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Star Wars - A Sombra da Rainha é uma obra de ficção.

Nomes, lugares, e
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são marcas registradas da Penguin Random House LLC.ISBN 978-1-368-
02563-8

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Página Título
Direitos Autorais
Dedicatória
Prólogo
Parte I
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Parte II
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Parte III
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Parte IV
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Parte V
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Epílogo
Sobre o Ebook
Agradecimentos
Sobre a Autora
Para as garotas com corações profundos e
vários planos B...
E especialmente para Emma, que é a
minha guia para ambos.
Sabé manteve os olhos fechados e tentou não recuar toda vez que o pincel
tocava o seu nariz. O pó finalizador tinha que ser aplicado levemente, o
que fazia cócegas, e agora não era hora para risos. As mãos de Rabé
estavam firmes quando ela aplicou o resto da maquiagem da rainha, e Sabé
também manteve a respiração estável. Sabia por experiência própria que
inalar o pó causava um surto de espirros e agora também não era hora
para isso.
Ao seu redor podia sentir as outras aias cuidando de suas tarefas.
Ninguém permitiu ou deixou que as suas emoções invadissem a sua fachada
profissional, mas Sabé sabia que todas estavam nervosas. Saché terminou
com o seu cabelo e Sabé preparou o seu pescoço para o peso da tiara
enquanto Yané a colocava. Rabé puxou o pano do pescoço de Sabé, o que
evitava que a maquiagem sujasse o vestido preto elaborado que usava, e
Sabé abriu os olhos.
Ela olhou para o rosto da rainha. Não era a primeira vez que fazia isso,
é claro, mas desta vez parecia que era a mais desesperada. A calma medida
do camarim da rainha não ia além da porta. Sabé podia ouvir as naves
pousando nos pátios do palácio e o barulho inconfundível de pés de um
droide na pedra. A raiva cresceu dentro dela. A Federação do Comércio
poderia pelo menos ter usado as áreas de atracação adequadas. Não era
como se Naboo as defendessem com mais rigor do que defendiam o
palácio.
Um movimento no espelho chamou a sua atenção e Sabé viu Padmé e
Eirtaé voltando para a câmara principal. O rosto de Padmé foi esfregado,
todos os vestígios de sua própria maquiagem sumiram, e puxou o capuz de
seu manto cor de fogo para disfarçar ainda mais a sua identidade. Sabé
não precisava ver o seu rosto para conhecer os seus pensamentos.
— A equipe conseguiu chegar à nave real. — disse Eirtaé. — Mas
foram capturados. O Capitão Panás está esperando por nós no corredor.
Onde você gostaria de estar quando eles chegarem aqui?
Sabé sabia que Padmé não daria a resposta. Assim que começavam a
manobra de disfarce, tudo dependia da rainha, e agora era a Sabé.
— Podemos ir para a sala do trono? — perguntou Sabé. A sua voz
estava baixa e seus tons sonoros, uma entonação muito praticada,
encheram a sala.
— Não, minha senhora. — respondeu Eirtaé.
— Se nos pegarem aqui no camarim da rainha, eles podem nos
subestimar, pensar que estamos despreparadas. — ressaltou Yané. Ela ficou
muito perto de Saché enquanto esperavam que Sabé decidisse.
— Vamos sair para o terraço. — declarou a Rainha Amidala. — Faça
com que o Capitão Panás se junte a nós com todos os guardas que ele
achar adequado.
Rabé escapuliu para fazer isso e as outras saíram. Sabé colocou as
mãos no parapeito, olhando para Theed. Normalmente, a vista trazia paz,
mas não havia nada disso agora. Muitas naves da Federação do Comércio
marcavam a paisagem urbana. Ouviu o som mecanizado do exército
invasor subindo as largas escadas de mármore e, felizmente mais perto, o
passo pesado das botas do Capitão Panás.
Padmé se agachou ao lado dela, consertando algumas rugas na bainha
do vestido preto volumoso.
— Faremos isso. — disse ela, tão baixinho que Sabé mal a ouviu. Sabé
se abaixou e Padmé pegou a mão dela e a apertou. — Este vestido tem seda
Karlini tecida nele o suficiente para proteger você e qualquer um que esteja
atrás de você em um tiroteio, e sabe que isso é só o começo. Naboo resiste à
sua maneira. O seu povo está com você, Vossa Alteza. Nós estamos prontas.
Eram palavras reconfortantes e Sabé poderia facilmente se imaginar
dizendo-as ela mesma, exceto que nunca deixaria a sua rainha enfrentar
uma situação tão perigosa, não importando quais proteções fossem tecidas
em suas vestes. Panás tossiu e a porta do terraço foi empurrada por mãos
de metal indiferentes. Era hora de Sabé de Naboo, guarda-costas e aia,
fazer o seu trabalho. E ela faria, porque foi isso o que ela sempre escolheu
fazer.
Sabé se virou para encarar aos seus inimigos como Rainha de Naboo, e
Padmé praticamente desapareceu em sua sombra.
Padmé Amidala estava completamente imóvel. O halo castanho de seu
cabelo se espalhou ao redor dela, suavizado aqui e ali por flores brancas que
haviam sido sopradas no ar para encontrar descanso entre os seus cachos. A
sua pele estava pálida e perfeita. O seu rosto estava em paz. Os seus olhos
estavam fechados e as mãos cruzadas sobre o estômago enquanto flutuava.
Naboo continuou sem ela.
Mesmo agora, no final, ela era observada.
Não foi mais do que o esperado. Desde que entrou na arena da política
planetária, o seu público tinha sido incessante. Primeiro tinham comentado
sobre os seus interesses e ideais, depois sobre a sua eleição para rainha.
Muitos duvidaram de sua força diante de uma invasão, quando a vida e o
bem-estar de seu povo seriam usados como resgate contra ela, cabendo a ela
salvá-los apenas se desistisse com a sua assinatura, e provou que todos
estavam errados. Ela governou bem. Cresceu em sabedoria e experiência e
fez as duas coisas rapidamente. Enfrentou as provações de sua posição sem
vacilar e sem medo. E agora o seu tempo havia terminado.
Uma pequena perturbação, o menor movimento através da água
pacífica, foi o único aviso de Padmé antes de seu atacante atacar.
Um braço envolveu a sua cintura, puxando-a para o raso claro,
segurando-a lá apenas o tempo suficiente para que soubesse que havia sido
derrotada.
A Rainha de Naboo emergiu, cuspindo água à luz do sol enquanto as
suas aias, as suas amigas, riam ao seu redor. Yané e Saché, que sofreram por
seu planeta durante a Ocupação. Eirtaé e Rabé, que ajudaram a garantir que
o sofrimento delas significasse algo. Sabé, que corria os riscos mais
frequentes e era a mais querida. Juntas, jovens e aparentemente
despreocupadas, eram uma força que muitas vezes era subestimada. Não
importava quantas vezes se provaram capazes, as pessoas que olhavam para
ficavam cegas por sua juventude e por suas roupas, e as dispensavam mais
uma vez. Era exatamente assim que elas preferiam.
A região dos lagos era conhecida por sua privacidade. Ali, até mesmo a
rainha poderia passar despercebida ou pelo menos ser facilmente ignorada.
A herança natural de Naboo deveria ser protegida e valorizada, mesmo
antes de novos tratados com os Gungans serem assinados, e isso reforçou o
isolamento dos lagos na região. A agitação da capital estava longe e Padmé
poderia ter, por pouco que fosse, algum tempo para si mesma. Pra ela
mesma, as suas aias, os guardas que o Capitão Panás considerava
apropriados e todo o pessoal doméstico. A solidão, afinal, era um tanto
relativa.
Da praia, Quarsh Panás observava as suas pupilas brincarem ao sol com
uma expressão familiar demais no rosto. Tinha argumentado para trazer dez
de seu pessoal até a beira da água com ele e Padmé concordou.
Eventualmente. Esta troca de ideias tinha sido o seu costume quando se
tratava de negócios com a rainha, mesmo que o seu relacionamento tenha
ficado mais frio e formal ultimamente. Era um profissional, então ficou lá
parado e carrancudo, sabendo que hoje, entre todos os dias, a sua
interferência não seria bem-vinda.
— Deixe-me fazer isso. — disse Saché. A aia mais jovem usava um
maiô cortado no mesmo estilo que as outras, mas onde as outras mostravam
a pele ao sol, ela exibia uma grande coleção de cicatrizes manchadas que
envolviam seus braços, pernas e pescoço. Yané remou ao lado dela e passou
os dedos pelo cabelo de Saché.
— Eu não poderia ter impedido você. — disse Padmé. Ela balançou a
cabeça, derramando gotas de água e as últimas flores. Afundada até a
cintura no lago brilhante e falando em sua própria voz, ela poderia ter sido
confundida com uma garota normal, mas mesmo agora havia algo em sua
postura que sugeria mais. — Embora eu pudesse ter gritado e enchido a
boca com água do lago pelo meu problema.
— E o Capitão Panás teria se sentido obrigado a resgatá-la. — Sabé
disse isso na voz de Amidala, e Saché e Yané se endireitaram por reflexo
antes de Yané enviar uma onda de água em direção à menina mais velha
como pagamento. Sabé simplesmente arrancou uma flor de sua bochecha
quando pousou sobre ela e continuou a flutuar, sem se incomodar com a
confusão. — Então, realmente, você estava preservando a dignidade de
muitos, para não mencionar um belo par de botas.
Incomodada, mas não inconsciente, Sabé falou alto o suficiente para ser
ouvida por todas as que estavam nadando, bem como vários dos guardas,
que pouco fizeram para esconder a sua diversão.
— Vocês me envelheceram prematuramente, minhas senhoras. — disse
Panás. Havia um toque de cordialidade em seu tom, mas a distância
intransponível permaneceu. — A minha esposa dificilmente me
reconhecerá quando voltar pra casa.
— A sua esposa não tem esse problema. — disse Mariek Panás de sua
posição a três passos dele. Ela não estava de uniforme, porque tinha nadado
com a rainha. Estava enrolada em um sarongue laranja brilhante que fazia a
sua pele morena brilhar ao sol do final da manhã, e o seu cabelo escuro
escorria pelas costas enquanto o resto dela secava.
— Bem. — disse Padmé, caminhando em direção à costa com Sabé,
como sempre, em seu rastro. — Em breve todos poderemos descansar.
E lá estava: o veermok na sala, a questão óbvia que ninguém queria
aludir, mencionada finalmente. Porque o fim estava chegando, e nem a
beleza da região dos lagos de Naboo, nem a melhor companhia poderiam
detê-lo. Quando a eleição terminasse e a nova regente de Naboo fosse
anunciada, Padmé Amidala estaria em busca de uma nova tarefa, chamado
ou profissão, assim como a maioria daqueles a seu serviço. Alguns, como
Panás, ansiavam pela aposentadoria, tanto quanto qualquer pessoa em
Naboo já se aposentou. Padmé adivinhou que Panás havia recebido várias
ofertas de emprego, mas eles já haviam passado do estágio em que
discutiam tais assuntos pessoais. As mais jovens, como Eirtaé e Saché,
buscavam o futuro em seus próprios termos. Musicistas, médicos, pais,
fazendeiros e todas as combinações deles, era uma época de sonhos. A
mudança estava chegando e rapidamente. Ninguém, nem mesmo Sabé,
ousara perguntar à rainha sobre os seus planos.
Rabé se levantou e seguiu a rainha. Eirtaé mergulhou mais uma vez,
uma espécie de despedida, e então se juntou às outras enquanto elas se
reuniam e saíam da água também. Não precisavam, não com tantos guardas
além de Sabé, mas sempre escolheriam a rainha quando pudessem, e em
breve não seriam mais capazes.
Longe da casa do lago, Naboo estava votando. As engrenagens da
democracia foram bem lubrificadas e séculos de tradição fizeram o evento
bienal funcionar sem problemas, mesmo com a inclusão dos eleitores
Gungan pela segunda vez na história do planeta. Embora poucos deles
optassem por votar, Padmé sabia que os seus esforços para os incluir eram
apreciados porque o Chefe Nass havia lhe dito. Ruidosamente. Naboo não
estava tão unida como gostaria que estivesse no final de seus quatro anos de
serviço, mas o povo estava feliz com o que havia feito.
Quase feliz demais, afinal. Uma facção tentou emendar a constituição
para que Padmé pudesse concorrer novamente. Isso havia sido tentado
apenas uma vez antes, durante um período de grande agitação no passado
de Naboo, e Padmé não via razão para lutar por algo que não queria e nem
acreditava ser certo. Havia dado quatro anos para Naboo e agora era hora da
visão de outra pessoa, das mãos de outra pessoa selecionar o curso. Essa era
a alma do corpo democrático de Naboo, que a mudança e o serviço em
curtos períodos eram melhores do que um governo estagnado, e Padmé
estava feliz em desempenhar todas as partes que o seu papel incluía.
— Você nem mesmo ficou tentada? — perguntou Sabé enquanto o
mensageiro tinha vindo com a emenda para Padmé ler e o devolveu sem
assinatura após um simples olhar. Foi o mais perto que chegaram de uma
discussão sobre o futuro.
— Claro que fiquei tentada. — respondeu Padmé. Ela se recostou na
cadeira e Sabé voltou a escovar os cabelos dela. — Pensei em pelo menos
mais dez coisas que poderia fazer em mais um semestre enquanto lia a
proposta. Mas não é assim que os nossos legados funcionam. Aqui não.
Servimos e permitimos que outros sirvam.
Sabé não disse mais nada.
Agora, enroladas em sarongues coloridos na praia, pegaram as sandálias
e seguiram os guardas em direção à casa. Quando alcançaram a colina
gramada na base da ampla escada de pedra, Padmé parou para limpar os
seus pés. Todos pararam com ela.
— Areia. — disse ela, a título de explicação.
— Tenho certeza de que os droides de limpeza apreciam os seus
esforços, Vossa Alteza. — disse Eirtaé. O seu rosto era de aia séria, então
apenas algumas pessoas entenderam a piada.
Os degraus não eram muito íngremes deste lado da casa. O porto, para
embarcações de água, neste caso, pois não havia realmente um lugar para
pousar uma aeronave, ficava do outro lado da propriedade, e esses degraus
foram cortados diretamente no contraforte em que a casa foi construída.
Esse caminho havia sido construído propositalmente como um caminho
para a água e, portanto, era uma subida mais bonita e mais tranquila. Padmé
e Mariek lideraram o caminho, com Panás atrás delas e o resto das aias e
guardas seguiam em linha como patinhos.
Sabé fez uma pausa na parte inferior para fechar as sandálias. Padmé a
viu fazer uma leve careta ao perceber que ainda havia areia entre os seus
dedos. Sabé sacudiu os calçados o mais claramente possível e começou a
subir em um ritmo quase lento. Sabé não costumava permitir que a sua
mente vagasse enquanto estava com a rainha, mas ali e agora, com tão
pouco em jogo e a mudança pacífica se aproximando rapidamente, Padmé
ficou feliz em vê-la relaxar enquanto o Sargento Tonra caminhava ao lado
dela. Ele era um pouco mais alto do que Panás, com a pele branca que
geralmente era pálida, embora duas semanas ao sol tivessem deixado o seu
rosto significativamente vermelho. Ele havia descido os degraus no
momento em que Padmé decidira voltar pra casa, mas não estava nem um
pouco sem fôlego por seus esforços.
— Existem várias mensagens para Vossa Alteza. — Falou baixinho com
Sabé, mas Padmé ainda assim o ouviu. — Nenhuma delas é urgente, mas
uma é oficial e exigirá que a rainha a abra ela mesma.
— Obrigada, Sargento. — respondeu Sabé, sempre competente. —
Iremos pegá-las em breve.
Tonra assentiu com a cabeça, mas não recuou. Padmé esperava que
Sabé se eriçasse, como costumava fazer se pensasse que alguém pretendia
protegê-la, embora tenha concedido mais clemência para aqueles que
lutaram na Batalha de Naboo, como Tonra. Sabé era tão protetora de sua
própria privacidade quanto Padmé era da dela, embora por razões
diferentes. Talvez, decidiu Padmé, Sabé finalmente estava se permitindo
apreciar a vista.
O lago se espalhava conforme subiam, com a água refletindo o céu com
tanta perfeição que, a não ser por algumas ondas, era possível se convencer
de que céu e água haviam se invertido de alguma forma. As colinas verdes
que se erguiam da costa também desciam para as profundezas, e as poucas
nuvens fofas que contornavam o azul acima eram espelhadas exatamente no
azul abaixo. Era como se duas tigelas tivessem sido pressionadas uma
contra a outra, com as suas bordas formando o horizonte arborizado. Não
havia nenhum sinal de habitação humana projetando-se entre as árvores,
exceto pela casa para a qual eles estavam subindo, e o céu acima deles
nunca foi pontilhado com naves ou droides gravadores voadores ou
qualquer outra coisa que pudesse perfurar o silêncio com ruído indesejado.
A própria casa era feita de pedra amarela e coberta em vermelho, com
cúpulas verde cobre. Havia várias seções, cada uma com a sua própria
finalidade, variando de habitação a cozinha, todas ligadas por uma série de
jardins elaborados. A propriedade pertencia ao governo, e Padmé a usara
como refúgio durante grande parte de sua carreira, começando quando era a
primeira vez no programa legislativo júnior quando criança. Ela não possuía
nenhuma parte da propriedade, mas havia influenciado o layout e a
decoração de maneiras sutis para que não houvesse dúvidas de que era um
lugar que ela amava profundamente. Era um oásis, um refúgio. Padmé
sempre ia ali para relaxar, e mesmo que esta fosse, em teoria, a visita mais
relaxante que já fizera, Era óbvio para todos os que a viam que ela não
conseguia acalmar a sua mente..
A rainha chegara duas semanas antes para a costumeira reclusão durante
a campanha final e hoje era a última eleição. Padmé era oficialmente neutra
em relação à sua sucessora, embora ela, é claro, tivesse cumprido o seu
dever cívico e votado. Um droide partiu com todas as cédulas deles no
início do dia, mas não tinham falado de política mais do que o
absolutamente necessário desde a chegada deles, e de forma alguma desde
aquela manhã. Padmé concorreu sem oposição em seu segundo mandato,
embora houvesse algumas candidatas inscritas, como sempre havia. Esta foi
a primeira vez que não se envolveu tanto com a política de seu planeta
desde que começou os seus estudos. Ela gostou, e também achou
profundamente perturbador de certa forma que não conseguia explicar.
Padmé esperava que o esforço de nadar ajudasse. A distância até a ilha
era algo que não tentava há vários meses, embora as suas aias sempre
tentassem. Ela pensou que a natação a cansaria demais pra pensar. Em vez
disso, os seus pensamentos apenas se reorganizaram. Até mesmo o
mergulho de Saché não a ajudou.
Tinha muito em que pensar. Quem era ela, afinal, quando não era a
Rainha de Naboo? Havia entrado na política tão cedo e com tanto zelo que
não tinha outra identidade. Havia levado cinco aias com ela, e cada uma
delas foi moldada por seus papéis, também, a ponto de todas tomarem
nomes em sua homenagem depois que foi eleita. Quem eram elas, quando
podiam ser elas mesmas? Todas sabiam que Rabé sonhava com música,
enquanto Yané sonhava com uma casa cheia de crianças que Saché também
chamaria de lar, e assim por diante com cada uma das outras, mas era mais
difícil pra Padmé se ver em algum dos futuros delas. Elas teriam espaço em
suas vidas para Padmé, quando Amidala não fosse mais rainha delas? E
quem ela seria, mesmo se elas tivessem?
— Você vai tropeçar se não parar de sonhar acordada. — disse Mariek
ao lado da rainha nos degraus. — E não será essa a melhor maneira de
encerrar o seu reinado, caindo escada abaixo porque estava pensando
demais sobre coisas que não são mais suas para pensar.
— Não consigo evitar. — admitiu Padmé. Ela nunca conseguiria. —
Mas você está certa. Vou esperar até ficar sozinha antes de me deixar levar
tão longe.
— Você nunca estará sozinha, minha senhora. — disse Mariek. — E
não me refiro a toda essa produção também. — Ela gesticulou vagamente
para a comitiva da rainha e sorriu amplamente. — Será diferente, mas você
também será diferente e é inteligente o suficiente para descobrir.
— Obrigada. — disse Padmé. — É estranho querer duas coisas
totalmente diferentes uma da outra. Estou pronta para parar, mas também
sinto que poderia ter feito mais.
— Eu sei. — disse Mariek. — É por isso que te escrevi nela, de
qualquer maneira.
— Isso é uma cédula estragada! — protestou Padmé, parando em seu
caminho. Todos abaixo delas nos degraus pararam também e ergueram os
olhos para ver o que havia feito a rainha parar de andar. — E você não deve
me dizer em quem votou.
Mariek começou a rir e Quarsh se aproximou para pegar o braço de sua
esposa.
— Não provoque a rainha, amor. Sei por experiência própria que ela
tem suas maneiras de te fazer pagar por isso, e mesmo que esteja
pressionada pelo tempo, tenho fé absoluta em suas habilidades. — Por
apenas um momento, ele foi seu capitão novamente, aquele que as treinara
tão bem antes que a preparação se transformasse em paranoia. Padmé
sentiria muita falta dele.
Mariek riu ainda mais.
— Minha senhora? — Panás ofereceu o outro braço. — Sei que você
não precisa disso, mas fico mais feliz quando sei que tem o meu apoio.
— Claro, Capitão. — disse Padmé bastante formalmente. Ela pegou o
braço dele e começou a subir novamente. — Já que estou tão perto do fim
de meu mandato como rainha, cabe a mim mostrar julgamento comedido
em todas as coisas.
— Você sempre fez isso, minha senhora, mesmo quando
discordávamos. — disse Panás. Foi quase uma oferta de paz. — É por isso
que eu escrevi a você também.
A Rainha de Naboo riu ao sol ao chegar em casa com as suas
companheiras e os guardas. O portão para o lago ficou totalmente aberto,
pois este era um lugar de paz e reflexão, e nunca precisou ser defendido de
uma força hostil. Diante deles estava o pátio silencioso e os jardins
ensolarados onde esperariam para ouvir as notícias, e atrás deles estava o
mundo que votava na forma que as notícias tomariam. A rainha Amidala
entrou na casa como governante de um planeta, uma última vez.
o holomensagem que exigia o código de segurança da rainha
especificamente era de ninguém menos que o Chanceler Palpatine e,
embora fosse breve, afirmava que logo chegaria à casa do lago para fazer
uma visita formal. Ele se desculpou pelo curto prazo. O holo causou um
pequeno rebuliço, principalmente porque a metade delas ainda estava em
suas roupas de banho, mas Padmé sempre esteve cercada por profissionais
consumados, e eram incrivelmente adaptáveis.
Rabé passou a escova no cabelo da rainha e considerou o desafio diante
dela. Ao fazer as malas, ela e Yané concordaram em um guarda-roupa
simplificado para todas, incluindo a Padmé, e por isso não trouxeram
roupas que fossem inteiramente apropriadas para uma reunião política de
tão alto nível. Não deveria haver reuniões políticas de alto nível, não neste
momento do ciclo eleitoral. Mas a mera presença do Chanceler Palpatine
exigia um certo nível de formalidade, e agora Rabé se viu confrontada com
uma pequena dificuldade.
Era difícil explicar, às vezes, o que implicava na sua posição como aia
de uma rainha. Parte de sua tarefa era defensiva, consultiva, mas parte
também era estética. E parte disso era dar a todas as partes peso igual. Era
fácil para um estranho, mesmo alguém de Naboo, revirar os olhos quando o
trem de bagagem da rainha passava. As resmas de tecido e as tiaras
elaboradas podiam ser descartadas como um desperdício ou esquisitas,
dependendo do sentimento de quem estava fazendo a dispensa, mas cada
peça cumpria uma função específica, assim como sua colocação. No
mínimo, a maioria dos tecidos era tratada com resina que os tornava
resistentes ao disparo de blaster. Os broches de joias podem esconder
dispositivos de gravação ou um escudo pessoal. Os vestidos mais pesados
mantinham uma barreira física ao redor da rainha e tinham, essencialmente,
uma saída de emergência para que Padmé pudesse se livrar de todo o traje,
exceto pela roupa interior utilitária, se ela precisasse se mover rapidamente.
As tiaras distraíam do rosto da rainha, tornando mais fácil surgir um
disfarce, se necessário. Rabé via o guarda-roupa e os acessórios da rainha
da mesma forma que via a pistola real: componentes necessários para serem
implantados com plena consciência e astúcia.
— Yané, comece a trabalhar nas tranças de Saché e Eirtaé, por favor. —
coordenou Rabé. Uma jovem guarda feminina apareceu na porta, com as
mãos cruzadas sobre a barriga, e Rabé soube sem perguntar que Palpatine
acabara de pousar. — O tripartido simples e os alfinetes de jade. Você pode
fazer isso sozinha quando terminar?
— Claro. — disse Yané. — Bem, talvez precise de ajuda com os pinos
na parte de trás.
— Eu posso fazer isso. — disse Saché. — Tenho praticado.
— Excelente. — disse Rabé. — Você vai usar o manto vermelho escuro
com os capuzes abaixados. Quem não está sendo trançada primeiro pode
pegá-los.
Saché já estava sentada, então Eirtaé se levantou e foi para o armário.
Todas podiam ouvir o zumbido enquanto o droide que mantinha tudo
organizado buscou as roupas que ela pediu.
— Sabé, teremos que usar a bata da beira de lago. — declarou Rabé. —
É a coisa mais elegante que embalamos, e não esperamos perigo. Veja se
consegue encontrar uma jaqueta para cobrir as costas dela e depois pegue as
vestes verdes. Usaremos os nossos capuzes, embora esteja muito quente pra
isso.
Sabé escorregou do pé da cama, onde estava escovando o próprio
cabelo, e desapareceu depois de Eirtaé no armário.
— E quanto a mim? — perguntou Padmé com um tom travesso. — Não
quero atrapalhar.
— Ah, fique quieta. — disse Rabé. — Mas que típico do Chanceler
aparecer com tão poucos avisos quando não estamos preparadas para
recebê-lo!
— Ele está em casa para votar na eleição. — disse Padmé. — Mas não
pode ficar para a posse depois. Talvez devêssemos ter esperado por isto,
mas dificilmente isto é sua culpa por não ter lido a mente dele enquanto ele
nem estava no planeta ainda.
Rabé fez um som indigno e voltou a escovar o cabelo de Padmé. Não
gostava de ser pega de surpresa e, pro seu crédito, isso acontecia muito
raramente. Movendo-se com a eficiência de uma longa prática, ela teceu
meia dúzia de tranças no cabelo de Padmé, cada uma delas torcida com fitas
de ouro e prata. As tranças foram presas em seis voltas largas, começando
na frente das orelhas de Padmé e circulando a sua cabeça na parte de trás
para dar a ilusão de tamanho que normalmente era concedida pela ausência
da tiara. Rabé adicionou mais fitas para que caíssem pelas costas de Padmé.
— Aqui. — disse Sabé, segurando um xale de marfim. — Vai servir?
— Sim, acho que sim. — respondeu Rabé. — Vocês duas conseguem
administrar isso, enquanto vejo por mim mesma?
Sabé assentiu e Padmé se levantou. Ela já estava usando uma camisola,
mas a bata de beira de lago não tinha costas, então se despiu até a cintura
enquanto Sabé colocava o vestido no chão para ela vestir. Depois que Sabé
puxou o vestido até os ombros e prendeu o fecho em volta do pescoço de
Padmé, ela arrumou o xale e todas as fitas. Ela teve que subir em um
banquinho para pintar o rosto da rainha, porque Padmé não confiava em si
mesma para se sentar novamente agora que estava totalmente vestida, mas
ao final de dez minutos a Rainha Amidala estava totalmente produzida.
Padmé observou Yané terminar as tranças de Eirtaé e se sentou por um
momento para que Saché pudesse terminar o seu próprio cabelo. Em
seguida, todas vestiram os mantos vermelhos, enquanto Sabé e Rabé
puxavam os profundos capuzes verdes sobre as suas cabeças, lançando os
seus rostos nas sombras. Realmente estava quente demais para isso, mas
não havia o que fazer nesse assunto. Ao menos Sabé tinha que estar
totalmente encapuzada em todas as aparições, mesmo agora no final,
enquanto Padmé duvidava que teriam que trocar de lugar novamente.
— Não chegamos tão longe por sermos descuidadas, Vossa Alteza. —
disse Sabé. Por seu próprio decreto, Padmé só era tratada por suas aias
assim quando estavam em companhia ou ela estava totalmente maquiada. O
tom cerimonial deu às palavras de Sabé um peso adicional, fazendo-a
parecer muito velha para o seu rosto jovem. Era outra parte de seu disfarce
vivo e em movimento.
— Eu sei. — disse Padmé. — Ainda assim, para o seu bem, vou tentar
fazer isso o mais rápido possível.
As outras três seguiram na frente. Elas estavam na galeria enquanto
Sabé e Rabé estavam atrás da rainha. A parede traseira da sala de recepção
era quase do mesmo verde profundo de suas vestes. Se o chanceler
solicitasse uma audiência privada, a sua presença poderia ser ignorada,
especialmente se três aias claramente saíssem da sala quando esvaziasse.
Houve uma batida na porta e Panás entrou quando a rainha o recebeu.
— O Chanceler Palpatine está pacientemente esperado há menos de
vinte minutos, Vossa Alteza. — ele relatou. — Mariek e Tonra estão com
ele. Ele parece ansioso para começar, mas entende a espera.
— Obrigada, Capitão. — A rainha Amidala falou em seu tom
estranhamente sem inflexão. Era uma voz que Padmé e Sabé
desenvolveram juntas para que qualquer uma delas pudesse executá-la
perfeitamente, embora as outras fossem todas mais ou menos proficientes
com ela. — Por favor, nos acompanhe até a sala de recepção e vamos deixar
o Chanceler à vontade.
Panás deixou Amidala precedê-lo pra fora da sala, mas então caminhou
ao lado dela enquanto caminhavam pelos corredores de mármore. Dois
guardas caminhavam à frente e mais dois vinham atrás, as botas batendo em
staccato agudo que compensava o silêncio com que Sabé e Rabé
caminhavam. Tomaram uma rota um pouco tortuosa para evitar ir por fora,
Rabé fez um bom trabalho, como sempre, mas não tinha certeza de como
essas fitas se sairiam em algo mais do que uma brisa suave, e quando
chegaram à sala de recepção, o restante da casa já estava reunido. Amidala
assumiu o seu lugar no trono, com Panás à sua direita. As suas aias vestidas
de verde deram um passo para a parte de trás da plataforma elevada, com os
seus capuzes puxados pra baixo e desapareceram nas decorações da parede.
— Vossa Alteza. — A voz clara de Mariek chamou a atenção. — Tenho
o prazer de apresentar o Chanceler Palpatine.
Em Theed, teria havido muito mais cerimônia. A música teria
acompanhado a introdução do Chanceler, algo de sua província natal,
talvez, ou o que quer que estivesse na moda no momento, e teria havido
muito mais público presente. A falta de pompa e circunstância não
incomodava Amidala, e também não parecia incomodar Palpatine. Ele
entrou na sala em um ritmo tranquilo, com o Sargento Tonra atrás dele, e
caminhou em direção à plataforma elevada na qual a rainha estava
instalada.
— Vossa Alteza. — disse ele, curvando-se na cintura. — Muito
obrigado por concordar em me ver. Sei que foi um pedido incomum para
esta época, mas não posso ficar em Naboo tempo suficiente para uma visita
mais tradicional.
— Estamos honrados com a sua presença como sempre, Chanceler. —
disse Amidala. — Sua posição no Senado Galáctico dá grande prestígio a
Naboo, e temos o prazer de reconhecer que, da maneira que for, somos
capazes.
Palpatine sorriu de forma vitoriosa. Padmé sentiu Panás relaxar ao lado
dela. Certamente, o bom humor do Chanceler significava que nada terrível
estava acontecendo e realmente queria apenas prestar os seus respeitos
antes de voltar para Coruscant.
— Posso incomodar Vossa Alteza com uma audiência privada? —
perguntou Palpatine, como esperado. — Eu não incomodaria o bom capitão
pedindo um passeio pelos magníficos jardins, mas poderíamos conversar
aqui, talvez?
Padmé fez uma solicitação ao se inclinar para Panás, que se inclinou
também.
— Até agora, tudo correu exatamente como esperávamos. — disse ele,
com a mão enluvada na frente da boca. Não precisavam conferenciar, não
de verdade, mas ambos tinham tanta prática em parecer que estavam
conferenciando que caíam em velhos hábitos sem perceber.
— De fato. — disse Padmé. — Estaremos bem aqui, pelo tempo que
quiser conversar.
— Como quiser. — respondeu ele. — Não vou deixá-lo te monopolizar
por mais de vinte minutos.
— Isso seria muito apreciado, Capitão. — disse Padmé.
Quando ela se endireitou, foi a Rainha Amidala quem falou:
— Amigos, vocês nos dão licença? Concederei ao Chanceler a sua
audiência.
Os membros da casa se reuniram, fizeram as suas reverências e se
despediram. Panás foi o último, parando para apertar a mão do Chanceler
enquanto descia da plataforma. Em pouco tempo, a sala estava vazia, exceto
por quatro pessoas, e duas delas eram discretas a ponto de ficarem
invisíveis.
Palpatine subiu na plataforma, mas não ficou ao alcance do braço da
rainha.
— Sei que as minhas visitas lhe causam certo nervosismo, mas estou
feliz em vê-la. — disse ele. Ele estava perto o suficiente para falar em
níveis normais, e Padmé deslizou em sua própria voz, falando com ele
como uma amiga.
— Está tudo bem. — disse ela. — Para ser completamente honesta, uma
distração era necessária e apreciada hoje.
— Posso imaginar. — disse ele. — Bem, na verdade, não posso. As
nomeações para Senador são bem diferentes e nunca mais vou concorrer a
um cargo. Mas posso fingir que posso imaginar.
— Estou feliz que conseguiu voltar pra casa e votar. — disse Padmé. —
Achei que teria que votar remotamente.
— Grandes gestos são uma das grandes alegrias de se ter poder, Vossa
Alteza. — disse Palpatine. — E nunca é demais dar um bom exemplo de
ordem pública.
Ele hesitou por um momento, tempo suficiente para ela perceber, então
ela não disse nada e esperou que ele continuasse.
— Você já pensou no que vai fazer? — perguntou ele.
Padmé era muito bem treinada para se deixar transparecer, mas para o
olho experiente, desinflou um pouco com a pergunta. É claro que havia
pensado muito sobre o assunto, mas ninguém havia perguntado isso tão
diretamente ainda, e agora não havia como contornar isso. Ela pretendia
conversar sobre o assunto com pelo menos Sabé antes de contar a mais
alguém, mas isso não era mais uma opção. Ela esperava que Sabé
entendesse. Afinal, não foi a única vez que Padmé foi forçada a dizer algo
como Amidala que ela poderia querer dizer como Padmé primeiro.
— Minhas maiores habilidades sempre foram determinação e
negociação. — Padmé ainda falava com a sua própria voz, mas a de
Amidala ficou por perto. — Sei que se eu me aplicasse, poderia aprender
qualquer tipo de habilidade, mas não seria algo de meu interesse.
— A cultura única de Naboo oferece todos os tipos de métodos de
expressão. — disse Palpatine. — Mas há alguns, como eu, por exemplo,
que entram no serviço público e nunca chegam a deixá-lo.
— Tenho limites de mandato a considerar. — disse Amidala. — E sei
que é hora do manto de rainha ser passado adiante. No entanto, pensei em
algo que poderia fazer. Estou quase terminando de montar o plano inicial.
— Se eu puder ajudar em alguma coisa, Vossa Alteza. — disse
Palpatine. Ele sorriu para ela, a boca curvando-se de uma forma que poderia
ter sido desconcertante se ela não o conhecesse tão bem. Ele sempre teve
tantos planos em andamento. — Fico feliz em ajudar.
— Como Rainha de Naboo, tive que concentrar os meus esforços neste
planeta, colocando as suas necessidades acima de tudo. — disse Amidala.
Ela gostaria de poder ver o rosto de Sabé. — Mas nunca me senti à vontade
com a situação em Tatooine, desde que saí de lá há quase quatro anos. A
escravidão é uma praga, Chanceler, em tudo o que a República representa.
Não posso trazer mudanças políticas oficiais, dado o estado da maioria dos
planetas da Orla Exterior, mas posso usar os recursos que tenho para libertar
as pessoas que puder e para encontrar novos lares pra elas, se quiserem.
Sentiu um peso ser retirado de seu peito depois de finalmente dizer as
palavras e um breve sussurro em seu coração quando se permitiu pensar em
um menino que tinha sentido frio no espaço e uma mãe corajosa o
suficiente para deixá-lo ir onde ela não podia.
— Você quer comprá-los? — perguntou Palpatine.
— Não gosto dessa palavra, mas sim. — disse Padmé. Ela não
estremeceu visivelmente.
— Um objetivo admirável, Vossa Alteza. — disse Palpatine. — Embora
seja um desafio, dadas as limitações jurisdicionais.
— Eu tenho, como você disse, o resto da minha vida. — Padmé o
lembrou.
— Vossa Alteza. — disse Palpatine. — Pode interessar a você saber que
atualmente apadrinhei um projeto de lei tributária perante o Senado para
lidar com esta questão. Ele se concentrará neste transporte de carga tão
desagradável pelo espaço da República, e tenho esperança de que terá um
impacto real sobre o problema. Não há necessidade de você se envolver
nisso.
— Sei como o Senado funciona, Chanceler. — Isso foi dito no tom mais
frio de Amidala, apesar de si mesma. Palpatine se endireitou, quase
imperceptivelmente. — Estive diante dele e implorei com desespero pela
vida de meu povo, cidadãos da República, e não fizeram nada. Pode ser
apenas um pequeno esforço, mas irei fazer.
— Claro, Vossa Alteza. — Palpatine fez uma reverência. Ele olhou para
cima e hesitou novamente. — Sinto muito, mas tenho más notícias para lhe
trazer, afinal.
— O julgamento? — perguntou ela. Só poderia haver uma coisa que o
traria de volta para casa sob a pretensão de votar, e essa era a situação atual
das acusações contra os Neimoidianos que invadiram o seu planeta há
quatro anos e tentaram matá-la.
— Sim, Vossa Alteza. — disse Palpatine. — O terceiro julgamento de
Nute Gunray terminou com um júri empatado. Não é o melhor resultado,
obviamente, mas não é o pior, contudo, dada a força da equipe legal da
Federação do Comércio. Os advogados da República devem se reagrupar,
mas já estão planejando os próximos movimentos.
Amidala não podia ferver em público, então Padmé manteve a sua
expressão fixa.
— Obrigada, Chanceler Palpatine. — disse ela, com a sua voz
monótona mais dura do que uma pedra. — Agradecemos os seus esforços
contínuos em nosso nome.
— Quem dera eu tivesse notícias melhores sobre isto todos os dias. —
disse Palpatine. Ele se recompôs. — Vossa Alteza, você fez grandes coisas
por Naboo, e como um de seus súditos, estou triste por vê-la partir. Desejo a
você tudo de melhor em seus empreendimentos futuros, seja qual for o
caminho que eles tomarem.
Amidala assentiu com a cabeça, um reconhecimento e uma dispensa, e
Palpatine desceu da plataforma para fazer sua saída da sala. Assim que a
porta se fechou atrás dele, Rabé se materializou ao lado de Padmé. Ela
estava fora do alcance da voz pelos tons que Palpatine usara, mas por algum
motivo, ninguém jamais mencionou que Rabé não precisava estar ao
alcance da voz para entender uma conversa. Leitura labial era inexata, mas
quando combinada com a habilidade treinada com os Lorrdian por Rabé
para ler a linguagem corporal, as pessoas muitas vezes se entregavam a ela
de maneiras que não podiam imaginar.
— Ele está preocupado com alguma coisa. — disse ela. — Algo não
está se movendo tão rapidamente quanto gostaria.
— Isso pode ser uma série de coisas. — disse Padmé. Ela se recostou no
trono e sentiu o toque suave de fitas caindo em seu pescoço. — Vamos
deixar o Chanceler se entregue aos seus planos e continuemos a fazer os
nossos.
— Vou voltar e arranjar um vestido de jardim pra você. — disse Rabé.
— Obrigada. — disse Padmé a ela. — Você poderia pedir a eles para
servirem o almoço no terraço? Sei que é tarde e os outros podem ter
comido, mas estou morrendo de fome e o tempo está bom demais para
comer lá dentro.
— É claro. — disse Rabé, e saiu flutuando sobre seus pés silenciosos.
— Você acha que é uma ideia tola? — perguntou Padmé.
— Acho que é totalmente impraticável. — disse Sabé, aparecendo ao
lado dela e ajudando-a a se levantar. — Mas a maioria de suas ideias é. Até
agora você se saiu bem.
Elas não tinham pressa, pois até Rabé precisaria de tempo para
combinar o almoço. Além disso, deu a elas a oportunidade de ter a conversa
que Padmé gostaria que tivessem antes da chegada de Palpatine.
— Onde Rabé encontrou tanta fita em tão pouco tempo? — perguntou
Sabé, abaixando-se para recuperar as que haviam caído.
— Parei de fazer esse tipo de pergunta. — disse Padmé. — É muito
mais fácil aceitar que ela pode fazer as coisas do que descobrir como ela as
faz.
— Isso é verdade. — disse Sabé.
Padmé parou e se virou para lhe olhar diretamente.
— Não tenho capital suficiente para libertar a todos eles. — disse
Padmé, ainda evitando a palavra comprar.
— Então, nós descobriremos o que querem em Tatooine e venderemos
para eles na transação. — disse Sabé.
— “Nós”? — disse Padmé, com o coração na boca.
— Claro que nós. — disse Sabé. — Você não amarra os seus próprios
cadarços em quatro anos. Vai precisar de toda a ajuda que puder conseguir.
— Isso não é justo nem verdadeiro. — disse Padmé, rindo enquanto
descia da plataforma no braço de Sabé. Ela podia sentir mais das fitas e uma
das tranças se soltando, e o xale estava emaranhado na cauda de seu vestido
agora que ela estava se movendo. — A maioria dos meus sapatos nem tem
cadarços.
— Pode até ser. — disse Sabé. — Mas as minhas mãos são suas
enquanto precisar delas. Só estava esperando você perguntar.
— Obrigada, minha amiga. — disse Padmé, e quis dizer isso com cada
átomo de seu ser.
— Vamos. — disse Sabé. — O seu cabelo está um desastre e também
estou morrendo de fome e, aparentemente, temos muito o que conversar.
No final de uma hora, elas estavam sentadas no terraço ao sol, com boa
comida e muita conversa. Rabé acabara de revelar que a sua inscrição na
academia de música mais prestigiada de Theed fora aceita quando o
Sargento Tonra chegou. Sabé o saudou imediatamente, mas não o convidou
a se sentar ao lado dela. Estava claro que tinha olhos apenas para a rainha e
tinha um datapad em mãos.
Eirtaé observava com olhos atentos enquanto todos se sentavam ao seu
redor e almoçavam bem tarde. Poderia, se fosse preciso, assimilar qualquer
número de detalhes e analisar os níveis de ameaça de acordo, mas por
enquanto, Eirtaé examinava a cena como uma artista. Ela amava a luz ali na
região dos lagos. Embora soubesse academicamente que era o mesmo sol
que brilhava sobre Theed, o seu coração notou as diferenças mínimas em
sua qualidade. Tudo parecia mais verde, mais vívido e mais saturado. O
próprio lago era quase brilhante demais para se olhar. O mármore brilhava.
Os Panáss pareciam mais suaves sob a luz ali, embora nunca baixassem as
suas guardas. Saché corava muito cada vez que Yané olhava pra ela. Os
olhos de Padmé brilhavam ao ver as suas amigas tão felizes.
Exceto que havia um pouco da luz de Theed nos olhos de Padmé, Eirtaé
viu. Padmé estava com elas, não Amidala, conversando e rindo enquanto
coagiam os seus guardas a contar o que planejavam fazer depois que o
serviço à rainha terminasse, mas havia algo um pouco mais obscuro em seu
semblante. Eirtaé olhou para Sabé por hábito, certa de que a outra garota
saberia, mas Sabé apenas balançou a cabeça da maneira particular que
significava: mais tarde, quando houver menos olhos.
Eirtaé teria se levantado pra olhar a vista, pra tentar novamente pensar
sobre como poderia pintá-la, exceto que a atenção de Sabé mudou. Eirtaé
seguiu o seu olhar.
— Sargento Tonra. — chamou Sabé, mas não disse mais nada.
Ficou imediatamente claro o porquê. Tonra segurava um datapad em
suas mãos e já era tarde o suficiente para que a votação tivesse encerrado.
Theed foi a última região do planeta a votar e, uma vez que os fusos
horários foram levados em consideração, sempre eram encerrados ao meio-
dia. O povo de Naboo já havia dominado uma democracia eficiente.
Não era o lugar para uma declaração oficial. Padmé poderia ficar de pé,
e então todos o fariam, mas então seriam uma multidão de pessoas em pé no
terraço, e ninguém seria capaz de ver. Eirtaé conhecia os pensamentos que
circulavam pela cabeça de Padmé tão bem quanto conhecia os seus próprios
e, portanto, não ficou surpresa quando Padmé falou.
— Por favor, Sargento. — disse ela. — Se você puder ler os resultados,
sei que estamos ansiosos para ouvi-los.
Yané segurava uma das mãos de Saché e Rabé segurava a outra. Não
ficou claro qual delas estava mais nervosa.
— Como desejar, Vossa Alteza. — Tonra fez uma reverência e se virou
para onde Saché estava sentada, e dirigiu o seu primeiro pronunciamento
diretamente a ela. — Tenho o prazer de anunciar que a sua oferta foi bem-
sucedida, minha senhoria. Você agora é membro da assembleia legislativa
planetária.
Yané soltou um grito alto e jogou os braços em volta do pescoço de
Saché, beijando o topo de sua cabeça. Rabé saiu do caminho bem a tempo
de abrir caminho para Mariek Panás, que, em uma demonstração incomum
de emoção, levantou Saché do chão e girou-a vitoriosa. Ela a colocou no
chão assim que Padmé se levantou e foi até onde Saché agora estava.
A rainha estendeu as mãos para a mais jovem de suas aias, e Saché
quase se atirou em seus braços. Eirtaé podia ver que Padmé estava
sussurrando algo no ouvido de Saché, conselho ou parabéns ou ambos, mas
não se incomodou em não saber o que foi dito. Saché ainda estava com a
roupa vermelha que usava quando Palpatine fez a sua visita apressada, e
Padmé mudou para um vestido azul profundo que era mais adequado para
piqueniques ao ar livre; Eirtaé gostou das cores juntas.
Tonra esperou pacientemente enquanto todos parabenizavam a Saché
por seu novo cargo. Demorou bastante. Depois do que passou durante a
ocupação, Saché era especial para cada membro das Forças de Segurança
Real. Afinal, salvou a maioria das vidas deles ao se recusar a identificá-los
durante o interrogatório da Federação do Comércio que resultou em suas
cicatrizes. Retribuíram a sua valentia com lealdade perdendo apenas para a
rainha, e quando Saché anunciou a sua intenção de concorrer a um assento,
foi com todo o apoio deles.
Por fim, a comoção diminuiu e a atenção de todos voltou para o
sargento que esperava.
— A lista completa de representantes está disponível, se quiserem
conferir. — disse Tonra. — Mas é uma honra dizer à rainha que Naboo será
servida a seguir pela Rainha Réillata.
O terraço estava cheio de políticos profissionais, mas Eirtaé também era
uma artista profissional, então não perdeu as pequenas mudanças nas
expressões faciais de todos. As sobrancelhas de Yané subiram uma fração
de centímetro. Rabé ficou muito interessada nas frutas enroladas servidas
para a sobremesa. Saché ainda estava muito satisfeita com as próprias
notícias para reagir. O rosto de Sabé tornou-se, se possível, ainda mais
suave. E a máscara de Amidala deslizou sobre os traços de Padmé um
pouco mais rápido do que o normal.
— Você tem nossos agradecimentos, Sargento — disse a rainha
formalmente, e inclinou a cabeça. — Qualquer um de vocês que deseje
verificar os resultados locais pode fazê-lo.
Panás sugou o ar por entre os dentes.
— Com a permissão do seu capitão, é claro. — acrescentou Padmé.
Eirtaé sabia que nenhum deles votou em Réillata, embora, é claro, não
houve discussão sobre como qualquer um deles votaria. Padmé acreditava
que as rédeas do governo seriam mais bem repassadas, e Réillata já havia
servido como rainha antes. Ela não tinha sido uma rainha má; ela havia
concorrido apenas uma vez, até se declarar para as eleições atuais. Havia
governado por um único mandato quando eram meninas e se tornara uma
cantora de ópera moderadamente bem-sucedida após deixar o cargo.
Concorrendo agora como uma candidata mais velha do que a tradição
ditava, Réillata fez campanha com base na experiência e estabilidade que
seus anos lhe proporcionaram. Ela e Padmé concordavam em questões de
defesa planetária, especificamente avançando com os projetos que não
foram concluídos durante o mandato de Padmé, mas o mesmo aconteceu
com as outras candidatas. Jamillia, a candidata que Padmé mais gostou,
poderia concorrer novamente em dois anos, pelo menos, e da próxima vez,
Padmé seria capaz de apoiá-la abertamente em vez de manter a neutralidade
da rainha em público.
— Pelo menos esperou até esta eleição. — disse Sabé. Ela falou baixo o
suficiente para que os guardas, mesmo os de folga que estavam sentados
com eles para comer, soubessem como desconsiderá-la. — Teria sido uma
confusão desnecessária se ela tivesse concorrido contra você diretamente.
— Eu sei. — disse Padmé. — E talvez um equilíbrio entre governantes
mais jovens e mais velhos deva ser considerado. Qualquer caminho pode
ser ruim se for cegamente a uma direção.
Ninguém respondeu, embora Eirtaé suspeitasse que nenhum deles
concordasse precisamente com Padmé. Era difícil mudar de curso com uma
única eleição. O momento se prolongou o suficiente para ser estranho antes
de Padmé se endireitar e sorrir.
— Mas nós temos que celebrar a Saché! — declarou ela. — Uma
heroína de Naboo ocupará o seu lugar no governo.
Os guardas, sentados e em pé, entenderam a deixa e imediatamente
começaram a contar histórias da valentia de Saché durante a ocupação. Não
era exatamente um costume contar uma história que todos conheciam como
um meio de festa, mas era familiar, e uma excelente maneira de mudar de
assunto, é claro. Mesmo agora, Padmé estava no controle da situação.
— Os tipos da Federação do Comércio nunca imaginaram que ela
estava levando mensagens para nossa resistência. — disse Mariek. — Ela
era tão pequena na época.
— Ela é pequena o suficiente agora. — disse Panás. — E sabe como
usar isso.
Saché curvou-se majestosamente, embora o seu movimento fosse um
tanto restringido pela cabeça de Yané em seu colo.
— E então aqueles malditos droides a pegaram. — continuou Mariek.
— Alguma análise estatística dos movimentos dela ou algo assim. Eles a
levaram embora e foi horrível. Podíamos ouvi-la gritar por horas e
concluímos que era apenas uma questão de tempo antes que viessem nos
buscar. Só que nunca o fizeram, porque ela nunca desistiu de nós.
— Não os deixei se entregarem. — disse Yané. — Eles tentaram, e eu
ordenei que não o fizessem, com a autoridade que a rainha Amidala havia
deixado conosco. Sabia que Saché tinha feito a sua escolha e não íamos
desfazer por ela.
Todos tinham ouvido a história uma centena de vezes, mas não havia
como confundir a afeição na voz de Yané quando ela a contou. As aias que
acompanharam Padmé fora do mundo durante a Ocupação não ouviram
essa história até bem depois da Batalha de Naboo. Talvez seja por isso que
nunca se importavam quando era recontada. Não foram capazes de ajudar
Saché quando foi capturada, mas todos a ajudaram a lidar com o trauma
depois.
— Eles tiveram que deixá-la ir, no final. — Tonra continuou a história.
— Ela ficou bem à vista. Ela caminhava por aquele acampamento destruído
três vezes por dia, à vista de todos os droides e guardas da Federação de
Comércio. E eles a paravam e a revistavam, mas nunca tinha nada contra
ela, e porque ela os distraiu, os novos mensageiros conseguiram passar.
— Meus disfarces corajosos. — disse Padmé, proferindo a palavra que
quase nunca era dita, mesmo agora. — Todas vocês deram o seu melhor por
Naboo e por mim, e agradeço por isso.
Eirtaé teve ego suficiente para admitir que gostava de ser agradecida em
público assim, mas manteve o rosto profissionalmente inexpressivo
enquanto se curvava para a rainha. Então se levantou e foi até a beira do
terraço para olhar o lago, para ver se desta vez seria capaz de determinar a
melhor forma de capturá-lo.
Padmé se aproximou dela depois de um momento, pairando fora de seu
espaço pessoal, se Eirtaé quisesse ser deixada sozinha, mas claramente com
algo em sua mente.
— Vou para Otoh Gunga. — disse Eirtaé quando ficou claro que Padmé
não falaria primeiro. — A tecnologia deles é muito diferente da nossa e
quero ver como isso afeta a arte deles.
Não tinha sido particularmente fácil de arranjar, mas Eirtaé era
charmosa quando desejava, e as suas pinturas de paisagens florestais de
Naboo eram de grande interesse para os Gungans. Deram a ela um lugar
para começar, pelo menos.
— Isso é maravilhoso. — disse Padmé. — Você ainda vai pintar?
Foi o meio principal de Eirtaé desde que descobriu a sua afinidade com
a captura de imagens. Compreensivelmente, ninguém tinha certeza de como
seria embaixo d'água.
— Não. — respondeu ela, então se corrigiu. — Bem, mais ou menos,
imagino. Os Gungans têm um jeito de aumentar o vácuo. É como eles
empurram toda a água pra fora de suas habitações antes de enchê-las com
uma atmosfera respirável. Gostaria de ver o que aconteceria se, em vez de
oxigênio, o vácuo fosse preenchido de pigmento. Isso criaria padrões
interessantes na água, para começar, mas acho que também pode impactar
como expandimos nossa aquacultura.
— Você vai colocar tinta em bolhas e usar a análise de padrões para
melhorar o crescimento de nossas algas azuis? — perguntou Padmé. As
algas azuis eram um excelente fertilizante. O uso em um número limitado
de campos quase dobrou sua produção durante a estação de cultivo de
Naboo. Não era segredo que, se mais algas pudessem ser cultivadas, todo o
planeta prosperaria.
— Bem, quando você diz assim, soa muito prático e nada artístico. —
disse Eirtaé. Ela riu. — Mas sim, é isso que vou fazer.
— É perfeito. — disse Padmé. — Habilidade, arte e praticidade. O
próprio tecido de Naboo.
— Além disso, cheira melhor do que o excremento de shaak que a
maioria dos fazendeiros usa agora. — ressaltou Eirtaé.
— Isso também. — concordou Padmé. Havia uma sugestão de sorriso
em seu rosto, mas era genuíno. Eirtaé sabia que, uma vez que o manto de
rainha fosse totalmente passado, Padmé poderia sorrir mais livremente
quando estivesse em companhia.
Elas voltaram para o piquenique, onde Mariek comprou um dos pães de
cinco flores favoritos de Saché para uma verdadeira celebração de sua
eleição. Ouviram enquanto Saché delineava todos os itens em sua
plataforma, sentia que era a mais fraca, e dava todos os conselhos que
podia. Agora que os resultados foram anunciados, Padmé estava livre para
falar o que pensava, embora se limitasse às perguntas de Saché. Yané
confessou que já havia escolhido, embora ainda não tivesse comprado, uma
casa e, quando eles insistiram, convocou um holograma dela.
— É enorme. — disse Saché. — Vou me perder lá.
— Bem. — disse Yané. — Se está na assembleia legislativa, terei de
fazer algo. Sei que tínhamos falado originalmente sobre esperar até que o
seu mandato terminasse antes de decidirmos, mas eu encontrei este lugar e
não pude deixar de pensar nisso.
— Acho isso maravilhoso. — disse Saché.
A cultura de Naboo considerava as crianças preciosas e, portanto, não
havia um grande número de órfãos como em outros planetas da Orla Média
poderiam ter. Mesmo assim, após o estresse e o sofrimento da Ocupação,
alguns jovens conseguiram cair na fenda entre outros familiares e a
supervisão do governo. Yané sempre tinha sido uma voluntária frequente
com aquelas crianças quando conseguia e havia falado muitas vezes de um
dia aceitar algumas delas permanentemente. Agora que estava em posição
de oferecer mais ajuda pessoal, não era surpresa que decidisse fazê-lo.
— Tenho primos lá. — disse Mariek. — Eles podem ajudá-la a
mobilhá-la antes de se mudar.
— Isso seria maravilhoso. — disse Yané. — Obrigada.
Era, Eirtaé percebeu de repente, a última vez. Isso a fez sentir um pouco
de frio, fez o sol parecer um pouco escuro, fez o lago brilhar um pouco
menos. Era a última vez que todas se sentariam assim e pensariam sobre o
futuro delas juntas. Esse sentimento foi o que deixou Padmé tão inquieta o
dia todo e provavelmente foi o que deixou Sabé tão opressivamente plácida
sobre tudo. Elas já estavam se preparando, ou pelo menos Padmé estava, e
não queria interferir em nenhum dos seus sonhos fazendo pedidos.
Ela era uma rainha incrivelmente boa, percebeu Eirtaé, para dar a elas
essa liberdade. Se tivesse pedido ajuda contínua, não importava o que faria
a seguir, é claro que teriam dado. Em vez disso, ela lhes deu espaço e
segurou a língua enquanto elas decidiam. Foi um sacrifício da parte dela,
um sacrifício que Eirtaé imaginou que ela considerava igual ao sacrifício
que as aias fizeram quando se juntaram a seu serviço, e foi feito com a
mesma alegria.
Elas seguiriam caminhos separados com a bênção de Padmé. Sempre
seria um pouco triste, mas haveria novas tarefas a conquistar e novos
trabalhos a fazer. Na última comunicação que Eirtaé recebeu de seus pais,
eles perguntaram que nome deveriam colocar em seus papéis de viagem.
Como cidadã privada, ela precisou atualizar alguns de seus dados de
trabalho para a viagem a Otoh Gunga e para a sua residência lá. Ela ainda
não havia respondido, incerta sobre o que faria, mas agora sabia tanto
quanto jamais soubera de qualquer outra coisa.
Ela havia adotado o nome de Eirtaé quatro anos atrás, um pouco para
privacidade e um pouco por prestígio, quando Padmé foi eleita, e ela jurou
lealdade e sua vida à Rainha Amidala. Ela manteria esse nome para sempre.
Como um sinal de seu próprio status, com certeza, mas também como um
sinal de respeito pela rainha a quem serviu e pela garota que arriscou a
própria vida pelo bem-estar de Naboo em mais de uma ocasião. E não
apenas para Padmé, também, mas para todos os que a serviram. Elas
haviam escolhido os seus nomes enquanto garotas, recém-chegadas ao
poder e ligeiramente intimidados por ele. Haviam escolhido os seus nomes
para se ligarem uma à outra, um lembrete constante do bem maior que
agora serviam.
E Eirtaé o manteria. Manteria o nome e o serviço e a amizade, embora
amizade não parecesse uma palavra suficientemente profunda, e enquanto
vivesse, ela se esforçaria para servir Naboo como Amidala havia feito,
qualquer que fosse a forma que seu serviço pudesse tomar.
Ela olhou para cima e descobriu que Padmé estava olhando diretamente
para ela. Como sempre, as aias não precisavam de palavras para comunicar
entre si. Eirtaé não se levantou, não adiantava chamar a atenção para si
mesma, mas ela segurou o olhar com a rainha que amava, colocou as mãos
sobre o coração e fez uma reverência com a cabeça.
Padmé devolveu o gesto, e Eirtaé voltou à sua contemplação silenciosa
do lago.
Elas ficaram nos degraus do grande palácio de Theed, como fizeram uma
vez para encontrar o Chefe Nass nos primeiros meses do reinado de
Amidala. A praça em frente a elas estava ainda mais lotada do que naquele
dia, porque a festa de hoje não teve procissão. O povo de Naboo tinha vindo
em massa para ver a sua nova rainha e se vestiram para a ocasião. A praça
era uma profusão de cor e música e o ar estava cheio de fitas e flores que as
crianças lançavam para o alto.
Saché estava acostumada a ficar no fim da fila. A sua principal tarefa
como aia era distração, mas não no sentido marcial. Embora fosse uma
combatente competente e a segunda melhor atiradora, depois de Sabé,
conhecia as suas próprias limitações físicas. Além disso, ela se juntou ao
serviço da rainha quando tinha doze anos e, portanto, dificilmente era uma
ameaça.
Mas as pessoas falavam com ela. Aparentemente, tinha um daqueles
rostos. E se era a última na fila das aias, elas a viam como acessível. Ela
também ouviu muitas coisas por acidente, porque ninguém jamais pensou
em guardar a língua em sua presença. Ao contrário de Rabé, ela espiava
diretamente a céu aberto e, como todos estavam sempre olhando pra ela, as
outras se safavam muito.
Agora estava em pé ao lado de Padmé na frente da multidão reunida e
tentava se lembrar que havia escolhido a vida pública, apesar do frio na
barriga que estava tendo no momento.
Todos os olhos estavam voltados para a rainha de qualquer maneira.
Usava um enorme vestido branco que ondulava ao seu redor. O seu rosto
não tinha pintura e o seu cabelo estava penteado de maneira simples,
enrolado em uma única bobina mantida no lugar por fios de pérolas de água
doce. O vestido de Padmé brilhava, mas ao contrário do vestido que usou
para celebrar a paz com os Gungans, este vestido não tinha nenhuma
superestrutura ou babados ostentosos. O vestido atraía a atenção, mas
também seria facilmente ofuscado no momento em que o protocolo o
exigisse.
Por fim, as grandes portas do palácio de Theed foram abertas e um
silêncio expectante caiu sobre a multidão reunida. Duas filas de guardas
surgiram primeiro, voluntários das Forças de Segurança Real. Eles
desceram os degraus, parando quando o primeiro deles chegou ao final, de
modo que ficaram alinhados com a escada. Então, o conselho em exercício
saiu e desceu até onde Amidala e as suas aias estavam esperando.
Finalmente, após uma longa batida que Saché reconheceu como uma
necessidade dramática, a Rainha Réillata apareceu no topo da escada.
A nova rainha era mais alta que Padmé, e Saché sabia pelos holos da
campanha que ela tinha cabelo muito curto. Claro, tudo estava coberto pela
tiara real que agora coroava a cabeça de Réillata. Seu rosto estava
totalmente branco, o vermelho de seus lábios e bochechas destacando-se
como deveria, e ela usava o vestido vermelho da soberana de Naboo tão
bem quanto Padmé sempre usara. Ela carecia, Saché pensou um tanto
traiçoeira, da bondade inerente de Amidala, mas cada governante de Naboo
tinha o seu próprio estilo. Esse era, como Padmé diria, o objetivo.
A Rainha Réillata desceu os degraus com velocidade medida. Isso foi
parcialmente para garantir que todos pudessem olhar bem pra ela e também
porque o vestido era uma espécie de desafio para entrar. Réillata conseguiu
fazer o seu ritmo equilibrado e constante parecer intencional, e Saché foi
forçada a reunir um respeito relutante. Afinal aquele era o segundo mandato
de Réillata e Saché faria parte de seu governo.
Atrás da nova rainha vieram as novas aias. A maioria delas era da
mesma idade de sua monarca, mas havia uma jovem que Saché sabia ser
sobrinha de Réillata. Era ainda mais jovem do que Saché quando se juntou
ao serviço de Amidala, e Saché lhe desejou o melhor. A corte pode ser um
lugar estranho, mesmo para os mais preparados.
Réillata alcançou o amplo estrado onde Amidala estava esperando por
ela. O Governador Sio Bibble carregava o cetro real, que só era usado nessa
ocasião, e ficou entre as duas rainhas. Por um momento, graças a uma
peculiaridade do processo democrático de Naboo, as duas estavam em
posição igual. Então Amidala pegou o cetro das mãos do governador,
baixou a cabeça e apresentou os adornos de regência à nova Rainha de
Naboo.
Como era de se esperar, a torcida continuou por algum tempo.
Por fim, a Rainha Réillata devolveu o cetro para Sio Bibble e estendeu o
braço para Amidala. Padmé o pegou e as duas rainhas subiram as escadas
de volta ao palácio. O poder foi entregue simbolicamente, mas ainda havia
muito trabalho a ser feito. O Governador Bibble acompanhou Saché
enquanto caminhavam atrás das rainhas.
— Parabéns pela sua eleição, minha senhora. — disse Bibble. — Não
sou do seu distrito, mas fiquei feliz em saber que você estava na votação em
algum lugar.
— Obrigada, Governador. — disse Saché. — Espero que o meu serviço
seja digno de seu entusiasmo.
— Bem, você teve um excelente professor. — disse ele. Ambos olharam
para a frente, e então Bibble sorriu. — Eu falo de mim, é claro.
Saché riu.
— Claro. — disse ela. — Eu tive uma grande variedade de políticos à
minha volta ao longo dos meus anos de formação.
— É fácil fazer pouco caso disso, agora que os problemas passaram. —
disse Bibble, com uma seriedade incomum. — Mas acho que nós dois
sabemos onde você aprendeu muito do que sabe. O povo irá respeitá-la por
isso e espero que não se aproveite indevidamente da lealdade deles.
— Claro que não, Governador. — disse Saché. Ela nunca havia
dominado a voz de Amidala da maneira que as outras tinham, o seu alcance
vocal simplesmente não era adequado para isso, mas tinha uma voz formal
para recorrer, e a implantou agora pela primeira vez. — Como eu disse,
espero que o meu serviço seja digno de entusiasmo.
Saché desejou estar caminhando com as outras. Ela sabia que Sabé
provavelmente estava bem atrás dela e o resto estava espaçado de acordo
com a multidão que agora se movia para dentro. Ela estava acostumada com
a visão na parte de trás da procissão, não no início dela, e isso estava
mudando seu ritmo. Ela nem estava vestida como uma aia hoje. Elas
estavam usando capuzes violetas suaves sobre vestidos cinza escuro, as
cores que se usava para se desvanecer em uma multidão bem vestida em
Naboo, enquanto ela estava adornada com amarelos e verdes, com o rosto
totalmente visível. Ela olhou para as escadas e viu Mariek na fila de
guardas nos degraus. A mulher mais velha piscou para ela e Saché sorriu.
Em seu último ato como rainha, Padmé promoveu Mariek e Tonra a
capitão, aceitou a renúncia de Panás e selecionou um novo sargento
chamado Gregar Typho, que lutou, e perdeu um olho, na Batalha de Naboo.
Todos teriam a opção de permanecer nas Forças de Segurança Real ou ir
para outro lugar, eram todos voluntários, mas parecia provável que Panás
seria o único a procurar outra maneira de preencher os seus dias. Na opinião
de Saché, era hora dele seguir em frente.
Elas chegaram à sala do trono e Saché observou Réillata assumir o
trono de Naboo pela segunda vez. Duas de suas aias a ladeavam em
cadeiras atrás da mesa comprida, enquanto as outras três, incluindo a sua
sobrinha, ficavam perto da porta. O governador ocupou o seu lugar, Panás
em pé atrás dele em caráter não oficial, e Padmé assumiu uma terceira
cadeira perto da rainha. Saché se moveu para ficar atrás dela, mas parou
quando ouviu Yané tossir baixinho. Saché congelou, envergonhada e não se
mexeu até que Sabé e Eirtaé tomaram seus lugares atrás do novo assento de
Padmé. Em seguida, assumiu a quarta cadeira, aquela reservada aos
membros visitantes da assembleia. Ela não precisou olhar pra trás para
saber que Yané e Rabé estavam lá.
— Agradecemos por seu bom serviço a Naboo, Amidala. — As
palavras da Rainha Réillata eram principalmente a formulação no início de
seu discurso, mas parecia haver gratidão genuína o suficiente por trás delas.
— Sabemos que você trabalhou muito e por muito tempo por nosso amado
planeta e somos gratos por seus esforços.
— Obrigada, Vossa Alteza. — Se custou alguma coisa a Padmé dizer as
palavras, ela não deixou os seus sentimentos transparecerem em seu rosto.
— Desejo a você um mandato tranquilo e produtivo como nossa rainha.
Sio Bibble mudou de posição na cadeira. Ele ainda estava segurando o
cetro e não conseguia encontrar um lugar para colocar os braços. Um dos
camareiros do palácio apareceu do nada para tirar o cetro dele e relaxou
visivelmente quando não estava mais sob os seus cuidados.
— Amidala. — A Rainha Réillata abandonou a sua voz formal e se
dirigiu a Padmé como se fossem conhecidas. — Sei que temos papéis
específicos a desempenhar nos próximos dias de transição governamental e
palavras específicas que devemos dizer, mas gostaria de falar com você
com franqueza, se você permitir.
— Claro. — disse Padmé em um tom mais formal do que a sua voz
normal, mas apenas as suas aias saberiam disso.
— Você me deixou em uma excelente posição pra começar. — disse
Réillata. — Estamos em paz com a galáxia e os Gungans. Nossos
excedentes de alimentos se recuperaram da invasão e a construção do pulso
de íons está, segundo me disseram, inteiramente dentro do cronograma.
A temperatura na sala caiu ligeiramente quando o rosto de Panás
endureceu. Ele se opôs publicamente ao pulso de íons, querendo defesas
mais robustas, e o seu relacionamento com a rainha e os políticos que o
apoiavam nunca se recuperou totalmente. Estavam chamando a decisão dele
de deixar o serviço de “aposentadoria”, mas a verdade é que Padmé não
confiava mais tanto nele como antes, e nem mesmo a nova administração.
— Como você sabe, a elevação do Chanceler Palpatine a essa posição
nos deixou em uma espécie de disputa por um senador da República. — A
Rainha Réillata continuou como se nada tivesse acontecido. — É difícil
encontrar políticos nesse nível que estejam dispostos a ir para Coruscant. A
Senadora Oshadam foi mais do que adequada, mas foi inflexível quanto ao
fim de seu tempo de serviço, e com o seu término significa que cabe a mim
indicar este cargo.
— Posso oferecer várias sugestões, se quiser. — disse Padmé.
O ponto de vista incomum de Saché significava que podia ver o rosto de
Sabé. Sabé ainda estava encapuzada, é claro, e o observador comum não
seria capaz de ler nada em sua expressão obscura, mas Saché dificilmente
era uma observadora comum. Ela viu a mais breve das cintilações nos olhos
de Sabé e soube quais seriam as palavras da Rainha Réillata antes de serem
proferidas.
— Amidala. — disse a rainha. — Eu esperava pedir a você que
aceitasse a posição e representasse Naboo e os mundos vizinhos do setor
Chommel no Senado.
Padmé não costumava ficar sem palavras. Mesmo quando acontecia, ela
se destacava em dizer algo perfeito e fútil para cobrir o seu silêncio. Mas
desta vez não disse nada. A sua guarda estava baixa, ou pelo menos estava
tão baixa como nunca, e era como se não soubesse para onde olhar.
Sio Bibble mudou de posição na cadeira novamente, obviamente pego
de surpresa pelo pedido de Réillata, mas tão obviamente a favor dele,
embora estivesse relutante em dizer isso. O rosto de Panás estava
cuidadosamente sem expressão, mas havia uma tristeza estranha em seus
olhos. Saché achou que parecia quase uma resignação. Por um momento,
ela não entendeu, mas então o olhar de Padmé encontrou o dela. Por causa
de onde ela estava sentada, Saché era a única pessoa na sala para a qual
Padmé podia olhar sem revelar que estava buscando uma opinião externa,
então Saché a deixou olhar. Ficou imediatamente claro que a ideia de ser
senadora nunca havia passado pela cabeça de Padmé, mas agora que havia
tido a proposta, já era quase uma certeza.
Saché se lembrou da última vez em que estiveram em uma posição
daquela. Ela estava atrás de Padmé na época e não conseguiu ver o rosto
dela. O Jedi de cabelos compridos disse que deveriam ir para Coruscant,
mas dirigiu o seu apelo a Sabé, pensando que era a rainha. Elas haviam
praticado para situações como aquela, as palavras que Padmé deveria dizer
para se comunicar com elas sem revelar o disfarce, mas esta foi a situação
mais terrível em que já as usaram. Sem hesitar, Padmé disse as palavras que
sinalizavam que ela iria, e por necessidade, Saché tinha ficado por trás.
Quando se imaginou sentada na assembleia, Saché pensou em debates
animados e na realização de um bom trabalho. Sabia que teria que fazer a
maior parte desse trabalho sozinha, mas gostou da ideia de poder recorrer a
Padmé se realmente precisasse de ajuda, recorrendo à sua experiência com
Amidala para problemas espinhosos que Saché não conseguia resolver. E,
no entanto, ali estavam novamente: um apelo para ir para Coruscant e um
caminho que Saché não poderia seguir. Entendeu a expressão de Panás com
cada parte de sua alma. Sabé achava que era uma boa ideia e Padmé não
podia vê-la, então cabia a Saché transmitir a mensagem de apoio nas
entrelinhas.
Ela não conseguiu dizer as palavras de volta para Padmé. Elas não
fariam sentido neste contexto, mas ainda estava presa no olhar de Padmé, e
sabia que só teria que mover a boca um pouco para transmitir a sua
mensagem.
Somos valentes, Vossa Alteza.
Padmé respirou fundo e então Amidala se virou para encarar a rainha.
— Vossa Alteza. — disse ela, baixando a cabeça. — Agradeço a
confiança que depositou em mim ao me pedir para fazer esta tarefa.
Prometo a você que darei a devida consideração ao assunto, mas peço que
espere para ouvir a minha resposta até que nosso trabalho de transferência
de poder para o seu mandato esteja concluído.
— Esse é um pedido adequado. — disse Réillata. — Continuaremos
com a transição conforme dita a tradição.
Padmé recostou-se na cadeira e apenas o mais experiente dos espiões
teria visto o punho de Sabé se fechando no tecido de seu vestido, logo
abaixo do ombro de Padmé, mostrando um apoio inabalável como sempre
fazia.
— Governador. — disse Réillata, virando-se para onde Bibble estava.
— Qual é o próximo passo em nossa programação?
Enquanto o governador delineava os seus compromissos para os
próximos dias, Saché não conseguia deixar de pensar que tinha se saído
bem em sua primeira aparição oficial. Seria mais desafiador quando
estivesse realmente sozinha. Os membros da assembleia legislativa tinham
equipes pequenas, mas nada como o quadro coeso que Padmé havia
construído em torno de si mesma. Ela sempre teria Yané, é claro, mas Yané
não fazia parte do corpo eleito e teria as suas próprias tarefas a cumprir.
Saché aprenderia rapidamente, como sempre fizera, e prestaria atenção nas
reuniões importantes, em vez de deixar a sua mente vagar, como estava
fazendo naquele momento.
Saché conseguiu se levantar ao mesmo tempo que todos os outros,
apenas por meio de uma longa prática. Padmé estava sorrindo quando veio
pegá-la pelo braço e juntas seguiram Mariek para fora da sala do trono.
Mariek as conduziu aos apartamentos de hóspedes, onde Saché ficou um
pouco mortificada ao descobrir que ela tinha uma suíte própria.
— Há uma porta de conexão neste aqui. — anunciou Eirtaé quando
Saché ficou sem jeito no corredor. — Vamos deixar aberta.
Saché estava quase certa de que Padmé faria o que a rainha pediu. Elas
sabiam que as coisas iriam mudar após a eleição, mas ela não achava que
nenhuma delas tinha imaginado que mudaria tanto, tão rapidamente. Saché
chamou a atenção de Padmé novamente e viu um pedido silencioso ali:
deixar pensamentos sobre o futuro até depois das cerimônias aqui
terminarem. Saché assentiu com a cabeça para mostrar que faria o possível
para obedecer, mas não pode evitar a maneira como seus pensamentos
viajaram enquanto Yané a ajudava a se vestir para o jantar. Pelo menos esta
noite elas estavam em um lugar familiar, até em quartos familiares, e elas
tinham uma porta aberta.
Elas se sentaram como quando se encontraram pela primeira vez, quando
Padmé as entrevistou após a sua eleição para rainha. Logo depois disso,
Panás começou, discretamente, a treiná-las em medidas muito além do
esperado para a idade delas, mas naquele encontro elas eram garotas
começando a se conhecer. Agora não havia ninguém na galáxia que as
conhecesse melhor. Com a transferência do governo concluída, esta seria a
última noite delas em Theed antes de seguirem em direções diferentes.
Mariek sentou-se discretamente perto da lareira apagada e Tonra estava do
lado de fora da porta. Havia mais meia dúzia de guardas no vestíbulo no
corredor, mas esta noite, a menos que os guardas fossem chamados, Padmé
e suas aias seriam deixadas sozinhas.
— Para Saché. — disse Padmé, erguendo o copo. — Que o seu mandato
seja tão desafiador quanto você precisa que seja.
Saché ergueu o seu copo em resposta e as outras seguiram o exemplo.
Yané bebeu profundamente. O teor de álcool do suco de fruta era baixo, e
também: aquela era a sua única noite de liberdade antes que as
responsabilidades se instalassem.
— Para Yané. — continuou Padmé. — Que a sua casa seja cheia de
alegria e com o mais feliz dos barulhos.
— Para Rabé, que a sua música toque os corações e mentes de todos
aqueles que a ouvem.
— Para Eirtaé, que a sua arte nos mostre novos caminhos em lugares
que nunca pensamos em procurá-los.
Elas beberam e beberam novamente.
— Eu estaria morta sem cada uma de vocês. — disse Padmé. — E
Naboo estaria sob o calcanhar daqueles que abusariam dele. Devo a você os
meus agradecimentos e muito mais, e o planeta a quem vocês serviram
também.
— Nós sabemos. — disse Sabé. O seu rosto estava sem expressão como
o de Amidala, embora o resto delas tivesse assumido uma atitude relaxada
enquando mudavam para a suas roupas de dormir azul e marfim.
— Para Sabé. — disse Padmé, e ergueu o copo uma última vez. Não
disse mais nada, porque não havia mais nada a ser dito.
Yané se levantou para recolher os copos e os colocou em uma mesa
lateral, fora do caminho. O círculo mudou, aproximou-se enquanto elas se
sentavam nas almofadas no chão, e Padmé passou uma escova no cabelo de
Sabé. Tradicionalmente nenhuma delas demonstrava muito afeto pessoal
em público. Era uma característica de identificação, e a parte mais forte da
defesa das aias era o seu anonimato. Esses momentos privados deveriam ser
valorizados e Yané esperava que houvesse um número infinito deles nos
dias que viriam. Ela se apoiou no ombro de Saché.
— O que você vai fazer, Padmé? — perguntou ela. Era um alívio dizer
o nome.
— O pedido da Rainha é razoável. — respondeu Padmé. — Embora não
tivesse considerado isso uma opção até que ela tocou no assunto.
— Mas então você teria que deixar Naboo. — apontou Saché. — O
Chanceler Palpatine quase nunca estava em casa quando era senador.
— Eu sei. — disse Padmé. — Mas as coisas estão diferentes agora, e é
possível que possa passar mais tempo aqui, mesmo sendo uma Senadora.
— E a resposta que você deu a Palpatine quando perguntou sobre os
seus planos? — perguntou Rabé.
— Ele perguntou isso a você? — indagou Eirtaé, levemente
escandalizada. Era uma violação de protocolo fazer uma pergunta tão
pessoal, mesmo que Palpatine fosse um amigo.
— Ele me surpreendeu com a pergunta. — respondeu Padmé. — Não
queria contar a ele antes de contar a qualquer uma de vocês, e então tudo
aconteceu de uma vez.
Eirtaé se jogou dramaticamente em vários travesseiros e olhou para
Padmé com expectativa.
— Pensei em voltar a Tatooine. — admitiu Padmé. — E ver quais
passos poderia dar para libertar as pessoas de lá.
Houve um longo momento de silêncio, quebrado apenas pela escovada
constante no cabelo de Sabé.
— Bem, você certamente nunca faz nada pela metade. — ponderou
Mariek. Todas se sobressaltaram e Padmé acenou à ela. Então, Mariek
arrastou uma cadeira com ela. — No caso do meu marido ter uma visão
repentina minha sentada no chão enquanto estou de serviço e, como
resultado disso, um infarto.
— Ele está aposentado. — apontou Yané. — Acho que você está no
comando agora.
— Isso está pendente. — disse Mariek. — Eu odiaria me antecipar.
— O que você acha, Mariek? — perguntou Padmé, com os seus olhos
ainda firmemente na nuca de Sabé. — Você acha que é tolice?
— Sim. — respondeu Mariek. Ela era a favor do pulso de íons, o que
todas sabiam, mas isso nunca discutiram, e isso tinha colocado uma pressão
sobre o seu casamento. — Mas a maioria das suas ideias são, e têm
funcionado bem até agora.
— Você não iria sozinha, não é? — perguntou Saché delicadamente.
Ninguém olhou pra Sabé.
— Claro que não. — disse Rabé.
— O Chanceler Palpatine nos disse que está supervisionando um
projeto de lei para lidar com a escravidão no Senado. — Padmé contou a
elas. — Ele sugeriu que esperasse pra ver como os seus esforços se sairiam.
Houve outra longa pausa.
— Você poderia ter mais impacto se estivesse no Senado. — apontou
Eirtaé. — Você poderia ajudar mais planetas do que apenas Tatooine.
— O Senado leva anos para fazer qualquer coisa. — argumentou Yané.
— E todas sabemos por experiência direta o quão bem prestam atenção a
eventos que não os estão incendiando pessoalmente! Você faria mais com
uma boa nave e conexões no próprio Tatooine.
Elas teriam discutido então, o que era algo que quase nunca acontecia
na presença de Padmé, se Sabé não tivesse se inclinado pra frente.
— Se ao menos você conhecesse uma maneira de estar em dois lugares
ao mesmo tempo.
A escova silenciou.
— Há uma diferença entre pedir que venha comigo e enviar te sozinha.
— disse Padmé. Em qualquer dos casos, Tatooine dificilmente era um
destino fácil.
— Eu sei. — disse Sabé calmamente.
Esse era um assunto que Yané as observara evitar durante todos os anos
em que foram amigas. Padmé sabia em seu coração que Sabé faria tudo o
que pedisse, mesmo que isso significasse a vida de Sabé e, portanto, sempre
teve o cuidado de nunca pedir muito.
— Pode ser perigoso. — disse Padmé. — Você pode não ser capaz de
fazer o que queremos fazer.
— Eu sei. — disse Sabé. — Mas quero tentar. Por você, por eles e
também por mim. Fiz coisas com você que foram dignas de heroísmo. Pode
ser bom fazê-las com o seu apoio e o meu próprio rosto, pra variar.
Padmé a puxou para perto para que pudesse ver o rosto de Sabé. Elas
estavam acostumadas a se comunicar sem contato visual, mas Yané
entendeu a necessidade disso agora, quando algo realmente importante
estava sendo discutido.
— Então você se torna a senadora por Naboo e pelo setor Chommel. —
disse Mariek, quebrando o momento e trazendo todas de volta ao foco. —
Vou com você e imagino que o meu sobrinho Typho também venha.
— Não posso tirar você de casa agora. — disse Padmé. Foi o mais perto
que chegaram de uma discussão direta, tal era o respeito de Padmé por
limites e política pessoal.
— Quarsh teve a chance de viajar pela galáxia com você. — disse
Mariek. — Ele vai entender que agora é a minha.
Isso ficou pendurado por um momento, e então Padmé aquiesceu.
— Tudo bem. — disse ela. Ela voltou o olhar para Rabé e Eirtaé, que
cochichavam no canto.
— Vocês não irão mudar os seus planos. — disse ela em um tom que
não admitia discussão.
— Padmé… — começou Rabé, mas Padmé levantou a mão.
— Não, preciso de vocês aqui. — disse ela. — Preciso saber que Naboo
ainda é a minha casa, um lugar onde a arte e a paz são mais homenageadas.
Quero que vocês tenham isso, mesmo que tenha que esperar por isso.
— Obrigada, minha senhora. — disse Eirtaé. Rabé apenas assentiu com
a cabeça.
— Saché, você vai me escrever se precisar de conselhos. — continuou
Padmé. — Yané, se precisar de mais fundos ou para explorar uma conexão
que tenho, você escreverá também.
— Claro. — disse Yané.
— Suponho que isso deixa o Capitão Tonra com você. — disse Padmé,
e Sabé assentiu.
— Assim é melhor. — disse Mariek. — Réillata vai querer preencher as
fileiras com o seu próprio pessoal de qualquer maneira.
— Devemos chamá-los aqui, se os estamos oferecendo para missões
fora do mundo. — disse Padmé.
Yané se levantou e foi até a porta. O Capitão Tonra saiu pelo corredor
para onde Typho estava parado enquanto Yané voltou e começou a arrumar
as cadeiras. Travesseiros no chão serviam para uma reunião privada, mas
isso exigia algo um pouco mais formal. O capitão e o sargento tinham a
aparência muito diferente. Tonra era alto, com cabelo escuro e uma testa
larga. O sargento Typho tinha um corpo robusto, pele morena e ombros
largos. Ele era sobrinho de Mariek Panás, mas não precisou de nenhuma
ajuda de conexões familiares para alcançar a sua posição. O seu tapa-olho o
dava uma aparência ligeiramente malandra, que não deixava de usar a seu
favor, e era muito mais jovial do que os outros guardas. Os dois tinham em
comum uma lealdade inabalável a Naboo e à própria Padmé.
— Obrigada por se juntarem a nós. — disse Padmé. Ela falou com a sua
própria voz formal, não a de Amidala. Yané sentiu a sua pulsação acelerar.
Elas estavam realmente fazendo isso.
— Claro, minha senhora. — disse Tonra, embora parecesse confuso.
— Decidi aceitar o pedido da rainha e servir como senadora de Naboo
na República Galáctica. —anunciou ela. — A capitã Mariek se ofereceu
para me acompanhar até lá como guarda. Sargento Typho, nós... Eu...
Espero que você se junte a nós também.
Typho levantou-se e endireitou os ombros.
— Seria uma honra, Vossa Alteza. — disse ele.
— Não estou pedindo mais como a sua rainha, Sargento. — Padmé o
lembrou suavemente. — Você estaria se oferecendo para deixar o planeta
por longos períodos de tempo.
— Entendo, minha senhora. — disse Typho. — Eu ainda desejo servir.
— Obrigada. — disse Padmé. Ela se virou para Tonra, que estava
esperando por ela. — Capitão, Sabé partirá em uma missão separada que
delineará a você mais tarde em particular. É o meu maior desejo que você a
acompanhe.
Tonra e Sabé trocaram um olhar e Sabé assentiu.
— Irei com Sabé onde quer que precise que eu vá. — disse ele. — E
imagino que ela irá me defender tão bem quanto vou defendê-la.
— É bom que ela faça isso. — disse Padmé. — Preciso de vocês dois.
— Você vai precisar de novas aias. — disse Yané.
— Senadores não têm aias. — apontou Padmé.
— Senadores têm assessores. — disse Saché. — Os seus assessores
deveriam ser aias.
— Elas estão corretas. — disse Sabé. — Se você vai se certificar de que
o restante de nós está seguro e protegido, você também deveria.
— Panás levou meses e meses para treinar todas vocês. — apontou
Padmé. — Não temos este tempo.
— Você não precisa do mesmo tipo de proteção que precisava como
rainha. — disse Yané. — O requisito mais importante pra nós era ser uma
sósia para o seu rosto antes que o resto de nossas habilidades fosse
considerado. As suas novas auxiliares não precisam se limitar à sua
aparência, contanto que possam refletir o seu cérebro. Você precisa de
confidentes em quem confie completamente. Precisa de pessoas para ouvir
nas festas. Precisa de pessoas que desaparecem no fundo e percebam o que
os seus oponentes estão tentando esconder de você. Se você estiver em
apuros, pode chamar Sabé, mas para as operações diárias, duas ou três aias
leais devem ser capazes de protegê-la.
— Minha sobrinha, pelo lado do Typho, Versaat tem a idade certa. —
disse Mariek. — Vou mandar umo holo pra ela esta noite. Ela não é uma
cópia físico de você, minha senhora, mas sei que é leal e tem outros
talentos.
— Havia uma garota... Cordyn, eu acho. — considerou Rabé. — Estava
conosco no treinamento de Panás, mas não foi para a seleção final. Ela não
era muito boa em combate, mas combinava muito com a sua aparência, e
você ainda vai precisar de uma sósia, eu acho, embora o argumento de Yané
seja bom.
— Minha senhora, se eu puder? — interrompeu Typho.
— Por favor, Sargento. — respondeu Padmé. — Diga o que pensa.
— Uma das minhas colegas do treinamento das forças de segurança
pode ser adequada a você. — disse ele. — Ela estava no primeiro escalão
de cada um dos nossos cursos.
— Por que ela não se formou com você? — perguntou Sabé.
— Ela ficou para fazer os cursos extras. — respondeu Typho.
O programa privado de Panás para as aias da rainha tinha se tornado
semipúblico após a Batalha de Naboo, e a academia começou a oferecer
versões modificadas de seu treinamento como curso oficial a ser feito após
a formatura.
— Qual é o nome dela, Sargento? — perguntou Padmé.
— Dorra, minha senhora. — respondeu ele. — Posso enviar uma
mensagem a ela assim que o meu turno acabar.
— Faça isso agora, Sargento. — disse Padmé. — Não se preocupe
conosco. Pode usar o console nos quartos de Saché e deixar a porta aberta
para manter a sua linha de visão.
— Vamos. — disse Yané a Eirtaé. — Vamos separar os vestidos de
Padmé dos reais. Se ela ainda está trabalhando para o governo, ela pode
embalar mais do que originalmente planejamos para ela.
— Você não precisa fazer isso. — disse Padmé.
— Nós não precisamos. — disse Eirtaé. — Mas nós vamos.
— Vou escrever mensagens às candidatas. — disse Rabé. — Ou como
quer que as chamemos. Suponho que elas mal sabem que se candidataram.
Typho, se esperar um momento, podemos enviar todas de uma vez.
— Vou ajudar. — disse Saché. — Posso usar meu novo acesso para
rastrear Cordyn.
Os guardas voltaram às suas posições, e Sabé e Padmé se viram
sozinhas no meio de uma massa de travesseiros e cadeiras.
— Veja como o mundo gira rápido quando você pede. — disse Sabé.
— Você que o diga. — disse Padmé. — É você quem o está girando.
— Não vou deixar você cair. — disse Sabé. Ela estendeu a mão e
Padmé pegou as suas mãos.
— Eu sei. — disse Padmé.
Houve um momento de silêncio entre elas e então Sabé fez a última
pergunta a ela:
— O que você vai dizer aos seus pais?
— Eu já deveria ter contado a eles. — admitiu Padmé. — Tive uma
hora livre esta tarde, e soube assim que a rainha disse isso. Sabia que
serviria. Eu sou egoísta?
— Você está fazendo isso para a sua própria glória? — perguntou Sabé.
Padmé balançou a cabeça. — Então não. Generosa demais, talvez, e talvez
alguém que não a conhecesse iria pensar que era egoísta, mas te conheço e
iria chutá-lo.
Ela entregou a Padmé um datapad e olhou para cima para chamar a
atenção de Mariek. Assim que conseguiu a atenção da guarda, ela indicou
que iria acompanhar Padmé até a varanda para fazer a ligação. Mariek
assentiu com a cabeça e Sabé puxou Padmé para se levantar.
Na varanda, ela deu a Padmé todo o espaço que pode. Sua posição como
dublê de Padmé a colocava mais perto dos guardas oficiais do que as outras,
razão pela qual Mariek as deixou fora de sua vista. No fundo, porém,
Padmé era a sua amiga e não podia deixar de escutar a conversa.
— Oi, mãe. — disse Padmé. Era a sua voz mais exposta, aquela que
Sabé nunca tentou duplicar. — Papai está por aí?
Alguns momentos se passaram e, em seguida, os pais de Padmé
brilharam em azul na luz fraca. O seu pai estava tirando serragem das mãos.
— A Rainha Réilatta me pediu para servir como a nova senadora de
Naboo. — disse Padmé após uma breve troca de saudações. — Eu disse
sim.
Ninguém ouviu Padmé Amidala soar tão vulnerável e desesperada por
aprovação. Teria sido um pesadelo político. Mas esta era Padmé Naberrie,
conversando com três pessoas em quem confiava totalmente.
Ruwee e Jobal trocaram um olhar, comunicando-se tão facilmente
quanto Padmé poderia ter feito com qualquer uma de suas aias, embora
tivessem uma razão diferente para ter tanta prática nisso.
— Não posso dizer que estou feliz que você vá embora. — disse Jobal.
— Mas o seu pai e eu estamos muito orgulhosos de você.
— Só não se esqueça de onde você veio quando sair de lá novamente.
— acrescentou Ruwee. — A política galáctica pode te fazer se sentir
pequena e, bem, tenho certeza que já começou a descobrir isso.
— Não vou. — disse Padmé. — E eu prometo que serei cuidadosa.
Foi uma coisa tão estranha de se dizer, como se Padmé estivesse
pedindo permissão para fazer uma excursão escolar, que Sabé quase riu.
— Dê lembranças minhas à Sola. — disse Padmé. — Escreverei quando
estiver instalada.
Sabé deu a ela ainda mais distância para terminar as suas despedidas e
não se moveu por vários momentos depois que a luz azul tinha
desaparecido. Ela observou enquanto Padmé se endireitava, com suas
barreiras e máscaras profissionais voltando ao lugar. Sem dizer uma
palavra, Sabé abriu a porta da varanda e a conduziu de volta para dentro.
Yané estava correndo em direção a elas com vários dos vestidos mais
simples de Padmé em seus braços.
— Sabé, experimente este. — exigiu ela. — Eles são de antes da última
vez que você cresceu, e se tivermos que alterá-los, prefiro saber agora.
Sabé parou enquanto Padmé auxiliava a passar o primeiro vestido pela
cabeça e ajudava Yané a prender as partes onde os ajustes precisavam ser
feitos. Elas cresceram em Naboo e isso tinha sido bom pra elas. Agora era
hora de crescer em outro lugar.
Seguidores de longa data da política se lembrarão da jovem Rainha
Amidala de Naboo. Quatro anos atrás ela veio para Coruscant e depôs o
Chanceler para apressar questionavelmente a ajuda para o seu planeta
natal. Embora nenhuma prova concreta dos crimes da Federação do
Comércio tenha sido produzida, Amidala influenciou a opinião do Senado.
O seu discurso, que provavelmente foi escrito para ela, dada a sua idade na
época, foi emocionante... E não podemos deixar de nos perguntar o que ela
vai incitar dessa vez.
Agora como uma senadora pela República Galáctica, Amidala voltou.
Não é mais uma rainha fantoche, com certeza, mas a questão permanece:
quem está puxando os seus cordões agora?

