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Coordenador
Aprendizagem Social e
Unidades de Conservação:
Aprender juntos para cuidar
dos recursos naturais
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Aprendizagem Social e
Unidades de Conservação:
Aprender juntos para cuidar
dos recursos naturais
Coordenador
Coordenadores editorias
1a edição
São Paulo
2013
Equipe
Coordenação:
Pedro Roberto Jacobi
Coordenação editorial:
Luciana Yokoyama Xavier
Marcelo Takashi Misato
Textos:
Alexander Turra
Denise de La Corte Bacci
Gerardo Kuntschik
Laís Cristina Álvares Rodrigues Assis
Luciana Yokoyama Xavier
Luizi Maria Brandão Estancione
Maria Lucia Ramos Bellenzani
Marcelo Takashi Misato
Pedro Roberto Jacobi
Gina Rizpah Besen
Silvia Helena Zanirato
Sandra Eliza Beu
Vânia Maria Nunes dos Santos
Revisão:
Ivan Antunes Corrêa
Ilustrações:
Paloma de Farias Portela
Ficha Catalográfica
ISBN 978-85-86923-30-2
Sumário
Recursos naturais............................................................................................................................................18
Referências bibliográficas.............................................................................................................................87
Glossário...........................................................................................................................................................91
Sobre os autores.............................................................................................................................................93
A publicação 7
E
sta publicação busca divulgar ca- O maior desafio é a reforma do pensa-
minhos para o aperfeiçoamento mento, que cria espaços de convivência e
das práticas participativas na ges- promove mudanças de percepção e de va-
tão compartilhada das Áreas de Proteção lores, avançando para uma nova forma de
Ambiental (APAs). O foco é o aprofundar conhecimento, promovendo um saber soli-
o conhecimento dos principais aspectos dário e um pensamento complexo, aberto à
que demandam ampliação do repertório possibilidade de construção e reconstrução
das comunidades e do poder público para em um processo contínuo de novas leituras
aproximar os participantes, estreitando os e interpretações que configuram novas pos-
laços entre eles e fazendo com que desen- sibilidades de ação.
volvam novas formas de trabalhar con- A publicação está organizada de forma a
juntamente e em harmonia para a gestão promover, contribuir e sensibilizar os atores
desses espaços. sociais a ampliar a responsabilidade con-
Assim, visa construir e estimular pro- junta dos órgãos governamentais e da so-
cessos de colaboração e interconexões entre ciedade na gestão compartilhada das APAs
pessoas, ideias e ações para multiplicar a por meio de processos coletivos e práticas
disseminação de um conhecimento ba- inovadoras, apoiando-se em metodologias
seado em valores e práticas sustentáveis, participativas e cooperativas. As palavras-
indispensáveis para estimular o interesse e chave desta pesquisa são: Aprendizagem
o engajamento de pessoas na ação e na res- Social; Diálogo; Participação e Correspon-
ponsabilização. sabilidade.
As práticas educativas ambientalmente Ao destacar a ideia de Aprendizagem
sustentáveis nos apontam para propostas Social, contribui-se para que os diferen-
de ação com vistas à mudança de compor- tes atores envolvidos possam aprofundar
tamento e atitudes, ao desenvolvimento da seu conhecimento sobre como ampliar os
organização social e da participação coletiva. diálogos, estabelecer laços de confiança e
8 A publicação
o trabalho com temáticas que incitam mu- pandindo o acesso aos canais que multipli-
danças no comportamento, na responsabi- cam ideias e práticas que apresentem visões
lidade socioambiental e na ética ambiental, alternativas e promovam a corresponsabili-
o que estimula outro olhar. dade na sociedade.
Isso pode promover uma ampliação na A transformação cultural é necessária
compreensão da complexidade envolvida para quebrar o hiato existente entre o re-
nos processos e do desafio de ter uma ati- conhecimento da crise social e ambiental
tude mais reflexiva e atuante, fazendo com e a construção real de práticas capazes de
que os cidadãos se tornem mais responsá- estruturar as bases de uma sociedade sus-
veis, cuidadosos e engajados em processos tentável. Além disso, alertar para a impor-
colaborativos com o meio ambiente. tância do fortalecimento de Comunidades
Inserido no processo de governança am- de Prática, grupos de pessoas que com-
biental, o conceito de aprendizagem social partilham uma preocupação por algo que
abre um estimulante espaço para desenvol- fazem e aprendem como fazê-lo melhor na
ver processos de articulação de ações que medida em que interagem com regularida-
têm como premissa a ideia de “aprender de (WENGER, 1998, apud JACOBI, 2012).
conjuntamente para manejo e decisões con- Os participantes de uma comunidade
juntas e mudanças na gestão”. Basicamente, interagem em ações e discussões, apoiam-se
a estratégia de aprendizado é que todos mutuamente, trocam informações, apren-
devem conhecer o contexto de criticidade dem juntos. Assim, eles desenvolvem um
e condições de governança para intervirem repertório compartilhado de recursos: ex-
juntos em contextos ambientais complexos. periências, histórias, ferramentas, modos de
lidar com problemas recorrentes. Trata-se
Aprendizagem Social e práticas sustentáveis em resumo, de uma prática compartilhada
e de aprendizagem social como processos e
O caminho para uma sociedade sus- espaços/tempos que permitam: a ampliação
tentável se fortalece na medida em que se do número de pessoas no exercício desse
desenvolvam práticas educativas, que con- conhecimento, a comunicação entre essas
duzam para ambientes pedagógicos e para pessoas, de modo a potencializar interações
uma atitude reflexiva em torno da proble- que tragam avanços na produção de novos
mática ambiental, visando traduzir o con- repertórios e práticas de mobilização social
ceito de ambiente e sua complexidade na para a sustentabilidade (JACOBI, 2012).
formação de novas mentalidades, conheci- A partir do conceito de aprendizagem
mentos e comportamentos (MORIN, 2000). social visa-se responder aos desafios da
Isso implica na necessidade de multiplicar sustentabilidade e integração das interfa-
práticas sociais pautadas por uma visão que ces da gestão de recursos naturais, o que
permita alterar gradualmente a lógica de pressupõe a contribuição de diferentes
insustentabilidade prevalecente. Trata-se de conhecimentos e a interdisciplinaridade.
estimular e promover a ampliação de uma O entendimento do problema é o pres-
visão crítica face à insustentabilidade, ex- suposto para que os atores comecem a
16 Governança Ambiental
Recursos naturais
Denise de La Corte Bacci e Gerardo Kuntschik
O
conceito de recurso natural mento econômico e instrumento eficaz
como “uma denominação apli- de controle sobre o território.
cada a todas as matérias-primas,
tanto aquelas renováveis como as não-re- A exploração direta da natureza sempre
nováveis, obtidas diretamente da natureza, foi o principal eixo de busca por riquezas
e aproveitáveis pelo homem” (IBGE, 2004) desde o início da colonização em nosso
nos remete a um paradigma histórico de país, configurando-se em um modelo uti-
apropriação da natureza, como ressalta litarista no qual predomina a visão de que
Pádua (2004): os recursos naturais existentes no planeta
são infinitos e que podem ser explorados
No que se refere à relação com a Na- incessantemente. Essa visão contribuiu
tureza, as linhas gerais do modelo de para o modelo de exploração implantado
ocupação e exploração do território bra- no Brasil, onde a grande diversidade bio-
sileiro podem ser definidas através de lógica, disponibilidade de água e riquezas
três características essenciais que, infe- minerais estimulou o sentimento de que os
lizmente, ainda estão presentes no modo recursos eram inesgotáveis.
de relacionamento da sociedade com O modelo utilitarista representa uma
o seu entorno ecológico: 1) O mito da prática predatória de apropriação da na-
natureza inesgotável, baseado na ideia tureza e ofereceu prosperidade na eco-
de uma fronteira natural sempre aberta nomia e na estrutura social do país por
para o avanço da exploração econômica; muito tempo, apesar dos muitos exem-
2) Um grau considerável de desprezo plos de vilas, fazendas e minas que foram
pela biodiversidade e os biomas nativos e abandonadas por terem atingido o limite
3) Uma aposta permanente nas espécies da sua capacidade de sustentação natural
exóticas, especialmente em regime de (BRITO, 2003; PÁDUA, 2004; GUIMA-
monocultura, como fonte de enriqueci- RÃES, 2005).
