ruas
estreitas, tinham de usar todo o espaço para armazenagem. Um telhado aberto era o
lugar menos indicado para esconder pessoas, uma vez que, mesmo de longe, os outros
podiam ver tudo o que se passava. Mas a casa de Raabe era diferente. Estava
construída sobre o duplo muro da cidade e situada a nível mais alto do que qualquer
outra casa, de modo que nenhuns olhos curiosos poderiam observar o que decorria lá.
Os espiões estariam a salvo, mas apenas por tempo limitado.
Raabe enganou os mensageiros do rei. Enquanto eles procuravam
cuidadosamente pelos campos à volta, ela falou com os espiões escondidos. Disse-lhes
que tinha consciência de que Deus lhes dera a terra e de que os habitantes da sua nação
estavam apavorados com eles, por causa do milagre da passagem pelo Mar Vermelho.
Estava bem cônscia do que Deus fizera pelo povo. Disse-lhes ainda que os homens
perderam a coragem para enfrentar os israelitas, por causa do seu Deus.

*
Aus dem Leben der Antike (Da Vida dos Antigos), Birt. Citado por D. J. Baarslag em Baals en Burchten (Baals e
Fortalezas). Bosch & Keuning, Baarn. Holanda.
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 38

Ela provou ser uma mulher sábia que agiu à luz de informação correta. Usou
discrição ao falar acerca deles e astúcia em escondê-los. Sentiu que um ato de bondade
merecia outro. "Agora pois, jurai-me, peço-vos, pelo Senhor, pois que vos fiz
beneficência, que vós também fareis beneficência à casa de meu pai''.
Todavia, ela expressou, naturalmente, preocupação a seu respeito, enquanto ao
mesmo tempo, revelava fé no Deus de Israel. Acreditava que Ele batalhava pelo Seu
povo e que ia dar-lhes esta terra. Cria também que, por causa deste poder de Deus, o
seu próprio povo não tinha a menor possibilidade de manter os israelitas fora dos
muros da cidade. Agiu apoiada nesta fé.
Raabe pediu um sinal de que eles a salvariam quando os seus exércitos voltassem
para tomar a cidade. Os homens disseram-lhe que pusesse um cordão de fio de
escarlata na janela e assim ninguém da sua família sofreria.
Alguns comentaristas da Bíblia dizem que este fio de escarlata representava a
ocupação imoral de Raabe. Era a sua "luz vermelha" e, portanto, não levantaria
qualquer suspeita. Ninguém iria pensar que ele constituía um sinal de espionagem. Isto
pode ter sido ou não verdade, mas era certamente uma indicação clara dum acordo
entre dois lados. Raabe não se demorou. Mal os homens partiram, foi pôr o cordão
vermelho na janela. Queria ficar absolutamente certa de que a sua casa se distinguiria
de todas as outras. Deus gosta que as pessoas – mesmo os incrédulos – levem as coisas
a sério. Jesus provou isso mais tarde, quando disse aos discípulos que os filhos deste
mundo são mais sábios na sua geração do que os filhos da luz. Luc. 16:8b.
Uma semana mais tarde, o milagre do Mar Vermelho repetiu-se. De novo as
águas profundas se separaram. Os israelitas atravessaram a pé o rio Jordão, que nessa
altura transbordava pelas margens. Alguns dias mais tarde Raabe viu uma multidão de
israelitas andando à roda da cidade em procissão silenciosa. Os portões da cidade
estavam fechados. Nenhum cananeu podia sair. Este estado de coisas continuou
durante seis dias.
De vez em quando ela se assegurava de que o fio vermelho seria claramente
visível, pois a sua vida em breve iria depender desse fato.
No sétimo dia, os israelitas caminhavam de novo em silêncio ao redor da cidade.
Os rostos deles eram solenes. A tensão dos dois lados do muro tornava-se
insuportável, Dentro, as pessoas olhavam o futuro com horror e medo exceto numa
casa. No lar de Raabe havia esperança e fé. Ela havia feito um acordo com o povo de
Deus e, portanto, com o próprio Deus.
Então, sete sacerdotes com sete buzinas de carneiros, circundaram a cidade
tocando as buzinas, e o povo, sob o comando de Josué, começou a gritar. Aconteceu
então o inacreditável. A terra começou a tremer. Os muros que haviam guardado a
cidade durante anos, desmoronaram-se e caíram, deixando a cidade desprotegida.
O escritor de Hebreus, mais tarde, disse que a fé tinha feito cair os muros. Heb.
11:30,31. E essa mesma fé tinha feito com que uma parte do muro permanecesse de pé
- a parte do muro onde estava a casa de Raabe.
Ambas as partes tinham cumprido o seu acordo. Raabe tinha feito o que
prometera, e Deus recompensou a sua fé. A sua confiança na vitória do Deus de Israel
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 39

era tão forte, que ela conseguiu convencer os parentes a virem e ficarem em sua casa.
Todos eles foram poupados.

O retrato da vida de Raabe foi prejudicado por causa da desonrosa mancha da


imoralidade. Todavia, foi avivado com o exemplo duma fé cintilante – a sua fé era
suficientemente forte para levar a agir. Isto era necessário, diz Tiago, que escreve
também a respeito dela (Tg. 2:25), pois se a fé não consegue agüentar o teste da
aplicação, então é inútil – é morta. A fé interior só pode ser reconhecida através de
atos exteriores.
Uma definição de fé é que ela consiste numa confiança fixa e profunda em Deus
e na Sua Palavra. Raabe tinha este tipo de fé. Portanto, Deus pegou no seu retrato
manchado, limpou-o e pendurou-o ao lado de Sara na galeria dos heróis da fé. Estas
duas mulheres são as únicas figuras femininas numa longa lista de homens.
Raabe, como Sara, uma heroína da fé? Sim, pois Deus não faz acepção de
pessoas. Para Ele não há casos impossíveis. Ele justifica o ímpio. Mas a história de
Raabe não termina aí. A conquista de Jericó só marcou o início, pois ela havia agora
encontrado Deus. A sua vida começou a florescer. Nunca mais teve saudades da sua
ocupação anterior; pelo contrário, tornou-se uma esposa digna. Ela, uma mulher pagã,
viveu entre o povo de Deus, casou com o israelita Salmon, e teve um filho. Se formos
a avaliar a sua competência como mãe pelo seu simpático e sábio filho Boaz, marido
de Rute, então ela deve ter sido realmente muito capaz, pois Rute toma-se a avó do rei
David. Mat. 1:5. Raabe tornou-se uma mulher na linhagem de Jesus Cristo, o Messias,
um privilégio que toda a mulher judia invejaria.
Pela fé –

Raabe, uma prostituta na galeria dos heróis da fé


(Josué 2:1-21; 6:22-25)

Perguntas:
1. Descreva brevemente o que aprendeu acerca de Raabe.
2. O que é que o impressiona no que toca ao seu conhecimento do Deus de
Israel?
3. Qual foi a atitude de Raabe como resultado do seu conhecin1ento de Deus?
(Ler também Tiago 2:25)
4. De acordo com Hebreus 11:31, por que é que ela não pereceu com os que
foram desobedientes? Mencione várias coisas que deram prova da sua fé.
5. Que impacto teve a sua fé sobre os parentes e sobre ela própria?
6. O que é que considera mais importante no que aprendeu a respeito de Raabe?
De que maneira vai aplicar isso na sua vida?
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 40

PENINA, UMA MULHER VENCIDA PELO CIÚME

"Abalizadas autoridades da saúde têm verificado que as causas mais


profundas de muita doença estão nas reações emocionais perante a vida.
Ódio prolongado e acerbo pode danificar o cérebro, e pode provocar
desordens no coração, tensão alta e indigestão aguda – todas
suficientemente graves para matarem uma pessoa".
Robert D. Foster *

1 Samuel 1:1-8
Provérbios 6:24 "Para te guardarem da má mulher e das lisonjas da língua
estranha"
Provérbios 14:30 "O coração com saúde é a vida da carne, mas a inveja é a
podridão dos ossos".
Provérbios 27:4 "Cruel é o furor e a impetuosa ira, mas quem parará perante a
inveja?"

Penina viveu num tempo de declínio. Israel havia chegado a um dos pontos mais
escuros da sua história. Depois de Moisés e Josué terem governado a nação com tanta
capacidade, chegara o tempo dos juízes.
O próprio Deus queria dirigir. Contudo, o povo estava pouco interessado em
Deus e voltava-se cada vez mais para o culto aos ídolos. Assim, o governo teocrático
falhou.
O declínio resultou em anarquia. As leis do governo já não eram obedecidas.
Cada homem fazia o que parecia reto aos seus olhos. Juí. 21:25. O cima espiritual não
era melhor do que o político e social. A ira de Deus estava-se a acumular sobre a
cabeça de Eli, o principal sacerdote, porque tolerava o mau procedimento dos seus
filhos Hofni e Finéias.
Eli viu que eles comiam o melhor dos sacrifícios oferecidos a Deus pelo povo.
Sabiam que degradavam o tabernáculo, envolvendo-se em atividades sexuais.
Contudo, não os repreendeu. 1 Sam. 2:12-33. O juízo de Deus estava às portas. A casa
de Eli tinha perdido a sua influência e a nação estava prestes a ser cercada pelo
inimigo, os filisteus.

*
Studies in Christian Living. (Estudos na Vida Cristã). Livro 4. "O Caráter do Cristão". 1964, The Navigators, Colorado
Springs, Colorado.
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 41

Mas ainda mais terrível do que isto, era que Deus mal falava naqueles tempos.
Havia pouca comunicação entre Ele e o Seu povo. 1 Sam. 3:1b. Penina viveu durante
este período. Elcana, seu marido, tinha duas mulheres. Deus determinara que cada
homem tivesse uma só mulher e cada mulher tivesse um só marido. Gên. 2:18; Mat.
19:4-6; 1 Cor. 7:2. Mas, uma vez que o povo se desviou do ideal de Deus, Ele
precaveu-Se destas exceções, principalmente para proteger o primogênito. Deut.
21:15-17
Como Elcana viu por experiência, qualquer pessoa que se desvia dos planos de
Deus acarreta dificuldades sobre si mesma e sobre os outros. A atmosfera no seu lar
era insuportável. O fato de Penina ter filhos, enquanto que a outra esposa, Ana, não
tinha, agravava o conflito.
Pelo menos a forma de religião tinha o seu lugar próprio na família de Elcana.
Mas, embora todos os membros pagassem os seus tributos religiosos, Deus não era
real para Penina. Ela estava descontente. Não se sentia grata ao Senhor pelos seus
filhos e pelas outras coisas que possuía. A sua vida estava paralisada pela falta de
gratidão. Ela não se deve ter apercebido de que Deus desejava outros tributos; por
exemplo, amar as outras pessoas. Ela tinha tudo o que uma mulher poderia desejar,
pois tinha muitos filhos. Esta era geralmente uma prova do favor de Deus. Ela iria
continuar a viver no futuro através da vida dos seus filhos, muito para além da sua
morte.
Por outro lado, a outra esposa de Elcana, sentia-se profundamente oprimida por
não ter filhos. Ana não foi afetada pelo espírito do tempo em que viveu. Porque Deus
ocupava o centro dos seus pensamentos, os atos dela eram inspirados pela fé. Era
atraente e indulgente. Elcana via claramente a diferença entre as duas mulheres. Não
podia deixar de preferir Ana a Penina.
Mas Penina não se sentia inspirada pelo exemplo de Ana. De fato, a sua reação
foi exatamente ao contrário. Exaltava-se a si mesma acima de Ana, porque tinha dado
à luz filhos – muitos filhos. O fato de que fora Deus quem lhe dera possibilidades de
os ter não penetrava na sua mente.
Penina tinha ciúmes de Ana. Provocava-a incessantemente, e em particular
quando chegavam as festividades dos judeus. De qualquer modo, estes dias causavam
a Ana uma dor ainda maior, porque constituíam celebrações da família, durante as
quais a nação se movia, por agregados familiares, até à casa de Deus em Silo. Parecia
que Penina ainda se tornava mais mordaz para com Ana durante essas ocasiões.
Penina tinha consentido que a amargura se enraizasse no seu coração. Heb.
12:15. E, uma vez que não tinha guardado o coração (Prov. 4:23), a vida dela foi
envenenada pela inveja. Esta inveja brotava da rivalidade, do egoísmo e falta de
humildade. A inveja só busca os seus próprios interesses, não os dos outros. A Bíblia
adverte-nos fortemente contra ela. Filip. 2:3,4. A inveja não é uma daquelas pequenas
fraquezas de caráter que Deus poderia permitir na vida do homem. Ele coloca-a numa
lista de pecados que a sociedade considera muito graves: adultério, idolatria, feitiçaria,
etc. Gál. 5:19-21.
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 42

"O ciúme é o furor dum homem" escreveu Salomão. É como um fogo. Se não for
sufocado rapidamente, não se poderá deter, porque afeta outras partes do corpo. Isto é
especialmente verdade no que se refere à língua. Rom. 3:14. Penina é um exemplo de
como uma pessoa pode usar a língua para descarregar a sua inveja. Sendo um dos
membros do corpo mais pequenos, a língua pode causar um incêndio capaz de destruir
vidas inteiras. Tg. 3:16. Não admira que em tal caso a Bíblia diga que a pessoa que usa
mal a língua é "inflamada pelo inferno". Tg. 3:2-8.
O ciúme devora a pessoa porque tem a sua raiz em Satanás. De fato, ele destruiu
o próprio Satanás. Este teve inveja de Deus. No seu orgulho, quis ser igual a Ele, e
isso causou a sua queda. Isa. 14:13-15. Portanto, Satanás sente-se feliz todas as vezes
que um ser humano cai nesta armadilha que ele preparou. Muitas vezes, obtém grande
êxito, pois as pessoas são invejosas por natureza. É ridículo que os homens possam
permitir que um mesmo membro, a língua, que usam para falar com Deus e para O
honrarem, seja também inspirado por Satanás.
A inveja começa na mente. Se não é detectada a tempo, e levada a Deus (2 Cor.
10:5), arruína toda a vida da pessoa e impede as relações entre os indivíduos. Também é
sutil. É um perigo muito maior para a pessoa que a alberga, do que para aquela a quem é
dirigida. Como um bumerangue, volta pana o invejoso. Penina experimentou isso: não
conseguiu resolver os seus problemas, embora a solução estivesse ao seu alcance. Tudo o
que precisava fazer era observar e seguir o exemplo da fé de Ana.

Penina, uma mulher vencida pelo ciúme


(1 Samuel 1:1-8; Prov. 6:34; 14:30; 27:4)

Perguntas:
1. Que palavras importantes lê no relato do comportamento de Penina em relação
a Ana?
2. Sendo uma mulher judia com filhos, Penina era mais privilegiada que a estéril
Ana. Por que é que ela tratava Ana daquele modo?
3. Como é que a inveja e os outros pecados mencionados em Gálatas 5:19-21 são
classificados? O que é que o impressiona ao comparar este vício com os outros
mencionados ali?
4. Considere a vida de Penina à luz de Provérbios 4:23 e 2 Coríntios 10:5. Que
conclusões tira daí?
5. Que é que pode aprender da vida dela, quando a vê à luz de Tiago 3:2-8?
6. Há coisas na sua vida que gostaria de corrigir depois de ter estudado Penina?
Ore acerca disso, e depois resolva como há de começar a fazê-lo.

ANA, UMA MULHER QUE ACREDITAVA NA ORAÇÃO

"As pessoas importantes da terra, hoje em dia, são as que oram. Não me
refiro às que falam sobre a oração; nem às que podem explicar algo sobre a
oração; refiro-me, sim, às pessoas que dão tempo à oração. Não têm tempo
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 43

de sobra. É necessário tirá-lo a qualquer outra coisa. Essa qualquer coisa é


importante, muito importante, e urgente, mas, mesmo assim, menos
importante e menos urgente que a oração''.
S. D. Gordon *

1 Samuel 1:9-28

Seriam as dificuldades do seu casamento em parte causadas por ela? Teria ela,
como Sara, insistido com o marido para tomar uma concubina quando ele descobriu
que não teriam filhos? (Gênesis 16:1,2) Ou teria ela sido incapaz de resistir ao amor de
Elcana, tomando-se sua segunda esposa depois de ele ter casado já com Penina?
Em qualquer caso, Ana não tinha certamente previsto o alcance dos seus atos. O
segundo casamento havia resultado em terrível mal-estar para cada um dos três
membros envolvidos.
Talvez Ana não tivesse culpa. Teria Elcana, aliás um homem temente a Deus,
chegado a ser bígamo por sua própria iniciativa? Qualquer que fosse a causa, as
experiências dela não eram por isso menos dolorosas.
O Espírito Santo não achou que fosse necessário registrar todos esses detalhes.
Mas a Bíblia diz que Ana era uma mulher que tinha livre acesso a Deus. O caminho
para Ele estava-lhe aberto na base do perdão dos pecados por meio dos sacrifícios que
o marido, como cabeça da família, fazia regularmente ao Senhor.
Por vezes, uma pessoa é provada até ao âmago do seu ser, e dá a impressão de
que algum poder invisível está em operação para extinguir a sua vida. Ana deve-se ter
sentido assim. Tinha derramado lágrimas sem fim, porque se sentia abandonada por
Deus, uma vez que não possuía filhos. A outra esposa do seu marido nunca deixava
passar uma oportunidade sem lhe recordar a sua esterilidade.
Elcana, desejando confortar Ana, havia-lhe dito que a amava mais do que tudo.
Não era o seu amor para ela mais do que dez filhos? Ela sentira-se feliz com esta
expressão do seu amor, mas essas palavras tinham-lhe dado também motivo para
reflexão, e ainda a fizeram sentir mais solitária. Teria Elcana perdido a esperança de
alguma vez vir a ter um filho dela?
Abraão, recordava ela, havia contendido com Deus acerca dum filho (Gênesis
15:2-6). Isaque, numa situação semelhante, orou a Deus pela esposa (Gênesis 25:21).
E as esposas deles tinham dado à luz, mesmo tardiamente, filhos que tanto vieram a
significar para o seu povo. Esses filhos constituíam parte do plano de Deus para Israel.
Deus! Ele é o Único que me compreende, o Único que pode ajudar-me, pensou
ela. Voltou ao tabernáculo, só. Lá, derramou a sua alma perante Deus. Com o coração
despedaçado, sem palavras. Ao princípio, ela nem era capaz de pronunciar alto os seus
pensamentos. Então, quando o seu coração se tinha, de algum modo, aliviado, os seus
lábios proferiram uma oração, embora continuasse silenciosa. "Ó Senhor dos
Exércitos...", começou ela. A maneira como se Lhe dirigia revelava a visão que dEle
*
Design for Discipleship (Modelo para Discipulado), Livro 2 "O Cristão cheio do Espírito": 1973, The Navigators,
Colorado Springs, Colorado.
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 44

tinha. Ele era o Senhor dos Exércitos do céu e da terra, de todas as coisas que havia
criado (Gênesis 2:1). Um imenso exército de anjos estava à Sua disposição. Ele era o
Senhor que tinha realizado muitos milagres a favor de Israel como nação.
Estas quatro palavras, "Ó Senhor dos Exércitos'', expressavam a fé que ela tinha
na Sua grandeza e poder. (O comentarista Matthew Henry diz que esta foi a primeira
vez que uma pessoa se dirigiu a Deus dessa maneira). À luz da Sua majestade eu não
sou nada, pensou ela. Apenas uma serva, uma criada. Repetiu este pensamento três
vezes. As palavras eram escolhidas cuidadosamente. Considerava-se uma
insignificante criatura à luz dum Deus Santo, todavia desejava servi-Lo. Esta era uma
ordem correta de valores, pois ela – embora um humilde ser humano – podia servir a
Deus.
Reconhecendo isto, Ana apresentou-se a Deus com um grande pedido. Não O
ofendeu pedindo-Lhe um pequeno favor. Não se pedem algumas moedas a um
milionário. De um Deus tão grande não podia esperar menos que um milagre – um
autêntico milagre.
Ana não orou duma maneira vaga. Fez um pedido específico. "Ó Deus, eu quero
ter um filho". A sua oração foi seguida por uma promessa, "Então, ao Senhor o darei
por todos os dias da sua vida, e sobre a sua cabeça não passará navalha". O seu filho,
se Deus lho concedesse, seria um nazireu, um homem dedicado a Ele, que não beberia
vinho e que nunca cortaria o cabelo (Juí 12:3-5).
Estaria Ana realmente a dizer, "Ó Deus, Tu sabes que eu desejo ter um filho, mas
ainda mais do que pedi-lo para mim, eu peço isto para Ti"? É possível.
A religião do seu povo, isto é, a religião dos sacerdotes, tinha perdido o seu
significado. Tinha-se corrompido. Todavia, Ana havia preservado a fé, e conservou-a
pura. Contudo, a sua influência era limitada. O que o país necessitava era dum homem
que pudesse tornar-se um elo de ligação entre Deus e o Seu povo, que preenchesse a
lacuna e introduzisse um novo futuro.
Teria o coração de Ana chorado sói por si mesma, ou estaria ela chorando
também por Deus e pelo Seu povo? Seria por isso que a sua oração teve um impacto
tão grande'? Teria ela imaginado que parte podia desempenhar numa solução espiritual
para tal problema nacional? É possível, embora o relato da Escritura seja demasiado
breve para se determinar isso.
A decaída do povo e do sacerdócio revelava-se também na maneira como Eli a
tratou. Ele mostrou pouca compreensão humana, pouca compaixão. "Até quando
estará embriagada?'', censurou-a ele. ''Aparta de ti o teu vinho''. O sacerdote que não
ousara tratar com rigor os seus próprios filhos, não sentiu escrúpulos em tratar Ana
desta maneira. O velho homem revelou uma falta de discernimento e pouco
autocontrole.
As suas palavras revelaram também que, naqueles tempos, bêbados e prostitutas
não eram invulgares na casa de Deus. Mesmo os próprios filhos de Eli dormiam com
mulheres que se juntavam à porta do tabernáculo (1 Sam. 2:22).
Ana, porém, estava na presença de Deus e por isso não sentiu qualquer desejo de
se defender ou justificar. Não expressou qualquer vergonha ou indignação, mas
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 45

explicou a situação em poucas palavras. Eli, tornou-se de repente o que deveria ter
sido – o sacerdote de Deus. Como representante de Deus, disse: "Vai em paz. O Deus
de Israel conceder-te-á a tua petição". Ele não sabia a natureza do pedido dela, mas
como instruído por Deus disse-lhe que fora ouvida.
Com estas palavras, a paz de Deus que acompanha toda a oração fiel, entrou no
seu coração (Filip. 4:6,7). Ela havia levado os seus cuidados a Deus e deixou-os nas
Suas mãos.
''Ora a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas
que não se vêem" (Heb. 11:1), escreveu, muitos séculos mais tarde, o autor da Epístola
aos Hebreus. Foi isso o que Ana experimentou. A certeza de que a sua oração fora
ouvida penetrou no seu coração. Exteriormente a mudança foi notável – voltou-lhe o
apetite, e o seu rosto já não tinha qualquer traço de tristeza. Ela vivia a sua fé,
confiando de tal maneira em Deus, que as outras pessoas podiam notá-lo.
Samuel. que significa "ouvido de Deus", nasceu um ano mais tarde. Então, o
significado do próprio nome de Ana – "graciosa" ou "favor" – começou a ter sentido.
Em vez de se mostrar uma mulher negligente, tornara-se extraordinariamente
privilegiada, pois a sua oração havia marcado um ponto decisivo na história.
Não demorou muito que a Palavra de Deus voltasse a ser ouvida em todo o Israel
(1 Sam. 4:1). O Senhor revelou-Se através de Samuel, mesmo quando Samuel ainda
era rapaz. De Dan, no extremo norte, a Berseba, no extremo sul, as pessoas
reconheciam que Samuel era um profeta eleito pelo Senhor.
O povo voltou-se dos ídolos para servir a Deus. A arca do Senhor, que fora
tomada como despojo e desonrada pelos filisteus, voltou (1Sm. 6,7). Os filisteus
fizeram a paz com Israel, pois a mão do Senhor esteve contra eles todos os dias de
Samuel. Foram reconquistadas cidades que haviam sido perdidas em combate.
A fé de Ana viveu no seu filho. Séculos mais tarde, o nome dele seria
mencionado entre os heróis da fé (Heb. 11:32-33), pois ele foi um dos homens que,
através da fé, dominara reinos.
Samuel, que tinha nascido como resposta à oração, e cujo nome constantemente
lhe recordava isso, tornou-se, ele próprio, um homem de oração. Achava que o fato de
o povo não orar era pecado (1 Sm 12:23). Esta atitude pode ter sido a chave para as
muitas respostas que ele recebeu.
Só a eternidade revelará o que é que Israel, a quem ele serviu como profeta,
sacerdote e juiz, e os muitos milhões que, desde então, têm estudado a sua vida, devem
à vida e ao ministério de Samuel.
Oh, Ana, não foste tu favorecida quando viste os resultados da resposta à tua
oração? E não foste tão privilegiada como Sara e Rebeca ao veres o teu filho a
desempenhar tal papel na história?
Maria, a mãe de Cristo, deve ter sido influenciada pela oração de Ana e pelo seu
comovente cântico de louvor, quando proferiu o Magnificat (Luc. 1:46-55). Ana
sentiu-se muito feliz durante o período em que o seu filho se desenvolveu até ao ponto
de andar. Todavia, isso passou depressa. E, logo que Samuel foi desmamado, ela
cumpriu a sua promessa e devolveu-o a Deus, de quem o tinha recebido. Desde então,
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 46

só o via uma vez por ano, quando ela e seu marido ofereciam sacrifícios em Silo (1
Sm. 2:19-21). A sua oração fora de natureza radical. Assim foi a sua dedicação. Ela
tinha de oferecer Samuel a Deus, diariamente, confiando em que Ele protegeria a fé
dele, no meio da corrupção que presenciava em Eli e nos seus filhos.
Oração, fé e dedicação continuaram a caracterizar a vida dela, pois Ana sabia que
uma pessoa que desse tudo a Deus receberia mais em troca. Deus nunca será o
devedor de alguém. Ele deu-lhe mais cinco filhos.
Por que é que Ana podia confiar na resposta à oração? Porque soube preencher os
pré-requisitos de Deus. Estes pré-requisitos não estavam claramente coligidos numa
única passagem da Escritura, mas eram princípios que, no seu andar com Deus, ela
sentia e conhecia. Eles incluíam:
1. Oração na base do pecado perdoado (Sal. 66:13-19).
2. Súplica no nome de Deus, reconhecendo a Sua grandeza (João 16:24).
3. Convicção profunda de que a pessoa nada vale (2 Sam 7:18-29).
4. Formulação duma petição clara e bem definida (Mat. 7:7-11).
5. Desejo de que a vontade de Deus seja feita e de que o Seu Reino seja estendido
(1 João 5:14,15).
6. Oração de fé (Heb. 11:6; Mat. 21:22).