— TriNebulon Notícias
As primeiras seis semanas de mandato de qualquer senador eram altamente
controladas pelo protocolo da República, e na metade da quinta semana, a
Senadora Amidala estava farta. Havia muito a aprender, mas sempre
aprendeu rápido, e estar cercada de todos os lados pela tradição e
expectativa estava começando a desgastá-la. Felizmente, a sua ira poderia
encontrar um alvo específico em um droide indiferente designado NON-3.
— Senadora. — falou o droide. Havia algo estranho no processador
vocal do droide que mudava a maneira como dizia as suas vogais. Sempre
demorava um momento para Padmé entender o que ele estava dizendo, mas
toda vez que pedia um conserto, era informada que não havia nada de
errado. — Lembro que você está agendada para a sua última visita aos
níveis inferiores do prédio do Senado hoje. Neste passeio, você observará e
compreenderá o funcionamento interno da própria edificação, além de sua
aparência estética, para que possa aproveitar as suas inúmeras comodidades
enquanto estiver na assembleia.
Padmé fez o possível para não arrancar os cabelos. Dormé,
anteriormente conhecida como Dorra, tinha feito um excelente trabalho
com isso hoje. Uma pequena graça do período de treinamento senatorial foi
que Padmé conheceu o seu novo trio de aias ao mesmo tempo. Cada uma
delas fez a cortesia de escolher um novo nome. Embora o motivo público
dado ainda fosse o anonimato, Padmé não se enganou quanto à honra que
elas lhe deram.
Cordé, anteriormente conhecida como Cordyn, que falhou no
treinamento inicial de Panás porque não era boa com um blaster, colocou-se
no lugar de Sabé sem hesitar. Ela já havia dominado os maneirismos físicos
de Padmé e tinha uma voz quase perfeita. Dormé, que tinha saído do
mesmo treinamento de segurança que produziu Typho e Tonra, provou ser
uma figurinista mais do que capaz, e Padmé sabia que ela já estava
planejando atualizações e modificações nos vestidos senatoriais. Versé,
anteriormente conhecida como Versaat, era uma hacker de primeira linha,
embora ela e a sua tia Mariek permanecessem caladas sobre como adquiriu
essas habilidades. Além de fortalecer as medidas de segurança digital de
Padmé, estava gradualmente reprogramando o apartamento para ser mais
funcional e confortável para o grupo. Mariek e Typho completaram o resto
dos companheiros mais próximos de Padmé, junto com alguns outros
guardas escolhidos a dedo.
Ela sentia falta de Sabé como sentiria falta do Sol.
Talvez fosse esse o verdadeiro motivo de todos os passeios e
orientações estarem começando a lhe dar nos nervos. E parecia não haver
fim. Percorreu todos os cantos do prédio do Senado, exceto os escritórios
particulares dos outros senadores, é claro, e testemunhou como o complexo
funcionava. Era quase exatamente o mesmo de quando estava no programa
legislativo júnior, o que a fazia se sentir como se estivesse ocupada. Odiava
essa sensação e constantemente lutava para não descontar nas pessoas ao
seu redor. Ela tinha visto muito pouco de Coruscant nesse ínterim e quase
nenhum procedimento governamental, exceto algumas sessões
cuidadosamente moderadas com os outros novos senadores. A ex-senadora
Oshadam foi educada e prestativa, mas claramente pronta para partir assim
que pudesse.
— Talvez essa seja a ideia. — disse Dormé. — Talvez deva conhecer os
outros novos senadores e formar alianças com eles.
— Não faria mais sentido para você conhecer senadores consagrados?
— perguntou Versé. — Quero dizer, você não pode aprender muito com
alguém que sabe mais ou menos o mesmo que você, e presumivelmente
todos os novos senadores juntos não podem superar as opiniões dos
experientes.
— Isso vai acabar logo. — disse Cordé. O seu tom era amolecedor, não
paternalista, o que fez Padmé parar. Todas ficaram frustradas. — E então
pode sentar na galeria e gritar com as pessoas o quanto quiser.
— Quando era nova na realeza, já estava evitando uma invasão
planetária. — apontou Padmé. — Agora, se pressionada, poderia dar
instruções para a instalação de reciclagem de esgoto no subnível nove, e
isso é tudo.
— Isso não é verdade e sabe disso. — disse Mariek rapidamente. —
Você também pode dizer às pessoas onde encontrar o armazém.
Typho fizera o possível para não sorrir enquanto Padmé bufava
indelicadamente. Talvez isso fosse na verdade algum tipo de processo de
seleção para os senadores e os seus assessores. Padmé sabia muito sobre as
habilidades, irritações de estimação e preferências gerais de suas aias agora
mais do que quando todas chegaram a Coruscant, e pelo menos isso era
alguma coisa.
Ela nunca se esqueceria de quando esteve na residência senatorial pela
primeira vez. Tinha sido completamente despojada para a sua redecoração e
parecia uma tumba no céu, bem acima da agitação de Coruscant. Ficou no
vestíbulo por meio segundo a mais, com as suas três novas aias atrás dela,
esperando. Então, antes que pudesse pensar em algo pra dizer, Versé entrou
em cena e começou a dar instruções sobre como desempacotar,
coordenando a com sua tia, a segurança. Pela primeira vez, as suas aias se
moveram como uma, e continuaram a fazer assim desde então, com Padmé
integrando-se lentamente nos padrões delas.
NON-3 fez o barulho educado que fazia quando pensava que Padmé
havia demorado muito pra dar uma resposta.
— Ouvi você, Nonnie. — disse ela. — Onde devemos encontrar o
grupo de orientação?
— Não há grupo de orientação, Senadora. — respondeu o NON-3. —
Este é um passeio privado.
Mariek deu três passos mais perto e franziu a testa. Era difícil mesmo
agora pensar nela como “Capitão Panás,” embora esse fosse o seu nome e
título, exceto em momentos como este, quando a mulher indolente
desaparecia e a profissional interferia. Todo mundo usava máscara quando
se tratava de Amidala.
— Eu não gosto disso, Senadora. — disse Mariek. — Por que este
passeio é diferente dos outros?
— Não sei. — disse Padmé. Ela se virou para o droide, que estava
programado para responder apenas a senadores e alguns outros oficiais
selecionados. — Nonnie, por que esse passeio é diferente?
— Não estou programado para lhe dar essa resposta. — respondeu
NON-3.
— E qual é o destino exato do passeio? — perguntou Padmé.
— Os níveis inferiores do edifício do Senado. — respondeu NON-3.
— Isso é inútil. — disse Versé. — Esses níveis são vastos.
— E você já viu a maioria deles. — acrescentou Cordé. — A menos que
queiram que você realmente entre nos dutos de ventilação.
— Você sabe o que ainda não tentamos? — disse Dormé, com um longo
olhar de soslaio para o droide de protocolo.
Padmé ficou tentada. Não para pular o passeio totalmente, porque ainda
iria em vestes de aia se fosse necessário, mas pra ver se elas poderiam
enganar Coruscant do jeito que enganaram Naboo. A primeira vez que
Padmé chegou ali, era Amidala desde o momento em que chegaram ao
apartamento até o momento em que saíram. Seria interessante ver o seu
novo local de residência de um ponto de vista não-senatorial. Ela olhou para
Mariek, que assentiu.
— Tudo bem. — disse Padmé. — Teremos que fazer a mudança
rapidamente. Cordé, será você primeiro.
Cordé era o par físico mais próximo de Amidala em termos de formato
de rosto e estrutura óssea. A pele de Padmé estava apenas um tom mais
pálido, e uma vez que Dormé trabalhou a sua magia com o pincel de
maquiagem, estranhos tinham dificuldade em distingui-las. Cordé podia
imitar o jeito que Padmé fazia, embora fosse um pouco mais alta e tivesse o
corpo mais estreito, e a sua correspondência de voz poderia enganar as
travas de segurança em sua nave de Naboo. Se conseguiria enganar ao
NON-3 ainda precisava ser testado, elas não tiveram problemas com
droides de batalha ou astromecânicos, mas havia muito tempo para isso.
Versé ajudou Padmé a vestir o seu conjunto sobressalente de vestes
azuis escuras e a prender o cabelo em uma espiral simples para caber sob o
capuz. Então foi ajudar com Cordé. Dormé a vestiu com um dos vestidos
favoritos de Padmé, uma roupa interna azul-marinho com uma túnica verde-
mar com babados por cima e um largo cinto marinho para amarrar todas as
peças. Parecia elaborado, mas como a maioria dos vestidos senatoriais de
Padmé, era fácil de mudar. Padmé amarrou as suas botas de cano alto,
sorrindo ao pensar em Sabé enquanto o fazia, e Cordé calçou um par de
sapatos baixos que pareciam decorativos, mas foi micro ajustado em seus
pés para que ela pudesse correr ou até mesmo dar um chute circular em
alguém se ela precisasse. Por último, Dormé fez com que Padmé sentasse
ao lado de Cordé como referência para a maquiagem.
— Mais duas ou três vezes e eu terei conseguido. — prometeu ela. —
Mas primeiro quero ter certeza de que está perfeito.
— Entendo. — disse Padmé, e deixou a artista fazer seu trabalho.
Padmé só tinha visto Sabé no rosto da rainha, e era um pouco enervante
ver alguém recriar a sua aparência usando apenas cosméticos normais, mas
foi exatamente o que Dormé fez. O formato do rosto de Cordé até pareceu
mudar conforme as linhas de contorno chamavam a atenção para as partes
dela que mais se pareciam com Padmé. Não enganaria uma varredura de
características cranianas, é claro, mas a olho nu, elas agora eram
intercambiáveis.
— E um pouco pra você. — disse Dormé, chegando até Padmé com um
pincel. — Caso alguém pense que se parece muito com a senadora
Amidala.
Demorou muito menos para fazer o rosto de Padmé e então se
levantaram para que Dormé pudesse conduzir a sua verificação final da
aparência delas.
— É incrível. — disse Mariek à sobrinha e Versé assentiu.
— Obrigada. — respondeu Dormé com um sorriso travesso.
Elas voltaram para a sala principal da suíte onde o NON-3 e o Sargento
Typho estavam se encarando.
— Senadora. — disse o NON-3 naquele tom estranho de paciência
excessiva. Ele olhou direto para Cordé quando falou. — Lembro a você que
está programada para uma visita aos níveis inferiores do prédio do Senado
hoje. Neste passeio...
— Sim, eu sei — interrompeu Cordé. Até mesmo a sua imitação da
irritação de Padmé era perfeita. — Estou pronta pra ir agora.
NON-3 olhou para ela com fotorreceptores que não piscavam em vez de
olhos e então se virou sem dizer uma palavra para levar a Senadora
Amidala e a sua aia para o transporte que os esperava.
— Veremos quando voltar. — disse Mariek. — Com isso quero dizer
que Typho a seguirá até o Senado e deve chamá-lo se precisar de reforço.
O Senado se orgulhava de ter a sua própria guarda, que Padmé poderia
chamar se precisasse, mas sabia que um amigo de confiança valia ainda
mais do que isso. Ela olhou para Typho, que lhe deu um pequeno aceno de
encorajamento.
— Boa sorte, Senadora Amidala. — disse Dormé.
Versé já estava sentada em um console, com os seus dedos digitando o
mais rápido que podiam. Padmé sabia que estaria definindo a identidade da
quarta aia que Amidala trouxera com ela. Elas haviam deixado o verbete
vazio por semanas, sem saber a melhor forma de empregar o documento em
branco, mas agora Padmé teria que ter autorização para entrar no Senado,
então era hora de preencher as lacunas. Sabia que, quando chegassem,
Versé teria construído um perfil perfeito. Afinal, conteria principalmente a
verdade.
A Senadora Amidala embarcou no transporte aéreo aberto e Padmé a
seguiu. O NON-3 subiu e pressionou um painel de notificação que sinalizou
ao motorista droide que era hora de ir. Nem Mariek nem Typho gostaram do
fato de os motoristas de Amidala serem fornecidos pelo Senado. Teriam
preferido fazer isso sozinhos, ou pelo menos fornecer o seu próprio
motorista. O protocolo do Senado era uma fortaleza que Padmé ainda
estava aprendendo a sitiar, mas já conhecia o suficiente para saber que
precisava escolher as suas batalhas. Os motoristas do Senado serviriam por
enquanto, e Padmé ganharia outra coisa mais tarde, como resultado de sua
paciência, embora o que, exatamente, não sabia dizer.
O transporte juntou-se ao fluxo do tráfego de Coruscant. O vento e o
zumbido de mil motores impediram qualquer conversa, então Padmé olhou
para a vista da cidade. Era totalmente diferente de Naboo. Padmé sentia
falta de árvores, água e canto dos pássaros. Ela não tinha descido para os
níveis mais baixos da cidade ainda, mas ouviu que eram em sua maioria
lugares escuros e perigosos. Parecia injusto que uma cidade em todo o
planeta destinada a servir como um símbolo para o resto da República
Galáctica tivesse esse tipo de ponto fraco, mas Padmé ainda não sabia o
suficiente sobre como Coruscant funcionava para decifrá-lo completamente.
Padmé se virou para olhar para o Templo Jedi, com a sua mão indo para
o colar sem a direção de sua mente. Era um prédio grande que era visível de
seu apartamento. Muitos dos novos senadores que conheceu foram vê-lo
assim que puderam depois de chegar ao planeta. Claro que havia partes
privadas, mas também havia partes do templo que os Jedi permitiam que os
visitantes vissem. Padmé não tinha ido. Ao contrário da maioria de seus
colegas, já havia conhecido vários Jedi e achou os seus modos
perturbadores. Talvez se o Mestre Qui-Gon estivesse vivo, se sentisse
diferente. Certamente ficaria feliz em chamá-lo de amigo e teria esperanças
de tratá-lo como um aliado. O relacionamento deles tinha sido estranho: ela
não o enganou nem por um momento, mas permitiu que continuasse a
enganar a todos, o que apreciava, pois ajudava a preservar a sua própria
vida. Sabia que não era a única pessoa em Naboo que acendeu um incenso a
ele no memorial anual para aqueles que haviam morrido em defesa do
planeta.
Ela afastou os pensamentos sobre o templo e se concentrou em seu
objetivo: o prédio do Senado. Cordé segurava os braços da cadeira com um
pouco mais de força do que o necessário, um sinal claro de que estava
nervosa, mas o seu rosto permaneceu imóvel e calmo. A máscara de
Amidala estava no lugar. Padmé só tinha que se certificar de que não
colocou a dela por acidente.
O transporte atracou em uma porta desconhecida, mas o NON-3 não
hesitou antes de conduzi-los em direção a ela. O droide apertou um botão e
a porta se abriu. Amidala e Padmé escanearam as suas identidades no
caminho e entraram no prédio sem problemas.
Os problemas começaram assim que entraram.
— Isso não está certo. — disse Padmé.
O corredor estava escuro, nem mesmo se iluminaram quando as
credenciais de Amidala foram reconhecidas. Tanto a senadora quanto a aia
permaneceram perto da parede enquanto o NON-3 caminhava pelo meio do
corredor como se nada estivesse errado.
— Nonnie. — disse Cordé o mais baixinho que conseguiu com a sua
voz de Amidala. — Nonnie, volte.
— Senadora, vamos nos atrasar. — O droide definitivamente estava
murmurando agora. Seus padrões de fala eram quase irreconhecíveis.
— Não gosto disso. — disse Padmé. Desejou estar com a pistola real,
mas armas eram restritas no prédio do Senado, então as duas haviam
deixado os blasters em casa.
— Está vindo alguém. — disse Cordé. Ela respirou fundo várias vezes,
e Padmé sabia que ela estava se preparando para vários resultados
diferentes. Padmé deslizou o farol que alertaria Typho sobre o seu paradeiro
para a palma da sua mão.
— O quê vocês estão fazendo aqui em baixo? — A pergunta foi lançada
pouco antes da figura que falou sair das sombras, e Padmé levou um
momento para identificar a voz.
— Senador Organa. — disse Cordé, com a máscara de Amidala ainda
firmemente colocada. Eles, ou melhor, ele e Padmé, se conheceram
brevemente em um dos jantares de boas-vindas. Cordé reagiu sem perder o
ritmo. — Me desculpe. O meu droide de protocolo me disse que era
esperada aqui.
O Senador Organa tinha quase dois metros de altura e cabelos
elegantemente penteados. Parecia severo agora que se juntou a elas na luz
fraca do corredor, mas a coisa mais dramática sobre ele era a aparência
pesada da capa que pendia de seus ombros.
— Senadora Amidala, correto? — perguntou Organa, e então continuou
com o aceno de Cordé. — A única coisa esperada aqui é uma equipe de
droides de demolição. Esta seção deve ser refeita. Estava na programação
do dia.
Cordé ficou momentaneamente perturbada, embora nada disso
aparecesse o suficiente para que Organa pudesse ver. Padmé leu a
programação do dia, e nenhuma menção à demolição foi feita. O droide
quebrou o silêncio constrangedor.
— Senadora. — disse NON-3. — Lembro a você que está programada
uma visita aos níveis inferiores do prédio do Senado hoje. Em...
— Chega, Nonnie — esbravejou Cordé. O droide parou de falar
imediatamente.
— Esse droide não está funcionando direito. — disse Organa.
— Estou ciente. — informou Cordé. — Enviei várias requisições para
conserto e todas foram devolvidas para mim, garantindo que o droide está
bem.
— Deixe-me enviar uma. — Organa tirou um datapad de um bolso sob
a sua capa e digitou algo rapidamente.
— Senadora. — disse o NON-3. — Fui designado para manutenção. Eu
devo fazer a entrada imediatamente. Você pode achar o caminho pra casa
daqui?
— Vou levar a senadora embora. — respondeu Organa.
Padmé estava feliz por Cordé estar em seu lugar. Cordé se destacou em
permanecer no personagem, e com o rosto coberto, Padmé se permitiu
ferver por um momento em face da maneira desdenhosa do Senador
Organa.
— Obrigada, Senador. — disse Cordé.
— Estou feliz por ter encontrado você antes das implosões começarem.
— disse Organa secamente. — Você nunca teria saído de lá com vida.
Cordé não disse nada, o que Padmé supôs que Organa interpretou como
um agradecimento de reconhecimento. Padmé tinha várias dúzias de
perguntas, mas não podia fazer em sua posição atual. Em vez disso, ela teve
que se contentar em seguir os dois de volta para fora da porta. Organa
observou Cordé embarcar no transporte e depois se virou quando Padmé se
acomodou ao lado dela. Elas seguiram de volta para a residência senatorial
em completo silêncio e o motorista droide não se demorou depois que as
deixou.
— Não demorou muito. — disse Mariek quando as encontrou na
plataforma. — Onde está aquele maldito droide?
— Lá dentro. — disse Padmé. — Agora.
O mais rápido que pode, Padmé contou os eventos para os outros. O
rosto de Typho ficou cada vez mais sombrio enquanto ela falava, mas
ninguém mais reagiu até terminar.
— Por que haveria um atentado contra a sua vida agora? — perguntou
Versé. — Por favor, não leve a mal, mas você não fez nada no Senado ainda
e, nesta fase, a acusação de Gunray avançaria sem você.
— A morte de uma senadora por causa de sua própria tolice pode ser
usada de várias maneiras. — disse Padmé. — Para desacreditar Naboo,
talvez até desacreditar o Chanceler, porque ele era a favor da minha
nomeação.
— Não faz sentido. — disse Versé. — Mesmo que a Federação do
Comércio seja tão mesquinha. A sua morte chamaria mais atenção e você
acharia que gostariam de menos.
— Acho que ninguém sabe realmente o que Nute Gunray quer. — disse
Mariek.
— Há uma vantagem. — disse Cordé. Ela estava puxando o fio de cobre
para soltar a tiara.
— Hã? — disse Dormé mal-humorada. Ela pegou a tiara e a colocou de
volta em seu lugar na penteadeira.
— O motorista droide nem olhou pra você. — disse Cordé a Padmé. —
Organa poderia muito bem estar falando com uma pessoa.
— Uma pessoa que agora acha que é uma senadora incapaz de ler a sua
própria programação ou controlar o seu próprio droide! — fumegou Dormé.
— Certamente não rendeu a Amidala nenhum ponto com ele. — disse
Padmé. — E ele é uma voz poderosa no Senado.
— Você pode tentar de novo. — disse Typho. — Sei que pode
conquistá-lo se precisar.
— Obrigada, Sargento. — disse Padmé. Ela franziu a testa. — Há uma
coisa que gostaria muito de saber.
— Quem reprogramou o nosso droide de protocolo para que tentasse
organizar a sua morte? — perguntou Versé. Ela começou a tirar os grampos
do cabelo de Cordé, alisando-os onde a tiara o tinha feito sobressair em
tufos. Se houvesse alguma dúvida sobre a sua lealdade, Padmé dispensou a
todos agora. Cada uma de suas novas aias estava furiosa, à sua maneira, e
pronta pra uma luta.
— Bem, sim, é isso. — respondeu Padmé. Ela tinha um olhar distante
que sabia que todos reconheceram. Amidala estava profundamente
envolvida na política agora. — Mas o mais importante: o que Organa estava
fazendo lá também?
As consequências do mau funcionamento bizarro do NON-3
impressionaram imediatamente. Na manhã seguinte, haviam vários artigos
nao holonotícias sobre como a jovem senadora Amidala, que era novata em
Coruscant, quase tinha se matado por não ler as instruções. O primeiro
relatório, escrito de uma fonte de notícias respeitada, mencionou o droide
defeituoso no parágrafo final da história, mas nenhuma dos holos mais
sensacionais o fez. Então quando a Senadora Amidala entrou no Senado
para a sua primeira sessão oficial, havia uma nuvem de curiosidade.
— E aparente incompetência. — Padmé bateu o datapad ofensivo em
sua nova mesa.
— Ninguém está dizendo isso. — ressaltou Cordé.
— Ninguém está francamente dizendo isso. — corrigiu Dormé. —
Todos estão chegando perto.
Versé permaneceu na residência para ler todos os artigos à medida que
eram publicados. Estava fazendo uma análise de texto para ver se conseguia
identificar um único autor, entre outras coisas, mas ela tinha conseguido
nada ainda.
— Pelo menos o Senador Organa não foi entrevistado. — disse Cordé.
— Nem foi mencionado.
— E a sua misteriosa aia está listada apenas como assessora. —
acrescentou Mariek. Estava vestida com uma versão modificada do
uniforme de Naboo hoje, já que o chapéu que fornecia proteção contra o sol
e possíveis detritos era desnecessário para o plenário do Senado.
— Isso não esclarece quem é a fonte. — disse Dormé.
— Não há nada que possamos fazer sobre isso, suponho. — disse
Padmé. — Apenas terei que ir lá e tentar não parecer idiota. Talvez todos se
lembrem de mim como a jovem rainha que destituiu o Chanceler Valorum.
— Esse é o espírito. — disse Mariek. — Agora venha e sente-se aqui
para que Dormé possa arrumar o seu cabelo.
Padmé andou um pouco zangada depois de chegar ao escritório e
sacudiu alguns dos alfinetes de Dormé. Elas haviam escolhido vestir
Amidala o mais formalmente possível para a sua primeira aparição oficial.
Não queriam apresentar nada da imagem da jovem em quem os holos de
notícias pareciam ter se fixado. Padmé usava um sobretudo grosso com
brocado roxo, com violetas bordadas à mão ao longo da bainha e punhos. A
túnica que vestia por baixo também era violeta, com uma gola que tornava
quase impossível virar a cabeça. Dormé havia trançado o seu cabelo em
quatro seções, duas para soltar nas costas, enroladas em uma fita roxa, e
duas para serem presas nas laterais de sua cabeça, apoiando a faixa de cobre
batida.
— Sinto que o meu crânio está exposto. — disse Padmé enquanto
Dormé endireitava a peça de cobre e prendia mais grampos em seu cabelo
errante.
— Vai pegar a luz, eu acho. — disse Dormé. — Qualquer pessoa que
olhar para o seu pod verá você.
— E há pelo menos quatro representantes que realmente terão os seus
crânios expostos. — destacou Cordé.
— Obrigada. — disse Padmé secamente. Cordé lhe sorriu de volta, sem
nenhum sinal de desculpas. Padmé se endireitou, com a máscara de
Amidala assumindo o seu rosto. Embora a tenha implantado em vários
pontos durante a orientação, esta foi a primeira vez que Padmé usou toda a
sua força para suportar. Todas as suas assistentes se endireitaram,
reafirmando de repente suas diretrizes. — Tudo bem, então. Vamos lá.
O NON-3 ainda não havia sido devolvido a elas, então Padmé fez o seu
próprio caminho do escritório até onde o pod de Naboo estava ancorado.
Havia memorizado a planta, pelas especificações técnicas do prédio, não
pelos passeios inúteis, e não deu voltas erradas, embora todos os corredores
parecessem iguais. Cordé e Dormé caminhavam atrás dela, vestidas de um
cinza sóbrio com capuzes cobrindo o rosto, e Mariek vinha por último. Ela
não estava visivelmente armada, mas Padmé a conhecia melhor do que isso.
Padmé suprimiu uma onda de vertigem quando ela deu um passo para a
frente no seu pod e se sentou. A sala do Senado era quase
incompreensivelmente grande e estava cheia do que parecia ser um número
incontável de espécies, todas servindo como membros da República
Galáctica. Isso a fez se sentir pequena de uma forma que ela não gostou.
Seria muito, muito difícil ouvir uma única voz, mesmo que todos seguissem
as regras do protocolo. No entanto, ela tinha feito isso antes. Ela poderia
fazer isso de novo.
Um carrilhão soou e Padmé olhou pra baixo, onde o Chanceler
Palpatine estava, flanqueado por seus dois assessores.
— Declaro esta sessão aberta. — disse o Chanceler. — O plenário
reconhece o representante de Ithor.
Os Ithorianos não falavam o Básico Galáctico, então Padmé acionou o
seu tradutor. Enquanto o pod do outro senador se destacava da lateral da
câmara e flutuava para circundar o pódio do Chanceler, Padmé observou o
texto rolar pela tela, lendo o mais rápido que pode. Justamente quando
sentiu que estava entendendo a discussão, algo sobre o mapeamento de
rotas do hiperespaço e a sua disseminação, dois oradores novos começaram
a interromper, ambos no Básico. Um era o delegado da Federação do
Comércio, para desgosto de Padmé, e o outro era um homem humano do
setor de Urce. Ambos eram contra o compartilhamento dos mapas, porque
cada um sentia que, separadamente, possuía os direitos sobre eles. A
combinação de gritar e ler a tradução foi um desafio de acompanhar, e no
final de cinco minutos do que Padmé poderia apenas descrever como um
bate-boca, o Chanceler Palpatine anunciou a votação.
A Senadora Amidala teve apenas alguns minutos para decidir. Sabia que
tinha preconceito contra a Federação do Comércio, mas tentou pensar em
seus termos por um breve momento enquanto fazia a sua consideração. A
rota através do Aglomerado de Plooriodo Menor foi parcialmente mapeada
pela Federação do Comércio, mas a maior parte do trabalho foi feito pelos
Ithorianos. Os humanos no setor de Urce tinham uma reivindicação apenas
para a parte da rota em seu próprio espaço, mas em conjunto com a
reivindicação da Federação do Comércio, eles poderiam bloquear os
Ithorianos em um canto, e Padmé se lembrava muito bem de como isso
poderia terminar. No final das contas, ela ficou do lado dos Ithorianos. Era
o sistema deles, afinal, e usavam as linhas antes que a Federação do
Comércio alegasse tê-las mapeado. Naboo cometeu o erro de deslocar a
população nativa de seu planeta, para a sua eterna vergonha, e Padmé estava
determinada a não participar de tais ações novamente. Ela votou a favor da
moção.
— A moção não foi acatada. — anunciou Palpatine um momento depois
que ela pressionou a sua seleção. — A presidência reconhece o membro de
Chandrila.
Uma mulher humana magra e ruiva começou a falar e Padmé não teve
tempo de pensar na votação fracassada. Ela tinha que passar para a nova.
Parecia que durou horas. Moções foram levantadas e passadas a vários
comitês, ou foram votadas. Mesmo que tivesse feito a leitura de fundo,
Padmé sentia que as decisões, todas estagnadas, eram feitas antes de cavar
no cerne de qualquer questão em particular. Várias propostas que Padmé
pensava que eram boas falharam, e outras mais foram devolvidas à mesa de
negociação, só que ela não sabia quando ou onde essa negociação ocorria.
Por fim, o sino soou novamente e o Chanceler Palpatine encerrou as
deliberações.
Padmé afundou na cadeira, tanto quanto o seu vestido permitia, e tentou
não se sentir derrotada. Não se admirou que a senadora anterior tenha
renunciado. Cordé tossiu três vezes atrás dela e Padmé endireitou-se ao
sinal antes que um dos droides câmera voasse sobre a borda de seu pod e
focalizasse o fotorreceptor em seu rosto. Com a máscara de Amidala no
lugar, Padmé se levantou graciosamente de seu assento e conduziu as suas
assistentes para fora da assembleia. Esperava que a câmera tivesse
conseguido o que queria.
— Bem, isso foi intenso. — disse alguém ao lado dela. Outro jovem
senador estava lá. Ela tentou lembrar o nome dele.
— De fato, Senador Clovis. — disse ela.
Ele se iluminou.
— Você se lembra de mim! — exclamou ele.
Padmé não disse que era óbvio que se lembrava dele. Havia apenas oito
deles no grupo de orientação. Amidala não disse nada e o rosto de Clovis se
abateu consideravelmente.
— Há uma festa de recepção para os novos senadores e alguns
convidados. O Chanceler Palpatine é o anfitrião. — disse ele. — Todos nós
recebemos notificações na conclusão da sessão por meio de nossos NONs,
mas o seu ainda está desativado, então achei que deveria mencionar.
— Obrigada, Senador. — disse Amidala. Mariek soltou um suspiro,
indicando que havia concluído a verificação da identidade e das palavras de
Clovis. Amidala relaxou um pouco a máscara. — Você caminharia comigo?
Clovis pareceu muito feliz em fazer isso.
Ele falava incessantemente enquanto caminhavam, principalmente sobre
o seu próprio planeta, Scipio, e como tudo sobre Coruscant era opressor.
Padmé concordou com ele em particular, mas nunca seria tola o suficiente
para dizer as palavras em voz alta, então manteve o rosto neutro.
— Mas suponho que já saiba tudo sobre isso. — concluiu Clovis.
Padmé o encarou firmemente e, como ela esperava, ele se atrapalhou. —
Quero dizer, por causa dos holos. Não que ache que não seja qualificada, é
claro. Só nova. Como eu. Vamos aprender. Talvez possamos aprender
juntos.
Padmé desejou que Sabé estivesse com ela. Não precisaria de contato
visual para ver o olhar sarcástico em seu rosto. Padmé teve que se contentar
em imaginar.
— Imagino que aprenderemos em breve. — disse Amidala. Isso pareceu
agradar Clovis por algum motivo.
Eles alcançaram a porta. Estava guardada por duas figuras com mantos
vermelhos e mascaradas, indicando que o Chanceler estava de fato lá
dentro. Os novos guardas eram intimidantes, muito longe dos guardas
senatoriais que conheceu em sua viagem anterior a Coruscant. Ela se
lembrava vagamente de ouvir que Palpatine havia criado a sua própria força
de segurança, mas não imaginava que seriam tão radicais. Clovis entrou
alegremente, sem uma comitiva, e Padmé conduziu o seu próprio pessoal
pela sala atrás dele. Ela inspirou fundo, segurou por três segundos e depois
soltou. Ela daria conta.
— Veja se consegue encontrar algo para comermos — disse ela à Cordé.
— E lembre-me de comer mais antes da próxima sessão.
Cordé se misturou à multidão. Mariek a seguiu a uma distância
respeitosa, mas Dormé grudou ao lado de Padmé como cola. Clovis,
felizmente, havia desaparecido.
— Ah, Senadora Amidala, seja bem-vinda. — A voz estrondosa do
Chanceler Palpatine atraiu a atenção de todos ao alcance da voz.
— Chanceler. — disse ela agradavelmente.
— Fiquei muito satisfeito por você ter concordado com a indicação da
Rainha Réillata. — continuou Palpatine. Padmé se concentrou nele,
sabendo que Dormé estaria silenciosamente catalogando todos em sua
órbita.
— É uma grande honra servir a Naboo e servir a República. — disse
Amidala.
— De fato. — disse Palpatine. — Venha, deixe-me apresentá-la.
Seria um pouco como ser mostrada na feira anual de gado no verão em
Theed, pensou Amidala. Mas preferia ter a aprovação de Palpatine do que
ficar à mercê de quem lera os jornais, então se preparou e fez menção de
segui-lo. Um dos assessores dele se materializou ao lado deles depois de
apenas três passos e sussurrou no ouvido dele.
— Sinto muito, minha querida. — disse Palpatine. — Devo ir e cuidar
disso. Você sabe como é. Mas a deixo na boa companhia da Senadora Mina
Bonteri.
E ele se foi, deixando Padmé no meio da sala com uma mulher a quem
mal tinha sido devidamente apresentada, e com todos os olhos nela.
— Senadora Bonteri. — disse ela. — Prazer em conhecê-la.
— O prazer é meu, Senadora. — disse a mulher. — Você caminharia
comigo?
Amidala segurou o braço oferecido, o que forçou Dormé a recuar meio
passo, ainda bem ao alcance da voz, e caminhou. Foi muito menos
estressante do que teria sido caminhar com Palpatine.
— Você se saiu bem hoje. — disse Bonteri após um momento.
— Como você saberia? — perguntou Padmé, deixando a sua máscara
cair um pouco. Se Bonteri tentasse ser útil, Padmé iria incentivá-la a fazê-
lo.
— Você ainda está de pé. — disse Bonteri. — Não está atacando as
mesas do buffet. Ainda não começou a beber. E ainda pode lidar com uma
conversa com o Chanceler.
— Suponho então que, se isso for suficiente, sou bastante adequada para
a vida senatorial. — disse Padmé.
— Ah, aí estão os dentes dela. — disse Bonteri. — Você fez um
trabalho tão bom em seu papel, estava começando a me perguntar que tipo
de pessoa estava dentro daquele vestido.
— Em Naboo, o papel e a política são a mesma coisa. — disse Padmé a
ela. — Isso ajuda muito a preservar a fé no governo. Acho que devo estar
aberta a diferentes metodologias.
— Bem. — disse Bonteri. — Ninguém tem fé na República, então é um
bom lugar pra começar.
— Eu tenho fé na República. — disse Padmé automaticamente. E era
verdade. Mesmo depois daquela sessão horrível, ela tinha.
Bonteri olhou pra ela, procurando por algo que Padmé não tinha certeza.
Fosse o que fosse, Bonteri não pareceu muito desapontada quando não
encontrou.
— Senadora Amidala, acho que vai fazer tudo certo aqui. — disse ela.
Ela parecia sincera. — Mas vou lhe contar um segredo: você pode fazer
todas as leituras que quiser, acreditar em todas as verdades que acha que a
galáxia tem a oferecer, mas o verdadeiro trabalho do Senado é feito em
festas como essa. Um voto de consciência é uma coisa maravilhosa, mas os
aliados são muito melhores.
— Quem se aliaria a mim? — perguntou Padmé. — Sou tão tola que
sigo o meu próprio droide com defeito até a morte.
— Não há nada para se preocupar. — disse Bonteri. — Quero dizer,
você definitivamente deve descobrir quem tentou matá-la, mas os jornais
são irrelevantes.
Padmé não disse nada, mas não conseguiu reprimir uma fungada
incrédula.
— Sei que isso fere o seu orgulho. — disse Bonteri. — Mas todo mundo
estaria olhando pra você de qualquer maneira. Todos nós nos lembramos de
seu discurso e de como as suas palavras foram suficientes para destituir um
chanceler. Todos já ouvimos a Federação do Comércio alegar que você é
uma mentirosa mesmo diante das evidências francamente surpreendentes de
que não é. Todos sabemos que Palpatine gosta de você. Nós apenas não
temos certeza se você é alguém com quem queremos trabalhar.
— Você tem um “nós” em mente? — perguntou Padmé. — Ou você
está falando de todo o Senado?
— Gosto de como você vai direto ao ponto. — respondeu Bonteri. —
Todos temos as nossas pequenas facções. Às vezes há sobreposição e às
vezes não. Você terá que descobrir essa parte por conta própria.
— Estou trabalhando nisso. — disse Padmé.
Bonteri parou no meio de um passo e olhou por cima do ombro
diretamente para o rosto de Dormé. O rosto de Dormé estava educadamente
sem expressão e Bonteri riu.
— Aposto que sim. — disse ela. Ela pegou a outra mão de Padmé para
que ficassem de frente uma para a outra. Padmé se perguntou como Mariek
conseguiu se conter para não interferir. Isso era muito mais prático do que
qualquer pessoa normalmente conseguia.
— As redes de notícias foram atrás de você porque era uma história
fácil. — disse Bonteri. — O que não é o mesmo que um alvo fácil, então
não se preocupe. As pessoas já te conhecem. Você já tem uma boa
reputação. Você já fez metade do trabalho e eles estão mais do que felizes
em completar a segunda metade, mesmo que não tenha qualquer base na
realidade.
— Como faço para combater isso? — perguntou Padmé.
— Você não consegue. — respondeu Bonteri. — Não diretamente, pelo
menos. Você vem trabalhar e faz o seu trabalho e tenta não dar a eles nada
para sensacionalizar. Vão te sensacionalizar de qualquer maneira, é claro,
mas então simplesmente os ignore.
— Obrigada. — disse Padmé. — Não esperava receber conselhos tão
úteis de alguém, para ser honesta.
— A orientação traz à tona o que há de pior em todos nós, eu acho. Não
somos tão ruins quando nos conhece. — disse Bonteri. Ela olhou à frente na
multidão e viu alguém que estava procurando. Mudou de direção, puxando
Padmé junto com ela. — Ah, Senador Organa, permita-me apresentar a
Senadora Amidala.
— É um prazer. — disse Organa, sem dar nenhuma indicação de que já
haviam se cruzado antes, mesmo que brevemente naquele jantar. — Bem-
vinda a Coruscant.
Bem-vinda a Coruscant, de fato.
A reunião se arrastou por mais uma hora. Bonteri a apresentou ainda a
mais senadores, até que se tornaram uma confusão de rostos e nomes.
Padmé esperava que Dormé e Cordé pudessem ajudá-la a preencher as
lacunas de sua memória. A maioria dos senadores foi tão polidamente
imparcial quanto o Senador Organa tinha sido. Alguns estavam abertamente
curiosos sobre ela, pelo bem da novidade. Tudo isso era preferível ao que
aconteceu quando Padmé conheceu a senadora de Targappia, uma mulher
humanoide de quase 2,5 metros de altura, com dedos palmados e cabelos
iridescentes.
— Ah, Senadora Amidala. — disse ela. A sua voz era cadenciada e
musical, mas havia uma nota atonal sob as suas palavras que mais do que
carregava o seu desdém pela presença de Padmé. — É tão maravilhoso
finalmente conhecê-la pessoalmente depois de ler tanto sobre você nas
redes de notícias.
Padmé assentiu com a cabeça educadamente, é claro, já compondo listas
de senadores pra evitar, com base naqueles que riram das observações da
Targappiana.
Por fim, acompanhou Mariek até o transporte e em pouco tempo todas
foram devolvidas ao abençoado silêncio da residência senatorial, onde
Versé as esperava.
— Então. — disse ela. — Foi tão ruim assim, hein?
— Mais tarde. — disse Mariek. — Dê à senadora um tempo pra
descansar.
— Não. — disse Padmé. — Mais tarde não. Nós quatro precisamos
discutir algumas coisas.
— Podemos conversar enquanto guardamos o vestido. — disse Cordé.
— Vamos.
Enquanto Dormé puxava alfinetes e fitas de seu cabelo e começava a
escová-lo e Cordé devolvia o vestido roxo ao seu lugar no guarda-roupa, as
três contaram os acontecimentos do dia para Versé, que obedientemente
registrou cada palavra.
— Não fiz nenhum progresso do meu lado. — disse Versé. — Embora
solicite que me prometa que nunca vai ler os editoriais do TriNebulon
Notícias. Ou em qualquer lugar, na verdade.
— Não acho que terei tempo pra isso. — disse Padmé. — Mas prometo.
— O que vamos fazer? — perguntou Cordé. Ela se sentou ao pé da
cama de Padmé e Versé guardou a sua mesa portátil.
Padmé se virou e olhou para as três.
— Nós sabíamos que a política senatorial seria diferente. — disse ela.
— Mas não acho que nenhuma de nós realmente apreciou quanta diferença
haveria até hoje.
— Mal consegui acompanhar e fiz toda a leitura preparatória. — disse
Cordé. — Embora a festa tenha sido um pouco mais fácil de manter o
controle.
— Foi isso que a Senadora Bonteri me disse. — disse Padmé. — Que o
verdadeiro trabalho era feito nos eventos, não no plenário.
Dormé fez uma careta ao perceber o que Padmé pretendia fazer. Um
sino suave soou e Versé ergueu os olhos.
— É a sua programação para amanhã. — relatou ela.
— Estremeço só de pensar nisso. — disse Padmé. Ela fez uma pausa e
então continuou: — As forças que cultivei para ser a rainha de um planeta
vão me fazer tropeçar como senadora.
— Nem todas elas. — disse Cordé com lealdade.
— Mas algumas delas. — A lealdade de Dormé era caracteristicamente
contundente.
— Não posso estar tão distante. — disse Padmé. — Não posso confiar
na fé das pessoas na tradição. Tenho que ser mais acessível aos meus
colegas.
— Você não tinha exatamente colegas como rainha. — Versé abriu um
novo perfil pessoal, projetando a imagem para que todos pudessem ver. —
Então suponho que seja o lugar mais fácil para começar. É uma adição, não
uma substituição.
— Podemos retrabalhar a persona Amidala a partir daí. — concordou
Padmé. — Como interage com os seus colegas senadores e como as aias
operam também.
— Estava pensando em novos protocolos enquanto vagava pela festa.
— admitiu Cordé.
— E posso dizer o que deve evitar. — acrescentou Versé.
— Suponho que não podemos simplesmente queimar todo o Senado e
começar de novo com um sistema que faça sentido? — perguntou Dormé.
— Tenho quase certeza de que isso seria traição. — disse Padmé. —
Vamos ter que trabalhar com o que já temos.
Sabé nunca desejou tanto a profunda calma de um lago de Naboo quanto
neste momento particular. Por seis semanas tinha sido Tsabin, uma nova
residente de Mos Espa, um dos espaçoportos que pontilhava a superfície de
Tatooine, com o seu parceiro Tonra, sendo um nome que não parecia ser de
Naboo, o suficiente para passar. Depois dos sóis implacáveis e do vento
implacável e da areia implacável do planeta deserto, ansiava por voltar pra
casa. Tudo o que havia planejado fazer em Tatooine tinha dado errado quase
assim que pousou, e estava lutando para corrigir o seu curso desde então,
com pouco sucesso.
Os criminosos locais não confiavam nela porque era muito nova.
Quando percebeu, tarde demais, que Tatooine tinha um movimento de
libertação emergente, eles não confiavam mais nela porque esteve tentando
se aproximar dos criminosos. Apenas os comerciantes falavam com ela, e
Sabé os achava odiosos demais para suportar. O lado positivo de todo o
desastre foi que o Capitão Tonra acabou se revelando um companheiro de
vida decente. Suspeitava que era porque queria que gostasse dele e, na
maior parte do tempo, estava funcionando.
Eles tinham uma pequena casa em uma das inúmeras ruas laterais de
Mos Espa. Era apertada, desconfortável e não inteiramente sólida. Em seus
momentos mais sombrios, Sabé acalmava o seu orgulho ferido lembrando-
se de que não ficaria presa em Tatooine para sempre. Isso servia
basicamente para cutucar a sua consciência ainda mais: havia muitos que
não tinham essa escolha.
Eram essas pessoas que viera ajudar e era com essas pessoas que, na
maior parte, tinha fracassado.
A porta se abriu e Tonra entrou. Estava vestido indefinidamente, como
ela, mas carregava uma mochila.
— Está na hora. — disse ele.
Sabé respirou fundo, evocando a personalidade de Tsabin, e o seguiu
para a luz do sol escaldante. Gostaria de ter mais tempo para se recuperar
do leilão em que Tonra conseguiu entrar, mas esse era um pensamento
egoísta também: sentia apenas fúria e frustração. Havia muito mais em
jogo.
Foi uma caminhada rápida até o espaçoporto, onde o seu cargueiro
secundário estava estacionado. Esperando por eles próximo à rampa estava
a carga comprada.
Eles ainda estavam acorrentados.
Sabé pensou que poderia virar uma supernova com raiva, dando a
Tatooine outro sol. A raiva a percorreu, passando através de si mesma,
desse sistema abominável, de tudo.
— Faça os procedimentos de pré-voo. — disse Tonra, com as mãos em
seus ombros. Ele a deixou ver a sua própria fúria, queimando não menos
intensamente que a dela, mas canalizada em uma direção diferente. — Vou
cuidar deles.
A supervisora pressionou o anel de controle nas mãos dela e foi
inteligente o suficiente para não dizer nada. Quase fugiu pela rampa para a
cabine do piloto, incapaz de enfrentar as pessoas que permaneceram em
silêncio na plataforma.
Feitas as verificações, Sabé rangeu os dentes enquanto observava o
visor, enquanto Tonra empurrava os últimos passageiros pela rampa, para
dentro do transporte. A maioria deles estava com medo, e ela não podia
culpá-los, mas ela não estava com humor para ser gentil no momento. Tonra
era bom nesse tipo de coisa, então ela o deixou sozinho enquanto conferia
três vezes suas provisões e o mapa de sua rota.
Vinte e cinco almas. Isso foi tudo que ela conseguiu salvar. Era melhor
do que nada, mas ainda estava longe de ser o suficiente e isso a corroía. Eles
só seriam substituídos por mais vinte e cinco.
A economia de Tatooine era estranha, movida à água e ao crime, sendo
este último muito mais lucrativo. O controle ferrenho dos Hutts sobre o
contrabando e o tráfico era impossível para duas pessoas, ambas novas no
planeta, superar.
— Todo mundo está ajeitado. — disse Tonra, acomodando-se na cadeira
do copiloto. — Estamos prontos para ir?
— Quase. — respondeu Sabé. Teria sido mais fácil se eles tivessem
outro piloto para fazer essa corrida em vez de fazerem eles mesmos, mas o
cargueiro que eles estavam usando não era nada notável e não havia
ninguém em quem eles pudessem confiar ou que confiasse neles.
O cargueiro decolou e saiu da atmosfera de Tatooine. Uma vez que eles
estavam no vazio do espaço, Sabé definiu as coordenadas de um planeta no
setor Chommell. Karlinus era quase tão rico quanto o próprio Naboo e
estava sempre procurando contratar trabalhadores agrícolas. Uma ou duas
temporadas com um salário justo e as pessoas que eles "resgataram"
poderiam ir para onde quisessem.
— Estou enviando uma mensagem para Yané. — disse Sabé. — Ela vai
nos encontrar lá e cuidar daqueles malditos chips de rastreamento que eles
foram forçados a carregar.
Estava carregando o anel de controle em seu cinto, e parecia que isso a
estava queimando. O computador de navegação indicou que os seus
cálculos estavam completos. Tonra abriu o comunicador para fazer um
anúncio em toda a nave.
— Estamos prestes a ir para o hiperespaço. — disse ele. — Por favor,
preparem-se.
Sabé contou até vinte e cinco, um segundo para cada alma recém-
libertada a bordo, e então deu o salto.