20 Recursos naturais
tratar de forma um pouco mais sistêmica os recursos florestais, conceituando pela pri-
meira vez os parques e as florestas nacionais, as florestas protetoras e as áreas de preser-
vação permanente (BRITO, 2003). Alguns exemplos mais recentes de regulamentações
que abrangem a gestão dos recursos naturais são:
• Lei de uso do solo (Lei nº 6.766, de 19 de dezembro de 1979);
• Lei de gerenciamento costeiro (Lei nº 7.661, de 16 de maio de 1988);
• Lei de gerenciamento dos recursos hídricos (Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997);
• Lei das Unidades de Conservação - SNUC (Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000).
O Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) é o conjunto de unidades de
conservação (UC) federais, estaduais e municipais que define critérios e normas para a cria-
ção, a implantação e a gestão de UCs.
A Lei apresenta objetivos e diretrizes específicas, dentre os quais a conservação dos espa-
ços naturais. As UCs foram divididas em dois grupos de proteção: as Unidades de Proteção
Integral e as Unidades de Uso Sustentável, que se diferenciam quanto à forma de proteção
e usos permitidos. Além disso, a visão estratégica que o SNUC oferece aos tomadores de
decisão possibilita que as UC, além de conservar os ecossistemas e a biodiversidade, gerem
renda, emprego, desenvolvimento e propiciem uma efetiva melhora na qualidade de vida
das comunidades locais e do Brasil como um todo. Antes do surgimento do SNUC, eram
muito esparsas e diferenciadas as normas que tratavam sobre unidades de conservação,
existindo diversas categorias de manejo. Além disso, eram instituídas unidades que sequer
correspondiam a tais categorias (BRITO, 2003).
Seus objetivos podem ser agrupados em quatro itens diferentes:
• Proteção/manutenção/preservação da biodiversidade, da sociodiversidade e de servi-
ços ambientais imprescindíveis, como exemplo os relacionados aos recursos hídricos;
• Incentivo e promoção da pesquisa científica;
• Promoção da educação e interpretação ambiental, a recreação em contato com a na-
tureza e o turismo ecológico;
• Promoção do desenvolvimento sustentável (para as comunidades do entorno das UCs).
Unidades de Conservação
Proteção Integral Uso Sustentável
Estação Ecológica Área de Proteção Ambiental
Reserva Biológica Área de Relevante Interesse Ecológico
Parque Nacional Florestal Nacional
Monumento Natural Reserva Extrativista
Reserva de Fauna
Refúgio da Vida Silvestre Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Reserva Particular do Patrimônio Natural
Recursos naturais 23
O uso dos recursos naturais requer uma vos econômicos de progresso material su-
nova lógica, fundada na sustentabilidade bordinam-se às leis que governam o funcio-
socioambiental e cultural da existência co- namento dos sistemas naturais, bem como a
letiva. O aproveitamento econômico-social critérios superiores de respeito à dignidade
e a administração dos recursos naturais, vi- humana e de melhoria na qualidade da vida
sando a conservação e a recuperação, exige: das pessoas.
• Normas e diretrizes sobre o uso do Para Pádua (2004), o estabelecimen-
solo, do subsolo e das águas, pautadas to desta nova relação com o território e
em pesquisas científicas; seus ecossistemas precisa inserir-se em
• Garantia de instrumentos jurídicos um amplo movimento político em defesa
capazes de dar sustentação a uma efe- do espaço público e do bem-estar coletivo,
tiva gestão. que fortaleça o sentido de cidadania e de
Para Jacobi (2005), a sustentabilidade comunidade na sociedade brasileira (in-
implica na prevalência da premissa de que clusive considerando as gerações futuras).
é preciso definir uma limitação baseada nas A permanência da lógica predatória, es-
possibilidades de crescimento, e um con- pecialmente nas elites econômicas, apenas
junto de iniciativas que levem em conta a poderá ser transformada pela ampliação da
existência de interlocutores e participantes consciência de nação entre as pessoas.
sociais relevantes e ativos através de práti- Rocha (2000) ressalta a importância
cas educativas e de um processo de diálogo da participação ativa de cada cidadão
informado, o que reforça um sentimento de nas decisões que irão afetar não só as
corresponsabilização e de constituição de próprias vidas, como também a vida dos
valores éticos. que estarão ali no futuro. Nisso não se
Assim, é necessário um novo modelo de está procurando amenizar a participação
utilização dos recursos naturais que deve do Estado na tomada das decisões, pelo
ser ambientalmente sustentável no acesso e contrário será da interação entre as for-
uso dos recursos naturais e na preservação ças da sociedade civil organizada, através
da biodiversidade; socialmente sustentável do poder público institucionalizado, que
na redução de pobreza e das desigualdades surgirão as estratégias compatíveis tanto
e na promoção da justiça social; cultu- com as necessidades de desenvolvimento
ralmente sustentável na conservação do econômico como de preservação do meio
sistema de valores, práticas e símbolos de ambiente de cada lugar.
identidade que determinam integração Nos modelos de gestão compartilhada,
nacional ao longo do tempo; politicamente no qual a participação dos cidadãos deve
sustentável aprofundando a democracia ser enfatizada (JACOBI, 2000), é preciso
e garantindo o acesso e participação de considerar ainda os seguintes aspectos:
todos os setores de sociedade nas decisões • Desenvolvimentos de práticas edu-
públicas. cativas que conduzam para uma
Esse estilo tem como diretriz uma nova atitude reflexiva sobre as questões
ética de desenvolvimento na qual os objeti- ambientais diante de um conceito de
24 Recursos naturais
natureza que se desvele em sua com- nhecimento sobre ela, objetivando a sua
plexidade; transformação [...] (IBAMA, 2002).
• Formação de novas mentalidades,
conhecimentos e comportamentos O caminho para uma sociedade sus-
pautados em uma lógica da susten- tentável se fortalece na medida em que
tabilidade e não do utilitarismo pre- se desenvolvam práticas educativas, que
datório. pautadas pelo paradigma da complexidade,
É preciso entender a complexa temática apontem para a escola e os ambientes peda-
das relações entre meio ambiente e educa- gógicos uma atitude reflexiva em torno dos
ção, a partir de alguns parâmetros presentes problemas ambientais e os efeitos gerados
nas práticas sociais centradas na “educação por uma sociedade cada vez mais pragmá-
para a sustentabilidade”. tica e utilitarista (JACOBI, 2005). Para o au-
Segundo o IBAMA (2002), ao pensar a tor, refletir sobre a complexidade ambiental
educação em um processo de gestão am- abre um estimulante espaço para compre-
biental, deseja-se o controle social na elabo- ender a gestação de novos atores sociais que
ração e execução de políticas públicas, por se mobilizam para a apropriação da nature-
meio da participação permanente dos cida- za, para um processo educativo articulado
dãos, principalmente, de forma coletiva, na e compromissado com a sustentabilidade e
gestão e uso dos recursos ambientais e nas a participação, apoiado em uma lógica que
decisões que afetam a qualidade do meio privilegia o diálogo e a interdependência
ambiente. Complementa ainda que de diferentes áreas do saber. Processo que
questiona valores e premissas que norteiam
[...] todo processo educativo é antes de as práticas sociais prevalecentes, implican-
tudo um processo de intervenção na rea- do em uma mudança na forma de pensar,
lidade vivida em que educar e educando, uma transformação no conhecimento e nas
numa prática dialógica, constroem co- práticas educativas.
Recursos naturais 25
APAs e Conselhos 27
Marcelo Misato, Luciana Xavier, Luizi Estancione, Laís Assis, Sandra Beu
A
preocupação com a preservação vimento de atividades econômicas. Dife-
dos recursos e o avanço da in- rente da concepção dos primeiros parques
dustrialização levou à criação de criados, as APAs permitem a existência de
diversas áreas de proteção ao redor do propriedades privadas em seu território e
mundo. Com o ideal de proteger a vida sel- não visam a remoção das comunidades e
vagem e os ecossistemas e a fim de manter atividades humanas, mas sim ordenar os
uma “natureza intocada”, as primeiras Uni- diversos usos de acordo com os objetivos de
dades de Conservação (UCs) criadas foram conservação dos atributos que estimularam
os Parques Nacionais. Esses tinham como sua criação.
pressuposto a preservação do ambiente por A coexistência de propriedades públicas
meio da exclusão do homem de seus limi- e privadas dentro de uma UC que visa à
tes, o que gerou inúmeros conflitos entre os proteção ambiental gera maiores desafios à
gestores das áreas e a população residente, gestão, sendo necessário conciliar opiniões
que dependia da área para a sua sobrevivên- e interesses diversos e muitas vezes diver-
cia, especialmente as comunidades tradicio- gentes, em busca da melhor solução a todos
nais, representadas no Brasil por caiçaras e os envolvidos. Assim, para cumprir seus
quilombolas (DIEGUES, 1995). objetivos e garantir uma solução consensual
Para evitar esses conflitos e buscando para a resolução dos conflitos socioambien-
um novo modelo de conservação ambien- tais, as APAs abrem espaço para a partici-
tal, foram criadas outras categorias de UCs pação das comunidades locais na tomada
que objetivam a promoção de um desen- de decisão, através de seu Conselho Gestor.
