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OverlorD 6 Os Homens

do Reino | 2
オーバーロード Ilustrado por so-bin
Aviso Legal:
A tradução de OVERLORD — para inglês e português — é feita e revisada de fã para fã,
não monetizem em cima da obra e não compactuem com quem o faz. Se quiserem e pu-
derem contribuir com o autor, comprem o livro ou ebook (japonês, inglês ou português)
em sua livraria de preferência.

Sobre:
A obra faz uso de muitos anglicismos, ainda mais por se basear em RPGS, então há mui-
tos termos em inglês e tentei preservar vários desses aspectos em alguns termos, nomes
de armas, itens, raças e coisas do tipo.
Claro, algumas coisas precisam de adaptação, outras é preciso generalizar. Dito isso,
pode não agradar aos adeptos do Dia do Saci em vez do Halloween. Estejam avisados.

Tentei remover o máximo possível de erros de português e concordância, mas, somos


apenas pessoas com boa vontade e não especialistas da língua portuguesa.
Quando encontrarem algum erro, sintam-se à vontade para entrarem em contato atra-
vés do e-mail disponível no blog :)

Créditos:
CRÉDITOS PT-BR:
ainzooalgown-br.blogspot.com
CRÉDITOS EN-US:
skythewood.blogspot.com
REFERÊNCIA DE NOMES:
overlordmaruyama.wikia.com

Atenção: Se baixou este arquivo de outro link que não o oficial do blog. Ou se tem muito
tempo que baixou e deixou guardado, que tal dar uma conferida no blog? Talvez esta seja
uma versão desatualizada :)

Revisão: 3.0A | Versão: 2.0A


Sumário
Capítulo 06: Início do Distúrbio da Capital Real .............................................................. 5
Parte 1 ....................................................................................................................................................................................................................... 6
Parte 2 .....................................................................................................................................................................................................................36
Parte 3 .....................................................................................................................................................................................................................39

Capítulo 07: Preparações Antes do Ataque ........................................................................ 45


Parte 1 .....................................................................................................................................................................................................................46
Parte 2 .....................................................................................................................................................................................................................53
Parte 3 .....................................................................................................................................................................................................................75
Parte 4 .....................................................................................................................................................................................................................81

Capítulo 08: Seis Braços ................................................................................................................. 89


Parte 1 .....................................................................................................................................................................................................................90
Parte 2 .....................................................................................................................................................................................................................98
Parte 3 .................................................................................................................................................................................................................. 110

Capítulo 09: Jaldabaoth................................................................................................................ 134


Parte 1 .................................................................................................................................................................................................................. 135
Parte 2 .................................................................................................................................................................................................................. 142
Parte 3 .................................................................................................................................................................................................................. 165

Interlúdio................................................................................................................................................ 172
Capítulo 10: O Mais Poderoso Trunfo ............................................................................... 177
Parte 1 .................................................................................................................................................................................................................. 178
Parte 2 .................................................................................................................................................................................................................. 199

Capítulo 11: Fim do Distúrbio, A Batalha Final .......................................................... 220


Parte 1 .................................................................................................................................................................................................................. 221
Parte 2 .................................................................................................................................................................................................................. 241

Epílogo .................................................................................................................................................... 290


Posfácio .................................................................................................................................................. 306
Ilustrações .............................................................................................................................................. 309
Glossário ................................................................................................................................................ 330
OverlorD
オーバーロード
-Volume 06-
Os Homens do Reino -Parte 2-

Autor:

Maruyama Kugane
Ilustrador:

so-bin
Capítulo 06: Início do Distúrbio da Capital Real
Parte 1

3º Dia do mês Baixo Fogo (9º mês) - 17:44

porta da sala de hóspedes se abriu devagar.

A Suas dobradiças eram regularmente lubrificadas e deveriam ter se aberto


suavemente, mas por alguma razão, o movimento das portas parecia anor-
malmente lento e pesado, como se a porta estivesse lutando contra um di-
ferencial de pressão entre o ar do lado de dentro e o lado de fora da sala. Era como se a
velocidade estivesse sincronizada com o sentimento de Sebas.

Se a porta realmente conseguisse ler seu coração, então Sebas desejaria que ela nem
mesmo conseguisse abrir. No entanto, abriu-se, revelando o interior da sala de hóspedes
aos olhos de Sebas.

A sala era a mesma de sempre, mas ao contrário de como costumava ser, havia agora
quatro seres heteromórficos o esperando.

Um era um guerreiro azul claro. Ele emitia uma aura congelante e segurava uma ala-
barda platinada. Estava imóvel como uma estátua.

Um era um demônio. Não havia como dizer quais esquemas se escondiam em suas fei-
ções de escárnio.

Então, havia um anjo na forma de um feto, a criatura estava apoiada nos braços do de-
mônio.

E por fim—

“Por favor, perdoe meu atraso. Lamento profundamente por mantê-lo esperando.”

Usando sua força de vontade, Sebas anulou o tremor em sua voz. Então se curvou res-
peitosamente ao ser ímpar sentado na sala, como se estivesse o adorando.

Sebas era o mordomo e o chefe dos criados, ele ocupava uma posição próxima ao topo
da hierarquia de Nazarick. Apenas uma pessoa poderia fazer Sebas se curvar com medo
e admiração. Não poderia haver outro.

Essa entidade era um dos 41 Seres Supremos, que infligia uma fidelidade que não podia
ser contestada.

—Ainz Ooal Gown.

Capítulo 6 Início do Distúrbio da Capital Real


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Essa entidade suprema de poder absoluto também era o governante da Grande Tumba
de Nazarick. Ao seu lado, o Cajado de Ainz Ooal Gown emanava uma aura negra.

Pontos de luz vermelha bruxuleante tremeluziam preguiçosamente dentro das órbitas


ocas de seu crânio. Mesmo de sua posição curvada, Sebas podia sentir aquelas luzes me-
dindo-o da cabeça aos pés.

Os movimentos do ar lhe disseram que Ainz tinha acenado expansivamente, de uma


forma descontraída.

“...Está bem. Não há problemas, Sebas. A culpa é minha, já que não comuniquei minha
chegada de maneira oportuna. Mas vamos dispensar as gentilezas. Como vai falar se ficar
aí com a cabeça baixa? Eu permito que entre.”

“Sim, Meu Senhor.”

A cabeça de Sebas ainda estava baixa quando ele respondeu à voz solene. Ele olhou para
cima e, em seguida, deu um passo à frente — um rastro gelado descia por sua espinha.

Isso porque seus sentidos afiados alertaram-no da hostilidade cuidadosamente supri-


mida, assim como a intenção assassina ao seu redor.

Ele lentamente moveu seu olhar. Os dois Guardiões diante dele não pareciam prestar
muita atenção a Sebas. No entanto, isso foi do ponto de vista de uma pessoa normal.

Sebas estava copiosamente ciente disso.

Não havia nenhum traço de amizade na tensa atmosfera. Na verdade, era o sentimento
oposto. Sua cautela não era algo que se mostraria a um aliado.

Sebas podia entender o porquê eles se sentiam assim. Ele sentiu uma pressão pesada
sobre ele e teve medo de que todos ouvissem o retumbar de seu coração.

“Eu acho que você deveria parar por aí.”

A voz calma de Demiurge cortou o silêncio e parou Sebas imediatamente.

Sebas estava um pouco distante do seu mestre. Não era longe ao ponto de atrapalhar
uma conversa, e quando se considerava as dimensões da sala e o fato de que ele estava
se encontrando com um superior, era uma distância bastante apropriada. Contudo, em
circunstâncias normais, Ainz consideraria Sebas muito longe e iria pedir-lhe para se
aproximar. Desta vez, Ainz não disse isso. Essa sensação de isolamento pressionou Sebas
até que ele não pudesse mais respirar.

Capítulo 6 Início do Distúrbio da Capital Real


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Ao mesmo tempo, essa distância era o alcance ideal para Cocytus, o guerreiro, lançar
um ataque. Isso também era outra fonte de tensão para ele.

Incidentalmente, Solution entrou na sala com Sebas, mas ela estava de pé junto à porta,
aguardando ordens.

“Então—”

Ainz estalou os dedos ossudos, mas como tinha feito isso não era aparente:

“Uma pergunta para você, Sebas. Preciso explicar o porquê estou aqui?”

Só poderia haver uma razão para isso. A situação atual deixou isso muito claro.

“...Não, não há necessidade.”

“Ótimo, então espero que me responda sem enrolações e com suas próprias palavras,
Sebas. Eu não recebi um relatório seu a respeito... é verdade que recentemente pegou
um adorável animalzinho de estimação?”

—Foi como ele pensou.

As costas de Sebas pareciam ter sido empaladas por várias estacas de gelo. Então, ele
percebeu que não havia respondido à pergunta do seu mestre. Ele respondeu apressa-
damente:

“—Sim!”

“...Demorou para responder, Sebas. Deixe-me perguntar de novo — é verdade que re-
centemente você pegou um adorável animalzinho de estimação e decidiu cuidar?”

“Sim! Eu peguei um animal de estimação!”

“Muito bom. Então, poderia explicar o porquê não relatou o assunto para mim?”

“Sim...”

Os ombros de Sebas estremeceram e ele olhou para o chão. O que ele poderia dizer para
evitar que a situação se desenvolvesse da pior maneira possível?

Ainz se recostou em seu assento enquanto observava o silencioso Sebas. O rangido ao


fazê-lo soava excepcionalmente alto nos confins da sala.

“Qual o problema, Sebas? Parece que está suando muito. Quer um lenço emprestado?”

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Com um grande floreio, Ainz produziu um lenço branco puro do nada. Ele agarrou-o
entre os dedos indicador e médio e o jogou para Sebas. O lenço desdobrou-se e expandiu-
se no ar, pousando suavemente no chão.

“Você tem permissão para usá-lo.”

“Sim! Obrigado, Mestre!”

Sebas deu um passo em direção a Ainz e pegou o lenço. Então ficou paralisado.

“...O lenço não está manchado com o sangue do seu animalzinho. Eu simplesmente senti
que era desagradável que ficasse coberto de suor.”

“Sim... Por favor, perdoe-me por mostrar algo tão vergonhoso assim, Ainz-sama.”

Sebas abriu o lenço e enxugou o suor frio que cobria sua testa. O lenço absorveu uma
quantidade tão incrível de umidade que sua transparência mudou.

“Então, vamos voltar ao assunto, Sebas. Quando lhe mandei para a Capital Real, creio
que ordenei que registrasse qualquer ocorrência, grande ou pequena, com detalhes con-
cisos e enviasse para Nazarick. Afinal, os dados analisados por apenas uma pessoa po-
dem não qualificar corretamente a informação coletada. Sendo sincero, duvido que você
tenha omitido um único detalhe ao enviar seus relatórios. Estou correto?”

“Sim. É como o senhor diz.”

“Então, Demiurge, permita-me fazer-lhe uma pergunta só para confirmar algo. Afinal,
você leu os relatórios de Sebas também. Os relatórios mencionaram algum adorável ani-
malzinho de estimação?”

“Não, Ainz-sama. Eu os li várias vezes, mas não vi nada relacionado a esse assunto.”

“Excelente. Então, vamos usar esse ponto como uma premissa para a minha próxima
pergunta, Sebas. Por que você não enviou um relatório sobre esse assunto? ...Eu gostaria
de perguntar o porquê desconsiderou uma ordem minha. A palavra de Ainz Ooal Gown
não é suficiente para guiar suas ações?”

Aquelas palavras sacudiram o ar da sala.

Sebas respondeu apressadamente:

“Certamente não! Eu simplesmente acreditava que não havia necessidade de incomodá-


lo com um relatório sobre um assunto tão pequeno, Ainz-sama.”

O silêncio tomou conta.

Capítulo 6 Início do Distúrbio da Capital Real


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Sebas foi banhado em intenção assassina de quatro fontes. Vieram de Cocytus, Demi-
urge, o anjo que Demiurge detinha e Solution. Todos os quatro atacariam imediatamente
Sebas se assim seu mestre os ordenasse.

Sebas não temia a morte. Seria sua maior alegria morrer por Nazarick. No entanto, o
pensamento de ser executado como um traidor aterrorizava até mesmo o estóico Sebas.

Isso porque não havia maior vergonha para aqueles criados pelos 41 Seres Supremos
do que ser considerado como um traidor e subsequentemente ser eliminado.

Depois de algum tempo, e de muito suor ter escorrido na testa de Sebas, Ainz falou.

“...Em outras palavras, tudo isso foi graças ao seu julgamento tolo... Isso está correto?”

“Sim. É como o senhor diz, Ainz-sama. Por favor, perdoe meu erro tolo!”

“...Hm. É aceitável... acredito que eu entendo agora.”

Quando Sebas abaixou a cabeça em desculpas, a voz sem emoção de Ainz entrou em
seus ouvidos. O fato de Ainz não ter ordenado uma execução sumária aliviou ligeira-
mente a tensão na sala.

Entretanto, Sebas não conseguia relaxar. Antes que pudesse fazê-lo, Ainz disse algo que
abalou o coração de Sebas.

“Solution. Traga o animalzinho de estimação do Sebas.”

“Entendido.”

A porta se fechou silenciosamente atrás de Solution enquanto ela se movia para cum-
prir suas ordens. Os sentidos aguçados de Sebas informaram-no de que Solution estava
se afastando da porta.

Houve um gorgolejo audível quando Sebas engoliu em seco.

Ainz, Cocytus, Demiurge e aquele anjo estranho estavam aqui, um total de quatro seres
heteromórficos. Claro, Demiurge parecia vagamente humano, mas o mesmo não podia
ser dito dos outros três.

Como nenhum deles parecia estar se preocupando em esconder suas formas, isso sig-
nificava que não se importavam se alguém os visse?

Os habitantes de Nazarick tinham apenas um método para impedir a divulgação de se-


gredos — matando quem o conhecesse.

Se ele soubesse que isso aconteceria, a teria deixado ir mais cedo.

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Sebas mentalmente balançou a cabeça. Agora era tarde demais para pensar nisso.

Logo, Sebas sentiu duas pessoas se aproximando. Elas estavam se aproximando paula-
tinamente.

—O que devo fazer?

Os olhos de Sebas se moveram e ele se focou no vazio.

Assim que ela chegasse aqui, Sebas teria que fazer uma escolha. E só poderia haver uma
resposta que ele pudesse dar.

O olhar de Sebas foi em direção a Demiurge, que o observava. Então para Ainz. E por
fim, ele olhou impotente para o chão.

Houve batidas e a porta se abriu. Como esperado, havia duas mulheres lá.

Solution e Tsuare.

“Eu a trouxe.”

Sebas estava de costas para Tsuare, mas ele pôde ouvi-la ofegar ao entrar. Ela ficou
chocada ao ver Demiurge, um demônio em carne e osso? Ela foi abalada ao ver Cocytus,
o gigantesco insectoide azul? Ela estava assustada com a visão daquele temível anjo em
forma de feto? Ou estava aterrorizada por Ainz, o avatar da morte? Ou foi o conjunto de
todos?

O descontentamento dos Guardiões se intensificou quando Tsuare apareceu. Isso foi


porque, até certo ponto, Tsuare era a encarnação física dos pecados de Sebas. Parece que
ela estava tremendo com a hostilidade dirigida a ela.

A hostilidade dos Guardiões, que eram facilmente os seres mais poderosos deste mundo,
poderia instilar um terror primitivo nos corações dos fracos. Era surpreendente que
Tsuare não tivesse caído em lágrimas.

Sebas não olhou para trás, mas ele podia claramente sentir o olhar de Tsuare fixo em
suas costas. Sua coragem foi graças a presença do próprio Sebas.

“Demiurge, Cocytus, contenham-se. Aprenda com o bom exemplo de Victim.”

Quando a voz solene de Ainz ecoou pela sala, houve uma mudança no clima. Não, seria
melhor dizer que a hostilidade dirigida à Tsuare havia desaparecido. Depois de repreen-
der os dois Guardiões, Ainz lentamente estendeu a mão esquerda para Tsuare. Então
virou a palma da mão para cima e a chamou com um gesto.

Capítulo 6 Início do Distúrbio da Capital Real


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“Entre, humana. O animal de estimação que Sebas pegou— Tsuare.”

Como se controlada por essas palavras, Tsuare deu um passo seguido do outro em per-
nas trêmulas.

“Você não escolheu fugir, isso mostra coragem. Ou a Solution lhe disse alguma coisa?
Ela disse que o destino de Sebas estava em suas mãos?”

Tsuare estava trêmula demais para responder. Sebas sentiu o olhar direcionado às suas
costas ficar mais forte. O dito olhar expressava a força de vontade de Tsuare mais do que
qualquer número de palavras poderia explicar.

Depois de entrar na sala, Tsuare caminhou até o lado de Sebas sem nenhuma hesitação.
Cocytus mudou de posição, se movendo para trás de Tsuare, aguardando ordens.

Tsuare segurou o canto do casaco de Sebas. Sebas se lembrou por um instante de como
ela se agarrou à roupa dele naquele beco. Ao mesmo tempo, ele estava cheio de arrepen-
dimento. Se ele tivesse lidado com as coisas de um modo melhor, a situação não teria
chegado a isso.

Demiurge olhou friamente para Tsuare—

“『Ajoelh—”

—E o som dos dedos estalando soou.

Demiurge entendeu o significado por trás do gesto de seu mestre e não disse mais nada.

“—Está bem. Não dê importância a isso, Demiurge. Como louvor pela coragem de me
encarar sem fugir, perdoarei a grosseria que ela demonstrou para com o governante de
Nazarick.”

“Minhas sinceras desculpas.”

Ainz acenou com a cabeça magnanimamente com o pedido de desculpas de Demiurge.

“Ah, sim.”

Ainz recostou-se no assento, fazendo-o ranger.

“Permita-me apresentar-me. Eu sou Ainz Ooal Gown, o mestre de Sebas.”

Um fato absoluto.

Ainz Ooal Gown — um dos 41 Seres Supremos — a grande entidade que controlava
todos os aspectos da existência de Sebas, incluindo sua vida e morte.

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Ser endereçado pelo mestre a quem ele devia lealdade absoluta era o seu maior deleite.
Porém, por alguma razão, a alegria de Sebas era menor do que de costume, e apenas fez
sua espinha se arrepiar. Não foi por causa de Tsuare, pois ao ser abordado por seu mes-
tre, Sebas quase se esquecera de que ela existira. Havia outro motivo para isso—

Enquanto Sebas ponderava a respeito, ambos os lados ainda estavam conversando.

“Ah... eu, eu sou...”

“Tudo bem, Tsuare. Eu sei um pouco sobre você e não tenho interesse em aprender
mais. Fique aí e permaneça em silêncio. Logo saberá o porquê foi chamada aqui.”

“Ah... sim.”

“Agora, vejamos...”

Os pontos de luz vermelha nas órbitas dos olhos de Ainz mudaram de posição.

“...Sebas, me responda mais uma coisa. Eu lhe disse para não atrair atenção com suas
ações, correto?”

“Sim.”

“E apesar de minhas instruções claras, você se meteu em confusão por causa dessa mu-
lherzinha insignificante — entendi errado?”

“Não, é exatamente como o senhor diz.”

A palavra “insignificante” fez Tsuare estremecer, mas Sebas apenas respondeu à per-
gunta e não deu outra resposta.

“Quando o fez... você não pensou que estaria ignorando as ordens que eu tinha dado?”

“Sim. Minhas considerações limitadas o desagradaram, Ainz-sama. Vou refletir sobre


meus pecados, serei mais cuidadoso no futuro, e não cometerei o mesmo erro novam—”

“—Está bem.”

“Hã?”

“Eu disse que está bem.”

Ainz se ajeitou no assento, e mais uma vez o rangido foi ouvido.

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“As pessoas não são perfeitas e errar é corriqueiro. Sebas, eu perdoarei este erro insig-
nificante.”

“—Obrigado, Ainz-sama.”

“No entanto, os erros devem ser corrigidos— com a morte.”

O ar da sala de repente ficou tenso e a temperatura pareceu ter diminuído vários graus.
Não, não foi isso. Só Sebas se sentia assim. Os outros — habitantes de Nazarick — per-
maneceram serenos e imóveis.

Sebas engoliu em seco.

O que seu mestre quis dizer com “morte”? No fundo ele já sabia, estava implícito em
suas palavras. Os pensamentos “Como eu esperava” e “Eu espero que não” pesaram muito
sobre Sebas, mas ainda assim, ele perguntou:

“...O quê... o senhor quer dizer...”

“Hm... o que quero dizer, é que espero que você elimine a fonte do seu erro para expur-
gar seus pecados. Como pode ser um representante de Nazarick quando deixa a origem
do seu erro imaculada? Você é o mordomo de Nazarick e aquele que está à frente de
vários servos. Imagine só se não lidar com o assunto de forma adequada...”

Sebas exalou. Então tomou outro fôlego.

Mesmo quando confrontado com um poderoso inimigo, a respiração de Sebas perma-


necia calma e regular. No entanto, agora era frenética, como um animalzinho indefeso
que havia encontrado um predador.

“Sebas. Você é um cão leal que obedece às ordens do mestre a quem exalta — um dos
Quarenta & Um Seres Supremos!? Ou você é um homem que acredita que somente sua
vontade é justa?”

“Eu—”

“—Não preciso de suas palavras. Mostre-me com suas ações.”

Sebas fechou os olhos e depois os abriu novamente.

Ele hesitou por apenas um momento. Não, seria melhor dizer que ele passou um mo-
mento inteiro hesitando. Desta vez, sua indecisão foi o suficiente para ganhar a ira pal-
pável de Cocytus, Demiurge e Solution, pessoas cuja lealdade ao Supremo era irrepreen-
sível.

Depois desse longo e interminável momento, Sebas finalmente tomou sua decisão.

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♦♦♦

Sebas, o mordomo de Nazarick.

Ele não era nada além disso.

Sua insensata hesitação provocara essas consequências. Se ele tivesse implorado ao seu
mestre antes, o resultado poderia ter sido diferente.

Tudo isso foi culpa dele.

♦♦♦

Um esplendor firme encheu os olhos de Sebas. Brilhavam como aço polido. Logo depois,
se virou para Tsuare.

A mão delicada agarrada a ele se soltou. Seus dedos tocaram brevemente o ar vazio,
vacilando por um momento antes de cair impotente.

Tsuare olhou para o rosto de Sebas. Ela provavelmente adivinhara a decisão que ele
havia tomado.

Ela sorriu e fechou os olhos.

Não foi um olhar de desespero ou medo. Ela já tinha aceitado o que aconteceria a seguir,
aceitara seu destino iminente com toda a graça de um mártir.

Os movimentos de Sebas não vacilaram. Seu coração há muito já havia fincando as raí-
zes no abismo. Em seu lugar estava um mordomo de aço que prometera sua maior fide-
lidade à Nazarick. Sendo esse o caso, não havia razão para não obedecer à ordem abso-
luta dada pelo seu mestre.

Ele baniu sua confusão. Apenas a lealdade permaneceu.

A mão de Sebas se fechou em um punho, ele fez seu golpe mirando na cabeça de Tsuare,
procurando conceder-lhe a misericórdia de uma morte instantânea.

E então—

♦♦♦

Algo duro interceptou seu punho.

“—O que está fazendo? Por que interfere?”

Capítulo 6 Início do Distúrbio da Capital Real


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“—!”

“...”

Algo havia bloqueado o punho que deveria ter destruído o crânio de Tsuare.

Cocytus estendeu a mão por trás de Tsuare — cujos olhos ainda estavam bem fechados
— e deteve o punho de Sebas.

Cocytus era um traidor, dado que ele havia bloqueado um ataque que o Supremo havia
ordenado?

E então, as dúvidas no coração de Sebas foram imediatamente respondidas.

“Acalme-se, Sebas.”

Sebas estava ansioso e cheio de dúvidas, ele ainda estava prestes a desferir outro soco
quando ouviu o pedido de Ainz. A força que canalizou em sua mão se dissipou em um
instante.

Seu mestre não havia censurado Cocytus, mas tinha dito a Sebas que parasse. Isso indi-
cava que ele também havia providenciado a intromissão de Cocytus no soco de Sebas.

Tudo isso havia sido planejado de antemão. O fato era que seu mestre queria verificar
as intenções de Sebas.

Tsuare abriu timidamente os olhos e viu que o desejo do carrasco por sua vida havia
desaparecido há muito tempo. Agora que sua vida não estava mais em perigo, suas emo-
ções feridas se romperam em sua psique. O corpo de Tsuare convulsionou com estreme-
cimentos enquanto as lágrimas escorriam de seus olhos. Ela quase desmaiou com o tre-
mor de suas pernas, mas Sebas não estendeu a mão para apoiá-la. Não, ele não podia.

O que mais ele poderia fazer, agora que as coisas tinham chegado a isso? Que direito ele
tinha, dado que a guiou para tal destino?

Ainz não prestou atenção ao medo de Tsuare e começou a abordar Cocytus.

“Cocytus. Esse golpe pretendia tomar a vida dessa mulher?”

“Não. Há. Dúvidas. Que. Seria. Morte. Certa.”

“Então eu declaro que a lealdade de Sebas não está mais em dúvida. Obrigado, Sebas.”

“Sou indigno de vossas palavras!”

Sebas se curvou, seu rosto estava imóvel.

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“—Demiurge, alguma objeção?”

“De forma alguma.”

“Cocytus?”

“Nenhuma.”

“...Victim?”

N ã o t e n h o nenhuma。
“Etalocohc ajerec ohnatsac.”

“Ótimo. Então, vamos à próxima questão.”

Ainz estalou os dedos e levantou-se. Ele passou a mão regiamente pelo ar, fazendo com
que seu manto pairasse.

“Graças aos esforços do Sebas e dos outros, sinto que reunimos informações suficientes.
Não há razão para permanecer neste lugar. Vamos desocupar essa propriedade imedia-
tamente e retornar à Nazarick. Sebas, vou deixar o destino desta mulher em suas mãos.
Como já verifiquei sua lealdade, não vou me opor ao que desejar fazer — entretanto, não
posso garantir a totalidade dos meus dizeres... pois, algumas considerações devem ser
feitas antes de liberá-la. Permitir que ela seja liberta e acabe expondo Nazarick por al-
gum meio seria problemático, concorda, Demiurge?”

“É como o senhor diz. Embora haja inimigos desconhecidos, seria melhor não permitir
que informações sobre nós mesmos se espalhem.”

“Então, o que devemos fazer?”

“...Não devemos ter certeza das coisas primeiro?”

“Certamente... Sebas, decidiremos o destino de Tsuare mais tarde. Eu preferiria não en-
volvesse morte, mas não posso garantir isso. Por favor, mantenha isso em mente.”

Sebas foi duramente pressionado para esconder sua surpresa de que Ainz — a mais alta
autoridade em toda a Nazarick — não poderia resolver instantaneamente a questão do
que fazer com Tsuare.

“Ainz-sama. Estamos nos retirando desta casa — da Capital Real — por causa do meu
erro?”

“...Talvez sim, talvez não. Como eu disse agora, sinto que aprendemos o que havia para
ser aprendido aqui. Não há ganhos em continuar. Este é um curso de ação mais seguro
de acordo com meus cálculos. Demiurge, levarei o Victim comigo à Nazarick. Entregue-
o para mim.”

Capítulo 6 Início do Distúrbio da Capital Real


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Depois de pegar o anjo fetal em seu braço — Victim —, Ainz lançou uma magia.

“「Greater Teleporta~tion」!”

Ainz floreou sua capa de maneira exagerada e teatral enquanto lançava sua magia, pa-
recia um ator. Então foi engolido por uma esfera de escuridão que então desapareceu de
fora para dentro, levando seu corpo consigo.

Por um momento, Sebas olhou com cara de bobo para a saída exagerada (que ele nunca
tinha visto antes), mas de repente voltou a si.

“Com licença, ela parece um pouco cansada. Eu gostaria de levá-la de volta a seu quarto
para descansar. Eu confio que não haverá problemas se eu a levar lá, Demiurge?”

“...Certamente. Você tem direito a isso, Sebas.”

Um tênue sorriso diabólico apareceu no rosto de Demiurge, e ele graciosamente apon-


tou para a porta, como se dissesse: “Por favor, vá.”

“Mas gostaria de lembrá-lo que é possível que o Ainz-sama possa convocá-la mais uma
vez, dadas as circunstâncias. Eu espero que esteja atento. Sei que é redundante o aviso,
mas espero não perder tempo indo atrás de vocês em joguetes de gato e rato na Capital
Real.”

“Venha comigo.”

“...Tá.”, Tsuare respondeu com voz rouca enquanto seguia trêmula atrás de Sebas.

Depois de sair da sala, o corredor ecoou com seus passos. Os dois caminharam em si-
lêncio e logo chegaram à porta do quarto de Tsuare. Estava perto, mas a jornada parecia
ter demorado muito tempo.

Quando chegaram à porta, Sebas finalmente se decidiu e disse em tons tenros:

“Eu não vou me desculpar.”

Sebas sentiu Tsuare tremer enquanto o seguia.

“Porém, o fato de meu mestre ter ordenado que eu me desfizesse de você foi minha
culpa. Se eu tivesse lidado com o assunto de uma maneira melhor, não teria chegado a
tal ponto.”

“...Sebas-sama.”

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“Eu sou um servo leal de Ainz-sama — dos Quarenta & Um Seres Supremos. Se eu pas-
sasse por isso novamente, faria exatamente como agora, sem hesitar... por isso eu espero
que fique no mundo humano e encontre a felicidade nele. Tentarei buscar a aprovação
do Ainz-sama... ele pode modificar memórias. Ele apagará suas memórias desagradáveis,
depois disso, espero que viva uma vida plena.”

“...E minhas lembranças do senhor, Sebas-sama?”

“...Também pedirei que sejam apagadas. Afinal, lembrar de mim não trará nada de bom.”

“E o que é bom para mim?”

Sebas sentiu determinação na voz de Tsuare e se virou.

A mulher diante de Sebas o olhou desafiadoramente, embora seus olhos estivessem


cheios de lágrimas, havia um brilho de algo inabalável. Sebas sentiu seu coração hesitar
e pensou em como persuadi-la.

Era verdade que Nazarick era um lugar maravilhoso, e poder-se-ia dizer que era uma
terra abençoada pelos deuses. Mas os únicos que pensavam dessa maneira eram Sebas
e os outros seres que haviam sido criados pelos 41 Seres Supremos, assim como os vas-
salos da Grande Tumba de Nazarick.

Sebas não achava que os seres humanos, sem talentos ou poderes, pudessem encontrar
felicidade em tal lugar. Nem achava que esse domínio daria boas-vindas a formas de vida
de baixo valor, como seres humanos. De fato, ela não seria capaz de viver lá sem a pro-
teção de seu mestre supremo. Portanto, Sebas disse:

“...Eu quero que você encontre a felicidade no mundo humano.”

“Eu já encontrei a felicidade. É quando estou do seu lado, Sebas-sama. Por favor, me
leve com o senhor.”

Sebas achou Tsuare muito mesquinha quando ouviu sua declaração ferrenha.

“...Você parece ter encontrado a felicidade em uma coisa pequena, mas é apenas um
inferno abrandado, uma ilusão vinda do que antes entorpecia sua alma.”

Ela tinha visto o pior que o mundo poderia oferecer, então apenas estava feliz por viver
em um ambiente um pouquinho menos infeliz. Era apenas isso. Mas Tsuare riu de sua
observação.

“...Este lugar jamais será como o inferno. Estou mais que satisfeita, até tenho um em-
prego digno... Eu cresci em uma pequena vila, a vida era difícil lá.”

Capítulo 6 Início do Distúrbio da Capital Real


2 0
Por um momento, Tsuare olhou para algum lugar distante. Então se recuperou e olhou
diretamente para Sebas.

“Nossos estômagos gritavam de fome e, por mais que trabalhássemos nos campos, o
lorde levava quase tudo e nos deixava com muito pouco para comer. Não éramos mais
que brinquedos para o lorde daquela terra. Eu chorava e eu gritava até não aguentar
mais, mas ele só ria enquanto me estuprava. Ele ria de mim. Ele—”

“—Compreendo.”

O sorriso de Tsuare estava vazio quando Sebas a puxou, envolvendo-a em seus braços
antes de gentilmente apoiar um braço sobre seus ombros trêmulos. Assim como antes,
Sebas podia sentir as lágrimas de Tsuare, desabando em sentimentos, encharcando suas
roupas.

O que ela tinha visto e vivido não era comum a todos. No entanto, para Tsuare, essa era
a soma total da experiência humana.

Sebas ficou reflexivo.

O que ele deveria fazer? Não importava o que pensasse, havia apenas uma resposta.
Mas essa resposta irritaria seu mestre. E até mesmo fazer com que ordene a morte de
Tsuare.

“Você pode morrer.”

“Se eu devo morrer, Sebas-sama, que seja pelas mãos da única pessoa que me mostrou
bondade e gentileza naquele lugar, onde ninguém mais mostrou...”

Tsuare olhou para ele. O olhar em seu rosto ajudou Sebas a se decidir também.

“Tudo bem, Tsuare. Implorarei ao Ainz-sama que me deixe levá-la à Nazarick.”

“Obrigada.”

“É muito cedo para me agradecer. Se eu implorar por isso, Ainz-sama pode ordenar que
eu a mate—”

“—Já estou preparada para isso.”

“Claro quê... está.”

A tensão dos braços sobre seus ombros diminuiu, mas Tsuare não se moveu. Ela se
agarrou firmemente às roupas de Sebas, olhando para ele com olhos úmidos.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


2 1
Parecia haver um olhar de expectativa naqueles olhos. Isso foi o que os instintos de
Sebas lhe disseram, mas ele não sabia o que ela estava esperando. Ainda assim, ele lem-
brou que tinha que confirmar uma coisa primeiro.

“Apenas para confirmar. Você não tem apego ao mundo humano? Não deseja voltar
para sua casa?”

Claro, ser levada para Nazarick não significava estar completamente separada da soci-
edade humana. Isso porque ele não pretendia levar Tsuare como prisioneira. No entanto,
essa possibilidade não poderia ser totalmente descartada.

“...Eu... eu gostaria de ver minha irmãzinha novamente. Mas mais do que isso, eu quero
esquecer do meu passado...”

“Compreendo. Então, vá para o seu quarto. Ainz-sama já deve estar me aguardando.”

“Sim—”

Tsuare soltou as roupas de Sebas, e então colocou os braços em volta de seu pescoço.

Tsuare não prestou atenção à inexpressividade externa de Sebas — internamente ele


estava em conflito — e ficou na ponta dos dedos dos pés.

E então, os lábios de Tsuare encontraram os de Sebas.

O momento de intimidade foi extremamente breve. Os lábios de Tsuare logo deixaram


os dele.

“Sua barba faz cócegas”, disse Tsuare quando recuou, tocando seus lábios com os dedos
de ambas as mãos:

“Foi a primeira vez que fiquei tão feliz com um beijo.”

Sebas não tinha nada a dizer. No entanto, Tsuare olhou atentamente para Sebas e então
sorriu docemente dizendo:

“Eu vou esperá-lo aqui. Obrigada por se preocupar comigo, Sebas-sama.”

“Er, oh... tu-tudo bem. Espero que aguarde aqui por um momento.”

♦♦♦

“Aconteceu algo? Seu rosto está avermelhado...”

Essa foi a primeira coisa que Sebas ouviu quando ele voltou para a sala. Ao ouvir alguém
comentar sobre a vermelhidão de seu rosto, Sebas acalmou sua respiração de volta a um

Capítulo 6 Início do Distúrbio da Capital Real


2 2
ritmo profundo e uniforme. Se permitisse que sua consternação aparecesse em seu rosto,
que direito ele teria de receber seu mestre em sua posição de servo? Sebas resistiu ao
impulso de tocar os lábios, colocando a expressão do servo perfeito.

“Não é nada, Demiurge-sama.”

“Não há necessidade de me dirigir de maneira tão formal, Sebas. Diferente de como fez
frente ao Ainz-sama — na frente de nosso mestre de valor incomparável —, você não
precisa se dirigir a mim com tais honoríficos. O que me diz, Cocytus?”

“Eu. Não. Me. Importo.”

Depois de ouvir dos dois Guardiões, Sebas indicou que entendeu.

Cerca de cinco minutos depois, o espaço foi distorcido.

No momento em que a distorção se desvaneceu, alguém ficou em seu lugar. Natural-


mente, era Ainz. O Cajado de Ainz Ooal Gown que ele estava carregando agora não estava
em lugar algum, Victim também não estava.

Sebas, Cocytus, Demiurge e Solution genuflectiram ao mesmo tempo.

“Agradeço pela recepção calorosa.”

Ainz circundou atrás da mesa e sentou-se.

“Podem se levantar.”

Os quatro se endireitaram imediatamente, todos olhando para Ainz. Ele parecia estar
de bom humor.

“Vamos ao que interessa. Demiurge, viu que estava apenas se preocupando demais?
Não acreditei sequer por um momento que o Sebas nos traíra. Você é muito cauteloso.
Além disso, eu mesmo verifiquei no Salão do Trono.”

“Eu sinto muitíssimo. E agradeço por aceitar minha tola sugestão, que contradizia seu
próprio julgamento.”

“Não há problema. Eu também cometo erros de tempos em tempos. Mas sei que posso
relaxar, já que você está prestando atenção e checando, Demiurge. Além disso, você fez
o que fez por se preocupar comigo. Eu não sou tão mesquinho a ponto de censurá-lo por
isso.”

Ainz desviou o olhar de Demiurge — que estava se curvando profundamente — e olhou


em outra direção.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


2 3
“Então, Sebas. É hora de discutir como lidar com a humana.”

O corpo de Sebas ficou rígido de nervosismo. Ele forçou que um “sim” saísse de sua boca,
e depois de inspecionar o semblante de Ainz, ele se decidiu e perguntou:

“Como vamos lidar com a Tsuare?”

O silêncio continuou, e então Ainz falou, no que soou como uma sugestão.

“Hm. Lembro-me de que deixar a garota sair resultaria em boatos sobre Nazarick, cor-
reto?”

Demiurge assentiu sob o olhar de Ainz.

“Exatamente. Ainz-sama, como lidaremos com esse assunto?”

“Vamos alterar as memórias dela. Então... dê-lhe algum dinheiro e despeje-a em algum
lugar.”

“Ainz-sama, eu sinto que matá-la seria mais conveniente. Também haveria menos coi-
sas para se preocupar.”

Solution assentiu com a sugestão de Demiurge. Depois de ver suas reações, Ainz afun-
dou em contemplação. Já que os dois se sentiam da mesma maneira, ele provavelmente
deveria fazê-lo... talvez deveria.

Sebas começou a entrar em pânico.

Uma vez que seu mestre tivesse tomado uma decisão, pedir para que mudasse seria um
tanto rude. Ainz perdoou Sebas, mas Demiurge, Cocytus e Solution certamente pensa-
riam muito mal dele agora. Expressar descuidadamente sua oposição definitivamente
incorreria na ria de seus camaradas.

Ainda assim, ele precisava fazer sua proposta agora.

Sebas abriu a boca, preparando-se para falar em oposição à opinião de Demiurge. No


entanto, ele acabou não fazendo isso, porque Ainz falou primeiro.

“...Isso é o suficiente, Demiurge. Eu não gosto de matar quando isso não me beneficia.
Ou melhor, uma vez que mate os fracos, eles se tornam inúteis. É melhor considerar que
podem possuir alguma utilidade enquanto ainda vivos.”

Sebas deu um suspiro de alívio. Tsuare ainda não havia sido condenada à morte. Mas
ainda havia uma possibilidade.

“Claro... Então, se ela trabalhar na minha fazenda, gerenciada por meus subordinados?”

Capítulo 6 Início do Distúrbio da Capital Real


2 4
“É mesmo, agora que me lembrei que estava criando Chimeras. A propósito, já conside-
rou usá-las como rações? Precisamos melhorar a qualidade das provisões de Nazarick.”

Os olhos de Demiurge deixaram Ainz, que estava resmungando sobre “bifes de Chimera...
não, hambúrgueres poderiam ser melhor...” e olhou para o longe. Logo depois, o encarou
novamente.

“...Infelizmente, a qualidade da carne é ruim, não está à altura do nosso padrão. Usá-las
na gloriosa Nazarick seria meio profano...”

Demiurge sorriu, indicando que não aprovava.

“Mas ainda daria para usar os que morrem e transformá-los em alimentos para os de-
mais. Duvido que comerão a carne se alimentados diretamente, então temos que moer
bem moído antes.”

“Oh... então vão comer a própria espécie? Realmente animais não passam de animais.”

“O senhor está corretíssimo, Ainz-sama. Vale notar que é isso que os torna tolos, fofos
e adequados como brinquedos. Eles são onívoros, então também comem grãos e afins.
Aproveitando o assunto, posso incomodá-lo a providenciar grãos se sobrar algum? Dada
a situação atual, os suprimentos que saqueamos ainda são insuficientes.”

“Esses animais são a matéria-prima de pergaminho, um recurso crítico. Não pretendo


deixá-los morrer de fome. Hm, que tal isso... Sebas, compre grandes quantidades de
grãos antes de partirmos, o Demiurge precisa disso.”

“Entendido. Dadas as quantidades necessárias, eu preferiria alugar um pequeno arma-


zém de grãos como estoque. Mas como devemos transportar os grãos para Nazarick?”

“Bem... informe à Shalltear e faça com que ela use 「Gate」 para facilitar o transporte.
Demiurge assumirá a partir daí. Está bem assim?”

“Sim. Lidaremos com o transporte de lá.”

“Muito bem. Demiurge, você é indiscutivelmente o que mais contribui para Nazarick, e
sou muito grato a você por isso.”

“Muitíssimo obrigado pelas amáveis palavras, Ainz-sama! Elas servem de encoraja-


mento incomensurável ao seu humilde servo!”

“...Hm, ah, não é para tanto. Ah, sim, tenho algo para perguntar-lhe. Você não está ata-
refado demais com tantos afazeres? Eu lhe chamo sempre que há problemas, e você deve

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


2 5
gerenciar sua fazenda para manter o estoque de pergaminhos, também há os preparati-
vos para criar o Imperador Demônio... Eu temo que esteja descontente com as muitas
tarefas pesadas que lhe foram dadas.”

Demiurge estava sorrindo de orelha a orelha. Sebas nunca tinha visto aquela expressão
nele antes — era um sorriso que não tinha qualquer malícia e agradava a todos que olha-
vam.

“Estou profundamente grato pelo senhor estar tão preocupado com seu humilde servo.
Mas insisto que não se preocupe. São tarefas muito importantes e que não constituem
fardo algum. Caso eu sinta que está muito árduo, certamente solicitarei mais assistência.
Quando chegar o momento certo, terei que incomodá-lo por auxílio e ajuda.”

“Se é o que sente, tudo bem.”

Sebas mentalmente franziu a testa enquanto ouvia a voz de deleite de seu mestre e pen-
sava sobre a verdade das condições da fazenda de Demiurge.

Sebas e Demiurge eram ambos servos dos Seres Supremos, mas Sebas conhecia bem a
personalidade de Demiurge. Alguém como ele nunca teria uma mera fazenda. O mesmo
se aplicava em relação a real identidade das criaturas chamadas Chimeras—

Um flash iluminou a mente de Sebas por um instante.

Isso porque ele havia adivinhado que tipo de criaturas Demiurge estava criando.

Ele poderia enviar Tsuare para tal lugar? Certamente, Demiurge garantiria a segurança
de sua vida. Mas o mesmo não poderia ser dito sobre seu estado mental.

Só então, houve uma pausa na conversa entre Ainz e Demiurge. Esta era a única chance
de Sebas em expor sua opinião. Depois de decidir sobre isso, Sebas se dirigiu ao seu mes-
tre:

“—Ainz-sama.”

“Hm? O que foi, Sebas?”

“Se me é permitido—”

Ele segurou a respiração. Seria uma aposta — uma aposta extremamente arriscada. Po-
rém, uma que precisava fazer.

“Eu gostaria que a Tsuare trabalhasse para nós na Grande Tumba de Nazarick.”

O silêncio desceu sobre todos, e os olhos convergiram em um único ponto da sala. Ainz
calmamente perguntou:

Capítulo 6 Início do Distúrbio da Capital Real


2 6
“Recentemente, eu fiz ao Cocytus a mesma pergunta... mas, Sebas, que méritos existem
ao fazê-lo?”

“Para começar, Tsuare pode cozinhar. Em toda Nazarick, apenas o Head-Chef e o Sous-
Chef podem preparar comida, tomei a liberdade de excluir Yuri e as demais. Depois de
considerar as necessidades futuras de Nazarick, sinto que seria melhor se tivéssemos
mais pessoas capazes de cozinhar. Eu também sinto que seria muito benéfico testar se
humanos são capazes de trabalhar em Nazarick. Estabeleceria um excelente precedente
para mostrar que formas de vida ainda inferiores, como os humanos, podem prestar ser-
viço à Nazarick. Além disso—”

“—Tudo bem. Já entendi, Sebas.”

Ainz levantou a mão para interromper a tagarelice de Sebas sobre os muitos usos de
Tsuare.

“Sebas, estou totalmente ciente do que está tentando dizer. Realmente tem razão, no
passado considerei que temos poucos que são capazes de cozinhar. É um problema que
vale a pena ponderar.”

“Mas Ainz-sama, será que ele pode mesmo preparar refeições dignas do padrão de Na-
zarick?”

Sebas olhou ressentido para Demiurge por um momento. Em resposta, Demiurge ape-
nas sorriu.

Desgraçado— Sebas engoliu sua raiva antes que pudesse falar.

Mesmo que Ainz tivesse perdoado Sebas, Demiurge não o fez por completo. Portanto,
ele estava se esforçando para ser o mais contrário possível aos desejos de Sebas en-
quanto decidiam o destino de Tsuare. Provavelmente era isso.

“O que ele diz faz sentido. O que tem a dizer, Sebas?”

“...Tsuare prepara principalmente pratos básicos. Quanto a se são adequados para Na-
zarick... isso é um pouco difícil de responder.”

“Pratos básicos? Duvido que Nazarick necessite de batatas cozidas ou algo parecido.”

“Me vejo obrigado a ressaltar a superficialidade dos pensamentos de Demiurge. Como


ela já sabe preparar pratos básicos, isso implica que pode aprender outras técnicas de
culinária do Head-Chef, se assim pedirmos. Não podemos ficar presos nas limitações do
presente, também devemos considerar o futuro.”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


2 7
“Então adoraria que ela ajudasse a preparar as refeições na minha fazenda. Fazer carne
moída dificilmente é uma tarefa trivial.”

“Eu—”

Os dois se alfinetaram em um vai e vem. Ainz assistiu a conversa deles.

Ao mesmo tempo, ele olhou para além deles. Ele viu os contornos de seus criadores,
fantasmas da gloriosa era de ouro—

♦♦♦

“E aí, vamos onde hoje?”


[Gigantes d e f o g o ]
“Para os Fire Giants—”
[Dragões d e G e l o ]
“Os I c e Dragons—”

“...Hm. Ulbert-san, eu lembro que concordamos em farmar o Fire Giant, Surt, ele tem
drops raros. Esqueceu?”

“Que curioso... Eu ia te perguntar o mesmo, Touch-san. Há pessoas que precisam caçar


Ice Dragons pra cumprir os pré-requisitos de mudança de profissão, ou será que esque-
ceu?”

“...Não, só quê... A Yamaiko-san precisa dos drops para ficar mais forte.”

“Ah, galera, qualquer um—”

“Tá falando do Primordial Fire? Então o Primordial Ice é tão essencial quanto, não? Por
isso que a gente deveria ir caçar os Drago—”

“...Podemos aumentar as taxas de drop com um item de cash. Surt tem uma taxa de drop
menor que a dos Dragões, então você não acha que devemos vencê-lo primeiro?”

“Pera aí, tá falando que vou ter que gastar com itens de cash?”

“...Bem... so-sobre isso...”

“...Que tal lutar contra monstros pervertidos, tipo a Succubus no Abismo?”

“Cala a boca, maninho.”

“Bem, se vamos atrás de tipos demoníacos, devemos lutar contra os Lords of the Seven
Deadly Sins. Mas talvez precisemos fazer muitos preparativos.”

Capítulo 6 Início do Distúrbio da Capital Real


2 8
“...Touch-san, você tá sendo muito egoísta. Vai dizer que não seria mais eficiente se a
gente lutasse contra os Ice Dragons? Temos membros novos pra upar, sabia?”

“Você que é egoísta, Ulbert-san. Até porque, jogos não são apenas sobre eficiência.”

“Pra que isso, gente? Será que o mago mais forte e o guerreiro mais forte, poderiam
parar a briguinha...”

“Eles sempre foram assim. Desde que entrei aqui.”

“Touch-san é um cara muito legal mesmo, até deu atenção pra você, um pirocão rosa
ambulante.”

“...Chagama-san, Peroroncino-san, poderiam se acalmar? Eu estou invocando os privi-


légios como Chefe de Guilda.”

“Alguma outra guilda já venceu os Seven Deadly Sins?”

“Derrotaram o Pride. Vi num post online.”

“Parece que quem derrotar todos os sete ganhará um item World-class, deve ser ver-
dade mesmo, já que são chefões mundiais.”

“Falando de itens World-class, vamos usar a Caloric Stone para criar o Golem mais po-
deroso de todos os tempos.”

“Nubo-san. Acho que seria melhor encaixá-lo em uma arma em vez de fazer um Golem.”

“Ou uma armadura, acho que ficaria legal.”

“Ah, temos que pensar sobre isso. Afinal de contas, é um item que nos permite fazer
solicitações aos desenvolvedores, então é melhor pensar bem antes de usar.”

“É isso aí, Momonga-san.”

“E agora sabemos como farmar Caloric Stones, mas esse método requer muito minério
prismático das Seven Hidden Mines.”

“Isso é um saco, não dá pra obter isso a menos que tenhamos o controle exclusivo sobre
as minas. Que merda...”

“Pois é. E cada uma é controlada por uma guilda, se a gente usar sem pensar, não tem
como conseguir outra. E duvido que dará para revezar... que tal vender informação para
a Trinity? Tem que saber brincar com a ganância do povo, isso pode desencadear brigas
entre eles, aí é só tirar proveito.”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


2 9
“Então é só vender para a Alliance e esperar que se matem? Não esperava nada menos
do nosso estrategista Punitto Moe-san.”

“Falando da Alliance, eles parecem estar chegando aos outros.”

“Eh? Como assim?”

“Ouvi dizer que obtiveram algum tipo de item World-Class, então mudaram de postura
em relação a outras guildas.”

“Tô chocada— mas falando sério, será difícil formarem uma coalizão de alto nível como
da última vez.”

“—Que tal deixar o Momonga-san decidir?”

“Por mim, tudo bem. Chefe de Guilda, o que a gente deve fazer?”

“...Oi? Quê? Não tava prestando atenção... huh? Oh, quer dizer agora? ...Francamente...
melhor ir com voto da maioria, o de costume. Assim, ninguém terá reclamações.”

“Melhor assim.”

“Concordo.”

“Tudo bem, então, a nova moeda representará o Ulbert-san enquanto a antiga repre-
senta o Touch-san. Pessoal, peguem suas moedas. Vamos ouvir os dois falarem agora—”

♦♦♦

“—Basta! Vocês. Estão. Diante. De. Ainz-sama!”

As palavras de Cocytus foram como um balde de água fria despejado na crescente dis-
puta corriqueira entre Sebas e Demiurge.

Ambos se viraram para encarar Ainz, que apenas os observava, e seus rostos empalide-
ceram no instante seguinte. Não havia como dizer qual expressão espreitava dentro dos
pontos dançantes de luz dentro das órbitas vazias de Ainz, mas não havia dúvida de que
havia grande energia em seu olhar.

Os dois sentiram que seu mestre estava prestes a castigá-los a qualquer momento, e os
dois responderam simultaneamente.

“Perdoe a grosseria do seu servo diante de sua presença, Ainz-sama!”

“Seu servo lamenta profundamente forçá-lo a testemunhar um comportamento tão


tolo!”

Capítulo 6 Início do Distúrbio da Capital Real


3 0
Os dois se curvaram em desculpas, mas nenhum deles conseguiu entender a reação de
Ainz.

“—Ha! Ahaha-ha!”

A sala de repente ecoou com risadas altas e relaxadas.

Eles não se lembravam de Ainz rindo com tanta alegria. Cocytus, Demiurge, Sebas e So-
lution olhavam estupidamente para essa visão inacreditável.

“Está bem. Eu permito isso! Eu permito que discutam! Sim! É assim que deve ser, essas
idas e vindas sem fim. Ahahaha.”

Eles não tinham idéia do que tinha movido o coração de Ainz, mas Sebas suspirou alivi-
ado, sentindo que a situação parecia ter mudado.

“Ahahah— tch, maldita supressão...”

De repente, o humor de seu mestre se acalmou, como se algo tivesse o refreado. Ainda
assim, Sebas tinha certeza de que ele parecia estar de bom humor. Ainz então se dirigiu
a Sebas em um tom descontraído:

“Eu já sei o que Sebas quer dizer. Infelizmente, não é uma boa idéia trazer humanos
para a Grande Tumba de Nazarick. Mesmo assim, eu gostaria de ver a garota, Tsuare.
Traga-a para mim.”

“Eh? Ah— sim! O farei imediatamente!”

Sebas ficou intrigado com o estranho pronunciamento de Ainz, mas imediatamente saiu
e foi buscar Tsuare.

“Ainz-sama, eu a trouxe.”

“Mm, se aproxime—”

Ainz se inclinou para frente ainda sentado. Ele olhou para Tsuare de um jeito muito
estranho.

Alguma coisa a respeito dela desagradou meu Mestre?

Sebas olhou para Tsuare pelo canto do olho, mas não tinha idéia do porquê seu mestre
agiria assim.

“Se parecem mesmo...”, murmurou Ainz. Ele provavelmente não pretendia dizer isso em
voz alta.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


3 1
“...Bem-vinda, Tsuare. Deixe-me começar por esclarecer as coisas. Eu não aviso duas
vezes, gosto de respeitar as escolhas que os outros fazem. Isso se aplica mesmo se a es-
colha trazer ruína. Agora que está ciente disso, me responda uma coisa. Se mentir, as-
sunto encerrado. O mesmo se aplica se eu não receber a resposta que desejo ouvir.”

Sebas pôde ouvir Tsuare engolir seco. Ele não a culpou por isso. Provavelmente estava
se sentindo muito desconfortável com seu destino iminente depois daquela exibição
ameaçadora.

“Então, minha pergunta é: Qual o seu nome completo?”

Sebas não entendeu o porquê da pergunta. Qual seria a importância disso?

Ao olhar novamente para ela, viu que os olhos de Tsuare estavam vagando por toda a
sala. Sua atitude explicava tudo.

Por favor, apenas responda com sinceridade, Sebas orou.

O fato de sequer ter dito a Sebas seu nome completo sugeria que poderia haver algum
problema se soubesse sua verdadeira identidade. Assim, mentir para seu mestre prova-
velmente seria o pior cenário para ela.

O silêncio continuou, e depois de um longo período de tempo, Tsuare finalmente res-


pondeu com uma voz tão fraca quanto o zumbido de mosquito:

“Tsu-Tsuare... Tsuareninya.”

“E o sobrenome?”

“Tsuareninya Veyron...”

“Entendi... isso mesmo... mais uma pergunta, Tsuareninya. Seu desejo é ir para a Grande
Tumba de Nazarick — ou seja, meu domínio — e morar lá, correto? ...A Grande Tumba
de Nazarick não é um mundo para humanos. Quero dizer, não que humanos não possam
sobreviver lá, mas lá não abriga humanos. Por isso eu acho que não é um lugar adequado
para você... se não quiser, lhe darei uma fortuna e viverá o resto de seus dias em algum
distante domínio humano.”

Seus termos eram tão generosos que fez os presentes se questionarem o porquê Ainz
estava indo tão longe por ela. Todavia, Tsuare não hesitou e respondeu imediatamente:

“Eu—eu gostaria de viver com... Sebas-sama.”

Ainz assentiu devagar. A luz vermelha nas órbitas oculares vazias parecia estranha-
mente gentil.

Capítulo 6 Início do Distúrbio da Capital Real


3 2
“Que assim seja. Ouçam bem, meus servos!”

Todos imediatamente prestaram sua atenção máxima. Tsuare apressou-se a imitá-los.

“Eu garanto a segurança de Tsuareninya em nome de Ainz Ooal Gown. Posso tratá-la
como convidada na Grande Tumba de Nazarick, mas o que você prefere?”

“Obrigada... obrigada Milorde. Ma-mas, prefiro trabalhar com o Sebas-sama.”

“—Se é isso que você deseja. Então, por enquanto, Tsuare será uma empregada tempo-
rária e diretamente subordinada a Sebas. Sebas, dê-lhe um trabalho apropriado. Com
isso, as Pleiades vão mudar do modo Six Stars para o modo Seven Sisters. Haverá uma
mudança na liderança, então não precisa movê-la para moradia. Afinal, a Yuri Alpha as-
sumirá o controle.”

Solution se curvou profundamente.

“Além disso, diga a todos na Grande Tumba de Nazarick que Tsuareninya está sob a
proteção de Ainz Ooal Gown. Diga também, ela trabalhará ao seu lado.”

Todos, exceto Tsuare e Ainz, se curvaram como um.

“Demiurge, alguma objeção à minha decisão?”

“Absolutamente nenhuma. Vossa palavra é lei na Grande Tumba de Nazarick. Mas res-
salto que muitos não entenderão o porquê recebemos uma humana em nossa terra aben-
çoada. Como devo explicar isso para eles?”

“...Isso me lembra do passado, a irmã de Yamaiko-san, Akemi-san, era uma Elfa da Flo-
resta, mas nós frequentemente a convidávamos para Nazarick. Nunca esteve proibido a
entrada de humanos ou humanoides. Pois se fosse o caso—”

Ainz olhou para Solution, que estava esperando por ordens dentro da sala, e disse:

“—Teríamos que expulsar sua irmãzinha também.”

“Só resta saber se uma imortal ainda pode ser considerada humana...”

“Certamente, Solution. Então, Demiurge. Diga-lhes que decretei isso. Se alguém pensar
o contrário, diga-lhes que estão livres para se reportarem pessoalmente a mim. Explica-
rei caso tenham dúvidas.”

“Seu servo entende. Não tenho mais perguntas.”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


3 3
“Por fim, vamos confirmar os próximos passos. Primeiro, desocuparemos imediata-
mente essa propriedade. Todas as sentinelas postadas aqui retornarão à Nazarick. Solu-
tion e Sebas completarão sua tarefa final na Capital Real — que é comprar grãos para o
Demiurge — e depois transportá-los para o armazém. Uma vez que quantidades sufici-
entes tenham sido acumuladas, usaremos o 「Gate」 da Shalltear para transportar os
grãos. Alguma dúvida?”

Todos se curvaram em silêncio. Tsuare olhou ao redor e apressadamente se curvou


também.

“Então, ainda há a Tsuare... Como devemos lidar? Ela voltará conosco? Ou deveria voltar
com o Sebas?”

“Seu servo propõe que se ela voltar comigo evitará muitos problemas.”

“É como diz. Então Sebas, Solution, traga as sentinelas aqui. Eu vou levar todas de volta
com a minha magia.”

“Entendido!”

♦♦♦

Depois de assistir os três saírem, Demiurge perguntou a Ainz:

“Posso perguntar se o senhor está familiarizado com aquela garota?”

Ainz não respondeu à pergunta, mas lentamente se levantou de seu assento. Então se
virou para uma parede em branco. A maneira como ele fez isso foi como se houvesse
alguém parado ali.

Depois de um curto período de tempo, Ainz falou.

“Demiurge, sou alguém que acredita que o bem deve ser recompensado com bem, e o
mal com o mal. Também sinto que devemos pagar nossas dívidas.”

Ainz produziu um livro de sua dimensão de bolso. Este livro encadernado em couro
estava amarrado com barbante, era de acabamento rudimentar.

“O Bibliotecário Chefe já o traduziu, mas este é o original. Era o diário de uma garota,
cujo coração queimava com raiva porque... sua irmã mais velha foi levada por um nobre.”

Certa vez, em um certo vilarejo, viviam duas irmãs muito amigas. Seus pais haviam fa-
lecido quando ainda em tenra idade. Elas eram bem pobres, mas ajudavam-se mutua-
mente durante a vida.

Capítulo 6 Início do Distúrbio da Capital Real


3 4
No entanto, a irmã mais velha foi levada pelo lorde daquelas terras — um homem de
terrível reputação— para que servisse como sua concubina. Talvez a irmã mais nova
pudesse ter sido capaz de desejar-lhe o bem mesmo com lágrimas nos olhos, claro, se
sua irmã mais velha tivesse conseguido viver bem. Contudo, os rumores que sua irmã
mais nova ouviu fizeram-na adivinhar o destino de sua irmã mais velha, ela seria usada
como brinquedo e depois descartada como lixo quando seus captores se cansassem dela.

Quando seu palpite foi provado, a irmãzinha furiosa deixou o vilarejo, ninguém estava
disposto a ajudá-la.

Logo, ela descobriu que tinha um Talento para magia, e assim construiu sua força para
salvar sua irmã mais velha com suas habilidades. Infelizmente, ela encontrou seu
amargo fim antes de atingir seu objetivo.

O diário estava em grande parte preenchido com frases simples e breves. Na última
página, ela escrevera palavras de elogio para um casal de aventureiros com quem tinha
ido colher ervas: Momon e Nabe.

“Aprendi algumas coisas sobre como o mundo funcionava a partir deste diário. Isso me
deixou em dívida com você. Sua irmã mais velha será sua recompensa.”

Ainz acariciou a capa de couro, que estava desbotada por causa da idade, e então o de-
volveu à dimensão de bolso.

“Ainz-sama, seu humilde servo procura permissão para um assunto.”

“Qual assunto, Demiurge?”

“Eu li os relatórios de Sebas, e algo me chamou a atenção. Posso despender um pouco


de tempo na investigação?”

“Achou algo estranho?”

“Sim. Existe um lugar que gostaria de investigar. Eu vou tentar voltar antes que o senhor
vá, Ainz-sama, mas pode demorar um pouco pois não sei onde fica... e fazer o senhor
esperar por mim é terrivelmente desrespeitoso, mas se puder me ceder um pouco de
seu precioso tempo...”

Quando viu o rosto sério de Demiurge, Ainz decidiu falar em um tom leve para deixá-lo
à vontade.

“Está tudo bem, Demiurge. O que fará será benéfico para Nazarick, não é? Por algo assim,
esperar não será problema algum. Vá, Demiurge.”

“Muitíssimo obrigado!”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


3 5
Parte 2

4º Dia do mês Baixo Fogo (9º mês) - 15:01

O amanhecer veio, e com ele, o dia atarefado de Sebas e Solution começou.

Eles poderiam deixar o local sem uma palavra, mas tinham construído suas identidades
como comerciantes e seria uma pena descartar valorosas conexões, então decidiram fa-
zer um misancene e fingir que estavam voltando para sua terra natal.

Solution foi junto — ela só os encontrara uma vez antes disso, quando tinham acabado
de chegar — e anunciou seu retorno à terra de seu pai a todos os comerciantes assim
como na Guilda.

Claro, eles não podiam aparecer dizendo que estavam indo embora e assim se despedir.
Tiveram que gastar tempo com conversa fiada, sendo essa uma parte indispensável para
melhorar os relacionamentos. O fato era que nenhum homem se mostrava indisposto
quando se tratava de Solution, o que significava que eles precisavam passar mais tempo
interagindo.

No final, eles passaram mais de meia hora em todos os locais que visitaram e, depois de
terminarem as despedidas, já era muito tarde.

“Já passamos tempo demais nisso. Tanto o armazém temporário quanto o transporte
de grãos estão organizados. Nossa tarefa está concluída, finalmente podemos voltar à
Nazarick.”

Havia indícios de deleite na voz de Solution. Sebas sabia o porquê estava tão animada;
afinal logo retornaria à Grande Tumba de Nazarick, e também porque tinha cumprido as
ordens que seu mestre tinha dado. Como a coleta de informações tinha sido basicamente
o trabalho de Sebas, ela não teve muita chance de experimentar o regozijo de realização
vinda ao servir seu mestre e, assim, produzir resultados.

A tarefa de Solution foi em desempenhar o papel de uma milady se despedindo de co-


nhecidos. Terminar de cumprir essa tarefa à risca a encheu de satisfação. Ela parecia
prestes a cantarolar para si mesma.

Estar tão animada assim rendeu bons resultados até com os mercadores, rendendo-os
várias negociações favoráveis. Por exemplo, eles receberam um grande desconto no alu-
guel do armazém, além de bons descontos por comprarem uma grande quantidade de
grãos.

Ser bonita traz muitas vantagens.

Capítulo 6 Início do Distúrbio da Capital Real


3 6
Foi isso que Sebas pensou quando parou a carruagem no pátio de casa e conduziu So-
lution à porta principal.

Ele tirou a chave da porta da frente e a inseriu no buraco da fechadura.

Então a girou, como sempre fazia, mas não ouviu o clique habitual, nem sentiu como se
tivesse aberto uma fechadura.

Confuso, Sebas franziu a testa, então seus olhos encontraram os de Solution.

—A porta estava aberta?

Ele empurrou a porta que se abriu ligeiramente.

Tsuare foi a única que ficou esperando em casa. Ela jamais sairia por conta própria.

“Há arranhões feitos recentemente ao redor do buraco da fechadura. Alguém provavel-


mente forçou a—”

Sebas abriu a porta sem esperar que Solution terminasse. Ele não considerou a possi-
bilidade de haver uma armadilha no lugar. Mesmo se houvesse, ele a esmagaria sob os
pés.

Agora que haviam terminado o trabalho, a casa parecia fria e vazia. Ao pisar na casa,
Sebas imediatamente ativou seu conjunto completo de habilidades de detecção para
captar a respiração de criaturas vivas — em outras palavras, vestígios de Tsuare.

Porém, ele não conseguia sentir nenhum humano por perto.

“Tsuare! Tsuare, você está aí!?”

Ele gritou alto enquanto procurava pela casa.

Sebas passou por todos os cantos e recantos, mas não conseguiu encontrá-la. Não só ele
não a encontrou, mas também não havia vestígios. Era como se ela tivesse desaparecido
no ar.

Não, alguém deve ter invadido. Não há cheiro de sangue, tenho certeza que ela foi seques-
trada. Se for isso, as demandas dos sequestradores serão...

Sebas cerrou os punhos.

Como pensou, ele não deveria ter deixado Tsuare para trás enquanto estava se despe-
dindo. A frustração de seu fracasso o deixou enfurecido.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


3 7
Na verdade, ele nunca deveria ter deixado Tsuare sozinha em casa. Tendo entrado em
confronto com um sindicato criminoso, ele sabia que era inevitável que o perigo apare-
cesse cedo ou tarde.

Dito isso, ele ainda deixara Tsuare para trás. Isso porque seus traumas mentais estavam
bem vivos, ela ainda tinha medo do mundo exterior e das pessoas que lá vagavam. A
razão pela qual ela não sucumbiu ao pânico durante o encontro com o mestre de Sebas
foi porque todos não pareciam humanos. Na ocasião, ela não agia como uma pessoa trau-
matizada, mas uma pessoa comum que tinha visto um monstro.

Até mesmo deixá-la na carruagem poderia resultar em problemas. Foram essas preo-
cupações que fizeram Sebas decidir deixá-la na casa.

Ele também acreditava que, devido aos danos deixados no bordel, a oposição levaria
algum tempo para reorganizar-se ou planejar um ataque.

Tudo o que ele podia dizer agora era se considerar um grande ingênuo.

Enquanto Sebas passava rapidamente pelos corredores, uma voz chamou-o em meio à
sua ansiedade. A voz veio da sala de hóspedes.

“Sebas-sama, aqui.”

“Solution, onde ela está?”

Como ela poderia estar lá? Sebas tinha verificado a sala de hóspedes agora mesmo.
Ainda assim, ele se agarrou a essa leve esperança.

Ele entrou na sala e viu Solution segurando um pedaço de pergaminho.

“Parece haver algo escrito no—”

“Me dê.”

Sebas não esperou Solution responder antes de praticamente arrancá-lo de suas mãos.
Então ele ativou seu item mágico e leu o conteúdo, em seguida, esmagou o papel com
raiva.

“Ela foi sequestrada. É meu dever resgatá-la.”

A resposta de Solution foi calma e sem emoção:

“Como sua serva, sinto que o senhor deveria fazer isso.”

Isso não soou como algo que Solution diria, os olhos de Sebas se arregalarem estra-
nheza da resposta.

Capítulo 6 Início do Distúrbio da Capital Real


3 8
“No entanto, o Ainz-sama ordenou que nos retirássemos para a Grande Tumba de Na-
zarick. Não devemos priorizar esse pedido?”

“Se voltarmos, devemos fazê-lo com a Tsuare.”

“Sebas-sama... sua serva sente que agir de forma independente aqui irá incorrer em um
grande risco. Em primeiro lugar, onde o senhor pretende ir para resgatá-la?”

“A nota especificou horário e lugar em detalhes. Nossa oposição parece ser das pessoas
envolvidas com o bordel que eu destruí.”

“Entendo. Contudo, seria melhor relatar ao Ainz-sama antes de qualquer ação. Afinal,
se o senhor não tivesse destruído o bordel, as coisas não teriam terminado assim. Não
considera isso uma violação da solicitação de Ainz-sama para mantermos discrição?
Além disso, se ousar desafiar a vontade de Ainz-sama mais uma vez... O senhor está ci-
ente no que isso resultará, Sebas-sama?”

Aquelas palavras passaram pela mente de Sebas como um raio. Afinal, em nome de
quem Ainz jurou proteger Tsuare?

“Apresente-se ao Ainz-sama. Informe-o que Tsuare foi sequestrada e peça-lhe conse-


lhos sobre como proceder.”

Parte 3

4º Dia do mês Baixo Fogo (9º mês) - 15:15

“Hm hm hm~”

Albedo cantarolava alegremente uma melodia a si mesma enquanto empurrava uma


agulha por um chumaço de lã, puxava a linha com força, empurrava a agulha de volta e
depois a apertava de novo. Após várias repetições disso, ela costurou um pedaço de
pano preto em uma bola de lã branca. Depois disso, ela enfiou o pano na bola branca
para torná-la ainda mais redonda.

Ela inspecionou de perto o boneco de lã quase esférico e então um sorriso gentil flo-
resceu no rosto de Albedo. Sua expressão exalava doçura, como uma deusa.

“Prontinho! Terminei a cabeça do Ainz-sama!”

Ela cerrou o punho em satisfação e então acariciou o crânio de lã.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


3 9
A boca e os olhos do crânio eram pedaços de tecido costurados e pareciam adoráveis.
Ainz certamente ficaria envergonhado se visse isso.

“Perfeito, agora o corpo...”

Ela colocou o crânio de tecido na mesa com infinita gentileza, depois se levantou da
cadeira e pegou um novelo de lã branca.

Este era o quarto pessoal de Albedo.

Falando de quarto pessoal, Albedo foi originalmente designada como a defensora do


Salão do Trono, então ela nunca teve um quarto só para si.

Entretanto, Ainz havia decidido que deixar as coisas nesse estado poderia ser proble-
mático para a Supervisora Guardiã, e então ordenou que ela fosse designada para um
dos quartos feitos para os 41 Seres Supremos.

Assim como o quarto de Ainz, os aposentos de Albedo eram muito espaçosos. Sendo
honesto, era demasiadamente grande para Albedo, que nem mesmo tinha muitas pos-
ses pessoais.

No entanto, depois de morar aqui por cerca de dois meses, a situação mudou.

A primeira razão foi o vestiário que Albedo estava prestes a abrir.

Estava cheio de Ainzs.

Claro, eram cópias falsas de Ainz. Havia vários dakimakuras em várias poses e inúme-
ros bonecos de pelúcia, todos feitos à imagem de Ainz.

Esta era uma das áreas secretas de Albedo. Nem as empregadas que entravam para
limpar eram permitidas aqui. Era um santuário inviolável, ou em outras palavras, sua
câmara de harém.

“Kuhuhuhuh~”

Com aquele som estranho, Albedo saltou no ar. Ela bateu as asas na cintura para dimi-
nuir a velocidade que atingiria os dakimakuras. Parecia uma cena de rugby em câmera
lenta.

Albedo abraçou o dakimakura com força e depois rolou pelo chão. Havia muitos Ainzs
diferentes no chão também, o que garantiu que o pouso fosse bem amortecido.

Ela riu estranhamente enquanto se enterrava em três diferentes dakimakuras de Ainz.

Capítulo 6 Início do Distúrbio da Capital Real


4 0
“Kuhuhuhu, este foi feito com o lençol do Ainz-sama... o que significa que estou dor-
mindo com o Ainz-sama. Kuhuhuhuhu~”

Albedo enterrou o rosto no dakimakura e inalou profundamente.

“Sem cheiro... huh.”

A decepção foi claramente evidente em seu tom. Certamente induziria culpa em qual-
quer ouvinte.

Por Ainz ser um undead, ele não precisava dormir ou usar o quarto. Além disso, seu
corpo era de apenas ossos, então não tinha cheiro algum. Ele tomava banho para se li-
vrar da sujeira ou da poeira, mas por si só, seu corpo não exalava odores.

“Hmm? Isso é... será que é... Ainz-sama...”

Contudo, uma garota apaixonada poderia até mesmo cheirar o leve aroma que Ainz
produzia... embora seu nariz pudesse estar pregando uma peça com ela.

“Kuh! Kuhuhuhuhuhuhu!”

Ela enterrou o rosto no dakimakura e engoliu grandes lufadas de ar. Esse comporta-
mento era mais adequado a uma pervertida do que uma Guardiã.

“Ahhhh~ isso me deixa tão feliz.”

Sendo a Supervisora Guardiã de Nazarick, Albedo tinha muitas tarefas. Era responsá-
vel por lidar com as atribuições de tropas dentro de Nazarick e turnos das sentinelas
para manejar o perímetro, que reportavam qualquer aviso prévio. Ela também teve que
manter a postura defensiva de Nazarick e esperar no Salão do Trono, verificando o sta-
tus de todos e assim por diante. Era um conjunto de tarefas que faria os olhos de qual-
quer um arder.

Portanto, entrar nesta sala para recarregar suas energias era uma questão crítica.

“Ah~ eu quero ver o Ainz-sama. Eu quero vê-lo. Ah~ eu quero vê-lo.”

Ela abraçou um travesseiro com força, como se quisesse desabafar sua raiva contra
Narberal, que estava viajando com Ainz. Só então—

『—Albedo.』

Seu corpo estremeceu de medo.

Albedo começou a suar frio e seu rosto ficou franzido enquanto ela olhava em volta,
até ter certeza de que a voz havia sido gerada por magia.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


4 1
“Ai-Ainz-sama—! Quais as ordens que o senhor tem?”

『Ainda a pouco, o Sebas— não, a Solution enviou uma 「Message」 me informando.


Parece que Tsuare, a mulher que o Sebas pegou, foi sequestrada. Portanto, gostaria que
você montasse reforços para o Sebas.』

Albedo imediatamente lembrou quem era Tsuare quando Ainz a mencionou.

Ainz partiu para E-Rantel sob o disfarce de Momon logo após retornar à Nazarick, mas
ela tinha ouvido os detalhes superficiais de Demiurge.

“Por favor, perdoe meu questionamento tolo de sua decisão, Ainz-sama. Mas há neces-
sidade de redigir uma equipe para salvar uma forma de vida inferior como uma mera
humana? Se ela estivesse ligada ao mentor do incidente da Shalltear, eu poderia enten-
der—”

『Não. Esta situação não tem nada a ver com a Shalltear sendo controlada. Este as-
sunto parece ser o fazer da organização criminosa escondida dentro do Reino.』

“Sendo esse o caso, há mesmo...”

『Albedo. Eu jurei sob meu nome, Ainz Ooal Gown, que protegeria à Tsuareninya.
Você entende isso?』

Seu tom mudara completamente.

Albedo podia sentir as chamas ardentes da raiva. Sua garganta parecia entupida com
uma massa sólida.

『Você entende? Responda, entendeu!? Eu dei meu nome como garantia de minha
proteção! Mas alguém ousou sequestrá-la! Entende o que isso significa!? Eles estão in-
sultando o nome que todos nós escolhemos! Mesmo que não conheçam esse fato, eu
não vou perdoar uma coisa DESSAS—!』

Nesse ponto, parecia que seu ódio havia diminuído repentinamente.

Com toda a probabilidade, suas emoções haviam atingido certo limiar e haviam sido
suprimidas à força.

『...Me perdoe. Aqueles malditos sequestradores me tiraram do sério. Eu imploro seu


perdão, Albedo.』

Foi só depois que ela ouviu a voz calma de seu mestre que o próprio coração de Al-
bedo pôde voltar à paz e ela finalmente conseguiu falar.

Capítulo 6 Início do Distúrbio da Capital Real


4 2
Ela sabia que seu mais exaltado mestre não estava bravo com ela, mas até mesmo Al-
bedo não pôde deixar de se sentir pressionada por tal fúria.

“Não há necessidade de se desculpar, Ainz-sama.”

Ela se curvou profundamente, embora ele não estivesse diante dela.

『...Então, ordeno que resgate a Tsuareninya sã e salva, Albedo.』

“Sim, senhor! Punirei severamente os humanos que ousaram irritá-lo, também provi-
denciarei a equipe de resgate!”

『Muito bom. Conto com você. Além disso, o Demiurge ainda está em Nazarick para
lidar com o transporte de grãos? Deixe-o assumir a responsabilidade da operação.』

“Eu poderia agir diretamente—”

『Não, Albedo. Eu preciso de você para defender Nazarick. Envie o Demiurge em seu
lugar. E lembre-se de ter cuidado. Não permita que suas identidades verdadeiras sejam
expostas. Nesse caso, você e Demiurge estão responsáveis pela questão da Capital Real.
Prossiga a operação.』

“Sim, senhor!”

A magia 「Message」 foi encerrada e o silêncio retornou ao recinto. Albedo levantou-


se lentamente e guardou cuidadosamente os dakimakuras.

“Eu realmente não entendo...”

Havia um brilho frio nos olhos de Albedo enquanto ela murmurava para si mesma. Ela
se virou para olhar a sala mais uma vez.

Nenhuma das empregadas foi permitida nesse cômodo. Isso foi porque Albedo queria
monopolizar os bonecos Ainz, mas também por causa de um canto específico.

Aquele canto continha a bandeira estampada com o símbolo de Ainz Ooal Gown.

