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Capa
Página Título
Direitos Autorais
Dedicatória
Índice
Epígrafo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Sobre o Ebook
Agradecimentos
Sobre a Autora
Era uma vez uma menina que não tinha nada, e não estava contente.
O mundo dela era duro e desolador. Cresceu cercada de poeira e
abandonada, e estava sempre com fome porque nunca havia o suficiente
para comer. A suava desconfortavelmente enquanto trabalhava sob os sóis
do deserto e congelava à noite quando o calor evaporava. A sua família se
foi, e não havia ninguém para consolá-la desde que era pequena.
Mas a garota tinha algo, uma crença que ninguém poderia tirar dela.
Tinha fé na bondade inerente da galáxia e nas forças que fazia isto
funcionar. Embora ninguém se importasse com os sentimentos ou o futuro
dela, importava-se com as pessoas ao seu redor e mostrava isto a elas de
pequenas maneiras. Não sabia, mas isso a tornava especial. Outra pessoa
pode ter se transformado sob a mesma pressão e conhecido apenas ódio.
Sempre foi generosa, sempre oferecendo ajuda a quem precisava, porque
não conseguia manter o seu espírito contido.
À medida que crescia, aprendeu mais sobre como a galáxia deveria
funcionar. Os Jedi e a cruzada deles para manter o equilíbrio. A República
e as suas leis que não podiam protegê-la. O que conseguiu em vez disso foi
um criminoso atrás do outro, aqueles que usaram o seu poder apenas para
servir a si mesmos. Outra garota poderia ter desistido, resignado ao seu
destino e se amargurado com isso. Conhecia muitos que tinham, e não os
culpou. Eles fizeram o que precisavam fazer para sobreviver. Mas havia
algo nela que sempre a afastava da escuridão, não importa o quão tentador
fosse.
A menina ficou mais velha. O deserto marcou o seu rosto antes do
tempo e rachou a pele de suas mãos. Trabalhava sem parar, até mesmo
mexendo em projetos em seu tempo livre para afastar a solidão. Poderia
vender o seu trabalho, embora nunca tivesse dinheiro suficiente para
comprar a sua liberdade. Ninguém a notou, pelo menos ninguém em
Tatooine.
Não foi algo que ouviu, não exatamente. Foi um chamado, mas foi o
tipo de chamado que você sente. Em algum lugar, na galáxia, algo estava
lhe esperando. Não entendia e não tinha muito tempo para tentar descobrir,
mas quando sonhava, ouvia uma música e se sentia menos sozinha.
A música lhe prometia algo que, pelo menos por um tempo, seria só
dela. Não haveria propriedade, nenhuma obrigação pressionada. Apenas
amor e conexão e a sensação de um lar. A garota não se sentiu manipulada,
mesmo que o poder que cantava para ela estivesse além da sua percepção.
A garota sabia que nada era permanente. Até as cicatrizes nas suas
costas poderiam ser devidamente curadas se alguém se importasse o
suficiente com ela para fazê-lo. A estava sendo oferecida uma chance de
alegria, uma chance de pertencer a alguém porque escolheu, e não porque
foi roubada. Uma chance de ter alguém que a olharia e sentiria amor. Algo
pelo qual vale a pena lutar.
Shmi Skywalker estendeu as mãos para as estrelas e disse:
— Sim.
Por uma das poucas vezes na sua vida, Padmé Amidala não tinha ideia do
que fazer. Guardava segredos o tempo todo, mas este era diferente.
Normalmente, as garotas com quem compartilhava os seus segredos
também a ajudavam a mantê-los. Elas não eram apenas as suas confidentes;
elas mantinham a sua teia de segredos juntas. E desta vez estava sozinha.
Um leve zumbido no canto da sala a lembrou que isso não era
inteiramente verdade. Havia outros seres que guardavam esse segredo com
ela, embora não muitos. O único problema era que nenhum deles poderia
ajudá-la agora. Ao menos, tinha certeza disso. Mas não custa perguntar.
— Eu suponho que você não sabe nada sobre confecção de vestidos? —
ela perguntou à pequena unidade R2 azul.
Ele virou a sua cúpula de um lado para o outro, imitando um humanoide
balançando a cabeça, e bipou talvez mais tristemente do que a situação
realmente exigia. Padmé agradeceu de qualquer maneira. Não havia razão
para ser rude.
Voltou à contemplação do tecido em seu colo. Não havia o suficiente
para um vestido totalmente novo, mas não esperava por isso. O pano estava
na sua família há várias gerações, cada pessoa recebeu um pedaço dele para
incorporar nas suas roupas de casamento. A sua irmã, que havia optado por
não se casar, havia usado a parte dela para fazer roupas para as filhas,
mostrando que aceitava novas adições à família.
Doeu, um pouco, estar fazendo isso sozinha. Anakin não entendia, mas
não podia esperar que ele entendesse. Ele entendia de família, é claro, e
queria manter uma tradição. Era uma roupa com a qual ele estava um pouco
menos familiarizado. Apreciou que a sua compaixão o levou a dar-lhe
tempo e espaço para trabalhar em uma solução. Eles estavam com um
pouco de pressa.
R2-D2 chilreou novamente, e quando ele teve a atenção dela, ele
projetou uma imagem holográfica entre eles. Era uma arte familiar, uma das
janelas do palácio de Theed que havia sido substituída após a Batalha de
Naboo. Isto a mostrava, quando ainda era rainha, cercada por as suas aias
de manto laranja. A sugestão do droide era clara.
— Eu não posso, R2, — Padmé disse a ele. Causava-lhe uma dor quase
física ao dizer isso. — O que estamos fazendo tem que ser um segredo. Eu
não posso trazê-las pra isso.
A projeção mudou para uma imagem da holonet tirada durante as
comemorações da vitória há dez anos. A Rainha Amidala estava de branco
ao lado do líder Gungan, Boss Nass, cercado por membros da sua corte. R2-
D2 deu um zoom em uma aia em particular e apitou encorajadoramente.
— Eu não sei, R2, — Padmé ponderou. — Não parece justo pedir ajuda
e não dar detalhes.
O droide fez um som que de alguma forma conseguiu replicar um
encolher de ombros, e a imagem desapareceu.
Padmé considerou a sua sugestão. Não estava pedindo ajuda como
rainha ou senadora desta vez. Isso teria sido normal e fácil. Estava pedindo
ajuda como Padmé, e de alguma forma isso tornava tudo confuso e
complicado. Achava que sabia onde estavam os limites, mas raramente os
testava. Não era muito boa em pedir às garotas que a ajudassem como
amigas. Elas passaram muito tempo a seu serviço.
Mas elas eram amigas. O que compartilhava com as suas aias, atuais e
antigas, era uma amizade tão profunda que incluía grandes partes do seu
coração. Lamentou por Cordé e Versé, mesmo quando se regozijou com os
sucessos que as outras haviam encontrado além da sua esfera de influência.
Certamente ela, Padmé, poderia pedir isso.
Decisão tomada, pegou o tecido para não tropeçar nele, levantou-se e
foi até o console de comunicações.
Saché havia ligado para ela várias horas antes, dizendo que não estaria em
casa em uma hora razoável e que não a esperasse acordada. Isso foi, pensou
Yané, o melhor que podia acontecer. A cama delas estava cheia de crianças
dormindo. Um deslizamento de terra em uma das regiões orientais do
continente secundário de Naboo havia destruído a maior parte de uma vila
quatro dias antes. Os únicos sobreviventes foram oito crianças que estavam
em um transporte escolar no momento do desastre. Enquanto Saché e outros
representantes do governo trabalhavam para estabilizar o deslizamento e
calcular a extensão total dos danos, Yané abriu a casa delas para as crianças.
Quatro delas haviam sido acolhidas por outros membros da família, mas
as quatro restantes, todas primas, pareciam ter perdido todos. Yané estava
fazendo o possível para que elas se sentissem seguras e bem-vindas, mas
sabia que o trauma não era tão fácil de lidar. Se elas quisessem dormir
amontoadas na cama que dividia com Saché, eram bem-vindas. Era grande
o suficiente.
Como sempre fazia quando tinha um momento pra si mesma, Yané foi
para o seu tear. Não tinha muito tempo para fazer tecidos hoje em dia,
embora ainda fizesse a maioria das roupas das crianças, assim como as suas
e as de Saché. Era sempre bom voltar ao início da sua forma de arte, então
quase decidiu ignorar o console de comunicações quando chamou a sua
atenção, antes que o bom senso se reafirmasse. Quando viu quem estava
chamando, ela estremeceu de emoção.
— Senadora! — ela disse quando Padmé apareceu na frente dela. — A
que devo o prazer?
Sabia que Padmé estava em Naboo, é claro. Chegou após o incidente
com Geonosis e foi diretamente para a casa do lago com um pedido para
que não fosse incomodada. Saché havia relatado que a guerra estava se
espalhando e que Naboo quase certamente estaria envolvido, mas os
detalhes eram poucos e distantes entre si. Ainda assim, Yané ficou feliz em
ver Padmé.
— Olá, Yané, — Padmé respondeu. — Lamento ligar tão tarde. Eu
esperava que você estivesse disponível.
— A sua sincronia é perfeita, — Yané disse a ela. — Saché ainda está
trabalhando, lidando com o desastre do deslizamento de terra, e todos os
sobreviventes estão dormindo em nossa cama. Estou completamente à sua
disposição.
— Ah, — Padmé disse. — Eu sinto muito. Eu tinha esquecido do
deslizamento de terra. Você tem tudo o que precisa para as crianças a mais?
Você deve estar tão ocupada.
— Você tem muitas outras coisas com que se preocupar, — Yané
observou. — E eu também, para ser perfeitamente honesta, mas no
momento, eu poderia ter uma distração. Sobre o que você queria falar?
Padmé hesitou e, naquele momento, Yané soube que era um favor
pessoal. Se fosse relacionado ao trabalho, teria simplesmente declarado o
motivo da ligação.
— Eu gostaria do seu conselho sobre um vestido, — Padmé disse
finalmente.
Yané reconheceu imediatamente o pano, ou melhor, a sua função, senão
o seu uso particular. Este ia ser um vestido de noiva. Para Padmé.
Aparentemente do nada, mas agora que a senadora passava tanto tempo fora
do mundo, não era de surpreender que fizesse coisas que Yané desconhecia.
No entanto, isso ainda doía. Yané deixou um pouco disso transparecer
em seu rosto e viu Padmé reconhecê-lo pelo que era. Elas não precisavam
de palavras. Isso era o suficiente.
— Você deveria usá-lo como o seu véu, — Yané sugeriu, indo direto ao
assunto agora que elas limparam o incomodo entre elas. — Há alguns anos,
o estilo era incorporar o tecido na cauda ou na faixa, mas acho que um véu
será mais uma peça de afirmação para você.
O tecido de casamento de Yané foi incorporado tanto na cauda quanto
na faixa, já que usou o seu próprio tecido e o de Saché no desenho. O
figurino de Saché era o espelho do dela, com calças largas no lugar da saia
para o seu gosto pessoal. Isso foi há quase dois anos.
— Isso faz sentido, — Padmé disse. — Eu posso lidar com tanta costura
aqui. Você tem uma sugestão para o vestido em si?
Yané olhou atentamente para o pano nas mãos de Padmé e depois para o
chão até onde estava seu tear. Padmé merecia mais do que um vestido que
pudesse montar com qualquer peça que tivesse com ela. Merecia algo feito
pelas mãos de uma amiga. Se Yané pegasse os teares mecanizados e
bebesse um bule inteiro de café, conseguiria. Saché não voltaria para casa
esta noite de qualquer maneira.
— Eu vou cuidar disso, — ela respondeu.
Todo o rosto de Padmé se transformou enquanto sorriu. Não era o
sorriso da rainha ou da senadora, mas o pessoal que Yané via com pouca
frequência e valorizava todas as vezes. O que quer que Padmé estivesse
fazendo, estava feliz, e Yané não podia negar que a felicidade de Padmé era
uma de suas coisas favoritas. Isso fez tudo valer a pena, até mesmo os
segredos guardados enquanto Padmé se afastava delas.
— Obrigada, — Padmé agradeceu. — Muito obrigada.
Elas não se demoraram no canal, embora ambas tivessem muitas coisas
sobre as quais adorariam falar. Elas tinham trabalho a fazer.
A lista na qual Dormé estava trabalhando era muito curta. Não tinha certeza
de quanto tempo Padmé estava planejando ficar em Naboo, e não queria
saber o que estava fazendo, mas Dormé tinha a sua própria tarefa enquanto
isso. Era um pouco mórbido, substituir as suas colegas de trabalho, mas
tinha que ser feito. Cordé e Versé se foram, e Dormé não podia fazer tudo
sozinha. Elas precisavam de mais aias.
— Eu acho que deveria ser diferente desta vez, — Padmé observou.
Dormé estava voltando para Theed com Typho. Padmé já havia
desembarcado e partiu para a Região dos Lagos. — Quando trouxemos
você e as outras, estávamos procurando talentos específicos. A primeira
vez, eu estava atrás de sósias e amigas. Acho que desta vez, estou
precisando mais...
A sua voz havia sumido, mas Dormé sabia para onde estava indo. Não
era apenas a dor falando, também. Era praticidade.
— Você precisa de assessoras no Senado, — Dormé disse. — Você
precisa de aias para realmente fazer o que todo mundo pensa que aias fazem
de qualquer maneira. Eles não serão tão multi-talentosas quanto as suas
equipes anteriores, mas ainda podemos encontrar pessoas leais e que
desejam servir.
— É justo pedir para elas fazerem isso? — Padmé questionou. Serviço
sem amizade parecia frio pra ela. — Ofereci ao apoio de vocês muito mais
em troca, em termos de um relacionamento comigo e um desafio em seu
trabalho.
— Elas não vão entender de outra maneira, Senadora, — Dormé
apontou. — E você ainda vai me ter, é claro.
— Vou deixar com você, então, — Padmé disse a ela. — Obrigada.
— As minhas mãos são as suas, — Dormé murmurou, e a conexão foi
cortada.
Agora, sentada com a lista de nomes, Dormé estava satisfeita com o
andamento das entrevistas. As aias eram basicamente lendárias. Todo
mundo sabia que apenas a melhor das melhores poderia ser uma, ninguém
sabia exatamente o que elas faziam, e a maioria das pessoas nunca pensou
que teria a chance de descobrir. Três das entrevistadas eram claramente
mais aptas para a vida na própria corte de Theed. Dormé já havia enviado
uma recusa educada e uma carta de recomendação ao palácio. A quarta era
muito parecido com Dormé no conjunto de habilidades, dado o que Padmé
estava procurando por agora. Mesmo três meses antes, teria sido perfeita.
Compartilhou o nome com Saché, caso Saché precisasse.
Isso a deixou com duas. Tinha gostado de ambas as candidatas quando
as entrevistou e ficou satisfeita que ambas voltaram para a conversa
secundária. Elas sabiam que estavam substituindo as aias que haviam
morrido, e Dormé não as culparia se elas decidissem desistir.
— A Senadora está ansiosa para conhecê-las, — Dormé disse depois
que elas terminaram de assinar os seus contratos. — A agenda dela pode ser
um pouco imprevisível, mas está com a família no momento, então vocês
têm algum tempo para ir para casa e fazer os seus arranjos para deixar
Naboo. Eu recomendo trazer apenas alguns itens pessoais. Vamos equipá-
las com todo o resto, e é mais fácil se mover rapidamente.
Ambas as garotas assentiram e então trocaram olhares. Dormé decidiu
esperá-las.
— E os nossos nomes? — Elleen perguntou finalmente.
Dormé ficou agradavelmente surpreendida. Não era uma regra que as
aias mudassem de nome, e não tinha planejado trazer isso à tona a menos
que elas o fizessem, mas era sempre um bom sinal. Já, em toda Naboo, as
crianças estavam sendo nomeadas com a terminação é em homenagem a
Padmé. Era uma moda, como os mantos com capuz na corte, mas ainda
fazia parte do seu legado.
— Nós somos de Naboo, — Dormé disse a elas. — Eu vou chamá-las
do que vocês quiserem ser chamadas.
— Eu serei Ellé então, — disse a garota. Claramente estava pensando
sobre isso. Dormé olhou para a segunda.
— Moteé, — ela disse. Não era particularmente tímida; ela apenas
preferia deixar os outros falarem se eles fossem fazer isso de qualquer
maneira.
— Vou alterar os arquivos, — Dormé informou. — Em nome da
Senadora Padmé Amidala, estou feliz em dar-lhes as boas-vindas.
As novas aias foram embora, e Dormé enviou os arquivos delas para
Padmé para que pudesse se familiarizar com elas. Não houve resposta, e
Dormé não esperava uma. Contanto que não soubesse o que Padmé estava
fazendo, não poderia pedir a sua opinião sobre isso, e a sua opinião não era
da conta de ninguém de qualquer maneira. Padmé lhe diria eventualmente.
Era assim que acontecia.
Um toque suave indicou uma mensagem recebida. Dormé sorriu: era
Typho.
— Você terminou então? — ele perguntou, com o seu rosto holográfico
aparecendo na frente dela. Sempre ficava feliz em vê-lo, mesmo quando ele
estava azul e quase transparente.
— Sim, — ela respondeu. — Uma equipe completa para a viagem de
volta a Coruscant.
— Excelente, — ele disse. — Eu tenho uma mesa reservada naquele
lugar de macarrão para o qual Eirtaé está cultivando algas. Você quer ir
comer arte?
Dormé riu e disse que adoraria. O seu trabalho era importante e muito
gratificante, mas às vezes era bom estar em casa.
Saché veio trabalhar esperando um longo dia de debates e discussões
enquanto a legislatura de Naboo trabalhava para lidar com as consequências
do deslizamento de terra no continente secundário. Sabia que Yané tinha a
parte mais importante da situação sob controle: os sobreviventes estavam
em segurança e sendo atendidos. Cabia a todos os outros avaliar a situação
e fazer o possível para garantir que nada parecido acontecesse novamente.
Demorou algumas horas, mas a legislatura avançou em um ritmo
razoável na sua lista de tarefas. Equipes de pesquisa foram enviadas para o
local do deslizamento e para as regiões vizinhas. Engenheiros foram
chamados para desenvolver novos mecanismos de segurança. Os
agricultores foram consultados sobre a melhor forma de avançar com mais
terraços das colinas. Fundos médicos foram reservados para as crianças
órfãs, para garantir que seriam cuidadas se precisassem de algo além do que
os seus cuidadores pudessem fornecer. Embora a sua agenda estivesse
enraizada no desastre, a legislatura realmente teve um dia muito bom. Eles
fizeram todo o seu trabalho e ninguém saiu muito do assunto ou tentou
manipular os procedimentos para ganho pessoal. Na verdade, eles estavam
prestes a encerrar a noite quando um jovem legislador de Theed se levantou
e pediu a palavra.
— Honrados colegas, sei que tivemos um longo dia, — começou o
jovem. Saché se preparou para um longo discurso. — Mas agora que
lidamos com a nossa própria crise no planeta, sinto que devemos voltar a
nossa atenção para a situação galáctica.
Houveram alguns resmungos sobre isso. Todo mundo sabia que era
importante, mas era tarde, e eles não podiam fazer nada até amanhã de
qualquer maneira.
— Eu sei, meus amigos, — continuou o jovem homem. — Mas já
estamos aqui e um assunto de alguma importância foi trazido à minha
atenção, porque afeta não só Naboo, mas todo o setor Chommell.
Isso chamou a atenção de Saché. As relações com os outros planetas do
setor Chommell eram cordiais, mas não haviam progredido tão bem quanto
a rainha Amidala esperava depois do seu reinado.
— Em face da Guerra dos Clones, — disse o jovem, experimentando as
palavras pelo que parecia ser a primeira vez, — eu recorro à orientação de
um profissional militar para aconselhar a legislatura e me rendo ao Capitão
Quarsh Panaka.
Agora a sala zumbia com interesse. Quarsh Panaka raramente falava em
público. Os seus pedidos por mais militarização depois que o canhão de
íons foi construído foram quase totalmente rejeitados, e a maior parte da sua
credibilidade com a coroa foi gasta. Porém, ele ainda tinha amigos na
legislatura, e sempre que aparecia, era invariavelmente algum tipo de
evento. Saché aproveitou a distração de todos para anotar para ligar para
Yané no próximo intervalo e dizer para ela não esperar acordada.
Panaka caminhou até o centro da sala. Esta era um odeon, e pequena o
suficiente para que a acústica funcionasse sem o auxílio da tecnologia. O
que quer que Panaka dissesse seria ouvido perfeitamente nítido, desde que
ele não andasse de um lado para o outro.
— Legisladores, — ele começou, — não estou interessado em mantê-
los acordados até além da hora de dormir sem motivo, mas com o início da
Guerra dos Clones, há coisas com as quais Naboo deve lidar.
A resposta murmurada àquilo foi de levemente ofendida, mas todos
foram educados demais para gritar com ele.
— Aparecendo nas suas telas agora está uma cópia de um projeto de lei
antigo, uma vez aprovado nestes mesmos salões, — Panaka disse. Saché
olhou para a sua tela pessoal e começou a ler, dividindo o foco. — Como
vocês verão, remonta à época em que Naboo se expandiu para os planetas
desabitados do setor. Como parte do seu acordo, os colonos assinaram um
contrato que permanece válido até hoje.
— Apenas nos diga o que diz o contrato, Capitão. — O Governador
Bibble estava claramente se irritando.
— Claro, Governador, — Panaka disse. — Em troca do empréstimo dos
custos iniciais de Naboo, os colonos concordaram em ser chamados a suprir
Naboo em tempos de emergência. Não o fizemos durante a Ocupação
porque não tivemos tempo, mas poderíamos ter solicitado. Eles seriam
legalmente obrigados a nos dar o que decidíssemos que precisávamos.
Um silêncio mortal saudou a sua declaração. Saché encostou-se no
botão do alto-falante com tanta força que pensou que poderia quebrá-lo.
— Legisladora Saché? — o droide de protocolo a reconheceu.
— Governador, — ela disse, e se levantou. — Capitão, os termos do
contrato são tão vagos assim?
— Sim, temo que sejam. — Ele não se dirigiu a ela com um título
honorífico, e o rosto dele suavizou um pouco quando ele falou com ela,
mesmo quando os olhos dele se demoraram nas cicatrizes que ele não
conseguiu evitar de olhar. Depois de todo esse tempo, ele ainda não
entendia completamente o que havia construído. — Uma vez que as
colônias estivessem economicamente estáveis, e agora estão, Naboo poderia
cobrar o empréstimo.
— Os planetas do setor sabem disso? — ela perguntou.
— Eles sabem, Vossas Excelências, — ele respondeu. Panaka se afastou
dela para se dirigir ao plenário geral novamente. — Devemos considerar
cuidadosamente o que faremos a seguir. A guerra chegará até nós, de uma
forma ou de outra, em breve. Naboo tem a reputação de fornecer ajuda. Se
tivermos os planetas Chommell para nos recorrer, também, isso afetará a
forma como abordaremos a distribuição de recursos nos dias que virão.
— E se eles não puderem se sustentar tão bem quanto nós? — Saché
ainda tinha a vez de falar, ao que parecia, embora ela não fosse a única
pessoa que gritou uma variação desta pergunta.
— É por isso que eu trouxe isto para vocês, — Panaka respondeu.
— Você tem os meus agradecimentos, Capitão, — Bibble disse. — Se
todos vocês tomarem os seus assentos novamente e retornarmos à ordem,
anotarei as recomendações sobre como proceder.
Saché não se incomodou em tentar acessar o alto-falante novamente.
Alguém se levantou para recomendar um recesso de quarenta minutos para
eles lerem o projeto de lei e formularem os seus pensamentos, e fazerem um
lanche, ou pelo menos isso estava implícito, e Bibble concedeu. Saché tinha
nove mensagens de aliados quando chegou ao seu escritório e três dos seus
adversários habituais, todos perguntando o que ia fazer. Por dez minutos,
ignorou tudo.
Todos se lembravam da Ocupação. Todos se lembravam de ficar sem
comida e depois, porque a Federação do Comércio se assegurou disso, não
ser capaz de distribuir a comida que eles tinham. A maioria deles estava em
acampamentos. Mas apenas Saché foi torturada.