volvimento sustentável aliado às ativida-
des humanas, como é o caso das Áreas de As Áreas de Proteção Ambiental
Proteção Ambiental (APAs), que buscam
conciliar a proteção de atributos naturais, Área de Proteção Ambiental é uma ca-
paisagísticos e culturais com o desenvol- tegoria de manejo que foi criada no Brasil
28 APAs e Conselhos
Diretoria Executiva
S E
MS W
MG
ES
1
3 - APA Marinha do Litoral 4 - APA Marinha do Litoral
Centro Norte
Decreto Estadual nº 53.526, de Decreto Estadual nº 53.525, de
08/10/2008 08/10/2008
2 4
Área: 449.000,2 ha de área Área: 316.242,45 ha de área
marinha marinha
Municípios: Bertioga, Guarujá, Municípios: Ubatuba, 3 4 4
Santos, São Vicente, Praia Grande, Caraguatatuba, São Sebastião e
Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe Ilhabela Legenda
Conselho Gestor – Setores Conselho Gestor – Setores 3 3 Limites Estaduais
representados: Sociedade Civil representados: Sociedade Civil APAs Estudadas
(12 vagas), Governo Municipal (4 (12 vagas), Governo Municipal (4
UC's Uso Sustentável
vagas); Governo Estadual (5 vagas) vagas); Governo Estadual (5 vagas)
UC's Proteção Integral
e Governo Federal (3 vagas) e Governo Federal (3 vagas) PR
Oceano
APAs e Conselhos 35
Através desse contato, entre pesquisadores e conselheiros, foi possível traçar um pano-
rama da situação atual de interação entre instituições de ensino e pesquisa e cada um dos
Conselhos das APAs participantes. O quadro a seguir explicita as expectativas dos conse-
lheiros em relação à atuação das instituições de ensino e pesquisa, o panorama atual e pos-
sibilidades de melhora desta relação.
Questões Repostas
Subsídios para tomada de decisão;
Consultas técnicas;
Apresentando dados de trabalhos realizados na área;
O que se espera? Desenvolvendo pesquisas para demandas específicas do CG;
Acompanhamento da atuação do CG;
Métodos para capacitação, divulgação e aprimoramento da comunicação do CG;
Conhecimento profundo das atividades e histórico do município.
A
criação e gestão das Áreas de Pro- na de agir em comum acordo (ARENDT,
teção Ambiental envolve conflitos 1985; SOUZA, 2000). O poder não é pro-
sociais, econômicos, ambientais, priedade de um indivíduo, pertence a um
políticos e institucionais existentes entre grupo e existe apenas enquanto o grupo se
múltiplos atores e interesses atuantes no mantiver unido. No entanto as relações de
território protegido pela unidade, onde co- poder são efêmeras e dinâmicas.
existem propriedades públicas e privadas. Dentre os conflitos entre atores sociais
Para tanto, se faz necessário compatibilizar pelo uso do espaço, manifesta-se a forma
os interesses públicos/políticos e privados como estes organizam as ações no terri-
dentro do território. Esse é um espaço tório (SILVA, 2001). Os múltiplos atores
definido e delimitado a partir das relações envolvidos no decorrer do processo intera-
de poder, e “sendo o território um instru- gem e negociam com agentes que possuem
mento de poder é importante identificar diferentes posições sociais que regulam,
quem domina ou influencia quem nesse fiscalizam e consomem os recursos natu-
espaço e como” (SOUZA, 2000, p.81). Por- rais (PACHECO et al., 1993). Ocorre uma
tanto, a questão dos conflitos existentes, intermediação de interesses que envolvem
e a necessidade de realizar negociações e a diversidade dos atores nos aspectos que
mediações, passam pelas características relacionam a esfera pública e privada. A
dos recursos naturais, o que se produz ou partir da existência e superposição de vá-
quem produz em um dado espaço, ou ain- rios tipos de conflitos, surge uma dinâmica
da, quais são as ligações afetivas e de iden- no jogo de interesses, e essa pode resultar
tidade entre um grupo social e seu espaço, em alianças e/ou oposições de acordo com
conflitos e contradições sociais. as circunstâncias.
Ao considerar a questão territorial na O sucesso da implementação de uma
perspectiva dos atores sociais, o poder pode APA passa pela sua contextualização no
ser entendido enquanto a habilidade huma- território – ou seja, pela compreensão dos
38 Negociação e Mediação
Formas de lidar
Quem participa Processo Decisão
com conflitos
• As partes buscam um acordo
e tentam chegar a uma decisão • As decisões são tomadas pelas
conjunta em assuntos de interesses partes, sem a obrigatoriedade do
mútuos. cumprimento do que foi decidido
• Busca-se construir as melhores • A interdependência de interesses
• Partes interessadas e alternativas para cada um dos pode impulsionar ou não a
seus representantes. interlocutores, e a conciliação motivação dos envolvidos em uma
• Múltiplos de interesses, muitas vezes, negociação, mesmo que as posições
interlocutores, tornando conflitantes. sejam conflitantes, pois em um
Negociação mais complexa a • A construção implica em interação segundo momento podem convergir
interdependência de de saberes referentes ao escopo em interesses complementares.
interesses e decisões do que será negociado, traduzindo - Podem existir várias rodadas de
dos interlocutores que em uma prática de alocações de negociação nas quais as alianças e
negociam. decisões. oposições podem se alterar.
• As negociações podem ter • Os resultados dependem das
variações de complexidade, circunstâncias, do contexto, da
dependendo da situação que interação dos interlocutores e de
os interlocutores se dispõem variáveis de outras negociações.
inicialmente a enfrentar.
• A mediação facilita a participação
das partes e a elaboração
de acordos que possam ser
implementados, de acordo com • O mediador é um facilitador e as
aquilo que for decidido. partes decidem se aceitam ou não
• Implica na suas sugestões.
participação de um • O mediador investiga a fundo
terceiro indivíduo os problemas e auxilia a criar e a • A construção de um acordo
“neutro” que não tem avaliar as opções de soluções com entre as partes é feita por elas
Mediação
interesse nas partes. um critério científico que assegura mesmas, em um processo onde o
aos mediados de que o acordo mediador incentiva a visualização de
• O mediador pode ser resultante será justo, equitativo e alternativas para o consenso.
uma instituição, uma duradouro.
pessoa ou um grupo. • Existe um comprometimento pós-
• A mediação se baseia em um mediação de realização das ações
processo democrático de construção que foram acordadas entre as partes.
de um futuro comum entre as
partes interessadas em resolverem
determinados conflitos.
DEBATE DIÁLOGO
Posicionamentos de certeza, defesa de convicções, Troca na qual as pessoas falam e ouvem aberta e
desafios, tentativas de convencer que seu ponto de vista é respeitosamente. Apresentação de argumentos, certezas e
o correto. Às vezes, ataques ao outro. incertezas e busca de entendimento.
Não há comunicação, antes da reunião, entre as partes. Os contatos e a preparação dos participantes, antes da reunião,
Os convidados podem ser líderes conhecidos por posições são elementos essenciais do processo.
elaboradas.
O clima pode ser ameaçador, e ainda com ataques e O mediador propõe, obtém acordo e executa regras básicas
interrupções pelas partes, permitidos pelos moderadores. e claras para aumentar a segurança e promover a conversa
respeitosa.
Os participantes podem falar como representantes de Os participantes falam uns com os outros.
grupos.
Os participantes podem ouvir a fim de refutar os dados Os participantes ouvem para entender e obter conhecimento das
apresentados pelo outro lado e para expor a lógica falha de convicções e preocupações dos outros.
seus argumentos.
As perguntas podem constituir desafios retóricos ou As perguntas são feitas por curiosidade.
declarações. Presume-se que as necessidades e os valores Surgem novas informações. O sucesso requer a exploração das
já foram entendidos. complexidades da questão que está sendo discutida.
Nas APAs, os Conselhos Gestores são os espaços criados legalmente para a negociação e,
menos frequentemente, para mediação de conflitos entre os diversos atores que interagem no
território. Dentre as competências do Conselho Gestor (BRASIL, 2002), duas são especial
mente voltadas à negociação de conflitos: esforçar-se para compatibilizar os interesses dos di-
versos segmentos sociais relacionados com a unidade e, propor diretrizes e ações para compa-
tibilizar, integrar e otimizar a relação com a população do entorno ou do interior da unidade.