Deveria estar orgulhosamente estendida dando boas-vindas para quem entrasse, mas
em vez disso tinha sido jogada no canto onde agora estava juntando poeira. Não havia
vestígio de respeito ou admiração por aquilo, apenas desdém, raiva e desprezo.

“Ainz Ooal Gown, huh... que ridículo.”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


4 3
Albedo contemplou a gigantesca bandeira que estava pendurada no lugar que outrora
pertencera à bandeira com o brasão da Ainz Ooal Gown. Dita bandeira era tão grande
ao ponto de parecer as cortinas de um teatro arrastando sobre o palco.

“A Grande Tumba de Nazarick pertence ao senhor e somente ao senhor. Eu, Albedo,


desejo apenas servi-lo. Ahhhh... Como eu gostaria de poder ouvir seu maravilhoso
nome novamente algum dia...”

Capítulo 6 Início do Distúrbio da Capital Real


4 4
Capítulo 07: Preparações Antes do Ataque

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


4 5
Parte 1

3º Dia do mês Baixo Fogo (9º mês) - 18:27

á era noite quando Brain pôde retornar à casa de Stronoff, já era tarde

J quando entregou sua vigia aos guardas que Climb havia chamado. Agora
liberto do estresse da batalha, ele percebeu que estava com tanta fome que
seu estômago até roncava.

...Tomara que não tenha deixado o Stronoff esperando, ainda mais se ele tiver com fome,
não sei onde vou enfiar a cara se isso acontecer.

Ele abriu a porta da casa. Naturalmente, Gazef permitira que Brain tratasse essa casa
como se fosse sua.

Quando Brain entrou e caminhou em direção ao quarto que Gazef lhe emprestara, ele
ouviu o som de passos indo em sua direção. Alguém deve ter ouvido ele entrar.

Ele supôs que fosse Gazef, e quando a pessoa que fez esses passos desceu as escadas,
seu palpite se provou correto.

“Antes tarde do que nunca, Unglaus. Foi em algum lugar?”

A pergunta de Gazef não continha nenhum sinal de repreensão. De fato, quando Brain
caiu em contemplação sobre como responder à pergunta, Gazef, por sua vez, olhou para
ele com olhos brilhantes de interesse.

“Se não se importa, que tal conversar durante o jantar?”

Brain aprovou a sugestão. Amaciou a barriga e riu.

“Essa é uma ótima idéia. Onde a gente vai comer?”

Gazef pareceu surpreso por um momento, e então levou Brain para a sala de jantar,
dizendo “por aqui”.

“Vai fazer os caseiros cozinharem algo? Essa não... não me diga que você vai cozinhar?”

Gazef sorriu amargamente para aquela pergunta inesperada.

“Não, eu cozinho bem mal.”

Dizendo isso, ele franziu os lábios em um sorriso sugestivo e acrescentou:

Capítulo 7 Preparações Antes do Ataque


4 6
“No entanto, tudo o que meus caseiros fazem é bem suave, provavelmente porque estão
acostumados. Na minha linha de trabalho, gostaria de comer coisas com sabores fortes...
mas eles simplesmente não entendem.”

Brain riu e brincou:

“Quer dizer que até mesmo o fodão do Capitão Guerreiro do Reino é forçado a comer
comidinha leve e saudável?”

Gazef não protestou, apenas franziu a testa e respondeu: “É a vida.” E completou:

“Até pensei em deixar você experimentar a minha famosa comida caseira, mas acabei
comprando comida fora.”

“Veja só. Sou obrigado a agradecer por tanta consideração.”

Brain sorriu timidamente quando disse isso. Gazef pareceu achar engraçado e sorriu.
Então, aproveitou para retrucar:

“Então quer dizer que pode cozinhar, Unglaus?”

Mas Brain respondeu afiado:

“Nada de mais, uns pratos simples. Sabe como é, seria muito difícil passar pelo que pas-
sei sem saber cozinhar alguma coisa, eu treinava sozinho.”

“Ah, ta!”, Gazef respondeu quando eles entraram na sala de jantar, onde ele pegou a
cesta colocada perto da parede.

Parecia grande o suficiente para colocar um bebê, e uma fragrância emanava de dentro,
agraciando o nariz e estimulando a estomago.

Os dois sentaram-se frente a frente.

Depois de colocar vários pratos na mesa, levantaram copos cheios de vinho e brindaram.
Não houve ocasião especial para o brinde. Eles simplesmente beberam o vinho em silên-
cio.

Um sabor refrescante se espalhou de suas bocas.

Depois de dois goles, Brain largou o copo. Ele tossiu e disse em tom sério:

“...Já tinha tempo que não tomava uma.”

“Digo o mesmo. Ou melhor, já faz tempo desde que jantei em casa.”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


4 7
“...Trabalhar no palácio é difícil, né?”

“Há muito para um Capitão Guerreiro fazer.”

“Fica no comando da segurança da Família Real também?”

“Sim. É o que eu faço na maior parte do tempo.”

Brain podia sentir a verdadeira natureza de Gazef através de suas palavras. Seria bom
não levar tão a sério, mas ele insistiu em não pestanejar.

Os nobres devem odiar plebeus assim.

Parece que o palpite de Brain estava certo, pois Gazef raramente mencionava os nobres.
Apesar de sua alta posição como Capitão Guerreiro do Reino, Gazef falava principal-
mente sobre seus deveres militares ou como servia à Família Real. Não havia pratica-
mente nenhuma conversa sobre o decadente mundo dos salões de baile e banquetes.

Uma barreira social imponente ainda o separava dos nobres, embora essa prática ti-
vesse desaparecido em grande parte no Império vizinho.

De repente, Brain achou a situação atual muito cômica.

No passado, ele havia aperfeiçoado suas habilidades com a espada para derrotar Gazef,
e tinha egoisticamente pensado que “a próxima vez que eu te encontrar vai ser uma ba-
talha até a morte”. No entanto, agora os dois estavam juntos como amigos que podiam
compartilhar uma bebida.

Talvez Gazef tivesse percebido seus pensamentos, mas o outro homem também sorriu.

Eles brindaram juntos mais uma vez. Talvez o vinho estivesse começando a fazer efeito,
já que usaram muita força, o vinho derramou de seus copos encharcando a mesa.

“Ei ei, em cima da comida não.”

“Não acha que vinho melhora o sabor de qualquer comida?”

“Bem, meu paladar é meio ruim, no fim é tudo igual... acontece isso com você, Unglaus?”

“Brain. Me chame de Brain.”

“Se é assim. Me chame de Gazef, então.”

“Tá certo, Gazef.”

Capítulo 7 Preparações Antes do Ataque


4 8
Os dois olharam um para o outro e riram, e houve tilintar agudo quando brindaram uma
vez mais.

Gazef abordou todos os tipos de tópicos, e Brain logo se viu em território desconhecido.
Em meios às suas conversas, Gazef perguntou indiferente:

“Mas falando nisso, como um homem como você acaba assim, Brain?”

Ele fez essa pergunta com cuidado, como se tivesse medo de reabrir velhas feridas. Seu
olhar penetrante não parecia estar testando a verdade de suas palavras. Ele parecia ge-
nuinamente preocupado em não ferir os sentimentos de Brain.

“Mm, obrigado.”

Gazef congelou com o agradecimento espontâneo de Brain. Talvez esse rosto dele fosse
divertido, mas a expressão de Brain suavizou-se um pouco. Então, ele se endireitou e
disse:

“...Eu vi um monstro.”

“Um monstro? Algum tipo de besta mágica?”

“Eu acho que era uma Vampira... o nome dela era Shalltear Bloodfallen. Com apenas o
dedo mindinho, ela conseguiu defletir a técnica que criei... pra te derrotar.”

Brain sentiu que os olhos de Gazef se arregalaram um pouco.

“Então foi isso.”

Essas palavras foram acompanhadas por um sorriso bestial. Brain sabia bem o que
aquele sorriso significava.

Era o desejo de qualquer guerreiro derrotar um poderoso inimigo.

Brain já se sentira assim em relação a Gazef. Por sua vez, Gazef provavelmente queria
lutar contra Brain também, para reexperimentar aquela batalha emocionante daquela
vez—

Entretanto, aquele sorriso bestial prontamente desapareceu. Em seu lugar estava o sor-
riso do Capitão Guerreiro do Reino.

Brain descreveu a aparência da Vampira, mas Gazef respondeu que nunca tinha ouvido
falar dela antes. Então tomou um gole de vinho. Brain tomou um gole e depois descreveu
a batalha — ou melhor, de como ela o fez de gato-sapato.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


4 9
Mesmo assim, ele não tocou no assunto de ser membro da Brigada do Alastramento
Mortífero. Ele sentiu que Gazef poderia dizer “cada homem colhe o que planta”, mas a
verdade é que diante de um homem justo como Gazef, Brain sentiu vergonha de menci-
onar as profundezas a que seu eu passado tinha se afundado em busca de habilidades de
espada.

Não havia dúvida nos olhos de Gazef depois que ele ouviu a coisa toda.

“Acredita em mim?”

“...O mundo é um lugar bem grande. Não seria estranho se existisse um monstro desses.
Só olhar a história, havia coisas como os Deuses Demônios e os Dragonlords. Se for como
diz... eu não acho que poderia vencer um monstro tão poderoso também.”

“É. Eu não sei o tanto que ficou mais forte, mas de uma coisa eu sei, nem você consegue
derrotar aquilo. Ela vive num mundo que a gente nunca vai alcançar. Mesmo se a gente
for junto, no máximo vai ser pra prolongar a batalha de segundo pra dois.”

“Você não deveria estar me confortando e dizendo; vamos dar conta, ou algo assim?”

Reclamou Gazef. No entanto, Brain disse em tons severos:

“Gazef. Você tem seu dever de proteger à Família Real como o Capitão Guerreiro do
Reino. Se um dia encontrar ela, não invente de desafiar, só ignore e torça pra ela não te
ver. Não jogue sua vida fora a troco de nada.”

“Agradeço o conselho. Mas se esse monstro chamado Shalltear atacar o Reino, vou jogar
minha vida fora com orgulho, mesmo que tudo o que faça seja comprar algum tempo.”

Que tempo ele poderia comprar? Gazef ficaria impotente diante dela, a menos que ela
quisesse brincar.

Mesmo assim, Brain começou a sentir que Gazef poderia ser capaz de fazer, mesmo que
fosse apenas para comprar algum tempo.

“Não vá se esquecer do nome, é Shalltear— Shalltear Bloodfallen.”

Depois que Brain descreveu sua aparência mais uma vez, Gazef assentiu gravemente.

“Tá, entendi. É melhor que me diga novamente quando o efeito do vinho passar, só por
precaução. Vou tratar de aprender o máximo que puder sobre ela também.”

“Não sei se ficar estudando ela vai servir pra algo. Contra ela, é inútil.”

Capítulo 7 Preparações Antes do Ataque


5 0
“Se sabemos que uma tempestade está chegando, não é melhor tomar providência? Me-
lhor do que ficar sentado esperando um milagre. Podemos até conseguir algo bom se
juntarmos pessoas inteligentes.”

“Quem dera se fosse simples assim.”

“Não sou próximo dele, mas conheço um aventureiro adamantite ousado. Ele deve ser
capaz de inventar algo útil... mas enfim, o que planeja fazer no futuro, Brain?”

As sobrancelhas de Brain se entrelaçaram com essa pergunta. O que ele deveria fazer?

Seus olhos inconscientemente olharam para sua amada Katana ao lado da mesa.

Um apego persistente.

Em última análise, era apenas isso que significava. Independentemente de quanto ten-
tasse, ele nunca será capaz de vencer aquele monstro. Seu sonho de se tornar o maior
espadachim estava em ruínas. Ele desperdiçou sua vida por nada.

A partir de agora, ele teria que manter os pés firmemente no chão e viver sua vida cor-
retamente.

Foi apenas um sonho infantil...

“O que devo fazer, huh... trabalhar numa fazenda, que tal?”

Ele nascera em um vilarejo agrícola e, embora tivesse perdido a prática da agricultura,


o conhecimento ainda permanecia nos recantos de sua mente. A única outra coisa que
ele sabia além disso era esgrima. Analisando por outras palavras, ele viveu uma vida
muito focada.

“Agricultura... ah, não é ruim, mas... E que tal se... por que não serve a nação comigo?”

Brain não achou que fosse uma má idéia. Ele pode não ser capaz de vencer aquele mons-
tro chamado Shalltear, mas ele se considerava bastante capaz em termos de habilidade
em escala humana. Contudo—

“Eu não sou dos mais sociáveis, esse negócio de ficar se curvando e puxando saco não é
comigo.”

“Bem, eu não me curvei e nem puxei tanto saco assim...”

“Ah, desculpe. Eu não tava tirando sarro. Só que essa parada de servir a côrte me fez
pensar nesse tipo de coisa... Na verdade, acho que é uma boa idéia, Gazef. Lutar pelos
outros... é só isso! Ei, Gazef, conheci um garoto chamado Climb.”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


5 1
“Climb? O que tem a voz rouca?”

Gazef fez “Ohhhhhh” quando viu Brain acenar com a cabeça.

“Onde conheceu ele? Eu pensei que ele era o guarda-costas da Princesa, é difícil ele não
estar ao lado dela...”

“Eu o vi quando treinava rua.”

“Na rua, huh...? Bem, ele é esforçado, mas não tem talento. Não acho que vai ficar mais
forte do que é agora. Tudo que o resta é treinar o corpo e melhorar os atributos físicos.
Era isso que ele fazia lá? Vou dar umas dicas extras para ele depois.”

“Hm — é como diz... ele não tem talento pra esgrima. Mas em partes, ele é mais forte
que eu.”

O olhar no rosto de Gazef parecia dizer “Está falando sério?”.

De fato, Brain era muito mais habilidoso do que Climb e mais talentoso também. Entre-
tanto, Brain sabia que essa discrepância não significava nada em face do verdadeiro po-
der, e então sentiu que menosprezar Climb seria hipocrisia de sua parte.

Em vez de discutir sobre uma diferença tão insignificante, Brain sentiu que a forte von-
tade de Climb — que resistira à intenção assassina do poderoso Sebas — era realmente
digna de elogios.

“Quando ela acabou comigo, só pensei em fugir. Mas o Climb nunca fugiria se tivesse
que proteger alguém. Ele escolheria lutar. Talvez um homem como ele... até consiga cor-
tar a unha daquele monstro.”

Brain não prestou atenção à expressão confusa de Gazef. Em vez disso, explicou gros-
seiramente os eventos do dia; em outras palavras, o ataque ao bordel da Oito Dedos.

“Certo... Então você e o Climb... entendi.”

“Se achar que isso vai te trazer problemas eu vou embora, sem ressentimentos. Quero
dizer, analisando a situação, ter alguém como eu, que entra e sai da sua casa, envolvido
com problemas do submundo, é meio quê... né?”

“Não, não mesmo. Sabe, eu prefiro que venham aqui... aqueles desgraçados são vermes
que infestam o Reino. Eu gostaria muito de abrir caminho até o quartel deles.”

“A Oito Dedos é tão ruim assim pro Reino?”

“Essa gente me dá ânsia de vômito. Eles controlam a maioria das sociedades secretas
do Reino e lucram em cima delas. O dinheiro e os benefícios vão para os nobres, eles

Capítulo 7 Preparações Antes do Ataque


5 2
fazem vista grossa e permitem que esses bandidos andem impunemente pela sociedade.
Se tentamos prendê-los, os nobres nos interferem, ficamos de mãos atadas. A única ma-
neira de machucá-los é fazendo o que você fez, Brain. Precisamos invadir seus esconde-
rijos com cuidado, trazer seus atos criminosos à luz do dia e fazer um grande escarcéu.
Esses caras são mais influentes que a maioria dos nobres, então se falharmos, as conse-
quências serão severas.”

“Vocês não dão uma dentro, então?”

“Isso aí. Então, espero que isso que fez os enfraqueça. Mas infelizmente, isso é muito
improvável.”

“Você não pode pedir ao Rei pra emitir um decreto real ou algo assim?”

“Os nobres que se opõem a ele interferem nos bastidores, então não funciona. E eles
têm aliados nas duas facções, o que torna as coisas ainda mais complicadas.”

Quando o ar pairou pesadamente sobre a mesa, os dois beberam o vinho em silêncio e


pegaram a comida.

Parte 2

4º Dia do mês Baixo Fogo (9º mês) - 07:14

As integrantes da Rosa Azul haviam entrado na fortaleza no início da manhã. Cada uma
carregava um saco grande, que fizeram ruídos metálicos quando colocados no chão. Os
sacos continham todos os seus equipamentos, afinal, entrar no Palácio Real trajado para
guerra não era muito apropriado.

Depois de se livrar da bagagem pesada, o grupo rodeou os ombros. Renner olhou gen-
tilmente para elas, e sua líder de equipe, Lakyus Alvein Dale Aindra, perguntou:

“Vai ter algum dever de princesa para exercer mais tarde?”

Renner quase não tinha influência, mas ela ainda tinha suas responsabilidades como
princesa.

“Não se preocupe. São assuntos que podem esperar. Vai ficar bem.”

“Aha~”

Uma expressão maliciosa surgiu no rosto de Lakyus. Da mesma forma, Renner respon-
deu com um olhar travesso, que então se transformou em riso desenfreado.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


5 3
“Lakyus. Quando estiver pronta, gostaria que você cuidasse desse assunto o mais rápido
possível.”

“Por quê? Ontem disseram que atacaríamos um local por vez. Não vai ser assim?”

Perguntou Evileye, a magic caster mascarada.

Ela não havia removido a máscara que escondia seu rosto nem mesmo no Palácio Real.
Ela não havia sido censurada por uma roupa tão suspeita pois era uma aventureira ran-
que adamantite, a elite da humanidade, e também porque sua líder de equipe, Lakyus,
era um membro da nobreza.

“Algo inesperado aconteceu ontem à noite, então sinto que precisamos mudar parte do
plano. Acontece que—”

Renner descreveu o ataque dos bordéis da noite anterior.

Climb ficou parado por trás de Renner, e as integrantes da Rosa Azul o olharam com
respeito. Ser respeitado por pessoas tão poderosas o fizera sentir coceira.

Entrar no bordel e salvar as pessoas de seus confins infernais não foi orquestrado e
executado inteiramente por Climb. Ele tinha meramente emprestado a força dos dois
homens. Francamente falando, Climb não fez nada digno de elogios.

Em vez disso, ele se sentiu desapontado consigo mesmo. Ele não havia sido repreendido
por sua ação imprudente, e independentemente disso, o plano não havia sido cancelado,
apenas alterado. Esse fato o deveria fazer sentir-se aliviado, mas por sua vez apenas sen-
tiu que ficou em uma situação mais trágica.

“Mandou bem, virgenzinho!”

“Isso mesmo, a Gagaran tem razão. Apreender um membro do Seis Braços é uma vitória
e tanto.”

“...Rei Undead, Davernoch. Corte Espacial, Peshurian. Cimitarra Dançante, Edström. Mil
Mortes, Malmvist. Diabo das Ilusões, Succulent. E então o líder deles, Demônio de Bata-
lha, Zero.”

Tia recitou tranquilamente cada nome.

“Davernoch é implícito o que ele é. Diz-se que esse tal de Peshurian é capaz de derrotar
até inimigos distantes. Edström pode habilmente usar armas mágicas especiais.
Malmvist é um esgrimista que usa lâmina envenenada, adepto de estocadas. Succulent
já foi apreendido. E Zero dá socos poderosíssimos, se destaca muito no combate desar-
mado. Cada um deles é equivalente a um aventureiro adamantite.”

Capítulo 7 Preparações Antes do Ataque


5 4
“Mmm. Capturar um deles já é uma grande ajuda pra gente.”

“Trabalho incrível, Climb. Ainda assim, foi uma grande sorte que você conheceu o Brain
Unglaus e ele ainda lutou ao seu lado.”

Climb concordou com esses dizeres.

“O Unglaus já duelou com o Gazef Stronoff, então se ele realmente derrotou Succulent
em um único ataque, isso realmente prova a habilidade dele. Mas e o tal mordomo que
mencionou? Estou mais interessada em como ele conseguiu fazer as coisas que disse.”

Comentou Evileye.

“Eu não peguei o endereço do Sebas-sama...”

“...Hm, Climb. Ele não lhe disse porque estava cauteloso, ou você ficou constrangido de-
mais para perguntar... qual dos dois?”

“Ambos, Evileye-sama. Talvez ele dissesse se eu perguntasse. Mas foi o Sebas-sama que
ofereceu ajuda, apesar de que fui eu quem o envolveu nisso, e eu não queria saber de
nada que pudesse causar-lhe problemas.”

“...Hm— você leva as coisas a sério demais.”

“Sem sombra de dúvidas.”

Disseram as gêmeas o medindo da cabeça aos pés.

“Eu só não entendo como nunca ouvi falar de uma pessoa tão incrível antes...”

Com a observação de Evileye, Climb pôde sentir a repentina cautela de todos em relação
a Sebas. Quando estava prestes a responder, Lakyus bateu palmas algumas vezes e o
clima no ar mudou.

“Tudo bem, vamos deixar isso de lado por um momento. Se não fosse por ele, não terí-
amos encontrado a exata localização do bordel e não teríamos capturado o chefe da Di-
visão de Escravatura, Cocco Doll. Tanto Climb, quanto nós, estamos em dívida com ele.”

“É isso mesmo, Lakyus. Então, Princesa. Você disse que mudaria parte do plano. Isso
significa que atacaremos um novo local?”

“Sim, Evileye-san. Eu estava esperando atacar vários pontos de uma vez por hoje e levá-
los ao chão de uma vez. Eles vão ganhar se demorarmos muito.”

O ambiente estava em silêncio.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


5 5
Apenas a Rosa Azul participaria dessa operação. Elas insistiram em tomar os alvos um
após o outro devido a essa falta de mão de obra.

“Er, mas Princesa. Eu acho que deixamos claro antes, mas não temos pessoas suficientes.
Alguém concordou em nos ajudar no meio da noite? Não podemos contratar aventurei-
ros para isso, podemos?”

Um dos pilares da fundação da Guilda dos Aventureiros era defender a humanidade


contra ameaças externas. Assim, havia uma regra não escrita na guilda de que eles nunca
se envolveriam em disputas entre humanos. Caso contrário, as Guildas de Aventureiros
de vários países não seriam capazes de ultrapassar as fronteiras nacionais e ajudar-se
mutuamente.

Portanto, se a Guilda julgasse que seu envolvimento em determinado assunto resultaria


em seu envolvimento com uma rivalidade perpétua, eles pressionariam seus aventurei-
ros a cumprir essa regra não escrita. Isso se aplica mesmo a intervenções onde vidas
estivessem em jogo. A pressão que a Guilda podia aplicar incluía advertências, desesti-
mulando trabalhos futuros por nome e, no pior dos casos, expulsão da Guilda.

Como resultado, houve alguns aventureiros que se envolveram em atividades ilegais,


tornando-se parte de grupos conhecidos como Trabalhadores. Além disso, havia rumo-
res de que a Guilda empregava assassinos particulares para perseguir aqueles que vio-
lassem as regras consecutivamente.

A Rosa Azul ter começado sua oposição à Oito Dedos foi uma clara violação dessa regra
não escrita, mas como eram aventureiras no pináculo da humanidade e sem dúvida re-
presentantes da Guilda, não havia como serem expulsas. Assim, suas ações receberam
aprovação tácita. Entretanto, a única razão pela qual tinham sido perdoadas por essa
transgressão, fôra devido a serem elas a fazê-lo.

“A coisa mais estúpida que podemos fazer é envolver a guarda da cidade para aumentar
nossos números. Essa gente tem muitos na folha de pagamento. Tudo o que podemos
fazer é deixar para que limpem o que sobrar. Caso contrário, haverá problemas.”

“O mesmo que contratar tropas das famílias nobres. Não podemos pedir ajuda quando
não sabemos quem se deita com o inimigo.”

“Hmph. As únicas pessoas em quem podemos confiar são o Stronoff e os homens leais
a ele— não... nem sabemos quantos de seus guerreiros podem ser confiáveis.”

“Levando pelo lado prático, sim. Enfim, não há muito que possamos fazer, não sabemos
exatamente até onde a influência dos nossos inimigos vai. Ainda assim, se não fizermos
nada além de investigar, o Reino vai acabar desmoronando. Não podemos remediar o
problema quando temos pedidos de ajuda de todos os lados.”

Capítulo 7 Preparações Antes do Ataque


5 6
Renner assentiu quando ouviu as reclamações de Lakyus.

A interferência do Império só agravou o tumulto dentro do Reino, e a corrupção era


como uma doença lentamente matando seu hospedeiro. Climb estreitou os olhos, como
se tivesse vislumbrado o sol; afinal de contas, sua amada mestra insistia em lutar apesar
das terríveis circunstâncias. E novamente, Climb percebeu que ela era a única capaz de
governar o Reino e conceder felicidade às massas, sua lealdade para com ela se fortale-
ceu ainda mais.

Contudo, havia aqueles que não entendiam esse ponto e decidiram que tudo o que a
princesa tinha que ser era uma decoração — seu único propósito era posar e cuidar da
beleza. Climb fervia de raiva contra essas pessoas — principalmente os nobres — e suas
mãos se fecharam em punhos.

A voz adorável de Renner filtrou em seus ouvidos e dispersou sua raiva, e ele mais uma
vez se comprometeu em ouvir a conversa.

“Você está certa. Por isso, pensei em pedir ajuda a um nobre de confiança.”

“Conhece nobres confiáveis, Princesa?”

“Conheço sim, Evileye-san. Não há muitos, mas eu conheço alguém em quem se pode
confiar.”

“Ah, e quem seria, Renner? Não duvido do seu julgamento, mas não faz sentido que se-
jam confiáveis se não puderem fazer nada por nós. Também não há garantia de que será
capaz de reunir tropas suficientes de seu domínio.”

“Eu não acho que seja um problema. Além disso, o Capitão Guerreiro estará envolvido.”

“Assim é aceitável.”

“Uhum, o Capitão Guerreiro é um homem confiável. Ou melhor, se ele estivesse em con-


luio com a Oito dedos, poderíamos dar adeus a qualquer esperança.”

“Climb, vá chamar o Marquês Raeven, por favor. Ele estava presente na última reunião,
é bem provável que ele ainda esteja na Capital Real.”

“O Marquês? Eu o vi na companhia do Príncipe...”

Certamente. Marquês Raeven correspondia a todos os critérios para o homem de que


precisavam... exceto por sua confiabilidade.

Ele fazia parte dos Seis Grandes Nobres, aqueles cujos bens, entre outras coisas, supe-
raram os de outros nobres com vasta vantagem. No entanto, não havia provas de que

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


5 7
Raeven não estivesse em conluio com a Oito Dedos. Até era de se supor que sua riqueza
pode ter sido o resultado do suborno da Oito Dedos.

No entanto, Climb prontamente rejeitou essa noção.

Renner — sua mestra, a mais sábia de todas as mulheres e a que mais merecia respeito
— havia escolhido esse homem. Sendo esse o caso, Marquês Raeven certamente era con-
fiável.

No entanto, em contraste com Climb, as integrantes da Rosa Azul pareciam desconten-


tes.

“Ei, ei, Princesa. Tem certeza que dá pra confiar nesse tal Marquês aí?”

“Dizem por aí que o Marquês Raeven é como um morcego.”

“Sim, um morcego que vai e volta entre as Facções Real e Nobre. Tudo o que ele faz é
para benefício próprio, é bem provável que o dinheiro sujo da Oito Dedos mova seus
interesses.”

“Eu não quero que ele vaze informação sobre nós, Princesa.”

Quando a desaprovação foi despejada em pratos limpos, um alto bater de palmas cortou
o ar. Lakyus o fez.

“...Já chega, todas vocês! Ahhh, Renner, não posso negar que o Marquês Raeven não dei-
xou uma boa impressão em mim. Ele é realmente confiável?”

“Eu não posso garantir isso. Inclusive acredito que ele recebeu dinheiro da Oito Dedos.”

Eh!?

Todos os presentes ficaram surpresos, e tinham olhares confusos em seus rostos. No


entanto, alguém ponderou uma possibilidade e perguntou:

“Está tentando espalhar informações falsas para manipular o inimigo?”

“Poderia dizer que haverá assassinatos. Espalhe notícias que há um velho que é um as-
sassino renomado, isso deve desviar a atenção do pessoal da segurança.”

Renner negou a sugestão de assassinato.

“Não é isso, Tina-san e Tia-san. Eu acredito que algumas pessoas não ajudarão à Oito
Dedos mesmo se forem pagas, entendeu? Podem puxar minha orelha se isso se provar
um erro... Climb. Vá buscar o Marquês Raeven. Ele deve estar disposto a me encontrar

Capítulo 7 Preparações Antes do Ataque


5 8
uma vez que conte a ele sobre a destruição do bordel e a captura do traficante de escra-
vos.”

Os olhos de Climb se moveram, verificando a luz do lado de fora da janela. O sol da ma-
nhã estava quase ofuscando, e pareceu um pouco cedo acordar alguém. No entanto, não
se podia esperar que um dos Grandes Nobres estaria sempre à disposição, por isso, a
melhor oportunidade seria marcar uma reunião quanto antes.

“Devemos mesmo falar sobre a captura do chefe do tráfico de escravos? Como seu servo,
acredito que talvez seja melhor manter isso em segredo por enquanto.”

Renner respondeu que precisava jogar esse trunfo para forçar uma audiência, mas cer-
tamente nem mesmo um Grande Nobre poderia recusar o chamado de uma Princesa.
Concluiu Climb, que achava melhor guardar isso para um ás na manga.

Renner negou a opinião de Climb.

“Precisamos colocar as coisas a limpo se quisermos que ele esteja do nosso lado. Fazer
isso será a melhor prova de que confiamos no Marquês.”

Não me admira. Climb assentiu e depois se curvou respeitosamente.

“Seu servo entende. Então, convocarei o Marquês Raeven imediatamente.”

“Por favor o faça, Climb. Bem, como isso vai levar algum tempo, vamos tomar chá?”

♦♦♦

4º Dia do mês Baixo Fogo (9º mês) - 09:37

A equipe Rosa Azul acreditava que levaria algum tempo até que o Marquês Raeven com-
parecesse. Elas estimaram que ele viria por volta do meio-dia.

Por ser um nobre, ele tinha um cronograma fixo a cumprir, que consistia em grande
parte em encontrar-se com outros nobres. Se o Rei o convocasse para uma audiência ele
iria imediatamente, mas no fim, Renner era apenas uma princesa sem influência. Ela es-
taria no inferior da lista de prioridades de Raeven.

Portanto, quando Climb retornou mais cedo do que o esperado, todas pensaram por um
momento que ele havia sido acossado à volta. Assim, elas tiveram que fazer um grande
esforço para esconder os olhares de surpresa quando viram as formas de dois homens
atrás dele.

Um deles era, claro, Marquês Raeven.

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Sua aparência era, em uma palavra, impecável. Suas roupas justas eram feitas de pele
de algum animal raro — possivelmente alguma besta mágica — e costuradas com fios
de ouro formando padrões bem trabalhados. O bordado em torno de sua gola e seus bo-
tões da frente era de acabamento requintado, além disso, era certo que os mesmos ti-
nham minúsculas gemas engastadas neles, dada a maneira como captavam e refletiam a
luz.

Seu colarinho alto escondia completamente seu pescoço esguio. Essa era uma roupa de
primeira classe, que era inegavelmente adequada à sua pessoa. Ele era a própria imagem
de um membro dos Seis Grandes Nobres do Reino.

E então havia um homem ligeiramente rechonchudo.

Quando Renner o viu, ela exclamou em surpresa:

“Onii-sama!”

“Olá. Se não é minha irmã de outra mãe. Você parece bem... oh, e veja só quem temos
aqui, Alvein, a renomada Rosa Azul. Que maravilha. E pensar que nos depararíamos com
tantas aventureiras adamantite aqui.”

O homem que viera sem ser convidado se dirigira a todos com uma voz alegre não era
outro senão o Segundo Príncipe, Zanac Valleon Igana Ryle Vaiself.

Lakyus fez uma reverência para ele e Zanac respondeu com um grande aceno de mão.

“Ouvi dizer que seria uma conversa sobre algo muito interessante, então vim ver do que
se tratava.”

“Eu vim em resposta à convocação de Renner-denka.”

“Sim. Obrigada por se dar ao trabalho de vir, Marquês Raeven. Por favor, levante a ca-
beça.”

Renner levantou-se de seu assento quando viu seu irmão mais velho — um com status
mais elevado do que ela — fazendo sua entrada.

Marquês Raeven tinha um sorriso frio no rosto enquanto se endireitava.

Seu sorriso era muito sinistro, e isso fazia as pessoas pensarem que ele era muito as-
sustador. Todavia, por alguma razão, parecia perfeitamente adequado para ele. Isso não
desagradou os olhares de quem o observava.

“Então, quanto aos demais, se importariam em ir para a sala adjacente por um tempo?”

Capítulo 7 Preparações Antes do Ataque


6 0
“Entendido, Onii-sama. Lakyus, Climb, me desculpem, mas poderiam ir até a porta ao
lado?”

“Claro.”

Com essa resposta curta, Lakyus indicou que suas colegas deveriam recolher seus equi-
pamentos. Elas provavelmente iriam se equipar na sala ao lado para evitar perder tempo.

As cinco integrantes da Rosa Azul e Climb concordaram em uníssono antes de entrarem


na sala adjacente. Depois que os assistiu sair, Renner pediu que as duas pessoas restan-
tes se sentassem.

“Por favor, sente-se aqui.”

“Sim, Renner-denka.”

“Claro, irmãzinha.”

Um deles se jogou no assento, enquanto o outro se acomodou graciosamente. Renner


serviu uma xícara de chá e colocou-a diante de Raeven.

“Estou honrado que Vossa Alteza pessoalmente me sirva uma xícara de chá.”

“Pode estar um pouco frio. Espere que me perdoe.”

“Ei ei ei, onde está o meu?”

Zanac olhou infeliz para os dois apreciadores de chá.

“Ah, mas onii-sama, pensei que não gostava de chá, estava errada?”

“Verdade, eu não sou fã de água colorida. Ainda assim, parece que algo está faltando se
eu não tiver nada para molhar minha garganta.”

“Então farei com que a empregada traga alguma coisa. Suco de frutas serve?”

“Chá já basta. Não há necessidade de deixar notícias vazarem.”

“Eu duvido que as empregadas terão tempo para relatar a suas famílias se fizermos
nossa jogada ainda hoje.”

“É, mas você deve ter cuidado. As mulheres têm mania de falar demais, afinal. Em par-
ticular, as empregadas que servem no Palácio Real, o dom delas é espalhar fofocas
quanto antes.”

Renner sorriu, depois serviu uma xícara de chá e colocou-a diante de Zanac.

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6 1
“...Hmph. Então já fez uso da rede de inteligência das empregadas, não é?”

“O que quer dizer?”

“Ah, não é nada.”

Com isso, Zanac tomou um gole de chá.

“Ack, que amargo”, disse ele enquanto mostrava a língua.

“Ainda assim, Vossa Alteza. Qual é o assunto que precisa ser discutido tão cedo? Dito
isto, seu servo agirá o mais rápido possível. Apenas precisa dizer o que fazer.”

“Obrigada. Então serei direta já que o tempo está apertado. Eu desejo seu intelecto em-
prestado.”

♦♦♦

Depois de tossir brevemente, ela não perdeu tempo em chegar ao que desejava.

Os olhos estreitos do Marquês Raeven se abriram ligeiramente, cheios de surpresa. No


entanto, ele se recuperou quase instantaneamente e escondeu sua consternação.

“Meu intelecto, hm. Já que é a Vossa Alteza que pede... mas seu servo teme que ele não
será capaz de corresponder às suas expectativas.”

“Eu acho que vai se sair bem. Afinal, duvido que alguém seja mais capacitado em assun-
tos da côrte, Marquês Raeven.”

Marquês Raeven e o Príncipe trocaram olhares.

Nas lutas pelo poder político, Renner raramente se envolvia. Então, o que ela quis dizer
com “assuntos da côrte”?

Marquês Raeven sorriu sem jeito. Ele sabia muito pouco, e pensar muito sobre o as-
sunto só levaria a uma conclusão estranha. Isso era óbvio. Ele decidiu adiar sua decisão
até aprender mais.

“E o que gostaria que seu servo dissesse?”

“Eu gostaria de perguntar se alguém como você, como um defensor secreto da Facção
Real — ou melhor, como aquele que mantém toda a Facção Real unida — poderia mobi-
lizar as forças da facção.”

“Huh!?”

Capítulo 7 Preparações Antes do Ataque


6 2
Dado o olhar no rosto do Marquês Raeven, alguém poderia ser perdoado por pensar
que um encantamento de repente tinha sido lançado na frente de seu rosto. A maioria
das pessoas que presenciasse isso ficariam chocadas, pois Marquês Raeven dificilmente
deixava transparecer suas reações.

Ainda assim, sua reação foi compreensível. Qualquer outro nobre poderia rir disso, mas
essa era uma verdade até então oculta.

As pessoas pensavam que Marquês Raeven era como um morcego, voando de um lado
para o outro, mas a verdade era que ele estava guiando a Facção Real e afastando quais-
quer conflitos em potencial que pudessem rachar o país em dois. Sua cruzada pessoal foi,
em maior parte, para manter o país inteiro.

O Reino teria desmoronado há muito tempo sem alguém como Raeven por perto.

Zanac respirou fundo.

Ele já havia percebido que Renner, com seu intelecto inimaginável, era como um lobo
em pele de cordeiro. Entretanto, ela era como uma prisioneira no Palácio Real, sem olhos
para ver, ou mãos para agir sob sua vontade. Como ela entendera a verdade nessas cir-
cunstâncias? Ninguém mais no Reino sabia a resposta além de Zanac.

Ambos chegaram a suspeitar que ela estava apenas blefando, mas rejeitaram essa pos-
siblidade quase imediatamente. Renner falou como se explicasse um fato mundano. Am-
bos sabiam muito bem identificar falsidades por trás de sorrisos, mas a atitude de Ren-
ner não parecia uma encenação. Nesse caso, como exatamente ela descobriu sobre isso?

Renner parecia pensar que uma explicação adicional era bem-vinda. Ela ignorou a ex-
pressão chocada do Marquês Raeven e calmamente continuou:

“...Ou melhor, talvez eu devesse ter perguntado a um dos dois membros da Facção Real,
mas o Marquês Blumrush tem secretamente transmitido informações ao Império, não?
Isso significa quê...”

“C-como é...?”

“Um momento por favor, Vossa Alteza!”

Zanac murmurou com voz rouca, mas os olhos de Raeven se abriram e ele gritou.

“Marquês Blumrush...”

“Já sabia, não é? Afinal, não foi por isso que tentou impedir que o ilustríssimo Marquês
soubesse demais?”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


6 3
Os dois ficaram olhando Renner sem dizer uma palavra.

Tudo que viam era uma linda garotinha, que calmamente disse: “Estou errada?”

“Você é...”

Marquês Raeven foi tão dominado que esqueceu de se dirigir a ela como “Vossa Alteza”.

Todas as suposições de Renner estavam corretas.

Apenas Zanac e Raeven sabiam que o Marquês Blumrush, um Grande Nobre da Facção
Real, havia traído o Reino. Eles mantiveram silêncio sobre sua traição para prevenir que
o equilíbrio entre as facções se desfizesse.

Marquês Raeven tentava desesperadamente manter isso longe da Facção Nobre e in-
ventara todo tipo de esquemas para impedir que o Império soubesse disso. Seus esforços
deveriam ter sido perfeitos, isso era o que ele pensava até agora.

Zanac só sabia disso porque Raeven lhe dissera. Então, como um canário enjaulado des-
cobriu isso? Ao imaginar, Zanac ficou arrepiado.

“C-como você descobriu...”

“Só escutei uma coisinha aqui, outra ali. Às vezes as empregadas cochicham por aí.”

Quão confiáveis eram as fofocas das empregadas?

Uma opinião inacreditável encheu a mente de Raeven.

E então, depois de filtrar suas memórias, ele pôde concluir que, o que Renner disse —
o que havia aprendido através das fofoca de empregadas — tinha uma precisão absurda.
A garota diante dele havia peneirado uma montanha de detritos e garimpado os diaman-
tes brutos, e ainda os transformara em um colar de pedras preciosas.

Assim sendo—

“—Monstro.”

Ele entoou em voz baixa a palavra que mais fazia jus a mulher conhecida como Renner.

Foi alto o bastante para Renner ouvir, mas tudo o que ela fez foi sorrir, sem repreender
o Marquês Raeven por sua grosseria. Ele abandonou a linha de pensamento que vinha
seguindo até agora.

Ela merecia ser tratada com tal honestidade. E suas lembranças do passado estavam
corretas.

Capítulo 7 Preparações Antes do Ataque


6 4
“—Seu servo entende. Então, eu proponho entregar meu coração a ti. Se opõe, Meu Prín-
cipe?”

Depois de ver Zanac acenar com a cabeça, Marquês Raeven se endireitou e olhou Ren-
ner no rosto. Sua atitude agora parecia bastante similar a Gazef quando juramentou sua
espada.

“Contudo, antes disso, seu servo deseja dirigir-se à verdadeira Renner-denka. Seria pos-
sível?”

“O que quer dizer?” Renner perguntou inocentemente, como se não tivesse idéia do que
estava acontecendo.

“Há muito tempo, seu servo testemunhou os dizeres de uma menininha. Foi incrível
como ela falou palavras de sabedoria sem igual. No entanto, seu servo demorou muito
para entender o significado e o valor daquelas palavras.”

A voz do Marquês Raeven ecoou pela sala silenciosa.

“...Era uma menina cujas palavras desafiavam a compreensão. Quando seu servo viu
essa menina, que era vista como incompreensível pelos outros, por um momento fugaz,
seu servo viu uma pessoa perigosa.”

“Perigosa?”

Renner perguntou calmamente.

“Sim. Seu servo apenas viu de relance. A princípio, inclusive, pensou não ter passado de
imaginação. Foi um olhar vazio... tão vazio que não se importava com o mundo, pois des-
prezava todos que viviam nele.”

O clima na sala era muito diferente de antes, e um calafrio pareceu se espalhar pelo ar.
Marquês Raeven encolheu os ombros como se quisesse se proteger.

“No entanto, após um piscar de olhos, tudo o que viu foi uma tenra criança com a mais
pura aura de inocência. Naquela época, seu servo acreditava que estava enganado... por-
tanto, Vossa Alteza. Eu queria saber se poderia me mostrar sua verdadeira natureza,
perfeitamente escondida de todos nós.”

Ambos olharam um para o outro. Parecia que um par de serpentes estavam se contor-
cendo e lutando entre si.

E então, os olhos de Renner perderam o brilho.

Marquês Raeven sorriu friamente, como se tivesse visto algo nostálgico.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


6 5
“Ah, como eu pensava, era esse mesmo...”

Zanac começou a suar frio enquanto sua irmãzinha, que tinha um sorriso puro e adorá-
vel em seu rosto, de repente se transformou em um monstro assustador. Não, na verdade,
ele já havia sentido seu rosto verdadeiro nojento sob sua linda aparência. No entanto,
ele havia suposto que Renner desejava tomar o poder para si, ou até mesmo destruir o
Reino que a mantinha prisioneira.

Ela não era como ele; ela era algo a mais.

“Como eu esperava, Renner-denka. Os olhos de Vossa Alteza são como os que eu re-
cordo de minha memória. Estava apenas fingindo todo esse tempo?”

“Não, Marquês Raeven. Eu não estava fingindo. Na verdade, estou satisfeita.”

“...Vossa Alteza talvez se refira ao seu soldado, Climb...?”

“Ah, sim. Tudo isso graças ao meu Climb.”

“Minha nossa. E pensar que aquele garoto poderia realmente mudar a Vossa Alteza...
seu servo pensava nele como nada mais que uma — uma criança.... O que ele significa
para Vossa Alteza, se é que posso perguntar?”

“Diz o meu Climb...?”

O olhar de Renner vagueou, olhando para o ar. Ela estava pensando em quais palavras
poderia usar para descrever seu valor aos presentes.

♦♦♦

Renner Theiere Chardelon Ryle Vaiself.

Se houvesse apenas uma palavra para resumir todo o seu ser, essa seria “Dourada”. Essa
palavra derivou de sua beleza ofuscante. No entanto, muito poucas pessoas sabiam que
ela possuía talentos que superavam até mesmo sua boa aparência.

Seus talentos estavam no pensamento, perspicácia, observação, inovação, compreensão


e afins. Todas as suas faculdades mentais eram anormalmente bem desenvolvidas — em
outras palavras, ela era um gênio.

Ser abençoada com tal intelecto só poderia ser descrito como um presente dos céus.
Suas deduções pareciam vir de lampejos de inspiração para os outros, mas a verdade é
que foram reunidos a partir de inúmeros fragmentos dispersos de informações, reuni-
dos por seus extraordinários poderes de observação.

Capítulo 7 Preparações Antes do Ataque


6 6
Com toda probabilidade, ninguém no continente poderia se igualar às suas habilidades
mentais.

Se alguém fosse pressionado a encontrar um igual para ela, então teria que olhar além
da raça humana. No entanto, muito poucas entidades estavam em seu nível, mesmo en-
tre esses seres sobre-humanos.

Em Nazarick, apenas Albedo — a Supervisora Guardiã que podia administrar os vassa-


los de cada Andar — bem como Demiurge —possuidor de um intelecto diabólico que
ultrapassava o conceito de competente em todos os aspectos da administração nacional,
militar, interna e externa — podia ser considerado a par com ela.

Os seres humanos muitas vezes consideraram as questões de suas próprias perspecti-


vas. Desse ponto de vista, pode-se dizer que pessoas “estranhas” ou “prodigiosas” eram
meramente rótulos aplicados pelos plebeus.

♦♦♦

Dito isto, ela tinha uma falha. Ela não conseguia entender o porquê entendia essas coi-
sas, mas outras não. Talvez alguém em seu nível pudesse apreciar o quanto ela real-
mente era dotada. Se fosse esse o caso, o resultado provavelmente teria sido diferente.

No entanto, não havia ninguém assim por perto.

No final, quando uma menininha falava de coisas que deixava quem as ouvia sem jeito,
a reação natural era o medo. Renner era muito fofa quando criança e por isso não era
odiada. Em vez disso, foi mimada até demais. Mas o fato de ninguém entender o que ela
dizia teve um efeito extremo em seu desenvolvimento mental. O coração da menina co-
meçou a deformar-se com o passar do tempo.

Talvez seja mais fácil descrever esse fenômeno como “a solidão do gênio”.

Presa em um ambiente onde não havia mais ninguém como ela, o estresse que teve que
suportar aumentou sem encontrar limites. Por um tempo, ela nem mesmo conseguia se
alimentar; vomitava tudo o que comia.

Aqueles que viram a princesa ficar mais magra e anoréxica a cada dia sentiam que ela
não demoraria muito para deixar esse mundo.

Se não fosse por ter adotado um cachorrinho, essa previsão poderia se tornar realidade.
Mesmo que ela tenha suportado de alguma forma, o que retornou ao seu corpo pode
muito bem ser algo como Rainha Demônio. Sendo assim, tomaria decisões através da
lógica fria e matemática, fazendo com que os poucos sofressem em prol de muitos.

♦♦♦

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


6 7
Naquela época, era apenas uma fantasia passageira. Ela havia saído com seus guardas
em um dia chuvoso para levantar o humor, e então a garota encontrou um cachorrinho
que estava morrendo.

O cachorrinho olhou para ela — sua mestra — com uma expressão estranha em seus
olhos.

Que olhar sincero, ela pensou.

A expressão em seus olhos era de reverência inocente.

Ela estava acostumada a outras pessoas que a olhavam como uma esquisitice, e estava
acostumada com pessoas olhando para ela em adoração. No entanto, ela não conseguia
entender o olhar nos olhos do cachorrinho. Naqueles olhos sinceros ela viu repulsa, sur-
presa, prazer, emoção e— um ser humano.

De fato, naqueles olhos, ela viu um ser humano como ela.

O cachorrinho que a menina pegou se tornou um menino e depois um homem.

E mesmo depois de se tornar um homem, aqueles olhos espreitavam através dela com
a mesma pureza ofuscante.

Todavia, já não a incomodava.

Graças àqueles olhos, ela podia falar com os outros como uma pessoa normal. Ela po-
deria coexistir com as formas de vida inferiores e vulgares ao seu redor.

Agora, o mundo de Renner estava completo desde que Climb estivesse nele.

“Climb... hm. Se eu pudesse me juntar a ele... Aãn— e se eu pudesse acorrentar o Climb


e cuidar dele como um animal de estimação, ter a certeza de que controlaria cada passo
dele, seria a melhor coisa do mundo.”

O ar ficou ainda mais tenso. Até o Marquês Raeven ficou chocado, isso para não falar de
Zanac, o meio-irmão de Renner.

Eles pensavam que a mulher mais bela do Reino teria apenas uma fantasia infantil. Não,
isso foi apenas uma percepção errada, no fim, não deveriam ter esperado qualquer tipo
fantasia melosa vindo da verdadeira Princesa Renner. Ainda assim, não esperavam que
ela fosse tão longe.

Ela nem mesmo se sentiu consternada ao declarar suas paixões desvairadas. O que ela
disse estava completamente imaculado de qualquer bom senso.

Capítulo 7 Preparações Antes do Ataque


6 8
“Eu, eu entendo. Então essa é a sua verdadeira natureza. Como devo dizer... quando você
era jovem, eu sentia que tinha alguma coisa errada, era como abotoar uma roupa com
algum botão na ordem errada. Mas agora compreendo perfeitamente sua anormalidade.”

“Jura, onii-sama? Não acho que fiz nada de anormal.”

“Não é só continuar com ele? Ninguém vai se opor à Vossa Alteza... não, ainda pode ser
difícil. A menos que tenha ajuda.”

Disse Marquês Raeven.

“Claro que será. Vai ser muito difícil realizar meu sonho, mantendo a fachada de prin-
cesinha tola... mas também não quero forçar nada. Eu quero acorrentá-lo e cuidar dele
como um cachorro, quero que ele olhe para mim com aqueles olhos...”

Poucas pessoas gostavam de ouvir sobre os fetiches sexuais alheios. Marquês Raeven
não pôde deixar de querer cambalear alguns passos para trás depois de entrar em con-
tato com a alma da mulher chamada Renner.

“Como um cachorro...? Significa que não o ama, Vossa Alteza?”

Renner virou um olhar incrédulo e desdenhoso para o Marquês.

“Mas é claro que eu o amo! Eu amo o jeito que ele me olha. E eu amo o modo como ele
me segue para onde vou, como um bom cachorrinho.”

“Acho que não entendi bem. Mas isso não é amor, irmãzinha.”

“Eu acho que o amor pode assumir muitas formas.”

“...Mil desculpas, mas acho este tópico muito difícil de seguir.”

“Eu não preciso que me entenda. Desde que saiba o quando eu o amo e me importa com
ele, já me dou por satisfeita.”

Ela é doida...

Eles tinham noção que sua mente era distorcida, mas não esperavam que fosse a tal
ponto.

Os dois olharam um para o outro, diante dos olhos da princesa com a mente anormal.
Ambos ficaram sem saber o que fazer.

Eles ouviram que a Princesa havia se apaixonado por um soldado comum e esperavam
que isso se transformasse em uma questão de importância nacional. No entanto, o que
ouviram foi muito mais ridículo do que esperavam.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


6 9
“Bem, esses seus fetiches são—”

“Não é fetiche. É apenas amor.”

Renner parecia estar reprovadoramente interrompendo as palavras de Raeven, e ele


resistiu ao impulso de retrucar.

“Certo, é amor então... tudo bem. Nas atuais circunstâncias, a união de Vossa Alteza com
o Climb... Bem, talvez se ele receber um título digno de ser -kakka, talvez—”

“É impossível. E digo mais, se algum outro nobre sequer sonhar com isso, você se casa-
ria imediatamente com algum herdeiro nobre. Nosso irmão mais velho está envolvido
com a Facção Nobre até o pescoço, tenho certeza que ele vai escolher algum dos nobres
de lá.”

“Eu sei disso, Onii-sama. Se nosso irmão mais velho assumisse o trono, meu casamento
seria a primeira coisa que ele faria. E acredito que já discutiram esse assunto de antemão.
Afinal, há um nobre que fica me olhando como se eu já fosse dele.”

“Seu servo crê que aquele quer sua mão em troca de ingressar na Facção Nobre.”

“Sim. Ainda assim, quando se pensa a respeito, meu sonho de estar com o meu Climb
ainda está longe. Mesmo que receba um título, ele seria um barão na melhor das hipóte-
ses. E mesmo que de alguma forma ele receba um título melhor, jamais deixarão uma
princesa se casar com alguém de berço pobre como ele.”

“Estou plenamente ciente disso. Dado o estado atual do Reino, esse seu sonho não pode
se realizar, não importa quais métodos use.”

Zanac sorriu fracamente. Ele estava certo de que este era o melhor movimento que po-
deria fazer.

“Beeeem, que tal fazer um acordo comigo? Se eu herdar o trono, farei com que você e
Climb se casem.”

“Eu aceito.”

“Isso foi rápido! Tem certeza?”

“Não há razão para recusar. Afinal, essa aposta tem a maior probabilidade de sucesso.
Assim que chegou com o Marquês Raeven, eu pensei em perguntar-lhe a mesma coisa.”

“...Quer dizer que até isso já havia maquinado de antemão?”

Capítulo 7 Preparações Antes do Ataque


7 0
Zanac sorriu amargamente como resposta, mas seu coração reagia diferente de seu
rosto. Embora tivesse adivinhado que sua irmã mais nova era mais esperta do que apa-
rentava, ele não esperava ter sido tão completamente superado por ela.

Quando pensava calmamente sobre isso, não havia necessidade de Renner ser tão ho-
nesta com ele. Não, era compreensível ela ter agido dessa forma para evocar exatamente
essa resposta dele.

Ele amaldiçoou sua irmã em seu coração:

Seu monstro.

“Além disso, Onii-sama... ah, não, isso deve ser uma questão para o Marquês Raeven.”

“O que Vossa Alteza ordena?”

“Marquês, eu acredito que tenha um filho, não é?”

“Tenho sim. Meu filho fez cinco anos este ano. Por quê?”

A imagem do rosto de seu querido filho apareceu na mente de Raeven, e ele lutou contra
o desejo de agarrar suas bochechas. Ele pensou no olhar de nojo de Zanac — que estava
sentado ao lado dele — e com força engoliu o desejo de cantarolar os elogios a seu filho.

“Por favor, me faça esposa dele.”

“Nem pensar! Como eu poderia entregar meu filho a uma mulher como você!?”

Raeven exclamou. Então, ele encontrou o olhar gelado de Zanac, e olhou para o rosto
ainda sorridente de Renner, e ficou envergonhado com sua má conduta grosseira.

“Por favor, por favor, me perdoe, Vossas Altezas! Vosso servo ficou momentaneamente
confuso e...”

Ele tossiu e depois se virou para Renner.

“Vossa Alteza, perdoe a minha intrusão, mas poderia dizer ao seu servo a razão para
isso?”

“Já deveria saber bem o motivo disso, não?”

“Ei, ei, irmãzinha. Você veio com isso, pelo menos expli—”

“Pretende se casar com o filho de seu servo, mas engravidar de Climb. O filho de seu
servo teria um filho com a mulher que ele amar— e esse filho continuaria com o nome
da família. Vossa Alteza, seria sua mãe apenas no nome... minha suposição é correta? É

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


7 1
um bom plano. Vossa Alteza seria capaz de ter um filho com o homem que ama, embora
enganasse a todos, seu servo seria capaz de continuar a linhagem da família.”

“Não tenho o mínimo interesse em terras ou na sucessão. Tudo que preciso é uma esti-
pendia para o meu filho legítimo. Não vou reivindicar sua propriedade familiar.”

“Nesse aspecto, seu servo crê indubitavelmente em ti, Vossa Alteza.”

“...Até o Pai não poderá rejeitar facilmente uma proposta como esta, de um vassalo fiel
como o Marquês Raeven. O Marquesado ganhará a linhagem real e você poderá estar
com o homem que ama. E você será uma de minhas patrocinadoras. Ninguém perde, e
qualquer traição significa que todos nós caímos juntos... ah, é um plano perfeito. Ainda
assim, não deveria estar falando sobre esse tipo de coisa na minha frente...”

“Ara, eu apenas queria ter certeza de que estava do meu lado, Onii-sama. E duvido muito
que ficaria feliz sabendo disso em cima da hora, não é mesmo?”

Zanac não respondeu. Isso porque Renner estava certa. Ademais, ele não poderia recu-
sar uma proposta como essa, onde cada um protegia as fraquezas do outro. Ela poderia
ter um parafuso solto, mas alguém tão excelente quanto ela era um talento indispensável
para o futuro do Reino.

“Enfim, creio que já falamos demais sobre nós mesmos. É verdade que Vossa Alteza se
envolveu com a Oito Dedos? E capturou o chefe envolvido no comércio de escravos?”

“Precisamente. É como Climb lhe disse. Assim, desejo pressionar o ataque antes que a
Oito Dedos recue para as sombras. Como descobri as atividades da Oito Dedos dentro da
Capital Real, desejo atacar esses locais ainda hoje. O único problema é a falta de mão de
obra. Por isso o chamei, Marquês Raeven, porque desejo o empréstimo de suas forças.”

Zanac e Raeven se entreolharam, e Zanac foi o primeiro a falar.

“E quais locais pretende atacar?”

Renner entregou-lhes o pergaminho transcrito e os dois olharam rapidamente.

“E esta informação já foi confirmada?”

“Mas é claro. Eu fiz a Lakyus investigar isso por mim. Acabei de receber relatórios de
onde está cada uma. O problema é que todos os locais estão nos domínios de diferentes
nobres.”

Ainda não era um problema de extraterritorialidade, mas atacar o domínio de um nobre


era essencialmente desafiar o nobre em questão.

Capítulo 7 Preparações Antes do Ataque


7 2
“Creio que não será problema. Se pudermos encontrar provas conectadas à Oito Dedos,
podemos pressionar os nobres.”

“Mesmo que não encontremos, basta insistir um pouquinho. Pelo menos saberemos
onde descartam os documentos que trazem problemas.”

Os três riram. Não havia sinais de entusiasmos em seus risos.

“Então, irmã. Eu tenho uma pergunta; ou melhor, uma sugestão importante.”

Zanac olhou em volta. Esta foi a primeira vez que ele verificou que ninguém mais estava
presente. Em outras palavras, esse era um tópico muito importante, do mais absoluto
sigilo.

“Na verdade, nosso irmão mais velho tem recebido dinheiro de uma das divisões da
Oito Dedos. Eu e o Marquês pretendíamos usar isso para expulsá-lo da sucessão, então
verificamos se essa divisão tinha sedes na Capital Real. Já que agora nos deu a confirma-
ção, eu estava pensando em adicioná-la à lista de alvos.”

“Certamente. Bom que podemos destruir todas de uma só vez. Afinal, quem sabe
quando teremos outra chance como essa se perdermos essa? E qual divisão seria?”

“A de drogas.”

“Isso é um tanto lamentável. Alguns dias atrás, eu fiz com que a Lakyus atacasse três de
seus vilarejos de plantação de drogas. Então precisará fazer sua jogada o mais rápido
possível, ou vão se safar.”

“Quê... tudo bem. Marquês Raeven, pode agir imediatamente?”

“Sem bem complicado. Seu servo está ciente de quais nobres não estão envolvidos com
a Oito Dedos, mas nem todos são confiáveis. Da família, devem existir apenas dois na
criadagem que são limpos. Vou precisar de tempo para convencê-los, mas há outro pro-
blema.”

“E qual seria, Marquês?”

“Nossas forças podem não ser suficientes para superar à Oito Dedos.”

Alguns aventureiros poderosos poderiam enfrentar um exército inteiro sozinhos.

Havia muitas teorias sobre o porquê havia tantos indivíduos sobre-humanos entre os
aventureiros.

A explicação mais confiável era que, sob circunstâncias extremas, o corpo — alguns po-
deriam dizer que o cérebro — se tornaria anormalmente ativo e acionaria um fenômeno

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


7 3
de supercompensação, fazendo com que os parâmetros físicos de uma pessoa aumen-
tassem exponencialmente. Outras explicações incluíram alguma forma de bênção, evo-
lução através da absorção de mana e assim por diante. No entanto, o que todos eles ti-
nham em comum era que os atributos físicos, mentais e mágicos do corpo aumentariam
rapidamente.

Havia maiores chances deste fenômeno de melhoria acontecer quando em batalha com
poderosos inimigos. Dado o fato de que os aventureiros frequentemente enfrentavam
poderosos monstros com habilidades variadas, era muito fácil para eles desencadearem
tais fenômenos.

Se o inimigo tivesse pessoal assim, soldados regulares seriam inúteis contra eles.

“Sua guarda pessoal não deveria ser capaz de lidar com isso, Marquês?”

A resposta de Raeven à pergunta de Zanac foi uma sacudida de cabeça.

“É verdade que são aventureiros aposentados, e todos estão acima do ranque mythril.
Mas acontece que o inimigo também conta com pessoas incrivelmente poderosas. O Seis
Braços é o departamento de ação da Oito Dedos, e cada um deles é considerado o equi-
valente a um aventureiro adamantite. Qualquer um deles em campo traria problemas.
Claro, assumindo que cada um lidaria com um grupo de soldados... enfim.”

“Adamantite...”

A falta de palavras de Zanac era apenas o esperado. Dizia-se que cada um desses aven-
tureiros de alto nível poderia enfrentar mil inimigos e vencer. Poder-se-ia até dizer que
nenhuma quantidade de pessoas normais poderia sequer se opor a eles.

“Então, pedirei à Lakyus que a Rosa Azul se separe e tome a iniciativa, com cada uma
delas ocupando um único local. Deve funcionar se os lugares em questão não tiverem
dois ou mais membros da Oito Dedos.”

“...Seu servo gostaria de lembrar que são apenas cinco Rosas Azuis, mas o inimigo tem
seis, como o nome Seis Braços sugere. Sendo assim, tê-las agindo separadamente pode
incorrer no pecado basal de dividir as forças... embora, eu duvido que todos os seis este-
jam na Capital Real. Se as integrantes da Rosa Azul não se importarem, podemos atacar
cinco locais de uma só vez.”

“Eu gostaria de eliminá-los todos de uma vez, mas isso será difícil. Que pena; todos de
uma só vez seria o melhor resultado.”

O pergaminho de Renner listou sete locais. Incluindo o que Zanac e Raeven sabiam, isso
faria oito alvos. Infelizmente, eles não tinham tanta mão de obra.

“É bem irritante que tenhamos de deixar três alvos, mas estamos de mãos atadas.”

Capítulo 7 Preparações Antes do Ataque


7 4
“Que tal manejar aqueles que terminarem os ataques e direcioná-los para os restantes
três locais?”

“Creio que é a melhor solução. Vossa Alteza, mobilizar tropas na Capital Real será pro-
blemático. Como devemos lidar com isso?”

“Eu falarei com o Pai a respeito. Não se preocupe. Tem coisas que precisamos abrir mão,
não? É um pouco ganancioso da minha parte...”

Só então, houve uma batida na porta.

“Ele chegou.”

As empregadas deveriam ter ido atender a porta, mas hoje elas não estavam por perto.
Portanto, Raeven quem se levantou, mas Renner puxou sua mão para detê-lo antes de
caminhar sem hesitação para a porta e abri-la.

Depois de verificar para ver quem estava do lado de fora, Renner estava toda sorridente
enquanto olhava para os outros dois.

“Temos alguém que pode nos ajudar a atacar o sexto local.”

O homem perplexo que Renner introduziu na sala era o Capitão Guerreiro do Reino,
Gazef Stronoff.

Parte 3

4º Dia do mês Baixo Fogo (9º mês) - 21:00

Climb segurava algo escuro em sua mão. Era um material preto amorfo que já fôra per-
feitamente esférico, mas era tão mole que estava deformado, como se tivesse sido esma-
gado.

Ele pegou essa misteriosa esfera preta, que parecia estar cheia de líquido, e espalhou
sobre si mesmo — sua armadura.

A esfera estourou, sujando a armadura branca de Climb com manchas pretas. Depois de
ver isso, assumia-se que a esfera que Climb acabava de segurar estava cheia de algum
tipo de tinta preta. No entanto, não parou por aí.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


7 5
As gotículas de coloração escura vibraram e começaram a escorrer sobre a superfície
da armadura, cobrindo toda a sua superfície. Em poucos segundos, o branco brilhante
da armadura de Climb ficou escuro, não sobrou sequer um canto prateado.

A esfera que Climb acabara de espalhar sobre si mesmo era um item mágico conhecido
[ T i n t u r a Mágica]
como Magic Dye. Aparentemente, corantes de alta qualidade poderiam resistir ao ácido,
fogo, gelo e outros tipos de danos elementares, mas a única coisa que esse corante espe-
cífico poderia fazer era mudar de cor.

A razão pela qual ele usou isso — foi porque sua armadura branco-prateada era muito
chamativa.

Lakyus havia reunido os líderes das várias equipes e Climb também estava diante dela.

No centro de todos os líderes estava uma guerreira vestida em uma resplandecente va-
riedade de equipamentos de batalha.

Primeiramente era a espada mágica conhecida por todos — Kilineiram, A Espada Amal-
diçoada. Era do tamanho de uma espada bastarda, mas ninguém podia ver sua lâmina
escura — que lembrava os espectadores do céu noturno — já que estava embainhada.
Ainda assim, apenas o vislumbre da empunhadura já deixava claro a habilidade requin-
tada. De particular interesse era a enorme safira azul-marinho no pomo, cujas profun-
dezas continham um brilho flamejante.

A armadura de placas que ela usava reluzia com o brilho que só platina e ouro podiam
produzir, estava inscrita com inúmeras representações de unicórnios. Esta armadura
imaculada — pura como a neve recém-caída — era dito só ser vestível por uma donzela,
[ N e v e Virgem]
dizia-se também que nunca se manchava: a Virgin Snow.

Em contraste com sua armadura brilhante, a capa nas costas era feita de algum tipo de
[Manto d o Rato V e l o z ]
tecido de algodão que lembrava o cinza do pêlos de um rato. Era o Cloak of Rat Speed,
que melhorava a velocidade de movimento do usuário, a destreza e as habilidades eva-
sivas. Era um item mágico enganosamente poderoso.
[ E s p a d a s Flutuantes]
Além desses, havia as Floating Swords — um conjunto de itens mágicos famosos — mas
aparentemente não haviam sido ativadas.

Ao contrário de Climb, Lakyus estava vestida de forma chamativa pois pretendia resol-
ver o assunto com sua própria magia.

Ao lado dela havia outros rostos familiares. Havia as integrantes da Rosa Azul e Gazef
Stronoff. Climb se sentiu muito desajeitado e fora do lugar enquanto estava ao lado deles.

Lakyus explicou os detalhes da operação, que seria atacar e capturar oito instalações
gerenciadas pela Oito Dedos.

Capítulo 7 Preparações Antes do Ataque


7 6
OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2
7 7
No entanto, havia apenas sete equipes, então depois que essas equipes tivessem atin-
gido seus objetivos, os líderes de equipe e os guarda-costas do Marquês Raeven — ex-
aventureiros, cada um classificado acima de mythril — iriam até o último local, enquanto
os demais membros da equipe continuariam em seus objetivos. Eles precisavam destruir
o máximo possível de forças de combate do inimigo e tentar o possível para capturar
prisioneiros. Caso não fosse possível, a única alternativa viável seria matá-los.

Isso foi tudo.

Lakyus avisou os outros que eles enfrentariam um sindicato criminoso que controlava
o submundo do crime. Encontrar armadilhas ou indivíduos muito poderosos era uma
possibilidade real, de modo que não poderiam ser descuidados.

Climb sentiu um frio na espinha.

Não era medo, mas estresse por estar presente em uma operação tão importante.

Climb era muito mais fraco do que os outros líderes de equipe, mas mesmo assim tinha
sido escolhido para liderar um time, afinal, ele era mais forte do que um soldado medi-
ano, e a patrocinadora dessa operação o recomendara.

Além disso, a guarda pessoal do Marquês Raeven — uma equipe de ex-aventureiros que
anteriormente ocupavam o ranque orichalcum — havia sido destacada para ajudá-lo.

Como ele poderia voltar quando todos se dispuseram a acomodá-lo?

Além disso, quando percebeu o porquê havia sido escolhido como líder de equipe, ele
não mais podia entregar esse dever a mais ninguém.

Rosa Azul, Marquês Raeven, Gazef Stronoff e o Príncipe Zanac, que ficou encarregado
de combater quaisquer respaldos que perturbassem os civis — nenhuma dessas pessoas
estava conectada à Renner. Foi justamente por essa razão que Climb — guarda-costas
de Renner — foi escolhido como líder de equipe, para mostrar que Renner estava pro-
fundamente envolvida nessa operação.

Parece que foi obra do Marquês Raeven e do Príncipe Zanac, mas por que fariam isso?

Climb não tinha idéia de seus motivos. Mesmo assim, seu coração se encheu de coragem
quando aceitou completar essa grande tarefa, para que mais pessoas soubessem das
contribuições de Renner para a nação.

Eles foram dispensados depois que as instruções terminaram. O homem que estava es-
perando na retaguarda o chamou em um tom casual.

“Tá tudo pronto aí?” O homem, Brain Unglaus, era o ajudante que Gazef trouxera, e tam-
bém o líder da equipe adjunta de Climb:

Capítulo 7 Preparações Antes do Ataque


7 8
“A equipe tá pronta aqui, só esperando a ordem chegar. Aqui, a gente vai pegar esse
caminho. Ele aí que escolheu.”

Brain entregou a Climb um mapa da Capital Real com uma linha vermelha traçada nele,
Climb olhou na direção onde Brain apontou.

Lá estava um dos ex-aventureiros orichalcum. Ele havia sido designado para a equipe
de Climb. O homem parecia ter notado que Climb o observava e acenou em resposta. Por
sua vez, Climb assentiu para o homem já de certa idade. Talvez ele não devesse ter feito
isso, sendo o líder da equipe e tudo mais, mas foi um gesto natural para Climb, já que sua
força não estava nem perto o suficiente para se qualificar como líder de equipe.

Para Climb, ele nem mesmo liderava como deveria, já que tinha um número considerá-
vel de pessoas fazendo partes de seus deveres.

Enquanto conversavam, uma pessoa imensa se aproximou e chamou Climb:

“Ei, virgenzinho.”

Por favor não me chame disso, é pedir demais? Climb pensou quando sentiu uma mu-
dança nos olhos de seus companheiros de equipe.

Felizmente, ninguém estava olhando para ele com desprezo. Alguém parecia estar sor-
rindo, alguém com um forte apego a ele, como um pai que amava seu filho.

“Aconteceu algo, Gagaran-sama?”

Ao contrário de sua vestimenta na estalagem, ela agora estava coberta com itens mági-
cos de primeira classe.

O peitoral de sua armadura era coberto por cravos pretos-avermelhados que formavam
[Perdição do Olhar]
padrões similares a olhos. Esta era a famosa armadura conhecida como Gaze Bane.

Suas manoplas também eram um tanto singulares, esculpidas com padrões de duas ser-
pentes entrelaçadas. Essa relíquia poderia restaurar a saúde daqueles que ela tocasse.
[ M a n o p l a s de K e r y k e i o n ]
Eram chamadas de Gauntlets of Kerykeion.
[Ferro v i l ]
Um longo e maciço martelo de guerra em sua cintura era o Fel Iron. A luxuosa capa
[ G u a r d i ã
carmesim que ela usava — reminiscência de trajes reais — era chamada de Crimson
Carmesim] [C o l et e d e R e s i s t ê n c i a ] [ A m u l e t o Dente de Dragão]
Guardian. Abaixo de sua armadura havia o Vest of Resistance, um Dragontooth A mu l et
[Cinto d a F o r ç a M a i o r ] [Bot as Aladas] [ T i a r a Tornado]
e um Belt of Greater Power. Além disso, ela usava Wing Boots e Twister Circlet, mesmo
os anéis que ela usava também possuíam poderosos encantos mágicos.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


7 9
Era a panóplia de batalha de Gagaran em todo seu esplendor, uma das mais importantes
guerreiras do Reino.

Ela possuía muitos equipamentos de cair o queixo por ser uma aventureira adamantite.
Muito parecido com ela, Evileye, Tia e sua irmã Tina estavam equipadas com itens má-
gicos igualmente poderosos.

“Oh, nada não. Passou pela minha cabeça que o virgenzinho aqui estava nervoso, então
vim dar uns tapas nessa bundinha.”

Então ela estava preocupada comigo...

Ainda assim, Climb esperava que ela insistisse em chamá-lo de “virgenzinho”. Ele pode-
ria ir a qualquer bordel de quinta e perder a virgindade quando quisesse. Mas simples-
mente havia escolhido não o fazer.

Enquanto Climb lamentava-se internamente, Gagaran olhou para Brain, que estava ao
lado de Climb.

“Brain Unglaus. O homem que lutou contra o Capitão Guerreiro... Realmente, hein...
Aqueles relatórios não tavam exagerando nem inventando nada.”

“Então você é a guerreira da Rosa Azul, Gagaran. Hmm... realmente incrível. É definiti-
vamente digna de ser a guerreira de uma equipe adamantite. Mas e aí, passei no teste?”

Climb não tinha idéia do que ele queria dizer com “passei no teste”. Ele olhou para Brain,
que deu de ombros e logo disse o que Gagaran estava pensando.

“Ela veio pra ver se eu era um guerreiro digno de cuidar de você, Climb-kun.”

“Sério!?”

“Nem, até parece... Não dou a mínima pro que acontece contigo. Eu só pensei que seria
uma pena um jovem morrer virgem, então se der tempo, pensei que dava pra resolver
isso numa rapidinha. Mudando de assunto, agora tenho certeza que não venceu o Diabo
das Ilusões por pura sorte. Você é um guerreiro incrível mesmo. Nunca te vi lutando, mas
sei que com você por perto, as coisas serão mais fáceis.”

“Fico feliz que ache isso. Da minha parte, agora percebo que os rumores sobre vocês
eram verdadeiros. Mas é sempre bom ficar atento. Há muitos monstros por aí que podem
matar a gente em segundos.”

“Oh, então é do tipo cauteloso. Eu até que gosto de homens assim. Duvido muito que
ainda seja virgem... mas e aí, vamos?”

“Vou ter que passar. A pressão me esmagaria.”

Capítulo 7 Preparações Antes do Ataque


8 0
Climb preferiu não perguntar o que seria esmagado no processo.

“Oh? Que pena. Climb, se cuida.”

Gagaran se despediu e saiu. Enquanto Brain a observava sair, ele murmurou:

“Eu não esperava que ela fosse tão legal, julgando só pela aparência, claro.”

“Não é só a Gagaran-san, mas todas da Rosa Azul são muito gentis. A Evileye-sama é
assim também. Ela pode se vestir daquele jeito, mas é muito legal.”

“Aquela lá de máscara, huh... Ah é, o Gazef me disse que conheceu um cara chamado


Ainz Ooal Gown que tinha esse estilo também. Será que usar máscaras é moda ou algo
assim entre os magic casters— hm? Parece que é hora de ir.”

“Parece que sim. As equipes que precisam percorrer um longo caminho têm que sair
antes, caso contrário, não poderão coordenar a sincronia dos ataques com as demais.”

Ambos olhavam para frente, para as equipes que partiam mais cedo.

Climb olhou em volta, procurando os arredores por uma certa mulher.

Naturalmente, não estava lá. Ela deveria estar se movendo com o Príncipe Zanac agora.
Ele sabia que ela estava dando o melhor de si, então era egoísmo da parte dele se sentir
solitário sem a chance de vê-la?

“É melhor a gente ir nessa, Climb-kun.”

“...Sim! Vamos pessoal.”

Climb disse à sua equipe.

Climb. O líder da equipe adjunta, Brain Unglaus. Quatro ex-aventureiros de orichalcum.


20 tropas privadas do Marquês Raeven. Também estavam sendo acompanhados por sa-
cerdotes de alto nível, funcionários da Guilda dos Magistas e várias pessoas como apoio,
todos tinham relações com o Marquês Raeven. Totalizando 32 pessoas, que partiram em
silêncio.

Parte 4

4º Dia do mês Baixo Fogo (9º mês) - 20:31

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


8 1
“E pensar que poderíamos montar uma equipe assim... devo agradecer ao Ainz-sama.”

Essa foi a primeira coisa que Sebas disse quando viu as pessoas reunidas na casa.

Shalltear e Mare foram redesignados de suas posições e agora eram liderados por De-
miurge. Entoma e Solution, das Empregadas de Batalha Pleiades, também eram visíveis.
Então, havia muitos vassalos de alto nível de Demiurge — os Evil Lords. Uma quantidade
incrível de poder de luta. Pode-se considerar um exagero.

“Até a Guardiã mais forte assim como o segundo Guardião mais fortes estão presentes...”

“Uhum— e estão sob o meu comando, de acordo com os desejos de Ainz-sama. Sebas,
você se opõe?”

“Claro que não.”

“Espero que não me entenda mal. Ainz-sama nos ordenou a resgatar a humana, mas o
fato é que reunimos essas pessoas para um propósito maior— isto é, matar os tolos
membros da Oito Dedos que ousaram cuspir nas faces dos Seres Supremos. Está claro?”

“Perfeitamente. Resgatar à Tsuare é um objetivo secundário, correto?”

“Correto. Mas eu não acredito que ela seja capaz de suportar magia de ressurreição,
então eu aprovo sua sugestão para resgatá-la enquanto ainda estiver viva.”

Ele disse isso em tons ácidos.

“Com isso em pratos limpos, lidar com ela em caso de morte é uma questão a se consi-
derar. Além disso, se fosse eu no lugar deles, certamente cortaria fora a cabeça da refém
e jogá-la-ia aos pés dos invasores.”

“Se o sequestrador fosse você, Demiurge, tenho certeza que abusaria da refém diante
do inimigo só para forçá-los à submissão, não?”

“Me vejo obrigado a concordar com suas palavras. O pensamento de imobilizar supos-
tos libertadores e depois observá-los enquanto torturo seus reféns... ah, que cena emo-
cionante.”

“E qual parte disso lhe emociona?”

