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O RACIONALISMO

DE DESCARTES
Será o conhecimento possível?

Será que o ceticismo radical


está certo?

Será realmente verdade que


não conhecemos nada?

Será que o conhecimento


não é possível?
O RACIONALISMO
DE DESCARTES
Será o conhecimento possível?

Descartes tentou refutar o ceticismo radical

procurando demonstrar que


o conhecimento é possível
René Descartes, filósofo
francês (1596-1650).
Retrato de Hans Hals
(c. 1649).
O RACIONALISMO DE DESCARTES

Será o conhecimento possível?

Descartes começou por avaliar


tudo o que tinha aprendido

concluindo que existiam muitas o que


obscuridades e incertezas fortalecia
na Filosofia e nas ciências o ceticismo
O RACIONALISMO DE DESCARTES

A procura de um fundamento

Contrariar o ceticismo implica:

• distinguir as ideias corretas das incorretas; É preciso


• eliminar os erros; estabelecer um
fundamento do
• substituir as dúvidas por certezas. conhecimento
O RACIONALISMO DE DESCARTES

A procura de um fundamento

Encontrar um fundamento
implica:

encontrar uma crença:

• indubitável e
• básica
O RACIONALISMO DE DESCARTES

A procura de um fundamento

Uma crença
será

indubitável básica
• se for totalmente certa, • se for completamente
acima de qualquer evidente, sem necessitar
dúvida de justificação exterior
O RACIONALISMO DE DESCARTES

A procura de um fundamento

Uma crença

indubitável básica
• permitirá responder • permitirá responder
ao argumento cético ao argumento cético
dos enganos sensoriais da regressão infinita
da justificação
O RACIONALISMO DE DESCARTES

Dúvida metódica

Descartes recorre
ao método da
dúvida metódica

duvidar de todas as crenças até


encontrar uma crença:
• indubitável
• resistente a qualquer dúvida
O RACIONALISMO DE DESCARTES

Dúvida metódica

Características da dúvida cartesiana

voluntária metódica teórica hiperbólica


A DÚVIDA METÓDICA

A aplicação do método

A aplicação da dúvida metódica é um percurso sequencial.


Descartes debate consigo próprio e vai apresentando ideias.

• vai descartando algumas dessas ideias; • e vai mantendo outras.

• depois, descarta também estas


até encontrar a certeza que procurava
A DÚVIDA METÓDICA
Duvidar dos sentidos

A dúvida começa por incidir nas crenças derivadas


dos sentidos.

Descartes rejeita essas crenças usando um argumento


parecido com o argumento cético dos sentidos
enganadores:

1 Se os sentidos por vezes me enganam, então não devo


confiar nas informações fornecidas pelos sentidos.
Trata-se de
um
2 É verdade que os sentidos por vezes me enganam. modus pon
ens.

3 Logo, não devo confiar nas informações fornecidas


pelos sentidos.
A DÚVIDA METÓDICA
Duvidar dos sentidos

1 Se os sentidos por vezes me enganam, então não devo confiar


nas informações fornecidas pelos sentidos.

2 É verdade que os sentidos por vezes me enganam.

3 Logo, não devo confiar nas informações fornecidas pelos sentidos.

vir
Parece-me ou
v oz de um amigo
a
p r aia , m a s é ou t r a
na
uvi.
pessoa que o
A DÚVIDA METÓDICA
Duvidar dos sentidos

1 Se os sentidos por vezes me enganam, então não devo confiar


nas informações fornecidas pelos sentidos.

2 É verdade que os sentidos por vezes me enganam.

3 Logo, não devo confiar nas informações fornecidas pelos sentidos.

ifícil
Parece mais d … para duvidar d
isso,
ha
duvidar da fol Descartes recorre
pa p e l q u e te nho ao argumento
de
m ã o o u d a m inha do sonho.
na
própria mão…
A DÚVIDA METÓDICA
Duvidar dos sentidos

Para questionar a fiabilidade dos sentidos, Descartes


recorre ao argumento do sonho:

1 Se tenho sonhos que não são distinguíveis das


perceções que tenho quando estou acordado, então
não posso garantir que neste momento não estou
a sonhar nem que a minha vida não é um sonho.