A governadora de Karlinus era uma jovem baixinha de pele quente e


castanho dourado, cujo rosto redondo era emoldurado por cabelos grossos
que encaracolavam com a umidade e cujo largo sorriso era imediatamente
acolhedor. Ela mesma os encontrou na plataforma de pouso, com uma dúzia
de guardas desarmados. Sabé apreciou o gesto da governadora e ficou ainda
mais satisfeita ao ver Yané no meio da multidão. Seus protegidos eram em
sua maioria adultos, mas havia duas famílias com crianças, uma Rodiana e
uma humana, e Yané seria uma ajuda extra para acomodá-los.
Sabé desceu direto a rampa enquanto Tonra foi até os passageiros do
porão. Yané jogou os braços em volta do pescoço de Sabé assim que ela
estava ao alcance.
— Estou tão feliz em ver você. — disse Yané. — E a Governadora
Kelma disse que você trouxe vinte e cinco pessoas. É um bom dia de
trabalho.
Tinham sido semanas de trabalho, mas o entusiasmo de Yané era
contagiante.
— Nós somos gratos. — disse a Governadora Kelma. Os seus olhos
castanhos endureceram. — Contanto que todos estejam aqui por escolha
própria.
— Isso não foi tanto uma escolha. — disse Sabé. É claro que perguntou,
mas nenhuma das pessoas que realocou tinha para onde ir. — Mas você vai
pagá-los e não vai forçá-los a ficar.
Sabé e Padmé concordaram com Karlinus, porque além de estar no setor
Chommell, era um planeta acostumado a uma alta rotatividade de mão de
obra. Artistas e estudantes vinham de Naboo, passavam uma temporada
monitorando os droides que colhiam chá ou teciam seda e depois voltavam
para casa com créditos suficientes para estabelecer um estúdio ou continuar
os seus estudos fora do mundo. A Governadora Kelma estava em posição
de receber os trabalhadores e pagá-los bem e depois mandá-los embora
assim que pudessem se sustentar. Ao contrário das luas de mineração, que
lutavam para manter o equilíbrio entre as regras de Naboo e sua fidelidade
para cumprir as suas cotas, Karlinus era um lugar onde a prosperidade
começava.
— Posso ir a bordo e falar com eles? — perguntou Kelma.
— Claro. — respondeu Sabé, saindo do caminho para que a
governadora pudesse começar a subir a rampa. — O Capitão Tonra irá
apresentá-la.
— Você não está feliz. — disse Yané quando a governadora saiu. —
Nem um pouco, com o que você fez.
— Na verdade não fizemos nada. — disse Sabé.
— Você tirou vinte e cinco almas da escravidão. — disse Yané.
— Há muitos mais. — disse Sabé. — Em Tatooine, em todo o resto da
Orla Exterior, e tenho certeza de que há mais na República do que qualquer
uma de nós deseja imaginar. Eu simplesmente não entendo como isso
acontece e provavelmente é por isso que não posso ajudar a consertar.
Como uma pessoa pode possuir outra pessoa e viver consigo mesma?
Ela odiava se sentir tão ingênua e indefesa.
— Sabemos que a galáxia pode ser um lugar feio. — disse Yané. —
Você acha que eu não me pergunto o que poderia ter acontecido conosco
naquele acampamento se a rainha não tivesse voltado? A morte é definitiva,
mas pode ser entregue de muitas maneiras terríveis. E você ajudou a parar
isso, mesmo que seja só um pouco.
— Não é o suficiente. — disse Sabé.
— Não. — disse Yané. — Mas você dificilmente vai desistir, não é?
Sabé pensou na casinha apertada em Tatooine, no calor terrível e na
areia que soprava. Ela pensou nos lagos em Naboo e em como sentia falta
dos amigos e da família de lá. Claro que só havia um caminho para ela ir.
A Governadora Kelma desceu a rampa, um braço ao redor de uma
Rodiana e um bebê Rodiano apoiado em seu quadril. Sabé acenou com a
cabeça para a governadora ao passar e então olhou para Tonra. Parecia frio
não deixá-lo nem mesmo tocar o chão perto de casa, mas o seu rosto fazia a
mesma pergunta que Yané fizera, e Sabé sabia a resposta.
Yané beijou a sua bochecha e Sabé voltou para a nave. Tonra colocou a
mão em seu ombro e foi iniciar a sequência de pré-voo. Sabé olhou pela
janela de visualização até depois de saltar para a velocidade da luz e voltar
para Tatooine.

— A Senadora vai entender. — disse Tonra. Ele estava adicionando algo


verde a uma panela de guisado a qual estava mexendo enquanto Sabé estava
verificando a nave. A panela zumbia estranhamente, mas o cheiro que
emanava dela não era totalmente ruim, e Sabé teve que admitir que ficou
moderadamente impressionada. — Você tinha fundos limitados e quase
nenhuma autoridade.
Sempre foi cuidadoso com ela, mas nunca se sentiu condescendente. E
ele estava certo, mas não conseguiu fazê-la se sentir melhor com isso.
— Sei que vai. — disse Sabé. — Isso só piora as coisas.
Tonra assentiu e gentilmente mudou de assunto.
— Como está a nave?
— Está tudo bem. — respondeu ela. — Havia alguns rastros estranhos
na área, mas a nave em si permanecia escondida.
Eles haviam decidido não atracar a sua nave principal no espaçoporto de
Mos Espa, caso precisassem fazer uma fuga rápida e não oficial. Sabé
escolheu um lugar não muito longe de onde pousaram a nave real quando
fugiram para Coruscant quase meia década atrás, embora tenha escolhido
um lugar com melhor cobertura. No fim de tudo, aquela nave era a coisa
mais importante que eles tinham.
Tonra colocou uma tigela fumegante na frente dela e entregou-lhe uma
colher. Sabia que não devia olhar antes de dar uma mordida.
— Alguma mensagem? — perguntou ele, se aprofundando.
— Padmé quer conversar. — respondeu Sabé. — Mandou já tem um
tempo e me pediu para responder se daria certo, então respondi. Vai ser
meio da noite pra ela, mas suponho que esteja ocupada.
— Devemos fazer as malas? — Tonra gesticulou para o seu único
quarto apertado como se fosse um palácio.
— Sinceramente, não consigo pensar em nada que descobri aqui e que
não me importaria de deixar. — respondeu ela.
Contra todo o bom senso, Sabé esperava que voltar depois de seu
percurso para Karlinus mudasse algo, mas não mudou. Não estava
acostumada ao fracasso, mas, pelo menos, ela e Tonra poderiam recomeçar
em uma parte diferente do planeta.
— Não sei. — disse Tonra. — Estou gostando daquele droide rato que
só consegue girar em círculo.
O droide rato tinha vindo com a casa. Sabé tinha feito o possível para
ignorá-lo, mas Tonra não era dado à contemplação do jeito que ela era: ele
tinha que estar fazendo algo com as mãos. Isto era, ela tinha decidido, a sua
qualidade mais irritante, mas era graciosa o suficiente pra admitir que os
silêncios pensativos dela eram provavelmente mais do que um pouco
enervantes, então se equilibrou.
— Você é bem-vindo. — disse Sabé. — Basta mantê-lo longe dos meus
pés.
Passou a tigela pra ele e esperou à mesa enquanto ele terminava de
comer. A comida teve uma melhora marcante desde quando eles chegaram,
mas Sabé não tinha apetite no calor, então comeu o menos possível. Tonra
parecia pouco afetado pelo clima, pelo menos em termos de apetite, e se
Tatooine havia ensinado alguma coisa a Sabé era que estava feliz em dar o
que não precisava para alguém que pudesse querer.
Tonra largou a colher e estendeu o braço sobre a mesa para pegar as
mãos dela. As pessoas não costumavam tocar em Sabé e ela nunca tinha
certeza de como reagir quando o faziam, mas achava que não pular
imediatamente da mesa e adotar uma posição defensiva provavelmente era
um bom começo.
— Você não falhou totalmente aqui, você sabe disso. — disse Tonra. —
Nós conseguimos fazer um pouco de bem.
— Eu sei. — disse ela. — Mas isso significa muito pra Padmé e
significou muito para mim.
— Você fez pelo menos seis novos planos para o que vem a seguir. —
disse Tonra. — Sei que tem.
Ela sorriu.
— São oito, na verdade.
— Viu. — disse ele. — E da próxima vez estaremos mais preparados.
Ele disse nós duas vezes, o que provavelmente significava que não foi
um acidente. Tarefa tola ou não, ele iria segui-la.
— Vou começar a fazer as malas. — disse ela. — Cuidarei do
equipamento que gera as nossas identidades, você decide o que quer revelar.
Não demorou muito para colocar tudo em pacotes ou organizar as coisas
de modo que os catadores os encontrassem sem derrubar o telhado já
precário. Em seguida, eles caminharam para o deserto. Sabé traçou uma
rota tortuosa para onde a nave estava guardada. Era difícil obter orientação
sobre a superfície de Tatooine sem equipamento devido à falta de pontos de
referência, mas Sabé já havia estado no planeta antes, se passando por
Amidala, e ela tinha uma excelente memória para estrelas.
— Não que Panás nos tenha deixado sair da nave. — disse ela. — E não
que pudesse ter saído com aquele vestido preto. A tiara era alta e coberta de
penas. Teríamos arruinado tudo instantaneamente. Mas haviam as janelas e
não havia nada a fazer enquanto esperávamos pelo retorno do Mestre Qui-
Gon, a não ser nos preocupar e ler.
Todos em Naboo conheciam o nome Qui-Gon Jinn, o Jedi cabeludo que
arriscou muito e perdeu tudo durante a batalha pelo planeta, mas
comparativamente poucos o conheceram. Tonra tinha ouvido todas as
histórias antes e tinha estado presente em muitas delas, mas as partes de
Tatooine desse empreendimento em particular não eram exatamente uma
questão de registro público.
— Este é o lugar onde a nave estava. — disse Sabé, apontando para as
rochas inexpressivas ao redor deles. — Foi aqui onde a aguardamos.
— A parte mais difícil de acreditar dessa história não é a corrida de
pods ou a parte sobre o menino. — apontou Tonra. — É a parte em que
Panás deixou a rainha sair da nave em primeiro lugar.
— Você seria capaz de impedi-la? — perguntou Sabé, e Tonra
concordou.
Continuaram andando, permanecendo nas rochas pelo maior tempo
possível e depois virando e voltando quase exatamente do jeito que vieram,
mas longe o suficiente de suas trilhas anteriores, pois Sabé esperava que
eles confundissem qualquer um que tentasse segui-los. Não havia evidência
de que alguém os notasse tanto, mas Sabé aprendera há muito tempo que a
precaução excessiva era a melhor parte da segurança.
Por fim, chegaram à nave. Era uma de carga decente de médio porte,
sem nenhuma marca de identificação. Sabé a adquiriu depois de pedir o
conselho do piloto real de Naboo. Ric Olié sofreu uma lesão no ouvido
interno após a Batalha de Naboo, o que dificultava a sua saída da atmosfera,
embora ele ainda pudesse voar abaixo das nuvens. A nova piloto, Daneska
Varbarós, era uma mulher de estatura moderada com pele escura, os olhos
mais elétricos que Sabé já vira em um ser humano e cabelos longos que ela
gostava de descolorir e depois tingir em uma série contínua de cores
diferentes. Quando eles se encontraram para discutir a nave, ela estava
usando um tipo de roxo que era visível até de uma órbita baixa.
Varbarós também forneceu informações de inteligência sobre as rotas do
hiperespaço, refúgios seguros em uma variedade de planetas e o que fazer
se eles atraíssem o tipo errado de atenção, seja da República ou de
desonestos. Sabé ainda não teve que usar nenhuma dessas informações, mas
ela não iria esquecer o que ela sabia agora.
Tonra sumiu com o pretexto de proteger o seu equipamento e realizar as
verificações prévias necessárias, enquanto Sabé verificava o cronômetro e
esperava pela chamada de Padmé. Tão pontual como sempre, a campainha
soou bem quando os números viraram e, um momento depois, a imagem de
Padmé preencheu a tela na frente de onde Sabé estava sentado.
— Sabé. — disse ela. — É tão bom ver você.
— Digo o mesmo a você. — disse Sabé, e era verdade: estava mal-
humorada e fora do centro nos últimos dias, mas ouvir a voz de Padmé e
vê-la, mesmo como um holograma, a fez se sentir melhor instantaneamente.
Ela desejou novamente ter notícias melhores.
— Você tem algo novo pra relatar? — perguntou Padmé, e Sabé sabia
quais informações a sua amiga procurava.
— Sinto muito, Padmé. — respondeu Sabé. — Não consegui encontrá-
la.
No holo, os ombros de Padmé se curvaram para frente enquanto ela
debruçava.
— Ela morreu? — perguntou Padmé depois de um momento.
— Não. — respondeu Sabé. — Não pelo que posso dizer.
Ela fez Tonra verificar os cemitérios depois que ela mesma os verificou
duas vezes. Às pessoas escravizadas não era permitido muita coisa em
Tatooine, mas era permitido que colocassem marcadores umas para as
outras quando morriam, e geralmente o faziam.
— Como pode uma pessoa, mesmo uma escravizada, simplesmente
desaparecer? — perguntou Padmé.
— Foi minha culpa. — disse Sabé. — Chegamos da forma errada e
cometemos erros desde o momento em que chegamos aqui. O Toydariano
tinha ido embora e gastei muito tempo tentando falar com os seus
comparsas. Sei que existem seres em Tatooine que se opõem à escravidão,
mas não confiam em mim porque conversei com a escória que lucrou com
isso e, francamente, não os culpo.
— Sei que você tentou. — disse Padmé, e a absolvição apenas queimou.
— Sei que o negociante de sucata a perdeu. — disse Sabé. — Não sei se
foi outra aposta idiota ou se realmente a vendeu, mas sei que ela não está
aqui. Só não sei onde foi parar.
Houve uma pausa longa o suficiente para que Sabé pudesse pensar que
o equipamento de transmissão havia congelado, exceto que Padmé estava
pensando, entrando e saindo do alcance da câmera. Finalmente, ela parou
no quadro.
— Você acha que há pessoas trabalhando contra a escravidão em
Tatooine? — perguntou Padmé.
— Tenho certeza disso. — respondeu Sabé. Isso era o que era tão
frustrante. Ela havia perdido uma oportunidade. — Você se lembra da casa
de Shmi Skywalker?
— Um pouco. — respondeu Padmé.
— Havia um símbolo cortado no someiro acima da porta?
— Acho que não. — disse Padmé. — Por quê?
— Há um agora. — disse Sabé. — Um sol branco. Pequeno, mas
definitivamente deliberado. E novo. Não está desgastado.
Padmé passou outro longo momento pensando nisso.
— Você poderia tentar de novo? — perguntou Padmé.
Isso era o que Sabé vinha se perguntando há dias, semanas, na verdade,
quando o seu fracasso se tornou aparente e ela foi forçada a se contentar
com aquele maldito leilão. E porque vinha pensando sobre isso, tinha uma
resposta.
— Sim. — respondeu ela. — Teríamos que sair e limpar a nave de
quaisquer identificadores. Talvez até mudar o registro, se pudermos.
Teríamos que limpar as nossas identidades também. Nós iríamos nos
instalar em Mos Eisley ou em algum outro espaçoporto. Não voltaríamos
como contrabandistas da próxima vez. Seríamos comerciantes. Alguém de
má reputação para a escória falar, mas não o suficiente para eles confiarem.
Precisaríamos estabelecer um negócio viável para usar como cobertura, mas
talvez então o grupo de libertação local confiaria em nós, mesmo que
apenas como uma forma confiável de sair do planeta.
Sabé fez uma pausa e Padmé a conhecia bem o suficiente para não
interromper.
— Vinte e cinco almas, Padmé. — disse ela. — Vinte e cinco entre
centenas, e eles já terão mais vinte e cinco chegando.
— Tenho certeza de que fez diferença para os vinte e cinco. — disse
Padmé baixinho. Desta vez, a absolvição a queimou menos.
— Não conseguimos o que você queria. — disse Sabé.
— Mas você tentou. — disse Padmé. — Você tentou enquanto não
consegui. E talvez isso não signifique muito, mas significa muito para mim.
— Vou levar alguns meses para configurar tudo. — disse Sabé. — A
parte difícil é a cobertura do negócio, e vamos precisar de mais
financiamento, que terá que vir de você. Vou deixar Tonra ser o rosto
público desta vez, em vez de mim, porque as pessoas têm medo dele. Bem,
eles poderiam ter, se trabalhasse nisso.
— As pessoas têm medo de você. — apontou Padmé.
— As pessoas que me conhecem têm medo de mim. — disse Sabé. Ela
gesticulou para a sua pequena figura. — Estranhos não têm medo de mim.
Padmé parou novamente. O holo azul estava granulado e brilhava na
tela, mas Sabé podia ver indecisão no rosto de Padmé. O que quer que
estivesse acontecendo em Coruscant, os planos de Padmé também não
estavam indo bem, e estava claro que ela havia pensado muito sobre os seus
próprios. Por fim, ela suspirou, e parecia muito com uma derrota.
— Preciso de você aqui. — disse ela. — As outras estão trabalhando
bem umas com as outras e comigo. Elas são adequadas para o Senado, e
estamos nos adaptando juntas. Mas preciso de alguém a quem não preciso
pedir para fazer as coisas. Preciso de alguém que apenas faça o que precisa
ser feito.
Agora foi a vez de Sabé esperar enquanto Padmé considerava as suas
próximas palavras.
— Não posso ser muito mais específica até que estejamos conversando
pessoalmente. — disse Padmé. Seu tom era deliberadamente leve, o que fez
Sabé prestar muita atenção. — Mas há muito mais trabalho aqui do que eu
esperava. É um pouco como da última vez.
Com isso, Sabé se endireitou. Da última vez em Coruscant, a Federação
do Comércio estava tentando matá-la.
— Não fique muito preocupada antes de chegar aqui. — disse Padmé.
— Estou bem protegida. E estou visível o suficiente agora que haveria
consequências se algo acontecesse.
— Isso não me faz sentir muito melhor. — disse Sabé.
— Imagine como é para Mariek. — disse Padmé secamente.
Apesar de tudo, isso fez Sabé sorrir.
— Venha para Coruscant. — disse Padmé. — Vou transmitir as
coordenadas pra você. Você precisará de novas identidades?
— Não. — disse Sabé. — As que estabelecemos aqui serão boas para
alguma coisa, pelo menos.
— Excelente. — disse Padmé. — Sabé, sei que ser enigmática soa
terrível, mas prometo a você que não é. É apenas algo que não consigo
cuidar por mim mesma.
— Minhas mãos são suas. — disse Sabé.
Padmé poderia negar o quanto quisesse, mas Sabé foi treinada por um
homem que sempre, sempre se preparou para o pior, e viveu o suficiente
para se aposentar, o que Sabé considerou uma grande conquista, apesar de
suas diferenças ideológicas.
— Vejo você em breve, minha amiga. — disse Padmé e encerrou a
conexão.
Tonra apareceu tão rapidamente que Sabé se perguntou se ele estivera
ouvindo contra a antepara. Parte dela não se importava, ele estava
arriscando tanto quanto ela toda vez que eles davam um novo passo nesta
aventura, mas parte dela tinha ciúmes de ter que compartilhar uma conversa
com sua amiga quando elas eram tão raras nas últimas semanas. Ela afastou
os seus sentimentos ridículos de lado e se virou para olhar para ele.
— Para onde vamos? — perguntou ele.
— Coruscant. — disse Sabé a ele. — Terei coordenadas mais detalhadas
para quando pousarmos.
Ele assentiu com a cabeça e sentou-se na cadeira do piloto. A
decolagem de Tatooine foi suave, com as luzes de Mos Espa brilhando à
distância. Sabé decidiu que odiava um pouco menos a cidade à noite. A
nave cortou o céu claro até quebrar a atmosfera, e então Sabé deixou o
computador de navegação fazer o seu trabalho. Quando os seus cálculos
foram concluídos, Tonra os deslizou para o hiperespaço e eles aceleraram
em direção a Coruscant, com estrelas desconhecidas passando pelas janelas.
Após a austeridade de Tatooine, a boate Coruscanti Caraveg foi um choque
cultural completo. Sabé sentiu a música no fundo dos olhos e batendo em
sua espinha e corrigiu ligeiramente o pensamento: nada em Naboo
realmente preparou um ser para esse tipo de coisa. Ela não conseguia
imaginar como Padmé havia encontrado este lugar, muito menos como
Padmé poderia se sentir confortável o suficiente para marcar uma reunião
ali. Eles estavam inegavelmente nas coordenadas certas, embora estivessem
cerca de meia hora adiantados. O barulho do clube cobriria a conversa e a
cabine os protegeria de olhares casuais, mas não era nada seguro. Sabé
concluiu que este era provavelmente o único ponto de encontro que Padmé
conhecia e percebeu que explorar locais melhores seria, sem dúvida, uma de
suas primeiras tarefas.
Meia hora era tempo mais do que suficiente para se meter em
problemas. Sabé adotou a sua defesa costumeira nessas situações: ignorou
qualquer pessoa que tentasse falar com ela. Tonra estava tendo um pouco
mais de problemas. Um Rodiano mal vestido já havia dado a ele vários
convites não tão sutis, culminando na apresentação de algum tipo de
narcótico e a sugestão inconfundível de que Tonra deveria segui-lo em um
dos vários cantos escuros do clube. Tonra permaneceu em seu assento, para
grande decepção do Rodiano.
— Eu me livraria disso, se fosse você. — disse Sabé.
— Realmente não quero me levantar. — admitiu Tonra, relutante em
mostrar qualquer coisa que pudesse ser interpretada como interesse.
Sabé pegou o tubo de narcóticos dele e o enfiou nas almofadas atrás da
cabine onde estavam acomodados.
— Você sabe o que é essa coisa? — perguntou Tonra.
— Não faço ideia. — admitiu Sabé. — E não estou com pressa de
descobrir.
Tonra considerou a sua bebida com nova suspeita e então a afastou
firmemente.
— Se quiser se sentir melhor, imagine o rosto de Mariek se ela soubesse
o que está acontecendo agora. — disse Sabé.
— Isso não vai funcionar. — disse Tonra miseravelmente. — Estou
muito ocupado imaginando o que ela fará comigo quando descobrir.
Sabé sorriu e entrelaçou os seus dedos com os dele em uma
demonstração de solidariedade. Tonra apertou de volta, mas antes que Sabé
pudesse desvendar os sentimentos que se desenrolaram em seu estômago,
mais duas figuras se juntaram a eles na cabine. As duas estavam
encapuzadas, mas Sabé reconheceu o tecido Naboo quando o viu.
— Onde no universo a capitã acha que está agora? — disse ela à Padmé
como forma de saudação.
A companheira de Padmé riu e tirou o capuz. Era a piloto Varbarós, com
o cabelo agora incandescente. Várias coisas, incluindo a fonte de Padmé
para a localização do clube, ficaram claras.
— Mariek acha que estou em uma recepção para a delegação
Alderaaneana. — respondeu Padmé. — Typho também, e é até mesmo o
meu acompanhante esta noite.
— Quem está realmente o acompanhando? — perguntou Sabé.
— Cordé. — disse Padmé. — Dormé pode me imitar quase tão bem,
mas duvido que teria enganado Typho, e não a pediria pra tentar.
— Eles vão pegar você. — disse Tonra.
— Claro que vão. — disse Padmé. — Mas quando isso acontecer, será
tarde demais, e Typho sabe que não deve fazer confusão. É um pouco
exagerado, mas você sabe como me sinto sobre a prática.
— Acho que não gosto de Coruscant. — disse Tonra para ninguém em
particular.
— Ninguém gosta de Coruscant. — disse Varbarós corajosamente. —
Minha senhora, você quer que ouça isso?
Os segredos abertos eram novos. Anteriormente, se Padmé quisesse
enganar alguém, nunca saberiam. Ter as manobras abertamente
reconhecidas por não-combatentes foi um desenvolvimento.
— Sim, por favor. — disse Padmé. — Precisamos que atue como
mensageira. Você tem mais liberdade do que qualquer pessoa da minha
equipe.
Varbarós viera com a nave estelar Nubiana tipo J, a qual a Rainha
Réillata havia designado para uso de Padmé, junto com um astromecânico
azul e branco com o qual já estavam familiarizados, uma vez que a nova
rainha tinha um piloto próprio e uma nave havia sido construída para ela.
Não havia limite para o número de pilotos reais, realmente, então a atual
designação de Varbarós para a equipe de Padmé não era um rebaixamento e
preferia a aventura de ficar longe de Naboo de qualquer maneira.
Um droide apareceu com uma bandeja de bebidas fumegantes. Varbarós
pegou duas pra se exibir, já que Padmé claramente não tinha intenção de
beber nada.
— Tudo bem, é o seguinte. — começou ela. — Fique quieta. No final
da minha orientação senatorial houve um estranho atentado contra a minha
vida.
Sabé já havia suspeitado disso, mas ainda não conseguia manter a sua
reação sob controle. Apertou a mão de Tonra com força e imediatamente
soltou o aperto quando ele estremeceu. Ela entendeu porque Padmé não
revelou isso via holo, mas não estava acostumada a descobrir sobre as
ameaças tão tarde.
— Estou bem, obviamente. — disse Padmé. — E foi desajeitado. A
nossa guarda já estava levantada e até mesmo Cordé, que era Amidala na
hora, não correu nenhum perigo real, porque a tentativa foi frustrada por um
espectador aleatório.
Padmé detalhou a tentativa e Sabé saltou imediatamente para a mesma
pergunta que tinha feito.
— Por que Organa estava lá? — perguntou Sabé.
— Nunca descobrimos. — respondeu Padmé. — Eu o encontrei
algumas vezes desde então. Ele está educadamente distante. Sei que os
políticos fazem isso profissionalmente, mas sinto que se me quisesse morta,
haveria algo sobre isso em seu rosto. Versé tem lido os noticiários e
tentando entrar nas empresas que os transmitem, mas estamos tão ocupados
com todo o trabalho de senadora que ela não tem muito tempo pra isso.
Esperava que você e Tonra, trabalhando fora da residência senatorial,
tivessem mais sorte, talvez até uma fonte real em vez de digital.
— Há algo mais. — disse Sabé. Ela sabia que Padmé não a teria
chamado até aqui apenas para mandá-la em uma perseguição pelo holonet.
Era muito mais provável que enfrentasse o problema em público.
— As redes de notícias estão me mirando. — admitiu Padmé. — Desde
que alguém lhes contou sobre o atentado contra a minha vida, que pintaram
para parecer minha incompetência, é claro. Publicam histórias sobre a
minha juventude, sobre a minha inexperiência em política galáctica, e são
em sua maioria verdadeiras, mas sempre são enquadradas em torno dos
costumes Naboo, como a forma como me visto, para me fazer parecer
obstinada e ignorante.
Sabé optou por não lembrar a Padmé que muitos, muitos dos
professores delas, em um momento ou outro, também disseram a Padmé
que era obstinada. Ignorante nunca, mas Sabé conseguia entender a
ferroada.
— E essa fofoca é prejudicial por quê? — perguntou Sabé. Padmé se
importava com a opinião pública tanto quanto qualquer autoridade eleita se
importaria, mas a meritocracia de Naboo era surpreendentemente incorrupta
e a verdade sempre transparecia a ela.
— Não é como em casa. — respondeu Padmé, adivinhando a linha de
pensamento de Sabé. — Os senadores não se importam com a verdade,
mesmo que saibam dela. Se pensam que sou uma criança sem esperança
vinda dos confins da galáxia, nada os fará querer trabalhar comigo, mesmo
que haja evidências em contrário. Na festa agora? Posso muito bem
imaginar as críticas e declarações condescendentes que Cordé está sofrendo
em meu nome, porque as tenho ouvido desde que cheguei aqui. Temos sorte
de termos prática em manter nossos rostos inexpressivos, embora,
honestamente, esteja começando a acreditar que isso também é parte do
problema. Tenho que me antecipar a isso, e descobrir quem está publicando
é o primeiro passo.
Sabé não disse nada por um momento, o barulho do clube preenchendo
o silêncio com um zumbido monótono. Essa Padmé era nova, mais
calculista, mais cautelosa. Era isso que o Senado fazia com as pessoas e
Sabé estava prestes a se lançar nisso, embora provavelmente só ficaria na
parte rasa.
— Por que está lutando tanto para ficar? — perguntou Sabé.
— Eu... — Padmé hesitou. — Eu ia dizer que não sabia, mas não é
verdade. É difícil descrever, mas há momentos em que realmente gosto, em
que fazemos um bom trabalho para o povo da República. E quero mais
desses momentos, se pudermos fazê-los acontecer.
— Tudo bem. — disse Sabé. — Não precisamos convencer todo o
Senado. Precisamos apenas fazer com que alguns deles aceitem você e
então farão todo o trabalho pesado.
— Concordo. — disse Padmé.
Tonra se mexeu e Sabé lembrou que ele estava lá. Ela havia caído em
seu antigo ritmo tão rapidamente.
— Sim? — perguntou ela, virando-se para o olhar.
— Sinto muito, minha senhora. — respondeu ele. — Mas para o que
precisa de mim?
Padmé sorriu pra ele, o sorriso que conquistou o amor de um planeta e a
lealdade de todos à mesa.
— Não quero que Sabé esteja aqui sozinha, Capitão. — respondeu ela.
— E Sabé me disse que trabalhou bem como uma equipe em Tatooine, se
adaptando rapidamente conforme a situação mudava ao seu redor. Sei que
Coruscant é um lugar desconfortável, mas se puder ficar, eu agradeceria.
— Assim como eu. — completou Sabé. Ela colocou a mão ao lado da
dele e tentou o seu melhor para não o manipular.
— Farei o que puder. — disse Tonra.
— Providenciei para que os fundos sejam transferidos para uma conta
na sua identidade. — disse Padmé. — Você não viverá nos níveis
superiores, mas ainda estará em um lugar onde possa se proteger com
relativa facilidade.
— Esta é a minha frequência de comunicação pessoal. — disse
Varbarós, entregando um par de comunicadores. — Vocês podem entrar em
contato comigo de qualquer lugar do planeta. Não vou sair dos lugares sem
avisar.
— Ah, não. — disse Padmé, e Sabé percebeu que o capuz dela havia
caído para trás enquanto conversavam, deixando o rosto dela menos
obscurecido do que qualquer uma delas gostaria.
Sabé seguiu seu olhar e viu um homem jovem olhando pra ela, com a
expressão confusa deslizando para o deleite.
— Sena... — Tonra começou a dizer, mas antes que pudesse completar a
palavra, Padmé saltou, agarrou o braço dele e o arrastou de volta para a
mesa delas.
— Senador Clovis. — sibilou ela. — Eu agradeceria se não gritasse o
meu nome neste estabelecimento público lotado.
— Eu vi você na recepção. — disse Clovis. — Foi tão tedioso. Não
posso te culpar por ir embora também, e ouvi dizer que este lugar era
interessante. Deve ter um motorista ainda melhor do que eu para ter
chegado aqui tão rapidamente.
— Sou muito melhor do que o seu droide. — disse Varbarós, como se
esse tipo de coisa acontecesse com Padmé todos os dias.
— Senador, estes são alguns amigos de casa. — disse Padmé. — Eles
fizeram parte de um intercâmbio cultural e só tiveram tempo de se
encontrar comigo esta noite, antes de voltarem para Naboo.
— Ah, que maravilhoso. — disse Clovis. — A senadora tem me falado
muito sobre Naboo. É verdade que vocês são todos artistas?
— Os meus talentos tendem a exibições públicas de acrobacias. — disse
Tonra com uma postura incomum. Normalmente Sabé falava primeiro. —
Eu faço malabarismos.
— Incrível. — disse Clovis, perdendo completamente o sarcasmo de
Tonra. — Naboo parece um lugar maravilhoso. Espero visitá-lo algum dia.
— Você poderia nos dar um momento? — perguntou Padmé. — Eles
têm que partir logo e gostaria de me despedir.
— Claro, claro. — respondeu Clovis. — Sinto muito por me intrometer.
Fiquei apenas surpreso em ver você.
Varbarós o acompanhou até o bar para garantir que a curiosidade dele
sobre Naboo não superasse as suas boas maneiras.
— Onde você o encontrou? — perguntou Sabé.
— Ele é outro senador novato. — respondeu Padmé. — Ele tem sido
péssimo político até agora, mas a sua família é poderosa e não posso me dar
ao luxo de queimar nenhuma conexão.
— O que eles possuem? — Sabé tinha uma opinião negativa sobre as
pessoas que exploravam conexões familiares em vez de empregar as suas
próprias habilidades e isso trouxe à tona a sua natureza jocosa.
— Ele é um membro de baixo escalão do Clã Bancário. — disse Padmé.
Olhando para a aparência inepta de Sabé, ela acrescentou: — Ele é adotado.
— Para explicar a aparência humana de Clovis. A maioria dos membros do
Clã Bancário eram Muuns.
O comunicador de pulso de Padmé soou e ativou um holo de Versé na
palma da mão.
— Por favor, volte pra casa antes que o Dormé e o Typho digam coisas
um para o outro que se arrependam. — disse Versé. A imagem se repetiu
antes de Padmé desligá-la, então Sabé sabia que tinha sido pré-gravada.
— Isso era muito mais fácil quando era apenas um planeta. — observou
Padmé.
— Quantos recomeços você acha que vamos ter? — perguntou Sabé.
— Esperançosamente, mais um do que precisamos. — disse Padmé. —
Mas vou me preparar para o pior, só pra garantir. Pelo menos neste ponto, a
única coisa que vai sofrer é o meu orgulho.
Sabé pensou que estava sendo um pouco indiferente com a tentativa de
assassinato, mas estava disposta a fazer concessões para o estresse de seu
novo emprego.
Padmé acenou para que Varbarós voltasse para a mesa, pois de jeito
nenhum Sabé e Tonra a deixariam lá sozinha, e quando Clovis veio atrás
dela, Sabé fez uma careta.
— Sabia que você não iria gostar do Senado. — disse Padmé,
inclinando-se para perto. — Senti tanto a sua falta. Obrigada por ter vindo.
— Também senti a sua falta. — disse Sabé. — Sei que não é o mesmo,
mas pelo menos agora estamos no mesmo planeta.
— Tenha cuidado. — disse Padmé. Ela se inclinou um pouco pra trás
para incluir Tonra. — Vocês dois.
— Nós teremos, minha senhora. — disse Tonra.
— No futuro, é melhor apenas me chamar de Padmé quando estivermos
fora, como agora. — disse ela. — Senadores são tão abundantes que não
valem nada em Coruscant, e ser uma dama não leva muito longe.
— Vou praticar. — disse Tonra. Sabé achou que era muito provável que
o nome de Padmé ficasse preso em sua garganta nas primeiras vezes que
tentasse dizê-lo.
O Senador Clovis aparentemente decidiu que lhes dera privacidade
suficiente, porque voltou a ficar rodeando e não conseguiu esconder a
decepção quando ficou claro que todos estavam se preparando para partir.
— Você vai embora agora? — perguntou Clovis. — Porque vai haver
um show...
— Sim, estou saindo agora. Recomendo que faça o mesmo, Clovis. Não
tenho certeza se este é um lugar totalmente seguro. — disse Padmé. Sabé
conseguiu não revirar os olhos quando Padmé assumiu a persona que Clovis
estava acostumado. Padmé se levantou, Varbarós ao lado dela e olhou direto
para Sabé. — Desejo-lhe boa sorte em suas viagens.
— O mesmo para você. — disse Sabé.
Quando se despediram, ouviu Clovis perguntar “pra onde você está
indo?” e Padmé começou a explicar ainda mais tradições de Naboo para ele.
Ela se perguntou se o interesse dele pelo planeta era genuíno ou se também
queria algo de Padmé. Sabé tinha todos os tipos de pensamentos sombrios
sobre o que poderia ser, mas era inteligente o suficiente para saber que não
era da sua conta, a menos que Padmé estivesse em perigo, então decidiu
ficar fora disso. Francamente, se nunca mais visse Clovis, tudo bem pra ela.
Talvez estivesse sendo irracional, mas ele a irritou.
O seu comunicador de pulso soou, indicando que uma transferência de
fundos havia sido concluída. O nome que ela usou em Tatooine e também
ali em Coruscant foi o nome o qual recebeu quando nasceu, mas parecia
falso e artificial pra ela agora.Tinha sido Sabé em todas as partes mais
importantes de sua vida. Tsabin era uma estranha. Nem mesmo os seus pais
a chamavam mais assim, e todos os seus registros oficiais em Naboo foram
alterados.
Ainda assim, se tinha que ser outra pessoa, pelo menos ainda era uma
pessoa que Padmé conhecia. Tsabin e Padmé se conheceram quando tinham
apenas quatorze anos de idade, quando se candidatou para ser criada, e
quando se instalaram no palácio de Theed, elas eram um par inabalável e
Sabé tinha um novo nome para mostrar. Padmé foi treinada para se destacar
e Sabé foi treinada para passar despercebida. Ela nunca se importou. Era
difícil ficar ressentida com algo em que era tão boa.
E agora Padmé estava se reinventando novamente e, por necessidade,
Sabé não estava lá para ajudar de perto como ela gostaria. A Senadora
Amidala era claramente diferente da rainha, a julgar por como Clovis agiu,
e Sabé não entendeu totalmente, mas ela confiou no julgamento de Padmé.
Se ia ser Tsabin de qualquer maneira, talvez fosse a hora de ser Tsabin.
Permaneceria Sabé em seu coração, mas poderia aprender a ser uma nova
pessoa também, como Padmé era.
— Isso era muito mais fácil quando era apenas um planeta. — sussurrou
ela, repetindo as palavras de Padmé.
— Concordo. — disse Tonra. A presença dele era constante ao lado dela
e se apoiou nele sem segundas intenções. Pode ter ficado um pouco
surpreso, mas colocou um braço em volta dos ombros dela.
Eles esperaram em silêncio, com a pulsação da música latejando em
seus ossos, pelo tempo passar entre a partida de Padmé e a sua. Pela
primeira vez Tonra não se inquietou, apenas bateu os dedos levemente na
mesa acompanhando a batida inevitável. Quando consideraram seguro,
saíram em busca de um taxi aéreo e um lugar tranquilo onde pudessem
planejar os seus próximos passos.
A gritaria continuou por algum tempo. Padmé deixou Typho falar o que
queria, imaginando que o sargento tinha merecido isso. Mariek teria o seu
tempo mais tarde, mas foi de Typho que elas tinham se aproveitado, e
Padmé devia-lhe ouvi-lo agora.
— ...sem falar no perigo que Cordé corria se alguém a descobrisse. —
disse ele, encerrando o seu discurso. — E não quero saber nenhum dos
detalhes sobre onde você estava, minha senhora.
— Estava me encontrando com Sabé e Tonra. — disse Padmé, embora
por causa da pressão arterial de Typho não tenha mencionado exatamente
onde, apenas que tinha sido uma boate. — Eu estava com Varbarós.
— Embora seja uma excelente piloto, Varbarós não é uma guarda
treinada. E a escolha de locais de reunião dela deixa muito a desejar. Sei
que a política é complicada e às vezes há coisas que você mesma tem que
fazer, mas, por favor, Senadora, eu imploro: me diga da próxima vez. Sou
um ator muito melhor do que você pensa. E posso ajudar com os detalhes.
— Sinto muito, Sargento. — disse Padmé. — Esperava que esta noite
fosse um teste prático pra todos nós, além de uma reunião necessária. Mas
agora vejo que estava praticando a coisa errada. O plano do disfarce
envolvia enganar os guardas também, mas devemos modificar isso da
mesma forma que estamos modificando todo o resto.
— Ele reagiu com total discrição quando percebeu quem eu era. —
disse Cordé. — Embora tema que ele possa ter rasgado a franja da manga
do vestido azul-escuro de baile.
— Posso consertar isso. — disse Dormé. — E acho que Typho está
correto sobre o planejamento também. Se estivesse nisso, poderia ter
impedido o Senador Clovis de partir. Ou pelo menos avisado quando a
reunião acabou.
Eles haviam caído nesse padrão automaticamente e Padmé gostava da
maneira como funcionava. Ela faria alguma coisa, Cordé racionalizaria, um
dos guardas protestaria, Dormé alisaria as penas eriçadas e Versé mudaria
de assunto.
— Peguei uma história em uma das redes de notícias. — disse Versé,
dentro da programação. — É sobre esta noite.
— Espero que seja sobre a relação escandalosa que a Senadora Amidala
tem com um de seus guardas. — disse Cordé, com a voz cheia de sarcasmo.
— Fale por si mesma. — disse Mariek. — Sou uma mulher feliz no
casamento e não desejo esse drama.
— É sobre o Senador Clovis. — disse Versé. — Aparentemente, depois
que ele saiu da recepção, ele foi a uma boate incrivelmente perigosa e se
encontrou com...
Tarde demais, Versé percebeu que Typho estava lendo por cima do
ombro dela. Padmé resistiu ao desejo de enterrar o rosto nas mãos.
— Você tem alguma ideia do tipo de coisa que acontece nesses lugares?
— Typho quase gritou, todo o seu apaziguamento desapareceu em um
instante.
— Claro que sim, ela é uma mulher adulta. — disse Mariek. —
Sobrinho, você precisa se acalmar ou a Senadora nunca vai confiar em
você. Ela já admitiu que está certo.
Typho se controlou e assentiu com a cabeça.
— Há algo nesse artigo que poderia ser usado pra me identificar? —
perguntou Padmé.
— Não. — respondeu Versé, examinando o resto. — Parece que
realmente entrevistaram Clovis e apenas disse que estava saindo com
alguns amigos de casa.
— Todos saberão que isso é mentira. — apontou Dormé. — O Clã
Bancário não é exatamente conhecido por se encaixar nos clubes de
Coruscant.
— É uma mensagem pra mim. — disse Padmé. — Foi assim que
apresentei Sabé e Tonra sem revelar os seus nomes. Disse que eram amigos
de casa. Ele quer que eu saiba que está me protegendo.
— Seria o primeiro movimento político consistente que ele fez. —
observou Cordé. Ela tinha uma opinião bastante negativa sobre a dedicação
de Clovis à política galáctica.
— Não tenho certeza se ele está pensando politicamente. — disse Versé.
— Fiquei nos bastidores quase todo o tempo em que estivemos aqui e vi
muitas gravações. Vi a maneira como ele fica quando Padmé está em sua
órbita e a maneira como olha pra ela.
— Continuamos como estamos. — disse Padmé. — Só que agora temos
Sabé e Tonra trabalhando fora da estrutura política para nos ajudar.
— E eu, para ajudá-la com isso. — disse Typho.
— Sim, Sargento. — disse Padmé. — E peço desculpas. Mudamos
muito sobre como Amidala age em público nas últimas semanas, mas ainda
me pego pensando nela da mesma forma que pensava em Naboo. Tenho
dificuldade em lembrar que as circunstâncias dos segredos são diferentes
aqui. Não vamos deixar você de fora de uma manobra de disfarce
novamente.
— Obrigado, minha senhora. — disse Typho.
Um toque suave indicou a chegada da programação do dia seguinte e
passaram as próximas duas horas traçando estratégias sobre os votos e
tentando determinar como o Senado agiria em cada caso. Isso também era
muito mais fácil agora que estavam trabalhando em equipe.
Antes, Padmé havia levado as duas aias com ela para as câmaras do
Senado para observar, mas a verdade era que não havia nada para observar.
Agora levava apenas Mariek ou Typho, e ocasionalmente Cordé se a
situação exigisse. Os outros ficavam na residência senatorial ou no
escritório de Padmé, assistindo às gravações dos procedimentos do Senado
e tentando descobrir quem era aliado de quem. Era fácil rastrear por meio
de uma simples moção, mas se tornou infinitamente mais desafiador quando
várias agendas eram apresentadas e, com o tamanho da assembleia, sempre
havia várias agendas na mesa.
— Você tem que entrar em um desses comitês. — disse Cordé.
Padmé sabia disso muito bem. Estava deliberando há dias, tentando
determinar qual comitê era mais adequado para os seus talentos e
experiência.
— A Senadora Bonteri lidera um comitê que analisa a reforma
educacional nas áreas mais pobres dos planetas do Núcleo. — disse Dormé.
— Esta lei foi paralisada porque ninguém nos planetas do Núcleo queria
admitir que tinham áreas mais pobres.
— Há algo sobre a pirataria também. — disse Cordé. — Isso é novo e
nem tenho certeza se existe um comitê oficial ainda, mas o assunto continua
surgindo em seus resumos, então tenho certeza de que haverá um em breve.
— E sempre há o comitê anti-escravidão. — acrescentou Versé. — Não
é chefiado por ninguém que conheça, mas tenho certeza de que poderia
entrar nele sem contar com a referência do Chanceler.
— Eu sei. — disse Padmé. — Eu sei, simplesmente não consigo decidir
sobre a melhor maneira de conseguir um lugar à mesa.
— O que é que você quer? — perguntou Dormé. — Do Senado, quero
dizer.
— Respeitabilidade. — disse Padmé. — Quero que as minhas palavras
e os meus esforços signifiquem algo.
— E você não tem porque todo mundo pensa que você é muito nova,
muito inexperiente. — disse Dormé. — Eles acham que não é uma senadora
séria.
— E eles acham que está muito conectada ao Chanceler Palpatine. —
acrescentou Mariek. — Muito conectada ao seu próprio planeta.
— Há um certo grau de verdade em todos esses argumentos. — disse
Padmé.
A sua última conversa com o Chanceler Palpatine não foi bem. Ela o
encontrou quase por acaso depois de uma sessão do Senado e, no início, ele
estava em seu estado normal.
— Chanceler. — dissera ela. Ela colocou a mão no braço de Versé para
indicar que precisaria de algum espaço para a conversa e sua aia, junto com
a guarda, recuaram alguns passos. — Estou feliz que nossos caminhos se
cruzaram. Queria te perguntar sobre me juntar ao seu comitê de transporte.
Ela ainda não se importava muito com as camadas de discurso político
que tinham que ser colocadas no topo da legislação anti-escravidão, já que
tecnicamente não havia escravidão na República, então Palpatine teve que
ser criativo com a sua redação. O debate real era sobre o transporte de
mercadorias, e a discussão indireta fez a pele de Padmé arrepiar, embora
quisesse muito ter uma participação na formulação da legislação.
O Chanceler parou quando ela o cumprimentou, afável como sempre,
mas o seu rosto endureceu quando mencionou entrar no comitê.
— Não acho que seja uma boa ideia, minha querida. — disse ele. O seu
tom tinha uma nota estranha de rejeição, uma que nunca tinha notado antes.
Ao lado dele, Mas Amedda olhou carrancudo pra ela.
— Por que não? — perguntou Padmé. — Já comecei as minhas próprias
explorações da situação e acho...
— Senadora, você me entendeu mal. — disse Palpatine, um pouco de
seu calor habitual aparecendo. — Você é eminentemente qualificada para
este comitê, mas você tem laços conhecidos com Tatooine e comigo. Se
entrar na discussão, as suas qualificações irão comprometer a minha
autoridade.
Havia algo sobre a declaração do Chanceler que não soava totalmente
verdadeira, mas Padmé não conseguia definir o que era.
— Encontre outro comitê, minha querida. — disse Palpatine. — Farei o
possível para mantê-la atualizada sobre o meu progresso e avisarei se a sua
ajuda for necessária.
Ele partiu com a sua comitiva atrás dele e Padmé ficou com muitas
perguntas e nenhuma direção certa.
— Então você tem duas opções, eu acho. — disse Dormé, voltando a
atenção de Padmé para o presente. — Comprometa-se a estar na sombra de
Palpatine. Vá até ele e use sua influência tanto quanto puder.
— Ou? — perguntou Cordé.
— Exatamente o oposto disso. — disse Dormé. — Amidala é charmosa
agora. Use isso. Encontre alguém que se oponha ao Chanceler, não de
forma violenta ou extrema, mas o suficiente para colocar um conflito na
imagem que o público tem de você junto com ele, e então pise nesse
conflito até que tenha descoberto a sua própria identidade.
— Isso exclui Bonteri. — disse Versé. — Ela não parece confortável
com ele ou algo assim, mas nunca se opõe diretamente a ele.
Padmé ficou um pouco decepcionada. Ela gostava muito da Senadora
Bonteri e sentiria honra de trabalhar com ela. Mas também sabia que não
havia dúvida dela estar no círculo interno de Palpatine. Mesmo se ele
tivesse permitido, não teria querido se limitar dessa maneira.
— Não se preocupe. — disse Padmé. — Tenho o senador certo em
mente.
A Senadora Amidala estava vestida para a ocasião. Havia deixado de lado
as lembranças ornamentadas de casa. Hoje não havia nenhuma tiara em seu
cabelo, apenas bobinas com laço fixadas tão bem que Dormé tinha feito os
próprios pinos parecerem invisíveis. O vestido dela era enganosamente
simples. Usava uma túnica azul-claro com um colarinho que não impedia o
giro de sua cabeça e mangas largas que eram dobradas para trás sobre o
vestido azul-escuro que usava por cima. A ilusão estava no bordado do
vestido, no mesmo azul claro que a túnica. Poderia ter sido feito por
qualquer máquina em um planeta mecanizado. Somente alguém que se
aproximasse bem notaria que os pontos tinham sido feitos a mão, a única
concessão de Padmé a Naboo. E não tinha a intenção de alguém chegar
perto assim.
Durante a sessão, Padmé estava quase tonta de impaciência. Teve que se
forçar a prestar atenção. As votações de hoje não foram de menor
importância simplesmente porque a senadora de Naboo tinha outros planos.
Ainda assim parecia que a votação nunca terminaria, e quando o Chanceler
Palpatine pediu que parassem os trabalhos do dia, Padmé estava mais do
que pronta para ir embora.
Dormé a interceptou antes que pudesse sair do pod, fazendo uma
verificação rápida se cada parte de seu vestido e cabelo ainda estava no
lugar, e depois desejou-lhe sorte.
Padmé mediu os passos. Não havia nenhuma razão para que se
apressasse. Versé tinha estudado as gravações e feito alguns hackeamentos e
alterações que Padmé estava certa de que era uma invasão de privacidade,
embora desta vez tenha feito vista grossa. Cordé a ajudou a preparar as suas
falas, apresentando argumentos teóricos para Padmé contestar até que
ambas tivessem certeza de que tinham coberto todas as opções. As suas aias
poderiam não mais acompanhá-la a cada movimento, mas Padmé não
estava mais sozinha do que jamais havia estado como a Rainha de Naboo.
Mariek estava certa, todos aqueles meses atrás, nos degraus da casa do lago:
tudo era diferente, mas Padmé também era diferente. E estava descobrindo
o que isso significava.
Finalmente viu o seu alvo indo para um dos jardins do telhado,
exatamente onde a análise de Versé dizia que estaria. Estava de verde hoje,
o que Padmé notou apenas porque Cordé disse que parecia ser um favorito.
O seu traje era simples, embora tivesse se permitido a indulgência de uma
capa assimétrica. Padmé se aproximou o suficiente para não ter que gritar e
levantou a voz:
— Senador Organa. — disse ela. A voz era mais vibrante do que os tons
planos que a rainha Amidala havia usado. Combinava com as sílabas do
nome dele. A Senadora Amidala aproximou-se quando Organa parou para
ouvi-la.
— Senadora Amidala. — disse ele. — Como posso ajudá-la?
Ela se aproximou, modulando o seu tom para se adaptar à sua
proximidade.
— Desejo me juntar ao seu comitê para o transporte de materiais de
construção para os planetas da Orla Média. — respondeu Amidala.
O que quer que Organa estivesse esperando, não era isso.
— O que você sabe sobre o transporte de materiais de construção? —
perguntou ele. Ela desconfiou que estivesse ganhando tempo enquanto
ponderava sobre as verdadeiras motivações dela, embora o seu tom
permanecesse educado.
— Nada. — admitiu Amidala. — E se não me juntar ao seu comitê,
então suspeito que isso é tudo o que sempre irei saber.
Ele olhou pra ela por um longo momento. As pessoas normalmente não
olhavam para o rosto dela. Elas viam a ornamentação do trabalho manual de
Naboo em seu cabelo, em seu estilo, em sua maquiagem. Foi por isso que a
política de disfarce havia funcionado tão bem. Todos sabiam como era
Amidala, então ninguém nunca pensava em Padmé. Ela se sentia exposta
sem os seus métodos usuais de disfarce a vista, mesmo que o tivesse feito
de propósito. Nunca havia desejado que alguém a visse antes, não assim.
Talvez nunca mais o deixasse vê-la, mas precisava que ele a visse agora.
— Caminha comigo? — perguntou ele, oferecendo-lhe o seu braço.
Ela pegou nele e o seguiu até os jardins. Não tinha ido ali antes, sempre
preferindo voltar para a residência e estudar política ou descansar. Ela viu
imediatamente porque ele o visitava com regularidade suficiente para que
Versé o seguisse. Alderaan não era um mundo tão verde como Naboo, mas
ainda assim se orgulhava de suas maravilhas naturais. Coruscant deve
parecer-lhe muito como parecia a ela: cheio de gente, barulhento e
totalmente carente de vida vegetal. Os jardins eram um eco pobre daquilo a
que os dois estavam acostumados, mas o cheiro estava parecido o
suficiente, e quando se respirava, podia-se sentir a diferença no ar.
Deram uma volta completa pelo jardim, parando aqui e ali enquanto lhe
mostrava o seu bosque favorito de árvores ornamentais, onde gostava de
sentar após a sessão geral e pensar em casa. Era, ela percebeu, a sua
maneira de deixá-la vê-lo. O profissional brusco se foi, assim como a
presença esmagadora da rainha e, ao invés disso, eram dois colegas em
consenso. Finalmente completaram o circuito do jardim e ficaram em frente
à porta que os levaria de volta aos corredores abafados do Senado e aos
espaços de trabalho superlotados.
— Nos encontraremos amanhã, depois da sessão geral. — disse ele. —
A sala destinada ainda não foi designada, então vou enviar um assessor.
Foi educado da parte dele não enviar a sua unidade NON, considerando
todas as coisas.
— Obrigada, Senador. — disse Amidala. Foi muito, muito perto da voz
de Padmé. Ele inclinou a cabeça e se despediu dela.
Padmé permaneceu nos jardins por alguns longos momentos de natureza
antes de voltar para a residência. Deveria receber uma atualização de Sabé e
sabia que os outros iriam querer saber como tudo tinha corrido. Além disso,
teria que fazer algumas leituras sobre o permacreto e como proceder para
enviá-lo. Comunicou-se com Mariek e Dormé e disse-lhes que a
encontrassem no transporte espacial.
— Sucesso? — perguntou Dormé quando ela estava perto o suficiente
para não ser ouvida por outros.
— Sim. — respondeu Padmé. — Contarei tudo a vocês quando
voltarmos para a residência. Não é tão interessante que queira repassar isso
duas vezes.
— É interessante o suficiente que concordou em discuti-lo no comitê.
— ressaltou Mariek.
— Todos devemos fazer sacrifícios. — disse Padmé, mas a verdade é
que não se importava com o que havia se comprometido no mínimo. Ela
estaria ajudando a construir algo novamente, como o seu pai a ensinou,
mesmo que apenas indiretamente. E estaria fazendo um aliado ao mesmo
tempo.
Sabé ficou feliz em vê-la, mesmo que apenas por um holo, mas um
pouco menos satisfeita quando Padmé anunciou com quem se aliou.
— Corrija-me se eu estiver errada. — disse Sabé. — Mas não o estou
investigando por envolvimento em sua tentativa de homicídio?
— Tenho ainda mais certeza de que não teve nada a ver com isso. —
disse Padmé. — Ele estava apenas no lugar errado na hora errada. Ou no
lugar certo, suponho.
— Por favor, me diga que Clovis não está no comitê. — disse Sabé.
— Não está. — Padmé assegurou-lhe. — Ele está sondando as facções
de dinheiro. É apenas uma questão de tempo antes que a Federação do
Comércio tome conhecimento dele e não pretendo estar perto dele quando
isso acontecer.
— Acho que não. — disse Sabé. — Falando de nossa invasão favorita
com tentativa de assassinato, encontrei algo sobre as redes de notícias que
publicaram aquelas primeiras histórias sobre você. A cadeia de corporações
é extensa em todos os casos e a maioria das empresas não está mais ativa,
mas são todas propriedade de subsidiárias da Federação do Comércio.
— Eles estavam me caluniando? — disse Padmé.
— Tenho certeza de que é difamação, pois está impresso. — respondeu-
lhe Sabé. — Mas sim.
— O terceiro julgamento de Nute Gunray está em andamento. — disse
Padmé. — Tudo começou pouco antes de chegar a Coruscant. Acho que
não deveria estar surpresa.
— Certamente guarda rancor. — disse Sabé. — Vou ficar de olho no
julgamento, tanto o que está sendo relatado quanto o que as pessoas estão
dizendo sobre ele na mídia. Gunray a culpa por isso pessoalmente e não
quero que ele se aproxime o suficiente de você para ter sorte.
— Ele não precisa chegar tão perto. — disse Padmé. — Mas aprecio o
sentimento. Como está o Tonra?
— Com saudades de casa, mas muito apaixonado pela comida nesta
lanchonete horrível na praça do apartamento. — relatou Sabé. — Ele
continua tentando me convencer a ir lá, mas tenho como política pessoal
não comer em nenhum estabelecimento que produza tanta fumaça.
Padmé riu com ela e, por um momento, elas poderiam estar sentadas no
apartamento real no palácio de Theed discutindo os acontecimentos do dia.
Algo soou no lado de Sabé.
— Sinto muito, tenho que desligar. — disse Sabé. — Um dos meus
novos contatos quer conversar.
— Se cuide. — disse Padmé.
— Eu irei. — prometeu Sabé.
Padmé encerrou a conexão e acessou os documentos de apoio que Versé
preparou para ela.
Os especialistas de Coruscant ficaram chocados quando a Senadora
Amidala (setor Chommell) apareceu no comitê do Senador Bail Organa
(Alderaan) que trata do transporte de materiais de construção. Ninguém
poderia esperar que Amidala, que desde a sua chegada a Coruscant tem
sido notoriamente frívola e imprevisível, se juntasse a uma operação tão
draconiana, então as teorias abundam quanto às suas motivações, ou
melhor, as motivações de quem está operando ela.
O Senador Organa, apesar de ter boa reputação em seu serviço, muitas
vezes está em desacordo com o Chanceler. Parece improvável que
Palpatine tenha colocado Amidala com o senador de Alderaan para ficar
farejando atrás de algum escândalo. É possível que Amidala esteja
procurando bajular um favor para encontrar outro. Podemos apenas
especular onde a loucura de seus novos "interesses" a levarão.

