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RELATÓRIO DO 7º CASSICÍACO – CRÍTICA TEXTUAL DO NOVO

TESTAMENTO
 Evandro Baptista Buzzo – 2013

Definição de Crítica Textual e por que temos que praticá-la


Crítica textual é o estudo das cópias de um documento qualquer para se chegar
ao denominador comum, o autógrafo (texto original). Este estudo propõe
avaliar todas as evidências dos manuscritos existentes e chegar ao verdadeiro
propósito dos autores originais. No entanto, o autógrafo não existe mais e as
cópias sobreviventes divergem entre si em alguns pontos. Por isso, a prática do
estudo da crítica é de extrema importância.
Nesse sentido, observamos alguns benefícios da prática da crítica textual: (1)
poder usar com discernimento obras críticas que discutem questões textuais; (2)
ter confiança quanto aos textos que estudamos e pregamos; (3) avaliar as novas
versões que surgem, considerando o estudo da língua original, pois muitas
vezes, trata-se da decisão na tradução; (4) poder responder com segurança
perguntas sobre o texto que utilizamos.

Durante a avaliação dos manuscritos, também é possível identificar alguns


sinais ou abreviaturas presentes nos papiros. A crítica, então, questiona qual
seria o significado de tais abreviações e qual o propósito de se abreviar os
nomes. Avaliando os manuscritos em letras maiúsculas, por ex., percebemos
que a razão possível se deve às nomina sacras.

MATERIAIS DE CRÍTICA TEXTUAL 


1.     Manuscritos gregos de vários tipos
 Papiros;
 Pergaminhos;
 Unciais (todas as letras maiúsculas).
 Minúsculos.
 Lecionários (coleções de textos bíblicos). Trata-se de porções
escritas do texto original lidas nas igrejas devido ao costume da época.
Eram textos aleatórios escolhidos conforme a leitura do dia. Podem ser
consideradas fontes históricas, pois provam que os textos já eram
copiados.
 Versões (em várias línguas do mundo romano). Por serem muito
próximas ao texto original, podem ser usadas como comparação.
 Citações do Novo Testamento dos chamados pais da igreja.
2.     Quantos são esses manuscritos?
 Há aproximadamente cinco mil e setecentos manuscritos do Novo
Testamento.
 Destes, cerca de dois mil e duzentos são lecionários.
 Há cerca de cinquenta e sete manuscritos completos do Novo
Testamento. Comparados aos outros manuscritos históricos, os manuscritos
do NT.
 Uma grande maioria é de manuscritos dos evangelhos (mil novecentos e
quarenta e dois).
 Cerca de cinco por cento do total (duzentos e noventa) é de fragmentos
de livros. Foram um milhão e trezentas mil páginas escritas à mão.
3.     Versões
 São traduções antigas do NT em línguas do mundo romano (latim,
siríaco, copta, armênio, gótico).
 Há mais de dez mil manuscritos do NT apenas em latim.
 Há mais de uma versão em várias dessas línguas.
4.     Citações dos Pais da Igreja
 Existe cerca de um milhão de citações catalogadas dos Pais da Igreja
(suficientes para recuperar todo o NT).
 Há grande diversidade entre citações do mesmo texto, mesmo nos
escritos de um mesmo Pai da igreja.
 É difícil precisar o método de citação usado (cópia, memória, alusão).
5.     Algumas estatísticas
 Há cerca de quatrocentas mil variantes entre os manuscritos catalogados
(para um total de aproximadamente cento e quarenta mil palavras de texto).
 Muitas dessas variantes (cerca de oitenta por cento) são simples questões
de grafia (tipo um ν móvel).
 Dos restantes vinte por cento, cerca de quinze por cento não fazem
qualquer diferença na tradução. Dos cinco por cento restantes, apenas uma
quinta parte (um por cento do total) tem significância exegética. Então, na
prática, temos noventa e nove por cento de credibilidade no nosso
texto.
 Existe um total de quatro mil variantes com significância exegética. O NT
que usamos selecionou mil e quatrocentas variantes mais significativas. As
informações são trazidas no aparato crítico (parte inferior do NT que traz a
composição dos manuscritos que defendem tais variantes).
 Há a informação de que noventa e cinco por cento do texto do NT é
totalmente original. A confiabilidade dessa informação deve-se ao fato de ser
muito antiga. Muitos outros manuscritos foram descobertos ao longo dos
tempos e essa mesma informação continuou sendo dada.
FAMÍLIAS TEXTUAIS
1.     Definições
Precisamos ter cautela em não confundir famílias textuais com famílias de
manuscritos. Existem grupos de manuscritos menores que estão dentro das
famílias textuais e que também são chamados de famílias de manuscritos.
Então, pra que não haja confusão, em vez de “família textual”, dizemos “tipo
textual”.