2 É um facto que tenho sonhos que não são distinguíveis


das perceções que tenho quando estou acordado.
Trata-
3 Logo, não posso garantir que neste momento não estou s
modu e de um
s pon
ens.
a sonhar nem que a minha vida não é um sonho.
A DÚVIDA METÓDICA
Duvidar dos sentidos

O argumento do sonho diz:


• alguns sonhos são muito nítidos e semelhantes
às experiências que tenho quando estou acordado;
• quando estou a sonhar acredito que o sonho
é real e está mesmo a acontecer;

o que levanta questões:


• Como posso eu garantir que neste preciso
momento não estou a sonhar?
• Como posso garantir que toda a minha vida
não é um sonho?
A DÚVIDA METÓDICA
Duvidar da matemática

Ainda que
a vida seja crenças
um sonho: algumas matemáticas a dorm
crenças i
continuam ou a s r
onhar
a ser 10 + 1 ,
0 = 20
verdadeiras: outras crenças
racionais
e a priori
A DÚVIDA METÓDICA
Duvidar da matemática

x i s t i r es s e
Se e
n g a n a d or …
Deus e

… as crenças
matemáticas
e outras crenças
a priori não serão
indubitáveis!
A DÚVIDA METÓDICA
Duvidar da matemática

A hipótese do deus … é mais radical


enganador… do que a hipótese
de a vida ser um sonho.

permite duvidar das


crenças a posteriori permite duvidar das
e das crenças a priori crenças a posteriori
A DÚVIDA METÓDICA
Duvidar da matemática

A hipótese do Deus enganador pode ser apresentada


sob a forma de um argumento:

1 Se posso conceber a possibilidade de um Deus


enganador, então até as crenças a priori podem
ser falsas.

2 Posso conceber a possibilidade de um Deus


enganador.

3 Logo, até as crenças a priori podem ser falsas.

Trata-se de
um
modus pon
ens.
A DÚVIDA METÓDICA
O percurso da dúvida de Descartes

Argumento dos Argumento do génio


Argumento do sonho
enganos sensoriais maligno

Crenças
Crenças Crenças
a posteriori
a posteriori a posteriori
e a priori
A DÚVIDA METÓDICA
O cogito

Mesmo que um Deus enganador possa enganar-me


em várias coisas, há algo em que não me pode
enganar: eu existo.

Se penso (mesmo que erradamente), então existo.

Pensar implica existir.

A descoberta do cogito é a descoberta da primeira certeza.


A DÚVIDA METÓDICA
O cogito

A verdade do cogito é indubitável.

A verdade do cogito é, também,


autoevidente.
Trata-s
e
de uma
crença
básica
.

Podemos compreender
essa verdade sem recorrer
a qualquer raciocínio.
A DÚVIDA METÓDICA
Uma coisa pensante

Descartes considera que provou a sua Descartes considera ter


existência como coisa pensante. encontrado o fundamento
sólido que procurava.
O cogito é uma crença indubitável
e básica.

O cogito é uma ideia com uma


grande clareza e distinção.
Justifica o Refuta o
conhecimento. ceticismo.
A DÚVIDA METÓDICA
Impasse

A clareza e a distinção pode


constituir o critério de verdade?
SOLIPSISMO

Neste momento do percurso da dúvida


metódica, não!
O génio maligno não nos pode enganar acerca Descartes é um eu solitário,
da existência, mas pode enganar-nos acerca de sem poder ter mais nenhuma
outras ideias. certeza além de que existe.
A DÚVIDA METÓDICA
A ideia de Deus

A ideia de Deus é especial e diferente das Um ser imperfeito não p


oderia
outras. ter criado uma ideia tão
É a ideia de um ser perfeito. elevada como a ideia de D
eus

?
Como pode um ser imperfeito (que se
A causa
não pode
engana e tem dúvidas) possuir a ideia ser inferior
de um ser perfeito? ao efeito
A DÚVIDA METÓDICA
A ideia de Deus

argumento
A causa da ideia de um ser perfeito
teve de ser um ser perfeito.

da marca
O próprio Deus.

Que, portanto, existe!

s d e i x ou em nó s
o c r ia r- n o s , De u m o uma
A p r io , c o
si pró
a ideia de a n um a obra.
assina tur
A DÚVIDA METÓDICA
O fim do génio maligno

A existência de Deus As capacidades cognitivas que Deus


anula a hipótese do nos deu são de confiança
génio maligno. caso sejam bem usadas.

Um Deus perfeito não


pode ser enganador.
A bondade divina
garante que o critério
das ideias claras e
Isso seria uma
distintas nos leva à
imperfeição.
verdade.
A DÚVIDA METÓDICA
Recuperação das crenças suspensas

Se usarmos bem as Podemos confiar nas nossas experiências


capacidades cognitivas, sensíveis (visuais, auditivas, etc.)
desde que a razão analise as informações
confiando apenas no que
delas derivadas e confirme a sua veracidade
compreendemos
clara e distintamente,

chegamos
à verdade
e evitamos
o erro.
A DÚVIDA METÓDICA
Recuperação das crenças suspensas

ita s c re n ças Já não h


á razão p
Mu
s p en s as pela duvidar d ar a
su av
id a m e tódica das mate erdade
dú v máticas
r e de outr
podem se A função de Deus
as crenç
as
c u p er a d as . a priori.
re