As representações dos órgãos públicos e da sociedade civil nos conselhos devem ser,
sempre que possível, paritárias, considerando as peculiaridades regionais. A natureza do
conselho não é normatizada, mas sejam eles consultivos ou deliberativos, são integrados
Negociação e Mediação 43
por representantes dos órgãos públicos e Nas APAs, os conflitos mais presentes
dos segmentos da sociedade civil que atuam giram em torno do uso e ocupação do solo:
no território. São constituídos em espaços usos econômicos que não estão em con-
de gestão participativa e de conciliação formidade com o Zoneamento Ambiental,
de opiniões e interesses divergentes, que como mineração, parcelamento do solo,
atuam sobre o território. Quanto mais es- empreendimentos turísticos, agricultura;
pelham a diversidade de partes interessadas construções ilegais; extração de espécies
mais representam a correlação de forças no vegetais nativas; caça; entre outros. Signifi-
território delimitado pela unidade, e mais cativos são os conflitos advindos do licen-
legítimos se constituem enquanto espaço de ciamento ambiental de empreendimentos.
negociação dos conflitos socioambientais No caso das APAs Municipais situadas
que nela se dão. no extremo Sul do município de São Paulo,
Quando deliberativos, os Conselhos destaca-se que de acordo com o Plano de
Gestores têm mais força para que os pactos Manejo da APA Capivari-Monos (SVMA,
nele firmados sejam efetivamente cumpri- 2011), os maiores desafios para a gestão são
dos. No entanto, seu poder de deliberação os conflitos socioambientais decorrentes da
é restrito à sua competência, pois não subs- expansão urbana – pressão para a regulari-
titui o órgão ambiental. O licenciamento de zação e implantação de infraestrutura em
obras e empreendimentos consiste em uma loteamentos irregulares situados em áreas
das maiores fontes de conflitos nas APAs, frágeis, invasão de áreas para moradia, ine-
pois o Conselho não é o licenciador, mas é xistência ou insuficiência de saneamento
ouvido no processo de licenciamento e, se ambiental, além de impactos sobre a biodi-
deliberativo, pode intervir no processo com versidade e sobre os recursos hídricos. Exis-
vistas a garantir o menor dano ambiental. tem, ainda, desafios decorrentes do licen-
Diegues (1995) identificou vários tipos ciamento ambiental de empreendimentos,
de conflitos nas Unidades de Conservação: no caso, os ligados ao setor de transportes:
• Práticas econômicas e ocupacionais o Rodoanel Metropolitano, cujo trecho Sul
– caça, pesca, extrativismo, prestação atravessa a APA Bororé Colônia, e a dupli-
de serviços, construção e reforma; cação da ferrovia Mairinque-Santos, que
• Legais e sociais – relacionamento com atravessa a APA Capivari – Monos.
a Fiscalização e com a Administração; Esses últimos são exemplos de conflitos
regularização fundiária; onde o jogo de forças é desigual. No caso
• Degradação dos recursos naturais do Rodoanel Metropolitano Mário Covas
– fogo com atividades agropastoris, na APA Bororé-Colônia, o licenciamento
incêndios e desmatamento; ocorreu pouco antes da criação da unida-
• Outros – salário dos empregados, lixo de, que tramitava na Câmara Municipal ao
e esgoto, exploração turística, entrada mesmo tempo em que o Rodoanel era li-
em áreas proibidas, desmatamento cenciado. O Conselho apenas acompanhou
para lenha, venda e desmembramento o processo de implantação das compensa-
de posses antigas, roça, camping, etc. ções ambientais – quatro parques naturais
44 Negociação e Mediação
Municipais, três deles no interior da APA, como sobre o patrimônio histórico do bair-
além do plantio compensatório de espécies ro de Evangelista de Souza, que vem sendo
nativas. Apesar de terem sido apontadas dilapidado pela modernização da ferrovia.
irregularidades, em especial nesse último, O parecer do Conselho Gestor pede
o órgão licenciador não as considerou. Não que a empresa América Latina Logística,
houve, tampouco, nenhuma compensação responsável pela operação da ferrovia, in-
de ordem social para as comunidades que vista em melhorias no bairro de Engenheiro
foram afetadas pelo empreendimento. No Marsilac e custeie parte da implantação
entendimento dos moradores da região, do Polo de Evangelista de Souza, prevista
os parques naturais não trazem benefícios, no Plano de Manejo da APA. As obras de
pelo contrário, são vistos como agravantes duplicação, no entanto, estão em curso sem
da exclusão social. que isso tenha ocorrido, permanecendo o
No caso da obra de duplicação da fer- conflito sem solução.
rovia, trata-se de um licenciamento federal O conflito se acirra, muitas vezes entre
no qual o Conselho Gestor é ouvido. Por secretarias ou diferentes esferas de governo.
se tratar de uma ferrovia já existente, o Nestes casos caberia um mediador externo,
impacto sobre o meio natural é muito pe- no entanto isto não ocorre. A necessidade
queno, portanto o licenciamento não enseja de mediação se faz em casos de ocupações
as compensações previstas na legislação. urbanas em locais não permitidos, assim,
Para o Conselho, os principais impactos auxilia na construção de “Acordos de entre
não são sobre o meio natural, mas sobre as partes”, com o objetivo de mediar o con-
a comunidade de Engenheiro Marsilac, flito e encaminhar possíveis soluções, sem a
bairro de importância histórica no interior necessidade de um processo jurídico. Even-
da APA, em especial devido aos ruídos e à tualmente, as universidades e organizações
trepidação causada pela passagem contínua da sociedade civil podem atuar na media-
de composições pesadas que trafegam da ção quando não diretamente envolvidas no
Serra do Mar para a Baixada Santista, bem conflito.
Negociação e Mediação 45
46 Identidade territorial
Identidade territorial 47
A
conservação do Patrimônio pos- de territorial e a importância desses para o
sui valor integrativo para a con- sentimento de pertencimento e a conserva-
servação dos recursos naturais e ção da paisagem.
culturais, porém esta conservação só será
atingida por meio do estimulo à participa- O que é Patrimônio?
ção social.
O capítulo destaca alguns elementos A definição de Patrimônio contempla
associados à discussão sobre a conserva- elementos culturais e naturais, de natureza
ção do Patrimônio, que colaboram com o material ou imaterial, porém deve estar
direcionamento da discussão para o desen- associada a um processo de construção so-
volvimento local, por meio da visitação tu- cial, resultante de um contexto histórico e
rística, no âmbito da governança ambiental. vinculado a um determinado grupo social,
Assim, serão levantadas discussões acerca sobre o qual reconhecem sinais de sua iden-
do Patrimônio, seu vínculo com a identida- tidade (ZANIRATO, 2009).
Desta forma, não se deve restringir a fa- • Valor ecológico vinculado à conser-
tores estéticos, mas à sua representativida- vação da biodiversidade animal e
de para determinada população, pois “sal- vegetal, que representam habitats nos
vaguardar o que se denomina Patrimônio quais existem espécies em risco de
é condição essencial para a manutenção extinção ou processos ecológicos e
do sentimento de enraizamento do sujeito biológicos de importância;
com o espaço que habita, para a configu- • Valor científico manifestado em áreas
ração de suas identidades” (ZANIRATO, que contêm formações ou fenômenos
2011, p. 190). naturais importantes para a ciência.
