Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O tema desenvolvimento sustentável não deve ser visto apenas como um tripé que
visa manter as condições sociais, econômicas e ambientais para atender as
necessidades das atuais gerações e também das futuras, deve ser encarado com um
olhar muito mais amplo, onde considera-se que o pleno desenvolvimento vem de
encontro com a eliminação de tudo aquilo que causa restrição de liberdade aos
indivíduos, deve-se prevalecer sobretudo a justiça social e a democracia, onde as
capacidades são meios para alcançar a liberdade. Se tratando da agricultura familiar,
onde a propriedade, a gestão e a maior parte do trabalho vêm de pessoas que mantêm
entre si laços de sangue ou de casamento, o desenvolvimento sustentável está muito
presente, seja no modelo de organização do trabalho, na forma de produzir, nos
aspectos econômicos, interação da família, etc. E mais importante ainda, é o fato que
que para a agricultura familiar ter continuidade é necessário que haja a sucessão rural
na propriedade. Diante do exposto, o objetivo deste artigo é trazer algumas reflexões
teóricas sobre a importância e conexões entre o desenvolvimento sustentável,
agricultura familiar no contexto da sucessão rural.
INTRODUÇÃO
1 Engenheira Agrônoma pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná- UNIOESTE-PR, mestranda em Desenvolvimento
Rural Sustentável pela UNIOESTE-PR. E-mail: danny_sylveira@hotmail.com
2 Engenheira Agrônoma pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná- UNIOESTE-PR, mestranda em Desenvolvimento
Rural Sustentável pela UNIOESTE-PR. E-mail: kaakestring@hotmail.com
Para Sen (2010), o desenvolvimento, deve necessariamente estar relacionado
com a melhora da vida dos indivíduos, bem como com o fortalecimento de suas
liberdades, visto que as suas capacidades contribuem para conquistar a liberdade e
estes são elementos fundamentais do desenvolvimento .
Falar em desenvolvimento sustentável muitas vezes está atrelado a uma
obrigação de cuidado e proteção do meio ambiente para as futuras gerações,
pensamento oriundo devido a preocupação da sociedade que percebeu os problemas
trazidos pela globalização, principalmente para a oferta de recursos naturais,
preservação e a capacidade de recuperação e regeneração do planeta (DA SILVA et
al., 2015). Tal fato, apesar de muito relevante, acaba proporcionando uma visão
unidimensional sobre o desenvolvimento com sustentabilidade.
O modelo de produção capitalista, que visa o lucro e acaba por deixar de lado
as questões sociais e ambientais está globalizado, mostrando que devemos mudar
nossa forma de pensar e agir, para que as gerações seguintes tenham condições de
sobreviver, devemos assumir a responsabilidade e deixar o futuro com uma melhor
qualidade de vida para todos (CARVALHO et al., 2015).
Voltando-se para a questão agrícola encontramos a agricultura familiar, a qual
se aproxima mais do atendimento às dimensões de desenvolvimento sustentável. A
agricultura familiar é caracterizada por Schneider (2014), como um modo de produção
baseado na combinação entre trabalho e gestão da propriedade. A família é quem
dirige o processo produtivo, baseado na mão de obra prioritariamente familiar e
atrelado a diversificação da unidade produtiva, onde as futuras gerações são
essenciais.
Em uma reflexão que conecta a agricultura familiar e as dimensões da
sustentabilidade, um dos fatos mais críticos segundo Biff et al., (2018) é o da
sucessão familiar, processo no qual é substituído o proprietário da terra por um de
seus filhos, no qual dará continuidade a atividade na sua maneira de agir e pensar,
estando relacionado com a organização, expansão e sobrevivência da mesma. Para
se ter uma sucessão é necessário um planejamento, tendo em vista que este
processo é acompanhado de alguns problemas.
As questões do desenvolvimento sustentável e da agricultura familiar, bem
como a sucessão familiar voltada para os jovens, estão estritamente ligadas. Ao passo
que quanto mais próximo do atendimento às dimensões de sustentabilidade, as
relações entre os jovens e o meio rural sejam mais bem definidas a partir da garantia
de suas necessidades de liberdade, afeto e autonomia (KESTRING, 2018).
