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Sobre a Autora
Star Wars: A Alta República - Convergência é uma obra de ficção. Nomes, lugares, e outros
incidentes são produtos da imaginação do autor ou são usadas na ficção. Qualquer semelhança a
eventos atuais, locais, ou pessoas, vivo ou morto, é mera coincidência. Direitos Autorais © 2022 da
Lucasfilm Ltda. ® MR onde indicada. Todos os direitos reservados. Publicado nos Estados Unidos
pela Del Rey, uma impressão da Random House, um divisão da Penguin Random House LLC, Nova
York.DEL REY e a HOUSE colophon são marcas registradas da Penguin Random House LLC.
randomhousebooks.com/starwars.com/Facebook.com/starwarsbooks
Bly Tevin sempre quis ver as águas azuis de Eiram de perto, mesmo que
fosse um lugar que deveria odiar, mas o garoto que chamavam de Blitz não
conseguia odiar ninguém, não mesmo. Não do jeito que alguns de seus
colegas pilotos faziam, com uma raiva tão profunda que estava marcada em
sua pele. A missão daquele dia deveria ter sido o primeiro dia de uma longa
carreira militar. Uma oportunidade de terminar o que a sua irmã havia
começado, pelo que o seu avô lutou quando jovem. Por E'ronoh. Sempre
por E'ronoh.
Quando ele foi transferido para uma das novas naves, ele se deleitou
com a sensação de romper a atmosfera no espaço infinito. Era algo que
nenhum simulador e nenhum treino no Desfiladeiro Ramshead poderia
replicar. Provaria a si mesmo. Não Blitz, o piloto atrapalhado. Bly Tevin,
herói de E'ronoh.
Mas não tinha sido o herói que pretendia ser. No momento em que
perdeu o controle, tentou desviar o caça devilfighter do curso, mesmo que à
primeira vista pudesse ser rotulado de desertor. Não queria que ninguém se
machucasse, mas os controles não respondiam. Eles foram programados
para atirar e a sua nave foi colocado em rota de colisão com a capital de
Eiram.
Parecia que ele estava fora de controle por horas, gritando em seu
próprio doente, antes de ouvir a voz dela. Sentiu uma pressão contra o
peito, dissipando as nuvens do medo até saber o que fazer. Ele se lembrou
da lâmina cerimonial da maldição em seu quadril. Dedos suados e trêmulos
trabalharam no fecho até que ele o libertou de sua bainha. Passado de seu
avô, não era afiado o suficiente para cortar a pele na primeira tentativa, mas
serviria. Ele o enfiou no porto. Uma corrente encurtou a navegação e
desligou a sua nave.
— Eu consegui. Eu entendi!
Ele poderia reiniciar manualmente a nave. Ele tinha autorização para
pousar em Eiram de todos os lugares. Ele pensou em sua mãe, sentada em
seu apartamento. Ela havia prometido fazer uma nova fornada de ensopado
de pilafa quando saísse, se o cessar-fogo fosse mantido. Por isso estava lá
em cima, tão longe e tão perto de casa. Pensou nela então, sorrindo
enquanto brincava com outras crianças nas ruas estreitas e empoeiradas fora
do palácio. Uma mulher que conseguia esticar uma ração por dias. Um
milagre, pensou uma vez, até perceber como ela estava magra e triste
mexendo na panela de sopa rala. Juntos, eles assistiram a sua irmã cair do
céu, e ele agradeceu a sua estrela da sorte por ela nunca ter visto lutar
durante o treinamento, lutar enquanto ele batia uma simulação após a outra
até ser marcado como Blitz. Blitz Tevin. Um nome do qual riu com todos os
outros, embora o odiasse.
Quando parou de tremer e o reinício manual começou, fechou os olhos e
agradeceu aos velhos deuses. Aqueles a quem sua mãe ainda rezava.
Mesmo assim, tinha certeza de que ela estava esperando, subindo na torre
de vigia onde todas as famílias esperavam que as naves voltassem para
casa. Porque era por ela que ele fazia isso. Para ela.
Quando sua nave voltou à vida e uma contagem regressiva começou,
pediu ajuda que não veio. O último pensamento de Bly Tevin foi na sua
mãe. Ela sempre quis ver os mares azul turquesa do inimigo também.
Quando as estrelas caíram sobre Eiram, ninguém olhou pra
cima. Os cidadãos da capital sabiam que não havia nada particularmente
interessante em pedaços de rochas do espaço, não quando havia barrigas
para alimentar e rações cada vez menores sendo distribuídas. E assim,
quando dois objetos perfuraram as nuvens montanhosas que se agarravam
perpetuamente aos céus do planeta, não houve pânico. Sem medo. Sem
desejos de sobra ou admiração. Em breve, as torres de mísseis de defesa da
cidade atingiriam os seus alvos e, caso os mísseis funcionassem mal, as
cúpulas eletrostáticas que envolviam tantas das principais cidades de Eiram
protegeriam os cidadãos abaixo.
Phantu Zenn foi a primeira pessoa a avistar as naves entrando na
atmosfera de Eiram, mas o garoto que veio do nada tinha o hábito de olhar
para as nuvens.
Ele estava distribuindo ajuda para as pessoas no Canal de Rayes, um
canal estreito que desaguava no Mar de Erasmo. Nesse setor da cidade,
prédios atarracados se encostavam uns nos outros como fileiras de dentes
podres e tortos. Algas secas e crustáceos pontilhavam as paredes e a linha
d'água, migalhas de pão que qualquer um poderia seguir até os píeres. Aves
de água salgada magras que voaram muito perto da cúpula receberam uma
pancada na cabeça e um choque. Embora transparente, o escudo protetor ao
redor da cidade era visível através de faixas elétricas brancas traçando os
padrões das cristas das ondas, marcando pontos de entrada para as naves
irem e virem, e o zumbido constante do escudo estava sempre presente.
Phantu não deveria ter estado no Canal de Rayes em primeiro lugar, mas
ao longo dos anos ele aprendeu a fugir de sua equipe de segurança. Pulou
nas costas de um agopie e guiou o cavalo d'água até seu píer favorito.
Em instantes, foi cercado por pessoas, aquelas nascidas e criadas em
Rayes e os refugiados que vinham em massa das ilhas ocidentais, os últimos
a serem atacados pelas forças de E'ronoh. Phantu deveria ter se sentido
afortunado porque a guerra com E'ronoh ainda não havia chegado à capital,
mas a destruição de cidades próximas significava que a infraestrutura de
Erasmus estava se desgastando tão rapidamente quanto suas costas durante
a estação das monções. E foram aqueles que estão no fundo do poço que
mais sentiram essa tensão.
Mesmo enquanto distribuía rações de comida, pílulas de hidratação e
qualquer outra coisa que pudesse salvar do lixo do palácio, ele sabia que
não era o suficiente. O seu carrinho estava vazio e ele apenas começou a
distribuir. A dor apertou entre suas costelas enquanto os pais e os mais
velhos se afastavam de mãos vazias. Ele chegou a oferecer a túnica de linho
que usava nas costas, os chinelos bordados a ouro que o faziam se sentir
positivamente ridículo, mas eles nunca aceitaram. Eles nunca o
amaldiçoaram, nunca deixaram seu desespero se transformar em raiva, não
em relação a ele.
Afinal, Phantu era um deles.
Deveria estar voltando para o palácio. As suas mães preocupadas, mas a
sua memória muscular o levou ao píer. Ele fez uma anotação mental de
quantas pessoas saíram sem nada. Mais do que ele poderia contar. A
impotência de tudo isso era sufocante, e ele buscou consolo na visão do
mar.
Na extremidade sul do canal, um escorpião azul-claro, do tamanho de
uma pedra, rastejou ao longo do píer rachado, jovem demais para ser
venenoso e pequeno o suficiente para ter deslizado pela cúpula. Ele a tirou
da borda.
Ao longo da costa, pequenas casas quadradas lotavam a costa. Pedra
branca lavada em azuis brilhantes, verdes e amarelos. Os toldos de lona
ofereciam pouca sombra no auge do sol, mas era um lar. Uma vez, antes da
pior monção de sua vida, ele morou lá com a sua mãe biológica e Talla, sua
irmãzinha. Uma vez, quando a cúpula eletrostática não era forte o suficiente
contra as ondas de uma tempestade, todos foram levados para o mar.
Apenas Phantu havia nadado de volta.
Enquanto a multidão se dispersava, uma garota com cachos castanhos
curtos e um vestido costurado com algum tipo de lona reciclada puxou a
perna da calça dele. Ela se parecia muito com a irmã dele, então se ajoelhou
e apontou para o punho fechado dela.
— O que você tem aí? — ele perguntou.
Ela pareceu perder a coragem, mas Phantu apenas sorriu pacientemente.
A garotinha tinha a mesma coloração, pele marrom amarelada, olhos verde
claros e uma camada de sardas verdes, a marca distintiva de Eirami que se
estabeleceu no planeta gerações antes.
— Para a rainha, — ela espiou, abrindo os seus dedinhos para revelar
um cacho de pérolas salpicadas de lama.
— Sei que ela vai adorar, — disse Phantu, guardando o presente no
bolso.
Ao se levantar, captou o primeiro clarão de luz no céu e usou a palma da
mão para proteger os olhos do sol. Ninguém mais olhou pra cima a
princípio, acostumados com a segurança que os mísseis e o domo
forneciam, em tempos de paz, usados apenas para tempestades.
Phantu observou algumas de naves saindo da órbita, muito obscurecidas
para serem reconhecidas. Procurou no céu por outros, mas esses dois eram
anomalias. As defesas já deveriam ter sido acionadas, mas as embarcações
continuaram em queda livre. Teve a triste percepção de que algo deve ter
dado muito errado com a missão de escolta do transporte Jedi.
Um das naves que chegavam trazia o revelador azul metálico da frota de
Eiram. As suas asas estavam pegando fogo e, no momento em que piscou,
soltou a bolha da cabine. O transparaço foi arrebatado pela brisa e
arremessado contra o domo. Um brilho prismático ondulou do golpe e se
espalhou. Alguém gritou quando a nave Eirami explodiu com o impacto.
Não sabia dizer se o piloto havia ejetado ou não, e ainda havia a segunda
nave obscurecida pelo brilho do sol.
Phantu pegou o seu comunicador e se xingou por tê-lo deixado no
palácio.
A garotinha puxou a perna da calça dele e perguntou:
— Isso é uma estrela cadente?
— Não, querida, — ele disse, tentando manter a voz calma para não
assustá-la. Empurrou-a de volta para o cais. — Por que você não entra?
Quando ela disparou, os alarmes da cidade soaram e todos os Eirami nas
ruas finalmente olharam pra cima. Eles apontaram os dedos, bateram as
palmas das mãos sobre a boca. À medida que se aproximava, Phantu pôde
distinguir as estrias em seu casco como feridas vermelhas. Um caça estelar
E'roni.
— Todos vocês, pra dentro, — Phantu gritou. — Agora por favor!
Para piorar as coisas, sua equipe de segurança o avistou e estava
correndo pela estreita rua do canal.
— Meu senhor, este não é o lugar para você. Devemos nos apressar, —
disse o líder. A sua aversão pelo Canal de Rayes era evidente no sorriso de
escárnio de seus lábios finos.
— Não até que todos estejam seguros lá dentro, — Phantu murmurou,
empurrando os guardas para ajudar um ancião a subir os degraus em sua
casa.
— Esse não é o seu trabalho, meu senhor, — disse o guarda, exasperado.
— Você está certo, Vigo, é seu. — Phantu contornou o homem alto e
pegou uma criança, com o nariz escorrendo enquanto seus gritos
envergonhavam os alarmes. Ele examinou a multidão em busca da mãe,
mas ainda havia muitos corpos agrupados para ter uma visão do acidente.
As pessoas subiam nos telhados e se aglomeravam nas portas e janelas.
Gritos terríveis vinham dos campos de refugiados na beira do píer.
— Por que os canhões antimísseis não disparam? — perguntou Phantu.
— Tudo o que sabemos é que houve algum tipo de acidente e o General
Lao deu uma ordem para se retirar, mas isso foi antes...
Phantu entregou o bebê a uma jovem mãe frenética. Ela se curvou para
ele, e ele ignorou a sensação de desconforto com a deferência.
— Meu senhor, — Vigo tentou novamente, cerrando o punho enluvado.
— Posso lembrá-lo de que você é meu encarregado. As defesas da cidade
vão aguentar.
Com os braços livres, ele girou em guarda, pressionando um dedo no
colete decorado do homem. — Eu estive lá quando a cúpula falhou. Você
já?
— Não, meu senhor. — O nariz do sardento Vigo enrugou quando olhou
pra baixo e viu as suas botas cobertas de lama. Tão longe do palácio, e
mesmo com naves explodindo no céu, o poder do guarda armado Phantu se
preocupava mais com as suas botas. — Mas não há nada que você possa
fazer daqui. Deixe a Sua Majestade à vontade e volte pra casa.
Phantu manteve os seus pés firmemente no chão lamacento, confusão e
incerteza pairando no ar. Ele fixou o olhar no caça estelar restante. Fumaça
negra saía das asas. O velame foi lançado, junto com o paraquedas, mas o
piloto deve ter ficado preso na cabine. Uma das asas faiscou contra a cúpula
seguindo a curva da esfera. Então, um dos painéis da cúpula diretamente
sobre o Canal de Rayes se abriu. Uma avaria? Uma ordem? Não havia
como saber. Um prisma de luz refratado contra o sol. Os pássaros
dispararam para as nuvens quando a nave inimiga passou pela abertura na
cúpula, indo direto para o mar.
— Que pena não podermos afogar todos eles, — disse Vigo com uma
calma incrível.
Phantu imaginou o horror de cair de uma altura tão grande, indefeso e
preso. Sozinho. Não importa quem estava lá, ele nunca poderia desejar que
outro fosse tal destino. Talvez seja por isso que ele fugiu.
— Meu Senhor! — a guarda real vociferou. — Onde você está indo?
Mas Phantu já havia tirado o xale transparente e a túnica, chutado os
ridículos chinelos enfeitados com joias e saltado do píer. A maré estava
baixa, então não podia mergulhar. Chapinhava na lama arenosa do canal,
conchas quebradas cravando-se nas solas dos pés. Agradeceu aos grandes
deuses do mar pelos calos que ganhou ao longo de uma vida inteira
correndo descalço pelas ruas.
Phantu agradeceu a vida que teve, a casa que recebeu depois da
tempestade que mudou tudo, mas no fundo ainda era um garotinho da
favela mais pobre da capital. As pessoas do Canal de Rayes se ajudaram
mutuamente. A sua mãe tinha, e isso levou à sua morte. Mesmo agora,
quinze anos depois de sua morte, depois da monção, ele ainda ouvia sua
voz. Ainda sabia que nos piores momentos, diante da guerra e da morte e da
seca, ela diria que sempre havia alguém precisando de ajuda. Se ele pudesse
fazer isso, ele deveria.
Portanto, não importava que a nave em queda livre fosse do planeta
através de um corredor do espaço. Não importava. Se era uma vida que
poderia salvar, tinha que salvar.
Quando estava longe o suficiente, a nave rompeu o mar azul turquesa.
Uma onda enorme se seguiu e Phantu mergulhou. Podia ouvir gritos vindos
da costa distante, e então o bater de seu pulso enquanto chutava. Os seus
olhos ardiam contra a salmoura salgada, mas os seus membros receberam
bem a sensação de serem envolvidos pelo mar quente. Como gerações de
Eirami, Phantu podia prender a respiração por longos períodos de tempo.
Era uma característica que surgiu em épocas de mergulho em busca de
comida, mas mesmo os seus fortes pulmões tinham um limite, e nadou para
o naufrágio o mais rápido e rápido que pôde.
A água estava turva com lodo perturbado, embora mais longe houvesse
menos poluição do que na costa. Por um breve momento, tinha dez anos
novamente, afundando no fundo do oceano após aquela terrível tempestade.
Não estava indefeso agora.
Avistou a nave afundando, arrastando-se contra o Mar de Erasmo.
Atingiu a saliência de um penhasco e oscilou na boca da trincheira. Se
tombasse, não seria capaz de segui-la. Phantu cortou a água como um
tubarão krel, com apenas os primeiros sinais de pressão em seus pulmões
quando alcançou a cabine aberta.
Phantu ficou surpreso ao vê-la. Cabelo ruivo, escuro como cobre. Medo
e desconfiança em seus olhos âmbar enquanto ela lutava para se livrar de
seu arnês. Fluxos de bolhas escaparam de seu nariz. Ela estava perdendo
muito ar, e ainda levantou os braços como se para bloquear o seu ataque.
Como se tivesse vindo até aqui para machucá-la.
Levantou as palmas das mãos e deu um leve aceno de cabeça. Então ela
apontou para o chão, onde ela não conseguia alcançar. Houve um brilho de
metal. Uma lâmina. Agarrou-a, puxou-o para fora da bainha e cortou as
tiras de segurança do arnês. Houve um barulho terrível de pedra cedendo.
Sentiu a mudança na água quando a borda do penhasco começou a
desmoronar sob o peso da nave.
Enquanto afundavam, agarrou a segunda alça e cortou e rasgou o tecido.
Não havia tempo para a sua desconfiança, o seu medo dele quando agarrou
a frente de seu uniforme vermelho. Ela se agarrou a ele enquanto a sua
embarcação caía no poço escuro da trincheira. A dor apareceu nas suas
feições, mas puxou o seu braço, e eles chutaram em direção aos feixes de
luz refratando sob o mar. As suas entranhas gritavam por oxigênio, a
mandíbula tremendo enquanto cerrava os dentes e lutava para não abrir a
boca e inalar.
A mulher E'roni o acompanhava admiravelmente, embora, quando olhou
pra trás, pudesse ver um rastro de sangue se desenrolando como uma fita.
Não sabia dizer qual deles estava ferido.
Nadou toda a sua vida, mas os metros finais colocaram a sua coragem à
prova, debatendo-se e chutando até que ele pudesse sentir a luz na
superfície, o fogo em seus pulmões e, em seguida, o beijo úmido do ar
quando eles romperam a superfície, e engasgou com a ingestão irregular de
oxigênio.
O mar, que nunca estava calmo durante o verão, conduziu-os em ondas
rolantes até o cais. Eles se arrastaram pela lama do canal e subiram degraus
de madeira frágeis. Phantu largou a adaga e caiu de costas, tossindo a água
salgada que engoliu.
— Você está bem? — Ele se arrependeu da pergunta no momento em
que a expressou. Porque quando se sentou, ela estava pairando sobre ele,
com água pingando de seu cabelo, com um hematoma florescendo em sua
testa e a sua adaga descansando sob a sua garganta.
Se havia uma certeza na vida de Axel Greylark, era que sempre podia
apostar em si mesmo. Literalmente. No fundo da sala dos fundos do Salão
da Raik, Axel era um dos cinco jogadores debruçados sobre uma roleta que
a proprietária homônimo do antro de jogos de azar havia criado como um
verdadeiro jogo de azar. Iluminado por uma lâmpada baixa, o fosso
cromado e dourado girou, e cada jogador jogou os seus tacos na briga. Axel
manteve os olhos fixos na carapaça brilhante de seu taco. Escolheu o violeta
e esmeralda porque eram as cores de sua família e, como estava jogando
com a fortuna de sua família, a correlação parecia adequada.
À medida que o giro desacelerava e cada pequena esfera chocalhava em
um dos quarenta caça-níqueis, vários jogadores levantavam as mãos em
desgosto e desapontamento. Axel apertou o joelho trêmulo quando o taco
vacilou na linha enferrujada entre dois buracos. Apostaria sua última pilha
de créditos, mais a garota que o próprio Raik havia apostado nele, por ele
ser um regular tão bom e tudo mais.
A deixa finalmente caiu no bolão de ouro.
Axel piscou os olhos privados de sono.
Ganhou.
Finalmente venceu e foi preciso apenas... Axel olhou para o seu
cronômetro. Vão todos para o inferno, realmente estava aqui por dez horas?
Um jogador perdedor acertou a lâmpada acima, fazendo-a balançar e
atingir o crupiê. Dois brutamontes desmedidos removeram o pobre
perdedor, deixando aqueles que acusavam Raik de consertar os jogos
totalmente em silêncio. Axel se recostou em seu assento. Os seus dedos
tinham saído pegajosos do apoio de braço. Não queria saber o que era a
secreção, mas tinha certeza de que não vinha dele.
O droide de Axel, QN-1, enfiou a perna da calça embaixo da mesa. QN-
1 buzinou algo que soou como desaprovação das escolhas de Axel, então
abriu o painel triangular em seu peito. Ele ofereceu um pequeno frasco de
prata, que Axel aceitou com um sorriso gracioso. Desatarraxou a tampa e
deu um gole rápido. O uísque defumado queimou agradavelmente enquanto
observava cuidadosamente os clientes do salão de jogos diminuírem.
Alguns se dirigiram para encontrar melhores fortunas nas tocas infestadas
de ratos ao longo do distrito de prazer. Outros podem limpar e ir para os
níveis superiores para o início do dia de trabalho. Axel não deu sinal de se
mover, nem a Mirialana ou um Rodiano embriagado que bateu um crédito
na borda da mesa.
— O que? — a Mirialana sentada ao lado dele a noite toda perguntou.
Ele preferia as marcas de diamante negro nas suas bochechas, e ela preferia
receber os créditos dele. Até agora. — O material barato não é bom o
suficiente para você?
O Rodiano gargalhou, e Axel bebeu novamente, com uma gota
pousando em sua túnica cintilante de mil fios.
— Como você sabe que isso não é barato? — ele perguntou.
— Não ligue pra ele. — Raik falou com a sua voz áspera e assobiando.
— O principezinho de Coruscant não confia em ninguém para lhe servir
uma bebida, não é mesmo?
Raik era uma Utai com uma boca enrugada e apertada que lhe dava a
aparência de chupar um gota azeda. Os seus olhos protuberantes e bulbosos
estavam fixos em Axel enquanto ela deslizava entre as mesas de roleta e
sabacc. Ela substituiu o traficante e se afundou em seu assento. Uma bebida
rosa apareceu ao seu lado do barman de muitos braços.
— Raik, querida, não quero lhe ofender, — disse Axel, tomando mais
um gole do uísque Chandrilano, presente da filha do senador em sua última
visita. — Mas este foi um ano muito bom.
E era verdade. Aquele lote custava mil créditos a garrafa. Um trágico
acidente de navegação o tornara o lote mais raro da galáxia, restando apenas
trezentas garrafas, mas o que Axel Greylark não estava dizendo era que
tinha visto muitas pessoas envenenadas em sua época para confiar em uma
bebida de um buraco úmido na parede nas entranhas fumegantes da cidade,
mesmo um tão, legal, quanto o Salão da Raik.
— Por que eu iria envenenar você, meu melhor e mais bonito cliente? —
Raik perguntou. O anel de sua boca assumiu o tom rosa da bebida. — Além
disso, você me deve muito dinheiro. Se alguém te quer morto, é aquela
herdeira. Qual é o nome dela?
A Mirialana estalou os dedos.
— Lady Lulu Faradaisy? Algo ridículo assim.
QN-1 bipou o que poderia passar por uma gargalhada entre droides.
Axel enfiou o frasco de volta no compartimento do peito.
— Lady Lureen Faraday, — ele corrigiu. Mesmo descendo até as
entranhas de Coruscant não foi o suficiente para fugir da fofoca de sua
separação pública da herdeira Chandrilana dos Espíritos de Faraday, agora
embarcando em toda a galáxia. A única razão pela qual se lembrava do
slogan do negócio da família Faraday era porque foi a primeira coisa que
Lureen disse para se apresentar, seguida pelo título de senador de seu pai.
— E não acredite em tudo que você assiste nos holos.
Raik reiniciou a mesa de roleta e reorganizou a seleção de sugestões.
— Então você não terminou com ela deixando-a de pé no espaçoporto?
— Não, isso mesmo, — ele admitiu. — Há só mais na história.
