Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Todo o trabalho de tradução, revisão e layout desta história foi feito por fãs
de Star Wars e com o único propósito de compartilhá-lo com outras que
falam a língua portuguesa, em especial no Brasil. Star Wars e todos os
personagens, nomes e situações são marcas comerciais e /ou propriedade
intelectual da Lucasfilms Limited. Este trabalho é fornecido gratuitamente
para uso privado. Se você gostou do material, compre o Original, mesmo
que seja em outra língua. Assim, você incentiva que novos materiais sejam
lançados. Você pode compartilhá-lo sob a sua responsabilidade, desde que
também seja livre, e mantenha intactas as informações na página anterior, e
reconhecimento às pessoas que trabalharam para este livro, como esta nota
para que mais pessoas possam encontrar o grupo de onde vem. É proibida a
venda parcial ou total deste material. Este é um trabalho amador, não
fazemos isso profissionalmente, ou não fazemos isso como parte do nosso
trabalho, nem esperamos receber nenhuma compensação, exceto, talvez,
alguns agradecimentos se você acha que nós merecemos. Esperamos
oferecer livros e histórias com a melhor qualidade possível, se você
encontrar algum erro, agradeceremos que nos relate para que possamos
corrigi-lo. Este livro digital está disponível gratuitamente no Blog
dos Tradutores dos Whills. Visite-nos na nossa página para encontrar a
versão mais recente, outros livros e histórias, ou para enviar comentários,
críticas ou agradecimentos: tradutoresdoswhills.wordpress.com
Capa
Página Título
Direitos Autorais
Dedicatória
Índice
Epígrafo
Tenacidade
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Astúcia
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Engodo
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Valentia
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Determinação
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Epílogo
Sobre o Ebook
Agradecimentos
Sobre a Autora
A garota de vestido branco tinha o cérebro de sua mãe e o coração de seu
pai, e uma centelha que era inteiramente sua. Brilho, direção e compaixão
tão brilhantes quanto as estrelas. Mas agora estava sozinha e ninguém
poderia ajudá-la. O que quer que acontecesse em seguida,
independentemente de como fosse registrado e lembrado, estava
inteiramente sozinha.
Desde pequena, queria ajudar. O seu pai a levou para fora do planeta.
Esteve em planetas moribundos e tentou conter o inevitável. Às vezes, não
era o suficiente, mas sempre se oferecia para tentar novamente.
Posteriormente, voltou a sua atenção para o seu próprio planeta. Não
havia grandes provações a serem enfrentadas em Naboo. O setor estava em
paz, o planeta prosperava. No entanto, havia trabalho a ser feito, trabalho
que sentia que poderia fazer. E queria fazer.
Não era o suficiente se contentar com os sonhos de seus pais. Queria
ter certeza de que havia chegado o mais alto que pôde, feito o máximo que
pôde. E para uma garota em Naboo, isso significava ser eleita rainha. Era
mais jovem do que a maioria, mas não ia deixar que isso a impedisse.
Quanto mais olhava para isso, mais percebia que governar o planeta
seria um desafio maior do que pensava. A galáxia era um lugar grande e
Naboo era um mundo bonito, sem muita estrutura de defesa. A rainha atual
havia ignorado seus vizinhos. O seu senador era forte, mas a sua lista de
aliados era pequena. Sabia que estava à altura do desafio.
E agora esperava sozinha, em uma pequena sala nos andares mais
baixos do palácio. A campanha havia terminado, os votos contados. Logo
os resultados seriam divulgados e saberia deles. Mas em seu coração, já
sabia. Sempre soube. Havia se preparado para servir, e o faria da posição
mais elevada possível.
A porta se abriu com um chiado e um contorno familiar bloqueou a luz.
O zumbido de um droide pairando encheu os seus ouvidos. A garota se
endireitou. Sempre agia como se estivesse sendo observada. A sua
aparência era a sua primeira linha de defesa, e planejava fazer isso o mais
deliberadamente possível.
— Vossa Alteza. — disse Quarsh Panás, com o mais leve espectro de um
sorriso nos lábios. O seu capitão ainda estava começando a conhecê-la,
mas confiava nas intenções dele. — A eleição acabou. O seu trabalho
começou.
A garota de vestido branco seria a Rainha e estava pronta.
Essa não era a forma usual de receber os resultados dos exames. O
Conservatório de Theed atraia alunos de todo o planeta, embora
dificilmente fosse a única escola de música em Naboo. Nem era, na opinião
pública, a melhor. Situado em um prédio antigo, longe de qualquer um dos
principais centros de entretenimento da cidade, o conservatório era
conhecido por suas tradições. Era por isso que as famílias mandavam os
seus filhos para lá. Um músico treinado lá era consistente. Firme.
Confiável. Pronto para transmitir tradições para uma nova geração de
ouvintes e alunos, quer alguém queira ou não.
Tsabin odiou quase todos os momentos disso.
Nunca houve qualquer dúvida sobre para onde seria enviada. Nem
houve qualquer dúvida sobre qual instrumento tocaria. Os seus irmãos
haviam aberto o caminho à sua frente, e tudo que precisava fazer era seguir
adiante. Nunca houve qualquer dúvida de que faria algo tão ousado como
liderar. Simplesmente não tinha talento para isso. Era boa o suficiente, e
fora do mundo poderia até mesmo ganhar a vida como solista em algum
lugar que não conhecesse nada melhor, mas Tsabin sabia por toda a vida
que nunca estaria na primeira fila de qualquer orquestra.
E agora esperava em uma pequena sala, olhando para uma cadeira
vazia em uma mesa comum. Havia sido enviada para lá pelo droide fiscal,
mal pensando sobre o número do quarto desconhecido, esperando
descobrir como ela se saiu em suas provas finais. Em vez disso: uma sala
escura e uma espera aparentemente interminável.
Tsabin havia chegado tão longe quanto pode, escondendo os seus
verdadeiros sentimentos de todos, e não iria desmoronar agora, nem
mesmo pela burocracia desatualizada.
A porta finalmente se abriu, realmente balançando em dobradiças de
verdade, porque aquele era o tipo de lugar onde ficava o Conservatório de
Theed, então Tsabin se endireitou na cadeira. Mesmo que fosse apenas o
droide, era importante estar pronta. Os droides do conservatório eram
conhecidos por monitorar a postura e o comportamento dos alunos,
rastreando quem era o melhor em se parecer com um músico, bem como
realizar tarefas mundanas. Mas a pessoa na porta não era um droide.
Tsabin respirou fundo sem dar a impressão de estar fazendo isso, outro
benefício de uma educação conservadora.
Ele era mais alto do que ela, o que não dizia muito. No entanto, era um
lugar para começar. Ele usava o azul e marrom das Forças de Segurança
Real de Naboo, o chapéu enfiado debaixo do braço desde que entrou. Ele
tinha cabelos curtos e pele castanha escura, e os seus olhos eram quase
quentes, exceto que algo ao redor dele o impedia de relaxar. Ele se sentou
na outra cadeira sem se apresentar e colocou o chapéu na mesa entre eles.
Se o oficial de segurança estava esperando a abalar, ele tinha escolhido
o dia errado para isso. Os Exames haviam acabado e Tsabin tinha dormido
uma noite inteira pela primeira vez em semanas. A sua família havia
entrado em contato com ela naquela manhã. Os seus irmãos lhe garantiram
que tudo ficaria bem, e os seus pais a informaram onde eles poderiam ser
encontrados quando os seus resultados estivessem disponíveis. Sabia que
não tinha feito nada para merecer esta visita, então deve ser uma
curiosidade. Deve ser algo que ele queria dela. Então Tsabin o olhou com
calma, com cada parede que já havia construído a protegendo dele.
Depois de vários minutos, o espectro de um sorriso apareceu em seus
lábios, e ele estendeu a mão sobre a mesa em sua direção, com a palma
para cima.
— Quarsh Panás. — ele disse. — Forças de Segurança Real. Mas
suponho que você poderia dizer isso sozinha.
— Tsabin. — ela respondeu, apertando educadamente a mão dele. —
Sim.
Ele a soltou e ela voltou as mãos ao colo. Ele dobrou as suas sobre a
mesa e olhou para ela.
— Como você se sente sobre a eleição? — ele perguntou.
Tsabin ergueu uma sobrancelha, apesar de tudo. Ela não esperava essa
pergunta.
— Não sou obrigada a lhe dizer. — ela respondeu.
— Isso é verdade. — ele disse, e quase riu. — Você vai pelo menos
confirmar que conhece as candidatas?
— Claro. — ela respondeu. — Este é o primeiro ano em que posso
votar.
— Você tem treze anos. — ele disse, recostando-se na cadeira sem
perder a sensação de estar em guarda.
— Eu terei quatorze até lá. — ela disse a ele. — Você deveria ter
verificado pelo menos o meu aniversário antes de vir aqui.
— Eu verifiquei. — ele disse, batendo os dedos na mesa.
Tsabin estava começando a ficar irritada. Sim, era o primeiro dia do
resto da sua vida, pelo menos em teoria, dado que a sua educação formal
estava quase terminada, e não tinha exatamente nenhum plano, mas
também não queria perder o dia nesta sala com este homem.
— Os seus professores dizem que você é diligente. — disse Panás. —
Você nunca se atrasa. Você é escrupulosa quando se trata de desempenhar
o seu papel, e a sua conduta é quase perfeita em todos os momentos.
Tsabin esperou que o próximo comentário viesse, como sempre
acontecia.
— Mesmo assim, você é sempre a segunda melhor. — continuou Panás.
— Em tudo que você já tentou.
Quase quatorze anos de controle árduo estalaram por todo o corpo de
Tsabin. Não lhe daria a satisfação de ver o quanto isso doía. Nunca, jamais
daria isso a ninguém. O seu estômago apertou, mas não piscou ou mesmo
apertou a mandíbula com as palavras dele. Afinal, elas eram apenas a
verdade: os seus irmãos eram músicos melhores do que ela, e não
importava o que fizesse no conservatório, sempre havia alguém que fazia
melhor do que ela.
Panás se levantou e pegou o chapéu da mesa.
— Não posso dizer nada oficialmente, é claro. — ele disse. — Mas eu
pediria que você não aceitasse nenhuma oferta de aprendizagem até depois
da eleição. Eu entrarei em contato.
Com essas palavras, ele foi embora. Tsabin estava livre para ir. Mas
enfiou a mão no bolso para pegar a sua tela e puxou a lista de candidatas à
Rainha de Naboo. Tinha lido os seus nomes e as suas plataformas antes,
mas desta vez, obrigou-se a realmente olhar para elas. Para ela.
Amidala, ela se chamava. Elas poderiam ser quase gêmeas. Duas
garotas com a mesma cara. E um oficial de segurança veio até ali para
falar com uma garota que sempre foi a segunda.
Tsabin ficou no quarto até que o droide viesse procurá-la, com a sua
mente desperta para as possibilidades.
Na manhã da eleição, Quarsh Panás deixou o seu chá esfriar. A sua esposa,
Mariek, recém-saída de seu turno no palácio, não hesitou e bebeu por ele
quando ficou claro que não iria se afastar da tela por algo tão mundano
como o café da manhã. Ela cortou a fruta fresca do prato dele também.
— É muito cedo para conferir. — ela apontou, com a boca cheia.
— Não estou conferindo os resultados. — ele disse.
Não houve um escândalo de verdade durante as eleições de Naboo nas
últimas décadas, mas Panás não estava disposto a deixar esse recorde ser
quebrado sob o seu comando. Como capitão das Forças de Segurança Real,
teve o privilégio de garantir que tudo ocorresse sem problemas. Desta vez,
era ainda mais importante: a candidata cuja proteção fora atribuída a ele era
a favorita para vencer. Panás estaria pronto para tudo. Haviam multidões
para monitorar e, embora as Forças de Segurança fossem mais do que
capazes disso, estava curioso para saber o que as holonotícias poderiam
captar. Sempre era melhor ter tantos olhos quanto possível.
— Estou indo para a cama. — disse Mariek.
Panás ergueu os olhos. Ela se levantou e pegou a mão dela. Eles
estavam em turnos opostos desde que foi transferido para o destacamento
eleitoral em antecipação ao que uma nova monarca poderia exigir, e sentia
falta dela.
— Durma bem, amor. — ele disse.
— Por favor, coma alguma coisa. — ela respondeu, e o deixou sozinho.
Panás obedientemente deu três mordidas na comida em seu prato e tinha
acabado de decidir que talvez estivesse com fome, afinal, quando o seu
comunicador particular soou.
— Panás. — ele falou, segurando o dispositivo na palma da mão. A
imagem vacilou e uma forma familiar apareceu em sua mão. Ele se
endireitou. — Senador Palpatine?
— Bom dia, Capitão. — disse o senador.
Normalmente, o senador de Naboo voltava para casa para votar, uma
demonstração ao seu povo e à República de que levava a sério todos os seus
papéis dentro do sistema democrático, mas desta vez foi mantido afastado
por negócios sérios. Para ser honesto, Panás sentia falta dele. Tudo parecia
correr bem melhor quando o senador estava por perto e sempre corria,
mesmo quando Panás ainda era um escrivão no escritório legislativo e a
estrela de Palpatine estava em ascensão. Era útil ter colegas confiáveis.
— Lamento fazer contato tão cedo. — continuou Palpatine. — Há uma
votação mais tarde a qual não posso perder, mas queria falar com você hoje
e temo que, com as diferenças de fuso horário, quando os meus negócios no
Senado terminarem, será tarde demais.
— Não tem problema, Senador. — respondeu Panás. — Tudo aqui está
indo bem. As filas estão ordenadas e as urnas abrem em menos de meia
hora. Todos os sinais apontam para uma eleição tranquila.
— Eles já apontam para um resultado? — Perguntou Palpatine.
Panás hesitou. Tecnicamente, como funcionários do governo, eles
deveriam desencorajar a especulação. Como cidadãos preocupados,
entretanto, eles eram livres para discutir seus pensamentos. Panás sempre
teve o cuidado de manter seu trabalho e sua vida privada separados. Essa
foi uma das razões pelas quais seu casamento teve tanto sucesso.
— Não oficialmente, é claro. — ele disse. Ele pegou a xícara de chá,
esquecendo que Mariek a havia esvaziado antes. — Mas parece que o seu
palpite estava correto. Não será um escândalo se ela não vencer, mas será
uma surpresa.
Como regra, as rainhas de Naboo mantinham os seus cargos por dois
mandatos completos. No entanto, quando a Rainha Réillata se aposentou
após apenas um, o planeta teve que eleger uma substituta para ela antes do
esperado. Haviam candidatas maravilhosas, é claro; a tradição de Naboo
não permitia nada menos, mas a população estava mais fragmentada na
votação do que o normal. Sanandrassa não era uma rainha má, mas não
tinha o apoio que era esperado de uma monarca governante. A sua reeleição
era, na melhor das hipóteses, uma chance remota.
— Bom, bom. — disse Palpatine. O seu olhar se desviou de Panás. Algo
em Coruscant deve ter chamado a sua atenção. — Estou ansioso para ver
isso, Capitão. Nesse ínterim, peço desculpas, mas as novas propostas de
impostos foram finalmente transmitidas e exigem a minha atenção.
— Claro, Senador. — respondeu Panás. — Obrigado pela chamada.
Palpatine se desconectou sem mais comentários e Panás voltou o seu
holo para as telas de notícias. Com eles sempre foi assim: trabalho primeiro.
Panás achava isso reconfortante. Nunca houve qualquer dúvida sobre onde
estava.
O seu cronômetro soou, indicando que era mais tarde do que pensava.
Mariek havia votado cedo e Panás a acompanhou, mas ainda não havia
votado. Adorava o dia da eleição e o seu plantão não começava até o meio
da tarde, então estava livre para votar em uma votação regular. Assobiando
alegremente, uma música que ficou gravada em sua cabeça desde que saiu
do conservatório, colocou os pratos na lavadora, certificou-se de que tinha a
identificação adequada no bolso, encontrou as suas botas e saiu para fazer a
diferença.
Sheev Palpatine leu o projeto de lei tributária pela última vez. Oficialmente,
era a primeira vez que o via, então teve o cuidado de fazer parecer que
estava lendo profundamente o documento. A verdade é que estava
preocupado com várias outras coisas e apenas verificando o projeto para ter
certeza de que nenhum dos detalhes que solicitara havia sido esquecido.
Votaria contra, é claro. O projeto seria um desastre para Naboo e para
vários outros sistemas da Orla Média. E desta vez, pelo menos, o projeto
não seria aprovado. Acrescentou questões substanciais o suficiente para que
a Federação do Comércio não fosse capaz de engolir, para garantir que os
aliados deles votassem contra. Mas seria outro passo para mais perto. E
tinha as próximas três propostas preparadas, de qualquer maneira.
— Senador, está na hora. — disse um de seus assessores.
Palpatine deixou que o conduzissem em direção às câmaras do Senado,
assentindo com a cabeça para todas as pessoas certas enquanto se cruzavam
nos corredores a caminho de seus pods. O seu rosto estava calmo,
educadamente interessado no que estava sendo dito ao seu redor. Não era
uma expressão incomum nos corredores do Senado, mas Palpatine a
aperfeiçoou há muito tempo. Em breve, tornaria-se o centro das atenções e
os seus colegas veriam a suavidade desaparecer, mas isso também seria uma
atuação. Ninguém jamais viu o seu rosto verdadeiro, a raiva pura que
queimava nele.
Mas eles veriam, algum dia.
Padmé Naberrie tinha feito a última coisa que podia. Votou em si mesma
quando as candidatas votaram. Tinha certeza de que cada uma delas tinha,
mas pra ela, pelo menos, era o passo final para provar a si mesma que
estava pronta. Confiava em si mesma o suficiente para ser rainha. A
arrogância disso, pensar que era muito melhor do que as suas companheiras,
irritou-a um pouco, mas Naboo tinha um sistema de segurança para isso.
Não governaria como Padmé se ganhasse. Ninguém saberia quem era
Padmé, se tudo corresse como planejado. Carregaria as vestes e
responsabilidades da coroa de Naboo, e se entregaria a isso inteiramente, a
ponto de até abandonar o seu próprio nome durante o reinado. Era a
tradição, mas também era um conforto, um lembrete de que seu papel era
maior do que ela mesma, de que estaria agindo a serviço, não de forma
egoísta para o seu próprio ganho.
Realmente não tinha entendido até aquela manhã, quando a sua ficha de
voto caiu na urna. Pensava que o anonimato era para a sua proteção, e de
certa forma era, mas também era para proteger outra pessoa. E estava na
hora. A sua hora.
Amidala.
A recém-nomeada Guarda Real se reuniu para ouvir os resultados das
eleições no quartel. Eles vinham de todas as categorias e posições dentro
das Forças de Segurança e foram escolhidos para proteger a nova monarca,
quem quer que ela fosse, por causa de sua lealdade e dedicação pessoal. A
maioria deles já se conhecia, pois a força não era muito grande, mas esta foi
a primeira vez que todos foram reunidos no mesmo lugar, e estes foram os
seus últimos momentos para relaxar antes de sua nova tarefa começar.
Panás não relaxou.
No final do corredor, as candidatas também aguardavam os resultados.
Elas haviam sido isoladas desde aquela manhã, cada uma recebendo o seu
próprio quarto pequeno para passar o dia refletindo, e logo seria tarefa de
Panás buscar a nova rainha. Sabia qual porta esperava abrir e estava
fazendo o possível para fingir que ainda estava neutro, embora já tivesse
passado desse ponto.
Por fim, a holonotícias mudaram do mesmo preenchimento eleitoral
pré-gravado em que estavam concorrendo na última hora e mostrou o
governador Bibble. O governador de barba prateada vestia o seu costumeiro
traje na cor púrpura, com uma túnica de mangas largas que acompanhava
cada gesticulação com considerável vigor. Um silêncio caiu sobre os
guardas quando Bibble pigarreou e começou os anúncios.
— Cidadãos de Naboo. — ele começou. Bibble sempre falava como se
estivesse atuando para um público, o que fazia sentido, dada sua formação
em filosofia argumentativa, e por causa disso, geralmente, ele não parecia
muito pomposo. — Tenho o prazer de informar que, após uma campanha
bem disputada por parte de todos, vocês elegeram a Candidata Amidala
como a sua rainha.
Bibble continuou a falar enquanto imagens da candidata, agora rainha,
surgiam, lembrando qualquer um que pudesse ter se esquecido da idade de
Amidala e dos objetivos de campanha, mas os guardas não estavam mais
ouvindo. Todos os rostos na sala se voltaram para Panás, cujos punhos
cerrados eram o único sinal externo de suas emoções.
— Preparem-se para a inspeção. — ele disse, e então girou rapidamente
nos calcanhares para caminhar pelo corredor até onde as candidatas
estavam esperando.
Era tradição que a nova rainha fosse saudada por seu capitão da guarda,
uma relíquia do passado de Naboo, quando as candidatas não podiam nem
ficar perto umas das outras ou confiar na legislatura. Esses dias haviam
acabado há muito tempo, é claro, mas Naboo encorajava a lembrança em
vez de mera encenação, e este foi um dos muitos passos dados para lembrá-
los de quão longe eles haviam vindo e quão longe eles tinham que ir. Ela
encontraria Bibble como rainha assim que inspecionasse a sua guarda
pessoal.
Panás parou por um momento do lado de fora da porta de Amidala,
ciente de que tudo estava prestes a mudar. Não era mais apenas um capitão
da guarda, assim como ela não era mais apenas uma candidata. Gostou dela
o suficiente durante a campanha, mas agora os seus nomes estariam ligados
para sempre na história de Naboo. Valia a pena parar um momento para
refletir. Panás esperou mais alguns instantes enquanto os procuradores
eleitorais se preparavam para contar às candidatas mal sucedidas e então
abriu a porta.
— Vossa Alteza. — ele disse, parando na soleira. — A eleição acabou.
O seu trabalho começou.
Do outro lado da sala, uma figura esguia se levantou para cumprimentá-
lo. Ela estava usando um vestido branco que a fazia parecer ainda mais
jovem do que conhecia, mas não podia duvidar por um momento da
convicção em sua postura. Durante a campanha, ela sempre usava
maquiagem pesada, o rosto pintado com cosméticos que lembravam as
pessoas do peso de suas promessas. Agora o seu rosto estava nu, mas com o
cabelo solto, ainda não era fácil dar uma boa olhada nela.
— Obrigada, Capitão. — ela disse. — Estou pronta.
Ela não revelou nada, embora Panás imaginasse que devia estar pelo
menos um pouco nervosa. Olhou por cima do ombro e viu o último dos
inspetores desaparecendo do corredor.
— Se puder me acompanhar? — ele perguntou, gesticulando para fora
da sala. O droide saiu flutuando. — A sua equipe de segurança está pronta
para a sua inspeção. Uma formalidade, como sabe, mas é esperada antes
que o governador Bibble chegue aqui para informá-la oficialmente.
— Claro, Capitão. — ela disse. A sua voz era leve e impessoal, mas não
se ofendeu. Ela mal o conhecia.
— Mais tarde, falaremos sobre como personalizar a sua segurança. —
informou Panás. — Eu tomei algumas medidas, mas não queria ir muito
longe sem você. Vamos demorar alguns dias para nos instalarmos, mas
estou muito satisfeito com a equipe que foi montada para você.
Ela não respondeu, mas permitiu que a guiasse pelo corredor para onde
os seus guardas estavam esperando. Eles ficaram em duas filas e se
endireitaram sem nenhuma palavra assim que ele e a Rainha entraram na
sala. Esta era a guarda pessoal da Rainha, composta por dezesseis guardas
que a protegiam em um rodízio de quatro pessoas. Os outros guardas do
palácio poderiam então se preocupar com as operações e coordenar com a
Rainha conforme necessário. Panás queria mais pessoal, mas foi rejeitado.
A Rainha olhou cada guarda no rosto quando foram apresentados a ela,
guardando nomes na memória. Deveria ter sido difícil pensar nela como
poderosa naquele momento, cercada por pessoas que eram todas muito
maiores do que ela, mas parecia ter três metros de altura pela forma como
se portava. Depois que estivesse totalmente arrumada com o guarda-roupa
real, ela seria excepcional.