Ana, uma mulher que acreditava na oração


(1 Samuel 1:9-28. Ver também os versículos sobre Penina).

Perguntas:
1. Leia Juízes 21:25 e 1 Samuel 2:11-36. Qual era a situação do povo, sob o
ponto de vista nacional e espiritual?
2. Compare cuidadosamente a oração de Ana com o "Pai Nosso" (Mateus 6:9-
13). Que semelhanças nota?
3. Em que base é que pode concluir que Ana confiava na resposta à oração?
4. O que é que mais o impressionou no que toca à dedicação de Ana a Deus?
5. O cântico de louvor de Ana (1 Samuel 2:1-10) revela os seus pensamentos
mais profundos. O que é que ela pensa de Deus?
6. O que é que Ana recebeu em troca do seu filho que dedicou a Deus? ( l Samuel
2:21). O que é que isso prova'?
7. Que mudanças observa em Israel no ponto de vista nacional e espiritual, depois
do aparecimento de Samuel? (l Sam. 3:19-4:1; cap. 6, 7).
8. Em que sentido é que o exemplo de Ana poderá influenciar a sua vida de
oração?
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 47

A RAINHA DE SABÁ, UMA MULHER QUE DESEJOU SER MAIS


SÁBIA

"Desde anteontem que fui chamada a uma tarefa tão pesada, que ninguém,
que mesmo por um momento considere o seu peso, a desejaria, mas
também tão maravilhosa que tudo o que posso dizer, é quem sou eu para ter
o privilégio de fazer isto".
Rainha Juliana da Holanda*

1 Reis 10:1-10, 13
Mateus 12:42

Lentamente, a longa caravana arrastava-se através da espada que subia de Jericó


para Jerusalém. Os camelos sobrecarregados transportavam as suas cargas com as
cabeças inclinadas. Os guias puxavam-nos para a frente, sabendo que o fim da
prolongada viagem estava à vista.
A mulher que se encontrava no centro do grupo e que tinha arranjado a viagem
perguntava a si mesma se o esforço da fatigante jornada seria recompensado. Levara
semanas a percorrer mais de três mil e duzentos quilômetros. As noites frias e os dias
abrasadores tinham parecido intermináveis. O campo havia sido escaldante e
desagradável como uma paisagem lunar. O pior de tudo eram as agrestes tempestades
de areia e os ventos veementes do deserto.

*
No seu discurso, por ocasião da sua subida ao trono, em 6 de setembro de 1948.
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 48

Mas bem no seu coração ela sabia que tinha de prosseguir. Na sua pátria, no
palácio real em Sabá, ouvira repetidamente a respeito de Salomão, o rei de Israel, o
homem que parecia ser imensamente rico e inacreditavelmente sábio. A sua fama era
conhecida através do oriente. Toda a terra consultava Salomão, para ouvir a sabedoria
que Deus havia posto no seu coração (1 Rs 10:24). Muitos reis o visitavam e o
consultavam. Honravam-no com ricos presentes (2 Cr. 9:22-24). Ela tinha muitas
perguntas – acerca da vida pessoal dela, das obrigações reais, e de Deus.
A coisa impressionante a respeito dos rumores que tinha ouvido sobre Salomão
era que eles estavam sempre relacionados com o nome do Senhor. Jeová, o Deus de
Israel, era mencionado como sendo a fonte da sua prosperidade. Ela própria conhecia
muitos deuses – deuses do mar, da terra, da guerra, do vinho, do dia e da noite, mas
eles nunca haviam dado uma solução a qualquer problema. Seria Este capaz de fazer
isso?
A maneira como a rainha estabeleceu as suas prioridades prova que era uma
mulher sábia. Na sua sabedoria, aceitou as limitações do seu próprio conhecimento e
percepção. Queria saber mais e estava pronta a fazer muitos sacrifícios com o fim de
adquirir sabedoria. O seu tempo, dinheiro e esforço eram gastos com o objetivo de
conseguir este alvo.
A verdadeira sabedoria anda de mão dada com a humildade. A rainha de Sabá era
suficientemente humilde para dizer ao mundo que a rodeava que buscava algo mais e
que não estava satisfeita com o seu estado. Qualquer pessoa que visse aquela caravana
em marcha saberia que a rainha de Sabá estava em viagem para Jerusalém, a fim de
consultar o sábio Salomão.
Quando dobrou a última curva da estrada, viu a cidade de Jerusalém situada sobre
as montanhas. Alguns dos edifícios dominantes atraíram a sua atenção,
particularmente o palácio do rei e o templo do seu Deus. Atrás dela arrastavam-se
pesadamente os camelos, curvados sob os seus preciosos fardos de especiarias raras,
ouro e pedras preciosas, cujo valor nem mesmo podia ser imaginado. (Uma estimativa
de cento e vinte talentos de ouro corresponderia a cerca de ...)

Salomão, o décimo filho de David e o segundo da sua união com Bate-Seba, foi o
terceiro rei de Israel. foi também chamado pelo profeta Natã, e de acordo com a
vontade de Deus, Jedidias, que significa "amado por Deus" (2 Sm. 12:24-25).
Depois de ter herdado o trono de seu pai, Deus apareceu-lhe uma noite, em
sonhos, e perguntou-lhe: "Que queres que te dê?" A resposta do jovem revelou a sua
humildade e dependência: "A teu servo, pois, dá um coração entendido, para julgar o
teu povo, para que prudentemente discirna entre o bem e o mal; porque quem poderia
julgar a este teu tão grande povo?" (1 Rs. 3:5-14) A resposta foi de tal modo agradável
aos olhos de Deus, que Ele adicionou riquezas e honra a uma sabedoria tão grande,
que jamais seria igualada. Salomão levantou a cabeça e os ombros acima de todos os
reis. O seu povo experimentou uma época áurea na sua história.
Nesta época, o Egito, a Assíria e a Babilônia eram fracos. Os grandes dias da
Grécia de Homero ainda estavam para vir. Israel era o reino mais poderoso do mundo.
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 49

Jerusalém era a cidade mais bela. Nenhum edifício se poderia comparar, em beleza,
com o templo. Nesses tempos, um monarca ia visitar outro. Não se tratava duma visita
oficial, mas de caráter particular.
A conversa foi interessante. A rainha era suficientemente humilde para revelar a
sua fome de sabedoria. Fez muitas perguntas a Salomão. Achava que Salomão era um
homem aberto – uma pessoa com uma compreensão que parecia sem limites. Como
ela, também ele desempenhava o elevado, mas solitário, cargo de governante duma
nação. Por conseguinte, ele era alguém que podia entendê-la perfeitamente. Ele
próprio se havia debatido com idênticos problemas.
Para espanto e admiração da rainha, não existia qualquer pergunta demasiado
profunda ou complexa para ele. Tinha sempre resposta para tudo. Ela reconheceu que,
na verdade, a bênção de Deus estava sobre ele. Não possuía simplesmente sabedoria
intelectual, mas senso comum que se aplicava nas situações práticas e diárias. Ela
verificou isso na maneira como a sua casa havia sido construída, nos modos dos seus
servos e ministros, na qualidade das suas refeições e na variedade das bebidas. Cada
pormenor da sua vida estava permeado de sabedoria. A sua fé em Deus afetava
também todos os aspectos da sua existência. Era pura. Era real. Era o centro da sua
vida.
O rei Salomão não só a envolveu nos seus deveres quotidianos, mas partilhou
também com ela o modo como servia a Deus. E foi aí que ela descobriu o verdadeiro
segredo do seu êxito. Quando Salomão oferecia a Deus as ofertas queimadas,
identificava-se com o animal inocente que estava a ser imolado em seu lugar, pelo seu
pecado (Lv. 1:1-9; 9:7). Isto revelava uma semente de verdade à Rainha de Sabá.
A vida de Salomão era livre, porque os seus pecados foram perdoados; este fato
baseava-se no meio apontado por Deus. O sangue derramado duma criatura inocente
garantia que ele – o culpado – podia viver em plena liberdade (Lv. 17:11). A sua
comunhão com Deus era a fonte de toda a sua sabedoria, da sua compreensão (Pv. 2:6;
9:10) e da sua prosperidade (Pv. 10:22).
O alvo de Salomão na vida, descobriu ela, não era aprender e ensinar a sabedoria,
mas temer a Deus. Salomão guardava os Seus mandamentos e declarava firmemente
que era isso o que Deus desejava de todos os homens, incluindo os reis (Ecl. 12:9-13).
A rainha estava estupefata. Não conseguia falar. Todas as suas expectativas
haviam sido excedidas. "Eu não acreditava no que ouvia a respeito da tua sabedoria'',
disse ela. "Parecia demasiado poderosa. Mas na verdade ultrapassou em muito todos
os rumores. Eu nem tinha ouvido metade".
A rainha invejava as pessoas que serviam este rei, os súbditos sobre os quais ele
tinha autoridade. Reconheceu que a sabedoria devia ser preferida a tudo o mais (Pv.
8:11). O mais impressionante é que afirmou que Salomão constituía uma amorosa
dádiva de Deus ao Seu povo, a fim de que eles pudessem ser bem governados.
Ela fora enriquecida, mental e materialmente, pelo seu encontro com o rei
Salomão. Este partilhou graciosamente com ela não só da sua vasta compreensão, mas
das riquezas que excederam os preciosos presentes que ela lhe trouxera (2 Cr. 9:12). O
valor do presente mais sublime que ela recebeu não se pode definir em dinheiro. Pois
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 50

foi o conhecimento que adquiriu a respeito de Deus, que é a fonte da verdadeira


sabedoria (Ecl. 2:26).
A Rainha de Sabá foi uma mulher que fez história. Mesmo Jesus Cristo a citou
como exemplo. Louvou-a por não se ter poupado despesas ou dificuldades para ouvir
a sabedoria de Salomão. Com essa atitude ela condenou os que não tomam a sério a
sabedoria. Ela dá um esplêndido exemplo da importância de submeter as coisas de
Deus a uma investigação mais cuidadosa. E deu prova do seu profundo discernimento
quando aceitou a oportunidade de aprender de alguém mais – alguém que era mais
sábio do que ela. Não se limitou a ouvir os rumores de que Salomão era um homem
sábio. Fez todo o possível para o encontrar, a fim de descobrir a fonte da sua sabedoria
(Pv. 2:1-6).
Mas seria o seu enriquecimento apenas intelectual? Seria essa a sua única
satisfação? Ou teria o seu coração buscado o próprio Deus, a Fonte de Sabedoria (1
Cor. 1:30), o Deus com quem nem mesmo Salomão se podia comparar? Pois a maior
sabedoria vem, não da mente, mas do coração. A esperança dum tal homem não será
cortada (Pv. 24:14).

Tiago, o apóstolo prático, escreveu mil anos mais tarde que um homem
engana-se a si mesmo quando ouve quando ouve uma mensagem e não a
põe em prática. É como uma pessoa que se vê num espelho, vê que seu
aspecto precisa de arranjo, mas não chega a fazer nada nesse sentido (Tiago
1:22-24).

Seria a rainha verdadeiramente sábia? Teria ela compreendido perfeitamente tudo


o que Salomão lhe disse? Teria ela aplicado a sabedoria que viu em Salomão? Teria o
seu coração mudado? Teria ela alcançado os objetivos do plano que se tinha proposto
realizar? (2 Cor. 8:10,11) Completamente?
A sua busca foi um fracasso, se não chegou a encontrar Deus. Nesse caso, ela
seria uma figura trágica, em vez do exemplo perfeito que é. A Bíblia não responde
diretamente a estas perguntas. Mas talvez a resposta se possa encontrar nas palavras de
Jesus, quando a colocou acima dos judeus, usando-a como exemplo para alguns
fariseus e escribas do Seu tempo. Não será esta uma prova de que ela aprendeu as
lições?
A Rainha de Sabá foi uma mulher que não se poupou despesas e dificuldades
para se tomar mais sábia.

Perguntas:
1. Com que estava relacionada a fama de Salomão de que a Rainha de Sabá ouviu
falar?
2. De que modo é que ela mostrou o seu interesse sincero em beneficiar da
sabedoria dele?
3. Além disso, o que é que mostra a sua prontidão em aprender? A que conclusão
chegou ela depois de ter visto com os seus próprios olhos?
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 51

4. Qual lhe parece ser a conclusão mais importante desta Rainha pagã?
5. O Senhor Jesus louva-a pela seriedade com que buscou a sabedoria de
Salomão. Tem alguma razão para concluir que esta visita a tenha levado a uma relação
pessoal com Deus?
6. Considera-a um bom exemplo ou um aviso para si? O que é que pode fazer
com o que aprendeu a respeito dela?

A VIÚVA DE SAREPTA, UMA MULHER QUE ACEITOU O DESAFIO


DA FÉ
"A fé não é meramente um ato, mas uma série de atos. É uma atitude
constante do coração, uma obediência sem discussão. A fé tem de ter uma
garantia divina sobre a qual descansar, e encontra-a nas promessas de
Deus''. J. Oswald Sanders*

1 Reis 17:7-24

Ela vivia na pequena cidade portuária de Sarepta, entre Tiro e Sidon, na Fenícia.
O marido havia morrido. Ela e o seu filhinho estavam também prestes a morrer, pois
havia uma terrível seca na terra. Não tinha chovido durante muito tempo. Os depósitos
de água estavam esgotados e a terra incapaz de produzir quaisquer colheitas. As
reservas de alimento estavam a desaparecer e não podiam ser renovadas. As
dificuldades da vida diária avolumavam-se não só para esta viúva, mas para qualquer
outro habitante do país.
Restava-lhe um pouco de óleo e de farinha – exatamente o necessário para
preparar a refeição final para ela e para o filho. Depois de a comerem, só podiam
esperar a morte. Saiu para juntar lenha e fazer a última comida. Quando chegou às
portas da cidade, viu um homem com uma longa túnica atada com um cinto de couro.
Não o conhecia, pois tratava-se dum estrangeiro. Era Elias, um profeta de Israel.
Ele chamou-a e pediu-lhe que lhe trouxesse um pouco de água num vaso, para
beber.
Ela reconheceu que ele era um santo homem. Podia verificar isso pelas suas
vestes. Embora não tivesse água para dispensar, ela sentiu que não podia desapontá-lo.

*
Sanders, J. Oswald. Mighty Faith (Fé Poderosa), 1971, Moody Press, Chicago, lllinois.
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 52

Tinha de fazer o que ele pedia. O Deus de Elias não era o deus dela. Ela era uma pagã.
Mas tinha ouvido o suficiente acerca do Deus de Israel, para sentir um profundo
respeito e temor por Ele. Quando se voltou para ir a casa buscar água, ele disse:
"Traze-me um bocado de pão na tua mão".
Ela explicou-lhe a situação, dizendo: "Vive o Senhor teu Deus, que nem um bolo
tenho, senão somente um punhado de farinha numa panela, e um pouco de azeite
numa botija; e vês aqui apanhei dois cavacos e vou prepara-los para mim e para o meu
filho, para que o comamos e morramos''. Esperava que a sua triste história o
convencesse de que, infelizmente, não podia atender o seu pedido. Mas não foi isso
que aconteceu, pois ele respondeu: "Não temas; vai, faze conforme a tua palavra.
Porém, faze disso primeiro para mim um bolo pequeno, e traze-mo para fora; depois
farás para ti e para o teu filho. Porque assim diz o Senhor Deus de Israel: A farinha da
panela não se acabará, e o azeite da botija não faltará, até ao dia em que o Senhor dê
chuva sobre a terra''.
Ela nunca havia tido antes qualquer coisa que não pudesse acabar. Pessoalmente,
nunca tinha tido qualquer contato com o Deus de Israel. Embora este homem falasse
em nome de Deus, que garantia teria ela de que era enviado por Ele? Por ela estava
pronta a arriscar-se, mas precisava de ter em consideração a vida do seu filho. O seu
único filho.
Um grande ato de fé estava a ser exigido desta mulher pagã. Ela era desafiada a
crer na palavra dum homem, quando não tinha qualquer prova de que fosse mesmo um
servo de Deus. Como é que poderia confiar nele?
Mas pressentiu uma autoridade na voz do homem. Decidiu correr o risco. E
depois de ter servido a refeição ao profeta, ainda havia farinha e azeite que chegavam
para ela e para o filho!

A fé não pode separar-se do objeto em que crê. Sem a segurança do objeto, a


fé pode tornar-se uma emoção descontrolada ou uma presunção sem
qualquer promessa a sustentá-la. A fé não pode estar desligada da Palavra de
Deus.

Este milagre repetiu-se por muitos dias. A experiência era semelhante à contínua
provisão de Deus do pão para os israelitas, no deserto (Êx. 16). Continuou a ser um
desafio diário à sua fé. A reserva era sempre tão escassa que não podia pôr qualquer
alimento de lado e confiar nele. Só podia confiar na promessa de Deus.
Desse modo, todos os dias se requeria dela um ato de fé, fé na palavra que era
falada. E diariamente ela, o filho e Elias experimentavam o milagre, pois em cada dia
havia o suficiente para todos comerem. Continuou assim durante muitos dias. A sua fé
encorajou-se em Deus.
Então, algo ocorreu que ela não conseguia compreender. Elias tinha vindo viver
em sua casa, ocupando um quarto superior, vazio. O autor de Hebreus afirma que uma
pessoa que é hospitaleira pode alojar, sem o saber, anjos (Heb. 13:2). Foi esta a sua
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 53

experiência. O anjo da morte, a trabalhar diligentemente durante um tempo de fome,


não entrou a sua porta, e ela não se tomou sua vítima.
Por conseguinte, parecia-lhe inconcebível que o seu filho adoecesse de repente.
Mesmo antes de ter tempo de falar com o profeta, o filho morreu. Ela não podia
compreender! Por que é que Deus tinha conservado a criança viva durante o período
da fome, para agora a deixar morrer? A morte estava apanhando a presa dum ângulo
inteiramente diferente. Isto a deixava perplexa.
Com a presença do santo homem de Deus na sua casa, ela tinha reconhecido que
era pecadora. Seria esta a razão da morte do seu filho? Seria que o pecado exigia um
castigo? Ela defrontou o profeta com esta pergunta. Estava desesperada.
"Dá-me o teu filho", disse Elias. Ele pegou no rapaz morto e levou-o para o seu
quarto, estendeu-o na sua própria cama. Lutou então com Deus em oração pela
criança. "Ó Senhor meu Deus, também até a esta viúva, com quem eu moro, afligiste,
matando-lhe o seu filho? Que torne a alma deste menino a entrar nele", pediu ele,
enquanto se media sobre a criança três vezes. Parecia que queria transmitir a sua vida
e o calor do seu corpo à forma fria e imóvel do rapaz. Para sua grande alegria, Deus
atendeu a oração. Ele verificou que a vida voltava à criança. Devolveu o rapaz vivo à
mãe.
Entretanto, a viúva experimentava uma crise na sua fé. O milagre da
multiplicação do alimento tinha-lhe fortalecido a fé no mandato do profeta. O
ministério dele era autêntico. Ele falava a Palavra de Deus. Podia-se confiar nele. Ela
nunca havia expressado isto claramente em palavras. Estava tão intimamente ligada
com o drama presente, tão surpreendida e tão chocada, que não era capaz de
reconhecer que Deus estava a fazer algo de maravilhoso por ela.
O sofrimento profundo deve estimular uma fé maior. Tal fé, todavia tem de ser
primeiro provada quanto à sua genuinidade. Deus quer saber o seu valor e, portanto,
permite o sofrimento. A fé que permanece depois do teste do sofrimento, é pura (1 Pe
1:6,7; 4:12,13).
Mais tarde, quando a fome tivesse terminado, ela olharia para trás e
experimentaria uma dupla bênção, pois não vira apenas a sua vida prolongada dia após
dia, mas havia também experimentado a ressurreição dos mortos. A ressurreição do
seu filhinho constitui o primeiro relato bíblico duma pessoa ressuscitada.
Como resultado de tudo isto, ela fez uma clara afirmação de fé: "Nisto conheço
agora que tu és homem de Deus e que a palavra do Senhor na tua boca é verdade''.
Nunca mais voltaria a duvidar da Palavra de Deus. O segundo teste da fé era muito
mais difícil do que o primeiro, mas agüentou-o, amadureceu e foi enriquecida.

Estes milagres não aconteceram em Israel. Será que não se pôde encontrar
ninguém entre o próprio povo de Deus, entre aqueles que O haviam rejeitado para
servirem Baal, que ajudasse o profeta ameaçado? Será que Deus foi forçado a procurar
ajuda fora das fronteiras de Israel? Neste período difícil da história do Seu povo, Deus
conservou vivo o Seu servo por meio de uma mulher pagã, uma mulher que aceitou o
desafio para ter fé na Palavra de Deus.
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 54

Esta mulher aprendeu que Deus recompensa grandemente a fé (Heb. 11:6). Ela
desenvolveu uma sensibilidade em relação ao invisível, mas muito real, mundo da fé.
O teste por que Deus a fez passar habilitou-a a compreender a realidade, a segurança e
a prova da Sua fidelidade.

A viúva de Sarepta, uma mulher que aceitou o desafio da fé


(1 Reis 17:7-24)

Perguntas:
1. Qual era a situação da viúva de Sarepta e do seu filho quando Elias a
encontrou?
2. Descreva o alcance do pedido de Elias. Que enorme desafio de fé lhe oferecia
ele com tal pedido?
3. Qual foi a reação dela? O que é que provou com essa reação?
4. Durante muito tempo a família dependeu do milagre da multiplicação feita por
Deus. Qual lhe parece ser a experiência mais importante para a viúva nessa situação?
(Compare com Êxodo 16 e Mateus 6:25-34).
5. 1 Pedro 1:6,7 requer que a fé seja provada quanto à sua autenticidade. Leia de
novo I Reis 17:7-24, especialmente o último versículo. De que maneira é que a viúva
experimentou isso e como é que agüentou o teste?
6. O bom exemplo desta mulher oferece-lhe algum desafio? Vê alguma maneira
de praticar melhor a sua fé? Se sim, como é que o vai fazer?

A SUNAMITA, UMA MULHER DE PENSAMENTO E AÇÃO

"Eliseu – teria ele alguma vez olhado através da sua janela para os 28
séculos seguintes e contemplado a multiplicidade de conforto que, durante
todo esse tempo, adviria da sua cama, mesa, cadeira e candeeiro primitivos
para "profetas" ainda por nascer?" Theron Brown*

2 Reis 4:8-22, 32-37

Com algumas linhas incisivas, a Bíblia desenha o seu retrato – uma mulher
importante, muito rica, casada com um homem idoso, sem filhos. O seu nome não é
mencionado. Foi chamada Sunamita por causa do nome da sua cidade.