Axel mordeu os dentes de trás e franziu a testa para o seu reflexo
distorcido na lateral da lâmpada. A luz amarela do teto tornava a sua tez
pálida e enfatizava as olheiras que não existiam três dias antes. O seu
cabelo escuro estava despenteado e os seus olhos estavam turvos, mas ele
parecia pior.
Em seu bolso, o seu comunicador tocou. Provavelmente a sua mãe.
Novamente. Silenciou-no porque sabia o que ela queria. A sua mãe queria o
que todo mundo queria: uma resposta sobre por que fez o que fez. Em vez
de tomar a decisão de se estabelecer, começar a ficar sério, pegou o seu
speeder favorito e uma pilha de créditos e acabou em qualquer antro de
jogo, clube ou cantina que lhe permitisse entrar. Não precisava se explicar.
Porque se importar? A HoloNet, os seus “amigos” e a sua família já haviam
se decidido. O único lugar para se esconder de outra das intervenções de
sua família era no Raik. E era por isso que estava determinado a deixar que
a sua sorte o levasse o mais longe possível. O seu talento para silenciar
qualquer voz de dúvida permitiu que ignorasse o seu comunicador.
— Além disso, vocês são uma companhia muito melhor, — Axel disse,
nunca deixando o seu sorriso vacilar. Uma vida inteira com a melhor
educação, desde professores particulares até a academia real, deu a ele boas
maneiras. Raik comeu tudo. — E porque você tem sido tão bom para mim e
me deu uma carta para continuar jogando, eu nunca o deixaria na mão.
— Porque você não quer acabar em uma vala, — a Mirialana murmurou.
Inclinou-se pra frente apoiando-se no cotovelo e sorriu.
— Querida, não me ameace com diversão.
— Perder pra você não é minha ideia de diversão, — ela ronronou,
passando os dedos finos pela parte superior da mão dele. Ele se inclinou
ligeiramente para ela. — Mas agora as coisas mudaram. Tem certeza de que
não é secretamente um Jedi?
O Rodiano chorão laranja soltou uma gargalhada.
— Se ele fosse Jedi, não estaria perdendo o dia e a noite!
Uma sensação fria e feia se espalhou do ápice do peito de Axel. Ele
afastou os esguios dedos verdes dela, sua voz dura como pederneira quando
disse:
— Não me insulte, querida.
Confusa, a Mirialana recuou e pegou uma bebida da bandeja de um
droide que passava. Ela bateu de volta.
— Vamos flertar a noite toda ou vamos brincar? — perguntou o
Rodiano.
— Você já teve o suficiente, amigo. O cacife é muito mais do que isso,
— disse Raik com benevolência.
O Rodiano levantou-se abruptamente, resmungando na língua que Axel
mal entendia por acompanhar os seus pais em visitas de embaixadores ao
mundo do pântano. Algo sobre o seu marido matá-lo? Fosse o que fosse, o
Rodiano estava fora.
A Mirialana empilhou os seus ganhos em torres organizadas. Os dois
vinham trocando os mesmos créditos por horas.
— Você continua se divertindo, pequeno príncipe. O resto de nós deve
ganhar nossas fortunas. Ela levantou a mão para acariciar o seu rosto, mas
se afastou.
Que chato. Não ia deixar que ela ou qualquer um arruinasse a sua nova
fase. se sentou e pegou a bandeja de tacos.
— Você também, — acrescentou Raik, gesticulando para ele. — Vai pra
casa, Greylark. Já corro o risco de irritar a sua mãe.
— Deixe a minha mãe fora disso, — disse Axel, com um tom duro
cortando sua voz, que fez o possível para manter enterrado.
QN-1 pairou no ar, o triângulo do peitoral do droide iluminado por uma
luz vermelha pulsante, como acontecia quando o temperamento de Axel
aumentava. Os retardatários na toca se viraram para encará-lo, para ver se
ele causaria uma cena, se ele se juntaria aos infelizes ordenhadores jogados
na sarjeta do lado de fora. Ele não podia deixar de sentir que tinha feito
exatamente o que Raik queria que ele fizesse: deixar-se atrair. Por causa de
sua mãe, a admirável, gloriosa e magnânima Chanceler Greylark, foi
impedido de entrar na maioria dos clubes em todos os níveis, mas não aqui.
Este era um lugar onde poderia se divertir, esquecer. Enterrado tão fundo
na barriga de Coruscant, em um lugar que cheirava a esgoto acre e ar
mofado e reciclado. Um lugar de sombras onde não precisava ser Axel
Greylark, filho da mulher mais importante da galáxia. Poderia ser só o seu
eu miserável.
— Qual é, Raik, querida, — disse Axel, descansando os braços atrás da
cabeça. — Depois de tudo que passamos? Você, que dá refúgio a muitos,
me negaria mais um jogo de salão?
— Ah, mas eu dou refúgio àquelas vítimas das políticas de sua mãe, —
Raik disse, então olhou ao redor da sala silenciosa, a faixa no centro da sala
apenas esticando dedos e tentáculos doloridos. — Quem mandou você parar
de jogar? Nunca pare de jogar, entendeu?
A banda começou um cover da irritantemente popular "Seu Amor Me
Envia Ao Nível 9.
Axel sorriu para a Utai. Com o seu melhor sorriso Greylark.
— Mais um. Por favor?
Quando ela não fez nenhuma demonstração de movimento, um aperto
envolveu o seu peito ao pensar em sair por aquelas portas sem nada para
mostrar, exceto por algumas centenas de créditos. Já havia perdido tanto. As
suas contas haviam sido congeladas e tinha certeza de que os seguranças da
Chanceler estavam procurando por ele. Poderia ir pra casa. Explicar-se à
mãe, emitir uma declaração e realizar um ato de serviço comunitário como
penitência por seus comportamentos. Ou poderia ficar porque a sua sorte
finalmente mudou naquela última mão.
— E com o que você vai apostar? — Raik sorriu enquanto ela jogava
com a pilha de fichas da casa.
Axel desamarrou a faixa da capa e dobrou-a cuidadosamente sobre a
pilha.
— Só a contagem de seda cintilante vale setecentos.
— Guarde as suas roupas, — Raik zombou. — Eu quero algo precioso.
Algo que a galáxia cobiça de você.
Axel tentou não fazer uma careta. O preço de sua criação foi que esteve
nos holo notícias desde o dia em que nasceu. Apesar de sua propensão a se
meter em encrencas, era cobiçado como um dos solteiros mais cobiçados da
galáxia.
— Você me lisonjeia — disse Axel, e QN-1 deu um bipe de alerta.
— Se você vencer esta rodada, eu vou limpar a sua dívida comigo.
Axel fez o possível para evitar que a emoção dessa possibilidade
transparecesse em seu rosto. Ele olhou para a parede de troféus atrás do bar,
depois para o tanque onde Raik abrigava piirayas carnívoras neon que eram
todas mandíbulas e nadadeiras minúsculas. Limpou a garganta.
— E se eu perder?
— Tudo o que eu quero é uma mecha de cabelo da sua linda cabeça.
Os olhos injetados de Axel traçaram a parede de troféus orgulhosamente
exibidos atrás do bar. Os chifres de um macho devaroniano. Uma fileira
superior de dentes de um Karkarodon. Montrais Togruta preservados
envoltos em vidro. As mãos enrugadas de ladrões e trapaceiros infelizes. Os
rumores eram de que ela havia sido exilada de seu clã e da própria Utapau
por causa de sua afinidade por tais troféus cruéis. Ela acabou em Coruscant,
administrando as mesas para o Cartel Romero até que eles a colocassem em
seu próprio antro de jogos de azar em troca de sua taxa de proteção e
informações. Axel passou os dedos pelas grossas mechas negras de seu
cabelo.
O cabelo voltou a crescer.
A sua dívida com Raik também continuaria crescendo.
QN-1 emitiu um som de bipboop deflacionado que Axel conhecia muito
bem. Era a maneira de seu droide lhe dizer para ir pra casa.
— O que você diz, pequeno príncipe? — Raik passou os dedos pela
caixa contendo as pistas, estranhos répteis minúsculos que alguns
acreditavam ter evoluído nas sarjetas de Coruscant de ratos e lagartos.
Quando a luz os atingiu, eles se enrolaram em pequenas bolas compactas do
tamanho de um taco de roleta. Axel pegou o seu taco roxo da sorte e o
trouxe para as sombras da sala. A criatura se desenrolou, com o seu rosto
pontiagudo e olhos redondos movendo-se no ar. Axel pegou um pedaço da
casca de uma bebida descartada na mesa e deixou a besta feia festejar.
— Uma oferta tentadora, — disse Axel, deliberando sobre as
probabilidades. A roleta de Raik era um verdadeiro jogo de azar, não de
habilidade. Havia quarenta caça-níqueis, trinta e sete números, um bolão
dourado e dois caça-níqueis de casa preta. Alternou as suas apostas, dentro,
fora, duplas e triplas em pares e ímpares. Às vezes, quando era imprudente
e ousado, apostava em um único número, o dezoito. Agora ele tinha uma
chance. Para Axel, a própria possibilidade era como uma carga elétrica. As
dores insones, os olhos injetados, as preocupações de seu futuro incerto,
tudo se esvaiu e não havia nada além da emoção do acaso.
Empilhou os seus créditos restantes em quatro números para uma aposta
dividida. Duas ímpares, dois pares. Um incluía dezoito, naturalmente.
— O que estamos esperando? — Ele deu um sorriso para Raik, que o
devolveu, revelando pequenos dentes amarelos.
Axel moveu a palma da mão para a luz e o seu taco se firmou, com a sua
brilhante carapaça violeta e esmeralda pronta para rolar.
O Salão da Raik, quase vazio, atraiu os clientes restantes para a sua
mesa. QN-1, que nunca era deixado pra trás, pairava no ombro de Axel.
Bateu na cabeça abobadada de seu droide para dar sorte.
— Que cabelo bonito, — disse Raik, e colocou a roleta pra girar.
Axel deixou cair o taco com um giro da palma da mão. O taco vermelho
da casa de Raik ricocheteou quando o poço de ouro e cromo girou,
borrando o metal e os números à medida que ganhava velocidade. A mulher
Utai parecia extraordinariamente calma, como se soubesse de algo que Axel
não sabia. Como se ela já tivesse previsto o resultado.
Por um momento fugaz, enquanto a roleta desacelerava e os tacos
saltavam do preto para o cromado e para o dourado, Axel jogou o cabelo
pra trás. Ele podia ouvir a voz de sua mãe, suave, baixa e derrotada. Ah,
Axel. Ele lidaria com o confronto inevitável quando viesse. Por enquanto,
ele tinha um jogo a vencer e um livro de dívidas a saldar.
— Vamos, — ele sussurrou, o rangido da mesa, o chocalhar das
carapaças reverberando. O seu taco pulando de slot em slot, chegando tão
perto, tão perto do ouro do prêmio. — Vamos! Vamos.
A roleta parou completamente. O taco de Raik caiu no duplo zero
pertencente à casa, enquanto o dele caiu uma fração à esquerda do bolão e
longe de qualquer número que apostasse. Houve um suspiro sem fôlego de
todos ao seu redor, como se todos tivessem sentido o soco no estômago de
sua perda.
Raik riu, estendendo a mão para acumular os créditos no quadro em
direção ao peito dela.
— Não se preocupe. Eu vou...
Então a sua deixa iridescente, a sua estranha criaturinha sortuda
transformada na sarjeta, fez algo impossível. Ele fez um pequeno som
borbulhante e saltou para o bolão quando a roda deu um empurrão final.
— Eu venci. — Ele disse isso para que ele mesmo pudesse acreditar, e
então disse novamente com a sua confiança habitual. — Eu venci.
Uma alegria se elevou ao seu redor. Mãos batendo nas suas costas. QN-1
deu uma cabeçada na coxa em vitória, com o seu painel frontal pulsando em
uma variedade de cores.
— Você merece um nome, — disse Axel, segurando a criatura entre as
palmas das mãos. Ele se desenrolou o suficiente para balançar os olhos
redondos.
— Isso não contou! — Raik rosnou. — Você... você adulterou os tacos.
— Eu não fiz tal coisa. — Axel alimentou o seu taco com o miolo de
uma fruta de coquetel descartada e se levantou. As suas coxas doíam pelo
desuso. Ele precisava ir às casas de banho e tratar o torcicolo na parte
inferior das costas. — Não seja uma mau perdedora.
Uma mão grossa e suja arrancou o taco violeta de seu aperto. A criatura
soltou um assobio, então foi silenciada pelo triturar dos dentes de Raik.
Axel ainda estava olhando para a Utai mastigando a criatura que o ajudou a
vencer quando de repente havia mãos sobre ele. Gemeu quando o seu rosto
foi empurrado para uma mesa sabacc. QN-1 zumbiu e voou para o lado
dele. Axel jogou os braços pra trás, mas a dor torceu o seu antebraço
quando foi imobilizado com mais força. Tudo o que podia ver eram os
dentes viscosos de Raik e QN-1 caindo com força no chão.
— Isso é entre você e eu, Raik! — Ninguém tocava em seu droide.
Ninguém.
A Utai se aproximou, com os grandes olhos dourados com fendas
escuras piscando se estreitaram nele. Queria engasgar com o cheiro de sua
respiração.
— A última pessoa que me insultou eu dei para minhas piirayas.
Axel ouviu a faca antes de vê-la. O som suave de metal sendo
desembainhado. Mãos pegajosas agarraram uma mecha de seu cabelo e
puxaram. Tentou erguer o seu braço preso em direção ao blaster no coldre
de seu atacante. Sairia dessa. Sempre saia dessa.
— Sabe, geralmente espero um bom jantar antes de entrar nessa
situação, — disse ele.
— Sempre tão loquaz, — disse Raik. — Talvez eu envie um segundo
cacho para a sua mãe.
— Tenho certeza que ela vai emoldurar. — Axel ofegou quando a
pressão dobrou contra as suas costas e o seu braço parecia que ia ser
arrancado de seu ombro. Tanto medo abriu caminho até ele que sentiu frio
por dentro. Gritou e tentou se livrar do aperto, mas havia muitos deles e o
beijo frio do metal pressionou contra a linha do cabelo. Deveria ter ouvido
o aviso do QN-1, mas tinha sido ganancioso. E para ser honesto,
simplesmente não queria ir pra casa. Para a torre acima do mundo, para os
salões vazios. Este era o preço final a pagar para alimentar pesadelos que
não conseguia afastar.
— Espera espera! — Axel gritou, sua voz irregular. — Vou fazer um
novo acordo com você.
— Você não tem créditos. Mesmo a Chanceler não vai pagar a sua
fiança. O que você tem a me oferecer quando eu puder receber o que me é
devido?
Axel viu a luz vermelha piscando de seu droide, que estava voltando a
subir lentamente.
— A própria Chanceler devendo um favor a você. Isso deve valer mais
do que um pouco do meu cabelo, não é?
— A sua mãe não governa sozinha e ela não está aqui para falar por si
mesma.
— Certo, mas eu só precisava da sua atenção um pouco mais. Agora, Q,
o que você está esperando?
QN-1 voou para fora da vista de Axel, mas ouviu o choque elétrico que
derrubou Raik e o seu brutamontes. O droide saltou em uma vitória de curta
duração.
Quando Axel se levantou, junto com o que restava de sua dignidade, se
deparou com três figuras, um Twi'lek musculoso, um humano enorme e um
Hassk que gritou alto o suficiente para espalhar todos, exceto a banda, que
continuou tocando sob o comando de Raik. comando anterior.
— Parece que ultrapassamos o prazo das boas-vindas, QN-1.
O pequeno droide fez um som que provavelmente se traduziu em "Eu te
disse isso horas atrás.
— Eu sei! — Axel levantou uma palma para parar o trio pronto para
esmagá-lo em pedaços menores que provavelmente iriam para a parede de
troféus de Raik. — Espere, vamos resolver isso como velhos amigos. Tome
uma bebida comigo.
Os três se entreolharam confusos e, por um momento selvagem,
pareceram considerá-lo. Axel gesticulou para o seu droide. Durante toda a
noite, todos viram Axel abrir o painel do droide para pegar o seu frasco. Os
sensores de QN-1 piscaram em vermelho quando Axel recuperou não seu
uísque raro, mas um blaster de prata.
Axel teve apenas um momento de surpresa, e aproveitou. Atirou na coxa
do maior dos três e depois derrubou a mesa sabacc. Apoiou-se nela,
virando-se para QN-1, com o painel frontal ainda piscando em um
vermelho reprovador. Ele zumbiu uma sugestão.
— Não, eu fico com o Twi'lek, você fica com o feioso e cabeludo.
QN-1 bipou. Enquanto se preparava para atacar, o tiro de blaster foi
devolvido. O vidro caiu ao redor deles, mas a banda tocou, perdendo apenas
algumas notas antes que a música morresse. Sem gritos, sem blasters, sem
clientes gritando. Um grunhido veio de Raik, que estava despertando
lentamente de seu choque.
— Viu? — ele disse, mesmo sabendo que algo estava errado. — Eles
não são páreo pra nós.
QN-1 fez um som de deflação, então espiou por cima da borda de sua
capa, trinando uma resposta.
— O que você quer dizer com reforços aqui? — Axel se levantou, com a
pistola blaster apontada, e ficou cara a cara com uma tropa de guardas de
Coruscant. Piscou, aliviado.
Axel guardou a sua pistola e ofereceu o seu sorriso mais encantador. —
Graças aos Céus vocês estão aqui. Estive procurando por você por toda
parte.
— Desculpe, senhor, — disse um guarda, levantando o seu blaster. —
Ordens da Chanceler Greylark.
— Não, não, espere!
A última coisa que Axel Greylark viu foi um anel de luz azul.
Xiri não poderia estar aqui. Não em Eiram, não neste cais, e não
com este estranho. Mesmo que ele a tivesse resgatado. Esfregou os lábios
rachados, com a língua ansiando por água, mesmo que o sal a deixasse
enjoada.
— Por favor, — disse ele, levantando as mãos para mostrar que estava
desarmado. A água salgada grudava em seus cachos castanhos macios e nos
cílios pesados que contornavam os seus olhos verdes grandes e firmes. —
Se eu quisesse te machucar, por que eu teria te salvado de um afogamento?
Xiri deu um passo pra trás, mas não abaixou a sua lâmina mortal. O sol
brilhava em E'ronoh, mas aqui em Eiram era diferente. Refratada contra os
azuis e verdes manchados do mar, a luz dava o efeito de um sonho, embora
a situação parecesse um pesadelo. Respirando pesadamente, com a sua
garganta queimava com o oceano que engoliu. Não gritou quando perdeu o
controle de seu caça estelar quando a explosão da nave de Blitz a fez cair na
atmosfera de Eiram. O seu medo nunca foi de cair. Foi pior do que isso. Ela
tinha medo da invasão do mar. As mesmas águas haviam roubado o seu
irmão dela.
Ao som de botas pesadas, Xiri apontou a sua lâmina para os guardas que
se aproximavam. Oito deles. Pelo que estudou de Eiram, os coletes e faixas
de brocado os designavam do palácio. Sua comitiva então.
Emitiu um som terrível, meio riso, meio ganido, ao dar vários passos pra
trás até a beira do píer.
— Por que me deixar afogar quando você pode ter uma prisioneira?
Os seus lábios se contorceram de frustração enquanto ele se levantava,
olhando para o séquito de guardas que o flanqueavam, levantando bastões
finos, fios de eletricidade estalando nas pontas de metal.
Xiri sonhava com um momento assim. Estrategicamente sobre o que
faria. Como lutaria caso fosse capturada. Não podia se tornar um prêmio de
guerra pendurado sobre o seu pai. Nasceu de E'ronoh. Uma filha do
escorpião thylefire, a criatura que sobreviveu no calor escaldante do
deserto. Quando atingiu a maioridade, foi jogada nos desfiladeiros que
devorariam seres inferiores com nada além de sua lâmina destruidora, e
encontrou o caminho de volta pra casa. As suas habilidades como guerreira
não estavam em questão.
Poderia empurrar o homem desarmado para o lado. Enfrentar o maior
dos guardas e usar o seu bastão elétrico nos outros. Passaria por dois, talvez
três, antes de poder fugir. O seu coração trovejou com a ideia de se perder
no labirinto das ruas da cidade. E depois? Se ela saísse de Erasmus, alguém
lhe daria abrigo enquanto ela vestisse o uniforme do inimigo? Teria feito o
mesmo se fosse o príncipe de Eiram em sua porta?
Foi quando olhou para cima e viu as pessoas espiando pelas janelas, foi
atingida pelo fedor de algas secas e lixo. Reparei nas barracas alinhadas no
nível inferior da favela. Rostos magros, rostos famintos. Sem os estranhos
olhos verde-mar e as sardas da maioria dos Eirami, poderia estar olhando
para o seu próprio povo.
Xiri mordeu a lateral do lábio. Precisava de dor para se concentrar no
que tinha que fazer. Uma calma entorpecente se espalhou por seus
membros. Parou de tremer quando a determinação se estabeleceu. Eiram
não fez prisioneiros porque qualquer guerreiro de E'ronoh preferiria levar
uma adaga no coração do que ser um cativo. Ela olhou para a sua lâmina
maldita, um presente de seu irmão quando ela foi enviada ao deserto para o
seu rito de passagem. O cabo era pontilhado de rubis. como o seu cabelo,
ele disse a ela.
Virou a lâmina contra si mesma. Um golpe forte em seu plexo solar
exigiria sua determinação total.
— Por favor, — implorou o estranho que a salvou. Ele deu um passo à
frente, com a sua voz como uma âncora. — Por favor, não.
A indecisão a cortou. Virou o rosto para o céu. A sombra da lua Guardiã
do Tempo e o seu mundo natal estavam lá. Fechou os olhos brevemente e
esperou que o tenente Segura tivesse conseguido salvar o transporte.
— Por favor, — o estranho disse novamente. Foi a suavidade na palavra
que a fez olhar para ele de forma diferente. Quem era ele, vestido como um
rei em uma favela como esta? — Eu não vou deixar ninguém te machucar.
Eu juro.
— De que serve a sua palavra? — Ela piscou, observando a fina fibra de
linho de seu colete aberto, o pingente de ouro descansando sobre a pele nua
de seu torso. Reconheceu o sigilo da casa da rainha.
— Então não me tome pelas minhas palavras. Tome-me por minhas
ações. — Ele levantou uma mão severa para os guardas invasores. —
Abaixe isso, Vigo.
— Mas, meu senhor...
— Abaixe. Isso. — Ele não poupou os guardas outro momento antes de
voltar a sua atenção para ela, com um braço ainda estendido como uma
tábua de salvação. — Você é a capitã A'lbaran.
Xiri endireitou os ombros.
— Você sabe o meu nome. Eu exijo saber o seu.
O canto de seu lábio se contraiu. Ele achava que ela era engraçada?
— Eu sou Phan-tu Zenn. Agora, você pode ir com eles para uma cela.
Ou você pode vir comigo para uma audiência com a rainha.
— E quem é você para a rainha?
Quando ele franziu a testa, parecia um garoto, embora achasse que eles
tinham a mesma idade.
— Bem, ela é minha mãe.
Então este era o herdeiro adotivo da Rainha Adrialla.
É um truque, a voz do vice-rei Ferrol ecoou em seu ouvido.
Isso é tudo que você tem? Tenente Segaru, o homem que lhe ensinou
tudo o que sabia.
O seu irmão saberia o que fazer. A voz de seu pai então.
O pai dela. Houve um momento em que estava caindo em Eiram,
quando Xiri se perguntou, não sobre a sua própria sobrevivência, mas sobre
a forma como o seu pai retaliaria. Ele dobrou a aposta na guerra após a
morte de Niko, embora nenhuma evidência jamais existisse que provasse
que foi tudo menos um trágico acidente. Se o Monarca perdesse a sua
última herdeira viva para o inimigo, tudo pelo que Xiri teria lutado e tudo o
que quisesse fazer terminaria com ela. Não passaria de uma lembrança, uma
causa, um ciclo vicioso.