As lembranças daquela experiência horrível a assombrava com pouca
frequência. Normalmente teria um pesadelo, e então Yané a acalmava para
voltar a dormir, e isso era tudo. Às vezes, se a menção da Ocupação a
pegasse desprevenida, a sua respiração ficava presa no peito e se lembrava
da dor com muita clareza. Isso não era nenhuma dessas duas coisas.
Lembrava-se, mas isso não a consumia. Este era um fogo que podia
canalizar.
Saché respirou fundo e olhou para o espelho que guardava na gaveta da
escrivaninha. Rabé desenhou duas versões da mesma maquiagem para ela.
Uma era um encobrimento que a suavizava a sua pele para um tom
uniforme. Quase nunca usava. A segunda, era que usava quase todos os
dias, destacava a diferença gritante entre a sua pele pálida e a vermelhidão
crua de suas cicatrizes. Ela as merecia, e elas doeram muito, então iria usá-
las. Quando falasse esta noite, todos a veriam e saberiam.
Saché voltou ao plenário trinta minutos depois, tendo entrado em
contato com a sua esposa e dado boa-noite a tantos dos seus filhos que
passaram pela transmissão. A mesma campainha convocou a todos os
outros. A noite se prolongou enquanto os legisladores falavam e as facções
se formavam. Panaka não voltou a falar, mas ficou o tempo todo no
plenário, e Saché se perguntou como ele se deparou com informações tão
vitais naquele exato momento. Ele não era do tipo que vasculhava arquivos
antigos da política de Naboo por diversão. Se houvesse uma guerra, talvez
ele estivesse procurando um caminho de volta às boas graças da Rainha.
Afinal, ele sempre teve o bem de Naboo perto do seu coração, mesmo que
discordasse de todos os outros sobre como fazer isso.
Finalmente, chegou a vez de Saché falar, e se levantou para se dirigir ao
legislativo. Não expressou nenhuma de suas especulações, ainda não. Era
hora de encontrar boas perguntas, não espúrias. E sempre poderia descobrir
mais se ninguém soubesse o que realmente estava procurando.
— O meus amigos, estamos em uma encruzilhada, — ela disse. — E
nós temos uma escolha. Podemos ser ditatoriais e implacáveis e garantir as
nossas próprias necessidades antes das dos outros. Ou podemos cancelar
este projeto de lei sem rodeios e declará-lo águas passadas. Eu acho que
todos vocês sabem a minha posição sobre isso.
Houveram alguns aplausos na sala com a sua declaração.
— O que não muda é isso, — ela concluiu. — Devemos chegar nos
outros planetas e ver se há uma maneira de trabalharmos juntos. Todos nós
temos recursos que os outros planetas precisam, e não há razão para não
cooperar. Mas isso deve ser feito sob os auspícios de uma boa governança,
não com uma lei ultrapassada, assinada por nossos ancestrais em tempos
desesperados.
Eram quase três da manhã quando Bibble solicitou um intervalo os
procedimentos. O discurso de Saché foi recebido de forma mais favorável,
mas havia um contingente maior do que o confortável de legisladores que
não queria que o projeto fosse revogado. Eles estavam tão preocupados com
as dificuldades que os afligiam que não conseguiam entender, ou não se
importavam, como isso afetaria os outros para manterem o seu padrão de
vida. Eles não podiam aceitar que Naboo pudesse sofrer ao lado dos seus
vizinhos, como uma escolha deliberada de se juntar a eles em vez de
explorá-los. O seu medo os tornaram egoístas e míopes. Então, depois de
tudo isso, não houve votação de qualquer maneira. Bibble os liberou com
instruções para retornarem ao debate no dia seguinte ao meio-dia.
Saché pensou em tentar alcançar Panaka na saída, mas foi cercada pelos
legisladores que queriam manter o projeto, e não aguentou falar com
nenhum deles, então voltou para o seu escritório. Enviou uma mensagem à
governadora de Karlinus, uma velha amiga, e a Harli Jafan, que geralmente
era pelo menos um aliado razoável. Havia uma foto de Yané em uma cama
familiar cheia de crianças e uma mensagem de Dormé sobre uma pessoa
que poderia ser uma boa assistente. Saché definitivamente precisava disso,
mas decidiu esperar até uma hora mais razoável para agir.
Deixando todo o resto até depois que tivesse um pouco de descanso,
Saché se enrolou no sofá que Yané comprara exatamente para isso e foi
dormir.
O quarto de Quarsh Panaka no quartel era frio, como ele preferia. Mariek
sempre aumentava o calor e, embora ficasse feliz sempre que ela estava
feliz, isso também era muito bom. A noite na legislatura foi quase
exatamente como ele havia imaginado: muita conversa e nenhuma
resolução. Mais legisladores do que ele esperava eram na verdade a favor
de manter o projeto como estava. Eles seriam anulados, é claro, mas haveria
concessões e compromissos quando isso acontecesse, e Panaka poderia usar
isso para fortalecer as defesas de Naboo.
Antes de dormir, ele disparou uma mensagem rápida para Coruscant. O
Chanceler Palpatine era um homem ocupado, mas ele ainda tinha tempo
para escrever para Panaka de vez em quando. Ele disse que ler a história de
Naboo e conversar sobre isso com amigos de casa o ajudava a se concentrar
e o lembrava do seu propósito, mesmo quando a galáxia se transformou em
guerra. Ele ficaria satisfeito em saber que Panaka havia agido de acordo
com a sua última mensagem e que o seu planeta natal, como sempre, estaria
tão seguro quanto eles pudessem mantê-lo.
O sol havia nascido, mas ainda não havia clareado as montanhas quando
Padmé mergulhou no lago. Era a sua hora favorita de nadar, aquele
momento em que havia luz suficiente para enxergar antes que o dia
realmente começasse. A água estava clara e fria, como sempre. O lago era
alimentado por riachos da montanha, e o povo de Naboo tomava o cuidado
de não poluí-lo com o escoamento agrícola. Antes que o calor do dia
aquecesse as águas, nadar era um despertar abrupto. Padmé queria uma
cabeça limpa.
Não que se sentisse confusa ou insegura no que estava fazendo. Se
ainda tinha alguma coisa, a sua conversa com Yané na noite anterior e as
horas meditativas passadas costurando a deixaram mais segura. O que a
incomodava era que sempre se considerava uma pessoa direta e honesta.
Sim, guardava segredos, mas eram pelo bem do seu planeta, do seu povo. E
sempre haviam alguns que conheciam toda a história. Agora as suas
verdades estavam divididas, entre aqueles com quem se importava, e
nenhum deles tinha o quadro completo. Só ela, sozinha e no centro da sua
própria vida.
Gostava disso. Mesmo que sofresse por os seus amigos e sentisse a falta
dos seus pais e da irmã, adorava a solidão daquele momento, de saber que a
sua decisão era somente dela. Era contraditório, outra coisa que nunca tinha
sido, mas estava crescendo, e isso iria mudá-la.
Por muito tempo, a sua vida girou em torno da percepção de outras
pessoas sobre ela. O que devia fazer e como devia se vestir. Como as suas
decisões afetariam as massas de pessoas que nunca conheceu. Era um fardo
tremendo, e o carregava desde criança. Não se importava, às vezes se
divertia com a responsabilidade, mas com a liberdade de ser desconhecida
na frente dela, sentiu uma onda de excitação. Anakin seria dela, e ela seria
dele, e quase ninguém em toda a galáxia compartilharia isso com eles.
Padmé mergulhou o mais fundo que pôde, ficando debaixo d'água onde
estava quieto pelo maior tempo possível. Quando os seus pulmões
queimaram por ar, impulsionou de volta, rompendo a superfície com uma
cascata de gotas de água brilhando ao sol da manhã. Tudo era perfeito. O
lago, a casa, o seu espírito. Construiu tantas coisas na sua vida, casas,
hospitais, alianças e acordos; e agora teria algo que era só pra ela. Bem, só
pra ela e pro Anakin. Seria algo novo. E mesmo que eles guardassem isso
para si mesmos, Padmé sabia que o amor deles iria brilhar intensamente.
O dia estava começando. Teria que voltar para a vida real
eventualmente. Mas o lago a lembrava, como sempre, da paz e
tranquilidade do lar e da promessa de lugares que ninguém mais poderia
alcançar. Seguiu em direção ao cais, revigorada e pronta para enfrentar o
dia.
Anakin Skywalker não estava totalmente pronto para isso. O que, ele
percebeu, não era uma surpresa. O seu treinamento se concentrou
inteiramente no altruísmo e no desapego. Isso pode ser suficiente para a
maioria dos Jedi, mas não era o suficiente para ele.
Verdade seja dita, Anakin decidiu se casar com Padmé na cozinha da
casa do seu padrasto. Ele observou a maneira como Owen e Beru se
moviam ao seu redor enquanto preparavam o almoço, entregando coisas um
ao outro antes de serem solicitadas e rindo enquanto esbarravam um no
outro. Era uma conexão que não tinha nada a ver com a Força, e Anakin
queria isso. A sua mãe deve ter tido algo assim com Cliegg também. Ficou
claro pela maneira como todos falavam de Shmi que ela não tinha sido uma
reflexão tardia na família Lars. Tinha sido o centro. E ele não tinha feito
parte disso.
Isso não era verdade. Eles souberam quem ele era no momento em que
o viram e imediatamente o levaram para a casa deles. Ela deve ter falado
sobre ele com frequência e deixou claro que se ele viesse visitá-la, ele
deveria ser incluído. E eles o incluíram. Como se isso não fosse nada.
Como se ele fosse da família. Os Jedi nunca lhe deram isso. E agora ele
poderia construir a sua própria família.
Havia um santuário para a memória de Qui-Gon Jinn em Naboo. Dez
anos se passaram, mas ainda era um local de peregrinação popular. Não era
a época certa do ano para memoriais, então quando Anakin conduziu o
speeder da casa e saiu para vê-lo naquela manhã, esse estava quase deserto.
Anakin sentou-se no meio do chão de pedra e apoiou as mãos nos
joelhos. A mão de metal era algo a que ele ainda estava se adaptando, uma
protuberância, ainda não uma prótese verdadeira. Medicamente, tudo estava
bem e, do ponto de vista da engenharia, a mão estava perfeita. Anakin podia
sentir a diferença, porém, mais do que as sensações estranhas que às vezes
emanavam dos nós dos dedos e articulações que não estavam mais lá. Ele já
tinha uma lista de modificações que faria quando voltasse para a sala de
trabalho do Templo. A mão era dele, e ele iria se certificar de que era
exatamente o que ele queria.
Ele ignorou as suas preocupações mundanas e se conectou com a Força.
Ele tinha ouvido a voz de Qui-Gon no deserto, implorando para que ele
ouvisse a sua melhor natureza, não cedesse ao seu ódio. Ele não tinha
ouvido. Na época, ele disse a si mesmo que estava imaginando isso, mas ele
sabia que estava mentindo pra si mesmo. Se Qui-Gon estivesse lá fora, de
alguma forma, Anakin lhe devia um pedido de desculpas. E ele sempre
apreciaria o conselho do Mestre.
Mas ele não encontrou nada. Anakin olhou mais fundo. Havia tanta luta
em seu futuro, mas era tudo pelo bem da República, pela ordem. Talvez
fosse isso que Qui-Gon queria que ele visse. Sempre havia uma maneira
para ele fazer isso direito.
Ele se sentiu centrado. Em paz. Sim, havia uma guerra, e não, ele não
sabia muito sobre ser casado, mas ele podia ver o caminho a seguir, e ele
não teria que andar sozinho. Olhando para as suas vestes Jedi, se perguntou
pela primeira vez se deveria ter pedido ao C-3PO para encontrar uma roupa
melhor para se casar. Ele tinha certeza de que Padmé teria alguma coisa.
Vestidos incríveis pareciam acontecer apenas em Naboo. Mas não: ele era
um Jedi se casando. Seria pelo menos fiel a si mesmo sobre isso. Havia
segredos suficientes em seu futuro. Se casaria como quisesse.
— Obrigado, Mestre, — Anakin disse, embora não soubesse se Qui-
Gon tinha sido responsável por qualquer coisa que ele tinha acabado de ver
e sentir.
Enquanto se preparava para voltar para a casa do lago, seus
pensamentos se voltaram para Padmé novamente. Ele gostava quando ela
estava feliz, e ela parecia tão feliz desde que eles voltaram para Naboo. Era
um lado dela que ele nunca tinha visto antes: despreocupada e casual.
Mesmo quando eles vieram para a casa do lago antes, ela se agarrou à
formalidade como um escudo. Agora ela estava totalmente relaxada, e eles
podiam estar absorvidos um no outro de uma forma que não seria possível
em nenhum outro lugar.
Anakin saiu do santuário, um homem em uma missão. Era o dia do seu
casamento, e tudo ia ficar perfeito.
Padmé não estava com muita pressa para fazer nada, então ficou em seu
roupão confortável enquanto o seu cabelo secava ao sol da manhã. Havia
vários assentos confortáveis na varanda exatamente para esse propósito, e
estava feliz em aproveitá-los. Tinha uma lista de coisas para fazer, mas
tinha muito tempo. Enquanto observava o sol ficar mais brilhante na
superfície do lago, ouviu o zumbido baixo de uma nave se aproximando.
Anakin pegou o speeder naquela manhã, então não pensou muito até que a
nave apareceu.
Mesmo à distância, Padmé podia reconhecer uma nave real Naboo. Esta
era para pequenos grupos de viajantes, algo que a Rainha poderia usar para
uma fuga rápida da cidade ou para enviar membros do seu círculo em uma
missão oficial. Só poderia estar indo para a casa do lago, Padmé sabia. Não
haviam outras casas na área onde o esquife pudesse atracar. Prendeu o seu
roupão e enrolou o seu cabelo úmido em um coque baixo na parte de trás da
sua cabeça antes de fazer o seu caminho até o píer.
A Rainha Jamillia desembarcou sozinha, deixando os seus guardas e
aias para trás para poder conversar com Padmé em particular. Estava
vestida com um pesado veludo vermelho-escuro, mas o seu rosto estava
exposto, e não tinha uma tiara elaborada sobre o cabelo. Qualquer que fosse
o assunto da sua visita, não era exatamente formal.
— Vossa Majestade, — Padmé disse, inclinando a cabeça. — A que
devo a honra?
— Senadora, — Jamillia cumprimentou, — peço desculpas por me
intrometer enquanto você está se curando. Você está bem?
— Ainda um pouco dolorida, — Padmé admitiu. — Mas nenhuma
reclamação além disso. Você virá até a varanda comigo? Ainda não tomei
café da manhã.
— Não posso ficar tanto tempo, — Jamillia respondeu. — Tenho um
favor a lhe pedir, se estiver disposta a ouvir. É um pouco sensível, e é por
isso que eu precisaria que você lidasse com isso não oficialmente.
Nunca ocorreu a Padmé recusá-la. Sabia que Anakin entenderia. Ele
também servia a um propósito maior do que ele mesmo.
— Estou feliz em fazer o que puder, — Padmé disse. — Por favor, me
diga do que você precisa.
— Vários membros do Coletivo Torada estavam fora do planeta quando
a guerra começou, — Jamillia disse. — Isso não é incomum, é claro, mas
cinco deles em particular estão atrás das linhas Separatistas, e os seus pais
gostariam que eles fossem recuperados.
O Coletivo Torada era uma variedade de artistas de Naboo que não se
encaixavam particularmente bem com os seus colegas. Alguns queriam
mais riqueza e reconhecimento do que poderiam obter das comunidades
artísticas de Naboo, alguns tinham ideais políticos que não eram
representados na legislatura e alguns só queriam se rebelar contra os desejos
de suas famílias. Eles tinham alguns condomínios no planeta onde podiam
viver e trabalhar em paz, mas muitos optavam por viajar com frequência.
— Eles estão todos juntos? — Padmé perguntou.
— Sim, — Jamillia respondeu. — Posso lhe enviar as coordenadas. É
possível que eles ainda não estejam em perigo, mas eu gostaria de estar o
mais preparada possível. Eu sei que você teve uma escolta Jedi na volta a
Naboo, e não posso enviar os meus próprios seguranças para fazer isso.
Existem pessoas de Naboo por toda a galáxia, e eu não posso ser vista como
a favor desse grupo.
— Claro, — Padmé disse. Sabia que havia algo que Jamillia não estava
dizendo, alguma razão pela qual a Rainha estava desesperada o suficiente
para vir a Padmé em vez de usar os canais oficiais. Mas Padmé também
sabia quando não fazer perguntas. Estava na política há muito tempo, e
Jamillia era uma pessoa em quem confiava. — Posso levar uma equipe
pequena e trazê-los de volta em segurança a tempo do jantar.
Era um pouco otimista, mas e Anakin planejaram uma cerimônia ao pôr
do sol de qualquer maneira. A vida das pessoas era o mais importante.
— Obrigado, senadora, — Jamillia agradeceu. — Se você me der
licença, devo voltar para a capital.
— Viaje bem, Vossa Majestade, — Padmé disse.
— Você também, Senadora, — Jamillia respondeu.
A Rainha voltou para o esquife real, que decolou imediatamente. A
embarcação desapareceu em instantes, deixando apenas ondulações na
superfície do lago para marcar o seu caminho. Padmé sentiu como se
tivesse sonhado a coisa toda, exceto que tinha um chip de dados da Rainha,
marcado como prioridade um, com todos os detalhes que iria precisar para a
viagem.
Outro zumbido se tornou audível no ar da manhã, e Padmé viu Anakin
voltando pelo lago em seu speeder. C-3PO estava determinado a mantê-los
separados antes da cerimônia, mas de jeito nenhum Padmé iria realizar essa
missão sem a ajuda de Anakin. Não havia outros guardas para levar com
ela, em primeiro lugar, e mais importante, ela estava emocionada com a
ideia de trabalhar com ele novamente. Observou enquanto ele acoplava o
speeder e saltava graciosamente para o píer à sua frente.
— O que é isso? — ele perguntou. — Senti algo inesperado.
— Nós temos que fazer uma viagem rápida, — ela disse a ele, um
sorriso brincando em os seus lábios. A boca dele se contraiu em resposta.
— Um pouco de heroísmo, e depois voltar aqui para o casamento.
— Vou dar a notícia para 3PO enquanto você se veste, — Anakin disse.
Ele lhe ofereceu o braço, e eles entraram na casa juntos.
Nooroyo se estendia abaixo deles, um planeta biodiverso de selvas
exuberantes e praias rochosas. Eles estavam indo para a parte mais quente
do mundo, o que era uma sorte porque o único equipamento de aventura
que Padmé tinha em mãos na casa do lago era uma nova versão daqueles
brancos triturados na arena Geonosis, e aqueles eram projetados para climas
quentes. Anakin usava a sua túnica e tabardo, mas deixou o seu manto
pendurada em um compartimento a bordo da nave.
Padmé adorou a expressão em seu rosto quando ele viu um novo planeta
pela primeira vez. Mesmo Geonosis, que não tinha sido exatamente uma
viagem de prazer, suavizou os olhos dele e apagou um pouco do estresse
dos seus ombros. Nooroyo, verde e bonito, iluminava os olhos dele com
uma curiosidade juvenil e um deleite irreprimível. Estava feliz em dar-lhe o
momento.
Uma voz cortou o silêncio:
— Nave não identificada, este é o controle primário de pouso do
Nooroyo. Por favor, identifique-se imediatamente.
— Olá, Controle, somos uma nave civil de Naboo e estamos aqui para
ver alguns dos nossos artistas. Eles vivem em um assentamento ao norte de
Cidade de Nooro, — Padmé disse.
Houve uma pausa, e Padmé suspeitou que eles estivessem examinando a
nave. A sua nave senatorial estava desarmada e eles não vieram com uma
escolta de caças. Se eles tivessem problemas, a pilotagem de Anakin teria
que ser suficiente para tirá-los disso.
— Situação confirmada, — disse a voz. — Por favor, siga a trajetória de
voo e a designação de pouso atribuídas. Todas as naves são registrados.
— Isso é novo, — Padmé disse depois que o canal foi fechado. —
Nooroyo é ainda mais acolhedor que Karlinus, lá no setor Chommell. Eles
geralmente não registram naves.
— Nós provavelmente temos que agradecer aos nossos amigos
Separatistas por isso, — Anakin disse. — Não gosto de toda essa
furtividade em vez de apenas dizer o verdadeiro motivo de estarmos aqui,
mas provavelmente é mais seguro para todos se pudermos acabar com isso
rapidamente.
Padmé concordou com o acenar da cabeça e voou com a nave ao longo
da rota prescrita para a comuna dos artistas. Anakin, apesar de toda a sua
grosseria sobre os Separatistas, passou o tempo todo olhando pela janela
para novas plantas e formações rochosas. Pousou a nave no cais designado,
pousando o mais levemente que pôde para não perturbar a flora local.
A comuna dos artistas era uma coleção bem conservada de prédios na
margem de um rio largo e caudaloso. Os prédios eram todos pintados de
azul brilhante, e flores estavam por toda parte, nos jardins ao longo das
calçadas e preenchendo quase todos os espaços disponíveis dentro da cerca
de metal esculpida. O cheiro era incrível quando Padmé saiu da nave, uma
brisa quente afastando o ar viciado do espaço e substituindo-o pelo frescor
de um novo crescimento. R2-D2 apitou apreciativamente.
Uma mulher humana alta caminhou na direção deles. Não parecia estar
com pressa. Padmé não sabia dizer se ela era uma dos Naboo que eles
foram enviados para resgatar, mas haveria tempo para isso depois das
apresentações.
— Saudações, viajantes, — a mulher disse. — O meu nome é Celena, e
esta é minha propriedade. Vocês são bem-vindo aqui, desde que cumpram
as nossas regras. Vocês vieram para ficar muito tempo?
— Olá, — Padmé disse. — Nós não viemos para ficar muito tempo,
embora a sua casa seja tão bonita, eu gostaria que tivéssemos mais tempo.
Estamos aqui em nome da Rainha de Naboo. Alguns dos seus súditos estão
aqui, e ela queria ter certeza de que eles estavam seguros, devido aos
eventos recentes.
O rosto de Celena endureceu, a sua pele de porcelana apertando ao
redor dos seus olhos enquanto ela piscava lentamente.
— Isso é compreensível, — ela disse. — Somos todos cidadãos
galácticos, independentemente de nossas afiliações políticas.
Os seus olhos pousaram em Anakin, observando as suas roupas e
penteados distintos, mas não disse nada para chamar a atenção para isso.
— Venham, — ela disse. — Vou levá-los para ver aqueles que vocês
procuram.
— Obrigada, — murmurou Padmé. Anakin disse a R2-D2 para
permanecer com a nave, e eles seguiram pelo caminho bem cuidado.
— Nós damos as boas-vindas a todos aqui, — Celena disse enquanto
caminhavam. Parecia ser o seu tom padrão. — Qualquer um que quiser
fazer arte sem supervisão pode ficar.
— Você mencionou regras? — Anakin indagou. — Que tipo de coisas
as pessoas que ficam aqui têm que fazer?
— Somos antiviolência, então o conflito não é permitido, — Celena
esclareceu. — Qualquer disputa deve ser resolvida por mim. Os moradores
não podem ser excessivamente bagunçados em os seus aposentos, e devem
ajudar a manter os jardins e coisas do tipo enquanto estiverem aqui.
— Isso parece mais do que justo, — Anakin observou com aprovação.
— Existem outras regras sobre comida e afins, mas isso não será
relevante para vocês se não ficarem, — Celena disse.
Era um convite para parar de fazer perguntas, e Padmé foi gentil o
suficiente para aceitar.
Eles caminharam sob um longo arco enfeitado com flores de cores
vibrantes, e Celena parou no final dele.
— Vocês vão esperar aqui, — ela disse. Não esperou por uma resposta
antes de ir para uma das casinhas azuis.
Padmé virou o rosto para o caramanchão e respirou fundo. As flores
cheiravam tão coloridas quanto pareciam, e fazia um tempo desde que
esteve em um jardim tão bonito.
— Você acha que o seu pai me mostraria como fazer esse tipo de flor...
coisa? — Anakin perguntou. — Quando o visitamos, notei o jardim dele e o
quanto você gostou. Eu sei que não podemos fazer nada assim agora, mas
talvez algum dia?
— A parte difícil é fazê-lo parar, — Padmé respondeu. Sorriu ao pensar
em Anakin construindo um jardim para ela, aprendendo os costumes de
carpintaria de Naboo da mesma forma que tinha feito quando era criança.
