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Sobre:
A obra faz uso de muitos anglicismos, ainda mais por se basear em RPGS, então há mui-
tos termos em inglês e tentei preservar vários desses aspectos em alguns termos, nomes
de armas, itens, raças e coisas do tipo.
Claro, algumas coisas precisam de adaptação, outras é preciso generalizar. Dito isso,
pode não agradar aos adeptos do Dia do Saci em vez do Halloween. Estejam avisados.
Créditos:
CRÉDITOS PT-BR:
ainzooalgown-br.blogspot.com
CRÉDITOS EN-US:
skythewood.blogspot.com
REFERÊNCIA DE NOMES:
overlordmaruyama.wikia.com
Atenção: Se baixou este arquivo de outro link que não o oficial do blog. Ou se tem muito
tempo que baixou e deixou guardado, que tal dar uma conferida no blog? Talvez esta seja
uma versão desatualizada :)
Autor:
Maruyama Kugane
Ilustrador:
so-bin
Conto 1 - Os Dias Revoltos e Agitados de Enri
Parte 1
nri Emmot levantou-se antes do sol nascer para fazer o café da manhã. Ela
E não era tão boa cozinheira quanto sua falecida mãe, no entanto, havia
muita comida para preparar.
Contando Nemu, a própria Enri e os 19 Goblins leais a ela, era preciso fazer
café da manhã para 21 bocas. Havia ainda mais 2 pessoas nesse amonte de vez em
quando, fazendo um total de 23. Preparar muita comida era muito trabalho e poderia
ser considerado uma batalha por si só. Enri estremeceu enquanto olhava para a vasta
quantidade de comida à sua frente e percebeu que tudo ia acabar em uma refeição.
Depois de respirar fundo, ela arregaçou as mangas, empinou o peito e começou a tra-
balhar.
Embora Enri não fosse especialmente talentosa na culinária, o fato de ter aprendido a
lidar com uma tarefa tão enorme em tão pouco tempo era um exemplo de como os dia-
mantes eram feitos sob pressão.
Sua irmãzinha acordou com o som de Enri fazendo café da manhã e esfregou o sono de
seus olhos.
“Bom dia, Nemu. Não precisa, mas ainda tem aquela coisa que te disse ontem pra me
ajudar...”
A infelicidade passou sobre o rosto de Nemu por um momento, mas no final, ela não
reclamou, embora tenha baixado a cabeça obedecendo Enri e respondido “...Tá bom”.
Nemu tinha 10 anos agora, antigamente era uma menina muito brincalhona e engra-
çada. Depois desse incidente, a outrora ingênua e despreocupada Nemu era agora ser-
vilmente obediente à sua irmã, sem nenhuma brincadeira ou birra de crianças de sua
idade. Ela era uma boa menina agora — tão gentil que até doía.
Se tivessem morrido por alguma doença, ela poderia ter se preparado para isso. Se eles
tivessem morrido em um acidente ou desastre natural, ela não teria odiado mais nin-
guém por isso, e talvez nem mesmo atormentado seu coração. Mas seus pais foram as-
sassinados diante de seus olhos e seu coração agora estava cheio de ressentimento. Não
havia como ela pensar ou sentir o contrário.
Enri fechou os olhos com força. Se houvesse alguém por perto, ela poderia se esforçar
para que não notasse sua fraqueza. Mas quando estava sozinha, a solidão reabria as fe-
ridas em seu coração.
“—Foi justo?”
Ela ainda via os sorrisos bondosos de seus pais flutuando na escuridão atrás de seus
olhos. Mesmo quando ela os abriu, suas formas não desapareceram de sua visão. Ela re-
petiu os momentos de ternura do passado em sua mente, uma e outra vez.
Depois disso veio o turbilhão de emoções negras em seu coração — seu ódio pelas pes-
soas que assassinaram seus pais. Guiada por isso, Enri bateu seu cutelo na carne com
toda a força, dividindo-a ao meio.
No entanto, como usou muita força, ela também tirou um naco da taboa de corte, o que
a fez franzir a testa em frustração.
Enri encobriu o naco enquanto se desculpava por danificar o cutelo que era seu único
elo com sua falecida mãe.
Ela gentilmente correu um dedo ao longo do fio para se certificar de que estava tudo
bem, naquele momento, a porta ao lado que levava à sala de estar se abriu.
O que entrou não era humano, mas alguém menor — um dos demi-humanos comu-
mente conhecidos como Goblins.
“Bom dia, Ane-san. Hoje é a minha vez de... aconteceu alguma coisa?”
O Goblin parou no meio de uma saudação arqueada perfeita para virar os olhos preo-
cupados para as mãos de Enri.
Enri era uma mera garota de um vilarejo, mas os Goblins a serviram sem hesitação pois
ela era a convocadora deles.
Inicialmente os aldeões ficaram surpresos e com medo dos Goblins, já que apareceram
do nada, mas se acalmaram quando Enri lhes disse que havia convocado os Goblins com
um item de seu salvador, Ainz Ooal Gown. Escusado dizer que isso foi devido à gratidão
e confiança que sentiam em relação a Ainz. Depois disso, o trabalho que os Goblins fize-
ram foi suficiente para os aldeões deixarem de lado suas suspeitas e os acolherem de
bom grado.
“Bom dia, Kaijali-san. É só que eu tentei cortar, mas exagerei um pouco na força...”
Kaijali era um dos Goblins convocados de Enri. Ele franziu as sobrancelhas — pare-
cendo um urso comedor de homens acordando de sua hibernação de inverno — e colo-
cou uma expressão preocupada em seu rosto antes de olhar para Enri.
“Que problema, hein? Precisa cuidar melhor desse cutelo. O Vilarejo não tem ferreiro,
nem nós podemos consertar o nosso equipamento.”
“Pois é...”
Kaijali falou com uma voz sincera e alegre enquanto a ajudava a preparar o café da ma-
nhã. Ele retirou uma brasa do pote que estava segurando e, com competência, acendeu
o fogão. A facilidade com que ele transformou uma brasa fraca em um fogareiro era
prova de sua habilidade.
Os Goblins não podiam preparar nem as refeições mais simples. Como eles comiam
carne crua e legumes sem reclamar, ela achava que eles poderiam gostar mais de comida
crua, mas ficou claro que preferiam refeições cozidas — embora ainda pudessem comer
alimentos crus sem problemas.
Uma mera aldeã, como ela, não tinha resposta para essa pergunta e, com isso, se focou
em seu trabalho mais uma vez. Felizmente, o fio do cutelo ainda estava intacto.
Havia uma variedade maior de pratos na mesa em comparação com os dias em que sua
mãe cozinhava.
A Grande Floresta de Tob oferecia sua recompensa para aqueles que adentravam, lá
tinha lenha, frutas, vegetais silvestres, carne, pele e até mesmo ervas medicinais.
A maior mudança foi que os aldeões agora podiam entrar facilmente na floresta e colher
seus recursos. O trabalho dos Goblins, que eram seres fortes, foi um fator-chave para
isso; a carne, que antes era difícil de obter, agora podia ser facilmente adquirida, frutas
e vegetais frescos agora enchiam as mesas de todos. Como resultado, a situação alimen-
tar do vilarejo melhorou drasticamente.
Além disso, já que os Goblins eram subordinados de Enri, eles agiam como uma alcateia
de leões, onde as fêmeas — Goblins — entregavam parte de sua caçada para o leão —
Enri.
Além disso, uma das mais recentes adições ao vilarejo foi uma ranger que fez contribui-
ções para as provisões.
Era uma mulher que costumava ser uma aventureira em E-Rantel. Vários motivos a le-
varam a se mudar para o vilarejo e ela estava aprendendo os caminhos da caça para ser
uma ranger de vilarejo. Como tinha sido uma guerreira durante seus dias de aventuras,
suas habilidades com o arco eram excelentes, ela podia derrubar até mesmo a maior das
presas com algumas flechas. Foi em parte por causa de seus esforços que a distribuição
de carne no vilarejo melhorou.
O melhor padrão de vida trouxe mudanças, que se refletiram nos corpos dos moradores.
Enri já estava com bíceps bem definido.
Seus ganhos foram bastante impressionantes. Flexionando seus músculos, ela pensou:
Mm, me sinto tão musculosa... acho que vão crescer ainda mais...
Os Goblins elogiaram Enri em todas as oportunidades com frases como “Ane-san tá trin-
cadona!”, “Isso aí, puxa mais uma vez!”, “Ela vai ficar bem definida!”, “Mantenha o foco, vai
Enri varreu de sua mente a forma final idealizada pelos Goblin e começou a servir o café
da manhã. Seria mais uma tarefa minuciosa.
Os Goblins não se importavam com uma pequena diferença no tamanho das porções,
mas a quantidade de carne na tigela de cada um era um grande problema. Enri garantiu
que todos recebessem uma quantidade semelhante de carne antes de passar para a pró-
xima tarefa.
“Hm, tá bom!”
“Eu vou! Deixa eu ir chamar eles! Deixar eu ir, vai, diz que siiim~!”
Quando Enri se virou, viu Nemu de pé atrás dela com os olhos brilhantes.
Enri não tinha idéia de como responder à súbita exclamação de sua irmãzinha. Kaijali
acenou com a cabeça gentilmente para Nemu, presumivelmente indicando que ele con-
fiaria a ela essa tarefa.
Embora isso deixasse a casa vazia, não era algo que incomodava Enri. Afinal, nunca
houve nenhum problema com ladrões invadindo antes.
Neste dia calmo, fresco e claro, Enri seguiu para a casa ao lado.
Fôra deixada sem dono devido à tragédia que se abatera sobre o vilarejo recentemente
e se tornara o lar dos alquimistas de E-Rantel, os Bareares.
A casa estava ocupada por duas pessoas. Uma delas era uma velha, a experiente herbo-
rista Lizzie Bareare. A outra era seu neto e amigo de Enri, Nfirea Bareare. Os dois passa-
ram os dias confinados na casa, processando ervas para fazer poções e outros remédios.
Não trabalhar em conjunto com outros aldeões era uma boa razão para ficar isolado e,
na pior das hipóteses, o resultado seria a expulsão do vilarejo. Mas foi diferente para
esses dois.
Isso valia o dobro para um lugar como o Vilarejo Carne, que não tinha acesso a sacer-
dotes que poderiam usar magia de cura.
Os sacerdotes cobravam uma taxa equivalente por sua magia de cura. Ou melhor, talvez
seja mais preciso dizer que cobrar essa taxa era obrigatório. Se os aldeões não pudessem
pagar, ofereceriam trabalho como pagamento. Se mesmo assim fosse demais para paga-
rem, os sacerdotes usavam remédios compostos de ervas, uma vez que as curas com
ervas eram mais baratas que a cura mágica.
Um dos Goblins do vilarejo era clérigo, e ele podia curar ferimentos leves com facilidade,
mas os aldeões haviam se reunido com a opinião de que ele deveria economizar seu po-
der para uma emergência, a menos que alguém estivesse muito ferido. Sem mencionar
que as magias de cura do clérigo eram muito limitadas e não tinham a capacidade de
curar doenças ou neutralizar venenos.
Portanto, todos ficaram agradecidos aos Bareares pelo trabalho que fizeram.
Curiosamente, apesar do trabalho vital que realizavam, os aldeões tinham um certo re-
ceio ao abordá-los.
A razão para isso ficava óbvia assim que se aproximasse da residência dos Bareares.
Um cheiro acre emanava da casa que estavam se aproximando. O odor não era tão hor-
rendo, embora ainda os fizesse sentir-se mal. O cheiro liberado pela moagem de ervas
pode até ser enjoativo, mas no final das contas era apenas o cheiro das plantas, não tinha
nada de nocivo por si só.
Ela bateu algumas vezes, mas ninguém a atendeu. No momento que pensou que nin-
guém estava em casa, o som de passos foi ouvido do outro lado da porta. Ela ouviu al-
guém apressadamente mexer na fechadura do outro lado, então a porta se abriu.
—!?
Ela evitou expressar com palavras ou reações, mas o cheiro vindo de dentro da casa era
realmente insuportável.
Era pungente.
Uma ardência que queimava seus olhos, nariz e boca. Pior ainda, o mau cheiro de dentro
da casa sugeria que o miasma ao redor da casa não era nada mais do que uma branda
parcela que havia vazado de dentro.
Os olhos de Nfirea, visíveis entre as aberturas de seus cabelos compridos, estavam bem
abertos e avermelhados. Como de costume, ele deve ter ficado acordado a noite toda
fazendo experimentos alquímicos.
“Ah, bom dia Kai... Kaijali-san... Huh, já é manhã? Eu estava trabalhando tanto que nem
percebi. Ver o sol me faz perceber como o tempo passou... ahhh, eu tenho feito muitos
experimentos recentemente, eu preciso sair de casa.”
Enri estava prestes a acrescentar “o café da manhã está pronto, venha com a sua Obaa-
sama”, mas Nfirea interrompeu. Ou melhor, em vez de dizer que ele a interrompeu, seria
melhor dizer que ela foi sobrecarregada pelo entusiasmo do menino.
“É incrível, Enri!”
Nfirea correu até ela. Suas roupas de trabalho cheiravam ao mesmo odor pungente que
enchia o resto da casa. Embora Enri quisesse muito se afastar, ela se forçou a suportá-lo,
pois Nfirea era seu amigo de infância.
“Você tem que ouvir isso! Nós finalmente conseguimos aperfeiçoar o procedimento
para preparar um novo tipo de poção. Isso vai mudar o mundo! Mesmo que tudo o que
fizemos foi misturar as ervas que juntamos na solução, conseguimos produzir uma po-
ção roxa!”
Enri não tinha idéia de como isso era incrível. A poção é roxa porque colocaram repolho
roxo?
“É muito potente! A velocidade de cura está a par com poções alquimicamente refina-
das!”
Nfirea ergueu as mãos, mostrando os braços delicados e esguios que não estavam feri-
dos. Enri pensou:
“Ane-san do meu ver, parece que ele está dormindo pouco e festejando muito. Será que
ele ficou doidão ou algo assim? Pode deixar que eu dou um jeito. Por que não volta pri-
meiro?”
“Claro que vai. Só vou jogar um pouco de água fria no rosto dele e quando se acalmar,
aí eu levo. Se demorar muito, os outros vão ficar preocupados. E a sua avó, ela vem?”
“A Obaa-chan ainda está com a cabeça enterrada na pesquisa... Duvido muito que ela
queria tomar café da manhã agora. Me desculpe, sei que teve trabalho a mais ao preparar
o café da manhã para nós...”
“Ah, que nada. Já pensava que a Lizzie-sama estaria fazendo algo assim.”
Situações como essas já ocorreram algumas vezes, não era nada de mais.
Com isso dito, não havia nada a fazer a não ser sair.
♦♦♦
“O que estava fazendo lá atrás, rapaz? O único motivo para uma garota escutar um cara
falando do que gosta, é se ela estiver na sua. Se ela não tivesse afim, então esse conversa-
fiada sua só serviria pra ela ficar entediada!”
“...Eu não sabia... eu tinha pensado que, como fizemos aquela descoberta incrível... assim,
foi realmente incrível! Me arrisco dizer que é revolucionária—!”
Kaijali interrompeu lero-lero de Nfirea com um movimento de corte com a mão. Clara-
mente, Nfirea não recebera a mensagem que ele estava tentando transmitir.
“Preste atenção, Ani-san. Tem certeza que quer isso, de deixar ela assim? Está apaixo-
nado por ela, não é?”
“Então tem que fazer dela a prioridade na sua vida. Ela precisa estar acima de qualquer
poção.”
“Mmm...”
“Se eu fosse você, não ficava esperando ela vir se declarar, como diz o ditado; cobra que
não anda, não engole sapo, entendeu? Você tem que ter coragem pra dizer a ela como
realmente se sente.”
“Mas, você até que tem se saído bem, Ani-san. Antigamente não conseguia nem dizer
uma palavra na frente dela. Agora pode continuar uma conversa normal, não é?”
“Isso foi porque eu não tive muita chance de conversar com a Enri, a menos que eu
viesse para colher ervas... Agora que eu mudei para o vilarejo, estou muito mais perto
dela.”
“Isso aí, esse é o espírito. Só precisa reunir sua coragem e tomar a iniciativa. Talvez deva
mostrar o quanto é forte. Segundo as mulheres daqui, caras fortes são os mais atraentes.
Bem, foi o que eu ouvi as quarentonas comentarem, enfim.”
“Não sei se tenho esse tipo de força. Talvez eu deva fazer mais trabalho agrícola ou algo
assim?”
“Compense as coisas com isso. E então aprimore sua magia. Se eu ou um dos rapazes
achamos que você tem a chance de marcar pontos com ela, vamos posar desse jeito. Essa
é a dica pra dizer algo ou partir pra cima, aí ela vai ficar caidinha por você.”
Kaijali flexionou os braços fazendo os músculos dos bíceps tencionarem. Eles se incha-
ram poderosamente sob sua pele.
Em seguida, Kaijali flexionou os peitorais. Embora ele fosse bastante baixo, seu corpo
musculoso e atlético atestava o fato de que ele era um guerreiro nato.
Nfirea se perguntou:
“Eu... eu estou curioso, por que estão fazendo isso? Quero dizer, eu sei que são subordi-
nados da Enri e leais a ela, mas eu não entendo o porquê está me ajudando.”
Kaijali respondeu com uma expressão inescrutável no rosto. Em um tom mais adequado
para persuadir as crianças a se comportarem, ele respondeu:
“É porque todos nós queremos que a Ane-san seja feliz. E até onde sabemos, você se
encaixa perfeitamente pra isso. Então, quanto mais rápido se casarem, melhor é.”
“N-não precisa de tanta pressa! N-Nós podemos ir nos aproximando aos pouquinhos,
né...?”
“...Lento demais. Quero dizer, quanto tempo os humanos demoram entre engravidar e
ter filhos?”
Os olhos de Nfirea se arregalaram e seu rosto ficou rosado quando a conversa de re-
pente saltou para a gravidez, a forma final das relações homem-mulher.
“Hm, levaria muito tempo para cerca de dez filhotes— digo, dez crianças, é isso?”
Logo, uma mulher que desse à luz 10 filhos não seria apenas um pouco, mas muito além
da média.
“Que seja, acho que nossas raças têm diferenças... mas ainda assim, vocês têm que ter
muitas crianças para fazer a Ane-san feliz.”
“Sei...”
Nfirea estava sem palavras quando viu Kaijali olhando para ele com a cabeça inclinada.
Mas, no geral, ele ainda estava grato por sua ajuda.
“Então, vamos indo, Ani-san. Eu espero que faça sua jogada em breve. E fique avisado,
se der bobeira, outro cara pode chegar na sua frente... bem, acho que um avanço tático
constante no objetivo principal é uma estratégia que vale a pena perseguir.”
Perguntou Nfirea, mas depois sacudiu a cabeça e gritou para o interior da casa:
Muito provavelmente, ela estava no meio de repetir um experimento e não tinha tempo
para se preocupar com coisas triviais como comer.
Quando perguntou a ela sobre os solventes e o uso adequado dos instrumentos, tudo o
que ele recebeu em troca foi um “descubra sozinho ~su”, o que não foi de ajuda.
Assim, os dois haviam passado diversas noites sem comer e dormir em prol de sua
busca incessante para aprender a usar esses dispositivos. Foi um processo lento, mas
finalmente estavam conseguindo fazer algum progresso. Claro, eles também cometeram
erros.
Os últimos dois meses tinham sido muito ocupados para Lizzie, mas Nfirea também não
teve vida fácil.
Os frutos de seu trabalho estavam sobre a mesa, aquela garrafa de poção roxa, que Liz-
zie examinou interminavelmente e encheu Nfirea de alegria.
“Vamos.”
♦♦♦
Embora todos devessem comer juntos, a casa de Enri estava longe de ser grande o sufi-
ciente para acomodar todo mundo. Como tal, eles costumavam comer fora quando o
tempo estava bom.
Por estarem ao ar livre, uma certa quantidade de desordem era esperada e tolerada. Se
estivessem lá dentro, poderia ter sido insuportável, mas mesmo nas atuais circunstân-
cias, a situação rapidamente se tornara agravante.
“Eu já disse antes e digo novamente, a Ane-san vai ser a minha esposa!”
“Ei, esquentadinho, tá esquecendo o acordo que todos nós fizemos para não tocar na
Ane-san!?”
“É isso aí, se tentar passar a perna na gente, eu não vou deixar barato!”
No entanto, a raiva nos olhos dos Goblins não diminuíra nem um pouco.
Um dos Goblins, Kuunel, levantou a colher para provar seu argumento, exibindo um
pedaço de carne que os espectadores poderiam ter confundido com uma ervilha. Não
era nada mais do que um pouquinho a mais que Enri sentira ao dividir a comida com
todo mundo.
“Eu comi os pedações de carne da minha sopa, mas para minha surpresa, havia mais um
no fundo da tigela! Vocês têm algo assim? Duvido! Isso não é nada menos que uma prova
de amor!”
“Tá achando que urubu é louro!? Isso não é nada mais que um fiapo de carne que a Ane-
san confundiu com as verduras!”
Metade dos Goblins estava de pé e a outra metade estava sentada e brigando, abanando
as chamas do conflito. Mesmo Nemu de alguma forma se juntou aos agitadores. Apenas
algumas pessoas não estavam participando desta batalha. Aquelas pessoas tinham a ca-
beça abaixada na mesa e a mais proeminente delas era Nfirea.
“...Rubi em pó... penas arcanas... pilão de madeira... made... madeira... de... lei?”
Nfirea estava murmurando para si mesmo enquanto colocava a comida na boca, mas a
comida na colher caia toda novamente na tigela antes de chegar à boca. Seus olhos esta-
vam escondidos por seus longos cabelos, mas com toda a certeza ele estava andando na
fina linha entre sonho e realidade.
Os Goblins discutiam sem parar. Ela não queria deixar isso se prolongar, já que poderia
desencadear alguma nesga por bobagens, mas Nfirea realmente não estava normal e
precisava de sua atenção. Provavelmente estava sofrendo de privação de sono, ele co-
meçou a cambalear no momento em que se sentou, como se estivesse prestes a tombar
para um lado a qualquer momento. Quando ele realmente começou a tomar café da ma-
nhã, parecia um Zombie, completamente desprovido de vida ou inteligência.
“Além disso, não foi você quem disse mais cedo; a Nemu é minha esposa e blablabla?”
“Isso foi antes, agora é diferente. Só percebi esses dias, antigamente eu costumava pen-
sar que pela Nemu-san ter quase a mesma altura que nós, ela já estava pronta pra casar,
mas ela tem só dez anos. Fiquei sabendo que os humanos... só se consideram adultos
depois dos quinze anos!”
Os Goblins saltaram de tópico para tópico com velocidade incomparável. Enri queria
perguntar-lhes o que era um “hob-humano”, mas antes que pudesse abrir a boca, os
Goblins já haviam se cansado da discussão e começado todo um novo argumento para
que todos participassem.
“Eu não, meu lobo ainda tá com fome, deixa de ser guloso!”
“Pessoal!”
Enri estava gritando neste momento, mas a voz dela ainda não podia limpar a algazarra
que os Goblins estavam gerando. Colheres e pratos voavam, enquanto gritos e rugidos
de ira subiam e desciam como ondas em uma baía agitada pela tempestade. Claro, tudo
que estava sendo jogado estava vazio, pois nenhum dos Goblins sequer sonhava em des-
perdiçar a comida que Enri fazia para eles. Ainda assim, era totalmente indesculpável.
“Os lobos já não comem carne? Só porque é mais alto que eu, não pense que eu não
posso te dar uns tabefes, aqui é no mano a mano!”
“Mano a mano? Já que tá com tanta fome, que tal eu encher sua boca de socos?”
E assim que Enri se levantou, todos imediatamente voltaram para seus lugares e calma-
mente retomaram a refeição como se nada estivesse errado.
“CHEGA! SE ACALMEM!”
O furioso grito de Enri ecoou pelo ar silencioso acima da mesa do café da manhã.
“Ah...”
Surpresa, Enri olhou ao redor, mas a única coisa que ela podia ver eram os Goblins
olhando para ela com expressões em seus rostos que diziam: “Estávamos todos tomando
café da manhã tranquilamente, isso é um problema”, ou “Ser calado de repente por razão
alguma é realmente irritante”. Depois de ficar em silêncio por um tempo, ela se sentou
de volta em seu assento, com o rosto vermelho.
“Pfh! Hahahahaha!”
A primeira a quebrar o silêncio foi Nemu. Então, incapaz de se conter, Enri seguiu o
exemplo, segurando seu estômago enquanto ela ria e então os Goblins também se junta-
ram.
Esse clima subsequente não poderia ter ocorrido se não tivesse planejado tudo de an-
temão. Foi incrível como eles se prepararam seriamente para uma brincadeira como
essa.
“Isso, isso!”
“Veja bem, como eu digo isso... nós pensamos que parecia um pouco desanimada, Ane-
san.”
“Mas vocês...”
“Fizemos isso porque... todo mundo adora ser seu guarda-costas, Ane-san.”
“Isso mesmo!”
“Sim! Guarda-costas!”
“Unhum, essa pose nova coloca a Ane-san e Nemu-san bem no meio, assim—”
“Eh? Eu também?”
“É claro, vocês duas! Levantem os dois braços assim, desse jeito, agora ajam como se
fosse descoladas. Assim mesmo!”
Mesmo que ela lhes desse o benefício da dúvida, essa postura fazia com que parecessem
sapos esticando os braços para o céu.
“Pessoal, eu entendo suas boas intenções, mas pra começo de conversa, eu não preciso
de guarda-costas aqui dentro... né, Enfi?”
Enri virou a cabeça para seu amigo de infância sentado ao seu lado em busca de ajuda,
mas descobriu que não havia ninguém lá.
“Enfi!”
“...Ele só está dormindo. Se deixar ele descansar até o meio-dia deve resolver.”
Enri estava pensando que deveria devolver Nfirea à sua própria cama. Então ela o colo-
cou de costas, e começou a levá-lo, deixando para trás trechos de conversa como:
Enri estava obviamente preocupada sobre como ela explicaria a presença dos Goblins.
Será que eu digo que que conjuramos eles? Talvez seja melhor dizer que são meus capa-
tazes? Ou...
Enri tinha a sensação de que eles estavam sempre preocupados com ela.
Eles não se preocupavam apenas em proteger sua vida, mas também levavam em conta
seus sentimentos. Ela se perguntava o que poderia fazer por esses Goblins?
Os Goblins eram muito barulhentos, mas também confiáveis. Eles eram sua nova família
— devia haver algo que ela pudesse fazer por eles...
♦♦♦
Enri juntou as ervas daninhas que acabara de cortar e usou as costas ainda limpas da
mão para enxugar o suor escorrendo pelo pescoço. A grande pilha de matéria vegetal
desfiada exalava o cheiro de grama recém-cortada.
O corpo dela estava cansado de trabalhar longas horas no campo e a maneira como suas
roupas suadas de suor se agarravam ao seu corpo deixavam Enri desconfortável.
O trigo que haviam plantado crescera lenta, mas firmemente, à medida que a época da
colheita se aproximava, o trigo lentamente se tornava dourado. Embora um campo dou-
rado de trigo fosse uma bela vista, se lembrar do trabalho que dava para capinar tirava
um pouco dessa beleza. Se não fosse feito, a plantação ficaria cheia de falhas.
Ela endireitou o corpo para relaxar os músculos rígidos e dar ao corpo fadigado um
momento de descanso. O vento parecia anormalmente fresco em sua pele que havia sido
superaquecida por longas horas de trabalho de campo.
O vento também trouxe o som de uma comoção do vilarejo para seus ouvidos.
Parecia o som de coisas se batendo, assim como gritos para sincronizar suas forças de
trabalho como uma só. Estes eram sons que nunca tinham sido ouvidos antes no vilarejo.
Neste momento, o vilarejo estava trabalhando para transformar todos os tipos de planos
e idéias em realidade.
Destes planos, os que tinham maior prioridade eram para o muro que cercava o vilarejo
e a construção das torres de vigia. Nem era preciso dizer que todos esses projetos tinham
a intenção de transformar o vilarejo em uma fortaleza.
♦♦♦
O Vilarejo Carne ficava na beira da Grande Floresta de Tob, uma floresta que era o lar
de muitas feras selvagens; em outras palavras, um território perigoso. Seria impossível
viver em paz lá sem a proteção de muros resistentes.
O leiaute do Vilarejo Carne era de casas ramificando da praça central em todas as dire-
ções. Sem nada parecido com um muro, qualquer um podia ir e vir sem passar por por-
tões. Anteriormente, o vilarejo tinha sido pacífico e sem monstros, mesmo que fosse ao
lado da floresta.
Isso porque a poderosa criatura conhecida como o Sábio Rei da Floresta expandia con-
tinuamente seu território e, como tal, nenhum animal se atrevia a rondar a floresta perto
do vilarejo. Assim, as defesas do vilarejo eram inexistentes.
Cavaleiros com trajes do Império atacaram e mataram seus pais. Como resultado, nin-
guém no vilarejo manteve a esperança de que as coisas voltariam a ser como antes.
Com o convívio continuo, a cautela dos moradores em relação aos Goblins desapareceu
quase completamente. Parte disso foi porque os cavaleiros que os atacaram eram huma-
nos, assim como eles. Ou seja, sua própria espécie assassinou seus amigos e famílias. Em
contraste, mesmo sendo de uma espécie diferente, os Goblins trabalhavam com afinco
para melhorar o vilarejo de Enri. A decisão de qual lado confiar não era mais aquela que
poderia ser facilmente resolvida com base racial.
Além do mais, os Goblins eram mais fortes que qualquer aldeão. Como guerreiros, eles
poderiam conduzir patrulhas e, se alguém se ferisse, o Goblin clérigo — Cona — poderia
curá-los.
Difícil mesmo era achar algo para falar mal nestes Goblins.
Como uma jogada do destino, o Sábio Rei da Floresta, que mantivera os monstros afas-
tados do vilarejo, tornou-se um seguidor de um guerreiro de armadura preta incrivel-
mente hábil e abandonou seu território.
Embora tivessem conseguido completar as cercas com grande esforço, os aldeões não
conseguiam se alegrar com sua realização, apenas suspiraram cansados por mais um
golpe de azar que tinha recebido.
Tudo isso graças aos Golems — Golems de Pedra — que a bela empregada que servia
ao salvador do vilarejo — Ainz Ooal Gown — trouxera consigo.
Golems eram construtos inesgotáveis; quando recebiam uma ordem, executavam-na si-
lenciosamente e sem falar de sua força, que superava em muito a de um ser humano.
Claro, sua falta de destreza significava que não poderiam executar certas tarefas que exi-
gissem precisão, ainda assim, sua participação no trabalho permitia reduzir em muito o
tempo para construção. Com o esforço dos Golems de Pedra incansáveis e sem a neces-
sidade de dormir, a construção do muro ficou pronta em um piscar de olhos.
Eles poderiam realizar as tarefas que os aldeões e os Goblins não podiam, como derru-
bar árvores e transportá-las em grandes quantidades, cavar buracos ou colocar as fun-
dações dos muros. O que deveria levar anos para ser concluído em teoria, na pratica ter-
minara em questão de dias e, de brinde, o muro construído ficou ainda maior e mais
resistente do que o esperado.
Eles não apenas ajudaram a construir os muros; até mesmo a construção das torres de
vigilância foi acelerada. Sua tarefa atual era completar as torres de vigia nos flancos leste
e oeste do vilarejo.
“Ah, obrigada.”
Embora Paipo acenasse a sujeira e as mãos manchadas de grama para afastar o agrade-
cimento de Enri, Enri ainda sentia que devia aos Goblins uma dívida que nunca poderia
ser paga.
Depois de perder seus pais, Enri se encontrava em uma situação complicada, onde cui-
dar sozinha dos deveres para com sua própria família já era quase impossível. Ela queria
pedir ajuda aos outros aldeões, mas dada a falta geral de mão de obra no vilarejo, já era
difícil o suficiente para cada família cuidar de suas próprias plantações. Com a ajuda dos
Goblins, esse problema foi facilmente resolvido. Além disso, ela não era a única quem os
Goblins tinham ajudado.
“Muito obrigada, Enri-chan. Graças à ajuda do Goblin-san, o trabalho está quase pronto.”
“Mesmo? Que bom. Foi idéia deles ajudar nas tarefas, então se quiser agradecer a al-
guém, agradeça a eles.”
“Ah, já agradeci ao Goblin-san. Ele disse que ele era apenas seu subordinado, então disse
que era pra eu agradecer a Ane-san também.”
Ouvir a palavra “Ane-san” fez Enri franzir as sobrancelhas, que ela rapidamente disfar-
çou com um sorriso desajeitado.
Os próprios Goblins haviam sugerido que deveriam ajudar as famílias que perderam os
trabalhadores rurais no ataque, a mulher diante dela era uma das afetadas.
Não havia como os aldeões evitarem as contribuições dos Goblins. O moral dos Goblins
no Vilarejo Carne aumentou tanto, que era muito comum ouvir as pessoas dizerem que
Goblins eram melhores vizinhos do que humanos.
“Falando nisso, os outros Goblins estão por aí? Eu queria que todos viessem pra uma
refeição em agradecimento.”
“Os outros devem estar patrulhando ou ajudando os novos moradores. Mas vou passar
a mensagem pra eles.”
“Conto com você, Enri-chan. Quando todos tiverem livres, vou garantir que se deleitem
com o banquete. Vou fazer do bom e do melhor com as minhas habilidades. Bem, vou ir
me aquecendo fazendo um almoço pra este aqui primeiro.”
“É sério? Só se for agora! Recusar um almoço é muito rude. Ane-san, sinto muito, mas
te vejo mais tarde, agora vou almoçar na casa da Morga-san.”
“Seria bom se os recém-chegados percebessem logo que vocês não são maus.”
“É, a maioria não parecia nada feliz e ver a gente. Mas eu até entendo, tem coisas que
não mudam da noite pro dia, no fundo ainda acham que somos inimigos.”
“Sim, a maioria dos vilarejos, tirando esse, trataria vocês como inimigos, isso é certo...”
“É por isso que tivemos que enviar pessoas pra ajudar os aldeões com o trabalho. Não
é fácil.”
“Acho que alguns lembram como seus familiares foram atacados e mortos. É um longo
caminho até uma cicatriz dessa parar de doer.”
Apesar do Vilarejo Carne ter sido devastado pelo ataque, cerca de metade dos aldeões
conseguiram sobreviver. Por outro lado, os outros vilarejos que haviam sido atacadas
por cavaleiros haviam perdido a maior parte de seu povo.
Quando o Vilarejo Carne começou a receber imigrantes, muitos dos que vieram eram
sobreviventes desses vilarejos.
Enri esticou as costas uma vez mais e olhou para o céu. Embora a campainha do almoço
ainda não tivesse tocado, parecia que já estava na hora. Eles haviam trabalhado o sufici-
ente no campo para fazer uma pausa também.
Apesar do rosto achatado, Paipo fez o que era instantaneamente reconhecível como um
sorriso.
“Ora, tô falando sério! Te ajudar nos campos é uma das tarefas mais disputadas. Pois
sabemos que a recompensa é comer suas comidas, que são muito boas, Ane-san.”
“Ha-ha-ha, engraçadinho. Então vou fazer pra todos, que tal? Assim como fazemos no
café da manhã.”
Mesmo dizendo isso, ela imaginou quão difícil seria fazê-lo. Por exemplo, havia uma boa
disparidade entre um almoço para 3 e um almoço para 20. Mesmo cortar os legumes
seria uma tarefa árdua. Além disso, ela tinha que garantir que todos tivessem porções
suficientes, o que seria cansativo. Dito isso, em comparação com a quantidade de traba-
lho que os Goblins tinham investido no vilarejo e os elogios que receberam em troca, não
eram nada que pagasse seu árduo esforço.
“Oh, não, aí seria se aproveitar demais. Até porque, desfrutar do seu almoço feito à mão
é algo como um bônus pra quem ganha o direito de te ajudar, Ane-san.”
“É pra j—”
As palavras de Paipo foram cortadas na metade enquanto ele olhava para o horizonte
com seus olhos aguçados. Com uma respiração profunda, o até então relaxado e alegre
pequeno demi-humano se tornou um guerreiro veterano em um instante. Enri seguiu a
visão de Paipo ao longe.
Eles viram um Goblin montando um lobo negro. Eles pareciam deslizar pela planície
enquanto se aproximavam do vilarejo em alta velocidade.
“É o Kyumei-san...”
Entre a Tropa Goblin que Enri havia convocado, havia doze Goblins Soldados de nível 8,
dois Goblins Arqueiros de nível 10, uma Goblin Maga de nível 10, um Goblin Clérigo nível
10, dois Goblins Cavaleiros de Lobo de nível 10 e um Goblin Líder de nível 12, um total
de 19 Goblins.
Kaijali desta manhã e Paipo que ajudaram com as tarefas eram Goblins Soldados de ní-
vel 8, enquanto Kyumei, que estava montado em um lobo preto, vestindo uma armadura
de couro e carregando uma lança, era um Goblin Cavaleiro de Lobo nível 10.
O trabalho dos Goblins Cavaleiros de Lobos era patrulhar as planícies e atuar como ba-
tedores. Os cavaleiros retornando periodicamente ao vilarejo para entregar relatórios
eram uma visão comum.
No entanto, o tom de Paipo era muito sombrio. Isso a fez pensar que algo ruim havia
acontecido.
“Algum problema?”
“...Ele só deveria voltar mais tarde. Era pra estar rondando a floresta hoje... será que
aconteceu alguma coisa?”
“Aconteceu algo?”