O que o Monarca faria se Xiri cravasse a lâmina em seu coração? A
resposta veio em uma percepção fria. Reviveu cada batalha que lutou em
uma fúria de memórias. Imaginou naves de perfuração fazendo chover
destruição impiedosa sobre essas pessoas. Sem ela, tudo o que ele teria seria
o seu conselho venenoso. Xiri tinha que permanecer vivo, capturado ou
não. O general Lao estava disposto a ouvir, mas ela não sabia se ele havia
sobrevivido à queda. Não. Xiri estava sozinha e tinha que confiar nesse
estranho.
Por E'ronoh.
Então Xiri A'lbaran jogou a adaga pro alto, pegando-a pela ponta de
metal. Ofereceu-lhe o punho. Foi o maior gesto de confiança de um
guerreiro E'roni que poderia dar.
Ele removeu a fina corrente de ouro do pescoço, o pingente girando
entre eles como o olho da fortuna. Não amoleceu, mas arrebatou a sua
oferta ao mesmo tempo em que ele tomou a dela.
A princesa de E'ronoh colocou um pé na frente do outro e começou a
estrada sinuosa para o coração da capital de Eiram.
A Valente caiu com força na plataforma de pouso da lua. Mestre
Creighton Sun não desamarrou o arnês imediatamente. Em vez disso,
fechou os olhos e se concentrou na Força. Para Creighton, era como estar
no centro de um campo verde, sob um manto de céu cinza. Houve um
momento em que as nuvens se abriram e um farol de luz iluminou tudo.
Precisava ser perspicaz para entender as circunstâncias em que eles haviam
se metido.
A voz firme de seu velho amigo Mestre Char-Ryl-Roy levou Creighton
de volta à nave, à lua entre os mundos.
— A estação intermediária e o depósito de reabastecimento ainda estão
funcionando, — disse Enya Keen, — embora não hajam sinais de vida.
— Situação da Jedi Nattai? — o Cereano perguntou ao seu Padawan.
Enya altrajeu um interruptor no painel de controle.
— Ela está vindo para cá, mas o seu comunicador pode estar desligado.
— Não é o nosso receptor? — Mestre Roy perguntou.
Enya balançou a cabeça.
— Estou verificando os sistemas, mas não consigo identificar o dano.
Creighton perguntou
— E a nave do Chanceler?
— A Paxion está atracando agora, — respondeu Mestre Roy, puxando o
tufo de sua barba castanha escura. O seu olhar azul se voltou para a Proa-
Longa da República.
Ao longo dos anos, os dois Mestres Jedi viajaram juntos com tanta
frequência que Creighton sentiu que poderia entender as intenções de seu
amigo sem sequer uma palavra de explicação, e foi por isso que ele
removeu o cinto de segurança e se levantou.
— Enya, encontre-nos na plataforma de lançamento quando terminar, —
Char-Ryl-Roy ordenou, e alcançou Creighton em alguns passos largos.
— Tive a impressão de que o Chanceler Mollo estava do outro lado da
galáxia, — disse Creighton, baixando a rampa de embarque. Ele sentiu uma
agulhada de frustração perfurar a sua disposição calma.
— Eu sei o que você está pensando, — disse Char-Ryl-Roy, com o
registro profundo de sua voz mais alto do que o silvo pressurizado da
rampa. — E não, não sabemos como os acontecimentos teriam se
desenrolado se a Paxion tivesse chegado mais cedo ou mais tarde. Nem
sabemos por que foi chamado ou quem chamou a nave aqui, ou se o
Chanceler está a bordo. Primeiro, devemos descobrir todos os fatos. Então
podemos planejar de novo.
— Você sabe que eu odeio quando você faz isso, — disse ele, embora
não houvesse malícia real nas palavras. Creighton confiava em seu amigo
implicitamente.
Os lábios de Char-Ryl-Roy se curvaram.
— Só porque você sabe que geralmente estou certo.
Creighton caminhou na frente para o ar fresco da lua, com as suas botas
esmagando o cascalho espalhado. Uma equipe de reparos da Paxion não
perdeu tempo em consertar os danos. A estação intermediária parecia ter
sido abandonada por anos. Engradados vazios virados foram empilhados
em uma estação de reabastecimento vazia. Fracas pegadas empoeiradas
marcavam os caminhos da fileira de vitrines destruídas, embora não
houvesse como dizer quão recente era o dano. Ele se agachou e tocou a
camada de sedimento, esfregou-a entre os dedos e levou-a ao nariz. Não
havia cheiro, mas provou o sal.
— O que é isso? — perguntou Char-Ryl-Roy.
Ainda não tinha certeza, mas quando uma coorte da Paxion
desembarcou e se aproximou, ele rapidamente espanou as palmas das mãos
e se levantou.
Dois jovens ajudantes, um humano de cabelos dourados e um
Nautolano, seguiam atrás da capa azul esvoaçante do Chanceler Orlen
Mollo. O Quarren pisou no cascalho com botas salpicadas de lama e
estendeu os braços enquanto berrava
— Mestre Jedi! Já faz uma era.
Creighton trocou um olhar confuso com o seu colega Mestre Jedi,
porque o Quarren claramente não estava surpreso com a presença deles,
nem os dois ajudantes. A última vez que viram o líder da República,
negociou com sucesso uma disputa de território em seu mundo de Mon
Cala, mas isso foi quase uma década antes.
— Chanceler, como é inesperado vê-lo, — disse Creighton, curvando-se
em saudação. — Embora eu desejasse que fosse em melhores
circunstâncias.
Muitas vezes lhe disseram que o registro profundo de sua voz era
dominante, mas reconfortante o suficiente para deixá-lo à vontade. Não
precisou recorrer à Força para sentir a aflição de Mollo. Os seus tentáculos
faciais contorcidos o delataram.
Os olhos azul-turquesa de Mollo observaram a estação intermediária
abandonada e a ampla vista de Eiram e E'ronoh além da ondulação do
horizonte. Ambos os lados haviam recuado, mas o cinturão de detritos
orbitava a lua como os anéis de gelo de Coto-Xana.
— Sim, bem, vim assim que o Escritório da Fronteira me alertou sobre a
sua missão em Eiram. Enviamos a você uma transmissão restrita, mas
quando não tive resposta, fiz o que achei melhor. Tenho certeza que a
Chanceler Greylark concorda que tivemos que aproveitar esta oportunidade.
Em nossa pressa para interceptá-lo, não consegui atualizá-la sobre a minha
mudança de planos. Ele riu nervosamente. — Não que eu exija a permissão
dela, é claro.
Creighton assentiu, mas achou melhor não comentar a última parte. Até
onde testemunhou, ambos os líderes da República trabalharam em
harmonia, com a Chanceler Greylark operando mais à vontade em
Coruscant e no Senado, e o Chanceler Mollo frequentemente viajando pela
Orla Exterior para melhor servir a expansão da fronteira, mas o que
significava que Mollo havia percorrido todo esse caminho sem avisar
inicialmente o Chanceler Greylark? O Jedi teria que navegar com cuidado.
— Infelizmente, nunca recebemos a sua mensagem, — disse Mestre Roy
sombriamente.
Creighton acrescentou:
— A Rainha Adrialla de Eiram apelou ao Conselho Jedi por meio do
Escritório da Fronteira. Recebemos um horário preciso de chegada,
conforme entendemos eram os termos do atual cessar-fogo.
— Espero que você não esteja sugerindo que este acidente foi minha
culpa, — disse o Chanceler Mollo, esticando as pontas de seus dedos
largos.
Creighton respirou fundo para suavizar a pontada de frustração. Ele
sentiu as emoções vulneráveis do Quarren, mas em nenhum lugar havia
malícia. Ainda assim, ele não podia negar que a colisão da Paxion não
ajudou.
— Claro que não, Chanceler Mollo.
— Sinto que havia mais trabalho aqui, — disse Mestre Roy, irradiando
um poço de tranquilidade. — Depois de todas as suas viagens, você sabe
disso melhor do que ninguém. Não é, Chanceler Mollo?
O homem Quarren relaxou e admitiu:
— Sei disso.
Creighton se irritou um pouco por ter que aplacar os políticos, mas
entendeu que a situação deles exigiria mais do que a sua coorte Jedi.
— Por favor, Chanceler Mollo. A que oportunidade você está se
referindo?
— Para a República e os Jedi trazerem paz a este sistema e além! —
Mollo disse com fervor. — Recebemos vários pedidos de ajuda de Sump e
Shuraden. Soubemos que Merokia cortou todos os laços com E'ronoh. Esta
guerra agora está afetando as rotas comerciais no setor de Koradin.
— E o Rota de Lipsec, — acrescentou o jovem ajudante Nautolano.
Mollo assentiu.
— Mundos inteiros dependentes de alimentos importados estão
morrendo de fome. Já por duas vezes tivemos que realizar um extenso
remapeamento para manter as hipervias funcionando e livres do flagelo de
piratas roubando os espólios da guerra. Já é suficiente. Eiram e E'ronoh
podem dividir seus mundos, o seu espaço, cronogramas de entrega, mas não
podem dividir a galáxia. Está na hora, pelo bem da República, de resolver
esse assunto. E preciso da sua ajuda para fazer isso.
Creighton Sun sabia em seus ossos que havia uma razão para a Força
continuar trazendo-os de volta ao sistema Eiram e E'ronoh. É verdade que a
rainha Adrialla havia implorado por sua ajuda, mas nas instâncias
anteriores, eles só conseguiram enviar remessas de ajuda. Os Jedi não
poderiam lutar uma guerra por eles, mas poderiam ser uma parte neutra.
Podia sentir um toque de encorajamento de Mestre Roy.
— Teremos que discutir mais sobre isso, mas pelo que sabemos de
E'ronoh, — Char-Ryl-Roy disse, — o Monarca é cauteloso com estranhos,
mas talvez haja uma maneira de reunir os líderes dos dois mundos.
Creighton concordou e acrescentou
— Entraremos em contato com a capital de Eiram assim que os nossos
reparos forem concluídos.
— Katrana, — o Chanceler Mollo se dirigiu a sua ajudante de cabelos
dourados. — Certifique-se de despachar qualquer mecânico que possa ser
dispensado para acelerar o processo.
— Sim, Chanceler, — disse a jovem.
— Agradecemos. Isso é muito generoso, — disse Creighton, inclinando
ligeiramente a cabeça.
O Nautolano verde-escuro pigarreou. Creighton sentiu que estava
reunindo coragem para falar. — Chanceler, você está pronto para eu
atualizar a Chanceler Greylark agora? Podemos usar um droide EX.
— Obrigado, Wix, mas eu gostaria de ter um relatório completo
primeiro, — o Chanceler disse firmemente, antes de virar o seu intenso
olhar turquesa para o Jedi. — Eu entendo que um de seus caças estelares
estava no meio da luta. Vamos precisar desse relatório.
Creighton notou a leve carranca de Char-Ryl-Roy. Gella Nattai havia
desobedecido às ordens, mas agora eles precisavam de seu testemunho.
Tudo aconteceu como a Força quis. Ao dar uma olhada no caça estelar
classe Alfa que se aproximava, ele sentiu uma sensação de alívio por Gella
estar segura.
— Lá está ela agora.
Gella Nattai pousou o seu caça estelar Jedi ao lado da Paxion e da Valente.
Equipes de reparos e droides astromecânicos trabalharam rapidamente no
casco da nave da República. Mesmo com a presença deles, havia uma
quietude na solitária, fria e distante lua.
Abrindo a escotilha do dossel, Gella inalou o cheiro de sal carregado no
ar frio ao desembarcar. Virou-se para o horizonte, para a visão
surpreendente do solo salpicado de sal da lua, e então para a extensão do
espaço além. E'ronoh, como um vergão vermelho entre as estrelas. Eiram,
girando mares azuis e verdes com tempestades visíveis mesmo de tão longe
quanto estava. Novos destroços deixados pra trás só eram distinguíveis dos
resíduos do passado porque ainda estavam fumegando.
Gella foi lançada na Força. O que esperava encontrar? Alguém vivo.
Alguém gritando por socorro. O piloto, o garoto realmente, Bly Tevin se
foi. Sentiu a sua passagem na explosão sem sentido, como um suspiro final.
Fez um momento de silêncio pelas vidas perdidas, confortada por saber que
estavam na Força, mas o destino do capitão de E'ronoh e do general de
Eiram era indescritível. O seu último vislumbre das duas naves foi quando
elas espiralaram em direção à superfície do planeta oceano.
— Gella! — A voz aguda de Enya cortou a rampa da Valente.
A jovem Padawan esperou que Gella a alcançasse antes de se juntar aos
Mestres Jedi e ao ser que reconheceu como um dos Chanceleres da
República, Orlen Mollo, e dois de seus ajudantes.
Caminhando na direção deles, Gella passou pelas ruínas de um posto de
abastecimento abandonado. Caixotes foram deixados espalhados e
quebrados. A vitrine de uma loja com uma placa que dizia: PEPINOS DA PEDRA
& PROVISÕES exibia uma vitrine quebrada, mas a placa de néon brilhante
zumbia para a vida em intervalos distantes.
— Você deve ser a nossa intrépida piloto, — disse o Chanceler Mollo,
batendo nas costas de Gella com tanta força que teria caído pra frente se
não fosse por seus reflexos rápidos. Era um comportamento muito peculiar,
tanto para um Quarren quanto para um Chanceler da República.
Gella só o tinha visto na HoloNet, que muitas vezes relatava que Mollo
viajava pela galáxia ao som de seu próprio tambor de cordas e com botas
enlameadas e bem gastas, mas ele era exatamente tão animado quanto se
apresentava. Tinha certeza de que teria que esperar até que os Jedi
estivessem sozinhos para entender por que o Chanceler estava no sistema.
— Intrépida de fato, — Mestre Char-Ryl-Roy disse com apenas um
toque de desaprovação.
Gella permaneceu respeitosa, mas piscou para Enya, que ofereceu um
sorriso amigável.
O Chanceler continuou, enredando os dedos grossos nos tentáculos do
rosto da mesma forma que Mestre Roy puxava a barba curta.
— Jedi Nattai, por favor, nos dê um relatório sobre o que você viu lá
fora. Seja os nossos olhos e ouvidos.
Gella olhou para os mestres. Nunca recebeu uma ordem direta de um
representante da República e, mesmo que ele fosse um dos líderes da
República, não estava disposta a quebrar o protocolo. Novamente.
O Jedi Cereano deu um aceno quase imperceptível, provavelmente para
não ofender Mollo. Sentiu-o ao se conectar a Força com encorajamento, e
então contou tudo a eles, embora não refizesse o momento em que se
rebelou. Um dos assessores do Chanceler tomou notas furiosas enquanto os
Quarren se agarravam ao seu relato, como eles fizeram de tudo para impedir
que a nave E'ronoh colidisse com Eiram, e ainda não foi o suficiente.
Quando terminou, Gella voltou o seu olhar para os planetas vermelho e
turquesa.
— Tenho quase certeza de que a capitã e o general estavam vivos
quando as suas naves afundaram. — Houve até um momento em que Gella
quis segui-la, mas sabia que o seu melhor caminho era encontrar-se com os
seus companheiros Jedi.
— A capitã A'lbaran é a princesa de E'ronoh e a última herdeira viva do
Monarca, — disse Enya, irradiando preocupação.
Quando o piloto do transportador de gelo disse
— Muitas desculpas, princesa, — ela presumiu que ele estava sendo
paternalista ao largar a carga para se livrar da confusão. A gravidade da
situação prolongou o silêncio entre eles.
— Katrana, qual é a situação dos reparos? — perguntou o Chanceler
Mollo.
A ajudante humana ergueu os olhos de seu tablet. O seu cabelo estava
nas elaboradas tranças que Gella tinha visto em representantes de Alderaan.
A jovem deu um pequeno aceno de cabeça.
— Mais algumas horas, pelo menos.
— O meu teste de diagnóstico não revelou nada de incomum, — disse
Enya. — E se estivermos sendo bloqueados?
— Não detectamos nada vindo de nenhum dos dois planetas, — disse
Katrana.
— Mestre Sun, — disse Gella. — Gostaria de me voluntariar para levar
o Alfa-3 em uma missão de reconhecimento para descobrir o paradeiro do
capitã A'lbaran.
O Mestre Jedi estava pensando profundamente antes de dizer
— O caminho não está claro. Não devemos nos separar. E se não
pudermos nos comunicar com eles, não quero arriscar que as defesas da
cidade percebam as embarcações estrangeiras como uma ameaça.
Enya fez uma careta.
— Isso não seria um bom presságio para a princesa, então.
Gella acreditava que a capitã A'lbaran estava viva. Não tinha provas e
conhecera a jovem apenas brevemente, mas era um sentimento que
precisava explorar. Precisava de um momento sozinha.
Gella respirou fundo e se abriu para a Força. A sensação, aqui na lua
salpicada de sal, parecia atravessar a borda do horizonte, como se a
qualquer momento ela pudesse se lançar no céu sem fim e saber que estaria
segura no manto da noite. Pode nem sempre seguir ordens, mas seguiu a sua
intuição, mesmo quando isso a colocou em apuros.
Deixando aquela sensação guiá-la, Gella se separou da coorte. Deu
passos cuidadosos pela plataforma de lançamento. Não tinha certeza do que
estava procurando, mas tinha certeza de que saberia quando o encontrasse.
Não havia brisa, apenas sal estalando sob suas botas e cacos de vidro na
frente de uma loja abandonada. Pegadas parciais ainda estavam impressas
no sedimento. Gostaria de ter a habilidade de tocar objetos e ver as
impressões através da Força. Respirou através do nó de frustração
crescendo em seu núcleo, desembaraçou-o como um carretel de linha e
continuou.
O seu mestre, que havia passado para a Força anos antes, havia elogiado
a intuição de Gella, o seu desejo de devorar conhecimento, de questionar
tudo ao seu redor. Uma das lembranças mais preciosas de Gella era do
velho e sábio Jedi dizendo:
— A curiosidade é a sua força, minha Padawan. É o seu próximo passo
em seu caminho Jedi. — Às vezes ela queria que a sua força fosse alguma
habilidade especial como psicometria ou cura, mas então ela lembrou que a
conexão de cada Jedi com a Força era tão única quanto as estrelas da
galáxia. O dela ainda parecia distante, embora brilhante.
Foi ali, entre os entulhos de caixotes virados e os restos do posto de
abastecimento, que notou algo que não havia percebido à primeira vista.
Anéis fracos de sal agitado, marcas de explosão como se de motores turbo.
Talvez uma pequena nave monopiloto.
— Gella. — A voz de Mestre Sun era baixa, preocupada. Ele se
aproximou com cuidado, suas vestes marrons farfalhando em seu rastro. —
O que é isso?
— Acho que encontrei alguma coisa, — disse ela, mesmo que não
conseguisse dar um nome à coisa que havia encontrado. Só que a Força a
havia guiado até este local, esta pilha de caixotes recolhidos, arranjados
quase com muito cuidado. Enfiou a mão dentro de uma caixa e descobriu
que não estava vazia.
Mestre Sun ficou de joelhos para examinar o objeto cilíndrico que tinha
tubos de metal e a cúpula plana de um droide astromecânico. Ele coçou a
mancha acinzentada na têmpora esquerda e deixou os dedos se arrastarem
pela mandíbula em consternação.
— Se eu não o conhecesse melhor, pensaria que alguém construiu um
farol de interferência a partir de achados no ferro-velho.
Gella tirou do coldre um de seus sabres de luz, com o punho da pedra-
da-lua negra frio contra as palmas das mãos. Ela manuseou a lâmina de
plasma violeta, sentiu o zumbido familiar de seu núcleo kyber.
— Espere, não! — Mestre Sun começou, desenhando um golpe de
bloqueio com a Força. Ele derrubou a trajetória de seu balanço para baixo
por um fio, embora ela ainda tenha decapitado o farol.
Gella desligou o seu sabre de luz e se virou confusa para o Mestre Jedi.
— Para o que foi aquilo?
Ele beliscou a ponta de seu nariz, então soltou um longo suspiro de
sofrimento.
— Poderíamos ter rastreado até quem remendou isso.
— Oh, — ela disse, estremecendo no dossel do espaço acima. — Certo.
Talvez ainda possamos?
Mestre Sun ficou de pé, ainda segurando um pedaço cortado do
sinalizador de interferência feito em casa. Não houve tempo para desculpas,
pois momentos depois os outros começaram a correr em direção a eles.
Katrana acenou com o seu datapad.
— Ela está viva. A princesa está viva!
— O que quer que você tenha feito, uma mensagem de Eiram veio em
todas as frequências, — acrescentou Enya.
Gella voltou a sua atenção para a superfície turquesa de Eiram. Ela
sussurrou
— Graças à Força.
— A princesa é a resposta, — disse Mestre Roy com certeza. —
Arranjar uma passagem segura para casa para a capitã A'lbaran é como
podemos convidar o Monarca e a Rainha para uma cúpula de paz.
— Coruscant, talvez? — perguntou o ajudante Nautolano.
Mestre Sun balançou a cabeça pensativamente.
— Devemos manter esta reunião de cúpula aqui.
— Aqui, aqui? — Enya perguntou, apontando para a lua.
A lembrança de um lugar vago e abandonado não teria sido a primeira
escolha de Gella, para o seu entendimento, cada mundo tinha um nome
diferente pra isso. A Valente era um lugar neutro. Embora não exatamente
equipado para a realeza e ainda cheio de assistência médica para Eiram,
mas o Chanceler Mollo estava acostumado a viajar com senadores e líderes
mundiais.
— E a Paxion? — perguntou Gella.
Os olhos azuis do Quarren queimaram de orgulho quando ele se virou
para a sua nave.
— Eu mesmo ia sugerir isso, minha intrépida Jedi.
Quando o Mestre Jedi concordou, o Chanceler Mollo não perdeu tempo
em ordenar ao seus ajudantes.
— Envie mensagens para ambas as capitais ao mesmo tempo. A Paxion
ficará estacionado no corredor entre os mundos. Um trampolim no caminho
para a paz duradoura.
A TORRE, E’RONOH
Phan-tu Zenn nunca tinha estado fora do mundo antes. Se a guerra nunca
tivesse começado, teria sido o embaixador de Eiram em E'ronoh e no resto
da galáxia quando assumiu oficialmente seu lugar como herdeiro. Em vez
disso, permaneceu enraizado em sua casa, nas correntes dos oceanos que
conhecia melhor do que as linhas nas suas palmas das mãos.
Enquanto eles entravam no transporte, todos os esforços de Phan-tu
foram para manter a sua refeição anterior no estômago. A delegação de
Eiram consistia na rainha Adrialla, a sua consorte, a capitã Xiri, uma dúzia
de guardas pessoais da rainha e Phan-tu. Amarrou-se em um assento na
parte de trás do transporte, grato pela luz baixa para esconder que estava
suando através de sua seda brilhante. Desabotoou os fechos superiores de
sua túnica, mas pouco ajudou a aliviar o aperto em torno de seus pulmões.
Estava vagamente ciente de que o capitão estava falando, anunciando a
decolagem. Estava muito preocupado com o barulho repentino. Os
transportes deveriam chocalhar? O que aconteceu quando eles chegaram
acima das nuvens? Tinha visto naves se abrirem na atmosfera, naves sólidas
feitas de metal sólido reduzidas a pedaços. O que impediria a nave deles de
fazer o mesmo? E então um pensamento mais sombrio passou por sua
mente, e se o Monarca fosse tão louco quanto eles disseram? Louco o
suficiente para sacrificar a sua filha para destruir a rainha. Todos eles
compactados em pouco mais que painéis de aço voando pelo céu. E se...
— Respire. — Primeiro veio o sussurro dela, depois a mão dela na dele.
Respire, comandou o seu corpo, e depois de várias tentativas, ele fez
exatamente isso. Se pensasse em voar para o espaço como prender a
respiração por tempo suficiente para mergulhar em busca de pérolas no Mar
de Erasmo, isso poderia tornar as coisas mais fáceis.
A princesa tirou a mão da dele, então deu uma risada achando graça e
balançou a cabeça. Um cacho ruivo saiu de sua trança e pousou sobre a sua
bochecha.
— O que? — ele perguntou.
— Você mergulhou no oceano, depois se agarrou ao casco do meu caça
estelar enquanto despenhávamos vários metros abaixo da água, mas isso o
deixa nervoso?
