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Pedro Roberto Jacobi

Coordenador

Luciana Yokoyama Xavier


Marcelo Takashi Misato
Coordenadores editorias

Aprendizagem Social e
Unidades de Conservação:
Aprender juntos para cuidar
dos recursos naturais
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Aprendizagem Social e
Unidades de Conservação:
Aprender juntos para cuidar
dos recursos naturais

Coordenador

Pedro Roberto Jacobi

Coordenadores editorias

Luciana Yokoyama Xavier


Marcelo Takashi Misato

1a edição

São Paulo
2013
Equipe

Coordenação:
Pedro Roberto Jacobi

Coordenação editorial:
Luciana Yokoyama Xavier
Marcelo Takashi Misato

Textos:
Alexander Turra
Denise de La Corte Bacci
Gerardo Kuntschik
Laís Cristina Álvares Rodrigues Assis
Luciana Yokoyama Xavier
Luizi Maria Brandão Estancione
Maria Lucia Ramos Bellenzani
Marcelo Takashi Misato
Pedro Roberto Jacobi
Gina Rizpah Besen
Silvia Helena Zanirato
Sandra Eliza Beu
Vânia Maria Nunes dos Santos

Revisão:
Ivan Antunes Corrêa

Projeto Gráfico e Diagramação


Indaia Emília Comunicação & Design Gráfico

Ilustrações:
Paloma de Farias Portela

Ficha Catalográfica

Aprendizagem social e unidades de conservação: aprender juntos para cuidar dos


recursos naturais./ coordenador, Pedro Roberto Jacobi.; coordenadores editoriais,
Luciana Yokoyama Xavier e Marcelo Takashi Misato. - - São Paulo: IEE/PROCAM, 2013.
94p.

ISBN 978-85-86923-30-2

1. Proteção ambiental 2. Desenvolvimento sustentável. 3. Educação ambiental


I. Jacobi, Pedro Roberto, coord. II. Xavier, Luciana Yokoyama, coord.edit. III. Misato,
Marcelo Takashi, coord. edit.
Agradecimentos

Este manual não seria possível sem a colaboração dos conselheiros


das quatro APAs e pesquisadores envolvidos no projeto que o
gerou. Dessa forma agradecemos integrantes do Grupo de Pesquisa
em Governança Ambiental que que desde o início do projeto nos
ajudaram a alcançar os resultados expressos nessa publicação.

Profª. Drª. Ana Paula Fracalanza


Profº. Drº. Luiz Carlos Beduschi Filho
Profº. Drº. Paulo de Almeida Sinisgalli
Alexandre do Nascimento Souza
Felipe Augusto Zanusso Souza
Mariana Gutierres Arteiro da Paz
Renata Ferraz de Toledo
Sumário 5

Sumário

Por que esta publicação?................................................................................................................................ 6

Governança Ambiental e práticas participativas....................................................................................10

Recursos naturais............................................................................................................................................18

Áreas de Proteção Ambiental (APAs) e seus Conselhos Gestores:


palco da gestão e do aprendizado.............................................................................................................26

Negociação e mediação de conflitos em Áreas de Proteção Ambiental – APAs............................36

O Patrimônio como fator de identidade territorial e de desenvolvimento local............................46

Entendendo os problemas socioambientais: passos para construir a Agenda 21 Local..............56

Mapeamento socioambiental como contribuição para a gestão dos recursos naturais..............64

Georreferenciamento em Unidades de Conservação...........................................................................74

Perspectivas futuras na Gestão Compartilhada das APAs no estado de São Paulo.......................80

Referências bibliográficas.............................................................................................................................87

Glossário...........................................................................................................................................................91

Sobre os autores.............................................................................................................................................93
A publicação 7

Por que esta publicação?

E
sta publicação busca divulgar ca- O maior desafio é a reforma do pensa-
minhos para o aperfeiçoamento mento, que cria espaços de convivência e
das práticas participativas na ges- promove mudanças de percepção e de va-
tão compartilhada das Áreas de Proteção lores, avançando para uma nova forma de
Ambiental (APAs). O foco é o aprofundar conhecimento, promovendo um saber soli-
o conhecimento dos principais aspectos dário e um pensamento complexo, aberto à
que demandam ampliação do repertório possibilidade de construção e reconstrução
das comunidades e do poder público para em um processo contínuo de novas leituras
aproximar os participantes, estreitando os e interpretações que configuram novas pos-
laços entre eles e fazendo com que desen- sibilidades de ação.
volvam novas formas de trabalhar con- A publicação está organizada de forma a
juntamente e em harmonia para a gestão promover, contribuir e sensibilizar os atores
desses espaços. sociais a ampliar a responsabilidade con-
Assim, visa construir e estimular pro- junta dos órgãos governamentais e da so-
cessos de colaboração e interconexões entre ciedade na gestão compartilhada das APAs
pessoas, ideias e ações para multiplicar a por meio de processos coletivos e práticas
disseminação de um conhecimento ba- inovadoras, apoiando-se em metodologias
seado em valores e práticas sustentáveis, participativas e cooperativas. As palavras-
indispensáveis para estimular o interesse e chave desta pesquisa são: Aprendizagem
o engajamento de pessoas na ação e na res- Social; Diálogo; Participação e Correspon-
ponsabilização. sabilidade.
As práticas educativas ambientalmente Ao destacar a ideia de Aprendizagem
sustentáveis nos apontam para propostas Social, contribui-se para que os diferen-
de ação com vistas à mudança de compor- tes atores envolvidos possam aprofundar
tamento e atitudes, ao desenvolvimento da seu conhecimento sobre como ampliar os
organização social e da participação coletiva. diálogos, estabelecer laços de confiança e
8 A publicação

cooperação; administrar e resolver con- do LAPPES (Laboratório de Pesquisa e


flitos, buscar soluções conjuntas que se- Práticas em Educação e Sustentabilidade),
jam técnica e socialmente adequadas, que junto ao Laboratório de Pesquisa GovAmb
possam ser implementadas e promovam o (Governança Ambiental), vinculado ao
engajamento do maior número possível de Programa de Pós-Graduação em Ciência
atores compromissados com a gestão com- Ambiental da Universidade de São Paulo.
partilhada das APAs. De forma mais objetiva, estas ferramen-
Nosso enfoque se apoia no planejamento tas pretendem aperfeiçoar a compreensão
participativo, e isto demanda um envolvi- dos problemas inter-relacionados e com-
mento ativo, a consulta e o acesso público plexos em torno da gestão compartilhada
à participação. A participação ativa implica de uma APA; contribuir para que diferentes
que os atores relevantes sejam convidados atores compreendam melhor as percepções
e participem no processo de planejamento, dos outros sobre os problemas ambientais.
além de contribuírem ativamente nos deba- Promove, assim, a melhora das relações
tes e na busca de respostas e soluções. entre os participantes e proporciona a base
Três são os objetivos dos textos aqui para a colaboração e interconexão rumo ao
reunidos: avanço para uma gestão mais sustentável
1. Aperfeiçoamento da compreensão dos recursos naturais. Ao destacar o con-
dos problemas inter-relacionados e ceito de Aprendizagem Social na gestão
complexos em torno da gestão com- dos recursos naturais, propõe-se contribuir
partilhada das APAs; para que os envolvidos possam aprofundar
2. Contribuir para que diferentes atores seus conhecimentos e ampliar caminhos
compreendam melhor as percepções de diálogo, estabelecer laços de confiança
dos outros sobre os problemas que e coo­peração; administrar e resolver con-
ajudam a melhorar as relações entre flitos, buscar soluções conjuntas que sejam
os participantes e proporcionam a técnica e socialmente adequadas. O impor-
base para a colaboração e interco- tante é que estas possam ser implantadas e
nexão visando avanços rumo a uma promovam o engajamento do maior núme-
gestão mais sustentável; ro possível de atores compromissados com
3. Contribuir, com orientações e conhe- a gestão compartilhada dos recursos natu-
cimentos sócio-técnicos, para criar rais. O princípio norteador é que exista um
um contexto favorável para práticas envolvimento ativo, a consulta e o acesso
cooperativas. público à participação. A participação ativa
Propõem-se, desta forma, a dissemi- implica no fato de que os atores relevantes
nação de metodologias e atividades que sejam convidados e participem no processo
fortaleçam diagnósticos colaborativos e de planejamento, contribuindo ativamente
articulados de planejamento territorial e para os debates, na busca de respostas e
gestão dos recursos naturais. As ferramen- soluções.
tas aqui apresentadas foram selecionadas, Dentre as práticas participativas, é enfa-
com base na experiência de pesquisadores tizada a importância de levantamentos de
A publicação 9

informações socioambientais para subsidiar focalizado, subsidiando os diálogos e refle-


a reflexão sobre as implicações da forma xões coletivas sobre as diferentes percep-
de uso e ocupação do espaço, e auxiliar no ções da realidade socioambiental local, e
planejamento de ações/propostas. contribuindo na discussão de propostas de
As ferramentas podem contribuir para intervenção e no desenvolvimento de práti-
“despertar” o sentimento de pertencimen- cas colaborativas cidadãs, transformadoras
to, assim como a apreensão crítica do meio do ambiente/lugar.

Pedro Roberto Jacobi


Governança Ambiental 11

Governança Ambiental e práticas participativas


Pedro Roberto Jacobi

A emergência socioambiental e novas novos rumos; refletindo sobre a cultura, as


formas de governança crenças, valores e conhecimentos em que
se baseia o comportamento cotidiano. Os
As questões ambientais são globais, mas seres humanos desenvolvem e multiplicam
uma comunidade as vivencia de forma formas muito predatórias na sua relação
singular e única. Surge aí a necessidade de com a natureza e isto demanda cada vez
ações vinculadas a contextos locais e que mais a multiplicação de ações educativas
sejam apropriadas para as comunidades que promovam ampliação de sensibilidade
reconhecerem seus problemas, assumirem e percepção sobre os riscos que o modelo
a corresponsabilidade da gestão de seu existente provoca.
território e encontrarem respostas criativas Em um contexto marcado pela degrada-
para enfrentar os problemas emergentes, ção permanente do meio ambiente e dos seus
cada vez mais complexos, tanto em termos ecossistemas, o maior desafio é multiplicar a
quantitativos quanto qualitativos. disseminação de um conhecimento baseado
O século XXI apresenta um quadro de em valores e práticas sustentáveis, e estimular
multiplicação de problemas socioambien- o interesse e o engajamento de cidadãos e
tais, que promete agravar-se, caso sejam cidadãs na ação e na responsabilização.
mantidas as tendências atuais de degra- Nossa sociedade está crescentemente
dação. Trata-se de uma crise enraizada na não só ameaçada, mas diretamente afetada
cultura, nos estilos de pensamento, nos por riscos socioambientais, e isso coloca
valores e na falta de conhecimento e infor- a necessidade de trazer ao conhecimento
mação sobre os riscos que a deterioração da sociedade a importância de entender
dos recursos naturais podem provocar na os desafios de se implementar um con-
vida humana. junto de iniciativas, baseado nos precei-
A humanidade chegou a um momento tos da sustentabilidade socioambiental,
que exige examinar-se para tentar achar que leve em consideração a existência de
12 Governança Ambiental

interlocutores e participantes sociais re- Os desafios da Participação Cidadã


levantes e ativos, estimulados através de
práticas educativas, em um processo de O conceito de participação está associa-
diálogo mútuo e informado, que reforça do à democracia deliberativa e à existência
um sentimento de corresponsabilização e de uma espaço público que possibilite o
constituição de valores éticos. (JACOBI; envolvimento dos cidadãos. A constituição
FRANCO, 2011). de direitos civis, políticos e sociais se baseia
A reflexão sobre as práticas sociais, em no exercício de práticas de cidadania que
um contexto marcado pela degradação garantem a sua liberdade como cidadãos.
permanente do meio ambiente e do seu Embora afirmar que participação dos ci-
ecossistema, envolve uma necessária arti- dadãos seja um componente fundamental
culação com a produção de sentidos sobre de uma forma democrática de governo
as práticas educativas (MORIN, 2000). A seja praticamente uma obviedade, existem
dimensão ambiental se configura crescen- diversos aspectos que devem ser conside-
temente como uma questão que envolve rados. Entretanto devem ser colocadas al-
um conjunto de atores, reforçando o enga- gumas questões, participação em que? para
jamento dos diversos sistemas de conhe- quê? E como?
cimento e a capacitação de profissionais A participação da sociedade civil na
numa perspectiva interdisciplinar. Nesse gestão pública introduz uma mudança na
sentido, a produção de conhecimento deve medida em que incorpora outros níveis de
necessariamente contemplar as inter-rela- poder além do Estado, o que abre portas
ções do meio natural com o social, o papel para que a sociedade contribua com suas
dos diversos atores envolvidos e as formas ideias e demandas para a formação de uma
de organização social que aumentam o cidadania qualificada.
poder das ações alternativas de um novo No Brasil, através da deliberação públi-
desenvolvimento, em uma perspectiva que ca e da existência de espaços públicos que
priorize um novo perfil de desenvolvimen- representam os instrumentos essenciais
to, com ênfase na sustentabilidade socio- para melhorar a vida democrática, se am-
ambiental. plia a presença de atores que representam
As práticas educativas ambientalmente a diversidade e heterogeneidade da nossa
sustentáveis nos apontam para novas for- sociedade (JACOBI, 2009). A construção
mas de conhecimento, criando espaços de de cidadania e participação, assumem um
convivência que promovem mudanças de papel estratégico na compreensão da for-
percepção e de valores, gerando um saber mação de novas identidades, assim como a
solidário e um pensamento complexo, aber- emergência de novas formas de ação coleti-
to às incertezas, às mudanças, à diversidade, va e articulação social.
à possibilidade de construir e reconstruir Quando se fala de participação dos ci-
em um processo contínuo de novas leituras dadãos, deve-se enfatizar tratar-se de uma
e interpretações, configurando novas possi- forma de intervenção na vida pública que se
bilidades de ação. centra no fortalecimento do espaço público
Governança Ambiental 13

e abertura da gestão pública à participa- ciedade civil, e as possibilidades de consti-


ção da sociedade civil na elaboração de tuição de sujeitos sociais identificados por
políticas públicas, e, assim, romper com objetivos comuns para transformar a ges-
as práticas sociais de caráter utilitarista e tão da coisa pública, baseados em formas
clientelista. mais ativas de representatividade. Um dos
A participação social tem se transforma- maiores desafios de uma proposta partici-
do no referencial de ampliação e fortaleci- pativa é o de garantir uma boa representa-
mento dos mecanismos democráticos, mas tividade, de forma a impedir, tanto a sua
também na forma de garantir a execução manipulação por grupos criados para de-
de políticas públicas. A participação como fender interesses particularizados quanto
componente da ampliação da esfera públi- a possibilidade da sua instrumentalização
ca tem imposto uma demanda à sociedade pela administração pública.
para obter uma maior influência sobre o A efetiva participação requer princípios
Estado. Na medida em que a legislação para o desenvolvimento da legitimidade
brasileira define a participação tripartite na democrática: a igualdade e o pluralismo
gestão das políticas públicas, dentre as quais político, a deliberação e a solidariedade.
as ambientais, isso implica na presença de O tema da participação demanda que
atores que representam diversos segmen- sejam estabelecidos um conjunto de nor-
tos da sociedade civil. Assim, apresenta-se mas sociais e redes de cooperação e de
como um grande desafio, o de fortalecer a confiança, próprios das instituições, como
representação social e suas implicações na práticas culturais que dão intensi-
definição de atores que tenham representa- dade e qualidade à dimensão
tividade e capacidade mobilizatória, em fa- das relações interpessoais,
vor de uma maior auto-organização social. em um processo participa-
A participação potencializa um proces- tivo que permeia
so continuado de democratização da
vida dos cidadãos, na medida em
que reforça o desenvolvimento
de objetivos de interesse coleti-
vo; estimula o fortalecimento
do tecido social e estimula
o engajamento dos ato-
res mais representativos
no debate e definição de
programas e projetos de
interesse público.
A ampliação de canais de
representatividade mostra o
potencial de mobilização dos
movimentos organizados da so-
14 Governança Ambiental

o desenvolvimento de políticas públicas de múltiplos atores, bem como da descen-


(JACOBI, 2005). tralização, transfere poder e mecanismos de
Assim, assume importância crescente a resolução de conflitos para o governo local
participação em redes sociais, especifica- (JACOBI, 2012).
mente através das interações diretas e indi- Governança implica o estabelecimento
retas com os outros atores coletivos. de um sistema de regras, normas e condutas
que reflitam os valores e visões de mundo
Governança Ambiental daqueles indivíduos sujeitos a esse marco
normativo. A construção desse sistema é
Ao enfatizar o conceito de governança um processo participativo e, acima de tudo,
ambiental abre-se um estimulante espaço de aprendizagem.
para repensar as formas inovadoras de ges- Nesse sentido, o trabalho intersetorial
tão, os fatores políticos, os vários interesses se apresenta como uma importante contri-
e as realidades políticas, além da dimensão buição para estabelecer melhores condições
ambiental. O processo de governança en- para uma lógica cooperativa e para abrir
volve múltiplas categorias de atores, insti- um novo espaço, não só para a sociedade
tuições, inter-relações e temas. civil, mas também para os sistemas técni-
A governança, realizada através da par- cos. Assim, a ênfase em práticas que esti-
ticipação, do envolvimento e da negociação mulam a interdisciplinaridade potencializa
Governança Ambiental 15

o trabalho com temáticas que incitam mu- pandindo o acesso aos canais que multipli-
danças no comportamento, na responsabi- cam ideias e práticas que apresentem visões
lidade socioambiental e na ética ambiental, alternativas e promovam a corresponsabili-
o que estimula outro olhar. dade na sociedade.
Isso pode promover uma ampliação na A transformação cultural é necessária
compreensão da complexidade envolvida para quebrar o hiato existente entre o re-
nos processos e do desafio de ter uma ati- conhecimento da crise social e ambiental
tude mais reflexiva e atuante, fazendo com e a construção real de práticas capazes de
que os cidadãos se tornem mais responsá- estruturar as bases de uma sociedade sus-
veis, cuidadosos e engajados em processos tentável. Além disso, alertar para a impor-
colaborativos com o meio ambiente. tância do fortalecimento de Comunidades
Inserido no processo de governança am- de Prática, grupos de pessoas que com-
biental, o conceito de aprendizagem social partilham uma preocupação por algo que
abre um estimulante espaço para desenvol- fazem e aprendem como fazê-lo melhor na
ver processos de articulação de ações que medida em que interagem com regularida-
têm como premissa a ideia de “aprender de (WENGER, 1998, apud JACOBI, 2012).
conjuntamente para manejo e decisões con- Os participantes de uma comunidade
juntas e mudanças na gestão”. Basicamente, interagem em ações e discussões, apoiam-se
a estratégia de aprendizado é que todos mutuamente, trocam informações, apren-
devem conhecer o contexto de criticidade dem juntos. Assim, eles desenvolvem um
e condições de governança para intervirem repertório compartilhado de recursos: ex-
juntos em contextos ambientais complexos. periências, histórias, ferramentas, modos de
lidar com problemas recorrentes. Trata-se
Aprendizagem Social e práticas sustentáveis em resumo, de uma prática compartilhada
e de aprendizagem social como processos e
O caminho para uma sociedade sus- espaços/tempos que permitam: a ampliação
tentável se fortalece na medida em que se do número de pessoas no exercício desse
desenvolvam práticas educativas, que con- conhecimento, a comunicação entre essas
duzam para ambientes pedagógicos e para pessoas, de modo a potencializar interações
uma atitude reflexiva em torno da proble- que tragam avanços na produção de novos
mática ambiental, visando traduzir o con- repertórios e práticas de mobilização social
ceito de ambiente e sua complexidade na para a sustentabilidade (JACOBI, 2012).
formação de novas mentalidades, conheci- A partir do conceito de aprendizagem
mentos e comportamentos (MORIN, 2000). social visa-se responder aos desafios da
Isso implica na necessidade de multiplicar sustentabilidade e integração das interfa-
práticas sociais pautadas por uma visão que ces da gestão de recursos naturais, o que
permita alterar gradualmente a lógica de pressupõe a contribuição de diferentes
insustentabilidade prevalecente. Trata-se de conhecimentos e a interdisciplinaridade.
estimular e promover a ampliação de uma O entendimento do problema é o pres-
visão crítica face à insustentabilidade, ex- suposto para que os atores comecem a
16 Governança Ambiental