Família ou tipo textual é um agrupamento de manuscritos, inteiros e/ou partes,


que compõe ou apresenta um conjunto de características similares, ou
tendências. A questão aqui é o “tipo de escrita usado”.

O critério mais comum para determinar os tipos textuais é a similaridade das


variações. Alguns manuscritos têm variações no mesmo lugar. Então, a análise
leva à conclusão de que é um tipo de texto.

Os estudiosos analisam cada manuscrito examinando cada detalhe para se


chegar à devida conclusão. Fazem uso de todos os tipos de ferramentas, porque
os papiros dos manuscritos chamados palimpsestos (que foram usados
novamente), foram reutilizados após uma raspagem. Alguns papiros foram
utilizados pela primeira vez para transcrever um texto não bíblico, mas após a
raspagem foram utilizados para a transcrição de um texto bíblico. Assim, com o
passar dos anos, foi possível ler o que foi escrito pela primeira vez nesses
papiros, ou seja, é possível ler textos sobrepostos.
2.     Classificação das famílias ou tipos de textos
Desta forma, percebendo-se as familiaridades dos textos, os estudiosos foram
agrupando os tipos de textos e formando as tais famílias textuais. Algumas
versões em colchetes (as mais antigas) registram tais variações. Entretanto,
hoje, as novas versões explicam as variantes nas notas de roda pé.

Esse tipo de agrupamento foi feito por regiões ou categorias. As regiões usadas
são basicamente: Alexandria, Bizantina, Cesareana e Ocidental. Tais regiões
contêm algumas diferenças devido aos redatores, mas o texto majoritário é o
texto bizantino. Entretanto, nessa região foi onde houve o maior número de
adulteração dos manuscritos.

Kurt Aland adota o estilo eclético de crítica textual e classifica os tipos textuais
sob cinco categorias:

1. Manuscritos de primeira linha – que sempre devem ser levados em


conta quando se estabelece o texto original. O texto alexandrino é incluído
nessa categoria, bem como os papiros e unciais copiados até o terceiro e
quarto séculos.
2. Manuscritos de qualidade especial – com influência bizantina. O texto
egípcio é incluído nessa categoria. Não se trata do texto bizantino, mas de
influência bizantina.
3. Manuscritos de natureza distinta – com um texto independente, mas
que são mais importantes para a história do texto do que para o
estabelecimento do texto original. Nessa categoria, inclui-se os manuscritos
das chamadas famílias 1 e 13 (famílias dentro de famílias – grupo pequenos
de famílias). Às vezes os estudiosos classificam as famílias por nomes,
números, ou até por letras tanto do alfabeto grego, quanto do alfabeto
hebraico. Todas que começam com o número 0 são unciais, ou seja, são
maiúsculas, as demais, isto é, todas que não começam com o número 0 são
minúsculas. As minúsculas são mais recentes, aproximadamente do século
IX em diante.
4. Manuscritos do texto D – texto ocidental.
5. Manuscritos que têm um texto predominantemente bizantino – Aland
define o seu critério optando pelo texto mais antigo, isto é, por data, e não de
influência bizantina.
Por este estilo eclético de crítica textual, fica clara a preferência de Aland pelas
categorias 1 a 3.