Como poderia explicar que o oceano não iria machucá-lo? Claro que era
absurdo. As pessoas morriam de monções todos os anos. Perdidos em
acidentes de barco ou tubarão krel nas profundezas, ou arrastados pelas
correntezas. Ele foi puxado para o mar, e este o abraçou, devolvendo-o à
costa inteiro e seguro.
— Eu conheço o oceano, — disse ele, mantendo a voz baixa. — Nunca
sobrevoei Eiram.
Ela assentiu, mas franziu as sobrancelhas.
— Já passamos pelo pior.
Fácil pra ela dizer. A capitã A'lbaran esteve na linha de frente da guerra
por meia década. Mais de uma vez, ouviu o general Lao amaldiçoar o nome
dela durante instruções militares.
Phan-tu se recostou na cadeira, sentindo cada mergulho, cada curva,
cada inclinação da transporte. A rainha Adrialla olhou para ele uma vez,
depois para Xiri. Não era exatamente uma preocupação que passava por
suas feições reais, mas às vezes, a sua mãe era um mistério até mesmo para
aqueles mais próximos a ela. Talvez ela se perguntasse se ele era forte o
suficiente para liderar Eiram quando chegasse a hora. Talvez ela duvidasse,
até se arrependesse, de tê-lo escolhido, um garotinho do lodo. Talvez seu
medo de voar estivesse dando lugar a medos ainda maiores, aos quais não
conseguia expressar.
Sabia, mais do que ninguém, com que rapidez as coisas poderiam mudar.
Em um momento eles estavam em guerra com E'ronoh, uma guerra sobre a
qual a sua avó lhe contara histórias. No seguinte, estava explodindo no
corredor entre os planetas para uma cúpula de paz.
Em um momento estava em sua casa fechando as janelas com tábuas
enquanto a tempestade avançava, e no seguinte era puxado para o mar
quando uma monção quebrou as ripas e o agarrou como um punho.
Em um momento estava distribuindo alívio, no próximo havia uma
princesa ruiva segurando uma faca na sua garganta.
Quando eles finalmente atracaram, Phan-tu sabia que tinha que estar
pronto para qualquer coisa. As suas mães precisavam que fosse forte, e esse
pensamento o carregou quando colocou um pé na frente do outro através do
tubo de atracação e a bordo da Paxion.
Uma coorte de Jedi junto com o próprio Chanceler os cumprimentou
antes de serem conduzidos por assessores da República. Todos menos Xiri,
que estavam sendo levados por outro corredor.
— A delegação E'roni estará na ala a bombordo, — o Chanceler
explicou, lendo a confusão no rosto de Phan-tu. Embora não importasse
para ele onde a capitã A'lbaran ficava. Eles haviam feito a sua parte — a
promessa dele de mantê-la segura e trazê-la um passo mais perto de casa.
Xiri voltou-se para a rainha e para a consorte e baixou ligeiramente a
cabeça.
— Obrigada por manter a sua palavra.
— É o meu gesto em direção a uma paz compartilhada, — disse a
rainha. — Vamos esperar que o seu pai seja influenciado por sua coragem.
— Ele será, — disse Xiri, sua voz afiada como aço. Embora Phan-tu
tivesse sofrido um pequeno problema quando ameaçou tirar a própria vida.
Sabia que ela faria isso, viu a determinação em seus olhos. Ela estava
pronta para fazer um sacrifício, apesar de seu medo pessoal.
A República, os Jedi, E'ronoh e Eiram. Todos estavam prontos para
contribuir com esse esforço.
Naquela noite, Phan-tu ficou acordado por horas em uma cama estranha,
longe de casa, imaginando o que daria para ver Eiram seguro.
— Tudo, — ele sussurrou para si mesmo. — Tudo.
AR-K4 estava tendo um dia muito bom. Então, novamente, todos os dias
cumpria a sua programação, para garantir que tudo a bordo da Paxion fosse
perfeito, era um dia muito bom.
Não via o Chanceler Mollo tão nervoso desde o primeiro dia de seu
novo mandato. Naquela manhã, encontrou vestígios de tinta nos seus
lençóis, o que significava que ele provavelmente teve pesadelos. Não
importa. Os pesadelos passavam e, se alguém conseguia passar por isso, era
o orgulho de Mon Cala.
AR-K4 bateu na porta da suíte de Eiram. Uma mulher humana, de
aproximadamente cinquenta anos padrão, com pele morena clara, olhos
escuros e cabelos pretos lisos respondeu.
— Sim? — ela perguntou impaciente.
— Sóis brilhantes, — disse AR-K4, tentando uma saudação que
aprendera em um dos últimos planetas que visitaram. A programação dela
não era atualizada há algum tempo, nem eles ainda tinham um banco de
dados completo dos costumes de Eiram. — Estou aqui em nome do
Chanceler Mollo. As suas acomodações são...
— A rainha está se preparando, — disse a mulher, apertando o manto.
— Se o Chanceler tem medo de que tenhamos fugido no meio da noite,
deixe-o saber que ainda estamos aqui.
A porta sibilou fechada antes que AR-K4 pudesse reconhecer a sua
declaração.
— Que peculiar.
— Desculpe-me, — disse uma voz baixa e agradável apenas uma porta
depois. — Você pode me dizer onde ficam as cozinhas?
AR-K4 se virou para encontrar um macho humano com algumas sardas,
da delegação Eirami. Ela registrou esse detalhe, pois nunca havia visto a
semelhança.
— A sua refeição deve ser trazida para você, senhor.
— É apenas Phantu. E está tudo bem. Eu gostaria de caminhar,
obrigado.
Que boas maneiras para um garoto bonito, ela pensou.
Depois de apontar a direção certa, ela se apressou, repreendendo a
equipe de atendimento quando descobriu que alguém havia mudado o seu
arranjo de travesseiros na sala de visitas. Eles tinham a realeza a bordo. Eles
não entendiam que tudo tinha que ser perfeito?
AR-K4 alcançou a fileira de suítes atribuídas aos Jedi, mas as encontrou
vazias. Ela rastreou o Jedi na sala de treinamento. Quatro deles, três
humanos e um Cereano. Cada um deles sentado em transe meditativo.
Chanceler Mollo não gostaria que os seus convidados Jedi fossem
interrompidos, então deixou os estimados convidados do Chanceler com os
seus negócios Jedi.
Isso só deixou a princesa Xiri A'lbaran. Quando AR-K4 chegou ao
quarto da capitã E'roni, a porta ainda estava aberta. Que irregular, ela
pensou, e seguiu uma voz suave para dentro da suíte. Sentada em uma mesa
oblongada estava uma fêmea humana ruiva. O seu cabelo estava solto, e ela
estava vestida com o vestido militar escarlate de seu planeta, a costura
perceptível ao longo de um rasgo no braço. Certamente não era apropriado
para a ocasião, embora a sua programação entendesse que uma pessoa do
posto de capitã não iria querer vestir nada além de seus trajes do mundo
para esta cúpula.
— Sei que nem sempre concordamos em nossa abordagem em relação a
Eiram, — disse ela. — Mas eu estou pedindo, por favor, Jerrod. Ajude-me a
convencer o meu pai a vir aqui. Ele não respondeu às minhas
comunicações, mas sei que ele pensa muito de você. Assim como eu. Por
E'ronoh.
Quando a gravação terminou e uma mensagem piscou com a
confirmação, o droide de protocolo se deu a conhecer.
— Posso ser de alguma ajuda?
A jovem piscou e olhou para a porta. Pela primeira vez, AR-K4 notou a
pilha de vestidos espalhados pela cama, botas e sandálias espalhadas.
— Acho que assustei o último atendente.
— Sou AR-K4, enviada galáctica do Chanceler Mollo, — disse ela. —
Não posso me assustar. Como posso ajudá-lo?
— Nunca tive estranhos me ajudando a me vestir, — ela admitiu.
AR-K4 disse
— Fui programada com trezentas maneiras de preparar espécies para
assembleias políticas. Posso?
Hesitação, depois os ombros retos de um soldado.
— Por favor.
O AR-K4 começou a trabalhar, torcendo e trançando as grossas ondas de
cobre em algo mais adequado.
— Se tivesse tempo, eu...
O som pulsante dos sensores de alarme ressoou pela sala.
— O que está acontecendo? — perguntou a capitã A'lbaran, pondo-se de
pé e correndo descalça para o corredor. Isso foi muito impróprio.
AR-K4 correu atrás dela e a encontrou mais adiante no corredor de
estibordo, de frente para uma janela. Juntou-se a ela o jovem de boas
maneiras, Phantu, e alguns dos empregados que faziam recados. No
corredor do espaço, as naves de perfuração que o Chanceler Mollo havia
denunciado estavam se movendo, quebrando a formação em que estavam há
aproximadamente dez horas.
— Canhões a estibordo, posição travada, — veio um anúncio da ponte.
— Aguardando ordens.
— Onde está o Chanceler Mollo? — a capitã A'lbaran perguntou a ela.
— Você não conseguirá atravessar a nave a tempo, — explicou AR-K4.
— Eles aguardarão as ordens do Chanceler.
— Devo alertar as minhas mães — disse o homem de Eirami, mas
quando olhou para a capitã A'lbaran, para o modo como ela prendeu a
respiração e manteve os punhos cerrados ao lado do corpo, ele pareceu
hesitar entre ficar e partir.
Ele ficou.
AR-K4 deveria estar voltando para o lado do Chanceler Mollo, mas a
sua programação guerreou com a sua última diretiva para garantir que os
seus convidados estivessem bem, e eles visivelmente não estavam.
Calculou os resultados de cada cenário à frente.
— A probabilidade de sobrevivência é de catorze ponto sete, seis, oito,
um...
Então, quando as naves de perfuração se separaram, um transporte
quadrado laranja disparou pelo espaço entre e em direção ao hangar de
estibordo, deixando as naves de perfuração pra trás.
— Cessar fogo! — gritou o Chanceler Mollo pelos alto-falantes da nave.
— Desativando canhões, — o capitão da nave repetiu a ordem.
A princesa E'roni respirou lentamente, então fechou os olhos com alívio.
— Esse é o transporte do meu pai. Eu... eu sabia que ele viria.
— Acho que perdi vários anos da minha vida, — disse Phantu,
provocando uma risada estrangulada da princesa.
O sensor de alarme e as luzes piscando pararam quando a ameaça foi
removida.
AR-K4 disse
— A probabilidade cumulativa de morte é de um ponto...
— Mesmo agora? — Phantu perguntou com um tom de surpresa.
— Levando em conta o comportamento das espécies e adicionando a
taxa de mortalidade do setor, incluindo acidentes, sim, — explicou AR-K4,
enquanto seus sensores internos eram recalibrados no dia seguinte. —
Agora devemos nos apressar. Isso nos deixou minutos atrasados.
— Obrigado, AR-K4 — disse a capitã A'lbaran, sorrindo pela primeira
vez naquela manhã antes de voltar correndo para a suíte. O homem Eirami
fez o mesmo.
— Não me agradeça, — disse ela, voltando aos aposentos do Chanceler
Mollo. — Agradeça ao Criador.
A BORDO DA PAXION
— Casar. — Não importa quantas vezes Phan-tu Zenn tenha dito a palavra
desde que a realeza de E'ronoh fugiu da sala, ainda se perguntava se havia
sonhado. Ou seja, porque por uma noite, só uma, ele sonhou.
— Verdade seja dita, — Odelia, a rainha consorte, disse, ajustando a
faixa fina mantendo o seu véu transparente no lugar, — como o Chanceler,
eu queria sugerir tal coisa eu mesma, mas pensei que era impossível. Que a
princesa Xiri esteja fazendo a oferta, bem, me dá esperança de que haja
alguém naquela linhagem com razão. Você estava certa sobre ela, meu
amor.
— Mãe, diga alguma coisa, por favor. — Phan-tu passou a palma da
mão sobre a da rainha. Ela estivera distante, não só depois da declaração de
Xiri, mas antes disso. Ele sabia que ela contaria a ele quando estivesse
pronta. Ela sempre fez isso.
A rainha Adrialla apoiou o queixo na mão daquele jeito elegante dela e
olhou para a coorte Jedi.
— Acho que essa era sua ideia de resolução pacífica.
A Jedi, Gella Nattai, deu um passo à frente. As suas ondas pretas soltas
o lembraram de um derramamento de tinta. O conjunto severo de suas
sobrancelhas suavizou enquanto ela tentava se explicar.
— Estávamos simplesmente falando sobre a última paz duradoura. Não
pensei que a princesa fosse agir tão rapidamente.
— É assim que você controla a sua Jedi, Mestre Roy? — a mãe dele
perguntou.
O Cereano apareceu em toda a sua altura.
— Acreditamos que Gella tinha as melhores intenções. Todos nós
queremos a mesma coisa.
— Nós? — a rainha perguntou, mas lançou a sua voz tão baixa que
Phan-tu se perguntou se os outros ouviram.
— Eu acho que é romântico, — a mais nova deles disse, gesticulando
em direção a Phan-tu. — Eu sinto que você está animado.
Ele se levantou, batendo em seu torso. Ela estava nele com as suas
magias Jedi? Ele ficou constrangido em admitir que não entendia bem os
limites de suas habilidades.
— Quando eu era garota, — disse a rainha, — a minha mãe escolheu um
marido pra mim. Um dos barões de Pantora que queria cavar os nossos
oceanos para combustível. Teria sido uma boa aliança.
Odelia pousou a mão sobre a da mulher.
— Pena para o barão que você me conheceu primeiro.
A rainha Adrialla sorriu, com os seus olhos castanhos se suavizando
quando se virou para encarar Phan-tu.
— Eu não quero fazer o mesmo com você. Eu quero que você
experimente o amor. Parceria. Não somos como E'ronoh, frios e calculistas
com corações feitos de pedra e barro.
Phan-tu se irritou com as palavras. Mesmo que fosse um refrão bastante
comum sobre os seus inimigos, não gostou de falar em voz alta com a sua
delegação fora da sala. Especialmente se ele fosse se casar. Em primeiro
lugar, teve que treinar a sua mente para não pensar neles como inimigos.
Embora se procurasse em seu coração, nunca realmente o fez.
Pelos deuses, poderia fazer isso? pela sua rainha. pela sua família, os
que o escolheram e os que o mar levou. Para as pessoas que um dia
olhariam pra ele como um líder.
Lembrava-se de estar debaixo d'água e ver o rosto de Xiri, o medo ali
mesmo quando ela estava a segundos de se afogar. Ela sempre teria uma
fração desse medo quando olhasse pra ele? Quando eles desembarcassem,
ela teria caído sobre a sua lâmina em vez de ser feita prisioneira. A mesma
lâmina com a qual ela o cortara, bem embaixo do queixo. Tocou com o
dedo ali, no ponto que não tinha nem cicatriz. O seu pulso estava frenético
com a memória, e agora ela queria uni-los, os seus mundos, as suas
famílias, os seus planetas.
— Ela é muito bonita, — disse a rainha.
— Mãe, — Phan-tu sussurrou. — Você não deve se preocupar com o
que você desejou para mim. Você me deu tudo, coisas que eu nunca sonhei
em ter. Com esta guerra terminada, poderíamos reconstruir. Poderíamos...
— Você está dizendo que vai fazer isso? — A pergunta partiu do
Chanceler Mollo. O Quarren estava observando tão tenso do outro lado do
círculo, Phan-tu continuou pensando nele como uma estátua ou um droide
desligado. Agora os seus tentáculos se mexeram e ele soltou uma risada
nervosa. — Casar, quero dizer.
O seu corpo inteiro entorpeceu com a palavra. Foi antecipação? Ou era
pavor? Ele não teve tempo de determinar qual, porque tudo o que viu foi o
clarão vermelho quando Xiri entrou novamente na sala. Phan-tu conseguiu
prender a respiração por aproximadamente onze minutos, mas naquele
momento, um segundo foi o suficiente para ele sentir a queimação de seus
pulmões. Mechas de cachos ruivos se desfizeram de sua coroa trançada e
seus dedos dos pés estavam nus, mas ela caminhou como alguém que
sempre soube que seria rainha. Provavelmente deveria se oferecer para lhe
dar os seus sapatos. Isso seria impróprio?
Afastou o ataque das perguntas em sua mente enquanto o Monarca a
seguia. Desta vez, ele estava sozinho. Não havia capitão Segaru, nem vice-
rei Ferrol e nem guardas. A sua bengala estalava com força a cada passo
decisivo enquanto voltava para o seu assento.
Xiri sorriu como quem está tão perto da vitória. Ele a ajudaria a
encontrá-lo.
— Já pensou na minha proposta? — ela perguntou, sentando-se ao lado
de seu pai.
— Querida, — disse a rainha Adrialla, com uma pitada de humor em sua
reprimenda. — Se quisermos ser uma família, preciso saber que você se
importa com meu filho mais do que um entendimento mútuo de paz.
Xiri se mexeu desconfortavelmente por um momento, seus grandes
olhos cor de âmbar voltando-se para ele. Ele tentou, e não conseguiu,
reprimir o seu sorriso. — Há muito que devo aprender sobre os seus modos,
assim como você aprenderá sobre os nossos, mas pelo que sei de Phan-tu
Zenn, sei que ele é gentil e corajoso. Ele será um parceiro admirável. Se ele
concordar.
Todos se voltaram para ele. Os Jedi, que provavelmente já estavam em
sua mente e sabiam o que ele diria, e o Monarca, e todos os membros da
delegação da República.
— Concordo com a proposta da capitã A'lbaran — disse ele, adotando o
seu comportamento mais adequado e cortês. — Desde que E'ronoh chame
as suas naves de órbita imediatamente.
O Monarca examinou Phan-tu, as bochechas tremendo quando ele
assentiu.
— Muito bem.
Xiri soltou um suspiro, com os seus nervos finalmente aparecendo
quando a tensão na sala deu lugar à celebração. Ela alisou a frente do
vestido e não perdeu tempo.
— Eu estudei os holos que a Jedi Nattai adquiriu e notei atividade e
inquietação em todo o planeta. Teríamos que visitar esses locais o mais
rápido possível.
— Faça com que o general interino emita uma declaração de retirada, —
disse a rainha Adrialla, depois a entregou ao Monarca.
— O meu vice-rei está, indisposto, mas vamos emiti-lo imediatamente,
— acrescentou o Monarca concisamente.
— E o casamento? — Consorte Odelia perguntou, batendo os topos de
seus dedos juntos.
O rosto de Xiri estava calmo, como se ela estivesse discutindo quanto
açúcar queria no chá.
— Prevejo que precisaremos de cerimônias tanto em E'ronoh quanto em
Eiram. Phan-tu?
— Naturalmente, — a Rainha Adrialla disse antes que ele pudesse.
— Se me permitem, — Mestre Sun interrompeu. O severo homem
humano estava parado com as mãos entrelaçadas na frente. — Esta pode ser
uma oportunidade de mostrar à galáxia o que você fez.
— Excelente, Mestre Jedi, — disse o Chanceler Mollo. — Pense nos
convites. 'A Guerra Eterna chegou ao fim.' Líderes de toda a galáxia se
reunirão aqui e verão que este sistema é seguro para rotas comerciais mais
uma vez. Vocês serão um símbolo de esperança para toda a galáxia —
inimigos finalmente unidos.
Phan-tu deixou que as palavras do Chanceler fossem absorvidas e viu
outra oportunidade.
— Por mais que gostássemos de receber centenas de pessoas, não
podemos. A menos que tenhamos a ajuda da Ordem Jedi e da República
para reconstruir a tempo para as cerimônias, quero dizer.
Um canto dos lábios de Xiri enganchou em um sorriso.
— A República também teria que suspender as sanções contra E'ronoh.
O Chanceler Mollo pareceu desapontado com isso, mas ele se
encurralou e sabia disso.
Phan-tu percebeu então que precisava fazer as coisas corretamente. Ele
teve que presentear Xiri com uma nova coleção de pérolas. Ele teve que
compartilhar uma refeição com a família dela. Eles viveriam em Eiram ou
E'ronoh? Teriam filhos ?
— Em quanto tempo podemos providenciar isso? — perguntou a
consorte Odélia.
— Primeiro, — disse Xiri, — devemos contar ao nosso povo.
Phan-tu concordou com a cabeça. Pensou nas cidades e pequenos postos
avançados devastados ao longo dos anos. O seu coração doía por uma razão
inteiramente nova.
— Devemos ir pessoalmente.
Xiri olhou pra ele com curiosidade, como se a tivesse surpreendido.
— Concordo. Traremos as notícias e ajudaremos a distribuir ajuda como
sinal de unidade e paz.
— Isso não é uma opção, — disse o Monarca, batendo com a bengala no
chão. — Não podemos esquecer que tudo começou porque a vida da minha
filha estava ameaçada. Temo que a notícia aborreça muitos que sempre se
oporão a tal união.
A rainha suspirou. Ela raramente concordava com o Monarca, mas
escolheu aquele momento para fazê-lo.
— Em ambos os mundos.
— Vamos fornecer escoltas de segurança, — disse Mestre Roy, olhando
para Gella. — Permanecemos aqui para ajudar a estabelecer uma resolução
pacífica e veremos isso até o fim.
— Uma campanha, — sugeriu o Chanceler Mollo, acenando com a mão
em um arco, como se estivesse escrevendo as palavras no céu simulado.
— Então está resolvido, — disse Xiri.
Phan-tu nunca havia estado noivo antes. Nunca havia realmente
considerado isso, embora soubesse que, eventualmente, seria esperado. Não
era uma questão de se, mas quando, e enquanto se levantava e caminhava
em direção a Xiri, capitã, princesa, a sua noiva, agora parecia um momento
tão bom quanto qualquer outro. Ela se levantou e o encontrou no meio do
caminho. Desembainhou a sua lâmina destruidora e a devolveu a ela. Ela
envolveu dedos longos gravados com cicatrizes finas ao redor do punho e
pressionou-o contra o coração, em seguida, ofereceu a mão livre.
— Por Eiram, — ela disse.
Sentiu um leve tremor ao toque dela. Temor? Esperança?
E disse
— Por E'ronoh.
Não houve comemoração, ainda não. Quando Phan-tu Zenn entrou em sua
suíte, ainda não conseguia acreditar nas últimas horas. Tirou as roupas na
porta e entrou no banheiro. Iria se casar. Ele iria se casar com a princesa de
E'ronoh.
Levou esse pensamento consigo enquanto limpava o suor frio e nervoso
em sua pele. Quando terminou, a tensão em seu corpo deu lugar à exaustão.
Antes de ir pra cama, sentiu o cheiro de algo que não sentira antes. Um
toque de fumaça e uma doçura enjoativa.
— Olá? — ele chamou para a sala vazia.
Quando nada e ninguém respondeu, ele zombou de si mesmo. Estava
nervoso. Quem não seria?
Então Phan-tu puxou as pesadas cobertas de sua cama e encontrou o
corpo do capitão Jerrod Segaru, com olhos e boca abertos mesmo na morte.
Axel Greylark estava a caminho.
Fez algumas paradas. A sua mãe havia dito para partir para E'ronoh
imediatamente, carregando uma carga cheia de caixotes de duraço cheios
até a borda com rações de comida e qualquer outra coisa que a benevolente
República achasse por bem enviar para os planetas atrasados. E partiu
imediatamente. No entanto, a Chanceler Greylark não disse nada sobre a
rota que deveria seguir.
Axel havia mergulhado a Entardecer na primeira sequência de saltos
pelo hiperespaço. Antigamente, era a nave de seu pai, equipada com quatro
turbopropulsores e cromado reluzente. As únicas atualizações que Axel se
permitiu fazer foram um hiperpropulsor de primeira classe e uma torre de
canhão, o que era inútil, pois não precisava mais contratar uma equipe. Essa
tinha sido uma vida diferente, uma que deixou pra trás. Majoritariamente.
Era apenas ele e QN-1, que desaprovavam qualquer desvio ao longo da rota
traçada para a Orla Exterior.