Ouvindo a pergunta de Paipo, Kyumei se curvou para Enri de cima de seu lobo enquanto
respondia:
“Sim, na floresta.”
“...O quê?”
“Não tenho muita certeza, mas acho que é como antes. Um monte de caras desconheci-
dos estão se movendo em direção ao norte.”
“—São cavaleiros?”
Enri inconscientemente interrompeu os dois. Mesmo que ela fosse impotente para mu-
dar alguma coisa, ela ainda não podia ignorar a conversa. Ela ainda não conseguia es-
quecer o trauma de quando teve o vilarejo atacado.
“Eu não tenho provas, mas acho que é diferente daquela vez. Sinto que algo está acon-
tecendo no fundo da floresta.”
“Oh.”
“Obrigado.”
Depois de acenar para os dois, Kyumei esporeou o lobo e partiu. Enri e Paipo observa-
ram-no entrar pelas portas do vilarejo que se abriram lentamente.
“É o jeito.”
Depois de lavar as mãos ao lado do poço, Enri e Paipo tinham acabado de chegar em
casa quando ouviram a voz de uma menina.
A voz foi acompanhada pelo som de moagem. Seguindo o som até sua fonte, Enri viu
Nemu girando um pequeno moinho de pedra atrás da casa.
Um cheiro pungente veio do moinho. Embora fosse semelhante ao cheiro que se agar-
rava às mãos de Enri logo antes, era várias vezes mais intenso, o suficiente para que se
pudesse sentir a certa distância.
Nemu estava acostumada com o cheiro, ela estava bem, mas os olhos de Enri quase se
encheram de lágrimas quando o odor a surpreendeu. Paipo, parado atrás dela, parecia
não ser afetado em comparação. Não ficou claro se isso acontecia porque o cheiro só
afetava certas espécies, ou porque seria terrivelmente rude fazer uma careta assim para
a irmã mais nova de sua mestra.
Enri olhou a linha de visão de Nemu e viu que as ervas que ela empilhou antes de sair
da casa haviam sido reduzidas a um pequeno punhado.
Antes de sair de casa, Enri pediu a Nemu para ajudá-la a moer as ervas em uma pasta.
Isso porque algumas ervas tinham que ser secas para serem preservadas, mas outras
precisavam ser trituradas para serem preservadas.
Enri abriu os braços para elogiar sua irmã e um olhar de orgulho floresceu no rosto de
Nemu. Talvez ela tivesse sido influenciada por Nfirea, ou talvez ela quisesse ajudar sua
irmã de alguma forma, mas Nemu sempre fazia rapidamente suas tarefas.
As ervas eram a maior parte da fonte de renda do Vilarejo Carne. Poder-se-ia dizer que
era uma fonte de renda que não exigia muita mão de obra para um vilarejo fronteiriço.
Dado que era um método crucial para que obtivessem moedas, todos os moradores do
Vilarejo Carne conheciam pelo menos um pouco sobre ervas e onde elas cresciam.
“Eu quero ir num novo local pra colher ervas, poderia vir comigo?”
Pela lógica, não havia necessidade de Enri ir sozinha. Tudo o que ela precisava fazer era
pedir aos Goblins, fortes e destemidos, para entrarem na perigosa Grande Floresta de
Tob sob suas ordens. Entretanto, os Goblins que ela convocara tinham uma fraqueza es-
tranha.
Ou seja, eles não tinham aptidão alguma para a colheita de ervas, simplesmente não
levavam jeito para trabalhos assim.
Sua falta de destreza em cozinhar se refletia nas ervas, eles não eram capazes de com-
biná-las mesmo com indicações claras na frente deles. Era estranho e surpreendente,
parecia que tinham nascido incapazes de fazer esse tipo de coisa, ou mesmo aprender,
como se alguém tivesse removido a capacidade de fazê-lo.
Portanto, se eles fossem designados para colher ervas, os Goblins precisavam ter um
não-Goblin com eles.
“Posso sim, mas pode ser um pouco complicado se vier com a gente, Ane-san.”
“Bem, como o Kyumei disse, tem alguma coisa acontecendo nas profundezas da floresta.
E dependendo do que seja, pode estar um caos danado lá.”
“Mesmo os monstros mais cautelosos vão querer expandir o território. Vai ficar nesse
vai e vem por um tempo, com os territórios se sobrepondo aos outros, e isso vai causar
todo tipo de bagunça. Resumindo, as chances de encontrar monstros aumentam e o pe-
rigo também. E se tiver azar, pode até encontrar algo fora da floresta. A gente sabe que
você é corajosa e foda, mas não precisa entrar em perigo, Ane-san.”
Eu não tenho muita certeza sobre isso de ser corajosa e “foda”, mas deve ser os Goblins
sendo cordiais...
Pensou Enri.
“Eu não sei. O certo seria ter enviado alguém familiarizado com as condições da Grande
Floresta pra investigar... Mas se a gente for, as defesas do vilarejo vão ficar fracas... ah,
acho que já sei! Por que não contratar aventureiros pra verificar isso?”
“Difícil...”
“Segundo o Enfi, o serviço deles custa bem caro. Embora as ladys de E-Rantel ajudem
alguns desses custos, é muito difícil um vilarejo como o nosso conseguir pagar aventu-
reiros com nossas economias.”
“Entendo...”
“Se der muitas ervas na coleta, o valor da venda deve ajudar com parte desse problema...
caso contrário, tudo o que resta é vender o item que recebemos do Gown-sama.”
Ela recebeu duas trombetas de Ainz Ooal Gown. Embora uma delas tivesse desapare-
cido depois que a assoprara, a outra estava escondida em segurança na casa de Enri.
Enri não queria se tornar o tipo de pessoa desprezível que vendia presentes dados por
boa vontade. Também existia a possibilidade de que talvez nem fosse possível vendê-lo,
então ela decidiu não o fazer. Mesmo agora, ainda estavam se beneficiando da generosi-
dade da empregada que trouxera os Golems para o vilarejo. Ela nunca iria cometer um
ato tão ingrato.
“É um problema atrás do outro. As ervas só podem ser colhidas nesta temporada, eu sei
que é perigoso, mas eu preciso...”
Enri sorriu para Nemu, que tinha uma expressão apreensiva no rosto. Ela não queria
entristecer a última sobrevivente de sua família, nem queria deixar passar essa chance
de ganhar muito dinheiro. Quando considerou suas prioridades, ela sabia que isso era
Eu preciso ganhar mais dinheiro e ver que tipo de equipamento posso comprar pros
Goblins. Armaduras completas devem ajudar muito. Falando em armadura completa,
aquele cavalheiro de armadura preta... qual era o nome dele mesmo?
Embora não soubesse quanto custava armas e armaduras, ela já tinha quase certeza que
não era barato. Nesse momento, Paipo estendeu a mão na frente de Enri, indicando que
ela deveria esperar um pouco.
“Erm... minha opinião eu já dei, mas não acha melhor discutir o assunto com o Líder?
Não precisa decidir as coisas tão rápido, Ane-san. Não quero ser repreendido pelo Líder
porque abri a boca sem pensar. Além disso, acho que o Ani-san também gostaria ir catar
umas ervas, ele gosta dessas coisas.”
Assim que os problemas de Enri estavam enchendo sua cabeça, um som adorável e gor-
golejante veio do lado dela. Virando-se para olhar, ela viu Nemu olhando para ela com
uma carranca no rosto.
“Mm, desculpe. Lave as mãos depois de juntar as ervas. Eu vou deixar as coisas prontas.”
“Tááá~!”
A resposta de Nemu foi cheia de energia. Depois de desmontar o moinho, ela raspou a
pasta verde acumulada em um pequeno pote. Enri voltou para casa, imaginando o que
deveria fazer para o almoço.
Parte 2
Enri estava diante da Grande Floresta de Tob. Claro, ela não estava sozinha. Ao lado dela
estavam os leais membros da Tropa Goblin.
Os Goblins estavam equipados com cotas de malha, escudos redondos e facões reforça-
dos, que pendiam de seus cintos. Eles usavam túnicas de cor marrom sob sua armadura
e botas de couro lanzudas em seus pés. Em seus cintos haviam algibeiras para pequenos
itens. Definitivamente não estavam paramentados amadoramente.
Nem todos na tropa foram designados para a proteção de Enri. Seu objetivo era vascu-
lhar a área ao redor e verificar as informações que os Goblins Cavaleiros de Lobos ha-
viam coletado. Ou seja, eles deveriam observar atentamente a situação atual dentro da
Grande Floresta. Para continuar a proteger o vilarejo, os Goblins decidiram explorar os
arredores e o interior.
Havia também mais uma pessoa: Nfirea, que também fizera os preparativos, vestindo
roupas adequadas para coletar ervas na floresta. Com Nfirea por perto, a viagem de co-
lheita de ervas definitivamente seria um sucesso.
“Qual o problema?”
Embora Enri tivesse acenado com as mãos como se dissesse “nada não”, um dos Goblins
ao redor percebeu e se aproximou do lado de Enri.
Ele era um Goblins cujo corpo era tão musculoso e atlético que seria difícil para os es-
pectadores pensarem que ele ainda era um Goblins. Seu torso era protegido por uma
couraça bruta, mas prática, e a espada que ele usava estava embainhada em suas costas.
Este era Jugem, o líder dos Goblins, o nome foi dado por Enri, pois ele lembrava a lenda
de um herói Goblin chamado “Jugem Juugem”. Como um aparte, havia outros cavaleiros
nomeados que lutaram ao lado do herói Goblin, e ela usou seus nomes para os outros
Goblins.
“Isso é ótimo, acho... mas como vamos entrar na floresta, sua vida corre risco com o
menor deslize. Se alguma coisa acontecer, me avise.”
“Isso aí, Ane-san. Assim como concordamos antes, explorar uma floresta não é nada
fácil, então se alguma coisa acontecer e não der para chegar lá a tempo... me garante que
vai ficar bem?”
O rosto brutal de Jugem se contorceu com o que parecia uma expressão de preocupação,
e ele olhou para o rosto de Enri. Vendo isso, Enri sorriu e respondeu a ele.
“Vai ficar bem sim. A gente não vai muito fundo, e eles vão me proteger.”
Jugem seguiu a linha de visão de Enri para os três Goblins à frente dele. Então ele gritou:
“Ei! Seus badernistas! É melhor não deixarem a Ane-san receber um único arranhão,
entendido!?”
“Alto e claro!”
Enri de repente notou que Kaijali, sem nenhuma razão aparente, estava flexionando os
músculos em uma pose frontal mostrando os dois bíceps.
“Fazer isso agora?... Grhum! Claro! Pode contar comigo para proteger a Enri!”
Por um momento, Enri imaginou Nfirea mostrando seus dentes brilhantes enquanto
irradiava autoconfiança através de seu sorriso. Sua atitude agora era muito diferente do
habitual e, sendo sincero, parecia meio vulgar. No entanto, isso foi provavelmente ape-
nas a sua animosidade para a caminhada na floresta.
Parece um garotinho.
“Ahhh, isso... ah, er, eu preparei um monte de itens alquímicos que fiz para mim mesmo,
então deixe comigo!”
Depois de ver o segundo sorriso brilhante de Nfirea, o sorriso sem graça no rosto de
Enri ficou ainda mais evidente.
“Ah, bem, pelo menos isso foi resolvido... Sendo sincero, eu não sei se realmente precisa
fazer algo tão perigoso...”
“Eu sei que tem lá seus riscos, mas acontece que sem as ervas, não podemos trazer di-
nheiro...”
“Não vamos tocar no dinheiro dos Bareare. Cada um precisa fazer sua parte e contribuir.
Não dá pra tirar vantagens deles e não fazer nada.”
Ajudar uns aos outros em situações difíceis era o alicerce da vida no vilarejo — portanto,
uma família não poderia sobreviver se fosse isolada dos outros. Ainda assim, isso não
era uma desculpa para tirar vantagem dos outros, porque isso implicaria que uma pes-
soa não poderia se sustentar, e o vilarejo não poderia cuidar das pessoas até esse ponto.
A autossuficiência era um requisito essencial.
“Kaijali-san, entenda a situação que estamos e pare de fazer essas poses estranhas...”
“Eu sei, mas... Ah, tem isso também... digo, se você vivesse com o Ani-san, certamente
poderiam usar do mesmo dinheiro... e... parece que nada impediria isso...”
As palavras espaçadas de Jugem gradualmente perderam sua força. Ele sabia que não
poderia impedir Enri de entrar na Grande Floresta.
Embora Enri não quisesse dificultar as coisas para Jugem e os outros que cuidavam dela,
ela não se deixaria influenciar por sua relutância.
Afinal, ela havia decidido se aventurar na floresta apesar de saber seus perigos, porque
ela tinha ouvido Kaijali dizer: “Não podemos consertar o nosso equipamento”.
Um cutelo de cozinha era uma coisa, mas os Goblins precisavam dos serviços de um
ferreiro profissional para preservar suas armas e armaduras. O que significava que a
O que ela poderia fazer por eles — que haviam juramentado suas vidas para protegê-
la? Como ela poderia se esconder em segurança e aproveitar os frutos do trabalho deles?
Já que eles deram tudo de si, ela também teve que fazer tudo o que podia por eles. Essa
foi a conclusão de Enri.
Independentemente do que tivesse que fazer, Enri simplesmente estava tentando pagar
o serviço dos Goblins através de seu próprio esforço. Esta expedição era a prova disso.
“Normalmente, a coisa mais segura a fazer seria confirmar que a área estava livre de
perigo antes de você entrar...”
Dyno era uma magic caster arcana que usava um cajado com crânio de animal.
Ela carregava um cajado retorcido que parecia surrado, mas era ainda mais alto do que
ela. Ela estava adornada com estranhos ornamentos tribais por todo o corpo, e seu busto
era ligeiramente volumoso. Seu rosto parecia mais suave do que os dos Goblins machos.
Enri podia reconhecer isso pois era a mestra, mas as pessoas normais provavelmente
não seriam capazes de entender esses detalhes.
“Mm, isso mesmo. Infelizmente, não podemos fazer isso. O máximo que podemos fazer
é confirmar que a floresta parece ser pacífica, mas mesmo isso gastaria algum tempo. E
se quisermos descobrir quando os conflitos vão aumentar novamente, isso levaria ainda
mais tempo.”
“Vai ficar tudo bem, a gente não vai entrar muito fundo na floresta.”
Depois de ouvi-la repetir a resposta várias vezes, Jugem finalmente percebeu que ele
não podia mudar a mente de Enri. Em vez disso, ele olhou para os três Goblins que via-
jariam com ela. O que ele disse foi basicamente o mesmo que havia dito antes.
“Entendido!”
“Seria mais seguro se todos ficássemos juntos como de costume. Dividir a nossa força
de luta é orar por problemas...”
“É. Mas seria mais fácil espantar algum monstro antes que se estabeleça perto do vila-
rejo. Uma vez que construa um ninho, nunca mais vão embora. Mesmo se conseguir ex-
pulsar, volta e meia eles retornam.”
Este seria o primeiro passo. Por ser o primeiro, implicava diretamente que o perigo era
o maior. Como tal, eles só poderiam mandar três escoltas para proteger Enri.
“Enfim. Vamos nessa! Quanto mais rápido terminar, mais rápido podemos ir de encon-
tro com a Ane-san!”
♦♦♦
Embora tivessem viajado apenas cerca de 150 metros, a temperatura já havia caído vá-
rios graus. Isso foi simplesmente porque a luz do sol não brilhava aqui. Dito isto, o inte-
rior não estava completamente escuro como breu, e Enri ainda podia ver o que estava
acontecendo ao seu redor. Enri e os outros quatro membros de seu grupo avançaram
para a floresta, cercados de ar frio.
No momento, a floresta era dominada pelo silêncio. Além dos sons suaves dos galhos
das árvores balançando e dos chilreios ocasionais de pássaros ou animais, não havia
mais nada. Os passos de Enri e seus companheiros ecoaram alto. A outra equipe liderada
por Jugem já havia se aprofundado e não podiam mais ser ouvidos.
Enri não era novata em coleta de ervas. Uma menina da idade dela saberia tudo sobre
quais ervas poderiam ser tomadas por via oral ou emplastro em uma área afetada, ou as
ervas comuns usadas como ingredientes para poções. No entanto, neste campo, ela era
completamente superada por Nfirea. Não apenas já estava completamente familiarizado
com ervas medicinais, mas até mesmo sabia quais eram úteis como bases para compos-
tos alquímicos.
De todas as perguntas que Enri havia feito, parecia que esta era a que ele estava espe-
rando. Os Goblins circundantes começaram a posar simultaneamente.
De novo flexionando os bíceps... será uma moda que inventaram ou coisa assim?
Enri estava de cabeça inclinada e não notou a leve expressão de aborrecimento no rosto
do resmungante Nfirea.
“Deveria ter dito a eles para pararem de posar... é uma droga não ter coragem. Bem, vê
aquele musgo marrom ali?”
Enquanto girava o corpo, um musgo marrom foi visto crescendo onde Nfirea estava
apontando.
“Aquilo aí é Bebeyamokugoke. Misture alguns com uma poção de cura e isso vai melho-
rar um pouco seus efeitos.”
“Sério? Eu pensei que era só musgo, nem tinha notado. Sem você aqui, Enfi, é bem certo
que eu teria deixado passar batido. Isso é uma boa prova do quanto você é bom.”
“Vale um pouco de dinheiro... ah, espere. Não pegue agora. O que a Enri e eu pretende-
mos vale ainda mais. Se não conseguirmos encontrá-lo, vamos pegar isso no caminho de
volta.”
“Beleza, como quiser. A propósito, Ani-san, esta floresta deve ser como um tesouro pra
você, pois consegue fazer riqueza dela. Uhum, me sinto até mais à vontade com você por
perto, Ani-san.”
“—Ah, claro. Isso mesmo. Uma coisa é certa, quem viajar comigo não passa dificuldades.
Sou muito experiente nessa área.”
“Hm? Não, nada... ah... sim, esqueci de perguntar mais cedo. Que tipo de ervas está pro-
curando?”
“Não te contamos? É uma erva chamada Enkaishi. Se a gente achar, vou deixar a Nemu
fazer a moagem.”
“Hm, entendi. O ruim é que mesmo que descreva pra nós, não vamos poder dizer a di-
ferença. Vamos seguir em frente, pessoal.”
Passo a passo, eles se aventuraram mais na floresta. Enquanto continuavam, seus nari-
zes começaram a pinicar devido ao aroma denso de mato.
Não havia sinal de atividade humana aqui. Imerso neste lugar, Nfirea sentiu que este
era um mundo onde os humanos eram insignificantes. Então, abriu a boca para falar.
“Vamos começar a olhar por aqui. Estamos procurando lugares com muita sombra e
umidade... há alguma fonte de água por perto? Essa erva cresce perto delas. Não há sinais
de atividade de monstros por aqui, acho que demos sorte.”
Com sua vasta experiência como herborista, era improvável que Nfirea cometesse um
erro. Os Goblins e Enri responderam em aprovação.
“Obrigado, Enri.”
“Não por isso, Enfi. Nossa, agora que me dei conta, todo esse equipamento especializado
é incrível. Você precisa de muitas coisas...”
Com o canto dos olhos, Enri pôde ver os Goblins balançando a cabeça como se quises-
sem dizer “muito bom, muito bom”. Embora não soubesse do porquê eles estavam tão
felizes, ela preferiu não pensar a respeito e deu prioridade à tarefa.
Com um “Oh!” moderado para manter o barulho baixo, eles começaram. Os Goblins ob-
servaram o perímetro, enquanto Enri e Nfirea começaram a procurar.
Embora Enri estivesse preparada para o trabalho ser difícil, eles tiveram sorte e logo
encontraram um crescimento denso de ervas das rachaduras dos troncos das árvores.
“Bem ali. Encontramos bem rápido onde elas crescem. Como eu pensei, é muito melhor
com você junto, Enfi.”
“Não, que isso... Foi sorte de encontrá-las em uma área tão erma. Se houvessem pegadas
de monstros, seria muito complicado.”
Para ambos, a grande quantidade de ervas, embora não fosse exatamente um tesouro,
era semelhante a uma montanha de moedas. Enri lutou desesperadamente contra o de-
sejo que ardia em seu coração, ela queria recompensar os Goblins, mas não poderia ar-
riscar a segurança de todos. Este lugar era perigoso; era melhor que ela deixasse sua
ganância de lado e trabalhasse para concluir o trabalho.
No entanto, Enri ajoelhou-se e começou a arrancar, prestando atenção nas raízes das
ervas.
O valor medicinal da Enkaishi residia em suas raízes. Por isso tinham que prestar aten-
ção ao arrancar. Gramíneas como essas eram incrivelmente resistentes, e elas cresciam
novamente enquanto as raízes permanecessem. Parecia vergonhoso se conter diante de
uma erva, mas esgotar essa moita — que antes era um grande desafio encontrar — co-
lhendo demais, seria como matar a galinha dos ovos de ouro.
Um odor forte fazia seu nariz arder quando fez a colheita, mas ela estava acostumada
com esse tipo de coisa, então o cheiro não impedia seu trabalho. Comparado com a casa
de Nfirea, isso era como cheirar o paraíso.
Ela arrancou o pé de ervas por um talo, segurando-o com cuidado para evitar esmagá-
lo por acidente, e então cuidadosamente colocou-o na bolsa abaixo das axilas. Se os
Enri observou silenciosamente Nfirea, que estava olhando para as ervas com uma ex-
pressão zelosa no rosto. O rosto, que até então era familiar, não era mais visto, ele pare-
cia alguém completamente diferente agora.
“...Que foi?”
Nfirea de repente olhou para cima. Ele deve ter percebido que Enri havia parado de
trabalhar.
Enri não fizera nada de errado, mas ela ainda assim reagiu sem jeito.
“Mesmo? Não acho isso nada de mais. Eu sou apenas um aprendiz quando se trata de
herborismo. Meu nível é bem básico.”
“...Tem certeza?”
Kaijali gesticulou para Enri ficar quieta. Uma situação de emergência surgiu. Enri, que
entendeu, levantou as orelhas. Ao longe, ela podia ouvir o som das plantas sendo pisote-
adas.
“Será quê...?”
A árvore não era muito grande, não podia ocultar todos eles. O máximo que podiam
fazer, era se agachar em suas raízes e confiar que não ficariam muito perceptíveis.
Dessa forma, os cinco silenciaram a respiração e rezaram para que a fonte do som fosse
em outra direção. Mas, infelizmente, isso não aconteceu, e a figura que fez o barulho fi-
nalmente entrou no campo de visão de Enri.
“Eh!?”
Seu corpo estava coberto de pequenas feridas que sangravam profusamente. Sua res-
piração era rápida e irregular, o cheiro de sangue e suor se espalhou pela área.
Mesmo que os Goblins já fossem menores que os humanos, esse Goblin era pequeno
mesmo para um Goblin. Enri e os Goblins concordaram que este Goblin era uma “cri-
ança”.
A criança Goblin olhou com medo para a retaguarda, na direção de onde ele tinha vindo.
Não havia necessidade de ouvir o som de pisotear a vida vegetal que vinha de trás dele.
Pela aparência das coisas, ele estava em um jogo de gato e rato.
Ele moveu seus pés espasmódicos bem rápido, tomando cobertura em um pedaço de
sombra diferente do de Enri.
“Aquilo—”
Gokou nem mesmo olhou para Enri para silenciá-la. Aqueles olhos implacáveis estavam
fixos na direção de onde a criança tinha vindo.
“Barghest...?”
Embora não tivesse a audição aguçada, o Barghest farejava como um cachorro, e então
seu rosto se torceu. Foi um sorriso maligno que nenhuma mera fera poderia fazer. Ele
lentamente olhou em volta e seus olhos se fixaram na árvore onde a criança Goblin havia
se escondido.
Como um animal caçador, o Barghest tinha uma grande destreza em rastrear cheiros
de sangue. Não havia como não conseguir farejar a criança Goblin que havia sangrado
no caminho até aqui.
Ao que tudo indicava, a razão pela qual o Goblin conseguira chegar até aqui não foi por-
que conseguira fugir do Barghest. Pelo contrário, foi porque o Barghest era uma criatura
sádica; ou talvez fosse porque estava caçando por esporte.
De repente, o Barghest parou de se mexer, com uma surpresa no rosto e olhou para o
lugar onde haviam juntado as ervas.
Ah—
Atrás do tronco da árvore, Enri abriu as mãos. Sua pele era verde e salpicada de pedaços
soltos de matéria vegetal. Ao lado dela, Nfirea fez a mesma coisa.
Este era o mesmo tipo de coisa em que Nemu estava encharcada quando ela moía as
ervas. Apesar de não afetar os narizes entorpecidos (como os deles), o poderoso fedor
ainda pairava no ar. Ela achou a batida repentina de seu coração ruidosa.
“Tá se movendo... acho que tá se afastando... Será que não sentiu nosso cheiro?”
Unlai estava com o ouvido em uma árvore e um ponto de interrogação apareceu acima
de sua cabeça.
“Sim, mas...”
O ponto principal era que, por ter um senso de olfato extremamente sensível, o fedor
que flutuava nessa área era particularmente eficaz contra ele. O Barghest confundiu o
aroma das mãos e da bolsa de Enri com o das áreas já colhidas. Melhor ainda, o aroma
encobria seu aroma original.
Também era possível que o Barghest considerasse que o arrancar de ervas tinha sido o
último esforço da criança Goblin para tentar se esconder.
“Então, vamos usar o garoto como sacrifício e acabar com isso. Não dá pra saber se esse
Barghest é forte, se intrometer com um monstro que a gente nem conhece é arriscado
demais.”
Essa resposta a sangue frio fez Enri olhar para o rosto de Gokou.
No entanto, ele estava sendo totalmente lógico. Os Goblins têm a segurança pessoal de
Enri como sua principal prioridade. Com isso em mente, evitar o combate com essa fera
mágica era de se esperar. Eles até sacrificariam um de seus semelhantes por isso sem
pensar duas vezes.
Ele provavelmente estava correto, dada a convicção com a qual havia falado aquelas
palavras.
Porém, Enri não gostava nada disso. Mesmo que fossem de espécies diferentes, negar
ajuda a alguém que se pudesse ajudar era praticamente falhar como humano.
Talvez fosse apenas a idéia tola de uma mera aldeã que nunca havia sido atacada por
Goblins e não tinha noção do perigo.
Ela olhou para todos os outros Goblins. Provavelmente já entenderam seus sentimentos,
mas mantiveram a boca fechada. Em seguida, ela olhou para Nfirea.
“Enfi...”
“Haa... eu vou ajudar. Quem sabe, essa criança Goblin pode se tornar uma valiosa fonte
de informação. Se não descobrirmos o porquê ele fugiu para cá, isso pode acabar cau-
sando perigo ao vilarejo.”
“Eu sei. Mas tem vários tipos de Barghest. Os líderes são mais arrogantes e bem fortes.
Mas pela aparência das correntes e tamanho de seus chifres, não acho que ele seja desse
tipo. Se for apenas um Barghest comum, então temos boas chances.”
Enri engoliu em seco. Ela sabia que o que estava preste a dizer era apenas para satisfa-
zer seu ego, suas palavras tolas colocariam em perigo não apenas a si mesma, mas os
outros ao seu redor. Mas mesmo assim, Enri deu voz às suas palavras.
“...Se abandonarmos alguém que poderíamos ter ajudado, seria tão ruim quanto ator-
mentá-lo. Eu não quero ser como aquelas pessoas que prejudicam os fracos. Por favor!”
Enri sentiu uma terrível ansiedade em seu coração enquanto observava os guerreiros
que iam para a batalha cumprir seus desejos.
Pensou Enri.
♦♦♦
Os quatro que saltaram para fora, viram o Barghest pressionando a criança Goblin no
chão. A criança Goblin exibia novas feridas, mas ainda não estava morta, pois o Barghest
tinha o péssimo hábito de brincar com sua presa.
Os movimentos do Barghest pararam, e ele olhou para o grupo de pessoas que haviam
saltado e depois para a criança Goblin. Talvez tenha medo de que sua presa a tenha le-
vado a uma armadilha.
“Tá com medinho, é? Vou te mostrar que cachorro velho aprende truque novo. Que tal
aprender a fingir de morto?”
“Agyaaaa!”
Em resposta às provocações dos Goblins, o Barghest apertou a criança Goblin que es-
tava pisando, como resultado, a criança chorou de dor.
Embora não pudesse falar, suas ações deixaram claras suas intenções. Faça um movi-
mento e eu mato o pirralho. Contudo—
♦♦♦
Talvez o Barghest pensasse que os Goblins tinham vindo para salvar sua cria. Mas a
verdade era que só estavam aqui por causa do desejo de Enri, a atitude deles era a de
“pelo menos tentamos salvar, o que vale é a intenção”.
Já que eles foram para um confronto, sua preciosa Enri poderia se machucar se não
derrotassem o Barghest. Como resultado, precisavam matar o Barghest sem pestanejar.
Assim sendo, se a criança Goblin morresse no processo, isso acabaria com a premissa do
oponente de usar um refém e permitiria que tomassem a iniciativa, então os Goblins
deixariam alegremente o garoto morrer.
Vendo-se refletido nas lâminas de três facões, o Barghest entendeu que usar o refém
seria perda de tempo. Ficou confuso se deveria ou não acabar com o garoto que estava
pisando.
Ignorando a criança Goblin, o Barghest saltou para a tropa Goblin pronto para enfrentar
seu ataque.
Por ser mais pesado que um Goblin. O Barghest esperava imobilizar seus inimigos e
acabar com eles dilacerando suas gargantas com suas presas.
Uma lâmina foi desviada pelas correntes do Barghest, mas a outra cortou seu corpo,
enviando sangue para todos os lados.
“Gyaaaaah!”
O vil miasma que agora entupiu seus olhos e nariz tirou um uivo agonizante do Barghest.
Podia sentir que estava sem saída apenas pelo fluxo de sangue. O Barghest soltou um
grito de lamento, sua visão tremeu e se confundiu, partiu para seu próximo movimento.
Seu alvo era aquele que jogara o frasco — um humano.
No entanto, o Barghest tinha dado apenas alguns passos quando seus pés grudavam em
algo abaixo e não podiam se mexer.
Olhando para baixo, viu que o chão estava coberto de um lodo estranhamente colorido.
O líquido bizarro não foi absorvido pela terra.
“A cola não resistirá por muito tempo à força de uma fera mágica! Matem ele rápido!”
“GWRAAAAAA!!!”
Ele reconheceu que estes eram diferentes dos Goblins regulares de uma forma crucial
— eles eram inimigos que poderiam matá-lo.
Este Barghest conhecia três métodos de ataque. Poderia perfurar, faria uma investida
no inimigo com seus chifres. Poderia morder. Poderia derrubar seu oponente e rasgar
com suas garras. Ao contrário dos Barghests mais fortes, esse certamente não teria ne-
nhuma habilidade especial. Mas na verdade, tinha um trunfo.
O Barghest uivou como um cão raivoso, verificando o avanço dos Goblins que o circun-
davam.
“「Reinforce Armor」!”
A magia da retaguarda, lançado pelo humano, fez a armadura dos Goblins brilhar inten-
samente. O Barghest entrou em pânico, prevendo que era algum tipo de magia de apri-
moramento e os Goblins à sua frente simplesmente sorriram.
Talvez isso os tenha feito imprudentes, mas com suas armaduras reforçadas, os Goblins
avançaram como um. Talvez possa ser chamado de movimento precipitado, mas tam-
bém se pode dizer que foi uma aposta corajosa para acabar rapidamente com uma pos-
sível longa batalha.
De fato, seria este o caso— isso se o Barghest não esperasse que eles fizessem isso.
As correntes em seu corpo ondularam como uma cobra. Então, as correntes que ligavam
o Barghest de repente vieram à vida.
O Barghest estava fazendo isso com toda sua força. Era uma grande técnica que só po-
deria ser usada uma vez por dia, mas depois que as correntes fossem usadas, seria inca-
paz de usá-las como armadura por pelo menos dez segundos. O risco era alto.
O bote inesperado atrapalhou a esquiva dos Goblins por um segundo. Um erro fatal.
Contudo—
“Se abaixem!”
—Uma ordem estrondosa cortou o ar antes que as correntes pudessem fazer contato.
O Barghest que apostou tudo nesse ataque encarou uma humana que gritara de olhos
arregalados.
Já era tarde demais para os Goblins escaparem, mas, como se desafiassem a ordem na-
tural, caíram agilmente no chão, como se a voz tivesse injetado uma nova dose de agili-
dade.
O Barghest olhou para a comandante que estava por trás do magic caster.
E então, as patas dianteiras do Barghest e uma perna traseira foram decepadas de seu
corpo, quando levou golpes de facão. Ele uivou de dor. Ele tentou recuperar suas corren-
tes, mostrar suas presas, ameaçá-los, mas os Goblins não davam a mínima para isso.
“Ani-san, não precisa de dar mais suporte mágico. Por segurança, coloque um alarme
nos arredores.”
O Barghest, que sabia que já havia perdido, estava desesperadamente tentando fugir.
Seu corpo normalmente flexível agora era pesado e lento. Isso era natural, conside-
rando que três de suas quatro pernas eram como meros troncos mortos. Mesmo assim,
o Barghest queria fugir com toda a força.
♦♦♦
Sangue viscoso cobria a grama ao redor e o fedor de ferro sobrepujava o odor das plan-
tas.
O Barghest estava morto, as vísceras saindo do cadáver ainda quentes do calor do corpo.
Os Goblins se afastaram do Barghest, com seus facões manchados de sangue na mão, e
se viraram para olhar o garoto Goblin.
Nos olhos um do outro, eles discutiram sem palavras a estratégia para que tipo de ati-
tude renderia o maior número de benefícios e que tipo de informação eles deveriam re-
velar, mas Enri sentiu que havia assuntos mais urgentes do que isso.
“A gente precisa cuidar das feridas dele primeiro. O que podemos fazer, Enfi?”
O garoto estava muito machucado e já havia perdido muito sangue. Se deixado sozinho,
ele definitivamente iria morrer. Embora Enri não tivesse idéia de como ajudá-lo, ela es-
perava que seu amigo de infância soubesse o que fazer.
“As ervas mais normais podem servir, mas só em parar o sangramento, não vai ajudar
contra a perda de sangue. Mas...”
“Há uma poção de cura recém-criada. Eu queria entregá-la para o Gown-sama, mas...
Você poderia me mostrar suas feridas?”
Hostilidade passou pelo rosto assustado da criança quando viu a poção roxa. Do ponto
de vista de Enri — talvez até do ponto de vista de Nfirea — essa foi uma reação natural.
A poção parecia muito com veneno, era normal estar em guarda. Entretanto, os Goblins
ficaram muito aborrecidos com as palavras da criança, e eles imediatamente se aproxi-
maram dele.
“—Ei, pirralho. A Ane-san é quem decidiu te salvar, junto com o Ani-san ali. Toma cui-
dado com suas palavras, tá me ouvindo? Eles salvaram sua vida... Isso é pro seu bem,
entendeu?”
O garoto se virou para olhar as lâminas brandidas diante dele. Embora ele fosse apenas
uma criança, ele ainda sabia que os Goblins diante dele estavam muito zangados. Com
isso, ele se encolheu diante de seus olhos.
“Me-me desculpa.”
“Deu certo. Acho que posso dizer ao Gown-san que o experimento foi concluído sem
problemas.”
Nfirea olhou em volta, buscando aprovação. Enri e os Goblins entenderam o que ele
queria dizer e acenaram em resposta.
A poção criada por Nfirea foi feita a partir dos materiais fornecidos pelo grande magic
caster Ainz Ooal Gown, o salvador do Vilarejo Carne. Não apenas não havia necessidade
de gastar dinheiro em taxas de pesquisa, mas ele até fornecia todos os ingredientes ne-
cessários. Com isso em mente, o significado e o valor da poção que ele criara era visivel-
mente óbvio.
O fato de Nfirea ter decidido usá-la por conta própria era um grande problema, mas
talvez ele pudesse considerar uma avaliação prática dos efeitos da poção.
Se ele explicar direitinho ao Gown-san, acho que não vai ter problemas... os herboristas
também têm suas próprias regras, eu acho.
Incapaz de ler nas entrelinhas, o garoto engasgou em choque, enquanto Enri e Nfirea
sorriam amargamente em resposta. Uma reação como essa era natural de alguém que
não conhecia todos os detalhes da situação.
Embora os dois tivessem pelo menos conseguido sorrir diante da reação, havia outros
presentes que não possuíam sua tolerância. Os Goblins estavam claramente furiosos;
eles estalavam suas línguas e alguém ainda disse, “Seu desgraçadinho!”.
“Bem, se diz, Ane-san... Enfim, melhor dar o fora daqui. Quem sabe que outros monstros
serão atraídos pelo cheiro de sangue, não?”
“E mesmo vencendo desta vez... Ane-san. Não faça esse tipo de coisa novamente, tá
bom? Nosso trabalho é te proteger, então é tudo que eu te peço.”
“Eles têm razão. Mas aquele grito que deu agora a pouco, Enri, realmente me assustou.”
“...Bem, é por causa daquele grito que a gente saiu com vida— ei, pirralho, é melhor você
não fugir. Temos muitas perguntas pra fazer e se não quiser voltar pra casa que nem
peneira, é melhor responder tudinho e sem mentir.”
“Unlai-san...”
O garoto levantou-se devagar e com receio. Suas feridas foram curadas, então não de-
veriam ter dificultado sua mobilidade, mas sua resistência fazia seus movimentos serem
lentos.
Enri olhou para Nfirea em busca de ajuda. No entanto, ele silenciosamente balançou a
cabeça. Quando ela se virou para olhar para os Goblins, viu que havia força de vontade
dura como aço em seus olhos e, com isso, a aprovação silenciosa das ações de seus cole-
gas.