dividir sua compreensão sobre o assunto, Promover e multiplicar a Aprendizagem


explorando as possibilidades de perspec- Social
tivas para a intervenção. O que resulta no
desenvolvimento da conexão de diferentes Os referenciais da Aprendizagem Social
tipos de entendimento do problema, crian- se inserem nas práticas socioambientais
do diálogos, como base de fortalecimento educativas de caráter colaborativo. Eles têm
de lógicas de cooperação. se revelado veículos importantes na cons-
O convencimento à participação de li- trução de uma nova cultura de diálogo e
deranças e facilitação é essencial para a participação.
construção e manutenção do comprome- A Aprendizagem Social procura lidar
timento dos atores envolvidos, direta ou com conflitos, valores e crenças, relações
indiretamente, na gestão de uma APA. de força complexas e dinâmicas políticas
Existe a necessidade de mudança flexível que não se manifestam – ou se manifestam
e adaptativa ao gerenciamento, e as arenas de modo diferente – em organizações. Por-
de articulação se tornam imprescindíveis tanto, aprendizagem social é mais do que
para o desenvolvimento cooperativo das simplesmente participação ou aprendizado
atividades propostas. Isto permite que os em grupo, envolve uma compreensão dos
diferentes atores intervenientes compreen­ limites institucionais e dos mecanismos de
dam melhor as percepções dos outros sobre governança existentes (MONTEIRO, 2009).
os problemas que são essenciais para me- Essa abordagem, integradora das rela-
lhorar as relações dos participantes, pro- ções entre as esferas subjetivas e intersub-
porcionando a base para uma cooperação jetivas, amplia a possibilidade de constitui-
consistente e articulada. ção de identidades coletivas em espaços de
O arcabouço teórico da aprendizagem convivência e debates. Isso abre caminhos
social permite verificar que o aprendi- para incrementar o potencial de fortalecer
zado conjunto é fundamental para que espaços de diálogos horizontalizados de
tarefas comuns e a construção de um aprendizagem e do exercício da democra-
acordo, levando em conta o processo no cia participativa, mediando experiências
qual está inserido, seu contexto e seus de diferentes sujeitos autores/atores sociais
resultados, levem ao entendimento da locais na construção de projetos de inter-
complexidade das questões ambientais venção coletivos.
que precisam ser decididas. Considera-se A Aprendizagem Social implica que os
o crescente envolvimento e aprendizado participantes aceitem a diversidade de in-
conjunto das entidades envolvidas na ges- teresses, de argumentos, de conhecimento,
tão, cuja estratégia é reforçar o aprendi- e que percebam que um problema comple-
zado conjunto, para intervir em parceria. xo como a gestão de uma APA poderá ser
Isso reforça a dimensão da participação, resolvido através de práticas coletivas, que
compartilhamento e corresponsabilização se sustentam na disseminação de informa-
para decidir quais cenários de sustentabi- ção, conhecimento e atividades em rede.
lidade se deseja. O aprendizado conjunto é fundamental
Governança Ambiental 17

para as tarefas comuns e a construção de gem social estimula e articula as pessoas


acordos entre atores sociais em diferentes a mudarem suas práticas, e combina tam-
realidades pautadas por conflitos socioam- bém informação e conhecimentos, assim
bientais, levando em conta o processo no como capacitação, motivação e estímulos
qual estão inseridos, seu contexto e seus para a mudança de atitudes, habilidades
resultados, e conduzindo ao entendimento adquiridas para participar de processos de
da complexidade das questões ambientais negociação e avanço para uma ação com-
que precisam ser decididas. A aprendiza- partilhada e concertada.
Recursos naturais 19

Recursos naturais
Denise de La Corte Bacci e Gerardo Kuntschik

O
conceito de recurso natural mento econômico e instrumento eficaz
como “uma denominação apli- de controle sobre o território.
cada a todas as matérias-primas,
tanto aquelas renováveis como as não-re- A exploração direta da natureza sempre
nováveis, obtidas diretamente da natureza, foi o principal eixo de busca por riquezas
e aproveitáveis pelo homem” (IBGE, 2004) desde o início da colonização em nosso
nos remete a um paradigma histórico de país, configurando-se em um modelo uti-
apropriação da natureza, como ressalta litarista no qual predomina a visão de que
Pádua (2004): os recursos naturais existentes no planeta
são infinitos e que podem ser explorados
No que se refere à relação com a Na- incessantemente. Essa visão contribuiu
tureza, as linhas gerais do modelo de para o modelo de exploração implantado
ocupação e exploração do território bra- no Brasil, onde a grande diversidade bio-
sileiro podem ser definidas através de lógica, disponibilidade de água e riquezas
três características essenciais que, infe- minerais estimulou o sentimento de que os
lizmente, ainda estão presentes no modo recursos eram inesgotáveis.
de relacionamento da sociedade com O modelo utilitarista representa uma
o seu entorno ecológico: 1) O mito da prática predatória de apropriação da na-
natureza inesgotável, baseado na ideia tureza e ofereceu prosperidade na eco-
de uma fronteira natural sempre aberta nomia e na estrutura social do país por
para o avanço da exploração econômica; muito tempo, apesar dos muitos exem-
2) Um grau considerável de desprezo plos de vilas, fazendas e minas que foram
pela biodiversidade e os biomas nativos e abandonadas por terem atingido o limite
3) Uma aposta permanente nas espécies da sua capacidade de sustentação natural
exóticas, especialmente em regime de (BRITO, 2003; PÁDUA, 2004; GUIMA-
monocultura, como fonte de enriqueci- RÃES, 2005).
20 Recursos naturais

Como exemplos desse modelo, é possível Na sociedade em que vivemos, con­so­me-


citar a queima das florestas como preparação se indiscriminadamente os recursos naturais,
ao plantio que leva à perda progressiva dos encontrando sempre novos usos, relevando
nutrientes e da fertilidade do solo, erosão ao segundo plano as consequências ambien-
e impossibilidade de implantação de novas tais em relação à quantidade e qualidade.
culturas; o mau uso dos recursos hídricos A exploração dos recursos naturais de
que gera escassez da água em determinadas forma bastante agressiva e descontrolada
regiões do planeta, especialmente por fatores levou a um agravamento da devastação.
ligados à ocupação do solo, à poluição e con- As causas básicas que provocam ativida-
taminação dos corpos de águas superficiais e des ecologicamente predatórias podem ser
subterrâneos (RIBEIRO, 2011). Além desses, atribuídas à falta de controle dos órgãos de
apresenta-se os recursos pesqueiros, o uso gestão e aos valores adotados pela socieda-
dos solos e dos bens minerais, que seguiram de (JACOBI, 2005). Hoje, presencia-se uma
o mesmo modelo exploratório. Ouro, ferro, situação que pode se tornar um dos mais
carvão, chumbo são alguns dos minérios ex- graves problemas a serem enfrentados nesse
plorados desde o império e que deixaram no século.
país um grande passivo ambiental. São vários os aspectos – sociais, econô-
micos, culturais, tecnológicos e ambientais
– retratados no aumento da pobreza, na
falta de saneamento básico, na poluição dos
rios e aquíferos, na derrubada das matas,
na expansão agropecuária, na urbanização
e industrialização, na ocupação das áreas
de mananciais e na má gestão dos recursos
hídricos disponíveis.
A falta de conhecimento e valorização
de forma geral da biodiversidade contribui
ainda mais para a degradação dos recursos
naturais. Os complexos biomas brasileiros
nunca foram valorizados em toda a sua po-
tencialidade, mas considerados, em geral,
como obstáculos ao desenvolvimento da
economia e da civilização, tendo sido explo-
rados à revelia de sua importância ecológica.

Novas práticas em relação aos recursos


naturais

Desde o fim do século XIX existe um


movimento preservacionista que incentivou
Recursos naturais 21

a criação de parques nacionais para a pro-


teção da biodiversidade, baseados em leis
de proteção e conservação. As medidas
tomadas para a gestão das áreas naturais
sempre se fundamentaram na utilização
desses recursos por parte da população.
Com a Revolução Industrial e o aumento da
degradação, surgiram movimentos para a
preservação de áreas naturais pelo seu valor
intrínseco e como melhoria da qualidade de
vida da população.
O objetivo da criação de áreas de pro-
teção foi o da “socialização do usufruto,
por toda a população, das belezas cênicas
existentes nesses territórios” (BRITO, 2003,
p. 20). A primeira área protegida dentro
desse modelo foi o Parque de Yellowstone,
nos Estados Unidos, em 1872. No Brasil, o
primeiro Parque Nacional foi o de Itatiaia
(RJ), em 1937. Outros parques foram cria-
dos pelo mundo, alguns com o objetivo de
proteger e recuperar populações animais
que estavam ameaçadas de extinção em de- mento de pesquisas científicas, manuten-
corrência do desenvolvimento econômico. ção do equilíbrio climático e ecológico,
A União Internacional para a Proteção da preservação de recursos genéticos, e,
Natureza (UIPN) foi fundada em 1948 com atualmente, constituem o eixo de estru-
o objetivo de promover ações com embasa- turação da preservação in situ da biodi-
mentos científicos que pudessem garantir a versidade como um todo.
perpetuidade dos recursos naturais para o
bem-estar econômico e social da humanida- Para que esses diferentes objetivos pu-
de (BRITO, 2003). Posteriormente, em 1965, dessem ser alcançados, foram criados di-
tal organização passou a se chamar União versos tipos de instrumentos legais para a
Internacional para a Conservação da Nature- conservação.
za (UICN), buscando enfatizar a necessidade No Brasil, a aplicação de leis ambien-
de conservação dos habitats. Segundo Mila- tais começa, efetivamente, no início do
no (2001), a preocupação de preservação de século XX, com o Código Florestal Bra-
belezas cênicas, passou a englobar: sileiro, Código de Águas e o Código de
Minas, todos do mesmo ano. O Código
[...] a proteção dos recursos hídricos, Florestal de 1934 (Decreto-lei 23.793/34)
manejo de recursos naturais, desenvolvi- foi o primeiro diploma legal brasileiro a
22 Recursos naturais

tratar de forma um pouco mais sistêmica os recursos florestais, conceituando pela pri-
meira vez os parques e as florestas nacionais, as florestas protetoras e as áreas de preser-
vação permanente (BRITO, 2003). Alguns exemplos mais recentes de regulamentações
que abrangem a gestão dos recursos naturais são:
• Lei de uso do solo (Lei nº 6.766, de 19 de dezembro de 1979);
• Lei de gerenciamento costeiro (Lei nº 7.661, de 16 de maio de 1988);
• Lei de gerenciamento dos recursos hídricos (Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997);
• Lei das Unidades de Conservação - SNUC (Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000).
O Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) é o conjunto de unidades de
conservação (UC) federais, estaduais e municipais que define critérios e normas para a cria-
ção, a implantação e a gestão de UCs.
A Lei apresenta objetivos e diretrizes específicas, dentre os quais a conservação dos espa-
ços naturais. As UCs foram divididas em dois grupos de proteção: as Unidades de Proteção
Integral e as Unidades de Uso Sustentável, que se diferenciam quanto à forma de proteção
e usos permitidos. Além disso, a visão estratégica que o SNUC oferece aos tomadores de
decisão possibilita que as UC, além de conservar os ecossistemas e a biodiversidade, gerem
renda, emprego, desenvolvimento e propiciem uma efetiva melhora na qualidade de vida
das comunidades locais e do Brasil como um todo. Antes do surgimento do SNUC, eram
muito esparsas e diferenciadas as normas que tratavam sobre unidades de conservação,
existindo diversas categorias de manejo. Além disso, eram instituídas unidades que sequer
correspondiam a tais categorias (BRITO, 2003).
Seus objetivos podem ser agrupados em quatro itens diferentes:
• Proteção/manutenção/preservação da biodiversidade, da sociodiversidade e de servi-
ços ambientais imprescindíveis, como exemplo os relacionados aos recursos hídricos;
• Incentivo e promoção da pesquisa científica;
• Promoção da educação e interpretação ambiental, a recreação em contato com a na-
tureza e o turismo ecológico;
• Promoção do desenvolvimento sustentável (para as comunidades do entorno das UCs).

Conheça as Unidades de Conservação

Unidades de Conservação
Proteção Integral Uso Sustentável
Estação Ecológica Área de Proteção Ambiental
Reserva Biológica Área de Relevante Interesse Ecológico
Parque Nacional Florestal Nacional
Monumento Natural Reserva Extrativista
Reserva de Fauna
Refúgio da Vida Silvestre  Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Reserva Particular do Patrimônio Natural
Recursos naturais 23

O uso dos recursos naturais requer uma vos econômicos de progresso material su-
nova lógica, fundada na sustentabilidade bordinam-se às leis que governam o funcio-
socioambiental e cultural da existência co- namento dos sistemas naturais, bem como a
letiva. O aproveitamento econômico-social critérios superiores de respeito à dignidade
e a administração dos recursos naturais, vi- humana e de melhoria na qualidade da vida
sando a conservação e a recuperação, exige: das pessoas.
• Normas e diretrizes sobre o uso do Para Pádua (2004), o estabelecimen-
solo, do subsolo e das águas, pautadas to desta nova relação com o território e
em pesquisas científicas; seus ecossistemas precisa inserir-se em
• Garantia de instrumentos jurídicos um amplo movimento político em defesa
capazes de dar sustentação a uma efe- do espaço público e do bem-estar coletivo,
tiva gestão. que fortaleça o sentido de cidadania e de
Para Jacobi (2005), a sustentabilidade comunidade na sociedade brasileira (in-
implica na prevalência da premissa de que clusive considerando as gerações futuras).
é preciso definir uma limitação baseada nas A permanência da lógica predatória, es-
possibilidades de crescimento, e um con- pecialmente nas elites econômicas, apenas
junto de iniciativas que levem em conta a poderá ser transformada pela ampliação da
existência de interlocutores e participantes consciência de nação entre as pessoas.
sociais relevantes e ativos através de práti- Rocha (2000) ressalta a importância
cas educativas e de um processo de diálogo da participação ativa de cada cidadão
informado, o que reforça um sentimento de nas decisões que irão afetar não só as
corresponsabilização e de constituição de próprias vidas, como também a vida dos
valores éticos. que estarão ali no futuro. Nisso não se
Assim, é necessário um novo modelo de está procurando amenizar a participação
utilização dos recursos naturais que deve do Estado na tomada das decisões, pelo
ser ambientalmente sustentável no acesso e contrário será da interação entre as for-
uso dos recursos naturais e na preservação ças da sociedade civil organizada, através
da biodiversidade; socialmente sustentável do poder público institucionalizado, que
na redução de pobreza e das desigualdades surgirão as estratégias compatíveis tanto
e na promoção da justiça social; cultu- com as necessidades de desenvolvimento
ralmente sustentável na conservação do econômico como de preservação do meio
sistema de valores, práticas e símbolos de ambiente de cada lugar.
identidade que determinam integração Nos modelos de gestão compartilhada,
nacional ao longo do tempo; politicamente no qual a participação dos cidadãos deve
sustentável aprofundando a democracia ser enfatizada (JACOBI, 2000), é preciso
e garantindo o acesso e participação de considerar ainda os seguintes aspectos:
todos os setores de sociedade nas decisões • Desenvolvimentos de práticas edu-
públicas. cativas que conduzam para uma
Esse estilo tem como diretriz uma nova atitude reflexiva sobre as questões
ética de desenvolvimento na qual os objeti- ambientais diante de um conceito de
24 Recursos naturais

natureza que se desvele em sua com- nhecimento sobre ela, objetivando a sua
plexidade; transformação [...] (IBAMA, 2002).
• Formação de novas mentalidades,
conhecimentos e comportamentos O caminho para uma sociedade sus-
pautados em uma lógica da susten- tentável se fortalece na medida em que
tabilidade e não do utilitarismo pre- se desenvolvam práticas educativas, que
datório. pautadas pelo paradigma da complexidade,
É preciso entender a complexa temática apontem para a escola e os ambientes peda-
das relações entre meio ambiente e educa- gógicos uma atitude reflexiva em torno dos
ção, a partir de alguns parâmetros presentes problemas ambientais e os efeitos gerados
nas práticas sociais centradas na “educação por uma sociedade cada vez mais pragmá-
para a sustentabilidade”. tica e utilitarista (JACOBI, 2005). Para o au-
Segundo o IBAMA (2002), ao pensar a tor, refletir sobre a complexidade ambiental
educação em um processo de gestão am- abre um estimulante espaço para compre-
biental, deseja-se o controle social na elabo- ender a gestação de novos atores sociais que
ração e execução de políticas públicas, por se mobilizam para a apropriação da nature-
meio da participação permanente dos cida- za, para um processo educativo articulado
dãos, principalmente, de forma coletiva, na e compromissado com a sustentabilidade e
gestão e uso dos recursos ambientais e nas a participação, apoiado em uma lógica que
decisões que afetam a qualidade do meio privilegia o diálogo e a interdependência
ambiente. Complementa ainda que de diferentes áreas do saber. Processo que
questiona valores e premissas que norteiam
[...] todo processo educativo é antes de as práticas sociais prevalecentes, implican-
tudo um processo de intervenção na rea- do em uma mudança na forma de pensar,
lidade vivida em que educar e educando, uma transformação no conhecimento e nas
numa prática dialógica, constroem co- práticas educativas.
Recursos naturais 25
APAs e Conselhos 27

Áreas de Proteção Ambiental (APAs) e seus Conselhos


Gestores: palco da gestão e do aprendizado

Marcelo Misato, Luciana Xavier, Luizi Estancione, Laís Assis, Sandra Beu

A
preocupação com a preservação vimento de atividades econômicas. Dife-
dos recursos e o avanço da in- rente da concepção dos primeiros parques
dustrialização levou à criação de criados, as APAs permitem a existência de
diversas áreas de proteção ao redor do propriedades privadas em seu território e
mundo. Com o ideal de proteger a vida sel- não visam a remoção das comunidades e
vagem e os ecossistemas e a fim de manter atividades humanas, mas sim ordenar os
uma “natureza intocada”, as primeiras Uni- diversos usos de acordo com os objetivos de
dades de Conservação (UCs) criadas foram conservação dos atributos que estimularam
os Parques Nacionais. Esses tinham como sua criação.
pressuposto a preservação do ambiente por A coexistência de propriedades públicas
meio da exclusão do homem de seus limi- e privadas dentro de uma UC que visa à
tes, o que gerou inúmeros conflitos entre os proteção ambiental gera maiores desafios à
gestores das áreas e a população residente, gestão, sendo necessário conciliar opiniões
que dependia da área para a sua sobrevivên- e interesses diversos e muitas vezes diver-
cia, especialmente as comunidades tradicio- gentes, em busca da melhor solução a todos
nais, representadas no Brasil por caiçaras e os envolvidos. Assim, para cumprir seus
quilombolas (DIEGUES, 1995). objetivos e garantir uma solução consensual
Para evitar esses conflitos e buscando para a resolução dos conflitos socioambien-
um novo modelo de conservação ambien- tais, as APAs abrem espaço para a partici-
tal, foram criadas outras categorias de UCs pação das comunidades locais na tomada
que objetivam a promoção de um desen- de decisão, através de seu Conselho Gestor.
volvimento sustentável aliado às ativida-
des humanas, como é o caso das Áreas de As Áreas de Proteção Ambiental
Proteção Ambiental (APAs), que buscam
conciliar a proteção de atributos naturais, Área de Proteção Ambiental é uma ca-
paisagísticos e culturais com o desenvol- tegoria de manejo que foi criada no Brasil
28 APAs e Conselhos

em 1981, como a primeira que possibilitou O Decreto nº 99.274/1990 regulamentou


conciliar a população residente e seus inte- a Lei 6902/1981 e definiu que o decreto
resses econômicos com a conservação da de criação de uma APA deve conter sua
área a ser protegida. A função desta cate- denominação, seus limites, seus principais
goria era a de evitar danos ambientais em objetivos e suas principais restrições de uso,
áreas já ocupadas e de regulamentar o uso ficando a cargo do poder público, a super-
dos recursos naturais. visão e fiscalização das áreas.
A Lei nº 6.902/1981 (BRASIL, 1981) pas- O SNUC definiu Área de Proteção Am-
sa a declarar como APA as porções do terri- biental como
tório nacional que julgasse relevantes para o
interesse público, a fim de “assegurar o bem [...] uma área geralmente extensa, com
-estar das populações humanas e conservar um certo grau de ocupação humana,
ou melhorar as condições ecológicas locais”. dotada de atributos abióticos, bióticos,
Para atingir esse objetivo, a lei define que o estéticos ou culturais especialmente im-
governo estabeleça normas de uso do solo portantes para a qualidade de vida e o
do referido local, já que a proposta envolve bem-estar das populações humanas, e
manter o domínio particular do solo e as ati- [que] tem como objetivos básicos pro-
vidades socioeconômicas ali desenvolvidas. teger a diversidade biológica, disciplinar
o processo de ocupação e assegurar a
sustentabilidade do uso dos recursos na-
turais. (BRASIL, 2000).