*
Lockyer, Herbert, R. S. L. The Women of The Bible (As Mulheres da Bíblia), 1967, Zondervan Publishing House,
Grand Rapids, Michigan, U.S.A.
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 55

Sunem ficava situada um pouco ao norte de Jezreel, perto de Naim, uma cidade
que se tornou bem conhecida cerca de 900 anos mais tarde, por causa de Jesus ter
ressuscitado lá o filho duma viúva.
A Bíblia não deixa qualquer dúvida de que o marido era o cabeça da família.
Isso, todavia, não significa que a mulher fosse uma criada que só pudesse dar o seu
consentimento – uma pessoa que não revelasse qualquer iniciativa pessoal. A
Sunamita era a mais enérgica, uma vez que era a mais nova do casal. Apresentava
idéias, mas só as punha em ação depois de as discutir com o marido. Partilhava os seus
planos com ele, e a decisão resultava dum esforço conjunto.
As pessoas amadurecidas não desejam dominar. Pelo contrário, procuram
trabalhar harmoniosamente uma com a outra, de tal modo que o casamento pode
desenrolar-se de acordo com a vontade de Deus. Isto pode ser uma realidade, mesmo
quando outros fatores, tais como uma grande diferença de idade, não sejam
particularmente favoráveis. Deus cria cada ser humano com características únicas.
Compete a cada indivíduo – marido ou mulher – reconhecer quais são os dons dele ou
dela e usá-los em todo o seu potencial.
A Sunamita era extremamente rica e podia facilmente tornar-se indisciplinada,
desfrutando de todas as coisas que o dinheiro podia comprar. Não tendo filhos, e com
o marido idoso, era fácil levar uma vida estéril, sem propósito, lamentando-se
constantemente. Mas não o fez.
Esta mulher tinha uma riqueza de interesse no mundo que a rodeava. Pensava
primeiro nos outros, não em si própria. Observava atentamente o ambiente, e tinha
notado que entre muitos que passavam diariamente pela sua casa havia um indivíduo
excepcional. Como era hospitaleira, convidou-o para uma refeição, pois reconheceu
que se tratava de fato de uma pessoa invulgar. Era o profeta Eliseu.
Enquanto ela, como dona de casa, cuidava das suas responsabilidades diárias,
fazia a si mesma esta pergunta: O que é que poderei fazer por este servo de Deus?
Teve uma idéia que, certamente, no seu tempo, era uma idéia original – Vou fazer um
quarto de hóspedes para ele. Não provisório, do tipo duma tenda, mas algo que seja
mais sólido e durável. Com a ajuda do marido, construiu um quarto de hóspedes para
Eliseu, no andar superior da casa.
Ao desejar servir a Deus, a Sunamita recebeu uma idéia criativa. Ela criou
alguma coisa de novo, algo útil para o Seu serviço.
No quarto havia uma cama, uma mesa, uma cadeira e um candeeiro. Era um
quarto onde Eliseu podia trabalhar e dormir. Ela não esqueceu nada.
Assim, Eliseu ficou com eles. Tudo havia sido arranjado para uso prolongado e
repetido. Sem dúvida, havia também lugar para o seu servo Geazi. Ela tinha prazer em
aplicar o seu dinheiro para sustentar o profeta do Senhor. Em vez de o oferecer a
Eliseu para que arranjasse alojamento e comida para ele próprio, teve ela o trabalho de
construir instalações novas para ele. Ao partilhar os seus bens, estava-se a dar a si
mesma. Como resultado, Deus recompensou-a.
Eliseu havia-lhe perguntado através do seu servo Geazi: "Eis que tu nos tens
tratado com todo o desvelo; que se há de fazer por ti?''
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 56

A mulher agradecida respondera que não tinha qualquer pedido a fazer pois
possuía tudo de que necessitava. Mais tarde o observador Geazi sugeriu ao seu senhor:
"Ora ela não tem filho, e o seu marido é velho".
Mas quando ela recebeu a promessa de que ia ter um filho, nem ousava dormitar.
"Não, meu senhor, homem de Deus, não mintas à tua serva''. Mas não se tratara dum
engano. Era real. Uma realidade divinal Um ano mais tarde, ela deu à luz um filho.
Um dia, quando o rapazinho tinha cerca de três ou quatro anos, acompanhou o
pai aos campos. Lá, sentiu-se mal e morreu dentro de algumas horas. A mãe pôs o
cadáver sobre a cama do profeta no quarto onde ele orava e meditava. Ela só viu uma
solução possível – Deus!
Uma vez que Deus lhe tinha dado esse filho, Ele era o único que podia ajudar.
Correu ao Seu representante, Eliseu, que na altura se encontrava no Carmelo. Teriam
os seus pensamentos recuado para aquele profeta, Elias, que havia também
ressuscitado uma criança, o filho da viúva de Sarepta?
Não era verdade que o seu espírito repousava sobre Eliseu?
Não havia tempo a perder. Embora informasse o marido de que ia visitar o
profeta, não perdeu tempo com mais explicações. Teria alguma vez uma distância de
40 quilômetros parecido tão longa? Será sensato eu fazer esta viagem, perguntava ela
a si mesma, uma i,ez que n meu filho já está morto?
Eliseu pôde verificar de longe que alguma coisa corria mal. Quis mandar o seu
servo Geazi com ela, para a ajudar. Mas a mulher não se satisfez com isso. Disse a
Eliseu que só voltaria para casa, se ele próprio fosse com ela. Antes de ter o filho,
estava satisfeita com a sua situação na vida. Não havia pedido um filho a Eliseu, mas
agora sentia profundamente a falta da criança. Achava que o único que podia ajudá-la
era o homem que fora instrumento no sentido de Deus lhe dar o filho. Uma vez que se
tinha dedicado totalmente a satisfazer as necessidades de Eliseu, esperava agora que
ele fosse com ela. Eliseu ficou convencido e acompanhou-a.
Quando chegaram a casa, Eliseu, tal como Elias havia feito antes dele, estendeu-
se sobre o pequenino cadáver e ressuscitou-o. A Sunamita recebeu então o filho pela
segunda vez. Primeiro, recebera-o no nascimento, agora recebia-o dentre os mortos.
Não precisou de fazer preparações para o funeral, assim, preparou-se para uma festa!
Não foi esta a única bênção derramada sobre a Sunamita. Quando o país foi
ameaçado pela fome alguns anos mais tarde, ela foi avisada pelo profeta a tempo de se
mudar com a família e escapar à miséria. Só voltou sete anos mais tarde ao seu país.
Durante a sua ausência, tinha perdido a casa e os campos. Pediu ao rei que lhos
restituísse. Ele não fez apenas isso, deu-lhe também todos os seus frutos (2 Rs 8:1-6).
Por quê? Porque ela era a mulher cujo filho fora ressuscitado por Eliseu e por
causa da sua contribuição a favor do profeta e do reino de Deus.

A história da Sunamita é semelhante à do lar de Betânia, onde Jesus e os


Seus discípulos ficaram alojados, muitas vezes e com prazer. Também aí foi
ressuscitada uma pessoa – Lázaro (Lucas 11:38-42; João 11:1-44; 12:1).
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 57

A Sunamita era simplesmente uma mulher. Mas uma mulher de pensamento e


ação. Uma mulher que, pela sua dedicação altruísta aos outros, abriu torrenciais de
bênçãos sobre si própria. A pessoa que dá torna-se aquela que recebe. Isto é sempre
verdade no caso de uma pessoa que confia em Deus (Luc. 6:38).
Criatividade vem da palavra latina creatus e está relacionada com a palavra
"criador". A relação da Sunamita com Deus, o Criador, é que fazia dela aquilo que era.
Andar verdadeiramente com Deus leva à criatividade. A pessoa que pergunta
como é que pode servir a Deus com o que tem, recebe idéias, por assim dizer,
diretamente do céu. Não se trata de idéias emocionais ou presunçosas, mas práticas e
úteis dentro dos moldes do potencial que Deus dá a cada pessoa. O Santo Espírito de
Deus inspira a criatividade.
No caso da Sunamita, isto não significou trabalhar diretamente para o templo de
Deus, como Bezaleel e Aoliabe, artífices do tabernáculo (Êx. 31:1-11). Em vez disso,
ela serviu a Deus dentro do próprio lar. Agindo assim, acabou com a designação de
"rotina" para a ocupação da "dona de casa". Usou os seus bens materiais para o bem-
estar dos outros. Um estudo da sua vida revela que Deus recompensa isto.

A Sunamita, uma mulher de pensamento e ação


(2 Reis 4:8-22; 32-37).

Perguntas:
1. Descreva a situação e o caráter da Sunamita.
2. Porque que é que ela ofereceu alegremente hospitalidade a Eliseu?
3. Que novas idéias utilizou ela para ajudar o profeta? O que é que isto prova?
4. Que lições observa nesta história em relação com a hospitalidade? (Ver
também Lucas 6:38).
5. Que paralelo vê com qualquer lar hospitaleiro na Bíblia? (Lucas 10:38-42;
João 11:1-44; 12:1 ,2).
6. A Sunamita desenvolveu idéias criativas para o serviço do Reino de Deus.
Haverá maneiras de v. poder seguir o seu exemplo? Descreva como.

A SERVA JUDIA, UMA MENINA QUE FALOU DE DEUS

"A questão que cada homem deve pôr não é o que faria pelo Senhor se
tivesse mais dinheiro, tempo ou educação, mas o que fará com as coisas
que tem. O que imporia não é o que você é ou o que você tem – mas se
Cristo controla a sua vida''.
Autor desconhecido

2 Reis 5:1-5, 14, 15


Seu Nome é Mulher (Livro 1) 58

Atos 1:8

850 A. C.. Oficialmente havia paz em Israel. Contudo, as tropas de Ben-Hadade,


rei da Síria, continuavam a fazer incursões a Israel para levarem prisioneiros como
despojo. Um dia capturaram uma menina judia que não tinha mais de 15 anos. O nome
dela não está registrado na Bíblia. Talvez seja porque aquilo que se diz a seu respeito é
tão impressivo, que o nome é de secundária importância.
A moça tomou-se criada da esposa dum oficial de alta patente no exército do rei.
O oficial, Naamã, era competente e tinha muita influência. Era grandemente honrado
pelo rei devido ao seu valor em combate. Seria o resultado das orações dos seus pais
tementes a Deus, ou a resposta ao grito do seu próprio coração a Deus, que levou esta
pobre menina, provavelmente através de um mercado de escravos, em Damasco, para
esta boa casa?
Na altura, Naamã estava profundamente preocupado. Uma sombra caíra sobre a
sua casa e não podia ser afastada. Havia verificado que tinha lepra, a mais temível das
doenças. Uma vez que a pessoa contraía a lepra, era marginalizada para o resto da vida
(Lev. 13:45,46). Tratava-se duma doença horrível, e podia levar anos até que a morte
libertasse a vítima do seu isolamento.
Naamã era já um homem morto. A sua morte física poderia demorar anos, mas na
realidade, para a esposa, para o seu senhor, os seus colegas, e para a menina, ele em
breve já não existiria. Nenhum rei, nenhum troféu de vitória poderia evitar a sua
expulsão. Seria forçado a vaguear fora dos muros da cidade como um pedinte. Cada
pessoa que se aproximasse dele seria avisada para se afastar.
Naamã e a sua esposa tinham tentado manter a doença em segredo, mas em breve
isso se tornaria impossível. O segredo havia-se tornado conhecido – mesmo a criada
estava consciente dessa situação chocante.
Ela não se enchera de amargura por causa do cativeiro. A sua fé em Deus,
aprendida no lar dos pais, tinha-a livrado disso. Sujeitava-se aos seus superiores e era
simpática para com eles. Reconhecendo isso, eles confiavam nela.
Sim, os seus senhores tinham um problema. Mas não era verdade que os
problemas existiam para poderem ser levados a Deus? Não sabiam estes sírios que
Deus tinha um servo na terra – Eliseu? Ele era uma figura muito honrada na terra dos
seus pais. Assim, ela aproximou-se da sua senhora, com uma proposta muito natural:
"Oxalá que o meu senhor estivesse diante do profeta que está em Samaria; ele o
restauraria da sua lepra".
Algumas palavras apenas, mas que diferença fizeram. Em vez de morte certa,
havia uma possibilidade de vida! A senhora considerou seriamente as suas palavras, e
o senhor achou que eram suficientemente importantes para as comunicar ao rei. Este
ordenou ação imediata. Logo que possível, Naamã estava a caminho, levando muitos
presentes para ver o profeta Eliseu em Samaria.
Quando Naamã voltou, não estava apenas curado da sua horrível doença – a sua
pele limpa e sem mancha, com o aspecto da pele saudável dum jovem – mas o
processo de cura havia sido muito mais profundo. O seu coração fora tocado. Agora
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 59

ele tinha confiança no Deus de Israel. E disse: "Eis que tenho conhecido que em toda a
terra não há Deus senão em Israel''. Em vez de adorar ídolos, tornou-se adorador do
Deus vivo.
Nada mais se diz acerca da menina cuja vida foi descrita em duas frases. Todavia,
alguns aspectos da sua vida são impressionantes. Primeiro, ela deve ter sido uma serva
excelente, que desempenhava bem o seu trabalho. Alguém disse: "O que tu fazes fala
tão alto, que não consigo ouvir o que tu dizes". Ela viveu cedo demais na história para
ter lido as palavras de Tiago que diz que a fé da pessoa é provada pelas obras (Tg.
2:14-26). Contudo, praticava o que Tiago pregou. As suas obras haviam preparado
uma oportunidade para as palavras. Ela foi ouvida atentamente pelos senhores.
Segundo, ela não se manteve em silêncio, com timidez. Não pensou que era
demasiado nova para ter alguma coisa importante a dizer (1 Tim. 4:12). Não sentiu
que a sua posição fosse demasiado baixa para poder ser ouvida. Em vez disso, viu uma
pessoa em necessidade e creu que o Deus de Israel podia satisfazer essa necessidade.
Confiou em que Ele curaria Naamã da sua temível doença. Foi só isso que ela disse,
umas simples palavras, mas o resultado foi significativo. Um futuro completamente
novo se abriu para Naamã.
Umas simples palavras trouxeram nova vida a um homem, esperança para a sua
família e apoio para o seu rei. Umas simples palavras chamaram a atenção e trouxeram
honra para o Deus de Israel. Esta menina continua a falar às pessoas, hoje, através das
palavras que ficaram registradas sob a direção do Espírito Santo, muito depois dela ter
morrido. A história jamais poderá apagar o que ela disse e fez.
Não disse muito, mas o que disse revelou a sua fé – uma fé que foi provada pela
realidade, uma fé que serviu o povo ao seu redor. Por causa da sua fé uma vida foi
transformada. Afinal, a insignificante criada não era assim tão insignificante!
Cerca de 900 anos mais tarde, Jesus disse aos discípulos que eles seriam Sua
testemunhas. Testemunhar significa falar aos outros das experiências pessoais do que
a pessoa ouviu e viu (1 Jo. 1:2,3). Para fazer isso, tem que começar em "Jerusalém"
(Atos 1:8). Isto significa começar no seu próprio ambiente. Se alguém deseja fazê-lo,
então Deus usará as palavras. Abençoa-as. Uma pessoa que está pronta a testemunhar
dessa maneira, receberá oportunidades com que nunca sonhara.

A Serva Judia, uma menina que falou de Deus


(2 Reis 5:1-5,14,15; Atos 1:8)

Perguntas:
1. O que é que a Bíblia diz a respeito desta menina? Como é que ela chegou ao
lar de Naamã?
2. O que é que a Bíblia conta acerca de Naamã e da sua doença? Por que é que
esta era tão temível? (Levítico 13:45,46).
3. O que é que conclui das palavras que a menina disse à esposa de Naamã?
4. Quais as diferentes coisas que aconteceram como resultado daquelas poucas
palavras?
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 60

5. Qual lhe parece ser o resultado mais importante da sua ousadia?


6. Compare o que a menina fez com a comissão que Jesus deu em Atos 1:8. Que
lições tirou, pessoalmente, da sua ousadia? Como é que você vai aplicá-las?

ESTER, UMA RAINHA QUE ARRISCOU A VIDA PELO SEU POVO

"Em 1959 o Xá da Pérsia, Mohammed Riza Pahlavi, casou com Farah Diba,
uma estudante moderna de 21 anos. Em 1967 coroou-a imperatriz para
expressar, de "modo invulgar'', a sua gratidão pela parte que ela tivera no
avanço social e econômico do país, durante esse período de oito anos. A
dedicação duma jovem mulher prova, mais uma vez, ser de grande influência
na Pérsia''. A Autora

Ester 4:1,5-16
Ester 7:1-6
Ester 8:15-17

A história da rainha Ester é notável. Tem a atmosfera lendária das 1001 noites à
mistura com o cheiro penetrante das câmaras de gás de Hitler. E embora o nome de
Deus não apareça uma só vez no livro de Ester, a Sua presença é evidente em cada
página.
Ester apareceu na cena, depois de outra mulher, a rainha Vasti, ter desaparecido
do cenário real. Ester era a esposa de Assuero, o imensamente rico rei da Pérsia, que
reinava sobre 127 províncias da Índia à Etiópia em 475 A. C.. O seu palácio real de
inverno era em Susã, cerca de 320 quilômetros a leste da Babilônia. Possuía
pavimentos e pilares de mármore donde pendiam cortinas brancas, verdes e azuis, que
eram presas com cordões de linho fino. A família real e os seus hóspedes reclinavam-
se em canapés de ouro e prata. Durante as festas bebiam por vasos de ouro, dos quais
não havia dois iguais.
Ester, uma bela jovem com uma disposição a condizer, tinha conquistado os
corações da casa real. Não era persa, mas uma órfã judia que havia sido criada pelo
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 61

seu primo Mardoqueu, um exilado de Jerusalém. Ele cuidou dela como se fosse seu
pai, e ela obedecia-lhe como filha, mesmo já sendo rainha.
Mardoqueu, que servia a corte real, era odiado pelo chanceler do rei, Hamã, um
amalequita. Hamã era brilhante, ambicioso e rude. Não poupava ninguém. Contudo, o
rei resPe'tava-° muito e ordenou a todos os servos da corte real que se inclinassem
diante dele. Mardoqueu foi a única pessoa que recusou fazer isso. Porque era judeu,
ele só se poderia curvar diante de Deus. Hamã estava tão enraivecido com esta recusa,
que decidiu matar Mardoqueu e todos os outros judeus no grande império persa.
Concebeu um plano tão sutil e seguro, que nenhum judeu conseguiria escapar.
Todos seriam apanhados na rede que ele estava a lançar. A aniquilação total dos
judeus – o povo de Deus – foi anunciada. A assinatura do rei tornava possível a Hamã
varrê-los do globo para sempre. Os correios reais serviram-se dos animais mais
rápidos e correram por todos os cantos do império imenso a anunciar a iminente
calamidade. Os judeus ficaram abalados e aterrorizados.
Ester estava casada há cinco anos. A pedido de Mardoqueu, ela tinha
permanecido silenciosa quanto à sua origem judaica, mas ele conservava-a
diariamente informada a respeito da situação. Com o horrível extermínio dos judeus à
vista, Mardoqueu achou que a única solução era a intervenção de Ester.
"Vai ter com o rei teu marido e pede-lhe a sua ajuda para salvar o teu povo",
ordenou ele a Ester. O teu povo! Isso significava que ela tinha de revelar a sua origem
judaica. Como é que iria reagir o rei? Acharia ele que havia sido enganado? Odiaria a
raça dela como Hamã e tantos outros odiavam?
Existia outro obstáculo. Ninguém estava autorizado a apresentar-se diante do rei
sem ser chamado, nem mesmo a rainha. Fazer isso significaria arriscar a sua vida. Ela
não tinha qualquer garantia de que ele ainda a amasse como antes. Talvez outra
mulher tivesse tomado o seu lugar.
Ela disse a Mardoqueu que não era chamada ao rei durante trinta dias. Ele
persistiu, dizendo que ninguém mais poderia intervir. "Não imagines que escaparás à
morte. Não interessa que sejas rainha. Todos os judeus morrerão, jovens e velhos.
Nenhuma mulher ou criança será poupada'', disse ele. "Porque se de todo te calares
agora, de outra parte se levantará para os judeus socorro e livramento, mas tu e a casa
de teu pai perecereis; e quem sabe se para tal conjuntura como esta é que foste elevada
a rainha?"
"De outra parte..." Mardoqueu estava a pensar em Deus. Ele não iria permitir este
repugnante assassínio da nação judaica. Através dos tempos Ele havia prometido que o
Messias viria deste povo. Hamã não poderia evitá-lo. Nem Satanás. Embora a
necessidade de livramento fosse imediata, a confiança de Mardoqueu em Deus era
sólida.
A ofensiva de Deus estava pronta. Ele não a executou através duma intervenção
sobrenatural. Nenhum milagre da natureza, nenhum anjo, salvaria o Seu povo. Em
lugar disso, seria uma fraca mulher. O futuro do povo de Deus raras vezes havia
estado suspenso por um fio tão fino. Iria este plano ser bem sucedido? Iria a rainha
cooperar com o plano de Deus ou não?
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 62

"Deus procura um instrumento, Ester, um ser humano. Você está pronta a dar a
sua vida? Ele colocou você numa posição estratégica muito antes, porque sabia da
catástrofe que se aproximava. A solução de Deus és você". Ester não recebeu a
mensagem de Deus por meio das palavras autoritárias de um profeta estabelecido, que
dissesse: "Assim diz o Senhor". Não recebeu qualquer visão celestial. Foi orientada
pelas palavras de um parente. A direção de Deus não podia ter sido menos propícia.
Todavia, ela aceitou as palavras de Mardoqueu como palavras de Deus.
A jovem Ester, que sempre havia revelado uns modos afáveis, provara agora que
era feita da fibra dos heróis. Esta situação de crise revelou o poder da sua vida – Deus.
Estava pronta a submeter a sua vida aos Seus planos. Desejava fazer a vontade de
Deus. "Vai, ajunta todos os judeus que se acharem em Susã", disse ela, "e jejuai
comigo e com as minhas moças durante três dias e três noites''.
Ela estava agora a identificar-se publicamente com o seu povo. O seu apelo ao
jejum era uma chamada à oração. Reconheceu que não tinha qualquer poder, que não
poderia oferecer qualquer ajuda. O auxílio só podia vir do Senhor, o Deus de Israel.
Portanto, planejou assaltar o Seu trono celestial com oração durante três dias e três
noites. Ester estava profundamente consciente de que precisava da orientação de Deus.
Queria estar segura de que a missão de que a haviam incumbido era indicada por Ele.
Sabia que Deus Se revelava na resposta à oração e precisava de sabedoria e coragem
para agir de modo adequado. A quem é que pediria conselho senão Àquele que era a
Fonte de toda a sabedoria e que a distribuía em resposta à oração?
"E assim irei ter com o rei, ainda que não é segundo a lei; e, perecendo, pereço".
Ela havia queimado as pontes que ficavam na retaguarda. Esta jovem mulher estava
pronta a arriscar a sua posição, a vida e futuro pelo seu povo.
Depois dos dias de oração, Ester enfeitou-se meticulosamente e foi ao rei, que,
aparentemente, estava ocupado com os assuntos do reino. Quando ele a viu, o seu
coração foi tocado. Estendeu o seu cetro de ouro para ela, como prova de que a sua
vida estava salva. E perguntou: "Qual é o teu pedido, rainha Ester? E te será dado''.
A primeira parte da sua oração fora respondida. A sua vida fora poupada. E Deus
havia deixado entreaberta a porta da salvação para o Seu povo. Ela não tinha orado em
vão por sabedoria, apesar de tudo. Sentiu que esta não era a ocasião nem o lugar
próprio para o seu pedido urgente. O seu discernimento quanto a esta situação revela
que era uma mulher sábia, com perfeito domínio das suas emoções, e uma pessoa que
não precisava fazer decisões apressadas. Era também uma mulher que reconhecia
muito naturalmente que o caminho para o coração do homem passa muitas vezes pelo
estômago. Convidou o rei para uma refeição, juntamente com Hamã.
Durante a refeição, o rei perguntou-lhe outra vez: "Qual é a tua petição? E te será
dada''. Ester avançava cuidadosamente, passo a passo, dependendo de Deus. Bem no
seu coração, sentia que ainda precisava ganhar tempo. Não tinha chegado ainda o
tempo de Deus. "Voltem juntos amanhã'', pediu ela. E isso provou que era Deus quem
estava a orientá-la.
Nessa noite, o rei não conseguiu dormir. Um cortesão leu-lhe de um livro de
crônicas do seu povo. Fatos importantes que haviam permanecido na sombra vieram à
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 63

luz. Eles encaixavam-se no conjunto do plano de Deus. Algum tempo antes,


Mardoqueu havia revelado uma conspiração contra o rei e, desse modo, salvara a vida
do rei. Mas Mardoqueu nunca tinha sido recompensado. Esta negligência tinha de ser
corrigida. Hamã, o homem que tinha levantado uma forca de 27 metros de altura, perto
da sua casa com a intenção de enforcar Mardoqueu, foi incumbido de lhe dar a
recompensa.
No dia seguinte, durante a refeição, Ester revelou o seu pedido. De modo
comovente, suplicou ao rei pela vida do seu povo. E pela sua própria vida: "Se ainda
por servos e por servas nos vendessem, calar-me-ia", disse ela.
Não eram simplesmente as vidas dos judeus que pendiam na balança, estava
também em jogo o bem-estar do rei. Uma conseqüência muito pior do que perder os
seus servos e muito pior do que a reação em cadeia de ódio contra ele, iria verificar-se
– ele estaria a agir contra Deus. Deus tinha chamado a este povo a menina dos Seus
olhos (Dt. 32:10), e os protegeria e conservaria. Ninguém poderia atingir esta raça sem
se arriscar à Sua ira (Zac. 2:8,9). Nem mesmo um rei. Portanto, ela queria protegê-lo.
O seu discernimento e maneira de abordar o assunto mereceu o respeito do rei.
Conseguiu convencê-lo. "Quem é esse? e onde está esse, cujo coração o instigou a
fazer assim?", foi a resposta estupefata do rei.
O dedo de Ester apontou para Hamã, um dos seus hóspedes, e o súdito mais
importante: "Foi esse homem ímpio aí – Hamã", respondeu ela.
Então tudo se tornou claro. A forca que havia sido levantada perto da casa de
Hamã esperava pela execução de Mardoqueu, mas o rei mudou esse plano. "Enforcai
Hamã" na forca que fora levantada para Mardoqueu", ordenou o rei. E assim se fez.
A esposa de Hamã e os seus sensatos amigos tinham tido razão. Haviam-lhe dito:
"Se este Mardoqueu é um judeu, não prevalecerás contra ele. Pelo contrário, irás
certamente cair perante ele''. Teria sido prudente se Hamã aprendesse com a história
dos seus ancestrais, os amalequitas. Deus fora contra eles, por eles serem contra o Seu
povo (Êx. 17:8-16; Dt. 25:17-19). Hamã descobriu que o ódio é uma emoção muito
perigosa, que geralmente se vira contra a pessoa que o abriga.
Ester havia salvo não só a sua vida, mas também as vidas da sua raça inteira. O
Novo Testamento diz que os cristãos brilharão como luzes neste mundo, como estrelas
cintilantes na noite (Filip. 2:15). Ester foi uma estrela assim, que é precisamente o
significado do seu nome "estrela".
As palavras do seu marido para a extinção dos judeus eram tão poderosas que não
podiam ser simplesmente retiradas. Era necessária uma ordem oposta. "Escreve o que
te parecer bem a respeito dos judeus", disse-lhe o rei. "Eu assinarei e selá-lo-ei com o
meu anel''.
A heroína que havia salvo os judeus, arriscando a sua própria vida, recebeu o
privilégio de lhes dar tão maravilhosas notícias! Em vez de ser uma mulher atrás dos
bastidores, havia-se tornado uma pessoa de importância. As suas palavras pesariam
muito dali em diante.
A boa nova chegou antes da data do assassínio em massa. Deus tratou disso. O
dia que Hamã tinha marcado no calendário para ser um dia de tristeza, tornou-se num
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 64

dia de alegria. Muitos não-judeus tornaram-se judeus, porque estavam tão


profundamente impressionados com o que tinha acontecido. Queriam estar do lado do
Senhor.
O dia de alegria tornou-se um dia de comemoração. A festa do Purim foi
instituída. Nesta festa, ainda hoje os judeus em todo o mundo lembram o que a rainha
Ester fez por eles. Todos os anos, quando o Purim é celebrado, os judeus lêem o Livro
de Ester. Ela é grandemente honrada. O Talmude parece mesmo preferir este livro aos
Salmos e aos Profetas.
Trinta anos mais tarde, Neemias reedificaria os muros de Jerusalém. Sem a rainha
Ester, isso teria sido impossível. É difícil imaginar o curso da história sem ela.
Humanamente falando, se não tivesse existido Ester não haveria nação judaica. E sem
a nação, não teria havido o Messias. E sem o Messias, o mundo estaria perdido.
Ester preparou o caminho, desconhecido para ela, para a vinda de Cristo. Através
dela, Deus mostrou também que a Sua direção está ao dispor dos Seus seguidores para
fazerem decisões. Estas decisões devem ser baseadas na Palavra de Deus (Jo. 14:21),
testadas pela oração (Tg. 1:5) e pelo conselho dos outros (Prov. 15:22), dependendo
duma certeza íntima (1 Jo 3:21) e de portas abertas por Deus (Apoc. 3:7,8).