3.     Posição dos críticos em relação ao texto bíblico


Paroschi afirma que a história dos textos revela que os copistas do NT não eram
escribas ou redatores profissionais e que, portanto, não tinham nem a mesma
reverência, nem a mesma habilidade de escrita que os copistas dos tempos do
AT. Além disso, a dificuldade de se reproduzir os textos apostólicos e a
deficiência dos materiais usados para a reprodução do texto fazia com que as
igrejas emprestassem copistas amadores.
Provavelmente, já no período apostólico, os originais começaram a ser
reproduzidos, mas devido à falta de um revisor, as primeiras variantes textuais
começaram a surgir e a se multiplicar nas cópias seguintes. Todavia, sobre essa
afirmação de Paroschi, é possível indagar: mesmo com a posse dos manuscritos
originais, não seria possível verificar a fidelidade da cópia?

Outra fonte de divergência textual levantada por Paroschi era o descuido na


exatidão literal. Segundo ele, os cristãos primitivos, a começar dos apóstolos e
evangelistas, ao citarem o AT, não mostraram a mesma veneração do texto
bíblico que existia entre os judeus. Mas, Paroschi se contradiz ao reconhecer que
a partir do final do século I, autores como Clemente, Inácio, Policarpo e outros
pais apostólicos, já passam a demonstrar a grande reverência com que os livros
do NT eram tidos na igreja primitiva. Bem, os próprios autores foram
descuidados, mas só os pais da igreja foram fiéis? O fato não se harmoniza com
o chamado descuido! Paroschi explica que os primeiros concílios eclesiásticos
formados para classificar os livros canônicos, foram realizados ambos no norte
da África (em Hipona Régia em 393 e em Cartago em 397) e que o que esses
concílios fizeram não foi impor algo novo às comunidades cristãs, mas apenas
codificar o que já era prática geral das comunidades. Em meio ao calor das
heresias presentes nos primeiros tempos do cristianismo, certas palavras ou
expressões que pudessem dar margem a interpretações, muitas vezes eram
deliberadamente evitadas nas cópias. Paroschi defende a falta de zelo por parte
dos copistas, pois estes retiravam do texto original o que julgavam dar margem
às heresias da época.
Desta forma, vê-se que os argumentos usados para justificar as variantes dos
textos baseiam-se tanto no descuido dos copistas, quanto da extração de
palavras ou expressões que supostamente pudessem dar razão às heresias da
época. Os manuscritos eram usados tanto pelos ortodoxos para proteger a
doutrina, quanto, pelos hereges para sustentar suas heresias.

Pickering, por sua vez, diz que para um texto mais antigo, aumenta a
probabilidade de sua cópia, sendo que, o mais velho de todos os textos era o
autógrafo. Assim, uma maioria absoluta de textos era muito mais capaz de
representar corretamente o caráter do texto original do que uma pequena
minoria, a não ser que tenha havido alguma interferência radical na história da
transmissão. Então, sob condições normais, seria impossível uma forma textual
posterior adquirir tão grande predomínio de testemunhas existentes.

Já os críticos naturalistas gostam de presumir que no início, os escritos do NT


não eram reconhecidos como Escritura, pois através do descuido resultante na
transcrição, o texto ficou confuso e a redação original ficou “perdida”. Na
verdade, o argumento naturalista não diz muito a respeito da crítica textual,
mas sim da canonicidade.

Na opinião de Hort, os escribas não tinham muito interesse na pureza do texto,


mas apenas na transcrição profissional. Pickering refuta tal argumento
afirmando que no período apostólico o texto bíblico era muito importante para
os autores e já havia transcrição dos seus manuscritos, pois os cristãos os
consideravam como Escritura Sagrada, como Palavra de Deus.
Pelo argumento de Paroschi, pode-se colocar até mesmo em dúvida a inspiração
divina para a formação das Escrituras.

Pickering apela para Clemente de Roma, que ainda no ano de 96 d.C., fez amplo
uso das Escrituras apelando para a sua autoridade colocando o NT ao lado do
AT. A epístola de Barnabé, já entre os anos 70 e 135, cita o NT aplicando o
cuidado com as Escrituras. Os escritos externos ao NT mostram claramente a
reprodução do temor ao texto bíblico. Eles nos mostram claramente tanto o zelo
pelas Escrituras por parte dos pais da igreja, quanto, a influência dos apóstolos
na doutrina pregada pelos pais da igreja.

Num saltério copiado por um dos escribas, datado no ano de 272, declara a
salvação para aqueles que possuíam o códice, isto é, a Bíblia. Tal saltério mostra
o temor e o zelo para com aquilo que foi escrito pelo próprio Senhor.