Diante disso, o objetivo deste artigo é realizar um ensaio teórico sobre a relação
entre desenvolvimento sustentável, agricultura familiar e juventude rural através de
trabalhos de alguns estudiosos clássicos e contemporâneos.
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Nos anos de 1970, o Brasil atingiu o seu ápice no que diz respeito a quantidade
de pessoas residentes no meio rural, porém, desde os anos 50 evidencia-se um
declínio no percentual de moradores deste meio, quando comparado ao total da
população brasileira, fato que inclusive não cessou até o último censo demográfico,
realizado no ano de 2010 (IBGE, 2017).
Para a região Sul do Brasil, os anos de 1970 foram os mais expressivos quanto
ao êxodo rural, onde quase metade da população que residia no meio rural saiu do
campo, sendo responsável por 29% da migração que ocorreu no país durante este
período, ocasionando um declínio de 2 milhões de habitantes. Tal ocorrência pode ter
sido influenciada pelos incentivos econômicos e estímulos para a adoção de práticas
produtivas e culturais com menor necessidade de mão de obra (CAMARANO e
ABRAMOVAY, 1999).
Com o avanço da globalização ocorreram muitas mudanças, como afirma
Spanevello (2008, p. 18) “mudanças estruturais, econômicas, sociais, política e
culturais, trazidas no bojo do capitalismo para a fase da globalização, de profundas
mudanças no mercado de trabalho e do sistema de comunicações”. Tais mudanças
afetaram também a juventude rural, onde podemos destacar dois pontos: a tendência
migratória dos jovens, justificada por uma visão pessimista do trabalho rural e a
dificuldade que encontram no processo de transferência da propriedade para a
geração mais jovem (BRUMER, 2000).
A sucessão rural, anterior à década de 1970, visava de maiores possibilidades
e de forma mais garantida por estar com as características familiares mais enraizadas,
onde os mais novos aprendiam o trabalho com os mais velhos, assimilava os valores
e os costumes, mas também da sua proximidade geográfica, econômica e social que
havia com as cidades (SPANEVELLO, 2008).
A região sul apresenta uma forte influência da agricultura familiar,
apresentando um aumento nas taxas de fecundidade nas décadas anteriores, o que
reduziu a probabilidade de os filhos seguirem na profissão dos pais, devido às
dificuldades para se expandir novas fronteiras agrícolas na região, onde a região
Norte passou a representar o que a região Sul foi para os pais e avós de alguns novos
agricultores, quando vieram do Rio Grande do Sul (CAMARANO e ABRAMOVAY,
1999).
Na época da expansão de terras, tanto dentro da porteira da propriedade
quanto no município, cidades vizinhas, regiões e até mesmo de outros estados
facilitava a colocação dos filhos como agricultores. Além disso, os escassos
horizontes alternativos ou ainda de difícil acesso, a baixa qualificação profissional para
exercer outras atividades no espaço urbano ou ainda a baixa escolaridade que já era
limitante para os jovens filhos de agricultores (SPANEVELLO, 2008).
O processo de transformação tecnológico, acompanhado da globalização
impulsionou os agricultores a se inserirem na forma capitalista de produzir, onde os
agricultores precisam assumir mais tarefas com grandes responsabilidades, tomadas
de decisões mediante a situações de mercados internacionais (SPANEVELLO, 2011).
Assim como afirma Brumer (2000) em seus trabalhos, que devido a modernização da
agricultura os proprietários adquirem novos conhecimentos, o trabalho é mais
complexo, passam a utilizar equipamentos sofisticados, que acabam por diminuir a
necessidade de mão de obra na propriedade.
Os jovens que estão inseridos em uma propriedade de agricultura familiar, são
membros de uma unidade familiar agrícola, onde o pai é de maneira geral quem toma
as decisões e os filhos desde pequenos são instruídos de quais e como devem
desenvolver algumas atividades, onde muitas vezes esse trabalho é voltado somente
para os meninos e as moças ficam auxiliando a mãe no serviço doméstico (MARIM e
FROEHLICH, 2019).