— TriNebulon Notícias
Haviam dois problemas principais com o permacreto. O primeiro era que a
mistura exigia uma grande quantidade de água, que nem todos os planetas
tinham em prontidão, e que era impraticável transportar. A segunda era que
a própria mistura era volumosa e exigiam grandes naves para transportar as
cargas. Isso significava que muitos sistemas usavam as suas próprias
variações locais na fórmula e todas eram drasticamente inferiores.
O terceiro problema com o permacreto era menor, mas um
aborrecimento mesmo assim: Padmé tinha certeza de que era o assunto mais
chato de discussão em toda a galáxia.
No entanto ela fez isso. Após a sessão geral, que havia sido ocupada
quase inteiramente pela delegação de Malastare dando discursos que o
Chanceler não iria ou não poderia interromper, Padmé seguiu o assessor do
Senador Organa até uma pequena sala no prédio do Senado. Lá se sentou à
mesa e se acomodou para ouvir.
Apenas senadores estavam presentes embora Padmé soubesse que
vários deles estavam gravando os procedimentos para divulgar aos seus
assessores em um momento posterior. Alguns deles trouxeram droides para
fazer anotações pra eles, mas Padmé os descartou como uma opção pois não
confiava em nenhum dos droides que havia encontrado até agora em
Coruscant. Então lembrou-se da unidade astromecânica azul e branca que
viajou com Varbarós a bordo da Nave Estelar Real Naboo. Esse pequeno
droide tinha um dispositivo de gravação e sabia que era confiável. Ela fez
uma anotação para se lembrar de pensar sobre isso mais tarde e voltou sua
atenção para a reunião.
Após uma hora de conversa sem avanços mensuráveis, a reunião foi
encerrada para que os senadores pudessem partir para outros compromissos.
Padmé os teria seguido pelo corredor, mas Organa chamou a sua atenção e
acenou para onde estava. Ela se levantou para ver o que ele queria.
— Senadora. — disse Organa. — Você achou o nosso encontro de
alguma grande elucidação?
— Sim. — respondeu Padmé. Ela não tinha aprendido muito sobre
materiais de construção que já não tivesse aprendido com a sua leitura, mas
ganhou uma visão sobre como os tópicos eram apresentados e como os
elementos de negociação eram incorporados à discussão.
— Permita-me apresentar a Senadora Mon Mothma. — disse ele,
indicando a mulher humana ruiva à sua esquerda.
— Senadora. — disse Padmé, inclinando a cabeça. Padmé não estendeu
a mão em saudação, nem Mon Mothma.
— Tenho o prazer em conhecê-la. — A voz da senadora era leve, mas
havia uma presença inegável nela. Quando ela falava, as pessoas ouviam.
Sabia disso e estava aprendendo a usá-lo. — Eu era muito nova no Senado
quando você fez o seu discurso como Rainha de Naboo. Tem sido
interessante observar a sua transição para a política galáctica.
Anos de prática impediram que a frustração de Padmé aparecesse em
seu rosto. Ela ainda não estava acostumada a ser menosprezada por causa
de sua juventude e esperava nunca se tornar tão desdenhosa de uma pessoa
só porque não tinha a sua própria experiência.
— Foi uma espécie de exercício. — disse ela educadamente. — E sinto
falta das conexões mais pessoais do que servir ao meu próprio planeta me
permitiu promover. Saber os nomes e rostos daqueles com que está
trabalhando para ajudar é um luxo, imagino, mas acho que a escala em que
a República pode servir a seus membros tem muito a agradecer.
— Claro. — disse Mon Mothma. — Não é fácil colocar a própria casa
de lado para servir a um propósito maior.
A peça se encaixou tão alto na cabeça de Padmé que ela ficou
preocupada que Organa e Mon Mothma pudessem realmente ter ouvido os
seus pensamentos. Não era a sua inexperiência, exatamente, que estava
fazendo com que eles fossem tão frios com ela. Achavam que ela era mais
leal a Naboo do que à República e que não estava preparada para enfrentar
esse tipo de conflito de interesses. Na verdade, as suas ações anteriores ao
destituir o Chanceler Valorum em uma tentativa de nivelar o campo de jogo
contra a Federação do Comércio mostraram o quão rápido ela foi para
rejeitar o protocolo do Senado. Naboo era parte de quem era, mas parecia
que esperavam que ela exorcizasse essa parte, ou pelo menos a isolasse,
antes de confiarem totalmente nela. Ela não tinha certeza se estava disposta
a fazer isso.
— Estou ansiosa por esse serviço. — disse Padmé, embora não gostasse
de desonestidade.
Não sabia dizer pela expressão de Mon Mothma se a outra senadora
acreditava nela, mas o olhar que ela trocou com o Senador Organa não foi
tão desdenhoso quanto a sua avaliação inicial por Padmé havia sido.
— Mandarei recado quando tivermos agendado a próxima reunião. —
disse Organa. — Esperamos ter tudo pronto para ir ao plenário do Senado
antes que a sessão seja encerrada.
— Vou esperar por isso também. — disse Padmé e deixou que eles
saíssem da sala antes dela.
Ela não foi para o escritório ou para o transporte de volta para a
residência. Em vez disso, viu-se vagando pelos corredores. Não era
totalmente sem objetivo; em teoria poderia estar indo para o jardim, mas
não estava com pressa e estava perdida em pensamentos.
— Ah, Senadora Amidala! — Uma voz permeou as suas reflexões e
parou de caminhar. Era Mina Bonteri.
— Olá. — disse Padmé com genuíno calor. — É maravilhoso ver você
de novo.
Padmé descobriu que ela disse isso com total veracidade. A Senadora
Bonteri estava pelo menos disposta a falar com ela como igual, mesmo que
houvesse algo mais que não estava compartilhando. Era justo: Padmé
guardou pra si própria a recomendação sobre vários tópicos de qualquer
maneira.
— Venha tomar chá comigo? — perguntou Bonteri. — O meu escritório
fica logo ali virando a esquina.
— Eu adoraria. — respondeu Padmé.
O escritório de Bonteri foi decorado com pinturas de seu mundo natal.
Padmé não era especialista, mas alguns dos trabalhos pareciam ser menos
refinados do que os outros. Talvez Onderon se orgulhasse de utilizar todos
os materiais para a arte, não apenas os de alta qualidade.
— O trabalho do meu filho. — disse Bonteri, enquanto Padmé
contemplava uma pintura particularmente estranha de... Uma speeder bike?
— Ele provavelmente está destinado a outras coisas, mas tinha quatro anos
quando fez isso e gostava de cores vivas e de fazer bagunça. Gosto do
trabalho dele, então o mantenho aqui mesmo agora que ele mudou para
outros hobbies.
— Ah. — disse Padmé. Então ela riu. — Em Naboo encorajamos todas
as crianças a experimentar a expressão artística para que possam determinar
onde estão seus talentos.
— Onde estão os seus talentos? — perguntou Bonteri. Ela despejou
água quente em um bule de metal comum e tirou duas xícaras de um
armário.
— Na oração e poesia. — respondeu Padmé. — Não são habilidades
comumente cultivadas, devo admitir. A maioria dos pais prefere que os seus
filhos sejam bons em fazer algo além de palavras. Acho que minha mãe
teria preferido que eu tivesse entrado para a música, embora minha aptidão
para isso não fosse tão forte.
— Você foi a rainha de um planeta e a sua mãe teria preferido que você
fosse uma musicista? — perguntou Bonteri.
— Naboo é um mundo único. — admitiu Padmé.
— E os pais nunca são particularmente bons em deixar os seus filhos
trilharem os seus próprios caminhos. — disse Bonteri. Ela olhou para as
pinturas de seu filho e sorriu. — Ainda assim o fazem.
— De fato. — disse Padmé. — E meus pais estão orgulhosos de minhas
realizações, embora desejassem que tivesse permanecido mais perto de
casa.
— O seu pai tem vários amigos no Senado, não é? — perguntou
Bonteri.
— Ele tem. — respondeu Padmé. — Foi assim que consegui patrocínio
para o programa legislativo juvenil quando tinha oito anos. Ele faz muito
trabalho de ajuda e os contatos do Senado são úteis para isso.
— Você não queria se juntar a ele? — perguntou Bonteri.
— Acho que estou fazendo isso, à minha maneira. — disse Padmé. —
No mínimo sou outra senadora em quem ele sabe que pode confiar.
— Suponho que é tudo o que qualquer um de nós pode esperar,
atualmente. — disse Bonteri. — Demora muito para realizar qualquer coisa
por meio dos canais oficiais. Por que não procurou os amigos de seu pai?
— Porque queria conseguir por mim mesma. — disse Padmé. — Já sou
vista como uma extensão do Chanceler por alguns e não desejo ser vista
como uma extensão de meu pai por outros.
— Ainda assim, não se importa em ser vista como uma extensão da
rainha de Naboo? — perguntou Bonteri.
— Eu fui a rainha de Naboo. — disse Padmé. — Sempre farei parte
desse sistema, embora acredite que também posso ser algo mais.
Bonteri serviu duas xícaras de chá e passou uma delas para Padmé. O
cheiro era desconhecido. Bonteri deu um gole e Padmé fez o mesmo. O
sabor era mais floral do que ela gostaria, mas não totalmente desagradável.
— Há um número crescente de senadores que sentem lealdade ao
próprio mundo primeiro, independentemente do procedimento, não é uma
coisa ruim. — disse Bonteri lentamente. Ela travou os olhos em Padmé,
mas Padmé manteve o rosto inexpressivo e tomou outro gole de chá.
— Um senador deve ser capaz de manter o equilíbrio. — disse ela. —
Amar o mundo de onde vêm, mas ver a galáxia como um todo.
— Alguém pode realmente fazer isso? — perguntou Bonteri. — Ver
toda a galáxia e permanecer imparcial sobre isso?
Padmé considerou as suas palavras. Bonteri era geralmente muito mais
aberta do que Mon Mothma era, mas estava claro que Mon Mothma
acreditava na República em primeiro lugar. O que Bonteri estava sugerindo
não era traição, mas era perigoso e Padmé não sabia dizer de que lado da
discussão Bonteri se posicionou.
— Acho que devemos tentar. — disse ela por fim.
Bonteri esvaziou a sua xícara de chá e Padmé não sabia se havia
passado ou reprovado no teste. Também não tinha certeza se queria passar
ou falhar no teste, mas Bonteri não parecia desapontada com ela, então
supôs que tinha se saído bem o suficiente.
— Você terá que se esforçar mais do que os outros. — disse Bonteri. —
Você já passou pelo Senado uma vez, desalojando o Chanceler Valorum e
depois voltando para Naboo para resolver os seus próprios problemas por
meio do uso da força militar.
— Estou ciente. — disse Padmé. — É mais difícil manter a
imparcialidade quando o seu próprio povo está morrendo, mas quero fazer
parte de um Senado que se sente assim por todas as pessoas.
— Você é uma idealista. — disse Bonteri. — Isso não é uma coisa ruim.
— Eu sei. — disse Padmé. — Eu trabalhei muito nisso.
— Mais chá? — perguntou Bonteri estendendo o bule.
— Obrigada. — respondeu Padmé. — Gostaria de saber como vão os
seus planos para a reforma educacional, se você tiver tempo.
Bonteri o tinha e assim passaram agradáveis trinta minutos imaginando
como iriam retrabalhar o sistema se tivessem dinheiro, tempo e pessoal
ilimitado e, então, um tempo um pouco menos agradável discutindo o que
era possível com os recursos que Bonteri realmente tinha.
— Poderíamos fazer muito mais se as pessoas ouvissem. — disse
Padmé.
— As pessoas estão ouvindo. — disse Bonteri. — Elas simplesmente
não estão prestando atenção.
O comunicador de Padmé soou e ela lembrou que precisava voltar pra
casa para dar a Cordé e Dormé as suas instruções sobre a reunião do comitê.
Era improvável que alguma delas tivesse que substituí-la realmente na sala,
mas precisavam saber de todos os detalhes importantes, caso tivessem que
ser uma dublê dela em uma função não relacionada e o assunto surgisse. Era
complicado e provavelmente um excesso de preparação levado ao extremo,
mas Padmé confia em suas aias por muito tempo para desistir delas agora.
— Tenho de ir. — disse ela. — Obrigada pelo chá.
— A qualquer hora, Senadora. — disse Bonteri. — Estou sempre
disponível se precisar expressar as suas frustrações sobre o nosso processo
parlamentar.
O seu próprio sinal soou e ela fez uma careta.
— Bem, quase sempre disponível.
Padmé considerou o que Bonteri havia dito enquanto voltava para a
residência. Alguns senadores valorizariam a sua lealdade a Naboo,
enquanto outros desconfiavam dela. Alguns apreciavam a sua personalidade
indiferente, enquanto outros exigiam que fosse mais sociável. E alguns
sempre iriam não gostar dela, não importa o que fizesse, porque
acreditavam nas mentiras da Federação do Comércio sobre ela. O seu
objetivo não mudara: em vez de se alterar completamente para atender às
restrições que seus colegas consideravam apropriadas, ela seguiria em
frente como estava fazendo. Ela iria precisar de uma facção para apoiá-la
em algum momento, mas decidiria o que seria quando chegasse a hora.
Typho estava esperando por ela no transporte espacial, claramente
frustrado com a quantidade de tempo que ela esteve fora de sua supervisão
direta. Não importava agora, com frequência ela o lembrava de que os
guardas senatoriais eram altamente treinados e excepcionalmente leais, mas
ele ainda preferia quando a responsabilidade por sua segurança caísse sobre
ele ou Mariek. Não era exatamente do jeito que o Capitão Panás tinha se
irritado com a sua proteção, mas era familiar o suficiente para ser um
conforto. Padmé resolveu garantir que Typho tivesse mais facilidade nos
próximos dias. Elas tinham se aproveitado dele ultimamente e a tensão
estava começando a aparecer.
— Obrigada por esperar, Sargento. — disse ela. — Sei que você não
gosta quando estou sozinha.
— A sua reunião terminou há mais de uma hora, minha senhora. —
disse ele. — A verificação pelo controle remoto não é o mesmo que uma
confirmação física.
— Vou manter isso em mente na próxima vez. — disse Padmé.
— Próxima vez? — Ele parecia resignado com seu destino.
— Sim, da próxima vez. — respondeu Padmé. — Haverá outras
reuniões e também quero algum tempo para pensar em particular quando
elas terminarem.
— Talvez possamos fazer arranjos pra isso. — disse Typho. — Se fosse
para um local fixo, eu poderia...
— Tenho pensado em trazer aquela unidade astromecânica comigo. —
interrompeu Padmé. — Não é exatamente um procedimento, mas muitos
senadores têm os seus próprios droides.
— Artoo-Detoo não é uma unidade defensiva. — apontou Typho.
— Não, mas ele tem recursos de gravação e pode pedir ajuda se
necessário. — disse Padmé. — Além disso, ele pode dar eletrochoques em
qualquer um que chegue mais perto do que eu quero. Isso os fará pensar que
sou um pouco sem tecnologia, sendo seguida por um mecânico, mas...
— Todos temos nossos disfarces. — ponderou Typho. Padmé podia vê-
lo incorporando o astromecânico em seu plano de defesa por puro hábito.
— Há uma vantagem em usar droides para segurança. As pessoas ficam
desconfiadas quando há guardas por perto, mas é muito mais provável que
dispensem um droide.
— Aí está, viu? — disse Padmé. — Posso pensar na minha própria
segurança, se for preciso.
— Estou muito orgulhoso, minha senhora. — respondeu Typho
secamente. — Mas ainda tenho que explicar pra Mariek antes que possamos
deixar você tentar.
— Claro, Sargento Typho. — disse ela.
Juntos embarcaram no transporte espacial e Typho instruiu o motorista a
devolvê-los à residência senatorial. Padmé olhou para Coruscant enquanto
eles voavam. O Templo Jedi brilhou ao sol da tarde e Padmé sentiu uma
pontada de culpa. Ela havia parado de procurar por Shmi Skywalker, mas
era porque não sabia como continuar. Ela se sentia como se tivesse
quebrado uma promessa, embora não a tivesse feito, e não sabia o que fazer
a não ser confiar no sistema do qual Sabé havia encontrado evidências no
próprio planeta Tatooine. Não gostava de deixar isso de lado.
Padmé olhou além das luzes brilhantes dos ricos andares superiores de
Coruscant e então desceu para as partes mais pobres e perigosas da cidade-
planeta. Não conseguia ver muito longe. Imaginou que era assim que
Coruscant gostava. Naboo havia tentado isso uma vez, dividindo a
população contra si mesma e o resultado foi quase o fim do mundo. Padmé
resolveu prestar atenção, não apenas ouvir e não apenas olhar, mas ver.
Sabé tomou um gole de seu caf decididamente inferior e tentou não parecer
impaciente. Esse contato em particular estava cronicamente atrasado, mas
abriria mão de informações confiáveis, então ela esperava que seu tempo
fosse produtivo. Kooib-s Guvar ero holojornalista de uma das redes de
notícias mais prestigiadas de Coruscant, mas ela trabalhava em um
estabelecimento muito mais desonroso também, escrevendo para os
tabloides para obter créditos extras. Como ela jogava dos dois lados, ela
sempre tinha o melhor acesso. Tonra fez o contato inicial, se passando por
um estudante de jornalismo ansioso por fazer qualquer coisa para entrar no
mercado e a passou para Sabé, antes que as coisas ficassem muito sérias.
O ponto de encontro deles era o lugar que Tonra gostava tanto: um
restaurante não completamente horrível chamado Dex. Sabé teve que
admitir que a comida era decente. Mais importante: a clientela era
turbulenta e mudava rapidamente, o que proporcionava uma boa cobertura.
Hoje, Sabé estava em uma das cabines: dois bancos de plasteel duro com
uma mesa entre eles. Tonra preferia o balcão, onde poderia sentar-se em um
banquinho e observar o proprietário com vários membros trabalhando na
cozinha, mas Sabé não gostava de deixar as suas costas expostas.
— Tsabin. — disse Kooib-s, deslizando para o banco em frente a ela.
Kooib-s era uma fêmea humanoide sem pelos sendo um pouco mais alta
que Sabé. Tinha a pele roxa manchada, olhos azuis brilhantes, nariz largo e
dentes pontudos. As suas mãos tinham sete dedos e Sabé presumiu que os
seus pés também, embora dificilmente pudesse pedir-lhe para tirar os
sapatos. O topo de sua cabeça era cercado por pequenas pontas vermelhas
que chegavam a uma ponta fina de agulha a dois centímetros de seu crânio.
Era indelicado ficar encarando, mas Sabé ficou hipnotizada pela aparência
de Kooib-s. Ela nem sempre gostava de não humanos, mas acontecia de vez
em quando, especialmente com mulheres interessantes.
— O que você conseguiu? — perguntou Sabé, acenando para o droide
de serviço e pedindo mais dois cafs. Eles foram depositados na mesa
imediatamente, Kooib-s pegou um e cheirou.
— Argh. — disse ela. Ela pousou a xícara. — A Senadora de Chandrila
vai dar uma festa na próxima semana. Suspeita-se que usará a reunião como
um disfarce para discutir algo com alguns senadores escolhidos a dedo, mas
não sabemos o quê.
— Por que se importa com o que a Senadora de Chandrila faz em uma
atividade privada? — perguntou Sabé.
— Porque não é uma atividade privada. — disse Kooib-s. — Vai ser a
primeira vez que ela hospeda uma festa de gala pública, então os jornais
estarão lá com força total.
— Como ela pode esperar ter uma discussão particular, então? — Sabé
tinha lido sobre Mon Mothma e a mulher não era estúpida.
— Ela planeja convidar alguém para ser uma distração. — respondeu
Kooib-s.
Sabé suspirou. A lista de possíveis distrações era muito curta.
— Vou descobrir isto, sabe. — disse Kooib-s.
— Descobrir o quê? — Sabé era nova neste jogo em particular, mas
estava acostumada a manter uma cara séria.
— O que você quer. — respondeu Kooib-s. — O porquê de você estar
tão interessada no Senado o tempo todo.
— Gosto de saber o que o governo está fazendo. — disse Sabé entre
dentes. — Sou uma cidadã preocupada.
— Claro que é. —disse Kooib-s. — E eu sou dançarina na Casa de
Ópera Galaxies.
Sabé a olhou de cima a baixo.
— Você poderia ser.
— Ora, ora, Tsabin! — disse Kooib-s, colocando a mão sobre o que
Sabé presumiu ser o centro de seu sistema cardiopulmonar. A jornalista riu.
— Você deveria deixar o flerte para Tonra. Ele é muito melhor nisso.
— Isso não é particularmente reconfortante. — disse Sabé.
— Você só precisa vê-lo em ação. — disse Kooib-s, sorrindo. — Não
sou a única que poderia me encaixar perfeitamente na casa de ópera.
Ela derramou o seu caf no chão debaixo da mesa, para grande
consternação dos droides de serviço, e saiu. Sabé pagou a conta, mas
demorou-se em sua xícara, embora estivesse esfriando.
Precisava encontrar um novo contato. Se Kooib-s os estivesse
investigando, mesmo que apenas para mantê-los alertas, poderia chegar
muito perto de seu verdadeiro propósito. Não gostaria de perder Kooib-s
como um recurso, mas era melhor não se arriscar. Ninguém poderia saber
que o principal interesse de Sabé no governo era a Senadora Amidala. De
agora em diante só utilizariam Kooib-s Guvar se tivessem esgotado as suas
outras opções.
O droide estava pairando, claramente esperando que Sabé fosse embora
e liberasse a mesa, então foi exatamente o que fez. Segurou a porta aberta
para um garotinho de cabelos e olhos escuros enquanto lutava com o peso
de uma grande bandeja para viagem. Ele a olhou brevemente e depois para
o seu pulso, onde ela usava o comunicador que a ligava a Tonra. Era uma
tecnologia cara que destruiu para parecer mais barata, mas o garoto
claramente não se deixou enganar por um instante. Ele encontrou os olhos
de Sabé novamente e ela fechou a boca em uma linha dura.
— Desculpe, senhora. — disse ele, abaixando-se sob o braço dela com a
bandeja e correndo rua abaixo.
Sabé o observou ir, fazendo uma nota mental para modificar ainda mais
o comunicador o mais rápido possível e então voltou para o apartamento
que ela e Tonra haviam alugado. Usou o pequeno banheiro, pegou um saco
de frutas durang secas da cozinha e se trancou no armário anexo ao seu
quarto. Fez uma varredura para dispositivos de escuta e depois ativou o
sinal que chamaria a atenção da Padmé, ou Versé, se Padmé não estivesse
em casa.
— Sabé? — O holo de Versé apareceu na frente dela.
— Preciso falar com Padmé quando ela chegar em casa. — disse Sabé.
— É importante demais para perder tempo agendando um horário, então
vou esperar.
— Ela pode demorar horas. — informou Versé.
— Eu trouxe lanches. — disse Sabé.
— Tudo bem. — disse Versé. — Vou avisá-la.
O holo foi desativado, mergulhando o armário na escuridão. Sabé se
esticou o melhor que pode e se acomodou para esperar.
Padmé chegou em casa querendo nada mais do que uma conversa franca
com pessoas em quem confiava. O seu encontro com Mon Mothma ficava
mais perturbador quanto mais pensava sobre nele e o chá enigmático com a
Senadora Bonteri só a deixava mais paranoica. Mal tinha saído de seu
vestido de senadora e colocado as suas macias vestes verdes quando Versé
entrou.
— Sabé quer falar com você. — disse Versé. Vendo que Dormé e Cordé
estavam ocupadas colocando o vestido de volta no guarda-roupa, ela
começou a soltar o cabelo de Padmé. — Disse que esperaria perto do
transmissor, em vez de ir e voltar para agendar um horário.
Padmé suspirou.
— Faz quanto tempo isso? — perguntou ela.
— Um pouco mais de duas horas. — disse Versé. — Ela comeu lanches.
— Não esperem por mim pra jantar. — disse Padmé. — Basta manter
algo aquecido.
— Tudo bem. — disse Versé. — Além disso, você recebeu isto.
“Isto” era um holo-gravador descartável, do tipo que poderia ser
programado para reproduzir uma mensagem e armazená-la, mas não tinha
capacidade para transmissão. Padmé o ativou e ficou surpresa quando um
minúsculo holo de Mon Mothma apareceu em sua mão.
— Senadora Amidala. — disse a figura. — Gostaria de convidar você,
as suas três auxiliares e quantos de seus guardas você considerar
necessários para um evento de gala que organizarei na próxima semana.
— Nós três? — perguntou Cordé, mas depois ficou em silêncio
enquanto a mensagem continuava.
Padmé ouviu os detalhes e passou o aparelho para Dormé, que iria
inseri-los em seu calendário.
— Vou falar com Sabé primeiro e depois trataremos disso. — disse ela.
As três se curvaram e a deixaram sozinha. Padmé pegou o transmissor
que estava ligado ao apartamento de Sabé de sua mesa e o ligou.
— Quais as notícias? — perguntou ela quando a figura de Sabé
apareceu.
— A Senadora Mon Mothma vai dar uma festa de gala. — disse Sabé.
— Eu sei. — disse Padmé. — Acabei de receber o convite. É pra mim,
todas as minhas três aias e alguns guardas.
— Isso é magnânimo. — disse Sabé. — Minhas fontes acham que
Mothma usará a festa de gala como um disfarce para ter conversas privadas
com senadores com ideias semelhantes, embora não saibam em que
assuntos os senadores terão ideias semelhantes.
— Ela não pode fazer isso em público. — disse Padmé. — A menos que
haja uma...
— Distração. — concluiu Sabé.
— E que distração melhor do que a Senadora Amidala. — disse Padmé.
Não foi uma pergunta.
— Você vai? — perguntou Sabé.
— Eu terei que ir. — respondeu Padmé. — E eles estão esperando três
aias, então trocar uma por mim é muito arriscado. Todas elas passaram um
tempo no prédio do Senado como um apoio visível para a persona da
senadora. “Padmé” não tem o anonimato de antes, especialmente se alguém
está contando os capuzes.
Padmé tamborilou com os dedos na superfície da penteadeira, com a sua
mente zumbindo com as possibilidades.
— Não posso ser o foco das atenções na gala. — disse ela finalmente.
— Tenho que ouvir o que estão realmente falando. Tenho que enxergar. O
tom e linguagem corporal deles, não apenas um relato sobre isso. Tive uma
conversa muito estranha com Mon Mothma hoje e outra ainda mais
estranha com Mina Bonteri depois. Ambas queriam discutir a minha
lealdade à República, mas acho que há algo maior em jogo e preciso saber o
que é.
— Quantos guardas você pode levar? — perguntou Sabé. A imagem
tremulou e Padmé poderia dizer que ela estava escrevendo coisas.
— Tantos quantos eu considerar necessários. — disse Padmé, usando o
texto do convite. — Tenho o complemento padrão de seis, mas nunca uso
todos ao mesmo tempo.
— Eu poderia entrar como um de seus guardas. — disse Sabé. — E
então poderíamos mudar de lugar depois que todas forem liberadas pela
segurança.
— Você quer fazer uma troca no local em um lugar desconhecido? —
questionou Padmé. — Faz um tempo que não fazemos isso.
— Teríamos uma semana para nos preparar. — observou Sabé. — São
aproximadamente cento e sessenta e sete horas a mais do que tivemos para
nos preparar para a Invasão de Naboo.
— Você acha que pode aprender tudo sobre o Senado nesse período de
tempo? — perguntou Padmé. — Você vai ter que dormir em algum
momento.
— Eu consigo. — respondeu Sabé. — Eu era a melhor em ser o disfarce
porque era a melhor em fingir ser você. Mesmo que não saiba todos os
detalhes, posso dizer o que você diria.
— Ainda ficaria mais confortável se viesse aqui por uma semana para
que pudéssemos atualizá-la. — disse Padmé. — Tonra ficará bem sozinho?
— Ele vai ficar bem. — respondeu Sabé. — Não ficará feliz, mas ficará
bem.
— Também não acho que Typho e Mariek ficarão felizes. — disse
Padmé. — Considerando que Panás nos treinou especificamente com a
manobra de disfarce em mente, os guardas ficam muito chateados quando a
colocamos em ação.
— Pelo menos você vai contar a eles desta vez. — apontou Sabé. —
Isso vai fazer com que eles se sintam melhor.
— Espero que você esteja certa. — disse Padmé. — Versé vai transmitir
os detalhes de como vamos levá-la para a residência assim que os tivermos
descoberto. Você não precisa esperar perto do transmissor por eles.
— Bom. — disse Sabé. — É um pouco apertado neste armário e posso
ouvir Tonra se movendo do lado de fora. Acho que está começando a ficar
nervoso.
— Vá contar a ele o plano. — disse Padmé. — Manteremos contato.
Sabé assentiu com a cabeça e então a sua imagem tremeu e desapareceu.
Padmé levou um momento para se recompor. Ela se olhou no espelho e
percebeu que Versé havia arrancado todos os grampos, mas não teve tempo
de desenrolar o cabelo. Ela parecia bizarra e se perguntou por que Sabé não
disse nada. Padmé levou alguns instantes para consertar a bagunça e, em
seguida, prendeu o cabelo em uma trança simples pelas costas. Calçou um
par de sapatos macios e saiu em busca do jantar.
As outras estavam na metade de seus pimentões Rodianos recheados
quando chegou à mesa e Cordé tirou a tampa do prato que haviam guardado
para ela.
— O que Sabé queria? — perguntou Mariek.
Padmé lhes deu os detalhes sobre as informações de inteligência de
Sabé sobre a festa e o plano que haviam elaborado.
— Três aias, três guardas. — disse Mariek. — Vai ficar muito bom
quando as redes de notícias publicarem fotos nossas. Teremos que usar a
versão Naboo completa do uniforme com o chapéu, para que possamos
esconder o rosto de Sabé.
— Esse é o seu único problema? — perguntou Typho.
— Claro que não. — respondeu Mariek. — Mas vão fazer isso e desta
vez nos contaram, então vou oferecer uma crítica construtiva.
— Obrigada, Capitã. — disse Padmé.
— Veja o lado bom, Typho. — disse Dormé. Ela colocou a mão no
braço do sargento. — A senadora estará vestida com uma armadura a prova
de blaster e você ficará ao lado dela por quase a noite inteira.
— Até que ela saia correndo para ouvir tudo o que precisa ouvir. —
disse Typho. — Embora esteja feliz com a armadura.
— Prometo ficar o mais perto possível de você. — disse Padmé. Ela
sorriu maliciosamente. — Embora esteja assumindo que você nos dará
algum espaço durante a troca.
Ele realmente corou.
— Como vamos colocar Sabé para dentro? — perguntou Dormé,
graciosamente trazendo-os de volta ao assunto.
— Uma troca simples não funcionaria melhor? — perguntou Cordé. —
Quero dizer, e se um de seus guardas saísse, encontrasse Sabé em algum
lugar e então a Sabé voltasse?
— Concordo. — respondeu Mariek. — Não pode ser o apartamento,
obviamente, mas tenho certeza de que podemos encontrar um local.
— Quem você vai enviar? — perguntou Padmé.
— Corin. — disse Typho. — Ele é o único baixinho o suficiente.
— Vou alterar um uniforme para que fique bem nele e em Sabé. —
disse Dormé. — E começar a escolher o que Amidala vai vestir. Terá que
ser um vestido elaborado para justificar uma tiara e a maquiagem de que
precisaremos. E terei que garantir que o kit de maquiagem seja
transportável para que eu possa fazê-la novamente no local.
— Duas vezes. — disse Typho. — Podemos ter que trocá-las na volta
da festa também.
— Como nos velhos tempos. — disse Mariek com um sorriso. — E
muito mais fácil quando o planeta não está prestes a ser invadido por
assassinos Neimoidianos.
— Isso tira um pouco da vantagem. — disse Padmé. — Versé, quero
que descubra o máximo que puder sobre o local. Precisamos saber como
será a segurança interna. Se realmente precisa de alguém pra ir e olhar no
local, envie Tonra.
Com isso, Padmé finalmente começou a comer o seu pimentão. Versé
estava mexendo na programação do droide da cozinha novamente. Este
pimentão era significativamente mais picante do que as tentativas
anteriores, já que Versé tentava compensar o código-base Coruscanti do
droide. Ela sorriu com a boca ainda cheia e Versé respondeu com um largo
sorriso. As outras terminaram as refeições e Padmé as dispensou de suas
tarefas. Logo se sentou sozinha, embora Typho não tivesse ido além da
porta.
A sua vergonha secreta era o quanto gostava da manobra de disfarce.
Era perigoso, usado apenas quando absolutamente necessária. Elas haviam
feito versões modificadas dela várias vezes desde que chegaram a
Coruscant, mas só tinham feito uma troca verdadeira: uma com Padmé e o
disfarce presentes, naquela vez em que o droide NON funcionou mal, um
mau funcionamento que ainda não havia sido explicado, embora todos
conhecessem a afinidade da Federação do Comércio com os droides. Agora
fariam de novo, por causa da curiosidade e ambição política de Padmé, e
mesmo que tivesse certeza de que era a coisa certa a fazer, Padmé não tinha
certeza se poderia confiar em seu próprio julgamento. A manobra colocava
Sabé, de quem gostava profundamente, em perigo. Muitas coisas poderiam
dar errado; poderiam falhar de mil maneiras e o dano seria irreparável.
E adorava isso.
Adorava a emoção de ver alguém falar com Sabé pensando que era
Amidala, a qual prendia a atenção. Amava a maneira como as pessoas
olhavam através dela, Padmé Naberrie, como se não fosse nada. Adorava
pegar aquele nada e usá-lo para os seus próprios fins. E sim, era por
segurança e sim, as suas intenções eram tão nobres quanto haviam sido em
Naboo. Ela ainda se lembrava de como tinha olhado para o Capitão Panás
por cima da cabeça de Sio Bibble e assentiu com a cabeça que estava na
hora.
Somos valentes, Vossa Alteza.
Elas foram todas valentes. Era assim que as aias eram escolhidas, ou
pelo menos uma grande parte disso. Por isso Saché tinha cicatrizes em todas
as partes do corpo: porque eram valentes. Padmé nunca se permitiria
esquecer disso, nunca se permitiria descartar o que os seus amigos faziam
por ela, porque confiavam nela e acreditavam que o que estava fazendo era
certo. Eles a haviam apoiado como rainha e estavam ao seu lado agora e
faria tudo o que pudesse para se certificar de que era digna da lealdade
deles.
Tateou o pescoço em busca do medalhão, esquecendo por um momento
que não o usava mais. Ela o deu a Sabé como um símbolo, as duas garotas
em um planeta vendo o céu acima delas encher-se de naves estelares que as
bloqueavam. Foi um gesto infantil, embora não menos genuíno por sua
inocência, e um dos últimos gestos que já tinha feito. A Federação do
Comércio cuidou disso. Sabé tentou devolver o colar a ela após a Batalha
de Naboo, como Padmé havia orientado, mas então Padmé mudou de ideia
e disse a Sabé que era dela, como agradecimento de um planeta que nunca
apreciaria totalmente o que tinha feito.
Agora Padmé usava um símbolo diferente, um que era pessoal e não
tinha nada a ver com o povo de Naboo. Era feito à mão, como todos os
melhores tesouros, e representava sorte e lembrança. Padmé não gostava de
confiar na sorte e raramente precisava de ajuda para se lembrar de alguma
coisa, mas ajudava ter algo em que concentrar os seus pensamentos.
Comeu o resto do jantar, embora tivesse esfriado. Verificou se Typho
estava bem e, quando assentiu, foi até a janela e se deixou perder no brilho
das luzes.
A Senadora Amidala usava um vestido vermelho tão escuro que era quase
preto. As mangas eram longas, quase arrastando no chão quando andava, e
o colarinho ornamentado tinha centenas de minúsculas pérolas de ouro
costuradas nele. O seu cabelo estava preso em dezenas de tranças, cada uma
enrolada firmemente e presas com grampos ao longo da parte de trás de sua
cabeça. Delas erguiam-se três círculos de metal entrelaçados, sobre os quais
fios furta-cores haviam sido tecidos em teias suavemente brilhantes.
Quando ela se virava e a luz caia sobre as dobras do tecido, brilhos escarlate
e carmesim vinham de dentro, mas se você olhasse para ela rapidamente,
não notaria nada disso.
Ninguém olhou para a Senadora Amidala rapidamente.
Enquanto ela e seu grupo desciam os amplos degraus do terraço, todas
as cabeças se voltaram para eles. Padmé respirou fundo. Se eles iam ficar
olhando, faria com que fizessem isso em seus termos. Fez questão de
chegar em todos os holofotes no ângulo certo, movendo-se lentamente
enquanto a saia de aparência pesada balançava em torno de seus pés. Na
verdade, não a incomodava muito, o estilo de Naboo era bom demais pra
isso, mas parecia que sim e o visual só a tornava mais poderosa no
momento.
Encontrou Mon Mothma no meio da multidão. Havia um sorriso
satisfeito no rosto da Chandrilana, enquanto cada gravador nos jardins se
virava para monitorar a entrada de Padmé.
Vou te mostrar, Padmé pensou. Vou te mostrar o que podemos fazer
juntas.
Foram escoltados por um dos assessores de Mon Mothma, que os
examinou discretamente no processo, para um lugar sentado à vista de
todos os terraços, onde poderiam se refrescar antes de se misturarem. Versé
foi fazer o pedido de bebidas delas. Voltou depois de alguns momentos com
um pequeno droide atrás dela, um droide que imediatamente derramou um
copo de vinho Toniray na bainha de Amidala. A senadora retirou-se para o
toalete com duas de suas ajudantes e um guarda, embora não antes de
oferecer uma graciosa serenidade ao muito alarmado droide de protocolo
que veio ver do que se tratava aquele distúrbio. Versé já havia
reprogramado o droide servidor e enviado para o seu caminho.
Dormé tinha feito um trabalho incrível e já o fizera duas vezes nesta
noite. Havia praticado com Cordé por uma semana, reduzindo o tempo que
levava para aplicar a maquiagem e fazer o penteado, até que pudesse fazer
tudo sozinha em menos de dez minutos. No momento em que ela, Padmé e
Sabé se trancaram no banheiro depois de passar pela segurança, Dormé
poderia ter feito a troca inteira de olhos fechados.
— Você é um pouco assustadora. — murmurou Typho em seu ouvido
enquanto a senadora, a aia e a guarda emergiram e se juntaram ao grupo.
— Eu sei. — disse Dormé. — Essa é uma das razões pelas quais você
gosta tanto de mim.
A festa ocorria em um dos jardins públicos nos andares superiores de
Coruscant. De dia, o espaço era um mercado sofisticado, com um piso
central circular e amplos degraus em três lados. Os jardins ficavam nessas
camadas, com cada nível suportando um bioma diferente. As cabines que
normalmente ficavam ao longo das passarelas tinham sido escondidas e em
seus lugares havia assentos confortáveis, mesas de bebidas e os residentes
mais bem relacionados que Coruscant tinha a oferecer.
A Senadora Amidala era um alvo popular para qualquer pessoa com um
dispositivo gravador, mas Sabé percebeu também que muitos senadores
também a procuravam para cumprimentá-la. Estava grata pelas sessões de
estudo com Padmé. Sabia a maioria de seus nomes por meio de relatórios
de leitura, mas conectar aos rostos era totalmente novo.
— Senadora Amidala, quão agradável é ver você. — falou uma voz de
sua direita.
Sabé se virou, uma operação e tanto no vestido, e percebeu que todos
estavam prestes a enfrentar o primeiro teste real da noite. Ela esperava que
Padmé tivesse se mantido discreta.
— Senador Farr. — Sabé falou no tom modificado que Padmé havia
desenvolvido para Amidala usar em eventos sociais. Era muito mais
flexível do que a voz da rainha tinha sido. O afeto que agora infundia as
suas palavras não era fingido: também gostava do senador Rodiano, um dos
amigos mais antigos do pai de Padmé.
Onaconda Farr estava resplandecente esta noite, em um terno azul furta-
cor que fazia os seus olhos brilharem ainda mais intensamente do que
fariam à luz da noite. Ele estava sorrindo, ao menos no estilo Rodiano, e já
segurava um copo na mão esquerda.
— É tão bom finalmente ver você, minha querida. — disse Farr. Ele
ultrapassou o que Sabé consideraria uma distância segura, mas como um
velho amigo, tinha direito. — Esperava que nos encontrássemos antes, mas
suponho que queria se estabelecer um pouco primeiro.
— Sim. — disse Sabé. As aias e os guardas haviam se movido para o
lado da passarela para permitir que outros passassem enquanto os senadores
conversavam. Padmé ficou na retaguarda com Typho. — Fico feliz que
entenda. Já é difícil o bastante ser nova e, por mais que aprecie o seu
aconselhamento e orientação, não desejo ser vista como dependente das
conexões de meu pai entre outras coisas.
— Exatamente. — disse Farr. — É uma jogada inteligente, mesmo que
ambos desejemos ao contrário. Eu era, é claro, muito próximo de Valorum.
Mas você está bem?
— Sim. — respondeu Sabé. — Estou começando a me sentir bem
acomodada.
Sabé era a melhor no disfarce por uma variedade de razões e a principal
delas era o fato de que, como Amidala, podia contar verdades que
carregavam convicção, porque eram verdadeiras em relação a ela também.
Ela estava acomodada em Coruscant. Era um trabalho complicado e
opressor, mas estava encontrando o ritmo. Até estar ali nesta noite como
Amidala era parte de seu estratagema e se sentiu completa pela primeira vez
desde que pisou em Tatooine.
— Excelente. — disse Farr. — Por favor, não hesite em me visitar, se
desejar. Tenho certeza de que, pelo menos, ultrapassamos a janela de
suspeita e não precisamos mais nos evitar. Todos já sabem que é senadora
por si mesma agora, ou eles nunca saberão.
Alguém chamou o nome dele de outro piso e o Rodiano educadamente
despediu-se delas. Sabé ouviu Dormé respirar fundo ao lado dela, mas
ninguém mais teve qualquer tipo de reação.
Elas continuaram a se misturar. Amidala cumprimentou a Senadora
Bonteri e o Senador Clovis, com o último também ultrapassando a
definição de Sabé de distância segura. Cordé também se aproximou,
desviando parte da atenção dele, mas Sabé só relaxou quando ele voltou a
seguir o seu caminho. Padmé teria problemas com aquele rapaz se não
tomasse cuidado. Claro, Sabé também sabia que Padmé poderia cuidar de si
mesma. Era mais provável que Clovis tivesse problemas com ela.
Haviam dispositivos de gravação em todos os lugares, conforme
sugerido pela análise de Versé. Além dos droides e da segurança que faziam
parte da planta do parque, Mon Mothma incluiu as suas próprias medidas.
Vários senadores e todos os holojornalistas trouxeram droides pessoais.
Padmé deixou R2-D2 pra trás, decidindo que aquele não era um bom
momento para o droide fazer a sua primeira aparição pública. As aias
também eram guardas pessoais, mesmo que quase ninguém soubesse disso
e as suas memórias eram quase tão eficientes quanto as do pequeno
astromecânico.
Por fim, Sabé alcançou um banco que era largo o suficiente para se
sentar em seu vestido. Haviam decidido que fazia mais sentido que Amidala
ficasse parada, mas o lugar onde haviam se sentado originalmente era muito
perto da entrada para ser prático. As pessoas viriam até ela e formariam
uma multidão e essa multidão atrairia mais atenção. Também daria
cobertura para quando dois de seus guardas saíssem para dar uma volta.
Sabé se virou e estendeu os braços para que Dormé e Versé pudessem
ajudá-la a se sentar sem amassar o vestido e então ela foi instalada, como
tinha estado no trono de Naboo, só que desta vez ela era muito mais uma
peça de exibição do que tinha sido como um disfarce de regente.
Dormé e Versé sentaram-se ao lado dela enquanto Cordé permanecia de
pé, aparentemente para buscar qualquer coisa de que precisassem, e Mariek
ocupou seu lugar do outro lado, de pé no descanso do cortejo. Padmé e
Typho moveram-se para ficar atrás do banco, permitindo que a maior parte
do cabelo e colarinho de Amidala os obscurecesse de vista.
Mon Mothma apareceu, o seu próprio círculo pessoal se estendia atrás
dela. Dois ou três hologravadores desceram para ficar dentro do alcance de
escuta.
— Senadora Amidala. — disse Mon Mothma. — É maravilhoso ver
todos vocês aqui ao mesmo tempo. Há muita discussão sobre os seus
companheiros, como tenho certeza que sabe.
Essa foi a deixa de Dormé. Ela se levantou e fez uma reverência à
senadora.
— Tenho esperança de que possamos responder a quaisquer perguntas
sobre nosso serviço à senadora, à República e ao nosso planeta natal,
Naboo, esta noite. — disse Dormé. — É uma oportunidade maravilhosa
para nós e nossa primeira chance de aparecer em público desde que
chegamos com a Senadora Amidala.
— Obrigada por nos incluir no convite, Senadora. — disse Cordé. Ela
também se curvou.
— Claro. — disse Mon Mothma. — Você deve me desculpar. Como
anfitriã, devo cumprimentar a todos e parece que todos estão aqui.
— Estou ansiosa pra falar com você mais tarde, Senadora. — disse
Amidala. — Depois de você ter cumprido essas obrigações.
Mon Mothma foi embora e, em seu rastro, ainda mais droides
gravadores e semelhantes agrupados ao redor de onde Amidala estava
sentada. Sabé sentiu um movimento atrás dela e sabia que Typho e Padmé
estavam saindo. Silenciosamente desejou sorte a eles e então concentrou
toda a sua atenção e charme no campo de batalha à sua frente.