“...Ane-san, não se preocupe, não vou matar ele. Eu só quero fazer algumas perguntas
pra tentar saber o que tá acontecendo. Além disso, não acha que ele vai morrer se ficar
aqui?”
Parecia que a pergunta era mais direcionada à criança Goblin do que a própria Enri. Ele
pareceu entender, e a resistência em seus olhos desapareceu.
“É assim que se faz. Então, quanto mais cedo sair daqui, melhor. Você confirmar que
tinha apenas esse Barghest, garoto?”
“...Não. Tinha alguns e vários Ogros também. Não sei se algum deles veio atrás de mim.
E não me chame de garoto, sou Agu, quarto filho de Ah, o chefe da tribo Gigu.”
“Falamos disso mais tarde. Não tem tanta urgência assim para ser discutido aqui. Já que
o Agu tem esse nome, melhor usar e talvez devêssemos tentar construir elos de confi-
ança, o que acham?”
“Ani-san, você é mais maduro do que parece. Vamos ir recolher nossas coisas e dar o
fora.”
Embora Enri quisesse aliviar o clima com uma conversa, a floresta não era um recanto
de paz para humanos. Ela não podia agir levianamente aqui, especialmente conside-
rando que poderia haver mais perseguidores por perto.
♦♦♦
Eles deixaram a floresta fria e sombria, e depois de se banharem na luz do sol, a tensão
que enchia seus corpos dissipou, substituída pela flexibilidade e relaxamento que havia
retornado. Naquele momento, eles sentiram como se tivessem voltado ao mundo dos
homens mais uma vez.
Nfirea estava caminhando ao lado de Enri, e um alto “fuwaah~” escapou dele, soando
como um suspiro e um bocejo.
Os movimentos dos Goblins perderam a tensão, mas a expressão de Agu ainda parecia
rígida. Ele parecia angustiado com a luz do sol e os espaços largos, e isso aparecia em
seu rosto. Isso foi provavelmente porque ele cresceu na floresta sombreada.
“Monumento da Ruína?”
“Sim, é um lugar assustador que apareceu na Grande Floresta. Qualquer um que chega
lá perto morre. Dizem que tem até undeads lá.”
“Sabia disso?”
“Lamento, mas não. Isso é algo novo pra nós também, Ani-san. Se a gente for fundo na
floresta, podemos encontrar inimigos que nem o nosso Líder pode derrotar. Por isso que
nunca fomos tão fundo.”
“...Ei, de qual tribo cês três são? São os Goblins mais fortes que já vi, então onde—”
Agu deu uma olhada em Enri e depois murmurou algo parecido com “acho que são hu-
manos, mas....” para si mesmo e completou:
“Humanos fortes...? Bem, já ouvi falar que tem uns humanos que são bem fortões... mas
apenas homens, você é mulher, né? E aquele com o cabelo cobrindo o rosto é homem?”
Os olhos de Enri se arregalaram. Se eu não sou mulher, seria o quê? Não, era só que ele
não sabia se Nfirea era do sexo masculino. Será que os Goblins não sabiam distinguir o
sexo dos humanos?
“Enri, eu acho que ele nunca tinha visto humanos antes. Deve que ele só sabe o que
ouviu de outros Goblins da tribo. E também... será que é difícil para eles diferenciarem
humanos?”
“Como eu disse, ele não sabe coisas assim. Todos os Goblins não usam a mesma coisa,
independentemente de serem masculinos ou femininos? É claro que às vezes há Goblins
civilizados com um país próprio, mas ele não é um deles.”
Faz sentido...
Enri de repente percebeu, e então se deu conta de que não tinha respondido à pergunta
de Agu.
“Ehhhh!?”
“Digo... tem umas raças que as esposas podem usar o poder e a autoridade do marido...
não é assim?”
Os Goblins ao redor pareciam querer dizer algo, mas diante da inflexível recusa de Enri,
tudo o que fizeram foi abaixar os ombros em silêncio.
“Por isso que tu é um pirralho, não entende o porquê. A força da Ane-san não é algo que
possa ser visto com os olhos.”
Enri queria negar, mas os olhos sinceros de Agu exerceram uma pressão que a deixou
incapaz de falar. Enquanto Enri estava confusa, Kaijali fez uma pergunta.
“Então, me responde uma coisa. Por que aquele monstro estava te perseguindo? O que
aconteceu?”
“É quê—”
Lupusregina Beta.
A empregada a serviço de Ainz Ooal Gown, o salvador do Vilarejo Carne, e ela tinha sido
responsável por entregar os itens alquímicos e aparelhos para os Bareares, bem como
comandar os Golems de Pedra. Sua atitude alegre e descontraída a tornou muito popular
entre os aldeões.
No entanto, ela tinha o hábito de aparecer do nada, assim como ela tinha feito agora. Os
aldeões acreditavam que era natural que uma empregada a serviço de um grande magic
caster conhecesse alguma magia que permitisse isso, e Enri também compartilhara essa
opinião. Mesmo assim, aparecer assim de repente ainda era assustador.
“Tá preocupada por que, En-chan? Eu tenho seguido atrás de vocês desde o come~su.
Hã? É sério que não me viu ~su? Até pensei que tavam me ignorando porque não tenho
importância pra vocês ~su.”
“Eh? Ehhhh?”
Embora ela soasse como se estivesse brincando, seu tom era muito sério. Enri procurou
por ajuda dos outros.
“Uwah~ todo mundo pensa que sou uma brincalhona ~su. Só queria que me notassem
~su... Hah! Tava brincando mesmo ~su! Apenas uma piada ~su.”
“Bem, chega de gracinhas por ora ~su. Mas então, quem é esse Goblinzinho? ...Ele—
Será que é—?”
O corpo de Agu tremia ferozmente, como se tivesse visto algum tipo de monstro.
“Aw, relaxa, não vou te comer ~su. Tá tudo bem ~su. Vamos lá, conte pra onee-chan
aqui sobre is~su.”
“Lupu-neesan. Melhor falar disso mais tarde. Não tinha concordado com isso agora a
pouco?”
“...”
“...Ah! Espero que possa entregar esta poção ao Gown-sama, Beta-san. Ela foi desenvol-
vida recentemente e seus efeitos já foram testados e comprovados.”
“Isso mesmo. Infelizmente, não é completamente vermelha, mas acho que fizemos um
progresso significativo.”
“—Tem meus parabéns. Tenho certeza que o Ainz-sama ficará muito feliz em saber
disso.”
Com isso, a atitude de Lupusregina parecia ter se tornado a de uma pessoa normal, e
não a garota descontraída brincalhona de antes. No entanto, essa expressão durou ape-
nas um momento. No seguinte, ela estava de volta ao seu antigo eu.
“Ahhhh, que legal... sou boa mesmo, escolhi um ótimo dia pra visitas ~su. Além disso,
não precisa me chamar de Beta. Lupusregina já tá bom. Exceção especial só pra você ~su.”
Com o (aparentemente) alto astral de Lupusregina pairando no ar, eles entraram nos
portões do vilarejo.
Os aldeões não disseram nada quando viram a desconhecida criança Goblin. Pode-se
dizer que não estavam nervosos, mas também pode-se dizer que confiavam muito em
Enri. Talvez eles tivessem assumido que a criança Goblin era parente de um dos outros
Goblins.
“Me deem licença, já volto. Vou chamar a Britta-san, ela será útil para ouvir o que o Agu
tem a dizer.”
“Parece um bom plano, Ani-san. Como ela quer ser ranger, seria bom compartilhar es-
sas informações que tem a ver com a floresta com ela... Ane-san, o que a gente faz agora?”
“Quê? Eu?”
Enri entrou em pânico por um momento, sem esperar que seu nome surgisse na con-
versa. Sem nenhum motivo especial para se opor, ela simplesmente assentiu com a ca-
beça.
“Mm. Bem, não é como se eu fosse contra ou algo assim. Pelo contrário, espero que ela
ouça o que o Agu tem a dizer. Conto com você, Enfi.”
“...Lupu-neesan, a senhorita é uma empregada, né? Então sabe fazer todos os tipos de
bebidas deliciosas?”
Embora a conversa de Unlai e Lupusregina parecesse normal, Enri ainda sentia um ca-
lafrio.
Este era uma casa enorme, com um amplo pátio onde se podia criar e deixar os lobos
correrem, capazes de abrigar quase vinte pessoas. Havia amplo espaço para treinar e
preparar suas armas.
“Sim, sim ~su. Não dá pra entrar sem convite ~su. Bem, é apenas coisa de etiqueta, não
é como se eu realmente não pudesse entrar. Eu acho que a única com uma lenda tão
estranha assim é a Sempeito-san ~su.”
“Sempeito-san...?”
“Isso aí, En-chan ~su. É o nome de uma beleza trágica ~su. Bem, não é como se ela re-
almente não pudesse entrar, sabe? São apenas lendas, mitos e folclore. Ahhh, chega de
falar disso. Viemos aqui pra ouvir o que o Goblin tem a dizer, né ~su?”
“Ah, claro. Então, bebida... ehm, que tal água de ervas e água de fruta? Há chá de capim
preto e água com infusão de Hyueri...”
“Hyueri são frutas cítricas, você as abre e deixa descansando na água, tem um gosto
suave e bom. O chá de capim preto é um pouco amargo.”
“Eu acho que vou querer água Hyueri também. E... que tal lavar as mãos? O nariz vai se
acostumando com o cheiro e a gente nem percebe...”
“Ah, é melhor mesmo. Ei, pirralho... digo, Agu, venha também. Tem que se limpar. E par-
ceiro, desculpe incomodar, mas se importa de dar um jeito nas nossas armas sujas?”
“Posso mesmo?”
“Claro que sim. Não tem motivo pra te impedir. Nossas regras aqui são muito simples.”
“Não importa o que você acha. É ordem do dono da casa e você obedece. Ou quer dizer
que vai desafiar o dono da casa?”
Enri despejou a água do tanque grande nos baldes. Depois de preparar quatro conjun-
tos, enfiou as mãos na água inesperadamente fria e começou a lavar-se. O verde preso
debaixo de suas unhas se dissolveu. Depois que ela teve certeza de que tudo havia aca-
bado, ela levou as mãos à frente do rosto. O fedor se foi.
Satisfeita, ela então olhou em volta. Gokou e Unlai também estavam lavando as mãos e
a água estava tingida de vermelho pelo sangue do Barghest.
Em seguida, ela olhou para Agu, mas o que viu a deixou perplexa.
Até uma criança humana saberia maneira melhor de se lavar. Ele enfiava os braços na
água, balançava-os um pouco e só. Ele nem mesmo se secou.
Foi só depois de Enri ter lavado o cheiro das plantas em suas mãos que ficou evidente,
Agu ainda cheirava a folhas. Para os Goblins que viviam na floresta, um cheiro como esse
era uma forma de autodefesa contra feras mágicas que tinham sentidos aguçados de ol-
fato. Como tal, eles podem nunca ter desenvolvido o hábito de tomar banho.
Mesmo assim—
Agu fez uma careta aborrecida quando Enri tentou ensiná-lo. No entanto, ele pensou
em sua própria posição e no que os outros Goblins tinham dito antes e sobre a má von-
tade, ele começou a se limpar completamente.
“Ei, depois use isso pra limpar seu corpo. E vê se tira as manchas de sangue.”
Agu parecia infeliz, mas ainda pegou a toalha com as mãos úmidas e a usou para se
limpar.
Embora parte da razão fosse na coleta de ervas, o que realmente a esgotara fôra a bata-
lha contra o Barghest.
Não fiz nada, só fiquei assistindo... Enfi e os Goblins lutaram e ainda estão com disposição
depois de tudo.... acho que nunca vou ser pra ser guerreira... Hum, o Enfi ficou tão forte...
Mesmo sabendo que seu amigo de infância poderia usar magia, ela não esperava que a
magia fosse tão poderosa.
Ele é incrível...
Enquanto pensava no quanto seu amigo de infância havia mudado, o coração de Enri se
encheu de emoção que ela não conseguia expressar em palavras. Era um sentimento
misterioso que parecia ser surpresa, mas, novamente, parecia algo completamente dife-
rente.
Um som nítido trouxe Enri de volta aos seus sentidos, e seus olhos caíram sobre as xí-
caras de cerâmica na mesa. Estavam preenchidas com um líquido transparente que emi-
tia um aroma de frutas cítricas, e Enri decidiu se servir de uma xícara.
O sabor refrescante, embora doce-amargo, lavou todo o seu corpo, e ela sentiu como se
estivesse cheia de energia. Agu sentou-se ao lado dela em algum momento, e ele tomou
em um gole e imediatamente queria mais.
“...Hm? Que foi? Tem me olhado muito de canto de olho. Essa não, tá caidinha por mim?
Ahhhhh~ quem diria, tô chocada, nem sabia que era lésbica, En-chan. Parece que eu pre-
ciso contar a todos ~su.”
“Wahahahaha~ É brincadeira, sua boba. Eu sei que gosta de machos, En-chan ~su.”
Enri não sabia como responder e sua boca se estreitou em linha reta.
Enri se virou para a porta, mas ela não conseguia sentir ninguém do lado de fora.
“Ah, não sei, mas não acho que a Lupusregina-san iria mentir com uma coisa dessas...
mesmo que ela goste de... brincar um pouco com as pessoas.”
“É, tô ouvindo alguém vindo mesmo. Devem ser eles. Você é incrível mesmo.”
“Hm? Nem sou ~su. Comparada com a Enri-san, não sou nadinha ~su.”
Agu pareceu engolir a seco e olhou para Enri com uma expressão surpresa.
Enri se perguntou como deveria contar a verdade a Agu, mas antes disso, uma batida
veio da porta.
Pouco depois, Nfirea e uma mulher com armadura de couro entraram na sala.
Britta, a antiga aventureira, mudou-se para o vilarejo depois que Nfirea fez o mesmo.
Originalmente, ela tinha sido uma aventureira em E-Rantel, mas se aposentou depois de
certos eventos. Mesmo assim, ela ainda precisava ganhar a vida, e então respondeu às
solicitações do vilarejo e se mudou para cá.
Ela começou a estudar para ser uma ranger, já que levara jeito. Mesmo sendo mais fraca
que Jugem, ainda era uma das pessoas mais fortes do vilarejo e líder da força de autode-
fesa, embora dificilmente pudesse ser chamada assim.
Eles a trouxeram aqui porque ela liderava a força de defesa, e porque entrava na flo-
resta para praticar sobrevivencialismo característicos de rangers.
“Ah— mais um Goblin... não, hm, eu continuo pensando do ponto de vista de uma aven-
tureira... não posso tratar ele assim, como inimigo.”
Britta sorriu sem graça. Não era como se Enri não entendesse de onde ela veio. Nas
histórias, os Goblins eram os inimigos da humanidade. Matá-los à vista era a coisa certa
a fazer. Contudo, este vilarejo era diferente. E para ser franco, os aldeões sentiam que os
humanos pareciam ser os verdadeiros inimigos neste caso.
“Não, não é uma questão de como o chamamos, nem sabíamos que ele existia até agora.
Britta-san, sabe alguma coisa a respeito?”
A pessoa mais estudada neste local era Nfirea, mas quando se tratava de floresta, Britta
era a que estudava o assunto. Mesmo assim, tudo o que pôde fazer foi sacudir a cabeça.
“Eu sinto muito. Nunca ouvi falar nada desse Gigante do Leste. Também não acho que o
Mestre Latimon saiba de algo. Meu antigo grupo nunca se aventurava nas profundezas
da Floresta, então não sabemos muito sobre o que vive lá.”
“Cada um...?”
Enri entendeu a confusão de Agu. Em situações como essas, era melhor fazer perguntas
várias perguntas simples do que esperar um resumo detalhado, assim seria mais fácil
para ele responder.
“Ah, pra mim os Barghests e os Ogros são todos fortes... mas se tá falando de coisas no
nível do Gigante do Leste, então na floresta existem os poderosos chamados os Três
Monstros. O primeiro é a Besta Mágica do Sul. Dizem que é muito forte e mata todo
mundo que entra na área. Mas a gente não ouviu nada mais ultimamente, uns guerreiros
da minha tribo passaram lá no território dele e ninguém viu nada, ninguém sabe o que
aconteceu. Depois tem o Gigante do Leste. Ele construiu um exército depois da floresta
murcha. E no fim, a Serpente Demônio do Oeste. Eu ouvi dizer que é uma cobra nojenta
que sabe usar magia.”
“Estranho... e o norte?”
“Sim. Eu também ouvi dizer que o mestre do Monumento da Ruína pode comandar os
mortos, alguns até veem sombras negras se movendo através da escuridão. Isso é o que
os sobreviventes nos disseram.”
A primeira coisa seria a Besta Mágica do Sul. Como seu território deveria estar próximo,
então, quando se pensava, a criatura certamente deveria ser a fera mágica domesticada
pelos aventureiros que haviam escoltado Nfirea aqui — ou, mais especificamente, aquele
que usava uma armadura preta. Certamente tinha a aparência poderosa e força para tal,
e então a descrição se encaixava perfeitamente.
Britta disse ao ouvir Nfirea. Ela não estava no vilarejo naquela época.
“Até então, cada um puxava a forca do outro. A Besta Mágica do Sul nunca tinha deixado
seu território, mas ninguém imaginou que ia sumir assim do nada. Acho que o Leste e
Oeste chegaram à conclusão de que se lutassem, mesmo se um vencesse, acabariam mor-
rendo, já que o vencedor sairia muito ferido e poderia trombar com algum monstro forte
e ser morto. Por isso nunca lutaram.”
“Isso faz muito sentido. Mas se o Leste e o Oeste unissem forças contra o Sul... Oh, mas
o Sul nunca saía do território, então não fazia sentido uma aliança para derrota-lo... Não
houve necessidade...”
“Aí eu já não sei. Só sei que cada um reivindicou um território e criou um reino de cada
lado. Aí veio o dono do Monumento da Ruína e bagunçou tudo. Então, Leste e Oeste uni-
ram forças pra guerrear contra o Rei da Ruína, passaram a juntar muitas tropas que tra-
tam que nem lixo pra guerra que tão tramando.”
“Aqueles malditos forçaram as tribos a ficar do lado deles. Nunca que a gente ia querer
ser aliado deles. Pra eles, os Goblins não valem nada. Eles usam meu povo e depois jogam
fora, até usam meu povo como ração. Foi por causa disso que fugimos. Mas aí...”
“Sim, isso mesmo. Os Barghests e Ogros vieram atrás bem rápido. A gente não dava
conta de lutar, aí cada um foi pra um lado. Eu e mais alguns fugiram pra cá e invadimos
o território da Besta Mágica do Sul, mas ninguém pensou que o Barghest ia continuar
seguindo.”
Ele disse que havia mais alguns, mas não havia sinal de ninguém além de Agu.
“...Temos um pessoal explorando a floresta, se tiver alguém vivo do seu bando, podemos
trazer eles pro vilarejo, contanto que não resistam.”
“Sim, bem lembrado. Os olfatos dos lobos são bem sensíveis. Então... a questão é, além
do Barghest, o que mais eles têm? Será que tinham aliados ajudando na caçada? Isso é
sério, se der errado, podemos acabar trazendo o inimigo para a nossa porta. Ei, Agu, o
que mais tem no exército deles?”
“Há Barghests, Ogros, Boggarts, Bugbears e um bicho lá que parece um tipo de lobo...”
“São monstros bastante comuns. Eu gostaria de ouvir mais sobre o Gigante do Leste e a
Serpente Demônio do Oeste, especificamente, aparência, habilidades, esse tipo de coisa.
Você sabe algo?”
“Eu não sei dos detalhes. Só que o Gigante do Leste carrega uma espada bem grandona,
e a Serpente Demônio do Oeste tem uma cabeça igual a sua, mas os tipos de magias eu
não sei.”
A atenção de todos foi para Nfirea, que balançou a cabeça. Havia simplesmente pouca
informação para trabalhar.
“A questão é; o que vamos fazer? Se esses dois vierem para o nosso lado, sendo tão
poderosos quanto a Besta Mágica do Sul, sendo sincera, será o nosso fim. O máximo que
a força de autodefesa pode fazer é escoltar as mulheres e crianças para um local seguro.”
Para eles, pessoas que viviam fora da floresta, seria melhor se as questões dentro da
floresta se resolvessem sozinhas. Entretanto, enquanto não se resolvesse, implicava que
seriam incapazes de entrar na floresta, o que seria deveras problemático. Assim, se a
situação do vilarejo se complicasse, teriam que entrar lá correndo mais riscos ainda.
“...O problema é que se essa dupla pode subjugar uma tribo inteira como se fosse nada,
significa que, no mínimo, eles devem ter reunido muito poder de luta.”
“Errado! ...Antigamente, a minha tribo era muito mais forte. Mas no começo do caos os
líderes mandaram tropas pra achar um local novo pra morar, aí a gente perdeu vários
grupos mistos de Ogros e Goblins adultos. Se não tivessem ido, minha tribo teria resis-
tido!”
Enquanto Britta falava, Nfirea inclinou a cabeça, como se estivesse pensando em al-
guma coisa.
“Me responde uma coisa...? Sei que estou mudando de assunto, mas isso tem me inco-
modado há um tempo. Você fala da mesma maneira que outros Goblins?”
“Como assim?”
“Ah, isso pode ser meio difícil de entender. No passado, já me deparei com Goblins, du-
vido que tenha entendido errado, mas eles falavam como retardados. Mas esses que tem
no vilarejo, Jugem-san e os outros, falam normalmente. E agora você— que também fala
muito bem. Por isso a minha dúvida, os que vi pertenciam às tribos selvagens de Goblin
ou algo assim?”
“Não, é só que sou bem inteligente pra um Goblin. A maioria fala apenas o básico. É bem
complicado conversar coisas complicadas com eles, experiência própria. Até cheguei a
me perguntar se eu era adotado de outra tribo. Mas agora que falou, até estranhei por
ver tantos Goblins que falam bem aqui, cês vieram de alguma tribo que tem mais gente
como eu? Sabem de alguma coisa sobre mim?”
“Não, não sabemos... Será... Poderia ser... Ane-san, Ani-san, poderiam vir aqui um segun-
dinho?”
Hobgoblins eram ramificações da raça Goblin, e eram superiores aos Goblins de várias
maneiras. Quando adultos, os Goblins seriam tão grandes quanto crianças humanas, mas
os Hobgoblins podiam atingir a altura de um ser humano adulto.
Eles eram semelhantes aos humanos não apenas em habilidades físicas, mas em atribu-
tos mentais. Como ainda podiam se reproduzir com Goblins, normalmente formavam
comunidades mistas. Todavia, os Hobgoblins não eram tão férteis quanto os Goblins, e
assim tendiam a ser líderes ou guardas de elite dentro de uma tribo.
“Mas ele não ia saber se a mãe ou pai fossem Hobgoblins, ficaria na cara, não?”
“...É a primeira vez que te vejo fazer essa cara, Enri... infelizmente, não acho que seja o
caso. Assim como os humanos adotam crianças, acho que os Goblins podem ter feito algo
semelhante.”
Os três voltaram para a mesa e, quando o fizeram, a até então silenciosa Lupusregina,
abriu a boca para falar.
“E aí, decidiram o quê ~su? Se precisar de algo, só pedir uma mãozinha pro Ainz-sama.
Pede ele pra te ajudar a resolver o problema e tudo o mais ~su.”
Se o herói que salvou o vilarejo decidisse fazer um movimento, nem mesmo os Três
Monstros poderiam ficar contra ele. Contudo—
Enri murmurou para si mesma, e os Goblins concordaram. Apenas Britta e Agu, que não
conheciam Ainz, ficaram perplexos. Nfirea tinha uma expressão complexa no rosto.
“Este vilarejo é nosso. Quem deve ser esforçar pra proteger ele somos nós. Eu sei que
nem todo mundo daqui vai concordar com isso e que nem sou digna de tomar uma deci-
são dessas, não sou líder nem lutei por ninguém, mas ainda assim eu...”
“Não, não tem nada disso, Ane-san. Este vilarejo é seu sim...”
“Está tentando dizer que o vilarejo pertence a todos que vivem aqui?”
“Leu minha mente, Ani-san. Foi direto ao ponto! Enfim, também acho que pedir empres-
tado o poder dessa Magic Caster-sama deve ser coisa de último caso.”
“Mas se forem por esse caminho, todo mundo pode morrer ~su... Ser dilacerado dói,
sabia não ~su?”
“Hah! Lupusregina-san, não vamos deixar isso acontecer. A gente se sacrifica feliz se for
pra deixar que escapem.”
“Concordo totalmente. A última coisa que a Guilda dos Aventureiros quer é ter baixas
por causa de monstros vindo do nada. Tem uns malucos e Trabalhadores sem noção que
zombam dizendo que a Guilda mima demais os aventureiros, mas não passam de um
bando de gananciosos encrenqueiros. É natural que uma organização queira proteger
seus próprios membros.”
“Britta-san, não querendo falar mal dos aventureiros, mas durante as emergências, o
custo de contratação sobe demais, tem vez que até rejeitam. Por que fazem isso?”
“Bem, quanto vale uma vida? Eles não querem morrer e nem a Guilda quer. Por isso que
o preço sobe, pois o alto valor atrai aventureiros de alto ranque, que são realmente ca-
pazes de dar conta com coisas grandes, às vezes não passa de fogo de palha, mas é basi-
camente isso.”
Como uma simples aldeã, Enri achou as palavras dessa ex-aventureira fáceis de engolir.
Mas era muito difícil ter que aceitar isso quando se estava do lado necessitado. No en-
tanto, quando pensou do ponto de vista dos aventureiros, infelizmente fazia sentido.
“Bem, mesmo que a Guilda verifique, pode demorar muito até alguém aceitar a tarefa,
esse tipo de coisa acontece muito...”
“—Isso me lembra do ataque daquela Vampira, meu tremo toda até hoje... antigamente
eu nem conseguia dormir sem tomar remédio...”
“É um segredo. Ou melhor, não gosto nem de lembrar. Quase que me mijo toda de medo.”
“Então, até o momento o plano é informar a Guilda e, caso dê, faremos uma solicitação.
Aposto que vai ser caro, muito caro, mas pelo menos precisamos fazer um orçamento.
Além disso, precisamos informar o Jugem-san e o Líder também. Pode fazer isso, Enri?”
“Eu vou cuidar da força de autodefesa. E sendo sincera, a meu ver já disse tudo, faria o
mesmo.”
“Então, eu acho que vou dar uma voltinha por aí ~su. Tem certeza que não pedir ajuda
ao Ainz-sama ~su?”
“Tenho sim. Queremos lutar pelo o que é nosso até quando der. Se não for te incomodar,
eu e todo mundo do vilarejo ficaria muito feliz se dissesse isso ao Gown-sama.”
Quando Agu olhou para Enri e Nfirea, que estavam se afastando, um sentimento difícil
de descrever brotou dentro dele.
“Hã!?”
Agu sentiu que os Goblins adultos eram mais fortes do que qualquer outro em sua aldeia.
Era natural que ele se arrepiasse quando ameaçado por eles.
Do ponto de vista de Agu, Enri não parecia particularmente forte. Embora ela tivesse
alguns músculos em seus braços e pernas, nem de perto era o suficiente. Ela não preci-
sava ser tão musculosa quanto um Ogro, mas como líder, ela ainda precisava ter muito
mais do que o que tinha agora.
Se ela fosse uma magic caster, ele ainda poderia entender. As mulheres que se tornaram
líderes nas tribos dos Goblins usavam esse poder misterioso. No entanto, essa mulher
não se parecia com uma magic caster.
Com toda honestidade, Agu não entendia o porquê Enri era superior aos Goblins.
“...Aquela mulher caçadora que era mais forte que ela, né?”
A opinião de Agu sobre o Goblin adulto na frente dele subiu outro entalhe. Ele era mais
baixo que aquela mulher, mas ele falou com uma convicção inflexível. Certamente existia
uma razão para sua autoconfiança.
“E aquela outra mulher, a que apareceu do nada àquela hora, ela é forte também, ou
não? O jeito que ela apareceu do nada me assustou, pensei era meu fim.”
“Aquela mulher que apareceu do nada... o nome dela é Lupusregina, e ela... ela é muito
perigosa. Já que vai ficar aqui por um tempinho, vou te dar uma dica; fica longe dela, nem
converse. Falo pro seu próprio bem.”
“E eu tenho que dizer isso logo. Só pra deixar claro, se não tiver notado o óbvio, se você
fizer alguma coisa para as pessoas daqui... sejamos honestos aqui, você não vai se safar,
é melhor estar preparado pra morrer.”
“J-já entendi. Sou quase que um cativo de uma tribo derrotada, né? Eu prometo que não
vou prejudicar ninguém da Tribo Carne.”
Até Agu poderia aprender. Ou melhor, era fácil para ele aprender, já que era o mais
esperto da tribo e não podia falar muito com outros Goblins, então entendia coisas assim
rapidamente.
“Eh!?”
“Você é um fracote, por isso não consegue perceber. Se a Ane-san ficar enfezada, ela
pode esmagar um Barghest, ou qualquer coisa, até a morte com apenas uma mão, ela até
espreme o sangue numa xícara e bebe, sacou?”
“É sério!?”
Agu pensou em Enri. Quando considerou com calma, era verdade que ela tinha sido ca-
paz de dar ordens poderosas que abalaram a alma. Talvez aquilo fosse apenas a ponta
do iceberg?
“A Ane-san finge ser fraca. Se ficar fazendo pergunta besta que irrite ela, ela vai te es-
magar até a morte, e usando uma mão só. Tenho até pena de quem vai limpar a sujeira
que ficar. Sangue pra tudo que é lado.”
“E-entendi... mas por-por que ela tem que fingir ser fraca? Mostrando que é forte logo
de cara não evitaria problemas?”
“Se ela ficasse por aí se exibindo, gente do mundo todo iria vir desafiar ela. E ela não
tem saco pra essas coisas também, sacou?”
Agu pensara que a força era a solução para todos os problemas, mas esse não era o caso.
Trancado em um labirinto de autorreflexão, ele não percebeu que o Goblin adulto à sua
frente tinha uma expressão de brincadeira no rosto.
♦♦♦
Não havia sons de cavalos relinchando, cavaleiros armados fazendo barulho, ou pessoas
gritando. Ela não podia ouvir nada disso. Era apenas uma noite normal.
Enri suspirou baixinho e fechou os olhos. Ela estava dormindo profundamente até
agora, então ainda estava entorpecida pelo alento do sono e não conseguia se levantar
imediatamente.
Muita coisa aconteceu hoje. Depois da conversa com Agu, ela foi explicar as coisas ao
chefe do vilarejo e a Jugem, que retornara de sua missão de reconhecimento.
Para confirmar a nova informação, Jugem decidiu entrar na floresta novamente e eles
partiram à noite. Mover-se à noite na floresta era muito perigoso. Os Goblins eram dife-
rentes dos humanos; mas podiam ver com pequenas quantidades de luz, para que pu-
dessem se mover livremente. No entanto, havia muitas feras mágicas noturnas e mons-
tros, e eles se tornariam ativos após o pôr do sol.
Se não houvesse necessidade de confirmar urgentemente que não havia mais monstros
perseguindo Agu, Jugem nunca teria saído.
Era verdade que os Goblins eram fortes, mas isso era apenas em comparação com Enri.
Havia muitas criaturas na floresta que eram mais fortes que os Goblins, por exemplo; os
Três Monstros.
Uma sensação de medo e desolação caiu sobre Enri, a fazendo se contorcer e, por causa
disso, sua irmã gemeu em seu sono, se aproximando do corpo de Enri.
Parece que não a acordou. Ela podia até ouvir seu ronco suave.
Hehe...
Assim que Enri riu por dentro, o som de batidas suaves ressoou na porta. Isso definiti-
vamente não era um truque do vento.
As tábuas rangeram ao se mover, fazendo o coração de Enri bater mais rápido, ela se
preocupava em acordar Nemu.
Depois daquele incidente, Nemu teve que dormir com Enri à noite. Ela sofrera um
trauma psicológico muito grave.
Enri não tinha intenção de repreendê-la por isso. Até porque Enri se sentia mais segura
quando dormia com sua irmã.
Mas ela sabia que mesmo quando estavam juntas, Nemu às vezes era acordada por seus
pesadelos. Por causa disso, Enri insistiu em estar com Nemu mesmo quando ela estava
dormindo.
Silenciosa e, portanto, a passos brandos, ela avançou em direção a cortina, mas a batida
não parou.
Apreensiva, Enri espiou pela janela, e o luar iluminou a silhueta de Jugem. Ela suspirou
de alívio.
Para não acordar Nemu, Enri falou em voz baixa do lado de fora da janela.
“Obrigado por se preocupar, Ane-san. Deu tudo certo. Desculpe te acordar, mas tem
uma coisa que precisa saber o quanto antes.”
Enri abriu a porta ligeiramente e se espremeu na fina abertura. Ela estava preocupada
que a luz da lua acordasse Nemu. Entendendo por seus movimentos, Jugem baixou a voz
e falou.
Embora Enri achasse que não havia problema em ser mais casual com uma simples al-
deã como ela, Jugem se recusara a mudar essa parte dele, por isso Enri desistiu da idéia.
“Isso é maravilhoso!”
“...Mas eles estão meio abalados, eu acho que precisam descansar por alguns dias. Tive-
mos que pedir ajuda do Ani-san para isso.”
“Quando resgatamos eles, capturamos outros cinco Ogros. Fizemos isso só para ter a
quem questionar... parece que os Ogros coexistem com Goblins normalmente; enquanto
os Ogros lutam, os Goblins fornecem alimento, abrigo e tal, é um relacionamento mutu-
amente benéfico. Por causa disso, eles disseram que estão dispostos a lutar pela nossa
tribo. De acordo com Agu, isso não é incomum... então, o que devemos fazer?”
“Agu diz que sim. Os Ogros têm um estranho hábito; não lutam por ninguém além dos
Goblins de sua tribo, eles só traíram o Gigante do Leste porque não era da tribo deles. É
algo assim.”
“Mm. Mas ter por aqui Ogros devoradores de homens é meio assustador...”
Com toda honestidade, esta decisão era muito difícil para uma simples aldeã fazer.
“Da minha parte, não tenho problemas em matá-los agora mesmo se quiser. Isso nos
pouparia uma grande pilha de problemas. Em primeiro lugar, seres como eles que traem
os outros podem se voltar contra nós se as coisas começarem a dar errado. Agu diz que
não vão, mas acreditar cegamente em tudo que uma criança diz é um pouco...”
“Se pudessem lutar por nós, seria ótimo. Não sabemos quantos perseguidores podem
vir da floresta, então alguns escudos de carne extras ajudariam muito.”
“...Ane-san. Embora os Ogros tenham uma reputação de comer humanos, eles são ape-
nas monstros que comem carne. Acontece que é mais fácil pegar humanos para comer
do que animais selvagens.”
Digamos que, para os Ogros, era mais vantagem pegar humanos do que coelhos. Era
natural quando se considerava que os humanos eram mais fáceis de capturar e davam
mais carne também.
“Bem, se você lhes der algo para comer, eles não atacarão os aldeões. Basicamente, eles
só atacam as pessoas para saciar a fome. Você tem a minha palavra que vamos caçar
animais suficientes para encher suas barrigas. Claro, eles ainda precisam ser supervisi-
onados e teremos que ver como as coisas vão acontecer. Eu prometo que não vamos
deixar ninguém aqui se machucar.”
“...Nesse caso, seria bom confiar neles de verdade, pelo menos o bastante pra serem
subordinados. E digo não apenas por agora, mas também no futuro.”
“Que bom que entende. Só há um problema a ser resolvido agora. Se não der certo e as
coisas saírem do controle, teremos que matar todos. Na verdade, estou pensando em
como impressionar aqueles Ogros, pois você será a chefe deles, Ane-san.”
“Ehh!?”
“Também estou pensando no futuro. Daria muitos problemas se os Ogros pensarem que
é apenas uma humana qualquer, Ane-san. Nós te obedecemos, mas uma situação em que
tais ordens precisarem serem transmitidas através de nós para eles pode surgir. Goblins
são potencialmente muito perigosos. Como comandante da linha de frente, qualquer
coisa pode acontecer comigo a qualquer momento, por isso sinto que precisamos de al-
guém seguro na retaguarda que possa comandar os Ogros.”
Jugem assentiu.
“Entendo...”
Enri de repente aceitou e assentiu. Alguém em um lugar seguro como ela deve ser útil
também. Isso também era o que Enri queria. Contudo—
♦♦♦
Ambos os portões do vilarejo levavam para fora e Jugem a levou até o portão dos fundos.
Além dele, cinco Ogros estavam ajoelhados no chão. Eles também eram a fonte do mau
cheiro que pairava no ar.
De um lado da porta havia uma plataforma de observação, que normalmente seria ocu-
pada por aldeões ou Goblins, mas não agora. Os Goblins deixaram-na temporariamente.
Nfirea também estava lá, junto com Agu, que estava a alguma distância.
“Ei! Vocês aí! A nossa Ane-san está aqui! Ela tem a vida de vocês na palma da mão!”
Quando os cinco Ogros ouviram isso, levantaram a cabeça para olhar para Enri. Parecia
que havia uma pressão palpável esmagando-a, mas Enri se forçou a não dar um passo
para trás. Se ela cedesse, o plano falharia e os Goblins eliminariam problemas potenciais
pela raiz matando os Ogros no local.
Enri já podia ver as mãos dos Goblins indo para suas armas. Enfi estava calmamente
pegando uma garrafa de poção.
Enri suportou os olhares dos Ogros e os devolveu com um dos seus. Seu olhar era firme
e inflexível.