A lei dispôs também sobre o caráter da


propriedade das terras nas APAs, sobre o
zoneamento dessas áreas, sobre condições
para visitação pública e pesquisa, e sobre
a necessidade de um Conselho “presidido
pelo órgão responsável por sua adminis-
tração e constituído por representantes
dos órgãos públicos, de organizações da
sociedade civil e da população residente”
(BRASIL, 2000).
Segundo Euclydes e Magalhães (2006), a
temática das Áreas de Proteção Ambiental é
controversa. A complexidade da associação
entre seus propósitos e os fins para os quais
vêm sendo usadas causa polêmica e certo
descrédito à categoria. Segundo as autoras,
a presença de populações e de exploração
dos recursos naturais em seu território
APAs e Conselhos 29

aumenta a complexidade do manejo e os quase 10% do território estadual, e três ma-


conflitos que os gestores devem adminis- rinhas com mais de 1 milhão de hectares,
trar. Além do mais, as restrições de uso que abrangendo praticamente todo a costa do
a administração pode impor muitas vezes estado (FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2013).
esbarram nos direitos de propriedade e/ou A criação das primeiras APAs estaduais
uso da área. data de 1983, década na qual a maioria das
terrestres foi criada. Apesar de serem rela-
APAs no estado de São Paulo tivamente antigas, a gestão das APAs por
meio do Conselho Gestor se efetivou entre
No estado de São Paulo, as Unidades de os anos de 2007 a 2009, com a transferên-
Conservação são geridas pela Fundação para cia da gestão das Unidades de Conserva-
Produção e Conservação Florestal (Funda- ção, antes sob tutela da Coordenadoria de
ção Florestal), sendo de sua responsabilidade Planejamento e Ambiental (CPLA-SMA),
a gestão de trinta APAs, 27 terrestres com para a Fundação Florestal (HAHN; MAL-
aproximadamente 2,5 milhões de hectares, DONATO, 2011).

Entenda como funciona a administração das APAs Paulistas

A Fundação Florestal está vinculada à Secretaria de Meio Ambiente do estado de São


Paulo, por meio de uma administração descentralizada. Seu organograma integra a ges-
tão das UCs de Proteção integral e de uso Sustentável, sendo regionalizadas e agrupadas
de acordo com os limites das Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos (UGRHI).
Essa estrutura possibilita maior conhecimento sobre as pressões e impactos regionais e
permite maior interação com os Comitês de Bacia. Assim há, teoricamente, um desenho
administrativo voltado à gestão ambiental integrada entre duas instâncias de tomada de
decisão, que permite uma análise sistêmica no planejamento de âmbito regional.

Diretoria Executiva

Diretoria Adjunta de Diretoria Adjunta de Núcleo de UC da Região


Assistência Técnica Operações Metropolitana e Interior

Gerência de Gerência de Gerência de


Gerência de Gerência de
UC da Baixada UC do Vale UC do Vale do Gerência de
UC do Alto do UC da Região
Santista/Litoral da Paraíba/ Ribeira/Litoral UC do Interior
Paranapanema Metropolitana
Norte Mantiqueira Sul

Organograma Fundação Florestal (adaptado de Fundação Florestal, 2013)


30 APAs e Conselhos

Esse lapso temporal entre a criação da Conselho Gestor: bases conceituais


Unidade e a implementação de seu Conselho
Gestor, associado à especificidade dos De- O Conselho Gestor consiste em um
cretos de criação, e às características socioe- fórum de participação que visa garantir a
conômicas na qual as APAs estão inseridas, inclusão da sociedade na gestão das UCs.
configura um mosaico bem diferenciado no Assim, se constitui como um espaço de
grau de efetividade da gestão participativa. articulação dos diferentes interesses (pú-
Outro fator de diferenciação entre as APAs blicos, privados e coletivos) e tem como
que deve ser ressaltado se refere a sua carac- objetivo promover o gerenciamento parti-
terística terrestre ou marinha. cipativo e integrado da área, a fim de tomar
As APAs marinhas possuem um di- as decisões para a concretização de planos,
ferencial marcante em relação às terres- programas e projetos que visem a ações de
tres, enquanto estas abrangem territórios recuperação e melhoria da qualidade dos
pertencentes ao estado ou particulares, atributos existentes na UC.
as marinhas se estendem por áreas que Desta forma, é de responsabilidade do
pertencem à União. Assim, a responsabili- Conselho Gestor se manifestar em proces-
dade de sua gestão é compartilhada entre sos de licenciamento de obras ou atividades
estado, responsável pelo zelo à qualidade que possuem significativo impacto ambien-
ambiental do território, e União, a única tal e também sobre as respectivas medidas
que pode ceder o uso das áreas costeiras e de compensação e recuperação, quando
águas marinhas, criando a necessidade de possível (HAHN; MALDONATO, 2011).
participação do Governo Federal em seus O funcionamento do Conselho Ges-
Conselhos Gestores, o que não acontece, tor está atrelado ao conceito da Gover-
necessariamente, no caso terrestre. nança Ambiental, que se baseia em três
APAs e Conselhos 31

princípios: descentralização, coordenação A paridade do CG garante a existência


e comprometimento (SCHNURR, 2008), de um equilíbrio de poderes entre a socie-
ou seja, dentro de um conselho, todos os dade civil e o poder público, assim 50% das
envolvidos detêm igual parcela de poder e vagas do conselho é pertencente à socie-
responsabilidade. No entanto, para o seu dade civil organizada e 50% são divididas
funcionamento efetivo, é necessário que es- entre o poder público. No caso das APAs
teja atrelado a uma estrutura de tomada de terrestres a divisão é tripartite, pois a com-
decisão policêntrica, transparente e que en- posição do poder público é dividida entre
volva diversos atores, reforçando a inclusão o poder municipal e o estadual, ou seja, é
da sociedade, a participação nas decisões composta por três poderes (sociedade civil,
políticas e estimulando o consenso entre as poder municipal e poder estadual). Já no
partes (JACOBI, 2005). caso das APAs marinhas, a representação
Para fomentar a participação necessária do estado de faz pelo poder municipal, es-
à gestão de UCs, o uso de Plataformas Múl- tadual e federal, uma vez que o território da
tiplas de Atores é fundamental, pois difere UC pertence à União.
das estruturas tradicionais de organização,
uma vez que tem como intuito incluir o Composição do Conselho Gestor
maior leque de interesses. Porém, a lógica
de maior participação não gera necessaria-
Poder Público – 50%
mente uma melhor gestão. Esse processo Sociedade Civil representantes
não é linear e sim recíproco, dinâmico e exi- 50% representantes Municipal, Estadual e
ge análise de ambos os lados (poder público Federal
e sociedade civil), sendo a participação dos
cidadãos um meio e não um fim para a go-
vernança ambiental (BELL; MORSE, 2002). O mandato dos CGs paulistas tem
duração de dois anos, prorrogáveis por
Conselho Gestor: Estruturas de mais um ano. Os representantes gover-
funcionamento namentais são indicados pelas entidades
convidadas a compor o CG, selecionadas
O adequado funcionamento dos Conse- de acordo com os atributos a serem pre-
lhos Gestores está associado a sua estrutura servados em cada APA; os representantes
e funcionamento. No estado de São Paulo, da sociedade civil são eleitos por meio de
esses são regulamentados pelo Decreto Es- votação entre seus pares. O processo de
tadual nº 48.149, de 9 de outubro de 2003, e eleição da sociedade civil é composto por
foram inspirados no modelo utilizado pelos quatro fases:
Comitês de Bacias Hidrográficas (CBH). • Lançamento do edital de convocação;
Respeitando as diretrizes federais presentes • Inscrição das instituições para con-
no SNUC, a estruturação do Conselho Ges- correr à vaga;
tor se dá de forma paritária, entre o poder • Eleição dos representantes;
público e a sociedade civil. • Posse dos conselheiros.
32 APAs e Conselhos

É importante ressaltar que para se ca- • Presidência: Representante da Secre-


dastrar no processo eleitoral, as institui- taria Estadual de Meio Ambiente;
ções civis devem apresentar uma série de • Secretaria Executiva: Membro eleito
documentos que comprovem sua atuação pela plenária;
na região da APA e seu registro em cartó- • Câmaras técnicas/temáticas: Criadas
rio. Esse último critério dificulta a ampla por deliberação do plenário e possuem
participação da sociedade nos CGs, pois prazo de funcionamento determinado
muitas associações funcionam em caráter e suas atividades são especificadas no
informal e não possuem todos os registros ato de sua criação.
necessários.
As reuniões do CG são públicas e devem Gestão, Aprendizagem Social e o papel das
possuir pautas preestabelecidas no ato de instituições de ensino e pesquisa nas APAs
sua convocação e serem realizadas em lo- estaduais
cal de fácil acesso. Além de possuir caráter
consultivo. A promulgação do SNUC e, principal-
A estrutura interna do CG determina mente, a criação dos diversos Conselhos
que o número mínimo de entidades re- Gestores das UCs, foram marcos para o
presentantes seja doze e o máximo 24, de- movimento ambiental do Brasil, repre-
pendendo da extensão da área da UC e do sentando um avanço para a gestão dos
número de municípios abrangidos. Seu or- recursos naturais e atuando como peças
ganograma é estruturado da seguinte forma: fundamentais para que muitas unidades
• Plenário: Composto por todos os de conservação saíssem do papel e inicias-
membros do Conselho Gestor; sem seus processos de gestão participativa
e democrática.
Em São Paulo, por exemplo, a existên-
cia das 27 APAs terrestres pressupõe sua
compatibilidade com o número de
CG existentes, porém as unidades
com perímetros sobrepostos ou
contíguos podem ser geridas
por um único conselho, como
é o caso das APAs Cabreuva/
Cajamar/Jundiaí e a APA Pira-
cicaba/Juqueri-mirim área 1
e 2. Essa situação, em partes
é positiva, pois agrega áreas
com características similares,
tornando mais fácil a resolução de
problemas regionais. Porém, em seu aspec-
to negativo, dificulta o acesso de membros
APAs e Conselhos 33

produção de conhecimento que contribua


para o aperfeiçoamento de ações participa-
tivas que aumentem a eficácia das decisões
adotadas e o fortalecimento dos conselhos
gestores.
Tendo como referência o conceito de
Aprendizagem Social e visando aumentar a
atuação das instituições de ensino e pesqui-
sa na melhora da eficácia de processos de
gestão, aproximando-as dos conselhos ges-
tores, o Grupo de Pesquisa em Governança
Ambiental – GovAmb desenvolveu o pro-
jeto “Aprendizagem Social e sua Aplicação
nas Relações entre Ciência e Governança
Ambiental: quatro estudos de caso no Esta-
do conselho, tendo em vista a distância de do de São Paulo”.
deslocamento requerida. O projeto de pesquisa foi realizado em
Alguns desafios ao funcionamento ade- quatro APAs do estado de São Paulo, sen-
quado dos conselhos permanecem, como a do duas terrestres e duas marinhas: APA
necessidade de fortalecer a participação da Itupararanga, APA Tietê, APA Marinha do
sociedade civil, garantir a legitimidade das Litoral Norte e APA Marinha do Litoral
decisões e representações, proporcionar a Centro.
interação entre os diversos segmentos de Durante o desenvolvimento da pesqui-
maneira construtiva e focada na gestão. sa, os pesquisadores estiveram em cons-
Superar esses desafios é essencial para tante contato com os CGs de cada APA,
garantir a proteção dos recursos naturais. acompanhando o último biênio de gestão,
Nesse contexto, a atuação das univer- interagindo com os conselheiros e gestores
sidades e centros de pesquisa pode fazer através de workshops e aplicação de ques-
a diferença, tanto na geração e divulgação tionários.
dos atributos biofísicos das UCs quan-
to para o fortalecimento do
processo de tomada de
decisão em si. En-
tretanto, enquan-
to a maioria dos
esforços é volta-
da à realização de
estudos biofísicos,
ainda é muito inci-
piente o processo de
Conheça as Áreas de Proteção Ambiental do Estado de São Paulo

1 - APA Tietê 2 - APA Itupararanga


Decreto Estadual nº 20.959, de Decreto Estadual nº 10.100, de 01/12/1998
08/06/1983 Área: 93.562,07 ha
Área: 45.100,00 ha Municípios: Alumínio, Cotia, Ibiúna,
Municípios: Tietê e Jumirim Mairinque, Piedade, São Roque, Vargem
Conselho Gestor – Setores Grande Paulista e Votoran tim
representados: Civil (08 vagas); Conselho Gestor – Setores representados:
Governo Municipal (04 vagas) e Civil (12 vagas); Governo Municipal (06
Governo Estadual (04 vagas) vagas) e Governo Estadual (6 vagas)

S E

MS W

MG

ES

1
3 - APA Marinha do Litoral 4 - APA Marinha do Litoral
Centro Norte
Decreto Estadual nº 53.526, de Decreto Estadual nº 53.525, de
08/10/2008 08/10/2008
2 4
Área: 449.000,2 ha de área Área: 316.242,45 ha de área
marinha marinha
Municípios: Bertioga, Guarujá, Municípios: Ubatuba, 3 4 4
Santos, São Vicente, Praia Grande, Caraguatatuba, São Sebastião e
Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe Ilhabela Legenda
Conselho Gestor – Setores Conselho Gestor – Setores 3 3 Limites Estaduais
representados: Sociedade Civil representados: Sociedade Civil APAs Estudadas
(12 vagas), Governo Municipal (4 (12 vagas), Governo Municipal (4
UC's Uso Sustentável
vagas); Governo Estadual (5 vagas) vagas); Governo Estadual (5 vagas)
UC's Proteção Integral
e Governo Federal (3 vagas) e Governo Federal (3 vagas) PR
Oceano
APAs e Conselhos 35

Através desse contato, entre pesquisadores e conselheiros, foi possível traçar um pano-
rama da situação atual de interação entre instituições de ensino e pesquisa e cada um dos
Conselhos das APAs participantes. O quadro a seguir explicita as expectativas dos conse-
lheiros em relação à atuação das instituições de ensino e pesquisa, o panorama atual e pos-
sibilidades de melhora desta relação.

Panorama da atuação das instituições de ensino e pesquisa


nos Conselhos Gestores de APAs Paulistas

Questões Repostas
Subsídios para tomada de decisão;
Consultas técnicas;
Apresentando dados de trabalhos realizados na área;
O que se espera? Desenvolvendo pesquisas para demandas específicas do CG;
Acompanhamento da atuação do CG;
Métodos para capacitação, divulgação e aprimoramento da comunicação do CG;
Conhecimento profundo das atividades e histórico do município.

Fornecendo subsídios para tomada de decisão;


Como tem Respondendo à consultas técnicas;
contribuído para Apresentando dados de trabalhos realizados na área;
a gestão da UC? Participando de reuniões;
Aproximando gestores e pesquisadores.
Maior envolvimento em grupos de trabalho e câmaras temáticas;
Maior participação nas reuniões;
O que pode ser Desenvolver projetos de capacitação para conselheiros;
melhorado? Desenvolver pesquisas direcionadas à demandas da gestão das APAs;
Aumentar a divulgação de informações de projetos de pesquisa realizados;
Mobilizar instituições de pesquisa para contribuir com a gestão das APAs.

