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1
Referência ao time de basquete feminino.
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2
Em inglês, avião é "airplane" e plano, "plane" assim fazendo uma piada com
as duas palavras.
— Você está tendo problemas com sua magia — Ozroth
disse. — Posso ajudar com isso.
Ela zombou.
— Deixe-me adivinhar, pelo preço da minha alma? Eu teria
o controle da minha magia, e então você a tiraria de mim
imediatamente.
Ele fez uma careta.
— Eu não deveria ter dito a você que funcionava desse jeito.
— Sim, bem, você disse. — Ela pegou uma vassoura no
armário e começou a varrer os restos de seu bule. Em que
confusão ela se meteu.
Uma grande mão se fechou ao redor do cabo da vassoura e
Mariel se encolheu.
— Permita-me — disse o demônio.
Ela largou a vassoura, recuando. Ela não gostou de como o
ar estava quente ao redor dele ou a maneira como sua pele
formigava com sua proximidade.
— Eu não estou contratando seus serviços de limpeza — ela
disse enquanto esbarrava na mesa. — Só para deixar claro.
Ele fez um som bufante quando começou a varrer. Ele estava
rindo dela?
— Sabe — ele disse casualmente enquanto juntava os cacos
do bule em uma pilha —, eu posso te ajudar com sua magia de
qualquer maneira. Sem a alma.
— Por que você faria isso?
Ele encolheu os ombros.
— Isso vai me entreter enquanto você descobre que favor
deseja.
Ele estava realmente convencido de que ela faria um acordo
com ele. Mariel pode não ter herdado mais nada de Diantha
Spark, mas ela só se dobrava quando desafiada. Quando Mariel
tomava uma decisão, ela não mudava.
— Nunca vai acontecer. Não há nada que eu queira o
suficiente para dar minha alma a você. — Deixando o legado de
lado, manter sua alma – e, portanto, sua magia – significava
manter seu jardim vivo. Significava a vibração quente e
aconchegante de poder em seu peito. Significava a chance de
algum dia deixar sua família orgulhosa.
Ozroth sorriu.
— Veremos.
Quatro
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Em inglês, "hospital corners" é um modo de dobrar lençóis criado no século
XIX, sendo uma forma de deixar a cama arrumada e bem feita. Inicialmente, era
usado por enfermeiras na guerra para facilitar a troca e deixar os pacientes
confortáveis.
— O quê? — ele perguntou.
— Um demônio acabou de fazer minha cama. — O nariz de
Mariel enrugou. — Isso é... bizarro.
— Pelo pequeno preço da sua alma, limparei toda a sua casa.
— Não seria a barganha de alma mais patética já feita, embora
chegasse perto.
— Tentador — ela disse —, mas não.
Ela saiu e Ozroth a seguiu, nunca deixando que ela se
afastasse mais do que alguns metros. Se ela planejava tentar
durar mais que ele, ele planejava ser o mais irritante possível. A
propósito, ela continuou resmungando e olhando para ele,
estava funcionando.
Ele a seguiu até uma pequena estufa, então parou na
entrada. A vida explodia em todos os cantos, e o ar estava
pesado com o rico aroma floral que ele sentiu nos lençóis dela.
— Isto é surpreendentemente organizado — disse ele,
notando a maneira como ela arrumou as plantas em filas
perfeitas.
Em resposta, ela mostrou o dedo do meio.
Ele observou enquanto ela vagava pelas plantas, sussurrando
para elas e acariciando-as. Elas acariciavam de volta,
entrelaçando-se em seu cabelo e dando tapinhas em seus
ombros como se a confortassem.
Uma dor aguda nas costas da mão o fez pular. Ele olhou para
a ofensora – uma roseira que estava puxando seus espinhos
afiados para trás.
— Usando sua magia de jardim para o mal? — ele chamou
por cima do ombro.
Ela bufou.
— Elas estão apenas me protegendo.
— Percebe que a intenção vem de você, certo? Elas não estão
agindo por conta própria.
Ele se perguntou quantos olhares feios dela ele acumularia
antes que sua barganha fosse encerrada. Cada um enviava um
calor fervilhando através dele, um lampejo de diversão
misturado com indignação por sua irritação.
— Não fale sobre minhas plantas assim — ela retrucou. Um
lírio roçou as pétalas contra sua mão. — Elas fazem o que
querem.
Outra sensação desagradável e indesejável o atingiu. Ela
estava claramente tentando se acalmar com as plantas e
aparentemente se convenceu de que elas eram suas amigas. Na
realidade, elas se importavam tão pouco com ela quanto uma
pedra. Ela era o motor que alimentava seus movimentos.
— Vou parar de falar sobre as plantas se você...
— Não — ela disse, virando-se.
O dia progrediu assim, com Ozroth tentando cansar Mariel
e Mariel alternando entre ignorá-lo e ser totalmente rude.
Tornou-se um jogo estranho – quantas coisas ele poderia
oferecer em troca de sua alma?
Uma orquídea rara. Uma reforma na cozinha. Um carro
esportivo para substituir sua bicicleta.
Ela rejeitou tudo. Enquanto Ozroth a seguia, sua mente se
agitava com a pergunta do que Mariel Spark queria mais do que
qualquer outra coisa no mundo.
Normalmente era uma resposta clichê: dinheiro, amor, sexo,
vingança ou poder. Às vezes, bruxas e feiticeiros tinham
necessidades mais pessoais, como a ressurreição de um ente
querido ou a cura de uma doença terminal. Ele tinha a sensação
de que Mariel seria mais atraída pela última categoria do que
pela primeira.
— Alguém que você ama morreu recentemente? — ele
perguntou.
Ela estava debruçada sobre livros de feitiços na mesa da
cozinha e, ao ouvir as palavras, sua cabeça se ergueu.
— Que tipo de pergunta é essa?
— Eu posso ressuscitá-los. — Exigia muito esforço, e
cadáveres reanimados cheiravam horrivelmente no começo,
mas se isso fosse necessário para ganhar a alma de Mariel para o
plano demoníaco, ele o faria com prazer.
Um olhar de desgosto cruzou seu rosto.
— Essa é uma oferta terrível.
— É mesmo?
— Eu certamente não gostaria de ser trazida de volta à vida.
E a decomposição?
Tudo bem, nada de reanimar parentes mortos.
— Você gostaria de uma cesta de gatinhos? — ele
perguntou, tentando outra abordagem. — Pense em que boa
companhia eles seriam.
Ela balançou a cabeça, fazendo seus cachos balançarem.
— Apenas... cale a boca um pouco, está bem?
Foi a vez de ele encará-la.
— Você é o ser humano mais rude que já encontrei.
— Que pena — disse ela, batendo o ombro no dele quando
ela saiu da cozinha. — Você merece muito pior do que isso.
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4
Liga esportiva profissional de futebol americano.
— Então vocês todos são grandes? E os esportes?
— Sem NFL — disse ele, inclinando a cabeça para trás para
olhar para o céu. — Temos muitos esportes. Alguns você
reconheceria, a maioria não. E sim, os demônios tendem a ser
maiores em comparação com os humanos, mas isso varia.
— Você é o maior?
Ele deslizou-lhe um olhar de soslaio, então sorriu.
— Depende do que você está perguntando.
O demônio era astuto. Primeiro piadas, depois insinuações
– o que viria a seguir? Ela queria tanto perguntar se os paus
demoníacos tinham farpas, mas perguntar às pessoas sobre seus
órgãos genitais definitivamente não era educado. Ela
mergulhou o resto de suas panturrilhas na água de uma só vez
para se distrair, sibilando quando a água quente atingiu sua
pele. Alguns segundos dolorosos depois, ela se acostumou e o
calor começou a ficar incrível. Ela riu quando um peixe curioso
mordiscou seus dedos dos pés.
Ozroth estremeceu, espirrando água por toda parte.
— O que foi isso? — ele exigiu, olhando para a água
turquesa.
— Mordidas no dedo do pé? — ela perguntou. Quando ele
assentiu, ela explicou. — Tem peixes que vivem nessas piscinas
e comem pele morta. É melhor do que uma pedicure.
Ele fez uma careta.
— Isso é nojento. — Mas ele não tirou os pés. — Temos
peixes de água quente no plano demoníaco, mas não sabia que
os humanos os tinham.
— Este é um dos únicos lugares no mundo onde você pode
encontrá-los. A maioria das fontes termais são hostis demais
para a vida. Mas há magia em tudo aqui, das árvores à água e aos
peixes. — Ela olhou em volta, tentando localizar outras
criaturas. Um tordo se enfeitava em um galho próximo e uma
borboleta azul esvoaçava em torno de uma das flores. — Espero
que vejamos uma salamandra de fogo — disse ela. — Elas são
ainda mais raras que as fênix.
— Eu posso ver porque você gosta daqui — disse ele. — É
colorido, mas não esmagador. É tranquilo.
— Por agora. — Sua boca se contorceu. — Quando eles
construírem o resort e o spa, tudo estará arruinado.
Oz franziu a testa.
— Eles vão construir aqui?
— Não exatamente aqui — disse Mariel, girando os pés na
água. — Há um aglomerado de piscinas interconectadas mais
acima na encosta. Eles vão nivelar a terra ao redor, cortar as
árvores e revestir as piscinas com ladrilhos. Nada mais de peixes
ou salamandras então.
O projeto de construção a manteve preocupada por muitas
noites. Glimmer Falls sempre foi um oásis – um lugar onde a
magia prosperava e as bruxas se misturavam com humanos
comuns e criaturas místicas em harmonia. Havia um equilíbrio
em tudo, desde as pessoas até o meio ambiente, e ela ficava grata
por morar em um lugar onde a rápida expansão e os arranha-
céus de concreto das grandes cidades ainda não haviam se
intrometido.
Então Cynthia Cunnington foi eleita prefeita, e suas
ambições de fazer de Glimmer Falls um destino turístico não
ficaram claras até muito tarde. A comunidade mágica deveria
ter se levantado em protesto, mas os Sparks e Cunningtons
eram os pilares da comunidade, e bruxas ricas como Cynthia e
Diantha só pensam no próprio umbigo para poder perceber o
dano que o capitalismo desenfreado causaria a este paraíso. As
bruxas mais pobres e menos prestigiosas não tinham força para
enfrentá-las.
