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Para Lee

A pessoa que sempre está ao meu lado,


segurando minha mão,
e me guia pelos meus sonhos loucos.
Eu te amo.
Demais.
Tabela de Conteúdos

Dedicatória
Aviso — bwc
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Um pouco de História
Agradecimentos
Aviso — bwc

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Prólogo

1588

Alguém os estava seguindo. Ao seu redor ele podia sentir o movimento de algum
lugar dentro da escuridão da colina, onde o antigo monumento que ele conhecia
tão bem, estava orgulhosamente. O cheiro de queimado estava no ar, de gravetos,
madeira e turfa. Havia algo sinistro na atmosfera; alguma força escura invisível
que fez sua pele formigar e o cabelo na parte de trás de seu pescoço se arrepiar.
Seu corpo tremia quando ele segurou a mão de sua irmã perto de seu peito e a
puxou colina acima, tentando não olhar para trás.
— E-eles se foram, Samuel — sua irmã soluçou, agarrando-se ao pacote que
ela estava embalando contra o peito. — Eles os queimaram; queimaram todos.
— Precisamos seguir em frente, Helena, não podemos desacelerar. Se
diminuirmos a velocidade, eles podem nos pegar — disse ele, tentando puxar a
irmã, mas ela havia parado de andar e estava olhando para baixo da colina de onde
vinha o cheiro de queimado.
Ele virou a cabeça com relutância e olhou para o monte gramado. Abaixo
deles, perto da parede que cercava o Raven Hill Monument, havia seis piras
brilhantes. Ele nunca percebeu como um corpo rançoso cheiraria enquanto
estava sendo queimado até que estivesse dentro daquela carroça, agarrado às
barras e chamando o magistrado para mostrar alguma misericórdia à sua família.
Ele gritou e gritou para eles pararem até que sua garganta estivesse em carne viva,
mas fez pouca diferença. Eles queimaram todos de qualquer maneira.
— Os gritos pararam — sua irmã sussurrou, desviando os olhos do fogo, os
olhos arregalados. — Eles virão atrás de você em seguida; eles saberão que você
está desaparecido.
— É por isso que devemos ir, Helena. Não há mais nada que possamos fazer
por eles — disse ele, saindo em disparada e subindo o resto da colina, sua irmã em
seu encalço.
No topo estavam as altas pedras cerimoniais, esculpidas com símbolos antigos
por seus ancestrais que viveram lá muito antes deles. Eles ficariam horrorizados se
pudessem ver o que estava acontecendo logo abaixo de seu local sagrado. Era uma
pequena misericórdia que eles nunca saberiam, pensou. Depois de admirá-las
uma última vez, ele guiou sua irmã sob as pedras para um local de escavação que
havia sido iniciado e não concluído. Ele havia começado no dia anterior,
prevendo que algo assim aconteceria, mas nunca teve tempo de terminá-lo antes
que sua família fosse presa.
— Rápido, coloque-o dentro — disse ele, levantando a pá que havia deixado
ao lado do buraco e esperando até que sua irmã colocasse o pacote que estava
carregando dentro. Ele a encheu com terra até que o tesouro estivesse
completamente coberto.
— O que agora? — sua irmã perguntou, levantando-se e limpando o solo de
seus joelhos.
Ele agarrou a mão de sua irmã e deu-lhe um pequeno sorriso reconfortante.
— Agora, nós corremos.
Capítulo 1

Nos Dias de Hoje

O trem estava lotado naquela manhã. O fedor de roupas úmidas em pessoas que
andavam muito tempo na chuva encheu a pequena carruagem e pressionou
contra seu rosto como uma parede de calor pegajoso. Era meados de junho e, até
agora, o verão tinha sido muito longo, muito quente e muito movimentado para
ser tudo, menos desagradável. Sentada no assento de tecido velho demais do trem,
Ana não pôde deixar de pensar que essa história que ela estava perseguindo para
seu emprego no jornal da cidade era outro fracasso. Uma matéria que os leitores,
sem dúvida, olhariam de relance no caminho para as piadas e os horóscopos
diários na parte de trás do jornal. Um fracasso, assim como todas as outras fofocas
e coisas esquisitas que ela tinha sido encarregada de perseguir desde o final do
outono passado, quando começou a trabalhar no The City Herald.
Ainda era um trabalho, no entanto, e por mais chato e entediante que fossem
as notícias no fundo do poço, ela mal podia dizer não ao dinheiro fácil. Como seu
editor e chefe lhe haviam dito inúmeras vezes antes, ela precisava subir na cadeia
de comando se quisesse chegar a algum lugar nesse negócio. Entregar, entregar,
entregar, certo? Todos aqueles jornalistas proeminentes pagaram suas dívidas,
trabalharam e mostraram a todos do que eram capazes. Eles também viveram com
muito café e muito pouco sono para chegar onde estão. Agora era a vez dela.
Folheando o jornal no colo, Ana se acomodou na tira rosa na parte de trás e
dobrou o papel para poder correr o dedo pelas colunas.

Virgem (23 de agosto a 22 de setembro)


Você está no estado de espírito perfeito para prestar atenção aos detalhes,
querido Virgem. A lua se une a Saturno em seu setor de negócios e você se sentirá
compelido a pegar o touro pelos chifres e cuidar dos negócios. Este mês pode ser um
bom momento para fazer coisas novas ou combinar diversão e trabalho para
mantê-lo envolvido. Com seu regente, Mercúrio, formando um aspecto desafiador
menor, sua mensagem pode não ser transmitida perfeitamente. Preocupações
podem resultar de receber muita informação.

Quem diria?
Um anel metálico estridente arrastou sua mente para longe de seu horóscopo
e de volta à realidade. Seu telefone estava tocando e vibrando em sua bolsa no
chão do vagão de trem ao lado de seus pés. Sempre havia algo um pouco
embaraçoso sobre o telefone dela estar muito alto em um lugar onde as pessoas
estavam tentando o seu melhor para não fazer contato visual ou falar com
ninguém, mas ela precisava que seu volume fosse alto o suficiente para ouvi-lo em
qualquer situação, no caso de o escritório ligar. Levando o telefone ao ouvido,
Ana estremeceu ao ouvir a voz de sua editora do outro lado, nasalada e crítica,
mas ao mesmo tempo sincera.
— Ana, querida, por favor, me diga que você chegou sã e salva, pombinha?

Elianna Hearst era a astuta editora-chefe do The City Herald e havia reivindicado
a posição há mais tempo do que Ana estava viva, tornando-a direta, astuta e
disposta a pisar em qualquer um como um inseto se eles a desagradassem de
alguma forma que ela não gostasse.
— Não, Sra. Hearst, ainda não. Ainda estou no trem. Mais uma parada e
então estarei quase lá. A reunião não é antes das doze; eu consigo ir. — Ana disse,
seus dedos em sua mão livre massageando sua têmpora ao lado de sua cabeça.
Falar com Elianna sempre fazia sua cabeça pulsar inquieta.
— É melhor mesmo. A única coisa que odeio mais do que grosseria é o atraso.
Se lembra do que eu preciso que você obtenha dessas pessoas, não é? — A Sra. Hearst
perguntou. O som da linha estalou um pouco quando o trem passou por baixo
de uma pequena ponte.
“Precisamos de algo para aliviar o clima para a edição do final do mês. Algo
para as pessoas rirem, algo para ler sobre essas pessoas bizarras e peculiares que
fazem todos se sentirem um pouco mais normais em comparação. Esquisitos,
malucos e fanáticos, é isso que preciso de você, Ana. Precisamos de uma história.
Precisamos de vendas, e os malucos vendem.”
Ana franziu o cenho. Ela não tinha o hábito de tirar sarro das pessoas só
porque acreditavam em coisas estranhas e malucas, mas ela precisava desse
emprego e das recomendações de Elianna Hearst se quisesse se dar bem nessa
indústria. Ela queria escrever sobre questões do mundo real, não lixo como este.
Foi então que percebeu que não havia respondido, e quando Elianna estava
tossindo seu nome novamente, ela gaguejou.
— Uh, sim, sim, eu entendo o que você precisa, Sra. Hearst. Eu ligarei com
uma atualização amanhã, depois de tê-los acompanhado e de saber mais sobre o
que eles têm para nos oferecer. Eu realmente tenho que ir; minha parada está
chegando — disse Ana.
Ao encerrar a ligação, ela percebeu que nunca gostou de falar com Elianna.
Ela sempre a fez se sentir nojenta e imunda, como se o que ela estivesse fazendo
fosse errado. Talvez fosse porque ela sabia que no fundo era errado.
O trem guinchou quando parou, sacudindo o vagão quando o maquinista
apertou o freio e empurrando os passageiros um para o outro. Ela ergueu a bolsa
e enfiou o jornal debaixo do braço antes de se levantar e se mover para a porta
quando apitou avisando que estavam fechando. Ninguém havia descido do trem,
exceto ela, o que dizia muito sobre esta cidade sonolenta. Foram necessárias duas
horas de suor e leitura de colunas para chegar aqui de trem da cidade, na qual ela
tentou não gemer audivelmente quando mais e mais pessoas encheram os vagões.
Na plataforma, cercada pelo cheiro do campo e pela brisa que fazia cócegas
na nuca, Ana começava a não se importar em ficar longe da cidade. Por mais que
fosse um peixe fora d'água aqui, algo sobre as cores das colinas e o ar cheio de
canto dos pássaros a acalmou, em vez da buzina furiosa do trânsito travado.
A lojinha para a qual ela estava indo ficava a apenas alguns minutos de
caminhada por ruas de paralelepípedos e caminhos estreitos. Ela finalmente
chegou do lado de fora de uma loja com uma grande porta de madeira pintada
em vermelho carmesim e tinta de alvenaria preta lascada nas paredes quebradas
de seixos. Uma placa pintada à mão pendia acima das janelas com vidraças
brancas, caligrafada em ouro e prata que dizia: “Curiosidades e Maravilhas
Estranhas e Incomuns”.
Ana sufocou um gemido e tentou não revirar os olhos. Ela nunca foi uma
pessoa para este tipo de ideias fantasiosas de bruxas e magos, magia e fantasmas, e
médiuns que podiam contatar o gato morto de sua tia-avó através do véu.
No entanto, ela não estava aqui para nada disso. Ela estava aqui para uma
matéria. Uma matéria sobre as pessoas estranhas que eram donas dessa loja e
acreditavam nesse tipo de coisa. Ela só esperava poder guardar suas opiniões para
si mesma quando isso fosse importante. Ela nunca foi boa nisso.
Abrindo a pesada porta de madeira preta, Ana entrou na loja, olhando de lado
para o quadro de avisos na parede que tinha cartazes e bilhetes com números de
telefone para clarividentes locais e quiromantes que faziam festas e telefonemas.
A loja era maior do que parecia do lado de fora, e Ana vagou curiosamente pelos
corredores de cristais e livros. Uma grande mesa de madeira empilhada com
pedras e talismãs de todas as cores repousava no centro da loja. Seus dedos
pousaram na pedra roxa, e ela a ergueu suavemente, sentindo o peso na palma da
mão. Ela conhecia esta. Era a pedra do nascimento de sua mãe, ametista. Sua mãe
sempre brincava que ficava com sono se a tocasse. Curiosamente, ela estava
cansada, mas atribuiu isso à falta de sono e seu despertar precoce, em vez dos
poderes místicos da pedra em sua mão.
Ela recolocou a pedra antes de caminhar até o canto da loja, examinando as
paredes de livros e potes de ervas. Símbolos foram esculpidos em pedaços de
madeira e pendurados em ganchos na parede. À sua esquerda, na parede oposta,
pendiam páginas e mais páginas de recortes de jornais com histórias sobre a loja.
Eles claramente não eram estranhos a alguma publicidade.
— Posso ajudar?
A voz surgiu de algum lugar à sua direita, e quando ela se virou, se deparou
com o rosto de uma velha senhora que estava quase cara a cara com ela e olhando-
a com olhos cinzentos de aço. Cabelos grisalhos selvagens e encaracolados se
erguiam para fora de sua cabeça em ângulos estranhos, e ela se curvou um pouco,
a sobrancelha levantada e uma mão trêmula que segurava a ponta de uma bengala,
que ela batia no chão ao lado de seus pés.
— Eu disse, posso ajudá-la, garota? — ela resmungou.
— Ah, sim! Desculpe, sua parede é bastante impressionante — Ana disse com
uma pequena risada de vergonha, colocando uma mecha de cabelo atrás da
orelha. — Estou aqui para ver a Sra. Genevieve Sullivan. Ela está disponível?
— Oh, é você — ela murmurou.
A velha suspirou e se curvou mais quando finalmente deu um passo para trás
de Ana e cambaleou pelo chão de madeira. Sua bengala batia na madeira, o que
fez Ana se perguntar como não a tinha ouvido se aproximar antes. Talvez ela
estivesse muito encantada com os itens mágicos que não percebeu.
A mulher desapareceu atrás de uma cortina nos fundos da loja, deixando-a
sozinha novamente para caminhar entre as mesas de exibição de caldeirões e
cestos cheios de sálvia. Ela sempre odiou o cheiro de sálvia; era potente e invasivo,
mas esse era o ponto, supôs. Velas estavam ao lado da sálvia, todos os tamanhos
diferentes de pilares e esferas, em tantas cores que olhar para elas começou a fazer
seus olhos doerem. Mas tinham um cheiro incrível, porém, assim que ela levantou
uma linda rosa até o nariz para sentir seu cheiro rosado, a cortina se abriu
novamente.
A mulher que entrou na loja era mais alta, com cabelos escuros e crespos
caindo em cascata pelas costas e ombros, e uma faixa branca de texugo no cabelo
na frente da cabeça. Ela tinha um rosto gentil, redondo e acolhedor, mas tinha
uma timidez. Talvez fosse a maneira como andava.
— Ana Davenport, eu presumo? — a mulher perguntou com um sorriso
caloroso enquanto contornava a lateral do balcão e atravessava o chão com a mão
estendida.
— Sim, do The City Herald. Obrigada por se encontrar comigo. Você é
Genevieve Sullivan, proprietária da loja, certo? — Ana adivinhou, rapidamente
abaixando a vela novamente e estendendo a mão para apertar sua mão.
— Eu sou. Este é o meu pequeno pedaço do paraíso, se preferir. Não é muito,
mas é todo meu. Se você puder me seguir até atrás, podemos conversar e tomar
um chá e ver se encontramos uma boa história para o seu artigo. — Genevieve
sugeriu, acenando para Ana segui-la.
Genevieve a guiou ao redor do balcão onde uma grande caixa antiga estava
pesadamente sobre ele, brilhando em ouro enferrujado. Através da cortina, Ana
se viu em uma sala com uma mesa redonda no meio. A mesa parecia pesada, com
um pano roxo sobre si que pairava acima do chão com borlas de prata. Ao redor
havia seis cadeiras, todas desocupadas, e as paredes estavam novamente repletas
de estantes cheias de livros mágicos, bolas de cristal, bonecas estranhas e adagas
que brilhavam na penumbra da sala.
— Por favor, sente-se. Você é bem-vinda aqui, Srta. Davenport. — Genevieve
disse com um sorriso caloroso enquanto puxava uma cadeira pelo tapete
estampado e olhava para ela com expectativa.
Ana deu um sorriso tímido e acenou com a cabeça, puxando a cadeira à sua
frente de debaixo da mesa e sentando-se, em seguida, colocou a bolsa a seus pés.
Ela pegou seu caderno de couro preto e o colocou sobre a mesa, abrindo-o em
uma nova página e colocando-o na horizontal.
— Obrigada por concordar em falar com o The City Herald, Sra. Sullivan.
Minha editora espera publicar um artigo sobre você e sua loja no final do mês.
Pode ser bastante benéfico para sua loja e seria uma ótima publicidade gratuita.
Tudo o que precisamos em troca, é que você me permita segui-la por um tempo,
ouvir suas histórias e aprender sobre seu mundo — disse Ana enquanto inclinava
a cabeça, sua caneta pairando acima da página.
— Ah, vamos direto ao assunto, estou vendo. — Genevieve riu, pegando uma
xícara de porcelana que estava em sua frente em um pires e levou-a aos lábios,
bebendo e observando Ana por cima da borda. Ela pousou a xícara, estendeu a
mão sobre a mesa e balançou os dedos: — Dê-me a palma da mão.
— Minha palma? — Ana perguntou, parecendo confusa. Seus dedos se
contraíram involuntariamente, sua palma parecia quente ao ser mencionada.
— Sua palma — disse Genevieve novamente — não posso dar exatamente
minha confiança e meu mundo a alguém que não conheço, posso? Todos que já
vieram aqui para fazer uma história sobre minha loja e meu mundo, primeiro
devem me dar sua palma.
A sala de repente ficou mais quente, provavelmente por causa do pânico que
se instalou em seu estômago. Ana não sabia por que sentiu essa onda de calor e
pânico. Não era como se essa mulher pudesse realmente saber alguma coisa com
uma palma pálida suada, certo? Cuidadosamente, Ana estendeu a mão por cima
da mesa larga e deu a mão a Genevieve, que a virou para que a palma da mão
ficasse voltada para cima.
Genevieve cantarolou, arrastando os dedos sobre as linhas que dobravam sua
palma. Ana nunca tinha percebido quantas eram e quão profundas pareciam ser
na sala acesa pelas velas. Ela podia sentir seus dedos formigando, como seus ossos
e ligamentos que ficaram tensos quando ela apertou a pele para ver melhor. Isso
era absurdo, Ana sabia, mas seu ceticismo não a impediu de se aproximar,
tentando ver o que Genevieve estava observando tão intensamente.
— Você está nervosa, Ana. Não deveria estar; não é como se eu pudesse ver
seus segredos mais obscuros, apenas generalizações. — Genevieve sorriu. Ela
parou por mais um momento antes de continuar.
“Esta é a sua linha de vida. Você é uma mulher saudável, Srta. Davenport; sua
linha parece forte e estável. Sua linha da cabeça e sua linha do coração são uma
história bem diferente, no entanto. Você não ouve seu coração quando deveria, e
sua cabeça a convence a não se arriscar nas coisas que deveria. Você teve perdas
em sua vida. Uma perda profunda o suficiente para torná-la protegida e cautelosa
com as pessoas, o que é uma pena. Você está vivendo sua vida com metade da
capacidade do que poderia ser. Sua linha do destino é mais difícil de ler. É difícil
ver o que a palma da sua mão dita como seu destino. Talvez seja porquê está tão
desconectada do que você entende ser verdade. Então, novamente, você não
acredita em nada disso, então não tenho certeza se qualquer leitura que eu a dê
importaria tanto assim.”
Ela soltou a mão, e Ana a retraiu rapidamente, levando a mão ao colo e
esfregando a parte interna da palma, como se pudesse apagar a sensação de
formigamento daquelas linhas em sua mão.
— Não é que eu não acredite, em si, simplesmente não é realmente o meu
forte. — Ana admitiu, o calor subindo em suas bochechas de vergonha.
— Bem, realmente não importa se acredita nisso ou não, se vê o que eu vejo
ou não. Eu acredito, e isso é o que importa para mim. — Genevieve sorriu. —
Agora, de volta aos negócios. Eu poderia sentar aqui e contar as mesmas histórias
que contei ao resto de seu tipo de pessoas por anos. Poderia te contar sobre meu
sangue cigano, o legado mágico da minha família, nossas experiências com o
ocultismo e coisas que fariam o cabelo da sua nuca ficar em pé.
— Isso seria incrível! Se você compartilhar isso comigo, Genevieve, eu ten...
— Ana começou, mas foi interrompida quando a mulher à sua frente levantou
um dedo para silenciá-la.
— Ou eu poderia te dar algo muito melhor. — Genevieve disse com um
sorriso.
Ana ouviu um som à sua esquerda e viu uma figura alta em uma porta que
ela não sabia que estava lá. Ela não podia ver o rosto dela na escuridão da porta,
mas quem quer que fosse, segurava algo grande e pesado em suas mãos. Suas
bochechas queimaram com o conhecimento de que alguém possivelmente a
estava observando esse tempo todo. Antes que ela tivesse tempo de processá-la, a
figura entrou na sala.
— Este é meu filho, Ezra. Sente-se querido, temos muito o que discutir. —
Genevieve disse enquanto acariciava a mesa suavemente.
— Eu ouvi. — Ezra murmurou enquanto caminhava até a mesa.
Quando ele se sentou e fechou o livro pesado, Ana finalmente pôde ver seu
rosto à luz das velas. Ele era bonito, mas de aparência séria, com uma sobrancelha
franzida e cabelos escuros que escondiam seus olhos enquanto olhava para onde
havia colocado seu livro sobre a mesa. Ele tinha ombros largos e braços fortes, sem
ser muito grande onde não deveria ser. Ana achou que ele parecia completamente
deslocado naquela sala escura e mística.
Ela limpou a garganta, olhando para longe dele e de volta para onde
Genevieve estava sorrindo para eles muito amplamente.
— Posso perguntar o que essa coisa de “muito melhor” pode ser? —
perguntou Ana.
— Nos arredores da cidade, não muito longe daqui, há cemitérios sagrados
antigos pertencentes aos nossos ancestrais bruxos e bruxas mais poderosos, que
datam do início do século XVII. Alguns de seus monumentos de pedra ainda se
erguem orgulhosamente; esses datam muito antes de qualquer bruxa ser
enterrada lá, por volta de 3500 a.C. Antes de sua morte, as bruxas, ao longo dos
séculos subsequentes usaram esses monumentos para realizar alguns de seus
rituais e práticas mais sagradas. Então, algumas foram enforcadas e queimadas lá
depois de sofrerem durante os julgamentos Europeus de bruxas.
“Meu filho, Ezra, é um historiador ocultista. Ele sempre se interessou muito
mais pela história das práticas de nossos ancestrais e pela preservação de seus
conhecimentos do que pela prática em si, como eu. Ele se deparou com algo
muito fascinante recentemente, não foi, querido?”
Um suspiro veio do fundo do peito de Ezra. Ele assentiu lentamente e ergueu
o livro mais uma vez, cruzando a perna sobre a coxa e colocando o livro no colo,
abrindo-o no lugar onde o havia fechado antes.
— Encontrei alguns mapas através da minha pesquisa sobre locais de
cemitérios de bruxas — explicou Ezra, folheando as páginas. — Encontramos
alguns artefatos em alguns desses locais. Relíquias de magia e tradição, mas nada
como o que encontramos na escavação do Raven Hill Monument. O artefato em
questão, era pensado para ser um mito. Nós nem sabíamos que deveria estar na
área, mas aqui estamos com algo que nenhum arqueólogo do folclore jamais
pensou que seria localizado novamente.
Ele ergueu os olhos das páginas para fazer contato visual com sua mãe, suas
sobrancelhas baixando e seu rosto se contorcendo em uma expressão que se
estabeleceu em algum lugar entre desconforto e irritação hesitante.
— Meu filho não acha que deveríamos envolver o jornal tão cedo — disse
Genevieve enquanto se esticava sobre a mesa para pegar a mão de seu filho. — Ele
é um profissional nesse tipo de coisa, como seu pai, e não gosta de contar suas
galinhas antes que tenham chocado.
— É mais porque eu mantenho minha reputação em alta e prefiro não vender
uma história antes que ela seja autenticada e avaliada. Não sabemos o que temos
aqui, mãe. O mundo não deve saber até que entendamos exatamente o que é. —
Ezra disse, franzindo a testa no que Ana imaginou ser um olhar de preocupação.
— Bem, se posso dizer, é uma história fascinante. Talvez possamos chegar a
um acordo com o qual todos estejam satisfeitos? — perguntou Ana.
A esperança vibrou em seu peito. Talvez essa história fosse o que ela precisava
para empurrá-la para o mundo do jornalismo real e valioso. A ideia a excitou, mas
a possibilidade muito real de Elianna Hearst negar-lhe a chance de finalmente
provar a si mesma, caiu sobre ela em um cobertor de suor frio. Essa história
poderia ser tirada dela e entregue a alguém com mais experiência, alguém que
normalmente aceitaria casos como esses. Alguém que não precisaria da exposição
como ela precisava.
— E se eu prometer a vocês dois que tudo que eu gravar e escrever em relação
a este artefato será estritamente confidencial até que possamos confirmar sua
autenticidade para sua satisfação? Então podemos trabalhar para lançar sua
história no mundo, revelando-a como a descoberta do século, com seus nomes e
sua loja na vanguarda da descoberta. Eu sou apenas a contadora de histórias; este
é o seu show, lhe asseguro. — Ana disse com um sorriso. Ela tentou não pular na
cadeira, mas a ideia de ter essa história na ponta dos dedos era eletrizante.
Genevieve sorriu, apertando a mão do filho e sacudindo-a enquanto acenava
com a cabeça.
— E então podemos falar sobre acordos de livros, talvez até um
documentário? Isso é o que você sempre sonhou, certo, Ezra? Seu trabalho lá fora
para o mundo ver?
Ezra suspirou novamente, profundamente, afastando a mão de sua mãe e
beliscando a raiz de seu nariz.
— Tudo bem — disse ele, soltando a mão e olhando Ana nos olhos. Era a
primeira vez que ela via os olhos dele completamente, e a queimavam com uma
intensidade que a pegou de surpresa. — Mas eu quero aprovar tudo que você
escreve. E vamos investigar isso juntos. Você não tem nenhum direito de
investigar o artefato sem a minha presença, estou claro?
— Cristalino — disse Ana com um sorriso enquanto se esticava sobre a mesa
para apertar a mão dele, mas ele ignorou e largou o livro. Seu sorriso vacilou, e ela
moveu a mão para apertar a da mãe dele.
— Obrigado pelo seu tempo, Srta. Davenport. Foi um prazer conhecê-la e
estamos muito animados para trabalhar com você nestes momentos mais
emocionantes — disse Genevieve enquanto se levantava da mesa e andava ao
redor dela. — Ezra está indo para o local de escavação agora, para uma atualização
de alguns de seus colegas de trabalho sobre o item, caso você queira se juntar a
ele...
Ana assentiu rapidamente enquanto fechava o bloco de notas e tampava a
caneta. Ela nem tinha percebido que não rabiscou uma nota no papel pautado
enquanto eles falavam. Ela enfiou o livro na bolsa novamente e se levantou,
puxando a alça sobre o ombro e seguindo Genevieve através da cortina até a loja.
A luz do sol brilhante das grandes janelas antigas a fez estremecer, seus olhos se
ajustando ao brilho repentino.
— Venha. Eu tenho algo que desejo lhe dar enquanto esperamos que Ezra
saia. — Genevieve acrescentou enquanto acenava para Ana segui-la até uma das
mesas de exibição. Era a mesa que ela estava olhando quando chegou, aquela cheia
de cristais de todas as cores e formas.
Genevieve estendeu a mão, pairando a mão sobre cada uma das pedras que
estavam ali, movendo-se de uma para outra como se as apreciasse gentilmente sem
tocá-las. Ela olhava para cada uma delas com um amor tão maternal que Ana não
conseguia entender direito.
Ela finalmente abaixou a mão e levantou uma pedra preta que pendia de uma
corrente de corda. A pedra era lisa e brilhante, e a sombra era a mais negra que ela
já tinha visto.
— Isso é obsidiana negra. É uma pedra de vidro vulcânica, forjada na lava
mais quente do mais profundo dos vulcões. É misteriosa e bela, simples, mas
poderosa. É a pedra da proteção e da verdade. Ela irá protegê-la das energias
negativas e ajudá-la em sua jornada para a descoberta da verdade. Use-a com
orgulho.
Genevieve passou a pedra para Ana, e ela a segurou na palma da mão,
sentindo como estava fria. Ela quase podia senti-la vibrando, mas deu de ombros
e puxou a corda atrás de sua cabeça para amarrá-la em volta do pescoço. Antes
que pudesse agradecer, Ezra saiu de trás da cortina com uma mochila no ombro
e um molho de chaves na mão. Ele caminhou até a porta e a abriu, olhando por
cima do ombro para ela com uma sobrancelha arqueada.
Ele deu um aceno inseguro, e estendeu a mão em um gesto para ela sair pela
porta primeiro.
— Vamos?
Capítulo 2

— É o carro da minha mãe. — Ezra disse como uma explicação de por que um
homem adulto estaria dirigindo de bom grado um Volkswagen Beetle roxo
quebrado. — Eu bati meu carro na semana passada.
— Confortável. — disse Ana, dando um pequeno sorriso enquanto olhava
para ele com o canto do olho e abria a porta do carro.
O interior do carro estava abafado e parecia um forno que tinha sido ligado
no alto e deixado esquecido. Ele estava estacionado sob a luz direta do sol no
estacionamento, e era o dia mais quente do ano até então. A cadeira de couro sob
suas pernas estava quente ao toque, e ela levou um momento para se acostumar a
sentar ali com o calor queimando sua pele. Ela observou Ezra entrar no carro e
jogar sua mochila no banco de trás antes de colocar o cinto de segurança e ligar o
carro com um ronco alto do motor que não parecia saudável.
— Você tem certeza que essa coisa é segura para dirigir? — Ana perguntou,
puxando rapidamente seu próprio cinto de segurança por cima do ombro e
encaixando-o no lugar.
— Você prefere caminhar? — perguntou Ezra.
Ele não esperou por uma resposta quando saiu do estacionamento e entrou
na estrada principal, depois abaixou a janela e enxugou as gotas de suor que
haviam se depositado em sua testa.
Eles ficaram em silêncio por um longo tempo, e Ana apoiou o cotovelo na
beirada da porta e descansou a cabeça na palma da mão, observando as pequenas
estradas e caminhos de paralelepípedos desaparecerem e se transformarem em
estradas rurais e campos verdes brilhantes. Ezra deve ter sentido o silêncio
constrangedor também, porque pouco antes de o silêncio ficar ensurdecedor, ele
estendeu a mão e ligou o rádio.
— Você está ouvindo a Rádio WWCJ. O sol está forte e o dia está quente! O
clima esta semana parece que vai ficar quente, temperaturas em torno de 30 graus
e nenhuma gota de chuva à vista. Não se esqueça da proteção solar, e fique ligado
na rádio WWCJ para ouvir as músicas de verão perfeitas para você entrar no
clima. A seguir, é a hora da música dos anos 80, começando com Cyndi Lauper,
Time After Time…
— Eu nunca imaginei você como um cara da música dos anos 80 — disse
Ana, o olhando de soslaio enquanto ele dirigia.
Agora ela podia vê-lo à luz do sol, podia ver o formato de seu rosto. Ele tinha
um maxilar forte e uma sobrancelha séria, olhos verdes penetrantes e um tom de
pele que era um pouco pálido, mas ela podia dizer que ele se bronzearia bem se
ficasse ao sol por tempo suficiente.
— Eu não sou. É a única estação que pode ter alguma recepção aqui. — Ezra
respondeu enquanto dirigia. Ele não disse mais nada, nem mesmo olhou para ela,
e Ana estava ficando um pouco irritada com a frieza que sentia dele.
— Ouça, Ezra, não tenho certeza do que fiz para incomodá-lo tanto, mas sua
mãe nos ligou, ok? Eu não persegui vocês por esta história e não estou assediando
ninguém. — Ana franziu a testa, sentando-se ereta e virando-se para olhá-lo. —
Eu sei que você não gosta de mim, mas não precisa ser tão…
— Eu nunca disse que não gostava de você. — Ezra disse, finalmente virando
a cabeça para olhar para ela enquanto dirigia.
Eles se encararam por um longo momento, nenhum deles realmente sabendo
o que dizer. Quando ela abriu a boca para responder, algo branco na estrada
chamou sua atenção.
— Ovelha! — Ana engasgou.
Ezra voltou os olhos para a estrada e pisou no freio, seu braço instintivamente
estendendo a mão para proteger Ana de avançar muito.
O velho Volkswagen Beetle guinchou e parou a centímetros do rebanho de
ovelhas que atravessava a estrada com o fazendeiro que acenava com os braços
com raiva.
— Desculpe! — Ezra gritou pela janela, então tirou o braço de onde a estava
protegendo e soltou um suspiro profundo enquanto batia no volante com os
dedos. — É por isso que não falo quando dirijo. Sou um péssimo motorista. —
ele murmurou, esperando as ovelhas cruzarem.
— Percebi. — Ana ofegou. Suas bochechas ficaram vermelhas. Ela queria se
desculpar com Ezra, mas não sabia exatamente por quê. Distraí-lo, talvez?
— Para que conste, eu nunca disse que não gosto de você. — Ezra disse
enquanto olhava para ela. — Eu só não te conheço ainda.

Eles chegaram ao local da escavação mais rápido do que Ana havia previsto. Ela
mal tinha se acalmado novamente do incidente com as ovelhas na estrada que,
quando chegaram, ela ainda estava com a mão no peito e olhando para os joelhos.
Ela só percebeu que eles tinham parado quando Ezra estacionou o carro e
desligou o motor com um ruído final.
— Aqui estamos. — ele disse, inalando uma pequena respiração e puxando
as chaves para fora da ignição. Ele parecia estar levando tanto tempo quanto ela
para superar o próximo encontro deles.
Pegando sua bolsa e abrindo a janela novamente, Ana empurrou a porta e
correu para chegar à segurança do estacionamento asfaltado. Fechando a porta,
Ezra acenou para que ela o seguisse por um caminho rochoso que levava a uma
pequena colina. Ele nem trancou o carro, não que alguém quisesse roubar o
pedaço de lixo de qualquer maneira.
O monumento que ficava no topo da colina era maior do que ela esperava.
Era quase como uma cúpula, com folhagem verde no topo, deixando o resto da
pedra branca exposta ao redor das paredes, que eram completamente circulares,
com uma porta na frente. Estava perfeitamente conservado, com a folhagem no
topo bem cortada e a grama que a cercava cortada em linhas perfeitamente em
ziguezague. Ao redor do monumento, havia pedras verticais altas que perfuravam
o chão e tinham pedras horizontais sobre elas. Quase pareciam portas de pedra ou
grandes mesas. Cada conjunto tinha uma forma e tamanho diferentes, mas todas
eram fortes e pareciam estar lá há mais tempo do que ela podia imaginar.
Olhando para a distância, Ana teve a sensação de que seria uma caminhada e
tanto para chegar até lá, e isso deve ter transparecido em seu rosto.
— Eu não tenho certeza de que você está usando os melhores sapatos para
isso — Ezra comentou enquanto dava a ela um pequeno olhar de lado e a menor
sugestão de um sorriso curvou nas bordas de sua boca.
— Minhas botas são mais confortáveis do que parecem. — Ana sorriu de
volta.
Juntos, eles começaram o caminho para a entrada na base da colina, onde uma
área de salgueiros e algumas pequenas lápides estavam saindo do chão em ângulos
estranhos, como dentes soltos e quebrados. Observando as lápides à medida que
passavam por elas, Ana sentiu um peso no peito que se acomodou
profundamente dentro de si. O ar aqui parecia ser mais frio mesmo ao sol.
— O que é este lugar? — Ana perguntou, abraçando-se para aliviar os
arrepios em sua pele.
Uma nuvem caiu sobre o rosto de Ezra. Ele olhou em volta para as pedras
com um olhar solene, então olhou para seus pés enquanto caminhava com as
mãos enfiadas nos bolsos da calça jeans.
— Esses são os túmulos das bruxas. Qualquer uma que fosse julgada e
executada como feiticeira não poderia ser enterrada em solo consagrado. Algumas
foram deixadas aos elementos para cuidar de seus corpos, mas algumas foram
trazidas para cá e enterradas na base do local mais significativo para elas. — Ele
disse, desviando o olhar.
As palavras ficaram presas na garganta de Ana enquanto ela olhava para as
lápides. Ela não podia imaginar o que essas pessoas passaram antes de
encontrarem paz nessas sepulturas. Ela também não tinha certeza se queria saber.
Aproximando-se do portão que levava ao caminho para o monumento, ela
notou uma figura marrom de pé ao lado dele. Era uma estátua de bronze de uma
jovem segurando um bebê. Lágrimas escorriam pelo seu rosto, e seu rosto
carregava uma emoção tão angustiante que Ana não conseguia identificar
exatamente o que era.
— Qual é a história dela? — ela perguntou, estendendo a mão para correr os
dedos sobre a placa na estátua que dizia:

Em memória das almas perdidas nas queimadas de bruxas de 1588.

Ezra não ergueu os olhos de onde estava abrindo o grande portão de ferro. Se
era porque ele tinha visto a estátua tantas vezes que não precisava olhar para ela,
ou porque simplesmente não conseguia, ela não sabia bem.
— O nome dela era Mary Marion. Ela era filha de um fazendeiro local cujos
campos não eram muito longe daqui — Ezra começou, atravessando o portão e
esperando que ela o seguisse antes de fechá-lo atrás de si e continuar o caminho,
olhando por cima do ombro quando ela chegou ao seu lado e eles começaram a
subir a colina.
— Toda a sua família, composta por seus pais e suas irmãs, e seus irmãos,
foram todos julgados por feitiçaria e heresia no tribunal ao longo de algumas
semanas. Todos foram julgados culpados, retirados de suas celas e trazidos para
cá, onde agora estão os salgueiros, e depois queimados na fogueira por seus
crimes. Mary estava grávida de nove meses quando foi presa e trazida para cá. Ela
era solteira, o que foi outro golpe contra ela no tribunal. Eles a amarraram na
estaca e a queimaram de qualquer maneira e devido ao estresse do que estava
acontecendo consigo, ela deu à luz ali mesmo nas brasas. O carrasco tirou o bebê
das brasas, levou-o ao magistrado que estava supervisionando as queimadas e
perguntou-lhe o que deveria fazer com o bebê. Ele disse que, porque o bebê
nasceu de um herege, também era um herege de nascimento, e ordenou que ele
jogasse a criança de volta nas chamas sob sua mãe. Assim ele fez.
A respiração foi puxada dos pulmões de Ana, olhando para a estátua de
bronze enquanto levantava a mão para cobrir a boca. Ela não conseguia se mover,
o choque a enraizando no caminho de cascalho sob seus pés.
Ezra parou de andar e esperou que ela voltasse de seus pensamentos, com as
mãos nos bolsos pacientemente.
— Há muitos desses tipos de histórias aqui. É melhor se desconectar para não
ser derrubada pela tristeza de tudo isso. É um lugar pesado aqui embaixo, mas lá
no monumento é muito mais mágico, prometo. Ele guarda histórias muito mais
felizes. Venha…
Ele abriu a mão e acenou para que ela voltasse para o seu lado para que
caminhassem juntos, e Ana detectou, finalmente, vindo dele uma sensibilidade
que não esperava. Ela assentiu e caminhou até ele, onde ele a guiou pelo resto do
caminho da colina íngreme. Ela não olhou para a estátua de Mary Marion
novamente, finalmente entendendo por que Ezra manteve a cabeça baixa esse
tempo todo. Era muito doloroso imaginar o que os humanos são realmente
capazes de fazer uns aos outros.
Quando chegaram ao topo da colina, Ana teve que parar e se inclinar,
apoiando as mãos nos quadris e ofegando o ar que ardia em seus pulmões como
chamas e gelo ao mesmo tempo. Ela não estava acostumada a escalar colinas
ondulantes e pedregulhos, e isso a fez se perguntar como eles mantinham a grama
no topo do monumento tão bem aparada. Ela não conseguia imaginar um
jardineiro carregando um cortador de grama até aqui, quando ela não podia nem
caminhar até ele sem sentir que seus pulmões iriam entrar em colapso.
— Você não sai muito na natureza, não é? — Ezra perguntou com um sorriso
de lado.
Ele nem estava sem fôlego, ou suando como ela, e parecia estar achando sua
falta de ar divertida.
— Não exatamente, não. — Ana sorriu ofegante, dando de ombros tímida
enquanto se levantava novamente. — Sou da cidade. O mais próximo que chego
da natureza é escrever em papel feito de árvores.
— Dá para perceber. — Ele riu, balançando a cabeça. Ele tinha uma risada
tão profunda, e fez suas bochechas corarem de uma forma que ela não esperava.
A porta aberta do monumento tinha uma corda amarrada a dois postes de
cada lado e uma placa pendurada no meio em um declive que dizia: Privado.
Entrada proibida.
— Está fechado? Viemos até aqui e está fechado? — Ana perguntou,
enxugando a testa com as costas da mão e olhando para Ezra com expectativa.
— Está fechado ao público, mas isso não importa. O artefato não foi
encontrado ali, foi encontrado debaixo de uma das pedras. Nina ainda deveria
estar lá, ela deveria estar terminando a análise do local hoje. — ele explicou.
Ele caminhou na frente novamente, e Ana abafou um gemido enquanto o
seguia. Ela tinha a sensação de que o seguiria um pouco antes de conseguir a
história de que precisava, e não tinha certeza se seus pés iriam acompanhá-la.
Ele a conduziu pela lateral do monumento e para o lado sul, onde havia um
alto conjunto de pedras verticais, com uma horizontal que estava no topo sobre
elas. Debaixo das pedras havia pequenos marcadores amarelos apontando para
várias coisas que ela não podia ver, e uma corda branca que isolava toda a área.
Agachada na terra no meio do local, estava uma mulher ruiva com um pequeno
pincel na mão. Ela parecia tão concentrada no que estava fazendo que nem
percebeu quando eles foram até ela.
— Nina — Ezra anunciou enquanto se ajoelhava ao lado da mulher e
examinava o pequeno local de escavação. Ele tinha um olhar tão concentrado em
seu rosto, mesmo que o buraco parecesse vazio. — Encontrou algo novo?
— Não desde esta manhã — ela respondeu, levantando a cabeça e cutucando-
o de brincadeira antes de olhar para onde Ana estava. — Oh, esta é a repórter,
certo?
Ana colocou um pouco de cabelo atrás da orelha desajeitadamente e assentiu.
— Essa seria eu. Ana Davenport — disse ela. — Você não se importa se eu
tirar algumas fotos para o jornal, não é?
— Vá em frente, não há muito para ver aqui. Tudo de significativo foi levado
para o centro de pesquisa — disse Nina enquanto se levantava e tomava um gole
de uma garrafa de água que estava descansando em uma cadeira dobrável.
Tirando a câmera da bolsa, Ana focou a lente e tirou fotos do local e de Ezra,
e Nina enquanto examinavam a área.
— Posso perguntar o que exatamente foi encontrado aqui? Esta parece ser
uma operação bastante significativa.
— Você nem contou a ela o que encontramos? — Nina perguntou, olhando
para Ezra com os olhos arregalados e cutucando-o novamente enquanto ele se
levantava para se juntar a elas.
— Não queria estragar a surpresa. — Ezra sorriu, encolhendo um pouco os
ombros e se afastando do buraco. Ele cruzou os braços contra o peito e passou os
olhos entre elas com um brilho de algo que Ana achou que parecia excitação.
Nina zombou e revirou os olhos antes de olhar para Ana novamente, e depois
se mover para cair na cadeira.
— Encontramos uma velha caixa de bruxa. Pode não parecer tão interessante,
mas há histórias em manuscritos antigos de uma caixa que foi enterrada em algum
lugar nesta área. Nunca conseguimos encontrá-la porque não conseguimos a
permissão de planejamento para começar a desenterrar aleatoriamente um local
sagrado protegido.
— Então, você conseguiu a permissão de planejamento para iniciar a
escavação e encontrou? — Ana perguntou, tirando outra foto e então afastou a
câmera do olho para poder olhar na tela.
— Não exatamente — Nina disse, levantando a sobrancelha e olhando para
Ezra enquanto ele levantava as mãos defensivamente e se virava para olhar ao
redor do buraco novamente. — Alguém, não sabemos quem — ela começou,
sutilmente projetando o queixo na direção de Ezra quando ele estava de costas —
veio no meio da noite e cavou esta área em particular. Deixaram a tampa da caixa
exposta, com o trapo em que estava embrulhada na lateral, e quando o jardineiro
a encontrou, me chamou. E a polícia. A polícia não tem ideia de quem cavou o
buraco, mas eu tenho minhas próprias suspeitas.
— Não importa quem cavou o maldito buraco, Nina, a única coisa que
importa é que o encontramos. Finalmente. — Ezra argumentou, ainda de costas
para elas enquanto se inclinava para olhar para dentro mais uma vez.
— Mmm-hmm — Nina cantarolou em desaprovação. — Ainda não sabemos
o que está dentro da caixa, não conseguimos abri-la. Parece estar trancada, mas
não conseguimos descobrir como. Acho que isso depende de vocês dois.
Nina se inclinou ao lado da cadeira em que estava sentada e levantou uma
bolsa de lona. Parecia tão pequena e leve que, se Ana não a conhecesse bem, teria
assumido que estava vazia.
— Presumo que você vai levá-la ao centro de pesquisa para ver a caixa? —
Nina propôs, e quando Ezra concordou, ela estendeu o braço para segurar a bolsa
para ele. — Seja um querido e leve isto com você... São apenas alguns fragmentos
e pedaços que encontrei no solo que nos escaparam antes. Eu vou embrulhar isto
aqui. Tenho uma vodca tônica e uma espreguiçadeira em casa com meu nome, e
prefiro não ficar aqui o dia todo.
Ezra pegou a bolsa e a embrulhou, colocando-a debaixo do braço antes de se
inclinar para beijar sua bochecha.
— Obrigado. Eu a informarei se eu descobrir alguma coisa.
— Você descobrirá. Boa caçada. — Nina acenou.
Ana se despediu de Nina e rapidamente seguiu Ezra enquanto ele se afastava
do local, meio andando e meio pulando para alcançá-lo.
— Você foi o vândalo, não foi? Você cavou aquele buraco — Ana perguntou
enquanto olhava para ele.
— Eu não vou confirmar nem negar qualquer ou todo o envolvimento na
escavação desse buraco. — Ezra sorriu, olhando para ela de lado com um pequeno
encolher de ombros — E seria melhor se você não me perguntasse isso de novo.
— Oh? E por que seria? — perguntou Ana.
Ezra deu a ela um sorriso largo e bonito e piscou.
— Negação plausível, Senhorita Davenport. Negação plausível.
Capítulo 3

O laboratório de pesquisa ficava a uma hora de carro do Raven Hill Monument,


e Ana passou o tempo todo com as mãos apoiadas na porta e no painel para o caso
de outro acidente lhe causar uma experiência de quase morte. Desta vez, a viagem
de carro foi muito mais tranquila, e eles pararam em um estacionamento vazio
em frente a um prédio moderno. As laterais do prédio eram feitas de vidro e metal,
e Ana percebeu que havia muito dinheiro sendo investido nesse edifício.
— Onde estamos, exatamente? — Ana perguntou enquanto olhava pela
janela depois de relaxar os braços no painel.
— Bem-vinda ao Laboratório de Pesquisa Daria. — Ezra disse com um
pequeno sorriso enquanto abria a porta e praticamente saltava para fora do carro.
Ela podia dizer que ele estava animado para entrar no laboratório, e ele não perdeu
tempo em pegar a bolsa de lona que Nina lhe dera.
Pegando sua bolsa, Ana fechou a porta do carro e se aproximou dele, olhando
para o prédio branco e de vidro enquanto o sol refletia nas janelas.
— Esse é um edifício de aparência séria. É apenas para negócios de ocultismo
e bruxaria? — Ana perguntou com uma sobrancelha levantada. Ela achava irreal
pensar que havia tanto dinheiro no ocultismo histórico.
— Você não precisa parecer tão crítica; há mérito no que eu faço, sabe. É
importante. — Ezra se defendeu, puxando seu cordão com seu passe enquanto
caminhavam em direção ao prédio e o enrolando sobre sua cabeça. — Mas já que
você perguntou, não. É um laboratório de pesquisa privado. Eu nunca
conseguiria financiamento para possuir nenhum dos meus próprios
equipamentos, mas meu pai tem contatos, então eles me deixam usar os recursos
que preciso, desde que meu pai continue entregando a eles um cheque gordo
todos os meses.
Ele parou em um teclado e scanner pendurado acima da maçaneta de metal
nas grandes portas de vidro. Ele ergueu o cartão-chave e passou-o contra o scanner
para que os pontos vermelhos ficassem verdes.
— Chique — Ana passou com um sorriso quando as portas se abriram
automaticamente e eles entraram.
O interior do prédio era claro e clínico. Todas as cores haviam desaparecido,
exceto algumas plantas artificiais verdes que adornavam os cantos do saguão e o
topo do balcão da recepção. Ezra a guiou para a área de recepção, caminhando até
a mesa e entregando-lhe uma prancheta.
— Vou precisar que você assine — ele instruiu, entregando a ela uma caneta
que tinha o logotipo do laboratório.
Ela pegou e assinou seu nome, sua data de nascimento, a data e hora, seu
endereço e seu número de telefone, então colocou a prancheta de volta na mesa
da recepção.
— Isso é muita informação para uma folha de assinatura. Estou surpresa que
eles não pediram meu signo — ela murmurou, seguindo-o enquanto ele deixava
a área de recepção.
— Não precisa. Você é de virgem. — Ezra sorriu enquanto caminhava à
frente.
Ana ergueu a sobrancelha enquanto o seguia novamente e se perguntava
como ele saberia disso, considerando que estava olhando na outra direção quando
ela escreveu. Sua linha de pensamento foi interrompida quando eles caminharam
pelos corredores bem iluminados e entraram em um grande laboratório cheio de
máquinas zumbindo e prateleiras de vidro altas. Cada prateleira estava cheia de
frascos de espécimes úmidos, equipamentos usados para dissecar e picar coisas,
microscópios e lupas. Ela sentiu como se não pudesse se mover muito rápido no
caso de derrubar alguma coisa. Tudo parecia tão quebrável.
— Minha seção é logo ali. — Ezra disse enquanto caminhava até uma grande
mesa de aço e colocava a bolsa de lona no chão. — Vou pegar a caixa. Você senta
aqui. Não se mova. Sem bisbilhotar. — ele apontou um dedo brincalhão para ela
e saiu da sala por uma porta à sua esquerda.
Ana mordeu o lábio enquanto se sentava na cadeira giratória e se virava um
pouco, observando o tampo da mesa e a grande lupa mecânica. Este lugar era
imaculado e caro. Isso a fez se perguntar o que diabos seu pai fez que lhe deu os
contatos para colocar Ezra em um lugar como este.
Não demorou muito para que Ezra voltasse. Ele tinha uma caixa de papelão
branca em suas mãos com um pano em cima, que ele movia para que ela se
levantasse.
— Coloque-a sobre a mesa e coloque algumas luvas. Precisamos mantê-la o
mais protegida possível. Além disso, não sabemos onde suas mãos estavam. —
Ezra disse, embora tivesse um sorriso insinuante que sugeria que ele estava apenas
brincando com ela.
Ana ergueu a sobrancelha para ele novamente e balançou a cabeça enquanto
seguia suas instruções, então pegou um par de luvas de látex da caixa na beirada
da mesa de aço. Ela as vestiu com um snap e torceu os dedos, espiando dentro da
caixa de papelão quando ele abriu a tampa.
Aproximando-se do interior, Ezra levantou um feixe que parecia um velho
trapo marrom e o pousou cuidadosamente, retirando-os de volta para revelar uma
caixa de madeira marrom em ruínas. Tinha símbolos por toda parte que ela não
entendia e nenhum cadeado discernível que pudesse ver. Ao ficar mais perto dele
para dar uma olhada melhor, ela realmente não conseguia entender qual era o
problema. Não parecia especial, nem exibia nenhum ouro valioso ou joias nela.
Na verdade, se ela tivesse visto sem saber que era um achado valioso, teria pensado
que não era nada além de lixo. No entanto, o olhar no rosto de Ezra era o
suficiente para perceber que era muito mais do que apenas uma caixa. Ele ficou
hipnotizado e descansou os olhos sobre a caixa como se fosse feita de ouro maciço.
Ela enfiou a mão na bolsa e tirou a câmera do estojo, alinhou a moldura e tirou
algumas fotos dele enquanto se maravilhava.
— Ela não é linda? — Ezra perguntou enquanto colocava suas próprias luvas
e passava os dedos pelas marcas na caixa.
— Para que servem os símbolos? — Ana perguntou enquanto dava zoom na
lente para focar nas inscrições. Ela imaginou que falar sobre as inscrições em vez
de divulgar seus pensamentos reais era uma aposta muito mais segura, e ele não
pareceu notar o desvio enquanto lentamente levantava a caixa e a virava em suas
mãos.
— São gravuras de marcas de bruxas. Elas foram colocadas ali para proteger a
caixa. A maioria delas são símbolos do feitiço que foi lançado sobre a caixa antes
que fosse colocada naquele buraco. A magia do sigilo é incrivelmente única para
o praticante individual, então é difícil dizer exatamente o que elas simbolizam,
mas a mim, me parece que elas estão na linha de um feitiço de camuflagem.
“Eu posso ver as linhas onde a tampa se encontra com o corpo, mas não há
fechadura nem maneira de abri-la. Nenhuma cola foi usada para fechá-la com
fusão. Eu realmente não quero pegar uma serra para ver o que está dentro, então
estamos esperando para passá-la pelo raio-x amanhã. — Ele franziu a testa,
colocando a caixa para baixo suavemente.”
Ana colocou a câmera de lado e observou como o rosto dele havia mudado
de admiração para tristeza com a ideia de ter que destruir a caixa para chegar ao
que estava dentro, e ela esperava que a recompensa valesse o dano.
— O que havia dentro da bolsa que Nina te deu? — Ana perguntou
enquanto caminhava para o outro lado e a levantava. Ela abriu e enfiou a mão
dentro, despejando o conteúdo na mesa e colocou a sacola de lona de lado.
O que saiu da bolsa também parecia insignificante para Ana. Tudo o que
continha eram pequenas formas de madeira e alguns amuletos de metal que já não
se pareciam muito com nada. Ela suspirou e se sentou na outra cadeira ao lado
dele e estendeu a mão para levantar a caixa, ignorando Ezra quando protestou.
Virando-a em suas mãos e examinando suas bordas, ela notou que a caixa não
estava completamente inteira. As fendas que faltavam estavam na base e na
tampa, e ela franziu a testa em concentração enquanto a segurava contra a luz para
vê-la melhor.
— Tome cuidado! Não puxe tanto — Ezra retrucou, estendendo a mão para
pegá-la, mas ela virou o ombro para bloqueá-lo.
— Pode calar a boca, por favor? Estou tentando pensar. — Ana a virou de
cabeça para baixo, ignorando como ele revirou os olhos e colocou a cabeça entre
as mãos.
Ela já tinha visto algo assim antes, mas a memória estava nebulosa em sua
mente quando tentou alcançá-la.
— As frestas perdidas, parecem tão familiares — ela murmurou, virando-se
para ele e colocando-a para baixo antes de olhar para as peças na mesa que Nina
havia encontrado. Então ela engasgou. — É um quebra-cabeça…
— O que? — Ezra perguntou enquanto olhava para cima de onde estava
segurando o rosto nas mãos.
— É um quebra-cabeça. Eu costumava fazer esses tipos de quebra-cabeças de
caixa com meu pai. Ele era obcecado por eles quando eu era jovem. — Ana disse
enquanto pegava uma das peças de madeira da mesa. — Não pode ser aberto sem
as peças. Elas são como chaves, e todas precisam ser colocadas nas frestas na ordem
correta ou nunca serão abertas.
Ela mediu a peça contra uma das frestas e a virou até encontrar uma da mesma
forma e tamanho antes de empurrá-la e passar para a próxima. Havia seis peças e,
quando ela colocou a última dentro da fresta final, ambos ouviram um click
audível.
— Puta merda. — Ezra engasgou, encontrando o olhar de Ana quando ela
olhou para ele com um sorriso largo e passou a caixa de volta para ele. — Você é
uma gênia.
Ela deu de ombros.
— Não, eu só gosto de quebra-cabeças.
Ezra colocou a caixa de volta na mesa com cuidado e respirou fundo. Ele
parecia excitado e nervoso ao mesmo tempo, e suas mãos tremiam quando seus
dedos tocaram a borda da tampa.
— Você está bem? — Ana perguntou, sufocando uma risada. — Você quer
que eu abra?
— Isto é uma grande coisa! Não me julgue. — Ele disse, então prendeu a
respiração e lentamente abriu a tampa.
A tampa se abriu com um rangido maçante de madeira, e Ana espiou por
cima do ombro dele com sua câmera, tirando uma foto. O som fez Ezra pular para
fora de sua pele, ele a olhou com uma carranca.
— Desculpe — ela sussurrou, encolhendo-se e sentando-se novamente.
Ezra abriu a tampa o resto do caminho e enfiou a mão dentro para esvaziar o
conteúdo.
— É um pedaço de pergaminho — disse ele, enquanto tirava um velho
pedaço de papel da caixa e o abria suavemente sob a luz da mesa.
— Isso é tudo? Apenas um pedaço de p… — Ana começou.
— Shh! — ele assobiou.
Ele abriu os cantos suavemente, alisando-os e espiando por cima como se
fosse desmoronar a qualquer segundo. Mais gravuras e marcas que pareciam
semelhantes às da caixa estavam espalhadas por toda a página em tinta marrom
desbotada. Uma escrita marrom mais escura também preenchia a página em um
idioma que ela não entendia. O documento parecia bastante simples, mas como
Ezra estava o olhando, lhe dizia que não era nada simples.
— Então? O que a tinta diz? — perguntou Ana.
— Não é tinta. As palavras estão escritas com sangue. — Ezra murmurou
enquanto pegava sua lupa da mesa ao lado dele.
— Sangue? — Ana piscou, repelindo-se e franzindo o nariz.
— Era uma prática comum criar um laço de sangue com um indivíduo ou
com uma linhagem familiar de sangue, especialmente se a bruxa estivesse
inscrevendo o papel com um feitiço. — Ele explicou, então trouxe a lupa acima
do papel. — Está em código. Código de bruxa, obviamente, o que torna isso uma
merda de ler. Cada coven, ou cada família, dependendo de como administravam
suas práticas, tinha seu próprio código específico. Existem semelhanças em todos
os códigos, mas nem tudo é igual, então preciso primeiro identificar a linhagem e
depois decodificá-la quando souber disso. Se eu fosse adivinhar com base no local
em que foi encontrado, provavelmente pertencia a alguém da família Marion.
— A mesma família que a estátua da mulher e do bebê? — perguntou Ana.
Ezra sorriu.
— Boa memória. Não saberei com certeza até chegar à biblioteca, mas não
abrirá novamente até amanhã. — ele disse enquanto verificava seu relógio.
— Está ficando tarde, eu acho — Ana fez beicinho, levantando a bolsa para
guardar a câmera novamente e olhando para o rosto dele. Ela não pôde deixar de
se sentir um pouco desapontada por tudo o que a caixa continha era uma carta
velha e suja. Isso não ia fazer o corte de uma boa matéria.
Sua decepção deve ter transparecido em seu rosto, porque Ezra largou o
documento e se virou para olhá-la.
— Eu sei que você quer sua matéria, e isso não parece ser nada na superfície,
mas eu tenho um pressentimento muito bom sobre esta descoberta. Nós
saberemos mais amanhã, e se você estiver disposta a esperar e vir comigo, podemos
decodificar isso juntos. Eu nem a teria em minhas mãos sem suas habilidades de
resolver quebra-cabeças, então devo a você. Vou te dar sua matéria. Eu prometo.
— Ele sorriu generosamente, inclinando a cabeça e fazendo as bochechas dela
corarem.
— Uh… bem, sim, acho que não posso deixar você fugir e se divertir sem mim,
posso? — Ana sorriu, desviando os olhos dele enquanto ele continuava a observá-
la, fazendo sua pele ficar quente.
— Não, você não pode. — Ezra piscou, então se virou para dobrar o papel
com cuidado e colocá-lo em um saco plástico transparente. — Posso levá-la de
volta à cidade e apresentá-la ao proprietário do B&B, se quiser? Você não me
parece o tipo de garota que gostaria de uma viagem de trem às 6:00 da cidade só
para ir a uma biblioteca.
— Você já me conhece muito bem. — Ana assentiu, e se levantou da mesa
antes de jogar suas luvas em uma das lixeiras perto da parede. — Contanto que
você não me mate com sua condução no caminho.

O B&B na cidade era pitoresco, o que Ana descobriu em sua recente busca por
apartamentos na cidade como uma palavra mais agradável para “pequeno”.
Ezra apertou a campainha. A área de recepção era tão pequena que Ana teve
que se espremer entre Ezra e a parede para ficar na recepção. Estando tão perto
dele, ela não pôde deixar de notar o quão bem cheirava. Ele tinha aromas de
patchouli e sândalo, e ela estava muito ocupada respirando seu cheiro sutilmente
para perceber que ele havia começado a falar com ela.
— Davenport? — Ezra perguntou, trazendo sua mente de volta para a sala.
— Hum? — ela perguntou, tirando os olhos da camisa dele para o rosto dele.
— Você tem sua identidade? — Ele perguntou, abrindo a mão para ela.
— Oh! Sim, desculpe. — Ana enfiou a mão na bolsa e tirou sua carteira,
vasculhando-a até encontrar sua identidade e passá-la para ele. — Não olhe para
minha foto — avisou, estreitando os olhos.
— Bem, agora eu tenho que olhar — Ezra falou enquanto esticava o braço
para fora do alcance dela para olhar a foto. Ele riu quando ela pulou para pegá-la,
balançando-a acima dela. — Olhe para essas bochechas, todas jovens e rosadas.
Que gracinha você era?
— Cale a boca. Eu era uma adolescente quando isso foi tirado. Devolva —
disse Ana revirando os olhos.
— Não, dê para mim — disse uma senhora mais velha atrás da mesa. Ana nem
a ouviu entrar.
Ezra sufocou uma risada antes de limpar a garganta e apontar o polegar na
direção de Ana.
— Ela precisa de um quarto por alguns dias. Você tem algum espaço?
— Tenho. Vou precisar das informações e da identidade dela — a mulher
disse enquanto a pegava da mão de Ezra —, e dinheiro.
— Só tenho meu cartão. Eu não carrego dinheiro… — Ana franziu a testa,
olhando entre eles.
— Certo. Mas você me deve — disse Ezra, enfiando a mão no bolso e
contando algumas notas antes de entregá-las à mulher.
Ela contou, depois acenou para si mesma lentamente e escreveu algo em seu
bloco de notas antes de alcançar atrás de si e pegar uma chave, deslizando-a sobre
o balcão em direção a ela.
— Quarto três, bem no topo.
— Obrigada. — Ana pegou a chave e se virou para Ezra. — E obrigada
também. Eu vou te pagar de volta amanhã.
— Você vai — Ezra disse, então acenou para que ela o seguisse até o corredor.
— As escadas para o seu quarto estão ali. — Ele apontou para uma escada estreita
em um corredor escuro. — Vou buscá-la aqui amanhã de manhã, então não se
atrase. Durma um pouco. Foi bom trabalhar com você hoje, Senhorita
Davenport.
— Foi bom trabalhar com você também. — Ana corou, mordendo o lábio
enquanto ele balançava a cabeça e descia os degraus. — Você pode me chamar de
Ana, sabe…
Ezra parou ao pé da escada e tirou as chaves do carro do bolso antes de abrir
um sorriso para ela e abrir a porta do carro.
— Eu sei.
Capítulo 4

Bexley Matthews era uma daquelas amigas que largava tudo o que estava em suas
mãos para ajudar alguém que amava, mesmo que o que ela estivesse segurando
fosse quebrável. Ela não se importava.
Seus amigos vinham acima de tudo. Garotos, seu trabalho, família. Ela até
deixaria seu namorado incrivelmente rico de cinco anos, que estava esperando por
ela em seu apartamento chique na cidade para fazer as malas para a viagem de iate
ao sul da França, por seus amigos.
Esta era exatamente a razão pela qual Bexley estava batendo tão alto na porta
de Ana no B&B às 8:00 de uma sexta-feira. Ela estava lá porque era uma boa
amiga.
Ela estava lá simplesmente porque Ana havia pedido que estivesse.
A porta bateu novamente, trazendo Ana de volta para o quarto depois de ter
dormido. Ela gemeu e piscou para afastar o sono em seus olhos, olhando para o
teto de vigas de madeira em ligeira confusão. O quarto parecia estranho, e ela
levou um momento para perceber onde estava e quem estava batendo na porta.
Ela tinha esquecido completamente que tinha ligado para Bexley depois que Ezra
saiu para contar tudo o que tinha acontecido naquele dia e para encher uma
sacola de roupas e artigos de toalete do apartamento de Ana. Ela não esperava
ficar na cidade mais do que algumas horas, quanto mais alguns dias.
Outro estrondo sacudiu a porta nas dobradiças, e Ana sentou-se lentamente
na cama, esfregando os olhos com a palma da mão.
— Só um minuto!
Ela tinha dormido com nada além de calcinha, então ao invés de
cumprimentá-la na porta praticamente nua, ela pegou uma toalha que estava
pendurada na ponta da cama e a enrolou em volta de si.
Ela mal conseguiu abrir a fechadura da porta quando Bexley irrompeu no
quarto, conduzindo Ana de volta para a cama para que pudesse colocar a grande
mochila de roupas no chão e fechar a porta atrás de si.
— Estou batendo há dez minutos seguidos! O que você tem? — Bexley
exigiu, estendendo o braço para colocar uma mão perfeitamente manicurada na
testa de Ana. — Você está doente?
— Estou bem. Estou apenas cansada. — Ana respondeu enquanto pegava a
mochila e a colocava na cama. Ela abriu o zíper e vasculhou as roupas, tirando um
par de jeans azul escuro e um suéter preto com gola branca. — Estas não são
minhas.
— Não, elas não são. Você esteve dentro do seu guarda-roupa ultimamente?
É trágico, Ana — Bexley disse enquanto examinava a sala, franzindo o nariz —,
muito parecido com este quarto. O que, exatamente, você está fazendo aqui de
novo?
— Eu te disse, estou trabalhando em uma matéria para o The City Herald, e
Elianna me mandou aqui para… — ela começou, mas Bexley levantou a mão para
silenciá-la.
— Eu sei tudo isso. A matéria, The Herald, Elianna, blá blá blá. Mas o que
você está fazendo aqui? — perguntou Bexley, gesticulando para o quarto. — Não
é exatamente o Ritz.
Ana suspirou e revirou os olhos, vestindo o novo par de jeans que Bexley
tinha trazido para ela e subindo até os quadris e abotoando-os. Eles se encaixam
surpreendentemente bem.
— Bem, eu estava vindo originalmente para um artigo sobre os esquisitões
locais; você sabe que Elianna gosta de encher o verso do jornal com essas histórias
idiotas para que as pessoas que não gostam de jornalismo de verdade ainda
comprem o jornal. Mas quando cheguei aqui, tornou-se outra coisa. Eles me
disseram que encontraram uma velha caixa de bruxa em uma escavação, e poderia
ser uma grande notícia, sabe? Se seguirmos a trilha, eu poderia ter uma história
real. Posso mostrar a Elianna que valho mais do que apenas escrever histórias
sobre pessoas fazendo coisas estranhas. Isso poderia me colocar no caminho, Bex
— Ana disse com um sorriso enquanto levantava o suéter preto com gola branca
e o puxava sobre a cabeça. Ela pegou a bolsa de maquiagem que continha sua
escova e pasta de dente e desapareceu no pequeno banheiro.
— Parece… — Bexley começou, então deu de ombros e se sentou na beirada
da cama, vasculhando a mochila para encontrar o par de botas que havia
embalado para Ana. — Bem, eu não sei o que parece, mas se você está
entusiasmada com isso, acho que é tudo o que importa. Elianna sabe que você vai
entrar nessa toca de coelho?
— Não exatamente — Ana murmurou com a boca cheia de pasta de dente.
Ela enxaguou a boca com água e depois arrumou o rosto com maquiagem da
bolsa de higiene antes de entrar novamente no quarto. — Ezra disse que não
queria que ninguém soubesse sobre isso até que soubéssemos com o que
estávamos lidando, então vou esperar até decodificarmos o que encontramos
antes de dar minha opinião a ela.
— Oh? Quem é Ezra? — Bexley perguntou, o nome saindo de sua língua
como se estivesse zombando dele.
— Ele é o cara que encontrou o…
Bexley engasgou.
— Tem um cara?! — Ela abriu as mãos empolgada e as balançou para Ana se
sentar ao seu lado na cama. — Você não me disse que havia um cara? Conte-me
tudo!
Suspirando, Ana pegou as botas de Bexley e se abaixou para colocá-las em seus
pés.
— Não há muito a dizer, Bex. Ele é filho da dona da loja de bruxas na qual eu
estava aqui para fazer a história. Ele é um historiador ocultista, seja lá o que isso
signifique.
Bexley gritou, fazendo Ana estremecer, e ela riu, pegando a mão de Ana e
apertando-a.
— Ele é bonito?
Um som ficou preso na garganta de Ana, algo entre um gemido e um
zumbido, como se ela não soubesse bem o que dizer. Na verdade, Ezra era muito
bonito, mas ela sabia que alimentar as perguntas de Bexley só iria nublar sua
mente.
— Acho que sim. Mas ele é uma fonte, Bex, esta não é uma escapadela
romântica aleatória. Estou trabalhando em uma…
— Matéria, eu sei, eu sei — disse Bexley, levantando as mãos defensivamente.
Seu rosto se suavizou com um beicinho para ela e estendeu a mão para colocar
um pouco do cabelo de Ana atrás da orelha.
— Sabe, faz dois anos desde Austin. Eu não a vejo com um cara desde ele, e
você tem se jogado em todas as matérias que Elianna enviou. Parece que você
ainda está se escondendo. Seria bom vê-la voltar para a luz novamente.
Ana deu de ombros.
— Estou na luz. Estou bem. Nem todo mundo pode ter um namorado
perfeito, sabe, e eu estou bem com isso.
— Sim, ele é muito perfeito — Bexley suspirou, então virou seu pulso para
olhar para o mostrador de seu relógio brilhante. — O que me lembra que tenho
um barco para pegar em algumas horas.
— Ah, sim, a viagem de iate incrível com o namorado incrível ao sul da
França, que pode ou não ser um pedido disfarçado, certo? — Ana perguntou
enquanto levantava sua bolsa.
— Exatamente. Se isso não for uma proposta, você sabe que eu vou ficar
chateada — Bexley ameaçou enquanto olhava para a janela. O som fraco de uma
porta de carro fechando ecoou do lado de fora, e como a rua nesta cidade
sonolenta era geralmente tão deserta, era fácil de ouvir.
Bexley caminhou até a janela, olhando para o carro que estava do lado de fora.
— Espere — ela murmurou, puxando a cortina de malha branca ainda mais.
— É ele?!
— Quem? — Ana perguntou, aproximando-se da janela, e vendo Ezra na
frente de seu Volkswagen Beetle roxo. — Sim, esse é Ezra, por quê?
— Você disse que ele era bonito, mas não disse que ele era tão bonito, Ana!
— Bexley provocou com um suspiro, virando-se para olhar para ela e beliscando-
a. — Eu sabia que havia uma razão para você ficar neste B&B empoeirado, e eu
com certeza sabia que não era por uma matéria estúpida de bruxa! Você quase me
enganou!
Bexley enfiou a mão rapidamente em sua bolsa e tirou um frasco de perfume
e o borrifou no pescoço de Ana, mas em sua excitação, a maior parte foi para o
rosto de Ana, fazendo-a balbuciar e estremecer com o gosto de produtos
químicos.
— Por favor, pare! — Ana riu, balançando a cabeça. — Estou tentando ser
profissional. — Momentos depois, Ana ouviu passos subindo as escadas,
seguidos de duas batidas firmes na porta.
— Uma profissional-cheirosa — Bexley disse enquanto acenava para ela. Ela
caminhou até a porta rapidamente e a abriu antes de dar a Ezra um grande sorriso
— Olá.
Ezra piscou quando ficou cara a cara com a mulher alta de cabelos negros que
preenchia a abertura na porta. Ele inclinou a cabeça, então olhou por cima do
ombro para o outro quarto.
— Eu devo estar no quarto errado. — Ele olhou de volta para ela e depois
para as duas xícaras fumegantes de café em suas mãos.
Ana correu para conduzir Bexley para longe da porta.
— Não! É o quarto certo! Estou aqui. — ela anunciou com um pequeno
rubor que tingiu suas bochechas. — Esta é…
— Bexley Matthews.
Ezra misturou os cafés em suas mãos para que pudesse pegar a mão estendida
de Bexley, parecendo um pouco desajeitado.
— Ezra Sullivan.
— Encantado, tenho certeza. — Ela sorriu, retirando a mão lentamente e
olhando para ele não tão sutilmente, então virou a cabeça para olhar para Ana —
Bem, acho que esta é a minha deixa para sair. Eu a verei quando voltar da França,
espero que com um dedo muito mais pesado.
Bexley foi até Ana, beijando-a em cada uma de suas bochechas e piscando
enquanto ela estava de costas para Ezra.
— Não foda com isso — ela murmurou e caminhou pela porta. — Ciao! Eu te
amo, garota.
Com uma confusão de cabelos escuros e pele clara, Bexley se foi, deixando
Ezra e Ana sozinhos na sala em um silêncio constrangedor.
— Eu te trouxe café…
— Ela é minha melhor amiga…
Ambos falaram simultaneamente, fazendo Ana sorrir e encolher os ombros
enquanto Ezra mordia o lábio para se calar.
— Eu não tinha roupas para minha estadia improvisada, então Bexley teve a
gentileza de me trazer algumas antes de partir em sua viagem. Ela é uma amiga
incrível assim. — Ana pegou o café que ele tinha nas mãos. — Obrigada pelo café;
tenho a sensação de que vou precisar.
— Eu imaginei isso. Vocês, jornalistas, são todos viciados em café, deve ter
alguma coisa a ver com os prazos, hein?
— Algo assim — Ana disse enquanto cutucava sua xícara de café com a dele
— Qual é a sua desculpa?
— Estou no seu quarto às 8:00. Que desculpa mais eu preciso? — Ezra sorriu,
então deu de ombros, saiu do quarto e começou a descer as escadas.
Ana mordeu o lábio e pegou a chave da porta na mesa de cabeceira. Ela, então,
fechou a porta com firmeza e a trancou, continuando a descer as escadas atrás dele
e saindo para a rua.
O ar quente atingiu o rosto de Ana enquanto caminhava até o carro de Ezra.
Mesmo sendo de manhã cedo, ela podia dizer que no meio da tarde, o sol estaria
partindo as pedras e não haveria uma nuvem à vista. Ela abriu a porta do carro e
entrou. Quando Ezra entrou e enfiou as chaves na ignição, Ana notou que ele
estava vestindo uma camisa branca justa com a gola aberta e o botão de cima
desabotoado. Combinando sua camisa com um par de jeans escuros, ele parecia
muito mais vestido hoje do que o jeans azul e a camiseta que usava no dia anterior.
— Você se arrumou bem — comentou Ana enquanto ele puxava o carro e
dirigia pelas ruas de paralelepípedos.
— Bem, ontem estávamos em uma escavação e hoje vamos a uma biblioteca
de prestígio. Ao contrário de você, eu sei como me vestir para uma ocasião. —
Ezra sorriu, olhando de lado para ela enquanto colocava sua xícara de café no
suporte entre eles.
— Cuidado com a estrada — disse Ana com uma carranca, olhando para suas
roupas novas e fazendo beicinho. — Admito que meu traje de ontem pode não
ter sido a melhor das escolhas.
— Melhor das escolhas? Você foi a uma escavação com um par de botas de
salto alto. — Ele riu, balançando a cabeça. — Quero dizer, por mais divertido que
fosse vê-la tentando escalar aquela colina, você parecia um cervo no gelo.
Ana corou, levando a xícara de café aos lábios e encolhendo os ombros
levemente:
— Em minha defesa, você não me disse que havia uma caminhada na
natureza para chegar lá.
— Quantos monumentos antigos você já visitou que não eram na natureza
da vida real? — Ezra perguntou enquanto indicava para os carros atrás dele que
estavam virando em uma estrada maior.
— Bem, até ontem, eu nunca tinha ido a um. Além disso, originalmente não
vim para um monumento; eu vim para… — ela começou, mas não terminou a
frase. Ela veio para escrever uma matéria sobre como essas pessoas eram loucas.
Como eram heterodoxos e estranhos. A culpa pulsava em seu estômago, e ela
engoliu em seco, olhando de volta para a estrada à frente.
— Para a matéria da loja, eu sei, mas isso será muito melhor, prometo. E de
agora em diante, você pode usar seus saltos — Ezra disse enquanto olhava para
ela. — Além disso, eles são fofos. As botas, quero dizer.
— Cale a boca e dirija. — Ana sorriu com um aceno de cabeça, tomando um
grande gole de café para fazer o nó em seu estômago ir embora.