Sebas escondeu a irritação abaixo de seu sorriso quando fez sua pergunta. Escusado
dizer que o olhar perceptivo de Demiurge provavelmente tinha visto através do falso
sorriso de Sebas, então não era nada mais do que joguete de fachadas.

“Todas, Sebas. Todas as partes.”

Capítulo 7 Preparações Antes do Ataque


8 2
Demiurge sorriu tenuamente e havia um brilho penetrante em seus olhos facetados e
completou:

“Bem, se fosse eu, deixaria os humanos que vieram ao resgate terem êxito, também dei-
xaria que planejassem a fuga. Depois, deixaria que descansassem à vontade e acreditas-
sem que haviam escapado e, só então, mostraria o quanto estavam enganados. Afinal,
quanto maior a esperança, mais profundo é o desespero.”

“Isso parece bem divertido ~arinsu. Vamos tentar isso da próxima vez, se tivermos a
chance.”

“M-mas, se o inimigo realmente fugisse, i-isso seria muito ruim, não?”

Demiurge e Shalltear riram.

“Mare, você diz as coisas mais interessantes às vezes. A graça é que o inimigo não con-
segue escapar. Bem, se conseguissem escapar, eu teria que elogiá-los por isso.”

“Como esperado de Demiurge ~arinsu. Você pode se permitir tal arrogância por causa
de sua absoluta certeza de que a oposição não escapará.”

Demiurge estava alegremente falando sobre seu hobby de atormentar os outros,


mesmo com o tempo limitado. Sebas decidiu fazer uma pergunta para encurtar a discus-
são.

“Demiurge, você disse que massacraria à Oito Dedos. Isso significa que tem informações
sobre eles?”

“Sim, não haverá problema algum. Eu assegurei que a inteligência que me passou tinha
informações corretas.”

“Ohh”, Sebas respirou admirado. Nesse ponto, o respeito de Sebas por ele era genuíno.

Demiurge passou pouquíssimo tempo na Capital Real. No entanto, conseguiu obter as


informações relevantes. Sebas não tinha idéia de quais métodos Demiurge usara para
fazer isso. Mas dado que Demiurge estava agindo de acordo com os desejos de seu mes-
tre, isso certamente não era conversa fiada, ele tinha provas concretas para mostrar.

“A seguir, os locais— há alguns, então vamos ter que atacar todos. É claro que precisa-
mos capturar pessoas de vários locais que possuam inteligência. Por fim, devemos dei-
xar a Oito Dedos entender toda a extensão de sua idiotice—”

Neste ponto, Demiurge parou para olhar para Sebas antes de continuar.

“—Para só então infligir a punição apropriada àqueles que ousaram sequestrar a hu-
mana que o Ainz-sama jurou proteção — em nada menos que seu próprio e glorioso

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


8 3
nome —, por isso precisamos extrair cada fragmento de informação que sabem. Meus
caros, há alguma objeção?”

“De-de forma alguma!”

“Eles vão pagar com suas vidas por desrespeitarem o Ainz-sama ~arinsu.”

“Obviamente não tenho objeções.”

Assim, os dois Guardiões de Andar e o mordomo de Nazarick responderam Demiurge.

As duas Pleiades e os Evil Lords não responderam, mas se curvaram profundamente a


Demiurge.

“Ótimo. Então, Sebas. Poderia me dizer onde a oposição disse que o aguardava? Eu gos-
taria de ver se esse local está listado na informação que me foi dada.”

Sebas disse a localização descrita no pergaminho deixado na casa, Demiurge sorriu.

“Que sorte. Talvez agora até me sinta triste por ser um local a menos para atacar. O local
está em perfeita sincronia com a lista. Você será o responsável por esse local.”

“Tudo bem. No entanto, ela pode estar ferida. Eu ficaria grato se me fosse designado
alguém com habilidades de cura.”

“Ainz-sama deseja que salvemos a humana... Solution, eu tinha pensado em mantê-la


como um ativo móvel graças às suas excepcionais habilidades sensoriais, mas estaria
disposta a ajudar o Sebas?”

“Como desejar, Demiurge-sama.”

“Creio que haverá outros humanos lá, aqueles que sequestraram a Tsuare...”

“—Se você se atrever a ajudar qualquer um daqueles humanos que pisaram no nome
de Ainz-sama, eu o mato com minhas próprias mãos.”

“Não se preocupe, Demiurge. Farei questão de matar todos.”

“Já tem um tempo que observo isso... Será que podem tratar um ao outro mais amiga-
velmente ~arinsu?”

Sebas notou que Demiurge tinha uma expressão que era difícil descrever em palavras.
E com isso, pensou que ele próprio provavelmente tinha um semblante semelhante em
seu próprio rosto.

Capítulo 7 Preparações Antes do Ataque


8 4
Ainda assim, porque se odiavam mutuamente? Era um tanto surpreendente quando
pensou o porquê. Ele não detestava Shalltear — que era uma sádica a par com Demiurge
—, mas ele podia sentir a raiva dentro de si toda vez que falava com Demiurge.

Dito isto, não concordar com Demiurge nesse momento seria como cuspir na gentileza
de seu grande mestre. Sebas silenciosamente pediu desculpas a seu mestre e então se
curvou para Demiurge.

“Você veio para ajudar a compensar meus erros, mas eu tenho sido rude. Eu sincera-
mente peço desculpas por isso.”

“...Eu não levei isso a sério, Sebas. De qualquer forma... uma vez que você resgatar Tsu-
are, leve-a rapidamente à Grande Tumba de Nazarick. Está de acordo?”

“Naturalmente. Uma pergunta, os preparativos foram feitos para recebê-la?”

“Não se preocupeee~ fizeeemos os preparativoss~”

Sebas assentiu em reconhecimento quando ouviu a doce voz de Entoma.

“Posso ir adiante? Ótimo. Então, vou dividir-nos em sete grupos e então decidir qual
dos locais vamos atacar. Naturalmente, Sebas e Solution já foram alocados. E Shalltear,
eu preciso lembrá-la de uma coisa!”

A firmeza repentina no tom de Demiurge fez Shalltear tremer.

“Q-qual coisa, Demiurge?”

“Você estará na equipe de apoio móvel, então precisa ficar na reserva e de prontidão.
Você perde seu julgamento quando se banha em sangue fresco, e sair do controle no
meio dessa cidade por meros capangas será problemático.”

“Es-está tudo bem! Só preciso usar a Spuit Lance e drenar eles, a chance de perder o
controle é baixa.”

“Isso ainda é inaceitável. Precisamos ter muito cuidado nesta operação. Os riscos devem
ser evitados a todo custo. Então vamos deixar as coisas bem claras, Sebas. Resgatar à
Tsuare e punir à Oito Dedos é apenas o primeiro estágio do plano. Não revelarei os de-
talhes do Estágio Dois para você, muito menos os detalhes de todo o plano. Isso porque
você retornará à Nazarick após a conclusão do Estágio Um, nesse ponto, não estará mais
envolvido nessa operação. Quanto menos pessoas souberem, menor é o risco de vaza-
mento de informações.”

“Entendido. Irei me preparar.”

♦♦♦

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


8 5
Depois que Sebas saiu da sala, Demiurge se virou para os que ficaram:

“Começarei pelo mais importante. Tenho algo muito importante a lhes dizer, então
prestem muita atenção. Entoma, lembro que é capaz de criar ilusões. Você pode criar
uma ilusão se eu especificar?”

“Enteeendido.”

Seguindo as instruções de Demiurge, Entoma criou uma espécie de holograma mágico.


A ilusão flutuante agradou Demiurge.

“Vocês estão absolutamente proibidos de matar essa pessoa. Ferimentos leves são acei-
táveis, mais do que isso está estritamente proibido. Espero que não se esqueçam. Isso
vale em dobro para você, Shalltear.”

“Não há necessidade de continuar insistindo nisso. Eu já entendi ~arinsu...”

Shalltear fez beicinho quando Demiurge a alfinetou, por sua vez, Mare apenas sorriu
sem jeito.

“Ah, is-isso é certo? Digo, não contar isso er, ao Sebas-san?”

“Não se preocupe. Dada a personalidade dele, sinto que jamais prejudicaria ninguém
sem um bom motivo... embora, por via das dúvidas, me ajudaria a impedi-lo caso algo
incomum aconteça?”

“Claro.”

Demiurge assentiu em satisfação.

Essa operação estava intimamente ligada a um plano que traria grandes benefícios para
Nazarick. Qualquer erro grave poderia atrasar Nazarick... ou mais precisamente, atrasar
a meta declarada de dominação mundial do Ser Supremo, Ainz Ooal Gown.

Já que seu mestre dissera “deixarei que cuide disso”, o fracasso não era mais uma opção.

Albedo também acrescentou que, devido aos erros de Shalltear, Cocytus e agora Sebas,
quaisquer outros erros poderiam levantar dúvidas se os Guardiões de Andar — as enti-
dades mais poderosas criadas pelos Seres Supremos — eram realmente aptas para tal
responsabilidade.

É claro que seu mestre não demonstrava seu descontentamento com esses erros, e a
questão de Cocytus parecia estar prosseguindo como seu mestre havia planejado, mas
confiar na bondade de seu mestre definitivamente não era a atitude correta a se ter.

Capítulo 7 Preparações Antes do Ataque


8 6
Desejo demonstrar a utilidade dos Guardiões ao Ainz-sama através do sucesso desta ope-
ração.

Qual valor teriam subordinados tolos que não conseguiam satisfazer o seu senhor?

Além disso, se seu mestre ficasse completamente desapontado por seus servos patéti-
cos... quem sabe, até mesmo o último Ser Supremo remanescente também poderia desa-
parecer.

Mesmo alguém como Demiurge sentiu seu corpo gelar de medo ao contemplar essa
possibilidade.

Não podemos falhar. Precisamos ter sucesso suficiente para apagar nossos erros do pas-
sado.

Com uma determinação inabalável em seu coração, Demiurge examinou todos na sala.

“Além disso, espero que nenhum de vocês se esqueça de que; quem fez a lavagem cere-
bral em Shalltear ainda pode estar nos observando, esperando uma chance de atacar.
Portanto, a menos que seja permitido, vocês não têm permissão para deixar suas áreas
de operação. Espero que tenham isso em mente. Quando qualquer Guardião — inclusive
eu mesmo — se aproximar, vocês imediatamente colocarão as mãos, ou os apêndices
equivalentes, em posição neutra, abstendo-se de movimentos suspeitos. Por segurança,
qualquer movimento suspeito trará morte. Alguma dúvida?”

“Er, ah, e-eu acabei de perguntar, mas posso perguntar de novo?”

Demiurge sorriu calorosamente para Mare e depois fez um gesto para indicar que de-
veria continuar falando.

“O-obrigado. Eu me lembro que o Sebas-san não tem um item World-Class como nós.
Ele vai ficar bem?”

“O Ainz-sama já considerou isso. Sebas servirá como isca. Idealmente, o inimigo irá
morder. Albedo está observando do Salão do Trono justamente por isso. Por falar nisso,
aqueles que não podem usar 「Message」 devem ser mais cuidadosos, não ajam por
conta própria. Eu supervisionarei toda a operação, então entre em contato comigo se
tiverem alguma dúvida. Além disso, já informei o Mare sobre tudo, inclusive meu plano,
por isso, se surgir uma emergência e não conseguirem me contatar, o Mare será o res-
ponsável pela operação.”

“E eu... O que eu tenho que fazer?”

“Sinto muito, Shalltear. Como eu disse anteriormente, você não é completamente confi-
ável e ficará na reserva. O que quero dizer, é que estou preocupado com o seu 〔Blood
Frenzy〕.”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


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“Entendi ~arinsu!! A—RI—N—SU!!!”

“Iniciaremos o Estágio Dois assim que o Estágio Um for concluído. Começarei a explicá-
lo, será o estágio mais crítico. Assim, espero que prestem muita atenção— Aconteceu
algo?”
[Demônio Sombra]
Um Shadow Demon apareceu da sombra de Demiurge e sussurrou um relatório para
ele.

“Mesmo? Bem, é repentino, mas é inevitável.”

O assunto incomodou Demiurge, ele não podia deixar as coisas assim.

“Perdoe-me, Mare. De acordo com às informações que acabei de receber, há mais uma
base da Oito Dedos. Sinto muito pelo incomodo, mas espero que ataque o local. Sinto que
você dará conta com facilidade, mas por segurança, leve a Entoma com você.”

“Tu-tudo bem. Eh, ah, pode contar comigo.”

“Excelente. Discutiremos os detalhes em instantes. Onde parei? Ah, sim. Vou começar a
explicar o plano para o Estágio Dois— Gehenna. Prestem atenção redobrada, é crucial
que tudo saia como planejado, é a parte mais importante de nossas operações na Capital
Real.”

Capítulo 7 Preparações Antes do Ataque


8 8
Capítulo 08: Seis Braços

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8 9
Parte 1

4º Dia do mês Baixo Fogo (9º mês) - 21:51

o Reino, as pessoas estavam acostumadas a dormir ao anoitecer. Isso por-

N
que manter as lâmpadas custava dinheiro. Vilarejos com famílias mais po-
bres geralmente viviam um estilo de vida regrado de trabalhar durante o
dia e descansar à noite.

No entanto, a vida nas áreas urbanas era diferente de como era nas regiões agrícolas.
Essa diferença ficava particularmente evidente nas ruas alegres e movimentadas da ci-
dade. Elas ganhavam vida quando as lojas e residências se iluminavam, como vagalumes.

Contudo, não era para um lugar assim que Climb se dirigia. O lugar em questão não
nutria vivacidade noturna, as ruas eram sem luz, envoltas em escuridão.

Climb estava em silêncio, não carregava uma lanterna consigo enquanto caminhava pe-
las ruelas silenciosas. O fato de que ele podia ver enquanto se movia na escuridão era
graças a um efeito mágico em seu elmo que fazia funcionar como um conjunto de óculos
de visão noturna. Ele só podia ver até 15 metros à frente, mas o que via era tão nítido
quanto o dia.

Além disso, as placas de sua armadura completa — feitas de mythril e outros materiais
— não faziam barulho quando esbarravam umas nas outras, ao contrário das armaduras
de placas de aço. Tal encantamento na armadura significava que não havia sons de far-
falhar metálico quando em movimento. A menos que eles tivessem audição excepcional
ou fossem um ladino habilidoso, nem mesmo alguém ao lado de Climb seria capaz de
captar os sons ao se movimentar.

Foi por isso que ele se juntou ao grupo de reconhecimento.

Depois de caminhar pelo beco, seu alvo apareceu.

Estava cercado por imponentes muros, que isolavam da área circundante. Parecia uma
prisão ou algum tipo de fortificação. Sua mente viajou com pensamentos sombrios como
que tipo de atividades ilegais estão acontecendo dentro? Mesmo lâmpadas mágicas insta-
ladas em ambos os lados do portão não puderam dissipar essa imagem mental.

De acordo com as informações da inteligência, o alvo deles deveria estar por trás desses
muros, mas ele não podia vê-lo daqui.

“É aqui mesmo. Tenho certeza.”

Climb murmurou enquanto se agachava. Uma voz vinda do nada respondeu ao lado dele.

Capítulo 8 Seis Braços


9 0
“Concordo, líder. A julgar pela sensação deste lugar, deve ser aqui mesmo. Vou dar uma
olhada ao redor, já volto.”

A pessoa que respondeu era um ex-aventureiro classificado como orichalcum, possui-


dor de habilidades ladinas. Depois que ele terminou, Brain — que estava andando com
eles — acrescentou:

“Tenha cuidado, hein. Você pode ser invisível, mas alguns guerreiros podem ver através
disso.”

“Claro. Nosso inimigo é a Oito Dedos, afinal. Vou agir sob a suposição de que eles têm
ladinos ou mesmo magic caster do meu nível. Cruzem os dedos e me torçam pelo meu
sucesso.”

Com isso, a presença ao lado de Climb começou a desaparecer. Ele não podia ouvir nada
mesmo quando aguçava seus sentidos, mas talvez um ladino a par com ele pudesse ouvir
passos leves se afastando, indo em direção à residência.

Restara apenas Climb e Brain.

Eles haviam deixado os outros para trás porque não eram habilidosos em movimentos
furtivos. O farfalhar de armaduras transmitiria sua localização para o inimigo. Dito isto,
ninguém foi imprudente o suficiente para tirar a armadura e se aproximar do inimigo na
iminência de uma batalha.

Foi por isso que os dois estavam aqui.

É claro que ambos eram guerreiros e não podiam se mover como os ladinos. Mesmo
assim, Climb e Brain podiam se mover na escuridão — Climb confiando em sua arma-
dura encantada, enquanto Brain em suas Artes Marciais — e juntos chegaram o mais
perto que puderam do campo inimigo. No entanto, o que precisava ser feito a seguir só
poderia ser deixado para um profissional.

Os dois tinham arriscado muito a vir aqui para decidir se atacariam, ou se fugiriam caso
a infiltração falhasse e o inimigo reforçasse as defesas. Portanto, sua missão já foi cum-
prida apenas por ficar e observar o inimigo.

Mesmo assim, não puderam deixar de se sentir desconfortáveis com o passar do tempo.
Já que estavam esperando o ladino retornar, seus pensamentos naturalmente imagina-
vam o pior.

“Ele vai ficar bem, não vai?”

Quando as palavras escorregaram da boca de Climb, Brain respondeu calmamente:

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


9 1
“Não sei, mas... tudo que resta é ter esperança que sim. Temos que confiar nas habilida-
des de um ex-aventureiro orichalcum.”

“Tem razão. Ele é um aventureiro veterano, afinal.”

Eles não sabiam quanto tempo haviam esperado, mas a mão de Brain subitamente foi
para a Katana em sua cintura. Assim que Climb estava prestes a pegar sua espada em
resposta, uma voz masculina um pouco em pânico veio do lado deles.

“Calma!! Calma! Sou eu. Já voltei.”

Era a voz do ladino que tinha ido espionar.

“Ah, ainda bem. Você chegou perto e não fez nada, então eu pensei... pera, você tava
tentando ver se eu podia mesmo te detectar com Artes Marciais?”

“Sinto muito. Foi isso mesmo. Não queria te ofender, sinto muito por ousar testar suas
habilidades, Brain Unglaus.”

“Que isso, relaxa. Eu poderia ter feito a mesma coisa no seu lugar. E então, pode dizer o
que descobriu?”

O ar ondulou ao lado de Climb e ele sentiu que alguém havia se sentado. Ele não conse-
guia ver ninguém ao seu lado, mas tinha a estranha sensação de que alguém estava ali.

“—Primeiramente, acho que esse lugar é usado para algum tipo de treinamento. Há um
quintalzão atrás dos muros, fazendo com que pareça um pátio de treinamento. Eu só dei
uma olhada rápida, mas parece haver vários cômodos separados. Eu acho que é uma
base da Divisão de Segurança da Oito Dedos. Além disso, há um lugar que estava forte-
mente vigiado, tive que ter muito cuidado ao me aproximar. Mas tem algo muito errado
aqui, líder.”

O tom do homem mudou. Agora estava cheio da tensão máxima.

“Eu descobri duas coisas importantes quando entrei. Primeiro, há uma prisão onde
mantém uma mulher como prisioneira. A outra é que há várias pessoas aqui que as des-
crições combinam com o Seis Braços.”

Sem contar a mulher, eles já esperavam que alguém do Seis Braços estivesse aqui. Então
qual era o problema?

As dúvidas de Climb foram imediatamente respondidas por uma pergunta de Brain.

“Você disse várias pessoas? Quantos exatamente?”

“Cinco. Agora que o Diabo das Ilusões foi capturado, eles são em cinco.”

Capítulo 8 Seis Braços


9 2
Em outras palavras, esse era um obstáculo impossível para eles. A sorte não estava a
favor deles. Contudo—

“Isso é... bem, complicado, mas também é sorte. Como todos estão aqui, então tomar os
outros locais será bem mais fácil.”

Esse foi um feixe de luz em meio a uma tempestade escura.

“Então, o que devemos fazer?”

“O que podemos fazer, né? Não dá para atacar este lugar. Melhor bater em retirada.”

“Tudo bem assim, Climb-kun?”

“Isso não me agrada, mas não temos escolha. Se os membros do Seis Braços estão reu-
nidos aí dentro, então deve ser uma base permanente ou algo que dão muito valor. Seria
ruim se nos retirássemos antes de verificar antes. Mas acho que não devemos fazer nada
que nosso poder de luta não consiga dar conta.”

“É isso aí...”

“O que acha de eu entrar de novo e dar uma olhada, talvez eu ache alguns documentos?”

“Nem pensar, é arriscado demais. Como não nos notaram ainda, acho que seria mais
sensato recuar imediatamente. O que acham?”

“Tô contigo nessa. O que a gente faz agora, vamos atacar outro ponto?”

“Acho que seria o melhor por agora. Poderia se reportar às pessoas lá atrás? Vamos
esperar aqui para garantir que ninguém vá atrás de você.”

“Duvido que haja alguém assim, mas o seguro morreu de velho. Conto com vocês.”

O ladino ainda não havia dissipado sua invisibilidade enquanto se movia deliberada-
mente para que Climb e Brain pudessem ouvir. Então recuou para onde o resto dos mem-
bros da equipe estavam esperando.

“...Parece que não há nenhum movimento até agora, Climb-kun.”

“Sim. Então é melhor nos retirarmos e ir para outro local com os outros.”

“Tranquilo— hm? Climb-kun, olha ali.”

Os olhos de Climb seguiram o dedo de Brain e os dois viram um homem que haviam
conhecido ontem indo em direção ao prédio que estavam observando.

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“Aquele não é o Sebas-sama? Por que ele está aqui?”

“...Duvido que seja coincidência, mas... o que tá acontecendo? Será que ele é um deles?”

“Tenho certeza que não. Brain-sama, o senhor também pensa assim, não é?”

“É, realmente não tem como. A menos que seja um bom ator. Mas sei lá, eu não sinto
que o Sebas-sama seja esse tipo de homem.”

“Em todo caso, vamos chamar ele—”

Assim que as palavras saíram de sua boca, Sebas se virou e seus olhos se fixaram nos
dois. Climb e Brain estavam alguma distância do prédio para observá-lo, e estavam es-
condidos na escuridão. Em circunstâncias normais, teria sido muito difícil encontrá-los.
Claro, ele poderia ter olhado em sua direção por acaso, mas Climb estava completamente
certo de que não era o caso desta vez.

Sebas apressou o passo em sua direção.

Sua velocidade foi anormal. Ele era tão rápido que parecia estar se teletransportando
toda vez que eles piscavam. Ele estava andando normalmente, mas sua agilidade era tal
que seus cérebros se recusaram a reconhecer como um passo acelerado.

Então, ele passou sobre suas cabeças. Mais precisamente, ele saltou sobre as cabeças
das duas pessoas agachadas no beco.

“Que coincidência, que fortuito encontrá-los aqui. Algum problema?”

“Er, não, na verdade queríamos perguntar o mesmo... estávamos planejando atacar


aquele prédio, é propriedade da Oito Dedos, então ficamos de espera.”

“...Apenas vocês dois?”

“Não, há vários outros lá atrás.”

“Entendo.”, disse Sebas baixinho. Climb então perguntou a ele:

“Sebas-sama, por que o senhor veio aqui? Tem negócios a tratar aí?”

“Sim. Precisamente isso. A mulher que mencionei ontem, a pessoa que salvei, foi se-
questrada. O inimigo me chamou aqui e eu vim.”

“Agora faz sentido! Um colega nosso foi vasculhar agora a pouco, ele disse que havia
uma mulher lá dentro.”

Capítulo 8 Seis Braços


9 4
“...E onde está esse seu companheiro?”

“Oh, acho que ele voltará em breve... ah, lá está ele.”

O aventureiro não mais invisível retornou da direção que Brain olhava. Ele olhou sur-
preso para Sebas. Claramente, a súbita aparição deste cavalheiro arrojado estava com-
pletamente destoante.

“Este é o Sebas-sama, a pessoa que nos emprestou sua ajuda quando pegamos o Diabo
das Ilusões. A pessoa na cela que mencionou anteriormente parece ser uma amiga dele,
e é por isso que nos encontramos aqui. Este homem é completamente confiável, então,
por favor, não se preocupe.”

“Beleza...”, respondeu o ladino. Ele então começou a falar sobre o que aprendeu come-
çando com notícias sobre aquela mulher. Depois de ouvir tudo, Sebas falou em uma voz
grata.

“Hm, bem observador. Obrigado. Resgatá-la agora será muito mais fácil.”

“Ah, não foi nada de mais, senhor. A propósito, todo mundo está pronto para sair...”

O ladino sentiu-se culpado quando percebeu que ele e os outros haviam decidido se
retirar enquanto a amiga de Sebas ainda estava trancada naquele prédio. Ele deu uma
espiada no rosto de Sebas.

“Sebas-sama. Cinco dos lutadores mais fortes da Oito Dedos, chamados Seis Braços, es-
tão naquele prédio... o senhor pode derrotá-los?”

O ladino tricoteou as sobrancelhas quando ouviu a pergunta de Climb. Que por sua vez,
entendeu o que ele estava pensando. Cada integrante do Seis Braços era equivalente a
um aventureiro de ranque adamantite. Certamente ele deve ter pensado que dar conta
de cinco deles de uma vez era impossível. No entanto, Sebas simplesmente ignorou esses
pensamentos e assentiu gentilmente.

“Cinco pessoas do calibre de Succulent não devem ser um problema.”

O ladino se forçou a não revirar os olhos, depois puxou Climb e Brain para longe. Ele
olhou para Sebas com uma expressão dolorosa no rosto e então perguntou:

“...Líder. O velho é caduco?”

Qualquer um pensaria tal coisa ao ouvir Sebas falar assim. Qualquer um que conhecesse
a força de um aventureiro ranque adamantite certamente também pensaria assim. No
entanto, Climb tinha vislumbrado uma fração do poder de Sebas, e sabia que Sebas defi-
nitivamente não estava se gabando.

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“Não. Ele é incrível.”

O ladino encarou Climb por um tempo. O brilho dos olhos de Climb era como um luná-
tico observando seu ídolo.

“O Brain-sama pensa assim também.”

“Eh!? Brain Unglaus, é sério que concorda com isso?”

Brain sorriu amargamente para o ladino e assentiu.

“Sim, Sebas-sama é tão forte, que nem mesmo se eu e Gazef atacássemos ele juntos a
gente daria conta.”

“Quê? Que seja... não, se o que disse é verdade, então ele é bom mesmo...”

Era difícil acreditar, mas era a única coisa que poderia fazer, já que os dois tinham ates-
tado o fato. O ladino olhou para Sebas com uma expressão complexa no rosto.

“Se nós pudermos contar com a sua ajuda, Sebas-sama, poderemos ser capazes de... per-
dão, poderia contar ao Sebas-sama sobre cada um do Seis Braços?”

O ladino concordou, e Sebas silenciosamente esperou que ele terminasse de falar. No


entanto, ele perdeu seu porte cavalheiresco ao ouvir o título de um dos membros do Seis
Braços.

“Rei Undead Davernoch, bem... um mero tolo não merece esse título.”

Sebas não reagiu além daquelas palavras murmuradas, e o ladino terminou de compar-
tilhar suas informações. Só então, Climb perguntou:

“Então, Sebas-sama ... se o senhor não se importar, poderíamos contar com a sua ajuda?”

“Claro. Eu vim para salvar à Tsuare, afinal. Eu darei um jeito no Seis Braços.”

“Então eu espero que o senhor vá até eles pela frente e chame a atenção, Sebas-sama.
Usaremos essa oportunidade para nos infiltrarmos no local. Não somos como o senhor,
mas nos permita ajudar resgatar à Tsuare-san em seu nome.”

“Parece bom. Nada seria melhor do que dois cavalheiros ajudarem a resgatá-la en-
quanto o inimigo estiver distraído, isso evitará que ela se torne refém ou seja levada
embora por um caminho diferente.”

“Compreendo. Nós definitivamente vamos resgatar à Tsuare-san com segurança. Então,


quem vai entrar? Eu sei que o plano original era que todos se infiltrassem, e era uma boa
idéia...”

Capítulo 8 Seis Braços


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“Hm — se estamos nos escondendo em silêncio, então precisamos fazer o mínimo de
barulho possível. Depois disso, assim que resgatarmos à Tsuare-san, precisaremos sair
o mais rápido possível, será preciso lutar. Sendo esse o caso...”

O ladino olhou para Climb e Brain depois que os dois lhes dirigiram suas perguntas.

“Bem, se tivéssemos o uso ilimitado do 「Invisibility」, poderia haver outra maneira,


mas... acho que nós três somos os mais adequados para a tarefa.”

“Quer dizer que eu posso ir também?”

“Bem, as armaduras dos meus colegas ali são muito barulhentas, eles não são adequa-
dos para infiltração.”

“Faz sentido. Então vamos apenas nós.”

“Se o nosso magic caster pudesse usar 「Silence」 ou coisas assim, seria diferente...
bem, se são apenas nós três, então ainda há um jeito. Eu pedirei a todos que conjurem
「Invisibility」 em nós.”

“「Invisibility」, huh...”

Resmungou Climb antes de continuar:

“O meu elmo consegue ver através da invisibilidade uma vez por dia, por isso não tenho
problemas se todos forem invisíveis, mas e quanto aos demais? Seria ruim se nos per-
dêssemos porque não conseguimos ver os outros.”

“Posso me virar. Alguém já lançou 「See Invisibility」 num dos meus itens mágicos. É
de uso único, mas posso ativar em mim.”

“Eu não tenho nada disso, mas não acho que vou perder os sons de seus passos, líder.”

“Muito bem. Então as comunicações do grupo de infiltração devem estar seguras. Nesse
caso, nós iremos primeiro. por favor, espere um pouco antes de fazer seu movimento,
Sebas-sama.”

“Conto com os senhores.”

Sebas inclinou a cabeça para eles, o que assustou Climb e Brain. Afinal, eles não fizeram
nada para fazer este homem incrível se curvar a eles. Isso porque eles estavam usando
o poderoso Sebas, como fizeram durante a invasão dos bordéis.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


9 7
“Não, não estamos fazendo nada de mais. Na verdade, viemos atacar o local. E somos os
únicos aqui a agradecer o senhor, pois está disposto a lidar com o Seis Braços por nós,
Sebas-sama.”

“Então o sentimento é mútuo.”

Não havia indício de ressentimento ou malícia para com Climb e os outros no rosto sor-
ridente de Sebas. Climb, por sua vez, levantou-se com o coração bem mais leve.

“Vamos recuar agora, para que os outros lancem magias em nós.”

Parte 2

4º Dia do mês Baixo Fogo (9º mês) - 22:15

Algum tempo depois — embora ainda faltasse alguns minutos para a hora marcada —
Sebas estava diante do portão principal. O portão era em forma de treliça, então podia-
se espiar através dele, mas as árvores que havia dentro impediam-no de ver o que havia
ao fundo.

“Hey, você é pontual, hein?”

Perguntou uma voz rouca. Depois disso, um homem saiu de entre as árvores.

Claro, Sebas tinha notado a presença do homem desde o começo. Isso porque ele havia
ativado uma habilidade que lhe permitia sentir todos os sinais da vida dentro de uma
área. Dito isso, às vezes não era possível detectar oponentes que usavam habilidades do
tipo furtiva, então ele não podia confiar demais nisso. No entanto, ainda era útil até certo
ponto.

“Por aqui. Me siga.”

O homem abriu o portão e conduziu Sebas por um caminho no quintal.

Considerando que esse pátio era propriedade de uma organização criminosa como a
Oito Dedos, não dava a impressão de ser sombrio e a vegetação era bem aparada, como
se houvesse um bom jardineiro cuidando das coisas.

Depois e seguir o caminho por um tempo, um vasto espaço que parecia uma área de
treinamento se desdobrou diante de seus olhos.

Havia vários fogaréus brilhando festivamente, a luz vermelho-alaranjado iluminava os


arredores.

Capítulo 8 Seis Braços


9 8
Havia cerca de 30 pessoas presentes, com muitos homens e várias mulheres entre eles,
todos tinham sorrisos perversos em seus rostos. Seus semblantes grosseiros estavam
intoxicados de violência, certos da perspectiva de vitória.

Sebas olhou nos arredores. Não havia ninguém aqui que sequer poderia ser um rival
para ele, mas encontrou os membros do Seis Braços de que Climb falara.

Um deles usava um manto com capuz. O manto preto foi costurado com um padrão de
chamas vermelhas abaixo da cintura. Sebas não podia ver o rosto sob o capuz, mas não
havia nenhum vestígio de energia vital abaixo de seu manto. Na verdade, foi precisa-
mente o oposto. Parece que o apelido de “Undead” não era apenas metafórico, ele fazia
jus ao seu epíteto; daí o nome.

A única mulher do grupo estava vestida de seda e parecia ser ágil. Ela usava pulseiras
de ouro nos pulsos e tornozelos, que tilintavam com sons metálicos enquanto se movia.
Ela tinha seis cimitarras na cintura.

O homem seguinte estava vestido com um terno de algodão. Ele também usava uma
jaqueta costurada com ouro — um traje de luces — e um colete. Sua arma era uma espada
fina, cuja lâmina parecia o desabrochar de uma flor, e irradiava a fragrância floral.

E por fim, um homem que usava uma armadura de placas completa e sem adornos, e
sua espada estava guardada com segurança dentro de sua bainha.

Havia quatro deles no total. Seu líder, Zero, não estava aqui. Ele provavelmente estava
esperando em algum lugar para fazer sua aparição.

Os quatro avançaram e os outros se moveram para cercar Sebas.

“Hey seu velho, dizem que você é bom, huh? Pode arremessar um homem longe apenas
com seus punhos, né?”

“Chegamos onde estamos na Oito Dedos através de nossas habilidades. Pegaria mal per-
der aqui. Mas aquele idiota não percebeu isso. A Divisão de Escravatura pode estar indo
de mal a pior, mas isso não significa que podemos perder na frente do chefe.”

“Hey, me responda uma coisa. O Succulent insistiu que perdeu para o Brain Unglaus.
Desembucha aí, ele perdeu foi pra você, mas não quer admitir, é isso?”

“Não. Eu nunca lutei com ele diretamente. Eu o conheci em minha casa, na vez seguinte
que eu o vi, ele já estava inconsciente no chão.”

“Então, sem problemas. Não é de se admirar que ele tenha perdido. Considerando que
seu oponente era o grande Brain Unglaus, não havia como ele ganhar.”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


9 9
“Ainda mais que ele continuou aprimorando suas habilidades após o duelo e está no
mesmo nível de Gazef Stronoff, eu acho que é compreensível o porquê ele perdeu.”

“É, mas isso não significa que podemos te deixar sair. Cuidaremos do Unglaus e do la-
caio da Princesinha Douradinha mais tarde. Você vai ser o primeiro a morrer, seu velho
gagá.”

“Vamos fazer ele de exemplo. Caso contrário, nossa reputação estará em risco.”

“Olhe no andar de cima.”

Enquanto os membros do Seis Braços se revezavam em seus discursos, Sebas apontou


para o terceiro andar do prédio.

“Os figurões da cidade estão lá. Vieram se divertir vendo você morrer, velho.”

“O homem chamado Zero está lá?”

“Uhum, tá.”

Uma expressão desdenhosa apareceu em um dos quatro. Sebas estendeu o dedo e apon-
tou para o terceiro andar. Ele então abaixou a mão, sem prestar atenção aos olhares con-
fusos nos rostos dos membros do Seis Braços.

“Tá fazendo o quê? Provocando?”

“Não se preocupem com isso. Então, onde ela está?”

“Ela quem?”

Sua oposição ainda zombava dele enquanto respondiam sua pergunta com uma per-
gunta. Sebas calmamente respondeu:

“A mulher que raptaram da casa. O nome dela é Tsuare.”

“—E se eu dissesse que ela está morta?”

“Você seria tão gentil?”

“Hahaha! Boa! Mandou bem. Não somos legais assim. A mulher é um presente para o
Cocco Doll. Ela está sendo bem cuidada.”

“Bom... muito bom.”

Sebas viu uma das quatro pessoas mudar sua linha de visão para um determinado local
no prédio. No entanto, o que chamou sua atenção foi o fato de que não era o lugar onde

Capítulo 8 Seis Braços


100
ele ouvira que Tsuare era mantida — sendo esse o caso, tudo o que ele tinha que fazer
era verificar a localização.

“Já que esta é uma ocasião rara, por que vocês não vêm de uma só vez? Deixar que Zero
escape seria problemático, não quero perder tempo além do necessário.”

“...Você fala demais, humano.”

“Deve estar se sentindo arrogante porque foi fácil lidar com aqueles fracotes, huh? Mas
já viu como o poder absoluto é?”

“Belas palavras. Desejo que saboreiem os dizeres de cada uma delas. Mas antes disso...
posso fazer uma pergunta? Por que acha que eu sou mais fraco que o Brain-sama?”

“Não nos despreze. Guerreiros do nosso nível podem dizer a força de um oponente ape-
nas com um olhar. E você parece muito mais fraco que nós, velho.”

As outras duas pessoas, Davernoch à parte, concordaram com a cabeça.

“Entendo...”

Sebas podia avaliar a força de seu oponente pela potência de seu ki. No entanto, assim
como sua outra habilidade, seria difícil dizer se seus oponentes estavam escondendo seu
poder com habilidades ou magia.

“É por isso que estamos te dando essa chance. Vamos um de cada vez, então—”

“—Sou mais forte do que parece.”

Sebas flexionou os dedos, acenando para que eles viessem até ele.

“Como eu disse agora, não quero perder tempo. Quero que me ataquem todos de uma
vez. Desta forma, não desperdiçarei mais de dez segundos.”

“Não nos subestime, humano.”

Davernoch remexeu os ombros.

“Subestimá-los? Vocês são quem subestimam seu oponente. Eu sou Sebas. A pessoa que
me deu esse nome foi o guerreiro mais poderoso. O mestre a quem sirvo é o Supremo
Governante da... bem, não há sentido em dizer isso a vidas insignificantes. Enfim, chega
de conversa. Vamos acabar com isso.”

Sebas avançou. Ele se aproximou da pessoa cujo título mais o desagradou.

♦♦♦

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


101
“Rei Undead”, Davernoch.
[ L i c h Ancião]
Sua verdadeira identidade era a de um Elder Lich criado naturalmente. Os undeads nas-
ciam após mortes em massa. Eram criaturas que odiavam os vivos e muitas vezes dese-
javam apenas acabar com suas vidas. No entanto, alguns mais inteligentes poderiam re-
frear seu ódio e construir relacionamentos com os vivos. Davernoch era um desses.

O objetivo de sua vida falsa era habilmente aproveitar o poder da magia e aprender
técnicas além das magias vindas do momento de sua gênese.

No entanto, mesmo que quisesse aprender técnicas, ele não pôde encontrar ninguém
para ensiná-lo, dado que os undeads eram vistos como os inimigos dos vivos. Talvez se
houvesse outros undeads como ele — na verdade, havia uma sociedade secreta formada
por magic casters undeads — as coisas poderiam ter sido diferentes, mas, infelizmente,
Davernoch nunca havia encontrado tais seres.

Portanto, ele pensou em acumular riqueza, pois chegou à conclusão de que a avareza
sobrepujaria o medo que sentiam por ele. Assim sendo, pretendia usar o dinheiro para
alugar professores de magias.

A princípio, ele começou matando e roubando os viajantes, mas depois foi derrotado
por aventureiros que vieram atrás dele. Agora penosamente consciente de sua tolice, ele
considerou uma nova maneira de ganhar a vida. Portanto, ocultou sua identidade e se
juntou a um bando de mercenários.

Todavia, alguém descobriu que ele poderia lançar 「Fireballs」 e sua identidade como
um dos undeads veio à tona e foi então forçado a fugir do bando.

Depois disso, quando ele mais uma vez perdeu sua fonte de renda, alguém o encontrou.
Essa pessoa foi Zero.

Ele apresentou Davernoch a alguém que estava disposto a ensinar magia e pagou-lhe
apropriadamente. Em troca, Zero pediu a Davernoch que usasse seus poderes mágicos
sob sua orientação. Mas isso era exatamente o que Davernoch esperava.

Contanto que pudesse acumular mais poder mágico, mesmo um undead como ele, com
uma vida útil ilimitada, poderia eventualmente se tornar um ser capaz de erradicar toda
a vida. Zero poderia estar ajudando a criar um futuro desastre para a humanidade.

Contudo—

—Sebas se aproximou como uma tempestade, a mão direita cerrada em um punho des-
feriu um cruzado direto. Incapaz de se defender do soco ou evitá-lo, sem ter tempo para
se mover, a cabeça de Davernoch voou para longe.

Capítulo 8 Seis Braços


102
A não-vida de Davernoch foi extinta. Desapareceu sem que ele soubesse como, ou o
onde ofendera tanto seu oponente.

Ao contrário de seu eu de costume, Sebas disse com desdém:

“Apenas um ser em todo o mundo merece usar esse título. Esse ser é de uma majesto-
sidade incomparável. Um undead inferior como você deve conhecer o seu lugar.”

Sebas balançou a mão direita, sacudindo os fragmentos de osso presos a ela. Enquanto
o corpo de Davernoch desintegrava-se, os muitos itens mágicos que ele havia equipado
caíram ruidosamente no chão.

Mesmo quando todos estavam atônitos em choque, os membros restantes do Seis Bra-
ços ainda podiam se mover. Como esperado, eles eram guerreiros capazes; apenas pes-
soas que passaram por inúmeras batalhas de vida ou morte poderiam fazer uma coisa
dessas.

De fato, isso era digno de louvor. Isso porque provou que a reputação de serem a par
com aventureiros adamantite não era conversa fiada.

Depois disso, Sebas foi em direção a mulher.

“Cimitarra Dançante”, Edström.

Suas armas mágicas estavam imbuídas com 「Dance」. Como o nome sugeria, era um
encantamento que permitia que uma arma se movesse como se estivesse dançando, per-
mitindo que atacassem de forma independente. Assim, era comumente considerado
como a melhor maneira de aumentar a quantidade de ataques de uma pessoa.

Dito isso, esse encantamento permitia apenas movimentos simples e, portanto, não era
adequado como método ofensivo primário. No máximo, era bom para ataques furtivos
ou para dificultar algum ataque inimigo, durante encontros ferozes entre guerreiros de
seu nível, tudo o que podia fazer era entrar no caminho do inimigo. Como havia um limite
para o quanto alguém poderia encantar uma arma, era uma escolha sensata escolher
outro efeito, em vez do encantamento 「Dance」. Por exemplo, Gagaran da Rosa Azul
usava uma arma cujos encantamentos apenas aumentavam o dano causado.

Mesmo assim, não havia melhor encanto para ela do que as propriedades vindas do
「Dance」.

Armas dançantes se moviam de acordo com a vontade de seus mestres. No entanto,


quando o dito mestre estava em uma luta até a morte, se provou ser muito difícil confiar
em uma arma completamente alheia a si para atacar um adversário, a menos que hou-
vesse uma tremenda disparidade entre os combatentes. Portanto, a maioria das armas
dançantes só poderiam fazer movimentos simples.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


103
Mas, esse não era o caso dela.

Ela podia de forma fácil e natural manipular suas armas como se estivessem sendo se-
guradas por um guerreiro invisível — alguém cujas habilidades eram equivalentes às
dela. A razão para isso foi devido à composição única de seu cérebro. Isso porque ela
havia nascido com um par de habilidades naturais.

A primeira foi um excelente senso de consciência espacial — beirando o preternatural.

Com isso, algumas pessoas poderiam ter suas mãos direitas agindo com total indepen-
dência de suas mãos esquerdas sem treinamento. Como se não bastasse, sua habilidade
nesse campo era ainda maior; sua mente era dotada de uma flexibilidade antinatural.
Essa foi sua segunda habilidade.

Não seria incomum alguém descrevê-la como tendo dois cérebros. Essa era a habilidade
dela.

Se possuísse apenas uma dessas habilidades, ela não teria sido capaz de controlar suas
espadas tão livremente. No entanto, essas duas habilidades estavam trabalhando juntas.
Pode-se dizer que era um milagre.

Com toda a probabilidade, não havia mais ninguém dentro dos nove milhões de almas
do Reino que possuísse as mesmas habilidades que ela.

Suas cimitarras saíram das bainhas por conta própria, de acordo com seu espírito de
luta. Tudo o que ela tinha que fazer era se concentrar na defesa, enquanto as outras cinco
espadas lançavam ataques por conta própria.

Era uma barreira de lâminas. Entrar nessa gaiola significava morte certa.

Contudo—

Antes que as cimitarras pudessem começar seus ataques, Sebas já tinha entrado em seu
raio de ataque, ele lançou um golpe com velocidade incompreensível.

No momento seguinte, a cabeça dela caiu no chão. Envolvida em ki, sua mão esticada
como o gume de uma faca era mais afiada que qualquer lâmina.

Sangue fresco jorrou de seu pescoço e seu corpo caiu duro logo depois. No entanto, as
cinco cimitarras ainda pairavam no ar.

Isso porque a mão de Sebas tinha sido tão rápida e afiada que ela ainda não sentira a
própria morte. E muito provavelmente nem mesmo sentiu dor alguma.

As cinco cimitarras — ainda obedecendo à sua vontade — cortaram o ar em direção a


Sebas.

Capítulo 8 Seis Braços


104
No entanto, Sebas as ignorou, ficando indiferente. Ele carinhosamente se dirigiu a ca-
beça caída com louvor honesto:

“E pensar que continuaria a lutar mesmo com a cabeça decepada... eu saúdo seu espírito
de luta.”

Sua boca abriu e fechou.

O que está dizendo? Eu não entendo...

Ela lentamente entendeu o sentido daquelas palavras. Seus olhos se moveram desespe-
radamente, e então viu seu corpo decapitado. Seu semblante ficou caótico, saindo con-
trole. Ela piscou várias vezes, seus olhos ficaram tão arregalados que pareciam estar
prestes a saírem das órbitas.

Impossível. Não pode ser. Deve ser uma ilusão. Ninguém pode me derrotar assim. Ele nem
fez nada comigo. Deve ter algum encanto impedindo meus movimentos, só pode ser isso.
Alguém diz alguma coisa!

E então, ela finalmente aceitou a realidade, e o desespero inundou seu rosto.

Sua boca abriu e fechou, e as espadas dirigidas a Sebas caíram no chão, para nunca mais
se moverem.

“Vem logo, ataque comigo! Vamos ir juntos!”

Uma voz que soou como um berro veio do homem de armadura. Por mais robusta que
fosse, sua armadura não podia protegê-lo de seu medo.

Ele havia percebido — não com sua mente lógica, mas com seu coração e alma — que
Sebas tinha dito a verdade, pois agora enfrentavam uma criatura que nunca deveriam
ter desafiado, que nem sequer deveria existir neste mundo.

“T-to-me, tome m-meu 「Void... Void Cutter」!”

Ele já sabia. Sabia que estava prestes a morrer. Sabia que não importava o que fizesse,
não havia como derrotar o homem chamado Sebas.

Ele não fugiu porque seus instintos lhe disseram: Você não vai durar mais do que alguns
passos antes que ele o mate. Você vai morrer se você avançar. Você também vai morrer se
você se retirar. Sendo esse o caso, pelo menos...

Esses pensamentos provaram que ele ainda era um guerreiro.

O homem que o confrontava — Sebas — estreitou os olhos.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


105
Isso foi porque ele estava pensando, talvez este possa ser o primeiro inimigo cujas habi-
lidades eu tenho que observar.

A pessoa que fez Sebas era um Campeão Mundial conhecido como Touch Me, cujo trunfo
era um golpe que cortava o próprio tecido do próprio espaço-tempo. Claro, não havia
como a pessoa diante dele chegar a esse nível, mas mesmo uma imitação dessa técnica
poderia machucar Sebas.

“Corte Espacial”, Peshurian.

Seu apelido foi derivado de sua técnica misteriosa, onde ele podia sacar a espada e di-
vidir um inimigo ao meio mesmo a três metros de distância. Mas na verdade, esse movi-
mento não cortava o espaço.

O segredo estava na espada.

Havia um tipo de espada chamada urumi. Era uma lâmina comprida feita de um metal
flexível que dobrava facilmente. A arma que Peshurian carregava era uma urumi que
tinha sido tão afiada ao ponto de ser chamada espada de cordel cortante. Talvez um chi-
cote de metal possa ser um nome mais preciso.

Seu ataque de alta velocidade combinado com tal arma matava um inimigo sem deixar
marcas, apenas um arco residual de luz. E assim ganhou seu apelido.

Comparado aos outros membros do Seis Braços, essa técnica era mais um truque, mas
o fato de ele poder usar habilmente uma arma que era tão difícil de dominar provava
suas incríveis habilidades de guerreiro. Se alguém entregasse a mesma arma para Gazef,
até mesmo o homem saudado como o mais poderoso guerreiro não seria capaz de ma-
nejá-la tão bem quanto Peshurian.

Além disso, seu poder não era diminuído, mesmo alguém sabendo o truque utilizado.

O aspecto assustador do chicote jazia nas velocidades ridículas que a ponta podia al-
cançar. Interceptar o golpe era muito difícil— não, era quase impossível.

Era um corte em altíssima velocidade. O ataque era tão veloz que cortava o próprio ar,
mas era mesmo digno de ser comparado a um corte no espaço-tempo?

Contudo—

A ponta da espada, a ponta daquele ataque de alta velocidade, parou entre dois dedos.
Tão casual era aquele movimento que parecia como alguém pegando algo do chão.

Sebas examinou cuidadosamente o metal entre as pontas dos dedos e arqueou uma so-
brancelha.

Capítulo 8 Seis Braços


106
“É só isso...? E pensar que usou um nome tão extravagante para isso...”

“Yeeart!”

Como um grasnar de um pássaro, um florete perfurante acelerou para Sebas.

“Mil Mortes”, Malmvist.

Sua arma principal, Rose's Thorn, fôra encantada com duas propriedades mágicas. A
primeira era a 「Fleshgrinding」. No instante em que a espada atingia o corpo de seu
inimigo, essa magia assustadora torcia o tecido muscular da região. Esse efeito rasgava
e arrebentava a carne ao redor do local da lesão, deixando feridas hediondas. A outra era
「Master Assassin」. Esse encantamento aumentava as feridas e fazia até mesmo o me-
nor arranhão ser uma ferida grave.

Essas duas habilidades eram demasiadamente cruéis, mas ainda havia mais um truque
agindo em conjunto. Não era oriundo de magia — mas de veneno.

A ponta do Rose's Thorn estava manchada com uma mistura letal de muitos venenos.
Malmvist preparou isso porque estava mais para assassino do que guerreiro. Desde que
entrou nessa vida, ele montou essa combinação com o objetivo de matar qualquer ini-
migo o mais rápido possível, independentemente da abordagem que tomasse. E de fato,
mesmo um único arranhão poderia ser fatal.

Sem as contramedidas adequadas, até Gazef Stronoff e Brain Unglaus pereceriam sob
sua lâmina.

No entanto, havia um ponto fraco.

Como dependia dos três fatores atuando para vencer, espada de Malmvist era fraca.
Claro, suas estocadas ainda eram impressionantes; suas investidas relâmpagos eram in-
discutivelmente superiores até mesmo as de Gazef Stronoff.

Em outras palavras, ele tinha as investidas mais rápidas da Capital Real.

Se isso não bastasse, esse movimento foi ainda mais aprimorado por muitas Artes Mar-
ciais, quase tantas quanto as de Clementine, ex-integrante da Escritura Preta.

Contudo—

Sebas não se esquivou. Ele não precisava se esquivar.

“...!”

Malmvist, que dera aquela estocada com todas as suas forças, não conseguiu falar.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


107
Rose's Thorn — um florete perverso que poderia matar com o menor arranhão. Ele viu
Sebas bloqueando-o com o dedo.

De fato, Sebas havia parado a ponta do florete com a ponta do dedo indicador.

“...Q-quê?”

Malmvist piscou repetidamente, tanto que parecia ter perdido controle de suas pálpe-
bras. Só depois ele percebeu que não era uma ilusão, não era um sonho, e então conse-
guiu soltar algumas palavras. Não havia mais nada que pudesse fazer.

Isso não fazia sentido algum. Sua experiência lhe dizia que a carne de um dedo não po-
deria impedir uma estocada que pudesse perfurar o aço. No entanto, o que ele viu diante
de seus olhos era a realidade.

Malmvist não conseguiu mover o dedo do velho que gentilmente bloqueou seu florete,
não importava quanta força usasse.

O Rose's Thorn se curvou.

Ele tentou puxar o florete de volta para tentar atacar em algum outro lugar, mas antes
que pudesse fazê-lo, Sebas tinha apertado sua ponta entre o polegar e o dedo indicador.
Isso imobilizou a lâmina.

Diante dele estava uma montanha imóvel. Ele viu que seu colega também estava ten-
tando desesperadamente puxar sua própria espada de volta.

Em meio a essa situação, uma voz em tons de aço soou, cortando tudo em seu caminho.

“Tudo bem, minha vez.”

No instante seguinte, a cabeça de Peshurian explodiu.

♦♦♦

Um ataque como este poderia ser considerado bastante raro vindo de Sebas. Até agora,
ele estava usando uma técnica adequada, mas esse golpe havia nascido de raiva impen-
sada, perfurar a cabeça do oponente com pura força bruta.

Ele desviou o olhar para a mão direita que ele havia impulsionado em direção à cabeça
agora desintegrada.

Sua luva branca estava salpicada de manchas e o aroma férrico pairava no ar.

“Que gafe...”

Capítulo 8 Seis Braços


108
Ele soltou o florete e usou os dedos que a seguravam para retirar e descartar a luva
manchada de sangue. No instante em que bateu no chão de pedra, Malmvist prendeu-a
com a ponta da lâmina delgada, arremessando a luva para longe.

Talvez Malmvist estivesse muito confiante de que fosse tão rápido quanto uma estrela
cadente no céu noturno, mas para Sebas, ele era tão lento que provocava bocejos. Ele
poderia ter quebrado o florete, ou se adiantado e decapitado explosivamente seu opo-
nente, ou feito muitas outras coisas para pegar sua luva de volta. No entanto, ele sim-
plesmente não conseguia entender o que seu oponente estava almejando. Confuso, Se-
bas não fez nada, mas perguntou diretamente:

“O quê... está tentando fazer?”

“É isso!!! Este deve ser o item mágico que está te deixando mais forte!!!”

Era apenas uma luva feita de pano.

Sua voz soava como um gongo quebrado. Espuma borbulhava o canto de sua boca. Seus
olhos estavam vermelhos. Provavelmente parte da mente de Malmvist estava perdida
em um mundo de loucura. Tendo testemunhado uma visão inacreditável, ele estava de-
sesperadamente procurando por alguma razão para explicar o que tinha visto.

“Você precisa apenas reconhecer minha força; por que pensa assim...? Mas está no seu
direito de fazê-lo.”

Sebas deu um soco no homem cujo rosto estava sorridente.

Depois que Malmvist caiu no chão, a cabeça explodiu em pequenos pedaços, tudo o que
restou foi o silêncio.

Sebas soprou a ponta do dedo, como se para limpar alguma coisa. contudo, a proteção
de sua pele de ferro impediu-o mesmo de ser arranhado.

“Enfim, eu poderia ter resolvido em cinco segundos, mas aquele chamado Corte Espa-
cial me deixou muito cauteloso. Ser capaz de durar vinte segundos é bastante louvável.”

Depois disso, Sebas deu uma ordem à predadora que estava se preparando para captu-
rar as pessoas dentro do prédio — aquelas que ele havia apontado momentos antes, que
haviam testemunhado essa cena trágica da varanda:

“Solution, imagino que eles possuam informações úteis, por isso não os mate. E agora,
vejamos...”

Ele olhou friamente para as pessoas ao redor dele, todas as quais estavam congeladas
no lugar.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


109
“Dez segundos para o resto de vocês.”

Parte 3

4º Dia do mês Baixo Fogo (9º mês) - 22:13

Climb corria pelo corredor vazio. Graças ao encantamento em seu elmo, ele podia ver
as duas pessoas correndo ao seu lado mesmo com 「Invisibility」 em vigor. Ele até
mesmo se perguntou se a magia havia realmente sido lançada. No entanto, após uma
inspeção mais atenta, os dois pareciam um pouco translúcidos, então não havia nada a
temer.

Ele precisava tomar cuidado para não fazer muito barulho, mas também não poderia
diminuir o ritmo.

Eles precisavam resgatar a garota sequestrada enquanto Sebas os comprava tempo.


Mesmo que Sebas fosse alguém tão excepcional ao ponto de nem mesmo Gazef Stronoff
e Brain Unglaus juntos pudessem derrotá-lo, seus oponentes ainda eram os membros do
Seis Braços, que diziam estar no mesmo nível dos aventureiros de ranques adamantite.
Se eles o cercassem e atacassem-no, as coisas poderiam ficar perigosas. Assim sendo,
precisavam resgatar imediatamente a mulher presa e fugir com Sebas.

Depois de várias voltas e lances de escadas para baixo, o homem à sua frente de repente
parou.

Climb tropeçou no lugar por alguns passos, e então o ladino pediu desculpas em tons
de sussurro:

“Sinto muito por isso, líder. É ali. As celas estão logo depois dessa curva, a mulher fica
na parte mais interna.

Foi puramente por acaso, mas a magia de invisibilidade desapareceu enquanto ele fa-
lava — como se estivesse reagindo à sua voz — fazendo com que todos parecessem co-
loridos de forma vibrante mais uma vez.

Seguindo a sugestão do ladino, Climb espiou de um canto. Lá ele viu uma passagem es-
cura, com várias celas grandes enfileiradas.

“...Não há ninguém por perto, assim como antes.”

Não havia cativos nem sentinelas. Essa falta de precauções era suspeita para dizer o
mínimo. Era como se estivesse tentando atraí-los. No entanto, quando se pensava com

Capítulo 8 Seis Braços


110
calma, ninguém seria suicida o suficiente para se infiltrar em um prédio onde os mem-
bros mais fortes da Oito Dedos — Seis Braços — estivessem reunidos. Climb e os outros
também não teriam corrido esse risco, se não fosse pelo fato de Sebas servir de engodo
e o resgate de uma mulher estivesse em jogo.

Os outros provavelmente pensaram da mesma maneira.

Esse desdém e as aberturas que deixaram foram um grande benefício para a equipe de
Climb. Isso era o que as pessoas chamavam de “Quanto maior o orgulho, maior a queda”.

“Bora entrar e resgatar a refém sem perder tempo, beleza?”

Talvez fosse porque estavam juntos em terreno inimigo, mas o tom do ladino se tornou
muito mais amistoso do que antes. Brain perguntou a ele:

“Antes disso, uma perguntinha? E essas portas duplas por tudo o caminho, será pra quê?”

Olhando para o corredor, havia um conjunto de portas duplas, exatamente como Brain
dissera.

“Ah— bem, pelo o que eu vi até agora, essas coisas não são bem celas, mas gaiolas ani-
mais. Eu acho que as portas dão para... algum tipo uma arena.”

“Ah, é... agora que comentou, realmente dá para sentir que animais passaram por aqui.
Ouvi dizer que no Império eles permitem que feras mágicas lutem nas arenas...”

Climb fungou o ar quando Brain pontuou. Havia o odor de animais — feras carnívoras,
para ser preciso.

“É, só que tem uma grande diferença entre usar eles como treinamentos e usar como
execução pública. Melhor nem pensar no que mais esses caras usam... podem até ter feito
uma exposição de monstros ou algo assim— Eita, tô saindo do assunto já. Vamos nessa?”

Climb assentiu para o chamado de Brain, assim como o ladino.

O ladino liderou o caminho, seguido por Climb e Brain.

Os três chegaram à cela mais interna sem se depararem com nada, então o ladino co-
meçou a inspecionar a porta.

A magia se ativou, e houve o som da fechadura da porta da cela desengatando. O ladino


parecia infeliz, mas não havia tempo para se exibir. Tudo o que Climb poderia esperar
era que ele não se importaria com uma coisa pequena como essa.

“A senhorita é a Tsuare-san?”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


111
Climb chamou a mulher na cela. A mulher deitada no chão se apoiou. Sua descrição era
exatamente como a fornecida por Sebas, ela estava vestida com um uniforme de empre-
gada. Eles provavelmente encontraram a pessoa certa, dado que ela provavelmente es-
tava usando o mesmo conjunto de quando foi sequestrada.

Isso acalmou Climb. Seu primeiro objetivo foi alcançado. Agora o segundo objetivo de-
les era tirá-la daqui com segurança.

“Sebas-sama nos pediu para resgatá-la. Por favor nos siga.”

A mulher — Tsuare — assentiu enquanto Climb falava com ela.

Quando Tsuare emergiu da cela, ela olhou para Brain e depois para o ladino. Ela pareceu
um pouco surpresa. Em particular, seus olhos olharam para Brain por mais tempo.

“Não escuto nada vindo desta porta, só que pode levar à arena. Mas sei lá, é muito ar-
riscado explorar um lugar que não sabemos nada sobre. Melhor se ater ao plano e refazer
nossos passos.”

Climb e Brain aprovaram. Ou melhor, por ambos serem guerreiros, sabiam que era me-
lhor deixar esse tipo de decisão para um profissional, daí a concordata mútua.

Climb olhou para os pés de Tsuare e se certificou de que estivesse usando algum calçado.
Dessa forma, ela deveria ser capaz de correr.

“Então, vamos sair o mais rápido possível.”

“Sim, pode deixar. Assim como antes, eu vou liderar, só me seguirem como antes. Não
vá se esquecer, hein. Não há magia de invisibilidade agora. Vou avançar e enviar sinais,
não fique distraído.”

“Entendido... Hum? Qual o problema, Brain-sama?”, Perguntou Climb a Brain, que esti-
vera observando Tsuare desde então.

“Hm? ...Oh, não, nada não, Climb-kun.”

Brain franziu a testa, mas não disse mais nada. Climb olhou para Tsuare, mas não viu
nada que lhe chamasse a atenção. Ela parecia nada mais do que uma empregada sendo
resgatada.

“Já que não tem nada de errado. Bora?”

O ladino começou a correr, seguido por Climb e Brain. Tsuare estava na parte de trás.

Depois de passar pelas celas, o ladino diminuiu a velocidade antes de virar a esquina.
Ele provavelmente estava verificando a situação nos arredores.

Capítulo 8 Seis Braços


112
No entanto, alguém virou a esquina, andava de forma tão natural e casual como se esti-
vessem dando um passeio, ficando cara a cara com ladino. O homem estava preparado
caso alguém fosse atrapalhá-los, mas ainda restava reagir quando realmente aconte-
cesse.

Assim que Climb ficou sem reação com o desenvolvimento súbito, o ladino fez uso dos
reflexos que um ex-orichalcum deveria ter. Ele preparou sua adaga e avançou com in-
tenção de matar.

E então — houve um tremendo estrondo quando o ladino voou para trás, como se um
touro o tivesse arremessado. Felizmente, Climb o pegou. Dado que o ladino não pôde se
preparar, ele poderia ter sido seriamente ferido apenas de bater no chão neste estado.
Mas, embora Climb o tenha pego, ele não conseguira absorver totalmente o impacto e os
dois rolaram pelo chão.

Climb estava preocupado com o gemido de dor do ladino, mas estava mais preocupado
com o homem que aparecera diante deles. Isso porque ele era definitivamente um ini-
migo.

Quem se interpôs em seu caminho era um homem careca. Seu corpo tinha músculos
firmes como rochas, seu rosto parecia um pedregulho, ele estava coberto de tatuagens
de animais.

O nome do homem passou pela mente de Climb e um som exalou sua surpresa.

“Zero!”

Um membro do Seis Braços e o líder da Divisão de Segurança, o mais poderoso da Oito


Dedos.

“...Isso mesmo, garoto. Você é o escravo daquela puta, né? Hmph! Quem diria que have-
ria formigas rastejando aqui. Só deixar as migalhas e vocês vêm. Que irritante.”

Zero deu apenas um olhar para Climb e o ladino no chão antes de voltar seu olhar severo
para Brain. Ele mediu o homem da cabeça aos pés, avaliando o valor de Brain, o guerreiro.

Climb ficou grato por essa pessoa poderosa não ter se incomodado em levá-lo a sério, e
então checou a condição do ladino.

“Você está bem? Tem alguma maneira de se curar?”

Ele perguntou baixinho por medo de que a atenção de Zero se voltasse contra eles.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


113
Não houve resposta, apenas o lamentar vindo da dor inimaginável. O mais chocante foi
que havia a forma de punho marcada em seu peitoral. Isso ilustrou claramente o poder
de um único soco de Zero.

Depois de balançar a cabeça várias vezes, o ladino finalmente voltou a si. Climb fez o
que o ladino pediu e tateou sua cintura.

“Já vi seu rosto antes. Você é Brain Unglaus, não é? O homem que lutou a par com o
Gazef Stronoff. Seu nome não é só enfeite; nenhum dos seus movimentos expõe quais-
quer pontos fracos. Parece que andou treinando depois do torneio. Agora faz sentido... o
Succulent não perdeu por ser descuidado, mas porque te enfrentou. Ele perdeu porque
o inimigo era muito forte. Vou perdoar essa falha dele, mas só desta vez. Mas veja meu
lado, você manchou minha reputação, normalmente eu te mataria. Mas meu humor está
ótimo hoje. Como suas habilidades de esgrima são excelentes, eu te darei uma chance.
Ajoelhe-se diante de mim, jure ser meu subordinado e vou poupar sua vida.”

“E quanto ao dinheiro, pagam bem?”

“Oh? Interessado...?”

“Tenho motivos pra não ouvir? Já que derrotei o Succulent, então eu devo valer uns
bons trocados, não?”

“Hahaha! Seu ganancioso de uma figa, falando de dinheiro antes de implorar por sua
vida. Agora pode ser tarde, caixão não tem gaveta, sabia!?”

“Ei ei, como assim? Quer dizer que não pode pagar? Eu não sabia que a Oito Dedos tinha
falido. Ou será que você tá desviando todo o dinheiro pro seu bolso?”

“O que disse!?”

As juntas de Zero estalaram de tensão.

“Você fala mais do que devia, Unglaus. Não pensava que era do tipo que ladra e não
morde. Ou ficou convencido porque derrotou o Succulent? Meu sincero pedido de des-
culpas por ter se iludido tanto, já que derrotou o membro mais fraco do Seis Braços.”

Brain deu de ombros, como se estivesse apenas brincando. Ele estava tentando prolon-
gar a conversa porque estava ganhando tempo para o ladino e Climb.

Nesse caso, por que Zero entrou nesse joguete? Ele provavelmente estava confiante em
derrotá-los em três contra um. Ou havia algum outro motivo?

...Huh?

Capítulo 8 Seis Braços


114
Tsuare se moveu lentamente atrás de Brain. Se ela queria ser protegida, então ela de-
veria ter se escondido atrás de Climb por segurança. Não havia necessidade de saborear
a emoção do perigo ficando logo atrás do homem a quem Zero encarava.

Brain moveu os ombros e olhou para trás. Foi um movimento muito sutil, e Climb não
tinha certeza disso. No entanto, seu olhar dirigido à Tsuare não havia bondade. Mais pre-
cisamente, certamente era o mesmo modo como olharia para um inimigo.

Eh? Por que ela foi lá? Ele tentou me dizer algo? Não, não é isso.

O que está acontecendo?

Preocupado, Climb se levantou.

“Hmph, então a formiga se levantou? Já ficou enrolando até demais para recuperem o
folego, é hora de me dizer sua decisão. Ou melhor, nem precisa falar. Ajoelhe-se ou não
se ajoelhe! Não me enrole, Unglaus!”

Brain bufou.

—Isso foi o suficiente.

“Então morra!”

Ele estendeu a mão esquerda para frente e puxou a mão direita para trás, cerrando o
punho ao fazê-lo. Ele baixou a cintura, mas seu corpo estava rígido e imóvel. A maneira
como seus músculos se arqueavam davam a impressão de que estavam rangendo. Neste
momento, Zero era como um pedregulho maciço, ou não, talvez fosse melhor dizer que
ele era como um touro furioso.

Em contraste, Brain baixou sua postura também. Seus movimentos eram os mesmos de
Zero, mas havia um mundo de diferença entre os dois.

Se Zero era como as correntezas de um rio, então Brain era como um lago silencioso. Se
Zero era o atacante, então Brain era o defensor.

“Ordenei que não matassem o velho, mas eles não têm piedade. Qualquer deslize e o
velho já era. Seria um pé no saco, pois eu mesmo tenho que matar aquele velho, para que
todos saibam o quanto é estúpido se opor a nós.”

Seu rosto se perverteu maliciosamente. Era como se demonstrasse como o ódio podia
fazer uma pessoa feia.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


115
“Unglaus, farei de você o alicerce da minha reputação como o guerreiro mais forte. Usa-
rei sua lápide para mostrar a todos o destino de alguém estúpido o suficiente para desa-
fiar o Seis Braços! Quanto ao escravo daquela puta, vou enviar sua cabeça de presente
para ela.”

Uma onda de sede de sangue tomou conta deles pela frente. No entanto, não foi nada
comparado ao que tinham experimentado de Sebas. Os olhos de Climb ficaram afiados e
ele o encarou de volta, deixando Zero um pouco desapontado.

“É mesmo? Então tá bom. Eu serei seu oponente, Zero. Climb-kun, cuide do inimigo na
retaguarda!”

Por um momento, Climb não entendeu o que ele disse. Mas foi apenas Climb quem não
entendeu. O ladino prontamente atirou uma faca de arremesso em Tsuare.

A lâmina que o ex-aventureiro orichalcum jogou foi rápida e precisa.

Tsuare mal conseguiu evitá-la. Segundo Sebas, Tsuare deveria ser uma empregada co-
mum. Mas ela foi muito hábil para que fosse uma mera coincidência.

“Quer dizer percebeu!”

O orador ainda era Tsuare, mas a voz pertencia ao Diabo das Ilusões, Succulent.

“Entendi, não soltou um pio aos seus salvadores pois sabia que reconheceriam a sua
voz, né? Mas ficar circulando pelas minhas costas é muito suspeito. Bem, foi um chute,
ainda poderia ser a verdadeira sob controle mental.”

Brain não olhou para trás — ainda encarando Zero — enquanto desvendava o mistério.

“Se isso não bastasse, notei a maneira como correu, foi suspeita, mas ainda não era
prova de nada... felizmente, aceitei o palpite. Não deu muito tempo pra dizer que ele ati-
rasse com cuidado.”

O rosto do ladino enrijeceu por um momento. Então, pareceu estar dirigindo uma ex-
pressão de gratidão a Succulent.

“Hmph. Pelo modo que diz, parece que desvendou completamente essa pequena farsa.
Não adianta continuar com isso. Vamos resolver agora, com força bruta! ...Succulent,
mate aqueles dois imbecis ali. Você dá conta, certo?”

“Cla-claro, chefe.”

A imagem de Tsuare se dissolveu no nada, e em seu lugar estava Succulent. No entanto,


ele ainda estava no traje de empregada.

Capítulo 8 Seis Braços


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“Eu mudei meus planos e vim até aqui para te ajudar nessa palhaçada, mas nem isso
consegue fazer direito...”

O que Zero pretendia fazer estava tão abundantemente claro que o homem apressada-
mente assentiu e então se virou para encarar Climb.

“Nos encontramos de novo, pirralho.”

O tom sério de Succulent continha um nervosismo inesperado para aquele que havia
saído vitorioso em seu encontro anterior.

A Oito Dedos não era uma organização compassiva e, naturalmente, eles não perdoa-
riam uma segunda falha. Succulent agora estava lutando uma batalha difícil, e a compos-
tura fugiu de seu rosto.

“A Oito dedos pode resgatar alguém preso no nome da Princesa!?”

Embora tenha testemunhado o poder da Oito Dedos, ele ergueu sua espada mesmo as-
sim.

“...Eu não posso perder desta vez.”

Brain o ajudou a derrotar seu oponente na última vez. No entanto, nem mesmo Brain
Unglaus poderia garantir uma vitória fácil contra Zero e Succulent, ambos membros do
Seis Braços.

O inimigo é mais forte que eu.

Se ele se agarrava a essa linha de pensamento covarde, tudo o que ele podia fazer era
aguardar a morte.

Eu preciso vencer.

Com essa determinação inabalável em seu coração, Climb empurrou o pé para frente —
pareceu mais arrastar — e avançou um passo em direção a Succulent.

“Relaxa — vou te dar uma mãozinha.”

O ladino expressou seu incentivo da retaguarda. Seu tom casual foi provavelmente uma
gentileza calculada para aliviar a tensão no coração de Climb. Como ele era mais habili-
doso que Climb, era bom contar com seu apoio. No entanto, ele recebeu um golpe de Zero,
e não estava totalmente recuperado, mesmo depois de beber sua poção. Além disso, eles
nunca haviam lutado lado a lado antes, fazendo com que Climb se preocupasse sobre a
coordenação de seus ataques.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


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O ladino sentiu o que Climb estava pensando, que por sua vez, sentiu que ele estava
sorrindo.

“Tô dizendo, relaxa! Vou agir como suporte. Os ladinos lutam de forma diferente dos
guerreiros — vou te mostrar que combate é muito mais que balançar espadas.”

“Obrigado.”

Ele era muito mais experiente. Portanto, não era que Climb deveria se igualar ao seu
parceiro, mas que o ladino se igualaria a Climb. Tudo o que Climb precisava fazer era
lutar com Succulent dando tudo de si.

Climb olhou para seu oponente, havia um olhar determinado em seus olhos. Succulent
estava gerando clones de si mesmo como da última vez. Agora haviam vários Succulents,
e ele não sabia qual era o original. Um gosto amargo tomou conta de sua boca.

Assim que os dois lados se aproximaram, um pequeno saco de couro foi arremessado
das costas de Climb.

“É assim que um ladino luta!”

O saco se abriu aos pés de Succulent e o pó tomou conta do lugar. Succulent cobria a
boca, pensando ser veneno. Mas não foi o caso. Não era veneno, mas um item mágico.

“Powder of Will O' Wisp!”

Os efeitos foram imediatamente visíveis. Dos cinco Succulents, apenas um brilhava com
uma luz tênue de cor branco-azulado.

Os olhos de Succulent se arregalaram quando ele percebeu o efeito.

O Powder of Will O' Wisp era usado para revelar oponentes invisíveis ou disfarçados.
Mas era ineficaz contra seres não-vivos.

「Multiple Vision」 refletia a condição atual do corpo de origem, então, mesmo que
caia tinta no corpo de origem, as duplicatas também copiariam as manchas de tintas.
Mesmo se prestasse muita atenção, ainda seria muito dificil de diferenciar os verdadei-
ros dos falsos. No entanto, quando se trata de itens mágicos, mudanças no original não
afetam as ilusões.

Talvez uma magia de ilusão de alto nível pudesse reproduzir os efeitos de um item má-
gico, mas Succulent — que treinara como esgrimista e ilusionista ao mesmo tempo —
não podia usar tais ilusões de alto nível.

A espada de Climb cortou o verdadeiro Succulent.

Capítulo 8 Seis Braços


118
“Droga!”

Succulent saltou para longe. Foi uma esplêndida esquiva, mas parecia um pouco desa-
gradável aos olhos, devido ao fato de que estava em um uniforme de empregada.

Eles foram e voltaram assim mais de uma dúzia de vezes.

Climb estava na vantagem. Este não era mais um truque de Succulent; foi simplesmente
devido à diferença em suas proezas de combate.

Os seres humanos não podiam de repente tornar-se mais habilidosos treinando em um


único dia. As diferenças em suas respectivas habilidades de combate não mudaram
desde o encontro anterior.

Mas havia exceções para todas as coisas. Indo direto ao ponto, Climb estava mais forte
enquanto Succulent ficou mais fraco.

Para começar, Climb estava equipado com sua armadura encantada, seu escudo, sua
espada e outras peças de sua panóplia. Sua força muscular melhorara, seu poder defen-
sivo aumentara, e o mais importante era que ele poderia usar o método de luta com o
qual estava familiarizado. Em contraste, Succulent tinha sido preso, todos os seus itens
mágicos equipados foram confiscados e, além disso, ele foi forçado a vestir um uniforme
de empregada para se disfarçar com uma transformação ilusória, deixando seus movi-
mentos limitados.

Graças aos seus equipamentos, a disparidade entre eles diminuíra consideravelmente,


mas naturalmente, isso não era tudo.

Uma das razões pelas quais Succulent ficou mais fraco, foi porque seu estilo de luta ti-
nha sido descoberto. Além disso, o ladino que apoiava o Climb por trás estava forne-
cendo conselhos oportunos e precisos.

Mesmo quando Succulent usava ilusões, elas eram combatidas uma a uma pelos itens
alquímicos ou mágicos do ladino.

A maneira como o ladino respondera Succulent era como se ele estivesse especialmente
preparado para enfrentá-lo. De fato, o ladino havia estimado as habilidades do Seis Bra-
ços a partir de informações prévias e preparado contramedidas contra todos. O espan-
toso era que ele tinha contramedidas para Succulent, que deveria estar na cadeia. Este
foi um grau obsessivo de preparação.

“Filho da puta!”

A voz de Succulent estava mais preocupada e em pânico do que antes da batalha.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


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Ele olhou para o ladino. Climb se moveu para bloquear sua linha de visão. Ele não podia
permitir que seu suporte fosse atacado.

Defendido por uma vanguarda, o ladino deliberadamente provocou Succulent.

“Ei ei, cara feia pra mim é fome! Você não um valentão do Seis Braços, pensei que estava
no mesmo nível dos aventureiros adamantite, o que rolou? Eu dar uma mãozinha te atra-
palha tanto assim?”

O rosto de Succulent se contorceu em ódio. As feridas que ele sofrera em troca de golpes
escorriam com sangue fresco, fazendo-o parecer ainda mais cruel.

“Seu merda!”

Gritou Succulent e preparou-se para lançar uma magia. Como guerreiro, Climb deveria
ter se apressado para impedi-lo, mas ele não o fez. Isso porque já havia executado mais
de uma dúzia de manobras em conjunto com o ladino, eles acabaram por desenvolver
uma sinergia livre de palavras. Portanto, ele decidiu continuar confiando nisso.

Fazendo uma parábola, um frasco voou por trás de Climb e quebrou-se aos pés de Suc-
culent. Climb viu um gás colorido e asfixiante se espalhar.

“Kahah! Coff! Ghrum!”

Succulent tossiu várias vezes, claramente na miséria.

Isto foi meramente uma pequena interferência com um item alquímico. No entanto, foi
bastante eficaz, e Succulent cessou sua conjuração.