Houve uma cantina em Bardotta, uma fuga rápida de um antigo parceiro
de negócios em Lorta e uma corrida. No último caso, ele foi um participante
acidental, mas se manteve firme, testando os limites da Entardecer
enquanto cortava a escuridão do espaço como uma foice cromada.
Quando finalmente alcançou um setor com melhor conexão com a
Holonet, a sua mãe enviou um lembrete de que precisava cumprir a sua
promessa. O único problema era que não conseguia se importar. Não se
importava com a guerra em Eiram e E'ronoh. As únicas certezas no cosmos
eram a guerra e o caos, e apenas uma dessas coisas o atraía. E ele não se
importava com o fato de sua mãe e o Chanceler Mollo provavelmente terem
cutucado e cutucado aquele setor com a sua missão de "unir a galáxia". A
galáxia queria ficar sozinha. Ou talvez estivesse projetando isso.
E então não havia terminado a corrida, não que fosse ganhar.
Simplesmente queria voar mais rápido, mais fundo nas estrelas até que algo,
ou alguém, o parasse.
Redirecionou o curso para Eiram, aterrissando lá por um atalho de
estradas vicinais que aprendera com algumas companhias pouco educadas
que mantinha. Quando o seu computador de navegação anunciou a
aproximação, QN-1 emitiu um alerta.
— Não estamos atrasados, — disse Axel inflexivelmente.
Pela primeira vez desde que deixou Coruscant, Axel teve aquela
sensação de afundamento no centro do peito novamente. QN-1 cutucou-o
com a sua cúpula, emitindo um brilho azul calmante de seu painel no peito.
O droide de terapia que ele tinha desde a morte de seu pai estava mais
sintonizado com a sua emoção do que ele mesmo.
Axel balançou a cabeça.
— Estou perfeitamente bem. Avaliar a paisagem é tudo.
Os planetas de cobre e turquesa surgiram à frente. Notou a curiosa lua
prateada entre eles, o rio de lixo e duas Proa-Longas estacionadas no centro
de tudo. Saudou a Paxion, mas ninguém respondeu. Não importa, tinha
códigos de liberação automáticos.
O escudo do hangar caiu e ele navegou para a plataforma de lançamento
lotada. Talvez ele estivesse atrasado. Ele prendeu o fecho de sua capa cinza
e baixou a rampa de embarque. Os propulsores brancos do QN-1 se
nivelaram em seus ombros, acompanhando os seus passos largos.
— Isso é estranho, — disse Axel. — Onde está todo mundo?
QN-1 sugeriu que eles estavam dormindo, mas as luzes ainda estavam
brilhantes e, além disso, isso não explicaria a ausência do controlador de
tráfego. Não que esperasse uma festa de boas-vindas, mas esperava alguns
rostos familiares da tripulação. A menos que tudo já tivesse dado errado e
eles tivessem se matado.
— Não importa. — Não era sua primeira vez a bordo da nave adaptada
do Quarren. Até tinha um quarto favorito, decorado como uma cidade no
céu. Foi até lá, precisando de um momento de silêncio antes de se
apresentar ao encontro de paz. A sua mãe receberia a sua atualização
quando estivesse bem e pronto, mas enquanto entrava na Paxion, um pisca-
alerta piscou no alto.
— Vamos esperar em nossa suíte, — Axel disse a QN-1.
A equipe da República e os droides viraram uma esquina com pressa,
enquanto os corredores seguintes estavam cheios de soldados confusos e
muito agressivos, vestidos de vermelho e cinza. Algumas pessoas olharam
pra ele como se ele fosse a anomalia, e não a cúpula de paz obviamente
fracassada.
— Grave isso, QN-1, — Axel sussurrou.
Quando encontrou a sua suíte, ela estava trancada. Claro que estava.
Esfregou a nuca e passou para o próxima. Também bloqueada. Avançou e
encontrou uma suíte totalmente aberta.
— Mollo, — disse ele, surpreso ao ver não só o Chanceler parado ali,
mas vários outros. O Quarren parecia muito preocupado para cumprimentá-
lo adequadamente e nem mesmo questionou a chegada de Axel, embora ele
não tivesse avisado que estava vindo. O Chanceler acenou pra entrar. Axel
claramente havia interrompido alguma coisa, mas como ninguém estava
falando, ele continuou andando. Uma agulha de ira o picou quando ele viu
dois Jedi vestidos. Ele fixou os olhos em uma delas, uma mulher de olhos
escuros com pele bronzeada, e viu a sua desaprovação instantânea na sutil
contração de seus lábios carnudos.
Quase tropeçou. Por pouco. Foi rápido em seus pés e se jogou no sofá de
pelúcia ao lado de um homem humano com cachos escuros. QN-1 apitou
uma sequência confusa e conferiu com um droide de protocolo frenético.
Axel se inclinou para a frente, pegou uma carambola da tigela sobre a
mesa, deu uma mordida na fruta crocante e azeda e perguntou
— O que eu perdi?
O solo era de rocha sólida e, portanto, eles não podiam cavar uma sepultura.
Em vez disso, a Cavaleira Jedi, os herdeiros e o Príncipe de Coruscant
cobriram seu corpo, e os restos do segundo soldado, do sol e dos necrófagos
com grandes pedras. Phan-tu carregou os restos do peitoral de Salas para
levar para a sua família, mas primeiro, eles tiveram que investigar as
alegações do soldado caído.
A bordo da Amaryliss, Gella limpou os arranhões nas palmas das mãos e
um corte fino na bochecha de Axel. Indolor em comparação com o que
Salas havia passado, mas forçou Gella a voltar a um sentimento de fracasso
que pensava ter superado. Estava começando a perceber que talvez fosse
um sentimento que nunca ia embora, algo que sempre teria que trabalhar
para superar.
A noite caiu rapidamente no deserto enquanto eles se reuniam no
convés. Comeram carne fria e pão em silêncio, todos exceto Phan-tu, que se
encostou no mirante, assim como na manhã em que partiram.
Gella tentou recuperar o foco, então pensou que talvez a melhor maneira
de fazer isso fosse repetir aqueles momentos em um loop mental. Para
revivê-lo, para ver cada momento à medida que se desenrolava. E então
deixá-lo ir.
Ao lado dela, Axel continuou tocando o seu corte e estremecendo. Ele
foi quem a puxou de volta da explosão, percebeu.
— Obrigada, — ela lhe disse.
Ele a cumprimentou com um breve aceno de cabeça, tomou um gole de
seu frasco e o passou para Xiri, que o passou para Gella. Quando girou o
metal frio na ponta dos dedos, se perguntou como ele era tão hábil em
enterrar as suas emoções. Talvez algumas pessoas fossem contradições.
Talvez entender alguém completamente significasse aceitar essas
contradições. E por que isso deveria incomodá-la quando, depois disso,
nunca mais veria Axel Greylark?
Quando Phan-tu voltou a se sentar ao lado de Xiri, começou o seu
interrogatório. Puxou um holograma da topografia. Mais terras secas, mais
cânions.
— Nas gravações que Gella obteve enquanto estávamos a bordo da
Paxion, — disse Xiri, — esta área era um ponto morto. Nunca houve luta
em solo aqui.
— Quem deixou as minas terrestres pra trás não recebeu a diretiva, —
Axel entrou na conversa.
— Aqueles deveriam ter sido recolhidos no início da guerra. — Xiri
exibiu a sua culpa para todos verem. — Antes que as coisas piorassem de
novo.
— E quanto aos prisioneiros? — perguntou Gella.
Ela olhou para Phan-tu enquanto dizia
— Todos os prisioneiros receberam ordens de serem libertados...
Axel deu um gole em seu frasco.
— A minha questão ainda está de pé.
— O que sabemos sobre a aldeia mais próxima? — perguntou Gella.
Xiri expandiu a região do holo.
— A'ranni está no coração de Terras Desoladas e em nossa rota de
socorro. Principalmente fazendas de iazacais, mas desde a seca, a guerra e
mais seca, a produção praticamente parou.
— Se houverem mais soldados de Eiram lá, — disse Phan-tu, — como
vamos tirá-los?
Axel levantou um dedo em questão.
— Não que eu esteja questionando a nossa habilidade coletiva, mas se
estamos nos aventurando em um lugar tão charmoso chamado Terras
Desoladas, não deveríamos pedir reforços?
— Devemos saber o que estamos enfrentando primeiro, — Gella
rebateu. — A razão pela qual estamos aqui é porque a capitã A'lbaran não
queria soldados marchando por E'ronoh.
— Se sairmos agora, chegaremos lá em algumas horas, — disse Xiri, —
então prosseguiremos na calada da noite. A'ranni é pequena.
Arrastou o dedo pela projeção do mapa.
— Mas sobre esta convocação de paz, há uma rede de arcos de pedra e
cavernas. É onde eu me posicionaria se estivesse liderando o ataque. Há
muita cobertura, muitos lugares para se esconder.
— Sem mencionar que provavelmente mais brinquedinhos divertidos
vão nos explodir, — Axel murmurou. — Posso sugerir que você se
posicione e ordene que eles se retirem e libertem todos os prisioneiros?
— Depois de Barakat, quero me preparar para qualquer coisa. — Xiri
franziu a testa, como se estivesse se preparando para enfrentar qualquer
outro desafiante que surgisse em seu caminho. — Assim que reunirmos
informações, saberemos como proceder.
— Eu fico com o primeiro turno, — Phan-tu ofereceu.
O peso do dia caiu sobre Gella, e ela se juntou à princesa Xiri enquanto
se desculpava para ir para o convés inferior.
— A Força estará do nosso lado, — Gella a assegurou.
Ao dar o primeiro degrau na escada, ela pegou o Príncipe de Coruscant
fazendo uma careta em direção ao horizonte e dizendo
— Prefiro ter a sorte do meu lado.
Phan-tu Zenn nunca teve medo do escuro, até que ele o devorou. Caindo
pela rede de túneis sob o cume da montanha, ele atacou. Agarrado ao nada.
Era um sonho recorrente, aquela sensação de que tudo o que tinha era um
sonho e um dia voltaria à realidade e o mergulho não seria nada como o
conforto do seu oceano. Essa segurança era uma ilusão, uma promessa não
cumprida que fez ao povo de seu planeta. E agora, ao povo de E'ronoh.
Quando pousou, não se mexeu com medo de ter quebrado alguma coisa.
Lentamente, mexeu os dedos das mãos e dos pés, empurrou-se para cima,
apenas para fazer o chão se mover. Mudar. Ele não conseguia ver nada, nem
mesmo a sua mão flexionada na frente de seu rosto. Enfiou a mão nos
bolsos, mas não trouxe nada que fornecesse luz. Estendeu a mão para tocar
o chão, e os seus dedos saíram polvilhados com areia em pó. Inalou o
aroma fresco e mineral da pedra, sentiu as reentrâncias de minúsculas
partículas incrustadas nela. Restos de quando os cânions de E'ronoh podem
ter sido divididos por rios, cobertos por oceanos. Há muito tempo, apenas
os fragmentos de conchas petrificadas em pedra permaneceram como
evidência.
Talvez tenha havido um tempo em que o seu mundo e o de Xiri não
eram muito diferentes.
O pensamento dela, de Gella e até mesmo de Axel o trouxe de volta à
vida. Precisava voltar até eles, mas não sabia uma saída. Ouviu um grito
distante vindo da superfície. Tentou encontrar sulcos e entalhes ao longo da
pedra, mas os túneis eram muito lisos e ele apenas deslizou de volta para
baixo. Com os nós dos dedos e as palmas das mãos feridos por tentar
escalar, permaneceu de joelhos.
Nunca pensou, por um momento, que se amarrar à princesa Xiri o
levaria até aqui; nem pensou que seria fácil. Simples. Uma dor que poderia
ser suavizada como os sulcos na pedra ao seu redor. Isso levou tempo.
Levou erosão, desgaste. Riu, sozinho e no escuro. Não foi isso que Axel
disse a ele momentos antes? Mas se o herdeiro do inimigo de longa data de
seu mundo podia cantar uma canção marítima de Eiram para um soldado
moribundo, então não era algo sobre o qual eles poderiam construir?
Phan-tu fechou os olhos e mergulhou na escuridão. Era diferente de estar
sob os mares de E'ronoh? Ambos tinham frio, silêncio, solidão e criaturas
correndo pelos cantos. Em vez de uma corrente de água, ele sentiu o ar.
Vento.
Uma brisa fina, como a fita no cabelo de Xiri. Seguiu-a, subindo em um
túnel e rastejando para sair. Os soldados de Eiram precisavam dele lá. A
cada avanço, a corrente ficava mais forte. A luz vazava à distância. O
barulho também.
Rastejou direto para o centro de um ninho de escorpiões Thylefire.
Gella Nattai adorava a sensação de cair. É verdade que não gostava de voar.
Voar era uma gangorra de movimento e, dependendo do piloto, ficava
pedindo licença para ir ao banheiro, mas caindo? Isso era diferente. Ao
saltar pelo céu noturno, pegou os seus dois sabres de luz, confiando que a
Força a carregaria com segurança. Por que não podia sempre confiar em si
mesma tão implicitamente quanto em momentos como este? Todas as
decisões que tomava não eram semelhantes? Sem garantia, mas a garantia
de que era como a Força queria.
Ao aterrissar agachada no centro da caverna, sentiu o choque suave nas
pernas. Então, quando estava firme, acendeu seus sabres de luz. O zumbido
vibrante dentro do núcleo de seus punhos de pedra da lua subiu por seus
braços. Inalou o cheiro fresco de pedra misturado com decomposição.
O contingente de soldados vestidos de vermelho de E'ronoh a notou
primeiro. Uma mulher mais velha com uma bandagem na cabeça olhou
duas vezes e então redirecionou o seu fogo para Gella. A Cavaleira Jedi
levantou a sua lâmina esquerda e desviou o tiro.
— De onde diabos os Jedi vieram? — o soldado gritou para o homem
atrás dela.
— Os Jedi estão com Eiram, — uma voz áspera disse dos cantos
internos e sombrios da caverna. — Atirem nela!
Gella olhou para o cume rochoso em busca de sinais de Xiri e Axel
Greylark, mas os faróis altos sendo usados por ambos os lançadores
apagaram os cantos da bacia. Eles iriam conseguir, ela sabia disso.
— Jedi, corra! — O grito agudo veio dos destroços da nave Eirami azul.
Naquele momento de distração, Gella quase errou o segundo tiro do lado
de E'roni. Ela só teve tempo de se inclinar pra trás, o centímetro de
proximidade roçando o calor na ponta do nariz. Endireitou-se com uma
cutucada da Força e usou as estalagmites cortadas como trampolins para
chamar ainda mais atenção. Tiro de blaster vermelho navegou em sua
direção. Gella girou, cada raio ricocheteando nas suas lâminas de plasma
violeta e iluminando o acampamento E'roni. Ela ouviu alguém gritar, um
barulho de blaster contra a pedra.
Gella se equilibrou no esporão de uma estalagmite e usou o alívio do
tiroteio para deixar a sua voz ser ouvida. — Abaixe-se!
— Vá criar problemas em alguma outra rocha, Jedi, — disse a voz
áspera. A ameaça ficou clara quando um homem grande e barbudo saiu das
sombras. Ele apontou um blaster pesado para ela. Ele não usava roupas
militares, em vez disso usava um macacão manchado. — Você não tem
autoridade aqui.
Gella olhou pra cima para ver Xiri e Axel deslizarem o resto do caminho
pela pedra e pousar na saliência da caverna acima. Axel sacou o seu blaster
enquanto Xiri avançava para a luz. Ela gesticulou para o Jedi.
— Ela não, — disse a princesa, — mas eu sim.
— Capitã! — a mulher com a bandagem engasgou. Ela cumprimentou e
ficou em atenção. — Tenente interino Marlo, aqui. Você trouxe reforços?
Gella estava certa. Eles não sabiam que a guerra havia acabado. Isso
significava que eles estavam lá há dias.
Lentamente, meia dúzia de soldados surrados emergiram de trás da
barricada. — Quem emitiu as suas últimas ordens?
— Tenente Segaru, senhora, — disse Marlo, — duas semanas atrás.
Recebemos informações de que uma nave inimiga estava atacando A'ranni.
Alguns de seus soldados morreram com o impacto e cuidamos de alguns
outros. Estamos presos desde então.
— Perdi todas as comunicações, — disse um soldado mais jovem,
virando-se para o homem barbudo de macacão — Alguns dos aldeões como
Hix vieram nos ajudar a explodir, mas não funcionou.
Hix, um fazendeiro barbudo, resmungou profundamente.
— Ficamos sem comida, água. Tudo o que nos restava eram munição e
um pouco de coragem para nos defendermos do ataque até que você se
lembrasse de nós.
Gella sentiu uma pontada de descontentamento. Era como o cemitério de
novo, exceto que esses E'roni tinham blasters e pedras.
— Isso é uma mentira! — um soldado Eirami em um uniforme sujo
gritou. Ela saiu da cobertura fornecida pela nave encalhada com os braços
para cima. — Não viemos para atacar. Nossa nave foi abatida e nós caímos.
Perdemos todas as comunicações com Eiram.
Alguém atirou na mulher e ela se abaixou. Gella, que estava sintonizada
com o crepitar dos sentimentos, bloqueou-o com o seu sabre de luz.
Lançou-se contra o topo da caverna e causou uma pequena avalanche de
seixos.
Gella sentiu a preocupação de Xiri e a sua postura quase impossível se
desfez rapidamente. Esta unidade E'roni foi esquecida em seu próprio solo.
Eles estavam morrendo de fome e esperando que alguém viesse buscá-los,
mas ninguém veio. Agora Xiri tinha que revelar que não apenas a paz havia
sido negociada, mas o seu suposto inimigo, os seres cujas vidas eles haviam
tirado, havia morrido em vão.
— Por decreto do Monarca A'lbaran de E'ronoh e da rainha Adrialla de
Eiram, — Xiri disse, com a sua voz forte enchendo a caverna. — Um
cessar-fogo está em vigor e um tratado permanente de paz está sendo
elaborado enquanto falamos.
— Eu não acredito nisso, — veio um sussurro do escuro.
— Impostora! — Marlo gritou, apontando o dedo para Xiri. Então a
tenente interina se virou para seus soldados, qualquer tipo de formalidade
que ela mostrou ao capitão e à princesa havia desaparecido. — Por que ela
viaja com um guarda Eirami? Este é outro truque enganoso. Não podemos
confiar nela.
Os soldados de E'ronoh apontaram as suas armas para a sua princesa.
Axel empurrou o chocada capitã A'lbaran e os dois começaram a correr até
a divisória da caverna quando os soldados abriram fogo.
Gella usou a Força para pular, girando e desviando o fogo enquanto
abria caminho pelo labirinto de pedra. Ela não seria capaz de manter isso
por muito mais tempo. Ela pulou no chão e se escondeu atrás de uma das
estalagmites. De lá, ela tinha uma visão clara das barricadas de E'ronoh.
Axel e Xiri juntaram-se a ela, encolhendo-se quando o fogo vermelho
esculpiu em seu abrigo.
— Bem, isso foi como esperado, — disse Axel alegremente, espanando
a frente de sua túnica. — Como vamos provar que você é você? A menos
que... você seja uma impostora?
Xiri o encarou.
— Agora não é hora de me testar, Greylark. E não é culpa deles. Nós os
abandonamos. Eu fiz isso. E Phan-tu pode estar...
— Nós o encontraremos, capitã A'lbaran — disse Gella. As Jedi tinham
fé, mas a princesa, Gella entendeu, precisava de uma prova tangível. —
Primeiro, devemos subjugar o seu exército. Vou te dar um tiro certeiro para
atordoar.
A princesa de E'ronoh levantou o seu blaster. Axel pressionou as costas
contra uma formação rochosa. Os seus olhos se encontraram e ele assentiu.
Eles estavam prontos.
Gella agarrou os caixotes e os arrancou através da Força, rompendo
fileiras de pedras em ruínas. As finas partículas ondulavam no ar,
obscurecendo a visão dos soldados.
Axel se moveu com uma rapidez que ela não esperava. Ele derrubou o
soldado mais próximo com um choque de azul, então se protegeu. Todas as
vezes que ela tentou avaliar suas emoções antes, ela não sentiu nada, como
se ele estivesse envolto em beskar. Mas agora ela sentiu uma vibração de
excitação, uma explosão de sua adrenalina. Ele olhou pra ela e, nas sombras
distorcidas, sorriu como se conhecesse todos os segredos da galáxia.
Atrás dela, Xiri gritou. Ela cambaleou para frente à vista de todos,
segurando a queimadura do blaster em seu ombro. Axel puxou a princesa de
volta no tempo antes que outro tiro pudesse acertar.
— É apenas um ferimento superficial, — disse Xiri, trocando o seu
blaster para a mão boa.
Ainda assim, o medo frio ameaçou como um torno na garganta de Gella
ao pensar que o seu protegido estava ferido, mas ela não permitiria que isso
acontecesse. Ela puxou fundo do poço dentro dela e entrou na linha de fogo.
Desta vez, ela avançou rápido, ativando os seus sabres de luz e movendo-se
com eles em um arco. A luz violeta cortava e crepitava contra o fogo do
blaster vermelho. Ela se tornou a maior ameaça, e isso deu a Xiri e Axel a
oportunidade de flanquear. A energia azul pulsou e pulsou até que um por
um, todos os soldados caíram.
A poeira baixou, cobrindo tudo ao seu alcance com o pó carmesim de
E'ronoh.
Xiri caiu de joelhos ao lado de seu povo, e Gella sabia que isso não era
uma vitória.
— Verifiquem os outros, — disse Xiri solenemente, levantando-se para
entrar mais fundo na nave que havia sido reaproveitado como
acampamento. — Vou encontrar restrições.
Gella ainda crepitava com energia, embora estivesse começando a
desaparecer. Ela não precisava invocar a Força com tanto fervor antes. O
seu corpo ficou tão quente que o ar frio do deserto parecia um presente.
— Isso foi impressionante, — comentou Axel, mantendo o ritmo ao seu
lado.
— Obrigada.
— Claramente quero dizer eu.
Resmungou, mas encontrou um estranho conforto em sua leviandade.
Eles marcharam à frente na rede de estalagmites. Do outro lado da caverna,
onde a nave Eirami caiu, três soldados emergiram. A mulher e os dois
homens. Olhos magros espiaram para eles de rostos ocos e machucados.
Como Salas, eles estavam em má forma, embora seus ferimentos não
parecessem fatais.
— É verdade? — a mulher que tinha falado antes perguntou. Ela apoiou
a perna esquerda e colocou o braço na curva da outra. — Sobre o tratado?
Gella de repente sentiu muito frio por dentro. Lentamente moveu a mão
para um dos punhos de seu sabre de luz.
— É verdade — disse Gella, tentando imitar a voz serena de Mestre
Roy. — A princesa Xiri vai se casar com o príncipe Phan-tu Zenn. Nós lhe
daremos atenção médica e depois o levaremos para casa.
A mulher respirava com dificuldade, olhos verde-claros examinando a
área atrás de Gella e Axel. O seu lábio inferior tremeu.
— Onde ele está então? Onde está Phan-tu Zen?
— Ele está com Salas, — disse Axel, apontando para a saída com as
mãos. — Ele estava gravemente ferido, mas nós o encontramos. — A
princípio, Gella não entendeu por que Axel estava mentindo, mas a verdade
é que eles não sabiam o destino de Phan-tu. Ela não concordava com a
maneira como ele tentava ganhar a confiança deles, mas compreendia.
— Nossa rainha nunca faria isso. — A mulher soltou o braço. Não
ferida, mas escondendo o seu blaster.
Axel sacou a sua pistola cromada e apontou para os homens. Eles
levantaram as mãos em sinal de rendição.
— Não.
Gella não conseguia se mover rápido o suficiente. Oprimida por seu
medo, sua dúvida, hesitou por um momento longo demais. Aquela sensação
de frio voltou quando a mulher mirou em Gella e os outros dois pegaram as
suas armas.
Axel Greylark disparou.
Durante o período da guerra, Xiri A'lbaran suportou muitas coisas.