— Vou adicioná-lo à nossa lista, — Anakin apontou.
— É uma lista muito longa, — Padmé disse. Não pôde deixar de soar
um pouco ressentida quando disse isso.
— Mas é nossa, — Anakin apontou. Ele pegou uma flor caída do chão e
colocou atrás da orelha dela, sorrindo enquanto sorria pra ele.
Os seus momento de silêncio foi encerrado pelo som abafado de vozes
levantadas dentro da casa. Era impossível entender as palavras, mas pelo
menos uma pessoa estava claramente muito zangada com alguma coisa.
Depois de mais alguns momentos, Celena surgiu com um jovem macho
humano atrás dela. Ele estava vestido com roupas de Naboo, de ombros
largos e salpicados de tinta de cores vivas. Ele tinha um par de aparelhos
exoesqueléticos nas pernas e andava apoiado em duas bengalas. Celena
voltou pra dentro de casa.
— Deve haver cinco deles, — Anakin disse calmamente.
— Nós temos que começar em algum lugar, — Padmé disse. Se virou
para o jovem. — Olá. Meu nome é Padmé. A Rainha me pediu para vir aqui
e ter certeza de que vocês estavam bem.
— O meu nome é Kharl e sei por que você está aqui, — ele disse. —
Jamillia quer dizer aos nossos pais que estamos seguros em casa. Eu tenho
que te dizer, vai ser difícil convencer. Os outros realmente não querem
voltar.
— Mas pode ser perigoso aqui. — Anakin se inclinou para frente. —
Naboo é a sua casa.
— Esta é a nossa casa. — Kharl abriu os braços para incluir todo o
complexo. Padmé dificilmente poderia culpá-lo. Era maravilhoso, mesmo
que a guerra estivesse se aproximando.
— Kharl, nós sabemos que você escolheu morar aqui, e nós respeitamos
isso, — Padmé disse. — Mas a Rainha Jamillia não pode protegê-los aqui.
Os seus pais não podem protegê-lo aqui. Nós só queremos que você esteja
seguro.
Kharl piscou lentamente para eles, com os seus olhos ficaram vidrados
por um momento antes de limpá-los. Foi o suficiente para Anakin.
— Você está sob efeito de especiaria! — ele disse, uma carga pesada de
acusações por trás de suas palavras. — É por isso que você não vai voltar
para Naboo? Porque você precisa continuar recebendo a sua dose?
— Eu tomo as coisas de grau médico, — Kharl respondeu friamente.
Todos os sinais de simpatia bem-vinda desapareceram dele. — Eu tenho
uma condição crônica que me causa imensa dor. A Especiaria torna
tolerável. Não consigo comprar em Naboo, por causa das leis de lá. Mal
consigo fazer alguma coisa quando estou em casa e, em Nooroyo, posso
fazer o meu trabalho.
O sistema médico de Naboo era bom, mas não era perfeito. Haviam
algumas coisas que não podiam ser curadas. Os médicos discutiam sobre os
melhores tratamentos enquanto os seus pacientes esperavam, desesperados
por alívio. A especiaria era geralmente desaprovada, descartada como uma
droga recreativa que causava mais danos do que resolvia, mas as suas
habilidades para anestesiar a dor eram inegáveis.
— Todo mundo está aqui por especiaria? — Padmé perguntou o mais
gentilmente que pôde. Não queria julgar, mas tinha que saber.
— Não, — Kharl respondeu. — Mas os Separatistas certamente estão. E
eles não querem isso para o controle da dor.
Padmé apertou a ponta do seu nariz. Isso era muito mais complicado do
que tinha sido levada a esperar. Não podia culpar Jamillia, no entanto. Era
provável que ninguém em Naboo entendesse completamente a razão pela
qual esses artistas escolheram Nooroyo como a sua casa.
— A nossa tarefa é levar todos vocês de volta para Naboo, — Padmé
disse. — Eu posso entender que você esteja relutante, mas se os
Separatistas estão aqui por especiaria, é apenas uma questão de tempo até
que este planeta seja inundado com lutas. Não serão apenas os droides e a
República também. Criminosos vão se envolver. Não podemos forçá-lo a
fazer nada, mas eu agradeceria se você apresentasse o nosso caso para os
seus amigos.
Kharl pensou por alguns momentos e depois assentiu com relutância.
— Vai ser difícil de convencer, — ele disse novamente. — A maioria de
nós deixou Naboo por um motivo, mesmo que os motivos não sejam todos
iguais.
— Já vi muitos lugares terríveis, — Anakin observou. — Naboo é bom.
— Eu sei, — Kharl disse. — É tão bom que às vezes esquece que nem
todo mundo na galáxia tem isso tão fácil. A maioria de nós está aqui porque
não queremos esquecer.
Anakin estreitou os olhos enquanto absorvia a declaração de Kharl, mas
não disse nada.
— Você é exatamente o tipo de pessoa que precisamos em Naboo, —
Padmé disse ao jovem. — Para trabalhar pela mudança, não nos deixar ficar
complacentes. Mas não é o tipo de trabalho que todos querem fazer.
— Só quero pintar, Kharl concordou. — A ideia de falar em público me
dá vontade de vomitar. No entanto, eu gosto de ensinar. Há crianças aqui, e
eu as ensino sobre como fazer tintas e preservar plantas.
Padmé sorriu, tomando banho de sol. Kharl a olhou atentamente para
ela por um momento, e então toda a cor sumiu do seu rosto.
— O que é isso? — Anakin disse, detectando instantaneamente a
mudança emocional.
— Você não é apenas uma representante da Rainha, — Kharl, disse
horrorizado. — Você é Amidala.
— Sim, — Padmé disse. Não esperava ser reconhecida, mas não havia
necessidades de negar isso.
— Você não pode estar aqui, — Kharl disse. — Você não pode estar
aqui.
Os seus alarme estava saindo dele em ondas. Era óbvio, mesmo sem a
Força. Anakin agarrou o braço de Padmé, pronto para arrastá-la de volta
para a nave. Ela o sacudiu.
— Por que não? — Padmé perguntou.
— Gunray está aqui, — Kharl sibilou. — Em pessoa. Para as
negociações de especiarias. A sua nave deve ter sido marcada. Ele pode não
a reconhecer como a sua, mas ele definitivamente a reconhecerá como de
Naboo e enviará alguém para verificar. Você tem que ir. Agora.
Anakin agarrou o braço dela novamente, e desta vez Padmé não lutou
com ele. Nute Gunray havia escapado da justiça tantas vezes, e agora ele
estava inalcançável pela autoridade da República. E ele estava aqui. Gunray
a viu lutar até a morte e aplaudiu quando foi ferida. Padmé não era uma
pessoa violenta, ou vingativa, mas por um breve momento ela entendeu
completamente o que Anakin sentiu quando estava naquela vila Tusken em
Tatooine.
— Diga aos outros, — Padmé esbravejou enquanto Anakin a puxava de
volta para a nave. — Se eles quiserem vir, eles têm que vir agora. Vou me
certificar de que a Rainha Jamillia entenda a situação quando eles chegarem
em casa. Vamos colocá-los em algum lugar isolado, se vocês quiserem.
Basta falar com eles.
Kharl assentiu e começou a voltar para a casa. Padmé parou de resistir à
condução de Anakin e o seguiu de volta pelo caminho até a nave. As flores
ainda enchiam o ar com o seu perfume glorioso. A Federação de Comércio
não poderia arruinar tudo.
— Isso realmente não é como eu pensei que este dia seria, — Anakin disse.
Ele estava na cadeira do piloto, preparando-se para partir. Nunca presumiu
faria isso a bordo da nave de Padmé, mas ambos perceberam que isso era
uma exceção.
— Achei que nosso maior problema seria lidar com R2 ficando
superexcitado com flores ou algo assim.
— Eu quero te dizer que provavelmente não é um presságio, — Padmé
retrucou. Fez a sua metade das verificações de pré-voo o mais rápido
possível. Atrás dela, ouviu R2-D2 zumbindo enquanto ele reforçava os
escudos. — Mas tenho certeza de que coisas como essa vão continuar
acontecendo.
Do lado de fora, um caça estelar droide zumbia perto da coleção de
casas. Ele pairava entre a comuna e a nave deles.
— Atenção, moradores de Nooroyo, — ele transmitia. — Uma nave de
fora do mundo foi registrada neste local. Por favor, esperem a equipe de
inspeção chegar.
— Não adianta tentar destruí-la, — Anakin apontou. — Ele já terá
registrado o local e enviado uma mensagem de volta.
— Concordo, — Padmé disse. — Temos que estar prontos para partir o
mais rápido possível.
— Não podemos esperar que eles decidam, — Anakin observou. —
Com razão ou não, Kharl é um usuário de especiarias, e o resto deles
provavelmente são encrenqueiros também. Se eles não querem sair, eles
merecem tudo o que receberem.
— Eu não vou abandonar as pessoas para os Separatistas se eu puder
ajudá-las, — Padmé rebateu.
— Você vai ter que começar a olhar para o quadro geral desta guerra,
Padmé. — Anakin parecia estranhamente calmo quando disse as palavras,
como se estivesse usando a Força para se estabilizar. — Haverá perdas.
— E eu vou lutar por cada uma, — Padmé disse a ele.
Anakin suspirou, mas não insistiu mais. Os motores zumbiam quando o
painel de controle indicava que poderiam decolar quando quisessem.
Através do visor, Padmé pôde ver duas figuras se aproximando da nave, e
voltou para a rampa para encontrá-las.
Kharl não estava carregando nenhuma bagagem e nem parecia ter um
dispositivo que fazia isso por ele. A garota ao lado dele tinha duas mochilas
grandes e uma maleta de instrumentos. Tinha pele morena e longos cabelos
escuros. Padmé era uma das poucas pessoas que tinha visto a Rainha
Jamillia sem maquiagem, e a semelhança era inconfundível. A urgência de
Jamillia ficou clara, assim como a sua necessidade de manter a discrição.
Uma missão para salvar uma pessoa era um movimento político arriscado,
mas um passo pessoal completamente compreensível. Resgatar a irmã da
Rainha, mesmo com as eleições se aproximando e Jamillia saindo do poder,
era importante.
— Esta é Antraya, — Kharl disse. — Ela está pronta para ir.
Padmé ficou de lado para que Antraya pudesse embarcar. Podia dizer
que a irmã da rainha estava descontente por deixar Nooroyo e os seus
amigos lá. Estava fazendo isso por Jamillia, que era outra coisa que Padmé
podia entender.
— Eu não posso prometer que haverá outra chance de vir buscar o resto
de vocês, — Padmé apontou. — Esta pode ser a sua única oportunidade de
voltar para Naboo.
— Nós sabemos, — Kharl disse. — Não tivemos muito tempo para
falar sobre isso, obviamente, mas todos sabemos no que estamos nos
metendo. E é importante que vocês saiam antes que a equipe de varredura
chegue aqui.
— Isso vai causar problemas para o resto de vocês? — Padmé
perguntou.
— Nós ficaremos bem, — Kharl disse. — Não estamos mais em casa
em Naboo, mas ainda é de onde viemos. Não é perfeito, mas é um bom
lugar. Só que não é para nós. Talvez, aqui, possamos tornar o resto da
galáxia um pouco mais parecida com ela.
— Que a Força esteja com você, — Padmé disse. Os motores rugiram, e
ela sabia que Anakin estava ansioso para sair.
— Vão! — Kharl disse.
Padmé subiu correndo pela rampa e fechou a porta. Assim que o
vedante foi colocado, Anakin trouxe a nave para cima, e quando Padmé e
Antraya chegaram ao convés de voo, eles estavam na atmosfera superior.
— Estamos sendo escaneados, — Anakin informou, com os seus dedos
voando ligeiros pelo painel de controle. — Contudo eles não vão nos
alcançar antes de saltarmos.
— Eu aprecio que você fazendo isso por minha irmã, — Antraya disse.
— Mesmo que não seja o caminho que eu teria escolhido.
— Eu sei, — Padmé disse. — E lamento que você tenha que fazer esse
sacrifício.
Anakin tirou a nave da gravidade do planeta e das luas, terminou os
cálculos e deu o salto para o hiperespaço. Assim que o espaço passou
rapidamente pela janela, ele soltou uma lufada de ar e recostou-se no
assento do piloto.
— Eu não posso acreditar que não tivemos que lutar contra ninguém, —
ele observou.
— Estou feliz que não, — Padmé disse.
— Não gosto de não poder controlar o resultado, — Anakin apontou. —
Não havia nada que eu pudesse fazer para ajudar.
— É por isso que você me leva em missões, — Padmé disse. Ela
esqueceu que eles tinham companhia e disse isso com mais flerte do que
deveria.
— Quem são vocês, afinal? — Antraya perguntou.
— Amigos da Rainha, — Padmé respondeu, e não explicou mais nada.
Antraya, aparentemente não mais confortável com política do que
Anakin, bufou com desdém e afundou na sua cadeira. Ela deixou as suas
grandes mochilas no porão, mas embalou a caixa de instrumento
protetoralmente contra o peito. Padmé não sabia o que ela tocava, mas
claramente significava muito pra ela.
— Nós vamos deixar você em casa em breve, — Anakin disse a ela.
— Qual é a pressa? — Antraya perguntou. — Vocês tem planos?
— Algo assim, — Padmé disse. Não pôde deixar de rir de suas próprias
palavras.
Anakin não desembarcou de nave senatorial enquanto Padmé entregava
Antraya à Rainha. Pouquíssimas pessoas sabiam que estava em Naboo, e
estava feliz em manter isso assim. Observou pela janela enquanto Padmé
falava brevemente com Jamillia, e então as duas irmãs se abraçaram.
Antraya poderia ter relutado em voltar para Naboo, mas não havia
relutância em como ela se sentia em relação à irmã. Anakin se perguntou
como Obi-Wan estava se virando. Eles não costumavam passar longos
períodos de tempo separados.
Padmé desapareceu da janela e Anakin pôde ouvi-la voltando para o
convés de voo através da nave. Foi um voo rápido de volta para a casa do
lago, e eles ainda tinham cerca de duas horas antes do pôr do sol, mas sabia
que Padmé provavelmente precisaria de bastante tempo para se trocar, já
que não havia ninguém para ajudá-la. Ainda assim, havia algumas coisas
sobre as quais queria falar com ela, então estabeleceu um caminho um tanto
tortuoso na volta para a casa.
— Sinto muito por ter sido tão rude enquanto estávamos voltando de
Nooroyo, — ele disse quando ela se sentou ao lado dele. Ela estendeu a
mão e pegou a mão dele, entrelaçando os dedos dela com os de metal dele
como se nada tivesse mudado.
— Está tudo bem, — ela disse. — Até os Jedi têm adrenalina.
— Não é só isso. — Ele levou os dedos dela aos seus lábios. — Nós
dois fomos treinados de forma diferente para fazer um trabalho semelhante,
e ambos os trabalhos são diferentes agora, por causa da guerra. Eu deveria
ser mais paciente com você enquanto você se ajusta. Eu sei que você seria
paciente comigo, se a situação fosse invertida.
— Você está preocupado em assumir o comando das tropas? — Padmé
perguntou. — Eu sei que nós dois fizemos isso em Geonosis, mas isso foi
diferente. Agora isso vai ser a longo prazo.
— Eu não diria que estou preocupado, — Anakin respondeu. — Estou
preocupado com a reação dos Jedi ao ter um exército, mas sei que posso
lidar com isso. Vai ser bom ir para a batalha com mais pessoas, não apenas
eu e Obi-Wan.
A nave deslizou pela atmosfera inferior de Naboo, com um arco-íris
dançando no casco prateado enquanto a condensação se agarrava aos
painéis.
— Você vai contar a ele? — Padmé perguntou.
— Não, — Anakin respondeu. — Ele não entenderia. Nenhum deles
entenderia.
— Sinto muito, — ela disse. — Eu sei que esconder as coisas não é
natural para você.
— Bem, eu tenho o melhor professor, — ele disse. Ele estava tentando
soar despreocupado sobre isso, mas não deu certo.
Atrás deles, R2-D2 chilreou.
— 3PO enviou quantas mensagens? — Anakin perguntou. — E você
reteve todas elas?
Padmé riu enquanto a primeira das várias mensagens do seu droide de
protocolo ansioso começou a tocar na frente dela.
— Temos muito tempo, — ela disse. — Tenho certeza de que é isso que
R2 tem dito a ele.
R2-D2 apitou afirmativamente quando a casa do lago apareceu abaixo
deles. Anakin estava sorrindo enquanto descia a nave, olhando pra ela como
se ela fosse um planeta que ele estivesse vendo pela primeira vez.
A Guerra dos Clones havia começado. Era inegável, e mesmo que ninguém
realmente parecesse saber exatamente o que isso significava, a guerra
finalmente chegara à pequena bolha de tranquilidade de Padmé Amidala na
casa do lago em Naboo. C-3PO não era a única pessoa que lhe enviou
várias mensagens enquanto estava em Nooroyo. O fluxo constante de
atualizações de Bail não diminuiu, e até mesmo Mon Mothma enviou
algumas comunicações curtas na sua direção. Ainda assim, manteria a sua
paz um pouco mais, porque queria. Padmé fechou as mensagens que Bail
estava mandando para ela sem responder a nenhuma delas. Era quase pôr do
sol e era o dia do seu casamento.
Padmé só trabalhou brevemente com os clone troopers em Geonosis. As
emoções estavam altas, e ela estava cheia de adrenalina, então só depois ela
teve tempo para pensar sobre isso. Os troopers a tinham olhado em busca
ordens e as seguiram quando falou. Eles tinham sido educados e
preocupados com o seu bem-estar físico. Eles não a questionaram. Era
quase como as equipes com as quais Padmé estava acostumada a trabalhar,
mas não exatamente.
Tinha sido fácil. E isso a aterrorizou.
Padmé nunca foi de decisões espontâneas. Planejava. Antecipava os
resultados e as consequências que eles trariam. Nem sempre compartilhava
o seu processo de pensamento, é claro, mas tinha um processo, e até mesmo
as suas decisões mais imprudentes eram consideradas. Isso a serviu bem
profissionalmente por mais de uma década, desde antes da sua eleição como
Rainha de Naboo. Para ser perfeitamente honesta, estava um pouco cansada
de viver para outras pessoas, de sempre considerar os outros antes de si
mesma. Queria algo que fosse dela. Certamente poderia administrar os dois
ao mesmo tempo.
Era fácil se apaixonar por Anakin Skywalker. E isso a aterrorizava
também.
Achava-se imune a tais assuntos. Sim, teve paixões de adolescente, e
sim, haviam pessoas que achava atraentes, mas nada disso tinha entrado na
sua cabeça do jeito que Anakin fez. Sempre foi capaz de passar por isso,
rapidamente, evitando emaranhados e voltando ao trabalho. Tentou fazer a
mesma coisa quando percebeu para onde os seus sentimentos por Anakin a
estavam levando, e quase conseguiu, mas diante da morte, decidiu jogar a
cautela ao vento.
E isso era amor, não era? Não era como se houvesse alguém que
pudesse perguntar.
O segredo não a incomodava. Manteve segredos toda a sua vida. Este
era de Anakin, principalmente, porque ele perderia mais se eles fossem
expostos, mas estava feliz por fazer parte disso.
C-3PO, recém-dourado, entrou na sala, tirando-a do seu devaneio. O
droide era oficioso e estranho, não podia deixar de se perguntar como a
programação dele acabou em Tatooine para Anakin vasculhar, mas ele era
eficiente. Uma vez que ela e Anakin decidiram ter um casamento de
verdade, o droide entrou em ação, insistindo em todos os tipos de costumes
antigos de Naboo e Tatooine. Padmé teria protestado, mas Anakin
genuinamente parecia gostar da atenção que o droide estava dando a ele,
então deixou C-3PO fazer toda a organização. Eles tinham o resto de suas
vidas.
— É hora de se vestir, minha Lady, — C-3PO disse. — R2 me disse que
você costuma ter ajuda para essa parte dos eventos formais e, como não
tem, fiz o que pude para organizar o seu camarim para tornar tudo o mais
acessível possível.
— Obrigada, 3PO, — Padmé agradeceu.
— Você precisa de mim para alguma coisa? — o droide perguntou sem
jeito. — Receio que a minha programação não inclua cuidados pessoais,
mas suponho que posso segurar algo para você?
Uma imagem do droide de protocolo tentando trançar o seu cabelo
passou pela mente de Padmé, e fez o possível para não rir. C-3PO se levava
muito a sério e a oferta foi feita de boa fé.
— Vou ficar bem, 3PO, — ela disse. — Anakin está bem?
O droide estalou para ela.
— Você não vai conseguir nada de mim, minha Lady! — ele respondeu.
— Mas parece que nada vai impedir a minha agenda, se essa for uma
resposta aceitável.
Ele caminhou rigidamente para fora da sala, uma característica da sua
construção, não do seu comportamento, e Padmé se permitiu um sorriso
quando ele saiu. O droide de protocolo deve ter sido um sucesso absoluto
com os vaporizadores de umidade na propriedade dos Lars. Estava feliz por
Anakin tê-lo trazido quando eles deixaram Tatooine. Além de ser a última
coisa que ligava Anakin à sua mãe e mundo natal, ele também estava
rapidamente se tornando indispensável. Padmé nunca teve sorte com
droides de protocolo, mas talvez este, construído por um garotinho que
queria ajudar a sua mãe, fosse exatamente o tipo de droide que a galáxia
precisava.
O vestido de Yané já estava estendido na sua cama. Este chegou na hora
do almoço, e 3PO o desembalou imediatamente porque não queria que ele
amassasse. Olhando pra ele, Padmé não tinha ideia de como Yané
conseguiu fazer um trabalho tão requintado tão rapidamente, mesmo com a
ajuda dos seus teares mecânicos. O vestido era uma combinação perfeita
para o tecido que Padmé havia transformado em seu véu, além disso era
absolutamente deslumbrante. O drapeado elegante e a miríade de pérolas
eram apenas o começo. As rendas e bordados quase tiraram o fôlego de
Padmé. Era bonito.
Já havia decidido por maquiagem e cabelo simples, mesmo antes de C-
3PO lembrar a ela que teria que fazer isso sozinha. Não estava se casando
como senadora ou representando o planeta Naboo. Isso era só pra ela e pro
Anakin. O véu cobriria a maior parte da sua cabeça de qualquer maneira, e
entre o vestido, o lago e o que estava se tornando um perfeito pôr do sol de
Naboo, estava mais do que certa de que ficaria bem.
Começou a trabalhar rapidamente, torcendo o cabelo em mechas
simples que prenderiam todos os grampos do seu véu. Então fez o seu rosto,
certificando-se de destacar as suas feições em vez de silenciá-las, como
costumava fazer. Quando isso foi feito e definido, colocou a sua camisola e
roupa de baixo. Tarde demais, percebeu que o vestido de Yané abotoava nas
costas, cerca de um milhão de minúsculos botões de pérolas que não
conseguiria alcançar sozinha.
Por um momento, a sua solidão ameaçou esmagá-la. Os seus amigos
estavam todos longe. Nem sabia onde Sabé estava. Os seus pais não sabiam
que estava no planeta. Os seus colegas no Senado sabiam apenas as
generalidades de onde tinha ido quando desapareceu depois de Geonosis.
Mas Anakin estava aqui.
Lembrou a si mesma que tinha escolhido isso. Queria isso. Estava
fazendo isso, não por o seu planeta ou o seu povo, mas por o seu coração. Ia
entrar neste vestido. E então ela iria se casar.
Padmé tinha a intenção de contar a Sabé toda a história, tudo, desde ver
Anakin novamente até o tempo na propriedade dos Lars e o seu cativeiro
em Geonosis, incluindo o casamento. Mas então Sabé disse “como nos
velhos tempos”, e a sua determinação desmoronou.
Anakin não conseguiu vê-la quando voltou para Coruscant. Só estava no
planeta tempo o suficiente para ver o Chanceler e para receber a sua
próxima missão antes que ele e Obi-Wan fossem para a frente de batalha.
Eles ainda não tinham estabelecido uma maneira de se comunicar
clandestinamente, e Padmé não tinha motivos para contatá-lo pelos canais
oficiais. Sabia que esse tipo de coisa era de se esperar; era por isso que eles
tinham viajado separadamente de volta da casa do lago, mas ainda doía.