As gerações atuais estão cada vez mais imersas nas tecnologias, ampliando
suas relações sociais e é neste sentido que emerge a individualização da sucessão
nos estabelecimentos agropecuários. A perda de como ocorria a sucessão no
passado, caminha para uma forma individual onde os filhos atendem seus interesses
profissionais, sendo favoráveis ou não aos interesses do grupo familiar
(SPANEVELLO, 2008).
As novas formas de se trabalhar na agricultura oriundas da modernização,
afetam a sucessão de forma diferenciada conforme o grau de inserção na economia,
tamanho da propriedade, capacidade de produção, organização do trabalho, relação
dos pais com os filhos e também o modo de vida. Esses fatores somados ao chamado
processo de individualização altera algumas questões referentes a sucessão, que
pode ser bem-sucedida, conforme algumas condições que a família e a propriedade
se encontram (SPANEVELLO, 2008).
Na agricultura familiar é o pai quem determina quem será o sucessor e o
momento que este poderá tomar as decisões e assumir as responsabilidades da
unidade produtiva, sendo muitas vezes influenciada pela capacidade e disposição de
trabalho do pai do que as do futuro sucessor ou ainda voltada para as questões
financeiras da propriedade (ABRAMOVAY, 2000).
Os jovens rurais visam a diversidade das atividades da propriedade,
buscando não trabalhar somente com as atividades primárias, mas também
agregando valor aos produtos, processos e também a propriedade, conquistando
assim uma autonomia financeira e a gestão da unidade familiar. O meio rural pode
trazer ao jovem hoje, uma forma de realizar seus projetos de vida que vão além da
produção agrícola (MARIM e FROEHLICH, 2019).
Uma das dificuldades encontradas por Brumer (2000), no Brasil para a
sucessão rural é a questão de o pai não poder passar a terra para o filho enquanto
ainda vivo, fazendo com que a demora para conseguirem, gera uma baixa expectativa
entre o projeto de se instalar como agricultores e conseguirem uma efetiva realização
pessoal.
A divisão da propriedade entre dois ou mais irmãos, quando voltada para a
agricultura familiar, muitas vezes se torna inviável economicamente, por
apresentarem um pequeno tamanho de área (ABRAMOVAY, 2000). É a partir do
momento que o jovem possa arrumar um emprego, onde na maioria das vezes é no
meio urbano, no qual começa a se desvincular da propriedade, somando com o fato
de que o jovem em certo momento deseja ter sua autonomia financeira (BRUMER,
2000).
Nos estudos realizados por Abramovay (2000), afirma-se que ser agricultor não
apresenta um caráter moral como nas gerações anteriores, mas sim uma profissão
dentre tantas outras que os jovens podem escolher, evidenciando o fim de uma fusão
entre destino da propriedade e o da família.
Para os jovens, ficar ou sair da propriedade muitas vezes não representa terem
tido sucesso ou fracasso, mas é conclusão de uma escolha na qual visava uma melhor
qualidade de vida, valores e costumes no qual estão atrelados a tecnologia e a
comodidades existentes no meio urbano, almejando o que seria o melhor do campo
com o das cidades (CARNEIRO e CASTRO, 2007).
A agricultura familiar é um segmento importante para o desenvolvimento do
setor agrícola do país, porém mesmo assim é crescente a saída dos jovens do meio
rural para as cidades, parte disto é justificado pela ausência de políticas públicas
voltadas para esta classe. No Brasil a predominância de desenvolvimento rural ainda
está vinculada a ideia de desenvolvimento econômico, onde se vincula aos grandes
proprietários de terras que trabalham num sistema de sucessão de culturas (soja e o
milho em muitos casos), exploração da força de trabalho e esgotamento dos recursos
do meio ambiente (CONTAG, 2015).
CONCLUSÃO
Referências Bibliográficas