Mariel desejou que sua mãe e Cynthia pudessem sentir a
terra do jeito que ela sentia. Como muitas outras bruxas,
porém, seu poder era chamativo. Elas não sentiam uma conexão
com o mundo natural. A teia de magia sob Glimmer Falls era
densa, mas delicada, e Mariel sabia que se a paisagem fosse
removida, ela rapidamente começaria a se desfazer.
— Eu entendo o protesto agora — disse Ozroth. — Lugares
com tanta magia são raros. — Ele fungou algumas vezes. —
Você pode praticamente sentir o cheiro no ar.
— Você pode sentir o cheiro de magia?
— Eu posso sentir. E ver quando eu abro meus sentidos
demoníacos. A magia humana é como uma luz dourada. — Ele
olhou para ela, os olhos passando por seu rosto, depois
baixando. — É como eu sei que você é poderosa. Sua alma
brilha como o ouro mais brilhante.
Ela fez uma careta.
— Poderosa, mas incapaz de usá-la.
— Você usou hoje — disse ele. — Quando você me fez
tropeçar. E mais tarde, quando você fez o arbusto nos deixar
passar. — Sua testa franziu. — Talvez algumas outras vezes,
embora eu não tenha ouvido você falar um feitiço.
— Eu nem sempre preciso. Só quando quero forçar um
resultado específico. Na maioria das vezes eu apenas alimento
as plantas com magia e peço gentilmente.
— É raro uma bruxa ser capaz de usar magia sem falar as
palavras. Sua família sabe que você pode fazer isso?
— Eu não sei — Mariel admitiu. — Eles nunca pensaram
muito na magia das plantas, então não fazem muitas perguntas
sobre isso. Mas eu estava trabalhando com plantas antes mesmo
de aprender a linguagem da magia, então talvez? De qualquer
forma, minha mãe pode teletransportar algumas coisas sem
usar as palavras, então não é exatamente especial.
Ele a estava estudando atentamente.
— É especial. E eu acho que chamar de magia de plantas é
limitante. É todo o mundo natural com o qual você está
sintonizada.
Ouvir sua magia elogiada pela primeira vez foi uma sensação
inebriante, e Mariel se contorceu de prazer.
— Você diz as coisas mais legais.
Ele bufou.
— É a verdade.
Ela se virou para encará-lo, plantando uma mão na rocha
para poder se inclinar. A outra mão segurou sua bochecha. Sua
pele estava quente como quando tem febre.
— Oz — ela disse séria. — Você pode estar aqui para roubar
minha alma, mas foi mais gentil com minha magia no último
dia do que qualquer um, além das minhas amigas, em anos.
— Não é um roubo — ele resmungou. — O ponto principal
é que é uma troca. — Ele moveu a cabeça, pressionando mais
fundo em sua palma, e Mariel engasgou quando seus lábios mal
roçaram sua pele.
— Cale a boca e deixe-me agradecer — disse ela sem fôlego.
A energia estava crescendo entre eles, não a da magia, mas algo
mais elementar. Ela se aproximou sem perceber e sentiu
arrepios quando a respiração dele soprou contra seus lábios.
Seus olhos estavam arregalados, as íris douradas quase engolidas
por pupilas negras. A mão dele pousou na cintura dela, e Mariel
estremeceu.
Essa atração não era unilateral. Ela sabia disso, com tanta
certeza quanto conhecia a ferida mágica nas raízes.
— Você não deveria ter que agradecer as pessoas por dizerem
a verdade — ele murmurou. Seu peito subia e descia
rapidamente. Seus olhos moveram-se para os lábios dela e
voltaram para cima.
Havia duas vozes na cabeça de Mariel. Uma era de Calladia,
gritando: Que porra você está fazendo?! A outra a incitava. Feche
a distância. Beije o demônio. Descubra em primeira mão o quão
grande ele é.
Ela lambeu os lábios e se inclinou...
Um pequeno, mas feroz rugido foi seu único aviso. Ela se
encolheu para o lado, e o jato de fogo roçou seu braço ao invés
de pousar direto nas suas costas.
— Filho da puta! — ela xingou, saltando para ficar em pé.
Oz levantou tão rápido que quase caiu na piscina. Ele a
empurrou para trás, posicionando-se entre ela e a ameaça.
— O que é? — ele demandou. — O que há aqui?
— Olhe para baixo — disse ela, segurando a queimadura em
seu braço.
— O que é isso? — perguntou Oz.
Ela olhou ao redor dele para ver o atacante. Alguns metros à
frente de Oz, uma salamandra laranja do tamanho de um gato
doméstico estava em posição de ataque, com os pés bem
abertos. Sua cauda se contraiu e ela rugiu novamente. Uma
nuvem de fogo saiu de sua boca, envolvendo os pés descalços de
Oz.
— Oh, não! — Mariel chorou. Ela tentou puxá-lo de volta,
mas ele se manteve firme. — Você está bem? — Um golpe direto
como aquele a teria deixado com bolhas, mas ele nem sequer se
encolheu.
— Demônio — disse ele secamente. Ele olhou para a
salamandra como se estivesse prestes a arrancar suas entranhas.
— E esta é uma salamandra de fogo, presumo. Você estava
protestando para salvar isso?
— Elas estão extremamente ameaçadas. — Mariel puxou o
braço dele novamente, apreciando a sensação de aço de seu
bíceps. — E não foi culpa dela. Estamos no seu território, e ela
deve ter soltado alguns silvos de alerta ao sair da piscina, mas eu
não ouvi. — Porque ela estava distraída com o pau, peito e a
boca do demônio.
Ele olhou por cima do ombro.
— Estou inclinado a esmagar essa coisa por te queimar, mas
algo me diz que você não gostaria disso.
— Não esmague ela! — Por dentro, porém, ela sentiu uma
emoção estranha com a ideia de que ele mataria algo por
machucá-la. A voz de Calladia estava gritando algum tipo de
conselho horrorizado em sua cabeça novamente, mas Mariel
ignorou em favor de envolver o outro braço em torno da
cintura dele, mordendo o lábio quando ela encontrou os cumes
duros de um abdômen de seis gominhos. Hécate, isso não era o
que ela deveria estar fazendo com um demônio que queria sua
alma, mas Mariel tinha um autocontrole muito fraco na melhor
das hipóteses, e ela não transava há anos. — Precisamos recuar
lentamente — disse ela. — Se você virar e correr, ela vai te
perseguir.
— Ridículo — Oz murmurou. Ele recuou, porém, e Mariel
moveu-se com ele. Era um tipo estranho de dança, já que ela
estava pressionada contra suas costas, mas ela não queria abrir
mão do seu bíceps ou do abdômen. A salamandra observou-os
partir, olhos negros redondos de alguma forma transmitindo
indignação.
Mariel parou abruptamente.
— Ai! — ela disse quando Oz pisou em seus pés.
— Desculpe. — Então ele fez uma careta por cima do
ombro, aparentemente lembrando que ele deveria ser mal-
humorado e intimidador. — Se você não quer ser pisada, não
pare quando eu não puder vê-la.
Mariel desviou dele para se aproximar da salamandra. Ela se
livrou de Oz quando a mão dele pousou em seu ombro.
— Algo está errado — disse ela. A queimadura em seu braço
latejava, mas ela ignorou a dor.
Os olhos da salamandra tinham uma película fina, e o
mosqueado vermelho que deveria ter na pele era marrom
opaco. Ela abriu a boca, mas o rugido foi mais um bufo desta
vez, e apenas uma chama fina saiu. Sangue vermelho escuro
começou a escorrer de sua boca.
— Ela está doente — disse Mariel, sentindo-se mal. Ela
nunca tinha visto um animal doente nesta floresta. Tudo tinha
seu tempo de vida, mas as criaturas aqui morriam de velhice,
não de doença.
— E? — perguntou Oz. — Mariel, volte. Vai queimar você
de novo.
Ela o ignorou, agachando-se para inspecionar o animal mais
de perto.
— Nada fica doente aqui.
Ela fechou os olhos, abrindo seus sentidos para a floresta.
Folhas farfalhavam, as árvores ganhavam força balançando ao
vento, e a rica tapeçaria da vida era tão densa e selvagem como
sempre. Mas então sua mente roçou em um pedaço de terra que
parecia... errado. Em vez de verde e rico, parecia escuro e vazio.
Ela se levantou e começou a correr, sem se preocupar em
pegar as botas. Curar um animal era uma magia complicada
que ela ainda não havia aprendido, então não havia nada que
ela pudesse fazer pela salamandra, mas talvez ela pudesse fazer
algo pela floresta.
Oz gritou, mas ela o ignorou, mergulhando nos arbustos.
Eles se separaram, sentindo sua necessidade, mas ela ouviu Oz
xingar quando eles se fecharam atrás dela. Ele estava seguindo
de qualquer maneira – os sons de estalos e o ultraje latejante das
plantas diziam isso a ela – mas Mariel não conseguia parar. Ela
precisava descobrir o que havia de errado com sua floresta. Seus
pés descalços pisavam em raízes e folhas caídas enquanto ela
procurava a sensação de vazio e enjoo.
Ela encontrou a fonte da escuridão: um abeto Douglas
gigante. Seu tronco estava preto e apodrecido, com uma
reentrância na casca de trinta centímetros mais larga e mais alta
que Mariel. A grama em suas raízes era preta e a escuridão se
espalhava em gavinhas sobre o solo ao redor, seguindo a
estrutura da raiz.
Mariel caiu de joelhos, então pressionou a mão contra uma
fatia escura da grama. Sob a terra, a raiz estava apodrecendo. Ela
alimentou magia à raiz sofrida... e nada aconteceu.
Mariel fechou os olhos e se concentrou.
— Cicararek en arboreum. — Cure a floresta.
Com a linguagem da magia emoldurando o feitiço, ela
sentiu a decadência negra retroceder. Não o suficiente, no
entanto. Ela disse de novo, de novo. As raízes se curaram
gradualmente, mas algo sujo ainda se aninhava dentro do
tronco.
Oz finalmente a alcançou, ofegante e com as folhas grudadas
no chapéu.
— Mariel, o que em nome de Lúcifer você está fazendo?
Ela o ignorou, colocando a mão no tronco.
— Cicararek en arboreum. — A podridão encolheu
novamente. Ela se sentiu repentinamente tonta e caiu sobre os
calcanhares. — A floresta está doente — disse ela. Manchas
pretas nadavam na frente dos seus olhos. — E minha mágica
está apenas consertando pequenos pedaços.