Foi um alívio extraordinário usar calças. Padmé facilmente acompanhou o


Sargento Typho, os dois movendo-se com fluidez através dos pisos lotados
enquanto procuravam onde seria o melhor ponto de visão. Ninguém saiu do
caminho, como fariam com Amidala, mas Padmé não precisava que
saíssem. Era muito mais confortável fazer curvas sem a necessidade de
alguém para manter a sua integridade estrutural.
— Tinha esquecido o quanto do treinamento do Capitão Panás funciona
nos dois sentidos. — disse Typho por meio do comunicador privado
conectado ao chapéu do uniforme cerimonial. — Passamos tanto tempo nos
certificando de que as aias possam se passar por você, que nos esquecemos
por quantas pessoas você pode se passar.
— Isso provavelmente fazia parte do plano dele. — respondeu Padmé.
— Sinto falta dele, sabe. O restante de vocês é excelente e eu confio
totalmente em vocês, mas ainda assim. Seu tio era único.
— Foi difícil pra você perder ele e as suas outras aias, eu acho. — disse
Typho. — Sei que isso foi por razões muito diferentes, mas ainda é uma
perda e você teve que continuar com uma equipe de apoio totalmente nova.
— Sempre achei que estava afastando o Capitão Panás de sua família.
Ele estava tão focado em mim, no trono, que nunca fazia mais nada. —
respondeu Padmé.
— Ele sempre foi assim. — disse Typho. — Mariek me disse que a
obsessão dele com a sua segurança foi a melhor coisa que poderia ter
acontecido, porque deu a ele algo em que trabalhar. Mesmo com a forma
como acabou.
— Tento dar espaço à sua família, mas sabe que se precisar de alguma
coisa, você pode pedir, certo?
— Sim. — respondeu Typho. — Mariek e Versé também sabem. E acho
que Quarsh também, em algum nível. Acho que isso vai melhorar depois
que o pulso de íons for concluído e todos tivermos algum tempo para nos
ajustar.
— Isto tem sido um desafio pra todos nós, mudar do estado-maior da
rainha para senadora. — disse Padmé. — Mas acho que superamos bem.
— Concordo. — disse Typho. — Agora, já que tecnicamente sou seu
superior no momento, por que não vasculha o bioma deserto e vou subir
mais um e vasculhar a floresta tropical. Deixe o seu comunicador ligado.
— Vou ter que limpar o uniforme de Corin pra ele. — disse Padmé,
suspirando. Ela sempre parecia acabar lidando com uma bagunça quando
estava disfarçada. Pelo menos limpar o uniforme seria mais fácil do que
raspar carbono de um droide.
Typho sorriu pra ela e começou a subir ao nível da floresta tropical.
Padmé percorreu a camada do bioma desértico, maravilhada com o quão
bem planejado os jardins eram: até o ar estava mais seco. Caminhou
propositadamente entre arranjos de suculentas e grupos de foliões,
procurando por Mon Mothma o mais casualmente que pode.
— Eu a encontrei. — disse Typho no comunicador em seu ouvido. —
Nível da floresta tropical, terceira seção.
— Cobertura? — perguntou Padmé, voltando-se para a escada pela qual
tinha acabado de passar e começando a subir.
— Principalmente arbustos de baixo crescimento, mas há algumas
árvores maiores. — relatou ele.
— Estou indo. — disse Padmé. — Veja se consegue encontrar um bom
lugar para se esconder.
— Pode deixar. — disse Typho. — Ela está com Organa, o seu amigo
Farr e alguns outros que não consigo ver com clareza.
— Bonteri? — perguntou Padmé. Ela havia chegado ao nível da floresta
e começou a percorrer os arbustos em vez de seguir pelo caminho.
— Não que eu possa ver. — respondeu Typho. — Acho que eles
escolheram este nível porque os hologravadores teriam que estar bem em
cima deles para gravar. Quase não consigo ver nada.
— Como está o som? — perguntou Padmé. A sua respiração estava um
pouco irregular por causa da rápida escalada pelo bioma, embora ela tenha
pulado levemente sobre um tronco. Ela refletiu que provavelmente deveria
adicionar algum tipo de atividade física e treinamento de segurança à sua
rotina diária, nem que fosse para manter o contato com os seus próprios
guardas.
— Muito bom. — respondeu ele. — Você está aqui?
— Bem atrás de você. — disse Padmé, ainda um pouco sem fôlego.
Para crédito dele não se assustou.
Eles se moveram em silêncio por um momento, tentando encontrar um
bom ponto de vista, mas a cobertura de árvores era uma tela muito eficaz.
— Isso não é bom. — disse Padmé. Apontou para o seu disfarce e disse:
— O objetivo disso é vê-los. — Olhou pra cima com uma expressão
contemplativa no rosto. — Você pode me segurar em seus ombros?
— Posso por tempo suficiente para você agarrar esses galhos. — disse
ele. — Aqui, dê um impulso.
Ele colocou as mãos em concha e se preparou para o peso dela. Ela se
agarrou a ele e subiu, usando o tronco da árvore para se equilibrar, até ficar
de pé sobre os ombros dele.
— Um pouco à sua esquerda. — disse ela.
Typho deu dois passos trêmulos para a esquerda e Padmé estendeu a
mão para o galho. Ela o pegou e se levantou. Quando ficou firme, ela se
apoiou no tronco novamente e olhou para onde os senadores estavam
agrupados. Do alto ela tinha uma visão clara deles. Ela examinou a área ao
seu redor em busca de câmeras ou medidas de segurança e como não
encontrou nenhuma, voltou a sua atenção para o solo.
— Só não tenho certeza se ela é confiável. — Farr estava dizendo.
Os sentimentos de Padmé foram feridos. Tinha pensado que pelo menos
o velho amigo de seu pai confiaria nela.
— Ela está recebendo transmissões altamente criptografadas de fora do
planeta e não fala sobre elas. — continuou Farr.
Padmé franziu a testa, confusa por um momento. Não estava recebendo
transmissões de ninguém além de Sabé e enquanto Sabé estava usando um
sinal criptografado, não fez nenhuma tentativa de disfarçar o fato de que
vinham de Coruscant.
— Está tentando recrutar a Senadora Amidala para o que quer que
esteja fazendo. — disse Organa.
A clareza despertou em Padmé. Eles não estavam discutindo sobre ela;
estavam discutindo a Senadora Bonteri.
— Devemos deixá-la? — perguntou Mon Mothma. — Pode ser mais
fácil virar a Senadora Amidala.
— Não acho que você deva subestimá-la. — respondeu Organa. — Não
vai deixar você usá-la e ela é muito inteligente para não perceber o que está
fazendo se tentar.
— Ela é leal? — perguntou Mon Mothma. — Naboo é leal?
— Acho que sim. — respondeu Farr. — E eu acho que Naboo também.
Eles seguirão a liderança dela.
— Acho que devemos arriscar perguntar a ela abertamente. — disse
Organa. — Hoje à noite, se pudermos afastá-la de sua comitiva.
O estômago de Padmé caiu em suas botas.
— Ah, não. — disse ela calmamente.
— O quê? — perguntou Typho.
— Estou descendo. — respondeu ela.
— Escale, não pule. — ordenou Typho, embora pular fosse mais rápido.
— O terreno é muito irregular para um apoio decente.
— Você está conectado com Mariek? — Padmé desceu com
dificuldade.
— Não neste canal. — respondeu ele. Ele estendeu a mão para guiar os
pés dela de volta aos seus ombros e grunhiu quando o peso dela caiu sobre
ele. — Mas eu posso trocar. Por quê?
— Diga-lhe que Dormé e Sabé me encontrem de novo no banheiro. —
respondeu Padmé. — O senador Organa quer ter uma conversa séria com
Amidala e ele não pode tê-la com Sabé pela mesma razão que Sabé não
poderia estar escalando esta árvore. Eles vão confiar em mim, então tem que
ser comigo que conversarão.
Ela encostou-se ao tronco da árvore e deslizou pelas costas de Typho tão
graciosamente quanto pode com pressa, o que significava: não muito. Ela
não ficou por perto para ouvir Typho retransmitir o comando, mas se dirigiu
para a escada na velocidade casual mais rápida que conseguiu. Um guarda
com pressa chamaria a atenção e ela precisava evitar isso agora mais do que
nunca. Ela desceu as escadas, passou pelo bioma deserto e voltou para a
caixa circular no centro do jardim. No meio do caminho ela ficou presa
atrás de uma multidão de Ithorianos lentos que se recusaram a sair de seu
caminho, mesmo depois de vê-la. Levou quase cinco minutos para passar
por eles educadamente e, a essa altura, teve certeza de que Organa estaria à
sua frente.
Por fim, alcançou o fundo. Viu Dormé e Sabé caminhando até a porta
do banheiro e arriscou um olhar através da praça para a escada por onde o
Senador Organa provavelmente desceria. Ele não estava lá, então se
posicionou atrás do ombro direito de Amidala. Estavam quase lá.
O Senador Organa apareceu de uma entrada totalmente diferente, bem
na frente delas. Tentou iniciar uma conversa com Amidala, mas
rapidamente percebeu para onde ela estava indo e deu um passo para o lado
para deixá-la passar. Deu um passo para a esquerda, não longe o suficiente
para sair do caminho do guarda e olhou Padmé bem no rosto.
Ele parou.
Ela não.
Contornou-o e acompanhou Sabé nos últimos passos até o banheiro.
Antes que a porta se fechasse, ela ouviu uma risada baixinha.
A Senadora Amidala deu uma volta completa no jardim aquático no braço
do Senador Organa. Olharam para as piscinas elegantes, cada uma mantida
em vários níveis por campos de repulsores intrincados. Admiraram as flores
que cresciam na superfície de um lago que brilhava com uma luz roxa fraca.
Permaneceram embaixo de uma árvore que tinha bolhas em vez de folhas e
ouviram o som efervescente suave enquanto as bolhas flutuavam para longe
dos galhos e subiam em direção à próxima camada. Estavam estranhamente
despreocupados com os hologravadores, em grande parte graças ao
bloqueador de sinais que o Senador Organa usava em seu cinto, escondido
pelas dobras de sua capa.
E enquanto caminhavam, discutiam muitas coisas.
— Você está em uma companhia seleta, Senador. — disse Padmé a ele.
Eles pararam para deixar um grupo maior passar por eles. Vários deles
desejaram boa noite ao Senador Organa e nenhum deles deixou de receber
as boas-vindas. — Apenas algumas pessoas sabem até onde os meus
guarda-costas mais leais podem chegar e apenas uma outra pessoa
descobriu por conta própria enquanto estávamos no meio de um disfarce.
— Acho que foi principalmente por acaso. — disse ele. — Se não
tivesse te pegado naquele momento, naquela iluminação e com aquela
expressão em seu rosto, não teria me ocorrido.
— Geralmente sou muito melhor em controlar minha expressão. —
admitiu Padmé tristemente. — Estávamos em uma situação mais difícil do
que o normal, embora suponha que, pelo menos desta vez, a única coisa em
jogo era meu orgulho profissional.
— Quem é o outro? — perguntou Organa.
— O nome dele era Qui-Gon Jinn, um Jedi. — respondeu Padmé. Como
sempre, uma sensação de tristeza quase esmagadora a ameaçava quando
pensava nele. Ele tinha sido paciente e compreensivo com ela, nunca
pedindo mais do que estava disposta a dar e ele deu tudo, no final. —
Morreu defendendo Naboo durante a batalha pelo planeta contra a
Federação do Comércio. Os Jedi o homenagearam lá e nós o honramos
como um herói.
— Lamento por sua perda, mas devo admitir que gosto de estar em uma
companhia tão excelente. — disse Organa. Ele fez uma pausa, claramente
considerando como formular a sua próxima pergunta. — A sua vida é
realmente tão perigosa que tais medidas extremas são necessárias ou isso é
algum tipo de paranoia?
— Um pouco dos dois, acho. — respondeu Padmé. Ela sabia que era a
paranoia que havia estimulado Panás a abraçar a velha tradição com tanta
veemência, mas o sucesso do plano era inegável. — Mas toda vez que
penso que estou ficando paranoica, algo acontece.
— Tipo o quê? — perguntou Organa.
— Você se lembra de como nos conhecemos, Senador? — perguntou
Padmé. — A segunda vez?
Organa riu.
— Você foi para a porta errada no prédio do Senado. — respondeu ele.
— E quase foi incinerada.
— Fomos enviadas para lá, Senador. — disse Padmé. Ela estava falando
em seu próprio tom de conversa, mas escorregou para o de Amidala quando
chegou a um assunto tão sério. — Minha unidade NON foi programada
para nos levar até lá naquela hora. Na verdade, você falou com Cordé. Eu
era a aia e você nem olhou pra mim, mas isso é bastante comum. Em
qualquer caso, todo o arranjo foi um atentado contra a minha vida.
— Você diz isso com notável calma. — observou Organa.
— Não foi uma tentativa particularmente boa. — disse Padmé a ele. —
E não foi a primeira.
— Viu, isso só me deixaria menos calmo. — disse Organa. — Mas
entendo a sua necessidade de segurança tão intensa agora. Todos os
senadores e políticos levam vidas complicadas, mas a sua parece ter a
intenção de superar o resto de nós.
— Você frustra os planos de uma conspiração comercial em toda a
galáxia e eles guardam rancor pra sempre. — disse Padmé sarcasticamente.
— Você custou a eles uma quantia inconcebível de dinheiro. — disse
Organa. — Antes de começarem a pagar as taxas legais de Nute Gunray.
— Há momentos em que isso me faz sentir melhor. — disse Padmé. —
Como foi parar lá naquele dia?
— Você suspeitou das minhas intenções? — perguntou Organa. Ele não
pareceu ofendido.
— Eu confio em você desde o dia nos jardins do Senado. — respondeu
Padmé. — Mas emprego um grande número de pessoas altamente treinadas
cujo trabalho é suspeitar de senadores estranhos que encontro em
corredores escuros.
— Eu estava saindo do prédio e vi o seu speeder passar dos limites de
segurança. — esclareceu ele. — Eu me perguntei por que a unidade NON
não notificou você, mas quando ficou óbvio que não estava voltando, eu a
segui. Não pude comunicá-la, porque não conhecia o seu canal privado,
então a intervenção direta era a única opção.
— Isso certamente fará com que a Capitã Mariek se sinta melhor sobre
você. — disse Padmé. — Agora acredito que você tem algumas perguntas
pra mim.
— No Senado, a lealdade é uma coisa sutil e mutante. — respondeu
Organa. — Mas existem certos limites.
— Como atacar um planeta soberano e mantê-lo como refém? —
perguntou Padmé. — Não espere, isso é permitido, desde que você possa
pagar os seus aliados para votarem a seu favor.
— A lealdade à República é fundamental. — respondeu Organa. Ele
conseguiu não soar condescendente, o que Padmé apreciou. — Lealdade à
democracia.
— E se a democracia não retribuir o favor? — perguntou Padmé.
— Então você deve trabalhar para restaurar o processo democrático. —
respondeu Organa. Sei que o Senado não agiu rápido o suficiente para
Naboo, mas a nomeação do seu senador para chanceler paralisou todas as
discussões sobre todos os tópicos, exceto aquela eleição. Você pode
trabalhar através dos canais adequados.
— O que te faz pensar que não vou? — perguntou Padmé.
— As suas ações como Rainha de Naboo. — respondeu Organa. — As
suas ações agora. Você fica de fora de quase todos os comitês e não tem
nenhuma facção.
— Minha escolha de aliados me manteve viva em mais de uma ocasião,
Senador Organa. Eu levo muito a sério o comprometimento com uma
facção. — disse Padmé. — E para ser totalmente honesta, estou
considerando fortemente a sua, mas não achei que você me aceitaria.
— Vamos aceitar você agora. — disse Organa. — Minha palavra tem
muito peso e Mon ficará grata pela distração esta noite, uma vez que ela
descobrir que você a forneceu deliberadamente. Entre nós dois e o Senador
Farr, você receberá um lugar.
Não duvidou dele nem por um momento.
— Não vou espionar Mina Bonteri. — declarou Padmé. — E também
não vou desistir da minha amizade com ela. Devo admitir que também
estou curiosa sobre as atividades dela, mas não vou relatá-las a vocês, a
menos que sinta que a situação o mereça.
— Estaremos contentes com isso. — disse Organa. — Só pediria que
sempre fosse tratado direto com você, nunca com uma de seus sósias.
— Justo. — disse Padmé. — Nós só tomamos as nossas medidas de
segurança esta noite porque Mon Mothma me convidou aqui para servir
como uma distração para a discussão de vocês. Não havia perigo, eu
simplesmente precisava estar livre para me mover.
— Imagino que você está prestes a se tornar muito menos interessante
para as redes de notícias. — disse Organa. — Mon Mothma pode ter alguns
contatos para ajudá-la a tirá-los de você.
— Mesmo os pertencentes a subsidiárias da Federação do Comércio? —
perguntou Padmé. Quatro anos como senadora não poderiam dar a Mon
Mothma tanta influência.
Organa a olhou com alguma surpresa.
— Você costuma dormir? — perguntou ele.
— Claro. — respondeu Padmé. Ela não estava prestes a revelar todos os
seus segredos.
— Ela vai tirá-los do seu pé. — disse Organa. — Até a Federação do
Comércio trata Chandrila com cuidado.
— Fico feliz em ouvir isso. — disse Padmé, embora se perguntasse qual
seria o custo e a quem pagaria. — Você vai me levar de volta aos meus
guardas? Dormé arrumou o meu cabelo com pressa e está bem apertado.
Estou começando a ficar com dor de cabeça.
— Estou surpreso que consiga se mover nessa coisa toda. — respondeu
Organa.
— Anos de prática. — disse ela. — Além disso, você tem o
embaralhador de sinal sob a sua capa. Imagine o tipo de tecnologia que
posso esconder se for necessário.
Eles não ficaram muito tempo depois que Organa devolveu Padmé aos
outros. Mon Mothma falou com ela brevemente, prometendo uma
atualização em breve e agradeceu por ser uma distração tão excelente para
as redes de notícias. Padmé apertou a mão e fez o possível para não notar o
sorriso malicioso do Senador Organa.
Sabé os deixou na porta dos jardins, mas Padmé conseguiu falar
rapidamente com ela antes que desaparecesse.
— Obrigada, minha amiga. — disse ela. — Acho que esta será a última
vez que chamo você para tomar o meu lugar.
— Foi quase divertido desta vez. — disse Sabé. — A falta de perigo
mortal significava que poderia realmente gostar de estar no comando.
— Estou feliz que tudo deu certo. — disse Padmé. — Tire alguns dias
de folga, se precisar. Espero que tudo se acalme um pouco, agora que Mon
Mothma me colocou sob a sua proteção.
— Eu vou. — disse Sabé.
Ela beijou Padmé na bochecha e desapareceu no fluxo vibrante da noite
iluminada pelo neon de Coruscant. Padmé voltou-se para Typho, que a
esperava, e deixou que a levasse ao seu transporte.
— Obrigada a todos. — disse ela, relaxando na companhia deles. —
Agora vamos para casa.

Sabé sentiu que cada um de seus nervos estava zumbindo enquanto voltava
para o apartamento. Era sempre assim quando uma mudança finalmente
acontecia. Ela poderia manter a calma enquanto fosse o disfarce, não
importando o que estava em jogo. No momento em que Sabé estava livre
para ser ela mesma novamente, no entanto, todos os seus sentimentos
colidiam com ela ao mesmo tempo e isso sempre a deixava nervosa.
Também estava com fome, já que não conseguiu comer durante a maior
parte da noite, mas decidiu esperar até chegar em casa antes de parar para
comer.
Estava em estado de alerta máximo, provavelmente se movendo como
uma espécie de viciada em estimulantes e repassando todas as cenas da
festa em sua mente. Ela enganou Onaconda Farr! O qual realmente
conhecia ela e Padmé. Em seguida, cortejou em meio à atenção constante
da câmera e do holojornalista durante a maior parte da noite, sem piscar
nem um cílio. Sentia que poderia fazer qualquer coisa, ser qualquer um, ser
Senadora Amidala, ser Rainha de Naboo novamente. A sua adrenalina
disparou e refletiu que provavelmente era melhor voltar pra casa. Estava
pior do que uma drogada agora e precisava de algo para acalmá-la.
O apartamento estava escuro quando a porta se abriu para deixá-la
entrar e ela pensou que talvez Tonra tivesse saído. Então ela notou as botas
dele, perfeitamente alinhadas ao lado do espaço onde as dela ficavam e
percebeu que ele devia apenas estar na cama. Ela tirou as botas o mais
silenciosamente que conseguiu e foi na ponta dos pés até a cozinha ver se
havia algo para comer. Ela tinha acabado de começar a vasculhar um dos
armários quando a luz se acendeu e ela saltou.
— Tonra! — disse ela, virando-se para vê-lo. — Você me assustou.
— Primeira vez para tudo, eu acho. — disse ele. Ele estava vestido para
dormir, com o seu corpo alto encostado no batente da porta enquanto olhava
pra ela. — Você está bem?
— Sim. — respondeu ela. Ela desistiu de conseguir comida de verdade
e abriu uma barra de ração. Não era muito saborosa, mas fazia o trabalho
rapidamente. — Estou bem, Padmé está bem. Está tudo bem.
— Fico feliz em ouvir isso. — disse ele. — Senti a sua falta esta
semana.
Ela não o contatou. Nem uma vez. Era um procedimento, claro, mas
agora desejava que tivessem estabelecido um protocolo para se encontrar
enquanto estivesse fora. Deve ter sido um inferno pra ele esperar e não
ouvir nada.
— Também senti a sua falta. — disse ela. — É tão fácil ser pego na
órbita de Padmé, mas perdi o trabalho que fazemos aqui.
— Ela é sua amiga há muito tempo. — disse Tonra. — Faz sentido que
se prenda a ela quando está com ela.
— É mais do que isso. — disse Sabé. Ela terminou a barra de ração e
limpou as migalhas das mãos. Nunca foi fácil explicar, mesmo para as
pessoas mais próximas, o vínculo que todas as aias compartilhavam.
— Você a ama. — disse Tonra. Sabé congelou.
— Claro que sim. — disse ela. Ela encontrou o olhar dele. — É um
relacionamento complicado. Ela pode me mandar para a morte e eu irei. E
ela sabe disso. Temos trabalhado muito para manter um equilíbrio que
nunca teremos de verdade. Pelo que posso ver, ela sempre escolherá Naboo
e eu sempre a escolherei.
— Sinto muito. — disse ele.
Não suportava a pena dele. Mais importante, não precisava disso.
— Eu não. — respondeu ela. — Sou o braço direito de Padmé Amidala
Naberrie e sempre serei, mesmo se um dia ela decidir seguir o seu caminho
em outro lugar. Não trocaria o meu relacionamento com ela por nada na
galáxia.
— Nem mesmo por alguém que escolher você? — perguntou Tonra. Ele
era uma pessoa grande, mas pareceu menor quando disse isso e
completamente vulnerável. — Alguém que ama você ou pelo menos pensou
que amaria?
Houve um tempo em que Sabé teria lidado com esse tipo de coisa na
hora. Tonra nunca foi exatamente secreto sobre os seus sentimentos, mas
ouvi-los assim era um assunto totalmente novo. Antes, o seu serviço à
rainha tornava difícil manter relacionamentos externos. Agora, porém, era
uma situação totalmente diferente, mesmo que muitos de seus próprios
sentimentos permanecessem inalterados.
— Bem, essa é a questão. — respondeu Sabé. Ela deu um passo na
direção dele. — Nunca tive que escolher entre vocês. A escolha já está
feita. Depende de você decidir se quer fazer parte do que eu sou.
Sabé nunca tinha sido tão honesta com um parceiro em potencial antes,
embora Tonra já fosse o seu parceiro de várias maneiras que importavam
muito. Talvez seja por isso que estava sendo tão direta com ele. Queria que
soubesse no que estava se metendo e, de repente, decidiu que gostaria muito
que se metesse.
Tonra não se moveu, nem mesmo um pouco, então cruzou a sala até
onde ele estava, bem dentro de seu alcance e esperou que ele se decidisse.
— Bem. — disse ele por fim. — Acho que gostaria de tentar.
— Bom. — disse ela.
Então fechou as mãos na gola da túnica dele, puxou o rosto dele para
perto do dela e o beijou.
Pretendia que isso fosse uma espécie de teste, para ver se realmente ia
funcionar, mas floresceu em algo mais profundo quase imediatamente. As
mãos dele encontraram a cintura dela, então as costas dela e ele a
pressionou contra o seu peito, mesmo quando tentou puxá-lo para mais
perto do que ele já estava. A boca dele amoleceu e se afastou por um
momento para respirar e pressionou beijos mais suaves contra o pescoço
dela. Não conseguiu evitar o barulho que fez quando ele beijou o buraco da
garganta dela, bem entre os dois lados de seu colarinho uniforme e sentiu
tanto quanto ouviu isso quando ele riu.
A boca dele voltou para a dela, mais exigente agora, e como ela também
tinha algumas exigências, ela deixou que ele a empurrasse de volta para o
balcão. Quando ela não podia ir mais longe, as mãos dele apertaram ao
redor dos quadris dela e ele a subiu até que ela estava sentada na borda com
as pernas dela enroladas ao redor dele.
— Esta é uma altura muito melhor pra você. — disse ele.
— Cale a boca. — disse ela. Ele estava certo, no entanto. Dali era muito
mais fácil alcançar, agarrar a bainha da túnica dele puxá-la sobre a cabeça
dele.
Ele riu.
— Quanto esforço você tem em mente para o futuro imediato? —
perguntou ele. Começou a trabalhar nas várias fivelas que mantinham o
uniforme dela no lugar. Sabia onde todas elas estavam, é claro, e sua
familiaridade o levou a ser altamente eficiente, embora parecesse encontrar
em cada pedaço recém-exposto da pele dela uma distração sublime.
Fez uma pausa com as mãos no cinto dele e sorriu.
— Avisarei se eu quiser que você pare. — disse ela.
Essa foi a última frase completa que qualquer um deles disse durante
um tempo.
Depois de um início um pouco irregular em sua carreira na política
galáctica, a Senadora Padmé Amidala de Naboo parece estar se
adaptando. Agora membro de vários comitês de prestígio, a ex-rainha
planetária tornou-se uma voz para outras pessoas além da sua, na mais
louvável das maneiras: ajudando-as a construir os próprios telhados acima
de suas cabeças.
Trabalhando ao lado de senadores renomados como Mon Mothma, de
Chandrila, e Onaconda Farr, de Rodia, a jovem Amidala está ajudando a
servir a galáxia enquanto ainda respeita o seu mundo natal por meio de seu
estilo e maneira de se vestir, chamados de “bom gosto” e “chique
tradicional”. A Senadora Amidala é o novo rosto de que o Senado precisa.
Quaisquer rumores de piratas no setor são, neste momento, infundados.

