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REPRODUÇÃO | BIOLOGIA 11º André Delgado

Capacidade de construir descendência portadora dos genes dos progenitores, assegurando a


renovação contínua da espécie e a transmissão da informação genética de geração em
geração. Na natureza ocorrem dois tipos de reprodução: assexuada e sexuada.

1.Reprodução assexuada
A reprodução assexuada origina indivíduos geneticamente idênticos entre si e ao seu progenitor.
O processo de divisão celular envolvido na reprodução assexuada é a mitose que origina seres
vivos que são clones dos seus progenitores, sendo a variabilidade genética reduzida, a menos que
ocorram mutações.
- Sem intervenção de células sexuais e sem fecundação;
- Descendência a partir de um único progenitor.
Estratégias reprodutivas
Processo de
reprodução Descrição do processo
assexuada
Consiste na divisão de uma célula-mãe em duas células de tamanho sensivelmente
Divisão binária ou igual ou de um indivíduo pluricelular simples em dois, aproximadamente, com o
cissiparidade ou mesmo tamanho.
bipartição Ex.: Bactérias, protistas (algas unicelulares, paramécia, amiba) e seres pluricelulares
simples (planária, etc.).
Na superfície da célula ou indivíduo forma-se uma dilatação – gomo ou gema – que
Gemulação ou
dá origem a um novo organismo após um processo de crescimento e separação.
gemiparidade
Ex.: Fungos unicelulares (leveduras), animais simples como a hidra e a esponja.
Consiste na formação (por mitose) de esporos – estruturas especializadas na
Esporulação reprodução – que em condições ambientais favoráveis germinam.
Ex.: Fungos (bolor do pão).
Consiste na divisão do progenitor em vários fragmentos, cada um regenerando as
Fragmentação
partes em falta. Ex.: Animais como a estrela-do-mar.
Propagação ou Consiste na formação de uma planta completa a partir de um órgão vegetativo
multiplicação (folha, caule ou raiz). Ex.: Plantas superiores (rizomas, tubérculos – batateira –, estolhos
vegetativa – morangueiro –, bolbos – cebola).
Consiste no desenvolvimento de um novo indivíduo a partir de um óvulo não
Partenogénese
fecundado. Ex.: Insetos como as abelhas, pulgões, peixes, anfíbios e répteis.

Desde há muito tempo que o ser humano recorre à reprodução assexuada de algumas espécies
em seu benefício, nomeadamente as plantas. Aproveita as várias estruturas especializadas na
multiplicação vegetativa – folhas, estolhos, tubérculos, rizomas, bolbos – aplica com sucesso e
lucro, na agricultura, diferentes técnicas de propagação.
Para além deste processo, atualmente, são usadas técnicas de propagação artificial, tais como
a clonagem e a cultura in vitro. Neste último processo, a partir de fragmentos de uma planta, por
meio de técnicas adequadas, obtém-se um número elevado de plantas geneticamente iguais
entre si e à planta progenitora, preservando assim caraterísticas genéticas com interesse
económico, uma vez que o produto final é robusto e livre de doenças.
Clone – Grupo de células geneticamente idênticas e descendentes de uma só célula inicial.
Também se aplica a uma linhagem de indivíduos geneticamente idênticos.
Clonagem – Processo através do qual se obtém um clone.
Também é possível clonar animais, por transferência de núcleos. Neste processo, o núcleo de
uma célula do animal que se pretende clonar é transferido para um óvulo de outro animal da
mesma espécie, ao qual se retirou o núcleo.

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2.Reprodução sexuada
A reprodução sexuada resulta da união de duas células sexuais, os gâmetas – fecundação – com
a formação de um ovo ou zigoto. Este tipo de reprodução permite a formação de descendentes
diferentes dos seus progenitores. A meiose e a fecundação mantêm constante o número de
cromossomas caraterístico de cada espécie.
Célula diploide – possui, no seu núcleo, duas cópias de cada cromossoma, designados
cromossomas homólogos, um proveniente de cada progenitor. Os cromossomas homólogos
transportam o mesmo conjunto de genes (com informação para as mesmas caraterísticas), com
a mesma organização e o mesmo tamanho.
Célula haploide – possui, no seu núcleo, apenas um cromossoma de cada par de cromossomas
homólogos, isto é, apresenta metade do número de cromossomas caraterísticos da sua espécie.
Meiose e fecundação
A meiose é um processo de divisão nuclear que, permitindo a produção de células
geneticamente diferentes entre si e com metade do número de cromossomas da célula inicial, é
essencial em todas as espécies que apresentam reprodução sexuada. Através de meiose, uma
célula-mãe origina quatro células-filhas geneticamente diferentes entre si e da progenitora, cada
uma com metade do número de cromossomas (n cromossomas), – células haploides. Da fusão de
dois gâmetas resulta a formação do ovo ou zigoto – célula diploide (2n cromossomas).