Quando chegaram ao fim da fila, Panás dispensou todos os guardas,
exceto os três que estavam de plantão com ele. O governador apareceu
pouco depois disso. As primeiras reuniões não aconteceram na sala do
trono, e Panás dividiu o seu foco entre observar a Rainha e observar todos
os outros observando-a. Bibble falou principalmente de procedimentos e
regras, não de política e conteúdo, então não foi uma conversa
particularmente interessante, mas a Rainha deu a ele toda a atenção.
— E isso é realmente tudo o que podemos cobrir hoje, eu acredito. —
Bibble terminou. Várias horas se passaram, mas a Rainha não deu mostras
de exaustão ou tédio. — A menos que você tenha alguma dúvida?
— Não, obrigada, governador Bibble. — disse a rainha Amidala. A sua
inflexão deixou claro que era uma rejeição, embora tecnicamente Bibble
ainda a superasse. Panás sorriu. — Embora eu apreciasse se você pudesse
arranjar alguém para me enviar quaisquer documentos políticos relevantes.
Posso lê-los esta noite e estar preparada para as reuniões de amanhã.
— Claro, Vossa Alteza. — disse Bibble, pondo-se de pé. Ele assentiu
com a cabeça para um assessor, que fez uma anotação. — Vou lhe enviar os
arquivos assim que terminar o resto das minhas funções de hoje. Foi um dia
muito atarefado para todos nós.
A rainha assentiu graciosamente para ele, e o governador e seus
assessores se retiraram. Amidala se levantou. Só agora, com apenas os
guardas por companhia, sua postura mudou. Ela esticou e rolou o pescoço,
balançando a cabeça como se estivesse tentando recolocar todas as
informações que tinha acabado de adquirir.
A transferência de poder só aconteceria em mais alguns dias, e suas
primeiras aparições públicas aconteceriam logo depois. Apesar da natureza
formal do papel da Rainha e da relativa rigidez dos protocolos que a
cercam, as eleições de Naboo não eram divulgadas abertamente. Uma vez
que as candidatas foram isoladas para a votação, elas não falavam com o
público até que sua identidade real estivesse completamente definida.
— Capitão? — ela disse, e o momento acabou.
— Sim, Vossa Alteza? — Ele veio para ficar na frente dela.
— Seria apropriado discutir a segurança durante o jantar? — ela
perguntou.
— Devemos ser quatro de nós de plantão, Vossa Alteza. — disse Panás.
— Isso significa ficar sem comer para nós, mas ainda posso falar com você
enquanto você come.
Ela suspirou, mas aceitou a restrição. Panás entrou em contato com a
cozinha e pediu que um droide fosse enviado com o jantar para um.
Eventualmente, quando eles se mudassem para os aposentos do palácio, a
Rainha seria cercada por pessoas, mas agora era mais seguro e fácil usar
droides.
— Eu realmente não estou acostumada a comer sozinha. — ela admitiu
enquanto se sentava à mesa. — O meu pai sabia que estávamos todas
ocupadas, mas gostava quando estávamos juntos nas refeições.
Ela estava sendo deliberadamente vaga, ele sabia, embora estivesse
ciente de sua verdadeira identidade. Panás interpretou isso como um bom
sinal. Algumas monarcas haviam agido com rapidez e liberdade com o
anonimato que seu papel exigia delas, e sempre era uma dor de cabeça para
os guardas quando o faziam. Ele não estava na guarda pessoal da atual
rainha, Sanandrassa, mas tinha ouvido fofocas suficientes no quartel para
saber que seus guardas estavam ansiosos pelo dia em que ela voltasse a ter
apenas uma identidade. Sempre foi uma espécie de luta separá-la de sua
personalidade privada. Panás teve a impressão de que sua pupila escolhia
suas batalhas com muito mais cuidado.
— Essa é uma das coisas que eu esperava falar com você, Vossa Alteza.
— disse Panás. Se ele se sentia estranho ao falar com ela enquanto ela
comia, não deu nenhuma indicação.
— Oh? — ela disse, rasgando o pão em pequenos pedaços.
— Uma rainha tradicionalmente tem pelo menos uma aia, como você
sabe. — ele informou. — Eu me perguntei se você pensou na sua.
— Minha irmã me informou que não deseja servir em meu governo. —
disse a Rainha. — O que não me surpreendeu nem um pouco. Tenho
algumas outras amigas que poderia solicitar, suponho, mas estava muito
concentrada na eleição. Eu não me permiti imaginar os aspectos práticos
que poderiam se seguir.
— Há uma garota no Conservatório de Theed. — informou Panás. —
Ela tem a sua idade e é uma musicista decente. Ela também é muito
inteligente, e seus instrutores dizem que ela é sensata. Eu a entrevistei há
algumas semanas, apenas para o caso, e ela parecia acessível.
A Rainha ergueu uma sobrancelha, mas fez a cortesia de não perguntar
se ele também tinha entrevistado aias em nome das outras candidatas.
— Mais importante. — ele continuou. — ela tem uma notável
semelhança com você. Se ela fosse sua aia, e se ela estivesse interessada,
ela poderia treinar como um guarda-costas que estaria mais perto de você
do que qualquer outra pessoa.
A Rainha mastigou pensativamente e depois bebeu um gole d'água.
— Há necessidade de tanta segurança? — ela perguntou.
A rainha Sanandrassa havia se concentrado na política em Naboo ao
extremo de ignorar o resto do setor, o que deixou os outros planetas
desconfortáveis. Ter duas rainhas no mesmo mandato em fila deixou Panás
desconfortável. Havia implicações mais amplas também. Naboo havia se
dedicado à eleição no mês passado, mas relatos sobre disputas comerciais
na Orla Média ainda chegavam às manchetes.
— Eu acredito em estar preparado, Vossa Alteza. — disse Panás. — Em
uma emergência, ela pode até trocar de lugar com você.
— Não quero colocar outra pessoa em perigo. — disse a Rainha.
Antes que Panás pudesse dar a resposta óbvia, a expressão dela mudou e
ele mudou de ideia. Era bom que ele já pudesse entendê-la tão bem.
— É inevitável. — ela disse. — Isso é quem eu sou agora.
— Sim, Vossa Alteza. — disse Panás. — Chamamos isso de fardo do
comando, e ninguém gosta disso.
Ela fez uma nova pausa, revirando o assunto enquanto ele observava.
Ele a viu aceitar sua premissa, e então a expressão dela imediatamente
turvou novamente quando ela encontrou outro defeito.
— De que adiantaria ter um dublê de corpo? — disse a Rainha.
— Bem, as pessoas pensariam que ela é você. — explicou Panás. Ele
pensou que eles tivessem esclarecido isso.
— Mas se formos apenas duas, e nós trocarmos, todos saberão. — a
Rainha apontou. — E se 'a Rainha' de repente ficar sozinha, as pessoas
poderiam suspeitar.
Isso ficou no ar por um momento entre eles. Panás foi inteligente o
suficiente para perceber que aquele era seu primeiro teste. Ela o havia
mostrado, e sua resposta influenciaria como eles interagiam a partir desse
ponto. Ele engoliu seu orgulho.
— Esse é um ponto válido, Vossa Alteza. — ele disse. — Você tem uma
sugestão?
— Se houver mais de duas, será muito mais difícil saber. — ela disse.
— Sem mencionar que isso vai te dar uma maneira de garantir que tenho
mais do que quatro guardas de plantão.
Oh, ela era boa.
— Vou ver o que posso fazer. — disse Panás. — Pode demorar um
pouco para encontrar garotas adequadas.
— Obrigada, capitão. — disse a Rainha. — Eu gostaria de conhecer a
garota com quem você já falou o mais rápido possível, se puder fazer os
arranjos.
O dispositivo de comunicação pessoal da Rainha, o qual havia colocado
na mesa enquanto comia, tocou.
— É o governador. — ela disse, checando rapidamente. — Acho que
isso é tudo por esta noite, Capitão.
— Vossa Alteza. — ele disse. — Os guardas ficarão do lado de fora da
sua porta durante a noite.
A Rainha levou seu prato e utensílios para o droide que entregou seu
jantar, então se virou para entrar no quarto onde dormiria nas próximas
noites. Panás se moveu para direcionar os guardas para a posição.
— Ah. — ela disse. — Capitão, antes que eu comece a ler, há uma
maneira segura de entrar em contato com meus pais?
— Seu comunicador pessoal é totalmente seguro, Vossa Alteza. — disse
Panás. — Pode ser usado para entrar em contato com qualquer pessoa em
Naboo sem deixar rastros.
— Boa noite, Capitão. — disse a Rainha, e fechou a porta.
Panás sabia que os outros guardas estavam ansiosos para fofocar, mas
isso teria que esperar até que eles estivessem de folga. Ele respeitava
demais o trabalho para deixá-los rir nos corredores. Os outros seguiram seu
exemplo e permaneceram quietos. Eles tinham apenas um pouco de tempo
antes que o novo turno começasse, de qualquer forma.
Através da porta, Panás pôde ouvir a Rainha falando, provavelmente
com seus pais. A voz dela estava muito baixa para distinguir qualquer uma
das palavras, mas ele podia ouvir a ascensão e queda de seu tom enquanto
ela falava com eles. Ela foi um desafio de ler. A maioria das adolescentes
de quatorze anos, mesmo as mais brilhantes, demonstrava alguma emoção
ao falar, mas a Rainha dificilmente fizera isso durante toda a tarde. Até
mesmo sua resposta à sua eleição foi fria.
Os guardas substitutos apareceram no horário e Panás voltou para os
quartos que dividia com Mariek. Ele estava ansioso para compartilhar suas
impressões sobre sua nova monarca e pedir a opinião de sua esposa depois
que ela também a conhecesse. Na metade do caminho para casa, ele
percebeu que, embora não tivesse ideia do que se passava na cabeça de
Amidala, ele não havia esquecido de que ela era a Rainha nenhuma vez,
durante toda a tarde.
Pela primeira vez desde que o Capitão Panás abriu a porta para lhe contar
os resultados da eleição, Padmé se permitiu relaxar. Tinha sido uma longa
tarde, a primeira de muitas, tinha certeza, e embora não estivesse
exatamente cansada, estava exausta de manter o rosto tão imóvel. Havia
decidido no início da campanha que se apresentaria como a opção estoica e
moderada. As suas ações seriam o suficiente para mostrar a sua compaixão
sem ter que escrever em seu rosto. Embora ficasse mais fácil a cada dia,
esse controle ainda não era natural para ela, e às vezes só queria sorrir.
Deitou-se na cama, com um sorriso se esticando em seu rosto. Tinha
conseguido. Os meses de planejamento e preparação, de se treinar para ter
uma determinada aparência, não importando como se sentisse, de se isolar
de sua família e amigos, funcionaram, e era a Rainha de Naboo. Tateou em
busca de um travesseiro e o colocou sobre a boca, sufocando a risada que
fervia de dentro dela. Afinal, os guardas estavam do lado de fora da porta, e
Padmé ainda não havia decidido se Amidala era do tipo que ria, mesmo em
particular.
Permitiu-se aproveitar a sensação por vários minutos antes de se sentar
e voltar ao trabalho. Pelo que podia dizer, Bibble havia enviado todos os
documentos que o governo planetário havia produzido nos últimos meses e,
embora ela estivesse ciente da maioria dos problemas, este seria o seu
primeiro acesso aos detalhes privados. Mal podia esperar para chegar até
eles. Mas primeiro, havia algo que precisava fazer.
Segurou o seu comunicador particular na mão e ligou para os pais.
Esperava não os ter deixado esperando por muito tempo. Eles tinham sido
bastante compreensivos com as suas ambições, mesmo que o seu pai não
achasse inteiramente que era uma boa ideia, e com sorte eles saberiam
porque não pôde ligar para eles no início do dia.
— Parabéns! — A voz de Jobal veio através da conexão com clareza
pura quando ela entrou na projeção.
— Obrigada, mãe. — disse Padmé. Ela se permitiu sorrir novamente.
Ela sempre poderia ser ela mesma com os pais.
— Estamos tão orgulhosos de você. — acrescentou Ruwee, aparecendo
ao lado da esposa.
Vindo de seu pai, essas palavras significavam mais do que Padmé
poderia dizer. Sabia que ele entendia isso, e que seu sorriso sempre seria o
suficiente para ele, rainha ou não.
— Lamento não poder ter ligado e dito pessoalmente. — disse Padmé.
— Foi um dia muito agitado.
— Posso imaginar. — disse Ruwee com uma risada. — Sio vive para
esse tipo de coisa.
Ter um pai que era conhecido pelo menos pela reputação pela maioria
das pessoas importantes do planeta nunca tinha realmente impactado a vida
de Padmé. Ruwee tinha o dom de saber ser amigo de pessoas poderosas
sem tirar vantagem disso, e isso era algo que Padmé admirava nele. Ele
raramente transparecia, mas supôs que este era um dia emocionante para ele
também.
— De qualquer forma. — Ruwee continuou. — nós dois entendemos
que seu tempo vai ser muito solicitado. Sabíamos disso desde que você
entrou na campanha. A política muda as prioridades e confiamos em você o
suficiente para tomar essas decisões.
— O que seu pai está tentando dizer. — disse Jobal, entrando na
conversa. — é que sabemos que você está ocupada e animada, e vamos
ouvir sobre você na holonotícia, e nós a amamos de qualquer maneira.
— Não era isso que eu estava tentando dizer. — disse Ruwee.
Padmé riu. Ficou quieta, mas não levantou a mão para abafar o som. A
sua mãe sempre encorajou os seus sonhos tanto quanto o pai os temperou
com aspectos práticos. Eram duas abordagens diferentes para o mesmo
destino e, Padmé havia aprendido, duas maneiras diferentes de demonstrar
amor.
— Vou me lembrar de quem sou, pai. — disse Padmé. — Não importa
com quem estiver falando ou como me parecer.
— Isso é tudo que eu queria ouvir. — disse Ruwee.
— Eu queria ouvir sobre os seus quartos, mas acho que você ainda não
os tem. — disse Jobal. Os apartamentos privados no palácio de Theed eram
muito, muito raramente abertos ao público. Por segurança e outros motivos,
pouco se sabia sobre a sua aparência, mas haviam rumores de que eles
possuíam algumas obras de arte realmente excelentes, e Jobal era muito
interessada nesse tipo de coisa.
— Só daqui a alguns dias. — disse Padmé. — Estou no palácio agora,
mas não na parte real ainda. A Rainha Sanandrassa provavelmente está
fazendo as malas, mas a transferência oficial de poder não será antes do
final da semana.
A partir de seu estudo das plantas, Padmé estava razoavelmente certa de
que seu quarto atual ficava alguns andares diretamente abaixo do
apartamento real, mas ela presumiu que os andares superiores eram
dispostos de forma diferente. Eventualmente, os seus guardas e a equipe
viveriam onde estava hospedada agora.
Ouviu um sinal através do comunicador, e os seus pais desviaram o
olhar por um momento.
— Desculpe, seu pai está hospedando a reunião pós-eleição de costume
dele. — disse Jobal enquanto Ruwee desaparecia do quadro.
— Tudo bem. — disse Padmé. — Eu ainda tenho muito o que fazer.
Mãe e filha caíram em um silêncio confortável enquanto esperavam
Ruwee voltar.
— Dê lembranças minhas a Sola. — Padmé disse enquanto Ruwee
retornava ao quadro.
Os seus pais disseram boa noite e desligou o comunicador. Pensou na
casa dos pais esta noite, cheia de amigos comemorando e teorizando sobre o
que viria a seguir. Por um momento, sentiu-se dolorosamente solitária. E
então percebeu: seria o assunto que todos falariam. Sim, havia novos
representantes na legislatura para discutir também, mas o foco principal da
maioria das conversas desta noite seria a nova Rainha de Naboo, e essa era
ela.
Era uma responsabilidade incrível. E Padmé estava tão, tão animada.
Coruscant era, às vezes, feito de luz. Brilhava como um farol, a sede do
grande Senado da República, atraindo a atenção de sistemas em todos os
cantos da galáxia. Como mynocks para um acoplamento transistor, todos os
tipos de pessoas eram atraídas para o poder da cidade-planeta, e todas elas
se deleitavam com o brilho.
Mas Coruscant também estava cheia de estruturas, cabos e detritos de
séculos de habitação contínua, e nas sombras dessas coisas, sempre havia
muito espaço para a escuridão. Nos cantos miseráveis da cidade
subterrânea, a crueldade infeccionou e procurou lugares para crescer.
Darth Sidious raramente se preocupava com os níveis mais baixos.
Tinha maneiras de explorá-los se quisesse algo, é claro, mas era muito mais
o seu estilo levar a escuridão a lugares onde as pessoas pensavam que
estavam fora de seu alcance. Encontrava os pontos fracos, as rachaduras por
onde a luz saia e empurrava a escuridão para dentro. Jogava um longo jogo,
um jogo inteligente e, infelizmente, de vez em quando, isso significava lidar
com pessoas que não entendiam o grande escopo da sua visão.
Apesar de sua aversão pessoal a eles, os níveis inferiores eram um bom
lugar para ter uma conversa discreta. Sidious raramente se incomodava em
tê-las pessoalmente, mas sabia que a sua presença poderia ser opressora e
não tinha nenhum problema em pressionar essa vantagem quando um de
seus supostos aliados estava vacilando.
Nute Gunray vinha reclamando há vários minutos sobre o projeto
tributário fracassado. Sidious estava mais ou menos o ignorando o tempo
todo. Não era importante. No final das contas, o próprio Gunray não era tão
importante. Útil, sim, particularmente dada a sua sugestionabilidade e
disposição para gastar grandes quantias de dinheiro em uma força de
combate descartável, mas não importante.
— E então aquele senador de Naboo insistiu na emenda de contorno, e
isso nos custou toda a facção Delcontriana. — Gunray terminou. —
Fizemos tudo o que podíamos, mas os votos foram contra nós.
— Não importa. — Sidious retrucou. Ele havia aprendido muito com
esse projeto de lei tributária fracassado. Quão longe Malastare estava
disposto a ir. Quanto os Tellonitas estavam dispostos a perder. A quem os
Caladarianos estavam dispostos a sacrificar. — Você terá um novo projeto
tributário nos próximos dias.
— Dodd não será capaz de apresentá-lo. — disse Gunray. — Isso é
muito óbvio.
— Claro que é. — disse Sidious. Ele estava cercado por idiotas. — Por
isso alguém da facção Delcontriana irá apresentá-lo.
— Mas nós simplesmente os perdemos! — Gunray protestou.
— Isso foi culpa de Naboo. — disse Sidious. — Este novo projeto
tributário os trará de volta.
Gunray murmurou algo baixo demais para Sidious ouvir, e
imediatamente pareceu temeroso. Sob a cobertura de seu capuz, Sidious
sorriu. Eles precisavam tanto dele, para as suas briguinhas mesquinhas, e os
aterrorizava completamente. Este era um dos seus principais prazeres.
— Alguém entrará em contato com você. — Sidious continuou como se
nada tivesse acontecido.
— Sim, meu lorde. — disse Gunray. Ele se curvou obsequiosamente e
Sidious desligou antes que pudesse dizer qualquer outra coisa.
Os Neimoidianos eram problemáticos. Sempre era um desafio encontrar
alguém que fosse apenas incompetente o suficiente e, embora Sidious
gostasse da emoção disso, às vezes exigia mais de sua supervisão do que
gostaria de dar. Precisava de agentes que pudessem agir de forma
independente, mas ainda não era hora para eles. Havia muitas peças, muitos
resultados, para deixar alguém que poderia pensar por si mesmo começar a
mexer.
Ainda assim, nunca havia mal nenhum em estar preparado. Sidious
mudou os canais de comunicação e procurou por seu aprendiz.
O quarto em que Tsabin tinha ficado no conservatório era pequeno, mas era
todo seu. Nunca tinha compartilhado um quarto com outra pessoa antes, e
Padmé não tinha perguntado. Tsabin rapidamente enterrou o seu
ressentimento. Não queria ficar no quartel de qualquer maneira e teria que
se acostumar a seguir as ordens de Padmé. Ou melhor, as ordens de
Amidala. Era um desafio constante diferenciá-las, mas isso também fazia
parte do seu trabalho.
As coisas de Tsabin chegaram assim que elas terminaram a segunda
série de exercícios. O guarda que bateu na porta manteve o rosto
cuidadosamente impassível, e Tsabin podia imaginar o relatório que seria
apresentado no final do turno. Decidiu que não se importava.
Elas se mudariam para os aposentos reais em breve, então Tsabin não se
preocupou em desempacotar tudo. Pegou o pijama e seguiu as instruções de
Padmé para a reciclagem. Era muito mais agradável do que o do
conservatório.
— Ainda estou tentando descobrir. — disse Padmé, depois que foram
para a cama. — As diferenças entre Padmé e Amidala, quero dizer. Acho
que com você terei que ser as duas.
Não era exatamente um pedido de desculpas, mas Tsabin entendeu.
— Prometo esperar até que o seu reinado termine antes de escrever um
relato para as holos sobre todas as coisas que você bagunçou nos primeiros
dias. — ela disse.
Padmé riu.
— Acho que a Rainha e a sua nova aia estão tramando alguma coisa. —
disse Panás.
Escolheu o seu jantar, ou como quer que você chame a refeição que
você traz para sua esposa no meio da noite, quando ela estava de folga do
trabalho e vocês não se viam direito há alguns dias. O palácio ficava quieto
à noite, mas Mariek levava seus deveres a sério e não iria muito longe até a
ala diplomática, mesmo se ela estivesse desocupada.
— Elas são adolescentes. — disse Mariek. — Elas sempre vão estar
aprontando alguma coisa.
— Como posso protegê-la se não sei o que ela está fazendo? — ele
perguntou.
— Protegê-la de quê, exatamente? — Disse Mariek. — Eu sei que você
gosta de estar preparado para as coisas, mas isso parece excessivo, até
mesmo para você.
Panás largou os hashis.
— Se houver problemas com o comércio na Orla Média, Naboo será
arrastado diretamente para eles. — ele disse.
— É para isso que temos um senador. — disse Mariek. — Um senador
de quem você gosta, você deve se lembrar, e que é realmente o seu amigo
por algum motivo.
Mariek e Palpatine se toleravam polidamente, mas nenhum conseguia
ver o que Panás via no outro.
— Sou uma pessoa muito agradável. — disse Panás. — Basta perguntar
a qualquer um.
— Você me trouxe o jantar. — admitiu Mariek. — Duas vezes, já que
você não vai comer o seu, aparentemente.
Entregou o prato para que ela pudesse continuar roubando coisas sem
esticar o braço pela mesinha da sala de descanso.
Obi-Wan Kenobi não gostava de políticos. Não era nada pessoal. Para ser
honesto, não conhecia muitos políticos, e aqueles que conhecia, eram
geralmente decentes com ele, embora fosse apenas um Padawan. O
problema era que os políticos escreviam muitas coisas, e então Obi-Wan
tinha que lê-las, porque o seu mestre tinha a sensação de que algo estava
por vir. Qui-Gon tinha o hábito profundamente irritante de estar correto
sobre esse tipo de coisa, que era uma das razões pelas quais Obi-Wan não se
amotinou. Bem, isso e porque tentou algo muito parecido com um motim
uma vez, e não tinha dado certo.
Era um aprendiz Jedi. Deveria estar meditando em suas formas e
posições de sabre de luz. Ou ajudando os seus colegas a contemplar os seus
sentimentos. Ou reorganizando pedras no jardim de pedras. Ou fazendo
literalmente qualquer outra coisa, mas não, estava lendo os projetos do
Senado sobre as reformas tributárias para rotas espaciais que iam para
planetas dos quais nunca tinha ouvido falar. Pelo menos sempre gostou da
biblioteca do Templo Jedi. Jocasta era amigável com Qui-Gon e não parecia
se importar com os seus pedidos estranhos, embora resistisse quando
alguém pedia a sua ajuda. E tudo estava quieto. Às vezes Obi-Wan ficava
muito, muito grato pelo silêncio.