A primeira foi a morte de seu irmão. Niko era a alegria de seu pai. Quando
ele estava vivo, entendia o seu lugar em E'ronoh. Era uma guerreira por
direito próprio. Feita Thylefire. Completou a sua jornada de
amadurecimento pelos desfiladeiros e sobreviveu. Tinha ido para a
universidade, longe de seu sistema, para aprender, para encontrar um par
adequado para levar para casa, talvez alguém da indústria ou nobre.
Esperava-se que também treinasse os seus filhos para serem guerreiros,
porque a única certeza em E'ronoh era que a guerra um dia chegaria.
Enquanto observava as ruínas em chamas da bacia, se perguntou se a
guerra só veio porque sua família quis. Teria o seu irmão tomado a mesma
decisão que ela? O seu pai teria encontrado outro motivo para pegar em
armas?
Mas aquela noite não era hora para culpa.
Era uma noite de coragem.
Com a ajuda de Gella e Axel, eles alinharam os cadáveres dos soldados
de E'ronoh e Eiram e construíram uma pira. Apenas chamas poderiam
queimar as coisas que esses soldados encalhados suportaram. Presos em
uma caverna, sem comida ou água, isolados de casa, travando uma guerra
que eles nem sabiam que poderia ter acabado. Xiri tinha visto coisas
terríveis nos últimos cinco anos, mas ela nunca tinha visto isso.
Axel observou o rugido dos tiros. Xiri não teria acreditado que ele tinha
isso nele, mas ele salvou a vida de Gella. Ela o observou se afastar em
silêncio, e Gella deu um passo para segui-lo, mas Xiri tinha certeza de que
ele queria ficar sozinho, e ela agarrou o pulso de sua amiga Jedi.
— Ele vai vagar de volta.
Gella voltou a sua atenção para a barcaça e baixou a rampa. Os
dissidentes que atiraram contra eles e se recusaram a desistir arrastaram os
pés pela rampa de embarque até o porão de carga do Amaryliss. Quando
chegassem à aldeia seguinte e voltassem ao horário, mandariam os
prisioneiros para Torre para audiências disciplinares.
— Meu pai os teria matado na hora. — Xiri não sabia ao certo por que
havia dito aquilo em voz alta.
Ela encontrou o olhar curioso da Jedi.
— E é por isso que você é quem pôs fim à Guerra Eterna, e não o
Monarca A'lbaran.
Parecia um grande hematoma, por dentro e por fora. O peso dos anos
passados que não deveriam ser dela pressionou Xiri.
— A Guerra Eterna. Nunca pensei que soasse verdadeiro, mas agora sei
que soa.
— Você e Phan-tu estão forjando algo mais forte, — disse Gella.
Xiri observava a aurora se aproximar. Ela se permitiu expressar o seu
medo.
— E se Phan-tu estiver perdido?
Desta vez, a Jedi não lhe deu nenhuma garantia.
Ao som de pedras caindo, Xiri e Gella pegaram as suas armas. QN-1
voou para fora da caverna. O seu painel de luz triangular pulsava vermelho.
Pressionou as mãos na barriga. A fome lutou com a sua inquietação.
— Algum sinal dele?
Axel não estava por perto para traduzir os trinados do pequeno droide,
mas captou o momento em que Gella inclinou o ouvido para algo a que Xiri
não estava conectado da mesma forma.
— Você ouviu isso? — perguntou Gella.
Xiri ouviu o pio de um pássaro noturno, o metal aquecendo sob o fogo,
botas raspando contra uma rampa.
— Nada que não existisse antes.
— Chiuu, — Gella sussurrou suavemente. A Jedi fechou os olhos e
desviou o ouvido do campo de batalha, em direção ao resto das Terras
Desoladas. Carmesim cortou a base da noite azul e iluminou uma fera em
movimento.
— Pelos velhos deuses, — Hix, o fazendeiro barbudo, murmurou. O
homem gigante tinha sido destemido o suficiente para atirar nela, mas agora
ele cambaleou pra trás e caiu da rampa, levando os soldados restantes com
ele.
A princípio, Xiri pensou que poderia ser um dos cervos E'roni, com os
seus longos pescoços e enormes chifres negros. Mas, à medida que se
aproximava, viu que era um flagelo de escorpiões. Centenas deles
atravessando os braços de Phan-tu, ombros, seu torso. O maior aninhado no
topo castanho macio de seus cachos. Ele estava sorrindo quando se
aproximou.
Sentiu o desejo de correr até ele e certificar-se de que ele estava bem,
mas algo a deteve. Ela deve demonstrar afeto? Ela não sabia o que era
apropriado para um arranjo como o deles.
— Graças aos velhos deuses você está seguro, — ela disse, e esperava
que a sua voz não estivesse muito cansada para mostrar a sua sinceridade.
— Pela barba de Krel! — Greylark exclamou, retornando para
completar a sua coorte. — Como você chegou lá?
Phan-tu baixou os braços até o chão, criando uma ponte de terra humana
para os escorpiões.
— Foi a coisa mais estranha. Caí nos túneis sob o solo e encontrei um
ninho obstruindo a entrada. No começo, fiquei apavorado, mas depois
continuei e eles se agarraram ao passeio.
Enquanto os escorpiões corriam pelo chão, alguns dos prisioneiros mais
velhos sussurravam:
— Feito por Thylefire. — Ela se alegrou com as palavras. Agora, mais
do que nunca, ela precisava da aprovação de seu povo, mesmo que eles
tivessem tentado matá-la.
— O que isso significa? — perguntou Gella.
O sorriso de Phan-tu caiu quando ele se levantou e observou a cena.
Teria que contar tudo a ele assim que eles estivessem em movimento
novamente. Por enquanto, queria se lembrar daquele momento. O filho de
Eiram ladeado por uma aurora no deserto.
— Queremos dizer ser do escorpião, — disse ela. — De E'ronoh.
Axel Greylark queria sair de Terras Desoladas o mais rápido possível. Disse
a si mesmo que foi por isso que ajudou a reorganizar a carga para fazer uma
prisão temporária e não porque odiou a expressão no rosto de Gella quando
atirou e matou os soldados Eirami prestes a atacá-los. Ele não precisava ser
julgado por um Jedi, e não precisava que as suas ações fossem
questionadas, especialmente quando salvou a vida dela.
Quando terminaram de carregar o Amaryliss, Axel contou a Phan-tu
tudo o que havia perdido enquanto fazia amizade com escorpiões.
Horrorizado com a descoberta, o jovem príncipe Eirami disse
— Isso é impensável.
Só deu de ombros e pediu licença para ir para o seu pequeno quarto.
Arrependeu-se de ter concordado em se envolver na bagunça de Eiram e
E'ronoh, não importando o prêmio esperando por ele no final. Forçou-se a
esquecer o dia, Gella navegando por aquela caverna em um arco magnífico.
Esquecer o calor de seu blaster, o choque nos rostos dos soldados Eirami
enquanto eles caíam. Perguntou-se se sua mente ficaria lotada demais para
guardar memórias que ele preferia esquecer. A sua mãe era especialista
nisso. Ela caminhava pelos corredores de sua torre em Coruscant, os
corredores do Senado como se nada e ninguém jamais a tivesse machucado.
Possivelmente. Talvez fosse mais parecido com ela do que jamais
imaginara.
Quando Axel recuperou a compostura, se despiu e se enfiou no chuveiro
estreito enfiado no canto. Quando terminasse com este lugar, e esperava que
esse dia chegasse mais cedo ou mais tarde, tinha certeza de que nunca
tiraria a poeira de seus orifícios. Ensaboou-se com sabão e mal começou a
enxaguar o cabelo quando a água parou.
— Ração completa, — uma voz gorjeante gorjeou.
— Ração, — ele cuspiu. — Este dia não poderia ficar pior.
QN-1 voou até o nível dos olhos e ofereceu o frasco a Axel. Pela
primeira vez, ele não estava de bom humor.
— Você pode implorar a um dos outros por um pouco de água?
O seu droide voou para fora da sala, apenas para retornar momentos
depois. Axel enfiou o torso coberto de espuma para fora do chuveiro para
descobrir que o seu droide não estava sozinho. Gella perseguiu QN-1,
tentando arrancar um cantil de suas mãos. Quando ela percebeu que estava
no quarto de Axel, os seus olhos brilharam de fúria.
— Eu posso explicar, — disse ele, mas não se moveu mais. Como regra
geral, nunca se expunha a ninguém que não pedisse. Recuou para a baia e
descansou a nuca contra a parede. — Eu não sabia que havia racionamento
de água. Trouxemos toda aquela água pra eles!
Ela suspirou, de alguma forma justa e exasperada ao mesmo tempo.
— Você sabe o que é uma seca, não sabe?
Ele estava cansado demais para rir e conseguiu esfregar espuma nos
olhos.
— Você ficaria surpreso. Conheci muitos líderes que vivem no luxo
enquanto o seu povo sofre. Por favor, Gella. Darei a você o que quiser,
dentro do razoável. Então ele acrescentou apenas para garantir
— Por favor. Eu salvei a sua vida.
Um homem melhor não a teria lembrado disso, mas era quem era.
O sensor de ração estava praticamente exultante para Axel quando ouviu
a batida do outro lado. Abriu a porta do box do chuveiro. Ela lhe entregou o
cantil e rapidamente usou o líquido morno para enxaguar os olhos. Quando
terminou, ela ainda estava lá, encostada em sua soleira, de costas para lhe
dar privacidade.
Riu sombriamente, em seguida, puxou o seu roupão e se sentou na beira
da cama. Lançou um longo olhar para QN-1, que soltou um gorjeio
inocente. Gella olhou por cima do ombro e pegou o cantil de volta.
— Obrigado, — disse ele.
Observou o rosto dela. A tensão em torno de seus olhos quando ela
inspecionava algo. Atualmente, era o cronômetro vintage na prateleira
estreita e o anel de sua família. Ele era muito bom em ler as pessoas e notou
que Gella olhava para tudo como se estivesse tentando entender. Ela o lera
no cortejo fúnebre, no jantar seguinte e em todas as aldeias e postos
avançados que visitaram. Perguntou-se se ela sabia que estava fazendo isso.
Pressionou os dedos contra o fantasma de uma dor no peito.
— Existe mais alguma coisa em que eu possa ajudá-la, Jedi?
— Eu quero saber por que você é tão antagônico em relação aos Jedi, —
ela disse, a última palavra embebida no mesmo escárnio que ele
normalmente usava.
Sabia que quanto mais tempo passasse nessa missão com ela, mais disso
poderia surgir. Tudo o que tinha a ver com os eventos da morte de seu pai
ameaçavam vir à tona, mas não poderia fazê-lo, não neste estado.
— Eu vou contar. Eu prometo, — disse ele. — Mas não esta noite.
Tenho um milhão de fatos inúteis guardados para momentos como este.
Sua testa franziu em confusão. Ela provavelmente pensou que ele estava
sendo literal.
— Por que você não me diz o que quis dizer quando falou: Está
acontecendo de novo.
Ela quebrou o contato visual.
— Não essa noite.
Por que ele a estava entretendo? Ele estava exausto. Ele estava
começando a se arrepender de ter concordado em voltar para a Orla
Exterior. Frustrado, ele passou os dedos pelo cabelo úmido e mudou de
assunto.
— Você acredita nesta missão, Gella? Que os herdeiros conseguirão?
— Essas são perguntas estranhas. — Ela esfregou a lateral do pescoço.
Ela lutou como o inferno esta noite. Ele poderia admitir isso. — É
importante que Xiri e Phan-tu acreditem nisso.
Axel balançou a cabeça.
— Eu nunca poderia fazer isso. Casar sob tanta pressão.
— Bem, vocês são todos muito diferentes, — disse ela. — Eles são
altruístas.
— E eu sou egoísta, — ele afirmou com um sorriso nos lábios.
Olhou para o cantil como se isso fosse uma prova.
Ele riu baixo. Foi um bom lembrete de como os Jedi eram práticos com
as suas palavras.
— Boa noite, Jedi Nattai, — ele disse cansado. Ele não tinha energia
para mais.
— Boa noite, Axel Greylark.
No momento em que ela se foi, Axel se esticou na cama e olhou para o
escuro.
A TORRE, E'RONOH
Abda odiava casamentos. O casamento de seu irmão foi o maior que a sua
família já teve. Esse foi realmente o dia em que decidiu deixar Quarzite.
Sabendo que deveria fazer o mesmo, seguir a mesma vida de seus pais.
Saber que não importa o que fizesse, nunca seria uma combatente tão boa,
tão boa quanto qualquer coisa. Não do jeito que o seu irmão era. A galáxia
sempre pareceu ser mais dura com as filhas.
Mas as coisas mudaram quando Abda levou o turboelevador para o
espaçoporto em órbita e subiu no primeiro transporte programado para
partir. Pousou em uma estação movimentada em Bardotta.
Vagou sozinha e desesperada pela estação intermediária, até que
conheceu Binnot. Ele comprou comida quente para ela, apresentou-a aos
caminhos da Trilha e depois à Mãe. A sua vida mudou.
Não conseguia enfrentar a decepção no rosto mais bonito da Mãe.
Haviam dezenas, centenas de outros alinhados e esperando para ocupar o
seu lugar. Assim como tinha feito quando Serrena voltou ferida de sua
tentativa fracassada de convencer a rainha de Eiram a cumprir a sua
barganha. Abda pretendia tratar a ferida, mas teve uma revelação. A Força
proveu. Sem o conhecimento de Serrena, Abda havia usado uma única gota
do veneno que Binnot lhe dera. Acabou rápido.
Serrena falhou com a Mãe pela última vez. Agora Abda tinha algo que
não tinha antes. O amor da Mãe.
Enquanto a bênção do Monarca acontecia, Abda deslizou pela multidão
em seu uniforme de serva. O material cinza era muito macio em sua pele.
Indulgente. A princesa falou que os seres de E'ronoh precisavam
testemunhar a sua dedicação a eles, mas tudo que Abda viu foi indulgência.
No pátio central, sob o claro céu cerúleo, a princesa Xiri estava sentada
em um estrado usando um vestido de ouro puro com uma coroa de rubi
empoleirada em sua cabeça real. Um ressentimento gelado encheu o
coração de Abda. Nada disso estaria acontecendo se a filha do Monarca
tivesse acabado de embarcar no caça estelar sabotado. Em vez disso,
recebeu adoração por sua parte no fim da chamada Guerra Eterna.
Os cidadãos de E'ronoh fizeram fila para dar uma bênção à princesa,
centenas de foliões empolgados se estendendo para fora do palácio, nas ruas
circulares da cidade e na estrada do desfiladeiro. Todos os guardas do
palácio observavam a fila em busca de perigo. Com Jedi empoleirado no
telhado do palácio, e outro permaneceu sentinela ao lado da princesa
observando atentamente cada ser pisar no estrado, e deixar o futuro
Monarca colocar um cubo de comida em sua boca. Foi uma consagração,
disseram.
Por um momento, Abda se perguntou se os presentes da princesa eram
um suborno velado. Ela os alimentou com uma parte, e o seu povo devolveu
com uma bênção, mas a Trilha da Mão Aberta havia ensinado a Abda que
os presentes não deveriam carregar um fardo. Esta consagração do futuro
Monarca parecia pouco mais que um ritual para dar sentido às suas vidas
quando não compreendiam que havia algo maior, algo digno de devoção. A
verdadeira lealdade não exigia presentes. Exigia coragem.
Enquanto arrumava uma bandeja cheia de bebidas para os espectadores,
caminhou pelo perímetro do pátio até que todos os copos fossem
apanhados. Ela voltou para as cozinhas do palácio, onde o chefe do
Monarca gritava ordens e outros criados entravam e saíam correndo. À
medida que as horas passavam, Abda se preparava. Permitiu-se verificar
uma vez, só mais uma vez, se o cilindro que Binnot lhe dera estava no bolso
do avental.
O seu coração disparou como um subtrem e, quando se virou, alguém
esbarrou nela e jogou a bandeja de bebidas pelos ares. Com reflexos
extraordinários, ele conseguiu salvar um antes que o resto se despedaçasse.
Todos os guardas se viraram para eles e ela se encolheu. Toda a coragem
que reuniu foi substituída pelo medo.
— Desculpe-me, querida, — disse o homem vestido com uma longa
capa preta. As suas bochechas estavam coradas de bebida. Os seus olhos
semicerrados pousaram em Phan-tu Zenn.
— Axel! — o herdeiro Eirami sibilou.
— Eu me desculpei, — o homem embriagado reclamou.
Olhos verde-claros pousaram em Abda. Abaixou a cabeça e pediu
desculpas.
— Está tudo bem, alarme falso.
Com a boca seca, Abda voltou à cozinha para mais três bandejas de
bebidas.
Terminada a cerimônia, a princesa deu os últimos bocados de comida ao
Monarca e depois ao seu noivo.
A noite deserta a protegeu enquanto esperava que os salões se
esvaziassem, a celebração tomasse as ruas e a princesa voltasse para o seu
quarto.
Empurrou a sua bandeja para a cozinha e voltou para os aposentos dos
empregados. Lá, rastejou para o elevador da lavanderia e abriu o trinco.
Pressionou uma mão em cada lado da parede e subiu, subiu, subiu.
Os seus braços queimavam e tremiam, mas quanto mais perto chegava
dos aposentos da princesa, mais um calor emocionante se espalhava por ela.
Abda tinha certeza de que cada uma de suas ações estava a serviço de algo
maior. A Rainha Adrialla havia renegado a sua palavra à Mãe e precisava
ser lembrada desse custo. Quando a rainha recobrar o juízo, e quando a Mãe
ficar satisfeita, Abda pode descansar e viajar ao seu lado, enquanto viajam
para longe na Olhar Elétrico.
Quando alcançou o nível certo, ouviu vozes, mas a princesa estava
sozinha. Abda abriu a escotilha e pousou como um sussurro. Passou pelas
roupas cerimoniais e entrou no quarto escuro.
Abda enfiou a mão no bolso interno do avental em busca do cilindro
brilhante.
Mas não havia nada lá. Impossível. Teve isso a noite toda. Tinha
checado pouco antes...
A sombra na cama se moveu, os lençóis farfalhando. Abda se arrastou
pra trás quando um sabre de luz amarelo iluminou a escuridão.
— Olá, Caos, — disse a Mãe no hololink.
Ela se acomodou na cadeira de comando da Olhar Elétrico. Correndo os
dedos pelos apoios de braço macios, fechou os olhos e sorriu. Isso serviria.
— Mãe, — disse ele.
As comunicações ao vivo foram cortadas, mas disse o suficiente. Ela
conhecia aquele tom de voz e estava muito acostumada com ele
ultimamente. Algo deu errado. — Onde você está?
— O mercado. — A imagem entra e sai. — Talvez isso esteja perdido. O
casamento ainda está acontecendo. Os Jedi estão prontos para chegar em
massa. A República também.
— Parece que o meu convite foi perdido no hiperespaço, — ela
ronronou, agarrando os braços e inclinando-se para frente. Com ele, ela
deixou cair o capuz do manto e o cabelo caiu sobre os ombros.
— Abda foi capturada. Eu posso libertá-la. Levá-la de volta para o
Binnot.
— Não. — A Mãe descansou o queixo delicado no topo do pulso. —
Uma pena. Eu tinha grandes esperanças com ela. Agora cai sobre você.
Encarou-a atentamente. Foi o seu olhar sombrio que o atraiu até ela há
tanto tempo. Irritado, desafiador, mas também perdido.
— Acho que você não entendeu. Os herdeiros estão irritantemente
comprometidos com esta união. A agitação civil está aproximando Eiram e
E'ronoh.
— E'ronoh e Eiram não são nada, — ela disse. — Rainha Adrialla, por
outro lado. Devo-lhe uma gentileza. Ela vai entender o que vem de trair a
sua palavra pra mim. Ela escolheu alinhar-se com os Jedi. Eles estão
fervilhando em todo este setor e interrompendo os nossos planos.
Ele riu, aquele sorriso desafiador retornando como um raio.
— Nossos planos, não é?
— Eu sei o que está acontecendo, — disse ela.
Fez uma careta e desviou o olhar.
— Você sabe?
— Você está bravo comigo.
Balançou a sua cabeça.
— Não.
A Mãe sorriu para o holo.
— Deixei você esperando por muito tempo, mas nunca te esqueci.
Ninguém nunca vai deixar você alimentar o seu coração caótico.
O que eram promessas no grande esquema da galáxia senão amarrar as
esperanças de alguém em torno de seu dedo mindinho?
— Talvez eu queira fazer as coisas do meu jeito, — disse ele.
— E como isso funcionou para você antes? — Quando ele não
respondeu, ela relaxou em seu assento. — Livrem-se de Abda. Ela se tornou
uma ponta solta. Deixem esses planetas escolherem a sua paz, enquanto ela
durar. Enquanto os Jedi estão preocupados, encontre aquele veneno e volte
para casa.
— Para que você vai usar isso? — ele perguntou.
Nunca a questionou verdadeiramente antes, mas ela não deixou o seu
sorriso vacilar.
— Vou usá-lo para nós. Pela segurança da Trilha. — Mas ela sabia que
ele não era exatamente como os seus filhos. Ele não precisava do conforto
ou garantia de que a Força seria libertada. Talvez tenha sido por isso que ela
acrescentou: — E para que eu possa finalizar a Olhar Elétrico sem ficar
vulnerável a quem procura me machucar. Nos machucar. Posso contar
contigo?
Ele vacilou, então limpou a garganta.
— Sim.
— Quanto a Cavaleira Jedi sobre o qual você tanto me falou, tenho
certeza que você pode lidar de alguma forma.
Ele ficou em silêncio por um momento, então disse:
— Eu vou descobrir isso.
— Você não está tendo dúvidas, está?
— Eu disse que vou descobrir, Mãe.
— É claro. Sei que sempre posso contar com você, Caos, — disse ela.
— Meu Axel Greylark.
A Força proveria.
Abda repetiu o refrão várias vezes. se sentou no centro da cela e olhou
para o retângulo cortado no teto. Uma lasca da lua, um corte de noite,
apenas visível. Traçou e refez os seus passos. Tinha sido tão cuidadosa. Tão
cuidadosa.
Binnot viria buscá-la. Ele a tiraria. Odiaria o olhar presunçoso em seu
rosto quando ele a lembrasse de seu fracasso. A Mãe não ficaria satisfeita.
Pelo menos não disse uma única palavra a Jedi. A sua mente e o seu
coração eram impenetráveis porque pertenciam a outra pessoa. Um ser
maior e um propósito maior.
Enquanto o vento uivava pela solitária abertura na parede, Abda fechou
os olhos. Ouviu um silvo suave, como um suspiro. Estava no escuro com
ela. Abda tentou se abaixar, chutar, mas um braço enganchou em sua
garganta.
— Chiu, chiu, chiu, você deu o seu melhor, — ele sussurrou, baixo e
familiar. — Mas a Mãe precisa de algo melhor do que o seu melhor.
O corpo de Abda tentava se lembrar do antigo treino com o irmão e os
pais. Jogou o braço pra trás, mas não conseguia respirar. Não podia
implorar por outra chance quando ouviu a liberação da injeção. A agulha
fina espetou o lado de sua garganta e enviou o veneno correndo por sua
corrente sanguínea a cada batida de seu coração falhando.
Ele a soltou, mas as suas vias respiratórias se fecharam. Bolhas
borbulhavam ao longo de sua clavícula e, mesmo quando a sua visão
escureceu, ela se arrastou de barriga para a porta. A sua mente era um
ataque de imagens, uma após a outra, os seus pais. Será que eles se
lembram que tiveram uma filha uma vez? As planícies íngremes de Dalna.
Perseguindo escorpiões no deserto. O que tudo isso valeu?
Quando o calor nas suas veias diminuiu, a imagem por trás de suas
pálpebras a surpreendeu. Passaram-se anos, mas as cavernas violetas de
Quarzite finalmente acenaram para a sua casa.
Axel Greylark estava a caminho. Quando deixou Coruscant com uma nave
cheio de presentes em nome de sua mãe, a Chanceler Greylark, Axel tinha
toda a intenção de fazer a exaustiva viagem à Orla Exterior sem paradas não
programadas. Em vez disso, ele parou ao longo do caminho. Foi quando
esbarrou em um velho amigo.