A biblioteca ficava a meio caminho entre a cidade velha e a cidade, o que


significava que Ana e Ezra precisavam dirigir mais de uma hora para chegar lá.
Quando chegaram e entraram no estacionamento, Ezra parou o carro e tirou sua
xícara de café agora vazia do suporte.
— Estamos aqui — anunciou ele, alcançando atrás do banco para pegar sua
bolsa marrom e puxando-a para o colo, onde ele prendeu as fivelas e se moveu
para sair do carro.
Ana piscou para a bolsa, depois levantou a sua e seguiu o exemplo, fechando
a porta e ouvindo o estalido trancar as portas.
— Você tem uma bolsa de homem? — ela perguntou, suas sobrancelhas
levantadas. — Eu nunca pensei que você fosse um cara de bolsa de homem.
— De que outra forma devo carregar meus papéis para o trabalho? — Ezra
argumentou enquanto acenava para que ela o seguisse pelo caminho que levava a
um grupo de árvores.
— Não, eu entendo, só… Você parece muito inteligente hoje, é só isso. —
Ana respondeu enquanto corria para alcançá-lo.
— Há uma razão para isso — disse ele, encontrando uma lixeira na beira das
árvores e jogando sua xícara de café vazia nela. — Os livros que precisamos para
decodificar o pergaminho estão na área antiga e restrita da biblioteca.
— Certo, e daí? — ela perguntou, jogando sua xícara de café atrás da dele e
andando por entre as árvores. Era lindo aqui na densidade das árvores, e ela não
podia imaginar como uma biblioteca seria em qualquer lugar perto daqui.
— Então, eu posso ser tecnicamente banido daquela área, e posso precisar
entrar furtivamente — ele admitiu, olhando por cima do ombro para ela com um
sorriso atrevido.
— Banido? De uma biblioteca? O que exatamente alguém precisa fazer para
ser banido de uma biblioteca?
— É… — Ezra começou antes de abafar uma risada ofegante e passar as mãos
pelo cabelo para ajeitá-lo do vento. — Bem, tem algo a ver com uma bibliotecária
muito lasciva na seção de livros raros, mas não vou entrar em detalhes.
— Certo, eca. Por favor, não. Eu não preciso desses detalhes. — Ana torceu
o nariz. — Você é deplorável.
— Ela também achava. — Ezra sorriu.
Quando emergiram do aglomerado de árvores, Ana olhou para o enorme
prédio antigo da biblioteca. Seus olhos se arregalaram e ela parou por um
momento, para admirar a beleza do prédio, as torres e as paredes de tijolo
vermelho, cinza e preto.
— Isso é uma biblioteca?! — Ela engasgou, olhando entre ele e o prédio.
— Espetacular, não é? — Ezra disse enquanto a cutucava. — O arquiteto era
um homem incrível. Ele criou este edifício em 1849, e o nomearam em
homenagem a sua conquista. Chama-se Aldridge Library e consiste na biblioteca
principal, duas alas dedicadas a livros raros, uma seção restrita, um café, salas de
conferências, um teatro e uma pequena área museológica. O Sr. Aldridge
inspirou-se para o edifício nas características Tudor e Góticas de todos os seus
edifícios antigos favoritos. A maior parte da minha educação foi redigida nessas
salas. Estou surpreso que você nunca tenha estado aqui antes.
Ana ainda olhava boquiaberta para o prédio enquanto caminhavam pelos
gramados frescos, tendo que se lembrar de fechar a boca.
— É impressionante. Fiz a maior parte da minha graduação no exterior, então
nunca vim a nenhum desses lugares antes.
Ela estava começando a entender como ele ficava excitado quando a explicava
essas coisas. Havia algo mágico no ar nos lugares que ela visitava com ele, e a
sensação era contagiante.
Quando eles se aproximaram da porta, Ezra a parou, puxou-a de lado pela
parede, limpou a garganta e tirou algo do bolso.
— Quando entrarmos, preciso que você se lembre de uma coisa: meu nome
não é Ezra. Meu nome é Jake Dooley. Ok?
— Jake Dooley? Quem diabos é Jake Dooley? — Ana perguntou, franzindo
a testa em desaprovação para ele.
— Ele é um amigo, e isso é dele — Ezra explicou enquanto colocava um novo
cordão sobre sua cabeça e mostrava a ela o passe preso a ele.
Ana estendeu a mão para tirar o passe de seu peito. De fato, dizia Jake Dooley
como o nome. Ele era um professor que tinha 46 anos, com uma fotografia de
Ezra mal colada sobre a parte superior do rosto de quem quer que estivesse
debaixo dele.
— Ninguém nunca vai acreditar que este é um passe legítimo, Ezra, nem vão
acreditar que você tem 46 anos. — Ana suspirou, deixando cair o passe contra o
peito dele. — Esse seu amigo sabe que você tem esse passe?
— Talvez. — Ezra disse descaradamente, uma curva de sorriso beliscando os
cantos de sua boca. — Não importa; de qualquer forma, ninguém nunca lê isto
de verdade. Vou escaneá-lo e passar direto. Você é uma convidada, então precisa
fazer registro. Mas não podemos entrar na área restrita sem um passe, e eu não
tenho mais um. O que você espera que façamos?
— Mantê-lo em suas calças, talvez? — Ana murmurou. Ela suspirou, então
assentiu lentamente e revirou os olhos. Ela não podia acreditar que estava fazendo
isso. — Tudo bem, vamos.
— Ótimo. E lembre-se, eu sou Jake Dooley. — Ezra disse enquanto se virava
e entrava pelas portas da biblioteca.
O saguão interno da biblioteca era enorme, maior do que qualquer biblioteca
que ela já tivesse visto. Tinha enormes escadarias de mármore, pisos de madeira
escura e um grande balcão de recepção que parecia mais antigo do que qualquer
outra coisa neste edifício junto. A sala inteira estava quente e aconchegante, cheia
do cheiro de livros velhos e novos, dos sons de passos na madeira e dos
pensamentos dos acadêmicos que ali estudavam.
— Isso é uma loucura! — Ana engasgou, olhando em volta com admiração
para os tetos altos e os pilares dourados.
— Shh, não tão alto — Ezra sussurrou com um sorriso enquanto a guiava
pelo amplo saguão.
Eles passaram por uma sala aberta com pessoas entrando e saindo pelo arco
gigante que se estendia de uma extremidade do corredor à outra. Ana viu que
todas as paredes do interior estavam cobertas de livros que se elevavam do chão
ao teto. Isso a lembrou de um velho conto de fadas de uma de suas histórias de
ninar na infância. Percebendo que havia diminuído a velocidade para olhar
dentro da sala, ela olhou para onde Ezra havia andado à frente, e teve que correr
para alcançá-lo, o som de suas botas de salto alto ecoando nas paredes de
mármore.
Eles se depararam com um longo corredor que se inclinava para fora do
corredor principal, e Ezra parou para deixá-la o alcançar.
— A ala restrita de livros raros fica aqui embaixo — disse ele, acenando para
que ela o seguisse.
A ala era longa, com portas fechadas espalhadas que levavam às salas de leitura
e banheiros. Bem no final do corredor havia outro balcão de recepção. Um
homem mais velho estava sentado atrás dele, lendo um livro velho que tinha
páginas desgastadas e uma lombada quebrada, e olhou para cima quando eles se
aproximaram. Seu coração pulou uma batida e suas bochechas ficaram quentes
quando seus olhos se conectaram com Ezra.
Esta foi uma má idéia.
— Sim? — o homem perguntou quando eles pararam na mesa. Ele parecia
impressionado e entediado e examinou Ezra com um olhar desconfiado.
— Precisamos acessar a seção restrita de livros raros. Minha convidada se
registrará. — Ezra disse, sem olhar para ele.
Ele parecia calmo, e muito mais controlado do que ela imaginara que seria.
Ana, por outro lado, estava tremendo.
Ela engoliu em seco e assentiu, estendendo a mão e pegando a prancheta.
Enquanto isso, Ezra removeu o passe de seu pescoço e pegou o scanner para passá-
lo.
— Eu faço isso — afirmou o homem enquanto estendia a mão para pegá-lo.
Ezra fez uma pausa, limpou a garganta e assentiu com um sorriso encantador
antes de lhe entregar o passe. O estômago de Ana embrulhou. Ela sentiu que
poderia ficar doente com a ideia de o homem pegá-los. Isso a deixou fraca nos
joelhos e sua cabeça ficou leve. Em vez de olhar para cima e entregar o jogo, ela
manteve os olhos na página e preencheu seus detalhes para se distrair.
O homem pegou o passe e enfiou os óculos no nariz, olhando para ele com
uma sobrancelha erguida. Olhando para a foto no passe e depois para o rosto de
Ezra, ele suspirou e a examinou. Quando apitou e a luz brilhou verde, ele o
devolveu com um grunhido.
— Boa leitura, Professor Dooley — ele murmurou, olhando para a tela
enquanto seu nome era adicionado à lista de clientes.
— Obrigado. Senhorita Davenport, vamos. — Ezra disse, então rapidamente
colocou o passe de volta no pescoço e atravessou as portas da sala restrita.
Ana agradeceu ao velho e seguiu Ezra com certa velocidade em seus passos.
Ela podia ver outra sala por trás das portas, e embora fosse muito menor do que
as salas anteriores que ela tinha visto, essa sala parecia mais escura e mais
bagunçada. Ao entrar, Ana viu fileiras e mais fileiras de estantes que se
espalhavam pelo piso, tão espaçadas que ela não tinha certeza de como elas se
encaixariam entre si para encontrar os livros de que precisavam. Não havia mais
ninguém na sala restrita, o que lhes dava a liberdade de navegar em paz sem sentir
que seriam pegos.
— Tudo bem, vamos encontrar este livro. — Ezra disse enquanto caminhava
pelo meio das estantes, tirando o telefone do bolso.
— Você não trouxe o original? — Ana perguntou enquanto se aproximava
dele e olhava a foto do pergaminho na tela.
— É um pedaço de pergaminho que data de 1588. Não posso arriscar que se
perca ou rasgue; é muito frágil. Primeiro, precisamos descobrir de quem é a
linhagem que escreveu isso. O sigilo no topo, aquilo é como um brasão de família,
um símbolo de sua linhagem. Se ligarmos isso com uma família, podemos
decodificar a carta de lá.
Ele olhou de seu telefone para a estante em que parou e colocou sua mochila
no chão. Então, passou os dedos pelos títulos antigos na prateleira. Os livros
cheiravam a velhos, como se tivessem ficado presos em um sótão por muito
tempo. Eles também foram danificados, como se tivessem sido passados de
geração em geração, e escondidos em lugares escuros, para que não acabassem em
mãos erradas.
— Esses são livros de feitiços? — Ana perguntou, franzindo a testa enquanto
olhava para as lombadas.
— Em certo sentido, sim. Cada um é um Livro das Sombras pertencente a
uma família — Ezra disse enquanto localizava o livro que estava procurando e o
tirava de onde estava. O rosto dela deve ter se contraído porque ele deu uma risada
ofegante e balançou a cabeça.
— Não fique tão horrorizada, não é tão sombrio quanto parece. São
simplesmente os livros das práticas e crenças de seus covens, seus feitiços e
tradições familiares, sua árvore genealógica e sua história. Cada livro de família é
único, pois cada coven varia de acordo com o que acreditam e como lançam seus
feitiços, mas a maioria deles se origina do mesmo conjunto de magia. A parte da
sombra significa simplesmente “estar escondido”, ou manter-se escondido dos
olhares indiscretos daqueles que a usariam contra eles.
Ele abriu o livro na primeira página, e o título dizia:

Famílias de bruxas e suas histórias e práticas correspondentes.

— Estes são todos os brasões ou sigilos da família, então só precisamos fazer


a comparação com a que se encontra no documento. — Ezra disse enquanto
olhava de seu telefone para o livro e olhava para baixo na página.
— Ah! Eu sabia! A Família Marion. Eles foram, principalmente, queimados
na queima de bruxas em massa em 1588, que é a data no documento. Isso significa
que foi escrito e enterrado antes que isso acontecesse, ou alguns deles devem ter
escapado e enterrado depois. Eu diria o último, possivelmente para preservar o
conteúdo dos segredos além de sua própria família, para quaisquer ancestrais que
sobrevivessem.
— Isso é incrível — Ana murmurou enquanto enfiava a mão na bolsa
rapidamente e pegava sua câmera. Alinhando a foto, ela tirou uma foto do livro
com os sigilos da família e depois se afastou para tirar outra dele segurando o livro
para seus registros.
Ezra fechou o livro e empurrou-o de volta em seu lugar na prateleira, então
olhou para as linhas de títulos e colocou o dedo em outro.
— O Livro das Sombras do clã Marion — ele disse com um sorriso, puxando-
o gentilmente para fora de sua abertura e segurando-o como se fosse feito de
vidro.
O livro era enorme e parecia pesado, e tinha uma capa dura que parecia ser
feita de madeira fina. Couro foi costurado sobre a lombada para solidificar, e na
capa havia uma versão maior do sigilo que combinava com o documento.
Pequenas joias foram derretidas na tampa, brilhando na luz fraca do quarto.
Ezra abriu na última página e leu as traduções entre seu telefone e o livro,
franzindo a testa em profunda concentração.
— Isso vai levar algum tempo, devemos levar isso para a mesa.
O som da porta da sala restrita se abrindo desviou sua atenção do livro,
fazendo-os arregalar os olhos um para o outro enquanto compartilhavam um
olhar de pânico.
— Ezra Sullivan! Você sabe que está banido desta área da biblioteca. Você
precisa parar o que está fazendo e ir embora! — gritou a voz do velho que havia
pegado o cartão-chave momentos antes.
Ana engasgou, e Ezra teve que pressioná-la contra a parede de livros e cobrir
sua boca com a mão para mantê-la em silêncio. Ela ofegou contra sua mão e o
olhou com olhos em pânico enquanto ouviam passos. Ele abaixou a cabeça
contra ela para se inclinar em seu ouvido, mantendo sua respiração calma e
controlada.
— Ana, precisamos pegar o livro e correr. Não tivemos tempo suficiente para
decodificá-lo. Você está comigo? — perguntou Ezra.
Ana instintivamente balançou a cabeça sob a mão dele, tentando esquecer o
quão perto ele estava dela e como tinha acabado de usar seu primeiro nome, pela
primeira vez. Eles seriam pegos por invadir uma área restrita; quão perto ele estava
dela deveria ter sido a última coisa em sua mente.
— Se não pegarmos o livro e corrermos, nunca resolveremos isso, e você não
terá sua matéria. Precisamos correr. — Ezra olhou nos olhos dela com calma e
lentamente tirou a mão da boca dela. — Tudo bem?
— Senhor Sullivan! Saia aqui agora! Estamos chamando a segurança! — o
homem gritou novamente.
Ana ofegou e acenou com a cabeça lentamente, tentando engolir a umidade
em sua boca.
— Ok — ela sussurrou de volta.
Ezra se afastou dela e se abaixou para pegar sua bolsa. Ele empurrou o livro
para dentro e apertou o topo enquanto Ana pegava sua própria bolsa e puxava a
alça sobre o ombro.
— Preparada? — Ezra murmurou, esperando que ela assentisse, antes de
pegar a mão dela e guiá-la pela parte de trás das estantes.
Eles contornaram o lado e subiram o corredor mais próximo da porta,
ouvindo passos ecoando pelo outro corredor que tinham acabado de entrar.
Andando mais rápido, Ezra olhou ao redor do final da estante final, e quando viu
uma linha direta para a porta, olhou por cima do ombro para ela.
— Agora. — ele assobiou.
Ambos correram, ignorando os gritos do velho atrás deles, e saíram correndo
pela porta. Ezra puxou Ana, suas botas de salto alto dificultando a corrida. Eles
correram pela ala que levava à área restrita e saíram para o saguão principal.
— Não pare! — ele gritou de volta para ela. Ela poderia jurar que viu um
sorriso no rosto dele, mas o som crescente de passos seguindo-os dirigiu seu rosto
para os guardas de segurança que estavam atrás deles.
Ofegantes, Ana e Ezra emergiram das portas da frente da Biblioteca Aldridge
e em seus gramados verdejantes. Ela ignorou os gritos dos guardas, os olhares dos
estudantes locais fazendo piquenique na grama, e como seus pés estavam
doloridos até que eles estavam novamente entre o abrigo das árvores perto do
estacionamento.
Ezra soltou a mão dela e riu, virando-se para olhar na direção de onde tinham
vindo, passando a mão pelo cabelo com um ofegar.
— Acho que pararam de nos seguir. Eles provavelmente não sabem que
temos o livro, então estamos bem por enquanto.
Ana ficou boquiaberta para ele, raiva borbulhando em seu peito e lágrimas
brotando de seus olhos enquanto reprimia um grunhido e o empurrava.
— Como você ousa! — ela exclamou, ofegante. Ela colocou a mão no peito
para aliviar o coração acelerado. — Você acabou de roubar um livro raro e caro
de uma biblioteca muito importante! Você é tão imprudente, Ezra!
Ezra deu de ombros.
— Está tudo bem! Eu usei um cartão-chave falso, lembra? Eles não podem
provar que fui eu.
— Mas eles podem provar que fui eu! — Ana franziu o cenho. — Eu tive que
me registrar, lembra? Eles têm meu nome e endereço e meu número de telefone!
Se eu tiver problemas no trabalho por causa disso, Ezra, vou…
Mas ela não precisava terminar sua frase. Ezra caminhou até ela e a pegou
pelos braços para estabilizá-la, tentando acalmá-la.
— Você vai me matar ou algo assim, eu sei. — Ezra sorriu. Ele esfregou os
braços dela e moveu a cabeça para olhá-la novamente quando ela tentou desviar
o olhar dele. — E se o problema aparecer em seu caminho, eu assumirei total
responsabilidade e devolverei o livro e os retribuirei da maneira que for necessário.
Eu não vou deixá-la levar a culpa por isso. Eu prometo.
Ana engoliu em seco, o calor em seu rosto diminuindo.
— Certo.
— Bom — Ezra disse, então a soltou e fez sinal para que o seguisse — Vamos.
Não sei você, mas roubar me deixa com fome.
Capítulo 5

Ana ainda estava se recuperando de raiva e nervosismo quando pararam no bar


perto da cidade. Eles estavam dirigindo há quase uma hora, e não trocaram uma
palavra desde que entraram no carro. A placa do lado de fora do bar dizia: The
Horse and Cart Bar & Restaurant. Era um prédio encantador, com paredes
brancas, painéis de madeira preta e vigas que subiam pelas paredes externas até o
telhado de palha.
— Este lugar é agradável e tranquilo, com boa comida e a melhor cerveja —
Ezra disse enquanto se virava para olhá-la, dando-lhe um sorriso fraco.
— Bem, você está dirigindo, então não pode tomar cerveja — Ana
murmurou.
Ela empurrou a porta do carro abruptamente e saiu, puxou a bolsa sobre o
ombro e fechou-a novamente com uma batida, então caminhou na frente dele
pela porta do restaurante.
O interior era surpreendentemente aconchegante. Tinha iluminação fraca e
uma grande lareira de pedra, um longo bar de madeira e mesas pesadas espalhadas
pela sala, com pequenos vasos de flores frescas em cima delas. Na verdade, todo o
lugar gritava país, tradição e vida antiga.
— É lindo, não é? — Ezra comentou enquanto vinha atrás dela.
— Sim. Se você gosta desse tipo de coisa — disse Ana, cruzando os braços.
Com toda a honestidade, ela gostava desse tipo de coisa, mas ainda estava muito
zangada para deixá-lo saber disso.
— Mesa para dois? — uma garçonete perguntou quando se aproximou deles.
Ela usava um vestido amarelo como uniforme e carregava dois cardápios presos a
uma placa de madeira sob um dos braços.
— Sim, por favor — Ezra disse com um aceno de cabeça.
Ela os guiou até uma mesa grande, abrindo o braço para sugerir que se
sentassem, e colocou os cardápios nela. Não havia muitas pessoas jantando no
restaurante ainda, então as mesas ao redor deles também estavam vazias. Ana
colocou sua bolsa na mesa e se sentou em uma das cadeiras, Ezra fazendo o mesmo
em frente a ela enquanto olhava para a garçonete.
— Posso pegar uma bebida para vocês?
— Eu vou tomar um café, por favor — Ezra disse com um sorriso largo.
— E eu vou querer um vinho branco. Ele está pagando — Ana comentou,
olhando da garçonete para Ezra.
— Eu estou? — Ezra sorriu para ela e se inclinou sobre a mesa com os
cotovelos.
— Você está, se quiser compensar sua tolice — ela retrucou, sua mandíbula
apertada e seus olhos se estreitando.
Ele riu.
— Justo. Vinho branco então, o melhor que você tiver.
A garçonete saiu da mesa, e Ezra segurou o olhar de Ana, inclinando a cabeça
e levantando o cardápio.
— Você vai segurar isso contra mim por muito mais tempo?
— Só mais um pouco. — Ana disse, levantando seu próprio cardápio e
estudando as palavras. — Você poderia ter nos colocado em sérios problemas.
Ainda pode, se eles procurarem minhas informações.
Ezra suspirou.
— Bem, se você pudesse tirá-lo do seu sistema agora, seria ótimo. Temos
trabalho a fazer.
Ana mordeu o lábio e olhou o cardápio. Talvez ela estivesse sendo muito dura
com ele. Eles não foram pegos e, se não tivessem roubado o livro, a matéria estaria
morta.
— Muito bem. Já terminei, mas você não pode fazer isso de novo. Estamos
entendidos? Você pode brincar com sua própria reputação, mas não brinca com
a minha. Trabalhei demais para deixar alguém jogar fora tudo o que fiz para
chegar aqui. — Ana abaixou o cardápio e lhe ofereceu a mão. — Combinado?
Ezra sorriu e assentiu lentamente, então estendeu a mão para pegar a mão
dela. Ele levantou de seu assento, levou a mão dela até sua boca e beijou a parte de
trás da mesma.
— Combinado — ele respondeu, então a soltou e sentou-se. — Agora, o que
vamos comer?
Ana trouxe a mão de volta rapidamente e corou. Ela limpou a garganta e
olhou para a lista de itens.
A garçonete voltou para a mesa e colocou seu café ao lado dos talheres, depois
um copo alto de vinho branco ao lado de Ana, e olhou para os dois com um
sorriso largo:
— Senhorita, o que você vai comer?
Ana ergueu os olhos de seu cardápio e sorriu suavemente para ela.
— Eu quero o frango grelhado com uma salada, por favor.
A garçonete rabiscou em seu bloco de notas, então olhou para Ezra.
— E você senhor?
— O hambúrguer e as batatas fritas, com aquelas cebolinhas crocantes que
vocês têm. Obrigado. — ele disse, passando o menu de volta para ela.
— Pois bem — Ezra disse depois que a garçonete saiu. Ele empurrou a faca,
o garfo, o vaso de flores e pôs os condimentos de lado para poder colocar o livro
sobre a mesa, que caiu com um baque profundo. Ele tirou o telefone do bolso e
abriu a foto que havia tirado do documento. Depois de colocá-lo na horizontal,
ele abriu o livro na última página e examinou os códigos do alfabeto.
— Você tem um bloco de notas? — ele perguntou, olhando para ela. — E
uma caneta?
Ana assentiu, enfiando a mão na bolsa e tirando um bloco de notas rosa
brilhante e uma caneta dourada antes de empurrá-las sobre a mesa para ele. Ela
tomou um gole de seu vinho com um pequeno zumbido. O gosto era incrível,
especialmente depois do dia que tinham acabado de ter.
— Obrigado — ele murmurou e abriu.
Eles se sentaram em silêncio enquanto ele olhava cada símbolo em seu
telefone e combinava com a chave na parte de trás do livro, lentamente
construindo mais e mais palavras a partir dos símbolos combinados. Depois de
alguns momentos, ele tinha uma sentença.
— A primeira parte é simplesmente uma mensagem de advertência e proteção
— disse Ezra enquanto continuava a ler os símbolos.
— Reconfortante. — Ana respondeu, inclinando-se sobre a mesa.
A mão dele se movia rápido, rabiscando letras e palavras mais rápido do que
ela conseguia ler.
Vínculo de Marion, poder de Marion, sangue de Marion,
Forjado com ferro e enterrado na lama,
Proteja nossa linha, nosso credo, nosso amor,
Assim é abaixo, como é acima.

— Isso não soa tão ameaçador. — Ana comentou enquanto bebia seu vinho.
— Bem, não deveria. É um simples encantamento de proteção — Ezra disse
enquanto tomava um gole de seu café com um gemido feliz.
Ana ficou em silêncio por um longo tempo, esperando que ele terminasse o
resto da página, e quando ele terminou a tradução, se recostou e respirou fundo,
soltando o ar com um suspiro.
— Isso foi estressante — disse Ezra, dramaticamente enxugando a testa.
Ele fechou o Livro das Sombras de Marion e o colocou de volta em sua bolsa
no chão antes de pegar o bloco de notas em sua mão e bater a caneta dourada na
borda da página.
— Mas você terminou, não foi? — Ana perguntou, já tendo terminado sua
taça de vinho. Sua cabeça parecia estar girando. Ela sempre foi um pouco leve.
— Eu terminei. É um enigma. Isso nos dá pistas para encontrar itens de valor.
Não diz quais são, mas há três deles. Vou ter que consultar alguns dos meus
colegas para descobrir o enigma.
A garçonete voltou e colocou um prato na frente de cada um deles. Seu
estômago roncou de fome quando o cheiro do frango grelhado encheu seu nariz,
e sua boca encheu de água. A garçonete sorriu para os dois, então se virou e se
afastou da mesa, deixando-os sozinhos com suas refeições.
— Isso é exatamente o que eu precisava — Ezra aprovou enquanto levantava
seu hambúrguer e dava uma grande mordida com um gemido.
— Então, diga-me o que diz. Acabe com a minha miséria — disse Ana
enquanto cortava seu frango, dando pequenas mordidas experimentais em
comparação com suas grandes mordidas devoradoras.
— Bem — ele disse depois de um gole, então limpou a garganta e segurou o
bloco de notas na vertical para que pudesse ler — Diga-me se você consegue
descobrir alguma coisa.
Três tesouros que você deve ir e buscar,
se deseja encontrar e manter,
a fonte de toda a nossa magia e poder,
para que possa brilhar em sua hora mais gloriosa.
A primeira de nós que você vai encontrar,
forjada no fogo e perfeitamente alinhada.
Escondida na torre mais alta,
no lugar mais ocidental que se possa percorrer.
A segunda de nós você vai aprender,
foi a razão de muitas bruxas terem sido queimadas.
Tirada de nós e pendurada com cordel,
você me encontrará junto a uma das linhagens dos Harrow.
A última de nós que você precisa adquirir,
é tão bonita e mais rara do que qualquer outra anterior.
Vermelha como sangue e dura como pedra,
você vai me encontrar abaixo onde a banshee gemeu.
Um último pedaço de pergaminho para ajudar,
pode ser encontrado entre as páginas da mão e da cabeça.
Boa sorte e boa fortuna para você buscador de magia,
liberta-nos a todos de nosso guardião das trevas.
Com nossa liberdade, lhe daremos o poder,
para brilhar e resplandecer e crescer e florescer.
Abençoado seja.

Três? Havia três objetos para encontrar? Isso ia levar muito mais tempo do que
Ana havia previsto. Ela esperava que tivesse tempo suficiente para ajudá-lo a
descobri-los antes do prazo, sem mencionar que ainda tinha que falar com
Elianna e convencê-la a deixá-la entrar nessa toca de coelho.
— Eu não tenho ideia do que isso significa — disse Ana, dando outra
mordida no garfo e começando a salada. — Mas acho que a primeira coisa que
devemos descobrir é qual é o “último pedaço de pergaminho entre as páginas da
mão e da cabeça”. Talvez seja algo para nos ajudar a localizar o resto deles.
— Esse é um bom palpite. Vou fazer uma pesquisa hoje à noite no lugar mais
a oeste e ver se há torres lá. Essa é a pista mais clara do documento. — disse Ezra.
— Talvez eu possa ajudá-lo com o que você descobrir amanhã...
— Não pode fazer, Senhorita Davenport. Temos um feriado religioso
amanhã, então tenho um raro dia de folga — disse Ezra, terminando seu
hambúrguer e enxugando o rosto e as mãos com um guardanapo. — Um que
você está meio-convidada, na verdade, se você quiser me acompanhar...
— Meio-convidada? Como alguém pode ser meio-convidado para um
evento? — Ana perguntou enquanto inclinava a cabeça em confusão.
— Bem, amanhã de manhã, minha família e os afiliados do coven têm sua
cerimônia de Litha. É uma coisa só para membros, então você não pode vir para
isso, mas pode vir para as festividades depois. É muito divertido. Celebra o
solstício de verão, ou meio do verão, quando o sol está mais alto no céu. Depois
do ritual da manhã onde eles dão graças aos deuses, temos essa grande festa com
fogueira, encenações de fábulas, comida e muito vinho. Minha mãe me disse para
convidá-la, ela achou que seria bom para você entender algumas de nossas práticas
em um dos maiores feriados do nosso ano. — Ezra explicou enquanto arrancava
as páginas que havia usado e devolveu o bloco de notas para ela.
Ana franziu a testa ligeiramente. Parecia divertido, embora tenha feito seu
coração afundar quando ele disse que só a estava convidando porque sua mãe
havia pedido.
Ezra notou sua carranca e ergueu as mãos defensivamente.
— Não precisa ir se for muito chato para você. Eu sei que você deve ser
convidada para festas de maior importância na cidade. É legal, de verdade. — Ele
dobrou o papel e o enfiou no bolso.
— Não! Não é isso, não. Eu adoraria ir. Posso tirar fotos para o meu artigo —
disse Ana, renovando o sorriso.
— Ótimo. — Ezra sorriu. — Eu escrevi meu número em seu bloco de notas.
Envie-me uma mensagem de manhã e lhe enviarei os detalhes. Ah, e você precisa
usar branco.
Ele se levantou da mesa e levantou sua bolsa, puxando a alça sobre o ombro e
pegando sua carteira no bolso.
— Branco? — Ela não tinha certeza se Bexley tinha levado algo branco. Ela
rapidamente se levantou da mesa para segui-lo, empurrando o bloco de notas e a
caneta de volta na bolsa e puxando a cadeira para fora.
— Sim. Todo mundo usa branco ou amarelo, mas principalmente branco.
Você vai se destacar como um polegar dolorido se não o fizer. — Ele pagou a
conta, então se virou para sair pela porta pela qual haviam entrado e saiu para a
luz do sol enquanto olhava para o recibo.
— Seu vinho custou mais do que toda a nossa refeição. Eu me sinto esfolado.
— Ele disse brincando, abrindo a porta do seu carro.
Ana o seguiu, mais feliz agora com a barriga cheia e a um passo de desvendar
o mistério dos itens listados no documento. Ela sorriu largamente para ele de cima
do carro.
— Eu prometo que valho a pena. — Ela piscou.
Capítulo 6

A internet era lenta no B&B. O prédio em si não era atualizado há anos, então
Ana não tinha muita esperança nos serviços de Wi-Fi, mas não esperava que fosse
tão ruim. Verificando se a conexão ainda estava ligada, ela abriu seu navegador
pela sétima vez e suspirou aliviada quando o mecanismo de busca finalmente
carregou.
— Já estava na hora — ela murmurou, levando sua xícara de café fumegante
aos lábios e bebendo. Não era um ótimo café, mas era tudo o que a estação de chá
e café no quarto tinha.
Colocando o copo para baixo novamente, ela clicou na barra de pesquisa e
digitou Litha. Já que foi convidada para este evento, era melhor ela descobrir do
que se tratava antes de ir, para não ficar como um peixe fora d'água, ou pior,
ofender alguém. Por mais que não acreditasse nesse tipo de coisa, ela sabia que
Ezra e sua mãe acreditavam, e não queria machucá-los quando eles foram tão
gentis com ela.
Percorrendo os links no mecanismo de busca, ela clicou em um dos links com
mais informações em sua biografia e abriu a página, rolando para baixo mais uma
vez para começar a ler.

Litha, também conhecido como solstício de verão ou meio verão,


é celebrado por pagãos do mundo inteiro em 21 de junho.
No dia mais longo do ano civil, celebra-se o sol em toda a sua glória.
O sol começará a descer no céu após este dia e dá as boas-vindas às noites mais
escuras.
Predominantemente um festival do fogo, Litha é a hora de estarmos atentos ao
que temos,
passar tempo com a família com as tradições e alimentos correspondentes ao
Litha,
e louvando o deus do sol quando ele é mais fértil.
Girassóis e rosas são destaques, assim como bolos de mel e frutas,
embora muitos pagãos também celebrem com uma grande variedade de carnes de
caça.
As cores que significam Litha são brancas, douradas e vermelhas.
Use esse tempo para agradecer pela generosidade do verão antes do outono frio e
noites de inverno. Comer e beber com a família, e se divertir com a energia do sol.
Este é um momento de harmonia e paz.

O deus do sol. A recompensa do verão. Energia do sol.


Todas essas coisas pareciam tão estranhas para ela e, embora estivesse ansiosa
para testemunhar as práticas de pessoas que não entendia muito bem, ela esperava
que as comemorações na festa não a cegassem tanto a ponto de fazer papel de
boba ou chateasse alguém. Ela só esperava que ela pudesse manter uma cara séria.
— Brancos, dourados e enfeites vermelhos — Ela murmurou para si mesma,
tomando outro gole de seu café com uma careta.
Ela se levantou da cadeira, caminhando até a bolsa que Bexley havia trazido e
tirou as roupas. Dentro havia alguns pares de jeans caros, camisas pretas com
babados, camisetas apertadas e alguns lenços de seda. Todos os itens ainda tinham
suas etiquetas, o que significava que Bexley havia se esforçado para comprar
roupas novas. Levantando uma das etiquetas em sua mão, ela virou para ver o
preço, e seus olhos se arregalaram.
— Droga, Bex — ela murmurou, deixando cair a etiqueta.
Infelizmente, nada na bolsa era branco ou dourado. Passando a mão pelo
cabelo e pegando a bolsa, ela a puxou por cima do ombro e caminhou para abrir
a porta. Ela o trancou atrás de si e desceu as escadas até o saguão, onde apertou a
campainha na mesa. Eram apenas 16:00, de acordo com o relógio na parede atrás
da mesa. Se houvesse uma loja de roupas na cidade, ela possivelmente conseguiria
chegar lá.
— O que você quer? — a mulher resmungou ao sair da sala dos fundos, com
um cigarro na mão e uma carranca no rosto.
— Desculpe incomodá-la, mas eu queria saber se você conhece alguma loja
de roupas na cidade?
— Eu me pareço com as informações turísticas para você? — A mulher disse
com uma carranca que vincou as bordas de sua pele.
— Hum, bem, não, mas imaginei que já que mora aqui, você provavelmente
saberia se havia alguma por perto ou não. — Ana disse, um pouco surpresa com
seu tom.
A mulher suspirou e bateu o cigarro em um cinzeiro de vidro no balcão e deu
de ombros.
— O Dolly's fica na estrada, não muito longe. Saia pela porta e vire à direita.
Grande placa rosa, não tem como errar.
— Obrigada — disse Ana, renovando o sorriso e virando-se para sair quando
a mulher pigarreou.
— Você vai para aquele festival pagão amanhã, não é? Com aquele garoto
Sullivan? — ela perguntou, fazendo Ana se virar e ficar boquiaberta para ela.
— Hum, sim. A mãe dele me convidou. Por que? — Ela perguntou.
A mulher zombou e balançou a cabeça enquanto dava uma tragada no
cigarro e o apagava pelos lábios franzidos e enrugados.
— É um culto, sabe. Muitas coisas estranhas acontecem naquele terreno
naquelas festas. Eles pensam que somos todos estúpidos, mas eu os vi. Dançando
sob o luar como uns tolos malucos, e aquela família com a qual você está andando
está bem no meio disso. Eles estão trabalhando para o diabo, senhorita, e você
faria bem em ficar longe da coisa toda.
Ana suspirou. Sim, ela achava que era uma prática estranha, mas não julgaria
as pessoas contanto que elas não prejudicassem ninguém.
— Tudo bem, mas eles são pessoas legais, e eu não pedi sua opinião. Obrigado
pelas orientações.
Quando Ana saiu pela entrada do B&B, a mulher gritou:
— Não diga que não avisei! — mas Ana a ignorou, e virou à direita como a
mulher havia instruído e desceu a calçada de paralelepípedos. Estava tão claro lá
fora hoje, e o calor pegajoso no ar parecia perto de seu rosto. Não havia muito
vento, e o único abrigo do sol da tarde eram os prédios pelos quais ela passava. O
verão extraordinariamente quente estava cobrando seu preço, e ela estava
começando a amaldiçoar Bexley por levar apenas seus jeans.
Dolly's Boutique era uma linda lojinha com uma porta de madeira rosa
brilhante e painéis de vidro. A placa foi pintada à mão em preto e rosa acima da
porta, e o cheiro de rosas permeava o ar ao redor dos vasos de plantas que
ladeavam cada lado do prédio. Entrando na loja, ela foi recebida por fileiras e mais
fileiras de varais de roupas, cheias de todo tipo de roupa que poderia precisar em
uma cidade como esta. Espelhos do chão ao teto foram posicionados na
extremidade da loja para fazê-la parecer maior, e no meio havia um balcão com
uma caixa registradora em cima.
— Olá? — Ana chamou, caminhando ao longo dos trilhos e estendendo a
mão para tocar os tecidos.
— Oh! Me desculpe. Eu não estava esperando mais ninguém, então estava
prestes a fechar — disse um homem enquanto saía de um vestiário e se
aproximava dela, juntando as mãos.
“O que posso fazer por você?”
Ana sorriu para ele, olhando para o terninho roxo brilhante que usava, com
sua camisa de bolinhas preta e branca e gravata de corda.
— Para começar, seu terno é incrível, mas eu também preciso de algo branco.
— Oh, eu sei — Ele piscou, então se virou para olhar ao redor da loja com um
zumbido. — Casamento ou culto?
— Desculpe-me? — Ana perguntou, afastando-se dos tecidos para olhá-lo
por completo.
— Bem, se você está procurando por branco, ou você é uma noiva, ou está
indo para as celebrações do solstício amanhã — disse ele, um sorriso aparecendo
em seu rosto — Qual é?
— Solstício. Fui convidada, e receio não ter nenhuma roupa adequada. Você
não é fã dos pagãos locais, presumo?
A família de Ezra não parecia ser muito querida até agora.
— Au contraire, eu pretendo estar lá e bem a caminho de uma ressaca no meio
da tarde. — Ele disse, estendendo a mão para ela apertar.
Ana sorriu largamente e pegou a mão dele, apertando-a com uma pequena
risada.
— Desculpe, o comentário “culto” me pegou desprevenida. Não é a primeira
vez que ouço essa palavra mencionada em relação a tudo isso.
— Sim, infelizmente, as pessoas nesta cidade têm um medo mortal do que
não entendem. Não estou dizendo que os entendo, pois não sou membro, mas
Genevieve me convida todos os anos. Somos a ovelha negra dos negócios nesta
cidade. Precisamos ficar juntos. — Ele piscou. — Meu nome é Oscar, querida.
— Eu sou Ana. — ela sorriu, movendo-se para examinar as roupas
novamente, então indicou o logotipo da loja na parede. — Então, quem é Dolly?
— Minha querida mãe. Que ela descanse em paz — disse Oscar, dando de
ombros e fazendo um sinal antes de caminhar em direção a um corrimão na
parede oposta. — Todos os nossos brancos estão aqui. Venha comigo.
Ana colocou um pouco de cabelo atrás da orelha e rapidamente o seguiu pelo
chão preto brilhante para o seu lado. As roupas deste lado eram muito menos
brilhantes, o que a deixava feliz, e ela o admirava enquanto ele folheava os cabides.
— Como é esse festival, na verdade?
— Não se preocupe, não é tão satânico quanto as velhas da cidade dizem que
é. Nada de bodes de sacrifício e promessas ao diabo. — Ele riu, puxando um
vestido e segurando-o contra ela antes de balançar a cabeça e colocá-lo de volta no
trilho.
— Desde que você seja respeitosa e tenha a mente aberta, vai se divertir muito.
Além disso, a comida e o vinho são gratuitos, o que é motivo mais que suficiente
para ir. Não acontece muita coisa nesta cidade, tenho certeza de que notou.
Ele levantou mais alguns itens e os dobrou sobre o braço, então se virou para
olhá-la novamente como se para julgar seu tamanho.
— Você não precisa de nada glamouroso para isso. É um festival em um
campo, e deve ficar ainda mais quente amanhã. Portanto, você precisará de algo
que possa inspirar, mas também parecer jovem e feminina, porque
aparentemente, a fertilidade e a abundância é uma coisa grande lá. Ou assim me
dizem. — Ele segurou outro vestido contra ela.
“Acho que é esse. Um vestido de verão branco de chiffon, não muito caro,
flui bem para que, quando o vento o pegar, o vestido ondule bem. Tem um
decote reto que amarra atrás do pescoço, assim você será sustentada sem precisar
de muitas camadas. É também um vestido alto-baixo. Curto na frente, longo
atrás. É realmente bonito quando está vestido, você vai adorar!”
Ele levou o vestido para o balcão e dobrou-o delicadamente, então escaneou
a etiqueta e o colocou em uma sacola de papel rosa brilhante.
— Você precisa de mais alguma coisa?
Ana piscou com a rapidez com que ele havia falado e colocou o vestido na
bolsa. Ela nem tinha visto realmente como era, mas a forma como ele a estava
olhando, ela estava confiante de que ele tinha acertado seu tamanho e forma.
— Eu também posso precisar de sapatos. Eu só tenho botas pretas comigo.
— Ana disse enquanto se movia até o balcão e tirava a carteira da bolsa.
— Não, não. Sem sapatos. — Oscar disse, balançando a cabeça com o dedo
no ar. — Você não usa sapatos no meio verão. Você deixa seus sapatos no portão
e brinca na grama como o resto de nós, cordeirinhos. É algo a ver com estar
conectado à terra. A grama está toda cortada baixa, então você não precisa se
preocupar com os pés. Mas faça um favor a si mesma e pinte as unhas.
Ana assentiu enquanto Oscar pegava um esmalte vermelho do suporte ao
lado do balcão e o colocava na sacola, depois entregava a ela junto com a máquina
de cartão que já tinha o total na tela. Ela passou o cartão, esperando para ter
certeza de que o pagamento foi feito e então sorriu para ele.
— Obrigada pela ajuda. Estou ansiosa para ver como é o vestido em mim. —
Ana riu. — Te vejo amanhã.
— Você verá. — Oscar acenou.
Quando ela saiu pela porta, Oscar veio atrás dela para virar a placa na porta
para “Fechado” e se inclinou em seu ouvido.
— Ah, e não vá de mãos vazias. Traga girassóis, ou rosas, ou ambos. Há uma
floricultura do outro lado da rua. Pegue um pouco para o seu cabelo. Eles ficarão
lindos no seu tom de loiro.
— Obrigada, mais uma vez. — Ana acenou, piscando quando ele fechou a
porta, e ficou parada na rua de paralelepípedos.
A floricultura ficava a apenas algumas portas do Dolly's, e quando ela entrou,
rapidamente encomendou um buquê de girassóis e rosas, e um pequeno buquê
de flores de cabelo para ser entregue em seu quarto pela manhã. Quando ela
encontrou o caminho de volta para o B&B, a proprietária felizmente não estava
em lugar nenhum, e ela rapidamente subiu as escadas precárias e abriu a porta do
seu quarto. Ela ficou satisfeita ao descobrir que o ar-condicionado do quarto
estava realmente funcionando e manteve o quarto em uma temperatura
confortável enquanto estava fora.
Colocando a sacola da Dolly’s e sua bolsa na cama, ela se afundou nos
travesseiros e esfregou as têmporas. Ela sabia que tinha que ligar para Elianna hoje
para atualizá-la sobre a matéria, mas a ideia fez sua cabeça doer e seu estômago ter
cãibras. Ela não tinha certeza de como reagiria, e a ansiedade de ter que se explicar
era um pouco mais do que podia lidar. Ana nunca a desobedeceu antes, nem se
desviou de uma matéria tão drasticamente. Ela só esperava não perder o emprego
por causa disso.
Tirando o telefone do bolso e rolando para encontrar o nome de Elianna,
Ana colocou o telefone no ouvido. O toque zumbiu por alguns momentos, e
enquanto esperava, ela podia sentir seu estômago apertando em mais e mais nós.
Finalmente, a voz de Elianna zumbiu em seu ouvido, e Ana respirou fundo para
se equilibrar.
— Ana, onde diabos você estava?
— Oi, Elianna. Lamento ter estado um pouco do lado do silêncio, mas a
matéria que você me enviou para cobrir se desenvolveu. — Ana sentou-se na
cama e cruzou as pernas.
— Desenvolveu, como?
— Bem, quando cheguei aqui, eles disseram que poderiam me dar algumas
matérias para o jornal, assim como todas as outras que fizeram, ou poderiam nos
dar algo de muito mais valor. Uma exclusiva, Elianna.
— E o que, exatamente, é essa exclusiva?
— Eles encontraram uma velha antiguidade bruxa enterrada em um local
sagrado, e seu conteúdo revelou que existem tesouros a serem encontrados em
certos locais. No momento, estamos decodificando a mensagem e esperamos
encontrá-los dentro do prazo. — Ana mastigou a unha do polegar.
Uma longa pausa pairou no ar, depois um suspiro.
— Eu não pedi para você ir lá fazer um artigo para uma revista de
arqueologia, Ana. Pedi que você trouxesse algo bizarro para a edição de fim de mês.
As pessoas leem nosso jornal pelo absurdo e pelo estranho. Foi isso que eu te pedi, Ana,
e é isso que eu quero.
— Eu sei, Elianna, mas isso pode ser grande! Você não quer ser a primeira a
ter acesso a isso? Pelo menos, deixe-me ir até você para lhe dar meu lançamento.
O prazo é de apenas uma semana. Eu posso perseguir isso e, se não der em nada,
posso ter o artigo que você quer em espera. Por favor, deixe-me dar-lhe o meu
lançamento.
Outro suspiro encheu o telefone, e outra longa explosão de silêncio zumbiu
entre elas antes de Elianna gemer.
— Tudo bem. Esteja no meu escritório no domingo à tarde. Estarei aqui
revisando as manchetes da próxima edição. Esteja preparada. Eu não estarei
divertida, Ana, nem um pouco divertida.
— Domingo? Mas isso… bem, é domingo? — Ana disse, parecendo confusa
enquanto olhava pela janela de seu lugar na cama. Aos domingos, Elianna
precisava de silêncio total para revisar as manchetes antes da publicação, ou seja,
todos faziam seus trabalhos em casa nos finais de semana. Ana nunca tinha
trabalhado em um domingo.
— Você acha que eu não sei que dia é hoje? Eu estou ciente. Se você quer sua
chance, domingo é sua única chance. Se eu não a vir em meu escritório no domingo
à tarde, não quero vê-la novamente, entende?
As bochechas de Ana ficaram vermelhas. Ela engoliu em seco e resmungou
que entendia, e então o telefone ficou mudo, o tom irradiando por sua cabeça
como se estivesse zombando dela.
Ela sabia antes mesmo de ligar para Elianna que sua reação seria dura, mas
não estava preparada para ela sugerir que demiti-la seria a resposta.
Empurrando as malas para o chão, Ana colocou o telefone na mesa de
cabeceira e se deitou em cima do edredom, enrolando-se de lado e fechando os
olhos. Sua cabeça estava turva e latejante, e ela sentiu a ameaça das lágrimas atrás
dos olhos. Em vez de deixá-la arrastar-se, ela descansou, decidindo que dormir era
uma maneira muito melhor de controlar sua ansiedade, em vez de passar a noite
preocupada com Elianna.
Ela apenas esperava que ela tivesse o suficiente de uma história para convencê-
la.
Capítulo 7

A manhã veio sobre Ana em um brilho suave.


