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René Descartes

Meditações Metafísicas
Primeira Meditação
«Notei, há alguns anos já, que, tendo recebido desde a tenra
idade tantas coisas falsas por verdadeiras, e sendo tão duvidoso
tudo o que depois sobre elas fundei, tinha de deitar abaixo
tudo, inteiramente, por uma vez na minha vida, e começar, de
novo, desde os primeiros fundamentos, se quisesse estabelecer
algo seguro e duradouro nas ciências.»
René Descartes, Meditações Metafísicas.
Qual é o projeto de Descartes?
Que estratégia seguir para atingir esse objetivo?

«(…) vou dedicar-me, (…) a destruir em geral as minhas opiniões.


Para isso não será necessário mostrar que todas são falsas, o que possivelmente
eu nunca poderia conseguir. Mas, porque a razão me persuade logo que não
devo menos cuidadosamente coibir-me de dar o meu assentimento às coisas
que não são plenamente certas e indubitáveis do que às abertamente falsas, para
rejeitá-las todas basta que se me depare em uma delas qualquer razão de dúvida.
Para isso, não tenho de percorrê-las cada uma em particular, trabalho que seria
sem fim; porque uma vez minados os fundamentos, cai por si tudo o que está
sobre eles edificado…»
Questões
• 1. Qual o principal objetivo de Descartes?
• 2. Em que consiste o método utilizado por ele para alcançar esse objetivo?
• 3. Descartes vê-se forçado a analisar isoladamente cada uma das suas
crenças?
• 4. A dúvida de Descartes assemelha-se em todos os aspetos à dúvida cética?
Da dúvida à…?
1.º Nível de aplicação da dúvida
«Atacarei imediatamente aqueles princípios em que se apoiava tudo
o que anteriormente acreditei.
Sem dúvida, tudo aquilo que até ao presente admiti como
maximamente verdadeiro foi dos sentidos ou por meio dos sentidos
que o recebi. Porém, descobri que eles por vezes nos enganam, e é
de prudência nunca confiar totalmente naqueles que, mesmo uma só
vez, nos enganaram.»
Questões
• Segundo Descartes, por que razão não devemos confiar nos nossos sentidos?
• Dá exemplos comuns de ilusões dos sentidos?
• O que pensas do argumento baseado nas ilusões dos sentidos?
2.º Nível de aplicação da dúvida
«(…) quantas vezes me acontece que, durante o repouso noturno, me deixo
persuadir de coisas tão habituais como estou aqui, com o roupão vestido,
sentado à lareira, quando, todavia, estou estendido na cama e despido! Mas
agora, observo este papel seguramente com os olhos abertos, esta cabeça que
movo não está a dormir, voluntária e conscientemente estendo esta mão e
sinto-a: o que acontece quando se dorme não parece tão distinto. Como se não
me lembrasse de já ter sido enganado em sonhos por pensamentos
semelhantes! Por isso, se reflito mais atentamente, vejo com clareza que vigília e
sono nunca se podem distinguir por sinais seguros.»
Questões
• 1. Por que razão pensa Descartes que não devemos confiar na nossa
experiência sensível, ainda que não tenhamos motivos para acreditarmos que
estamos loucos ou a alucinar?
• 2. Se não houver maneira de distinguir o sono da vigília, ou as crenças que
formamos a partir da experiência sensível são falsas, ou, ainda que sejam
verdadeiras, são-no apenas por acaso. Concordas? Porquê?
3.º Nível de aplicação da dúvida
«Vou supor, por consequência, não o Deus sumamente bom, fonte da verdade, mas
um certo génio maligno, ao mesmo tempo extremamente poderoso e astuto, que
pusesse toda a sua indústria em me enganar. Vou acreditar que o céu, a terra, as cores,
as figuras, os sons, e todas as coisas exteriores não são mais que ilusões de sonhos com
que ele arma ciladas à minha credulidade. Vou considerar-me a mim próprio como não
tendo mãos, não tendo olhos, nem carne, nem sangue, nem sentidos, mas crendo
falsamente possuir tudo isto. (…) por conseguinte, suponho que é falso tudo o que
vejo. Creio que nunca existiu nada daquilo que a memória enganadora representa. Não
tenho, absolutamente, sentidos; o corpo, a figura, a extensão, o movimento e o lugar
são quimeras. Então, o que será verdadeiro? Provavelmente uma só coisa: que nada é
certo.»
Questão
• 1. Qual o objetivo da hipótese do Deus Enganador?
• 2. Em que consiste essa hipótese?
• 3. Afinal, os céticos venceram?
O volte-face…

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