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A perspetiva racionalista de

Descartes
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Problema da (justificação da)origem
do conhecimento

Os racionalistas defendem que a principal fonte de


justificação do conhecimento é a razão (a priori).

Os empiristas defendem que a principal fonte de


justificação do conhecimento é a experiência (a posteriori).

Porém, os céticos argumentam que nem a razão


nem a experiência proporcionam boas
justificações para as nossas crenças.
Se, como defendem os céticos, nenhuma crença 33
está devidamente justificada, então é incorreto
afirmar que sabemos seja o que for.

Atitude mais sensata, dizem os céticos:


suspender a crença.

A questão não é, para os céticos, se temos crenças


(claro que temos!).

Também não é se elas são verdadeiras ou falsas


(claro que algumas crenças hão de ser verdadeiras, nem que
seja por mera sorte).

A questão é a da ausência de justificação


adequada para as nossas crenças.
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Argumento principal do cético

Se há conhecimento,
algumas das nossas crenças
estão justificadas.

Mas nenhuma das nossas


crenças está justificada.

Logo, não há
conhecimento.
Argumento principal do cético 5

A premissa-chave

Mas nenhuma das nossas


crenças está justificada.
Três argumentos céticos 6
a favor dessa premissa
As divergências de opiniões mostram que
nenhuma delas está devidamente justificada.

Os erros e ilusões dos sentidos mostram


que nenhuma crença neles baseada está
devidamente justificada.

A regressão infinita da justificação mostra


que o processo de justificação não tem fim.

Logo, nenhuma das nossas crenças


está justificada.
TERÃO OS CÉTICOS RAZÃO E AS 7
NOSSAS CRENÇAS SÃO MESMO
INJUSTIFICADAS (DUVIDOSAS)?
DESCARTES pensa que os céticos estão errados,
mas que é preciso mostrar por que razão estão errados.
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Para mostrar que estão errados, Descartes procura ele


próprio colocar-se na posição dos céticos, resolvendo
pôr à prova todas as suas crenças.

Descartes considera que pôr à prova as suas crenças é


procurar razões para duvidar delas.

Este método de testar crenças ficou conhecido como


dúvida metódica.

A ideia é ver se alguma crença resiste ao teste da dúvida,


isto é, se há alguma crença que seja indubitável.
PÔR A DÚVIDA METÓDICA EM PRÁTICA 9
9
Um princípio metodológico de partida
O que é duvidoso tanto pode ser falso como pode ser verdadeiro.
Mas, por mera precaução, o melhor é supor que é falso.

O argumento da ilusão
• Põe em causa as crenças baseadas nos sentidos,
levando-o a admitir que as coisas podem não ser como
os sentidos parecem mostrar.

O argumento do sonho
• Põe em causa a própria existência do mundo exterior.

A hipótese do génio maligno


• Põe em causa as crenças baseadas nos seus raciocínios.
PÔR A DÚVIDA METÓDICA EM PRÁTICA 10

O argumento da ilusão
(argumento já usado pelos céticos)

•Os sentidos por vezes enganam-


nos. Logo, podem enganar-me
também agora, sem eu o saber.

•Os sentidos não são, pois, dignos


de confiança.
PÔR A DÚVIDA METÓDICA EM PRÁTICA 11

Mas, dir-se-á… os sentidos podem corrigir-se entre si, e, com o passar do


tempo, podemos ficar a saber quando nos enganam e quando não.

DESCARTES INSISTE

O argumento do sonho

•Quando estamos a sonhar, temos


experiências semelhantes às que
dizemos ter quando acordados. Logo, é
possível que agora mesmo esteja a
sonhar.

•Não é indubitável que o mundo exterior


exista.
PÔR A DÚVIDA METÓDICA EM PRÁTICA 12

Mas, dir-se-á... mesmo nos sonhos 2 + 2 = 4, como quando estou acordado, o que
mostra que não estou enganado a respeito dos meus raciocínios.