Oz se agachou ao lado dela.
— Isso não é normal?
— Não, não é — Mariel estalou. — Posso curar qualquer
planta. — Sua cabeça doía e ela sentia vontade de desmaiar e
vomitar ao mesmo tempo. A podridão não havia sumido, mas
ela não tinha certeza se conseguiria fazer outro feitiço. — Minha
magia deveria ter consertado.
Os olhos de Oz moveram-se para cima e para baixo no
tronco da árvore. Ele enfiou um dedo no solo, depois cheirou o
ar.
— Eu não sinto a magia de bruxas.
— Não pode ser natural. — Mariel passou os braços em
volta do tronco, não se importando em sujar seu vestido mais
fofo. — Cicararek en arboreum! — Ela gritou o feitiço,
imaginando a magia saindo da sua pele e entrando na árvore.
Ela enviou cada grama de seu amor pela natureza para o feitiço,
desejando desesperadamente que fosse o suficiente.
A podridão negra desapareceu, mas as manchas escuras em
sua visão se expandiram. Então não havia mais nada.
Dez
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5
WASP é o acrônimo que em inglês significa "Branco, Anglo-Saxão e
Protestante". Com frequência usada em sentido pejorativo, presta-se a designar
um grupo relativamente homogêneo de indivíduos de religião protestante e
ascendência britânica que supostamente detêm enorme poder econômico,
político e social.
algo que as frenéticas mensagens de texto de sua mãe deixaram
bem claro. Mariel ainda não havia respondido a essas
mensagens, uma parte tola dela esperava que sua mãe pelo
menos reconhecesse, se não se desculpasse, pelo desastre do
jantar.
— Mariel — disse Cynthia. — Estou tão feliz em ver você
aqui. — Seu tom deixou claro que ela sentia tudo, menos
felicidade.
— Temos outras flores comestíveis, como amores-perfeitos
e calêndulas — disse Ben. — Se você vier por aqui...
Cynthia o interrompeu com um movimento brusco da
mão.
— Não quero outras flores. — Ela se virou para Mariel. —
Este homem é inútil. Certamente você pode me dar begônias
de diamante?
Mariel cruzou os braços, olhando para Cynthia.
— Ben é o dono desta loja. Se ele disser que não as temos,
não as temos.
Cynthia fungou.
— Eu sou a prefeita. — Ela disse isso como uma palavra
mágica que abriria um esconderijo secreto de begônias.
— Confie em mim, nós sabemos — disse Ben secamente.
Cynthia virou as costas para ele.
— Eu odeio falar com trabalhadores braçais. Mariel?
Ben parecia perplexo e ofendido, e o temperamento de
Mariel aumentou. O que Cynthia esperava que ela fizesse,
invocasse algo do nada? Como havia plantas envolvidas, havia a
possibilidade de Mariel acertar, mas ela não tentaria.
— Não — ela disse.
— O quê?
— Eu disse não. — Mariel apontou para a porta. — Agora
saia.
Cynthia engasgou.
— Como é?
— Diga o que quiser para mim, mas não seja rude com meus
amigos.
— Você sabe o que posso fazer com esta loja? — perguntou
Cynthia. — Eu poderia fechá-la hoje.
Ben fez um som angustiado.
Mariel ergueu o queixo para poder olhar para baixo – ou
para cima – do nariz para a bruxa mais alta.
— Temos câmeras de segurança com áudio, o que significa
que suas ameaças e comentários desagradáveis podem se tornar
virais. — Ela tocou o telefone no bolso do vestido. — Na
verdade, minha amiga é uma influenciadora. Devo mandar uma
mensagem para ela?
As palavras pareciam estimulantes, mas também nauseantes.
Ela nunca tinha brigado com Cynthia Cunnington dessa
maneira. Cynthia era como Diantha: seu poder implacável, sua
influência inquestionável. Mariel apertou as mãos nos bolsos
para parar de tremer.
O sino da loja tocou e Mariel sentiu uma mistura de raiva e
alívio ao ver uma figura alta e taciturna com um chapéu de
cowboy. Aparentemente, Oz havia parado de se acovardar.
Cynthia não reconheceu o recém-chegado.
— Todos os dias agradeço às estrelas por ter Calladia como
filha em vez de você — disse ela em voz baixa e dura.
Mariel se encolheu.
— Cuidado — Ben rosnou.
— Você é motivo de chacota — Cynthia continuou. — A
bruxa mais poderosa em séculos, por favor. — Ela riu. — Todo
mundo faz piada sobre isso quando Diantha não está por perto.
O estômago de Mariel se contorceu com as palavras cruéis,
mas ela manteve a coluna reta. Ela estava cansada de deixar as
pessoas passarem por cima dela.
Uma grande mão pousou no ombro de Cynthia e ela deu
um pulo.
— Hora de ir — disse Oz secamente, conduzindo-a em
direção à porta.
— Não me arraste! — Cynthia o afastou. — Você não sabe
quem eu sou?
— Sim. Infelizmente.
Cynthia pegou suas pérolas e começou a trabalhar as contas
em seus dedos, sussurrando baixinho.
O alarme disparou através de Mariel.
— Oz, cuidado...
Uma onda de choque atingiu o peito de Mariel quando Oz
foi lançado para trás. Eletricidade azul se bifurcou no alto
quando ele colidiu com as prateleiras que continham
suculentas. As prateleiras desabaram sobre ele, fazendo as
plantas voarem enquanto os vasos de terracota se
despedaçaram. Mariel gritou com a dor repentina das folhas
machucadas.
Ela correu para Oz, que estava cambaleando de volta para
ficar de pé.
— Você está bem? — Seu nariz queimava com o cheiro acre
de ozônio.
Ele grunhiu.
— Eu vou ficar bem.
Mariel passou as mãos por ele, procurando ferimentos. Ele
não parecia estar sangrando, mas quando ela tocou seu ombro,
ele estremeceu. Ele agarrou seus pulsos, acalmando-a.
— Estou falando sério — disse ele, sua expressão
surpreendentemente suave. — Sou mais forte do que pareço.
Ele deveria ser a porra de um tanque, então, porque Oz já
parecia muito durão. Mariel girou sobre Cynthia. Uma raiva
quente floresceu em seu peito, e o ar ficou pesado com a magia
incipiente. Plantas se debatiam em seus vasos, e uma trepadeira
estendeu um galho em direção ao pescoço de Cynthia. Os olhos
de Cynthia se arregalaram quando Mariel se aproximou.
— Você nunca vai tentar machucá-lo novamente — Mariel
disse com os dentes cerrados. — E você também nunca mais
pisará nesta loja. Você me entendeu? — A bomba de fúria em
suas veias era inebriante, e Mariel cerrou os punhos,
imaginando golpear a bruxa mais velha.
A boca de Cynthia funcionou.
— Bem, eu nunca...
— Bocca en fechersen! — As palavras explodiram de Mariel
sem pensamento consciente. A boca de Cynthia se fechou, e ela
fez um ruído abafado de alarme por trás de seus lábios selados.
O poder zumbia nas veias de Mariel, e a alegria a encheu ao
perceber que o feitiço funcionou. Não precisou de giz, apenas
pura raiva.
— Saia.
Cynthia gesticulou para os lábios selados, com os olhos
arregalados.
Mariel deu de ombros.
— Encontre outra pessoa para desfazer o feitiço. Eu sou
motivo de chacota, não é mesmo?
Ela virou as costas e começou a arrumar a loja. Um grito
abafado foi seguido pelo tilintar do sino quando a porta se
abriu. Quando Mariel olhou por cima do ombro, Cynthia
havia sumido.
Mariel encostou-se na prateleira mais próxima, respirando
fundo. A pontada de magia no ar diminuiu.
— Uau. — Ben esfregou o queixo barbudo. — Isso foi algo.
— Desculpe. Eu fiquei com raiva.
— Eu percebi. — O lobisomem bagunçou o cabelo dela,
sorrindo torto. — Lembre-me de não te irritar, pequenina.
De repente, Oz se inseriu entre eles. Ele cruzou os braços, os
olhos estreitados.
— Quem é você?
Mariel revirou os olhos.
— Ben é meu chefe. — Ela tentou tirar Oz do caminho, mas
ele não se mexeu. A testosterona praticamente saía dele.
Ben não parecia impressionado.
— Quem é você?
— Eu sou o namorado dela — Oz disparou.
— Desde quando?
— Sexta-feira.
O lobisomem riu.
— E você já está andando como um homem das cavernas
possessivo? — Por sorte, Ben era do tipo descontraído,
balançou a cabeça e deu um passo para trás, aliviando a tensão.
— Fique de olho nele — disse ele a Mariel. — Namorados
superprotetores envelhecem rápido.
Mariel bufou.
— Muitas coisas envelhecem rápido, estou aprendendo. —
Como o ioiô emocional de um namoro falso com um demônio
que não conseguia decidir se queria beijá-la ou arrancar sua
alma eterna. Com o pensamento, um pouco de sua raiva
residual acendeu.
Oz ainda parecia tenso. Ele franziu a testa para ela.
— Você está bem?
— Não fui eu quem foi lançado do outro lado do cômodo.
— Mas as coisas que ela disse...
— Não quero pensar nisso. — Tudo o que ela queria pensar
era em seu feitiço bem-sucedido e em arrumar a loja novamente.
Ela se agachou diante da confusão de terra derramada, vasos de
terracota quebrados e plantas desgastadas e flexionou os dedos.
Ela murmurou um feitiço, e a magia fluiu dela facilmente
enquanto curava folhas quebradas e persuadia plantas expostas
a puxar a terra derramada de volta para suas raízes. Enquanto
ela curava as plantas, Ben varria os cacos dos vasos quebrados.
O sino tocou e ela olhou para cima para ver sua colega de
trabalho, Rani, parada na porta. Os longos cabelos negros da
náiade estavam úmidos de um dos seus banhos diários. Ela
piscou para a cena.
— Parece que uma bomba explodiu aqui.
— Cynthia Cunnington, na verdade — Mariel disse.
Rani fez uma careta.
— Ai credo. Achei que ela era muito da alta sociedade para
um lugar como este. — Diante da carranca de Ben, Rani deu de
ombros. — Ser da baixa sociedade não é uma coisa ruim. — Seu
olhar vagou, então encontrou Oz. Ela gritou. — O recém-
chegado gostoso!