Ester, uma rainha que arriscou a vida pelo seu povo


(Ester 4:1 ,5-16; 7:1-6; 8:15-17)

Perguntas:
1. O que é que mais o impressionou a respeito do caráter e da atitude de Ester
perante a vida?
2. Repita nas suas próprias palavras o conteúdo de Ester 4:14.
3. Considere o seu apelo ao jejum à luz de Esdras 8:23 e Daniel 9:3. Que é que
pode aprender com isso?
4. Qual é a prova de que Ester arriscou expressamente a vida pelo seu povo?
5. Descreva o que aconteceu ao povo como resultado da sua intervenção.
6. Estude a dedicação de Ester à luz de Ezequiel 22:30. Quais são as suas
conclusões?
7. O que é que esta história lhe ensinou acerca da direção de Deus?
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 65

A ESPOSA DE JÓ, A MULHER QUE DISSE NÃO A DEUS

"A principal culpa de um homem não são os seus pecados. A tentação é


poderosa e a sua força é pouca. A principal culpa de um homem é que ele
pode voltar-se em qualquer momento para Deus e negligencia fazê-lo".*

Jó 1:1-3, 6-12
Jó 2:1-10
Jó 42:10-13
Romanos 8:28

A esposa de Jó viveu na terra de Uz, na Arábia, provavelmente não muito longe


de Ur dos Caldeus, a cidade donde Deus chamou Abraão. Poucas mulheres foram tão
privilegiadas como ela. O marido era imensamente rico. A sua casa real continha
muitos servos. Ela tinha sete filhos e três filhas. Todos eram saudáveis e tinham
reuniões freqüentes e agradáveis uns com os outros. Realizavam mesmo festas
familiares regularmente, para fortalecerem os seus laços mútuos. Mas a maior das suas
bênçãos era o marido, Jó.
Jó era um homem que amava a Deus. Tudo o que sabia acerca de Deus era o que
outros lhe haviam dito, mas isso fora suficiente para mover Jó a servi-Lo com
devoção. A profundidade da vida espiritual de Jó, concorria para a acolhedora
atmosfera do seu lar. A sua vida era tão permeada pela devoção centralizada em Deus,

*
Boenam, Rabi e Buber, Martin. Fountains of Jewish Wisdom (Fontes da Sabedoria Judaica), 1969, Lenbneh hand lung
(Leo Bookshop) Sanht Gallen, Suíça.
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 66

que as pessoas à sua volta tinham consciência disso. Diziam que Jó era um homem
devoto e que essa era a razão da sua prosperidade. O fundamento da vida da esposa de
Jó era a piedade e a prosperidade do marido e da sua casa.
Era esta a situação na terra.
Algo de importante teve lugar no céu nessa altura. Jó foi o motivo de uma
conversa entre Deus e Satanás. Deus estava contente porque Jó, um homem da terra, O
amava voluntariamente. Deus buscava pessoas como Jó – ele estava a cumprir o
propósito para que Deus o havia criado – comunhão com Ele.
Satanás, o acusador dos crentes (Apoc. 12:10), não concordou com a apreciação
de Deus a respeito de Jó. Contradisse o que as pessoas da terra afirmavam sobre ele.
Achava que a razão de Jó ser devoto estava na sua prosperidade e insinuou que se lhe
fosse tirada essa prosperidade ele se afastaria de Deus.
"Pois bem'', respondeu Deus. "Vamos pôr à prova a tua acusação, Satanás. Tira-
lhe os bens, mas não toques na sua vida''.
Satanás ficou diabolicamente feliz com este arranjo e derramou calamidades
sobre Jó como chuvas inesperadas em Março. Tragédia após tragédia caiu sobre ele. A
sua enorme reserva de gado ou foi roubada, ou morta por faíscas. Assim, Jó perdeu
toda a sua riqueza. Mas a maior catástrofe de todas reservou-a Satanás para o fim –
destruiu todos os filhos de Jó.
Tudo o que Jó havia edificado ao longo de muitos anos tinha desaparecido de
repente. O homem mais rico de todo o oriente ficara subitamente sem nada e sem
filhos. E tudo o que lhe ficou, além da casa, foram quatro servos – e a esposa.
Satanás concluíra o seu trabalho, mas ainda não havia conseguido o seu
propósito. Embora Jó, como homem do oriente, rasgasse o seu manto, a sua fé em
Deus permaneceu firme. "Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o
Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor", disse Jó (1:21).
Satanás e Deus falaram mais uma vez a respeito de Jó. Deus salientou que a
lealdade de Jó continuava. Satanás reagiu dizendo que Jó não tinha sido atingido
pessoalmente. Só os seus bens e pessoas externas haviam sido afetadas. Tocasse ele o
seu corpo, e então veria se a fé de Jó persistia.
Deus permitiu então a Satanás que fizesse o que desejava, com a única restrição
de que não lhe tirasse a vida. Satanás enviou uma doença tão temível que podia
realmente levar um homem à loucura. Jó ficou coberto desde a sola dos pés até ao alto
da cabeça com chagas ardentes.
A ciência médica concorda que o sofrimento de tal doente devia ser insuportável
– para além da nossa imaginação. A repugnante doença levou-o para a fossa do lixo,
onde os cães procuravam cadáveres de animais, e onde os seres humanos mais pobres
tentavam apanhar o que os outros haviam deitado fora. Aí se sentou ele e raspou as
chagas com um pedaço de telha...
Mas veio então o maior de todos os golpes. A esposa voltou-se contra ele. A
mulher que Deus havia destinado para apoiar Jó, fossem melhores ou piores as
circunstâncias, a mulher de que ele necessitava agora mais do que nunca, já não lhe
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 67

dava apoio. Por meio dela Satanás jogou a última cartada. "Ainda reténs a tua
sinceridade?'' perguntou ela com azedume. "Amaldiçoa a Deus e morre!"
Ela estava tão dominada pela tristeza, que só era capaz de ver uma saída –
renunciar à fé em Deus e cometer suicídio. A sua reação foi exatamente o oposto da do
marido.
A fé de Jó agüentou mesmo esta crise. A situação real pode ter sido escondida
dele, mas não duvidou de Deus. Deus era ainda uma realidade para ele. Portanto, foi
capaz de aceitar tanto o bem como o mal vindos dEle. A sua vida estava edificada
sobre urna rocha, e embora as tempestades batessem contra ela incessantemente, não
cairia. Tratava-se de um fundamento resistente.
Como as raízes de uma árvore são testadas quanto à sua força por um vendaval,
assim os temporais de tristezas e experiências inexplicáveis descobrem o fundamento
da vida de um homem. Jó tinha um alicerce forte; a esposa, não. Naturalmente, as
tristezas dela eram extremas. É difícil identificarmo-nos com a sua perda. Ela podia
ter-se agüentado, se tivesse edificado a sua vida sobre o mesmo sólido fundamento
que o seu marido. Mas as suas diferentes respostas à situação não foram devidas ao
modo como cada um experimentou a tristeza, mas aos seus alicerces (Mt. 7:24-27).
Desse modo, ela não foi capaz de apoiar o marido durante o período mais difícil da sua
vida. Pelo menos, os amigos de Jó vieram visitá-lo, embora não tivessem sido de
grande ajuda. Mas, a Bíblia não registra qualquer tentativa da parte da esposa para o
aliviar na sua dor. Durante todo o período de sofrimento, ela nunca esteve em primeiro
plano na história.

Muitos séculos mais tarde, depois de o Redentor, em quem Jó acreditava


(19:25), ter vindo, ter morrido, ressuscitado e ascendido ao céu, Paulo
escreveu que só há um fundamento sobre o qual o homem pode construir a
sua vida – Jesus Cristo (1 Cor. 3:11).

Deus dotou as mulheres de um dom único para sentir os sofrimentos dos outros e
animá-los. Mas a esposa de Jó não o usou, quando ele mais precisava.

Súbita e radicalmente a situação mudou uma vez mais. Jó e a esposa tiveram de


novo dez filhos, sete filhos e três filhas, como antes. Os seus bens foram restaurados,
de fato, ele ainda adquiriu mais gado do que anteriormente à catástrofe.
Mas o sofrimento de Jó tinha produzido um fruto muito mais importante do que
estas coisas temporais. A sua relação com Deus tornara-se mais profunda. "Eu te
conhecia só de ouvir", disse Jó a Deus, "mas agora os meus olhos te vêem" (Jó 42:5).
Jó não tinha mais necessidade de depender das experiências dos outros, pois
havia tido um encontro pessoal com Deus. Isto levou-o ao arrependimento e à
humildade (Jó 42:6). Estas duas características são resultados inevitáveis de um
encontro com Deus.
Jó tinha recebido uma compreensão mais profunda de si mesmo e de Deus.
Compreendeu que era necessário um Mediador entre Deus e o homem (Jó 9:32-35;
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 68

16:19). Assim, o sofrimento tinha desempenhado uma função positiva para ele.
Revelara-lhe coisas que nunca antes conhecera. Como Jacó, lutara com Deus e
prevalecera (Gên. 32:28). O resultado foi uma vida mais rica e mais feliz.
E Satanás? Foi de novo vencido. O resultado de ele ter tentado Jó foi exatamente
o oposto do que ele tinha previsto – Jó estava mais dedicado a Deus do que nunca.
A Bíblia não diz muito acerca da mulher de Jó. Afirma que no calor da tentação
ela havia apontado para o lado errado – Deus – como sendo o culpado. Como muitos
incrédulos, ela havia sido cegada por Satanás (2 Cor. 4:4,11). Não compreendeu que
embora Deus permitisse o sofrimento, o Seu alvo não é meramente que o homem
sofra, mas que o sofrimento possa produzir um fruto positivo (Heb. 12:11). A sua
felicidade frágil tinha-lhe sido tirada, temporariamente, a fim de que pudesse encontrar
a felicidade imperecível – o próprio Deus. Contudo, a estrada para encontrar essa
felicidade passava pela escola do sofrimento.
Como uma mulher do Velho Testamento, ela carregava, naturalmente, um fardo
duplamente pesado. Não dispunha do encorajamento da Palavra de Deus escrita e não
tinha qualquer grupo de amigos cristãos para lhe darem apoio. No entanto, tinha uma
prova viva de que não era preciso ser derrotada numa crise, mesmo no seu tempo. O
marido, Jó, era essa prova. O Novo Testamento louva-o porque continuou a confiar
em Deus em tempos de tribulação (Tg. 5:11). Quando Satanás apontou os seus dardos
de tentação, Jó usou a sua fé como um escudo para os apagar (Efés. 6:16).
Ele provou que nenhum homem é tentado tão fortemente que não possa agüentar-
se com firmeza, e que Deus dá um escape no meio de toda a tentação (1 Cor. 10:13).
Jó tinha edificado a sua vida sobre o fundamento de Deus. Mas parece que a
esposa não pôde encontrar qualquer fundamento sólido para os seus pés. A tristeza
arremessou Jó para os braços de Deus. Mas na hora crítica da vida, a esposa de Jó
disse não a Deus. Isso não faz dela um bom exemplo para ser seguido.

A Esposa de Jó, a mulher que disse não a Deus


(Jó 1:1-3, 6-12; 2:1-10; 42:10-13; Romanos 8:28)

Perguntas:
1. Descreva a família de Jó antes das catástrofes.
2. Quem foi a causa da tristeza que afligiu a família de Jó? (ver também
Apocalipse 12:9, 10).
3. Reflita sobre a reação da esposa de Jó. Formule a sua resposta nas suas
próprias palavras.
4. Olhe para a vida dela e para a do marido em relação com Mateus 7:24-27. Que
é que pode concluir?
5. Que encorajamento é que a Bíblia oferece aos cristãos que perseverara nas
dificuldades? Compare Tiago 5:11, Hebreus 12:11 e 1 Coríntios 10:13.
6. O que é que aprendeu pessoalmente, das experiências da esposa de Jó? Que é
que está a fazer para aplicar isto na sua própria vida?
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 69

MARIA, A MAIS PRIVILEGIADA ENTRE AS MULHERES

"A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou em Deus,


meu Salvador, porque contemplou na humildade da sua serva. Pois, desde
agora, todas as gerações me considerarão bem-aventurada" Luc. 1:46b-48

Lucas1:26-38
Mateus 1:18-25
Lucas 2:6-14
Lucas 2:17-19
Lucas 2:33-35
João 19:25-27

"Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra'',


murmurou ela totalmente esmagada pela mensagem que o anjo acabava de trazer. Em
pensamento ela recordou o que ele tinha dito. Ela, Maria, ia tornar-se a mãe do
Messias! O Redentor que tinha sido prometido primeiramente a Adão, depois mais
claramente a Abraão e que mais tarde fora anunciado por vários profetas, viria ao
mundo através dela.
Verificou que Ele viria. Toda a mulher tinha esperado vir a ser seu privilégio o
tornar-se a mãe do Messias! E agora o tempo tinha chegado – e tinha sido ela a
escolhida para ser Sua mãe. Jamais sonhara que poderia ser ela. Era jovem e provinha
de uma aldeia insignificante (João 1:46,47). E – como é que ela poderia dar à luz um
bebê se ela nem mesmo era casada! Só estava noiva. Não admira que respondesse:
"Mas eu sou virgem e nem sequer casei. Como é que isso pode acontecer?'' O anjo
tinha começado por dizer: "Não temas, Maria, pois achaste graça diante de Deus''.
Então tinha-Lhe dito como é que o Espírito Santo realizaria este milagre nela. O seu
filho seria chamado Filho de Deus.
Maria conhecia a Deus através dos livros de Moisés, dos Salmos e dos escritos
dos profetas. Ela tinha uma profunda reverência pelo Senhor Deus, no seu coração,
porque sabia o que Ele tinha feito na história do seu povo. Tinha a consciência do que
Ele havia realizado não só a favor de toda a nação mas também de certos indivíduos.
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 70

Conhecia a Sua misericórdia para com os que O reverenciavam e que preferia


trabalhar a favor daqueles que não tinham poder mundano. Estava bem consciente do
fato de que ela não tinha qualquer posição ou riqueza. Seria essa a razão por que Ele a
tinha escolhido? Seria ela um instrumento útil por não possuir qualquer honra humana
em si ou de si própria?
Maria estava pronta a sacrificar-se para se tornar a Sua mais humilde serva.
"Cumpra-se em mim segundo a tua palavra", disse ela simplesmente, contemplando o
anjo que partia.
Estas palavras indicavam uma rendição completa da sua parte. Ela não estava a
prender-se a absolutamente nada. Não se tratava de uma resposta mal pensada. O seu
Filho, Aquele que acabava de ser anunciado, pronunciaria praticamente as mesmas
palavras no Getsêmani: "Não seja como eu quero, mas como Tu queres'' (Mt. 26:39).
No futuro ela teria ampla oportunidade de provar que queria dizer exatamente o que
disse. Todavia, naquele momento ela não podia prever as conseqüências.
Maria, a mais privilegiada entre as mulheres, aprendeu desde o princípio que um
privilégio excepcional vai sempre de mão dada com o sacrifício. Moisés tinha
experimentado isso antes dela (Heb. 11:24-26). Paulo experimentá-lo-ia depois (Atos
9:15,16).
A primeira coisa que ela sacrificou foi a sua reputação. Pô-la de parte para ficar à
disposição de Deus. Isso criou um problema para José, o seu noivo. Ele era um
homem que andava com Deus. Como é que poderia casar com uma jovem que
esperava um bebê de algum outro?
Porque a amava, ele não queria acusá-la abertamente, pois se o fizesse, e era isso
que a Lei esperava dele, Maria seria morta. A Lei afirmava que, se uma noiva hebraica
tivesse traído o marido, e não estivesse virgem na altura do casamento, seria
apedrejada, sem perdão (Dt. 22:20,21). Portanto, José planejou deixá-la secretamente.
Quereria ele deixar com Deus o problema do que lhe poderia acontecer a ela? Se era
assim, ele estava a fazer exatamente o que convinha.
Num sonho, o anjo do Senhor revelou a verdadeira natureza da situação a José.
Maria estava grávida com o prometido Emanuel, a respeito do qual Isaías tinha
profetizado (Is. 7:14).
José seria também uma pessoa privilegiada como pai terreno da Criança. Seria o
que ia dar ao menino o Seu Nome, Jesus. Teria a honra de educar a Criança, como se
fosse seu próprio filho. A casa de José devia ser a casa onde o Filho de Deus Se
sentiria mais confortável durante a Sua estadia aqui na terra. Para Jesus, ela seria o seu
único lar terreno.
José casou com Maria. Teve de sacrificar alguma felicidade pessoal em troca da
honra que havia sido posta sobre ele. Não só casava com uma mulher cuja pureza era
posta em causa por todos os que os rodeavam, mas também não devia ter relações
sexuais com ela até Jesus nascer.

Juntos, José e Maria subiram os degraus da Praça do Templo em Jerusalém.


Levavam o Menino e um par de rolas para oferecer ao Senhor.
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 71

Maria meditava nos acontecimentos do ano anterior. Lembrou-se como pouco


depois da visita do anjo Gabriel tinha ido a uma pequena aldeia, perto de Jerusalém,
visitar a sua parente Isabel, que também estivera à espera de um bebê.
Sem ter dito uma palavra acerca da sua própria gravidez, Isabel havia-lhe dado as
boas vindas como bendita entre as mulheres. Cheia do Espírito Santo, Isabel tinha-lhe
chamado "a mãe do meu Senhor''.
Maria recordou a sua própria reação. Tinha sido uma explosão de louvor a Deus,
um cântico de ação de graças que Ele havia posto no seu coração. Sentira-se
profundamente impressionada com a grandeza das coisas que iam acontecer. As
pessoas chamar-lhe-iam bem-aventurada, através das gerações futuras Não por causa
de si mesma, mas por causa do que Deus tinha feito. Ele era grande, Santo e todo-
poderoso. Ela era indigna disto. Nada tinha a oferecer senão a sua gratidão e louvor. O
Menino que ia nascer seria seu Salvador. Embora se sentisse privilegiada, reconhecia
também que era uma pecadora e necessitava de um Salvador.

A humildade de Maria pode-se ver no seu tão impressionante Magnificat – o


seu louvor a Deus (Lc. 1:46-55). Ela não podia imaginar que, mesmo muitos
séculos depois, as pessoas ainda se sentiriam comovidas e estimuladas pelo
seu amor a Deus.

Quando o nascimento do Menino estava prestes, César Augusto havia ordenado


que se fizesse um recenseamento em toda a nação. Maria e José haviam feito a longa
jornada de Nazaré a Belém, a terra natal do rei Davi, antepassado dos dois, para se
registrarem. Como previam, todas as estalagens estavam repletas. Belém, situada na
estrada de caravanas de Jerusalém para Hebrom, era uma cidade muito movimentada.
O seu filho tinha nascido fora da cidade, numa estrebaria onde se guardavam os
animais no inverno. Ela sentia-se triste porque o Filho nem sequer tivera uma cama
para dormir na sua primeira noite na terra. Enquanto ela e José se encontravam sós e
isolados, um milagre havia acontecido. Uma clara luz refulgiu na noite, uma luz mais
brilhante que a do dia. De repente, apareceu um grande exército de anjos. "Glória a
Deus nas alturas, paz na terra..." tinham eles cantado, ao proclamarem o nascimento
do Filho de Deus, o Salvador do mundo.
Os pastores, informados pelos anjos, tinham vindo ao estábulo. Eram homens
pobres, com faces batidas pelo tempo. Mais tarde, vieram homens ricos e cultos do
oriente. Tinham feito uma longa jornada, para trazerem honra e presentes preciosos de
ouro, incenso e óleo precioso. Deste modo, o seu filho havia sido anunciado por Deus
e recebera as boas-vindas tanto dos ricos como dos pobres (Mt. 2:1-12).
Ela sentou-se em silêncio, não sabendo exatamente o que dizer, enquanto o seu
coração se absorvia em todas estas preciosas recordações.
Subitamente, quando levaram o Filho ao templo, aproximou-se deles um velho e
pegou-lhes na Criança (Lc. 2:22-38). Tratava-se de Simeão, um homem devoto, que
durante muito tempo havia estado à espera da vinda do Messias. "Cumpriste a tua
promessa, Senhor. Agora podes despedir em paz o teu servo'', ouviram-no eles dizer,
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 72

para seu espanto. E continuou: "Pois eu vi-O, como me tinhas prometido. Vi o


Salvador que enviaste ao mundo".
O discurso do ancião havia sido orientado pelo Espírito Santo. José e Maria já
não tinham qualquer dúvida de que estavam a segurar o Filho de Deus nos braços.
Ama, uma profetisa idosa, que, como Simeão, havia passado a maior parte da sua
vida adulta na presença de Deus, também reconheceu o menino como o Messias
prometido.
Antes de Ana partir para a cidade com o fim de dizer às pessoas que a redenção
de Jerusalém estava próxima, Simeão disse algo de importante a Maria: "Atende
cuidadosamente, este Menino será rejeitado por muitos em Israel, mas será de grande
alegria para muitos outros. Os pensamentos mais profundos de muitos corações serão
revelados, mas uma espada trespassará a tua alma''.
Não demorou muito a vir a primeira tristeza. O rei Herodes mandou assassinar
todos os meninos de dois anos para baixo, em Belém, esperando matar assim o
anunciado rei dos judeus (Mt. 2:13-16). José e a sua pequena família escaparam
porque haviam sido avisados por Deus. Foram, todavia, forçados a empreender uma
longa viagem através do inóspito deserto do Neguebe, uma região praticamente sem
alimento e sem água. O que tornava esta viagem para o Egito ainda mais difícil para
Maria era o saber que muitas crianças estavam a ser assassinadas por causa do seu
Filho. Na sua mente, ouvia os gritos dos inocentes bebês que estavam sendo
martirizados brutalmente. Sendo ela a própria mãe há pouco tempo, identificava-se
facilmente com a dor das mães daquelas crianças. A mãe do Filho de Deus ia
descobrindo que uma grande alegria se misturava com muitas lágrimas.
Dez anos haviam passado.
Jerusalém estava cheia de gente e de movimento. Encontravam-se ali famílias
inteiras para celebrarem a festa da páscoa na cidade santa, e honrarem o Senhor Deus
com sacrifícios (Lc. 2:41-51).
Era uma ocasião feliz, pois podiam adorar o Senhor na companhia de vários
amigos que só encontravam em tais dias festivos. Por causa do grande número de
famílias que estavam de visita à cidade, as crianças pululavam por toda a parte.
Os adultos desfrutavam do seu tão raro convívio com parentes e amigos vindos
de lugares distantes. Andavam e conversavam alto uns com os outros, pelas ruas. As
crianças chilreavam como passarinhos, enquanto dançavam e brincavam juntas. Era
fácil passar despercebida a ausência de uma criança no meio de tal multidão. Os pais
iriam naturalmente pensar que o filho estava na companhia de outros, em qualquer
ponto do grupo.
Foi por isso que José e Maria não descobriram, senão depois de um dia cheio e
cansativo com a viagem de regresso, que Jesus não estava com eles. Não se
encontrava em lado nenhum. Finalmente, com os corações aflitos, voltaram a
Jerusalém à procura dEle.
Procuraram-no por toda a parte, sem resultado.
Finalmente, após três dias de busca, encontraram-nO no templo. Para seu
espanto, o jovem Jesus estava sentado entre os rabis eruditos. Não Se limitava a ouvi-
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 73

los, interrogava-os também. Surpreendia-os com a Sua inteligência, compreensão e


respostas adequadas.
Maria estava perturbada. "Filho", repreendeu-O ela, "por que é que fizeste isto?
O teu pai e eu temos andado à tua procura por toda a Jerusalém". A resposta dEle não
foi indelicada, mas clara e sem reservas, "Não me devíeis ter procurado. Não sabíeis
que eu estaria na casa de meu Pai?''
De Seu pai? Mas José tinha andado em busca dEle por todo o lado com a mãe.
Não teria ela entendido que Ele Se referia ao Pai celestial?
Jesus começava a afastar-Se deles. Dava início à viagem da Sua vida em direção
ao Seu verdadeiro destino. Embora fosse o seu filho perdido, naquela ocasião, era
também o Filho de Deus, o Redentor do mundo perdido. Os laços que O ligavam à
Sua família já haviam começado a desprender-se.
Teria esta experiência recordado a Maria as palavras de Simeão? Estaria ela a
experimentar as primeiras dores da espada que iria por fim ferir o seu coração?
Quando voltaram a Nazaré, tudo parecia na mesma. Jesus era obediente como
antes. Mas algo acontecera no coração de Maria. Ela conservou esta recordação e
juntou-a com outras no coração. Esta era uma oportunidade para sujeitar os seus
desejos maternais à vontade de Deus.
Os anos que passaram juntos foram agradáveis, enquanto Jesus Se ia tornando
adulto. A influência da mãe sobre Ele durante esse tempo foi grande.
"Jesus tornou-Se alto e sábio, e tanto Deus como os homens O amavam" (Lc.
2:52). Jesus, o Filho de Deus, que era perfeito como criança, desenvolveu-se
naturalmente num homem. Isto constitui um santo mistério, que Deus, como homem
na terra, pudesse submeter-Se à influência de Maria.
Jesus não cresceu numa família rica ou socialmente privilegiada. Mas o Seu
ambiente espiritual era invejável. Os pais andavam com Deus e respeitavam-se
mutuamente. Os pensamentos de Maria estavam particularmente cheios de Deus. Os
pensamentos de uma pessoa determinara as suas ações. Seguindo esse princípio, José e
Maria esforçavam-se para tornar o seu lar e a educação dos filhos conformes aos
pensamentos de Deus. Havia uma atmosfera amigável nesse pequenino lar de Nazaré.
Permeava-o um espírito de verdadeira humildade e devoção natural. Esse espírito
tornava fácil às crianças a obediência aos pais. Foi no lar de José e de Maria que Jesus
encontrou pela primeira vez as Escrituras. O amor da mãe pela Palavra de Deus foi um
exemplo para o Filho.
Durante dezoito anos, Ele viveu no lar dos Seus pais.
Nasceram mais filhos. Houve outros rapazes – Tiago, José, Simão e Judas – e
filhas também (Mt. 13:55,56). Uma vez que José morreu durante este período, é muito
provável que Jesus, o primogênito, partilhasse com a mãe os problemas da família e
fosse responsável pela manutenção da mesma.
As pessoas já não Lhe chamavam o filho do carpinteiro. Agora, era o carpinteiro
(Mc. 6:3).
Quando Jesus tinha trinta anos de idade, tudo mudou. Maria viu isso claramente
quando assistiu a um casamento, com Ele, em Caná, uma pequena aldeia perto de
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 74