— O que você acha, Obi-Wan? — Qui-Gon perguntou. Não tirou os
olhos do arquivo que estava lendo. Obi-Wan resistiu à vontade de se
contorcer.
Ter um mestre que podia sentir o seu descontentamento às vezes era
uma verdadeira dor. Tinha evitado o desastre em algumas ocasiões, mas
ainda era constrangedor. Obi-Wan esperava deixar isso para trás em sua
infância, mas se contentaria em cortá-lo com a sua trança quando chegasse
a hora.
— Acho que muitas pessoas têm muito tempo disponível. — disse Obi-
Wan. Recostou-se na cadeira e esfregou o rosto. — E acho que não entendo
por que é tão importante que eles passem tanto tempo falando sobre isso.
— É uma questão de perspectiva, meu jovem aprendiz. — Qui-Gon o
advertiu. Ele ergueu os olhos do arquivo e deu a Obi-Wan toda a sua
atenção. — O mais importante para as pessoas que fazem isso é o controle.
— Os Jedi também acham que o controle é importante. — Obi-Wan
entrou na discussão com a facilidade de uma longa prática. Às vezes, ele e
seu mestre discutiam quando nem mesmo discordavam.
— Um Jedi controla a si mesmo. — disse Qui-Gon, o que era mais ou
menos o que Obi-Wan estava antecipando. O vai-e-vem familiar era um
ritmo duramente conquistado e, apesar de todas as suas dúvidas pessoais,
Obi-Wan não teria desistido por nada.
— Os políticos procuram controlar os outros. — disse Obi-Wan.
— Não são apenas os políticos, mas sim. — disse Qui-Gon. — Esses
impostos criariam uma barreira entre os planetas e as empresas com as
quais eles negociam. É muito controle para perder.
— E o que nós estamos fazendo, Mestre? — Obi-Wan perguntou.
Estava acostumado com Qui-Gon se envolvendo em coisas que o Conselho
não aprovava inteiramente, mas apreciava algum aviso prévio sobre quando
isso iria acontecer, apenas para que pudesse fazer as malas.
— Estamos ouvindo, Obi-Wan. — Qui-Gon disse. — Para que, quando
chegar a hora, possamos agir.
— Com ou sem ordens? — Obi-Wan perguntou.
Qui-Gon sorriu com indulgência. Isso teria incomodado Obi-Wan, uma
vez. Quando menino, tinha o Conselho em alta consideração, o ponto alto
da verdadeira ambição Jedi. Ainda não concordava totalmente com a
abordagem de Qui-Gon para as coisas, mas a aceitou há muito tempo como
uma alternativa viável. Afinal, era importante evitar absolutos.
— Acho que estaremos mais ou menos em alinhamento com o Conselho
desta vez, meu jovem Padawan. Você não precisa começar a se preocupar
ainda.
— Pelo menos isso significa que teremos menos probabilidade de nos
envolver em disputas trabalhistas locais. — disse Obi-Wan.
— Ou começar romances improváveis com a nobreza local. — A
repreensão no tom de Qui-Gon para a escolha de palavras de Obi-Wan era
inconfundível: algumas coisas eram muito sérias para serem subestimadas.
Por um segundo ou dois, Tsabin pensou que haveria uma discussão. Panás
não parecia que ia recuar, e sabia que Padmé não o faria de jeito nenhum.
— Muito bem, Vossa Alteza. — Panás parecia ter engolido uma fruta-
azeda. — Tsabin, começaremos o seu treinamento de combate amanhã.
— Você vai ensinar a nós duas. — Padmé disse com firmeza. — As
outras também, quando chegarem.
— Claro, Vossa Alteza. — Panás não esperou por sua dispensa. Ele
girou nos calcanhares e conduziu os guardas para fora da sala.
Por alguns momentos depois que a porta foi fechada, as garotas
permaneceram em silêncio.
— Você realmente já confia tanto assim em mim? — Tsabin perguntou.
As mangas de suas vestes escondiam seus dedos retorcidos. Era a única
parte do corpo que ela não controlava, porque geralmente ela tinha que
mover os dedos durante o desempenho de qualquer maneira.
— Não. — respondeu Padmé. Ela estendeu a mão e puxou a tiara.
Alguns alfinetes caíram em sua saia, e ela os sacudiu no chão para que
pudesse recuperá-los. — Mas irei um dia, então podemos também
estabelecer limites no início.
Elas foram para o provador e Tsabin ajudou Padmé a vestir um conjunto
de robes que combinavam com o dela. Padmé escovou os cabelos das
tranças que colocaram sob a tiara e enxugou o rosto. Tsabin abriu a porta do
guarda-roupa e mexeu nos controles por um momento até descobrir como
enviar o vestido para o local designado.
— Por que você não gosta de Sanandrassa? — Tsabin perguntou quando
elas voltaram para a sala de estar, reclinadas com os pés para cima em um
dos banquinhos que Panás queria retirar.
— Ficou tão óbvio? — Padmé respondeu. Ela parecia mais preocupada
com isso do que com qualquer outra coisa até agora, mas Tsabin sabia que
era apenas porque a rainha baixava um pouco a guarda quando estavam
sozinhas.
— Provavelmente não. — Tsabin disse a ela. Ela entrelaçou os dedos no
colo do jeito que Padmé fazia. Não era apenas o treinamento de combate
que elas tinham que compartilhar. — Eu aprendo as suas falas conforme
você aprende a escondê-las, isso é tudo.
— Não é que eu não goste dela como pessoa. — Padmé disse depois de
pensar por um momento. — Mas não gostei de como ela falou sobre os
outros planetas do setor durante o seu reinado. Compartilhamos um
senador, mas ela falava como se Naboo fosse o único planeta aqui. Prefiro
estender a mão e fazer aliados. As tradições de Naboo são importantes, mas
não são as únicas coisas que importam na galáxia.
— Você não mencionou isso na campanha. — observou Tsabin.
— Não. — Padmé permitiu. — Mas está na minha lista.
— Imagino que a sua lista faça o Capitão Panás tremer nas botas. —
disse Tsabin.
— Provavelmente. — disse Padmé. — Vamos contar a ele gentilmente.
— É hora dos seus exercícios respiratórios, Vossa Alteza. — disse
Tsabin, e elas voltaram ao trabalho.
Assistir Padmé relaxar sem realmente relaxar era um pouco enervante,
mas Tsabin sabia que a maioria das pessoas veria apenas a calma estudada
no rosto da Rainha. Padmé teve que se esforçar mais para não mostrar
compaixão em seus olhos, então Tsabin já havia modificado a prática delas
para se concentrar em parecer educadamente interessada, não plácida. Era
difícil para Tsabin, porque ela fizera o possível para se treinar para
desaparecer por completo e agora seu papel exigia os dois. Para ser
totalmente honesta, ela não se divertia tanto há anos e nunca se sentiu tão
útil.
Mais algumas respirações profundas e Padmé conseguiu, o rosto que
Amidala usaria em público. Tsabin piscou duas vezes, flexionou os dedos
nas mangas e combinou com ela exatamente.
Os seus sorrisos orgulhosos eram idênticos.
— Você sabe que não existe, oficialmente, tal coisa como uma prisão em
Naboo? — Panás disse inocentemente. A garota do outro lado da mesa com
ele revirou os olhos.
— Só porque mandamos todos para a lua. — Ela respondeu, falando no
tom cuidadosamente cortado de alguém que estava modulando seu sotaque
natural.
— Exatamente. — disse Panás. — Só para esclarecer onde isso vai dar.
O segundo revirar de olhos foi um pouquinho menos seguro de si.
Panás tinha encontrado Rabene Tonsort em uma lista de desistentes de
uma das escolas mais prestigiadas de Naboo. Ela era, de acordo com o seu
histórico, brilhante em uma variedade de mídias, de música à atuação e
escultura. Os seus professores elogiaram sua criatividade e adaptabilidade.
Os seus colegas, tinha poucos amigos, gostavam de trabalhar com ela, pois
sempre parecia apresentar resultados. Porém os administradores da escola
a expulsaram quando descobriram que ela estava fazendo um anel
falsificado no porão da escola. Vários outros alunos foram suspeitos, mas a
única evidência concreta que alguém conseguiu encontrar atribuiu a
operação inteira a Rabene.
— Você é uma golpista bastante talentosa, pelo que vejo. — Panás
continuou. — Ou é uma vigarista?
As crianças Naboo tendiam a ser prodígios. Então fazia sentido que
algumas delas seguissem em direções estranhas.
— Era um projeto da escola. — protestou Rabene, com o seu sotaque
escapando das rachaduras de sua resposta emocional. — Deveríamos fazer
uma pesquisa sobre uma era artística de nossa escolha. Está dentro da
grade curricular.
— Você não deveria vender os resultados. — disse Panás. — E você
certamente deveria dizer aos estrangeiros que os compraram que não eram
peças originais.
Rabene não disse nada.
— O que não entendo. — continuou Panás. — é que você pode fazer o
que quiser. Uma artista com a sua versatilidade surge uma vez por geração,
se tivermos sorte. Você tem Naboo inteiro ao seu alcance e você escolhe
isso.
Não havia perigo real de Rabene ser enviada para a lua, mas Panás
não ia dizer isso a ela. A escola, sem querer admitir que fomentou um
criminoso, simplesmente a forçou a desistir. Ela nem tinha sido expulsa.
— Por que não se tornar uma atriz legítima? — Panás perguntou.
Naboo passava por tendências, como em qualquer outro lugar, e o teatro
era atualmente o mais popular.
— Não gosto de interpretar papéis que outras pessoas escreveram. —
disse Rabene. Podia até ser verdade, então Panás decidiu seguir em frente.
— E se fosse o papel de uma vida? — ele perguntou.
Tentou dizer isso o mais casualmente possível, deixando o máximo que
podia para a imaginação dela. Ela se inclinou para a frente imediatamente.
— Eu não serei uma informante. — ela sibilou.
Panás riu. Uma risada real, verdadeira. Não era sobre isso que estava
falando e, por algum motivo, a sua negação completa o divertiu. Tarde
demais, percebeu que provavelmente estava revelando muito, mas,
honestamente, fazia tanto tempo que não ria daquele jeito que quase não se
importava.
— Não estou pedindo que você seja uma informante. — ele disse. — Na
verdade, não tem nada a ver com as suas indiscrições anteriores. Você só
tem alguns talentos nos quais estou interessado, e nenhuma outra oferta no
momento.
— Estou ouvindo. — ela disse.
Panás fizera todas as seleções com muito cuidado. Uma garota foi
eliminada da consideração porque não tinha coordenação motora para
disparar um blaster. Várias outras já eram muito conhecidas na
comunidade artística de Naboo para desaparecer sem serem notadas.
Rabene podia ser um pouco rude nas bordas, mas era perfeita fora isso, e
Panás não se importava de ter algo para segurar sobre ela em uma
emergência.
— É um trabalho de segurança. — disse Panás. — Você seria
encarregada de proteger uma pessoa, e essa proteção se estenderia ao
desempenho de tarefas domésticas.
Foi apropriadamente vago.
— Como lavanderia e limpeza? — Rabene perguntou.
— Se a ocasião exigir. — Panás não tinha ideia do que Amidala faria
com suas aias assim que as tivesse, embora duvidasse que as suas tarefas
fossem mundanas.
— Mas é de um grande destaque. — Rabene meditou. — Um destaque
tão alto que você nem pode me dizer quem é.
— Não até que eu tenha alguma indicação de sua confiabilidade ou
compromisso. — ele admitiu.
— Por favor, Capitão. — disse Rabene. — Você é um oficial de
Segurança Real. Não há tantas pessoas assim.
Panás se perguntou distraidamente quantas vezes seria enganado por
uma adolescente nos dias que viriam.
— Tudo bem. — ele disse. — Você tem alguma ideia do que está em
jogo. Você tem alguma ideia da responsabilidade. Eu quero que você faça
isso porque você é boa em algo que ela não é.
— Enganação. — disse Rabene.
— Precisamente. — disse Panás. — Quero que você faça o sistema
funcionar. Que a ensine a se esconder à vista de todos e a como se misturar
às decorações das paredes. Quero que você preste atenção às coisas que
ela não perceberia. Quero que você a ensine como identificar uma farsa e a
como falar com alguém e fazer com que confiem nela sem depender de seu
coração compassivo.
— Ela foi eleita rainha. — disse Rabene. — Não tem como ela já bnão
saber fazer pelo menos parte disso.
— Pode ser. — disse Panás. — Mas eu quero que você faça parte do
arsenal dela, não algo que ela só use como último recurso.
Rabene olhou para ele por um longo momento. Panás não tinha certeza
do que ela estava procurando, mas o que quer que fosse, ficou claro em seu
rosto no momento em que o encontrou. Ele a ganhou. O que quer que
Amidala tenha planejado com as outras, teria uma aia em quem pudesse
confiar. Isso o fez se sentir um pouco espalhafatoso, pois ela era apenas
uma garota, afinal, mas isso era a segurança planetária, e Panás não
deixaria nada ao acaso. Essa era uma coisa que podia controlar.
— Muito bem então, Capitão Panás. Estou dentro. — ela disse. Ela
sorriu para ele, toda doçura e leveza, e não se deixou enganar por um
instante. — Vou ensinar a sua abelha rainha como usar o ferrão.
Ao todo elas eram cinco, incluindo Tsabin, que já estava atrás do trono.
Panás as apresentou à Rainha com um floreio mínimo no final da segunda
semana de seu reinado. Cada uma delas se curvou educadamente quando
ele as apresentou, e Amidala as cumprimentou com um aceno de cabeça
idêntico. O seu rosto foi pintado para audiência completa, e a sua elaborada
tiara se estendia de sua cabeça em ambas as direções. Era cuidadosamente
impessoal, um mistério em verde volumoso. Panás tinha certeza de que ela
não se mexia há várias horas, mas não havia indicação de que a sua atenção
estava diminuindo.
Tinha sido um longo dia com os representantes regionais, havia uma
escassez de mão de obra projetada para a colheita de grãos deste ano, e o
debate foi dividido entre trazer estrangeiros para ajudar no trabalho ou
simplesmente comprar alimentos de fora do planeta e deixar os grãos se
tornarem o fertilizante da próxima estação, e todos estavam ansiosos para
terminar. Ainda assim, Amidala se sentou com as costas retas em seu trono
e olhou cada garota de frente enquanto Panás as apresentava.
— Rabene Tonsort, talentosa artista e atriz. — A expressão plácida de
Rabene indicava que havia muitas coisas que Panás estava deixando de fora
de sua biografia. — Eirtama Ballory, cientista e engenheira; Suyan Higin,
costureira e fabricante; e Sashah Adova...
Panás parou de falar quando Sashah fez uma reverência, incapaz de
quantificar porque exatamente pensava que a menina de 12 anos era
qualificada para isso, embora não houvesse dúvida em sua mente de que ela
era. Amidala percebeu a sua pausa e arriscou um meio sorriso, mais emoção
do que normalmente mostrava em público.
— Obrigada, Capitão. — ela disse, como se as apresentações tivessem
sido concluídas sem incidentes. — Você fez um trabalho notável em pouco
tempo para encontrar candidatas tão excelentes.
— Foi um privilégio. — disse Panás, curvando-se.
— Vamos subir para a suíte e conversar mais. — Amidala continuou,
agora falando diretamente com as garotas. — Há algumas coisas que
precisamos discutir.
Panás cerrou os dentes. Amidala tinha sido excepcionalmente firme em
não permitir que os guardas entrassem na suíte sem um bom motivo, e tinha
a sensação de que ela o excluiria da conversa deliberadamente.
A Rainha se levantou e liderou o caminho escada acima. As meninas a
seguiram para os seus aposentos e Tsabin fechou a porta, fazendo o possível
para não sorrir com a expressão de Panás. Na sala de estar, Amidala indicou
que todas deveriam se sentar, e então se sentou em uma cadeira perto da
lareira e puxou a tiara. Tsabin estava ao lado dela antes que ela terminasse
de se livrar de todos os pinos e aceitou a ajuda sem problemas.
— Apenas coloque na mesa por enquanto. — disse Amidala. Tsabin
obedeceu e voltou a se sentar.
Padmé parou por um momento para sacudir os cabelos e olhar as
garotas que Panás havia escolhido. Todas eram fisicamente semelhantes a
ela, exceto Eirtama, que era loira, e todas pareciam educadamente
interessadas. Mesmo Sashah que não se intimidou com o apartamento.
Padmé ficou impressionada.
— Meu nome é Padmé. — ela disse, como apresentação. Ela queria que
elas entendessem. — Imagino que o Capitão Panás tenha explicado muito
bem os aspectos perigosos desta posição, mas espero algo além de guarda-
costas.
— Não é algo além. — disse Sashah. Ela tinha uma voz sonhadora. —
É uma expansão.
— De fato. — disse Padmé. — Mas também é uma colaboração. Panás
escolheu cada uma de vocês porque vocês têm talentos que eu não tenho.
Eu quero aproveitar esse começo e nos tornar algo ainda mais forte.
— Não só seis personagens. — disse Suyan. — Você quer que
ganhemos as habilidades umas das outras.
— Ele me contratou para te ensinar a enganar. — disse Rabene. Ela
falava com tanta franqueza que Padmé desconfiou que guardava segredos.
Estava tudo bem por enquanto, pelo menos. Padmé tinha muitos segredos
próprios. — Aparentemente, ele não acha que você é enganadora o
suficiente por conta própria, mas estou começando a achar que ele a
subestimou.
Padmé sorriu recatadamente. Isso estava indo melhor do que esperava.
Ao deixar a seleção para Panás ela correu o risco de ele escolher garotas
que eram talentosas e leais, mas que não eram compatíveis com seu estilo e
objetivos específicos. De alguma forma, tanto o capitão quanto a rainha
conseguiram o que queriam: um grupo de aias que poderiam, com sorte,
evoluir para uma unidade a ser considerada. Supondo, é claro, que suas
personalidades fossem coesas. Havia uma diferença entre ambição e
comprometimento, e querer servir não era o mesmo que fazer parte do todo.
— Padmé e eu já começamos o treinamento de combate juntas. — disse
Tsabin. — E tenho ensinado a ela exercícios de respiração, que ajudam a
controlar as reações físicas.
Eirtama se inclinou para frente e pegou a tiara. Aparentemente, ela era
do tipo que sempre queria fazer algo com as mãos.
— Elas são todas assim? — ela perguntou, virando a peça para
examinar a parte que se prendia à cabeça de Padmé.
— Tão grandes? — Padmé respondeu.
— Tão rígida e desajeitada. — ela esclareceu. — É um original ou uma
réplica de uma peça histórica? Deve ser super desconfortável.
— É sim. — disse Padmé. — Um original e desconfortável, quero dizer.
— Posso projetar uma que tenha a mesma aparência e pese a metade. —
disse Eirtama. — Ninguém vai saber a diferença, exceto nós.
— Deixe-me ver isso. — disse Suyan, estendendo as mãos. Eirtama
passou a tiara sem hesitação. — Oh, sim, podemos melhorar isso. Acho que
foi feito antes da seda Karlini ser importada em massa, e não há razão para
não podermos duplicá-la em um estilo mais usável. Esta pode ir para um
museu ou algo assim.
— Vamos olhar seus vestidos também. — Eirtama examinou o vestido
verde que Padmé usava com um olhar crítico. Suyan concordou. — Pelo
menos parece que foi feito com materiais modernos, mas vamos ver se não
podemos fazer algumas modificações para conforto e funcionalidade.
Tsabin se virou com expectativa para Sashah, que não disse nada e sem
indicar ainda porque Panás a escolhera. Padmé olhou para ela com
curiosidade também.
— O capitão acha que trabalhamos para ele. — disse Sashah. — Ele
pensa em nós como uma extensão das Forças de Segurança Real. Ele não
entende o que você quer de nós. E ele tem algo sobre Rabene que acha que
pode usar para controlá-la.
Isso não era uma surpresa. Rabene encolheu os ombros.
— Quando ele disse ‘artista e atriz’, o que ele quis dizer é que eu forjo
peças de arte clássicas e, em seguida, convenço estrangeiros a comprá-las
como originais. — Rabene escondeu uma risadinha. — Ele deixou de fora a
parte em que também sou uma música talentosa. Eu só tinha que escolher
algo na escola, antes que eles me expulsassem, e eu escolhi...
— Crime? — Tsabin estava rindo abertamente agora. Suyan parecia
vagamente escandalizada, mas até ela estava sorrindo.
O primeiro problema foi que Saché se recusou a dividir o quarto com Yané.
Não deu nenhuma razão e cravou os calcanhares com uma teimosia que
ninguém havia previsto. Rabé e Eirtaé haviam inventado algum tipo de
gerador aleatório de cronograma, a ideia era que nenhuma aia ficasse no
mesmo lugar dois dias seguidos, e o ataque de Saché as impedia de
implementá-lo. Padmé estava relutante em escolher lados, principalmente
porque Yané estava inexplicavelmente de acordo com Saché. Parecia
intensamente pessoal, de uma forma que Padmé não entendia inteiramente,
e era uma tolice, mas estava determinada a dar às suas aias toda privacidade
que pudesse, e se isso era tudo que Saché precisava, não era muito.
— Tudo bem. — declarou Rabé por fim. — Vamos apenas adicioná-la
ao programa gerador aleatório. Vocês nunca terão que dormir no mesmo
quarto. Presumo que vocês estejam bem sendo vistas em público juntas?
Saché cedeu graciosamente, e os próximos três dias viram os doces
favoritos de Rabé serem enviados com o chá da noite, o que todas
consideraram um pedido de desculpas adequado.
Panás não ficou inteiramente satisfeito por nunca saber quantas figuras
encapuzadas acompanhariam a Rainha em um determinado dia. Essa
também foi ideia de Rabé. Se a rainha sempre estivesse acompanhada por
um número diferente de servas, seria mais difícil dizer quem estava ausente
em determinado momento.
— Há cinco delas para protegê-la. — disse Panás. A sua voz estava
cuidadosamente controlada, assim como a da Rainha. Ambos estavam
tentando falar de uma forma que o respeito fosse tão claro quanto a
discordância, mas eles não tinham prática suficiente ainda.
— É assim que elas vão me proteger. — rebateu Amidala.
No final, Padmé concordou em adicionar mais dois guardas a cada
turno. Foi o raro acordo em que todos conseguiram o que queriam em
primeiro lugar, e o custo foi considerado aceitável por todas as partes.
No final da segunda semana, Yané declarou que era hora de dar a Sabé a
chance de deixar a suíte com o rosto da Rainha. Memorizou a rotação da
equipe e fez uma anotação da programação em que os droides limpavam o
chão e as janelas. Sabia exatamente em que momento essa expedição
deveria ocorrer. Além disso, ela e Eirtaé haviam terminado três novas tiaras,
além de suas outras funções, e um vestido que tinha toda a aparência de um
vestido Naboo tradicional com um terço do peso. O novo vestido tinha
fechos tão mais fáceis, tornando mais fácil entrar e sair, que Rabé insistiu
que lhe mostrassem os desenhos originais.
Elas escolheram uma manhã em que Amidala não tinha aparições
públicas. Saché saiu da suíte e voltou três vezes em várias tarefas, e então
Padmé, vestida de forma idêntica, saiu para aparentemente pegar um livro
na biblioteca da Rainha, que estava localizada no final do corredor. Tudo o
que Sabé tinha que fazer era descer o corredor sem ser reconhecida, para ser
um teste bem-sucedido.
— Isso realmente pesa menos do que os antigos? — Sabé perguntou
enquanto Yané ajustava as ombreiras e o tabardo sobre o enorme vestido
azul.
— Não seja mesquinha. — disse Rabé. — Você sabe o quão duro elas
trabalharam nisso.