— O quê? — Mariel perguntou. — Você conhece Oz?
— Ele me viu me hidratando — Rani disse alegremente.
Uma semente feia de ciúme plantou-se no peito de Mariel.
Sua cabeça girou e ela olhou para Oz.
— É mesmo?
Ele estendeu as mãos de forma apaziguadora.
— Eu estava olhando para a fonte. Eu não esperava que
alguém estivesse dentro dela.
Mariel bufou.
— Você deveria presumir que há alguém em cada fonte.
— Espera. — Rani olhou entre eles. — Vocês estão
namorando?
Mariel se mexeu desconfortavelmente.
— Sim.
O queixo de Rani caiu.
— Você não estava namorando com ninguém na semana
passada.
Talvez não fosse uma acusação, mas para a consciência
culpada de Mariel, parecia uma.
— Foi muito rápido. — Ela fez uma careta para Oz, que
estava olhando para a porta, claramente querendo escapar. Ele
poderia pelo menos fingir que queria estar perto dela? — Ele
simplesmente me deixou caidinha.
— Espero que de uma maneira menos violenta do que como
Cynthia Cunnington acabou de fazê-lo cair — disse Ben
suavemente.
Oz olhou feio para ele.
— Eu poderia tê-la parado.
O lobisomem ergueu as sobrancelhas.
— Sério? Por que não fez?
— Eu escolhi não fazer. — Oz enfiou as mãos nos bolsos da
calça jeans, uma das botas batendo furiosamente.
Ben se afastou de Oz, sutilmente olhando para o teto.
— Boa sorte — ele murmurou para Mariel.
— O quê? — perguntou Oz.
Ben voltou a replantar as plantas.
— Nada. Apenas desejando o melhor a Mariel enquanto ela
navega no mundo da masculinidade tóxica.
Oz enrijeceu.
— Com licença?
Ben acenou com a mão, ainda focado nos destroços.
— Pode passar.
O peito de Oz inchou.
— Agora olhe aqui, essa é a minha mulher...
— Pare. — Mariel agarrou o antebraço de Oz. — Você
realmente acabou de dizer que sou sua mulher? Eu não sabia
que você poderia viajar no tempo para uma era menos
iluminada, mas se você puder, por favor, volte para esta manhã
e para como você foi idiota. — Ela estava farta do jeito que ele a
puxava para perto em um momento, então a afastava em outro.
Ele ficou boquiaberto com ela.
— Um idiota? Como?
Rani e Ben estavam observando atentamente, e as bochechas
de Mariel coraram. Ela não queria desistir da briga, no entanto.
— Você me dispensa quando somos só nós, então fica
irritado e me chama de sua mulher algumas horas depois. — Ela
perfurou um dedo no peito de Oz. — Eu não pertenço a você.
— Eu não disse que você pertencia.
— Então o que foi essa merda de minha mulher?
Ele fez um barulho frustrado.
— Eu não quis dizer isso.
— Então, o que você quis dizer?
Seus olhos dispararam.
— Eu... uh...
Mariel jogou as mãos para cima.
— Os homens já ouviram falar de comunicação emocional?
Sua testa franziu.
— O quê?
— Obviamente não. — Mariel apertou o nariz, lutando para
se acalmar. — Olha. Você está sendo um grande rabugento e
parece que não consegue decidir o que sente por mim, então
peço que vá para outro lugar e deixe a mim e meus amigos em
paz por algumas horas.
O rosto de Oz caiu.
— Tudo bem — disse ele, girando nos calcanhares. — Vou
remover o meu eu censurável da sua presença.
A porta bateu atrás dele.
Rani olhou entre Mariel e a porta.
— Nunca ouvi você levantar a voz antes.
— Sim, bem, ele desperta o pior de mim. — Mariel começou
a recolher as plantas novamente. — Desculpe, Ben. Ele não é
tão ruim assim quando você passa a conhecê-lo.
O lobisomem bufou.
— Que elogio vibrante.
Ela fez uma careta.
— Acho que podemos dizer que estamos passando por uma
fase difícil. — O que a querida Sphinxie do Jornal de Glimmer
Falls diria sobre um relacionamento falso/negociação de almas
que deu errado?
— Depois de três dias? — Ben pergunta com ceticismo.
— Eu não acho que ele desperta o pior de você — disse Rani.
— Ele precisava ser colocado em seu lugar. Você fez isso. — A
náiade deu de ombros. — Eu digo que isso é muito foda.
Mariel nunca havia sido chamada de foda antes. Ela gostou.
— De qualquer forma, isso vai nos dar tempo para esfriar a
cabeça. — Ela olhou para o relógio e percebeu que só tinha
trinta minutos restantes em seu turno. — Você se importa se eu
sair alguns minutos mais cedo? — ela perguntou a Ben. —
Depois que isso estiver limpo, é claro.
Ben acenou para ela sair.
— Pode ir. Não há muito o que fazer.
— Você é o melhor. — Mariel beijou sua bochecha. — Até
depois!
Hora de acertar as coisas.
Dezenove
Seu estômago afundou. Por que isso era uma regra? E o que
seria necessário para quebrá-la?
Havia um subtítulo: Exemplos de negócios famosos. Em
frente ao texto havia um esboço de um demônio. Era
razoavelmente preciso, com uma estrutura humanoide e chifres
menores, mas os chifres apontavam para cima em vez de para
trás, e as presas eram... excessivas.
Claramente este livro foi escrito por alguém que não sabia
do que estava falando, então Mariel o fechou e pegou o
próximo.
— Próximo!
Ozroth, o Impiedoso
Um protegido de Astaroth dos Nove, Ozroth é um
negociador notoriamente eficaz. Sua primeira barganha
foi ajudar Napoleão em sua fuga de Elba – e distorcer as
palavras para garantir que Napoleão tomaria a França,
mas não necessariamente a manteria. Quando o mafioso
Al Capone trocou sua alma para evitar ser processado por
vários crimes, Ozroth se esqueceu de incluir a evasão fiscal
no negócio. Sua inteligência só é igualada por sua
crueldade, e negociações de vingança e assassinatos são sua
especialidade.
•••
6
Em inglês, a escrita das palavras "excitado" e "chifres" são similares.
Ele soprou uma corrente quente de ar sobre seu clitóris, e
Mariel estremeceu. O ar foi seguido por uma lambida vagarosa.
Ele a provou completamente, sua língua girando sobre seus
contornos como se estivesse mapeando-a. Sons gaguejados
escalaram a garganta de Mariel enquanto ele circulava seu
clitóris. Ela agarrou o travesseiro como se isso pudesse impedi-
la de levitar. Não estava em seu conjunto de habilidades mágicas
antes, mas se alguma coisa poderia mandá-la para a estratosfera,
era a boca de Oz.
Ele não estava indo rápido, mas também não estava sendo
gentil. Esse tinha sido o problema de Mariel com oral antes – os
homens tendiam a mexer a língua ineficazmente, não
fornecendo pressão suficiente enquanto também claramente
esperavam que o ato pudesse ser feito o mais rápido possível.
Mas Oz a devorava com intensa dedicação, chupando os lábios
vaginais e depois mordendo a parte interna de suas coxas.
Quando ele arrastou os dentes levemente sobre seu clitóris, um
raio de sensação fez as costas de Mariel arquearem para fora da
cama.
Oz enfiou um dedo dentro dela e Mariel gemeu com o leve
alongamento.
— Hécate, você é bom nisso. O melhor, totalmente... oh! —
Oz aproveitou aquele momento para intensificar seus esforços,
e as palavras voaram da cabeça de Mariel enquanto ele a
devorava como um homem faminto presenteado com um
banquete.
O primeiro dedo foi unido por um segundo, e ele os abriu
antes de enrolá-los para acariciar sua parede interna.
— Apertada — ele grunhiu entre lambidas. — Preciso
deixar você pronta para me tomar.
Mariel fez um som estrangulado em resposta. Seu peito
arfava e a tensão crescia na barriga. Ela nunca tinha gozado com
uma oral antes, mas definitivamente estava subindo aquela
ladeira. Seus quadris balançavam sem pensamento consciente,
inquietos com a necessidade.
Ele bombeou os dedos enquanto chupava o clitóris dela, e
Mariel gritou. Um orgasmo a invadiu em uma onda quente e
pulsante de prazer. Ela estendeu a mão cegamente, agarrando
seus chifres e puxando-o com força contra ela enquanto se
curvava, perseguindo o êxtase trêmulo.
Finalmente, o latejar aliviou e Mariel voltou à terra. Oz ainda
estava indo, rosnando entre lambidas famintas, e Mariel tirou
as mãos dos seus chifres para pressionar sua testa.
— Puta merda — ela respirou, olhando atordoada para Oz
enquanto ele se ajoelhava entre suas pernas e passava o
antebraço sobre a boca. Suas bochechas e queixo estavam
brilhantes com a umidade dela, e as coxas de Mariel tremeram
quando ela olhou para ele. — Isso foi... uau.
Ele sorriu, mostrando até os dentes brancos e aqueles
incisivos ligeiramente longos que pareciam incríveis cavando na
parte interna das coxas dela.
— Você é deliciosa. — A palavra soou deliciosamente
pecaminosa em seu sotaque.
Ela se empurrou para uma posição sentada, lembrando-se de
como maltratou os chifres dele.
— Eu machuquei seus chifres? Eu não queria agarrar com
tanta força.
Ele gemeu e jogou a cabeça para trás.
— Você pode pegar meus chifres sempre que quiser. Foi
bom pra caralho.
Definitivamente não havia nenhum capítulo sobre
cunilíngua demoníaca na biblioteca, mas Mariel estava pronta
para escrever um maldito livro inteiro sobre o assunto.
— Eu estou pegando você para mim — ela deixou escapar.
Então seus olhos se arregalaram. Merda, ela realmente disse isso
em voz alta?
A expressão dele suavizou.
— Mariel...
Desesperada para mudar o assunto de seu futuro incerto,
Mariel alcançou o cós de suas calças.
— Tira.
— Mandona e impaciente — disse ele com um sorriso. Seus
dedos arranharam o botão de sua calça jeans, abrindo-o antes
de puxar para baixo sua braguilha. Ela estava muito impaciente
para esperar que ele tirasse o jeans, então ela enfiou a mão
dentro do tecido solto e envolveu o pau dele.