Nazaré, nas montanhas ondulantes da Galiléia (Jo. 2:1-11). Ela notou que o dono da
casa estava embaraçado porque o vinho tinha acabado. A sua primeira reação foi
entregar o problema ao seu Primogênito. Depois fez uma descoberta dolorosa. O filho
parecia ter mudado. Não estava a proceder como filho obediente que ela conhecia tão
bem. "Mulher", respondeu Ele, "que tenho eu contigo?" Tratando-a por "Mulher" não
estava a desrespeitá-la, nem a revelar menos afeto. As mulheres hebraicas estavam
habituadas a serem tratadas dessa maneira. Mas isso marcava claramente uma
distância entre Ele e a mãe. Alguma vez Ele me tratou antes desta maneira? –
perguntava ela a si mesma. Então, as suas recordações recuaram até àquele dia, no
templo. Nessa altura Ele havia mostrado de modo muito semelhante que, embora fosse
seu Filho, não podia obedecer a todas as ordens dela. Tinha ordens superiores a
cumprir.
Maria não era irascível, e se acaso se sentiu pouco à vontade não o demonstrou.
"Fazei tudo quanto Ele vos disser", recomendou ela aos servos, pois sabia que Ele era
Deus e podia realizar milagres.
Ela parecia estar pronta a ocupar o segundo lugar. Teria compreendido já que
mais tarde Ele iria ensinar a respeito da grande prioridade que Deus dá ao serviço?
Quando começou o Seu ministério, Jesus deixou Maria definitivamente. Dali em
diante, não era primeiramente o Filho de Maria, mas Jesus de Nazaré, acerca de quem
todo o país tinha começado a falar, pois o Filho de Deus andava por toda a parte
fazendo o bem.
Maria aprendeu a ficar na retaguarda, embora não sem sofrimento.
Experimentava cada vez mais o fio da espada na sua vida, mas reconhecia também que
a sua tristeza estava ligada com o favor de Deus. Tudo o que lhe restava fazer era pôr-
se constantemente à disposição dEle.
À medida que Jesus se movimentava por toda a parte, curando os doentes e
pregando o evangelho, a fé que Maria tinha nEle podia ir crescendo. Sem dúvida, era
doloroso para ela ver que os outros filhos não acreditavam nEle (João 7:3-5), e que as
pessoas de Nazaré não O aceitavam (Lc. 4:16-30). Ele tornou isso penosamente
evidente quando ela e os filhos tentaram falar com Ele. Quando Lhe disseram: "Eis
que estão ali fora tua mãe e teus irmãos, que querem falar-te", Ele respondeu: "Quem é
minha mãe e quem são os meus irmãos?" Então, apontando para os discípulos,
acrescentou: "Qualquer que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, este é o meu
irmão e irmã e mãe'' (Mt. 12:46-50). Os homens com quem Se misturava diariamente e
os Seus discípulos eram iguais a ela. As suas relações já não eram provadas pelos
laços do sangue, mas pelo elo de uma fé comum em Deus.

A espada penetrou-lhe na alma com toda a sua agudeza quando se encontrava aos
pés da cruz onde o seu Filho estava pendurado como um criminoso qualquer.
Foi aqui que o sofrimento de Maria atingiu o auge.
Ela não tentou ignorá-lo, ou torná-lo mais fácil para si mesma. Como Jesus,
também ela bebeu o cálice amargo do sofrimento até à última gota. Esteve junto dele
até ao momento final. Viu a Sua agonia e ouviu troçarem e escarnecerem dEle.
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 75

As horas passavam lentamente sob o sol escaldante, e Alguém – o mais amado de


todos – sofria como nenhum outro homem poderia jamais sofrer.
Maria permaneceu junto à cruz e padeceu com Ele. Isto fazia parte da sua
maternidade. Ainda ecoavam na sua mente as palavras, "Faça-se em mim segundo a
tua palavra". Ela agüentou simplesmente porque se tinha posto inteiramente à
disposição do Senhor. O que ela sentia era secundário.
Jesus viu-a, e embora estivesse na agonia da morte, não Se esqueceu de cuidar
dela. "Mulher, eis aí o teu filho'', ouviu-O ela dizer. Depois disse a João, o homem que
Ele mais amava na terra, "Eis aí tua mãe" (João 19:26,27).
Jesus não deixou a Sua vida terrena sem providenciar quanto à Sua mãe. O
homem e a mulher que haviam sido os mais íntimos dEle na terra, poderiam melhor
compreender-se c ajudar-se depois da Sua partida. Dali em diante, Maria viveu na casa
de João.
A Cruz não assinala a última aparição de Maria nas Escrituras. Ela surge de novo
com os discípulos de Jesus, algumas outras mulheres e os outros seus filhos, depois da
ascensão de Cristo. No cenáculo, em Jerusalém, Maria dedicou-se como os outros a
constante oração (At. 1:9-14).
Embora tivesse perdido o filho, não estava preocupada com a sua perda pessoal,
mas compreendeu que a sua tarefa em relação a Ele havia terminado.
Maria, a mais bendita e mais privilegiada de todas as mulheres, cujo nome foi
mais honrado do que o de qualquer outro mortal, dedicou-se de novo a Deus. Mais
uma vez, nada exigiu. Imperceptivelmente, tomou lugar entre os outros. Maria sabia
que podia passar por cima dos seus interesses pessoais, e dedicar-se totalmente a
honrar a Deus.
Murra havia-se tornado uma mulher amadurecida. Nos últimos trinta anos da sua
vida, tinha atingido cumes desconhecidos de felicidade. Ao mesmo tempo, havia
experimentado tristezas profundas no seu coração que nenhuma outra mulher tinha
jamais encontrado. Mas a sua atitude para com Deus não mudara. Ela havia provado
com a sua vida que falara a sério quando o Messias foi anunciado: "Eis aqui a serva do
Senhor: Cumpra-se em mim segundo a tua palavra''.

Maria, a mais privilegiada entre as mulheres


(Lucas 1:26-38; Mateus 1:18-25; Lucas 2:6-14, 17-19, 33-35; João 19:25-27)

Perguntas:
1. O que é que fez de Maria a mais privilegiada de todas as mulheres?
2. Estude o seu cântico "A Magnífica" (Lucas 1:46-55). Quais eram os seus
pensamentos acerca de Deus? O que é que ela pensava de si própria?
3. A posição privilegiada de Maria significava ter de se sacrificar. Enumere os
sacrifícios que ela precisava de fazer.
4. Qual lhe parece ser a coisa mais difícil que Maria enfrentou como mãe?
5. Em seu entender, quais são as características mais notáveis em Maria?
Justifique as suas conclusões.
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 76

6. O que é que aprendeu de mais importante com Maria? Que valor prático tem
isso para a sua vida pessoal?

ISABEL, FORTE DE CARÁTER E BOA ESPOSA

"Uma mulher capaz, inteligente e virtuosa, quem a achará? Ela é muito mais
preciosa do que as jóias e o seu valor excede em muito o de rubis ou
pérolas". Prov. 31:30, Amplified Old Testament

Lucas 1:5-20
Lucas 1:24,25
Lucas 1:39-45

Isabel era uma mulher extraordinária. Era a esposa de um sacerdote. Os


sacerdotes só podiam casar com mulheres piedosas, cuja reputação moral fosse
absolutamente sem mancha (Levítico 21:1-7). De outra maneira, iriam prejudicar o
santo ministério dos maridos. Isabel era uma dessas mulheres.
Não só estava casada com um sacerdote, mas ela própria descendia da distinta
tribo de Arão. O seu nome provinha da mesma raiz que o da mulher de Arão –
Elisheba.
A Bíblia salienta que eram ambos justos diante de Deus, sendo irrepreensíveis em
todos os mandamentos e preceitos do Senhor.
Ninguém falava mal dela. Não se limitava a seguir no trilho espiritual do seu
piedoso marido; ela própria havia desenvolvido uma vida espiritual independente, e
era respeitada por causa da sua relação pessoal com Deus.
Isabel não vivia apenas para a letra da Lei, mas servia também a Deus no espírito
da Lei. À luz de tudo isto, a sua esterilidade era um enigma doloroso para ela. Como
Eva e toda a mãe judia que, desde então, havia dado à luz filhos, ela tinha tido a
esperança de se tornar a mãe do Messias. Todavia, sofreu a mesma humilhação de ser
estéril como qualquer mulher judia a quem fora negada a bênção de ter filhos.
Muitas vezes fizera a si mesma estas dolorosas perguntas: "Que é que eu fiz de
mal?'' e "Por que é que Deus não é misericordioso comigo – por que é que não me
abençoa?"
Ela era agora muito idosa, e o filho tão desejado não chegara. Estaria ainda à
espera, mesmo com aquela idade? Ou ter-se-ia resignado à idéia de que as suas
orações não agradavam ao Senhor e que não teria filhos?
Teria ela recebido coragem das vidas de Sara, Rebeca e Ana, mulheres que
também tinham vivido sem filhos durante muito tempo?
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 77

A vida era cheia de surpresas, não só para as mães de Isaque, Jacó e Samuel,
mulheres que, depois de terem esperado durante tantos anos, haviam tido, finalmente,
grandes filhos, mas também para Isabel.
O seu marido pertencia a um grupo de sacerdotes que servia na casa do Senhor (1
Cr. 24:19). Durante o seu período de seis meses de serviço, Zacarias teve a
oportunidade de queimar incenso no santuário. Isto constituía uma grande honra, a
qual um sacerdote só podia receber, no máximo, uma vez na vida. Muitos nunca a
chegavam a ter. O dia em que Zacarias queimou o incenso abriu uma nova fase na sua
vida e na de Isabel. Como tantas vezes acontece, quando o céu parece de bronze
porque nenhuma oração é respondida, tudo se desenrolou num momento.
Gabriel, o mensageiro especial de Deus, apareceu em pé, diante do sacerdote, e
disse: "Não temas, Zacarias, porque a tua oração foi ouvida, e Isabel, tua mulher, dará
à luz um filho e lhe porás o nome de João''.
A longa espera estava a ser recompensada. Zacarias e Isabel iam ter um filho. Deus
ia remover a sua vergonha. Nova vida ia entrar no seu pacato lar. A sua quietude seria
banida pelo barulho dos pés do filho e pelas suas sonoras gargalhadas. Mas Deus ainda
tinha mais boas novas a dar.
Um novo futuro ia começar para toda a nação judaica!
O filho deles não seria como qualquer outra criança. Iria ser um homem dedicado a
Deus e que ajudaria o povo a voltar-se para Ele. Jesus diria mais tarde a respeito dele
que jamais vivera neste mundo um homem maior (Mt. 11:11).
O horizonte alargou-se; a visão aumentou. A bênção que devia resultar do
nascimento de João estender-se-ia muito para além das pequenas fronteiras do seu
próprio país e povo. Abrangeria o mundo inteiro. João seria o homem que havia de
preparar o caminho para a vinda do Messias. Era o arauto do Reino que estava a
chegar.
Zacarias, as tuas orações foram de fato ouvidas. Não só as que fizeste por um
filho, mas as que proferiste a respeito do Messias.
Como é que um ser humano podia agüentar tanta felicidade ao mesmo tempo?
Zacarias mostrou que não era capaz. Pediu um sinal e Deus deu-lhe a Sua
resposta. Durante nove meses completos ele não podia pronunciar uma palavra. Tudo
o que desejasse dizer tinha de o reduzir a escrito. Mas, evidentemente, Isabel não teve
qualquer problema em acreditar na fantástica promessa, embora não a tivesse
recebido, como aconteceu com o marido, diretamente de Deus através dum
mensageiro divino. Teve de a aceitar de forma prosaica, quando o marido a escreveu
numa tabuinha.
Teria Isabel uma comunhão tão íntima com Deus que conseguisse ouvir a Sua
voz? Ou teria ela respondido mais pela fé? A Bíblia não o diz.
Enquanto que muitas pessoas no Ocidente escolhem simplesmente o nome para
um bebê por lhes soar bem ou por se chamar assim um amigo especial, tal não
acontecia na sociedade em que vivia Isabel. O nome de João era como o toque dum
clarim: "Deus é misericordioso!" Foi o próprio Deus que deu esse nome a João.
Ninguém lhe podia ter dado um mais bonito.
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 78

Isabel ia pensando nestas coisas enquanto o milagre se realizava no seu corpo.


Procurou esconder-se durante cinco meses. Seria por se sentir pouco à vontade com o
seu corpo que se ia tornando volumoso, perante a curiosidade das pessoas que a
rodeavam? Talvez.
Mas a sua principal razão era. Deus. Ela maravilhava-se com o milagre que se
estava operando – não só porque Deus havia provado mais uma vez que é especialista
no impossível, mas também porque a Sua fidelidade não tem fim. O que tinha
parecido ser um castigo, revelava-se agora como uma bênção.
Deus tivera em mente um filho muito especial para ela e Zacarias, mas tiveram
de esperar pelo Seu tempo. A sua hora não podia chegar antes do nascimento do
Senhor Jesus estar próximo. Ela devia dar ao mundo um filho excepcional, um filho
que teria um lugar único na história. Fora realmente abençoada.
A sua paciência tinha sido duramente provada, e excepcionalmente
recompensada.
Se Isabel reagiu dum modo mais espiritual que o marido a esta notícia, não há a
menor evidência de que se tenha exaltado a si mesma. Nem olhou para ele com ar
superior. Não o rebaixou para se elevar a ela própria. Pelo contrário, reagiu conto uma
boa esposa que aceita a fraqueza no companheiro da sua vida.
Isabel não provinha simplesmente duma família distinta; tinha também um
caráter nobre e independente, no sentido positivo do termo. Quando o filho nasceu, os
parentes e vizinhos interferiram – tentando forçar a tradição de dar à criança o nome
do pai.
Isabel recusou esta escolha.
Ela não cedeu à pressão, antes permaneceu leal ao marido e a Deus. Firme e
resolutamente, disse: "O seu nome será João".
A vida dela foi caracterizada por outras virtudes, tais como humildade e
modéstia. Estas tornaram-se particularmente evidentes quando a sua parente Maria a
visitou inesperadamente durante o período da sua gravidez. A rivalidade era em
absoluto estranha a Isabel.
Em vez de falar acerca de si mesma, deu toda a atenção a Maria, que reconheceu
imediatamente como sendo superior a ela. Este tornou-se um encontro, não duma
mulher idosa com uma jovem, mas da mãe de João – o que prepararia o caminho –
com a mãe de Emanuel, o Messias, cujo caminho tinha de ser preparado. Isso fez uma
grande diferença. Isabel reconheceu-o com uma humildade e uma modéstia realmente
invejáveis. Não era absolutamente nada ciumenta. Não achava difícil chamar à mulher
muito mais nova, "a mãe do meu Senhor" e "bendita entre as mulheres".
Isso foi obra do Espírito Santo nela. O fruto do Espírito Santo que Paulo
apresentou mais tarde com nove facetas distintas (Gl. 5:22,23), estava já presente nela.
Mesmo antes de Maria poder partilhar a sua grande felicidade, já Isabel sabia o que
estava acontecendo. Viu – por assim dizer – o Menino não nascido e adorou-O como
seu Senhor. O outro bebê ainda por nascer – o que estava dentro de si – saltou de
alegria, como se quisesse dar as boas vindas ao seu Senhor, Aquele que, mais tarde,
ele serviria humildemente (João 3:30).
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 79

Nesse momento, a mulher que havia sido censurada pela sua esterilidade, tornou-
se profetisa. "Bem-aventurada a que creu", disse ela, "pois hão de cumprir-se as coisas
que da parte do Senhor lhe foram ditas".
Durante três meses, as futuras mães permaneceram juntas – mulheres que
estavam a escrever história.
Falaram muito e riram muito, mas o que ocupava acima de tudo as suas mentes
era o que Deus ia fazer. Lucas é muito claro a esse respeito. Não admira que todas as
pessoas das montanhas da Judéia, que viviam perto deles, falassem acerca de João e
dos pais. Todos vibraram realmente com o que estava a acontecer, e disseram:
"Reparai nesta criança. Esperai e vede em que é que ele se tornará. A mão de Deus
está sobre ele dum modo especial" (Lc. 1:65,66).
Uma nova expectação se fez sentir. As pessoas começaram a ficar ansiosas por
ver o que Deus ia realizar. Estavam preparadas para as grandes coisas que iam
acontecer, para o Homem que ia chegar –Jesus, o Messias. Para tudo isto Deus usou
Isabel, uma mulher de fé e de caráter notável. O que a tomou realmente importante foi
o fato de ela estar cheia de Deus.
Deus pode usar uma mulher assim para a realização de coisas maravilhosas. Tal
mulher é uma boa companheira para a vida.

Isabel, forte de caráter e boa esposa


(Lucas 1:5-20,24,25,39-45)

Perguntas:

1. Que afirmação positiva faz a Bíblia a respeito de Isabel, em Lucas 1:6?


2. Qual era o "opróbrio" da vida de Isabel? Nomeie outras mulheres da Bíblia que
tiveram idêntica experiência.
3. Considere o cântico de louvor de Zacarias (Lucas 1:67-79) no contexto da
história, e descreva como é que a falta sentida pelo casal foi amplamente
compensada. (Ver também Mateus 11:1a).
4. Estude a vida de Isabel à luz de Gálatas 5:22,23. Que aspectos do fruto do
Espírito vê na sua vida? (Leia também Filipenses 2:3,4; e 1 Coríntios 10:24).
5. Haverá indicações de que Isabel era uma boa esposa? Se sim, quais?
6. Que o impressiona mais na sua vida? Em que sentido é que deseja seguir o seu
exemplo? Como é que o vai fazer?
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 80

ANA, UMA MULHER QUE NÃO FOI DESTRUÍDA POR UM


CORAÇÃO FERIDO

"Ana permitiu que o seu profundo desgosto a forçasse para Deus...Os que
dentre nós têm enfrentado qualquer tipo de tragédia – particularmente
aquelas que são viúvas – sabem que nada cura as feridas como o fato de se
estar conscientemente com Deus". Eugénia Price*

Jeremias 49:11 - "Deixa os teus órfãos, eu os guardarei em vida; e as tuas viúvas


confiarão em mim".
Salmo 147:3 - "Sara os quebrantados de coração e liga-lhes as feridas".
Lucas 2:22-27a – "..."
Lucas 2:36-38 – "..."

Poderá uma pessoa morrer com o coração despedaçado?


Médicos britânicos, estudando os casos dum grande grupo de viúvos,
descobriram que muitos deles morriam dentro dos primeiros seis meses após a morte
das esposas – cinqüenta por cento com crises de coração.
A vida da profetisa Ana podia ter sido sem esperança. Mesmo hoje, uma viúva no
Médio Oriente é praticamente lançada para a sepultura quando o marido morre. A
única coisa que uma mulher estéril, no tempo de Ana, poderia fazer depois da morte
do marido era voltar para casa dos pais, esperar por um segundo marido, ou pela
morte.
A felicidade do casamento de Ana durou apenas sete anos. Os comentaristas da
Bíblia dizem que ela era viúva há mais de 60 anos. Era uma profetisa da tribo de Aser,
da Galiléia. Desta tribo insignificante é que se tinha dito, "Nenhum profeta pode vir da
Galiléia".
Os profetas eram, em regra, homens. Uma mulher profeta era raro. A Bíblia
nomeia algumas – Miriã, Débora, Hulda e Noadia, no Velho Testamento; e as quatro
filhas de Filipe, o Evangelista, no Novo Testamento.
Ana fica entre as do Novo e as do Velho Testamento.
Era uma honra ser profetisa. Uma mulher que, como um profeta, anunciava a
Palavra de Deus ao povo era excepcionalmente privilegiada. Ana pertencia a um grupo
seleto.
As viúvas tomavam muitas vezes a atitude, "Quando o meu marido morreu, a
minha vida acabou''. Ana revelou um ponto de vista completamente diferente. Não se
*
Price, Eugénia. The Unique World of Women (O Mundo Único das Mulheres), 1969, Zondervan Publishing House
Grand Rapids, Michigan, U.S.A.
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 81

refugiou no isolamento ou na piedade de si própria depois do grande golpe da sua


vida. Não se tornou um fardo para os parentes. Não se transformou numa mulher
solitária, para quem a vida já não tinha nada a oferecer, nem tão pouco se tornou numa
pessoa de quem toda a gente tivesse pena, mas que ninguém soubesse como ajudar.
Também não se refugiou no passado. Este constitui um dos maiores perigos que
as viúvas enfrentam, e só aquelas que, como Ana, perderam os companheiros da sua
vida, sabem quão séria pode ser esta ameaça para a vida espiritual.
Quando a unidade de um casal é quebrada, o que resta é uma pessoa só, dividida
em duas. Mesmo depois de um casamento relativamente breve, o cônjuge que fica
nunca é o mesmo que era antes. Continua a ser metade de duas pessoas.
Ter-se-ia Ana confortado com a idéia de que Deus não leva a pessoa só por
levar? Teria ela esperado que Ele Se desse a Si mesmo em troca daquilo que lhe havia
tirado?
É muito provável. A pessoa tem de ter coragem e visão suficiente para adotar
essa atitude. Jesus disse mais tarde aos Seus discípulos que ninguém que põe a mão no
arado e olha para trás é apto para o Reino de Deus (Lc. 9:62). Ana fugiu para Deus.
Dedicou a vida a servi-Lo no templo. Orava e jejuava. Estava pronta a dar mais
atenção a Deus do que a si própria, e a dar ao Seu trabalho toda a prioridade.
Quando uma viúva ousa deixar o passado isolado, quando não depende de
recordações para uma felicidade autêntica, e quando é capaz de enfrentar tanto o
presente como o futuro com Deus, uma paz sobrenatural inunda o seu coração. Já não
está na vida como uma desolada, mas como alguém que consola. Pode confortar os
outros em problemas e na dor, porque ela própria já foi confortada por Deus (2 Cor.
1:3,4).
Ana estava ocupada com o trabalho de Deus, não só durante o dia, mas também
de noite. Contudo, a despeito de todas as suas atividades, não perdia a visão das
pessoas. Uma verdadeira comunhão com Deus não é apenas introspectiva, mas
expressa-se também exteriormente. Deseja fazer os outros felizes. Soren Kierkegaard
disse uma vez: "A porta da felicidade abre-se para o exterior... para os outros".
O mundo era escuro, sombrio e sem esperança no tempo de Ana. Os problemas
haviam-se tornado demasiado grandes para as pessoas os poderem suportar. Muitos,
portanto, estavam, consciente ou subconscientemente, procurando uma redenção que
só podia vir de Deus – a vinda do Messias.
De repente, surge o grande dia. Jesus nasceu!
Quando José e Maria levaram o seu Primogênito ao templo para o apresentarem a
Deus, como indicava a lei, não encontraram lá apenas o piedoso Simeão, o homem que
sabia que não iria morrer sem ver o Messias, mas viram também Ana. Deus, que havia
cuidado dela tão fielmente durante todos aqueles anos, fez com que ela não perdesse
aquele momento sagrado. A mulher que não teria, em regra, recebido qualquer
oportunidade na vida por causa da sua condição, o estado de viúva e a sua idade,
tornou-se nesse momento uma das mais privilegiadas mulheres do mundo. Juntamente
com Simeão, pôde ver o Menino e adorá-lO.
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 82

Este foi o instante mais alto da sua vida, a resposta às orações de muitos anos.
Constituiu o momento supremo de todos os tempos, o momento pelo qual o mundo
tinha tão ansiosamente esperado – o Messias havia chegado" Para Ana, só era natural
fazer duas coisas. Primeiro, juntou-se a Simeão no louvor e adoração a Deus porque o
tão esperado Redentor do seu povo, do mundo e dos seus próprios pecados tinha
chegado. Segundo, achou que não era possível conservar esta tão extraordinária
notícia só para ela. Alguém disse: "Testemunhar é olhar bem para o Senhor Jesus
Cristo, e depois contar aos outros o que se viu''. Foi esta a reação de Ana.
Isto prova como conhecia bem as pessoas. Conhecia todos os que em Jerusalém
estavam ansiosos pelo Salvador. Foi e contou-lhes o que tinha visto. Este anunciador
de Jesus Cristo não era um jovem enérgico e eloqüente, mas uma mulher idosa. Era
alguém que havia experimentado o que o Salmista escrevera a respeito do Senhor,
"Sara os quebrantados de coração e liga-lhes as feridas".