Sabé usava um conjunto de vestes azuis-claras por baixo do vestido, o
mesmo conjunto que Saché e Padmé usavam quando eram vistas saindo do
quarto. As aias geralmente usavam túnicas do mesmo estilo, ajustadas para
complementar o que quer que a rainha estivesse vestindo. Os capuzes
estavam rapidamente entrando em moda, espalhando-se da corte para
Theed, para a população em geral e, a qualquer momento, haveriam várias
mulheres com aparência de aias em qualquer parte do palácio.
Sobre as vestes, Sabé usava um vestido azul escuro feito de seda Karlini
e cortado para combinar com um estilo Naboo arcaico. O seu tabardo era
preto e preso por um cinto elaborado com joias. As maciças ombreiras, que
fariam a maior parte do trabalho em termos de suporte da tiara, também
eram pretas. Eirtaé não estava totalmente feliz com o design, mas Yané a
convenceu de que seria mais fácil testar um modelo físico em vez de apenas
continuar desenhando repetidamente. A tiara em si era um penteado
aparentemente simples, enfeitado com contas brancas e azuis que
estremeciam sempre que Sabé movia a cabeça. Uma grande peça triangular
descansava na parte de trás dos seus ombros e na parte de trás da sua
cabeça, completando o visual. Não ajudava muito em sua visão periférica,
mas sua postura era impecável.
Yané terminou as últimas pinceladas de maquiagem.
— Isso deve bastar. — ela declarou. — O que você acha?
Rabé e Eirtaé a examinaram atentamente e não fizeram comentários.
— Os ombros são uma boa ideia. — disse Saché. — Ninguém prestará
muita atenção ao rosto dela, mesmo que tente. Os seus olhos sempre serão
desviados.
— Obrigada. — disse Yané ao tirar o avental que usava para evitar o pó
facial nas suas vestes e puxou o capuz sobre a cabeça. Ela e Eirtaé seriam as
únicas a acompanhar Sabé no teste, porque a outra metade iria ver se elas
poderiam colocar Padmé de volta no rosto da Rainha enquanto estivessem
na biblioteca.
— Vamos lá. — disse Sabé.
— Claro, Vossa Alteza. — disse Rabé, sem piscar enquanto olhava
fixamente para o rosto pintado de Sabé.
Seria preciso mais do que isso para abalar a segunda melhor garota.
Sabé assentiu com a cabeça lentamente e se virou para a porta.
Os guardas no corredor se endireitaram quando Amidala passou por eles
e não deram nenhuma indicação de que avistaram algo incomum. Dois
deles se posicionaram atrás de Yané e Eirtaé. Eram cerca de cinquenta
metros pelo corredor até a biblioteca, e a distância de repente pareceu
ridiculamente grande para Sabé. O vestido era pesado. Não havia praticado
o suficiente com os sapatos. Não conseguia virar a cabeça por causa da
tiara. Encheu os pulmões, nenhuma parte de seu movimento revelou a
respiração estável, e começou a andar.
Elas chegaram a dez metros da porta antes que o Capitão Panás
aparecesse no corredor. Ele chegou cedo. Atrás de Sabé, Yané respirou
fundo e Eirtaé fez uma careta sutil.
— Vossa Alteza. — disse Panás amigavelmente. — Não achei que
tivesse nenhum compromisso hoje.
A partir daí ficou um pouco mais fácil. Os seus dias ainda estavam cheios
de conformidade com uma única identidade que não era de nenhuma delas
exatamente, mas as noites eram delas. Se o Capitão Panás se perguntou por
que a Rainha requisitou várias fechaduras complicadas e imediatamente
depois uma ampla seleção de linhas de bordado, não a questionou. As
meninas presumiram que não queria saber e estavam mais ou menos
corretas.
Amidala partiu para um passeio pelas províncias agrícolas alguns dias
depois que elas se estabeleceram em seu novo padrão. Todas as aias foram
com ela, vestidas com túnicas cor de fogo e colocadas ao longo de uma
coluna, de forma que ninguém soubesse exatamente quem estava onde em
qualquer momento. A pajem chamada Padmé também foi incluída no
registro de viagem, com alguns protestos de Panás. Não se importava com a
“pajem” que acompanhava o grupo, mas estava relutante em tornar pública
a existência dela. Elas se comprometeram novamente: Padmé foi
oficialmente registrada, mas raramente era vista por alguém, já que a sua
suposta tarefa como arquivista principal da Rainha para a viagem a
mantinha fora do caminho.
A rainha viajou com um acompanhamento considerável. O governador
Bibble foi com ela, junto com Graf Zapalo, o conselheiro agrícola; Horace
Vancil, o consultor econômico; e todos os seus funcionários. As Forças de
Segurança adicionais foram incorporadas. Panás havia limitado o número
de transportes a sete, o que naturalmente limitou o número de pessoas que
poderiam ser levadas. O oitavo veículo em sua comitiva continha o guarda-
roupa da Rainha.
A Rainha seguia em um speeder aberto com o governador ao lado dela.
Era a sua primeira aparição em público fora da capital, e os cidadãos
estavam ansiosos para vê-la. Todas as manhãs, Rabé pintava o seu rosto e
Eirtaé a colocava em todos os trajes reais que Yané declarava ser
particularmente importante para a região pela qual estavam passando. Sabé
a substituiu apenas uma vez, na manhã em que a menstruação de Padmé
começou e passou as primeiras horas do dia na cama esperando que os
analgésicos fizessem efeito. Fora isso, elas decidiram o que era importante
para o povo de Naboo ver a verdadeira Rainha, já que tantos deles votaram
nela.
— Como você não está usando as injeções supressoras? — Rabé
perguntou assim que Padmé estava de pé e elas tiveram a oportunidade de
trocá-la de novo.
— Normalmente não é tão ruim. — admitiu Padmé. Era profundamente
embaraçoso ser pega de surpresa pelo próprio corpo, mesmo que Sabé
tivesse feito um trabalho perfeito em substituí-la.
— Você está sob mais estresse do que o normal. — disse Yané. — Vou
adicioná-lo ao seu perfil médico, e os droides cuidarão disso quando
voltarmos.
No quinto dia, elas haviam passado por mais campos de grãos podres do
que Padmé gostaria de ver. Eles haviam explicado isso a ela, e tinha algum
entendimento sobre isso em primeiro lugar, mesmo se a composição
química exata do solo fosse algo que não soubesse antes. Era uma prática
agrícola sólida. Logo os fazendeiros arariam os caules podres de volta ao
solo e os campos seriam reconstituídos. O ministro das finanças
acompanhava a viagem para garantir a todos que seriam devidamente
compensados e, entre a promessa de dinheiro e a presença da Rainha, havia
uma certa atmosfera festiva em tudo.
Mas cheirava mal. E o cheiro era inevitável. Ele permeava tudo e a fazia
pensar em podridão, ruína e desperdício. Nenhuma dessas coisas fazia com
que ela se sentisse confortável, mas era importante que Amidala aprovasse
a decisão que o governo havia tomado.
— De onde planejamos comprar grãos? — Amidala perguntou a Zapalo
uma tarde, enquanto seguiam no speeder aberto. Havia apenas oito lugares,
e o vestido de Padmé ocupava uma fileira inteira, então eram apenas ela, o
governador, os conselheiros, Panás, o ajudante-chefe de Bibble e Saché.
— Ainda estamos considerando isso, Vossa Alteza. — ele respondeu. —
Vários mundos foram abordados e esperamos que todos eles façam uma
oferta. Então, vamos negociar o melhor preço.
— Abordamos Karlinus ou Jafan? — Amidala nomeou os dois planetas
no setor Chommell mais conhecidos pela produção agrícola.
— Não, Vossa Alteza. — Zapalo pareceu surpreso. — Nós não fizemos
isso. Karlinus, como você sabe, tem se concentrado principalmente em chá
e seda nos últimos anos. Não tenho certeza se eles têm um superávit grande
o suficiente para nos sustentar. E Jafan definitivamente não tem.
— Não é necessário nos apoiar inteiramente. — disse Amidala. A nova
voz deixava as pessoas desconfortáveis porque a tornava ainda mais difícil
de ler. Era, ela admitiu, uma grande parte do encanto. — Se pudermos
apoiar as economias deles, mesmo que seja apenas um pouco, acho que é
um assunto que vale a pena explorar.
Os conselheiros trocaram olhares e depois se voltaram para Bibble. O
ajudante dele já estava digitando em seu gravador.
— Não há motivo para não investigarmos isso, Vossa Alteza. — disse
Bibble. — E também acho que entrar em contato com os nossos vizinhos
primeiro é uma boa abordagem. Não podemos confiar inteiramente neles,
mas podemos ver se há uma chance de um acordo mutuamente benéfico.
— Muito bem. — disse Vancil. — Farei com que meu pessoal comece o
processo de coordenação com o ministério da agricultura assim que
voltarmos a Theed.
— Obrigada. — A Rainha foi cortês e deixou que a conversa se voltasse
para assuntos que seus conselheiros considerassem menos intimidadores.
Saché, cujo pajem era tão comum que a maioria dos funcionários do
governo já haviam parado de prestar atenção nela, a menos que precisassem
de algo, estava sentada no assento traseiro na frente do carro e olhando para
trás. Tinha a visão mais clara dos rostos de todos. Bibble ficou satisfeito.
Panás estava cuidadosamente neutro. Nenhum dos conselheiros ficou
entusiasmado, mas eles não se opuseram abertamente. Mas era o rosto de
Padmé o mais interessante. Enquanto os outros claramente consideravam o
assunto encerrado por enquanto, Padmé ainda o estava matutando. Ela virou
o rosto para cima, como se estivesse curtindo o sol, mas Saché sabia muito
bem. Ela estava pensando nos outros planetas do setor. E não iria parar até
que tivesse o que queria.
Padmé encontrou o seu olhar quando olhou para baixo, e Saché
assentiu, mal movendo a cabeça. Fosse o que fosse, as aias a ajudariam a
conseguir.
O aprendiz ficou sentado no escuro, esperando o chamado do seu mestre.
Havia permanecido nas sombras por anos, desde que foi escolhido, e isso
estava começando a lhe dar nos nervos. Sabia que era intencional. Ficava
com raiva de esperar, de ser empurrado para o lado enquanto o seu mestre
manipulava a galáxia sem ele. Isso o fez se sentir indesejado, e pior:
desnecessário. E, claro, isso o deixou com raiva também.
Maul havia dominado a raiva há muito tempo. Lutou com ela nas
cavernas profundas de Dathomir quando criança, e lutou tão alto que
chamou a atenção de seu mestre. A maioria teria deixado a raiva queimá-
los. A maioria teria explodido em fúria gloriosa, levando um número
incontável com eles para o vazio da escuridão, mas não Maul. Maul foi
feito para coisas maiores, e a sua raiva era o seu combustível.
Ainda estava trabalhando no ódio.
Havia tantas coisas para odiar. Odiava a forma como a névoa em
Dathomir havia nublado a sua visão e tornado as bruxas mais fortes. Odiava
o jeito que tinha sido deixado de lado por ser uma criança do sexo
masculino até que algum estrangeiro viu utilidade para ele. Odiava aquele
mesmo estrangeiro por treiná-lo tão astutamente, através de tanta dor e
sofrimento, e então não o deixar solto para causar o mesmo na galáxia.
Acima de tudo, odiava os Jedi.
Eles não tinham vindo atrás dele. Não sabia se eles o tinham percebido
e o consideravam indigno, ou se, em seu estado destreinado, não tinha
valido a pena, mas não importava. Eles o ignoraram, o ignoraram por algum
motivo desconhecido, e embora tivesse sido melhor servido pela
negligência deles, era mais poderoso com a sua raiva do que poderia ser
sem ela, e contou os dias até que pudesse fazê-los pagar.
As partes do seu sabre de luz pairavam no ar à sua frente, separados da
totalidade enquanto consertava o alinhamento pela centésima vez. O sabre
de luz era a morte. Isso também era algo com que fora forçado a lutar. Cada
parte dele foi roubada, e cada parte era irrevogavelmente dele, paga com
sangue e dor, apenas alguns dos quais tinham sido dele mesmo.
Concentrou-se, invocando o poço de escuridão dentro dele, as partes que
tinham assustado as bruxas mais jovens e agora encantavam tanto o seu
mestre. Com a facilidade de muita prática, juntou o sabre, as partes se
alinhando tão facilmente quanto tudo em sua vida não tinha. Quando
terminou, estendeu a mão, apertou o botão e se perdeu no zumbido.
Se perguntado, Maul diria que não temia nada.
Ele estava errado.
A lista de Panás não era tão extensa quanto temia. A maior parte era bom
senso. As portas de segurança que protegiam a sala do trono, por exemplo.
Todas foram testadas e, quando uma delas apresentou defeito, o mecanismo
foi substituído. Uma pesquisa no palácio e nas redondezas foi conduzida,
procurando pontos fracos na rede de Panás, e logo atrás dos guardas veio
um pequeno exército de droides de limpeza e jardineiros para garantir que
tudo estaria perfeito para os convidados.
Eles tiveram uma discussão sobre o próprio trono.
— Você quer arrancar parte de uma antiguidade inestimável e plantar
um blaster nela? — Amidala exigiu.
O corredor fora de sua suíte não era realmente o lugar para essa
discussão, mas Padmé tinha ficado tão irritada quando leu o item listado
que irrompeu no corredor para falar com ele sobre isso. Padmé não estava
muito preocupada. Não era como se alguém neste andar estivesse
inconsciente de sua postura ao pegar em armas.
— Eu não vou destruí-lo. — disse Panás. — Eu ia deixar Eirtaé fazer
isso. Afinal, ela é a sua engenheira e provavelmente quer um desafio.
Eirtaé havia passado a maior parte de um mês projetando o novo
guarda-roupa da rainha para ser tão funcional quanto ostentoso, e se o
número de esboços lotando a mesa da sala de estar fosse qualquer
indicação, ela não estava entediada.
— E o blaster? — Padmé perguntou.
— Será um modelo pequeno. — respondeu Panás. — Apenas uma
pequena célula de energia. E apenas para emergências. Se você vai ter
dignitários estrangeiros lá com você, quero que esteja preparada para o pior
absoluto.
Padmé se encostou na janela e suspirou. Sanandrassa não admitia
muitos estrangeiros na sala do trono, e nenhum deles foi violento.
Certamente ninguém ficou tão ofendido por dois anos de relativo silêncio
da monarca de Naboo a ponto de atacá-la em sua própria sala do trono.
Ainda assim, Panás estava geralmente aberto a modificar seus planos, se
fossem discutidos com ele. Por cima do ombro de Panás, ela podia ver
Sabé. Seu rosto estava cuidadosamente neutro.
— Não faria mal expandir sua experiência com armas, Vossa Alteza. —
disse Sabé cuidadosamente. Parecia que estava concedendo o ponto a
Panás, o que não era bem o que ela estava fazendo.
Sempre que Padmé reclamava que se sentia encurralada pelas demandas
de seus guardas, tribunal ou colegas, Rabé a lembrava de que era mais fácil
concordar agora e aproveitar a vantagem depois. Se elas deixassem Panás
ficar com isso, Eirtaé projetaria algo que Padmé aprovasse, e Panás ainda
pensaria que tinha vencido. Era assim que Sabé a lembrava disso. Não era
um código particularmente sutil, mas as palavras que elas usavam eram
diferentes a cada vez e, até agora, tinha funcionado bem o suficiente.
— E se houvessem dois blasters? — Padmé perguntou. Panás ficou
claramente surpreso. — Quero dizer, se eu sou a única que tem um, não faz
muito sentido. Se vamos armar uma pessoa, podemos também armar duas.
— Posso fazer funcionar com dois. — disse Eirtaé.
— Eu gosto disso. — disse Panás, e estava decidido.
— Muito bem, Capitão. — disse Padmé. — Eirtaé terá os projetos para
você depois de amanhã. Você tem mais alguma coisa que precise ser feita
esta noite?
— Não, Vossa Alteza. — disse Panás. — Obrigado.
Padmé voltou para a suíte e se afundou bufando em uma cadeira da sala
assim que a porta foi fechada.
— Mesmo se nunca usarmos, sempre saberei que está lá. — disse
Padmé. — Sempre saberei que achamos que devemos ter medo de nossos
vizinhos.
— Você será a única que poderá abri-lo. — prometeu Eirtaé. Isso era
alguma coisa, pelo menos. Ninguém iria pegar os blasters à toa. — E vou
me certificar de não arruinar o trono.
— Obrigada. — disse Padmé secamente. Ela deixou Yané e Saché tirar
a tiara agora que elas estavam indo dormir e aceitou a toalha de rosto de
Rabé para limpar a maquiagem.
— Os assessores estão voltando a si. — relatou Saché ao voltar do
vestiário. — Vários deles foram questionados sobre a cúpula após a sessão
legislativa de hoje, e todos conseguiram responder sem parecer que
desaprovavam.
— Acho que há um motivo pelo qual Bibble continua sendo eleito. —
comentou Rabé.
Elas assistiram Eirtaé esboçar os compartimentos do blaster e a ouviram
falar em voz alta sobre seus planos até que Sabé começou a questioná-los, e
a conversa se tornou sarcástica.
— Deixe-me construir um protótipo antes de descartá-lo
completamente. — disse Eirtaé finalmente. — Você está perdendo o ponto
principal e, honestamente, estou começando a pensar que está fazendo isso
de propósito.
Sabé abriu a boca para responder, mas fechou-a com firmeza ao ver a
expressão de Padmé.
— Você pode abrir fechaduras não mecânicas, Rabé? — ela perguntou
ao invés. Todas deram um suspiro de alívio.
— Bem, está mais para hackear do que arrombar. — disse Rabé. — Mas
é claro que posso.
Haviam travas não mecânicas em várias caixas de joias de Amidala,
então Rabé e Yané as buscaram no provador, e todas se revezaram tentando
arrombar sem destruir a caixa.
— Pelo menos não tivemos que pedir isso ao Panás. — disse Saché,
rindo alegremente enquanto finalmente abria uma fechadura sozinha.
— Sim, imagino que ele teria algumas perguntas. — concordou Rabé.
— Agora veja se você consegue fazer isso em menos de dois minutos.
Demorou mais uma hora até que seus tempos estivessem
consistentemente dentro dos objetivos de Rabé, e então, Eirtaé tinha quase
terminado de construir uma maquete do trono com as modificações que ela
queria adicionar ao real. Sabé testou o problema que ela pensou ter
identificado e descobriu que ele não existia.
— Você mudou. — ela disse.
— Claro que sim. — disse Eirtaé. — Só porque ainda não acho que era
uma fraqueza, não significa que vou deixar passar.
— Você poderia ter dito algo! — disse Sabé.
— E perder a expressão em seu rosto agora? — Eirtaé respondeu. —
Acho que não.
— É por isso que Panás pensa que envelheceu dez anos desde a eleição.
— disse Saché. — Por isso aqui.
— Pelos próximos dez, eu acho. — disse Eirtaé, levantando sua xícara
de chá em um brinde.
— E os dez depois disso. — disse Sabé.
Eirtama havia planejado cada parte do dia até o último detalhe, e não era
culpa dela que tudo desse errado. Construiu o hoverpod baseado em seus
próprios projetos, que criou como uma homenagem (não, ela não os
roubou) a uma peça usada na primeira ópera que a ex-rainha Réillata
estrelou após o seu mandato. Estava trabalhando com um orçamento muito
mais limitado, é claro, e teve que fazer tudo sozinha porque os seus pais a
enviaram para uma oficina para atores, que não era a mesma coisa que
uma oficina de produção teatral, que tinha sido o seu pedido.
Os seus pais eram muito bons em quase conseguir.
A ópera era uma peça ligeiramente atualizada sobre o fim dos conflitos
entre humanos e Gungan, o tipo de peça que os velhos gostavam porque os
fazia se sentir seguros, o que os fazia querer doar dinheiro para as
produções encenadas por estudantes, que eles universalmente odiavam. O
pod foi usado para representar um monstro sando aqua, de cujas costas o
personagem principal tentou reunir as pequenas forças navais de Naboo.
Eirtama havia projetado o elevador repulsor para acomodar quatro
pessoas. Ela foi muito clara sobre as restrições de peso. E ela foi ignorada.
Quando a quarta soprano subiu no pod flutuante, balançou de forma
alarmante. Mas se manteve firme. Na platéia, Eirtama relaxou. Isso ia ser
incrível. Certamente alguém passaria tempo suficiente olhando para os
cantores para perceber que o que eles pisavam era uma obra-prima.
Então, uma quinta soprano entrou pelos bastidores e começou a subir.
— Ah, não. — disse Eirtama. A velha sentada à sua esquerda a
silenciou bem alto.
A música começou, o som enchendo a sala de concertos enquanto o
público se preparava para ser transportado para uma época icônica na
história de Naboo que absolutamente não havia acontecido. A peça do
cenário balançou novamente.
— Não. — disse Eirtama mais alto.
A velha a silenciou novamente, desta vez com uma cotovelada nas
costelas. Eirtama tinha certeza de que era parente do tenor líder. Ele era
igualmente intolerável.
— Não, você não entende. — Eirtama tentou explicar. — O pod não
está...
Antes que a velha pudesse silenciá-la pela terceira vez, ou infligir danos
corporais com seu cotovelo, o zumbido alto de um motivador
sobrecarregado soou acima da orquestra. Uma das sopranos atingiu uma
nota muito, muito mais alta do que a pedida pela partitura, enquanto o pod
avançou descontroladamente pelo palco, derrubando um dos cantores.
Se isso tivesse sido tudo o que aconteceu, Eirtama teria considerado
uma vitória. As sopranos eram quase insuportáveis. Mas sabia que seria
pior. Os sensores sob o elevador detectaram a soprano caída e o controle
de emergência desligou os repulsores, iniciando o único protocolo de
segurança permitido pelo orçamento de Eirtama.
— Cuidado! — ela gritou, porque não conseguiu pensar em mais nada
para dizer. Não era como se esquivar ajudasse.
Com um choque de metal e vários outros gritos, o pod saltou para trás
da parede traseira do teatro, o único lugar garantidamente vazio. As outras
quatro sopranos foram dispensadas indecorosamente. Os ajudantes de
palco, muitos dos quais se consideravam atores e, portanto, não eram
totalmente indiferentes aos personagens, foram rápidos em correr para os
cantores caídos, mas uma vez que estavam lá, nenhum deles sabia o que
fazer.
Um homem de pele escura e ombros fortes abriu caminho até a frente
da multidão. Ele colocou as mãos em volta da boca, com muita pressa para
identificar os pontos acústicos no palco.
— Fiquem todos calmos! — ele gritou. — Sou um profissional treinado
e já pedi mais ajuda. Saiam do auditório de maneira ordenada. Se você for
parente de um dos feridos, por favor, venha e dê-se a conhecer aos médicos
quando eles chegarem.
Todos fizeram exatamente o que ele disse. Exceto Eirtama, que avançou
apesar de não ser parente de ninguém.
— O que você está fazendo? — Ele a agarrou pelo colarinho enquanto
ela tentava passar furtivamente. O seu cabelo loiro se espalhou em torno
dos dedos dele, e ela tentou se soltar.
— Eu construí isso. — ela disse. — Eu o construí e estava muito claro
que apenas quatro pessoas deveriam subir nele, e não vou deixar ninguém
dizer que foi minha culpa.
Ele a soltou e ela puxou a túnica de volta ao lugar.
— Hum, eles estão bem? — ela perguntou. A maioria das pessoas
esperaria que fosse amiga das pessoas com quem passou uma semana
trabalhando em uma ópera famosa-embora-um pouco problemática.
— Eles vão ficar bem. — ele disse. — Talvez um tornozelo torcido ou
dois, no máximo, mas ninguém quebrou nada.
— Exceto o meu hoverpod. — resmungou Eirtama, mas mudou de idéia.
— Quero dizer, acho que isso é bom.
— Não há vergonha em ficar chateada quando a sua habilidade está
arruinada porque o seu conselho foi ignorado. — ele disse. — Acho que
você está lidando com isso muito bem.
Os médicos chegaram e Eirtama se deixou vagar para fora do
auditório. Agora estava relativamente certa de que ninguém a culparia por
essa catástrofe. Ela voltou para o dormitório e leu até adormecer.