O sol brilhava através da janela que ela havia deixado aberta e em seu rosto,
fazendo-a gemer acordada e se esticar contra os lençóis macios de algodão branco.
Estava quente na noite anterior, fazendo-a dormir inquieta e sua pele ainda estava
pegajosa de suor.
Sentada em sua cama, Ana olhou para seu quarto simples. A luz do sol dava
ao espaço um lindo brilho dourado, e o vento que soprava pela janela aberta
ondulava as cortinas de renda. Para um dia que celebrava o sol, ela adivinhou pelo
calor do quarto, que lá fora já estava em toda a sua beleza ofuscante. O que ela
não contava, no entanto, era quanto tempo havia dormido.
O relógio em sua mesa de cabeceira marcava 10:35.
Ana engasgou, levantando o relógio digital e tentando atrasá-lo algumas
horas, mas os números permaneceram os mesmos e ela o ajustou de volta
grosseiramente. Quando acordou de seu cochilo depois de conversar com Elianna
no dia anterior, ela passou a noite escrevendo seu discurso. Ela sabia que ficar
sentada a noite toda a deixaria cansada, mas não achava que conseguiria dormir a
manhã inteira. Ela pegou seu telefone que estava no chão, ainda conectado à
parede e carregando. O telefone tinha uma bateria cheia, pelo menos.
Texto: Ezra Sullivan
Texto: Bexley Matthews
Atualização do calendário: Elianna Hearst
Ana gemeu e pressionou o polegar contra o nome de Ezra na tela, sua
mensagem abrindo com informações para a festa. Ele havia enviado a mensagem
às 7h47, provavelmente quando estava iniciando os rituais religiosos sobre os
quais a havia contado no dia anterior.
— Eu tenho um táxi indo buscá-la ao meio-dia, esteja pronta. Traga sua
câmera se quiser fotos para sua matéria. Vista branco e não seja uma estraga-
prazeres. Eu estarei bêbado até então, então aceite esta mensagem como meu mais
sincero pedido de desculpas enquanto ainda estou sóbrio.
Ezra bêbado. Ela mal conseguia lidar com o quão imprudente Ezra estava
sóbrio, muito menos bêbado.
Ela saiu de sua mensagem e abriu a de Bexley, e uma fotografia apareceu de
sua mão esbelta com um anel brilhante em seu dedo.
— Ele propôs! Ahhhh! Não é DIVINO? Ele se ajoelhou na costa! Agora você
está falando com a futura SRA. DE LOUGHREY! Estaremos de volta em alguns
dias e depois irei vê-la. Precisamos falar sobre vestidos. Ciao! BJBJ
Bexley tinha o hábito de enviar mensagens de texto em maiúsculas, e ler isso
fazia sua cabeça doer. Ela estava muito feliz, obviamente, e fez seu coração
aquecer que Bexley tinha conseguido tudo o que tinha sonhado em sua viagem
ao sul da França. Ela merecia, depois de tudo que fez por Ana.
Olhando para o relógio, Ana percebeu que tinha menos de uma hora e meia
para se arrumar. Ela rapidamente entrou no banheiro com sua bolsa de banho e
estendeu a mão sobre o chuveiro, e banheira, e ligou a água, sentindo sua
temperatura com um arrepio. Estava fria, mas ela tinha certeza de que acabaria
ficando quente. Mesmo o B&B em tal desordem como esta, deveria ter água
quente, pelo menos, certo?
Não demorou muito para ela tomar banho, e depois de se certificar de que
depilou as pernas e as axilas, enrolou uma toalha em volta do corpo e voltou para
o quarto em uma nuvem de vapor. O quarto tinha um secador de cabelo já ligado
na parede, e ao erguê-lo, ela descobriu que não só estava ligado, mas também
colado na tomada.
— Quem iria querer roubar um secador de cabelo? — ela murmurou para si
mesma, então deu de ombros e escovou seu cabelo molhado.
Depois de secar e enrolar o cabelo com os rolos que estavam na bolsa que
Bexley havia trazido para ela, Ana prendeu partes de seu cabelo loiro atrás das
orelhas, deixando o resto cair pelas costas e depois pegou a sacola rosa de presente
da Dolly's. Tirando o vestido de chiffon branco, Ana segurou-o contra o corpo
contra a toalha, olhando-se no espelho de corpo inteiro para ver como ele caía.
Era um vestido muito bonito, e ela viu pela forma como estava pendurado, que
Oscar havia acertado o tamanho, o que foi surpreendente, já que ele só havia
adivinhado o tamanho dela.
Ela largou a toalha e puxou o vestido pela cabeça, deixando-o cair pelas
pernas, então arrumou o busto e amarrou as cordas na parte de trás do pescoço
sob o cabelo. Tinha um decote reto, por isso não mostrava muito decote, o que a
deixou aliviada. Era um pouco curto na frente, com as costas mais compridas que
se espalhavam até os calcanhares como um comboio. Ela se virou, balançando de
um lado para o outro enquanto olhava para o vestido esvoaçante no espelho e
imaginava como ele flutuaria na brisa.
Dando uma risadinha animada, Ana calçou as botas sobre os pés com as
unhas recém-pintadas de vermelho e olhou para elas com um zumbido. Ela fez
beicinho, não tendo certeza de quão bem suas botas de couro preto ficariam
contra o vestido de babados, mas isso não importava. Ela terminou sua
maquiagem quando o relógio digital virou às 12:00 e virou a cabeça para a janela
aberta quando ouviu uma buzina alta.
— Hora da festa. — Ela levantou a bolsa com a câmera dentro e colocou o
telefone nela antes de pegar as chaves e descer correndo as escadas do B&B.
Quando chegou ao saguão, um buquê de flores estava esperando por ela na
recepção.
— Acho que são minhas — disse Ana para a mulher atrás da mesa,
estendendo a mão para levantá-las e o pequeno saco de flores de cabelo que havia
encomendado.
— Bem, eles não são meus, porra. Eu pareço um ponto de entrega de
encomendas para você? — ela resmungou. Pelo menos não estava cuspindo
fumaça para ela desta vez.
— Não. Obrigada. Volto mais tarde, amanhã irei fazer check-out.
Ela não esperou por uma resposta enquanto saltava para fora do prédio e para
o sol quente, então caminhou até a porta aberta para o banco de trás do táxi. Ela
percebeu, ao fechar a porta e colocar as flores no banco vazio, que não tinha ideia
para onde estava indo, e a confusão em seu rosto deve ter sido óbvia porque o
motorista riu e dirigiu de qualquer forma.
— Não se preocupe, flor, eu sei para onde você está indo. Há apenas uma
parada para pessoas em trajes brancos hoje. Não é longe. — Ele riu.
— Obrigada. — Ana sorriu.
Ela passou o tempo no táxi a caminho da festa colocando as flores de cabelo
secas nas presilhas em seu cabelo, espalhando-as uniformemente. Elas eram
pequenas e brancas, e por mais que achasse que rezar para o sol fosse um pouco
ridículo, ela gostava da estética.
O táxi percorreu uma velha estrada de terra, passando por piquetes com
ovelhas e cavalos correndo, e velhas casas de tijolos brancos, até que finalmente
chegaram a uma estrada de terra cheia de carros ao longo das cercas. Ao longe, ela
viu um portão aberto e uma multidão de pessoas, mas dali não conseguiu
identificar ninguém que conhecesse.
— Aqui estamos. Não consigo aproximá-lo mais. Os carros estão muito
próximos, então você terá que caminhar até o campo — disse o taxista, virando-
se em seu assento para olhá-la.
— Obrigada, mais uma vez. Quanto eu te devo? — ela perguntou, pegando
sua carteira.
— A passagem foi paga. Tenha um bom dia — respondeu ele, virando-se para
trás em seu assento.
Ana piscou, então deu-lhe um pequeno sorriso e um aceno de cabeça antes
de levantar as flores e sair do carro. Ela fechou a porta e o observou sair da estrada
de terra.
Enquanto caminhava em direção à festa, ela viu mais e mais pessoas
espalhadas pelo campo verde. Grandes tendas de algodão branco estavam
espalhadas pelo campo com algumas mesas de madeira cheias de talheres, pratos,
e cálices de prata. Uma estação de alimentação com funcionários do bufê ocupava
a área, os garçons vestindo camisas brancas e calças pretas. Se ela não soubesse
bem, Ana teria pensado que esta era uma festa extravagante para um dos doadores
ricos com quem Elianna trabalhava.
Pessoas vestidas de branco e dourado, com cocares de flores e coroas.
Algumas usavam máscaras feitas de penas e no formato de rostos de animais,
contrastando com seus trajes e ternos elegantes.
Quando ela chegou ao portão, olhou para as fileiras de sapatos bem colocados
e se abaixou para tirar os seus, colocando-os em linha com os outros e entrando
no campo. Ela procurou nos rostos por alguém que pudesse conhecer, não que
ela conhecesse muitas pessoas daqui de qualquer maneira.
— Senhorita Davenport! Eu estava esperando que você aparecesse, querida.
Ana virou para a direita, e depois que algumas pessoas se separaram para
deixar a dona da voz passar, Genevieve surgiu com os braços abertos. Ela estava
usando um vestido branco de mangas compridas e um lenço vermelho vivo, com
uma maquiagem folheada a ouro que fazia seu rosto brilhar à luz do sol.
— Genevieve! Feliz Litha — Ana disse nervosamente enquanto segurava o
buquê para ela, inclinando a cabeça um pouco sem jeito. — Eu disse isso certo?
— Dizemos "Abençoado Litha", mas você pode dizer do jeito que quiser —
explicou Genevieve enquanto pegava as flores. Ela inclinou o rosto para elas e
sentiu o cheiro dos girassóis e das rosas com um zumbido audível, e a puxou para
um abraço caloroso.
— Essas são lindas! Obrigada, Ana. Você recebeu o memorando, estou
vendo? Vestindo branco e trazendo girassóis. Você abençoou a festa com sua
presença.
— É apenas um agradecimento por me convidar. Você não precisava, mas é
apreciado. — Ana sorriu.
— Não fui eu quem te convidou — Genevieve admitiu enquanto cheirava as
flores novamente e a soltava do abraço. — Ezra fez. Ele mencionou que gostaria
de trazê-la, e eu concordei. Você deveria agradecê-lo. — Ela piscou.
Ana piscou e corou profundamente. Ela não sabia por que Ezra mentiu sobre
quem a convidou. Ele mesmo poderia ter perguntado a ela.
— Bem — ela balbuciou, encolhendo os ombros e esfregando os braços —,
independentemente disso, estou feliz por estar aqui. É uma festa linda. Onde
exatamente está Ezra, posso perguntar?
— Siga o rastro da destruição, minha querida; você logo o encontrará. A
Batalha começará em breve, então ele precisará estar pronto para isso. Talvez você
possa arrumá-lo. Tenha um bom dia, Ana, e que os deuses estejam com você. —
Ela se inclinou para beijar a bochecha de Ana, então se virou e caminhou de volta
para seu grupo.
Corando profundamente, Ana atravessou a grama até a área do bar, ficando
na fila e olhando por cima do ombro para as pessoas presentes. As crianças
seguravam varetas com fitas flutuantes presas, gritando de alegria lúdica
enquanto seus amigos as perseguiam, seus vestidinhos brancos se espalhando
atrás delas. Na parte de trás perto de uma das tendas, um grupo de mulheres estava
em um círculo com as mãos unidas, seus rostos voltados para o céu e cantarolando
algo que ela não podia ouvir sobre a banda que estava tocando nas proximidades.
A banda consistia em flautistas e instrumentos de cordas que a faziam sentir sono
enquanto os ouvia no calor.
— Senhora? — O barman perguntou, chocando-a de volta em sua cabeça. —
O que você gostaria?
— Oh! — Ana deu um pulo, dando um passo à frente pela abertura — Vou
tomar um vinho branco.
Ela pegou a taça do barman e saiu do bar, caminhando ao longo da borda da
cerca e para uma das altas tendas brancas que estavam de pé, o tecido
estremecendo suavemente na brisa baixa. Ela espiou dentro da entrada enquanto
passava. Estava vazio por dentro, mas estava cheio de tapetes de todas as cores para
cobrir a grama e tinha uma mesa e cadeiras dentro com uma bola de cristal
translúcida sobre a mesa.
— DAVENPORT! VOCÊ CONSEGUIU!
A voz de Ezra foi reconhecível em um instante, e Ana virou a cabeça para
longe de espiar dentro da barraca para tentar localizá-lo. Ele estava, atualmente,
em uma chave de braço com um homem sem camisa com uma máscara de raposa
cobrindo seu rosto, e ele o empurrou rudemente, dizendo-lhe algo que ela não
ouviu, e foi até ela.
Ele estava vestindo uma camisa branca aberta que revelava seu peito e um par
de calças de algodão branco, e parecia estar a caminho de desmaiar no início da
noite. Ele abriu os braços para ela quando a alcançou e a trouxe para um abraço
de um braço só, olhando-a com um sorriso largo.
— Você parece… bem, caramba, Davenport, você parece uma pequena fada
do campo — Ezra disse enquanto a olhava. Ele a soltou do abraço e pegou sua
mão que estava livre, estendendo-a para que pudesse dar uma olhada melhor nela.
— Esse é um belo vestido.
— Obrigada. Eu acho. — Ana sorriu, afastando a mão dele e tomando um
grande gole de sua taça. — Você já teve um dia e tanto, eu vejo.
— É o segundo maior dia do meu ano, e beber é metade da razão — Ezra falou
arrastado, enganchando o braço em volta do ombro dela e olhando para dentro
da barraca. — O que você estava fazendo bisbilhotando na tenda da fortuna?
Sabe que minha mãe pode fazer isso por você a qualquer hora que você desejar —
ele disse enquanto a levava para longe.
— Eu não estava bisbilhotando, apenas dando uma olhada — Ana se
defendeu enquanto caminhava com ele, olhando para seu rosto. O sol estava atrás
de sua cabeça, tornando suas feições mais escuras e um halo de luz o cercava. Ele
parecia bem.
— Então, bisbilhotando. — Ezra sorriu.
Ele a levou para um banco e sentou-se em uma curva, com o rosto para o calor
do sol e parecia estar se recompondo enquanto ela se sentava ao lado dele e tomava
um gole de sua taça. O banco em que estavam sentados era um dos muitos que
formavam um grande círculo. Ao lado do círculo, estava uma mesa coberta com
um pano dourado e com itens em cima que ela não conseguia distinguir.
Enquanto estava tentando descobrir quais eram os itens, Ezra abriu um de seus
olhos e a olhava com um sorriso.
— Você está muito bonita hoje, Davenport. Linda até — Ezra disse, então se
endireitou e se inclinou para perto dela. Ele estava tão perto que podia sentir o
cheiro de sua colônia de patchouli e sândalo, e ela corou. Ela abriu a boca para lhe
dizer algo, o que ela ainda não tinha certeza, mas ele falou primeiro.
“Eu tenho que ir para a Batalha em breve — ele murmurou, então se sentou
por trás dela.”
— Sua mãe me contou sobre uma batalha. O que isso significa? Não é uma
batalha literal, é? — Ana perguntou enquanto bebia o resto da taça.
— De certa forma, é. Eu sou o Rei Holly — Ezra sorriu enquanto abria os
braços para indicar para si mesmo, então os deixou cair novamente —, tenho que
lutar contra o Rei Oak e vencer.
— Você não está fazendo nenhum sentido — disse Ana, com um levantar de
sua sobrancelha.
— Quando ele faz algum sentido?
O homem-raposa mascarado estava de volta, e ele se sentou na grama na
frente deles, uma nova garrafa de vinho em suas mãos, que estendeu e encheu a
taça vazio de Ana.
— Sempre faço sentido. — Ezra argumentou, encolhendo os ombros e
virando-se para olhar para Ana novamente, inclinando-se mais uma vez. — Este
é Jasper. O meu melhor amigo. Total burro, mas é um bom garoto.
— Um bom garoto? Eu sou mais velho que você. — Jasper disse, tirando sua
máscara e colocando-a de lado.
Jasper tinha a pele escura que brilhava com um brilho dourado de qualquer
óleo que tivesse usado. Ele tinha a cabeça raspada e um sorriso largo e bêbado, e
seus olhos piscavam entre eles com um olhar preguiçoso que ameaçava dormir.
— Há quanto tempo vocês dois estão bebendo? — Ana perguntou,
balançando a cabeça em descrença. — E quando ele tem que lutar? Porque ele
não está em condições de fazer nada agora.
— É uma luta manipulada — Jasper riu. — É uma reencenação. Ezra
interpreta o Rei Holly, que luta contra seu irmão, o Rei Oak.
— Eu não entendo — Ana respondeu enquanto tomava outro gole de seu
vinho, e Ezra fechou os olhos, descansando a cabeça em seu ombro.
— Conte a história para ela. — Ele bocejou.
— Tudo bem — Jasper disse, então limpou a garganta e colocou a garrafa de
lado na grama.
"Há muito, muito tempo, nosso mundo era governado por dois irmãos. Um
se chamava Rei Oak, e ele usava uma coroa de folhas de carvalho e bolotas,
enquanto empunhava um cajado mágico. O outro irmão chamava-se Rei Holly,
que usava uma coroa de folhas de azevinho e galhadas, e usava uma espada
poderosa.
"Cada um dos irmãos achava que sabia como o mundo deveria ser. O Rei Oak
achava que o mundo deveria estar sempre quente, bonito e iluminado pelo sol até
o fim dos dias, mas seu irmão não sentia o mesmo. O irmão sentiu que a terra
como eles a conheciam deveria ser mais fria e escura e deveria descansar em seus
caminhos durante o ano. Eles lutaram por isso repetidamente, sem nenhum
resultado de paz à vista.
"Embora, houve uma pessoa que viu alguma semelhança de uma resolução.
— Jasper sorriu, olhando para Ezra, que finalmente se sentou novamente para
ouvir a história, embora provavelmente já a tivesse ouvido tantas vezes antes.
— E quem era essa pessoa? — Ana perguntou, já tomando a segunda taça de
vinho e sentindo a cabeça girar.
— Uma mulher. Uma donzela, obviamente. — Ezra disse com um encolher
de ombros. — Os homens lutarão e lutarão sem nenhuma resolução. As mulheres
são as que trazem a paz. Estaríamos todos condenados sem vocês.
— Quem está contando essa história? — Jasper interrompeu, rindo quando
Ezra ergueu as mãos defensivamente antes de continuar.
"Tanto o Rei Holly quanto o Rei Oak estavam loucamente apaixonados pela
donzela, e ela os amou profundamente em troca. Ela trouxe uma solução para a
mesa; cada um deles deve governar metade do ano, dividi-lo ao meio. Os irmãos
não seriam persuadidos.
"Um dia quente, quando o sol estava mais alto no céu de todo o ano, o Rei
Holly estava farto do calor e do sol inabalável em toda a sua glória, e ele estalou e
desembainhou sua espada contra seu irmão. O Rei Oak lutou bravamente, mas
estava com muito sono por causa de sua preguiça ao sol, naquele dia, o Rei Holly
deu um golpe fatal com sua espada encantada, e o Rei Oak caiu.
"No segundo em que o corpo sangrando de seu irmão atingiu a terra quente,
o Rei Holly caiu de joelhos e segurou seu irmão em seus braços, embalando sua
cabeça contra seu peito e chorando em seu cabelo. Seu coração estava cheio de
arrependimento porque, embora tivesse realizado seu desejo, seu irmão foi sua
vítima, e ele lamentou.
"A donzela cobriu o Rei Oak com mantas de ouro e o varreu, deixando o Rei
Holly governar a terra da maneira que havia imaginado.
"Os dias ficavam mais curtos ao longo do ano, e a lua permanecia no céu azul
por mais tempo a cada noite. Os dias tornaram-se mais frios, e a neve começou a
cair perto do final do ano, congelando a terra como o Rei Holly desejava, mas
tudo em que conseguia pensar era em seu irmão, seu coração ficando cada vez
mais congelado como a terra sob os pés. Os pés dele. Quando a terra estava nua,
os animais dormiam e o sol estava no ponto mais baixo do céu no solstício de
inverno, a donzela voltou com notícias para o Rei Holly.
"Seu irmão não morreu na luta. A donzela cuidou dele de volta à saúde e ele
estava de volta para lutar contra seu irmão mais uma vez para assumir o controle
da terra e trazê-la de volta ao sol. Da neve e do gelo, o Rei Oak emergiu com seu
poderoso cajado, e com lágrimas de alegria nos olhos do Rei Holly, ele não viu o
golpe chegando e caiu. Não era um ferimento mortal, mas ele cedeu, e o Rei Oak
pegou a mão de seu irmão e o puxou para ficar de pé. Ele lhe disse que era sua vez
de governar, trazer a terra para dias mais quentes para que a comida pudesse
crescer e os animais pudessem acordar novamente.
"O Rei Holly concordou, e abraçou seu irmão. A pele quente de seu irmão
derreteu seu coração congelado e ele partiu em seu trenó puxado por veados,
deixando presentes para todos aqueles que resistiram às suas terras, com a
promessa de que ele e seu irmão trocariam a coroa mais uma vez quando o sol
estivesse novamente no seu ponto mais alto.
"Os dias ficaram mais longos e mais quentes, e a lua voltou a descer no
horizonte no céu. O verde voltou à terra, os animais acordaram de seu sono, e as
plantas começaram a crescer, até o Solstício de Verão, quando os irmãos se
reencontraram, e o ciclo recomeçou. A cada ano o ciclo continua, dando-nos as
estações em toda a sua maravilha, com seus governantes cuidando dos filhos da
terra com sabedoria paterna.”
Ezra bateu palmas ruidosamente, colocando os dedos na boca e assobiando
sua aprovação da história, e Jasper, bêbado, levantou-se para se curvar e riu
quando caiu novamente.
— Você é um contador de histórias maravilhoso, Jasper. — Ana sorriu
quando estendeu a taça para ele para reabastecer.
— Não é sempre que temos uma estranha para quem contar, mas acho que
tirei bem a poeira da história. — Jasper disse, encolhendo os ombros enquanto
enchia o copo dela.
— Há quanto tempo você é o Rei Holly na encenação? — Ana perguntou,
tomando um gole do vinho com um zumbido e olhando para Ezra enquanto ele
se recostava no banco.
— Eu tive uma batalha de verão e duas batalhas de inverno. Este ano temos
um novo Rei Oak. O anterior morreu de verdade este ano. O irmão de minha
mãe. — Ezra franziu a testa.
— Eu sinto muito. Por quem ele foi substituído? — Ana questionou,
olhando entre Jasper e Ezra enquanto eles trocavam um olhar inquieto.
— Meu pai — Ezra disse com uma careta.
Jasper gemeu e se deitou na grama, se aquecendo ao sol.
— Você precisa perdoá-lo já.
— Preciso? — Ezra desafiou, seus olhos se estreitando com desprezo.
— Ele não é um cara mau, Ezra. Ele é muito melhor que meu pai. Você não
deveria ser tão duro com ele — Jasper disse enquanto protegia os olhos e tentou
olhá-lo através dos raios de sol.
— Não me diga como me sentir, é insultante. Posso odiá-lo interiormente,
desde que ele mantenha distância e eu mantenha um olhar de gentileza no meu
rosto. Então, podemos coexistir, eu acho.
Ana achou que não era o momento nem o lugar para perguntar por que ele
odiava tanto o pai, então deixou pra lá, para não estragar o bom humor dele.
— Bem, independentemente disso, você precisa se preparar se não quiser cair
e arruinar a batalha. — Ela estendeu a mão para consertar sua camisa.
Ezra não a estava ouvindo. Seus olhos estavam focados nas pessoas na borda
do círculo enquanto enchiam os assentos ao redor dos gramados, deixando o
meio livre para a batalha acontecer. Sua mãe estava de pé ao lado da mesa de itens
agora, e estava observando todos, esperando pacientemente que todos se
sentassem.
— Falando no Rei Oak… — Jasper disse enquanto se sentava rapidamente e
pegava sua máscara de raposa, colocando-a de volta em seu rosto e sentando-se ao
lado de Ezra.
Ele então deu uma sacudida em Ezra e começou a ajudá-lo a tirar a camisa.
— Você não precisa ficar tão nervoso.
— Não estou nervoso. — Ezra disse enquanto se levantava de seu assento e
passava sua camisa branca para Ana. — Segura isso para mim?
Ana piscou enquanto olhava para a camisa, e depois para o rosto dele. Ela não
esperava que ele ficasse, de repente, sem camisa e lhe fizesse uma pergunta.
Embora ele estivesse, obviamente, passando por algo interno com o qual estava
lutando, tudo o que ela conseguia pensar era em seu peito.
— Uh, desculpe, sim, é claro — disse ela, pegando-o e dobrando-o no colo.
Ezra assentiu e sacudiu os ombros, então caminhou até a mesa ao lado de sua
mãe, que pegou sua mão e beijou sua bochecha. Ela murmurou algo baixinho
para ele que o fez acenar de volta.
Um homem surgiu de trás da multidão e entrou no círculo com um braço
estendido no ar e um sorriso largo. Ela poderia dizer que ele era o pai de Ezra, já
que eles eram tão parecidos. Ele tinha os cabelos grisalhos e salpicados que
pendiam soltos ao redor de suas orelhas e uma barba bem cuidada que abraçava
seu maxilar forte. Ele também usava uma camisa branca com um pesado manto
de pele de animal escuro. A multidão aplaudiu e torceu quando ele caminhou até
a mesa e olhou entre seu filho e Genevieve com um sorriso largo e caloroso que
Ezra não retornou.
— Filho — disse o homem, olhando-o e inclinando a cabeça. — Você parece
bem. Como estão as coisas?
— Não é da sua conta. — A mandíbula de Ezra pulsou, e ele respirou fundo,
então se virou para a mesa de itens.
Genevieve limpou a garganta e olhou para o filho em silêncio antes de se virar
para a multidão. A banda que estava tocando parou quando ela levantou a mão e
todos ficaram quietos.
— Senhoras e senhores! Nossos filhos, nossa família, nossos amigos! Bem-
vindos à Batalha! É o dia de agradecer por toda a abundância que nossos deuses e
deusas nos deram, e dar nossas oferendas de apreço e amor pelos dias mais curtos
e noites mais longas que ainda estão por vir. O sol está agora em seu pico mais alto
— disse ela, indicando o disco solar brilhante no céu. — Ele não ficará mais alto
do que isso pelo resto do ano e, como dita a tradição, é neste exato momento que
nossos irmãos piedosos lutaram para nos trazer o equilíbrio das estações. Sente-se
e testemunhe nossos dois reis!
A multidão explodiu em aplausos quando Genevieve ergueu a coroa de folhas
de carvalho e bolotas. O pai de Ezra sorriu e se ajoelhou na grama na frente dela
com a cabeça baixa, e ela colocou firmemente a coroa na cabeça dele, então
entregou a ele um enorme e pesado bastão de madeira que tinha um cristal
amarelo brilhante no topo.
— Alexander Sullivan, você foi abençoado pelo Rei Oak! Por favor, levante-
se! — Genevieve gritou.
Ele se levantou e ergueu seu cajado no ar, a multidão gritando por ele
enquanto se afastava da mesa e tomava seu lugar no meio do círculo de grama.
Ezra observou seu pai tomar seu lugar, então acenou para sua mãe quando ela
o indicou para se ajoelhar aos seus pés. Ele fez isso e abaixou a cabeça, e Ana pôde
ver sua mãe gentilmente acariciar sua cabeça em conforto antes de levantar a
coroa de galhadas e folhas de azevinho. Ela a segurou acima de sua cabeça e sorriu,
então a posicionou na cabeça dele, colocando o cabelo atrás das orelhas. Ela então
abaixou a pesada espada de prata da mesa em suas mãos.
— Ezra Sullivan, você foi abençoado pelo Rei Holly! Por favor, levante-se! —
ela gritou.
Ana viu um pequeno sorriso no canto de sua boca enquanto ele se levantava,
e quando o fez, enfiou sua espada no ar, a multidão aplaudindo e torcendo pela
ascensão de seu rei. Ele se afastou de sua mãe depois de beijar sua bochecha e então
tomou seu lugar na frente de seu pai.
— Reis! Traga-nos o nosso equilíbrio! Traga-nos nossas estações! —
Genevieve sorriu orgulhosamente. — Lutar!
Ezra e Alexander bateram suas armas um no outro para mostrar que haviam
aceitado o desafio, então deram alguns passos para longe um do outro e se
viraram.
— Certamente isso não é justo se for uma luta manipulada para a vitória a
favor de Ezra? — Ana perguntou a Jasper. — E o pai dele tem um pau, como ele
pode ter uma luta justa se Ezra tem uma espada?
— Pode ser manipulado, mas isso é real — Jasper sussurrou. — Ambos sairão
disso pelo menos com um pouco de sangue. Por que você achou que ele lhe deu
sua camisa?
Ana deu de ombros e bebeu seu vinho enquanto observava os dois homens
endireitarem seus corpos um em direção ao outro. Houve um grito repentino
quando Alexander se lançou para frente e girou seu cajado na parte de trás de sua
cabeça para derrubá-lo em Ezra. Ele claramente não esperava que seu pai o
atacasse com tanta força e, no último segundo, ele protegeu o golpe com sua
espada, mas a força disso o fez cambalear de volta para a grama.
Rolando para fora do caminho e de volta a seus pés, Ezra voltou seus olhos
para seu pai, virou sua espada em sua mão e endireitou sua coroa com a outra
antes de balançar rapidamente, aço se entrelaçando com madeira em um frenesi
que Ana mal conseguia manter o rastreio.
Alexander balançou com força novamente, sua capa de pele se espalhando
atrás de si enquanto seu cajado girava para acertar Ezra nas costelas, mandando-o
para o lado. Ele trouxe a mão para o lado para segurar onde doía, mas Ana
percebeu que não havia dor em seu rosto. Ou ele estava bêbado demais para sentir
isso, ou tinha a melhor cara de poker que ela já tinha visto.
— Pensei que ele deveria estar ganhando? — sugeriu Ana.
— Ele vai. Isso não significa que Alexander facilitará as coisas para ele. —
Jasper respondeu enquanto eles se inclinavam para frente.
Ezra estava mais rápido agora com a raiva sob seus calcanhares, e balançou sua
espada rapidamente, esperando que seu pai levantasse o cajado acima de sua
cabeça para que ele pudesse mudar de direção, cortando a espada sobre o lado do
estômago de seu pai quando passou por ele.
A camisa de Alexander se rasgou e ele sangrou. Ana o viu estremecer
enquanto se endireitava. Ezra estava sorrindo agora, obviamente tendo
entorpecido sua dor ao ver seu pai sangrar.
Em retaliação e usando o momento de ego de seu filho a seu favor, Alexander
empurrou seu cajado para frente para colidir com o peito de Ezra, torcendo a
borda afiada de cristal para cortá-lo antes de puxá-lo para o lado, seu peito
pingando vermelho.
Agora eles estavam quites.
Ezra inalou uma respiração audível, parecendo se preparar para encarar seu
pai. Alexander deu-lhe um aceno de cabeça para lhe dizer que estava tudo bem, e
ele empurrou seu bastão com força, dando a Ezra a chance perfeita de agarrá-lo
com a mão livre. Com a espada na outra, Ezra empurrou a espada com força no
estômago de seu pai. Passou limpo, e Ana pensou que devia ser algum tipo de
truque até que o sangue veio e um grito ficou preso em sua garganta.
— Shh, não fale! — Jasper sibilou, colocando uma mão sobre sua boca
enquanto ela respirava em sua palma para se acalmar.
Ezra ajudou seu pai a deitar na grama, jogando seu cajado para o lado e
ajoelhando-se ao lado dele enquanto segurava a espada firmemente em sua
barriga. Olhou para ele, então estendeu a mão e tirou a coroa de sua cabeça antes
de se levantar mais uma vez para jogá-la no ar.
A multidão irrompeu em aplausos, torcendo ruidosamente pela vitória de seu
rei, enquanto Ana se sentava horrorizada, o rosto perdendo a cor e a cabeça leve.
— Precisamos chamar uma ambulância. — Ana fungou enquanto se
levantava rapidamente.
Ezra voltou para seu pai e puxou a lâmina ensanguentada de seu estômago,
segurando-a no ar novamente com a coroa antes de se virar para olhar para
Alexander, que estava se contorcendo. Ele parecia com dor, mas tão rápido
quanto a emoção brilhou em seu rosto, ela se foi, e ele lentamente se levantou,
enxugando a mão sobre o sangue em seu estômago. A ferida se foi.
Alexander deu uma pequena risada, deu um tapinha no ombro do filho com
a mão ensanguentada e então se curvou para ele.
— Você estragou minha camisa.
— Pense no futuro da próxima vez. Eu tirei a minha por uma razão — Ezra
disse enquanto voltava para sua mãe e entregava sua arma.
Ele beijou sua bochecha e ergueu uma coroa de flores, acenando para todos
enquanto torciam por ele. Ele correu rapidamente de volta para Ana e se ajoelhou
diante dela com um belo sorriso por baixo de sua coroa de chifres e azevinho e
segurou a coroa de flores para ela em suas mãos.
— Você vai ser minha donzela? — Ezra perguntou sem fôlego.
Ana ainda estava tremendo, olhando de onde Alexander estava
comemorando com seu grupo, para onde a multidão a observava, depois de volta
para o rosto sorridente de Ezra.
— O-o quê?
— Eu preciso de uma donzela para dançar para completar o ritual. Por favor,
não me faça dançar com minha tia Nelly novamente. Ela fica na ponta dos seus
pés — Ezra disse enquanto se levantava e se movia para colocar a coroa em sua
cabeça de cabelo loiro, fixando-a ao redor de seu rosto. — Todo mundo está
assistindo, por favor, diga sim.
— S-sim — Ana fungou, enxugando as bochechas.
Ezra pegou a mão dela, caminhou com ela até o centro do círculo de grama e
a trouxe em seus braços enquanto a música recomeçava e outros se juntavam a
eles no círculo da Batalha.
— Eu não entendo, Ezra. Ele estava sangrando. Essa era uma lâmina real, eu
a vi passar direto por ele. V-você estava sangrando também! O que diabos
aconteceu? — Ana perguntou enquanto ele pegava a mão dela e a colocava contra
o peito, olhando-a.
— É uma ilusão, Ana. Meu pai está bem. Eu estou bem — Ezra disse
enquanto tentava acalmar seus nervos. As mãos dela estavam tremendo nas dele,
e ele as apertou com mais força para acalmá-la.
— Você deveria cuidar do seu ferimento — ela murmurou, finalmente
começando a desacelerar seu coração acelerado enquanto olhava para o rosto dele
e o quão feliz ele parecia novamente. — Você ainda está sangrando.
— Eu não estou sangrando — Ezra balançou com ela ao som da música e
tirou a mão que segurava a dela para passar um pouco da substância vermelha em
seu peito. Ele o trouxe à boca e o chupou com um largo sorriso brincalhão, então
a girou rapidamente e a trouxe de volta para ele. Ela fez uma careta.
Rindo, ele se inclinou para dar-lhe um aninhar reconfortante.
— É apenas calda de morango, Ana.
Ana respirou fundo e fechou os olhos enquanto descansava sua coroa de
flores contra o peito dele.
— Eu preciso de uma bebida.
Capítulo 8

O sol estava começando a descer no céu quando as celebrações do jantar


terminaram. Eles tinham carne de veado e vegetais de verão com a comida
empilhada no prato, e frutas e bolos pingando mel como sobremesa. Quando os
garçons vieram pegar os pratos de prata da mesa, Ana ficou com uma sensação de
satisfação bem no fundo da barriga. Por mais abalada que estivesse depois da
Batalha, ver como Alexander estava rindo e brincando sem nenhuma dor
aparente a fez deixar todo o evento passar, mesmo que nada disso fizesse sentido
para ela.
— Isso estava absolutamente fantástico — disse Ezra enquanto se recostava
na cadeira entre Ana e sua mãe.
— Estava realmente delicioso. Obrigada, Genevieve. — Ana sorriu
largamente.
— Teria sido um pouco melhor se meu filho optasse por tirar a coroa e
colocar uma camisa, mas infelizmente. — Genevieve sorriu.
Ezra abriu os braços e deu de ombros alegremente. Ele não estava mais
bebendo de um cálice, decidindo que uma garrafa inteira atenderia muito melhor
às suas necessidades. Sua coroa estava torta em sua cabeça, e ele estendeu a mão
para consertá-la antes de se inclinar para bater na coroa de flores que ainda estava
aninhada na cabeça de Ana.
— Se ela ficar com a dela, eu vou ficar com a minha. Além disso, eu sou a
porra do Rei Holly! — Ezra gritou alegremente, um coro de aplausos irrompendo
de outra mesa.
— E este Rei Holly tem mais um ritual para cumprir — Jasper disse enquanto
se levantava de seu assento e pressionava as mãos nos ombros de Ezra. — Venha,
rei, vou ajudá-lo a caminhar.
Ezra revirou os olhos e se inclinou para olhar para Ana, bêbado.
— Eu retornarei. Não vá a lugar nenhum — ele disse, então cutucou o nariz
dela e se levantou da mesa.
Jasper envolveu o braço de Ezra em seu ombro e o ajudou a atravessar o
campo e entrar em uma das altas tendas brancas, deixando Ana sozinha com seus
pais. Ela estava vendo as costas dele desaparecerem pela entrada da tenda, quando
Genevieve colocou a mão na de Ana e se levantou da mesa.
— Eu tenho algo para cuidar também. Você vai ficar bem sozinha, Ana? —
ela perguntou gentilmente.
— Ela não está sozinha. Tenho certeza de que podemos encontrar algo para
conversar na sua ausência. — Alexandre disse.
Genevieve esperou que Ana assentisse, então saiu da mesa com um leve olhar
entre eles.
Uma longa pausa pairou no ar depois que Genevieve partiu, até que
Alexander se virou em seu assento para olhá-la com um largo sorriso.
— Ela não é minha maior fã. — Ele encolheu os ombros.
— Nem Ezra, ou assim pode parecer — Ana sugeriu enquanto bebia a água
em seu cálice. Ela já tinha bebido muito vinho naquele dia, e sua cabeça latejou
baixinho em lembrete para se manter hidratada.
— Não, ele não é. Eu tento o meu melhor, mas às vezes não há um caminho
certo pelos olhos de seus filhos. — Alexander disse, olhando além dela, para a
tenda branca onde Ezra havia desaparecido, então olhou de volta para o rosto dela
— Minha ex-mulher me disse que você é uma repórter. Normalmente, os
repórteres trabalham com Genevieve, não com Ezra. Qual é o seu ângulo?
— Meu ângulo? — Ana perguntou um pouco defensivamente, sentando-se
mais ereta em sua cadeira e deixando uma carranca franzir sua testa.
— Sim, seu ângulo. Sua história. Deve haver alguma razão para você estar
correndo atrás da mão e do pé de meu filho. Genevieve disse que vocês têm
passado muito tempo juntos.
— Genevieve lhe diz pouco, considerando que ela é sua ex-esposa. — Ana fez
beicinho.
— Touché. — Alexandre riu. Ele tinha uma risada calorosa que era
convidativa e calma, como a de Genevieve. — O suspense está me matando,
Senhorita Davenport.
Ana cedeu, não querendo ser rude.
— Ezra encontrou uma caixa de bruxa no monumento. Eu tenho
acompanhado para ver onde isso leva para uma matéria para o The City Herald.
Pode ser apenas o furo de que preciso — disse Ana. Ela se inclinou sobre a mesa
e pegou um dos morangos que estavam em uma grande tigela de ouro. Por
alguma razão, por mais legal que Alexander fosse, ela sentia que estava traindo
Ezra ao falar com ele.
— Ele encontrou? — Alexander perguntou, seus olhos se arregalando. Ele
acariciou a barba, então riu para si mesmo e balançou a cabeça. — Ele encontrou
a caixa de bruxa no Raven Hill?
— Por que isso é tão surpreendente? Ezra é um homem inteligente. — Ana
deu de ombros enquanto jogava fora o topo de seu morango.
— Isso ele é, mas aquela maldita caixa foi sua baleia branca, por assim dizer.
Ele está obcecado por sua localização há anos. Eu não posso acreditar que ele
realmente encontrou. Ele não me diz mais essas coisas. Nós costumávamos ser
próximos. Costumávamos descobrir esses tipos de mistérios juntos. Uma espécie
de equipe de pai e filho, se preferir. Acho que ele me substituiu. — Alexander
disse, seu sorriso vacilante.
A tristeza tomou conta do rosto de Alexandre por um momento, mas quando
viu Ana olhando para ele, renovou o sorriso e deu de ombros.
— Posso perguntar o que havia dentro? Chame isso de curiosidade
profissional.
Ana limpou a garganta do gosto de morango e pegou um guardanapo para
enxugar as mãos.
— Encontramos um documento antigo com pistas de locais antigos, os
chamados "itens mágicos". Três no total.
Os olhos de Alexander brilharam com o que parecia ser excitação, e ele juntou
as mãos com uma risada.
— A que linhagem a caixa de bruxa estava ligada?
— O Coven Marion. Você sabe muito sobre todas essas coisas. O que
exatamente você faz? — Ana perguntou enquanto estreitava os olhos para ele.
— Eu escrevi o livro sobre essas "coisas" como você chama, Srta. Davenport.
Literalmente. Eu sou o professor-chefe de todas as coisas ocultas. Eu ensino na
universidade. Principalmente folclore e história, arqueologia oculta, esse tipo de
coisa. Tudo o que Ezra sabe, eu ensinei a ele. Como eu disse, já fomos próximos.
Ele nunca permitiria se soubesse, mas se ele ficar preso em sua busca, você sempre
pode me pedir conselhos. Eu o ajudarei de todas as maneiras que puder, mas
talvez você precise convencê-lo. É apenas uma oferta. Estou sempre a um
telefonema de distância, Ana.
A conversa foi interrompida por um súbito clarão de luz, e Ana desviou os
olhos de Alexander para encontrar sua fonte.
Ezra havia emergido da tenda e tinha acabado de lançar uma flecha flamejante
na enorme fogueira nos fundos do campo para incendiá-la. As pessoas estavam
aplaudindo novamente, e Ezra passou seu arco para outra pessoa e começou a
caminhar de volta para a mesa com Jasper em seu encalço. Ele estava
tropegamente bêbado, e, quando chegou à mesa, quase se chocou contra ela com
uma força que o derrubou na cadeira.
— Davenport! Acendemos uma fogueira! — Ezra sorriu, então notou que
seu pai estava sentado ao lado dela e franziu a testa. — Sobre o que vocês dois
estavam falando?
— Você. — Alexandre sorriu. Ele se levantou da mesa e fez uma reverência
para Ana antes de acenar para o filho e sair da mesa.
— O que ele disse? — Ezra balbuciou, observando seu pai até que ele
desapareceu na multidão de pessoas.
— Não muito. — A última coisa que Ezra bêbado precisava era ficar com
raiva de algo que ela causou. — Ele só queria saber como você está. O que
aconteceu ali?
— Bem — Jasper começou enquanto se aproximava da mesa —, ele
chamuscou o cabelo, para começar. — Ele empurrou o amigo. — Eu preciso ficar
aqui com minha família, mas você realmente deveria levá-lo para casa antes que
ele acabe se matando. — Ele riu.
— Como vou levá-lo para casa? Não tenho carro e eu bebi — perguntou Ana.
— Ele mora na casa no final da estrada de terra. É uma caminhada de cinco
minutos. Por favor, eu não acho que seu fígado pode aguentar muito mais —
Jasper implorou enquanto ajudava Ezra a se levantar.
— Eu estou bem aqui, sabe — Ezra disse enquanto empurrava seu amigo e
cambaleava, sua coroa torta na cabeça. —, e eu posso andar sozinho. Não preciso
de ajuda.
Jasper suspirou e olhou para Ana novamente com uma carranca triste.
— Eu mesmo o levaria, mas tenho coisas para fazer antes de começarmos a
limpeza. Certifique-se de que ele está seguro.
— Eu vou. — Ana suspirou.
Jasper partiu, e Ana foi deixada para perseguir Ezra enquanto ele cambaleava
em direção ao portão. O céu estava mudando rapidamente agora, os azuis
brilhantes que antes eram fortes agora se transformando em roxo escuro e
marinho. Quando eles estavam saindo, o resto do grupo estava começando a
acender velas nas mesas e tochas no campo, e ela levou um momento para admirar
a beleza disso antes de encontrar suas botas e calçá-las rapidamente.
Correndo, finalmente alcançou Ezra. Ela se segurou ao lado dele e o deixou
se apoiar nela enquanto ele passava o braço em volta do ombro dela e olhava para
as estrelas que lentamente perfuravam o céu.
— Você não tem que me levar para casa, sabe, estive em estados piores do que
este — Ezra murmurou.
— Eu não me sentiria bem deixando-o andando sozinho por uma estrada
escura. Você vai acabar em uma vala, e eu não vou ter uma matéria — disse Ana
enquanto observava a estrada de terra à frente deles para se certificar de que não
tropeçariam.
— Ah, sua preciosa matéria. Você está tão focada em seu objetivo, mas não a
vi tirar uma foto hoje para o seu artigo.
Ana deu de ombros enquanto o apertava com mais força.
— Bem, por que eu iria? — A culpa pulsou em algum lugar em seu estômago
novamente e pressionou contra sua garganta, mas ela engoliu de volta. — A festa
não teve nada a ver com a caixa ou os itens, não há necessidade de mostrar seu
feriado assim.
Ezra parou de andar e a olhou, sorrindo bêbado.
— Obrigado. O que você achou? Das comemorações, quero dizer?
Ana puxou-o novamente e sorriu, olhando por cima do ombro para as luzes
no campo enquanto elas ficavam cada vez menores.
— Foi bonito. Eu ainda não tenho ideia de como você fez essa "ilusão" com
seu pai. Espero uma resposta quando estiver sóbrio.
Ezra riu e balançou a cabeça. Eles estavam se aproximando de sua casa agora,
e podiam ver as lâmpadas do jardim iluminando o pequeno caminho.
— Se você comparecer ao Solstício de Inverno, eu posso te contar meu
segredo depois que tiver minha cabeça esmagada, hum?
— Claro, tanto faz — Ana provocou enquanto o puxava pelo pequeno
portão. — Esta é a sua casa?
A casa à sua frente, era uma bela casa de campo com telhado de palha e
paredes de pedra branca. O jardim estava bem cuidado, e pelo que ela podia ver
na escuridão, tinha pequenos gnomos por todo o gramado e vasos cheios de flores
desabrochando.
— HÁ! Não. Esta não é a minha casa — Ezra disse enquanto tirava as chaves
da calça de algodão branco e tropeçava nas pedras do calçamento. — Esta é a casa
da minha mãe. Minha casa fica nos fundos.
— Você mora com sua mãe? — Ana perguntou, levantando a sobrancelha e
seguindo-o pela lateral da casa.
— Não exatamente. Tenho meu próprio bangalô. Eu sou um filhinho da
mamãe, o que posso fazer? Não me julgue. — Ele se atrapalhou para encontrar a
chave certa. Com a atenção desviada dos pés, ele caminhou direto para um vaso
de plantas, enviando-a através das pedras.
— Jesus Cristo. — Ana suspirou, vendo-o se endireitar e seguir pelo caminho
até um pequeno bangalô.
O prédio também estava bem conservado, mas ao luar, ela podia dizer que era
uma construção muito mais nova em comparação com a casa de sua mãe.
— Não consigo encontrar a chave — Ezra gemeu enquanto se inclinava
contra a porta.
Ana pegou o molho de chaves dele e procurou a certa para a fechadura. Ela
tentou uma, e ela travou, então ela puxou e tentou a próxima, tentando ignorar a
sensação dos olhos dele a observando.
— O que você está olhando?
— Você. — Ele sorriu, encostado na porta com o ombro. — Você está linda
com sua pequena coroa. — Ele disse, estendendo a mão para esfregar uma pétala
de sua coroa entre os dedos.
— Você está bêbado — disse Ana, tentando a próxima chave, que também
travou.
— Não torna isso menos verdade — Ezra disse, cruzando os braços contra o
peito nu e esperando por ela.
Ana abriu a boca para dizer algo, mas parou quando tentou a próxima chave
e a porta se abriu, o que fez Ezra cair no corredor. Ela riu quando ele se levantou
do chão e entrou em sua sala de estar.
A sala já tinha as luzes da parede acesas, e ela viu uma cozinha aberta com um
fogão e uma máquina de café, uma velha pia de cerâmica e uma pilha de roupas
na frente da máquina. A sala era humilde e simples, com um pequeno fogão
encostado na parede e um sofá de cada lado da sala. Uma porta estava na parte de
trás, provavelmente levando ao seu quarto, e uma pequena mesa de jantar com
uma pilha alta de livros estava posicionada perto da janela.
— Lar, doce lar — Ezra anunciou enquanto ela se aproximava dele para
firmá-lo e guiá-lo para um dos sofás onde desabou, trazendo-a com ele. —
Obrigado por ter vindo hoje.
— Sobre isso — Ana disse enquanto pegava a coroa dele, mas ele a impediu,
pegando a mão dela. — Você disse que sua mãe me convidou, mas quando eu a
agradeci por isso, ela disse que não. Ela disse que você me convidou. Por que
mentir?
Ezra deu uma risada ofegante e deu de ombros.
— Droga. — Ele sorriu. — Você teria vindo se eu fosse o único a convidá-la?
Ana inclinou a cabeça e tentou pensar em algo para dizer. Ela queria
permanecer o mais profissional possível, mas quanto mais o conhecia, mais difícil
ficava.
— Sim.
— Bom — Ezra disse, assentindo. Sua testa franziu em concentração, como
se estivesse tentando fazer seu cérebro funcionar através da névoa de álcool. — Eu
vou te beijar agora.
Antes que Ana pudesse reagir, Ezra a tinha em seus braços e sua mão segurou
o seu queixo para que ele pudesse beijá-la suavemente. Foi mais gentil do que ela
esperava que fosse, e ela ficou surpresa que ele a beijou com uma ternura calorosa,
mesmo através de sua névoa bêbada. Enquanto ele aprofundava, e seus ombros
relaxavam contra ele, sua mente a trouxe de volta para o ambiente e a forçou a
finalmente quebrá-lo. Ela sorriu quando se inclinou contra ele e colocou o dedo
em seus lábios quando ele se inclinou novamente.
— Você precisa dormir — ela sussurrou.
— Eu realmente preciso — Ezra disse contra seu dedo. Ele tirou a mão dela
do rosto e beijou as costas dela antes de tirar a coroa e colocá-la no chão. Ele caiu
para trás no sofá com um gemido, e ela poderia dizer que seu mundo estava
girando pela forma como ele estava tentando manter o pé no chão.
— Ezra, onde estão seus cobertores? — Ana perguntou enquanto se
levantava e se inclinava sobre ele para colocar seu cabelo longe de seu rosto. Ele
simplesmente gemeu, e ela revirou os olhos e se virou para a porta nos fundos da
sala que levava ao quarto dele.
O interior era surpreendentemente arrumado, com uma cama perfeitamente
arrumada e roupas bem dobradas. Ela pegou alguns cobertores extras do armário
e voltou para o sofá, colocando um em volta dele gentilmente para evitar acordá-
lo, mas o movimento o fez se mexer e ele estendeu a mão para ela.
— Obrigado — murmurou — por ser minha donzela hoje. — Então ele a
soltou e rolou para o lado.
Ana sorriu para ele calorosamente, inclinando a cabeça para ele e quão rápido
voltou a dormir. Ela não podia simplesmente deixá-lo aqui enquanto estava tão
bêbado, no caso de ele vomitar durante o sono ou se machucar, e não era como
se ela pudesse chamar um táxi daqui. Ela nem sabia onde estava.
Mordendo o lábio, ela levantou o cobertor extra e optou pelo outro sofá para
poder ficar de olho nele. Ela afofou os travesseiros, tentando deixar o sofá o mais
confortável possível, mas era velho e parecia muito mais irregular que o dele. Ela
tirou a coroa e deitou-se de qualquer maneira, estendendo a mão para desligar a
lâmpada e puxando o cobertor até os ombros enquanto se deitava de costas e se
obrigava a dormir.
Capítulo 9

Algo estava empurrando para baixo em seu peito, tornando quase impossível para
ela ofegar por ar. Ele agarrou seu peito, e ela descobriu que quando suas mãos
agarraram seu vestido, as mãos já estavam lá. As mãos tinham bordas afiadas e
pareciam geladas ao toque.
— Cadê?!
Ana abriu os olhos quando ouviu a voz em sua cabeça. Ela não viu nada. Um
grande buraco negro, mais negro do que qualquer sombra que já tinha visto.
— Cadê?!
Um grito ficou preso em sua garganta quando mãos afiadas agarraram seu
vestido e a sacudiram no sofá, pressionando-a com tanta força que seu peito
parecia que iria desabar na escuridão. Um par de olhos vermelhos empurrou
através da escuridão.
Um grito finalmente saiu de sua garganta e foi para o ar ao seu redor. Ela
fechou os olhos e virou o rosto para longe da escuridão que parecia querer
consumi-la.
A luz de repente encheu a sala, espalhando-se por suas pálpebras em amarelo
e vermelho, e ela se viu abalada.
— Ana! Ana, acorda! — A voz de Ezra a chamou gritando.
Ana engasgou, finalmente abrindo os olhos e olhando para o rosto dele
enquanto ele segurava seus ombros. Ela estava tremendo, sua pele fria ao toque e
seu cabelo grudado no rosto.
— Você estava gritando — Ezra disse, seu rosto cheio de preocupação.
— Eu estava acordada. Quer dizer, acho que estava acordada, mas havia algo
em cima de mim. Eu n-não podia me mover — ela gaguejou.
Ezra a ajudou a se sentar, e colocou um pouco do cabelo dela atrás das orelhas.
— O que você viu?
Ana fungou e colocou a mão no peito onde sentira as mãos afiadas e frias. Ela
esfregou a pele suavemente para parar o formigamento. Sua frequência cardíaca
diminuiu, e depois de algumas respirações profundas ela começou a ver através
do pânico. Talvez ela tivesse sonhado.
— Nada. Não importa. Sinto muito por acordá-lo. — Ana disse enquanto
olhava para ele quando a soltou.
— Tem certeza? Você está muito pálida. — Ezra se levantou e caminhou até
a cozinha aberta. Ele encheu dois copos de água e pegou um pequeno pote de
aspirina, então voltou rapidamente.
— Obrigada — disse Ana enquanto ele passava o copo para ela e o engolia.
— Que horas são?
— 4:00 — ele murmurou, tomando duas das pílulas. Ele as bebeu com água
e então se moveu para se sentar ao lado dela novamente. — E eu estou com uma
ressaca do inferno.
— Tenho a certeza que sim. — Ana riu, terminando seu copo de água
rapidamente. — Sinto muito por te acordar tão cedo. Você pode voltar a dormir.
Ezra deu de ombros enquanto tirava o telefone do bolso. Sua testa franziu
enquanto ele rolava, então apertou um botão e colocou o telefone no ouvido.
— O que foi? — sussurrou Ana.
Ezra ergueu o dedo para sinalizar para ela ficar quieta enquanto ouvia. Seu
rosto ficou mais sombrio e preocupado e, finalmente, ele tirou o telefone do
ouvido e se virou para olhar para ela.
— Era a Nina. Tenho seis chamadas perdidas e duas mensagens de voz. Ela
disse que precisa me ver imediatamente. — Ele disse, preocupação evidente em
seu rosto.
— A que horas ela as enviou? — Ana perguntou, colocando seu copo na mesa
na frente deles.
— 3:04 — Ezra murmurou. Ele puxou a última mensagem de Nina na tela.
— Ela disse para encontrá-la no monumento. É urgente, aparentemente. Eu
preciso ir.
Ele se levantou rapidamente e desapareceu em seu quarto, voltando vestido
com uma camiseta preta e jeans.
Ana franziu a testa em confusão. Por que Nina iria querer encontrá-lo no
monumento tão tarde da noite? Ela corou e mordeu o lábio, inclinando a cabeça
para ele quando vestiu a jaqueta.
— Devo vir? Ou este é um pequeno encontro que requer apenas você? —
Ana perguntou com uma curva de sua sobrancelha.
— Huh? — Ezra estava calçando os sapatos e mal a ouvia. — O que? Não.
Ela é como uma irmã para mim.
— Tudo bem, então eu vou junto. Poderia ser sobre a caixa, certo? Você tem
um casaco que eu possa usar? — ela perguntou enquanto se levantava. Ela ainda
estava usando o vestido da festa, e por mais quente que estivesse aqui durante o
dia, as noites eram geladas.
Ele assentiu e entregou a ela um casaco atrás do sofá antes de abrir a porta da
frente e sair.
— Espere por mim! Eu preciso colocar meus sapatos! — Ana o chamou
enquanto se esforçava para calçar as botas pretas e o casaco dele. Era grande nela
e pendia até os joelhos quando ela o fechava, mas pelo menos a manteria aquecida.
Ela saiu correndo do bangalô e fechou a porta, seguindo o caminho até onde
o carro estava estacionado. Ezra já estava dentro e tinha o motor ligado. Ela entrou
no banco do passageiro e fechou a porta atrás de si mesma, franzindo a testa para
ele quando saiu da garagem rapidamente.
— Devagar, Ezra! Acho que você ainda está bêbado. Você não deveria estar
dirigindo. Eu posso nos levar se me mostrar o caminho.
— Eu não estou bêbado. Estou bem — Ezra disse enquanto acelerava pelo
caminho de terra e pela estrada. Seus olhos estavam focados na estrada, e suas
mãos estavam segurando o volante com tanta força que seus dedos estavam
brancos.
— Ezra, o que há de errado com você? O que está acontecendo? — Ana
exigiu, o carro saltando ao passar por cima de um buraco. O carro chiou e gemeu
com o solavanco, e seu coração acelerou novamente. — Ezra! Fale comigo!
— Não sei! Está bem? Não sei. Por que Nina estaria me ligando e mandando
mensagens de texto às 3:00, Ana? Hum? Eu tenho um mau pressentimento sobre
isso e estou preocupado. Apenas deixe-me me preocupar.
Ele nem sequer olhou para ela, o que ela supôs que ela estava feliz por
considerar suas terríveis habilidades de condução, e ele deveria estar olhando para
a estrada de qualquer maneira.
— Ok, tudo bem, nossa — Ana retrucou enquanto se sentava corretamente
em seu banco e segurava a alça acima da porta.
Eles dirigiram pela escuridão em silêncio por um longo tempo antes de
virarem para a estrada que levava à base do monumento.
Finalmente, Ezra se virou para ela, seus olhos intensos enquanto a observava.
— O que você viu na minha casa? O que te acordou do seu sono?
— Foi um pesadelo. Ezra, você está começando a me assustar. Tenho certeza
que o que quer que Nina va…
— Você disse que estava acordada. Eu a balancei, e você disse que estava
acordada. O que você viu? — ele perguntou novamente.
— Nada. Foi um pesadelo! Você poderia apenas relaxar?
Ele largou a conversa e não perdeu tempo saindo do carro quando parou.
Abrindo o porta-malas, ele ergueu duas lanternas e passou uma para ela. Sem
falar, ambos percorreram o caminho que levava ao monumento.
O monumento parecia tão diferente à noite. A lua estava brilhante, lançando
um brilho nas lápides e nas árvores que ladeavam o fundo dela.
Ana tentou não olhar para as lápides ao passar. O calafrio que sentiu aqui
quando as viu pela primeira vez ainda permanecia em seus ossos, e parecia ficar
ainda mais frio quando ela se aproximou da estátua de Mary Marion.
Passando pelo portão, Ana viu pequenas luzes no topo do morro onde ficava
o monumento e correu para o lado de Ezra.
— Olha, há luzes. Ela deve estar lá em cima — ela disse, tentando confortá-
lo, mas ele ainda estava em silêncio.
Eles subiram a colina juntos, e Ana ficou grata por ter calçados melhores
enquanto subia, embora sua respiração ainda estivesse tão rápida quanto da
primeira vez. Ela estava ficando para trás, enquanto Ezra seguia a trilha em passos
largos para escalá-la mais rápido, e ela se viu lutando para acompanhá-lo.
Finalmente, eles chegaram ao topo da colina, e Ezra correu ao redor do
monumento até onde estavam as pequenas luzes e parou no meio do caminho.
Sua lanterna tremeu em sua mão, tornando seu facho instável, e sua mão livre
voou para agarrar o cabelo em sua cabeça. Ele parecia incapaz de se mover.
— O que? O que foi? — Ana ofegou quando finalmente o alcançou.
Ela arrastou os olhos de Ezra e ao longo do feixe de sua lanterna para onde
estavam as pedras erguidas, as mesmas sob as quais a caixa de bruxa estava
enterrada.
Sentada curvada sobre os joelhos com as mãos amarradas atrás das costas e
ligada à pedra estava sentada Nina. Ela estava nua, sua pele azul, e sua cabeça
estava inclinada para frente de modo que seu cabelo vermelho úmido caía sobre
seu rosto. Tochas acesas estavam saindo do chão ao redor da pedra à qual ela
estava amarrada, e algo branco as ligava em um círculo ao redor dela. Pequenos
cortes inflamados cobriam todo o seu corpo, vazando vermelho por suas coxas e
se acumulando sob seus pés.
Ezra largou a lanterna na grama e caiu de joelhos, a respiração deixando seu
corpo em nuvens de ar frio e Ana correu para frente. Ela engasgou, seus pulmões
parecendo paralisar, e ela começou a hiperventilar ao vê-la.
— N-Nina? — Ela engasgou, tropeçando em direção à borda do círculo.
Nina não se moveu.
Ana engoliu em seco e cambaleou até a borda do círculo branco, estendendo
a mão trêmula para encontrar o pulso.
— Não! Não toque nela — Ezra chamou, finalmente se levantando e
correndo para puxar o braço dela para longe de Nina. — Você não pode tocá-la.
— P-precisamos verificar se ela ainda está viva, Ezra. — Ana soluçou. Ela não
podia ver através do fluxo de lágrimas que nublavam seus olhos.
— Ela não está — Ezra disse com um movimento de seu corpo enquanto
pegava seu rosto em suas mãos para forçá-la a olhar para ele. — Não olhe para ela.
Olhe para mim.
Ana não conseguia parar de olhar para ela, verificando se estava respirando
ou se estava viva, mas tudo o que conseguia ver eram as centenas de cortes em
toda a sua pele.
— Ana, porra, olhe para mim! — Ezra gritou para ela, finalmente trazendo
seus olhos para os dele. — Certo, bom. Agora, respire.
Ana respirou fundo pelo nariz e exalou pela boca, os ombros tremendo.
— Bom. Preciso que volte para o carro e chame a polícia. Você pode fazer isso
por mim? — Horror estava escrito em todo o rosto dele, mas ela podia dizer que
ele estava lutando arduamente para tentar impedi-la de desmoronar.
— M-mas e se quem fez isso ainda estiver aqui? E você?
— Eu estarei bem atrás de você. Preciso quebrar esse círculo, mas prometo
que serei rápido. — Ele a puxou de onde ela estava enraizada no chão e a levou
em direção ao caminho novamente. — Não olhe para trás. Continue andando até
chegar ao carro e não abra a porta para ninguém além de mim.
Ana assentiu enquanto segurava as mãos dele na beira do caminho e desejava
que seus pés se movessem por conta própria. Antes que tivesse muito tempo para
pensar sobre isso, ela o soltou e começou a descer a colina gramada. Mais e mais
lágrimas escorriam por suas bochechas, e seu ritmo mudou para uma caminhada,
depois uma corrida, e antes que percebesse, ela estava correndo para o carro.
Correndo para dentro, Ana fechou a porta e a trancou, então enfiou a mão na
bolsa e procurou por seu telefone. Suas mãos tremiam tanto que ela mal
conseguia segurá-lo, e ela teve que segurá-lo com ambas as mãos para evitar que
caísse da palma da mão. Enxugando as lágrimas no casaco de Ezra para poder ver
a tela, Ana discou o número e levou o telefone ao ouvido.
— P-polícia! Polícia, nós p-precisamos da p-polícia!

A delegacia de polícia local estava tão fria quanto o lado de fora. Ana estava
sentada no saguão havia uma hora sozinha, tendo terminado seu interrogatório
com o detetive primeiro. Ela estava histérica quando a polícia chegou ao
monumento. Ezra estava quase catatônico, e eles levaram toda a jornada até a
estação para se acalmar o suficiente para explicar exatamente como eles chegaram
ao monumento e por quê. Eles haviam insistido em que fossem entrevistados
separadamente, para garantir que não tivessem nada a esconder e que suas
histórias fossem as mesmas sem tempo para construir uma falsa, ela supôs. Ela
tinha assistido a programas policiais suficientes para saber pelo menos isso.
A delegacia estava silenciosa, um subproduto do fato de ser 7:00 e ela não
pôde deixar de notar que os poucos policiais que estavam lá, estavam todos
olhando-a. Ela olhou para os joelhos, onde suas mãos os seguravam. Ela não estava
mais tremendo tanto, mas o frio se instalou em sua pele tão profundamente que
ela temeu que nunca mais sentiria calor.
Finalmente, a porta da sala de interrogatório se abriu e Ezra saiu, o detetive
alto o seguindo enquanto ele fechava seu caderno e o enfiava no bolso.
— Acho que tenho tudo o que preciso de vocês dois por enquanto, mas
ligarei para vocês em alguns dias assim que estiverem recuperados. Não saia da
cidade. — Ele disse e passou a eles seus cartões com o número da delegacia e sua
própria linha pessoal.
Ana fungou enquanto se levantava cambaleante, pegando o cartão e tocando
nas bordas com os dedos.
— Eu tenho que sair hoje. Na verdade não moro aqui, moro na cidade.
Tenho uma reunião com minha chefe para a qual preciso comparecer, mas serei
acessível pelo número que lhe dei.
— Tudo bem. Vá para casa, durma um pouco, se puder. Entrarei em contato.
Ana se virou rapidamente e caminhou direto para a porta. Ela mal podia
esperar para sair da estação e do campo de visão dos olhos fixos. Ezra a seguiu,
alcançando rapidamente. Eles não falaram um com o outro até que estivessem de
volta dentro do Beetle roxo de sua mãe que estava estacionado do lado de fora das
portas da estação. Foi só depois que eles entraram e ela olhou para o rosto dele,
que percebeu como seus olhos estavam vermelhos e como sua pele estava pálida.
— Você está bem? — Ela estendeu a mão pelo carro para pegar a mão dele
enquanto ele olhava para o volante.
Ezra não disse nada. Ele apenas balançou a cabeça lentamente e apertou a mão
dela com força.
Depois de alguns momentos de silêncio ensurdecedor, Ezra pigarreou e
soltou a mão dela, ligando o carro e pegando a estrada de volta para casa.
— Você está indo embora? — ele finalmente perguntou.
— Sim — disse Ana enquanto se recostava no banco e puxava o casaco dele
em volta do rosto para forçar um pouco de calor em sua pele. — Desculpe, devo
ter esquecido de lhe dizer. Eu tenho uma reunião sobre a nossa matéria.
Ezra engoliu em seco, e ela podia ver a mandíbula dele apertar enquanto
cerrava os dentes, provavelmente para não chorar novamente. Ela não
mencionou isso.
— Ezra… — ela parou, olhando para o rosto dele. — O que eram aqueles
cortes no corpo de Nina?
Ezra fechou os olhos com a pergunta dela, tendo que se forçar a abri-los
novamente para poder observar a estrada.
— Por favor, Ana. Não consigo mais pensar nisso.
— Por favor. Diga-me. Eu preciso entender o que aconteceu. Eu preciso saber
por que ela estava assim. Foi algum tipo de ritual?
Ezra respirou fundo e mordeu o lábio com força, levando um momento para
se recompor. Ele rapidamente enxugou o rosto e limpou a garganta, sentando-se
reto em seu assento.
— Durante os julgamentos de bruxas entre 1560 e 1630, os caçadores de
bruxas e sacerdotes que conduziram os julgamentos não estavam apenas
encontrando e queimando bruxas acusadas. Uma vez que capturassem aquelas
que confessassem, eles as torturariam até que lhes dessem os nomes de seu coven.
Na maioria das vezes, as mulheres não eram bruxas; elas só haviam confessado
para evitar a estaca. Portanto, quando começaram a torturá-las, elas disseram
qualquer nome que lhes viesse à mente apenas para acabar com seu sofrimento.
Os cortes que você viu no corpo de Nina foram um dos métodos de tortura que
eles usaram para fazer com que as mulheres lhes dissessem o que sabiam. Acho
que quem fez isso com ela estava tentando obter informações. A única conexão
que ela tinha com qualquer coisa de natureza oculta era comigo. Acho que
alguém estava procurando a caixa. O corpo dela estava amarrado exatamente
onde a encontramos. Ela não saberia onde eu a havia escondido para se libertar.
Eu sou a razão pela qual ela está morta.
Ana o observou com os olhos arregalados, e balançou a cabeça
vigorosamente, estendendo a mão para apertar seu ombro.
— Não. Isso não foi sua culpa. Você não poderia saber que isso ia acontecer
com ela. Como você pôde ter chegado a isso?
— Eu poderia ter feito o que ela me pediu e deixado seu terreno intacto.
Poderia ter parado de procurar a caixa quando me foi negada a permissão para
cavar, eu poderia… Poderia estar sóbrio e atender meu telefone quando ela me
ligou. Eu poderia tê-la salvado… — Ezra disse com os dentes cerrados, tendo que
dirigir com uma mão para poder se apoiar na porta com o cotovelo e segurar a
cabeça na outra mão, observando a estrada.
Ana suspirou tristemente e tirou a mão do ombro dele para abaixar a janela.
Ela sabia que nada que pudesse dizer iria aliviar sua culpa, não importa o quanto
tentasse.
— Sinto muito, Ezra.
Ezra engoliu em seco e deu de ombros, secando a bochecha com o polegar.
— Nada pode ser feito sobre isso agora, ela está morta de qualquer maneira.
Mas quem estiver procurando por aquela caixa e o manuscrito dentro dela ainda
estará procurando por ela, e eu não posso ser responsável por mais dor.
— O que isso deveria significar? — Ana perguntou enquanto observava seu
rosto, tentando chamar sua atenção, mas ele não olhava para ela.
— Significa que isso acabou — disse Ezra, esfregando a têmpora. Sua ressaca
estava claramente chutando sua bunda, e sua dor estava pesando sobre ele. —
Significa que vou destruir a caixa e seu conteúdo, e vamos esquecer que tudo isso
aconteceu. Eu sei que você quer sua matéria, e vou pedir à minha mãe que lhe dê
outra coisa, mas sinto muito, Ana. Eu não posso ter ninguém indo até você, ou
eu, ou minha mãe. Não posso deixar isso acontecer. — Ele estava finalmente
olhando para ela, seus olhos cheios de dor e fadiga. — Você estava indo embora
de qualquer maneira, certo?
— Eu voltaria na segunda-feira… — Ana disse, observando-o com os olhos
arregalados e as lágrimas ameaçando-os novamente.
— Bem, agora você não precisa. — Ezra disse enquanto estacionava do lado
de fora do B&B e parava o carro.
Ana cerrou os dentes e apertou a mandíbula. Enquanto estava com raiva e
chateada, ela se recusou a mostrar isso a ele. Era só uma matéria, certo? Ela pegou
sua bolsa no chão do carro e saiu, batendo a porta e indo para a entrada do B&B.
— Ana! — ele chamou pela janela.
Ela se virou, com os braços cruzados e o rosto pálido.
— Minha jaqueta… — ele murmurou.
Ele tinha um olhar triste no rosto, como se estivesse dilacerado de alguma
forma, mas isso só a fez se sentir mais irritada. Tirando a jaqueta dele com força,
ela o enrolou em uma bola e o jogou pela janela, acertando-o no rosto com ela.
Entrando, ela fechou a pesada porta preta do B&B.
Capítulo 10

Ana conhecia bem sua cidade. Era um território familiar, cheio de lugares que ela
conhecia e amava e podia andar facilmente sem instruções. Era o lugar em que ela
cresceu, o lugar que olhou pela janela da sala de aula, sonhando que faria parte de
tudo. O lugar onde todas as suas melhores lembranças se derreteram em cada
esquina, cada tijolo e cada calçada em que ela andava. O que ela não estava
contando quando voltou para a cidade, porém, era o quanto sentia falta dos
cheiros e das colinas do campo. Ela sentia falta de como o sol batia nas folhas e de
como a brisa sempre cheirava a fresco em vez da corrente quente e rançosa que a
cidade oferecia.
Ela estava em frente ao brilhante arranha-céu prateado que abrigava os
escritórios do The City Herald, esperando as luzes do cruzamento ficarem verdes
para que pudesse atravessar com segurança. Quando chegou à B&B depois da
delegacia, ela correu para fazer as malas e pegou a viagem de trem de duas horas
para voltar à cidade a tempo de ir para casa, trocar de roupa e pegar o metrô para
o centro onde estava agora. Seu corpo estava cansado, e seus olhos ainda sentiam
a ardência das lágrimas atrás deles. Mas ela as manteve afastadas, tentando não
sujar sua maquiagem pela milionésima vez.
As luzes finalmente ficaram verdes, e ela caminhou com o resto dos pedestres
pelas linhas brancas até o outro lado antes de entrar no prédio. Os escritórios
ficavam no sétimo andar, que normalmente tentaria andar para fazer exercícios,
mas hoje ela estava muito cansada e optou por pressionar preguiçosamente o
botão do elevador. Ele abriu instantaneamente, e ela entrou, apertando o botão
do andar que queria e recostou-se contra as paredes espelhadas. Ana abaixou a
cabeça e tomou um gole de café suavemente. Estava morno agora e quase
completamente cheio. Ela deve ter esquecido que tinha comprado.
Quando as portas se abriram, Ana foi recebida com o familiar logótipo do
City Herald que adornava a parede na parte de trás do balcão da recepção. A mesa
estava vazia, assim como o corredor habitual que nos dias de semana ficava cheio
de pessoas correndo pelos corredores para cumprir os prazos. Aos domingos, no
entanto, o lugar era geralmente estéril de qualquer atividade, a menos que algo
importante acontecesse no mundo. De todos, exceto Elianna Hearst.
Ana atravessou os corredores de mármore branco e subiu a pequena escada
que levava ao escritório de Elianna. As portas de vidro estavam abertas, e lá dentro
ela podia ver Elianna em sua longa mesa, papéis espalhados por toda parte. Ela
estava passando por eles, provavelmente lendo as provas e usando as impressões
para colocar tudo em sua mente. Normalmente, tudo isso seria feito no
computador, mas Elianna havia ensinado a ela que, a menos que possa ver bem
na sua frente, você nunca consegue ver a imagem inteira.
Como tudo na vida, ela suspeitou.
Elianna ergueu os olhos quando ela se aproximou da porta, olhando por cima
do aro de seus óculos gatinho lilás e acenou para que ela entrasse.
— Você parece ter sido puxada para trás através de uma sebe — comentou
Elianna enquanto se recostava na cadeira e levava a xícara de chá aos lábios. —
Você ao menos escovou o cabelo esta manhã?
Ana alcançou atrás de si para escovar seu rabo de cavalo alto com os dedos.
— Não tive tempo.
Elianna retrucou, então fez sinal para que Ana se sentasse em sua mesa em
frente a ela.
— Obrigada, por me dar este encontro. Eu realmente aprecio isso — disse
Ana enquanto se afundava na cadeira. Suas pernas estavam dormentes e seus pés
estavam doloridos, então ela estava grata pelo suave alívio de ficar de pé que a
cadeira lhe deu.
— Nós não deveríamos ter precisado desta reunião, Ana. Você teve
instruções muito claras e concordou com elas. Você nunca foi tão longe de sua
tarefa. O que está acontecendo com você?
A garganta de Ana apertou e ela balançou a cabeça.
— Nada. Não mais. Lamento por me desviar. A história que eu ia trazer para
você está morta agora de qualquer maneira. A fonte não está disposta a ir mais
longe comigo.
— E a história original, com a fonte original? Você não estragou tudo
também, não é? — Elianna a observava com tanta intensidade que Ana teve que
olhar para sua xícara de café para quebrar o contato.
— Não. Foi-me garantido que Genevieve Sullivan ainda me dará uma
história. Eu ia voltar lá amanhã para tirar isso direto dela — Ana disse enquanto
olhava para Elianna para avaliar sua reação.
— Bom — ela então olhou de volta para sua papelada e começou a ordená-
las novamente.
Ana engoliu em seco e respirou fundo para acalmar os nervos, então limpou
a garganta para chamar sua atenção novamente, fazendo Elianna suspirar e sentar
novamente, tirando os óculos.
— O que? — exigiu, parecendo impressionada enquanto olhava para ela. —
Bem, cuspa logo, garota.
— Eu tenho licença para tirar, certo? Eu estava esperando que talvez uma vez
que eu terminasse a entrevista, eu pudesse ter o resto do mês de folga. Eu preciso
de um tempo p…
— Ana, eu não me importo — Elianna disse com um aceno de sua mão. —
Desde que sua história seja carregada no servidor até o dia 30, não me importa o
que você faça. Basta estar de volta ao escritório no primeiro. É o mês da moda e
será todos ao trabalho, então seja lá o que isso for — ela acenou com a mão
novamente para englobar toda a aparência desgrenhada de Ana —, conserte até
lá.
O calor subiu nas bochechas de Ana e ela sentiu um nó de vergonha em seu
estômago, mas ela assentiu de qualquer maneira e se levantou, empurrando a
cadeira de volta para a mesa e se virando para caminhar em direção às portas.
— Ah, Ana… — Elianna disse enquanto a observava virar, — não deixe isso
acontecer de novo.