Ana, uma mulher que não foi destruída por um coração ferido
(Jeremias 49:11; Salmo 147:3; Lucas 2:22-27a, 36-38)

Perguntas:
1. Quando jovem, Ana experimentou uma grande perda. Como é que isso
influenciou a sua vida? (Ver também Lucas 9:62).
2. Como é que a Bíblia descreve a sua relação com Deus? Que conclusões tira
disso?
3. Que privilégio experimentou Ana?
4. O que é que fez Ana depois de ter visto Jesus?
5. Leia 2 Coríntios 1:3,4. Que oportunidades específicas têm as pessoas que
sofreram tristezas?
6. O que é que aprendeu de Ana acerca de como ter vitória sobre a tristeza?
Haverá alguém que possa ajudar nessa área? Quem?

UMA VIÚVA QUE SABIA USAR O DINHEIRO

"Não darei qualquer valor a algo que possua, exceto ao Reino de Cristo. Se
alguma coisa que tenho irá alargar os interesses da Reino, será dado ou
conservado, só na medida em que possa promover a glória dAquele a quem
devo todas as minhas esperanças no tempo e na eternidade". David
Livingstone*

Marcos 12:41-44
2 Coríntios 9:6.8

*
Studies in Christian Living (Estudos Sobre o Viver Cristão), Livro 6, "Crescendo em Serviço''. 1964, The Navigators,
Colorado Springs, Colorado.
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 83

Jerusalém estava cheia de movimento nesse dia. Judeus de todo o mundo


conhecido estavam chegando à cidade. Em breve se realizaria a Páscoa, e todo o judeu
devoto queria celebrar esses dias festivos na cidade santa.
Nas casas, as mulheres estavam muito ocupadas com a preparação da refeição da
Páscoa. Tinham comprado grandes quantidades de comida para cozinharem e assarem
para a importante festa.
Mas houve uma mulher que não se juntou às festividades. Não tinha gasto o
dinheiro em gêneros alimentícios, porque não tinha muito e, portanto, tinha de o usar
com sabedoria. Não ganhava muito dinheiro – mas sabia exatamente o que fazer com
o que tinha. Dirigiu-se ao templo, e lá, sem qualquer hesitação, foi pôr as suas duas
pequenas moedas de cobre na arca do tesouro. Homens ricos empurravam-na ao
passarem por ela, e deitavam grandes quantias de dinheiro na arca parte da sua
abundância. Depois, ela retirou-se de modo tão imperceptível como havia chegado.
Imperceptível?
Não, no que diz respeito a Jesus. Ele estava no templo. As Suas visitas à casa do
Pai podiam contar-se. Dentro de mais alguns dias seria feito prisioneiro num jardim
oposto à praça do templo, precisamente do outro lado do ribeiro de Cedron. Seria
então crucificado. Coisas importantes estavam para acontecer. De fato, o ato mais
significativo da história estava prestes a ocorrer. E, contudo, Ele teve tempo para notar
que uma pobre viúva deu a Deus duas pequenas moedas.
Pôs-Se a observar as pessoas que deitavam dinheiro na arca do tesouro. Viu os
ricos que davam muito, e isso era bom. Mas as dádivas deles mal se faziam sentir nos
seus muitos bens. Ainda lhes sobrava muito. Tinha chegado então a viúva pobre. Jesus
sabia o que ela estava a fazer. Sabia que as duas moedas eram as últimas que possuía.
Ela havia dado, literalmente, toda a sua riqueza material a Deus, a Quem amava. As
moedas não adiantariam muito para o pagamento das contas do templo – o que é que
se poderia comprar com duas moedas?
Mas Jesus achou que a sua oferta foi tão importante, que chamou a atenção dos
discípulos para ela. Disse-lhes: "Esta pobre viúva deitou mais na arca das ofertas, do
que todos os outros; pois enquanto os outros deitaram do que lhes sobejava, ela, pobre
como é, deitou tudo o que tinha''. Para o Senhor, o quanto ela deu não era tão
importante como aquilo com que ficou depois de dar. Ela não ficou com nada. Jesus
estava interessado no que o dinheiro representava para o ofertante. Para esta mulher
representava tudo.
O dinheiro em si não tem qualquer valor para Deus. Paulo escreveu: "O Deus que
fez o mundo e tudo o que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em
templos feitos por mãos de homens; nem tão pouco é servido por mãos de homens,
como que necessitando de alguma coisa; pois Ele mesmo é quem dá a todos a vida e a
respiração, e todas as coisas'' (At. 17:24,25). Deus está interessado nos motivos da
pessoa que dá. Sabe que, por natureza, as pessoas tendem a agarrar ciosamente o seu
dinheiro. Esquecem freqüentemente que só pela graça de Deus podem ganhá-lo, uma
vez que é Ele que dá a saúde e capacidade mental (Prov. 10:22). Pensam muitas vezes,
erradamente, "Posso fazer o que quiser com o meu dinheiro''.
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 84

Deus não quer que as pessoas dêem por precisar. Só deseja que elas usem o seu
dinheiro de maneira correta. Ele sabe que se uma pessoa der do seu sustento a Deus,
fá-lo porque O ama; porque quer partilhar tudo –mesmo os seus bens com Ele. Então,
multiplica o real valor do dinheiro, como multiplicou os pães e os peixes (Lc. 9:12-
17). Pode realizar milagres com isso. Uma pessoa que partilha tudo com Deus
descobrirá que muito se pode fazer com o pouco, quando Deus lhe junta a Sua bênção.
E impressionante ver esta pobre viúva que sentiu a atmosfera do Novo
Testamento, dando enquanto vivia sob o concerto do Velho Testamento, onde o ato de
dar era regulamentado pela lei, com regras dadas por Deus quanto ao uso do dinheiro
– dez por cento de toda a receita para ser usado nos Seus propósitos (Lev. 27:30,32).
Destes dez por cento eram pagos os que serviam no templo, os levitas. Nenhum judeu
podia escapar a esta obrigação. Mesmo os levitas tinham de, por sua vez, dar 10 % do
seu dinheiro (Núm. 18:21, 25-30).
Mas no Novo Testamento a situação era diferente. Não havia regulamentos
rígidos, nem quantias especificadas. O fator que motivava era o amor em vez da lei. E
o amor não pode ser regulado pela lei. Tem de ser uma expressão voluntária. Aqueles
que são guiados por este princípio, têm prazer em dar. Dão regularmente (1 Cor. 16:2).
Dão discretamente (Mat. 6:2-4).
Teria esta mulher a sensação de que Deus ia dar o Seu Filho ao mundo? De fato,
o maior ato de amor? Seria essa a razão por que desejava provar-Lhe o seu amor
através de uma dedicação total? Ela compreendia que dar não era privilégio exclusivo
dos ricos. As pessoas pobres têm a mesma oportunidade. A percentagem que o pobre
pode dar dos seus salários não é menor do que a dos ricos. Embora a importância real
possa ser mais pequena, a percentagem é igual.
O dinheiro não precisa de ser considerado "coisa má''. Tem um extraordinário
potencial quando dedicado a Deus e ao Seu serviço. Então o seu valor perdura. "O
dinheiro", disse alguém certo dia, "é algo que não podes levar contigo para o céu, mas
que podes enviar à frente". Pode ser usado em questões de valor eterno, como no caso
da viúva. O dinheiro torna-se então um capital investido no céu (Filip. 4:17).
É pena que o véu que cobre a vida desta mulher só fosse levantado ligeiramente.
Seria interessante saber como é que Jesus, que foi tocado pela sua oferta sacrificial,
tomou cuidado dela. Não disse Deus, através de Salomão, "Honra ao Senhor com a tua
fazenda e com as primícias de toda a tua renda; e se encherão de trigo os teus celeiros
e transbordarão de mosto os teus lagares" (Prov. 3:9,10)? Não tinha Ele prometido
pela boca de Malaquias chuvas de bênçãos sobre a pessoa que desse a percentagem de
dez por cento sobre a sua receita? (Mal. 3:10)
A viúva pobre não se contentou em dar apenas uma parte do seu dinheiro. Dez
por cento era demasiado pouco num ato de devoção a Deus. Queria dar 100 %. Uma
vez que Deus não quer ser devedor de ninguém, não há limites para as bênçãos que
Ele pode ter derramado sobre esta viúva pobre! Uma coisa é certa – ela celebrou a
Páscoa de um modo maravilhoso.

Uma viúva que sabia usar o dinheiro


Seu Nome é Mulher (Livro 1) 85

(Marcos 12:41-44; 2 Coríntios 9:6-8)


Perguntas:
1. O que é que houve de extraordinário em relação à quantia de dinheiro que a viúva deu?
2. Como é que Jesus avaliou esta pequena importância (menos de 3 centavos) em vista das
outras ofertas maiores?
3. O que é que Deus disse a respeito de dar no Velho Testamento? Provérbios 3:9, 10;
Malaquias 3:10).
4. Que diretrizes são dadas no Novo Testamento no que toca a dar? (2 Coríntios 9:6,7; 1
Coríntios 16:2; Mateus 6:2-4).
5. Como é que Deus recompensa aqueles que Lhe dão do seu dinheiro?
6. Será que a história da viúva o influenciou no sentido de usar as suas finanças? Se sim,
como?

MARTA DE BETÂNIA, UMA MULHER QUE DEU PRIORIDADE A


QUESTÕES SECUNDÁRIAS

"A minha oração é que possais ter ainda mais amor – um amor cheio de
conhecimento e de sábia compreensão. Quero que sejais capazes de
reconhecer sempre o mais elevado e o melhor''. Filip 1:9-10, tradução de
Phillips

Lucas 10:38-42
João 11:17-27
João 11:32-44

Marta estava nervosa. Um momento antes, 13 hóspedes, todos homens, tinham


aparecido inesperadamente. Eram Jesus, o Mestre, e os seus discípulos que iam a
caminho de Jerusalém, a cerca de três quilômetros dali.
Não se tratava de pessoas desconhecidas. Jesus era um bom amigo de Marta, de
sua irmã Maria e de seu irmão Lázaro. Várias vezes apareceu com os discípulos, já de
noite, para ficar com eles em Betânia.
Marta apreciava muito o Mestre, que não tinha onde reclinar a cabeça Mat. 8:20).
Se sentia à vontade com eles. Era hospitaleira e alegremente abria o seu lar aos
outros.Considerava que era uma honra receber os hóspedes.
Marta lutava consigo mesma enquanto atendia às necessidades daqueles homens
cheios de pó e esfomeados. Não quer dizer que o seu lar não fosse suficientemente
espaçoso ou que a dispensa estivesse pouco fornecida de comida. Tinha o bastante.
Contudo, sentia-se irritada, porque a irmã, Maria, não a ajudava no serviço.
Maria estava totalmente absorta, ouvindo o Mestre. Bebia ansiosamente cada
uma das Suas palavras. A questão que mais a preocupava era: "Como é que eu poderei
aproveitar ao máximo este momento? Que é que posso aprender?''
Marta não se sentia menos feliz que a irmã por ter recebido a visita de Jesus, mas
não a podia saborear completamente. Os seus pensamentos estavam sempre ocupados
em pormenores e coisas secundárias. Era por isso que a magnitude da ocasião lhe
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 86

escapava. Sentia-se nervosa. Irritada! E, como acontece geralmente numa situação do


gênero, jogou a culpa em outra pessoa. Marta considerava-se uma vítima. "Senhor",
interrompeu ela, "não te importas que a minha irmã me deixe servir só?''
Marta não pareceu preocupar-se com o fato de estar a acusar a irmã na presença
dos hóspedes, e de estar a incluir Jesus na acusação! E isso não foi tudo. Ela atreveu-
se a ordenar ao Mestre que dissesse a Maria para a ajudar.
A voz do Mestre, que tinha mantido os ouvintes fascinados, parou de repente.
"Marta, Marta'', disse Ele, "estás ansiosa e afadigada com muitas coisas, mas uma só é
necessária; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada". Com aquelas
poucas palavras Ele queria dizer muito mais. Continham uma advertência:
Marta, como é que podes misturar dessa maneira o que é primário com o
secundário? Como é que te podes perder com coisas de somenos importância, enquanto
eu estou na tua casa? Marta, não compreendes que eu vim, em primeiro lugar, para servir?
Não para ser servido? (Mat. 20:28) Não vês que eu estou muito mais interessado em ti do
que no alojamento e na comida? Aprecio a tua hospitalidade, mas a minha primeira
preocupação é a Marta, não a hospedeira. Marta, és tão eficiente e sábia – por que é que
hás de fazer tudo, mesmo os pormenores mais insignificantes, sozinha? Não compreendes
que, de qualquer modo, eu prefiro uma refeição simples? No meu Reino dá-se prioridade
às questões espirituais. Examina-te, analisa o teu próprio coração. Olha para as coisas do
meu ponto de vista.
Maria, continuou Ele, não precisa de ser corrigida. Tu, sim. Mas digo-te isto porque te
amo (Heb. 12:5,6). As coisas de valor temporal, as preocupações acerca desta forma de
vida sufocam a Minha Palavra (Mar. 4:19), e escurecem a tua visão dos assuntos eternos.
Marta, também deves ter cuidado quanto a julgares os outros (Mat. 7:1,2). Deixa antes isso
comigo (1 Cor. 4:5). Examina-te a ti mesma e julga o teu próprio coração (2 Cor. 13:5).
O próximo encontro entre Jesus e essa família teve lugar em circunstâncias
extremamente dolorosas. A doença e o temor tinham penetrado neste lar feliz. Lázaro
estava gravemente enfermo. Sem demora, as irmãs enviaram uma mensagem a Jesus,
que andava a pregar no outro lado do rio Jordão. Tudo o que Lhe disseram, foi:
"Senhor, o teu amigo está muito doente".
Esperavam que Ele viesse imediatamente. Sabiam quando é que Lhe seria
possível chegar lá. Mas Jesus permaneceu longe – de propósito – e Lázaro morreu.
Deus seria glorificado através desta doença de um modo todo especial. Maria e
Marta não se regozijariam com a cura do seu irmão, mas com a sua ressurreição dentre
os mortos.
Isto ia muito além da percepção delas. Portanto, as irmãs repetiam muitas vezes
durante o dia: "Se o Senhor estivesse aqui, Lázaro não teria morrido''.
Depois, quando Lázaro já estava enterrado há quatro dias, e a casa estava repleta
de amigos que procuravam confortá-las, chegou Jesus. Maria, dominada pelo
desgosto, ficou em casa, mas o temperamento de Marta não lhe permitia ficar assim.
Como é que poderia ficar calmamente em casa quando o Mestre estava a chegar?
Impossível! Foi ao Seu encontro e repetiu-Lhe o que tinha dito muitas vezes com
Maria; "Isto não teria acontecido, Senhor, se tu estivesses aqui''.
Mais uma vez, havia um travo de acusação nas palavras que dirigiu a Jesus, mas,
ao mesmo tempo, elas constituíam uma expressão de fé e esperança. Ela provou isso
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 87

quando acrescentou: "Mas eu sei que mesmo agora Deus Te dará o que quer que Lhe
peças''.
Nem tudo estava perdido.
Quando Ele prometeu: "Teu irmão há de ressuscitar", Marta pensou num futuro
distante. Mas Jesus pô-la face a face com um fato esmagador: "Eu sou a ressurreição e
a vida''.
A ressurreição não oferecia esperança apenas para o futuro. Era uma realidade
presente. Essa realidade estava personificada no Homem que falava com ela. Ele não
dava meramente a vida. Era Ele próprio a vida.
A resposta de Marta foi uma notável confissão de fé: "Sim, Senhor! Eu creio que
és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo''.
A pergunta que tantos haviam feito e que tinha provocado tanta divisão, era: "É
ele o Cristo, ou não?" (João 7:31, 41-43; Mar. 11:3) Marta tinha dado uma resposta
positiva, embora não pudesse imaginar as implicações do seu testemunho.
O que aconteceu em seguida é muito comovente. Marta tinha chamado Maria.
Esta chegou e saudou Jesus. Repararam que Jesus estava profundamente triste. As
palavras de Isaías tornaram-se realidade: "Em toda a angústia deles foi ele angustiado''
(Isa. 63:9).
O Filho de Deus não Se envergonhava das Suas lágrimas. Chorou.
As irmãs e todos os que tinham vindo para chorar com elas notaram isso. Alguns
disseram: "Vede como o amava". Outros criticavam-nO, dizendo: "Abriu os olhos aos
cegos, não é verdade? Então, por que é que não impediu que Lázaro morresse?''
Nesse momento, os sofrimentos de Jesus vieram à luz. Ele não iria sofrer apenas
com a Sua morte próxima. Naquele instante santo, quando provou a Sua vitória sobre
a morte, Jesus sofreu em vida. Havia sofrido em cada dia da Sua existência terrena.
Sofrera com a incompreensão do povo (Mar. 6:1-6). Sofrera com a infidelidade dos
Seus amigos (Luc. 22:39-45; Mat. 26:31-35). Sofrera também com Marta – pela
maneira como ela usava a sua energia – pelo modo como ela interferira.
De novo, Marta interrompeu. Quando Jesus deu a ordem para removerem a pedra
do sepulcro, ela achou que era necessário recordar-lhe que Lázaro, que já estava
sepultado há quatro dias, se acharia num estado de decomposição.
"Não te disse que se creres verás a glória de Deus?" (João 11:40) respondeu
Jesus.
Ao seu grito: "Lázaro, vem para fora!'' (V. 43) a morte deixou a sua presa. Lazão
estava diante deles, vivo. Podiam tocar-lhe. Jesus, que tinha tomado sobre Si próprio a
culpa de insensibilidade perante a tristeza dos Seus amigos, selava agora a Sua
amizade pelas pessoas de Betânia, com a Sua vida.
Agora a Sua liberdade estava limitada. Precisava Se esconder a fim de não cair
prematuramente nas mãos dos fariseus e dos principais sacerdotes (João 11:53,54).
Dentro de poucas semanas iria morrer na cruz. Morreria, não só pelos pecados de
Lázaro, Marta e Maria, mas também pelos pecados de todo o mundo.
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 88

Seis dias antes da morte de Jesus, Marta serviu num banquete dado em honra
dEle (João 12:1,5). A história vem contada em poucas palavras. Marta não tinha
deixado de servir. Não caiu no outro extremo. Era uma mulher de caráter vigoroso. As
belas qualidades de hospitalidade e de prontidão em servir continuavam a ser
evidentes. Era também uma mulher cuja fé, pela morte de Lázaro, havia suportado o
teste.
Revelou-se também uma mulher corajosa. Permaneceu fiel ao Senhor numa
altura em que o ódio dos judeus era o mais veemente e viria a resultar na Sua morte.
Jesus amava-a e estendeu-file a honra da Sua amizade.
Ele, que conhecia as pessoas, sabia que as mulheres como Marta podem sofrer
sem necessidade, simplesmente por causa delas próprias. Sabia que uma mulher boa,
inteligente e enérgica, como ela, podia facilmente tropeçar, por causa de um vigor
demasiado, por causa do desejo de interferir. Ela tinha de ter um cuidado especial para
não se perder em coisas de importância secundária. As mulheres como Marta precisam
particularmente de Jesus. Ele pode impedi-las de dedicarem as suas vidas ao segundo
melhor.

Marta de Betânia, uma mulher que deu prioridade a questões secundárias


(Lucas 10:38-42; João 11:17-27, 32-44).

Perguntas:
1. O que caracterizava a família em Betânia?
2. Qual lhe parece ser a qualidade mais positiva em Marta? (Leia também Marcos
11:11 e Mateus 21:17).
3. Vê alguns perigos em relação com esta característica da sua vida? Se sim,
quais?
4. Que fatos nos levam a concluir que Marta dava realmente prioridade a assuntos
de importância secundária?
5. Leia João 11. O que é que este capítulo ensina a respeito da fé de Marta?
6. Em que sentido é que Marta constitui um exemplo ou advertência para si?
Como é que vai aplicar o que aprendeu da sua vida?
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 89

MARIA DE BETÂNIA, UMA MULHER COM INTUIÇÃO PARA


ESCOLHER O MELHOR

''A amizade com Deus é reservada aos que O reverenciam. Só com eles é
que Ele partilha os segredos das Suas promessas''. Sal. 25:14, The Living
Bible, 1971

João 12:1-11
Mateus 26:13 "Em verdade vos digo que; onde quer que este evangelho for
pregado, em todo o mundo, também será referido o que ela fez, para memória sua".

Ela mal foi notada quando entrou na sala. Relanceou o olhar para os homens que
estavam lá e sentou-se atrás do hóspede de honra. Com um simples movimento
arranjou o seu longo vestido e apalpou o pequeno vaso ainda escondido entre as
pregas. Maravilhoso – a conversa dos hóspedes não havia sido perturbada com a sua
entrada. As vozes fortes dos homens continuavam a encher a sala como antes. Ela
estava habituada a sentar-se aos pés de Jesus, e os presentes tinham-na visto fazer isso
anteriormente (Luc. 10:39).
Enquanto os homens comiam e conversavam, os pensamentos de Maria voltaram-se
para a primeira vez em que Jesus e os Seus discípulos tinham vindo à sua casa. Ele havia
entrado também na sua vida. E – como só Ele podia fazer – tinha causado uma mudança
radical. Ela já não reconhecia a sua própria vida. "Ele começou por dar-nos a Sua
amizade'', meditava ela. Essa era uma experiência desconhecida. Até essa altura existira
um grande abismo entre os homens e as mulheres. Afinal de contas, não agradeciam os
judeus, todas as manhãs, nas suas orações, por Deus os ter criado "não como um escravo,
nem pagão, nem mulher"?
Havia-se tornado imediatamente claro que Ele era diferente. O Seu interesse não
estava simplesmente no homem ou na mulher. Ele visava o ser humano total, homem
ou mulher (Gál. 3:28).
Ele havia introduzido um novo respeito pelas mulheres. Oferecera-lhes oportunidades
que se desconheciam até então. Tinha-as elevado ao Seu nível. Era por isso que ela se
sentia tão completamente à vontade na Sua presença. Sem qualquer timidez, viera e
sentara-se no meio dos homens que estavam escutando as Suas palavras.
Sentada aos Seus pés e ouvindo-O, sentia no seu coração uma fome, uma sede de
Deus. O propósito da sua existência tornara-se claro ao ouvir este Homem. Uma
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 90

convicção crescia dentro dela: "Fui criada para Deus. Existo por causa dEle." (Apoc.
4:11)
Isto deu significado e cor à sua vida. Revelou primeiramente oportunidades
nunca sonhadas. Ela vivia a sua vida na comunhão com Cristo (1 Cor. 1:9). Era esse o
objetivo da vida para que se sentia chamada. O primeiro resultado foi uma fome de
Sua Palavra. O pão – alimento só para o corpo – não podia satisfazer o ser humano. A
pessoa íntima tinha de ser alimentada com a Palavra de Deus (Mat. 4:4).
Enquanto se dessedentava com as Suas palavras e ia aumentando o conhecimento
a respeito dEle, os seus sentimentos amadureciam no sentido de uma decisão: "Farei
por Ele o que puder''. A gratidão inundava-lhe o coração. Olhou para os homens que
falavam um pouco mais. Então foi distraída por Marta que servia o Senhor e os outros
homens. Marta, pensou ela, quanto Ele tem feito por ti! Quanto! Marta possuía uma
personalidade ativa e extrovertida. O seu amor pelo Senhor revelava-se em serviço
para Ele, porque ela era uma mulher que pensava e agia rapidamente. Era o oposto de
Maria que era mais introspectiva e calma por natureza. Era animador ver como o
Senhor compreendia as duas. Amava cada uma delas de acordo com o seu próprio
caráter.
De Marta, os olhos de Maria vaguearam até Lázaro, o hospedeiro, que estava
sentado ao lado do Mestre. Os seus olhos não podiam deixar de expressar alegria
vendo o irmão. Ele havia ressuscitado dentre os mortos. Vivia! Jamais poderia
esquecer aquele momento em que Jesus tinha levantado a voz e gritado: "Lázaro, vem
para fora!" Sentia-se também um pouco envergonhada quando recordava aquela
ocasião. Marta e ela haviam-se interrogado a si mesmas sobre a razão por que o
Mestre não tinha vindo mais depressa. Não podiam compreender a Sua demora que
lhes foi quase mais penosa do que a perda do irmão. Nunca antes em suas vidas se
haviam sentido tão abandonadas. Olhando para trás, podiam ver quão pouco
perspicazes haviam sido. Mais tarde compreenderam por que é que Cristo agira
daquela maneira. Tinha-o feito inteiramente pela vontade do Pai, pois a ressurreição
de Lázaro tinha honrado a Deus. Muitas pessoas foram levadas a crer.
Honrar a Deus e providenciar salvação para o Seu povo era esse o alvo de Jesus.
Isto provou ser difícil para Jesus, pois o ódio consumidor dos líderes judeus, que se
havia mantido latente até esta altura, ateava-se agora numa chama que O iria destruir.
Ao arrebatar Lázaro da morte, Ele tinha assinado a Sua própria sentença de morte.
Dentro de seis dias seria a Páscoa.
Teria este pensamento aberto de repente os olhos dela? Teria ela sentido
instintivamente que Jesus viera naquele dia para dizer adeus? Ele estava também a
preparar-se para as festividades que se aproximavam. Nessa Páscoa não haveria
apenas sangue derramado no Templo dos animais sacrificados para remir os pecados
do povo (Êxo. 12:13, 21-28), mas, em Jerusalém seria oferecido um sacrifício muito
maior. Jesus ia morrer.
Ela havia falado dos Seus sofrimentos que se avizinhavam (Mar. 8:31).
Reconheceu que o ódio de muitos líderes judeus tinha atingido o ponto de ebulição.
Não restava dúvida na sua mente. Jesus tinha de morrer. Ele era o cordeiro de Deus
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 91