Grande.
Mesmo que seu toque fosse limitado pelo jeans e pelo
ângulo desajeitado, era óbvio que Oz era dotado.
— A internet estava certa — Mariel respirou enquanto
puxava suavemente para cima e para baixo, sentindo a coluna de
aço de seu pau através do tecido de sua cueca. Ainda não estava
claro se ele tinha farpas no pênis ou algo estranho assim, mas ela
mal podia esperar para descobrir.
— A internet? — ele engasgou quando ela o apertou.
— Deixa para lá. — Oz não precisava saber sobre o
mergulho profundo de Mariel na pornografia demoníaca. —
Tire suas calças.
Sua risada era ofegante quando ele se livrou de seu aperto e
tirou a calça jeans.
— Agora deite-se e me deixe olhar para você.
— Você está dando muitas ordens — ele disse enquanto se
espreguiçava sobre o edredom.
— É a minha vez — disse Mariel, aproximando-se para que
ela pudesse arrastar as mãos pelo peito dele. Ele era lindo, com
um peitoral enorme e tanquinho. O V sagrado conduzia a cueca
boxer preta, que estava marcada com uma ereção.
Mariel precisava colocar seus olhos, mãos e boca naquele
pau, nessa ordem. Ela se curvou e agarrou o cós da cueca dele
com os dentes, puxando-a para baixo. Ele fez um som surpreso
e Mariel sentiu uma onda de orgulho. Ele podia ter mais de
duzentos anos de experiência, mas ela tinha alguns truques na
manga.
Ela finalmente teve que usar as mãos para tirar a cueca
totalmente. Nesse ponto, Mariel sentou-se sobre os
calcanhares, os olhos grudados no que já era seu pau favorito no
mundo. Não havia farpas ou qualquer coisa de aparência
alienígena, mas era grosso e longo, a pele mais avermelhada e
escura do que seu tom de pele naturalmente dourado. A boca
de Mariel encheu-se de água quando ela olhou para as veias se
retorcendo na lateral. Talvez seus olhos fossem maiores que seu
estômago metafórico, mas ela ia sugar o plano demoníaco
daquele pau.
— Não é tão grande quanto aquele vibrador que você
invocou — disse Oz, e espere, ele realmente parecia
constrangido?
Os olhos de Mariel se fixaram nos dele.
— Oz — ela disse muito séria —, este é o pênis mais perfeito
que eu já vi na minha vida. Realmente, o ideal de Platão de
pênis.
Seus olhos se enrugaram enquanto ele ria.
— Você tem jeito com as palavras.
— Eu tenho jeito com mais do que apenas palavras. —
Mariel tinha lido em pânico muitos artigos sobre boquetes
antes de fazer seu primeiro na faculdade, e ela gostava de pensar
que era boa. E se ela não fosse boa, pelo menos era
entusiasmada, o que contava para alguma coisa, certo?
Só havia uma maneira de saber se Oz concordava. Mariel
mergulhou na teoria das formas com a boca de Platão, abrindo
os lábios para sugar a cabeça de seu pênis.
— Porra! — Ele latiu o xingamento, seu torso saindo da
cama. Mariel se moveu até que ela estava montando sua coxa,
então levou seu pênis mais profundamente na boca. Ele tinha
um gosto bom, uma mistura almiscarada de sal, fumaça e
especiarias. Ela envolveu um punho ao redor da base,
bombeando no ritmo com a cabeça – ela era ambiciosa, mas
não ambiciosa o suficiente para tentar engolir aquele pau
inteiro sem muita prática.
Oz estava enlouquecendo. Ele xingava e se mexia, fazendo
barulhos sensuais e desesperados enquanto ela o chupava. A
mão dele pairou sobre o cabelo dela, então ela o agarrou e
pressionou contra a cabeça, piscando para que ele soubesse que
podia puxar o cabelo dela se quisesse. Quando ele apertou as
raízes, Mariel gemeu e apertou com mais força contra ele.
— Irreal — Oz rangeu os dentes. Os tendões em seu pescoço
estavam rígidos quando ele apertou a mandíbula, mostrando os
dentes. — Porra, tão bom.
Mariel enroscou sua língua ao redor dele como se estivesse
chupando um pirulito. Sua mandíbula estava começando a
doer, mas ela não desistia. Se ela pudesse fazer esse demônio
desmoronar, ela o faria.
Abruptamente, ele puxou seu cabelo para afastá-la. Seu
pênis escorregou para fora de sua boca com um estalo suave
quando a sucção acabou, e Mariel fez beicinho por tê-lo tirado
dela.
— Eu quero que você goze na minha boca — ela reclamou.
Oz estremeceu todo.
— Da próxima vez, velina.
Ela não estava familiarizada com a palavra.
— Vel... O quê?
Ele esfregou a palma da mão no rosto.
— É Velho Demonish — ele murmurou, parecendo
envergonhado por ter escapado. — Um termo carinhoso.
Mariel gostou do som disso.
— Você também é meu velina?
— Velina é a versão feminina. Mas eu poderia ser seu velino.
A versão neutra em termos de gênero é veline.
— Meu velino. — Ela tentou a palavra. — Nesse caso, meu
velino, por que não posso te chupar?
Seu peito subia e descia com respirações irregulares, e suor
brilhava em sua pele.
— Porque eu quero te foder agora.
Ela ofegou uma respiração. Ok, Mariel poderia embarcar
nesse plano.
— Entendido — ela disse, então se encolheu internamente.
Ela não tinha a afinidade demoníaca com conversa obscena.
Oz não parecia se importar – ou mesmo notar – sua falta de
jeito. Ele a olhou como se ela fosse o centro de seu universo, os
olhos cheios de promessas sombrias.
Mariel não tinha capacidade ou paciência para pesquisar o
potencial de problemas interespécies, então abriu a mesinha de
cabeceira e pegou uma camisinha. Ela sempre foi otimista,
então havia algumas Magnums espalhadas com preservativos de
tamanho normal. O demônio era definitivamente digno de um
Magnum.
Ela mordiscou o lábio, olhando para a longa e linda extensão
do seu corpo.
— Que posição você quer? — Ela adoraria tê-lo em cima
dela, empurrando-a contra o colchão, mas também gostava da
ideia de poder observar todos os seus músculos. E ela não diria
não para ser comida por trás...
— Eu quero que você me monte — ele disse imediatamente.
— Pelo menos no começo. Até você se acostumar com o meu
pau.
Mariel estremeceu.
— E depois?
— Depois — ele disse, lambendo os lábios —, eu faço o que
quiser com você.
Era um sentimento arrogante, mas Oz era um demônio
arrogante, e Mariel estava excitada demais para protestar. Ela
nunca se considerou excêntrica antes, mas se Oz queria
arremessá-la um pouco enquanto rosnava imundície em seu
ouvido, ela estava mais do que disposta. Ela montou sobre ele,
os dedos tremendo enquanto abria o pacote da camisinha. Fazia
anos, e ela nunca quis ninguém tanto quanto ela o queria. Ela
alisou o preservativo sobre seu eixo, então mudou até que a
ponta de seu pênis estivesse pressionada contra ela.
— Você não dá nó, não é? — ela deixou escapar.
Sua testa franziu.
— O que é um nó? — ele perguntou, claramente lutando
para se conter. Seus dedos flexionados em seus quadris.
Ela nunca teve que explicar isso a ninguém antes, já que era
um conceito comum nos cantos esquisitos da fanfic online –
cantos que ela havia visitado muitas, muitas vezes. Afinal, o
tesão não desaparecia quando você era solteira; apenas exigia
outras saídas.
— É uma coisa de fanfic que envolve paus inflados, e já que
você é de outra espécie...
— Paus inflados? — Ele parecia horrorizado.
— Não o pau inteiro. Só a base, então a mulher não pode...
— Mariel se interrompeu ao ver seu alarme se intensificar. —
Sabe de uma coisa? Vamos fingir que eu nunca disse isso.
Ele acenou com a cabeça freneticamente.
— Sim, por favor.
Confie em Mariel para tornar as coisas estranhas a meros
milímetros da penetração. Ela respirou fundo, então colocou
seu melhor sorriso sensual.
— Você está pronto?
— Sim! — Oz latiu.
Mariel agarrou seu pau para posicioná-lo.
— Faz alguns anos que não faço isso.
— Não faço isso desde meados do século XX. — Ele parecia
à beira de um colapso. — Por favor, faça isso agora.
Mariel se sentiu poderosa enquanto arrastava seu pênis para
frente e para trás sobre sua boceta, aparentemente única em um
século.
— E quanto à gratificação adiada? — ela provocou. — Você
deveria saborear a experiência.
— Porra! — Ele fechou os olhos com força. — Esqueça tudo
o que eu já disse.
— Com prazer. — Mariel começou a afundar e, oh, o
alongamento era excelente. Ele era quente, duro e grosso, e cada
centímetro ameaçava deixá-la sem fôlego. Quando ela estava
totalmente sentada, Mariel exalou com força. Ela tentou falar,
mas apenas um gemido saiu.
Oz não parecia estar melhor.
— Dê-me um momento — ele engasgou.
Mariel poderia usar um momento para si mesma. Ela estava
tão esticada, que jurou que podia senti-lo pulsar dentro dela.
Ela mexeu os quadris experimentalmente, e o gemido de Oz a
estimulou. Depois de uma pausa de cortesia para deixá-lo se
recompor, Mariel apoiou as mãos em seu peito e começou a
cavalgar, saboreando o arrasto pesado de seu pênis.
Os dedos de Oz cavaram em seus quadris, e seus músculos
flexionaram enquanto ele combinava com seu ritmo. Sim,
Mariel gostava muito deste ponto de vista.
Ele murmurou coisas baixinho, elogios e palavrões. Mariel
pegou referências a seus seios, quadris, lábios, suas... botas de
caminhada? Havia muito que Oz apreciava nela,
aparentemente, mas ele não era coerente o suficiente para
Mariel obter os detalhes.
Ela agarrou a cabeceira da cama para alavancar e o montou
com mais força. Quando ele manuseou seu clitóris, ela
engasgou.
— Sim!
Ele atingia um ponto perfeito dentro de si com cada
estocada, e seu olhar de determinação de aço disse a ela que isso
não terminaria até que estivesse totalmente satisfeita. Mariel
relaxou com o conhecimento, fechando os olhos enquanto se
movia como uma onda do mar. Ela já sentia o aperto revelador
de um orgasmo iminente.