Até o primeiro século, com a herança dos apóstolos, muitos homens eram
comprometidos com a cópia do texto bíblico. No segundo século, as sete cartas
de Inácio, próximo ao ano 110, contém prováveis alusões a Mateus, João,
Romanos, 1Coríntios e Efésios. Na sua carta aos Efésios, Inácio diz que eles são
mencionados em todas as epístolas de Paulo, mostrando que estava ciente de
um corpo paulino. Policarpo também acreditava profundamente que o cânon
era a Palavra de Deus. Ao declarar que Efésios é Escritura Sagrada, Policarpo
diz que “Paulo, vivendo entre nós, cuidadosa e firmemente ensinava a palavra
da verdade face a face com os seus contemporâneos e estando ausente vos
escreveu cartas. Pelo exame cuidadoso de suas cartas sereis capazes de vos
fortalecer na fé que vos foi dada ‘que é a mãe de todos nós’…”. Percebe-se, então,
que Policarpo dá um valor inestimável às Escrituras.

Pickering demonstra que através dos séculos os cristãos revelavam devido


respeito e consideração pelas Escrituras, e que por isso faziam uma análise
cuidadosa para aplica-la à sua vida. A implicação disso é que, uma vez que se
considera as Escrituras como um texto, em que suas minúcias são importantes
para a vida pessoal, tal atitude se transporta para o coração do copista.

Nas cartas dos pais da igreja às comunidades cristãs, há evidência de que todos
os cristãos, inclusive os apóstolos, estavam cientes das heresias e das acusações
contra as pessoas que adulteravam as Escrituras. Por isso, na medida em que os
escritos eram copiados, estes mesmos manuscritos também eram comparados
com os originais e devidamente corrigidos se necessário, pois os apóstolos ainda
estavam entre eles.

Como prova desta tese, Pickering cita Irineu de Leão que diz: “Eu te conjuro!
Quem copiar este livro por nosso Senhor Jesus Cristo e por seu glorioso
advento, quando vier julgar os vivos e os mortos, que compares o que
transcreves e o corrijas a partir desse manuscrito do qual estás copiando e
também que transcrevas este com juramento e o códice na cópia”.

Pickering reconhece uma dificuldade na história da transmissão fiel do texto,


haja vista, ter quatrocentas mil variantes. Desta forma, propõe quatro fatores
(critérios) para determinar qual manuscrito era melhor qualificado. Os fatores
são: (1) acesso aos autógrafos; (2) domínio da língua original; (3) situação da
igreja e; (4) atitude condigna para com o texto. Sobre eles, veremos:

Acesso aos autógrafos. A grande maioria se concentra na região bizantina, mas,


as regiões de Alexandria e Egito não detinham nenhum manuscrito original, ou
seja, tudo o que chegou nessas regiões, foi cópia.
Domínio da língua original. Cuidado divino em prol da forma exata do texto do
NT teria que ser mediado através das línguas dos autógrafos, ou seja, o grego. É
preciso conhecer a língua para ter um cuidado maior. A região bizantina era a
que dominava melhor a língua. Por outro lado, o uso do grego no Egito já estava
diminuindo no começo da era cristã.
Metzger observa que a parte helenizada da população do Egito era só uma
fração comparada com o número de habitantes nativos que falavam somente as
línguas egípcias. No terceiro século o desuso era evidentemente bem avançado.

Pickering, afirma que o copista que fez o P  (texto alexandrino – por volta do
66

ano 200), não sabia grego. Cowell analisou o caso de P  (texto próximo do ano
75

220) e achou cerca de cento e quarenta e cinco itacismos ou iotacismos (troca de


letras ou ditongos com som de ι pela letra ι) mais duzentos e cinquenta e sete
outras leituras singulares, isto é, leituras que não ocorrem em nenhum outro
manuscrito dos cinco mil e setecentos. Sendo que, vinte e cinco por cento dessas
leituras, não têm nenhum sentido. Baseado nos erros fica claro que o copista
que fez P  copiou letra por letra. Isto significa que ele não sabia grego, uma vez
75

que se sabe, copia-se frase por frase, ou pelo menos palavra por palavra.
K. Aland afirma que antes do ano 200 o grego caiu no desuso nas áreas onde se
falava latim, siríaco ou cóptico, e cinquenta anos mais tarde a mudança para a
língua local era bem acentuada. Mesmo que o Egito tivesse começado com um
bom texto, já no final do segundo século, a sua eficiência em transmitir o texto
estava sempre diminuindo. Então, até o final do terceiro século temos pequenas
porções dos textos alexandrinos, mas apenas no quarto ou quinto século é que
temos porções maiores.