DESCARTES INSISTE

A hipótese do génio maligno

• A minha mente pode estar a ser controlada


e manipulada sem eu saber por um ser
poderoso que se diverte fazendo-me
enganar sempre que raciocino (sempre
que penso que 2 + 2 = 4, por exemplo).

• Os raciocínios não são, pois, de confiança.


PÔR A DÚVIDA METÓDICA EM PRÁTICA 13

Resultados negativos da aplicação do método

‒ As crenças baseadas nos sentidos não são


indubitáveis.
‒ O mundo exterior pode nem sequer existir.
‒ Os raciocínios podem estar errados.

SERÁ QUE ALGUMA COISA EXISTE, AFINAL?

SERÁ QUE EU PRÓPRIO EXISTO?

PODEREI EU DUVIDAR DE QUE EXISTO?


PÔR A DÚVIDA METÓDICA EM PRÁTICA 14

RESULTADO POSITIVO DO MÉTODO

Mas... se eu duvido de que existo, tenho de ser algo: aquilo que está neste
preciso momento a duvidar da sua própria existência.

Ainda que duvide de que estou a duvidar (pensar), continuo a duvidar (pensar).

Ao duvidar de que existo, confirma-se por isso mesmo que sou um ser que
duvida (um ser que pensa).

PENSO, LOGO, EXISTO


(COGITO, ERGO SUM)

Esta é uma crença tão certa que a própria dúvida


se limita a confirmar que é verdadeira.
A NATUREZA DA DÚVIDA CARTESIANA 15

METÓDICA UNIVERSAL HIPERBÓLICA


• É apenas um meio • Aplica-se a todo o • Leva a excluir
para testar tipo de crenças e como falso aquilo
crenças e chegar capacidades. que é apenas
à certeza. • Nada é imune à duvidoso.
• Uma vez cumprida dúvida. • Todas as razões
a sua função, ela para duvidar, por
desaparece (por mais estranhas
isso tem um que pareçam, são
caráter provisório). de considerar.
A IMPORTÂNCIA DO COGITO 16
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Ao contrário do que Sendo uma primeira Sendo uma verdade

FUNDAMENTO DO CONHECIMENTO

CRITÉRIO DE VERDADE
REFUTAÇÃO DOS CÉTICOS

dizem os céticos… verdade indubitável… indubitável…

… o conhecimento é … constitui o ponto de … passa a ter, pela


possível, pois o cogito partida seguro a partir primeira vez, um
é uma crença do qual poderá exemplo do tipo de
verdadeira e alicerçar todo o verdades que procura.
justificada. conhecimento de … descobre que aquilo
… nem tudo é muitas outras coisas (o que a torna indubitável
duvidoso, pois o cogito pensamento é, pois, o é ter dela uma ideia
é indubitável. alicerce ou clara e distinta, pelo
fundamento do que a clareza e
… não há regressão conhecimento; trata-
infinita da justificação, distinção (para o
se, portanto, de um pensamento, não para
pois o cogito é uma fundamento
crença os sentidos) constitui
racional). um guia ou critério de
autojustificada.
verdade para avaliar
outras crenças.
DESCARTES É: 17

FUNDACIONALISTA

Procura as bases do conhecimento em crenças


fundacionais, isto é, em crenças que não são justificadas
por outras crenças (crenças autojustificadas, como o
cogito). Há, pois, um fundamento para o conhecimento.

RACIONALISTA

Esse fundamento não é dado pelos sentidos, mas sim


pelo pensamento, pelo cogito (eu penso). O próprio
critério da clareza e distinção que permite distinguir as
crenças indubitáveis das outras é um critério racional e
não sensível (trata-se da clareza e distinção para o
pensamento e não para os sentidos).
E DEPOIS DO COGITO? 18

Saber apenas que sou um ser pensante é suficiente para refutar os céticos.

Mas é ainda pouca coisa, pois tudo o resto continua a ser um mar de
dúvidas.