Oz a ergueu de cima dele e a cabeça de Mariel girou.
— O qu...? — A pergunta foi respondida quando ele a
posicionou sobre as mãos e os joelhos. — Sim — ela ofegou
quando ele se ajoelhou atrás dela. Ela se acostumou com seu
pau, e agora ele faria o que quisesse com ela.
— Você é minha — ele rosnou, reentrando nela em um
impulso rápido.
Mariel gritou com a penetração aprofundada. Oz passou um
braço por baixo dela, apertando seu seio enquanto se curvava
sobre ela, o abdômen suado pressionando contra suas costas.
Sua outra mão caiu para trabalhar em seu clitóris, e Mariel
soltou um som estridente e choroso que ela nunca tinha feito
antes em sua vida.
— Sim, sim, sim — ela cantou. Seus seios balançavam com
cada impulso pesado, e a pressão em seu clitóris iria mandá-la
através do telhado. Então ele beliscou seu clitóris entre dois
dedos calejados, e o prazer cresceu em algo incontrolável.
Seu orgasmo explodiu em uma onda de calor. Enquanto sua
boceta tremulava ao redor dele, Mariel gritou, os braços
cedendo até que o antebraço dele entre seus seios era a única
coisa que a sustentava.
Oz continuou empurrando, murmurando imundície e
elogios em seu cabelo.
— Apertada e molhada. Bruxa perfeita. Velina, quero te
foder para sempre. — Mas até mesmo os demônios eram
vítimas de sua biologia, e ele gozou depois de mais algumas
estocadas, gritando tão alto que os ouvidos de Mariel
zumbiram.
Ele caiu de lado, levando Mariel com ele. Ela ofegou,
sugando o ar como se tivesse corrido uma maratona. Sua cabeça
girava com hormônios vertiginosos, feromônios,
neurotransmissores e Hécate sabia o que mais, como se um
fogo de artifício mágico tivesse explodido em seu cérebro. Seus
dedos das mãos e pés formigavam.
— Porra — disse Oz.
— Uau — ela disse em resposta.
— Isso foi...
— Sim.
Parecia que ela tinha recebido luz do sol direta. Mariel sorria
tanto que suas bochechas doíam. Ela finalmente fez sexo com
seu demônio, e a única coisa que ela queria saber era quando
poderiam fazer isso de novo.
Vinte e Quatro
•••
•••
Mariel mal podia ver através da névoa de magia. Ela estava indo
além das suas exibições anteriores de poder, mas sua magia
estava presa em um loop de respostas com a floresta,
amplificando a cada segundo que passava.
Uma parede de arbustos a cercava. O policial estava batendo
com o cassetete, mas os arbustos ficaram mais densos. O
equipamento de construção estava completamente enterrado
agora, e um tapete de flores brilhantes se estendia em todas as
direções.
Com a ajuda de Mariel, a floresta retomava as terras
roubadas.
Sua magia roçou manchas de podridão à distância. Elas
derreteram lentamente, novos brotos repelindo a decadência.
Mas quanto mais sua magia viajava, mais manchas de escuridão
ela encontrava, e mesmo esse excesso de magia pode não ser
suficiente.
O policial estava gritando.
— Invasão de propriedade, vandalismo, agressão a um
oficial, e isso é apenas o começo!
— Interessante — disse uma voz britânica.
Mariel deu um pulo e quase caiu, mas as amoreiras
gentilmente a corrigiram. Com sua concentração
interrompida, o fluxo de magia diminuiu e a névoa se dissipou
de sua visão.
Um homem loiro vagamente familiar usando um chapéu
fedora preto estava dentro de sua fortaleza de amoreiras,
examinando a treliça de vegetação.
— Quem é você? — Mariel perguntou.
Então ela se lembrou – ela o conheceu na biblioteca. James
Higgins, o jornalista. O chapéu era o mesmo, embora ele não
usasse mais os óculos, e o colete fora substituído por um terno
branco imaculado. Ele parecia um professor distraído antes,
mas seu sorriso agora a fazia pensar em um tubarão.
Ele tirou o chapéu, revelando chifres pretos.
— Astaroth dos Nove — ele disse, curvando-se. — Prazer
em conhecê-la oficialmente.
Ela ficou boquiaberta. Este era o mentor do mal de Oz? Ela
esperava alguém... maior. Não um britânico elegante com gosto
duvidoso para chapéus.
— Vai se foder — ela cuspiu.
Ele se endireitou, parecendo imperturbável. Ela viu agora
que ele carregava uma bengala com uma caveira de cristal na
ponta, que ele batia ritmicamente contra seu sapato branco
brilhante.
— Agora, o que eu fiz para que você me despreze tanto?
— Lavagem cerebral e atormentar uma criança indefesa, por
exemplo. — Ela se lembrou tardiamente de que essa parte da
história de Oz também podia ser besteira, mas o que quer que
tenha acontecido, esse monstro ajudou a transformar Oz em
sua forma atual.
Astaroth riu.
— Eu suponho que você esteja falando de Ozroth? O que
quer que ele tenha dito, garanto que ofereci a ele o melhor de
tudo. O melhor treinamento, as melhores acomodações, a
melhor posição que ele poderia sonhar na sociedade
demoníaca.
As palavras irritaram; elas a faziam pensar em seus pais. O
melhor de tudo, mas nada do que uma criança realmente
precisava.
— Por que você está aqui? — ela perguntou. — E por que
você estava na biblioteca? — Do outro lado das silvas, o policial
ainda gritava, mas ela estava muito mais preocupada com a
ameaça à sua frente.
Ele ainda estava batendo aquela bengala. A caveira de cristal
era demais, e seu prendedor de gravata era uma cruz de cabeça
para baixo; se ela pensou que Oz era um clichê no começo, isso
era um nível totalmente diferente.
— Chegou ao meu conhecimento que Ozroth não tem se
saído bem — disse Astaroth. — E eu sei uma maneira de sair de
uma barganha demoníaca.
Mariel sugou uma respiração chocada.
— Sabe?
Seu sorriso era afiado.
— Fazendo uma barganha com um demônio diferente.
A centelha de esperança se apagou. A ideia de fazer um
acordo com Astaroth era abominável.
— Não, obrigada. Uma barganha é suficiente.
— Tem certeza? Você se meteu em problemas. Posso fazer a
polícia esquecer esse incidente.
— E roubar minha magia em troca? — Ela balançou a
cabeça. — Não.
O demônio fez uma careta.
— Ozroth disse isso a você?
— Sim, e ele já tentou me intimidar para fazer uma
barganha. — Ela plantou as mãos nos quadris. — Se ele não teve
sucesso, você também não terá.
Astaroth a estudou com estranhos olhos azul-gelo. O
chapéu de feltro e a bengala de caveira seriam ridículos para
qualquer outra pessoa, mas havia algo perturbador na maneira
como o demônio se comportava. Ele estava parado, exceto pelo
toque implacável de sua bengala, e havia algo em seus olhos que
deixou Mariel desconfortavelmente ciente de que este era um
ser antigo em um corpo jovem.
— Ozroth não foi direto com o assunto — Astaroth disse.
— Ele não ofereceu algo que você realmente precisasse.
Ela fez uma careta.
— Ele explodiu minha estufa.
As pálpebras de Astaroth piscaram ligeiramente.
— Eu posso consertar isso, sabe. Eu posso consertar muitas
coisas.
Desconforto crescia no estômago de Mariel a cada segundo
que passava. O policial gritava obscenidades, mas ela não ousava
desviar a atenção do demônio. Ele foi muito rápido em oferecer
uma solução para a estufa dela.
Oz se ofereceu para consertá-la? Ela tentou se lembrar se ele
disse alguma coisa depois do raio. Ele gritou para ela parar, que
ela iria se queimar.
Seu estômago afundou. Magia demoníaca na floresta, raios
demoníacos em seu quintal... tudo parecia tão claro quando
havia apenas um demônio em Glimmer Falls. Agora ela estava
enfrentando um segundo demônio – um que não parou antes
de oferecer o que ela queria. Alguém que já havia percebido que
ela poderia trocar sua alma por algo durante a conversa na
biblioteca.
— Não — Mariel disse, tentando evitar que sua voz
tremesse. — Não quero sua ajuda.
— Acho que você está subestimando exatamente o quanto
poderia ganhar com uma barganha. — Astaroth se aproximou
e Mariel se preparou, tentando não recuar para o abraço das
amoreiras. — Você não precisa trocar uma alma por apenas
uma coisa. Eu poderia mantê-la fora da prisão, consertar sua
estufa e ressuscitar suas plantas, interromper a construção
permanentemente e curar a praga na floresta. Tudo isso e muito
mais. — Ele gesticulou ao redor deles. — Sacrificar sua magia
não vale a pena salvar tudo isso?
Astaroth estava prometendo tudo o que ela queria, mas
Mariel sentiu frio.
— Eu não te contei sobre a praga — ela disse com os lábios
dormentes.
Astaroth deu de ombros.
— Eu conversei com Ozroth. Fungo desagradável, não é?
No entanto, tão facilmente curável.
Isso era tudo que Mariel precisava ouvir para entender
completamente que ela e Oz haviam sido manipulados. Não era
um fungo; ela acreditou em Alzapraz nisso. Era magia
demoníaca.
Este, então, era o rosto de um verdadeiro mentiroso: calmo
e sorridente, prometendo coisas maravilhosas, impossíveis. Sem
carrancas ou respostas mal-humoradas, sem charme grosseiro.
Apenas uma barganha boa demais para ser verdade.
— Sabe — disse Mariel com um nó de raiva em seu
estômago —, já ouvi propostas melhores de vendedores de
carros usados.
Seu sorriso não caiu, embora seus cílios tremulavam.
— O quê?
— Seu discurso. O melhor negócio da minha vida, blá-blá-
blá.
— Não é um discurso. — Um músculo sob seu olho se
contraiu. — É uma oferta para resolver todos os seus
problemas.
— Quero meus problemas resolvidos — disse Mariel —,
mas definitivamente não por você.
Os dedos de Astaroth flexionaram na ponta da bengala. A
pele de Mariel formigou.
— Tão egoísta — ele disse com uma crueldade suave que fez
Mariel se encolher. — Tudo o que você ama pode morrer, mas
você não se importa, desde que tenha sua magia.