— TriNebulon Notícias
Os seis meses seguintes de serviço da Senadora Amidala à República
Galáctica correram muito mais suavemente. Os seus novos aliados fizeram
com que ela fosse convidada a participar de mais comitês e que as moções
que ajudou a escrever realmente receberam tempo de uso do plenário. Ela
ainda não havia apresentado nenhuma moção por conta própria, mas
descobriu que agora que estava trabalhando com pessoas de quem gostava,
não se importava em assumir um papel secundário por enquanto,
principalmente porque muitas das leis que apoiava pareciam estar
caminhando.
Não concordava com tudo o que Mon Mothma defendia e com
frequência discutiam muito na privacidade de seus próprios escritórios. A
senadora Chandrilana era pacifista, o que Padmé admirava, mas tendo tido
que defender o seu planeta no passado, descobriu que estava mais aberta ao
conflito direto. Este era um assunto que sabia que nem todos de Naboo
concordariam com ela. O povo de Naboo se orgulhava de seu pacifismo
quase tanto quanto se orgulhavam de seus esforços artísticos, mas a invasão
da Federação do Comércio e a aliança resultante com os Gungans mais
militaristas causaram uma ligeira mudança na política de Naboo. Mon
Mothma desaprovava isso e nunca perdeu a chance de confrontar Padmé
por causa disso.
— Devemos armar cada transporte de carga, então? — disse Mon
Mothma no final de um debate sobre a pirataria nas rotas do hiperespaço
galáctico.
Ainda não havia um comitê oficial, apesar da previsão de Cordé, mas os
piratas eram uma ameaça específica a qualquer legislação sobre transporte.
Eles eram exigentes com relação aos seus alvos e pareciam correr riscos
além do razoável para atacar qualquer comboio com materiais de
construção, alimentos ou outras necessidades práticas. Eles não tinham a
quantidade de pessoas para fazer os ataques que fizeram, mas mesmo assim
eles atacaram. Padmé estava começando a ter algumas suspeitas sobre a
coisa toda, mas ainda não estava confiante o suficiente para expressá-las
fora de um comitê.
— Se você se lembra, a minha proposta era proteger alvos de alta
prioridade com as naves canhoneiras da República. — disse Padmé
friamente.
Padmé poderia dizer que Mon Mothma estava apresentando um
argumento extremo, mas na frente de testemunhas e conselheiros confiáveis
era um luxo argumentar mais fervorosamente do que o plenário do Senado
permitia.
— E quando os piratas se organizarem em uma força ainda maior? —
perguntou Mon Mothma.
— Talvez então possamos pegá-los. — respondeu Padmé. — Do jeito
que está, os seus ataques menores são muito difíceis de rastrear, mesmo
para os nossos droides de sondagem. Um esforço maciço da parte deles
pode tornar mais fácil para nós rastreá-los.
— Há muito risco... — começou Mon Mothma, mas o Senador Organa
a interrompeu.
— Acho que estamos saindo um pouco do assunto. — disse ele. — Se
vocês se lembram, estávamos discutindo como poderíamos incorporar
melhor a oferta de reservas de combustível de Malastare para facilitar o
envio de permacreto para Coyerti.
Eles caíram em uma discussão menos acalorada e Padmé pensou, não
pela primeira vez, que detectou a sugestão de um sorriso no rosto de Mon
Mothma. Ela não ficaria surpresa. Ao contrário dos argumentos feios sobre
o pulso de íons de Naboo, Padmé gostava bastante desses debates. Discutir
com alguém que quase concordava com ela na maioria dos assuntos a
ajudou a aprimorar os seus argumentos de discussão e estava aprendendo
muito. Padmé tinha descoberto que as posições de Mon Mothma eram
extremas no início da maioria das conversas e quase sempre se moviam
para o meio enquanto chegavam a um acordo. Era uma habilidade útil e que
Padmé sabia que precisava dominar.
Não era fácil. Tinha dificuldade em transformar os seus debates em
experimentos mentais acadêmicos em vez de tópicos reais que afetavam os
seres reais. Não gostava de dizer uma coisa, mas querer dizer outra coisa,
mesmo como meio de chegar a um acordo.
— Não acho que isso seja uma coisa ruim. — disse Onaconda Farr a
ela.
Foi um raro momento de vulnerabilidade para Padmé e tinha confessado
as suas inseguranças para o amigo da família dela, não para o seu colega
senador. Ele era inteligente o suficiente para ver isso e a aconselhou como
tal.
— Você não é tão ingênua. — continuou ele. — Ou pelo menos está
ciente dos assuntos sobre os quais é ingênua, o que é mais do que eu posso
dizer sobre mim mesmo, tenho certeza. Ser uma pessoa boa e honesta não a
torna uma senadora pior. Você encontrará o seu próprio equilíbrio.
— E se eu não fizer isso rápido o suficiente? — perguntou Padmé.
— Você tem muito tempo. — disse ele, mas esse era o único ponto em
que Padmé não tinha certeza se ele estava certo.
Segundo Sabé, a opinião pública de Padmé estava em alta. Ninguém em
Coruscant realmente se importava com o Senado ou com os procedimentos
senatoriais, mas liam os noticiários, e Amidala ainda aparecia neles com
certa regularidade. O tom mudou, entretanto. Antes, onde haviam rejeitado
o seu estilo elaborado de vestimenta como o adorno de uma jovem
aristocrata, agora discutiam sobre ela em termos de honrar a tradição e
adaptar os costumes de Naboo enquanto estava na capital. Não usavam
mais a personalidade dela para puxá-la para baixo. Foi frustrante, porque as
redes de notícias estavam relatando exatamente os mesmos assuntos de
antes; eles estavam apenas escrevendo sobre eles de um ângulo diferente.
— Bem. — disse Sabé. — Pelo menos é mais fácil para todas nós com
Mon Mothma dando as cartas.
— É tão inútil! — argumentou Padmé. — As redes de notícias devem
ser imparciais, não controladas por investidores tendenciosos e, em vez
disso, controlam a opinião pública de todos nós e manipulam a verdade. E
se Mon Mothma e eu tivéssemos uma briga? Então estaríamos de volta ao
início, embora não ache que ela seja tão mesquinha quanto Nute Gunray.
— Eles precisam ganhar dinheiro de alguma forma. — disse Sabé. —
Você poderia trabalhar para controlar os holonotícias, se quiser, mas acho
que nós duas sabemos que tem outros planos.
Era um ponto delicado. A moção do Chanceler Palpatine para aumentar
o trabalho da República contra a escravidão falhou meses depois dele ter
lhe prometido que estava trabalhando nisso. Quando foi finalmente
apresentada, estava tão fraca e ineficaz que Padmé poderia dizer que não
faria nenhuma diferença. E então não recebeu votos suficientes de qualquer
maneira e desapareceu de volta no comitê. Padmé se manteve a par dos
desenvolvimentos, mas ficou fora do comitê a pedido de Palpatine.
— Naboo não pode ser visto como muito envolvimento, minha querida.
— reiterou ele, quando ela perguntou novamente sobre se juntar ao comitê
após a votação fracassada. — É o preço que Naboo paga por ter um
chanceler e uma senadora. Estou fazendo o possível para representar a sua
voz, porque sei o quanto isso significa para você, mas se for de
conhecimento público que estamos trabalhando juntos em um tema tão
potencialmente radical, temo que haverá apenas mais obstáculos em nosso
caminho.
Não concordou totalmente com ele, mas respeitou a sua posição e
confiou nele o suficiente para concordar, pelo menos por agora. Não parava
de pensar nisso, no entanto, e muitas vezes fazia anotações sobre o assunto
para o dia em que poderia falar sobre isso em público.
Mesmo com esses obstáculos, Padmé havia se estabelecido bem entre os
vários dignitários do Senado. O senador Clovis ainda aparecia em seu
escritório, sempre sem avisar, para a frustração incessante de Mariek, para
falar com ela, mas eles não tinham nenhuma sobreposição real em suas
operações no dia a dia. Ele tinha seguido os interesses do Clã Bancário e
não sabia dizer se ele tinha algum interesse próprio ou se as prioridades de
Scipio alguma vez divergiram das do banco.
— Ele é muito inteligente. — disse ela à Cordé uma tarde depois que
Clovis partiu. Mariek o tinha visto sair e voltou, resmungando sobre a
educação de ligar antes. — Mas não tenho certeza se ele vai agir de forma
independente.
— Nem todo mundo tem o seu estilo de comunicação. — disse Cordé.
— Alguém tem que seguir adiante, ou o Senado gritaria ainda mais do que
já grita.
— Talvez. — disse Padmé. Certamente um senador era de pouca
utilidade se tudo o que fizesse fosse acompanhar. Até mesmo o
representante da Federação do Comércio, Lott Dod, que quase certamente
era um fantoche de Nute Gunray, usava a sua posição para falar de vez em
quando, embora Padmé não confiasse nem um pouco no Neimoidiano.
Ainda assim, conforme a sessão legislativa se aproximava do fim e os
vários senadores se preparavam para retornar a seus mundos natais para o
recesso, Padmé conseguiu ver o que havia conquistado desde a sua chegada
a Coruscant com certo orgulho. Não tinha as conexões e a influência que
Palpatine tivera como senador, mas estava no caminho certo para conquistá-
las.
Ajudou Dormé a terminar de empacotar o restante do que levariam para
Naboo para o intervalo, empilhando as caixas cheias em um palete flutuante
para que R2-D2 as transportasse para fora do vestíbulo, onde Cordé
supervisionava o processo de carregamento. Era um trabalho relaxante,
dobrar panos e embrulhar peças de joias em caixotes de embalagem. Sentia
falta de trabalhar com as mãos, algo que todos os de Naboo foram treinados
desde o nascimento para fazer e apreciar.
Era a única coisa que a incomodava, apesar de como tudo estava indo
bem em Coruscant. Mesmo que só fosse senadora há cerca de oito meses,
viu-se caindo na persona da Senadora Amidala muito, muito mais decisiva
do que já fez como rainha. Quando era rainha, sabia que o seu tempo iria
acabar e que um dia Padmé Naberrie faria o seu retorno à população em
geral e teria que construir uma vida para si mesma. Agora percebeu que a
Senadora Amidala poderia ser quem era para sempre. Não havia limite de
mandatos para senadores e Padmé sabia que era boa no trabalho que estava
fazendo. Mas sentiu a posição a engolindo. Cada vez que comprometia os
seus ideais. Toda vez que mentia por omissão para um bem maior. Não
tinha certeza se esse era o tipo de futuro que queria, construir coisas com
palavras em vez de ações ou material físico.
Ela sentiu que esta Amidala era outro papel que estava desempenhando.
Como sempre estava feliz em servir, e, de forma egoísta, sentia grande
prazer nas vitórias que conseguiu ajudar a ganhar no plenário do Senado.
Mas sabia que havia mais e, pela primeira vez em sua vida, estava
começando a querer. Não sabia quantas novas identidades tinha deixado
para Amidala. Não foi trabalho de hackeamento que lhe permitiu se
reinventar de cidadã para princesa, para rainha e depois para senadora,
apenas força de vontade. Este recesso era exatamente o que precisava. Seria
hora de visitar a sua família, de conversar com a rainha e de realmente
considerar o seu futuro mais uma vez.
O seu comunicador soou assim que Dormé terminou com o que restava
no guarda-roupa e Padmé a dispensou para atender a ligação em particular.
Ativou o holo e o Senador Organa apareceu diante dela.
— Senadora Amidala. — disse ele. — Estou feliz por tê-la encontrado
antes de partir.
— Houve alguma emergência? — perguntou ela. Ela tentou reprimir a
onda de ressentimento que sentiu com a ideia de que teria que ficar. Afinal
era o trabalho dela.
— Não, nada disso. — respondeu ele. — A minha esposa, a Rainha de
Alderaan, pede desculpas pelo convite tão tarde, mas queria que
perrguntasse se você consideraria vir nos visitar por um tempo antes de
retornar a Naboo. Ela sabe que não é caminho, mas você e os seus
companheiros seriam muito bem-vindos, se vocês pudessem vir.
— Eu ficaria honrada. — disse Padmé. Ela caiu na formalidade com a
palavra rainha, por causa dos velhos hábitos. — Posso ter algum tempo
para abordar o assunto com o meu pessoal? Eles estão longe de casa há
muito tempo e não gostaria de forçá-los a ficar mais tempo fora.
— É claro. — respondeu o Senador Organa. — Não vou embora até
amanhã.
Eles se despediram e Organa desligou. Antes que Padmé pudesse se
levantar e sair, outra mensagem chegou, com um código que não podia
ignorar. Ela respirou fundo antes de responder.
— Chanceler Palpatine. — disse ela. — Espero não ter feito você
esperar. Estava em outra ligação.
— Não é nada, minha querida. — disse ele. — Eu sempre posso
arranjar tempo pra você.
Isso era obviamente falso, pois haviam vários aspectos do trabalho do
Chanceler que o tornavam inacessível o tempo todo, mas ela apreciou o
sentimento.
— Como posso ajudá-lo, Chanceler? — perguntou ela.
— Eu esperava que você transmitisse algumas observações minhas à
Rainha Réillata. — disse ele. — No seu retorno para casa.
— Estou feliz por fazer isso. — disse Padmé. — Mas estamos indo para
Alderaan por uma semana antes de irmos para Naboo, então você pode
querer enviar uma mensagem separada de mim, também.
Palpatine costumava demonstrar um ar de desinteresse geral quando
falava via holograma. Padmé desconfiava que era porque havia um fluxo
constante de informações circulando em seu escritório e a atenção dele
estava sempre dividida. Em sua observação, entretanto, o seu foco estreitou-
se completamente sobre ela e descobriu que estava suprimindo um arrepio.
— Não sabia que você era tão próxima de Bail Organa a ponto de visitá-
lo em casa. — disse ele.
— O convite é da rainha. — explicou Padmé, embora não tivesse
certeza de por que isso importava. — Ela deseja falar comigo como um ex-
monarca, não como uma senadora.
— Entendo. — disse Palpatine. Padmé quase podia ver os cálculos
girando na cabeça dele, embora não pudesse saber o que qualquer um deles
significaria. — Vou encaminhar a minha mensagem para a Rainha Réillata
eu mesmo, então. — continuou ele. — Porém, por favor, transmita uma
saudação aos seus pais e à sua irmã quando você finalmente retornar à eles.
— Claro. — disse Padmé.
A imagem do Chanceler piscou e desapareceu sem dizer mais nada.
Padmé se permitiu um momento de raiva puramente egoísta, saboreando a
sensação dela fervendo em seu sangue. Não podia ajudar as pessoas
escravizadas com dinheiro e não podia ajudá-las com políticas. Essas eram
as suas duas maiores áreas de influência e tinha tão pouca influência que o
Chanceler nem mesmo disse uma despedida adequada. Sentiu um breve
lampejo de desespero, o mais perto que chegou de desistir. Então desligou o
comunicador.
Padmé respirou fundo e saiu para a sala de jantar. Haviam grandes
janelas que davam para a paisagem urbana, mas hoje estava tão enevoado
que era difícil ver muito além das faixas normais de tráfego. Fez uma
ligação geral, pedindo às suas aias e guardas que se juntassem a ela quando
pudessem. A maioria deles apareceu quase imediatamente, embora Cordé
tenha se atrasado por causa de sua tarefa na pista de pouso.
— Fomos convidados para Alderaan. — disse Padmé como introdução.
— Todos nós, por um breve período, antes de prosseguirmos para casa.
Queria conversar com vocês, porque sei que estão ansiosos pelo feriado
tanto quanto eu e não quero mantê-los longe de suas famílias por mais
tempo do que deveria.
Padmé sentiu uma pontada aguda de culpa. Por mais que quisesse
aceitar o convite, a sua própria irmã havia dado à luz uma menina há apenas
alguns dias e Padmé queria imensamente ver as duas. Ao mesmo tempo não
conseguia parar de calcular os benefícios de ir para Alderaan. Parecia que
sempre teria duas opiniões quando se tratava de família e deveres.
— Estou feliz em levá-la para onde precisar ir. — disse Varbarós. —
Nunca estive em Alderaan antes.
— Obrigada. — disse Padmé. Ela examinou as pessoas à sua frente e
falou como amiga delas, não como senadora. — Por favor, sejam honestos
sobre o que vocês desejam fazer.
Cordé e Dormé trocaram olhares e Dormé pôs a mão no braço de
Typho.
— Nós vamos acompanhá-la, Senadora. — disse Typho. — Capitã,
talvez um outro guarda?
— Também vou. — disse Versé antes que a sua tia pudesse falar.
Padmé e Mariek trocaram um olhar. Fazia meses desde que a capitã de
sua guarda tinha visto o seu marido.
— Uma visita breve? — perguntou Mariek.
— Sim. — respondeu Padmé. — Não mais que uma semana.
— Muito bem. — respondeu ela. — Enviaremos todos os guardas,
exceto o Sargento Typho e eu, para Naboo em uma nave auxiliar e Varbarós
pode nos levar e ver Alderaan o quanto quiser.
— Obrigada. — disse Padmé. Ela se virou para Cordé. — Podemos
reorganizar as caixas no caminho? Odeio dar mais trabalho, mas estaremos
visitando uma rainha, então podemos precisar desenterrar algumas das
roupas formais, e sei que elas estão no fundo.
— Vamos dar um jeito. — disse Cordé. — Fiz uma lista de inventário,
então se precisarmos encontrar alguma coisa, Artoo deve ser capaz de
rastrear a caixa em que está rapidamente.
— Excelente. — disse Padmé. — Obrigado a todos por serem flexíveis.
O Senador Organa foi muito prestativo e acho que este convite é tanto dele
quanto de sua esposa. Estou feliz por aceitar e sei que é porque vocês estão
dispostos a me ajudar.
Padmé fez questão de falar individualmente com cada um dos guardas
que partiriam. Em seguida, voltou pro seu quarto para comunicar com o
Senador Organa e informá-lo de sua decisão. Ele retransmitiu os planos de
viagem de seu piloto e deu-lhe o horário para a partida, depois disse que a
veria em breve.
Feito isso, Padmé puxou o transmissor privado o qual usava para
contatar Sabé e iniciou uma chamada.
— Houve uma pequena mudança de planos. — disse Padmé quando o
rosto de sua amiga apareceu. — Nada desastroso. Fomos convidados para
Alderaan por alguns dias.
— Pelo Senador? — perguntou Sabé.
— Pela rainha, a esposa dele. — respondeu Padmé a ela. — Embora
imagine que a ideia foi dele. Não consigo imaginar por que saberia algo
sobre mim se ele não contasse a ela.
— Isso muda o nosso procedimento? — Sabé e Tonra também
voltariam a Naboo para o recesso, mas planejavam viajar por conta própria.
— Estive considerando algumas mudanças para quando a próxima
sessão legislativa começar. — disse Padmé. — Podemos falar sobre isso em
detalhes quando voltarmos a Naboo, mas acho que se quiser, pode vir a
Alderaan comigo. Você e Tonra.
Houve uma pausa enquanto Sabé refletia. Padmé sabia que era
inteligente o suficiente para ouvir todas as coisas que ela não estava
dizendo. Coruscant não era tão perigoso quanto eles esperavam que fosse, e
talvez os esforços de Sabé fossem mais bem aproveitados fazendo outra
coisa do que se passar por Tsabin e perseguir fantasmas e hackers nas redes
de notícias.
— Seria bom ser eu mesma por um tempo. — disse Sabé. — E não acho
que Tonra reclamaria da escala se voltasse a ser um guarda senatorial.
— Não sei quanta proteção haverá para ter. — disse Padmé. — Mas
sempre fico feliz em vê-lo.
Sabé deu um passo pro lado e o próprio Tonra apareceu no holo emissor.
Ele devia ter estado bem ao lado dela. Padmé sabia que Sabé provavelmente
dizia a ele tudo o que disse, de qualquer modo, e supôs que seria mais
eficiente se ele apenas ouvisse. Isso deixava o armário muito apertado, mas
claramente não se importavam com a proximidade, nem se importavam que
ela soubesse.
— Não me importo em fazer uma escala. — disse Tonra. — Posso usar
a nave real para enviar transmissões para a minha família enquanto estamos
no caminho? Não tenho conseguido me comunicar muito com eles, mas
gostaria de contar a eles sobre o atraso.
— Claro. — disse Padmé.
Sabé voltou para o foco do holograma e Padmé retransmitiu todas as
informações da partida para ela. Decidiram que seria mais fácil se Sabé e
Tonra chegassem à residência esta noite, depois que escurecesse e então
eles poderiam embarcar na nave amanhã junto com todos os outros. Os
sentimentos familiares de paranoia subiram pela espinha de Padmé
enquanto fazia seus planos, mas ela tentou não prestar muita atenção a eles.
Quarsh Panás nunca foi capaz de silenciar esses sentimentos, mesmo que
não houvesse nenhuma ameaça imediata e embora a sua dedicação tivesse
salvado vidas, não veio sem custo. Não iria querer seguir cegamente o
exemplo dele.
Depois que tudo estava resolvido, Padmé se despediu, com muito mais
entusiasmo do que o normal, já que todos se reuniriam em breve, e encerrou
a transmissão. Ela notificou os droides da casa que haveria mais dois para
jantar e para o café da manhã e que as camas adicionais teriam que ser
feitas. Em seguida, ela escreveu aos seus pais e à rainha para informá-los de
seu atraso e o motivo.
Dormé enfiou a cabeça na sala.
— Versé vai nos ensinar como trapacear no Sabacc. Você gostaria de
vir? — perguntou ela.
— Eu adoraria. — disse Padmé. Ela já estava bastante familiarizada
com as trapaças padrão, mas era possível que Versé tivesse aprendido algo
novo e, de qualquer forma, Padmé nunca gostava de dizer não ao tempo que
passava com os amigos.
Alderaan era azul e verde, visto da órbita, com nuvens brancas fofas na
estratosfera o que obscureciam a visão do solo abaixo. Embora o bioma
geral e a composição ecológica fossem semelhantes aos de Naboo,
Alderaan não tinha lua e não havia como confundir os dois, mesmo de tão
longe. A Nave Estelar Real de Naboo em forma de bumerangue esperou
pela autorização de pouso, dando a todos a bordo tempo suficiente para dar
uma boa olhada no planeta abaixo. O mundo girou e a nave passou para o
lado noturno. Agora não havia como confundir Alderaan com Naboo: as
luzes que indicavam centros populacionais os denunciavam.
— Estamos obtendo a nossa autorização de pouso agora. — disse
Varbarós a Sabé e a todos que estavam ao alcance da voz.
Sabé havia passado a maior parte da viagem na cabine, observando a
piloto enquanto trabalhava nos controles. Sabia que Padmé ficaria feliz em
vê-la, mas ainda não conhecia muito bem as novas aias e não queria
atrapalhar as rotinas delas enquanto se preparavam para uma visita real.
Não estave em uma nave da classe J há mais de um ano e gostou de ter
tempo para se familiarizar novamente com os controles e com a Varbarós.
Ela estava contando a história de quando resgatou Tonra das garras de
sua fonte holo jornalista Kooib-s Guvar, quando a torre de controle na
capital Alderaaneana de Aldera finalmente respondeu com as suas ordens
de liberação. Sabé observou Varbarós navegar habilmente a descida até a
plataforma de pouso. Pousaram ao nascer do sol, o que significou contornar
o lado noturno do planeta e descer apenas através da linha de luz. A
plataforma era imperdível na luz da manhã, mesmo com o sol atrás deles, e
Varbarós pousou a nave com tanta delicadeza que apenas o conhecimento
de Sabé sobre a operação da nave indicava que não estavam mais voando.
— Obrigada, Varbarós. — disse Sabé. — Não se meta em muitos
problemas enquanto estivermos no palácio.
— Farei o meu melhor. — disse Varbarós. Ela permaneceria a bordo em
seus aposentos, embora fosse livre para se mover pelas cidades na
superfície do planeta, se quisesse.
Sabé estava vestida como uma guarda de Naboo novamente, tanto pela
simplicidade quanto por qualquer outra coisa. Caminhou da cabine até a
rampa de desembarque e encontrou Tonra, também em seu uniforme, e
Typho. A rampa desceu e eles desceram para assumir posições na parte
inferior. Enquanto estava caminhando, Sabé ouviu a porta se abrir atrás dela
e soube que Padmé havia chegado.
Padmé desceu com Cordé e Versé a flanqueando enquanto Dormé e
Mariek caminhavam atrás. As aias estavam vestidas de azul e cinza e os
seus capuzes estavam abaixados em sinal de respeito à monarca de outro
mundo. O vestido de Padmé era roxo, embora Sabé soubesse que isso era
um eufemismo da complexidade das cores, já que a saia era feita de dezenas
de camadas de tecido, cada uma em um tom ligeiramente diferente. Movia-
se com facilidade enquanto caminhava, embora fosse um pouco mais
pesado do que parecia e não lhe desse problemas na inclinação. O corpete
era bem ajustado e o decote era decorado para combinar com a saia, dando
a impressão de que uma nuvem roxa bem comportada havia descido sobre
os ombros de Padmé. O seu cabelo estava solto, mas os seus cachos
estavam presos aqui e ali com flores brancas trazidas de uma unidade de
hidroponia em Coruscant. As aias poderiam estar usando mynocks em volta
do pescoço e ninguém teria dado uma segunda olhada.
O grupo que esperava para recebê-los na pista de pouso não incluía a
rainha. Padmé não esperava que isso acontecesse, já que ela raramente
cumprimentava visitantes em qualquer lugar exceto na sala do trono,
quando governava Naboo. Sabia que os costumes locais seriam diferentes,
mas um pouco de familiaridade ajudou muito a fazê-la se sentir confortável
ali e gostou disso. Afinal de contas, essa era uma visita recreativa, não
política. Padmé estava ansiosa pelo intervalo.
Em vez da rainha, era o Senador Organa quem esperava por eles, com
um pequeno grupo de guardas ao seu redor. Pareciam ser inteiramente
cerimoniais e, após uma inspeção mais detalhada, Padmé nem tinha certeza
de que portavam armas. Sabia que Alderaan era pacífico, muito parecido
com Chandrila, mas esperava uma pequena demonstração de força.
— Senadora. — disse Organa quando todos estavam de pé na
plataforma. — Bem-vinda a Alderaan.
— Obrigada. — disse Padmé. — O seu planeta é lindo.
— Venha. — disse ele, sorrindo. — Sei que você não fez a viagem só
para me ver.
— Para ser justa, vejo você com certa frequência. — disse Padmé,
retribuindo o sorriso.
Ele falou com ela como fazia quando se reuniam no escritório dele para
discutir as operações do Senado fora do horário: com facilidade e
descontração, e correspondeu à informalidade dele na mesma moeda. Não
sabia se era apenas a natureza dele ou se Alderaan era mais descontraído
sobre esse tipo de coisa. Esperava que uma monarquia hereditária fosse
mais formal, não menos, mas sabia que descobriria em breve quais eram os
procedimentos comuns. Ela seguiu Organa até o airspeeder e Cordé e
Mariek vieram com ela. Os outros viriam em um segundo veículo.
Os speeders viajaram em um ritmo acelerado em direção ao palácio,
embora não na velocidade vertiginosa do tráfego de Coruscant. Na verdade,
o tráfego ao redor do palácio era bastante leve. Olhando para baixo, Padmé
viu que havia largas avenidas ladeadas por árvores e parecia que a forma
mais comum de se locomover era caminhando por esses caminhos. A esta
hora da manhã, muitas pessoas estavam fora e Padmé podia ver os grupos
delas, presumivelmente paradas para uma conversa amigável, ou de pé ao
longo das margens dos caminhos ou sentadas em qualquer um dos vários
pequenos jardins que foram traçados ao longo do caminho. Isso deixou o
céu refrescantemente claro.
— O tráfego aéreo aumenta à medida que você se afasta do palácio. —
disse Organa quando Padmé comentou sobre isso. — Especialmente quando
vai para as plataformas de embarque. Mas tentamos manter a vista intacta o
máximo possível.
— Posso entender o porquê. — disse Mariek. — É uma vista excelente.
— Isso me lembra um pouco de casa. — disse Cordé. — Porém as
nossas montanhas são mais suaves e nossa capital é cercada por cachoeiras.
— Eu vi as holos. — disse Organa. — Naboo também é um lugar
adorável, mas suponho que todos gostamos de nossas próprias casas.
O airspeeder pousou em uma pequena plataforma e todos desceram. O
Senador Organa as acompanhou até o palácio pela entrada principal e
seguiram em direção à sala do trono.
Os corredores do palácio Alderaaniano eram largos e acolhedores. Nada
sobre eles foi construído para intimidar ou dominar. Em uma galáxia onde
aqueles com poder frequentemente constroem para cima, cada camada
cobrindo os pecados daquele que está abaixo, em uma busca cega em
direção às estrelas, a planta ampla falava de honestidade e propriedade e,
além disso, de mordomia e responsabilidade.
Em pouco tempo alcançaram as grandes portas duplas que levavam à
própria sala do trono e, além dela, um caminho com carpete azul que se
estendia em direção a um par de tronos, embora apenas um deles estivesse
ocupado.
— Senadora e comitiva. — disse Organa. — Permitam-me apresentar a
Rainha de Alderaan, Breha Organa.
A verificação do protocolo de Padmé no voo de chegada indicou que
uma ex-monarca não precisava se curvar à Rainha de Alderaan, mas
inclinou a cabeça para ser educada. Sabia que, atrás dela, a sua comitiva
executaria perfeitamente os protocolos que lhes foram atribuídos.
— Vossa Majestade. — disse Bail Organa com uma espécie de profundo
afeto que fez o coração de Padmé disparar. — É uma honra apresentar a
minha colega do Senado da República Galáctica, representando o sistema
soberano de Naboo e o seu setor, a Senadora Padmé Amidala .
Padmé deu um passo à frente e Breha fez contato visual com ela pela
primeira vez. A Rainha de Alderaan era mais velha do que Padmé por mais
de dez anos, mas tinha uma aparência eterna que Padmé reconheceu ser o
resultado de uma excelente equipe de estilistas. Ela usava um vestido de
gola alta prata e azul, com uma saia larga e um corpete reforçado para
cobrir os pulmonoides que Padmé sabia que a mantinham viva. Sua trança
estava torcida no topo da cabeça, com a coroa de Alderaan tecida dentro
dela e ela usava um véu nas costas que cobria o resto de seu cabelo escuro.
— Estamos satisfeitos por você ter vindo nos visitar. — disse Breha. A
sua voz era vibrante e agradável ao ouvido e falava como quem está
acostumada a chamar a atenção para si mesma. — A política planetária não
me deixa muito tempo para viajar para fora do mundo e sempre fico feliz
em receber os colegas de meu marido aqui.
— Lembro-me dessas limitações. — disse Padmé. Ela havia deixado
seu planeta apenas na necessidade mais grave e mesmo assim sob protesto.
— Um senador tem um pouco mais de tempo livre, mas a diferença só é
reconhecível porque eu vi a programação do seu lado também.
— De fato. — disse Breha. — Sei que você veio direto da sua nave,
mas você chegou a tempo de um café da manhã tardio no terraço e se
formos imediatamente, veremos o último pedacinho do nascer do sol no
lago.
Se seguissem para os seus quartos agora, nunca seriam orientados para a
hora certa. Padmé simplesmente aceitou o convite e torceu para que o caf
Alderaaniano fosse eficaz.
— Isso parece maravilhoso. — disse ela.
Breha desceu da plataforma e pegou o braço de Padmé. Ela rapidamente
apresentou alguns de seus ministros reunidos e Padmé apresentou Mariek,
quase tropeçando no “Capitão Panás”, porque para as duas esse nome ainda
pertencia à outra pessoa. Depois de uma verificação rápida para ter certeza
de que as suas saias não estavam prestes a se enroscar, onde ambas eram
profissionais, a rainha os conduziu para o fundo da sala do trono e através
da porta lá. Padmé olhou para as suas aias e percebeu que Bail planejou
caminhar ao lado de Sabé, enquanto Tonra seguia com Typho ao seu lado.
Supôs que deveria ter esperado por isso. Não era como se Sabé fosse
revelar segredos comerciais.
Foi uma curta caminhada até o terraço e Breha ainda apontou várias
peças de arte diferentes que Padmé queria voltar e dar uma olhada melhor
mais tarde. Poderia ter se demorado em uma escultura de água
particularmente intrincada, mas o seu estômago traidor a traiu e emitiu um
ruído silencioso.
— Aqui estamos. — disse Breha, conduzindo-os sob um arco alto e de
volta à luz do sol.
A vista era de tirar o fôlego. Um lago, muito parecido com o que
poderia encontrar em Naboo, espalhava os seus dedos entre diferentes
montanhas, com a sua superfície vítrea refletindo o sol exatamente como
Breha havia prometido. As diferenças em relação ao terreno de Naboo
começaram quase na linha de água, onde os íngremes picos verdes das
montanhas surgiam no lugar das colinas mais suaves de Naboo. Eles eram
altos e cobertos de neve e um deles estava envolto por nuvens como as que
Padmé tinha visto em órbita.
— Este é o Pico Appenza. — disse Breha. Ela colocou a mão no peito
ao falar e Padmé achou que o gesto parecia automático. — É a montanha
mais famosa de Alderaan.
— É lindo. — disse Padmé.
— E traiçoeiro. — O Senador Organa se aproximou para puxar a
cadeira para a sua esposa e colocá-la nela. Os seus dedos descansaram nos
dela por um momento a mais do que o realmente necessário.
Breha direcionou todos para as suas cadeiras e a comida foi trazida. O
caf estava, como esperava, eficaz e Padmé sentiu a sua mente clarear um
pouco enquanto os produtos químicos recarregavam seu cérebro.
— Aquela montanha é que tirou os meus pulmões e coração. — disse
Breha baixinho, uma vez que o seu marido estava a salvo fora do alcance da
voz e envolvido em uma discussão com Sabé e Mariek.
— Por tudo que ouvi sobre você, o seu coração não era para ser tomado
pela montanha. — disse Padmé.
— Ah, tenho certeza de que há canções sobre isso. — disse Breha. —
Como eu dei meu coração a Alderaan. Só que desta vez os poetas estão
sendo literais. E um pouco horríveis. Embora creio que fui eu quem decidiu
não fazer a minha pele crescer novamente.
— Todos nós mostramos nossa dedicação de maneiras diferentes. —
disse Padmé. — O cargo de Rainha de Naboo requer uma certa suspensão
do “eu”. Às vezes sinto que ainda estou puxando minha individualidade de
volta, embora haja, é claro, muitos que argumentariam que fui muito
pessoal em minhas ações como monarca.
— É revigorante saber que os monarcas eleitos e os hereditários
compartilham críticas semelhantes. — disse Breha. — Quando recusei os
enxertos de pele eles disseram que eu estava sendo muito exibicionista.
O ministro da cultura, sentado à esquerda de Padmé, estava ficando um
pouco verde, então Breha mudou de assunto para poupar o seu estômago.
Elas falaram das complexidades de ser rainha, deliciando-se com os
aspectos de seus governantes que eram os mesmos e dissecando todas as
suas diferenças. O Senador Organa interrompeu a certa altura para contar a
história da primeira vez em que foi apresentado à corte real e Mariek
respondeu contando a dela. Quando todos terminaram de comer e as mesas
foram retiradas, Padmé estava ainda mais feliz por ter vindo.
— Não temos mais nada planejado para o dia, se você e o seu pessoal
preferirem descansar. — disse Breha, recostando-se na cadeira e erguendo o
rosto para o sol claro de Alderaan. — Haverão shows e passeios pelas
galerias de Aldera, bem como uma viagem até uma de nossas montanhas
mais suaves.
Padmé olhou para baixo na mesa e viu Cordé unir os dedos no colo, o
que era o sinal de que não haveria problema em se separar.
— Se você puder mostrar os quartos a quem quiser descansar... — disse
Padmé. — De minha parte, gostaria de retornar a algumas das obras de arte
pelas quais passamos. Tenho a sensação de que poderia passar a vida inteira
olhando as peças aqui e nunca ver tudo.
— Eu ficaria feliz em caminhar com você. — disse Breha. Um ministro,
que Padmé pensou ser o de finanças, mas se parecia muito com o ministro
da agricultura, então Padmé não tinha certeza, fez menção de protestar e
depois decidiu contra isso.
Voltaram para a escultura de água e Padmé se perdeu em sua
contemplação. Incorporando forma estética e som, a escultura era fascinante
de todos os ângulos e igualmente interessante quando Padmé fechou os
olhos.
— Tenho pensado sobre o que você disse sobre a suspensão do eu. —
disse Breha quando Padmé abriu os olhos novamente. Claramente não
queria interromper, mas agora elas caminharam novamente. — É quase o
oposto para mim. Ser rainha exige todo o meu ser, com montanha traiçoeira
ou não. Talvez essa seja a maior diferença entre nossos estilos de governo.
— Bem. — disse Padmé. — Não tenho muito a dizer sobre a minha
sucessora. Na verdade, sou encorajada a ser o mais neutra possível em
público.
Breha riu.
— Você está certa sobre isso. — disse ela. — Bail e eu conversamos
muito sobre isso. Minha mãe me deu à luz, mas meu pai ficou no mundo
durante toda a gravidez e vários meses depois. Bail não tem esse tipo de
flexibilidade e estamos relutantes em confiar que certos ministros
renunciem ao poder se nós tivermos de ceder isso a eles por um breve
período.
Padmé se lembrou do ministro das finanças, ou agricultura, e concordou
com o processo de pensamento de Breha. Manter um governo, herdado ou
eleito era um ato de equilíbrio e abrir mão do poder era muito mais fácil do
que retirá-lo. Breha podia confiar que o seu marido seria altruísta, mas
outros podem ceder à tentação.
— O que você vai fazer? — perguntou Padmé.
— Ainda não tomamos essa decisão. — disse Breha. — Enquanto
houver continuação do nome Organa, as casas antigas aceitarão isso.
— Minha irmã acabou de ter um bebê, o primeiro. — disse Padmé. —
Essa é a única razão pela qual hesitei antes de aceitar o seu convite. Isso me
fez pensar no futuro de uma maneira diferente do qual costumo fazer.
— Minha mãe me disse que teve uma mudança semelhante em seu
pensamento depois que eu nasci. — disse Breha. — E imagino quem
também terei, independentemente de como meu filho vier até mim.
— A Sola não tem interesse em um parceiro. — disse Padmé. — É
bastante normal em Naboo. No entanto, acho que gostaria do que meus pais
tivessem. Ou alguma versão disso. Não tenho certeza se quero misturar
política e família, mas acho que depende de muitas coisas.
— Esse é um benefício de uma monarquia não hereditária. — disse
Breha, com um sorriso nos olhos. — Seus filhos não estarão ligados à
política como os meus.
Elas pararam por um momento em frente a uma pintura de paisagem.
Era o Pico Appenza, mas as cores eram desoladas e perigosas e o lago era
escuro e de aparência fria abaixo dele.
— Venha. — disse Breha. — Se você gostou da escultura de água,
deveria ver e ouvir o trabalho de ar que o artista fez.
Padmé deixou a Rainha de Alderaan segurar o seu braço novamente.
Ela seguiu o passo tranquilo de Breha e foi conduzida para um novo
terraço, embora este fosse muito mais protegido do que aquele onde
tomaram o café da manhã. O motivo ficou imediatamente aparente quando
sons suaves alcançaram o ouvido de Padmé. Antes que ela percebesse todo
o escopo da escultura aérea, ela conseguiu ouvir a sua música suave,
pairando sob a nova manhã brilhante de céu azul e incessantes ventos
Alderaaneanos.
— Naboo e Alderaan têm muito em comum. — disse Padmé. — Nós
dois valorizamos muito as artes e o bom governo.
— E nós dois somos pacifistas. — disse Breha. — Embora eu tenha
ouvido que Naboo está instalando armamento defensivo.
— Um pulso de íons. — disse Padmé. Nunca houve qualquer tentativa
de manter isso em segredo. — A Federação do Comércio tem uma memória
longa e um número aparentemente infinito de droides.
— Imagino que seja fácil estar aqui em um mundo que não vê conflito
há gerações e julgar você. — disse Breha. — E ainda assim não vou.
— Naboo não tomou essa decisão levianamente. — disse Padmé. —
Perdi um dos meus conselheiros mais queridos, porque ele queria medidas
mais firmes e eu não as permitiria e meus pais ainda estão furiosos por
estarmos fazendo algo. Mas tínhamos que fazer alguma coisa.
— Não sei o que faríamos. — disse Breha. — Mas devo confessar que
comecei a pensar sobre isso.
Padmé não pediu detalhes. Haviam algumas coisas que cada planeta, o
governante de cada planeta, tinha que enfrentar por conta própria.
— Meu único conselho é priorizar o que seu planeta mais preza. —
disse Padmé. — Para Naboo, isso era a arte e nossas próprias vidas, então
chegamos a um acordo. — Ela se lembrou de Quarsh Panás e acrescentou:
— Só não fique tão presa a ponto de esquecer-se de ser flexível.
— Alderaan é antigo e está sujeito a muitas tradições. — disse Breha.
— Mas podemos mudar se for necessário.
Padmé não respondeu e as duas ficaram em silêncio, ouvindo o vento.
A semana em Alderaan foram quase umas verdadeiras férias. Não havia
perigo para se falar e nenhum cronograma definido, embora ambos os
senadores tivessem que reservar um tempo para revisar a sua
correspondência e a rainha tivesse que manter o bom funcionamento de seu
governo. Fora essas vezes, no entanto, uma sensação de preguiça quase
indulgente oprimia Sabé e ela não tinha certeza se gostava. A vida dela
tinha sido ocupada desde que ela passou no primeiro teste do Capitão Panás
anos atrás, e no ano passado, a sua mente tinha estado quase que
constantemente trabalhando. Parar com tudo isso agora era, para dizer no
mínimo, inquietante. Em um ponto, durante um concerto noturno em um
dos muitos salões de música de Aldera, ela entrelaçou os dedos com Tonra
por um minuto inteiro antes que ele olhasse para ela e ela se lembrasse que
eles estavam em público. Sabé não era uma criatura particularmente
reservada por natureza, mas ela havia cultivado uma certa persona e sair
dela era muito estranho.
— Você está tentando compensar algo comigo? — Mais tarde Tonra
perguntou, pegando as mãos dela e segurando-as acima da cabeça dele.
— Não. — respondeu ela, então: — Talvez? Eu não sei. Não estou
envergonhada.
— Eu sei disso. — disse Tonra. Ele riu.
— Pare de rir de mim. — exigiu ela.
— Você disse que não tinha vergonha! — disse ele.
— Bem, agora tenho! — Ela se desvencilhou de seu aperto, saiu de
baixo dele e se sentou na beira da cama.
Eles estavam no quarto dele, porque estava compartilhando o dela com
Dormé, mas como eram todos convidados da rainha, Tonra foi classificado
para uma suíte por causa de sua posição. Ninguém se preocupou em corrigir
as atribuições de quarto dadas pelo droide de protocolo que servia como
camareiro de Breha. Comparado com o apartamento em Coruscant, era
indescritivelmente luxuoso. Tonra a deixou ter um pouco de espaço. Ele era
muito bom nisso, e geralmente ela também, mas com a diminuição da
tensão em todos os outros lugares de sua vida, mal sabia como se controlar,
quanto mais outra pessoa.
— Gosto de você assim. — disse ele. — A parte em que você tem
sentimentos e me deixa vê-los imediatamente.
— Não vai durar. — disse ela.
— Eu sei. — disse ele. — Você pode gostar de algo mesmo quando sabe
que não vai durar.
Sabé pensou em rainhas, mandatos e julgamentos criminais para
déspotas obcecados por créditos e então percebeu que talvez não fosse disso
que ele estava falando.
— Vou ficar bem. — prometeu ele. — Volte.
— Você tem uma sincronia terrível, Capitão. — disse ela, deslizando
entre os lençóis. — Deveria ter esperado até que eu terminasse de descobrir
tudo.
— Provavelmente. — admitiu ele.
Quando o sol nasceu, Sabé estava se sentindo quase como antes. Era o
último dia deles em Alderaan. Devido ao tempo de viagem e à mecânica
orbital, partiriam logo após o pôr do sol Alderaaneano, para chegar em
Naboo ao meio-dia. Eles estariam cansados, mas isso era normal para
viagens interplanetárias e Sabé estava ansiosa para finalmente voltar pra
casa.
Deslizou para fora da cama e se vestiu, depois voltou para o quarto.
Sabé foi ao banheiro e terminou os seus preparativos para o dia. Havia
escolhido uma longa túnica marfim com um largo cinto azul, para usar
sobre leggings da mesma cor, e as suas botas habituais. Quando voltou para
o quarto, Dormé havia retornado e já estava vestida com um conjunto de
vestes verdes. Como não precisava usar o capuz, demorou um pouco mais
com o cabelo, mas a longa prática a tornou eficiente.
— Padmé gostaria que tomasse o café da manhã com ela. — disse
Dormé. — Serão apenas vocês duas.
As aias eram as almas da discrição, o que significava que Sabé e Dormé
não tinham muito do que fofocar. Ela sentia falta da facilidade de
relacionamento que tinha com o seu grupo, mas respeitava Dormé e as
outras demais para fazer estardalhaço.
— Obrigada. — disse Sabé. — Você precisa de ajuda para fazer as
malas enquanto cuida das coisas da senadora?
— Vou ficar bem, obrigada. — respondeu ela. — As vestes tornam a
viagem bastante fácil.
A mala de viagem de uma aia era geralmente do tamanho de uma
contendo um único vestido de Padmé, graças ao estilo único de Naboo, que
Sabé conhecia muito bem, mas nunca havia mal nenhum em ser educada.
Ela desceu o corredor até a suíte onde Padmé estava hospedada e bateu.
Um droide abriu a porta e aceitou Sabé após um breve momento de
contemplação mecânica.
— Bom dia! — Padmé não tinha se vestido para o dia ainda, indicando
que este café da manhã era bastante informal.
— O mesmo para você. — respondeu Sabé.
— Venha e sente-se. — disse Padmé, indicando a mesa onde duas
tigelas fumegantes estavam esperando.
A suíte de Padmé era um cômodo maior do que a de Sabé, porque
incluía uma sala de recepção, onde deveriam comer. Como todos os outros
cômodos do palácio e em toda Alderaan, pelo que Sabé poderia dizer, era
elegantemente decorado em um estilo minimalista, mas bonito. As janelas
davam para a cidade, mas mesmo aquela vista era bonita.
Sabé sentou-se e esperou que Padmé fizesse o mesmo antes de começar
a comer. Padmé polvilhou algumas das frutas vermelhas que estavam na
estação em sua tigela, mas Sabé as recusou quando oferecidas.
— Sei que disse que iríamos conversar em Naboo. — disse Padmé. —
Mas achei que aqui seria melhor.
Seria difícil para elas ter uma conversa privada quando estivessem em
casa. Sabé tinha visto a programação de Padmé e já estava se acumulando.
— Você vai voltar para Coruscant? — perguntou Sabé.
— Vou, por pelo menos mais uma sessão legislativa. — respondeu
Padmé. — Trabalhando com os Senadores Organa e Mon Mothma eu vi o
que é preciso para ser bom nisso. Aprendi que posso ser muito adaptável,
mas não sei se quero ser. Eles podem reduzir a política à ideias e tenho
dificuldade em esquecer as pessoas que serão afetadas. Ao mesmo tempo,
também não sei quem Naboo enviaria em meu lugar. A rainha pode pensar
que sou a melhor escolha, mas não tenho tanta certeza.
— Sempre poderíamos roubar a nave. — disse Sabé. — Tenho certeza
de que podemos convencer Varbarós a fazer isso e então poderíamos ir para
onde quisermos.
— Quando você leva algo sério, sempre começa com a premissa mais
ridícula. — disse Padmé. — Isso tem alguma coisa a ver com o relatório
que recebo de Artoo todas as manhãs sobre você se esgueirando de volta
para o seu quarto?
— Raramente estava me esgueirando. Aquele droide camareiro se
ofereceu para trocar todas nós no segundo dia, mas todas já haviam desfeito
as malas. — respondeu Sabé a ela. Ela fez uma pausa pensativa e Padmé se
preparou para algo ridículo. — Embora suponha que se pegássemos a nave,
isso prejudicaria todo o trabalho que você começou a colocar em sua
legislação antipirataria.
Padmé fez uma careta. Não conseguiu formar seu próprio comitê, já que
a posição oficial do Senado era que a pirataria não era um problema único.
Eles se recusaram a reconhecer o padrão de ataques que indicava a Padmé
que o problema era maior do que alguns ataques contra comboios que
transportavam alimentos ou materiais de construção. Tudo o que ela podia
fazer era continuar a discutir hipóteses com Mon Mothma e torcer para que
quando chegasse a hora da ação real, alguém a ouvisse.
— Acho que você pode ser a única pessoa em Coruscant que lê todas as
notícias do Senado. — disse ela.
— Você faz isso. — disse Sabé, como se fosse óbvio. — Então eu faço.
— Você já desejou que nunca tivéssemos nos conhecido? — perguntou
Padmé. Sabé congelou. — Quero dizer, você já desejou não ter aceitado a
oferta do Capitão Panás e apenas vivido uma vida privada em Naboo?
Qualquer um que as ouvisse poderia ficar surpreso com a maneira
formal delas, confundindo isso com falta de afeto. Na verdade, o próprio
alicerce da amizade delas, para não mencionar a segurança pessoal delas em
mais de uma ocasião, aninhava nessa formalidade. Era difícil de explicar,
principalmente porque elas eram igualmente boas em provocar uma à outra,
mas isso não era menos genuíno apenas porque estranhos o achavam
incomum.
— E me tornar a terceira melhor tocadora de halliket da minha família?
— respondeu Sabé. — Nem por um momento.
— Seus irmãos são famosos. — apontou Padmé.
— E eu sempre estaria nas sombras. — disse Sabé. — A sua sombra é
muito mais agradável, acredite em mim.
— Não importa quanto tempo eu volte para Coruscant, acho que
podemos querer reconsiderar o seu papel. — continuou Padmé como se não
tivesse havido distração.
— O que você quer dizer? — Sabé serviu-se de uma xícara de chá e
acrescentou mais adoçante do que o normal. Ela descobriu que o chá de
Alderaan era mais forte do que gostaria.
— Não tenho certeza se esse nível de segurança é necessário. — disse
Padmé. — Os noticiários recuaram e não houve nem um sopro de perigo
desde aquela primeira tentativa e isso foi há meses. Podemos pensar em
outra coisa para você fazer, mas sinto que a mandei para o exílio, primeiro
em Tatooine e depois em Coruscant, e você poderia voltar.
— Íamos voltar para Tatooine depois de Coruscant. — lembrou Sabé.
— Tonra pode ter mudado de ideia, embora eu duvide, mas eu não.
— Eu me lembro. — disse Padmé. Ela fez uma careta como se doesse
fisicamente continuar falando. — Mas ainda tenho esperança de que a
moção do Chanceler tenha uma chance melhor em sua próxima rodada, e se
a notícia se espalhar que estou me intrometendo diretamente em Tatooine,
estarei de volta onde comecei: independente demais para qualquer um
confiar. Eu odeio ter que fazer esse tipo de escolha.
— Não invejo você, certamente. — disse Sabé. — Mas, ao mesmo
tempo, também acho que deveria me manter disfarçada por mais um tempo
e Tonra comigo. O julgamento de Gunray terminará em breve e,
dependendo de como for, isso mudará as ameaças a você. Se estiver livre,
posso as manter minhas fontes de notícias e minhas outras fontes sobre as
quais não conversamos e descobrir o que está acontecendo.
— Eu odeio Neimoidianos. — disse Padmé severamente enfiando a
colher na tigela. Era raro ceder visivelmente aos seus sentimentos, mesmo
com Sabé, quando estavam fora do mundo. — E odeio o quanto odeio
Neimoidianos.
— Eles foram responsáveis por muitas mortes e sofrimentos. — disse
Sabé. — Acho que você tem permissão para odiá-los.
— Não devo descartar uma espécie inteira. — disse Padmé. — Esse
tipo de pensamento quase destruiu Naboo e embora tenha sido há muito
tempo, demorou uma eternidade para consertar as coisas novamente.
— Não sei por que alguém acha que não pode confiar em você. — Sabé
disse — Você é tão honesta que dói.
— Honestamente, acho que é por isso que não confiam em mim. —
disse Padmé. — Eles ficam esperando que eu mude.
— A política me cansa. — admitiu Sabé. — Nunca costumava me
cansar, mas agora sim. E ainda gosto disso por algum motivo.
— Possivelmente estejamos perto demais. — disse Padmé, tão
seriamente que Sabé sabia que era uma brincadeira. — Já fomos muito
longe e não há como escapar.
— Agora, quem está sendo ridículo? — perguntou Sabé. Ela terminou o
chá e deu a última mordida no café da manhã. Seu momento roubado estava
quase no fim.
— Você gosta muito dele? — Foi uma pergunta tímida e não veio da
senadora, mas de Padmé Naberrie. — Tonra, quero dizer.
— Sim. — respondeu Sabé.
— Você gosta dele o suficiente?
— Não sei. — disse Sabé. — Já conversamos sobre isso, então não é
como se eu o estivesse enganando. E o avisei. Muito. E ele me conhece,
digo nós, há muito tempo.
— Você o está protegendo. — Não foi bem uma pergunta. Como de
costume elas seguiram a linha de seu vínculo peculiar com perfeita simetria.
— Não quero ser insensível. — disse Sabé. — Então de certa forma
estou me protegendo também.
Padmé terminou o seu próprio café da manhã e olhou pela janela. Seria
outro dia glorioso.
— Não sei o que faria. — disse Padmé. — Tenho guardado o meu
coração contra tudo por tanto tempo, sempre ciente da dinâmica e do fluxo
de poder. Tive a sorte de encontrar tantas pessoas que entendem isso e me
dão esse espaço. Tenho medo de que se alguém quiser se aproximar, vou
deixar, e seria catastrófico.
— Não é um vazamento de reator. — disse Sabé.
Padmé nunca falava com ela sobre assuntos do coração, em grande
parte, Sabé suspeitava, por respeito à privacidade. Ela se perguntou em
quem Padmé estava pensando que a fez fazer isso agora, ou se Padmé
estava apenas intrigada com a perspectiva de tudo o que ela imaginava que
Sabé estava fazendo. Ela não era do tipo ciumenta, mas sempre foi curiosa e
Sabé raramente fazia algo primeiro.
— Talvez você devesse deixar alguém se aproximar um pouco. —
sugeriu Sabé. — Para ver como vai ser.
— Você realmente acha que funcionaria? — perguntou Padmé.
— Deve ser alguém que a entenda. — respondeu Sabé. — O que será
um desafio de encontrar, mas se quiser, pode pelo menos olhar.
— Eu poderia olhar. — Padmé revirou os ombros e Naberrie se afastou
dela. — Você vai me ajudar a me vestir?
Sabé respirou fundo, completamente confortável.
— As minhas mãos são suas. — disse ela.
Era uma roupa simples para o último dia, com joias limitadas e cabelo
tão simples que Padmé quase poderia ter feito ela mesma. Sabé também
preparou o vestido de viagem para que Padmé se trocasse quando a noite
chegasse. Então Cordé e Versé chegaram para fazer as malas. Desta vez,
Sabé não foi embora. Tinha e não tinha lugar entre elas, mas ia aproveitar a
proximidade com a senadora enquanto pudesse. Ela era corajosa por morar
naquele apartamento em Coruscant e Tonra sempre foi uma excelente
companhia, mas ela sentia falta da amiga e do sentimento de autodomínio
que Padmé sempre conseguia evocar nela. Dormé juntou-se a elas.
— Varbarós disse que a nave estará pronta quando você estiver. —
relatou ela. — Ela teve tempo para recolocar alguns dos componentes que a
estavam incomodando nos últimos meses e ontem ela fez uma rápida
viagem ao redor do sistema para checar tudo.
— E os seus guardas têm tudo preparado. — Era de Mariek, que havia
entrado na sala sem bater, porque teriam perdido o som em toda a agitação
delas.
— Excelente. — disse Padmé. — Espero que todos tenham gostado de
nosso tempo aqui, mas devo admitir que ficarei muito feliz em ver as
cachoeiras de Theed novamente.
Sabé despediu-se e foi terminar de arrumar a sua própria bagagem. A
metade do armário de Dormé estava vazia e Sabé demorou quase tempo
nenhum para arrumar as suas próprias coisas. Puxou a maleta para o
corredor e viu a pequena unidade astromecânica saindo da sala de Typho
empurrando a maleta do sargento em um carrinho flutuante.
— Ei. — disse para chamar a atenção do droide. Ele se virou para
apontar o seu fotorreceptor para ela. — Você também pode levar a minha
para a nave, o seu pequeno pomo azul.
O droide buzinou algo que se traduziu vagamente como “tudo está
conforme a programação padrão” e Sabé colocou a sua bagagem em cima
da de Typho.
— Obrigada. — disse ela, porque ainda era educada, e também porque o
droide salvou a sua vida uma vez e também ajudou a salvar o planeta inteiro
em outra ocasião.
O droide chilreou e seguiu o seu caminho.
O dia estava tranquilo, com Padmé e Breha passando a maior parte em
uma conversa íntima. O senador Organa procurou Sabé mais uma vez e ela
também não se importou com a companhia dele. Sabia quando parar de
falar e quando explicar cada detalhe de qualquer obra que estivesse
olhando.
— Todo mundo que já te viu, te subestimou, não foi? — perguntou ele.
Foi a coisa mais direta que disse a ela durante toda a semana, mas estava
esperando por isso.
— Eu os encorajo a fazer isso. — respondeu ela. — Eu sou pequena. Eu
carrego apenas um blaster. E geralmente estou vestindo algo muito menos
prático do que isso.
Ela gesticulou para a sua túnica e leggings.
— A Federação do Comércio tem prioridades horríveis. — disse
Organa. — Não falo muito sobre isso em Coruscant, porque me custaria
muito capital político sem um bom motivo, mas aqui posso ser um pouco
mais honesto. Não gosto da maneira como eles operam e a disposição deles
de usar droides para matar seres sencientes é perturbadora.
— Não tenho certeza do que você está dizendo, Senador. — disse Sabé.
— Estou feliz que ela tenha você para protegê-la. — disse ele. — Fico
feliz que sempre vão subestimar você, se forem espertos o suficiente para
descobrir que você existe. Estou feliz por ela ter você.
— É uma honra servir. — disse Sabé e sabia que ele entendia.
À medida que o dia se aproximava, o último jantar e o último brinde
foram feitos. Eles testemunharam um pôr do sol glorioso sobre o lago e o
pico da montanha coberta de neve, e então a rainha e o seu marido os
escoltaram até a plataforma onde a nave os esperava. Varbarós parou na
base da rampa para recebê-los a bordo. Suas despedidas foram breves, mas
sinceras, e então a Senadora Amidala se despediu formalmente da rainha
Breha Organa de Alderaan.
— Agradecemos novamente por sua recepção e hospitalidade. — disse
Padmé. A voz senatorial era muito mais calorosa do que a real e Sabé sabia
que desenvolvê-la para situações como aquela valera o esforço. — Estamos
ansiosos para nossos esforços conjuntos contínuos com você e o senador do
seu mundo, enquanto trabalhamos juntos para criar e preservar um legado
de paz na galáxia.
— Também estamos ansiosos para isso. — respondeu a rainha Breha. A
Senadora Amidala fez uma pequena reverência e depois embarcou na nave.
Quando a nave entrou em órbita, Sabé se sentou na cabine mais uma
vez e olhou para as estrelas emergentes. Elas cantaram para ela de casa e
logo estavam passando por ela, enquanto voava ao longo de seu caminho.
As passagens cobertas que conduziam do espaçoporto real de Theed às
portas do palácio nunca pareceram tão acolhedoras. Cada passo que Padmé
dava era mais profundo no que era familiar, e conforme ela olhava ao redor
para a tão amada arquitetura da capital, ela se sentia melhor do que há
meses. Alderaan tinha sido um lugar maravilhoso para se visitar, mas não
era dela e ela estava feliz por voltar a Naboo. Logo ela iria realmente para
casa.
Primeiro, porém, houve o seu encontro com a rainha. Réillata foi muito
cortês em sua resposta quando Padmé a informou do convite para visitar
Breha, mas sabia que a Rainha de Naboo estava ainda mais ansiosa para
falar com ela do que a Rainha de Alderaan tinha estado. Padmé entendeu. O
seu relacionamento com o então Senador Palpatine e a sucessora dele tinha
sido calmo, exceto pela Invasão de Naboo, mas sempre que voltavam ao
planeta estava sempre pronta para ouvir os seus relatos.
Mariek e Typho haviam começado a licença deles, então foi Tonra quem
serviu como escolta oficial para o palácio, embora, claro, a Rainha Réillata
tivesse enviado os seus próprios guardas também. Versé se foi com a tia e
Varbarós ficara com a nave, como sempre. Então eles eram um grupo
menor do que deveriam ter sido e Padmé não podia deixar de sentir que
algo que não conseguia descrever estava terminando.
Por fim, eles alcançaram os degraus do palácio e, de lá, Padmé poderia
ter encontrado a sala do trono até dormindo. Com Cordé e Dormé atrás dela
e Sabé ainda mais atrás, ela entrou na sala iluminada e fez uma reverência
para a mulher que a esperava lá.
Depois de meses em Coruscant, a idade de Réillata não parecia mais tão
estranha para Padmé como antes. Assumiu que conhecer Breha tinha
ajudado com isso, também; uma rainha com quase vinte e três anos era
jovem, na maioria dos lugares da galáxia. A cultura de Naboo não poderia
ser completamente mudada tão rapidamente, é claro, mas Breha deu a
Padmé uma grande perspectiva sobre o assunto. As duas tiveram longas
conversas sobre experiência e preparação, e embora Padmé ainda não
achasse que o sistema que a produziu era inerentemente falho, ela foi mais
simpática à ideia de Réillata em um segundo mandato mais tarde na vida
dela.
— Senadora Amidala. — disse a Rainha Réillata. — Estamos felizes em
recebê-la em casa e em saber o que você realizou. Por favor, venha e sente-
se.
Padmé mudou-se para o assento vazio no lado direito da rainha e Dormé
e Cordé ficaram ao lado dela. Após um momento de hesitação, Sabé ocupou
o segundo lugar à direita da rainha. Juntas, encontraram Sio Bibble do outro
lado da sala e Saché estava sentada ao lado dele. Era quase como nos velhos
tempos, exceto que ninguém estava escondendo o rosto.
— Governador. — disse Padmé educadamente para Bibble. Ela fez
questão de não falar com nenhuma inflexão da Rainha Amidala.
— Senadora, pedi à Representante Saché para falar em nome do
governo planetário, junto com o governador e eu. — disse a Rainha
Réillata. — Entendo que o seu relacionamento com ela pode ser benéfico.
Temos muito terreno a percorrer e, uma vez que neguei a você uma
verdadeira visita a seus pais antes de você sair para assumir a sua cadeira no
Senado, espero que possamos avançar rapidamente em nossas discussões.
— Obrigado, Vossa Alteza. — disse Padmé. Foi um gesto atencioso da
parte da rainha.
— Por favor, comece. — disse a Rainha Réillata. Ela se inclinou para
frente, dando todas as evidências de um ouvinte atento, e embora Padmé
não pudesse ver os seus rostos, ela sabia que as aias da rainha estavam
ouvindo ainda mais atentamente.
— Admito que não tive o início mais tranquilo do meu mandato como
senadora. — disse Padmé. — Haviam muitas diferenças a serem aprendidas
e dominadas e a orientação era longa e onerosa.
— Eu teria pensado que a sua inclusão no programa legislativo júnior
poderia ter apressado isso. — disse Sio Bibble.
— Infelizmente, não. Embora tenha tornado vários passeios
informativos uma espécie de repetição. — apontou Padmé. — De qualquer
forma, ingressei em vários comitês para melhor me incorporar ao corpo
diretivo, inclusive um chefiado pelo Senador Bail Organa, de Alderaan.
Gosto dele imensamente e o respeito ainda mais, mas as minhas motivações
iniciais para trabalhar com ele foram um pouco egoístas: ele tinha aliados
que eu queria.
Parecia que uma eternidade havia se passado desde aquele primeiro
encontro e, ainda assim, no grande esquema das coisas, isso não era nada.
— De qualquer forma, tive um sucesso moderado nesse aspecto. —
continuou Padmé. — Em meu primeiro ano de serviço como senadora, me
posicionei para que a minha voz fosse respeitada por senadores que
controlam facções bem posicionadas dentro do corpo eleitoral. Tenho
esperança de continuar a trabalhar bem com eles, embora não ache que seria
adequada para liderar uma facção assim, nem tenho certeza de como isso
serviria aos interesses de Naboo. A maioria das facções é chefiada por
senadores do Núcleo ou tem o apoio de corporações ricas.
— Não invejo essa posição. — disse Saché. — Parece terrivelmente
complicado.
— Nem eu. — disse a Rainha Réillata. — Mas Naboo está agradecida
pelos seus serviços.
— Obrigada, Vossa Alteza. — disse Padmé. — As moções que ajudei a
aprovar lidam principalmente com o armamento de comboios para lidar
com uma onda de piratas atacando sistemas próximos às vias do
hiperespaço em nossa parte da Orla Média. Esses tópicos não são nada
fáceis de discutir plenamente no Senado. Os meus colegas ou são pacifistas,
como eu gostaria de ser, ou são a favor da proliferação armamentista, e há
muito pouco meio termo. Além disso, nossa posição oficial é que os piratas
estão todos agindo de forma independente, o que significa que cada vez que
lidamos com eles, precisamos de uma nova legislação.
— Não me sinto confortável em armar ninguém em grande escala. —
apontou a Rainha Réillata. — Mas concordo com você que nossos ideais e
nossas práticas nem sempre se alinham. Os Gungans nos salvaram tanto
quanto nossos próprios caças N-1, e se fôssemos verdadeiros pacifistas, não
teríamos apoiado nenhum dos dois.
— Esse é geralmente o argumento que eu também defendo. — observou
Padmé. — Mas para alguém que não foi invadido, imagino que isso seja
difícil de imaginar, e não desejaria isso a ninguém. Eu tenho uma ideia, mas
vai exigir algo de Naboo e precisaria de seu total apoio.
— Por favor, explique. — solicitou a rainha. — Se pudermos ajudar,
acredito que devemos. Você concorda, governador?
— Sim. — respondeu Sio Bibble. — Se estiver ao nosso alcance.
— A recuperação de Naboo da invasão da Federação do Comércio foi
lenta, porque não buscamos muita ajuda externa. — disse Padmé. — Na
época, decidimos que era o caminho mais razoável e sustentável e
estávamos certos. No entanto, agora nos recuperamos quase totalmente e
gostaria de começar a usar uma parte de nossos estoques de alimentos para
empreendimentos de caridade.
— Quem você pretende alimentar? — perguntou Réillata.
— Não sabemos muito sobre os piratas que atualmente assolam as
naves nas rotas do hiperespaço da República. — disse Padmé. — Mas
temos algumas suspeitas sobre a sua origem, mesmo que tenham deixado os
seus planetas natais para trás. Se nos concentrarmos em enviar ajuda a esses
planetas, talvez menos deles ficarão desesperados o suficiente para recorrer
à pirataria, e aqueles que o fizerem ficarão menos protegidos.
— A fome foi a principal causa de conflito nos campos aqui. —
ponderou Sio Bibble. — As pessoas faziam todo o tipo de coisas que
normalmente nunca considerariam, porque era a única forma em que
podiam pensar para alimentar os filhos.
— Eu concordo. — disse Saché. — Senadora, nossas colheitas podem
em breve ser ainda melhores do que eram sob o seu reinado como rainha.
Os primeiros experimentos de Eirtaé foram muito encorajadores. Ela
aumentou a quantidade de algas azuis e as fazendas do sul já estão
aproveitando a colheita dela. Eles reduziram quase pela metade a estação de
cultivo.
— Isso é incrível. — disse Padmé. — Ela me escreveu sobre isso, mas
era altamente técnico e confesso que tinha tantas coisas em mente que não
fiz as perguntas que deveria.
A carta de Eirtaé havia chegado na época de sua tentativa de assassinato
e Padmé tinha se esquecido completamente dela até este momento.
— Tenho certeza de que Eirtaé não se importará de explicar isso a você
pessoalmente. — disse Saché. — Ela já apresentou a sua descoberta
preliminar ao legislativo e ela o faz com a arte dela, então nós, que não
somos botânicos, podemos entendê-la.
Foi surpreendente, Padmé refletiu, ouvir Saché tão à vontade falando o
que pensava. Ela nunca foi tímida em privado, mas parte de seu trabalho
envolvia ficar fora dos holofotes. Agora que estava nisso, estava
florescendo. Padmé nunca a imaginou concorrendo para Rainha de Naboo,
mas agora podia ver isso claramente. Se Saché quisesse, teria todo o apoio
de Padmé.
— Pedirei aos ministros que repassem os números exatos. — disse Sio
Bibble. — Mas tenho certeza de que podemos bolar um plano que satisfaça
Vossa Alteza e dê à senadora algum espaço para trabalhar.
— Obrigada, Governador. — disse Padmé.
— Seu nome é Sabé, correto? — perguntou a Rainha Réillata,
dirigindo-se à Sabé diretamente.
— Sim, Vossa Alteza. — respondeu Sabé. Ela não demonstrou surpresa
que a rainha soubesse o seu nome, mas Padmé sabia por experiência própria
o quão bom era o seu blefe.
— Você está aqui para falar sobre ajuda ou armas? — perguntou a
rainha.
— Apenas na forma de falar. — respondeu Sabé. Ela se inclinou para
frente para que ela ficasse na linha de visão de Padmé. — Senadora, com a
sua permissão?
— Claro. — disse Padmé.
— Tenho trabalhado como parte do destacamento de segurança da
Senadora em Coruscant. — informou Sabé à rainha. — Junto com o
Capitão Tonra, estive disfarçada em um dos bairros mais miseráveis da
capital, reunindo informações sobre a opinião pública a respeito da
Senadora Amidala.
— A opinião pública de Coruscant é tão importante para a senadora de
Naboo? — perguntou a Rainha Réillata.
— É, quando se trata de um atentado contra a vida da senadora. —
respondeu Sabé sem rodeios.
— É a Federação do Comércio de novo? — esbravejou Sio Bibble. Ele
raramente conseguia controlar as suas emoções sobre o assunto, mas Padmé
não o culpava. Ele permaneceu no planeta quando ela foi pedir ajuda e, ao
fazer isso, basicamente supervisionou um massacre.
— Temos quase certeza que sim. — disse Sabé. — Embora a nossa
investigação esteja em andamento. Quando perceberam que matar a
senadora poderia ser impraticável, eles se contentaram com o assassinato de
reputação. As holonotícias a evisceraram em todos os assuntos imagináveis
e nenhum dos outros senadores a levava a sério.
— Presumo que essa seja parte da razão pela qual você precisava do
Senador Organa. — disse a rainha.
— Sim. — respondeu Padmé.
— Houve um declínio na atividade ameaçadora desde que a Senadora
Amidala começou a trabalhar tão estreitamente com o Senador Organa e a
Senadora Mon Mothma, de Chandrila, mas com o quarto julgamento de
Nute Gunray chegando ao fim, reluto em dizer que o assunto está resolvido.
— disse Sabé. — Além disso, não sabemos o que mudará quando o
julgamento for concluído, não importa como termine.
— Concordo. — disse a rainha. — Devemos fazer o possível para
garantir a sua segurança. Senadora, caminha comigo pelo terraço?
— Claro, Vossa Alteza. — respondeu Padmé, levantando-se. Todos os
outros se levantaram com ela, a rainha e as suas aias um pouco atrás. —
Governador, foi um prazer vê-lo novamente. — disse Padmé.
— De fato, Senadora. — respondeu ele.
Ele fez uma reverência à Rainha Réillata e saiu da sala. Saché foi até
Sabé e segurou-a pelo braço.
— Venha. — disse ela. — Temos muito o que fazer.
Ela parecia muito com aquela entusiasmada adolescente de 12 anos que
um dia fora, que Padmé quase acreditou que não tinha motivações políticas
para falar com Sabé. Elas se curvaram para a rainha e partiram.
Padmé foi para o lado da rainha e as duas começaram a caminhada
cuidadosa até o terraço. O vestido da rainha era duro e não muito fácil de
vestir.
— Sinto que você não está ansiosa para voltar a Coruscant. — disse a
Rainha Réillata quando não havia ninguém para ouvi-las, exceto as suas
aias.
— Não desejo fugir da minha responsabilidade. — Padmé assegurou-
lhe. — É que não tenho certeza se sou a pessoa certa para o trabalho.
— Você deu todas as evidências de que é perfeita para o trabalho. —
disse a rainha.
Elas saíram para o terraço e Padmé aproveitou para apreciar a beleza de
seu próprio sol, que ela havia sentido falta.
— Eu era vista como uma espécie de coringa. — admitiu ela. — Todos
no Senado sabem que eu pedi a substituição do Chanceler Valorum, e como
o meu próprio senador o substituiu, parece uma armação. Tive que me
distanciar do Chanceler Palpatine para provar a minha autonomia, embora
tenha vários projetos que são importantes para mim em nível pessoal.
— É esse tipo de dedicação que acho que faz de você uma excelente
escolha. — disse a rainha.
— A percepção é que sou muito leal a Naboo. — disse Padmé. — Fui
ao Senado para nos libertar da Federação do Comércio. Existem tendências
estranhas no Senado agora. Temo que hajam aqueles entre nós que estão
começando a duvidar da eficácia da República e tenho o dobro de medo de
que, a menos que tome muito cuidado com as minhas ações, serei rotulada
como um deles.
— Eles temem que, se você forçou a mão da República antes, você fará
isso de novo. — disse a Rainha Réillata.
— E eles estão corretos. — disse Padmé. — Mas faria isso por qualquer
planeta, não apenas por Naboo.
Elas caminharam até a borda da varanda e olharam os campos e
cachoeiras que cercavam Theed. Havia flores nos prados e pássaros no céu.
— Acho que você deve voltar. — disse a Rainha Réillata. — Deve
voltar e mostrar a eles que Naboo tem maturidade política para fazer o que
precisa ser feito. Como você disse, não desejo desastre em nenhum planeta,
mas se puder mostrar ao Senado que vai chegar ao extremo por qualquer
um, então talvez entendam que a lealdade de Naboo permanece inalterada.
— Para falar a verdade, já tinha decidido voltar. — disse Padmé. —
Não gosto de recuar diante de um desafio ou fugir do meu dever quando
sou necessária. Queria ter certeza de que entendia toda a extensão da
situação.
— Sim. — disse Réillata. — Há outros que poderia enviar, mas
demoraria mais um ano até que eles conseguissem obter os resultados. Você
já trabalhou muito, eu sei, e tem sido um fardo para você, mas tem os
agradecimentos de uma rainha agradecida.
Padmé olhou para a vista e considerou as palavras de Réillata. Sabia que
faria exatamente a mesma coisa na posição da rainha, embora nunca tivesse
enfrentado esse dilema durante o seu reinado.
— Você sabe por que me candidatei a um segundo mandato, senadora?
— perguntou Réillata.
— Não. — disse Padmé. — Embora admita que me perguntei isso.
— Fiquei nervosa o tempo todo em que fui rainha, na primeira vez. —
disse Réillata. — Mas gostei. Gostava de ajudar as pessoas. No final do
meu mandato, eu me convenci de que não estava ajudando o suficiente.
Minha maior força era a minha voz para cantar e achei que era uma coisa
boba para uma rainha prezar. Então não concorri de novo, porque não era
perfeita para o papel. Anos depois, no meio de uma apresentação, percebi
como isso era ridículo. Poderia cantar ópera na frente de centenas de
pessoas e sentir empatia por todas as pessoas na sala. Podia ouvir tão bem
quanto falar. Falei com minha família e concorri novamente. Você tem sido
uma figura grande para equiparar, mas não estou mais com medo. Espero
que continue servindo a Naboo e espero que continue a gostar disso.
Padmé deixou as palavras da rainha girarem em sua mente. Significou
muito, embora não pudesse articular exatamente como, ouvir que Réillata
não estava apenas pensando na juventude de Padmé quando concorreu para
o segundo mandato. Padmé sabia que tinha sido uma boa rainha e que teria
sido ainda melhor se tivesse continuado no cargo, mas não era assim que
Naboo agia. Tinha sido a rainha que Naboo precisava que ela fosse. Agora,
ao que parecia, seria Senadora pelo mesmo motivo, cabendo a ela
compensar qualquer carência que percebesse, do jeito que Réillata fizera e
continuava fazendo. Nenhum sistema pode ser perfeito; um método não era
inerentemente melhor do que o outro. A política não era um jogo de
absolutos, exceto que aqueles que serviam nunca deveriam parar de
trabalhar enquanto ocupassem os seus cargos.
E Padmé iria aguentar.
— Obrigada, Vossa Alteza. — disse Padmé após um longo momento de
um silêncio precioso. — E obrigada por apressar essas reuniões para que eu
pudesse voltar para a minha família o mais rápido possível.
— Foi um prazer. — disse a rainha. — Ouvi as notícias sobre a sua
irmã. Sei que você deve estar ansiosa para ir até eles.
Padmé estava realmente ansiosa. Sua irmã tinha enviado algumas
holoimagens, mas não era a mesma coisa.
— Eu estou, Vossa Alteza. — disse ela.
— Discutimos tudo o que precisamos, Senadora. — disse Réillata. —
Tenho muito em que pensar e você também, mas não adianta esperar no
palácio por respostas quando uma simples holomensagem pode chegar até
você. Vá para a sua família.
— Obrigada, Vossa Alteza. — disse Padmé.
Curvou-se uma última vez e depois se virou para conduzir Cordé e
Dormé de volta ao palácio. Mandou uma mensagem a Sabé para dizer que
estava partindo e então Tonra as levou ao speeder que a Rainha Réillata
havia providenciado para uso enquanto estivessem em Naboo. Padmé
estava muito animada para enviar um holo para a sua mãe, então digitou
uma nota e avisou aos seus pais que estaria em casa a tempo para o jantar.
A casa em que Padmé Naberrie cresceu ficava longe da capital Naboo.
Como a maioria das casas em Naboo, era feita de pedra e coberta com
telhados abobadados. O seu pai, Ruwee, a construiu sozinho, antes de se
tornar um professor na universidade, e a sua mãe impregnou a pedra fria
com aquele senso de lugar, tempo e pertencimento que fundamenta os
verdadeiros lares. Era grande o suficiente para toda a família, que havia se
expandido recentemente, mas pequena o suficiente para que Padmé não se
sentisse como se estivesse pisando em outra residência grandiosa cada vez
que cruzava a soleira.
Estava em casa. Nunca tinha vivido em nenhum outro lugar tão caloroso
e cheio de amor. Estava grata pelas residências oficiais que o governo de
Naboo havia providenciado pra ela, mas que nunca foram suas. Esta era a
casa com a qual ela tinha sonhado quando estava sozinha em Coruscant,
como membro do programa legislativo júnior, e esta era a casa para a qual
sempre queria voltar, pelo tempo que pudesse.
O pátio estava vazio quando Padmé, Tonra e Dormé chegaram. Cada
um deles levou apenas uma pequena mala e não vestiram nada que os
marcassem como servindo ao governo. Tonra ainda carregava o seu blaster
abertamente e Padmé só podia presumir que Dormé estava com o dela
escondido em algum lugar como ela mesma, mas Naboo estava em paz e
não achava que houvesse uma necessidade real disso. Padmé pretendia
deixar a sua arma em seu quarto durante sua estada. R2-D2 tinha vindo com
eles e permaneceu no pavimento, enquanto eles subiam as escadas em
direção à porta da frente. Jobal Naberrie esperava lá com um grande sorriso
no rosto.
— Olá, mãe. — disse Padmé e meses inteiros de frustrações
desapareceram.
— Padmé. — disse Jobal, puxando a filha para um abraço. — Ah, é
maravilhoso ver você. Entre, entre.
Padmé roçou os dedos contra o pedaço de madeira entalhada que estava
preso ao batente da porta, quando cruzou a soleira, e deu um passo
diretamente para os braços de seu pai.
— Pai. — disse ela, enquanto ele a abraçava, e essa foi a saudação que
qualquer um deles precisava.
Jobal os guiou para uma sala de estar a qual estava alinhada com janelas
altas. As paredes eram pintadas de azul e vasos de flores vermelhas
decoravam vários floreios arquitetônicos. Haviam cadeiras e uma mesa sob
uma das janelas, com um bule fumegante e uma bandeja de sanduíches.
Mas Padmé só tinha olhos para uma coisa.
— Sola. — disse ela e atravessou a sala em um farfalhar de tecido para
se ajoelhar diante de sua irmã.
— Olá, Padmé. — disse Sola. Ela sorriu e virou o pacote embrulhado
em cobertor em seus braços para que Padmé pudesse ter uma visão mais
clara. — Esta é Ryoo.
— Ela é linda. — disse Padmé, estendendo a mão para tocar o rosto de
sua sobrinha.
— Ela grita por duas horas no meio da noite sem nenhum motivo
lógico. — disse Sola. — Mas sim. Você gostaria de segurá-la?
Padmé a segurou e cuidadosamente tirou o bebê adormecido dos braços
de sua irmã. Ela se sentou no sofá ao lado de Sola e olhou para o rosto da
sobrinha por um momento, antes de ouvir o seu pai dar uma tosse suave.
Tardiamente, Padmé percebeu que precisava fazer algumas apresentações.
— Mãe, pai, vocês se lembram do Capitão Tonra? — perguntou ela. —
Ele lutou na Batalha de Naboo e está comigo desde então.
— Parabéns por sua promoção, Capitão. — disse Ruwee.
— E esta é Dormé. — continuou Padmé. — Ela é a minha figurinista,
entre outras coisas.
Todos eles sabiam o que essas outras coisas envolviam.
— Obrigado por ficar com a nossa filha, vocês dois. Por favor, sentem-
se. Tentamos manter as formalidades da política ao mínimo aqui, ou
ninguém jamais faria nada. — disse Jobal. Tonra e Dormé obedeceram,
enquanto Padmé reprimiu uma risada. — Esperávamos que o perigo fosse
menor em Coruscant, agora que Padmé não é mais rainha.
— E é, mesmo. — Dormé assegurou-lhe. — Mas ainda estamos sendo
cuidadosos.
— Estou feliz em ver que o legado do Capitão Panás continua. — disse
Ruwee. — Nem sempre concordei com os métodos dele, mas ele mantinha
a todos seguros para que pudessem manter a minha filha segura, então
passei a entendê-lo.
— Ele nos visita no lanche, às vezes. — disse Sola. — Tento sair de
casa antes que comecem a gritar um com o outro.
Olhando para o olhar confuso de Tonra, Padmé disse:
— Meu pai e o Capitão Panás gostam de debater a necessidade de uma
ação militar. As Forças de Segurança Real aumentaram de tamanho sob o
meu mandato e não acho que meu pai tenha me perdoado por isso.
— Foi necessário, infelizmente. — disse Ruwee. — E isso nos salvou,
eu sei. Mas certamente podemos reduzir novamente.
— Ruwee, deixe-os descansarem por mais de dois minutos antes de
começar. — disse Jobal.
— Está tudo bem. — disse Dormé. — Risco ocupacional.
— E o papai é muito mais razoável do que a maioria dos senadores com
quem trabalho. — disse Padmé. — Mas não se preocupe. Todos os meus
amigos são pacifistas.
Ela quis dizer isso como uma piada, mas assim que disse isso percebeu
como isso era reconfortante, mesmo quando estava batendo de frente com
Mon Mothma. Isso a lembrou de onde o seu objetivo estava definido e do
tipo de senadora que queria ser. Em seus braços, a bebê murmurou e Padmé
olhou pra baixo. Ryoo tinha acordado, mas não tinha começado a chorar,
então Padmé fez caretas pra ela na tentativa de fazê-la sorrir. Também havia
muito a ser dito sobre essa forma de negociação.
— A rainha deu a você alguma indicação de quanto tempo você seria
requisitada no Senado? — perguntou Sola. Ela se levantou e foi até a mesa
onde o bule estava. — Alguém aceita chá?
— Não. — respondeu Padmé. — Ela só disse que quer que eu volte. E
sim, por favor.
Sola serviu para todos, tendo aprendido há muito tempo que quando
Padmé trazia para casa pessoas com quem trabalhava, elas tendiam a seguir
o exemplo dela, independentemente do que Jobal declarasse sobre
informalidade. Era um dos chás Karlini mais comuns e não precisava de
nenhum aditivo para melhorar ou alterar o sabor. Embora não fosse o
favorito de Padmé, raramente era exportado e, portanto, beber era um dos
rituais silenciosos que confirmavam que ela havia voltado para casa.
— Você vai? — perguntou Jobal.
Padmé hesitou. Ela olhou para a sua mãe e seu pai, para as paredes da
casa, ainda o seu lugar mais confortável na galáxia e sentiu o peso do bebê
em seus braços. Ryoo havia soltado um braço de seus envoltórios e estava
agarrando o colar de Padmé. Ela enfiou a peça na gola, que era preciosa
demais para bebês, e ofereceu um dos adereços de seu cabelo em troca.
Ryoo colocou diretamente em sua boca e Padmé o recuperou rapidamente.
Ela não foi tão rápida nisso, claramente. Sua irmã riu e forneceu um dos
brinquedos do bebê.
— Sim, embora não saiba por quanto tempo. — respondeu Padmé. — A
rainha me deu sua confiança e tenho muitos projetos em andamento em
Coruscant. Sinto saudades de casa, claro, mas...
— Se você quiser, não vamos tocar no assunto de novo. — observou
Ruwee. — Você pode me ajudar nos jardins, em vez disso.
— Bem, é um dia muito bonito para passar dentro de casa. —
concordou Sola. — Deixe-me pegar o protetor solar de Ryoo e todos
podemos sair. Mesmo que papai não recrute nenhum de nós, ele pode nos
dar um sermão enquanto faz as coisas e todos sabemos o quanto gosta
disso.
— Sou construtor e professor. — disse Ruwee. — O que você esperava?
Padmé entregou a bebê à mãe e foi passear com Dormé enquanto todos
iam para os jardins.
— Vocês estão bem? — perguntou ela, falando com volume suficiente
para que Tonra a ouvisse também. — Sei que as visitas à minha família
podem ser um pouco estranhas, mas elas realmente pretendem ser
inclusivas. Eu queria te avisar, mas assim que chegamos ao planeta, tudo
aconteceu muito rápido.
— Está tudo bem, minha senhora. — respondeu Tonra. — Sabé nos
disse o que esperar.
— É apenas um ajuste. — respondeu Dormé por sua vez. — E,
francamente, é mais agradável do que a ideia de inclusão do Senado.
— Tudo bem. — disse Padmé. — Mas se quiserem ir, podem
simplesmente ir. Mamãe preparou quartos de hóspedes para vocês, se
precisarem fugir de todo esse charme da família Naberrie.
— Ora, Senadora. — Dormé colocou a mão em seu peito como se
estivesse em choque profundo. — Que coisa para dizer!
A visita correu bem. Como prometido, os pais de Padmé não trouxeram
à tona o seu futuro senatorial novamente e tudo que isso custou a ela foram
duas horas lixando vigas para a nova estufa que Ruwee estava construindo
para que a escola local pudesse ter flores para estudar e desenhar durante
temporada de frio. Ela levou R2-D2 para ajudar, mas o droide ficou
imediatamente distraído pelo bebê e ao invés de contribuir com o projeto de
construção, ele passou o seu tempo entretendo Ryoo com uma variedade de
ruídos e, até ser repreendido, por exibições de relâmpagos controlados.
— Por que você tem uma unidade astromecânica? — perguntou Sola,
uma vez que R2-D2 estava brincando com a sua filha de uma forma menos
provável de resultar em eletrochoque ou curto-circuito.
— Artoo é um herói de Naboo. — respondeu Padmé. — Ele consertou o
nosso hiperpropulsor quando estávamos furando o bloqueio da Federação
do Comércio e foi uma parte importante da batalha para retomar o planeta.
Ele fica na maior parte do tempo na nave, mas tem sido estranhamente leal
e possui uma variedade de características úteis. Além disso, às vezes ele
apenas me faz sorrir.
— Bem, Artoo. — disse Sola ao pequeno droide. — Você precisa de
orientação como babá, mas suponho que se sairá bem.
O droide gorjeou pra ela e então voltou toda a sua atenção para Ryoo.
— Você não é realmente a favor de armar comerciantes civis para ajudá-
los a afastar os piratas, é? — perguntou Sola com a voz calma. — Foi quase
exatamente assim que o bloqueio da Federação do Comércio começou.
— Não. — respondeu Padmé. — Os outros senadores com quem
trabalho são totalmente anti-agressão, ao ponto de não se defenderem. Mas
são principalmente dos Mundos do Núcleo. Eles são inteligentes e
experientes, mas acho que este é um ponto onde eu os supero, mas ainda
não encontrei uma maneira de atraí-los de forma elegante.
— Então você está jogando de forma deselegante o outro lado dos
argumentos deles? — perguntou Sola. — Isso pode ser perigoso.
— Não é tão sério assim. — respondeu Padmé. — Nós mantemos esses
debates fora do plenário, então não há um registro deles além do que nós
mesmos fazemos. É mais como um ensaio geral, de modo que quando Mon
Mothma ou Bail Organa levar o assunto para o resto do Senado, eles estão
cientes de como a discussão pode ir.
— Você nunca leva o assunto para o plenário? — perguntou Sola.
— Ainda não. — Padmé admitiu. — Isso me irrita, vou lhe dizer isso,
mas decidi esperar um pouco mais antes de me dirigir ao Senado
diretamente sobre uma moção que escrevi. Todos se lembram do que
aconteceu na primeira vez que me dirigi a eles, e esse tipo de sacudida no
governo não é facilmente perdoado.
— Você nos salvou. — observou Sola. — Foi o que aconteceu.
— Eu sei. — disse Padmé.
— É melhor você ir resgatar Dormé antes que o papai a adote. — disse
Sola, olhando através do jardim para onde Ruwee estava proclamando em
voz alta que Dormé era a melhor entalhadora que ele tinha visto nos últimos
dez anos. — Seus amigos são sempre tão talentosos.
— É por isso que eles acabam comigo. — disse Padmé. — Parece
interesse se cercar de pessoas que são boas em coisas que você não é com
essa intenção, mas isto torna a vida interessante.
Ela se levantou e foi ver se Dormé precisava ser resgatada. Suas aias
geralmente sabiam cuidar de si mesmas, mas assassinos especialistas e
políticos astutos eram uma coisa e os pais de Padmé eram outra. Dormé
segurava uma pequena lâmina vibratória e entalhava trepadeiras nas partes
das vigas que seriam visíveis de dentro da estufa.
— Ela tem mãos tão firmes. — disse Ruwee. — E ela pode ver todo um
padrão em sua cabeça e, em seguida, fazer com que se encaixe onde precisa
ir.
— O que você acha que uma figurinista faz? — perguntou Padmé.
Dormé sorriu.
— Bem, quando minha filha terminar com a política galáctica, você não
terá problemas em encontrar algo para fazer aqui. — disse Ruwee.
— Obrigada. — disse Dormé. — A minha bisavó me ensinou a esculpir.
É mais fácil pra ela agora que está mais velha e costurar faz as juntas dela
doerem. Estou ansiosa pra vê-la quando Cordé e eu trocarmos de lugar em
alguns dias.
Dormé acabou de esculpir a videira e voltou para adicionar folhas e
flores.
— Eu queria perguntar... — disse Ruwee. — Como está o Sabé?
Esperávamos que ela pudesse vir com você, mas suponho que ela tenha as
suas próprias visitas.
— Ela está bem. — respondeu Padmé. — E sim, ela tem. Saché a levou
para ver as outras, eu acho e, então ela vai para casa.
— A suas amigas estão fazendo um trabalho maravilhoso aqui. — disse
Ruwee. — Na legislatura, com aquelas crianças, com música, e eu li os
relatórios iniciais do projeto das algas azuis. É muito encorajador.
— Tenho orgulho delas. — disse Padmé.
— Sabe... — disse Ruwee. — Ninguém precisa ser incrível para
sempre. É perfeitamente normal salvar um planeta ou dois e depois voltar
ao normal para o resto de sua vida.
Padmé pegou a lixadeira novamente. Era mais fácil pensar nos
argumentos de seu pai quando ela o estava ajudando com o trabalho que ele
ama.
— É estranho ver as minhas amigas fazerem coisas tão maravilhosas
sem mim. — disse Padmé. — E Sola também. Ryoo é maravilhosa e acho
que faz parte do futuro de Naboo tanto quanto as algas azuis de Eirtaé. Mas
não sei o que faria se voltasse agora. Quero uma família, mas ainda não, e a
única habilidade que realmente cultivei é a política.
— Você é uma excelente trabalhadora humanitária. — apontou Ruwee.
— E é isso que estou fazendo no Senado agora. — disse Padmé. — Ou
tentando.
— Você sempre vai voltar. — disse ele.
— Sim. — Padmé se sentiu estranhamente energizada. — Sei que não é
a vida que queria pra mim e sei que não é a vida que quero para mim, pelo
menos não para sempre, mas ainda é bom e eu ainda preciso fazer isso.
— Você sempre tem o nosso apoio. — disse Ruwee quando Jobal
apareceu com mais chá.
Padmé tirou uma xícara da bandeja e deixou que o seu cheiro trouxesse
de volta as memórias de mil xícaras que vieram antes dessa. Com sorte,
haveria mais de mil xícaras em seu futuro. Eles continuaram a trabalhar na
estufa, para que os jovens artistas de Naboo tivessem flores quando não
houvesse flores disponíveis.
Padmé passou a sua última noite em Naboo no palácio real. A rainha tinha
sido tão compreensiva com o tempo que Padmé precisava com a sua família
que quando Réillata perguntou se passaria os últimos dias de sua licença na
capital para mais discussões, Padmé não pode recusar. Agora o tempo de
conversa havia terminado e Padmé estava pronta para enfrentar o Senado
novamente. Tinha todo o apoio de seu planeta, o apoio de sua rainha e
quase toda a confiança dela.
Estava fazendo as malas de novo, mas desta vez fazia com certa
intenção. Sabé estava com ela, junto com as outras, e juntas estavam
organizando uma nova coleção de vestidos que se encaixariam na imagem
que a senadora Amidala tentava projetar. Padmé tinha banido a maioria das
cores brilhantes, lamentavelmente, exceto por algumas peças de destaque os
quais não suportou separar, mas foi com certa quantidade de alívio que
mandou todas as tiaras maiores para o armazenamento, junto com os
vestidos mais ornamentados.
Com o olhar de Dormé para a moda e a funcionalidade, construíram um
guarda-roupa baseado em tons mais escuros de azul, verde e marrom. Todos
os vestidos ainda eram fortemente bordados com desenhos Naboo e muitos
consistiam em várias camadas, mas eram mais fáceis de sentar e andar
neles. Padmé seria capaz de virar a cabeça e virar uma esquina sozinha. A
praticidade dos designs de Dormé se estendeu para apoiar roupas e
calçados.
Cordé começou a esboçar novos estilos para o cabelo de Amidala, que
dependiam menos de ajudas estruturais e mais de alfinetes discretos. Os
alfinetes, projetados e feitos pela irmã joalheira de Cordé, poderiam, em um
piscar de olhos, funcionar como armas ou ferramentas, e eram pequenos o
suficiente para passar pela maioria das varreduras de segurança. Versé e
Sabé trabalharam juntas em roupas para dar ainda mais mobilidade:
macacões e coisas do gênero, que podiam ser combinados com capas
dramáticas para lembrar a todos do status de Amidala sem atrapalhar.
— Você vai se mover melhor do que no traje de batalha. — disse
Padmé, segurando a calça branca na frente dela.
— E provavelmente é mais fácil de entrar do que o uniforme de guarda.
— acrescentou Sabé. Ela manteve o rosto sério, mas os seus olhos estavam
brilhando. Typho tinha jurado não contar, mas todas teriam dado muita
coisa para ter visto Padmé assim.
Sabé estava preparando para ela suas próprias roupas. Elas tinham dado
a ela um uniforme de guarda, bem como dois conjuntos de vestes, caso ela
fosse necessária como aia. Ela encomendou um novo par de botas,
raspando-as cuidadosamente assim que o sapateiro foi embora, para que não
parecessem tão limpas, além de um cinto de utilidades, que acompanhava o
seu uniforme. Suas roupas variavam de combinações práticas de calça e
túnica, que mal eram enfeitadas, até três modelos de luxo, caso ela
precisasse.
— Você tem certeza sobre os vestidos? — perguntou Sabé. — Não
posso exatamente usá-los na minha vizinhança.
— Podemos precisar de você em curto prazo. — respondeu Padmé. —
Sei que é improvável, mas temos a franquia de carga para isso e, assim,
você estará preparada para todas as eventualidades.
— Muito justo. — disse Sabé.
Houve uma batida na porta e Mariek entrou. Padmé mal a tinha visto
enquanto estavam em Naboo e estava feliz que a capitã de sua guarda havia
retornado.
— Você está pronta para enviar tudo isso pra a nave? — perguntou ela.
— Sim, Tia. — respondeu Versé.
Cordé colocou as últimas peças frágeis em suas caixas e Dormé
verificou o lacre das caixas. Quando tudo estava seguro, as caixas foram
para as plataformas repulsoras e Mariek saiu para supervisionar o
carregamento. Ela tinha acabado de sair quando ouviu outra batida na porta
e Saché entrou.
— Olá. — disse Padmé calorosamente. Ela tinha visto as suas amigas
durante a sua licença em seus shows, casas e exposições de arte, mas nunca
era demais.
— Vim perguntar se você vai jantar com a rainha esta noite. — disse
Saché.
— Não vou. — respondeu Padmé. — Ela já tinha um compromisso
anterior com os ministros de comércio e não queria infringir.
Além disso, Padmé já havia comido com os ministros do comércio com
bastante frequência.
— Bem, então tenho um convite para vocês, para todas vocês. — disse
Saché. — Estou dando um jantar. Eu reservei o salão sudoeste, com as
janelas que você gosta. Seremos apenas nós, então você pode descer quando
estiver pronta.
— Parece maravilhoso. — disse Padmé. — Vamos terminar aqui e já
desceremos.
O salão sudoeste era o favorito de Padmé, porque era pequeno e
simples. A sua glória estava na parede de janelas altas, que deixavam entrar
bastante luz, e na varanda além dela, onde toda a área de Theed e grande
parte da paisagem ao redor eram visíveis. Como rainha, Padmé havia lido lá
e concedido audiências com seus confidentes mais próximos. Parecia um
lugar mais do que adequado para um jantar de despedida e ela estava feliz
por Saché ter se lembrado.
— Só nós. — Acabou sendo todas as aias, exceto Yané, que cancelou no
último minuto, porque o casal de gêmeos que ela estava criando havia
adoecido e ela estava ficando em casa para cuidar deles. Saché ficou
visivelmente desapontada, mas deu o melhor de si.
— Eles são crianças amáveis, na maioria das vezes. — disse Saché. —
E estou muito orgulhosa dela pelo que faz.
— Eu os conheci quando nós a visitamos. — disse Padmé. — Não
demoramos muito, mas foi o suficiente para conhecê-los um pouco e rever
Yané. Não consigo imaginar ter gêmeos, mas ela é tão boa nisso.
— Ela realmente é. — disse Saché.
A atenção de Padmé foi atraída pelo novo vitral. Havia encomendado
vários após a Batalha de Naboo, para substituir os danificados durante a
ocupação, mas este não era um dos seus. A janela representava uma
procissão real onde uma minúscula figura de vidro dela mesma caminha
pelas ruas de Theed sob um dossel, enquanto as suas assistentes a
rodeavam. Rabé seguiu o seu olhar e riu ao ver a janela.
— Quantas de nós acham que existem? — perguntou ela. Havia muitas
figuras encapuzadas com chamas na cena.
— Tem uma segurando o dossel? — perguntou Saché, apertando os
olhos. — Acho que o artista não entende o que fazemos.
— Bom. — disse Sabé e todas elas riram. — É assim que deveria ser.
Rabé se apresentou para elas enquanto esperavam a hora do jantar se
aproximar e Eirtaé deu mais detalhes sobre a sua passagem por Otoh
Gunga, do que deu à assembleia legislativa. Ela também trouxe várias de
suas peças para Padmé ver e Sabé insistiu em comprar uma delas, embora
atualmente não tivesse onde colocá-la.
— Vou mandar para a casa dos seus pais. — disse Eirtaé.
Padmé saiu para a varanda após o pôr do sol, com Sabé dando-lhe
alguma distância enquanto seguia logo atrás. Pela primeira vez, não havia
nenhum problema de segurança a ser considerado. A viagem inteira
transcorreu sem incidentes e Padmé ficou profundamente feliz com isso.
Ela sabia que era o trabalho delas e sabia que era a sua posição, mas odiava
cada vez que as pessoas se arriscavam por ela, especialmente quando eram
seus amigos.
Estava tudo quieto em Naboo, de uma forma que Coruscant nunca
poderia estar. A cidade-planeta zumbia constantemente: geradores, tráfego,
o barulho de milhões de conversas simultâneas. O barulho de Naboo era
muito mais baixo, mas ainda estava lá, se você soubesse o que ouvir. Padmé
amava as cachoeiras de Theed desde a primeira vez que as viu e estar longe
do planeta só fez seu carinho ficar mais forte. Ela ficou parada, debruçada
sobre a cidade que seu coração mais amava, ouvindo o som distante da água
correndo.
— Voltaremos aqui, você e eu. — disse ela à Sabé. — Faremos o que
precisamos fazer lá e depois voltaremos para casa.
Sabé descansou a cabeça no ombro de Padmé, sentiu a pressão da
bochecha de Padmé contra o seu cabelo e nenhuma das duas duvidou por
um momento.
As remessas em toda a Orla Média foram atacadas por piratas cruéis,
preparados para roubar qualquer coisa que não esteja soldada ao casco.
Milhões de créditos em investimentos desapareceram, enquanto as naves
destruídas são deixadas para fazer o seu caminho de volta para o Núcleo.
Por quanto tempo mais o Senado vai ignorar a situação da Orla Média?
Quanto dinheiro os investidores como a Federação do Comércio serão
forçados a arriscar? E o Chanceler Palpatine convencerá o governo
galáctico a interceder antes que seja tarde demais?