– MEIOSE –

A meiose é o processo de divisão nuclear que tem início numa célula diploide (2n) e origina
quatro células haploides (n), isto é, trata-se de um processo no qual as células-filhas apresentam
metade do número de cromossomas da célula-mãe. Na meiose ocorrem duas divisões sucessivas,
designadas divisão I e divisão II.
Na divisão I – divisão reducional – ocorre a redução para metade do número de cromossomas.
Na divisão II – divisão equacional – ocorre a separação dos cromatídios-irmãos das células
haploides formadas na divisão I. Não acontece redução do número de cromossomas, mas o teor
de DNA é reduzido para metade, formando-se duas células-filhas com n cromossomas.
Divisão I ou Reducional
→ Etapa mais longa da meiose
- Os cromossomas condensam.
- Emparelhamento dos cromossomas homólogos, formando bivalentes ou díadas cromossómicas
num processo designado sinapse e no qual os genes dos cromossomas homólogos emparelham.
Cada bivalente é constituído por quatro cromatídios unidos dois a dois pelo centrómero – tétrada
Profase I

cromatídica. Os pontos de contacto entre os cromatídios emparelhados designam-se pontos de


quiasma.
- Crossing-over – trocas de segmentos de cromatídios entre os bivalentes, ao nível dos pontos de
quiasma. O crossing-over é um dos mecanismos responsáveis pela variabilidade genética, pois altera
o conteúdo genético dos cromossomas homólogos.
- Formação do fuso acromático (a partir dos filamentos proteicos formados a partir dos centríolos).
- Dissolução do invólucro nuclear.
→ Etapa caraterizada pela formação da placa equatorial
- Os cromossomas homólogos de cada bivalente dispõem-se aleatoriamente no plano equatorial
Metafase I

(fator que aumenta a variabilidade genética), unidos pelos centrómeros às fibrilas do fuso
acromático.
- Os pontos de quiasma estabelecidos entre os cromossomas homólogos definem o plano equatorial
– placa equatorial – orientando-se os centrómeros em direção a cada um dos polos da célula.
- Máxima condensação da cromatina.
→ Etapa caraterizada pela ascensão polar dos cromossomas homólogos
- Separação aleatória dos cromossomas homólogos (redução cromossómica) sem que haja
Anafase I

separação dos centrómeros, pelo que cada cromossoma é constituído por dois cromatídios.
- Cada um dos conjuntos cromossómicos que se separam e ascendem aos polos são haploides –
com metade do número de cromossomas (n) – e possuem informações genéticas diferentes,
contribuindo para a variabilidade genética dos novos núcleos (haploides).

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→ Etapa caraterizada pela reorganização celular
- Descondensação dos cromossomas (tornam-se finos e longos).
Telofase I

- Dissolução do fuso acromático, iniciando-se a diferenciação dos nucléolos e dos invólucros


nucleares, formando-se dois núcleos haploides (com metade do número de cromossomas do núcleo
diploide inicial).
- Em algumas células ocorre a citocinese.

Divisão II ou Equacional
→ Etapa caraterizada pela reorganização celular
Profase II

- A cromatina condensa-se, ficando os cromossomas mais curtos e mais espessos (cada cromossoma
é constituído por dois cromatídios unidos pelo centrómero)
- Formação do fuso acromático.
- Dissolução do invólucro nuclear e do nucléolo.
→ Etapa caraterizada pela formação da placa equatorial
Metafase II

- Os cromossomas alinham-se no plano equatorial, ligando-se pelo centrómero às fibrilas do fuso


acromático.
- O alinhamento faz-se pelos centrómeros, encontrando-se os braços dos cromatídios voltados para
cada um dos polos (máxima condensação da cromatina).
→ Etapa caraterizada pela ascensão polar dos cromatídios de cada cromossoma
Anafase II

- Ocorre a clivagem dos centrómeros e os cromatídios-irmãos separam-se e ascendem a polos


opostos.
- Cada cromossoma-filho é, gora, constituído por um cromatídio.
- Não ocorre redução do número de cromossomas.
→ Etapa caraterizada pela reorganização celular
Telofase II

- Os cromossomas atingem os polos e começam a descondensar.


- Dissolução do fuso acromático.
- Os nucléolos e os invólucros nucleares diferenciam-se, formando quatro núcleos haploides.
- Caso não tenha ocorrido citocinese após a Telofase I, o citoplasma divide-se originando quatro
células-filhas haploides.