Truques como este não teriam nenhum efeito impeditivo sobre um magic caster espe-
cializado, mas Succulent também tinha treinado como guerreiro. Assim, mesmo esse
obstáculo trivial o interrompeu, desperdiçando sua mana.

Aproveitando a abertura, Climb atacou Succulent usando todas as suas forças. Este não
foi o mesmo ataque comedido que tinha feito até agora, mas um avanço que não o per-
mitia recuar. Para alguns poderia ser uma ação precipitada, tomada na esperança de ob-
ter uma vitória rápida. No entanto, os instintos guerreiros de Climb gritavam para ele:

É agora ou nunca! Vitória e derrota serão decididas aqui.

De fato, Climb e o ladino atualmente tinham a vantagem, mas não havia como dizer
quanto tempo isso duraria. O suprimento de itens lançados pelo ladino também não era
infinito. Ele precisava aproveitar o melhor momento e pressionar a vantagem.

Climb ativou a Arte Marcial única que havia dominado ontem.

Capítulo 8 Seis Braços


120
Ele ainda não a havia nomeado. Mas se tivesse que escolher algum nome sem pensar
muito, poderia chamá-la de 《Romper Limite - Mente》. Seu efeito era bastante simples;
removia as limitações que o cérebro humano exercia sob o corpo. Através disso, todos
os seus atributos — de seus sentidos para suas habilidades físicas — aumentavam de
nível.

O uso prolongado desta técnica levaria à fadiga física ou ruptura muscular, por isso po-
deria ser considerada uma faca de dois gumes. Todavia, ele não seria capaz de vencer
Succulent se não terminasse a batalha o mais rápido possível.

Quando a Arte Marcial foi ativada, Climb percebeu algo ligando em seu cérebro.

As emoções violentas que corriam por seu coração foram exaladas como um grito feroz.

Succulent parecia chocado, como se ele tivesse se lembrado de alguma coisa. No encalço
de seu choque, algo que poderia ser chamado de medo tomou conta. Este não era um
sentimento que ele — um homem que estava a par com o mais alto ranque de aventu-
reiros — deveria ter ao enfrentar alguém muito mais fraco.

Climb levantou sua espada e a desceu em um poderoso golpe e—foi bloqueada. Ser ca-
paz de bloquear uma espada longa encantada com uma adaga não encantada era real-
mente digno de elogios. Entretanto, o fato de que o golpe de Climb poderia forçar o es-
grimista a escolher a defesa contra a qual ele não tinha habilidade também foi bastante
admirável.

Mas esse não foi o fim do ataque. Climb imediatamente empurrou o pé para a frente,
chutando-o.

Succulent imediatamente agiu para proteger seu abdômen— logo depois seu rosto se
contorceu severamente.

“Abbaahhhh!”

Ele perdeu toda a cor do rosto, suava frio, e ele estava praticamente debruçado en-
quanto recuava com as pernas bambas.

Climb olhou para trás e viu o ladino se compadecendo da dor de sua oposição.

Succulent tinha sido chutado na virilha por uma bota de ferro. Ele aparentemente es-
tava usando uma proteção de algum tipo, mas Climb pôde sentir algo sendo deformado
lá dentro.

E então, ele o finalizou com uma pancada na cabeça.

Sangue fresco jorrou, e Succulent caiu pesadamente no chão fazendo um belo baque.

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Climb não ousou ficar descuidado, prontamente examinou o que o rodeava. Ele estava
particularmente atento no caso de um inimigo tentar circular por trás do ladino. Depois
de um tempo, ele finalmente se permitiu baixar a guarda. Isso provavelmente não era
uma ilusão.

Este foi um grande feito. Mesmo sendo dois contra um, foi uma vitória e tanto.

Climb virou-se para Brain. Por um momento, ele pensou que poderia ajudar— mas en-
tão esse entusiasmo desapareceu.

A batalha que se seguia estava em um nível completamente diferente.

A primeira coisa foi que soava diferente.

O que deveria ser um choque entre a lâmina e o punho, produzia um clangor de metal.
Não houve pausa também. A intensa troca de golpes entre eles fez Climb se perguntar
como conseguiam respirar enquanto o faziam.

Zero, em particular, chamou sua atenção.

Seu punho esculpia fendas da parede. Era um movimento suave e fluído, como cavar
barro, mas ele arrancava estilhaços da superfície.

“Minha nossa... dizem que os monges de alto nível podem fazer seus punhos tão duros
quanto o aço, mas os punhos desse cara são mais que isso. Aquilo é tão duro quanto
mythril... não, orichalcum?”

O ladino estava assistindo a mesma cena ao lado de Climb, e ele murmurou para si
mesmo.

Depois de um minuto de golpes trocados — depois de uma intensa batalha que teria
estraçalhado Climb — ambos os lados estavam ilesos. Como resultado, um olhar de res-
peito genuíno floresceu no rosto de Zero.

“Unglaus... Você é dos bons. É o primeiro homem que suportou meus ataques por tanto
tempo.”

Da mesma forma, Brain tinha uma expressão respeitosa em seu próprio rosto.

“Digo o mesmo... em toda a minha vida, esta é a segunda vez que eu conheci um monge
tão habilidoso.”

“Oh?” O rosto de Zero se torceu em interesse:

“Quer dizer que tem outro monge como eu? É a primeira vez que ouço falar de algo
assim. Aproveita e diga o nome dele enquanto ainda pode, até onde sei, morto não fala.”

Capítulo 8 Seis Braços


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“Cedo ou tarde ele vai chegar, assim que der conta dos outros do Seis Braços.”

As sobrancelhas de Zero se franziram e ele sorriu.

“Hmph! Fala daquele velho? Foi mal, mas enviei quatro dos meus para dar boas-vindas.
Eles não são como merda do Succulent. Hmph, não são tão bons quanto eu, mas também
não são ruins. Acha mesmo que um velhinho dá conta disso?”

“Tem gente que só acredita vendo. Eu mesmo já consigo ver ele chegando a qualquer
momento.”

“Nossa, que velho assustador ele é. Nesse caso, é melhor ficar um pouco sério.”

Climb ficou perplexo com essas palavras. O fato de que Zero ainda bradava que havia
mais por vir fez Climb imaginar o quão inatingível ele seria se lutasse seriamente. O fato
de que Brain não parecia surpreso também o chocou.

Será que nenhum dos dois estava lutando a sério? Este é o verdadeiro pináculo da huma-
nidade, uma batalha entre guerreiros a par com os aventureiros adamantite!

“Finalmente algo que eu concordo. Aqueles dois já deram conta da parte deles, então eu
não preciso mais ficar de enrolação. Vem pra mim, Zero. Vamos dar um fim nisso!”

Brain embainhou sua espada e abaixou a postura. Climb já havia visto essa postura an-
tes; era a mesma postura que Brain havia assumido quando derrotou Succulent em um
único golpe. Antes que Climb pudesse se perguntar se Zero seria derrotado em um ata-
que, o homem já havia pulado bem para trás. Ele abriu a distância entre eles com agili-
dade sobre-humana.

“A Edström pode fazer uma barreira de espadas. Essa sua técnica não é bem isso, mas
de certa forma também é, acertei? Entrar aí de bobeira corta alguém no meio, não é isso?”

Zero provavelmente não descobriu a inovadora Arte Marcial de Brain, mas ele ainda
sentia a natureza do movimento, provando que seus sentidos de guerreiro eram real-
mente excepcionais.

“Ainda assim... só de olhar posso dizer que é um golpe que só permite ser ativado se o
oponente se entrar aí, você não pode usar isso sem essa postura.”

Zero socou o ar. Parecia ser um movimento sem sentido, mas aquele punho de ferro
realmente gerou uma onda de choque que atingiu o corpo de Brain.

“Tudo que eu preciso fazer é atacar você de longe e eu ganho. Ou tem alguma maneira
de cortar um inimigo distante?”

Capítulo 8 Seis Braços


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“Não, eu não.”

Brain respondeu honestamente e completou:

“Se você vai lutar assim, então eu não vou usar minha técnica.”

Zero calmamente — com uma expressão que alguns poderiam dizer que não lhe convi-
nha, um ondular na superfície de um lago — perguntou:

“Diz aí, Brain Unglaus. Este seria seu ás na manga?”

“Sim. É meu trunfo e apenas meu... derrotado apenas uma vez.”

“Que pena. Quer dizer que alguém já derrotou isso uma vez? Acho melhor já ir contando
como duas vezes.”

Zero lentamente puxou o punho para trás, assumindo uma postura própria.

“Eu vou te socar pela frente. Vou quebrar essa técnica que tem tanto orgulho e alcançar
a vitória. Primeiro será você, Unglaus, mas, um dia, mesmo Gazef Stronoff se ajoelhará
diante de mim. E então, eu serei o homem mais forte do Reino.”

“Eu vejo as coisas de outro modo, essa sua ambição vai te fazer tropeçar assim que der
o primeiro passo. Zero, você realmente acha que tem tempo, não é?”

“Você fala demais... não, você foi um bom aquecimento, tenho de admitir que sabe uma
coisinha ou outra. Mas ainda sou melhor que você. Vá pro inferno sabendo disso, lamente
o fato de que ousou ficar contra o todo-poderoso Zero-sama. Aqui vou eu!”

O corpo de Zero estava coberto de tatuagens de animais, e essas tatuagens começaram


a brilhar fracamente. Brain, por sua vez, permaneceu imóvel. Enquanto Zero parecia tão
estóico quanto uma estátua, Climb podia sentir um tremendo poder se acumulando den-
tro deles, ansiando por ser liberto.

Ninguém poderia interferir nesse violento choque de poderes.

E então, de repente, uma voz indiferente interrompeu.

“—Então era aqui que os cavalheiros estavam.”

Todos se viraram para a presença inesperada, como se tivessem recebido um choque


elétrico. Mesmo Zero e Brain — que não deveriam ter desviado os olhos um do outro —
fizeram a mesma coisa.

Lá eles viram um homem velho, Sebas. Para Zero, ele não deveria estar aqui.

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“Quê? Que merda é essa? Quatro do Seis Braços eram mais que suficientes.... Por acaso
entrou aqui de fininho como essas formigas?”

Sebas sacudiu a cabeça suavemente.

“Não. Eu derrotei seus colegas e depois vim para cá.”

“...Besteira! Velho mentiroso, chega de falar bobagens! Eles podem não tão bons quanto
eu, mas ainda são guerreiros dignos de fazer parte do Seis Braços. Acha mesmo que vou
acreditar que saiu ileso!?”

“Como diz o ditado, a verdade é mais estranha que a ficção.”

“Sebas-sama! A Tsuare-san que encontramos era falsa! Succulent tomou a forma dela
com uma ilusão! O senhor precisa ir resgatá-la!”

“Ah. Agradeço sua preocupação. Mas está tudo bem, Climb-kun. Eu já a salvei. Ela estava
em outro lugar do edifício.”

Sebas se virou para olhar para trás. Climb seguiu sua linha de visão e viu uma garota
envolta em uma manta na entrada da sala.

“Ah!”

Climb olhou apressadamente para Succulent. O uniforme de empregada que ele usava
estava encharcado de sangue e havia um rasgo enorme. Ele não poderia tirá-lo e entregá-
lo à Tsuare, afinal, ela certamente também o recusaria.

“Não dê atenção a isso, Climb-kun. Esse uniforme é apenas uma roupa de pano. Não há
nada de mais nele.”

Sebas sorriu tenuamente enquanto falava, e Climb relaxou um pouco.

“Ei, ei, ei! Está mesmo me ignorando por conversa fiada... você é muito relaxado, não
acha!?”

Zero ainda estava enfrentando Brain e, assim, não podia se mover de forma descuidada.
Mas agora finalmente mudou de posição e olhou com ódio para Sebas.

“Responda, velho! Não me faça perguntar de novo, o que aconteceu com o meu pessoal!?”

“—Matei todos eles.”

Seu tom foi tão casual como se ele estivesse pegando uma flor silvestre à beira da es-
trada, mas suas palavras eram impiedosas além da comparação.

Capítulo 8 Seis Braços


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“N-não seja ridículo! Como espera que eu acredite nisso!!?”

O grito furioso de Zero apenas extraiu um sorriso de Sebas. Aquele sorriso benigno fez
os instintos de Zero perceberem que Sebas estava dizendo a verdade.

“...Brain Unglaus. Vamos resolver isso daqui a pouco. Primeiro eu tenho que mostrar a
esse velho o poder do Seis Braços!”

“Hum, tá certo. Tente não morrer logo de cara. Acho que já fiz o que tinha que fazer
aqui.”

“Conversa fiada! ...Velho, você vai pagar com a sua vida por essa afronta!”

Sebas sorriu desanimado. Foi um sorriso insuportável para um homem que se orgu-
lhava de ser o guerreiro mais forte.

As tatuagens de Zero brilhavam.

Chefe da Divisão de Segurança, líder do Seis Braços, o Demônio de Batalha em pessoa,


Zero.

Mesmo poderosos guerreiros como Gazef Stronoff ou Brain Unglaus perderiam instan-
taneamente em um combate desarmado. E mesmo que tivessem armas em punho, o re-
sultado ainda era incerto.

Uma das profissões desse homem era a de Adepto Xamânico. Essa vocação tinha uma
habilidade que permitia que fosse possuído por espíritos animais, através dos quais ele
poderia obter os atributos físicos desses animais. Só poderia ser usado um número limi-
tado de vezes por dia, mas uma vez usado, permitiria a um humano aumentar suas ha-
bilidades físicas no patamar das feras selvagens.

Um animal de físico superior usando as artes de combate de um ser humano — certa-


mente poucas coisas seriam mais assustadoras do que isso.

Zero ativou sua habilidade.

Normalmente, ele conservaria sua força apenas ativando o poder de um animal de cada
vez. No entanto, Zero entendeu que a força de Sebas não poderia ser subestimada.

Claro, ele não acreditava que Sebas pudesse matar quatro do Seis Braços sozinho. Con-
tudo, se ele realmente os tivesse derrotado, então fazia sentido considerar que sua força
era formidável.

Era mais provável que ele tivesse sido ajudado por alguém da Rosa Azul.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


127
Sem informações mais detalhadas, tudo o que podia fazer era usar toda a sua força para
derrotar Sebas e depois lutar com Brain Unglaus algum outro dia. Ele tinha que mostrar
às pessoas ao seu redor seu poder avassalador como uma ameaça antes de recuar tem-
porariamente.

Ele decidiu que esta era a melhor maneira de fazer as coisas, e começou a preparar sua
técnica mais poderosa.

O leopardo nos pés, o falcão nas costas, o rinoceronte nos braços, o touro no peito, o
leão na cabeça; ele ativou todos de uma vez. Um poder explosivo inundou seu corpo e
ele sentiu inflar-se com esse poder. Por um momento ele ficou com medo de explodir.

“YEEEEEEEEAAAAARRRTT!”

Ele expulsou o poder ardente de dentro de si — e avançou.

Este foi o ataque derradeiro de Zero, o mais poderoso guerreiro do Seis Braços. Um soco
direto com apenas um punho. Não houve firulas ou movimentos extravagantes; apenas
um soco simples com um punho de ferro. No entanto, o poder contido naquele punho
inviabilizava mesmo a credulidade de uma crença. Além de suas habilidades xamânicas,
ele também foi reforçado por inúmeras outras habilidades de sua profissão de monge e,
em seguida, por muitos itens mágicos que lhe concederam velocidade esmagadora e po-
der destrutivo.

Foi tão rápido que até o Zero teve dificuldade em controlá-lo. E sinceramente mal se
qualificava como uma técnica, pois dependia até de fatores alheios a seu controle. Porém,
Zero não hesitou em deixar seu oponente ver seu ultimato. Essa técnica era simples e
invencível. Ele confiava com absoluta certeza que ninguém poderia desviar ou bloquear
isso.

O coração de Zero fisgou quando ele usou tudo que tinha. Seus sentidos pareciam se
distender lentamente, mas ele deu um passo à frente, sentindo como se seu corpo esti-
vesse estendendo-se atrás dele.

“Ah!”

Alguém gritou.

Era tarde demais.

Zero chegou a Sebas em um piscar de olhos. O poder dentro dele se movia perfeita-
mente, totalmente acumulado e focado, e ele lançou um forte soco direto com o punho
direito.

♦♦♦

Capítulo 8 Seis Braços


128
Zero viu Sebas sem ação — provavelmente porque tinha sido muito rápido para o velho
homem — e sorriu. Era como se dissesse: Lamente por me fazer de inimigo, o mais forte
guerreiro do Seis Braços.

“Huugh!”

O punho se conectou com a barriga vulnerável de Sebas. Foi um soco perfeito e imacu-
lado.

O poder explosivo agitou-se como um vendaval violento, e Sebas foi arremessado longe
através do ar como um boneco de pano. Seu cadáver bateu no chão, mas mesmo isso não
conseguiu dissipar o poder do ataque e o corpo continuou rolando violentamente pelo
chão.

Ele não se mexeu. Morreu no local.

Não, isso era apenas esperado. Pode-se imaginar como todos os seus órgãos internos
se romperam em uma pasta gosmenta. Ele só parecia humano do lado de fora.

Essa foi a técnica mais poderosa de Zero. Foi um movimento demoníaco que encarnou
o princípio da matança de um só golpe.

Pelo menos, era assim que deveria ter sido.

♦♦♦

Em vez disso, Sebas — não se moveu.

Ele bloqueou o soco que Zero tinha feito com toda sua força, e para isso, usou nada além
de sua barriga — seus próprios músculos abdominais.

Ninguém que viu se atreveu a acreditar. Pode-se dizer que a cena diante deles era irreal.

A diferença entre seus corpos tinha ficado óbvia de relance. Mas o resultado foi com-
pletamente aquém do esperado.

O mais incrédulo de todo o acontecido foi Zero. Tinha sido seu golpe mais poderoso. Ele
não podia acreditar que qualquer ser vivo pudesse aguentar e permanecer ileso. Era as-
sim que sempre fôra até agora. Era o que ele sempre pensara até agora, mas então essa
cena se desdobrou diante de seus olhos. Assim, ele não reagiu nem mesmo quando um
objeto preto lampejou diante de seus olhos.

Sebas levantou a perna para o ar. O pé passou pela ponta do nariz de Zero — como o
vulto de uma andorinha.

E como um raio, a perna desceu.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


129
Um chute machado.

Esse era o nome típico para um golpe desses. No entanto, sua velocidade e potência
eram tudo menos típicas.

“...O que é... voc...” Zero murmurou, e o canto da boca de Sebas se curvou ligeiramente.

Um som horrível de algo rachando ecoou. Zero caiu no chão, seu crânio estava pulveri-
zado, seu pescoço e espinha quebrados, como se tivesse sido esmagado por um peso de
várias centenas de toneladas.

O ambiente ficou em silêncio sepulcral.

Todos os presentes estavam sem saber como reagir. Sebas se afastou de onde o crânio
amassado de Zero — jorrando sangue — estava e tirou o pó no lugar onde o punho de
Zero o havia atingido.

“Ufa, essa passou perto. Se não fosse pelo seu aviso oportuno, eu provavelmente estaria
morto.”

É uma piada? Que aviso foi esse!?

Os três presentes — talvez até Tsuare — estavam em silêncio, mas gritavam a mesma
coisa em seus corações.

“Você me salvou, Climb-kun.”

“—Quê... ah. Er... sim.”

A boca de Climb ainda estava aberta como se dissesse “quê?”, mas aceitou nervosa-
mente os agradecimentos de Sebas. Sua mente estava tão sobrecarregada que ele não
tinha idéia do que dizer.

“Parece que eu sou apenas um pouquinho mais forte que ele.”

Sebas indicou essa pequena diferença usando dedo polegar e indicador. Onde o pe-
queno espaço indicava que sua força e a de Zero estavam quase empatadas, mas nenhum
dos presentes concordou com essa avaliação.

Um pouquinho? Nem pensar.

Assim como antes, todos os presentes pensavam a mesma coisa.

“De todo modo, já que a resgatamos, acho que seria melhor recuar agora.”

Capítulo 8 Seis Braços


130
“Ah, sim... ah, os outros membros do Seis Braços... estão mesmo...?”

“Sim. Matei todos eles. Havia muitos e eram todos especialistas em combate, então não
pude os enfrentar com ânimos leves. Pensando bem, agora me arrependo disso.”

“En—entendi, acho. Bem, não há nada a ser feito. Ah, mas não se preocupe com isso.”

Os três simultaneamente olharam para o cadáver de Zero no chão. Nenhum deles con-
seguiu dizer: “É mentira.”

“P-por agora, vamos informar às tropas, eles vão fazer uma varredura completa no pré-
dio.”

Eles tinham vindo originalmente para uma varredura no local. Ganhar a ajuda de Sebas
e ser capaz de fazer uma varredura completa de uma importante fortaleza inimiga foi
um golpe e tanto de sorte. Além disso, assumindo as palavras de Sebas como verdade —
e de fato pareciam ser verdadeiras —, eles até haviam conseguido o incrível resultado
de destruir a força de combate mais forte da Oito Dedos.

Pode-se dizer que saíram melhor do que qualquer outro grupo. A única imperfeição era
que Zero — um homem que sabia muito sobre a organização — havia sido morto, mas
isso era apenas uma perda calculada, já que eles não poderiam tê-lo levado vivo mesmo
que tentassem. Apenas um idiota ficaria insatisfeito com isso.

Quando ouviram as palavras acaloradas de Climb, olhares de aprovação apareceram no


rosto de Brain e do ladino, que assentiram. No entanto, uma pessoa parecia infeliz.

“O que há de errado, Sebas-sama?”

“Ah, não é nada. Só que algo me chamou a atenção... não vamos falar sobre isso agora, o
ar aqui não é agradável. Vamos indo?”

“Uhum, claro.”

Todos olharam para o cadáver de Zero e depois para Tsuare antes de expressarem sua
aprovação à sugestão de Sebas.

Sebas foi até a entrada onde Tsuare estava e pegou-a em seus braços. Suas pernas páli-
das e esbeltas balançaram no ar. Eles notaram como Tsuare se agarrava firmemente às
roupas de Sebas com seus braços magros.

Um mordomo e uma empregada. O clima entre eles não parecia que se limitaria apenas
a isso.

Urg, seria grosseiro perguntar sobre o relacionamento deles. Mas por que vou me intro-
meter nisso?

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


131
“Enfim, vamos.”

Depois de dizer isso, Climb levou todos para fora sem esperar que respondessem.

Os demais o seguiram. Eles poderiam conduzir as investigações depois que Sebas e Tsu-
are partissem. Ele ainda estava em alerta, se alguém os emboscasse ao longo do caminho,
ele pretendia lutar em nome de Sebas — cujos braços estavam ocupados com Tsuare —
embora talvez não houvesse necessidade disso. No entanto, suas preocupações eram in-
fundadas.

Anteriormente, sentiram que havias muitas pessoas dentro do prédio, mas agora pare-
cia um lugar abandonado.

Quando se pensava calmamente a respeito, uma vez que Sebas derrotou o Seis Braços,
não havia como alguém ser corajoso o suficiente para permanecer no prédio e lutar com
ele. Estava claro que fugiram. Se for isso mesmo, espero que os soldados do lado de fora
tenham prendido alguém. Refletiu Climb enquanto os guiava para a saída.

Essa sensação de libertação tirou um grande peso de seus ombros.

Alguém tocou os ombros relaxados de Climb. Olhando para trás, ele viu que era o ladino.
Os olhos do homem estavam fixados em uma direção completamente diferente. O olhar
arregalado em seu rosto era muito parecido com o que ele tinha quando Sebas matou
Zero.

Climb seguiu sua linha de visão e então seus próprios olhos se arregalaram.

“Uma muralha de fogo?”

Climb inconscientemente assentiu quando ouviu Brain murmurar para si mesmo.

Chamas se elevavam se uma casa pegasse fogo. Climb definitivamente não ficaria cho-
cado com tal incêndio. No entanto, não era isso que ele estava olhando; era uma muralha
de fogo de mais de 30 metros de altura, circundando um distrito da Capital Real. Parecia
ter centenas de metros de comprimento.

“Mas o que seria aquilo?”

O comentário surpreso e descontraído de Sebas trouxe os três de volta aos seus senti-
dos.

“O que devemos fazer, líder? Acho que é o distrito dos armazéns, quem está responsável
por lá?”

Capítulo 8 Seis Braços


132
“A líder da Rosa Azul, Alvein-sama... estou julgando isso como uma emergência, então
abandonaremos nossos objetivos atuais e voltaremos para Palácio Real nos instruíram.
Depois disso, contarei com os conselhos de todos sobre como proceder.”

“Acho que é o melhor a ser feito... Ah— Sebas-sama...”

“Vou levá-la a um lugar seguro para evitar que algo assim aconteça novamente.”

“Entendido, Sebas-sama. Obrigado pela sua ajuda ontem e hoje.”

“Não foi nada de mais. Nós compartilhamos os mesmos objetivos, então tudo o que fiz
foi prestar um pouco de assistência... Eu que devo me esforçar para recompensá-los por
tentarem resgatá-la. Então, se me dão licença, aqui me despeço.”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


133
Capítulo 09: Jaldabaoth

Capítulo 8 Seis Braços


134
Parte 1

4º Dia do mês Baixo Fogo (9º mês) - 21:10

entindo sede, a mulher preguiçosamente acordou de seu sono.

S Ela se espreguiçou lentamente em sua cama de casal king-size e estendeu


a mão para a jarra de água ao lado, mas seus dedos não tocaram em nada.

Foi então que se lembrou de que não havia colocado uma jarra de água e ela estalou a
língua.

“Huwaaaah...”

Ela não conseguiu reprimir seu bocejo. Sua rotina de sono era como a de uma pessoa
velha; Deitar cedo e cedo erguer, dá saúde e faz crescer, mas ela só se deitara há pouco
mais de uma hora. Ela ainda não havia dormido.

A mulher engoliu seco e colocou a mão na garganta. Havia uma sensação seca e pegajosa
ali, ela saiu da cama para beber um pouco de água. Vestiu um roupão comprido e grosso
para cobrir o corpo nu, enfiou os pés em um par de pantufas e saiu do quarto.

Esta era Hilma, chefe da Divisão de Tráfico de Drogas, e aqui era sua base de operações
da Capital Real. Como de costume, deveria haver dezenas de lacaios correndo para
atendê-la, mas tudo estava silêncio, como se estivesse vazio.

Sentindo-se surpresa, Hilma foi até o corredor. Esta mansão estava sempre quieta
quando não havia nobres por perto, mas isto era silencioso além da conta.

Ela convidava nobres para este lugar a fim de construir conexões e relacionamentos.

Entre os nobres, até mesmo os legítimos herdeiros precisariam esperar muito antes de
poderem suceder a propriedade da família. Era comum que eles só o fizessem depois
dos 30 anos.

Durante esse período, só podiam pedir ao chefe da casa — isto é, ao pai — que cobrisse
os gastos. O mesmo se aplicava ainda que fossem adultos maduros casados com filhos.
Foi por isso que Hilma convidou essas pessoas para festas nesta mansão.

Hilma fornecia bebida, mulheres e drogas, enquanto sussurrava palavras doces em seus
ouvidos, atiçando seu orgulho. Ela permitiu que eles conhecessem outras pessoas nas
mesmas situações que eles próprios para construir uma sensação de proximidade. Hilma
iria entretê-los e construir relações amigáveis com eles.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


135
Uma vez que esses nobres herdassem a propriedade, chegava a hora de fazer a colheita.
Se eles ousassem cortar os laços de amizade, ela se certificaria de que eles pagassem caro
por isso. Se a ajudassem, ela os recompensaria. Desta forma, ela fez muitas incursões na
sociedade nobre.

Ela caminhou pelo corredor silencioso, procurando água para beber.

O silêncio não era uma coisa ruim. Ela preferia o silêncio ao burburinho das pessoas.
Embora nunca mostrasse em seu rosto, ela ficava realmente irritada quando tinha que
beber e jantar com os nobres. No entanto, as circunstâncias presentes eram muito anor-
mais. Este silêncio mortal fez seu cabelo ficar arrepiado, e até a fez sentir que era a única
pessoa nessa mansão.

“...O que está acontecendo?”

Era impossível que até os guardas tivessem deixado o posto sem informar à Hilma. Ela
queria gritar por alguém, mas se algo anormal tivesse acontecido, seria uma péssima
idéia deixar o inimigo saber onde ela estava. Ela também considerou apenas voltar para
seu quarto e se enterrar sob seus cobertores, mas poderia simplesmente entrar em uma
armadilha.

Quem não traça os próprio planos, acaba fazendo parte do plano dos outros. Essa era uma
crença que acreditava e, ao aderir a esse princípio, ela havia se ascendido de uma pros-
tituta de alta classe para onde estava agora.

Ela examinou os dois lados do corredor vazio algumas vezes e só avançou depois de se
certificar que realmente não havia ninguém lá.

Confiando em seu sexto sentido, dirigiu-se a uma sala secreta que só ela e alguns outros
conheciam. Havia vários itens mágicos e pedras preciosas lá, bem como um túnel de fuga.
Ela poderia estar em sua base na Capital Real, mas ainda tinha várias outras casas na
cidade. Talvez ela devesse fugir para uma delas.

Enquanto andava na ponta dos pés pelo corredor, Hilma percebeu que algo estava er-
rado.

“O quê... é isso?”

O sussurro escapou da boca dela espontaneamente. Hilma descobrira a estranheza do


lado de fora da janela.

A janela, feita de lâminas finas de vidro, estava coberta de várias camadas de videiras.
Como resultado, quase nenhuma luz poderia entrar. Ela tentou abrir a janela, mas não
se moveu.

Capítulo 9 Jaldabaoth
136
Ela observou apressadamente as outras janelas ao longo dos corredores. Todas esta-
vam cobertas de videiras.

“O que aconteceu? Quem fez...”

As janelas definitivamente não estavam assim antes de ir para a cama. Isso não poderia
ter acontecido naturalmente no espaço de uma hora. Sendo esse o caso, provavelmente
obra de alguma magia.

Quem fez isso e por qual o motivo?

Ela não tinha idéia dos motivos. Mesmo assim, entendeu que sua situação era muito
precária.

“Droga!”

Xingou e então correu em frente. Ela não se importava mais com a forma como o roupão
balançava aqui e ali. Tudo o que queria era entrar em sua sala secreta.

Ao chegar à escada olhou para baixo. Ainda estava em silêncio.

Navegando pela pouca luz que conseguiu filtrar através das videiras, ela desceu cuida-
dosamente as escadas. Ao mesmo tempo, estava grata ao carpete grosso por abafar seus
passos.

“—!”

Quando chegou ao primeiro andar, ficou tão chocada que de repente inalou uma bocada
de ar frio.

Havia algo no corredor olhando para ela. Parecia se misturar nas sombras enquanto
estava lá, mas não era porque tinha habilidade de se fundir nas sombras como ladinos
ou profissões relacionadas a isso. Pelo contrário, parecia assim por causa de sua pele
escura, o que a deu uma impressão errada. Era uma Elfa Negra, e seus olhos heterocro-
máticos pareciam brilhar contra o véu preto que os envolvia.

A Elfa Negra deixou o véu preto que os envolvia cair no chão. Abaixo, estavam as roupas
de uma menina. Ela segurava um cajado mágico de cor escura e encarava Hilma.

A sala secreta estava por trás da garota misteriosa.

Ao recordar a disposição interna da mansão, Hilma se endireitou e se aproximou ner-


vosamente.

Tomara que seja uma acompanhante trazida por algum nobre.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


137
No entanto, Hilma imediatamente descartou sua conjectura ingênua.

Quando soube que Cocco Doll havia sido capturado, ela preparou uma fuga caso fosse
necessário se esconder por algum tempo, já que não sabia como os superiores reagiriam.
Sob essas circunstâncias, não havia como o pessoal dela atrair pessoas de fora, ou deixar
de relatar tal coisa a ela.

“Oi, garotinha...”

Depois dizer, Hilma franziu as sobrancelhas em suspeita.

Ela tinha visto todos os tipos de pessoas em seu ofício passado como uma prostituta de
alta classe. Sua experiência lhe disse que não era uma menina, mas sim um menino.

Suas roupas eram requintadas e não do tipo que as pessoas comuns podiam pagar. Por
tudo o que Hilma sabia, nem mesmo ela teria algo desse nível.

Os Elfos Negros já viveram na Grande Floresta de Tob e eram praticamente inexistentes


no Reino. No entanto, diante dela havia um vestindo roupas caras destoantes de seu gê-
nero.

Se não fosse pela atmosfera sinistra, Hilma teria concluído que essa criança era uma
escrava para satisfazer a luxúria degenerada de alguns nobres.

“...Ei, garoto. O que está fazendo aqui?”

Ela se aproximou devagar e com cuidado, tentando não despertar sua suspeita.

“O-oba-san, a senhora é a pessoa mais importante aqui?”

Ela não estava descontente por ser chamada assim. Para um jovem Elfo Negro como ele,
as mulheres de sua idade provavelmente seriam como senhoras.

“N—”

Ela parou no meio do caminho. Tinha um mau pressentimento sobre isso.

Até o momento, ela confiara mais em seus instintos do que em qualquer outra coisa. Ela
sempre acreditou que seus instintos eram superiores ao senso comum. Onde o senso
comum poderia tê-la traído, apenas sua intuição nunca lhe falhara.

“Sim! É isso mesmo! Eu sou a pessoa mais importante nesta mansão.”

“Que, que bom ouvir isso, ainda bem.”

Capítulo 9 Jaldabaoth
138
O menino sorriu. Seu sorriso era tão puro que, mesmo nas circunstâncias atuais, quase
conseguiu acender o desejo de contaminar sua pureza no coração de Hilma.

“A-ah, bem, er, eu perguntei a essas pessoas e elas também me disseram isso.”

Como se em resposta ao garoto, uma porta próxima se abriu. Uma garota saiu lenta-
mente de dentro. Ela parecia uma garota usando algum tipo de uniforme bizarro de em-
pregada, mas o que a rodeava não era o cheiro de perfume, mas o cheiro de vísceras e
sangue.

Hilma cobriu a boca e engoliu um grito.

A adorável mãozinha da empregada segurava o braço de um homem. Parecia que ela o


tinha rasgado fora na altura da junção do ombro, dadas as fibras rasgadas do músculo.

“Que, o que ela...”

“Er, hum, ah, parece que alguém queria atacar esta mansão, então decidimos terminar
algumas coisas antes que essas pessoas viessem. Assim, er, pedi que ela ajudasse.”

“Não se importeee comigo. Fazia tanto tempo que não meee satisfazia tanto, fiquei
muito saciadaaa.”

Ela conseguiu se dirigir à Hilma sem mexer a boca. Isso foi muito estranho, mas havia
perguntas mais urgentes do que isso. O que fez Hilma estremecer foi a questão do que
exatamente ela havia comido para se encher. Ela podia adivinhar, mas não queria acre-
ditar. Com aqueles pensamentos em seu coração, ela perguntou à dupla:

“En-então eu, quanto a mim? Vai, vai me comer também?”

“Eh? Ah, er, não. A senhora terá outros usos, oba-san.”

Ela não conseguiu relaxar. Isso porque sua intuição lhe dizia que um destino mais hor-
rível a esperava.

“—E-e que tal is-isso, jovenzinho. Vamos nos divertir um pouco?”

Ela deixou as roupas sobre o corpo escorregarem de seu ombro.

Este era seu corpo, seu orgulho e alegria. Se ainda fosse uma cortesã, custaria uma for-
tuna por apenas uma noite. Além disso, ela não tinha quaisquer excessos de gordura, um
corpo totalmente sensual. Ela estava confiante de que poderia incutir a qualquer um com
desejo carnal, mesmo que seu alvo fosse uma criança.

No entanto, não parecia haver nenhuma emoção incomum nos olhos do menino.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


139
Ela podia admitir que seus encantos eram inferiores àquela empregada que o acompa-
nhava. Mesmo assim, ela tinha sido uma profissional, apesar do fato de estar aposentada.
Mesmo que não fizesse o seu tipo, ela ainda poderia instigá-lo—

Ela elegantemente moveu seu corpo de forma serpentina e, lentamente, aproximou-se,


com cuidado para não o alarmar.

Ela não podia sentir desejo algum vindo do menino.

Portanto, escolheu outro curso de ação. Ela lentamente estendeu a mão e colocou em
volta do pescoço do garoto — e ativou um item mágico.

Era o Viper’s Tattoo.

As víboras tatuadas em ambas as mãos ganharam vida, levantaram a cabeça e saltaram


para morder o corpo do menino. Qualquer um mordido pelas serpentes e seu poderoso
veneno neurotóxico morreria em contrações espasmódicas. Esta era a carta na manga
de Hilma, alguém que não tinha como lutar.

Entretanto, o menino estendeu a mão agilmente e agarrou a cobra como se fosse um


chicote, e então começou a esmagá-las sem hesitar.

O Viper’s Tattoo voltou para os braços de Hilma. Como a cobra convocada havia sido
morta, a tatuagem não poderia ser reativada por um dia inteiro até se recuperar.

Hilma estava agora no pior dos cenários de ter iniciado hostilidades e não ter nada para
mostrar, e então ela cambaleou para trás com instabilidade. Porém, o que mais a assus-
tou foi o fato de que a expressão do garoto não havia mudado durante essa série de even-
tos. Ele não estava preocupado em ser atacado, nem mostrou qualquer hostilidade.

“En-então, então, er, vamos indo.”

Ir aonde? Assim que Hilma começou a se questionar sobre suas palavras, uma dor in-
tensa atravessou sua rótula. A dor insuportável a deixou incapaz de ficar de pé e ela de-
sabou no chão.

“ABBBBAAHHHHH!”

Ela gemeu de angústia, suando frio por causa da dor, e então olhou para o joelho. Ela
então se arrependeu de fazê-lo.

“Minha, min-minha, MINHA PERNAAAAA!”

A patela da perna esquerda estava fora do lugar, e o osso projetava-se da pele, rasgando
a carne e trazendo sangue vermelho para fora.

Capítulo 9 Jaldabaoth
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OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2
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Hilma agoniou e apertou a perna, que estava em aflição indescritível. No entanto, ela
hesitou. Ela não se atreveu a tocá-la.

O menino agarrou Hilma pelos cabelos e depois saiu.

Hilma foi arrastada por uma força de braço que ela nunca poderia ter adivinhado dado
sua aparência. Dezenas de fios de cabelo foram arrancados com um leve som de estalo,
mas o garoto não pareceu se importar.

“Isso dói! Tá me machucando! Não faça isso!”

Em resposta às lamentações de Hilma, o menino apenas olhou para ela, mas não parou
o ritmo.

“Eu, eu preciso me apressar, estamos sem tempo!”

Parte 2

4º Dia do mês Baixo Fogo (9º mês) - 22:20

Tendo completado o ataque à mansão, Entoma Vasilissa Zeta saiu da residência.

Ela tirou uma tira de papel da perna, amassou e jogou nas profundezas da casa.

O plano original era acabar com todos os humanos dentro da mansão, recuperar todos
os documentos importantes e objetos de valor e depois recuar. Se possível, eles deve-
riam tentar evitar deixar rastros, mas não tinham tempo para classificar as informações
coletadas, então acabaram pegando o que viram, logo pareceu que levaram tudo da casa.

No entanto, isso em si não seria um problema. Isso porque Demiurge — que havia en-
viado Entoma e Mare aqui — havia indicado que um desenvolvimento como esse era
uma possibilidade. O problema foi que eles excederam demais o tempo alocado.

Mare e os demônios que o acompanharam não estavam mais aqui. Mare levara a pessoa
mais importante da mansão para o ponto de encontro. Os demônios vassalos já haviam
partido quase sem tempo de sobra — com pilhas de espólios.

De fato. A razão pela qual o tempo deles estava completamente fora do previsto foi por-
que descobriram um porão enquanto batiam em retirada. O dito porão estava cheio de
itens de contrabando e drogas proibidas.

A tarefa de recuperação prosseguira lentamente.

Capítulo 9 Jaldabaoth
142
Para começar, havia vários cômodos subterrâneos cheios de itens diversos, e os itens
de alto valor estavam sujos e escondidos entre as impurezas. Como dizia o ditado, o me-
lhor lugar para esconder uma árvore é em uma floresta. Mesmo Entoma e os demônios
não poderiam ter trazido todas as mercadorias com eles, e assim eles tiveram que vas-
culhar a dita floresta em busca das árvores em questão.

Talvez pudesse ter sido resolvido mais rápido se a humana que Mare havia levado ainda
estivesse por perto. Todavia, era tarde demais para isso.

Entoma e os demônios decidiram inspecionar todos os itens, e jogaram tudo o que jul-
garam inútil em um dos cômodos. Essa era uma tarefa tediosa para o grupo, cuja força
excedia em muito as dos seres humanos. No entanto, a árdua tarefa havia valido a pena
e haviam recuperado tudo de valor do porão.

Como a responsável, Entoma esperou até que todos terminassem. Com a atitude encon-
trada apenas naqueles que haviam completado um grande trabalho, ela olhou para o céu
noturno e enxugou o suor da testa. Na verdade, ela não tinha suado nada; ela só sentia
como se tivesse.

“Assim mesmooo~ Movam tudo eeee bem rápido, pessoal.”

De acordo com as ordens de Entoma, os insetos que eram maiores que um homem as-
[BesourosGigantes]
cendiam para o céu noturno carregando uma grande quantidade de carga. GiantBeetles
tinham sido convocados pelas habilidades de entomante de Entoma.

Os insetos voaram em linha reta em direção ao ponto de encontro pré-arranjado, suas


asas faziam um zunido grave enquanto batiam.

Entoma observou os insetos moverem a carga e lembrou-se de que ainda segurava al-
guma coisa.

“Ah, não teee comi ainda. Não pode, não podeee~”

Ela brincou com a própria cabeça e, em seguida, trouxe o braço do homem em sua man-
díbula. Houve um ruído de shakashaka quando a carne do braço do homem foi arrancada.
A garganta de Entoma se moveu no ritmo do som. Depois de um som fofo de urp, o fedor
de sangue se espalhou pelo ar.

“A gordura da carneee de moças é mais maciiia, carne de crianças tambééém, mas não
teeem gordura... Carne de homem é mais fiiirme e tem mais músculos, mas é bom que eu
não ganho pesooo~”

Ela habilmente evitou os ossos e, assim que terminou, jogou o resto do braço na mansão.

“Delíciaaa. Obrigada pela estadiaaa.”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


143
Ela inclinou-se para a mansão e finalmente chegou ao ponto que seus superiores ha-
viam ordenado. No entanto, ela só deu alguns passos quando alguém a chamou e a inter-
rompeu.

“Yo, que noite agradável.”

“...Estááá? Não acho queee seja boa para você, ou ééé?”

Entoma teve dificuldade em dizer se o humano que estava surgindo lentamente era ho-
mem ou mulher. Parecia mulher, mas a julgar pela sua estrutura muscular, também pa-
recia homem.

“O que tá fazendo num lugar como este?”

“Passeandooo.”

“...O que tava mastigando tão feliz agora a pouco?”

“Carneee.”

“......Humana?”

“Siiiiim. Carne humanaaa.”

O tom da homemulher foi denso, mas não incomodou Entoma. Ela não se importava
como os humanos se sentiam. Se ficassem no caminho, ela passaria por cima. Se ficassem
fora do caminho, ela os ignoraria. Se estivesse com fome, ela os comeria. Seria estranho
se ela estivesse realmente preocupada com esses seres.

“Ah, tá. Tem até monstro no meio? Eu não esperava que a Oito Dedos criasse uma coisa
dessas. Mas pelo que parece, eles não te treinaram direito.”

A homemulher levantou lentamente o seu martelo de guerra. Quando Entoma viu isso,
a exasperação entrou em seu tom pela primeira vez.

“Eeeei, que tal fingir queeee não nos encontramos?”

Uma estranha expressão apareceu no rosto da homemulher. Provavelmente não espe-


rava que sua contraparte dissesse algo assim.

“Veja beeem, já cumpri meu trabalhooo e lutar agora seeeria bem chato. E eu já comiii
tanto, que minha barriga está atééé estufadaaaa.”

“...Não rolar. Sabe, sou uma das principais aventureiras do Reino. Eu não posso deixar
um monstro devorador de homens fugir. Até porque, deixar você escapar seria um pé no
saco da humanidade.”

Capítulo 9 Jaldabaoth
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“Que chaticeeee. Você se acha forte, nééé? Nesse caso, vou usar-lhe como ração de emer-
gênciaaa~!”

Entoma olhou diretamente para a homemulher pela primeira vez.

Parecia ser um(a) guerreiro(a) especializado(a).

Mm — deve ser bem fooorte.

Entoma não era uma guerreira especializada e, portanto, não podia estimar a força do
oponente. No entanto, ela não sentiu que sua antagonista fosse mais forte que ela.

“Yeeart!”

A homemulher avançou para Entoma. Então ergueu o martelo de guerra com espigões
e golpeou de cima para baixo.

Entoma evitou graciosamente o golpe. No entanto, sua oponente se recusou a desistir e


de repente mudou a direção do seu ataque, movendo o martelo de guerra para ela em
um golpe mortal. Esse não foi um movimento gracioso utilizando a força centrífuga, mas
usando força muscular bruta para alterar a direção do golpe forçadamente.

Entoma evitou mais uma vez e depois ativou uma habilidade.

“Ah? Só sabe correr!?”

A homemulher balançou o martelo de guerra em Entoma, e o vendaval que se seguiu


passou raspando por sua cabeça, agitando os fios de seu cabelo falso.

“Hmmm— você gosta meeesmo de balançar essa coisaaa, não é?”

Sua zombaria foi respondida com um estalar de língua. Entoma usou sua habilidade
mais uma vez e, ao mesmo tempo, evitou facilmente a força esmagadora do martelo de
guerra. Tendo errado o alvo, o martelo caiu no chão com toda a força que tinha sido des-
tinada a ela.

Entoma zombou dos ataques simples e repetitivos. Seu rosto não mudou em nada. No
entanto, sua adversária podia sentir profundamente a zombaria vindo dela enquanto
lutavam.

Mas Entoma percebeu no momento seguinte que sua oponente estava esperando por
isso — pela arrogância que apenas os poderosos opressores possuíam.

“Quebrar!”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


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A terra se despedaçou onde o martelo de guerra cravou. Não, o chão de pedra havia
quebrado. Foi como um terremoto localizado. Pela primeira vez, Entoma perdeu o equi-
líbrio. Em contraste, sua oponente havia usado algum tipo de item mágico para perma-
necer imponente como uma montanha.

Entoma observou quando sua oponente ergueu o martelo de guerra mais uma vez, a
ponta estava manchada de terra e detritos.

Eu subestimeeei meu oponenteee.

Entoma se repreendeu.

Evitar esse movimento era bastante fácil. De fato, se ela fosse humana teria perdido o
equilíbrio quando seu apoio fosse destruído, a onda de choque do chão também teria
afetado suas pernas, criando algo como algemas para prendê-la no lugar, então fugir se-
ria muito difícil. No entanto, Entoma era uma das Empregadas de Batalha, Pleiades, e os
itens mágicos que ela usava eram de qualidade superior. Tais condições não a incomo-
davam nem um pouco.

Houve apenas um problema.

Ela teria que pular para escapar, mas isso sujaria seu uniforme.

Algo assim seria perdoado? Este era um tesouro raro e precioso, transmitido à Entoma
pelos Seres Supremos.

Isso foi o suficiente — o tempo para brincadeiras terminou.

Pela primeira vez, houve genuína hostilidade no rosto de Entoma sob a máscara.

Chega de brincadeiras.

—Vou lhe matar.

Entoma se virou para encarar o martelo de guerra prestes a cair sobre ela e ergueu o
braço esquerdo. Não mais parecia como um ser humano perseguindo um inseto, mas sim
desejo real por morte. Talvez fosse diferente se ela fosse uma Guardiã de Andar, mas
para alguém do nível de Entoma, seria muito difícil sobreviver ilesa se ela bloqueasse o
ataque com o braço esquerdo indefeso.

No momento seguinte, o que soou não foi o som de aço cortando carne, mas dois objetos
duros colidindo.

Neste momento, um escudo agarrou-se ao braço esquerdo de Entoma. “Agarrar” não


era um termo metafórico — um inseto com mais de oito pernas se agarrou no braço de
Entoma com tanta força que parecia ser parte dela.

Capítulo 9 Jaldabaoth
146
“Quê... coisa é essa!?”

“É queee, bem, sou uma entomanteee. Eu posso chamar insetos assiiim e comandá-los
como eu quiserrr~”

Ela acenou com a mão direita e como um revoar da noite, um longo inseto em forma de
espada larga se prendeu no dorso de sua mão direita.

“Este é um Inseto Espada e este é um Inseto Escudo. Decidi que vou lheee matar~ Eu
não pretendia tirar sua viiida, mas agora é tarde demais para lhe perdoarrr.”

Entoma avançou em sua oponente e a cortou.

Ela rasgou o peitoral da homemulher e o sangue fresco jorrou. No entanto, de forma


alguma foi fatal. Sua oponente não conseguiu evitar um ataque sério de Entoma, mas
ainda assim fôra um ferimento superficial.

Parece que chamar a si mesmo de um dos maiores grupos de aventureiras do Reino não
era arrogância ou exagero. Contudo, se isso era tudo que tinha, ela não era digna de ser
oponente de Entoma.

Entoma não era uma lutadora especializada como Yuri Alpha, mas ainda era um mem-
bro das Pleiades e possuía poder totalmente incomparável ao da humanidade.

Ela atacou novamente, o sangue jorrou mais uma vez, espirrando em seu rosto.

Graças ao ferimento que sofrera antes, essa ferida foi mais profunda que a anterior e
não podia mais ser considerada leve.

“Tá realmente mudada! Decidiu levar a sério, foi!?”

O martelo de guerra já altamente erguido desceu com força em Entoma com um grito
furioso, Entoma o desviou com seu Inseto Escudo. Ela sentiu um tremendo impacto re-
verberando em seu corpo, mas permaneceu firme, determinada a não se mexer nem um
passo. Na verdade, nada teria acontecido se ela se movesse, mas isso era uma expressão
de seu orgulho e determinação de não se mover por um mero humano.

A homemulher seguiu o fluxo da batalha, continuando sua combinação fluida de ata-


ques. Seus ataques velozes e furiosos foram provavelmente aumentados pelas “Artes
Marciais”, que eram exclusivas para este mundo. No entanto, Entoma habilmente usou o
Inseto Escudo e o Inseto Espada para bloquear a série de quinze ataques contínuos sem
sequer um arranhão.

Entoma não sabia que este era o trunfo de Gagaran da Rosa Azul, seu super-combo feito
ao ativar simultaneamente muitas Artes Marciais. Cada batida daquela onda de ataques

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foi feita com toda a força que seus braços, fortes como aço, poderiam produzir, era capaz
até de romper a Arte Marcial 《Fortaleza》. Apenas a técnica defensiva conhecida como
《Fortaleza Impenetrável》 — que apenas alguns gênios poderiam dominar — poderia
defender totalmente contra isso. Entretanto, o poder muscular inato de Entoma havia
bloqueado cada golpe.

Essa era a disparidade de níveis, a esmagadora diferença nas habilidades físicas de suas
respectivas espécies.

O brilho do desespero começou a aparecer nos olhos de sua oponente, mas Entoma fi-
cou indiferente. Tudo o que ela queria era matá-la.

“—Puhah!”

Ela ouviu o que soou como um nadador ansiando por ar ao finalmente romper a tensão
superficial da água. O ataque combinado também parou. Entoma ergueu a mão direita
— a que tinha o Inseto Espada — de volta como se estivesse fazendo um arco, e então
avançou como se estivesse soltando uma flecha. Ela estava apontando para o peito da
mulher.

Sua rival levantou o martelo de guerra, mas foi lento demais. O ataque de Entoma foi
mais rápido do que isso, e ele perfurou o peito—

—Ou pelo menos deveria ter sido o caso.

A estocada errou. A lâmina não atingiu nada além do ar da noite.

Entoma girou a cabeça. Ela queria ver quem havia interferido em seu ataque.

Havia uma mulher vestida de preto a vários metros de distância. Atrás dela estava a
homemulher ofegante.

“Valeu, Tia. Pensei que era meu fim.”

“Então seu sangue também é vermelho, Gagaran.”

“E por que a surpresa? Já me viu machucada antes.”

“Pensei que começaria a sangrar azul. Tipo quando sobe de nível.”

“Isso não é subir de nível, é mudar de raça!”

“Mudar de classe, então.”

Quando ouviu as duas brincando, Entoma ficou zangada. Ela era a forte aqui. Só ela es-
tava autorizada a agir de forma casual. Elas precisavam conhecer seu lugar.

Capítulo 9 Jaldabaoth
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“—Já teeerminaram? Seee despeeediram uma da outraaa?”

Entoma ficou cautelosa pela primeira vez. A homemulher — Gagaran — ela não temia.
O problema foi a recém-chegada — Tia. Se as roupas dela não fossem apenas para apa-
rência, ela deveria ser uma ninja. Essa foi uma profissão que exigia um nível mínimo de
60 para ser aprendida.

Se fosse esse o caso, então a técnica de teletransporte que permitira Gagaran escapar
do ataque de Entoma era um ninjutsu.

Se ela fosse uma verdadeira ninja, então nem Entoma seria capaz de vencer facilmente.
Ela tinha pensado em preservar sua força e eliminar sua oponente, mas com as coisas
assim, ela não podia mais se dar ao luxo de se conter.

“Talismãs「Shikigumo」!”

Antes que suas oponentes pudessem agir, Entoma já havia ativado quatro talismãs de
sua mão direita.

Os talismãs pousaram no chão e instantaneamente se transformaram em enormes ara-


nhas.

Essas aranhas eram comparáveis aos monstros invocados usando 「Summon Monster
3rd」, e elas dificilmente eram criaturas poderosas, mas deveriam ser suficientes para
medir a força de sua nova oponente. Elas também comprariam seu tempo para se pre-
parar.

Entoma estava fazendo isso porque as armas-insetos dos entomantes eram muito po-
derosas, mas tinham algumas fraquezas. Uma delas era o fato de que conjurar os insetos
em questão exigia algum tempo.

“〈Kage Bunshin no Jutsu〉!”

Quando Tia ativou seu ninjutsu, sua sombra se ondulou e deu vida à outra Tia.

Entoma não deu atenção a isso. Os clones gerados pelo 〈Kage Bunshin no Jutsu〉 ti-
nham apenas ¼ de força de seu criador. Sua capacidade evasiva variava em proporção
ao quanto de mana de seu criador havia sido alocado a eles, mas isso era tudo. Talvez
pudessem ser considerados adversários formidáveis para as Shikigumos, mas dificil-
mente seriam um desafio para Entoma.

O mais importante era saber o quão habilidosa era a original. Entoma chamou seus
trunfos; seus Insetos Projéteis e outro tipo de inseto. Ao mesmo tempo, ela colou talis-
mãs em si mesma para fortalecer ainda mais suas habilidades.

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Um enxame de Insetos Projéteis surgiu do nada e foram se alocando em seu braço es-
querdo.

Os insetos de três centímetros de comprimento brilhavam com um brilho metálico, seus


corpos eram de forma aerodinâmica com a ponta afinada, tinham uma forte semelhança
com balas de fuzil. Não, essa semelhança só era de se esperar, porque esses insetos eram
usados exatamente como balas de fuzil.

Os clones das sombras estavam correndo erraticamente, apenas tentando escapar dos
ataques de uma Shikigumo, enquanto a original estava lidando com duas ao mesmo
tempo. O fato de terem matado apenas uma depois de tanto tempo sugeriu que seus ini-
migos definitivamente não eram de alto nível. Sendo esse o caso, a vitória deve ser fácil,
mesmo que se considere o poder de luta de Gagaran.

—Até pareceee, não será tão fáciiiil...

Ela não lhes mostraria nenhuma piedade. Ela rapidamente terminaria a batalha com
força esmagadora.

O peso em seu braço esquerdo agradou Entoma e ela o estendeu para Tia.

Os insetos incrustaram o braço de Entoma até que praticamente dobraram seu diâme-
tro. Como um, eles se arrastaram até a frente de seu braço e, em seguida, estenderam as
asas um após o outro alinhados na ponta e foram disparados. O zumbido incessante de
asas evocava a imagem de uma metralhadora gatling. Em sua trajetória atual, perfura-
riam até mesmo as Shikigumos, no total, 150 deles voaram diretamente para Tia.

Esses insetos poderiam fazer buracos no aço, mesmo uma grande árvore viraria uma
peneira de buracos até que fosse cortada ao meio se atingida por 150 deles. No entanto,
em face dos projéteis fatais, Tia usou outra técnica de ninjutsu.

“〈Fudou Kongou Tate no Jutsu〉!”

Um escudo cintilante da cor do arco-íris surgiu na frente de Tia. Os insetos bateram na


gigantesca parede de luz que bania a escuridão, que tinha a forma de uma estrela de seis
pontas. Em segundos o escudo se quebrou e o crepitar do vidro se partindo foi ouvido.
Porém, o fuzilamento com insetos parou quando o escudo se rompeu, revelando Tia ilesa
atrás dele.

Entoma não tinha língua, mas ela a estalou mesmo assim. Mas o fato de que ela poderia
forçar sua rival a usar um ás na manga após o outro era como trilhar o caminho para sua
vitória. Até agora, sua adversária poderia suportar os ataques de Entoma, mas uma vez
que a ofensiva de Entoma superasse a defesa, o dilúvio que inundava suas proteções
certamente a consumiria também.

Capítulo 9 Jaldabaoth
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Entoma desviou da kunai vindo de frente com o Inseto Espada — então bloqueou o
ataque de Gagaran no meio do ar com seu Inseto Escudo. Ela deve ter pulado de um lugar
bem alto, porque o Inseto Escudo teve que absorver uma enorme pressão, e então zuniu
como se estivesse gritando de dor.

Se as luzes deslumbrantes do 〈Fudou Kongou Tate〉 tivessem afetado a visão de En-


toma, ela não teria sido capaz de bloquear o ataque de Gagaran em meio a escuridão. No
entanto, a visão de Entoma não seria afetada por tais truques fajutos. Além disso, seu
campo de visão era muito maior que o de um humano, mesmo enquanto usava “aquilo”.

Talvez ela pressentisse que o ataque subsequente seria perigoso, mas Gagaran se afas-
tou — suas pernas permaneceram imóveis, mas a distância entre elas se abriu. O fato de
que ela estava se movendo tão agilmente apesar de sua estrutura maciça provou que
suas feridas estavam completamente curadas. Ela aterrissou onde Tia estava e esmagou
os cadáveres dos Insetos Projéteis, fazendo um ruído límpido de pachi-pachi.

“Droga, não acho que a gente consegue vencer. Como ela fez isso, a sincronia foi muito
boa, não acha? Mal dava pra me ver, mas ela me bloqueou mesmo assim!”

“Talvez ela tenha um campo de visão amplo?”

“Deve ter algo mais. Eu acho que é mais pra uma habilidade de entomante, ou algum
tipo de sentido mágico...a sorte tá do lado dela, mas por que ela não atacou enquanto a
gente conversava?”

“Uma fera mede a força da presa, e então ataca seus órgãos vitais.”

“Saquei. Quer dizer que ela tá estudando nossos movimentos, hm? A Tampinha deveria
aprender isso, esses tipos cautelosos são um pé no saco pra lidar.”

“Acha que eeeu menosprezaria vocês apeeenas por serem humanaaas? Ah, embora haja
outro motivoooo... Nesse caso... Bem, eu não preeeciso mais dissooo.”

O inseto agarrado ao braço direito de Entoma caiu no chão e desapareceu na noite com
um ruído estridente.

“E em seu lugar... venha aquiiiii.”

Outro inseto se arrastou pelo braço agora vazio. Parecia uma centopeia. Não, pratica-
mente era uma centopeia, claro, era só desconsiderar o fato de que tinha dez metros de
comprimento e as presas afiadas.

Este era o inseto mais poderoso que suas habilidades de entomante poderiam invocar,
o Inseto Mil-Chicotes.

Entoma começou a canalizar sua força em suas pernas.

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Ela havia aprendido a velocidade de ataque, poder destrutivo, força defensiva, habili-
dade evasiva e as habilidades de movimento das humanas diante dela. A única variável
desconhecida era a adaptabilidade de Tia, mas não havia necessidade de se preocupar
com isso.

“Oops.”

Entoma tocou o queixo. Seus dedos fizeram contato com um fluido claro e pegajoso.

“Estava de barriiiga cheia, mas depois deee um pouco de exercíciiio estou com fome de
novooo.”

Ela havia tocado sua saliva. Era a expressão de seu desejo de se alimentar de humanos.

Embora sua comida favorita fosse os humanos, até agora ela só conseguira saciar seus
desejos usando biscoitos naturais como substituto. Claro, ela não se ressentia dos Seres
Supremos por causa disso. De fato, Entoma sentiu que o Ser Supremo foi bastante gene-
roso por permitir que ela comesse os braços que haviam sido cortados durante os expe-
rimentos com humanos capturados de um certo vilarejo.

Mesmo assim, ela ainda se reprimia, e agora que havia duas excelentes espécimes — a
iguaria que mais gostava — diante disso, ela não pôde suportar a idéia de descartá-las
sem dar pelo menos uma mordidinha.

As duas estremeceram, expostas diante do olhar faminto de Entoma. Elas não tinham
medo da intenção assassina, isso era um tremor nascido da repulsa que qualquer ser
vivo teria ao ser encarado por um predador alfa.

“Kiiiiiyeeeeeart!”

Esta foi a primeira vez que Entoma partiu para a ofensiva na batalha, e seu ataque foi
acompanhado por um grito estridente que soou como dois pedaços de isopor esfregando
um contra o outro. Predadores atacavam suas presas em linha reta a velocidades muito
altas.

No momento em que desviou das seis kunais consecutivas em sua direção, ela alcançou
as duas.

Ao ver a vanguarda levantando sua arma, Gagaran, Entoma decidiu qual das duas inca-
pacitar primeiro e balançou o chicote em sua mão direita.

Quanto mais longo o chicote, mais lenta sua ponta se moveria. O mesmo se aplica até
mesmo a Entoma, que possuía poder muscular sobre-humano. Contudo, isso só era ver-
dade se o chicote em questão fosse normal.

Capítulo 9 Jaldabaoth
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Entoma agora estava usando o inseto mais poderoso que ela, como uma entomante,
podia invocar—

O chicote que deveria ter seguido o movimento do braço de Entoma em um arco inerte
se moveu de uma forma completamente impossível. Lançou-se como uma extensão do
braço de Entoma em Gagaran, seus chifres e presas afiadas como navalhas cortaram o
caminho tão rápido quanto um raio.

Um movimento desse nível só seria possível com a fusão de uma criatura que fosse
tanto arma, quanto um ser vivo. Mesmo uma veterana de milhares de confrontos bizar-
ros como Gagaran provavelmente nunca tinha visto ou experimentado esse tipo de coisa
antes. Era natural que ela fosse surpreendida por testemunhar algo assim pela primeira
vez.

O fato de conseguir evitar um ataque tão estranho só era possível por ser uma aventu-
reira classificada como adamantite — o mais alto ranque entre os aventureiros.

Gagaran evitou o ataque por poucos centímetros, quando o chicote-inseto passou rente
ao seu rosto—

“Cuidado!”

—Seguindo o grito de Tia, o corpo de Gagaran foi jogado longe. Este foi o ninjutsu de
Tia — 〈Bakuenjin〉. A explosão suicida envolveu os dois, o Inseto Mil-Chicotes atra-
vessou o lugar onde a cabeça de Gagaran estava, tendo girado 180 graus para atacar por
trás.

Se não fosse por essa explosão suicida, o Inseto Mil-Chicotes teria perfurado seu crânio.
Foi desviado no momento certo. Entretanto, o ataque de Entoma não parou por aí. O
Inseto Mil-Chicotes subitamente virou como se estivesse sendo manipulado por cordas,
indo em direção ao corpo chamuscado de Gagaran.

Ao mesmo tempo, Entoma lançou um talismã em Tia.

—Foi um Talismã Raichou.

O talismã transformou-se em várias aves de eletricidade branco-azulada no ar, e voa-


ram para Tia.

Já que eram duas oponentes, então tudo o que ela tinha que fazer era deixar seus insetos
lidar com uma delas. Pode-se dizer que foi uma vantagem que os entomantes possuíam.

Ao atingi-la, o relâmpago explodiu, iluminando Tia — que estava tentando resistir a dor
— e Gagaran — que estava tentando se defender do Inseto Mil-Chicotes.

“Vaca desgraçada! Como eu odeio essas coisas!”

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Gagaran pressionou o Inseto Mil-Chicotes com seu martelo de guerra e agarrou-o sob a
axila esquerda, tentando impedi-lo de se mover. No entanto, o inseto usou seu corpo de
dez metros de comprimento para dar voltas e voltas em torno de seu corpo.

Tia se adiantou e arremessou uma adaga, que atingiu o escudo de Entoma com um som
metálico.

“Talismãs 「Raichou Ranbu」!”

Entoma lançou vários talismãs com a mão esquerda. Eles se transformaram em pássa-
ros um pouco menores que antes e convergiram para Tia. No entanto, Tia desapareceu,
e desprovidos de um alvo, os pássaros elétricos voaram sem rumo.

Tia emergiu da escuridão atrás de Entoma, onde deveria estar fora de seu campo de
visão. Este era um teleporte de curto alcance através das sombras. No entanto, Entoma
já a havia notado há muito tempo. Assim como certos insetos tinham antenas, Entoma
podia sentir movimentos nas correntes de ar através de um órgão sensorial semelhante,
outra façanha das habilidades sensoriais de Entoma.

Os poucos Insetos Projéteis restantes foram atirados em Tia quando ela saiu das som-
bras.

“Guwaaargh!”

O odor de sangue fresco acompanhou um grito de dor, mas Entoma sentiu que sua opo-
nente ainda era capaz de lutar, e continuou seu ataque.

“Talismã 「Bakusan」.”

Uma explosão mais intensa do que a que Tia havia feito anteriormente quebrou o silên-
cio da noite. Tia foi surpreendida, e rolou pelo chão, e mais talismãs continuaram voando
atrás dela. Eram talismãs cortantes como navalhas — Surudoki — e Talismãs de vento
perfurante — Shoukaze. Tia não conseguiu encontrar uma chance de se levantar, e dei-
xou um rastro de manchas de sangue em seu rastro enquanto se afastava cada vez mais,
sendo cortada e perfurada o tempo todo.

“Tia—! Inseto desgraçado!”

O Inseto Mil-Chicotes já havia envolvido Gagaran, que estava xingando de dentro da


massa esférica.

Tudo estava indo como planejado, Gagaran ocupada com o Inseto Mil-Chicotes en-
quanto Tia atacava Entoma.

Entoma riu sob sua máscara.

Capítulo 9 Jaldabaoth
154
Tudo o que ela podia fazer era rir da tolice delas. Entoma era uma das Empregadas de
Batalha da Grande Tumba de Nazarick. Seres humanos de nível tão irrelevante não po-
deriam sequer sonhar em derrotá-la. O curso mais sábio de ação teria sido ignorar o fato
de que Entoma havia comido alguém e fugido com todas as suas forças. Elas estavam
colhendo as consequências de suas escolhas erradas.

“...A sequênciiia de eventos está meio errada... mas beeem, fazer o quê...? Seee bem que,
acho que vou conseguir meee satisfazer, aquiiilo é bem musculoso, vai me saciar bastan-
teee.”

Entoma convocou mais insetos. Esses não possuíam qualquer capacidade de combate
temível. Eles se pareciam com seringas, que injetavam um veneno paralítico.

Entoma agarrou os insetos e os arremessou levemente na direção de Tia.

Seria um belo souvenir. Muitas criaturas da Grande Tumba de Nazarick se alimentavam


de seres humanos. Eles certamente ficariam muito felizes em receber um presente como
este.

“Hm? O que é iiisso?”

Os sentidos excepcionais de Entoma a avisaram que um objeto longo e frio estava vindo
de cima, ela saltou para longe. Naquele momento, uma longa lança foi cravada no chão
onde Entoma estava segundos antes.

Parecia uma lança de cavalaria feita de cristal. No entanto, isso não era uma lança co-
mum. Isso porque a lança de cavalaria que havia perfurado o chão de pedra era feita de
cristal frágil, e mesmo assim não tinha uma única rachadura no corpo.

“Isso é magiiia...?”

Como uma magic caster espiritual, Entoma podia sentir certas qualidades comuns que
todas as carreiras de uso de magia compartilhavam emanando da lança.

“É isso mesmo. É uma magia arcana de quarto nível chamada 「Crystal Lance」.”

A pessoa que lhe respondeu desceu lentamente sobre o guarda mão da lança de cava-
laria. Ela era uma menina de baixa estatura, mascarada, usava túnica e tinha uma voz
infantil.

Maiiis ajudanteees? Até mesmo Entoma estava começando a ficar irritada. Ela pensou
que estava prestes a desfrutar de uma refeição saborosa, mas foi surpreendida com um
acontecimento inesperado. Qualquer um se sentia frustrado.

“Já está na hora de dar um fim nisso.”

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“...Quem é vocêêê? Se for embooora agora, eu teee perdoo. Pode a outro lugarrr? A carne
das crianças é maciiia, eu gosto muito, mas não enche a barriiiga. Depois eeeu brinco
com você, tenho que comer essas duaaas.”

“Entendi, então você é uma devora-homens. E olha só, ainda se veste como empregada,
é piada isso? Quem em sã consciência gostaria de ser atendido por um monstro fedendo
a sangue?”

“O QuE VoCê dIsSe, SuA PuTiNhA!?”

Entoma tinha falado acidentalmente em sua voz verdadeira, e ela rapidamente apertou
a mão contra a garganta.

Ela não pôde tolerar o que a recém-chegada ousou dizer e perdeu o controle. Ela queria
estraçalhar a garota, não pelo princípio do forte atacar os fracos, mas porque ousou a
insultar.

O que essa mulher acabou de me dizer? Eu, uma das Empregadas de Batalha, Pleiades, da
Grande Tumba de Nazarick, alguém que serve aos Seres Supremos?

Chamas tão quentes como as do inferno se acenderam dentro do corpo de Entoma.

“Eu vOu LhE mAtArRrR!”

Ela não conseguia mais controlar sua voz. No entanto, lutou desesperadamente para
conter o calombo em suas costas.

“Evileye!”

Tia chamou a mulher mascarada, e Entoma agora sabia o nome da pessoa que mataria
usando todas as suas forças.

“Eu estava me perguntando o que estavam fazendo... ahhh, francamente. Lição um; con-
sidere sempre a força e fraqueza relativas entre você e seu oponente. Ela é mais forte
que vocês... e mais fraca que eu.”

Evileye esticou o braço e sua capa flutuou, e então gritou:

“Como você ousa maltratar minhas companheiras, seu monstro! Vou ensinar-lhe como
é ser a presa! Pode me agradecer por isso mais tarde, se ainda estiver viva!”

O grito de raiva ecoou debaixo daquela máscara, mas Entoma não se importou.

Capítulo 9 Jaldabaoth
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Entoma irradiava intenção assassina de todos os poros de seu corpo, e ela avançou em
disparada. Para Entoma e sua mente cheia de ódio, as outras duas não eram nada mais
do que pedrinhas no caminho.

—Ela disse que ninguém gostaria de ser atendido por mim!?

Aquelas palavras ecoavam em sua mente, de novo e de novo.

Entoma balançou o Inseto Mil-Chicotes. Havia apenas cerca de um metro para ela segu-
rar; o resto já havia se formado em uma enorme esfera. Naturalmente, Gagaran estava
no centro disso.

“VoU eSmAgÁ-lA cOm sUa aMiGa! MaLdItA!”

Ela esmagou o Inseto Mil-Chicotes em sua oponente, como se estivesse empunhando


um mangual.

“Hmph! Que ataque ridículo.”

Evileye ficou indiferente e revidou:

“「Reverse Gravity」.”

Entoma resistiu à magia, mas o Inseto Mil-Chicotes ficou sem peso e flutuou vagarosa-
mente.

Se a vítima resistisse à magia, seu equipamento também resistiria. No entanto, armas


insectoides não tiravam proveito da resistência de seus detentores, apenas possuíam
suas resistências inatas.

Portanto, mesmo que a magia não afetasse a própria Entoma, isso poderia afetar suas
armas insectoides, como mostrou a situação atual. Este foi um demérito de armas de
insetos, que poderiam processar ataques independentes.

Por mais poderosa que fosse Entoma, só restou a ela desistir de seu plano original em
face desta magia.

O Inseto Mil-Chicotes sentira o que Entoma estava pensando e libertou Gagaran. Ele se
desenrolou como uma fita métrica e imediatamente retomou sua forma com dez metros
de comprimento. Quando Gagaran desabou no chão, Evileye gritou suas ordens:

“Gagaran! Sai do caminho! Vá curar a Tia! Se as manoplas não derem conta, use as po-
ções!”

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Entoma deixaria que se curasse, pois nenhuma delas eram adversárias dignas. Contudo,
a recém-chegada magic caster era um assunto completamente diferente, ainda mais con-
siderando suas habilidades.

Evileye estava no nível de Entoma. Se ela tivesse ajuda, a maré poderia se voltar rapi-
damente contra ela.

Assim, mesmo relutante, Entoma decidiu revelar seu verdadeiro ás na manga.

Ela já tinha usado uma vez para exterminar todos dentro da mansão de uma só vez, mas
ela ainda podia usá-lo mais duas vezes.

A capacidade de exalar uma nuvem de moscas carnívoras — 「Breath of Flies」.

As moscas expelidas pelo sopro eram como moscas-do-gado. Elas mesmos não comiam
a carne, mas depositavam larvas carnívoras. As larvas se enterravam nos corpos de suas
vítimas e causavam DoT (danos ao longo do tempo). Pior, uma vez que as larvas germi-
nassem asas, elas se tornariam um enxame sufocante que atacaria qualquer um que en-
trasse em sua área de ação, salvo alguns indivíduos.

Entoma expôs sua garganta, deixando parte de seu verdadeiro rosto aparecer. Para um
estranho, seria o equivalente a um queixo se abrir.

Com um awwwwrblargh, ela vomitou um enxame de moscas.

“Mas isso—! Tem a ver com os Deuses Demônios? Nesse caso—”

Um gás branco se espalhou de Evileye, como se para afrontar o ataque.

Ataques do tipo gelo eram uma boa resposta, mas não conseguiriam neutralizar com-
pletamente o enxame. O método ideal seria magias que criassem estouros ou explosões
para dispersar os enxames de moscas.

Ela cometera um erro.

Entoma imaginou como Evileye ficaria quando os vermes a rasgassem, mas a magia que
ela usou como contra-ataque excedeu suas previsões.

Quando tocaram os gases, as moscas caíram no chão uma a uma. Logo em seguida, os
gases envolveram o corpo de Entoma. Naquele momento, Entoma foi tomada por uma
agonia sem igual.

♦♦♦

“AGGAAHHHHH!”

Capítulo 9 Jaldabaoth
158
O rosto da entomante chiou emitindo fumaça e se deformou, como se alguém tivesse
derramado ácido sobre.

O objetivo de Evileye era anular o sopro de sua oponente, mas ela não esperava que
revelasse a verdadeira face do inimigo.

“Ei, ei, deu certo?”

Gagaran tinha seu martelo de guerra levantado e estava procurando uma chance de se
aproximar de sua oponente. Como esperado de uma excelente guerreira, ela provavel-
mente sentiu que este era o momento decisivo da batalha. Na verdade, dado o poder de
luta de sua oponente, elas precisavam acompanhar esse ataque e terminar a luta rapida-
mente.

Gagaran não podia se aproximar do inimigo porque o inseto de dez metros de compri-
mento estava se debatendo violentamente, impedindo-a de se aproximar. No entanto,
parecia uma resistência fútil de um inimigo derrotado.

“Que magia estranha foi essa?”

Evileye respondeu à pergunta de Tia:

“É uma magia inseticida, 「Vermin Bane」. Havia um Deus Demônio Insectoide entre
os Deuses Demônios duzentos anos atrás. Aí eu inventei essa magia para acabar com os
insetos que ele invocava. É uma das minhas magias originais.”

“Ei! Mas isso não vai envenenar a gente, vai?”

“Não. É especialmente eficaz contra os insetos, mas não é tóxico para outras criaturas
vivas.”

“...O rosto dela derreteu.”

“Tia, é porque na verdade ela é... erk! Não, isso não é um rosto!”

Como se esperasse que Evileye exclamasse, o belo rosto da empregada deslizou com
força para baixo e caiu no chão. Parecia que a pele havia sido arrancada de seu rosto,
mas não era esse o caso. A parte de trás do rosto que caíra no chão estava coberta de
pernas de inseto.

“Quem diria que era um inseto em forma de máscara...”

“OrRgGuOoOH!”

A garganta da empregada estava exposta. Havia uma fenda naquela garganta de apa-
rência repulsiva, um grande pedaço de algo coberto de baba caía dela.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


159
Parecia um chumaço de vômito, mas a diferença crucial era o fato de que ainda estava
se contorcendo no chão.

“Mas que mer...”

Evileye não pôde deixar de prender a respiração diante da cadeia de eventos bizarros.
Esta foi a primeira vez que ela experimentou algo assim em sua longa vida.

“—Um Inseto Boca.”

Esse era o nome que Tia usava para se dirigir à criatura coberta de baba e semelhante
a sanguessuga que estava contorcendo no chão.

“É um inseto que devora as cordas vocais de humanoides e as usa para produzir as vo-
zes de suas vítimas.”

A frente desta criatura rosada semelhante a uma sanguessuga parecia um par de lábios
humanos, e estava ofegando na voz delicada que a empregada estava usando até agora.

Enquanto todos olhavam para ela, a empregada lentamente retirou as mãos que co-
briam seu rosto. O rosto assim revelado lembrava o de um inseto.

As integrantes da Rosa Azul não puderam deixar de recuar quando viram sua verda-
deira carranca. Agora estavam cientes de que o 「Vermin Bane」tinha sido visivelmente
eficaz, já que o “Inseto Máscara” caíra, mas a visão horrível diante de seus olhos ainda
incutira medo em seus corações.

O fato de que um monstro desumano como este realmente pusesse os pés no mundo
dos humanos fez com que todas sentissem que haviam sido violadas.

“VoCê sE AtReVe... Se aTrEvEeE...”

Aquela voz era frígida, truncada e difícil de entender.

“Minha nossa, que voz fofa, hein. Combina mais com você!”