Seu apartamento era pequeno. Basicamente, todos os apartamentos da cidade


eram, mas o pouco espaço que ela tinha era limpo e arrumado, com paredes
brancas e plantas verdes penduradas em todas as prateleiras. Elas eram artificiais,
obviamente, porque ela nunca estava em casa o suficiente para mantê-las vivas,
mas ela gostava de como elas mantinham o cômodo limpo e fresco.
Quando chegou em casa de sua reunião com Elianna, ela imediatamente
vestiu seu moletom cinza favorito e agora estava sentada em seu sofá em frente à
televisão mergulhando Oreos em um pote de manteiga de amendoim. Ela ligou
seu canal normal de documentários de cena de crime, mas depois do que
aconteceu com Nina, ela descobriu que não conseguia aguentar e mudou para
um talk-show diurno que a estava entediando até às lágrimas.
De repente, seu telefone tocou, vibrando ao lado dela no cobertor em que
estava enrolada. O nome e a foto de Bexley apareceram na tela. Ela o ergueu e
percebeu que era uma chamada de vídeo, e suspirou, pensando em negar. Ela
sabia que Bexley continuaria ligando, então, em vez disso, ela apertou o botão de
aceitar e apoiou seu telefone para que pudesse ver seu rosto.
— Ei, baby! — A voz de Bexley cantou.
Ela estava usando óculos escuros e estava deitada em uma espreguiçadeira em
um biquíni vermelho com a pele perfeitamente bronzeada.
— Ei — Ana murmurou com a boca cheia de Oreos, mastigando secamente.
— Como está o sul da França? Deixe-me ver o anel!
O rosto de Bexley franziu a testa, e ela se moveu para tirar os óculos escuros e
semicerrou os olhos, obviamente tentando ver Ana melhor.
— O que há de errado?
— O que você quer dizer com "o que há de errado"? — Ana perguntou
enquanto mergulhava outro Oreo no pote e deu de ombros.
— Você está vestindo seu patético moletom de "sentindo pena de mim", e está
comendo biscoitos e manteiga de amendoim. Algo está errado. O que aconteceu?
Ela estava se movendo agora, saindo da espreguiçadeira e se mudando para o
apartamento em que estava hospedada. Parecia chique, pelo que Ana podia ver,
mas, novamente, tudo em Bexley era chique.
Ana suspirou e se endireitou, fazendo beicinho e tentando não chorar.
— A matéria de que lhe contei está morta. Ezra parou e agora Elianna está
brava comigo, e eu tenho que voltar e fazer o original e não quero ter que voltar
lá. — Ela fungou.
— Aquele pequeno desprezível. Envie-me o número dele, eu resolvo isso. Por que
ele terminou a história?
— Sua colega de trabalho foi assassinada. — Ela deixou de fora que foram eles
que a encontraram, e que talvez fosse culpa deles. Esse tipo de conversa era melhor
explicado pessoalmente.
— Oh. Bem, essa é uma desculpa melhor do que eu esperava. Ainda assim, sinto
muito. Sabe, eu posso encurtar minha viagem e voltar para casa hoje se você precisar
de mim?
— Não. Eu ficarei bem. Estou apenas chateada, mas vou ficar melhor. Achei
que essa matéria ia me empurrar um pouco mais alto, sabe? — Ela franziu a testa,
mordendo outro Oreo.
— Ana! Obtenha alguma perspectiva! Uma mulher acabou de morrer. Há
coisas maiores acontecendo no mundo do que uma matéria. Haverá mais matérias.
Ana apenas fez beicinho. Ela sabia que estava certa, mas no fundo, sabia que,
por mais que quisesse aquela história, não era só com isso que estava chateada. Ela
assentiu, dando um suspiro profundo e deitando no sofá com um gemido.
— Agora eu quero que você se levante, tome um maldito banho porque eu posso
sentir o seu cheiro daqui, e se dê uma sacudida antes de eu voltar para casa e fazer
isso por você. Ok? A imagem maior Ana, imagem maior. — Bexley tinha voltado
para fora novamente e estava deitada, colocando seus óculos escuros de volta e
bebendo qualquer mistura azul que estava em seu copo.
— Sim, mãe. — Ana disse revirando os olhos, mas ela estava sorrindo
suavemente novamente. Bexley tinha esse tipo de efeito nas pessoas. — Eu te ligo
mais tarde, quando estiver me sentindo melhor.
— Sim, por favor, porque agora você é uma desmancha-prazer total. Eu te amo.
Ciao!
O telefone ficou preto novamente e Ana sentou-se, olhando para o pote de
manteiga de amendoim e seu pacote de Oreos com uma careta. Bexley estava
certa, ela precisava se recompor. Ela fechou a tampa e os levou de volta para o
armário, empurrando-os para dentro antes de tirar o moletom cinza pela cabeça
e jogá-lo no cesto de roupa suja.
Talvez ela não precisasse dessa matéria, afinal.
Talvez ela estivesse mirando muito alto, muito rápido.
Talvez ela tivesse que merecer seus privilégios.
Talvez.
Ela entrou em seu pequeno banheiro e abriu a torneira para encher a banheira
com água morna, e enquanto esperava que enchesse, tirou a roupa e se olhou no
espelho. A pedra preciosa obsidiana negra de Genevieve ainda pendia da corrente
de corda em seu pescoço e brilhava na luz do banheiro. Ela estendeu a mão para
segurá-la, virando-a em suas mãos e suspirando com a memória.
Talvez a matéria desse certo no final.
Talvez.
Capítulo 11

O lado de fora do Strange Curiosities & Wonders era o último lugar que Ana
queria estar às 10:00 de uma segunda-feira. Infelizmente para ela, era exatamente
onde estava, xícara de café numa mão e sua bolsa na outra. O prédio parecia
exatamente o mesmo de quando ela esteve aqui pela última vez, mas a sensação
em seu estômago mudou desde então. Embora houvesse excitação e esperança em
sua barriga quando saiu com Ezra pela mesma porta para dirigir até o
monumento, agora apenas uma sensação de peso deprimente permanecia. Ela a
empurrou para baixo e apertou a mandíbula, então avançou e abriu a porta da
lojinha. A porta rangeu e a campainha tocou acima dela para sinalizar sua
chegada.
A loja estava quieta por dentro, e Ana se sentiu exposta enquanto esperava
que alguém saísse de trás da cortina, esperando por Deus que não fosse Ezra que
a rodeasse. Não era. Quando o rosto de Genevieve apareceu por trás do tecido,
Ana não pôde deixar de sorrir com o olhar caloroso e convidativo que a deu.
— Ana, eu não estava esperando você hoje — disse enquanto caminhava até
ela e pegava suas mãos, segurando-as gentilmente. — Ezra me contou o que
aconteceu com vocês dois e como vocês encontraram Nina. A polícia estava aqui
há apenas uma hora falando conosco novamente. Como você está lidando?
Ana deu de ombros um pouco e deu um sorriso fraco, mas profissional.
— É uma perda trágica para todos vocês. Estou um pouco traumatizada da
noite, não vou mentir, mas não a conhecia de verdade. É pela família dela, e por
vocês quem eu sinto. Deve estar batendo em todos vocês com força. Ezra disse
que eles eram próximos.
— Eles eram. Todos nós éramos. — Genevieve suspirou. Ela soltou a mão e
caminhou de volta para a cortina, abrindo-a. — Venha para dentro e sente-se
comigo. Suponho que você veio para conversar?
Ana assentiu e a seguiu silenciosamente, atravessando a cortina e entrando na
sala iluminada por velas. Ela se sentou no mesmo lugar em que se sentou na
primeira vez que esteve aqui e pegou seu bloco de notas e um gravador,
colocando-o em cima da mesa ordenadamente e esperando Genevieve se juntar a
ela.
— Ezra está lá em cima se você quiser que ele se junte a nós — Genevieve
sugeriu enquanto dava a volta na mesa, colocando uma mão em seu ombro e
sorrindo para ela.
— Se estiver tudo bem com você, eu realmente preferiria que ele não o fizesse
— disse Ana enquanto se concentrava em colocar suas coisas no lugar correto. —
Não nos despedimos nas melhores condições.
— Ele me disse — disse Genevieve enquanto batia no ombro com o dedo. —
Isso é entre vocês dois, mas antes de decidir terminar completamente a parceria,
você deve vir e ver o que eu encontrei. Me siga.
Ela se afastou da mesa e atravessou uma porta à esquerda de Ana, deixando-a
indecisa se deveria segui-la.
— Você deveria ir embora, sabe.
Ana virou a cabeça para a cortina que levava de volta para a loja, seus olhos
caindo sobre a velha que ela conheceu quando chegou aqui. Ela estava apoiada
pesadamente em sua bengala e a estava olhando com uma carranca profunda,
desdém escrito por todo o rosto.
— Hum, sim. Planejo isso assim que eu conseguir a história de Genevieve.
A velha fez uma careta e atravessou o piso de madeira em direção a ela, seu
dedo ossudo e enrugado estendido e espetando o ar à sua frente.
— Você não é bem-vinda aqui. Saia! Antes que seja tarde demais — ela
resmungou, então contornou Ana e foi até a escada que levava aos níveis
superiores da loja.
Ana piscou para ela enquanto desaparecia escada acima, sua bengala mal
fazendo um som e seu longo cabelo grisalho quase balançando atrás dela. Ela
estremeceu, ouvindo Genevieve chamá-la da porta que ela havia entrado
momentos antes.
— S-sim, eu estou indo! — Ela engoliu em seco, então fez seu caminho através
da porta.
Surpreendentemente, levava a uma escada que descia para um porão, e ela
podia ver a parte de trás do corpo de Genevieve desaparecer na sala ao fundo. Ela
a seguiu escada abaixo, dando um passo de cada vez e se segurando na parede.
Através da porta havia uma grande sala que era do mesmo tamanho que a loja
e as salas dos fundos do andar superior combinadas. Estantes cobriam as paredes,
cheias de bugigangas e livros. Velas penduradas nas paredes de pedra, e grandes
pinturas de pessoas que ela não reconheceu estavam em molduras douradas, seus
olhos a seguindo e fazendo com que ela se sentisse observada. No meio da sala, no
chão, havia um grande círculo pintado de branco com uma estrela no centro, e a
memória de Nina brilhou diante de seus olhos. Ela se encolheu, virando-se para
encontrar Genevieve com os olhos arregalados.
— O que é este lugar? — perguntou Ana. O ar aqui embaixo estava perto e
quente, e isso a fez se sentir no limite.
— É meu templo particular. Venho aqui para meus rituais particulares e
lançamento de feitiços quando preciso. Não se preocupe, você está segura aqui
embaixo. Nada de negativo pode entrar aqui, eu prometo. — Genevieve estava
de pé ao lado de uma sólida estante de madeira e estava acenando para ela com as
mãos.
Ana engoliu em seco e se aproximou de seu lado, olhando para a estante onde
o Livro das Sombras de Marion estava aberto.
— Ainda está aqui? Achei que Ezra já o teria enviado de volta — Ana
murmurou enquanto o estudava.
— Ele ia, mas por mais que queira, acho que ele quer mais resolver o conteúdo
dele. A caixa também está aqui. Esta sala está encantada e protegida, então
ninguém pode entrar se eu não o decretar. — Genevieve disse, um sorriso ainda
em seu rosto.
Encantada. Protegida. Essas palavras se repetiram novamente. Como uma
sala poderia ser completamente protegida com magia encantada? A magia não
existia. Ela entendia a tradição dos velhos costumes, e podia ser lindo, mas ela não
ia se deixar levar pela ideia de que era real.
— Ezra me mostrou a tradução do documento e eu tenho tentado ajudá-lo a
resolvê-lo — disse Genevieve enquanto apontava para o pedaço de papel com a
tradução e destacava a frase que dizia: Um último pedaço de pergaminho para
auxílio, pode ser encontrado entre as páginas de mão e cabeça.
Ana franziu a testa suavemente. Ela sentiu que nem deveria estar olhando
para essas coisas novamente. A história acabou, Ezra havia dito isso ele mesmo.
Estar aqui e tão perto de novo a fez querer isso.
— Eu não sei por que você está me mostrando isso, Genevieve. Não estou
mais aqui para isso, lembra? Ezra puxou a tomada. Só quero terminar a história
original para que eu possa ir para casa. Por favor. — Ana franziu a testa enquanto
olhava para Genevieve novamente com um olhar suplicante no rosto.
— Eu sei, eu sei, apenas me satisfaça, hum? — Ela sorriu. — Eu continuei
lendo essa frase repetidamente. Sugeria que havia outra peça que poderia ser
encontrada para ajudar vocês dois, se pudéssemos encontrá-la. Mas onde estariam
as páginas entre a mão e a cabeça?
— Eu não faço ideia. — Ana disse, finalmente cedendo com um suspiro
profundo, levando a mão à testa para esfregá-la. Sua cabeça estava começando a
latejar.
— Bem, este é um Livro das Sombras. Um livro de práticas de um coven que
pode ser passado de geração em geração para ensinar aqueles que ainda estão por
vir. É literalmente um guia mágico com diagramas, explicações, poções, magia de
cura e meu favorito, adivinhação. — Genevieve disse com um sorriso. — Então,
naturalmente, fui para a seção de quiromancia, para as páginas sobre a magia da
palma e as linhas do coração e da cabeça.
— As páginas entre a mão e a cabeça! — Ana disse com um pequeno suspiro,
seus olhos arregalados — Entre as páginas literais da seção de quiromancia?
Ela sorriu e acenou com a cabeça, folheando as páginas até chegar a uma seção
com a mão desenhada. A mão tinha linhas e símbolos desenhados nela,
explicando os métodos por trás da prática de adivinhação. O verso da página era
sobre a linha da manchete. Ana estendeu a mão e pegou a página entre os dedos,
virando-a. Os cantos da página estavam desgastados, e ela podia ver como aquela
página era mais grossa que as outras.
— Então, onde está o pergaminho? — perguntou Ana.
Genevieve sorriu e pegou uma vela.
— Segure a página para cima.
Ana fez isso, e enquanto Genevieve aproximava a luz da vela da página, ela
podia começar a ver através dela, a chama trêmula amarela tornando a página
ligeiramente translúcida. Bem no meio havia um quadrado escuro, como se algo
estivesse impedindo a luz de passar, e ela engasgou, olhando para o rosto de
Genevieve.
— O pergaminho está colado entre as páginas! — exclamou Ana.
Genevieve riu e colocou a vela de lado para pegar a mão de Ana.
— Decidimos esperar por você antes de removê-la.
— Nós? — perguntou Ana.
O som de alguém limpando a garganta veio da porta atrás delas, e Ana se virou
para ver Ezra parado ali, encostado no batente da porta com os braços cruzados
contra o peito e observando-as.
Ela franziu a testa instantaneamente e se endireitou, olhando entre os dois e
feliz por estar escuro no quarto para que eles não pudessem ver suas bochechas
rosadas.
— Você não precisa esperar por mim para nada, Genevieve. Esta não é mais a
minha matéria — Ana disse enquanto se preparava para sair, mas ela a impediu,
um olhar em seu rosto que implorava para que ficasse parada.
— Vou fazer um chá. Se você realmente quer lavar as mãos disso, eu vou te
encontrar lá em cima para contar sua história — ela disse, então se inclinou para
beijar sua bochecha e caminhou até a porta onde deu um tapinha no ombro de
seu filho e subiu as escadas, deixando os dois no quarto. O silêncio encheu a
atmosfera no templo privado, e Ana olhou para seus pés.
— Ana — Ezra começou, dando um passo em direção a ela, mas Ana deu um
passo para trás.
— Eu não quero ouvir isso — disse Ana enquanto balançava a cabeça
novamente e começava a andar ao redor dele.
Ezra bloqueou a porta com um suspiro quando deixou cair os braços, dando
um passo em sua direção enquanto ela dava mais passos para trás até que suas
costas bateram na estante onde o Livro das Sombras estava, e ele balançou. Ela
não queria estar perto de Ezra. Ele era encantador quando ela estava perto, e ela
estava muito brava com ele para deixá-lo ser encantador.
Ele suspirou e pegou a mão dela, mas ela se afastou dele e cruzou os braços
contra o peito, olhando para ele com a testa franzida.
— Ana — ele repetiu, inclinando a cabeça para ela e se afastando dela para o
livro, passando a mão pela página. — Pelo menos, deixe-me pedir desculpas.
Ana virou as costas para ele, seus olhos encontrando as velas bruxuleantes nas
paredes e as pinturas, tentando olhar para qualquer lugar, menos para seu rosto.
— Para quê, exatamente? A parte em que você acabou de abandonar a
história, então eu tive que rastejar de volta para a minha editora e me dar uma
mãozinha, sem sequer falar comigo sobre isso antes? Ou a parte em que você
simplesmente me descartou como um pedaço de lixo e me deixou para juntar os
pedaços daquela noite, no B&B, sozinha?
Ezra estremeceu enquanto folheava as páginas e se virava para olhar para ela.
Ele abriu a boca para dizer algo, mas ela o interrompeu.
— Para onde você foi depois que me deixou na beira da estrada, congelando,
Ezra? Você veio aqui? Para ver sua mãe? Não sei, talvez ter alguém que te conforte?
Isso teria sido bom. — Ela finalmente olhou para ele por cima do ombro. — Você
não pode me beijar e ser doce e encantador e então simplesmente me jogar fora
assim quando lhe convier. Eu não sou seu brinquedo, Ezra.
— Não. Você não é, e eu sinto muito. — disse enquanto olhava da página
para ela. Suas feições estavam escuras na luz fraca, e ele parecia não ter dormido
desde a última vez em que o viu.
"Uma das minhas amigas mais próximas foi assassinada, Ana. Desculpe se fui
duro com você. Lamento que sentiu como se estivesse jogando-a fora, mas essa
não era minha intenção. Eu só queria que você estivesse segura. Nina foi
claramente assassinada por alguém procurando a caixa que eu encontrei, a caixa
que nós decodificamos o conteúdo. Eu estava tentando manter quem fez isso com
a Nina longe de você. Não posso ter seu sangue em minhas mãos. Achei que
abandonar a história era a melhor maneira de mantê-la segura.”
Ana franziu a testa para ele enquanto virava o corpo para encará-lo.
— Eu não preciso de alguém para me salvar. Sou uma garota crescida. Você
não é meu cavaleiro em armadura brilhante, Ezra. Eu não preciso ser mimada, e
não preciso que você desperdice meu tempo.
— Eu nunca desperdiçaria seu tempo. Eu vacilei. Minha cabeça não estava
em um bom lugar, e eu sinto muito. Se servir de consolo, quero continuar
investigando isso com você. Minha mãe incutiu algum sentido em mim e me
ajudou a encontrar a próxima pista dentro das páginas. Se eu lhe pedisse para
subir a bordo de novo, você faria? — ele perguntou, dando-lhe um sorriso fraco
nos cantos da boca. — Por favor?
Ana mordeu o lábio e balançou a cabeça lentamente, olhando para os pés.
— Não. Não posso. Eu sinto muito.
Ezra claramente não esperava essa resposta, e seu sorriso caiu, um olhar de
confusão substituindo-o.
— O que? Por quê? Quantas vezes mais você quer que eu peça desculpas?
Porque eu posso continuar o dia todo se for preciso.
— Não importaria. Está fora das minhas mãos agora. Eu deveria ter dado meu
lance para a história para a editora ontem, mas você puxou a tomada, então eu
não o fiz. Essa era minha única chance. Ela quer a história original sobre a vida
das bruxas no campo e suas práticas, e se eu não a der, sou demitida. Eu não posso
te ajudar. — Ana deu de ombros. — Mesmo se eu quisesse, não posso.
Ezra suspirou. Ela podia ver as engrenagens em seu cérebro começando a girar
enquanto ele pensava. Ele cantarolou para si mesmo e moveu-se para levantar
uma pinça e uma faca, virando-os em suas mãos.
— Tudo bem. — ele murmurou, pegando a página do livro e examinando
sua borda. Ele separou as duas páginas muito lentamente. — Então, você pode
escrever a história com minha mãe. Isso não significa que não pode investigar isso
comigo.
— Você não acabou de ouvir o que eu disse? Elianna não vai me deixar
investigar isso com você.
— Eu ouvi o que disse. Você pode escrever sua história com minha mãe e
ainda investigar isso comigo de qualquer maneira. Não precisa ser uma história
para o jornal. Pode ser uma coisa sua, sua própria matéria que você mesma pode
publicar. — Ele murmurou concentrando-se. — Conclua esta matéria e mostre-
a à sua editora. Se ela gostar, o que ela irá, provavelmente vai colocar no jornal
algo que ela viu milhares de vezes. Muitos jornais trabalharam com minha mãe
sobre nossas práticas. Não é nada novo.
Ana não teve coragem de dizer a ele que Elianna na verdade não queria saber
sobre suas práticas ou sua religião. Ela queria um show de horrores, e queria que
Ana a entregasse isso.
— Você não conhece Elianna — ela disse enquanto esfregava a cabeça. —
Embora, eu tenha algumas licenças chegando. Ela disse que contanto que eu
tenha minha matéria até o final do mês, posso ter algum tempo de folga…
— Ok, então qual é o problema? — Ezra finalmente separou os papéis.
Ana deu de ombros.
— Talvez eu não queira trabalhar com você novamente. Talvez eu não goste
mais de você.
Ezra parou de puxar quando elas estavam longe o suficiente, e ele arrancou o
pedaço de pergaminho de entre as páginas com a pinça com uma pequena risada
ofegante.
— Ah, você gosta de mim.
— O que poderia fazê-lo pensar que eu gosto de você? — Ana disse enquanto
se aproximava para dar uma olhada melhor no pergaminho. Ele olhou para ela
com um sorriso estúpido no rosto.
— Porque você me beijou de volta. — Ele sorriu.
Ana corou profundamente e o olhou, sua garganta ficando apertada
enquanto ela balançava a cabeça.
— Apenas abra o maldito pergaminho.
Ezra riu e virou a cabeça de volta para o papel entre as pinças e o colocou sobre
o livro. Foi dobrado duas vezes, e ele levou um momento para abri-lo para que
não desmoronasse em suas mãos. Alisando-o, ele passou o dedo sobre as palavras
na página.
— É um mapa. — Ezra sorriu, quase quicando nas pontas dos pés. — Olha,
indica onde os objetos estão localizados. Isso vai cortar nosso tempo de
investigação pela metade!
Ana sorriu suavemente com o quão animado ele estava ficando, e como o
olhar cansado e as feições escuras que tinha em seu rosto começaram a melhorar.
— Eu odeio estourar sua bolha muito animada, Ezra, mas este pergaminho é
de 1588. Você não acha que os lugares que ele está indicando podem ter mudado
desde então? — Ana perguntou enquanto olhava o mapa.
— Você pode duvidar de mim o quanto quiser, mas não vou deixá-la estragar
isso. — Ezra segurou o pergaminho contra a luz. — Além disso, é apenas um guia.
Ele não aponta diretamente para os objetos, mas para a área geral onde eles
estavam escondidos. É pelo menos um começo, Ana. — Ele se virou para olhá-la
e sorriu encantadoramente, pousando o pergaminho. — Então? Está dentro?
Ana mordeu o lábio e olhou para ele. Esta investigação era tentadora. Ezra era
tentador. Ela tinha o resto do mês de folga de qualquer maneira, supôs, e o que
Elianna não sabia, não poderia machucá-la.
— Não sei. Depende. Você vai me largar na beira da estrada de novo? — ela
perguntou, olhando em seus olhos.
— Não. Nunca mais.
— E esse assassino que está procurando a caixa? — Uma sensação de pavor
encheu seu estômago.
— Isso é um pouco mais preocupante. Pelo que vi de onde Nina foi tirada de
nós, essa pessoa sabe de tudo. Eles são poderosos e determinados, e não acho que
vão parar se já chegaram a esse ponto. Eles vão continuar vindo, então precisamos
estar preparados. — Ezra franziu a testa.
— Mas por que ir atrás de Nina? Por que não vir até nós quando nós éramos
os que a tinha? — perguntou Ana.
— Não revire os olhos, mas… — Ezra se assustou enquanto se endireitava e
olhava ao redor da sala — seja quem for essa pessoa, ela está usando magia. Eu sei
que você não acredita nisso, mas para mim é real, e meu palpite é que foram para
a pessoa que não conseguiu se proteger. Nina era vulnerável. Ela não tinha
conhecimento de como se proteger contra esse tipo de coisa.
— Nem eu. — Ana disse, tentando ao máximo guardar seus pensamentos
para si mesma — Eles poderiam ter vindo atrás de mim.
— Ah, mas eles fizeram. O pesadelo que você teve, não foi um pesadelo. Eu
vi tudo em seu rosto. Alguém estava projetando em você para obter a localização
da caixa. Eles simplesmente não podiam se mostrar porque eu estava lá.
Ana suspirou e olhou para os pés. Ela admitiu que parecia muito real, mas
não estava prestes a tirar conclusões precipitadas de que alguém foi capaz de
deixar seu corpo para assombrá-la em busca de informações. Isso era ridículo. Em
vez de ofendê-lo, ela simplesmente deu de ombros e aceitou sua versão.
— E você acha que sua mãe e a caixa estarão seguras aqui enquanto caçamos
esses objetos?
— Minha mãe é mais forte do que eu. Contanto que ela mantenha o juízo
sobre si e a caixa e o mapa ficarem aqui, eles estarão seguros. Ninguém pode entrar
nesta sala sem a permissão mágica da minha mãe. — Ezra deu de ombros. —
Então... estamos resolvendo isso, ou não?
Ana mordeu o lábio novamente e suspirou, olhando do rosto dele para o
pergaminho e depois de volta para o rosto dele.
— Tudo bem — ela murmurou. — Onde estamos indo?
Capítulo 12

Eles estavam dirigindo por três horas seguidas. Ana havia empurrado o banco
para trás para poder se deitar. Ela estava descalça, os pés apoiados no painel
enquanto segurava a foto impressa que havia tirado do mapa que haviam
encontrado. O mapa tinha a forma genérica do litoral a oeste desenhado em linhas
marrons trêmulas, e o resto da página estava preenchido com as cidades que o
cercavam, preenchendo todo o caminho até o outro lado onde ficava a cidade de
Ezra.
— Então, passando pela pesquisa que você me deu e que trabalhou, o lugar
mais a oeste é a costa de Blackrock. É ali que o mapa foi circulado. Mais
especificamente, está literalmente à beira da água. — Ana disse enquanto exalava
um suspiro e soprava uma bolha com o chiclete rosa que estava em sua boca. Ela
estourou, e mastigou novamente, sacudindo os papéis em seu colo.
— Sim, eu notei isso, mas onde fica a torre mais alta? — Ezra perguntou
enquanto bebia sua bebida energética. Ele estava usando óculos escuros que
cobriam seus olhos, e a janela estava abaixada, fazendo seu cabelo balançar ao
vento.
Ana o observou com um sorriso, recostando a cabeça no encosto. Ela tirou o
telefone do colo e procurou a cidade de Blackrock. A partir dos resultados da
pesquisa, ela pôde ver que a cidade estava bem na beira da costa. Era uma pequena
cidade pitoresca, usada principalmente como parada turística e um lugar para
surfistas e campistas passarem os dias quentes vagando.
— Há um centro de informações turísticas ao lado da praia no meio da
cidade. Se você for para a praia, deve ser sinalizado. Qualquer que seja a torre mais
alta em 1588, vamos encontrá-la olhando primeiro em seus registros.
— E é exatamente por isso que eu precisava de você comigo, Davenport. Você
é uma pequena detetive. — Ezra sorriu enquanto dirigia.
Ana passou a última meia hora da viagem olhando pela janela e admirando a
paisagem. Realmente era bonito nesta área do país. Ela nunca teve tempo para se
afastar muito da cidade, e enquanto observava as colinas ondulantes se tornarem
campos e depois bordas de penhascos e água, ela se arrependeu de não ter tido
tempo para apreciá-la antes. Tudo estava muito mais calmo aqui, onde o vento
parecia soprar de forma diferente e os cheiros pareciam muito mais saborosos. As
cores eram mais vividas, os sons mais calmos, e ela começava a sentir uma espécie
de afinidade com o campo que nunca sentira pela cidade. Parecia como voltar
para casa.
Assim que ela estava adormecendo, Ezra puxou o carro para uma estrada
menor, e, de repente, o cenário foi substituído por areias douradas e ondas azuis
quebrando.
— Uau… — Ana sentou-se em seu assento, tirando os pés do painel para
sentar ereta e olhar pela janela. — Isso é lindo! Quem precisa do sul da França
quando se tem isso à sua porta?
— Às vezes, quando vivemos em algum lugar por tempo suficiente,
esquecemos de admirar as pedras preciosas que estão bem debaixo do nosso nariz,
esquecidas pelos sonhos de lugares maiores e mais selvagens — disse Ezra
enquanto esperava um carro passar para poder entrar no estacionamento na orla
da praia.
Ele estacionou o carro, desligou o motor e então olhou para ela com um
pequeno sorriso.
Ana levantou os papéis do colo e dobrou-os cuidadosamente, colocando-os
na bolsa e saiu do carro. Era outro dia incrivelmente quente, mas felizmente, era
muito tarde e o sol estava descendo no céu, tornando as temperaturas mais fáceis
de lidar. Ezra a seguiu depois de fechar e trancar a porta. Ele veio para o seu lado
e caminhou com ela pelo estacionamento até uma passarela que levava à cidade
litorânea.
Era uma cidade pequena, minúscula na verdade. A principal área comercial
tinha uma longa colina ascendente que levava até um farol. Fileiras de lojas
lindamente construídas ladeavam a estrada da colina. Lojas de roupas vintage,
cafés franceses, lojas de surfistas e livrarias de antiguidades tiveram suas portas
abertas com pessoas entrando e saindo. Enquanto caminhavam, Ana podia sentir
o aroma de bolos amanteigados vindo da padaria, e seu estômago roncava ao
pensar nas delícias que havia dentro. Eles não haviam comido uma refeição
adequada naquele dia e optaram por lanches no carro para economizar tempo.
Mais à frente, uma placa marrom com a etiqueta "Informações turísticas"
apontava para um pequeno beco perto de uma joalheria de estilo antigo. Juntos,
eles caminharam pela pequena rua de paralelepípedos e, quando chegaram à
porta, Ezra a abriu e ela agradeceu.
Ana viu painéis informativos, que mostravam suas exposições sobre a vida
selvagem local e como encontrar os melhores pontos para observação de pássaros,
a história local sobre pessoas importantes, fábulas e lendas locais e os dez melhores
lugares para caminhantes e corredores conferir. O que ela não encontrou
naqueles expositores, no entanto, foi algo a ver com torres.
Ao longo das paredes havia mesas compridas cheias de todo tipo de panfleto
imaginável. Lugares para ficar, os dez melhores parques para crianças, como se
proteger do sol, os menus locais de cada restaurante e os números dos guias
turísticos.
Mas, novamente, nada a ver com torres.
— Posso ajudá-los? — perguntou um homem atrás do balcão da recepção
enquanto sorria para eles e batia a caneta na ponta da prancheta. Ele parecia
relaxado, com uma grande barba preta espessa e sobrancelhas fofas que
empurravam contra a borda de seus óculos.
Ana virou-se para olhá-lo de onde olhava os panfletos e caminhou
rapidamente até ele, encostada no balcão e sorrindo.
— Olá! Eu sou Ana Davenport do The City Harold. Viemos fazer uma
pesquisa sobre a cidade Blackrock e os edifícios que estariam aqui por volta de
meados do século XVI. Mais especificamente, estamos procurando por torres
que teriam sido construídas na época e ainda existem hoje.
— Parece-me que você precisa de um historiador local — disse o homem
enquanto se aproximava do balcão, onde pegou um cartão de um dos titulares
que estavam lá e estendeu para ela. — Felizmente para você, seria eu. Eu sou
Edward Bolton, chefe da Sociedade Histórica Blackrock.
— Sorte, de fato. — Ezra disse enquanto se inclinava no balcão ao lado de
Ana e olhava para o homem na cadeira com um sorriso. — Você pode ajudar?
— Bem, naquela época, havia duas torres aqui em Blackrock. Uma não está
mais aqui, mas a outra está, embora mal. Elas foram construídas no final do
período medieval em 1500 — disse Edward com um pequeno suspiro enquanto
abria uma página em seu computador, clicando com o mouse sobre a tela.
— E qual era a mais alta? — perguntou Ana.
— Aquela que mal está de pé. É uma torre redonda, com uma ponta no topo.
Fica a 39 metros de altura com uma circunferência de dezoito metros. Foi
originalmente usada como torre sineira, e as pessoas da época também a usavam
como mirante. — Ele olhou para a tela e clicou em imprimir. A impressora gemeu
e grunhiu quando acordou de seu sono e começou a trabalhar.
— E é possível ir lá dar uma olhada? — Ana perguntou, então inclinou a
cabeça e deu-lhe um sorriso. — Para que eu possa tirar fotos para o jornal, quero
dizer.
— Você poderia, mas eu não recomendaria isso agora — ele disse enquanto
empurrava sua cadeira de rodas para a impressora e pegava o papel que imprimiu.
— Fica bem no alto do mirante da falésia na costa, e a trilha é rochosa. Você pode
chegar lá a tempo, mas quando voltar, estará escuro demais para voltar com
segurança. Eu sugiro começar sua trilha amanhã de manhã para estar em
segurança. — Ele dobrou o papel e passou para Ezra, dando a ambos um sorriso.
— Obrigada pelo conselho. Você poderia nos dar instruções sobre onde
encontrar a torre? — Ezra questionou enquanto dobrava ainda mais a página e a
colocava no bolso.
— Já estão impressos na página, não é difícil de encontrar. — Ele disse
enquanto olhava entre os dois. — Então, para o artigo em seu jornal, meu nome
novamente é Edward Bolton. É E-D-W-A…
— Eu entendi. — Ana sorriu enquanto balançava o cartão em sua mão. —
Vou me certificar de agradecer por sua ajuda.
Ela se virou da mesa e deu de ombros para Ezra enquanto eles saíam do prédio
e voltavam para a rua. O sol estava muito mais baixo no céu agora, mas não
completamente, e ela observou as áreas de compras.
— Nós precisaremos encontrar um lugar para passar a noite se não pudermos
ir para a torre agora — ela disse com uma carranca. Ela não trouxe nenhuma
roupa consigo novamente, não esperava nem mesmo estar falando com Ezra,
muito menos viajando com ele.
— Não se preocupe com isso. Eu tinha a sensação de que estaríamos presos
aqui esta noite, então trouxe provisões — Ezra disse enquanto passavam pelas
lojas que estavam fechando suas persianas.
— Provisões? — Ana o olhou com ceticismo.
— Você vai gostar, eu prometo. — Ezra piscou.
Uma hora depois, Ana estava de pé na praia, o sol já baixo no horizonte e o
céu mudando de azul para uma linda paleta de rosas e dourados. Ezra havia
erguido uma barraca na praia e lutava para acender uma chama sobre a fogueira
que fizera com madeira flutuante e algas marinhas secas. Ele franziu a testa em
concentração enquanto batia no iniciador de fogo de metal em sua mão com a
pederneira, mas as pequenas faíscas que saíam dele não caíam no graveto por
tempo suficiente para acender.
— Droga — Ezra disse enquanto golpeava novamente.
Ana riu, com as mãos nos quadris enquanto o observava lutar, e se moveu
para se ajoelhar em frente a ele do outro lado da pilha de madeira.
— Não pode simplesmente usar toda essa magia extravagante que você tem?
— Ela perguntou sarcasticamente, olhando para as faíscas enquanto elas morriam
com um sorriso.
— Eu não pratico, lembra? — Ezra disse enquanto suspirava e se sentava de
cócoras na areia. Ele estendeu o iniciador para ela. — Por que você não faz algo
útil e tenta ajudar, em vez de zombar de mim, hum?
— Tudo bem, tudo bem, me desculpe. — Ana sorriu enquanto abafava uma
risada e pegava o iniciador. Ela se inclinou e bateu no metal, observando as faíscas
voarem para os gravetos. Ela precisou de algumas tentativas, mas quando algumas
se acomodaram, rapidamente prendeu o rabo de cavalo para trás e começou a
assoprar no graveto, observando-o enquanto fumegava e finalmente acendia.
— Exibida — Ezra disse enquanto se sentava no cobertor que havia colocado
do lado de fora da barraca. — Como você aprendeu a fazer isso?
— Meu pai. Ele gostava de me levar para acampar quando eu era criança. —
Ana sentou-se ao lado dele no cobertor.
— Eu pensei que você não saísse na natureza? — perguntou Ezra.
— Não saio. Não mais. Meu pai morreu quando eu tinha dez anos — Ana
recostou-se em suas mãos e observou o pôr do sol. Ela sempre amou como as cores
do céu mudavam quando o sol se punha.
— Eu sinto muito. — Ele limpou a garganta e puxou a grande cesta de
piquenique para mais perto de si.
Ele abriu e tirou alguns pratos cobertos de papel alumínio e passou um para
ela, então colocou algumas caixas extras de frutas e lanches antes de, finalmente,
levantar dois copos e uma garrafa de vinho.
— O que há com você e vinho? — Ana perguntou enquanto pegava o copo
dele com um aceno de cabeça. — Estou bem com a minha água.
— Não, você está tomando uma bebida comigo, e vamos falar sobre outra
coisa além desta investigação pela primeira vez. Eu quero saber mais sobre o que
faz a Senhorita Ana Davenport funcionar. — Ezra abriu a garrafa e encheu seu
copo.
Ele encheu o seu, então tomou um grande gole e o colocou de lado em uma
das bandejas que vieram com a cesta de piquenique antes de abrir o papel
alumínio em seu prato. Dentro havia uma variedade de sanduíches, carnes frias e
massas que sua mãe havia embalado, e ele levantou um de seus sanduíches e deu
uma mordida com um gemido de fome.
— Tudo bem — disse Ana enquanto abria o seu depois de colocar o copo de
lado com o dele e pegar um de seus sanduíches na mão. — Mas se você fizer
perguntas, eu também farei algumas. Uma pergunta por outra. Combinado?
— Combinado. — Ezra sorriu — Mas você bebe depois de responder. Eu vou
primeiro. O que aconteceu com seu pai?
— Uau, direto no trauma emocional! Obrigada por isso — disse Ana. Ela deu
uma mordida em seu sanduíche e reuniu seus pensamentos antes de engolir e
encolher os ombros. — Estávamos pedalando por onde morávamos. Era uma rua
movimentada, e nós realmente não deveríamos estar no escuro. Minha mãe
sempre nos avisou que era perigoso, mas achávamos que éramos invencíveis.
Achei que ele era invencível. Ele não era. Um carro veio do nada, acho que não
nos viram, mas bateram direto nele e o atropelaram. Eles foram embora, nem
pararam. Por sorte, havia apartamentos por perto e consegui bater nas portas até
que alguém atendesse e pedisse ajuda. Ele morreu a caminho do hospital.
Ezra tinha parado de comer seu sanduíche e estava olhando para ela com uma
carranca no rosto como se ele se arrependesse de ter feito a pergunta.
— Eu sinto muito. Isso é trágico. — Ele esperou um momento, então deu a
ela um sorriso suave em conforto. — Você esqueceu de beber.
— Oh. Bem, eu preciso disso agora, então obrigada. — Ana sorriu, tomando
um gole de vinho e limpando a garganta. — Ok, então minha vez. Sobre o tema
dos pais, por que você odeia tanto o seu? Ele parece ser um cara legal.
Ezra suspirou enquanto pegava algumas carnes frias e dava uma mordida.
— Não gosto mais desse jogo.
— Difícil. Eu respondi. — Ela disse e o cutucou.
— Justo. Meu pai e eu fomos próximos por um longo tempo. Companheiros.
Melhores amigos. Por isso segui seus passos. Eu queria deixá-lo orgulhoso
entrando no campo da história oculta e do folclore e da arqueologia da feitiçaria.
Ele era meu ídolo. — Disse enquanto dava outra mordida e engolia avidamente.
— Então o que aconteceu?
— Estávamos trabalhando em um projeto. Eu ainda não tinha terminado
meu curso. Eu era ambicioso e queria sujar minhas mãos imediatamente, e então
comecei a procurar as moedas perdidas dos barqueiros das colônias pagãs do
norte. Fiz quatro anos de pesquisa. Meu pai me ajudou aqui e ali, mas era minha
primeira grande investigação e eu queria deixá-lo orgulhoso. Enfim, para encurtar
a história, encontrei uma das moedas perdidas. Eu sabia que ia ser enorme. Seria
o achado da minha carreira e eu ainda nem tinha começado. Fiquei tão
empolgado que mostrei ao meu pai toda a minha pesquisa e minha moeda, e
estava no processo de escrever minhas descobertas para serem publicadas para que
pudesse levá-las ao museu depois de coletar todos os dados do laboratório.
"Então, um dia antes de entregar, eu saí com Jasper e alguns outros amigos
nossos e bebi até não poder mais. Eu dormi no dia seguinte, e quando acordei e
abri o site do museu para encontrar o número deles para avisar que eu ia me
atrasar para a reunião, havia um post de notícias na página principal deles.
‘O historiador local de ocultismo e folclore Alexander Sullivan encontra uma
moeda rara, que se pensava perdida no tempo.’
“Fiquei furioso. Ele disse que era porque eu ainda não tinha meu diploma. Se
eu não tivesse minhas qualificações, eles poderiam simplesmente tirar a moeda de
mim e não me levar a sério. Mas se ele aceitasse em seu nome, o achado ficaria na
família. Era uma merda, obviamente. Ele é um ladrão de merda, e eu não queria
mais nada com ele. Ele sabe que o odeio por isso, mas eu sorrio para manter a paz.
Minha mãe não gosta de nós brigando, e eu preciso dos cheques mensais para me
manter acima da mesa no Daria Research Lab.”
Ele se inclinou para frente e bateu seu copo contra o dela enquanto tomava
um grande gole e olhava para o oceano. Sua mandíbula estava se contraindo como
se ele estivesse mordendo a raiva, mas seu rosto estava em branco.
— Oh. Certo, isso é chato. Eu posso entender por que você estaria tão bravo
com ele. Isso é uma grande traição. — Ana franziu o cenho. Seu pai parecia tão
legal quando ela o conheceu nas celebrações de Litha, e tão sincero quanto ele
parecia quando ofereceu sua ajuda, ela estava feliz por não ter contado a Ezra
sobre a oferta de seu pai. Ela tinha a sensação de que ele não aceitaria bem.
— Sim, bem, é o que é. Minha vez. — Ezra sorriu enquanto virava a cabeça
para olhar de lado para ela. — Quem foi a última pessoa que você namorou e por
que está solteira? O que aconteceu?
— Ok, eu não vou mais jogar este jogo. Eu não estou falando com você sobre
minha vida amorosa. — Ana riu enquanto terminava seu sanduíche e balançou a
cabeça.
Ele sorriu e acenou com a cabeça, apontando o dedo para ela.
— Sim, você está. Essas são as regras. A pergunta foi feita, Davenport, vamos
lá.
Ana gemeu e fechou os olhos enquanto esfregava a testa.
— Isso é embaraçoso.
— Apenas responda a maldita pergunta. — ele disse revirando os olhos.
— Eu estava no meu último ano de faculdade. Seu nome era Austin. Achei
que era sério; ele claramente não via dessa forma. Estávamos namorando há cerca
de dois anos, e então um dia tentei enviar-lhe uma mensagem online e ele me
bloqueou. Acontece que a noiva dele não tinha ideia de que eu existia, e só
descobri sobre ela quando pesquisei o nome dele e encontrei seu outro perfil e
fotos deles na festa de noivado. — Ana se encolheu. — Em minha defesa, ele
nunca me disse que estava noivo.
— Droga, Davenport. Isso é chato. — Ele riu. — Você o amava?
— São duas perguntas — disse Ana depois de tomar sua bebida e engoli-la.
— Mas sim, eu amava.
— Que merda dupla. — Ezra disse, com um pequeno encolher de ombros.
Ele se inclinou para frente e colocou uma das uvas na boca e então passou a ela a
tigela.
— Minha vez. O que aconteceu entre você e sua última namorada? — ela
perguntou com um movimento de sua sobrancelha.
— Eu não saberia. Eu nunca tive uma. — Ezra deu de ombros.
Os olhos de Ana se arregalaram, e sua boca caiu em um olhar de choque
zombeteiro.
— O que! Isso não é justo. Você não pode mentir neste jogo!
— Eu não estou mentindo! — Ezra insistiu com uma risada. — Quero dizer,
não me entenda mal, eu tive muitas conquistas, muitas mulheres com quem tive
intimidade, mas nunca fui um cara de relacionamento. Sempre me pareceu inútil.
— Bem, essa é uma maneira muito triste e cansada de ver as coisas.
— Não sei se você percebeu, Ana, mas eu venho de uma família muito
estranha com práticas muito estranhas. Uma vez que alguém descobre isso,
geralmente se fecham para mim. Isso, e eu sempre estive muito ocupado com meu
trabalho e tentando construir alguma forma de carreira para mim. Não seria justo
pedir a alguém para estar feliz em ficar em segundo lugar, ela não entenderia. —
Ezra deu de ombros quando estendeu a mão para encher seus copos.
— Então, você tem apenas uma noite sem sentido com mulheres nas seções
de livros raros das bibliotecas? — Ana perguntou com um levantar de sua
sobrancelha.
— Basicamente.
O crepúsculo pairava sobre a praia agora, e depois de toda a condução que
eles tinham feito naquele dia, Ana se viu ficando cansada enquanto olhava para o
fogo e como ele piscava. O brilho do pôr-do-sol deu lugar a um novo preto como
tinta e as estrelas estavam perfurando, espalhando o céu em pequenas luzes. Era
lindo, como elas pareciam brilhantes em comparação com os céus poluídos e
claros da cidade.
— Bem, não sei você, mas eu estou exausta. Acho que vou dormir — disse
Ana enquanto tomava sua última taça de vinho e a passava para ele. — Obrigada
pelo vinho e pela comida. E pelo jogo.
— De nada, Senhorita Davenport. Deixei uma das minhas camisas e um par
de shorts lá dentro, se quiser dormir com eles. Vou ficar aqui fora mais um pouco
para terminar o vinho e pensar um pouco. Vou tentar não te acordar. — Ezra
disse enquanto pegava o copo dela e o colocava de lado.
Ela parou por um momento e então se inclinou para beijar sua bochecha e
bagunçar seu cabelo.
— Não beba tanto a ponto de ficar de ressaca. Temos trabalho a fazer
amanhã.
Ezra a olhou quando ela beijou sua bochecha. Ela não sabia dizer se era o
brilho do fogo ou o vinho, mas ele tinha um sorriso bobo no rosto e suas
bochechas estavam coradas.
— Boa noite.
Ana levantou-se do cobertor e mergulhou dentro da barraca, onde se despiu
rapidamente e se ajoelhou ao lado de seu saco de dormir. Nele, ele havia colocado
uma camiseta azul-clara com o nome da universidade que frequentara em branco
na frente e um shorts preto ao lado. Ela sorriu suavemente e os vestiu
rapidamente, então se fechou no saco de dormir.
Ela podia ver a sombra de Ezra contra o lado de fora da tenda projetada pela
luz do fogo, e ela se viu observando-o e como ele respirava e passava a mão pelo
cabelo enquanto bebia seu vinho e olhava para as estrelas. Finalmente, o sono
tomou conta, e ela fechou os olhos ao som das ondas que batiam na praia.
Capítulo 13

— Ei… acorda.
Ana gemeu de onde estava, abraçando um travesseiro que estava enfiado
dentro de seu saco de dormir. Ela estava sendo sacudida para acordar enquanto
Ezra sussurrava para ela.
— Ana, acorda. Precisamos fazer as malas e sair, se vamos chegar à torre e
dirigir todo o caminho de volta para casa antes de escurecer — ele disse de onde
estava descansando em seu cotovelo ao lado dela em seu próprio saco de dormir.
Ana rolou de costas e olhou para ele. Ele estava sentado sem camisa, e a única
coisa que cobria suas pernas era um saco de dormir que estava dobrado em torno
de seus quadris.
— Você está nu? — Ana sibilou enquanto se sentava bruscamente e o olhava
de cima a baixo.
Ezra riu e balançou a cabeça antes de abrir o zíper do saco de dormir e ficar
de joelhos, revelando sua boxer preta.
— Não. Quero dizer, não a menos que você queira que eu esteja…
Ana gemeu e se deitou, olhando para o teto de tecido.
— Que horas são?
— Amanhecer — Ezra disse enquanto vestia sua calça jeans.
A barraca era pequena demais para ficar de pé, então ele teve que se deitar no
saco de dormir para puxá-la até os quadris. Ana o observou silenciosamente,
corando com a forma como abraçava seus quadris, e quando terminou, ele virou
a cabeça para ela, pegando-a olhando para ele.
— O que? — Perguntou, sentando-se para puxar sua camiseta preta sobre a
cabeça.
— Nada. Estou apenas esperando você sair para que eu possa me vestir. —
Ana retrucou, desviando o olhar e voltando para o teto com um rubor.
— Tudo bem, relaxa. Terminei. — Ele ergueu as mãos defensivamente e
abaixou-se para sair pela porta da tenda.
Ana respirou fundo e se concentrou antes que rapidamente se sentasse de
joelhos e trocasse de sua camiseta azul da universidade e shorts para suas próprias
roupas. Ela as dobrou cuidadosamente, depois fechou os sacos de dormir e saiu
da barraca. Ezra já estava arrumando a cesta de piquenique e, quando terminou,
eles desmontaram a barraca e caminharam juntos em direção ao carro, tentando
desajeitadamente fazer malabarismos com tudo para que tivessem que fazer
apenas uma viagem. Empurrando tudo de volta para o porta-malas do carro, Ezra
pulou no banco do motorista e ligou o motor.
Não havia ninguém na praia esta manhã. O sol estava nascendo, deixando o
céu em um azul enevoado da manhã, e havia algumas nuvens baixas no céu. Ainda
estava frio, e Ana abraçou seu suéter mais perto de seu corpo enquanto se sentava
no banco do passageiro e instantaneamente estendeu a mão para ligar o sistema
de aquecimento do carro. Ela levou as mãos à boca e as soprou, esfregando-as para
aquecê-las e depois puxou o pedaço de papel do bolso e abriu as dobras.
— As instruções que o cara nos deu ontem dizem que temos que ir para a
estrada principal da rua principal da cidade e subir a ladeira da grande colina que
vimos que leva ao farol. Uma milha acima do topo daquela colina é um parque
rural. Se estacionarmos lá, aparentemente há uma trilha de caminhada que leva
ao interior do campo e ao longo da cumeeira da falésia. Diz aqui que você
literalmente não pode perder quando passar pelos penhascos. — Ana disse
enquanto o dobrava novamente e o colocava no colo, esfregando as mãos
novamente para trazer calor para elas.
— Tudo bem, chefe — Ezra disse enquanto saía do estacionamento e dirigia
em direção à cidade.
Passaram pelas lojas que tinham visto no dia anterior, e chegaram ao pé da
ladeira que subia a encosta da montanha em direção ao farol. Ele parou o carro
no pé da colina e estacionou com uma carranca profunda no rosto, então se
moveu para abrir a porta e sair.
— Ezra — Ana sibilou —, você deveria dirigir até a colina, não estacionar
nela.
— Conheço esta estrada montanhosa — ele murmurou enquanto fechava a
porta e caminhava em direção a onde a estrada suave terminava e a estrada de
paralelepípedos começava.
Ana suspirou profundamente e esfregou a cabeça irritada enquanto saía do
carro e caminhava atrás dele.
— Você sabe que não pode estacionar no meio da estrada Ezra!
— São 5:30. Ninguém vai se importar, Ana. Só me dê um segundo — Ezra
disse enquanto subia a primeira parte da colina.
Ao lado da estrada havia restos de um antigo prédio de tijolos, apenas uma
parede sobreviveu ao teste do tempo. Uma grande placa de metal estava
parafusada na parede, com inscrições e uma escultura de uma mulher sendo
forçada a entrar em um barril de madeira.
— O que é isto? — Ana perguntou enquanto se aproximava dele enquanto
ele lia a placa.
— Puta merda, eu estudei isso. Não sabia que havia um Barrel Hill aqui. Eu
sabia que parecia familiar. — Ezra disse enquanto franzia a testa. Ele olhou da
placa e depois para a colina de paralelepípedos, uma expressão sombria caindo
sobre seu rosto.
— O que é a Barrel Hill? — ela perguntou a ele, seguindo seus olhos colina
acima como se isso lhe desse a resposta.
— Durante os julgamentos de bruxas europeias, os caçadores de bruxas e
magistrados estavam ficando cada vez mais sedentos de sangue. Eles tentaram
encontrar maneiras novas e mais inventivas de executar pessoas condenadas por
feitiçaria. — Ele colocou a mão na escultura da mulher sendo empurrada para
dentro do barril por homens com tochas.
— Eu não vou gostar dessa história, não é? — Ana se abraçou, meio por
conforto e meio para manter um pouco de calor em seu corpo.
— Bem, em todo o país, em cidades que tinham estradas íngremes como esta,
eles começaram a usá-las como Barrel Hills. Os caçadores e o magistrado
comissionavam os ferreiros e os marceneiros para combinar seus esforços e fazer
um barril grande o suficiente para um humano. Dentro do barril, fileiras de
espigões longos alinhavam-se por inteiro. Eles aparentemente se inspiraram no
antigo dispositivo de tortura da donzela de ferro. Eles forçavam as mulheres a
entrar e pregavam a tampa. Havia espaço suficiente no interior para que ela não
fosse perfurada quando estava de pé, mas as pessoas do lado de fora o derrubariam
e o rolariam colina abaixo para garantir que fosse perfurada. Os homens estavam
tão aterrorizados com as bruxas, que a perseguiam até o fundo e ateavam fogo
onde parou de rolar para que o mal pudesse ser queimado e nunca mais libertado.
Ana estremeceu, lágrimas ardendo em seus olhos. Ela olhou para a base da
colina onde os paralelepípedos paravam, e, silenciosamente, perguntou quantas
mulheres sucumbiram a esse destino. Franzindo o cenho para a estrada, ela se
virou para olhar a placa e a releu. Tinha listas de nomes de mulheres conhecidas
que sofreram com isso e logo acima do desenho gravado estavam as palavras:
Êxodo 22:18.
Ezra já estava voltando para o carro quando ela terminou de ler, e teve que
correr para alcançá-lo, entrando no carro e fechando a porta atrás de si.
— O que é Êxodo 22:18? — perguntou Ana.
Ezra estremeceu e ligou o carro novamente antes de subir a Barrel Hill.
— Não permitirás que uma bruxa viva.

A viagem para o parque rural não demorou muito, mas a caminhada estava
cobrando seu preço nos pés de Ana. Não estando acostumada a andar tanto, Ana
sentiu os calcanhares começarem a empolar e os joelhos doerem. Ezra, por outro
lado, caminhava como se estivesse andando no ar. Ele nunca abrandou, ou gemeu
sobre isso como ela fez, e ele mal estava suando ou sem fôlego.
— Como você não está nem sem fôlego? — Ana perguntou quando ele
cambaleou em outra pedra e teve que se equilibrar.
— Esta nem é uma caminhada difícil, Ana. — Ezra sorriu quando se virou
para olhar para ela, suas mãos segurando as alças de sua mochila enquanto a
esperava.
— Podemos pelo menos parar por um momento? Eu estou morrendo. — Ela
ofegou. Sua garganta estava rouca por tentar engolir o ar, e suas panturrilhas
pareciam estar pegando fogo. — Me dê sua água.
Ezra suspirou enquanto tirava a mochila do ombro e a abria. Ele pegou uma
garrafa de água e caminhou de volta para ela, observando-a enquanto se esforçava
para abri-la e engolir metade da garrafa.
— Estamos perto — Ezra disse enquanto olhava ao redor. — A torre redonda
deve estar logo acima desta última colina. Você consegue.
Ana gemeu e engoliu mais água, então fechou a tampa e começou a andar
novamente. Eles estavam andando por três horas seguidas, e eram quase 9:00. O
sol estava alto agora, tornando o céu mais brilhante e a temperatura mais quente,
e ela estava perdendo a energia para continuar.
— Você vai me levar para o maior café da manhã que você pode pagar quando
terminarmos com isso — disse ela, seu estômago roncando.
— Claro, apenas continue andando. — Ele pegou a mão dela e a puxou para
fazê-la andar novamente.
Quando finalmente chegaram ao topo da colina, pararam, observando a terra
à sua frente.
— Uau, lá está ela. — Ezra sorriu enquanto protegia os olhos do sol para olhar
através das rochas até onde a torre estava.
Não era longe, e eles caminharam a distância rapidamente, aproximando-se
da frente da torre circular e tendo que esticar o pescoço para olhar para o topo
pontiagudo. Era alta mas fina, e era tão velha que os tijolos haviam caído,
deixando buracos nas paredes e vigas de madeira podres penduradas nas frestas.
Havia um arco como uma porta, que ficava a dois metros e meio do chão,
surpreendentemente sem degraus para entrar.
— Por que a porta está lá em cima? Como as pessoas devem entrar? — Ana
perguntou enquanto tirava o descanso de andar para recuperar o fôlego. O suor
cobria a parte de trás de sua camisa em seu pescoço, e ela se abanou com a mão.
— Bem, uma das duas razões. Primeiro, se eles usassem a escada, tudo o que
precisavam fazer era levantá-la aqui e estariam a salvo de animais ou atacantes. E
dois — ele disse enquanto se afastava alguns passos da torre, olhando para o topo
—, estas torres são altas e finas. Se você colocar uma porta na parte inferior perto
do chão, isso enfraqueceria drasticamente a integridade estrutural da torre.
Colocar a porta de sete a três metros do chão torna a torre mais estável.
Ana o observou dar mais passos para trás e olhar a distância da torre de seus
pés. Ele parecia estar avaliando a porta, e ela estreitou os olhos para ele.
— O que você está fazendo? — ela perguntou.
— Entrando naquela torre. — Ezra murmurou.
Ele saiu correndo em direção à torre e, quando chegou à parede, pulou,
escalando a parede e subindo no parapeito pela porta. Ele sorriu quando entrou
e se virou para olhar a vista de cima.
— Ok, sua vez — Ezra disse enquanto acenava para ela se juntar a ele.
Ana piscou para ele com os olhos arregalados, olhando de volta para onde ele
havia fugido e depois subindo a parede até onde estava agora.
— Não há como eu fazer isso, Ezra.
— É só correr e alcançar minhas mãos. Eu vou te puxar — Ezra disse
enquanto tirava sua mochila e a colocava atrás de si, então se deitou no chão da
torre e segurou suas mãos sobre a borda. — Vamos.
Ana tentou pular e pegar as mãos dele, mas ela era muito baixa e ele estava
muito alto.
— Você está muito alto! Eu não consigo alcançar!
— Dê alguns passos para trás e corra pela parede, Ana! Vamos, não é difícil.
Vamos lá! — ele encorajou com um sorriso enquanto a olhava, seu cabelo caindo
na frente de seu rosto.
Ana gemeu e cedeu, dando alguns passos para trás e depois correu para a
parede, tentando subir e agarrar a mão dele, mas ela escorregou e caiu novamente,
apoiando a cabeça contra os tijolos.
— Não consigo fazer isso.
— Essa foi uma tentativa patética, Davenport. Você nem tentou. Você quer
encontrar essa coisa ou não? — Ezra acenou para ela se afastar — Tente
novamente.
Ana respirou fundo, com determinação, e colocou a mandíbula para trás,
depois deu mais alguns passos atrás do que ele havia dado. Ela se sacudiu e se
concentrou nas mãos de Ezra. Tudo o que ela tinha que fazer era pegar as mãos
dele, então ele poderia puxá-la para cima.
Ela assentiu, como se quisesse se convencer de que não era tão alto quanto
realmente era, então partiu em outra corrida. Ela era mais rápida e descobriu que,
quando pulou dessa vez, sabia onde colocar os pés. Ana empurrou-se para cima
do tijolo e agarrou as mãos de Ezra. Ele então agarrou-as com força e puxou-a para
cima e sobre a soleira com um arfar.
Ele riu enquanto eles rolavam no chão, mantendo uma das mãos dela na dele
e dando tapinhas em suas costas.
— Você é mais pesada do que parece.
— Cale-se! — Ana riu enquanto batia no peito dele com a mão e voltava a
ficar de pé, olhando por dentro da torre.
Olhando para cima, Ana pôde ver que os tijolos na parte superior pontiaguda
estavam cravados no lado direito, e o sino que antes estava pendurado na parte
superior perto da pequena janela estava agora deitado no chão aos seus pés, no
centro da torre. As vigas que a sustentavam estavam quebradas e folhas velhas e
fragmentos de madeira cobriam o chão. Uma escada em espiral de madeira subia
pelas paredes, dando voltas e mais voltas até o topo. Havia degraus faltando, e os
que ainda estavam lá pareciam instáveis.
— O que exatamente estamos procurando? — Ana perguntou enquanto
limpava a poeira e a lama seca dos joelhos e olhava ao redor da torre.
— O pergaminho dizia que é “forjado no fogo e perfeitamente alinhado”,
então eu diria que seja o que for, é feito de metal. Alinhado significaria
equilibrado e bem feito. — Ezra disse de onde estava deitado no chão da torre.
— Talvez seja o sino? É feito de metal — disse Ana enquanto se agachava ao
lado do sino.
Ela não viu nada que mostrasse qualquer indicação de que era algo de valor.
Ela inclinou a cabeça para baixo, para olhar dentro do sino que estava de lado.
Dentro estava a campainha de metal, e ela estendeu a mão e a desenganchou.
Puxando-a para fora, ela a examinou em sua mão. Estava surpreendentemente
intacta, exceto por alguma ferrugem e algumas lascas.
— Pode ser isso? — Ana perguntou, inclinando-se para entregá-lo onde ele
estava.
Sentou-se e a pegou nas mãos, sacudindo-o para ver se alguma coisa
chacoalhava ou caía, mas era sólida.
— Não, não sinto nada por dentro.
Ele devolveu a ela e então se deitou no chão, olhando para o teto e ao longo
da escada de madeira que espiralava até o alto. No topo havia um quadrado de
pedra plano que parecia deslocado e de um cinza mais claro do que o resto dos
tijolos. Ele estreitou os olhos e se levantou, depois pegou sua mochila para puxar
sua lanterna. Ele clicou e iluminou o topo da torre, iluminando o quadrado mais
claro, e engasgou.
— Um cofre de pedra está lá em cima. — Ele disse, movendo-se em direção
às escadas e testando um degrau de madeira com o pé.
— Um cofre o quê? — Ana perguntou, seguindo o facho de sua lanterna e
finalmente vendo o quadrado em que ele estava focado.
— É como um pedaço fino de barro que eles colocam em cima de um buraco
e pintam o mais próximo possível da área ao redor. Era usado para esconder
objetos de valor. Tudo o que você precisa fazer é quebrar o barro e poderá
recuperar seus pertences. Ainda não foi quebrado — Ezra disse enquanto mordia
o lábio e dava outro passo. — Eu preciso subir lá.
Ele continuou subindo os degraus, segurando-se na parede, mas quando
chegou ao sexto degrau, a madeira cedeu sob seu peso e ele caiu, tendo que pular
no chão no último segundo.
— Droga.
Ana colocou a mão na testa enquanto andava.
— Então o que fazemos agora? É muito instável.
— Para mim, sim, mas para você… — Ezra disse enquanto entregava a
lanterna para ela. — Você é muito mais leve e menor do que eu, então deve
aguentar seu peso.
— Deve? Eu não vou andar até lá e acabar me matando por um deve, Ezra.
De jeito nenhum! — Ana recuou de sua mão estendida e lanterna.
— Bom, tudo bem, podemos fazer as malas e ir para casa então, porque não
posso chegar lá. — Ezra deu de ombros enquanto se movia para a porta. — Se não
conseguirmos chegar lá em cima, não conseguiremos o que quer que seja o objeto
por trás desse invólucro.
Ana cruzou os braços sobre o peito e inspecionou a altura da torre e a frágil
escada de madeira.
— Tenho medo de altura, Ezra. Eu não posso subir lá.
— Apenas tente. Eu estarei aqui para te pegar se você cair. — Ele disse
enquanto sorria para ela.
— Você vai me pegar? De nove metros no ar? — Ana perguntou, parecendo
horrorizada.
— Bem, já estamos a dois metros de altura, então tecnicamente são apenas
sete metros. — Ele olhou para ela com uma sobrancelha levantada — Você pode
confiar em mim. Eu nunca a deixaria se machucar.
— Isso não me faz sentir melhor — Ana disse enquanto pegava a lanterna
dele, uma sensação de pavor enchendo seu estômago.
Ela se moveu para o primeiro degrau e subiu os primeiros lentamente,
segurando-se na parede. Seu coração estava martelando contra o peito, fazendo-a
sentir-se tonta quanto mais subia. As escadas de madeira estavam segurando, mas
gemiam e rangiam sob seus pés em protesto enquanto ela subia cada vez mais alto.
No meio do caminho, a parede parou e deu lugar a um espaço nos tijolos onde
eles haviam caído, deixando um grande buraco e um espaço entre os degraus de
madeira. Ela podia sentir o vento soprando pela abertura, fazendo-a se sentir
instável enquanto seu cabelo chicoteava na frente de seu rosto, e ela começou a
entrar em pânico. Sua visão turvou e ela teve que fechar os olhos, segurando na
parede enquanto suas pernas tremiam enquanto tentava ficar perfeitamente
imóvel.
— Eu não posso ir mais longe, Ezra. Os degraus estão faltando! A parede
desapareceu! — Ana gritou, sua voz presa na garganta.
— Tudo bem! Apenas mantenha a calma e avance para o próximo com
cuidado!
Ana assentiu e estendeu a mão trêmula para segurar a borda superior do
buraco na parede e empurrou a perna para frente para que ela pudesse empurrar
o degrau e pular para o próximo.
Ele rachou, e ela gritou, tendo que ir o resto do caminho dois degraus de cada
vez até chegar à saliência no topo. Ela caiu para se sentar no parapeito de concreto
e respirou fundo, segurando a mão sobre o coração e olhando para Ezra, que
assobiou.
— Boa! Eu sabia que você poderia fazer isso! Agora, o quê vê?! — ele gritou.
Ana estava sorrindo amplamente, uma sensação de adrenalina enchendo seu
corpo e fazendo-a sentir-se corajosa e formigando por toda parte. Ela olhou para
o quadrado de barro cinza e passou os dedos sobre as marcas que reconheceu que
estavam gravadas nele.
— Essas coisas estão escritas por todo o lado! — Ana gritou de volta.
— Que coisas? — Ezra gritou, andando de lado para tentar dar uma olhada
melhor.
— Aquelas coisas de símbolo no pergaminho!
— Sigilos? É isso! Você achou! Esmague-o com sua lanterna!
Ana firmou-se no parapeito e pegou a ponta da lanterna nas mãos, depois
começou a bater com ela na placa de barro. Ela teve que martela-lo algumas vezes,
mas finalmente ele quebrou e cedeu, o barro caindo na borda e revelando um
buraco. Algo estava dentro, então ela colocou a lanterna ao lado para alcançar.
Era tecido, e quando o agarrou, ela podia sentir algo duro embaixo dele. Puxando-
o para fora do buraco, ela o colocou em seu colo, sua mão tremendo enquanto
sorria.
— Peguei! — Ela gritou.
— O que é? — Ezra saltou em seus pés, tentando ter uma visão melhor dela.
Depois que Ana soltou o pano e o barbante que o amarrava, encontrou uma
longa adaga decorativa dentro. Era linda, com filigrana esculpida no cabo de ouro
e na lâmina de prata. Havia um buraco no punho, o que fazia parecer que estava
faltando alguma coisa, mas fora isso, estava perfeita.
— Uau… — Ela sussurrou e estendeu a mão para levantá-la pela alça.
No segundo em que sua mão tocou o punho, uma dor aguda entrou na
cabeça de Ana. Sua mão se apertou ao redor da adaga, e seu corpo ficou leve e
fraco, sua visão embaçada e preta começando a filtrar através das bordas de sua
vista. Então tudo ficou escuro, e ela se viu caindo da borda. Houve um flash de
luz em algum lugar abaixo dela, depois escuridão, depois nada.
Nada além de uma voz.
— Encontre-nos. Encontre a fonte do poder. Encontre as peças que faltam e
poderá nos libertar! Cuidado com os observadores. Você despertou os que observam
e os que caçam, agora você deu liberdade aos primeiros. Encontre os outros antes que
eles o façam, antes que eles o encontrem. Antes que se una a nós.
À medida que a voz se repetia várias vezes, ela se desvaneceu e ela sentiu seu
corpo novamente. Ela estava deitada em algo duro, e estava sendo segurada por
alguém que estava esfregando seu rosto.
— Ana? Ana, acorda! — Ezra a chamou.
Ele parecia tão distante até que ela finalmente abriu os olhos. Seu corpo ainda
estava formigando e seus ouvidos zumbiam, mas quando seus olhos voltaram a
focalizar, ela pôde ver que estava no chão da torre, olhando para o teto de onde
havia caído. Ezra a estava segurando em seus braços enquanto ela estava deitada
com a cabeça contra o peito dele, olhando-a com um rosto cheio de preocupação.
— O que você disse? — Ana perguntou secamente.
— Eu disse para você acordar. O que aconteceu lá em cima? — Ezra
perguntou, colocando o cabelo dela atrás da orelha enquanto a segurava até que
a sensação voltasse aos seus membros.
— Não, antes disso, algo sobre os observadores. Quem são os observadores?
— ela perguntou, movendo-se lentamente para se sentar.
— Eu não disse nada sobre observadores — Ezra disse, observando-a confuso.
— Espere… — Ana usando o ombro dele para se levantar. — Você me pegou?
Ezra se levantou e limpou os joelhos, não encontrando os olhos dela
enquanto se ocupava em pegar a lanterna quebrada.
— Eu disse que não a deixaria cair.
— De todo o caminho lá de cima? — Ana perguntou com uma sobrancelha
levantada. Ele não tinha um arranhão nele, nem qualquer poeira ou sujeira, como
teria se a tivesse pegado e caído sob seu peso.
Ezra deu de ombros, então se moveu para onde o velho trapo e a adaga
estavam no chão e estendeu a mão para pegá-la.
— Não toque nela! — ela disse, pegando o braço dele para puxá-lo de volta.
— Acho que pode ser como.. radioativo ou algo assim.
— Radioativo? — Ezra perguntou com um olhar desinteressado em seu
rosto. Ele a ergueu pelo cabo e a virou em suas mãos, examinando-a. — Viu? É
apenas um athame.
Ana mordeu o lábio e o observou enquanto ele parecia não ser afetado pela
adaga. Ele estava olhando por cima e segurando-a com tanta ternura. Ela tinha
certeza de que era o punhal que a fizera desmaiar; só não sabia como isso também
não o afetava.
— O que é um athame? — Ela deixou o pensamento ir e se aproximou dele
para dar uma olhada mais de perto.
— Um athame é uma ferramenta de bruxa. É usada para reter e direcionar a
energia para que a bruxa possa manipular o poder que possui através dele.
Aumenta a intenção e a força do seu poder durante o trabalho de feitiço. — Ezra
disse enquanto olhava de perto, maravilhado. — Tem os selos de Marion por toda
parte. Sabe o quanto isso é valioso? Não só o valor financeiro, mas também o
valor histórico e oculto. Isto é… estou impressionado!
— Acho que não é seguro tê-la — disse Ana enquanto franzia a testa para a
adaga. Ela não sabia como explicar a voz que ouvira, ou se Ezra tinha dito isso e
estava apenas brincando com ela, mas ela estava assustada. — Se alguém
realmente está procurando as coisas que foram escritas no pergaminho, e nós
temos uma, então precisamos escondê-la, e rápido. Eu tenho um pressentimento
muito ruim sobre isso.
Ezra assentiu. Ele a embrulhou no pano em que veio, cuidadosamente a
colocou em sua mochila, então se virou para olhá-la.
— Então é hora de ir. Podemos dar uma olhada mais de perto quando
voltarmos à loja.
Ele puxou a mochila por cima do ombro e foi até a porta, pulando pela
entrada e deixando Ana olhando para o teto de onde havia caído. Ela estremeceu
com a altura e tentou sentir alguma dor em seu corpo, mas não havia nenhuma,
como se não tivesse caído.
— Curioso e curioso… — ela murmurou, então caminhou até a entrada e
pulou para fora da porta.
Capítulo 14