Aceitou que ele teria um trabalho a fazer, assim como ela, mas não esperava
que a realidade jogasse tudo na sua cara tão rapidamente. Quando tinha um
momento, perguntava a C-3PO se havia uma maneira de ele poder se
conectar com segurança a R2-D2.
Desta vez com Sabé era exatamente o que precisava. Usaria isso para
encontrar o seu caminho a seguir, equilibrando o antigo com o novo. Isto
seria como nos velhos tempos. Elas aprenderiam a ser o espelho uma da
outra novamente, algo que não faziam há anos e nunca haviam tentado
nessa escala. Elas passariam um tempo juntas e seria fácil e divertido, e elas
teriam o seu trabalho para mantê-las ocupadas. Quando elas tivessem que se
separar para que Padmé fosse na missão, saberia que Sabé estaria a
esperando quando voltasse.
Quando Sabé chegou, Padmé a cumprimentou com um sorriso.
Apresentou-a a Ellé e Moteé, e todas se sentaram com Dormé, Typho,
Mariek e os outros guardas para o jantar estilo Naboo que Padmé planejara
para receber Sabé de volta. Havia pimentões recheados de cores vivas e pão
de cinco flores, e frutas da região dos lagos embebidas em creme de rum.
Enquanto observava suas amigas comerem, rindo e conversando umas com
as outras, Padmé estava feliz.
Desejou que Anakin estivesse aqui. Essa era a única coisa que impediu
que a noite fosse perfeita. Sentia falta dele, e nem mesmo Sabé conseguia
fazê-la se sentir melhor. Era estranho amar tanto duas pessoas, forma tão
diferente. Não entendia muito bem e não tinha certeza de como fazê-lo
funcionar.
Algum dia, descobriria como juntar as duas metades da sua vida. Algum
dia, tornaria o político e o pessoal mais coesos. Algum dia, não os manteria
tão divididos. Algum dia, Anakin também se sentaria nesta mesa. Havia
uma guerra, e eles estavam sempre em perigo com isso, mas não havia
razão para não planejar um futuro otimista, onde cada pessoa que trouxesse
para a sua vida fosse tão feliz quanto qualquer outra.
O voo para Karlinus era sempre longo o suficiente para ser reconfortante.
Era muito curto para fazer qualquer trabalho real, então Saché sempre usava
o tempo para ouvir música e pensar. Se fosse mais curto, e ela teria
problemas entender. Maior, e ela insistiria em usar o tempo de forma
produtiva. Não, a viagem foi perfeita, e sempre chegava revigorada, mesmo
quando pegava o transporte público, como fazia agora.
Ao lado dela, a sua nova assessora, Tepoh, folheava um guia de Karlini.
Já havia saído de Naboo antes, mas nunca havia visitado Karlinus. Era uma
curva de aprendizado íngreme para esse tipo de missão diplomática, mas
Saché sabia que qualquer um que viesse recomendado por Dormé estava à
altura. Quando elas se conheceram, Tepoh estava vestindo uma saia verde
esvoaçante, mas hoje estava vestido com uma calça azul escura e um blazer
prateado com bordado combinando.
— O que fez você querer ser uma aia? — Saché havia lhe perguntado na
entrevista.
— Eu não queria, necessariamente, — respondeu. — Quero dizer, eu
não sabia que era uma possibilidade. Mas quando fui recomendada para o
cargo, admito que fiquei curiosa o suficiente para fazer a entrevista.
— Alguém do gabinete do senador fica de olho em todos no corpo
diplomático, — Saché apontou. — Se o conjunto de habilidades adequado
aparecer, ela receberá uma notificação.
— Eu não quis dizer o meu conjunto de habilidades, minha senhora, —
Tepoh esclareceu. — Na época, eu pensei que eles estavam apenas
procurando por garotas.
Isso deu a Saché uma pausa. Eles tinham estado procurando garotas
quando Saché foi contratada. Mas se alguém estava disposto a desempenhar
o papel às vezes, não importava realmente com que gênero eles se
identificavam. Seria um trabalho, um disfarce. Quem era fora do capuz
mudou ao longo dos anos, mas sempre foi Saché, mesmo quando servia a
rainha.
— Quando a Rainha era mais jovem, era importante que as suas aias
fossem parecidas com ela na aparência, — Saché explicou. — Isso mudou
ao longo dos anos. A semelhança física com ela não é mais a qualificação
primária. Acho que você teria sido uma excelente aia, e estou feliz por você
ter escolhido se juntar a mim.
— Também fiquei satisfeita, — disse. — Às vezes eu acordo e quero ser
percebida como uma mulher, mas às vezes não.
— Bem, — Saché disse. — Nós nos vestíamos assim naquela época
para desaparecer à vista de todos. Talvez a Senadora Amidala quisesse que
você desaparecesse de outras maneiras que fizessem mais sentido para o seu
personagem. Ela nunca me pediu para fazer nada que fosse contra o meu,
por exemplo, mesmo quando éramos jovens e ainda nos descobríamos.
Tepoh parou para pensar nisso e sorriu.
— Acho que eu teria gostado, — disse. — Talvez eles me deixassem
usar um uniforme de guarda às vezes. Esses são bem arrojados. Mas acho
que vou ser mais feliz com você. Levei algum tempo para me entender, e
acho que servirei melhor a Naboo dessa maneira. Eu gosto de ser eu
mesma.
— Eu tinha apenas doze anos quando o Capitão Panaka me recrutou, —
Saché disse. Às vezes, aqueles dez anos pareciam uma vida inteira. Ela
mudou muito desde então. — Na época, fazer parte da comitiva da Rainha
era tudo que eu queria. Lamentei deixá-la, quando os seus mandatos
terminaram, embora eu tivesse acabado de ganhar minha própria eleição.
Mas agora acho que você está certa. Há muito a ser dito sobre ser você
mesma. Nem todo mundo é feito para ser uma sombra.
Tepoh sorriu.
Na frente deles, Karlinus ficou cada vez maior. As suas águas eram de
um tom de azul diferente das de Naboo, mas eram verdes e aumentavam. O
planeta era um pouco mais quente e muito mais úmido, o que significava
que grandes partes dele poderiam ser usadas para cultivar o chá e criar os
bichos-da-seda pelos quais Karlinus era conhecido. Ainda havia muito
espaço para os campos de grãos também. Karlinus era, de todos os planetas
do setor Chommell, o mais próximo de ser autossuficiente. Até Naboo
contava com um influxo de trabalhadores, enquanto Karlinus podia se
sustentar se fosse necessário.
Saché não esperava que a Governadora Kelma os encontrasse na
plataforma do espaço público, e de fato ela não esperava, mas Saché ficou
agradavelmente surpresa ao ver a pessoa que estava lá para cumprimentá-
los.
— Harli Jafan! — ela disse, estendendo a mão para a outra jovem
apertar. — Eu não vejo você há uma eternidade.
— É Saché, correto? — Harli perguntou. — Perdoe-me, mas eu sempre
misturo vocês.
— Isso é perfeitamente compreensível, — Saché respondeu. —
Tivemos muitos problemas para fazer com que isso acontecesse.
— Tenho certeza de que tentei beijar a pessoa errada uma vez, — Harli
apontou. — E como eu era adolescente, reagi mal à rejeição.
Saché se lembrou daquele incidente com bastante clareza e estremeceu.
— É tudo águas passadas agora, — Harli assegurou a ela. — Quem é
esta?
— Esta é Tepoh, minha nova assessora, — Saché disse. — Nunca
esteve em Karlinus antes, mas tenho grandes esperanças.
— Um prazer, — Harli cumprimentou, apertando a mão de Tepoh. — O
que quer que ela diga sobre eu ser uma má influência, não é verdade.
— Oh, então foi outra pessoa que providenciou para que saíssemos
furtivamente do palácio de Theed para ver aquele show? — Saché
perguntou. — Eu tive a noite mais mortificante da minha vida como
resultado daquela travessura. Tenho certeza que me lembro de quem teve a
ideia.
— Ei, eu apenas de disse que tinha os ingressos. — Harli riu. Tepoh
estava olhando para as duas com algo parecido com choque no rosto. —
Vocês são aquelas que conseguiram sair do palácio.
— Essa parte é verdade, — Saché concordou. Faziam séculos desde que
pensou naquela noite. Em retrospectiva, foi muito engraçado. A expressão
no rosto de Panaka quando ele percebeu do que o sangue era resultado!
— Acho que estamos escandalizando a sua assessora, — Harli
observou. — Todos nós sabemos que a Rainha Amidala nunca faria isso.
Saché riu, o que não tranquilizou Tepoh, e pegou a sua mala de viagem.
Harli liderou o caminho para o transporte dela e elas foram para a casa
da governadora, onde ficariam. Harli também foi alojada lá, é claro.
Tecnicamente, superava Saché um pouco, sendo a herdeira da família
governante do seu planeta, mas os Jafans nunca agiam muito formalmente,
a menos que precisassem de algo.
As ruas da Cidade de Karlini eram avenidas largas, com muito espaço
para veículos e tráfego de pedestres. Os prédios eram ladeados por ripas de
metal, que refletiam o calor do sol e mantinham o interior um pouco mais
fresco. Todo o efeito era bastante deslumbrante, pois a luz brilhava nos
prédios. Saché descobriu que não conseguia olhar para nada muito
diretamente e se perguntou se ela havia embalado óculos de proteção ou
algo assim. Jurava que não estava tão brilhante assim na última vez que
esteve aqui. Pelo menos a estrada à frente delas era fácil de olhar.
Tepoh estava olhando para tudo. Não parecia se importar com o brilho e
olhava curiosamente para os prédios, lojas e infraestrutura da rua com
níveis de interesse iguais. Saché estava geralmente feliz com a sua vida,
mas naquele momento sentia falta de viajar para novos mundos e conhecer
novos lugares.
A casa da governadora não era revestida de metal, mas construída em
um estilo mais antigo. A sua arquitetura era bastante semelhante à de Naboo
à primeira vista, com todas as curvas arrebatadoras e cúpulas suaves. Uma
visão mais próxima, no entanto, imediatamente tornou as diferenças
aparentes. A rocha nativa em Karlinus era menos densa do que o granito
usado para construir em Naboo, então eles poderiam fazer os seus edifícios
de formas diferentes sem os mesmos contrafortes de suporte externo. Havia
uma delicadeza na arquitetura de Karlini que Naboo só poderia alcançar
trapaceando e usando tecnologia.
E então, claro, havia a seda. Todas as janelas estavam cobertas com ela,
cortinas de todas as cores imagináveis, e havia bandeiras no telhado. A
combinação de seda macia soprada pelo vento e rocha firme e dura deu a
toda a casa uma sensação bastante etérea, como se coisas reais e não reais
se sobrepusessem para mantê-la de pé. O efeito era maravilhoso.
A Governadora Kelma estava esperando por elas no topo da escada.
Também estava uma década mais velha, mas a sua pele castanho dourada
ainda não tinha rugas, e os seus longos cabelos ainda eram escuros e
grossos como sempre. Sorriu enquanto elas se aproximaram.
— Representante Saché, que bom revê-la, — a governadora declarou.
— Bem-vinda a Karlinus e à minha casa. E bem-vindo, também, jovem.
Como posso me dirigir a você?
— O meu nome é Tepoh, — a assessora respondeu, claramente surpresa
por ser falado diretamente. Afinal, era o seu primeiro dia de trabalho. —
Sou a nova assessora da representante.
— Tepoh é uma nova adição à minha equipe, — Saché explicou, —
mas, honestamente, não sei como consegui viver sem. A viagem para cá,
sozinha, foi muito mais organizada do que o normal, e as minhas coisas
estavam todas empacotadas antes que soubesse que estava partindo.
Isso foi um pequeno exagero, mas Tepoh ainda se preocupou em ouvir.
— Por favor, por favor, entre, — Kelma disse. — Vou mandar o meu
pessoal levar as suas coisas para os seus quartos, mas se não se importa, eu
gostaria de ir direto ao trabalho. Eu já pedi um almoço.
— Tudo bem, — Saché disse. — Quero chegar ao fundo disso o mais
rápido possível também. Tepoh, você poderia pegar o meu...
Ela se virou e encontrou a sua assessora já segurando o dispositivo de
registro legislativo oficial que estava prestes a solicitar, junto com o seu
datapad pessoal e caneta.
— Veja, — ela lhe disse, — eu disse a você.
Eles seguiram a governadora pelos amplos corredores da parte pública
da sua casa. Saché sabia que havia um salão de baile e uma extensa
biblioteca, que abrigava principalmente documentos públicos, além de um
centro recreativo e um teatro. Havia também várias salas de reuniões, e foi à
maior delas que elas foram levadas. A sala não estava cheia, felizmente.
Parecia que a governadora ia manter essas conversas relativamente restritas.
Mas este era o lugar mais seguro da casa pública. Uma mesa foi montada
com dez talheres. Harli tinha uma equipe com ela, é claro, e Kelma tinha
vários auxiliares também. Saché não se sentiu em menor número.
Enquanto comiam, a Governadora Kelma delineou as principais
preocupações do seu planeta com o antigo projeto de lei. Nada disso era
uma surpresa especial, mas Saché ficou mais do que feliz em ouvir a
perspectiva dela.
— Fizemos algumas investigações, — Kelma disse. — Acontece que o
projeto de lei foi contestado desde o dia em que foi assinado. Os colonos de
Karlini, e os de outros planetas, sentiram que os termos eram injustos. Em
particular, a parte em que isto nunca expira.
— Jafan, como você pode imaginar, também não está feliz com isso, —
Harli apontou. — Algo assim pode nos levar à falência da noite pro dia.
— Estou aqui para garantir que isto nunca seja invocado, — Saché
disse. — Não me importo de dizer a vocês que acho isso abominável e
nunca votaria para apoiá-lo. Naboo não é autossuficiente, mas não há uma
boa razão para explorar outro planeta para cobrir os nossos próprios pontos
fracos em uma crise. O meu objetivo é acabar com o projeto de lei por
completo.
— No entanto, você tinha que vir aqui, — a governadora disse. — Em
vez de apenas nos dizer o que foi feito.
Saché rangeu os dentes.
— Há uma facção, pequena, que está permitindo que o medo os
governe, — ela admitiu. — Eles não querem que o projeto de lei desapareça
completamente. Eles se lembram do sofrimento durante a Ocupação e
querem poder evitar isso durante a escalada da Guerra dos Clones.
— Jafan não se deixará explorar, — Harli declarou. — E também
defenderá outros planetas.
— Não duvido, — Saché disse. — O que estou aqui para fazer é
elaborar um plano com vocês que eu possa levar de volta ao meu governo e
apresentar como um compromisso. Eu não acho que eles realmente se
importam com o que eu acabe apresentando. Eles só querem ter algo para
substituir o projeto de lei que estamos descartando.
— Não gosto muito disso, — Kelma apontou.
— Eu também não, — Sach disse é. — Mas estou escolhendo olhar para
isso como uma oportunidade. Naboo, de tempos em tempos, se aproveitou
de todos os planetas do setor Chommell. Podemos acabar com isso, se
colocarmos nossas mentes nisso. Podemos chegar a algo mutuamente
benéfico, que o governo de Naboo vai implorar para assiná-lo, e então você
estará a salvo de nós enquanto ainda desfruta das coisas que podemos
produzir.
— Eu senti falta do seu otimismo agressivo, — Harli disse. — Sabé
também era assim.
— Era uma exigência de trabalho, — Saché disse. Ela estendeu a mão e
Tepoh lhe passou a caneta e o datapad. — Vamos trabalhar?
Coruscant não melhorou desde a última vez que Sabé esteve lá. Assim que
aterrissaram, sentiu o peso opressivo de todas as pessoas, a estranha
dicotomia de tanta vida sem nada natural. Tudo em Coruscant era uma
construção, construída em camadas do que tinha vindo antes: apagar, cobrir,
destruir, tudo em nome de alcançar cada vez mais alto. Podia dizer que
Padmé estava feliz, então colocou a sua melhor aparência e descobriu que
realmente gostou do jantar de boas-vindas. Era bom ver todo mundo de
novo, bom fazer parte de uma grande equipe novamente, mesmo que alguns
dos rostos não fossem familiares.
Ellé e Moteé eram, é claro, garotas brilhantes com um amplo traço
independente. Elas não tinham medo de mostrar iniciativa, mas não
prosperavam com o reconhecimento disso. Isso era algo com o qual Sabé
estava intimamente familiarizada. Ellé era uma ex-assessora do Governador
Bibble, bem-humorada, roubada do serviço dele. Moteé era recém-formada
na academia política de Theed. Dormé tinha feito um excelente trabalho
recrutando-as. Sabé notou que as duas novas auxiliares eram mais
politicamente inclinadas do que as aias anteriores. Ela disse tanto quanto
para Dormé, calmamente é claro, enquanto o novo droide de protocolo de
Padmé limpava os pratos.
— Sim, — Dormé disse. — Decidimos que era necessário um foco no
serviço do Senado. Tenho uma pequena equipe própria, agora, para lidar
com o lado mais doméstico da vida da senadora aqui. Elas se vestem e
parecem aias, mas Padmé decidiu separar um pouco o seu lar, daqui pra
frente.
Fazia sentido. O antigo esquema delas, a rainha isca, foi inteiramente
construído em torno da necessidade de despistar. Padmé havia mudado
quando se tornou senadora, e mudar de novo conforme as suas necessidades
mudavam era lógico. No entanto, isso tornou o trabalho de Sabé mais
difícil. Sabé precisava aprender um novo sistema que não foi projetado para
uma dublê de corpo, e então teria que ser uma dublê de corpo sem nenhum
dos truques de maquiagem de rosto inteiro que costumavam usar. A sua
pele queimada pelo sol e pelo vento era o menor dos seus problemas.
Conforme ela e Padmé envelheciam, elas se tornavam mais distintas
fisicamente. Felizmente, Dormé era incrivelmente habilidosa com
contornos.
O novo sistema também, Sabé percebeu, permitiria que Padmé
separasse a sua vida profissional do seu tempo em casa. Antes, ela vivia e
respirava política o tempo todo, com as suas aias sempre prontas para
apoiá-la. Agora, com Dormé como o único ponto de passagem, poderia
deixar o trabalho no prédio do Senado, tanto quanto quisesse. Era uma
liberdade que Padmé nunca havia buscado antes, e Sabé só podia imaginar
o que havia mudado.
Porque ela havia mudado. Isso era certo. O sorriso de Padmé era um
pouco brilhante demais, com os seus olhos muito engajados nas conversas
ao redor da mesa. Sabé conhecia o rosto de Padmé tão bem quanto conhecia
o seu próprio, e podia dizer que, por alguma razão, Padmé estava
desempenhando um papel esta noite. Geralmente não era algo que fazia
entre amigos. Talvez tivesse algo a ver com a missão que Bail a estava
enviando. De qualquer forma, Sabé não perguntaria. Padmé diria a ela, se
ela precisasse saber, e elas incorporariam no disfarce, como antes.
Padmé chamou a sua atenção através da sobremesa, com a máscara
caindo por um momento enquanto sorria. Era bom estar em casa.
Levou três dias para Padmé arranjar tempo suficiente para informar Sabé
adequadamente. Queria fazer isso em particular e, como todo o processo era
clandestino, não podia desistir de nenhum dos seus compromissos
anteriores. Haviam longos dias no Senado e longas noites em reuniões de
comitês ou, pior, em festas que angariavam apoio. Com Dormé para
garantir que ela encarnasse papel, e Ellé e Moteé para gravar, observar e
memorizar, Padmé foi capaz de planejar a sua missão mesmo fingindo que
tudo estava normal. Ainda assim, a sua distração significava que a maior
parte do trabalho físico cabia ao Capitão Typho.
— Você é perturbadoramente boa nisso, — Typho observou enquanto
Sabé o apresentava uma identificação falsa tanto para ele mesmo quanto
para a senadora.
— Você aprende algumas coisas quando está tentando combater os
traficantes, — Sabé retrucou. Piscou pra ele. Ele não fazia ideia do quanto.
Quando não estava ajudando Typho, Sabé estava longe de ficar ociosa.
Aprendeu como funcionavam os dois aspectos da nova vida de Padmé,
dando treinamento de sósia para as suas aias residentes e acompanhando a
senadora ao trabalho. Passava horas com Dormé, aprendendo rostos, nomes
e afiliações. Até falou com o Senador Organa duas vezes. Ambas as
ligações foram aparentemente inócuas, uma para dar as boas-vindas em
Coruscant e outra para saber quantas pessoas a Senadora Amidala levaria
para um jantar.
Pensou que poderia arranhar o seu caminho para fora da sua máscara.
Em algum lugar em Tatooine, Tonra estava tão perto de uma grande
operação, e estava aqui, girando em torno de convites. Sabia que as tarefas
de Padmé eram importantes, mas era estranho voltar ao papel de senadora
quando tinha acabado de se acostumar com o seu lugar em Tatooine.
Por fim, no terceiro dia, Padmé chegou do Senado sem planos para a
noite e decidiu dormir cedo. Ela dispensou todo mundo menos Sabé, e as
duas sentaram para conversar.
— Você está muito mais popular do que da última vez que estive aqui.
— Sabé estava com um pente na mão e domava cuidadosamente os
rosnados deixados pelos vários grampos de cabelo de Padmé, tentando
preservar os seus cachos. — Eu não li uma única história absurda sobre
você em três dias.
— Graças aos deuses por isso, — Padmé disse. — Embora as notícias
sejam sobre a guerra, hoje em dia. Eu quase desejo que os meus supostos
escândalos fossem as únicas coisas para os maquinadores falarem.
Relaxou na cadeira enquanto as mãos cuidadosas de Sabé
desembaraçavam os seus cabelos. Talvez depois de tudo isso, ela mudasse
completamente para estilos simples. Ou, pelo menos, desista das tiaras.
— Gosto do cara novo, — Sabé disse. — A sua voz é calmante, embora
as suas manchetes sejam todas sensacionalistas. Eu sei que parte disso é
propaganda, mas ele se sente consistente.
Começou a trançar o cabelo de Padmé. Não foi fácil encontrar um
penteado prático que Padmé pudesse fazer sozinha e colocar sob um
capacete de voo, então elas estavam praticando. Multitarefa. Realmente era
como nos velhos tempos.
— Uma coroa pequena seria o mais fácil, mas não posso colocá-la sob o
capacete, — Padmé resmungou. — Talvez devêssemos cortá-lo?
— Dormé me mataria, — Sabé respondeu. — Dê-me mais de cinco
minutos e, se ficar muito ruim, enviaremos uma mensagem para Rabé.
— Eu nunca sonharia em interromper um músico importante para um
conselho sobre cabelos. — Padmé riu.
Sabé começou a fazer uma segunda trança.
— Eu acho que já peguei um pouco da informação sobre a missão, —
ela disse. — Entre o que você foi capaz de me dizer na ligação e o que eu
recebi das perguntas que o Senador Organa não me fez, de qualquer
maneira.
— Eu ainda queria te contar o plano completo, — Padmé disse. — Sem
interrupção, se possível.
— Eu aprecio isso, — Sabé disse. — Apesar de termos treinado em
espionagem juntas.
— Há um monte de novas corporações que estão transportando
suprimentos e artigos essenciais através da zona de guerra, particularmente
na Orla Média, — Padmé disse. — Muitos deles são apenas comerciantes
regulares que se reaproveitaram quando a guerra espasseiou, mas tudo
aconteceu tão rápido que ninguém sabe realmente quem trabalha pra quem.
— Você quer dizer, você suspeita que alguns deles estão com dupla
venda? — perguntou Sabé. — Vendendo para os dois lados e obtendo
lucro?
— Isso é basicamente inevitável. — Padmé fez uma careta. — Não
podemos parar isso ou controlar isso, mas esperamos poder direcionar
contratos para pessoas em quem confiamos.
Sabé amarrou a segunda trança e começou a terceira.
— E quanto às armas? — ela perguntou. — E o contrabando?
— Tem isso também, é claro, — Padmé respondeu. — O Senador
Organa pensou que teríamos que conduzir uma investigação oficial
eventualmente. Nós simplesmente não temos tempo agora, porque estamos
tentando reunir todos os outros.