As palavras de Gagaran estavam praticamente escorrendo hostilidade. Ela era a mais


compassiva dentre todas na Rosa Azul. Com toda a probabilidade, ela estava pensando
em todas as vítimas dessa garota. Ela apertou o cabo de seu martelo de guerra com ainda
mais força.

“Hu-HuMaAnOs mIsErÁvEiSsS!”

Capítulo 9 Jaldabaoth
160
Durante a batalha anterior, sua adversária sempre se esforçou para apresentar uma
compostura calma e analítica. No entanto, essa compostura estava longe de ser vista
agora.

Sendo esse o caso, ela provavelmente não iria se refrear mais, lançaria um ataque furi-
oso.

“A verdadeira batalha começará agora! Não relaxem! O pior está por vir!”

Evileye gritou uma advertência para as duas. Contudo, sendo suas companheiras, já es-
tavam cientes disso mesmo se palavras não fossem ditas. Elas estavam preparadas para
perder suas vidas desde o início da batalha.

As costas da empregada inseto incharam e quatro pernas longas — como as de uma


aranha — brotaram debaixo de suas roupas. Parecia que ela estava usando pernas de
inseto como uma mochila.

Ela usou as pernas que brotara para pular para frente. Era tão surpreendente que pa-
recia uma magia de voo.

Agora que tinha a vantagem de estar no alto, o monstro cuspiu seu 「Breath of Flies」,
procurando abocanhar todas com ele.

Evileye estalou a língua e lançou seu 「Vermin Bane」 mais uma vez.

“É vOcêÊêÊ! vOcÊ É A ÚnIcA QuE PrEcIsO TeR CuIdAdOoOo! qUaNtO Eu LhE MaTaR, o
rEsTo sErÁ FáCiL! pOr qUe vOcÊ É TãO IrRiTaNtEeEeE!?”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


161
As moscas carnívoras foram eliminadas e a empregada inseto caiu de volta à terra, seus
olhos compostos se fixaram em Evileye. Na verdade, apenas Evileye poderia lutar de
igual com esse monstro. Se Evileye fosse derrotada, a batalha seria decidida, e não havia
dúvida de que Gagaran e Tia morreriam horrivelmente. Dito isto, concentrar-se inteira-
mente em uma pessoa foi um erro.

“Toma essa!”

Gagaran atacou da lateral, tentando esmagá-la com seu martelo de guerra.

Evileye poderia ter a vantagem, mas Gagaran não estava disposta a deixar tudo por
conta dela. Ela se aproximou das duas companheiras para desafiar esse inimigo formi-
dável. Evileye sorriu para ela por baixo da máscara. Se estivesse sem máscara, poderia
ter ficado muito tímida para fazê-lo.

O monstro conseguiu evadir do golpe de Gagaran, mas ficou brevemente paralisado no


lugar. Isso foi por causa do ninjutsu de Tia, 〈Fudou Kanashibari no Jutsu〉. Vale notar
que não consegiu paralisá-la por completo, pois Entoma tinha certa resistência e imuni-
dade. Mesmo assim, o fato de ter criado uma breve abertura para Gagaran foi uma tre-
menda ajuda.

Em resposta ao golpe esmagatório, o monstro cuspiu um esguicho de seda de aranha.


Tamanha a quantidade que tingiu a metade superior do corpo de Gagaran de branco.

A seda pegajosa e resistente era difícil de arrebentar mesmo com a força dos braços de
Gagaran. Ela parou seu ataque e tropeçou para trás. Em resposta, o monstro deu um
passo à frente.

“「Crystal Lance」!”

A lança de cristal disparou contra o monstro.

Atingiu Entoma e penetrou profundamente em seu corpo, mas não pareceu machucá-
la. Pior, ela ainda parecia forte o suficiente para convocar um enxame de insetos vindos
do céu noturno, fazendo com que seu braço esquerdo inchasse.

“「Vermin Bane」!”

Os gases brancos fizeram com que os insetos que se aglomeravam no braço esquerdo
de Entoma caíssem, e o monstro gemeu de dor.

A parte de seu corpo que correspondia ao queixo de um humano virou-se para olhar
Evileye, e vomitou um esguicho de seda para ela, o mesmo que cuspira em Gagaran.

Defender com magia é um desperdício de mana. Eu sou imune a efeitos de amarração,


então é melhor receber de— não!

Capítulo 9 Jaldabaoth
162
Evileye lançou apressadamente uma magia. Era verdade que Entoma cuspira seda para
ela, mas o brilho de seus fios estava mais escuro e vil do que a usada em Gagaran.

“「Crystal Wall」!”

A parede de cristal diante de seus olhos foi cortada em pedaços e desapareceu em sua
frente.

“Isso foi fio cortante?”

“Um presentinho!”

A rede preta de tecido entrelaçado que Tia jogou expandiu no ar. No entanto, essa rede
não conseguiu capturar o corpo do monstro. A rede passou pelo corpo do monstro como
uma ilusão e caiu no chão.

“Essa coisa é completamente imune à restrição de movimentos!”

“Tchh! Estamos sem tempo!”

A réplica indignada de Gagaran foi acompanhada por um chute na empregada, que es-
tava tentando se aproximar do combate corpo a corpo. Esse chute também foi feito para
criar algum espaço entre elas.

O surpreendente foi que, quando a canela armadurada fez contato com o uniforme da
empregada, ouviu-se um som de colisão metálica.

Gagaran recuou, e as outras duas mantiveram distância da empregada, enquanto se


mantinham cautelosas com os ataques na área.

“InTeRfErInDo aQuiIi, iNtErFeRiNdO aLiIi... qUe ChAtIcEeE!”

Enquanto Gagaran inspecionava as mandíbulas da empregada sibilando, sua voz baixa


se filtrou nos ouvidos de Evileye.

“Ouviu aquilo? O uniforme é tão duro quanto a minha arma, que piada.”

“É alguma malha de metal bem dura. Dada a espessura, eu diria que as roupas dela são
muito mais duras que sua bota.”

“Mais duro quê... Adamantite?”

“Não apenas isso! Os equipamentos dela são tão bons que nem faz sentido... Minhas
magias elementais de terra não são muito eficazes nela. Ou seja, os itens dela têm alguma
forma de resistência mágica. É perda de tempo tentar encontrar fraquezas.”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


163
“O que significa?”

Respondendo à pergunta de Tia, Evileye sorriu timidamente sob sua máscara.

“Só resta atacar de frente e bater nela com tudo o que temos até reduzir a vida dela.”

“Falar é fácil, né? Faremos o que agora? A gente tem que agir rápido, ou ela vai acabar
se fortalecendo com seus talismãs.”

“Vamos apenas usar nossas técnicas mais fortes. No meu caso seria o 「Vermin Bane」.”

No entanto, esgotar a vida do inimigo com alto poder de fogo não era tão simples quanto
parecia.

Em circunstâncias normais, ela poderia usar 「Sand Field: One」 ou 「Region Petrifi-
cation」 para selar os movimentos de sua oponente e dar suporte, mas essas técnicas
eram inúteis contra a empregada.

Até então, Evileye acreditava que era um erro se focar em magia de ataque, pois ela
poderia deixar o dano físicos para Gagaran, já que apenas atacaria se seus ataques físicos
não funcionassem. No entanto, dadas as circunstâncias atuais, ela não podia mais dizer
isso.

Eu sempre acreditei que os magic caster que dependem de magias de ataque são de se-
gunda, vou ter que engolir minhas palavras agora.

Evileye considerava qual magia deveria usar.

Sua magia mais efetiva era a 「Shard Buckshot」 com efeito maximizado, mas isso atin-
giria suas companheiras também. A magia de alto nível 「Vermin Bane」 que ela havia
inventado consumia muita mana, então era melhor usar apenas quando sua oponente
invocava insetos. Sendo esse o caso, a magia mais adequada seria alguma com danos por
ácido, da qual ela não gostava muito.

As três se entreolharam e atacaram imediatamente.

Evileye usou 「Acid Splash」 como seu principal método de ataque, enquanto Tia cujo
— poder ofensivo era comparativamente mais fraco — as deu suporte por trás usando
itens. Gagaran ativou suas Artes Marciais entre uma série de ataques combinados repe-
tidos.

♦♦♦

Em pouco tempo, a batalha começou a favorecer um lado.

Capítulo 9 Jaldabaoth
164
Era verdade que sua rival era poderosa além da conta. Ela poderia cuspir todos os tipos
de teias de aranha, lançar ataques mágicos com talismãs e invocar insetos para atacar.
Além disso, ela possuía itens mágicos de poder além daqueles da Rosa Azul.

Todavia, mesmo quando os itens de recuperação do grupo e outros recursos diminuí-


ram, a empregada inseto lentamente foi sendo forçada a recuar mais e mais para trás.

Se lhe perguntassem o que determinara o curso da batalha, Evileye estufaria o peito e


diria orgulhosamente: “Minhas amigas”.

De fato, Gagaran e Tia eram muito mais fracas que Evileye ou o monstro que as enfren-
tava. Mas os números continham uma vantagem significativa. Ser capaz de atacar e curar
ao mesmo tempo exercia um grande efeito na batalha.

Obviamente, o lado com capacidade de cura tinha clara vantagem. Esse foi o fator deci-
sivo entre a vitória e a derrota.

“Não cometam erros idiotas, continuem pressionando!”

Parte 3

4º Dia do mês Baixo Fogo (9º mês) - 22:27

Foi uma batalha feroz.

A empregada inseto finalmente desmoronou, como uma marionete cujos cordéis foram
cortados.

A mana de Evileye estava praticamente esgotada, e seus itens consumíveis quase foram
esgotados. O custo desta batalha tinha sido ruinoso.

“Ven...cemos.”

Gagaran, coberta de feridas, anunciou a vitória em uma voz ofegante. Ela já estava sem
itens de cura, mas pelo menos não tinha perdido tanta vitalidade quanto seus ferimentos
externos indicavam.

“Acaba de vez com ela.”

“Sim.”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


165
Evileye aprovou a sugestão de Tia. A empregada inseto estava nas últimas, mas ainda
não estava morta. O fato de ainda estar fazendo barulhos de chilrear era a melhor prova
disso.

Agora que ela não tinha a capacidade de lutar, seria melhor tirar a vida sem hesitar.

Tia deu um passo à frente, com sua lâmina na mão, mas seu corpo ficou paralisado. Evi-
leye sabia o motivo disso sem ter que perguntar o porquê.

“Creio eu que já foi o bastante por hoje.”

Inexplicavelmente, um homem apareceu na frente da empregada inseto, a impedindo


de avançar.

Ele estava vestido com roupas estranhas que nunca tinham visto antes na região. Pelo
que Evileye sabia, este era um tipo de roupa usada no sul, conhecido como “terno”. O
homem usava uma máscara e elas não podiam ver seu rosto.

No entanto, ele definitivamente não era humano. Isso devido à cauda situada na altura
de sua cintura.

“Hey, Evileye, conhece ele?”

Idiota, Evileye queria dizer, mas não podia. Ela sentiu como se tivesse sido atingida por
um raio. Ela olhou para a mão direita e viu que estava coberta de suor.

“—Você está bem? Permita-me cuidar das coisas de agora em diante. Volte e descanse.”

O homem parecia não se importar com o grupo armado e pronto para a batalha, ele
falava gentilmente com a empregada inseto. Embora fosse um inimigo, esse ato parecia
bastante cativante. No entanto, Evileye não pensava assim.

O medo que abraçava seu corpo da cabeça aos pés se recusou a desaparecer.

Os instintos de sobrevivência de Evileye responderam. Ela prendeu a respiração e sus-


surrou desesperadamente para Gagaran e Tia ao lado dela.

“...Fujam... idiotas, não se importem comigo. Me escutem. Isso... essa coisa é poderosa
demais. Ele é um monstro entre monstros. Não olhem para trás, apenas corram com to-
das as suas forças.”

“...E quanto a você?”

Perguntou Gagaran com o rosto tenso.

Capítulo 9 Jaldabaoth
166
“Não se importe comigo. Depois que eu comprar tempo, escaparei com magia de tele-
transporte.”

E então, de alguma forma, a empregada inseto — que deveria ter ficado imóvel por
causa de seus ferimentos — levantou-se tremulamente. Ela não parecia ter usado qual-
quer magia de cura, nem parecia ter bebido nada.

Um inseto voou do nada e se agarrou às costas dela, então a empregada subiu para o
céu noturno. Ela deixou apenas o som de “giii giiii” enquanto voava para longe.

Embora sua inimiga estivesse fugindo diante de seus olhos, Evileye não se importou.
Ela não conseguia tirar os olhos do homem à sua frente. As outras duas fizeram o mesmo,
cobertas de suor e sem saber como agir.

Depois de ver a empregada sair, o homem encarou Evileye e as outras.

Nos mais de 250 anos de sua vida, Evileye viu seres poderosos de todas as formas e
tamanhos. No entanto, o homem diante deles tinha uma aura única. Não, não era apenas
isso, a malícia nauseante que ele emanava era algo sem igual.
[ S o b e r a n o Dragão Platina]
Alguém como ele deveria estar no nível do Platinum Dragonlord. Ele era demasiada-
mente poderoso para fazer disso uma comparação precisa.

“Peço desculpas por manter as senhoritas esperando. Então, já que não temos muito
tempo, permita-me começar imediatamente.”

“Fujam!”

A voz de Evileye soou mais como um lamento.

As duas se viraram como se tivessem sido eletrocutadas. Não era como se não se sen-
tissem culpadas por deixar uma amiga para trás. O melhor exemplo disso foi o fato de
que elas não recuaram imediatamente quando Evileye gritou para que fugissem. O que
elas sentiam era confiança — acreditavam que Evileye encontraria uma maneira de lidar
com isso, ou que Evileye poderia encontrar uma maneira de escapar.

No entanto, esses pensamentos foram imediatamente anulados.

“Para começar, acabamos de conhecer-nos, seria triste se fossem. Permitam-me impe-


dir seu teleporte. 「Dimensional Lock」. Seria educado dizer adeus antes de nossa des-
pedida; certamente seria agradável tanto do ponto de vista emocional quanto do ponto
de vista da etiqueta, não concordam?”

Certos demônios e anjos de nível extremamente alto poderiam usar habilidades capa-
zes de impedir o uso de teletransporte nas proximidades. Evileye havia perdido seus
meios de retirada.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


167
No entanto, isso não era um problema. Ela sabia dessa possibilidade desde o começo. A
última pessoa a permanecer aqui — quem compraria tempo — não conseguiria voltar
com vida.

“Já que vamos morrer, é melhor que haja uma ordem. As jovens devem viver, já a mais
velha deve morrer. Esse é o jeito mais justo de fazer isso.”

Depois de se despedir das presenças fugindo, a mulher que viveu mais de 250 anos se
virou para encarar o inimigo diante de seus olhos, mesmo sem a menor chance de vitória.

“Então, faça as honras. É claro que, se não fizer nada, então darei o primeiro passo.”

Ao contrário de seu tom gentil, a explosão de sede de sangue comprimida era verdadei-
ramente aterrorizante. Evileye concentrou toda a extensão de sua força de vontade para
dispersar a malícia diante dela.

Eu sou Evileye. Meu epíteto ecoa pelas lendas. Não importa o quão poderoso meu inimigo
seja — eu lutarei!

“Já que não se importa! Toma essa! 「Maximize Magic: Shard Buckshot」!”

Para iniciar o confronto, ela usou sua magia mais forte. Estilhaços de cristal, cada um
menor do que um punho, foram atirados em ampla área.

Os estilhaços de cristal com suas pontas afiadas deviam ter sido disparados contra o
corpo do inimigo à curta distância para maximizar o dano. No entanto, ela não se atreveu
a se aproximar do demônio.

Ela já aceitara morrer, mas, mesmo assim, não se atrevia a avançar. Evileye não pôde
deixar de zombar de si mesma por isso. No entanto, ela precisava lutar com cuidado já
que não sabia a extensão do poder de seu inimigo.

O demônio mascarado abriu os braços, como se desse boas-vindas. A chuva de estilha-


ços de cristal bateu nele— ou melhor, eles desapareceram antes mesmo de tocá-lo. Tão
repentino foi o desaparecimento que sequer parecia que havia sido disparado.

É esta a resistência mágica que apenas certas espécies possuem? O quanto essa coisa é
mais forte do que eu!?

Quanto maior a disparidade de poder, mais facilmente as magias poderiam ser anula-
das.

Ignorando Evileye, que tinha feito sua jogada inútil, o homem criou um deslocamento
de ar ao abrir magnanimamente os braços. Ele parecia reger uma orquestra invisível.

Capítulo 9 Jaldabaoth
168
“「Hellfire Wall」.”

Uma onda de calor colidiu atrás de suas costas. Evileye não pôde acreditar e rapida-
mente se virou para olhar. Houve um vush, e então parecia que a própria noite pegara
fogo. Chamas negras não naturais surgiram no céu.

Enquanto fugiam, Gagaran e Tia foram envolvidas pelo fogo negro. Seus membros se
contorceram como marionetes e depois caíam no chão como se fossem pedaços de lixo.
Quando o fogo desapareceu, as duas permaneceram imóveis. Evileye lutou contra o im-
pulso de correr para o lado delas. Ela não queria acreditar, mas não tinha escolha a não
ser fazê-lo. Evileye sabia que tinham sido fatalmente feridas. Com apenas um único golpe,
suas amigas, com quem compartilhou sua alegria e tristeza, perderam suas vidas.

Ela rangeu os dentes para não gritar.

“Não esperava que morressem tão facilmente, eram mais fracas do que eu esperava. E
pensar que não poderiam sequer lidar com chamas tão fracas. Aceite minhas mais sin-
ceras condolências.”

O homem fez uma reverência em arrependimento aparentemente sincero. Evileye não


conseguiu mais conter seus sentimentos depois de testemunhar tamanha falsidade.

Ele havia ignorado Evileye — aquela que realmente o atacara —, mas, em vez disso,
atacara suas companheiras enquanto fugiam. Por que isso? Obviamente, era porque es-
tavam fugindo, mas havia outra razão maior que isso.

Evileye entendeu completamente a disparidade em suas respectivas forças de combate,


e ela sabia que não era considerada como uma ameaça. Contudo, a verdade era pior do
que pensava — seu oponente sequer a via como digna de ser sua inimiga.

Já que ela não fugiria, então ele mataria quem estava fugindo. Provavelmente essa foi
sua linha de pensamento.

“Atacar enquanto protege suas vidas a refrearia. Usá-la como referência seria um tanto
injusto... mas o porquê se juntou a elas apesar do vasto abismo entre suas respectivas
habilidades intriga-me. Sem elas, é mais fácil calcular uma estimativa mais precisa.”

“—Você não tem o direito! DE DIZER ISSO! Gwaaaaaahhhh!”

Este não foi um lamento de desespero, mas um grito de raiva. O grito de Evileye estava
cheio de ódio quando avançou em disparada. Não, seria melhor dizer que ela voou com
as asas da magia. Ela concentrou sua mana no punho, uma magia de toque que seria
difícil de anular ou mesmo resistir.

O demônio levantou o punho e se preparou para interceptá-la.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


169
“「Aspecto de Demônio: Braços Gigânticos do Demônio」.”

O braço do demônio inchou várias vezes seu tamanho original, ficou tão longo que se
arrastou pelo chão. Esta não era uma inflação pneumática, mas um braço robusto de
músculo e osso que era uma arma por direito próprio.

Qualquer um se espantaria apenas olhando para aquele braço. De fato, Evileye se reteve
por um momento. Mas ela havia se decidido, ela evitaria o ataque daquele braço e ataca-
ria seu inimigo.

O gigantesco braço se aproximou de Evileye. Moveu-se muito mais rápido do que ima-
ginara, tomando conta de seu campo de visão como uma muralha. Evileye sentiu que
teria dificuldade em evadir e lançou uma magia de defesa.

“「Translocation Damage」!”

Sua visão ficou preta e, ao mesmo tempo, ela sentiu um enorme impacto assim que seu
corpo foi arremessado selvagemente pelo ar. Sua linha de visão girou e revolveu, ela não
tinha idéia de onde estava. Quando bateu no chão, o impacto foi tal que ela quicou leve-
mente, como uma bola. Então bateu no chão novamente, desta vez deslizando até parar.

Felizmente, ela estava ilesa. Evileye usou 「Fly」 para se levantar de uma forma que
desafiava o senso comum. Se não tivesse usado uma magia que convertesse dano físico
em custo de mana, ela provavelmente estaria à beira da morte.

“「Penetrate Maximize Magic: Crystal Dagger」!”

Ela criou uma adaga de cristal que era maior que o normal. Era uma magia puramente
de danos físicos, algo difícil de resistir. Além disso, ela usou uma habilidade para permi-
tir que quebrasse a resistência à magia mais facilmente.

O demônio não se esquivou, mas a recebeu em seu corpo. O potencial de dano foi maxi-
mizado, mas não pareceu ter afetado o demônio.

“...Não o machuquei mesmo aprimorando a magia com Penetrate Magic...? O nível dele
é bem mais alto então... essa não, essa coisa parece estar além dos Deuses Demônios!
Será que é o Rei dos Deuses Demônios!?”

Monstros com título de “Rei” no começo de seus nomes, ou “Lord” no final, não se tor-
navam automaticamente mais fortes, mas era comum que monstros que possuíssem tais
títulos fossem os mais fortes de sua espécie. Isso era de conhecimento comum neste
mundo. Curiosamente, os humanos eram a única espécie que coroavam seus membros
mais fracos como reis.

“「Aspecto de Demônio: Garras de Navalha」.”

Capítulo 9 Jaldabaoth
170
As unhas do demônio cresceram até ficarem com de 80 centímetros de comprimento.
Os instintos de Evileye disseram-na que eram afiadas o suficiente para cortar qualquer
coisa.

Não posso escapar. Mesmo que as outras venham, não vai adiantar nada. Eu preciso mo-
dificar o campo de batalha e tornar mais fácil para as outras encontrarem nossos corpos.

Evileye arqueou o canto da boca.

O pior cenário seria ter Lakyus — que possuía magia de ressurreição — encontrar esse
demônio. Ela tinha que evitar isso a todo custo.

“Aqui vou eu!”

No momento em que Evileye estava prestes a desafiá-lo, algo caiu entre eles com um
estrondo trovejante. Incapaz de suportar a pressão do impacto, as placas de pedra que-
braram e um bolsão de poeira subiu.

Diante dela estava um guerreiro, ainda genuflectido pela força de sua aterrissagem.

Sua armadura preta refletia a solene luz da lua, criando uma visão estranhamente bela.
Sua capa carmesim tremulava como labaredas rugindo no céu noturno. Cada uma de
suas mãos segurava uma extraordinária espada brilhando com a luz do julgamento.

O guerreiro negro levantou-se lentamente. Ele era verdadeiramente massivo. Apenas


pela altura, deveria ser tão alto quanto aquele demônio. Entretanto, assim como os de-
mônios recuavam diante da luz sagrada, Evileye sentiu uma pitada de medo vindo da-
quele poderoso demônio enquanto observava o guerreiro negro. Era como se ele tivesse
visto algo inacreditável.

Evileye ouviu o som de engolir em seco. Veio do demônio. Aquele demônio incrivel-
mente poderoso, cuja força até mesmo Evileye não podia julgar com precisão, não se
atreveu a respirar altivamente diante da presença do imponente guerreiro.

Ela ouviu uma voz cortando o silêncio da noite, era fria como gelo.

“E então... qual de vocês é meu inimigo?”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


171
Interlúdio

Capítulo 9 Jaldabaoth
172
avia uma sala que era a própria definição de “luxo esplendoroso”.

H O tapete vermelho vivo no chão era tão macio que fazia as pessoas senti-
rem que seus calcanhares estavam afundando nele. Os assentos com espal-
dar alto foram feitos de madeira natural de alta qualidade e esculpidos com
intrincados desenhos rococós. As almofadas brilhavam com o brilho que só o couro ge-
nuíno preto podia refletir.

Um homem descansava em um desses assentos, suas costas se afundavam no acolcho-


ado enquanto lentamente espreguiçava suas pernas esbeltas.

Nobre. Se alguém fosse capturar perfeitamente sua aparência em um retrato, era assim
que o descreveriam.

Seu cabelo loiro refletia a luz das lâmpadas mágicas ao redor, produzindo um efeito
como a irradiância de uma galáxia. As pupilas roxas escuras de seus olhos eram como
ametistas vistas através de pequenas fendas, encantando todos os que olhavam para elas.

No entanto, qualquer um que o visse provavelmente teria uma impressão diferente an-
tes mesmo de elogiar seu porte nobre. Totalmente destoante de sua aparência, qualquer
um que sentisse presença que irradiava — o ar natural de um líder nato — seria capaz
de formar uma impressão precisa de sua pessoa.

Ou seja, mais que um nobre, eles os consideram como um “Monarca”.

Se tratava de Jircniv Rune Farlord El-Nix.

Na tenra idade de 22 anos, já se tornara o soberano Imperador do Império Baharuth.


Os nobres o consideravam com respeito e temor, enquanto o povo o venerava e elogiava
como o mais sábio imperador da história. Além disso, os países vizinhos o temiam, pois
conquistara seu título de Imperador Sangrento ao expurgar muitos nobres.

Havia quatro outros homens na sala além de Jircniv, mas todos estavam imóveis, como
se fossem estátuas.

Jircniv desviou os olhos dos papéis que já olhava por um tempo e fixou sua linha de
visão no ar. Ele escreveu seus pensamentos, como se houvesse um quadro negro ali.

Em pouco tempo, Jircniv bufou. Parecia que estava zombando de algo, mas também
como se estivesse interessado.

As notícias de seu espião dentro do Reino haviam extraído essa reação de Jircniv.

Neste momento—

—A porta se abriu sem bater.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


173
Este comportamento escandalosamente rude fez seus acólitos entrarem em formação,
olhando para a porta com hostilidade. Mas, uma vez que os asseclas viram quem havia
entrado, eles imediatamente se afastaram e retornaram às suas posições originais.

A pessoa que entrara era um homem velho, com a barba longa, aproximadamente me-
tade de sua altura. Seu cabelo era branco como a neve, mas nenhuma falha de cabelo era
vista.

Os longos anos de sua vida estavam escritos nas rugas de seu rosto, enquanto seus olhos
afiados continham a luz da sabedoria.

Ele usava um colar feito de incontáveis esferas cristal, e suas mãos ressequidas estavam
adornadas com vários anéis mundanos e sem adornos. Sua túnica branca pura era fol-
gada e solta, feita de um tecido muito macio.

Sua aparência era a epítome da imagem que vinha à mente quando alguém pensasse
em “mago”.

“—As coisas se tornaram problemáticas.”

Essas foram as primeiras palavras proferidas pelo velho que entrou lentamente na sala.
Ele falou em uma voz jovem que parecia completamente em desacordo com sua aparên-
cia. Jircniv apenas moveu os olhos, deslocando o objeto de seu olhar interessado.

“Qual o problema, Velhote?”

“Eu tenho investigado, mas é impossível encontrá-lo.”

“O que quer dizer? Use palavras simples.”

“...Vossa Majestade Imperial. Magia é um dos princípios do mundo. Conhecimento—”

“Sim, tá, eu sei...”, disse Jircniv com um gesto desinteressado de sua mão:

“Se começar a divagar assim não vai parar tão cedo. Ignore isso por enquanto e vá direto
ao ponto.”

“...Se a pessoa chamada Ainz Ooal Gown realmente existir, então ele certamente deve
possuir algum item mágico muito poderoso ou alguma habilidade pessoal que impeça as
pessoas de espioná-lo. Na minha opinião, ele pode ser capaz de usar magia de um nível
semelhante ou superior ao meu.”

Todos na sala ficaram tensos, com exceção do imperador e do velho.

Interlúdio
174
O velho estava dizendo que essa pessoa estava no mesmo patamar com o mais compe-
tente magic caster da história do Império, o Mago da Côrte Imperial, o grande sábio co-
nhecido como o “Tríade Magic Caster”, Fluder Paradyne. Todos os outros duvidaram de
seus ouvidos.

“Entendo. É por isso que está tão animado, Velhote?”

“Claro. Nos últimos duzentos anos, eu não vi nenhum magic caster arcano tão ou mais
poderoso que eu.”

“E havia alguém assim duzentos anos atrás?”

Impulsionado pela curiosidade, o Imperador fez sua pergunta, e o Mago da Côrte Impe-
rial começou a buscar em suas memórias.

“Bem... Eu só conheci uma pessoa assim. Uma dos Treze Heróis das histórias infantis, a
necromante Rigrit Bers Caurau. Ah, embora eu ache que os outros magic casters entre
os Treze Heróis também fossem excepcionais.”

“Quer dizer que existe uma magic caster arcana mais habilidosa que você, Velhote?”

Os olhos de Fluder tremeram, como se olhassem para a distância.

“Isso é difícil de afirmar... acredito que já a superei há algum tempo, mas... não posso ter
certeza. Isso porque é difícil determinar superioridade no campo da teoria mágica.”

Ele lentamente acariciou sua barba, suas palavras eram humildes, embora seu tom
transbordasse de confiança. Então, arqueou uma sobrancelha:

“Espero que o excelentíssimo Ainz Ooal Gown seja alguém mais notável do que eu.”

Jircniv sorriu de satisfação, depois pegou uma folha de papel e a dispôs diante de Fluder.

Fluder pareceu surpreso, mas aceitou o pedaço de papel e rapidamente o leu.

“Ooh.”

Reagiu de forma sucinta. No entanto, uma grande mudança veio sobre o semblante sa-
gaz de Fluder. Seus olhos se iluminaram com uma chama ardente e ele parecia uma
besta-fera faminta.

“Uhum, então é por isso que Vossa Majestade Imperial me pediu para investigar as
ações de Ainz Ooal Gown. Que interessante. Duas pessoas contra o que parecem ser de-
zenas de agentes das forças especiais da Teocracia... Huhu. Eu gostaria de me sentar e
discutir conhecimento mágico com esse cavalheiro.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


175
O artigo continha o testemunho de Gazef Stronoff ao Rei e até mesmo a opinião pessoal
do infiltrado.

“Então, Vossa Majestade Imperial. Já enviou alguém para o vilarejo em questão?”

“Ainda não. Chamaria atenção demais.”

“...Talvez um dos meus discípulos... não, se esta missiva é confiável, seria melhor cons-
truir relações amigáveis com ele.”

“Discordo, Velhote. Se ele for um homem forte que possamos controlar, eu gostaria de
convidá-lo para o Império.”

“Eu acredito que seria excelente. A fim de sondar o abismo da magia, precisamos de
pessoas conhecedoras de muitas disciplinas... Seria melhor se eu pudesse encontrar al-
guém que já desbravou esse caminho.”

Sua voz estava cheia de desejo.

Jircniv conhecia o sonho de Fluder. Ele queria vislumbrar o abismo da magia. Portanto,
queria alguém que esteve lá para ensiná-lo.

Os mais novos apenas precisavam seguir o caminho desbravado pelos predecessores


— no caso, os caminhos que Fluder trilhara. Percorrer um caminho menor e mais efici-
ente permitiria alcançar seu potencial mais rapidamente.

No entanto, Fluder — como um pioneiro solitário — não foi agraciado de tão boa sorte.
Ele se sentia sozinho no escuro, muito do seu avanço veio após vários esforços sem sen-
tido. Se ele pudesse ter evitado esse problema e cultivado completamente seu talento,
ele provavelmente seria um magic caster mais poderoso.

Fluder sabia disso, e a todo custo tentava encontrar alguém que pudesse guiá-lo. Havia
limites naturais para talentos, ele não queria desperdiçar mais esforços em vão.

Fluder havia treinado discípulos na esperança de que alguém superior aparecesse e


orientasse seu desenvolvimento. Infelizmente, seu desejo ainda não havia sido conce-
dido.

Essa era a única coisa que Jircniv não podia ajudá-lo. E assim, decidiu mudar de assunto.

“Além disso, gostaria de saber mais sobre alguns aventureiros adamantite que surgiram
em E-Rantel. Poderia me ajudar?”

“Mas é claro, Vossa Majestade Imperial.”

Interlúdio
176
Capítulo 10: O Mais Poderoso Trunfo

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


177
Parte 1

4º Dia do mês Baixo Fogo (9º mês) - 22:31

em acima da Capital Real, havia um grupo de quatro pessoas voando como

B
estrelas cadentes no céu noturno. Dois deles eram magic casters susten-
tando continuamente a magia 「Fly」, e os outros dois eram passageiros.

Um dos passageiros era um homem de armadura preto-azeviche e carre-


gava duas espadas massivas nas costas, enquanto a outra era uma beldade com penteado
rabo de cavalo. Claro, se tratava de Ainz e Narberal.

Naquela manhã, os dois haviam aceitado uma missão da Guilda dos Aventureiros de E-
Rantel, foram pagos com uma quantia sem precedentes de dinheiro. O cliente era Mar-
quês Raeven. À primeira vista, parecia que o Marquês desejava contratar aventureiros
para aumentar a segurança de sua propriedade em face de recentes distúrbios, cujas
causas eram desconhecidas.

Ainz não sabia a extensão de seus deveres, e descobriria mais durante o progresso da
missão.

A razão era porque eles queriam suprimir a organização conhecida como Oito Dedos, e
esperavam que Momon lutasse ao lado deles, contra o grupo mais forte do inimigo, o
Seis Braços.

Ainz não encontrou nenhum motivo para rejeitar este pedido.

Normalmente, os aventureiros tinham uma política implícita de ficar de fora dos assun-
tos nacionais. A fim de não expulsar Ainz — ou melhor, Momon, o Negro — eles se deram
ao trabalho de preparar um pedido adequado para servir de disfarce, e procuraram ins-
tigá-lo com uma recompensa generosa.

Depois de pensar um pouco, Ainz aceitou sob uma pretensão de relutância, para não
parecer um interesseiro. O problema era que ele tinha que ir para a capital com a devida
pressa.

Em YGGDRASIL, havia pontos de referência que poderiam ser usados para se teletrans-
portar de cidade em cidade, mas neste novo mundo, não havia tais coisas. Magia de tele-
transporte era do 5º nível, que Momon e Nabe não deveriam poder usar, e viajar por
terra a cavalo levaria um dia inteiro.

O que deveria ser feito, então? A resposta foi simples e fornecida pelos magic caster do
Marquês Raeven.

Capítulo 10 O Mais Poderoso Trunfo


178
Eles usaram magias de voo acelerado em combinação com 「Floating Board」, e juntos
levaram Ainz e Nabe com eles para a capital a grandes velocidades. Como fizeram isso?
A resposta foi muito simples. Ainz e Nabe sentaram-se na prancha flutuante, o que redu-
ziu seu peso efetivo, de modo que carregar os dois não os atrasaria sensivelmente. Desta
forma, eles voaram direto para a capital durante todo o dia. No entanto, o tempo ainda
estava muito apertado, mesmo com o uso desse truque eles já estavam atrasados. Por
causa disso, Ainz estava um pouco preocupado. Se ele chegasse e soubesse que não era
mais necessário, que tipo de recompensa, caso houvesse alguma, ele poderia reivindi-
car?

Embora Ainz tivesse sido atraído pela recompensa sem precedentes, era duvidoso que
o solicitante estivesse disposto a pagar alguém que não fizera nada.

Ainz suspirou silenciosamente. Parecia que estava rezando, como um funcionário com
uma avaliação ruim de desempenho esperando algum tipo de bônus.

Não importava os meios, ele precisava ganhar essa recompensa. Ele já havia decidido
como a gastaria.

Enquanto se motivava, Ainz viu a capital pela primeira vez sob o céu à noite. Ele lamen-
tou que não pudesse ter tempo para apreciar a vista. A capital era escura, não parecia
uma cidade movimentada. Mesmo assim, foi uma experiência fascinante para Ainz, cujos
olhos podiam ver claramente na ausência de luz.

Observando de cima, os olhos de Ainz notaram algo interessante; uma luz à distância.

Embora fosse algo aparentemente sem importância, logo quando viu as chamas negras
crescentes, ele percebeu que esta era uma situação de emergência.

“Espere! Olhe aquilo! Há um brilho de conjuração naquele lugar.”

“Realmente... parece... algum tipo de magia...”

O magic caster que havia espiado o apontar do dedo de Ainz não parecia dar importân-
cia. Uma pessoa normal teria dificuldade em enxergar o brilho através da escuridão e da
distância, muito menos analisá-lo.

“Huh? Esse tipo de coisa é comum na capital? Ou esses fogos de artifício são para me
receber?”

O magic caster não riu da piada. De fato, a expressão em seu rosto era muito séria.

“Aquele é um dos oito locais que deveríamos atacar—”

“Entendo. Achei que tínhamos chegado tarde demais, mas parece que vamos ter algum
trabalho a fazer.”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


179
“Sim, senhor. Iremos naquela direção então.”

“Pare. Parece que estão usando magias muito fortes lá. Se forem pegos no fogo cruzado,
podem acabar morrendo.”

Ainz desviou o olhar da expressão conflituosa do magic caster que parecia dizer, Então,
o que devemos fazer? e se virou para Narberal.

“Nabe, use 「Fly」 e me leve mais perto. Ao meu sinal, me solte bem em cima deles.”

“Certamente.”

♦♦♦

4º Dia do mês Baixo Fogo (9º mês) - 22:33

Para Evileye, que estava contemplando a morte, a pergunta do guerreiro negro soou
absolutamente ridícula. Contudo, ela mudou de idéia imediatamente. Ao analisar a situ-
ação, os dois pareciam muito suspeitos. Afinal de contas, era um confronto entre duas
figuras mascaradas e não era impensável que pudessem ser vistas como conspiradores
lutando entre si.

Então, esperando que tivesse deduzido corretamente a identidade do guerreiro negro,


Evileye gritou.

“Herói Negro! Eu sou Evileye da Rosa Azul, ouça meu clamor como um aventureiro ada-
mantite! Por favor, ajude-me!”

No momento em que fez seu pedido, Evileye percebeu que havia cometido um erro.

Ou seja, a diferença na força de luta entre ela e o inimigo. Mesmo com a ajuda de Momon,
o Negro, um companheiro aventureiro de ranque adamantite, o que eles poderiam fazer?
O demônio que Evileye enfrentava era algo que estava além de sua capacidade de derro-
tar, mesmo com a ajuda dele. Seria como se defender com uma folha de papel — de qual-
quer forma, ambos seriam rasgados pela tempestade furiosa diante deles.

Se aceitasse o pedido de Evileye, ela seria diretamente responsável por sua morte. O
que ela deveria ter feito era dizer-lhe para fugir e, se possível, levar os corpos de suas
companheiras com ele.

Contudo—

“—Compreendo.”

O homem ficou diante do demônio, protegendo Evileye.

Capítulo 10 O Mais Poderoso Trunfo


180
Evileye prendeu a respiração.

No momento em que ele se pôs em sua frente, ela o confundiu com uma muralha maciça
e robusta, do tipo que defenderia uma cidade. Uma sensação de segurança e alívio a pre-
encheu até as profundezas de seu coração.

E o demônio que os confrontava, inclinou a cabeça, como se fosse um plebeu, mostrando


a devida deferência a um monarca. Não poderia ser respeito; só poderia ser uma zom-
baria. Este demônio estava apenas brincando?

“Ora, ora, é uma grande honra que se reúna a nós nesta noite. Posso perguntar-lhe seu
nobre nome? Me chamo Jaldabaoth.”

“Jaldabaoth?” Ela ouviu a voz de surpresa do homem sob o elmo negro, seguido por um
resmungado “Que nome esquisito”.

Ela não achou estranho. Na verdade, Evileye nem sabia o que pensar a respeito. Ela ti-
nha bastante conhecimento de demônios e outros seres infernais, mas quase nada sobre
esse nome.

“Jaldabaoth, é isso? Que seja. Meu nome é Momon. E como ela disse, eu sou um aventu-
reiro adamantite.”

Embora banhado pela desaprovação de Jaldabaoth, o guerreiro negro — Momon —


continuou como se não tivesse notado nada.

Então é isso que ele está fazendo, Evileye pensou com aprovação. Para atrair seu opo-
nente e aprender com ele, Momon exerceu sua disciplina de ferro e evitou que suas emo-
ções aparecessem. Ficou claro o porquê o homem chamado Momon já era reconhecido
como um aventureiro de primeira linha.

Evileye, que estava envergonhada de quão facilmente suas emoções assumiram o con-
trole, se moveu para a sombra da capa carmesim de Momon, evitando distrair os dois da
troca de palavras.

Mesmo que Momon parecesse bastante disposto a ajudar, ela teve a sensação de que
estava atrapalhando.

Momon e Jaldabaoth não se incomodaram ao notar a presença de Evileye. No momento


em que ela se moveu, eles começaram um duelo de inteligência, cada um buscando os
segredos do outro.

“Ah, entendo. Posso então perguntar-lhe o porquê nos agraciou com sua presença esta
noite?”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


181
“Foi um pedido. Um certo nobre nos contratou para defender sua propriedade... mas
enquanto voava pelos céus acima da Capital Real, notei que batalhavam. Achei que era
uma emergência e, naturalmente, entrei em ação.”

O nobre em questão era o Marquês Raeven, que solicitara a presença de aventureiros


ranques adamantite, sem sequer se importar com o risco de entrar em conflito com a
estrita regra dos aventureiros de não se envolverem em política. Pode-se dizer que ele
estava precisando de mão de obra para lidar com a Oito Dedos a qualquer custo.

“E qual é o seu objetivo?”

“Um poderoso item capaz de invocar-nos para o plano terreno, assim como comandar-
nos. Dito item por ventura veio parar nesta cidade. Estamos aqui para recuperá-lo, é
claro.”

“E se o dermos a você? Isso não resolveria o problema?”

“Infelizmente, não. Só pode haver hostilidade entre nós.”

“Que tipo de conclusão é essa? Dem— Jaldabaoth, não há outro caminho senão sermos
inimigos?”

“É precisamente como diz.”

Evileye inclinou a cabeça para a visão surreal diante dela. Eles estavam simplesmente
trocando informações. Qual sentido tinha isso?

“Bem, creio que entendo a maior parte. Nesse caso... você será derrotado aqui, algum
problema com isso?”

Momon abriu os braços e as espadas grandes que se assemelhavam a extensões de suas


mãos pareceram brilhar em resposta.

“Oh... seria um tanto inconveniente. Permitam-me resistir.”

“Então— aqui vou eu!”

Ele deu um passo à frente— não, isso não seria correto. Momon, até então diante dela,
havia desaparecido. Em um piscar de olhos ele estava envolvido em um intenso combate
com Jaldabaoth.

Ela havia se envolvido em uma luta que Evileye não conseguia descrever com palavras.

Os vultos de incontáveis espadas, aparadas e combatidas pelas longas garras de Jal-


dabaoth, eram vistos.

Capítulo 10 O Mais Poderoso Trunfo


182
“Incrível...”

Havia muitas maneiras de prestar louvores, mas neste momento, Evileye, que estava
encantada com o deslumbrante confronto diante dela, só pôde oferecer aquela única pa-
lavra. Ultrapassava os golpes de todos os espadachins em sua memória. Ela viu a forma
de um guerreiro envolto na escuridão do mundo, assim como a própria essência do mal
destilado.

Ela se sentia como as princesas dos cânticos bardos. E o guerreiro negro diante dela
parecia um cavaleiro vindo em seu resgate.

Um pulsar, como a eletricidade passando pelo corpo, surgiu de sua espinha indo até
entre suas pernas, e o pequeno corpo de Evileye estremeceu.

Seu coração letárgico por mais de 150 anos parecia bater velozmente uma vez mais.

Colocando as mãos no seio, ela descobriu, é claro, que não havia movimento ali. Mesmo
assim, parecia real o suficiente para ela.

“...Por favor, vença, Momon-sama.”

Evileye juntou as mãos em fervorosa oração, esperando que seu cavaleiro triunfasse
sobre o terrível diabo diante dela.

Jaldabaoth foi arremessado a uma boa distância, com um som metálico que não parecia
ter vindo de um corpo de carne e osso. Embora permanecesse em pé, ainda estava der-
rapando no piso de paralelepípedos a um ritmo que desgastaria rapidamente as solas
dos sapatos. Depois de várias dezenas de metros, ele finalmente parou e limpou o pó.

“Realmente espetacular. Cruzar golpes com um guerreiro tão implacável pode ter sido
um erro da minha parte.”

Com um grande wham, Momon cravou sua espada profundamente abaixo de seus pés.
Então, usou a mão livre para tirar um pedaço de pedra do pescoço antes de responder
calmamente:

“Já tive demais dos seus gracejos. Também está escondendo seu verdadeiro poder, não
é?”

Parecia quase inacreditável que nenhuma das partes estivesse dando tudo de si, mesmo
com o escopo dessa batalha.

“Será ele um Divino?”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


183
Os descendentes dos seres conhecidos como “Jogadores” eram pessoas que poderiam
despertar poder incrível de dentro de si mesmos. A Teocracia Slane os considerava se-
mideuses. Ou, mais precisamente, eram eles que carregavam a linhagem dos Seis Deuses
dentro de suas veias. Se tivessem o sangue de outros Jogadores, seriam denominados de
forma diferente.

Parecia muito provável que Momon fosse da linhagem de um “Jogador”. Ou melhor, se-
ria melhor dizer que nenhum humano poderia possuir tal poder.

“Ora, ora, parece que não consegui esconder isso de ti. Diga-me, és Momon-sa—n, não
é?”

“De fato, Jaldabaoth, Momon é meu nome.”

“Excelente. Então se prepare. 「Aspecto de Demônio: Asas Tentáculos」!”

Asas brotaram das costas de Jaldabaoth, mas as penas que as cobriam eram anormal-
mente longas, evocando a aparência de tentáculos. Ele falou uniformemente com Momon,
que permaneceu em guarda.

“Reconheço tua força. Não há dúvidas de que o seu poder excede o meu. Embora fazer
isso não faça o meu tipo, permita-me o uso desse método. Sua defesa é formidável, mas
o mesmo não pode ser dito desse pequeno empecilho, como lidará com isso? Talvez de-
vesse se concentrar em defendê-la, não?”

Com isso, ele lançou uma chuva de penas. Suas pontas eram afiadas como bisturis, ca-
pazes de cortar com facilidade músculos e até ossos.

Evileye estava indefesa diante desse ataque intenso. Ela não tinha mais mana para lan-
çar 「Crystal Wall」. Tudo o que podia fazer era esperar impotentemente por um mila-
gre.

Como já vinha fazendo, Evileye havia subestimado o guerreiro negro mais uma vez.

Quando o som de metal ecoou, Evileye olhou para cima e viu um escudo vivo à sua
frente.

Os restos estilhaçados das penas estavam espalhados por toda parte. Mesmo sendo algo
capaz de destroçar um ser humano em segundos, ainda era uma visão bonita.

“Que bom que está bem.”

Disse a voz máscula e solene. Seu braço girava a espada a incrível velocidade. Sua res-
piração estava regular e seu tom bem calmo, mesmo quando furiosamente defletia as
penas que tentavam profaná-los.

Capítulo 10 O Mais Poderoso Trunfo


184
“Ah... ah... Ah! Seu ombro! Se machucou?”

Uma pena estava cravada na ombreira de Momon. A dita pena caíra mole ar depois de
ser cortada. Parecia uma decoração em sua armadura.

“Isso não é nada. Ataques deste nível não são dignos de consideração. Estou aliviado
que esteja ilesa.”

Ele riu.

Evileye sentiu seu coração bater com um badump. Seu rosto estava abrasado sob a más-
cara, parecia queimar.

“Maravilhoso! Por defendê-la e a deixar imaculada, eu, Jaldabaoth, ofereço-lhe os meus


mais sinceros parabéns. Realmente, uma exibição maravilhosa.”

“Como eu disse, pare com seus gracejos. Diga-me, Jaldabaoth, por que está tão longe?”

Com isso, Momon pegou Evileye em um braço e abraçou-a perto dele.

“!”

Seu coração outrora entorpecido parecia querer pular até sua garganta. Em sua mente,
as estúpidas histórias de bardos idiotas continuavam a agitar seu cérebro repetidas ve-
zes. Especialmente aqueles em que o cavaleiro carregava a princesa enquanto lutava.
Qualquer pessoa sensata perceberia que carregar um fardo enquanto lutava contra um
inimigo forte não passava de tolice.

Mas—

Perdão a todos os bardos que insultei! Um verdadeiro cavaleiro de fato carrega a frágil
donzela em seus braços, lutando enquanto a protege. Minha nossa!! No que estou pen-
sando!? Estou toda encabulada!

E então, a alegria de Evileye desapareceu em um instante. Ela se imaginava em uma


posição de princesa. No entanto, na realidade—

“Isto é...”

—Ela estava sendo carregada como bagagem sob seu o braço esquerdo. Ou melhor, essa
foi a melhor maneira de fazer isso. Comparada a uma mulher adulta, Evileye era pequena
e leve. Para manter seu centro de gravidade, fazia sentido para Momon carregá-la assim.

Ela sabia que não tinha motivos para reclamar, e seu coração ainda queimava com a
raiva de ver suas companheiras assassinadas. Ela sabia muito bem que este não era o

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


185
momento para tamanha tolice. Mesmo assim, não havia maneira de acabar com a infeli-
cidade dentro de seu coração.

Talvez se ela o tivesse abraçado por vontade própria, poderia ter facilitado as coisas
para ele. Mas ela não estava confiante em ser capaz de se segurar a ele caso escolhesse
lutar naquelas velocidades alucinantes novamente, então ela ficou quieta.

Evileye mais uma vez assistiu a batalha se desenrolar entre Momon e Jaldabaoth. A dis-
tância entre os dois se ampliara mais do que antes, mas para o guerreiro de primeira
classe e o demônio de superclasse, parecia pouco mais que um passo extra para os dois.

“Então, devemos começar?”

“Não, é hora de me retirar. Como lhe disse anteriormente, meu objetivo não é derrotá-
lo. Logo engolfarei parte da capital nas chamas do inferno. Uma vez que tenhamos esta-
belecido nossa conflagração, tenha certeza de que certamente o enviaremos para o sub-
mundo em cima de uma pira de chamas purgatórias.”

Com isso, Jaldabaoth deu meia volta e desapareceu. Seus movimentos não pareciam
apressados, mas em instantes a distância entre eles se alongou, fazendo-o desaparecer
na noite.

“Não. Não, isso não é bom, Momon-sama, se não o seguirmos—”

Quando Jaldabaoth desapareceu de vista, Evileye começou a entrar em pânico, mas Mo-
mon sacudiu a cabeça.

“Não posso. Ele recuou justamente para realizar seu plano. Se eu o perseguisse, ele lu-
taria com tudo. E se fizesse isso...”

Momon não teve que terminar a frase para Evileye entender.

Você seria pega no fogo cruzado e morreria. Algo nesse sentido. Mas, mesmo se eles fi-
cassem parados, esse demônio desprezível certamente usaria ataques que atingiriam
Evileye.

O fato de que Momon estava defendendo Evileye provou que ela tinha valor como refém.

Momon se arriscara para salvar sua vida, mas ela não fôra capaz de fazer nada para
ajudá-lo. Ela começou a se odiar por isso. E pensar que alguém assim havia dito coisas
tão injustas para Climb.

“Então, Nabe. O que acha que devemos fazer?”

Em resposta, uma mulher desceu lentamente do céu. A equipe de Momon, o Herói Negro,
incluía a magic caster conhecida como a Bela Princesa. Anteriormente, Evileye havia

Capítulo 10 O Mais Poderoso Trunfo


186
zombado da vaidade de tal apelido, mas agora, com a pessoa real na frente dela, ela se
viu prendendo a respiração.

Era demasiadamente linda. Uma estrangeira... com aparência assim, ela deve ter vindo
do sul. Evileye continuou a observá-la, incapaz de desviar o olhar.

“Momon-sa—n. Por que não vamos para a residência do nobre que nos contratou, como
planejado originalmente?”

“Devemos ignorar esse Jaldabaoth? Impedir os planos dele, não é por isso que estou
aqui?”

“Talvez, mas ainda devemos obter a permissão do cliente. Isso parece ser o mais impor-
tante.”

“—Tem razão.”

“Com isso em mente, sugiro soltar essa (mosquito gigante).”

“Hm? Ah, me perdoe, estava preocupado que fosse atingida por aquele ataque de agora.”

Momon lentamente baixou Evileye para o chão.

“Não—, por favor, não se importe comigo. Jamais duvidaria de vossa intenção.”

Evileye curvou-se profundamente para Momon.

“Agradeço encarecidamente por toda a vossa ajuda. Permitam-me apresentar-me hu-


mildemente a vós. Me chamo Evileye, aventureira ranque adamantite da equipe Rosa
Azul.”

“Não precisa ser tão formal, eu sou Momon, um aventureiro adamantite como você. A
magic caster ali é minha companheira, Nabe. Então, o que pretende fazer agora? Elas são
suas companheiras? Se precisar de alguém que as carregue para você, não me importo
em ajudar.”

Ele apontou para Gagaran e Tia.

“Sou profundamente grata por sua oferta, mas não há necessidade. Nossas colegas de-
vem chegar em breve. Talvez elas possam usar magia de ressurreição aqui mesmo.”

“Magia de ressurreição... vocês conseguem usar?”

“Ah... ah, sim. Nossa líder de equipe, Lakyus, pode trazer os mortos de volta à vida.”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


187
“Faz sentido! Então... se não se importar em responder, quão longe alguém pode lançar
uma magia de ressurreição?”

“Como assim?”

“No sentido de, digamos que você quisesse ressuscitar essas duas. Se você lançar sua
magia de longe... no Império, por exemplo, onde elas ressuscitariam? No Império, ou
onde seus corpos estão?”

Por que será que está tão interessado em magia de ressurreição?

Curiosidade, talvez? As pessoas que poderiam usar o 5º nível de magia divina eram
muito raras, então não era incomum estar interessado neste tópico.

Talvez alguém importante para ele tenha morrido. Nesse caso, a resposta de Evileye se-
ria cruel para suas esperanças. Ela só podia rezar para que não fosse o caso.

“Não tenho certeza dos detalhes, mas sei que a Lakyus precisa estar muito perto para
usar a magia de ressurreição. Então, com relação à sua pergunta, seria impossível lançar
algo assim do Império, Momon-sama.”

“Mmm. Então, outra questão; depois da ressurreição, as duas seriam capazes de lutar
imediatamente?”

“Seria impossível...”, respondeu Evileye.

A magia que Lakyus usava era uma do 5º nível chamada 「Raise Dead」. O processo de
ressurreição drenava enormes quantidades de força vital. Os aventureiros ranques ferro
e abaixo seriam reduzidos a cinzas caso fosse lançado neles. Já aventureiros em posição
adamantite poderiam ser revividos sem problema, mas a ressurreição drenaria muita
energia vital e eles não seriam capazes de se mover, a recuperação dessa energia vital
levaria muito tempo.

Se Jaldabaoth estivesse correto, não só ainda estavam em perigo, mas também seriam
privados de uma grande quantidade de poder de luta.

...Não, sob estas condições, ninguém pode lutar com o Jaldabaoth além do grande homem
diante de mim. Ressuscitar as duas não alteraria em nada as circunstâncias. Seria mais
sensato elas se concentrarem na recuperação após o reavivamento.

“Sei... acho que compreendi o básico agora. Se possível, gostaria de conhecer essa dama
chamada Lakyus. Teria algum problema em esperar por ela aqui com você?”

“QUÊ!? P-p-por que quer ver a Lakyus?”

Capítulo 10 O Mais Poderoso Trunfo


188
As palavras de Evileye já haviam saído de sua boca antes que ela pudesse recuperar a
compostura. Ela não entendia o porquê dissera tal coisa. No instante em que ouviu Mo-
mon dizendo que queria ver Lakyus, seu coração encheu com ciúmes. Ela mesma ficou
em choque, o que por sinal alarmou Momon.

Sob a máscara, seu rosto começou a ficar vermelho de vergonha, ela ficou contente por
seu manto cobrir as pontas das orelhas, que também estavam ficando vermelhas.

“Eu... eu estava pensando em perguntar sobre magia de ressureição, e também para co-
nhecer a líder da Rosa Azul, que são aventureiras do mesmo nível que eu, as considero
minhas senpais, se assim posso dizer. Jaldabaoth pode ter ido embora, mas não há ga-
rantia de que ele não retornará. Isso a incomoda?”

“N-não, não é isso... ah, me desculpe, eu gritei com o senhor.”

O ressentimento em seu peito desapareceu no momento em que ouviu o nome de Jal-


dabaoth; ela sabia que precisavam estar em guarda contra ele.

Mas analisando a conversa... eu devia ter previsto isso. Mas quanto a ficar atento com o
Jaldabaoth... Isso significa que ele quer me proteger? Hehe...

“Bem, enquanto esperamos, se importaria em dizer o que aconteceu?”

“Antes disso, preciso cuidar dos corpos das minhas companheiras. Não posso simples-
mente deixá-las aqui. Se importaria em aguardar um tempinho?”

Claro que não havia problema. Com isso, Evileye foi até os corpos.

Ela pensou que tinham sofrido queimaduras graves, mas parecia que as chamas demo-
níacas só tinham queimado a alma em vez da carne. Os cadáveres estavam imaculados.
Depois de fechar os olhos e cruzar os braços sobre os peitos, Evileye retirou um item
[Sudário do S o n o ]
conhecido como Shroud of Sleep de sua bolsa e começou a envolver Tia.

“O que é isso?”

“Um item mágico que interrompe a decadência e rigor mortis de um corpo quando en-
volta em seus corpos. É muito útil para aqueles que receberão magia de ressurreição.”

Enquanto observava, Momon notou durante a resposta de Evileye que ela estava tendo
trabalho em envolver a estrutura volumosa de Gagaran, então ele decidiu dar uma mão
levantando seu corpo com sua incrível força de braço. Quando os corpos foram envolvi-
dos pelo sudário, Evileye uniu solenemente as palmas das mãos, rezando pelas almas
dos mortos e por Lakyus para revivê-las.

“Obrigada pela ajuda.”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


189
“Não foi nada. Como eu estava perguntando antes, poderia me dizer o que exatamente
aconteceu aqui?”

Evileye assentiu e começou a relatar os eventos que haviam ocorrido. O que ela sabia,
o que planejavam fazer, a história do encontro com a empregada inseto e a batalha em
que Jaldabaoth fizera sua entrada.

Enquanto ela falava de como quase havia exterminado a empregada inseto, uma mu-
dança veio sobre Momon e Nabe, que estavam ouvindo sua história em silêncio até agora.

“Então, você a matou?”

Suas palavras soaram neutras, mas a raiva por trás delas era inconfundível.

Evileye ficou alarmada. Por que ele ficaria enraivecido por matar a empregada de Jal-
dabaoth? Mas ela decidiu terminar de contar a história.

“Não, não a matamos. Jaldabaoth apareceu antes que pudéssemos fazer isso.”

“...Então foi isso? Hum, faz sentido.”

A raiva desapareceu, e Evileye se perguntou se ele realmente estava zangado antes. Mas
os olhos frios da silenciosa Nabe ainda estavam cheios de fúria. Era difícil dizer se ela
desprezava a todos dessa maneira.

Momon tossiu e perguntou:

“Então... se não tivesse tentado matar a empregada inseto, acha que o Jaldabaoth teria
atacado você?”

Evileye imediatamente percebeu o porquê Momon estava com raiva. A empregada in-
seto tinha sido neutra e, pelo que sabia, o ataque a ela teria sido o gatilho para os pre-
sentes eventos. Elas tinham pisado na cauda de um tigre que deveriam ter evitado.

Era natural que aventureiros evitassem batalhas desnecessárias. Se um grupo de aven-


tureiros de alto nível não soubesse disso, apenas traria desgraça para sua liga, e até
mesmo o próprio Momon.

Deve ser por isso que ele parece tão irritado.

Mesmo assim, Evileye não pôde concordar totalmente com essa linha de raciocínio.

“Jaldabaoth disse que consumiria parte da Capital nas chamas do inferno. Uma empre-
gada que segue alguém assim não tem a melhor das índoles. Acredito que a decisão das
minhas companheiras de lutar foi correto.”

Capítulo 10 O Mais Poderoso Trunfo


190
OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2
191
Ela insistia que havia um bom motivo para isso. A empregada era nitidamente mais
forte que Gagaran e Tia, mesmo assim elas optaram por lutar por algum motivo. Ela tinha
que acreditar que suas companheiras tiveram um bom motivo para fazer o que fizeram.

Evileye defensiva e Momon silencioso olhavam um para o outro, como se observassem


através da máscara e do elmo fechado. Embora nenhum dos dois pudesse ver o rosto um
do outro, Evileye tinha certeza de que estava olhando nos olhos de Momon.

Por fim, Momon foi o primeiro a desviar o olhar.

“Mmm. Ah. É como diz. Você está certa. Peço que me perdoe.”

Ele abaixou a cabeça para ela. Isso chocou Evileye. Mesmo que sua crença em suas com-
panheiras fosse firme, ela ainda não podia fazer seu salvador se rebaixar desse jeito.

“Ah! Não, olhe para cima! Alguém tão maravilhoso quanto o senhor deveria... Ueeeeh?”

Quando percebeu o que acabara de dizer, Evileye soltou um grito patético.

Embora fosse verdade que Momon era um indivíduo notável, considerar as implicações
de usar a palavra “maravilhoso” para descrevê-lo era um tanto inapropriado.

Evileye gritou por dentro.

Aaaaah! Não pude evitar, ele... ele é tão legal! É errado me sentir como uma menina no-
vamente depois de centenas de anos? Ele é um poderoso guerreiro que é mais forte que eu
então...!

Evileye olhava para Momon como uma colegial apaixonada e, considerando o modo hu-
milde que ele pediu desculpas, isso significava que ela ainda tinha uma chance. Se não,
suas chances seriam minúsculas.

O corpo de Evileye parou de se desenvolver com a idade de 12 anos. Como tal, ela não
possuía nenhuma das curvas que os homens queriam ver. Então se fosse para induzir o
fogo da luxúria nos outros, ou satisfazer a luxúria alheia, ela passaria por grandes difi-
culdades. Claro, havia homens que ficariam muito atraídos por ela, mas eram uma mino-
ria. Com uma beldade como Nabe nas proximidades, suas chances pareciam ainda mais
escassas.

Enquanto Evileye reunia coragem para vislumbrá-lo, ela percebeu que Momon e Nabe
estavam olhando para o céu noturno.

Ela não sabia bem o que estavam fazendo no começo, mas quando se lembrou de como
gritava agora a pouco. Os dois consideraram seu grito como um aviso..

Não, não foi nada dissoooo!

Capítulo 10 O Mais Poderoso Trunfo


192
Ela se sentiu tão ridícula que ficou à beira das lágrimas.

“...Não se enganou? Não vejo nada no céu...”

Disse Momon enquanto examinava o céu ao redor.

“...N-não era nada. Eu realmente sinto muito.”

“Ah, sem problemas. É melhor estar enganado do que emboscado.”

Nabe devolveu a espada às costas de Momon enquanto ele respondia Evileye com uma
espada na mão.

Sua gentileza deixou Evileye sem palavras. Naquele momento, a borda de sua visão se
iluminou. A cor não era o branco puro da magia, mas um vermelho malévolo, a cor de
uma labareda rugindo.

“Momon-san, olhe lá.”

Quando Nabe disse isso, os dois se viraram contemplando o brilho carmesim. Os olhos
de Evileye se arregalaram, pois ela sabia o quê, ou melhor, quem causara o fogo.

“O quê? Aquilo é...”

O fogo carmesim cuspia línguas de fogo em direção ao céu, como se quisesse queimar o
firmamento. Tinha facilmente mais de 30 metros de altura, ela mal podia imaginar o
quão grande era — várias centenas de metros, talvez mais.

A parede de chamas balançava como um véu e envolvia a cidade como um círculo.

Evileye, que ficara chocada com a visão que fugia à lógica, ouviu uma voz masculina
suave em seu ouvido.

“...As Chamas de Gehenna?”

Como se o pescoço dela estivesse em molas, ela virou a cabeça para o lado para encarar
Momon.

“Mas-mas o-o que é aquilo? Momon-sama, sabe o que são aquelas chamas?”

Os ombros de Momon tremeram um pouco quando ele respondeu, com uma falta de
confiança incomum.

“Eh? Ah... er, bem, não tenho muita certeza. Preciso confirmar umas coisas, então te
conto, pode ser?”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


193
“Tá... tudo bem...”

“Eu preciso discutir algo com a Nabe, por favor, nos dê licença.”

“Eh, não posso acompanhá-lo?”

“Ah, não, é uma conversa entre companheiros de equipe. Seria melhor ser algo privado,
então....”

Era tão básico, tão óbvio que Evileye se sentiu envergonhada por perguntar. Seus olhos
errantes se fixaram na mulher conhecida como a Bela Princesa.

No rosto dela havia um sorriso triunfante.

Poderia ser um engano, ela nem poderia afirmar que era o caso. Mas era natural que
uma mulher se sentisse superior às outras quando um grande homem prestava atenção
especial a ela.

Evileye foi incapaz de reprimir a sensação estranha que fervia dentro de si. Era uma
raiva nauseante; as chamas do ciúme.

Ele não é apenas forte, ele também sabe de coisas que nunca ouvi falar... Eu nunca encon-
trarei um homem desses novamente.

Fêmeas em geral eram naturalmente atraídas pelos fortes, esse traço evolutivo também
era visto em parte considerável das mulheres humanas. Quando ameaçadas por uma po-
derosa força externa, desencadeava-se um instinto reprodutivo para unir-se a um macho
forte e criar seus filhos, recebendo proteção para si mesma e para seus descendentes. É
claro que nem todas as mulheres selecionariam um homem dessa maneira. Personali-
dade, aparência, muitos fatores influenciavam no conceito do amor. Mesmo assim, havia
uma inclinação muito forte de boa parte delas a procurarem parceiros fortes.

Evileye menosprezava essas mulheres.

Só porque é fraca tem que procurar alguém para lhe proteger? Patético. É melhor se tor-
nar forte e não precisar de ninguém para isso... Eu sempre acreditei nisso, até agora...

Mas se ela deixasse um homem desses escorregar entre seus dedos, ela encontraria al-
guém que pudesse satisfazê-la de tantas formas quanto ele?

Evileye não envelheceria, mas Momon certamente envelheceria e morreria antes dela.
Independentemente dos meios e do quanto tentasse, Evileye nunca seria capaz de dar
filhos a Momon. Décadas mais tarde, ela estaria sozinha novamente. Ainda assim, ela
achou que seria bom viver como uma mulher pela primeira vez em sua vida.

Capítulo 10 O Mais Poderoso Trunfo


194
Outra mulher dará filhos a ele. O mais importante é nosso amor. Uma amante ou duas não
terá problema, eu não me importo.

“...Peço que espere um momento. Sinto muito... Srta. Evileye?”

“Hm? Ahh, eu que me desculpo. Eu me distraí pensando em umas coisas, coisas para
discutir com a minha equipe. Esperarei o senhor aqui.”

Verdade seja dita, ela não queria se separar dele. Mas também não queria ficar perto da
mulher a quem havia forçadamente admitido sua derrota.

Claro, ela não podia dizer uma coisa dessas.

Ninguém queria uma mulher que fosse muito grudenta. Os homens eram criaturas que,
quanto mais tentassem prendê-los, para mais longe fugiriam.

Ela se lembrou das conversas que ouvira na taverna. Ela riu disso na época porque
achava que não tinha nada a ver com ela.

Quem diria. Mesmo essas banalidades têm seus usos. Eu deveria ter prestado mais aten-
ção... será tarde demais para mim? Terei tempo para aprender a ser mulher?

Enquanto observava as formas dos dois aventureiros mais ao longe, a cabeça de Evileye
começou a se encher de pensamentos malucos.

Ela sabia que agora não era o momento para fantasias ociosas, mas sabia muito pouco
sobre o que estava acontecendo, muito menos como proceder, e por isso não fez nada.
Mesmo assim, Evileye entraria em uma batalha em que poderia morrer. Nesse caso, ela
poderia muito bem suspirar e considerar seriamente outra coisa para evitar se afogar
em desalento.

...Será que vale a pena?

Ela não sabia para que servia seu corpo se não pudesse ter filhos, mas ainda valia a pena
pensar nessas coisas.

...Haaa. Derrotar Jaldabaoth e fazer um futuro...

O fogo no coração de Evileye ascendeu aos céus, como se desafiasse a muralha de fogo
de Jaldabaoth.

O único que pode derrotar você é o Momon-sama. Então, vou me livrar de qualquer lixo
no caminho dele. Se a empregada aparecer dessa vez, eu mato ela. Já fui o ser amaldiçoado
conhecido como Landfall! Não me menospreze, Jaldabaoth!

♦♦♦

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


195
“Eu não acho que ela será capaz de nos ouvir aqui.”

“Seria muito difícil nos ouvir de tão longe.”

“Mesmo assim, é melhor prevenir.”

Ainz ativou um item de cash. Tinha o poder de evitar escutas de conversa, parecia um
desperdício pois era um item de uso único. No entanto, ele não teve escolha.

“Então, Nabe, creio que entendi a maior parte do plano do Demiurge. Mas quanto mais
complexa a máquina, mesmo um grão de areia pode fazê-la sair do controle. Isso também
se aplica aos esquemas, evite agir como se tivéssemos vencido, só porque temos a van-
tagem, não significa que estamos no controle. Você entendeu?”

“Sim... como esperado do nosso supremo soberano.”

O louvor de Narberal veio do fundo de seu coração, Ainz aceitou com um aceno régio
de sua cabeça. Era como se estivesse dizendo que tudo estava indo conforme o planejado.

—Quem me dera.

Ele sentiu como sendo afogado no lago formado de seu suor frio inexistente.

Ele não conseguia nem entender o que levara Demiurge a criar esses esquemas. Ainz
tinha simplesmente entrado na batalha com a idéia de mostrar suas habilidades de luta
em sua batalha de estreia na Capital Real.

O choque de saber que seu oponente era Demiurge havia destruído sua compostura
completamente. Apenas a supressão emocional exclusiva dos seres undeads o mantinha
calmo.

Depois disso, ele pensou que lutaria apenas contra a Oito Dedos, mas então soube que
lutaria ao lado de aventureiros adamantite. Por não saber o que estava acontecendo,
Ainz quase desistiu de pensar e apenas seguiu o fluxo.

Falar impensadamente sob essas condições soaria inteiramente antinatural. Ainz sabia
que era extremamente perigoso fingir compreensão sendo totalmente ignorante sobre
o tema.

Recapitulando suas atitudes até então, talvez tivesse sido mais sensato revelar sua falta
de conhecimento, mas, dadas às circunstâncias que se encontrava, isso seria um tanto
perigoso. Afinal, um Ser Supremo digno de lealdade teria que demonstrar uma quanti-
dade adequada de conhecimento prévio.

Capítulo 10 O Mais Poderoso Trunfo


196
Se um superior — especialmente do nível de um CEO — se mostrasse incompetente
demais, seus subordinados perderiam a confiança nele.

Portanto, ele havia atormentado incansavelmente suas células cerebrais inexistentes


para produzir o aforismo que ele acabara de dizer.

Talvez Narberal fosse demasiadamente sonsa ou as palavras que ele proferira tivessem
sido inesperadamente significativas. Mas os olhos de Narberal estavam cheios de res-
peito. Como tal, Ainz fez um pedido sob o pretexto de ordená-la.

“Uhum. Então, para garantir o sucesso da operação do Demiurge, faça contato com ele.
Eu não o farei porque aquela mulher está de olho em cada passo que eu dou. E no mo-
mento não posso usar magia. Hm... essa Evileye não parece abaixar a guardar. Sinto algo
estranho, acho que ela está começando a suspeitar de mim.”

“É o que o senhor acha? Duvido muito. A meu ver, o motivo dela observar o senhor é
devido à outra coisa...”

Ainz olhou para Narberal enquanto tentava não deixar óbvio que a encarava.

“Talvez. Eu basicamente entendo como ela pensa. Creio que quando deixei transparecer
minha raiva ao falar da Entoma foi um erro fatal. Talvez eu devesse tê-la matado sem
hesitação?”

Não houve resposta para suas palavras.

Quando ouviu que Entoma quase foi morta, a raiva de Ainz se acendeu. Embora tivesse
sido suprimida em um instante como todas as emoções intensas, naquele instante ele
estava cheio de raiva assassina. Foi um milagre não cortar prontamente a cabeça de Evi-
leye com sua espada.

Ele havia suprimido sua intenção assassina e optado agir pela razão, pois concluíra que
matar Evileye teria sido contraproducente. O que no fim produziu bons resultados, pois
logo conheceria alguém capaz de usar magia de ressurreição — ele estava saindo no lu-
cro. Arruinar tais vantagens seria um desperdício.

Acho que amadureci um pouco, aprendi a me controlar.

Se não fosse pela lavagem cerebral de Shalltear, era possível que ele tivesse ignorado
os ganhos potenciais para Nazarick e matado Evileye. A Grande Tumba de Nazarick e os
NPCs criados por seus antigos amigos eram tesouros que Ainz queria proteger. Ele não
perdoaria qualquer tentativa de manchá-los. Para esse fim, ele também teve que consi-
derar o que era mais importante e quais escolhas fazer para alcançá-lo. Isso era maturi-
dade.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


197
Ainz refletiu que sua competência havia crescido para combinar com sua experiência,
e sua ilusão de rosto sob o elmo fechado sorriu para si mesmo. Nesse ritmo, não havia
dúvida de que ele seria capaz de se tornar um verdadeiro governante da Grande Tumba
de Nazarick. Ou melhor, ele esperava alcançar esse estágio.

Antes disso, tenho que evitar decepcionar as pessoas ou sofrer grandes contratempos... é
muita pressão...

“Oh? Como esperado de Ainz-sama, o senhor viu completamente as intenções daquela


mulher. Tamanha perspicácia só é presentes naquele que nasceu para governar todos
nós.”

“Não precisa de tantos elogios, Narberal. Mais precisamente, foi meu ato falho que levou
à sua suspeita.”

Ainz acenou para Narberal em um gesto que também escondeu seu acanhamento. En-
tão, com uma voz em tons de aço, ele emitiu seu comando.

“Vamos, Narberal. Vá e descubra todos os detalhes desse esquema e, com precisão, os


reporte para mim. Além disso, diga à Albedo que; se isso se prolongar demais, teremos
que nos juntar para limpar a bagunça de Jaldabaoth.”

Narberal fez uma reverência e lançou uma magia.

Dentro de seu coração, Ainz se alegrou. Ele não mentiu para Narberal. A magia que Ainz
usava atualmente, 「Perfect Warrior」 significava que ele não podia usar magia. Assim,
usar Narberal para lançar uma 「Message」 para Demiurge era apenas lógico. Mas havia
outro motivo, um que ele não podia dizer em voz alta.

A fim de fingir que já havia entendido os planos de Demiurge, e não deixar Albedo e
Demiurge suspeitar de nada, ele teve que minimizar seu contato com eles.

Se ele designasse Narberal para fazê-lo, seria como jogar telefone sem fio, ou como diz
o ditado, quem conta um conto, aumenta um ponto. Contudo, um pequeno risco que pre-
cisa correr.

Não foi nada comparado a danificar sua imagem como o Supremo Governante da
Grande Tumba de Nazarick.

Ainz se dirigiu lentamente para Evileye.

Enquanto Narberal conversava com Demiurge, caberia a ele mudar o foco de sua aten-
ção.

“Ai, ai... espero poder pensar em um bom blefe. Falando nisso... essa menina é um tanto
poderosa, como será sua aparência sem aquela máscara?”

Capítulo 10 O Mais Poderoso Trunfo


198
Parte 2

5º Dia do mês Baixo Fogo (9º mês) - 00:47

Apesar de ter sido no meio da noite, um canto da Capital Real foi iluminado por tochas,
estava claro como o dia. Um cômodo um pouco apertado estava cheio de homens e mu-
lheres. Estavam todos vestidos em roupagens de batalha, mas não havia um tema unifi-
cador entre eles.

Eles eram aventureiros da Capital Real, que haviam respondido a um chamado de úl-
tima hora. Mesmo sendo algo onde o mínimo recomendável seriam aventureiros orichal-
cum e mythril, até os mais humildes aventureiros ferro e cobre estavam presentes.

Os aventureiros mais experientes já haviam percebido que o motivo pelo qual estran-
geiros de fora, como eles, tinham sido autorizados a entrar no Palácio Real, era para cui-
dar dos problemas que assolavam à Capital Real. Alguns poucos aventureiros já haviam
começado a adivinhar sua empregadora ao ver o jovem de armadura branca em pé no
canto. E apenas uma fração desses poucos aventureiros tinham alguma idéia da verda-
deira identidade do homem portando uma katana, que estava ao lado do jovem.

A grande porta da câmara de repente se abriu, e o que apareceu foi um grupo de mu-
lheres — e um homem — causando um alvoroço.

Cada uma delas era conhecida pelos aventureiros dentro do Reino.

Na vanguarda estava a líder da equipe adamantite “Rosa Azul”, Lakyus Alvein Dale Ain-
dra.

Logo atrás dela estava a Princesa Dourada Renner, junto com a Chefe da Guilda dos
Aventureiros na capital. Então havia Evileye da Rosa Azul e uma das gêmeas. E mais atrás
estava o mais forte guerreiro do Reino, Gazef Stronoff.

Enquanto o grupo permanecia diante dos aventureiros reunidos, o jovem de armadura


branca desenrolou o pergaminho em suas mãos e o colou na parede atrás.

Era um mapa detalhado da Capital Real.

A primeira a falar foi uma mulher de quarenta e poucos anos, ex-membro de um grupo
de aventureiros mythril, cujos olhos ainda estavam cheios de vitalidade.

“Senhoras e senhores, para começar, gostaria de agradecer por estarem presentes nesta
reunião de emergência.”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


199
Depois que o burburinho se acalmou, ela continuou a se dirigir aos aventureiros com
uma expressão sincera em seu rosto.

“Normalmente, a Guilda dos Aventureiros nunca interferiria nos assuntos nacionais.”

Todos os olhos se voltaram para as integrantes da Rosa Azul, mas permaneceram em


silêncio. Afinal, os olhos não podiam falar como a boca podia.

“No entanto, este é um caso excepcional. A Guilda dos Aventureiros decidiu cooperar
plenamente com o Reino, a fim de resolver rapidamente os problemas que enfrentamos.
A Princesa listará os detalhes para nós, então eu oro para que fiquem em silêncio e ou-
çam atentamente.”

A Princesa avançou lentamente, ladeada pelas integrantes da Rosa Azul e Gazef Stronoff.