A culpa invadiu o coração de Mariel. O demônio era um
manipulador especialista, ela sabia disso. Ele era a razão pela
qual as coisas que ela amava estavam morrendo. Mas se Mariel
pudesse salvar Glimmer Falls e a terra ao seu redor, mesmo que
isso significasse perder algo que ela amava... uma pessoa
verdadeiramente boa não faria esse sacrifício?
— Mariel! — O grito veio de cima, assustando-a da auto
recriminação. Um momento depois, um grande saco de tecido
caiu no chão, aterrissando com um baque. — Ai!
O saco se debateu e Oz tentou sair.
— Você poderia ter voado mais baixo — ele gritou para
alguém acima.
Mariel nunca ficou tão feliz em ver alguém. Ela se ajoelhou
ao lado dele, ajudando a remover o tecido. Suas roupas estavam
amarrotadas, seus chifres empoeirados, mas a visão de seu rosto
familiar – mesmo com um olho roxo – foi o suficiente para fazer
seu coração pular uma batida.
— Você realmente não machucou a floresta, não é? — ela
perguntou. — Ou minha estufa.
Ele balançou a cabeça, os olhos fervorosos.
— Eu nunca machucaria nada que você ama.
Mariel queria chorar.
— Me desculpe por ter acusado você. Era Astaroth o tempo
todo.
— Você não tem nada para se desculpar. — Oz olhou para o
outro demônio enquanto ele lutava para ficar de pé. — Esse
bastardo, no entanto...
— Então meu aprendiz teimoso finalmente aparece —
Astaroth falou lentamente. — Para finalmente fazer uma
barganha digna do seu treinamento?
Oz cerrou os punhos.
— O plano demoníaco está realmente morrendo? Ou foi
outra mentira para me forçar a fazer uma barganha?
— Sim, está morrendo — Astaroth disse. Mas Mariel estava
observando o trapaceiro de perto, e ela notou outro tremor em
sua pálpebra.
— Ele está mentindo — disse Mariel. — O olho dele
estremeceu.
— Oh, por favor — Astaroth disse com o desdém
fulminante que os britânicos faziam tão bem. E espere, por que
o demônio era britânico? — Tem assistido muitos dramas
policiais, não é?
— Você teve o mesmo tremor quando mencionei Oz
destruindo minha estufa. No pôquer, isso se chama blefe. —
Essa era reconhecidamente a única coisa que Mariel sabia sobre
pôquer.
— Você tem grandes opiniões para uma mortal tão
insignificante.
— Se eu sou apenas uma insignificante mortal, por que você
está tão desesperado para forçar esta barganha? — Mariel
perguntou. — Por que infectar a floresta, por que destruir
minha estufa, por que vir aqui para oferecer uma nova
barganha?
A cabeça de Oz virou na direção dela.
— Ele ofereceu uma nova barganha?
— Aparentemente, é a única maneira de quebrar um acordo
existente, embora eu não acredite em uma palavra que sai da
boca desse idiota.
Astaroth estava rangendo os dentes.
— Os mortais se esqueceram do respeito?
— Sim — disse Oz. — E honestamente? Bom para eles.
— Você não negou ter feito nenhuma dessas coisas — Mariel
disse a Astaroth. — Você está tentando forçar minha mão, mas
incriminou Oz para fazer isso. — Os espinhos de amora se
eriçaram com sua indignação, e uma gavinha alcançou o sapato
de Astaroth.
— Se Ozroth tivesse algum juízo — disse Astaroth,
desviando-se da trepadeira rastejante —, ele teria feito o mesmo.
— Sua bengala estava batendo mais rápido agora. — Você é
uma tola por invocar um demônio e se recusar a tratar com ele.
O que você esperava, que ele fosse seu cachorrinho subserviente
para sempre?
— Não — Mariel disse ao mesmo tempo em que Oz disse:
— Eu seria. — Ela lançou um olhar carinhoso para ele, então
agarrou sua mão.
— Não um cachorrinho — ela disse a ele. — Um parceiro.
— Eca — Astaroth disse.
Os olhos de Oz se enrugaram quando ele olhou para Mariel.
— Então, de volta ao plano A? Se o plano demoníaco não
está morrendo, não há urgência em fazer a barganha. — Ele
lançou um olhar fulminante para Astaroth. — A aposta dele
com o sumo conselho não é minha responsabilidade.
— Plano A — ela concordou. Seria difícil, mas ela não estava
disposta a desistir de um futuro com Oz.
Quando ela olhou para Astaroth, ela ficou alarmada ao ver
que seus olhos estavam negros. No momento seguinte, Oz deu
um salto para a frente, caindo de joelhos na frente de Astaroth.
Embora seus músculos estivessem tensos, ele não se moveu.
— Solte ele! — Mariel tentou avançar, mas a magia
demoníaca a deteve como um campo de força.
Astaroth agarrou o topo de sua bengala e puxou uma
espada. Abaixo do pomo do crânio, o punho era preto como
breu e listras de iridescência serpenteavam pela lâmina de prata.
Mariel gritou quando Astaroth nivelou a lâmina no pescoço de
Oz.
— Aqui está um teste — Astaroth disse, fixando aqueles
olhos escuros em Mariel. — Você é egoísta o suficiente para
deixar a floresta morrer para manter sua magia. Você é egoísta o
suficiente para deixá-lo morrer?
— Não faça isso — Oz disse com os dentes cerrados. — Não
é apenas a sua magia, Mariel. São suas emoções.
Ela engasgou.
— O quê?
Astaroth deu um tapa no rosto de Oz.
— Você vai calar a boca?
— A alma — disse Oz, cuspindo sangue. — Olha o que
aconteceu comigo.
A alma do feiticeiro entrou no corpo de Oz, dando-lhe
magia e emoção. Como Mariel nunca percebeu a conexão
antes? Estava bem na frente dela.
— O que acontece? — ela perguntou.
— Você vai se tornar fria e racional. — Astaroth disse que
isso era uma coisa boa. — Livre das fragilidades humanas, seu
julgamento livre de emoções. Algumas das figuras mais
influentes do mundo negociaram suas almas e passaram a viver
vidas plenas.
Não seria uma vida plena sem risos ou lágrimas. Ser humano
era confuso, mas Mariel não conseguia pensar em nada pior do
que perder esse núcleo emocional.
— Você não pode matar Oz — ela disse. — Ele é o seu
melhor negociador.
Astaroth zombou.
— Não mais. — Ele pressionou a lâmina e o sangue escorreu
pelo pescoço de Oz.
— Pare — Mariel disse, o pânico apertando sua garganta. Ela
não podia perder Oz. Ele tinha seu coração, suas esperanças, seu
futuro.
— Você sabe como parar isso — Astaroth disse calmamente.
— Faça um acordo.
Mariel ficou congelada, incapaz de pensar além do medo.
Tinha que haver uma saída para isso; ela só precisava de tempo
para pensar...
Astaroth suspirou.
— Muito bem. — Ele puxou a espada de volta. — Cortem-
lhe a cabeça.
— Espere! — Mariel gritou quando a lâmina de prata cortou
o ar. Ele congelou a uma polegada do pescoço de Oz. — Vou
fazer um acordo.
— Mariel, não! — Oz lutou contra a magia que o prendia
no lugar, os músculos inchados enquanto seu corpo tremia.
— Finalmente. — Astaroth arqueou uma sobrancelha
sardônica enquanto olhava para Oz. — Parece que ela quer
muito alguma coisa para negociar, afinal.
Oz olhou para Mariel com olhos desesperados.
— Por favor, velina, não faça isso. Você vai perder tudo.
Mariel engoliu em seco.
— Eu sei. — Sua magia, suas emoções... sem sua alma,
Mariel seria uma casca oca. Mas, se Oz morresse, ela nunca seria
capaz de viver consigo mesma. Ao fazer um acordo, ela salvaria
Oz, mas também poderia salvar a floresta e todas as criaturas
vivas nela.
Um vislumbre de uma ideia surgiu através da névoa de
pânico. Ela não queria dar nada a Astaroth. E se ela conseguisse
acertar as palavras, Oz sempre teria um pedaço dela.
— Não tenho o dia todo. — Astaroth verificou seu relógio
de bolso. — O sumo conselho se reunirá em uma hora para
anunciar a aposta.
Mariel olhou para ele.
— Desculpe-me por tomar alguns segundos para
contemplar o fim da minha vida como eu a conheço.
— Me deixe morrer — implorou Oz. — Por favor, Mariel.
Já vivi o suficiente.
Seus olhos se encheram de lágrimas.
— Não — ela disse. — Você estava existindo. Você acabou
de começar a viver.
Ele estava chorando também. Depois de passar a vida inteira
entorpecido, ele tinha pouca prática com a dor, mas ela sabia
que ele lamentaria a perda de quem ela tinha sido. Mariel não
queria causar-lhe aquela dor, mas não havia outra opção.
— Vou trocar minha alma — disse Mariel —, mas tenho
condições.
Astaroth acenou com a mão.
— Prossiga.
— Você vai me liberar do acordo com Oz. Então você vai
parar a construção do resort e spa, e a terra ao redor de Glimmer
Falls nunca mais será destruída ou usada para um projeto de
construção.
— Muito fácil. — Ele fechou os olhos. — Hmm — disse ele,
os lábios se transformando em um sorriso. — Parece que a
identidade da proprietária original da terra foi finalmente
descoberta, e ela deixou um testamento estipulando que a terra
permaneça uma reserva natural em perpetuidade. O gabinete
da prefeita está em alvoroço e eles estão prestes a ligar para o
capataz para interromper a escavação. — Ele riu. — Embora
você mesma tenha parado com bastante sucesso. Acrescentarei
limpar a cena e fazer a polícia esquecer tudo, só para você. —
Seus olhos se abriram, e ele prendeu Mariel com aquele
misterioso olhar negro. — Agora para a troca...
— Eu disse condições, plural — Mariel estalou. — Você
pode tentar ouvir com mais atenção.
— Atrevida. — Astaroth brandiu a espada. — Mas estou de
bom humor.
Mariel o ignorou e olhou para Oz, desejando que ele visse
tudo o que ela sentia por ele em seus olhos. Ele lhe dera coragem
e risadas e a ensinara a se valorizar por quem ela era, em vez dos
padrões impostos a ela pelos outros. Ele a fez se sentir bonita e
forte.