que tira o pecado, não só duma nação, mas do mundo inteiro (João 1:29). Muita coisa
se tinha tornado clara para Maria durante o tempo em que convivera com Jesus,
enquanto se enchia das Suas palavras. Tinha-se desenvolvido uma intuição espiritual e
uma compreensão das coisas que outras pessoas não viam.
Na Palavra de Deus, a fé e as obras são inseparáveis. Maria sentia isso nas
profundezas da sua alma. Sentia um desejo imenso de fazer alguma coisa. Queria
expressar o seu reconhecimento ao Senhor, provavelmente pela última vez. As suas
mãos deslizaram ao longo do vestido. Tocaram no pequeno vaso escondido ali. Estava
decidida.
O perfume era muito valioso. A quantidade que estava no vaso representava o
salário anual de um trabalhador (Mat. 20:2). O nardo era um óleo para
embalsamamentos. Isto pertence a um funeral, pensou. Não! Ela reprimiu este
pensamento tão depressa quanto ele viera à sua mente. Era o Senhor vivo que devia
receber a sua adoração, não o morto. Era agora que tinha de fazer algo para Ele.
Rapidamente levou a cabo o seu plano, como se receasse que alguém a impedisse
de o fazer – como não restasse muito tempo.
As aromáticas gotas de perfume derramadas sobre os pés de Jesus, eram uma
expressão da gratidão de Maria. Sem retraimento, ela apresentou toda sua alma. Esta
homenagem foi sem palavras. Como é que poderiam umas simples palavras expressar
os seus muitos pensamentos? Às vezes é mais fácil traduzir pensamentos muito
profundos por um olhar ou movimento, do que por palavras.
Os que a rodeavam foram completamente esquecidos, enquanto ela estava imensa
nos seus pensamentos a respeito do Senhor. Afavelmente ela secou-Lhe os pés com os
cabelos. De repente, a sala ficou silenciosa. A conversa tinha cessado. O forte odor
tinha penetrado na sala – encheu toda a casa. Maria, que desejara honrar o Senhor sem
ser notada, colocara-se, com a difusão do cheiro, exatamente no centro das atenções. O
que é que ela tinha feito?
O que para o Mestre era um doce perfume, constituía-se ofensivo para as narinas
de Judas Iscariotes. A sua crítica foi mordaz: "Por que não se vendeu este perfume por
trezentos denários e não se deu aos pobres?" Outros apoiaram-no. Embora Judas
parecesse altruísta, o seu interesse nos pobres era um pretexto. Iria antes pôr o
dinheiro num saco que transportava, de modo a poder usá-lo para si mesmo.
Uma vez mais as boas intenções de Maria foram mal interpretadas, como naquela
ocasião em que havia sido acusada de preguiçosa pela irmã (Luc. 10:40,41). Jesus,
todavia, conhecia os seus motivos. Também naquela altura a defendera. Neste
momento disse: "Deixai-a, para que a incomodais? Ela fez algo de bom e de belo por
mim'' (Mar. 14:6). Maria foi a única que reconheceu que o tempo dEle na terra estava
a chegar ao fim. Tudo o que pudesse fazer por Ele era mais importante do que
qualquer outra coisa.
Jesus não somente a defendeu, mas louvou-a: ''Ela fez o que podia''. (Mar. 14:8).
O fato de ouvir atentamente as Suas palavras tinha ajudado Maria a transformar-
se numa mulher com visão espiritual. Tinha-se tornado uma mulher que entendia os
segredos de Deus. Sabia precisamente o que fazer, e quando.
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 92

As palavras do Mestre não só revelaram os pensamentos de Maria como também


tornaram clara a maneira como Deus via as coisas. O Seu maior louvor era reservado à
pessoa que se interessava pela Sua Palavra e que agia na base dela. Tal pessoa não
precisava temer a crítica dos seus semelhantes. Não precisava de se retrair quando eles
a importunavam. Ela dispunha do melhor advogado possível – o próprio Jesus.
Mais uma vez, Maria não foi repreendida. Pelo contrário, nesse preciso momento,
Jesus erigiu-lhe um monumento que perduraria ao longo das gerações. Era melhor do
que qualquer monumento de pedra ou de bronze. "Em verdade vos digo: onde for
pregado em todo o mundo o evangelho, será também contado o que ela fez, para
memória sua" (Mar. 14:9).
O aroma do perfume de Maria tem permeado o mundo inteiro – mesmo até aos
nossos dias. Milhares, não, milhões têm-na louvado. Têm-se sentido estimulados por
ela, porque fez o que podia. Maria foi uma mulher com intuição para escolher o
melhor.

Maria de Betânia, uma mulher com intuição para escolher o melhor


(João 12:1-11; Mateus 26:13).

Perguntas: .
1. Qual é a primeira e impressionante qualidade de Maria revelada em Lucas
10:38-42?
2. Qual foi a apreciação de Jesus acerca dela?
3. Considere a vida de Maria à Luz de Mateus 4:4 e 1 Coríntios 1:9 e enumere os
pontos que descobriu.
4. Que pensamentos tem depois de ler a respeito de Maria em João 12:1-8? (Leia
também Mateus 26:6-13 e Marcos 14:3-9).
5. Enumere as coisas que Jesus disse acerca de Maria. Qual destas o impressiona
mais? Por quê?
6. A que aspectos da vida dela acha que devia dar mais atenção na sua própria
vida? O que é que vai fazer a esse respeito?
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 93

A SAMARITANA, UMA MULHER QUE DISSE


SIM A JESUS

"Cristo levou-me ao conhecimento da empolgante realidade... o que isto


significa numa vida de libertação, perspectiva, alegria e mudança geral
desconhecidas, não pode dizer-se em palavras''. Guilhermina, anterior
Rainha da Holanda*

João 4:4-26
João 4:39.42

Com relutância, ela pôs ao ombro o cântaro vazio e, debaixo do escaldante sol do
meio-dia, iniciou a sua caminhada ao longo da poeirenta estrada de Sicar. Aborrecia-a
mesmo só a idéia desta jornada, mas não tinha alternativa. Era pobre demais para
pagar a uma criada, e sendo mulher de má reputação, não ousava ir ao poço mais tarde
quando o ar estivesse refrescado. Não podia arriscar-se a encontrar-se com outros
habitantes da aldeia, quando estes iam ao poço buscar a sua porção diária de água.
Ela havia trocado a sua pureza feminina pela imoralidade, e pagava diariamente
por isso. Era uma marginalizada sem amigos. Esta era uma conseqüência do tipo de
vida que levava. E numa aldeia pequena tornava-se particularmente notado.
Quando ainda ia longe, viu um homem sentado junto ao poço. Mesmo à
distância, podia ver que Ele estava cansado. À medida que se aproximava, pôde ver
pelo Seu rosto e feições que se tratava de um judeu. Perguntava a si mesma o que teria
trazido este Homem a tal lugar. Os judeus tinham um ódio tão profundamente
enraizado contra os seus irmãos de raça, os samaritanos, que evitavam a todo o custo
passar por Samaria. Quando viajavam da Judéia para a Galiléia, faziam geralmente um
desvio em torno da região. "Os samaritanos", diziam eles, ''não têm parte na vida
depois da morte''. E, ''Aquele que come pão dum samaritano é como alguém que come
porco''. Nada podia ser mais desprezível.
A sua surpresa aumentou quando o Homem lhe pediu um favor. Ele era diferente
de qualquer outro homem – seria a Sua voz? Ele falava com autoridade, mas não com
ar ditatorial. Ou seria a Sua expressão, o Seu interesse humano?
Sentia-se um tanto perturbada, pouco à vontade na presença da Sua forte
personalidade. É compreensível que não O reconhecesse como Mestre, pois não só os

*
Wilhelmina. Lonely, But Not Alone (Só, Mas Não Solitária) 1960, McGraw-Hill Inc., Nova York.
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 94

judeus nada tinham a ver com os samaritanos, mas era mesmo proibido a um homem
judeu falar com uma mulher na rua. "Seria melhor que os Artigos da Lei fossem
queimados, do que o seu conteúdo ser revelado a uma mulher, em público", diziam os
seus rabis.
Por que é que então este homem procurava entrar em contacto com ela? – não só
como samaritana, mas também como mulher?
Jesus não fez caso da sua pergunta. Despertou-lhe curiosidade, falando a respeito
da água viva. Se ela tão-somente soubesse com quem estava a falar! – as palavras
"água viva'' impressionaram-na. Isso constituiria a resposta ao seu problema.
Significaria que já não eram precisas aquelas viagens diárias e penosas para ir buscar
água. Ela não compreendia que nem a água de todos os oceanos do mundo seria
suficiente para apagar a sua sede. Uma solução para o seu problema material não era
uma resposta autêntica. Era a sua alma que estava mais profundamente necessitada.
E era isso exatamente que Jesus visava. Queria torná-la consciente da
necessidade de satisfazer essa carência. Ele tinha vindo a Samaria com tal propósito.
Ela não O entendia. Absorvida como estava com os seus problemas diários, tinha
negligenciado as necessidades da alma. "Dá-me alguma dessa água, a fim de que eu
não volte a ter sede'', disse ela. "Então", continuou, "não precisarei vir todos os dias ao
poço''.
A resposta de Jesus foi um pedido simples mas realmente desconcertante: "Vai,
chama o teu marido e vem cá".
O teu marido, o teu marido – mas ela não tinha marido legal. Sentiu-se assustada
ao ouvir aquele Homem dizer tais palavras, principalmente depois da conversa ter
corrido tão bem. Ela era bastante experiente no que respeita a homens, mas não pôde
mentir a Este. "Não tenho marido'', respondeu ela. "Não sou casada".
"Isso é verdade. Tiveste cinco maridos e não és casada com o homem com quem
vives agora''.
Isto era terrível. Será que não havia segredos para este Homem? A sua vida era
como um livro aberto para Ele (Heb. 4:13). E contudo, nem a desprezou, nem a
censurou. Que estranho! Todavia, Ele tinha-a tornado consciente da triste mancha da
sua vida – o pecado. Além disso, Ele afirmou que não lhe daria a tão desejada água
viva, até que este pecado tivesse sido removido. Como uma mulher religiosa, estava
plenamente consciente das leis que dizem respeito ao adultério. Contudo, até ali havia
sido capaz de justificar as suas ações com desculpas.
Mas esse tempo tinha passado. Agora via claramente que a sua vida tinha sido
governada pelo pecado. Pecado este que não podia continuar aos olhos de Deus.
Pecado que tinha de ser condenado – forçosamente.
"Senhor, vejo que és Profeta", foi tudo o que ela pôde dizer. Depois começou a
falar sobre religião – como as suas formas e controvérsias dividiam as pessoas. A
religião mostrara-se sempre um tópico interessante e bastante seguro. Uma pessoa
podia gastar horas sem fim em discussões, arranjando grandes argumentos em que
pudesse esconder perfeitamente os seus verdadeiros sentimentos.
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 95

Jesus manteve-se firme no tema principal da conversa. Não se quis desviar do


propósito que O tinha trazido ali. Mostrou-lhe por algumas palavras que a religião não
era uma questão de forma, mas de conteúdo. Deus procurava as pessoas que O
buscassem de todo o coração, que quisessem servi-lO em absoluto. A única coisa que
tinha valor aos olhos de Deus era a fé. Era isso que Ele lhe estava a dizer. Ele não usou
a afirmação formal "Em verdade, em verdade vos digo..." como fizera com o culto
Nicodemos (João 3:5), mas pediu simplesmente: "Mulher, crê em Mim''. O resultado
desejado foi o mesmo – um novo nascimento.
Um anseio pelo Messias encheu então o seu coração. O Cristo – Ele esclareceria
tudo o que ainda era obscuro e enigmático. Foi exatamente aí que a conversa atingiu o
seu clímax. Jesus assegurou-lhe que o seu anseio estava satisfeito; o futuro podia
tornar-se presente, ali e então.
"Eu sou o Messias''. Cristo não era uma figura no futuro distante. Era carne e
sangue. Estava diante dela. Aquilo que Ele não tinha dito a qualquer outra pessoa de
um modo tão claro, revelou-o a ela: "Eu sou o Cristo".
Por ela, unicamente por ela, tinha Ele vindo à tão odiada Samaria. Por ela havia
posto de lado as regras e preconceitos judeus. A hora messiânica tinha chegado. O
tempo da discriminação acabara. Havia uma solução para o ódio racial e para a
controvérsia religiosa. Todo o ser humano, mesmo o mais pecador, podia agora vir a
Deus através dEle, sob duas condições:
Primeiro, tem de reconhecer o seu pecado (Rm. 3:23) e confessá-lo (Rm.
10:9,10). Tem de reconhecer que não pode existir diante de um Deus justo, pois Ele é
santo. Segundo, tem de confiar em Jesus Cristo - isto é, crer n'Ele. É Ele o Mediador
entre Deus e o homem (João 14:6). É a ponte sobre a brecha que o pecado abriu entre
o homem e Deus.
Num momento, ela viu tudo isso claramente. Era uma pecadora, horrível,
desprezível. Ele era cheio de amor e compreensão – de perdão. Compreendeu então
que foi isso que O levou a procurá-la. Aceitou-O no seu coração. Disse sim a Jesus
Cristo.
A Rainha Guilhermina da Holanda, outra mulher que disse sim a Cristo, escreveu
uma impressionante auto-biografia, no fim da sua vida, intitulada "Lonely, But Not
Alone" (Só, Mas Não Solitária). Terminou esse livro com o que se chama a revelação
da sua vida – que Cristo quer entrar no coração humano e governá-lo. As suas últimas
palavras são uma citação bíblica: "Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a
minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei e ele comigo" (Ap.
3:20). A Rainha Guilhermina considerava-se uma filha de Deus, e com razão, pois
havia recebido Cristo como seu Salvador e Senhor (João 1:12). Qualquer pessoa que
recebe Cristo desse modo torna--se uma nova criação (2 Cor. 5:17). Há uma grande
diferença entre as condições sociais da samaritana e as desta rainha. Todavia, as suas
experiências mais profundas foram iguais, uma vez que receber Jesus Cristo como
Salvador é a experiência mais importante de qualquer vida humana.
A mulher com um passado desfeito e arruinado, ficou inteiramente liberta. Ficou
livre do castigo do pecado e, portanto, aos olhos de Deus, livre da mancha do passado.
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 96

A crítica das pessoas já não precisava de a ferir. Dali em diante, podia olhar
livremente para elas – sem vergonha. Aquele que julgava as pessoas, não pela
aparência exterior, mas pelo coração, tinha-a declarado livre de culpa. Como é que
então as pessoas poderiam acusá-la?
A solução para os seus problemas foi total – espiritual e material. A fonte de água
viva tinha-a limpo, e apagado a sua sede, e trouxe-lhe uma felicidade que ela nunca
julgara possível.
Ela não ia certamente guardar isto só para si. Esqueceu-se da razão que a levara
ao poço. Havia algo mais importante em jogo. Ela regressou rapidamente à aldeia para
comunicar a maravilhosa notícia de que o Messias tinha chegado. O pecado podia ser
perdoado. Precisava dizer isto às pessoas imediatamente!
Dirigiu-se a elas com a natural clareza e liberdade de alguém que esteve na
presença de Deus, contando-lhes a sua experiência.
"Vinde comigo", pediu ela, "conhecer o Homem que sabia todo o meu passado.
Ele tem de ser, sem dúvida, o Cristo".
A sua timidez havia desaparecido. Fez referência ao seu passado desonroso sem
qualquer hesitação ou receio. Era impressionante ver como essa vida passada, da qual
tanto se envergonhara, se tornava agora elo de ligação com o presente feliz.
As pessoas, vendo a mudança que se operara nela, apressaram-se a ir da aldeia ao
poço de Jacó. Lá encontraram o Messias. Jesus fez por eles o que tinha feito pela
mulher. Libertou-os. Deu-lhes uma nova vida – vida eterna.
Eles ficaram impressionados e pediram-Lhe que ficasse mais tempo. Ele acedeu.
Ainda mais pessoas vieram ouvi-lo, e mais – e mais.
Diziam depois à mulher: "Nós cremos, não por causa do que tu nos disseste, mas
porque nós próprios O ouvimos. Estamos pessoalmente convencidos de que Ele é o
Salvador do mundo''. Isso era bom. Era Cristo que devia receber atenção, não a
mulher. Era Cristo que devia receber a glória. Ela foi apenas um dedo que apontou
para Ele.
Quatro anos se passaram. A terra e os céus tinham-se coberto de densa escuridão
no dia em que o inocente Jesus de Nazaré, Deus e Homem, foi crucificado.
Depois da crucificação, os anjos proclama a Sua ressurreição – e quarenta dias
mais tarde, no momento da ascensão, anunciaram a Sua segunda vinda à terra. Alguns
dias depois, o Espírito Santo desceu do céu. Primeiro sobre indivíduos, e então sobre
grandes multidões. Milhares e milhares de pessoas experimentaram o início de uma
nova vida.
Depois surgiu a horrível perseguição aos novos crentes. Satanás não soltou – nem
solta – facilmente a sua presa. Quando se tornou demasiado perigoso para os cristãos
continuar em Jerusalém, eles fugiram para a Judéia e Samaria.
Iniciou-se um grande movimento evangelístico em Samaria. Foi tão bem
sucedido, que se tornou necessário um evangelista para continuar o ministério.
Quando Filipe chegou e começou a pregar a grandes multidões, muitos aceitaram
Cristo. Mais uma vez houve alegria na cidade, culminando com o derramamento do
Espírito Santo. As diferenças entre os judeus e os samaritanos foram abolidas para
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 97

sempre. O Evangelho foi derramado sobre o mundo. As boas novas passavam de


cidade para cidade. E foi por a samaritana estar disposta a partilhar, que o movimento
evangelístico em Samaria ficará eternamente associado a uma mulher.
A história da Samaritana ilustra claramente que, embora uma pessoa sem Cristo
seja um campo missionário, ela mesma se torna missionária no momento em que O
recebe – missionária para Ele e pela Sua graça. Quando o Filho de Deus entra na vida
de uma pessoa, faz uma grande diferença.

A Samaritana, uma mulher que disse sim a Jesus


(João 4:4-26,39-42)

Perguntas:
1. Em seu entender, por que é que a Samaritana não ia buscar água mais tarde,
quando estivesse mais fresco? (A hora sexta corresponde ao meio-dia).
2. Na sua opinião, por que é que Jesus lhe disse: "Vai, chama o teu marido e vem
cá"?
3. A mulher falou sobre assuntos religiosos secundários. Qual o assunto real que
Jesus procurou salientar perante ela? (Ler Romanos 3:23; 10:9-11).
4. Examine esta história à luz de João 1:12 e de Apocalipse 3:20. Quais são as
suas conclusões?
5. Compare João 4:39-42 com 2 Coríntios 5:17 e enumere os pontos que
encontrou.
6. Quais lhe parecem ser os dois maiores resultados da conversa desta mulher
com Jesus? (Verifique também Atos 8:1-17).
7. O que é que existe nesta história em relação a crer em Cristo e testemunhar
dEle que o tenha pessoalmente estimulado? Que atitude prática irá tomar na vida como
resultado disso?

DORCAS, UMA MULHER QUE AMAVA A DEUS

''Quando uma jovem aceita de fato ficar solteira, então isso significa uma tal
libertação para ela, que nessa situação pode tornar as suas peculiares
características femininas úteis a muitos'' Dr. Paul Tournier*

Atos 9:36-42
Romanos 12:4-8
Tiago 1:27

Dorcas não era uma mulher particularmente impressionante. A única coisa que
sabia fazer bem era costurar, e quem é que consideraria isso uma coisa notável?
Muitas mulheres podiam fazer outro tanto.

*
Tournier, Paul. The Healing of Persons (A Cura das Pessoas) 1965, Harper & Row – Nova Iorque, N. I.
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 98

Dorcas era uma mulher de um só talento. Só tinha um dom, e mesmo esse era
insignificante. Teria sido natural que ela pensasse: Não sou profetisa como Miriã, e
não posso governar um país como Débora. Não sou uma mulher capaz de
desempenhar um papel de relevo na história do meu país. Não pertenço à categoria
das mulheres talentosas.
Parece que o casamento e a maternidade a tinham também deixado de lado. De outro
modo, ela teria podido influenciar indiretamente a sociedade através do marido ou de
um filho. Não era verdade que na história do seu país o destino de um rei de Israel fora
muitas vezes decidido pela mãe?
Contudo, havia uma coisa em que Dorcas ultrapassava todas as outras mulheres
da Bíblia. É ela a única que foi chamada discípula! Dorcas era uma discípula, uma
seguidora de Jesus, e isso fazia toda a diferença. Ela abriu-Lhe o seu coração antes de
O seguir. Ele tornou-Se o seu Salvador, antes de ser o seu Senhor. E embora ela o
tivesse recebido como Redentor, não se contentou com isso. A fé é mais do que
simples comunhão com Deus. A pessoa usa-a para servir os outros – a verdadeira fé
expressa-se em obras. Aquele que segue a Cristo é movido na direção das pessoas,
exatamente como Ele era. Torna-se criativo e quer fazer todo o possível para dar à sua
vida o máximo de significado. Portanto, a discípula Dorcas fez o que brotava
naturalmente dela. Costurou, especialmente para as viúvas pobres. Aplicou toda a sua
capacidade nesse trabalho.
Jope (agora Jafa), um porto que fica no Mar Mediterrâneo, deve ter tido uma
grande quantidade de viúvas. Durante a estação do mau tempo, muitos dos pescadores
naufragavam e afogavam-se. Essas mulheres haviam perdido não só os maridos, mas a
sua fonte de receita. Não havia qualquer Segurança Social naqueles tempos, mas isso,
na verdade, não se tornava necessário, pois, repetidamente, Deus tinha dito ao Seu
povo que cuidasse das viúvas e dos órfãos (Êx. 22:22-24; Dt. 10:17-18). Se
obedecessem às ordens de Deus, então as viúvas não teriam quaisquer necessidades e
o povo desfrutaria bênçãos abundantes, a recompensa que Deus lhes havia garantido
(Dt. 14:29; 24:19).
Deus tinha prometido ser o marido delas (Is. 54:4,5). Seriam alvo de cuidado e
proteção especiais da Sua parte. Sendo uma discípula, Dorcas sabia o que dava prazer
ao seu Senhor, ou seja, cuidar deste grupo de pessoas em que Ele estava
particularmente interessado. Portanto, ela não executava o seu trabalho com
indiferença. Não era simplesmente um passatempo. Fazia-o com algo definido em
mente. Fazia-o de todo o coração porque amava a Deus. Quando Jesus entrou no seu
coração, Dorcas tornou-se uma mulher livre. Ele havia-Se definido a Si mesmo como
a Verdade (João 14:6). Mais tarde, afirmou que aqueles que eram libertados por Ele,
ficavam verdadeiramente livres (João 8:32,36). Dorcas agia nesta base de liberdade.
A Bíblia dá lugar ao pensamento de que Dorcas era solteira, mas não parece que
ela se tenha sentido frustrada por sentimentos de inferioridade. Não tinha qualquer
desejo de competir em importância com as mulheres casadas, ao seu redor. Não tinha
ciúmes das mães que possuíam filhos.
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 99

Dorcas tornou-se uma mulher que estava muito além da sua época. Sentiu-se tão
plenamente realizada na vida trabalhando sozinha, que foi única em relação ao tempo
em que viveu. Muitas das mulheres que moram em Jafa hoje em dia ficariam
certamente contentes se pudessem trocar de lugar com ela. Dorcas satisfez uma
necessidade real através da costura. Exigia pouco para si mesma. Vivia para os outros.
Era essa a razão da sua própria felicidade.
"Aquele que quer conquistar a felicidade tem de a partilhar. A felicidade nasceu
como os gêmeos", disse mais tarde Lord Byron, poeta inglês.

Uma mulher que é verdadeiramente livre pode ser de fato ela própria e pode
desenvolver o seu caráter da maneira que Deus a criou singularmente.
Aquele que é livre intimamente é uma pessoa feliz, que irradia essa
felicidade. A sociedade não pode passar sem tais pessoas. Uma mulher
assim não sente necessidade de lutar por seus direitos. Não tem de se
esforçar para se tornar alguém – já é alguém.