“Eu sou Renner Theiere Chardelon Ryle Vaiself, e estou profundamente grata que todos
aqui puderam responder à extraordinária convocação emitida hoje à noite.”

Ela se curvou timidamente para eles, e vários suspiros de afeição surgiram dos aventu-
reiros quando viram a delicadeza da pessoa diante deles.

“Normalmente, eu faria louvados elogios a todos, mas hoje o tempo é essencial, vamos
direto ao ponto. Esta noite, uma parte da capital—”

Aqui a princesa levantou um dedo para uma parte do mapa — o canto nordeste — e
desenhou um círculo em torno dele.

“—Foi cercada por uma muralha de fogo. As chamas têm mais de trinta metros de altura,
tenho certeza que todos as viram.”

A maioria dos aventureiros assentiu em concordância, enquanto alguns foram até as


janelas do palácio para olhar para fora. Os muros altos que cercavam o palácio os impe-
diam de ver diretamente as chamas, mas o fulgor das chamas tingia o céu de vermelho,
e assim se tinha uma noção de sua extensão.

“Essas chamas devem ser uma ilusão de algum tipo, tocá-las não causam danos. De
acordo com aqueles que foram lá, o fogo não tem calor ou impede o movimento. Passar
por entre as chamas também não deve representar problema.”

Com isso, os aventureiros de ranque baixo deram suspiros de alívio.

“O cérebro por trás deste incidente é conhecido como Jaldabaoth, um demônio extre-
mamente poderoso e cruel. A equipe Rosa Azul já confirmou que existem demônios de
baixo nível no outro lado daquelas chamas. Eles parecem estar agindo inteiramente sob
ordens de seus superiores.”

Capítulo 10 O Mais Poderoso Trunfo


200
Lakyus acenou para Renner quando ela disse isso.

“...Corte a cabeça e o corpo morrerá... uma tática básica. Isso significa que tudo o que
temos a fazer é derrotar esse tal Jaldabaoth?”

Renner se virou em concordância para o orador, um aventureiro com uma placa de


mythril no pescoço.

“Isso pode ser uma simplificação excessiva, mas fundamentalmente, é isso. Porém, o
que eu desejo pedir a todos os presentes é, derrotar os planos desse demônio. Temos
informações que sugerem que ele está aqui para pegar um item mágico que veio parar
em nossa capital.”

Essa notícia provocou um distúrbio entre os aventureiros. Eles finalmente perceberam


que a região cercada pelas chamas incluía as lojas e armazéns que compunham o coração
econômico da capital.

“...Como a senhora descobriu tal informação?”

“Foi afirmada pelo próprio Jaldabaoth.”

“Não acha que há uma grande chance de que seja mentira?”

“Certamente, não está fora de questão. Pode ser uma distração. No entanto, acredito
que seja verdadeira. O inimigo não fez nenhum movimento desde que fez aquela mura-
lha de fogo. Mais importante, se o que Jaldabaoth diz é verdade, então ficar sem fazer
nada é aceitar que o pior cenário se desdobre diante de nossos olhos. Portanto, devemos
tirar vantagem e montar uma iniciativa.”

“Quão forte é esse Jaldabaoth que mencionou? Não me lembro de ouvir ou ler sobre ele.
Seria de grande ajuda se pudesse nos dizer o seu nível de dificuldade.”

Lakyus deu um passo à frente com uma expressão severa no rosto.

“Minha colega, Evileye, é quem está mais familiarizada com a força de Jaldabaoth, mas
ainda não sabemos os detalhes específicos. Vamos atualizá-los mais tarde.”

Aventureiros rotulavam a força dos monstros que eles encontraram por sua dificuldade
de classificação. Quanto maior o número, mais forte era o adversário. No entanto, era
uma regra tácita de que não se deve confiar muito nos ranques de dificuldade, porque
isso levaria a surpresas desagradáveis.

A força dos monstros variava mesmo dentro de sua própria espécie e, na melhor das
hipóteses, classificar a dificuldade era um palpite. Assim, não era um valor usado com
frequência. Entretanto, era uma maneira simples de explicar as coisas para um grupo
como este.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


201
“Falarei do que sei como representante da minha equipe. Minhas companheiras encon-
traram uma empregada inseto — que se acredita ser uma das seguidoras de Jaldabaoth
— e a derrotaram, momentos depois Jaldabaoth apareceu e nos dragou para uma bata-
lha...”

A ausência de Gagaran, a guerreira, e Tia, a ladina, já havia sido notada pelos aventurei-
ros presentes. Lakyus olhou para os aventureiros presentes na sala.

“Elas foram mortas por Jaldabaoth.”

“Com um único golpe.”

O caos tomou conta com a declaração de Evileye. Aventureiros em ranque adamantite


eram o pináculo da humanidade, lendas vivas. Era impensável que pudessem ser mortas,
muito menos em um único golpe.

“Não tenham medo!”

Evileye gritou como se fosse dispersar o medo no ar com sua voz.

“Certamente, Jaldabaoth é poderoso. Eu posso garantir isso, eu mesma o enfrentei, mas


fui derrotada. Esse é um monstro que nenhum humano comum pode derrotar. Mesmo
que cada pessoa aqui se reunisse para lutar contra ele, nós simplesmente seríamos der-
rotados. Mas não há necessidade de se preocupar. Pois há um homem que pode lutar de
igual com o Jaldabaoth!”

Em meio à comoção, alguns dos aventureiros mais brilhantes olhavam para um deter-
minado lugar — para um certo aventureiro.

“Senhoras e senhores, acredito que conheçam este homem. Do terceiro grupo de aven-
tureiros adamantite que foi recentemente fundado em E-Rantel — de fato, é ele—”

Evileye apontou o dedo para o par de aventureiros, e os olhos de toda a sala foram gui-
ados por ele.

“O líder da Escuridão, o Herói Negro, Momon-dono!”

Um deles estava envolto em armaduras de placas pretas como a noite e usando um elmo
que se recusava a remover mesmo dentro de casa, enquanto a outra era uma beldade
sem igual. Os dois instantaneamente se tornaram o centro da atenção de todos. Excla-
mações de espanto e admiração encheram a sala quando perceberam as celebridades
que estavam presentes.

Momon colocou sua plaqueta de adamantite em contrastes com sua capa carmesim,
para onde todos pudessem vê-la.

Capítulo 10 O Mais Poderoso Trunfo


202
“Rápido, Momon-san, por favor, venha para a frente da sala.”

Em contraste com a excitação de Evileye, Momon simplesmente levantou a mão em res-


posta e sussurrou algumas palavras no ouvido de Narberal.

“Momon-san diz que não há necessidade de uma longa introdução. Devemos começar
as explicações rapidamente.”

“Bem, isso é uma pena. Então, vamos nos apressar, como sugere o Momon-sama. Evi-
leye, posso continuar a elucidação?”

“Ghrum, uh, desculpas, Princesa Renner, por favor, continue.”

Mesmo que sua máscara escondesse seu rosto, podia-se dizer como Evileye se sentia
pelo tom decepcionado de sua voz.

“Como a Evileye disse, temos um guerreiro que pode lutar contra Jaldabaoth. Peço a
todos que por favor, tenham a certeza de que não estamos escolhendo uma luta que não
podemos vencer. Então, vou explicar os detalhes da operação.”

Renner esboçou uma linha no mapa.

“Para começar, gostaria que agissem como nosso arco.”

“Um arco?” veio uma voz duvidosa: “Não um escudo?”

“Um escudo não nos ajudará a vencer. Para começar, desejo formar os aventureiros em
uma linha de batalha, seguidos de perto por uma linha de guardas. Atrás deles estará a
linha de apoio dos sacerdotes e dos magos. Desta forma, avançaremos para a fortaleza
inimiga. Neste ponto, se o inimigo não nos envolver, faremos com que os aventureiros
avancem para o quartel inimigo para suprimir a área se formos atacados, primeiro de-
terminaremos se podemos repeli-los. Se possível, avançaremos, se não, então eu devo
pedir aos aventureiros para se retirarem enquanto afastam os inimigos, enquanto isso,
os guardas vão segurar o inimigo o maior tempo possível. Se os aventureiros precisarem
recuar, então eles assumirão o controle.”

Ela apontou para a linha de apoio dos magic caster.

“Vocês poderão ser curados aqui e, a partir daqui, vamos elaborar outro modo de ata-
que.”

“Calma aí! Quer dizer quê... os guardas lutarão do nosso lado?”

Os guardas tinham uma força de luta muito baixa. Parecia impossível usá-los como
substitutos dos guerreiros em combate.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


203
Assim que Renner estava prestes a responder, outro aventureiro falou.

“Outra coisa, há uma falha fatal neste plano. Quando a gente recuar, nossa formação
ficará cheia de buracos, o nosso poder defensivo vai por água abaixo. E se os demônios
atacarem a capital nesse meio tempo? Mesmo um demônio mais fraco é muito mais forte
que um humano comum. Vamos acabar tendo muitas baixas, não acha? Em vez disso, por
que não usamos 「Fly」 pra perfurar a formação inimiga de uma vez?”

“Eu considerei este método também, ouvi dizer que os demônios têm muitos tipos com
asas, isso é mentira?”

Os aventureiros reunidos recordaram histórias de demônios alados e acenaram em


concordância para Renner. Mesmo demônios mais fracos tinham asas e muitos podiam
voar.

“Usar 「Fly」 serviria apenas para atrair a atenção do inimigo. Considerei o usar de
uma grande altitude, pois mergulhariam rapidamente usando os prédios da cidade para
bloquear a visão do inimigo enquanto atacariam consecutivamente por entre as cober-
turas... mas há outro assunto para discutir antes disso. Mencionou anteriormente que,
ao recuar, as linhas de batalha ficariam com aberturas e a defesa enfraqueceria. O mesmo
se aplica ao nosso inimigo. E é por isso que na batalha que nos aguarda não seremos um
escudo, mas sim um arco.”

Alaridos de aprovação surgiram dos aventureiros.

“Senhoras e senhores, vocês serão o arco do nosso Reino, serão a força a tensionar o
arco, que quando solto, perfurará o coração de nosso inimigo.”

Enquanto os aventureiros se debandavam em recuada, o inimigo os seguiria. Isso tam-


bém diluiria as defesas do inimigo. Seria mais fácil atacar pelos flancos do que pela frente.

Formar os aventureiros em uma linha era uma distração destinada a espalhar o inimigo.

“Nossa flecha será o Momon-sama. Quando ele ver as linhas inimigas se abrindo, ele
adentrará do alto, um ataque aéreo de baixa altitude.”

“...E quanto à Gota Vermelha? Com todo respeito, mesmo que esses dois sejam aventu-
reiros adamantite, eu não vejo como vão atravessar aquilo sem ajuda. Só pra sanar nos-
sas dúvidas, não seria melhor que provassem que realmente dão conta antes que che-
guem a Jaldabaoth?”

Um dos aventureiros fez essa pergunta, e a Chefe da Guilda, à frente da multidão, res-
pondeu em nome de Renner.

Capítulo 10 O Mais Poderoso Trunfo


204
“No momento, eles estão realizando uma tarefa dentro das fronteiras do Estado do Con-
selho. Já usamos 「Message」 para informá-los da situação, mas retornar ainda levará
metade de um dia. Até que cheguem, já será tarde demais... Então, desta vez, não estamos
contando suas forças em nossos planos.”

“Então, que tal a Rosa Azul? Elas vão entrar com o Momon-san?”

“...Nossa força de batalha foi grandemente esgotada com a perda de duas de nossas
companheiras. Tina e eu nos juntaremos à linha de batalha e lutaremos. Evileye estará
encarregada de outros assuntos.”

“...Acompanharei o Momon-san— Momon-dono quando ele fizer sua entrada, então eu


tenho me concentrado em restaurar minha mana.”

“Entendi. Se me permitem, uma pergunta. Em relação ao Capitão Guerreiro. E quanto


às tropas e guerreiros das casas nobres? A Rosa Azul já perdeu dois membros. Então o
senhor assumirá o lugar delas na batalha, eu presumo. Levará essas tropas à batalha e
deixará que a Rosa Azul cuide da tarefa de abrir caminho para o Momon-san?”

“Por favor responda!”

Gazef se adiantou.

“As tropas da casa são responsáveis por proteger as propriedades de seus lordes, e os
soldados vão vigiar a defesa da capital. Já os guerreiros que lidero têm a tarefa de defen-
der à Família Real.”

Houve uma desordem entre os aventureiros e a mesma pessoa falou novamente:

“O senhor está dizendo que não estará no campo de batalha, Stronoff-sama?”

“Sim, é como diz; meu dever é ficar no Palácio Real e proteger os membros da Família
Real.”

O humor no ambiente havia mudado. Tornou-se austero.

As palavras de Gazef não podiam ser criticadas, mas mesmo que se pudesse entendê-
las em um nível intelectual, era inaceitável a nível emocional.

Aqueles que ganhavam seu dinheiro em sangue, os aventureiros, já estavam preparados


para vender suas vidas na próxima batalha. Só que, os nobres e a realeza deveriam ter
um pensamento semelhante. Tendo tomado o dinheiro das massas, eles deveriam estar
dispostos a salvá-los em vez de ficarem seguros em seus castelos.

Especialmente porque estavam fazendo uso do homem mais forte do Reino como seu
guarda-costas.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


205
Hostilidade contra os nobres, particularmente a realeza, tingiu o ar. Gazef deu um passo
para trás. Ele entendeu que, neste momento, qualquer coisa que dissesse soaria como
uma desculpa esfarrapada.

Portanto, aquela que falou por ele foi Lakyus.

“Pessoal, eu entendo que não estão nada felizes com a situação. Mas antes disso, eu
aconselho para que mantenham uma coisa em mente. A moeda paga a todos os presentes
aqui não vem da Família Real, mas da própria Princesa Renner, além dela, aquele que
trouxe o Momon-san aqui foi o Marquês Raeven, ele não está nos agraciando com sua
presença pois permanece em guarda contra qualquer demônio que possa estar disperso
na capital. Saibam que eu entendo, também estou tão infeliz com os nobres e certos
membros da realeza quanto vocês, mas eu gostaria que considerassem que nem todos
são farinha do mesmo saco.”

A sala se acalmou um pouco quando Lakyus terminou seu monólogo. Todos estavam
tentando controlar sua raiva pelo senso de respeito que brotou por Renner.

“...E há mais uma coisa. Antes de dispararmos a flecha, devemos realizar mais uma ta-
refa. Climb!”

“Sim, Princesa!”

Sua voz enérgica chamou a atenção de todos para o garoto da armadura branca.

“Embora seja uma tarefa muito perigosa, eu ainda devo confiar isso a ti. Quando entrar-
mos na fortificação inimiga, pode haver sobreviventes. Por favor, resgate-os.”

Murmúrios e sussurros surgiram dos aventureiros, dizendo; “Impossível”, “Arriscado


demais”, esse tipo de coisa. Entrar no coração da formação inimiga e procurar por sobre-
viventes era basicamente aceitar a própria morte. E escoltar civis impotentes através de
uma zona de guerra era praticamente impossível.

Ainda assim, Climb respondeu imediatamente.

“Sim, Vossa Alteza! Dedicarei a minha vida para realizar qualquer tarefa que me peça!”

Todos olharam para Climb como se ele estivesse raivoso.

“...Princesa-san, o Climb é apenas um, vai ser uma tarefa arriscada. Se me permite, posso
acompanhar ele?”

“Tem certeza disso, Brain Unglaus-sama?”

Capítulo 10 O Mais Poderoso Trunfo


206
Esse nome levantou outra comoção dos aventureiros. O nome de Brain Unglaus era
aquele que ninguém que valorizasse a força jamais esqueceria.

“Ah, tenho sim.”

“Então contarei com sua força. Posso pedir agora aos vários líderes de equipes que
deem um passo à frente?”

♦♦♦

Enquanto observava os líderes das equipes, Ainz estava fazendo algum trabalho pró-
prio.

Em outras palavras, fazendo novos contatos.

Pessoas que pareciam ser as vices comandantes de seus grupos de aventureiros esta-
vam chegando a Ainz em duplas e trios para falar com ele.

Suas falas seguiam padrões similares de anunciar seus nomes de equipes, admirando
seu equipamento, esperando encontrá-lo novamente e compartilhando histórias de suas
aventuras. Era semelhante a como alguém poderia trocar cartões de visita no trabalho,
mas enquanto os cartões de visita tinham formas físicas, as apresentações verbais só
permaneceriam como lembranças.

Uma boa memória era uma habilidade importante para um líder. Ainz deixou sua mente
vagar enquanto ele alocava cada pessoa que encontrava na memória.

O importante era lembrar o nome da equipe e de qual ranque eram. E, claro, ele só pres-
taria atenção aos aventureiros de alto ranque. Aventureiros de classificação ferro e co-
bre vieram cumprimentá-lo também, mas eles viviam em mundos diferentes, e esquecê-
los não era um problema. Era como um chefe de departamento não se incomodava em
lembrar dos assalariados de uma pequena empresa que visitava.

Mesmo assim, Momon não deixou óbvio que não os levaria a sério. Ele apertou a mão
de todos, deu tapinhas reconfortantes no ombro, riu de suas piadas idiotas e devolveu
os elogios que recebeu.

Alguém até chegou a tirar as luvas para apertar a mão dele, mesmo que continuasse
usando suas manoplas e tudo mais. Deve ser uma questão de hierarquia de ranques, pen-
sou Momon, olhando para as costas da pessoa que acabara de dizer olá.

Que cor estranha...

Seu cabelo era rosa shocking.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


207
Não era incomum que aventureiros pintassem seus equipamentos com cores berrantes,
mas essa foi a primeira vez que ele viu alguém tingir seus cabelos com tons tão tétricos.

Aventureiros na capital realmente eram uma coisa completamente diferente. Mesmo


que houvesse muitos, não estava implícito que alguém precisaria ir tão longe apenas
para chamar atenção.

Bem, parece que não há tabus ou estigmas associados à morte do cabelo...

Durante a vida de Ainz— de Suzuki Satoru como assalariado, o cabelo rosa teria sido
considerado estranho, mas neste mundo, mesmo as crianças pintavam os cabelos.

Ele se forçou a sair do tópico de cabelo e, em vez disso, olhou para a fila de aventureiros
na frente dele. Lembrou-o do instinto dos japoneses em fazerem filas para tudo. Então,
voltou seu foco para Narberal, que estava atrás dele.

Ainz nunca tinha registrado um nome para sua equipe, mas a equipe chamada de Escu-
ridão tinha mais um membro, a Bela Princesa.

Os aventureiros ao redor não se atreviam a falar com ela, pois sua visível hostilidade
arrepiava até suas espinhas. Por isso, eles vieram se encontrar e cumprimentar Ainz, que
estava com uma atitude mais amigável.

Basicamente, a sociedade dos aventureiros é como a vida profissional...

Afinal, ambos eram construtos sociais da humanidade. Então fazia sentido que hou-
vesse semelhanças.

Assim que a mão de Ainz começaria a ficar dolorida caso fosse humano, o fluxo de aven-
tureiros se aproximando começou a diminuir. Percebendo uma oportunidade, Evileye se
aproximou, entrando na frente da pessoa que ia apertar a mão de Ainz. Eles não podiam
reclamar, no entanto. Os aventureiros fizeram suas apresentações em ordem de classifi-
cação mediante aos ranques que estavam, do maior para o menor. Estando no final da
fila, os remanescentes eram os novatos, e certamente não podiam se manifestar contra
Evileye, uma adamantite.

“As apresentações devem ter acabado, poderia me acompanhar?”

Ainz olhou para ela através da fenda de seu elmo fechado, também viu Gazef pelo canto
de sua visão. Se ele ainda estivesse lá, isso só poderia significar uma coisa.

“Nabe, vá na frente e nos apresente. Eu irei assim que terminar aqui.”

Os olhos dos ouvintes próximos se arregalaram, ele apenas completou com:

“Sinto muito, mas os que ficaram na fila veem em primeiro lugar.”

Capítulo 10 O Mais Poderoso Trunfo


208
Ainz tirou os olhos de Evileye e continuou falando com os aventureiros que tinham
vindo cumprimentá-lo.

Se Ainz estivesse falando com o chefe de uma pequena empresa e fosse chamado pelo
chefe de uma corporação internacional, ele naturalmente daria atenção ao último. Não
seria favoritismo ou discriminação, mas sim senso comum. Se não arredasse os pés, ele
seria visto como um líder egoísta incapaz de ver a situação como um todo. E como fun-
cionário assalariado, às vezes era preciso deixar de lado as opiniões pessoais e agir em
benefício da empresa.

Era isso que significava ser uma engrenagem em uma máquina.

No entanto, desta vez foi diferente.

Eu não posso falar com o Gazef. Mesmo que seja só por um momento, já faz dois meses...
mas ele ainda pode se lembrar, aí vou ficar de mãos atadas. Droga, não há como fugir disso.
Isso me deixa desconfortável, mas é melhor deixar a Nabe ir na frente, e então engrosso
mais minha voz um pouco antes de falar com ele... Eu tenho falado aqui por um bom tempo,
então se ele não ouviu até agora pode ser que nem se lembre. Ainda assim, é melhor ter
cuidado.

“Rápido, Nabe. Vá até eles.”

“Entendido.”

Tirando os olhos de Nabe, que ia de encontro à Princesa, Ainz também removeu seu
elmo. Ele sentiu os olhos de toda a sala se concentrando nele. Ele estalou o pescoço e
colocou o elmo de volta. Originalmente, ele tinha planejado incrementar sua atuação ao
limpar o suor, mas o “rosto” de Ainz era uma ilusão, e se ele não fizesse isso corretamente,
sua mão acabaria atravessando a “pele”. Então, decidiu ficar apenas com o estalar de
pescoço.

Esse era o plano, para satisfazer a curiosidade de Gazef, deixando-o ver o rosto de Mo-
mon.

Espero que parem de falar comigo quando a Narberal chegar lá...

Ainz orou em seu coração enquanto cumprimentava os aventureiros que o procuravam.

“Surpreendente, já está acostumado com isso?”

Era a voz de Evileye. Ela ainda estava por perto. Por que não foi uma boa menina e foi
junto com a Narberal? Claro, ele não revelou sua irritação. De fato, para evitar suspeitas,
apenas a respondeu com uma voz gentil.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


209
“Oh, não é nada de mais.”

Isso não era nada para quem já havia trabalhado em uma empresa antes.

“Nada disso. Sua bela atitude é digna de um líder de equipe.”

Que irritante. Pare de se intrometer enquanto me apresento.

As palavras abrasaram o coração de Ainz, mas ele teve que engoli-las. Se atacasse agora,
o esforço que colocara em não a matar seria desperdiçado. Ele dividiu sua atenção como
se estivesse realizando uma tarefa simples, e fez os sons apropriados em resposta. A ou-
tra parte também sabia que Momon estava sendo chamado, então eles apressaram as
introduções em duas ou três frases.

Depois que a fila de aventureiros se dispersou, um rápido olhar revelou que Gazef havia
partido. Ele suprimiu a vontade de irromper o entrosamento, em vez disso, falou calma-
mente com Evileye.

“O lendário Capitão Guerreiro parece ter saído... ah, que lástima. Acho que passei muito
tempo com os outros. Sinto muito.”

“Mmm? Era de se esperar. Ele é uma pessoa ocupada, faz sentido que tenha que sair
mais cedo. Ainda assim, parece bastante rude que ele nem tenha dito uma palavra de
agradecimento ao nosso ás, Momon-sama, que vai proteger a capital. Que rude. Vou ir
chamá-lo agora mesmo.”

“Espera, espera!”

Ele acidentalmente alçou a voz. Ainz continuou em um tom mais regular.

“Quero dizer, não tem problemas. É sério, não se preocupe. Eu só estou aqui porque o
Marquês Raeven me contratou. Proteger a capital é simplesmente um negócio. Nada que
o Capitão Guerreiro deva me elogiar.”

“Tem certeza...? Bem, o senhor nunca cansa de me surpreender com a sua generosidade,
Momon-sama.”

Ainz pensou que estava sendo ridicularizado e olhou com bastante atenção para Evileye.
Mas ele não conseguia ler seu rosto, coberto pela máscara.

Eu não posso confiar em alguém que só fica de máscara... que droga. Mas, por que ela usa
a máscara? Deve ser algum tipo de item mágico...

Foi nesse momento que Ainz percebeu seu erro, e ele se esforçou para examinar seus
arredores. O clima da sala não havia mudado, e ninguém reagiu com medo e hostilidade
para com Momon, o aventureiro adamantite.

Capítulo 10 O Mais Poderoso Trunfo


210
Em YGGDRASIL, as ilusões eram simplesmente outro conjunto de skins de itens que pode-
riam ser ativados através do console de conjuração, mas neste mundo, a magia de ilusão é
real. Nesse caso, faria sentido que itens que vissem através de ilusões existissem... Em E-
Rantel, ninguém viu, acho que fiquei descuidado demais depois que conversei com o Chefe
da Guilda dos Magistas, ele disse que precisava ser alguém muito experiente nisso... há tam-
bém alguns aventureiros orichalcum aqui... me ferrei...

Ainz inspecionou a sala novamente.

Ninguém está em guarda, acho que meu segredo ainda é seguro... a partir de agora, não
vou tirar meu elmo na capital a menos que seja necessário. Alguém pode ter um Talento
capaz de ver através das ilusões.

“...Evileye-san—”

“Por favor, me chame apenas de Evileye. O senhor é meu salvador, Momon-sama, não
precisa de formalidades comigo.”

Ainz estava apenas sendo educado. Mas se era assim que ela queria, ele não tinha mo-
tivos para recusar.

“Então, Evileye, vamos lá...”

“Claro!”

Foi uma resposta extremamente feliz. Não sabendo o que tinha feito para agradá-la,
Ainz se permitiu ser arrastado por Evileye até a Princesa.

♦♦♦

Os aventureiros começaram a conversar novamente quando viram o grupo indo em di-


reção à outra sala — Renner e seus subordinados, junto com os dois aventureiros de
ranque adamantite.

Naturalmente, o tema central era Momon, o aventureiro mais bem classificado.

“Eu ouvi os rumores de E-Rantel, mas ver em carne e osso superou minhas expectativas.”

“Não só ele, né? Eu vi o pessoal da Gota Vermelha também, eles passam a mesma sen-
sação. Ele parece perfeito em quase todos os sentidos. Acho que ser um adamantite não
é apenas força.”

A pessoa que abordava os dois aventureiros mythril tinha uma placa de platina no pin-
gente.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


211
“Viu só aquilo, ele foi convocado pela Princesa e ainda teve tempo de cumprimentar os
novatos. Esse cara é tão humilde que nem deveria existir, né?”

“Isso me surpreendeu demais.”

Murmúrios de aprovação vieram dos aventureiros ao redor deles.

Durante uma missão como essa, onde as equipes tinham que trabalhar umas com as
outras, era sensato fazer apresentações, a fim de garantir assistência e apoio mútuo. Cer-
tamente, alguém priorizaria ajudar quem já conhecesse, em vez de um estranho. No en-
tanto, os únicos que poderiam ser úteis aos aventureiros ranques adamantite, seriam os
aventureiros classificados de mythril para cima. Como tal, saudar um aventureiro novato
seria considerado uma perda de tempo. Isso significava que Momon não estava pen-
sando em benefício próprio, mas apenas queria aprofundar sua amizade com os outros.

“O normal seria ele indo até a Princesa enquanto sua parceira atendia os novatos, não?”

“Ah, sim. É o que a maioria faz. Eu mesmo faria isso. Vocês também, não é?”

“Uhum... isso pode soar estranho, mas talvez ele não entenda dessas coisas. Ele tem pri-
oridades diferentes?”

Essas palavras certamente poderiam ser vistas como um insulto, mas o homem que as
falava não tinha um único pingo de maldade em seu rosto.

“Pode ser isso mesmo. Talvez as prioridades dele sejam diferentes.”

Como se esperasse por isso, o homem que falara anteriormente respondeu rapida-
mente.

“Então não há ninguém melhor do que ele. Quero dizer, olhe pra ele, é um adamantite e
ainda assim trata os placas de cobre e novatos como se fossem companheiros de batalha.
Saca só como eles olham pra ele.”

“Tão caidinhos por ele.”

Não havia exagero, os aventureiros novatos pareciam garotos que acabaram de conhe-
cer seus ídolos.

“Heh, eu não julgo, viu? Se ele me tratasse assim, eu me entregava pra ele. Daria até
minha bunda se ele quisesse.”

“Corta essa, que maluco vai querer essa sua bunda feia? Olha a beldade que ele tem na
equipe dele.”

“É, isso é. Será que ele já passou a espada nela?”

Capítulo 10 O Mais Poderoso Trunfo


212
“É claro, né! Se não fosse pra isso, por que formar uma equipe?”

“Eu ouvi que não é assim...” Um quarto homem a intrometer na conversa tinha uma
placa orichalcum no pescoço:

“Você parece estar bem informado com seus rumores de E-Rantel. A força daqueles dois
é surreal. Talvez o único motivo que estejam juntos em equipe, seja porque ninguém
mais consegue acompanhá-los?”

“...Tava ouvindo a conversa todo esse tempo?”

“Hahaha! Não fala assim, até parece que se importa com quem ouvisse essa conversa.”

“Heh, bem, é por aí mesmo...”, disse o primeiro aventureiro.

A Chefe da Guilda dos Aventureiro bateu palmas para chamar a atenção de todos.

“A operação começa em uma hora, sairemos em breve. Como não temos muito tempo,
por favor, retransmita a mensagem para qualquer membro do seu grupo que não esteja
aqui. Dito isso, uma vez que deixarmos o Palácio, fiquem atentos às minhas ordens.”

♦♦♦

5º Dia do mês Baixo Fogo (9º mês) - 01:12

Eles estavam reunidos em outra sala a fim de fazer os preparativos finais para a opera-
ção. Eles consideraram quando irromper, o que fazer quando o inimigo mostrar suas
tropas e como lidar com as possíveis complicações que poderiam surgir. Mas no final,
eles simplesmente tinham pouca informação para fazer planos concretos e a conclusão
foi que eles tinham que seguir com o fluxo.

O jovem de armadura branca que estivera ouvindo silenciosamente até então interrom-
peu seu silêncio repentinamente.

“Com licença, Princesa.”

“O que foi?”

“Eu conheço outra pessoa que poderia se tornar uma flecha para essa formação. Ele é
um homem com poder de luta esmagador. Há problemas em pedir a ajuda dele? Uma
flecha é boa, mas duas seriam melhores e, se ajudassem umas às outras, tenho certeza
de que poderiam derrotar qualquer demônio que aparecesse, por mais poderoso que
fosse.”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


213
“Como assim, Climb? Está dizendo que o Momon-sama que recomendei não é sufici-
ente?”

As palavras de Evileye soaram como lâminas afiadas. Os olhos de Climb tremeram de


medo.

“Não, não, claro que não. Essa nunca foi minha intenção—”

“Momon-sama é o guerreiro mais forte que existe. Eu diria que em vez de ajudá-lo, o
homem que você recomendou não daria nada mais do que uma mãozinha.”

O guerreiro de katana, Brain, interveio para defender Climb.

“Não é bem assim. Eu também vi a pessoa de quem Climb fala. A força daquele homem
é extraordinária. Ele matou o Zero, o cara mais forte do Seis Braços, com um golpe.”

“Você é Brain Unglaus? Aquele que serve Sua Alteza por recomendação de Gazef Stro-
noff e Climb?”

“Na verdade, eu fui contratado como um dos homens do Gazef, mas antes de eu ser ofi-
cialmente empossado, eu fico do lado da Princesa.”

“Eu sei que você é muito mais forte do que o Climb, mas mesmo isso não é garantia da
força do homem. E além disso, você não perdeu para aquela bruxa velha?”

“...Ara~, e você também não perdeu? Peço desculpas em nome dela, Unglaus-san.”

“Uuurg...” Evileye choramingou quando Lakyus a repreendeu: “N-não foi só ela, todas
vocês estavam lá também.”

“Depois que perdeu, você disse que perdeu para a Rigrit, não para nós.”

“Ainda se lembra disso, Tina!?”

Entre a risonha Tina e os lamentos de Evileye, o clima na sala havia se intensificado


consideravelmente.

Neste ponto, Ainz fez uma pergunta.

“Ele parece muito interessante. Que tipo de pessoa ele é?”

Climb orgulhosamente declarou o nome do homem.

“Ele se chama Sebas.”

“...Hm? Sebas?” O nome soou muito familiar para Ainz.

Capítulo 10 O Mais Poderoso Trunfo


214
Será uma coincidência?

“...Que tipo de pessoa ele é?”

Depois da explicação de Climb, Ainz assentiu.

Então é o Sebas mesmo!? Como ele conheceu esse menino? Que tipo de relacionamento
eles tinham? Esse Climb era um dos contatos do Sebas?

Ainz havia apenas folheado os relatórios que Sebas enviara, e ele não se incomodou em
lembrar de nenhuma das pessoas que mencionou.

Não posso reclamar, estava ocupado demais...

A ansiedade de Ainz só cresceu quando usou tal desculpa para se reconfortar.

De todo modo, esse garoto era um contato valioso que Sebas havia feito. Se ele fosse
eliminado cedo demais, seria um desperdício do árduo trabalho de Sebas. E descuidada-
mente descartar o trabalho de seus subordinados era algo que um superior deveria evi-
tar a todo custo.

Seria melhor ajudar esse garoto aqui e indiretamente elogiar Sebas.

Mais importante, eu não acho que ele foi mencionado no relatório, ou foi? Espero que não
tenha sido o caso.

“Não tive o prazer de batalhar com este senhor, Sebas, então não posso dizer qual de
nós seria mais forte.”

“Claro que o Momon-sa—n é mais forte do que ele.”

Narberal afirmou em uma voz cheia de confiança. Evileye silenciosamente assentiu em


concordância.

Ainz não pôde deixar de dar um tabefe na cabeça de Narberal.

“Bem, se minha companheira diz isso, então deve haver alguma verdade nas observa-
ções de ambos os lados. Creio que ele deve ser capaz de estar em pé de igualdade comigo.”

“Essa foi uma resposta surpreendentemente madura. Diferentemente da minha com-


panheira ... bem, ela é pequena tanto na altura quanto na mentalidade.”

“Se repetir isso—!”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


215
“Tudo bem, tudo bem, não vamos envergonhar nossas colegas em público. Essa é uma
ordem como líder de equipe. Se não há mais nada para discutir, por que não vamos fazer
uma visita a Tia e Gagaran?”

“Por mim, tudo bem.”

As duas morreram e foram ressuscitadas. Lamentavelmente, ele não tinha visto a res-
surreição acontecer, apenas tinha ouvido segundo quem esteve presente.

“Falando nisso, é possível usar a energia escura para atacar demônios e coisas assim?”

“...Energia escura?”

A pergunta inesperada de Evileye atraiu uma resposta surpresa de Lakyus. Ela parecia
achar o conceito impensável.

“Ah, eu ouvi da Gagaran que se você liberasse todo o poder da Espada Amaldiçoada,
Kilineiram, ela poderia engolir o país inteiro.”

Os olhos de Lakyus se arregalaram.

“De-depois conversamos sobre isso! Temos outras coisas para discutir, não!?”

Uma espada amaldiçoada? Espere, acho que já ouvi falar dessa arma antes... não de
YGGDRASIL, mas esse mundo... Mas é claro! Da Ninya! A Espada Amaldiçoada Kilineiram,
era dito ser capaz de liberar energia escura. Embora... um país inteiro? Parece meio exa-
gerado, mas pode ter um poder que chega perto o suficiente.”

Ainz concluiu que o rubor no rosto de Lakyus era causado por raiva e pânico que seu
próprio trunfo fôra revelado de repente.

Assim que a atenção de todos se voltou para Lakyus, houve uma batida na porta e dois
homens entraram logo depois.

“Onii-sama e Marquês Raeven!”

Todos inclinaram a cabeça em respeito ao ouvir as palavras de Renner.

Esta foi a segunda vez que Ainz encontrou esses dois homens. A primeira vez não foi há
muito tempo, quando entraram na Capital Real. Eles haviam alterado os termos da mis-
são para a qual havia sido contratado. Em vez da Oito Dedos, ele lutaria contra Jaldaba-
oth, e trabalhariam juntos com os aventureiros da capital.

Após a simples saudação, Ainz e os outros estavam prestes a sair, pois a Princesa queria
falar com os dois nobres a sós. A maioria dos detalhes do plano de batalha já haviam sido

Capítulo 10 O Mais Poderoso Trunfo


216
decididos. Pedir ajuda a Sebas tinha sido abandonado devido à falta de tempo e mão de
obra. Tudo o que restou foi aguardar que as ordens fossem dadas.

“Vossa atenção por favor, peço a todos os deuses que permitam que todos aqui voltem
vivos e vitoriosos... nossas esperanças repousam em todos vocês, ou melhor, em Momon-
san. Que a sorte lhe favoreça.”

Depois de ouvir Renner orar com a cabeça baixa, Ainz e os outros saíram da sala.

♦♦♦

Os únicos remanescentes foram Raeven e o Segundo Príncipe — Zanac Valleon Igana


Ryle Vaiself — e Renner.

No momento em que Climb saiu, a expressão de Renner mudou, seus olhos azuis fica-
ram tão frios como um lago no inverno. Zanac sentiu um arrepio ao observar a mudança
nela.

“Nós ouvimos os detalhes na sala secreta...”

A sala que estavam foi projetada para escutas, e os dois estavam ouvindo tudo o que
discutiam.

“Há uma pergunta que não respondeu. Por que você formou os guardas em uma linha
de batalha? Serão peças de reposição?”

Os guardas são muito fracos. Mesmo o mais humilde dos aventureiros era mais forte do
que um par deles. Se fossem atacados, certamente seriam massacrados.

“Comida.”

Essa palavra era o que eles esperavam.

“Os aventureiros disseram isso também; o exército com os demônios mais fracos de
Jaldabaoth não pode vagar livremente na capital. Então, preparamos um local que ser-
virá de praça de alimentação para eles. Quando se empanturrarem com os guardas
agindo como iscas, a sede de sangue será entorpecida, não?”

Renner sorriu.

Era quase impossível resolver as coisas com palavras extravagantes e ideais de alta so-
noridade neste mundo. Tudo tinha um preço. Ninguém entendia isso com mais clareza
do que os que estavam no poder, cuja responsabilidade era limitar os sacrifícios neces-
sários o máximo possível. Desse ponto de vista, Renner era a burocrata ideal.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


217
Todavia, humanos eram criaturas emocionais, e a emoção que sentiam quando ouviam
falar desse plano era logicamente a repulsa.

“Não há uma maneira melhor? Alguma forma que não envolva sacrificar todos os guar-
das.”

“Se houvesse, certamente já teria mencionado, não é mesmo, Onii-sama?”

Zanac ficou em silêncio.

Era verdade, ele não tinha um plano melhor que o de Renner. Ele tinha idéias, isso era
certo, mas eram impraticáveis ou impossíveis com os recursos disponíveis. No momento,
tudo o que podia fazer era reconhecer que o plano de Renner era o melhor de todos.

Raeven desviou o olhar do Príncipe quando se acalmou, e então expressou suas pró-
prias objeções.

“Então, permita-me procurar esclarecimentos. Por que dar ao Climb uma tarefa tão pe-
rigosa?”

“Pela mesma razão que os homens do Onii-sama e Marquês Raeven estão patrulhando
a cidade.”

Zanac faria rondas na Capital Real, colocando em prática o idealismo de um príncipe


que cuidava de seu povo. Além disso, ele também começou a espalhar os rumores de que
o príncipe herdeiro havia se escondido na segurança do Palácio Real. Isso faria com que
ele parecesse bom e diminuísse seu irmão — que era seu rival.

Será que isso significava que Renner estava fazendo a mesma coisa— enviando um su-
bordinado em uma missão perigosa a fim de mostrar misericórdia, a fim de passar uma
boa imagem?

Mas levando em conta como Renner havia revelado sua obsessão em relação a Climb
ontem, algo definitivamente estava errado aqui.

Sentindo sua dúvida, Renner continuou:

“Claro, o Climb pode acabar morrendo. Nesse caso, a Lakyus usará uma magia de res-
surreição nele. Não será barato, é claro, mas uma despesa como essa não será um pro-
blema. E depois que for ressuscitado, Climb ficará enfraquecido pela perda de energia
vital. Durante esse tempo, eu cuidarei dele. Tenho certeza de que ninguém vai se opor
que eu cuide de uma pessoa que morreu e foi ressuscitada por seguir minhas ordens.”

“Sei. Agradeço por compartilhar isso. Mas—”

“—Não há uma chance de que a Lakyus também morra?”

Capítulo 10 O Mais Poderoso Trunfo


218
“É uma preocupação válida...”, disse Renner a Raeven, cuja cabeça estava baixa:

“Mas isso também foi planejado. Durante o período mais perigoso do surto demoníaco,
haverá pessoal sobressalente no lugar para protegê-la. A Chefe da Guilda não quer que
alguém capaz de ressuscitar os mortos seja morta, então ela concordou sem hesitação.”

“Parece que tudo está dentro dos seus cálculos, irmãzinha.”

“Sim.”

Respondeu sua irmã, com um sorriso tão belo quanto uma flor desabrochando. Zanac
estremeceu todo e, ao lado dele, Raeven também lutou para reprimir o calafrio que per-
correu sua espinha.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


219
Capítulo 11: Fim do Distúrbio, A Batalha Final

Capítulo 10 O Mais Poderoso Trunfo


220
Parte 1

5º Dia do mês Baixo Fogo (9º mês) - 02:30

enhum calor vinha das chamas bruxuleantes da linha limite, fazendo com

N
que parecessem uma ilusão.

Os aventureiros na frente trocaram olhares com suas equipes, e então reu-


niram coragem e imergiram corajosamente pela parede de fogo.

Mesmo que os sacerdotes de apoio dos templos já tivessem lançado magias de proteção
contra o fogo, eles ainda prenderam a respiração, por medo de que seus pulmões fossem
queimados.

...Mesmo que já tenham dito que as chamas não causariam nenhum dano físico.

Esse pensamento percorreu a mente de Lakyus enquanto observava a muralha de fogo


da parte de trás da formação.

Ainda assim, era cedo demais para celebrar o fato de que as chamas eram inofensivas.
Se não foram feitas para causar ferimentos, então precisava haver outra razão para Jal-
dabaoth conjurá-las. Era isso que ela precisava descobrir.

Se eu não consigo descobrir, não faz sentido gastar energia nisso. Quem foi que disse que
eu deveria usar minha cabeça para coisas úteis... Evileye, ou meu tio?

A barreira de chamas mágicas era como uma ilusão, não oferecendo resistência e sem
calor, e assim ela se adiantou.

Lakyus olhou para os rostos preocupados dos aventureiros que estavam atravessando
a barreira.

O plano consistia em avançar com a formação defensiva, mas era muito difícil formar
uma linha de batalha no meio de uma cidade. Portanto, eles usaram quatro equipes de
ranques orichalcum como os pilares da formação, atribuindo à cada um dos aventureiros
a responsabilidade de ser um pilar.

Alguém que os observasse de cima veria algo como quatro amebas se espalhando.

Já que eram os núcleos da formação, era natural que os aventureiros orichalcum se tor-
nassem os líderes. Mas agora, eles estavam tomados pelo desconforto e tensão. Lakyus
esperava poder esconder seu medo e inspirar coragem nos outros ao seu redor.

Será que ainda assim devo assumir a liderança?

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


221
Seguramente, se um aventureiro classificado como adamantite como ela mesma esti-
vesse à frente, o moral certamente aumentaria. Mas agora, Lakyus não tinha aliados con-
fiáveis ao seu lado. Mesmo sendo uma adamantite, uma única Rosa Azul era menos eficaz
do que uma equipe orichalcum. Como tal, ela havia entregue o comando da vanguarda
para eles.

Mesmo que confiem em mim, criar confusão apenas os encheria de desconforto. Mas... ah,
eu deveria ir para a frente e ver o que acontece.

Com isso, Lakyus atravessou o bloco de fogo.

Um mundo silencioso se desdobrou diante dela. As ruas eram as mesmas de qualquer


outra na capital, se ignorasse o fato de que não havia presença de vida humana e muitas
das residências haviam sido destruídas.

“O que aconteceu com os moradores? Estão se escondendo? Não há cheiro de sangue.”

“Impossível. Olha ali, as portas foram quebradas. Temo que as pessoas possam ter sido
levadas à força.”

“Precisamos ter cuidado com demônios escondidos nas casas, será que compensa fazer
uma varredura completa? O ruim é que levaria muito tempo.”

“Será mais seguro entrar em contato com a Lakyus-san e esperar por mais instruções,
não?”

“É, vamos nos apressar e—”

“Não haverá necessidade disso.”

Endireitando-se por reflexo ao som da voz, os aventureiros se viraram olhando para


trás. Eles ficaram surpresos com Lakyus, que acabara de chegar.

“Os aventureiros ranques ferro e cobre ficarão para trás e vasculharão as casas. Uma
equipe mythril permanecerá para supervisionar. Os mais atrás irão se espalhar na for-
mação e avançar. Alguma objeção?”

As negações de cabeças a disse que não havia nenhuma.

“Então, vamos avançar.”

Lakyus entrou em formação com os aventureiros orichalcum. Um silêncio desconfortá-


vel se estabeleceu ao redor deles. Era difícil acreditar que houvesse vida nesse lugar
poucas horas atrás.

Capítulo 11 Fim do Distúrbio, A Batalha Final


222
“...Falando nisso, o Momon-san ficará bem, não vai?”

Lakyus entendeu a inquietação deles por depositar todas as suas esperanças em Mo-
mon.

“Ele vai ficar bem. A própria Evileye admitiu que ele era ainda mais forte do que ela. O
problema real é aquele que o levou a um impasse, o líder inimigo, Jaldabaoth. Quão forte
ele é, enfim...”

Os aventureiros próximos ouviram isso e seus rostos caíram em desespero.

“Ah, sinto muito, não se preocupem. Só precisamos fazer o que nos foi designado, só
isso.”

“Sim, é verdade. Me dói admitir, mas acho que cada um de nós foi encarregado de fazer
o que damos conta. Já que é assim, avancem!”

“Isso mesmo, vamos lá!”

Em pé à frente do grupo, junto com os aventureiros orichalcum, Lakyus deu um passo


à frente.

Uma de suas mãos segurava a Espada Amaldiçoada Kilineiram. Sua lâmina era como um
pedaço do céu noturno, pontilhada de estrelas cintilantes.

Eles não tinham andado muito antes que o som de uma explosão distante se propagasse
suavemente ao longe. Os aventureiros de ranque mais baixo se assustaram. Os aventu-
reiros medianos se prepararam para a batalha. Os aventureiros de alto nível ficaram
atentos aos seus arredores. E os pináculos entre eles, os aventureiros mais fortes, olha-
vam para frente. Em meio a esse mar de reações, Lakyus olhou ao longe com um olhar
penetrante.

“A equipe daquele lado entrou em combate.”

Provavelmente não era o grupo de Tina.

“Se estão se movendo na mesma proporção que nós mesmos, devemos encontrar a re-
sistência inimiga em breve.”

“...E as informações de cima?”

“Temos batedores em posição, nenhum deles relatou nada até agora.”

“Isso é bom. Os demônios têm muitos monstros voadores. Caso se espalhem pela capital,
será ainda pior. Então precisamos chamar a atenção deles para o chão onde estamos
agora.”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


223
“O plano ainda persiste?”

“Isso mesmo... hm, ouviu isso?”

“Sim, escutei. Parece cachorros latindo. Hey, o que será que é?”

O magic caster arcano respondeu à pergunta.


[Cão Infernal]
“Ainda não tenho certeza, mas acho que é um Hellhound. Sua habilidade especial é cus-
pir fogo. Eu acho que tem uma dificuldade de classificação de quinze ou mais.”

“Dificuldade... Hey, por falar nisso, em qual categoria Jaldabaoth e a empregada inseto
estão?”

Lakyus estava sem saber como deveria responder. Se fosse honesta demais, seria muito
provável que quebrasse a determinação deles, mas se entrassem em batalha esperando
que o inimigo fosse mais fácil devido à omissão de informações, o resultado em si seria
igualmente desastroso. Ela agonizou sobre isso por um tempo antes de decidir dizer a
verdade.

“...Cento e cinquenta.”

“Como é?”

Todos que ouviram a voz de Lakyus tiveram a mesma reação.

“A classificação de dificuldade da empregada inseto é de pelo menos cento e cinquenta.


Jaldabaoth por outro lado, é estimado em duzentos ou mais.”

“Hah!?”

Todos além de Lakyus ficaram sem palavras. Isso era esperado. Até mesmo os aventu-
reiros orichalcum mais primorosos só estariam em torno do nível 80 de dificuldade. Em-
bora ainda fosse possível triunfar sobre um adversário com cerca de 15 pontos acima de
si mesmo, tentar fazer o mesmo com um inimigo quase o dobro de vezes mais difícil seria
nada menos que risível. E então—

“Calma aí! Tá dizendo que o Momon-san vai lutar contra monstros de dificuldade du-
zentos sozinho?”

“Exatamente. É por isso que eu disse que só atrapalharíamos.”

“Mesmo assim... tem certeza que é duzentos? Isso não são horas para piadinhas. Ou to-
dos os aventureiros de ranque adamantite são fortes assim?”

Capítulo 11 Fim do Distúrbio, A Batalha Final


224
“Queria estar enganada. Mesmo nós estamos em torno de noventa, isso na melhor das
hipóteses.”

“Como... como vamos ganhar de uma coisa dessas!?”

Os aventureiros olharam em volta, prendendo a respiração.

Lakyus não mentiu, mas também não lhes contou toda a verdade. Embora a própria
Lakyus fosse avaliada em 90, Evileye mesmo era alguém com dificuldade 150, e foi assim
que ela chegou à conclusão sobre a empregada inseto e Jaldabaoth. E foi também por
isso que Evileye não fazia parte dessa linha defensiva.

Para recuperar rapidamente a mana que gastou, ela escolheu meditar e descansar. De-
pois disso, ela seguiria Momon até onde Jaldabaoth estava, a fim de fornecer apoio para
que Momon pudesse lutar contra Jaldabaoth cara a cara. Seu medo era que eles encon-
trassem a empregada inseto novamente.

Enquanto Lakyus estava perdida em pensamentos, ela sentiu o humor depressivo em


torno dela formigar sua pele. O moral de todos caiu, e houve murmúrios sobre abando-
nar a coisa toda e fugir da capital.

Como havia previsto, todos estavam se sentindo desmoralizados. Lakyus sabia como
era, a primeira vez que ouviu Evileye falar sobre a batalha, ela sentiu o mesmo.

“Vocês ouviram a Evileye, não? Momon-san é o tipo de homem que pode lutar em pé de
igualdade contra o Jaldabaoth. Por isso o Momon-san lutará sozinho, mas também pre-
cisamos fazer nossa parte.”

“M-mas se o Jaldabaoth vai lutar contra o Momon-san, a empregada inseto pode apare-
cer aqui?”

“Nós, da Rosa Azul, vamos cuidar disso. Evileye tem um item especial que permite que
ela se teletransporte para nós. Ela tem uma maneira de lidar com a empregada inseto, o
monstro tem um ponto fraco e usaremos isso a nosso favor.”

Uma salva de aplausos veio dos aventureiros. Parecia que seu espírito de luta fôra res-
taurado.

E neste exato momento.

Rugidos bestiais vieram da rua à frente, junto com o som de passos.

“Eles estão vindo. Vamos montar nossa linha defensiva aqui. Aqueles usando 「Floating
Board」 se dirijam para as ruas laterais. Deixe a estrada principal para mim!”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


225
As bestas-feras estavam na estrada principal. Embora parecessem cães grandes, seus
olhos reluziam com inteligência diabólica e, no lugar da baba, fogo líquido escorria de
seus dentes.

Havia 15 desses Hellhounds aqui. De pé diante deles estava Lakyus, que brandia sua
Kilineiram com as duas mãos.

“Não se atrevam a me desprezar, escória demoníaca!”

Com uma oração ao Deus da Água em seus lábios, Lakyus cortou um Hellhound ao meio
com um único golpe.

As Floating Swords que a cercavam agiam como escudos, bloqueando os ataques dos
Hellhounds de seus flancos. Ela chutou outro que estava prestes a açoitar seus tornoze-
los.

Lakyus estava lidando de seis Hellhounds, e o resto atacou os outros aventureiros. Os


mais fracos pegavam um de cada vez, enquanto os mais fortes lidavam com vários ao
mesmo tempo. Desta forma, eles dividiram seus números. No momento em que Lakyus
matou todos os seis, os outros também terminaram.

“Alguém se feriu!?”

“Nada de muito grave, Lakyus-san!”

Obviamente, eles não tinham superado isso imaculadamente, mas os ferimentos não
foram graves. Considerando que tinham que conservar sua mana, tinha começado com
o pé direito.

“Soldados nas laterais, repitam meu comando! Avancem cinquenta metros e aguardem!”

Como um eco nas montanhas, ela ouviu as palavras se repetindo por todos os lados e
avançaram 50 metros. Lakyus brandiu sua espada e avançou tomando posição.
♦♦♦

5º Dia do mês Baixo Fogo (9º mês) - 02:41

Três homens corriam pelas vielas escuras e estreitas. Ninguém mais estava lá com eles.

Se tratava de Climb, Brain e o ladino ex-orichalcum, que os acompanhou durante a ofen-


siva contra a base de Zero.

Os aventureiros que trabalhavam para o Marquês Raeven estavam patrulhando as ruas


da capital para caçar qualquer demônio que atravessasse a linha de contenção.

Capítulo 11 Fim do Distúrbio, A Batalha Final


226
Climb só conseguira obter os serviços do ladino porque, segundo o Marquês Raeven, o
próprio homem pedira para ajudar Climb. Isso era para retribuir a gentileza que Climb
mostrara ao ampará-lo depois que Zero o golpeou.

Além disso, Raeven queria retribuir o favor que devia à Renner.

Graças à escolha de rotas do ladino, eles não haviam encontrado um único demônio até
agora.

Poderia ser impossível chegar tão longe sem ele.

Embora tivessem alguma confiança em enfrentar demoniozinhos convencidos, eles fi-


cariam com problemas se quaisquer demônios que pudessem usar habilidades especiais
aparecessem. Dado que seu grupo era composto basicamente por mundanos que viviam
e morriam pelo aço, eles teriam dificuldade em defender-se de ataques que não eram de
natureza puramente física.

Suas informações da oposição eram superficiais, mas por causa disso, o ladino entendeu
que Climb e Brain eram extremamente deficientes nesse departamento, razão pela qual
sua ajuda a esses dois suicidas foi bem-vinda.

Brain silenciosamente agradeceu enquanto corria, agachando-se para reduzir o tama-


nho de sua silhueta. Gradualmente, o estilo dos edifícios circundantes começou a mudar;
a quantidade de edifícios não residenciais começou a aumentar. Parecia que eles esta-
vam se aproximando do objetivo.

“Tem um tempinho que quero perguntar, mas por que vamos pros armazéns?”

Climb respondeu ao ladino, que estava inspecionando os arredores.

“Renner-sama mencionou que se tiverem mantendo pessoas prisioneiras, eles precisa-


riam de um grande espaço para colocar todos. Pensando por este lado, seria mais fácil
para eles separarem as famílias e prendê-las em vários armazéns.”

“Faz sentido. Se as famílias forem divididas, pensarão duas vezes antes de tentarem fu-
gir. Se realmente for isso aí, temos que nos apressar... Bem, mesmo se formos pela rota
original, ainda precisamos escolher um caminho seguro.”

“Obrigado. Contamos com suas habilidades.”

Havia mais a fazer depois do resgate. Enquanto pensava em como sairiam dali, uma
coisa que se destacou como prioridade foi definir uma rota segura de fuga. A escolha do
caminho era crucial, especialmente porque seria preciso deslocar muita gente.

Quanto tempo essa sorte vai durar, pensou Brain.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


227
Basicamente, essa missão era uma sentença de morte para Climb.

Já que o outro lado estava aprisionando civis, isso significava que tinham um plano para
eles. Por sua vez, isso sugere que estariam atentos a possíveis intrusões. E de acordo
com o que ouvira, o líder inimigo, Jaldabaoth, era um ser capaz de matar aventureiros
em posição de adamantite em um só golpe. Qualquer sentinela que ele colocasse seria,
no mínimo, formidável.

A atenção de Brain se focou em Climb ao seu lado.

Ele estava usando sua armadura branca para que as pessoas soubessem que ele era o
cavaleiro de Renner. Atualmente, ele estava afagando sua manopla... ou melhor, o anel
que ele usava no dedo anelar embaixo dela.

O próprio Gazef lhe dera aquele anel.

Era algo que ele havia obtido de uma velha senhora que costumava fazer parte da Rosa
Azul. De acordo com as lendas, era um item extremamente raro nascido de uma magia
antiga, que poderia elevar os poderes de um guerreiro além de seus limites.

Você deve retornar vivo. Brain recordou do rosto de Gazef quando disse isso.

Gazef não demonstrara nenhuma emoção em particular naquele momento. Sem raiva,
tristeza ou desespero. Ele entendia que, como guerreiro a serviço de um lorde, acabaria
chegando um momento em que seria ordenado a uma batalha que resultaria em sua
morte. No entanto, a fim de ajudar Climb sem estar fisicamente presente, ele lhe empres-
tou o anel.

Brain estava seguindo os sinais da mão do ladino quando de repente sentiu uma pre-
sença. Olhando para cima, sua linha de visão seguiu o prédio — naquele instante, Brain
sentiu um medo que parecia apertar seu coração.

Na beira de um telhado de um armazém próximo, — a julgar pela altura e pelo tipo de


corpo —, havia uma garota de longos cabelos loiros. Ela usava um vestido feito de tecido
branco puro que tinha sido elaboradamente bordado e, abaixo da bainha, ele podia ver
que ela usava um par de saltos altos cintilantes que pareciam feitos de cristais. Colar,
brincos e outros acessórios, todos combinavam, a fazia parecer que era filha de algum
nobre, ou uma rica herdeira de algum tipo.

A luz da cortina de fogo atrás dela delineava seu corpo de modo sedutor e provocante.
Tudo criava um fascinante contraste com a máscara branca que usava, a envolvendo em
um véu de mistério. Como um afronte à sua aparência de tirar o fôlego, sua presença
parecia subjugar, como se o inatural adentrasse visível no plano existencial.

Capítulo 11 Fim do Distúrbio, A Batalha Final


228
Suas roupas e a cor de seu cabelo eram completamente diferentes de antes. Naquela
época, ela seria descrita como uma filha da noite, mas, desta vez, ela parecia ser envol-
vida pela lua. Mas mesmo assim, não havia dúvida de que eram a mesma pessoa. A ima-
gem que Brain havia gravado em sua alma sobrepunha a da pessoa que olhava.

Ele estava certo disso. Sob a máscara da jovem acima dele estava o rosto de um monstro
— Shalltear Bloodfallen.

Parece que ela ainda não os havia notado, mas se era realmente o mesmo monstro da-
quela fatídica noite, não importava o quão distantes estivessem, eles seriam mortos ins-
tantaneamente se os notasse.

Havia alguma maneira de fugir sem serem detectados?

Nenhuma.

Quando percebeu isso, Brain sentiu-se como se estivesse pisando em um rio congelado
cheio de rachaduras. De repente, ele percebeu o suor oleoso e repugnante saindo de seus
poros.

Brain sinalizou para Climb e o ladino, indicando que ele tinha algo a dizer. Sentindo que
ele tinha visto algo, os dois pararam e prenderam a respiração.

E agora? Como despistar ela? Se alguém aqui lutar com ela, já era, morremos. Se alguém
tentar fugir, ela nos perseguiria e mataria na hora. Naquela vez eu usei um túnel de fuga,
mas agora não dá. Por que ela tá aqui!? Será que tá procurando por mim?

Brain sorriu amargamente no último pensamento.

Se esse fosse o caso, então havia apenas uma solução para esse problema.

“Climb-kun, eu vou comprar um tempo pra nós. Fujam agora.”

Depois disso, Brain olhou para o ladino e inclinou a cabeça.

“Cuide dele por mim.”

Ele não perdeu tempo esperando por uma resposta. Brain imediatamente subiu o pré-
dio onde Shalltear estava, subindo em um único movimento. Embora não tivesse as ha-
bilidades de escalada de um ladino, o prédio tinha apenas dois andares de altura, e a
força do braço de um guerreiro poderia facilmente escalá-lo. No telhado, Shalltear per-
manecia onde havia a visto.

O coração de Brain bateu forte.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


229
Ele estava assustado, aterrorizado além da capacidade de pensamento racional. As lem-
branças de sua fuga banhada em desespero ecoavam em sua mente. Apesar disso, ele
ainda era capaz de reunir coragem para encará-la de frente.

“...Perdeu alguma coisa aqui?”

A voz despreocupada de mulher chamou Brain, apenas ligeiramente abafada pela más-
cara que usava.

—Ela nem me reconhece? Não passei de um joguinho pra ela...?

O melhor curso de ação agora deveria ser fingir que ele não a conhecia e observar suas
respostas. Com isso em mente, Brain levantou a voz e respondeu-lhe.

“Estou aqui porque vi uma mulher estranha no telhado. O que está fazendo na Capital
Real?”

“O porquê? Me esclareça qual a minha obrigação de responder? Talvez você possa me


dizer o que um humano está fazendo nesta área. Você é o único que chegou tão longe?”

Seu batimento cardíaco acelerou e aumentou de intensidade. Embora ele não soubesse
onde Climb estava, ele sabia que não podia tirar os olhos dela. Para confundi-la, ele le-
vantou a voz e continuou falando.

“Está procurando por outra pessoa, então? Não eu?”

“E por que eu procuraria você em particular?”

“Esta é a segunda vez que nos encontramos. Não consegui esquecer do seu rosto bonito.”

Shalltear estendeu a mão e acariciou levemente sua máscara.

“...Me confundiu com outra pessoa, talvez?”

Brain ficou momentaneamente sem palavras. Ele queria perguntar se tinha errado seu
julgamento, mas imediatamente abandonou esse conceito.

Era ela. Não poderia haver outra.

Mesmo através da máscara, ele tinha absoluta certeza de sua identidade. Apenas uma
pessoa em todo o mundo teria essa presença e, para Brain, essa pessoa era Shalltear
Bloodfallen.

...Quer dizer que, ela nem sequer se esforça pra lembrar dos vermes em que pisa?

Capítulo 11 Fim do Distúrbio, A Batalha Final


230
Se ela não estava zombando dele, se Shalltear realmente não se lembrava, então signi-
ficava que ela não tinha nem o menor interesse nele.

Para um ser esmagadoramente poderoso como Shalltear, isso não era arrogância ou
subestimação das habilidades de alguém.

“Não... Sinto muito. Talvez... talvez. É, esta é a primeira vez que a gente se vê.”

“...Hm, mesmo? Bem, mesmo que entenda isso agora, não faz diferença. Talvez seja mais
seguro simplesmente lhe matar. Você quer viver? Ou morrer? Caso se ajoelhe e lamba
meus sapatos, pode me agradar o suficiente para que eu mude de idéia.”

“Desculpe, mas acho que vou recusar.”

Brain se acomodou em uma postura de sacar a espada enquanto diminuía a respiração.


A técnica que ele estava usando era, claro, 《Campo》. Escusado dizer que Brain sabia
muito bem da inutilidade disso contra Shalltear.

“Haaaa...”

Shalltear estupefata gentilmente balançou a cabeça.

“Você não entende a diferença de força entre nós, não é? Que irritante...”

Na verdade, eu entendo...

Pensou Brain enquanto a encarava.

Shalltear o assustou tanto que ele queria vomitar. Dessa sensação ele entendia bem.
Mas sabendo disso, por que ainda não fugira?

Um sorriso tênue com o canto da boca apareceu quando pensou a respeito.

Se seu coração fosse um lago, então estaria perfeitamente parado e calmo. Mesmo em
face de um ser que o fazia querer fugir com o rabo entre as pernas, ele ainda conseguiu
manter a compostura. Essa serenidade era bem enervante.

Shalltear deu passos para frente. Foi como um déjà vu da última vez e, certamente, re-
sultaria na derrota total de Brain. A soma total do trabalho de sua vida, seu esforço, de-
dicação e sonhos, seria destruída pela facilidade desdenhosa de uma criança quebrando
um brinquedo.

Isso aí... É assim que vai ser.

Ele estava apavorado.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


231
Ele já tinha passado por inúmeras batalhas, apostando sua vida no fio de sua espada.

Admitir seu medo da morte justo agora seria muito embaraçoso.

Era como estar prestes a pular de um precipício.

Mesmo sendo determinado ao ponto de morrer em batalha, abraçar a própria morte


em um suicídio não era do feitio dele.

Contudo, por mais estranho que fosse, a sensação de terror abjeto que carregava con-
sigo, desde o esconderijo dos bandidos até a Capital Real, estava misteriosamente au-
sente.

De repente, as costas de um certo jovem apareceram em sua mente.

Pertenciam a um jovem muito mais fraco que ele. Mas alguém que mesmo no meio de
uma torrente interminável de intenção assassina permaneceu firme, apesar de seu corpo
tremer como geleia.

Com isso, Brain riu.

Um velho lhe dissera que; às vezes os humanos podiam exibir um poder inesperado,
mas Brain sabia que era impossível para ele.

Ele não era como aquele jovem, que daria tudo o que tinha pela princesa a quem servia,
também não era como Gazef, que podia oferecer seu corpo e vida pelo rei e seu país.
Aqueles dois poderiam fazer isso, mas não ele. Brain era um homem egoísta que só con-
seguia pensar em si e fazer o que lhe fosse benéfico.

Mesmo as coisas sendo assim... huh. Talvez esse seja o jeito de me aproximar deles, com-
prando-lhe tempo pra fugirem.

Dando um passo de cada vez, Shalltear ergueu o dedo mindinho esquerdo, aproxi-
mando-se a um ritmo anormalmente lento.

Seria porque suas percepções aumentadas faziam parecer que o tempo havia diminuído
sua marcha, menos para ele, ou foi porque Shalltear estava propositalmente se movendo
lentamente, para prolongar seu medo? Parecia que ambos eram factuais. Ele sorriu com
melancolia.

Bem, é assim que ela é.

Mesmo que só tivessem se encontrado por alguns minutos, Brain tinha a sensação de
que a entendia melhor do que qualquer outra mulher que já conhecera.

Mais dois passos, huh... dois passos até minha espada estar condenada...

Capítulo 11 Fim do Distúrbio, A Batalha Final


232
Ele queria fugir, mas mais do que isso, ele não queria soltar a arma em sua mão.

Ele viveu toda a sua vida segurando espadas. Talvez fosse apropriado que sua vida ter-
minasse enquanto segurasse uma.

Brain encontrou sua resposta. Com isso em mente, ele seguiu a silhueta de Shalltear
com os olhos.

“Brandir essa espada é... meu objetivo de vida?”

Naquele momento, a mente de Brain iluminou. O inimigo era uma existência sem igual.
Ele não tinha energia para poupar em pensamentos inúteis.

Brain usou 《Lampejo de Deus》, uma Arte Marcial que nenhum oponente humano
poderia detectar, muito menos se defender.

Mesmo assim, ele não pôde sequer encostar sua espada no monstro diante dele, nem
mesmo combinando seu 《Campo》 e 《Lampejo de Deus》.

Nesse nível, sua oponente ainda poderia detê-la entre os dedos. Portanto, Brain adicio-
nou mais uma técnica à mistura.

O rosto de Gazef Stronoff surgiu diante de seus olhos.

Ele pensava que na próxima vez que se encontrassem, eles teriam um confronto defini-
tivo.

No entanto, depois de reencontrá-lo na Capital Real, Brain mudou de idéia.

O Brain de agora não sentia nada além de companheirismo por seu maior inimigo —
outrora um obstáculo a ser superado, agora seu melhor antagonista.

Ele aceitara que morreria aqui e agora.

Agora é meio tarde pra isso... mas obrigado, meu grande inimigo e querido amigo...

Com isso, seu coração se aliviou. Sem confusão, ele se permitiu ser livre. Até a vergonha
do passado havia desaparecido.

“—Aaaaaaaaahg!”

Brain gritou como os ecos de uma ave mitológica. Veio das profundezas de sua alma,
carregando todo o poder de seu ser.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


233
Ele o executou com uma velocidade incrivelmente alta usando seu 《 Lampejo de
Deus》, graças ao seu 《Campo》, ele pode perceber todas as informações que preci-
sava. Mas ele não parou por aí — a partir do 《Lampejo de Deus》, ele continuou em
outra técnica.

Essa técnica era—

—Quatro cortes simultâneos.

A técnica de Gazef Stronoff, a mesma que havia derrotado Brain Unglaus no Torneio de
Artes Marciais onde lutaram pela primeira vez. Era um movimento que Brain admirava,
mesmo quando dizia a si mesmo que estava apenas o aprendendo para entender com-
pletamente seu oponente. Uma técnica que ele selou com seu ódio e ressentimento.

Mas agora, neste momento, liberto de toda dúvida e restrição, Brain o usou sem hesita-
ção.

“《Corte de Luz Quadruplo》!”

Na verdade, o 《Corte de Luz Quadruplo》tinha uma enorme fraqueza.

A execução de quatro ataques simultâneos colocaria uma carga enorme no corpo e faria
com que os ataques se dividissem em diferentes direções. Como a precisão dessa técnica
era baixa, até mesmo seu criador, Gazef, só a usava quando cercado por vários oponentes.

Embora o 《Corte de Luz Quadruplo》não tenha feito tantos ataques quanto o 《Corte
de Luz Sêxtuplo》, tinha a vantagem de ser mais fácil direcionar todos os ataques para
o mesmo alvo. Mesmo assim, fazer com que todos se conectassem ainda era bastante
improvável.

Este ataque selvagem não seria capaz de ferir Shalltear Bloodfallen. Brain tinha abso-
luta certeza disso.

Mas Brain possuía uma Arte Marcial que Gazef não possuía. Uma técnica de suporte que
fornecia um aumento de precisão dentro de seu raio — 《Campo》.

Os quatro cortes de precisão selvagem tiveram sua trajetória de voo corrigida pela pre-
cisão sobre-humana do 《Campo》, convergindo para o caminho que Brain havia visu-
alizado de antemão.

Todos os quatro golpes atingiram um único ponto com precisão e velocidade extraor-
dinária.

♦♦♦

Capítulo 11 Fim do Distúrbio, A Batalha Final


234
Até mesmo um herói — alguém que havia superado os limites da humanidade — teria
problemas para bloquear esse ataque. Meros mortais, feitos de carne e ossos fracos, não
seriam capazes de reunir resistência para se defenderem contra isso. Foi um golpe de-
sumano.

Mas Shalltear Bloodfallen estava bem acima da própria humanidade, estava em um pi-
náculo próprio, que ninguém jamais poderia alcançar. Para alguém como ela, aqueles
quatro ataques simultâneos eram pouco mais que um caramujo dando um passeio ao sol.

“Hmph.”

Shalltear bufou para ele enquanto sua mão esquerda se movia mais rápido do que os
olhos podiam ver. Um som de choque metálico ecoou pelo ar da noite. O que aconteceu
foi que a deflexão simultânea dos quatro ataques se fundiu em um único som.

Todos os quatro golpes foram repelidos, deixando-a intocada.

Shalltear deu de ombros, rindo sob a máscara. Não foi dirigido ao tolo guerreiro diante
de seus olhos, mas sim a si mesma por ter brincado nesse joguete com ele até agora.

Mas então, no momento seguinte, os olhos de Shalltear se arregalaram.

♦♦♦

Neste exato momento, se alguém convertesse as habilidades de cada um em números e


as comparassem, indubitavelmente ovacionariam Brain.

De fato, foi um milagre, como o sol nascendo do oeste, uma visão que encheria as pes-
soas de admiração e respeito.

♦♦♦

“............Eh?”

Diante de seus olhos, a unha do dedo mindinho esquerdo estava menor. Era um pe-
queno dano de menos de um centímetro de comprimento.

Shalltear considerou a situação atual. O lugar que fôra cortado foi o mesmo lugar usado
para repelir todos os cortes.

Analisando a execução dos eventos, esses quatro ataques foram executados em dois
pares, um acima e outro abaixo. Eles haviam cruzado no local onde Shalltear havia inter-
ceptado os ataques.

“...Era isso que queria?”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


235
“Kuh— Ahahahaha!”

De repente, o homem na frente dela começou a rir. Ele é louco? Shalltear se perguntou.
Mas não parecia assim. Provavelmente ele estava rindo muito do fato de que havia con-
seguido cortar a ponta de sua unha, mas ela não entendeu. Então, o que tinha a ver al-
cançar esse feito?

As unhas e os dentes de Shalltear eram armas naturais, portanto, era tecnicamente pos-
sível usar técnicas especializadas de destruição de armas para destruí-las. Entretanto,
simplesmente voltariam a crescer com a aplicação da magia de cura, por isso se quebra-
vam mais facilmente do que as armas de um nível similar. Não passavam disso. Eram
inferiores aos itens mágicos divine-class, como sua Spuit Lance.

Como tal, Shalltear não conseguia entender o motivo da alegria desse homem.

Cortar um fragmento da unha não mudaria nada. Shalltear olhou para os outros quatro
dedos da mão esquerda. Mesmo que a unha de seu dedo mindinho fosse aparada um
pouco, ainda seria suficiente para rasgar um corpo humano em pedaços.

“Parece que você leva jeito, para ser um cortador de unhas...”

Os olhos do homem se alargaram e seu júbilo se intensificou.

“Muito obrigado! É um elogio e tanto. No fim... minha espada... minha vida não foi em
vão. Eu consegui, mesmo que um pouco, avançar no pico onde você fica!”

No entanto, isso não foi elogio.

Shalltear estava apenas zombando dele.

Entretanto, ela poderia dizer que seus sentimentos foram honestos. Em outras palavras,
o homem estava realmente se alegrando por poder cortar uma unha.

Esse sujeito tem um parafuso a menos? Pensando nisso, ele disse um monte de asneiras
assim desde que apareceu. Ele é estranho, melhor matar ele de uma vez.

Com isso em mente, Shalltear se adiantou—

—Mas o chamado de Demiurge para a batalha chegou.

Shalltear sabia o que isso significava. Apesar de si mesma, ela olhou para a distância,
mas ela não conseguia sentir uma presença.

“Será o efeito do anel do meu Mestre...?”

Capítulo 11 Fim do Distúrbio, A Batalha Final


236
Um dos anéis que Ainz usava o ocultava completamente de todos os tipos de magia do
tipo adivinhação. Era normalmente emitido para todos os guardiões, mas também po-
deria apagar a presença do soberano da Grande Tumba de Nazarick.

Com um sentimento de arrependimento por não ser capaz de sentir seu mestre, Shall-
tear virou a cabeça para trás, e notou que o humano com um parafuso a menos na cabeça
havia desaparecido.

Ah! Eu me esqueci completamente do esquisitão!

Depois de um rápido olhar ao redor, Shalltear descobriu que o homem havia lhe dado
as costas e estava pulando em direção a um beco. Aproveitou de sua momentânea dis-
tração para escapar.

Não há como um mero mortal escapar de mim! Se eu usar uma magia para desacelerar o
tempo, posso matá-lo antes que toque o chão!

Sem hesitar, Shalltear lançou sua magia:

“「Time Accelerator」!”

O mundo pareceu ficar denso e viscoso ao redor de Shalltear, ela se movia através dele
a velocidades incríveis, indo rumo ao lugar onde o homem pousaria. Enquanto descia,
ela observou a postura do homem saltando em lentidão glacial.

Embora não pudesse feri-lo diretamente enquanto a magia estivesse em vigor, ela ainda
poderia montar uma emboscada e fazer outros preparativos.

Como esperado. Melhor eu abrir meus braços para recebê-lo enquanto cai. Certamente,
um humano como ele ficará muito feliz em ser abraçado por uma beleza voluptuosa como
eu.

O canto da boca de Shalltear se curvou quando pensou na expressão que ela veria em
seu rosto. Quando seus pés tocaram no chão, pouco antes da magia terminar, ela sentiu
outra presença por perto.

—Quem são eles?

Era um jovem trajando uma armadura branca pura com um companheiro de aparência
mundana.

♦♦♦

Brain aterrissou no beco e olhou para trás, mas Shalltear não estava mais lá.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


237
Ela não me perseguiu? Não, tem algo errado, e se ela quiser que eu a leve para os outros
como da última vez?

Desde o princípio ele não tinha planejado fugir. Seus pensamentos tinham sido de que
seria mais fácil ganhar tempo para Climb e o resto se escapasse para um terreno mais
baixo.

Cada ação de Brain foi executada para que Climb escapasse. Foi por causa disso que ele
fez todo o misancene de fugir.

Mas enquanto corria, notou algo que não deveria estar lá. Era Climb e o ladino, que ace-
navam para ele.

Será que—

A mente de Brain se encheu de emoção — intensa raiva e frustração.

Com seu rosto distorcido pela fúria, ele atacou os dois, agarrou-os pelo colarinho e con-
tinuou correndo. Isso era obviamente mais lento do que apenas correr sozinho, mas
Brain não estava calmo o suficiente para ter considerado isso.

Depois que correram por alguma distância, após verificar repetidas vezes atrás para se
certificar que Shalltear não estava em seu rastro, ele bateu Climb contra uma parede
próxima. Por Brain estar alarmado e sem controle de sua força, Climb praticamente qui-
cou.

“Por quê, hein!? Por que não fugiu!!?”

Embora suas emoções estivessem a ponto de transbordar, Brain ainda tinha bastante
presença de espírito para não gritar em voz alta.

“Mas... é quê...”

Brain agarrou Climb novamente.

“O quê!? Tava preocupado comigo, é!? Eu disse com todas as letras pra sumirem daqui!”

“Calma, calma, calma aí. Eu não sei o que houve, mas você só disse umas coisas e subiu
no telhado. O Climb-kun não tem culpa!”

Depois de ouvir as palavras do ladino, Brain começou a se acalmar. Era verdade que ele
não explicou nada. Ele se forçou a respirar fundo.

“...Desculpa aí, Climb-kun. Meio que perdi o controle.”

“Ah, não, o senhor deve me perdoar também, por não dar atenção às suas palavras.”

Capítulo 11 Fim do Distúrbio, A Batalha Final


238
“Não, a culpa foi minha mesmo. É sério, sinto muito. As coisas simplesmente... aconte-
ceram.”