Na manhã seguinte, ninguém tinha certeza do que fazer. Eles deveriam
estar desmontando o set, sua grande apresentação feita, mas o set
literalmente desmontou a si mesmo. Em vez disso, eles perambularam em
uma das áreas verdes fora do auditório, esperando por instruções. Ninguém
esperou com Eirtama. Ela não se importou.
— Eirtama Ballory. — uma voz familiar chamou.
Ergueu os olhos e, ao lado do diretor, estava o homem da noite anterior,
aquele que havia gritado por ajuda e impedido que todos na sala se
desmoronassem. Aquele que acreditou nela. O silêncio caiu sobre o jardim.
Eirtama avançou. Tinha certeza de que havia acreditado nela. Ele até disse
que ela estava lidando bem com isso. Ninguém nunca disse que estava
lidando bem com isso. Sempre exagerava.
— Nós nos conhecemos brevemente ontem à noite. — ele a lembrou.
— Ah, sim. — ela disse. — O oficial de segurança.
O rosto dele se contraiu levemente.
— Fiquei muito impressionado com a maneira com que você lidou com
tudo, mas não tive a chance de me apresentar. — continuou ele. A última
gota de sua preocupação evaporou. — O meu nome é Quarsh Panás.
A governadora de Karlinus foi a primeira a chegar. Amidala a encontrou na
plataforma de pouso em sinal de boas-vindas e respeito. O governador
Bibble estava ao lado dela, pois já havia conhecido a sua contraparte antes.
Havia sido eleita recentemente, e Padmé esperava que ela não estivesse tão
irritada com a política recente de Naboo quanto o resto do governo dela
parecia estar. Ao mesmo tempo, a movimentação de pessoas entre Naboo e
Karlinus era bastante comum: Karlinus era um bom lugar para os artistas
ganharem dinheiro trabalhando nas colheitas de seda e chá, e Naboo era um
bom lugar para montar um estúdio depois que um artista adquirisse um
pouco de fama.
— Governadora Kelma. — Amidala disse assim que esta alcançou o
final da rampa. — Bem-vinda a Naboo. Estamos satisfeitos por você ter
vindo.
Kelma estendeu a mão e Amidala a pegou imediatamente. Podia
imaginar a expressão no rosto de Panás, mas disse a ele que faria o que
pudesse para que seus convidados se sentissem bem-vindos, e se isso
incluísse apertos de mão, então é o que ela faria.
— Foi um convite surpreendente. — disse Kelma. Os seus olhos
escuros brilharam com diversão e sua pele morena brilhou aquecida na luz
do sol de Naboo. — Eu fiquei mais do que um pouco curiosa.
— Espero que possamos satisfazer essa curiosidade. — disse Bibble
com magnanimidade. Ele ofereceu-lhe o braço e conversou com ela
enquanto voltavam para o palácio.
Os olhos de Kelma estavam por toda parte enquanto caminhavam,
captando cada detalhe. Não tinha estado em Naboo antes, o que não era
uma característica incomum em seus convidados, e parecia determinada a
aproveitar ao máximo. Usava uma roupa simples para viajar: calças largas
sob uma túnica, todas de linho combinando. Era simples e elegante, e
infinitamente mais confortável do que o vestido que Padmé estava usando.
Ela estava com um pouco de ciúme. Ela também tinha ciúmes porque o
governador não usava peruca. O seu cabelo era espesso e crespo, o que só
fazia seu rosto redondo parecer mais agradável.
Karlinus foi o único planeta cuja delegação Padmé encontrou na
plataforma de pouso. Tinha medo de que isso fosse visto como uma afronta,
mas Bibble garantiu que as outras partes entenderiam que não poderia
correr para as plataformas o dia todo. E, em todo caso, vários deles foram
um pouco rudes em suas respostas, o que significava que Padmé tinha
permissão para ficar um pouco distante até que se sentissem à vontade para
encontrá-la pessoalmente.
O setor Chommell tinha mais de trinta planetas e vários milhares de
dependências estabelecidas. Padmé convidou todos os governos primários,
mas a maioria deles recusou o convite. Alguns optaram por participar por
meio de holoprojeção e mais alguns concordaram em comparecer
pessoalmente. Padmé esperava um comparecimento maior, mas Bibble
parecia satisfeito.
— Esses planetas representam nossos aliados e nossos detratores. — ele
apontou assim que chegaram à lista final. — Ter todos eles em uma sala
conosco é um bom primeiro passo.
Os representantes de Jafan e Kreeling chegaram juntos. Os dois planetas
não estavam no mesmo sistema, então Padmé só podia ver a chegada deles
como uma espécie de declaração. Ao contrário de Kelma, que veio
pessoalmente junto com três ajudantes, os diretores planetários enviaram
embaixadores os quais pensaram ser páreo para a própria Padmé.
Especificamente, os seus próprios filhos. Padmé não se sentiu nem um
pouco insultada, embora tivesse quase certeza de que era essa a intenção.
Lidar com adultos podia ser muito cansativo.
— Meu nome é Harli Jafan. — Apresentou-se uma garota humanoide
alta e sem pelos, de pele azul-clara e dedos delicadamente palmados. —
Meu pai é o diretor planetário.
— E eu sou Tobruna. — Este era um garoto humano baixo de cabelos
ruivos e olhos castanhos. — Minha mãe é a responsável pelas refinarias de
Kreeling, o que mais ou menos a coloca no comando do planeta.
Padmé já sabia de tudo isso, mas eles tinham que começar de algum
lugar. Jafan era uma colônia relativamente nova. Eles chegaram no setor há
cerca de trezentos anos e ainda eram governados pela família que fundou a
colônia. Kreeling era um mundo de mineração. Recebia mais dinheiro no
envio de minério refinado, então também haviam muitas refinarias lá.
Circulavam rumores de que os métodos usados para manter a ordem nessas
refinarias eram menos do que democráticos, mas Padmé não podia permitir
que o preconceito afetasse a sua percepção dos delegados.
— Bem-vindo a Naboo. — ela disse.
Padmé repetiu as boas-vindas novamente uma hora depois para o
representante de Behpour, um senhor idoso, gentil, de pele negra e olhos
castanhos travessos que parecia ser muito bom amigo de Bibble, e
novamente uma última vez para a representante de Chommell Menor, uma
mulher da mesma idade da mãe de Padmé, que parecia profundamente
desinteressada na cúpula para a qual ela havia viajado através do setor.
Conforme a tarde avançava, Padmé deu as boas-vindas a meia dúzia de
outros delegados, elevando o número total para doze, incluindo ela mesma.
Mariek Panás, como a guarda de mais alta patente na ala diplomática,
estava encarregada da segurança dos delegados. Os funcionários do palácio
foram minuciosamente informados sobre as necessidades dos delegados não
humanos. Havia algo na atmosfera Kreelingi que tinha um efeito
permanente na visão humana. Padmé lembrou de repente. Tinha certeza de
que a sua equipe tinha tudo sob controle e teria feito os arranjos
apropriados, mas ela também sabia que teria que confirmar por si mesma,
ou isso a incomodaria.
Padmé queria relaxar quando o último representante saiu para ir para os
seus aposentos designados na ala diplomática, mas em vez disso, manteve a
sua dignidade e se deixou ficar encarregada de selecionar o jantar oficial.
— Você pediu por isso. — disse Panás.
— Estou ciente. — Padmé respondeu.
Ele não insistiu.
As aias tinham duas horas para se preparar para o jantar de gala, e Rabé
pretendia usar todo esse tempo. Primeiro, todas elas se lavaram nos
banheiros reais. Normalmente passavam um tempo lá, pois era um dos
poucos lugares onde nunca precisavam se preocupar com política, mas esta
noite estavam em uma missão.
Yané havia preparado as roupas de todas elas para quando estivessem
secas e, quando chegaram ao camarim, distribuiu mantos verde-jade para
todas, menos para Padmé. A Rainha foi instruída a sentar e não se mover
até receber permissão, e Padmé concordou com uma risada.
— Isso significa o seu rosto também. — disse Rabé, aproximando-se
com base e um pincel. — Não vou cometer um erro porque você está rindo.
Padmé riu ainda mais, mas controlou a sua expressão quando Rabé
começou a parecer exasperada. Fechou os olhos e deixou a dama do guarda-
roupa fazer o seu trabalho.
Yané estava trançando os cabelos de todas as outras para que pudessem
prendê-los sob os capuzes. Quando terminou, Rabé tinha acabado com o
rosto da Rainha, exceto pelas marcas vermelhas, então foi se vestir
enquanto Yané começava a sua parte. Trançou o cabelo de Padmé com
força e o prendeu todo no topo da cabeça. Então cobriu os alfinetes com
uma camada de gel que os impediria, e a peruca, de coçar. Encaixou a tiara
com cuidado, verificando frequentemente para ter certeza de que tudo
estava alinhado corretamente antes de uma conferência final para prendê-la
firmemente ao gel. Era um visual tradicional esta noite: um largo arco de
cabelo que combinava com a cor natural de Amidala e várias mechas
compridas nas costas.
Eirtaé e Saché terminaram de arrumar o vestido. Era um dos projetos de
Eirtaé e poderia ser vestido rapidamente. Isso tornava tudo sobre cabelo e
maquiagem mais fácil, e Eirtaé resmungou durante uma semana que era
ridículo que tivesse demorado tanto para que isso fosse normal. O vestido
era um rosa profundo em um estilo menos rígido do que os vestidos de
audiência de Amidala. Havia babados de verdade envolvidos, o que tornava
os movimentos muito mais engraçado do que o normal, e o decote era
menos conservador do que nas suas roupas normais.
Padmé entrou no vestido e ficou pacientemente em pé enquanto elas o
prendiam nela. Eirtaé deu a volta atrás dela e ativou as camadas internas do
vestido para que ajustassem ao seu corpo. Padmé havia aprendido mais
cedo a não respirar enquanto isso acontecia.
— Trapaceira. — disse Eirtaé com certo carinho enquanto apertava os
últimos laços e fechava a costura nas costas, tornando-a efetivamente
invisível.
Sabé estava trabalhando na maquiagem de todas as outras. Foi outro
truque que Rabé concebeu. Enuanto produziam Amidala, também
produziam as aias para se parecerem tanto quanto possível. Só era viável
quando havia capuzes envolvidos, caso contrário, Eirtaé era uma
discrepância óbvia, mas fora isso funcionava muito bem. Padmé passou por
Panás três vezes como pajem antes dele a identificar.
Após vários minutos de pequenos ajustes, Rabé e Yané anunciaram que
todas estavam prontas e elas partiram para a sala de jantar. As aias estariam
à mesa esta noite, intercaladas com vários funcionários do governo. Foi
uma demonstração deliberada de confiança da parte de Padmé. Ela estava
dando a seus convidados a oportunidade de descobrir algo que era muito
importante para ela. As únicas questões eram quem daria o salto intuitivo e
o que eles fariam com as informações. Se ela estava sendo completamente
honesta, Padmé mal podia esperar para descobrir.
O primeiro jantar oficial da Rainha Amidala depois de ser eleita para o seu
trono correu, ao que tudo indicava, muito bem. Considerou cuidadosamente
o menu, certificando-se de destacar as iguarias de Naboo sem sobrecarregar
os convidados com peixes. Embora fosse uma proteína básica em Naboo, os
outros planetas do setor não suportavam muita vida aquática, e sabia que a
textura poderia ser desanimadora. A disposição dos assentos foi ajustada no
último minuto para colocar Bibble ao lado de Olan Carrus, de Behpour,
quando a amizade deles se tornou evidente. Mesmo que isso tenha colocado
Carrus perto do pé da mesa, ele pareceu apreciar o gesto. Padmé se sentou à
cabeceira da mesa com a governadora Kelma de um lado e Nitsa Tulin, a
representante de Chommell Menor, do outro.
Os outros delegados foram intercalados com as aias aparentemente ao
acaso, mas não foi por acaso que Saché estava sentada com uma visão clara
dos rostos de Tobruna e Tulin. Padmé confiava muito em suas observações.
Sabé estava ao lado de Harli, que se revelou muito mais gregária do que
qualquer uma delas imaginara. À medida que a refeição avançava, foi Harli
quem manteve a conversa, movendo-se sem problemas de um tópico para
outro. Foi maravilhoso assistir, e tirou um peso enorme dos ombros de
Padmé, porque ela não tinha certeza se Amidala seria uma boa anfitriã de
um jantar.
— ...e então todo o rebanho se virou, e ficamos apenas os meus primos
idiotas e eu no caminho. — disse Harli, encerrando uma história sobre a
migração silpath anual em Jafan.
— O que você fez? — Perguntou Sabé, fascinada.
— Bem, havia uma árvore. — respondeu Harli. — E eu empurrei os
meus primos nela o mais rápido que pude antes de escalar também. Não era
bem uma árvore. Eu juro, alguns dos silpath tinham galhadas mais altas,
mas pelo menos não estávamos no chão com os cascos deles.
Carrus fez uma pergunta sobre o número do rebanho e como isso
afetava a dieta Jafani, que distraiu todos até que eles se moveram para a
varanda enquanto a sobremesa era servida, e depois deram uma volta para
ver o aquário que Padmé havia encomendado.
Durante o último caso da noite, enquanto Bibble discorria sobre várias
aventuras que ele havia experimentado em todos os planetas, Padmé não
estava tão distraída a ponto de não perceber Harli flertando descaradamente
com Sabé. O que a surpreendeu foi o grau com que Sabé flertou de volta.
Nada impróprio, é claro, e era possível que os adultos pensassem que elas
estavam apenas se conhecendo silenciosamente enquanto os adultos
falavam de algo que consideravam chato, mas Padmé percebeu a verdade.
Ela não sabia se Sabé estava pressionando uma vantagem ou se havia uma
atração genuína, e não sabia como no mundo ela iria descobrir, não sem
impor a sua posição. O seu relacionamento com as aias estava progredindo
muito bem. Não tinha visto isso chegando.
Enquanto os pratos eram retirados, Sabé chamou sua atenção. Ela não
revelou nada, seu rosto estava inexpressivo, e Padmé retribuiu o favor não
colocando em seus olhos uma pergunta que ela não tinha certeza se deveria
fazer. Então Harli disse alguma coisa e Sabé se aproximou para ouvir, e o
momento acabou. Tobruna atraiu Padmé para uma discussão sobre bola
gravitacional com uma Eirtaé muito entusiasmada.
Finalmente chegou a hora de desejar boa noite a todos. Eles se
encontrariam no final da manhã do dia seguinte para começar as discussões
de verdade, e Padmé estava muito ansiosa por isso.
— Bem, — disse Sabé depois que tudo foi arrumado e todas estavam
enfiadas em suas camas. — Isso vai ser mais interessante do que eu
pensava.
— Sei que não seremos capazes de mudar a opinião de todos no setor após
um único conjunto de reuniões. — disse Amidala ao final de seus
comentários de boas-vindas. A luz suave da sala do trono cintilava nas
lantejoulas azuis e verdes de seu vestido e nas joias em sua tiara que eram
sua única ornamentação. — Ainda assim, espero que possamos encontrar
um lugar para começar.
Enquanto a governadora Kelma se levantava para dar uma resposta em
nome dos convidados, Saché entrou na sala do trono. Mesmo que Naboo
fosse tecnicamente o planeta chefe no setor e o único a eleger uma rainha,
hoje Amidala estava sentada em uma cadeira que combinava com a de
todos os outros, e o gesto não passou despercebido. Nitsa Tulin ainda
parecia entediada e mal prestava atenção, mas Harli e Tobruna ficaram
visivelmente satisfeitos em ver Amidala sentada no mesmo nível. A única
pessoa que ficou chateada foi o Capitão Panás. Na verdade, havia dois
blasters escondidos no braço do trono de Naboo. Enquanto isso, o próprio
trono estava posicionado em uma antessala, esperando que Padmé o
exigisse novamente.
— Sinto muito, Capitão. — Amidala disse quando ele a confrontou
sobre isso. — Eu não fiz de propósito, eu garanto a você. Havia tantas
outras coisas para organizar e as cadeiras pareciam uma ideia muito boa.
Esqueci completamente dos blasters.
Panás olhou feio para Eirtaé, que o tinha definitivamente lembrado
disso.
— Por favor, não faça isso de novo. — Foi tudo o que ele disse.
— Eu não vou. — a Rainha prometeu.
A programação do primeiro dia foi decidida muito antes da chegada dos
delegados e era a mais simples. Eles se reuniram no meio da manhã para
permitir que os dois representantes com hiper-defasamento na viagem
algum tempo para se recuperarem e, após os comentários de boas-vindas,
cada pessoa teria alguns minutos para tratar de problemas específicos de seu
próprio mundo. O governador Bibble não esperava surpresas, mas nenhuma
das aias, as quais assistiam de seus lugares atrás do círculo de assentos, foi
tão blasé. Harli teve a palavra para começar.
— Vossa Alteza, honrados delegados, observadores, — Este último foi
direcionado diretamente a Sabé, que ficou levemente rosada e inclinou a
cabeça para a frente para que o seu capuz laranja cobrisse mais de seu rosto.
— Jafan já está por conta própria há quase três séculos. Sabemos que não
estamos tão bem estabelecidos quanto Naboo, mas não há dúvida de que
temos a nossa própria cultura e as nossas próprias tradições.
— Você sabia, Vossa Alteza, que há mais de três mil cidadãos Jafani em
Naboo no momento, excluindo a presente comitiva? — Padmé sabia disso,
mas entendia porque Harli diria isso em voz alta. — Além disso, quase
todas essas pessoas são artistas. Estamos sangrando cultura, meus amigos, e
tudo está terminando aqui.
Harli continuou, dando detalhes sobre a demografia e as disciplinas dos
artistas que estavam deixando o planeta. O problema não era que Jafan não
tivesse interesse em sua própria cultura, mas sim que Naboo tinha interesses
semelhantes, bem como mais consumidores em potencial. Simplificando,
era mais lucrativo ser um artista Jafani em Naboo do que ficar em casa.
— Por favor, me corrija se eu estiver errada. — disse Amidala quando
Harli voltou a sentar-se. — Mas parece que é uma questão de acessibilidade
e comércio. Se pudermos tornar mais fácil para as pessoas e obras de arte se
moverem entre os planetas, isso ajudaria?
— Seria um começo. — disse Harli. — Infelizmente, a maioria das
formas de arte Jafani não são exatamente portáteis.
Padmé se lembrou de algo sobre raspagem de calcário nas encostas e
vastas estruturas rochosas que podiam ser vistas de uma órbita baixa.
Proprietários de terras podiam encomendar o trabalho, e então os artistas
Jafani incorporavam a paisagem para fazer peças dramáticas.
— Claro. — ela disse. — Me desculpe. Talvez algum tipo de programa
de intercâmbio?
— Você disse que não poderíamos consertar tudo hoje. — disse Harli.
— E eu não espero que você faça. Além dos aspectos práticos, há uma boa
dose de preconceito entre nossos planetas, e todas as trocas culturais no
quadrante não vão tornar isso mais fácil para algumas pessoas engolirem.
— Você acha que se nos tornássemos parceiros comerciais regulares
para, digamos, grãos e o que você tiver, nossos povos se acostumariam com
a ideia de trabalharem juntos? — Bibble perguntou.
Padmé fez o possível para não estremecer. Para um político de carreira,
Bibble podia ser notavelmente nada sutil às vezes. Era uma grande parte de
seu charme e uma razão pela qual tantas pessoas confiavam nele, mas ainda
a pegava desprevenida de vez em quando.
— Bem proposto, Governador. — respondeu Harli, com um sorriso no
rosto. — Suponho que entrei direto nisso. É possível. Entretanto não tenho
certeza se seria fácil convencer o diretor a partilhar comida. Já se passaram
trezentos anos, mas ainda mantemos um estoque muito próximo de nossas
provisões.
A palavra passou para o próximo delegado e as negociações
continuaram. Nitsa Tulin passou sua vez de falar, e Olan Carrus disse que
não tinha nada a acrescentar. A população de seu planeta era muito
pequena, ele admitiu, e ele tinha vindo principalmente para que o seu
governo tivesse um relatório preciso sobre o que havia acontecido na
cúpula. Padmé aceitou isso com serenidade e então foi a vez de Tobruna
falar.
— Os problemas de Kreeling são de natureza um pouco mais séria,
infelizmente. — ele começou. — Embora entendamos que o setor é famoso
pela criação acima de tudo, somos nós que nos responsabilizamos pela
produção de uma matéria-prima fundamental. Um tratado desatualizado
exige que vendamos para Naboo e os outros planetas do setor primeiro a um
preço fixo, o que significa que eles sempre obtêm os minérios da mais alta
qualidade a preços abaixo do mercado. No momento em que nossos
mercadores são capazes de sair para a galáxia, eles têm apenas o material
inferior restante.
Todos eles tiveram que ser muito cuidadosos com suas respostas a esta.
Uma coisa era prometer apoio a uma comunidade de artistas e outra
totalmente diferente falar rapidamente dos principais meios econômicos de
um planeta, mesmo neste estágio inicial, quando ninguém estava fazendo
promessas oficiais.
— Eu sei porque você hesita, Vossa Alteza. — disse Tobruna. —
Assistimos à cobertura das eleições e sabemos que você se orgulha de sua
compaixão. Eu sei que você gostaria de oferecer a solução fácil
imediatamente, e não vou pressioná-la para nenhuma proposta comercial
hoje, ou mesmo amanhã.
— Agradecemos a sua compreensão e sua generosa leitura de nosso
personagem. — ela disse. — Você está certo. Agradecemos pelo tempo para
considerar nossa resposta.
Tobruna fez uma reverência e sentou-se. Isso deu a Padmé mais alguns
momentos para pensar sobre o que ela iria dizer.
— Naboo é o seu mercado principal? — ela perguntou. — E precisamos
de todo o seu minério de alta qualidade?
— Você é. — respondeu Tobruna.
— Usamos o minério para construção naval. — disse Bibble,
consultando suas notas. — A maior parte, de qualquer maneira. O resto vai
para a fabricação de instrumentos musicais.
— Isso requer alta qualidade? — Amidala perguntou.
Ninguém sabia, então Padmé arriscou uma olhada para Sabé. Elas
fizeram contato visual e Sabé balançou a cabeça minuciosamente.
— Uma das minhas acompanhantes é uma talentosa tocadora de
hallikset. — disse Amidala. — Sabé, você pode nos dizer?
— Vossa Alteza. — Sabé curvou-se ligeiramente no joelho. Foi a
primeira vez que Padmé chamou uma aia para pedir conselho quando
estavam em companhia de outros. — Pela minha experiência, o minério de
alta qualidade não é necessário. O brilho do minério está na moda, mas não
é obrigatório.
Yané tossiu baixinho e ajustou o capuz sobre o rosto antes de voltar a
mão ao lado do corpo. Padmé lembrou que poucos dias depois de suas aias
aparecerem na corte com as cabeças cobertas, seu estilo particular havia se
tornado uma tendência em todo o planeta.
— Isso pode não ser tão difícil de mudar. — disse Amidala. —
Especialmente se convencermos os músicos promissores de que o palácio
prefere um instrumento menos brilhante.
Tobruna sorriu.
— Eu não teria pensado nisso. — ele disse. — Estou ansioso para ver
suas soluções para os problemas de preços, se elas forem igualmente
criativas.
— É apenas uma posição muito preliminar, é claro. — disse Amidala.
— Mas todos devemos começar de algum lugar.
A governadora Kelma tinha a última vaga esta manhã.
— Eu sei que Naboo está enfrentando sua própria escassez de mão de
obra. — ela começou. — mas Karlinus está em dificuldades semelhantes.
Temos muitas pessoas vindo para fazer o trabalho regular durante todo o
ano, mas são os empregos sazonais que estão sofrendo. Eles pagam muito
bem, mas é difícil convencer alguém a se mudar para outro lugar se você
não pode prometer trabalho regular.