Garante a
Permite afastar
verdade das
hipótese do
ideias claras
génio maligno
e distintas
OBJEÇÕES A DESCARTES

A incoerência Atenção!
de Descartes Existem
outras ob
jeções
Ao passar da certeza do cogito a Descar
à certeza de Deus, Descartes tes.
recorreu a capacidades e ideias
que tinham sido postas em O círculo
suspenso pela hipótese cartesiano
do deus enganador.
Descartes raciocina de modo
circular: a existência de Deus
e o critério das ideias claras
e distintas pressupõem-se
mutuamente.
O PROBLEMA DA ORIGEM DO CONHECIMENTO

Qual é a origem do conhecimento humano?

Qual é a fonte principal do conhecimento humano?

Vamos analisar duas respostas a estas questões.

on a lis m o de p ir is m o de
O Ra c i O E m
n é D e s c a rtes D av id H u m e
Re
O PROBLEMA DA ORIGEM DO CONHECIMENTO
A resposta de René Descartes

• Racionalismo
Descartes foi um filósofo racionalista.

O racionalismo considera que a razão é a fonte


principal do conhecimento humano.

A razão é a capacidade de raciocínio.

Racionalis
mo
deriva do
termo
latino ratio René Descartes
, que
significa r 1596-1650
azão.
O PROBLEMA DA ORIGEM DO CONHECIMENTO
A resposta de Descartes

IDEIAS

INATAS ADVENTÍCIAS FACTÍCIAS

Ideias que nascem connosco. Ideias com origem na experiência Ideias criadas pela imaginação.
Não derivam da experiência. (fornecidas pelos sentidos). Inspiradas em outras ideias.
Exemplos: a ideia de Deus, Exemplos: árvore, Exemplos: unicórnio,
as ideias matemáticas, etc. automóvel, etc. lobisomem, etc.
O PROBLEMA DA ORIGEM DO CONHECIMENTO
A resposta de Descartes

IDEIAS

ADVENTÍCIAS FACTÍCIAS
INATAS

Descartes
:
A razão é a fonte das ideias inatas. a ideia de
Deu
inata, do m s é-me
esmo mod
Para Descartes, as ideias inatas que me é i o
nata a idei
são mais claras e distintas de mim pr a
óprio.
do que as outras ideias.
O PROBLEMA DA ORIGEM DO CONHECIMENTO
A resposta de Descartes

• Conhecimento a priori

RAZÃO HUMANA
partindo

das IDEIAS de ideias da


e
INATAS EXPERIÊNCIA
produz

conhecimento O conheci
mento
a priori a priori po
de ser
obtido atra
vés
da intuição
ou
da deduçã
o.
O PROBLEMA DA ORIGEM DO CONHECIMENTO
A resposta de Descartes

• Conhecimento a priori

CONHECIMENTO A PRIORI
A Matemática e
até a Física
têm conhecimen
tos a priori
substanciais.
é substancial
São conhecim
entos
que se devem
ao
poder do racio
cínio e não
à observação
do mundo.
é um conhecimento
acerca do mundo
O PROBLEMA DA ORIGEM DO CONHECIMENTO
A resposta de Descartes

• Conhecimento a posteriori
Descartes não nega que a experiência é
necessária para conhecer coisas como,
por exemplo, «está a nevar».

Porém, por não derivar da razão,


o conhecimento a posteriori
é menos certo e menos rigoroso
do que o conhecimento a priori.
O PROBLEMA DA ORIGEM DO CONHECIMENTO
Crítica empirista ao inatismo de Descartes
Os empiris
tas
consideram
qu
O inatismo foi criticado por David Hume experiência e a
éa
e por outros empiristas. principal f
onte do
conhecime
nto
Essa crítica pode ser formulada através humano.
do argumento seguinte:

1 Se algumas ideias fossem inatas, então as crianças


mostrariam conhecê-las.

2 Mas as crianças não mostram conhecê-las.

3 Logo, essas ideias não são inatas.


O PROBLEMA DA ORIGEM DO CONHECIMENTO
Crítica empirista ao inatismo de Descartes 1 Se algumas id
eias fossem in
as crianças mo atas, então
strariam conhe
cê-las.
O argumento pode ser reforçado referindo que 2 Mas as crianç
as não mostra
muitos adultos parecem igualmente desconhecer m conhecê-las
.
essas ideias. 3 Logo, essas id
eias não são in
atas.

A resposta racionalista é que as ideias inatas


são como sementes:

nascem connosco, mas não vêm


completas e acabadas
Por isso, nem to
das as
pessoas manife
stam
conhecer as ide
é preciso exercício e treino para as tornar ias que
nasceram com e
conscientes e explícitas. las.

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