— Eu pensei que estávamos indo para a loja de sua mãe? — Ana perguntou
enquanto Ezra estacionava seu carro do lado de fora da casa de Genevieve.
— Estávamos, mas quando consegui arrastá-la por aquela trilha e entrar no
carro, estava fechada, sem mencionar a viagem de três horas para casa — disse ele,
tirando as chaves da ignição. — Já passa das 7:00 e estou faminto. Além disso,
minha mãe é a melhor cozinheira.
Ele saiu do carro com a mochila no ombro e Ana o seguiu, caminhando ao
sol poente, pelo pequeno caminho de pedra que levava à casa de campo de sua
mãe com telhado de palha. Atravessando a porta, eles foram recebidos com o
cheiro do jantar que permeava os corredores. Cheirava a macarrão e queijo, e pães
recém-assados.
— Mamãe! — Ezra chamou enquanto colocava as chaves na mesa dentro do
corredor e se dirigia para a cozinha, sorrindo largamente quando a viu
cozinhando no fogão.
Genevieve estava cantarolando junto com a música enquanto cozinhava e
tomava seu chá. A cozinha era rústica, com um grande forno antigo e uma ilha
no meio, já posta com pratos e talheres.
— Você está em casa! — Ela sorriu amplamente, abrindo os braços para ele
quando ele largou a mochila e mergulhou para um abraço. Ela o abraçou de volta,
então beliscou sua bochecha e alcançou a colher que ainda estava na panela,
levantando-a e pairando na frente de seu rosto. — Prove.
Ezra se inclinou e provou o molho, fechando os olhos e acenando em
aprovação.
— Maravilhoso. Mal posso esperar, estamos famintos.
Ana sorriu enquanto pairava na porta da cozinha, acenando para Genevieve
quando a viu:
— Eu não tenho que ficar se for muito incômodo, eu posso ir para o B&B…
— Bobagem. — Genevieve disse com um aceno de mão e desligou o fogão
antes de caminhar até ela e pegar sua mão. — Você vai ficar comigo. Não posso
deixar meus dois pequenos aventureiros passando fome. Sente-se, querida.
Ana sentou-se em uma cadeira na ilha, apoiando-se na mesa enquanto
observava Ezra e sua mãe juntos. Ela podia dizer que eles eram muito próximos, e
que ele adorava sua mãe de uma forma que ela desejava que sua mãe fizesse com
ela.
— Então, me diga, como foi sua pequena viagem de acampamento?
Encontraram o que precisavam? — perguntou Genevieve.
— Por uma questão de fato, nós encontramos. — Ezra sorriu. Ele se sentou
ao lado de Ana, pegando a jarra de limonada e enchendo os copos. Ele tomou um
grande gole de sua bebida e então pegou uma fatia de pão quente da cesta.
Sua boca encheu de água quando ela pegou um dos seus, espalhando um
pouco de manteiga nele e depois levando ao nariz para cheirá-lo. O cheiro era
divino, mas antes que ela pudesse dar uma mordida, Genevieve estava falando
com eles novamente.
— E? Bem? Desembucha, garoto! O que era? Eu estive esperando o dia todo!
— ela disse, inclinando-se na bancada em frente a eles e observando os dois com
expectativa.
Ana e Ezra trocaram um olhar, embora o dela parecesse mais inseguro em
contraste com o dele alegre.
— Encontramos uma adaga — disse Ana, dando uma mordida em seu pão
amanteigado.
— Não é qualquer adaga, mãe. É o athame do coven Marion. Não dei uma
boa olhada nele enquanto estávamos lá, mas é real e está perfeitamente
preservado. Há algo faltando no punho, mas é lindo. — Ezra disse empolgado
enquanto terminava seu pão.
— Bem, onde está? — sua mãe perguntou, sua boca aberta em admiração.
— Está na minha mochila, posso te mostrar depois do jantar. Isso está
pronto? — ele perguntou, já de pé e levantando os pratos.
— Está. Você vai pôr para nós, querido? perguntou Genevieve. Ezra já estava
no fogão e estava colocando a comida nos pratos em suas mãos enquanto sua mãe
continuava. — E você? O que acha de tudo isso?
Ana considerou a pergunta e tomou um gole de sua limonada para esperar
algum tempo para contemplar sua resposta.
— Eu não vou mentir para você, Genevieve, tudo isso é um pouco estranho
para mim. Eu o vejo ficar tão animado com essas coisas que não entendo o
significado, e muitas experiências estranhas estão acontecendo que não consigo
explicar. Não gosto de coisas que não consigo explicar…
— Não brinca. — Ezra riu do fogão enquanto trazia os pratos e os colocava
na frente de Ana e sua mãe antes de pegar o seu.
Ana olhou para o prato alto de carbonara e sentiu água na boca novamente.
Seu estômago roncou, e quando Ezra se juntou a elas na mesa com seu próprio
prato e começou a comer, ela aproveitou a deixa para começar a devorá-lo
sozinha.
— Que tipo de experiências estranhas? — perguntou Genevieve.
— Bem — disse Ana, cobrindo a boca enquanto engolia —, quando toquei
na adaga...
— Athame — corrigiu Ezra.
— Athame, tanto faz — ela disse revirando os olhos. — Toquei para ver o
que era, porque estava enrolado em um pano e algo aconteceu. Desmaiei, mas foi
estranho porque não desmaiei completamente; eu estava em outro lugar dentro
da minha cabeça. Eu tinha a sensação de que alguém estava lá me observando.
Eles disseram que precisávamos encontrar o resto dos itens antes dos
observadores. Pensei que era Ezra brincando comigo, mas ele falou que não disse
nada, certo? — Ana riu.
Ana ergueu os olhos de sua comida e notou que ambos haviam parado de
comer e a observavam. Eles não estavam rindo com ela.
— O que? — Ana disse, seu sorriso caindo.
— Você não me disse isso — Ezra disse com uma carranca. — Por que não
me contou?
— Eu estava envergonhada. Eu tinha acabado de desmaiar e me encontrei no
chão, com você me segurando da minha queda, pensei que estava imaginando.
Quer dizer, eu estava imaginando. É estranho para onde sua mente pode ir
quando se está desmaiando e todos os produtos químicos correm para o seu
cérebro. — Ana deu a Ezra um sorriso fraco.
— Tenho certeza que foi só isso, querida — Genevieve disse, dando-lhe um
sorriso enquanto começava a comer de novo —, o que foi essa queda de que fala?
Você se machucou?
— Na verdade, é meio engraçado. Eu tive que subir até o topo da torre para
pegar o athame, e tinha dez metros de altura! Então, quando desmaiei e caí, pensei
que acordaria machucada, mas Ezra me pegou. Não tenho certeza de como ele fez
isso, mas nós dois estamos bem, felizmente. Poderia ter dado muito errado. — Ela
deu de ombros enquanto bebia sua limonada.
Genevieve estava observando Ezra, e ele não a olhava nos olhos enquanto se
concentrava em comer. Ana podia ver uma vermelhidão picar suas bochechas até
que ele finalmente olhou para sua mãe.
— Bem, é uma sorte que ele seja um bom partido, hein? — disse Genevieve.
Algo não dito passou entre eles, e Ana sentiu como se tivesse falado demais,
mas o que, não tinha certeza. Ela deu de ombros tímida e comeu sua comida,
gemendo como era bom.
Comeram em silêncio, ouvindo o suave jazz que tocava no rádio e saboreando
a refeição. Quando ela olhou para eles por trás de seu garfo, poderia dizer que algo
não estava certo. Genevieve parecia descontente com Ezra, e ele estava tentando
não olhar a mãe nos olhos como uma criança repreendida.
Quando seus pratos de comida terminaram, Ezra os levou para a pia onde os
deixou dentro e voltou para levantar sua mochila, colocando-a sobre a mesa e
finalmente olhando para sua mãe um pouco envergonhado.
— Vamos dar uma olhada neste athame então — disse Genevieve, seu sorriso
caloroso retornando enquanto descansava os cotovelos na mesa em antecipação.
Ezra enfiou a mão dentro de sua mochila e tirou o pano enrolado, colocando-
o sobre a mesa e empurrando-o para mais perto de sua mãe. Ele se sentou ao lado
de Ana novamente e mordeu o lábio, o pé quicando no chão enquanto esperava
que ela o abrisse. Eles não tiveram muito tempo para olhar desde a torre, então
vê-la novamente agora seria como vê-la pela primeira vez.
Genevieve puxou o tecido em sua direção. Ela o abriu com cuidado e o
estendeu sobre a mesa da ilha.
— Oh, meu… — Ela ergueu a adaga em suas mãos e segurou-a suavemente.
Estava um pouco sem graça, mas nada que um pouco de polimento não resolva.
A alça foi habilmente esculpida, com uma bela filigrana de folha de ouro subindo
pela alça. — Isso é impressionante. A lâmina em si parece completamente intacta,
sem lascas ou marcas, então é definitivamente um athame. Eles não foram usados
para defesa ou para qualquer tipo de fatiamento, então a lâmina deve ser
desmarcada. Este é um achado muito raro, Ezra.
Ezra assentiu ansiosamente e estendeu a mão, apontando um dedo para onde
estavam as marcas na lâmina.
— Estes são os mesmos sigilos no pergaminho que encontramos dentro da
caixa, que a liga diretamente ao coven da família Marion. Este é certamente o
primeiro dos objetos sobre os quais escreveram. Nós nunca teríamos encontrado
se não fosse por esse mapa.
— Você está certo, parece que falta uma peça. — Genevieve reconheceu
enquanto a virava em suas mãos e passava o dedo pelo cabo e pelo grande buraco
em semicírculo. — Não tenho certeza se é de propósito ou se simplesmente foi
danificada, mas está incompleta.
— Você sente alguma coisa com isso? — perguntou Ezra.
Ana ergueu a sobrancelha. Ela sabia que ele devia estar querendo dizer se ela
sentia coisas mágicas, mas ainda era estranho ouvir. Sem dúvida, essas pessoas que
ela havia conhecido eram boas, mas sua crença na existência de magia real ainda a
fazia querer gemer. Ela não o fez, porém, e em vez disso se inclinou mais perto
para ver melhor.
— Nada que tenha algum significado. Deve haver muito poder neste athame,
então estou surpresa que pareça tão vazio — Genevieve disse enquanto a colocava
de volta no pano com cuidado e olhava para Ana. — O que aconteceu quando a
tocou?
Ana deu de ombros novamente e descansou o queixo nas mãos.
— Eu não sei. Acho que o estresse da subida e estar com tanto medo da altura,
e então o alívio de descobrir que era demais para minha cabeça aguentar. Eu
simplesmente apaguei.
— Você pode me contar da voz que você ouviu?
— Foi apenas um sonho induzido por um apagão, Genevieve. — Ana franziu
a testa, sentando-se mais reta.
— Mesmo assim, me satisfaça…
Ana suspirou e fechou os olhos enquanto tentava se lembrar do que o sonho
havia dito.
— Disse algo sobre encontrar a fonte do poder, e as peças que faltavam, para
que algo pudesse ser liberado. Depois, algo sobre estar ciente dos observadores e
que eles estão despertos agora, e para encontrar o restante antes que eles o façam.
— Ela disse, abrindo os olhos e pegando sua bebida para que pudesse tomar um
gole. — Pelo menos, é o que eu acho que disse.
Genevieve cantarolou para si mesma, um olhar preocupado se estendendo
por seu rosto.
— Acho que devemos consultar as cartas sobre isso, Ezra. Eu não gosto do
tom disso.
— Cartas? — Ana perguntou enquanto olhava entre os dois.
— Cartas de tarô. — disse Ezra.
— Você vem comigo? — Genevieve disse a Ana quando se levantou da mesa
e caminhou até uma porta perto dos fundos da cozinha.
Ana instantaneamente mordeu o interior de sua bochecha para se impedir de
suspirar. Ela não queria ofender Genevieve, mas também não podia fingir que
achava que tudo aquilo era real. Pesando tudo em sua mente, ela imaginou que
manter Genevieve à vontade seria a coisa mais gentil a fazer.
— Claro. — Ela se levantou da mesa e viu Genevieve desaparecer da sala pela
porta.
— Ana — Ezra disse enquanto pegava o braço dela. — Seja mente aberta. Seja
amável. Essas coisas significam muito para minha mãe, e se ela acha que isso vai
ajudar, eu confio nela.
Ana assentiu lentamente e deu-lhe um sorriso forçado.
— Tenho a mente aberta. Eu nunca machucaria os sentimentos da sua mãe.
— Ela puxou o braço de volta, então caminhou ao redor da ilha na cozinha e pela
porta que Genevieve tinha entrado.
A porta levava a um grande jardim de inverno cheio de plantas. Vasos
adornavam as bordas das janelas e pendiam do teto e desciam pelas paredes. Era
uma espécie de estufa, e Ana podia sentir um tipo diferente de sensação que este
quarto lhe dava irradiando através de sua pele. Era úmido, mas calmante e tão
aromático que ela queria respirá-lo tão profundamente quanto pudesse. Se
acreditasse em magia real, ela imaginava que era assim que se pareceria.
Formigante e quente e esperançoso. Mas ela não acreditava em magia, e se
lembrou disso quando olhou mais de perto para as mesinhas que estavam ao redor
da sala.
Sobre as mesas havia bolas de cristal, pedras preciosas com marcas estranhas
esculpidas nelas, espelhos pretos e uma tigela fumegante de incenso. Genevieve
sentou-se à mesa do meio e colocou um pano roxo sobre os joelhos, depois sorriu
para ela e abriu o braço para indicar que Ana se sentasse à sua frente.
Ao sentar-se à mesinha, Ana olhou por cima dela. Tinha um pano de veludo
preto e dourado por cima e à esquerda da mão de Genevieve havia um baralho de
cartas. Elas estavam viradas para baixo, e Genevieve as embaralhou entre os dedos
em um floreio sem sequer olhá-las.
— Você já fez isso antes? — perguntou Genevieve.
— Não, não posso dizer que fiz. — Ana disse enquanto a observava.
— Porque você não acredita nesse tipo de coisa. — Antes que Ana pudesse
abrir a boca e se defender, ela sorriu e acenou. — Não se preocupe com isso, não
importa, não para isso.
Genevieve juntou as cartas depois de as embaralhar e começou a bater nelas
com os nós dos dedos. O rosto de Ana deve ter expressado confusão sobre o
porquê, porque ela riu e bateu com mais força.
— A batida é para limpar as cartas de quaisquer energias anteriores que ainda
possam estar remanescentes. A vibração limpa a energia, portanto, a energia de
mais ninguém pode interferir na mensagem que você está tentando transmitir —
Ela então embaralhou as cartas de volta em um baralho e as estendeu para ela. —
Eu preciso que você embaralhe isso.
Ana piscou para as cartas, então assentiu e estendeu a mão para elas. Havia
muitas cartas, e eram mais longas e maiores do que as cartas de baralho
tradicionais, então ela achou difícil as embaralhar. Seus dedos se atrapalharam, e
algumas das cartas caíram, fazendo-a pegá-las novamente sem jeito.
Embaralhando-as mais uma vez, ela as devolveu a Genevieve e cruzou as mãos no
colo sob a mesa.
— Tudo bem. Vamos descobrir o que precisamos saber sobre essa situação,
certo? — Genevieve disse com um sorriso reconfortante.
Genevieve limpou a garganta e fechou os olhos, respirando profundamente e
sentindo o baralho de cartas entre as mãos. Ela levou um momento, tomando seu
tempo conectando-se com elas até que finalmente as colocou sobre a mesa.
Depois de abrir os olhos, pegou uma carta de cima e a virou.
A carta tinha uma foto de um jovem e uma mulher. Cada um segurava um
copo nas mãos e estendia-os um para o outro. Acima deles, um cajado alado
flutuava e, em cima disso, uma cabeça de leão rugia.
Ela virou a próxima carta e a colocou ao lado da primeira. Mostrava um
pedreiro trabalhando em uma coluna em uma catedral com ferramentas nas mãos
na frente de dois arquitetos segurando um plano para o projeto.
— Ah, isso é o que eu esperava — disse Genevieve enquanto sorria
calorosamente, olhando para Ana por baixo da faixa de texugo em sua franja. Ela
apontou para o cartão com o casal e as xícaras. — Este é o dois de copas. Simboliza
amor, parceria e atração. O leão representa uma atração sexual ardente entre duas
pessoas, mas isso não é tudo o que esta carta significa.
As bochechas de Ana instantaneamente ficaram vermelhas, e manteve seus
olhos focados na carta para que não tivesse que olhar nos olhos de Genevieve.
Genevieve riu e balançou a cabeça.
— Os dois copos colocados na vertical assim, significam o início de um
relacionamento. Isso pode significar amor, sim, mas nessa situação,
provavelmente significa o relacionamento comercial que você e Ezra
compartilham. Isso significa que haverá uma profunda conexão mútua à medida
que vocês criam uma nova parceria que é igualmente benéfica e equilibrada em
ambos os lados. Vocês dois precisam estar igualmente investidos para que esse
relacionamento avance. Vocês compartilharão os mesmos comprimentos de
onda e a mesma visão de como proceder com tudo que for colocado em seu
caminho. Uma equipe perfeita jogando com seus pontos fortes individuais para
o bem do todo. É apoio e amor incondicional, sempre querendo o melhor um
para o outro. É uma carta bonita.
Ela sorriu e apontou para a carta com o pedreiro.
— Este é o três de pentáculos. Significa trabalho em equipe e aprendizado.
Cada uma dessas pessoas, o pedreiro e os arquitetos, não poderiam fazer este
magnífico edifício sem antes trabalharem juntos. Mostra que, embora sejam
hábeis em coisas diferentes e tenham crenças diferentes, podem trabalhar em
harmonia com o mesmo objetivo em mente e superar qualquer coisa; é isso que
você e Ezra devem fazer.
“Isso não é surpreendente; pude ver que vocês dois trabalham bem um com
o outro. Ele gosta de você, sabe — ela disse, seu dedo brincando no canto das duas
xícaras antes de se virar para o baralho novamente. — Agora, vamos descobrir as
intenções dessa pessoa que está atrás dos itens que vocês procuram. A pessoa que
matou Nina."
Genevieve respirou fundo e virou mais duas cartas. A primeira mostrava
cinco homens lutando entre si com bastões longos, e a segunda era um cavaleiro
de armadura brilhante, montado em um cavalo branco com sua espada erguida
no ar.
Ela suspirou e entrelaçou os dedos sob o queixo, apoiando-se neles enquanto
olhava as cartas em profunda reflexão.
— Este é o cinco de paus. Isso sugere que essa pessoa trará conflitos em todos
os ângulos, causará grande desacordo, e, é ferozmente competitivo em seus
modos. Ele vai lutar com unhas e dentes para chegar a esses itens. E este — ela
disse, apontando para o cavaleiro —, é o cavaleiro de espadas. Ele é um homem
em uma missão, que não vai parar por nada para conseguir o que quer, não
importa o custo. Ele é motivado, insensível, severo e altamente motivado. Não
importa o obstáculo à sua frente, ele o derrubará. Isso incluirá você e Ezra. Você
precisa ter cuidado e se proteger dele; ele é uma pessoa imensamente poderosa.
Não hesitará em te machucar se não conseguir o que quer.
— Você pode dizer quem é? — Ana perguntou enquanto se aproximava,
estudando o cavaleiro a cavalo e o olhar focado em seu rosto.
— Não é assim que funciona, querida. Eu queria que fosse. — Ela franziu a
testa, então esfregou as têmporas. — A última tiragem de cartas será para o
resultado desta jornada em que você e Ezra estão. Precisamos saber se temos uma
chance de lutar.
Ela respirou fundo e passou as mãos sobre as cartas, então puxou as três
seguintes em rápida sucessão.
A primeira mostrava um homem deitado de bruços no chão,
presumivelmente morto, com espadas erguidas perfurando suas costas. A
segunda era uma torre na beira de uma montanha rochosa, relâmpagos no céu
quando duas pessoas saltaram das janelas. A terceira mostrou um esqueleto
vestido com armadura preta montando um cavalo branco com um cajado com
uma bandeira preta em suas mãos.
Genevieve resmungou e esfregou as têmporas com mais força, inclinando a
cabeça para as cartas, depois apontando para a foto do homem morto com as
espadas nas costas.
— Este é o dez de espadas. Significa um final doloroso, mas inevitável. Haverá
perda, traição e crise. Um ou ambos serão vítimas de uma traição, talvez até um
para o outro. Vai doer profundamente e deixar uma ferida duradoura que será
difícil de ser vencida. — Ela disse, então apontou para a próxima.
“Esta é a Torre. Significa despertar, reviravolta e mudança repentina. Isso
sugere que exatamente quando pensar que se sabe o que está acontecendo, o
tapete será puxado debaixo e você será derrubada no caos. As coisas nunca mais
serão as mesmas, o que você sabia vai acabar, e terá que viver em um mundo novo
que é estranho para você. Você precisará se reconstruir e se reorientar e pensar
novamente. Este não é um bom resultado, Ana, mas isso sugere que você pode
superar o que quer que seja se estiver disposta a fazer o trabalho que precisa ser
feito.
Genevieve olhou para ela e franziu a testa profundamente, então olhou para
a última carta, aquela com o esqueleto do cavaleiro negro.
— Esta é a Morte, a carta da transformação, dos finais e da transição. O final
desta missão em que você está com meu filho será difícil, doloroso e
extremamente perigoso, mas aconteça o que acontecer, virá com uma mudança
extrema em tudo o que você ama. Você pode superá-lo se tentar acompanhar a
mudança. Se não fizer isso, você só tornará as coisas mais difíceis para si mesma.
— Isso é sinistro — Ana franziu a testa, recostando-se em seu assento. Ela não
acreditava que alguém pudesse ler seu futuro em um baralho de cartas, mas isso
não significava que o que Genevieve tinha visto não a deixasse nervosa.
— É. Este será um momento perigoso para vocês, e eu admito, estou
preocupada com vocês dois. Se essa pessoa que procura esses itens os alcançar, se
é o motivo da traição e da mudança abrupta, você precisa se perguntar se esses
itens valem o risco de sua vida. Valem?
Ana mordeu o lábio e olhou para as cartas novamente, depois para seu rosto.
— Não sei.
— Então precisa pensar profundamente sobre isso antes de continuar. Eu sei
que você quer se destacar em sua carreira, mas não vale a pena sua vida e não vale
a vida do meu filho.
— Não, não vale — disse Ana com um suspiro profundo. — Por que você
quis ler minhas cartas e não as de Ezra? Talvez ele possa lhe dar uma leitura mais
clara do que a minha.
Genevieve sorriu, mas o sorriso não alcançou seus olhos.
— Eu não consigo ler Ezra. Ele bloqueia todo mundo toda vez que alguém
tenta — Ela levantou. — Além disso, suas cartas foram realmente muito claras.
Venha, está ficando tarde. Farei com que Ezra lhe mostre seu quarto durante a
noite, e então preciso falar com meu filho sobre tudo isso em particular, se você
não se importar.
— Claro — disse Ana com um sorriso.
Ela se levantou da mesa e a seguiu para fora da sala, olhando por cima do
ombro para a mesa e as cartas. Ela não entendia como um simples baralho de
cartas poderia prever o futuro, mas alguém estava procurando por esses itens e
alguém matou Nina. No entanto, ela tinha motivos para ser cuidadosa, quer as
cartas assim o dissessem ou não.
Ezra ainda estava sentado na ilha no meio da cozinha, olhando para o athame
em profunda concentração enquanto fazia anotações.
— Como foi? — ele perguntou, levantando os olhos de seu bloco de notas e
colocando-o para baixo com um sorriso cansado.
— Assim como se pode esperar. Mostre a Ana o quarto de Abby, depois volte
aqui antes de ir para casa. Eu preciso falar com você — Genevieve disse, sua voz
sugerindo que ela ainda não estava feliz com ele.
Ezra puxou os lábios em uma linha fina e acenou para sua mãe.
— Certo. Cuide do athame enquanto eu estiver fora. — Ele acenou para Ana
segui-lo, e eles caminharam juntos pelo corredor até as escadas de madeira que
levavam ao segundo andar. — O que suas cartas diziam?
— Algo sobre traição, mudança e morte. — Ana suspirou enquanto o seguia
escada acima.
— Ah, é? O que mais? — ele questionou, olhando por cima do ombro para
ela com um pequeno sorriso.
— Você precisa de mais do que morte e traição? — ela respondeu ao chegar
ao patamar e o seguiu até a porta no final do corredor.
Ezra descansou a mão na maçaneta e se virou para olhá-la completamente
antes de abri-la.
— Você tirou o dois de copas, não foi?
A boca de Ana caiu, e ela balbuciou para ele, cruzando os braços sobre o peito
e balançando a cabeça.
— Eu pensei que essas leituras deveriam ser privadas?
— Elas são! Eu não estava ouvindo, eu juro — Ezra defendeu, cruzando seu
coração com o dedo e abrindo a porta.
— Então como sabia?
— Porque você e eu formamos uma grande equipe, Davenport. E você gosta
de mim — Ele piscou, então acendeu a luz.
O quarto era simples. Era grande o suficiente, com duas janelinhas, paredes
brancas e uma cama de casal. Uma penteadeira estava encostada em uma das
paredes com maquiagem no balcão e tinha um enorme guarda-roupa de madeira
ao lado.
— Sua mãe disse que este é o quarto de Abby. Quem é Abby? — Ana
perguntou ao entrar.
Ezra olhou ao redor do quarto, uma expressão em seu rosto que ela não
conseguia ler.
— Ela é minha irmã, alguns anos mais nova. Abby é a criança selvagem da
família. Nós não sabemos onde ela está de um dia para o outro, e raramente volta
para casa, por isso você é bem-vinda neste quarto. Ela tem guarda-roupas cheio
de roupas, se quiser trocar para algo em que possa dormir.
Ana assentiu enquanto examinava o quarto e se movia até o guarda-roupa,
abrindo-o e passando as mãos pelas roupas.
— E você?
— Tenho minhas próprias roupas para dormir — Ele sorriu, então riu
quando Ana lhe deu uma carranca. — Preciso falar com minha mãe, depois irei
para minha casa, mas voltarei para o café da manhã e podemos seguir o próximo
passo do nosso plano.
Ana estreitou os olhos em questionamento.
— Por que sua mãe está tão chateada com você? Ela estava bem até que a
contamos sobre o que aconteceu quando eu caí.
Ele encolheu os ombros.
— Não sei.
Ezra nunca tinha mentido para ela antes. Ela sabia disso quando viu o quão
mal ele tinha feito isso agora, e isso a fez franzir mais a testa. Ao invés de interrogá-
lo sobre isso, deu de ombros e caminhou de volta para ele, pegando a maçaneta
em suas mãos.
— Bem, então não vou segurá-lo. — disse Ana.
Ezra fez uma pausa, então mordeu o lábio e se moveu como se fosse pegar a
mão dela, mas em vez disso enfiou as mãos nos bolsos.
— Sim. Bem. Bom trabalho hoje, Davenport.
Ele saiu do quarto e desceu o corredor rapidamente antes de Ana fechar a
porta. Ela ficou de costas contra ela e olhou para o quarto enquanto mordiscava
o lábio.
Capítulo 15

A luz do sol brilhava através da janela enquanto Ana estava deitada na cama na
casa dos Sullivan. Descansava em sua pele e a deixava se sentindo quente e
aconchegante. Ela se espreguiçou, deitando-se contra os lençóis frescos e
observando enquanto pequenas partículas de poeira caiam na frente dos raios e
flutuavam no ar. Com um sorriso, ela se sentou nos lençóis e jogou as pernas para
o lado da cama. Na noite anterior, ela vasculhou algumas roupas de Abby e
encontrou um short de pijama e uma regata preta que dizia: eu te amaldiçoaria,
mas não quero desperdiçar as ervas, em letra cursiva branca na frente.
Ela puxou o telefone de onde estava sobre a penteadeira para verificar a hora.
Já passava das 10:00, piscou para a tela, uma sensação de pânico tomando conta
dela antes que percebesse que não precisava acordar cedo de qualquer maneira.
Não havia prazos, reuniões e prioridades até o final do mês. Ela nunca teve tanto
tempo para si mesma, e enquanto se sentava na cadeira na penteadeira, ela
reconheceu o quanto tinha perdido uma vida mais lenta.
Depois de colocar o telefone de volta na mesa, ela sentiu o cheiro de algo doce
flutuando por baixo da porta, fazendo seu estômago roncar alto. Ela se levantou
da cadeira e abriu a porta, entrando no corredor e sorrindo ao som suave da
música rock que vinha da cozinha abaixo dela.
Entrando na cozinha, Ana sorriu largamente enquanto se encostava na porta
e cruzava os braços sobre o peito, descansando a cabeça na madeira. Ezra estava
de pé no fogão. Seu cabelo estava espetado em todos os ângulos, e ele estava
vestindo uma calça de moletom cinza folgada e uma camiseta branca. Utensílios
de cozinha e farinha cobriam os balcões e o topo da ilha, com leite derramado e
um saco de gotas de chocolate tombado. Ele estava cantando para si mesmo e
acenando com a cabeça para a música, e quando finalmente se virou com um
prato nas mãos, ele saltou de surpresa e mexeu-se para pousá-los.
— Jesus Cristo! Não se aproxime de pessoas assim, Davenport. Você me deu
um ataque cardíaco! — Ezra exclamou com uma carranca. Ele tentou tirar o pó
da camisa, mas tinha farinha e massa por toda parte.
— Eu não estava me esgueirando. Não é minha culpa você estar na zona. A
propósito, bela voz para cantar. — Ana riu e empurrou-se para fora da porta,
caminhando até ele e estendendo a mão para limpar a farinha endurecida em seu
nariz. — O que diabos você está fazendo, afinal?
Ezra enxotou a mão dela e se moveu para desligar o forno, então enfiou a mão
dentro com uma luva térmica e tirou uma bandeja de croissants recém-assados.
— Eu não conseguia dormir — disse ele, pousando-os e movendo-se para a
pilha de panquecas e waffles que tinha feito e os colocou no lado limpo da mesa.
— Então, você abriu uma padaria? — Ana riu. Ela se sentou e levantou um
prato vazio, olhando-o enquanto ele colocava uma tigela de frutas picadas na
frente dela.
— Não. Eu não consegui dormir depois que minha mãe me repreendeu por
algumas horas, então eu passei a noite toda fazendo mais pesquisas sobre a
próxima parte da pista do pergaminho. Então eu não conseguia ver direito, depois
fui correr, e aí minhas pernas ficaram cansadas, mas meus olhos ainda não
estavam, e era de manhã, então pensei em fazer o café da manhã para você. — Ezra
deu de ombros quando finalmente se sentou em frente a ela.
— Você me fez todos os cafés da manhã.
— Bem, eu não sabia do que você gostava. — Ezra comentou, então colocou
um waffle em seu prato, começando a empilhá-lo com creme, mel e frutas
picadas.
— Onde está sua mãe? — Ana perguntou enquanto colocava um dos
croissants quentes em seu prato e levantava uma faca e um garfo. Ela o abriu para
encontrar tomates cereja picados, presunto e queijo, e sua boca encheu de água
com o quão bom parecia.
— Ela saiu para a loja esta manhã. Eu a dei o athame para colocar no templo
com a caixa, então está seguro. Ela me contou tudo sobre sua leitura, e que eu
deveria perguntar se você pensou mais sobre o que ela disse. — Ezra deu uma
mordida em sua comida e a olhou com um olhar esperançoso. — Eu não quero
fugir disso porque pode ser perigoso. Devo a Nina ver isso, chegar mais perto dos
itens e talvez descobrir quem fez isso com ela. Se eu puder tentá-los a chegar perto
de mim para chegar aos objetos, posso pegar o assassino dela. Não posso deixar
isso passar, mas entendo se for muito arriscado para você. Eu não te culparia se
quisesse ir para casa.
Ana suspirou profundamente enquanto pensava. Ela queria ajudá-lo a
encontrar os objetos. Ela queria a história e a oportunidade de provar a si mesma,
mas não se sentia à altura de um assassino. Olhando para ele e como parecia
esperançoso, ela percebeu que não podia deixá-lo fazer isso sozinho também.
— Bem, ela tirou o dois de copas para nós, certo? O que, se bem me lembro,
significa que somos uma equipe igual. Estou nisso até o fim, se você estiver. Não
posso deixá-lo fazer isso sozinho. — Ana sorriu, dando uma mordida no croissant
quente e gemendo como estava gostoso.
Ezra sorriu para ela enquanto cortava mais de seu waffle, rindo um pouco
para si mesmo.
— O que? — Ana perguntou, pousando o garfo.
— Isso não é tudo o que dois de copas significam — disse ele com um
pequeno encolher de ombros, olhando-a por baixo de seu cabelo bagunçado.
Ana corou profundamente, pensando na descrição que Genevieve lhe dera.
Ela sabia que Ezra estava esperando uma reação, mas ela se recusou a lhe dar uma,
e simplesmente deu outra mordida em seu croissant.
— O que mais sua mãe falou com você? Por que ela está tão brava com você?
— Perguntou, pegando um copo e enchendo-o com o suco de laranja que estava
entre eles.
Ezra estremeceu e terminou seu waffle, então recostou-se com sua xícara de
café e a olhou por cima da borda.
— Ela descobriu que eu fiz algo que não deveria estar fazendo. Ela não estava
feliz e me lembrou de algumas coisas que eu tinha esquecido. Está tudo bem, ela
vai acalmar.
— O que você não deveria estar fazendo? — perguntou Ana.
— Não importa — ele disse enquanto ela lhe lançava um olhar não
impressionado que sugeria que continuasse. — Você não acreditaria em mim de
qualquer maneira.
— Certo. Eu não vou bisbilhotar — Ana disse defensivamente, então se
sentou em sua cadeira. Seu estômago estava maravilhosamente cheio, e ela esticou
os braços para sacudir a sonolência deles. — Pode pelo menos me dizer o que você
descobriu sobre a próxima pista?
— Isso, eu posso fazer. Venha comigo.
Ele se levantou da cadeira e caminhou ao redor da ilha da cozinha e pelos
corredores. Ela o seguiu até uma porta que levava a um pequeno escritório. Livros
cobriam cada centímetro da parede, exceto por um quadro-negro que estava
parafusado contra a parede e tinha rabiscos de giz branco por toda parte. Uma
escrivaninha estava no meio da sala, e tinha papéis espalhados por cima. Bem no
meio dos jornais, tomando sol, estava um grande gato preto. Ele se espreguiçou e
rolou em protesto à interrupção, então levantou a cabeça e bocejou, olhando
entre os dois com uma expressão nada divertida.
— Você tem um gato? — Ana perguntou, acariciando sua cabeça. Ele se
enrolou nele e projetou o queixo para ela coçar, e quando o fez, suas orelhas
ficaram achatadas e seus olhos se fecharam alegremente enquanto ele ronronava.
— Raja é o gato da minha mãe. — Ezra disse, movendo-se ao redor da mesa e
pegando alguns papéis debaixo do gato.
— Este é o escritório dela? — Ana sugeriu, sentando-se na cadeira giratória
do escritório. O gato se moveu com a interrupção de Ezra pegando os papéis, e
ele pulou da mesa, passeando pela porta com o rabo no ar.
— Não, este era o escritório do meu pai quando ele morava aqui. Ele deixou
todos os seus livros, então acho que é meio que meu escritório quando preciso.
— Ezra examinou as páginas em sua mão, caminhou até o quadro-negro e
escreveu a segunda das pistas no quadro:

A segunda de nós você vai aprender,


foi a razão de muitas bruxas terem sido queimadas.
Tirada de nós e pendurada com cordel,
você me encontrará junto a uma das linhagens dos Harrow.

— Então, retrocedendo, a linhagem Harrow é a família e descendentes dos


Harrow original de meados para o final dos anos 1500. Thomas Harrow era um
caçador de bruxas. A partir de 1560, foi responsável pela morte de inúmeras
pessoas em toda a Europa. Ele sozinho iniciou uma caça às bruxas que se espalhou
por todo o continente e terminou no julgamento de mais de 100.000 mulheres e
homens. Como resultado, 40.000 pessoas foram executadas sem hesitação.
— Ele soa como um idiota nota 10. — Ana franziu a testa, trazendo os joelhos
ao peito enquanto girava a cadeira e voltava novamente.
— Sim, bem, o que tornava tudo ainda pior era que, quando alguém era
acusado de feitiçaria, suas terras, seu dinheiro e quaisquer outros objetos de valor
iam direto para o prefeito local e seu caçador de bruxas, o que significava que
Thomas Harrow se tornou um homem extraordinariamente rico. É bastante
óbvio que a maioria das pessoas executadas não eram bruxas, mas Thomas
simplesmente queria suas terras e seu dinheiro para seu próprio ganho pessoal. —
Ezra sentou-se na beirada da mesa com os braços cruzados.
— Então, ele é um ladrão assassino. Fantástico. Suponho que seja qual for o
objeto, ele o pegou quando queimou o coven Marion? — Ana perguntou,
parando de girar.
— Precisamente. Li muito e consegui seguir a linhagem até os dias de hoje e,
mais importante, para onde as antiguidades e tesouros foram transmitidos.
Thomas Harrow teve apenas um filho e, no final dos anos 1600, depois que seu
pai morreu, George Harrow encomendou uma mansão com o dinheiro de seus
pais. É uma das maiores mansões do país. Dentro da mansão, ele mantinha todos
os tesouros de seus pais guardados, e foi passado para a Sra. Cecelia Harrow. Ela
tem oitenta e seis anos e ainda mora em parte da mansão; a outra metade é agora
um museu aberto ao público para mostrar todos os tesouros e a história altamente
editada de sua família. — Ezra disse enquanto se virava para olhá-la com um
sorriso presunçoso.
— Você certamente fez sua pesquisa, não é? — Ana comentou, então se
levantou da cadeira e se aproximou do quadro, examinando os rabiscos. Ela
estendeu a mão e apontou para o versículo que falava sobre o objeto que estava
pendurado com barbante e bateu nele com o dedo — Você já descobriu essa
parte?
— Não. Essa é a única coisa que não consegui decifrar. Seja o que for, se
houver algum vestígio disso ou se houver alguma ligação para onde poderia ter
ido, estará na mansão. — disse Ezra.
— Certo, então eu acho que é hora de outra viagem então. Onde fica a
mansão?
— É apenas uma hora de carro. Está localizado dentro do Cherry Grove
Estate, embora eu deva limpar a cozinha antes de sairmos e tomar banho. — Ezra
sorriu enquanto olhava para suas roupas cobertas de massa e se movia para a
porta.
“Posso encontrá-la do lado de fora do carro em trinta minutos?"
Ana o seguiu até o corredor.
— Claro. Você acha que eu poderia pegar emprestado algumas das roupas
limpas de Abby?
— Sim, claro. Não é como se ela fosse notar. Trinta minutos. — Ele disse,
então saiu pela porta da frente e desapareceu no caminho.
Ana o observou sair, depois sorriu e voltou a subir a escada de madeira.
Ela entrou para o quarto de Abby e fechou a porta atrás de si. Abrindo as
portas do guarda-roupa, começou a vasculhar as roupas lá dentro, passando os
dedos pelos diferentes vestidos, camisas e jeans. Tudo era preto, o que ela não se
importava, mas era um estilo completamente diferente do que estava
acostumada. Ela puxou uma camisa preta lisa com gola rendada e a segurou
contra seu corpo no espelho pendurado na porta. Parecia que serviria, e
combinou com um par de jeans que parecia do tamanho certo.
Tirando a roupa de dormir, ela puxou o jeans sobre os quadris e os abotoou,
em seguida, colocou a camisa antes de rapidamente arrumar a maquiagem no
espelho e prender o cabelo em um coque bagunçado. Imaginando que Ezra ainda
estava tomando banho, ela pegou uma jaqueta verde militar do guarda-roupa de
Abby, calçou os sapatos, pegou a bolsa e desceu as escadas correndo para a
cozinha, onde começou a limpar a cozinha e guardar a comida extra.
Ana encheu a pia com água, lavando tudo e secando os pratos antes de
começar a guardá-los. Ezra entrou na cozinha, recém-vestido com uma nova
camisa branca que estava enrolada nas mangas e um par de jeans, com grandes
botas pretas desajeitadas.
— Oh, você parece minha irmã nessas. Se seu cabelo fosse escuro, eu ficaria
super confuso. É estranho. — Ezra riu. — Você limpou?
— Bem, precisamos nos mexer se quisermos chegar à mansão, e você estava
demorando muito. — Ana sorriu, enxugando as mãos no pano de prato e
caminhando até ele depois de terminar de limpar os bancos. — Vamos lá.
Ezra a observou enquanto ela passava por ele, olhando-o por cima do ombro
e esperando que a seguisse.
— Sim, chefe.
Capítulo 16

— Sabe, seria muito mais seguro se você me deixasse dirigir — disse Ana enquanto
se recostava no assento do Beetle, segurando a maçaneta da porta com uma mão
e segurando a alça do cinto de segurança com a outra.
Ezra havia desviado para uma vala algumas vezes na estrada rural a caminho
da mansão, tentando evitar o faisão estranho, e milagrosamente conseguiu dirigir
o carro de volta para a estrada sem bater.
— Admito que não sou o melhor piloto do mundo… — Ezra se assustou,
então atirou-lhe uma carranca sem graça quando ela riu dele. — Não é minha
culpa! Esta é uma propriedade no campo, Ana. Haverá vida selvagem, e prefiro
não matar nada no caminho.
— Se você tiver que escolher entre nos matar ou matar um faisão, eu escolho
o faisão — disse Ana com uma sobrancelha erguida.
Eles tinham acabado de entrar na propriedade Cherry Grove e, enquanto
passavam pelos grandes portões duplos e altos muros de pedra, Ana ficou em
silêncio com a beleza da paisagem. A estrada que os conduzia pela propriedade
estava coberta de enormes cerejeiras em flor. Elas se espalharam em todos os tons
de rosa que ela poderia imaginar, com algumas raras em branco que se destacavam
atrás dos rosas.
— Uau, isso é impressionante! Agora eu sei por que eles chamam de Cherry
Grove Estate — ela disse enquanto se pressionava contra a janela do lado do
passageiro.
Ezra a observou enquanto dirigia, um sorriso caloroso surgindo em seu rosto,
e ele riu suavemente.
— O que? — Ana sorriu, sentando-se novamente. A pista estava ficando mais
larga e menos esburacada à medida que se tornava uma estrada asfaltada.
— Nada — Ele riu. — Você é fofa quando fica animada, só isso.
Ana mordeu o lábio e olhou para a estrada.
— Não há nada tão bonito na cidade.
Ezra a olhou e sorriu novamente, então limpou a garganta e entrou em outra
estrada que levava a um estacionamento. Ele estacionou em uma das vagas vazias
e desligou o motor, olhando pela janela para o prédio.
Era pequena para uma mansão, mas ainda enorme em comparação com
qualquer casa em que ela já havia morado. Tinha grandes escadas de pedra que se
curvavam em cada lado da casa e se encontravam no meio na entrada. O prédio
tinha três andares, com grandes janelas e colunas altas e bonitas.
— Foi construída no final de 1600, pelo menos parte dele foi, então foi
concluída no início de 1700. É um belo exemplo de arquitetura barroca, mas uma
casa um pouco extravagante demais para o meu gosto. — Ezra explicou enquanto
saía do carro e caminhava pela passarela de cascalho em direção à entrada.
“A parte do museu fica nos fundos, nos jardins, de acordo com o mapa que
vi."
Ana ainda estava olhando para o prédio e teve que correr atrás dele para
alcançá-lo.
— Eu não me importaria de viver aqui. É lindo.
Eles caminharam juntos ao redor da escada de pedra, sobre o caminho de
cascalho e ao longo do lado dos altos muros de pedra da mansão Harrow. Ao
redor do prédio, placas apontavam sobre os jardins para um prédio separado no
terreno da propriedade. Não era longe, e não demorou muito para eles
caminharem pacificamente por um enorme jardim que tinha sebes perfeitamente
aparadas e canteiros de rosas. Uma fonte foi erguida no meio, com um santo
dourado que se erguia orgulhosamente no topo e vigiava seu domínio.
O museu foi posicionado na parte inferior dos jardins. Embora pequeno e
simples, era uma construção muito moderna em comparação com a mansão
Harrow. Tinha paredes brancas e uma pesada porta de madeira, com grandes
janelas de vidro e esculturas na entrada. Ao chegar, Ana percebeu que a porta
estava fechada e franziu a testa enquanto tentava abri-la. Não se mexeu.
— Ele está fechado. Você não verificou os horários de funcionamento antes
de sairmos? — Ana perguntou enquanto se virava para ele e protegia os olhos do
sol.
— Verifiquei. Eles disseram que estão abertos até as 17:00. — Ezra franziu a
testa.
Aproximou-se da porta e bateu na madeira com três batidas fortes, depois
pressionou a janela com as mãos em concha ao redor do rosto.
— Olá?! — ele chamou, então suspirou antes de bater na porta com o punho
novamente.
— Posso ajudar?
Eles se viraram para ver um homem mais velho parado do outro lado do
prédio. Ele usava um terno e tinha um pequeno par de óculos no rosto e uma
xícara de chá fumegante nas mãos. Seu rosto tinha uma expressão não
impressionada, e estava olhando para eles com uma sensação de impaciência.
Ana sorriu timidamente e parou na frente de Ezra, estendendo a mão para
que o homem possa apertar.
— Oi. Desculpe a intrusão. Vocês estão fechados para o almoço?
— Estamos fechados, minha querida, mas não apenas para o almoço.
Estamos mudando algumas coisas lá dentro para uma nova exibição, então
estamos fechados durante a semana. Você vai ter que voltar outro dia — ele disse,
rapidamente apertando a mão dela e depois a soltando rapidamente.
— Isso não vai funcionar para nós — Ezra afirmou, caminhando até eles e
cruzando os braços.
Ana praticamente podia ver seus pensamentos correndo por sua cabeça
enquanto ele tentava pensar em uma desculpa para que precisassem estar lá
dentro.
— Estou com a companhia de seguros que segura os itens deste museu.
Suponho que você estava esperando que alguém viesse e assegurasse de que tudo
estava correto e que nada sumiu no transporte? — perguntou Ezra. Ele tinha um
olhar sério em seu rosto, e Ana ficou surpresa com a rapidez com que conseguia
mudar de personagem.
O homem gaguejou e olhou em volta como se pedisse ajuda a um colega, mas
não havia mais ninguém, apenas ele.
— Foi-me dito pelo seu escritório que tudo o que precisávamos era fazer uma
verificação de estoque antes e depois de mudarmos as coisas e, a menos que
tivéssemos algum problema, não precisava enviar ninguém.
— Sim, bem, revisamos isso novamente e parece que os itens dentro são
valiosos demais para serem tão levianos. Tenho certeza de que a Sra. Harrow
concordaria que ela preferia que seus objetos de valor fossem tratados com o
máximo cuidado. Se houver um problema em entrarmos para fazer as avaliações,
eu mesmo posso ligar para ela. — Ezra pegou seu bolso.
— Não! Não por favor. Ela já está incrivelmente estressada com a reabertura,
isso vai colocá-la em um humor ainda pior. Eu disse a ela que isso foi resolvido.
Por favor. Não ligue para ela — ele exclamou enquanto esfregava a testa.
Ezra deu-lhe um sorriso fraco e voltou a mão ao seu lado.
— Isso pode ser evitado. Ela nem precisa saber que viemos. Tenho certeza de
que podemos ajudá-lo fazendo as avaliações silenciosamente e posso fazer com
que o escritório envie a papelada diretamente para você até o final do dia. A Sra.
Harrow não precisa saber da confusão.
O homem deu um suspiro de alívio e sorriu para Ezra, assentindo
ansiosamente.
— Obrigado. Dê-me um momento para pegar as chaves. Fique aí mesmo.
Quando o homem saiu correndo, Ana olhou para Ezra com a boca aberta em
choque.
— Isso… isso foi…
— Genial? Eu sei. — Ezra sorriu.
— Como diabos você sabia que isso ia funcionar? — ela perguntou, dando-
lhe um empurrão brincalhão enquanto ria.
Ezra deu de ombros e cruzou os braços contra o peito.
— Bem, eu simplesmente deduzi que quando um museu está fazendo um
retrabalho, talvez eles tenham uma companhia de seguros que precisaria...
— Você não tinha ideia de que ia funcionar, não é? — Ana balançou a cabeça.
— Não fazia ideia, não. — Ezra riu.
O homem não demorou a voltar. Ele dava passadas rápidas e longas pelo
cascalho e tateava um molho de chaves na mão.
— Apenas um momento.
Ezra deu um passo para trás da porta e murmurou para que ela o
acompanhasse. Ela acenou com a cabeça em resposta e avançou para dentro do
prédio quando a porta foi aberta, e o homem desapareceu lá dentro.
Ele acendeu as luzes quando eles entraram, e a grande sala se iluminou,
revelando paredes brancas e armários de vidro cheios de bugigangas e peças de
roupa e joias. Havia uma grande pintura na parede de um homem que olhava
friamente e usava um pesado casaco de pele preto e um chapéu com uma pena. O
resto da sala estava cheia de caixas e lençóis que cobriam estátuas que ela não podia
ver.
— Bem, aqui está — o homem anunciou.
— Sim. Obrigado. Está faltando alguma coisa na coleção atualmente? — Ezra
perguntou enquanto examinava a sala.
— Não, tudo deve estar contabilizado — ele disse, então olhou para Ezra
desconfiado. — Você não deveria ter a lista de verificação de inventário?
Ezra olhou para ele um pouco estupidamente, então deu de ombros e
renovou seu sorriso antes de tirar o telefone do bolso.
— Eu tenho. Embora tudo seja feito digitalmente hoje em dia, então está tudo
aqui. — Ele fingiu procurar algo em seu telefone. — Minha colega e eu seremos
rápidos. Você não precisa ficar se tiver coisas para fazer.
— Hum. Acho que vou ficar na porta, obrigado — disse o homem, olhando-
o uma última vez e depois se afastando deles para ficar perto da porta.
— Ele está atrás de você — Ana sussurrou quando veio para o lado de Ezra.
— Apenas fique no personagem. Eu preciso que você dê uma olhada em todo
o conteúdo do armário e veja se consegue encontrar alguma coisa com o símbolo
do coven Marion nele. Se encontrar alguma coisa, me avise. — Ezra disse, então
se afastou dela para o meio das fileiras de displays e começou a procurar.
Ana suspirou, olhando por cima do ombro para o homem na porta e dando-
lhe outro sorriso tímido. Ela então se moveu para o lado oposto da sala para
observar os objetos atrás do vidro. Havia livros, diamantes e algumas cerâmicas e
pratos antigos que foram bem preservados. Algumas caixas continham roupas
femininas dobradas e algemas, e enquanto passava de um armário para outro, ela
encontrou um que tinha um laço pendurado no teto. Ela franziu a testa
profundamente, então olhou atrás dele para a descrição.

“A corda da misericórdia.
Como nosso ancestral Thomas Harrow limpou as terras das bruxas e suas
práticas, fazendo a obra de Deus aos olhos de seus seguidores, ele não ficou sem
misericórdia.
Durante as queimadas, muitas vezes os ventos sopravam muito livremente e
entorpeciam as chamas, tornando as mortes das bruxas mais longas e dolorosas.
Em 1595, Thomas Harrow decretou que cada pessoa condenada à estaca teria
uma corda em volta do pescoço que o carrasco pudesse puxar, dando-lhes uma
morte muito mais rápida e indolor.”

Ezra veio por trás dela, pensando que ela havia encontrado um item com a
marca de Marion, mas quando viu o laço, ele a olhou e se inclinou em seu ouvido.
— Isso é verdade. Embora o que eles deixem de fora dessa declaração seja que
a corda queimaria, e a vítima poderia voltar de sua tontura e acabar assando por
mais tempo. Como eu disse, é altamente editado. Continue olhando.
Ana engoliu em seco, uma mão instintivamente indo para seu pescoço, e ela
se forçou a se afastar da corda e examinou os outros armários. Ela não conseguia
ver nada que carregasse a marca do clã Marion, e estava começando a pensar que
talvez eles estivessem latindo para a árvore errada.
Ela foi até o retrato de Thomas Harrow e o olhou com sua moldura dourada.
Era grande e parecia caro. O homem na pintura tinha uma aparência dura, com
rugas profundas no rosto e olhos altamente focados que queimariam qualquer
um se fossem reais. Seus dedos estavam pingando joias e anéis, a maioria deles
roubados, imaginou. Aproximando-se dele, ela percebeu que seu casaco era feito
de pele de urso e estava preso ao redor de seu peito por uma corrente de ouro que
o mantinha apertado em seu corpo. Pendurado em seu pescoço em um pedaço
de barbante, ela podia ver um pingente circular que tinha um grande buraco no
meio, como um aro decorativo plano. Não parecia tão caro quanto qualquer
outra joia que ele tinha em seu corpo. Era simples, plano e liso, exceto por um
pequeno rabisco de uma gravura na parte inferior. Ela inclinou a cabeça para o
lado, tentando ver de outro ângulo, e engasgou, seus olhos se arregalando e
olhando para Ezra tão rápido que estalou o pescoço.
— Ezra! — ela sibilou, acenando para ele quando chamou sua atenção.
Ele caminhou até ela rapidamente, ignorando os olhos da porta que o
observavam, e olhou para a pintura para onde ela apontava. Ele pareceu confuso
por um momento, então seus olhos se arregalaram quando viu o sigilo no
pingente.
— Tem que ser isso. Está pendurado com barbante.
Ele girou nos calcanhares e puxou a manga dela para dizer-lhe que o seguisse,
guiando-a para um armário de vidro no canto da sala. Atrás dele estava um
manequim que tinha as mesmas roupas e capa que Thomas Harrow estava
usando no retrato, e ali, encostado na pele de urso preto, estava o pingente de
ouro. Era maior do que parecia na pintura e estava um pouco mais gasto, mas era
idêntico. O sigilo do coven Marion estava gravado na parte inferior, e tinha um
grande buraco no meio onde o barbante estava amarrado.
— Aí está. — Ezra engasgou.
— Não parece nada. É apenas um aro de ouro liso — Ana disse com uma
pequena carranca.
— As aparências enganam, Ana. É a forma perfeita da peça que faltava no
athame. Apostaria minha vida naquele aro se encaixando perfeitamente dentro
do espaço perdido — Ezra disse enquanto colocava sua mão contra o vidro.
— Como exatamente vamos conseguir com ele assistindo? — Ana disse,
apontando o queixo para o homem na porta.
— Pode me dar cobertura? — perguntou Ezra.
Ana deu alguns passos para longe dele para esconder as mãos dele com seu
corpo.
Ezra empurrou as mãos contra o vidro. Ele chacoalhou, e ele franziu a testa
quando o encontrou trancada. Pressionando o dedo contra o buraco da
fechadura de prata no vidro, ele se virou para olhar para Ana com um aceno de
cabeça.
— Tudo pronto? — o homem perguntou.
— Por enquanto, sim. Obrigado por toda sua ajuda. Vou enviar a papelada
hoje à noite. — Ezra disse, um sorriso largo e falso estampado em seu rosto. Ele se
virou do armário e caminhou até a porta, enfiando o telefone de volta no bolso.
Ana passou pelo homem e deu-lhe um sorriso fino, seguindo Ezra para o sol
dos jardins novamente.
— Tenha um bom dia! — ela gritou de volta, então alcançou Ezra e o
cutucou. Ela esperou até que o homem estivesse fora do alcance da voz, e então
se inclinou para ele de perto — Você conseguiu?
— Não. Estava trancado, e ele estava observando. As câmeras de segurança
também estavam gravando. Se eu o pegasse, não conseguiríamos voltar para o
carro antes que os cães nos atacassem.
— Certo, então o que fazemos? — ela perguntou, acelerando pelos caminhos
entre as roseiras e sebes.
— Estou pensando — Ele murmurou de volta.
Eles caminharam de volta o resto do caminho em silêncio, Ezra mergulhado
em seus pensamentos e Ana olhando por cima do ombro para o caso de alguém
pegar a mentira deles e segui-los. Quando voltaram para o carro, Ana se virou para
olhar para Ezra com expectativa.
— Bem? O que nós vamos fazer? Você sabe que ele vai checar a companhia
de seguros quando não enviarem as informações que prometemos, então ele não
vai nos deixar entrar novamente.
Ezra colocou as chaves na ignição e ligou o carro, começando a sair do
estacionamento e descendo a pequena estrada que os conduzia através das
cerejeiras.
— Eu sei. É por isso que vamos invadir e roubá-lo.
Capítulo 17

— Eu prometo que não seremos pegos! — Ezra implorou enquanto perseguia


Ana até a casa de Genevieve.
Ana estava fumegando, balançando a cabeça vigorosamente antes de abrir a
porta. Genevieve estava sentada na ilha da cozinha, tomando seu chá e comendo
alguns dos waffles que Ezra tinha feito naquela manhã.
— Não! Absolutamente não! Não quero que você me transforme em uma
criminosa, Ezra! Primeiro, você me torna cúmplice de roubar um livro raro de
uma biblioteca, e agora quer que eu o ajude com um assalto? De jeito nenhum!
— Ana gritou, olhando para sua mãe com olhos arregalados e exasperados. — Seu
filho quer me transformar em ladra!
Genevieve suspirou enquanto terminava sua bocada e tomava um gole de
chá.
— Que tipo de ladra?
— O que? — Ana perguntou, seus ombros caídos de exaustão. Ela esteve
discutindo com ele durante todo o caminho para casa e esperava que Genevieve
fosse a voz da razão.
— Em minha defesa — Ezra disse, fechando a porta da frente e entrando na
cozinha com uma ofegante tentativa de persegui-la —, já foi roubado das bruxas,
então tecnicamente, eu estou apenas retirando-a das pessoas que não a deveriam
ter tido em primeiro lugar. Me chame de Robin Hood.
— Você não está roubando dos ricos para dar aos pobres, Ezra. Você está
apenas roubando — Ana retrucou enquanto colocava as mãos nos quadris e o
observava com uma carranca.
— Certo, tudo bem, vocês dois, parem de discutir e sentem-se — disse
Genevieve enquanto batia no espaço no meio da mesa. — Agora.
Ana e Ezra se moveram sem dizer mais nada e sentaram um ao lado do outro
na mesa. Quando eles a olharam, ela sorriu calorosamente e acenou para Ezra
falar.
— Encontramos a peça que procurávamos. Está no museu Harrow, mas está
atrás de vidros trancados e em um prédio trancado, com câmeras de segurança.
Eu sei que posso passar pelas fechaduras facilmente e posso desativar as câmeras;
não será difícil de fazer. — Ezra disse, olhando entre Ana e sua mãe.
— Se não é difícil de fazer, por que você precisa de mim? — Ana perguntou,
cruzando os braços. — Não me sinto confortável roubando de uma velha
senhora.
— Aquela velhinha lucrou com a tortura e a morte do nosso povo para chegar
onde está, Ana. Não sinto absolutamente nenhuma culpa por roubar esse item.
O fato é que não podemos continuar esta investigação sem esse pingente. É tão
simples quanto isso. — Ele se recostou com um encolher de ombros e colocou as
mãos atrás da cabeça para se esticar. — Não preciso que você realmente roube
nada. Eu vou roubar, para que sua consciência fique limpa; só preciso que você
seja minha vigia.
Ana deu um gemido frustrado, então olhou para Genevieve em busca de
ajuda.
— Você pode, por favor, falar um pouco de bom senso com ele? Vamos
acabar sendo presos.
Genevieve suspirou profundamente e tomou outro gole contemplativo de
seu chá.
— É assim que eu vejo: vocês dois precisam deste item para seguir em frente.
Sem ele, vocês estão presos. Suponho que não há como ela vender para você?
— Sem chance. É parte da exposição — Ezra disse com um aceno de cabeça.
— Então, voltamos a roubá-lo. Como Ezra disse, foi tirado de nosso povo há
muito tempo, e de forma brutal. Retirar de volta parece uma resposta adequada,
mas meu problema é o seguinte: se você conseguir pegá-lo, vá em frente com esta
investigação e libere a descoberta como quiser, o que você fará quando
inevitavelmente descobrirem que foi você quem o roubou? — Genevieve
perguntou, dando a seu filho uma carranca.
— Já pensei nisso. Eles o penduraram em um barbante nas roupas que
Thomas Harrow usava. Está sendo transmitido como um pingente porque ele o
usava no pescoço, mas não acho que seja um pingente, mãe. Tem a mesma forma
e tamanho da parte que falta no athame. Eu apostaria minha vida que se
encaixaria perfeitamente naquele espaço. Quando encontrarmos a terceira peça e
ela se encaixar no último espaço do athame, todas as três peças farão o athame
completo. Não será mais um pingente e ninguém perceberá que é o que é. — Ezra
exibiu um sorriso triunfante.
— Você se acha tão inteligente, não é? — Genevieve riu, recostando-se na
cadeira.
— Bom… — Ezra deu de ombros com um sorriso.
— Se você acha que pode se safar pegando, então pegue.
— Genevieve, por favor, não o encoraje — Ana implorou enquanto colocava
a cabeça entre as mãos.
— Sinto muito, Ana, mas não há outro jeito. Vocês dois precisam desta peça
para seguir em frente. Se Ezra acha que pode pegar sem ser pego, então eu confio
nele. — Genevieve se levantou da cadeira e colocou a xícara na pia. — Vou deixar
vocês dois para descobrir isso, eu tenho um encontro. O que quer que decidam
fazer, por favor, faça com segurança.
Ela beijou a cabeça do filho, depois deu um tapinha no ombro de Ana antes
de pegar sua bolsa da mesa do corredor e fechar a porta atrás de si mesma.
Ezra virou em sua cadeira para olhar para Ana e sorriu para ela, pegando sua
mão e apertando-a.
— Eu sei que você está desconfortável e sei que é contra sua bússola moral,
mas às vezes não há outra escolha. Olhe para ele como se estivesse devolvendo
uma relíquia religiosa ao seu povo de direito.
— Para você. Você não é o “povo de direito”, Ezra — Ana disse enquanto
olhava para os joelhos, deixando-o segurar sua mão. — E se formos pegos?
— Eu prometo que não vou nos deixar ser pegos — disse enquanto movia a
cabeça para tentar fazer com que ela o olhasse nos olhos.
Ana finalmente olhou para ele e suspirou.
— Como você pode prometer algo assim?
— Eu prometi que não a deixaria cair e se machucar naquela torre, e mantive
essa promessa. Agora estou lhe prometendo que não vou deixar que sejamos
pegos — Ele se inclinou para ela, tentando fazê-la sorrir. — Você confia em mim?
— Absolutamente não — disse Ana com uma risada.
Ezra riu dela, então a soltou e se sentou ereto em sua cadeira.
— Bem, você pode. Não preciso que você roube nada. Apenas fique de olho
na porta por segurança, e eu posso fazer o resto.
Ana finalmente cedeu. Ela assentiu lentamente e então deu um suspiro
nervoso, olhando-o novamente com um olhar de soslaio.
— Como você planeja abrir a fechadura e desligar as câmeras?
— Eu vou achar um jeito — Ele pegou um dos morangos que foram deixados
na tigela sobre a mesa do café da manhã.
— Isso não ajuda meus nervos — Ana mordeu o lábio, pensativa. — Certo,
tudo bem. Vou ajudá-lo a roubar o pingente, mas em troca, vou entrevistá-lo para
a minha história. Agora.
Ezra piscou e a olhou, então deu uma risada nervosa e colocou o morango na
boca.
— O que? Você não deveria estar fazendo isso com a minha mãe e a loja?
— E estou, mas não é só sobre ela, é também sobre a vida de pessoas como ela.
Temos tempo para matar antes de voltarmos para Cherry Grove. Eu realmente
preciso colocar algumas informações no papel se eu tiver alguma chance de fazer
a história que Elianna quer a tempo do prazo final da edição.
Ezra pensou por um momento, parecendo um pouco desconfortável com a
ideia. Ele deu de ombros, então se inclinou para ela e sorriu.
— Posso pensar em maneiras melhores de matar o tempo, em vez de falar
sobre minha família.
Ana corou com o quão perto ele estava de seu rosto. Ela engoliu em seco,
tomando um momento para observar os olhos dele enquanto sentia um
borbulhar em seu peito antes de colocar a mão em seu rosto e empurrá-lo para
trás com uma pequena risadinha.
— Ezra, concentre-se.
— Tudo bem, tudo bem — Ezra disse enquanto se afastava dela, e se apoiava
na mesa com os cotovelos. — O que você quer saber?
Ana pegou a bolsa que havia deixado cair aos pés e tirou o caderno e a caneta,
abrindo-a em uma página limpa.
— Quero falar sobre o que você e sua família realmente são, porque não vou
mentir, estou um pouco confusa — Quando ela viu o quão confuso ele também
parecia, ela gaguejou e continuou — E-eu quero dizer que Genevieve se chama de
bruxa, mas além das celebrações de Litha e da leitura de cartas de tarô, eu não vi
nenhum feitiço real sendo lançado.
— Bem, por que faríamos isso? Nós gostamos de você, Ana, mas você não
está em nosso círculo. Você não é uma de nós. Não praticaríamos abertamente
esse tipo de coisa na frente de alguém de fora. Sem ofensa, mas você simplesmente
não entenderia, e bruxaria é um assunto muito particular. Você não mostra seu
ofício para estranhos, nunca. Eu me meti em um monte de merda por trazer você
para as celebrações de Litha, e você nem viu nenhum dos rituais — Ezra disse
enquanto pegava outro morango.
Ana rabiscou rapidamente em seu bloco de notas, anotando tudo o que ele
havia dito. Ela não iria admitir isso para ele, mas ouvir que ele a considerava uma
estranha doeu um pouco. Eles não a fizeram se sentir como uma estranha.
— Certo. Então, você se considera um bruxo? — perguntou Ana.
— Não, não mais. Quer dizer, eu não pratico mais. Minha mãe, meu pai e
minha irmã ainda estão praticando.
— Por que você não pratica mais? — ela perguntou, olhando-o e vendo como
seu rosto estava ansioso.
— Isso é… complicado. — Ezra murmurou, brincando com o morango na
mão.
Ana suspirou enquanto o cutucava, fazendo-o cambalear e ele teve que pegar
o morango antes que caísse.
— Descomplique.
Revirando os olhos, Ezra virou-se para olhá-la completamente novamente.
— Fui proibido de praticar qualquer forma do ofício. Eu fiz algo ruim e teve
consequências, então o Alto Conselho me proibiu de praticar novamente.
Ana fez uma pausa, e parou de escrever enquanto observava como sua
expressão estava triste. Sua mente estava correndo, tentando descobrir o que
estava dentro de sua cabeça.
— Quem é o Alto Conselho?
— O Alto Conselho é um grupo de sumos sacerdotes e sacerdotisas em nosso
coven. Meu pai é o mais alto, então, ele supervisiona o resto do conselho. — Ele
franziu a testa, parecendo cada vez mais desconfortável.
— E o que você fez de tão ruim que foi banido? — Ana perguntou,
aproximando-se dele, como se seus olhos fossem dizer a ela.
— Eu não posso te dizer isso. Você não acreditaria em mim de qualquer
maneira, e não é algo que eu possa dizer a alguém que não esteja em nosso clã.
Desculpe, essas são as regras. Eu não as fiz. — Ele jogou as mãos para cima
defensivamente e deu a ela um sorriso forçado — Mas eu apreciaria se
pudéssemos seguir em frente com esta linha de questionamento.
Ana fez beicinho e se endireitou, então puxou seu bloco de notas para mais
perto dela novamente.
— Eu vou descobrir, você sabe.
Ezra sorriu.
— Tenho toda a fé em suas habilidades de investigação.
Ana sorriu e voltou a olhar para seu bloco de notas, começando a escrever
novamente. Sua mente estava a mil por hora tentando pensar no que ele poderia
ter feito para justificar ser banido. A feitiçaria que sua família faz, pelo que ela viu,
era baseada na religião da terra. Eram oferendas e manifestações, mas não havia
nenhuma magia real envolvida, não que a magia existisse. Ela esperava ver mais
feitiços ou até mesmo um ou dois rituais agora.
— Pelo que vi, a feitiçaria de que você fala, está enraizada na religião, não na
magia. Os rituais e oferendas que vocês dão, para que Deus eles servem? Você tem
um Deus? — Ana disse enquanto olhava para cima com um pequeno
estremecimento, não querendo fazer a pergunta óbvia que estava queimando na
frente de sua mente desde que ela entrou na loja de Genevieve.
Ezra riu e cruzou os braços sobre o peito, balançando um pouco para trás na
cadeira.
— Vá em frente, faça a pergunta, você sabe que está morrendo de vontade.
Ana estremeceu novamente, então bateu a caneta no bloco de notas.
— Vocês adoram o diabo?
Ezra riu alto novamente, quase derrubando a cadeira muito para trás e tendo
que endireitar novamente.
— Não. O diabo, ou Satanás, ou como você quiser chamá-lo, ele é uma
divindade cristã. Ele não tem nada a ver com nossas práticas. Você está segura. —
Ele estendeu a mão para cutucar o nariz dela.
"Mas, por enquanto, nossa entrevista está concluída. Precisamos reunir tudo
o que precisamos antes de voltarmos para Cherry Grove."
— Só mais uma coisa — Ana disse enquanto fechava o caderno e o olhava
quando ele se levantava da cadeira — Você acha que eu vou conseguir participar
de um ritual, para que eu possa ver o que acontece nos bastidores?
Ezra sorriu para ela e empurrou seu assento na mesa com cuidado.
— Pelo seu bem, espero que não.
Capítulo 18