Em seus olhos, a imagem dos Ogros se sobrepunha com a imagem dos cavaleiros que
os atacaram no passado.
Enri fechou os punhos, lembrando-se de como se sentira naquela época, quando ela so-
cou o elmo de um cavaleiro.
Não me subestimem. Todo mundo se esforça pra proteger o vilarejo, preciso dar o meu
melhor também!
A força da voz de Enri surpreendeu até a si mesma, e Agu na borda de sua visão se tre-
meu todo, mas era isso mesmo que ela precisava. O importante era que os Ogros haviam
baixado a cabeça para ela.
“Bem, então, o que vocês têm a dizer para a chefe do Vilarejo Carne, a nossa Ane-san?”
Com as cabeças ainda abaixadas, o que emergiu dos Ogros foi uma torrente de vozes
confusas.
Por “tribo sua”, os Ogros provavelmente se referiam à tribo de Agu. Embora a realidade
fosse um pouco diferente, foi mais fácil para eles entenderem a situação, já que para eles,
Agu e seus companheiros faziam parte da “Tribo Carne”. Foi um bom resumo, a fim de
evitar sobrecarregar o cérebro dos Ogros.
Essa última declaração foi feita com a essência de seu espírito que ela poderia reunir.
Ela só dissera duas ou três frases, Enri já estava muito cansada. Foi tão exaustivo quanto
o encontro com o Barghest.
Assim que Enri estava prestes a abandonar seu Modo Chefe devido ao cansaço, Jugem
interveio na hora certa.
A tensão diminuíra visivelmente dos corpos dos Ogros. Dado que eles poderiam ser
mortos a qualquer momento, isso era uma reação natural.
Ela não havia considerado isso ainda. Porém, se ela não soubesse, bastava delegar isso
à outra pessoa.
“Jugem-san, estão sob seus cuidados. Use eles como achar melhor.”
“Entendido, Ane-san.”
O líder dos Goblins curvou-se para Enri, depois voltou-se para os ogros.
“Montar barracas fora do vilarejo pode causar todos os tipos de problemas depois; pre-
cisamos fazer um lugar para eles morarem no vilarejo. Mas antes disso, é preciso ter uma
boa conversa com os aldeões, além de treinar esses Ogros.”
“Sim. Mas acho que vai se sair bem, Enri. E sobre amanhã...”
De acordo com o plano, Enri e Nfirea partiriam para E-Rantel usando Goblins como
guardas.
“...Eu sinto muito. Eu preciso ajudar a tratar os sobreviventes da tribo de Agu, então eu
não vou poder ir.”
Afinal, eles viveriam no mesmo vilarejo com os Ogros que queriam comê-los. O trauma
mental tinha que ser tratado junto com suas feridas físicas, e a personalidade de Lizzie
só os assustaria, causando o efeito oposto. No final, não havia ninguém melhor para isso
do que Nfirea.
“Ehhh? Mas se eu for sozinha, eu... não sei se vai dar certo...”
Enri não tinha nenhuma experiência em visitar uma cidade grande como E-Rantel, en-
tão, do seu ponto de vista, o fardo parecia bastante pesado.
“Posso tentar conversar com o chefe do vilarejo, aí ele pode ir junto, quem sabe?”
O chefe do vilarejo tinha que manter a ordem local, fazer reparos e ficar de olho nos
novos moradores. Seria muito difícil para ele viajar muito longe.
“Mm. Bem, não tem mão de obra suficiente aqui. Antes já era assim e agora é ainda pior.
Não sei se ela vai estar livre.”
O Vilarejo Carne tinha uma população muito pequena. Como resultado, quando seus
números diminuíram, sua capacidade de fazer qualquer coisa diminuiu também. Foi por
isso que os aldeões haviam reprimido sua oposição e aceitaram convidar mais morado-
res para ficar com eles.
Enri fez beicinho ao ouvir as palavras de Jugem. Parte dela estava pensando: “Você sabe
me irritar”. Afinal, eles eram uma das razões pelas quais Enri estava tão ocupada.
Nfirea resmungou em tom deprimido e depois cobriu-o com uma onda de desesperada
agitação.
“V-vai ficar bem, eu vou cuidar da Nemu-chan. Então pode ir sem preocupações.”
“...Tudo bem, já aceitei... Será que eu sou a única no mundo que tem que passar por isso?
Num momento as pessoas me santificam, no outro eu tenho que ir pra um lugar que
nunca fui e fazer coisas que nunca fiz...”
“Não seja tão pessimista, Enri. Deve ter alguém por aí que possa te acompanhar.”
Jugem e Nfirea riram baixinho quando viram seus ombros caírem em fadiga. Agu assis-
tiu à distância, murmurando para si mesmo.
“Então ela realmente assumiu o controle dos Goblins à força... a Chefe do Vilarejo Carne,
Enri-anesan...”
Parte 3
Como o nome indicava, a cidade fortaleza de E-Rantel era cercada por três anéis con-
cêntricos de muralhas fortificadas. Dos portões colocados nas muralhas, as muralhas
mais externas eram os mais espessos e sólidos, irradiavam um ar de robustez.
Era uma visão comum ver viajantes na rua olhando boquiabertos para os portões da
cidade que se dizia ser capaz de repelir qualquer invasão feita pelo Império. E as pessoas
nas ruas certamente haviam feito expressões semelhantes no passado.
Além disso, esses portões eram postos de inspeção alfandegária, chefiados por vários
soldados que estavam relaxando na sombra.
Embora algumas pessoas pudessem ter perguntado se estava tudo bem para os solda-
dos de uma cidade próxima à linha de frente estarem tão relaxados, a verdade era que
as tropas nos postos de inspeção estavam lá para avaliar os viajantes. O trabalho deles
Com o sol a pico, os viajantes começaram a aparecer nas ruas em pequenos grupos,
dispersos esparsamente entre os outros pedestres. Era natural que as pessoas viajassem
em números, dado que este era um mundo habitado por monstros.
Quando eles vêm, eles vêm com tudo mesmo; hoje vai ser cansativo...
Pensou o guarda que estava contemplando ociosamente as ruas de sua janela. Seus
olhos ficaram fisgados em uma carroça prestes a entrar na rua, esperando que alguns
pedestres passassem.
Uma mulher sentava-se no banco do condutor. Não viu mais ninguém na carroça des-
coberta. Ela estava viajando sozinha.
—Pensando isso, o soldado inclinou a cabeça, enquanto pensava em alguma outra pos-
sibilidade em segundo plano.
Aldeões de vilarejos vizinhos dificilmente eram uma visão rara aqui. No entanto, uma
mulher viajando sozinha era completamente diferente. Mesmo a área ao redor de E-Ran-
tel não estava completamente livre de bandidos e monstros. Graças aos esforços da len-
dária equipe de aventureiros “Escuridão”, a maioria dos monstros e bandidos perigosos
foram eliminados. Mas “a maioria” não significava “todos”, e ainda havia feras mundanas
como lobos e coisas do tipo que precisavam caçar.
Essa situação não era exclusiva de E-Rantel; aplicava-se a todas as outras cidades tam-
bém. E pensando nisso, as meninas poderiam viajar sozinhas?
Talvez ela tivesse fugido de um encontro de bandidos, mas ele não sentia qualquer ten-
são ou nervosismo dela. Ela parecia estar à vontade, como se soubesse que sua jornada
seria segura.
O cavalo era excepcional, não algo que uma mera garota de algum vilarejo teria. Seu
porte evocava a sensação de um cavalo de guerra.
Uma pessoa normal precisaria de dinheiro e conexões para obter tal cavalo de guerra,
e uma simples aldeã não teria nada disso.
Também era possível que ela tivesse roubado o cavalo de seu dono original, mas qual-
quer um que roubasse um item tão valioso seria perseguido e alvo de punição. Por isso
que bandidos não ousavam atacar pessoas montadas em cavalos de guerra.
Em suma, depois de considerar todas as evidências visíveis, as chances de que ela real-
mente fosse uma simples aldeã se tornaram muito baixas. Então, quem era essa pessoa
posando como uma garota simples de algum vilarejo?
O fato de que ela estava viajando sozinha insinuou sua verdadeira identidade. Em ou-
tras palavras, ela estava muito confiante em suas habilidades, e essas habilidades não
foram limitadas pelo fato de que escolheu se vestir como uma menina simples — por seu
equipamento, ou pela falta dele. Com isso em mente, era provável que fosse uma magic
caster, já que seu equipamento e poder raramente correspondiam à sua aparência.
Essa foi uma resposta que ele poderia aceitar. Se pressionado pela razão, era porque os
magic casters, ou os aventureiros em geral, eram ricos e cheios de conexões, então a ob-
tenção de um cavalo de guerra seria fácil.
“Talvez...”
Para começar, sua arma primária, a magia, era uma coisa interna invisível a olho nu. Em
outras palavras, os guardas não podiam dizer quais armas um magic caster estava es-
condendo.
Em terceiro lugar, geralmente tinham muita bagagem com itens estranhos, então checá-
los um por um era problemático.
Do fundo do coração, ele odiava lidar com essa gente. Por causa disso, eles tinham um
homem da Guilda dos Magistas os auxiliando — depois de pagar uma taxa adequada, é
claro. Contudo...
“A gente tem mesmo que revistar a moça? Não estou afim, cara.”
“Não podemos evitar. Se não checar ela e qualquer coisa acontecer, a bronca vai vir na
gente.”
“Já ajudaria bastante se ela pelo menos se vestisse como uma magic caster.”
“É. Pelo menos daria pra saber se é uma magic caster logo de cara. Ou isso, ou forçamos
todos na Guilda dos Magistas a usarem um emblema, tipo os aventureiros...”
Os dois soldados se levantaram ao mesmo tempo, rindo um para o outro. Isso foi para
receber a garota que poderia ser uma magic caster.
Sob o olhar atento dos soldados, a carroça foi guiada até a porta e parou.
A moça desembarcou. Sua testa estava escorregadia de suor, mas parecia acostumada
a viajar sob o sol. Suas mangas e calças eram longas para afastar as queimaduras solares.
Suas roupas não pareciam caras ou bem costuradas. Independentemente de como a ob-
servasse, ela era uma simples garota de algum vilarejo.
No entanto, já dizia o velho ditado; não se pode julgar um livro pela capa. Ela poderia
estar escondendo alguma coisa. E o trabalho deles era descobrir.
Eles falaram com expressões amenas e tons suaves. Eles estavam tentando enviar a
mensagem de que não estavam preocupados com ela, então ela poderia baixar sua
guarda.
A fim de proteger contra o uso de magias e outras formas de manipulação mental, mais
dois soldados seguiram a uma distância de vários metros. Os outros a observavam com
cuidado, desconfiados de quaisquer movimentos suspeitos.
Alguém que pudesse notar as pequenas mudanças no ar não poderia ser uma pessoa
comum. Os guardas a trouxeram para o posto de inspeção com isso em mente.
“Tá bom.”
“Sim. Me chamo Enri Emmot. Eu venho do Vilarejo Carne, perto da Grande Floresta de
Tob.”
Para administrar seus moradores, o Reino mantinha informações deles na forma de re-
gistros. Dito isto, os registros eram bem rústicos, e os detalhes relevantes de nascimento
e morte eram atualizados muito lentamente, isso quando eram. Alguém havia estimado
uma vez que havia dezenas de milhares de erros neles. Como resultado, confiar demais
nos registros seria uma má idéia, mas mesmo assim, tinham seus usos.
Esse registro estava confuso, mas tinha muitas entradas, então a pesquisa demoraria
muito tempo. Os soldados entenderam isso e decidiram tentar cuidar de outra coisa en-
quanto isso.
“Como é daqui, não precisa do pedágio, nesse caso poderia me mostrar sua permissão?”
Normalmente, todos que entravam em uma cidade tinham que pagar um pedágio —
algo como um imposto. No entanto, cobrar dos residentes esse dinheiro causaria a para-
lisação do comércio e, como resultado, todos os vilarejos recebiam licenças de viagem
Eles desenrolaram-no na mesa para que todos pudessem ver. Embora a taxa de alfabe-
tização entre os cidadãos do Reino fosse muito baixa, era factual que todos os soldados
posicionados em um posto de controle pudessem ler e escrever. Ou melhor, eles estavam
aqui precisamente porque eram alfabetizados.
“Hm. Tudo certo. Com certeza é a permissão emitida pro Vilarejo Carne. Confirmado.”
Os soldados olhavam para o lado de fora da carroça, cujas urnas estavam sendo revis-
tadas no momento.
“Isso mesmo.”
Enkaishi era uma erva que só podia ser colhida durante um curto período de tempo,
mas era um ingrediente importante nas poções de cura. A demanda era muito alta e,
portanto, o preço era bom. Se ela tivesse seis urnas como disse, isso significava que ela
teria muito dinheiro quando as vendesse.
Embora ela não morasse mais lá, Lizzie tinha sido a pessoa mais importante nos negó-
cios farmacêuticos de E-Rantel até recentemente. Se ela tinha um relacionamento co-
mercial com os Bareares, isso significava que Lizzie confiava muito nela.
A verdade é que, embora o trabalho deles fosse impedir que coisas perigosas entrassem
na cidade, investigar essas coisas assim que entraram na cidade não era mais problema
deles.
Ela falara normalmente até agora, e eles não sentiam que estava mentindo.
Uma vez que a inspeção de carga estivesse completa, seu trabalho terminaria.
No entanto, esse registro simplesmente dizia que havia uma garota chamada Enri nas-
cida no Vilarejo Carne. Sem qualquer garantia de que a pessoa à sua frente fosse a ver-
dadeira Enri, também não havia provas do tipo de vida Enri levara. Talvez durante suas
viagens, ela tivesse adquirido alguma magia poderosa, ou tivesse morrido em sua jor-
nada e alguma criminosa estivesse usando seu nome.
“Eh?”
Uma expressão de surpresa surgiu no rosto de Enri. O soldado se apressou para emba-
sar suas palavras.
Vendo que Enri estava bem com isso, o soldado suspirou de alívio. Ele não queria ser o
único a irritar uma possível magic caster.
O soldado que saiu retornou mais uma vez, desta vez com um homem atrás dele.
Seu nariz se projetava como o bico de uma águia, enquanto seu rosto magro era amare-
lado e pálido. Seu corpo estava envolto em um manto negro que parecia muito quente.
Seu suor escorria livremente e suas mãos parecidas com garras apertavam com força
seu cajado retorcido.
Pessoalmente, o soldado sentiu que deveria ter tirado o manto se estivesse tão quente,
mas o magic caster gostava desse estilo e, teimosamente, se recusou a trocar de roupa.
Talvez fosse por isso que a temperatura da sala parecia subir alguns graus quando o
magic caster entrou.
O magic caster falou com calma para o soldado que o escoltava, como de costume.
Embora parecesse ser um homem na casa dos 20 anos, sua voz extremamente rouca
tornava impossível determinar quantos anos ele tinha apenas pelo som. Será que sua
aparência era anormalmente jovem ou sua voz que estava anormalmente rouca?
“Ah...”
Enri olhou surpresa para o magic caster que havia substituído o soldado. Em seu cora-
ção, o soldado pensou que sua surpresa não poderia ser evitada. Afinal, ele também fi-
cara assustado na primeira vez que viu o homem.
“Este é um magic caster da Guilda dos Magistas. Ele vai fazer uma simples verificação,
então, peço que aguarde um momento.”
O soldado gesticulou para que Enri permanecesse sentada e depois acenou para o magic
caster.
“Claro.”
“「Detect Magic」.”
Depois disso, o magic caster apertou os olhos. Ele parecia uma fera avaliando sua presa.
No entanto, Enri permaneceu calma apesar de estar sujeita a um olhar que abalava até
mesmo os soldados, que estavam acostumados a esse tipo de coisa.
Como já passaram por isso antes, todos os soldados imaginavam como seria a reação.
Alguém que pudesse permanecer calma sob um olhar tão intenso não poderia ser uma
simples garota de algum vilarejo. No mínimo, ela deve ter tido experiência em lutas de
vida ou morte contra monstros ou pessoas que queriam tirar sua vida. A visão diante
deles só cimentou a impressão no coração dos soldados.
“Você não me engana. Está escondendo um item mágico. Está na sua cintura.”
“Fala disso?”
Enri retirou uma pequena trombeta debaixo de suas roupas, pequena o suficiente para
caber nas duas mãos. Mesmo a observado, os soldados não entenderam bem o signifi-
cado.
“Correto. Vocês foram enganados pela aparência. Essa coisa é imbuída de magia pode-
rosa.”
Os soldados ficaram sem palavras. Se este era um item que o magic caster considerava
poderoso, então quão poderoso era?
Quando começaram a pensar que a garota estava completamente vestida por um mo-
tivo, sentiram como se uma lâmina estivesse pungindo seus peitos.
“O-o q-que é isso? Essa coisa é muito poderosa— não, mais que isso... Impossível! Mas
que coisa é esta!?”
O rosto do magic caster estava vermelho, e manchas de saliva voaram dos lados de sua
boca.
A súbita mudança de atitude do magic caster pegou os soldados de surpresa, e Enri não
foi exceção quando seus olhos se arregalaram.
“Ninguém, sei lá, uma pessoa normal! Só mais uma aldeã do Vilarejo Carne! É sério!”
“Uma aldeã? Ora, sua... por que ainda mente? Vamos, diga, como pôs as mãos nesse item
mágico? Se realmente é uma simples aldeã, como poderia ter conseguido algo assim!?”
“Eh? Isto... isto é um presente daquele que salvou o meu vilarejo, Ainz Ooal Gown-
sama—”
Embora os soldados não entendessem o que estava acontecendo, até hoje eles nunca
tinham visto o magic caster reagir assim antes. Então, se isso fosse uma emergência, eles
deveriam largar o que quer que estivessem fazendo e responder à convocação.
“Entrem! Rápido!”
“Você disse que alguém lhe deu esse item? Absurdo! Como conseguiu isso? Você não
pode ser uma mera aldeã de algum vilarejo!”
“É a verdade, foi o Gown-sama que me deu! O senhor tem que acreditar em mim, por
favor!!”
“P-pra que isso tudo? Pelo menos diga o porquê ela suspeita?”
“Hnh!? Para começar, esta trombeta pode convocar um grupo de Goblins — embora eu
não tenha certeza de quantos ela possa chamar, mas esse item pode fazer uma coisa des-
sas.”
Os soldados franziram a testa. Seria problemático se algo assim fosse usado nas ruas.
No entanto, isso era realmente um problema? Certas pessoas, como aventureiros, pos-
suíam uma infinidade de itens mágicos. Não seria estranho que eles possuíssem um item
como esse entre suas panóplias.
“E o chamado testemunho dessa garota está repleto de inconsistências. Esse item vale
dezenas de milhares de moedas de ouro; por que alguém apenas daria a uma mera al-
deã?”
“Dezenas de milhares!?”
“—Dezenas de milhares!?”
Essa soma inacreditável atraiu gritos de descrença dos soldados e da própria Enri.
Dezenas de milhares de moedas de ouro eram uma soma que nenhuma pessoa normal
poderia ganhar em toda a vida. Era difícil acreditar que uma trombeta tão simples pu-
desse valer tanto.
“Isso mesmo. Ninguém entregaria tal item sem uma boa razão, muito menos para uma
garota mundana! Eu poderia até acreditar se ela fosse uma aventureira de primeira
classe ou uma magic caster. Mas ela diz que é apenas uma aldeã! É muito suspeito!”
“Além disso, eu nunca ouvi falar de nenhum Ainz Ooal Gown. Pelo menos, ele não faz
parte da nossa Guilda, nem eu nunca ouvi falar de um aventureiro com esse nome.”
“Porque ele foi tentar resgatar o vilarejo! Eu juro! Só perguntar pra ele que vai ver!”
Seria impossível se comunicar com o Capitão Guerreiro, que residia na Capital Real, de
E-Rantel. Em outras palavras, se ela realmente fosse uma simples aldeã, era improvável
que ela permanecesse na memória do Capitão Guerreiro, então provar sua identidade
seria difícil.
“Detenham-na por enquanto, então investigue-a mais. Como não escondeu a trombeta
e estava planejando levá-la à cidade abertamente, não temos certeza, mas ela pode não
ser uma espiã ou uma terrorista.”
Ela parecia uma garota normal de algum vilarejo vizinho. Se isso foi uma atuação, então
com certeza ela era uma atriz muito boa.
Quando se viraram para a voz, viram um homem vestindo uma armadura completa de
chapas pretas.
“Ooooh!”
“Tudo bem, o que está acontecendo aqui... hm? Aquela garota é...”
“Sim! Estávamos investigando uma garota suspeita e levou tempo demais. Nós sincera-
mente pedimos desculpas por incomodá-lo, Momon-sama—”
“Er, ah, você é... er, não, eu sou. Ah, o senhor foi quem veio com o Nfirea naquele dia, né?
Não me lembro de falar com o senhor...”
Momon colocou a mão no queixo, como se estivesse pensando. Depois, ele gesticulou
para o magic caster e eles saíram da fortificação. Embora os soldados quisessem seguir,
eles não poderiam deixar Enri sozinha.
“Deixe-a ir. O grande Momon, O Negro, atesta a inocência dela com seu status de aven-
tureiro adamantite. Nesse caso, não mais faz sentido mantê-la aqui. Alguém se opõe?”
“Se é certo? Eu que te pergunto se é realmente certo duvidar dele, dentre todas as pes-
soas?”
“Cl-claro que não! Entendi. Vamos conceder a passagem a ela. Enri Emmot do Vilarejo
Carne, a senhorita está autorizada a entrar na cidade. Pode ir.”
Depois de se curvar rapidamente para eles, Enri saiu da fortificação. Quando as costas
dela recuaram para a distância, o soldado virou-se para o magic caster.
“E quanto ao Momon-sama?”
“Ele já se foi.”
“Até parece que eu sei... Momon-dono me disse aquilo e pediu para que a deixássemos
ir.”
“Agora sim as coisas ficaram estranhas. Aquela garota, Emmot. Você realmente acha
que ela é apenas uma aldeã?”
“Duvido muito. Não há como ela ser uma simples garota de algum vilarejo, caso contrá-
rio, por que um grande herói como ele a ajudaria? E não foi uma coincidência que ela
estava carregando esse item... Poderia ter algo a ver com a Teocracia?”
“Aquele Ainz sei lá o quê. Se ele é da Teocracia, não é melhor a gente deixar um aviso?”
A saga de como ele abriu caminho através de uma horda de dezenas de milhares de
undeads fazia o coração de homens barbados arder como fãs adolescentes de um herói.
Além disso, poder-se-ia ver claramente a sua postura heroica e ações mesmo ao longe.
Ele havia subjugado uma poderosa criatura mágica com seu incrível poder, e seu majes-
toso estilo de cavalgar deixava os soldados boquiabertos.
Assim como as mulheres eram atraídas por homens fortes, muitos guerreiros admira-
vam Momon, o Herói Negro, e podia-se dizer que a maioria das forças armadas de E-
Rantel eram seus fãs.
Como um fã de Momon, apenas ser tocado no ombro por seu ídolo foi o suficiente para
ele se vangloriar sobre isso para todos que conhecia. Como tal, ele não tinha intenção de
perturbar o homem que admirava.
“É uma possibilidade. Bem, já que o Momon-sama atestou ela, acho que vai ficar tudo
bem.”
“Eu também acho. Eu que não quero tratar mal uma amiga do Momon-dono, jamais
quero estar na mira dele. Como dizem, melhor evitar cutucar onça com vara curta. Enfim,
me avise se mais alguma coisa acontecer.”
♦♦♦
Enri conduziu a carroça de ré para a entrada dos portões da cidade de E-Rantel, per-
guntando-se o que acabara de acontecer. Parece que o homem da armadura azeviche —
ela lembrou que ele era um dos aventureiros que vieram para o Vilarejo Carne com
Nfirea para colher ervas — a ajudou a sair de uma situação cabeluda.
Por direito, ela deveria ter ido imediatamente agradecer-lhe, mas infelizmente ela o
perdeu de vista assim que entrou na cidade.
Isso... vale dezenas de milhares de moedas de ouro? Nem pensar. Tudo o eu que quero é
que alguém me diga que isso é mentira...
De repente, ela começou a suar frio. Ela não esperava que as trombetas que recebera
tão casualmente fossem tão valiosas. Não, Nfirea tinha dito que era um item mágico de
alta qualidade... mas a quantia estava além de sua imaginação.
Não tem problema alguém como eu usar um item desses? Vai ficar tudo bem?
Se lhe pedissem para devolver a outra que já assoprara, o que ela deveria fazer?
Eu teria de colher milhares de urnas de ervas... talvez nem consiga pagar passando a vida
colhendo ervas...
Além disso, ela tinha outro item no valor de milhares de moedas de ouro.
Será que o Gown-sama dá itens caros assim pra todo mundo!? Ou talvez, ele não soubesse
o seu valor... não pode ser, não tem como alguém como ele não saber... mas e se não sou-
besse...
Ela olhou ao redor com suspeita. Não havia muitas pessoas por perto, mas ainda era
várias vezes mais do que no Vilarejo Carne. Pensamentos desagradáveis como se alguém
planejasse roubar sua trombeta surgiram em sua mente.
Se eu não tivesse trazido isso. Tem muito crimes por aqui, né? E se me roubarem... Essa
não... se a trombeta for soprada e os Goblins aparecessem pra causar problemas, então eu
viraria criminosa?
Assim que o suor frio se acumulava, uma pessoa desceu sobre o assento ao lado do dela.
A maneira como ela pousou como uma pluma, desafiando a gravidade deve ter sido má-
gica.
Quem—
“Tão linda...”
Ao ver a consternação nos olhos que a olhavam, Enri imediatamente se arrependeu das
coisas bobas que havia dito. Ela provavelmente nem conhecia Lupusregina. No entanto,
não havia mais ninguém que pudesse se aproximar da bela aventureira diante de seus
olhos.
Que droga, acho que aborreci ela... bem, o que faço agora...?
“A-ah, Lupusregina é uma mulher muito bonita que vive no meu vilarejo—”
“—Obrigada.”
“Eh!?”
Seus olhos não titubearam, muito menos sua voz, até suas sobrancelhas mostravam seu
semblante sério. Mas o agradecimento que ela deu foi genuíno.
“...Haaaah. Momon-sa—n deseja perguntar algumas coisas, é por isso que vim. Me res-
ponda. Por que está aqui?”
Enri não tinha obrigação de responder. No entanto, esta era a parceira de alguém que a
ajudou. Se ele queria saber, então não custava nada responder.
“Ah, bem, antes disso, posso pedir um favor seu? Momon-san me ajudou mais cedo e
sou muito, muito grata. Por favor, diga isso a ele.”
“Ah, claro. Ei vim aqui resolver um monte de coisas, tipo; vender essas ervas.”
A mulher gesticulou com o queixo, indicando que Enri deveria continuar falando.
A impressão de Enri sobre ela foi a de um furacão congelado que destruía as pessoas.
“Que mulher incrível... ela parece dezenas de vezes mais forte que a Britta-san...”
Não havia meninas no vilarejo como ela. Teria ela se tornado uma aventureira porque
sua personalidade era assim, ou ser uma aventureira tornava sua personalidade assim?
De repente, ela não se sentiu muito interessada em visitar a Guilda dos Aventureiros.
Nabe era uma aventureira poderosa, mas Enri só notou depois que ela desapareceu.
Além disso, era a parceira do homem que subjugou o Sábio Rei da Floresta. Ela poderia
ter contado a Enri sobre o que estava acontecendo na floresta.
Enri conduziu sua carroça por um portão enquanto repreendia a si mesma por seu des-
cuido.
♦♦♦
E-Rantel poderia ser dividida em três zonas, separadas pelos muros da cidade. A zona
intermediária era onde as pessoas viviam.
Idealmente, teria sido mais seguro vender as ervas na Guilda dos Farmacêuticos. Toda-
via, isso teria envolvido muita papelada problemática, então ela escolheu ir para a Guilda
dos Aventureiros em vez de usá-los como intermediários. Ela considerou utilizar a ajuda
de Lizzie para isso, mas Enri decidiu que usar o nome da avó de seu melhor amigo seria
muito desavergonhado, e reconsiderou.
Depois de levar em consideração os desejos de Enri, Nfirea sugeriu ir à Guilda dos Aven-
tureiros.
Enri seguiu pela estrada que Nfirea e Britta haviam lhe dito.
Embora estivesse viajando com os Goblins no caminho para a cidade, eles decidiram
esperar nas cercanias, para Enri terminar seus negócios sem maiores problemas. Ela
percebeu que era a primeira vez que estava sozinha desde que saíra do vilarejo, e suas
mãos agarraram-se às rédeas ainda mais fortemente.
A tensão enrijeceu os ombros de Enri. Finalmente, incapaz de aguentar mais, ela olhou
em volta em todas as direções e seu destino estava na frente dela.
“Eu encontrei!”
Enri exclamou de alegria. Agora que tinha chegado até aqui, provavelmente não se per-
deria.
Ela entregou as rédeas de sua carroça para uma sentinela parada na porta da Guilda
dos Aventureiros e abriu a porta.
No interior, guerreiros com armadura completa, caçadores com arcos nas costas e ma-
gic casters arcanos e divinos, andavam por ali. Alguns estavam entusiasticamente tro-
cando informações sobre os monstros próximos, outros estavam olhando atentamente
para os pergaminhos no quadro de avisos próximo, e alguns estavam avaliando o equi-
pamento recém-comprado.
O lugar estava cheio de calor e atividade que deixou Enri instável em seus pés, era um
mundo de cuidado e tensão implacáveis. Este era o mundo dos aventureiros.
A boca de Enri se abriu quando ela viu uma visão que nunca veria em seu vilarejo, então
apressadamente fechou de volta.
Era verdade que ela vinha de uma terra esquecida, nem era vergonhoso se assustar com
o clima da cidade grande. Ainda assim, uma garota de sua idade olhando ao redor com
uma cara estúpida e de a boca aberta seria apenas algo embaraçoso.
Enri entrou, suas costas estavam eretas, verificando conscientemente seus movimentos,
de modo que não movesse os braços e as pernas na ordem errada ou qualquer coisa que
provocasse risos. Entretanto, Enri começou a ter suas dúvidas sobre se estava tudo bem
para uma aldeã, obviamente fora do lugar, andar com arrojo entre esses aventureiros
musculosos.
Enri trocou olhares com a recepcionista. Depois disso, as duas sorriram amargamente.
Enri sentiu os ombros relaxarem, pelo que poderia ter sido a primeira vez desde que
chegou a E-Rantel.
“Então, posso perguntar qual negócio tem com a Guilda dos Aventureiros?”
“Mm. Ah, em primeiro lugar, gostaria de pedir ajuda com a venda de ervas.”
Enri disse-lhe que estavam na carroça do lado de fora e a recepcionista se virou para
falar com uma mulher ao lado dela.
“A avaliadora vai verificar agora, peço que aguarde dentro da Guilda até que esteja
pronto.”
“Tá bom. Ah, outra coisa... queria fazer um orçamento de uma coisa, não será pra agora,
mas podemos precisar no futuro.”
Enri explicou a situação para a recepcionista sorridente. O sorriso da outra mulher per-
deu a graciosidade quando ouviu a história de Enri.
“Entendo... Sou apenas uma recepcionista, eu não decido a dificuldade dos pedidos, mas
se é algo a par com o Sábio Rei da Floresta, temo que apenas o Momon-san, que é ada-
mantite, possa lidar. Nesse caso, as taxas seriam muito caras.”
Parecia ter havido uma mudança no humor da recepcionista. Ela parecia completa-
mente desmotivada, como se tivesse decidido “Foi inútil, mesmo depois de ter passado
por tudo isso, que saco...”.
Já que morava com Goblins, Enri se tornara adepta da leitura das emoções dos outros,
mesmo as sutis. Os Goblins eram feios e pareciam muito diferentes dos humanos, mas
ela tinha trabalhado arduamente para reconhecer e deduzir as mudanças em seus sen-
timentos. Desta forma, Enri evoluíra seus sentidos.
Ela deve estar pensando que o vilarejo não tem tanto dinheiro, huh... bem, com essa roupa
que estou usando, é uma conclusão razoável... afinal, ela tá bem vestida.
“Correto. Mas esse subsídio é apenas uma parte da taxa e terá que pagar o restante por
conta própria. Os aventureiros do nível adamantite são muito caros e, mesmo após o
subsídio, ainda custam muito dinheiro. Claro, a senhorita poderia oferecer menos di-
nheiro para uma solicitação, mas a Guilda dos Aventureiros pode não permitir. Se ofere-
cer menos dinheiro do que o valor estipulado, sua solicitação será de baixa prioridade,
portanto, talvez não haja interessados. Espero que leve isso em consideração.”
Ela deve ter memorizado os regulamentos, dada a maneira como ela pronunciou tudo
aquilo sem pestanejar. Parece que a recepcionista estava tratando Enri como um cliente
que não estava comprando nada.
Faz sentido. Um cliente que não gasta dinheiro não tem prioridade.
É por isso que o Ainz Ooal Gown-sama é nosso salvador. Ele até deu a uma simples aldeã
como eu um tesouro tão valioso como aquele.
Ela se perguntou como a recepcionista reagiria se ela usasse a trombeta como paga-
mento. Seria ótimo ver o olhar no rosto dela, mas Enri sabia que não podia fazer uma
coisa dessas. Este item foi dado a ela por aquele grande magic caster com a instrução de
“use-o para se proteger”. Ela não podia vendê-lo, nem pelo bem do vilarejo. Ela não podia
ser tão ingrata.
“Tudo bem. Poderia me dizer o valor pelo menos? Aí será mais fácil discutir as coisas
com o pessoal do meu vilarejo.”
“Claro... então que tal isto? Ainda vai levar um tempinho para terminar de avaliar suas
ervas. Até lá devemos ter terminado de calcular as taxas de contrato também. Então
quando voltar acertaremos os valores, etc. Tudo bem assim?”
Ela pensou sobre o que aconteceu depois disso — os Goblins, seu amigo de infância, e
então ela balançou a cabeça.
Se ela tivesse algo para fazer, não teria tempo livre para pensar em coisas tão depri-
mentes. Ela preferia esvaziar sua mente e se concentrar no trabalho do que pensar em
coisas que a deixavam triste.
“A taxa é—”
Neste momento, Enri ouviu o som de alguém caminhando, praticamente correndo para
ela. Quando ela se virou, viu a recepcionista de antes na frente dela.
“Haaa— haaa— Enri-san do Vilarejo Carne. Não, perdão, digníssima Enri-sama. Eu po-
deria ter um minutinho do seu tempo para discutir um assunto?”
Era a mesma recepcionista de antes, mas a atitude dela era completamente diferente.
Até os olhos dela estavam vermelhos.
“Ah, calma aí, só vou comentar com ele o preço e o resultado da avaliação—”
“Se estiver tudo bem com a senhorita, se importaria de discutir isso tomando alguns
licores na sala de recepção?”
Ela estava sorrindo, mas o sorriso não se refletia nos olhos, era um sorriso social. Havia
um olhar estranho e desesperado neles.
“Por favor, eu estou lhe implorando, a senhorita tem que me deixar ouvi-la! Ou estarei
com problemas!”
Depois de ouvir aquele apelo desesperado, quase patético, Enri não tinha idéia do que
estava acontecendo, mas não dar a ela uma chance seria cruel demais. Ela olhou de volta
para o comerciante, que parecia entender suas intenções, pois assentiu levemente para
ela.
Enri a seguiu, banhada pelos olhares curiosos de todos ao redor. A recepcionista segu-
rava fortemente sua mão direita, como se não quisesse que Enri escapasse.
Enri olhou em silêncio pelo interior do cômodo. Não havia ninguém lá além dela, e es-
tava primorosamente decorada, a ponto de ter dúvidas sobre estar sentada no sofá.
No momento em que se sentou, uma voz do canto de sua mente se perguntou se seria
presa ou encontraria outro destino semelhante.
No entanto, nada aconteceu quando ela se sentou no sofá. Tudo o que sentiu foi a mo-
bília confortável, aconchegando seu peso corporal.
“Gostaria de algo para beber? Temos um excelente licor! Que tal algum aperitivo? Ou é
muito cedo para isso? Sim, tipo de... que tal frutas... não, doces e sobremesas, talvez?”
“Não, não, não diga uma coisa dessas. Tudo é possível para a senhorita. Podemos forne-
cer licor, conhaque e lanches para acompanhar se assim desejar.”
“Obrigada, mas não precisa mesmo... e, até porque tenho outras coisas pra fazer. Será
que podemos discutir o assunto bem rápido?”
A recepcionista tirou uma folha de papel branco e fino. Todo o papel que ela tinha visto
antes tinha sido muito mais grosso e tinha outras cores misturadas. Provavelmente algo
de alta classe. Ela se confundiu com os papéis?
Enri começou a falar. Ela só tinha dado um breve resumo agora, então ela teve que ex-
plicar pacientemente os detalhes desta vez.
Eventualmente, assim que a garganta de Enri estava começando a secar, a conversa fi-
nalmente chegou ao fim.
“Estou profundamente grata! Há algumas bebidas aqui, por favor, beba antes de sair!
Não há problema em deixar as xícaras aqui, agradecemos encarecidamente pela prefe-
rência!”
Claro, não havia ninguém aqui para responder à sua pergunta murmurada.
♦♦♦
No final, Enri não passou a noite em E-Rantel, mas rumou de volta para o Vilarejo Carne.
Ela dormiria nas planícies, mas não era nada que a incomodava. Pelo contrário, ela es-
tava sossegada. Isso porque, ao contrário de sua jornada para a cidade, ela tinha um
grupo de passageiros andando com ela desta vez.