O dispositivo de comunicação pessoal de Padmé estava piscando sem
parar desde que a senadora se sentou, e ela o ignorou resolutamente. Teria
que voltar ao trabalho eventualmente, mas quando ela disse sem
interrupções, ela quis dizer isso.
— E então nós recebemos, por falta de um termo melhor, um convite,
— Padmé disse. — Os Jedi receberam uma dica sobre uma das corporações
que queria se encontrar com um senador pessoalmente, mas em particular. É
uma oportunidade boa demais para deixar passar, ver o funcionamento
interno de nossa cadeia de suprimentos de maneira tão direta, mas ainda
temos que ser discretos sobre isso.
— E é aí que entramos, — Sabé disse. — Como você sabe que a dica é
boa?
— Nós não sabemos, — Padmé respondeu. — Mas é uma boa pista, e a
nave que o Capitão Typho encontrou para nós é a mais segura possível.
Costumava ser de um contratado independente que fazia transporte médico
de curta distância, mas agora foi convertida para transportar suprimentos
médicos e eles trabalham como autônomos para a corporação.
— Estou apenas imaginando a úlcera que Quarsh Panaka estaria tendo
agora, — Sabé disse. Ainda era estranho pra ela que ele não estivesse por
perto.
— Mariek Panaka está bem com isso, — Padmé disse. Se estava
chateada, não parecia. — Além disso, o capitão é um Wookiee. Eu sempre
me sinto segura perto dos Wookiees por algum motivo.
Sabé terminou uma quarta trança e começou a enrolá-las em mechas
que repousavam na nuca de Padmé. O espaço entre a gola do seu traje de
voo e a parte inferior do seu capacete era tudo o que elas tinham para
trabalhar, então as espirais estavam apertadas. Padmé tocou a bandeja de
contas que ela costumava usar quando seu cabelo estava arrumado para
voar. Era o estilo mais fácil, mas não era o mais fácil de fazer na parte de
trás da sua própria cabeça. Sentia falta de Cordé. As joias que a sua aia
havia deixado para trás eram um substituto frio para a sua presença.
— Onde está seu capacete? — Sabé perguntou quando ela terminou.
— No armário, — Padmé respondeu. Ela esperou enquanto Sabé o
recuperava e depois o experimentava.
— Bem, isso é o melhor que vamos conseguir, eu acho, — Sabé disse,
fazendo alguns ajustes rápidos nas espirais. — Agora tire isso e veremos se
você pode replicá-lo.
Padmé pretendia dizer a ela. Realmente queria. Mas era tão confortável.
Tão familiar. Elas estavam planejando e trabalhando juntas, e Padmé estava
relutante em estragar isso com novas informações, especialmente algo tão
volátil. Haveria tempo mais tarde. Sempre haveria tempo para elas juntas.
— Acho que descobri, — Tepoh disse algumas horas depois, após de traçar
todos os nomes de planetas que Saché conseguia lembrar em um mapa
galáctico.
— Bem, estamos sem caf, então o seu momento é excelente, — Saché
disse. Estava começando a se sentir nervosa, mas sabia que não dormiria
bem com um quebra-cabeça para resolver.
Era quase meia-noite e elas estavam trabalhando desde que Saché
voltou para a cidade.
— É na frente de batalha, — Tepoh disse. Projetou o mapa para fora da
mesa em que estava trabalhando de modo que flutuasse no ar entre si e
Saché em três dimensões. — Ou um pouco disso, de qualquer maneira.
— Você está certa, — Saché elogiou. — Todos esses planetas tiveram
incursões Separatistas e uma resposta do Exército da República. O traço
comum é que eles são planetas da Orla Exterior onde os Separatistas
tentaram estabelecer uma base, lugares onde a lei da República não alcança.
— Mas as corporações fornecedoras sim, — Tepoh apontou. — Não as
principais. Essas são focadas na Orla Média e no Núcleo. Mas as empresas
menores, aquelas que costumavam ser comerciantes e tiveram que se
reaproveitar para a guerra. Elas não têm a mesma proteção legislativa, mas
ainda estão tentando lucrar.
— Não há lucro em libertar pessoas escravizadas, — Saché apontou. —
Não em créditos de qualquer maneira. Moralmente, é maravilhoso, mas é
um pouco incomum, você não acha?
— Talvez alguém esteja esperando por uma oportunidade, — Tepoh
rebateu. — Não estou reclamando, e acho que a Governadora Kelma
também não.
— Certamente não estou chateada com isso, — Saché disse. — Só um
pouco perplexa. Vai contra, bem, você se lembra da Ocupação. Não estou
acostumada a pensar bem nas corporações.
— Eles não podem ser todas terríveis, — Tepoh considerou. — Os Jedi
têm uma regra ou algo sobre equilíbrio.
— Tenho certeza de que não é assim que funciona, — Saché retrucou.
— Mas como você disse, eu vou considerar isso.
Tepoh bocejou, com o seu rosto se abriu e Saché o mandou para a cama.
Antes que mesma pudesse dormir, Saché enviou duas mensagens. A
primeira foi diretamente para Sabé, para que soubesse que o trabalho que
começou em Tatooine havia continuado, mesmo que não soubesse do
alcance. A segunda foi para Sabé, também, mas mais formalmente, para ser
compartilhada com Padmé como um interesse para o setor que Sabé estava
sendo informada como uma cortesia.
— Alguém no alto de uma corporação está trabalhando fora do que
esperávamos de algo como o procedimento operacional normal da
Federação do Comércio, — ela resumiu na sua gravação. — Não conheço
nenhum detalhe, mas é algo a se considerar. Podemos ter um aliado. Ou
pode ser uma armadilha. Ou pode ser uma coincidência. Mas é incomum, e
pensei que você gostaria de investigar se tivesse a chance.
Com a mensagem enviada, Saché disparou mais um holo rápido para
Yané, transmitindo o seu amor pelas crianças, e então foi se sentar no
jardim. Estava cansada, sim, mas havia muito em que pensar.
A Namrelllew era uma nave antiga, mas sendo de construção e design
Wookiee, era muito bem construída. Os sistemas de filtragem de ar, em
particular, eram notavelmente superiores a qualquer coisa que Naboo
pudesse fabricar. Não havia partículas no ar reciclado e, de alguma forma,
quase cheirava a fresco. Padmé rapidamente decidiu que era sua parte
favorita de suas novas acomodações.
O resto da nave era estranhamente luxuoso, embora um pouco incomum
para humanos. Embora tivessem sido avisados de que as suas cabines
seriam apertadas, o beliche de Padmé era hilariamente longo. Foi capaz de
manter a sua mala inteira no final da sua cama, liberando o espaço limitado.
O Capitão Typho, que tinha a cabine em frente à dela, relatou que era maior
do que qualquer quartel em que já viveu, e talvez os Wookiees estivessem
no caminho certo. Os chuveiros tinham secadores de corpo inteiro a ar
quente em vez de toalhas, e Padmé precisava de um banquinho para
alcançar a parte de trás da pia.
A missão para Hebekrr Menor não seria desconfortável. Pelo menos,
não até que as partes de espionagem esquentassem. A Namrelllew era muito
mais habitável do que o transporte que Padmé e Typho tinham pegado para
se encontrar com ele. Eles pararam na estação de Kebro para receber mais
passageiros e finalmente desembarcaram no terminal de Emoh, onde se
encontraram com a nave mercante que seria a casa deles durante a viagem.
Embora a nave fosse de propriedade de Wookiee, havia apenas dois a
bordo. O piloto, Naijoh, e a sua esposa, Rayyne, que era a navegadora.
Ambos entendiam a linguagem Básica, e o droide de protocolo da nave,
uma unidade bípede envelhecida designada G-1FY, cuidava do resto. O
quarto membro da tripulação permanente era o engenheiro. Padmé não a
encontrou no início da viagem e quase tropeçou nela na tarde seguinte no
refeitório.
— Oh, eu sinto muito, — Padmé disse. Ficou tão acostumada a olhar
para as coisas na altura dos Wookiees que se esqueceu de olhar para baixo
também.
— Está tudo bem, — gorjeou a engenheira. Falava Básico com sílabas
curtas e agudas, mas era fácil de entender. — Deve ser a nova guarda.
— Eu sou metade disso, — Padmé respondeu. — O meu parceiro está
inventariando a nossa carga.
— Tem Droide pra isso, — a engenheira observou. — Mas os guardas
devem guardar. Devem verificar primeiro.
— Algo assim, — Padmé disse. A missão era clandestina, afinal.
Ambos prefeririam que não houvesse surpresas naquelas caixas. — O meu
nome é Padmé.
— Idda, — a engenheira se apresentou. Se virou para olhar para a mesa
onde as rações da tarde estavam dispostas.
Idda era uma Mriss e raramente saía da sala de máquinas, exceto para
comer. Era incrivelmente pequena, e Padmé se perguntou como conseguia
alcançar qualquer coisa na nave do tamanho de um Wookiee. Enquanto
observava, a pequena engenheira subiu acrobaticamente na mesa,
selecionou a comida que queria e então desceu graciosamente segurando a
sua bandeja em uma mão e uma lata de suco de Meiloorun no bico. Estava
vestindo macacão que restringia suas asas, presumivelmente por segurança.
O olho afiado de Padmé para o design detectou o que pensou ser
provavelmente a escotilha de escape do macacão. A Mriss não voava, mas
usava as asas para se equilibrar. Se Idda precisasse delas, ela poderia
libertá-las rapidamente.
— Você vai se juntar a mim para o almoço? — Padmé perguntou,
gesticulando para um assento vazio.
— Coma no trabalho, — Idda respondeu. Ela inclinou a cabeça para o
lado, e Padmé pensou que isso poderia ser o que um sorriso pareceria
quando uma pessoa não tinha lábios. — O guarda também vem?
— Eu gostaria disso, — Padmé respondeu. Ainda não havia turnos
designados para os guardas, exceto um pedido geral para que um deles
ficasse acordado o tempo todo. Isso significava que Padmé passava muito
tempo sozinha, e enquanto ansiava por solidão, sabia por experiência
anterior que muito seria insuportável em pouco tempo.
Recolheu a sua refeição. Apenas um dos pacotes estava aberto, então foi
fácil o suficiente para ser arrumado. Seguiu a Mriss pela porta do refeitório
e por um corredor até a escotilha da sala de máquinas. Idda abriu a escotilha
e desceu usando a mesma técnica que usou para almoçar. Manipular os
grandes equipamentos não era problema pra ela. Padmé estava um pouco
mais desajeitada, esticando-se entre os degraus da escada e tentando
equilibrar a sua bandeja na mão livre.
— A prática leva à perfeição, — exclamou Idda, dando uma risada de
ave. Padmé não se ofendeu. Estava bem ciente de que parecia ridícula.
Comeram em relativo silêncio. De vez em quando, Idda olhava pra
cima, estalava o bico de frustração e desaparecia nas peças do motor por
alguns minutos. Padmé não conseguia detectar nenhum dos problemas que
a Mriss conseguia ver, mas toda vez que Idda voltava, tinha uma nova
marca de graxa em seu macacão e parecia satisfeita consigo mesma.
— Naves Wookiee são como a vida. Pequenos movimentos, — Idda
explicou após a quarta ou quinta interrupção da sua refeição. — Boa, mas
funciona.
— Você sempre trabalhou na Namrelllew? — Padmé perguntou.
— Não, nave Mriss primeiro, — Idda respondeu. — Muito barulho.
O motor era cacofônico, então Padmé só podia supor que Idda se referia
à tripulação, não à nave. Ela entendia isso muito bem. Às vezes o Senado
era tão barulhento que ela mal conseguia se ouvir pensar. A nave, pelo
menos, fazia barulho com um propósito.
Padmé terminou o seu almoço e relutantemente se despediu da sala de
máquinas. O seu único trabalho, até que estivessem em um planeta em
algum lugar, era ficar alerta quando fosse a sua vez de estar no turno. A
nave não poderia ser atacada no espaço. Ainda assim, nunca foi de
ociosidade e respeitava demais o trabalho das outras pessoas para distraí-
las. Pegou a bandeja e o lixo de Idda junto com os dela de volta para o
refeitório. No momento em que estava na metade da escada, pode ouvir
Idda cantando pra si mesma, metade em Básico e metade em gorjeios. Era
uma música exageradamente otimista sobre uma família de grandes peixes
predadores, e se viu à beira de rir novamente. Às vezes era bom fugir do
Senado.
Typho estava no refeitório quando chegou, carregando uma bandeja
com a sua própria refeição do meio-dia. Se desfez de suas bandejas e se
sentou em frente a ele.
— Então, Capitão? — ela perguntou.
Eles estavam usando os seus próprios nomes, mais ou menos, e guardas
tecnicamente mercenários também tinham capitães. Conseguir que Typho
largasse a “minha senhora” tinha sido mais um desafio.
— Suprimentos médicos bastante básicos, na sua maior parte, — ele
respondeu. Ele abriu o pacote contendo a sua ração proteica e fez uma
careta. Wookiees tinham estômagos muito fortes e, embora a sua comida
fosse tecnicamente segura para humanos, a sua consistência deixava um
pouco a desejar na forma de ração. Padmé tendia a beber a maior parte da
sua proteína, mas Typho preferia algo que pudesse mastigar. — Nada muito
surpreendente ou valioso.
— Suprimentos médicos geralmente só são valiosos quando são mais
necessários, — Padmé observou. Nenhum bacta ou especiaria era um alívio.
Poderia lutar com um blaster, e o fazia, mas não era o seu método preferido
de contato. Com carga de alvo mais baixo, eles tinham menos chance de
serem atacados por ameaças sérias. Padmé tinha quase certeza de que
poderia conversar com alguém desesperado o suficiente para roubar
bandagens e antissépticos.
— Isso é verdade, — ele concordou. — Também estamos carregando
grandes quantidades de shurgrain de Raadan, chá de Karlini e rum
Chadiano.
Isso era incomum. A galáxia era nova na guerra em larga escala, e
Padmé não ficou totalmente surpresa ao encontrar uma carga inesperada a
bordo. Talvez alguém só precisasse se livrar dela e tivesse aproveitado a
oportunidade que a Namrelllew ofereceu.
— O shurgrain eu entendo, — Padmé disse. — Ajuda a equilibrar os
sistemas digestivos da maioria dos humanoides baseados em carbono se a
fonte de água deles estiver contaminada. Isso pode ser útil se os combates
se aproximarem das cidades ou da principal bacia hidrográfica do planeta.
Mas para que serve o resto?
— O rum é legal, — Typho respondeu. — Embora os seus usos
potenciais no mercado negro sejam óbvios. Talvez seja um costume local
para as pessoas em Hebekrr Menor. Não há necessidade de interromper
tudo por causa da guerra. Às vezes, a normalidade ajuda.
Ele abriu a porção vegetal de suas rações e comeu com muito mais
gosto do que a proteína.
— Eu definitivamente posso entender isso, — Padmé disse. — O
Senado é relativamente pacífico na maior parte do tempo, e ainda gosto
quando tenho alguma sensação de lar.
— O chá é a parte estranha, — Typho disse. — Karlinus exporta para
todos os lugares, é claro, mas geralmente para os Mundos do Núcleo, ou
para a própria Naboo. Você se lembra de ter ouvido alguma coisa sobre um
aumento na produção ou no comércio?
— Não, — Padmé respondeu. — Mas admito que ultimamente tenho
me concentrado em assuntos galácticos, não nos domésticos. Podemos
perguntar sobre isso quando voltarmos.
Typho assentiu, engolindo as suas rações com uma lata de algo que
Padmé não tinha visto o rótulo. A porta do refeitório se abriu e o droide de
protocolo entrou.
— Saudações, — ele disse. — Os meus capitães confiam que vocês
estão se adaptando?
— Sim, obrigado, — disse Typho. Como ele era tecnicamente o
comandante, ele fez a maior parte do discurso pra eles. Isso ajudou Padmé a
desaparecer, o que a fez se sentir mais segura sem Sabé ou uma das outras
para apoiá-la.
— Maravilhoso, — disse G-1FY. — Os meus capitães pedem que vocês
se juntem a eles para jantar esta noite. Será no convés de voo e, portanto,
não será um assunto formal, mas não será rações, então suponho que seja
alguma coisa.
O droide parecia profundamente magoado com a ideia de não poder lhes
servir um jantar formal. C-3PO era da mesma forma, embora desde que
chegou a Coruscant, as suas chances aumentaram dramaticamente. Era
estranhamente reconfortante saber que os droides de protocolo tinham
problemas semelhantes, não importando de onde vinham ou onde
trabalhavam.
— Ficaríamos encantados, — Typho agradeceu.
— Excelente, — G-1FY disse. — Vou adicionar o horário às suas
agendas pessoais. Por favor, sejam rápidos, pois a pequena gremlin que
trabalha na sala de máquinas tem maneiras terríveis e não será convencida a
esperar por vocês, caso vocês se atrasem.
— Gremilin do motor? — Typho disse quando G-1FY partiu.
— Uma Mriss chamada Idda, — Padmé respondeu. — Na verdade,
acabei de almoçar com ela, e parecia encantadora, mas se levantava e
ajustou muito o motor. Eu posso apenas imaginar como ela será no convés
de voo. É uma coisa boa os droides não terem ataques respiratórios.
Typho riu e começou a descrever a vez recente em que ele e Dormé
saíram para um jantar chique em Naboo, apenas para ser vitimado pelo
senso de humor perverso de Eirtaé e algumas explosões oportunas.
— Eu sabia que seria sobre arte, — Typho disse. — Eu só não sabia que
íamos fazer parte disso.
— Eu só posso imaginar o que G1 teria pensado disso, — Padmé disse.
Nem tinha ouvido falar que Eirtaé tinha uma exposição. Até onde sabia, a
sua antiga aia ainda estava trabalhando na produção de grãos e na
proliferação de algas. Era bom saber que era capaz de explorar os seus
passatempos artísticos, mesmo que Padmé estivesse atrasada em ouvir
sobre isso.
— Dormé xingou como um pirata, — Typho disse. — Ela teve a
coragem de ficar brava comigo por não a avisar, quando eu estava
claramente tão surpreso quanto ela.
— Você estragou o vestido dela? — Padmé perguntou.
— Claro que não, — Typho respondeu. — Ela pode tirar manchas e
cobrir marcas de queimadura melhor do que qualquer um na galáxia. Acho
que ela simplesmente não gosta de surpresas.
Padmé sabia por experiência própria que isso era mais ou menos a
verdade.
— Bem, espero que ela não guarde rancor por muito tempo, — Padmé
disse. — Porque há um novo restaurante perto do Senado que deve ter
macarrão musical Hyelliano, e acho que ela gostaria disso.
— Anotado, — Typho disse. — Agora, se você não se importa, gostaria
de descansar um pouco antes de quando é que estamos destinados a jantar.
— Claro, Capitão, — Padmé disse. — Durma bem.
Deixada sozinha novamente, Padmé decidiu que assim que a missão
terminasse, iria procurar as suas amigas em Naboo. Sentiu falta delas nas
suas duas últimas viagens para casa e adoraria ouvir o que elas estavam
fazendo. Além disso, sentia falta de Anakin. Quando voltasse para
Coruscant, priorizaria a criação de um método de comunicação com ele. A
guerra era nova, mas já havia lhe mostrado que às vezes era preciso
arranjar tempo.
A nova organização doméstica da senadora Amidala fez com que Sabé
dormisse sozinha. Ellé e Moteé raramente entravam em seu quarto de
dormir, preferindo trabalhar fora do seu escritório em casa. Dormé se movia
pra frente e pra trás entre os dois mundos, é claro, mas até parecia menos
inclinada a ficar. As aias encarregadas de vestir a senadora e cuidar do seu
guarda-roupa e outros apetrechos domésticos eram brilhantes, discretas e,
finalmente, invisíveis depois que Sabé as dispensou durante a noite. Sabia
que meia dúzia de pessoas estava a apenas um grito de distância, caso
precisasse de alguém, mas depois de um dia de conversas intermináveis no
Senado, Sabé tirou um momento para saborear o silêncio.
Nunca teve que ser Padmé por tanto tempo, nem nunca votou em nome
da sua amiga antes. Nomear um eleitor por procuração não era incomum no
Senado, e Padmé havia feito oficialmente de Sabé a sua procuradora para o
caso da sua fraude ser descoberta. Ninguém poderia questionar a
legitimidade dos seus votos. Mas Sabé ainda se sentia muito deslocada.
Padmé tinha muito mais influência do que imaginava, esperava-se que
falasse e ouvisse com frequência, e muitas vezes era chamada para dar
conselhos. Deveria ter feito Sabé se sentir ocupada, vital e necessária, mas
em vez disso apenas se sentia cansada e sobrecarregada. Mesmo com Bail
fazendo o melhor para cobri-la, sentiu que as suas rachaduras estavam
começando a aparecer.
Estava solitária. Mesmo com tantas pessoas ao seu redor, clamando por
a sua atenção, estava sozinha. Sem os laços estreitos com as suas aias, sem
os jantares diários com os seus seguranças, Sabé se sentia à deriva. Não
entendia como Padmé fazia isso, ou por que as coisas haviam mudado. A
princípio, pensou que Padmé só queria algum tempo para si mesma à noite,
mas isso era mais do que privacidade ou tempo para autorreflexão. Isso era
isolamento. E já que Padmé a escolheu, Sabé teve que continuar.
Podia ler ou assistir ao noticiário, mas depois de passar a maior parte do
dia, todos os dias, debatendo a guerra, a última coisa que queria era ouvir
mais sobre isso. Podia olhar para as luzes brilhantes de Coruscant, exceto
que isso só a lembrava do quão isolada estava, e o quanto não gostava
daqui. Poderia, se estivesse desesperada, ir a um museu ou à ópera. Nem
precisaria ser Amidala quando fizesse isso. Tinha certeza de que Mariek
Panaka a ajudaria a organizar isso e cuidar da sua segurança. No entanto,
também não havia indicação de que Padmé tivesse algum interesse nesse
tipo de coisa. Havia bloqueado todo esse tempo, e Sabé não fazia ideia para
que isso servia.
Então se aborreceu. Essa era realmente a única coisa que poderia ser
dita sobre isso. Não estava particularmente orgulhosa disso, mas a impediu
de escalar as paredes para fora da frustração e tédio, então fez isso.
Esta noite, no entanto, não teve a oportunidade. Bail Organa estava
dando uma festa e havia sido convidada. Apenas Dormé iria acompanhá-la,
dando a Ellé e Moteé uma folga muito necessária. Mariek seria a motorista.
— Tudo bem pra mim, — disse a capitã da guarda quando Sabé tentou
se desculpar por não receber um convite pra ela. — O Senador Organa
sempre se certifica de enviar a boa comida para a segurança externa, e eu
não tenho que fingir que gosto de conversa fiada.
Sabé estava um pouco enciumada.
Dormé chegou uma hora antes da partida para ajudá-la com o cabelo. A
própria Sabé fez a maquiagem, embora Dormé fosse bem-vinda para fazer
qualquer mudança que quisesse, mas não podia fazer um penteado de noite
de senadora sozinha. As outras aias tiveram a noite de folga, pois Sabé
podia se deitar quando chegasse em casa. Enquanto se sentava na
penteadeira de Amidala e Dormé passava o pente pelos cabelos, Sabé
respirou fundo várias vezes e se lembrou de que havia escolhido essa vida
há muito tempo e nunca se arrependera.
— Existe alguém que eu preciso evitar politicamente? — ela perguntou
quando Dormé colocou o pente para baixo e começou a torcer o seu cabelo.
— Não, — Dormé respondeu. — Esta é uma festa lealista, então todos
ali são aliados. Onaconda Farr tem andado um pouco estranho ultimamente,
mas ainda não estamos preocupados com isso, então você pode continuar
andando com cuidado ao redor dele.
— O Chanceler estará lá? — Sabé perguntou.
— Não sei, — Dormé respondeu. — Ele está na lista de convidados,
mas raramente vai a essas coisas quando Bail as realiza. Tem um pouco...
de tensão lá, embora para todos os efeitos, eles estejam do mesmo lado.
— Eu tinha notado isso, — Sabé apontou. Ela estremeceu quando
Dormé puxou uma torção particularmente apertada. — Bail cada vez mais
critica as ações do Exército da República, mas nunca diz nada em público.
— Ele é muito bom em esperar, — Dormé observou. — A Senadora
Amidala frequentemente segue o seu exemplo para moderar a sua própria
impulsividade.