Mutações cromossómicas
- Na divisão I – não separação dos cromossomas homólogos.
- Na divisão II – não separação de cromatídios-irmãos.
- No crossing-over – troca anormal de segmentos entre cromatídios de cromossomas homólogos.
Variação da quantidade de DNA durante a meiose
No decurso da meiose, ocorre redução do número de cromossomas (2n a n) acompanhada por
redução do teor de DNA.
Interfase – a célula diploide replica o DNA que passa de 2Q para 4Q.
Anafase I – redução de 4Q para 2Q aquando da separação de cromossomas homólogos.
Anafase II – redução de 2Q para Q aquando da separação dos cromatídios.
Na fecundação, os gâmetas fundem-se e originam o ovo ou zigoto, diploide, capaz de gerar um
novo ser vivo. Após tal processo, a célula recém-formada inicia um novo ciclo celular durante o
qual, na fase S, ocorre a duplicação do DNA, ficando em condições de originar um ser vivo
multicelular, por ciclos celulares sucessivos e diferenciação.

Fig.1 – Variação da quantidade de DNA durante a meiose e na fecundação

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Reprodução sexuada e variabilidade genética
Os indivíduos formados por reprodução sexuada são únicos do ponto de vista genético – diferem
entre si e dos seus progenitores. A recombinação genética decorre da meiose e da fecundação.
A variabilidade genética resulta da separação aleatória dos cromossomas homólogos e da
recombinação de genes no crossing-over, durante a meiose, e da união aleatória dos gâmetas,
aquando da fecundação, em que são reunidos diferentes conjuntos cromossómicos provenientes
de dois indivíduos diferentes (o ovo formado possui um conjunto caraterístico de genes).
Diversidade de estratégias de reprodução sexuada
A reprodução sexuada exige a produção de gâmetas – células haploides – que se formam em
estruturas especializadas, as gónadas e os gametângios, em animais e em plantas,
respetivamente. Os gâmetas dos animais são produzidos durante a gametogénese que ocorre nas
gónadas, concretamente, nos testículos no caso dos machos e nos ovários no caso das fêmeas.
Em alguns grupos de plantas, os gâmetas são produzidos nos gametângios. Existem gametângios
masculinos, os anterídios, que produzem os gâmetas masculinos, os anterozoides, e os
gametângios femininos, os arquegónios, onde se produzem os gâmetas femininos, as oosferas.
A reprodução sexuada exige a presença de gâmetas femininos e masculinos que, na maioria
das espécies, são produzidos por indivíduos diferentes.
Espécies unissexuadas/gonocóricas ou dioicas (animais e plantas, respetivamente) – sistemas
reprodutores feminino e masculino encontram-se em indivíduos distintos.
Hermafroditas ou monoicas (animais e plantas, respetivamente) – espécies em que um só
indivíduo possui os dois sistemas reprodutivos masculino e feminino, produzindo os dois tipos de
gâmetas.
As espécies unissexuadas/dioicas possuem fecundação cruzada, podendo esta ser:
- externa – quando os gâmetas se encontram no meio ambiente (tipicamente aquático);
- interna – quando os gâmetas masculinos são colocados no interior do organismo feminino, para
evitar a dessecação.
Todas as plantas com flor, mamíferos e aves têm fecundação interna. A fecundação interna é
um processo mais bem sucedido e eficaz, já que ao favorecer o encontro entre os gâmetas
masculino e feminino dentro do indivíduo feminino, propicia uma economia de energia e de
recursos biológicos.
O hermafroditismo pode ser suficiente, em que a fecundação ocorre entre gâmetas produzidos
pelo mesmo indivíduo, ocorrendo uma autofecundação (por exemplo, ténia), ou insuficiente,
ocorrendo fecundação cruzada, em que os gâmetas provêm de dois organismos distintos apesar
de ambos possuírem os dois tipos de gâmetas (por exemplo, caracóis e minhocas), sendo este
último tipo de hermafroditismo o mais comum.

VANTAGENS DESVANTAGENS
Reprodução assexuada
- Formação de clones; - Diversidade de indivíduos praticamente nula;
- Todos podem originar descendentes; - Difícil adaptação a alterações ambientais;
- Rápida produção de descendentes com baixo - Não favorece a evolução das espécies.
dispêndio de energia;
- Colonização de habitats a partir de um só
indivíduo.
Reprodução sexuada
- Descendentes com grande variabilidade de - Processo lento;
caraterísticas; - Grande dispêndio de energia na formação de
- Maior capacidade de sobrevivência face a gâmetas e nos processos que culminam na
mudanças ambientais; fecundação.
- Favorece a evolução para novas formas.