— As pessoas que queremos contratar de Naboo são aquelas que você
não sentiria falta, Vossa Alteza. — continuou Kelma. — Os jovens alunos
recém-saídos da escola que ainda não decidiram que tipo de aprendizagem
querem fazer ou a que ofício querem se dedicar. E poderíamos usá-los. Eles
seriam bem pagos e, quando voltassem, seriam capazes de se preparar da
maneira que quisessem.
— Minha mãe fez isso em Karlinus. — Padmé meditou. Na verdade,
tinha sido Sola, sua irmã, mas havia tão poucos alunos que fizeram a
viagem mais recentemente que se ela tivesse especificado uma jovem,
alguém poderia descobrir quem ela era. — Ela sempre fala bem disso. Eu
sei que era uma boa tradição e espero que possamos resgatá-la.
— Se você puder. — disse Kelma. — então podemos falar sobre grãos.
Padmé assentiu com a cabeça, e Bibble interpretou isso como sua deixa
para encerrar o dia. Como ela suspeitava, eles não haviam resolvido quase
nada, mas pelo menos estavam todos conversando, que era o começo que
ela esperava.
Os assentos estavam muito próximos. E não eram tanto assentos, mas sim
lugares na área de dança VIP. Isso era muito mais do que Yané esperava, e
estava muito feliz de ficar na beira da pista de dança e assistir ao palco.
Eirtaé estava profundamente interessada no projeto de iluminação e também
não tinha vontade de dançar. Rabé afirmava ter dois pés esquerdos, o que
Padmé duvidava muito que fosse verdade, mas não se importava o
suficiente para argumentar.
Harli puxou Sabé para dançar assim que o show de luzes de abertura
acabou. Os artistas entraram em colunas antigravitacionais enquanto a
música mudava e começavam a dançar a ironicamente intitulada “Pra
baixo”, enquanto o público fazia o possível para imitá-los no chão. Sabé e
Harli se moviam bem juntas, e Padmé quase se esqueceu de assistir a banda.
Não gostou dessa sensação. Não achava que era ciúme, não inteiramente,
pelo menos. Antes de Harli chegar, Padmé sabia onde ela e Sabé estavam.
Sabé foi a primeira de suas aias, a que melhor se passava por ela e que se
arriscaria se houvesse algum perigo. E agora, Padmé não sabia mais como
Sabé se sentia sobre qualquer uma dessas coisas.
Deveria apenas perguntar. Se fossem garotas normais, ela simplesmente
perguntaria. Foi como naquelas primeiras semanas, quando nenhuma delas
reclamou e ficaram cada vez mais irritadas umas com as outras. Mas elas
não eram normais. E embora Padmé pudesse perguntar como amiga de
Sabé, ela não tinha certeza se deveria perguntar como rainha de Sabé. Não,
ela teria que esperar que Sabé fosse até ela. E não gostou disso nem um
pouco.
A música mudou, o andamento se alterando ligeiramente, mas sem
diminuir muito à medida que os sólidos feixes de energia sônica reforçavam
a batida. Todas as luzes mudaram de cor e a multidão aplaudiu quando o
palco foi emoldurado por fluxos de plasma Naboo brilhante. Sabé se
aproximou e agarrou Padmé pela mão, puxando-a para dentro dos
dançarinos. Elas se moveram juntas e, por um momento, tudo estava como
deveria ser. Então Harli apareceu ao seu lado com um monte de lâmpadas
irradiantes nas mãos.
— Eles são iluminadores de glitter. — ela disse, gritando para se fazer
ouvir no meio da multidão. — Cada seção do público tem uma frequência
de ativação diferente. Eu tenho um pouco para todas nós!
Harli sacudiu os iluminadores para misturar os produtos químicos. Ela
agarrou um e entregou a Sabé. As luzes principais se apagaram e o Odeon
vibrou com som e cor, mas quando Harli passou o segundo para Padmé, ele
quebrou e cobriu Padmé com um líquido de glitter que brilhava no escuro.
— Eu sinto muito! — Harli gritou. — Mas agora, pelo menos, você não
precisa se preocupar em se agarrar a nada!
Padmé tentou tirar o líquido do rosto e só conseguiu bagunçar as mãos.
Yané apareceu com um lenço e uma garrafa de água, mas mesmo isso não
foi o suficiente para se livrar totalmente dos corantes.
— Teremos que lidar com isso em casa. — disse Yané diretamente em
seu ouvido. — Você quer ir embora?
— Não. — disse Padmé. — Estamos todas juntas nisso e não vou
estragar a noite de todas.
Yané parecia preocupada, então Padmé sorriu abertamente, e as duas
voltaram para o show.
Cada vez que Padmé avistava Sabé no resto da noite, estava rindo.
Panás conseguiu jantar com a sua esposa pela primeira vez em dias. Eles
acertaram isso um pouco antes dela entrar no turno, e não foi capaz de fazer
nada de especial no curto prazo, mas pelo menos conseguiram se ver.
Contou a ela o máximo que pôde sobre as conversas. A transcrição pública
não estaria disponível por mais alguns dias, mas mesmo nas noites de
trabalho, Mariek era obrigada a ouvir algo por meio da rede de fofocas do
palácio, e Panás preferia que ela ouvisse dele. Estavam prestes a comer os
bolinhos de feijão de denta que a cozinha havia assado para o primeiro dia
da cúpula quando o comunicador de Panás soou com um alerta que ele só
ouvira uma vez antes.
Depois que a Rainha se recusou a permitir que os guardas entrassem em
seus aposentos pessoais, Panás tomou algumas medidas de segurança sobre
as quais não havia contado. Havia um esconderijo de armas no assento da
janela, por exemplo, que incluía uma variedade de coisas que ajudariam a
Rainha a escapar ou revidar se a ocasião exigisse. Havia vários sensores que
podiam detectar uma violação do perímetro e vários outros para vários tipos
de disparo de armas. Havia também um sensor que a Rainha conhecia,
porque uma vez Eirtaé o acionou quando ela estava costurando e furou seu
dedo com uma agulha. Era aquele alarme que estava soando agora: aquele
que detectava sangue.
Mariek estava de pé antes do marido. Ela já estava vestida para o
trabalho, exceto pelo casaco. Ela não parou para vesti-lo enquanto se
dirigiam para a porta. Panás nem parou para pegar os sapatos. Ela agarrou
seu ombro assim que chegaram ao pátio do quartel.
— Não corra. — ela sussurrou.
— Eu sei. — ele murmurou com os dentes cerrados. Não era como se
alguém que o visse vestido assim deixasse de se alarmar, mas eles tinham
convidados, e correr pelos corredores do palácio atrairia muita atenção.
Padmé estava com as meninas. Podia ser um profissional.
Eles caminharam o mais rápido que puderam.
O corredor fora da suíte da Rainha estava silencioso. Os quatro guardas
de plantão estavam em seus postos. Eles ficaram em sentido quando Panás
apareceu e, quando viram o seu roupão, entraram em estado de alerta. Panás
não parou para falar com eles. Abriu a porta da suíte.
Os quartos estavam vazios e escuros. Apenas uma luz fraca estava acesa
perto da lareira. Era estranhamente calmante e Panás não queria ficar
calmo. Tinha uma prioridade, que era Amidala.
Bateu no quarto dela e a garota na cama se sentou e gritou.
Darth Sidious olhou para o holograma de Naboo que pairava sobre a sua
mesa. Era um mundo lindo. Águas claras e árvores verdes, pedras amarelas
e céu azul. Pessoas que não queriam nada da vida a não ser fazer coisas
bonitas que deixassem outras pessoas felizes.
Ele queria ter certeza de que o seu legado nunca fosse esquecido.
E agora ele tinha os meios. Orbitando o planeta em um círculo perfeito
estavam dezenas de naves de bloqueio em forma de anel. Cada uma estava
fortemente armada e ainda mais fortemente blindada. E todas estavam
lotadas de droides.
Ele ficou agradavelmente surpreso com a ingenuidade que os
engenheiros Geonosianos demonstraram ao projetar a força de invasão.
Haviam droides para cada patente e cada tarefa, assim como em um
exército regular. Eles seriam capazes de dominar Naboo completamente, e
poderiam até mesmo nem danificar demais o planeta. Pelo menos não no
começo. Sidious preferia a destruição completa, mas a profanação seria
feita aos poucos. O holograma brilhou, e ele estendeu a mão para colocar a
ponta do dedo onde Theed estaria, como se pudesse esmagá-lo.
O outro console, aquele em seu escritório público, soou alto o suficiente
para que ouvisse através da porta fechada. Provavelmente era o chanceler
Valorum. Bem na hora.
A primeira semana sob o bloqueio da Federação do Comércio foi
extremamente tensa e extremamente entediante. Na maioria das vezes, não
havia nada a fazer a não ser esperar. Padmé passou horas na sala do trono
com vários oficiais do governo, teorizando como Naboo poderia se
defender e se perguntando a quais aliados eles poderiam pedir ajuda. Todas
as comunicações enviadas foram respondidas mais do que vagamente. Não
havia dúvida de que a Federação do Comércio estava ouvindo.
Nunca estava sem suas aias. Pelo menos duas ficavam ao lado dela o
tempo todo, enquanto as outras entravam e saíam da sala em várias tarefas.
Começou a lhes dar as suas próprias atribuições, em vez de esperar até que
se retirassem para passar a noite e fazer uma discussão como um grupo.
Não era como o sistema deveria funcionar, mas elas tiveram que se adaptar.
Não estava mais perto de consertar as coisas com Sabé, mas a outra
garota parecia ter empurrado todas as emoções de lado e se dedicado aos
seus deveres como se não houvesse mais nada a fazer. Padmé não podia
fazer nada além de esperá-la também, embora toda essa espera estivesse
começando a deixá-la um pouco mal-humorada.
O vice-rei se recusou a descer ao planeta, nem enviaria um
representante em pessoa. Insistiu que Amidala se juntasse a ele em seu
quartel-general em uma das naves orbitais, mas isso estava obviamente fora
de questão. Já que não cederia às suas demandas, ele começou a enviar
emissários droides, todos carregando uma variação da mesma mensagem.
Padmé devolveu cada um deles, sem resposta e sem assinatura.
Nenhuma nave foi autorizada a entrar ou sair da atmosfera planetária. O
Corpo de Caças Espaciais Real de Naboo não pressionou a Federação do
Comércio para ver se eles realmente atirariam nas naves que tentassem sair.
Eles fizeram alguns exercícios em baixa atmosfera e receberam um aviso
automático de um droide para não voar muito alto, mas eles não tinham
visto nenhuma nave inimiga voando em formação. O impasse não deixou
ninguém feliz, mas foi melhor do que uma guerra total.
No sétimo dia do bloqueio, um transporte agrícola de Karlinus se
aproximou da linha orbital. A governadora Kelma havia enviado a remessa
em sinal de boa fé, um agradecimento por reabrir as linhas de comunicação
entre os dois mundos. Era uma quantidade relativamente pequena de grãos,
mas o gesto simbólico era inconfundível. A passagem da nave foi recusada
e forçada a desviar para Enarc, onde a carga foi colocada em um
armazenamento refrigerado. Foi o primeiro teste real do bloqueio, e a
Federação do Comércio venceu.
— Quanto da safra nós realmente colhemos? — Amidala perguntou a
seu conselheiro agrícola, várias horas depois que o impasse acabou e todos
eles aceitaram que a nave não estava vindo.
— É mais complicado do que isso, Vossa Alteza. — disse Graf Zapalo.
— A primeira colheita é sempre mais fraca, por isso optamos por
transformar a maior parte em fertilizante. Colhemos talvez um oitavo, que
já foi replantado para a segunda metade da estação de cultivo.
— Então, quando a legislatura decidiu pela metade, eles se referiam à
segunda metade? — Amidala perguntou. Ela deveria saber disso. Haviam
muitos detalhes para serem corrigidos.
— Tal como é, Vossa Alteza. — disse Zapalo. — Esperávamos a
primeira remessa de grãos de fora do mundo dois dias depois que o
bloqueio foi implementado, mas é de um planeta aliado da Federação do
Comércio, então começamos a procurar em outro lugar. O grão Karlini teria
nos segurado, mas não fará diferença se nada puder passar.
— Quanta comida temos em reserva? — A voz da Rainha fez a
pergunta parecer fria, o que encobriu a preocupação crescente de Padmé.
— No mundo? — Zapalo fez uma pausa para fazer alguns cálculos. —
Podemos manter a cidade de Theed por um mês.
— Há mais em Naboo do que a cidade de Theed. — Amidala disse,
uma repreensão gentil.
— Claro, Vossa Alteza. — ele disse. — Se estivéssemos alimentando
todo o planeta, nossos suprimentos durariam uma semana. Cada base
populacional tem os seus próprios depósitos, mas teríamos que
complementá-los com os da capital.
— Você está dizendo que temos comida suficiente para uma semana? —
Amidala perguntou. Pareceu uma quantidade muito pequena de tempo.
— Comida pública, Vossa Alteza. — disse Zapalo. — Isso não leva em
consideração nenhum alimento no mercado geral ou o que os fazendeiros
têm em seus armazéns particulares.
Padmé ia perguntar se havia um censo desse tipo de coisa, mas se
conteve. Ou havia, e já deveria ter procurado, ou não havia, e só faria
Zapalo parecer um tolo quando tivesse que admitir.
— Você tem um plano de emergência para este tipo de situação? —
Amidala perguntou ao invés.
— Sim, por região. Mas os procedimentos de resposta foram
concebidos para situações de desastres naturais, não para bloqueios
estrangeiros. Não temos um plano para todo o planeta ao mesmo tempo. —
foi a resposta.
— Eirtaé irá acompanhá-lo e ajudá-lo a redigir um. — disse Amidala.
— Queremos algo que possamos implementar até o final do dia.
O assessor agrícola parecia querer protestar, mas Eirtaé o guiou
gentilmente para fora da sala.
— Mais alguma coisa mudou? — Amidala perguntou.
— Os embaixadores do Chanceler Valorum devem estar aqui amanhã.
— Bibble informou. — O gabinete dele indicou que eles se encontrarão
primeiro com o vice-rei, mas com o bloqueio, isso provavelmente era
inevitável de qualquer maneira.
— Devemos colocar nossa fé nos embaixadores. — disse Amidala. —
Yané, por favor avise a cozinha que estamos mudando para racionamento,
começando o quanto antes. Se tivermos de fazer um anúncio para a
população em geral, queremos liderar pelo exemplo.
Jar Jar Binks estava tendo uma tarde terrível. Desastres sempre o
atormentaram, era verdade, mas hoje a galáxia parecia estar levando isso a
extremos.
O acidente era definitivamente culpa dele. Normalmente, o caos que
causava era mais um caso de má sorte inadvertida, mas desta vez realmente
tinha estragado tudo. Forçado a deixar Otoh Gunga e com muito medo de
ficar sozinho nas águas profundas, Jar Jar fez o que considerou um
movimento muito inteligente. Havia subido à superfície. Lutaria para viver
lá, decidiu, até que o temperamento do Chefe Nass esfriasse, e então
tentaria voltar. Não era nada que um pouco de tempo não resolveria.
Apenas ficaria fora do caminho por um tempo.
Não esperava que a sua primeira semana sobre a água em Naboo
incluísse uma frota de naves descendo para a superfície do planeta. As
naves eram feias; não havia graça em seu projeto. Em vez disso, elas eram
grossas, marrons e totalmente desagradáveis.
Além disso, elas depositaram grandes tanques que não olhavam para
onde estavam indo e não se importavam com quem esmagavam.
O lado bom era que alguém resgatou Jar Jar, e aquele salvador era um
Jedi. Os Gungans era um povo isolado, mas eles sabiam o que os Jedi eram,
e se houvesse uma confusão na superfície, Jar Jar estava em boa
companhia. A desvantagem era que o Jedi e o seu aprendiz queriam que Jar
Jar os levasse para a cidade subaquática, embora tivesse acabado de ser
banido. Eles até tinham pequenos dispositivos de respiração para que
pudessem lidar com as profundezas com ele.
E então todos eles acabaram no núcleo do planeta. Foi o pior dia de
todos.
Quando as bolhas do bongô se abriram no estuário de Theed, Jar Jar
achou que nunca ficaria tão feliz em ver algo que não fosse água. Tinha
ouvido histórias sobre como os Naboo eram incivilizados durante toda a sua
vida, mas os edifícios que viu indicavam que eles deveriam ser pelo menos
razoavelmente inteligentes. Eles eram bonitos o suficiente, embora fossem
retos e arredondados em vez de serem fluidos e curvos, e havia até alguma
arte que ele pensou que não ficaria muito fora do lugar em uma exposição
Gungan. O único problema era que a cidade estava coberta por mais
daquelas naves marrons feias.
Quando conseguiram sair em segurança da água, tiveram que se mover
com cuidado pela cidade para evitar patrulhas de droides, o que não era
realmente algo em que Jar Jar era muito bom. Conseguiu manter os seus
percalços em sua maioria pequenos, tropeçando apenas uma vez, e então
caindo muito silenciosamente em uma pilha de tapetes. Por fim, eles
estavam em uma pequena passarela sobre a rua, e o Jedi chamado Qui-Gon
deu uma parada.
— Lá embaixo. — ele disse.
Eles olharam cuidadosamente pela a folhagem e viram uma estranha
procissão. Vários droides escoltavam quase uma dúzia de pessoas vestidas
com vários uniformes. No meio estava uma fêmea humana baixa em um
vestido preto e maquiagem que Jar Jar teria reconhecido em qualquer lugar.
Os Jedi saltaram para atacar os droides, e Jar Jar Binks os seguiu, direto
para os braços do seu destino.
— Nós somos valentes, Vossa Alteza.
A escolha do Jedi era difícil, e tudo dentro de Padmé gritava para ficar
com o seu povo. Não tinha certeza se confiava em Qui-Gon Jinn ainda, mas
sabia que Panás provavelmente seria morto se elas ficassem, e o
Governador Bibble parecia pensar que ir para Palpatine era a sua melhor
chance agora que eles haviam sido invadidos, e Padmé concordou com ele.
Eles não podiam ir todos na nave. O espaço estava cheio de limites
rígidos que nenhuma negociação inteligente poderia cruzar. Tinha apenas
um momento para escolher quem ficaria e quem iria, e Padmé nem mesmo
conseguiu fazer a ligação final. Todas olharam para a Rainha e Sabé
declarou que elas iriam para Coruscant. Yané pegou a mão de Saché e se
aproximou para ficar com Bibble. Nem houve tempo para um adeus
adequado. Elas tinham que chegar ao hangar, e então foi tudo disparos de
blaster e marcação de carbono até que eles estivessem livres do bloqueio.
Quando Naboo desapareceu atrás delas, nem Padmé nem Sabé
conseguiram afastar a sensação de que estavam apenas começando a
encontrar coisas que estavam além de seu controle.
A primeira coisa que os droides fizeram foi examiná-las. A maior parte foi
indolor, exceto pela pequena picada que acompanhou o exame de sangue, e
então todos foram empurrados para uma pequena casa fora do pátio onde
foram capturadas.
— Vocês permanecerão aqui até que seja designado outro local para
vocês. — disse o droide que parecia estar no comando. — Qualquer
tentativa de fuga será tratada com violência.
Saché não tinha planos de escapar.
Ela e Yané se sentaram juntas. Vários dos guardas andavam inquietos,
mas as meninas estavam perdidas em seus pensamentos. Neste momento, a
Rainha estava furando o bloqueio, e eles não teriam como saber se ela tinha
tido sucesso, a menos que seus inimigos decidissem contar. Depois de meia
hora, um droide veio com uma ordem para remover o Governador Bibble e
levá-lo de volta ao palácio. Ele saiu sozinho, e Saché só podia torcer para
que ficasse bem.
Eles esperaram mais uma hora. Até o mais inquieto dos guardas parou
de andar e se sentou. Yané se aproximou e, pela primeira vez, Saché não se
importou. Não estava sozinha e mesmo que os seus sentimentos fossem
complicados, pelo menos elas teriam uma à outra. Finalmente, a porta se
abriu.
— De pé, humanos. — disse o droide. — Venham comigo.
Eles foram conduzidos pelo centro de Theed até a maior praça do
mercado. Tudo na praça havia sido esmagado: as fontes, os bancos, as
estátuas. Normalmente o mercado zumbia com vida e comércio, mas agora
os únicos sons eram o clangor de pés de droide e ruídos variados que
acompanhavam a construção apressada de uma pequena cidade de tendas.
— Vocês foram designados para o campo quatro. — o droide os
informou. — Preparem-se para o encarceramento.
Eles foram escoltados até uma das novas tendas e empurrados pela aba.
Dentro havia duas fileiras de camas e o que parecia ser um banheiro
compartilhado nos fundos. Alguns guardas já estavam esperando lá dentro,
e Saché ficou aliviada ao ver Mariek Panás entre eles. Mariek abriu
caminho na direção delas e olhou atentamente para seus rostos.
— Ela escapou? — ela perguntou, com a sua voz baixa.
— Dois Jedi nos encontraram. — Saché disse calmamente. — Se eles
não puderem tirá-la do planeta, ninguém pode.
Yané estava examinando a configuração dentro da tenda com uma
expressão crítica. Era fácil saber que não haviam camas suficientes.
Duvidava que os droides estivessem recebendo requisições. O mais cedo
que Padmé poderia voltar era em três dias, isso se tudo corresse bem na
viagem, no Senado e na viagem de volta. Se ela demorasse muito mais do
que uma semana, todos ficariam desconfortáveis com fome e sede, a menos
que a Federação do Comércio decidisse fazer algo para os manter vivos. A
tempestade perfeita de escassez de alimentos em Naboo e o bloqueio
planetário ficaria ainda pior se houvesse falta de água também. Era a
estação quente e o campo estava definitivamente superlotado.
Mariek falou baixinho com um jovem guarda de rosto largo e cabelos
escuros. Ele assentiu com a cabeça e foi até a abertura da tenda. Estava
claro que ele havia sido designado para vigiar. Mariek gesticulou para que
as meninas se aproximassem. Elas não tinham ideia do quão bem os droides
podiam ouvir.
— Relatório. — disse Mariek. Ela poderia dizer que Yané estava
cuidando da logística.
— Devemos ficar bem por alguns dias. — disse Yané. — Muito mais
tempo, e a comida será um grande problema. Não localizei uma fonte de
água ainda, mas costumava haver quatro fontes neste mercado, então deve
haver algo em algum lugar.
— Isso cuida dessa barraca. — disse um guarda que Saché não
reconheceu. — E o resto deles?
— Faremos uma pesquisa assim que a construção parar. — disse
Mariek. — Não adianta fazer um inventário enquanto os droides ainda estão
mudando as coisas.
— Devemos descobrir quantos campos existem. — disse o guarda na
aba da tenda. Ele tinha uma boa voz.
— Os droides disseram que este era o campo quatro. — disse Saché.
— Eles parecem estar concentrando as pessoas com base em seus
empregos. — disse o guarda na porta. — Todos que eu vi neste campo até
agora usavam algum tipo de uniforme do governo.
— Onde está Bibble? — Perguntou Mariek.
— Eles o levaram de volta ao palácio. — disse Yané. — Eles
provavelmente o querem por perto, caso precisem de alguém para enviar
uma transmissão.
Fora da tenda, os ruídos da construção pararam. Mariek foi até a entrada
e ergueu a aba. Todo o mercado estava coberto com lona, e ela podia ouvir
o zumbido confuso dos cidadãos assustados. Haviam droides por perto, mas
não pareciam se importar se os seus prisioneiros vagassem por aí contanto
que ficassem longe dos marcadores de limite definidos.
— Tudo bem. — disse Mariek. — O campo é montado em um sistema
de grade, o que facilita a sua divisão em quadrantes. Veja se você consegue
um número de funcionários de cada área e uma ideia geral de quem está
aqui, e depois relate. Ah, e encontre a fonte de água também.
— E quanto aos droides? Não deveríamos monitorar os seus padrões de
patrulha e ver o que podemos dizer sobre as defesas?