A salvaguarda, difusão, conservação e Para o Estado de São Paulo, através do
gestão dos bens aos quais se atribuiu valor Conselho de Defesa do Patrimônio His-
patrimonial, são procedimentos necessários tórico, Arqueológico, Artístico e Turístico
para preservar as histórias e as identidades (CONDEPHAAT), o Patrimônio Ambien-
que o Patrimônio expressa, além de impedir tal se expressa pelo termo: Patrimônio
sua destruição ou descaracterização. Ambiental Urbano, que tem como objetivo
O Instituto do Patrimônio Histórico e “sintetizar elementos de diversos; as ruas, as
Artístico Nacional (IPHAN), responsável casas, a paisagem, de modo a compor a um
pela gestão dos bens patrimoniais no Brasil só termo o quadro material que dá suporte
defende que “o Patrimônio cultural de um à memória e permite preservar o meio am-
povo compreende as obras de seus artistas, biente” (RODRIGUES, 2000, p. 87).
assim como as criações anônimas surgidas Por meio dessa categoria, reconhece-se
da alma popular” (IPHAN, 2004, p. 319). o valor “em expressões de uma natureza
Com isso, ele diminui o distanciamento das transformada e apropriada socialmente,
concepções elitistas do Patrimônio artístico uma natureza ‘comum’ dos parques e áreas
e monumental, e insiste em reconhecer que verdes urbanas, com amplo uso e, portanto,
as obras modestas, que adquiriram com o com amplo significado social” (SCIFONI,
tempo uma significação cultural, também 2007, p. 110).
compõem o rol de bens culturais, e que o Os critérios para o enquadramento do
Patrimônio abarca também os produtos da Patrimônio Ambiental Urbano do Con-
cultura popular. dephaat são mais amplos que o da UNES-
No que tange ao Patrimônio Natural, CO, considerando:
a Organização das Nações Unidas para a • Formas de vegetação nativa remanes-
Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) centes, em especial nas áreas onde
considera que sob esta categoria se incluem essa cobertura vegetal esteja ameaça-
os componentes estéticos, ecológicos e cien- da de extinção eminente;
tíficos, assim são considerados a partir do: • Formas de vegetação secundária que
• Valor estético expresso por meio das se destacam pelo seu valor científico
paisagens de extraordinária beleza ou pela escassez de formas originais;
natural ou que apresentem formações • Áreas que se destacam pela existên-
únicas; cia de monumentos geológicos, de
Identidade territorial 49
Conservação do Patrimônio
e seus vínculos com a
identidade
A conservação do Patri-
mônio se efetiva a partir do en-
volvimento da comunidade que
os detém, por meio de processo
de identificação, a conservação, o
estudo e a difusão dos bens patri-
moniais.
O envolvimento social para a
conservação seja do Patrimônio,
50 Identidade territorial
existentes no espaço e que se tornam refe- que contribui para desmotivar a sociedade
rências. A identidade se constrói na e pela quanto à participação nos fóruns de defesa
experiência e é assim um processo contí- do Patrimônio. Persiste o desafio de mudar
nuo (CIAMPA, 1987), para que os sujeitos esse cenário, de compartilhar o exercício
se sintam identificados com os elementos do poder democrático e participativo, ca-
a serem conservados, é necessário que se paz de criar estruturas de governança que
reconheçam neles, para que, assim, os bens impeçam a degradação dos bens culturais e
se tornem de fato representativos deles e naturais e garantam sua sobrevivência para
para eles. a geração atual e futura.
Conforme a maior identidade com os Para que essa proteção se efetive, é ne-
valores dos bens culturais e naturais, maior cessária a mobilização social que direcione
será o envolvimento com a sua proteção. o poder público a adotar políticas de pro-
A identidade favorece a percepção de que, teção dos bens. No entanto, a participação
apesar das diferenças e divergências que social nas decisões relativas à política do
cada indivíduo possui em relação ao espaço Patrimônio no Brasil é pequena, mesmo
protegido, também há fortes afinidades e que tenha ocorrido um aumento do núme-
interesses comuns (BANDEIRA, 1999). ro de pessoas envolvidas com a gestão patri-
É necessário, portanto, ir além dos monial, prevalece o pouco envolvimento da
dados físicos do ambiente e buscar a di- sociedade civil na salvaguarda desse legado.
mensão subjetiva que permeia o coletivo e A falta de participação da população
assim, trabalhar de forma mais adequada nos fóruns de gestão do Patrimônio pode
com os possíveis conflitos que possam ser explicada por diversas razões. A pri-
surgir nos fóruns de gestão participativa. meira delas decorre do fato de que, em
A resolução de impasses envolve processos sociedades desiguais, a apropriação dos
inerentes à cognição e à afetividade (GUI- valores pertinentes ao Patrimônio se faz de
MARÃES, 2001). modo desigual.
Os conhecimentos, crenças e gostos de-
Problemas para a conservação do pendem do modo como os grupos sociais
Patrimônio acessam o que é considerado Patrimônio.
Por isso, não é raro que objetos e saberes
O ritmo do desenvolvimento urbano, a gerados pelos grupos pertencentes à elite,
mercantilização da cultura e da natureza, que possuem maior acesso à informação e
são grandes ameaças à sobrevivência do formação intelectual, acabem, majoritaria-
Patrimônio cultural e natural e sua proteção mente, sendo considerados, bens patrimo-
ocorre por meio de medidas políticas des- niais. Esses grupos não só definem o que é
tinadas a impedir as ameaças que podem digno de conservação, como ainda dispõem
degradá-lo ou destruí-lo. de condições para atribuir maior qualidade
A conservação do Patrimônio cultural e refinamento a esses mesmos bens.
e natural se faz, via de regra, por meio de A participação desigual resulta em di-
decisões unilaterais dos órgãos técnicos, o ferentes formas de envolvimento com a
Identidade territorial 51
salvaguarda, podendo ocasionar, nos gru- bre o valor e a relevância daquilo que deve
pos que não têm identidade com o elemen- ser salvaguardado.
to elevado à condição de Patrimônio, certo Não por acaso, nesses anos, salvaguar-
desprezo em sua conservação. Essa situação daram-se como Patrimônio monumentos
se coloca para a sociedade em geral, mas das elites econômicas e intelectuais, que
torna-se particularmente difícil em países expressavam a história de personagens
como o Brasil, profundamente marcado considerados grandiosos, assim como,
pela desigualdade social. foram definidas as áreas naturais prote-
A sociedade brasileira é caracteriza- gidas, dotadas de excepcional beleza e de
da pelas diferenças e desigualdades. A rica biodiversidade, locais compreendidos
diferença é de histórias que deram lugar como incompatíveis com a manutenção
a diferentes culturas particulares. A desi- da população, que tradicionalmente habi-
gualdade provém de relações assimétricas, tara o local. Essas ações, também contri-
de dominação-subordinação, que ligam buíram para o distanciamento da socieda-
povos com culturas diferentes dentro de de mais ampla da política de proteção do
uma mesma formação sociocultural. (BA- Patrimônio.
TALLA, 1997, p. 54). Hoje, já se tem claro, ao menos nos
Esse é um dos motivos que pode explicar meios técnicos, que o Patrimônio cultural
porque há, no Brasil, uma participação que e natural não se resume aos objetos históri-
pode ser considerada pouco expressiva, cos e artísticos, aos monumentos represen-
quando se buscam ações para a conserva- tativos da memória nacional ou aos centros
ção dos bens que remetem ao passado e à históricos já consagrados e protegidos pe-
conservação de áreas naturais. las instituições e agentes governamentais.
É compreensível que as classes popula- Também não se encontram limitados aos
res, envolvidas na penúria das moradias e espaços considerados pouco tocados pela
na urgência de sobreviver, se sintam pouco presença humana e dotados de expressi-
implicadas com a conservação do Patrimô- va biodiversidade. Ele engloba também
nio cultural e natural, sobretudo quando “as criações anônimas surgidas da alma
não se consideram como seus detentores. popular” (IPHAN, 2004, p. 271), e que se
Além disso, outras razões podem ser encontram nas construções significativas
incluídas nas explicações para o escasso para uma dada comunidade, nas paisagens
envolvimento de parte significativa da ordinárias, sejam elas naturais ou transfor-
população com a salvaguarda dos bens madas, rurais ou urbanas, nas maneiras de
patrimoniais. A forma como a política construir moradias e fabricar objetos de
sobre o Patrimônio foi historicamente uso, nos modos de pescar, caçar, plantar, de
implementada é o segundo motivo a ser utilizar plantas como alimentos e remédios,
considerado, tendo em vista que essa foi de preparar alimentos, nos modos de vestir
executada, ao menos ao longo de 50 anos e falar, nos rituais religiosos e populares,
(1937-1988), como uma política de espe- nas canções, histórias e lendas contadas de
cialistas, os únicos capazes de decidir so- geração a geração.