Diante dela estava o muro do Vilarejo Carne. Embora os troncos cuidadosamente ar-
ranjados parecessem impressionantes, Enri não pôde deixar de pensar que pareciam
puídos em comparação com as fortificações de E-Rantel.
“Tem tanta coisa pra fazer ainda, preciso relatar tudo ao chefe, e rápido.”
“Bem, metade dos problemas foram resolvidos, mas o pedido do chefe não foi muito
bem, né, Ane-san?”
“É, pois é... de acordo com o sacerdote do templo, quase ninguém quer se mudar pra um
vilarejo.”
“Isso é estranho. Quero dizer, já existem outros imigrantes de vilarejos próximos aqui.
Por que não há mais pessoas? Ele mentiu?”
“Sabe... vilarejos fronteiriços são muito perigosos, então é normal preferirem manter
distância. A gente esperava que os terceiros filhos viessem aqui na promessa de terras...
mas tem gente que não virá pra cá nem se for uma ordem. E as pessoas que se mudaram
recentemente já haviam vivido em vilarejos fronteiriços. Então são casos diferentes.”
“Sei...”
Provavelmente seria muito difícil para pessoas normais formar um bom relaciona-
mento com Goblins e ainda mais conviver sob o mesmo vilarejo. Qualquer imigrante da
cidade provavelmente empalideceria com a visão e faria o possível para ficar longe.
Nesse momento, a carroça sacudiu e o som de algo metálico batendo na carroça bateu
atrás dela.
Embora os Goblins estivessem sentados na mesa da carroça, havia alguns sacos ali, um
dos quais fazia barulho metálico quando a carroça sacudiu.
“Ah, estamos bem, Ane-san. Relaxe. Falando nisso, com esse tanto de flechas, vai dar pra
caçar o que der na cabeça.”
Depois de cumprimentar todos, Enri levou a carroça ao ponto de encontro original, para
descarregar a carga.
Quando ela parou a carroça no ponto de encontro, os Goblins, depois de ouvir a carroça,
saíram para saudá-la.
“Oh! Bem-vinda de volta, Ane-san. Fico feliz que nada tenha acontecido.”
Enri sorriu. As boas-vindas foram o que fez Enri sentir que ela realmente havia retor-
nado, pois para ela, os Goblins eram parte de sua família.
“Voltei!”
“É pra já!”
“Ah, Ane-san, pode deixar que cuidamos do resto. Por que não vai ver sua irmã e o Ani-
san? Não tenho certeza, mas acho que o Ani-san ainda tá ajudando o pessoal do Agu.”
“Mesmo? Entendi. Então, só por segurança, eu vou com você. Tem os Ogros por aí, en-
tão...”
Gokou falou com alguns de seus camaradas depois de sair do local da reunião, e então
ele pulou na carroça ao lado de Enri, que estava dirigindo. Os outros Goblins que estavam
guardando Enri na estrada para E-Rantel olhavam para ele com ciúme em seus olhos,
mas nenhum expressou qualquer oposição. Provavelmente concordaram que ele estava
fazendo a coisa certa.
“Nada de mais. De importante mesmo foi que construímos um lugar pros Ogros mora-
rem dentro do vilarejo. Claro, os Golems de Pedra fizeram a maior parte do trabalho, e
foi feito de madeira sem muito acabamento, mas ficou até confortável. Ainda não conse-
guimos dar um jeito no fedor deles. As toalhas que usamos a gente teve que jogar fora,
ficou fedido demais.”
“Como eu disse, os Golems de Pedra fizeram a maior parte do trabalho. Se você quiser
agradecer a alguém, agradeça ao magic caster que deu eles pra nós.”
“E a Lupusregina-san?”
“...Não vamos falar dessa Lupusregina por enquanto. Eu não quero agradecer a ela nem
nada. Tem algo nela que não me cheira bem.”
Enri achou difícil acreditar em seus ouvidos. Esta foi a primeira vez que Gokou falou
mal de alguém.
“Como explico isso... ela é meio assustadora, é como se tivesse um monstro dentro dela
que fica olhando pra gente... Eu não acho que percebeu isso ainda, Ane-san...”
“Mas ela é a empregada daquele que salvou nosso vilarejo, Ainz Ooal Gown, então ela
não pode ser tão ruim assim.”
Os ombros de Enri e Gokou se contorceram. Essa era a voz da mulher que eles tinham
acabado de mencionar.
Enri olhou para trás atônita, e assim como no dia anterior, a empregada estava sentada
na mesa da carroça como se ela sempre estivesse ali.
“Nunca te vimos voar. Você diz que vem de cima, mas nunca sentimos você pousando.”
“Eu posso ficar invisível ~su... Eu que não gosto de ficar me mostrando, mas pode ad-
mitir, sou legal demais né ~su?”
Gokou virou o rosto para a frente mais uma vez. Irritação escrita por toda parte de seu
corpo.
“Mas.. er... É meio raro que a gente te ver dois dias seguidos, Lupusregina-san. Aconte-
ceu alguma coisa?”
Lupusregina olhou para Enri. Enri não pôde deixar de pensar; ela é tão fofa e bonita,
mesmo quando faz essa cara.
“Bem, tipo isso. Maaas é que eu fiquei curiosa em saber o que tava rolando ~su. Falando
nisso, e aquele Goblin nanico, cadê ele?”
“Por que?”
“Ah, porque o pessoal resgatou mais alguns Goblins da tribo dele, não soube? Aí vão
ficar lá enquanto construímos uma casa pra eles no vilarejo.”
“Ah— sim, faz sentido, Agu é filho do chefe da tribo. Ele deve sentir que tem o dever de
proteger eles ou algo assim ~su. Curioso, é apenas uma criança, mas é tão maduro~!”
Embora Lupusregina estivesse apenas sorrindo levemente, qualquer um que visse sua
aparência seria cativado pelo encanto que irradiava dela. Até mesmo Enri se viu olhando
para ela com admiração apesar do fato de que ambas eram mulheres.
“Is-isso mesmo!”
Enri rapidamente olhou para a frente mais uma vez, as pontas das orelhas vermelhas.
“Então, vou levar o cavalo de volta pros estábulos ~su. Não tô afim de incomodar lá. Me
conte os detalhes da conversa depois~.”
Enri bateu na porta, anunciou em voz alta o suficiente para todos dentro ouvirem e
abriu a porta.
“Oh, que bom que voltou. Por favor sente-se. Como estavam as coisas na cidade?”
Enquanto o chefe falava, Enri sentou-se ao lado de Agu. Por um momento, o corpo de
Agu pareceu ficar rígido, mas ela deve ter imaginado coisas.
“Uh, vou indo então. Obrigado por ajudar tanto a gente, Chefe.”
Enri não tinha idéia de para quem essas palavras eram destinadas. Como os únicos ou-
tros presentes eram Enri, Gokou e o Chefe, parecia óbvio que eles tinham sido destinados
ao chefe do vilarejo.
Contudo, com as costas rígidas e os lábios franzidos Agu disse isso olhando para ela.
Enri olhou nos olhos de Agu, e em seu olhar firme, sem piscar, ela percebeu que ele não
estava brincando ou zombando.
“Mas... Hein!?”
“Ei! Espere—”
Isso pesava em sua mente, mas ela poderia esclarecer suas dúvidas mais tarde. O rela-
tório era mais importante por enquanto.
Depois de decidir isso, Enri relatou nítida e concisamente os eventos que ocorreram na
cidade. A parte mais importante era que ninguém queria se mudar para o Vilarejo Carne.
No entanto, o chefe parecia ter antecipado isso, porque não havia arrependimento em
seu rosto, apenas uma solene aceitação.
O chefe do vilarejo disse o que Enri estava pensando. Podia ter sido o que todos neste
vilarejo já haviam aceitado.
O chefe abaixou a cabeça e Enri disse “Não seja por isso” em resposta. Foi um tanto
conturbado, mas tinha sido uma boa experiência.
“Então—”
A linha de visão do chefe cintilou para Gokou por um segundo antes de continuar:
“...Eu espero que você assuma minha posição como chefe deste vilarejo.”
A enorme variedade de expressões que brilhavam no rosto de Enri era como uma peça
de arte performática.
“Hããã!? Como assim? Ei! Não me diga que o Agu estava dizendo aquilo para... ehhhh!?”
“Não me chame de nervosa! Chefe, o senhor tá caduco, é!? De onde tirou uma coisa des-
sas!?”
“...Talvez caduco seja um pouco demais. Eu entendo o motivo de se sentir assim— sei
muito bem como é, mas espero que tente se acalmar e me ouça.”
“Me acalmar!? Como posso me acalmar? Sou só mais uma aldeã desse vilarejo, por que
justo eu que tenho que lidar com essa porcaria toda de ser chefe!?”
“Calma!”
A voz estava cheia de poder, mas para Enri foi apenas um som um pouco alto. Mesmo
assim, ajudou a recuperar um pouco de sua compostura. Não, se ela não escutasse o
chefe, ela não retornaria a si, ou pelo menos era o que parte dela estava pensando.
“Eu te entendo, eu sei que está confusa. Mas espero que possa sentar e considerar as
coisas com calma. Antes de tudo, quem tem feito tudo funcionar aqui?”
“Claro que não. Você é o coração do nosso vilarejo. Os Goblins e os Ogros que chegaram
esses dias te reconhecem como líder, não é?”
“Também soube dos Goblins que você ajudou. Pelo que o Agu me disse, eles também te
veem como a chefe.”
A boca de Enri ficou na forma de um “へ”. Pode ser verdade que os Goblins eram assim,
mas o que os aldeões pensariam? Eles nunca aceitariam isso.
“Até imagino o que está pensando. Os aldeões vão se opor, é isso? Já falei com todos e
consegui a aprovação deles. Ontem à noite eu fiz uma reunião e escutamos todos. E foi
unânime — todo mundo deseja que você seja a nova chefe.”
“...Aquele ataque abalou todo mundo, Enri. E todos anseiam por uma líder forte.”
“E o que tem de forte em mim? Eu já disse, sou apenas mais uma aldeã deste vilarejo!”
Embora houvesse alguns músculos em seus braços, ela ainda era uma garota que mal
podia usar uma arma. Se queriam alguém forte, deveriam ter escolhido alguém da força
de segurança, não?
“A força não é só o que vemos por fora. Não acha que ser capaz de ordenar os Goblins
também é uma forma de força? Os Bareares também te acham adequada como chefe.”
“Enfi!”
“Ah, minha jovem, já ocupo este posto por muito tempo, estou velho. Eu preciso encon-
trar um sucessor em breve.”
“Como assim velho? O senhor não está nem perto de ser velho, Chefe. É por isso que
começou a falar como um velho?”
O chefe estava na casa dos 40 anos, por isso ainda era um pouco cedo para chamá-lo de
velho. Afinal, ele ainda estava em uma idade em que poderia trabalhar.
“Acho que ainda não tenho prática pra falar assim, mas deixando isso de lado; você já
deve ter notado que os tempos estão mudando, a floresta está mudando. Desde que o
“Chefe, não quero te ofender, mas preciso perguntar. Tá tentando fugir disso, né?”
“...Bem, sendo honesto. Não posso dizer que está totalmente errada...”
O que Enri viu foram os olhos de um homem que honestamente falava o que pensava:
“Ainda me lembro daquele dia quando fecho os olhos. Eu conhecia bem seus pais...
aquele dia horrível levou muito dos meus amigos... Se nosso povo não tivesse se acostu-
mados com a tranquilidade, se tivéssemos construído um muro, se estivéssemos em
guarda, talvez as coisas seriam outras... talvez pudéssemos ter resistido até Gown-sama
nos salvar.”
Pensou Enri. Este vilarejo também tinha muitos imigrantes que eram sobreviventes dos
outros vilarejos destruídos. Seus vilarejos tinham muros resistentes — embora não tão
fortes quanto os do Vilarejo Carne —, mas ainda haviam sido atacados e abatidos. Mas
esses muros poderiam ter atrasado os atacantes apenas um pouquinho e permitido que
mais pessoas fossem salvas. Enri concordou com essa parte.
“A maneira antiga de pensar não vai levar nosso povo pra lugar algum. Precisamos re-
organizar e proteger, criar a segurança com nossas próprias mãos. Os únicos que podem
fazer isso são os flexíveis e os jovens. Todos precisam da força da juventude.”
Enri ouviu as palavras do chefe e as considerou seriamente. No começo, ela queria re-
cusar, pois tal responsabilidade era um fardo muito pesado. Se eles fossem atacados da-
quela maneira, ela não tinha certeza se poderia assumir a responsabilidade pelas vidas
de seus colegas. No entanto, como ela havia dito ao chefe agora, isso não era só fugir do
problema?
“É natural pensar isso. Eu posso ajudar com a administração, e os Goblins vão te apoiar
nas questões de segurança. Mesmo assim, eu sei que tomar a decisão final assusta bas-
tante.”
“E se tiver dois sistemas, um pra lidar com as coisas em situações normais e outro pra
emergências?”
“Não vai dar certo porque não prioriza o líder. O povo segue seus líderes quando a situ-
ação fica mais complicada, pois nos tempos de paz esses líderes os fizeram trabalhar
juntos e isso provou o quanto é capaz.”
A vontade do chefe era firme e ele explicou suas razões. Com uma expressão amarga,
Enri fez sua última pergunta.
“Eu não vou te apressar por isso. Tome seu tempo e pense com calma.”
“Sim, senhor.”
♦♦♦
“Sem problemas, Ane-san. Fique o tempo que precisar. Todo mundo vai te apoiar nisso,
Ane-san. Se precisar de algo, é só avisar.”
Depois de observar Gokou sair, Enri voltou para sua própria casa.
Quem sabe, quando chegar a hora, ela pode ter que dar uma ordem que não gosta —
sacrificar os poucos para o bem maior.
Todos aqui pensam muito bem de mim. Pra começar, há os Goblins que todos dizem que
são a minha força. Eles nem são aliados que eu fiz com meu próprio carisma e conexões.
Hm? Fui a primeira que ele ajudou? Eu lembro do Gown-sama de máscara, mas... Hm? Ele
sempre usou aquilo?
De repente, a sequência de eventos parecia confusa para ela, mas isso era de se esperar,
dado o caos da situação.
Enfim...
Se a trombeta tivesse sido dada a qualquer outra pessoa, essa pessoa teria sido o pró-
ximo chefe, não ela mesma. O que significava que o problema não era uma questão da
competência de Enri, mas simplesmente que o destino decidira deixar cair esse fardo no
colo dela.
A primeira pessoa que veio à mente de Enri foi Nfirea. Ele havia morado na cidade
grande antes, visto muitas pessoas, e Enri achava que ele saberia se ela poderia ser a
próxima chefe. E por ser amplamente letrado, ele definitivamente seria capaz de dar-lhe
uma resposta.
Entretanto, o chefe havia dito que Nfirea — ou melhor, os Bareares — haviam aprovado
sua sucessão. Isso significava que mesmo que ela falasse com Nfirea, era muito provável
que recomendasse a aceitar a responsabilidade.
Ele não vai servir... e nenhum dos aldeões também. Com isso resta o Agu e os Ogros, mas o
Agu já tava me tratando como chefe, os Ogros são simplesmente burros.
Neste momento, alguém chamou Enri em sua feição carrancuda com uma voz alegre.
“Eeeaí~? Parece que terminaram a conversa... Uééé? Qual foi, que olhar estranho é esse?
Enri, qual o problema ~su?”
Essa voz fez Enri se mexer, como se eletricidade estivesse passando por sua pele. Isso
mesmo. Ela era uma pessoa de fora, uma terceira parte neutra que podia avaliar calma e
logicamente a situação.
“Lupusregina-san!”
“Que-que isso? Essa nããão! Meu coração tá até acelerado. Por favor não se confesse pra
mim ~su. Não sou lésbica, eu gosto de homens. Nããããooo! Me solta~! Eu vou ser estu-
prada ~su.”
As mãos de Enri deixaram os ombros dela, porque ela estava planejando cobrir a boca
de Lupusregina. Mas Lupusregina esquivou da mão de Enri e sorriu para ela.
“Ahhhh, foi mal, não resisti. Você precisava de uma animada, aí quis te dar uma ajudinha.
Foi só uma piadinha ~su.”
“Pode me ouvir, por favor? Preciso de sua opinião pra algumas coisas.”
“Não sei se eu sirvo, mas a gente vai conversando enquanto anda, que tal ~su? Vai que
os aldeões desconfiem da nossa relação, não quero isso não ~su.”
O rosto de Enri ficou vermelho vivo. Lupusregina até tinha razão. Contudo—
“Tehe~.”
“Bem, conte seus problemas pra Lupusregina-oneesan aqui — eu posso te ensinar todo
tipo de coisa, desde coisas pervertidas à sedução de homens ~su.”
“...Hã?”
“Ei— você não acabou de dizer que eu poderia contar meus problemas?”
“Sim, ué, mas eu nunca disse que ia te responder, ou disse... hm, bem, tanto faz ~su. Para
começar, se está sendo forçada para essa posição e sabe que vai se arrepender, é melhor
não aceitar. Sempre tenha em mente os seus limites, até onde aguenta.”
A garota despreocupada habitual tinha ido embora, e em seu lugar havia uma beldade
misteriosa. Os olhos antes abertos estavam estreitados, e seu sorriso fino enviou um ar-
repio por sua espinha.
“Mas é só minha opinião, eu não estou dizendo o que deve fazer ou algo assim. Você
deve se sentar e pensar com calma nisso. Sendo franca, não importa se você ou outra
pessoa será o chefe, quem assumir essa responsabilidade vai errar cedo ou tarde. Há
apenas Quarenta & Um seres que nunca cometeram um erro. Então, não faz sentido se
preocupar com o que acontecerá se falhar. Mas se realmente pensar nisso com calma,
ninguém é mais adequado para o trabalho do que você.”
“Como assim?”
“Pergunte aos Goblins. Se o vilarejo for atacado por monstros assustadores e eles sou-
berem que não podem ganhar, o que acha que vão fazer? Agora imagine o que vão fazer
com você sendo a chefe e não sendo a chefe.”
“—Eh?”
“Hehe~.”
“Mas cá entre nós, acho que você sai se sair muito bem, En-chaaan! Se não acredita...
por que não pergunta àquele mocinho ali ~su?”
Depois de tirar a mão do ombro de Enri, Lupusregina deu meia volta. Foi um movimento
que parecia distante de qualquer conceito da palavra “fricção”.
Lupusregina se afastou, as mãos acenando pelo ar. Na frente dela estava Nfirea segu-
rando a mão de Nemu. Lupusregina deu um tapinha no ombro de Nfirea e, como se ti-
vesse acionado um interruptor, os dois voltaram à vida.
Nemu deve ter ficado muito preocupada, porque ela abriu um grande abraço enquanto
corria a toda velocidade para Enri. Por um momento, Enri achou que ela poderia cair,
mas seus robustos músculos das pernas absorveram o impacto.
“Bem-vinda, Enri. Voltou mais cedo do que o esperado. Não quis dormir na cidade?”
“Então é por isso... que bom que não tenha sido atacada por monstros. Mas fazer isso é
bem perigoso. Os Goblins são fortes, mas ainda há monstros que são mais fortes que eles.
Mesmo não tendo visto nenhum daqueles perto das planícies...”
Nemu disse enquanto se agarrava firmemente às roupas de Enri. Enri era o único mem-
bro da família sobrevivente que sua irmãzinha tinha. Sua vida não era mais apenas dela.
Parece que ela esqueceu esse pequeno detalhe.
“Obrigada. Falando nisso, tem sido uma boa menina, Nemu? Não deu problemas ao Enfi,
né?”
“Já sou grande~ oneechan! Eu não sou mais uma criança! Não é, Enfi-kun?”
“Ahaha... bem, eu tenho tratado a tribo do Agu, então eu não fiquei tomando conta dela
o tempo todo, mas confio que a Nemu se comportou bem.”
“Nemu-chan! Aquilo é o cheiro de ervas! Quando amassa sai esse cheiro, você não disse
que suas mãos fediam também?”
“...Não, é diferente. Isso é de fazer itens alquímicos, então não sou fedido ou qualquer
coisa assim.”
“Mas sempre que chego perto, voce tá fedendo, por quê, Enfi-kun?”
“Mm, é porque o Enfi sempre usa suas roupas de trabalho. É só ele tirar as roupas de
trabalho que para, né, Enfi?”
“É que eu não tenho muitas roupas, embora... em E-Rantel eu usava isso o tempo todo.”
“Enfi, não sou moça da cidade, esqueceu? Sei fazer minhas roupas simples sozinha.”
“Mesmo? Eu comprei todas as roupas que tenho, ser capaz de fazer suas próprias é in-
crível.”
“Ah, obrigada. Mas todo mundo aqui sabe dessas coisas... Nemu, é melhor já ir come-
çando a aprender também.”
“Ei, Nemu, por que não vai na frente? Eu preciso discutir algo com o Enfi.”
Nemu cobriu a boca com as mãos, mas o sorriso já estava fazendo seus olhos brilharem.
“Ah! Já sei! Pode deixar, eu vou primeiro. Faça o seu melhor, Enfi-kun!”
“Não, acho que não... mas tem coisas mais importante agora. Você ia me dizer alguma
coisa? Acho que sei, participei da reunião ontem.”
Sendo esse o caso, eles poderiam pular muita conversa inútil. Enri disse a Nfirea o que
ela e o chefe haviam discutido.
Isso não foi tudo. Ela também contou tudo sobre sua inquietação e sua discussão com
Lupusregina. Depois que terminou, Nfirea olhou Enri diretamente nos olhos e falou:
“Você deve fazer o que acha certo, Enri. Não importa qual seja a sua resposta, eu sempre
irei te apoiar... ugh, frase clichê, né? Mas é isso, eu gostaria que virasse a nova chefe.”
“Nada disso. Você não é apenas uma simples aldeã do vilarejo. Você é a líder dos Goblins,
Enri Emmot. Fica pensando que a força dos Goblins não é sua força, é isso? Mas no final,
os Goblins são realmente sua força. Lupusregina disse para perguntar a eles, mas vou
explicar. Se você não for a chefe e o vilarejo ficar em perigo, os Goblins vão evacuar você
e deixar todo mundo para trás.”
“...Em tempos de paz não fariam mesmo. Mas na hora do desespero é isso que farão.
Eles mesmos já me disseram isso.”
Enri olhou incrédula para Nfirea. Ela tentou captar qualquer sinal de mentira, mas não
pôde sentir qualquer falsidade.
“O que importa para eles não é o vilarejo, é você. Mas caso se torne a chefe, então o
vilarejo se tornará sua propriedade, e os Goblins lutarão por todos até o amargo fim.
Nfirea levantou o cabelo quando ouviu a resposta curta e direta, revelando seus grandes
olhos.
“—Não está. Você nunca mentiria pra mim. Eu confio em você. Mas é quê... eles só me
dão importância porque e eu assoprei a trombeta.”
“Acha mesmo que é só por isso, Enri? Você se importa com eles, compra coisas para eles
também. Não acha que farão de você a principal prioridade por causa disso? ...Talvez não
tenha notado, mas os Goblins nunca receberam nada dos aldeões, pois a maioria das
pessoas os veem como os monstros que você conjurou. Um lado os trata como amigos,
enquanto o outro como servos. Quem acha que vão favorecer?”
É claro que nenhum dos aldeões diria esse tipo de coisa em voz alta. No entanto, era
verdade que ela não conseguia se lembrar de nenhum dos moradores os agradecendo
de maneira concreta.
“É uma forma de agradecerem a você, não a eles. Eles pagam por emprestar a força deles
pagando um almoço, caso contrário iria comer na sua casa. Pense bem, lembra de alguém
aqui chamar algum deles pelo nome?”
Não havia ninguém. No começo, ela pensou que era simplesmente porque eles não po-
diam distingui-los, mas talvez porque nunca tiveram a intenção de distingui-los desde o
começo.
“Tem razão.”
No entanto, em sua voz não era simplesmente desânimo, mas seus olhos brilhavam com
a luz da determinação.
“Então... É por isso que eu sinto que você será uma boa chefe. No mais simples dos casos,
quando for a chefe, até a vida dos Goblins vai mudar para melhor.”
“Tudo bem. Então, eu vou aceitar ser a chefe. É melhor eu ir fazer isso antes que eu
mude de idéia!”
Seu sorriso foi gentil, mas austero. Era como se ele entendesse que ela estava esperando
por um último empurrão nas costas.
Ela assentiu em resposta, e depois sem olhar para trás, pôs o pé no caminho para se
tornar a nova chefe do Vilarejo Carne.
♦♦♦
Do céu, Lupusregina pôde ver que quase todos no vilarejo estavam reunidos na praça.
Enri caminhava até eles, quando chegou se virou para todos. Lupusregina não podia ou-
vir o que Enri estava dizendo.
“Correto. Ainz-sama concedeu isso a mim pessoalmente. Este seria... o Vilarejo Carne, é
isso? Por isso você foi repreendida pelo Ainz-sama.”
“Uma nova líder acaba de surgir dentro do vilarejo. Para os aldeões, eles estão prestes
a virar uma nova página em sua história, para um novo mundo de possibilidades. Fico
imaginando o que aconteceria se, neste momento glorioso, o vilarejo fosse atacado e
tudo virasse pó. Eu me pergunto quais feições eles teriam?”
Seu rosto alegre e bonito desabrochou, e algo fluiu de dentro que só poderia ser descrito
como maligno.
“Isso mesmo, Yuri-nee~ sem tirar nem pôr ~su. Fico excitada toda vez que penso neles
sendo brutalmente pisoteadas como insetos.”
“Você é uma sádica completa. Tão má quanto a Solution. Por que minhas irmãs mais
novas gostam disso? Minha única salvação é a Shizu, francamente... ainda suponho que
a Entoma não seja uma menina má.”
Lupusregina riu quando sua irmã mais velha resmungava e franzia as sobrancelhas.
“Ah~ será que vão ser destruídos depois tanto tempo gasto ~su?”
Parte 4
Enri largou a pequena lousa que estava segurando na mesa e desabou, sem energia. Ela
ouviu uma risada silenciosa e, quando se virou para olhar para a fonte, viu o professor
(Nfirea) lá com um sorriso no rosto.
“Não diga isso. Você já aprendeu a escrever seu próprio nome, não é? E a Nemu-chan
também.”
“Mm... bem, pelo menos isso... não consigo me virar apenas com isso?”
“Nem pensar! Estas são apenas o básico. Pense desse modo; você só começou a apren-
der por cinco dias, nós ainda não alcançamos as partes importantes.”
“Ahhh, não faça essa cara. Depois de aprender o básico, tudo o que resta é aplicar na
prática. É por isso que elas são tão importantes.”
“...Uuug~.”
Enri se levantou da cadeira como se esperasse que ele dissesse exatamente isso.
“Estou feliz que tenha tirado parte do tempo nos seus experimentos pra me ensinar
tudo isso. Mas eu não me sinto grata de jeito nenhum...”
“Mm. Mas você precisa. É melhor um professor ser odiado por seus alunos do que ser
apreciado por eles.”
“Ahahaha. Ah, vou ir fazer meus trabalhos agora. Boa noite, Enri.”
“Pra você também. Não vá trabalhar até tarde e durma cedo, hein.”
Nfirea sorriu para mostrar que entendia e saiu pela porta da frente. Depois de observar
a partícula flutuante de sua luz mágica recuar na distância, Enri voltou para sua casa. Na
escuridão, parecia especialmente solitária.
“Ah— cansei...”
Enri preguiçosamente tirou a roupa e se enfiou embaixo das cobertas. Havia tantos ba-
rulhos quando aprendia, mas agora tudo que podia ouvir eram os sons fofos de sua ir-
mãzinha dormindo. Enri fechou os olhos em silêncio.
Tendo esforçado tanto seu cérebro, Enri tinha certeza de que cairia no sono imediata-
mente. Assim como esperava, ela desmaiou segundos depois de fechar os olhos.
Ela não sabia quanto tempo tinha dormido, mas um som distante a despertou de seu
sono.
Enri percebeu o que aquele ritmo significava e então forçou os olhos a se abrirem na
escuridão. Sua mente acordou com velocidade anormal e percebeu que ainda estava em
casa, e então ela praticamente pulou da cama. No mesmo momento, sua irmã também
acordou.
“Você tá bem?”
“Mm.”
Sua voz tinha um tom de medo, mas parecia que ela ainda podia se mover.
“Mm!”
Acender uma lâmpada despenderia muito tempo, então Enri se preparou para fugir no
escuro.
Quando o som dos sinos tocou, Enri e Nemu se prepararam rapidamente. A rapidez foi
uma velocidade nascida não apenas de repetidos exercícios de evacuação, mas do velho
terror que restava de quando o vilarejo havia sido atacado no passado. E depois de ouvir
as palavras de Agu, ela teve uma idéia do que estava por vir.
Sem esperar pela resposta da irmã, Enri pegou a mão de Nemu e saiu correndo pela
porta.
O sino ainda ecoava alto, informando a todos que havia uma situação de emergência.
Além disso, sinalizou que definitivamente estavam sob ataque.
Um canto de seu coração ainda esperava que fosse apenas um dos muitos exercícios de
treinamento, mas o frio no ar negava isso. Foi o mesmo frio que ela sentiu quando os
soldados atacaram antigamente.
No entanto, como uma chefe agora — mesmo fazendo poucos dias —, Enri teve que
considerar como ela iria evacuar todo o vilarejo.
Sem pensar, Enri deixou as palavras escaparem de sua boca. Este era o pior momento
possível para algo assim acontecer.
“Ane-san!”
Com o Goblin liderando o caminho, Enri logo chegou ao portão principal. Ela viu que as
barricadas noturnas estavam armadas e os Goblins estavam reunidos. Eles pareciam ve-
teranos experientes nas armas e armaduras que Enri havia comprado para eles.
Quando se aproximou, sentiu um fedor no ar, o que deixou Enri indiferente ao fato de
que havia Ogros presentes. Os Ogros agarravam seus novos tacapes, que pareciam rús-
ticos e ameaçadores.
Enri e o Goblin alcançaram o portão principal ao mesmo tempo que o ofegante Nfirea e
os membros da força de autodefesa liderada por Britta. Além disso, Agu e alguns de seus
companheiros Goblins, aqueles cujas mentes se recuperaram o suficiente do trauma e
estavam prontos para lutar, se juntaram a eles também.
A avó de Nfirea, Lizzie, era uma magic caster habilidosa por si só. Por direito, ela deveria
ter participado na defesa do portão principal.
“Não, a Obaa-chan não virá. Ela está no ponto de encontro. Defender lá é importante
também.”
“Enviamos nossos caras que não são bons com arcos por ali. Tem muita gente forte aqui,
pode despachar alguém para ir até lá e manter os ânimos elevados?”
Jugem e os outros não haviam feito isso por malícia em relação aos aldeões com quem
ele havia vivido e trabalhado. A tensão crescente fez Enri engolir, Jugem explicou sua
posição.
“Há muitos monstros. E há muitas outras espécies, além de Ogros. Dividir-se seria muito
perigoso.”
“Britta-san, o inimigo estava à espreita na floresta. Não há como julgar com precisão
seus números. Mas conseguimos obter uma estimativa... sete Ogros, várias Cobras Gi-
gantes, vários Wargs, várias formas parecendo Barghest e algo enorme seguindo atrás
deles.”
“Wargs viajando com Cobras Gigantes e Ogros? Existe um druida por trás deles?”
Wargs são feras mágicas que pareciam lobos, mas maiores. Eram mais espertos que
lobos, estaria na pior se os encontrasse na floresta.
“É bem possível. Para piorar, só falta terem um magic caster junto. É certo supor que
também atacarão à distância. Seria melhor organizar todo o nosso poder de luta aqui,
não? Devo chamar a Obaa-chan?”
“Isso... é difícil dizer, Ani-san. O ponto de encontro é um dos edifícios mais sólidos aqui.
Se alguma coisa acontecer, lá será a linha defensiva final, o bom que tem uma torre. Lá
precisa ser protegido e ela vai dar conta disso.”
“Britta-san, você vai liderar a força de defesa. Espero que possa transmitir claramente
minhas ordens para eles e fazer o que a situação exigir.”
“Então, vamos usar a estratégia anti-invasão dois? Recapitulando, fazer deles porcos-
espinhos de flechas, usar as barricadas e aproveitar a distância para apunhalar com as
“Isso, contamos com você. O problema é que os Wargs e Barghests são muito ágeis. Se
deixar eles andarem por aqui atoa vão causar muitos danos. Mire neles primeiro. E por
fim, se o druida aparecer, se importaria de voltar?”
“Nada contra, mas tem gente suficiente na frente se a força de defesa recuar?”
“É... como eu pensei, é melhor dizer a todos para estarem prontos para morrer. Pelo
menos vamos estar nos fundos, nossas chances são maiores. Vamos atacar sim se tiver
um druida à distância. Sabe... eu já fui uma aventureira e passei por poucas e boas, mas
esta é a primeira vez que vi aldeões tão corajosos... muito mais se comparado quando eu
vi eles treinando com arcos.”
“Isso é porque o vilarejo foi atacado no passado... odiamos lembrar que tanto que a
gente foi impotente.”
Enri, que estava em silêncio até agora, concordava com os sentimentos de todos os
membros das forças de defesa.
A verdade era que, apesar de seus rostos pálidos, ninguém aqui queria fugir. Eles ti-
nham que ficar e lutar, tinham que proteger seu vilarejo, suas famílias. Afinal, seus ami-
gos e entes queridos estavam por trás deles.
“Por falar nisso, uma tropa tão grande deve ter sido reunida por um ser poderoso. Já
podemos assumir que foram enviados pelo Gigante do Leste ou pela Serpente Demônio
do Oeste?”
Se fosse esse o caso, significaria que Agu tinha atraído os monstros aqui. Foi por isso
que Jugem baixou a voz, para que a força de defesa não percebesse e direcionasse sua
agressividade para Agu.
Eles já tinham contado aos aldeões sobre o Gigante do Leste e a Serpente Demônio do
Oeste, bem como o fato de que seu poder rivalizava com o do Sábio Rei da Floresta.
Embora a Besta Mágica do Sul tivesse sido domada pelo Herói Negro, a forma e a pre-
sença do poderoso monstro haviam sido gravadas indelevelmente nos corações dos al-
deões. O medo era a resposta apropriada ao pensamento de lutar contra algo no mesmo
nível que isso, inimigos que eles não tinham chance de derrubar.
“Geralmente, os monstros com magias raciais não têm mais de dez, mas se forem do
tipo que pode praticar e aprender magia, então o céu é o limite e seria problema dos
grandes. Se souberem magia capaz de permitir que atravessem paredes, então...”
“Fico feliz que o Enfi e os Goblins possam usar, mas saber que outros lá fora podem usar
também... nossa, será injusto demais.”
Enri disse isso em um tom infeliz, que atraiu sorrisos sombrios dos aldeões.
Isso deve aliviar um pouco as coisas, pensou Enri. Embora fosse ruim se estivessem
muito relaxados, ficar muito tenso também os impediria de lutar efetivamente. O clima
agora parecia certo.
Jugem olhou agradecido para Enri. Parece que ele entendeu esse ponto também.
Os Goblins haviam treinado a força de defesa precisamente para momentos assim, en-
tão essa era a melhor maneira de implantá-los.
Reunir espadas e armaduras suficientes para equipar todos na força de defesa era
muito difícil em um pequeno vilarejo, que nem ferreiro tinha. Além do mais, eles ainda
eram aldeões. Podem ter braços fortes de tanto usar enxadas e pás, mas isso não se tra-
duz em habilidades de espada. Apenas um gênio poderia treinar-se para ser um guer-
reiro capaz de derrotar monstros em seu tempo livre entre as tarefas.
Com esses pontos em mente, os Goblins perceberam que não poderiam treinar a força
de defesa a um nível em que pudessem lidar com o dever da vanguarda. Em vez disso,
eles decidiram ensiná-los a usar arco e flecha para deixá-los lutar na linha de trás.
Embora sua técnica tenha melhorado ao ponto de atingirem seus alvos, eles não conse-
guiam puxar os arcos longos que tinham bom poder de penetração, tornando difícil in-
fligir dano a monstros de pele grossa. Porém, se tivessem sorte e disparassem sincroni-
zadamente, havia uma chance de que pudessem atingir um ponto vulnerável.
“Esse é o espírito. E preste atenção, eu te proíbo de fugir. Solte sua raiva neles, até mor-
rer.”
“Tá! Eu vou retribuir a gentileza que cês mostraram pra mim, vou pagar em dobro! Ei,
por que não me colocar na linha de frente com os Ogros?”
“Mas você é um pirralho idiota, hein!? Se eu te deixasse fazer isso, acabaria morrendo
em poucos segundos. Mas se um dia ficar forte, eu te coloco lá!”
Enri suspirou aliviada ao ver isso. Por um lado, significava que os aldeões não o viam
como a razão para trazer os monstros para dentro. Por outro, era a prova de que Agu foi
aceito pelos aldeões.
Eles foram os últimos forasteiros a chegarem no vilarejo. Embora não tivessem sido
evitados ou maltratados, ainda havia uma barreira os separando. Contudo, do ponto de
vista das coisas, essa lacuna desapareceria se saíssem triunfantes. Era irônico que o
campo de batalha fosse o melhor lugar para construir laços de amizade.
Ela sentiu que a divisão de Agu lutaria ferozmente. Seu objetivo era contribuir e elevar
a posição de si mesmo e de seu povo. Era o mesmo na sociedade humana, que respeitava
aqueles que derramaram sangue por eles. Considerando que o status de seu pessoal de-
pendia muito de como Agu e seus dois amigos mostrariam seu valor, era natural que ele
estivesse tão entusiasmado por isso.