— TriNebulon Notícias
Coruscant estava barulhento e lotado e o ar tinha um cheiro terrível, mesmo
em um lugar tão alto quanto a varanda da residência senatorial de Padmé,
mas descobriu que uma pequena parte dela havia esquecido isso, apesar de
seus melhores esforços. Reconheceu que gostava dos desafios intelectuais
que surgiam por ser membro do Senado Galáctico e silenciosamente se
lembrou de não ficar tão envolvida aos teóricos poderes a ponto de esquecer
como as suas ações, ou a falta delas, afetavam outros seres.
Haviam retornado um dia antes para se instalarem no apartamento e
desfazer as malas, mas assim que as malas de transporte foram empilhadas
em seu quarto, o seu comunicador oficial soou exigindo a sua atenção.
Padmé foi ler a mensagem e depois se sentou, ao perceber o que estava para
acontecer.
— Dormé! — chamou ela. A aia apareceu em segundos. — Procure
uma roupa senatorial que não precise arrumar, o mais rápido possível.
Tenho que ir ao plenário do Senado imediatamente.
— O que aconteceu? — Dormé já estava em movimento. Ela sabia
exatamente qual era a mala que procurava e, em pouco tempo, tinha
montado tudo o que precisava.
— Foi convocada uma sessão de emergência. — respondeu Padmé,
começando a tirar as roupas de viagem. — Algo sobre os aquedutos
planetários em Bromlarch. Não há muitos detalhes no relatório, mas deve
ser importante para chamar todos um dia antes. Estou feliz por termos
chegado a tempo. O que você que faça com o meu cabelo?
— Deixe por enquanto. — respondeu Dormé. — E mantenha essa roupa
interna. Vai ficar tudo bem por baixo dela.
Padmé deixou Dormé vesti-la com uma das roupas novas. A roupa
interior marrom era encimada por um vestido verde com babados que não
ficavam amassados e, em seguida, um tabardo marrom ia por cima, no lugar
de uma capa ou manto. Dormé pegou as tranças que estavam penduradas
nas costas de Padmé e as enrolou em torno de sua cabeça de uma forma que
lembrava a coroa da Rainha Breha, embora o cabelo de Padmé só fosse
preso no lugar com grampos.
— Isso terá que servir. — disse Dormé criticamente.
— Obrigada. — disse Padmé. — Por favor, diga a Typho e Mariek para
me encontrarem na plataforma. Todos os outros podem ficar aqui e tentar se
recuperar da viagem.
Dormé saiu e Padmé parou um momento para se recompor. Milhares de
“se” passaram por sua mente e ela impiedosamente rejeitou a todos eles.
Não havia sentido em planejar nada ou se preocupar muito antes de saber
quais eram os problemas e como poderia abordá-los da melhor forma.
Rspirou fundo mais uma vez e dirigiu-se aos guardas, tornando-se a
Senadora Amidala até a ponta dos dedos.
Typho dirigiu ao speeder, porque não havia tempo para esperar a
chegada do transporte senatorial. O escritório de Amidala tinha autorização
para voar para fora das principais rotas da cidade, então não demorou muito
para chegar ao prédio do Senado. Typho deixou Mariek e Padmé e
prometeu encontrá-las no pod senatorial.
Padmé não parou em seu escritório e foi direto para o plenário,
ocupando o seu lugar. Ela ligou o tradutor para o caso de precisar e se
acomodou para ouvir.
— ...Potencial para a tragédia se aproxima. — dizia o senador de
Bromlarch, um homem magro e humanoide chamado Caelor Gaans. — Não
tínhamos como prever que a atividade sísmica seria tão grave. Nosso
sistema de aquedutos é capaz de suportar uma pressão e estresse
consideráveis, mas isso foi muito além de qualquer coisa que o planeta já
experimentou.
— E quanto às suas casas e centros populacionais? — perguntou Mon
Mothma. Padmé ficou aliviada ao ouvir a voz dela.
— Eles se saíram um pouco melhor, Senadora, obrigado. — disse
Gaans. — As casas são feitas de um material mais flexível e mais
rebaixadas para mais próximo do solo. Construímos nossas casas para
serem substituíveis e pensávamos que o aqueduto iria durar.
— Parece que você fez o que podia. — disse Mon Mothma.
— Não será o suficiente. — disse Gaans. — Sem o aqueduto, nosso
sistema agrícola está praticamente aniquilado. Podemos levar água a menos
de dez por cento de nossos campos e o tremor fez com que muitos poços
particulares secassem. Não temos tempo para cavar novos poços, enquanto
descobrimos como reconstruir. Acabamos de terminar a temporada de
plantio. Se não conseguirmos levar água para as plantações, todo o planeta
morrerá de fome.
Com esta terrível previsão, Gaans se sentou. Era quase como se as suas
pernas não fossem mais sustentá-lo de pé. O coração de Padmé se
compadeceu dele. Sabia o que era ficar em Coruscant enquanto o seu
planeta sofria.
— Os cidadãos de Bromlarch podem ser realocados? — perguntou o
senador de Malastare.
— Somos milhões. — disse Gaans, lutando para se levantar novamente.
— Seria impraticável. E muitos não têm para onde ir.
— Senadores, senadores. — O chanceler Palpatine finalmente fez a sua
voz ser ouvida. O silêncio, ou o mais próximo disso, caiu sobre a câmara do
Senado. — Devemos agir o mais rápido possível para aliviar o sofrimento
em Bromlarch. A realocação será considerada apenas como último recurso
absoluto. O presidente agora reconhece o senador de Scipio.
Padmé endireitou-se. Sentiu a pontada aguda e desconhecida de ciúme
correndo por ela com a ideia de que Rush Clovis faria um discurso solo
antes dela, mas rapidamente esmagou o sentimento horrível. No entanto, se
perguntou o que ele poderia oferecer. Ainda não tinha pensado em nada
além de ajuda alimentar básica, uma solução óbvia e de curto prazo, na
melhor das hipóteses.
— Senadores. — disse Clovis. — Proponho que uma equipe de
auditoria seja enviada a Bromlarch. Eles podem avaliar os danos e fornecer
uma estimativa de custo dos reparos. Entendo que Bromlarch está
sobrecarregado demais para conduzir a pesquisa sozinho agora, mas este
órgão pode lidar com a tarefa, e assim que tivermos os relatórios, podemos
tomar outras decisões.
Créditos, é claro. Clovis queria saber quanto custaria tudo. Ainda assim,
não era um plano ruim. A única hesitação de Padmé foi que sabia por
experiência própria quanto tempo esse tipo de pesquisa poderia durar.
— Onderon apoia a moção. — disse Mina Bonteri. Padmé ficou
surpresa. Bonteri não tinha falado muito no final da última sessão. Talvez a
sua licença a tenha revitalizado.
Palpatine conversou com os seus conselheiros, que ainda incluía Mas
Amedda. Padmé não gostava do conselheiro Chagriano e desejou que
Palpatine tivesse escolhido outra pessoa, agora que estava mais estabelecido
como chanceler. Ela não foi consultada, é claro, mas Palpatine sabia de sua
antipatia. Como em tantos outros tópicos, ele rejeitou a opinião dela no
momento em que ela falhou em se alinhar com a dele. Enquanto Mas se
inclinava para frente novamente para falar, Padmé sentiu o frio da história
se repetindo.
— Muito bem. — disse ele. — Vamos enviar a equipe de pesquisa. Vou
perguntar aos nossos amigos Jedi se também mandarão alguém. Eles são
excelentes embaixadores durante crises humanitárias e geralmente
fornecem um ponto de vista menos orientado em política para qualquer
solução proposta. Senador Clovis, Senadora Bonteri, podem trazer os
colegas que quiserem.
O comunicador de Padmé soou e sabia que era Organa antes mesmo de
olhar para baixo. A mensagem era apenas uma palavra:
— Vá.
Padmé estava de pé com Typho e Mariek em seus calcanhares, enquanto
o Chanceler Palpatine começava a dizer as fórmulas que encerraram a
sessão extraordinária. Caminhou rapidamente, indo para o local onde o pod
de Mina Bonteri iria atracar. Com sorte, seria capaz de convencer a
Senadora de Onderon a deixá-la ir, mesmo que elas tenham se separado
desde que Padmé começou a se reunir com Mon Mothma. Se estava
desesperada, supôs, abordaria Clovis, mas preferia arriscar com Bonteri
primeiro.
— Senadora Amidala. — disse Bonteri ao entrar no corredor. — Não
estou surpresa em vê-la.
— Gostaria de acompanhá-la a Bromlarch, Senadora. — disse Padmé.
— Minha experiência anterior com ajuda humanitária faz de mim...
— Sim, minha querida, eu sei. — interrompeu Bonteri. — É por isso
que não estou surpresa em ver você. Caminha comigo?
Padmé caminhou ao lado dela. Pelo menos Bonteri não estava se
movendo lentamente. Elas desceram o corredor até uma alcova na parede
onde um pequeno banco estava escondido do caminho do tráfego de
pedestres. Bonteri sentou-se e Padmé também.
— Você foi uma das primeiras pessoas em quem pensei, Senadora. —
disse Bonteri. — Sabia que o primeiro ato do Senado seria enviar pessoas
para observar os danos. Não podem confiar em relatórios, mesmo quando
elementos visuais são fornecidos. Eles devem ver tudo com seus próprios
olhos.
— Eu me lembro. — disse Padmé. Ela sentiu a velha e familiar
amargura crescer em seu estômago.
— Você vai garantir uma viagem rápida, tenho certeza. — Bonteri
continuou. — E poderei dar às suas observações o peso de que elas
precisam para mover o Senado. Mas eu te aviso, podemos não vencer, no
final. Mesmo depois de suas recomendações, o Senado ainda pode fazer
algo que você não aprova e, como você enviou o relatório, quase
certamente terá que votar a favor.
Padmé estava digerindo isso quando Clovis chegou.
— Senadora Bonteri, Senadora Amidala. — disse ele. Os seus olhos se
arregalaram e ele sorriu, apesar da gravidade da situação. — Temos o nosso
primeiro voluntário?
— Parece que sim. — respondeu Bonteri friamente. Aparentemente
gostou da atitude de Clovis tanto quanto Padmé.
— Excelente. — disse Clovis. — Colocarei a minha nave e a sua
tripulação à nossa disposição de imediato. Você vai trazer mais alguém?
— Eu tenho um droide. — respondeu Padmé. Mariek ia ficar furiosa,
mas como Clovis estava no comando, mal podia trazer os seus guardas.
— Minha secretária pode cuidar do resto dos registros. — Bonteri
ofereceu. — E teremos o senador Gaans conosco, é claro. Acho que é um
número suficiente.
Clovis pode ter proposto a pesquisa, mas Bonteri estava deixando bem
claro quem estava no comando e Padmé gostou disso. Ela não estava
ansiosa por uma ou duas semanas fazendo o que Clovis considerava
apropriado. Bonteri era uma líder muito melhor para o empreendimento e
alguém com quem Padmé se sentia muito mais confortável em trabalhar e
receber ordens.
— Tudo bem, então. — Se Clovis ficou ofendido, não demonstrou. —
Você estará pronta para partir esta noite? Digo, quatro horas a partir de
agora?
Isso daria tempo o suficiente para Typho gritar com ela, o suficiente
para Dormé refazer as malas e o suficiente para Padmé comunicar Sabé
com uma atualização.
— Sim, pode ser. — respondeu ela.
— Vou enviar a minha nave para vocês duas. — disse Clovis. — Agora,
se me derem licença, tenho os meus próprios preparativos a fazer.
Ele partiu e Bonteri suspirou profundamente antes de se levantar.
— Ele é um menino estranho. — disse ela. — Mas é honesto.
— Você acha? — perguntou Padmé. Essa não teria sido a primeira
palavra que ela pensou para descrevê-lo.
— Quis dizer que ele não tem malícia. Você sabe exatamente o que vai
conseguir com ele. — Bonteri olhou para ela astutamente. — Vocês são
muito semelhantes nesse aspecto, embora a manifestação de sua
honestidade seja diferente.
— Graças a Deus por isso. — disse Padmé baixinho, mas alto o
suficiente para Bonteri ouvir. Ela riu e Padmé sorriu. Talvez elas não
tivessem se distanciado tanto, afinal.
— Tenho algumas mensagens para enviar. — disse Bonteri. — E
imagino que você também. Verei você em algumas horas, Senadora.
Padmé se levantou.
— Obrigada por me incluir, Senadora. — disse ela. — Causas como
essa significam muito para mim.
— Eu sei. — disse Bonteri. — Farei o meu melhor para não tirar
vantagem disso.
Enquanto Padmé considerava a estranheza dessa observação, Bonteri
voltou para o seu escritório. Por fim, Padmé se virou e voltou para onde
havia deixado Typho e Mariek.
— Você vai. — Mariek não disse isso como uma pergunta.
— Eu vou. — respondeu Padmé. — Vamos. Precisamos voltar para a
residência, para que possa fazer as malas, e vai levar um tempo para vocês
dois terminarem de gritar comigo.
— Por que vamos gritar com você? — perguntou Typho.
— Porque vocês não podem vir. — respondeu Padmé.
— Espere, só um minuto. — começou Typho.
— Na residência, Sargento. — disse Padmé. — Eu preciso de uma
frente unida aqui, mas quando chegarmos em casa, você pode gritar comigo
o quanto quiser.
No final, Padmé levou apenas uma hora para se trocar e preparar as
malas. Dormé havia organizado o armário de forma que todas as suas
roupas de fora do mundo estivessem juntas, o que simplificou tudo. Padmé
ligou para Sabé, mas ela estava fora, então Padmé foi forçada a deixar uma
mensagem. Typho gastou o seu vocabulário ao longo de trinta minutos,
enquanto Mariek levou mais quinze. A essa altura, Varbarós havia chegado
para deixar o R2-D2, e Padmé estava pronta para partir.
Ao embarcar no transporte espacial de Clovis, ela sentiu um arrepio de
empolgação da qual estava mais do que um pouco envergonhada, dadas as
circunstâncias. Isso seria o mais sozinha que tinha ficado em muito, muito
tempo.
Da órbita, o sistema de aquedutos que sustentava a vida no planeta
Bromlarch parecia com rios anormalmente retos se ramificando pela
superfície do planeta. O piloto de Clovis ajustou a nave para que pudessem
assistir o planeta girar abaixo deles e, à medida que a noite surgia, os rios
desapareceram completamente. Apenas as luzes dos assentamentos eram
visíveis. Pelo menos a rede elétrica planetária foi parcialmente restaurada.
— Você ainda deve conseguir de vê-los. — disse o senador Gaans com
tristeza. Ele colocou a mão de dedos longos na janela, cada um de seus
nove dígitos espalhados ao longo do transparaço, como se pudesse estender
a mão e segurar os pedaços de seu mundo quebrado. — As luzes deles
devem ser visíveis dali. Sempre foi uma das minhas partes favoritas de
voltar para casa.
— Quanto do sistema sofreu danos? — perguntou Padmé.
— Quase oitenta por cento, no total. — respondeu Gaans. — As áreas
criticamente afetadas estão bem perto do epicentro do terremoto, mas o
dano se irradiou, assim como a água costuma fazer.
A Mestra Jedi Depa Billaba juntou-se a Padmé na janela de
visualização. Padmé a conhecia de vista, pois ela foi um dos Jedi que tinha
ido a Naboo para o funeral de Qui-Gon Jinn, mas não tinham se falado
muito na jornada até agora. Padmé gostava dela bastante, mas era estranho
interagir com um Jedi novamente, depois de tanto tempo. Padmé sabia que
não devia esperar que todos os indivíduos de uma cultura fossem iguais,
mas havia diferenças marcantes entre a maneira como Qui-Gon se portava e
a maneira como Billaba se portava, e Padmé achou isso distintamente
estranho de uma forma que ela conseguia identificar ou explicar, exceto
para dizer que Qui-Gon olhou para ela, muito profundamente, às vezes,
enquanto tinha a impressão de que Billaba estava olhando através dela.
— Sinto medo e dor em seu planeta, Senador Gaans. — disse Billaba.
— Mas não em quaisquer concentrações específicas. Seu mundo está
sofrendo, mas a dor ainda não é crítica.
— Obrigado, Mestra Jedi. — disse Gaans. — É um conforto frio, mas
ainda é um conforto.
Clovis entrou na sala onde se reuniram para assistir ao pouso. O estilo
de sua nave era bem diferente da embarcação prateada de Padmé, mas os
engenheiros de Naboo se orgulhavam de fazer tudo parecer bonito, além de
servir a uma função. A nave de Clovis era maciça, com o seu exterior cinza-
fosco não traindo nenhum dos luxos absurdos contidos dentro dela. Cada
um tinha os seus próprios aposentos, o que explicava por que eram
limitados quanto a quem era permitido trazer consigo. R2-D2 havia
acessado as plantas da nave assim que chegaram a bordo e Padmé não
precisava entender a linguagem binária para entender a sua opinião negativa
sobre a planta. Era bom não ficar amontoado um em cima do outro, até
mesmo a nave de Naboo parecia assim às vezes, mas a nave se apresentava
como um alvo para qualquer um que se aproximasse o suficiente para
examiná-los.
— Devemos pousar assim que chegar a nossa autorização. — disse
Clovis. — O meu piloto está verificando novamente, para ter certeza de que
as coordenadas não mudaram devido a um embarque de emergência ou algo
assim. Estaremos no solo em breve, se vocês quiserem se preparar.
Padmé foi buscar R2-D2, mas todos os outros permaneceram para
acompanhar os procedimentos de pouso. O piloto de Clovis era quase tão
bom quanto Varbarós, mas ninguém conseguia pousar tão suavemente
quanto ela e Padmé sentiu o solavanco quando eles fizeram contato com o
solo. R2-D2 zumbiu com desdém.
— Eu sei. — disse Padmé. — Mas eles nos trouxeram até aqui, então
você poderia ser educado?
O conselho planetário estava esperando na plataforma quando
desembarcaram. Todos pareciam absolutamente exaustos e Padmé não
podia culpá-los. Recuperar-se de um desastre natural dava trabalho demais,
sem levar em conta as preocupações com o aqueduto. Seguiu Bonteri e
Gaans pela rampa. Clovis tentou caminhar ao lado dela, mas com R2-D2
ali, ele não teve escolha a não ser andar sozinho. Mestra Billaba assumiu a
retaguarda.
— Meu amigo. — disse a conselheira chefe ao Senador Gaans e os dois
se abraçaram. Ela era um pouco mais alta do que o senador, com pele
castanho-claro e cabelo curto com um tom esverdeado claro. — É tão bom
ver você. Eu só queria que fosse em melhores circunstâncias.
— E eu gostaria de ter estado aqui quando isso aconteceu. — respondeu
Gaans. — Embora eu não saiba o que eu teria feito.
— Você estava onde precisávamos que estivesse. — disse a conselheira.
— Por sua causa, a resposta do Senado foi rápida.
— Espero que sim. — respondeu Gaans. — Permita-me apresentar a
Mestra Jedi Depa Billaba, a Senadora Mina Bonteri, de Onderon, o Senador
Rush Clovis, de Scipio e a Senadora Padmé Amidala, de Naboo. Eles
vieram para ajudar a avaliar os danos, para que possamos ser específicos
com o auxílio que pediremos ao Senado. Esta é a Conselheira Eema, a
presidente do nosso governo planetário.
— Receio que não possamos acomodar vocês de verdade. — disse
Eema.
— Por favor, não se preocupe por nossa conta. — disse Clovis, dando
um passo à frente. — Vamos ficar na nave e podemos nos mudar para onde
você precisar. Além disso, eu sei que não é muito, mas comprei todos os
suprimentos de emergência que pude antes de deixarmos Coruscant. O
porão está abarrotado de barras de racionamento e suprimentos médicos.
Não é muito, mas espero que você possa usar.
Padmé pensou em quanto espaço havia em seus aposentos, em quantos
suprimentos mais poderiam ter sido acomodados para caber, se ela e
Bonteri tivessem compartilhado um aposento, e rangeu os dentes. Clovis
estava tentando, mas ela era boa nisso e poderia ter o aconselhado, se ele
pedisse. Pelo menos ele trouxe suprimentos úteis.
— Obrigada. — disse Eema. — Só podemos dispor de uma
colaboradora, mas agradecemos a sua ajuda.
Os conselheiros esperaram enquanto os caixotes de suprimentos eram
descarregados e, em seguida, transportados para a cidade acomodados em
vários dos transportes que esperavam na plataforma de pouso. A
colaboradora ficou para trás, de pé e sem jeito, enquanto ela observava o
desenrolar do processo. Ela claramente nunca tinha visto um Jedi antes e
não sabia como agir ao lado de uma. Padmé se aproximou para ficar ao lado
dela.
— A primeira vez que vi um Jedi, eu estava correndo para salvar minha
vida. — disse ela. — Fica um pouco mais fácil quando você lembra que
eles ainda são seres sencientes, como nós. Eles apenas dizem coisas
estranhas, de vez em quando.
— Algum dia, gostaria de ouvir essa história, Senadora. — disse a
colaboradora. — Me desculpe, meu nome é Ninui.
— Lamento ter de nos encontrar nestas circunstâncias, Ninui. — disse
Padmé. — Agora, por onde você gostaria que começássemos? É mais fácil
se levarmos a nave de volta à órbita para que você possa usar esta
plataforma de pouso?
— Pode ser. — disse Ninui. — Sinto muito, estou pensando em um
milhão de coisas por minuto.
— Vamos voltar a bordo. — disse Clovis. — Você terá um pouco de
silêncio para pensar e podemos pegar um pouco de comida para você.
Imagino que você tenha se mudado muito.
Ninui ergueu os olhos para Clovis e sorriu. Padmé ficou impressionada.
Até agora, ele tinha sido quase diplomático. Eles voltaram para a nave. R2-
D2 ficou para trás para se apresentar ao computador da doca e Depa Billaba
observava a paisagem, embora Padmé não pudesse imaginar o que ela
estava fazendo. Ela conduziu Ninui para a sala de exibição. Clovis trouxe-
lhe uma bandeja com comida e um caf e Bonteri e a sua secretária
juntaram-se a eles após alguns momentos.
— Acho que quanto mais simples pudermos manter isso, melhor. —
disse Bonteri. — Será mais fácil para você e certamente será mais fácil para
o Senado.
— Concordo. — disse Padmé. — Ninui, você pode nos dizer o que o
seu pessoal precisa agora, o que eles vão precisar em um mês e o que vão
precisar em um ano?
— Bem. — Ninui engoliu o seu último gole de caf e Clovis tornou a
encher a xícara. — Agora precisamos de água. Em um mês precisaremos de
comida e em um ano voltaremos a precisar de água.
— E para conseguir água é preciso consertar o aqueduto. — disse
Bonteri.
— É mais complicado do que isso. — apontou Ninui. — Está chovendo
na província de Dravabi. Sem o aqueduto para transportar essa água para
outras partes do planeta, haverá inundações.
— Então, o que você precisa é de controle de água. — ponderou Padmé.
— Isso ainda significa consertar o aqueduto. — observou Clovis.
— Sim, mas acho que Padmé está certa em fazer a distinção. — disse
Bonteri. — O transporte de água é difícil, mas há bastante umidade no ar
aqui, se precisássemos criar fazendas de umidade temporárias. Só que isso
não resolveria nada, porque o problema é onde está a água.
— O que você precisa para consertar o aqueduto? — perguntou Padmé.
— Nós o vimos da órbita, mas os detalhes sobre a sua construção eram bem
escassos.
— Precisamos de permacreto. — disse Ninui. — Não temos os produtos
químicos necessários para fazer o nosso aqui, nem mesmo uma das versões
plagiadas, por isso geralmente importamos. Mas agora precisamos muito
disso.
Padmé recostou-se na cadeira.
— Um dos comitês em que atuo trata do transporte de permacreto e
tornamos o processo de envio um pouco menos oneroso. — disse ela. —
Ainda vou levar algum tempo, mas acho que posso pelo menos colocar as
linhas de abastecimento funcionando novamente.
— Isso seria bom. — disse Ninui. — O revendedor que usamos não
consegue o suficiente para nós.
— Você pode pedir a alguém que redija uma ordem para os reparos? —
perguntou Bonteri. — Se houver inundações, devemos primeiro reparar
essas regiões e, em seguida, descer na linha.
— Na verdade, isso já faz parte do nosso planejamento para desastres.
— disse Ninui. — Nós simplesmente não fomos tão longe quanto à
implementação ainda.
— Excelente. — disse Bonteri. — A propósito, não se preocupe em
lembrar-se de tudo isso. Minha secretária lhe enviará as anotações.
— Ah, que bom. — Ninui colocou a cabeça na mesa e Padmé estendeu
a mão para dar um tapinha nas costas dela. — Nunca estive tão cansada.
Tenho medo de que, se eu parar, nunca mais vou me mexer.
Clovis estava olhando para ela com uma expressão estranha no rosto.
Padmé sabia que a história pessoal dele não estava livre de tragédias; perder
os pais era um de seus medos mais profundos e Clovis perdera os dois
quando era bem jovem, embora a sua história tivesse um final feliz com o
seu pai adotivo. Talvez esta tenha sido a primeira vez que testemunhou um
sofrimento nessa escala. Padmé estava feliz por ele estar se tornando
consciente, mas frustrada que foi necessário a destruição quase completa do
sistema eco-financeiro de um planeta para acontecer isso. Talvez fosse por
isso que Naboo encorajava as suas crianças a entrarem no serviço público
em idades tão jovens: isso garantia que elas ficassem conscientes.
— Você pode dar as coordenadas para o nosso piloto para qualquer
coisa que precisamos ver? — perguntou Clovis gentilmente. — A ponte tem
assentos confortáveis, então você pode descansar um pouco, enquanto
continua trabalhando.
Ninui levantou a cabeça e estalou o pescoço.
— Sim. — disse ela. — Eu posso fazer isso.
— Vou buscar Artoo e ver se a Mestra Billaba quer vir. — disse Padmé.
Ela desceu a rampa e enviou R2-D2 para dentro. Billaba não havia se
movido do local onde a haviam deixado. Padmé foi até lá, fazendo o
máximo de barulho possível enquanto caminhava. Billaba se virou quando
ela estava a apenas alguns passos de distância.
— Senadora? — perguntou ela.
— Vamos fazer um levantamento aéreo. — explicou Padmé a ela. —
Você gostaria de vir junto? Eu apreciaria se você pudesse dar ao Conselho
Jedi um relato em primeira mão.
— É claro. — respondeu Billaba.
Elas haviam dado apenas alguns passos quando Billaba parou e, pela
primeira vez, olhou diretamente para Padmé. Ela fez o possível para não se
contorcer. Era mais do que um pouco desconcertante.
— Você não mudou muito desde a primeira vez que te conheci. — disse
Billaba. Padmé não tinha certeza do que fazer com isso e isso deve ter
ficado claro em seu rosto, mas a Mestra Jedi continuou: — Você cresceu, é
claro. Você está mais sábia. Você está mais equilibrada. Mas você não
mudou. Você ainda é a pessoa que enfrentou a Federação do Comércio e
acho que sempre será.
Foi provavelmente o elogio mais estranho que Padmé já recebeu,
incluindo a vez em que um garotinho em um mundo desértico achou que ela
era um anjo, mas ficou satisfeita com isso, no entanto. Estava se
perguntando sobre si mesma. Sobre o caminho que ela tomaria. Um Jedi
podia ver coisas que ninguém mais via e Padmé confiava na visão deles,
tanto quanto qualquer não-Jedi podia.
A viagem de volta a Coruscant parecia interminável. Tudo o que Padmé
queria fazer era começar a trabalhar e, em vez disso, teve que se contentar
em escrever os seus planos para se certificar de que não se esquecesse de
nada quando finalmente chegasse a hora de se apresentar ao Senado. Ficou
determinado que a Senadora Bonteri faria o relatório oficial e, então,
decidiriam o próximo movimento com base na reação. Padmé estava
cautelosamente otimista.
Clovis veio vê-la um pouco antes de a nave sair do hiperespaço. Estava
menos frustrada com ele agora, mas ainda não gostava da companhia dele
da maneira como ele parecia gostar da dela.
— Senadora Amidala. — disse Clovis. — Posso entrar?
— Por favor. — respondeu ela e acenou para ele em direção a uma das
cadeiras vazias.
— Queria agradecer-lhe por ter vindo nesta viagem. — disse Clovis. —
Não sei o que estava esperando, mas sei que fiquei impressionado com isso.
Não poderia ter feito nada sem você por perto para esclarecer tudo.
— Você se saiu bem com Ninui. — disse Padmé. — Ela precisava de
apoio e você podia ver isso claramente.
— É um pouco mais fácil quando é apenas uma pessoa. — admitiu
Clovis. — Você poderia olhar para o planeta inteiro e não vacilar.
— Eu tenho uma certa prática. — Ela o lembrou.
— Não é apenas a parte da rainha, é? — perguntou ele. — Há algo
mais.
Padmé respirou fundo. Foi uma lembrança dolorosa, porque continha
tantas coisas boas e terríveis. Mas teria que continuar trabalhando com
Clovis, e contar a ele não custaria nada.
— Meu pai fez muitos trabalhos de assistência quando eu era muito
jovem. — disse ela. — Antes de se limitar a construir apenas em Naboo, ele
construiu casas e tantas outras coisas em todos os lugares que você possa
imaginar. Quando eu tinha idade suficiente, fui com ele.
— Eu tinha sete anos e o planeta que evacuávamos chamava-se Shadda-
Bi-Boran. O sol estava morrendo, mas conseguimos realocar toda a
população, no entanto não conseguimos replicar o ambiente de maneira
adequada. Quaisquer nutrientes os quais eles obtinham de seu sol, eles não
conseguiram obter em nenhum outro lugar.
— O que aconteceu? — perguntou Clovis.
— Eles morreram. — disse Padmé. — Todos eles. Eu tenho algumas
fotos; e depois construíram um monumento, mas isso é tudo que sobrou.
Clovis olhou para o rosto dela, procurando por algo, embora ela não
tivesse certeza do quê.
— Você faria de novo. — disse ele.
— Claro que sim. — concordou Padmé. — Talvez da próxima vez, um
de nossos cientistas descobrisse isso logo para salvar alguém. Talvez da
próxima vez, haja sobreviventes. Eu tentaria mil vezes, Clovis, mesmo se só
salvasse um ser. Eu tentaria dez mil vezes.
Notou que ele acreditava nela.
A nave saiu do hiperespaço e o piloto veio ao comunicador para dizer a
todos que se preparassem para o pouso. Clovis não disse mais nada até
descerem no chão.
— Sei que viemos ao Senado por motivos diferentes. — disse ele,
levantando-se. — Você tinha as suas expectativas a cumprir e eu as minhas.
Mas acho que poderíamos nos dar bem juntos, se você quisesse.
— Vou manter isso em mente. — disse ela.
— Estou ansioso por isso, Amidala. — disse ele.
— É Padmé. Não me importo se você me chamar de Padmé quando não
houver ninguém por perto.
Não tinha ideia do que a levou a dizer isso. Quase ninguém fora de sua
família e círculo íntimo tinha permissão para usar esse nome.
— Sempre gostei de Clovis. — disse ele. — É o nome que compartilho
com os meus pais.
— Em Naboo, chamamos as pessoas pelos nomes que desejam ser
chamadas. — disse Padmé. — O capitão anterior da minha guarda se
chamava Panás, mas a sua esposa escolheu ser chamada de Mariek, para
evitar confusão, embora ela ainda seja a capitã Panás, se estivermos sendo
formais, ou se um estranho estiver falando com ela.
— E se alguém quiser mudar de nome? — perguntou Clovis.
Padmé pegou a sua mochila e a colocou sobre o ombro.
— Então você o chama pelo novo nome. — respondeu Padmé.
Ele assentiu com a cabeça e caminhou com ela até o topo da rampa,
onde Padmé se despediu da Mestra Billaba. Bonteri a esperava lá embaixo e
Padmé desceu correndo, para não atrasá-la. Era vital que Bonteri se
inscrevesse na agenda de palestras o mais rápido possível.
— Não estou muito esperançosa. — admitiu Bonteri, enquanto o
speeder se afastava da plataforma de pouso. — Sei que mantivemos tudo o
mais simples possível, mas simplesmente não sei se o Senado vai se unir
nisso.
— Sei que você fará tudo o que puder para ajudar Bromlarch. — disse
Padmé. — E eu também vou.
— E Clovis vai? — perguntou Bonteri.
— Sabe... — meditou Padmé. — Eu realmente acho que sim.
— Pelo menos teremos isso. — disse Bonteri.
O speeder largou a Senadora Bonteri primeiro e depois levou Padmé de
volta ao apartamento dela. Ela deixou que Dormé e Cordé a vestisse com
algo que não estivesse coberto com a poeira de um mundo fragmentado e,
em seguida, pediu que todos os que estivessem livres para comer se
juntassem a ela para o jantar. Todas as três aias, Varbarós, Typho e dois
outros guardas estavam sentados à mesa quando chegou. Mariek estava de
plantão, mas chegou para ouvir os pontos principais do resumo de Padmé.
— Eu gostaria de oferecer a nossa nave como parte de qualquer
comboio que vá. — concluiu Padmé. — Mesmo que estejamos apenas
transportando pessoas. Isso é viável?
— A nave estará pronta sempre que você precisar. — disse Varbarós.
— Gostaria de solicitar duas naves patrulha da República como escolta.
— disse Mariek. — Com nossos pilotos.
— Sabé e Tonra podem fazer isso. — disse Padmé. — Então Typho
pode ficar perto de mim e Mariek pode organizar todos os outros.
Ela fez uma pausa pensativa.
— Gostaria de pedir à Mestra Billaba que nos acompanhe também. —
disse ela. — Ela pode voar em sua própria nave a partir do Templo Jedi ou
em uma que nós fornecermos a ela.
— Gosto dessa ideia, minha senhora. — Typho assentiu com a cabeça.
— Se isso se tornar uma coisa normal, devemos chamar alguns N-1s de
casa. Temos espaço para atracá-los e acho que todos iriamos preferir que os
caças fossem transportados, armazenados e mantidos por nosso próprio
pessoal.
— Concordo. — disse Padmé. — Vou assinar a requisição depois de
escrevê-la.
— Ainda há muito pouco nas redes de notícias sobre Bromlarch. —
disse Versé. — Mas imagino que isso mudará quando os debates no Senado
começarem.
Padmé bocejou.
— Por favor, me desculpem, estou exausta. — disse ela. — Foram
alguns dias sem parar. Obrigada, Versé. Sabemos melhor do que ninguém
como as redes de notícias preferem um escândalo, então não estou
realmente surpresa.
— Você quer entregar um escândalo? — perguntou Versé. — Já hackeei
tanto que agora tenho certeza que eu conseguiria.
— Vamos tentar o Senado primeiro. — respondeu Padmé. Ela mal podia
acreditar que estava levando em consideração a proposta de Versé, no
mínimo. — Embora possamos sempre manter um escândalo de reserva.
Afinal, isso é política.

Na manhã seguinte, Padmé se vestiu para uma luta. Era uma variação sutil
do vestido de batalha real que Sabé usara durante a Batalha de Naboo, só
que sem a tiara e a pintura facial. A roupa interior era preta, com mangas
largas. Por cima havia um vestido amarelo-escuro com mangas mais curtas,
que deixava o tecido preto livre para que Padmé, teoricamente, ocultasse as
coisas em suas mãos, se necessário. E por cima dele havia um tabardo
preto, mantido no lugar por um cinto largo que acomodaria o blaster, se ela
estivesse carregando um. Dormé enrolou o cabelo em um diadema de
tranças novamente e, então, Padmé estava pronta.
Chegou ao prédio do Senado o mais cedo que pode e foi direto para o
escritório da Senadora Bonteri. A porta estava aberta e Padmé podia ouvi-la
falando com alguém, então hesitou antes de bater. Era uma voz
desconhecida, grave e cheia de liderança, e Padmé não pode deixar de ouvi-
la.
— Faça o que você deve fazer. — disse o misterioso orador. — Mas se
você não pode controlar a situação, eu vou intervir e controlar para você.
— Sim, meu lorde. — A Senadora Bonteri não parecia feliz com o que
quer que fosse.
Padmé não ouviu mais nada e presumiu que a conversa havia
terminado. Ela estava curiosa sobre o que tinha ouvido, tanto Bonteri
quanto o contato desconhecido pareciam mortalmente sérios, mas mais do
que curiosidade, um estranho medo se instalou em seu estômago e ela
estava ansiosa para desalojar a sensação. Contou até quinze antes de dar os
últimos passos e bater na porta.
— Bom dia. — disse Bonteri alegremente. Era um tom de voz
completamente diferente.
— Olá. — disse Padmé. — Vim ver se você precisava de alguma coisa.
— Não. — respondeu Bonteri um pouco secamente, apesar de seu
semblante mais leve. — Consegui nos colocar no cronograma
imediatamente. Deve correr bem.
— Excelente. — disse Padmé. Ela decidiu deixar para lá e se concentrar
no objetivo principal. — Estarei na galeria se algo acontecer.
Padmé caminhou até o seu assento e esperou que Typho a encontrasse.
A câmara do Senado era tão grande que não gostava de ficar sozinha no
pod, embora tivesse certeza de que a sala era um dos lugares mais seguros
de toda a galáxia. Além disso, estava animada demais para ficar parada e
não queria que ninguém a visse inquieta. Finalmente chegou a hora e, com
Typho atrás dela, sentou-se.
— O plenário reconhece a Senadora Mina Bonteri, de Onderon. — disse
o Chanceler Palpatine. Ele parecia quase entediado.
— Meus amigos. — disse Bonteri. — Voltei de nossa pesquisa sobre os
danos sofridos pelo planeta de Bromlarch devido à recente atividade
sísmica lá. Vocês devem ter recebido meu relatório em seu pacote de
informações da manhã, mas sei que ainda é cedo, então vou resumir para
vocês agora.
Enquanto a Senadora Bonteri falava, Padmé examinava a galeria. Não
era fácil ver o rosto de ninguém, mas estava aprendendo a dizer muito sobre
os modos de um senador pela maneira como se sentavam em seu pod.
Olhando ao redor, ela viu menos seres se inclinando para frente e ouvindo
atentamente do que esperava. Em vez disso, eles se reclinaram ou
conversavam com os seus associados. Padmé engoliu uma onda de
ressentimento e se concentrou na Senadora Bonteri, que concluiu o seu
resumo dando os detalhes do plano que o Conselho de Bromlarch havia
apresentado.
— É sempre mais sensato confiar nas pessoas do local. — disse Bonteri.
— O plano apresentado pelos cidadãos de Bromlarch é simples e resultará
nos reparos mais rápidos e eficientes.
O pod de Bonteri flutuou de volta à doca e o Chanceler falou
novamente.
— O presidente reconhece o senador da Federação do Comércio. —
disse Palpatine.
Padmé enrijeceu. Isso não pode significar nada de bom.
— O que os Senadores Bonteri e Gaans propõem é demais. — começou
Lott Dod. — Podemos pedir aos cidadãos da República que contribuam
com pequenas quantias de seus próprios créditos e materiais para a
reconstrução, mas a ideia de uma reconstrução em todo o planeta é ridícula.
Se Bromlarch precisa de tanta ajuda, eles devem ser capazes de pagar por
isso de alguma maneira.
— Senadores. — disse o Senador Gaans. — Meu povo está fazendo o
melhor que pode. Acho que vocês não entendem a escala da destruição...
— Nós entendemos. — interrompeu Lott Dod. Padmé olhou pra baixo,
mas Palpatine não deu sinais de interferir. — Também entendemos a
economia. A Federação do Comércio tem o prazer de chegar a um acordo
privado com os cidadãos de seu planeta, se isso for algo que você está
disposto a considerar, mas você não pode esperar uma intervenção galáctica
para um problema interno.
Padmé se sentiu mais furiosa do que há muito tempo. Ela não ficaria
sentada enquanto a Federação do Comércio comprava um planeta
subjugando o seu povo.
— Vamos votar agora. — disse o Chanceler Palpatine.
A tela de votação apareceu no monitor de Padmé e ela rapidamente
votou a favor da moção da Senadora Bonteri. Ela prendeu a respiração.
— A moção foi reprovada. — disse o Chanceler Palpatine.
Padmé desabou em seu assento. Ela viu a derrota cair nos ombros de
Bonteri. O senador Gaans flutuou perto o suficiente para que ela pudesse
ver o desespero absoluto em seu rosto. Lott Dod flutuou o pod de volta à
doca e esperou.
Padmé estava cansada de esperar. Esperar para ser notada. Esperar para
falar. Esperar para servir. Ela ia fazer algo acontecer nem que fosse a última
coisa que ela fizesse como senadora da República Galáctica.
Padmé enviou Typho para buscar o Senador Gaans e trazê-lo para o seu
escritório, onde ela o acomodou, perturbado, em uma das cadeiras que
ficava de frente para ela do outro lado da mesa. Cordé serviu-lhe um caf e
depois se retirou para o seu lugar habitual atrás do ombro de Padmé. Ele
não bebeu.
— Senador, eu sei que é desolador. — disse Padmé. — Mas você não
pode assinar esse tratado. E você também não pode deixar ninguém assinar.
A Federação do Comércio não pode ter permissão para comprar o seu
planeta e o seu povo com a sua chancela. Você deve resistir.
— Eu sei. — disse ele. — Mas como posso resistir quando a Federação
do Comércio pode salvá-los?
— Salvá-los? — perguntou Padmé. — Senador, a Federação do
Comércio uma vez se ofereceu para salvar o meu povo também. Eles os
colocaram em campos e os mataram de fome, tentando forçar minha
autoridade. Essa situação é diferente, eu sei disso, mas você deve evitar um
desfecho que só pode favorecê-los.
— Não há nem um tratado ainda. — Gaans disse a ela. — Eles
precisarão de dois dias para escrevê-lo e eu terei um dia para dar uma
olhada e ver se é plausível.
— Plausível? — Padmé pensou em quinze coisas para dizer sobre isso
e, como resultado, não disse nada.
Houve um sinal na porta e o Senador Organa entrou. Padmé acenou
para que ele sentasse em uma cadeira ao lado de Gaans.
— Sinto muito, senadores. — disse ele. — Nós tentamos.
— Precisamos tentar novamente. — disse Padmé. — Você me disse que
se a democracia nos faltasse, caberia a nós restaurá-la. É isso que pretendo
fazer.
— Eles vão enrolar você. — disse Organa. — Sei que é uma situação
horrível, mas você não pode lutar contra todos os males da galáxia.
— Males? — perguntou Padmé. — Eu lutei contra o mal e foi fácil: eu
atirei nele. É a apatia que não suporto.
— Você pode estar na profissão errada. — disse Gaans sombriamente.
— Nós temos três dias. — disse Padmé. — Certamente haverá algo que
possamos fazer.
Clovis irrompeu na sala e deslizou para uma parada, quando viu que
Padmé já tinha convidados.
— Senadores. — disse ele. Não havia mais cadeiras perto da mesa,
então ele permaneceu de pé.
— O que foi, Clovis? — perguntou Padmé.
— Mais cedo, o que eu disse sobre formarmos uma boa equipe? —
respondeu Clovis. — Isso é o que eu quis dizer. Você conhece as pessoas e
eu conheço os créditos e ambos fomos treinados para negociar. Eu sei que
posso ajudar. Por favor, deixe-me ajduar.
Padmé considerou aquilo e percebeu que não estava exatamente em
posição de recusar alguém.
— Tudo bem. — disse ela. — Três dias, Clovis. E não podemos
simplesmente reintroduzir a moção. Temos que ser mais espertos do que
isso. O que você sugere?
— Precisamos nos concentrar nos votos. — respondeu Clovis,
caminhando em frente à janela. — O conteúdo da moção ainda é
importante, mas acho que precisamos prestar mais atenção a quem estamos
cortejando.
— Não é assim que a minha facção do Senado deve operar. — protestou
Organa, mas o seu tom era resignado. Ele sabia tão bem quanto ela que a
sua idade e experiência lhe davam mais privilégios do que tinha e isso antes
de seus planetas serem levados em consideração.
— E, ainda assim, aqui estamos. — disse Clovis. — Os aliados da
Federação do Comércio acabaram de rejeitar um projeto de lei que salvaria
milhões de vidas, porque Lott Dod os fez fechar os olhos para isso.
Organa ficou claramente insatisfeito com o argumento, mas não o
refutou.
— Tudo bem. — disse Padmé. — Existem mais sistemas representados
no Núcleo do que na Orla Média e alguns dos Mundos do Núcleo votariam
a favor do projeto, de qualquer maneira. Precisamos mudar os votos dos
senadores da Orla Média, fazer com que votem conosco, em vez de votarem
com os seus aliados no Núcleo que os apoiam.
— Precisamos ter como alvo certos sistemas. — apontou Clovis. — Há
senadores que sempre votam em blocos. Precisamos mudar a opinião dos
líderes desses blocos, não os membros.
— Malastare. — disse Padmé. — Eles trariam mais de uma dúzia de
sistemas com eles, todos à custa do bloco oposto.
— Você nunca os convencerá a mudar de ideia. — Gaans se inclinou
para frente e colocou a cabeça entre as mãos.
— Não vou convencê-los a mudar de ideia. — explicou Padmé. — Eles
vão fazer isso sozinhos, porque querem o que eu tenho.
— O que você tem? — perguntou Clovis.
— Estou trabalhando nisso. — respondeu Padmé. — Não podemos
apenas reintroduzir a moção como uma operação de alívio, mas e se a
introduzirmos como algo mais geral? Se beneficiasse mais de um sistema,
esses sistemas votariam conosco. Eles trariam os seus aliados e a moção
seria aprovada.
— Uma moção para cooperação na Orla Média? — perguntou Organa.
Ele estava cético, mas Padmé percebeu que quase o convenceu. — No
rastro da recente onda de pirataria, você certamente teria a opinião pública
do seu lado e faria o Chanceler parecer bem, então você também o teria.
— Podemos chamar de outra coisa. — respondeu Padmé. — Mas sim.
— O que Malastare quer? — perguntou Gaans.
— Eles querem poder político. — respondeu Padmé. — O senador deles
não foi eleito chanceler quando Valorum foi destituído e estão se
apostatando desde então.
— Não podemos dar poder a eles. — apontou Organa.
— Não. — concordou Clovis e Padmé sabia que ele a estava
acompanhando. — Mas podemos dar-lhes créditos, o que é quase a mesma
coisa.
— Você vai comprar as reservas de combustível deles? — perguntou
Gaans. — Para qual propósito?
— É o movimento de Cooperação da Orla Média. — explicou Padmé.
— Alguém vai comprar o combustível. Só precisamos descobrir quem.
Padmé se levantou e foi para os assentos mais confortáveis no outro
canto do seu escritório. Haviam mesas baixas onde podiam trabalhar e a luz
era boa. Clovis a seguiu e se sentou. Ele enfiou a mão na bolsa que
carregava com muitos datapads e uma caneta. Padmé olhou para trás para
Organa, que se levantou.
— Minha agenda está cheia hoje, então não posso ficar aqui e ajudar. —
disse ele. — Mas terei o meu comunicador comigo, se você tiver alguma
dúvida. E vou tentar voltar mais tarde.
Padmé sabia que haviam outras crises na galáxia e tentou dizer a si
mesma que ele não a estava abandonando, porque pensava que ela estava
trabalhando em uma causa perdida.
— Preciso falar com Eema e os outros conselheiros em casa. — disse o
senador Gaans. — Temos muito que discutir.
— Por favor, cuide-se. — disse Padmé. — Eles vão precisar de você e
de nós também.
Ele deu um sorriso fraco e, então, ele e o Senador Organa saíram da
sala. Padmé sentou-se ao lado de Clovis, pela primeira vez completamente
interessada no que iria dizer.
— Tudo bem, então. — disse ela. — Créditos e combustível para
Malastare. Aonde vamos de lá?

Os próximos três dias foram desgastantes de uma forma que Padmé nunca
havia experimentado. Ela pensou que tinha conhecido exaustão após a
Ocupação. Mudar-se constantemente para planetas com diferentes ciclos
diurnos e suportar os desafios mentais de manter Sabé como seu disfarce
por tanto tempo, enquanto lidava com o estresse da situação militar em
Naboo, foram as coisas mais difíceis que já tinha feito. Era mais como
procurar um fio em uma sala atapetada com outros fios, alguns dos quais
ela precisava, mas a maioria deles apenas a amarraria. Exigia que ela
prestasse atenção aos detalhes e se movesse rapidamente, mas não muito
rapidamente, para que não desfizesse a coisa toda.
Estava ciente de que Cordé, Dormé e Versé tinham ido e vindo,
trocando de lugar para garantir que algumas delas estivessem bem
descansadas, enquanto Padmé dirigia a si mesma. Typho, Mariek e os
outros guardas também revezaram.Não tinha ideia se os seguranças de
Clovis estavam no corredor, mas se estavam, eles não entraram na sala.
Levaram comida e Padmé não se lembrava de ter comido nada, embora o
fato de que não tinha desmaiado indicasse que provavelmente tinha comido.
Eles dormiam sentados, quando o cansaço os dominava, geralmente para
serem acordados na próxima vez que um deles fizesse uma descoberta.
No final, a moção de Cooperação da Orla Média envolveu mais de uma
dúzia de sistemas-chave, uma variedade de recursos diferentes, e os chefes
de cada bloco que precisavam influenciar para atrair votos suficientes da
Federação do Comércio. Padmé estava lutando para terminar o seu
discurso, enquanto o cronômetro corria.
— Tudo o que temos que fazer agora é convencê-los. — disse Clovis.
— Acho que essa foi realmente a parte fácil.
— Vou nos colocar na programação. — disse Padmé. — Não pedi um
único favor do Chanceler desde que cheguei aqui, mas vale a pena.
— Vou ao meu escritório para me trocar. — disse Clovis. — Te vejo lá,
então?
— Sim. — respondeu Padmé. — Obrigada, Clovis.
— Teremos que fazer isso de novo algum dia. — disse Clovis e
bocejou. — Mas depois.
Quando ele saiu, Versé ajudou Padmé a colocar um vestido novo que
Dormé havia entregado na tarde anterior. Em seguida, entrou em contato
com o gabinete do Chanceler para fazer a sua solicitação de agendamento.
— Senadora Amidala. — disse Palpatine. — Sentimos a sua falta na
galeria nos últimos dias.
— Tenho trabalhado em uma moção que acho que o Senado deveria
ouvir imediatamente. — explicou Padmé. — Beneficia Bromlarch, mas
também concede vantagens a vários outros mundos da Orla Média e pode
ajudar o Senado a lidar com a questão da pirataria também, se
conseguirmos alinhar tudo. Acho que tem uma boa chance de passar.
— Maravilhoso. — disse o Chanceler. — Embora devo alertá-la para
alterar o seu otimismo. Já vi todos os tipos de moção falharem, mesmo
quando pensei que eram bons.
— Eu sei. — disse Padmé. — Mas acho que esta moção irá angariar
apoio através das linhas de facção. Isso poderia unificar o Senado.
— Ou contorná-lo. — disse Palpatine. Ele parecia pensativo e Padmé
sabia que estava considerando todas as opções. Ele pode ver algo que ela
não viu, alguma oportunidade ou armadilha. Ele sorriu. — Mas tenho fé em
você, Senadora. O seu curso de ação é sempre para o bem da República.
— Só preciso de tempo para apresentá-lo, Chanceler. O mais breve
possível.
— Vou agendar primeiro para hoje, se você estiver lá. — disse ele.
— Eu vou, Chanceler. E obrigada.
— Claro, minha querida, claro. — disse Palpatine e encerrou a ligação.
Padmé se levantou e se espreguiçou o máximo que pode e, em seguida,
calçou os sapatos para ir para o plenário. Parou no centro da sala quando
algo lhe ocorreu. Com toda a agitação, mal acompanhou as coisas, além do
datapad na frente de seu nariz, mas ainda estava ciente de quem esteve e
não esteve na sala em determinado momento.
Mina Bonteri não tinha vindo para ajudá-la.