Binnot o encontrou em um bar em Lorta. Eles não se viam há algum
tempo, mas alguns laços eram profundos o suficiente para sobreviver a uma
longa ausência.
— Você está ficando previsível, — o Mirialano disse. — Você sempre
para aqui a caminho de Dalna.
Axel sorriu para a sua bebida. Ele teve que gritar acima do barulho da
banda estridente.
— Talvez eu queira ser encontrado!
Seu amigo sorriu.
— Ela tem um trabalho pra você.
— Talvez seja ela quem está ficando previsível, — disse Axel, olhando
para o copo. — Ouso dizer, descuidada, mesmo?
— Não. — Binnot olhou pra ele por um longo tempo antes de continuar.
— Ela sente a sua falta. Todos os membros da Trilha são queridos por ela...
Axel interrompeu.
— Eu não sou membro da Trilha.
— É claro, mas a Mãe nunca esquece seus filhos — disse Binnot,
pegando a bebida de Axel e virando-a de volta. — Ela quer que você volte
para casa.
Mas Dalna não era a sua casa. Quando estava em seu nível mais baixo,
poderia ter sido, mas não mais. Axel Greylark não era membro da Trilha da
Mão Aberta. Mesmo o pensamento de que já havia proferido as palavras “a
Força será livre” o fez fazer careta. A única liberdade com a qual se
importava era a sua própria. Como poderia conseguir isso se toda a sua vida
estava ligada a quem era. O seu próprio nome. Greylark.
Certa vez, a Mãe o ensinou a não simplesmente canalizar o seu caos,
mas a abraçá-lo como um bom soldadinho. Ela viu o potencial dele desde o
momento em que Ney Madiine o enviou a Trilha para entregar peças de
naves para a estrutura esquelética do que seria a Olhar Elétrico.
Naquela época, em Dalna, parecia que ele havia encontrado o único
canto da galáxia que não adoravam os Cavaleiros Jedi. É por isso que
primeiro demorou, mas a Mãe era o motivo de ele ter ficado. Ela lhe
lembrou que a sua dor, aquele hematoma em seu coração, era o único
lembrete de que havia sobrevivido enquanto o seu pai havia morrido.
Precisava pressioná-lo, para se lembrar. Quando começou a esquecer, a
retornar ao Axel Greylark que a Chanceler Kyong queria que fosse. Quando
fechava os olhos e não conseguia evocar o rosto de seu pai de memória.
Quando não conseguia respirar, quando começou a assentar como poeira.
Pressionava aquele hematoma e aprendeu a precisar da dor que isso trazia.
Quando a Mãe percebeu que seria mais adequado posicionado em
Coruscant, no coração do Senado, mandou-o embora. Quando precisava
dele, os sussurros que as pessoas divulgavam para ele, as ameaças que
podia fazer com um sorriso, ou até mesmo a habilidade de seu blaster,
voltava porque se ela era a sua lua, então ele era a maré.
Pelo menos, era assim.
Então, em Lorta, a caminho de ingressar na Paxion, ele disse a Binnot:
— Já tenho um emprego.
— Você quer um emprego? Ou você quer um propósito?
Axel deu de ombros, mas sorriu.
— Vamos ouvir isso.
Binnot olhou ao redor da sala, mas neste canto do espaço, ninguém se
importava com as relações de estranhos.
— Ela precisa de alguém para rastrear alguns Jedi.
Axel estava começando a pensar que nunca poderia superar o seu
passado. Quem era ele sem isso?
— Por que a Mãe se importaria com o que um bando de Jedi está
fazendo em Eiram?
Axel Greylark não estava preparado para o que realmente encontraria.
Nos últimos anos, a rainha de Eiram passou as suas noites no antigo
escritório onde todos os membros da realeza antes dela planejavam
estratégias antes de uma luta. Retratos de sua família cobriam uma parede,
enquanto um mapa de papel de Eiram, tão antigo que estava se
desintegrando, estava emoldurado em outra.
Depois que o seu filho voltou com um Axel Greylark muito doente, a
Rainha Adrialla não conseguiu dormir. Andava de um lado para o outro em
seu escritório, com o roupão beijando os seus pés descalços e longos cachos
caindo sobre os seus ombros. A rainha se afastou dos restos do mapa e se
voltou para a intrincada representação holográfica de Eiram. Tinha uma
lista de todas as delegações presentes no casamento e considerou quais
alianças poderiam ser feitas.
Quando as portas de seu escritório se abriram, se virou para encontrar o
seu filho. Normalmente, trazia um presente para ela, uma flor do jardim,
pérolas de suas viagens pelos canais da cidade ou simplesmente um abraço.
Agora, enquanto entrava na sala, ela percebeu que não estava preparada
para este confronto.
— Mãe, — ele disse, um tom doce e carinhoso de Phan-tu. Zenn nunca
tinha levado com ela, ou qualquer outra pessoa. Havia algo nas suas mãos
que ela não conseguiu distinguir na luz fraca. Não até que ele jogou na
holomesa. O cilindro rolou até que ela o agarrou. Um frasco de metal vazio.
— Você estava no centro de pesquisa, — ela disse friamente. Ela soube
disso no momento em que o garoto Greylark foi levado ao médico.
Phan-tu lutou, não por palavras, mas pela coragem de perguntar a ela as
coisas que ele tinha medo de ouvir.
— O que você fez?
— Eu estava nos protegendo.
— Você mentiu na cúpula!
— Eu estava nos protegendo. — Ela contornou a mesa e tomou o rosto
dele entre as mãos. — E'ronoh tinha as suas novas naves. Você não acha
que a República tem armas que não conhecemos?
— E com quem temos negócios? — Ele saiu de seu alcance.
— Ninguém, — ela disse, sabendo que era a verdade agora. — Não
mais.
— Mãe...
— Você está ferido, eu não te disse. — A rainha Adrialla moveu-se em
direção à grande janela em arco. — Eu não poderia te dizer. E se você
tivesse sido tirado de mim? Era melhor mantê-lo nas sombras. Dessa forma,
você nunca teria que se comprometer.
Phan-tu zombou, magoado nas suas palavras.
— Você fez mais do que me manter nas sombras. Você mentiu pra mim.
Eu defendi você quando E'ronoh nos acusou desse mesmo ato.
— Meu querido garoto, — disse ela. — Qual seria o objetivo em dizer a
você? Quando nossa tentativa de testá-lo em E'ronoh falhou...
Phan-tu virou-se para ela lentamente.
— Quando?
Rainha Adrialla respirou profundamente.
— Na nave acidentada e os soldados que você encontrou em Terras
Desoladas. Eles tinham uma versão em aerossol, mas não funcionou. Íamos
tentar novamente, mas quando implementamos o cessar-fogo, eu os
desativei.
— Você sabia esse tempo todo. Não é? — Phan-tu começou a se afastar,
tremendo de raiva. Então ele dobrou de volta. — Quem é?
A rainha Adrialla apertou os lábios.
— Ela se autodenomina a Mãe. Ela veio até mim para oferecer alívio
quando os nossos amigos nos deram as costas. Ela estava oferecendo em
troca de nada, a princípio. Então, ela pediu uma experiência. Ela ouviu falar
sobre as criaturas do nosso mundo e me convenceu de que precisávamos
nos armar contra E'ronoh porque nunca os enfrentaríamos com as suas
naves.
Apontou um dedo acusador para ela.
— Você me disse que estávamos acima de usar as táticas de nossos
inimigos, você me disse...
— Eu estava errada, — ela trovejou. — E eu estava com medo. Por
você. Por Odélia. Durante anos, não vi o fim da guerra e pensei que isso
poderia consertar, mas ela não estava satisfeita com uma simples injeção.
Ela queria que ele voasse.
— Acho que é bom saber que você tem uma fala, mãe, — disse o filho
com amargura. Então ele se acalmou, olhou para ela quase sem reconhecê-
la. — Você matou aquela garota?
— Não, — disse a rainha Adrialla com firmeza. — Não, eu juro.
Não tinha escolha a não ser acreditar nela. E, no entanto, ainda não
conseguia entender.
— Por que, mãe?
— Quando desisti do nosso acordo, ela me ameaçou. Achei que ela iria
atrás de você. Nunca pensei que Xiri fosse ser prejudicada, mas vamos
destruir a instalação se isso significar que você vai me perdoar.
— Você deveria ter me contado! — ele gritou. — Eu teria lembrado a
você que deveríamos ser melhores. Eu... eu tenho que contar para o Xiri.
Não podemos começar com uma mentira.
rainha Adrialla deu a ele um sorriso triste.
— Ela é uma garota esperta. E ela já está aqui. Entre, capitã A'lbaran.
— Xiri, — Phan-tu disse, girando.
A princesa de E'ronoh entrou no escritório da rainha. Pelo conjunto
solene de seus lábios, Phan-tu sabia que ela estava lá há muito tempo.
— Você me seguiu, — ele disse.
— Você não é um mentiroso muito bom. Suspeitei que você estava
escondendo algo de mim quando saiu com Axel.
Xiri moveu-se para o mapa de papel. Ela apertou os dedos, como se
quisesse tocá-lo, mas temia que se desintegrasse ainda mais.
— Não destrua o centro de pesquisa.
— Já paramos a produção e transferimos os últimos estoques para os
arquivos do palácio por segurança, — disse a rainha Adrialla.
— Não é com isso que estou preocupado.
— Xiri... — Phan-tu começou.
A rainha Adrialla riu. A princesa de E'ronoh era filha de seu pai. Ela
pode não tê-la escolhido, mas seria um bom equilíbrio para Phan-tu.
— O que você está sugerindo?
— Você está se ouvindo? — perguntou Phan-tu.
— Não, Phan-tu, me escute, — disse Xiri. — Mesmo agora, as
delegações estão voando pela galáxia para o nosso casamento. Para provar
que juntos somos mais fortes, mas o que acontece quando outros inimigos
aparecem? Rev Ferrol ainda está escondido, tentando iniciar uma guerra
civil. O seu pai será executado por seus crimes. O que acontecerá quando...,
se a República um dia decidir que não quer ser nossa aliada? O que
acontece quando não conseguimos ajuda?
— A República e a Ordem Jedi são os nossos aliados, — disse Phan-tu.
— Mas estarão daqui a dez anos? Trinta? — a rainha perguntou.
— Axel e Gella arriscaram as suas vidas por nós, e estou muito grato. —
Xiri caminhou lentamente para o lado da Rainha Adrialla. — Mas isso é
sobre nós. Para o que vem depois. O último veneno é uma proteção contra
falhas para todo o nosso povo contra ameaças da galáxia, mas a fábrica?
Você está certo. Não estou falando de fabricar armas. Estou falando de
tecnologia que não nos deixará à mercê de outros sistemas. A nossa água, as
nossas minas, as nossas pedreiras.
— Nossos mundos como um. — Phan-tu olhou para Xiri e pegou a sua
mão. — Eu sei empiricamente que você está certo. Depois de tudo que
passamos em E'ronoh e de tudo que testemunhamos aqui, sei da crueldade
de que os seres são capazes. Eu... eu preciso que você me lembre dessas
coisas. Eu nunca quero que Eiram e E'ronoh sofram, mas não podemos
deixar que isso mude quem somos.
Xiri assentiu lentamente.
— Podemos lembrar um ao outro.
Olhando para os rostos de seu filho e de sua futura noiva, a rainha
Adrialla viu o futuro não apenas de seus mundos, mas de seu sistema. Ela
faria tudo ao seu alcance para protegê-lo.
Axel Greylark sempre quis queimar de forma brilhante, forte,
rápida como uma supernova.
Mas preso em sua mente, não conseguia parar o fogo nas suas veias. A
picada do escorpião o percorreu no momento em que a pinça cravou em sua
garganta. Lembrava-se de cambalear. A abrasão como areia sob a camada
superior de sua pele. Lembrava-se de Phan-tu gritando, uma corrida
desesperada de volta ao palácio Eirami. Lembrou-se da onda da escuridão,
das memórias das pessoas que havia machucado, por pura estupidez ou por
ação cuidadosa.
Nas noites normais, Axel fazia o possível para não dormir, ou pelo
menos não dormir profundamente, porque era quando as memórias
voltavam. Reviveu o pior dia de sua vida e, se pudesse acordar, iria para o
salão ou jogo mais próximo ou se perderia em alguém até que começasse a
desaparecer por um tempo, mas o veneno o manteve ancorado em seus
próprios pensamentos, e se perguntou se a única pessoa de quem estava
tentando fugir não era uma memória, mas ele mesmo.
Houve um momento de alívio. O calor nas suas veias congelou e o seu
coração batia tão rápido que poderia parar.
Houve outro momento de consolo. Uma mecha de esperança abrindo
caminho em seu coração. Esperança parecia com Phan-tu Zenn, Xiri
A'lbaran e Gella Nattai.
Mas quando o veneno voltou, ouviu vozes. Sem saber se estavam em sua
cabeça ou em seu quarto, escuta... Axel, Axel, por favor.
Seu idiota gigante.
Não faça isso, Greylark.
Eu preciso de você, Caos.
Rev. Ferrol esperou pela luz. Com o estaleiro ao norte da Torre vazio, Rev
se sentou em uma das três naves de perfuração que havia roubado e se
conectou aos canais da Paxion, para manter o controle da situação e esperar
o seu próximo melhor momento para atacar.
Veio de uma longa linhagem de pessoas que deram suas vidas por
E'ronoh, seja na guerra ou nas pedreiras de mármore, as minas que tornaram
o seu mundo distante rico em possibilidades. Quando atacou a cidade
mineira de U'ronoh, precisava que todos os cidadãos de lá acordassem. Para
ver que o Monarca não poderia proteger os seus.
O seu pai tinha sido leal, e onde isso o levou? Marcado como traidor,
conspirado contra, acusado de um assassinato que não cometeu. Tudo o que
o vice-rei Ferrol era culpado era de ser um verdadeiro filho de E'ronoh.
Axel Greylark tinha de alguma forma falsificado provas, mas iria receber o
que estava vindo para ele. Rev tirou o seu pai da prisão e o escondeu nas
Terras Selvagens abandonadas para se recuperar. Foi isso que a pequena
cúpula de paz de Xiri fez com um homem tão grande. Eles o quebraram.
Rev tinha sido um bom soldado. Até o momento em que o seu capitão, a
sua princesa, escolheu se casar com a escória do outro lado do corredor
espacial em vez de lutar. Lutaria por aqueles que o Monarca deixou pra trás
porque uma vez que eles parassem de lutar, outros viriam. Eles já vieram.
A República tinha as suas expectativas famintas de engolir todo o seu
setor. E os Jedi? Puh. Quem dava tanto em troca de nada?
Tudo o que fez, e tudo o que faria, foi para garantir o futuro de um
E'ronoh livre da República e livre de Eiram. Havia perdido em U'ronoh,
mas encontraria outros. Coragem leva tempo.
Cheirou asterpuff de ouro, enrolou um lenço em volta do rosto para se
proteger do sol e imaginou como seria destruir o seu inimigo. Para acabar
com a linhagem de A'lbaran.
Quando a primeira luz chegasse, seria hora de partir.
Gella Nattai juntou QN-1 e trouxe o pequeno droide de terapia para a sua
câmara. Um dos Cavaleiros Jedi que chegou naquela semana, Aida Forte,
trouxe consigo um kit de reparo. Aida era uma Kadas'sa'Nikto com pele
escamosa verde e chifres que formavam um arco em cada lado de seu rosto.
— Se preferir se juntar ao grupo de busca, posso consertar o droide —
disse Aida, com a sua voz ensolarada bem-vinda na sombra dos
pensamentos de Gella.
O restante dos Jedi havia se dispersado pelo palácio, liderados pelo
Mestre Char-Ryl-Roy, enquanto o Mestre Sun foi entregar a notícia a
Chanceler Greylark, mas Gella sentiu que precisava ficar pra trás em vez de
correr na frente. Axel não ia a lugar nenhum sem o seu droide. Houve uma
luta óbvia, que Axel venceu, mas por que o vice-rei Ferrol estava em
Eiram? Ninguém poderia dizer que foi por causa das evidências contra
Ferrol, a cúpula manteve a sua origem em segredo.
— Eu deveria estar aqui, — disse Gella, mas agradeceu a sua colega
Cavaleira Jedi e começou a trabalhar.
O QN-1 era tão pequeno que precisava dos menores parafusos e chaves.
Montar o droide era sua própria forma de meditação. Tinha que limpar a sua
mente e focar, em um fio, banco de memória, a célula de energia que
alimentava o painel de luz de QN-1.
Eles sabiam que Axel havia fugido porque a sua nave não estava mais na
Doca 26. Lembrou-se de Mestre Sun dizendo que alguém operava na luz.
Sentiu a lenta compreensão surgir, e então a sua mente negando. E se...
estivesse errada? E se todos estivessem errados?
Quando QN-1 foi reunido, Gella acessou o seu banco de memória,
percorrendo todas as gravações. Não dormiu. Ouviu cada um. O primeiro
foram relatórios a Chanceler Greylark de sua jornada. Coisas mundanas. Às
vezes, falava ou reclamava de Gella. Uma vez fez um lembrete para enviar
um presente de casamento para Phan-tu e Xiri. Depois disso, não era uma
gravação de voz, mas uma hologravação.
Gella fechou os olhos, reunindo forças da Força. Esfregou os dedos na
palma da mão e observou-o falar com alguém que não tinha nome nem
rosto. Devido aos ferimentos, o holo era do dia em que foram atacados pelo
Rev Ferrol e os Filhos de E'ronoh.
Ele se sentou, com o rosto ensanguentado, na encosta da montanha.
— E a Jedi não sobreviveu ao acidente? — perguntou a voz sussurrante.
— Não havia paraquedas suficientes, mas não terei certeza até voltar
para a aldeia, — Axel disse, com a sua voz sombria. — Esta Jedi é
diferente. Impressionante, quero dizer.
— Caos, você não está triste, está?
O rosto de Axel se contorceu em sua máscara despreocupada.
— Claro que não. Acabei de cair de uma nave em chamas. Na verdade,
acho que fui empurrado.
Houve um som. Rochas batendo.
Axel se levantou e sacou o seu blaster.
— O que você ouviu?
A voz lamentosa de um Tintinno tentou falar, mas Axel puxou o gatilho.
Gella assistiu holo após holo, então os assistiu novamente apresentando-
os para ambas as famílias reais, os seus companheiros Jedi e ambos os
Chanceleres. Quando o sol nasceu na manhã seguinte, no dia do casamento,
Gella pensou que poderia citá-lo de memória.
De uma coisa estava certa. Axel Greylark ainda estava na capital,
carregando três frascos de veneno mortal, e iria encontrá-lo.
Enya Keen correu pelos telhados de Cidade Capital de Erasmus com Gella
e Aida Forte para chegar à doca. As ruas eram como artérias
congestionadas, lotadas demais para serem percorridas.
Na parte sul da cidade, os prédios ficavam mais próximos uns dos
outros, o que fazia cada salto parecer muito mais rápido. Quando chegaram
à baía, eles se empoleiraram no alto, sob uma saliência de lona e um varal.
— São muitos convidados de casamento, — Enya disse.
Todas as baías foram ocupadas, então as naves se agruparam em
qualquer outro lugar que pudessem. Alguns dos menores tiveram a mesma
ideia dos Jedi e pousaram em qualquer telhado disponível. Embora
enquanto observavam os seres desembarcarem e caminharem pelas ruas do
canal em direção ao palácio, Enya não pôde deixar de pensar que esses
convidados não pareciam estar vestidos para um casamento.
— Temos certeza de que este Greylark ainda está no planeta? —
perguntou Aída.
— Ele está aqui — disse Gella com firmeza.
Enya sentiu a estranha calma de sua amiga, como se ela precisasse de
todo o seu foco para se concentrar. A hologravação final de Axel dizia:
— Mudança de planos. — Era isso. Sem. — Olá, companheiro
criminoso, deixe-me revelar as minhas intenções detalhadas para que os
Jedi possam me frustrar.
— Não entendo, — disse Aida. — Por que não adiar o casamento até
que a ameaça fosse eliminada?
Enya deu um tapinha na Cavaleira Jedi Nikto nas suas costas. Ela era
nova no mundo e não teve que ficar sentada ouvindo toda a gritaria entre os
membros da realeza mais velhos. — Algo no ar parece ser agora ou nunca.
— E você realmente acha que ele vai atacar no casamento? — Aida
perguntou enquanto examinava a multidão. — Pelo que o Mestre Sun me
disse, ele teve muitas oportunidades mais fáceis de atacar os dois herdeiros.
— Ele está aqui, — Gella repetiu com a mesma firmeza. — Continue
olhando.
— É estranho pra mim que tantos convidados cheguem malvestidos, —
disse Aida, semicerrando os olhos enquanto o sol saía de um bolsão de
nuvens.
— Talvez não sejam hóspedes, — disse Gella.
Enya observou um grupo de Trandoshanos com cara de lagarto
serpentear pela multidão, com os quadris armados com blasters. Um
Lurmen pequeno e peludo com uma prótese de olho de metal e uma
bandoleira no peito magro abriu caminho mancando pela multidão.
Um pequeno ser roxo peludo com duas antenas verdes parou bem no
meio do trânsito. Estava consultando uma holoprojeção de sua manopla,
uma lança em uma das mãos e várias adagas embainhadas em seu cinto. Era
a capa que parecia familiar para Enya. A sua bainha é cortada em linhas
irregulares para se adequar à altura do ser.
— Essa capa não te lembra alguém? — Enya perguntou a Gella.
Gella saltou primeiro, caindo agachada na frente do viajante, e Enya e
Aida seguiram logo atrás.
— Olá. Eu sou Enya, — ela disse. — Onde você conseguiu a sua capa?
O ser de rosto vulpino fez um pequeno som de rosnado, então olhou o
Jedi de cima a baixo. Talvez tenha reconhecido uma ameaça. Talvez fosse
outra coisa, mas disse:
— Sou Cherro. Ganhei de um pastor de nerf em Coruscant.
Ergueu o braço e a holoprojeção ficou clara. Axel Greylark sorriu pra
eles do que parecia ser uma foto de detenção. Cada dispositivo de
comunicação ao redor deles parecia estar pingando, como se fosse um
rastreador.
— Ele está transmitindo o seu sinal como se quisesse ser encontrado, —
Cherro riu, e se afastou para se juntar ao tráfego de pedestres a caminho do
palácio.
— Estes não são convidados do casamento, — Enya disse, com o medo
se acumulando em seu estômago. — Eles são caçadores de recompensas.
— Avise os Jedi! — Gella Nattai gritou. — E diga à rainha para ordenar
que o domo seja fechado para evitar que mais naves entrem!
Aida começou a correr, mas freou quando notou as duas speeder Joben
S-14 azul neon. Ela pulou na sela de um, e Enya segurou firme atrás dela.
Gella montou no segundo e ouviu um surpreso.
— Ei! Volte aqui! — enquanto disparava.
Tinha uma lembrança distinta da reação de Axel quando ela e Enya
comandaram a sua nave. Enquanto saltava contra o choque do repulsor,
explodiu na rua úmida que margeava a costa. Sentiu-o através da Força,
uma corda que não tinha entendido que estava se formando, mas não podia
cortar. Ainda não.
Gella.
Era como se estivesse nas nuvens, na névoa, mudando de forma como
mudava de roupa e sorria, mas não conseguia ver a Entardecer no céu, e
não era pequena o suficiente para estar em um dos telhados das favelas.
Gella.
Mais alto, mais furioso. Puxou a corda deles e seguiu a reverberação de
seu nome. Perguntou-se, ele estava ciente de que estava ligando pra ela?
Transmitindo-se como ele tinha feito para aqueles caçadores de
recompensas?
Gella serpenteou a speeder ao longo da costa, abraçada por ondas
quebrando. Onde E'ronoh era todo pedras irregulares e desfiladeiros
dividindo o solo como feridas, as bordas de Eiram foram desgastadas por
mares implacáveis.