“Oh, não, mas é um pouco— ah. Mm, sei. Então— Agu, eu tenho algo para confiar a você
e seus amigos, tudo bem? Eu vou te dar meus itens alquímicos, então eu espero que você
os use com sabedoria.”
Nfirea abriu sua mochila. Dentro havia muitos frascos e saquinhos de papel.
“Use estes e arremesse nos inimigos. Vai errar se estiver muito longe, então tente usar
à médio alcance... posso te confiar isso?”
Agu aceitou a bolsa e, enquanto esperavam, um dos Goblins gritou para eles.
“Força de defesa para suas posições! Ane-san, cuidado! Ani-san, você também!”
“Tá! Entendi! Não morram, é tudo que eu peço, isso vale pra todos vocês!”
Nfirea correu até Enri como sua escolta. O trabalho deles era inspecionar cada casa para
ver se alguém não havia notado a emergência.
♦♦♦
Não havia linha direta de fogo para os monstros do lado de fora do muro. Eles precisa-
riam atirar em uma parábola para fazê-lo, mas os amadores não podiam fazer isso e não
tinham tempo para treiná-los nesse nível. Portanto, os Goblins responsáveis pelo treina-
mento da força de defesa decidiram especializá-los em uma única tarefa.
Eles treinaram a força de defesa para acertar flechas no outro lado do muro. Isso signi-
fica aprender o quanto de força usar, e praticar o ângulo certo para atirar, a fim de acer-
tar com precisão uma área específica. Era um treinamento que seria completamente inú-
til fora de circunstâncias muito específicas. No entanto, uma vez que o objetivo do ini-
migo era derrubar o portão e eles estavam concentrados na frente dele para atacar o
portão, o treinamento se provaria muito eficaz.
Os gritos dos monstros se aproximaram, e o portão principal estremeceu sob uma série
de impactos que podiam ser sentidos nos muros próximos também.
“Força de defesa — aguardar! Não levante seus arcos até que seja ordenado!”
Eles foram orientados a não atirar enquanto o inimigo não tivesse chegado ao local em
que haviam passado incontáveis horas aprendendo a atirar. Entretanto, no instante se-
guinte, todos que olharam para as torres entenderam a razão disso.
Rochas foram arremessadas do outro lado do muro. Cada uma tinha o tamanho de uma
cabeça humana.
Embora muitas tenham errado, até mesmo um golpe de sorte nas torres de observação
os fez tremer visivelmente.
“Cada um tem cerca de três pedras e cerca de vinte e uma pedras no total— Cacete!”
Era verdade que a força de defesa estava fora de vista do inimigo e sua precisão seria
baixa. No entanto, se eles fossem azarados, um único golpe poderia matar pessoas.
Mesmo uma rocha mal atirada poderia ferir gravemente alguém.
Pode-se dizer que Jugem ordenou que eles não atacassem por segurança. Também mos-
trou que Jugem não queria que ninguém morresse antes que a batalha prolongada pu-
desse começar.
“Não vão se achando porque acertaram essa pedrinha, a gente vai te por pra comer ca-
pim!”
Gurindai gritou com raiva, e começou a atirar novamente enquanto desviava da sarai-
vada de pedras arremessadas. A força de defesa não conseguia tirar os olhos dele, ob-
servando o modo como ele destemidamente respondia com disparos, mesmo sabendo
que seria gravemente ferido se fosse atingido. Contudo, Jugem não deu atenção a isso.
Ele rapidamente examinou o campo de batalha e encontrou novos inimigos em um ins-
tante.
“Kyumei! Cobras escalando no flanco esquerdo! Consegue lidar com isso sozinho?”
Não havia necessidade de palavras de Jugem. Nenhum indício de medo podia ser visto
nas posições de tiro dos dois arqueiros no topo da torre de vigia. Embora a torre desa-
basse sob eles mesmo sem mais ataques, eles continuaram mirando nos monstros e pro-
vocando ataques de pedra. No flanco esquerdo, Kyumei parecia estar bem contra as co-
bras.
Essa voz era como o treinamento deles e, por um momento, os arqueiros da força de
defesa esqueceram que estavam no campo de batalha. Eles ignoraram o som das madei-
ras rangendo e executaram os mesmos movimentos que aprenderam durante a prática.
“Disparar!”
Quatorze flechas traçaram belas parábolas pelo céu e desapareceram atrás do muro,
tirando mais gritos de dor dos monstros.
“Incrível.”
Murmurou para si mesmo, mas Jugem não teve tempo para se preocupar.
“Segunda onda preparar! — Não entrem em pânico! — Respirem fundo! Puxa — Solta!
Puxa — Solta!”
A esta altura, Shuringan e Gurindai foram curados e tomaram seus lugares na força de
defesa.
“Disparar!”
Mais uma vez, quatorze flechas voaram para a frente, seguidas um pouco depois por
outras duas. A porta rangeu mais alto quando os gritos do inimigo se intensificaram. As
flechas devem ter os deixado com raiva — e os fizeram bater mais forte.
A força de defesa moveu-se em grupo atrás das barricadas posicionadas atrás do portão
principal. Qualquer um que estivesse entrando ficaria preso nas barras e pontas do obs-
táculo. O arranjo estava em forma de “L”, levando os atacantes até onde Jugem e os Ogros
estavam esperando por eles. Para os intrusos, romper o portão seria como saltar da fri-
gideira para o fogo.
“Líder!”
“O Ani-san me deu esses itens alquímicos, tem até cola aqui no meio, quer que eu use
onde?”
Depois de mostrar que eles entenderam, Agu e seus companheiros de tribo se afastaram
como um só. Kyumei retornou após derrotar as Cobras Gigantes e se dirigiu imediata-
mente ao Goblin Clérigo para receber a cura.
Jugem zombou dos novos inimigos. Eles haviam cometido um erro fatal.
Os monstros só tinham quebrado um lado dos portões. Uma vez que o lado estava para
baixo, eles desistiram de quebrar o outro lado e forçaram sua entrada, especialmente
porque tinham medo de ser atingidos por flechas se permanecessem do lado de fora.
Porém, com apenas um lado por portão derrubado, eles só poderiam vir um de cada vez,
o que significava que muitos inimigos estavam entalados na entrada. Além disso, eles
foram pegos no ângulo de uma emboscada em forma de L, onde todos os defensores
poderiam concentrar seus ataques em um pequeno número de atacantes de cada vez.
Parecia diferente de um Ogro, mas era do mesmo tamanho. Ele se inclinou para os de-
fensores, emitindo uma presença opressiva quando se aproximava. Em sua mão, segu-
rava uma grande espada com uma aura sobrenatural emanando dela.
Uma substância úmida fluía do meio da lâmina até as bordas. Provavelmente alguma
forma de encantamento mágico.
Certamente parecia digno de tal alcunha. Seu corpo musculoso parecia ter sido aprimo-
rado até que fosse tão duro quanto o aço, era completamente diferente de qualquer Troll
que Jugem conhecia. De relance, poderia estar a par com a Besta Mágica do Sul.
Apenas um Troll já exigiria que todos os Goblins unissem suas forças. Era um inimigo
mais difícil do que qualquer outro que já enfrentaram.
Parecia sem esperança. A melhor maneira seria cobrir a fuga de Enri. Se ela não qui-
sesse, então mesmo que eles tivessem que forçá-la—
“...Ei, vocês aí. Hoje podemos jantar no inferno. Então nem ousem pensar em recuar.
Marquem suas presenças heroicas nos olhos daqueles desgraçados!”
♦♦♦
Depois de vasculhar o vilarejo e confirmando que ninguém havia sido deixado para trás,
Enri soltou um suspiro de alívio. Só então, o som de algo quebrando veio da frente. Foi
seguido por gritos de batalha de ambos os lados, e os sons graves estrondosos agitaram
suas entranhas.
“Eu sei, mas não acha que seria melhor ir ao ponto de encontro e tranquilizar todo
mundo?”
Enri também tinha sido treinada no uso de um arco, mas agora que o portão havia sido
quebrado, a batalha seria favorecida com o uso de lanças. Para ser honesta, mesmo que
Enri fosse lá agora, havia pouco que ela pudesse fazer.
“Eu não posso fazer isso. Eu escolhi liderar os Goblins e os aldeões e, enquanto eu tiver
forças, preciso fazer isso. Recuar até pode ser o certo, mas não posso fazer isso.”
Ela tinha que ficar na linha de frente e ver como a batalha seria travada. Depois de ver
a convicção nos olhos de Enri, Nfirea afastou o cabelo para revelar suas feições ríspidas.
A expressão séria no rosto normalmente calmo de seu amigo de infância fez seu coração
bater descompassado.
“Hm? Que foi, Enri? Eu sei, não sou tão bom quanto o Gown-san, mas eu não vou deixar
você morrer.”
“Vamos, Enfi!”
Os dois correram para o portão da frente. Como tinham começado a correr do portão
traseiro, que ficava mais distante, levariam algum tempo para chegar lá, mesmo que cor-
ressem em alta velocidade. E se chegassem lá sem fôlego, eles só entrariam no caminho
se a luta estivesse acontecendo. Para não deixar que a pressa excessiva acabasse os atra-
sando, eles prosseguiram a uma velocidade moderada.
Era enorme e bizarro. Era muito maior que seu equivalente humano e, por um momento,
não conseguiram descobrir o que era. Na verdade, parecia um dedo. Algo segurava o
topo do portão dos fundos, que tinha 4 metros de altura, com a mão.
As palavras de Nfirea foram cortadas pela metade e sua boca ficou aberta. Enri se virou
freneticamente para olhar o que o surpreendeu e acabou fazendo a mesma expressão.
Algo estava subindo lentamente no muro. Algo que não poderia ser um ser humano.
Quando ela ouviu Nfirea sussurrar, Enri olhou para o monstro emergente.
“É a primeira vez que eu vejo um, é exatamente como ouvi que seria. Se isso é mesmo
um Troll, estamos com problemas graves... Trolls são oponentes que até mesmo os aven-
tureiros ranques ouro teriam dificuldade em vencer. Até o Jugem e os outros também
teriam dificuldade.”
Enri sentiu o sangue escorrer enquanto ouvia falar de algo mais forte do que o ser mais
poderoso do vilarejo. O Troll que estava revelando sua silhueta maciça bufou, e lenta-
mente olhou em volta, nos arredores.
“Enri, os Trolls têm olfatos muito sensíveis. Tudo bem por agora, já que estamos a favor
do vento, mas é cedo demais para relaxar. Você precisa sair daqui... depois se encontrar
com os Goblins.”
“Não dá, Enfi. Se a gente deixar esse cara avançar rumo ao portão, todo mundo vai mor-
rer encurralado.”
Entre a lacuna no cabelo, os olhos de Nfirea olharam para Enri como se ela tivesse en-
louquecido. Com certeza, Enri percebeu que acabara de pedir que os dois fizessem o im-
possível, mas não havia outro jeito.
“A gente nem precisa vencer ou matar. É só atrasar um pouco. Enfi, por favor, me em-
preste sua força.”
“Como vamos atrasar isso? Atrair esse cara para longe? Eu até poderia lutar direta-
mente... mas duvido que algum ataque meu faça algo.”
As palavras calmas de Nfirea revelaram uma determinação calma dentro dele. Em res-
posta, Enri apresentou seu plano.
♦♦♦
Todas as casas cheiravam a seres humanos macios e deliciosos, mas ele sabia que era
apenas um resquício de aroma. Depois de verificar que não havia outros aromas na área,
ele começou a caminhar na direção de onde vinha o som da batalha. O som de humanos
lutando contra seus irmãos o fez salivar, e imaginou os humanos que estariam lá.
Como gourmet entre os Trolls, ele amava os membros carnudos e não gostava das en-
tranhas amargas. Portanto, era raro que pudesse se satisfazer, mas agora parecia que
teria a chance de fazer exatamente isso.
Ele franziu a testa. Embora os Ogros fossem seus aliados, havia uma ligeira diferença
no cheiro que estava captando. Ele não lembrava de ter sentido esse nuance antes. E
agora vinha de trás da casa, cercando-o.
É claro que não chegara a essa conclusão porque seu olfato era tão sensível quanto o de
um cão de caça, mas porque lembrava o odor único de seus aliados Ogro. Como tal, não
sabia quantos Ogros havia.
E isso trouxe uma questão. Havia um cheiro misterioso aqui também, como o cheiro de
grama esmagada, mas muito mais intenso.
Será que aqueles Ogros se chafurdaram com os sucos de grama amassada? Ele ponderou
sobre essa questão e ficou confuso. O forte odor de ervas pungiu seu nariz e suas lágri-
mas estavam prestes a fluir. Se os Ogros podem suportar esse mau cheiro, deve ter sido
porque tinham um olfato ruim.
Isso poderia levá-los cara a cara. Por ser um Troll, era muito mais forte que qualquer
Ogro. No entanto, isso não significava que poderia escapar ileso, e levaria tempo para
lidar com eles.
Certamente sua oposição havia se dispersado, assim, planejavam atacar todos juntos
para pegá-lo desprevenido.
Ele sentiu um vislumbre de orgulho ao ver o plano de seus oponentes e lentamente co-
meçou a se mover novamente, pretendendo circular pela casa.
Seu objetivo era destruir todos rapidamente. Assim, o fato de seus oponentes terem se
separado foi uma oportunidade de ouro. Tudo o que precisava fazer era matar os Ogros
um por um, começando com o que estava à beira do grupo.
Ele moveu-se devagar, tomando cuidado para não fazer barulho, mas, de repente, uma
pequena sombra surgiu de uma casa próxima.
Em contraste com o Troll que havia sido surpreendido pela inação, o humano de capa
espirrou algo sobre ele.
“Ugwaaaaargh!”
O Troll gritou diante do fedor avassalador. O material verde emitia um poderoso fedor
que penetrava em seu nariz. Esse cheiro era várias vezes mais forte que o dos Ogros
manchados de grama.
Mesmo que pudesse se regenerar, isso não era uma ferida que poderia curar. Simples-
mente não aguentava o cheiro. Seus olhos lacrimejaram e deu um passo em direção ao
humano, mas já havia corrido para dentro da casa.
A razão pela qual o humano conseguiu chegar tão perto, apesar do senso de olfato do
Troll, era porque o cheiro do humano tinha sido mascarado pelo cheiro da grama esma-
gada.
Irritado com a perda de seu alvo, o Troll retornou ao seu alvo anterior — os Ogros.
Primeiro, mataria os Ogros e então acharia aquele petisco tentador, pensou o Troll.
O Troll circulou a casa com raiva, mas não encontrou nenhum sinal dos Ogros. Era como
se tivessem desaparecido no ar.
“Grrr, cadê?”
A criatura olhou em volta. Os Ogros eram grandes, apesar de serem menores que um
Troll, mas mesmo assim nenhum Ogro era visto. Uma vez que movessem seus corpos
Contudo, o forte cheiro de ervas que subiam de seu próprio corpo interferia em seu
olfato e não podia seguir a trilha do cheiro dos Ogros.
“Grrrrrrrr...”
O Troll gemendo raspou mediocremente o fluido em seu corpo. Desta vez, seus dedos
fediam. Olhando em volta, o Troll notou um pedaço de pano caído no chão.
O Troll considerou que seria bom se limpar com o pano e o pegou com uma expressão
curiosa no rosto. Levou o pano ao nariz e cheirou. Seu olfato pode ter sido inviabilizado,
mas ainda podia sentir um pouco de cheiro.
Ele tinha confundido este pano que fedia a Ogro como sendo um Ogro.
“Humanos!”
Rugindo com raiva, o Troll começou a olhar em volta dos arredores. Não havia humanos.
Então eles ainda devem estar em suas casas.
O punho do Troll bateu furiosamente em uma casa próxima e, depois de martelá-lo vá-
rias vezes, estendeu a mão para arrancar o teto, com a intenção de destruir o interior.
♦♦♦
O alvo (o Troll) estava perseguindo-a. Isso significava que o plano estava funcionando.
Embora fosse grata por isso, seu coração estava à beira de sair pela boca, ela estava ao
ponto de chorar. Um monstro gigantesco e devorador de homens a pressionava a correr,
e esse jogo de pega-pega — cujo se o perdesse, desapareceria na garganta daquele mons-
tro — era algo que levaria uma garota comum a lágrimas.
O fato de não saber quanto tempo teria que fazer isso a fez querer chorar muito mais.
Enri lamentou não enviar alguém para o portão principal para fazer um relatório, mas
os preparativos demorariam demais.
Ela correu com todas as suas forças, avançando para a casa onde Nfirea estava espe-
rando. Por sua vez, Nfirea saiu correndo pela porta dos fundos, usando a mesma capa de
antes. Enri prendeu a respiração, engolindo em seco e esperando que o inimigo não ti-
vesse notado o esquema deles. O Troll continuou perseguindo Nfirea, não tendo notado
o chamariz.
Trolls eram muito superiores aos humanos em resistência, comprimento de passo e ca-
pacidade física, portanto, uma única pessoa fugindo definitivamente seria capturada. A
fim de recuperar a resistência e se mover por longos períodos, eles decidiram mudar um
com o outro sem deixar o inimigo perceber. Isso foi planejado para comprar tempo e
evitar que ele chegasse ao ponto de encontro onde as pessoas estavam.
Como os Trolls podiam distinguir os humanos? Talvez, se vivessem juntos por tempo
suficiente, teriam algumas maneiras, mas isso não era tempo suficiente. Praticamente
falando, seria pela aparência, especialmente roupas. Como tal, Nfirea e Enri tinham
usado as mesmas capas de chuva e ponchos.
Em seguida, eles tiveram que evitar que se diferenciasse entre os dois através de seu
olfato, e o suco de ervas foi para desativar seu olfato aguçado.
Enri havia preparado duas armadilhas baseadas no cheiro — uma era usar o fedor de
Ogros para detê-lo no meio do caminho, e a outra estava usando o fedor das ervas para
desorientá-lo.
Depois que ela conseguiu manter sua respiração sob controle. Enri começou a se mover
furtivamente para a próxima casa.
Ela entrou no interior escuro da casa, espiando a situação do lado de fora. Com um som
de *dong*, Nfirea correu para dentro a toda velocidade. Nesse momento, Enri saiu cor-
rendo pela porta dos fundos por onde entrara.
Porém, Enri percebeu que o Troll não a estava seguindo, embora tivesse fugido da casa.
Suor frio escorria no pescoço de Enri. Ela se tocou inconscientemente, quando sua mão
retornou, estava fria e molhada.
O Troll se acostumara com o cheiro das ervas, e agora suspeitava do cheiro do suor.
Parecia ter percebido que havia dois humanos.
O Troll levantou a mão e a moveu para a casa. Nfirea correu novamente. No entanto,
seus passos pararam, e ele não parecia que ia fugir.
“É certo que vai nos alcançar! Mesmo se usarmos as casas como escudos!”
“Eu sou mais forte, então há uma chance maior de eu sobreviver se me usar como cha-
mariz!”
Nfirea conjurou uma magia e seu próprio corpo foi envolvido por uma bolha de luz su-
ave e bela.
O que ele disse fez muito sentido, e ela não pôde refutá-lo. Vendo isso, Nfirea sorriu
novamente.
Nfirea se virou para o monstro feroz, erguendo o punho e apontando o polegar para si
mesmo.
“Vamos lá, grandalhão, eu brinco com você! Venha, se for forte o bastante! 「Acid Ar-
row」!”
O Troll fixou seus olhos enlouquecidos pela raiva em Nfirea. Não prestando mais aten-
ção a Enri.
♦♦♦
Com toda honestidade, suas chances de sobrevivência eram zero. Havia uma diferença
esmagadora em suas respectivas capacidades físicas. E não havia como triunfar sobre
um inimigo que precisava de aventureiros em ranques como ouro, para só assim der-
rotá-lo.
Era uma batalha tão desesperadora que ser capaz de aguentar um minuto sequer era
digno de elogios.
Nfirea sorriu amargamente enquanto observava o Troll, que se aproximava com cautela.
Sem poder regenerar danos causados por ácido e fogo, ele foi especialmente cuidadoso
em torno de Nfirea, que poderia inviabilizar sua maior vantagem. O Troll poderia ter
vencido imediatamente se tivesse feito uma investida, ainda mais dadas as circunstân-
cias, Nfirea não pôde deixar de rir.
Percebendo que havia sido alvo de uma magia, o Troll atacou. Seu corpo gigantesco se
aproximando era como um pesadelo ganhando vida.
“Se funcionasse, eu poderia ter aguentado um pouco mais... não tive essa sorte. Ahh, que
pena.”
Nfirea parecia ter desistido. Isso porque era uma batalha completamente invencível,
que havia cruzado a linha da bravura e imprudência. Mas mesmo assim—
A visão de Nfirea girou sem rumo enquanto ele voava pelo ar, seu corpo fazia sons es-
tridentes como galhos quebrados de árvores.
Ele bateu no chão com força e rolou várias vezes, como uma pedra caindo na ribanceira.
A dor que percorria seu corpo, que ainda rolava pela chão, era aguda. Essa foi a maior
dor que ele experimentou em sua vida.
Ele se agarrou à vida foi por causa dos efeitos de sua magia defensiva e do fato de que
o pé do Troll estava sem proteção de armaduras quando o chutou. Ignorando a dor que
o atravessava a cada respiração, Nfirea se levantou tossindo e lançou outra magia.
“「Acid— Arrow」!”
Houve momentos em que não queria encarar os fatos, mas a situação obrigava a pessoa
a fazê-lo. Essa era uma situação dessas.
—Era que ele morreria aqui. Não havia dúvida de que morreria.
Ele queria correr. Talvez se ele corresse com todas as suas forças, ele poderia escapar.
Mas se isso acontecesse, que tipo de tragédia ocorreria?
Nfirea pensou em Enri. Ele foi capaz de lutar porque Enri estava lá.
O Troll se aproximando sem parar não conseguia entender o coração de um jovem apai-
xonado.
Ele não sabia como tinha feito isso, mas Nfirea conseguiu ler os pensamentos de seu
oponente através de sua cara feia. Estava determinado a matá-lo, mesmo que se machu-
casse. Assim sendo:
“—「Acid Arrow」!”
Tudo o que Nfirea podia fazer era ferir o Troll, a fim de facilitar as coisas para seus
aliados que o enfrentariam depois dele.
O Troll ergueu o punho, o rosto torcido pela dor de ser queimado pelo ácido. Nfirea —
que estava com muita dor, mesmo permanecer em pé já consumia toda sua força — não
tinha como resistir ao próximo ataque.
♦♦♦
A razão pela qual eles se encontraram não foi porque Enri havia chegado ao portão
principal, mas porque Enri e Nfirea não haviam retornado, e os uivos que vinham da
retaguarda preocuparam Jugem o bastante para mandar três Goblins para investigar.
Se eles pudessem ter percebido antes, os Goblins teriam salvado ela e Nfirea. Como Enri
pensou, seu coração estava retalhado pela culpa.
“Lá!”
Enri apontou para Nfirea, na frente deles. E elevando-se sobre ele, o Troll levantava o
punho.
Eles não podiam alcançá-lo para ajudar. A distância era longa demais.
A mão do Troll caiu como um raio. Poderia destruir uma casa em um único golpe. Nfirea
seria morto além de qualquer dúvida razoável.
Sua resposta fora do lugar levou Enri a abrir os olhos com medo.
Lupusregina carregava uma enorme arma que parecia uma espécie de símbolo religioso
exagerado, segurando-a e usando-a como um escudo para bloquear o punho do Troll. O
tamanho da arma e o braço esguio da empregada pareciam completamente incompatí-
veis ao ponto da surrealidade, mas isso não era um sonho ou uma ilusão.
“Deixa que eu cuido desse grandão... Oh, calma aí ~su. Você tá ferido, Enfi-chan.
「Heal」.”
O Troll recuou diante cena da incompreensível diante dele. O golpe no qual ele havia
colocado toda sua força fôra bloqueado por uma humana, de modo que sua reação era
apenas esperada. Não, talvez achasse que havia algum tipo de magia trabalhando aqui.
Nfirea tinha um olhar confuso no rosto quando virou as costas para o Troll e saiu man-
cando. Era uma postura completamente desprotegida, mas o Troll não pressionou o ata-
que. Não, não podia simplesmente ignorar a recém-chegada que havia assumido o lugar
de Nfirea.
“Enfi!”
Sua resposta fraca, como se estivesse sonhando, disse à Enri que ele estava no limite.
Embora ele estivesse fora de perigo, ele ainda sofreu grandes danos mentais.
“—Vo-você também.”
Enri sentiu o calor voltar ao seu coração, substituindo o frio que a preenchera no mo-
mento que pensara que Nfirea havia morrido.
Nfirea estendeu os braços para abraçar Enri em retorno. Embora eles estivessem abra-
çando um ao outro com força, parecia muito confortável.
“Que foi?”
“...Seu idiota.”
“Lupusregina-san!”
Enri deixou a força fluir de seus braços e, ao mesmo tempo, Nfirea afrouxou o aperto.
Sentindo-se um pouco desapontados, ambos olharam para Lupusregina.
“O Troll—”
Mudando sua linha de visão, Enri viu algo que era difícil de descrever.
“Ah, is~su? Parece carne moída, né? Daria pra fazer uns espetinhos ~su.”
“Ahhh~ Que bom que tá todo mundo ~su. Acho que dou conta de limpar as coisas por
aqui ~su.”
Enri ouviu as vozes dos Goblins se aproximando. Parecia que a batalha pelo portão prin-
cipal havia sido vencida.
Parecia que fogo havia descido do céu quando um pilar de chamas vermelhas engolfou
o Troll, produzindo o fedor de carne queimada.
“E era uma vez um Troll ~su. Já que meu trabalho terminou, vou indo nessa ~su. Ah,
Enfi-chan, Ainz-sama quer te recompensar por ter criado aquela poção roxa, então te
convidou pra casa dele. Esteja preparado pra visita ~su. Ou quer que eu diga algo mais
~su?”
Lupusregina não parou nem retrocedeu em resposta à gratidão gritada de Enri, apenas
acenou com a mão.
“...Ane-san, Ani-san, pode deixar que a gente vai guiar o pessoal. Vocês dois devem ir
descansar um pouco ali.”
Não deveriam ter deixado alguém aqui...? Pensou Enri, mas sua preocupação com Nfirea
anulou isso, por isso ela lhe emprestou o ombro para se apoiar.
“Haaaa.”
Os dois suspiraram juntos. Então, os dois olharam quase simultaneamente para o céu
noturno.
“Mmm.”
“Mmm.”
“Mmm.”
O silêncio fluiu entre os dois. Enri de repente falou as palavras em seu coração.
“Enfi, eu não sei se é amor ou não, mas eu quero que sempre fique juntinho de mim.”
“...Mmm... uhum.”
“Isso é amor?”
Enri e Nfirea não disseram mais nada, apoiando-se ombro a ombro e observando as
estrelas até os Goblins chegarem—
Quando perguntou a Jugem, Enri olhou para o vestido que estava usando — um dos
melhores que tinha, ela normalmente o reservava para o festival da colheita.
“Jura!?”
Com um rosto vermelho, Enri olhou para Jugem e Nemu enquanto sorriam. Ou melhor,
o sorriso de Nemu não era apenas travesso, mas totalmente malvado.
Desde que o relacionamento de Enri e Nfirea deu um passo à frente, eles vinham obser-
vando-os com cada vez mais frequência. No entanto, ela percebeu que dizer qualquer
coisa sobre isso só iria envergonhá-la ainda mais, então sabiamente escolheu manter a
boca fechada.
No entanto, fingir que não acontecia também era perigoso. Especialmente para Nemu.
Às vezes, sua irmãzinha fazia perguntas que ela não conseguia responder.
Parece que ela amadureceu muito nos últimos dias... acho que vou pedir pro Enfi me dar
uma mãozinha nisso...
“Umm, ghrun! Falando nisso, Jugem-san, conseguiu usar essa espada mágica? Ouvi di-
zer que não é como as espadas normais, que usar ela cansa.”
A enorme espada que Jugem estava segurando foi obtida no ataque há vários dias.
“Já me acostumei com o peso e o centro de gravidade dela, consigo usar igual à minha
antiga espada. É muito mais afiada e bem feita que a outra, como esperado de uma arma
mágica. E ainda tem... esse veneno que enfraquece quem eu cortar, é meio estranho, mas
estou me acostumando...”
“Bem, não é um veneno tão forte. Alguém no meu nível pode resistir facilmente. Mas se
for contra adversários mais fracos...”
Epílogo
152
O rosto de Jugem assumiu uma expressão sombria.
“Que foi?”
“Ah—”
Jugem disse enquanto olhava para o teto, falando com uma voz irritada:
“Eu estava pensando no Troll de quem eu peguei essa espada. Alguma coisa não me
cheirava bem.”
“Cadáver de Troll não deve ser a coisa mais cheirosa. Talvez fosse um Troll mutante?”
“Não, não, eu não quis dizer isso, Ani-san. Desde seus movimentos, falta de regeneração
ao modo que cortei ele... parecia estranho... como direi isso...? Parecia com um corpo que
já estava morto. Algo esquisito e agourento assim.”
Com o sol às suas costas, Lupusregina entrou prontamente na casa de Enri. Enquanto
Enri e os outros observavam em silêncio atordoado, um som agudo veio do topo da ca-
beça de Lupusregina.
“Aí, doeu!”
“Sua idiota. Como pode ser tão rude? Caros convidados, peço desculpas por ela.”
“Sou a empregada de Ainz-sama, Yuri Alpha. Estou aqui para conduzir Nfirea-sama,
Enri-sama e Nemu-sama. Peço desculpas pela intrusão.”
A mulher que entrara com Lupusregina tinha uma beleza sobrenatural, assim como a
Lupusregina.
Nfirea praticamente gritou. Embora Enri não soubesse o porquê Nfirea estava tão sur-
preso, ela podia adivinhar que era algo grandioso.
Acho que foi incrível teletransportar o Capitão Guerreiro e os homens dele aquela vez.
“Ah não. Este não é o meu poder, mas o de um item mágico que o Ainz-sama concedeu
a mim.”
“...A trombeta, as poções também. Ele é incrível mesmo. Ele é tão incrível que eu nem
sei tem como alguém se comparar a ele.”
Hoje foi o dia em que o salvador do vilarejo, Ainz Ooal Gown, convidou Nfirea para sua
casa. No entanto, ela se sentiu desconfortável quando soube que até uma mera aldeã,
como ela, poderia acompanhá-lo. Seu anfitrião era um poderoso magic caster, ou seja,
alguém que vivia em um mundo completamente diferente. O simples pensamento de que
ela pudesse acidentalmente fazer algo rude fazia seu estômago doer.
“Relaxa aí ~su. Será celebrado a nova invenção do Enfi-chan, então como é a namorada
dele, pode vir junto, tem problema não. Foi o Ainz-sama que disse, ele sabe das coisas.
Não esquente a cabeça com formalidades.”
Yuri suspirou com um “Haaa...”, então caminhou até a frente de uma parede próxima.
De repente, um gigantesco armário de madeira apareceu, como se fosse do nada. Era
grande o suficiente para as pessoas passarem com facilidade, e seu exterior era intrin-
secamente esculpido, parecia um armário decorativo.
“...Isso é uma dimensão de bolso? Não, isso é muito grande, deve ser uma magia de nível
maior.”
“Por favor, entrem. Lupus, posso confiar a segurança deste lugar a você?”
“Claro ~su.”
Epílogo
154
O armário de madeira deveria ter sido apoiado contra uma parede, mas quando se
olhava para dentro, seu interior parecia se estender para outro mundo.
Ela foi seguida por Nfirea, um pouco depois veio Enri, que segurava firmemente a mão
de Nemu.
Não houve resistência quando passaram pela parede à frente, em um instante se depa-
raram dentro de um vasto e grandioso caminho, ladeado por estátuas dos dois lados que
pareciam tão reais que poderiam até se mover.
“Nooossa!”
Nemu exclamou suavemente enquanto olhava para o teto, a boca tão larga quanto os
olhos. Enri a segurou para evitar que caísse, e ela olhou para cima também.
“Surpreendente...”
Era uma passagem de aspecto digno, cujo piso era feito de rocha polida, sobre a qual
havia sido colocado um tapete colorido que os guiava para o caminho ao qual deveriam
seguir. Enri ficou muda de admiração; ela imaginou que isso deveria ser como os palá-
cios pareciam.
A voz de Yuri tirou-a do seu torpor, ela pensou em correr um pouco para alcançar os
demais à sua frente. Mas como isso seria inteiramente inadequado para um lugar como
este, Enri apenas acelerou os passos para avançar rapidamente.
Depois de caminhar por uma curta distância, uma parede apareceu com uma porta de
armário sobre ela, semelhante à que eles tinham usado para entrar. No entanto, havia
duas diferenças principais. A primeira foi que essa porta era várias vezes maior que a
primeira, grande o suficiente para várias pessoas entrarem ao mesmo tempo. A segunda
foi porque não conseguiam ver o que havia dentro, apenas uma película colorida, fina e
cintilante.
Enri e Nfirea seguraram as mãos. Da esquerda para a direita estavam Nemu, Enri e
Nfirea, que juntos entraram pela porta.
“Sejam bem-vindos~.”
Olhando ao redor, eles chegaram em um corredor ainda mais luxuoso, com duas fileiras
de empregadas surpreendentemente bonitas flanqueando-as em ambos os lados. No fi-
nal de uma passagem estava um homem com um manto preto que parecia sugar toda a
luz ao redor dele, usando uma máscara bizarra. Ele era o salvador do vilarejo, Ainz Ooal
Gown.
Uma passagem magnífica e empregadas bonitas, todas em duas fileiras. Era como en-
trar em um mundo de fantasia.
Nemu gritou alto enquanto corria. Ela correu pelas duas fileiras de empregadas e em
direção a Ainz.
Diante de um mundo que sobrecarregava sua capacidade emocional, ela não conseguia
mais se controlar e se deixar correr solta.
“Nemu! Volte!”
Enri começou a correr uma fração de segundo depois. Ela começou a suar com o com-
portamento vergonhoso de Nemu.
No entanto, este era um reino divino, onde ela era ladeada por belas empregadas. O som
de seus passos como uma aldeã correndo a fez hesitar. Os passos autocontraditórios de
Enri revelavam como ela se sentia e, no final, ela mancava como um sapo moribundo.
Epílogo
156
Enquanto Enri ainda estava mancando, Nemu já havia alcançado o lado do salvador do
vilarejo.
“Siiim! É incrível!”
A essa altura, Nfirea e Enri haviam chegado nervosamente aos dois. Enri apertou firme-
mente a mão de Nemu, determinada a nunca soltar.
“Não precisa ser tão séria. Estamos aqui para celebrar a produção de sua nova poção.
Fiquem à vontade.”
“Gown-sama, eu realmente sinto muito. Minha irmã, Nemu, foi rude com o senhor.”
“Não se preocupe, não foi nada de mais. Ela ficou comovida com a visão da minha resi-
dência, não foi? Isso jamais será um insulto para mim.”
“Então... eu pretendia falar com o Nfirea-kun, mas depois dessa, bem... Nemu, o que me
diz? Quer ver a casa que eu... não, nós criamos juntos?”
“Sim! Quero ver sim! Eu quero ver a casa incrível que o Gown-sama e seus amigos fize-
ram!”
“Hahaha. Muito bem, muito bem! Existem muitos lugares belos que lhe mostrarei.”
♦♦♦
Em vez de dizer que foi convidada para cá, seria mais correto dizer que ela se sentia
como um pássaro caído do ninho. Ela sentou-se desconfortavelmente olhando ao redor.
Ao lado dela — apesar do tamanho do cômodo, preferiram se sentar juntos — seu amado
Nfirea também não conseguia ficar quieto, como um animalzinho assustado.
Enri podia entender que seu salvador, o magic caster conhecido como Ainz Ooal Gown,
era um ser poderoso, mas o que ela tinha visto hoje excedeu muito qualquer fantasia que
já tivesse sonhado. Era como se tivesse entrado em uma pintura, ou um conto de fadas
onde princesas e outras grandes figuras ocupassem o centro do palco.
A prateleira da lareira estava decorada com pássaros de cristal que haviam sido escul-
pidos à imagem e semelhança de pássaros reais. Se quebrasse um, ela poderia trabalhar
toda a sua vida e ainda ser incapaz de pagar.
O sofá onde se sentara era excelente, Enri até se perguntou se estava sujando-o com
suas vestes.
O candelabro, o primeiro que ela vira em sua curta vida, não era iluminado por tochas,
lamparinas ou velas, mas por magia. Ela tinha visto luzes mágicas antes na Guilda dos
Aventureiros de E-Rantel, mas nem sequer não podiam se comparar em brilho ou estilo.
A mobília era de bom gosto e emanava luxo. De particular interesse era a robustez da
mesa de ébano diante dela. Mesmo que Enri não tivesse idéia de como esse tipo de coisa
era valiosa, ela ainda era capaz de dizer que custava uma fortuna.
Também havia um retrato realista de uma mulher bonita pendurado na parede, pintado
em detalhes intrincados.
Até o carpete do chão fez Enri hesitar em pisar nele com os sapatos. Era tão suave que,
quando se sentou no sofá, imaginou se deveria levantar os pés para que não o tocasse.
Embora ela não pudesse recusar Ainz, a idéia de Nemu ir sozinha fez seu estômago fer-
ver de ansiedade.
Epílogo
158
“Vai ficar tudo bem, não se preocupe. O Gown-sama é muito gentil. Acho que ele não vai
se importar com qualquer grosseria de criança.”
“Sim, mas você sabe como as coisas são. Quantas histórias que tem por aí de gente é
executada só por irritar um nobre...”