Ela poderia ser forte o suficiente para fazer isso.
— Você vai limpar a podridão mágica e nunca mais fará nada
parecido. Além disso, você consertará minha estufa e trará todas
as plantas de volta à vida. E consertar minha exibição para o
Festival de Outono. E você libertará Oz imediatamente.
Astaroth resmungou.
— Chato, mas bom. Algo mais?
— Mais uma coisa. — Ela sustentou o olhar de Oz. — Que
minha alma passe para onde há amor.
Os olhos de Oz se arregalaram.
— Mariel...
Ela sorriu com os lábios trêmulos, depois respirou fundo e
se concentrou, formando as palavras do feitiço mais importante
de sua vida.
— Almaum en vayrenamora. — Minha alma vai para o meu
amado. Ela abaixou a cabeça. — Estou pronta.
Astaroth zombou.
— Que bobagem foi essa?
Ela olhou para ele.
— Você quer a troca ou não?
— Onde há amor — murmurou para si mesmo. — Grande
bobagem. Humanos são ridículos.
Oz estava tremendo. Suas bochechas estavam molhadas e
mais lágrimas começaram a cair.
— Velina — ele sussurrou, e ela se perguntou se ele sabia o
que ela estava fazendo.
Claro que sim. Ele era Oz e a conhecia melhor do que ela
mesma.
Astaroth levantou a mão e Mariel se preparou. Sentiu um
puxão no peito, depois uma sensação aguda de dilaceramento.
Ela gritou de dor.
Mariel não pôde ver o momento em que sua alma deixou seu
corpo, mas ela sentiu. Seu peito ficou frio e o formigamento
familiar da magia desapareceu. Quando ela caiu de joelhos, as
flores viraram seus rostos para longe dela.
Então Mariel sentiu nada.
Trinta e Três
7
"Spark" significa faísca.
Ele encolheu os ombros.
— Demônio. Vai sarar em alguns minutos.
Os juízes se aproximaram, embora alguns gaguejassem ao ver
seus chifres. Ele sorriu agradavelmente, sabendo que levaria
tempo para as pessoas se acostumarem com a visão de um
demônio em Glimmer Falls. Um dos juízes era o chefe
lobisomem de Mariel, que piscou para ela antes de olhar para
Ozroth com desconfiança. Ozroth acenou para ele em
reconhecimento. Este amigo de Mariel levaria tempo para
conquistar, mas Ozroth não tinha nada além de tempo.
Essa era a única coisa que enfraquecia sua felicidade: o
conhecimento de que ele viveria muito depois da morte de
Mariel. Ainda assim, ele estava determinado a aproveitar a
alegria de cada momento que tivesse com ela.
— Extraordinário! — Um dos juízes delirou enquanto se
inclinava sobre a exibição vibrante para olhar a pirotecnia do
lírio de fogo. — Que feitiço você usou?
— Sem feitiço. — Mariel parecia confiante, mas seus dedos
estavam cerrados em sua saia. — Existe uma técnica secreta de
jardinagem para fazê-los queimar.
— Amo uma boa técnica secreta — disse o juiz. — Conte-
me sobre o resto das flores.
Mariel fez um discurso apaixonado sobre as variedades que
cultivou. Ozroth ouviu, um sorriso curvando seus lábios. A
exibição de Mariel foi de longe a mais bonita – ele fez as rondas,
imaginando se havia algum competidor que ele precisava
eliminar – e seu entusiasmo era contagiante. Ele não tinha
dúvidas de quem venceria.
Os juízes passaram para a próxima mesa, e os ombros de
Mariel caíram quando soltou um suspiro.
— Ufa. Que bom que acabou. — Ela se virou para Ozroth.
— Você...
Ozroth interrompeu a pergunta com um beijo intenso e
apaixonado. Ele a curvou para trás, o antebraço pressionado na
base de sua espinha, e quando Mariel passou os braços em volta
do pescoço dele e o beijou de volta, aplausos e vaias irromperam
ao redor deles.
Quando finalmente a ergueu, o batom dela estava borrado
no seu queixo. Ele devia estar parecido, porque Mariel riu,
então limpou a borda de sua boca com o polegar.
— Vermelho fica bem em você.
— Mariel, querida, chegamos! — A voz de Diantha Spark
era inconfundível, e Ozroth e Mariel compartilharam um olhar
de alarme antes de enfrentar o tornado que se aproximava.
Diantha parecia mais moderada do que o normal. Com o
braço dobrado no de Roland e Alzapraz atrás – Mariel havia
ligado para o velho feiticeiro antes para deixá-lo saber que
Ozroth era inocente – Diantha se aproximou hesitante.
— Você nunca olhou minhas exibições antes — disse Mariel.
Sua mandíbula estava rígida.
— Eu sei — disse Diantha. — E eu sinto muito.
Ozroth foi pego de surpresa. Mariel também devia estar,
porque seu queixo caiu.
— Você o quê?
Diantha estremeceu.
— Sinto muito — ela repetiu. — Por tudo isso. Ignorar seu
gosto por jardinagem e pressionar demais. Você está certa, eu
não prestei atenção nas coisas que você amava ou nas quais era
boa.
— Uau — Mariel disse, piscando rapidamente. — Isso é...
inesperado.
— Tivemos uma reunião de família — disse Roland. —
Alzapraz nos disse que você teve uma conversa semelhante com
ele e que fomos muito duros com você. — Ele suspirou. —
Sinto muito, também. Nós amamos você.
— E essas... coisas... são maravilhosas! — Diantha exclamou,
apontando para uma flor. — O que é isso, uma margarida?
— Uma ave-do-paraíso — disse Mariel.
— E isto. — Ela se inclinou sobre o lírio de fogo. — Você
colocou fogo?
— Mais ou menos.
Enquanto Diantha arrulhava sobre as flores, Alzapraz
mancou até Ozroth.
— Desculpe — o feiticeiro disse. — Em minha defesa, você
era o único demônio na cidade que eu conhecia. — Ele
estendeu a mão. — Trégua?
Ozroth balançou suavemente, não querendo quebrar
nenhum osso frágil.
— Você deve sempre defender as pessoas que ama. — Ele
inclinou a cabeça para Mariel. — Eu faria o mesmo por ela.
— Então você a ama. — Alzapraz estudou Ozroth com
olhos escuros e antigos. — Um demônio e uma humana
apaixonados. Raro, mas não impossível. — Ele balançou a
cabeça, fazendo a borla dourada de seu chapéu balançar. — Mas
estranho.
A palavra domingo chamou a atenção de Ozroth, e ele se
concentrou no que Diantha estava dizendo a Mariel.
— Talvez possamos jantar como nos velhos tempos...
— Não — Mariel disse gentilmente, mas com firmeza. —
Ainda não me sinto confortável em voltar para o jantar em
família. E quando ou se eu estiver confortável novamente, não
quero que seja como nos velhos tempos.
Diantha começou a discutir, mas um leve empurrão do
cotovelo de Roland – e um cutucão menos sutil de Alzapraz –
a fez fechar a boca. Ela apertou os lábios, então assentiu.
— Limites — disse Alzapraz com aprovação. — Não vi
muitos desses nesta família.
Depois de mais algumas trocas desajeitadas, os Sparks
passaram a olhar para outras flores. Mariel estufou as bochechas
e exalou.
— Isso foi mais fácil do que o esperado.
Ozroth passou os braços em volta dela.
— Estou orgulhoso de você.
Mariel sorriu.
— Também estou orgulhosa de mim. E eu quero que o que
minha mãe disse seja verdade... mas terei cuidado. E mesmo que
não seja verdade, eu me sinto poderosa sozinha. — Ela encostou
a cabeça no ombro dele. — Obrigada. Por me apoiar e por me
ajudar a ver meu próprio valor.
— Eu poderia dizer a mesma coisa — disse ele. — Você é um
milagre, Mariel. Meu milagre.
— Tem milagres no inferno? — ela meditou. Quando ele
golpeou sua bunda levemente, ela riu.
Um toque de trombeta interrompeu a conversa. Os juízes se
reuniram no centro do parque, onde um fauno empunhando
uma trombeta presidia uma mesa cheia de fitas e troféus.
— Temos nossos vencedores! — O lobisomem anunciou.
Mariel gritou e agarrou a mão de Ozroth, puxando-o para se
juntar à crescente multidão.
— Começaremos com Melhor do Evento, depois
passaremos para os prêmios de categoria. Em terceiro lugar no
Campeonato de Flores do Noroeste Pacífico – Divisão
Sobrenatural: Miras Muratov!
Enquanto um feiticeiro de meia-idade usando tênis
vermelhos brilhantes dançava até o pódio, Mariel se inclinou
para o lado de Ozroth, mordiscando suas unhas.
— Ele tinha dálias muito boas. E você viu as flores da lua
dele?
— Ainda não era tão bom quanto a sua exibição — ele a
tranquilizou.
— Em segundo lugar: Rani Bhaduri!
Mariel gritou e bateu palmas enquanto sua colega de
trabalho – a desafortunada banhista nua – pegava seu troféu.
— Sei que todos vão acusar Ben de ser tendencioso, mas,
honestamente, ela é uma jardineira incrível.
Quando as palmas cessaram, Ben pigarreou.
— E agora, para Melhor do Evento – Divisão Sobrenatural,
o troféu vai para... Mariel Spark!
Mariel gritou e pulou para cima e para baixo, enquanto
Ozroth comemorava e aplaudia o mais alto que podia. Ele
sorriu quando Mariel se dirigiu para receber seu prêmio, um
troféu de vidro em forma de flor de lótus.
Quando ela voltou para o lado de Ozroth, ele não pôde se
conter. Ele a pegou e a girou, então investiu em outro beijo.
Quando ele terminou, não havia um pingo de batom na boca
dela.
— O que devemos fazer depois da cerimônia? — Mariel
perguntou.
— Eu tenho algumas ideias — ele rosnou em seu ouvido. —
Elas envolvem minha língua e...
— Milk-shakes comemorativos! — A exclamação os
separou, e Ozroth se virou para ver Themmie e Calladia
sorrindo para Mariel. — Obviamente milk-shakes — disse
Themmie.
Mariel olhou para a expressão irritada de Ozroth, então riu.
— Milk-shakes primeiro — disse ela. — Língua depois.
•••