Ela entregou o seu corpo ao instinto de uma forma que nunca havia feito
antes. Ela confiava na Força. Ela confiava que isso os uniu por motivos que
podem não ter ficado claros desde o momento em que ele entrou na
Paxion.O ar frio correu ao redor dela, e cada músculo de seu corpo se
contraiu. Com essa respiração, ela virou o speeder para um caminho estreito
e rochoso que levava à torre que emitia a cúpula de energia.
Ela não tinha desligado totalmente a moto antes de desmontar. A porta
foi fechada com força. Quando ela pegou os seus dois sabres de luz, Gella
se lembrou de Axel abrindo um buraco em uma parede de vidro reforçado.
Ele recebeu ordens para deixá-la pra trás, então por que não o fez? Estava
trancada naquela cela sem ter para onde ir. Em vez disso, ele voltou. Tinha
visto como ele vacilava. Então, por que, quando deveria estar tão limpo
quanto uma ferida cauterizada, ele se virou? Gella precisava saber.
Agarrando-se a esse pensamento, ela abriu caminho para a torre.
Gella abriu o elevador e entrou. Subiu alguns níveis antes de tremer e
parar. Usou os seus sabres de luz para abrir um buraco no teto e escalou o
poço vazio.
Gella. Ele não disse o nome dela, mas ele estava pensando nisso, com
tanto fervor que ela podia sentir a impressão em sua mente.
Quando chegou ao topo, as portas do elevador estavam abertas. Pulou na
borda e encontrou Axel, ainda vestido com as roupas da noite anterior,
parado na frente dos painéis de controle da torre. A luz azul pulsava de um
fino frasco azul afixado a um explosivo.
— Eu tinha muita fé de que você me encontraria, — disse ele, girando o
detonador entre os dedos. — Minha Cavaleira Jedi.
Xiri A’lbaran, filha de desfiladeiros e desertos, feita de Thylefire,
se casaria perto do mar. A cúpula protetora mantinha as ondas afastadas,
mas espessas nuvens de tempestade pairavam sobre a cidade. De sua sacada
no palácio de Erasmus, observou os seus convidados encherem o pátio de
arenito onde ela e Phan-tu se tornariam símbolos.
Xiri nunca quis ser um símbolo, mas ao conhecer os Jedi e observar o
povo de Eiram e E'ronoh recorrer à superstição para aceitar a sua união,
estava começando a entender o poder de tudo. Mal havia pensado em viajar
pela galáxia e agora a galáxia veio até ela.
A Chanceler Greylark, em um vestido esvoaçante e cocar, estava sentada
sozinha no banco da frente. Xiri decidiu que tinha grande admiração pela
mulher. Ao amanhecer, ela foi informada de que o seu filho estava solto na
capital com três armas venenosas e, perto do pôr do sol, ela se sentou com a
cabeça erguida após dar uma ordem para capturar e atordoar ao vê-lo. Em
breve, talvez mais cedo do que o esperado, haveriam consequências. E se
ela visse Axel Greylark novamente, ela o faria pagar por quebrar os seus
corações. Mas, por enquanto, todos na cúpula da paz concordaram que o
casamento deveria prosseguir. Xiri, acima de tudo, estava ansiosa para que
começasse.
Houve alguma comoção nos portões da frente, mas confiava na
habilidade dos guardas de E'ronoh e Eiram, assim como nos nobres Jedi.
— Você parece um pôr do sol de E'ronoh, — o Monarca disse. Vestido
de preto e cinza sóbrio, ele esperou por ela na porta.
Quando pegou o braço dele e desceram as escadas em espiral que
levavam ao pátio, se sentiu como um pôr do sol de E'ronoh. O vestido tinha
sido de sua mãe, vermelho e rosa mergulhado em ouro. A rainha Adrialla e
a consorte Odelia presentearam-na com um véu combinando cheio de
pérolas. Phan-tu havia capturado todos eles. O seu presente pra si mesma
era uma arma, muito habilmente escondida.
— Por E'ronoh, — o seu pai sussurrou, deixando-a caminhar o resto do
caminho sozinha. — Você é a minha maior alegria, Xiri.
— Vou deixá-lo orgulhoso, — disse ela.
Ele beijou os nós dos dedos dela.
— Você já deixou.
Descalça, Xiri pisou em um banco de areia que se estendia por toda a
extensão do pátio onde o Chanceler Mollo esperava para oficiar. Do outro
lado, Phan-tu Zenn esperou. Eirami se casou todo de branco, mas em seu
quadril, ele ostentava uma nova lâmina de flagelo com um cabo feito de
gemas verde claras.
Essa era a parte fácil, ela pensou. Todo o resto, o resto de suas vidas,
seria o verdadeiro teste.
Quando a música começou, Xiri e Phan-tu começaram a caminhar pela
areia um até o outro.
Antes que pudesse encontrá-lo no meio do caminho, os primeiros tiros
de blaster foram disparados.
Antes de Xiri liderar o seu inimigo no fundo do mar, Gella Nattai observou
o lixo espacial e pedaços de detritos da Paxion cair. Ela se partiu e se
inclinou em direção à água, mas não antes de algumas naves de perfuração
quebrarem partes do dossel. Gella teve a triste lembrança da Chanceler
Greylark dizendo que estaria na Paxion naquele dia. Não conseguia se
lembrar se manteve a sua palavra ou não.
— Mãe, — Axel sussurrou, ofegante lentamente.
— O que você achou que aconteceria, Axel?
Gella estava tão concentrada nele que não percebeu que algo atingiu a
torre até que fosse tarde demais.
O metal triturava e se deformava, atravessando direto. O teto acima
estava caindo sobre eles. Foi apenas seu controle da Força que impediu que
os dois fossem esmagados por uma placa de metal. Ela se segurou por um
fio, a teimosa vontade de mantê-los vivos.
— Gella, eu sou...
— Cale a boca e me ajude. — Seus braços tremiam com o esforço
concentrado. Cara a cara, não havia para onde ir.
Axel, talvez pela primeira vez na vida, ouviu sem fazer outra piada. Ele
se levantou, colocando tudo o que tinha para sustentar a laje de metal
acima. Foi demais. Os seus cotovelos estavam dobrados nas juntas.
— Onde estão os frascos, Axel?
Ele fechou os olhos e demorou um longo momento antes de dizer:
— Os que roubei estão nas duas primeiras torres.
— E os outros?
— Pergunte à rainha, — ele rebateu. — Eu sabia que não conseguiria
acessar os arquivos sob o palácio. Eu precisava criar caos suficiente para
chamar a atenção para o que fiz. Alimentei um holo que gravei em um canal
aberto. Todo mundo sabe o que eu fiz. — Ele lutou contra o peso do teto
caindo. Os seus olhos estavam sem foco.
— Pára com isso, — Gella latiu. Os seus braços tremiam enquanto ela
tentava manter o seu domínio através da Força. — Você não pode fingir a
sua própria morte se morrer.
Ele grunhiu e caiu de joelhos.
— Ainda estou fraco, Gella. Você não pode, eu não sei, sugar a minha
força para se tornar mais forte?
O som que ela fez foi entre um choro e uma risada.
— Depois de todo esse tempo, você realmente não entende a Força, não
é?
— Eu nunca quis entender. Não antes de você.
A lateral do telhado de Axel se inclinou, o chão gemendo como um
terrível gigante de metal. Gotas de suor escorriam pelo arco de seu nariz
com o esforço. Ele balançou a cabeça, escorregando. Ela grunhiu com o
esforço que levou para suspender o teto acima.
— Se não sobrevivermos a isso... — ele começou.
— Nós vamos sobreviver a isso, — ela corrigiu, mas parou. Não poderia
haver depois para eles. Quando eles sobrevivessem a isso, ele estaria na
prisão e ela enfrentaria o Conselho Jedi.
— Se não sobrevivermos a isso, — disse Axel, — espero que o meu
fantasma assombre o seu por toda a eternidade.
— Não acreditamos em fantasmas.
— Deixar-me, — disse ele, — apaixonar por um Jedi sem humor.
Não queria ouvir essas palavras. Não dele. Quando Axel caiu no chão,
inconsciente, Gella fechou os olhos e fez o possível para clarear a mente,
para encontrar força por meio da Força. Eu tenho toda a fé em você, ele
disse a ela antes de empurrá-la para aquele poço. Gella Nattai confiava na
Força, em si mesma. Sempre pousou em terra firme, e dessa vez não
poderia ser diferente. Lentamente, funcionou. O peso afrouxou com cada
peça sendo movida pela Força.
— A Força está comigo, — ela sussurrou, imaginando cada pedaço de
destroços que estava tentando enterrá-los vivos. — E eu sou um com a
Força.
Falou as palavras, de novo e de novo, até que ela e Axel caíram no topo
de uma pilha de escombros. As ondas eram tão altas que ela podia sentir o
borrifo das ondas.
A Paxion se foi, mas um grupo de caças estelares Eirami voltou para a
cidade, circulando acima. Ela tinha certeza de que Xiri estava liderando o
ataque.
Empurrando-se, Gella sentou-se.
— Não vai. Fica. — disse Axel, piscando para acordar. Ele esfregou a
cicatriz sobre o coração.
— Eu não posso, — ela disse, e ainda assim demorou.
Gella jogou o cabelo dele pra trás. Havia cortes finos em seu rosto
majestoso e machucado. Talvez Axel estivesse certo. Era impossível
recuperar algo depois de quebrado. As cicatrizes ainda estariam lá. Eles
serviram como memórias para que isso nunca pudesse acontecer
novamente. Ao afastar a mão e sair para buscar ajuda, Gella teve certeza de
que sempre preferiria ficar com a cicatriz.
O novo amanhecer para Eiram e E'ronoh começou no dia seguinte
ao casamento. Casar foi a parte fácil. A destruição da capital de Erasmus foi
pior do que qualquer outra durante os cinco anos da Guerra Eterna. Eles
sempre reconstruíriam. Sempre.
Agora Xiri A'lbaran e Phan-tu Zenn devem que desvendar um segredo
da galáxia, como se faz a paz permanecer?
Pra eles, começaria um com o outro e seguiria com um tratado formal,
mas à medida que o dia se alongava na sala de reuniões de Eiram, todas as
partes tinham que concordar com o local. Falou-se de vários tratados, um
em cada planeta, da mesma forma que inicialmente planejaram as
cerimônias de casamento. Xiri amava os seus desertos e Phan-tu amava os
seus oceanos, e um dia eles teriam mais do que um documento legal para
negociar. Eles teriam que reconstruir, ambos os mundos e a confiança de
seu povo. Eles teriam que decidir em qual planeta viveriam, como distribuir
a ajuda que chegava de planetas anteriormente amigos, agora amigos
novamente. Eles prometeram, um ao outro e à cúpula, que fariam isso
juntos.
— Depois de tudo o que aconteceu, — disse Xiri, — se somos um
símbolo de paz para a galáxia, então o tratado deve ser assinado fora do
nosso sistema.
Era a primeira vez naquele dia que todos concordaram.
Esse casamento, essa paz que eles haviam negociado, era uma coisa
delicada a ser cultivada como mudas crescendo em solo sólido, tão
profundo que nem mesmo as gerações futuras de Eiram ou E'ronoh
poderiam arrancá-lo.
O Chanceler Mollo ouviu a fala da princesa Xiri durante o final da
cúpula. A escolha, para Mollo, era óbvia, mas não se apressou em oferecer
a sua sugestão, a princípio. A destruição da Paxion o deixara arrasado.
Muitos de sua tripulação sobreviveram, graças aos pods de fuga, mas a
galáxia perdeu muito para Eiram e E'ronoh. Ele precisava desses mundos
para entender o custo do que poderia acontecer, caso as palavras fossem
quebradas, os tratados violados, mas estava se adiantando. Primeiro, eles
precisavam de um local e, pela primeira vez em anos, ansiava por retornar a
Coruscant.
Olhou para a Chanceler Greylark com muita simpatia, embora ela não
tivesse demonstrado nenhuma emoção quando prendeu Axel por
conspiração, assassinato e terrorismo.
As duas pessoas que não compareceram foram a rainha Adrialla e a
rainha consorte, que estavam desfrutando de um retiro na costa. Como a
rainha havia concordado em destruir todo o veneno restante e como grande
parte de Eiram havia sido devastada por um filho da República, a realeza de
Eiram não seria acusada. E, no entanto, Mollo fez uma anotação mental de
que ele e Kyong precisavam monitorar a situação, em particular o centro de
pesquisa de Eiram.
— E quanto a Coruscant? — disse o Chanceler Mollo.
O Monarca A'lbaran, previsivelmente, rejeitou a ideia.
— Não somos da República. Para que não nos esqueçamos disso.
— Existem mundos próximos, — disse Mestre Char-Ryl-Roy, — com
templos Jedi que seriam um meio-termo bem-vindo.
— E quanto a Jedha? — Gella Nattai sugeriu. A intrépida Jedi que
prendeu Axel Greylark não falou uma palavra o dia todo até aquele
momento.
O Monarca franziu os lábios novamente.
— O mundo Jedi?
— A lua de Jedha é sagrada para muitos, incluindo os Jedi, — disse
Mestre Sun. — Grande parte de nossa história está amarrada lá, sim, mas
não temos direito sobre ela.
— E já é o lar natural de muitas escolas de pensamento, — acrescentou
Gella.
Um a um, eles votaram até que fosse unânime.
Depois que Eiram e E'ronoh estabilizassem as suas casas, eles
preparariam delegações e se reuniriam na lua de Jedha.
Quando eles se separaram, o Chanceler Mollo e o que restou da
tripulação da Paxion embarcaram na Proa-Longa de Kyong, a Sol da
Aurora.
Parecia que eles não podiam fazer o primeiro salto no hiperespaço
rápido o suficiente porque estavam no meio da galáxia antes que Mollo se
instalasse. Kyong apareceu em sua porta e naturalmente o recebeu, ocupou-
se em deixar os Chanceleres confortáveis.
— Você pode levar tempo que quiser, — disse Mollo a Kyong.
Ele sabia que a mulher era estoica, mas nunca a vira fria.
— Tempo pra quê?
Ele hesitou em falar o nome de Axel Greylark. Axel Greylark. Sempre
soube que o garoto tinha ambição de destruição, mas não imaginou que isso
levaria a isso.
— Phan-tu Zenn e Gella Nattai atestam que ajudaram a salvar a vida
dele em sua jornada. Se quiser apelar para uma sentença reduzida.
Kyong se inclinou pra frente, com o seu cabelo elaborado preso em uma
coroa de tranças pretas. Os seus olhos estreitos brilharam com algo
sombrio.
— Eu vou te dizer isso uma vez e apenas uma vez. Eu sirvo a República.
— Mas por um momento, a sua máscara estoica caiu. As linhas ao redor de
seu rosto majestoso racharam e o seu lábio inferior tremeu. Ela respirou
fundo.
Eles já estavam quebrando o protocolo por estarem na mesma nave; ele
poderia muito bem dar outro passo adiante.
— Você deveria ter confiado em mim, — ele disse a ela, pressionando o
hematoma de seu filho. Era algo que ele nunca teria feito antes, mas
naquela época ele a via como infalível.
— Eu confio em você, Orlen. Ela raramente era tão informal; o seu
nome soou estranho a princípio. Então ela passou por ele. — Eu também
queria confiar em Axel. Ele sempre me mostrou quem ele é. Só não queria
ver porque é como admitir que cometi um erro que não posso consertar.
Mollo não sabia o que responder a isso. Pela primeira vez, notou o
droide QN-1 consertado de Axel, desligado, agarrado na mão de Kyong.
Antes que ele pudesse oferecer simpatia, a sua compostura voltou e ela
cheirou o chá com desgosto antes de colocá-lo na mesa sem tomar um gole.
— Talvez nós dois precisemos fazer as coisas de maneira diferente.
— Talvez, — ele concordou. Primeiro, ele iria precisar de uma nova
nave.
Gella Nattai e os Jedi permaneceram em Eiram por mais uma semana. Eles
ajudaram a iniciar a limpeza dos muitos destroços, incluindo a destruição
do cinturão de detritos no corredor do espaço.
No último dia de sua estada, Gella Nattai teve um último jantar com
amigos. Enquanto Gella, Phan-tu e Xiri nunca pronunciaram o seu nome, a
traição de Axel Greylark era um membro fantasma entre eles. Quando eles
pediram que ela se aventurasse em Jedha para o tratado de paz, Gella, que
nunca teve amigos de verdade antes, muito menos amigos que não eram
Jedi, tiveram que recusar.
— Mas a ideia foi sua! — Xiri disse sobre um prato de peixe frito
Eirami.
Gella sorriu amplamente.
— Uma boa também.
— Perdoe-me, mas você passou semanas dizendo o quanto queria ir para
lá, — Phan-tu a lembrou, parando para bebericar um copo de um barril de
vinho Alderaaneano que alguém os presenteou em seu casamento.
— Sinto que fui chamada para outro lugar, — disse ela. — Mas espero
que a minha jornada me traga de volta aqui. Eu sei que se alguém na
galáxia tem a chance de forjar algo mais forte, melhor e mais brilhante do
que antes, são vocês dois.
Eles não se despediram.
Mais tarde naquela noite, Gella meditou com o Mestre Creighton Sun
em um píer atrás do palácio. O mar havia se acalmado, o que foi uma sorte,
pois levaria mais alguns dias para reconstruir todas as três torres.
— Tenho uma notícia pra você, Gella, — Mestre Sun disse, relaxando
um pouco sua postura. Ela esperou e sentiu um nó estranho na boca do
estômago. — Antes dela partir, a Chanceler Greylark presenteou você com
a Entardecer.
— Nave de Axel? — Gella franziu a testa.
— Bem, Phan-tu não queria, e sinto que a Chanceler não quer que vá
para um dos amigos mais problemáticos de seu filho.
Foi como a Força quis.
— Falando em viagem, — Gella disse a ele, — eu gostaria de me
declarar formalmente uma Perseguidora do Caminho, e planejar o meu
retorno a Coruscant para buscar a permissão do Conselho Jedi.
Mestre Sun a observou por um longo tempo antes de exibir um raro
sorriso.
— Isso é maravilhoso, Gella. Presumo que isso signifique que você não
chegará ao cume em Jedha. Aida e eu partiremos em breve, antes das
negociações de paz.
— Eu voltarei lá eventualmente. — Ela inalou o mar e observou as
nuvens rolarem, trazendo o cheiro de petrichor das ruas da cidade.
— Por que a mudança de ideia?
Gella não tinha todas as palavras para explicar, ainda não, mas fez o
melhor que pôde.
— Enquanto eu estava em E'ronoh, senti que quanto mais aprendia, mais
entendia meu lugar na Força. Que não estou mais com pressa. Ou
simplesmente, a Força está me chamando e eu quero atender, mas não
saberei até chegar lá.
Mestre Sun gentilmente apertou o seu ombro.
— Eu ficaria honrado em apoiá-la em nome do Conselho.
— Obrigada, Mestre Sun.
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Minha vida como fã de Star Wars remonta a tanto tempo, nunca fui
realmente capaz de identificar o seu início. Éramos simplesmente uma
família de Star Wars. Esta história universal começou com George Lucas e
agora continua com um legado de escritores e criativos expandindo a
galáxia. É uma honra incrível fazer parte desta galáxia muito, muito
distante.
Para Mike Siglain, o destemido líder e diretor criativo da Lucasfilm
Publicações. Obrigado por sua orientação e tempo generoso com todas as
coisas de Star Wars. Obrigado aos cinco fabulosos, os Lumineers originais:
Claudia Gray, Justina Ireland, Daniel José Older, Cavan Scott e Charles
Soule. Ao restante do esquadrão da Alta República: Robert Simpson, Brett
Rector, Lindsay Knight e Jen Heddle. Isso não seria possível sem as suas
mentes brilhantes.
Ao meu editor e Mestre Jedi literário, Tom Hoeler. Você viu
completamente minha visão do Convergência e me ajudou a organizar os
meus próprios pensamentos caóticos e arcos de caráter. Ao resto da equipe
Del Rey/Random House Worlds – do editorial à produção e ao
departamento de arte, mas especialmente Lydia Estrada, Gabriella Muñoz e
Elizabeth Schaefer, e a Yiyhoung Li por dar vida a Gella na arte da capa do
Convergência.
Um enorme obrigado ao Grupo de História da Lucasfilm por seus
comentários atenciosos e soluções mundiais: Pablo Hidalgo, Matt Martin,
Kelsey Sharpe e Emily Shkoukani.
Aos meus colegas autores da Fase II: Tessa Gratton, George Mann e,
especialmente, Lydia Kang, por todas as nossas sessões por telefone e
mensagens de texto. Mal posso esperar para que todos vejam o que está
reservado para nossos Espaço Baes.
Ao longo dos anos, estive cercado por amigos que são as minhas âncoras
na tempestade editorial. Dhonielle Clayton, Adrialla Medina, Sarah
Elizabeth Younger, Natalie Horbachevsky, Natalie C. Parker, Gretchen
McNeil e Mark Oshiro. De conversas estimulantes a retiros de redação e
organização de meu calendário de aniversário de vencimento para meu
trigésimo quinto aniversário, obrigado por me lembrar de comer e beber
água e por cuidar de mim como a suculenta de alta manutenção que sou.
A Cassie e Josh, obrigado por me deixarem rascunhar parte deste livro
em seu celeiro de assassinato. A Holly e Kelly por nossas sessões de
redação e muito chá de boba.
Ao meu grupo de apoio ao autor de romances: Mia Sosa, Sabrina Sol,
Diana Muñoz Stewart, Priscilla Oliveras, Alexis Daria e Adrialla Herrera.
Como sempre, a minha família e maiores apoiadores, todos vocês sabem
quem são, mas com um agradecimento especial ao meu irmão Danilo
Córdova. Continue fazendo boa arte.
Por fim, a todos os leitores que adquiriram este livro. Desde o meu
primeiro conto, vocês me acolheram no lado literário da galáxia. Não posso
agradecer o suficiente pelo seu apoio.
Que a força esteja com vocês.
Com amor,
Zoraida
Sobre a Autora
zoraidacordova.com
Star Wars: Guardiões dos Whills
Baixe agora e leia
Quando Jyn Erso tinha cinco anos, sua mãe foi assassinada e seu
pai foi tirado dela para servir ao Império. Mas, apesar da perda de
seus pais, ela não está completamente sozinha, — Saw Gerrera, um
homem disposto a ir a todos os extremos necessários para resistir à
tirania imperial, acolhe-a como sua e dá a ela não apenas um lar,
mas todas as habilidades e os recursos de que ela precisa para se
tornar uma rebelde.Jyn se dedica à causa e ao homem. Mas lutar ao
lado de Saw e seu povo traz consigo o perigo e a questão de quão
longe Jyn está disposta a ir como um dos soldados de Saw. Quando
ela enfrenta uma traição impensável que destrói seu mundo, Jyn
terá que se recompor e descobrir no que ela realmente acredita… e
em quem ela pode realmente confiar.
Sylvestri Yarrow vive uma maré de azar sem fim. Ela tem feito o
possível para manter o negócio de carga da família em
funcionamento após a morte de sua mãe, mas entre o aumento das
dívidas e o aumento dos ataques dos Nihil a naves desavisados, Syl
corre o risco de perder tudo o que resta de sua mãe. Ela segue para
a capital galáctica de Coruscant em busca de ajuda, mas é desviada
quando é arrastada para uma disputa entre duas das famílias mais
poderosas da República por um pedaço do espaço na fronteira.
Emaranhada na política familiar é o último lugar que Syl quer estar,
mas a promessa de uma grande recompensa é o suficiente para
mantê-la interessada... Enquanto isso, o Cavaleiro Jedi Vernestra
Rwoh foi convocada para Coruscant, mas sem nenhuma ideia do
porquê ou por quem. Ela e seu Padawan Imri Cantaros chegam à
capital junto com o Mestre Jedi Cohmac Vitus e seu Padawan,
Reath Silas, e são convidados a ajudar na disputa de propriedade
na fronteira. Mas por que? O que há de tão importante em um
pedaço de espaço vazio? A resposta levará Vernestra a uma nova
compreensão de suas habilidades e levará Syl de volta ao
passado... e às verdades que finalmente surgirão das sombras.