Os resultados apresentados demonstram participantes, percebida como secundária


que, para o conselho, o papel fundamental na interação entre essas instituições e os
das universidades e centros de pesquisa está Conselhos Gestores.
na produção de conhecimento e informa- Para evidenciar o papel promotor de
ções sobre as características biofísicas das articulação e produção de conhecimento
UCs. Apesar de ser esperado que as insti- das universidades e centros de pesquisa,
tuições de ensino e pesquisa desenvolvam nos próximos capítulos são apresentadas
“métodos para capacitação, divulgação e algumas ferramentas e métodos que podem
aprimoramento da comunicação no CG”, ser utilizados para melhorar a efetividade
ficou evidente que se trata de uma demanda na gestão de UCs, e para promover a apren-
reconhecida por um pequeno número de dizagem social dentro dos conselhos.
Negociação e Mediação 37

Negociação e mediação de conflitos em


Áreas de Proteção Ambiental – APAs

Gina Rizpah Besen e Maria Lucia Bellenzani

A
criação e gestão das Áreas de Pro- na de agir em comum acordo (ARENDT,
teção Ambiental envolve conflitos 1985; SOUZA, 2000). O poder não é pro-
sociais, econômicos, ambientais, priedade de um indivíduo, pertence a um
políticos e institucionais existentes entre grupo e existe apenas enquanto o grupo se
múltiplos atores e interesses atuantes no mantiver unido. No entanto as relações de
território protegido pela unidade, onde co- poder são efêmeras e dinâmicas.
existem propriedades públicas e privadas. Dentre os conflitos entre atores sociais
Para tanto, se faz necessário compatibilizar pelo uso do espaço, manifesta-se a forma
os interesses públicos/políticos e privados como estes organizam as ações no terri-
dentro do território. Esse é um espaço tório (SILVA, 2001). Os múltiplos atores
definido e delimitado a partir das relações envolvidos no decorrer do processo intera-
de poder, e “sendo o território um instru- gem e negociam com agentes que possuem
mento de poder é importante identificar diferentes posições sociais que regulam,
quem domina ou influencia quem nesse fiscalizam e consomem os recursos natu-
espaço e como” (SOUZA, 2000, p.81). Por- rais (PACHECO et al., 1993). Ocorre uma
tanto, a questão dos conflitos existentes, intermediação de interesses que envolvem
e a necessidade de realizar negociações e a diversidade dos atores nos aspectos que
mediações, passam pelas características relacionam a esfera pública e privada. A
dos recursos naturais, o que se produz ou partir da existência e superposição de vá-
quem produz em um dado espaço, ou ain- rios tipos de conflitos, surge uma dinâmica
da, quais são as ligações afetivas e de iden- no jogo de interesses, e essa pode resultar
tidade entre um grupo social e seu espaço, em alianças e/ou oposições de acordo com
conflitos e contradições sociais. as circunstâncias.
Ao considerar a questão territorial na O sucesso da implementação de uma
perspectiva dos atores sociais, o poder pode APA passa pela sua contextualização no
ser entendido enquanto a habilidade huma- território – ou seja, pela compreensão dos
38 Negociação e Mediação

processos de interação social e ambiental Conflitos - o que são?


que nele se desenvolvem – e pela gestão,
por meio de seu Conselho Gestor, que deve O conflito permeia as relações humanas
garantir a ampla participação da população em todas as sociedades, sendo importante
residente e demanda legitimidade na repre- interpretá-lo como parte de um processo
sentação (MORAES, 2011). A APA deve de viver, e uma oportunidade de identifi-
ser gerida de forma compartilhada entre o car problemas e resolver questões relevan-
poder público e as comunidades que a habi- tes para as partes interessadas (GRANJA,
tam. O fórum é o Conselho Gestor que tem, 2012). Alguns conflitos são pontuais e de
dentre suas atribuições legais, acompanhar rápida solução, enquanto outros são mais
a elaboração, implementação e revisão do complexos e requerem soluções graduais.
Plano de Manejo que deve ser aprovado por Existem muitas formas de conflitos: os
sua plenária antes de sua instituição legal. que surgem na compreensão da situação ou
O Zoneamento Ambiental integra o do contexto, disputas, desacordos, diferen-
Plano de Manejo e em seu processo de ças de entendimentos de metas, acordos,
construção são explicitados os conflitos interesses divergentes, crises nas relações,
socioambientais existentes, que devem ser conflitos de poder, conflitos intra e inter-
equacionados. O zoneamento constitui- pessoais, dentre outros, podem ser evitados
se na delimitação de áreas relativamente e/ou manejados e revelam a interdependên-
homogêneas dentro da unidade de con- cia entre as partes envolvidas que podem
servação, para as quais são estabelecidas ser de convergência ou de divergência.
normas específicas de acordo com suas ca- Uma situação de conflito implica em
racterísticas, potencialidades e fragilidades. desacordo inicial e uma confrontação, onde
Define regras para atividades futuras, assim pode haver uma terceira parte que interceda
como diretrizes para a recuperação de áre- nesta disputa. Intervir em uma disputa não
as degradadas e mitigação dos impactos significa que ela cessará.
causados pelas atividades já existentes. Nas Para Granja (2012), é importante en-
APAs, por serem unidades de conservação tender o conflito como um processo que
de uso sustentável, o Zoneamento Am- envolve diferentes visões de mundo, que
biental é um instrumento de ordenamento muitas vezes não são compatíveis, sendo
territorial, dialogando, portanto, com ou- assim, compreende-se que a resolução não
tros instrumentos como Planos Diretores e é necessariamente direta, mas pode vir
Planos de Bacia Hidrográfica. Os conflitos através do processo de mediação. Nos Con-
que daí surgem são complexos e os níveis de selhos Gestores, por exemplo, por vezes um
compreensão dos diferentes atores que inte- conselheiro, quando não representa parte
ragem no território é diverso, assim como interessada no conflito, pode assumir o pa-
seus interesses. Nem sempre o consenso é pel de mediador para facilitar a evolução da
possível, e nesse caso o interesse ambiental discussão na direção de sua resolução.
deve preponderar sobre o social, por se tra- Os interesses das partes envolvidas no
tar de uma unidade de conservação. conflito nem sempre são declarados ou
Negociação e Mediação 39

explícitos, muitas vezes são supostos. Interes- a permanência de habitações em Área de


ses compatíveis ou convergentes dão espaço a Preservação Permanente (APPs) e na planí-
conflitos por falta de compreensão mútua ou cie aluvial. O Conselho emitiu um parecer
por estarem presentes no cenário outras variá­ solicitando que estas fossem preservadas,
veis que não são exclusivamente relativas ao aumentando o número de novas unida-
fato ou ao momento. Em uma situação con- des habitacionais a serem construídas para
flituosa, pode existir um histórico da relação abrigar a população moradora dessas áreas.
entre as partes, que é desconhecido. A área reservada para a construção dessas
Um exemplo é o caso do Condomínio moradias, situada fora dos limites da APA,
Vargem Grande, na APA Capivari-Monos, não comporta o número de moradias ne-
no município de São Paulo. Esse loteamento cessário em virtude das regras construtivas
irregular foi implantado anteriormente à cria- estabelecidas pelo Plano Diretor. No inte-
ção da APA em uma área extremamente frágil rior da Cratera existe, no entanto, um pre-
tombada pelo CONDEPHAAT (Conselho de sídio, cuja construção no passado também
Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueoló- violou as regras de uso e ocupação do solo
gico, Artístico e Turístico) em razão da sua vigentes à época. A construção de um con-
importância científica, a Cratera de Colônia. senso mínimo pressuporia um olhar mais
O projeto de urbanização do loteamen- abrangente dos interlocutores, o que inclui
to apresentado pela Secretaria Municipal o conhecimento do histórico dessa ocupa-
de Habitação, participante do Conselho ção – que, no caso, foi inclusive incentivada
Gestor, apontava para a flexibilização de pelo próprio poder público, direta ou indi-
regras de preservação ambiental – no caso, retamente, e isso tem que ser considerado.
40 Negociação e Mediação

Negociação e mediação de conflitos - qual a diferença?

A negociação e a mediação são mecanismos de resolução de conflitos não judiciais e seus


procedimentos variam, de acordo com os participantes.

Negociação e mediação de conflitos

Formas de lidar
Quem participa Processo Decisão
com conflitos
• As partes buscam um acordo
e tentam chegar a uma decisão • As decisões são tomadas pelas
conjunta em assuntos de interesses partes, sem a obrigatoriedade do
mútuos. cumprimento do que foi decidido
• Busca-se construir as melhores • A interdependência de interesses
• Partes interessadas e alternativas para cada um dos pode impulsionar ou não a
seus representantes. interlocutores, e a conciliação motivação dos envolvidos em uma
• Múltiplos de interesses, muitas vezes, negociação, mesmo que as posições
interlocutores, tornando conflitantes. sejam conflitantes, pois em um
Negociação mais complexa a • A construção implica em interação segundo momento podem convergir
interdependência de de saberes referentes ao escopo em interesses complementares.
interesses e decisões do que será negociado, traduzindo - Podem existir várias rodadas de
dos interlocutores que em uma prática de alocações de negociação nas quais as alianças e
negociam. decisões. oposições podem se alterar.
• As negociações podem ter • Os resultados dependem das
variações de complexidade, circunstâncias, do contexto, da
dependendo da situação que interação dos interlocutores e de
os interlocutores se dispõem variáveis de outras negociações.
inicialmente a enfrentar.
• A mediação facilita a participação
das partes e a elaboração
de acordos que possam ser
implementados, de acordo com • O mediador é um facilitador e as
aquilo que for decidido. partes decidem se aceitam ou não
• Implica na suas sugestões.
participação de um • O mediador investiga a fundo
terceiro indivíduo os problemas e auxilia a criar e a • A construção de um acordo
“neutro” que não tem avaliar as opções de soluções com entre as partes é feita por elas
Mediação
interesse nas partes. um critério científico que assegura mesmas, em um processo onde o
aos mediados de que o acordo mediador incentiva a visualização de
• O mediador pode ser resultante será justo, equitativo e alternativas para o consenso.
uma instituição, uma duradouro.
pessoa ou um grupo. • Existe um comprometimento pós-
• A mediação se baseia em um mediação de realização das ações
processo democrático de construção que foram acordadas entre as partes.
de um futuro comum entre as
partes interessadas em resolverem
determinados conflitos.

Fontes: GALTUNG, J. 2006; ROSENBERG, 2006; GRANJA, 2012.


Negociação e Mediação 41

Negociação de conflitos Mediação de conflitos

A principal referência teórica sobre O processo de mediação é, essencial-


negociação desenvolve-se com o Program mente, a condução de determinado conflito
On Negotiation (PON) da Harvard Law por uma “terceira parte neutra” que, por
School, nos Estados Unidos, que a consi- meio da fala, estimula o amadurecimento
dera uma ciência que pode ser estudada das partes interessadas, para que construam
por meio do arcabouço jurídico, da psi- suas próprias soluções, através do entendi-
cologia, da antropologia, da economia, do mento (GALTUNG, 2006). Na mediação,
processo de governar, das artes e da educa- existem vários nomes utilizados para iden-
ção (GRANJA, 2012). tificar aqueles que estão envolvidos: ator,
Existem diversos modelos de negocia- stakeholder, partes, interlocutor, trabalha-
ção, porém o mais difundido é o que a dor de conflito, agente, entre outros.
adota como uma construção de consensos A neutralidade do mediador é essen-
gradativos, de ganhos compartilhados, com cial para garantir o sucesso na resolução
soluções vantajosas, de forma a expandir e de conflitos. As partes interessadas devem
a ampliar o escopo do benefício mútuo para confiar no mediador e não se sentir excluí­
todas as partes (GRANJA, 2012). Para que das do processo em nenhum momento. A
as partes expressem seus interesses con- situação sempre será apresentada por meio
vergentes ou divergentes, é necessário que das versões narradas pelas partes. A “ver-
haja diálogo, voz, comunicação, discurso e dade” de cada uma deve ser respeitada pelo
utilização de argumentos lógicos e racionais mediador, pois seu papel não é de julgar ou
pelos interlocutores. indicar a melhor saída para determinada
42 Negociação e Mediação

situação, mas construir conjuntamente a compreensão e delinear alternativas factíveis para


ambas. Algumas comunidades praticam processos de mediação por meio de casas de me-
diação, de igrejas, de centros comunitários e conselhos.
A mediação e a negociação de conflitos pressupõem uma mudança de postura, de uma
situação de debate para uma postura de diálogo, para que se possa chegar a acordos que
atendam as necessidades das partes envolvidas. Isso possibilita que a negociação se inscreva
dentro de uma perspectiva de Aprendizagem Social, e, portanto, pode ser um meio de pro-
mover esta prática.

Algumas diferenças de posicionamento em situações de debate e diálogo

DEBATE DIÁLOGO
Posicionamentos de certeza, defesa de convicções, Troca na qual as pessoas falam e ouvem aberta e
desafios, tentativas de convencer que seu ponto de vista é respeitosamente. Apresentação de argumentos, certezas e
o correto. Às vezes, ataques ao outro. incertezas e busca de entendimento.
Não há comunicação, antes da reunião, entre as partes. Os contatos e a preparação dos participantes, antes da reunião,
Os convidados podem ser líderes conhecidos por posições são elementos essenciais do processo.
elaboradas.
O clima pode ser ameaçador, e ainda com ataques e O mediador propõe, obtém acordo e executa regras básicas
interrupções pelas partes, permitidos pelos moderadores. e claras para aumentar a segurança e promover a conversa
respeitosa.
Os participantes podem falar como representantes de Os participantes falam uns com os outros.
grupos.
Os participantes podem ouvir a fim de refutar os dados Os participantes ouvem para entender e obter conhecimento das
apresentados pelo outro lado e para expor a lógica falha de convicções e preocupações dos outros.
seus argumentos.
As perguntas podem constituir desafios retóricos ou As perguntas são feitas por curiosidade.
declarações. Presume-se que as necessidades e os valores Surgem novas informações. O sucesso requer a exploração das
já foram entendidos. complexidades da questão que está sendo discutida.

Fontes: www.comitepaz.org.br, www.educapaz.org.br, www.ipaz.org.br, www.palasathena.org.br, www.


soudapaz.org, www.upeace.org. Acesso em 09/02/12.

Conselhos Gestores das APAs - espaços de negociação e de mediação de conflitos

Nas APAs, os Conselhos Gestores são os espaços criados legalmente para a negociação e,
menos frequentemente, para mediação de conflitos entre os diversos atores que interagem no
território. Dentre as competências do Conselho Gestor (BRASIL, 2002), duas são especial­
mente voltadas à negociação de conflitos: esforçar-se para compatibilizar os interesses dos di-
versos segmentos sociais relacionados com a unidade e, propor diretrizes e ações para compa-
tibilizar, integrar e otimizar a relação com a população do entorno ou do interior da unidade.
As representações dos órgãos públicos e da sociedade civil nos conselhos devem ser,
sempre que possível, paritárias, considerando as peculiaridades regionais. A natureza do
conselho não é normatizada, mas sejam eles consultivos ou deliberativos, são integrados
Negociação e Mediação 43

por representantes dos órgãos públicos e Nas APAs, os conflitos mais presentes
dos segmentos da sociedade civil que atuam giram em torno do uso e ocupação do solo:
no território. São constituídos em espaços usos econômicos que não estão em con-
de gestão participativa e de conciliação formidade com o Zoneamento Ambiental,
de opiniões e interesses divergentes, que como mineração, parcelamento do solo,
atuam sobre o território. Quanto mais es- empreendimentos turísticos, agricultura;
pelham a diversidade de partes interessadas construções ilegais; extração de espécies
mais representam a correlação de forças no vegetais nativas; caça; entre outros. Signifi-
território delimitado pela unidade, e mais cativos são os conflitos advindos do licen-
legítimos se constituem enquanto espaço de ciamento ambiental de empreendimentos.
negociação dos conflitos socioambientais No caso das APAs Municipais situadas
que nela se dão. no extremo Sul do município de São Paulo,
Quando deliberativos, os Conselhos destaca-se que de acordo com o Plano de
Gestores têm mais força para que os pactos Manejo da APA Capivari-Monos (SVMA,
nele firmados sejam efetivamente cumpri- 2011), os maiores desafios para a gestão são
dos. No entanto, seu poder de deliberação os conflitos socioambientais decorrentes da
é restrito à sua competência, pois não subs- expansão urbana – pressão para a regulari-
titui o órgão ambiental. O licenciamento de zação e implantação de infraestrutura em
obras e empreendimentos consiste em uma loteamentos irregulares situados em áreas
das maiores fontes de conflitos nas APAs, frágeis, invasão de áreas para moradia, ine-
pois o Conselho não é o licenciador, mas é xistência ou insuficiência de saneamento
ouvido no processo de licenciamento e, se ambiental, além de impactos sobre a biodi-
deliberativo, pode intervir no processo com versidade e sobre os recursos hídricos. Exis-
vistas a garantir o menor dano ambiental. tem, ainda, desafios decorrentes do licen-
Diegues (1995) identificou vários tipos ciamento ambiental de empreendimentos,
de conflitos nas Unidades de Conservação: no caso, os ligados ao setor de transportes:
• Práticas econômicas e ocupacionais o Rodoanel Metropolitano, cujo trecho Sul
– caça, pesca, extrativismo, prestação atravessa a APA Bororé Colônia, e a dupli-
de serviços, construção e reforma; cação da ferrovia Mairinque-Santos, que
• Legais e sociais – relacionamento com atravessa a APA Capivari – Monos.
a Fiscalização e com a Administração; Esses últimos são exemplos de conflitos
regularização fundiária; onde o jogo de forças é desigual. No caso
• Degradação dos recursos naturais do Rodoanel Metropolitano Mário Covas
– fogo com atividades agropastoris, na APA Bororé-Colônia, o licenciamento
incêndios e desmatamento; ocorreu pouco antes da criação da unida-
• Outros – salário dos empregados, lixo de, que tramitava na Câmara Municipal ao
e esgoto, exploração turística, entrada mesmo tempo em que o Rodoanel era li-
em áreas proibidas, desmatamento cenciado. O Conselho apenas acompanhou
para lenha, venda e desmembramento o processo de implantação das compensa-
de posses antigas, roça, camping, etc. ções ambientais – quatro parques naturais
44 Negociação e Mediação

Municipais, três deles no interior da APA, como sobre o patrimônio histórico do bair-
além do plantio compensatório de espécies ro de Evangelista de Souza, que vem sendo
nativas. Apesar de terem sido apontadas dilapidado pela modernização da ferrovia.
irregularidades, em especial nesse último, O parecer do Conselho Gestor pede
o órgão licenciador não as considerou. Não que a empresa América Latina Logística,
houve, tampouco, nenhuma compensação responsável pela operação da ferrovia, in-
de ordem social para as comunidades que vista em melhorias no bairro de Engenheiro
foram afetadas pelo empreendimento. No Marsilac e custeie parte da implantação
entendimento dos moradores da região, do Polo de Evangelista de Souza, prevista
os parques naturais não trazem benefícios, no Plano de Manejo da APA. As obras de
pelo contrário, são vistos como agravantes duplicação, no entanto, estão em curso sem
da exclusão social. que isso tenha ocorrido, permanecendo o
No caso da obra de duplicação da fer- conflito sem solução.
rovia, trata-se de um licenciamento federal O conflito se acirra, muitas vezes entre
no qual o Conselho Gestor é ouvido. Por secretarias ou diferentes esferas de governo.
se tratar de uma ferrovia já existente, o Nestes casos caberia um mediador externo,
impacto sobre o meio natural é muito pe- no entanto isto não ocorre. A necessidade
queno, portanto o licenciamento não enseja de mediação se faz em casos de ocupações
as compensações previstas na legislação. urbanas em locais não permitidos, assim,
Para o Conselho, os principais impactos auxilia na construção de “Acordos de entre
não são sobre o meio natural, mas sobre as partes”, com o objetivo de mediar o con-
a comunidade de Engenheiro Marsilac, flito e encaminhar possíveis soluções, sem a
bairro de importância histórica no interior necessidade de um processo jurídico. Even-
da APA, em especial devido aos ruídos e à tualmente, as universidades e organizações
trepidação causada pela passagem contínua da sociedade civil podem atuar na media-
de composições pesadas que trafegam da ção quando não diretamente envolvidas no
Serra do Mar para a Baixada Santista, bem conflito.
Negociação e Mediação 45
46 Identidade territorial
Identidade territorial 47

O Patrimônio como fator de identidade territorial


e de desenvolvimento local

Marcelo Takashi Misato e Silvia Helena Zanirato

A
conservação do Patrimônio pos- de territorial e a importância desses para o
sui valor integrativo para a con- sentimento de pertencimento e a conserva-
servação dos recursos naturais e ção da paisagem.
culturais, porém esta conservação só será
atingida por meio do estimulo à participa- O que é Patrimônio?
ção social.
O capítulo destaca alguns elementos A definição de Patrimônio contempla
associados à discussão sobre a conserva- elementos culturais e naturais, de natureza
ção do Patrimônio, que colaboram com o material ou imaterial, porém deve estar
direcionamento da discussão para o desen- associada a um processo de construção so-
volvimento local, por meio da visitação tu- cial, resultante de um contexto histórico e
rística, no âmbito da governança ambiental. vinculado a um determinado grupo social,
Assim, serão levantadas discussões acerca sobre o qual reconhecem sinais de sua iden-
do Patrimônio, seu vínculo com a identida- tidade (ZANIRATO, 2009).