“Já ouvi falar, mas eu mesmo nunca vi. E-Rantel e os territórios circundantes são admi-
nistrados pelo próprio Rei, então eu não acho que os nobres se atrevam a fazer algo as-
sim... será o Gown-sama um nobre?”
“E ele já não é? Qualquer um com uma mansão tão chique e tantas empregadas bonitas
é no mínimo nobre poderoso, não? Nem sei como conseguiria isso tudo se não fosse algo
assim.”
“Mmm? Será? Sinceramente, não acho que qualquer nobre possa reunir empregadas
tão bonitas como estas.”
Ela foi a primeira a dizer que as empregadas eram bonitas, mas quando Nfirea disse
isso a fez sentir ciúmes. Assim que estava pronta para encarar Nfirea — houve uma ba-
tida na porta.
“Hiiiee!”
As batidas vieram novamente. Enri pensou a todo vapor no que as batidas significavam
e, enquanto isso, Nfirea falou:
“Com licença.”
Nfirea dera a resposta correta enquanto Enri ainda estava confusa. Logo depois, uma
empregada entrou empurrando um carrinho de prata. Era uma bela mulher, vestida com
roupas limpas e imaculadas que até mesmo um amador podia reconhecer como uma
roupa de empregada de alta classe. Um sorriso gentil e caloroso adornava seu rosto. No
entanto, Enri estava preocupada que a qualquer momento isso iria se transformar em
uma expressão de raiva quando ela exclamasse: “O que pensam que estão fazendo!?”.
“N-não, obrigada!”
“Ah, sim.”
Talvez a empregada sentisse como Enri estava tão tensa que praticamente não se movia,
ou o nervosismo inato de Nfirea e, em resposta, ela apenas sorriu doce e gentilmente.
Ela disse um simples “Com sua licença”, e sentou-se ao lado de Enri. Então gentilmente
colocou a mão em seu ombro petrificado pela ansiedade.
“Emmot-sama, por favor, não fique tão tensa. Tanto Emmot-sama como Bareare-sama
são hóspedes aqui, então tudo que precisa fazer é ficar à vontade e relaxar.”
“Como eu disse, fique à vontade. Ainz-sama não se incomodará mesmo que os objetos
aqui sejam danificados.”
Até mesmo pensar sobre o custo das coisas visíveis em um rápido olhar ao redor da sala
fez sua cabeça doer. Como ela pararia de pensar que tais itens não eram grande coisa?
“Di-disso eu sei.”
Afinal, ele era o tipo de homem que podia distribuir itens valiosos e poderosos, como
aquelas trombetas.
“É por isso que eu gostaria que a senhorita ficasse à vontade. Danos deliberados à parte,
Ainz-sama irá sorrir e perdoá-los por quaisquer acidentes. E mesmo que algo esteja da-
nificado, pode ser consertado com magia.”
“Eu sei como se sente. Tome um pouco de chá, o que me diz? Dessa forma, a senhorita
poderá relaxar.”
“Mas...”
Enri olhou para o carrinho de serviço prateado. Tudo era primorosamente feito de por-
celana com bordas de ouro, o verso era em azul vibrante, com desenhos minuciosos e
Epílogo
160
bem complexos. Pareciam delicados o suficiente para Enri se preocupar que no mo-
mento em que ela os tocasse, quebrariam imediatamente.
“Melhor assim... hmm. A fragrância e o sabor do chá de ervas pode divergir de pessoa
para pessoa. A senhorita preferiria chá preto tradicional?”
“S-sim, obrigada.”
A empregada sorridente preparou o chá para eles com movimentos graciosos e elegan-
tes. Depois de enxaguar as xícaras com água quente, ela serviu o chá. Além disso, colocou
mais dois pequenos contêineres diante deles.
Enri abriu o pote de açúcar. O que ela viu foram cubos brancos que pareciam neve em
pó. A aldeã colocou vários cubos de açúcar no copo, seus movimentos pareciam com um
autômato feito por uma criança, mexendo-os até se dissolverem. Depois disso, ela acres-
centou leite. Então, Enri tomou um gole e sentiu que seu rosto ia derreter.
“Do-doce!”
“Mm. É o efeito que se espera do açúcar. Não é sempre que dá para provar coisas doces
no vilarejo e também não criamos abelhas... se não me engano, só tem algo parecido com
xarope, né? Eu lembro que havia magia de fazer especiarias, mas isso é algo completa-
mente diferente...”
Depois de ouvi-lo dizer “Ah, hum, sim” e fazer outros ruídos, Enri tomou outro gole do
chá avermelhado, e o doce sabor deixou seu coração se acalmar.
Logo depois, várias batidas vieram da porta. A empregada se moveu com graça e a abriu.
Quando a porta se abriu, Nemu entrou correndo, seu rosto estava radiante de felicidade.
Ainz seguiu atrás dela.
Enquanto Nemu abraçava sua irmã pela cintura, Enri se levantou para se curvar a Ainz,
o tempo todo tomando cuidado para não deixar os pés de sua irmãzinha sujarem o sofá.
“Gown-sama! Peço desculpas por qualquer grosseria que minha irmãzinha tenha feito
com o senhor!”
“Certamente não. Sou eu quem devo desculpas por ficar com ela por tanto tempo.”
Ainz acenou com a mão para indicar que não era um problema.
“Isso é para garantir que meu acordo com o Nfirea-kun mais tarde seja favorável para
mim.”
“Para começar, não tenho intenção de vender abertamente a poção que você fez. Ou
melhor, sem os ingredientes que eu forneço, você não pode fabricar a poção roxa. Con-
corda?”
“Claro. Tem sido difícil chegar até aqui, mesmo quando estamos usando o material for-
necido pelo senhor, Gown-sama. Ainda há muitos fatores desconhecidos, como o poten-
cial e os outros efeitos.”
Nenhum.
Epílogo
162
Enri respondeu por dentro. Quando ouviram o rugido monstruoso vindo de trás — feito
pelos Trolls a Enri e Nfirea — os Goblins simplesmente não tiveram tempo nem a habi-
lidade de fazer qualquer prisioneiro, apenas tentar pôr um fim no ataque já exigiu muito
deles, não havia inimigos sobreviventes.
“Entendi. Bem, que pena... Até onde consegui pensar, seu vilarejo ser atacado pode ter
sido o que comentei. À medida que as defesas do vilarejo se tornarem mais fortes, isso
chamará mais atenção. Um objeto valioso jogado ao léu dificilmente é notado, mas o
mesmo chamará atenção se estiver sendo altamente protegido, não? Da mesma forma,
se as notícias da poção vazassem...”
“Fico feliz que entenda, Nfirea-kun. Se pudéssemos fazer a poção vermelha usando ape-
nas os ingredientes do vilarejo, não haveria razão para manter isso em segredo... Logo
mais jantaremos, mas tudo o que discutirmos terá que ser mantido em segredo. Espero
que todos os presentes entendam isso. Enfim, os preparativos para a refeição serão fi-
nalizados em breve. Vamos indo?”
“Ah, não, não precisa, como vamos participar de algo tão chique...?”
“...Bem, jamais irei forçá-la... mas sabia que pedi para prepararem um filé du d’dragão
para um prato principal?”
“Dragão?”
Dragões. Em todas as histórias que Enri ouvira, eles eram inimigos da humanidade, mas
alguns deles eram amigos da justiça. No entanto, não importa em que histórias eles apa-
recessem, eles sempre foram seres poderosos. Poderiam tais seres se tornar comida?
Impossível. Só pode ser brincadeira. Se Ainz não tivesse sido o único a dizer isso, ela teria
pensado assim.
No entanto, uma vez que era um grande magic caster na frente dela dizendo, isso signi-
ficava que havia uma grande chance de ser verdade.
“Também terá sobremesas. Já tomou sorvete? Apesar de E-Rantel ter alguns... não acho
que os de lá sejam como os nossos. Eles são gelados e doces... derretem na boca. É uma
versão aprimorada da raspadinha de gelo.”
“Parece que já experimentou algo assim antes, Nfirea-kun. Então eu vou providenciar
os mais deliciosos sorvetes que se possa imaginar. A propósito— qual o menu?”
“Para o menu de almoço de hoje, serviremos dois canapés. O primeiro será um prato de
Lagosta Perfurante do mar Nóatún, em um molho velouté. O segundo será um prato de
foie gras au Poiret de Víðópnir. Para sopa teremos creme de batata doce e sopa de casta-
nha ao estilo de Alfheim. O prato principal será bife marmoreado feito dos antigos Frost
Dragon de Jotunheim, já mencionado anteriormente pelo Ainz-sama. Para sobremesa,
compota de Pomos de Ouro, servida em vinho branco e coberta com iogurte. Além disso,
temos sorvete de chá preto com cobertura de folha de ouro. Quanto as bebidas para lim-
parem um trato, consideramos que o café pode não agradar a todos, por isso sugerimos
suco de pêssego fresco. Isso é tudo. Se qualquer parte do menu exigir alteração, informe-
nos e faremos isso imediatamente.”
Isso é um encantamento mágico!? Enri, que não tinha idéia do que ela acabara de recitar,
isso era certo.
“Nem todos gostam de foie gras, não é? Duvido que os jovens gostem. É um prato dema-
siadamente exagerado. Que tal algo leve?”
“Sim. Então, vamos adicionar salada de vieiras e ameixas secas como aperitivos.”
Enri, que havia sido subitamente colocada no local, respondeu sem pensar. Seria muito
ruim se ela tivesse que continuar falando coisas que nem sabia:
Levou todo o seu esforço para obter uma única frase. Ainz instruiu a empregada a pre-
parar a refeição, como sugerido.
Nemu olhou para Ainz com olhos de adoração, murmurando “tão incrível” para si
mesma. Enri sentia o mesmo. Isso era totalmente díspar do mundo em que cresceu.
Pessoas ricas podiam gastar dinheiro em luxos. E ser capaz de comer, não apenas para
encher e saciar a fome, mas também por prazer, era parte disso. Riqueza, conhecimento
e poder. Um magic caster que tinha tudo isso.
Epílogo
164
Ele era um ser que Enri, uma simples fazendeira, não tinha esperança de alcançar, uma
pessoa que seria melhor referida como o Rei dos reis.
“Então vamos. Embora eu não pretenda desfrutar dos pratos, os três— digo, sua família
deve aproveitar a refeição sem reservas. Só depois discutiremos negócios. Ah, eu preciso
dizer a Lupusregina que estou adicionando mais uma pessoa à lista.”
O rosto de Enri tinha ficado um pouco corado por Ainz ter se referido a eles como uma
família, mas ela notou algo estranho em Nfirea, que se levantava lentamente.
Sua boca estava tão fechada que parecia uma linha reta. Ele parecia coagido. Enri, po-
rém, sabia o segredo para relaxá-lo. Ela olhou com ternura para ele. Através da brecha
no cabelo, os olhos de Nfirea moveram de um lado para o outro, até que, finalmente,
como se tivesse desistido, ele suspirou.
“Eu só estava pensando que não posso competir com ele. Digo, não é de hoje que sinto
isso. É só que, ele é muito mais homem do que eu.”
Como mulher, ela não conseguia entender o quanto isso era significativo. O rosto de
Nfirea ficou vermelho e ele segurou a mão de Enri.
Embora ela não soubesse o porquê os sentimentos de seu amado haviam mudado, ani-
mar-se de repente significava que estava feliz. De mãos dadas, Enri e Nfirea seguiram
Ainz e Nemu.
Epílogo
166
Parte 1
U
mente aumentou até que finalmente foi puxada pela gravidade e espirrou
no chão do banheiro.
Alguém encharcou uma banheira de pedra que era grande o suficiente para acomodar
várias pessoas ao mesmo tempo.
A água azul pingava de um corpo branco e escorregadio. Essa cor azul não era uma alu-
são literária, mas uma cor azul real, como se tivesse sido produzida por meio de uma
aplicação deliberada de corante.
Um líquido de cor azul lambia o corpo branco como porcelana, começando pelos pés.
Seu corpo escorregadio desafiava a força da gravidade e se arrastava para cima, ao con-
trário da água que fluía em todas as direções.
“...Fuaahhhh...”
O banheiro era muito propenso ao eco, por isso, as palavras assim que inconsciente-
mente escaparam eram inesperadamente altas dentro de seus confins.
Talvez se envergonhasse de sua própria voz, mas de repente uma mão esbelta emergiu
do líquido azul. O som esperado de gotículas de água e ondulações na superfície da água
não foi encontrado em lugar nenhum. Isso porque esse líquido era anormalmente vis-
coso.
A mão erguida acariciou um rosto que muitas elogiaram por sua beleza.
“Haah...”
Depois de agarrar sua presa, o líquido começou a se contorcer, como se estivesse satis-
[ S l i m e Sáfira]
feito. Na verdade, era um Sapphire Slime, uma variante de Slimes de alto nível.
O Slime Safira começou a mover os longos e finos tentáculos que envolviam o corpo.
“—Urhhhh...”
O grito soou mais uma vez. Embora fosse mais alto do que antes, aquela pessoa não
pensou em abaixar a voz dessa vez, simplesmente focada nas sensações que o Slime pro-
porcionava ao redor ao se contorcer dentro de seu corpo.
♦♦♦
Ele pegou um punhado do Slime e despejou sobre a cabeça. O Slime trabalhava sem
parar limpando as fendas de sua pélvis, parecia sentir onde seu mestre queria que fosse
limpo. Logo depois, Ainz sentiu o Slime rastejando em sua cabeça.
Ele não tinha metabolismo, de modo que seu corpo não fedia nem se sujava de resíduos
corporais. No entanto, isso não significava que não precisasse tomar banho. Afinal de
contas, pó e fuligem ainda se acumulavam nele e, às vezes, sangue de seus inimigos res-
pingava nele. Desse modo, ainda poderia ficar sujo.
Além disso, pela cultura japonesa estar enraizada, ele se sentia muito desconfortável
por não tomar banho.
Ele passou pelos movimentos de exalar enquanto afundava ainda mais no Slime. A sen-
sação escorregadia recebeu e aceitou seu corpo.
Ainz abaixou a cabeça para olhar a parte mais problemática de seu corpo.
Suas costelas.
Limpar cada costela uma por uma era muito problemático. Ainz lembrou sua luta de
quando ele tinha feito isso antes, e suspirou — apesar do fato de que não precisava res-
pirar.
Sua coluna era do mesmo jeito. As protuberâncias prendiam a toalha, e ele não podia
limpá-las facilmente em um único movimento rápido. Ele tinha que limpar lentamente
cada vértebra individual.
No começo, Ainz tomara muito cuidado ao se banhar. No entanto, Ainz logo começou a
achar isso cansativo, apesar de sua suposta resiliência mental. Demorava pelo menos
meia hora para se banhar e, na ocasião, ele sempre pensava: “É algum tipo de piada?”.
Depois disso, ele decidiu mergulhar em água com sabão e ficar girando dentro dela
como uma máquina de lavar roupa. Até que deu certo, o problema era que não se sentia
limpo. Sem se esfregar ele não se sentia suficientemente limpo.
Depois disso, ele usou uma escova longa para o serviço. Foi bastante eficaz.
Claro, o sabão e a espuma espirraram para todos os lados, mas não era como se Ainz
fosse o único que pudesse se limpar. A limpeza era o trabalho das empregadas, e elas
ficaram encantadas com a chance de mostrar suas habilidades. Era verdadeiramente
uma situação de matar dois coelhos com uma cajadada só.
“Esta técnica... como eu pensava, é muito revolucionária e única, uma técnica perfeita
que não pode ser criticada.”
Ele murmurou para si mesmo, enquanto olhava para o Slime de cor azul que rastejava
sobre seu corpo.
Ainz assentiu feliz, satisfeito com o método que ele inventou para um banho fácil. Por
tudo o que sabia, isso poderia ter sido a melhor coisa que ele imaginou desde que veio a
este mundo.
“Me aplaudam!”
Enquanto Ainz se elogiava mais uma vez, ele olhou para o Slime que, diligentemente,
escorria em cima dele.
Que fofo...
Monstros como estes eram extremamente cruéis; eles podiam dissolver seus inimigos
com ácido e eram fortes o suficiente para dobrar barras de ferro com facilidade. No en-
tanto, para Ainz, eles eram seus assistentes na casa de banho, que ajudaram a limpá-lo.
Até certo ponto, eram como animais de estimação.
Ainda assim, mesmo que banhos de Slimes sejam bons... eu gostaria de tomar um banho
normal em algum momento.
Havia todo tipo de instalações no 9º Andar de Nazarick. Uma delas era um grande banho.
Era um complexo de várias subinstalações de banho com temáticas, uma delas era um
Spa Resort.
Dito isto, tomar banho sozinho era muito chato. Sendo esse o caso—
“Já sei! Vou chamar os Guardiões também. Seria bom se houvesse um tempo em que
todos estivessem livres.”
Um grupo era o das Empregadas de Batalha, representadas por Yuri Alpha, e o outro
era as empregadas regulares que não tinham habilidades de combate. As últimas eram
homunculi, com um nível racial e profissional combinado de 1, e eram responsáveis por
vários trabalhos no 10º e 9º Andar de Nazarick. Em particular, limpar os vários aposen-
tos dos Seres Supremos era uma tarefa da maior importância para elas.
Uma dessas empregadas regulares, conhecida como Cixous, movia-se rapidamente pelo
corredor, pois estava com pressa. Esta era uma técnica simples — não uma habilidade
especial ou qualquer coisa do tipo — e no fim, terminou no refeitório.
Quando ela chegou, quase todas as suas colegas já haviam se reunido para o café da
manhã e começaram a comer.
O refeitório era predominantemente branco, com decoração esparsa. Os ecos dos sons
alegres das garotas ecoavam pelas paredes como ondulações na água. Não teria sido um
grande problema se houvesse apenas uma pessoa, mas como havia muita gente falando,
suas vozes se misturavam em um burburinho incompreensível. Além disso, o som de
talheres tilintando deixava ainda mais ruidoso.
Os primeiros três grupos eram classificados de acordo com seus criadores. Havia 41
empregadas regulares no total, mas não era porque cada Ser Supremo havia criado sua
própria empregada. Em vez disso, as empregadas regulares foram criadas por White-
brim, HeroHero e Coup De Grâce.
Estritamente falando, o último grupo não era um grupo adequado por si só. Era com-
posto pelas empregadas que haviam se separado dos três primeiros grupos para comer
em silêncio, para comer enquanto liam ou conversavam sobre as outras empregadas cri-
adas por outros Seres Supremos.
Ela acenou para as empregadas feitas pelo mesmo Ser Supremo como ela — de certo
modo, eram suas irmãs— e então se dirigiu ao seu lugar habitual.
“Bom Dia. Já sim. O café da manhã estava uma delííícia! Tão cremoso, suave e sabo-
roso~.”
Contrastando ela estava Lumière, que tinha uma aura de pureza sobre sua aparência.
Havia um brilho misterioso em seu cabelo loiro, que brilhava como se houvessem estre-
las.
“Bom Dia — Foire, já que fez sua refeição, pode esperar por nós aqui. Ainda não tomei
café da manhã, então vou pegar um pouquinho. Venha, Cixous, vamos lá.”
Lumière se levantou, seguida de perto por Foire, que estava freneticamente dizendo:
“É brincadeira, é sério~.”
Depois de concluir o diálogo habitual, as três foram até o balcão do bufê de self-service.
Naturalmente, havia uma empregada chamada Increment, que estava lendo em silêncio
um livro ao lado delas, vigiando seus assentos.
A primeira coisa que Cixous fez no bufê foi uma porção de crispy bacon. Como um mem-
bro da facção que acreditava que “bacon mole é coisa do diabo”, ela sempre fazia isso em
primeiro lugar. Em seguida, ela se serviu de sopa. Dos três sabores de hoje — especial
do dia, milho e cebola — ela escolheu o último. Depois disso foram linguiça, batatas fritas
e danishes. Seu outro prato estava cheio de salada de cebola, quase ao ponto de derra-
mar. Finalmente, Cixous fez uma ordem para um criado mascarado.
Cixous voltou para seu lugar, organizou os pratos na mesa e depois serviu-se de um
copo de leite antes de voltar para onde o criado estava esperando com sua omelete re-
cém-preparada.
“Muito obrigada.”
“Vamos comeeer~!”
“Vamos comer.”
Foire mastigava enquanto suas bochechas ainda estavam cheias de comida, Lumière
comia elegantemente, mas seu garfo se movia a uma velocidade feroz, e Cixous comia a
uma taxa entre as duas.
Logo, seus pratos esvaziaram com rapidez surpreendente, e as três beberam de seus
copos depois disso.
“Huuu...”
“Vamos repetir?”
“Por mim tudo bem, mas vamos fazer uma pausa primeiro.”
“Eu aprovo~! Me sinto meio estufada agora, enfim. Ei, Cixous, não é a sua vez de servir
o Ainz-sama hoje? Hoje parece mais determinada do que o habitual.”
♦♦♦
Os quartos dos governantes supremos de Nazarick eram enormes em escala, tanto que
uma pessoa precisaria de meio dia ou mais para limpar um deles com cuidado. Enquanto
as empregadas tinham os números brutos para limpá-los todos em uma base diária,
mesmo com o quarto de reposição de Albedo levado em conta, isso exigiria que muitas
pessoas trabalhassem o dia todo sem qualquer descanso.
No entanto, isso não era um problema para as empregadas. Elas haviam sido criadas
pelos governantes da Grande Tumba de Nazarick, a guilda Ainz Ooal Gown; era justo que
elas trabalhassem com afinco da pele até os ossos, porque era um ato de venerar seus
deuses, seus criadores.
Ele lhes dissera: “Não limpe os aposentos não utilizados com tanta frequência”, e depois
“Vocês vão trabalhar e descansar em turnos”.
Não era que houvesse poucos dias de folga, mas o contrário. Elas pediram que o dia de
folga fosse cancelado.
Pelo modo que falavam, trabalhar para os Seres Supremos era o motivo de sua existên-
cia. Dizer que elas não precisavam trabalhar prejudicava seu senso de autovalor e as
fazia sentir que não eram mais necessárias.
Como tal, as empregadas decidiram discutir o assunto com Ainz. Elas disseram: “Por
favor, não tire nossos empregos”, “Queremos fazer isso dia e noite”, e assim por diante.
Essa tarefa implicava ficar ao lado de Ainz para atender a todas as suas necessidades e
caprichos, e as empregadas se revezavam para preencher esse papel.
Para as empregadas, essa oferta era tão tentadora quanto o açúcar aspergido com mel,
pois a maior alegria na vida era servir os Seres Supremos. Elas aceitaram a sugestão sem
pensar duas vezes, junto com a ordem de que “Vocês precisam cuidar de si mesmas e des-
cansar bem no dia anterior, para que possam servir com todas as suas forças quando for a
sua vez.”.
♦♦♦
“Ficou sabendo da novidade? Dizem que vão cozinhar usando ingredientes do mundo
exterior e fazer uma degustação de comida.”
Poucas empregadas pensavam bem do mundo exterior — o mundo que ficava além de
Nazarick. Algumas delas sentiam que o mundo exterior era inferior à Nazarick, mas a
maioria delas temia, porque o andar logo acima de sua casa, o 8º Andar, já fôra invadido
por hereges do mundo exterior.
Assim que Cixous estava prestes a responder à pergunta de Foire, a atmosfera no refei-
tório mudou. O ar em si parecia aquecer.
“Shizu-chan!”
“É a Shizu-chan!”
A pessoa que acabara de entrar no refeitório era uma das Pleiades, CZ2128 Delta.
No fim, o pinguim ficou mole e sem forças, como um verdadeiro bicho de pelúcia.
“Manda esse pássaro inútil para o Head Chef, pelo menos ele vai contribuir para Naza-
rick dessa maneira!”
“Até aquele pássaro parece fofo quando a Shizu-chan o segura, tão estranho, né?.”
“Eu quero um dakimakura da Shizu-chan. Albedo-sama parece saber como fazer isso,
será que ela me ensinaria?”
“Albedo-sama é muito gentil, tenho certeza que ela vai concordar. Por que não pergunta
a ela da próxima vez?”
O som de um livro se fechando com um baque oco veio da mesa ao lado, e quando Cixous
se virou para olhar, seus olhos encontraram os de Increment.
“Este lugar está ficando barulhento, então vou voltar. Já que servirá o Ainz-sama hoje,
espero que termine o café da manhã rapidamente e não se atrase. Qualquer erro que
cometa respingará em todas nós.”
Tendo dito isso, Increment se virou e saiu sem esperar por uma resposta. Enquanto ela
observava sua companheira empregada sair, Cixous pegou um relógio de bolso. Feliz-
mente, ela ainda tinha algum tempo. Depois de se acalmar, ela deveria estar pronta na
hora certa.
“Lu-Lupusregina-san!”
Com as mãos cruzadas sobre o coração, Cixous se virou para a fonte da voz. Não havia
ninguém lá há pouco, mas Lupusregina apareceu do nada enquanto todas estavam dis-
traídas por Shizu ou olhando para outro lugar. Ela se sentou de lado em uma cadeira com
as pernas em cima da mesa e até compartilhou uma parte de sua própria comida.
Lumière mal prestou atenção a Foire, que se agarrava a ela. Ela falou baixinho, como se
estivesse com medo de sua astúcia.
“Nishishiiii! Acho que valeu a pena os experimentos no vilarejo ~su. Adorei as reações
de vocês ~su.”
A maneira como Lupusregina apoiou seu rosto com o braço sobre a mesa, ao mesmo
tempo em que exibia um sorriso maligno no rosto, fazia com que ela se parecesse com
um gato de sorriso perverso saindo de um livro de fantasia. Embora seu sorriso não fosse
nada além de travesso, ainda era surpreendentemente encantador. Cixous viu a Empre-
gada de Batalha sorrir por um tempo e ficou totalmente fascinada por ela.
“Vilarejo?”
Lumière resistiu ao desejo de espirrar e afastou Foire, e então ela se reorganizou para
que estivesse olhando diretamente para Lupusregina.
“Não, que nada ~su! Como o Ainz-sama ordenou, vale a pena fazer! ...Mas confesso que
é meio chato lá... Assim, seria muito mais divertido que fossem esmagados sob meus pés
~su.”
Cixous não tinha opinião particular sobre essa afirmação. Humanos e seus vilarejos e
tudo mais não eram importantes para ela. Se prosperaram ou fossem destruídos, a única
coisa que importava era se seriam úteis para Nazarick.
“Por falar nisso, o Ainz-sama disse que o vilarejo é bem valioso, não sei aonde, mas con-
fio no que ele disse ~su.”
“Dada a personalidade do Ainz-sama, ele deve ter dito em sua imensa misericórdia dos
miseráveis humanos que moram lá.”
“Não, não, Ainz-sama é como um furacão de morte. Tenho certeza que ele está apenas
esperando o momento certo para matar todos.”
“De onde tirou isso? Não sabe que o Ainz-sama é um gênio? Tudo isso deve fazer parte
do seu plano.”
“Ara~ não posso fingir que não ouvi is~su. Tão dizendo que o poder esmagador do
Ainz-sama não é a melhor parte dele ~su?”
Em um instante, todas ficaram em silêncio. Lupusregina usava seu sorriso habitual, mas
tinha certa compreensão das qualidades de seu soberano e não estava disposta a admitir
a derrota. No entanto, Cixous e suas duas amigas sentiram o mesmo.
As empregadas regulares eram seres fracos, mas seu respeito e adoração ao seu mestre
não era menor que o de qualquer outra pessoa.
“Nesse caso...”
“Então, como disse antes, gostaria de elogiar a beleza do Ainz-sama. Bem, que tal; mais
perfeito que as mais belas porcelanas, mais brilhante que o sol e estrelas, o Senhor da Mi-
sericórdia.”
“Bem, se vamos elogiar o Ainz-sama, então devemos elogiar seu incrível poder, não é!
Como governante da morte, o que poderia ser mais adequado do que; Memento Mori?”
“Ainz-sama foi quem coordenou os Seres Supremos, então suas habilidades de gerenci-
amento são sem iguais. Então seria; Rei Engenhoso.”
Embora todos os nomes se ajustassem bem ao seu mestre, no final todas pensaram que
as suas próprias escolhas eram as melhores.
Lupusregina tossiu gentilmente quando Cixous, Foire e Lumière olharam para ela. Com
um sorriso travesso, ela disse:
“...Te achei.”
A fonte da voz calma era CZ. O Mordomo Assistente Eclair que ela estava segurando
debaixo do braço tinha desaparecido para partes desconhecidas.
Uma raiva borbulhante como o sol ardia sob o rosto sem emoção de CZ. Cixous tinha a
sensação de que ela não deveria estar mais aqui.
No final, elas não conseguiram repetir o café da manhã. Foi uma pena, mas era preciso
se recompor agora.
Cixous não prestou atenção ao climão atrás delas. Em vez disso, ela bateu levemente as
bochechas para se concentrar. Seu rosto tinha a expressão severa e corajosa de uma sol-
dada indo para uma guerra, mas seus passos eram leves e rápidos.
Os undeads que vagavam pela tumba não estavam à vista, mas animais mágicos —
como os controlados por Aura — defendiam esse local no lugar de monstros POP. Esta
área — conhecida como a mais expansiva na Grande Tumba de Nazarick — era em
grande parte coberta por uma densa floresta, a ponto de poder ser descrita como um
mar de árvores.
Dito isto, os antigos membros da guilda Ainz Ooal Gown foram muito meticulosos
quanto aos detalhes. Eles certamente não pintariam essa área de verde e se contenta-
riam.
Havia um Coliseu, uma árvore gigante, vestígios de uma aldeia que havia sido engolida
pela selva, um lago, uma caverna venenosa, um bosque retorcido, um manguezal e um
pântano sem fundo, tudo isso acrescentando variedade ao mar de árvores. Recente-
mente, eles construíram uma pequena aldeia para receber novos residentes.
No centro desse mar de árvores havia um grande lago — ainda era menor que a área
do Lago Subterrâneo no 4º Andar — que não era cercado por floresta, mas por pastagens.
Porém, a pastagem e o lago eram relativamente pequenos quando comparados com a
totalidade do 6º Andar, que era grande o suficiente para seus propósitos.
Todavia, isso era apenas esperado. Afinal, quando patrulhava essa grande área, ela pre-
feria fazê-lo enquanto cavalgava as feras mágicas sob seu domínio, embora correr por
conta própria fosse bastante fácil dadas suas habilidades físicas sobrenaturais.
Uma delas era a Supervisora Guardiã, Albedo. Ela não estava usando o habitual vestido
branco de sempre, mas a armadura de placas preta que vestia para o combate. No en-
tanto, ela não estava carregando sua arma ou escudo.
A outra era Shalltear, que parecia a mesma de sempre. Seus olhos tinham um olhar es-
tranho que flutuava entre desinteresse e prazer.
♦♦♦
Uma fera mágica emergiu do nada, tão negra quanto a armadura que ela usava.
Esta fera tinha crina e rabo branco e parecia um cavalo. Estava equipado com uma ar-
madura de placas, rédeas e uma sela.
Era um pouco menor que um cavalo. No entanto, sua presença era muito mais opressiva
do que a de um cavalo comum. A diferença mais definidora poderia ser encontrada em
sua cabeça. Lá, encontrariam dois chifres que se projetavam para frente.
A primeira resposta à fera mágica que apareceu de repente veio de Aura, que sabia mais
sobre tais criaturas.
“Oh! Não é como um Bicorn comum! Seus chifres são grossos e parecem muito fortes
também.”
“Fufu~!”
“Então não pode aprimorar de verdade sua montaria sem as habilidades de equitação—
o ruim é que suas habilidades especiais são bem fraquinhas, isso pode acabar te dando
problemas se entrar numa batalha de nível cem.”
“Correto. Porém, posso compensar isso usando minhas habilidades para proteger esse
meninão, para que ele possa lutar por períodos mais longos.”
“Mas isso não significa que vai desperdiçar seus recursos nisso ~arinsu? Vai ser um
grande incômodo em combate, não é? Por que não aprimorar seu equipamento? Eu ouvi
que monstros do tipo montaria podem ser equipados com bardado e ferraduras e assim
por diante ~arinsu.”
Albedo deu um leve toque no flanco da fera mágica. Talvez ela tivesse usado muita força,
mas o Bicorn estremeceu.
Não havia como uma fera mágica que ela invocasse fosse desequilibrada por tanto. As-
sim como Albedo franziu a testa enquanto se perguntava se ele estava brincando, Aura
fez uma pergunta.
“E precisa de um?”
Ela olhou para Shalltear por sua reação. A Vampira não disse nada, simplesmente enco-
lheu os ombros.
“Bem, não é realmente meu bichinho de estimação... além disso, eu realmente invoco o
mesmo toda vez?”
Ao ouvir a pergunta de Albedo, Shalltear teve uma ótima idéia, que decidiu comparti-
lhar.
“...Me dá um tempo. Ele é um membro de Nazarick, e sei que não deveria odiá-lo, mas...”
“Ah— pois é. Não acho que fazem por maldade, mas elas sempre rastejam nas roupas.
Ouvir dizer que a Entoma faz umas visitinhas lá às vezes.”
“Que asqueroso! Pare de falar disso, me faz sentir comichões... aquele lugar é uma casa
de horrores. Eu posso estar no comando daquele Andar, mas sinceramente não quero
entrar lá ~arinsu.”
“UGEEEH—! Quê? Sério mesmo!? Nossa... Eu não quero mais chegar perto da Entoma.”
Albedo sentia o mesmo. Ela não queria abordar ninguém que pudesse chamar “aquilo”
de um lanche. Assim que o clima começou a ficar estranho, Aura decidiu levantar a voz
e limpar o ar:
Albedo murmurou para si mesma quando caiu em contemplação. Já que ela nomearia
sua montaria, então, obviamente, tinha que dar um nome que não iria constrangê-la. Ela
pensou em várias palavras e frases, e então um flash de inspiração a atingiu como uma
música surgindo em sua mente.
“Ah, perdão.”
“Hmm — esse é um bom nome ~arinsu. Significa Topo do Mundo? Está tentando dizer
que o Ainz-sama é isso?”
“Ah, acho que serve, né... Já que deu um nome pra ele, vamos realizar o próximo expe-
rimento!”
“Mm, Claro.”
Tendo sido tratada como uma criança fazendo birra, Shalltear estreitou os olhos e olhou
para Albedo quando ela se virou para o Bicorn e colocou um pé nos estribos. Albedo
montou nele com uma graça que não parecia ter vindo de alguém vestindo uma arma-
dura. No momento em que tocou a sela, pôde sentir o corpo do Bicorn tremendo quando
se tocaram.
“O que foi!?”
Albedo não pôde deixar de exclamar. Ela não conseguia pensar em nenhuma razão para
que este Bicorn de nível 100 ficasse trêmulo. De repente, ela se lembrou do que aconte-
ceu quando deu um tapinha no Bicorn. Algum problema ocorreu? Se fosse esse o caso,
então qual seria a causa?
“Aura! Shalltear! Algo estranho está acontecendo com o meu Bicorn. Poderiam me aju-
dar a descobrir o porquê?”
Nesse momento, o Bicorn começou a tremer. Parecia que não podia mais ficar de pé. As
duas observaram e perceberam que havia algo de anormal acontecendo aqui.
Depois de ouvir Aura dizer isso, Albedo finalmente respondeu saltando da criatura.
Shalltear não estava dizendo isso para tirar sarro dela. Qualquer observador teria pen-
sado a mesma coisa.
“Que grosseria! Estou sempre controlando meu peso porque tenho mais músculos do
que a maioria!”
“Será que os músculos dele ficaram mais fracos porque não cavalga regularmente? Sabe,
eu sempre dou umas voltas com os meus, costumo levar eles nas patrulhas pelo Sexto
Andar.”
“Sinto muito, mas não vai funcionar. Por ser a minha montaria, ninguém mais pode
montá-lo. Se alguém tentar, ele irá automaticamente se desconjurar.”
“Acho que perguntar não tira pedaço, né? Ei, Bicorn-san, por que tá agindo assim?”
Aura fez uma pergunta. Não era que Aura pudesse falar com cavalos, mas feras mágicas
como os Bicorn deveriam ter uma inteligência muito alta, então Aura esperava que en-
tendesse a fala humana. Naturalmente, o Bicorn não podia falar, então tudo que podia
fazer era relinchar como um cavalo.
As três se entreolharam.
“Não. E que tipo de habilidades acha que eu tenho? Já te disse todas as minhas habilida-
des aquela vez lá que conversamos, vai dizer que esqueceu, Supervisora Guardiã-dono!”
“E isso não é se comunicar com ele? Acho que se tentar você deve ser capaz de se co-
municar com meu Bicorn, ou tem algo a mais?”
“Só porque consigo conversar com meus animaizinhos, não significa que eu possa falar
com todos. Já até tentei em outros. Os Lizardmen têm um animal de estimação chamado
Rororo, algo assim. Eu não sei o porquê, mas não consigo falar com ele de jeito nenhum.”
“...Já que estamos sem saída, o único para o qual podemos contar é com o Demiurge
~arinsu.”
“Infelizmente ele está trabalhando fora sob as ordens de Ainz-sama. Ele não passa
muito tempo em Nazarick ultimamente. Eu posso entrar em contato com ele, mas para
ser honesta, realmente não quero consultá-lo se não for algo relacionado ao trabalho.”
“Ah~, eu realmente invejo ele. Eu sei que a defesa de Nazarick é um trabalho importante,
mas se ninguém invadir, não teremos a chance de mostrar do que somos capazes, e isso
me faz pensar se sou realmente útil. Eu quero sair e realizar algo para que eu possa tra-
balhar arduamente para o Ainz-sama.”