52 Identidade territorial
Não se pode ignorar ainda o terceiro ou para a produção do solo urbano, de for-
fator, que também corrobora para o distan- ma cada vez mais rentável, na qual a justifi-
ciamento social na defesa do Patrimônio cativa está atrelada ao ideário de progresso
natural e cultural, e que advém da busca e crescimento econômico, também ajuda a
incessante pela modernidade, expressa no compreender as dificuldades para a partici-
país como um todo. As cidades brasileiras, pação mais ampla do social na conservação
com poucas exceções, podem ser caracte- do Patrimônio.
rizadas como contemporâneas, são cida-
des que exibem em seu espaço a procura O Patrimônio como uma possibilidade ao
incessante pela modernidade, a mudança desenvolvimento local
brusca de sua paisagem, em uma contínua
ruptura com o passado. Nessas cidades, os O Patrimônio que está inserido na pai-
referenciais culturais e naturais herdados, sagem é um marco, que explicita o vínculo
tornam-se cada vez mais escassos e restri- de identidade da população com o seu ter-
tos a poucos lugares, pois são considerados ritório, assim a sua conservação pressupõe,
como oposição ao ideal de progresso e mo- além da participação social, a manutenção
dernidade. do bem propriamente dito e também do
A busca pelo moderno colide com os entorno ao qual está circunscrita. Nesse
signos do passado e com a manutenção da sentido a paisagem ganha destaque, pois é
natureza, ambos tidos como expressões do elemento que fundamenta as identidades
atraso, do mau gosto e do empobrecimento. sociais e, portanto, deve ser considerada
Percepções como essas também contribuem não só como suporte ao planejamento, mas
para entender porque há uma participação sim como aspecto base para o desenvolvi-
pouco ativa no que diz respeito à proteção mento territorial.
do Patrimônio natural e cultural. Nesse sentido, um dos pontos impor-
Essa questão, por sua vez, não pode ser tantes para o planejamento da paisagem,
entendida fora do contexto do processo de refere-se aos entendimentos dos laços que
produção do espaço, que busca constante- os moradores têm com o espaço e que
mente a sua especulação, pois o solo é uma são condensados por meio do Patrimônio.
mercadoria de troca, como qualquer outra, Assim, o Patrimônio material e imaterial
através de preços fixados pela lei da oferta funciona como uma alegoria que resgata
e demanda. Por isso mesmo, não se pode memórias, histórias e conhecimentos locais
analisar a política de proteção do Patri- presentes na paisagem.
mônio desvinculada dos interesses que se A seguir, são resgatadas algumas expe-
apresentam na especulação do solo, na ex- riências europeias e latino-americanas que,
pansão da fronteira agrícola e dos interesses a partir do Patrimônio, seja ele cultural ou
contrários que lutam pela apropriação do natural, funcionaram como propulsoras do
espaço (CORREA, 1989 e ZARATE, 2003). desenvolvimento local (BEL, 2007; 2010).
A defesa de novos usos do espaço seja O Patrimônio natural e cultural foi
para os empreendimentos agropecuários, considerado um fator de valorização dos
Identidade territorial 53
A
Agenda 21 representa um com- • Agricultura Sustentável;
promisso socioambiental assinado • Cidades Sustentáveis;
por 179 nações na Conferência • Infraestrutura e Integração Regional;
Rio-92. Trata-se de um programa de ação • Gestão dos Recursos Naturais;
abrangendo diversos setores e níveis (glo- • Redução das Desigualdades Sociais;
bal, nacional, estadual e local), que almeja • Ciência e Tecnologia para o Desen-
promover o desenvolvimento sustentável volvimento Sustentável.
em escala planetária seguindo o princípio de Sua lógica foi incorporada em diversos
que é necessário “Pensar globalmente e agir processos nacionais, como os Planos de
localmente”. É um processo de planejamento Bacias Hidrográficas, Planos Diretores Par-
participativo, baseado na análise da situa ticipativos, Planos de Intervenção da Orla,
ção atual de um determinado local, com Conferências Nacionais de Meio Ambiente
proposição de ações para alcançar metas e e até em escolas, empresas e unidades de
cenários futuros ou “o futuro que queremos”, conservação. Este enfoque pontual, que
garantindo a qualidade de vida das gerações caracteriza a Agenda 21 Local, é impor-
atuais e das que virão, através de um novo tante por considerar as particularidades de
modelo de desenvolvimento sustentável. cada contexto para o diagnóstico e plane-
A Agenda 21 Brasileira busca implantar jamento, sendo que sua operacionalização
os princípios da Agenda 21 Global no país. está atrelada ao envolvimento dos grupos
Essa implementação foi iniciada a partir do sociais locais.
resultado de uma consulta à população rea Para sua implantação, o Governo Fede-
lizada entre 1996 e 2002, com proposição ral, através do Ministério do Meio Ambien-
de 21 ações prioritárias relacionadas a seis te, elaborou o documento Passo a Passo da
temas estratégicos: Agenda 21 Local1, composto por seis etapas:
1. Para maiores informações sobre o Programa Agenda 21 no Brasil, sugerimos que o site do MMA:
http://www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/agenda-21
58 Agenda 21 Local
diversos atores e perceber como cada um a solução exige medidas que podem ultra-
enxerga o ambiente que o cerca e os pro- passar as atribuições do grupo gestor.
blemas existentes. Cada grupo de atores,
com sua experiência e conhecimento, A metodologia DPSIR
adiciona informações importantes para
a identificação dos problemas, que vão A metodologia DPSIR (Drivers, Pres-
sendo caracterizados e re-caracterizados sures, State, Impact e Responses – Forças
ao longo do processo. Esta possibilidade Motrizes, Pressões, Estado, Impacto e Res-
de mudar a percepção e o entendimen- postas) tem suas origens nos trabalhos da
to sobre determinado assunto, através Organização para Cooperação Econômica
de contribuições do grupo, configura-se e Desenvolvimento - OECD2, e compreen-
como aprendizagem social, beneficiando de uma estrutura lógica para organização e
o processo de gestão e aumentando o po- apresentação de informações sobre proble-
der do grupo gestor. mas ambientais3 (KRISTENSEN, 2004).
Apesar de parecer simples, quando es- O modelo considera as ligações entre as
sas discussões acontecem, é comum ocor- atividades humanas, entendidas como forças
rer confusão quanto ao que são causas, motrizes (Drivers), e as pressões que elas im-
efeitos, ações e impactos, resultando em põem sobre o meio (Pressures), modificando
dificuldades para se definir estratégias de seu estado (State) e gerando impactos (Im-
ação dedicadas a enfrentar o problema pacts) sobre os ecossistemas, seus serviços e
identificado. Quando isso ocorre, a im- funções e, consequentemente, sobre as po-
pressão geral é de que as discussões não pulações humanas. A fim de evitar, combater
geram ações efetivas, deixando os partici- ou minimizar os impactos, surgem as repos-
pantes com um sentimento de “perda de tas (Responses), em forma de ações, políticas
tempo” e impotência frente aos desafios ou metas que atuam sobre os demais fatores,
que têm que enfrentar. podendo ter caráter preventivo ou paliativo.
Muitas vezes, esse sentimento pode ser Estabelecendo indicadores específicos
evitado com métodos simples para definir para cada um desses elementos, o modelo
com maior precisão quais são os proble- DPSIR “fragmenta” o problema e permite
mas, suas causas e possíveis soluções. A uma compreensão mais ampla e nivelada
clareza sobre o que está sendo discutido dos atores envolvidos sobre as relações entre
é fundamental para nortear as ações a suas origens e consequências, possibilitando
serem tomadas para a gestão ambiental, também identificar em que elemento de aná-
apesar de não garantir que todos os pro- lise, devem ser concentradas as ações para
blemas sejam solucionados, uma vez que evitar, solucionar ou mitigar o problema.
-
-
o consenso sobre a categorização, o me- do local para o qual ele foi realizado, podem
diador escreve o ponto em um cartão de ser produtos da análise:
cor equivalente ao elemento do DPSIR e o • Lista de Boas e Más práticas ambien-
insere na tabela já organizada. Caso muitos tais;
problemas tenham sido identificados, o • Material de divulgação e sensibiliza-
facilitador deve proceder à eleição de prio- ção (informativos, panfletos, carta-
ridades para discussão. zes, etc);
• Início do planejamento de ações
3. Preencher todos os elementos da aná- para solução dos problemas identifi-
lise DPSIR cados; etc.