Categorias do Patrimônio e alguns exemplos


Patrimônio Cultural e Natural
Mosteiro da Luz
Material Estação da Luz
MASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand
Cultural
Círio de Nossa Senhora de Nazaré
Imaterial Complexo Cultural do Bumba-meu-boi do Maranhão
Ritual Yaokwa do Povo Indígena Enawene Nawe
Parque Nacional do Iguaçu
Natural Material Complexo de Conservação da Amazônia Central
Ilhas Atlânticas Brasileiras: Fernando de Noronha e Atol das Rocas
48 Identidade territorial

Desta forma, não se deve restringir a fa- • Valor ecológico vinculado à conser-
tores estéticos, mas à sua representativida- vação da biodiversidade animal e
de para determinada população, pois “sal- vegetal, que representam habitats nos
vaguardar o que se denomina Patrimônio quais existem espécies em risco de
é condição essencial para a manutenção extinção ou processos ecológicos e
do sentimento de enraizamento do sujeito biológicos de importância;
com o espaço que habita, para a configu- • Valor científico manifestado em áreas
ração de suas identidades” (ZANIRATO, que contêm formações ou fenômenos
2011, p. 190). naturais importantes para a ciência.
A salvaguarda, difusão, conservação e Para o Estado de São Paulo, através do
gestão dos bens aos quais se atribuiu valor Conselho de Defesa do Patrimônio His-
patrimonial, são procedimentos necessários tórico, Arqueológico, Artístico e Turístico
para preservar as histórias e as identidades (CONDEPHAAT), o Patrimônio Ambien-
que o Patrimônio expressa, além de impedir tal se expressa pelo termo: Patrimônio
sua destruição ou descaracterização. Ambiental Urbano, que tem como objetivo
O Instituto do Patrimônio Histórico e “sintetizar elementos de diversos; as ruas, as
Artístico Nacional (IPHAN), responsável casas, a paisagem, de modo a compor a um
pela gestão dos bens patrimoniais no Brasil só termo o quadro material que dá suporte
defende que “o Patrimônio cultural de um à memória e permite preservar o meio am-
povo compreende as obras de seus artistas, biente” (RODRIGUES, 2000, p. 87).
assim como as criações anônimas surgidas Por meio dessa categoria, reconhece-se
da alma popular” (IPHAN, 2004, p. 319). o valor “em expressões de uma natureza
Com isso, ele diminui o distanciamento das transformada e apropriada socialmente,
concepções elitistas do Patrimônio artístico uma natureza ‘comum’ dos parques e áreas
e monumental, e insiste em reconhecer que verdes urbanas, com amplo uso e, portanto,
as obras modestas, que adquiriram com o com amplo significado social” (SCIFONI,
tempo uma significação cultural, também 2007, p. 110).
compõem o rol de bens culturais, e que o Os critérios para o enquadramento do
Patrimônio abarca também os produtos da Patrimônio Ambiental Urbano do Con-
cultura popular. dephaat são mais amplos que o da UNES-
No que tange ao Patrimônio Natural, CO, considerando:
a Organização das Nações Unidas para a • Formas de vegetação nativa remanes-
Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) centes, em especial nas áreas onde
considera que sob esta categoria se incluem essa cobertura vegetal esteja ameaça-
os componentes estéticos, ecológicos e cien- da de extinção eminente;
tíficos, assim são considerados a partir do: • Formas de vegetação secundária que
• Valor estético expresso por meio das se destacam pelo seu valor científico
paisagens de extraordinária beleza ou pela escassez de formas originais;
natural ou que apresentem formações • Áreas que se destacam pela existên-
únicas; cia de monumentos geológicos, de
Identidade territorial 49

feições geomorfológicas e pedológi- quanto de recursos naturais, pressupõe


cas particulares; o reconhecimento de valores (históricos,
• Áreas de paisagens que mantêm o artísticos, ecológicos e de existência), re-
equilíbrio do sistema ambiental e que ferentes ao mesmo. Para tanto é necessária
garanta a manutenção de mananciais; a existência ou o resgate das identidades
• Áreas consideradas habitat de espé- atreladas ao recurso que se quer proteger e
cies de animais raros; os sujeitos envolvidos em sua defesa.
• Paisagens que constituem exemplos A identidade da população com seu
de atuação antrópica, efetuada atra- território pode reforçar e criar valores
vés de manejos que levam em conta comuns para a conservação dos atributos
a preservação do espaço territorial e naturais e culturais, presentes na paisa-
das estruturas sociais locais; gem, possibilitando a apropriação do am-
• Toda a paisagem alterada ou não pela biente. A percepção e o reconhecimento
ação antrópica que se caracterize pela dos atributos na paisagem se assentam em
sua expressividade, raridade e bele- marcos naturais e construídos, que funcio-
za excepcional, e pelo que a mesma nam como pontos de orientação espacial e
representa em termos de interesse repositórios de lembranças. Esses signos,
turístico, social e científico. heranças materiais e imateriais, culturais
O Patrimônio seja ele cultural ou natural, e naturais configuram o que se designa
nos dizeres de Nestor Canclini, “expressa Patrimônio.
à solidariedade que une aqueles que com- As identidades resultam da vivência
partilham um conjunto de bens e práticas pessoal, das referências e vínculos criados
que os identificam”. A sobrevivência desse que permitem o reconhecimento dos bens
legado “só pode ser assegurada se a necessi-
dade de sua proteção for compreendida pela
população”. (CANCLINI, 1997, p. 59.)

Conservação do Patrimônio
e seus vínculos com a
identidade

A conservação do Patri-
mônio se efetiva a partir do en-
volvimento da comunidade que
os detém, por meio de processo
de identificação, a conservação, o
estudo e a difusão dos bens patri-
moniais.
O envolvimento social para a
conservação seja do Patrimônio,
50 Identidade territorial

existentes no espaço e que se tornam refe- que contribui para desmotivar a sociedade
rências. A identidade se constrói na e pela quanto à participação nos fóruns de defesa
experiência e é assim um processo contí- do Patrimônio. Persiste o desafio de mudar
nuo (CIAMPA, 1987), para que os sujeitos esse cenário, de compartilhar o exercício
se sintam identificados com os elementos do poder democrático e participativo, ca-
a serem conservados, é necessário que se paz de criar estruturas de governança que
reconheçam neles, para que, assim, os bens impeçam a degradação dos bens culturais e
se tornem de fato representativos deles e naturais e garantam sua sobrevivência para
para eles. a geração atual e futura.
Conforme a maior identidade com os Para que essa proteção se efetive, é ne-
valores dos bens culturais e naturais, maior cessária a mobilização social que direcione
será o envolvimento com a sua proteção. o poder público a adotar políticas de pro-
A identidade favorece a percepção de que, teção dos bens. No entanto, a participação
apesar das diferenças e divergências que social nas decisões relativas à política do
cada indivíduo possui em relação ao espaço Patrimônio no Brasil é pequena, mesmo
protegido, também há fortes afinidades e que tenha ocorrido um aumento do núme-
interesses comuns (BANDEIRA, 1999). ro de pessoas envolvidas com a gestão patri-
É necessário, portanto, ir além dos monial, prevalece o pouco envolvimento da
dados físicos do ambiente e buscar a di- sociedade civil na salvaguarda desse legado.
mensão subjetiva que permeia o coletivo e A falta de participação da população
assim, trabalhar de forma mais adequada nos fóruns de gestão do Patrimônio pode
com os possíveis conflitos que possam ser explicada por diversas razões. A pri-
surgir nos fóruns de gestão participativa. meira delas decorre do fato de que, em
A resolução de impasses envolve processos sociedades desiguais, a apropriação dos
inerentes à cognição e à afetividade (GUI- valores pertinentes ao Patrimônio se faz de
MARÃES, 2001). modo desigual.
Os conhecimentos, crenças e gostos de-
Problemas para a conservação do pendem do modo como os grupos sociais
Patrimônio acessam o que é considerado Patrimônio.
Por isso, não é raro que objetos e saberes
O ritmo do desenvolvimento urbano, a gerados pelos grupos pertencentes à elite,
mercantilização da cultura e da natureza, que possuem maior acesso à informação e
são grandes ameaças à sobrevivência do formação intelectual, acabem, majoritaria-
Patrimônio cultural e natural e sua proteção mente, sendo considerados, bens patrimo-
ocorre por meio de medidas políticas des- niais. Esses grupos não só definem o que é
tinadas a impedir as ameaças que podem digno de conservação, como ainda dispõem
degradá-lo ou destruí-lo. de condições para atribuir maior qualidade
A conservação do Patrimônio cultural e refinamento a esses mesmos bens.
e natural se faz, via de regra, por meio de A participação desigual resulta em di-
decisões unilaterais dos órgãos técnicos, o ferentes formas de envolvimento com a
Identidade territorial 51

salvaguarda, podendo ocasionar, nos gru- bre o valor e a relevância daquilo que deve
pos que não têm identidade com o elemen- ser salvaguardado.
to elevado à condição de Patrimônio, certo Não por acaso, nesses anos, salvaguar-
desprezo em sua conservação. Essa situação daram-se como Patrimônio monumentos
se coloca para a sociedade em geral, mas das elites econômicas e intelectuais, que
torna-se particularmente difícil em países expressavam a história de personagens
como o Brasil, profundamente marcado considerados grandiosos, assim como,
pela desigualdade social. foram definidas as áreas naturais prote-
A sociedade brasileira é caracteriza- gidas, dotadas de excepcional beleza e de
da pelas diferenças e desigualdades. A rica biodiversidade, locais compreendidos
diferença é de histórias que deram lugar como incompatíveis com a manutenção
a diferentes culturas particulares. A desi- da população, que tradicionalmente habi-
gualdade provém de relações assimétricas, tara o local. Essas ações, também contri-
de dominação-subordinação, que ligam buíram para o distanciamento da socieda-
povos com culturas diferentes dentro de de mais ampla da política de proteção do
uma mesma formação sociocultural. (BA- Patrimônio.
TALLA, 1997, p. 54). Hoje, já se tem claro, ao menos nos
Esse é um dos motivos que pode explicar meios técnicos, que o Patrimônio cultural
porque há, no Brasil, uma participação que e natural não se resume aos objetos históri-
pode ser considerada pouco expressiva, cos e artísticos, aos monumentos represen-
quando se buscam ações para a conserva- tativos da memória nacional ou aos centros
ção dos bens que remetem ao passado e à históricos já consagrados e protegidos pe-
conservação de áreas naturais. las instituições e agentes governamentais.
É compreensível que as classes popula- Também não se encontram limitados aos
res, envolvidas na penúria das moradias e espaços considerados pouco tocados pela
na urgência de sobreviver, se sintam pouco presença humana e dotados de expressi-
implicadas com a conservação do Patrimô- va biodiversidade. Ele engloba também
nio cultural e natural, sobretudo quando “as criações anônimas surgidas da alma
não se consideram como seus detentores. popular” (IPHAN, 2004, p. 271), e que se
Além disso, outras razões podem ser encontram nas construções significativas
incluídas nas explicações para o escasso para uma dada comunidade, nas paisagens
envolvimento de parte significativa da ordinárias, sejam elas naturais ou transfor-
população com a salvaguarda dos bens madas, rurais ou urbanas, nas maneiras de
patrimoniais. A forma como a política construir moradias e fabricar objetos de
sobre o Patrimônio foi historicamente uso, nos modos de pescar, caçar, plantar, de
implementada é o segundo motivo a ser utilizar plantas como alimentos e remédios,
considerado, tendo em vista que essa foi de preparar alimentos, nos modos de vestir
executada, ao menos ao longo de 50 anos e falar, nos rituais religiosos e populares,
(1937-1988), como uma política de espe- nas canções, histórias e lendas contadas de
cialistas, os únicos capazes de decidir so- geração a geração.
52 Identidade territorial

Não se pode ignorar ainda o terceiro ou para a produção do solo urbano, de for-
fator, que também corrobora para o distan- ma cada vez mais rentável, na qual a justifi-
ciamento social na defesa do Patrimônio cativa está atrelada ao ideário de progresso
natural e cultural, e que advém da busca e crescimento econômico, também ajuda a
incessante pela modernidade, expressa no compreender as dificuldades para a partici-
país como um todo. As cidades brasileiras, pação mais ampla do social na conservação
com poucas exceções, podem ser caracte- do Patrimônio.
rizadas como contemporâneas, são cida-
des que exibem em seu espaço a procura O Patrimônio como uma possibilidade ao
incessante pela modernidade, a mudança desenvolvimento local
brusca de sua paisagem, em uma contínua
ruptura com o passado. Nessas cidades, os O Patrimônio que está inserido na pai-
referenciais culturais e naturais herdados, sagem é um marco, que explicita o vínculo
tornam-se cada vez mais escassos e restri- de identidade da população com o seu ter-
tos a poucos lugares, pois são considerados ritório, assim a sua conservação pressupõe,
como oposição ao ideal de progresso e mo- além da participação social, a manutenção
dernidade. do bem propriamente dito e também do
A busca pelo moderno colide com os entorno ao qual está circunscrita. Nesse
signos do passado e com a manutenção da sentido a paisagem ganha destaque, pois é
natureza, ambos tidos como expressões do elemento que fundamenta as identidades
atraso, do mau gosto e do empobrecimento. sociais e, portanto, deve ser considerada
Percepções como essas também contribuem não só como suporte ao planejamento, mas
para entender porque há uma participação sim como aspecto base para o desenvolvi-
pouco ativa no que diz respeito à proteção mento territorial.
do Patrimônio natural e cultural. Nesse sentido, um dos pontos impor-
Essa questão, por sua vez, não pode ser tantes para o planejamento da paisagem,
entendida fora do contexto do processo de refere-se aos entendimentos dos laços que
produção do espaço, que busca constante- os moradores têm com o espaço e que
mente a sua especulação, pois o solo é uma são condensados por meio do Patrimônio.
mercadoria de troca, como qualquer outra, Assim, o Patrimônio material e imaterial
através de preços fixados pela lei da oferta funciona como uma alegoria que resgata
e demanda. Por isso mesmo, não se pode memórias, histórias e conhecimentos locais
analisar a política de proteção do Patri- presentes na paisagem.
mônio desvinculada dos interesses que se A seguir, são resgatadas algumas expe-
apresentam na especulação do solo, na ex- riências europeias e latino-americanas que,
pansão da fronteira agrícola e dos interesses a partir do Patrimônio, seja ele cultural ou
contrários que lutam pela apropriação do natural, funcionaram como propulsoras do
espaço (CORREA, 1989 e ZARATE, 2003). desenvolvimento local (BEL, 2007; 2010).
A defesa de novos usos do espaço seja O Patrimônio natural e cultural foi
para os empreendimentos agropecuários, considerado um fator de valorização dos
Identidade territorial 53

atributos presentes na paisagem, e um meio 6. A história a ser narrada deve ser


de gerar renda para a população local, a original, coerente com os recursos
partir da visitação turística, em um contex- existentes e fundamentalmente bem
to participativo e ordenado, com respeito documentada. Para tanto, a confecção
aos sentidos atribuídos pelos residentes aos de inventários deve ter a participação
bens sujeitos à exposição e visitação, de for- dos membros da comunidade, pois
ma a contribuir também com a autoestima eles, mais do que ninguém, conhecem
da comunidade residente. as histórias e as memórias intrínsecas
O reconhecimento das identidades, pre- ao Patrimônio. Isso requer a consulta
sente nos atributos patrimoniais (naturais a especialistas que detenham o co-
ou culturais) é o primeiro fator a ser consi- nhecimento sobre o local, além de
derado para que este sirva como propulsor realizar reuniões com a população
do desenvolvimento local, que pode ocorrer interessada;
pela valorização desses bens e sua exposição 7. Prover uma estrutura física compatí-
ao turismo. Assim as paisagens e os elemen- vel com as expectativas e necessida-
tos patrimoniais são espaços comunicativos des dos visitantes;
que guardam, transmitem informações e 8. Respeitar a capacidade de carga do
narram histórias capazes de atrair turistas e local e os hábitos e costumes da co-
investimentos. munidade receptora.
Para que o Patrimônio presente na paisa- O histórico e os elementos naturais ou
gem possa ser exposto à visitação turística é culturais que compõem o Patrimônio, alia-
necessário que algumas orientações sejam dos ao planejamento podem se constituir
seguidas: em forças motoras para projetar o futuro de
1. Definir claramente o que se objetiva um território de forma a não descaracteri-
com a exposição do Patrimônio à vi- zá-lo. Para tanto, é necessário que os atri-
sitação turística; butos patrimoniais expostos à visitação não
2. Inventariar o Patrimônio existente no sejam compreendidos, unicamente, como
local, ou seja, identificar esse Patri- recursos financeiros, mas principalmente
mônio com vistas ao conhecimento como repositórios de memórias, histórias,
amplo de sua história; identidades.
3. Atrelar o Patrimônio seja ele natural Dessa forma o binômio natureza e cultu-
ou cultural, à sua história específica; ra agregam-se a um único conceito: o Patri-
4. Definir o bem patrimonial a um con- mônio e as paisagens nas quais se inserem
texto coerente, vinculando as histórias o Patrimônio convertem-se em ambientes
específicas a uma história mais ampla; atrativos e dotados de identidade.
5. Associar o local a uma imagem, a um Os processos participativos de levanta-
ícone ao qual não só os visitantes se mento do Patrimônio e planejamento de
identifiquem, mas, principalmente os suas atividades turísticas, com vistas ao
moradores, como um marco visual de desenvolvimento local, colaboram com o
identidade do local; resgate e a manutenção das identidades,
54 Identidade territorial

pois favorecem não só o restauro físico, mas As práticas participativas e de aprendiza-


principalmente o restauro do tecido social, gem social desempenham um papel impor-
promovendo encontros e recuperando a tante no processo de formação e consolida-
confiança e as relações de interatividade ção de identidades, ao facilitar a construção
entre as pessoas e o seu entorno. A gover- de consensos básicos entre os atores sociais
nança para o Patrimônio cultural e natural envolvidos. Porém, essas identidades não
pode ser dessa maneira, um impulso vital devem ser entendidas como algo que sim-
para o desenvolvimento local. plesmente exista por meio de um conjunto
de fatores determinados previamente, mas
Considerações finais sim, interpretada como algo historicamente
construído, que resulta de processos políti-
O exercício das práticas participativas cos, sociais e culturais de uma região. Para
tem destaque no desenvolvimento terri- que haja um avanço no processo participa-
torial, especialmente no âmbito de áreas tivo, é fundamental que os gestores se re-
protegidas, como as Áreas de Proteção conheçam como sujeitos ativos que podem
Ambiental (APAs), que contêm, em seu in- mudar a realidade.
terior, características do Patrimônio natural É necessário, também, que o Patri-
e cultural. mônio seja compreendido como uma
Identidade territorial 55

construção social e que as ações em prol contemporânea. A defesa do Patrimônio


de sua conservação, não decorram de uma justifica-se em face da constatação dos
visão descontextualizada e nostálgica do riscos de desaparecimento existentes nas
passado, mas como meios efetivos de ga- sociedades modernas (BECK; GIDDENS;
rantir e gerir o futuro na e da sociedade LASH, 1994).
Agenda 21 Local 57

Entendendo os problemas socioambientais:


passos para construir a Agenda 21 Local

Luciana Yokoyama Xavier e Alexander Turra

A
Agenda 21 representa um com- • Agricultura Sustentável;
promisso socioambiental assinado • Cidades Sustentáveis;
por 179 nações na Conferência • Infraestrutura e Integração Regional;
Rio-92. Trata-se de um programa de ação • Gestão dos Recursos Naturais;
abrangendo diversos setores e níveis (glo- • Redução das Desigualdades Sociais;
bal, nacional, estadual e local), que almeja • Ciência e Tecnologia para o Desen-
promover o desenvolvimento sustentável volvimento Sustentável.
em escala planetária seguindo o princípio de Sua lógica foi incorporada em diversos
que é necessário “Pensar globalmente e agir processos nacionais, como os Planos de
localmente”. É um processo de planejamento Bacias Hidrográficas, Planos Diretores Par-
participativo, baseado na análise da situa­ ticipativos, Planos de Intervenção da Orla,
ção atual de um determinado local, com Conferências Nacionais de Meio Ambiente
proposição de ações para alcançar metas e e até em escolas, empresas e unidades de
cenários futuros ou “o futuro que queremos”, conservação. Este enfoque pontual, que
garantindo a qualidade de vida das gerações caracteriza a Agenda 21 Local, é impor-
atuais e das que virão, através de um novo tante por considerar as particularidades de
modelo de desenvolvimento sustentável. cada contexto para o diagnóstico e plane-
A Agenda 21 Brasileira busca implantar jamento, sendo que sua operacionalização
os princípios da Agenda 21 Global no país. está atrelada ao envolvimento dos grupos
Essa implementação foi iniciada a partir do sociais locais.
resultado de uma consulta à população rea­ Para sua implantação, o Governo Fede-
lizada entre 1996 e 2002, com proposição ral, através do Ministério do Meio Ambien-
de 21 ações prioritárias relacionadas a seis te, elaborou o documento Passo a Passo da
temas estratégicos: Agenda 21 Local1, composto por seis etapas:
1. Para maiores informações sobre o Programa Agenda 21 no Brasil, sugerimos que o site do MMA:
http://www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/agenda-21
58 Agenda 21 Local

Passos para a implantação da Agenda 21 Local

1. Mobilizar para sensibilizar Governo e Sociedade;


2. Criar o Fórum da Agenda 21 Local;
3. Elaborar o Diagnóstico Participativo;
4. Elaborar o Plano Local de Desenvolvimento Sustentável;
5. Implementar o Plano Local de Desenvolvimento Sustentável;
6. Monitorar e avaliar o Plano Local de Desenvolvimento Sustentável.