“...Hey, Unglaus-san, o que aconteceu? Não faz muito tempo que te conheço, mas parece
outra pessoa, tipo um novato que acabou de pegar a espada.”

“Não dá pra ficar aqui, é muito perigoso. Eu explico quando for seguro. Digamos que eu
encontrei um monstro que poderia dar trabalho pro Sebas-san.”

Os três se moveram cautelosamente. Poderia ter sido pura sorte que eles não tivessem
encontrado os subordinados de Jaldabaoth enquanto fugiam, mas contar com essa sorte
para continuar só resultaria em caos.

“Então... não está ferido, então conseguiu vencer o monstro? Ou... conseguiu resolver
apenas conversando?”

“Que nada. Eu saquei a minha espada e... eu cortei a unha dela.”

Brain estava cheio de alegria quando disse isso. Não havia erro nisso — ele, Brain Un-
glaus, havia cortado a unha do monstro Shalltear Bloodfallen.

“Eu cortei a unha dela...!”, repetiu Brain. Ele estava tentando o seu melhor para contro-
lar a alegria transbordante que brotava das profundezas de seu coração, mas mesmo
assim, ele estava praticamente tremendo de emoção.

“S... sei. Cortou a unha... acho que fazer isso com uma espada é bem impressionante...”

O ladino acenou a cabeça um pouco consternado.

“...A unha pertencia a alguém no mesmo patamar do Sebas-sama. Não acha que isso é
ser muito forte?”

“É por isso? Como esperado de Brain Unglaus...!”

Brain se esforçou para conter sua excitação pueril enquanto era elogiado. Ele balançou
a cabeça para banir essas idéias tolas.

“Climb-kun— não, Climb. Depois de ver o Sebas-sama em ação, sabe como é, não sabe?
Pra cada canto que olhar, vai ter alguém mais forte. Até mesmo Momon o Negro, já deve
ter alcançado o nível do Sebas-sama também. Então vê se não se esqueça disso, quando
eu digo que é pra você fugir, você foge. Não pense em me ajudar, pois só vai atrapalhar.
Me prometa que da próxima vez, não invente de me questionar, apenas obedeça.”

“En... entendi.”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


239
“Assim é melhor. Você serve a Princesa, não é? Por causa disso, conseguiu suportar a
intenção assassina do Sebas-sama, não foi? Então, não se esqueça das suas prioridades.”

Brain deu um tapinha no ombro e olhou para a direção de onde haviam fugido.

Por que ela não me perseguiu? Deve haver um motivo pra isso. Eu realmente não esperava
ver ela aqui. Será que foi por causa do distrito do armazém?

Brain se lembrou das palavras de Renner.

Será que ela tá procurando o mesmo item que o Jaldabaoth? Se for isso, então ela é uma
das agentes de Jaldabaoth?

Já que um monstro como Shalltear apareceu, a única coisa sensata a fazer seria aban-
donar a missão e fugir imediatamente, mas Climb aceitaria isso? Já que tinha ouvido a
bronca de Brain, ele provavelmente seguiria seu conselho e escaparia.

Será que é o certo?

Era bom senso se preocupar com a segurança de Climb, mas às vezes as pessoas prefe-
riam colocar suas vidas em perigo por outra coisa, a ordem de Renner nesta missão sui-
cida praticamente isso.

Brain não sabia que tipo de vida Climb tinha vivido antes de ganhar sua posição, ou
como tinha servido a Princesa Dourada desde então. Mesmo assim, não achou que seria
prudente interferir desnecessariamente na determinação de Climb em cumprir as or-
dens de Renner.

Brain chamou o ladino para um canto, só falou com ele depois de ter certeza que Climb
não podia ver ou ouvir a conversa.

“Ei, acha que foi uma boa idéia trazer o Climb aqui? Não seria melhor garantir que ele
volta pra casa em segurança, em vez de completar a missão?”

“...Você é um grande coração mole, né?”

“Não fala besteira. Você é o único que se ofereceu pra ajudar nessa missão suicida, o
verdadeiro coração mole aqui, é você.”

O ladino riu sem graça e depois olhou para o confuso jovem que os encarava.

“Bem, como devo dizer... ver um rapaz jovem assim lutar tanto, me fez lembrar dos dias
em que eu era ainda jovem, mesmo que por um momento. Acho que entendo seu lado,
por trazer esse assunto. Mas ainda assim...”

Os olhos do ladino brilhavam com uma convicção aguçada:

Capítulo 11 Fim do Distúrbio, A Batalha Final


240
“Foi o caminho que ele escolheu. Não temos o direito de interferir nisso.”

Brain suspirou.

“Eu gostei do garoto, sabe? Depois de lutarmos juntos, ver o brilho nos olhos dele, eu
meio que sei o que ele sente pela Princesa. Ele é inacreditável. Ele tem um desejo sincero
e infantil. Exatamente por isso que eu, como um ladino... quero ver se ele vai conseguir
ter o tesouro mais valioso do Reino.”

“É bem isso. Mesmo que ele morra, ele vai morrer fazendo o que quis.”

Com isso, Brain se decidiu e concluiu:

“Então, é melhor seguir em frente. Não sei quando a Shalltear pode nos alcançar.”

Parte 2

5º Dia do mês Baixo Fogo (9º mês) - 03:38

Os últimos aventureiros passaram pela barricada e foram para a retaguarda. O grupo


de guardas pelo qual passaram tinham sido ordenados a manter a posição até que as
feridas dos aventureiros pudessem ser curadas.

Uma vez que os aventureiros passaram pela abertura da barricada, ela foi imediata-
mente preenchida novamente com tábuas e outros entulhos.

Ninguém mais permaneceu na frente da barricada. Agora só restava a linha de frente.

Olhando para trás, os guardas puderam ver os aventureiros em farrapos enquanto man-
quejavam para a retaguarda. Rasgos feitos por garras e marcas de queimadura adorna-
vam suas armaduras, assim como os respingos de sangue fresco.

Mais atrás estava a muralha de fogo que ardia ao fundo. Eles haviam penetrado cerca
de 150 metros em território inimigo. De fato, a julgar pelo pavor que a capital outrora
familiar inspirava neles, parecia um mundo estranho e sinistro; indubitavelmente um
território inimigo.

Os aventureiros passaram tempo desmantelando as casas ao redor e removendo partes


delas para formar uma barricada. Os guardas pensaram que seria um obstáculo útil, mas
agora parecia trivial e insignificante. Parecia que desmoronaria ao primeiro sinal da
pressão inimiga.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


241
“Vai ficar tudo bem. Os demônios não perseguiram os aventureiros. O inimigo escolheu
não atacar, estão apenas reforçando a defesa. Não se preocupem. Eles não vão atacar.”

Alguém estava repetindo essas palavras novamente. Eram ditas para mascarar sua an-
siedade e incorporavam o desejo de voltar para casa vivo. Ele repetiu sua oração ao seu
deus.

Havia 45 homens cuidando da barricada. Eles empunhavam longas lanças e usavam ar-
maduras de couro. Entre eles estava um homem de elmo, Bona Ingre. Ele foi um dos
vários capitães da guarda mobilizados hoje à noite.

Embora tivesse o título de Capitão, na verdade ele não era diferente dos outros guardas.
Seu físico não era nada especial, muito menos seu intelecto. Os guardas mais jovens eram
mais fortes e mais rápidos que ele. Bona havia chegado a essa posição simplesmente
porque tinha servido como guarda até os 40 anos e não havia ninguém mais para preen-
chê-lo.

Seu rosto estava pálido e suas mãos apertavam sua lança com tanta força que as pontas
de seus dedos ficaram brancas. Olhando de perto, podia-se ver que suas pernas estavam
tremendo. Seu olhar estava fixo apenas porque não queria ver algo horrível. Sua postura
totalmente instável só aumentou ainda mais o desconforto dos guardas.

Mas isso era de se esperar, considerando que esta foi a primeira vez que suas vidas
realmente estavam em jogo em uma batalha.

O Reino e o Império guerrilhavam todos os anos, enviando tropas para as Planícies


Katze. Mas os guardas que recebiam a tarefa de proteger a cidade não seriam enviados
para os frontes. Por causa disso, a posição como guarda da cidade era cobiçada por aque-
les cidadãos que não queriam lutar contra o Império. Mas agora—

Eles tinham ampla experiência em lidar com brigas de plebeus bêbados, mas nunca
houve um caso em que tivessem que lutar até a morte. Por causa disso, o medo deles
cresceu ainda mais. A única razão pela qual não caíram em debandada foi porque sabiam
que fugir seria um pecado imperdoável.

Mesmo que fossem perdoados, eles ainda seriam culpados de não proteger a cidade
apropriadamente. Se falharem nessa missão, então certamente seriam forçados a entrar
no fronte durante a próxima guerra com o Império.

“Eu vou largar esse trabalho de guarda assim que isso terminar.”

Bona resmungou para si mesmo, mas muitas das pessoas ao seu redor concordaram.

“Ainda se lembra do que os aventureiros disseram?”

Capítulo 11 Fim do Distúrbio, A Batalha Final


242
“Sobre terem encontrado Hellhounds, Greater Hellhounds, Gazer Devils e Demon
Swarms?”

“Isso mesmo. Alguém sabe como lutar contra esses demônios? Falo dos pontos fracos,
o que ferra eles, essas coisas.”

Ninguém respondeu; eles estavam ocupados demais olhando uns para os outros.

A expressão de Bona transmitia o quão inútil eram sem ter que dizer uma palavra.
Quando viu insatisfação em alguns dos outros rostos, ele desviou o olhar e bateu a ponta
de sua lança no chão.

“Porra! Esses aventureiros não poderiam explicar melhor?”

Os aventureiros que haviam compartilhado seus conhecimentos com os guardas ti-


nham sido gravemente feridos e estavam recuando o mais rápido que podiam. Dada a
situação, dizer-lhes o nome do inimigo foi tudo o que puderam fazer e, esperar explica-
ções de como se pareciam ou como combatê-los, seria esperar demais.

Então seria um exagero culpar os aventureiros por essa situação. Não havia comunica-
ção adequada entre os guardas e os aventureiros e, como resultado, a quantidade de in-
formação que estava sendo compartilhada era baixa. De fato, formar a linha de defesa
com guardas mal informados era culpa de seus superiores também. Além disso, nem to-
dos os guardas estavam desinformados sobre os demônios. Em circunstâncias diferen-
tes, alguns deles podem ter aprendido algo sobre o inimigo.

Um desses pelotões de guardas enviou alguns de seus membros para ajudar os aventu-
reiros a recuarem e aprenderam muito no processo.

Este grupo, porém, não o fez pois seu líder estava paralisado de medo e nem mesmo se
virara para olhar os aventureiros em retirada, e certamente não queria diminuir a quan-
tidade de tropas que guarneciam a barricada em prol de ajudar os aventureiros.

“Fazemos o mesmo trabalho, mas eles ganham mais do que nós! Deveriam lutar até não
aguentarem mais! Até que morressem!”

Vários homens assentiram enquanto Bona gritava.

“Nossas vidas estão em risco também! Esses caras não deveriam fugir e deixar tudo nas
nossas costas!”

Bona vociferou para os guardas próximos. Os que estavam mais afastados olhavam fri-
amente para ele, enquanto os mais próximos a ele gritavam seu descontentamento com
os aventureiros também.

“Eles estão aqui!”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


243
Ao som das vozes dos vigias, Bona parecia ter sido sufocado.

A visão de todos fôra preenchida com as formas dos demônios que avançavam pela rua
escura.

À sua frente estava um demônio que parecia um cruzamento entre um homem e um


sapo. Sua pele era de um amarelo miasmático, cintilando com um revestimento pegajoso
e brilhante. Seu corpo estava coberto de enormes protuberâncias que pareciam rostos
humanos tentando sair de dentro de sua pele.

Uma boca, que podia engolir um homem de uma só vez, se abriu e uma língua anormal-
mente longa começou a saborear o gosto do ar.

Em volta estavam Hellhounds, esperando por suas presas.

Depois disso, havia demônios que pareciam um ser humano que havia sido esfolado e
sua musculatura exposta pintada com algum tipo de líquido preto viscoso.

Havia 15 cães, um demônio de corpo inchado coberto de rostos e seis dos demônios
esfolados.

“São muitos!” Bona gritou como o soar de um sino. “Não podemos detê-los! Corram!”

“Droga!” veio a resposta furiosa. “Cala a boca, caralho!”

Ignorando os lamentos de desespero de Bona, os guardas olharam para seus compa-


nheiros, tensionando seus rostos.

“Escutem! Só precisam espetar eles! Nosso trabalho não é matá-los! É ganhar tempo!
Não é difícil! Vamos conseguir!”

Nós podemos fazer isso. Algumas pessoas repetiram esse grito e, em seguida, foi conti-
nuado por outros.

“Claro que podem! Em posição!”

Até mesmo os guardas com rostos aterrorizados agarraram suas lanças e entraram em
suas fileiras.

“Você vem ajudar também!”

Alguém agarrou Bona e o arrastou para o seu lugar. Não havia tempo para brincar.

As bestas demoníacas uivaram e começaram a derrubar a barricada sem demora. As


lanças dos guardas golpeavam-nas entre as lacunas cada vez maiores na barricada.

Capítulo 11 Fim do Distúrbio, A Batalha Final


244
Os gemidos de dor dos Hellhounds se elevaram. As bestas demoníacas que não haviam
sido perfuradas fugiram às pressas da barricada. Elas uivavam tristemente enquanto a
rondavam, como se avaliassem a situação.

Alguns dos guardas mais distintos empurraram suas lanças através das fendas nos
Hellhounds mais próximos, o que os afastou.

Lentamente, os rostos dos guardas começaram a se animar.

Os demônios mais ao fundo tinham sorrisos repugnantes em seus rostos, os guardas


ficaram desconfortáveis ao vê-los, pois não sabiam das intenções dos demônios. No en-
tanto, deixar o tempo passar traria benefícios. Afinal, o trabalho deles não era derrotar
os demônios.

“M-mas que mer—!?” Um guarda solitário gritou enquanto observava o que estava
acontecendo na frente dele.

O inimigo havia formado uma fileira reta, pouco além do alcance das lanças.

Isso foi completamente diferente da abordagem ferina de agora. Os guardas começaram


a ficar apreensivos. Se soubessem o que os Hellhounds estavam fazendo, talvez pudes-
sem ter mudado sua formação ou feito algo a respeito. Mas tudo o que podiam fazer era
enfiar suas lanças entre as aberturas.

Mas justamente quando pensaram que era tudo o que teriam que fazer, as bestas de-
moníacas abriram suas bocarras, tão amplamente que parecia que elas estavam deslo-
cadas. Vermelho ardente dentro de suas gargantas ficou à mostra.

Jatos de chamas carmesim dispararam simultaneamente na barricada, engolindo tudo


em chamas. Os olhos do guarda não conseguiam ver nada além de vermelho.

Embora o fogo fosse intenso, não era forte o bastante para desintegrar as barricadas
em poucos segundos. Isso não fez muita diferença para os guardas do outro lado, no en-
tanto.

Gritos eclodiram ao redor. Alguns tiveram seus olhos queimados, outros tiveram seus
pulmões e esôfago queimados devido à inalação das chamas. No final, todos caíram como
moscas. Os únicos guardas que sobreviveram foram os que estavam nas laterais, porque
os que estavam no centro não estavam respirando depois de serem consumidos pelo
fogo.

“N-não dá!”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


245
As palavras que ninguém queria dizer escaparam da boca de Bona. Seus movimentos
posteriores foram notavelmente rápidos, quando ele jogou a lança no chão e descartou
seu elmo, tudo para deixá-lo fugir mais rápido.

Os guardas restantes ficaram aturdidos. Eles haviam pensado em recuar, é claro, mas
nenhum deles fugiu com agilidade tão incrível quanto ele.

Bona correu tão rápido que era até dificil de acreditar que um humano conseguiria o
alcançar. Os guardas sobreviventes olharam boquiabertos enquanto as costas de Bona
se desvaneciam na distância.

No entanto, sua fuga foi abruptamente interrompida por um demônio caindo do céu.

O demônio de corpo inchado voou sem asas e aterrissou diretamente nas costas de
Bona, fazendo um ruído estridente como o quebrar de galhos secos.

Bona gritou de dor. Embora pudesse tê-lo matado facilmente, o demônio não o fez. Mas
é claro, isso definitivamente não foi um ato de misericórdia.

O demônio abriu a boca e engoliu Bona de uma só vez. Sua ampla barriga dificilmente
mudara mesmo quando o ingeria— não, havia uma nova protuberância, com as feições
de um rosto humano.

Embora fosse difícil dizer, parecia que pertencia a Bona.

Mesmo quando o som da barricada sendo derrubada atingiu seus ouvidos, os guardas
não se mexeram. Por mais que fosse um obstáculo — quando se tratava de enfrentar
demônios —, era pouco mais que uma pilha de palitos de fósforo.

Os demônios que atravessaram a barricada cercaram os guardas. Um grito estrangu-


lado veio deles, pois sentiam que morreriam aqui.

Em resposta, o escárnio dos demônios soou alto, zombando da tolice dos humanos.

Um dos guardas olhou para o céu, clamando por seu deus para salvá-lo. Em vez disso,
ele viu algo bizarro no céu noturno.

Ele viu um grupo de pessoas de aparência estranha voando em direção a eles em alta
velocidade. Duas dessas pessoas estavam segurando um terceiro, que usava uma arma-
dura preta. Ele estava envolto em uma capa carmesim e carregando uma espada gigan-
tesca em cada mão.

“Me jogue!”

Embora parecessem longínquos, a voz continuava límpida à distância.

Capítulo 11 Fim do Distúrbio, A Batalha Final


246
Seus suportes aéreos o soltaram ao comando. O guerreiro negro pegou velocidade,
como se impulsionado por alguma forma desconhecida, traçando uma trajetória descen-
dente que terminou no meio da rua. Ele deslizou pelo chão como se não houvesse fricção,
só conseguindo frear depois de cortar a cabeça de um Hellhound em seu caminho.

Os dois lados pararam para assistir à entrada escandalosamente dramática. O silêncio


foi ensurdecedor.

“Eu sou Momon, o aventureiro. Recuem. Eu assumo daqui.”

A princípio, os soldados não conseguiram compreender o que o guerreiro envolto em


escuridão acabara de lhes dizer. Então, os uivos de vários Hellhounds os trouxeram de
volta à realidade. Ele era o salvador que eles precisavam.

“Hellhounds... apenas esses? Mesmo o dobro não seria o bastante!”

Os Hellhounds saltaram para o guerreiro negro, Momon, de todos os lados. Em segun-


dos, eles o haviam envolvido, cercando-o sem deixar escapatória.

Mesmo que ele tentasse bloqueá-los com a espada, ele seria dilacerado pelos
Hellhounds ao redor. Mesmo que tentasse afastá-los, ele ainda seria atacado até o fim
pelas bestas restantes. Ser atingido por uma investida de Hellhounds quebraria seu equi-
líbrio e o deixaria incapaz de se defender contra os ataques subsequentes.

Uma estratégia brutal que tirava proveito dos números superiores para vencer.

A angústia no rosto dos guardas era natural, mas nenhum deles sabia de seu verdadeiro
poder.

A espada cortou e um vento poderoso seguiu seu rastro.

Todos os presentes estavam sem palavras.

Esse foi um único manejo de sua lâmina. Uma pessoa normal só seria capaz de derrubar
um cão no máximo. No entanto, assim como o portador da espada não era um mero hu-
mano, esse golpe não era algo que um mero humano pudesse fazer.

Esse único golpe exterminou quatro dos Hellhounds que os guardas sequer tinham es-
perança de derrotar.

Momon usou o impulso de seu golpe para se virar, ele perdeu um pouco o equilíbrio por
ter usado força demais. Ainda restavam outros Hellhounds, e agora parecia impossível
evitar seus ataques.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


247
Embora usasse uma armadura robusta, os Hellhounds tinham dentes afiados e garras
capazes de rasgar o aço. E não haveria maneira de sobreviver ileso depois de ser atacado
por muitos.

Nos olhos da guarda, só viam o aventureiro que veio para salvá-los sofrendo inúmeras
feridas.

No entanto, foi uma miragem nascida da presunção.

Momon não tentou forçar a recuperação do equilíbrio, mas virou-se com o ímpeto. A
capa carmesim ondulou como um ciclone de fogo. Com passos graciosos que quase pa-
reciam de uma dança, Momon pisou suavemente no chão, enquanto suas espadas gira-
vam cortando horizontalmente da esquerda para a direita, zunindo enquanto avançava.

Os Hellhounds restantes ficaram dispersos, seus corpos eram lançados ao longe dado o
tamanho poder a qual eram cortados. Todos os Hellhounds que ainda podiam se mover
tinham corrido para longe.

“Apenas... apenas dois golpes?”

A murmuração de um guarda representava as palavras em seus corações. Ou melhor,


depois de ver a excelência dessa exibição, eles não tinham mais nada a dizer.

“E agora... um Overeating e Gazer Devils, huh. Oponentes insignificantes.”

Depois de resmungar para si mesmo, Momon avançou para os demônios. Não havia
cautela ou cuidado em seus passos. Era como se ele estivesse passeando em um parque.
Tipicamente, os guardas gritariam pedindo para que parasse, mas depois de ver sua des-
treza, ninguém conseguia nem pensar em fazer isso.

A única coisa que os meros mortais podiam fazer era observar as costas de um grande
guerreiro enquanto exercia sua maestria.

Incapaz de suportar a pressão invasiva que vinha do homem que se aproximava tão
[ D i a b o s Contempladores]
casualmente, os Gazer D e v i l s rugiram e saltaram sobre ele.

Houve um lampejo.

As partes desmembradas de seus cadáveres voaram em todas as direções.

Momon não havia diminuído seu ritmo nem por um segundo sequer. Ele continuou an-
dando, como se os Gazer Devils nunca tivessem existido, ele andava sem nada para im-
pedi-lo.

“...Incrível...”

Capítulo 11 Fim do Distúrbio, A Batalha Final


248
[ C o m i l ã o ]
Como se reagindo às palavras dos guardas, o Overeating abriu sua bocarra. Era como
as mandíbulas das cobras que poderiam se deslocar e engolir a presa inteira. Em suas
profundezas, podia-se ver o trepidar de chamas. Feições de tormento e desespero se in-
tensificaram nos rostos das protuberâncias de sua pele, eram como os lamentos de al-
mas condenadas a um destino pior que a morte.

O Overeating poderia consumir as almas de suas vítimas para produzir um lamento que
aterrorizaria e mataria qualquer criatura viva.

No entanto, antes disso, sua cabeça havia sido cortada.

A espada lançada fincou em seu corpo quando a cabeça caiu no chão.

“Não há problema se o matar antes que comece a lamentar.”

Com isso, Momon se aproximou e tirou a espada do cadáver.

Em poucos segundos, ele exterminou os demônios que os guardas julgavam impossí-


veis de derrotar.

Os guardas o ovacionaram. Foi o alegre som de homens que recebiam a dádiva da vida
mais uma vez.

Embora banhado em louvor, Momon não se deixou levar, em vez disso, falou calma-
mente para os guardas.

“...Depois daqui, vou me mover para liderar o contra-ataque dos aventureiros. Vocês
precisam manter esse fronte um pouco mais. Bem, agora que já tirei esses caras, a pró-
xima onda vai demorar um pouco. Nabe, Evileye, podem vir me pegar agora.”

As duas magic caster desceram do céu para pegar Momon. Ao ser carregado para o céu,
Momon virou-se para dizer uma última coisa aos guardas:

“Derrotarei o líder inimigo. Até lá, tudo que peço é que protejam os civis. Eu estou con-
tando com vocês.”

Enquanto assistiam Momon ir embora pelos ares, os guardas suspiraram.

Depois do que aquele herói lhes dissera, ninguém poderia reclamar de defender essa
área com suas vidas.

“Ei! Vão pegar barreiras! Precisamos nos aprontar para impedir o avanço do inimigo!
Deixem o resto para depois!”

♦♦♦

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


249
5º Dia do mês Baixo Fogo (9º mês) - 03:44

Lakyus estava à frente da equipe de assalto formada por aventureiros mythril e orichal-
cum. Tina a ladeava e juntas avançaram.

Antes de partir, Lakyus ponderou atentamente sua posição. Qualquer um que pudesse
usar a magia de ressurreição não deveria estar nas linhas de frente. No entanto, a ausên-
cia de Lakyus levaria a uma queda enorme no poder de combate. Como a prioridade era
levar Momon a salvo para Jaldabaoth, era lógico que Lakyus não ficasse na retaguarda.

Eles evitavam a rota que Momon havia tomado, ao invés disso, escolheram uma que os
levariam a uma barricada gerenciada por guardas. Tudo o que viram no caminho foram
ruas tingidas de sangue, com pedaços de carne rasgada espalhados por toda parte. É
claro que a barricada havia sido destruída com tal intensidade que não havia sinal de
que alguma vez existira.

Para não fazer muito barulho, os aventureiros formaram um grupo e seguiram em


frente. No entanto, depois de apenas 30 metros de avanço, eles viraram uma esquina e
foram cercados por demônios.

No início da batalha, os aventureiros, com sua alta capacidade de combate pessoal, des-
frutavam de uma enorme vantagem em combate.

Gradualmente, porém, o equilíbrio de poder começou a mudar. Isso porque seus opo-
nentes tinham uma vantagem numérica que sobrecarregava as proezas dos aventureiros
em combate individual. Seus números eram tão grandes que parecia que todos os demô-
nios da área haviam convergido para eles.

“Não recuem! Continuem lutando!”

Lakyus gritou enquanto lançava sua magia de apoio ao grupo. É claro que nenhum dos
aventureiros se retiraria. Eles sabiam o quão importante esta batalha era.

Em contraste com a tarefa de Evileye, que era eliminar a escória que tentava entrar no
caminho de Momon, a tarefa deles era pressionar os demônios e impedi-los de se espa-
lharem.

Nesse sentido, lutar contra tantos demônios de frente foi, de certo modo, o maior apoio
dado a Momon. Quanto mais tempo lutassem aqui, maiores seriam as chances de vitória
de Momon.

Gritos de guerra e a colisão de aço ecoavam, o som de magias sendo lançadas e habili-
dades especiais sendo usadas — assim como o sopro flamejante queimando corpos hu-
manos — formavam uma orquestra de caos.

Capítulo 11 Fim do Distúrbio, A Batalha Final


250
Depois que Lakyus confirmou a situação, seu cenho se contorceu. As palavras de um
certo aventureiro ficaram presas em sua mente.

“Os demônios se tornaram mais fortes.”

Será que abriram um portal para o mundo dos demônios e convocaram demônios ainda
mais poderosos? A muralha de fogo era a fronteira entre este mundo e o outro? O que acon-
tecerá se ninguém impedir isso? Mesmo que consigam derrotar o Jaldabaoth, a capital terá
paz de novo? Isso tudo será em vão?

“Não faz sentido pensar nisso!”

Enquanto gritava, as incontáveis preocupações de Lakyus se dispersaram.

Se ela não tentasse, nunca saberia. Por essa razão, Lakyus desembainhou a espada.

“Disparar!”

Uma das Floating Swords pairando em seus ombros se alçou e disparou ao seu comando.
Com uma velocidade que dividia o ar, perfurou um Hellhound saltitante pela boca, des-
truindo-o sem nem mesmo deixar um cadáver para trás.

Olhando em volta, Lakyus percebeu que estavam cercados. O avanço que acabara de
começar havia parado e, uma vez que estavam cercados por múltiplas camadas do ini-
migo, não teriam sequer chance de respirar. Não havia nada a fazer além de lutar.

A vanguarda deixou de lado suas armas quebradas e sacou suas peças de reposição. Os
magic casters que tinham ficado sem mana usavam seus pergaminhos ou varinhas para
conjurar suas magias. Eles estavam esgotando seus recursos.

O anel externo de aventureiros era de nível orichalcum, enquanto os mythrils defen-


diam os feridos no meio e os magic casters já estavam sem mana.

Isso é ruim... se durar tempo demais, será o nosso fim. Ainda não conseguiram? Ainda não
derrotaram o Jaldabaoth?

Um grito ecoou e, quando Lakyus virou a cabeça, ela viu um guerreiro que havia sido
nocauteado por um demônio.

“Tch!”

Antes que Lakyus pudesse se mover, Tina estava atacando o demônio, preenchendo a
lacuna que havia sido formada.

O guerreiro caído foi levado por outros aventureiros. Era bom que ele estivesse vivo,
mas a situação ainda era péssima. O fato de que ninguém estava lançando magias de cura

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


251
era um sinal claro de que a mana dos sacerdotes, que usavam magia divina, estava com-
pletamente esgotada.

Precisamos recuar...

As linhas estavam se fragmentando, seriam engolidos em um instante. Lakyus não po-


dia deixá-los morrer assim. Ela considerou o que poderia acontecer se Momon fosse der-
rotado e traçou planos para agarrar as rédeas da situação.

Recuar enquanto estiver completamente desgastado seria extremamente difícil. Seria


melhor recuar enquanto ainda tivessem em condições de fazê-lo.

“Recu—!”

Assim que Lakyus estava prestes a dar a ordem de recuar, ela ofegou quando um novo
demônio desceu do céu.

Tinha cerca de três metros de altura e seu corpo musculoso estava coberto de escamas
reptilianas. Tinha uma cauda que lembrava uma cobra.

Sua cabeça era um crânio de cabra e seus olhos eram lanternas de fogo branco-azulado
em órbitas negras vazias.

Em seus braços pêndulos havia uma grande marreta.

Asas de morcego se abriram de suas costas. Com um bater de asas, enviou uma rajada
de ar gelado; era uma onda de terror destruidora de almas. Embora resistissem graças
aos efeitos de uma magia de resistência ao medo, essa foi uma clara demonstração do
poder desse demônio, que era mais forte do que qualquer outro que haviam encontrado
até agora.

Todos suavam frio.

“—Isso é muito ruim.”

Com a mana cheia e os grupos de aventureiros em plena força, eles provavelmente te-
riam sido capazes de triunfar. Se pelo menos pudessem aprender mais sobre seu opo-
nente e deixar a luta para mais tarde, eles definitivamente teriam triunfado, mas agora,
nenhuma dessas condições estava à sua disposição. Evileye, que era muito conhecedora
e versada em poderosas magias, não estava aqui. Gagaran, que poderia defender-se dos
golpes de seu oponente e imediatamente pressionar a vantagem para contra-atacar, não
estava aqui. Tia, que poderia evadir habilmente os ataques de seus inimigos e atacá-los
com seu ninjutsu, também não estava aqui. Só haviam duas, e mesmo assim estavam
exauridas.

Capítulo 11 Fim do Distúrbio, A Batalha Final


252
Ela olhou para Tina, que acenou para mostrar que estava pronta para morrer. Lakyus
fechou as duas mãos ao redor do punho da Kilineiram e começou a andar em direção ao
demônio. Neste momento, um aventureiro orichalcum agarrou seu ombro e gritou.

“A gente distrai ele! Você deve escapar!”

Vendo o olhar de surpresa no rosto de Lakyus, ele continuou falando:

“Enquanto estiver viva, pode usar a magia de ressurreição. Precisa voltar com vida a
todo custo. Esperamos que ressuscite a gente!”

O homem sorriu, sua expressão estava cheia de charme masculino. Era um sorriso que
se adequava a um aventureiro orichalcum como ele. Os aventureiros ao redor dele as-
sentiram concordando.

Quando se pensava calmamente a respeito, eles tinham razão. Em vez de se preparar


para morrer, ela deveria se preparar para viver, para que pudesse estender a dádiva da
vida para aqueles que cairiam em batalha.

“Os materiais pra uma magia de ressurreição são muito caros. Vai dar um descontinho?”

“Ei, você não disse que seria o orgulho da Princesa?”

“Que os malditos nobres paguem por isso! Dinheiro eles têm de sobra!”

E assim, como se estivessem indo para um piquenique, vários aventureiros saíram do


amontoado grupo. Não houve discussão, nem mesmo troca de olhares — eles simples-
mente saíram em perfeita sincronia para ficar diante do demônio.

Vendo a maneira despreocupada como partiram para a morte, Lakyus mordeu o lábio
e se virou.

“Rompam a linha inimiga com tudo que tiverem! Contanto que escapem, tudo ficará
bem!”

Com isso, Lakyus atacou as hordas demoníacas, levantando a Kilineiram em suas mãos.
Ela confiou sua defesa inteiramente à sua armadura e magia. Abandonando a linha de-
fensiva quase quebrada, ela se preparou para traçar um caminho carmesim através dos
demônios.

Parecia que estava sendo dilacerada em pedaços, sua carne perfurada por adagas, for-
çando Lakyus a cerrar os dentes contra a dor que a acometia. De um ponto de vista iso-
lado, ela sabia que seu corpo estava chegando ao limite, então lançou uma magia silen-
ciosa de cura. Embora Lakyus tivesse que sobreviver a esse encontro, ela não poderia
fazê-lo sem se esforçar ao máximo.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


253
“Haaaaaaah!”

Lakyus canalizou a maior parte de sua mana remanescente para a Kilineiram. As estre-
las em seu corpo começaram a brilhar com um esplendor sobrenatural, e o corpo da
lâmina também dilatou.

“Super técnica! 「Dark Blade Mega Impact」! “

Com um ataque cortante horizontal, o poder negro floresceu em uma onda vasta e cor-
tante. Os demônios de baixo nível foram reduzidos a átomos pela massiva explosão de
energia não-elemental.

Estritamente falando, dizer o nome do ataque não era necessário, mas já que mal algum
faria, então não havia motivos para não falar. Contudo—

“Ainda... não foi o bastante!?”

Os olhos cansados de Lakyus só podiam ver um verdadeiro paredão de demônios de


baixo nível. Embora ela tivesse acabado de explodir muitos de uma só vez, a brecha que
ela fez foi imediatamente preenchida de volta.

Será que vou conseguir? O mal-estar de Lakyus começou a crescer novamente. A Kilinei-
ram retornou à sua dimensão original.

Neste momento, Lakyus viu algo brilhando atrás dos demônios— era um traço de luz
metálico seguido pelo rugido da voz de um homem.

“—《Corte de Luz Sêxtuplo》!”

Os seis cortes simultâneos dividiram as hordas de demônios.

“《Corte de Luz Sêxtuplo》! 《Fluxo Acelerado》! Hrgh!”

Outros sete demônios foram cortados como faca quente na manteiga. Tamanha agudeza
a fez pensar na Razor Edge, a espada que poderia cortar qualquer coisa. Os demônios
restantes ficaram aturdidos.

“Matem todos!”

Em sincronia com seu grito vigoroso, lanças surgiram de trás de Gazef.

Não havia como confundir o brilho daquele metal. Incontáveis lanças foram brandidas
de trás de Gazef. Eram a Guarda Real e os cavaleiros que defendiam o Palácio Real, uma
força de centenas de soldados pareciam inundar a viela.

Capítulo 11 Fim do Distúrbio, A Batalha Final


254
Vendo que eles estavam em desvantagem superior a dois para um, o cerco da horda de
demônios começou a hesitar.

Gritos de alegria toaram e os aventureiros surrados começaram a recuar, os soldados


forneciam a cobertura que precisavam.

“O quê— Stronoff-sama está fazendo aqui?”

Ele não deveria estar protegendo o Palácio e a Família Real?

Como se em resposta às dúvidas de Lakyus, seu rosto virou em uma determinada dire-
ção.

A linha de visão de Lakyus seguiu a dele e seus olhos se arregalaram. Havia quatro sa-
cerdotes e quatro magic casters arcanos protegendo um velho. Sobre sua cabeça estava
a coroa que somente uma pessoa no reino podia usar. Seu corpo estava coberto com uma
armadura resistente.

Rei Ranpossa III.

Isso é perigoso demais

Embora seu corpo estivesse protegido por armaduras de placas, alguns ataques de de-
mônios poderiam facilmente perfurar o aço. Além disso, mesmo se estivesse protegido,
magias de efeito de área que sobrecarregassem seus protetores ainda poderiam preju-
dicar o Rei. Além do mais, o Rei era um humano comum, então provavelmente morreria
se fosse atingido por alguma magia. Mesmo se as magias de ressurreição pudessem ser
usadas nele, ele certamente seria incapaz de suportar o dreno de força vital.

“Sua Majestade assim declarou: Vocês estão protegendo este castelo sem vida, ou a mim?
Diante disso, só pode haver uma resposta para isso. Proteger o corpo do Rei é meu dever.
Sendo esse o caso, este é um campo de batalha onde devemos lutar! Avançar!”

Os soldados soltaram um grito agudo e trovejaram para a frente.

Seria violência contra violência, mas, justamente quando todos pensavam que a maré
havia virado, o corpo de um aventureiro orichalcum voou pelo ar, atingindo uma parede
próxima e deixando uma marca vermelha brilhante.

“OOOOOOHHHHHHGH!” Um demônio vociferou, como se dissesse “Venham para


mim”, os soldados ficaram sem reação.

Havia monstros que não podiam ser derrotados apenas por números.

“Stronoff-sama! Me dê uma mão!”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


255
“Claro.”

A voz que seguiu a resposta de Gazef fez os olhos de Lakyus se arregalarem.

“Hey, calminha aí. Não acha que precisa de uma guerreira incrível do seu lado?”

“E uma excelente ninja que será incrível também.”

Não havia como confundir essas vozes. Ainda assim, Lakyus gritou de surpresa, ainda
mal capaz de acreditar em seus ouvidos.

“Gagaran! Tia!”

As duas lentamente deram às caras. Elas estavam totalmente armadas e prontas para a
batalha.

“Yo. Fiquei meio enferrujada de tanto dormir, então pedi ao Stronoff-san pra me trazer
junto.”

“Podemos lutar.”

Não deveria ter sido assim. Ela já lhes havia dito que estavam proibidas de lutar logo
após serem ressuscitadas. Normalmente, seria necessário ter repouso absoluto e,
mesmo assim, ainda se sentiriam esgotadas. Mesmo assim, sabiam o quanto essa batalha
era importante, e por isso se juntaram à luta.

Reunir todas de novo foi o maior impulso que ela poderia receber.

Lakyus rezou com toda a fé em seu coração.

Ela rezou para que Momon derrotasse Jaldabaoth e se livrasse dos demônios na capital.

5º Dia do mês Baixo Fogo (9º mês) - 03:46

“Lá está ele.”

Olhando a frente, podia-se ver o demônio mascarado em pé no centro da praça, sem


fazer qualquer tentativa de se esconder. Embora não pudesse ver as formas de outros
demônios, Evileye não era tola o suficiente para pensar que não estavam lá.

Depois de notá-los se aproximando, Jaldabaoth deu meia-volta e curvou-se elegante-


mente. Só poderia haver um significado por trás disso.

“Uma armadilha... o que faremos, Momon-sama?”

“Não importa o que seja. Vamos destruir seja lá o que for.”

Capítulo 11 Fim do Distúrbio, A Batalha Final


256
“É isso aí.”

O tom de Momon não tinha mais a seriedade e floreios habituais, provavelmente porque
a viagem conjunta os tornara mais íntimos. Com isto em mente, Evileye também come-
çou a mudar para uma maneira mais casual de falar. Se ela continuasse escondendo seu
verdadeiro eu, quando fossem a um encontro, se cansariam um do outro rapidamente.
Então, mesmo que ainda fosse muito cedo para se abrirem completamente, tomar um
tom mais casual provavelmente seria uma boa idéia, isso segundo as conclusões de Evi-
leye.

“É, chegamos bem na hora.”

De trás, o som dos tambores e gritos de batalha soaram. A fim de garantir que Momon
pudesse lutar contra Jaldabaoth um a um, as tropas começariam seu ataque. Esta foi a
única chance que eles tiveram. Como tal, não havia outro meio de salvar a capital senão
derrotando Jaldabaoth.

“Ahh, parece que sim. Acho que é hora da batalha final. Momon-sama... Eu e a Nabe va-
mos cuidar dos outros inimigos. Deve focar toda a sua atenção na luta contra Jaldabaoth,
Momon-sama.”

“Entendido. Nesse caso, já que veio tão longe por mim, quando eu derrotar o Jaldabaoth,
espero que juntos possamos retornar triunfantes! Nabe, por favor, trabalhe com ela. Es-
pero que nós três retornemos juntos.”

“Entendido, Momon-san.”

Os três aterrissaram na frente de Jaldabaoth. Evileye olhou em volta e, de uma casa ao


lado da praça, apareceu uma empregada.

Ela usava uma máscara como a última vez que a viu, com uma expressão fixa. Mas Evi-
leye podia sentir o ódio dirigido a ela.

Deve haver mais delas.

Jaldabaoth já sabia quem era mais forte entre ela e a empregada inseto. Mas agora que
seu lado também tinha Nabe, uma magic casters se equiparável a ela, não havia como
Jaldabaoth dar as caras sem o auxílio de terceiros. Estaria ele planejando inundá-las com
demônios, ou havia outro subordinado de um nível comparável esperando nos bastido-
res? Ambas as possibilidades fizeram Evileye suar frio.

Além daquela empregada, mais pessoas com máscaras semelhantes a dela apareceram.

Todas usavam uniformes estranhos de empregada.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


257
E ela as numerou:

“...Mais quatro delas!?”

Havia um total de cinco pessoas com poder de luta comparável a ela. Dois contra cinco
seria uma grande diferença no poder. A batalha parecia invencível desde o início.

“Droga! Eu subestimei as forças de Jaldabaoth!”

Se isso acontecesse, elas seriam subjugadas por números absolutos, logo, as emprega-
das ociosas interfeririam no duelo de Momon e Jaldabaoth.

Em uma batalha equilibrada, até mesmo um pouco de apoio poderia fazer a diferença
entre vitória e derrota, assim como visto na batalha contra a empregada inseto.

“Deixarei as cinco para vocês.”

Dizendo isso, Momon agarrou suas espadas firme em mãos, caminhando naturalmente
em direção a Jaldabaoth.

Quando as costas dele diminuíram pela distância, o coração de Evileye se encheu de


tristeza. Se ao menos ela pudesse se afagar naquela capa vermelha ondulante, isso lim-
paria todo seu desconforto e frustração.

Evileye repreendeu a parte dela que queria estender a mão o chamando.

Ela tinha originalmente vindo aqui com a determinação de morrer. Mesmo que suas
adversárias fossem mais fortes do que o esperado, ela não poderia fazer nada tão vergo-
nhoso quanto implorar por ajuda. E as palavras anteriores de Momon claramente foram
um sinal do quanto confiava nela. Um homem como ele nunca seria insensível ou cruel.

Analisando o significado oculto das palavras, ele definitivamente disse algo nas entre-
linhas. Se Evileye e Nabe trabalharem juntas, elas definitivamente serão capazes de conter
o inimigo até eu ganhar, algo assim.

Um fogo ardia de dentro das profundezas do coração de Evileye.

“Então aqui vou eu, Demi— Demônio!”

Momon rugiu e atacou Jaldabaoth. Uma batalha feroz começou. A fim de impedir que as
outras duas fossem atraídas, Momon pressionou Jaldabaoth, forçando-o a se afastar len-
tamente.

“Então, eu cuido daquelas três, você fique com aquelas duas, que tal?”

“Tem certeza? Não me importo se forem três.”

Capítulo 11 Fim do Distúrbio, A Batalha Final


258
“Hmph...”, Nabe sorriu:

“Você fica com as duas, eu com as três.”

Evileye sentiu que compreendia melhor a personalidade de Nabe e sorriu.

Para ser mais preciso, a impressão de Evileye sobre Nabe como uma rival estava me-
lhorando, era como uma maga de suporte que poderia ficar ao lado de Momon.

Que pena, se fosse apenas o Momon e a Nabe, eu poderia simplesmente tirar meu anel e
revelar minha verdadeira forma... Bem, primeiro eu preciso voltar viva.

“É bem convencida, hein? Mas tudo bem, eu entendo. Vou cuidar dessas duas rapida-
mente, e depois irei ajudá-la. Lute como se sua vida depen— que foi?”

Evileye teve a sensação de que as presentes — todas as cinco empregadas e Nabe —


estavam todas a encarando de forma estranha. Algo parecia fora do lugar, como se já
tivessem planejado tudo antecipadamente.

“Não, não é nada.”

Depois daquela resposta fria, Nabe deu o primeiro passo para frente:

“Então, embora eu tenha dito que lidaria com três, nossas oponentes serão quem elas
desejem.”

As que se destacaram foram a empregada inseto, a empregada de tranças duplas e a


empregada de cabelo cacheado. As que ficaram para Evileye foram a empregada com
coque de cabelo e a empregada de longos cabelos acobreados.

“Me chamo Alpha. Ela é Delta. Nós seremos suas oponentes.”

“Nossa, mas que educada ela é. Meu nome é Evileye. E apenas eu derrotarei vocês duas!”

Evileye não pretendia prolongar a luta com bate-papo. Tentar levar a luta assim a leva-
ria à morte. Tudo que ela podia fazer era pressionar sua oposição.

“Oh...? Que assustador.”

O primeiro movimento de Evileye foi ativar seu ás na manga. Era uma habilidade espe-
cial que faria com que a energia negativa que fluindo através de seu corpo se sobrecar-
regasse, infundindo todos seus ataques com status negativos.

“Aqui vou eu!”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


259
Com um grito, Evileye começou sua magia.

♦♦♦

5º Dia do mês Baixo Fogo (9º mês) - 03:59

“Não me menospreze!”

Diversos estilhaços de cristais infundidos de energia negativa foram disparados para a


empregada que avançava, Alpha. Este foi um ataque físico violento e perfurante, a ener-
gia negativa drenaria sua força vital.

Pelo menos, deveria. No entanto, Alpha continuou avançando, sem nenhum sinal de que
ela havia sido atingida.

“Kuh!”

Evileye ascendeu para o céu. O combate próximo era uma péssima idéia para magic
casters arcanos. Colocar mais distância entre elas aumentaria suas chances de vitória.

Quando flutuou no céu, algo passou diante de seus olhos. Deve ter sido um ataque de-
fletido por seu 「Crystal Shield」, mas, ao mesmo tempo, a luz cintilante envolvendo seu
corpo começou a escurecer rapidamente.

Embora pudesse neutralizar ataques razoavelmente poderosos, ela teria sorte se as


únicas coisas que jogassem nela fossem coisas que o seu 「Crystal Shield」 poderia ne-
gar por si só. O 「Crystal Shield」 só seria eficaz contra ataques abaixo de um certo nível,
e era completamente inútil para qualquer coisa mais.

“Isso de novo!?”

A empregada na retaguarda, Delta, usava uma arma de longo alcance. Ela tinha dispa-
rado contra Evileye sempre que ela alçava voo.

“Hah!”

Aprimorando seu espírito de luta, Alpha atacou Evileye. Isso a fez estalar a língua.

Normalmente, Evileye nem mesmo levava a sério qualquer um que a atacasse com pu-
nhos nus, mas essa era apenas a arrogância que sentia pelos seres insignificantes que
sempre estiveram abaixo dela. Ela ficou bem ciente disso pouco depois de lutar com Al-
pha. Sua rival era realmente uma oponente temível. Toda vez que tentava abrir uma bre-
cha entre elas, sua oponente viria pressionando-a várias vezes mais rápido que ela. Se
fizesse um golpe direto sem a proteção de sua barreira, ela seria destruída.

Capítulo 11 Fim do Distúrbio, A Batalha Final


260
Se ainda estivesse com Gagaran e Tia, ela não teria sido tão descuidada. Em sua situação
atual, Evileye sentia como se estivesse andando em uma corda bamba.

A coisa mais azucrinante foi a coordenação impecável da dupla. O trabalho em equipe


poderia aumentar muito o poder de luta dos aventureiros. Neste momento, as duas es-
tavam dando a ela uma lição hercúlea de como trabalhar em cooperação.

“Merda! Como esses demônios podem trabalhar tão bem juntos... mas que inferno!”

Não tenho o direito de dizer isso, pensou Evileye. Suas companheiras eram apenas hu-
manas, apenas ela não fazia parte dos vivos, era uma undead.

Um som de dang soou, e seu 「Crystal Shield」 ficou cada vez mais fino. Mais um golpe
e seria perfurado.

Evileye amaldiçoou enquanto tentava se afastar de Alpha, que estava decidida a perse-
gui-la e espancá-la. Embora o corpo de Evileye fosse superior ao de um ser humano nor-
mal, em virtude de ser uma Vampira, as habilidades físicas de Alpha eram ainda melho-
res que as dela. A única razão pela qual Alpha não alcançou prontamente, foi por causa
de seu uso da magia 「Fly」.

Usar magia requeria foco, mover o corpo exigia parte desse foco. Como resultado, ter
que recuar constantemente era muito difícil. O movimento interromperia o senso de
equilíbrio e dificultaria a concentração. Magic casters eram muito afetados quando tinha
que lançar suas magias em tais condições. Por causa disso, Evileye escolheu usar 「Fly」
para manter uma distância sem interromper sua concentração e, assim, lutar uma bata-
lha móvel. Isso não era nada especial por si só; qualquer um que pudesse usar 「Fly」já
havia dominado essa tática de batalha. O quão bem eles realizariam isso era uma questão
de talento, mas como uma Vampira, Evileye tinha a habilidade natural de voar e 250 anos
de experiência para aprender a dominar.

Mesmo assim, foi preciso esforço para escapar de Alpha. E embora ela pudesse cercar
uma oponente em círculos na grande praça, havia duas oponentes.

Outro som de dang zuniu e a barreira que a protegia foi completamente destruída.

Era difícil acreditar que qualquer coisa pudesse quebrar seu 「Crystal Shield」 em três
acertos, mas não havia nada a ser feito sobre isso.

“「Sand Field: All」!”

Partículas de areia cobriram os arredores. Embora Delta estivesse longe demais para
ser afetada, Alpha estava completamente presa na área. Por também afetar os aliados,
essa magia era inútil em uma luta grupal. Qualquer oponente dentro de sua área seria
imobilizado, além de ser cego, silenciado e atordoado. Além disso, por causa do trunfo
de Evileye, a areia foi infundida com energia negativa que drenaria a força vital.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


261
Essa magia de 5º nível foi de sua própria criação. Era uma das cartas mais fortes que
Evileye tinha na manga.

No entanto, Alpha não diminuiu o passo, nem parecia que estava machucada.

“Mas como!?”

Ela é imune à imobilização e energia negativa?

“Você merece elogios por isso! Parece que tem resistência a tudo!”

A resposta de Alpha foi virar um borrão diante de seus olhos. Como se tivesse realizado
um teleporte de curto alcance, ela se materializou na frente de Evileye e a atingiu no
rosto.

Sua máscara rachou com um som ríspido quando Evileye foi arremessada para longe.

Ela caiu quicando no chão algumas vezes antes de conseguir se recuperar, balançando
a cabeça de forma confusa.

“「Crystal Wall」!”

O punho de Alpha colidiu com a parede de cristal materializada em poucos instantes,


produzindo um estrondo trovejante. Rachaduras se espalharam onde Alpha havia chu-
tado, como se tivesse sido atingido por uma bola de demolição.

“...Hmph!”

Outro dang foi ouvido, e quando o pé de Alpha se apoiou no chão, ela transferiu sua
força interior para as rachaduras na parede de cristal de Evileye, que desmoronou diante
de seus olhos.

“Fa jin!?”

Neste momento, enquanto tentava ganhar alguma distância usando 「Fly」, Evileye
sentiu um grande tremor percorrer a terra. Ela não sabia de onde vinha, mas seu instinto
lhe dizia que eram os tremores da batalha daqueles dois.

“Eles ainda estão lutando... não, a batalha deve ter chegado ao clímax. Então eu... tenho
que comprar mais tempo!”

Ao dizer isso, Evileye atacou Alpha.

Capítulo 11 Fim do Distúrbio, A Batalha Final


262
Ela só precisava de um pouco mais de tempo. Preciso levar essa luta para mais longe.
Com isso em mente, Evileye se preparou totalmente para a morte e realizou seu ataque
kamikaze.

As mãos de Alpha estavam se movendo em círculos em preparação para receber Evileye.


Ela ficou abalizada, como uma fortaleza invulnerável, mas mesmo vendo isso, Evileye
não parou—

♦♦♦

5º Dia do mês Baixo Fogo (9º mês) - 03:53

Enquanto lutavam, Ainz e Jaldabaoth se chocaram contra uma casa. A porta se quebrou
quando Ainz pressionou Jaldabaoth para dentro, espalhando detritos por toda parte. O
interior estava escuro e entulhado, inadequado para Ainz manejar sua espada.

Ignorando Jaldabaoth, Ainz levantou-se e andou normalmente. Jaldabaoth levantou-se


também e o seguiu. Entraram em outra sala, com uma pequena mesa, duas cadeiras,
Mare os aguardava quieto em um canto.

Mare puxou uma cadeira para Ainz se sentar. Então, com a permissão de Ainz, Jaldaba-
oth removeu sua máscara, revelando o rosto de Demiurge.

“Primeiramente, esta sala é segura?” Ainz perguntou.

“Não há problema. As palavras aqui pronunciadas não serão audíveis em outros luga-
res.”

“Bom saber... Bem... antes de tudo, tenho algo a pedir. Não machuque os guardas que
encontrei quando vinha para cá. Eu sei que aqui é razoavelmente distante de E-Rantel,
mas ajudar pessoas em perigo é boa publicidade.”

“Sim, senhor. É aceitável que eu transmita as ordens por telepatia?”

“Vá em frente. Enquanto isso, conte-me sobre o seu plano.”

Mesmo que Demiurge já tivesse explicado o plano para Narberal via 「Message」, ela
ainda não havia dito nada. Ele foi forçado a permanecer em silêncio e não expressar seu
descontentamento a fim de garantir que o plano não fosse arruinado, mas em seu cora-
ção ele estava aflito com isso.

“Muito bem. Esta operação tem quatro objetivos principais—”

“Hoh... eu contei apenas três. São quatro?”

Demiurge sorriu. Foi um sorriso arrogante de satisfação.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


263
“Eu sinto como se tivesse conseguido, pela primeira vez, ser melhor que o senhor, Ainz-
sama.”

Ainz magnanimamente acenou a mão. Claro, ele nem sabia quais eram os três primeiros,
mas as palavras de Demiurge ainda o deixava desconfortável.

“Você sempre esteve um passo à frente. Eu tenho um longo caminho a percorrer.”

“Como pode dizer algo assim, mestre? Na verdade, a humildade do senhor não conhece
limites.”

“Não, na verdade— hm, enfim. Então, me fale sobre esses objetivos.”

“Para começar, o objetivo de atacar o distrito dos armazéns é assegurar a riqueza e os


bens contidos lá e transportá-los para Nazarick. Para facilitar isso, Shalltear usaria seu
「Gate」aberto na frente dos armazéns, e Pandora’s Actor ficaria responsável pelo
transporte.”

Um objetivo muito lucrativo, de fato. Ainz silenciosamente elogiou Demiurge do fundo


do seu coração.

Perder uma quantia considerável de sua riqueza tornaria a vida na Capital Real mais
difícil no futuro, mas, neste momento, Ainz não tinha como saber disso. Agora, tudo o
que ele sentiu foi alívio que o problema base foi resolvido no momento.

“O segundo é encobrir o nosso envolvimento em nossos ataques aos esconderijos da


Oito Dedos na área. Como o senhor deve saber, um ataque direto ao esconderijo da Oito
Dedos despertaria suspeitas. Se não tivermos sorte, podemos até mesmo levar à exposi-
ção do Sebas e de seus contatos. Como tal, expandimos a área de operações para fazer
com que os outros pensem que nossos verdadeiros objetivos estão em outro lugar.”

Em outras palavras, eles estavam usando galhos já cortados para se camuflar na floresta.

“Mas você pode fazer isso? O que vai usar para convencê-los de que tinha outro obje-
tivo?”

“Por favor, dê uma olhada nisso.”

Demiurge gesticulou, e Mare trouxe uma sacola, que ele abriu. Dentro havia uma está-
tua de um demônio. Cada um dos seis braços do demônio segurava um tipo diferente de
joia. Uma luz estranha e pulsante irradiava de dentro.

“Estas joias estão imbuídas com a magia conhecida como 「Armageddon: Evil」.

Capítulo 11 Fim do Distúrbio, A Batalha Final


264
A magia do 10º nível 「Armageddon: Evil」invocava um exército de demônios. Embora
pudesse convocar uma enorme quantidade de tropas, cada demônio individual não era
muito poderoso. Se anjos eram difíceis de controlar, os demônios eram ainda piores, com
a tendência de sair do controle nos piores momentos possíveis, tornando-se uma magia
muito difícil de usar. O uso normal capitalizava o fato de que os demônios invocados não
eram aliados por padrão, para que pudessem servir como sacrifícios vivos em certos ri-
tuais e habilidades.

Muito parecido com o modo como Shalltear usava sua Spuit Lance para matar seus pró-
prios lacaios convocados, essa magia existia para um propósito similar.

“Embora este item tenha sido criado por Ulbert-sama, acho que seria melhor utilizado
aqui.”

Do ponto de vista deste mundo, faria sentido que um item como esse atraísse a atenção
de Jaldabaoth.

Ainz lembrou o passado.

Sobre um amigo chamado Ulbert, quando o poder da Guilda estava no apogeu.

Originalmente, havia um item World-Class que poderia trazer um número ilimitado de


demônios que eventualmente consumiriam o mundo inteiro. Embora causasse um
enorme distúrbio, Ulbert ficou muito feliz quando ouviu falar sobre isso e se esforçou
para criar um item para imitá-lo. Mas quando o item não conseguiu conjurar seis magias
simultaneamente, ele perdeu o interesse e desistiu.

Era claro que Demiurge estava relutante em desistir de uma posse como essa. Isso foi
porque era uma relíquia de seu criador.

Ainz colocou a mão em uma dimensão de bolso e retirou um item.

“Demiurge, não há necessidade de usar isso. Use esse como substituto.”

O dispositivo que Ainz retirou parecia semelhante ao demônio que Demiurge havia pre-
parado. No entanto, suas mãos só seguravam três gemas, e pareciam mais grosseiras em
geral.

“Este também é um item feito pelo Ulbert-san. É apenas um protótipo que ele queria se
desfazer, mas eu pensei que seria um desperdício e o mantive. Que tal usar isto em vez
desse?”

“Como— como eu poderia gastar seus tesouros em meus próprios esquemas, Ainz-
sama?”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


265
“É assim que vê isso? Muito bem. Demiurge, agora isso é seu. Use como achar melhor.
No entanto, não acha que o Ulbert-san pode ficar envergonhado se seu experimento ficar
por aí?”

“Mas isso... como poderei expressar minha gratidão ao senhor por me presentear com
um item mágico tão magnífico?”

Demiurge levantou-se da cadeira e genuflectiu no chão. Mare, vendo-o, genuflectiu-se


imediatamente ao seu lado.

“Não é para tanto, Demiurge. Você não tem outras coisas para fazer? Pense nisso como
um sinal de meu apreço por sua lealdade.”

“Nós, Guardiões, fomos criados pelos Seres Supremos. Como tal, até o momento de
nossa extinção, seremos totalmente leais a eles. Mesmo assim, os senhores não apenas
concederam vossa misericórdia e cuidado em abundância sobre nós, mas até mesmos
nos presenteiam com a honra de guardar um tesouro tão valioso... embora, eu, Demiurge,
já tenha jurado lealdade total e eterna ao senhor, permita-me mais uma vez oferecer
meu fiel serviço ao meu mestre, Ainz-sama!”

“Ah... erm, bem, espero ansioso por mais de sua lealdade. Podem se levantar. Demiurge,
você tinha outra coisa a dizer, não?”

“Ah, de fato eu tinha! Minhas mais sinceras desculpas!”

Demiurge sentou-se e Mare retornou à sua posição anterior.

“Então, como eu disse anteriormente, Jaldabaoth alvejou os esconderijos da Oito Dedos,


e então passou a tomar o controle do distrito dos armazéns do Reino. A apropriação dos
recursos dos armazéns também era um objetivo. Naturalmente, este dispositivo criado
pelo Ulbert-sama será encontrado em um dos cofres dos esconderijos.”

“Isso está claro agora. E o terceiro objetivo?”

“Sim. Eu já transportei aproximadamente metade dos humanos dentro da muralha de


fogo para Nazarick. Há muitos usos que podem ser feitos, e a culpa por isso vai cair dire-
tamente no demônio Jaldabaoth.”

Então era isso que ele estava fazendo, pensou Ainz, mas ele ainda tinha algumas pergun-
tas. Havia algum benefício em deixar a vilania de Jaldabaoth crescer? Em vez de inventar
a persona de Jaldabaoth, não teria sido melhor deixar que algum outro demônio o fi-
zesse?

“...Então você pretende construir a infâmia daquela persona, é isso?”

“Precisamente. A intenção é colocar Jaldabaoth no trono do Rei Demônio.”

Capítulo 11 Fim do Distúrbio, A Batalha Final


266
“Agora eu entendo. Realizar um dos meus pedidos faz parte do seu plano?”

Ainz olhou para Demiurge, que estava se curvando para reconhecer que esse era o caso.
Ele se lembrou da ordem que havia dado. Ele distribuiu várias, e uma foi dar origem a
um Rei Demônio.

“Tudo isso é em prol do quarto objetivo, que é usar este incidente como campo de testes
para nossas ações futuras no Reino Sacro.”

Naquele momento, Ainz entendeu. Ele deu voz à pergunta que estava em sua mente:

“A propósito, os demônios foram convocados de Nazarick?”

“Como eu poderia? Jamais ousaria fazer tal coisa sem informá-lo, sem ter a permissão
para fazê-lo, Ainz-sama!”

“Hm? Dado que eu confiei essa tarefa a você, e recebeu a permissão de Albedo, eu pensei
que teria usado as forças de Nazarick...”

“Não, meu senhor. Aqueles eram meramente asseclas conjurados pelos meus Evil Lords.
Depois de um dia, eles podem ser conjurados novamente. A perda líquida para Nazarick
é zero.”

“Faz sentido... Por isso não reconheci alguns deles. Não que isso importe. Então, outra
pergunta, você disse que enviou todos os humanos daqui para Nazarick. Isso foi inde-
pendentemente de sexo e idade, correto?”

Ainz estava vagamente aborrecido pela forma como Demiurge poderia responder tão
casualmente de forma afirmativa.

Humanos eram irrelevantes. Mesmo que Ainz já tenha sido um humano, esse corpo de
agora não sentia nenhuma simpatia ou proximidade por eles. Era como se fossem uma
outra espécie totalmente irrelevante, da qual ele pudesse simplesmente erradicar sua
empatia. Ele mataria qualquer número de humanos para o benefício da Grande Tumba
de Nazarick. Mesmo assim, matar crianças ainda o incomodava. Este foi um vestígio do
homem que Suzuki Satoru foi.

Ainz respirou fundo — apesar de não ter pulmões — e exalou pesadamente.

“Demiurge. Aqueles que tão tiverem ofendido a mim ou a Grande Tumba de Nazarick,
os providencie uma morte rápida e indolor.”

Demiurge fez uma reverência profunda, sem dizer uma palavra.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


267
A prioridade de Ainz Ooal Gown era garantir a estabilidade e a lealdade de seus subor-
dinados.

Como haviam levado as crianças, libertá-las com segurança era basicamente deixar que
os detalhes de Nazarick escapassem com elas. Embora possa ser possível transformá-las
em fanáticas servilmente leais à Nazarick, havia muito poucos benefícios em tal plano no
momento. Como tal, esta foi a maior misericórdia que ele poderia lhes dar.

“Então, terminamos aqui?”

“Há mais dois assuntos que rezo para que considere. Em primeiro lugar, Mare nos deu
uma excelente oportunidade.”

Ainz olhou para Mare, o menino nervoso e apreensivo.

“Que seria?”

“No momento, ainda estamos na fase de treinamento, então o grau exato de sucesso é
discutível. Eu irei elaborar mais quando retornarmos à Nazarick. Segundo, pelas minhas
observações da situação até agora, é muito provável que quem fez lavagem cerebral em
Shalltear não tenha conexão com o Reino.”

“Bom saber. Estou ansioso para ser agraciado por seu intelecto em planos futuros.”

“Será fornecido de bom grado. Durante nossa batalha a seguir, peço humildemente que
se sinta livre para me derrotar. O servirei como e onde desejar, Ainz-sama.”

“Claro. Mas antes de derrotar você, poderia danificar a minha armadura? Será mais con-
vincente se eu tiver os sinais de uma luta difícil.”

“Isso quer dizer que o senhor vai removê-la, e assim eu a danifico? É impensável para
alguém como eu ousar levantar a mão contra meu mestre, Ainz-sama—!”

“O que acontece se eu a remover e ficar tão danificada que me impossibilite de vesti-la?


Durante o incidente da Shalltear, O ferreiro criou falhas na armadura antes que eu a
usasse. Se eu tirar aqui e a deformar, eu provavelmente seria incapaz de usá-la nova-
mente.”

Ainz riu suavemente. Os Guardiões diante dele, sem entender o porquê, assumiram ex-
pressões de perplexidade.

“A-ah, Ainz-sama? E-essa armadura não é feita por m-magia?”

“Não exatamente. Esta em particular não foi criada a partir da magia. Eu entendo o por-
quê pensa assim, dado que eu sou um magic caster usando algo assim tão naturalmente.
Na verdade, usei uma magia de transformação em guerreiro. Durante o intervalo antes

Capítulo 11 Fim do Distúrbio, A Batalha Final


268
de viajarmos para a capital, me comuniquei com a Albedo e me equipei com essa. Parece
que foi a escolha certa.”

Sustentar uma magia de transformação junto com outras magias reduziria as taxas de
recuperação de mana, a drenando até a última gota. Mesmo que pudesse dissipar a trans-
formação para usar magia se houvesse uma emergência, ele estaria à mercê, já que sua
mana estaria zerada. Com isso em mente, estar lidando com as coisas assim fazia muito
sentido. Sem isso, a primeira batalha com Demiurge poderia ter sido muito mais proble-
mática.

Os olhos já estreitos de Demiurge se estreitaram ainda mais quando ele ouviu a res-
posta de Ainz:

“Como esperado do senhor, Ainz-sama, todos dançam dentro da palma de vossa mão. E
pensar que eu ousaria sequer chegar perto de tamanho intelecto... Eu não deveria ter
esperado nada menos do senhor.”

Enquanto Demiurge riu para si mesmo, suor inexistente escorria das costas de Ainz.

“Então, vamos começar? Demiurge, está responsável por fazer os danos.”

“Certamente. Mare, envie o sinal. Será um terremoto, como da última vez.”

♦♦♦

5º Dia do mês Baixo Fogo (9º mês) - 03:56

“Tome meu— relâmpago!”

A magia 「Lightning」 atacou, atingindo uma das empregadas.

“Guwaaaa ~suuuu!”

A empregada fazendo um grito incrivelmente falso de dor foi arremessada como se es-
tivesse pulando sozinha, até que desapareceu na distância.

“Eiiiii~”

A empregada de cachos dourados jogou suas facas. Elas foram em um arco preguiçoso
e atingiram o corpo de Nabe.

“Kyaa—!”

Quando Nabe soltou um grito inexpressivo de dor, ela seguiu a empregada que havia
sido surpreendida. Entoma a perseguiu em silêncio.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


269
Elas aterrissaram no beco, ficando uma perto da outra. À frente de Narberal estava a
empregada com as duas tranças. Atrás estava Entoma e a empregada de cachos doura-
dos. Este era um ataque clássico de pinça, mas não havia tensão alguma. Claro, por que
haveria? Anteriormente, havia a pretensão de uma briga, mas agora até isso evaporara
completamente, o clima era como um grupo de colegiais conversando em um Caffé.

“Então, esse lugar tá sendo vigiado pela Nigredo-san. Podemos conversar de boa ~su.”

“Mesmo? Há quanto tempo, Lupu~.”

A empregada com duas tranças — Lupusregina Beta — riu sob sua máscara.

“Já faz algum tempo mesmo ~su. É a primeira vez que a gente se encontra desde que
começou a passear com o Ainz-sama, Nar-chan.”

“Eu retornei à Nazarick de vez em quando, mas sempre que voltava você estava no vi-
larejo.”

“Ah, é~ sabe como é né, essas coisas acontecem ~su. E pesando bem, fazia tempo que
não te via também, Sol-chaaan.”

“Idem. Esse seu jeito de falar...”

“Ué? Sol-chan, isso te incomoda do mesmo jeito que incomoda à Yuri-neesan ~su. Mas
de boa~ eu sei que tem hora e lugar pra falar assim. A En-chan também ~su.”

“Acho bom... falando nisso, por que está tão calada, Entoma?”

“Ah... En-chan não parece querer falar agora ~su.”

“AqUeLa pUtIiInHa tOmOu mInHa vOoOz!”

“Hoh.”

Narberal acenou para ela. Entoma odiava sua voz original, então tentou usar o mínimo
possível.

“QuErO a vOz dEeElA CoMo pAgAmEnToOo!”

Mesmo que seu verdadeiro rosto estivesse coberto por um inseto em forma de máscara,
sua intenção assassina e raiva ainda estavam transbordando em sua direção.

“Você sabe que é impossível. Ela está sendo usada pelo Ainz-sama, ela precisa voltar
viva com ele, senão vai diminuir sua reputação de aventureiro.”

Capítulo 11 Fim do Distúrbio, A Batalha Final


270
Entoma não ficou feliz com o que Narberal disse, mas mesmo assim se controlou. Entre
o que desejava e o que seu mestre ordenava, era óbvio qual vinha primeiro. Todas as
Empregadas de Batalha sabiam disso.

“Aquela mocinha era bem forte. Qual é o nome dela?”

“Eu não tenho interesse nos nomes dos mosquitos gigantes. Acho que o nome é Evilal-
guma coisa.”

“Você não toma jeito, hein ~su? Vocês duas não são aliadas agora ~su?”

Narberal franziu a testa para as palavras de sua companheira, então Solution respon-
deu por ela.

“...Provavelmente é a Evileye da Rosa Azul. Sebas-sama escreveu assim em um de seus


relatórios.”

“Ah, é esse o nome.”

Narberal tinha certeza de que Solution disse o nome correto.

“Nar-chan, já tá ficando gagá ~su?”

“Vocês realmente conseguem lembrar os nomes de humanos?”

“Isso não é problema para mim. Às vezes eu preciso conhecê-los durante o decorrer de
minhas funções. Tomei o cuidado de decorar alguns nomes importantes.”

“Também lembro bem fácil ~su. Na verdade, me dou muito bem com os humanos, sabia
não ~su?”

“SeM PrOoObLeMaS TaMbÉéÉm.”

Narberal ficou um pouco chocada ao perceber que estava sozinha entre suas compa-
nheiras. Enquanto considerava se deveria prestar mais atenção aos nomes, o som de
uma explosão veio à tona. Como os prédios de cada lado bloqueavam a visibilidade, elas
não sabiam o que causara.

“Ah, elas devem estar ficando sérias por lá.”

“Bem, é a Yuri-neesan e Shizu~ elas sempre são sérias ~su. Se a luta não acabou até
agora, é porque tão se contendo ~su.”

“Se dEpEnDeSsEeE De mIm, Eu lUtArIiIa cOm eLa aTé mAtArRr!”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


271
“Essa Evileye é bastante forte. Talvez apenas por níveis, ela pode não ser uma oponente
que a Yuri-neesan ou a Shizu poderiam vencer sozinhas.”

Uma sombra pairou pela face das Empregadas de Batalha pela primeira vez. Apenas
Narberal era indiferente. Ela estava confiante.

“Vai ficar tudo bem.”

Enquanto a atenção de todas estava nela, ela continuou:

“Tenho certeza que essa Evileye é uma elementalista como eu. Somos magic casters ar-
canas que se especializaram no uso de um elemento em particular. Embora signifique
um grande aumento em nosso poder de ataque, também significa que fora da área de
especialização somos bastante fracas.”

“Tipo Terra, então há ramificações em... ácido, veneno e gravidade, né? Então como ela
usa os cristais ~su?”

“Deve ser uma especialização adicional em cristais dentro da magia do tipo Terra. Então
ela está limitada a magias do tipo cristal, que geralmente são mais fortes.”

“Especializada em ataques físicos perfurantes e também esmagadores... Parece apavo-


rante...”

Se fosse eu lutando, como eu mataria a Evileye? Enquanto as quatro estavam refletindo


sobre essa questão, a terra tremeu. Houve uma pequena diferença entre isso e o tremor
da terra causado por uma onda de choque.

“O TeRrEmOtOoO DeVe tEr sIiIdO CaUsAdO PeLo mArE-SaMa. EnTãO, dEvEmOs iNi-
CiIiAr o pRóXiMo eStÁgIoOo?”

“Isso foi um sinal?”

“Foi sim, Narberal. Então, tudo bem se machucarmos você um pouco? É tudo pelo dis-
farce.”

“Vou tentar não te machucar demais, espero que me perdoe ~su.”

“Sem ressentimentos. Faz parte do trabalho.”

♦♦♦

5º Dia do mês Baixo Fogo (9º mês) - 03:57

“Acalmem-se! Por favor, acalmem-se!”

Capítulo 11 Fim do Distúrbio, A Batalha Final


272
Climb tentou não levantar a voz muito alto enquanto chamava as pessoas. No entanto,
o armazém estava lotado de pessoas agitadas, por isso seu volume atual era insuficiente
para acalmá-los.

“Meu filho—”

“Minha esposa foi levada—”

“Mamãe, Papai—”

Vozes masculinas, femininas, jovens e velhas se misturam, banhando Climb como uma
onda. Ele não conseguia mais entender o que estavam dizendo.

Colocando sua vida em risco, Climb tinha encontrado 300 pessoas aqui, foram os únicos
residentes que conseguiu encontrar. As pessoas trancadas neste pequeno armazém não
tinham noção do que estava acontecendo lá fora, e tudo o que podiam fazer era prantear
sobre como os membros de sua família tinham sido levados para outro lugar.

Era uma atitude muito natural às circunstâncias atuais, mas também muito perigosa.

Mesmo que não tivessem batalhado com nenhum demônio durante a jornada, isso não
significava que não haveria demônios presentes. Na verdade, eles já tinham visto silhu-
etas de demônios várias vezes nas vielas pelas quais passaram. Se os mesmos tivessem
ouvidos os gritos vindos deste armazém, era apenas uma questão de tempo antes que
chegassem aqui.

“Vocês são os únicos que encontramos até agora—”

“Cadê a minha esposa!? Vá procurar ela!”

“Uh—”

Tudo o que precisava era levantar a voz. Climb, como guerreiro, era muito mais forte
que qualquer mero guarda da cidade. Se ele vociferasse para o homem, poderia facil-
mente domar os corações de todos os presentes. Mas Climb não o fez.

Climb era o arauto da Princesa. Ele estava aqui porque Renner o achou digno de sua
confiança. Se ele usasse métodos que aterrorizassem os cidadãos e criassem antipatia,
isso poderia facilmente ser direcionado à Renner. Com isso em mente, Climb achou im-
possível trabalhar com métodos agressivos.

“Tá esperando o quê? Responda—”

“Meu filho ainda é jovem—”

“Papaaai! Mamããee—!”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


273
“—Vocês aí, CALEM A BOCA!”

Parecia que a tremulação no ar do depósito de repente expelira todas as vozes. Brain


não podia mais tolerá-los, e seu grito — a raiva de um guerreiro de primeira classe —
havia devorado os corações de todos os fracos presentes.

“Blá-blá-blá... Parecem um bando de galinhas. A gente tá no território inimigo, acordem!


Se não fecharem a boca e virem em silêncio, os demônios vão vir e matar cada um de
vocês, entenderam? Então calem a boca e escutem.”

Brain inspecionou o armazém agora silencioso, depois olhou diretamente para Climb.
Os cidadãos que estavam se aproximando cabisbaixos, sob o olhar impetuoso, recuaram
lentamente.

“Agora é com você, Climb. Diga o que decidiu.”

Climb tinha muita certeza de qual decisão ele tinha que tomar. No entanto, faltava con-
fiança para fazê-lo.

“Tá difícil dizer? Não tem problema, eu falo. Hey, escutem aqui. Da próxima vez que
alguém falar sem permissão eu mesmo mato. Sabe o porquê? Eu nem tenho certeza de
que todos vocês são humanos.”

Brain expôs levemente a lâmina de sua katana, a luz refletida parecia quase ofuscante.

“Eu aposto que tão se perguntando sobre o que eu tô falando, mas olhem bem para as
pessoas do seu lado. Vocês têm certeza de que todas são mesmo seres humanos?”

Os cativos se entreolharam em choque.

“Pois é. Vimos muitos demônios a caminho daqui. Alguns com asas, alguns com rabos.
Alguns até pareciam pessoas sem pele. Eram muitos. Os que vagavam por aí poderiam
ser eles... viram algum quando foram trazidos aqui, não é?”

Brain via que todos estavam com rostos pálidos.

“Então, quem garante que não há algum desses desgraçados entre vocês? Quem garante
que um demônio sem pele não está usando a pele de alguém?”

Eles não tinham permissão para falar, mas ainda havia uma comoção. Eles olhavam um
para o outro com olhos desconfiados e então começaram a ajustar suas posições. O ar-
mazém era pequeno, mas não pequeno o suficiente para que todos ficassem apertados.
Havia espaço suficiente para que todos evitassem o contato uns com os outros.

Capítulo 11 Fim do Distúrbio, A Batalha Final


274
“Relaxem. Se algum demônio chegar aqui, nós três aqui damos conta. Contanto que vo-
cês entendam nosso objetivo, tudo ficará bem.”

Quando ao tensão se amenizou, Brain aproveitou e continuou:

“Mas, se os demônios de fora entrarem como uma avalanche, aí eu não posso fazer nada.
Pensem bem, se um demônio se infiltrar aqui, ele poderia muito gritar ficar gritando
avisando os comparsas, não? É por isso que vou matar qualquer um que fizer barulho,
entenderam? Ah, é, alguns vão pensar: Mas eu sou humano blá-blá-blá, por que tá me
matando?... é, mas advinha só? Não vamos dar a mínima. Então pelo bem da maioria,
qualquer um que fizer um barulho que atraia os demônios irá morrer.”

Mais uma vez, ele banhou todos com a intenção assassina transbordando de seus olhos.

“Primeiramente, vasculhamos alguns armazéns antes deste. Só que não encontramos


ninguém, todos estavam vazios. Considerando a área cercada pela muralha de fogo,
mesmo sendo um distrito de armazéns, era pra ter mais de dez mil pessoas aqui. Como
há apenas trezentas, significa que deveria haver pelo menos trinta e três armazéns como
este, certo?”