Situação da igreja. Esta questão é relevante porque primeiro, a lei da demanda


funciona tanto na igreja, quanto em outros lugares. Onde há muitas
congregações e crentes, haverá uma maior demanda por cópias das Escrituras.
Segundo, com a igreja forte e bem estabelecida normalmente terá uma liderança
experimentada e confiante. Exemplo disso, vemos a preocupação de Paulo em
deixar igrejas com lideranças fortes e confiantes. Trata-se do exato tipo de
liderança que tomaria interesse na qualidade de suas Escrituras.
Aland afirma que o Egito se destacava das outras províncias da igreja até onde
podemos julgar, pelo domínio desde cedo do gnosticismo, ou seja, a igreja no
Egito não era saudável. A igreja saudável preserva o texto que ela pode
comparar com os autógrafos. Aland prossegue afirmando que ao final do
segundo século, a igreja egípcia era dominada pelo gnosticismo. Essa opinião é
dominante entre os historiadores. As cópias existentes nas comunidades
gnósticas não podiam ser usadas por estarem sob suspeita de terem sido
adulteradas. Então, durante o segundo século, a tradução textual do Egito não
era confiável.
Segundo Metzger, entre os documentos cristãos que surgiram no segundo
século, na igreja primitiva do Egito, estão numerosos evangelhos apócrifos, atos,
epístolas e apocalipses, bem como, fragmentos de obras dogmáticas e exegéticas
compostas por cristãos alexandrinos, principalmente gnósticos. Baseados nos
comentários de Clemente de Alexandria, quase todo tipo de seita cristã
digressiva do segundo século se representava no Egito. Por isso, Metzger,
defende o texto crítico alexandrino, citando um pai da igreja falando mal da
religião de Alexandria. Clemente menciona os valencianos, basilidianos,
márcionitas, peratae, encratitas, docetistas, haimetitas, cainitas, ofitas,
simonianos e eutiquianos. No entanto, Metzger explica que não se sabe a
porcentagem de cristãos ortodoxos existentes no Egito do segundo século.

Vê-se que o texto egípcio no começo era ruim, mas Aland também afirma que no
segundo, terceiro e até o quarto século, a Ásia Menor continuava sendo “a terra-
coração da igreja”. Isto significa que as qualificações superiores da área Egéia
para proteger, transmitir e certificar o texto do NT vigora até o quarto século.

Por outro lado, Hort, Metzger e Aland, entre outros, ligaram o tipo de texto
“bizantino” com Luciano (de Antioquia), que morreu no ano 311. Isto quer dizer
que, até o quarto século as cópias eram boas, mas, posteriormente, houve a
recensão Luciana, que significa unir os vários textos transformando-os em um
só documento.

4.     Breve história de cada tipo textual


ALEXANDRINO

Segundo Paroschi, a tradição literária alexandrina provavelmente influenciou a


igreja local, uma vez que, as cópias do NT, ali produzidas, revelam-se de
excelente qualidade textual. Entretanto, essa informação é questionável. O texto
é geralmente mais antigo e por isso considerado como um excelente texto. Mas,
apenas nos Evangelhos, os códices ‫ א‬  e B, diferem entre si bem mais de três mil
vezes. Isso sem incluir erros de menos importância nesta conta. Segundo
Paroschi o destaque é para a falta de contato direto dos cristãos alexandrinos
com os cristãos apostólicos, o que para ele, parece ter feito dos cristãos
alexandrinos inteiramente independentes dos escritos sagrados para seu
conhecimento de fundamento da religião cristã. A falta das reminiscências
pessoais e da tradição oral teria aumentado a exigência quanto à exatidão
textual das fontes literárias. Contudo, esse fator depõe contra o próprio
argumento de Paroschi, visto que os cristãos alexandrinos não tinham o original
para comparar as suas cópias. Posto isto, é possível indagar: os textos locais não
foram a razão das variantes?
Entre as características do tipo de texto alexandrino: (1) as leituras de
Alexandria tendem a ser mais curtas na harmonização e paráfrase e; (2) são
geralmente consideradas como tendo uma menor tendência para expandir ou
parafrasear.