Dentre esses passos, especial atenção Em um contexto de gestão participativa,


deve ser dada ao diagnóstico participativo. essa compreensão é ainda mais importante
Para planejar a gestão de qualquer ambiente e demanda um processo de definição cole-
de maneira efetiva, é fundamental com- tiva dos problemas. Para agir coletivamente
preender os problemas e conflitos existen- é imprescindível entender coletivamente.
tes. De maneira geral, algumas perguntas Cada pessoa tem uma visão unilateral de
devem ser respondidas: Quais são esses uma situação e a tendência é perceber ape-
problemas e conflitos?; Quem ou O que os nas o que a afeta e desconhecer como as
causa?; Quais seus efeitos sobre as pessoas demais pessoas percebem e são afetadas por
e o meio ambiente?; Quem está sendo pre- um mesmo problema.
judicado por ele?; Quem está sendo benefi- Para entender coletivamente, é ne-
ciado por ele? cessário estabelecer o diálogo entre os
Agenda 21 Local 59

diversos atores e perceber como cada um a solução exige medidas que podem ultra-
enxerga o ambiente que o cerca e os pro- passar as atribuições do grupo gestor.
blemas existentes. Cada grupo de atores,
com sua experiência e conhecimento, A metodologia DPSIR
adiciona informações importantes para
a identificação dos problemas, que vão A metodologia DPSIR (Drivers, Pres-
sendo caracterizados e re-caracterizados sures, State, Impact e Responses – Forças
ao longo do processo. Esta possibilidade Motrizes, Pressões, Estado, Impacto e Res-
de mudar a percepção e o entendimen- postas) tem suas origens nos trabalhos da
to sobre determinado assunto, através Organização para Cooperação Econômica
de contribuições do grupo, configura-se e Desenvolvimento - OECD2, e compreen-
como aprendizagem social, beneficiando de uma estrutura lógica para organização e
o processo de gestão e aumentando o po- apresentação de informações sobre proble-
der do grupo gestor. mas ambientais3 (KRISTENSEN, 2004).
Apesar de parecer simples, quando es- O modelo considera as ligações entre as
sas discussões acontecem, é comum ocor- atividades humanas, entendidas como forças
rer confusão quanto ao que são causas, motrizes (Drivers), e as pressões que elas im-
efeitos, ações e impactos, resultando em põem sobre o meio (Pressures), modificando
dificuldades para se definir estratégias de seu estado (State) e gerando impactos (Im-
ação dedicadas a enfrentar o problema pacts) sobre os ecossistemas, seus serviços e
identificado. Quando isso ocorre, a im- funções e, consequentemente, sobre as po-
pressão geral é de que as discussões não pulações humanas. A fim de evitar, combater
geram ações efetivas, deixando os partici- ou minimizar os impactos, surgem as repos-
pantes com um sentimento de “perda de tas (Responses), em forma de ações, políticas
tempo” e impotência frente aos desafios ou metas que atuam sobre os demais fatores,
que têm que enfrentar. podendo ter caráter preventivo ou paliativo.
Muitas vezes, esse sentimento pode ser Estabelecendo indicadores específicos
evitado com métodos simples para definir para cada um desses elementos, o modelo
com maior precisão quais são os proble- DPSIR “fragmenta” o problema e permite
mas, suas causas e possíveis soluções. A uma compreensão mais ampla e nivelada
clareza sobre o que está sendo discutido dos atores envolvidos sobre as relações entre
é fundamental para nortear as ações a suas origens e consequências, possibilitando
serem tomadas para a gestão ambiental, também identificar em que elemento de aná-
apesar de não garantir que todos os pro- lise, devem ser concentradas as ações para
blemas sejam solucionados, uma vez que evitar, solucionar ou mitigar o problema.

2. OECD – do inglês Organisation for Economic Co-operation and Development


3. No Brasil, a metodologia PEIR (Pressão, Estado, Impacto, Resposta) utilizada pelo MMA é uma adaptação da
metodologia DPSIR, sem considerar as Forças motrizes (D). Entretanto, consideramos que a inclusão dessas últimas é
importante por permitir uma visão holística e completa dos problemas
60 Agenda 21 Local

Relações entre os elementos da análise DPSIR e alguns exemplos de indicadores


que podem ser utilizados para caracterização de um problema ambiental

-
-

Fonte: EPA, tradução do autor


Agenda 21 Local 61

Passo a passo da aplicação do Método DPSIR os objetivos gerais do encontro, algumas


características do tema que irão discutir e
A aplicação do DPSIR deve ser realizada as bases teóricas do método DPSIR. Após
como parte intermediária de um processo a devida contextualização, inicia-se o diag-
de diagnóstico. Para que seja melhor apro- nóstico propriamente dito, seguindo alguns
veitada, é preferencialmente aplicada após passos básicos para a realização da análise:
os principais problemas da região já terem
sido identificados e agrupados em grandes 1. Definir o(s) problema(s) objeto(s) de
temas. A dinâmica ocorre dentro de um análise
grupo representativo de diferentes segmen-
tos, contando com a experiência de um Uma das grandes vantagens do DPSIR é
facilitador/condutor que detenha conheci- que permite iniciar a análise por qualquer
mentos prévios sobre o tema abordado. um de seus elementos, podendo variar
segundo o objetivo da oficina e o tema
O que se espera? escolhido. Pode, por exemplo, ser aplica-
do para responder uma questão específica
• Realizar oficina para promover uma como “Quais são as principais causas (Força
discussão em grupo sobre problemas motriz ou Pressão) para a contaminação do
socioambientais, identificando suas solo da UC (Impacto)?” ou uma mais geral
causas (más práticas) e possíveis so- como “Quais são os problemas (Impactos)
luções (boas práticas), e colocando-as relacionados à água na região?”.
em uma estrutura lógica e conceitual Nesta primeira etapa da oficina, os par-
baseada na metodologia DPSIR (a ma- ticipantes são divididos em grupos para le-
triz de análise DPSIR); vantar os problemas relacionados à pergun-
• Conscientizar os participantes quanto ta orientadora ou tema, através da técnica
às implicações que seus hábitos de de “chuva de ideias”. Dependendo do tempo
consumo (D – Forças Motrizes dos disponível para o diagnóstico, o grupo deve
impactos) impõem (P – Pressões) ao eleger três ou mais pontos prioritários para
ambiente que os cercam; a discussão.
• Instrumentar os participantes em téc-
nicas de planejamento participativo 2. Eleger os pontos principais que serão
buscando a melhoria da qualidade da aplicados ao DPSIR
gestão, a troca de saberes e a aprendi-
zagem social. Os pontos eleitos por cada grupo são
apresentados aos demais e inicia-se a dis-
Realizando a oficina: aplicação do modelo cussão sobre seu enquadramento na matriz
DPSIR de análise, agrupando pontos equivalentes.
É importante que fique claro para todos as
No início da atividade, o facilitador deve razões para a categorização de cada ponto,
contextualizar a atividade, apresentando buscando-se a compreensão coletiva. Após
62 Agenda 21 Local

o consenso sobre a categorização, o me- do local para o qual ele foi realizado, podem
diador escreve o ponto em um cartão de ser produtos da análise:
cor equivalente ao elemento do DPSIR e o • Lista de Boas e Más práticas ambien-
insere na tabela já organizada. Caso muitos tais;
problemas tenham sido identificados, o • Material de divulgação e sensibiliza-
facilitador deve proceder à eleição de prio- ção (informativos, panfletos, carta-
ridades para discussão. zes, etc);
• Início do planejamento de ações
3. Preencher todos os elementos da aná- para solução dos problemas identifi-
lise DPSIR cados; etc.

Segue-se para o preenchimento dos de- Considerações finais


mais elementos da tabela, decompondo o
problema em todos os elementos da análise O procedimento apresentado neste ca-
DPSIR. Essa decomposição pode ser reali- pítulo permite uma compreensão e diag-
zada em grupos, e cada grupo fica respon- nóstico rápido acerca dos problemas am-
sável por preencher uma linha da tabela bientais de um local, escola, empresa,
de análise, apresentando aos demais o que UC, etc. Ele é aplicado como parte de um
produziram ao fim da atividade. processo de diagnóstico, que pode amadu-
recer, ser detalhado e gerar constatações
4. Finalizando a atividade mais aprofundadas dos problemas ambien-
tais. Pode ser aplicado em diversas ofici-
Após a caracterização do problema e as nas complementares, para as quais novos
propostas de possíveis soluções, o facilita- participantes, considerados importantes
dor encerra a oficina com um resumo do para a discussão, podem ser convidados.
diagnóstico realizado, seguindo o que esta- Por exemplo, experts podem ser chamados
rá organizado na tabela. para auxiliar no entendimento de temas
técnicos e complexos, ou mesmo represen-
Possíveis desdobramentos do Diagnóstico tantes do poder governamental, para auxi-
liar na definição de possíveis soluções que
Além do próprio Diagnóstico e da com- estejam diretamente atreladas à atuação do
preensão coletiva dos problemas ambientais poder público.
Agenda 21 Local 63
Mapeamento socioambiental 65

Mapeamento socioambiental como contribuição


para a gestão dos recursos naturais

Denise de La Corte Bacci e Vânia Maria Nunes dos Santos

Introdução contribuir para a transformação de práticas,


para o desenvolvimento de novas compe-
As iniciativas de educação ambiental tências, visando a mediação de conflitos na
em áreas protegidas e as pesquisas sobre a solução/tomada de decisão sobre problemas
gestão compartilhada dos recursos natu- socioambientais, por meio de processos de
rais cresceram de forma considerável no co-aprendizagem e participação.
Brasil nos últimos anos (LOUREIRO et al., Para tanto, faz-se necessário o (re)co-
2007; CAMPOS E FRACALANZA, 2010; nhecimento do ambiente local, produto
FRACALANZA et al., 2011; JACOBI, 2011; de dinâmicas, complexas e contraditórias
CUNHA; LOUREIRO, 2012). relações dos homens e mulheres entre si e
Cunha e Loureiro (2012) ressaltam que com a natureza, além de suas implicações
a prática educativa na gestão ambiental na forma de uso e ocupação do espaço e de
pública se destaca por promover a parti- seus problemas (SANTOS, 2010).
cipação permanente do cidadão coletiva- A Aprendizagem Social tem, nesse sen-
mente organizado na definição dos usos e tido, o objetivo de promover uma (re)edu-
nas decisões que afetam a qualidade am- cação no processo de gestão dos recursos
biental. A gestão pública passa a ser o lu- naturais, visando subsidiar a participação
gar onde o conhecimento, as habilidades, dos diferentes grupos sociais para a in-
atitudes e os valores são construídos pela tervenção nos espaços da gestão pública.
educação, com a intenção clara de intervir Como salienta Jacobi (2005), um dos cami-
na realidade para transformá-la em favor nhos possíveis para alterar o quadro atual
dos interesses coletivos e comuns de todo de degradação socioambiental é promover
cidadão. o crescimento da consciência ambiental,
A Aprendizagem Social promove o (re) expandindo a possibilidade da população
pensar de conceitos e a construção de no- participar do processo decisório, como uma
vos conhecimentos e valores capazes de forma de fortalecer sua corresponsabilidade
66 Mapeamento socioambiental

na fiscalização e no controle dos agentes de vivências e percepções sobre a realidade


degradação ambiental. socioambiental.
As metodologias participativas promo- Subsidia as discussões/reflexões sobre
vem, junto ao conselho gestor das Unidades a qualidade de vida, bem como a cons-
de Conservação, e junto à comunidade, a trução de “congruências”, no sentido de
articulação das ações e o fortalecimento Wals (2007), para a tomada de decisões
dos grupos locais, oferecendo subsídios dialogadas entre comunidade, poder pú-
para uma gestão participativa, que inclui os blico e outros atores sociais envolvidos nas
moradores locais nas discussões, ampliando questões ambientais locais, contribuindo
a compreensão da realidade e resolvendo para a corresponsabilização de todos. O ho-
problemas de forma mais efetiva. rizonte é a busca de melhoria da qualidade
Nesse contexto, a contribuição dos re- de vida de todos, e o processo é o exercício
cursos cartográficos, como mapas, e de sen- da cidadania. Nesse sentido, a construção
soriamento remoto, como imagens de saté- de pactos é fundamental para a transfor-
lite e fotografias aéreas, faz-se importante mação de comportamentos individualistas
para espacializar, compreender e dialogar em coletivos. Com base no mapeamento
sobre problemas da realidade socioam- socioambiental, a comunidade pode dialo-
biental (FLORENZANO; SANTOS, 1993; gar e refletir sobre problemas/conflitos da
ALMEIDA, 2003). sua realidade socioambiental, considerando
O mapeamento socioambiental surge os diferentes pontos de vista e interesses
como uma proposta metodológica para o presentes, bem como propor/definir ações
reconhecimento do lugar, e como contri- consensuais para a melhoria da qualidade
buição para a educação ambiental e para a de vida de todos.
aprendizagem social (SANTOS 2002, 2006, A aplicação de metodologias inovadoras
2010; SANTOS; BACCI, 2011). Vários auto- baseadas em aprendizagem social, como a
res também têm apresentado trabalhos com do mapeamento socioambiental, contribui
mapas no contexto socioambiental, como para estimular a cooperação entre os atores
Carpi Jr. (2001, 2012), Andrade e Ângelo envolvidos, além de estimular a participa-
Furlan (2011) e Santos (2012). ção em processos de gestão compartilhada
O mapeamento socioambiental é um dos recursos naturais em áreas de preserva-
instrumento didático-pedagógico de ção ambiental, requeridas para a governan-
diagnóstico, planejamento e ação que ça ambiental.
promove a participação dos diferentes
atores sociais locais no levantamento das Diretrizes metodológicas para a elaboração
diferentes informações sobre o lugar, com dos mapas socioambientais
o uso de mapas, fotografias aéreas ou
imagens de satélite e saídas a campo. Sua Os dados biofísicos e socioculturais
realização possibilita o (re)conhecimento de um lugar, uma vez espacializados em
do lugar e seus problemas, bem como mapas socioambientais, podem contri-
o compartilhamento de conhecimentos, buir para despertar a participação cidadã,
Mapeamento socioambiental 67

implicando na superação de posturas, diferentes grupos sociais, contemplando as


muitas vezes passivas, frente aos proble- seguintes etapas (SANTOS, 2010):
mas socioambientais locais. Para tal, com • 1ª etapa: elaboração do mapa mental.
referência em Santos (2006), estes mapas Realizar anteriormente à ida ao campo:
podem se desenvolver enquanto instru- resgate da concepção de ambiente dos par-
mentos para: ticipantes/moradores, ou melhor, revelar
• Elaborar um diagnóstico participati- como estes o percebem, bem como o co-
vo da realidade socioambiental local, nhecimento do lugar;
visando o (re)conhecimento do lugar, • 2ª etapa: elaboração do mapa socio-
seus problemas e conflitos; ambiental local.
• Subsidiar nos diálogos e reflexões Levantamento dos elementos ambien-
coletivas as diferentes percepções da tais locais, por meio de saída a campo,
realidade socioambientais local, por tais como, elementos do meio biofísico,
meio da elaboração de mapas-síntese elementos construídos, elementos que in-
e propositivas; dicam usos do lugar, serviços urbanos e
• Tornar mais qualificada a negociação habitações, empreendimentos industriais e
de atores sociais em uma perspectiva comerciais; contrastes entre áreas pouco e
intersetorial, com ênfase nos múlti- mais adensadas, indicadores ou relatos de
plos aspectos a serem contemplados processos naturais do meio físico (erosão,
na governança ambiental; deslizamentos, inundação), dentre outros,
Para que os mapas socioambientais que servirão para o diagnóstico da realida-
possam atender tais objetivos, esses devem de local.
se desenvolver de forma a propiciar condi- • 3ª etapa: elaboração do mapa síntese.
ções para: Momento de diálogo e reflexão sobre os
• (Re)conhecer o lo-
cal em que se vive;
• Refletir sobre este
local, seus proble-
mas e conflitos;
• Dialogar sobre a
realidade socioam-
biental em busca de
soluções pactuadas
para os problemas
identificados, visan-
do transformar o
ambiente.
É possível propor o
desenvolvimento dos ma-
pas socioambientais com
68 Mapeamento socioambiental

mapeamentos socioambientais elaborados, O mapa propositivo é o resultado do pro-


considerando as diferentes percepções e cesso coletivo de reflexão e diálogo sobre os
problemas observados em campo, visando problemas e conflitos locais apresentados no
à construção de um mapa coletivo pactua- mapa-síntese. Expressa as propostas consen-
do, demonstrando a síntese dos principais suais do grupo para a solução dos mesmos,
problemas/conflitos locais percebidas pelo indicando ações e responsabilidades para a
grupo. Atenta-se que o mapa coletivo pode melhoria da qualidade de vida no local.
ser reconstruído outras vezes, expressando O exercício de pensar a realidade local
“sínteses parciais”, na medida em que deve do ponto de vista da complexidade e das
subsidiar novas reflexões e diálogos sobre inter-relações que caracterizam as questões
a realidade socioambiental local, com o ambientais é promovido por essa metodolo-
ingresso de novos atores sociais no debate. gia. À medida que o mapa vai sendo elabo-
O mapa-síntese é interativo, dinâmico e rado, os participantes são constantemente
construído e reconstruído a partir de “pro- convidados ao diálogo, à participação, ao
blematizações” sobre questões/conflitos da saber ouvir, a trocar e assim, despertar para
realidade socioambiental local à medida o pertencimento, à corresponsabilidade e
que mais informações possam ser adquiri- à reflexão sobre a gestão colaborativa dos
das e incorporadas ao mapa original. recursos, sendo essas, práticas básicas para
• 4ª etapa: elaboração do mapa propo- o exercício da Educação Ambiental e da
sitivo. Cidadania.