A estrada estava silenciosa enquanto Ana e Ezra estavam estacionados em frente


aos portões da propriedade Cherry Grove. Os portões estavam fechados, mas as
luzes da rua que ladeavam os dois lados estavam apagadas, fazendo a entrada
parecer ainda mais escura do que deveria. O relógio no rádio do carro marcava
00:02. A essa altura, as luzes do terreno deveriam estar apagadas, a segurança
estaria escondida em suas telas em vez de fazer patrulhas, e qualquer pessoa que
morasse dentro da mansão Harrow deveria estar dormindo.
Ana olhou nervosamente pela janela para os muros altos e o portão de ferro.
Ela estava segurando uma lanterna em suas mãos, e estava tremendo com a ideia
de invadir um lugar tão fortemente guardado.
— Acho que não estou pronta — Ela engoliu em seco.
— Você pode fazer isso, Ana. Tudo o que precisa fazer é ficar na porta do
museu e ficar de olho para qualquer lanternas ou seguranças, e eu farei o resto —
Ezra disse enquanto observava pela janela. Ele tinha um olhar sério em seu rosto,
e seus olhos estavam focados nos portões enquanto tentava encontrar um
caminho para dentro. — Estacionamos fora de vista das câmeras no portão,
então, se eu acertar o tempo, devo ser capaz de correr até elas e apagá-las antes que
me vejam.
Ana olhou para as mãos dele, onde ele segurava a lata de tinta spray que havia
pegado em seu galpão em casa.
— Eles não vão notar que as câmeras ficaram escuras?
— Provavelmente. Mas quando perceberem, já teremos entrado e saído,
desde que seja o momento certo. — Ele enfiou a mão na bolsa no banco de trás e
tirou dois bonés de beisebol pretos. Ele puxou um em sua cabeça e, em seguida,
estendeu a mão para passar-lhe o outro. — Coloque isso e mantenha a cabeça
baixa.
— Por que tenho a sensação inquietante de que esta não é a primeira vez que
você faz isso? — Ana perguntou, franzindo a testa enquanto o colocava na cabeça
e prendia o rabo de cavalo para dentro.
— Quanto menos você souber, melhor. — Ele sorriu.
Ezra olhou por cima do ombro e voltou para os portões, observando as curvas
do metal, e ele finalmente assentiu e abriu a porta.
— Vou desativar as câmeras, assim que eu te der o sinal, você precisa correr
para mim, e te darei um empurrão no portão.
Antes que Ana pudesse protestar, Ezra já estava colocando luvas pretas em
suas mãos e saltando para fora do carro. Ele pairou nas linhas laterais até que viu
a câmera acima dos portões começar a se mover para escanear a área, e quando ela
apontou na direção oposta, ele disparou pelo caminho. A câmera se movia
lentamente, dando-lhe tempo para chegar ao portão onde estava ancorado a um
dos postes da parede, e ele subiu. Depois de chegar ao topo e passar a mão por
baixo, empurrou o bocal para baixo, borrifando toda a frente da câmera com tinta
preta que começou a pingar. Assim que terminou, pulou novamente e olhou para
o carro, acenando para Ana se juntar a ele.
Ana o observou acenar para ela com os olhos arregalados. Seus pés pareciam
estar congelados no chão do carro dele, e levou tudo nela para que eles se
movessem. Quando ela foi capaz, engoliu em seco e abriu a porta do carro,
fechando-a silenciosamente atrás de si e correndo pela estrada deserta enquanto
fechava o zíper do moletom preto que ele tinha dado a ela.
— Certo, você precisa subir. Eu vou te ajudar a se levantar — Ezra instruiu
enquanto pegava a mão dela e a ajudava a enganchar os pés no metal curvo do
portão.
Ana se agarrou às barras, puxando-se pouco a pouco para cima até que Ezra
conseguiu ficar de pé debaixo dela e se agarrar a seus pés. Ele a empurrou para
cima, dando-lhe um alto impulso que a fez vacilar, mas ela se firmou e alcançou
o topo. Então ela jogou sua perna para cima e se abaixou contra a outra perna
para puxá-la para cima. Quando ela conseguiu, sorriu em alívio e desceu pela
metade, depois pulou o resto e ficou de pé para trás, olhando para o portão alto.
— Viu? fácil — Ezra disse enquanto pulava. Ele subiu mais rápido do que
Ana, e quando chegou ao topo, ele pulou sem precisar descer, caindo na frente
dela com os joelhos dobrados. — Precisamos entrar nas árvores.
Agarrando a mão dela, Ezra saiu correndo e a guiou para fora da garagem e
para os bosques de cerejeiras em flor. À luz do sol, eles pareciam tão bonitos em
seus tons de rosa e roxo, e Ana adorava ver as pétalas caírem delicadamente
quando o vento soprava em seus galhos. No escuro, as árvores pareciam mais
nítidas. Seus galhos estalavam em ângulos estranhos, e as flores penduradas
balançavam na brisa de uma forma que fazia parecer que eles estavam tentando
segurá-los.
A corrida em direção à mansão foi surpreendentemente silenciosa. Não havia
guardas ou câmeras de segurança para se preocupar entre as árvores, mas quando
se aproximaram do prédio e quanto mais iluminada a área se tornava, mais rápido
seu coração batia no peito. Ezra a puxou pelo resto das árvores e pelo caminho de
cascalho, onde ambos se abaixaram e correram para a parede do outro lado do
prédio onde estavam as placas que apontavam para os jardins. De pé com as costas
contra a parede, ambos olharam um para o outro, silenciosamente certificando-
se de que o outro estava bem.
Durante a pesquisa que fizeram no terreno da mansão Harrow, eles sabiam
que as únicas câmeras do lado de fora da mansão estavam nos portões, nas portas
principais e na porta do museu. Isso deixou os jardins livres de quaisquer câmeras
que pudessem localizá-los.
Ezra acenou para ela se mover novamente. Ele pegou a mão dela e caminhou
ao longo da parede até chegarem aos degraus de pedra na parte de trás da mansão.
Então saíram correndo, e Ezra a guiou pelos degraus e pelos jardins, passando
pelas sebes e roseiras, e ao redor da fonte. A bomba de água estava desligada agora,
deixando a água estranhamente calma. Olhando para o santo de ouro que estava
sentado no topo e vigiava seu domínio, Ana quase sentiu que ele estava olhando
para eles em julgamento. À luz do sol, suas feições eram serenas e sagradas, mas
esta noite, na escuridão dos jardins, quase pareciam afiadas e raivosas, como se ele
estivesse tentando avisá-los para não irem mais longe. Como sua velocidade
diminuiu, Ezra a empurrou mais rápido pelo cascalho do caminho e a puxou ao
lado de um arbusto alto em frente ao pequeno prédio do museu para protegê-los
de qualquer um que pudesse estar observando-os. Ele estava ofegante, seu peito
subindo e descendo rapidamente enquanto segurava a mão dela.
— Vou escurecer as câmeras com a tinta spray. Quando eu terminar, te
chamo. Você precisa vir assim que te chamar, porque quando eu terminar com a
tinta spray, vou quebrar a fechadura. — Ezra enfiou a cabeça pela lateral do
arbusto. Eles estavam fora de vista em sua posição atual, mas a mera menção deles
se mexerem fez a cabeça de Ana parecer leve.
— Ezra, tenha cuidado… — Ela engoliu em seco.
Ele não perdeu tempo, simplesmente dando-lhe um aceno abrupto e depois
soltando sua mão. Quando chegou o momento perfeito, ele se arrastou, seus pés
escorregando em cima do cascalho. Ele foi tão rápido que Ana levou um
momento para perceber que ele tinha ido embora, e quando ela virou a cabeça
para o lado da cerca viva, ele já estava contra a parede do museu e estava usando o
parapeito da janela para se empurrar para cima com o pé e agarrar a câmera. Ele
estava com a lata de tinta nas mãos e, depois de conseguir subir o suficiente,
empurrou o bico para baixo e borrifou a câmera até que ela escureceu.
Terminando o primeiro, ele pulou novamente e foi para a outra, usando a
saliência para usar a janela novamente. Ele escureceu a outra, finalmente caindo
no chão com um sorriso triunfante.
Quando ela o ouviu chamá-la, os pés de Ana se moveram por conta própria,
levando-a para o seu lado rapidamente no momento em que ele estava jogando a
lata de spray na grama próxima.
— Fique atenta. Preciso trabalhar na fechadura.
Ana assentiu, os olhos arregalados e cheios de medo, mas ela se manteve firme
e encostou as costas na parede, examinando os jardins e a mansão. Até agora,
ninguém estava à vista, e nenhum som foi ouvido.
Ao lado dela, Ezra estava com as mãos espalmadas contra a fechadura,
cobrindo-a com a palma da mão e fechando os olhos. Franzindo a testa em
confusão, Ana se aproximou de seu lado e olhou para seu rosto, notando seu
olhar de concentração.
— Você nem está olhando para isso. Tem certeza de que sabe fazer isso? —
ela disse.
— Pare de olhar para mim e fique de olho! — ele assobiou, seus olhos se
abrindo para olhá-la. Ele se certificou de que ela estava olhando para longe dele
antes de colocar a palma da mão sobre a fechadura e fechar os olhos novamente.
Depois de alguns longos momentos, Ana ouviu um click alto. Ezra abriu os
olhos e sorriu para a fechadura enquanto tirava a mão dela e experimentava a
maçaneta. Para surpresa de Ana, não encontrou resistência e a porta se abriu com
facilidade.
— Como você fez isso? — ela perguntou, olhando entre ele e a porta, sua
boca aberta.
— Magia. — Ezra sorriu.
— Muito engraçado. Apenas se apresse e pegue esse pingente.
Ana foi deixada do lado de fora sozinha quando Ezra entrou no prédio.
Houve um bipe fraco vindo de algum lugar, como um alarme esperando por um
código, mas desligou alguns segundos depois que Ezra entrou. Ela estava de costas
contra a parede ao lado da porta, seus olhos treinados nas áreas que os cercavam.
O jardim parecia quieto, mas por cima do silêncio ela podia sentir algo à distância
à sua direita perto de uma porta na parte de trás da mansão Harrow. Havia
movimento ali, e quanto mais Ana focalizava seus olhos, mais distinguia o
contorno de uma figura.
Uma luz acendeu, iluminando um homem segurando uma lanterna. Ele
estava abrindo a porta dos fundos do lado da mansão e estava começando sua
ronda pelos terrenos. Seguindo o caminho com os olhos, ela percebeu que o
caminho que ele percorreria o levaria diretamente até eles. Ela engasgou e se
forçou a entrar no museu para procurar Ezra. Ele tinha a porta do armário de
vidro aberta e estava segurando o pingente de ouro em suas mãos.
— Alguém está vindo! — ela sussurrou enquanto corria para o lado dele e
agarrava seu braço. — Nós precisamos ir!
Ezra assentiu, enfiando o pingente no bolso, e então pegou a mão dela. Ao se
aproximarem da porta, notaram que o caminho do lado de fora ficava mais claro
com o facho trêmulo de uma lanterna. Foi por pouco. Perto demais para que
pudessem escapar e não serem pegos.
— O que nós fazemos?! — Ana sibilou, as lágrimas ardendo em seus olhos e
suas bochechas começando a ficar quentes.
Ezra parou de se mover; ele parecia estar pensando e tinha uma expressão de
pânico no rosto. Ele virou a cabeça para trás para olhá-la e deu-lhe um aceno
severo.
— Você precisa fazer exatamente o que eu digo.
Ezra a puxou para o canto da sala e a segurou contra a parede, pressionando
seu corpo contra o dela como se estivesse tentando empurrá-la o mais longe
possível, como se estivesse tentando protegê-la de quem quer que estivesse
entrando no prédio. Ele virou a cabeça para longe da porta e olhou em seus olhos,
inclinando-se para perto dela e pressionando o dedo indicador contra seus lábios
em indicação para que ficasse quieta.
— Não diga uma palavra. Não vacile. Não se mova — ele sussurrou.
Ana assentiu uma vez para mostrar que entendia e tentou relaxar contra a
parede enquanto ele a segurava ali com os olhos fechados. Ela engoliu em seco e
tentou não vacilar quando a porta do museu se abriu, e a sala foi iluminada pela
lanterna na mão do segurança.
— Olá? — ele chamou. Ele deu alguns passos dentro da sala e examinou o
feixe de luz sobre as paredes e as vitrines de vidro.
Ana podia sentir seu coração batendo mais rápido no peito enquanto o feixe
de luz viajava pelas paredes. Seus pés coçavam como se quisessem correr, mas Ezra
a segurou firme e moveu o dedo lentamente de seus lábios para que pudesse
colocar a mão sobre sua boca caso ela choramingasse, que era exatamente o que
ela queria fazer quando o raio se aproximou.
O segurança deu alguns passos extras para dentro do cômodo. Pela luz da
lanterna, ela podia ver que era um homem mais velho, com cabelos grisalhos na
cabeça cortados com cuidado e uma barba que caía sobre o colarinho.
Ele se moveu, iluminando todo o cômodo até chegar ao canto em que eles
estavam, e a luz finalmente os iluminou.
Ana prendeu a respiração e arregalou os olhos, esperando que gritasse com
eles e se aproximasse deles, mas ele não o fez. Ele simplesmente moveu a lanterna
para a frente e circulou até a porta pela qual havia entrado. Ela engasgou atrás da
mão de Ezra, e o segurança se encolheu e se virou, iluminando-os novamente e
fazendo os olhos de Ana doerem. Ela ficou mortalmente imóvel, prendendo a
respiração, e esperou até que o homem deu de ombros e se virou, saindo do prédio
e fechando a porta atrás dele.
Ezra parou por um longo momento até que ambos ouviram o guarda se
afastar do prédio antes de finalmente tirar a mão da boca de Ana e soltá-la.
Ela engasgou, puxando respirações profundas em seus pulmões e tentando
afastar a sensação confusa de pânico que estava em sua cabeça.
— Que diabos foi isso? — Ana engasgou, passando por ele e andando até a
janela, onde ela espiou pelo canto das persianas e observou enquanto o homem
caminhava pelos jardins. — Como ele não nos viu?
Ezra a ignorou e colocou a mão espalmada contra o bolso da calça e sentiu o
pingente. Quando estava convencido de que era seguro, ele caminhou até ela ao
lado da janela e tentou a maçaneta da porta. Ele abriu uma fresta, e deu um
suspiro de alívio.
— Ele deve ter pensado que o curador esqueceu de trancá-la. Claramente, ele
não tinha as chaves, ou teria nos trancado. — Ele abriu mais e olhou para fora da
porta para se certificar de que a barra estava limpa.
— Ezra! — Ana retrucou, fazendo-o pular e se virar para ela. — Como ele
não nos viu? Estávamos bem ali! Ele tinha sua lanterna iluminando nossos rostos!
Ezra deu de ombros, olhando para fora da porta.
— Não sei. Sorte, eu acho.
Ana ficou boquiaberta para ele.
— É melhor você começar a me dizer o que diabos está acontecendo, ou eu…
— Eu realmente não acho que este seja o momento certo para iniciar um
debate, Ana, você não acha? Prefiro encontrar uma maneira de sair daqui
passando por aquele guarda para que possamos ir para casa.
Ana mordeu a língua para se impedir de gritar com ele. Ela cerrou os punhos
e moveu-se para empurrá-lo para fora do caminho da porta.
— Certo. Mas não terminamos ainda.
Ela saiu do museu e rapidamente voltou para o abrigo das cercas vivas, então
se agachou e observou o movimento. Quando encontrou a área ao redor quieta,
ela se levantou novamente e atravessou o caminho de pedra. Ezra a alcançou e
chegou ao seu lado, seus passos largos o fazendo assumir a liderança.
Eles fizeram o seu caminho para as paredes da mansão. Colocando as costas
contra a parede e se arrastando ao longo delas, eles enfiaram a cabeça ao redor do
prédio e olharam para o estacionamento. Ainda estava deserto, e o segurança não
estava à vista.
— Acho que estamos livres. Se corrermos agora, podemos passar por entre as
árvores e voltar ao portão. Você está pronta? — Ezra perguntou, olhando de lado
para ela e dando um belo sorriso.
A raiva de Ana derreteu, e assentiu, sentindo seus nervos aliviarem, e ela
estendeu a mão para ele pegar.
— Pronta.
Ezra sorriu e entrelaçou os dedos com os dela, então a puxou de trás da
parede, andando rapidamente pelo caminho de cascalho e para longe da mansão
Harrow.
— EI! PARE!
Ezra virou a cabeça para olhar por cima do ombro, e seus olhos se arregalaram
quando o segurança apontou a lanterna na direção deles. Ele estava parado na
porta da entrada da mansão Harrow e começou rapidamente a descer os degraus
de pedra.
— Merda! Corre!
Ana engasgou, soltando a mão dele e correndo pelo caminho e pelo
estacionamento. Ela podia ouvir o segurança atrás deles, o som de seus sapatos
batendo contra o asfalto. Ezra estava à frente dela, guiando-a entre as árvores e
pela mesma rota que haviam usado quando chegaram. Dessa vez estava descendo
o morro, o que ajudou, mas suas pernas ainda queimavam de seus pés correr no
terreno irregular e gramado do bosque.
Eles estavam quase lá. O portão estava logo à frente e, quando chegaram, Ezra
parou de correr e esperou que ela o alcançasse.
— Você precisa ser mais rápida dessa vez, Ana! — ele afirmou, agarrando sua
cintura quando ela chegou ao portão e empurrando-a para cima.
Seus pés estavam escorregando em sua escalada em pânico, mas ela conseguiu,
alcançando o topo bem a tempo dos holofotes nas árvores acenderem, cegando-
a. Ela congelou, o som de latidos ecoando contra as árvores e em sua cabeça.
— Ana, foco! Pula! — ele disse, subindo o portão rapidamente e
encontrando-a no topo, onde ele jogou a perna e pulou para o lado e para a
estrada. — Eu vou te pegar! Pule!
Os latidos ficaram mais altos e ela tremeu enquanto estava sentada em cima
do portão. Ezra a estava dizendo algo, mas tudo em que ela conseguia se
concentrar era em quão brilhantes eram os holofotes e quão altos eram os latidos.
— Ana!
Ela o olhou, seu foco voltando para ela quando viu seu rosto e suas mãos
estendidas, e ela assentiu, engolindo umidade em sua boca seca e finalmente
pulando do portão.
Ezra a pegou rudemente, seu cotovelo batendo em suas costelas quando ela
caiu e engasgou, equilibrando-se e segurando sua lateral. Ela não teve tempo para
pensar sobre a dor, e em vez disso, ela se afastou dele e correu para o carro
mancando assim que os cães chegaram ao portão. Eles estavam raivosos,
arranhando e mordendo o metal.
Ezra abriu o carro com seu comando, e ambos mergulharam para dentro,
fechando as portas atrás deles com um estrondo.
— Você está bem?
Ana chorou, segurando sua lateral com uma mão e arrancando o boné de
beisebol preto de sua cabeça com a outra antes de jogá-lo no painel.
— Apenas dirija, porra!
Capítulo 19

Ana saiu do carro no segundo em que parou do lado de fora da casa de Genevieve.
Lágrimas escorriam por seu rosto enquanto segurava suas costelas, onde sua caixa
torácica encontrava sua pele, e mancava pelo caminho de pedra pavimentado que
levava à sua porta da frente.
— Espere! — Ezra assobiou para ela, trancando a porta e correndo pelo
caminho atrás dela. — É muito tarde. Você vai acordá-la se entrar a esta hora.
Você vai ter que ficar na minha casa.
Ana queria gritar, mas em vez disso fungou e o seguiu pelo segundo caminho
e contornando a casa. Eles caminharam pelo jardim e ao redor do varal até que ele
parou e abriu a porta de sua casinha. Ele entrou e acendeu as luzes. Ezra a estendeu
a mão, mas ela passou por ele e foi até a mesa da cozinha, onde jogou sua bolsa e
se apoiou na madeira para se sustentar. Ela soluçou de dor enquanto puxava a
camisa para olhar a sua lateral.
— Você está bem? — ele perguntou suavemente, fazendo seu caminho até
ela e alcançando seus dedos para tocar a pele da sua costela.
Ana deu um tapa na mão dele, olhando-o com lágrimas nos olhos.
— Não me toque.
— Ana, você precisa me deixar ver. Eu preciso sentir se está quebrado — Ezra
estendeu a mão para ela novamente.
Os reflexos de Ana entraram em ação, e antes que percebesse o que estava
fazendo, sua mão voou para lhe dar um tapa no rosto, mandando-o para trás
enquanto ela balbuciava:
— Você é um idiota.
Um grunhido abafado veio do fundo do peito de Ezra, como se ele estivesse
tentando não reagir para não tornar as coisas ainda piores do que já eram. Ele
esfregou a bochecha avermelhada, então olhou de volta para o rosto dela e
balançou a cabeça.
— Sim. Eu sou. Nós estabelecemos isso. Agora você me deixa dar uma olhada
em você, por favor?
Ele estendeu a mão para ela novamente, mas Ana levantou a mão para
esbofeteá-lo novamente. Ele pegou o braço dela pelo pulso e segurou com força
quando ela tentou puxar o braço de volta, e se inclinou para perto do rosto dela.
— Um. Você ganha um. Agora pare de ser um bebê e deixe-me olhar para a
sua costela!
Ana estava respirando fundo e com raiva pelo nariz enquanto ele forçava o
braço dela para cima da cabeça e puxava sua camisa para cima com a outra mão.
Ele se abaixou, dando uma olhada na pele machucada em suas costelas e
colocando os dedos em sua caixa torácica. Ele a pressionou, fazendo-a assobiar e
recuar.
— Isso machuca.
Ezra assentiu, um olhar sério em seu rosto quando finalmente puxou os dedos
para trás de sua pele e soltou seu braço. Ela esfregou o pulso com a força que ele
teve para impedi-la de bater nele novamente.
— Eu não acho que está quebrado. Provavelmente é hematoma. Você pode
fazer um exame, mas não há muito que um médico possa fazer além de lhe dar
medicação para a dor. Ele precisa se curar sozinho.
— Eu não deveria ter que curar nada, Ezra. Eu nem queria estar lá esta noite!
Era perigoso, e fomos pegos, e eu me machuquei, e tudo o que importa é aquele
maldito pingente! — Ana cruzou os braços sobre o peito.
— E tudo o que importa é a sua matéria, certo? — Ezra estalou, observando-
a de perto. Suas bochechas estavam corando, e ela estava olhando para qualquer
lugar, menos para ele. — Não jogue isso em mim. Estou fazendo o que preciso
fazer para obter o resultado que ambos estamos procurando. Esta é a razão pela
qual estamos fazendo isso, para descobrir a verdade, para que eu possa ter minha
descoberta e você possa ter sua matéria. Estou disposto a fazer o que for preciso
para que possamos terminar isso. Você precisa se perguntar se também está,
porque eu não posso fazer isso sozinho. Se você não pode se comprometer com o
que é preciso, Ana, então vá para casa.
Ana franziu a testa e olhou para os pés. Ela não queria ir para casa. Ela queria
ver isso, descobrir para que servia tudo isso, para obter a história de que precisava
para provar a si mesma. Mesmo com raiva dele, ela também queria estar perto
dele; ela só não queria ter que ignorar sua moral para fazer isso. Ela engoliu em
seco e apertou o maxilar, depois enxugou as lágrimas do rosto e olhou para ele.
— Certo. Mas, para sua informação, nunca mais invadirei nenhum lugar com
você. Nem pergunte, porque a resposta será não. Não posso acreditar que eu o
deixei me convencer disso em primeiro lugar. — Ela fungou.
— Não demorou muito para convencê-la — Ele deu de ombros, um pequeno
sorriso curvando-se nas bordas de sua boca — E tenho a sensação de que você só
foi facilmente convencida porque quer resolver esse mistério tanto quanto eu.
Ana mordeu o lábio e o olhou nos olhos. Eles foram gentis novamente e
perderam a raiva de quando ela bateu nele.
— Talvez.
Ezra enfiou a mão no bolso e tirou o pingente, segurando-o na palma da mão.
Ele se sentou em uma cadeira na mesa de jantar de madeira e colocou-a em cima
para inspecioná-la mais de perto.
— É lindo. Ouro maciço, parece, com apenas uma inscrição — ele disse,
passando o dedo sobre o sigilo do coven de Marion.
Ana suspirou e se moveu para se sentar ao lado dele, segurando suas costelas
com um estremecimento ao fazê-lo. Olhando para o pingente, ela notou como
parecia mais um anel plano do que um pingente, e o buraco no meio era mais oval
em forma do que circular.
— Então, você acha que essa peça se encaixa dentro do buraco anelado que
está faltando no athame que encontramos na torre?
— Eu apostaria minha vida nisso — Ezra disse enquanto se aproximava —, é
decorativo, e é possivelmente por isso que Thomas Harrow pensou que era uma
joia.
Ana enfiou a mão na bolsa sobre a mesa e tirou a pequena câmera digital e a
ligou. Depois de corrigir as configurações na tela, ela o puxou até o olho e a focou,
tirando algumas fotos em close do pingente, o flash refletindo no ouro brilhante.
Ela pegou mais um pouco dele segurando-o.
Ezra pulou quando viu o flash e ouviu o clique da câmera, e estendeu a mão
para pegá-la e puxá-la para longe do rosto dela.
— Você não pode mostrar isso para ninguém, lembra? Até que se torne parte
do athame, podemos entrar na merda se alguém souber o que é isso e que foi
roubado.
Ele pegou a câmera dela enquanto ela fazia beicinho e olhava para a tela,
excluindo as fotos que ela havia tirado, então sorriu e virou para que a lente ficasse
voltada para eles.
— Embora possamos documentar nossa descoberta de outra maneira.
— Não! Não, eu estou uma bagunça. Estou cansada, estou dolorida e
realmente não quero que minha foto ta…
— Ana. Cale-se. — Ezra riu, então se virou para que ficassem lado a lado e
estendeu o braço com a câmera na mão. — Diga xis.
Ana gemeu, então se inclinou para o lado dele para que suas cabeças ficassem
juntas, e deu um sorriso para a câmera quando ela piscou. Pequenos pontos de
luz pairavam em seus olhos depois que ele puxou a câmera de volta para baixo e
passou para ela, e ela a pegou de volta, olhando para a tela. Era uma bela foto,
supôs, e a fez sorrir suavemente quando a olhou.
— Ok, bem, agora você tem seu pingente e uma selfie, acho que é hora de eu
ir para a cama — disse Ana, olhando para o relógio na parede. Era 02:22. Ela se
levantou com um estremecimento, usando o ombro dele para se equilibrar, e
atravessou a sala em direção ao quarto dele com a câmera na mão.
— Esse é o meu quarto — Ezra sorriu enquanto se levantava da cadeira e
caminhava atrás dela quando ela alcançou a porta e a abriu.
— Bem, você só tem um quarto, certo? Onde devo dormir? — Ana
perguntou enquanto o olhava depois de desligar o interruptor de luz. O quarto
estava tão arrumado quanto da última vez que ela estivera ali. A cama parecia
fresca e aconchegante, e suas pernas doíam por estar fora delas e debaixo dos
lençóis.
— Há um sofá perfeitamente bom aqui fora. Este é o meu quarto — ele disse,
inclinando-se na porta enquanto Ana se virava para encará-lo com um olhar sem
graça no rosto. Ele sorriu descaradamente, balançando a sobrancelha para ela e se
aproximando —, ou sempre podemos compartilhar.
Ana sorriu quando ele se inclinou para perto de seu rosto, e ela inclinou a
cabeça enquanto observava seus olhos. Ela mordeu o lábio suavemente e sorriu
quando ele se inclinou ainda mais, antes dela agarrar a maçaneta da porta
rapidamente e fechar a porta entre eles.
— Boa tentativa.
Houve um gemido do outro lado da porta, e Ana riu enquanto a trancava e
olhava ao redor do quarto dele. Havia um grande guarda-roupa e um espelho de
corpo inteiro no canto que dava para a cama, uma escrivaninha cheia de livros e
papéis, e uma janelinha com as cortinas abertas que deixavam passar o luar. Ela
suspirou cansada, então tirou os sapatos e tirou as roupas, deixando-as no chão
onde caíram. Ela saiu delas rapidamente, desligando as luzes e andando de
calcinha para a cama, onde colocou a câmera na mesa de cabeceira. Puxando os
lençóis, Ana se deitou na cama com um estremecimento, puxou os lençóis até o
queixo e afundou no colchão com um gemido feliz. Seu corpo estava cansado, e
seus pés latejavam com uma dor incômoda, mas ela estava quente agora, e
contente, e podia sentir a ameaça do sono começar a arder no fundo de seus olhos.
Ela deve ter adormecido rapidamente, e quando abriu os olhos pensando que
seria dia lá fora, ficou confusa ao descobrir que o quarto ainda estava mergulhado
na escuridão e a lua ainda brilhava pela janela. Ela gemeu e rolou de costas,
olhando para o relógio e a câmera que estavam na mesa de cabeceira. O relógio
marcava 04:47. Sentada na cama, Ana percebeu como estava frio no quarto. Ela
podia ver sua respiração deixando seu corpo em pequenas nuvens, e sua pele tinha
arrepios, fazendo-a estremecer e puxar os lençóis ao redor dela com mais força.
Foi quando ela percebeu.
O espelho de corpo inteiro no canto da sala balançava nas pernas, fazendo as
dobradiças rangerem baixinho. Seus olhos se arregalaram e ela se inclinou para
frente para ver melhor por que estava balançando quando percebeu que não
conseguia se ver no reflexo. Não havia quarto refletido, nem lençóis, nem paredes,
nem ela. Em vez disso, a figura de outra pessoa estava de pé ali, balançando de um
lado para o outro.
Não. Não de pé. Pendurado.
Ela engasgou, sua respiração travando em algum lugar em sua garganta
quando a luz mudou dentro do espelho. O quarto que ela podia ver no reflexo
não era o de Ezra. Era a sala do museu Harrow de onde haviam roubado o
pingente, e a pessoa que estava ali parecia muito com o segurança. Ele estava
pendurado na viga de madeira por uma corda em volta do pescoço, e estava
agarrando-a enquanto balançava, seus pés a centímetros do chão. Algo se moveu
atrás dele, e ela percebeu que o que pensava ser a sombra dos seguranças não era
uma sombra. Era uma pessoa, e eles estavam indo em direção ao espelho.
Ana tentou gritar, mas nenhum som saiu de sua boca. Apenas desapareceu
em um coaxar suave em sua garganta enquanto a sombra se aproximava cada vez
mais e alcançava o espelho. Não tinha feições, como se fosse um vazio negro na
forma de uma pessoa. Suas mãos pareciam mais longas do que deveriam, como se
tivessem uma junta extra na ponta, e as pontas de seus dedos eram pontiagudas
em garras negras que atravessavam o vidro do espelho como se fosse feito de água.
É apenas um sonho. Você está sonhando, Ana. Acorda!
Ela podia ouvir sua própria voz em sua cabeça, mas seu corpo não obedeceu.
Ele tremeu mais forte, e sua respiração se tornou cada vez mais rápida quando a
sombra encorpada agarrou as bordas do espelho e rastejou através do vidro
aguado e entrou no quarto de Ezra. Ele torceu o pescoço e estendeu a mão para
segurar a cabeceira de madeira da cama, rastejando por cima dela e colocando suas
mãos negras em cima dos lençóis brancos a seus pés. Suas pernas não se moviam.
Houve um som em algum lugar da sala. Foi alto e soou em seus ouvidos, e
depois de alguns segundos ela percebeu que estava gritando. Uma batida forte
veio da porta do quarto, como se alguém estivesse tentando arrombar, mas a
figura apenas inclinou a cabeça para ela e se arrastou ainda mais para onde ela
estava deitada contra os travesseiros.
Pense, Ana, pense!
Luz. A última vez que isso aconteceu, a última vez que viu essa sombra, ela
desapareceu assim que Ezra acendeu a luz. Ela não conseguia se mover para
alcançar o interruptor de luz, estava muito longe do outro lado do quarto. Ela
podia mover seus olhos para olhar para a mesa de cabeceira, onde sua câmera
estava, e ela conseguiu lutar contra o medo que irradiava por sua pele e esticar a
mão para pegá-la. Ela a ergueu, puxou-a de volta para si e a segurou contra o rosto,
onde fechou os olhos e apertou o botão. A câmera ligou, e ela ouviu o flash. Um
grito perfurou o ar no quarto que não era dela, e quando ela abriu os olhos, podia
ver a sombra se afastando da luz como se tivesse sido queimada. Quando o flash
desapareceu, ele veio para ela novamente, então ela segurou a câmera na frente
dela e continuou pressionando o botão até que a sombra gritou e se debateu,
lutando para voltar para o espelho.
Finalmente, Ana sentiu seu corpo novamente, e como sua garganta estava
rouca e dolorida de tanto gritar. Ela estava encharcada de suor e lágrimas
escorriam pelo seu rosto.
Não era um sonho.
Ezra finalmente entrou na sala, tendo que quebrar a fechadura para isso. Ele
acendeu a luz e correu para dentro assim que Ana percebeu que o espelho estava
refletindo o quarto novamente. Ezra estava de cueca boxer, os olhos arregalados
e o cabelo em todos os ângulos como se tivesse acordado com um sobressalto.
— O que está acontecendo? O que aconteceu?! — ele perguntou enquanto
corria para ela e se sentava na cama.
Ana estava histérica. Ela jogou a câmera de lado e se lançou sobre ele para um
abraço com os braços trêmulos, olhando por cima do ombro para o espelho. Ela
não soube explicar o que aconteceu. Logicamente, isso não poderia acontecer;
pessoas das sombras não rastejam para fora dos espelhos. Mas aconteceu, e ela
ficou apavorada.
— O espelho! Alguém atravessou o espelho. Era como uma sombra, mas uma
pessoa, e-e o segurança estava lá, e ele estava pendurado no museu e acho que a
pessoa da sombra fez isso, e-e veio para mim a…
— Você precisa se acalmar — Ezra disse enquanto a segurava com força. Ele
segurou sua cabeça e a deixou descansar contra seu ombro, permitindo que ela se
acalmasse enquanto ele a balançava. — Está tudo bem.
— N-não está tudo bem! — ela gaguejou. — Acho que aquele segurança está
morto! Ele parecia tão assustado — Ela fungou, afastando-se para olhá-lo. Seu
nariz estava escorrendo, e seus olhos estavam inchados e vermelhos enquanto ela
se sentava na cama de calcinha. Ela estava tão feliz por tê-lo ali que nem se
importou por estar seminua.
Ezra a olhou quando ela se afastou dele, verificando se havia alguma marca.
— Aquilo machucou você?
— N-não, eu acho que não — ela fungou —, O que foi aquela coisa?
Ezra suspirou e estendeu a mão para secar a bochecha dela com o polegar.
— É difícil explicar, mas amanhã, farei o meu melhor para ajudá-la a
entender. Por enquanto, está segura. Você deveria tentar dormir. Não vai voltar.
Este lugar deveria ser protegido, não deveria ter entrado, mas esqueci do espelho.
Eu sinto muito.
— Você já viu uma dessas coisas antes? Era enorme e tinha dedos longos e era
completamente preto.
— Eu sou muito familiarizado, sim — Ele se levantou da cama, foi até o
espelho de corpo inteiro e pegou o pano que estava pendurado ao lado dele. Ele
deu uma olhada, depois colocou o pano sobre ele, cobrindo todo o vidro. — Eles
são mensageiros que fazem as ordens de uma bruxa ou feiticeiro. Eles podem
viajar através de espelhos, e como são feitos das sombras, são alérgicos à luz.
Normalmente, quando estou aqui, tenho isso coberto para o caso. Vou explicar
mais amanhã, mas você deve dormir.
A respiração de Ana finalmente voltou ao normal, e ela parou de chorar o
suficiente para puxar o cobertor sobre o peito. Sua cabeça estava frita, como se
não soubesse o que pensar ou acreditar.
— Você promete que não vai voltar?
Ezra sorriu suavemente e olhou por cima do ombro com um aceno de cabeça.
— Eu prometo — Ele caminhou até a porta. — Durma um pouco.
— Dorme comigo? — Ana gaguejou quando ele fez menção de sair, e se virou
para olhá-la com uma sobrancelha erguida. — Na cama, obviamente. Dorme
comigo na cama. Quero dizer, durma ao meu lado na cama.
— Eu sei o que você quis dizer — Ezra riu. Ele fechou a porta e alcançou o
interruptor de luz.
— Deixe-o ligado? — ela perguntou, arrastando-se na cama.
Ezra assentiu pacientemente e deixou cair a mão, deslizando ao lado dela e
recostando-se nos travesseiros. Ele olhou de lado para onde ela estava deitada, e
como ela estava olhando para o teto e tentando não chorar.
— Venha aqui — disse ele, abrindo o braço para ela e acenando para entrar.
Ana fungou e olhou de lado para ele enquanto segurava os lençóis contra a
pele e mordia o lábio enquanto pensava nisso. Pela primeira vez, ela não estava
pensando em como ele ficava bem de cueca, em como seu sorriso era caloroso ou
em quão verdes eram seus olhos. Ela só queria seu conforto. Ela assentiu
rapidamente e se arrastou até ele, vindo para o lado dele e envolvendo o braço em
volta de sua cintura enquanto descansava a cabeça em seu peito e ele a segurava
perto de si. Ele estava quente, mas, mais importante, ele parecia seguro.
— Obrigada — ela murmurou contra seu peito.
Ezra sorriu enquanto se aconchegava nela e fechava os olhos, dando-lhe um
aperto reconfortante.
— De nada.
Capítulo 20

Ela teve um sono inquieto. Durante toda a noite, ela acordou periodicamente
para ter certeza de que o espelho ainda estava coberto e que Ezra ainda estava lá.
Ezra tinha sido paciente, colocando-a de volta ao seu lado e dizendo-lhe que
estava tudo bem, e que estava segura, e para voltar a dormir novamente, apenas
para repetir o processo novamente. Quando acordou pela última vez, ela se viu
enrolada na cintura de Ezra com a cabeça em seu peito. Ele estava acordado, os
olhos abertos e olhando para o teto como se estivesse esperando que ela acordasse
sozinha.
— Bom dia — ele disse, olhando-a enquanto ela levantava a cabeça.
— Ei. Há quanto tempo você está acordado? — Ela se apoiou nos cotovelos,
piscando até que sua visão embaçada se corrigiu.
— Há um tempo. Você não dormiu bem, o que significa que eu também não
dormi muito. Achei que seria melhor não te acordar quando finalmente dormisse
— Ezra disse enquanto limpou o peito onde a cabeça de Ana estava e movia as
mãos atrás da cabeça para que pudesse se esticar. — A propósito, você baba
enquanto dorme.
Ana corou profundamente e limpou o canto da boca de vergonha.
— Não, eu não babo.
— Você baba — Ele riu. — Mas é fofo.
Ana corou, desviando o olhar dele e se encolhendo internamente. Para evitar
mais constrangimentos, ela se virou de frente para deitar de costas ao lado dele e
olhou para o teto, para não ter que olhar nos olhos dele.
— Obrigada, por ficar comigo a noite toda — ela murmurou, segurando os
lençóis em punhos cerrados para que pudesse mantê-los perto de seu peito.
— Não foi nada demais — Ezra sorriu, olhando de lado para ela. Ela estava
com os lençóis presos ao seu redor, agora mais consciente de sua modéstia, e ele
percebeu. Ele a deixou ficar com o cobertor, então se moveu para sair da cama. —
É depois das 10:00. Precisamos nos trocar para que possamos levar o pingente
para o templo da minha mãe em segurança.
Ana o observou. Agora que seu coração estava em um ritmo constante e não
estava chorando ou aterrorizada, ela se permitiu conferir seu corpo enquanto ele
estava no quarto de cueca. Ele estava tentando arrumar o cabelo e não pareceu
notar que ela estava olhando. Para se impedir de deixar sua mente vagar, ela
limpou a garganta e olhou para o rosto dele.
— Você disse que me explicaria o que aconteceu ontem à noite, sobre o que
era aquela coisa que veio para mim.
— E eu vou — Ezra disse enquanto caminhava lentamente até a porta,
apontando para o espelho que estava coberto pelo lençol no canto. — Quando
estivermos longe de ouvidos curiosos e na segurança do templo. Eu vou te
encontrar lá fora.
Ele sorriu ao sair, e Ana notou como ele teve o cuidado de não olhá-la por
muito tempo para poupar seu constrangimento. Ela estava grata por isso, e
quando a porta se fechou, ela deu um profundo suspiro e gemeu para si mesma.
— Eu não babo enquanto durmo — ela sussurrou para si mesma, colocando
o polegar no canto da boca. — Eu babo?
Ela fez beicinho, e em vez de pensar sobre isso e ficar mais autoconsciente, ela
saiu da cama, pegou as roupas que tinha usado na noite anterior e as vestiu.
Surpreendentemente, o simples par de jeans e camisa preta estavam notavelmente
limpos, considerando que ela havia corrido por entre as árvores e escalado os
portões neles. Sua lateral doía, e doía se curvar para vestir a calça jeans, mas ela
conseguiu e voltou para a cama onde ela a refez e alcançou a câmera que a salvou
na noite anterior. Franzindo a testa para ela em suas mãos, ela olhou para o
espelho coberto de tecido e engoliu em seco, uma sensação de suor frio vindo
sobre si em lembrança. Ela estremeceu, então calçou os sapatos e saiu do quarto
para a pequena sala de Ezra.
Ele estava de pé à mesa, completamente vestido com um par de jeans pretos e
uma camisa branca elegante com os punhos enrolados até o meio do antebraço.
Ele tinha o pingente na mão e estava olhando-o novamente com um sorriso.
— Você parece um pai orgulhoso — Ana sorriu enquanto caminhava até ele.
Ezra assentiu e segurou o pingente entre os dedos.
— Estamos tão perto, Ana. Mais um item e teremos os três, então podemos
juntá-los e ver o que acontece.
Ana franziu a testa em confusão enquanto olhava para o pingente, depois
para o rosto dele.
— O que você quer dizer? É apenas um athame. A história toda foi encontrar
as antigas relíquias das bruxas, certo?
— Meio certo. É uma grande descoberta, para nós dois, obviamente. Pensava-
se que estavam perdidos no tempo, e este achado por si só será suficiente quando
o completarmos e o levarmos à publicação, mas não se esqueça que é uma
ferramenta mágica. Lembre-se, o pergaminho dizia que os objetos são a fonte do
poder do coven Marion. Se completarmos o athame e funcionar, se encontrarmos
o ritual certo, teremos acesso a todo esse poder — Ezra disse, um lampejo de
excitação em seus olhos.
Ana se arrastou em seus pés. Ela não tinha certeza do que pensava sobre isso.
Ela não acreditava em magia ou bruxas, mas depois do que aconteceu na noite
anterior, ela ficou se sentindo abalada em suas crenças. Ela ainda não estava na
parte mágica é real.
— Nós devemos ir. Temos três dias para encontrar o último item antes do
meu prazo — disse Ana enquanto pegava sua bolsa da mesa e caminhava até a
porta.
Ela sabia que ir contra Elianna e escrever esta história ia voltar e mordê-la na
bunda. Elianna provavelmente iria demiti-la se não entregasse a história que ela
queria, mas valia o risco. Isso a tornaria uma jornalista confiável, e ela não teria
que escrever a história que Elianna queria sobre as bruxas estranhas do país, o que
machucaria Ezra. Era a melhor opção. Era a única opção.

Chovia hoje, mas ainda estava quente e pegajoso, fazendo seu cabelo grudar no
rosto e seu corpo úmido. Ao passarem pelas portas da Strange Unusual
Curiosities & Wonders, foram afrontados com o doce alívio do ar condicionado
da loja. Ele desceu do teto e encheu a sala, rolou sobre seus corpos e relaxou seus
ombros.
— Está caindo o mundo lá fora, meus amores — Genevieve disse enquanto
se apoiava no pesado balcão de madeira com um sorriso tenso no rosto. —
Suponho que vocês dois voltaram muito tarde na noite passada. O que diabos
aconteceu lá fora?
— O que você quer dizer? — Ezra perguntou enquanto caminhava
rapidamente até sua mãe e a beijava na bochecha. — Nós apenas entramos,
pegamos o pingente e saímos.
— Não minta para mim, Ezra. Eu sei quando você está mentindo. O que mais
aconteceu? — Genevieve perguntou, franzindo a testa para ele.
— Nada, ele está dizendo a verdade. Nós escapamos — Ana disse enquanto
caminhava até o balcão e se apoiava nele, um olhar de confusão surgindo em seu
rosto. — Por quê?
Genevieve retrucou e balançou a cabeça.
— A notícia está lá atrás. Descubra por si mesma.
Ela voltou a fazer sua papelada, deixando Ezra olhar para Ana com uma
carranca. Ele a guiou pela parte de trás do balcão e pela cortina que separava a loja
dos fundos e caminhou direto para a televisão que estava ligada. Era pequena e a
imagem estava embaçada, mas o som era perfeito e as imagens eram claras o
suficiente para serem percebidas.
Na tela havia imagens da mansão Harrow e Cherry Grove. A fita da cena do
crime estava isolando a entrada do pequeno museu e, pelo que podiam ver de
dentro, estava completamente destruída. As janelas e as vitrines de vidro estavam
quebradas, seu conteúdo espalhado por todo o chão. A filmagem mudou para a
equipe forense, que estava empurrando um carrinho para fora do prédio, um saco
preto cheio de corpos amarrados nele. Os policiais e a equipe forense estavam
examinando os danos e, em seguida, a filmagem mudou para o repórter, que
estava a uma curta distância do local.
— Nas primeiras horas da noite passada, a família Harrow foi alertada para
o som de um acidente e se deparou com esta cena. Todas as câmeras de segurança
foram escurecidas com tinta spray, e o museu Harrow foi arrombado. Até o
momento, a polícia nos diz que nada foi roubado, mas infelizmente, o corpo do
segurança que estava trabalhando no terreno ontem à noite foi encontrado
pendurado no teto do prédio com uma das cordas que estavam na exposição. A
polícia suspeita de homicídio, mas eles não têm suspeitos. O segurança era um
senhor Gerard Towley, 52 anos. Sua família foi notificada.
Ezra desligou a televisão e passou as mãos pelo cabelo, puxando-o com raiva
enquanto começava a andar de um lado para o outro.
— Não, não, não, isso não é bom.
Ana estava começando a hiperventilar. Sua respiração estava ofegante, e seus
olhos não conseguiam se mover da tela preta. Ela havia se esquecido
completamente de ver o segurança no espelho. Tudo em que ela se concentrou
foi na figura que atravessou o vidro.
— N-nós estávamos lá, Ezra, fizemos isso com as câmeras de segurança. Eles
vão saber que fomos nós...
— Nós não o matamos. Não fizemos isso com ele, Ana. Isso não foi culpa
nossa — Ezra disse enquanto baixava as mãos.
— Claro que a culpa é nossa, Ezra! — exclamou Ana. — Quem o matou
estava nos seguindo. Se não fôssemos lá, aquele homem ainda estaria vivo!
Precisamos ir à polícia.
— Não. Não podemos — Ezra disse enquanto caminhava até ela e a pegava
pelos braços, forçando-a a olhar para ele. — Se formos à polícia e dissermos que
estivemos lá, eles vão perguntar por que e saberão que roubamos o pingente.
Depois disso, eles não encontrarão nenhuma evidência física de mais ninguém lá,
não importa o que digamos, e eles nos culparão. Isso é uma acusação de
assassinato. Então eles vão checar nossos últimos movimentos e vão ver que
encontramos Nina. Eles vão juntar dois e dois e colocar isso em nós também. São
duas acusações de homicídio, Ana. Neste momento, estamos a salvo disso, só
precisamos continuar.
— Continuar? Ezra, e se eles encontrarem evidências de que estivemos lá
antes de contarmos a eles? Eles não vão acreditar em uma palavra que dissermos!
— Ela começou a tremer.
— Eles não vão acreditar em nós de qualquer maneira, Ana! O que vamos
dizer a eles? Que uma bruxa ou um feiticeiro usou um mensageiro das sombras
para matar aquele homem e atacá-lo porque ele estava procurando uma adaga
encantada? Eles nunca acreditariam nisso. Você nunca teria acreditado nisso se
não visse por si mesma — Ele a soltou e suspirou. Seu rosto estava pálido, e ela
podia dizer que ele estava pirando tanto quanto ela. Ele era apenas melhor em
contê-lo.
— Então o que vamos fazer? Quem fez isso vai continuar vindo atrás de nós,
e assim que encontrarmos o último item, virão pegá-lo e fazer a mesma coisa
conosco. Não estamos seguros. Ninguém ligado a esse athame está seguro. — Ana
fungou.
Ezra esfregou a cabeça como se doesse. Ele pensou em silêncio por um longo
momento, então engoliu em seco e sentou-se pesadamente em uma das cadeiras.
— Continuamos. Não podemos envolver mais ninguém em nossos planos de
agora em diante. A única coisa que podemos fazer para conseguir justiça para
Nina e aquele segurança é continuar e tirar essa pessoa do esconderijo. Ele virá
buscar o athame quando estiver inteiro. Ele claramente está tentando encontrar
sua localização usando os caminhos que percorremos, e assim que pararmos, ele
estará lá. Podemos usar sua obsessão a nosso favor e atraí-lo. Então podemos dar
o nome dele à polícia assim que virmos seu rosto.
— O que diabos o faz pensar que vamos sobreviver a isso? — Ana perguntou,
andando de um lado para o outro na frente dele.
— Podemos não sobreviver. Ele pode vir até nós e pegar o athame e nos matar
antes que tenhamos a chance de fugir. Mas qual é a alternativa? Nós nos
encolhemos e deixamos que ele venha até nós para obter informações, nos mate e
o pegue? — Ezra perguntou, mordendo o lábio enquanto pensava. — É a única
maneira. Ele vai seguir isso até o fim; isso é o que minha mãe leu em suas cartas,
certo? Sei que é difícil e que você está com medo, mas eu prometo que não vou
deixar ninguém te machucar.
— Como você pode prometer algo assim?
— Eu simplesmente posso. Sei que você está confusa e que tudo dentro dessa
sua cabeça deve estar embaralhado, mas no fundo em algum lugar, quer você
queira ou não admitir para si mesma, você sabe que posso mantê-la segura — ele
disse, pegando a mão dela quando ela passou e a puxou para ele para que ficasse
na frente dele. — Você confia em mim?
Ana apertou a mão dele e enxugou a bochecha com as costas da outra mão.
— N-não, absolutamente não — ela disse com uma pequena risada
engasgada.
Ezra sorriu para ela e se levantou, então estendeu a mão para colocar um
pouco do cabelo dela atrás da orelha.
— Tire tudo isso da sua cabeça e vamos continuar, hum? Temos trabalho a
fazer.
Ele segurou a mão dela perto de seu peito antes de caminhar com ela ao redor
da mesa e descer os degraus para o templo privado. O quarto estava escuro como
sempre, mas as velas lhes deram luz suficiente para caminharem diretamente para
uma cômoda que se alinhava na parede ao lado da estante onde o Livro das
Sombras ainda estava aberto. Ele abriu a gaveta e tirou o athame que havia
guardado dentro. Ele o segurou delicadamente em suas mãos antes de caminhar
até a mesa e se sentar, colocando-o sobre a madeira.
Ana foi até a mesa e sentou ao lado dele, olhando para o athame. Era mais
brilhante do que se lembrava. As marcas estavam mais claras agora, e o ouro e a
prata haviam sido polidos e limpos, trazendo-os de volta à sua antiga glória.
Ezra tirou o pingente do bolso e segurou-o cuidadosamente nos dedos, então
olhou para ela com um pequeno sorriso.
— Há um pano polonês na gaveta. Você vai pegá-lo para mim?
Ela assentiu e se levantou, pegando rapidamente o pano usado da gaveta onde
o athame estava e o entregou a ele antes de retornar ao seu lugar. Ele o pegou e
limpou o pingente, esfregando qualquer arranhões de sujeira que estavam nele, e
então colocou o pano de lado.
— Ok, momento da verdade. Vamos ver se encaixa — Ezra disse enquanto
pegava o athame.
No fundo, onde o cabo encontrava a lâmina, havia um buraco redondo. Era
um semicírculo indo para dentro e tinha o mesmo tamanho áspero do pingente
em sua mão. Ele estendeu a mão e pairou sobre o buraco, então o abaixou
lentamente até finalmente deixá-lo cair no espaço que faltava. Encaixava
perfeitamente, mas ao erguer o athame com o pingente de ouro dentro, percebeu
que não estava seguro. Quando ele o levantou de modo que a ponta da lâmina se
inclinou para cima, o pingente caiu para fora do buraco.
— Hum. Tudo bem. Não era isso que eu esperava que acontecesse — Ezra
franziu a testa, pegando-o novamente.
— O que você esperava que fosse acontecer? — Ana perguntou, olhando por
cima.
— Eu pensei que iria ficar. Cabe perfeitamente — disse ele em confusão.
— Talvez precisemos encontrar o terceiro objeto, aquele que está aqui dentro
— disse ela, enfiando o dedo no espaço oval do pingente —, e então estará
completo e ficará dentro.
— Acho que sim. É apenas um pouco decepcionante — Ele fez beicinho. —
De qualquer forma, para o alto e avante. Vamos descobrir o que é esta última
peça.
Ana assentiu e se levantou enquanto Ezra embrulhava o athame e o pingente
em um pano e o colocava de volta na gaveta com segurança. Ela caminhou até
onde o Livro das Sombras de Marion estava na estante de livros. Tinha o mapa
que tinham encontrado em cima, e ela o ergueu com os dedos, olhando-o
pensativa. O primeiro círculo era a pequena cidade Blackrock, onde encontraram
o athame. A segunda era em torno de uma velha casa em que Thomas Harrow
havia morado antes da mansão ser construída, então não havia ajudado em
encontrar o pingente. O terceiro círculo era enorme. Envolvia toda a área de uma
densa floresta a oeste, estendendo-se por 160 quilômetros.
— Como exatamente isso deve nos ajudar com a localização do último
objeto? — Ana perguntou enquanto mordia o lábio em pensamento.
— Bem, como dissemos quando o encontramos, não é um mapa exato —
Ezra disse enquanto vinha atrás dela. — São apenas os locais gerais de onde eles os
deixaram. Eu acho que eles tiveram que mantê-lo vago no caso de alguém fora da
linhagem da família Marion colocar as mãos nele. Alguém da linhagem teria
decodificado aquele pergaminho original em segundos e saberia exatamente o
que os enigmas significavam. Estamos em desvantagem dessa forma.
— Então precisamos virar a mesa a nosso favor. Você tem o último enigma
aqui? — Ana questionou.
— Tenho — Ele sorriu quando chegou na frente dela e levantou a parte de
trás do livro, onde havia colocado uma fotocópia do pergaminho. Ele o achatou
e o colocou em cima do mapa, passando o dedo por ele e apontando para a última
pista.
A última de nós que você precisa adquirir,
é tão bonita e mais rara do que qualquer outra anterior.
Vermelha como sangue e dura como pedra,
você vai me encontrar abaixo onde a banshee gemeu.

— Vermelho como sangue e duro como pedra — disse Ana enquanto o lia
repetidamente. Ela inclinou a cabeça e olhou por cima do ombro para a gaveta
onde estavam o athame e o pingente. — Ele vai para dentro do espaço que resta
no athame, no centro do buraco do pingente. O que seria vermelho como sangue
e duro como pedra, está esculpido em uma forma oval perfeita para caber naquele
buraco vazio do anel de ouro e está faltando em uma adaga decorativa? — Ela
sorriu, olhando para ele.
— Bem, tradicionalmente, athames eram cobertos de…
— Joias — Ana anunciou, pulando de emoção. — Ou um diamante
vermelho ou um rubi vermelho, algo nesse sentido. Estamos procurando algo
brilhante e bonito!
— Oh, Deus — Ezra riu, afastando-se dela para se sentar à mesa novamente.
— Você sabe que não pode usar, certo? É uma peça sagrada.
— Ah, mas eu posso sonhar, certo? — Ana disse enquanto olhava-o de lado,
mordendo o lábio.
Ezra balançou a cabeça com uma pequena risada e puxou alguns livros da
mesa. Ele os abriu, folheando títulos sobre folclore e criaturas míticas.
— Então, o que é uma banshee? — Ana perguntou enquanto cruzava os
braços sobre o peito e o olhava enquanto ele estudava os textos.
— Uma banshee é um espírito feminino que às vezes é visto como uma
senhora velha e escarpada com olhos vazios. Às vezes, ela é uma bela donzela ruiva
que lava o sangue de peças de roupa. Mas, independentemente de sua aparência,
é a mensageira da morte. Você a vê quando você ou um ente querido está perto
da morte, e quando ela grita, é o som de seu reconhecimento de que uma alma
deixou um corpo mortal.
Ana estremeceu e sentou-se ao lado dele novamente, esfregando os braços
para trazer calor para eles. Estava frio aqui no porão agora, mas ela não tinha
certeza se essa era a causa de seu calafrio ou a história dele.
— Há alguma menção de uma história ou avistamento de uma em algum
lugar nesta floresta? — Ana perguntou enquanto apontava para o lugar no mapa
que estava circulado.
— Chama-se Westwood Forest, e não, não que eu saiba, mas criaturas
mágicas e folclore não são realmente minha área de especialização — Ezra disse
enquanto virava a página de seu livro.
Ana mordeu o lábio pensativa. Eles tinham três dias para encontrar o último
objeto para que ela pudesse digitar a matéria e enviá-la para Elianna. Se fosse boa
o suficiente, ela não a demitiria, e ela não teria que escrever aquela outra matéria.
— Bem, se bem me lembro, é a área de especialização do seu pai. Podemos
ligar e perguntar a ele?
— Não — Ezra disse bruscamente, sem tirar os olhos de seu livro enquanto
lia.
Ana suspirou e descansou a cabeça na mão em cima da mesa.
— Mas Ezra, temos três dias para encontrar o último objeto, e não temos
pistas, ele poderia realmente nos ajudar…
— Ana, eu disse não — Ezra disse novamente quando finalmente a olhou de
seu livro. — Prefiro arrancar meus olhos com uma colher enferrujada do que ter
aquele homem perto da minha investigação. E você tem três dias. Eu tenho o
tempo que for preciso para chegar lá por conta própria. Agora você pode ficar aí
sentada fazendo beicinho para mim ou pode pegar um livro e ajudar, mas não
vamos ligar para meu pai.
Ana suspirou para ele e cruzou os braços sobre o peito, recostando-se na
cadeira de madeira e olhando ao redor do templo. Ela sabia que eles tinham um
relacionamento difícil e que seu pai havia roubado seu trabalho antes, mas eles
precisavam de ajuda, mesmo que ele fosse teimoso demais para aceitar. Ezra não
pediria a seu pai, mas talvez ela pudesse. Se ela pudesse encontrá-lo e obter sua
ajuda sem que Ezra soubesse, poderia ter uma chance de resolver isso a tempo de
seu prazo.
— Não sou muito de ler — disse Ana, olhando-o de lado e tentando não
parecer suspeita —, mas poderia ir à biblioteca e usar o computador. Tenho
certeza de que poderia encontrar algumas boas pistas online. Posso pegar
emprestado o carro?
Ezra franziu a testa em confusão quando se virou para olhá-la, sorrindo.
— Você é jornalista. Que tipo de jornalista não lê?
— Uma que está muito ocupada escrevendo e correndo atrás de homens
estranhos em lugares estranhos para roubar coisas — Ana franziu o cenho. Na
verdade, ela era uma leitora, mas precisava de uma desculpa para fugir. Ela
estendeu a mão e torceu os dedos. — Chaves.
Ezra deu de ombros, enfiou a mão no bolso e a entregou, então olhou de volta
para seu livro.
— Certo. Eu não posso ler com você latindo no meu ouvido de qualquer
maneira.
— Obrigada. Estarei de volta mais tarde — ela disse enquanto se levantava da
cadeira e caminhava até a porta.
— Alface, tomate, cebola e mostarda — Ezra murmurou enquanto ela se
afastava.
— O que? — ela perguntou, olhando por cima do ombro para ele quando
chegou às escadas.
Ezra a olhou com um sorriso de onde estava lendo, recostado na cadeira.
— O molho que eu quero no meu hambúrguer que você vai me trazer para o
almoço quando voltar. Alface, tomate, cebola e mostarda.
Ana revirou os olhos e começou a subir as escadas, tirando o celular do bolso
e entrando nos fundos da loja. Ela digitou Alexander Sullivan: Professor em seu
mecanismo de busca e leu a lista de resultados. Ela encontrou a universidade em
que ele lecionava e onde ficava seu escritório, anotando mentalmente o endereço
e depois colocando o telefone de volta no bolso. Agir pelas costas de Ezra assim a
fez se sentir mal, mas o que Ezra não sabia não poderia machucá-lo. Certo?
— Você precisa ir para casa, senhorita. Eu não vou avisá-la novamente.
Ana virou-se rapidamente de onde estava nos fundos da loja. A velha senhora
de antes estava atrás dela nos degraus que levavam ao porão.
— Vá! Saia antes que se meta em problemas dos quais você não pode sair! Xô!
— ela retrucou, acenando com a bengala para ela enquanto cambaleava para
frente.
— Estou saindo, estou saindo! — Ana cambaleou pela loja e saiu pela porta
da frente em um piscar de olhos.
Capítulo 21

Ana sentou-se dentro do carro de Genevieve, em frente à universidade. A viagem


foi curta e, quando chegou, estava sentada dentro do carro segurando o volante
com tanta força que os nós dos dedos estavam brancos. Ela tinha uma sensação
de roer em seu estômago que puxou sua consciência, fazendo sua cabeça latejar e
sua pele ficar fria. Ezra ficaria furioso se soubesse que ela estava aqui, mas ela não
podia deixar sua teimosia arruinar suas chances de terminar esta investigação
antes do prazo. Ela respirou fundo enquanto contemplava suas opções, então
antes que tivesse a chance de se convencer disso, ela tirou as chaves da ignição e
pulou para fora do carro com a bolsa no ombro.
O bloco de história da universidade era grande, mas não tão grande que fosse
difícil de navegar. Era uma construção nova, com paredes de pedrinhas cinzentas
e grandes janelas de vidro. Os alunos estavam saindo pelas portas depois de suas
palestras, correndo pelos degraus e pelos gramados para a liberdade. Ela abriu
caminho entre os corpos que saíam e entrou no salão principal, onde verificou a
lista de professores e o mapa correspondente às salas de aula. Ela correu o dedo
pela lista até encontrar o nome dele.
História da feitiçaria e do folclore, Professor Sullivan, sala de aula dois.
Ela sorriu, então se virou e seguiu os sinais que a levaram pelos longos
corredores sinuosos. Ela passou por vitrines cheias de recordações de histórias e
páginas de explicações pregadas nas paredes. Depois de chegar à sala de aula, ela
enfiou a cabeça pela porta. Alguns retardatários permaneceram, mas na maior
parte, a sala de aula estava vazia. Os assentos desciam do alto, perto da parede, até
o chão, onde as enormes lousas revestiam as paredes. Uma grande mesa estava no
meio da sala, e ao lado dela, folheando sua pilha de papéis, Alexander estava de
pé. Ele parecia tão diferente vestido em um terno marrom normal em oposição
ao manto de pele preta e camisa branca do Rei Oak que usava da última vez que
ela o viu.
Ela limpou a garganta e desceu os degraus, dando-lhe um aceno tímido para
chamar sua atenção.
— Professor Sullivan, você tem um momento?
— Eu já disse a todos, não haverá extensão — disse Alexander sem olhar para
cima, mas quando ela limpou a garganta novamente, ele tirou os óculos do rosto
e a olhou, piscando. — Oh. Minhas desculpas, Senhorita Davenport.
Ana sorriu enquanto acenava e se aproximava dele. Quanto mais perto
chegava dele, mais ela se lembrava de como ele se parecia com seu filho. Eles
tinham os mesmos olhos e o mesmo maxilar. A semelhança a fez pensar em Ezra,
e seu estômago revirou com uma culpa tão forte que ela teve que falar sobre isso
para fazê-la desaparecer.
— Boa tarde, professor. Não sei se você se lembra, mas da última vez que
conversamos, disse que se chegássemos a um ponto em nossa investigação em que
não pudéssemos progredir, poderíamos pedir conselhos a você. Se essa oferta
ainda estiver de pé, tenho algumas perguntas que gostaria de fazer a você. Tem
tempo? — perguntou Ana.
Alexander sorriu e colocou sua pilha de papéis de lado antes de se sentar na
beirada de sua mesa e cruzar os braços sobre o peito.
— Claro que sim. Espero poder ajudá-la — Ele inclinou a cabeça, dando uma
pequena risada. — Você parece nervosa. Meu filho não tem ideia de que você está
aqui, não é?
Ana deu um sorriso tímido e balançou a cabeça lentamente.
— Não. Para ser honesta, quando pedi para ele ligar para você, ele foi muito
incisivo sobre o fato de que você não estava envolvido.
— E ainda assim você veio de qualquer maneira — Alexander deu de ombros,
suspirando enquanto olhava para o chão. — Ele lhe disse por que me odeia tanto?
— Sim. Eu posso entender o raciocínio dele. Eu também não seria sua maior
fã se fosse Ezra — Ana disse honestamente enquanto colocava sua bolsa no chão
e se sentava em uma das cadeiras de palestra.
— Eu posso ver como a versão dele dos eventos faria você se sentir assim, Ana.
Eu não fiz isso para irritá-lo, sabe. Não roubei dele para fazer meu nome; eu já
tinha meu nome. Ele era preguiçoso e priorizava beber e festejar em vez de
descansar para a entrevista. Levei sua pesquisa e as moedas que encontrou para a
reunião para ele, e acho que eles cometeram um erro. Ezra era novo no trabalho e
não declarou claramente que o achado era dele, e eles interpretaram errado e
presumiram que o Sr. Sullivan era eu. Então, documentaram como tal porque fui
eu quem levou para eles. Eu pensei que estava ajudando ele, mas isso explodiu na
minha cara. Corrigi o erro assim que soube. Você pode checar. — Ele suspirou,
olhando para os pés sem jeito.
Ana mordeu o lábio enquanto o ouvia. Parecia plausível. Talvez Ezra estivesse
pensando demais e se sentindo magoado com isso, mas algo lhe dizia que
Alexander não estava sendo completamente sincero. Ela simplesmente não
conseguia colocar o dedo sobre o que era.
— Com todo o respeito, professor, não estou aqui por causa das moedas ou
do relacionamento com seu filho — disse Ana, pegando na bolsa e tirando o
bloco de notas.
— Ah, sim. O mistério do clã Marion. A caixa, o pergaminho. É uma
descoberta muito fascinante para vocês dois, embora eu suponha que se estão
aqui, não está indo bem? O que você precisa de mim? — O sorriso de Alexander
se renovou, e olhou para ela, abrindo as mãos.
— Bem, um dos objetos pertence a banshees. Você conhece elas, sim? —
perguntou Ana. Ele tinha uma sobrancelha levantada para ela, e ela corou e
gaguejou — Claro que sim. Desculpe. Sabe se houve algum avistamento na área
da Floresta de Westwood?
Alexander empurrou-se para fora de sua mesa e se moveu em torno dela para
a pilha de livros de mitologia e folclore que tinha empilhado ordenadamente na
ponta.
— Houve avistamentos de banshees por toda esta terra, desde que qualquer
um pode se lembrar. Elas são uma entidade interessante. Na aparência, podem ser
bastante ameaçadoras, mas são inofensivas.
— Elas não são os portadoras da morte ou algo assim? Foi o que Ezra me disse
— Ana disse enquanto o observava onde ele estava folheando um dos livros.
— Não, não exatamente. Elas não trazem morte para aqueles que as vêem ou
ouvem. Elas são um presságio. O grito delas não o mata, mas elas podem sentir a
morte. Quando sentem que alguém morreu, seu grito confirma para todos ao
redor ouvirem. Mas principalmente, as banshees são ligadas ao sangue — disse
ele, folheando as páginas de seu livro e escolhendo uma.
— O que significa ligada ao sangue? — Ana perguntou enquanto rabiscava
em seu caderno.
— Hoje em dia, uma família pode ter animais de estimação como um
cachorro ou um gato, mas as antigas famílias que se estabeleceram aqui muito
antes de qualquer outra, tinham banshees. Elas estão ligadas a uma linhagem
familiar, um por nome de família, e ficam com eles para sempre. Elas uivam alto
três dias antes de um membro dessa família morrer, depois dois dias antes, depois
um dia, até que finalmente seu grito perfura o ar por quilômetros ao redor. É
assim que o resto da família pode saber e se preparar. O nome Marion é muito
antigo e, que eu saiba, foi dito que tinham uma banshee ligada a eles também. —
Alexander se aproximou dela e colocou o livro na frente dela.
Ana examinou as páginas amarronzadas do livro. A escrita estava fraca, como
se tivesse ficado muito tempo no sol. A escrita falava de banshees e sua aparência,
seus traços e seus gritos, mas nada que ele já não tivesse dito. Olhando para seu
rosto nas páginas, ele voltou para sua mesa para se sentar enquanto continuava
sua história.
— Não há avistamentos que eu saiba, mas há uma história de um banshee na
floresta de Westwood. Pouco antes das queimadas no monumento em 1588, a
magia do coven Marion estava diminuindo. Depois de muito tempo de uma
generosidade de poder, a paciência dos deuses para com seus filhos estava se
esgotando. Eles exigiram um sacrifício para restaurar o poder ao coven, e assim
eles obedeceram. Havia um problema: os sacrifícios tinham que ser do sangue
Marion e precisavam ser três. Uma criança, um homem no auge e uma velha. O
coven levou o escolhido para dentro da floresta e começou o ritual. Era simples;
eles deitaram a criança, o homem e a velha senhora juntos no chão da floresta e os
cobriram com os unguentos correspondentes, convocaram os deuses com quem
haviam feito o acordo e cortaram suas gargantas. Eles coletaram o sangue de todos
os três sacrifícios em um cálice dourado, e cada membro do coven o consumiu,
restaurando seu poder ao que sempre foi.
— Isso é horrível. Como eles puderam fazer isso com sua própria família? —
Ana perguntou enquanto olhava para o caderno e ficava rabiscando as
informações.
— Tinha que ser feito. Às vezes, as coisas mais malignas devem ser feitas aos
poucos para a bondade e o bem-estar do todo. Esse é o jeito do coven. Esse é o
jeito das bruxas. — Alexander deu de ombros enquanto a observava escrever.
— E a banshee? — ela perguntou.
— Sim, durante toda a cerimônia, as banshees do Coven Marion estavam
tecendo entre as árvores e gritando até que as pessoas do coven mal pudessem
ouvir mais alguma coisa. Elas choravam e choravam a cada morte. Foi confuso
para elas, porque a cada morte, haveria uma sensação de mais a caminho.
Observando o ritual por entre as árvores estavam espiões, que contaram ao
magistrado o que havia acontecido. O resultado disso foi a morte do coven em
Monument Hill. Se você me der seu caderno, eu lhe darei as coordenadas do local
do ritual. Há um marcador deixado lá agora, para que as bruxas modernas possam
prestar homenagem. É uma estátua da interpretação de um artista da banshee. É
bem o lugar.
Ana deu um pequeno suspiro de alívio. Era exatamente o que ela precisava.
O lugar onde a banshee gemeu. Ela se levantou rapidamente da mesa e caminhou
até ele, passando-lhe o caderno e a caneta.
— Obrigada por toda sua ajuda. Esta é uma boa pista.
— De nada — disse Alexander enquanto o pegava e rabiscava as coordenadas
nele, depois o fechava e o passava de volta para ela. — Embora, talvez eu possa lhe
dar um pequeno conselho antes de você seguir seu caminho?
— Claro — Ana disse enquanto pegava o caderno de volta e caminhava até
sua bolsa.
— Se meu filho ainda está bravo comigo e insistiu que não viesse aqui, sugiro
que não diga a ele que veio. Ele não vai aceitar bem — Ele disse com um sorriso
forçado e triste.
— Eu não pretendia contar a ele. Eu disse a ele que estava na biblioteca, então
vou dizer que consegui minhas informações lá. Obrigada, novamente. Você o está
ajudando, mesmo que ele não saiba — Ana sorriu, então puxou a bolsa por cima
do ombro e voltou a subir os degraus.
— Boa sorte, Srta. Davenport — Alexander gritou atrás dela pelas escadas,
acariciando sua barba de volta no lugar.
Ana olhou-o por cima do ombro quando chegou ao topo da escada,
observando-o enquanto ele limpava sua palestra. Falando com ele, ela nunca teria
imaginado que ele fosse capaz de roubar o trabalho de Ezra. Sua desculpa parecia
plausível, e parecia razoável que a raiva de Ezra o tivesse obscurecido da verdade
do assunto.
A única verdade que ela sabia com certeza, porém, era que se Ezra descobrisse
que ela foi atrás para falar com seu pai, ele nunca mais falaria com ela.