(Re)conhecimento Local
Corresponsabilização
Mapeamento socioambiental 69
servidas, caso apresente cor, odor, mente para fins de entendimento da meto-
resíduos sólidos ou assoreamento); dologia, eles são complementares, pois no
• Habitação, ocupação e vias de aces- trabalho de campo, esses momentos estão
so: tipologia (residencial, comercial conectados.
ou industrial); constituição (barracos, A segunda (Momento da percepção
de alvenaria, galpão, térreo, sobrado, visual direta) e a terceira (Momento de
caso ocupe o lote inteiro ou não, caso reflexão) categoria de análise propostas,
apresente avarias, acabamento). Vias podem ocorrer de forma simultânea. Isto
asfaltadas ou de terra, rodovias, fer- se expressa tanto nas “legendas problema-
rovias, etc. tizadoras” como nos textos produzidos a
partir das questões orientadoras em com-
Mapas socioambientais locais: aplicação e plemento aos mapas elaborados e, ainda,
possibilidades nas apresentações orais desses. Propõe-se
as seguintes perguntas orientadoras: quais
As características de uso e ocupação de são os problemas ambientais identificados
um local que apresente duas áreas diferen- no local? Que medidas têm sido adotadas
ciadas: uma área preservada, por exemplo, para resolvê-los? O que, na opinião do gru-
dentro de um parque estadual e outra área po, deveria ser feito para resolvê-los? Nas
limítrofe ocupada de forma desordena- experiências descritas em Santos e Bacci
da, com sérios impactos socioambientais, (2011), em geral, as respostas apresentadas
possibilita comparações significativas, o tendem a revelar que o lugar é percebido
que contribui para que os diferentes atores de forma crítica pelos participantes, assim
possam observar, refletir e propor ações são destacados problemas de infraestrutura
necessárias para o lugar. Considerando a local, resultantes do crescimento desorde-
forte expressão da identidade dos partici- nado das cidades.
pantes com o local de estudo podem surgir A experiência revela um amplo espectro
elementos que se destacam na paisagem de aplicação da metodologia, com a parti-
mapeada, inclusive com grande grau de cipação de escolas, agentes de saúde, pro-
detalhamento. fessores, líderes comunitários, gestores pú-
O levantamento de informações possi- blicos, em diferentes contextos, tanto para
bilita reflexões sobre a forma de uso e ocu- o levantamento de problemas como para
pação do espaço e de suas implicações no a reflexão sobre os mesmos e a busca de
ambiente e para a qualidade de vida local, soluções. Percebe-se com esta metodologia
bem como subsidia o desenvolvimento de que os aspectos sociais assumem destaque
propostas de intervenção local, em busca em relação aos elementos do meio biofísico.
de soluções para os problemas associados Essas informações possibilitam discutir
com a gestão dos recursos e a conservação questões, tais como: a interferência do ho-
das APAs. mem nos processos de dinâmica superficial,
Embora os momentos do eixo meto- do ponto de vista dos riscos ambientais; a
dológico apareçam neste texto separada- preservação de margens de cursos d’água e
72 Mapeamento socioambiental
A
correta delimitação espacial das bientalmente sensíveis. Em muitos casos, as
Unidades de Conservação é um áreas de proteção são criadas em locais nos
dos requisitos para o adequado quais há presença de moradores ou onde
planejamento, gerenciamento e fiscalização são desenvolvidas atividades incompatíveis
das atividades desenvolvidas em seu inte- com a tipologia da área protegida. No caso
rior e das áreas de amortecimento que mar- das áreas de proteção integral, onde se proí
geiam suas bordas. Esse processo pode ser be tanto o desenvolvimento da maioria das
feito através do georreferenciamento. Mas, atividades econômicas quanto a existência
o que é o georreferenciamento? de moradias, a situação torna-se especial-
Georreferenciar consiste em identificar mente conflituosa. Nesses casos, o poder
as reais coordenadas de cada ponto ou fei- público deve se apropriar das áreas em si-
ção da superfície da Terra. Utilizando um tuação conflituosa e isso implica na correta
sistema de referência determinado (que delimitação das propriedades a serem inde-
pode ser entendido com um marco inicial nizadas, que está atrelada à objetiva delimi-
para todas as medições), é possível localizar tação do território abrangido pela Unidade
corretamente e de forma precisa cada pon- de Conservação. Portanto, a regularização
to, local ou objeto, tanto nos limites quanto fundiária em Unidades de Conservação é
dentro da área compreendida pela Unidade extremamente importante e o georreferen-
de Conservação. ciamento constitui um instrumento im-
Um problema recorrente na gestão de prescindível para a correta execução dessa
áreas protegidas está associado à situação atividade.
fundiária das terras que são abrangidas pela O planejamento e a gestão de UCs
UC. Muitas vezes, essas terras são ocupadas também podem ter seus desempenhos
por usos irregulares, como por habitações otimizado, mediante a utilização de in-
em áreas que não oferecem a menor qua- formações georreferenciadas. Essas são im-
lidade de vida, em regiões de risco ou am- prescindíveis no diagnóstico da situação,
76 Georreferenciamento
casa, um caminho) são alterados significa- dados transmitidos pelos satélites, conse-
tivamente ao longo do tempo, contribuindo guem calcular e informar ao usuário com
para as imprecisões na definição de limites, precisão, as coordenadas do local em que
essas que derivam, às vezes, em erros na ele se encontra na superfície da terra. O
cartografia. sistema GNSS de uso civil mais conhecido
Esta forma de definição de limites pode no Brasil é o GPS, acrônimo de Global Posi-
ter sido adequada para as condições fun- tioning System, de origem norte americana.
diárias e tecnológicas de algum período A precisão com que são determinadas
no passado, mas, certamente não atende as coordenadas dos pontos na superfície
às necessidades de delimitações espaciais da Terra utilizando sistemas GNSS tem au-
atuais nem é consistente com a tecnologia mentado continuamente, tanto em decor-
de geolocalização disponível. O georrefe- rência do avanço da tecnologia, pelo desen-
renciamento que utiliza coordenadas, e não volvimento de metodologias operacionais
pontos destacados na paisagem, soluciona que visam minimizar os erros, quanto pela
o componente de subjetividade no traçado eliminação de artifícios inseridos proposi-
desses limites. talmente para degradar a precisão.
Existem várias ferramentas e metodo- Atualmente, é possível conhecer as co-
logias que possibilitam realizar o georre- ordenadas de objetos e feições com erros
ferenciamento de objetos, feições e áreas menores do que um metro, mediante a
na superfície terrestre. Dentre elas as mais utilização de aparelhos receptores acessíveis
clássicas consistem na determinação de co- e baratos. Também é possível determinar
ordenadas dos objetos de interesse a partir as coordenadas com erros na ordem de
de outros pontos de referência confiáveis. milímetros, utilizando aparelhos e procedi-
Para essa tarefa, são utilizados, tipicamen- mentos mais sofisticados e caros, mas ainda
te, marcos geodésicos com coordenadas assim acessíveis aos órgãos públicos.
conhecidas, estabelecidos pelo IBGE ou Hoje, está disponível um conjunto de
outras instituições, que garantem a validade tecnologias que facilita a obtenção abun-
das informações de geolocalização. dante de informações da superfície da Terra
Nas últimas duas décadas vem se incre- e, a partir delas, planejar o uso mais ade-
mentando, cada vez mais, o uso de Sistemas quado dos recursos disponíveis, comparado
Globais de Navegação por Satélite, mais com o que era possível no passado. Dentre
conhecidos pelo seu acrônimo em Inglês essas novas ferramentas, reunidas sob o
GNSS, de Global Navigation Satellite Sys- termo geoprocessamento, são importantes,
tems. Esses consistem em sistemas para a além dos GNSS já mencionados, as imagens
determinação das coordenadas de pontos obtidas por câmaras a bordo de satélites de
mediante a utilização de conjuntos de saté- observação da Terra, os mapas digitais e os
lites, construídos especificamente para essa sistemas de informação geográfica (SIG).
aplicação, que transmitem dados de posi- Esses últimos são basicamente ambientes
cionamento. São utilizados em conjunto computacionais constituídos por bancos
com aparelhos receptores que, a partir dos de dados que permitem armazenar dados
78 Georreferenciamento
espaciais, obtidos a partir de diversas fon- e gestão. É desejável que a adoção e desen-
tes, e integrá-los para que produzam novas volvimento desses sistemas aconteçam no
informações a partir deles. âmbito do fortalecimento institucional dos
Um dos requisitos das informações organismos de planificação, gestão e fiscali-
espaciais utilizadas dentro de um SIG é zação. Caso sejam corretamente utilizadas,
que elas devem estar corretamente geor- essas tecnologias permitem avançar na me-
referenciadas, isto é, as coordenadas de diação de conflitos de uso, em Unidades de
cada feição representada nos mapas ou nas Conservação, na medida em que permitem
imagens de satélites devem estar atreladas aumentar o conjunto de informações utili-
às reais coordenadas dessas feições na su- zadas para a tomada de decisões.
perfície da Terra. Assim, não é suficiente incorporar essas
As tecnologias de geoprocessamento, se ferramentas nas instituições que formulam
corretamente utilizadas, podem contribuir políticas e que realizam a gestão das unida-
significativamente para uma maior preci- des de conservação. É também imprescin-
são dos mapeamentos de campo. Facilitam, dível incorporar a cultura de alimentação
também, a elaboração de mapas temáticos, participativa do banco de dados espacial.