OCIDENTAL
Em Roma e em outras regiões dominadas pela língua latina, também antes da
metade do século II, desenvolveu-se outro tipo de texto, o texto ocidental. Sobre
este tipo textual, Paroschi diz conter alterações bastante radicais nos evangelhos
e principalmente em atos onde é quase dez por cento mais longo que a forma
original.

A principal característica do tipo ocidental é o gosto pela paráfrase, palavras,


frases e até mesmo porções inteiras que foram livremente modificadas,
omitidas, ou acrescentadas. Há possibilidade de que isso pode ter ocorrido
devido à harmonização, principalmente no caso dos evangelhos sinóticos.

Além de o tipo textual ocidental ser comumente mais longo que outros tipos de
texto, no final de alguns textos, como por ex. o de Lucas, há certas omissões de
palavras e frases que se fazem presentes em outros tipos de texto, inclusive o
alexandrino. Portanto, apesar de ter conservado certas leituras originais
ausentes até mesmo no texto alexandrino, este tipo textual não pode ser
considerado de boa qualidade.

CESARIANO

É possível que este tipo tenha tido origem em comum com o texto alexandrino
no Egito, como demonstrado pelo P , de onde teria sido levado à Cesareia
45

provavelmente por Orígenes. Essa hipótese é proposta pelo fato do próprio


Orígenes ter usado esse tipo de texto e também do alexandrino no seu
comentário de João quando ainda morava em Alexandria, tendo se transferido
para Cesareia, quando passou, então, a usar o texto cesariano.
Apesar de remontar ao século II, este tipo textual desenvolveu-se
essencialmente no século III e caracteriza-se por uma distinta mescla de formas
alexandrina e ocidental, estando ligeiramente mais próxima do texto ocidental
sem, contudo, apresentar as longas adições e paráfrases do texto. Na verdade,
historicamente falando, o texto cesariano, como tal, representa apenas mais um
estágio do desenvolvimento em direção ao texto bizantino.

BIZANTINO

Este é o último dos tipos distintos de textos do NT e parece ser resultado de uma
revisão dos antigos textos locais por Luciano de Antioquia, pouco antes do ano
312 no seu martírio. Paroschi ainda observa que Jerônimo faz uma alusão de
que as igrejas de Antioquia e Constantinopla preferiam o texto lucianico. Além
disso, o primeiro pai da igreja, cujas citações são essencialmente bizantinas é
João Crisóstomo, o qual, segundo Paroschi, começou seus trabalhos literários
em Antioquia no ano 381. Contudo, essa posição de Paroschi também não é
comprovada. Interessante é que, uma das tendências das correções do texto‫ א‬ é
sempre em direção ao texto bizantino.

Uma das acusações feitas ao texto bizantino se referia às conflações. Conflação é


teoria que explica que o escriba ou editor ao se deparar com pontos divergentes
em dois ou mais manuscritos, podiam “apropriadamente” combinar os textos
para produzir um texto mais “pleno”.
Contudo, considerando as evidências externas, inclusive sob a análise a partir
das conflações, observando os critérios por data; quantidade de cópias;
distribuição geográfica; solidariedade genealógica; concluímos que o texto
bizantino deve ter a maior credibilidade ante aos demais.

CONCLUSÃO
Após examinar os estudos apresentados no vídeo, podemos concluir que, diante
de tantos manuscritos e variantes, com o domínio de noventa e cinco por cento
das “cópias originais”, mesmo trabalhando com diferentes argumentos e
ferramentas para decidir sobre as melhores traduções e versões, temos a
absoluta certeza de que Deus em Sua soberania preservou as verdades das
Escrituras para que com Sua misericórdia vencesse as corrupções e intenções
malignas e chegasse com fidelidade até nós.

https://exegesesacra.com/critica-textual/

acessado em 20/08/2019 às 14:10h

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