— Hambúrguer com alface, tomate, cebola e mostarda — Ana falou enquanto


descia os degraus e entrava no templo onde Ezra ainda estava sentado à mesa. Seu
cabelo estava em todos os ângulos, como se ele estivesse segurando-o em
frustração, e embalagens vazias e xícaras de café estavam espalhadas pela
superfície.
Ele se virou em seu assento e a olhou quando ela chegou à mesa e colocou o
saco de papel em cima de seu trabalho. Ele sorriu fracamente para ela, parecendo
cansado e esgotado.
— Obrigado — Ele suspirou, estendendo a mão para abri-lo e puxando a
caixa que estava dentro. — Receio que você tenha voltado ao nada. Não consigo
encontrar nada em nenhum dos meus livros sobre uma banshee na floresta de
Westwood. Encontrei avistamentos de druidas, fadas e bruxas, mas nenhuma
banshees — Ele abriu a caixa com força e deu uma mordida com um pequeno
gemido de felicidade.
— Isso é lamentável — Ana sorriu enquanto deslizou para sentar em cima da
mesa ao lado dele e o olhou com a cabeça inclinada. — Portanto, você está
dizendo que não chegou a lugar nenhum, então?
— Você não precisa zombar; já estou chateado o suficiente, obrigado — Ezra
franziu a testa enquanto dava outra mordida e se recostava na cadeira.
Ana se recostou na mesa com as mãos e balançou as pernas alegremente,
sorrindo para ele com uma sobrancelha erguida e rindo quando ele revirou os
olhos e colocou o hambúrguer na mesa.
Ezra limpou a boca com um guardanapo e engoliu sua mordida, então cruzou
os braços sobre o peito.
— Por que você está parecendo tão presunçosa? Foi você que entrou em
pânico porque não iríamos encontrar o último item a tempo do seu prazo, e estou
lhe dizendo, acabamos de bater em uma parede de tijolos. Por que está tão feliz?
— Ah, não sei — Ana se inclinou para frente novamente e estendeu a mão
para cutucá-lo no peito. — Talvez porque eu saiba onde está o último item.
Ezra pegou seu hambúrguer novamente e deu outra mordida.
— Muito engraçado.
Ana tirou o caderno da bolsa, abriu a página em que havia escrito e leu:
— Na floresta de Westwood, o coven Marion realizou um sacrifício
ritualístico de seu próprio povo e, nesse ritual, um coro de banshees gritando foi
ouvido ecoando nas árvores. As pessoas próximas ouviram os gritos e contaram
ao magistrado local, que descobriu os sacrifícios e executou o coven no Raven
Hill Monument em 1588. O local tem um marcador na forma de uma banshee
esculpida por um artista local.
A boca de Ezra caiu aberta, e ele colocou seu hambúrguer meio comido de
lado.
— Onde diabos você encontrou isso? — ele perguntou, pulando para seus
pés.
Ana riu.
— A World Wide Web é um lugar maravilhoso, você deve tentar em algum
momento. Eu até tenho as coordenadas exatas. Se partirmos amanhã de manhã,
podemos...
Ezra puxou Ana de seus pés e perto dele, girando-a enquanto ria.
— Isso! Eu sabia que você viria a calhar!
— Ai! Tome cuidado! Minhas costelas! — Ana riu fracamente com um
estremecimento quando se agarrou a ele enquanto a girava. Ela tentou aliviar a
dor de culpa em seu estômago, mas não importava o quanto tentasse se convencer
de que tinha feito a coisa certa, ela não podia deixar de sentir que o havia traído,
mesmo que ele estivesse feliz com o resultado.
Ezra a colocou no chão novamente e beijou sua bochecha, então se moveu
para pegar seu hambúrguer novamente.
— Esta noite, vamos descansar. Amanhã, encontraremos a última peça. Está
quase acabando, Ana!
Ana deu-lhe um sorriso fraco e acenou para si mesma enquanto ele se sentava
novamente para terminar seu hambúrguer.
— Sim. Sim, está.
Ela se afastou da mesa lentamente para se distrair da culpa que estava
crescendo em seu estômago, olhando por cima das bugigangas que cobriam as
paredes e as estantes. Em uma das mesinhas havia uma moldura com velas e
pétalas de rosa ao redor. Ela caminhou até lá e examinou o rosto na foto, o rosto
da velha senhora que não parava de gritar com ela.
— Isso é estranho — Ana sorriu. — Eu não achava que ela tinha a capacidade
de sorrir.
— Quem? — Ezra perguntou ao redor de seu hambúrguer, olhando para
onde ela estava e franzindo a testa em confusão enquanto olhava para a foto. —
Minha avó? O que você quer dizer?
— Ela é sua avó? Isso faz sentido, na verdade. Ela é sempre tão rude, ou é
impressão minha? — Ana riu, olhando para ele com um sorriso.
Ezra piscou, quase derrubando seu hambúrguer.
— O que? Minha avó está morta há oito anos.
O rosto de Ana caiu, e olhou rapidamente entre a foto e o rosto dele, os olhos
arregalados e as mãos voando para a boca.
— Mas ela…
— O que? — Ezra riu, levantando seu hambúrguer novamente.
Ela levou a mão à cabeça, esfregando a dor e engolindo em seco.
— Nada, não importa.
Capítulo 22

Ana acordou repentinamente quando seu alarme tocou de seu telefone que
estava sobre a mesa de cabeceira do quarto de hóspedes de Genevieve. Ela se
espreguiçou, limpando o sono dos olhos e pegando o telefone para desligar o
zumbido. A tela mostrava 8:00.
Depois de voltar de Strange Curiosities & Wonders na noite anterior, eles
passaram a noite na ilha da cozinha de Genevieve planejando a rota que fariam
pela densa floresta de Westwood. Ezra estava animado, correndo pela ilha e
marcando pontos de interesse em um mapa com caneta vermelha brilhante. Era
uma área bonita, ele havia dito, e por mais que fossem para uma missão, ele queria
ter certeza de que apreciassem a magnificência da área enquanto estivessem lá.
Eles passaram horas planejando e organizando, bebendo e rindo juntos, que
quando seus olhos começaram a arder de cansaço e ela finalmente conseguiu
rastejar para a cama, já era quase 01h.
Ela bocejou cansada e percorreu as atualizações mais recentes que foram
adicionadas ao seu calendário online por Elianna. Ela estava checando as notícias
da manhã quando seu telefone vibrou em sua mão.
Mensagem de texto: Bexley Matthews
Ana abriu a mensagem, e olhando para ela havia três palavras simples. Liga
para mim.
Ela gemeu e apertou o botão de chamada ao lado do nome de Bexley,
pressionando o telefone no ouvido e rolando de lado para se enrolar sob os lençóis
novamente.
— Adivinha quem voltou das férias e está planejando a festa de noivado para
acabar com todas as festas de noivado? — A voz de Bexley cantou através do
telefone e em seu ouvido.
— Não sei. O nome dela é Bexley Matthews? — Ana murmurou com um
sorriso. A voz de Bexley sempre a fazia sorrir, não importa o quão cansada
estivesse.
— Por enquanto, sim! — Bexley gritou. — Então, estou pensando na segunda-
feira, primeiro, à tarde, vamos beber no Che Bon, depois jantar no Baby Jane's à
noite, depois City Blues quando o sol se pôr para uma festa. O que você acha?
— Eu acho que parece uma noite adorável, mas infelizmente para nós, meros
mortais que realmente temos que trabalhar para viver, estarei no The City Herald
até às cinco. Posso encontrar todos vocês para jantar depois, no entanto — Ana
finalmente se sentou em sua cama e esfregou o embaçamento de seus olhos.
— Eca, não. Você vai, e ponto final. Comprei o vestido perfeito para você na
França e tudo! Por favor? — ela gemeu.
Ana suspirou, mas estava sorrindo.
— Certo. Vou ver se Elianna me deixa sair mais cedo. Que tipo de vestido?
— Oh, Ana, é de morrer! Você vai amar! Eu posso levá-lo. Você está em casa?
Ana estremeceu. Ela havia esquecido de dizer a Bexley que tinha feito as pazes
com Ezra depois que ele contou a história.
— Não… eu ainda estou com Ezra — ela disse, encolhendo-se quando ouviu
Bexley ofegar.
— O que?! Você me disse que ele era um trapo!
— Não, eu não disse. Essas foram suas palavras! — Ana riu enquanto se
movia para sair da cama. — Ele se desculpou e fizemos um novo acordo. A
história está de volta.
— Novo acordo, hein? O que acontece depois que a história termina? Qual é o
arranjo então? — Ela tinha um tom de brincadeira em sua voz que fez as
bochechas de Ana corarem.
— Eu não sei — disse Ana, movendo-se para o guarda-roupa para folhear
algumas das roupas de Abby e tentando encontrar algo que fosse adequado para
uma caminhada.
Bexley suspirou do outro lado do telefone, e houve um som, como se tivesse
se movido para se sentar.
— Sim, você sabe. Você gosta dele.
Corando, Ana levantou uma regata branca fofa e um cardigã preto.
— Sim. Eu gosto — finalmente admitiu. Ela gemeu e jogou as roupas na
cama, caindo para se sentar ao lado delas. — Mas eu não posso fazer nada sobre
isso, Bex. Ele é uma fonte.
— Não depois que sua matéria for enviada, Ana. Depois disso, ele é apenas um
cara. — Sua voz era suave agora, como se ela a estivesse abraçando com suas
palavras e sentada bem ao lado dela. — Sabe, você poderia convidá-lo para ir à festa
com você. Tome-o como seu "mais um"?
Ana mordeu o lábio, pensativa. Ela queria, é claro, mas a ideia fez seu
estômago se revirar e suas bochechas ficarem quentes.
— Talvez. Vou pensar sobre isso.
— Bem, não pense muito sobre isso ou você vai se convencer disso. Vou deixar seu
vestido no seu apartamento quando você voltar para a cidade. Liga-me quando
chegar em casa, está bem? Eu te amo. — Bexley disse, um sorriso iluminando sua
voz.
— Eu também te amo, Bex. — Ana sorriu.
A linha ficou muda depois que Bexley desligou, e ela puxou o telefone do
ouvido para olhar a tela e o nome e a foto de Bexley. Fez beicinho para sua foto,
então passou o polegar sobre ela. Ela sentia falta dela.
Depois de vestir uma calça jeans, a regata branca e o cardigã preto que havia
escolhido, Ana fez a cama de Abby e arrumou tudo do jeito que estava quando
ela chegou lá, então saiu do quarto e desceu as escadas para a cozinha. Ezra e sua
mãe já estavam sentados na ilha, revisando o mapa novamente e tomando café.
— Bom dia, minha querida, venha se juntar a nós — disse Genevieve, dando
um tapinha no assento ao lado dela e empurrando a cafeteira de café para ela.
Ana sorriu enquanto se sentava ao lado dela e levantava uma das canecas da
mesa. Ela encheu a xícara com café fumegante e despejou um pouco de leite e
açúcar antes de mexê-la e levá-la aos lábios com um sorriso.
— Como está o planejamento final? Você tem uma estimativa aproximada
de quanto tempo a caminhada nos levará?
Ezra estava na metade de comer um sanduíche de bacon. Ele engoliu em seco
e passou a ela o prato com a outra metade enquanto apontava para as linhas
vermelhas que havia feito no mapa que marcava a trilha.
— Deve levar pouco mais de uma hora se mantivermos um ritmo constante,
mas a conhecendo, não o faremos — Ele sorriu enquanto olhava para ela
brincando.
Ana inclinou a cabeça para ele e pegou a outra metade do sanduíche, dando
de ombros.
— Você não está errado, mas ainda assim, rude — Ela sorriu enquanto dava
uma mordida.
— Bem, eu vou abrir a loja. Espero que vocês encontrem tudo o que precisam
hoje. Tomem cuidado. Tenham juízo sobre vocês — Genevieve disse, mais para
Ezra do que para Ana.
— Nós vamos, mãe, obrigado. Eu te ligo quando chegarmos em casa — Ezra
se levantou para beijar sua bochecha. Ela o abraçou e saiu de casa, deixando-os
terminar o café juntos.
Ana levou a xícara de café aos lábios, enquanto Ezra dobrava o mapa em um
retângulo perfeito, que ele então enfiou na mochila.
— Ezra — ela disse, seu rosto ficando vermelho.
— Hum? — ele cantarolou em resposta enquanto se ocupava enchendo
garrafas de água para eles e colocando-as na mochila, junto com lanches e uma
bússola.
Ana mordeu o lábio. Ela sabia que depois que eles encontrassem este último
objeto, não teria motivos para vê-lo. Por mais que não quisesse admitir para si
mesma, ela não queria deixá-lo e nunca mais vê-lo.
— Eu, hum… — ela começou, então tomou um gole de seu café para se
distrair.
Não. Era uma má ideia.
— Deixa para lá.
Ezra parou o que estava fazendo e se virou para ela, a sobrancelha erguida e
um sorriso puxando os cantos de sua boca.
— O que? Você não pode simplesmente começar a dizer algo e parar. O que
foi?
Ana corou novamente e colocou a xícara na mesa, limpando a garganta.
— Eu… Bem, Bexley ligou esta manhã quando acordei. Ela está em casa,
noiva, feliz e com vontade de uma festa.
Ezra sorriu para ela e cruzou os braços pacientemente enquanto esperava que
ela chegasse ao ponto.
— E?
— E-e ela me disse que vai dar uma festa de noivado primeiro, e eu vou
obviamente. Ela é minha melhor amiga, então é meio que meu trabalho, e ela disse
que eu poderia ter um acompanhante — Ela finalmente olhou de sua xícara para
seu rosto sorridente. — Eu imaginei, sabe, quando encontrarmos o último item
e tivermos resolvido o mistério da caixa e eu tiver enviado minha matéria para
Elianna, talvez nós mereçamos comemorar? Se você quiser ir comigo, quero
dizer…
Ezra sorriu e saiu de onde estava enchendo sua mochila para se sentar ao lado
dela na ilha, apoiando-se em cima dela com o cotovelo e observando-a de perto.
— Você acabou de me convidar para um encontro, Senhorita Davenport?
O rosto de Ana estava vermelho até as orelhas agora, e ela se encolheu de
vergonha quando ele se inclinou para mais perto dela.
— Não — ela disse, balançando a cabeça rapidamente, então engoliu em seco
quando ele não disse nada de volta. — Ok, talvez eu tenha feito.
Ezra inclinou a cabeça e manteve os olhos nela, mesmo quando ela pegou a
xícara de café nas mãos e desviou o olhar novamente.
— Eu adoraria ser seu acompanhante na festa de noivado de Bexley, Ana.
Ela olhou para ele rapidamente, mordendo o lábio e respirando fundo.
— Ok.
— Ok — Ezra disse com uma risada.
Um momento de silêncio se passou entre eles antes que Ezra se levantasse da
mesa e estendesse a mão para ela pegar.
— Mas primeiro, vamos terminar o que começamos, hum?

A floresta de Westwood ficava a uma hora e meia de carro da casa. Ezra estava
cantarolando o rádio baixinho enquanto dirigia, fazendo com que Ana se sentisse
sonolenta enquanto se recostava no banco e descansava a cabeça contra a porta
do carro. Ela observou como a estrada deu lugar a belas colinas e árvores altas e
imponentes. Estava chuviscando hoje, e as nuvens pairavam baixas em um manto
de névoa que serpenteava sobre os vales e através da linha das árvores, dando à
paisagem uma antiga sensação mística que fazia sua pele formigar. Ela se
espreguiçou sonolenta e virou a cabeça para olhar para Ezra enquanto ele se
concentrava em dirigir. Eles não tinham passado por outro carro por quilômetros
agora, e parecia que eles estavam perfeitamente sozinhos no meio do deserto.
— Aqui estamos — ele disse enquanto virava a cabeça para olhá-la, pegando-
a olhando para ele.
Ezra sorriu e puxou o carro para uma pequena área de cascalho e o
estacionou. Ele tirou a mochila do banco de trás e a colocou no colo, então enfiou
a mão dentro e tirou o mapa e a bússola.
— Você está pronta?
— Acho que sim — disse Ana enquanto saía do carro e fechava a porta,
olhando para as árvores que se erguiam sobre eles. Elas eram densas, e quando ela
se aproximou do caminho, descobriu que estava escuro dentro da floresta. Ela fez
uma pausa em sua caminhada e olhou por cima do ombro para ele, esperando que
se juntasse a ela.
— Não fique com tanto medo — Ezra sorriu, colocando a mão nas costas
dela e empurrando-a para frente suavemente para que começasse a andar
novamente. — Não houve um avistamento de lobo aqui em anos.
Ana piscou enquanto caminhava com ele, puxando o cardigã para mais perto
de si e cruzando os braços contra o peito. Estava úmido, mas de alguma forma sua
pele ainda estava fria, como se a atmosfera do lugar permanecesse em sua pele.
Ezra abriu o mapa e verificou sua bússola, então endireitou seu caminho e cruzou
entre as árvores.
— Você nunca me explicou o que era aquela coisa que veio para mim em seu
quarto — disse ela, ficando perto dele e olhando por cima do ombro.
Ezra franziu a testa enquanto caminhava, encolhendo os ombros.
— Eu serei honesto. Acho difícil falar com você sobre essas coisas quando sei
que acha que é besteira.
— Isso é justo. Sei que não sou a mais aberta das pessoas, mas o que vi naquela
noite não foi normal. Estou começando a pensar que ou eu estava com privação
de sono ou sonhei, mas de qualquer forma, parecia real e eu estava com medo —
Ana disse, olhando para ele enquanto caminhavam. — Ainda estou com medo,
então mesmo que eu não acredite na sua explicação, não é porque não quero. Só
estou com medo de que, se eu acreditar em você, isso se torne real, e se for real...
— É real, Ana — Ezra a cortou. — Os mensageiros das sombras são criaturas
simples. Eles não são maus ou bons. Eles não são sencientes o suficiente para fazer
julgamentos, na verdade. Quando alguém que pratica o ofício precisa que algo
seja feito, mas não pode fazê-lo ou chegar lá sozinho; eles podem lançar um feitiço
para criar um mensageiro das sombras. Pode ser para qualquer coisa, mas quanto
mais forte a bruxa, mais longe pode enviar seu mensageiro e mais pode fazê-lo
fazer. Quando éramos crianças, Abby costumava fazê-los quando estava
aprendendo. Não havia outras crianças por perto para brincar, então ela fazia um
com o propósito de brincar conosco, e quando o propósito estava completo, ele
desaparecia. Eles não podem pensar e não têm sentimentos, e eles só podem ter
uma razão de existir. Essa pessoa que está atrás dos objetos que estamos
procurando obviamente não pode se aproximar o suficiente de nós para pegá-los
ou não quer se revelar pessoalmente. Obviamente, a melhor maneira de nos
assustarem e desistirmos deles, seria aterrorizar a pessoa que não sabia o que estava
procurando para dar a localização dos objetos ou entregá-los para fazê-lo parar.
— Quase funcionou. Se você não estivesse lá… — Ana começou, mas se
impediu de terminar a frase. — Se você não tivesse entrado quando veio, acha que
aquela coisa poderia ter me machucado? — ela perguntou, a imagem do
segurança pendurado piscando em sua mente.
— Sim. Se o objetivo que a bruxa incutiu no mensageiro das sombras fosse
matá-la, ele o teria matado. Felizmente, você tem a mente afiada. Esse foi um bom
truque, com sua câmera a propósito — Ezra sorriu.
— Obrigada, eu acho — Ana disse enquanto dava de ombros e continuava
andando, tentando não tropeçar em árvores caídas e pedras cobertas de musgo
enquanto eles caminhavam pela floresta.
Eles caminharam pelo que pareceram horas, pulando sobre tocos e madeira
podre, sobre pedregulhos e através de musgo molhado que parecia afundar no
chão. A névoa era espessa dentro da floresta, tornando difícil ver através das
árvores à frente, e ainda mais difícil ler a terra para dizer onde eles estavam no
mapa. Finalmente, quando suas pernas queimavam e sua respiração era irregular,
Ana olhou para uma pequena clareira que surgiu do nada. Bem no meio da
clareira havia uma estátua de pedra, cujas feições a fizeram se encolher e se abaixar
atrás do ombro de Ezra e apontar em sua direção geral.
— A banshee — Ezra sorriu, piscando amplamente para isso.
Ele enfiou o mapa e a bússola na mochila e pegou a mão dela, caminhando
com ela pela clareira enevoada e até a estátua, onde a olhou com admiração. A
velha escarpada vestia um manto de tecido puído e as mãos ossudas o agarravam
no que parecia uma agonia. Seu rosto estava voltado para o céu, e os buracos onde
seus olhos deveriam estar estavam completamente vazios. A água da chuva se
acumulava nos buracos e escorria por seu rosto como lágrimas enquanto ela
gritava seu grito silencioso, seu rosto inundado de tormento.
— Isso não é nada assustador — disse Ana sarcasticamente enquanto engolia
em seco e segurava o ombro dele, tentando se proteger da imagem dela.
— Ela é perfeita — Ezra disse enquanto passava as mãos sobre a pedra,
admirando a habilidade. — Sabe quanto tempo isso levaria para esculpir?
— Ezra, é moderno. Não estaria aqui durante o tempo que estamos
procurando, não é onde está o objeto — disse Ana, começando a olhar ao redor
da clareira em busca de outros marcadores que estariam lá em 1588.
— Essa não é a questão. Quem fez isso é extremamente habilidoso — ele disse
enquanto a olhava.
— Ezra! — Ana retrucou, dando-lhe um empurrão para sacudi-lo de volta à
sua tarefa. — Foco, por favor? Este lugar está me assustando. As pessoas foram
sacrificadas aqui.
— Oh. Sim, acho que seria assustador para algumas pessoas — Ezra disse
enquanto se afastava da estátua e a olhava. Ela estava franzindo a testa para ele, e
ele ergueu as mãos. — O que? Acho tranquilo, só isso.
— Você é tão estranho — disse Ana, não sendo capaz de parar o sorriso que
se curvou em sua boca com o sorriso idiota que ele tinha no rosto.
— Obrigado. Agora, olhe ao redor das bordas das árvores para qualquer
marcador que possa ter o sigilo do coven Marion nele. Os dois últimos itens
tinham o sigilo, então faria sentido que este também fosse marcado — Ezra disse
enquanto se afastava dela e se aproximava das árvores do lado oposto do Banshee.
Ana o observou se afastar dela, sorrindo para dele. Ela caminhou até a borda
das árvores do outro lado e passou por elas, usando a mão para afastar algumas
ervas daninhas e arbustos de baixo crescimento. Por mais que Ezra se sentisse em
paz aqui, isso não aplacou a sensação de náusea que se instalou na boca do
estômago dela. A atmosfera estava pesada e deixou seu peito sentindo como se ela
não pudesse respirar fundo e limpo. Ela passou um tempo andando ao redor das
árvores, e quando sentiu que tinha esgotado todas as áreas ao seu redor, desistiu e
procurou por Ezra, imaginando se ele tinha tido mais sorte.
Ezra se foi. Pelo menos, ela não podia vê-lo de onde estava. Ele não estava na
clareira ou ao lado da banshee, ou em qualquer lugar perto do forro das árvores
onde ela o havia deixado. Seu coração bateu mais rápido, e ela tropeçou para
frente.
— Ezra?! — ela gritou, sua respiração vindo em pequenas nuvens de sua boca.
Com o canto do olho e logo atrás de si, poderia jurar que viu algo se mover.
Ela gemeu onde estava, os pés congelados no chão e os cabelos na nuca arrepiados
e formigando.
Algo se moveu novamente para a esquerda, e ela virou a cabeça para trás,
olhando ao redor freneticamente para encontrar o que a estava observando, mas
não havia nada. Nada além de névoa e árvores.
— Ezra! — ela chamou novamente.
O medo tomou conta de seu coração quando ela ouviu algo se mover atrás
dela novamente, um correr de folhas e um estalar de galhos como se estivesse sob
o pé de alguém. O som ecoou como uma bala, e trouxe a sensação de volta aos
seus pés e ela correu o mais rápido que pôde de volta para a clareira, tentando
ignorar o som dos pés correndo que a perseguiam. Em sua pressa, ela não viu a
pedra que estava coberta de musgo, e seu pé bateu nela. Ela caiu, derrapando na
clareira com um grito doloroso enquanto se ajoelhava e olhava de volta para as
árvores procurando o que quer que a estivesse perseguindo.
Não havia nada.
— Ana!
Ezra estava chamando por ela, vindo por trás dela e caindo de joelhos onde
ela estava segurando seu pé e tremendo, seus olhos focados na linha das árvores.
— Havia alguém nas árvores! — Ana gritou, esfregando a dor do pé.
Ele se levantou e caminhou até a linha das árvores, procurando por qualquer
movimento, mas se alguma coisa estava lá, não estava mais.
— Está tudo bem. Ninguém está lá.
— Onde você estava? — Ana perguntou enquanto se movia lentamente para
ficar de pé, pressionando o pé para ter certeza de que ainda podia andar sobre ele.
Uma dor surda subiu por sua perna, mas passou rapidamente.
— Eu estava nas árvores. Ouvi você chamando, mas eu não podia vê-la. Você
está bem? — Ezra perguntou enquanto se virava para olhá-la.
— Sim, estou bem. Eu tropecei em uma pedra — ela disse enquanto apontava
para uma pedra coberta de musgo. Pela força de seu pé colidindo com ela, o
musgo foi parcialmente arrancado e, olhando mais de perto, pôde ver algumas
pequenas marcas nela. Ela piscou, tirando os olhos da rocha e depois olhando
para o rosto dele. — A rocha!
Ezra parecia confuso, mas quando olhou para onde o dedo dela estava
apontando, seus olhos se arregalaram e ele caiu de joelhos ao lado dela, passando
a mão sobre o musgo na rocha e puxando-o em pedaços. Quanto mais puxava,
mais a pedra revelava suas marcas e, depois de um momento, ele se sentou de
joelhos e ofegou em estado de choque. Era o sigilo do coven Marion.
Ele se arrastou até onde sua mochila estava no chão ao lado de Ana e a abriu
rapidamente, tirando uma pequena pá que tinha uma picareta na ponta.
Rastejando de volta para a rocha, Ezra estendeu a mão para agarrá-la com as mãos
e a puxou. Levou um momento para se soltar de onde havia afundado no chão,
mas depois de alguns puxões, ele conseguiu levantá-la e rolar para o lado na
folhagem.
— Espere — disse Ana, ficando de joelhos e vindo para o lado dele enquanto
segurava seu ombro, examinando as bordas das árvores.
Ezra olhou para cima e seguiu o caminho de seus olhos, mas não viu nada.
— Não tem nada, Ana, ok? O que quer que tenha se foi, e mesmo que não
fosse, não vou embora sem este último item.
Ana engoliu em seco e o olhou quando teve certeza de que as árvores estavam
quietas, e ela acenou para ele lentamente para continuar.
Ele acenou de volta e pegou o lado da picareta da pá antes de atingi-la no chão.
Quanto mais ele batia nela, mais o solo rochoso se lascava e revelava um solo mais
macio. Ele sorriu, então virou a picareta para o lado da pá e cavou, puxando o solo
para cima e para longe freneticamente. O solo cobria seus joelhos e sujava suas
mãos enquanto usava a mão livre para puxar o solo mais rapidamente, finalmente
encontrando um velho saco de lona apodrecido. Suas mãos tremiam em
antecipação. Jogando a pá de lado e se posicionando de joelhos, ele enfiou a mão
dentro do buraco e puxou a bolsa, sorrindo para ela.
— Pronta?
Ana sorriu ao ver quão animado e brilhante seu rosto estava e quão
suavemente ele estava embalando a bolsa.
— Pronta.
Ezra assentiu e abriu a bolsa o mais gentilmente que pôde, enfiando a mão
dentro. Quando puxou a mão, ela viu algo vermelho entre os dedos e descansando
na palma da mão. Ele estendeu a mão para ela e abriu os dedos, revelando uma
linda joia vermelha. Suas facetas eram afiadas, moldando-a em uma bela forma
oval que se encaixava perfeitamente no meio de sua palma.
— Você achou! — Ana engasgou, estendendo a mão para correr o dedo sobre
sua superfície lisa com uma risada. — Você achou.
— Nós achamos — Ezra disse enquanto a observava com um sorriso. — Nós
não estaríamos aqui se não fosse por você abrir a caixa em primeiro lugar ou
encontrar as informações para chegar aqui. Obrigado — A mão dele se fechou ao
redor da dela, segurando a sua mão e a joia na dele antes de rir e puxá-la para perto
dele para que pudesse trazer seu rosto para o dele e beijá-la.
Ana piscou contra ele, mas relaxou rapidamente, sorrindo suavemente contra
seus lábios. Seu coração bateu contra as paredes de seu peito e bateu em seus
ouvidos quando ele se afastou dela e abriu a boca para dizer algo, mas ela o
interrompeu colocando os dedos em seus lábios para silenciá-lo.
— Cale-se? — ela perguntou, então quando ele inclinou a cabeça em
confusão, ela riu e deixou seu dedo se mover de seus lábios. Ela deixou cair a joia
entre eles e moveu as mãos para agarrar sua camisa e o puxou para si antes que
tivesse muito tempo para pensar no que estava fazendo e o beijou
completamente.
Ezra passou os braços ao redor dela para se firmar nos joelhos e a puxou para
perto dele, cobrindo a camisa branca e o cardigã preto em suas mãos enlameadas
até que ela finalmente o quebrou e se afastou dele. Ele abriu os olhos e sorriu para
ela silenciosamente, piscando algumas vezes e dando-lhe um sorriso.
— Isso foi bom.
Ana riu e lentamente soltou as mãos da camisa dele e se recostou. Seus lábios
formigavam e suas bochechas estavam coradas.
— Sim — Ela limpou a garganta. — Devemos ir, no entanto, antes que quem
estava me perseguindo nos encontre e nos mate.
Ezra fez beicinho em protesto, mas assentiu, então se inclinou para beijar sua
bochecha suavemente e pegou a joia. Ele se levantou, então estendeu a mão para
ajudá-la a se levantar e começou a limpar a sujeira de seus joelhos, mas quanto
mais limpava, mais enlameados ficavam, e ele desistiu. Ele pegou a pá e a colocou
de volta em sua mochila, então colocou a joia dentro com segurança e fechou-a.
— Pronto? — Ana perguntou enquanto o ajudava com as alças para que a
mochila ficasse presa em suas costas.
Ezra sorriu para ela calorosamente e pegou a mão dela, olhando para o seu
rosto com um aceno de cabeça.
— Vamos para casa.
Capítulo 23

A viagem de volta para a casa de Genevieve foi mais rápida do que a viagem para
a floresta de Westwood. Ezra estava animado para voltar o mais rápido que
pudesse para poder olhar a joia mais de perto. Eles decidiram não olhá-la no carro
no caso de serem parados e tiradas deles, ou a pessoa que os estava caçando usaria
a distração de dirigir para colocar as mãos nela.
Quando pararam na frente da casa, Ana levantou a mochila de onde estava
apoiada nas pernas e saiu do carro, puxando-a por cima do ombro e subindo a
calçada. A porta estava destrancada, e ela não perdeu tempo em abri-la e entrar
no corredor, então foi para a cozinha para colocar a mochila na ilha.
Ezra deu um suspiro de alívio quando fechou a porta da frente e caminhou
atrás dela, colocando a mão em seu ombro e olhando para a bolsa.
— Conseguimos. Eu disse que ninguém iria nos seguir.
— Só porque você diz que algo não vai acontecer não quer dizer que aconteça
— Ana disse enquanto o olhava, apoiando as mãos na ilha e mordendo o lábio.
— Posso segurar agora?
Ezra riu para si mesmo e abriu a bolsa. Ele estendeu a mão para dentro e tirou
o velho trapo podre antes de colocá-lo sobre a mesa e caminhar até a chaleira.
— Seja gentil — disse ele, levantando a chaleira e começando a enchê-la com
água, depois a colocou de volta no balcão e a acendeu.
Quando a água começou a ferver, Ana puxou o pano velho da pedra e o
aninhou na mão. Era linda, brilhantemente vermelho, mas sem graça por estar
preso em um saco podre na terra por tanto tempo. Ela caminhou rapidamente
para tirar um dos panos de limpeza de Genevieve da gaveta, abriu a torneira para
umedecê-lo e voltou para a mesa para se sentar.
Enquanto Ezra preparava o café, Ana limpou as bordas da pedra com um
dedo delicado coberto de pano. Ela limpou em cada faceta, toda a sujeira e
manchas que se instalaram ali ao longo de todos aqueles anos até que estivesse
limpo e sem marcas. Deixando o pano de lado, Ana segurou a joia contra a luz da
janela para que a luz do sol brilhasse através dela. Ao olhar para a gema, notou
como o interior parecia estar se movendo. Ela franziu a testa e estreitou os olhos,
observando como a vermelhidão no meio rodopiava, como uma pequena
tempestade de glitter vermelho que estava presa dentro.
— O que é? — Ezra perguntou enquanto voltava para a ilha e colocava as
duas grandes canecas de café na mesa.
— Algo está se movendo dentro dele — disse Ana, enquanto a entregava a ele
e pegava sua caneca de café, soprando o vapor de cima dela e tomando um gole.
Ezra ergueu a joia contra a luz.
— Isso é estranho. Esta é uma pedra preciosa sólida, não é oca por dentro.
Pelo menos, eu não acho que seja. Teremos que verificar no laboratório para ter
certeza, mas talvez haja algum tipo de líquido dentro — disse ele, colocando-a em
cima do pano velho e levando sua própria caneca aos lábios. — O que você quer
para o almoço?
— Qualquer coisa. Tudo o que você faz é incrível — Ana sorriu.
Ezra foi até os armários da cozinha e pegou ovos, leite e pão deles. Quando
começou a misturar os ovos e o leite, Ana sentou-se alegremente olhando para a
pedra, inclinando a cabeça para ela e pensando profundamente.
Estava quase no fim. Uma vez que eles fossem à loja para recolher os outros
itens e encaixá-los todos juntos, a investigação estava terminada. Ela estava triste
porque estava quase no fim, mas sentia-se orgulhosa pelo que eles haviam
conquistado, e uma bola de excitação cresceu em seu peito com a ideia de escrever
a história deles. Ela sabia que Elianna ficaria brava com ela por entregar a matéria
errada, mas se ela desse uma chance, se apenas lesse e entendesse o quão especial
era, se apaixonaria tanto quanto ela.
Ela acariciou a pedra.
— Eu não posso acreditar que encontramos. Estava exatamente onde ele disse
que estaria.
Ezra virou a cabeça para olhar para ela enquanto começava a mergulhar o pão
nos ovos e colocá-lo em uma panela.
— O que?
Ana fez uma pausa, virando a cabeça para olhar para ele e tirando o dedo da
joia.
— Nada. Eu disse que não posso acreditar que estava exatamente onde
pensávamos.
— Não foi isso que você disse — Ezra virou-se para encará-la completamente,
franzindo a testa enquanto estudava sua expressão. — Quem é ele?
— N-ninguém — disse Ana, afastando-se dele para não ter que olhar em seus
olhos quando mentiu.
— Ana — Ezra disse bruscamente, colocando a colher de pau no balcão e
caminhando até ela. — Não minta para mim. Você me disse que conseguiu suas
informações online. Quem te disse que iríamos encontrá-la lá?
Ana se contorceu em seu assento e se virou para olhá-lo por baixo do cabelo.
— Ezra, estávamos presos; você mesmo disse. Não estávamos chegando a
lugar nenhum, e eu estava com um prazo. Você era muito teimoso para ver que
precisávamos de ajuda!
Ezra deu um soco no balcão, fazendo a joia tombar e Ana pular na cadeira.
— Quem te disse onde estava, Ana? —sua voz era dura e suas sobrancelhas
estavam franzidas.
Ela engoliu em seco.
— Seu pai.
Ezra soltou um suspiro raivoso e se afastou dela, estendendo a mão para
segurar a cabeça com as mãos. Ele andou de um lado para o outro enquanto a
torrada francesa começava a queimar.
— Eu sabia. Eu sabia que não havia nenhuma chance de você encontrar essa
informação online, mas eu me convenci disso porque confiava em você, Ana! Eu
não posso acreditar que você faria isso!
Ana estava de pé e foi até ele rapidamente.
— Ezra, acalme-se! Ele é seu pai! Ele te ama e só queria ajudar! Ele disse que
sabia que você não aceitaria nenhuma ajuda, então é por isso que eu fui! — ela
disse quando estendeu a mão para tocá-lo, mas ele se afastou da mão dela como
se ela o tivesse queimado.
— Não me toque — ele retrucou e deu um passo para trás. Seus olhos estavam
com raiva, e sua voz estava trêmula, como se quisesse gritar com ela, mas estava se
segurando. — Eu disse especificamente a você que não queria que ele se
envolvesse. Eu lhe disse o que ele fez comigo na última vez que trabalhei com ele,
e você ainda...
— Ezra, ele disse que foi uma confusão! Perguntei a ele sobre isso, e ele disse
que achavam que era o achado dele porque achavam que o Sr. Sullivan era ele,
não você. Ele não te traiu! Por favor, Ezra… — Ana fungou, tentando abrir as
mãos para acalmá-lo, mas ele estava muito bravo para sequer olhar para ela.
— Você é tão ingênua, Ana! — Ezra gritou, fazendo-a estremecer e dar alguns
passos para trás. — Não deveria importar se ele não fez isso ou não. A questão é
que eu lhe disse que preferia não investigar isto a ter a ajuda dele. Sabe o que você
tem feito? Na verdade, acho que sabe. Você simplesmente não se importa com
nada nem com ninguém, desde que termine sua maldita matéria a tempo, certo?
Diga-me que estou errado!
Ana fungou e enxugou as bochechas enquanto ele gritava com ela, então
lentamente se sentou à mesa novamente.
— Você sabe o quanto estou trabalhando duro. Sabe que eu preciso disso
também, certo, Ezra? Por favor. Você deve admitir, a informação dele é a única
razão pela qual temos isso — Ela disse, acenando para a joia.
Ezra teve que desviar o olhar dela para que pudesse se acalmar. Ele levantou a
panela do fogão e jogou-a na pia rudemente, o metal chiando quando atingiu a
água.
— Eu disse que teria resolvido se me desse o tempo que eu precisava, mas você
me traiu. Eu pedi para você fazer uma coisa, e você nem poderia fazer isso por
mim. Trabalhei tanto nisso, já me meti em tantos problemas por causa de você,
coisas que nem imagina… — disse ele, impedindo-o de terminar a frase. Ele
balançou a cabeça e limpou a garganta antes de finalmente olhá-la — Você tem
sua história. Saia.
Ana inclinou a cabeça como se não tivesse ouvido direito e enxugou as
bochechas novamente para tentar impedir que as lágrimas pingassem do queixo.
— O que?
— Você me ouviu — Ezra disse enquanto caminhava até a mesa e enrolava a
joia de volta no pano, então a colocava de volta em sua mochila e a jogava por
cima do ombro. — Você conseguiu o que veio buscar, não foi? Então não tem
mais motivos para estar aqui — Seus olhos finalmente encontraram os dela, e ele
se inclinou para mais perto dela, fazendo-a recuar de quão zangado seu rosto
estava. — Já lhe pedi uma vez para sair. Não me faça pedir de novo.
Ezra a observou por mais um tempo, então se afastou dela e caminhou ao
redor da ilha e saiu da casa. A porta bateu atrás dele, e Ana foi deixada na cozinha
de sua mãe, olhando para a superfície da ilha em estado de choque. Sua garganta
estava apertada, e seu peito estava subindo e descendo cada vez mais rápido até
que ela finalmente se forçou a ficar de pé. Ela cerrou os punhos em bolas ao seu
lado e tentou parar de chorar enquanto cambaleava pelas escadas que levavam ao
quarto.
Ela chegou ao quarto de Abby e encontrou sua bolsa, onde se certificou de
que todas as suas coisas ainda estavam guardadas. Suas roupas estavam
penduradas em uma cadeira no final da cama, e ela as pegou, dobrando-as e
colocando-as dentro da bolsa com os olhos cheios de lágrimas. Ela teria que lavar
e enviar as roupas de Abby de volta para Genevieve pela manhã. Soluçando, saiu
do quarto novamente e desceu as escadas. Ela teve que se forçar para fora da porta
e para a luz do sol, tentando engolir o nó de culpa em sua garganta, mas ele não se
moveu.
O Volkswagen Beetle roxo havia sumido da garagem. Ela respirou fundo pelo
nariz e saiu pela boca, firmando-se e puxando o telefone do bolso da calça jeans,
onde abriu o navegador de internet e procurou por um número de táxi local,
então começou a ligação e o pressionou no ouvido.

— O-olá? Preciso de um táxi para a estação de trem, por favor.


Capítulo 24

A luz escorria pelas persianas do quarto de Ana. Ela estava de volta em sua própria
cama, em seu quarto, em seu apartamento na cidade. Ela levou horas para chegar
em casa na noite anterior quando Ezra a disse para sair da casa de Genevieve.
Quando o táxi chegou para levá-la à estação e ela viajou duas horas de trem de
volta à cidade, já passava da hora do jantar. Quando chegou em casa e observou
seu apartamento frio e escuro, ela foi direto para sua cama, puxou as cobertas
sobre a cabeça e chorou até dormir.
Já eram 14 horas. Ela estava acordada há horas, olhando para o teto e ouvindo
o casal acima dela discutindo e fazendo sexo de reconciliação com raiva, depois
discutindo novamente. Seu telefone tocou o dia todo de onde estava enfiado
dentro de sua bolsa na porta do quarto, mas ela não tinha energia para sair da
cama e pegá-lo. Ela suspeitava que fosse Bexley. Ela a havia ligado da viagem de
trem na noite anterior para dizer que estava a caminho de casa, e ela se ofereceu
para vir direto, mas ela pediu que não. Tudo o que queria fazer era se esconder.
Ela não queria ter que contar isso uma e outra vez, imaginando seu rosto zangado
e tendo que reviver a culpa.
Seu telefone tocou de novo e de novo e, finalmente, parou, deixando a sala
silenciosa novamente, exceto pela discussão abafada do casal no andar de cima.
Foi então que as batidas na porta de seu apartamento encheram o ar, e ela se jogou
na cama, olhando pela porta do quarto para o corredor. A batida veio
repetidamente. Ela gemeu e puxou as cobertas, então se levantou com as pernas
fracas e enfiou os pés nos chinelos.
— Estou indo, estou indo! — Ana gritou quando a pancada veio mais uma
vez. Ela caminhou pelo corredor até a porta, onde destrancou a corrente e abriu
a porta.
Bexley estava do outro lado. Ela tinha uma mochila preta que estava
estourando no zíper enrolada em um dos braços, uma bolsa de vestido pendurada
no outro, uma garrafa de vinho em uma mão e uma grande caixa de pizza na
outra. Ela estava ofegante, com os olhos arregalados e parecendo que ia ceder sob
o peso de tudo o que estava carregando.
— Eu tenho ligado para você o dia todo — disse ela com os dentes cerrados,
enquanto passava por ela para sua sala de estar, onde colocou a caixa de pizza e a
grande mochila de grife.
Ana fechou e trancou a porta, seguindo-a até sua sala e pegando a garrafa de
vinho branco da mão da amiga.
— Desculpe. Acabei de acordar — disse ela. Ela entrou na cozinha e pegou
seu abridor de garrafas, desatarraxando a rolha e puxando-a rudemente antes de
jogá-la de lado no balcão. Ela tomou um grande gole enquanto caminhava de
volta para a sala.
Bexley a estava olhando, seu rosto cheio de preocupação quando Ana passou
por ela e caiu no sofá.
— O que aconteceu? Converse comigo? Por favor? — disse enquanto se
sentava ao lado dela e colocava o cabelo bagunçado atrás da orelha.
Ana balançou a cabeça e tomou outro gole da garrafa de vinho enquanto
pensava nos acontecimentos do dia anterior e em como explicá-los à amiga. Ela
engoliu o gosto do vinho e a olhou de lado, seus olhos se enchendo de lágrimas
novamente.
— Eu estraguei tudo, Bex. Eu errei muito, e Ezra me expulsou de sua casa.
Acho que nunca mais vou vê-lo — Ela fungou, enxugando a bochecha.
— O que diabos você fez para fazê-lo te expulsar? — Bexley perguntou
enquanto abria a caixa de pizza e a puxava para mais perto delas. Ela levantou um
dos grandes pedaços em forma de triângulo e passou para ela. Ele foi coberto com
cogumelos e pimentas e tanto queijo que estava pingando dos lados.
Ana o agarrou e deu uma mordida faminta. Ela não tinha comido desde o dia
anterior, e seu estômago roncou alto quando sua língua provou o queijo. Ela
gemeu, recostando-se no sofá.
— Ezra não fala com seu pai. Ele roubou alguns de seus trabalhos quando
estava começando, então não confia nele. Estávamos presos na localização da
última coisa que tínhamos que encontrar, e eu disse que deveríamos perguntar ao
pai dele porque ele me ofereceu sua ajuda antes. Mas Ezra disse que não. Eu sei
que deveria tê-lo ouvido, mas meu prazo estava tão próximo! Se eu não fosse até
ele, nunca teríamos encontrado a tempo. Então, eu fui pelas costas dele e me
encontrei com o pai dele — ela fungou, dando outra mordida faminta.
Bexley suspirou profundamente pelo nariz e levantou seu próprio pedaço,
dando uma mordida menor do que Ana tinha feito e chutando seus sapatos.
— Querida, eu já te disse antes, você não deve se envolver em dramas
familiares que não são seus — ela disse enquanto cruzava as pernas debaixo de si.
— Eu não estava! B-bem, eu não acho que estava. Não achava que Ezra iria
descobrir! Mas deixei escapar, e agora ele não fala comigo. Eu tentei ligar para ele
para pedir desculpas quando estava no trem, mas ele não atendeu — ela disse
enquanto tomava outro gole do vinho.
Bexley arrancou a garrafa dela quando ela terminou seu gole.
— Este não é apenas o seu vinho — disse ela, tomando um gole e, em seguida,
inclinando a cabeça. — Só porque você não achou que ele ia descobrir não
significa que seja certo.
— Eu sei disso agora, Bex. Eu apenas… — ela começou, então suspirou e
terminou sua fatia, jogando a massa de pizza de volta na caixa. — Deixei minha
ambição para minha matéria assumir o controle e o machuquei. Eu normalmente
nunca teria feito algo assim. Sinto-me tão mal, mas ele nem fala comigo — ela
soluçou. — Eu realmente gostei dele.
Ana caiu e deitou a cabeça no colo de sua amiga, e Bexley acariciou seu cabelo
para confortá-la.
— Eu sei que gostou, amor. Eu sei. Mas se ele não quiser falar com você
depois disso, você não pode obrigá-lo. Talvez uma vez que ele se acalme, você
pode tentar ligar para ele novamente, hum? E a sua matéria? Você ainda pode
escrevê-la?
Ana deitou de costas e olhou para a amiga com a cabeça no colo. Ela deu de
ombros, balançando a cabeça e enxugou as bochechas enquanto parava de chorar.
— Não. Quer dizer, ele não disse que eu não poderia, mas deu a entender.
Então, depois de tudo isso, estou de volta à estaca zero e tenho que escrever aquela
história original caluniando-os. Eu não quero ter que fazer isso. Eu estava me
esforçando tanto para não ter que fazer isso.
— Bem, você não tem muitas opções, Ana. Ezra a chutou para o meio-fio, de
novo, e como disse, você nunca mais vai vê-lo, certo? Escreva sua história, tire
tudo da cabeça e mande para Elianna. Depois de enviar, acabou. A história
acabou, Ezra se foi, ele provavelmente nunca vai ver de qualquer maneira. Então
você pode seguir em frente — Bexley disse enquanto acariciava a cabeça, sorrindo
para ela. — Enquanto isso, para te ajudar a superar essa quase separação, temos
pizza, muito vinho, chocolate e salgadinhos, filmes para assistir e a melhor parte:
um vestido de alta costura francês novinho em folha, só para minha melhor amiga
— Ela empurrou o nariz suavemente.
Ana finalmente sorriu, olhando-a através de um pequeno beicinho.
— Eu já te disse o quanto eu te amo e a aprecio ultimamente?
— Não ultimamente, mas você não precisa. Eu sei que sou incrível. — Bexley
riu.
Ana sorriu fracamente e sentou-se novamente, sentando-se lado a lado com a
amiga e estendendo a mão para pegar a garrafa dela e tomando um grande gole.
— Ok. Vamos festejar, então.
— Essa é a Ana que eu conheço e amo! — Bex sorriu, cutucando-a enquanto
ela se levantava da cadeira e ligava a televisão. Ela zapeou os canais até chegar a um
que mostrava reprises de um programa de TV dos anos 90 que elas adoravam. —
Perfeito. Está pronta para ver seu vestido para a minha festa?
Ana assentiu enquanto colocava sua garrafa de lado na mesa e renovou seu
sorriso. A ideia de um lindo vestido novo empurrou sua culpa por Ezra para fora
de sua cabeça.
— Estou tão pronta.
Bexley saltou de excitação enquanto colocava o controle remoto na mesa e
pegava a bolsa do vestido. Ela abriu o zíper e puxou o cabide, deixando a bolsa
cair do vestido, e então o virou para ela ver.
Ana ficou boquiaberta com o vestido. Era um longo e lindo vestido de renda
que fluía em camadas de tecido dourado rosa claro. Ele balançou lindamente e,
quando o fez, a luz refletiu nas partes brilhantes do corpete que continuou por
todo o vestido até a bainha na parte inferior. O decote era em formato de coração
e tinha alças finas que se conectavam nas costas próximo à cintura, deixando as
costas expostas. Bexley moveu o cabide em um movimento oscilante para que ela
pudesse ver como ele fluía no ar, e Ana pulou de pé, seu rosto com admiração
enquanto caminhava até ela e estendeu os dedos para tocar o tecido, mas Bexley
deu um tapa em sua mão.
— Não! Não até lavar as mãos da gordura da pizza! Segure-o pelo cabide até
a festa — Ela sorriu, segurando-o em um braço estendido. — Vi na vitrine de uma
loja de grife que adoro e tive que comprar para você. Ele grita Ana Davenport,
não acha?
— Bex, eu não posso aceitar isso de você; é muito! — ela disse, mas pegou o
cabide dela de qualquer maneira antes de correr para o espelho mais próximo e
segurá-lo contra sua moldura. Era do seu tamanho, obviamente, e por mais
chateada que ainda estivesse quando a festa chegasse, ela sabia que esse vestido a
faria se sentir muito melhor. — Obrigada, Bexley.
— De nada. — Bexley riu. Ela caminhou atrás dela no espelho e a abraçou
com força, apoiando o queixo no ombro e olhando para o reflexo delas no
espelho. — Agora, guarde e me encontre no sofá para reprises dos anos 90 e vinho,
hum? Vamos beber.
— Sim, mãe. — Ana sorriu. Ela se inclinou para acariciar a cabeça de sua
amiga, então correu pelo corredor até seu quarto para pendurá-lo na beirada de
sua porta. Quando voltou, Bexley estava tirando todos os salgadinhos e outras
garrafas de vinho da sacola e abanando-os sobre a mesa.
Ela se juntou a ela no momento em que abria a segunda garrafa de vinho, e
elas se enrolaram juntas, bebendo e comendo até que a sensação de medo e culpa
que Ana tinha em seu estômago se dissipou.
Quando o relógio marcou 23:00, Bexley tinha desmaiado no sofá,
aconchegada em um pijama de Ana, e Ana reclinada com seu laptop no colo e a
última garrafa de vinho em suas mãos. Ela estava olhando para a tela de seu laptop
por um tempo agora, olhando para o artigo semi-acabado que tinha que escrever
para Elianna. O prazo era amanhã, e ela sabia que se não tivesse terminado e
enviado para a caixa de entrada de Elianna quando chegasse ao The City Herald
amanhã, estaria ferrada.
Ela não queria caluniar Genevieve e Ezra. Ela se importava profundamente
com os dois e tinha dado todos os passos que podia para não fazer isso com eles
para que pudesse olhar Ezra nos olhos e sentir tudo o que sentia por ele sem se
sentir culpada, mas Bexley estava certa. Ela nunca mais veria Ezra; ele tinha
deixado isso perfeitamente claro. A única coisa que ela ainda tinha era seu
emprego, e não estava disposta a perdê-lo também por alguém que não a queria
de volta.
A raiva abasteceu dentro de sua cabeça em uma névoa bêbada, e ela tomou
outro grande gole de vinho e o colocou de lado grosseiramente, então digitou com
dedos rápidos. Ela terminou o artigo em menos de uma hora, depois o revisou
para verificar se havia algum erro de digitação antes de anexá-lo a um e-mail e
enviá-lo para Elianna. No segundo que pressionou enviar, ela sentiu um peso
enorme sair de seus ombros. Sua cabeça estava mais leve, e seu peito parecia que
ela não estava mais prendendo a respiração.
— Sente-se melhor? — Bexley perguntou enquanto bocejava e se
espreguiçava no sofá ao seu lado, olhando para o rosto de sua amiga e depois para
a tela de seu laptop.
— Sim. Na verdade, eu sinto. Acabou, finalmente — Ana sorriu bêbada,
empurrando a tela de seu laptop para baixo para fechá-lo, e então se levantou com
um tropeço, batendo na mesa à sua frente com uma risada alta.
— Ok, você está realmente bêbada — Bexley disse enquanto se sentava e
segurava a cabeça. — Merda, estou muito bêbada — Ela se levantou lentamente e
pegou o braço de Ana, puxando-a para longe do sofá enquanto tropeçavam
juntas. — Hora de dormir!
Ana sentiu a cabeça girar enquanto se segurava na amiga por todo o corredor
até seu quarto, onde ambas caíram nos lençóis macios. Elas riram juntas enquanto
se deitavam e observavam a sala girar, segurando as mãos uma da outra e fechando
os olhos. — Obrigada, Bexley. Não sei o que faria sem você. Eu te amo — ela
murmurou, caindo no sono.
Bexley cantarolou enquanto segurava a mão de sua amiga.
— Eu sei. Eu também te amo.
Capítulo 25

— Eu vou vomitar.
Ana gemeu ao sentir o movimento ao lado dela em sua cama. Bexley estava
saindo da cama e saindo do quarto para poder correr para o banheiro, as mãos
cobrindo a boca e os pés descalços batendo no chão de madeira. Ela ficou para
cima e para baixo a noite toda, correndo para o banheiro para vomitar o álcool de
seu estômago e depois rastejando de volta para a cama, jurando por Deus que
nunca mais beberia.
Ana, por outro lado, não ficava de ressaca da mesma forma que Bexley. Ela
não vomitou ou sentiu náuseas, mas teve dores de cabeça extremamente horríveis,
e podia sentir uma começando a trabalhar nela enquanto rolava de costas na
cama, abrindo os olhos e olhando para o familiar teto branco do seu quarto. Ela
escutou Bexley voltar, mas quando deu a descarga na corrente do banheiro e
entrou na sala de estar, ela saiu da cama com um gemido e jogou as pernas para o
lado, deslizando os pés em seus chinelos e arrastando os pés até o corredor.
Bexley estava de pé na pequena cozinha, olhando para o telefone em sua mão
e esperando a máquina de café terminar de preparar. Ela estava digitando
freneticamente e movendo os dedos pela tela. Quando Ana se aproximou dela
para tirar duas xícaras do armário, ela percebeu que não era o telefone de Bexley
que tinha na mão, era dela.
— O que você está fazendo com o meu telefone? — Ana perguntou
enquanto o agarrava.
— Nada. Apenas verificando o tempo — Bexley disse enquanto acenava com
a mão de Ana para longe. Ela terminou o que estava fazendo e devolveu a ela,
depois voltou para a máquina e despejou o café acabado de fazer nas duas xícaras
que Ana havia colocado na mesa.
Ana estreitou os olhos desconfiada para ela e olhou para o telefone. Não havia
nada recente em sua lista de chamadas ou em suas mensagens ou navegador, então
o colocou de lado e enfiou a mão em uma gaveta para tirar um pequeno pacote
de pílulas.
— Aspirina? — perguntou, e quando Bexley assentiu, ela empurrou dois para
fora do pequeno pacote de prata e os entregou a ela.
— Obrigada — Bexley disse enquanto os colocava na boca e os engolia com
seu café. — Eu realmente preciso ir. Tenho tanto planejamento para fazer para a
festa de amanhã, e já passa das 11:00. — Ela verificou o relógio em seu pulso,
tomou um gole de café e olhou para Ana com um pequeno sorriso sobre a borda
de sua xícara. — Quais são seus planos para hoje?
— Nada, na verdade — ela respondeu, esfregando as têmporas e saindo para
a sala. Garrafas de vinho ainda cobriam a mesa de centro, e a caixa de pizza estava
aberta com as crostas meio comidas ainda dentro dela, junto com pilhas de
chocolate descartado e embalagens de salgadinhos do banquete da noite anterior.
— Talvez limpe essa bagunça. É meu último dia de folga antes de ter que ir para
o escritório amanhã, e pretendo passar a maior parte do tempo na cama.
Bexley sorriu para ela enquanto a seguia até a sala de estar e se sentava no sofá
entre os travesseiros derrubados e os cobertores amassados.
— Bom. Você merece um bom dia depois de tudo o que aconteceu.
— Eu acho — Ana suspirou, caindo ao lado dela e descansando a cabeça nos
joelhos enquanto puxava as pernas para o peito. — Eu só quero voltar à
normalidade. The Herald, meu trabalho, minha vida. Pode não ser tão
emocionante quanto a caça ao tesouro no campo...
— Ou tão bonito — Bexley disse com uma cabeça inclinada.
— Ou isso — Ana fez beicinho. — Mas é meu.
Bexley assentiu e tomou um gole de café até a xícara secar. Depois de colocar
a xícara na mesa de centro, ela descansou a mão na de Ana e se inclinou para beijar
sua cabeça.
— Eu preciso ir. Estou a apenas um telefonema de distância se precisar de
mim — Ela se levantou do sofá e pegou sua mochila preta e a enrolou no braço.
— Você ainda está vestindo meu pijama — Ana sorriu.
— Eu sei. Meu carro está lá fora, vou trazê-los de volta amanhã. Jogue minhas
roupas na lavanderia para mim? — ela perguntou enquanto fazia seu caminho até
a porta e a abria. — Ciao!
A porta se fechou e Bexley se foi, deixando Ana sozinha em seu apartamento
novamente. O cômodo parecia instantaneamente mais frio e sem graça quando
ela saiu, como se tivesse tirado todo o calor e a cor do quarto quando saiu. Bexley
sempre teve esse tipo de personalidade, uma que brilhava em qualquer sala em
que estivesse, e quando ela se foi, parecia afetar a atmosfera literal da sala. Era algo
que ela sempre desejou poder imitar, mas nunca o fez. Era algum tipo de magia
que era exclusivamente Bexley.
Ela terminou seu café e se levantou do sofá, pegando um saco de lixo preto e
enchendo-o com as garrafas vazias, a caixa de pizza e as embalagens que cobriam
a mesa. Depois de limpo, ela levou as taças de vinho para a pia, limpou a mesa,
arrumou o sofá e seus travesseiros e começou a aspirar o chão das migalhas que
caíram da pizza. Por mais incrível que Bexley fosse por trazer vinho e comida para
animá-la, ela era extremamente bagunçada.
Depois que terminou de limpar e aspirar, Ana entrou em seu banheiro e
encheu a banheira com água quente fumegante. Sua pele estava suja e seu cabelo
estava oleoso, fazendo-a sentir-se lenta e pegajosa. Enquanto esperava que
enchesse, ela escovou os dentes e examinou sua expressão cansada no espelho. Seu
rosto estava pálido e ela tinha a pele vermelha ao redor dos olhos.
— Se recomponha, Ana — ela murmurou em torno de sua escova de dentes.
Ela cuspiu o excesso de pasta de dente na pia e lavou, depois se despiu e
escorregou na água quente da banheira. Estava escaldante e ardia em sua pele
enquanto estava de pé na banheira e desceu centímetro por centímetro na água,
sua pele se acostumando com isso à medida que ela entrava. A água quente
deveria lavar a ressaca, pensou, e purificar sua pele de qualquer tristeza persistente
que estava ali. Ela esfregou, e esfregou até se sentir limpa, depois lavou o cabelo e
afundou de volta na água, fechando os olhos e tentando relaxar os ombros tensos.
No momento em que a água estava começando a esfriar, os nós em seu corpo
pareciam ter finalmente desfeitos, e ela se sentiu nova em folha quando saiu da
água e entrou num banheiro cheio de vapor.
Depois de escovar e secar o cabelo, ela vestiu uma nova calcinha e uma
camiseta longa e folgada que descia até os joelhos. Era a camiseta do pai dela. Era
de um cinza-carvão profundo com uma grande escrita branca na frente que dizia:
Melhor pai do mundo. Era muito velha e tinha buracos perto do fundo onde ela
costumava segurá-lo quando era criança e a bainha da camisa estava começando
a desfiar, mas ela não podia deixar de usá-la quando precisava de um pouco de
coragem extra ou conforto. Não cheirava mais a ele, mas toda vez que a usava,
sentia que quase podia sentir os braços dele abraçando-a por dentro.
Ela suspirou para si mesma, entrando em sua sala de estar e olhando ao redor
de seu apartamento vazio, mas agora limpo. Felizmente, sua cabeça não estava
mais latejando, e ela se sentiu mais leve, como se estivesse começando a se sentir
normal novamente. Ela desabou no sofá e levantou o controle remoto da mesa,
ligando a televisão e passando pelos canais. Ela passou por documentários sobre
assassinatos, programas de melhoramento da casa, talk-shows diurnos e
noticiários, e quando estava prestes a mudar de novo, ouviu uma batida na porta.
Ana franziu a testa, suspirando profundamente e jogando seu controle
remoto de lado antes de se levantar e atravessar a sala. Bateu novamente, e ela
cerrou os punhos em frustração. Era um domingo. Ela nunca recebia visitas em
um domingo.
— Ok, ok, estou indo! — ela retrucou, caminhando até a porta e abrindo-a
rudemente. — O que?
Ezra estava do outro lado da porta, inclinando-se preguiçosamente contra a
parede com os braços cruzados contra o peito. Ele a olhou de onde estava
observando seus pés, dando-lhe uma pequena carranca.
— É assim que você cumprimenta todo mundo que vem visitá-la?
Ana ficou boquiaberta para ele. Ele era a última pessoa que esperava estar do
outro lado de sua porta, e ela se encolheu internamente enquanto tentava se
endireitar.
— Desculpe, eu não sabia que era você — Ela engoliu em seco. Eles ficaram
em silêncio por um longo momento até que Ezra ergueu as sobrancelhas. — Oh!
Desculpe, você quer entrar?
Ela se afastou da porta e olhou para ele enquanto atravessava a soleira e
entrava em seu apartamento. Ela observou as costas dele quando ele chegou à sala
de estar e se virou para olhá-la quando ela estava fechando a porta.
— O que você está fazendo aqui, Ezra? Como você sabia onde eu morava?
Ezra franziu a testa enquanto a observava, uma de suas sobrancelhas
levantadas e as mãos nos bolsos.
— Você me enviou? Esta manhã? Você me mandou uma mensagem ontem
à noite, algo sobre estar "super arrependida" e que queria conversar? Nenhum
destes toca um sino? Quão bêbada você estava?
— O que? eu não… — Ana parou, seu coração batendo mais rápido em seu
peito enquanto olhava na direção da cozinha onde Bexley tinha colocado seu
telefone depois que a pegou usando esta manhã. — Droga, Bexley. Ela estava
usando meu telefone; ela deve ter lhe enviado uma mensagem ontem à noite e esta
manhã quando eu não estava perto — Ela colocou a mão na testa com um gemido
e fechou o espaço entre eles para que pudesse ficar na frente dele.
— Isso explica por que você continuou me chamando de amor — disse ele,
um pequeno sorriso curvando em seus lábios, mas parou antes que alcançasse
seus olhos. — Então, você não está super arrependida e não quer se desculpar? Eu
deveria sair?
— Não! Não, por favor, não vá — Ana disse enquanto pegava a mão dele
para que ele não se afastasse dela. A mão dele estava quente na dela, e enquanto
ela a segurava, sentiu o quanto sentia falta dele crescendo em seu peito.
Ezra suspirou e assentiu, retirando a mão para que pudesse cruzar os braços
contra o peito novamente e olhá-la, esperando que ela quebrasse o silêncio.
— Eu sinto muito — Ana fungou. Ela podia sentir as lágrimas ardendo na
parte de trás de seus olhos, e suas bochechas estavam ficando quentes enquanto
tentava não chorar. — Eu me sinto horrível. Nunca deveria ter agido pelas suas
costas. Foi uma coisa muito ruim de se fazer, e eu sinto muito.
— Você deveria estar — Ezra disse. Seu rosto suavizou, e deu a ela um sorriso
fraco, balançando na ponta dos pés e de volta nos calcanhares como se estivesse
desconfortável. — Mas eu deveria estar arrependido, também. Fui duro com
você. Minha mãe falou um pouco comigo quando você foi embora. Ela me fez
ver que, por mais que fosse uma coisa muito ruim para você fazer, nós
conseguimos o que precisávamos, e meu pai… — Ele parou, suspirando
profundamente como se odiasse o que estava prestes a dizer. — Acho que ele
ajudou, e talvez eu estivesse sendo teimoso. Eu conversei com ele também, nós
discutimos algumas coisas, tiramos as teias de aranha entre nós, então acho que
deveria estar agradecendo por isso.
— Isso é ótimo. Ele te ama, sabe; você pode ouvir na voz dele quando fala
sobre você — Ana disse enquanto o olhava.
— Eu sei. Ele parecia sincero, e eu disse a ele que se prometesse que não me
apunhalaria pelas costas novamente, eu mostraria a ele os itens que encontramos.
Ainda não os juntei. Ele disse que se são itens mágicos, eles merecem um ritual
para juntá-los novamente. Ele é o sumo sacerdote, então acho que é importante
que façam isso direito. Ele está animado com isso; é cativante, na verdade. — Ele
riu. — Eu ia mostrá-los a ele amanhã se você quiser vir… — Ezra disse, finalmente
descruzando os braços e pegando a mão dela.
— Não posso. Estou trabalhando amanhã de manhã, e é a festa de noivado
de Bexley à tarde — ela disse com um rubor. Era a mesma festa que ele deveria se
juntar a ela como seu encontro.
— Então eu vou remarcar com ele. Eu não posso juntar as peças sem minha
parceira do crime — Ezra disse, colocando um pouco de seu cabelo molhado atrás
da orelha. — Você ainda precisa de um acompanhante para a festa? — Ele se
inclinou para ela.
Ana sorriu largamente para ele enquanto olhava em seus olhos e encolheu os
ombros.
— Você ainda gostaria de ir comigo?
Ezra sorriu e a puxou para si, inclinando-se para perto de seu rosto.
— Sim, eu ainda gostaria de ir com você.
Ele a beijou, e Ana sentiu o coração pular no peito. Ela derreteu nele, e
segurou sua camisa em punhados, puxando-o para baixo para que ela pudesse
ficar na ponta dos pés para combinar com sua altura. As mãos dele estavam na
cintura dela, descendo até a bainha da camisa no meio da coxa. Ele aprofundou o
beijo e empurrou a camisa dela até os quadris para segurar as mãos contra a pele
nua de suas costas.
— Eu gosto desta camisa — ele pronunciou.
— Sim — Ana murmurou entre beijá-lo. Ela tinha o rosto dele em suas mãos
e seus dedos estavam trabalhando em seu cabelo, mantendo-o o mais próximo
possível dela. — Era do meu pai — Ela disse, tendo que parar de falar quando ele
mordeu o lábio suavemente e empurrou sua camiseta para cima de seu corpo,
então a soltou para puxá-la sobre sua cabeça e jogou-a por cima do ombro. — Eu
comprei para ele no Dia dos Pais…
Ela estava nervosa e divagante, ela sabia, mas não conseguia parar de falar
quando ele pressionou os lábios em seu pescoço e ela engoliu em seco, seu joelho
dobrando um pouco onde estava.
— É velha, um…
— Ana — Ezra riu, inclinando-se para trás para olhá-la nos olhos enquanto
esticava a mão para puxar a camisa para cima e sobre a cabeça. — Por favor, pare
de falar sobre nossos pais.
— Desculpe — disse Ana sem fôlego. Ela agarrou seus braços, puxando-o
para ela e beijando-o mais apaixonadamente, então moveu seus braços para
enlaçar seu pescoço. Quando ele a levantou, ela envolveu suas pernas ao redor de
sua cintura. — Leve-me para o meu quarto? — ela murmurou.
— Com certeza — Ezra falou contra seu pescoço. Ele a segurou sob suas coxas
com firmeza e caminhou pelo corredor com ela até a porta que ela indicou com o
dedo. Ele atravessou a porta, beijando seus lábios novamente com um pequeno
gemido, e chutou a porta fechando-a com o pé.
Capítulo 26