— Uma coisa de cada vez, sargento Tonra. — disse Mariek. — Primeiro
as pessoas, depois vamos nos preocupar com os droides.
Saché foi em direção à aba da tenda, mas Mariek a segurou pela gola e a
puxou de volta.
— Vocês duas não. — ela disse. Yané começou a protestar e Mariek
levantou a mão. — Eu sei do que você é capaz. Eu preciso que você
encontre uma maneira de registrar tudo de uma forma que os droides não
percebam. Vocês duas vão ser as únicas a classificar todas as informações
que coletamos e descobrir o que podemos fazer com elas.
Com isso, ela as deixou. As duas aias se encararam por um momento.
— Por favor, diga que você vestiu o roupão esta manhã. — disse Yané.
O tecido cor de fogo era meticuloso de limpar, embora isso parecesse
menos importante agora. Para combater as manchas de suor, Yané projetou
uma túnica de seda laranja Karlini. Às vezes, as meninas ficavam sem ela,
porque adicionar uma camada extra era muito quente.
— Sim. — disse Saché.
— Ótimo. — disse Yané, puxando o manto externo sobre a cabeça. —
Vou precisar de suas roupas.
Limpar a marcação de carbono de um droide não era uma boa ideia para
ninguém, mas Padmé não se importava. Valia a pena ter um motivo para
ficar nas partes mais movimentadas da nave, em vez de estar isolada com a
Rainha. Foi por isso que Sabé lhe deu a tarefa, é claro, embora Padmé não
duvidasse de que a sua sósia também estava se divertindo profundamente
com a situação. Todas foram contratadas porque podiam realizar várias
tarefas ao mesmo tempo, e se deixassem o desespero dominá-las, estariam
em sérios apuros.
Padmé raspou o metal por um tempo antes de perceber que não estava
sozinha. O Gungan, Jar Jar Binks, parecia bastante amável. Nunca havia
conhecido um Gungan antes e duvidava que Jar Jar pudesse ser
representativo de toda a sua raça mais do que ela poderia ser da dela, mas
um aliado era um bom lugar para começar.
— O que você acha, carinha? — Ela perguntou ao droide que salvou as
vidas de todos não fazia muito tempo. Falou baixo demais para que Jar Jar a
ouvisse. — Assim que terminarmos de libertar nosso planeta da Federação
do Comércio, a Rainha deve tentar fazer as pazes com os Gungans? Eles
definitivamente vão se lembrar dela por isso.
O astromecânico azul bipou ao que parecia uma afirmação, e Padmé
sorriu pra isso.
— Tudo bem, então. — ela disse. — Vou adicionar isso à lista.
Não era nada pessoal, mas Sabé estava realmente começando a odiar
Tatooine. O planeta era seco, e mesmo com os controles ambientais dentro
da nave, Sabé poderia jurar que sentia o gosto da poeira. O pior é que teve
que ficar com o vestido preto gigantesco, e só pôde assistir enquanto Rabé e
Eirtaé ajudavam Padmé a vestir o traje mais simples que tinham: calça azul
e túnica.
— Vocês acham que o Jedi sabe? — Perguntou Sabé. — Eles deveriam
ser capazes de sentir as coisas.
— Tenho certeza de que Mestre Qui-Gon está perto de descobrir. —
disse Padmé. — Mas ele não deu nenhuma indicação de que vai nos
impedir.
— Ele pode, quando você se joga em perigo. — disse Rabé.
Nenhuma das aias ficou particularmente entusiasmada com o plano de
Padmé, e cada uma delas tinha certeza de que Panás iria derrubá-lo. Padmé
insistiu que ele fosse consultado de qualquer maneira. Uma vez que isso
envolvia deixá-lo sozinho em uma nave muito lotada, demorou um pouco,
mas não havia tempo para qualquer luta interna agora.
— Obviamente não estou feliz por estar aqui. — Panás disse quando ela
perguntou a ele. — Mas você me contou em vez de apenas seguir em frente,
e eu agradeço por isso.
— Os Jedi podem descobrir. — disse Padmé.
— Podemos confiar na discrição deles após o fato. — disse Panás. — E
entendo porque você precisa ver por si mesma. Eu me sentiria da mesma
forma na sua posição. Eu quero, na verdade, mas não tenho como chegar
em casa mais cedo sem você, então o que estou dizendo é: por favor, tome
cuidado, mas estou de acordo.
— Alguém está na rampa. — disse Eirtaé, lembrando a todos do
imediatismo do momento. — É melhor nos apressarmos.
Eles deixaram o cabelo de Padmé solto, sem tempo para terminar de
prender as suas tranças. Sabé pensou em cerca de um milhão de coisas para
dizer, e não conseguiu encontrar as palavras exatas para nenhuma delas.
Queria se desculpar, queria consertar, mas elas nunca pareciam ter tempo.
Tudo o que podia fazer era aceitar o seu lugar, como sempre fizera.
— Terei cuidado. — Padmé prometeu. — Tentem se manter ocupadas
enquanto eu estiver fora. Isso fará com que o tempo passe mais rápido.
— Eu ia bater um papo com aquele astromecânico, mas eles o levarão
com vocês. — reclamou Eirtaé.
— Veja se consegue fazer o piloto montar um simulador de voo. —
sugeriu Padmé. — Isso não vai exigir muita energia.
As meninas se animaram com a ideia de ter algo para fazer, mas Sabé
ainda estendeu a mão para pegar a de Padmé quando passou.
— Terei cuidado. — Padmé prometeu novamente, apenas para os
ouvidos de Sabé.
— É melhor você ter. — disse Sabé. — Esta peruca coça e não quero
usá-la para sempre.
Era quase normal.
Padmé estava bem acordada e se sentia péssima por isso. Qui-Gon e Jar Jar,
ambos professos madrugadores, se ofereceram para dormir no chão da sala
principal da casa de Shmi Skywalker. Shmi levou o filho para o seu
pequeno quarto e cedeu a cama dele para Padmé. Foi a maior hospitalidade
que Shmi pôde oferecer, mas a cama era tão dura e a noite no deserto tão
seca que Padmé não conseguia dormir.
Após uma hora tentando não se mexer e se virar, levantou para pegar
um copo d'água. Contornou com cuidado o Gungan que roncava no chão da
cozinha. Quando limpou a sua xícara e a guardou, os seus olhos haviam se
ajustado ao escuro o suficiente para que pudesse ver o contorno de Mestre
Qui-Gon dormindo ao lado dele na porta principal da casa, como se ele
pensasse que iria protegê-los de qualquer coisa que tentasse entrar.
Do outro lado da cozinha, a luz vazava por baixo de uma porta fechada.
Padmé ouviu sons suaves vindos do outro lado e se perguntou se Anakin
havia se levantado para mexer em algo. Ele realmente deveria estar na
cama, então Padmé abriu a porta para ver como estava.
— Você precisa de algo? — Mas era Shmi Skywalker, não o seu filho,
curvada sobre a mesa com as partes de vários dispositivos diferentes
espalhados à frente. Ela estava trabalhando em algum tipo de tela.
— Eu não queria interromper. — disse Padmé. — Achei que Anakin
pudesse ter se levantado porque estava nervoso.
Shmi riu baixinho.
— Não, o meu filho dorme como uma pedra na noite anterior à corrida.
— ela admitiu. — Sou eu que fico acordada a noite toda me preocupando
com ele. O que está mantendo você acordada?
Padmé hesitou. Já havia se envergonhado na frente de sua anfitriã
quando o assunto da escravidão surgiu, mas isso não era desculpa para
deixar de ser honesta.
— Estou acostumada com uma cama diferente. — ela respondeu
diplomaticamente. — Está demorando um pouco para me acomodar.
— Você pode se sentar comigo, se quiser. — disse Shmi. — Estou
apenas tentando consertar esta tela para poder usá-la na corrida de amanhã.
— Eu gostaria disso. — disse Padmé.
Elas não conversaram muito depois disso. Padmé observou enquanto os
dedos espertos de Shmi remontavam a tela, cada peça se encaixando tão
facilmente que Shmi poderia estar fazendo mágica. Era reconfortante como
assistir a um artista, e Padmé percebeu que se tratava apenas de uma arte
diferente. Logo ela se sentiu calma o suficiente para tentar dormir
novamente e deu boa noite a Shmi.
Quando puxou os cobertores, a sua mente girou. Sempre soube que a
galáxia era um lugar complicado, mas vê-la, cheirá-la, vivê-la a fez
entender o quão tola e privilegiada havia sido. Tinha os seus próprios
problemas agora, e eles eram enormes, muito maiores do que ela mesma.
Não podia se dar ao luxo de ser distraída por um planeta que nem era o
dela. E, no entanto, o seu coração doeu por esta boa mulher e por seu filho
altruísta, e sabia que isto sempre aconteceria.
O escritório do Senador Palpatine no prédio do Senado da República era
bastante normal. Ele tinha uma janela alta e uma vista decente de
Coruscant. Não podia ver o Templo Jedi, pelo que estava muito grato.
Decorou a sala com várias obras de arte que coletou em suas viagens
quando jovem, cada peça cuidadosamente selecionada, apesar do fato de
que um docente de museu médio poderia pensar que era apenas uma
coleção de tralhas. O efeito geral era profissional e intimidante o suficiente
para que raramente tivesse que hospedar reuniões em seu próprio espaço.
Não queria encorajar visitantes.
Enquanto esperava que a comitiva real aparecesse, não tinha muito o
que fazer. O Senado estava paralisado em questões com as quais não se
importava, embora fosse escrupuloso em aparecer para votar, não podia
fazer mais nada sem a presença da Rainha. Ficou reduzido a olhar em seu
catálogo, passando rapidamente por entrada após entrada de obras de arte as
quais tinha armazenado porque não tinha um lugar para colocá-las.
Congelou a tela em uma estátua negra. À primeira vista, quase não era
esculpida e dificilmente digna de atenção. Mas se alguém conhecesse a
história de Yonta Prime, e conhecia, saberia que a superfície negra e
profunda da estátua absorvia a luz melhor do que quase qualquer outra
substância na galáxia. Era uma de suas peças favoritas. Nunca teve espaço
para guardá-la em qualquer lugar que não fosse o seu depósito.
Mediu mentalmente o seu escritório. Não, era impossível. A estátua o
faria parecer um colecionador descuidado que não ligava para organização,
desde que a peça o agradasse. Recusou-se a ceder à desordem.
Havia um escritório que serviria perfeitamente, é claro. Ficava alguns
andares acima, e Palpatine estava de olho nele já há um tempo.
Tomou providências para que a estátua fosse embalada e enviada para a
sua residência em Coruscant. Poderia mantê-la lá por um curto período e
então teria todo o espaço de que precisava para colocá-la em exibição.
— Vou entrar em contato com os Gungans. — disse Padmé.
Sabé ainda estava entusiasmada por tê-la visto derrubar o governo da
República Galáctica naquela tarde, depois de pedir um voto de desconfiança
no Chanceler Valorum, então não tinha certeza se tinha ouvido
corretamente.
— Você está indo fazer o quê? — ela disse, passando um pente pelo
cabelo de Padmé o mais gentilmente que pôde.
As aias estavam empacotando as várias roupas que Padmé havia exigido
naquele dia, enquanto Sabé colocava a Rainha em seu vestido de viagem
roxo escuro e tiara roxa, e retocava a sua maquiagem. Tinha sido um dia
muito agitado e elas teriam que dormir o que pudessem no hiperespaço.
Sabé estava feliz por fazer essa viagem em roupas simples.
— Vou entrar em contato com os Gungans. — Padmé repetiu. — Jar Jar
me disse que eles têm um exército, pouco antes de o Senador Palpatine
voltar. Vou pedir a eles que nos ajudem.
Sabé considerou. Elas receberam a notícia de que os Jedi voltariam para
Naboo com elas, mas haviam só dois deles, e as próprias forças de
segurança de Naboo eram pequenas. Afinal, os Gungans viviam no planeta.
A Federação do Comércio não os ignoraria para sempre. Era possível que
eles já tivessem sido encontrados. Panás ficaria feliz com mais tropas,
especialmente se elas não fossem tão inerentemente pacifistas quanto os
Naboo.
— Você acha que Panás ficará bem com você pisando em Naboo como
Rainha? — Perguntou Sabé. — Isso vai colocá-la em perigo e teremos que
abandonar a nave quando pousarmos. Nós não seríamos capazes de trocar.
— Nós vamos trocar antes de pousar. — disse Padmé. — Eu ia te contar
o que eu quis dizer.
Os dedos de Sabé cerraram-se em torno do pente. Fingiu ser a Rainha
na primeira viagem real e nos comentários finais da cúpula, e para a jornada
até ali como parte da segurança de Padmé, mas se encontrar com os
Gungans era um grande passo político para todos em Naboo.
— Você foi maravilhosa na turnê e perfeita durante a cúpula. —
Apontou Padmé. — Você foi tão perfeita que encobriu o meu erro quando
Harli me pegou em vez de ir até ela e explicar o que aconteceu. Você
sempre estará em mais perigo e sempre será o seu trabalho, mas... eu confio
em você. Eu confio muito em você.
— Mas você é a Rainha. — disse Sabé. — Eu realmente não entendia
isso até a tempestade de areia... quão isolada você fica e como você
transforma isso em influência. Eu estava só, mas você sempre encontra uma
maneira de fazer conexões.
— Você é tão qualificada para este trabalho quanto eu. — disse Padmé.
— Se você quisesse concorrer à função depois de mim, acho que você seria
boa nisso.
— Não. — disse Sabé. — Eu não seria.
— Não entendo. — disse Padmé. — Não há nada que eu possa fazer
que você não possa.
— Há uma diferença fundamental entre você e eu. — Sabé disse a ela.
— Você comanda e eu cumpro.
Padmé não respondeu, então Sabé continuou.
— Você sabe por que o Capitão Panás me recrutou? — ela perguntou,
um tanto retoricamente. — Não era para exercícios respiratórios. Somos
muito parecidas, mas deve haver incontáveis garotas magras de cabelos
castanhos na galáxia. Ele me escolheu pelo que sou melhor, a única coisa
em que já fui melhor, que é não ser a melhor.
— Você não é... — Padmé começou.
— Não, eu sou. — Sabé a interrompeu. — Eu sou boa em muitas
coisas. Trabalho muito e consigo resultados, mas nunca sou a melhor. E
pensei que tinha aceitado isso, até que Harli me olhou como se eu fosse
especial. E sim, sair com ela foi divertido e eu queria que ela me beijasse,
mas aprendi algo importante naquela noite.
— Não fugir do palácio? — Padmé perguntou.
— Não seja boba. — retrucou Sabé. Ela deu a volta na frente de Padmé
para checar seu cabelo. — Essa foi a melhor parte. O que eu aprendi é que
prefiro ser a segunda para você do que a primeira para qualquer outra
pessoa.
Confessar os seus sentimentos foi como tirar um peso do peito de Sabé.
Levou muito tempo para descobrir, para colocar em palavras o que sabia em
seu coração. E agora tinha feito isso. Queria voar.
— Eu posso estar mandando você para a morte. — disse Padmé.
A sua voz estava tão baixa que Sabé mal a ouviu. Estendeu a mão e
pegou as mãos de Padmé.
— E eu iria. — ela disse.
— Não posso ser tão dedicada a você. — disse Padmé.
— Eu sei. — disse Sabé.
Um longo silêncio cresceu entre elas, mas não foi estranho. Ambas
sabiam onde estavam.
— Então. — disse Sabé. — Os Gungans.
Separou o cabelo de Padmé e começou a trançar em preparação para a
tiara.
— Sim. — disse Padmé. — Gostaria que soubéssemos mais sobre eles.
— Bem, sabemos que Jar Jar é um caso isolado. — disse Sabé. — Isso é
um começo.
— Estive pensando sobre a cúpula, como convidei pessoas de todo o
setor mas nenhuma pessoa da espécie que compartilha nosso próprio
planeta. — disse Padmé. Sabé percebeu pelo seu tom que ela estava
pensando em voz alta e não interrompeu. — De muitas maneiras, é um
problema ainda mais espinhoso de tentar consertar.
— E você vai começar pedindo ajuda a eles. — disse Sabé. — Isso não
vai facilitar nada.
Ela endireitou a tiara na cabeça de Padmé e virou a cadeira para uma
verificação final pela frente.
— Quando você falar com eles, acho que seria uma boa ideia ser o mais
formal possível. — disse Padmé. — Queremos que eles saibam que têm o
nosso respeito.
— Você quer dizer o respeito da Rainha? — Perguntou Sabé.
— Sim. — respondeu Padmé. — Podemos trabalhar no resto mais tarde.
Sabé pegou as mãos de Padmé e ajudou-a a vestir a roupa interna de
seda roxa. Selou todas as costuras e então ergueu as peças de veludo escuro
no lugar. Depois de amarrados, dobrou o tecido mais pesado para revelar
lampejos de cor.
— E se você falasse com Jar Jar mais algumas vezes e me deixasse
observar? — Sabé disse. — Observar como uma aia, quero dizer. Você pode
fazer perguntas a ele sobre a cultura Gungan. Você tem uma ideia melhor do
que precisamos saber.
— Não precisamos trocar de lugar antes de chegarmos a Naboo. —
respondeu Padmé. — Então, sim, acho que funcionaria.
Sabé fez uma última inspeção na Rainha. Atrás dela, as outras estavam
quase terminando as malas.
— Este é um assunto diferente, mas tenho que perguntar. — disse Sabé.
— Como foi derrubar o chanceler?
— Eu não diria assim. — disse Padmé. — Isso faz parecer que fomentei
uma rebelião aberta. Eu só... aproveitei o procedimento parlamentar
enquanto eu tinha o plenário do Senado.
— Você derrubou o chanceler. — disse Sabé.
— Eu gostaria que você tivesse visto. — Padmé parecia triste. — Tantas
pessoas de toda a galáxia, e tudo o que podiam fazer era bater-boca. Eu
disse a eles que nosso povo estava sofrendo, e eles teriam nos feito esperar
até que algum comitê voasse para o setor Chommell e verificasse. Eles
estavam mais preocupados em votar nos moldes de sua aliança do que em
ouvir os problemas e tentar encontrar soluções. Foi uma bagunça e o
Chanceler Valorum não fez nada. Nada.
— Você acha que um novo chanceler fará melhor? — Perguntou Sabé.
— Não tive tempo de pesquisar todos os candidatos. — disse Padmé. —
Obviamente eu confiaria no Senador Palpatine, e ele parece genuinamente
gostar dos outros. Acho que de qualquer maneira que isso vai acabar, e será
a nosso favor.
— Mas não vai chegar a tempo em Naboo. — disse Sabé. — Não
importa o que aconteça no Senado, estamos por conta própria.
— Isso impedirá a Federação do Comércio de tentar novamente. —
disse Padmé com firmeza. — Com a gente ou com outra pessoa.
Sabé tinha mais algumas dúvidas sobre a santidade do Senado da
República do que Padmé parecia ter, mas foi por isso que Padmé fez coisas
como concorrer à Rainha do planeta. Ela acreditava no sistema, embora
pudesse ver as suas falhas. Sempre tentaria consertá-los. E Sabé iria ajudá-
la, porque foi isso o que escolheu fazer.
— Os Jedi vão se juntar a nós na plataforma? — Perguntou Sabé. Ela
teve problemas para controlar o tempo em Coruscant. Sempre houve muita
luz ambiente.
— Sim. — disse Padmé.
— Sei que estamos todos preocupados, mas espero que você encontre
tempo para dormir um pouco no caminho para casa, e eu também precisaria
de um pouco. — disse Sabé. — Se eu tiver que ser a Rainha novamente,
vou precisar descansar.
Padmé riu, como Sabé pretendia. Foi uma tentativa fraca de humor, mas
funcionou. A situação era terrível, mas não podiam se desesperar.
— Posso fazer uma pergunta estranha? — Padmé disse.
— Claro. — respondeu Sabé.
— Você notou que a pintura do rosto estava diferente?
Apesar de tudo, Sabé também caiu na gargalhada.
O seu mestre lhe disse para ir direto para Naboo, tão direto quanto tinha
ido. Os Neimoidianos que o encontraram no palácio falharam na tentativa
de mostrar que era bem vindo. Eles o mostraram um quarto, e ele os
ignorou.
Em vez disso, vagou pelos corredores do palácio. Era um lugar bonito,
cheio de cores vivas, mesmo quando visto pela luz da manhã. Explorou o
palácio de cima a baixo, procurando por todos os pontos de acesso. Sabia
que tinha uma luta chegando; o seu sangue cantava com prontidão para isso.
E estava determinado a escolher o campo de batalha ele mesmo.
O hangar perto do Palácio Real era o lugar mais provável para qualquer
força de infiltração atacar primeiro. Não se preocupou em dizer isso aos
Neimoidianos. Eles descobririam ou não. Realmente não importava para
ele.
O que importava era a série de corredores que iam do hangar até as
instalações de geração de energia. Haviam dois Jedi, o que significava que
tinham a vantagem de atacá-lo de várias direções ao mesmo tempo. Queria
uma maneira de remover algumas dessas direções, e o labirinto de
passarelas e caminhos desprotegidos na área do gerador era perfeito para
isso. Sempre saberia de onde eles estavam vindo.
Na parte de trás da instalação havia uma série de campos de força que
abriam e fechavam com um temporizador. Este lugar seria o seu objetivo
final. Tinha uma boa chance de separá-los se os envolvesse ali, e tinha
certeza de que poderia lidar com eles por tempo suficiente para atraí-los até
o fim.
Esperou até que os campos estivessem abertos e então correu antes que
fechassem novamente. O espaço do outro lado não era perfeito para um
duelo, nenhum espaço com um buraco tão grande no chão era perfeito...
mas serviria, ele decidiu. Sim, seria ótimo.
Ativou os dois lados do seu sabre de luz e girou-o, se acostumando com
a sensação das lâminas tão perto das paredes. Seria um alojamento
apertado. Seria capaz de usar toda a sua fisicalidade. O seu mestre
desaprovava tantos socos e chutes em seu estilo de luta, mas não havia nada
melhor do que a sensação de fratura óssea sob seu toque. Um sabre de luz
era bom, mas havia algo a ser dito sobre como trabalhar com as mãos.
Deu um salto voador e facilmente cruzou a rampa no chão. Pensou de
onde isso emergia e então decidiu que não importava. Logo enfrentaria os
Jedi ali, e traria todo o seu ódio sobre eles. Estava muito ansioso por isso.
O seu comunicador soou e o ativou, embora não desejasse falar com
nenhum lacaio da Federação de Comércio. O seu mestre lhe disse para jogar
junto.
— Meu lorde. — disse o vice-rei. — A nave real foi detectada no
sistema. Ela conseguiu evadir do bloqueio e se estabelecer em uma área do
planeta que é densamente arborizada. Enviamos tropas para resgatá-la, mas
é provável que a rainha e o seu grupo tenham fugido para a floresta. Você
deseja procurá-los?
Era tentador. Gostava de uma boa caçada. Mas havia escolhido este
lugar para ser o seu campo de batalha e estava relutante em desistir.
— Não. — ele disse. — Deixe-os vir até nós.
— Você continua voltando.
Panás não tinha visto as pernas da garota até ela falar, e então quase
caiu sobre elas.
— É um prédio público. — ele disse. — Posso entrar e sair quando
quiser.
— É um prédio público que está sendo usado para sediar um seminário
de atuação. — ela rebateu. — Para meninas.
Isso estava começando a ficar constrangedor.
— Estou recrutando. — ele disse.
— Estamos no meio do feriado. As Forças de Segurança Real têm o seu
recrutamento no final do semestre. — Ela afirmou. — Ninguém disse nada
sobre reagendá-lo.
Não se preocupou em perguntar como ela sabia que era da Segurança
Real. Tinha a sensação de que não gostaria da resposta.
— O seus instrutores sempre te contam quando a programação vai
mudar? — ele perguntou.
— Não. — ela admitiu. — Mas eles falam muito na minha frente.
Ninguém realmente presta atenção em mim.
Tendo quase tropeçado nela apenas alguns momentos antes, Panás
dificilmente poderia argumentar contra isso.