Proposta de apresentação da metodologia

(Re)conhecimento Local

Diálogo Problemas/Conflitos Participação


Socioambientais

Corresponsabilização
Mapeamento socioambiental 69

Mapas socioambientais locais como Os mapeamentos socioambientais pro-


ferramentas para gestão dos recursos piciam o desenvolvimento de atividades
naturais nas áreas de proteção ambiental complementares à leitura do lugar, tais
como, registros fotográficos em campo,
As oficinas para o mapeamento socio- resgate da história local, produção de tex-
ambiental permitem realizar comparações tos, favorecendo o (re)conhecimento da
dos usos associados das diferentes formas realidade local.
de representação do espaço, tais como ma- O diagnóstico socioambiental, elabora-
pas e imagens de satélites, associadas à do a partir do mapeamento realizado em
observação direta com trabalhos de campo, campo, serve de base para a reflexão sobre
favoreceram a construção de uma visão o uso e ocupação do espaço e das propostas
ampla e integrada dos locais estudados e de de gestão em áreas de preservação, além de
seus principais problemas socioambientais. subsidiar a formulação de propostas e pro-
Após a elaboração e reflexão sobre os jetos de ação local, levadas posteriormente
mapas e imagens de satélite, na elaboração para os espaços públicos de gestão, como o
do mapa mental individual, os participantes Conselho Gestor e o Orçamento Participa-
fazem um exercício coletivo de interpreta- tivo.
ção do lugar, visando contextualizar o local Para a avaliação dos elementos ambien-
a ser mapeado ou (re)conhecido. tais expressos nos mapas, foram elaboradas
Para a elaboração do mapa e realização categorias de análise, em consonância com
da atividade, os participantes se orientaram a diretriz metodológica definida para o
a partir do roteiro elaborado por Santos trabalho proposto. Destacamos os três mo-
e Bacci (2011), o qual segue as seguintes mentos complementares do eixo metodo-
diretrizes: lógico que serviram de base para a análise
• Analisar a imagem de satélite e o do mapeamento socioambiental elaborado
mapa da região de estudo; pelos participantes:
• Localizar o percurso para o trabalho 1. Momento da percepção visual dire-
de campo com auxílio da fotografia ta: categoria que reproduz a observa-
aérea e do mapa local; ção. Os indicadores dessa categoria,
• Observar, durante o percurso de cam- observados nos mapas, são resultado
po, as características referentes aos do diagnóstico socioambiental (ele-
“elementos ambientais locais”; mentos do meio biofísico (vegetação,
• Elaborar o mapa a partir do diagnós- água, erosão) e social (habitação, resí-
tico socioambiental observado em duos sólidos);
campo; 2. Momento de reflexão: reflete sobre o
• Criar uma legenda representativa dos que observou na paisagem durante o
elementos ambientais; percurso, constrói relações com o real.
• Descrever as observações; Os indicadores dessa categoria apare-
• Explicar o significado do levantamen- cem nos mapas e nos textos produzi-
to realizado para o estudo do local. dos a partir das questões orientadoras
70 Mapeamento socioambiental

de campo, como resultado da proble- novas formas de gestão para os recursos


matização da percepção visual direta naturais locais.
da primeira categoria; Os elementos ambientais observados
3. Momento de transformação: perce- na paisagem local para a elaboração do
be o lugar de forma crítica e apresen- mapa socioambiental, que correspondem
ta sugestões de mudança. Os indica- à primeira categoria de análise (Momen-
dores dessa categoria se apresentam to da percepção visual direta), segundo
na elaboração de propostas para a o eixo metodológico proposto, foram
sustentabilidade local. (SANTOS, 2006):
Os mapas podem ser produzidos por • Vegetação: tipo (árvore, arbusto, her-
grupos compostos por diferentes atores bácea, se é espécie agrícola, exótica
sociais, como professores, agentes de saúde, ou nativa, etc.), formação (se é isola-
grupo de jovens, membros da comunidade da ou em maciços, etc.), situação (em
local e do grupo gestor. Os participantes se uma praça, em um sítio, em um quin-
organizaram em grupos mistos para o de- tal, na rua, na margem de nascentes
senvolvimento da metodologia do mapea­ e/ou córregos, em topo de morro, em
mento no local. encostas, etc.);
O roteiro elaborado busca contemplar • Erosão: comprimento, profundidade,
três categorias apresentadas na diretriz largura, situação (caso esteja em uma
metodológica, de forma que os partici- rua, em um terreno, próximo ao topo,
pantes possam observar, refletir e propor em uma encosta, no fundo de vale,
junto ao córrego ou as nascentes, se
está causando problemas/avarias às
ruas, aos edifícios, às galerias e cana-
lizações de águas, etc.);
• Resíduos/Esgoto: volume, tipo
(doméstico, industrial, hospitalar,
entulho de construção, resto de
podas de vegetação, etc.), si-
tuação (úmido, queimado,
se apresenta odor, vetores
de doença). Esgoto a
céu aberto, canalizado,
caindo no córrego
ou rio;
• Água: vazão
(pequena, média
ou grande), si­
tuação (nascen-
te, córrego, águas
Mapeamento socioambiental 71

servidas, caso apresente cor, odor, mente para fins de entendimento da meto-
resíduos sólidos ou assoreamento); dologia, eles são complementares, pois no
• Habitação, ocupação e vias de aces- trabalho de campo, esses momentos estão
so: tipologia (residencial, comercial conectados.
ou industrial); constituição (barracos, A segunda (Momento da percepção
de alvenaria, galpão, térreo, sobrado, visual direta) e a terceira (Momento de
caso ocupe o lote inteiro ou não, caso reflexão) categoria de análise propostas,
apresente avarias, acabamento). Vias podem ocorrer de forma simultânea. Isto
asfaltadas ou de terra, rodovias, fer- se expressa tanto nas “legendas problema-
rovias, etc. tizadoras” como nos textos produzidos a
partir das questões orientadoras em com-
Mapas socioambientais locais: aplicação e plemento aos mapas elaborados e, ainda,
possibilidades nas apresentações orais desses. Propõe-se
as seguintes perguntas orientadoras: quais
As características de uso e ocupação de são os problemas ambientais identificados
um local que apresente duas áreas diferen- no local? Que medidas têm sido adotadas
ciadas: uma área preservada, por exemplo, para resolvê-los? O que, na opinião do gru-
dentro de um parque estadual e outra área po, deveria ser feito para resolvê-los? Nas
limítrofe ocupada de forma desordena- experiências descritas em Santos e Bacci
da, com sérios impactos socioambientais, (2011), em geral, as respostas apresentadas
possibilita comparações significativas, o tendem a revelar que o lugar é percebido
que contribui para que os diferentes atores de forma crítica pelos participantes, assim
possam observar, refletir e propor ações são destacados problemas de infraestrutura
necessárias para o lugar. Considerando a local, resultantes do crescimento desorde-
forte expressão da identidade dos partici- nado das cidades.
pantes com o local de estudo podem surgir A experiência revela um amplo espectro
elementos que se destacam na paisagem de aplicação da metodologia, com a parti-
mapeada, inclusive com grande grau de cipação de escolas, agentes de saúde, pro-
detalhamento. fessores, líderes comunitários, gestores pú-
O levantamento de informações possi- blicos, em diferentes contextos, tanto para
bilita reflexões sobre a forma de uso e ocu- o levantamento de problemas como para
pação do espaço e de suas implicações no a reflexão sobre os mesmos e a busca de
ambiente e para a qualidade de vida local, soluções. Percebe-se com esta metodologia
bem como subsidia o desenvolvimento de que os aspectos sociais assumem destaque
propostas de intervenção local, em busca em relação aos elementos do meio biofísico.
de soluções para os problemas associados Essas informações possibilitam discutir
com a gestão dos recursos e a conservação questões, tais como: a interferência do ho-
das APAs. mem nos processos de dinâmica superficial,
Embora os momentos do eixo meto- do ponto de vista dos riscos ambientais; a
dológico apareçam neste texto separada- preservação de margens de cursos d’água e
72 Mapeamento socioambiental

encostas de morros; a importância do co- Durante o processo, aprender a resol-


nhecimento dos solos para o planejamento ver um problema não se limita apenas a
urbano de uma região, o histórico social de um processo cognitivo. Isso inclui uma
ocupação destas áreas, o modo de vida das forma de “aprender fazendo” através de
comunidades e a questão da moradia. uma dinâmica coletiva, no contexto dos
conhecimentos e habilidades existentes
Caminhos a percorrer nas comunidades de prática que se carac-
terizam pela homogeneidade quanto ao
A ferramenta do mapeamento socioam- conhecimento, regras e crenças.
biental local configura-se em um importan- Finalmente, a Aprendizagem Social
te instrumento colaborador para a gestão também implica que os participantes
participativa, a partir do reconhecimento aceitam a diversidade de interesses, de
das necessidades locais e da identificação argumentos, de conhecimento, e que tam-
das responsabilidades individuais, coletivas bém devem perceber que um problema
e do poder público. Também contribui para complexo como, por exemplo, uma Uni-
a Aprendizagem Social em processos de dade de Conservação, como as Áreas de
educação para a sustentabilidade local. Proteção Ambiental marinha ou terrestre
O mapeamento coloca em prática a ela- e a gestão de bacias hidrográficas, entre
boração, implementação e avaliação de outros fóruns de participação poderão
novas tecnologias sociais para fortalecer a ser resolvidos através de práticas coleti-
articulação de atores e instituições no de- vas, que se sustentam na disseminação de
senvolvimento de pactos para a Governança informação, conhecimento e atividades
Ambiental. em rede.
Mapeamento socioambiental 73
Georreferenciamento 75

Georreferenciamento em Unidades de Conservação

Gerardo Kuntschik e Laís Cristina Álvares Rodrigues Assis

A
correta delimitação espacial das bientalmente sensíveis. Em muitos casos, as
Unidades de Conservação é um áreas de proteção são criadas em locais nos
dos requisitos para o adequado quais há presença de moradores ou onde
planejamento, gerenciamento e fiscalização são desenvolvidas atividades incompatíveis
das atividades desenvolvidas em seu inte- com a tipologia da área protegida. No caso
rior e das áreas de amortecimento que mar- das áreas de proteção integral, onde se proí­
geiam suas bordas. Esse processo pode ser be tanto o desenvolvimento da maioria das
feito através do georreferenciamento. Mas, atividades econômicas quanto a existência
o que é o georreferenciamento? de moradias, a situação torna-se especial-
Georreferenciar consiste em identificar mente conflituosa. Nesses casos, o poder
as reais coordenadas de cada ponto ou fei- público deve se apropriar das áreas em si-
ção da superfície da Terra. Utilizando um tuação conflituosa e isso implica na correta
sistema de referência determinado (que delimitação das propriedades a serem inde-
pode ser entendido com um marco inicial nizadas, que está atrelada à objetiva delimi-
para todas as medições), é possível localizar tação do território abrangido pela Unidade
corretamente e de forma precisa cada pon- de Conservação. Portanto, a regularização
to, local ou objeto, tanto nos limites quanto fundiária em Unidades de Conservação é
dentro da área compreendida pela Unidade extremamente importante e o georreferen-
de Conservação. ciamento constitui um instrumento im-
Um problema recorrente na gestão de prescindível para a correta execução dessa
áreas protegidas está associado à situação atividade.
fundiária das terras que são abrangidas pela O planejamento e a gestão de UCs
UC. Muitas vezes, essas terras são ocupadas também podem ter seus desempenhos
por usos irregulares, como por habitações otimizado, mediante a utilização de in-
em áreas que não oferecem a menor qua- formações georreferenciadas. Essas são im-
lidade de vida, em regiões de risco ou am- prescindíveis no diagnóstico da situação,
76 Georreferenciamento

na elaboração do zoneamento, no planeja- transmissão presentes dentro da Unidade


mento, na elaboração do Plano de Manejo de Conservação, pode ser planejada e exe-
e na fiscalização das atividades desenvolvi- cutada com vantagens se são conhecidas as
das e caracterização espacial dos eventos, coordenadas desses locais.
tanto antrópicos quanto naturais, que pos- A delimitação correta e objetiva dessas
sam acontecer na área protegida e na sua áreas deve ser realizada preferencialmente
zona de amortecimento. mediante o georreferenciamento dos limi-
Assim, a ocorrência de ocupações irre- tes, atribuindo coordenadas associadas a
gulares, desmatamento, incêndios, escorre- um sistema de referência determinado. No
gamentos, identificação de indivíduos ani- entanto, é frequente que em documentos
mais ou vegetais de espécies que, por algum antigos, elementos naturais ou antrópicos
motivo, resultem de particular interesse, sejam utilizados como referências para a
identificação de áreas onde seja necessária delimitação de uma área. Os memoriais
a restauração de vegetação, requerem o de propriedades rurais, cujos registros por
conhecimento preciso das coordenadas vezes remontam ao século XIX ou início
onde esses eventos acontecem. Mesmo a do XX, baseados nesses atributos naturais
manutenção de caminhos, pontes, linhas de (uma árvore, um rio) ou antrópicos (uma
Georreferenciamento 77

casa, um caminho) são alterados significa- dados transmitidos pelos satélites, conse-
tivamente ao longo do tempo, contribuindo guem calcular e informar ao usuário com
para as imprecisões na definição de limites, precisão, as coordenadas do local em que
essas que derivam, às vezes, em erros na ele se encontra na superfície da terra. O
cartografia. sistema GNSS de uso civil mais conhecido
Esta forma de definição de limites pode no Brasil é o GPS, acrônimo de Global Posi-
ter sido adequada para as condições fun- tioning System, de origem norte americana.
diárias e tecnológicas de algum período A precisão com que são determinadas
no passado, mas, certamente não atende as coordenadas dos pontos na superfície
às necessidades de delimitações espaciais da Terra utilizando sistemas GNSS tem au-
atuais nem é consistente com a tecnologia mentado continuamente, tanto em decor-
de geolocalização disponível. O georrefe- rência do avanço da tecnologia, pelo desen-
renciamento que utiliza coordenadas, e não volvimento de metodologias operacionais
pontos destacados na paisagem, soluciona que visam minimizar os erros, quanto pela
o componente de subjetividade no traçado eliminação de artifícios inseridos proposi-
desses limites. talmente para degradar a precisão.
Existem várias ferramentas e metodo- Atualmente, é possível conhecer as co-
logias que possibilitam realizar o georre- ordenadas de objetos e feições com erros
ferenciamento de objetos, feições e áreas menores do que um metro, mediante a
na superfície terrestre. Dentre elas as mais utilização de aparelhos receptores acessíveis
clássicas consistem na determinação de co- e baratos. Também é possível determinar
ordenadas dos objetos de interesse a partir as coordenadas com erros na ordem de
de outros pontos de referência confiáveis. milímetros, utilizando aparelhos e procedi-
Para essa tarefa, são utilizados, tipicamen- mentos mais sofisticados e caros, mas ainda
te, marcos geodésicos com coordenadas assim acessíveis aos órgãos públicos.
conhecidas, estabelecidos pelo IBGE ou Hoje, está disponível um conjunto de
outras instituições, que garantem a validade tecnologias que facilita a obtenção abun-
das informações de geolocalização. dante de informações da superfície da Terra
Nas últimas duas décadas vem se incre- e, a partir delas, planejar o uso mais ade-
mentando, cada vez mais, o uso de Sistemas quado dos recursos disponíveis, comparado
Globais de Navegação por Satélite, mais com o que era possível no passado. Dentre
conhecidos pelo seu acrônimo em Inglês essas novas ferramentas, reunidas sob o
GNSS, de Global Navigation Satellite Sys- termo geoprocessamento, são importantes,
tems. Esses consistem em sistemas para a além dos GNSS já mencionados, as imagens
determinação das coordenadas de pontos obtidas por câmaras a bordo de satélites de
mediante a utilização de conjuntos de saté- observação da Terra, os mapas digitais e os
lites, construídos especificamente para essa sistemas de informação geográfica (SIG).
aplicação, que transmitem dados de posi- Esses últimos são basicamente ambientes
cionamento. São utilizados em conjunto computacionais constituídos por bancos
com aparelhos receptores que, a partir dos de dados que permitem armazenar dados
78 Georreferenciamento

espaciais, obtidos a partir de diversas fon- e gestão. É desejável que a adoção e desen-
tes, e integrá-los para que produzam novas volvimento desses sistemas aconteçam no
informações a partir deles. âmbito do fortalecimento institucional dos
Um dos requisitos das informações organismos de planificação, gestão e fiscali-
espaciais utilizadas dentro de um SIG é zação. Caso sejam corretamente utilizadas,
que elas devem estar corretamente geor- essas tecnologias permitem avançar na me-
referenciadas, isto é, as coordenadas de diação de conflitos de uso, em Unidades de
cada feição representada nos mapas ou nas Conservação, na medida em que permitem
imagens de satélites devem estar atreladas aumentar o conjunto de informações utili-
às reais coordenadas dessas feições na su- zadas para a tomada de decisões.
perfície da Terra. Assim, não é suficiente incorporar essas
As tecnologias de geoprocessamento, se ferramentas nas instituições que formulam
corretamente utilizadas, podem contribuir políticas e que realizam a gestão das unida-
significativamente para uma maior preci- des de conservação. É também imprescin-
são dos mapeamentos de campo. Facilitam, dível incorporar a cultura de alimentação
também, a elaboração de mapas temáticos, participativa do banco de dados espacial.
que podem ser utilizados em sistemas de Desta forma, seria possível conectar to-
tratamento de dados georeferenciados, pro- dos os atores envolvidos nesses processos,
duzindo mapas derivados. Esses se apresen- construindo relações interdependentes
tam como específicos para determinadas fi- com uma lógica de uso compartilhado da
nalidades, e, dessa forma, melhoram o nível informação do território e a consequente
de conhecimento das Unidades de Conser- tomada de decisões, embasada no maior
vação. Eles permitem embasar a elaboração e mais confiável conjunto de informações
de estratégias de gestão visando alcançar os possível.
objetivos estabelecidos para cada categoria As instituições responsáveis pela gestão
dentro do SNUC. de UCs brasileiras, frequentemente, têm
A adoção de SIG’s nas instituições ges- dificuldades de comunicação interna e
toras, principalmente dando subsídios aos externa. Muitas informações, científicas
sistemas de gestão de políticas públicas, é ou não, já existem, mas não chegam ade-
frequentemente prejudicada em função das quadamente a esses órgãos. Desenvolver
dificuldades inerentes à implantação e ope- uma plataforma que integre esses conhe-
ração desse tipo de sistemas. A integração cimentos dispersos pode resultar em uma
de informações de diferentes origens, e em maior riqueza de informações para atingir
diferentes formatos em um único sistema, as metas de conservação. As estratégias
se corretamente realizada, pode incremen- de comunicação devem integrar-se, para
tar a eficácia do planejamento e a gestão garantir que esse conjunto de dados tor-
integrada. No entanto, a utilização dessas ne-se disponível e acessível de forma que
tecnologias, demanda conhecimentos es- possa ser utilizado por todos os envolvi-
pecializados muitas vezes não disponíveis dos. O grande desafio é estruturar os da-
nos órgãos responsáveis pelo planejamento dos para garantir o acesso do conjunto de
Georreferenciamento 79

informações, alimentado por multiatores, tem a visualização e o entendimento


e disponibilizá-los de modo que sejam do ambiente;
acessíveis para todos os envolvidos. • Fornecer informações que subsidiem
os processos decisórios de gestão ter-
Aplicações de um sistema de ritorial;
Geoprocessamento em Unidades de • Fornecer subsídios para a construção
Conservação da agenda da instituição gestora, a
partir de prioridades identificáveis,
• Controle e fiscalização dos territó- sendo ainda muito útil à tomada de
rios, como por exemplo, identificar decisão, implementação, execução,
os tipos de uso e ocupação do solo, monitoramento, controle e avaliação;
controle do desmatamento, monito- • A partir dessas informações é possível
ramento das tendências de expansão traçar metas, diretrizes, desenvolver
das atividades incompatíveis com a um plano e apontar os principais in-
categoria à qual pertence a UC; dicadores de desenvolvimento;
• Elaborar previsões para o desenvolvi- • A construção e a alimentação contí-
mento regional; nua do banco de dados contribui para
• Melhorar a compreensão dos proces- processos mais transparentes e que
sos sistêmicos da região e sua aplica- atendam às exigências da lei de acesso
ção na gestão territorial; à informação;
• Fornecer informações para a criação • Pode ser a plataforma que permita a
de zonas de usos específicos; incorporação de saberes difusos con-
• Analisar a evolução da mancha urba- tribuindo para a diminuição das de-
na ao longo do tempo; sigualdades de poder, aumentando o
• Elaborar mapas temáticos, que facili- compartilhamento de informações.
Perspectivas futuras 81