— Eu gosto de como você pode dizer tudo isso com uma cara séria, —
Sabé disse, sorrindo.
— Eu tive uma boa professora, — Dormé disse. — Pare de mexer a
cabeça. Eu tenho que colocar essa escova em linha reta.
Com todo o cabelo preso e enrolado na nuca, Sabé só conseguia mover
a cabeça em algumas direções. Isso a teria preocupado, dado que só teria
uma companheira para a noite, exceto que já tinha visto a tiara que Dormé
planejava usar. Era um dos desenhos de Eirtaé, fortemente modificado por
Rabé, e incluía pequenos espelhos inteligentes que permitiam à usuária ver
o que estava acontecendo ao seu redor, mesmo diretamente atrás. Dava a
impressão de limitar a visão de Sabé, mas na verdade a multiplicava.
Uma vez que a peça estava no lugar e Sabé ajustou os olhos aos
estímulos adicionais, ela se levantou e caminhou até o centro da sala.
Dormé a ajudou a vestir o vestido, puxando-o sobre a túnica azul-escuro na
altura do joelho que já estava usando.
O vestido era o mais pálido dos azuis pálidos. Sabé estendeu os braços
para que Dormé pudesse amarrar as mangas. Um nó em seu ombro, um
logo acima do seu cotovelo, e outro em seu pulso prendiam a larga cortina
de tecido em os seus braços enquanto alguns laços rápidos de cada lado
ajustavam o vestido ao seu corpo. Um cordão azul profundo prendeu o
vestido na sua cintura e formou um corpete delicado que Dormé prendeu no
lugar usando alfinetes que Cordé havia desenhado: invisíveis e totalmente
seguros.
— Estes são muito engenhosos, — Sabé observou, passando um dedo
levemente ao longo da linha azul. — Acabei de ver você colocá-los, e não
consigo nem encontrá-los.
— Toda a família de Cordé era muito talentosa, — Dormé apontou. A
sua voz falhou.
— Nunca é a mesma coisa, não é? — Sabé meditou. — A sua separação
de suas companheiras foi cruel, mas acho que entendo um pouco sobre
como você sente falta delas. Sinto muito, se vale de consolo.
— Obrigada, — Dormé agradeceu. — Você arriscou mais do que
qualquer uma de nós, então na verdade vale um pouco. Fiquei apavorada
quando era só eu, e ela foi sozinha com aquele Jedi. Pelo menos eu tinha
Typho.
— E estou muito feliz por ter você, — Sabé apontou.
Mariek apareceu na porta e assentiu bruscamente para elas.
— Se você está quase pronta, Senadora, já está na hora, — ela disse.
— Obrigada, Capitã, — Sabé agradeceu. — Dormé?
— Estamos prontas, minha senhora, — Dormé respondeu. Ela daria
uma última olhada no vestido de Sabé quando chegassem. Puxou o capuz
azul-marinho sobre a cabeça.
— Leve-nos, Capitã, — Sabé disse.
Mariek deu uma risada ao ouvir o seu tom, mas não disse mais nada
enquanto as acompanhava até a plataforma de transporte e entrava no
veículo. A viagem até o apartamento do Senador Organa foi
misericordiosamente curta e, em pouco tempo, a Senadora Amidala estava
fazendo a sua grande entrada na festa dele.
A reunião foi no telhado do prédio onde morava o senador. Estava
protegido dos ventos fortes nesta altitude por grandes lajes de vidro que
tinham cenas de montanhas Alderaanianas gravadas nelas. Para onde quer
que Sabé olhasse, haviam plantas Alderaanianas e peças de arte que
incorporavam vento ou água. Deve ter custado uma fortuna, mas Alderaan
era membro da República Galáctica há muito tempo.
— Senadora, estou tão feliz que você possa se juntar a nós! — Bail
disse quando a viu. Como sempre, ninguém olhou para Dormé.
— Claro, Senador Organa, — Amidala respondeu. — Os seus convites
são sempre os mais bem recebidos.
Desceu a fila de recepção, cumprimentando os poucos dignitários e
artistas de Alderaan que haviam sido convidados. Então não havia nada
para isso: tinha que se misturar. Sabé rapidamente localizou Mon Mothma
na multidão e se aproximou. A humana ruiva alta era uma das aliadas mais
próximas de Padmé, embora não uma de suas amigas mais próximas, no
Senado. Era uma distinção que Sabé achava frustrante, mas parecia
funcionar para ambas.
— Senadora, — Mon Mothma a cumprimentou. Assentiu
majestosamente. O que quer que Mon Mothma estivesse prestes a
acrescentar à sua saudação foi interrompido pela chegada de uma nova
pessoa ao grupo reunido.
— Senadora Amidala, que maravilha vê-la por aqui, — disse o
Chanceler Palpatine. — Você tem estado quase que enclausurada
ultimamente. Eu sei que você leva a guerra tão a sério quanto qualquer um
de nós, mas é bom ver você tendo algum tempo para si mesma com os seus
amigos e os seus colegas. Experimente o Toniray. O Senador Organa tem
uma safra particularmente boa disponível esta noite.
Sabé pegou o copo que ele passou para ela e o ergueu em um brinde
silencioso antes de tomar um gole. Era mais doce do que o álcool com o
qual estava se acostumando em Tatooine. E provavelmente menos propenso
a comer através do seu intestino enquanto ela estava digerindo. De repente,
sentiu tanta falta de Tonra que fez o seu estômago doer. Esperava que ele
estivesse indo bem.
— Obrigada, Chanceler, — Amidala disse. — É difícil parar de
trabalhar nessas circunstâncias, mas o Senador Organa me lembra que todo
mundo precisa descansar um dia.
— Bom, bom, fico feliz em ouvir isso, — Palpatine disse. — E eu acho,
minha querida, você também ficará feliz em ouvir as minhas notícias.
Alguns Jedi do seu conhecimento estão de volta a Coruscant para relatório e
reavaliação. Eu esperava que eles estivessem aqui esta noite, mas suponho
que teremos que esperar outras reuniões nos próximos dias.
Sabé piscou pra ele e tomou um gole de vinho para disfarçar a sua
hesitação. Foi um movimento amador, e ele certamente percebeu, mas não
conseguiu pensar em mais nada para fazer no local. Dormé estava atrás
dela. Estava por conta própria.
— Isso é realmente uma boa notícia, — Amidala disse. — Os Jedi
também são novos na guerra sustentada. Eles merecem um descanso tanto
quanto nós.
— De fato. — Palpatine estreitou os olhos ligeiramente. O que quer que
ele esperasse obter dela, ele não conseguiu. A falta de reação dela a havia
entregado e ele agora tinha apenas perguntas adicionais. Este era
exatamente o tipo de escrutínio que Amidala não precisava agora.
Foi salva por um dos artistas da ópera de Alderaan, que veio perguntar o
que ela achava da temporada mais recente. Isso era, pelo menos, algo sobre
o qual poderia falar, já que realmente gostava tanto do assunto quanto de
conversar com artistas sobre os seus trabalhos.
Não foi uma vitória espetacular de uma noite, mas foi uma boa
exibição, e no final dela, depois de mais duas taças de Toniray (que era, na
verdade, muito boa), Sabé estava se sentindo mais relaxada do que antes
desde que chegou a Coruscant. A sua discussão com Palpatine quase
esquecida, estava até disposta a admitir que se divertiu, embora Mariek
tenha feito a cortesia de não perguntar sobre isso no caminho para casa.
Sozinha em seu quarto no apartamento da senadora, Sabé tirou os
enfeites do seu cabelo e o penteou até que os cachos estivessem quase lisos
novamente. Limpou o rosto e tirou a túnica para poder vestir a camisola que
Dormé havia deixado para ela quando colocou o vestido azul de volta no
guarda-roupa. Bebeu um copo de água e depois encheu a xícara para que
tivesse à mão quando acordasse, e se aconchegou na cama confortável de
Padmé.
Estava quase dormindo, quente e ainda um pouco confusa nas bordas,
quando ouviu um barulho como uma porta abrindo e fechando, e depois os
passos suaves de alguém que sabia o que estava fazendo atravessando a
antecâmara do lado de fora de onde dormia. Lutou para ficar quieta, para
parecer que estava dormindo, e pegou o blaster que estava debaixo do
travesseiro.
Havia alguém na porta do seu quarto.
Padmé geralmente gastava pelo menos uma hora se preparando para uma
reunião informal, então era uma espécie de férias fazer uma pausa apenas o
suficiente para retrançar o cabelo antes de sair para o convés de voo. Era
pontual, o que sabia porque Typho abriu a sua porta aproximadamente meio
segundo depois que terminou, e ele estava sempre na hora certa para tudo.
Esperava que Idda não fosse muito impaciente com eles.
Enquanto eles atravessavam a nave, Padmé considerou seriamente
comprar uma nave Wookiee para ser o seu transporte oficial para o Senado
quando voltasse para Coruscant. Claro, as naves de Naboo eram
confortáveis e familiares, mas a Namrelllew nunca a fazia se sentir
claustrofóbica, mesmo quando estava em uma sala pequena. O design
Wookiee era bom pra isso, mas havia muitas espécies na galáxia que
provavelmente ficariam mais à vontade em uma nave como esta em vez de
uma projetada para humanos, não importa quão boa fosse a perfeição
artesanal da nave. Se ia fazer muitas missões nas linhas de frente, talvez
valesse a pena conferir.
A chegada deles à ponte interrompeu a sua reflexão. O centro de
controle da Namrelllew era relativamente autônomo, principalmente porque
era tripulado por apenas duas pessoas. A ponte tinha um corredor estreito,
para Wookiees, presumivelmente, na parte de trás, onde ficavam os
controles que não eram de voo, e depois um convés de voo com uma bolha
saliente que saía do casco. No hiperespaço, a vista era fascinante, mas
Padmé não tinha medo de se perder nela. Havia muita coisa acontecendo.
Naijoh e Rayyne, como co-capitães, geralmente tinham cadeiras
voltadas para a frente. Como era hora do jantar, as cadeiras estavam viradas,
desviando o olhar dos controles e voltadas para a própria nave. Uma mesa
estava suspensa acima do chão, baixada de uma escotilha habilmente
escondida na parede. Idda estava empoleirada na ponta onde a mesa estava
presa à parede, e G-1FY estava na outra ponta, servindo bebidas. Haviam
duas cadeiras vazias, e Padmé e Typho esperaram educadamente.
— Por favor, sentem-se, — Rayyne disse através do droide de
protocolo. Os seus gestos deixaram a sua declaração bastante clara, mas G-
1FY era uma espécie de repetidor crônico.
Enquanto Padmé e Typho se acomodavam, Typho certificando-se de
que Padmé não estava do seu lado cego, G-1FY passou a cada um uma
xícara de chá e então deslizou uma por toda a mesa até Idda.
— Ify, suco! — a pequena ave solicitou. Naijoh resmungou um aviso e,
sem parecer nem um pouco envergonhada, Idda elaborou: — Ify, suco, por
favor.
— O chá de Karlini é conhecido em toda a galáxia como o precursor
perfeito para uma refeição, — G-1FY apontou. Ele parecia ainda mais
indignado do que C-3PO. — Prepara o estômago e limpa a garganta para
obter sabor e textura. O suco, nas suas diversas formas, é mais amplamente
aceito como bebida no café da manhã. Ou por jovens.
Idda fungou e tomou um grande gole do seu chá. Um pouco de vapor
parecia sair dos seus ouvidos.
— Obrigada, G1, — Padmé agradeceu. — Ou, posso chamá-lo de Ify?
— Se tiver que ser, — o droide respondeu. Ele parecia resignado com o
fato. — Você já tomou chá de Karlini antes? Alguns acham que é muito
apimentado, mas é um excelente limpador de paladar.
— Estamos familiarizados com isso, — Typho respondeu. Era uma
espécie de eufemismo, mas eles estavam disfarçados.
Padmé tomou um gole do seu chá. Foi preparado perfeitamente, e sentiu
falta de todo o setor Chommell bastante intensamente por um momento.
— Vocês têm feito muita segurança desde que a guerra começou? —
perguntou Naijoh, novamente falando através do G-1FY.
— Um pouco, — Typho respondeu. — A maior parte do nosso trabalho
juntos é anterior a isso, mas não somos estranhos ao conflito. A galáxia é
um lugar perigoso, e minha parceira aqui parece atraí-lo.
Padmé o encarou, mas ambos os Wookiees riram.
Logo ficou claro que, embora os Wookiees se contentassem em
contratar pessoal de segurança por meio da empresa pela qual haviam
contratados, eles queriam saber mais sobre as pessoas que agora viajavam
com eles na Namrelllew. Padmé deixou Typho falar mais, e a maioria das
histórias que ele contou eram verdadeiras. Ele omitiu muitos detalhes, mas
havia muitas missões e expedições que a Senadora Amidala havia feito que
se tornaram completamente chatas, pelo menos do ponto de vista da
segurança. Era meio interessante ouvir sobre o trabalho dela da perspectiva
dele. Antigamente, conhecia os meandros de cada procedimento que a
mantinha segura, mas à medida que as suas responsabilidades no Senado
cresciam, contava cada vez mais naqueles em quem confiava. Isso a tornou
uma senadora melhor, mas sentia falta da antiga proximidade.
— Eu notei que você não trouxe muitas armas, — Rayyne disse a
Padmé através do droide tradutor. G-1FY estava servindo a entrada, uma
espécie de tubérculo estufado com um molho de laranja pungente que
prometia ser cheio de sabor e não perdeu tempo.
— O meu capitão aqui é mais adequado para esse tipo de conflito, —
Padmé respondeu. — Embora eu possa e tenha usado uma variedade de
blasters. Os meus talentos estão mais na diplomacia. Se eu não puder nos
convencer a não fazer isso, Typho assume o controle. Se ele não puder nos
retirar disso, bem, então é a minha vez.
— Nossos empregadores decidiram seguir com uma equipe pequena e
flexível e confiar nas forças da República disponíveis na região, ao que
parece. — Naijoh observou. — Eu realmente não posso culpá-los. É
definitivamente mais barato e já estamos cobrando muito pelo transporte.
Ainda é cedo na guerra, mas espero que nunca exijamos equipes de
incursão em grande escala apenas para entregar equipamentos médicos e
algumas quinquilharias.
Foi o discurso mais longo que Padmé já ouviu um Wookiee dar, e
trabalhou com os senadores deles. Era como ouvir música. Às vezes, sentia
que estava à beira de entendê-lo, e então a parte lógica do seu cérebro
assumiu e a lembrou de que não falava Shyriiwook além de cumprimentos
no básico. Eles ouviram as histórias dos Wookiees por um tempo enquanto
comiam. Ambos eram muito bem viajados, e nem mesmo o tom monótono
do G-1FY poderia tirar o impacto de suas aventuras.
Qualquer coisa que eles pudessem ter discutido depois disso foi
interrompida pela campanha lenta e determinada de Idda para descarregar
as suas ervilhas de keldrin no chão sem que ninguém percebesse. Claro, G-
1FY não se deixou enganar nem por um momento, mesmo enquanto estava
ocupado servindo sobremesa e traduzindo para Padmé e Typho.
— Em algumas culturas, — o droide observou, — é costume não servir
sobremesa para quem não saboreou adequadamente os seus vegetais.
Idda colocou uma ervilha na sua colher e atirou direto no rosto dele. Ele
ficou preso na pequena abertura onde ficava o bocal do droide, e ele não
conseguiu desalojá-la com os seus dedos contundentes. Em vez disso, ele a
esmagou, o que lhe deu a aparência de ter uma covinha muito estranha em
um lado da boca.
— Bem, eu nunca vou, — ele disse enquanto Idda fugia de volta para a
sala de máquinas, gargalhando enquanto ia. Os Wookiees caíram na
gargalhada, e até Padmé teve que cobrir a boca para não ferir os
sentimentos do droide.
— Eu acho que você vai ter que entender isso como um empate, Ify, —
Typho disse, oferecendo o seu guardanapo para que o droide pudesse limpar
a sua boca.
— Obrigado, senhor, — o droide agradeceu com grande dignidade. Ele
colocou a sobremesa abandonada de Idda na frente de Naijoh. — Às vezes,
isso é tudo que um droide trabalhador pode esperar por aqui.
— O jantar foi maravilhoso, — Padmé disse. — Obrigada.
— Nós comemos principalmente as rações, — Rayyne disse, G-1FY
afastando o guardanapo do seu rosto para dizer as palavras dela. — Mas
para uma ocasião especial isso também é bom.
Padmé se ofereceu para levar os pratos de volta ao refeitório, e Typho
ajudou G-1FY a dobrar a mesa. Voltou para os seus aposentos antes dele e
esperou no corredor que ele voltasse. Quando o fez, ele abriu a porta do seu
quarto e deu a ela as boas-vindas.
— Bem, eu não acho que a senhorita está tramando nada, — Typho
observou, acomodando-se na ponta da sua cama. — Exceto tirar aquele
droide de protocolo do sério.
— Wookiees não gostam que tirem vantagem deles, — Padmé disse. Se
recostou na pia alta. — Se alguém os está trapaceando ou usando, tanto
Naijoh quanto Rayyne podem reunir as suas famílias inteiras para buscar
justiça ou vingança. Isso é um monte de Wookiees irritados.
— Uma das razões pelas quais escolhi esta nave é que não achávamos
que os Wookiees estivessem envolvidos em algo sórdido, — Typho a
lembrou. — Sabíamos que eles trabalhavam para a empresa, mas até agora,
tudo isso foi verificado também. Se não fosse a dica para os Jedi e o pedido
de uma reunião, este relatório nunca teria chegado à mesa do Senador
Organa.
— Bem, se não são os Wookiees e não é Idda, o droide poderia estar
transmitindo alguma coisa? — Padmé perguntou.
— Talvez, — Typho considerou. — Ele parece um droide de protocolo
normal, mas não há como saber se a sua programação teve um incremento.
Ele era muito bom em multitarefa no jantar. Mas ele não podia estar
enviando imagens. Apenas texto ou som.
— Vou ver se meus escâneres pegam alguma coisa, — Padmé disse. —
Eu não tenho nada genérico o suficiente para escanear toda a nave, mas se
for apenas o droide, posso gerenciá-lo com bastante facilidade. Ele passa
mais tempo no refeitório do que eu, então encontrá-lo nunca é um
problema.
— Tudo bem, — Typho concordou. — Vou pedir alguns mapas da
nossa zona de pouso. Quero ter certeza de que essa transferência seja o mais
tranquila possível. Você deveria tirar as suas horas de descanso agora, se
puder. Dessa forma, ambos estaremos em ciclos acordados quando
chegarmos a Hebekrr.
— Sim, senhor, Capitão, — Padmé disse. A pele de Typho escureceu
com um rubor.
— Para registro, minha senhora, eu não gosto de estar disfarçado, —
Typho disse. — Ou, pelo menos, não tão longe do resto do nosso apoio.
— Eu também não gosto isso, — Padmé disse. — Acho que é assim que
Sabé se sente o tempo todo, no entanto. É só ela e Tonra. Sem nada mais, é
aventureiro.
— A ideia de você ter aventuras faz o meu estômago doer, — Typho
apontou. — Por favor, apenas vai pra cama.
Padmé riu e seguiu as ordens.
O Jedi tinha ido embora quando Sabé se levantou de manhã, e ficou feliz
com isso. Ia fazer um discurso no Senado naquela tarde, então foi Dormé
quem veio vesti-la para a ocasião. Pela primeira vez, Sabé não prestou
atenção na maquiagem ou no cabelo. Sentiu como se o vestido fosse sufocá-
la. Pela primeira vez em mais de dez anos, não queria ser Amidala. Não
tinha certeza se a conhecia mais.
— Eu tive uma visita ontem à noite, — ela disse de forma neutra
enquanto Dormé dava os retoques finais em seu cabelo e endireitava o seu
colar.
— Oh? — Dormé disse. E então: — Ah, porcaria.
— Bastante, — Sabé disse. — Existem outros segredos que eu deveria
saber antes que eles apareçam no meu quarto depois de três taças de
Toniray?
— Esse é o único que eu conheço, — Dormé respondeu. — Eu sinto
muito. Pensei que você soubesse.
— Padmé não me contou, — Sabé disse brevemente.
Houve um silêncio terrível entre elas.
— E... você está bem? — Nesse momento, as pretensões e o
profissionalismo de Dormé desapareceram. Por um instante, elas eram duas
garotas que compartilhavam um segredo com a amiga delas, embora isso as
deixasse desconfortáveis.
— Estou chateada por descobrir como descobri, — Sabé respondeu. —
Mas não é como se esta fosse a primeira vez que alguém se apaixonou por
ela. Esta é apenas a primeira vez que ela caiu para trás. Ela me disse uma
vez que, se o fizesse, seria completo e desgastante, e acho que ela estava
certa.
Estava com raiva, e chateada, mas não havia ninguém aqui para ficar
com raiva, e odiava ficar chateada com Padmé. Elas falariam sobre isso
com calma quando Padmé voltasse. Anos atrás, após o incidente com Harli
Jafan, elas concordaram em conversar sobre quaisquer problemas que
surgissem entre elas o mais rápido possível. E agora Sabé tinha um
problema. Sabé se levantou e deixou Dormé fazer a verificação final do seu
vestido. Parecia mais pesado do que o normal, as bordas mais afiadas e o
tecido menos flexível. Sabia que nada havia realmente mudado desde o dia
anterior, mas o vestido parecia não caber.
— Vou pedir para contar a Ellé e Moteé, quando Padmé voltar, —
Dormé disse. — Elas terão que saber. Padmé é a alma da discrição quando
se trata de organizar encontros, como tenho certeza que você pode imaginar,
mas Anakin é tão sutil quanto um Gundark bêbado.
— Eu notei, — Sabé disse secamente. — Eu não te invejo.
— De todos os escândalos que ela poderia ter escolhido, — Dormé
disse. — De todos os escândalos de que ela foi acusada!
Contra o seu melhor julgamento, Sabé começou a rir. Parecia histeria,
arranhando o seu caminho para fora da sua garganta, e ainda assim não
queria parar. Pela primeira vez desde que acordou com Anakin Skywalker
ao pé da sua cama, sentiu-se quase normal novamente, como se pudesse ser
a senadora e não estar à beira do fracasso a cada momento. A humanidade
de Padmé a tornou mais fácil fingir ser ela.
— Padmé nunca fez nada pela metade na sua vida, e você sabe disso.
Por que isso deveria ser diferente? — ela apontou. Então ela disse: — O
droide sabe. Ele costumava ser de Anakin.
— Para onde você acha que R2-D2 foi? — Dormé perguntou.
— Ele não é propriedade do governo de Naboo? — Sabé retorquiu.
— Eu acho que isso não vem ao caso, — Dormé apontou dando de
ombros. — Os droides são confiáveis. As novas aias não suspeitam de nada.
Ellé e Moteé estão ocupadas com o trabalho no Senado. Typho
definitivamente descobrirá que algo está acontecendo, mas ele não
perguntará. Mariek vai descobrir exatamente o que está acontecendo, mas
não vai confirmar ou espalhar fofocas.
— Acho que é isso que acontece quando você se cerca de pessoas leais,
— ponderou Sabé. — Eu me pergunto quantos outros senadores estão tão
seguros com os seus próprios agregados domésticos.
— Todas nós sabemos que é nos dois sentidos, — Dormé apontou. — E
todas nós sabemos para o que nos inscrevemos, mesmo que os detalhes
sejam um pouco diferentes.
— Eu não gosto disso, — Sabé disse7. Não tinha certeza se ela queria
dizer Anakin, as novas camadas de separação na casa, o Senado, toda a
guerra, ou tudo ao mesmo tempo.
— Mas você vai fazer isso, — Dormé disse. Não era uma pergunta, mas
havia a oportunidade de ter uma resposta enterrada nela.
— Sim, — Sabé disse. O vestido caiu um pouco melhor em os seus
ombros, e ela organizou os seus pensamentos para o discurso que deveria
dar em algumas horas. Padmé precisava que ela fosse Amidala, então ela
seria Amidala. Por enquanto. Até que Padmé voltasse e elas pudessem
conversar sobre isso, aberta e livremente, do jeito que sempre faziam. —
Sim, eu vou.
Hebekrr Menor era, como o nome sugeria, o segundo planeta habitável em
seu sistema solar. Hebekrr Maior era geologicamente instável há algum
tempo, embora as pessoas tivessem vivido lá em um passado distante.