Ana foi acordada por um beijo gentil em seu ombro enquanto estava deitada na
cama. Eles passaram a tarde inteira e a noite juntos no quarto dela, a porta e as
cortinas fechadas até que as velas se apagassem e a luz espiasse pelas janelas. Eles
perderam horas, conversando sobre sua investigação entre as muitas vezes em que
se fundiram. Quando ela abriu os olhos para o beijo dele, eles ainda ardiam pela
falta de sono. O despertador em sua mesa de cabeceira marcava 6h45, e ela gemeu,
rolando de costas e puxando os lençóis sobre o peito.
Ezra estava sentado contra os travesseiros, o cotovelo debaixo dele enquanto
segurava a cabeça na mão e sorria sonolento para ela.
— Dia.
— Dia… — Ana se espreguiçou. Ela corou profundamente e inclinou a
cabeça para deitar ao lado do peito dele, sentindo o calor de sua pele contra sua
bochecha. Ela se sentiu tão segura dentro dos lençóis e contra o peito dele, como
se nada de ruim pudesse alcançá-la e agarrá-la de lá. Ela queria ficar assim para
sempre. — Sinto como se não tivesse dormido — Ela bocejou, fechando os olhos
novamente e relaxando nos lençóis.
— Não dormimos. Não de verdade — Ezra sorriu para ela enquanto a
observava tentar se manter acordada. Ele se inclinou para beijar suavemente seus
lábios, então rolou para longe dela e saiu da cama, procurando em seu quarto
onde suas roupas haviam parado no dia anterior.
Ana piscou os olhos abertos novamente quando sentiu o peso sair da cama, e
ela se sentou sobre os cotovelos, observando-o enquanto ele pegava sua cueca e a
vestia, depois sua calça jeans e seus sapatos.
— Oh, vamos lá… não seja esse cara.
— Que cara? — Ezra perguntou, olhando-a enquanto amarrava os cadarços
de seus sapatos e procurava sua camiseta antes de se lembrar de que a havia tirado
na sala de estar. Ele foi até o espelho dela e começou a arrumar o cabelo, passando
os dedos por ele para que não ficasse preso nas pontas.
— O tipo de cara que chega todo charmoso e perdoador, passa a noite e
depois saí super cedo e nunca liga — disse Ana com uma sobrancelha erguida e
um pequeno sorriso enquanto o observava. Ele parecia bem sem camisa e com
sono. — Por favor, não seja esse tipo de cara.
Ezra deu uma risada pequena e cansada e balançou a cabeça enquanto voltava
para a cama e se sentava na beirada dela ao seu lado.
— Não sou esse tipo de cara. Eu sou o tipo de cara que vai sair para pegar um
café da manhã para nós, porque, sem ofensa, considerando o pouco tempo que
passa aqui, eu não acho que você seja o tipo de garota que tem muito atrás de seus
armários.
Ana revirou os olhos e sorriu para ele enquanto se sentava, enrolando os
lençóis em volta do peito para se aproximar dele.
— Você estaria correto — ela disse, então se inclinou para beijá-lo suavemente
—, há uma padaria logo no final da estrada. Eles devem estar abertos.
— Então para a padaria eu vou.
Ele beijou sua testa, e então se levantou da cama novamente antes de abrir a
porta do quarto. Ana podia ouvi-lo andando pelo corredor e, alguns momentos
depois, a porta da frente se abriu e fechou atrás dele. Ela afundou em seus lençóis
quando ele saiu do apartamento e olhou para o teto como fazia todas as manhãs
quando acordava, só que desta vez, ela sentiu como se seu peito fosse estourar.
Seu coração estava cheio e seu corpo estava fraco da melhor maneira possível. Ela
gritou para si mesma, sacudindo as cobertas e sorrindo para si mesma antes de
soltar o edredom e cobrir o rosto com as mãos.
Ana riu de si mesma, então rapidamente saiu da cama e correu nua para a sala
de estar para encontrar a camiseta do pai e puxá-la sobre o corpo. Uma vez que
estava coberta, ela entrou na cozinha e pegou seu telefone, verificando se há novas
atualizações em seu calendário para o mês, e então virou a tela para o nome de
Bexley. Ana pressionou o telefone no ouvido.
— Você não está falando sério ao ligar para mim antes das 7:00 de uma
manhã de segunda-feira, está? É melhor eu estar sonhando. — A voz cansada da
manhã de Bexley veio pelo telefone.
— Você é ridícula, sabia disso? — Ana disse enquanto mastigava o polegar
com um pulo vertiginoso. Ela saiu da cozinha e voltou para o quarto, onde se
jogou na cama e cruzou as pernas.
— Não sou eu quem está ligando nesta hora ímpia — Bexley suspirou. Houve
movimento atrás dela, como se estivesse sentada na cama, então sua voz mudou,
como se ela estivesse falando através de um sorriso. — Ele ainda está aí?
— Não… — Ana sorriu, pulando na cama levemente empolgada. — Ele
acabou de sair para nos trazer o café da manhã.
Bexley gritou no telefone, fazendo Ana rir e se juntar a ela, rindo no receptor
até que Ana teve que se jogar de volta na cama para se acalmar.
— Então? O que aconteceu? Conte-me tudo! Ele foi incrível?— perguntou
Bexley. Houve o som de alguém falando cansado atrás dela, mas Ana não
conseguia ouvir o que eles diziam. Tudo o que ela podia ouvir era um abafado
"estou falando com Ana, shhh!" através de uma mão que cobria o alto-falante do
outro lado.
— Bex, você não tem ideia — Ana sorriu. — Ele é tão gentil e forte e… Deus,
estou tão cansada!
Bexley riu alto do outro lado do telefone.
— Estou muito feliz por você, Ana. Eu disse que as coisas iriam se resolver
sozinhas, não disse?
— Elas não se resolveram. Você resolveu as coisas — disse Ana com um
suspiro, rolando para o lado e apoiando o telefone no ouvido. — Obrigada… por
ser minha melhor amiga. Eu te amo mais do que tudo.
— Eu te amo mais do que tudo também, querida. Mas são oficialmente 7:00,
e eu tenho um noivo para acordar. Te vejo mais tarde. Certifique-se de tentar sair
cedo! Por favor, não se atrase!
— Eu não vou me atrasar. Eu prometo. Tchau. — Ana encerrou a ligação e
olhou para o telefone com um suspiro feliz, depois se espreguiçou de novo
satisfeita.
Ela estava deitada entre os lençóis amassados de sua cama, rolando de lado e
abraçando o travesseiro enquanto olhava pelas persianas e esperava que Ezra
voltasse. O travesseiro cheirava a ele, e isso a fez sorrir enquanto lutava contra a
sonolência atrás de seus olhos. Assim que ela estava começando a adormecer
novamente, ela ouviu a porta da frente se abrir novamente e fechar ruidosamente,
e ela sorriu amplamente, pulando da cama e caminhando pelo corredor.
— Então, estava pensando, eu ainda tenho que ir trabalhar esta manhã, mas
você pode ficar aqui se quiser enquanto eu estiver lá, e quando voltar, talvez
possamos encontrar algo para você vestir na festa de Bexley? — Ela disse,
procurando por ele enquanto entrava na sala.
Na mesa de centro havia duas xícaras altas de café para viagem e uma grande
caixa de doces. Ezra estava sentado no sofá, com uma carranca no rosto enquanto
segurava um grande jornal na mão, aberto no meio. Sua mão tremia um pouco
enquanto a segurava, e quando ela se aproximou dele, ele a olhou, seus olhos se
estreitaram.
— Que porra é essa?
Ana parecia confusa até que seus olhos viram o logotipo do The City Herald
na frente do jornal, e sua mente voltou para quando ela estava sentada no mesmo
sofá com Bexley, bêbada e com raiva. Seu rosto empalideceu enquanto olhava
para ele, um cobertor frio de suor caindo sobre seus ombros quando ela percebeu
a que ele estava se referindo.
— E-Ezra…
Ezra se levantou do sofá com força e dobrou o papel para poder segurá-lo com
o braço estendido, andando de um lado para o outro e lendo em voz alta.
— A lojinha de Genevieve e Ezra Sullivan fica no meio de um vilarejo
adormecido e, por mais despretensiosa e pitoresca que pareça, minha experiência
com a loja é tudo menos isso. Sob os cheiros maravilhosos e as cores brilhantes, não
há como escapar das crenças ilusórias e perigosas que Strange Curiosities &
Wonders oferece a seus clientes.
— E-Ezra, por favor, pare, apenas abaixe isso! — Ana disse enquanto corria
para pegar o papel, mas ele o segurou, e o olhar que tinha no rosto a fez parar em
seu caminho.
— É difícil dizer se essas pessoas estão enganando as pessoas impressionáveis que
servem, ou se estão realmente convencidas de que realmente têm poderes místicos,
mas de qualquer forma, as práticas e crenças que seguem não são nada menos que
um tipo de adoração ao diabo.
"Você está brincando comigo, Ana! São três páginas inteiras dessa merda!
Você sabe que isso não é verdade! — ele gritou, o papel agora enrugado em suas
mãos.“
— C-como você o encontrou? Você não deveria ver isso! — Ana fungou. Seu
peito estava apertado, e suas pernas começaram a tremer enquanto tentava
alcançá-lo, mas ao invés de deixá-la vir até ele, ele jogou o papel a seus pés.
— Achei que seria bom ver seu nome no papel, mas isso? Isso são mentiras!
Não deveria importar se eu iria vê-lo ou não; toda a porra da cidade tem uma
cópia, Ana! Você sabe o que isso pode fazer com a minha carreira? Sabe o que isso
vai fazer com minha mãe? Você ao menos se importa?! — ele gritou para ela,
fazendo-a se afastar dele.
— Eu sinto muito! — ela gritou. Lágrimas escorriam pelo seu rosto
novamente. — Eu precisei! Você me expulsou, eu não tinha nada para dar a
Elianna, e era isso que ela exigia! Não tive escolha, Ezra!
— Sempre há uma escolha, Ana! — Seu peito estava subindo e descendo em
fôlegos raivosas enquanto ele a olhava. — Minha mãe e eu a recebemos em nosso
mundo de braços abertos, nós nos importamos com você, nós a amamos, e você
passou por cima de nós para uma história de merda! Você nos arruinou em três
malditas páginas. Sabe o quão patético isso é?
— Eu posso consertar isso… — Ana fungou enquanto caminhava até ele,
pegando seu braço. — Deixe-me consertar isso, Ezra, por favor.
Ezra olhou para onde ela estava segurando seu braço, então olhou para o rosto
dela. Seus olhos estavam com raiva, como se ele não tivesse nada além de ódio por
ela dentro deles.
— Tire sua mão de mim — Quando ela obedeceu, ele se virou e pegou sua
jaqueta que estava no sofá e a vestiu, então pegou as chaves da mesa. — O que
quer que tenhamos, seja o que for — disse, indicando o espaço entre eles. —
Acabou.
Ana soluçou e abraçou-se. Ela sabia que não adiantava se desculpar, que ele
nunca iria perdoá-la depois disso. Seu corpo estava tenso de raiva, e ele a observava
com tanto ódio que ela sabia que não valia a pena implorar.
— Eu estou indo para casa para tentar consolar minha mãe — disse enquanto
caminhava para ela novamente e se inclinou perto de seu ouvido, sua respiração
quente em seu pescoço. — Se você respirar na minha cidade de novo, Ana, eu
vou acabar com você. Você acredita em mim?
Ana se encolheu e assentiu rapidamente uma vez, se afastando dele e olhando
para o chão para evitar o quão escuros seus olhos haviam se tornado.
— Bom — Ele se afastou dela rapidamente e saiu do apartamento, batendo a
porta com tanta força que ela chacoalhou nas dobradiças.
Quando ela teve certeza de que ele tinha ido embora, Ana soltou uma
respiração ofegante e engasgou por ar, mas quanto mais chorava, mais difícil era
para ela trazer qualquer ar para seus pulmões. Ela acabou no chão em suas mãos
e joelhos, tentando fazer sua cabeça parar de girar e seu mundo parar de
desmoronar ao seu redor.
Arruinado.
Tudo foi arruinado.
Capítulo 27

Um zumbido alto encheu a cabeça de Ana enquanto estava no elevador do


Edifício do The City Herald. Ela não conseguia se lembrar de se levantar do chão,
limpar o rosto das lágrimas e colocar a maquiagem sobre os olhos vermelhos. Ela
não se lembrava de vestir um terninho preto e sua camisa branca com babados no
pescoço, prender o cabelo em um rabo de cavalo alto ou escorregar em seus saltos
pretos. Ela nem se lembrava de entrar no ônibus para o centro da cidade e entrar
no prédio, mas de alguma forma, devia ter feito. Sabia que deveria, porque
quando as portas se abriram, ela estava no saguão.
Ela ficou parada por um longo momento, as pessoas atrás dela passando por
ela e se juntando à multidão de pessoas apressadas que corriam para cima e para
baixo nos corredores para se preparar para suas primeiras reuniões do mês. Ana
olhou para seus pés sem expressão, tendo que forçá-los a tirá-la do elevador e
descer o corredor, para os escritórios laterais e, finalmente, para sua pequena mesa
no centro da sala. Colocando sua bolsa em sua mesa, ela observou as fotos de sua
mãe e seu pai a olhando de onde eles estavam se abraçando dentro das molduras,
secretamente julgando-a por baixo do vidro. Depois de cair na cadeira, ela
levantou um porta-retrato dela quando criança correndo em uma corrida com
seu pai, que gritou para ela com orgulho. Ele ficaria tão desapontado se estivesse
aqui e soubesse o que ela estava fazendo. Quando criança, ele estava sempre lá,
torcendo por ela do lado de fora, gritando: "corra, corra o mais rápido que puder"
durante os jogos esportivos. Ela podia ouvi-lo por trás do vidro, gritando
silenciosamente com ela.
— Dia. Você parece uma merda. Onde você esteve? — Ted, o companheiro
de cubículo de Ana, a olhou, de pé atrás dela e olhou para a moldura em suas
mãos. — Vamos nos atrasar para a reunião mensal. Vamos, levante-se.
Ele estava acenando com as mãos para ela se levantar, e parecendo estar no
piloto automático, ela o fez. Ela abaixou o porta-retratos e pegou a bolsa, depois
o seguiu pelo corredor. Ela não disse nada, sentindo o corpo entorpecido
enquanto caminhava. Ela observou todos correndo ao redor deles como abelhas
operárias, tropeçando uns nos outros em pânico enquanto se preparavam para
Elianna. Corra, corra, o mais rápido que puder.
Ana entrou na sala de conferências e seguiu Ted até seus lugares ao redor da
mesa oval. Os assentos estavam começando a se encher de gente. Eles estavam
pegando suas pastas e colocando-as sobre a mesa, arrumando seus arquivos,
cadernos e canetas. Ela ficou sentada lá, olhando para seus movimentos robóticos.
— Depressa, todo mundo sente-se, Elianna está no elevador!
Corra, corra, o mais rápido que puder.
Alguns segundos depois, Elianna passou pela porta da sala de conferências.
Ela estava elegantemente vestida, como sempre, vestindo um terninho branco,
uma camisa branca e um lenço de seda rosa brilhante. Seu cabelo louro-branco
grisalho estava penteado em um coque perfeitamente trabalhado no topo de sua
cabeça, e ela estava olhando por cima do aro de seus óculos gatinho pretos para
todos na sala. Ela balançou enquanto caminhava, indo até a cabeceira da mesa em
frente a onde Ana estava, e se sentou em sua cadeira enquanto todos
instantaneamente se acalmavam, olhando-a com expectativa.
— Bom dia a todos. Deixe-me começar dizendo que todos fizeram um
trabalho fantástico ontem na edição de fim de mês. Às equipes que estão
trabalhando nas questões diárias e semanais, continuem o bom trabalho. Eu sei
que sua carga de trabalho é inimaginável, mas todos vocês fazem um trabalho
estelar e isso mostra. Vou delegar os títulos para a edição mensal agora, depois
passaremos para os títulos de trabalho da edição semanal, o diário; bem, todos
vocês devem ter o que precisam agora — Elianna disse, olhando por cima de todos
os rostos sorridentes ansiosos.
Ana engoliu em seco e baixou os olhos para as mãos sobre a mesa onde estava
sentada, a única sem caderno ou caneta na mão. Ela adorava este trabalho, certo?
Ela sabia que adorava esse trabalho, mas enquanto estava sentada ouvindo
Elianna, a única coisa que parecia estar em sua mente era o quanto queria
esbofeteá-la.
— É o mês da moda na cidade, então este será um mês importante para este
departamento. Temos histórias que precisam ser aprofundadas sobre os
designers, seus trabalhos atuais, as celebridades com quem estão trabalhando e os
escândalos associados a essas celebridades. Se um deles começar uma briga depois
de beber em um bar, eu preciso saber. Se houver um acidente no palco com uma
modelo, preciso de fotos dela. Se um novo estilista fica muito animado em seu
primeiro mês de moda e fica bêbado ao volante, preciso tê-lo na minha mesa
instantaneamente. Todo mundo sabe, o mês da moda é menos sobre as peças de
roupa e a arte que é criada e mais sobre as exibições públicas de escândalo, e é isso
que eu quero de todos vocês.
Corra. Corra o mais rápido que você puder.
Ana sentiu seu corpo esquentar e sua cabeça começar a embaçar ainda mais.
Sua mão tremia, e as lágrimas que permaneciam atrás de seus olhos ameaçavam se
soltar novamente.
— Georgie, você pega o escândalo sexual do fotógrafo que eu te falei —
Elianna disse enquanto jogava para ele o arquivo de onde ela estava sentada em
sua cadeira sem nem mesmo olhá-lo. Ele o pegou e correu porta afora com ele, o
rosto enterrado nas páginas.
— Rana, veja a história de rivalidade entre a House of Fashion, Inc. e a
Couture France, Inc. Ouvi dizer que suas batalhas legais estão ficando feias. Faça
picante — instruiu, jogando o arquivo para uma garota na beirada da mesa à sua
esquerda.
— Ana, seu trabalho com as bruxas do campo foi muito divertido — Elianna
riu, depois colocou uma pasta na mesa e a segurou com o dedo indicador. — Bom
trabalho. Você estará trabalhando nos modelos e seus distúrbios alimentares.
Você é uma coisinha bonita, então vista-se e vá a um casting para ver quais
citações pode obter. Aprenda seus hábitos e relate de volta — Ela empurrou o
arquivo sobre a mesa.
O arquivo parou ao alcance do braço na frente de Ana, e ela o olhou com
olhos tristes. Ela se sentiu doente. Seu estômago revirou, e sua testa suava quando
ela puxou as mãos de volta para o colo sem pegar o arquivo.
Corra. Corra o mais rápido que você puder.
— Ana? — Elianna perguntou, tentando chamar sua atenção para a sala, mas
ela não se mexeu quando disse seu nome. — Ana!
Ana deu um pulo e olhou para Elianna, mordendo as lágrimas e tentando
esconder a vermelhidão do rosto, mas não adiantou.
— Eu… Eu…
— Você ouviu uma palavra que acabei de lhe dizer? — Elianna perguntou
enquanto a observava com os olhos semicerrados. — Pegue sua história e mãos à
obra.
— Eu a ouvi — disse Ana enquanto engolia em seco, sentindo os olhos na
sala queimando através dela. — Mas eu não posso. Sinto muito.
— Com licença? Não há discussão; esta é a história que lhe é atribuída. Vá até
lá — Elianna olhou de volta para seus arquivos e levantou o próximo para seguir
em frente.
Corra, corra, o mais rápido que puder.
— Eu... Eu me demito… — Ana murmurou, recostando-se na cadeira. Ela
empurrou a cadeira para fora da mesa e se levantou rapidamente antes de mudar
de ideia, puxando a bolsa por cima do ombro.
— O que? — Elianna perguntou, suspirando enquanto tirava os óculos do
rosto, a testa franzida e o rosto sem graça. — O que você disse?
— Eu disse, eu me demito — Ana disse mais alto quando finalmente se virou
para olhá-la, sua mandíbula apertada e seu rosto triste. — Eu não posso mais fazer
isso — Ela se virou rapidamente e se dirigiu para a porta sem olhar para trás, mas
o som de Elianna se levantando da cadeira a fez parar quando ela chegou.
— Se você sair desta sala agora, Ana, não há como voltar para ela. Você
percebe isso, não é? — Elianna gritou enquanto a observava. — Pense nisso com
cuidado. Ninguém sai do The City Herald.
Ana engoliu em seco, o rosto vermelho e as mãos em punhos apertados ao
lado do corpo.
— Eu entendo. Obrigada pela oportunidade, mas me demito — Sem olhá-la,
ela limpou a garganta e saiu da sala.
Corra, corra, o mais rápido que puder.

O longo vestido rosa dourado brilhou quando ela o puxou do cabide e o segurou
contra si mesma no espelho de seu quarto. Os lençóis da cama ainda estavam
desfeitos, e os travesseiros ainda cheiravam a Ezra. Ela não conseguia alisar os
lençóis e arriscar perder o cheiro dele, então os deixou exatamente do mesmo jeito
que estavam quando ele saiu. Em vez disso, ela tirou as roupas, abriu o zíper do
vestido para colocá-lo e puxou as alças sobre os ombros. Alcançando atrás de si
mesma, ela puxou o zíper novamente e alisou o tecido pelas pernas. O vestido era
deslumbrante, com um corpete de ouro rosa brilhante e um decote nas costas que
mostrava sua pele. Ela estaria perfeita se não fosse por seus olhos vermelhos e
expressão triste, mas se havia uma coisa que ela sabia que era boa, era colocar uma
cara feliz quando precisava.
Sentou-se à penteadeira e escovou os longos cabelos loiros, depois se olhou
no espelho sem expressão e os enrolou até que saltassem sobre os ombros. Ela
passou os dedos por ele para soltar os cachos, então pegou dois grampos e os
empurrou atrás das orelhas para evitar que o cabelo caísse ao redor do rosto. Uma
vez que terminou, ela puxou sua bolsa de maquiagem e reaplicou sua maquiagem,
usando o delineador para colocar movimentos delicados nos cantos dos olhos,
agora que estavam cobertos de corretivo e não mais vermelhos. Ela quase parecia
normal ao se levantar do banco e calçar os saltos, em seguida, pegou sua bolsa
preta brilhante e colocou o telefone dentro. Já passava das 15:00, e ela sabia que
Bexley estaria no meio de uma garrafa de champanhe e já esperando por ela.
Saindo de seu apartamento e entrando no corredor, ela trancou a porta e
colocou as chaves na bolsa, então desceu correndo as escadas e saiu para o sol
brilhante da tarde. O dia estava quente novamente, e ela levantou a mão para
chamar um táxi. Quando um táxi amarelo parou ao seu lado, ela entrou e puxou
o vestido para que não ficasse amassado.
— Preciso ir ao Che Bon, o mais rápido possível — disse Ana enquanto se
recostava no banco e olhava pela janela enquanto os prédios passavam.
Che Bon era um lindo bar de coquetéis à tarde nos arredores da cidade, bem
na cobertura de um hotel chique que os pais de Bexley possuíam. O telhado estava
lindamente decorado desde a última vez que ela estivera lá. Bexley tinha centenas
de buquês de flores decorando as mesas e as paredes, todas em branco e rosa, e
havia luzes de fadas pingando sobre as paredes e acima. Enquanto atravessava o
telhado, Ana podia ver Bexley de pé ao lado de seu noivo e seus pais, usando um
lindo vestido vermelho cereja que abraçava sua figura de ampulheta e se espalhava
atrás dela em uma longa cauda de peixe. Seu cabelo caía solto em ondas pretas
saltitantes até o meio de suas costas, e enquanto ela levava a taça de champanhe
aos lábios, Ana podia ver seu anel de noivado brilhar à luz do sol.
— Ana! Ana está aqui! Eu já volto — Bexley disse a seus pais e deslizou em
direção a Ana com os braços abertos, trazendo-a para um abraço quando a
encontrou. — Você conseguiu! Você está deslumbrante! Eu sabia que aquele
vestido seria perfeito para você, não te disse?! Onde está Ezra?
Ana deu de ombros e deu um meio sorriso. Ela não queria contar o que tinha
acontecido ainda. Este era o dia de Bexley, e ela não queria estragar seu humor
feliz.
— Ezra não conseguiu vir; ele tinha que ir para casa. Ele envia suas desculpas,
no entanto. Você está linda, Bexley. Tudo parece incrível.
— Eu sei, certo? — Bexley disse enquanto pegava seu braço e a guiava para o
bar, onde levantou uma taça de champanhe e entregou a ela. — Elianna te deu a
tarde de folga, hein?
— Algo assim — disse Ana com um sorriso forçado. — Então, como Marcus
está lidando com o noivado? Ele já está surtando?
— Olhe para ele, é claro que está. — Bexley riu quando ambas se viraram para
olhar para seu noivo enquanto ele falava com seus pais. Ele tinha um olhar tímido
no rosto, como se estivesse com medo de dizer a coisa errada. — Ele está muito
bonito em seu terno, não está?
— Ele está. Vocês vão fazer lindos bebês — Ana sorriu.
Bexley torceu o nariz e balançou a cabeça, em seguida, abaixou o resto do
copo e a puxou com ela através do telhado para onde Marcus e seus pais estavam
conversando.
— Minha dama de honra chegou, finalmente.
— Eu sou sua dama de honra? — Ana perguntou com uma risada e fez
malabarismos com sua taça de champanhe e sua bolsa para que pudesse abri-la e
retirar sua câmera. — Quero dizer, eu adoraria ser, mas você nunca mencionou
isso.
— Claro que você é! — Bexley disse quando a soltou e se inclinou para
Marcus, descansando a cabeça em seu ombro.
— Então eu acho que meu primeiro ato de dama de honra deve ser
documentar sua festa, hum? — Ana sorriu, dando um passo para trás e ligando
sua câmera. — Ok, todos se aproximem, grandes sorrisos! — disse. Ela esperou
até que todos se alinhassem e Ana tirasse a foto de seus rostos sorridentes. —
Perfeito. Vou pegar mais um pouco para o seu álbum de recortes. Volto já
Ana se afastou deles, terminando seu copo rapidamente e colocando-o de
lado antes de olhar para a tela de sua câmera da foto de Bexley e Marcus que ela
tinha acabado de tirar. Eles realmente eram um belo casal. Ela pressionou a
próxima, e a câmera a levou de volta para a primeira foto no cartão de memória:
o dia em que ela conheceu Ezra e Nina. A foto mostrava Nina ajoelhada na terra,
mostrando onde ela encontrou a caixa, e Ezra estava olhando por cima do ombro
para dar uma olhada melhor.
Ela passou fotos do pergaminho e da caixa quando ele a levou para o Daria
Research Lab, e ela sorriu suavemente com o quão chateado ele parecia na foto.
Ela zapeou as fotos até que viu Ezra na mesa em sua casa depois que eles voltaram
da mansão Harrow. Eles tinham acabado de roubar o pingente, e Ezra queria tirar
uma foto deles em suas roupas pretas. Ela estava sorrindo na foto, mas estava
tensa, provavelmente por causa de como suas costelas estavam doloridas.
Ela fez beicinho e passou o dedo sobre o rosto dele na tela, e ao fazer isso, seu
polegar pressionou o botão, e passou para a próxima foto. Ela engasgou e desviou
o olhar rapidamente, seu coração batendo mais rápido em seu peito, não
esperando ver a gigantesca figura negra rastejando sobre ela na cama de Ezra. Ela
engoliu em seco e se forçou a trazer a tela de volta ao rosto. Ela tinha esquecido
completamente que tinha tirado.
A figura era enorme, com dedos pretos com garras e sem feições. Era um
borrão, realmente, e quanto mais perto ela olhava, mais percebia que não era uma
forma sólida. Em vez disso, parecia que era feito de fumaça preta rodopiante. Foi
quando ela percebeu. O espelho de onde saiu, aquele em que viu o segurança
pendurado quando estava deitada naquela cama; ela podia vê-lo claro como o dia
no fundo do espelho da foto. Ao lado do guarda moribundo estava um homem.
Ele era alto, e o flash da câmera iluminou suas feições, então, quando ela deu o
zoom o máximo que pôde na tela, ela pôde ver exatamente quem foi que enviou
aquele mensageiro das sombras para machucá-la. Ele tinha uma barba
apimentada, olhos verdes e feições como as de Ezra.
Os joelhos de Ana se dobraram sob si, e ela teve que se sentar em uma cadeira
próxima enquanto olhava para o rosto de Alexander Sullivan na fotografia. Ele
estava com a mão estendida, o mesmo braço do mensageiro das sombras que
também estava estendido, como se ele o estivesse controlando, forçando seus
braços a estenderem a mão e agarrá-la.
— Não… — ela murmurou. Se Alexander foi a pessoa que a atacou e matou
aquele segurança, então foi ele quem matou Nina e estava tentando tirar o athame
deles o tempo todo… e ele estava com Ezra agora.
Ana se levantou e olhou em volta para os rostos na sala, procurando por
Bexley. Ela teve que avisar Ezra sobre seu pai antes que ele lhe desse o athame.
— Bex! — ela chamou, correndo pela multidão e encontrando-a. — Eu
preciso ir! Dê-me as chaves do seu carro.
— O que? Você acabou de chegar! — Bexley choramingou, olhando por cima
de seu rosto. — Parece que você viu um fantasma. O que há de errado?
— Eu não tenho tempo para explicar! Sinto muito, mas preciso ir. Isto é uma
emergência. Dê-me suas chaves! — Ana disse enquanto enfiava a câmera de volta
na bolsa.
— Tudo bem, tudo bem! Marcus, você está com minhas chaves? — Bexley
perguntou, pegando-as dele quando as ofereceu a ela. — Você vai voltar, pelo
menos? Vamos jantar agora.
— Vou tentar. Eu te amo! Eu sinto muito! — Ana gritou enquanto pegava
as chaves dela e corria em seus calcanhares em direção à porta.
Corra, corra, o mais rápido que puder.
Capítulo 28

Ana pisou fundo no acelerador, fazendo o motor do carro girar e rosnar enquanto
ela descia a estrada com Ezra na vanguarda de sua mente. Tudo faz sentido agora.
Toda a carnificina que aconteceu só começou depois que ela conheceu Alexander
nas celebrações de Litha, quando disse a ele que Ezra havia encontrado a caixa.
Ele não sabia que Ezra o havia encontrado antes disso. Essa foi a mesma noite em
que Nina foi encontrada torturada até a morte no monumento. Ele foi quem lhe
ofereceu sua ajuda, sabendo que ela não contaria a Ezra sobre sua oferta, sabendo
que eles iriam atrasar sua investigação e que ela teria que vir até ele eventualmente,
e foi ele quem enviou o mensageiro para a machucar pelo espelho e matou o
segurança. A foto dele provou isso.
Foi ele quem conseguiu consertar as coisas com Ezra e convencê-lo a deixá-lo
ver o athame completo para que pudesse abençoá-lo em um ritual, trazendo-o
direto para suas mãos sem que seu filho soubesse que era ele o tempo todo, então
ele não o perderia novamente.
Todos os caminhos levavam de volta a Alexander Sullivan.
E Ezra não tinha noção.
Os nós dos dedos de Ana ficaram brancos quanto mais e mais forte ela
agarrou o volante do BMW preto de Bexley. A viagem da cidade até a loja de
Genevieve era geralmente uma viagem de duas horas, mas na velocidade que
estava dirigindo, ela conseguiu correr para a cidade uma hora e meia depois de sair
da festa. Estava chegando perto das 18:00 agora, e quando ela puxou o carro pela
rua de paralelepípedos onde estavam Strange Curiosities & Wonders, ela viu que
a placa na porta dizia: Fechado.
Ela pisou no freio quando parou do lado de fora, fazendo o carro parar
bruscamente e abrindo a porta do carro. Ela correu em torno dele e foi para a
porta da loja. As luzes estavam acesas lá dentro, e ela podia ver movimento.
— Ezra! Genevieve! — ela gritou, batendo os punhos com força na porta e
fazendo-a chacoalhar nas dobradiças. — Olá?!
Mais luzes se acenderam dentro da loja e, depois do que pareceram séculos,
Genevieve finalmente passou pela cortina perto do caixa e contornou o balcão.
Ela tinha um olhar azedo em seu rosto quando veio até a porta e olhou através do
vidro para ela, cruzando os braços como se estivesse tentando se proteger dela.
— Estamos fechados.
— Genevieve, por favor, deixe-me entrar! — Ana disse enquanto empurrava
a porta, mas ela não se mexeu. — Escute, eu sei que você está com raiva de mim,
e você deveria estar, eu sou uma pessoa horrível, mas é uma emergência. Por favor,
Genevieve, preciso ver Ezra.
Genevieve suspirou e a observou por um longo momento com desconfiança,
então assentiu uma vez e estendeu a mão para destrancar a porta e voltar para o
meio de sua loja.
— Obrigada! — Ana engasgou enquanto abria a porta e entrava, procurando
freneticamente pela sala por qualquer sinal de Ezra. — Ezra! — chamou, com os
olhos arregalados e as mãos tremendo ao lado do corpo. — Onde está Ezra?
— Ele não está aqui, e mesmo que estivesse, ele não quer vê-la, Ana —
Genevieve disse com uma carranca escura no rosto e sua mandíbula apertada
como se estivesse mordendo a língua.
— Onde ele está, Genevieve? Eu te disse, isso é uma emergência. Se não fosse
importante, eu não estaria aqui! — Ana disse, começando a ficar impaciente
enquanto caminhava até ela, estendendo as mãos para ela e descansando-as em
seus braços cruzados. — Por favor. Acho que ele pode estar em apuros. Onde ele
está?
Genevieve suspirou e desviou o olhar dela, como se não pudesse olhá-la caso
dissesse algo que não deveria.
— Ele não está com problemas, ele está bem. Ele está com o pai.
O rosto de Ana empalideceu e ela gemeu de frustração.
— Oh, Deus — Ela soluçou, andando pela sala. — Eles têm o athame com
eles? Para onde foram?
— Sim, eles o levaram ao monumento cerca de meia hora atrás para recolocá-
lo e abençoá-lo em um ritual. Você não está convidada, Ana. Fique longe do meu
filho — ela disse com firmeza.
Então Alexandre o tinha. Ele o tinha em suas mãos e Ezra estava alheio às
mentiras de seu pai. Ela tinha que ir avisá-lo, ela sabia, mas não sabia o quão bem
ela se sairia em um vestido e salto alto contra um assassino em uma missão.
— Eu preciso dos seus sapatos — Ana disse enquanto virava a cabeça de volta
para Genevieve. Ela mal conseguia subir aquela colina com sapatos de caminhada,
muito menos saltos. — Agora, eu preciso dos seus sapatos!
— Eu não vou te dar minha mer…
— Genevieve, por favor! Dê-me seus malditos sapatos! — Ana gritou,
fazendo Genevieve pular e recuar.
Ela acenou com a cabeça trêmula e ergueu as mãos defensivamente, usando
os pés para chutá-los sem ter que se curvar.
— Ana, me diga o que está acontecendo.
Ana correu para frente depois de chutar os saltos no meio da loja e colocou o
par muito mais plano de Genevieve em seus pés. Eles tinham um tamanho muito
grande, mas serviriam.
— Não tenho tempo para explicar, mas Ezra está com problemas e preciso
avisá-lo. Fique aqui, por favor, vou mandá-lo de volta para você — Ela assentiu,
então correu de volta para a porta aberta.
Ela voltou para o carro, puxando o vestido ao redor das pernas com força para
poder dirigir sem obstrução. O carro acelerou novamente e rosnou enquanto ela
se afastava rapidamente da beira do caminho e martelava as ruas de
paralelepípedos. O caminho para o monumento estava sinalizado com pequenas
placas marrons que indicavam o caminho, e ela os seguiu o mais rápido que pôde
sem danificar as rodas do BMW de Bexley. Se ela se lembrava corretamente, o
monumento ficava a apenas quinze minutos de carro da loja, e se fosse rápida o
suficiente, ela poderia fazê-lo enquanto o sol ainda estava no céu.
Quando parou no estacionamento, ela podia ver que o único outro carro que
estava lá era o Volkswagen Beetle roxo de Genevieve. Ela suspirou de alívio
quando parou ao lado dele e saiu do carro, deixando as chaves na ignição e
olhando pela janela do outro carro para ver se conseguia ver Ezra. Quando viu
que não havia ninguém lá dentro, ela olhou para o alto da colina onde estava o
monumento branco e arredondado e começou a correr em direção a ele, passando
pelos salgueiros ao fundo, através do labirinto de lápides, e até a estátua de Mary
Marion. Ela olhou para ela brevemente. Se fosse possível, Ana poderia jurar que
podia ver lágrimas de cobre escorrendo pelo rosto, mas balançou a cabeça e se
concentrou na subida da colina íngreme.
O sol estava mais baixo no céu agora, e ela podia ver que a meia-lua havia saído
cedo hoje, pairando logo acima do monumento no céu azul enevoado. Suas
pernas queimavam enquanto subia a colina, seu cabelo começando a cair para
fora do lugar quando os grampos se soltaram. Seu vestido estava abanando atrás
dela, e por mais que tentasse segurá-lo para fora da lama e da grama, isso não
impediu que a bainha pegasse sujeira ao longo do caminho. Bexley ia matá-la.
Quando chegou ao topo sem parar, ela colocou a mão no peito e engasgou
por ar, trazendo grandes goles de ar em seu peito e tentando empurrar o zumbido
de seus ouvidos. Olhando diretamente para a pequena porta que dava para a
tumba cerimonial de um cômodo, Ana viu a luz de velas piscando lá dentro
iluminando o corredor. Ela se aproximou da entrada e enfiou a cabeça na esquina,
olhando para dentro e tentando ouvir Ezra. Ela podia ouvir alguém falando e
rindo baixinho, mas quem era, não sabia dizer. Respirando fundo para acalmar
seus nervos, ela entrou na ponta dos pés no pequeno corredor de pedra e desceu
silenciosamente até que pudesse ver o cômodo. Alexander estava de pé em uma
mesa baixa de madeira com velas ao redor. Os pedaços do athame estavam em um
pano roxo lado a lado, esperando para serem reunidos enquanto ele os ungia com
uma mistura de óleo e ervas dentro de uma tigela.
— Foi muito mais fácil assim, meu rapaz. Depois que você pegou cada pedaço
e os guardou no templo de sua mãe, eu sabia que não havia nenhuma maneira de
realmente pegá-los. Ela me bloqueou daquele lugar há muito tempo; minha pele
derreteria se eu pisasse a uma polegada daquele lugar — Alexandre murmurou.
Ana pensou que ele estava falando sozinho até que ela ouviu um gemido
doloroso e se moveu para ficar ao lado de um pilar no corredor para que não
pudesse ser vista. Quando moveu a cabeça ao redor, ela viu Ezra sentado em uma
cadeira com os braços atrás das costas e a cabeça inclinada para frente como se
estivesse dormindo. Seus olhos se arregalaram quando viu que seus braços e
pernas estavam amarrados à madeira da cadeira, e sua cabeça estava sangrando,
manchando a nuca e a gola da camisa. Ele estava acordando, e piscou algumas
vezes enquanto olhava para o pai por baixo do cabelo enquanto trabalhava
abençoando os itens.
— Se você queria tanto o achado, por que não o roubou como fez com
minhas moedas? Você não precisava matar Nina — Ele gemeu, sua cabeça caindo
para frente novamente.
— Eu não queria matar Nina. Eu estava tentando obter informações dela
sobre onde você pegou o primeiro pedaço. Ela não me deu nada que eu pudesse
usar. Acho que o estresse da tortura era um pouco demais para um corpo humano
aguentar — Alexandre deu de ombros. — E eu nunca quis essas coisas para um
artigo ou um achado para o museu, Ezra — Ele riu e ergueu a pedra vermelha
antes de segurá-la contra a luz de uma das velas. — Não, isso é muito mais do que
isso.
— É apenas um athame, pai. Um muito valioso, sim, mas é apenas metal. Não
vale a pena matar as pessoas — Ezra se endireitou agora, balançando contra as
cordas que prendiam seus pulsos.
Alexander deu outra risada e balançou a cabeça.
— Você teve isso todo esse tempo e não tinha ideia do que estava realmente
segurando. Você é um tolo, Ezra. Este não é um athame cerimonial comum. Esse
é o athame do coven Marion. Esta pedra foi encantada, quando o clã governava
supremo! Quando eles sabiam que suas vidas provavelmente terminariam,
amaldiçoaram a si mesmos e a este athame para que todo o poder de cada bruxa
no coven retornasse a esta pedra quando morressem. Então, um descendente, ou
acho que qualquer um que soubesse como usá-lo, como eu, poderia acessá-lo e
levar todo esse poder de volta para si — Ele observou enquanto a energia presa
dentro da pedra girava, colidindo contra o interior da pedra vermelha como se
quisesse sair. — Este é o item mágico mais poderoso que existe e, em breve, estará
dentro de mim.
Ezra estava observando seu pai com os olhos arregalados, puxando as amarras
e tentando se libertar.
— Você fez isso por poder?
— Claro que fiz isso pelo poder! — Alexander gritou para seu filho,
segurando a pedra preciosa em sua mão cuidadosamente e colocando-a no buraco
na parte inferior do punho onde encontrava a lâmina. — Posso ser sumo
sacerdote, mas nossa magia está enfraquecida nos dias de hoje. Quanto mais
poder alguém tem, menos devemos nos curvar. Não me curvarei a ninguém mais.
Com isso, todos cairão de joelhos. Todos. Passamos muito tempo na escuridão,
Ezra. Nós emburrecemos nossas habilidades para que possamos nos encaixar em
um mundo humano. Não é assim que deveria ser. Eles deveriam se curvar a nós.
Com isso, eu vou ter certeza que eles vão. Este é o nosso momento, meu rapaz.
Ele sorriu enquanto levantava o pingente de ouro e o colocava sobre a pedra
preciosa. Ele se fundiu perfeitamente, e ela ouviu um click metálico, como se fosse
magnetizado quando todos os três foram colocados nos lugares corretos. Quando
ele o segurou contra a luz, ficou junto em suas mãos, um brilho dourado
emulando dele.
— É lindo! — Ele sorriu, então o trouxe para o seu lado. — Muito parecido
com sua namoradinha no corredor. Já pode sair, Ana. Eu posso senti-la à espreita.
O coração de Ana saltou em sua garganta e bateu forte em seus ouvidos
quando o ouviu dizer seu nome. Ela engasgou, olhando entre eles e se
endireitando. Ele sabia que ela estava lá, não havia sentido em se esconder agora,
então ajeitou o vestido e limpou a garganta. Ela virou a esquina do corredor e
parou na porta, cerrando os punhos ao lado do corpo.
— Você não vai se safar com isso.
— Isso é fofo — Alexander disse enquanto dava de ombros e voltava para a
mesa onde limpou a adaga uma última vez. — Mas acho que tenho isso sob
controle. Obrigado por sua preocupação, no entanto.
— A minha preocupação? Você matou pessoas, pessoas inocentes! Qual é o
seu plano agora? Me matar? Matar seu filho? — Ana perguntou enquanto olhava
para Ezra. Ele a observava com os olhos arregalados, como se não tivesse certeza
se ela estava realmente ali ou se estava alucinando por causa do ferimento na
cabeça.
— Oh, por favor. Eu não vou matar meu filho. Com a magia desta pedra,
posso apagar a memória dele disso, de vocês, e podemos voltar a ser famílias
felizes. Então, serei o bruxo mais poderoso deste planeta — Ele caminhou ao
redor do círculo marcado no chão com o athame na mão e então a olhou
bruscamente. — Você, por outro lado…
— Ana, corre! — gritou Ezra.
Ana engasgou, e assim que tentou se afastar dele, a mão de Alexander
disparou em sua frente. Ele cerrou o punho, e ela descobriu que não conseguia
mover os pés, não importa o quanto tentasse deslocá-los.
— O ritual necessário para fazer a transferência mágica requer sangue. Eu ia
usar o meu, mas acho que agora que você está aqui… — Alexander parou e abriu
a mão suavemente, estendendo-a para ela. — Venha aqui, criança.
Ana choramingou. Ela queria chorar, queria correr, queria gritar alguma
coisa, mas ela descobriu que seu corpo não obedeceu mais. Em vez disso, seus pés
começaram a se mover por conta própria, levando-a para frente e para dentro do
círculo. Ela viu sua mão se erguer em confusão e terror quando pegou a de
Alexander gentilmente e foi puxada para perto dele.
— Pai! Pai, pare! Deixe-a ir! Ela não precisa se lembrar de nada disso.
Podemos deixá-la ir! Eu até te ajudarei a fazer este ritual se você apenas a deixar
ir! — Ezra gritou para seu pai.
Os olhos de Alexander nunca deixaram os de Ana quando ele sorriu e se
inclinou para perto dela.
— Agora, onde estaria a diversão nisso?
O athame em sua mão de repente se estendeu na frente dele, empurrando
através de seu lindo vestido de ouro rosa, e atravessou seu estômago logo abaixo
de sua caixa torácica. Ana estava congelada de dor no meio do círculo e engasgou
quando Alexander de repente começou a tremer. A mão dele apertou a dela como
se estivesse sendo eletrocutado, e enquanto ele tremia na frente dela, ela descobriu
que era capaz de controlar seu corpo. Olhando para a lâmina em seu estômago,
ela podia ver sangue escorrendo pelas laterais da lâmina e sobre a mão dele. Sua
mão estava fundida ao máximo, como se ele não pudesse soltá-la, e estava
começando a ficar preta, sua pele enrugando e caindo da carne de seu braço. Ela
se espalhou até o cotovelo antes que ele pudesse finalmente soltá-la e tropeçar
para trás, embalando seu braço cinza enquanto murchava na frente de seus olhos.
— Não! Não, o que está acontecendo? — Alexandre rosnou. Ele estava com
dor, ela podia ver tudo em seu rosto enquanto ele embalava o que restava de seu
braço contra o peito. Ele ofegou, olhando para Ana enquanto ela estava
congelada e sangrando no meio do círculo, e antes que seu braço piorasse, ele
cuspiu nela e se virou, correndo para fora da câmara de pedra.
No segundo que ele saiu e seu corpo foi devolvido a ela, a dor a percorreu
como nunca havia sentido antes. Ela desmoronou no chão de pedra da sala e
olhou para a lâmina que ainda estava alojada dentro de seu estômago, suas mãos
tremendo em ambos os lados enquanto seus olhos começaram a borrar com as
lágrimas que os enchiam. Ezra estava gritando algo para ela, mas não podia ouvi-
lo por causa do som metálico alto que estava invadindo seus ouvidos enquanto
ela estava deitada no chão, seu peito subindo e descendo quando começou a
entrar em choque.
— Ana! Ana, fique acordada!
Ela ouviu a cadeira de madeira estalar e o peso de Ezra bater no chão.
— Ana! Mantenha seus olhos abertos! Olhe para mim!
Ana gritou de dor quando ouviu a voz dele novamente, e, de repente, ele
estava sobre ela e colocou as mãos trêmulas ao lado dela, onde a lâmina ainda
estava alojada dentro de seu estômago.
— M-meu vestido. O m-meu vestido está arruinado? B-Bex vai ficar tão l-
louca — gaguejou. Ela estava em estado de choque agora, o rosto molhado de
lágrimas e o cabelo grudado na testa de suor e pânico. Ela olhou para baixo em
seu estômago e engasgou, tentando alcançar suas mãos ensanguentadas e
escorregadias até o punho para que pudesse puxá-lo, mas as mãos de Ezra a
impediram.
— Você não pode tirar isso, Ana, você precisa mantê-lo para que possamos
estancar o sangramento. Eu vou te levantar agora, ok? Respire fundo — ele disse
enquanto a trazia em seus braços e a embalava, levantando-a enquanto ela gritava
de dor. — Está tudo bem! Está tudo bem, você precisa aguentar, vai ficar tudo
bem.
A cabeça de Ana pendeu para trás quando começou a se sentir tonta, e ela
tentou segurar a camisa dele para mantê-la de pé, mas estava muito fraca agora.
Em vez disso, ela observou seu rosto enquanto ele grunhia e tentava mantê-la
firme. Ele a carregou rapidamente para fora da câmara e morro abaixo, onde
escorregou algumas vezes na grama seca.
— Está tudo bem, Ana. Você está acordada? Fale comigo, você precisa ficar
acordada!
Ana mal conseguia mais sentir a dor. Ela apenas inclinou a cabeça para trás e
observou a lua e quão alta estava no céu roxo enquanto ele a carregava passando
pelas lápides e Mary Marion. Ele a carregou através dos salgueiros até o
estacionamento, e quando procurou seu carro, descobriu que ele havia sumido.
Seu pai deve tê-lo levado quando estava tentando se safar com seu braço em
desintegração. Em vez disso, ele abriu a porta do BMW preto e a colocou dentro,
deitando-a no banco de trás e tentando prendê-la com as mãos ensanguentadas.
— Ana! Ana, você está acordada? — balbuciou. Ele tinha lágrimas nos olhos
agora enquanto a examinava.
Ana abaixou a cabeça, a fraqueza tomando conta de todo o seu corpo. Ela
forçou os olhos a permanecerem abertos, observando enquanto ele fechava a
porta e corria para o banco do motorista, ligando o carro com as chaves que
haviam sido deixadas na ignição. Quando ele estava na estrada, ela podia vê-lo
enfiar a mão dentro de sua bolsa e tirar o telefone dela, pressionando-o em seu
ouvido em pânico.
— Mamãe! Prepare o templo! Ana está morrendo!
Capítulo 29

— Ana? Ana, você pode me ouvir? — Ezra perguntou, sua voz em pânico e seus
olhos selvagens de preocupação.
Ana choramingou em seus braços. Seu rosto estava pálido, e suas mãos mal
conseguiam segurar a camisa dele.
— Mamãe! Mãe, onde você está?! — Ezra gritou enquanto a carregava pela
soleira da loja de sua mãe. Ela estava sangrando muito, e pingava no chão de
madeira enquanto ele corria pela sala e atrás da cortina. — MAMÃE!
Genevieve subiu correndo as escadas do porão e o encontrou nos fundos,
ofegando alto quando viu Ana em seus braços. Sua pele estava tão pálida, como
se seu corpo tivesse drenado todo o seu sangue.
— O que diabos aconteceu com ela?!
— Papai aconteceu com ela. Você precisa ajudá-la. Por favor — disse Ezra.
Ele não esperou que sua mãe respondesse, e passou correndo por ela e desceu os
degraus para o templo.
Genevieve o seguiu e o observou enquanto ele caminhava direto para o
círculo branco no chão no centro da sala perto do altar e a deitava no chão no
meio dele. Ele segurou seu rosto em suas mãos ensanguentadas, batendo em suas
bochechas.
Ana gemeu, balançando a cabeça de um lado para o outro enquanto abria os
olhos novamente o máximo que podia, mas eles só abriram pela metade. Ezra
estava pairando sobre ela, com o rosto dolorido e os olhos cheios de medo
enquanto a olhava.
— Onde estou?
— Shh. Não fale, você precisa economizar sua energia, ok? Minha mãe vai
ajudá-la, apenas tente ficar acordada — Ezra acariciou seu cabelo para trás de sua
cabeça.
— Ezra, me d-desculpe — Ana começou a dizer, mas ao fazê-lo, ela sentiu
algo encher o fundo de sua garganta e descobriu que não conseguia respirar. Ela
cuspiu e tossiu, e quando puxou a cabeça para trás de seu peito, percebeu que
tinha tossido sangue por toda a frente de sua camisa. Ela choramingou em pânico,
suas mãos tremendo enquanto tentavam agarrá-lo, mas ela estava muito fraca. —
E-eu vou morrer?
— Não, não, você não vai morrer, Ana! — Ezra disse enquanto olhava para o
sangue em seu peito e começou a tremer, olhando por cima do ombro para
encontrar sua mãe. — Mamãe! Mãe, depressa!
— Eu estou indo! — Genevieve disse enquanto corria pela sala, trazendo uma
braçada de cotonetes e livros e potes de unguentos de aparência estranha. —
Precisamos tirar o athame do estômago dela — Ela caiu de joelhos ao lado deles.
Ana olhou para a adaga que a perfurou. Não estava mais brilhando, e a pedra
que tinha a energia rodopiante dentro agora era apenas uma simples pedra sólida,
como se nunca contivesse nada. Sua cabeça pendeu novamente quando Ezra se
moveu para se sentar atrás dela, trazendo sua cabeça em seu colo enquanto a
embalava.
— Faça isso rápido, eu vou segurá-la — Ezra assentiu.
Genevieve pousou os itens que estava carregando ao lado dela e estendeu as
mãos para o athame, colocando os dedos ao redor do punho, e em um movimento
rápido, o puxou para fora de seu estômago. Ezra colocou a mão sobre a boca de
Ana enquanto ela gritava alto em sua palma. Genevieve então empurrou o
ferimento para baixo para tentar parar o sangramento, mas ele continuou
escorrendo por entre os dedos.
— Abra o livro! Página cinquenta e quatro — ela disse enquanto começava a
despir Ana. Ela rasgou o vestido para expor seu estômago e pressionou a ferida
com os panos, olhando para Ezra quando ele encontrou a página e a colocou na
frente dela. — Bom, agora comece a trabalhar com os sigilos.
Ezra assentiu e puxou as alças de seus ombros, tirando o vestido de Ana e
deixando-a de calcinha, então pegou o pote de cinzas oleosas que estava ao lado
do livro. Ele desenhou símbolos que Ana não reconheceu em sua pele.
— Ezra... Eu n-não consigo manter meu o… — Ana soluçou, seu corpo
perdendo toda a sensação.
— Mantenha-os abertos, continue olhando para mim, Ana, você não pode
dormir — Ezra implorou. Ele não parou de desenhar nela, mesmo quando ela
começou a perder a consciência.
De onde estava deitada, ela podia ouvir Genevieve começando a cantar sobre
seu estômago, suas mãos pressionando sua ferida enquanto balançava para frente
e para trás no chão ao lado dela. Suas mãos pareciam estar vibrando em sua pele,
e quando ela abriu os olhos para olhá-la, ela viu Genevieve com a cabeça apontada
para o céu, e seus olhos não eram mais seus. Eles estavam brilhando brancos e
iluminados, tanto que era difícil olhar para eles. Fracamente, Ana olhou uma
última vez para o rosto de Ezra enquanto seus olhos se fechavam e seus
batimentos cardíacos diminuíam.
— Ana, fique comigo! Você vai ficar bem. Você confia em mim? — Ezra
ofegou, terminando seus sigilos, inclinando-se para beijar sua testa e acariciando
seu cabelo para trás de seu rosto pálido.
Uma pequena curva de sorriso alcançou os lábios de Ana.
— Absolutamente — ela murmurou quando seu corpo finalmente desistiu e
seu mundo ficou preto.
Capítulo 30

Ela nunca pensou sobre como seria a morte. Ela nunca pensou para onde iria se
morresse, ou o que a esperava se escapasse da terra dos vivos e flutuasse no abismo
que era a morte. O pior era a confusão e a dor de vagar no meio, sendo impotente
para se aproximar da luz branca da vida enquanto a escuridão da morte a
magnetizava para baixo em seu vazio. Enquanto ela perseguia o conforto doce e
quente da luz, a escuridão a perseguia com a mesma rapidez.
Corra, corra, o mais rápido que puder.
Abrindo os olhos, Ana olhou para um teto familiar, embora, ali deitada pelo
que pareceu uma eternidade, não conseguisse localizar exatamente onde estava, a
memória um pouco além de seu alcance na névoa de sua mente. Ela gemeu e virou
a cabeça, o quarto de Abby aparecendo enquanto ela lentamente se sentava
contra seus travesseiros. Ela estava vestindo uma camiseta preta com um slogan
de banda que não reconheceu, e quando olhou para seu estômago, todas as
memórias que pareciam tão distantes voltaram à sua mente.
Alexandre. O athame. Ezra.
— Ana? — Ezra estava sentado em uma poltrona, parecendo que tinha
acabado de acordar. Ele tinha um livro velho aberto em seu colo e estava
limpando o sono de seus olhos enquanto o fechava e o colocava de lado. Ele se
levantou da cadeira e foi até a cama, sentando-se ao lado dela e pegando sua mão.
— Ei…
Ana engoliu em seco, a mordida de sede grossa em sua língua e sua cabeça
girando. Seu corpo parecia diferente, como se não fosse completamente dela de
alguma forma, como se houvesse tanto de si mesma que não estava nos mesmos
lugares de antes. Algo em suas veias formigava e vibrava; as cores pareciam mais
brilhantes e os cheiros pareciam mais doces.
— O que aconteceu? Como eu cheguei aqui?
— Eu trouxe você aqui — Ezra disse enquanto observava o rosto dela atrás
dos olhos que procuravam por algo. — Como você está se sentindo?
— Eu… — Ana começou, então olhou de volta para seu estômago. Ela não
sentiu como se estivesse com dor, e em confusão, estendeu a mão até a camiseta
que estava vestindo e puxou-a rapidamente. Não havia nenhum curativo ali,
nenhum sangue e nenhuma ferida que a invadisse. Havia apenas uma cicatriz fina
e branca que unia sua pele onde a lâmina estivera. — Há quanto tempo estou
aqui? Achei que tinha morrido…
— Você morreu. Algumas vezes, na verdade — Ezra suspirou com uma
carranca quando pegou a mão dela e a colocou no colo, acariciando as costas dela
suavemente. — Você está inconsciente há três dias.
— Isso não faz sentido, Ezra. Estou curada. Não dói mesmo. O corpo
humano não se cura tão rápido — Ana disse enquanto se recostava nos
travesseiros novamente e olhava para o rosto dele.
— Um corpo humano não cura, não — Ele suspirou, abrindo e fechando a
boca como se não soubesse quais palavras escolher em seguida.
— Ezra, o que foi? O que está acontecendo? Por que estou curada? Por que
me sinto tão diferente? Onde está Alexandre? Você o encontrou? — Ela estava
divagando perguntas, tentando desesperadamente alcançar respostas que parecia
tão relutante em dá-la.
— Ninguém o viu desde que ele deixou o monumento depois que a
esfaqueou. Não houve um avistamento dele. Tentamos rastreá-lo, mas ele se foi
com o vento — Ezra olhou para o chão e engoliu em seco. Seus olhos pareciam
pesados, como se estivessem ansiando por dormir.
Ele mordeu o lábio em pensamento, então estendeu o dedo e enfiou a mão
na gaveta ao lado da cama, retirando o longo athame prateado e dourado com a
pedra opaca dentro. Ana se encolheu instintivamente quando ele puxou-o na
frente dela e o virou em sua mão, em seguida, ofereceu a ela.
— Eu tenho muito a explicar para você, e você não vai gostar.
— Ezra, se você não começar a falar, eu vou te mostrar exatamente como é
essa lâmina — Ana ameaçou enquanto a pegava dele com a mão trêmula. Parecia
leve, e olhando mais de perto, ela ficou confusa ao ver como uma lâmina tão
simples poderia ter feito tanto dano.
A pequena curva de um sorriso puxou os cantos de sua boca, e ele inclinou a
cabeça.
— Depois que minha mãe conseguiu curá-la, nós a lavamos e a deitamos aqui
para que pudesse descansar. Depois, voltei ao monumento para encontrar meu
pai. Ele se foi, obviamente, mas deixou todas as suas ferramentas cerimoniais e seu
livro de feitiços lá. Isso foi muito mais do que apenas um athame, Ana. Eu não
fazia ideia. Meu pai estava procurando por um tempo, foi aí que eu tive a ideia de
encontrá-lo antes dele, mas ele queria para um propósito muito mais sombrio —
Ele a pegou de novo e passou o dedo sobre a pedra no punho, sua expressão
torturada ao tentar explicar a ela em palavras que ela entenderia.
"Você se lembra quando me disse que havia algo se movendo dentro da
pedra? Meu pai estava certo. Estava ligado a todas as bruxas do coven Marion;
eles ligaram suas almas e sua magia a ele para que, quando morressem, todo o seu
poder coletivo fosse mantido dentro dele com segurança. Meu pai ia fazer um
ritual para tirar o poder da pedra e para absorvê-lo, mas não leu o feitiço com
clareza. Não sei se ele interpretou mal a tradução ou estava muito ocupado me
nocauteando, mas cometeu um erro. A pessoa que empunhava o athame deveria
ser o sacrifício, não a pessoa na ponta da lâmina. É por isso que seu braço se
desintegrou. A pessoa em quem a lâmina penetrou, a pessoa cujo sangue viajou
pelo athame e manchou a pedra, é a ela que se liga. Então…”
— Então, o que, Ezra? — Ana perguntou, observando-o. Seu coração estava
batendo em seus ouvidos mais alto, como se seu pânico estivesse afetando os
átomos no ar ao seu redor. A cama começou a vibrar e as bugigangas na
penteadeira balançaram. Ela engasgou. — O que está acontecendo!
— Você precisa se acalmar. Você não pode mais deixar suas emoções
tomarem conta de você — Ezra avisou enquanto ignorava a vibração na sala e
pegava as mãos dela novamente, fazendo-a olhar para ele. Quanto mais ela olhava
nos olhos dele, mais o movimento parava e voltava ao normal. — Assim é melhor.
— Ele sorriu.
— Ezra, o que está acontecendo comigo?
— Tudo — Ezra sorriu. — Quando o athame se ligou a você e seu sangue, o
feitiço já estava lançado, e o poder de todas aquelas bruxas saiu daquela pedra e
entrou em você, Ana. Você. Não no meu pai.
Lágrimas picaram atrás de seus olhos enquanto o observava, e ela começou a
entrar em pânico novamente. A cama debaixo dela começou a se erguer do chão
e balançar, fazendo-a gemer. Ela abraçou o peito dele e viu a cama começar a se
endireitar quando tentou se acalmar.
— É real? É tudo real?
— Cada pedacinho disso — Ezra disse enquanto se afastava para olhar para
ela. — Mas é muito poder, Ana, e se você não controlar, vai te consumir. Mas eu
posso te ensinar.
Ana fungou e olhou ao redor da sala enquanto tentava compreender o que
ele estava dizendo. Ela procurou em suas memórias, pensando em quando ela caiu
na torre e acordou no chão sob ele em segurança, na cerimônia de Litha quando
ela pensou que ele havia matado seu pai, mas ele não o fez, então na mansão
Harrow quando ele havia destrancado a porta com as mãos e quando o segurança
não parecia vê-los bem na frente dele.
— Você... vocês…
— Sim. Quer dizer, eu não poderia dizer a verdade. Você nunca teria
acreditado em mim — Ezra disse enquanto suspirava e olhava para seu colo. —
Por mais esmagador que eu tenha certeza que tudo isso seja para você, precisa
confiar em mim. Meu pai pode voltar para terminar o que começou, e o Alto
Conselho não ficará feliz que uma humana tenha o poder de todo o coven
Marion. Então, precisamos levá-la para algum lugar seguro, por enquanto, até
que você possa controlá-lo e se defender.
Ele estava falando em palavras que ela não entendia, mas quando ela olhou
para seu rosto sorridente, ela sorriu de volta fracamente.
— Você confia em mim? — Ezra perguntou, levando a mão dela perto de seu
peito.
Ana engoliu em seco e assentiu uma vez lentamente.
— Absolutamente.
Ela olhou para sua mão livre, e seus olhos encontraram sua veia que pulsava
com sangue. Ela podia ver, podia sentir, todo aquele poder que o percorria como
uma nova vida. Parecia limpo e refrescantemente frio, como se nada que a tivesse
atormentado antes pudesse tocá-la agora. Ela não sabia quantas magias de bruxas
estavam presas dentro daquela pedra, mas ela podia sentir cada uma lá dentro em
algum lugar, suas mãos em seus ombros, prontas e esperando. Uma grandeza de
poder…
E agora, ela tinha tudo isso.
Um pouco de História

Infelizmente, todas as histórias surpreendentemente horríveis que Ezra conta


para Ana em Whisper of Witches são verdadeiras. Os nomes foram alterados, mas
a mulher que foi queimada até a morte durante o trabalho de parto era verdadeira.
As mulheres que morreram em barris de tortura, era verdade. A invenção
inútil da corda de misericórdia era verdade. Os números surpreendentes de
acusados de feitiçaria e posteriormente assassinados também são verdadeiros.
A troca do dinheiro e das terras das bruxas acusadas nas mãos dos que estão
no poder, verdade, verdade, verdade.
Nunca deixa de me surpreender o que os humanos podem fazer uns aos
outros por medo do desconhecido, e o fato é que essas coisas continuam a
acontecer em nosso mundo moderno.
Aos homens e mulheres acusados de feitiçaria: ninguém pode mudar os
pecados do passado, mas espero que com este livro, mais algumas pessoas
conheçam suas histórias.
Abençoados sejam.
Agradecimentos

Em primeiro lugar, este livro nunca teria acontecido se eu não tivesse tropeçado
nas reflexões de um pequeno grupo de colegas escritores. Maddie Cowan, Kristin
Sargent, Marie Freeman, Kassi Parsons, Eurydice Noelle Perkins, Emma
Reinhart e Heather Coy; Não tenho palavras para agradecer a vocês meninas o
suficiente pelo nosso pequeno grupo criativo especial que me fez começar.
À minha melhor amiga, que escreve comigo há mais de quinze anos, Lainie
Elizabeth. Podemos estar a um oceano inteiro de distância, mas você significa
mais para mim do que a maioria das pessoas no planeta.
As minhas incríveis leitoras BETA, Corri Clarke, Amy Dunlop e Shauna
Browne, cujo entusiasmo e amor por esses personagens me fizeram continuar.
Vocês são a razão pela qual este romance foi finalizado em primeiro lugar, e eu
amo todas vocês.
Para uma das minhas amigas de armário e revisora, Joanna Magill, que esteve
comigo em todas as minhas fases nerds, você é incrível, e eu tenho muita sorte de
chamá-la de amiga.
À minha irmã, Shalana Hegarty, a pessoa que sabe quando preciso de um
abraço e de uma ida às compras para clarear a cabeça, antes mesmo de eu precisar.
Eu te amo muito.
Mais importante, ao meu maravilhoso marido, que fica tão animado quanto
eu com minhas histórias, que esteve lá para mim com ideias e reviravoltas na
trama. O homem que me traz café, amor e apoio quando estou escrevendo: eu te
amo mais do que tudo.
E por fim aos meus lindos enteados, que me distraem da escrita com piadas e
vídeos engraçados, abraços e sorrisos; obrigado por me trazer de volta ao mundo
real, onde sua magia brilha mais forte.

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