— A garota de quem você fica se afastando é a melhor escolha. — ela
disse.
— Perdão? — Panás perguntou. Estava começando a se acostumar a
lidar com crianças prodígios diariamente, mas isso estava exigindo muito
de seus nervos.
— Você fica olhando pra ela e fazendo uma careta como se desejasse
que algo fosse diferente, e então você volta a olhar para todas as sopranos
de cabelos castanhos. — disse a garota. — Escolher uma loira teria uma
vantagem.
Era verdade que a candidata que Panás mais gostou no seminário era
loira. Ela não parecia se importar em atuar, apesar do nível de dificuldade
para ser aceita no programa, e em vez disso estava se dedicando à
construção de cenários. As outras atrizes designadas para posições na
equipe de apoio ficaram profundamente afrontadas, mas ela parecia ter
escolhido isso.
— Qual é a vantagem? — ele perguntou.
— Se você escolher apenas garotas que se parecem com ela, ela nunca
será capaz de mudar a sua aparência sem se destacar. — ela respondeu.
Panás se recostou na parede baixa de pedra e a olhou com ar avaliador.
— Quem é você? — ele perguntou. — Eu não vi você no palco esta
semana.
— Meu nome é Sashah. — ela disse. — Eles não me deram um papel e
se esqueceram de me atribuir um trabalho nos bastidores, e eu não queria
estar aqui em primeiro lugar, então estou tirando uma semana para
aprender mais sobre como as pessoas trabalham.
— Acho que você está indo bem com isso. — disse Panás. — Ninguém
mais descobriu o que estou fazendo e estou procurando há uma semana.
Meu nome é Panás.
— Venha e veja a peça esta noite. — disse Sashah. — Você vai poder vê-
la em ação.
— Ah? — Panás disse. Que tipo de ação se vê de uma cenógrafa
durante a performance?
Sashah sorriu.
— Ela disse várias vezes a eles o que estão fazendo de errado. Eles não
ouviram.
Teve que admitir que ela despertou a sua curiosidade.
— E quanto a você, então? — ele perguntou. — Você deve ter notado
que se parece com ela.
Sashah considerou isso brevemente e então balançou a cabeça.
— Eu sou muito pequena. — ela disse. — Estou aqui porque os meus
pais pensaram que me obrigar a falar em público me faria bem, e nem isso
poderia me levar ao palco. Você precisa de pessoas que possam atrair a
atenção e desaparecer no fundo. Eu só posso me esconder.
— Você tem minha atenção. — disse Panás.
— Só porque falei com você primeiro. — ela disse. — Eu sempre me
sento aqui, e esta é a primeira vez que você me vê.
— E você me deu um conselho excelente. — disse Panás. — Você
escolheu o seu momento e se aproveitou dele.
A garota o olhou solenemente e puxou os joelhos até o queixo. Ela
franziu os lábios enquanto considerava o que disse. Apreciou o tempo que
ela estava levando para pesar as opções. Ela sabia o que estava em jogo,
ou pelo menos suspeitava fortemente, e não ia dizer sim apenas porque isso
acariciava seu ego. Ela se certificaria de que era realmente necessária.
— Tudo bem, Capitão. — ela disse. Não ficou surpreso que ela tivesse
determinado a sua posição. — Eu irei com você. Quando partimos?
— Amanhã, provavelmente. — ele disse. — E imagino que seremos três.
— Vou pegar as minhas coisas. — ela disse. — Você tem uma mentira
preparada para os meus pais? Eles vão se perguntar onde eu estou se eu
desaparecer para Theed.
— Diga a eles que você estará acompanhando um funcionário do
governo. — disse Panás. — É mais ou menos a verdade. E diga a eles que
todo o resto é confidencial.
— Muito bem. — ela disse. — Vejo você hoje à noite, Capitão.
Ela se levantou com a graça de uma dançarina e entrou no prédio.
Panás olhou para a alcova onde ela estava sentada. Era um bom lugar
para se estar, proporcionava uma vista dos jardins, mas longe do vento e do
sol. Se ela passasse muito tempo ali, e imaginava que ela passava, poderia
obter muitas informações. Ela pode ser pequena, mas as suas contribuições
para o destacamento de segurança da Rainha não seriam.
A palavra pequeno flutuou em seu cérebro por um momento enquanto
olhava para a alcova. Era maior do que pensava. Definitivamente grande o
suficiente para que, se ela se sentasse de costas para a parede, as suas
pernas não alcançassem as escadas.
Ela o fez tropeçar de propósito e, em seguida, o fez lhe oferecer o
emprego que ela queria. Panás partiu para o palácio, rindo baixinho.
Sashah se encaixaria bem.
Saché estava em sua décima viagem pelo acampamento quando foi pega.
— Você aí, pare. — disse um droide, e Saché parou. O tecido
firmemente dobrado no bolso de suas arruinadas vestes laranja queimavam
contra sua perna. — Vire-se.
O droide não estava sozinho. Era um esquadrão de seis em patrulha.
Desde que o encarceramento começou, as patrulhas droides se tornaram
mais frequentes e os seus métodos mais violentos. Ontem, três pessoas
foram mortas por tentarem roubar comida das lojas da Federação do
Comércio e, como resultado, as rações foram cortadas para todos.
Houve uma briga na tenda de Saché quando um guarda acusou outro de
acumular comida. Mariek e Tonra haviam terminado com isso o mais rápido
possível. Ninguém queria que os droides ouvissem. Mariek designou os
dois guardas para trabalhar na latrina. As latrinas originais haviam
transbordado há muito tempo, e colocar novas era desagradável o suficiente
para servir de impedimento para brigas na tenda. Entretanto, Mariek não
podia fazer mais nada, então eles estavam esperando o próximo golpe.
— As suas ações são desnecessárias, — disse o droide. — Você não tem
motivo para vagar pelo acampamento. Explique-se.
— Não gosto de ficar confinada na barraca. — disse Saché. — Eu
estava apenas tentando fazer algum exercício.
— Os humanos são criaturas de hábitos. — disse o droide. — Se você
estivesse se exercitando, seguiria o mesmo caminho. Você não está.
Explique-se.
— Eu só estava olhando em volta. — Saché tentou soar o mais infantil
possível, embora os droides não tivessem mostrado nenhuma indicação de
que se importavam com a idade dela.
O droide inclinou a cabeça como se estivesse ouvindo algo ou fazendo
um cálculo.
— O seu comportamento foi sinalizado. — disse o droide. — Você virá
conosco.
Não adiantava correr. Saché se lembrava muito bem da sensação do
plastiaço em seu pescoço para pensar em resistir. Tentou não recuar quando
os droides a cercaram e começaram uma marcha forçada. Eles estavam indo
para o escritório do mercado, o qual os droides tinham transformado em
uma estação de carregamento e um pequeno escritório para o Neimoidiano
que supervisionava as operações no acampamento.
O sargento Tonra estava parado entre duas tendas, uma expressão
alarmada no rosto. Saché não olhou pra ele. Ele se virou e desapareceu
antes que os droides pudessem dizer alguma coisa, e Saché sabia que a
notícia de sua captura chegaria a Yané e Mariek assim que ele pudesse
cruzar o acampamento com ela.
Os droides a levaram para o escritório e estreitaram a sua formação ao
redor dela para que tudo o que pudesse ver fossem torsos de metal.
— Saiam do caminho, estúpidos inúteis. — disse a supervisora
Neimoidiana. — Como posso interrogá-la se não posso vê-la?
Saché poderia pensar em algumas respostas, mas ela não iria
exatamente oferecê-las. Os droides à sua frente deram um passo para o
lado, movendo-se em uníssono perfeito.
— Crianças humanas são tão pequenas assim? — perguntou a
supervisora.
— Ainda estou crescendo. — respondeu Saché. — Tenho doze anos.
— Percebo. — A supervisora relaxou em sua cadeira. — Por favor,
sente-se.
Saché não baixou a guarda e se preparou para aproveitar qualquer
vantagem que lhe desse. O assento era alto e seus pés estavam suspensos do
chão, mas conseguiu.
— Meu nome é Usan Ollin. — ela disse. — Como você sabe, eu sou a
responsável por este acampamento. Estou alarmada ao saber que você está
sendo colocada em perigo.
— Estou? — Perguntou Saché. Ela deixou seus olhos se arregalarem o
máximo que pôde e lançou sua voz alta e um pouco sem fôlego.
— Os humanos adultos estão conspirando contra nós. — disse Ollin. —
Quando não temos sido nada além de atenciosos desde o início de nossa
visita aqui. A sua rainha e seus comparsas são responsáveis por esta
bagunça. Ela poderia acabar com isso a qualquer momento que quisesse.
— Eu sei. — disse Saché. Sempre era melhor misturar o máximo de
verdade possível. — Mas por que estou em perigo? Vai faltar comida?
— Bem, provavelmente. — Ollin admitiu. Ela se sacudiu. Ela disse algo
que não pretendia. — Mas não é por isso que você está em perigo. Os
adultos estão usando você, minha querida, para levar mensagens.
— Estão? — Saché engasgou. — Eu só queria fazer um pouco de
exercício.
— Temo que sim, criança. — disse Ollin. — E você está em apuros, a
menos que me diga o que dizem as mensagens.
— Mas eu não sei. — Saché se fez parecer o mais inocente e vulnerável
possível e torceu para que a linguagem corporal Neimoidiana fosse
semelhante. Eles se encolhem muito, ela lembrou, e giram os ombros para a
frente.
— Eles se acham muito espertos. — disse Ollin. — Colocam a
informação em pequenos pedaços de tecido. Encontramos um ontem à
noite, e há outro no seu bolso agora. Nossos droides irão decifrá-lo logo.
Mas se você me contar, vou deixar você ir.
Os dróides não o decifrariam. O ponto principal do código de
comunicação era que era um jogo de memória para as crianças de Naboo
que era completamente independente da tecnologia. Era como uma equação
insolúvel ou um quebra-cabeça lógico circular. Nenhum computador seria
capaz de quebrá-lo sem ajuda orgânica.
— Eu não sei. — ela disse novamente. Ela se enrolou tanto quanto
possível.
— Quem te deu o tecido? — Ollin disse.
— Eu... eu não me lembro. — gaguejou Saché. — Estou ficando com
tantos estranhos e nenhum deles quer falar comigo. É tão difícil distingui-
los em seus uniformes.
— E quanto à outra garota, aquela vestida como você? — Ollin disse.
— Minhas fontes dizem que vocês duas foram criadas no palácio. Ela é
uma estranha, também?
— Nós trabalhávamos juntas. — respondeu Saché. — Mas eu não a via
muito. Nós tínhamos empregos diferentes.
Ollin parecia desconfiada, mas engoliu aquelas duas verdades e uma
mentira. Ela se inclinou para frente.
— Criança, é muito importante que eu saiba o que essas mensagens
dizem. — ela disse. — E eu acho que você sabe mais do que está dizendo.
Vou perguntar mais uma vez. Para o seu próprio bem, diga-me quem as deu
a você.
Saché não disse nada. A hora do blefe tinha terminado.
— Então você não me deixa escolha. — disse Ollin. Ela apertou um
botão em sua mesa e os droides rangeram de volta ao escritório. — A
câmara de interrogatório está terminada, cabo?
— A construção está completa. — disse o droide. — A energia foi
ativada. Ainda não testamos as instalações.
— Tenho um sujeito de teste para você, então. — disse Ollin. Duas
mãos de droide fecharam sobre os ombros de Saché e a arrancaram da
cadeira. — Vou carregar as perguntas em seu banco de dados. Não pare até
que ela lhe conte tudo.
Saché os fez levá-la para fora da sala, embora duvidasse que suas pernas
a apoiassem por mais do que alguns passos de qualquer maneira. O seu
cérebro estava tentando manter a calma, mas o seu corpo não estava
escutando.
Isto provavelmente iria doer.
Saché caminhou, embora estivesse exausta e não quisesse nada mais do que
dormir. Não havia promessa de descanso no seu destino, mas não havia
como ficar no acampamento mais do que o necessário. Não queria ser
cercada por droides nunca mais.
Eles saíram do esgoto por uma grade que ia para um dos muitos lagos
de Naboo. Vários landspeeders esperavam lá, e Panás os transportou de
volta ao local onde o grupo da Rainha havia se estabelecido. Panás contou a
eles sobre o plano de falar com os Gungans e como eles tiveram que esperar
o retorno de seu emissário. E então Saché viu listras douradas brilhantes
que forravam as roupas das aias no escuro e soube que estava realmente
segura. A Rainha manteve certa distância, é claro, mas Padmé estava perto
o suficiente para dar uma boa olhada nelas.
Saché percebeu que tinha centenas de perguntas e provavelmente mais
desculpas, mas agora não era hora para nada disso. Em vez disso, quando
Padmé estendeu os braços, Saché hesitou por um momento, muito
consciente de seu próprio cheiro, e então colocou os braços em volta dela.
— Estou tão feliz. — disse Padmé. — Estou tão feliz.
Eirtaé e Rabé também as abraçaram. Saché queria rir e chorar ao mesmo
tempo. Era possível que ela finalmente estivesse entrando em choque. Ela e
Yané molharam o rosto no riacho e ajeitaram o cabelo. Quando estavam o
mais limpas que podiam, elas mudaram para o uniforme de batalha marrom
e dourado que as outras usavam. Sabé pegou as mãos delas, o que foi o
máximo que ela podia fazer enquanto usava o rosto da Rainha. Elas
estavam juntas novamente, e Padmé Amidala tinha um plano.
Sabé pairou no final do briefing enquanto Panás esboçava seu plano para o
que ela já havia começado a pensar como a Batalha de Naboo. Haveria três
frentes. O exército Gungan enfrentaria a maior parte dos droides em campo
aberto fora da cidade. Era a força que estava tentando exterminá-los, então
os Gungans estavam ansiosos para uma luta. A segunda frente seria no
espaço. Panás e os Jedi colocariam os pilotos no hangar e o máximo
possível deles no ar, antes de seguirem para a sala do trono. A terceira
frente seria na própria cidade. Assim que a luta começasse, uma força
fragmentada liderada por Mariek Panás reuniria todos os cidadãos de
Naboo que pudessem encontrar e tentaria espalhar a notícia do que estava
acontecendo na cidade através de comunicações de curto alcance.
Era quase um alívio que todos os presentes soubessem que era uma
fraude. Se ainda estivesse operando como Amidala, estaria na frente,
tentando coordenar as expressões faciais de Padmé em uma resposta
adequada. Era muito mais fácil assim, observar e se preocupar em proteger
a Rainha mais tarde. Panás as dispensou para fazer os preparativos de
última hora e Sabé se afastou alguns passos do grupo principal para
organizar seus pensamentos.
— Qual é o seu nome? — alguém perguntou. Ela virou. Era Anakin
Skywalker, olhando-a diretamente. Nenhum dos Jedi tinha perguntado.
— Sabé. — Ela respondeu. Não havia razão para manter em segredo.
Ele iria embora e ela provavelmente nunca mais ouviria falar dele.
— É um prazer conhecê-la, Sabé. — ele disse. — Obrigado por mantê-
la segura.
Qui-Gon o chamou, e se afastou. Sabé ficou estranhamente comovida.
As aias se reuniram enquanto Padmé discutia os detalhes finais com
Panás e os Jedi. Todas elas receberam blasters para a batalha que se
aproximava. Elas haviam sido treinadas em combate corpo a corpo e à
distância, mas nenhuma delas se sentia particularmente preparada.
Todas tinham visto as marcas na pele de Saché, mas não havia dito nada
sobre elas e estavam relutantes em perguntar. Em vez disso, Rabé havia lhes
contado tudo o que havia acontecido em Coruscant. Elas tentaram
preencher o tempo, mas não havia nada que qualquer uma delas quisesse
dizer. Tudo o que podiam fazer era esperar pelas ordens de marcha.
Por fim, o batalhão final de Gungans partiu para a planície relvada,
onde fariam sua resistência. O resto deles entrou em speeders e se dirigiu
para a capital.
O que quer que acontecesse, eles alcançariam a sala do trono.
O plano de batalha desmoronou quase imediatamente. Assim que os pilotos
escaparam, uma figura escura com uma lâmina vermelha apareceu no
hangar, bloqueando o acesso principal ao palácio. Padmé declarou que eles
fariam o caminho mais longo e deixou os Jedi lutando. Sabé não queria
ficar perto da pessoa que os estava atacando, mas também estava
preocupada em deixá-los para trás. Sem os Jedi, o plano de tomar a sala do
trono ficou mais complicado.
As duas equipes se separaram, com Sabé percorrendo pelos jardins do
palácio e Padmé percorrendo pelos corredores. Sabé tentou não pensar em
como os outros estavam. Sabia que os Jedi provavelmente conseguiriam se
virar sozinhos, mas os Gungans enfrentavam adversidades verdadeiramente
esmagadoras e dependiam inteiramente dos pilotos de Naboo derrubando a
nave de controle o mais rápido possível. Concentrou-se nos droides à sua
frente, na sensação do blaster em suas mãos, e seguiu pelo palácio o mais
rápido possível.
— Sabé!
Alguém chamou o nome dela e Sabé se virou para ver o grupo de Rabé
em um corredor que deveria estar fora da rota. O grupo era muito pequeno:
Padmé não estava com eles. Sabé chamou a atenção do grupo dela e
aproximou os dois grupos.
— Relatório! — ela disse, decidindo que era isso que o ausente Panás
faria.
— Eles estão bem. — disse Rabé. — Nós ficamos presos em um
corredor e eles usaram os cabos de ascensão como um atalho.
Um peso foi retirado do peito de Sabé.
— Há muitos droides no palácio, mesmo com a manobra dos Gungan.
— um guarda as informou. — Ainda estamos tentando chegar à sala do
trono, caso eles precisem de nós.
— Caso ela precise de mim. — disse Sabé. — A nossa rota tem sido
trabalhosa, mas não muito ruim. Venha conosco.
Sabé faria o que fosse preciso. Desta vez, não haveria espaço para erros.
Se ela fosse chamada para ser a Rainha, ela teria que agir imediatamente.
Nunca teve tanto medo de nada em toda a sua vida.
Mariek e Tonra dispararam escada acima até as torres que cercavam a praça
do mercado. Eles sabiam pela tecelagem de Yané qual torre tinha droides
em quantidade mais baixa a esta hora do dia, e esse era o seu alvo. Foi uma
luta feia, como sempre acontecia com as trocas de raios de blasters de perto,
mas os dois conseguiram derrubar os droides. A partir daí, eles assumiram o
controle da arma da torre e explodiram os outros pontos de vigia em
pedacinhos.
Não era um sinal previamente combinado, mas os guardas que ainda
estavam no campo sabiam que poderiam esperar algo eventualmente, e a
destruição da propriedade da Federação do Comércio foi um chamado
bastante óbvio para a ação. Correndo um risco considerável, atacaram os
droides de batalha, na esperança de atacá-los de um ângulo onde os seus
corpos eram mais frágeis e imediatamente capturar os blasters. A maioria
deles teve sucesso, embora nenhum deles escapasse sem pelo menos
ferimentos leves.
Usan Ollin estava parada na porta de seu escritório, gritando ordens
para os droides que estavam ocupados demais para prestar atenção nela.
Mariek viu a abertura e era muito tentador deixar passar. Deixando Tonra
encarregado da arma, ela desceu as escadas correndo para o campo
principal e cruzou a praça do mercado em ruínas uma última vez. Poderia
ter parado por um blaster, mas não o fez. Em vez disso, abordou o droide
mais próximo de Ollin e, quando o rangedor caiu, deu um soco no rosto da
supervisora.
Padmé Amidala saiu vitoriosa em sua sala do trono com o vice-rei à sua
mercê e o planeta de volta sob o seu controle. Abaixou oseu blaster e olhou
ao redor da sala. Havia marcas de carbono no chão e marcas de arranhões
onde o metal havia sido arrastado sobre o mármore. Algumas das
instalações de arte foram destruídas e mais de uma janela foi quebrada. O
resto de Theed provavelmente estava da mesma maneira, mas haveria
tempo para isso depois que ela discutisse o novo tratado.
Os edifícios foram danificados, mas podiam ser consertados. As pessoas
estavam com fome, mas podiam ser alimentadas. E mais uma vez, Naboo
era deles.
A primeira coisa que eles tiveram que fazer foi enterrar os mortos.
Os Gungans levaram os seus guerreiros caídos para seu lugar sagrado.
Amidala foi convidada para assistir ao funeral, mas não houve tempo. Ela
enviou Eirtaé e Yané, que fizeram um relato completo da cerimônia
comovente quando voltaram.
Os mortos de Naboo foram enviados para os cemitérios de suas famílias
ou enterrados no cemitério da cidade. Todos os que morreram na batalha
teriam o brasão da Rainha esculpido em sua lápide, e Padmé decidiu que,
um ano depois, faria um passeio pelo planeta para ver as pedras acabadas e
realizar memoriais.
Os droides foram resgatados e derretidos. Eles eram feitos de materiais
de alta qualidade. Eles seriam refeitos em postes de cerca, treliças de jardim
e arte.
Qui-Gon Jinn foi colocado em uma pira perto da cachoeira no penhasco
no final do rio. Eles esperaram para queimá-lo até que o Conselho Jedi
chegasse para testemunhar o seu funeral. O recém-eleito Chanceler
Palpatine estaria chegando com os Jedi, e Padmé estava ansiosa para dar os
seus parabéns quase tanto quanto estava ansiosa para entregar Nute Gunray
à justiça da República.
Um funeral Jedi era um evento solene, e Padmé sabia que era uma
grande honra para Naboo ter sido confiado para cuidar de seus restos
mortais. Ela usou o vestido roxo escuro novamente, mas desta vez, em vez
das mãos de Sabé sozinhas, as de todas as aias a vestiram. Yané arrumou a
tiara e Rabé fez a maquiagem. Saché engraxou os sapatos e Eirtaé selou as
costuras das costas. Sabé baixou o veludo pesado para deixar a seda mais
clara aparecer, e a Rainha Amidala estava pronta para chorar.
A cerimônia em si foi simples. Ninguém falou, exceto baixinho entre si.
Em vez disso, eles assistiram enquanto o corpo de Qui-Gon era aceso com
fogo brilhante, e eles continuaram assistindo até que ele foi reduzido a
cinzas. A dor de Padmé parecia mais pessoal do que ela esperava. O Mestre
Jedi confiou nela quando soube que ela estava guardando segredos, a
deixou tentar manter o controle de uma situação totalmente imprevisível e
respeitou seu julgamento o suficiente para pelo menos ouvir seus
argumentos. Ela nunca iria agradecê-lo por nada disso. Eles nunca olhariam
para trás e veriam o que haviam experimentado juntos e descobririam o
lado mais leve disso. Sempre seria uma ferida aberta.
Os Jedi se afastaram da pira sozinhos ou em pares, misteriosos e tristes
de uma forma que desafiava qualquer descrição. Obi-Wan e Anakin ficaram
até a última brasa se extinguir, assim como a Rainha e sua corte. O ar da
noite estava frio e todos estavam exaustos, mas era a melhor maneira de
agradecer ao Mestre Jedi de fala mansa que arriscou muito e deu tudo para
salvar o seu lar.
Quando Jyn Erso tinha cinco anos, sua mãe foi assassinada e seu
pai foi tirado dela para servir ao Império. Mas, apesar da perda de
seus pais, ela não está completamente sozinha, — Saw Gerrera, um
homem disposto a ir a todos os extremos necessários para resistir à
tirania imperial, acolhe-a como sua e dá a ela não apenas um lar,
mas todas as habilidades e os recursos de que ela precisa para se
tornar uma rebelde.Jyn se dedica à causa e ao homem. Mas lutar ao
lado de Saw e seu povo traz consigo o perigo e a questão de quão
longe Jyn está disposta a ir como um dos soldados de Saw. Quando
ela enfrenta uma traição impensável que destrói seu mundo, Jyn
terá que se recompor e descobrir no que ela realmente acredita… e
em quem ela pode realmente confiar.