Expedições ocasionais eram enviadas para recuperar tecnologia antiga e
artefatos culturais da superfície quebrada do planeta, mas ninguém
conseguiu ficar lá por muito tempo.
A batalha em Hebekrr Menor era centrada na maior concentração
populacional do hemisfério sul do planeta. O Exército da República e a
milícia de Hebekrr controlavam a cidade, enquanto os Separatistas faziam
incursões das colinas circundantes e destruíam qualquer terra arável que
encontrassem. Afinal, eles não tinham vindo a Hebekrr por alimentos. A
verdadeira riqueza do planeta estava nos minerais que revestiam seu solo.
Se os Separatistas não pudessem lucrar com eles, ninguém o faria. A única
pequena misericórdia era que o planeta não era exatamente uma prioridade
Separatista, então havia muito pouco apoio aéreo e nenhuma nave havia
sido deixada para trás.
A Namrelllew entrou em órbita no céu vazio acima da superfície do
planeta. Padmé e Typho juntaram-se aos Wookiees no convés de voo para
que pudessem escanear a área de pouso por si mesmos.
— Não há espaço dentro das fortificações da cidade para uma nave
desse tamanho, — Typho apontou. — Mas esperávamos que fosse esse o
caso. Padmé e eu vamos pegar o transporte, fazer o abastecimento e depois
voltar aqui. Algum de vocês virá conosco?
Naijoh balançou a cabeça com uma negativa vibrante. Não era tanto que
os Wookiees confiavam na sua segurança, mas sim que Padmé e Typho não
tinham para onde ir. E também não seriam pagos.
— Tudo bem então, Capitão, — Padmé disse. — Vamos carregar.
O G-1FY os ajudou com os trenós de carga enquanto carregavam o
transporte. A pequena nave tinha blindagem mínima e um canhão voltado
para a frente, mas serviria. Eles não esperavam fogo pesado, e os clone
troopers sabiam que eles estavam chegando, para que pudessem fornecer
defesa terrestre. Levou apenas alguns minutos para terminar de carregar, e
então eles estavam prontos para partir.
— Transporte Um partindo, — Typho disse no comunicador.
As portas da baía se abriram, e mesmo que Padmé estivesse em um
recipiente lacrado, ela ainda imaginava que podia sentir o frio do espaço
despressurizado.
— Afirmativo, — G-1FY disse. — Os capitães me dizem para lhes
desejar bom voo.
— Obrigada, — Padmé agradeceu. — Encontraremos vocês no ponto
de encontro quando terminarmos.
Typho pilotou a nave para fora da baía, e então eles começaram a descer
em direção ao planeta. Como esperado, o oficial de comunicações clone os
pegou quase imediatamente e forneceu-lhes coordenadas de pouso seguras e
uma rota evasiva para evitar qualquer uma das armas pesadas dos
Separatistas. Eles pousaram sem incidentes e o descarregamento ocorreu
rapidamente.
— Ce-Ce-Dezessete-Setenta-Um, comandante clone, reportando, —
disse um soldado com finas listras azuis pintadas para cima e para baixo nos
braços da sua blindagem. — Tudo parece em ordem. Tenho os créditos do
seu chefe prontos para enviar.
Padmé não resistiu a fazer algumas perguntas. Pode ser a única chance
que tinha de interagir com os clones na frente.
— Como você se chama, comandante? — ela perguntou.
— Sticks, — ele respondeu. Ela desejou poder ver o rosto dele, mas não
tinha certeza se era educado pedir a ele que tirasse o capacete. Sabia como
ele era, é claro, mas havia muito a ser dito sobre o contato visual.
— Prazer em conhecê-lo, Comandante Sticks, — Padmé disse. — Há
mais alguma coisa que possamos fazer por você enquanto estamos aqui?
O comandante pareceu hesitar, inclinando-se na ponta dos pés antes de
possivelmente lembrar que, pelo que sabia, ela era apenas uma empreiteira
independente, não uma senadora a quem ele devia alguma coisa.
— Se você tiver algum tempo para esperar, eu pediria que você falasse
com o meu general, — Sticks respondeu por fim. — O General Sivad e o
seu aprendiz estão na casa do magistrado, e eles podem precisar da sua
ajuda, se você puder dar.
— Claro, — Padmé disse, assim que Typho voltou para o lado dela.
Sentiu que ele queria protestar, mas ele não disse nada. — Por favor,
comandante, mostre o caminho.
Sticks emitiu mais algumas ordens, incluindo que o transporte fosse
reabastecido, e depois os escoltou pela cidade.
— Tem certeza que isso é uma boa ideia? — Typho sussurrou. — É um
desvio da missão.
— É um desvio de nossa missão principal, — Padmé respondeu. —
Mas esta é a primeira chance que alguém do Senado teve para ver como as
linhas de frente operam. Temos confiado nos relatórios Jedi, que são
adequados, mas ocasionalmente eles ignoram as coisas.
— Apenas tente manter isso sob controle, — Typho apontou.
— Claro, Capitão, — Padmé disse.
A cidade deve ter sido um lugar bonito, uma vez, mas a vida de cerco e
o bombardeio constante estava começando a cobrar o seu preço. Muitas das
janelas estavam escurecidas ou tapadas, as lojas estavam fechadas, os
parques estavam vazios e a vida vegetal estava murchando.
— Estamos sitiados aqui há várias semanas, — Sticks apontou enquanto
caminhavam. — Quase desde o início da guerra. Os Separatistas tentaram
comprar direitos minerais, e quando o governo local recusou, tentaram
tomá-los. Foi aí que entramos. Agora, as latas-velhas parecem focadas na
destruição, esperando que a magistrada ceda.
— Você acha que ela vai? — Padmé perguntou.
— Isso não cabe a mim dizer, — Sticks apontou. — Embora haja outros
fatores em jogo que o General Sivad explicará.
Eles chegaram à casa da magistrada e foram admitidos imediatamente
depois que o Comandante Sticks os avalizou. Mesmo aqui, os sinais do
cerco eram prontamente aparentes. A casa foi reforçada estruturalmente e
servia como um hospital de apoio para qualquer pessoa com problemas não
emergenciais. Eles também estavam operando uma cozinha de sopa fora do
refeitório estatal. Tudo estava organizado, mas havia um toque de desespero
no ar. As pessoas aqui estavam muito perto de quebrar.
Sticks os conduziu ao centro de comando, uma grande sala de reuniões
no meio da casa. Era, Padmé adivinhou, geralmente onde as reuniões
públicas eram realizadas, mas os clones tinham reaproveitado com bastante
eficiência. Sticks os trouxe para os Jedi e esperava ser reconhecido.
— General, Magistrada, — Sticks cumprimentou. — São os pilotos do
abastecimento. Eles acabaram de entregar mais suprimentos médicos e
vários outros itens. Eles têm a sua própria nave e tecnicamente não são
afiliados a nenhum dos lados deste conflito.
— Muito bem, Comandante, disse o General Sivad. Ele era um homem
humano baixo e atarracado, com cabelo louro branco e um rosto corado e
amigável. — Magistrada, a Força nos deu a chance de restabelecer o
equilíbrio aqui.
A magistrada de Hebekrr era uma humana com pelo menos setenta anos
de idade. O seu rosto e mãos estavam enrugados e rachados, sinais de que
havia trabalhado tanto quanto qualquer um dos seus eleitores antes de se
voltar para a política. Quando ela olhou para Typho e Padmé, um grande
peso pareceu sair dos seus ombros.
— O exército Separatista está exigindo uma reunião comigo, — ela
disse. — Eles não são sutis. Eles claramente vão me fazer assinar algo se
chegarem perto de mim. O nosso melhor recurso até agora tem sido
prolongar o cerco. Eles terão que ficar sem droides eventualmente, e os
direitos minerais em Hebekrr não valem tanto assim.
— Fortalecemos a cidade da melhor maneira possível, — acrescentou o
General Sivad. — Todos nós concordamos que proteger a magistrada era a
prioridade, então ela ficou nesta casa.
— Tudo isso estava funcionando até dez horas atrás, quando um grupo
de agentes Separatistas orgânicos romperam as defesas de uma fazenda
duzentos quilômetros a leste daqui e sequestrou a minha neta, a esposa dela
e todos os meus três bisnetos. — A magistrada respirou fundo. — Estamos
tentando ganhar tempo desde então, mas obviamente qualquer objetividade
que eu tinha se foi há muito tempo.
— Normalmente, eu interviria como parte neutra, — o General Sivad
observou. — Mas com a decisão do Conselho de tomar partido na guerra,
isso não é mais possível. Tanto eu quanto o meu Padawan seríamos
considerados combatentes inimigos.
— O meus homens montaram um plano de extração, — Sticks
observou. — Mas sem uma nave neutra, a nossa intenção seria bastante
óbvia.
Padmé olhou para o mapa da cidade sitiada e arredores. Não era
diferente de partes de Naboo, embora obviamente a geomorfologia de
Theed fosse mais dramática. Não podia simplesmente voltar para Coruscant
e fazer um relato frio de como era a frente. Como uma senadora, Padmé
tinha que ajudar, mesmo que eles nunca pudessem saber que ela era, de
fato, fortemente afiliada ao lado deles. Como pessoa, Padmé não via
nenhuma dúvida. Era novamente como com a irmã da Rainha Jamillia, onde
o capital político deve ser considerado como peso adicional em um jogo de
números, por mais injusto que fosse para todos os outros.
— Tudo bem, — ela disse. — Acho que tenho uma ideia.
Ao lado dela, Typho suspirou. Sabia exatamente para onde isso estava
indo, mas a verdade era que ele não iria impedi-la mesmo se pudesse. Isso
era o que Padmé fazia, e ele sabia disso muito bem quando se inscreveu
para estar a serviço dela.
— O quanto você queria aquele rum Chadiano?
Typho não conseguiu abrir a sua porta. Agora que ele tinha dado o seu
relatório e esclarecido, tudo o que ele queria era um pacote de ração do
refeitório e um cochilo em seu beliche, mas a porta estava emperrada. O
painel de controle respondeu, a fechadura seria ativada, mas a porta não se
movia. Nem mesmo jogar o ombro contra ela algumas vezes adiantou. Ele
tinha acabado de começar a procurar o seu blaster quando o sistema de
comunicação em seu quarto foi ativado.
— Capitão Typho, por favor, não se preocupe, — G-1FY disse. — O
meu empregador precisou de alguns momentos para falar a sós com a
senadora, e por isso lacrei seu quarto pelos próximos momentos. Eu
recomendo começar o seu período de descanso mais cedo.
A mente de Typho se concentrou na palavra mais importante que o
droide havia dito, e ele sentiu o pânico aumentar.
— 'Senadora'? — Ele demandou. Ele jogou o ombro contra a porta
novamente. Não se moveu.
— Oh, céus, — G-1FY disse. — Sim, meu empregador está ciente da
sua identidade e eu também. Garanto que ela está bem segura. É apenas um
holo.
— Então por que você me trancou aqui? Typho pontuou a frase
chutando a porta o mais forte que pôde. Nada ainda.
— Achei que você reagiria mal, — o droide respondeu. — Acho que
não estava errado.
— Vou te mostrar que não estava errado, — Typho vociferou.
O que quer que G-1FY pudesse ter dito em seguida foi abafado pelo
som de metal gritando. Typho se afastou da porta quando faíscas voaram, e
então a coisa toda caiu para dentro para revelar Idda, agarrada ao batente da
porta com um maçarico nas mãos e rindo um tanto de forma maniaca. Ela
atravessou o metal e contornou o selo do droide.
— Capitão, por favor, — G-1FY apareceu no corredor. — Eu prometo a
você, está tudo bem.
— Me trancar realmente não inspira a minha fé em você, droide, —
Typho apontou. Ele olhou para Idda, que havia subido de volta ao convés.
— Obrigado, pequena.
Idda mostrou a sua língua consideravelmente longa para o G-1FY e fez
um zumbido rude. Então ela olhou para Typho e ergueu os braços para ele.
Typho a pegou e a colocou em seu ombro. Então ele caminhou pelo
corredor, empurrando o droide para fora do caminho quando debilmente
tentou bloqueá-los.
— Você sabe onde ela está? — Typho perguntou.
— Perto do refeitório, — Idda respondeu. — Outra porta.
Typho partiu o mais rápido que pôde com G-1FY balbuciando atrás
dele.
Era uma vez uma garota que viu um planeta morrer enquanto tentava
salvá-lo, e jurou que nunca iria parar de tentar.
Acompanhou ao seu pai na missão de ajuda, apesar dos protestos de
alguns dos principais organizadores. Eles argumentaram que era muito
jovem. Tinha apenas nove anos na época, mas tinha uma boa cabeça sobre
os ombros, retrucou o seu pai, e estava interessada no trabalho. Nunca era
cedo demais para cultivar esse tipo de espírito generoso. Então eles a
levaram com eles, para um planeta com um sol moribundo.
A garota era imensamente popular entre os refugiados. Era gentil e
acessível. Fez amigos facilmente, e muitos dos adolescentes muitas vezes
podiam ser encontrados trabalhando com ela para completar tarefas que
poderiam ser gerenciadas por crianças. Os refugiados mais jovens
acorreram a ela para ouvir histórias e lendas de Naboo. Ela os entretinha
por horas, liberando os adultos para trabalhar na recuperação e nos
esforços de realocação. Os seus pais observavam com indulgência, felizes
por ver os seus filhotes felizes, mas o tempo todo, o medo os cercava.
O sol tinha algo que eles precisavam para viver. Eles não podiam
simplesmente ser realocados. Eles precisavam encontrar um ambiente
específico, e o tempo estava contra eles. A garota não entendeu, não
inteiramente. Para ela, luz era luz. Foi só quando os adultos começaram a
adoecer que a gravidade da situação se tornou real para ela. Não foi até
que as crianças os seguiram que começou a entrar em pânico. Através do
seu medo, cuidou deles, dando conforto onde podia e nunca traindo o seu
terror à medida que a doença piorava.
Todos eles morreram. Milhares deles. Cada um. Sem o seu sol, eles não
poderiam sobreviver. Nenhum cientista pode replicar o que eles
precisavam; nenhum mundo novo poderia ser encontrado para eles. Sem
porto seguro, eles foram extintos. A galáxia era um lugar mais pobre sem
eles.
A menina lamentou. O seu pai não tinha certeza do que dizer a ela. Que
às vezes isso acontecia. Às vezes, a missão falhava. Ele a deixou chorar, se
enfurecer e sofrer. E quando a tempestade inicial passou, eles voltaram
para casa juntos. Passava muito tempo no jardim sozinha, regando flores,
cercando-se de coisas que cresciam e uma nova vida. O seu pai entendeu.
Era importante lembrar, depois de uma tragédia como a que presenciara,
que a vida persistia, mesmo que a sua forma fosse diferente.
Eles não falaram muito sobre isso, a menina e o seu pai. Não quando a
garota decidiu entrar na política. Não quando foi eleita rainha. Nem
mesmo quando deixou Naboo para servir no Senado Galáctico. Mas a
tragédia sempre pairava por trás da sua tomada de decisão. Não importa o
quão bem planejava ou quão bem preparada ela estava, sabia que poderia
falhar. Sabia que o custo poderia ser muito alto para compreender
completamente. Já havia aprendido que às vezes todo o peso da galáxia
estava contra ela.
Padmé Naberrie saía da cama todas as manhãs e tentava de novo.
Padmé sentiu que era necessário se explicar para os Wookiees. Se nada
mais, eles mereciam saber que o droide deles havia sido comprometido.
Realmente gostava dos capitães e queria que eles soubessem que a
ajudaram. Foi até a cabine de comando e encontrou o G-1FY já lá,
esperando por ela. Ele estava torcendo os seus dedos de metal
desajeitadamente e parecendo tão desconsolado quanto um droide de
protocolo poderia estar.
— Estou pronto, Senadora, — o droide disse. — Espero que não fiquem
muito zangados comigo.
— Não foi sua culpa, Ify, — Padmé o lembrou.
Liderou o caminho para onde os Wookiees estavam sentados, pilotando
a nave em conjunto, afinados por anos de prática. Sem os apetrechos do
jantar do G-1FY, o convés de voo era um pouco menos acolhedor para os
observadores, mas muito mais interessante. Os Wookiees alcançavam
facilmente os painéis de controle que Padmé teria que esticar até seus
limites para acessar. Membros de pelo marrom moviam-se suavemente
enquanto a nave atravessava o espaço, nunca colidindo ou interferindo uns
nos outros. Piloto e navegadora, eles formavam uma equipe perfeita, cada
um contando com os talentos do outro para uma chegada segura e nunca
duvidando de suas habilidades.
— Capitães? Você tem um momento livre? — Padmé perguntou. Voar
pelo hiperespaço não exigia atenção constante uma vez que o curso estava
definido, mas Rayyne tendia a ficar no topo dos seus sistemas o tempo todo,
assim como Idda raramente se separava dos motores.
Os dois Wookiees se viraram para olhar pra ela, e Naijoh soltou um som
afirmativo.
— O meu nome é Padmé, que vocês já sabem, mas vocês podem me
conhecer melhor como Amidala, — ela disse. — Sou senadora da
República Galáctica do planeta Naboo. O seu empregador queria que eu
visse a sua operação e providenciou para que eu soubesse que a sua rede
comercial existia. Decidimos dar uma olhada mais de perto e nos juntar a
uma nave em uma missão de reabastecimento para a Orla Exterior. Nós, o
Capitão Typho e eu, escolhemos a nave de vocês porque, bem, porque
vocês pareciam ser os melhores.
Rayyne deu um tapinha na nuca peluda do marido e fez o som que
Padmé pôde identificar como sendo uma risada Wookiee. Padmé ficou
aliviada que nenhum dos dois pareciam zangados com ela. Não queria lidar
com Wookiees zangados se pudesse evitar.
— Ela disse que, falou pra ele que você estava tramando algo, — G-
1FY forneceu. — E agora ele deve a ela...
Um trinado de Rayyne o fez parar de traduzir. Não era possível para um
droide corar, mas G-1FY conseguiu transmitir a emoção de qualquer
maneira.
— Eu ia dizer 'uma escova', — G-1FY disse com requinte. Rayyne riu
novamente.
— Sinto muito pela dissimulação, — Padmé disse. — Antes de
partirmos, eu queria que vocês soubessem a verdade. Você prestou um
grande serviço à República, e também a mim. Obrigada.
— A única coisa que me chateia é ter que substituir você, — Naijoh
disse, falando através do droide. — Tanto você quanto o Capitão Typho
eram excelentes funcionários de segurança. Se você quiser voltar, é só nos
avisar. Idda vai sentir a sua falta.
Padmé os agradeceu novamente e deixou o G-1FY para explicar a sua
falha de programação por conta própria. Esperava que ele pudesse ser
consertado sem muitos problemas. Eles já estavam falando sobre
diagnóstico antes que estivesse fora do alcance da audição. Ele ficaria bem.
Quando voltou para os seus aposentos, ocorreu-lhe que, como todos na
Namrelllew sabiam quem era, poderia acessar as suas comunicações
privadas. Estava longe de Coruscant por tempo suficiente para que as
mensagens se acumulassem, mesmo com Sabé fazendo a triagem para ela.
Não poderia lidar com nada que exigisse segurança avançada, é claro, mas
poderia aproveitar a oportunidade para se antecipar à sua correspondência
de baixa prioridade.
Tirou o datapad da mochila, onde estava escondido sob o fundo falso. A
primeira mensagem que notou quando o ligou foi de Bail. Teria que lidar
com isso mais tarde. Havia uma de Saché que estava marcado como de
baixa segurança, e o abriu com entusiasmo. Fazia muito tempo desde que
tinha falado com as suas amigas. Se sentou de pernas cruzadas em seu
beliche e se encostou na parede, ficando confortável.
A mensagem de Saché era predominantemente sobre o chá de Karlini,
confirmando o que Padmé havia adivinhado quando conversou com Oje
N'deeb. Havia uma frase no final indicando que Saché queria uma ligação
de retorno e, após uma rápida verificação da hora, Padmé estabeleceu a
conexão. Em questão de minutos, uma figura de Saché estava equilibrada
na sua mão.
— Padmé! Estou muito feliz em ouvir de você, — Saché disse. — Está
tudo bem?
— Sim, — Padmé respondeu. — Acho que você e eu estamos
trabalhando no mesmo projeto de diferentes maneiras.
— Dê-me um momento, — Saché solicitou. — Tenho companhia.
Saiu do alcance do projetor, e Padmé podia ouvi-la dando ordens para
algumas das crianças. Houveram risos ao fundo. O coração de Padmé doeu.
Uma verdadeira casa de família estava a anos de distância pra ela, mas
sabia que Anakin também a queria.
— Tudo bem, — Saché disse, reaparecendo. — Eu bani todas as
orelhinhas para o jardim. O que você tem feito?
— Eu acabei em uma nave entregando chá de Karlini, — Padmé
respondeu. — Fiquei curiosa, porque estávamos muito longe do Núcleo.
Eventualmente, eu conversei com alguém, digamos, da gerência, e eles
admitiram ter comprado o chá na tentativa de entrar no meu lado bom.
— Seu lado bom? — Sache indagou. — Você tem uma participação em
Karlinus que eu não sabia?
— Eu acho que ele quis dizer de forma mais geral, — Padmé explicou.
— De qualquer forma, quando vi a sua mensagem, pensei em lhe dizer que
comecei a investigar o comprador, mas eles parecem confirmar.
— Ainda não entendo por que alguém pensaria que o chá de Karlini
impressiona você, — Saché disse.
— Ele é Neimoidiano, — Padmé esclareceu. A mão de Saché foi para o
rosto dela, para as cicatrizes que traçavam a sua pele. — É um grupo
dissidente, se você pode imaginar. Eles querem reabilitar a imagem de toda
a Federação do Comércio.
— Isso demandaria algum trabalho, — Saché apontou. A sua voz era
neutra. — E você está... bem com isso?
— É uma oportunidade boa demais para deixar passar, pelo menos
politicamente, — Padmé disse. — Quanto aos meus sentimentos pessoais...
Não espero que você os compartilhe, mas talvez seja hora de seguir em
frente? Eu nunca me senti confortável com a forma como os Neimoidianos
me fazem sentir. E agora, pela primeira vez, quando penso neles, o primeiro
sentimento que me vem não é ódio.
Saché ficou quieta por um momento. Era difícil para as duas admitirem
as suas falhas, e Saché ainda não estava pronta para superar a sua raiva.
— Eu apoio você, é claro, — Saché disse depois de pensar um pouco.
— Apenas... não me convide para nenhuma das festas.
— Entendido, — Padmé disse. Ela bateu os dedos no colchão em que
estava sentada. — O que não consigo entender é como a Governadora
Kelma está lidando com o aumento das demandas trabalhistas.
— Ah, — Saché disse. Se acalmou quando tudo se encaixou no lugar.
— Sei. Acho que o seu amigo Neimoidiano tem libertado pessoas
escravizadas e as direcionado para Karlinus. Houve um aumento
significativo na imigração. Kelma não se aprofunda muito, porque é assim
que o sistema funciona, mas me levou e Harli Jafan para encontrar alguns
dos seus novos cidadãos, não oficialmente, e todos eles eram de sistemas na
Orla Exterior, onde os Separatistas fizeram incursões...
— Ele não mencionou essa parte, — Padmé disse. — Eu quero saber o
motivo.
— Talvez você devesse perguntar a ele, — Saché disse. Não soou tão
doloroso quanto poderia ter sido. — Ele está lucrando com o chá e o resto
do que está vendendo, mas a única coisa que ele está ganhando com a
emancipação em massa é a sua atenção.
— E a reabilitação da Federação de Comércio, — Padmé meditou.
— Isso vai levar mais do que algumas centenas de pessoas, — Saché
disse. A sua voz ficou sombria.
— Sim, — Padmé concordou, — mas é um começo.
Elas conversaram sobre as crianças por um tempo depois disso. O grupo
original de adotados da Ocupação estava na sua maioria fora da escola
durante o semestre. Saché estava muito orgulhosa deles. As novas adições
de Yané à família, os sobreviventes do deslizamento de terra, estavam se
instalando. Eles ainda tinham pesadelos, e alguns deles eram
agressivamente claustrofóbicos, mas todos estavam fazendo um bom
progresso em direção à cura.