Brain tomou fôlego:

“Uma perguntinha simples. Por que acham que a gente não achou mais ninguém além
de vocês? Será que foi azar? Afinal, evitamos as áreas onde os demônios estão em alerta.
Mas... acham mesmo que foi azar? O mais certo é que foram levados do distrito dos ar-
mazéns pra algum lugar. Tenho que deixar uma coisa clara... Não entrem em pânico! Não
temos idéia pra onde foram levados. Mas fiquem cientes de que nada de bom vem de um
lugar regido por demônios.”

Os que entenderam abaixaram a cabeça, o som de soluços fôra ouvido.

“Até onde a gente sabe, vocês podem ser os próximos a serem levados pelos demônios.
Mas, por enquanto, vocês tão livres desse destino. Mas coloquem uma coisa na cabeça, a
gente tá bem no meio do território dos demônios. Se não tiverem cuidado, se não anda-
rem rápido e em silencio, eu posso garantir que serão mortos. Você aí, parece que tem
uma pergunta. Permito que fale.”

O homem que tinha a katana apontada para ele fez sua pergunta com uma voz comedida
e trêmula.

“E se ficarmos aqui?”

“Então será levado pra sabe-se lá onde. E se são por aqueles cretinos, os demônios...
bem, você saber muito bem do lugar que essas coisas vêm.”

“Eu—”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


275
Brain olhou friamente, e a mulher que tinha levantado se calou imediatamente.

“Eu permito que você fale.”

“...Meu filho tem apenas três aninhos. Se eu ficar aqui, e for para o mesmo lugar que
ele...”

“Era só o que faltava. Diferente do garoto aqui, eu não tenho interesse em ajudar quem
não quer ser ajudado. Só pra que saiba, se seu filho foi levado para outro armazém, há a
chance de ele ser resgatado por outro time. Se quiser ignorar isso e ficar, eu não vou
impedir. Mas a criança vai crescer sendo órfã, tenho certeza que a vida dele vai ser barra
pesada.”

Brain falou friamente para os civis desanimados.

“Então eu vou dizer mais uma vez. Quem ficar aqui, será levado pelos demônios. Se é
isso que querem, não vou interferir. Afinal, quando saírem deste armazém há uma
chance de morrer num ataque demoníaco no meio da nossa fuga—”

Climb teve que interromper aqui. Mas como Brain já havia dito, era necessário.

“—Mas quero deixar claro, vamos defender quem quer fugir.”

“Não combina comigo fazer isso, mas só tô fazendo isso por causa desse soldado da
Princesa Renner. Eu também protegerei vocês. Vamos sair em poucos minutos. Ficar ou
sair, vocês decidem. Se quiserem discutir sua liberdade, discutam também. Façam o que
quiserem.”

Não houve discussão. Isso porque estavam preocupados que seus semelhantes pudes-
sem ser demônios, muitos deles esperavam que seus parentes fossem resgatados por
outro time para serem reunidos uma vez mais.

Duvido que haja outro time. Verificamos vários armazéns e só um tinha gente.

Brain decidiu não pensar demais nisso, em vez disso, agarrou sua espada e encarou
ferozmente os prisioneiros, certificando-se de que nenhum deles fazia muito barulho.
Climb foi até Brain e falou baixinho.

“Obrigado, Brain-san. Eu mesmo não seria capaz de dizer essas coisas.”

“Que nada, falar essas grosserias não é algo que alguém que serve a Princesa Renner
poderia dizer. Mas pra um mercenário como eu, não deve causar problemas no futuro.
Digamos que eu agi como seu chicote.”

“Mesmo assim, muito obrigado.”

Capítulo 11 Fim do Distúrbio, A Batalha Final


276
Um sorriso sem graça apareceu no rosto de Brain.

“Vai ser problemático se a gente ficar nesse vai e vem. Tudo bem, eu aceito seus agra-
decimentos. Hm? Nosso colega voltou.”

O ladino entrou no campo de visão de Brain. Ele deveria estar vigiando o lado de fora,
permanecendo de prontidão. Dado o modo que andava sem pressa, isso significava que
não era uma situação perigosa.

“O que rolou?”

“Ah, nada, Unglaus-san. Os demônios não parecem estar vindo ainda. Mas como disse,
é apenas uma questão de tempo.”

“Tá certo. Quem sabe, será mesmo objetivo deles? Deu uma olhada lá fora? O que foi
aquele terremoto?”

“Sei lá. Será que um buraco se abriu no chão e mais demônios rastejaram dele?”

“Não diga uma coisa dessas, esse é o pior cenário...”

“Desculpe, desculpe, Climb-kun.”

“Então, vamos ir preparando o pessoal e sair daqui.”

Assim que Brain estava prestes a ordenar os cidadãos ao redor, houve um som de algo
aterrissando do lado de fora do armazém.

O armazém ficou em silêncio imediatamente. O ladino se moveu cuidadosamente para


verificar. Sua mão começou a fazer sinais. Eram os sinais que os três decidiram significar
“demônio”. Depois disso, ele sinalizou “um forte”.

Climb e Brain trocaram olhares. Então calmamente se moveram para onde o ladino es-
tava. Eles viram um demônio lá fora. Era completamente diferente dos que haviam en-
contrado antes. Passava a sensação de tremendo poder.

Seu corpo tinha quase três metros de altura e tinha asas de morcego nas costas. Sua
cabeça era um crânio de cabra e nas mãos segurava uma grande marreta.

O demônio olhou para o armazém, e o grupo oculto de Climb sentiu sua visão pesar
sobre eles. Teria usado magia para senti-los? Estava definitivamente esperando que eles
se mostrassem.

“Esse cara parece muito forte...”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


277
“Nenhuma dúvida sobre isso.”

Brain murmurou, e o ladino respondeu. Climb acenou a cabeça em concordância.

Climb silenciosamente observou Brain. Ele enlouqueceu durante o encontro com Shall-
tear. Assim, se Brain dissesse a Climb para fugir, Climb pretendia obedecer totalmente.

“...Climb, lute comigo.”

“Sim!” Respondeu Climb com uma voz calma, mas sincera:

“Mas, vamos ficar bem?”

“Ah, olhe só aquele cara. Ele deve ter fugido de uma briga. Está coberto de feridas. Se
não estivesse ferido, acho que não daríamos conta. Mas nesse estado, se pudermos pres-
sioná-lo ao mesmo tempo, podemos ser capazes de vencer.”

“Conto com você”, disse Brain ao bater no ombro de Climb.

Climb acenou com a cabeça vigorosamente e ativou o poder do seu anel. Este anel, feito
pelos Dragonlords usando Magia Selvagem, continha um encantamento que poderia au-
mentar temporariamente a força de um guerreiro. Se o homem mais forte do Reino, Ga-
zef Stronoff, o usasse, ele poderia entrar no Reino dos Heróis, mas Climb ainda não havia
alcançado esse estado. Mesmo em combinação com sua Arte Marcial 《Romper Limite -
Mente》, ele não conseguia nem tocar nas solas de Brain. No entanto, ainda concederia
a Climb o poder de um guerreiro ranque mythril.

“Tudo bem, vamos.”

O ladino parou Brain, que estava liderando o caminho.

“Unglaus-san—”

“Já não tá passando da hora de me chamar apenas de Brain? Você é mais velho que eu,
e ainda fica colocando -san, isso me deixa desconfortável.”

“...Então, Brain. O que devo fazer?”

“Fica aqui e aguarde, Lockmeyer. Esse cara pode pensar que a gente é um chamariz.”

“...Certo, vou te ajudar se estiver em perigo.”

“Conto com você. Vamos, Climb-kun. Já deve saber disso... mas não fique convencido.”

“Sim, senhor!”

Capítulo 11 Fim do Distúrbio, A Batalha Final


278
♦♦♦

5º Dia do mês Baixo Fogo (9º mês) - 04:03

“Kuh!”

Evileye grunhiu quando levou um golpe na barriga. Embora em grande fosse parte in-
sensível à dor, seu tato de seus dias como humana ainda não havia desaparecido por
completo. Se fosse atacada, ela definitivamente sentiria.

Na breve janela de tempo em que sua concentração foi quebrada, Evileye levou outro
golpe de Alpha.

A força explosiva do golpe arrancou o ar de Evileye e a enviou voando. Ela sentiu a ener-
gia negativa de seu ser ficando cada vez mais fraca.

O objetivo de Evileye era travar uma batalha prolongada. Como tal, ela não poderia usar
a estratégia de converter dano físico em custo de mana. Sem mana, Evileye seria incapaz
de lutar. Isso significava que ela teria que gastar sua saúde e mana uniformemente.

Seu corpo manchado de terra se arrastou no chão antes de usar 「Fly」 mais uma vez.

Neste momento, Evileye viu Nabe, que havia sido derrubada por suas adversárias.

Ela parecia ter sido ferida. Evileye voou até ela. O inimigo não a seguiu — elas estavam
esperando que nos juntássemos antes de nos matar?

“Oh, é você.”

Evileye estava planejando ajudar Nabe a se levantar, mas ela se levantou imediata-
mente falando em tom sereno.

Embora seu corpo coberto de feridas desse a impressão que ela estava na luta de sua
vida, algo parecia estar fora de lugar. Não havia medo da morte, ou melhor, ela acredi-
tava que Momon poderia derrotar Jaldabaoth antes de morrer.

O mesmo vale para mim, pensou Evileye.

“Você ainda pode lutar?”

“Claro. Sem problemas.”

Foi uma pergunta estúpida.

Falando nisso... essa mulher não faz mais parte do reino dos homens. Será que ela é uma
Divina também?

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


279
Ela sofrera ferimentos variados e suas roupas estavam manchadas de sangue, mas ne-
nhuma das feridas era letal. Por tudo que sabia, Evileye poderia estar mais gravemente
ferida do que ela.

Em comparação com Evileye, que tinha apenas duas adversárias, Nabe lidava com três...
embora Evileye estivesse relutante em admitir isso, ela teve que admitir que Nabe era
melhor que ela.

“Você parece horrível.”

“Nem tanto.”

Evileye riu da resposta, era muito bem o estilo de Nabe. Embora a máscara cobrisse a
expressão de Evileye, Nabe ainda podia sentir que o ar havia mudado e a surpresa apa-
recia em seu rosto.

“Só pensei que, dizer isso combina com você.”

“...É como diz. Então, o que faremos agora?”

“Podemos fazer algo? Como podemos ganhar tempo?”

Evileye observou as cinco com escrutínio. Além da empregada insetos, cuja intenção
assassina a perfurava como uma lança, as outras não irradiavam nenhuma hostilidade,
embora, por suas atitudes, parecessem bastante confiantes em matá-las facilmente.

“Isso também.”

“Parece que estamos sem opções. Se fossem menos, teríamos chance de ganhar. Mas se
estiverem no mesmo nível que nós e houver mais delas, perderemos com certeza.”

“Que tal fugir? Se sair correndo, elas podem não perseguir.”

“Se você quiser fazer isso, eu dou cobertura na retaguarda.”

A insatisfação distorceu o rosto de Nabe. Mesmo com uma expressão feia em seu rosto
ela ainda continua bonita, Evileye pensou com um sentimento de apreciação bastante
fora do lugar para quem considerava sua rival.

De repente, um prédio desmoronou e alguém sendo arremessado foi visto. Ele quicou
várias vezes no chão, caindo de cabeça para baixo antes de parar.

Evileye não precisava respirar, mas ainda segurava a respiração. Por um momento, ela
pensou que poderia ser Momon, mas esse não era o caso. Era Jaldabaoth.

Capítulo 11 Fim do Distúrbio, A Batalha Final


280
Vendo Jaldabaoth custando a ficar em pé, Evileye ficou animada. Era óbvio que só caiu
assim por estar demasiadamente ferido.

A visão de Evileye avistou um guerreiro saindo de onde o corpo de Jaldabaoth tinha


vindo.

A armadura preta estava muito danificada, deixando claro o quão intenso o duelo tinha
se desdobrado. Mesmo assim, o homem avançava sem titubear, mostrando a clara supe-
rioridade de Momon em comparação a Jaldabaoth, que ainda estava se levantando.

O corpo de Evileye estava cheio de alegria, e ela cerrou os punhos com força.

Momon baixou lentamente as espadas e falou com Jaldabaoth.

“Bem, isso foi divertido. Como eu devo dizer... me pareceu verdadeiro. Não precisei me
segurar ao lutar com você. Então é assim que uma vanguarda é... no passado eu costu-
mava dominar todos os meus adversários em combates corpo a corpo, então eu não senti
nada, mas agora eu me sinto como um maníaco por batalha. Mas então, pode me mostrar
sua força total agora?”

Dizer ao adversário para usar toda a sua força era um grave insulto. Pensando nisso,
Evileye balançou a cabeça. Talvez esse fosse o verdadeiro desejo de Momon.

Um homem forte como Momon raramente teria a oportunidade de ir com tudo. Na mai-
oria das vezes, seus oponentes seriam abatidos antes que ele pudesse usar uma fração
significativa de sua força. Um homem como ele ficaria muito feliz se tivesse a chance de
enfrentar um adversário que exigisse sua força total.

“Então, rezo para que vossa senhoria permita-me fazê-lo.”

Jaldabaoth provavelmente entendeu isso como um insulto, e por isso ele retribuiu com
polidez exagerada e sarcástica.

Enquanto ela o observava, Evileye estava cheia do orgulho de saber que entendia me-
lhor Momon do que Jaldabaoth.

“Então, considere que não mais me refrearei.”

“Pode vir, Jaldabaoth!” Com essas palavras, os dois entraram em conflito no meio da
praça.

A permuta deles foi como uma repetição da vez em que Evileye encontrou Momon. Seus
ataques consecutivos de alta velocidade eram desviados por longas garras. Uma vez que
elas poderiam defletir suas espadas grandes, a dureza dessas garras deve estar além da
compreensão humana.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


281
Capítulo 11 Fim do Distúrbio, A Batalha Final
282
Momon saltou fazendo um grande arco crescente. Sua força de salto a fez pensar que
ele poderia estar usando a magia 「Fly」. No momento em que sua visão de Momon foi
bloqueada por suas espadas girando, de relance, ela o viu sacar uma lança do nada.

Era uma lança carmesim cuja ponta era como um ciclone de fogo. Momon arremessou
em Jaldabaoth. Tão rápido voou que tudo o que viu foi seu vulto carmesim deixando um
rastro brilhante quando arremessada em Jaldabaoth.

“—「Aspecto de Demônio: Manto do Purgatório」!”

Quando a lança o atingiu, um rugido de chamas o devorou e uma onda de choque maciça
surgiu de Jaldabaoth.

“Kuh!”

Para não se deixar levar pelo deslocamento titânico do ar, Evileye se agachou e tentou
resistir à tempestade. Felizmente, por usar máscara, ela foi capaz de manter os olhos
abertos durante as rajadas de vento.

Olhando para frente, ela viu Momon manejando suas espadas novamente em meio à
atmosfera descontrolada. Então continuou seu ataque a Jaldabaoth.

Jaldabaoth estava pronto para receber o ataque. Seu corpo estava envolto em chamas,
e a lança de antes estava cravada no chão entre seus pés.

Quando Momon se aproximou, Jaldabaoth agarrou a espada com as duas mãos. A fu-
maça subiu de suas palmas e o metal entre seus dedos começou a derreter.

“Então pode derreter uma arma como essa... ficou mais forte agora.”

Já que era bradada por Momon, um aventureiro do mais alto calibre, deve ter sido feita
de um material incrível, isso era de comum acordo.

Mas isso era irrelevante. O importante era que Jaldabaoth poderia utilizar fogo capaz
de derreter tal metal, e que Momon ainda podia falar casualmente, mesmo estando tão
perto de chamas abrasadoramente mortais.

Evileye estava tão apavorada que soltou um “—Esses dois são incríveis”. Ela já sabia o
quão forte os dois eram, mas seu corpo ainda estava tremendo incontrolavelmente.

“Correto. Danos do tipo fogo são fortalecidos por uma habilidade especial.”

Observando mais atentamente, as chamas vindas de Jaldabaoth tinham um tom negro.

“Chamas do inferno?”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


283
“Precisamente. Mesmo que tenhas imunidade contra fogo, será que o mesmo se aplica
às chamas do inferno?”

Pela primeira vez em sua batalha, Momon deu um passo para trás em retirada, mas
Jaldabaoth não permitiu.

Desta vez, foi a vez de Jaldabaoth fechar a lacuna, lançando uma onda de golpes em
Momon. Aqueles ataques matariam um ser humano em um instante, mas Momon habil-
mente desviou todos com suas espadas.

Enquanto envolvido em combate próximo que estava lentamente derretendo sua arma-
dura, Momon sacou algo do nada, era uma arma estranha.

“Frost Pain Modificada —「Icy Burst」!”

Uma explosão de ar gelado saiu da arma, baixando instantaneamente a temperatura


ambiente. Embora parecesse que o frio podia congelar o fogo, as chamas infernais de
Jaldabaoth queimavam mais quente que as chamas normais. Ainda assim, por um mo-
mento, o calor foi suprimido.

A exclamação de surpresa de Jaldabaoth alcançou os ouvidos de Evileye.

“O que foi isso? Foi como a lança de agora.”

“Já que eu não posso usar magia, eu compenso com armas elementais. Embora esta seja
uma cópia da Frost Pain feita como um experimento... bem, me considero sortudo, já que
acabou sendo mais forte que a original. É uma ferramenta que me permite usar uma
magia de alto nível três vezes por dia, mesmo sem as habilidades para aprimorá-la, ainda
funciona até bem para alguém do seu calibre.”

O diálogo entre os dois era dificilmente crível.

Eles deveriam estar envolvidos em uma intensa batalha por suas vidas, mas o clima
dava a entender que estavam apenas testando a força um do outro de uma maneira des-
contraída e relaxada.

Evileye se lembrou de algo que Gagaran havia dito uma vez. Quando guerreiros lutavam
até à morte, às vezes seriam capazes de entender completamente os pensamentos de
seus oponentes, o que criaria um sentimento de como se fossem amigos íntimos que se
conheciam há muito tempo.

Quando ouviu isso, ela se perguntava de onde inventaram tais coisas. Mas agora—

“Acho que no fundo ela tenha razão...”

Capítulo 11 Fim do Distúrbio, A Batalha Final


284
Evileye aprendeu a aceitar muitas coisas nesse curto espaço de tempo. Ela estava de-
terminada a não rejeitar a sabedoria potencial no futuro.

Ela estava começando a ficar com ciúmes da proximidade deles.

O homem de armadura negra, que perdera o brilho devido à sua superfície derretida, e
o demônio, cujo terno havia sido rasgado por incontáveis golpes de espada.

Os dois, que duelavam a um nível além do domínio da humanidade, pareciam velhos


amigos aos olhos de Evileye.

“Sua pujança é incomparável.”

“Assim como a sua, Jaldabaoth.”

“Nesse caso, permita-me uma proposta?”

Momon ergueu o queixo para Jaldabaoth, como se lhe dissesse para continuar.

“Se eu admitir que tu ganhaste esta batalha, talvez ambos possamos dar um tempo? Ou
melhor, para ser mais preciso, eu retirar-me-ei deste incidente, e espero que cesse sua
busca pela minha pessoa.”

“Quem vai acreditar nisso!?”

O grito de Evileye era alimentado por uma intensa emoção. Para alguém que havia en-
chido a capital com tanto caos e morte, um pedido de misericórdia e perdão era algo que
fugia completamente da falta de vergonha.

No entanto, uma voz calma aceitou a proposta de Jaldabaoth.

“Tudo bem.”

Sob a máscara, Evileye olhou de canto para Momon. Ela não conseguia entender o por-
quê Momon, que estava em clara vantagem, estava aceitando os termos de Jaldabaoth.

Sentindo a confusão de Evileye, Jaldabaoth deu de ombros. Por mais que ela odiasse
admitir, ele parecia bem estiloso enquanto o fazia.

“Algo ainda deixa-me deveras perplexo, o porquê Momon-san traria uma mulher des-
cerebrada como você. Se usar os poucos neurônios que possui, encontrarás o motivo que
levou o Momon-san a aceitar minha proposta.”

Virando-se para Evileye, Jaldabaoth continuou falando:

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


285
“A fim de trazer o Momon-san aqui, e impedir que terceiros interfiram em nossa batalha,
muitos amigos e aliados pereceram nessa contenda, não? Realmente acha que eles se-
riam o suficiente para manter os demônios longe desse conflito?”

Evileye sentiu como se tivesse sido empalada na coluna com uma estaca de gelo.

“O exército de demônios estava à espera de uma chance para atacar a capital.”

Essa não.

Embora o Marquês Raeven estivesse patrulhando dentro da capital com suas tropas,
ela não podia acreditar que ele pudesse lidar com todos os demônios que Jaldabaoth
tinha reservado. Uma conclusão semelhante era esperada se os demônios começassem
a tomar reféns de toda a cidade.

Mas se eles derrotassem Jaldabaoth aqui—

“Mesmo se me matar, achas mesmo que desaparecerão? Com um único comando men-
tal, minhas hordas infernais invadirão a cidade de imediato. Claro, seus números estão
um pouco menores... mas quantos corpos terão que enterrar antes que consigam matá-
los?”

“Mas como sabemos se realmente cumprirá sua promessa?”

Se Jaldabaoth continuasse lutando com um guerreiro de primeira classe como Momon,


sua chance de ganhar diminuiria a cada instante. Sendo esse o caso, por que não retirar
todas as suas tropas e desistir da perseguição? Se não aceitassem sua proposta — bem,
se ele morresse, então levaria todos com ele. Algo parecido.

Contudo, com o resto da população da capital de refém, ele jogava com a vida de muitos.

Uma oferta verdadeiramente manipuladora e ardilosa.

Faz sentido, Evileye pensou, sua opinião sobre Momon aumentou ainda mais. Ele acei-
tou à força a proposta de Jaldabaoth, pois já previu essa possibilidade. É, realmente, ele
não tinha outra escolha.

“Pois bem, já que essa intrometida aceitou, iremos nos retirar. Embora seja uma pena
não conseguir recuperar o item. Rezo para que nunca mais nos encontremos.”

“Igualmente, Jaldabaoth.”

Jaldabaoth riu sob sua máscara, e então reuniu as empregadas antes que desapareces-
sem completamente através de uma magia de teletransporte de alto nível.

“Eles foram embora...”

Capítulo 11 Fim do Distúrbio, A Batalha Final


286
Evileye flutuou no céu, seus olhos olhavam para onde a muralha de fogo tinha estado.
Nada foi deixado; apenas uma mancha ligeiramente mais acesa do horizonte da noite.

Finalmente as cortinas vermelhas para esse distúrbio puderam ser fechadas. Mas o que
nasceria dos sacrifícios de hoje?

Mas um fato ainda permanece, Jaldabaoth está vivo. Ele é demônio com poderes muito
além dos Deuses Demônios. Felizmente, contra ele estava o Momon, um guerreiro sem
igual... Quando as pessoas do mundo inteiro descobrirem o que aconteceu hoje, como o
mundo vai reagir?

Evileye balançou a cabeça para dispersar os pensamentos que formavam um turbilhão


em sua mente. Ela consideraria essas coisas com calma no futuro.

Havia algo muito mais importante que isso. Evileye aterrissou no chão e abriu os braços.

“Uwaaaaaaaaaaaah!”

Com um grito de alegria, Evileye começou a correr. Embora a duração da magia 「Fly」
ainda não tivesse expirado, essa era uma situação que exigia correr.

Evileye correu em direção a Momon. Talvez por surpresa, Momon se posicionou com
suas espadas. Ignorando isso, Evileye saltou pelo ar em direção a ele. Como estava cor-
rendo a todo vapor, parecia que ela havia batido em uma parede. Mas por causa de sua
resistência vampírica, nenhum dano foi feito.

E assim, Evileye abraçou Momon.

“O senhor conseguiu! O senhor ganhou! Como esperado de Momon-sama!”

“Eu... uh... você se importa, um pouco de espaço é bom.”

Momon falou calmamente para Evileye, que o estava abraçando como um coala. Talvez
ele estivesse envergonhado.

Eu sou a vitoriosa já que o abracei.

Evileye estava apostando em um pedaço de conversa fiada que ela tinha ouvido no pas-
sado. Alguns homens gostavam de usar membros do sexo oposto para aliviar a tensão
pós-batalha. Ela esperava que Momon fosse um homem assim e que a escolhesse para
esse dever.

Evileye vislumbrou Nabe, que estava olhando para ela.

Primeira garota vence.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


287
Embora Evileye estivesse roçando seu corpo macio contra Momon, sua armadura ga-
rantia que não sentisse nada, e se ela encostasse em uma ferida poderia machucá-lo.

“Haaah... com licença, Nabe, segure minhas espadas.”

Percebendo que isso estava apenas desperdiçando sua força, Evileye soltou, como uma
maçã caindo da árvore.

Beeeeem... Preciso calcular como darei em cima da próxima vez. Agora que o Jaldabaoth
viu o poder do Momon-sama, não há como ele quebrar sua parte no trato. Mas mesmo as-
sim, houve aqueles que lutaram, e aqueles que morreram... ah, não podemos nos entregar
aos nossos desejos agora.

A batalha pela capital havia terminado.

Mas a batalha de Evileye para ser uma mulher apenas começara.

Evileye, que estava pensando no que faria a seguir, virou-se ao ouvir um som metálico.

Diante dela havia um grupo de pessoas. Eles eram aventureiros e soldados e—

“Aquele é o Capitão Guerreiro? Todas vocês também?”

Ao lado de Gazef Stronoff estava Lakyus e Tina. Gagaran e Tia também estavam lá. To-
dos estavam cobertos de fuligem, um testemunho das batalhas cruéis que tinham lutado
para chegar até aqui. Todos olharam em volta para o resultado da intensa batalha que
tinha ocorrido na praça, e então, atônitos, olharam para Momon.

Sentindo o significado daquele gesto, Evileye sussurrou para ele.

“Momon-sama, faça um grito de vitória.”

Mas Momon não fez nada. Assim que Evileye estava começando a ficar desconfiada, ela
ouviu uma voz baixa e suave.

“Me sinto um pouco tímido agora.”

A reação surpreendentemente humana do guerreiro sobre-humano fez Evileye rir.

“...Mas essa honra não pertence àquele que mais fez por nós? Não deixe essa chance
passar.”

Momon agarrou sua espada com força e a brandiu para o céu.

“UOOOOOOOOOOOOHH!”

Capítulo 11 Fim do Distúrbio, A Batalha Final


288
No momento seguinte, todos na praça ergueram os punhos para o céu, gritando em co-
memoração à vitória. Na boca de todos estava o nome de Momon, o herói que salvara a
nação.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


289
Epílogo

Capítulo 11 Fim do Distúrbio, A Batalha Final


290
6º Dia do mês Baixo Fogo (9º mês) - 08:45

s empregadas foram alinhadas em fileiras na frente de Sebas. Havia 41 de-

A las no total, e todas eram Homunculi. À sua frente, estava a empregada


chefe com cabeça de cachorro, Pestonya S. Wanko. Assim, as empregadas
de Nazarick foram reunidas.

“Pessoal, lhes apresento a mais nova empregada de Nazarick.”

“Me chamo Tsuareninya, prazer em conhecê-las.”

A empregada chefe cumprimentou Tsuare, cuja cabeça estava baixa, como represen-
tante de todas as outras.

Depois de falar com as empregadas, Tsuare não mostrou nenhum sinal de medo.

Ignorando a costura que emendava seu rosto, Pestonya tinha olhos amáveis e uma ex-
pressão gentil. Além disso, as empregadas atrás dela eram todas de aparência humana,
sem quaisquer características faciais assustadoras.

Mesmo assim, a julgar pela condição de Tsuare, parecia que o medo que sentia pelos
outros nunca desapareceria totalmente. Embora parecesse segurar bem às pontas, ela
sabia exatamente em que tipo de situação estava, e tentava ao máximo se distrair, for-
çando-se a se concentrar apenas em seu novo trabalho.

Se eu não ficar atento, ela pode acabar tendo uma recaída.

Enquanto Sebas ponderava sobre essas questões, a sessão de reunião e cumprimentos


terminou, uma das empregadas a conduziu para fora. Ao longo do caminho, Tsuare se
virou para olhar para Sebas. Que em resposta, acenou e ela assentiu, antes de se virar e
sair.

“Sebas-sama, quanto treinamento essa garota vai precisar?”

“Treine-a até que se qualifique para ser uma empregada de Nazarick. No entanto, ela é
apenas humana, então quando treiná-la, lembre-se de não forçar os limites.”

“Entendido ~wan.”

O rosto de cachorro de Pestonya se inclinou, revelando seus caninos. Embora sua ex-
pressão a fizesse parecer um animal selvagem, seus olhos ainda estavam cheios de afe-
tividade.

“Eu acho que para ela, ser uma empregada é apenas um primeiro passo.”

“O que quer dizer?”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


291
Pestonya respondeu a Sebas, que não tinha entendido bem o que ela queria dizer e ficou
imaginando o que estava falando.

“...~Wan. Quero dizer, é provável que ela se aposente depois de se casarem ~wan!”

“O quê!?”

Quando a expressão de Sebas questionou, a risada suave de Pestonya ecoou pelo 9º


Andar da Grande Tumba de Nazarick.

♦♦♦

7º Dia do mês Baixo Fogo (9º mês) - 16:51

Depois de certificar-se de que não havia convidados e de que a hora estava certa, Climb
abriu as portas para os aposentos de Renner.

A princesa sentou-se em seu lugar habitual, seu quarto era tingindo de vermelho pelos
raios do sol poente. Iluminaram-na como um holofote.

“Bem-vindo, Climb.”

Aquela tenra beleza acalmou o coração palpitante de Climb, e ele sentiu curado de al-
gum modo. Climb mostrou seu rosto relaxado e foi até o lado de Renner.

“Venha, sente-se, Climb.”

“Obrigado, mas não há necessidade, Renner-sama. Eu precisarei ajudar na limpeza do


ataque demoníaco por alguns dias.”

Os olhos de Renner brilharam. Ela havia originalmente dado essa ordem, então respon-
der dessa maneira parecia ser a resposta correta.

A próxima tarefa de Climb era assumir os detalhes de segurança responsáveis por pro-
teger à Guilda dos Magistas.

Isso foi por causa de um determinado item.

Embora faltasse muito para toda a amplitude da invasão demoníaca ser compreendida,
um item mágico muito perturbador havia sido encontrado em um depósito. A Guilda dos
Magistas ainda estava analisando e investigando, mas considerando o fato de que havia
sido imbuído em magia anormalmente poderosa e juntando com os dizeres de Jaldaba-
oth, parecia provável que fosse o item que ele procurava.

Epílogo
292
Como resultado, a Guilda dos Magistas reuniu poderosos veteranos para vigiar o item
até que eles descobrissem como se desfazer dele. Naturalmente, Climb era um deles.

Que droga, não podemos punir os membros da Oito Dedos que trouxeram aquele maldito
item para a capital...

Mesmo estando na frente de Renner, Climb não conseguiu suprimir totalmente a irrita-
ção em seu coração.

O item mágico que levara à tragédia na capital havia sido encontrado em um depósito
ligado à Divisão de Contrabando da Oito Dedos. Sendo esse o caso, eles deveriam ter
agido imediatamente para destruí-los. No entanto, havia uma razão crucial para que não
pudessem fazê-lo, e apenas algumas pessoas sabiam disso.

Eles haviam começado a procurar o item porque Jaldabaoth havia vazado as informa-
ções a respeito. Isso segundo Renner. Contudo, Jaldabaoth poderia estar contando com
os humanos para encontrar o objeto que suas tropas não podiam, e foi por isso que a
informação vazou.

Como todos entendiam as implicações desse vazamento, eles haviam suprimido todas
as informações sobre o artefato e, como tal, não podiam mais ser usados como motivo
para atacar à Oito Dedos.

“Está trabalhando com o Capitão Guerreiro, não é? Não se preocupe, tudo deve ficar
bem. E aquelas pessoas que ajudou? Você ficou ocupado protegendo o Palácio, mesmo
assim deve ter saído um pouco, não?”

O coração de Climb balançou quando Renner soltou aquela bomba nele.

“S-Sim. Todos esperam ansiosos para expressar gratidão à senhora, Renner-sama.”

“Que maravilha. Então devo saudá-los.”

“A senhora não pode!”

Assim que o grito saiu de sua boca, Climb imediatamente percebeu que havia perdido
o controle. Ele abaixou a cabeça e começou a falar rapidamente, como se tentasse enco-
brir todas as suas palavras anteriores.

“Todos estão muito ocupados ainda e acredito que sua presença, Renner-sama, irá dis-
trair a todos do seu trabalho e, apesar de ser uma pena não expressar sua generosidade,
espero que a senhora entenda minhas palavras, Renner-sama.”

Quando ele levantou a cabeça, Climb se perguntou se o belo rosto de sua ama estaria
franzido pela infelicidade, ou um beicinho infantil que não combinava com sua idade. No
entanto, a expressão que Climb viu não era nada disso.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


293
Ela sorria.

Aquilo não era um simples movimento dos cantos da boca, mas sim um sorriso autên-
tico e sem reservas.

Climb viu Renner sorrir muitas vezes. Se ele voltasse o tempo em sua mente vascu-
lhando momentos felizes, ele veria aquele sorriso no rosto dela depois que ela o resgatou.
No entanto, o sorriso dela agora era um pouco diferente daquela época.

Antes que ele pudesse entender a resposta, sua expressão voltou ao sorriso fraco que
ela sempre usava.

“...Bem, então não podemos ir, huh?”

Climb reprimiu um suspiro de alívio quando Renner aceitou sua explicação.

A verdade era que ele acabara de alimentar sua mestra com um monte de mentiras.
Climb não ouvira uma única palavra de gratidão dos cidadãos que encontrara. Pelo con-
trário, eles descarregaram culpa e desprezo nele. “Por que só salvou a nós”, e assim por
diante.

Eles tinham juntando toda a raiva — com a perda de suas famílias e riqueza — e joga-
ram toda sua raiva sobre Climb.

Climb suportara esse ressentimento porque aquelas pessoas não tinham mais ninguém
para culpar, e também por sentir culpa por não atender perfeitamente os comandos de
Renner.

Mesmo assim, doeu ouvir aquelas palavras, especialmente depois que ele lutou contra
aquele poderoso demônio para salvá-las.

O demônio que eles encontraram no armazém estava em um nível completamente di-


ferente dos outros. Poderia ter vencido Brain Unglaus sem problemas, por sorte, apenas
por causa de suas muitas feridas que saíram vitoriosos. Se aquele demônio tivesse apa-
recido diante deles em um estado sadio, eles certamente teriam sido derrotados. Depois
de ouvir o quão poderoso era por Lakyus, ele ficou silenciosamente grato que consegui-
ram de alguma forma triunfar sobre ele.

E depois dessa luta de vida e morte, os únicos agradecimentos que recebeu foram as
queixas mencionadas acima. Embora dissesse a si mesmo que já estava acostumado com
isso, as palavras ainda lhe machucavam profundamente.

Na verdade, teria sido bom se Climb tivesse tingido aquelas pessoas com intenção as-
sassina. Ninguém diria nada se Climb devolvesse os insultos que recebera em sua posi-
ção de cavaleiro pessoal da Princesa, mas se fizesse isso, a posição de Renner estaria em

Epílogo
294
perigo. Se o ódio deles fosse direcionado para a Princesa e os levasse a difamá-la, ele
seria impotente para sacar sua espada contra eles.

“Ouça, Climb. Eu tenho... notícias desagradáveis. Ouça com atenção.”

Climb fechou os olhos por alguns segundos, depois os abriu novamente.

“As mulheres que você e o Sebas-san trabalharam juntos para salvar do bordel... foram
assassinadas.”

Incapaz de compreender o que Renner acabara de dizer, sua boca se abriu e fechou en-
quanto ele soltava alguns sons que poderiam ter sido confundidos com a fala.

“Como... mas como... como isso aconteceu...”

Dada a situação, as mulheres deveriam ter ficado escondidas em uma sala de espera e
então enviadas para as propriedades da Renner.

“Isso foi um erro de cálculo da minha parte. Eu queria contratar aventureiros como
guardas, mas devido ao distúrbio, todos tinham sido empregados por outros. Então eu
tive que usar mercenários em vez disso...”

Renner balançou a cabeça, como se dissesse que tudo tinha sido culpa dela.

“Is-isso não é verdade! Definitivamente não é sua culpa, Renner-sama! É os que as ata-
caram que são os culpados!”

“Não! Se eu tivesse sido mais cuidadosa, se eu tivesse considerado as coisas com mais
atenção... que a perturbação teria enfraquecido a segurança na capital, se eu tivesse dei-
xado elas escaparem assim que percebi o perigo, nada disso teria acontecido! Se você
estivesse lá Climb, talvez não tivesse sido assim. E até os aventureiros que recomenda-
ram os mercenários ficaram chocados...”

Lágrimas começaram a preencher os cantos dos olhos de Renner.

O peito de Climb doía como se seu coração estivesse sendo agarrado. Talvez tenha sido
um erro da parte de Renner, mas ela tirou o melhor de uma situação ruim. Então, quem
era o culpado?

“Renner-sama, a senhora não fez nada errado!”

Ouvindo a forte declaração de Climb, Renner, que havia sido tocada profundamente por
Climb, levantou-se e o abraçou com força.

Para acalmá-la, Climb se moveu para abraçá-la— não. Isso seria perigoso.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


295
“Mas, como que a informação...”

“Eu não sei. A segurança da capital estava mais fraca durante a perturbação; talvez te-
nha acontecido durante esse tempo? Elas deveriam ter sido transferidas imediata-
mente...”

Ele não podia descartar isso. Pode ter sido que os atacantes tivessem seguido os locais
e as pessoas protegidas por Climb até encontrarem o caminho para o esconderijo.

“Onde os corpos foram encontrados?”

“Nos bairros pobres da capital, mas eu não sei os detalhes.”

“E os cadáveres?”

“Elas já foram enterradas. Por quê pergunta?”

“Eu queria examinar as feridas, ver que tipo de pistas eu poderia encontrar.”

“...Climb, já chega. Elas já foram violadas demais. Pelo menos deixe-as descansar em paz.”

“...Entendido.”

A bondade de Renner tocou Climb no fundo de seu coração. Certamente, suas palavras
tinham mérito. Sentiu-se envergonhado por não ter consideração pelos sentimentos
dela, e a vontade de descobrir a verdade cresceu dentro dele.

“Por favor, não se culpe assim. Isso definitivamente não é... ah, já disse isso.”

Renner sorriu. Embora seus olhos ainda estivessem vermelhos, não havia mais lágrimas
neles.

“Sim.”

A expressão estoica de Climb se quebrou e ele sorriu.

“Perdoe-me por mantê-lo aqui. Então, Climb, volte ao seu trabalho.”

Embora ele sentisse uma pontada de anseio pelo calor que havia deixado em seu peito,
ele imediatamente reprimiu seu desejo.

♦♦♦

10º Dia do mês Baixo Fogo (9º mês) - 09:08

Hoje foi um dia auspicioso para viagens, sem nuvens manchando o céu azul.

Epílogo
296
A capa carmesim do homem de armadura preta ondulava ao vento. Evileye perguntou:

“O senhor vai voltar?”

Foi uma pergunta intrigada, mas Evileye teve uma sensação estranha. Dizia-se que os
aventureiros não tinham raízes, mas alguns aventureiros transformaram certas cidades
em sua base, bem como a Rosa Azul. Para Momon, sua base seria E-Rantel.

“Eu-eu, quero dizer, há muitas pessoas que gostariam de ir com...”

Evileye não podia acreditar que ela estava fazendo barulhos tão ruidosos e simulados.
Ela refletiu que dificilmente se encaixava em uma colegial apaixonada, que sonhava com
seu amado, mas apenas a palavra “amor” já jogava sua mente em caos.

“...Não se preocupe com isso.”

E assim ele respondeu.

Foi bem fria, pensou Evileye.

Sem idéia do que mais dizer, o vento soprava forte entre os dois. O homem que esperava
por esse silêncio falou.

Evileye sentiu que este não era o modo adequado para um homem e uma mulher se
despedirem, mas infelizmente não estavam sozinhos. Atrás do Momon estava Nabe, e
atrás de Evileye estavam suas companheiras da Rosa Azul. E então havia os magic cas-
ters que levariam Momon à E-Rantel.

“Você nos fez um grande favor.”

Momon assentiu em resposta ao agradecimento de Raeven.

“Sua Majestade queria transmitir gratidão pessoalmente, mas...”

Durante a perturbação na capital, Momon se tornou um nome familiar em toda a capital.


Afinal, ele era o herói negro que desafiara o arquidemônio Jaldabaoth a uma luta e o
derrotou. Era natural que o Rei quisesse expressar sua gratidão pessoalmente. Se as coi-
sas corressem bem, ele poderia até receber um título nobre. Entretanto, Momon havia
rejeitado a última oferta e recusou a reunião.

Definitivamente não era a atitude esperada. Os nobres, que valorizavam suas reputa-
ções, sentiam que não era nada menos que arrogância um plebeu sem nome se compor-
tar assim diante do Rei, cuja posição era superior à deles.

Fofocas começaram a circular de que Momon esnobava o Rei.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


297
Houve também aqueles que ficaram indignados por um mero aventureiro ser tão des-
respeitoso.

Uma parte dos nobres continuou dizendo que Momon havia cometido um erro ao não
dar o golpe final em Jaldabaoth e deixá-lo fugir, mas como Momon tinha o apoio de Rae-
ven, eles mantinham as bocas fechadas.

“Momon-san estava a meu serviço, insultá-lo é como insultar a mim”, disse Raeven em
tom de ameaça.

E o próprio Momon acrescentou: “Simplesmente aceitei um pedido como aventureiro e o


completei. Não é nada digno da atenção pessoal de um Rei e, para ser honesto, todos os
aventureiros que participaram da batalha também deveriam receber elogios.” Isso apazi-
guou os nobres e as fofocas cessaram.

Mas as chamas ainda não haviam sido apagadas. Alguns levantaram suas vozes para
criticar Momon, pois os nobres acharam que haviam sido insultados.

Evileye recordou o que Lakyus, uma nobre, dissera a ela.

Sem Momon, o distúrbio na capital não teria sido resolvido e não seria difícil imaginar
a escala do dano causado. No entanto, os únicos que vieram ver Momon foram as inte-
grantes da Rosa Azul e o Marquês Raeven, pois Momon tinha ficado em uma posição
complicada.

Durante o incidente, os que receberam elogios foram os aventureiros, o Rei, o Segundo


Príncipe e o Marquês Raeven. Em contrapartida, a opinião pública sobre os nobres havia
caído.

Os nobres, por sua vez, imploravam para saberem diferir as coisas. A capital estava sob
a jurisdição direta do Rei e, como proprietários de terras, embora fizesse sentido enviar
tropas para ajudar a capital, eles não tinham obrigação de fazê-lo. De fato, considerando
que suas próprias propriedades poderiam ter sido atacadas pelos demônios, era muito
mais sensato para eles protegerem suas respectivas propriedades.

Após o incidente, a Facção Nobre começou a assumir a posição firme de que qualquer
homem que não protegesse seu próprio domínio não poderia ser chamado de rei. En-
quanto isso, a Facção Real jogou com o fato de que, em vez de se esconder, seu monarca
ousou liderar o exército. E assim a luta pelo poder entre os dois lados se intensificou.

No meio dos atritos, os cidadãos da Capital Real, que não tinham interesse nessa luta,
estavam infelizes. “Por que esses nobres só se preocupam com seus próprios umbigos?”

Como tal, seu respeito pelos que realmente lutaram por eles cresceu, já as críticas ne-
gativas foram se acumulando nas costas dos nobres, com quem já não iam com a cara.

Epílogo
298
No fim, transformou-se em um ciclo vicioso e os nobres acabaram transferindo a culpa
para os aventureiros.

“Contratamos um bando de desvairados, maníacos de batalha, só querem lutar até mor-


rer”, e assim por diante.

No incidente, Momon, o mais conceituado aventureiro do Reino, tornou-se um alvo.


Como resultado, era apenas óbvio que nenhum dos nobres compareceria para despachá-
lo. Mesmo que alguns deles fossem amigáveis para com ele, eles estariam em um ponto
difícil por causa da luta pelo poder.

O único motivo que fazia Raeven ser capaz de estar aqui, era porque voava entre facções,
como um morcego.

“Esta é uma carta de agradecimento do Rei, do Segundo Príncipe e da Terceira Princesa.


E esta é uma comenda que o isenta de todos os pedágios dentro das fronteiras do Reino.
E também, uma adaga dada pelo Rei. Por favor, aceite-os.”

Como uma nobre, Lakyus não pôde deixar de suspirar, Evileye sabia exatamente o por-
quê. Ser premiado com uma adaga pelo rei tinha o mesmo significado de ser condeco-
rado cavaleiro ou nobre por grandes feitos em batalha. Nessas intensas lutas pelo poder,
essa adaga causaria muitos atritos se os nobres descobrissem. Ela teve que reconhecer
que fazê-lo receber a adaga tinha sido uma jogada brilhante.

E eu aqui pensando que o Rei era só um velho decrépito em cima do muro. Vou ter que
rever meus conceitos.

Momon aceitou a adaga de uma maneira indiferente e a entregou à Nabe, que estava
atrás dele.

“Bem, talvez os nobres apenas considerem isso como um pagamento justo e fiquem qui-
etos...” Evileye disse baixinho.

Do ponto de vista dos nobres, alguém com carisma e poder se tornando um nobre não
seria motivo de riso. Seria especialmente problemático se um guerreiro mais poderoso
que Gazef Stronoff se juntasse à Facção Real. Assim, se o Rei decidisse conceder um título
nobre a Momon, os nobres usariam a adaga como desculpa para criticá-lo. Embora o Rei
fosse quem concedesse a adaga, era um presente muito significativo, mesmo como elogio.

Talvez eles apenas tolerem isso sem gerar problemas. Enquanto Evileye pensava, suas
colegas discordaram:

“...Você é muito ingênua, Evileye.”

“Isso aí, ingênua. A Facção Real está um passo à frente desta vez.”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


299
“Por quê?”

“...Porque a adaga é concedida a nobres e cavaleiros.”

“Então, no futuro, quando a necessidade vier para promover o Momon-san, eles podem
usar a adaga para calar os nobres. Isso nunca seria concedido aos plebeus, você sabe
disso, né? Pois é como se ele tivesse um título nobre reservado para ele, ou pelo menos
é o que isso implica.”

“Faz sentido... Nunca pensei que analisaria as coisas até esse ponto.”

“He-he. E com muito orgulho.”

“Não subestime o intelecto de ex-assas— ninjas.”

“Então, hora de ir, Marquês Raeven. Obrigado por tudo.”

“Não foi nada. Espero que continuemos nosso relacionamento cordial no futuro.”

“Igualmente. E para a Rosa Azul, minhas colegas aventureiras em posição de adaman-


tite, espero que possamos permanecer em contato próximo. Espero contar com as se-
nhoritas se alguma coisa acontecer.”

“Nós que deveríamos dizer isso, Momon-san. Depois de ver o seu poder, estamos quase
envergonhadas de nos chamarmos de aventureiras adamantite, mas faremos o nosso
melhor para alcançar sua expectativa, Momon-san. Estou ansiosa para trabalharmos
juntos novamente.”

Lakyus e Momon acenaram um para o outro.

E então, Evileye sentiu o olhar de Momon se focalizando nela. Isso não foi um equívoco.
A prova disso era que Momon parecia estar prestes a dizer alguma coisa. Mas parou no
meio do caminho.

Evileye sentiu seu coração inerte bater em seu peito.

Se Momon pedisse para ela se tornar sua companheira, Evileye definitivamente aceita-
ria. Seria uma traição para com suas camaradas com quem passara por bons e maus mo-
mentos, mas, mesmo assim, Evileye queria ser sincera com seus sentimentos.

Como se estivesse confuso, Momon continuou andando e parando várias vezes antes de
finalmente expirar e se virar. A capa carmesim ondulou com seu movimento.

Vendo suas costas lentamente recuarem, Gagaran provocou Evileye.

“Levou um fora.”

Epílogo
300
“Não, não é nada disso. Esse é o tipo de homem que ele é.”

Momon subiu na 「Floating Board」 criada pelo magic caster de Raeven e flutuou len-
tamente para cima, mas Evileye não desviou os olhos dele por um único momento.

“Qual será a próxima vez que vamos encontrá-los?”

“Seria bom se fosse uma missão simples, em vez de um incidente dessa escala.”

“Isso pode ser difícil.”

“Nem brinca.”

Suas companheiras da Rosa Azul conversavam.

Se aventureiros ranques adamantite se reunissem para um trabalho, definitivamente


seria por causa de algo grande.

“Mas fazer uma visitinha não deve ter problemas, né? Evileye sabe magia de teletrans-
porte. Não deve ser difícil ir pra E-Rantel. Se tivesse ido com ele, não seria como matar
dois coelhos com uma cajadada? Deve ser muito seguro viajar ao lado do Momon-san!”

Evileye ficou chocada e sem palavras enquanto olhava para Gagaran. Embora ela esti-
vesse usando máscara, sua expressão cômica ficou evidente através de sua atitude.

“Ei, ei, quer dizer que não tinha pensado nisso? Relacionamentos à longa distância
nunca dão certo, não sabia? Ah é, acho que nem tinham começado nada, né...”

Gagaran olhou para o céu, e o olhar de Evileye se voltou para o céu também. Ao longe,
ela viu a figura de Momon mais ao longe.

“Uwaaaaaaaaaaahg!”

O grito de desespero de Evileye foi como um grito de raiva, suas companheiras apenas
riram em torno dela.

♦♦♦

10º Dia do mês Baixo Fogo (9º mês) - 18:45

Esta reunião de emergência da Oito Dedos tinha sido incomum desde o início. Para co-
meçar, nem todos estavam presentes. Uma das pessoas desaparecidas era Cocco Doll,
mas todos sabiam que havia sido preso, então nem o consideraram. O problema era que
a outra pessoa desaparecida, Zero.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


301
Todo mundo sabia que ele não era um traidor. Isso só piorou as coisas.

Pela informação que reuniram, a morte de Zero foi confirmada. No mesmo dia, os su-
bordinados que ele enviara na missão de “Matar Todos Que Nos Insultaram” também
foram massacrados.

As perdas foram colossais. Embora os subordinados que despacharam fossem dispen-


sáveis, a morte do homem mais forte da Oito Dedos e chefe da Divisão de Segurança,
Zero, não era uma que pudessem simplesmente ignorar.

Todos os departamentos aqui competiam entre si, mas ainda pertenciam à mesma or-
ganização. Essa perda teria repercussões para todos.

Debate surgiu entre eles.

O que deveriam fazer sobre a vaga deixada pela morte de Zero? E quanto a Cocco Doll?

Em circunstâncias normais, eles simplesmente recomendariam um de seus funcioná-


rios para essa posição, mas havia uma razão pela qual não podiam fazer isso.

Isso é, por causa da invasão demoníaca na capital. A consequência do ocorrido não foi
nada bonita. Os esconderijos de todos foram atacados no mesmo dia, porém, uma perda
ficou acima de todas as outras. Para o chefe da Divisão de Contrabando, as coisas esta-
vam tão ruins que não poderiam mais piorar.

Muitos de seus armazéns haviam sido saqueados e, depois de verificar os armazéns res-
tantes que não haviam sido invadidos, mais da metade de seu contrabando tinha desa-
parecido.

“—Até que consigamos nos recuperar, precisamos trabalhar juntos.”

“Mas sempre fazemos isso...”

“Corta o papo-furado. Precisamos fazer isso de verdade agora. Acho que devemos mu-
dar nossas atividades para fora da capital. O que me dizem?”

“Não concordo. Pelo contrário, agora é o momento certo de focar na capital. É hora de
colocar o novo capitão da guarda na nossa folha de pagamento. Se fugirmos agora, vai
ser o mesmo que desistir da capital e dos ganhos.”

“Mmm. Isso é certamente uma possibilidade. Mas com a Divisão de Segurança— com a
nossa força de combate em farrapos, não seria perigoso ficar aqui?”

Os cinco chefes de divisão ficaram intrigados com o problema, depois se dirigiram à


única pessoa que não havia dito uma única coisa até agora.

Epílogo
302
“Hilma, o que acha?”

O corpo da mulher estremeceu. Essa foi uma reação que ela nunca havia mostrado antes
em reuniões anteriores. As olheiras sob seus olhos eram impossíveis de esconder com
maquiagem, estava tão abatida que nem parecia viva.

“Algum problema? Ouvi dizer que sua mansão foi atacada também... mas conseguiu es-
capar no túnel de fuga secreto, não? Viu algo que te assustou?”

Todos os outros chefes tinham seus guardas de prontidão logo atrás, mas Hilma não
tinha ninguém.

“...”

“Problema?”

Quando a boca de Hilma se abriu, o mesmo aconteceu com a porta da sala de reuniões.

“Prooontinho! Pode ir parando por aí!”

Uma voz animada veio de um Elfo Negro entrando na sala, que por sua vez foi seguido
por uma Elfa negra apreensiva que usava saia.

Todos ficaram atordoados.

Se fossem adultos, talvez pudessem ter tido uma reação diferente, mas na frente de seus
olhos havia um par de crianças que estavam totalmente destoantes em uma sala como
esta. Os chefes ainda tentavam freneticamente descobrir se eram inimigos.

“Então, huh. Todos vocês vão virar servos do nosso grande Mestre!”

O silêncio tomou conta, eles provavelmente não entenderam o que isso significava, en-
tão o menino repetiu a si mesmo.

“Meu grandioso Mestre concluiu que em vez de assumir o controle da liderança do país,
seria mais eficaz controlar vocês. Então, a gente vai perdoar seus pecados e permitir que
se tornem nossos servos... hm, escravos? Marionetes? Ah, quem liga pra isso? Mesmo
assim, parabéns!”

O Elfo Negro começou a bater palmas, seguido logo por sua irmã inquieta, que apertou
o cajado sob o braço para aplaudir também.

“Para-parabéns—”

“—Que palhaçada é essa!?”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


303
Os líderes ainda estavam tentando descobrir se eram inimigos ou aliados. Era cedo de-
mais para concluir que eles eram inimigos, mas a vida no submundo lhes ensinara a não
pensar muito, primeiro vinha sua própria segurança, matar seus inimigos viria em se-
gundo plano.

Eles não entendiam as verdadeiras intenções dos Elfos Negros, mas desde que o outro
lado tinha intrometido tão descaradamente nessa reunião, isso provavelmente signifi-
cava que eles poderiam enfrentar todo mundo aqui. Se fosse esse o caso, provavelmente
até mesmo os melhores guarda-costas que cada chefe de seção poderia contratar seriam
incapazes de vencê-los. Afinal, a menos que o inimigo fosse estúpido, se chegaram até
aqui, eles teriam muito bem como cuidar de qualquer revés que planejassem, parece que
escapar com segurança seria a maior prioridade neste caso.

Cada chefe de divisão usaria seus próprios guardas como escudos sem hesitação. Todos
tiveram a mesma idéia e começaram a se mover para executá-la.

No entanto, isso já havia sido antecipado. A primeira coisa que os chefes perceberam
quando tentaram se levantar foi que não podiam se mover.

“Ah? Oooghh? Ghhhhhhh!?”

Seus corpos estavam completamente imóveis, e até mesmo suas línguas eram incapazes
de se mover. A baba escorria pelos lados de suas bocas.

O menino que acabara de exalar sua respiração começou a rir.

“Então, vamos levar vocês pra um lugar alegre e muito legal!”

“S-sim. P-por favor nos acompanhe.”

O corpo de Hilma começou a tremer impetuosamente.

“E-espera! Não vou passar por aquilo, não é? Eu fui cooperativa, não fui?”

Quando perceberam quem os havia traído, todos os homens voltaram seus olhares para
a única mulher presente.

“P-por favor! Estou lhe implorando! Eu não aguento mais! Não aguento mais!”

“Hmmm~ do que tá falando?”

“Eu-eu acho que ela fala de ser levada para o quarto do Kyouhukou, onde seus órgãos
estavam sendo constantemente devorados por dentro.”

O rosto do Elfo Negro se contorceu em uma espécie de expressão “Eca~”.

Epílogo
304
Hilma deve ter se lembrado de algo. Ela se abraçou com força, as duas mãos se aper-
tando, o corpo tremendo ferozmente. Uma mão cobriu sua boca enquanto as lágrimas
brotavam continuamente de seus olhos. Pelo tom esverdeado do rosto, ela parecia pres-
tes a vomitar.

“E-e—”

“Já chega. Já curou ela com sua magia, né? É natural que ela seja uma boa menina. Tô
até estranhando que não mandaram matar ninguém...”

“Mm, mm. Há muitos cadáveres já, e ela é útil para comandar a organização.”

“Saqueeei. Bem, então, Oba-san, boa sorte~ Se trair a gente, te trancamos lá de novo~!”

“Eeeeeek!”

Hilma assentiu vigorosamente, enquanto ainda estava esverdeada. Essa era claramente
a aparência de alguém cuja vontade de resistir tinha sido totalmente quebrada, e obede-
ceria a qualquer ordem dada sem hesitação.

“Mesmo assim, antes da gente saber se vão obedecer, quero que cuide deles por en-
quanto, tá bom?”

“M-mas é claro! Podem contar comigo! Nós definitivamente podemos ser úteis!”

A partir do desesperado e patético gesto de submissão de Hilma, os homens percebe-


ram que também experimentariam tormentos que os moldariam em algo parecido com
ela, assim empalideceram.

“Já até trouxe alguns dos meus subordinados pra te ajudar. Faça um bom uso deles. Ah,
também tem um pessoal aí que não podem tentar matar, depois eu explico.”

O Elfo Negro estava sorridente e pontuou:

“Acho que é isso aí! Metade desse país já é nosso! Mas... o que o Demiurge estava di-
zendo sobre plantar as sementes de um reino... ah, quem se importa. Acho que agora é ir
pra outro país!”

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


305
Posfácio

Epílogo
306
As coisas ficaram de mal a pior de várias maneiras no Volume 6. O que acharam, caros
leitores?

Do meu ponto de vista como o autor, esse é o tipo de coisa que combina com OVERLORD.
Eu ficaria feliz se todos se sentissem da mesma maneira. Afinal, protagonistas de light
novel geralmente não agem assim.

Se notarem, os foreshadows desses eventos começaram há vários anos, e agora posso


dizer com orgulho: “Eu tinha tudo isso em mente desde muito antes”. No entanto, se fosse
muito óbvio, as pessoas já descobririam tudo bem antes... é algo bem desafiador. Eu acho
que a coisa mais difícil de entender é o diário, foi mencionado no Volume 2. Dado o ob-
jetivo real daquela cena, não haveria necessidade de lê-lo, mas a adversária daquele vo-
lume era exagerada além da conta. Então, bisbilhotar não seria estranho, né? Contudo,
não houve muita pesquisa feita. Quase como se alguém soubesse exatamente onde a
coisa estava... que sorrateira.

Assim, depois de ler esta história, poderá encontrar algumas descobertas surpreenden-
tes se reler os volumes anteriores.

Quanto aos personagens, Evileye é definitivamente a MVP dos Volumes 5 e 6. No en-


tanto, eu pessoalmente gosto do ladino que foi nomeado só no fim. Aqueles leitores que
pensam “ah, é bom ser jovem” devem entender como eu me sinto.

As coisas são assim; obrigado por gostarem dos últimos volumes. Estou muito interes-
sado em saber como se sentem sobre isso. Embora eu me sinta mal em fazer pagar por
enviar uma carta, ficarei muito feliz em ler o que pensam.

Então, agradeço às seguintes pessoas.

So-bin-sama, F-da-sama, Ohaku-sama, Chord Design Studio e todos que ajudaram a fa-
zer de OVERLORD o que é hoje; muito obrigado. Além disso, obrigado por toda sua ajuda,
Honey.

E finalmente, obrigado a todos os leitores que compraram este livro. Muito obrigado!

Maruyama Kugane
Ilustrações
Glossário
Glossário
-Magias, Habilidades & Passivas- Maximize Magic:... Maximizar Magia - aumenta o poder
Tradução livre de seus nomes destrutivo da magia.

Acid Splash: ........................................................... Jorro Ácido.


Armageddon: Evil: .................................. Armagedom: Mau. -Itens-
Bakuenjin: ........................... Coluna de Chamas Explosivas. Tradução livre & Curiosidades
Blood Frenzy: .......................................... Frenesi de Sangue.
Breath of Flies: ........................................... Sopro de Moscas. Armband of the Beast King: .....Braçadeira do Rei Besta.
Crystal Dagger:............................................ Adaga de Cristal. Belt of Greater Power: ..................... Cinto da Força Maior.
Crystal Lance: .............................................. Lança de Cristal. Boots of Speed: .................................... Botas da Velocidade.
Crystal Shield: ........................................... Escudo de Cristal. Brillhant Diamond:............................. Diamante Brilhante.
Crystal Wall: ............................................... Parede de Cristal. Caloric Stones: ................................................ Pedra Calórica.
Dance: ................................................................................Dança. Cat's Elegance: .......................................... Elegância de Gato.
Dark Blade Mega Impact: . Mega Impacto da Lâmina Ne- Cloack of Fire Protection:....... Manto de Proteção contra
gra. Fogo.
Dimensional Lock: .......................... Bloqueio Dimensional. Cloak of Rat Speed: ........................... Manto do Rato Veloz.
Fireball: ............................................................... Bola de Fogo. Crimson Guardian: ............................... Guardiã Carmesim.
Fleshgrinding: ................................................ Triturar Carne. Deflection Ring: ......................................... Anel da Deflexão.
Floating Board: ....................................... Prancha Flutuante. Dragontooth Amulet: .............. Amuleto Dente de Dragão.
Fly: ........................................................................................ Voar. Fel Iron: .......................................................................Ferro Vil.
Fudou Kanashibari no Jutsu: .... Jutsu: Paralisia do Sono Floating Swords: ................................... Espadas Flutuantes.
Imutável. Frost Pain: ...................................................... Dor Congelante.
Fudou Kongou Tate no Jutsu: .... Jutsu: Escudo Adaman- Gauntlet of the Giant: ......................... Manopla do Gigante.
tina Imutável. Gauntlets of Kerykeion: ............Manoplas de Kerykeion -
Gate ................................................................................... Portal. Kerykeion é o nome grego para Caduceu.
Greater Teleportation: ................... Maior Teletransporte. Gaze Bane: ................................................ Perdição do Olhar.
Hellfire Wall: ............................... Paredão Fogo do Inferno. Hate Amber: ................................................... Âmbar do Ódio.
Icy Burst: .........................................................Estouro Gelado. Magic Dye: ....................................................... Tintura Mágica.
Invisibility: ........................................................Invisibilidade. Monk’s Black Belt: ................... Cinturão Negro de Monge.
Kage Bunshin no Jutsu: ........... Jutsu: Clone das Sombras. Move Plus: .................................................... Mais Movimento.
Master Assassin: ....................................... Mestre Assassino. Orb of Magical Boost: ................. Orbe de Impulso Mágico.
Message: .................................................................. Mensagem. Powder of Will O' Wisp: ....................... Pó de Will O 'Wisp.
Multiple Vision: ............................................. Visão Múltipla. Ring of Energy Boost:...........Anel do Impulso de Energia.
Perfect Warrior: ..................................... Guerreiro Perfeito. Rose Thorn: ................................................. Espinho da Rosa.
Raise Dead: .................................................. Levantar Mortos. Scabbard of Haste: ................................... Bainha da Pressa.
Region Petrification: ................................ Petrificar Região. Shroud of Sleep: ..........................................Sudário do Sono.
Reverse Gravity: .................................... Gravidade Reversa. Spears-Blocking Hood: ................ Capuz Bloqueia-Lanças.
Sand Field: All: ............................... Campo de Areia: Todos. Spuit Lance: ........................................................ Lança Pipeta.
Sand Field: One: .................................. Campo de Areia: Um. Sylphide:Sílfide – Essa palavra vem do francês, e significa
See Invisibility: ........................................ Ver Invisibilidade. tanto uma gênio mulher, quanto uma mulher esbelta ou
Shard Buckshot: .................. Chumbo Grosso de Estilhaço. mesmo bailarina.
Silence: ...........................................................................Silêncio. Twister Circlet: .............................................. Tiara Tornado.
Summon Monster 3rd: ....................... Invocar Monstro 3º. Urumi:Um tipo de espada flexível comum na cultura ma-
Talismã: Bakusan: ............................. Dispersão Explosiva. laia, lá chamada de ഉറുമി.
Talismã: Raichou Ranbu: .. Revoada Pássaro do Trovão. Vest of Resistance: ............................Colete de Resistência.
Talismã: Raichou: ................................. Pássaro do Trovão. Virgin Snow: ............................................................. Neve Virgem.
Talismã: Shikigumo: ..................................................Aranha. Viper’s Tattoo: ..................................... Tatuagem da Víbora.
Talismã: Shoukaze: ................................. Vento Perfurante. Whetstone of Keane: ..............Pedra de Amolar de Keane.
Talismã: Surudoki: .............................. Navalhas Cortantes. Wing Boots: ........................................................ Botas Aladas.
Time Accelerator: ............................ Acelerador de Tempo. World War: .................................................... Guerra Mundial.
Translocation Damage: ................. Translocação de Dano.
Vermin Bane: ........................................... Veneno de Insetos.
Void Cutter: ..................................................... Corte do Vazio. -Termos & Terminologias-
CEO:É a sigla inglesa de Chief Executive Officer, que sig-
-Metamagia- nifica Diretor Executivo.
Cimitarra:É uma espada de lâmina curva mais larga na
Penetrate Maximize Magic:... Maximizar Magia Pene- extremidade livre, com gume no lado convexo, utilizada
trante – aumenta o poder destrutivo da magia e adici- por certos povos orientais, tais como árabes, turcos e per-
ona penetração mágica. sas, especialmente pelos guerreiros muçulmanos.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


331
Dakimakura:(抱き枕) “travesseiro para abraçar” tam- PKED: ................. O ato de ser morto por outros jogadores.
bém chamado de love pillow no ocidente é um tipo de tra- PKing: ............................... O ato de matar outros jogadores.
vesseiro do Japão, considerado um brinquedo sexual por Rigor Mortis: Do latim rigor, rigidez e mortis, morte, ou
alguns, geralmente possui a foto de algum personagem. rigidez cadavérica, é um sinal reconhecível de morte que
Déjà vu:É um galicismo que descreve a reação psicoló- é causado por uma mudança bioquímica nos músculos,
gica da transmissão de ideias de que já se esteve naquele causando um endurecimento dos músculos do cadáver e
lugar antes, já se viu aquelas pessoas, ou outro elemento impossibilidade de mexê-los ou manipulá-los.
externo. O termo é uma expressão da língua francesa que Rococó:O termo forma da palavra francesa rocaille, que
significa: “Já visto”. significa “concha”, associado a certas fórmulas decorati-
Drop:Itens deixados por monstros após serem mortos vas e ornamentais como por exemplo a técnica de incrus-
em jogos, o termo também vale para a taxa com qual os tação de conchas e pedaços de vidro, usados na decoração
itens veios em sorteios, lootboxes. de grutas artificiais. Foi muitas vezes alvo de apreciações
Entomante:Ento = Insetos + mante = adivinhação, é o uso estéticas pejorativas. Foi um movimento estético que flo-
das habilidades do magista para contatar os insetos. resceu na Europa entre o início e o fim do século XVIII,
Fajin:Ou fa jin, fa chin (fājìn, 發勁), às vezes escrito incor- migrando para a América e sobrevivendo em algumas re-
retamente como fajing, é um termo usado em algumas ar- giões até meados do século XIX.
tes marciais chinesas, particularmente as neijia de artes Seven Hidden Mines: ............................... Sete Minas Ocultas.
marciais, como xingyiquan, t'ai chi ch'uan (taijiquan), ba- Seven Sisters: ......................................................... Sete Irmãs.
guazhang, bak mei e bajiquan. Significa emitir ou descar- Six Stars: ................................................................ Seis Estelas.
regar energia explosivamente ou refinar a potência explo- Skin:Geralmente é um visual alternativo dado a um pro-
siva, e não é específico para nenhum método específico grama computacional.
de ataque. Traje de Luces:Ou traduzido, “Traje de luz”, é a roupa
Farmar:Palavra comumente utilizada por jogadores de tradicional que os toureiros espanhóis usam na praça de
RPG para identificar o ato de acumular um grande nú- touros. O termo se origina das lantejoulas e fios reflexivos
mero de um determinado item com algum objetivo atra- de ouro ou prata. Estes trajes baseiam-se nos trajes extra-
vés de um processo repetitivo. vagantes dos dândis e showmen do século XVIII envolvi-
Florete:Um tipo de espada pontiaguda afiladas e sem dos nas touradas, que mais tarde se tornaram exclusivos
gume. do ritual das touradas. Adornos posteriores incluem o
Gehenna: Ou Geena (do hebraico ‫הִ נֹּ ם‬-‫גֵיא בֶ ן‬, transl. Geh chapéu de lã, bordados mais elaborados e acessórios de-
Ben-Hinom, literalmente “Vale do Filho de Hinom”) é um corativos.
vale em torno da Cidade Antiga de Jerusalém, e que veio a
tornar-se um depósito onde o lixo era incinerado. Atual-
mente é conhecido como Uádi er-Rababi. -Nomes-
Itens de Cash:.............. Itens comprados usando dinheiro.
Kamikaze: É uma expressão japonesa que significa Jaldabaoth:Também chamado de Yaldabaoth. Em textos
“vento divino” e é usada até hoje para se referir aos pilo- gnósticos como no Apócrifo de João e Da origem do Mundo,
tos do exército japonês, que eram enviados a missões sui- Demiurge, o filho de Sophia, recebe nomes que definem a
cidas onde o caça Zero, da Mitsubishi, era utilizado deli- sua natureza: Yaldabaoth (“filho dos caos”), Sakla (do ara-
beradamente como um míssil. maico, “tolo”), Samael (“deus cego”) ou ainda Nebruel (ou
Ki:気 - é um elemento da cultura tradicional chinesa que Nebro). É ainda no Apócrifo de João que descrevem De-
se manifestaria como uma força cósmica que criou e per- miurge Yaldabaoth como um ser que tem o rosto que se
meia todo o universo. assemelha a um leão. No apócrifo Hipóstase dos Arcontes,
Kunai:苦無- é uma arma ninja que consiste em uma lâ- Yaldabaoth e Sabaoth são entidades diferentes, esta úl-
mina de ferro com um grande furo na base, destinado a tima seria o filho do primeiro, mas mesmo nessa versão,
amarrar cordas, originário da era Tensho no Japão. Eram Sabaoth tem função semelhantes, seu trono é uma imensa
destinadas ao arremesso com ou sem corda, a fim de ferir carruagem de querubins rodeada por anjos ministeriais.
o inimigo à grande distância. Muito utilizada por ninjas Platinum Dragonlord:Soberano Dragão de Platina. Os
em casos de assassinatos. kanjis de seu nome abaixo do furigana são de 白 金
Magic Caster:Termo utilizado em OVERLORD para ca- (Shirogane), significa “platina”.
racterizar toda uma ramificação classes que podem usar
magia. Algo como Conjuradores Mágicos, ou mais preferi-
velmente Conjuradores de Magia. -Raças & Monstros-
Mangual:Ou malho, é um instrumento através do qual se
malha cereais para debulhá-los. Consiste em um pedaço Chimera:Quimera (em grego: Χίμαιρα, transl.: Chímaira)
de madeira comprido e fino no qual se sustenta a base, é uma figura mística caracterizada por uma aparência hí-
chamado de mango, que serve de cabo. brida de dois ou mais animais.
Metralhadora Gatling: Ou Gatling Gun, é um tipo de me- Demon Swarm: ....................................Enxame de Demônio.
tralhadora desenvolvida no século XIX por Richard Jor- Elder Lich: ............................................................. Lich Ancião.
dan Gatling, nos Estados Unidos, durante sua Guerra Civil. Evil Lord: .......................................................... Lorde Maligno.
Foi projetada em 1861 e patenteada em 1862. Caracte- Fire Giant: ..................................................... Gigante de Fogo.
riza-se por ter vários canos rotativos, que aumentam seu Gazer Devil: ......................................... Diabo Contemplador.
poder de fogo. Pode ter três, quatro, seis ou até oito canos GiantBeetle:................................................. Besouro Gigante.
rotativos, e dispara uma alta quantidade de projéteis Greater Hellhound:.............................Grande Cão Infernal.
(mais de 1.300 balas por minuto), provando ser alta- Hellhound: ........................................................... Cão Infernal.
mente eficiente e mortal para a época.

Glossário
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Homunculus: Em latim, homunculus, “homenzinho”, Senpai:先輩 - senpai deve ser um exemplo em todos os
(plural homunculi) tem sido aplicado em várias áreas do aspectos possíveis, para mostrar aos kohai qual a postura
conhecimento humano. Na alquimia, o conceito do ho- que deve ser adotada. O senpai deve possuir habilidades
múnculo parece ter sido usado pela primeira vez pelo al- técnicas e de postura que inspirem seus kohai a fazer o
quimista Paracelso para designar uma criatura que tinha mesmo. É um “veterano”.
cerca de 12 polegadas de altura e que, segundo ele, pode-
ria ser criada por meio de sémen humano posto em uma
retorta hermeticamente fechada e aquecida em esterco
de cavalo durante 40 dias. Então, segundo ele, se formaria
o embrião. Outro alquimista que tentou criar homúnculos
foi Johanned Konrad Dippel, que utilizava técnicas como
fecundar ovos de galinha com sêmen humano e tapar o
orifício com sangue de menstruação.
Ice Dragon: ..................................................... Dragão de Gelo.
Lords of the Seven Deadly Sins:Senhores dos Setes Pe-
cados Capitais.
Overeating: .................................................................. Comilão.
Primordial Fire: .......................................... Fogo Primordial.
Primordial Ice: .............................................Gelo Primordial.
Shadow Demon: ........................................ Demônio Sombra.
Shikigumo:.....................................................................Aranha.
Surt: Ou Surtur, Surtr é o jötunn ancião, líder dos gigantes
de fogo em Muspelheim. Na mitologia nórdica, Surt é o gi-
gante de fogo que guarda Musphelhein. No Ragnarok, se-
gundo a mitologia nórdica, Surt lançará fogo nos nove
mundos.
Undead:................................................................... Morto-Vivo.
Will O' Wisp:No folclore, um Will O' Wisp, fogo-fátuo ou
ignis fatuus; latim medieval para “fogo do tolo”; é uma luz
fantasmagórica atmosférica vista pelos viajantes à noite,
especialmente sobre pântanos.

-Honoríficos & Tratamentos-

Denka:殿下 - É usada para a realeza não soberana, simi-


lar à “Sua Alteza”. Geralmente utilizado para príncipes e
princesas que são filhos do Imperador. Pode ser utilizado
como um título específico.
Kakka:閣下 - É um adereçamento militar a pessoas en-
volvidas com governo. O caractere kanji 閣 (“kak (u)”) sig-
nifica “gabinete / prédio / palácio do governo” e 下 (“ka”)
significa “abaixo/sob”. Colocado em conjunto, 閣 下 é
usado para se referir indiretamente a alguém sob o Gabi-
nete (teto do edifício), equivalente à Sua Excelência.
Kun:君 - O sufixo “Kun” é bastante utilizado na relação
“superior falando com um inferior”, mas apenas se hou-
ver um certo grau de intimidade e amizade entre ambos.
Oba-san:バアさん – Forma carinhosa de chamar uma
mulher idosa.
Onii:Uma maneira informal de falar irmão mais velho, e
se junto com o sufixo “chan”, denota uma forma carinhosa.
Sama:様 | さま- O sufixo “Sama” é uma versão mais res-
peitosa e formal de “san”. A traduções mais próxima do
termo “sama” para o português seria “Vossa Senhoria”.
No Japão, é importante referir-se a pessoas importantes
ou a alguém que admira e é muito importante, no império
antigo era muito usado para se referir a rainhas.
San:さん - O sufixo “San” é um honorífico que pode ser
usado em praticamente todas as situações, independente
do sexo da pessoa. Normalmente é usado para pessoas
que temos pouca ou nenhuma intimidade. Também usado
quando a pessoa considera o interlocutor como um de
igual hierarquia.

OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2


333
Notas da Tradução:
Maninho. Quando a Bukubuku chama o Peroron de maninho, ela usa Ototo 弟 e não
onii-chan.

Pirocão Rosa Ambulante. Isso tem um significado duplo... o termo usado em japonês
é ピンクの肉棒, o 肉棒 significa tanto “espeto de carne”, quanto uma gíria para pênis.
Pesquisem por sua própria conta e risco ( °͡ ͜ʖ ͡°). Vindo do Peroroncino, eu não duvido
que seja mais para o lado da putaria mesmo.

Cavalgador Aéreo. Vem de Air Rider.

Entoma. A arte a mostra com máscara na luta com a Rosa Azul, pois essas artes ficam
no início do livro. Talvez o fizeram assim para limitar os spoilers.

Rei & Lord. Essa parte teve que ter uma pequena adaptação. Pois em japonês alguns
monstros recebem o Kanji de Rei “王”, mas o Furigana de Lord “ロード”. Ex: Dragonlord
é escrito assim em Kanji “竜王” e em cima dos no kanjis têm assim “ドラゴンロード”.
Então, muitas vezes usam o kanji de Rei mas no sentido de Lord. Por isso a dualidade
quando falam das raças com títulos de Rei e Lord serem superiores.

Cabelo Rosa. Creio que seja uma correlação ao tabu que há nas escolas japonesas sobre
pintar cabelos. Muitas escolas têm regras rígidas sobre cores de cabelo, maquiagem,
acessórios, etc. Chega a um ponto de até mesmo forçarem pessoas com cabelos de outras
tonalidades naturais, que não o preto, a escurecerem seus cabelos.

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OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2
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OVERLORD 6 Os Homens do Reino - 2
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O Seis Braços, o mais poderoso esquadrão de combate da organização cri-
minosa Oito Dedos, começa a se mover dentro do Reino. Indo de encontro a
eles está o grupo de aventureiras adamantites, Rosa Azul, que pretende pôr
fim de uma vez por todas em seus atos vis.

Durante o confronto, o misterioso arquidemônio, Jaldabaoth, começa a agir


e as chamas tomam conta da Capital Real de Re-Estize, uma intensa batalha
se inicia.

ISNB: 978-4047293571

ISNB: 978-4047293571

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