Muitas das viúvas de Jope andavam por ali vestidas com vestes feitas por Dorcas.
A gratidão para com ela ia aumentando. Dorcas, que provavelmente estava só na vida,
era muito capaz de dar apoio moral e espiritual às viúvas. Entendia as mulheres
solitárias e podia conversar com elas. Em conseqüência, utilizava esse seu potencial.
Agindo assim, tornou-se uma pessoa de importância na Igreja. Então, de repente,
ocorreu a tragédia. Dorcas adoeceu e morreu.
Alguém se lembrou de que Pedro estava trabalhando em Lida, a uns escassos
dezesseis quilômetros, e mandou imediatamente dois homens para o trazerem. Sabiam
que Pedro possuía um poder sobrenatural. Não tinham eles ouvido que as pessoas
doentes ficavam curadas, quando a sombra de Pedro pousava sobre elas? (At. 5:15)
Não tinha ele, juntamente com João, curado o paralítico? (At. 3:1-10) Todas as suas
esperanças se concentraram nele. Pedro veio imediatamente. No quarto superior, onde
jazia o cadáver, Pedro viu-se rodeado por mulheres chorosas. Estas disseram-lhe quão
profundamente sentiram a falta de Dorcas, quão desoladas se sentiam sem ela.
Mostraram-lhe as roupas que ela lhes havia feito.
Muitas vezes, só se dizem coisas boas a respeito dos mortos. Todavia, neste caso,
era perfeitamente evidente quanto sofriam os que ficavam, com a perda daquela vida.
O amor de Dorcas tinha despertado também neles um grande amor por ela. Que outra
coisa se poderia esperar? Pedro fez o que tinha visto fazer ao Senhor numa situação
semelhante (Mar. 5:40-42). Pediu a todos que abandonassem o quarto, orou então e
trouxe de novo à vida o corpo de Dorcas, por meio do poder de Deus.
A Bíblia registra sete casos de pessoas que foram ressuscitadas. Dorcas foi a
única mulher adulta entre elas. A notícia da sua ressurreição tornou-se o assunto do
dia, em Jope. "Ouviram?" exclamavam as pessoas umas para as outras, "Dorcas está
viva de novo! Pedro ressuscitou-a".
Então aconteceu mais alguma coisa notável. As pessoas reconheceram que Deus
havia realizado um milagre, portanto glorificaram o próprio Deus, em vez de Dorcas
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 100

ou Pedro. Através destes acontecimentos, as pessoas reconheceram o vazio das suas


próprias vidas. Também elas desejavam crer no Senhor Jesus. Começaram a entender
alguns dos valores reais da vida. Queriam pertencer-Lhe como Dorcas. Desejavam
tornar-se cristãs, novas pessoas, com uma nova perspectiva na vida.
"Que é isso na tua mão?", tinha, há muito tempo, perguntado o Senhor a Moisés
(Êx. 4:2-5). Ele respondeu: "Uma vara". "Vai e trabalha com essa vara", disse Deus, "e
serás meu servo''.
Se Deus tivesse feito a Dorcas a mesma pergunta, ela teria respondido: "Uma
agulha e uma linha, Senhor". Então Ele ter-lhe-ia mostrado que eram esses
precisamente os instrumentos com que podia servi-lO.
A vida, morte e ressurreição de Dorcas ajudaram a disseminar o Evangelho.
Pedro não pôde deixar Jope durante algum tempo, porque era solicitado pelas pessoas
que desejavam saber mais acerca de Deus.
Dorcas começou um movimento que se espalhou para além das fronteiras da sua
cidade e do seu país. Indiretamente tornou-se uma grande evangelista. Hoje, há
Sociedades Dorcas em todo o mundo. A Sociedade Internacional Dorcas, dos Estados
Unidos, é a maior de todas. Milhões de pessoas necessitadas são alimentadas e
vestidas por esta Sociedade.
Quem poderá contar as inúmeras mulheres que foram influenciadas pela vida de
Dorcas? O seu belo exemplo jamais se extinguirá. É isso o máximo que qualquer
discípulo pode desejar.

Dorcas, uma mulher que amava a Deus


(Atos 9:36-42; Romanos 12:4-8; Tiago 1:27)

Perguntas:
l. De acordo com Atos 9:36, o que era típico da vida de Dorcas?
2. Estude a sua dedicação à luz de Mateus 25:14-29 e Romanos 12:4-8, e
enumere os pontos que descobriu.
3. Qual poderá ter sido o pano de fundo da sua dedicação para com as viúvas?
(Deuteronômio 10:17,18; 14:29).
4. Descreva em poucas palavras o que aconteceu a Dorcas.
5. Qual lhe parece ser o resultado mais importante da sua ressurreição?
6. Quais os fatos desta história que mais o tocam? Como é que eles irão modificar
a sua vida?

LÍDIA, UMA COMERCIANTE QUE DEU A DEUS O PRIMEIRO


LUGAR

"Não, queridos irmãos, eu ainda não sou tudo o que devia ser, mas estou a
concentrar todas as minhas energias nesta única coisa: esquecendo o
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 101

passado e olhando para o que está diante de mim, esforço-me por chegar ao
fim da corrida e receber o prêmio..." Filip. 3:13,14, The Living Bible

Atos 16:11-15,40

O sábado tinha começado em Filipos.


Filipos era uma importante cidade da Macedônia, centro comercial entre os
Mares Egeu e Adriático. Esta localização chave constituía a ponte que ligava o Médio
Oriente à Europa por meio da estrada nacional romana – a Via Ignácia.
Uma mulher asiática dirigiu-se rapidamente para fora da cidade, até a um certo
lugar junto ao rio, onde ia decorrer uma reunião de oração. A mulher Lídia – da Lídia
– era uma pessoa importante. Dirigia o seu próprio negócio. Importava púrpura, um
tecido muito valioso que era usado unicamente pelos ricos e reis, da sua cidade de
Tiatira, na Ásia Menor.
Lídia era muito respeitada. Vivia numa casa espaçosa, com muitos servos. Não
admira que fosse uma comerciante bem sucedida, uma vez que o mercado lídio de
púrpura tinha fama no mundo greco-romano. Os seus produtos eram avidamente
procurados por toda a parte. Lídia era uma mulher inteligente, de mente lúcida, que
realizava o seu trabalho com entusiasmo e determinação. A sua profissão permitia-lhe
muitos contatos com pessoas interessantes. E ser uma mulher independente,
especialmente naquele período histórico, constituía uma ocupação excepcionalmente
interessante.
Ao contrário de muitos negociantes, ela não se deixou absorver totalmente pelo
seu trabalho. A despeito das muitas obrigações que tinha, conseguia arranjar tempo
para coisas de maior importância. Não estava satisfeita, como acontecia com muitos
dos seus concidadãos, com a adoração de Apolo. Ela adorava o único Deus
verdadeiro. Dedicava-Lhe algum tempo dentro do seu apertado horário. Lídia
reconhecia que, como comerciante, precisava da direção dEle, e era por isso que se
dirigia para essa reunião de oração.
Nesse dia, a reunião era muito pequena, e só para senhoras. Aparentemente, não
havia dez homens judeus em Filipos, o número requerido para uma sinagoga, desse
modo, as mulheres reuniam-se ao ar livre. Naquele dia visitaram a reunião alguns
hóspedes inesperados – homens cultos. Paulo, o grande evangelista e apóstolo
missionário, e os seus companheiros Silas, Lucas e Timóteo tinham chegado à cidade,
vindos de Troas.
Inicialmente, Paulo formulara um plano diferente. Tinha desejado ir para Bitínia,
mas o Espírito de Jesus impediu-o, através de uma visão, de noite. Ficou-lhe muito
claro que era absolutamente urgente que ele fosse à Macedônia (At, 16:7-10). Por isso,
ali estava ele em Filipos, dirigindo-se àquelas mulheres.
Falou-lhes acerca do Deus de Abraão que tinha enviado o Seu Filho a este mundo
a fim de remir as pessoas e Se tornar a ponte de ligação através da brecha que o
pecado criara entre Deus e o homem. Disse-lhes que pela fé em Jesus Cristo havia
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 102

redenção, vida eterna e uma nova perspectiva para a vida (At. 3:13-16; Rom.
8:1,16,17). Lídia escutava atentamente com todo o seu coração.
Pascal disse que Deus criou um vácuo com a Sua forma no coração humano, o
qual só pode ser preenchido pelo próprio Deus. Lídia estava aberta às coisas de Deus,
porque o seu o Rei seu coração ansiava por esta experiência de fé mais profunda. O
conhecimento de Lídia a respeito de Deus era superficial. Ela não O conhecia como
Pai em Jesus Cristo. Todavia, Ele pôde atingir facilmente o seu coração, pois já estava
assente sobre Ele, e ela sensível à Sua Palavra. Lídia precisava dar atenção à Sua
Palavra, porque quando Deus dá um passo na direção de uma pessoa, espera depois
que o indivíduo dê o passo seguinte. Deus evidencia-Se então dando o próximo passo.
A semente da Palavra caiu no seu coração como em terreno preparado (Lc. 8:15),
e resultou num novo nascimento. Ela descobriu o elo que lhe faltava na sua
experiência – uma fé pessoal em Jesus Cristo. Lídia tornou-se cristã. Para essa mulher
enérgica isso significava que tinha de testemunhar abertamente desse fato, e sem
demora. Ela queria que todos conhecessem a inefável felicidade que existia em si. Foi
batizada. Através desse ato, afirmou sem palavras: "Identifico-me com a morte e a
ressurreição de Jesus Cristo, e vou começar uma nova vida''.
Esta nova convertida atraiu outros para Cristo como um imã. E quem seriam os
primeiros a ouvir senão os da sua casa? Eles escutaram a Palavra e creram também.
Confirmaram igualmente a sua fé pelo batismo – e assim nasceu a primeira igreja de
Filipos.
Para Paulo, já não existia qualquer dúvida quanto ao motivo porque tinha sido
dirigido para a Macedônia. As pessoas iam nascendo de novo. Eram os primeiros
cristãos da Europa. Um novo continente se abria ao Evangelho – através de Lídia.
Em gerações futuras, uma multidão inumerável iria seguir o seu exemplo. Como
ela, iriam receber Cristo e multiplicar-se nas gerações seguintes. O entusiasmo de
Lídia por Deus produziu fruto nas vidas de outros. O número de cristãos aumentou por
intermédio dela. É isto o que Deus espera de todos os cristãos. Na criação, Ele
ordenou aos homens e aos animais que se multiplicassem biologicamente para
encherem a terra. Eles deviam produzir fruto segundo a sua espécie (Gên. 1:24-29).
Quando Jesus falou aos discípulos acerca de produzir frutos (João 15:1-16), referia-Se
a pessoas que poderiam vir espiritualmente à vida por meio da semente da Sua Palavra
(João 17:20). Um cristão pode multiplicar-se espiritualmente, trazendo outros a Cristo.
Lídia fez isso.
Ser cristã era um assunto muito prático para Lídia. Não se tornou freira, nem
mesmo evangelista de tempo integral. Continuou na sua profissão. Tornou o seu nome
respeitado, submetendo-se ela própria, bem como o seu negócio e os seus bens ao
máximo no serviço de Cristo.
A primeira coisa que ela submeteu foi o lar. Insistiu com Paulo e com os seus
companheiros para ficarem ali. O fato de eles terem aceitado provou que tomavam a
sério a sua fé. Deste modo também se identificou com o Evangelho perante os não
crentes. Não tinha vergonha de Cristo. Nem mesmo se envergonhou quando Paulo e
Silas, magoados e feridos, voltaram da prisão onde haviam sido postos ilegalmente.
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 103

Todos na cidade souberam que a distinta Lídia considerava um privilégio alojar


aqueles homens.
Deus deseja que os cristãos abram os seus lares aos outros e se sirvam uns aos
outros com o que têm recebido dEle. Deseja que eles se revelem bons administradores
dos bens materiais que lhes confiou. Aqueles que são hospitaleiros, reconhecerão mais
tarde, para sua surpresa, que, por vezes, sem o saberem, alojaram anjos (Heb. 13:2).
Abraão teve essa experiência (Gên. 18:1-5; 19:1). Lídia também compreendeu isso,
embora não ficasse registrado em tantas palavras.
Desde então, os lucros de Lídia não seriam um fim em si mesmos, mas um meio
de levar mais longe o Evangelho. Lídia venderia púrpura para glória de Deus. Era Ele
que estava à frente na sua lista de prioridades. Ela não ocupava só uma posição chave
no aspecto social, mas também sob o ponto de vista geográfico. As notícias
espalhavam-se depressa a partir desta cidade comercial situada sobre várias estradas
internacionais. Dali em diante, não sairiam da casa de Lídia apenas sacos de púrpura,
mas também o evangelho iria propagar-se através do mundo civilizado.
É razoável admitir que uma mulher que pôde impressionar os apóstolos e os da
sua casa com as suas novas convicções não teria menos êxito em convencer aqueles
com quem contatava no seu negócio. Assim, o seu comércio tornou-se um duplo
sucesso.
Alguns anos mais tarde, quando Paulo escreveu à igreja de Filipos, da sua prisão
em Roma, mencionou as mulheres que trabalharam esforçadamente com ele na
propagação do evangelho (Filip 1:3-4; 4:3). Ele tinha provavelmente em mente Lídia e
outras que encontrara na sua casa.
Lídia havia recebido muito e usou-o para o Senhor. Ela constitui uma prova
tocante do quanto Deus pode fazer através de uma pessoa que Lhe tenha dado a
prioridade na vida.

Lídia, uma comerciante que deu a Deus o primeiro lugar


(Atos 16:11-15,40)

Perguntas:
1. Onde é que Lídia aparece pela primeira vez, e o que é que pode aprender dela?
2. O que é que aconteceu quando ela ouviu falar de Paulo? O que é que Deus lhe
fez, e o que é que ela própria realizou? (Ver também Provérbios 4:23 e Lucas
8:15).
3. Depois de ter ouvido falar Paulo, qual foi a sua pública confissão de fé? Qual
pode ser a única explicação para isso?
4. João 15:1-16 fala acerca de produzir fruto. Em que sentido é que a vida de
Lídia produziu fruto nas vidas de outros?
5. Explique quais foram os dois grupos de pessoas para os quais ela se tornou
instrumento no ministério do evangelho. (Leia também João 17:20 e 1 Pedro
4:9,10).
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 104

6. Como é que Lídia provou que deu prioridade às coisas de Deus? O que é que
aprendeu dela, e como é que pode aplicar isso na sua vida diária?

PRISCILA, UMA VALIOSA COLABORADORA NA PREGAÇÃO DO


EVANGELHO

"O 'Coemeterium Priscilla', uma das mais antigas catacumbas de Roma, e a


'Titulus Priscilla', uma igreja no Aventino, em Roma, recordam às pessoas do
século vinte uma mulher que viveu no início desta era, a quem Tertuliano
chamou, 'a Santa Priscila, que pregou o Evangelho'." A Autora

Atos 18:1-4
Atos 18:18.20
Atos 18:24-26
Romanos 16:3-5
l Coríntios 16:19

Priscila. O fato de o nome dela ter sido preservado na história prova que foi uma
mulher notável e distinta. O uso do seu nome antes do nome do marido é mais uma
afirmação disso. Por mais respeitada e interessante que pudesse ter sido a sua vida em
Roma, veio a terminar abruptamente em 50 A. D., quando o imperador Cláudio
expulsou todos os judeus da cidade.
Priscila e Áquila deixaram Roma e regressaram à Ásia Menor donde eram
naturais, fixando-se finalmente em Corinto.
Parecia que as suas vidas tinham atingido um ponto morto, mas o plano de Deus
para eles revelaria em breve um excitante recomeço. Uma fascinante nova vida de
serviço os aguardava.
Tinham deixado muito para trás – os bens, os amigos. Mas constituíam um casal
harmonioso e o seu matrimônio continuava intacto. Não precisavam da advertência
que mais tarde Paulo dirigiu aos coríntios que levavam uma vida livre, quando
escreveu: "Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade
tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas?" (2 Cor. 6:14)
Este casal tinha-se tornado um, de um modo muito especial, enquanto andavam juntos
na sua fé (Amós 3:3).
Tinham chegado a Corinto precisamente antes de Paulo. Ele tinha confiança neste
casal e desejava investir a sua vida neles a fim de que o Evangelho pudesse ser mais
espalhado.
Tanto Priscila como Áquila tinham aprendido um ofício. E mesmo os judeus
ricos faziam com que os filhos aprendessem uma profissão. Um sábio provérbio que
apoiava esta prática dizia assim: "Aquele que não cuida de ensinar uma profissão ao
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 105

filho, ensina-o a ser ladrão''. E não tinha Jesus de Nazaré, o carpinteiro, provado de
fato que o trabalho manual era digno?
Eles faziam tendas, e esta profissão revelou-se um elo entre eles e Paulo, pois
este fazia também. Não só trabalharam juntos, mas viveram igualmente juntos. Paulo
sabia bem que o melhor treino que podia dar provinha do fato de estarem em contato
dia após dia. Como Jesus, ele escolheu cuidadosamente os seus futuros cooperadores
(Mar. 3:14).
Trabalhavam numa pequena loja fora de casa, semelhante às que ainda hoje são
comuns no Médio Oriente. Fartavam-se de conversar à medida que os dias decorriam
e as peles de cabras e o couro se transformavam nos seus dedos em úteis coberturas de
tendas. Diariamente, Paulo talhava a Palavra de Deus para as suas necessidades. E eles
aprendiam a aplicá-la (Filip 4:9).
Priscila e o marido ouviam ansiosos os ensinos de Paulo. Estavam interessados
na mensagem que Paulo pregava na sinagoga ao sábado. Oravam a seu favor. E
quando atravessava problemas estavam ao seu lado, prontos a dar a vida por ele.
Priscila e Áquila não estavam só muito unidos pela fé e pela mesma profissão, mas
também no seu respeito e amizade por Paulo. Esta lealdade deve ter significado muito
para este homem solitário, pois pouco antes da sua morte, enviou-lhes as suas
saudações (2 Tim. 4:19).
Priscila, que observava os mínimos detalhes da vida de Paulo, estava tão
impressionada com o que ele fazia, como com o que dizia. Surgiu nela um desejo de
se tornar seguidora deste homem. Ele deixara bem claro como é que uma pessoa podia
seguir a Cristo (1 Cor. 11:1).
Sendo judeus ortodoxos, conheciam bem os ensinos do Velho Testamento. Mas o
novo conhecimento duma fé em Cristo e a obra constante do Espírito Santo no coração
humano eram verdades que davam novas dimensões à vida.
Paulo deixou Corinto após dezoito meses, durante os quais se formou uma igreja.
Priscila e Áquila acompanharam-no a Éfeso. Embora os judeus crentes ali
desejassem muito que ficasse, ele partiu pouco depois de haver chegado. Estava de
novo em marcha – desta vez para Cesárea.
O fruto do tempo que Paulo passara com Priscila e Áquila tornava-se agora
evidente. Ele já não era necessário em Éfeso, porque eles podiam ficar lá e substituí-lo
devidamente. O trabalho da sua vida estava a ser continuado por intermédio deles.
Isto tornou-se muito claro quando Apolo, um talentoso pregador judeu, de
Alexandria, chegou a Éfeso. Falou às pessoas a respeito de Jesus, com palavras
brilhantes e convincentes. O que pregava era verdade, mas incompleto. Priscila e
Áquila detectaram imediatamente onde é que estavam as falhas na sua mensagem.
Verificaram que a sua pregação terminava na obra de João Baptista. Ele não conhecia
a maravilhosa história do Evangelho – os resultados da morte e da ressurreição de
Cristo. Parecia que nunca tinha ouvido falar no derramamento do Espírito Santo.
Não condescendendo, convidaram-no prudentemente para o seu lar onde, de
modo muito pessoal, lhe explicaram todo o Evangelho. A Bíblia descreve isto em
simples palavras, mas a parte e a personalidade de Priscila não podem ser escondidos.
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 106

Ela não se retraiu por ser mulher, mas falou com tal amor e tato, que o culto e
dotado pregador aceitou avidamente as palavras do casal leigo. Era isto que
impressionava em Priscila, ela mantinha sob controlo a sua forte personalidade, ao
oferecer indiretamente a sua liderança.
Seria por isso que os homens com quem trabalhava a apreciavam? O que é que
Apolo ouviu de Priscila e do marido? Exatamente o que Paulo lhes havia dito a eles.
Provaram a Apolo, pelas Escrituras, que Jesus era o Messias prometido, o Cristo.
Priscila e Áquila tinham começado uma reação espiritual em cadeia semelhante
àquela sobre a qual Paulo escreveu mais tarde a Timóteo, seu filho na fé, "E o que de
mim entre muitas testemunhas ouviste, confia-o a homens fieis, que sejam idôneos
para também ensinarem os outros." (2 Tim. 2:2).
O que Paulo havia ensinado a Priscila – ou Prisca, como ele gostava de lhe
chamar – e a Áquila, tinham-no eles, por sua vez, transmitido a Apolo. Também este
começou a passá-lo a outros – às pessoas de Corinto! Assim, Priscila e Áquila
multiplicavam-se. Principiaram a produzir fruto espiritual. Tocaram uma vida, e essa
vida floresceu num discípulo (1 Cor. 16:12), em quem sabiam poder confiar para
pregar o verdadeiro e completo Evangelho também aos outros. Desse modo, enquanto
Paulo viajava para a Palestina antes de regressar à Ásia Menor, e enquanto Priscila e
Áquila abriam o seu lar em Éfeso para edificarem a igreja, Apolo alimentava os
cristãos em Corinto. A Palavra de Deus crescia rapidamente porque a semente dessa
Palavra caía em terreno preparado. Este apoio pessoal aos novos crentes causava
crescimento e nova vida.
Algum tempo depois, o casal já não era necessário em Éfeso. Uma igreja tinha
sido estabelecida ali, a qual podia continuar o seu trabalho. Deus chamou-os de novo a
Roma. Cláudio tinha morrido. Mais uma vez, o lar de Priscila e Áquila se tornou o
lugar de encontro para os cristãos, agora em Roma.
Paulo chamava-lhes agora os seus cooperadores em Jesus Cristo. Os antigos
discípulos haviam-se transformado em valiosos colaboradores. Eram recordados com
gratidão em todas as igrejas, tanto por judeus como pelos não judeus. A sua
permanência em Roma foi breve, provavelmente devido à horrível perseguição aos
cristãos no tempo de Nero.
Mas ficaram o tempo suficiente para começarem outra igreja. Aonde quer que
iam, vidas eram transformadas e renovadas à medida que as pessoas chegavam a
crerem em Jesus Cristo.
Voltaram a Éfeso. A tradição diz que Priscila e Áquila morreram finalmente
como mártires – decapitados! A Igreja Católica Romana comemora os seus nomes no
dia 8 de Julho na história dos mártires.
Priscila foi uma mulher e uma esposa notável. Muito provavelmente excedia o
marido, uma vez que a história e as inscrições mencionam o seu nome e não o dele.
Ela recebeu um lugar proeminente na história por causa da sua amizade e colaboração
a Paulo.
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 107

Seria ela mais famosa que o marido por ser mais inteligente, ter melhor educação
ou caráter mais forte? Ou ter-se-ia ela tornado cristã antes dele? Teria sido ela a levá-
lo a Cristo? A Bíblia não o diz.
Todavia, o seu casamento é fascinante. Estes cônjuges harmonizavam-se
perfeitamente em todos os aspectos da vida – na fé, nos interesses sociais e espirituais,
nas amizades, no lugar que a Palavra de Deus desempenhava nas suas vidas, tanto para
o seu estudo pessoal como na pregação e na sua prontidão em se darem aos outros sem
quaisquer restrições. O seu propósito na vida era darem-se totalmente a Deus.
A vida requereu muito de Priscila. Ela tinha de ter grande vitalidade para se
adaptar constantemente a novas situações. Fez grandes e cansativas viagens. Arriscou
a vida pela disseminação do Evangelho. Foi excepcional nesse período da história,
pois trabalhava com os homens, ao mesmo nível, e todavia, conquistou o seu amor e
respeito.
Não sucumbiu à tentação de se tornar uma figura dominadora dentro do
casamento. Honrou a relação que Deus deseja ver entre Ele e a união dos cônjuges (1
Cor. 11:3).

Séculos após a sua morte, a vida dela ainda revela às mulheres de hoje os
segredos de uma vida frutífera e de um casamento que se torna útil na proclamação do
Evangelho.
A vida de Priscila mostra também possibilidades que de há muito vêm sendo
negligenciadas a abertura do lar tanto para a evangelização como para a edificação da
Igreja. Teria Paulo aprendido isto com Priscila e Áquila? Pois ele serviu-se exatamente
desse meio no futuro, quando todas as outras portas se haviam fechado para ele (At.
28:30,31). Mesmo nos nossos dias Priscila inspira muitos a porem os seus lares ao
dispor para a expansão do Reino de Deus.
Muito mais importante do que o nome de Priscila na história é o fato de que
através das gerações ela tem estimulado as pessoas a seguirem Cristo – de várias
maneiras.

Priscila, uma valiosa colaboradora na pregação do Evangelho.


(Atos 18:1-4,18-20,24-26; Romanos 16:3-5; 1 Coríntios 16:19).

Perguntas:
1. Enumere todas as igrejas em que Priscila e o marido serviram. O que é que isto
revela a respeito do seu caráter?
2. Compare a dedicação de Priscila ao Evangelho com Atos 28:30,31. Qual foi a
oportunidade que se revelou única para o alargamento do Evangelho?
3. Estude o seu encontro com Apolo, à luz de 2 Timóteo 2:2 e enumere as suas
conclusões.
4. Leia Atos 18:24-26, cuidadosamente. Que condições tinha satisfeito Priscila a
fim de poder ser útil nessa situação?
Seu Nome é Mulher (Livro 1) 108

5. Faça o resumo de todas as oportunidades que Priscila utilizou para ser um


instrumento útil na pregação do Evangelho.
6. Em que sentido é que ela constitui um motivo de encorajamento e estímulo
para você? O que vai fazer para seguir o seu exemplo?

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