— E parabéns, — Saché disse com cautela. — Sobre a outra coisa. Com
o vestido.
Padmé não pôde evitar o sorriso largo que surgiu em seu rosto. Ela
nunca seria capaz de compartilhar a notícia publicamente, mas ouvir as
pessoas mais próximas a ela trouxe um brilho caloroso. Contaria a Sabé
assim que chegasse em casa. Sabé merecia ouvi-lo pessoalmente, não juntar
as pistas ou ouvi-lo pela holonet.
— Obrigada, — ela agradeceu. — Yané fez um trabalho incrível.
— E você está feliz? Saché perguntou.
— Sim, — Padmé respondeu. Outro sorriso largo enfeitou o seu rosto.
— Sim eu estou.
Elas conversaram sobre alguns outros assuntos inconsequentes por um
momento antes de uma perturbação do lado de Saché encerrar a conversa.
Uma das crianças havia caído na lagoa, e a comoção que se seguiu foi
suficiente para encerrar a ligação. Saché estava rindo quando ela se
despediu, porém, e Padmé ficou feliz em ver que estava tão feliz. Antes que
o seu bom humor pudesse se temperar com cinismo, Padmé voltou a ligar e
fez uma ligação para Oje N'deeb.
— Senadora Amidala, — ele disse, aparecendo na palma da mão dela.
Tarde demais, desejou ter se levantado para fazer a ligação. — Acho que
você tomou uma decisão?
— Você não me contou sobre as pessoas que você estava enviando para
Karlinus, — Padmé disse como forma de saudação.
— Não, — N'deeb disse.
— Por que não? — Padmé perguntou.
— Você não teria motivos para acreditar em mim, — N'deeb respondeu.
— E eu pensei que poderia parecer auto engrandecedor.
— Você disse que outra pessoa teve a ideia de comprar o chá, — Padmé
disse. — Foi sua ideia ajudar pessoas escravizadas?
— Foi, — N'deeb admitiu. — O seu registro de votação é público,
afinal. Houveram vários projetos de lei fracassados sobre a tentativa de
expandir as leis antiescravismo da República para a Orla Exterior sem
expandir a República real. Você votou a favor de cada um deles e falou
sobre eles no Senado. Eu sabia que era uma causa que significava algo para
você. Mais do que o chá.
— Muito mais do que o chá, — Padmé disse. — Você está usando
dinheiro da Federação de Comércio?
— Por mais que eu queira, não, — ele respondeu. — Os créditos são
meus. O legado da minha família é, como você pode imaginar, mais do que
um pouco duvidoso. Parecia o mínimo que eu podia fazer.
— É mais do que a maioria faria, — Padmé disse.
— É exatamente o que você faria, — N'deeb disse. Ele a olhou com
franqueza quase enervante, considerando que ele era um holograma.
— Vou levar a sua causa ao Senador Organa e ao resto da minha facção,
— Padmé disse. — Não consigo imaginar nenhuma circunstância sob a
qual ele recusaria você. Ele não tem o meu histórico com a Federação de
Comércio e é muito, muito mais paciente do que eu. Mas não será fácil.
Haverá uma oposição considerável dos senadores regulares e dos comparsas
da Federação do Comércio. Quando o seu representante vier a Coruscant, e
espero sinceramente que venha, eles terão um aliado em mim.
— Obrigado, Senadora, — N'deeb agradeceu. Ele piscou os seus
grandes olhos negros lentamente enquanto inclinava a cabeça para ela. —
Estou ansioso para trabalhar com você.
O holograma na sua mão desapareceu quando a ligação foi
desconectada, e Padmé inclinou a cabeça para trás contra o metal frio do
casco. O revestimento vibrava levemente com a potência dos motores,
arremessando a Namrelllew pelo hiperespaço, mas mesmo isso era
reconfortante. A sua missão tinha sido um grande sucesso. A República
ganhou um poderoso aliado. Poderia ganhar um sistema totalmente novo.
Os capitães Naijoh e Rayyne podiam ser confiáveis para quaisquer futuras
necessidades de transporte na Orla Exterior. Toda a rede de Oje N'deeb
estava à sua disposição. E cada novo cidadão em Karlinus era um tapa
direto na cara dos traficantes.
Mas não conseguia tirar da cabeça o cerco a Hebekrr Menor. Não era
exatamente como Saché e Yané descreveram os acampamentos, mas a
sensação de estar preso tinha que ser um pouco parecida. Quantas pessoas
em toda a galáxia estavam presas assim agora? Quantos estavam sob fogo?
Quantos estavam com fome? Quantos ficaram com medo? E quão vazias
devem soar as suas vitórias quando contadas a um pai que não pode cuidar
do seu filho ou a uma criança cujo pai nunca mais voltaria para casa?
Não resolveria todos os problemas da galáxia. Não podia. Mas não
estava disposta a deixar que isso a detivesse. Isso nunca tinha antes. Padmé
saiu da sua cama e começou a arrumar os seus aposentos. Estava indo para
casa, mas o seu trabalho estava longe de terminar.
Isso estava quase no fim. Padmé e Typho estavam na sua viagem de volta, e
logo Sabé seria capaz de deixar Amidala de lado e voltar a ser ela mesma
novamente. Embora tivesse decidido o que queria fazer a seguir, sentia-se
impaciente. Desconfortável. Não conseguia afastar a sensação de que estava
sendo egoísta ou covarde, e não sabia se aquela vozinha estava dizendo a
verdade ou se estava apenas sendo um cretino.
— Você precisa comer alguma coisa frita, — Mariek disse enquanto
Sabé andava inquieta pela sala de estar. Não conseguia ficar confortável. —
Era algo que aquele droide de protocolo desaprovaria.
— Você está oferecendo um plano de fuga? — Sabé perguntou. —
Porque por mais que eu goste da ideia, acho que não consigo me concentrar
o suficiente para tramar.
— Há uma primeira vez pra tudo, — Mariek respondeu. — Vá se trocar
e eu cuidarei de todo o resto.
— Obrigada, Mariek, — Sabé disse. A capitã da guarda assentiu.
Sabé escolheu uma de suas roupas Tatooine. Era áspera e as cores eram
opacas. Se encaixaria nas partes mais decadentes de Coruscant sem virar a
cabeça. Colocou maquiagem, usando contornos para garantir que não se
parecesse com Amidala ou mesmo ela mesma. No momento em que ela
estava vestida, ela sabia exatamente para onde queria ir. Mariek não disse
nada quando Sabé lhe disse para onde estavam indo, apenas passou uma
vibrolâmina extra e verificou o comunicador de emergência.
Dex não tinha mudado.
Sabé deslizou pelo banco duro de duraplástico para se enfiar no canto
da lanchonete. Dali, podia ver a entrada e a cozinha. Sabia que havia pelo
menos três outras saídas, sem contar as janelas, mas isso era seguro o
suficiente por enquanto. Descansou os dedos na mesa e esperou que a
droide servidora viesse anotar o seu pedido.
Enquanto se sentava e ouvia, Sabé percebeu que, embora Dex fosse
fisicamente o mesmo de quando ela e Tonra costumavam vir aqui, algo
havia mudado no cardápio. Metade dele foi bloqueado totalmente. Quando
perguntou à droide sobre isso, foi informada de que alguns ingredientes não
estavam disponíveis e que Dex estava procurando novas cadeias de
suprimentos agora que a guerra estava acontecendo.
— É uma ameaça, esta guerra, — Dex disse atrás do balcão. O Besalisk
saiu da cozinha enquanto Sabé conversava com a droide. — Tantas coisas
que não conseguimos ou de repente ficam mais caras. As pessoas daqui vão
notar o aperto muito antes que as dos níveis superiores considerem fazer
algo a respeito.
— Mas eles vão eventualmente, certo? — Sabé perguntou.
— Ah, eles vão tentar, — Dex respondeu. — Eles vão escrever um
projeto de lei e falar sobre isso por uma semana, e talvez seja aprovado ou
não, mas ainda estarei aqui, tentando administrar um restaurante.
Ele nunca diria isso em voz alta, mas não havia dúvida na mente de
Sabé que Dex iria recorrer ao mercado negro muito antes disso. Um monte
de gente ruim estava prestes a fazer um monte de créditos.
— Uma caixa no lugar certo pode mudar tudo, — Dex disse. —
Aqueles lá em cima não pensam em coisas tão pequenas.
Ele estendeu um dos seus quatro braços por cima do ombro, depois
colocou o ensopado que Sabé sempre pedia quando vinha aqui como ela
mesma. Sorriu. Deveria saber que não poderia enganá-lo por muito tempo.
— Obrigada, Dex, — ela disse.
Ele voltou ao trabalho enquanto comia, mas pensou no que ele disse.
Um caixote. O lugar certo. Padmé faria diferença em Coruscant, e elas
seriam grandes. Sabé estava escolhendo outro caminho, mas o seu escopo
mais estreito não a tornava menos útil ou relevante. Poderia salvar menos
pessoas do que Padmé, mas conheceria os rostos deles.
Quando Mariek sinalizou que era hora de ir embora, Sabé estava com o
estômago cheio e a mente tranquila. Estava pronta.
Era tarde da noite em Coruscant quando a Namrelllew finalmente recebeu a
sua permissão de desembarque. Padmé e Typho se despediram brevemente,
bem, tão brevemente quanto se podia quando uma senhorita se agarrava aos
joelhos de alguém e se recusava a soltá-la, e então alugaram um transporte
particular para o prédio do Senado. O Senador Organa estava esperando o
relatório dela e ela queria fazê-lo pessoalmente no escritório dele.
O escritório de Padmé estava vazio quando chegou. Meio que esperava
que Sabé e as outras ainda estivessem lá, porque queria vê-las. No entanto,
o dever a chamou, e a sua reunião teria que ser adiada um pouco mais
enquanto Padmé amarrava as pontas soltas.
Elas mantinham uma muda de roupa de emergência em um dos
compartimentos na parte de trás do seu escritório. Padmé não conseguia se
lembrar de qual vestido elas haviam guardado no momento, mas ficou
agradavelmente surpresa ao encontrar um vestido verde escuro que fechava
na frente. Pegou os sapatos combinando e a tiara do fundo do
compartimento e então se virou para pedir desculpa a si mesmo por um
chuveiro.
— Você precisa de alguma ajuda? — Typho perguntou. para o seu
crédito, ele parecia apenas um pouco aterrorizado.
— Não. — Padmé sufocou uma risadinha. — Este é projetado para eu
colocá-lo sem ajuda.
Levou cerca de cinco minutos para tirar o uniforme de piloto e se
desfazer das roupas de baixo de linho macias que usava por baixo. Mudar
para roupas limpas teria sido bom com acesso à sua banheira primeiro, mas
estava com pressa. Vestiu as roupas novas, começando com calças leves e
uma camiseta. O vestido era de veludo verde pesado forrado com seda
dourada de Karlini. A seda foi costurada diretamente, em vez de ser uma
roupa de baixo separada, o que tornou a roupa mais fácil de gerenciar por
conta própria. Apertou os botões metálicos de ouro, calçou os seus sapatos
dourados sem graça e prendeu as braçadeiras decorativas que a cobriam do
pulso ao cotovelo.
Uma vez destrancado, com o seu cabelo caiu em ondas suaves que
quase pareciam que tinha feito de propósito. A tiara era uma simples faixa
de ouro batido que manteria o cabelo longe do rosto. Dormé teria prendido
a maior parte do seu cabelo numa rede para completar o visual, mas Padmé
estava com a agenda apertada. Se olhou no espelho quando terminou,
certificando-se de que tudo estava no lugar. Não havia como negar: a
Senadora Amidala estava de volta.
Em seu escritório, Typho conseguiu encontrar uma jaqueta de uniforme
extra e a vestiu. Ele precisava fazer a barba, mas isso teria que esperar.
— Estou pronta, Capitão, — a Senadora Amidala disse. — Vamos falar
com Bail.
A essa hora do dia, os salões do Senado estavam quase vazios. Com a
câmara liberada do debate, todos estavam trabalhando em os seus
escritórios ou já estavam ocupados para a noite. Haviam droides de limpeza
para evitar e o estranho droide mensageiro que apitava julgando se
impedido, mas Padmé chegou ao escritório de Bail sem ser interceptada por
ninguém que quisesse falar.
Bateu na porta, e ela se abriu imediatamente. Acenou para Typho, que
ficaria no corredor, e entrou na sala. Bail estava de pé junto à janela, a sua
capa azul escura contra a noite atrás dele. Mon Mothma estava sentada ao
lado da mesa, imaculada como sempre em seu costumeiro vestido branco.
Para surpresa de Padmé, o Chanceler Palpatine se juntou a eles. Ele ficou ao
lado de Bail e sorriu largamente quando ela entrou na sala.
— Senadora Amidala, é maravilhoso vê-la retornar, — o Chanceler
disse. Padmé sabia que ele não tinha sido informado da missão antes de ela
partir e se perguntou quando Bail decidiu contar a ele.
— Obrigada, Chanceler, — Padmé disse. — É bom estar de volta.
— Fiquei bastante surpreso quando falei com você algumas noites atrás,
apenas para perceber que você estava em outro lugar, — o Chanceler disse.
— O Senador Organa teve a gentileza de explicar. Presumo que a sua
viagem foi um sucesso?
Padmé estava planejando dar o seu relatório para Bail, que era mais uma
conversa entre amigos do que qualquer outra coisa, especialmente a essa
hora do dia. Estava exausta, mas nunca deixou isso detê-la antes. Se
endireitou para dar um relato formal.
— Eu fui para Hebekrr Menor para investigar algumas informações que
nos foram dadas pelos Jedi, — Padmé disse. — Um contato queria se
encontrar com um senador, especificamente comigo, ao que parece.
— Por que você? — Mon Mothma perguntou.
— Ele é Neimoidiano, — Padmé respondeu. — Ele sabia que chamaria
a minha atenção.
— Neimoidiano? — Bail indagou. — O que um Neimoidiano poderia
esperar receber de você?
— Ele quer a vaga no Senado da Federação de Comércio de Lott Dod,
— Padmé respondeu. — E acho que devemos ajudá-lo a conseguir.
Todo mundo na sala era um político profissional, então demorou alguns
segundos antes que alguém reagisse.
— Você o ajudaria a ganhar poder? — Palpatine perguntou. O
Chanceler manteve sua habitual presença calma, mas uma raiva estranha e
silenciosa fervilhava sob sua voz. — Depois do que sofremos durante a
Ocupação?
— Eu não gostei da ideia no começo, — Padmé admitiu. — Mesmo que
os benefícios políticos sejam óbvios. Mas ele, e a sua empresa, estão
tentando ativamente reparar os danos na Orla Exterior. Eles não estão
manipulando preços, não estão vendendo armas. E, mais importante, eles
estão procurando ativamente pessoas escravizadas para libertá-las e
mandando-as para Karlinus para que possam se reerguer.
— Isso é bom demais para deixar passar, — Bail apontou. — Mesmo
com a história da Federação do Comércio, uma chance de desestabilizá-los
assim? Não poderíamos pedir uma oportunidade melhor.
— Concordo, — Mon Mothma disse. — E eu aprecio que isso seja
difícil para você. Eu vou ajudá-la de qualquer maneira que eu puder.
— Isso é algo a se considerar, — Palpatine disse lentamente. Ele piscou
várias vezes, e um olhar de controle calculado brilhou em seu rosto. — Mas
temo que devo me desculpar. O Chanceler não deveria se envolver com as
nomeações do Senado.
Nem tecnicamente falando, eram os senadores, mas era raro um político
aparecer em Coruscant sem nenhum aliado.
O Chanceler saiu, e Padmé finalmente se sentou na cadeira ao lado da
de Mon Mothma. Estava cansada, mas poderia aguentar um pouco mais.
Bail se sentou atrás da sua mesa e cruzou as mãos sobre a superfície polida.
— Sabé fez um trabalho incrível, — ele disse. — Ainda não tenho
certeza de como o Chanceler descobriu. Ele veio até mim depois de uma
festa que eu organizei, preocupado com a sua segurança, já que uma dublê
estava presente. Eu não contei tudo a ele.
— Obrigada, — Padmé disse.
— Você foi capaz de observar alguma luta na frente de batalha? — Mon
Mothma perguntou. — Nós só tivemos descrições dos Jedi.
— A situação em Hebekrr Menor era pior do que esperávamos, —
Padmé respondeu. Se permitiu afundar na cadeira. — A cidade principal
estava sitiada. Os clone troopers reforçaram as fortificações e os Jedi
estavam supervisionando a defesa. Foi uma pequena incursão, apenas
alguns milhares de droides.
— Então, tudo funcionou como deveria? — Bail perguntou. — Em
termos de cooperação, pelo menos?
— Até onde eu sei, sim, — Padmé respondeu. — Comandante Sticks, é
assim que o clone responsável se chama, foi tratado com respeito por todos,
assim como todos os seus homens.
— Mas você disse que era pior? — Mon Mothma questionou.
— Os Separatistas queriam que a magistrada assinasse um tratado, —
Padmé explicou. Era uma história conhecida. — Ela não faria isso, e eles
não podiam pegá-la para ameaçá-la diretamente. Em vez disso, eles
viajaram centenas de quilômetros para sequestrar a sua família. Isso foi bem
antes de chegarmos. Quando perceberam que o nosso transporte não seria
imediatamente associado à República, solicitaram a nossa ajuda.
— E você deu, — Bail disse.
— Eu trabalhei com o Comandante Sticks em um plano, e nós os
levamos para o território Separatista, — Padmé disse. — Tivemos que
defender a baía de desembarque, e a extração foi um pouco mais quente do
que se esperava, mas não houve vítimas do nosso lado.
— Os senadores não devem estar diretamente envolvidos nesta luta, —
Mon Mothma apontou.
— Com todo o respeito, Senadora, — Padmé disse, — é exatamente por
isso que vocês enviaram alguém como eu nesta missão. Você não aprova a
violência e nunca aprovará. Admiro isso e aceito. Tudo o que peço em troca
é que você aceite que eu sou a pessoa que você envia quando houver a
possibilidade de... negociações agressivas.
Foi o mais próximo que eles já chegaram de encerrar isso. Mon Mothma
considerou as palavras de Padmé por um momento e então assentiu.
— Como você quiser, Senadora Amidala, — ela disse.
— Algo mais? — Bail perguntou, claramente esperando que não
houvesse.
— Hebekrr vai fazer uma petição para admissão na República, —
Padmé respondeu. — Eu não sei se eles vão continuar com isso, mas eles
precisam da proteção do nosso exército.
Bail esfregou a testa.
— Todos nós sabemos que não é assim que a República deve se
expandir, — ele apontou. — Não gosto da ideia de fazermos algum tipo de
esquema como um cartel comum, mas acho que é algo que vai surgir no
futuro. E é melhor que eles se juntem a nós do que aos Separatistas.
— Esses eram os meus pensamentos também, — Padmé disse.
Bail parecia cansado, e até Mon Mothma estava começando a cair um
pouco nos ombros. Padmé sabia que ambos estavam trabalhando sem parar
para garantir o futuro da República, e ela estava feliz por ter retornado para
ajudá-los a fazer isso. Apesar de si mesma, ela bocejou.
— Desculpe-me, — ela disse. — Estou hiper-cansada.
— Claro, — Bail disse. — Bem, até amanhã?
— Brilhante e cedo, — Padmé disse. Ela bocejou novamente. — Talvez
não muito cedo.
— Boa noite, Senadores. — Mon Mothma levantou-se graciosamente, e
todos seguiram caminhos separados.
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Sinto que movemos uma montanha. Depois de vinte anos de espera, não só
conseguimos uma, mas TRÊS histórias da Padmé. E isso é graças a vocês,
gentis leitores. O seu apoio significou tudo pra mim durante esta trilogia
(TRILOGIA!!!), e estou muito feliz por termos conseguido isso juntos.
Josh, comparado com os dois primeiros, esse foi quase normal! Você
não precisava descobrir em que o fuso horário eu estava nem nada.
Obrigado por a sua contínua defesa dos meus livros. O que devemos fazer
em seguida?
Jen, devo dizer, foi INFINITAMENTE paciente comigo sobre isso.
Perdi todos os prazos. Entreguei o manuscrito mais curto de todos os
tempos. Esqueci como soletrar os nomes dos personagens que inventei, com
uma consistência alarmante. E, no entanto, ela nunca desistiu de mim ou me
fez sentir como se eu estivesse falhando. Obrigado por guiar este livro, por
instruções precisas quando meu cérebro precisava delas e por entender que
alguns dias eu era um desastre total. Conseguimos. Eventualmente.
Emma Higinbotham, Anna-Marie McLemore e Dot Hutchison foram
excelentes membros da equipe “Não posso explicar nada, mas tenho
algumas perguntas”. Amigos que podem ajudá-lo E não infringir o seu
NDA (Non-Disclosure-Agreement ou Acordo de não divulgação) são um
bônus real neste negócio.
Tara Phillips e Leigh Zieske mais uma vez se uniram com arte de capa e
design EXCELENTES. Esses dois fizeram um TRABALHO TÃO BOM
nesta série, e eu os amo muito.
Como sempre, sem o Grupo de História eu estaria flutuando em um mar
de [Pablo, eu preciso de um planeta]. Em particular, gostaria de agradecer a
Emily Shkoukani, que investiu muito tempo pessoal para garantir que eu
construísse os personagens que queria.
Por fim, quero agradecer aos meus leitores. Quando o Perigo da Rainha
foi lançado em junho passado, eu passei muito mal, e todos vocês foram
incríveis. Escrever é o meu trabalho, mas eu gosto mais quando estou me
divertindo, e vocês garantem que eu goste. Mal posso esperar para lhes ver
novamente.
E. K. JOHNSTON é a autora de Star Wars: A Sombra da
Rainha; Star Wars: Ahsoka; The Afterward; That Inevitable Victorian
Thing; e Exit, Pursued by a Bear. Ela teve vários empregos e uma vocação
antes de se tornar uma escritora publicada. Se ela aprendeu alguma coisa, é
que às vezes as coisas ficam estranhas e não há muito que você possa fazer
a respeito. Bem, isso e como forçar a fanfic estranha porque é sobre um
casal de quem ela gosta.
Star Wars: Guardiões dos Whills
Baixe agora e leia
Quando Jyn Erso tinha cinco anos, sua mãe foi assassinada e seu
pai foi tirado dela para servir ao Império. Mas, apesar da perda de
seus pais, ela não está completamente sozinha, — Saw Gerrera, um
homem disposto a ir a todos os extremos necessários para resistir à
tirania imperial, acolhe-a como sua e dá a ela não apenas um lar,
mas todas as habilidades e os recursos de que ela precisa para se
tornar uma rebelde.Jyn se dedica à causa e ao homem. Mas lutar ao
lado de Saw e seu povo traz consigo o perigo e a questão de quão
longe Jyn está disposta a ir como um dos soldados de Saw. Quando
ela enfrenta uma traição impensável que destrói seu mundo, Jyn
terá que se recompor e descobrir no que ela realmente acredita… e
em quem ela pode realmente confiar.
Sylvestri Yarrow vive uma maré de azar sem fim. Ela tem feito o
possível para manter o negócio de carga da família em
funcionamento após a morte de sua mãe, mas entre o aumento das
dívidas e o aumento dos ataques dos Nihil a naves desavisados, Syl
corre o risco de perder tudo o que resta de sua mãe. Ela segue para
a capital galáctica de Coruscant em busca de ajuda, mas é desviada
quando é arrastada para uma disputa entre duas das famílias mais
poderosas da República por um pedaço do espaço na fronteira.
Emaranhada na política familiar é o último lugar que Syl quer estar,
mas a promessa de uma grande recompensa é o suficiente para
mantê-la interessada... Enquanto isso, o Cavaleiro Jedi Vernestra
Rwoh foi convocada para Coruscant, mas sem nenhuma ideia do
porquê ou por quem. Ela e seu Padawan Imri Cantaros chegam à
capital junto com o Mestre Jedi Cohmac Vitus e seu Padawan,
Reath Silas, e são convidados a ajudar na disputa de propriedade
na fronteira. Mas por que? O que há de tão importante em um
pedaço de espaço vazio? A resposta levará Vernestra a uma nova
compreensão de suas habilidades e levará Syl de volta ao
passado... e às verdades que finalmente surgirão das sombras.