Perspectivas futuras na Gestão Compartilhada


das APAs no estado de São Paulo

Pedro Jacobi, Sandra Beu,


Luciana Xavier, Marcelo Misato

N
os capítulos anteriores foi res- que geraram sua criação. Para esse objetivo
saltado que as Áreas de Prote- central, a gestão das APAs, que é executada
ção Ambiental visam garantir a pelo poder público (este representado no
conservação dos atributos que motivaram estado de São Paulo pela Fundação Flores-
a sua criação, buscando compatibilizar in- tal), conta com a participação de diversos
teresses coletivos e privados, uma vez que atores sociais que atuam de forma partici-
essas áreas podem abranger propriedades pativa em seus Conselhos Gestores, caracte-
particulares. A conservação destes atribu- rizando uma gestão compartilhada da UC.
tos pode ser associada aos recursos natu- Esse compartilhamento é de extrema
rais, à paisagem ou ao seu valor histórico- importância no processo de gestão do terri-
cultural, e estabelece um desafio frente aos tório, considerando que o planejamento dos
diversos conflitos de interesses existentes. usos nesses espaços requer entendimento
O estabelecimento de regras e diretrizes da dinâmica local e articulação com aqueles
de ordenamento territorial, elaborado e que vivem e desenvolvem atividades econô-
norteado pelo Plano de Manejo, cria meca- micas nessas áreas.
nismos de apoio a conservação da unidade, Um dos principais desafios colocados
mas também promove uma relação de con- para a gestão das APAs é o de promover a
flitos associados aos diversos interesses de compatibilização da proteção de seus atri-
usos dos territórios. butos, tais como elementos da paisagem,
As APAs têm como desafio principal recursos hídricos, fauna e flora, patrimônio
criar condições adequadas de uso dos ter- histórico-cultural, com os diversos usos
ritórios por meio dos Zoneamentos Am- existentes no território. O desafio é de re-
bientais e diretrizes de seus Planos de Ma- alizá-lo em bases sustentáveis, respeitado
nejo que apontem um gradiente de usos o direito à propriedade e, portanto, sem a
admissíveis e de ações estratégicas para a necessidade de desapropriação, haja vista
conservação e recuperação dos atributos que no estado de São Paulo a maior parcela
82 Perspectivas futuras

papel dos atores sociais junto ao Conselho


Gestor da APA torna-se fundamental no
processo de tomada de decisões, pois es-
tas necessitam de reconhecimento dos
representantes dos diversos segmen-
tos para serem legitimadas, e são
baseadas nos acordos estabelecidos
entre esses, e no conheci-
mento que eles possuem
sobre o território.
Considerando esse as-
pecto, ressalta-se a impor-
tância da representatividade
das universidades e grupos de
pesquisa nos Conselhos gestores
de Unidades de Conservação. As universi-
de áreas conservadas está nas mãos de par- dades, por meio de pesquisas aplicadas nos
ticulares (HAHN & MALDONADO, 2011). territórios, contribuem diretamente com a
Os Planos de Manejo são, assim, ins- produção de conhecimento, e podem cola-
trumentos fundamentais para apoio ao borar para o aprofundamento das discus-
processo de gestão. Entretanto, para que a sões existentes nos fóruns participativos.
ação seja efetiva e bem sucedida na aplica- Os Conselhos Gestores das APAs que
ção das diretrizes estabelecidas, torna-se foram foco deste projeto, assim como na
necessário também um processo contínuo grande maioria existente das APAs paulis-
para fortalecimento da participação do tas, contam com a participação de Institu-
Conselho Gestor em ações para efetivo tos de Ensino e Pesquisa em sua compo-
acompanhamento da implantação dos Pla- sição, mas ainda carecem de uma relação
nos de Manejo (BEU, et al., 2011). mais estreita entre esses e os atores locais
Atualmente, muitas APAs ainda não pos- e necessitam explorar novas possibilidades
suem o Plano de Manejo estabelecido, ou de colaboração.
porque ainda não foi elaborado, por estar A atuação das instituições de pesquisa
em fase de desenvolvimento e finalização, ou e ensino no âmbito dos espaços participa-
ainda, porque aguardam aprovação das insti- tivos não se foca somente na produção de
tuições responsáveis por aprová-lo e ins­ti­­tuí- dados e informações, mas se faz necessá-
lo. Esse cenário das APAs no estado de São ria também para o desenvolvimento de
Paulo representa um desafio à efetividade métodos que aprimorem a participação e
das UCs, e fortalece ainda mais a necessida- a formação de consensos que gerem um
de de articulação e participação local em seu processo de aprendizagem social visando
processo de gestão. Quando a UC ainda não o planejamento do território e a tomada de
possui seu Plano de Manejo estabelecido, o decisão de maneira participativa.
Perspectivas futuras 83

Os Conselhos Gestores das APAs no dade as vivencia de forma singular e úni-


estado de São Paulo possuem dimensões ca. Surge, então, a necessidade de ações
diferenciadas de participação, vinculados vinculadas a contextos locais e que sejam
ao histórico de cada uma e às condicionan- apropriadas pelas comunidades, de forma a
tes sociais, políticas e culturais, que podem reconhecerem seus problemas e assumirem
ser superadas por meio da Aprendizagem a corresponsabilidade na gestão, buscando
Social, que visa estimular e articular as respostas criativas para enfrentar os proble-
pessoas para que mudem suas práticas, e mas emergentes, cada vez mais complexos,
compartilhem informações e conhecimen- tanto em termos quantitativos quanto qua-
tos. Assim, fornece estímulos para a capa- litativos (JACOBI, 2011).
citação e motivação, além de conduzir para Além disso, ressalta-se que o processo de
mudanças de atitudes, por meio das habi- Aprendizagem Social colabora com o res-
lidades adquiridas, promovendo processos gate e a manutenção das identidades locais,
de negociação e avançando para uma ação pois favorece o restauro do tecido social,
compartilhada. (JACOBI, 2011). promovendo encontros e recuperando a
Em um contexto atual e em um cenário confiança e as relações de interatividade
futuro, pode-se prever um quadro de mul- entre as pessoas e o seu entorno. Assim,
tiplicação dos problemas socioambientais,
que tende a se agravar, caso sejam mantidos
os padrões atuais de exploração dos re-
cursos naturais. Esses problemas
estão enraizados na cultura,
nos estilos de pensamento,
nos valores e na falta de
conhecimento e infor-
mação sobre os riscos
que o mal uso dos re-
cursos naturais pode
provocar na vida hu-
mana. Chamar a aten-
ção a esses problemas
pode repercutir em
uma maior mobiliza-
ção e controle social
sobre as atividades
que degradam o meio
ambiente.
A questão da pro-
blemática ambiental é
global, mas uma comuni-
84 Perspectivas futuras

quanto maior a identidade com os recursos meio de um conjunto de fatores prede-


naturais e culturais existentes no território, terminados, mas interpretada como algo
maior será o envolvimento com a sua pro- historicamente construído, que resulta de
teção. A identidade favorece a percepção processos políticos, sociais e culturais de
de que, apesar das diferenças e divergências uma região. Para que haja um avanço no
que cada indivíduo possui em relação ao es- processo participativo, é fundamental que
paço protegido, também há fortes afinidades os gestores se reconheçam como sujeitos
e interesses comuns (BANDEIRA, 1999). ativos que podem mudar a realidade.
As práticas participativas e de apren- O desafio é aprender coletivamente para
dizagem social desempenham papel im- o manejo e para a tomada de decisões em
portante no processo de formação e con- conjunto de modo a viabilizar mudanças
solidação de identidades e facilitam a qualitativas na gestão. Nisso, os institutos
construção de consensos básicos entre os de pesquisa e ensino possuem importante
atores sociais envolvidos. Porém, essas papel, seja por meio do fornecimento de
identidades não devem ser entendidas informações, seja no suporte a ferramentas
como algo que simplesmente exista por que subsidiem a aprendizagem social.
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Glossário 91

Glossário

Agenda 21: Programa de ação que almeja promover atender, também, às necessidades das futuras gera-
o desenvolvimento sustentável em escala planetária, ções e que, portanto, preserva e não esgota os recur-
seguindo o princípio de que é necessário “Pensar sos naturais para o futuro.
globalmente e agir localmente”.
Ecossistemas: Sistema integrado e autofuncionante,
Aprendizagem social: Processo que se baseia no que consiste em interações dos elementos bióticos e
diálogo entre diferentes atores, que leva ao entendi- abióticos, de uma região.
mento da necessidade de interação e ação conjun-
Georreferenciamento: Processo que consiste em
ta e resulta em aprimoramento dos instrumentos e
identificar as reais coordenadas, em um sistema de
meios para promover uma gestão mais adequado
referência determinado, para cada ponto ou feição
dos recursos naturais.
da superfície da Terra.
Áreas de Proteção Ambiental - APA: Área
Governança ambiental: Processo que envolve múl-
geralmente extensa, com certo grau de ocupação
tiplas categorias de atores, instituições, inter-rela-
humana, dotada de atributos abióticos, bióticos,
ções e temas através da participação, do envolvi-
estéticos ou culturais especialmente importantes
mento e da negociação desses múltiplos atores, da
para a qualidade de vida e o bem-estar das popu-
descentralização que transfere poder para o governo
lações humanas, com objetivos básicos de proteger
local, da unidade de gestão e de mecanismos para
a diversidade biológica, disciplinar o processo de
resolução dos conflitos.
ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos
recursos naturais. Identidades: Resultado da vivência pessoal contí-
nua, das referências e vínculos criados que permi-
Biodiversidade: Total de genes, espécies, ecossiste-
tem o reconhecimento dos bens existentes no espaço
mas e culturas (linguagem, crenças religiosas, práti-
e que se tornam referências.
cas tradicionais, etc.) de uma região.
Impacto Ambiental: Alteração da qualidade am-
Compensação ambiental: Substituição de um bem
biental que resulta da modificação de processos na-
que será perdido, alterado ou descaracterizado por
turais ou sociais provocadas pela ação humana.
outro, entendido como equivalente ou que desem-
penhe função equivalente. Mapeamento socioambiental: Instrumento didáti-
co-pedagógico de diagnóstico, planejamento e ação
Conflitos: Parte de um processo de viver e uma
que promove a participação de diferentes atores so-
oportunidade de identificar problemas e resolver
ciais no levantamento de diferentes informações so-
questões relevantes para as partes interessadas, sem-
bre o lugar, com o uso de mapas, fotografias aéreas
pre presente nas relações humanas.
ou imagens de satélite e saídas a campo.
Conselho Gestor: Espaço de articulação dos dife-
Mediação: Condução de determinado conflito por
rentes interesses (públicos, privados e coletivos) que
uma “terceira parte neutra” que, por meio da fala,
visa garantir a inclusão da sociedade na gestão.
estimula o amadurecimento das partes interessadas
Conservação: Utilização racional dos recursos natu- para construir suas próprias soluções e promover o
rais renováveis e obtenção de rendimento máximo entendimento.
dos não renováveis, de modo a satisfazer as necessi-
DPSIR: (Drivers, Pressures, State, Impact e Responses
dades das gerações atuais e futuras.
– Forças Motrizes, Pressões, Estado, Impacto e Res-
Degradação ambiental: Qualquer alteração adversa postas), estrutura lógica para organização e apresen-
dos processos, funções ou componentes ambientais, tação de informações sobre problemas ambientais.
ou alteração adversa da qualidade ambiental.
Negociação: Construção de consensos gradativos,
Democracia: Regime político e forma de organizar o de ganhos compartilhados, com soluções vantajosas,
poder, de maneira que o Estado não vulnere os direi- de forma a expandir e ampliar o escopo do benefício
tos políticos, civis e sociais dos cidadãos. mútuo para todas as partes.
Desenvolvimento Sustentável: Desenvolvimento Participação cidadã: Processo continuado de de-
que possui a capacidade de atender as necessidades mocratização da vida dos cidadãos, que visa promo-
da geração atual, sem comprometer a capacidade de ver iniciativas a partir de programas e campanhas
92 Glossário

especiais, e o desenvolvimento de objetivos de inte- Resiliência (capacidade de suporte): Medida da


resse coletivo; reforçar o tecido associativo e ampliar capacidade de um ecossistema absorver tensões am-
a capacidade técnica e administrativa das associa- bientais sem mudar seu estado ecológico, percepti-
ções e desenvolver a participação na definição de velmente, para um estado diferente.
programas e projetos de interesse coletivo, nas suas
Risco ambiental: Potencial de realização de conse-
diversas possibilidades.
quências adversas indesejadas para a saúde ou vida
Patrimônio Natural e Cultural: Elementos natu- humana, para o ambiente ou para bens materiais.
rais e culturais, de natureza material ou imaterial,
Serviços ambientais: Benefícios ambientais obtidos
associados a um processo de construção social, re-
pela humanidade derivado do funcionamento dos
sultante de um contexto histórico e vinculado a um
ecossistemas. Por exemplo: a produção, depuração
determinado grupo social sobre o qual reconhecem
e descontaminação de água; produção de oxigênio
sinais de sua identidade.
e a absorção de gases tóxicos pela vegetação; a ma-
Plano de manejo: Documento técnico mediante o nutenção de estoques de predadores de pragas agrí-
qual, com fundamento nos objetivos gerais de uma colas, de polinizadores, de exemplares silvestres de
Unidade de Conservação, é estabelecido o seu zo- organismos utilizados pelo homem; etc.
neamento e as normas que devem presidir o uso da
Sistema de informação geográfica (SIG): Ambien-
área e o manejo dos recursos naturais, inclusive a
tes computacionais constituídos por bancos de da-
implantação das estruturas físicas necessárias à ges-
dos que permitem armazenar dados espaciais obti-
tão da Unidade de Conservação.
dos a partir de diversas fontes, a fim de integrá-los e
Políticas públicas: Processo pelo qual os diversos gru- gerar novas informações a partir deles.
pos que compõem a sociedade – cujos interesses, va-
Sistema Nacional de Unidades de Conservação
lores e objetivos são divergentes – tomam decisões co-
(SNUC): Conjunto de Unidades de Conservação
letivas, que condicionam o conjunto dessa sociedade.
(UC) brasileiras, que define critérios e normas para
Poluição: Degradação da qualidade ambiental resul- a criação, a implantação e a gestão de UCs, e foi cria-
tante das atividades que prejudicam a saúde, a segu- do pela Lei 9.985/2000.
rança e o bem-estar da população, que, criam con-
Sustentabilidade: Capacidade de um processo ou
dições adversas às atividades sociais e econômicas.
forma de apropriação dos recursos continuar a exis-
A poluição afetam desfavoravelmente a biota e as
tir por um longo período.
condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente,
além de lançar materiais ou energia em desacordo Unidade de Conservação: Espaço territorial e seus
com os padrões ambientais estabelecidos. componentes, incluindo as águas jurisdicionais,
com características naturais relevantes, legalmente
Preservação: Proteção à longo prazo das espécies,
instituído pelo poder público, com objetivos de pre-
habitats e ecossistemas.
servação e/ou conservação e limites definidos, sob
Recuperação ambiental: Aplicação de técnicas de regime especial de administração, ao qual se aplicam
manejo, visando tornar um ambiente degradado apto garantias adequadas de proteção.
para um novo uso produtivo, desde que sustentável.
Zoneamento Ambiental: Integração sistemática e
Recursos naturais: Todas as matérias primas, tanto interdisciplinar da análise ambiental ao planejamen-
aquelas renováveis como as não renováveis, obtidas to dos usos do solo, com o objetivo de definir a me-
diretamente da natureza, e aproveitáveis pelo homem. lhor gestão dos recursos ambientais identificados.
Autores 93

Sobre os autores

Alexander Turra
Biólogo e professor doutor do Instituto Oceanográfico – IO/USP.
Contato: turra@usp.br

Denise de La Corte Bacci


Geóloga e professora doutora do Instituto de Geociências – IGC/USP.
Contato: bacci@igc.usp.br

Gerardo Kuntschik
Engenheiro Agrônomo.
Professor doutor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades – EACH/USP.
Contato: gkuntschik@usp.br

Laís Cristina Álvares Rodrigues Assis


Oceanógrafa.
Mestranda da Escola de Artes, Ciências e Humanidades – EACH/USP.
Contato: laisassis@yahoo.com.br

Luciana Yokoyama Xavier


Oceanógrafa.
Doutoranda do Instituto Oceanográfico – IO/USP.
Contato: lyxavier@usp.br

Luizi Maria Brandão Estancione


Gestora Ambiental e Internacionalista.
Mestranda do Instituto de Energia e Ambiente – IEE/PROCAM/USP.
Contato: lue.brandao@gmail.com

Maria Lucia Ramos Bellenzani


Engenheira Agrônoma.
Professora mestre do Centro Universitário Fieo – UNIFIEO.
Contato: luciabellenzani@gmail.com

Marcelo Takashi Misato


Gestor Ambiental.
Mestrando do Instituto de Energia e Ambiente – IEE/PROCAM/USP.
Contato: takashimisato@gmail.com
94 Autores

Pedro Roberto Jacobi


Cientista Social e Economista.
Professor titular da Faculdade de Educação (FE/USP) e do Programa de pós-graduação em Ciência
Ambiental (PROCAM/USP)
Contato: prjacobi@usp.br

Gina Rizpah Besen


Psicóloga.
Pós-doutoranda pelo Instituto de Energia e Ambiente - IEE/PROCAM/USP.
Contato: rizpah@usp.br

Silvia Helena Zanirato


Historiadora.
Professora doutora da Escola de Artes, Ciências e Humanidades – EACH/USP.
Contato: shzanirato@usp.br

Sandra Eliza Beu


Bióloga.
Doutoranda do Instituto de Energia e Ambiente – IEE/PROCAM/USP.
Professora mestre da Universidade de Santo Amaro. – UNISA.
Contato: sandrabeu.apa@gmail.com

Vânia Maria Nunes dos Santos


Socióloga.
Pesquisadora do LAPPES-USP (Laboratório de Pesquisa e Práticas em Educação e Sustentabilidade).
Consultora de programas de educação ambiental e de formação continuada de professores.
Contato: vania.mns@uol.com.br
Alexander Turra Denise de La Corte Bacci Gerardo Kuntschik
Laís Cristina Álvares Rodrigues Assis Luciana Yokoyama Xavier Luizi Maria Brandão Estancione
Maria Lucia Ramos Bellenzani Marcelo Takashi Misato Pedro Roberto Jacobi
Gina Rizpah Besen Silvia Helena Zanirato Sandra Eliza Beu Vânia Maria Nunes dos Santos

A
participação social na gestão de Áreas de Proteção Ambiental
(APAs) trouxe grandes avanços e desafios, dentre os quais se
destaca promover a aproximação dos atores, seu envolvimen-
to e reconhecimento no processo de gestão. É necessária a troca de
saberes, experiências e a interação entre os diversos setores sociais e
governamentais, construindo novos entendimentos e acordos por meio
de processos colaborativos e de aprendizagem social, que possam gerar
mudanças de comportamento e atitudes.

Nesse contexto, esta publicação apresenta ferramentas que pretendem


aperfeiçoar a compreensão dos problemas inter-relacionados e comple-
xos em torno da gestão compartilhada de uma APA, assim como contri-
buir para que diferentes atores dialoguem, compreendam e aprendam
a respeitar as percepções dos outros para a resolução dos problemas
ambientais.

Baseadas no ideal de “aprender juntos para cuidar dos recursos naturais”


as ferramentas apresentadas visam “despertar” o sentimento de perten-
cimento e a apreensão crítica do meio, subsidiando diálogos e reflexões
coletivas sobre as diversas percepções da realidade, e contribuindo na
discussão de propostas de intervenção e no desenvolvimento de práti-
cas colaborativas cidadãs transformadoras.

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