— Senadores da República Galáctica. — disse Amidala. — A última vez


que falei com vocês, foi para pedir ajuda a ser dada ao meu planeta. Estou
diante de vocês agora com um pedido semelhante, mas para sistemas que
não são meus. Nosso serviço aqui é feito em nome dos nossos mundos
natais, mas também representamos todos os cidadãos da República e é em
virtude dessa coalizão que somos capazes de realizar tarefas maiores do que
faríamos como indivíduos.
O pod da Senadora Amidala pairou no meio da assembleia e todos os
olhos estavam sobre ela. Dormé havia feito a sua maquiagem de uma
maneira nova, de modo que cada pincelada destacava a singularidade de
suas feições, em vez de escondê-la. Demorou um pouco para aperfeiçoar e
teve que praticar a técnica em qualquer pessoa que pudesse, já que Padmé
estava ocupada, mas o efeito geral era inegável: Padmé Amidala estava
diante de seus colegas com o seu próprio rosto, tão aberta e genuína quanto
poderia ser.
Padmé havia se vestido para o papel também. A roupa que Cordé havia
desenhado tinha calças azuis largas, cortadas no estilo Coruscanti, mas
bordadas com desenhos de Naboo. Sobre uma bata branca, Padmé usava
uma jaqueta fina que descia abaixo dos joelhos e era aberta na frente, para
mostrar os detalhes costurados no forro. Seus sapatos eram simples e
confortáveis, para o caso dela ter que ficar de pé e responder às perguntas
quando o discurso terminasse.
Versé incorporou fabro refratores de sua própria programação nas
peças-chave da roupa. Eles garantiram que Padmé fosse sempre iluminada
de um ângulo perfeito. Não haveria imagens obscuras, nem lisonjeiras nos
holonotícias quando a sessão terminasse. Cada parte de Naboo que Padmé
trouxe com ela estava em exibição agora, mas modificada para que a
República Galáctica a aceitasse como uma senadora, não como uma rainha.
— Os planetas da Orla Média têm sido sitiados por piratas e não agimos
contra eles. — continuou ela. — Entendo a sua hesitação, pois é minha
também: estou relutante em armar a galáxia mais do que precisa. Mas, meus
amigos, temos algumas necessidades. Nossos carregamentos estão sendo
levados e os piratas que os levam buscam apenas segurança e comida
suficiente para alimentar os seus. Devemos agir rapidamente.
Os gravadores zumbiam ao seu redor e Padmé sabia que finalmente
havia capturado a atenção de todos pelos motivos que queria. Os outros
senadores, até mesmo os seus aliados, que mais ou menos sabiam o que iria
dizer, estavam se voltando à ela, prestando atenção em cada palavra sua.
— Aparecendo em suas telas agora está o movimento Cooperação da
Orla Média. — continuou Padmé. — Vocês notarão que uma série de
sistemas se beneficia das negociações e aquisições propostas.
Ela deu-lhes um momento para começar a ler. Havia muitos detalhes,
dado o número de planetas envolvidos, mas não queria perder muito
impulso.
— Não apenas podemos enviar os recursos necessários para Bromlarch,
mas Bromlarch será capaz de pagar os suprimentos sem se endividar e toda
a Orla Média será beneficiada. — A sua voz soou pelos alto-falantes.
Pausou novamente. Agora havia sussurros abafados, não por grosseria,
mas porque os senadores e suas equipes estavam discutindo os termos.
Padmé respirou fundo e começou a seção final do seu discurso.
— Mas não podemos continuar a enviar recursos tão valiosos para
sistemas estelares sem proteção adequada. Como esta é uma atividade da
República, deve ser guardada por naves da República. Só, então, podemos
garantir a passagem segura dos trabalhadores Wookiee para Bromlarch. Só,
então, podemos garantir o comércio seguro de créditos de combustível entre
Malastare e Sivad. Só, então, podemos garantir que as naves que
transportam alimentos de Thiafeña e Naboo para Bromlarch chegarão
intactas.
— E, talvez, trabalhando para manter essa garantia, possamos
encaminhar os que caíram na pirataria para caminhos melhores. — concluiu
ela. — Sei que me chamaram de idealista e ingênua e vocês, meus amigos,
concordaram com eles. Não os culpo e não peço desculpas por minha fé na
democracia e no que este órgão pode alcançar quando age em conjunto.
Vamos agir juntos agora. Por Bromlarch. Pela Orla Média. Para a segurança
contínua da República Galáctica.
Lott Dod tentava freneticamente fazer com que o plenário o
reconhecesse, mas as suas tentativas não obtiveram resposta. Em vez disso,
Palpatine reconheceu Malastare.
— Há sabedoria nesta moção. — Aks Moe tinha uma voz esganiçada,
mas o sistema de amplificação garantiu que todos ouvissem bem as suas
palavras. Padmé quase podia vê-los calculando quantos créditos Malastare
teria de lucro, como resultado das negociações. — O Congresso de
Malastare é o segundo a apoiar.
Houve um barulho alto de gritos alguns níveis acima de onde o pod de
Padmé estava flutuando, enquanto os Wookiees, nunca muito adeptos a
procedimentos, adicionaram um terceiro voto apoiador ao movimento.
— Vamos votar, então. — disse Palpatine. Ele ainda não tinha
reconhecido o senador Neimoidiano, que estava furioso em sua cadeira,
como resultado.
Foi aos poderes divinos que cuidavam de Naboo e Gungan, e de quem
mais pudesse estar ouvindo, que Padmé se dirigiu a um silencioso “por
favor”, enquanto votava a favor do seu plano. Levou apenas alguns
segundos para que os votos fossem contados, mas sentiu que era uma
eternidade.
— A moção foi aprovada. — anunciou Palpatine.
Os aplausos subiram ao redor quando o pod de Padmé voltou à sua
doca. Quando teve certeza absoluta de que os gravadores estavam
distraídos, ela se permitiu um sorriso satisfeito. Palpatine continuou com a
programação do dia, mas ela estava quase exultante demais para prestar
atenção. Pareceu que horas se passaram até que a sessão terminasse e
Padmé pudesse finalmente voltar para o seu escritório. Clovis chegou pouco
depois e aplaudiu assim que ela o recebeu.
— Você conseguiu! — disse ele.
— Nós conseguimos. — Padmé estava mais do que disposta a
compartilhar o crédito. — Não poderia ter terminado tudo tão rapidamente
sem as suas visões.
— Eu poderia dormir por uma semana. — disse ele. Ele ultrapassou o
que o cérebro dela normalmente consideraria uma distância segura, mas ela
estava cansada e levou um momento para ela perceber.
— Eu também. — admitiu ela. — Mas teremos que continuar para que
tudo seja organizado e enviado para...
Ele a beijou e a exaustão dela desapareceu imediatamente.
— Não. — disse ela e o empurrou.
— Eu pensei… — As mãos dele embalaram os cotovelos dela, como se
para puxá-la para perto novamente.
— Não. — interrompeu ela.
— Mas você… — Ele deu um passo para trás. Ele parecia zangado e a
própria fúria dela acendeu.
Como ele ousava presumir qual era o relacionamento deles sem pedir o
consentimento dela? Ela estava animando ele, isso era verdade, e ela
pensava que a amizade recém-descoberta deles tinha potencial para se
desenvolver além do que eles haviam construído nos últimos três dias, mas
ele não tinha o direito.
— Não. — disse ela na voz da rainha. — Somos colegas, Senador
Clovis.
— Eu me despeço, então. — disse ele e saiu.
— O que foi aquilo? — perguntou Padmé quando Versé apareceu ao
lado dela, batendo o leque na palma da mão. Ela esteve presente o tempo
todo, é claro, e a atenção de Clovis passou direto por ela enquanto ele
avançava.
— Eu não sei. — respondeu Versé. — Mas estou feliz que ele ouviu. Eu
gosto desse leque e odiaria quebrá-lo na cabeça dura dele.
— As coisas estavam começando a fazer sentido. — disse Padmé.
— Elas farão mais sentido quando você dormir. — disse Versé a ela. —
E como nós duas sabemos que você não vai dormir até que tenha
organizado a primeira rodada de contêineres para envio, vamos começar
com isso.
Padmé chamou o primeiro dos manifestos propostos e fez o possível
para se concentrar no que estava bem à sua frente.
Demorou quase uma semana transportando materiais ao redor da Orla
Média, mas finalmente todos os créditos estavam nos apêndices corretos e
Padmé tinha o primeiro carregamento de permacreto pronto para partir para
Bromlarch. O permacreto foi comprado com créditos pagos a Bromlarch
por Joh’Cire, uma lua deserta com um mercado crescente de umidade e uma
população crescente em troca de tecnologia de irrigação. Se tivesse sido tão
simples assim, a moção de Cooperação da Orla Média não teria sido
necessária e Naboo poderia simplesmente preencher a lacuna no
abastecimento de alimentos de Bromlarch em particular. Mas não era tão
simples. Eles precisavam dos votos. Malastare não se importava com
Bromlarch, mas o Congresso de Malastare votou a favor, de qualquer
maneira, por causa do que Padmé havia oferecido e, junto com os outros
sistemas, eles garantiram o apoio da República para todo o esforço.
O apoio da República significava a proteção da República e apenas três
dos comboios foram atacados. Toda a carga havia chegado intacta a seus
destinos, mas um piloto Sivadiano e o caça dele se perderam. Os piratas
quase desapareceram depois disso, talvez temendo uma represália em nível
galáctico. O Chanceler recebeu os créditos por restaurar a paz e Padmé
quase não se importou.
Padmé estava transportando a si mesma, o Senador Gaans e a Senadora
Yarua, de Kashyyyk, a bordo de sua própria nave, junto com o máximo de
suprimentos de emergência que pudesse amontoar em cada canto
disponível.
Mon Mothma estaria se juntando a eles após a missão inicial, para
relatar ao Senado sobre o progresso deles, enquanto a Senadora Yarua
supervisionaria o início da construção junto com o Senador Gaans. Os
Wookiees foram contratados para fazer a maior parte da construção real
como parte do negócio, em troca dos direitos de extração de madeira de um
tipo específico de madeira que Bromlarch produzia e Kashyyyk não. A
inclusão dos Wookiees foi um bônus, já que votaram a favor da ajuda e
Padmé ficou feliz em passar mais tempo com eles.
Assim que o permacreto foi carregado e todos estavam a bordo da nave
real, Padmé, com Typho atrás dela, foi até as naves-patrulha que o Senado
havia emprestado para a viagem. Sabé e Tonra estavam no processo de
fazer as verificações finais do sistema e estavam com os capacetes, o que
dificultou a conversa, pois Padmé não tinha um comunicador.
— Voe com segurança! — gritou ela, balançando os dedos em forma de
asas.
Sabé respondeu com o sinal que usavam para indicar uma situação de
calma que poderia piorar a qualquer momento e Padmé fez uma careta. Eles
estariam em alerta máximo. Tonra acenou para ela e Padmé se virou para
voltar para a rampa.
— Isso me deixa nervoso, Senadora. — admitiu Typho, enquanto
embarcavam.
— Você nos informou sobre um plano se os piratas tentarem roubar a
carga e um plano separado para se decidirem que os reféns seriam mais
lucrativos. — disse Padmé a ele. — Imagino que você tenha um plano para
o caso deles decidirem fazer as duas coisas ao mesmo tempo, bem como
várias respostas para cenários que não imaginei. Nós ficaremos bem.
— Estou feliz que teremos os nossos próprios pilotos. — disse Typho ao
entrar na ponte.
— Senadora, estamos quase prontos para partir. — disse Varbarós da
cadeira do piloto. — Vamos nos encontrar com o comboio em órbita alta e
parar para pegar as outras naves nas coordenadas combinadas. Com dois
saltos, estaremos em Bromlarch.
— Aqui é o Perigo Um, pronto para partir. — A voz de Sabé soou no
comunicador interno.
— Perigo Dois, pronto para partir. — relatou Tonra.
Padmé olhou pelas janelas estreitas e viu as naves de patrulha se
erguendo para o impulso de pré-lançamento.
— Perigo três aguardando. — Era a Mestra Billaba, que havia decolado
do templo separadamente e se encontraria com eles em órbita.
— Esquadrão Perigo, vocês estão prontos para o lançamento. — disse
Varbarós. — Veremos você lá em cima, Perigo Três.
A Mestra Jedi não respondeu.
Varbarós os conduziu pela atmosfera, com a suavidade de sempre, e as
naves patrulha assumiram as suas posições nas alas assim que chegaram ao
espaço, com Mestra Billaba na popa. Eles cruzaram até onde o comboio
estava se reunindo e tomaram seu lugar na frente da formação. Eles se
afastaram de Coruscant.
— Todas as naves, aqui é o Naboo Um. — disse Varbarós em um canal
aberto. — Preparem-se para receberem os cálculos de navegação e dar o
salto para o hiperespaço na minha marca.
Padmé recostou-se na cadeira enquanto o computador de navegação
fazia o seu trabalho. Ela gostava dessa parte da viagem, da respiração antes
de mergulhar nas profundezas do espaço. Isso a lembrou de quão grande era
a galáxia e como tinha sorte de viver nela.
— Marca. — disse Varbarós e eles partiram.
Embora soubesse que deveria voltar e sentar-se com os outros
senadores, Padmé permaneceu na ponte durante toda a viagem. Sentiu-se
como se fosse a primeira vez que estava em uma sala sem políticos, com
exceção dela, em algum tempo e, embora isso fosse um pequeno exagero,
ainda gostava do silêncio.
O silêncio foi interrompido abruptamente quando o comboio saiu do
hiperespaço no segundo ponto de encontro e se viu no meio de uma batalha
com piratas.
— Ativando o escudo defletor! — exclamou Varbarós. — Tomando
medidas evasivas. Esquadrão Perigo, amplie a cobertura.
Padmé observou enquanto as duas naves patrulhas se afastavam, dando
uma volta para proteger todo o comboio de um ângulo mais amplo. Já fazia
um tempo desde que Sabé voava em uma nave de um só lugar, mas Padmé
sabia que ela era muito melhor em manter suas horas de voo do que Padmé.
Tonra também não era um piloto regular, mas assim como o Capitão Panás,
ambos tinham padrões exigentes, e Padmé se sentiu apenas moderadamente
alarmada por estar em outra batalha. Ela não conseguiu ver a nave Jedi no
início, mas logo identificou o caça estelar triangular Delta-7 distinto da
Mestra Billaba se aproximando da luta.
— Podemos saltar de novo? — perguntou Typho. Ele se inclinou para
frente e Padmé poderia dizer que ele estava ansioso para ter mais controle
da situação. Ela entendeu completamente.
— A outra metade do comboio está no meio da transferência da carga
da remessa entre dois dos transportadores. — relatou um técnico. — Eles
não podem ir até que todos estejam de volta para dentro da formação.
— Droga. — disse Typho.
— Varbarós, aproxime-nos. — disse Padmé. — Podemos atrair o fogo
deles e dar algum tempo aos transportes.
— Não faça isso. — disse Typho, lançando cada palavra como se
fossem torpedos de prótons.
— Sargento, nós temos um escudo muito superior. — Padmé
argumentou. — Podemos levar alguns golpes. Mova-nos, Varbarós.
— Uma manobra! — disse Varbarós, claramente considerando este um
compromisso. Da cadeira do piloto, ela não conseguia fazer contato visual
com nenhum dos dois, o que provavelmente era o melhor, considerando as
coisas. — Movendo-nos. Segurem-se em algo.
A nave entrou na ação e, embora o gerador de gravidade os mantivesse
no lugar, Padmé sentiu o seu estômago revirar quando Varbarós completou
a manobra. Funcionou bem o suficiente. A nave real levou dois tiros na
parte inferior da proa, mas o escudo se manteve firme.
— As armas deles não são fortes o suficiente para romper sem um
bombardeio significativo. — relatou o técnico, com os seus dedos voando,
enquanto circulavam pelas atualizações do sistema e repassavam ordens às
outras naves.
— Sargento. — disse Padmé, derramando uma grande dose de
sentimento na palavra.
— Faça outra manobra. — disse Typho, falando entre os dentes. Ele
definitivamente iria gritar com ela mais tarde, mas valia a pena.
Varbarós girou de novo e mais três tiros acertaram a proa.
— Naboo Um, Perigo Um, direcionamos os canhões ao atacante
principal. — disse Sabé pelos comunicadores. — Iniciando nossa missão de
ataque.
— Perigo Um, pode tentar. — respondeu Varbarós. Ela puxou a nave
real para fora de seu caminho e, por um momento, a visão de Padmé da
batalha foi substituída por um campo de estrelas calmo e pacífico.
Não estrelas: o lastro que Mestra Billaba despejou para desviar os tiros
de canhão. Vácuo ou não, as partículas fervilhavam no espaço enquanto
absorviam a energia que deveria ter cortado o metal do casco. A Mestra Jedi
voltou para a sua posição atrás da nave prateada e Padmé só podia rastrear
os seus movimentos no escâner.
Assistir às batalhas espaciais foi profundamente perturbador por causa
do silêncio em que foram conduzidas, mas assim que voltaram ao alcance
visual, Padmé não tirou os olhos da nave que sabia que Sabé pilotava. Ela
perdeu o ataque bem-sucedido de Tonra à primeira canhoneira, mas viu
Sabé derrubar a segunda.
— Os transportes estão prontos para partir. — relatou o técnico.
— Ligando o computador de navegação. — disse Varbarós novamente
no canal aberto. — Todas as naves, todas as naves, preparem-se para as
coordenadas e saltem quando estiverem prontas.
— Vamos por último. — disse Padmé. — Quero ter certeza de que
todos estão longe.
— Senadora. — disse Typho e Padmé ergueu as mãos em derrota.
— Quase no último. — ela emendou. — Esquadrão Perigo pode nos
seguir.
— Entendido. — Vieram três vozes diferentes pelo comunicador.
Brilhos de luz indicavam cada vez que uma nave do comboio saltava.
Sabé e Tonra continuaram a atacar as naves piratas, mirando em
armamentos e sistemas de propulsão para cobrir a sua retirada, enquanto
Billaba despejou outra série de lastro entre os atacantes e a nave de Naboo.
— Estamos indo. — anunciou Varbarós e, antes que Padmé pudesse
olhar pela janela de visualização para confirmar que eram os últimos
remanescentes, eles saltaram.
Varbarós soltou um suspiro de triunfo e Padmé estendeu a mão para
tocar o seu ombro.
— Muito bem. — disse ela. — Você fez um excelente trabalho.
— Obrigada, Senadora. — disse a piloto.
Padmé se recostou na cadeira e olhou para Typho, que não parecia tão
zangado quanto pensava que ele ficaria.
— Você pode pilotar um caça N-1, Senadora? — perguntou ele depois
de um momento.
— Sim. — respondeu Padmé. — O Capitão Panás fez com que todas
nós aprendêssemos. Estou um pouco sem prática, mas acho que me
lembraria.
— Bom. — disse ele. — Não imagino que serei capaz de dissuadi-la de
arriscar o seu pescoço no futuro, então a próxima melhor coisa a fazer é
certificar que você se arrisque em algo com um canhão de laser.
— Muito bem, Sargento. — disse ela. — Contanto que você esteja
voando comigo.
— Minha classificação não… — ele começou e ela riu.
— Posso cobrar alguns favores. Tenho amigos poderosos. —
interrompeu ela. — E você merece, Sargento. Eu realmente acho que sim.
Padmé se levantou e desceu para contar aos outros senadores o que
havia acontecido. Eles teriam sido mantidos informados da situação pelo
computador da nave, mas era sempre bom ouvir um relato de uma pessoa
viva. Ela encontrou R2-D2 no caminho. Ela sabia que o droide costumava
fazer varreduras quando não havia nenhuma outra tarefa para fazer e um
pensamento lhe ocorreu.
— Artoo, você deu uma boa olhada nesses piratas? — perguntou ela.
O pequeno droide buzinou com entusiasmo e rolou até uma tomada de
computador. Padmé o seguiu e, depois que ele se conectou, ela observou
uma série de varreduras da nave, cujos canhões Sabé havia destruído,
passando pela tela.
— Alguma marca significativa ou número de registro? — perguntou
ela.
R2-D2 girou a sua cúpula, indicando não.
— Por favor, faça uma análise detalhada. — pediu Padmé. — Vou ler o
seu relatório assim que as coisas se acalmarem.
O astromecânico voltou-se para a tela, com as imagens piscando rápido
demais para que Padmé pudesse rastreá-las, e ela o deixou sozinho.
Os senadores estavam esperando por ela na sala que poderia servir
como uma sala do trono quando a rainha estivesse a bordo, mas atualmente
estava decorada com várias cadeiras brancas e uma mesa.
— Não sofremos danos. — disse Padmé como forma de saudação. Ela
se sentou ao lado do Senador Gaans. — Duas naves piratas estavam
atacando nosso comboio secundário. Os transportes estavam transferindo
carga, então estavam vulneráveis. Nossas naves de patrulha derrubaram as
canhoneiras inimigas e nos deram tempo suficiente para saltarmos.
— É preocupante que os piratas sabiam a localização do comboio
secundário. — disse Gaans. — Embora a sincronia deles tenha sido ruim.
— Foi quase ruim para nós. — disse Padmé. — Não tínhamos horário
programado para deixar Coruscant. Os transportes tinham estado esperando
por nós por algumas horas antes de chegarmos. Se tivéssemos chegado dez
minutos depois, seria uma história totalmente diferente.
A Senadora Yarua rosnou uma pergunta. Uma tela ao lado da Senadora
Wookiee forneceu uma tradução rápida, como a tela de Padmé no Senado
fazia.
— Eu não sei. — respondeu Padmé. — Posso pensar em meia dúzia de
motivos pelos quais alguém no Senado poderia ter avisado, mas não tenho
como confirmar as minhas suspeitas. Vou pedir à Senadora Mon Mothma se
posso investigar isso quando voltarmos para Coruscant. Se alguém está
tentando interferir nas missões sancionadas pelo Senado, para não
mencionar uma das ações mais unificadas da memória recente, devemos
tentar descobrir quem e por quê.
— Concordo. — disse Gaans.
Padmé não gostava que sempre fosse preciso perigo e dor para provocar
uma resposta. Mon Mothma ficara perfeitamente contente em continuar
tratando passivamente com os piratas até que a nave dela atravessasse o
espaço contestado e agora ela estava disposta a despender um esforço
adicional. Padmé esperava que ela nunca precisasse enfrentar algo para
acreditar, mesmo que isso significasse que ela enfrentaria um aumento no
desconforto moral pessoal.
— Um dos meus droides fez algumas varreduras durante a luta. — disse
Padmé. — Vou informá-los se alguma coisa aparecer na análise.
— Senadores, estamos chegando em Bromlarch. — A voz de Varbarós
soou acima deles. — Entraremos em órbita síncrona sobre a região da
capital e aguardaremos mais instruções.
— Senador Gaans. — disse Padmé. — Vamos te levar pra casa.
Depois que Mon Mothma completou a sua pesquisa do aqueduto Bromlarch
e da inundação que resultou dos danos, não houve necessidade delas
permanecerem no planeta. Na verdade, Padmé suspeitou que estivessem no
caminho, já que nenhuma delas sabia como fazer a construção propriamente
dita. Ninui era uma guia graciosa, mas estava claramente sobrecarregada e
Padmé estava feliz por poder aliviar um pouco a carga dela retornando a
Coruscant o mais rápido possível. O Senador Gaans ficou para trás por mais
alguns dias, mas o resto deles partiu em boas condições. A viagem de volta
foi feita com um único salto, a nave de Naboo logo à frente da nave
Chandrilana e, portanto, sem intercorrências.
— Estou ansiosa para trabalhar com você novamente, Senadora
Amidala. — disse Mon Mothma quando elas estavam paradas na pista de
pouso, esperando a nave planetária de Mon Mothma vir buscá-la. — Você
tem uma perspectiva única da galáxia, mas acho que não somos tão
diferentes quanto nossas brigas levariam os outros a acreditar.
— Somos nobres demais para brigar. — disse Padmé. — Mas concordo
em seus outros pontos.
— Nem sempre será fácil assim unir o Senado. — disse Mon Mothma.
— Nós reagimos ao medo, é claro, mas qualquer coisa drástica o suficiente
para causar esse tipo de unificação só levará à ruína.
— Sei que isso era algo estranho em termos de procedimento. — disse
Padmé. Ela confrontou alguns de seus sentimentos na viagem de volta. A
pressa de trabalhar com Clovis havia diminuído rapidamente, por vários
motivos, e Padmé percebeu que o procedimento que eles tinham feito não
era sustentável no longo prazo. Eventualmente, não haveria mais favores
para negociar e os relacionamentos que eles construíram na construção do
projeto de lei não seriam firmes ou confiáveis o suficiente para valer a pena.
Mas Bromlarch sobreviveria. — Espero que um dia o Senado possa
responder rapidamente aos problemas, sem recorrer a negociações rápidas.
Fiquei desconfortável e não tenho pressa em fazer de novo, se houver outra
maneira.
— Faremos esse caminho juntas. — disse Mon Mothma quando a sua
nave pousou na plataforma.
— Estou ansiosa por isso. — disse Padmé.
— Você pode considerar adicionar um representante oficial à sua
delegação no Senado. — acrescentou Mon Mothma. — Nem todo mundo
faz isso, mas isto me permite cobrir mais terreno com uma nova
perspectiva.
— Vou pensar nisso. — Padmé sorriu. — Na verdade, eu já tenho
alguém em mente.
A Senadora Chandrilana e o assessor que a acompanhava embarcaram
no speeder deles e partiram. Sabé se desvencilhou da sua nave patrulha.
— Bem, Senadora. — disse ela. — Você vai ficar?
A pergunta era mais fácil de responder agora. Padmé sabia com cada
parte do seu ser. No entanto, custou-lhe algo dizer as palavras em voz alta.
Sabia que a política era uma arena difícil que exigia compromissos
constantes. Ela prosperou nisso. Poderia se perder e talvez esse fosse o
problema. Mas não havia ninguém melhor, então a sua resposta permaneceu
a mesma.
— Eu vou. — disse Padmé. — Nem sempre me sinto confortável com
quem sou aqui, mas ficarei.
— Você será Amidala. — disse Sabé. — E você também será Padmé.
— E você será Tsabin e Sabé? — perguntou Padmé, embora já soubesse
a resposta.
— Enquanto você precisar de mim. — disse Sabé. Ela e Tonra pegaram
o elevador até o nível público de pedestres, onde pegariam um transporte de
volta para o seu apartamento. Eles usavam os uniformes da República, mas
isso não era uma visão estranha em Coruscant. Eles se encaixariam
perfeitamente.
Padmé, R2-D2 e Typho seguiram no speeder privado para o prédio do
Senado, porque Padmé queria escrever o seu relatório antes de ir para casa.
Ela estava cansada e sabia que, assim que parasse de se mover, demoraria
muito até que ela quisesse começar de novo.
O prédio do Senado estava esvaziando quando ela chegou, a sessão
havia encerrado e as reuniões do comitê concluídas naquele dia. Typho não
teve problemas para encontrar uma plataforma de pouso e eles caminharam
até o escritório de Padmé pelos corredores em silêncio. Ela baixou os
arquivos da memória de R2-D2 e passou alguns minutos olhando para as
naves piratas, antes de passar as especificações para o Typho.
— Você reconhece alguma coisa? — perguntou ela.
— Não. — respondeu ele. — Mas não sou especialista nesse tipo de
coisa. Você pode perguntar ao Capitão Panás, no entanto. Ele conhece o
design de naves melhor do que eu e tem mais contatos.
— Eu vou pedir a Mariek que adicione a um de seus comunicados a ele.
— disse Padmé. Ela pretendia perguntar por aí também. — Você se importa
se eu descer e ver se a Senadora Bonteri ainda está aqui? Sei que ela não
tem se envolvida recentemente, mas nos ajudou a começar com a situação
de Bromlarch e gostaria de atualizá-la pessoalmente, se ela quiser saber.
— Artoo e eu ficaremos bem. — disse Typho. — Só não demore muito.
Nós dois precisamos voltar pra casa.
Padmé concordou, então não perdeu tempo para chegar ao escritório de
Bonteri. Não era longe, dado o tamanho do prédio, e Padmé conhecia o
trajeto. A falta de outros senadores e assessores acelerou a sua jornada. Não
viu nenhum droide de limpeza ou manutenção. Estava quase quieto demais.
Padmé dobrou a última esquina para encontrar a Senadora Bonteri em um
console de comunicação no corredor, falando com alguém que Padmé não
podia ver. A imagem estava escondida pela tela ao redor do holoemissor, o
que, somado ao anonimato do console, tornava a conversa totalmente
privada. Padmé parou de andar quando Bonteri olhou para cima e a viu.
Pensou que um lampejo de medo poderia ter passado pelos olhos da outra
senadora, mas não conseguia imaginar do que a sua amiga teria medo.
— Eu te avisarei. — disse a Senadora Bonteri. As palavras dela foram
apressadas, como se tivesse dito a primeira coisa que cruzou a mente dela.
— Pois faça, Senadora. — disse a imagem.
A voz era inconfundível. Este era o homem com quem Bonteri estivera
conversando no dia em que Padmé os ouviu acidentalmente e agora aki
estava ele de novo. Ele a fazia sentir frio, embora não da maneira usual. Ela
não conseguia explicar. Não era da sua natureza não gostar de pessoas sem
contexto, mas Padmé descobriu que não tinha empatia nenhuma com ele. O
brilho azul desapareceu do console e Padmé ficou feliz com isso.
— Você teve sucesso, então. — disse Bonteri. Pela primeira vez não
convidou Padmé para entrar em seu escritório, deixando-as paradas no
corredor.
— Sim. — disse Padmé. — Bromlarch está salvo.
— Parabéns, Senadora Amidala. — disse Bonteri. — Você fez o que
poucos senadores antes de você conseguiram.
— Eu não teria conseguido sem você. — disse Padmé.
— Não. — disse Bonteri. — Acho que não conseguiria. Mas a sua
paciência com a República é louvável e eu a aplaudo por isso.
— Obrigada. — disse Padmé. — Posso lhe dar mais detalhes, se você
quiser.
— Sinto muito, Senadora. — disse Bonteri. — Tenho uma chamada
marcada com o meu filho. Terei que ouvir sobre isso no relatório da sessão.
— Claro. — disse Padmé. — Sinta-se à vontade para me fazer qualquer
pergunta.
— Eu vou. — disse Bonteri. Ela se virou, entrou em seu escritório e
fechou a porta.
Padmé voltou para o seu escritório, perdida em pensamentos. Ela
ganhou a total confiança de Mon Mothma e perdeu a de Mina Bonteri. As
duas mulheres não eram diferentes e Padmé esperava trabalhar com as duas,
porque as admirava por motivos semelhantes. Mas parecia que não era
assim. A aliança primária de Bonteri era um mistério e era um quebra-
cabeça que Padmé estranhamente tinha medo de resolver.
Chegou em seu escritório exatamente junto com o Chanceler Palpatine,
acompanhado por dois guardas, em vez de seus conselheiros.
— Senadora Amidala. — disse ele. — Estou satisfeito em ver que
voltou em segurança.
— Obrigada, Chanceler. — disse ela. Ele tinha ido ao escritório dela,
mas o seu tom indicava que ele não era apenas um amigo verificando o seu
bem-estar. — Nós fomos atacados, mas com a ajuda das naves da República
e da Mestra Jedi Billaba, não sofremos perdas.
— Bom, bom. — disse Palpatine. Estava claro que estava a anos-luz de
distância, com o alívio dele com a segurança dela sendo o mesmo que
poderia sentir se tivesse feito uma jogada particularmente arriscada de
holoxadrez apenas para que o peão sobrevivesse.
— Eu terei um relatório completo para o Senado em breve. — disse ela,
quase caindo na voz da rainha.
— Estou feliz por você ter encontrado uma arena mais adequada para
utilizar os seus talentos. — disse Palpatine. Ele gesticulou bruscamente para
os seus guardas e eles seguiram pelo corredor.
Padmé ficou sozinha no corredor por vários momentos, analisando o
que ele disse. Mais adequada. Estava feliz por ela ter se afastado das
políticas “jurisdicional” anti-escravidão. Ela cerrou os dentes. Não veio até
ali para ser uma linha na programação. Poderia fazer mais de uma coisa,
mesmo que isso significasse ir contra os desejos implícitos do Chanceler.
Afinal tinha apenas começado.
— Estou pronta para ir para casa, Sargento. — gritou ela para Typho do
corredor. Se ela voltasse para o seu escritório ela encontraria uma centena
de coisas mais para fazer.
Typho saiu, com R2-D2 atrás, e voltaram para o seu airspeeder.

— É tão bom estar em casa. — disse Padmé, afundando-se no sofá da sala


de estar. Dormé, Cordé e Versé estavam todas com ela e os guardas fingiam
não estar lá, o que sempre foi apreciado. Tudo parecia macio, caloroso e
sólido, uma pausa bem-vinda após as últimas semanas em escrivaninhas
duras, planos desesperados e cooperação interplanetária.
— Casa? — perguntou Mariek, que sempre foi a pior em fingir que não
estava na sala.
— Bem. — disse Padmé. — Não em casa, eu suponho. Mas estou feliz
por esta almofada em particular.
Contou a eles todos os detalhes da excursão, incluindo o tiroteio,
embora tenha deixado de fora as conversas com os seus colegas senadores.
Não gostava de deixar as aias de fora, mas os limites eram diferentes agora
e todas teriam que se ajustar a eles. Ainda haveria momentos como este,
quando todas estivessem juntas, mas não iriam mais habitar a pele uma da
outra e isso provavelmente era o melhor. Nem teria que contar a elas. Todas
eram profissionais o suficiente para detectar a mudança e aceitá-la.
Um movimento chamou a sua atenção e Padmé viu um airspeeder sair
da fila do tráfego para se alinhar com a varanda. Era Sabé e ela acenava
para que baixassem a tela que impedia a entrada de intrusos e ventos fortes.
Typho entrou correndo na sala quando o alarme de proximidade soou.
— Está tudo bem. — disse Padmé. — É apenas a Sabé.
— Se está fazendo isso, não está tudo bem. — disse Thypo.
Ele desativou o escudo e Sabé saltou para a varanda. Padmé tentou não
pensar na distância entre a varanda e o chão. O airspeeder arrancou e o
alarme cessou assim que a tela voltou ao lugar. Sabé entrou correndo.
— Há novidades. — disse ela. — Ainda não é público, mas a minha
fonte é umo holojornalista e estava no tribunal quando tudo aconteceu.
Um tribunal só poderia significar uma coisa. A ocupação de Naboo
havia acabado, mas iria segui-la para sempre. Não podia se arrepender.
Tinha feito o que precisava fazer. Mas estava tão cansada.
Sabé se ajoelhou à sua frente e segurou as suas mãos. Padmé sabia que a
sua querida amiga veria o seu cansaço, não importava o quanto tentasse
esconder, então não tentou. Sabé a olhou diretamente no rosto, como
sempre fazia, e a mensagem em seus olhos era clara como cristal.
Somos valentes, Vossa Alteza.
— Nute Gunray foi considerado inocente. — disse Sabé. — Ele retém
os bens e títulos até que entremos com outro recurso.
Somos valentes, Vossa Alteza.
— Padmé, o boato é que ele colocou um preço pela sua cabeça. — disse
ela. — Grande o suficiente para atrair a atenção de algumas pessoas
desagradáveis.
Somos valentes, Vossa Alteza.
— Tudo bem. — disse Padmé.
Naboo. Tatooine. Bromlarch. Comércio. Escravidão. Pirataria. Sempre
haveria outro planeta que precisaria de ajuda e ela não deixaria ninguém
impedi-la. Uma luz piscou em seu console pessoal, o alerta que ela havia
definido para qualquer desenvolvimento do projeto de lei jurisdicional do
Chanceler Palpatine. Teria tempo para tudo isso. Ela olhou pra cima e seu
pessoal estava pronto pra ela.
— O que faremos a seguir?
Padmé Amidala estava completamente imóvel. O halo castanho de seu
cabelo se espalhou ao redor dela, suavizado aqui e ali por flores brancas que
haviam soprado no ar para encontrar o descanso entre os seus cachos. A sua
pele era pálida e perfeita. O seu rosto estava em paz. Os seus olhos estavam
fechados e as mãos cruzadas sobre o estômago enquanto ela flutuava.
Naboo continuou sem ela.
Mesmo agora, no final ela era observada.
Theed foi subjugado enquanto seus cidadãos se lembravam. Até mesmo
os Gungans caminharam lentamente na procissão, com nenhum traço do
saltitar usual nos passos deles. Em toda Naboo, o povo pranteava uma
rainha, uma senadora. Ela tinha servido bem. Ela cresceu em sabedoria e
experiência e fez as duas coisas rapidamente. Ela enfrentou as provações de
sua posição sem vacilar e sem medo. E, agora, o seu tempo havia
terminado.
Após o funeral, Sabé foi pra casa. Não tinha outro lugar para ir.
Era um lugar pequeno em uma das menores ruas de Theed. Não haviam
favelas em Naboo, mas se houvesse, é onde Sabé estaria morando. Não
ficava lá com muita frequência, apenas quando estava no planeta e os seus
pais começavam a fazer muitas perguntas. Era o único lugar o qual poderia
ir agora, onde ninguém perguntaria se estava bem.
Uma batida a fez pular. Estava na metade da lista das pessoas de má
reputação que poderiam tê-la rastreado, antes de perceber que era Tonra,
uma das poucas pessoas que sabiam onde ficava esse lugar. Ela o deixou
entrar sem dizer nada e voltou para onde estava sentada.
Como de costume, Tonra se contentou em esperá-la e a paciência dela
se esgotou muito antes da dele.
— Não faz sentido! — A raiva e a perplexidade de Sabé, contidas por
pura força de vontade durante a resposta do público à tragédia, finalmente
penetraram em seu tom. — Ela não iria simplesmente morrer. E um
Império? Liderado por Sheev Palpatine? Nada sobre isso faz sentido!
Sio Bibble finalmente se aposentou e, em vez de realizar uma eleição,
na qual Saché era fortemente favorecida, o papel de governador foi
substituído por um novo cargo. Por indicação Imperial, Quarsh Panás, de
todas as pessoas, agora supervisionava as operações diárias de Naboo. Nem
Mariek, nem Typho apareceram com ele quando fez o seu primeiro
discurso formal ao planeta. As mudanças estavam vindo quase rápido
demais para lidar com a dor. Pelo menos ainda tinham uma rainha, embora
Sabé não soubesse como poderia ajudar a garota, mesmo se estivesse em
posição de fazê-lo. Precisava de um momento para pensar e Tonra estava
dando a ela.
— O que você vai fazer? — perguntou Tonra.
Dos seus pais essa pergunta significaria: “o que você fará sem ela?”. Era
uma pergunta a qual faziam a Sabé há anos e nunca teve uma resposta a
eles, porque nunca considerou a vida sem a direção de Padmé. De Tonra,
houve mais nuances. Afinal, sabia o que ela havia feito a serviço de Padmé.
Não estava perguntando o que ela faria sem ela. Estava perguntando o que
ela faria em virtude disso. Ele a conhecia muito bem para imaginar que não
faria nada.
Ela havia caminhado com as aias sobreviventes no cortejo fúnebre. Elas
mal haviam se falado. A dor delas era profunda e íntima, mas difícil de
explicar para aqueles fora de seu círculo seleto. Naboo havia perdido uma
senadora, uma heroína, uma rainha. Elas haviam perdido a amiga pela qual
todas, cada uma delas ao longo dos anos, arriscaram as suas vidas. Elas não
haviam assumido esses riscos pela política, por Naboo ou pela agora extinta
República. Elas os haviam assumido por Padmé, porque a amavam. E agora
ela se foi.
— Vou descobrir o que aconteceu com a minha amiga. — disse Sabé.
Ela se levantou e começou a andar pela pequena sala. Ela não conseguia
mais ficar parada. Não poderia ficar neste mundo paradisíaco enquanto
houvesse segredos terríveis para descobrir. Cordé estava morta. Versé
estava morta. Obi-Wan estava morto. Mestra Billaba estava morta. Anakin
Skywalker estava morto.
Padmé Amidala Naberrie estava morta e os seus sonhos com ela.
— Vou voltar para Coruscant. — disse ela. — Serei Tsabin um pouco
mais. Um ou dois de nossos contatos antigos ainda podem estar lá. Eles
podem saber de algo e isso seria um lugar para começar.
— Eu irei com você, se você me aceitar. — ofereceu Tonra.
Ela sabia que a oferta era genuína. Eles passaram mais tempo separados
do que juntos desde Bromlarch e Sabé sabia que Tonra não tinha passado
todo esse tempo sozinho. Ela também não. Mas eles sempre se deram bem,
mesmo que raramente estivessem no mesmo planeta. Sabia que eles
funcionavam bem juntos. E realmente não tinha mais ninguém. Ela parou
de andar e ficou na frente dele.
— Eu gostaria disso. — disse ela.
Ele ouviu a pequena falha na voz dela e ignorou, beijando a testa dela.
— Precisamos de identidades inteiramente novas. — disse ela. —
Mesmo se voltarmos para Coruscant. Sabé, Tsabin, Tonra, todos eles terão
que desaparecer. Temos que ser pessoas que nunca fomos antes. E temos
que apagar qualquer coisa que indique que somos de Naboo.
A sua mão foi para o seu colar. Poderia deixar o colar para trás, se fosse
necessário. Por Naboo e por sua amiga. Havia muitos lugares para esconder
algo tão pequeno e mantê-lo seguro, até que ela pudesse voltar para pegá-lo.
— Diga-me o que precisa que eu faça. — disse Tonra. — Posso
conseguir uma nave pra nós, acho. Ou, pelo menos, posso nos tirar do
planeta e, então, podemos conseguir uma nave em outro lugar.
— Teremos que fazer com que os créditos que nos restam durem muito
tempo. — ressaltou Sabé. — Portanto quaisquer favores que você possa
solicitar seria uma boa ideia, desde que não possam ser rastreados.
— Vá e arranje as identificações. — disse ele. — Posso fazer as malas
para você.
Era verdade. Ela não tinha muita coisa mais e os seus itens básicos eram
quase os mesmos que os dele, no final das contas, exceto que as botas dela
eram menores.
Ela foi até a sua estação de trabalho e fechou os arquivos que estava
olhando. Eram escritos de Padmé, o trabalho que ela esperava que seria o
seu legado senatorial. Uma chamada para restabelecer os limites de
mandato na chancelaria. Vários projetos de lei defendendo a personalidade
dos Clones, tanto durante a guerra quanto, hipoteticamente, para quando a
guerra acabasse. Uma moção para colocar todas as faixas do hiperespaço
sob a jurisdição da República, para evitar a tributação territorial e disputas.
Anos e anos de rascunhos de leis anti-escravidão. Um legado que não seria
realizado e Sabé ardeu com a necessidade de saber por quê.
Ela pegou duas identidades em branco. Eles usariam o básico para sair
de Naboo e então mudariam para uma cobertura de melhor qualidade
quando estivessem em outro lugar. Era mais seguro assim, embora
significasse muito trabalho.
Ela ouviu o seu comunicador soar e o ignorou. Ela realmente não queria
falar com a sua mãe agora e as aias sabiam que deveriam deixá-la em paz.
Elas não precisavam falar para se comunicar. Elas sabiam que Sabé contaria
quando elas precisassem saber. Elas sabiam que poderia ser perigoso saber
antes disso. O comunicador soou novamente.
Ela ouviu um murmúrio suave vindo da sala principal quando Tonra
atendeu e falou com quem ousou interromper a sua paz. Um momento
depois ele apareceu na porta.
— Peça que deixem uma mensagem. — disse Sabé. — Não quero
atender a chamada agora.
— Acho que você deveria, amor. — disse ele. Ele passou para ela um
holo emissor. Quem quer que tenha ligado, queria falar cara a cara.
Sabé segurou o dispositivo na palma da mão e o ativou, aparecendo uma
figura familiar. Quando falou, foi na voz de Amidala. Ela não tinha intenção
de revelar nada.
— Senador Organa, agora não é um bom momento. — disse ela. — O
que você deseja?
STAR WARS / STAR WARS - A SOMBRA DA RAINHA
TÍTULO ORIGINAL: Star Wars / Star Wars - Queens Shadow

COPIDESQUE: TRADUTORES DOS WHILLS

REVISÃO: TRADUTORES DOS WHILLS

DIAGRAMAÇÃO: TRADUTORES DOS WHILLS

ILUSTRAÇÃO: Tara Phillips

GERENTE EDITORIAL: TRADUTORES DOS WHILLS

DIREÇÃO EDITORIAL: TRADUTORES DOS WHILLS

VERSÃO ELETRÔNICA: TRADUTORES DOS WHILLS

ASSISTENTES EDITORIAIS: TRADUTORES DOS WHILLS

COPYRIGHT © & TM 2019 LUCASFILM LTD.


COPYRIGHT ©TRADUTORES DOS WHILLS, 2021
(EDIÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA PARA O BRASIL)

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.


PROIBIDA A REPRODUÇÃO, NO TODO OU EM PARTE, ATRAVÉS DE QUAISQUER MEIOS.

STAR WARS - A SOMBRA DA RAINHA É UM LIVRO DE FICÇÃO. TODOS OS PERSONAGENS, LUGARES E


ACONTECIMENTOS SÃO FICCIONAIS.

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)

J93ek Johnston, Emily Kate


Star Wars - A Sombra da Rainha [recurso eletrônico] / Emily Kate Johnston ; traduzido por Red
Skull Mythosaur
448 p. : 3.0 MB.

Tradução de: Star Wars - Queens Shadow


ISBN: 978-1-368-02563-8 (Ebook)

1. Literatura norte-americana. 2. Ficção científica. I. Mythosaur, Red Skull CF. II. Título.

2020-274 CDD 813.0876


CDU 821.111(73)-3
ÍNDICES PARA CATÁLOGO SISTEMÁTICO:

Literatura : Ficção Norte-Americana 813.0876


Literatura norte-americana : Ficção 821.111(73)-3

tradutoresdoswhills.wordpress.com
Estou esperando por este livro há vinte anos e estou infinitamente
emocionada por tê-lo escrito. Não teria acontecido sem a ajuda generosa de
várias pessoas:
Josh Adams, que me ligou na Islândia para saber se eu estava
interessada, e que sempre me leva a sério quando digo que estou bem para
começar um projeto.
Jen Heddle, que me guiou desde as ideias ao livro. Emily Meehan, que
sempre me apoia. Patrice Caldwell, que me ajudou a tornar o mundo maior.
Ao Grupo de História da Lucasfilm e a equipe de design, que
garantiram que tudo funcionasse.
Todo mundo que fez arte ou a história de Naboo em Império
Despedaçado, Forças do Destino e Battlefront II, e Tara Phillips, que fez
esta bela capa.
Natalie Portman, Keira Knightley e Trisha Biggar, que me deram o
melhor presente de 15 anos de todos os tempos, e Cat Taber, que o guardou.
Várias pessoas que responderam a perguntas sem saber do que
estávamos falando, incluindo Emma Higinbotham, Rachel Williams, Bria
LaVorgna e Angel Cruz. Manter segredos é difícil.
MaryAnn Zissimos, que é de alguma forma a pessoa mais animada E
equilibrada que conheço.
E todas as garotas que pediram mais de Star Wars. Vocês são a minha
fagulha.
E. K. Johnston é a autora de Star Wars: Ahsoka; The Afterward;
That Inevitable Victorian Thing; e Exit, Pursued by a Bear. Ela teve vários
empregos e uma vocação antes de se tornar uma escritora publicada. Se ela
aprendeu alguma coisa, é que às vezes as coisas ficam estranhas e não há
muito que você possa fazer a respeito. Bem, isso e como forçar a fanfic
estranha porque é sobre um casal de quem ela gosta.
Star Wars: Guardiões dos Whills
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No mundo do deserto de Jedha, na Cidade Santa, os amigos Baze e


Chirrut costumavam ser Guardiões das colinas, que cuidavam do
Templo de Kyber e dos devotos peregrinos que adoravam lá. Então
o Império veio e assumiu o planeta. O templo foi destruído e as
pessoas espalhadas. Agora, Baze e Chirrut fazem o que podem
para resistir ao Império e proteger as pessoas de Jedha, mas nunca
parece ser suficiente. Então um homem chamado Saw Gerrera
chega, com uma milícia de seus próprios e grandes planos para
derrubar o Império. Parece ser a maneira perfeita para Baze e
Chirrut fazer uma diferença real e ajudar as pessoas de Jedha a
viver melhores vidas. Mas isso vai custar caro?

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STAR WARS: Episódio VIII: Os Últimos Jedi
(Movie Storybook)
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Um livro de imagens ilustrado que reconta o filme Star Wars: Os


Últimos Jedi.

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Chewie e a Garota Corajosa
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Um Wookiee é o melhor amigo de uma menina! Quando Chewbacca


conhece a jovem Zarro na Orla Exterior, ele não tem escolha a não
ser deixar de lado sua própria missão para ajudá-la a resgatar seu
pai de uma mina perigosa. Essa incrível Aventura foi baseada na
HQ do Chewbacca… (FAIXA ETÁRIA: 6 a 8 anos)

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Star Wars: Ahsoka
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Esse é o Terceiro Ebook dos Tradutores dos Whills com uma


aventura emocionante sobre uma heroína corajosa das Séries de
TV Clone Wars e Rebels: Ahsoka Tano! Os fãs há muito tempo se
perguntam o que aconteceu com Ahsoka depois que ela deixou a
Ordem Jedi perto do fim das Guerras Clônicas, e antes dela
reaparecer como a misteriosa operadora rebelde Fulcro em Rebels.
Finalmente, sua história começará a ser contada. Seguindo suas
experiências com os Jedi e a devastação da Ordem 66, Ahsoka não
tem certeza de que possa fazer parte de um todo maior de novo.
Mas seu desejo de combater os males do Império e proteger
aqueles que precisam disso e levará a Bail Organa e a Aliança
Rebelde….

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Star Wars: Kenobi Exílio
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A República foi destruída, e agora a galáxia é governada pelos


terríveis Sith. Obi-Wan Kenobi, o grande cavaleiro Jedi, perdeu
tudo… menos a esperança. Após os terríveis acontecimentos que
deram fim à República, coube ao grande mestre Jedi Obi-Wan
Kenobi manter a sanidade na missão de proteger aquele que pode
ser a última esperança da resistência ao Império. Vivendo entre
fazendeiros no remoto e desértico planeta Tatooine, nos confins da
galáxia, o que Obi-Wan mais deseja é manter-se no completo
anonimato e, para isso, evita o contato com os moradores locais. No
entanto, todos esses esforços podem ser em vão quando o “Velho
Ben”, como o cavaleiro passa a ser conhecido, se vê envolvido na
luta pela sobrevivência dos habitantes por uma Grande Seca e por
causa de um chefe do crime e do povo da areia. Se com o Novo
Cânone pudéssemos encontrar todos os materiais disponíveis aos
anos de Exílio de Obi-Wan Kenobi em um só Lugar? Após o Livro
Kenobi se tornar Legend, os fãs ficaram sem saber o que aconteceu
com o Velho Ben nesse tempo de reclusão. Então os Tradutores dos
Whills também se fizeram essa pergunta e resolveram fazer esse
trabalho de compilação dos Contos, Ebooks, Séries Animadas e
HQs, em um só Ebook Especial e Canônico para todos os Fãs!!

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Star Wars: Dookan: O Jedi Perdido
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Esse é o Quarto Ebook dos Tradutores dos Whills com uma


aventura emocionante sobre um Vilão dos Filmes e da Série de TV
Clone Wars: Conde Dookan! Mergulhe na história do sinistro
Conde Dookan no roteiro original da emocionante produção
de áudio de Star Wars! Darth Tyranus. Conde de Serenno.
Líder dos Separatistas. Um sabre vermelho, desembainhado
no escuro. Mas quem era ele antes de se tornar a mão
direita dos Sith? Quando Dookan corteja uma nova aprendiz,
a verdade oculta do passado do Lorde Sith começa a
aparecer. A vida de Dookan começou como um privilégio,
nascido dentro das muralhas pedregosas da propriedade de
sua família. Mas logo, suas habilidades Jedi são
reconhecidas, e ele é levado de sua casa para ser treinado
nos caminhos da Força pelo lendário Mestre Yoda. Enquanto
ele afia seu poder, Dookan sobe na hierarquia, fazendo
amizade com Jedi Sifo-Dyas e levando um Padawan, o
promissor Qui-Gon Jinn, e tenta esquecer a vida que ele
levou uma vez. Mas ele se vê atraído por um estranho
fascínio pela mestra Jedi Lene Kostana, e pela missão que
ela empreende para a Ordem: encontrar e estudar relíquias
antigas dos Sith, em preparação para o eventual retorno dos
inimigos mais mortais que os Jedi já enfrentaram. Preso
entre o mundo dos Jedi, as responsabilidades antigas de
sua casa perdida e o poder sedutor das relíquias, Dookan
luta para permanecer na luz, mesmo quando começa a cair
na escuridão.

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Star Wars: Discípulo Sombrio
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Esse é o Quinto Ebook dos Tradutores dos Whills com uma


aventura emocionante sobre um Vilões e Heróis dos Filmes e da
Série de TV Clone Wars! Baseado em episódios não produzidos de
Star Wars: The Clone Wars, este novo romance apresenta Asajj
Ventress, a ex-aprendiz Sith que se tornou um caçadora de
recompensas e uma das maiores anti-heróis da galáxia de Star
Wars. Na guerra pelo controle da galáxia entre os exércitos do lado
negro e da República, o ex-Mestre Jedi se tornou cruel. O Lorde Sith
Conde Dookan se tornou cada vez mais brutal em suas táticas.
Apesar dos poderes dos Jedi e das proezas militares de seu
exército de clones, o grande número de mortes está cobrando um
preço terrível. E quando Dookan ordena o massacre de uma flotilha
de refugiados indefesos, o Conselho Jedi sente que não tem
escolha a não ser tomar medidas drásticas: atacar o homem
responsável por tantas atrocidades de guerra, o próprio Conde
Dookan. Mas o Dookan sempre evasivo é uma presa perigosa para
o caçador mais hábil. Portanto, o Conselho toma a decisão ousada
de trazer tanto os lados do poder da Força de suportar, — juntar o
ousado Cavaleiro Quinlan Vos com a infame acólita Sith Asajj
Ventress. Embora a desconfiança dos Jedi pela astuta assassina
que uma vez serviu ao lado de Dookan ainda seja profunda, o ódio
de Ventress por seu antigo mestre é mais profundo. Ela está mais
do que disposta a emprestar seus copiosos talentos como caçadora
de recompensas, e assassina, na busca de Vos.Juntos, Ventress e
Vos são as melhores esperanças para eliminar a Dookan, — desde
que os sentimentos emergentes entre eles não comprometam a sua
missão. Mas Ventress está determinada a ter sua vingança e,
finalmente, deixar de lado seu passado sombrio de Sith.
Equilibrando as emoções complicadas que sente por Vos com a
fúria de seu espírito guerreiro, ela resolve reivindicar a vitória em
todas as frentes, uma promessa que será impiedosamente testada
por seu inimigo mortal… e sua própria dúvida.

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Star Wars: Episódio IX: A Ascensão do Skywalker:
Edição Expandida

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Leia o épico capítulo final da saga Skywalker com a novelização


oficial de Star Wars: A Ascensão Skywalker, incluindo cenas
ampliadas e conteúdo adicional não visto nos cinemas! A
Resistência renasceu. Mas, embora Rey e seus companheiros
heróis estejam de volta à luta, a guerra contra a Primeira Ordem,
agora liderada pelo líder supremo Kylo Ren, está longe de terminar.
Assim como a faísca da rebelião está reacendendo, um sinal
misterioso é transmitido por toda a galáxia, com uma mensagem
assustadora: o Imperador Palpatine, há muito pensado derrotado e
destruído, está de volta dos mortos. O antigo Senhor dos Sith
realmente voltou? Kylo Ren corta uma faixa de destruição pelas
estrelas, determinado a descobrir qualquer desafio ao seu controle
sobre a Primeira Ordem e seu destino para governar a galáxia – e
esmagá-la completamente. Enquanto isso, para descobrir a
verdade, Rey, Finn, Poe e a Resistência devem embarcar na
aventura mais perigosa que já enfrentaram. Apresentando cenas
totalmente novas, adaptadas de material nunca visto, cenas
excluídas e informações dos cineastas, a história que começou em
Star Wars: O Despertar da Força e continuou em Star Wars: Os
Últimos Jedi chega a uma conclusão surpreendente.

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Star Wars: Os Segredos Dos Jedi

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Descubra o mundo dos Jedi de Star Wars através desta experiência


de leitura divertida e totalmente interativa. Star Wars: Jediografia é o
melhor guia do universo Jedi para o universo dos Jedi,
transportando jovens leitores para uma galáxia muito distante,
através de recursos interativos, fatos fascinantes e ideias cativantes.
Com ilustrações originais emocionantes e incríveis recursos
especiais, como elevar as abas, texturas e muito mais, Star Wars:
Jediografia garante a emoção das legiões de jovens fãs da saga.

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Star Wars:Thrawn: Alianças

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Palavras sinistras em qualquer circunstância, mas ainda mais


quando proferidas pelo Imperador Palpatine. Em Batuu, nos limites
das Regiões Desconhecidas, uma ameaça ao Império está se
enraizando. Com a sua existência pouco mais que um vislumbre, as
suas consequências ainda desconhecidas. Mas é preocupante o
suficiente para o líder imperial justificar a investigação de seus
agentes mais poderosos: o impiedoso agente Lorde Darth Vader e o
brilhante estrategista grão-almirante Thrawn. Rivais ferozes a favor
do Imperador e adversários francos nos assuntos imperiais,
incluindo o projeto Estrela da Morte, o par formidável parece
parceiros improváveis para uma missão tão crucial. Mas o
Imperador sabe que não é a primeira vez que Vader e Thrawn
juntam forças. E há mais por trás de seu comando real do que
qualquer um dos suspeitos. No que parece uma vida atrás, o
general Anakin Skywalker da República Galáctica e o comandante
Mitth’raw’nuruodo, oficial da Ascensão do Chiss, cruzaram o
caminho pela primeira vez. Um em uma busca pessoal
desesperada, o outro com motivos desconhecidos... e não
divulgados. Mas, diante de uma série de perigos em um mundo
longínquo, eles forjaram uma aliança desconfortável, — nem
remotamente cientes do que seus futuros reservavam. Agora,
reunidos mais uma vez, eles se veem novamente ligados ao planeta
onde lutaram lado a lado. Lá eles serão duplamente desafiados, —
por uma prova de sua lealdade ao Império... e um inimigo que
ameaça até seu poder combinado.

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Star Wars: Legado da Força: Traição

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Esta é a era do legado de Luke Skywalker: o Mestre Jedi unificou a


Ordem em um grupo coeso de poderosos Cavaleiros Jedi. Mas
enquanto a nova era começa, os interesses planetários ameaçam
atrapalhar esse momento de relativa paz, e Luke é atormentado
com visões de uma escuridão que se aproxima. O mal está
ressurgindo “das melhores intenções” e parece que o legado dos
Skywalkers pode dar um ciclo completo.A honra e o dever colidirão
com a amizade e os laços de sangue, à medida que os Skywalker e
o clã Solo se encontrarem em lados opostos de um conflito
explosivo com repercussões potencialmente devastadoras para
ambas as famílias, para a ordem Jedi e para toda a galáxia.Quando
uma missão para descobrir uma fábrica ilegal de mísseis no planeta
Aduman termina em uma emboscada violenta, da qual a Cavaleira
Jedi Jacen Solo e o seu protegido e primo, Ben Skywalker, escapam
por pouco com as suas vidas; é a evidência mais alarmante ainda
que desencadeia uma discussão política. A agitação está
ameaçando inflamar-se em total Rebelião. Os governos de vários
mundos estão se irritando com os rígidos regulamentos da Aliança
Galáctica, e os esforços diplomáticos para garantir o cumprimento
estão falhando. Temendo o pior, a Aliança prepara uma
demonstração preventiva de poder militar, numa tentativa de trazer
os mundos renegados para a frente antes que uma revolta entre em
erupção. O alvo modeloado para esse exercício: o planeta Corellia,
conhecido pela independência impetuosa e pelo espírito renegado
que fizeram de seu filho favorito, Han Solo, uma lenda.Algo como
um trapaceiro, Jacen é, no entanto, obrigado como Jedi a ficar com
seu tio, o Mestre Jedi Luke Skywalkers, ao lado da Aliança
Galáctica. Mas quando os corellianos de guerra lançam um contra-
ataque, a demonstração de força da Aliança, e uma missão secreta
para desativar a crucial Estação Central de Corellia; dão lugar a
uma escaramuça armada. Quando a fumaça baixa, as linhas de
batalha são traçadas. Agora, o espectro da guerra em grande escala
aparece entre um grupo crescente de planetas desafiadores e a
Aliança Galáctica, que alguns temem estar se tornando um novo
Império.E, enquanto os dois lados lutam para encontrar uma
solução diplomática, atos misteriosos de traição e sabotagem
ameaçam condenar os esforços de paz a todo
momento. Determinado a erradicar os que estão por trás do caos,
Jacen segue uma trilha de pistas enigmáticas para um encontro
sombrio com as mais chocantes revelações… enquanto Luke se
depara com algo ainda mais preocupante: visões de sonho de uma
figura sombria cujo poder da Força e crueldade lembram a ele de
Darth Vader, um inimigo letal que ataca como um espírito sombrio
em uma missão de destruição. Um agente do mal que, se as visões
de Luke acontecerem, trará uma dor incalculável ao Mestre Jedi e a
toda a galáxia.

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Star Wars: Battlefront II: Esquadrão Inferno

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Após o humilhante roubo dos planos da Estrela da Morte e a


destruição da estação de batalha, o Império está na defensiva. Mas
não por muito. Em retaliação, os soldados imperiais de elite do
Esquadrão Inferno foram chamados para a missão crucial de se
infiltrar e eliminar os guerrilheiros, — a facção rebelde que já foi
liderada pelo famoso lutador pela liberdade da República, Saw
Gerrera.

Após a morte de seu líder, os guerrilheiros continuaram seu legado


extremista, determinados a frustrar o Império, — não importa o
custo. Agora o Esquadrão Inferno deve provar seu status como o
melhor dos melhores e derrubar os Partisans de dentro. Mas a
crescente ameaça de serem descobertos no meio de seu inimigo
transforma uma operação já perigosa em um teste ácido de fazer ou
morrer que eles não ousam falhar. Para proteger e preservar o
Império, até onde irá o Esquadrão Inferno. . . e quão longe deles?

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Star Wars: Catalisador: Um Romance de Rogue One

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A guerra está destruindo a galáxia. Durante anos, a República e os


Separatistas lutaram entre as estrelas, cada um construindo uma
tecnologia cada vez mais mortal na tentativa de vencer a guerra.
Como membro do projeto secreto da Estrela da Morte do Chanceler
Palpatine, Orson Krennic está determinado a desenvolver uma
super arma antes que os inimigos da República possam. E um velho
amigo de Krennic, o brilhante cientista Galen Erso, poderia ser a
chave. tativa de vencer a guerra. Como membro do projeto secreto
da Estrela da Morte do Chanceler Palpatine, Orson Krennic está
determinado a desenvolver uma super arma antes que os inimigos
da República possam. E um velho amigo de Krennic, o brilhante
cientista Galen Erso, poderia ser a chave. A pesquisa focada na
energia de Galen chamou a atenção de Krennic e de seus inimigos,
tornando o cientista um peão crucial no conflito galáctico. Mas
depois que Krennic resgata Galen, sua esposa, Lyra, e sua filha Jyn,
de sequestradores separatistas, a família Erso está profundamente
em dívida com Krennic. Krennic então oferece a Galen uma
oportunidade extraordinária: continuar seus estudos científicos com
todos os recursos totalmente à sua disposição. Enquanto Galen e
Lyra acreditam que sua pesquisa energética será usada puramente
de maneiras altruístas, Krennic tem outros planos que finalmente
tornarão a Estrela da Morte uma realidade. Presos no aperto cada
vez maior de seus benfeitores, os Ersos precisam desembaraçar a
teia de decepção de Krennic para salvar a si mesmos e à própria
galáxia.

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Star Wars: Ascensão Rebelde

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Quando Jyn Erso tinha cinco anos, sua mãe foi assassinada e seu
pai foi tirado dela para servir ao Império. Mas, apesar da perda de
seus pais, ela não está completamente sozinha, — Saw Gerrera, um
homem disposto a ir a todos os extremos necessários para resistir à
tirania imperial, acolhe-a como sua e dá a ela não apenas um lar,
mas todas as habilidades e os recursos de que ela precisa para se
tornar uma rebelde.Jyn se dedica à causa e ao homem. Mas lutar ao
lado de Saw e seu povo traz consigo o perigo e a questão de quão
longe Jyn está disposta a ir como um dos soldados de Saw. Quando
ela enfrenta uma traição impensável que destrói seu mundo, Jyn
terá que se recompor e descobrir no que ela realmente acredita… e
em quem ela pode realmente confiar.

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Star Wars: A Alta República: A Luz dos Jedi

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Muito antes da Primeira Ordem, antes do Império ou antes mesmo


da Ameaça Fantasma . . . Os Jedi iluminaram o caminho para a
galáxia na Alta República. É uma era de ouro. Os intrépidos
batedores do hiperespaço expandem o alcance da República para
as estrelas mais distantes, mundos prosperam sob a liderança
benevolente do Senado e a paz reina, reforçada pela sabedoria e
força da renomada ordem de usuários da Força conhecidos como
Jedi. Com os Jedi no auge de seu poder, os cidadãos livres da
galáxia estão confiantes em sua habilidade de resistir a qualquer
tempestade. Mas mesmo a luz mais brilhante pode lançar uma
sombra, e algumas tempestades desafiam qualquer preparação.
Quando uma catástrofe chocante no hiperespaço despedaça uma
nave, a enxurrada de estilhaços que emergem do desastre ameaça
todo o sistema. Assim que o pedido de ajuda sai, os Jedi correm
para o local. O escopo do surgimento, no entanto, é o suficiente
para levar até os Jedi ao seu limite. Enquanto o céu se abre e a
destruição cai sobre a aliança pacífica que ajudaram a construir, os
Jedi devem confiar na Força para vê-los em um dia em que um
único erro pode custar bilhões de vidas. Mesmo enquanto os Jedi
lutam bravamente contra a calamidade, algo verdadeiramente
mortal cresce além dos limites da República. O desastre do
hiperespaço é muito mais sinistro do que os Jedi poderiam
suspeitar. Uma ameaça se esconde na escuridão, longe da era da
luz, e guarda um segredo.

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Star Wars: A Alta República: O Grande Resgate Jedi

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Conheça os nobres e sábios Jedi da Alta República! Quando um


desastre acontece no hiperespaço, colocando o povo de Hetzal
Prime em grave perigo, apenas os Jedi da Alta República podem
salvar o dia! Esse ebook é a forma mais incrível de introduzir as
crianças nessa nova Era da Alta República, pois reconta a história
do Ebook Luz dos Jedi de forma simples e didática para as crianças.
(FAIXA ETÁRIA: 5 a 8 anos)

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Star Wars: A Alta República: Na Escuridão

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Muito antes da Primeira Ordem, antes do Império ou antes mesmo


da Ameaça Fantasma . . . Os Jedi iluminaram o caminho para a
galáxia na Alta República. Padawan Reath Silas está sendo enviado
da cosmopolita capital galáctica de Coruscant para a fronteira
subdesenvolvida, e ele não poderia estar menos feliz com isso. Ele
prefere ficar no Templo Jedi, estudando os arquivos. Mas quando a
nave em que ele está viajando é arrancada do hiperespaço em um
desastre que abrange toda a galáxia, Reath se encontra no centro
da ação. Os Jedi e seus companheiros de viagem encontram refúgio
no que parece ser uma estação espacial abandonada. Mas então
coisas estranhas começaram a acontecer, levando os Jedi a
investigar a verdade por trás da estação misteriosa, uma verdade
que pode terminar em tragédia …

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Star Wars: A Alta República: Um Teste de Coragem

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Muito antes da Primeira Ordem, antes do Império ou antes mesmo


da Ameaça Fantasma . . . Vernestra Rwoh é mais nova Cavaleira
Jedi com dezesseis anos, mas a sua primeira missão de verdade
parece muito com ser babá. Ela foi encarregada de supervisionar a
aspirante a inventora Avon Starros, de 12 anos, em um cruzador
rumo à inauguração de uma nova estação espacial maravilhosa
chamada Farol Estelar. Mas logo em sua jornada, bombas explodem
a bordo do cruzador. Enquanto o Jedi adulto tenta salvar a nave,
Vernestra, Avon, o droide J-6 de Avon, um Padawan Jedi e o filho
de um embaixador conseguem chegar a uma nave de fuga, mas as
comunicações acabam e os suprimentos são poucos. Eles decidem
pousar em uma lua próxima, que oferece abrigo, mas não muito
mais. E sem o conhecimento deles, o perigo se esconde na selva…

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Star Wars: A Alta República: Corrida para Torre
Crashpoint

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Muito antes da Primeira Ordem, antes do Império ou antes mesmo


da Ameaça Fantasma . . . Padawan Ram Jomaram quer cuidar das
suas atividades em paz, mas o droide V-18 vem trazer notícias
sobre a queda das comunicações. Contudo os outros Jedi estão
resolvendo outros problemas e ele é o único disponível para
resolver a situação.

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Star Wars: Velha República: Enganados

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“Nossa hora chegou. Durante trezentos anos nos preparamos;


ficamos mais fortes enquanto você descansava em seu berço de
poder... Agora sua República cairá.” Um guerreiro Sith para rivalizar
com o mais sinistro dos Lordes Sombrios da Ordem, Darth Malgus
derrubou o Templo Jedi em Coruscant em um ataque brutal que
chocou a galáxia. Mas se a guerra o coroasse como o mais sombrio
dos heróis Sith, a paz o transformará em algo muito mais hediondo,
algo que Malgus nunca gostaria de ser, mas não pode parar de se
tornar, assim como ele não pode impedir a Jedi desobediente de se
aproximar rapidamente. O nome dela é Aryn Leneer - e o único
Cavaleiro Jedi que Malgus matou na batalha feroz pelo Templo Jedi
era seu Mestre. Agora ela vai descobrir o que aconteceu com ele,
mesmo que isso signifique quebrar todas as regras da Ordem.

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Star Wars: Thrawn: Traição

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Essa foi a promessa que o Grão Almirante Thrawn fez ao Imperador


Palpatine em seu primeiro encontro. Desde então, Thrawn tem sido
um dos instrumentos mais eficazes do Império, perseguindo os seus
inimigos até os limites da galáxia conhecida. Mas por mais que
Thrawn tenha se tornado uma arma afiada, o Imperador sonha com
algo muito mais destrutivo. Agora, enquanto o programa TIE
Defender de Thrawn é interrompido em favor do projeto
ultrassecreto conhecido apenas como Estrelinha, do Diretor Krennic,
ele percebe que o equilíbrio de poder no Império é medido por mais
do que apenas perspicácia militar ou eficiência tática. Mesmo o
maior intelecto dificilmente pode competir com o poder de aniquilar
planetas inteiros. Enquanto Thrawn trabalha para garantir o seu
lugar na hierarquia Imperial, seu ex-protegido Eli Vanto retorna com
um terrível aviso sobre o mundo natal de Thrawn. O domínio da
estratégia de Thrawn deve guiá-lo através de uma escolha
impossível: dever para com a Ascendência Chiss ou a fidelidade
para com o Império que ele jurou servir. Mesmo que a escolha certa
signifique cometer traição.

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Star Wars: Mestre e Aprendiz

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Um Jedi deve ser um guerreiro destemido, um guardião da justiça e


um erudito nos caminhos da Força. Mas talvez o dever mais
essencial de um Jedi seja transmitir o que aprenderam. Mestre Yoda
treinou Dookan o qual treinou Qui-Gon Jinn; e agora Qui-Gon tem
um Padawan próprio. Mas enquanto Qui-Gon enfrentou todos os
tipos de ameaças e perigos como um Jedi, nada o assustou tanto
quanto a ideia de falhar com seu aprendiz. Obi-Wan Kenobi tem
profundo respeito por seu Mestre, mas luta para entendê-lo. Por que
Qui-Gon deve tantas vezes desconsiderar as leis que obrigam os
Jedi? Por que Qui-Gon é atraído por antigas profecias Jedi em vez
de preocupações mais práticas? E por que Obi-Wan não disse que
Qui-Gon está considerando um convite para se juntar ao Conselho
Jedi - sabendo que isso significaria o fim de sua parceria? A
resposta simples o assusta: Obi-Wan falhou com seu Mestre.
Quando Jedi Rael Aveross, outro ex-aluno de Dookan, solicita sua
ajuda em uma disputa política, Jinn e Kenobi viajam para a Corte
Real de Pijal para o que pode ser sua missão final juntos. O que
deveria ser uma tarefa simples rapidamente se torna obscurecido
por engano e por visões de desastre violento que tomam conta da
mente de Qui-Gon. Conforme a fé de Qui-Gon na profecia cresce, a
fé de Obi-Wan nele é testada - assim como surge uma ameaça que
exigirá que o Mestre e o Aprendiz se unam como nunca antes, ou se
dividam para sempre.

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Star Wars: Legado da Força: Linhagens de Sangue

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Uma nova era de aventuras emocionantes e revelações chocantes


continua a se desenrolar, à medida que a lendária saga Star Wars
avança em um novo território surpreendente. A guerra civil se
aproxima enquanto a incipiente Aliança Galáctica enfrenta um
número crescente de mundos rebeldes... e a guerra que se
aproxima está separando as famílias Skywalker e Solo. Han e Leia
retornam ao mundo natal de Han, Corellia, o coração da resistência.
Os seus filhos, Jacen e Jaina, são soldados na campanha da
Aliança Galáctica para esmagar os insurgentes.Jacen, agora um
mestre completo da Força, tem os seus próprios planos para trazer
ordem à galáxia. Guiado por sua mentora Sith, Lumiya, e com o filho
de Luke, Ben, ao seu lado, Jacen embarca no mesmo caminho que
o seu avô Darth Vader fez uma vez. E enquanto Han e Leia
assistem o seu único filho homem se tornar um estranho, um
assassino secreto emaranha o casal com um nome temido do
passado de Han: Boba Fett. Na nova ordem galáctica, amigos e
inimigos não são mais o que parecem...

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