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3. Ciclos de vida
O ciclo de vida de um organismo corresponde à sequência de acontecimentos que ocorrem
desde a sua conceção até ao momento em que este conseguir produzir a sua própria
descendência. Em qualquer ciclo de vida ocorrem fenómenos de meiose e de fecundação, o que
concorre para a alternância de fases nucleares, a haplófase e a diplófase, essenciais para a
manutenção do número de cromossomas característico de cada espécie.
Alternância de fases nucleares – num ciclo de vida uma fase haploide (entidades com núcleo
haploide) alterna com uma fase diploide (entidades com núcleo diploide).
Fase haploide ou haplófase – compreendida entre a meiose e o momento da fecundação.
- constituída por células haploides
- n cromossomas
- resulta da meiose
Fase diploide ou diplófase – compreendida entre a fecundação e o momento da meiose.
- constituída por células diploides
- 2n cromossomas
- resulta da fecundação
Na natureza encontram-se três ciclos de vida diferentes, haplonte, haplodiplonte e diplonte, de
acordo com o momento em que no ciclo de vida ocorre a meiose, respetivamente, após a
formação do ovo – pós-zigótica –, antes da formação dos esporos – pré-espórica –, ou antes da
formação dos gâmetas – pré-gamética.

Fig.2 – Diferentes tipos de ciclos de vida: A – haplonte; B – haplodiplonte; C – diplonte

- Meiose pós-zigótica – a meiose ocorre imediatamente após a formação do ovo/zigoto, sendo


o ovo/zigoto a única estrutura diploide do ciclo, que se designa haplonte (Ex.: Espirogira).
- Meiose pré-espórica – ocorre na formação dos esporos, que apenas surgem em organismos
com dois tipos de células sexuais (gâmetas e esporos). O ciclo de vida correspondente denomina-
se haplodiplonte (Ex.: a maioria das algas e plantas).
- Meiose pré-gamética – ocorre na formação dos gâmetas, que são as únicas células haploides
do ciclo, designado diplonte (Ex.: animais e algumas algas).
Ciclo de vida haplonte

Fig.3 – Representação esquemática do ciclo de vida da espirogira

A espirogira é uma alga verde filamentosa, simples, que possui um ciclo de vida haplonte.
- Gâmetas morfologicamente indiferenciados [não são diferenciados, são =].
- O conteúdo de um filamento move-se (gâmeta dador) em direção ao conteúdo celular de
outro filamento (gâmeta recetor).

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- Meiose pós-zigótica – a seguir à formação do zigoto. Assim, a meiose não produz gâmetas, mas
sim células haploides que se dividem por mitose, formando um organismo adulto haplonte, sendo
os gâmetas igualmente produzidos por mitose.
- Alternância de fases nucleares – entidades de núcleo haploide alternam com entidades de
núcleo diploide.
- Organismo haplonte – só o zigoto pertence à diplófase.
Ciclo de vida haplodiplonte

Fig.4 – Representação esquemática do ciclo de vida do polipódio

O polipódio é uma planta vascular, possui vasos condutores, caule subterrâneo (rizoma) e folhas
de grande dimensão (megáfilo). É um ser com ciclo de vida haplodiplonte, que apresenta fases
haploide – geração gametófita – e diploide – geração esporófita – bem desenvolvidas.
Nas páginas anteriores das folhas do polipódio desenvolvem-se estruturas multicelulares de cor
amarela, os soros. Estes são grupos de esporângios que, quando jovens, contêm células-mãe de
esporos.
- Meiose pré-espórica – as células-mãe de esporos sofrem meiose, originando esporos (células
haploides).
Após um período de amadurecimento, os esporos dispersam-se por grandes áreas. Quando as
condições do meio são favoráveis, cada esporo germina e forma uma estrutura multicelular,
fotossintética e de vida independente, o protalo. O protalo é uma estrutura haploide que funciona
como gametófito monoico, onde se diferenciam estruturas pluricelulares, os anterídios,
gametângios masculinos, e os arquegónios, gametângios femininos. Nos anterídios formam-se os
gâmetas masculinos, denominados anterozoides. Nos arquegónios formam-se os gâmetas
femininos, designados oosferas.
- Fecundação depende da água – forma-se um zigoto diploide (2n) que origina um esporófito
(planta adulta diplonte).
- Alternância de fases nucleares – entidades de núcleo haploide alternam com entidades de
núcleo diploide.
- A fase diploide é mais desenvolvida e a ela pertence a planta adulta.

Fig.5 – Ciclo de vida do polipódio

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Ciclo de vida diplonte

Fig.6 – Representação esquemática do ciclo do ser humano

O ser humano é um animal que possui um ciclo de vida diplonte, passando a maior parte da sua
vida na diplófase.
- Gâmetas morfologicamente diferenciados e produzidos em ovários e testículos.
- Meiose pré-gamética – ocorre durante a formação dos gâmetas, que são as únicas estruturas
haploides de todo o ciclo de vida.
- Alternância de fases nucleares – entidades de núcleo haploide alternam com entidades de
núcleo diploide.

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