que podem ser utilizados em sistemas de Desta forma, seria possível conectar to-
tratamento de dados georeferenciados, pro- dos os atores envolvidos nesses processos,
duzindo mapas derivados. Esses se apresen- construindo relações interdependentes
tam como específicos para determinadas fi- com uma lógica de uso compartilhado da
nalidades, e, dessa forma, melhoram o nível informação do território e a consequente
de conhecimento das Unidades de Conser- tomada de decisões, embasada no maior
vação. Eles permitem embasar a elaboração e mais confiável conjunto de informações
de estratégias de gestão visando alcançar os possível.
objetivos estabelecidos para cada categoria As instituições responsáveis pela gestão
dentro do SNUC. de UCs brasileiras, frequentemente, têm
A adoção de SIG’s nas instituições ges- dificuldades de comunicação interna e
toras, principalmente dando subsídios aos externa. Muitas informações, científicas
sistemas de gestão de políticas públicas, é ou não, já existem, mas não chegam ade-
frequentemente prejudicada em função das quadamente a esses órgãos. Desenvolver
dificuldades inerentes à implantação e ope- uma plataforma que integre esses conhe-
ração desse tipo de sistemas. A integração cimentos dispersos pode resultar em uma
de informações de diferentes origens, e em maior riqueza de informações para atingir
diferentes formatos em um único sistema, as metas de conservação. As estratégias
se corretamente realizada, pode incremen- de comunicação devem integrar-se, para
tar a eficácia do planejamento e a gestão garantir que esse conjunto de dados tor-
integrada. No entanto, a utilização dessas ne-se disponível e acessível de forma que
tecnologias, demanda conhecimentos es- possa ser utilizado por todos os envolvi-
pecializados muitas vezes não disponíveis dos. O grande desafio é estruturar os da-
nos órgãos responsáveis pelo planejamento dos para garantir o acesso do conjunto de
Georreferenciamento 79
N
os capítulos anteriores foi res- que geraram sua criação. Para esse objetivo
saltado que as Áreas de Prote- central, a gestão das APAs, que é executada
ção Ambiental visam garantir a pelo poder público (este representado no
conservação dos atributos que motivaram estado de São Paulo pela Fundação Flores-
a sua criação, buscando compatibilizar in- tal), conta com a participação de diversos
teresses coletivos e privados, uma vez que atores sociais que atuam de forma partici-
essas áreas podem abranger propriedades pativa em seus Conselhos Gestores, caracte-
particulares. A conservação destes atribu- rizando uma gestão compartilhada da UC.
tos pode ser associada aos recursos natu- Esse compartilhamento é de extrema
rais, à paisagem ou ao seu valor histórico- importância no processo de gestão do terri-
cultural, e estabelece um desafio frente aos tório, considerando que o planejamento dos
diversos conflitos de interesses existentes. usos nesses espaços requer entendimento
O estabelecimento de regras e diretrizes da dinâmica local e articulação com aqueles
de ordenamento territorial, elaborado e que vivem e desenvolvem atividades econô-
norteado pelo Plano de Manejo, cria meca- micas nessas áreas.
nismos de apoio a conservação da unidade, Um dos principais desafios colocados
mas também promove uma relação de con- para a gestão das APAs é o de promover a
flitos associados aos diversos interesses de compatibilização da proteção de seus atri-
usos dos territórios. butos, tais como elementos da paisagem,
As APAs têm como desafio principal recursos hídricos, fauna e flora, patrimônio
criar condições adequadas de uso dos ter- histórico-cultural, com os diversos usos
ritórios por meio dos Zoneamentos Am- existentes no território. O desafio é de re-
bientais e diretrizes de seus Planos de Ma- alizá-lo em bases sustentáveis, respeitado
nejo que apontem um gradiente de usos o direito à propriedade e, portanto, sem a
admissíveis e de ações estratégicas para a necessidade de desapropriação, haja vista
conservação e recuperação dos atributos que no estado de São Paulo a maior parcela
82 Perspectivas futuras
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Glossário 91
Glossário
Agenda 21: Programa de ação que almeja promover atender, também, às necessidades das futuras gera-
o desenvolvimento sustentável em escala planetária, ções e que, portanto, preserva e não esgota os recur-
seguindo o princípio de que é necessário “Pensar sos naturais para o futuro.
globalmente e agir localmente”.
Ecossistemas: Sistema integrado e autofuncionante,
Aprendizagem social: Processo que se baseia no que consiste em interações dos elementos bióticos e
diálogo entre diferentes atores, que leva ao entendi- abióticos, de uma região.
mento da necessidade de interação e ação conjun-
Georreferenciamento: Processo que consiste em
ta e resulta em aprimoramento dos instrumentos e
identificar as reais coordenadas, em um sistema de
meios para promover uma gestão mais adequado
referência determinado, para cada ponto ou feição
dos recursos naturais.
da superfície da Terra.
Áreas de Proteção Ambiental - APA: Área
Governança ambiental: Processo que envolve múl-
geralmente extensa, com certo grau de ocupação
tiplas categorias de atores, instituições, inter-rela-
humana, dotada de atributos abióticos, bióticos,
ções e temas através da participação, do envolvi-
estéticos ou culturais especialmente importantes
mento e da negociação desses múltiplos atores, da
para a qualidade de vida e o bem-estar das popu-
descentralização que transfere poder para o governo
lações humanas, com objetivos básicos de proteger
local, da unidade de gestão e de mecanismos para
a diversidade biológica, disciplinar o processo de
resolução dos conflitos.
ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos
recursos naturais. Identidades: Resultado da vivência pessoal contí-
nua, das referências e vínculos criados que permi-
Biodiversidade: Total de genes, espécies, ecossiste-
tem o reconhecimento dos bens existentes no espaço
mas e culturas (linguagem, crenças religiosas, práti-
e que se tornam referências.
cas tradicionais, etc.) de uma região.
Impacto Ambiental: Alteração da qualidade am-
Compensação ambiental: Substituição de um bem
biental que resulta da modificação de processos na-
que será perdido, alterado ou descaracterizado por
turais ou sociais provocadas pela ação humana.
outro, entendido como equivalente ou que desem-
penhe função equivalente. Mapeamento socioambiental: Instrumento didáti-
co-pedagógico de diagnóstico, planejamento e ação
Conflitos: Parte de um processo de viver e uma
que promove a participação de diferentes atores so-
oportunidade de identificar problemas e resolver
ciais no levantamento de diferentes informações so-
questões relevantes para as partes interessadas, sem-
bre o lugar, com o uso de mapas, fotografias aéreas
pre presente nas relações humanas.
ou imagens de satélite e saídas a campo.
Conselho Gestor: Espaço de articulação dos dife-
Mediação: Condução de determinado conflito por
rentes interesses (públicos, privados e coletivos) que
uma “terceira parte neutra” que, por meio da fala,
visa garantir a inclusão da sociedade na gestão.
estimula o amadurecimento das partes interessadas
Conservação: Utilização racional dos recursos natu- para construir suas próprias soluções e promover o
rais renováveis e obtenção de rendimento máximo entendimento.
dos não renováveis, de modo a satisfazer as necessi-
DPSIR: (Drivers, Pressures, State, Impact e Responses
dades das gerações atuais e futuras.
– Forças Motrizes, Pressões, Estado, Impacto e Res-
Degradação ambiental: Qualquer alteração adversa postas), estrutura lógica para organização e apresen-
dos processos, funções ou componentes ambientais, tação de informações sobre problemas ambientais.
ou alteração adversa da qualidade ambiental.
Negociação: Construção de consensos gradativos,
Democracia: Regime político e forma de organizar o de ganhos compartilhados, com soluções vantajosas,
poder, de maneira que o Estado não vulnere os direi- de forma a expandir e ampliar o escopo do benefício
tos políticos, civis e sociais dos cidadãos. mútuo para todas as partes.
Desenvolvimento Sustentável: Desenvolvimento Participação cidadã: Processo continuado de de-
que possui a capacidade de atender as necessidades mocratização da vida dos cidadãos, que visa promo-
da geração atual, sem comprometer a capacidade de ver iniciativas a partir de programas e campanhas
92 Glossário
Sobre os autores
Alexander Turra
Biólogo e professor doutor do Instituto Oceanográfico – IO/USP.
Contato: turra@usp.br
Gerardo Kuntschik
Engenheiro Agrônomo.
Professor doutor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades – EACH/USP.
Contato: gkuntschik@usp.br
A
participação social na gestão de Áreas de Proteção Ambiental
(APAs) trouxe grandes avanços e desafios, dentre os quais se
destaca promover a aproximação dos atores, seu envolvimen-
to e reconhecimento no processo de gestão. É necessária a troca de
saberes, experiências e a interação entre os diversos setores sociais e
governamentais, construindo novos entendimentos e acordos por meio
de processos colaborativos e de aprendizagem social, que possam gerar
mudanças de comportamento e atitudes.