Como avançar, então, no conhecimento além do cogito?

Uma vez chegado ao cogito, as coisas passam a ser diferentes, pois só a


partir daí, e não antes:

• a hipótese do génio maligno, que foi afinal incapaz de o enganar acerca da


sua própria existência, pode ser definitivamente descartada.

• dispõe de um guia do que deve procurar: outras ideias claras e distintas.


E DEPOIS DO COGITO? 19

Mas... há ainda um problema para resolver:

O que garante a Descartes que não se engana ao


confiar nas ideias claras e distintas?
A resposta só pode ser uma:

Só um ser com poder suficiente para isso e que seja bom (pois,
sendo bom, não quereria nem permitiria que o enganasse sempre)
lhe poderia garantir que não se enganou ao conceber clara e
distintamente algo.

Esse ser só pode ser Deus.

Sem Deus a impedir que se engane sempre, as ideias claras e


distintas não seriam de confiança.
Mas... há ainda um problema para resolver:
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Como posso saber que Deus existe?
O próprio facto de duvidar mostra clara e
distintamente que sou imperfeito.

Isso, por sua vez, mostra clara e distintamente


que tenho a ideia de perfeição.

Mas eu, que sou imperfeito, não posso ter sido


a causa da minha ideia de perfeição (não se
trata de uma ideia factícia).

A minha ideia de perfeição também não


pode ser causada pela experiência, pois
nunca contactei com algo que fosse perfeito
(não se trata de uma ideia adventícia).

Essa ideia está na minha alma (mente) desde que


nasci (é inata) e só pode ter sido causada por um ser
que ele próprio seja perfeito. Logo, é uma ideia clara
e distinta que esse ser perfeito (Deus) tem de existir.
E DEPOIS DO COGITO?
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Agora que sabe que Deus existe, já pode confiar plenamente nas ideias
claras e distintas.

Apenas tem de estar atento para distinguir bem as que são claras e
distintas das que o não são.

Assim, aplicando o critério da clareza e distinção, garantido por Deus,


descobre que...

- ele próprio tem um corpo, com braços, mãos e pernas, etc.;

- que há, afinal, um mundo exterior, com outras pessoas, árvores, rios
e montes, planetas, etc.

Mas sabe que todas essas coisas existem porque tem ideias claras e
distintas da sua existência, embora elas não tenham de ser exatamente
como parecem aos nossos sentidos.
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As regras do método
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Estas regras são orientadoras das operações
fundamentais do espírito:

•Intuição: que é o acto de apreensão directa e


imediata de noções simples, evidentes e
indubitáveis.

•Dedução: refere-se ao encadeamento das


intuições, envolvendo um movimento de
pensamento, desde os princípios evidentes até às
consequências necessárias.
Descartes admite a existência de três substâncias: 25

Res cogitans (espírito/alma): substância pensante, imperfeita,


finita e dependente.
-atributo principal: pensamento

Res divina (Deus): substância eterna, perfeita, infinita, que


pensa e é independente.
-atributo principal: perfeição

Res extensa (matéria): substância que não pensa, extensa,


imperfeita, finita e dependente.
- atributo principal: extensão
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DUALISMO ANTROPOLÓGICO

O ser humano é composto por duas substâncias de naturezas


diferentes e independentes.

Constitui uma unidade de duas substâncias:

- a unidade da alma (substância pensante)


e
do corpo (substância extensa).
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MEDITAÇÕES SOBRE A29
FILOSOFIA PRIMEIRA
Seguir o LINK para o texto integral:

https://fabiomesquita.files.wordpress.co
m/2011/02/descartes-
_meditacoes_sobre_a_filosofia_primeira.
pdf

A metafísica de Descartes
John Cottingham
https://criticanarede.com/descartes
.html
O fundacionalismo de Descartes
Artur Polónio
https://criticanarede.com/epi_desca
rtes2.html

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