“Relaxa, Shalltear. Sinto que vai ter a chance de se mostrar útil pro Ainz-sama em
breve— ou melhor, tenho certeza. Só precisa ser um pouco mais inteligente, senão com-
plica.”
“Ahhh, mas é verdade, ué... ela deu muitos problemas. Por isso precisa produzir resul-
tados dignos de uma Guardiã.”
Shalltear cerrava os dentes e, de repente, seu rosto se iluminou, como se uma lâmpada
tivesse se acendido acima da cabeça.
“Hu-hu-hu. por que estão falando mal de mim ~arinsu? O que eu queria dizer era que;
já que o Demiurge não está por perto e não podemos perguntar a ele, então eu lhe daria
uma ajuda. Bem, já que não tenho escolha, procurarei por você!”
Shalltear tirou um livro. Parecia grosso e pesado, como se tivesse mil páginas no mí-
nimo. No entanto, para Shalltear — que parecia uma garota por fora, mas que o mesmo
não se refletia por dentro — seu peso não era quase nada.
Não foi apenas Aura; até mesmo Albedo olhou para Shalltear com ciúmes.
Mesmo isso sendo mais um prêmio de consolação do que reconhecimento, para Shall-
tear era a melhor forma de elogio e ela sorria de satisfação. Ou melhor, isso foi apenas
natural. Um item de seu criador era mais valioso do que qualquer forma de incentivo.
♦♦♦
YGGDRASIL era um jogo de apreciar o desconhecido, e esse item poderia ser conside-
rado uma expressão física do desejo dos desenvolvedores de transformar o desconhe-
cido em conhecido.
A fim de fazer uso efetivo deste item em formato de livro, seria necessário inserir pes-
soalmente a informação que alguém havia reunido no livro. Tais informações incluíam
as habilidades especiais de um monstro ou suas fraquezas e assim por diante.
Contudo, muito do conteúdo que o Peroroncino adicionou foi apagado. Era como se Pe-
roroncino tivesse medo de deixá-lo para trás, portanto o rasurou.
Como resultado, o item não era muito útil, mas Shalltear não se importava com isso. Era
um item que seu criador já usou. Isso era o que importava.
♦♦♦
“B—, Bi—, Bic.”
Aura e Albedo se inclinaram para dar uma olhada, mas Shalltear usou seu corpo para
encobrir o livro e depois deu alguns passos para trás, antes de fixar as duas no lugar com
um olhar penetrante.
“Hmph— Tá, né... Até porque eu também tenho um bracelete que Ainz-sama me deu de
presente.”
Aura gentilmente acariciou seu bracelete de prata. Da mesma forma, Albedo acariciou
o anel em seu dedo indicador esquerdo. No entanto, ela não foi a única a receber esse
anel.
Eu quero uma recompensa especial para mim, algo que seja só meu. Eu quero um presente
especial do Ainz-sama—
Albedo questionou nervosamente Shalltear quando ela olhou para o livro novamente e
leu a entrada.
“—Uma espécie mutante de Unicorn. Assim como os Unicorns devem estar associados
à pureza, os Bicorns estão associados à impureza. Os Unicorns só permitirão as donzelas
puras montá-los, mas, inversamente, os Bicorns nunca permitirão donzelas puras
montá-los... Hein!?”
Enquanto Shalltear lia essa parte, os olhos de Aura ficaram tão arregalados que pare-
ciam cair das órbitas.
“S—Su—Succ—Succubus...”
“Isso mesmo, eu sou uma Succubus! Mas eu não tenho experiência com homens, vai me
julgar agora!? Eu sou a Supervisora Guardiã, então estou sempre presa no Salão do
Trono! Eu quase nunca me encontro com mais ninguém! Além disso, Ainz-sama nunca
me chamou para a cama dele... eu prefiro morrer do que me entregar para qualquer ou-
tro homem que não seja o Ainz-sama...”
Albedo olhou para Aura que confirmou. Se Aura não fosse assim, haveria um problema
enorme.
“E você, Shalltear?”
Aura não entendeu por um momento e inclinou a cabeça. Então, ela pareceu entender,
porque franziu a testa e disse “Credo~” enquanto seu rosto se contorcia e dizia sem pa-
lavras “não, valeu”.
“Ahhh! É porque não há bons homens por perto ~arinsu! Eu gosto dos mortos, mas
cadáveres em decomposição não podem ficar... entenderam? Né?”
“Nem venha procurar aprovação pro meu lado, Shalltear. Seus fetiches são muito esqui-
sitos e eu não consigo e nem quero entender isso.”
“...Enfim, pelo menos sabemos o porquê eu não posso montar um Bicorn agora... não
posso acreditar que era por isso.”
O rosto de Albedo se torceu em infelicidade. O Bicorn pensou que tinha sido repreen-
dido e se encolheu.
“Ainda assim, não é como se você fosse realmente boa em combate em montarias
~arinsu. É apenas uma habilidade que você não pode usar, não? Se não pode montar seu
Bicorn, então que tal uma das feras da Aura ~arinsu? Talvez um Unicorn sirva.”
“Fiquei sem alternativas, então? Acho que não vai dar para evitar, vou pedir ao Ainz-
sama para me ajudar a resolver esse problema, todas concordam?”
O sorriso de Albedo parecia dizer às outras duas que não havia melhor maneira do que
essa.
“Hmph!”
“Que rude, Shalltear. Isto é necessário para que eu faça pleno uso de meus poderes
como Supervisora Guardiã de Nazarick a serviço de Ainz-sama.”
“Hã!?”
“Vocês duas estão com esse papo estranho de novo... deixem isso pra depois, que tal?
Tá parecendo que falam outra língua quando entra nesse assunto. E até porque, não é
como se isso fosse causar problemas agora. Não pode conjurar outras montarias, Al-
bedo?”
“Usar um item mágico para conjurar uma montaria requer que eu mude meu equipa-
mento ou tire o item, então é mais esforço do que conjurar uma montaria com uma ha-
bilidade. E este Bicorn tem um poder de luta muito maior...”
“Então é só fazer o Bicorn receber os ataques do inimigo e usar esse tempinho que ele
comprar pra invocar seu corcel! Isso é o bê-á-bá pra um domador de feras.”
“Pelo menos poderia falar de um jeito evitando parecer que está rindo do infortúnio
alheio?”
“Mas você não se delicia com o meu sofrimento também, Albedo ~arinsu?”
“Eu não—!”
“—Você sim!”
“Fala sério, não aguento mais vocês duas... Ei, parem com essa bobajada agora. Que tal
ir pra outro lugar? Ainz-sama deu um dia de folga pra gente mesmo.”
Albedo concluiu que ela tinha razão e Shalltear — que estava discutindo com ela —
também assentiu. No entanto—
“Mesmo assim, quando Ainz-sama quer que descansemos, temos que descansar
~arinsu.”
As três se reuniram aqui porque seu mestre lhes disse: “Todas vocês trabalham ardua-
mente todos os dias. Como o tempo livre como esse é difícil de ser conseguido, vocês, Guar-
diãs, devem se organizar para saírem e se divertirem juntas.”.
“A gente se divertiu bem, quer dizer que não tem mais nada pra fazer? Ou será que isso
que a gente fez conta mesmo como diversão?”
“Ainda não sei bem. Claro, nos divertimos um pouco, mas ainda tenho minhas dúvidas.
Já sei, o que costumam fazer?”
“Eu patrulho do Primeiro ao Terceiro Andar. Então eu recebo relatórios dos Guardiões
de Área, ou eu verifico a prontidão do Andar inteiro ~arinsu. Se eu tiver tempo, tomo
um banho ou faço um tratamento facial...?”
“É isso!”
“Sim ~arinsu.”
“Sério?”
A aldeia construída no 6º Andar de Nazarick era pouco mais do que uma fileira de dez
casas de toras. Mal se qualificava como um assentamento. Havia um campo de cultivo no
lado direito da aldeia, e do lado esquerdo havia um pomar que era várias vezes maior
que o campo de cultivo.
Naturalmente, era cercada por florestas e, quando se olhava de baixo para cima, podia
parecer um buraco na floresta; o chamado Buraco Verde. As árvores aqui haviam sido
derrubadas e depois escavadas pelas raízes, de modo que, à direita, o solo deveria ter
sido irregular. No entanto, o terreno da aldeia estava artificialmente nivelado. Esse foi o
efeito da magia de Mare.
A primeira pessoa que viram foi uma fêmea de aparência humana, cuja pele era tão
lustrosa quanto uma casca de árvore. Ao lado dela havia uma criatura que só poderia ser
descrita como uma árvore ambulante.
A primeira era uma Dryad, enquanto o segundo era um monstro conhecido como Tre-
ant.
O Treant colocou a Dryad em suas mãos semelhantes a galhos e a levantou até chegar à
copa de uma árvore frutífera.
“Também tem uns dez Lizardmen ou mais morando aqui. Às vezes eles vão pro norte
— naquele lago que a gente tava — vão lá se divertir. Não é como se vivessem na água
ou algo assim. É meio estranho.”
“A aldeia é maior do que a última vez que vim. Parece haver mais residentes também
~arinsu.”
“Sim. Isso porque algumas espécies foram autorizadas a entrar em Nazarick depois que
a gente conquistou a Grande Floresta de Tob.”
“É, segundo o Ainz-sama. Mas essa condição de não precisar de comida tá mais pra ser
autossuficiente... as Dryad e os Treants absorvem nutrientes da terra, por isso não pre-
cisam comer. Porém, será ruim se os nutrientes da terra acabarem ou se não chover.”
“Agora o Mare tá responsável por isso. Mesmo com a restauração dos nutrientes da
terra. Algumas magias permitem grandes colheitas, e eu ouvi que essas magias podem
restaurar completamente os nutrientes da terra. As Dryads e os Treants dizem que é tão
gostoso que tem que se conterem pra não comerem demais, acabariam engordando...
mas não sei como é o gosto.”
Enquanto Shalltear conversava com Aura, Albedo examinou lentamente a aldeia com
um olhar frio e clínico reservado para examinar os experimentos. Então, uma tênue emo-
ção brilhou em seus olhos pela primeira vez.
Elas olharam ao longo de sua linha de visão e lá, dentro de um trecho de terra cercado
— aparentemente se escondendo atrás de um grande talo com frutos vermelhos cres-
cendo por toda parte — havia um monstro parecido com um cogumelo se mexendo. Ana-
lisando mais a fundo, ele estava vestindo roupas que poderiam ficar manchadas en-
quanto colhia frutas vermelhas.
“É ele mesmo. Às vezes ele vem aqui colher uns ingredientes, tem umas plantas que ele
cultiva também. Vamos lá dar um oi.”
Albedo e Shalltear se entreolharam. Depois de verificar que nenhuma das duas estava
contra isso, e que estaria tudo bem, desde que não interferissem no trabalho dos colegas,
elas foram dar uma olhada.
Quando ouviu a voz alegre de Aura, Sous-Chef levantou a cabeça para olhar para as três.
Depois disso, Sous-Chef girou o pescoço, como alguém com dores no ombro. Sua cabeça
era como um chapéu de cogumelo, revestido com algum tipo de líquido vermelho-arro-
xeado que parecia poder pingar a qualquer momento, mas o fato era que era muito só-
lido e misteriosamente elástico, parecia cola seca, então não havia como escorrer ou es-
pirrar ao redor.
Albedo parecia interessada no que Sous-Chef estava segurando e por isso perguntou.
Ele trouxe as frutas diante de seus olhos e balançou a cabeça, confuso.
“Realmente são tomates. Mas tomates normais. Não são do tipo que explodem depois
de absorver a luz do sol, nem atacam pessoas ou irradiam luz dourada quando os abre;
são tomates comuns.”
“...Por que todos acham que Vampiros gostam de suco de tomate ~arinsu? Mesmo que
os undeads comam alguma coisa, eles não receberão nenhum buff.”
Graças a certos itens, a maioria dos NPCs não precisava comer ou beber.
“As coisas são assim. Comida e bebida só aumentariam as despesas de sustentar Naza-
rick. Teríamos que gastar muito dinheiro se todos comessem tanto quanto suas feras
mágicas.”
“Não há necessidade disso. Isso porque o Ainz-sama e outros Seres Supremos fizeram
cálculos cuidadosos ao construir esta Tumba para equilibrar renda e gastos.”
“Oh, então é por isso que Ainz-sama decretou que apenas espécies autossuficientes po-
deriam entrar aqui. Dessa forma, independentemente de quantos entrassem, o saldo de
renda permaneceria intacto ~arinsu.”
“Que vergonhoso. Não entender o lugar que estava protegendo é um problema muito
grande. Tirarei algum tempo no futuro e explicarei tudo para você em detalhes.”
“Ah, ela não... claro, não falou sobre eles. Então, o que faremos, Aura-sama? A senhorita
vai chamá-los? Certamente deve tê-los treinado agora.”
De repente, a fila de folhas reagiu às palavras dela e começou a se mover. Eles balança-
ram vigorosamente de um lado para o outro, depois se retiraram da terra e suas raízes
parecidas com cenouras apareceram na superfície.
Eles se pareciam com os ginseng asiáticos, mas eram nitidamente diferentes deles. Eles
tinham quatro membros distintos e moviam-se deliberadamente e não por reflexo. As
partes mais altas das raízes — perto do caule — tinham cavidades e sombras que pare-
ciam olhos e bocas.
“Ah! Então são eles! Eu vi o relatório, mas esta é a primeira vez que eu pessoalmente vi
um.”
As Mandrágoras cantavam “Vida Longa a Ainz Ooal Gown!”, “Vida Longa a Ainz Ooal
Gown!” ao se formarem em fileiras.
“Só que não são muito espertos. Os parentes deles tipo os Galgenmännlein, Alrunas e
Alraunes, devem ser mais espertos... mas não encontrei nenhum quando fiz uma busca
rápida na floresta. Mas sei lá, a floresta é grande, então talvez tenha em algum lugar. Fora
que tem uma caverna subterrânea enorme que leva até as montanhas. Parece que tem
um assentamento de Myconid lá, mas ainda não fui ver.”
“Ainda assim, ensiná-los a falar assim deve ter sido difícil. Estou muito impressionado.”
A Mandrágora mexeu e remexeu; aparentemente ter seu caule agarrado era bem dolo-
rido.
As Mandrágoras romperam suas fileiras para cercar Sous-Chef, como se para protestar
contra os maus-tratos de seu amigo. Durante esse tempo, eles diziam a mesma coisa de
antes.
“Beleza~! Voltem!”
“Pode se dizer que sim. Eles só repetem como papagaios imitando; nem sabem o que
estão dizendo. Aparentemente, há um nível mínimo de inteligência, abaixo do qual não
se entende a fala. Mas há investigações a serem feitas, isso segundo o Demiurge-sama;
estou simplesmente repetindo o que ouvi.”
Disse Sous-Chef.
“Hm— A propósito, Albedo, posso fazer-lhe uma pergunta ~arinsu? Como Guardiã, não
é ruim que você não saiba sobre os recém-chegados? E se um espião aparecesse com eles
~arinsu?”
“Ahahaha, você é uma piadista, hein, Shalltear. É verdade que o Sexto Andar é muito
grande, é natural que pense que a captura e abate de intrusos seja difícil. Seria um saco
se conseguissem escapar do Coliseu correndo pra todos os lados feito aranhas...”
Seu sorriso ficou vazio e seus olhos tão frios como o gelo:
“Mas não acha que tá fazendo pouco caso de mim? Aqui é o meu terreno de caça. Mesmo
se cada um for pra um lado, eu posso caçar e matar um por um num piscar de olhos. E
“É o que eu tô falando. Então não precisa se preocupar, não importa quantos recém-
chegados venham pra este Andar.”
“Aura tirou as palavras da minha boca. Mm, ainda assim, há um plano acontecendo
agora para reunir todos os tipos de criaturas aqui.”
“Era assim no começo, mas depois de alguma observação, descobrimos alguns proble-
mas graças ao seu árduo trabalho Aura, e do Mare também, de modo que o plano foi
alterado e melhorado. Mas esta é apenas uma fase do projeto, não há nenhuma garantia
de que vai ser colocado em prática. Creio que por isso, mesmo uma Guardiã de Andar
como você ainda não foi informada.”
“E essa parte aí, por que ficar junto com humanos é uma condição?”
Albedo sorriu, como se dissesse “Eu sabia que perguntaria”. Aquele sorriso parecia até
meio malvado.
“Sendo sincera, achei meio difícil. Nazarick é um refúgio para os Seres Supremos, o fruto
do trabalho deles. Qual o motivo desse nome ~arinsu?”
“É a fim de deixar o mundo exterior acreditar que pode coexistir com outras raças.”
O rosto de Shalltear estava preenchido com uma expressão que poderia quebrar um
amor de milhões de anos de idade, ela olhou com raiva para Aura.
E, de fato, por apenas um momento, Shalltear pensou em tudo o que ela tinha dito e
feito até agora, e suas pupilas se alargaram como a de um peixe morto. Depois disso, seus
olhos percorreram todos os lados, como se estivessem a ser atiradas em ondas de tem-
pestade.
“Ghrum, enfim, o Ainz-sama sugeriu este plano. Quando discutimos sobre o Sexto Andar,
Ainz-sama uma vez mencionou que gostaria de coletar vários monstros. Certamente al-
guém com uma compreensão limitada do mundo nunca teria sido capaz de chegar com
uma idéia assim. No passado, eu discuti a sabedoria do Ainz-sama com o Demiurge, e a
conclusão a que chegamos foi que o Ainz-sama possui um intelecto inalcançável.”
“Qualquer um sabe disso, também ouvi falar que grandes homens geralmente falam
pouco.”
“Demiurge disse isso? Ainda assim... o Ainz-sama afirma que são apenas simples pensa-
mentos que ele tem, às vezes ele faz coisas misteriosas. Mas como diz o ditado; a verda-
deira coragem parece covardia, enquanto grande sabedoria parece tola. O Ainz-sama é
esse tipo de homem.”
“Eu sequer esperava que o Ainz-sama criasse a persona do aventureiro Momon. Real-
mente, ele é incrível... No começo não acreditei, mas tudo o que aconteceu até agora es-
teve na palma da mão de Ainz-sama...”
“Momon é o Ainz-sama se passando por aventureiro, né? Pra que serve isto?”
“Logo você entenderá... a persona de Momon se tornará a base para o governo de Ainz-
sama. Quantos passos à frente ele pensa...? Talvez até a conclusão do Demiurge tenha
sido prevista pelo meu amo—”
“Er, onde eu estava? Sim, sim, isso! Tudo o que Ainz-sama diz e faz contém um grande
significado. Portanto, mesmo que não consiga alcançar o nível dele, você precisa tentar
o melhor para ver as verdadeiras intenções do Ainz-sama com base em suas palavras.”
“Isso vai ser difícil. Ainz-sama é inteligente demais— ah, olha os Spear Needles.”
Duas bolas de penugem branca, cada uma com mais de dois metros de altura, aparece-
ram de dentro da aldeia e lentamente foram para o lado de Aura. Eram animais mágicos
que pareciam coelhos angorá.
“É uma sensação confortável, né? Mas quando encontram inimigos, eles ficam tão afia-
dos quanto as agulhas, sabia?”
Uma vez que entrassem no modo de combate, eles se tornariam uma bola de espinhos
extremamente densos. Se os Spear Needles fossem mortos nesse estado, seus pêlos não
retornariam ao seu estado original e suave. Portanto, ao caçá-los, seria preciso pegá-los
de surpresa e matá-los instantaneamente. Foi por isso que os jogadores que os caçavam
eram frequentemente de níveis muito mais altos do que eles próprios.
Shalltear poderia ter dito isso, mas ela ainda estava acariciando-os sem parar.
“Pra sua sorte, eles só entram em combate se eu der o sinal. Mas se houvesse inimigos
por perto, aí seria uma questão diferente, só que nenhum invasor hostil seria capaz de
chegar aqui do nada. No mínimo, os outros Andares me mandariam um relatório antes.”
“Isso é verdade. É apenas o esperado. Os três últimos Andares estão cheios de vassalos
que possuem excelentes habilidades de detecção. Seria muito difícil alguém entrar aqui
sem ser notado por eles.”
“De baixo? Demiurge deveria estar fora nesse momento, então... poderia ser um de seus
subordinados? Não tem problema se não for olhar?”
“Hm— o Mare tá lá perto, então acho que tá de boa. Se alguma coisa a mais acontecer,
ele vai entrar em contato comigo.”
“Bem, faz parte. Tem que ir nos portais de teleporte em locais específicos se quiser subir
de um Andar inferior pra um superior, né? Ah, é, não vamos nos esquecer que certas
pessoas usam magia de teleporte, porque se correrem certas coisas caem—”
“O Mare sempre entrega o anel pra outra pessoa quando sai, é mesmo uma questão de
segurança. Só por isso já tem noção do quanto ele dá valor— ah, o Mare tá me chamando.”
Aura afastou-se e agarrou o colar, e então começou uma conversa com Mare. Os três
olharam para Aura, cujo rosto estava ficando sério e, quando terminaram de falar, ela
parecia muito infeliz.
“Vou ter que ir, pessoal. Parece que o Mare precisa buscar algo, por precaução eu vou
voltar.”
“Eu gostaria de fazer algo nos campos antes de ir. Além disso, gostaria de conversar
com a Dryad e os Treants.”
“Então cada um vai pra um lugar. Foi muito bom terem vindo. Graças a vocês, agora sei
como gastar meu tempo livre. Se a gente ficar livre algum outro dia... sim, da próxima
vez, vamos dar uma passada na casa de banho.”
Mare ergueu os olhos do livro que estava lendo, lentamente deslocando os olhos para
espiar o portão de teleporte que levava ao 7º Andar.
Sentindo uma leve onda de poder, ele colocou seu marcador entre as páginas abertas e
silenciosamente deixou o livro na cadeira ao lado dele. Então pegou o cajado que repou-
sava ao seu lado, o item divine-class conhecido como “Shadow of Yggdrasil”.
Mare pegou com sua mão vazia e levou em direção ao peito, mas depois parou no meio
do caminho.
Não havia necessidade de contatar sua irmã. Ele não recebeu nenhum relato de invasão,
então deveria ser alguém amigável.
Ele moveu as pernas e correu para o portão de teleporte logo abaixo dele.
Sua irmã mais velha gostava de saltar diretamente dos assentos da plateia, mas Mare
não gostava de fazer isso. Ele achava que, uma vez que havia escadas instaladas na arena,
ele deveria pegá-las na descida. Foi assim que alguém mostrava sua fidelidade aos Seres
Supremos. As escadas deveriam ser usadas, afinal.
Mas eu que não ouso dizer isso para a Onee-chan... ela vai me olhar daquele jeito assusta-
dor...
Mare decidiu que, no mínimo, ele não desperdiçaria os esforços dos Seres Supremos, e
desceu correndo os degraus, e então passou correndo pela área de descanso. Foi só aí
que viu alguém parado diante de um enorme espelho redondo que brilhava com todas
as cores do arco-íris.
“Oh! Se não é o Guardião de Andar, Mare-sama! Obrigado por ter vindo até aqui. Estou
absolutamente encantado.”
O palhaço à sua frente estava vestido de branco puro e usava uma máscara que lem-
brava o bico de um corvo. Ele se curvou e Mare assentiu em resposta.
“Oh, sim, como o senhor sabe, Mare-sama, eu estou trabalhando atualmente com o De-
miurge-sama, e hoje eu vim como um enviado de Demiurge-sama. Por favor, pegue isso.”
“Precisamente. Ah, estou tão feliz que foi o senhor quem veio, Mare-sama. Que sorte. Se
a Aura-sama tivesse vindo, eu teria que pedir para que chamasse o senhor.”
Portanto, Mare olhou perplexo para a pasta que acabara de receber, murmurando “En-
tão, será quê...” para si mesmo.
Aura e Mare eram ambos Guardiões de Andar, então não havia razão para não dar a ela.
Além disso, ela era bastante cuidadosa com essas coisas, e não iria simplesmente jogar
fora um manifesto.
“Eu não tenho certeza. Tudo o que sei é que o Demiurge-sama me instruiu a entregá-lo
diretamente ao senhor, Mare-sama, e não a Aura-sama.”
Foi uma pergunta um pouco vaga, mas Pulcinella parecia entender o que ele estava per-
guntando.
“...Bem, eu não sei quais as intenções por trás disso. Mas sinto que a resposta ou razão
pode estar dentro dessa pasta.”
“Entendo... er, então, sim, isso mesmo, o Demiurge-san, o quê... o que ele está fazendo
agora?”
Pulcinella esfregou os olhos pela máscara. Claro, ele não estava chorando. Até a voz dele
soava igual a de costume. Ele não parecia triste ou nem nada assim.
“Eu também não entendo. Seria porquê o gentil Demiurge-sama incorrera ódio nos ou-
tros? Ah, sim, por favor ouça isso, de como o Demiurge-sama é realmente gentil. Da úl-
tima vez, Demiurge-sama disse que seria uma pena deixar os animais morrerem de fome,
e então ele assou os filhos de ambos os lados e serviu-os um ao outro. Certamente uma
pessoa cruel e impiedosa não os teria se preocupado em alternar os lados, mas sim os
serviria diretamente, não acha?”
“M-mesmo?”
“Mas é claro. E para permitir que os pais de ambos os lados se despedissem de seus
filhos, Demiurge-sama os convidou para a mesa de jantar... Demiurge-sama permitiu que
eles dissessem adeus com um sorriso... Eu tenho certeza de que ninguém além dos Seres
Supremos poderia ser tão compassivo como ele é.”
Essas pessoas não eram entidades de Nazarick, então não importava o que acontecesse
com elas. Seus sentimentos sobre a pecuária de Demiurge desapareceram de seu cora-
ção depois de alguns segundos.
“E quando alguém está com fome, o intestino pode ser incapaz de digerir comida
mesmo quando o cérebro a deseja. Demiurge-sama até considerou esse ponto aos ad-
vertir para comer bem. Sua bondade é verdadeiramente incomparável~!”
Mare sentiu que isso duraria para sempre, e então rapidamente o cortou:
“—Ah, então, e a... e o Guren-san? Eu pensei que poderia ser o responsável por entregas.
O que ele está fazendo agora?”
“En... entendi.”
Guren — um Guardião de Área que escondia seu corpo massivo dentro da lava fluente
e arrastava inimigos descuidados para um campo de batalha onde ele teria a vantagem,
assim lutava contra eles. Embora ele estivesse apenas no nível 90, estava otimizado para
o combate, e por pura bravura de luta sozinho, ele estava entre os primeiros combaten-
tes de Nazarick, e podia até mesmo se defender contra alguns dos Guardiões de Andar.
Assim, não havia melhor Guardião para o 7º Andar na ausência de Demiurge.
“Ah, parece que falei demais. Agora que entreguei o manifesto em suas mãos, Mare-
sama, mais trabalho me espera, devo espalhar mais sorrisos para os outros.”
“Não há necessidade de agradecimento. Estou satisfeito por poder ver seu sorriso,
Mare-sama.”
Depois de Mare assisti-lo sair, ele abriu o manifesto. O fato de que isso era para ele e
não para sua irmã o encheu de uma mistura de emoções — superioridade e culpa — e
depois que rapidamente examinou o conteúdo, ele piscou algumas vezes.
“Isso... não é um mero manifesto, é como uma mensagem que o Ainz-sama queria enviar
para os Guardiões.”
Dizia: “A todos os Guardiões homens” e continha apreço e elogios por seu trabalho diário.
Em resumo, este era um convite para “tomar banho juntos e aliviar a fadiga”.
Havia uma lista de participantes, lia-se Ainz, Demiurge, Mare e Cocytus de cima para
baixo, cada um com uma opção de Vou/Não Vou ao lado. As duas primeiras entradas já
tinham circulado “Vou”. O nome de Sebas deveria estar lá também, mas ele estava sob
ordens de coletar informações com Solution em uma cidade humana.
O manifesto afirmava que a data não era fixa e que seria realizado quando fosse mais
conveniente para os participantes, razão pela qual ele poderia circular “Vou” sem qual-
quer hesitação. Mesmo o manifesto declarando que ele poderia recusar, não havia como
Mare recusar o convite de seu generoso e compassivo mestre. Não, ninguém em Nazarick
faria isso.
“...Eheheheee...”
Ele riu enquanto olhava para o “Vou” circulado. No entanto, em pouco tempo, as nuvens
envolveram seu coração.
O manifesto repetidamente enfatizou não informar as Guardiãs sobre isso, então ficou
claro que seu mestre queria manter isso em segredo entre os homens. Nesse caso, a me-
lhor maneira era entregar pessoalmente.
Não é bom esconder as coisas da Onee-chan... certo? Vou precisar da Onee-chan para
guardar o Andar sozinha enquanto isso... Como se chama mesmo... troca de favores?
Uma coisa era sair sob ordens, mas quando eles tinham que visitar os outros Guardiões
para se divertir ou fazer outras coisas, Mare e Aura sempre diziam onde estavam indo.
Isso porque Aura e Mare foram designados para proteger este Andar por ordem dos Se-
res Supremos, então fazer isso era apenas o esperado.
“Ah, isso é ótimo. Er, hum, é que. Ah, preciso visitar o Cocytus. Mas não vou demorar,
volto em breve.”
『Visitar o Cocytus?』
『O que aconteceu?』
『Sei...』
『Ah, acho que tá de boa. Pode ir. Mas o Quinto Andar é muito frio, então não vai se
esquecer de proteção... Ah... você deve se sair bem lá, Mare.』
“Humm. Hum, eu posso lidar com isso com magia. Não se preocupe. Eu vou lá e volto
logo.”
Se prolongasse a conversa, ele poderia acabar dizendo algo estranho. Portanto, Mare
apressadamente soltou o item mágico. Parece que sua irmã queria dizer alguma coisa,
mas se fosse um bom ou mal conselho, ele não a ouviu.
♦♦♦
A bruma branca que Mare exalava instantaneamente foi soprada para trás. Isso foi por
causa do cisalhamento do vento super-resfriado.
A neve impulsionada pela nevasca percorria todas as direções, obscurecendo toda a vi-
são e encobrindo as pegadas. Isso era para atacar qualquer intruso, mas em circunstân-
cias normais o clima no 5º Andar não era tão ruim. As nuvens que cobriam o céu apenas
distribuíam flocos de neve dispersos e, mesmo o clima sendo sombrio, a visibilidade era
excelente.
“...Hm.”
Assim que encontrou o lugar onde precisava ir, Mare avançou com passos leves. Ele não
deixou pegadas na neve onde havia pisado. Seus pés não afundavam na neve, era como
se andasse em terra firme.
Neste ermo mundo branco, o som da neve caindo parecia bem alto aos ouvidos de Mare.
É claro que a magia de percepção extra-sensorial sempre presente de Mare o fez saber
que esse lugar não estava realmente deserto. Os emboscadores sabiam que ele era o
Guardião do 6º Andar, e assim não se mostraram.
Diante dele havia uma grande esfera branca, que parecia um ninho de vespas invertido.
Seis cristais gigantescos rodeavam a esfera branca, suas pontas afiadas apontando para
o céu. Os cristais eram transparentes e havia pessoas visíveis por dentro.
Mare deu um passo, e um som desagradável que o deixou desconfortável saiu de de-
baixo de seus pés. Olhando para baixo, ele viu que o chão abaixo era diferente da neve
que pisara até agora; era uma camada brilhante de gelo. Parecia grossa o suficiente, mas
não havia nada além de escuridão sob a camada de gelo. Era claramente um grande bu-
raco.
Mare pisou no gelo. Ele andou sem hesitar, como se tivesse certeza de que o gelo abaixo
dele não racharia. Ele avançou entre ruídos rangentes e chegou aos arredores da esfera
branca.
Mare não estava se dirigindo à enorme esfera branca, mas aos cristais ao redor.
Monstros que se pareciam com mulheres emergiram dos cristais em resposta à sua voz.
Havia diversos monstros em meio aos cristais, essas estavam vestidas de branco. Suas
peles eram pálidas e seus longos cabelos eram negros.
[ V i r g e ns d a G e a d a ]
Eram Frost Virgins — monstros do tipo gelo de nível 82, responsáveis pela defesa da
Terra Bola de Neve, que era o lar de Cocytus. Elas eram algo como um time de guarda-
costas.
“Bem-vindo, Mare-sama. Estamos felizes pelo senhor ter vindo pessoalmente visitá-lo.”
“É me... mesmo?”
Mare hesitou.
Já que tinha vindo até aqui, ele provavelmente poderia deixar o manifesto nos aposen-
tos de Cocytus e então deixar as Frost Virgins o informarem. No entanto, depois de pen-
sar sobre o conteúdo do manifesto, entregar diretamente seria a melhor maneira de re-
alizar as intenções de seu mestre.
Não havia regra que os impedisse de deixar Nazarick. No entanto, havia uma exigência
que precisava ser satisfeita para sair. Isso porque seu mestre proibiu estritamente que
perambulassem sozinhos fora de Nazarick.
Depois de analisar os dados que haviam coletado até agora, o nível 100 dos Guardiões
de Nazarick o deixavam inimaginavelmente poderosos em comparação com o mundo
exterior, comparável a apocalipses ambulantes. Assim, sendo tal ser, Mare não estaria
em perigo quando se deslocasse sozinho para fora. Por outro lado, era o mundo que de-
veria ter medo dele. Contudo, qualquer pessoa com uma mentalidade tão imprudente
certamente deve ter esquecido alguma coisa.
Esse era o fato de Shalltear ter sofrido uma lavagem cerebral por um inimigo que —
com toda a probabilidade — possuía um Item World-Class. E também havia vestígios da
existência dos jogadores no passado.
Eles não sabiam o quão poderoso e amplo o alcance dessas pessoas eram, então preci-
savam ser mais cuidadosos.
Qualquer um que fosse para fora tinha que ser escoltado por cinco vassalos de nível 75
ou mais, esse era o requisito mínimo. Mare tinha dois Dragões que lhe foram designados
diretamente como vassalos, mas trazê-los consigo seria muito óbvio. O caminho mais
rápido seria perguntar a sua irmã, mas quando pensou sobre o que tinha acontecido
quando veio para cá, não conseguiu reunir coragem para fazê-lo.
Só então, a iluminação atingiu sua mente. Seus números e níveis estavam certos.
“Eu... sinto muito. Cocytus-sama ordenou que defendêssemos este lugar. A menos que
o próprio Ainz-sama ordene, não podemos desobedecer às ordens de Cocytus-sama...
imploramos seu perdão!”
Isso porque ele queria fazer seu melhor para evitar envolvimento dos Guardiões cujos
nomes não estavam escritos no manifesto. Além disso, a maioria dos vassalos que esta-
vam acima do nível 80 eram os subordinados diretos de um Guardião, poucos eram in-
dependentes.
Devido a essas duas razões, ele precisaria entrar em contato com Demiurge para pegar
emprestado seus Evil Lords.
Para contatar Demiurge, que estava do lado de fora, ele precisaria despachar um vas-
salo ou usar magia.
Também há os—
Ele tem subordinados do nível setenta e cinco e acima também, não é? Mas não é um Guar-
dião... hm — bem, ele é do sexo masculino, então não deve ter problemas. Vou ter que fazê-
lo jurar e manter isso em segredo...
“Ah... ah, obrigado a todas. Er, acho que vou descobrir algum meio por conta própria.”
Mare ativou o poder do anel. Seu destino era a enorme biblioteca no 10º Andar de Na-
zarick — Ashurbanipal.
Após o teletransporte, o cenário ante dos olhos de Mare mudou de um campo nevado
para uma sala ampla. A cor básica dos móveis da sala era ébano-amarronzado e parecia
Essas portas maciças eram grandes o suficiente para rivalizar com as que se abriam
para o Salão do Trono, e eram flanqueadas por um par de Golems, cada um com quase
três metros de altura. Ambos os Golems pareciam guerreiros e tinham sido construídos
a partir de metais raros por um Ser Supremo, então eram mais poderosos que os Golems
comuns.
A cena que se desenrolava diante dele não parecia mais uma biblioteca, mas uma vista
de um instituto ou algo semelhante — sim, parecia uma galeria de arte. O chão e as es-
tantes estavam elaboradamente decorados, e as estantes de livros também pareciam or-
namentos.
Acima havia um teto alto e uma sacada no mezanino no segundo andar. Além disso,
havia uma sala cercada por inúmeras estantes de livros. Cada centímetro do teto hemis-
férico estava coberto de afrescos magníficos.
Havia vitrines de vidro espalhadas pela sala, cada uma contendo vários livros.
Embora houvesse inúmeras fontes de luz, elas não produziam uma iluminação forte.
Um ser humano certamente encolheria, reclamando sobre a penumbra da sala.
Não se podia ver todo o ambiente com um único olhar. As estantes de livros bloqueavam
a visão.
Claro, Mare podia ver no escuro como se fosse a luz do dia e, assim, ele não se sentiu
assustado.
♦♦♦
O primeiro tipo era o de dados de monstros, que poderiam ser usados para invocar
monstros mercenários.
Certos cristais de dados só poderiam ser incorporados em itens do tipo livro. Na maior
parte, os itens do tipo livro eram itens mágicos de uso único. A diferença entre eles e os
pergaminhos era que um deles precisava ser de uma profissão relacionada à conjurado-
res para usar um pergaminho, já itens do tipo livro poderiam ser usados por qualquer
pessoa.
O terceiro tipo eram itens de eventos. Não era incomum que os itens necessários para
mudar para uma profissão específica assumissem a forma de livros. Quando Ainz tinha
ido de um Mago Skeleton para um Elder Lich, ele precisara do item conhecido como o
Book of the Dead. Havia também coisas como a Bibliografia da Pesquisa de Armas e Ane-
dotas dos Quatro Grandes Espíritos. Além dos itens de troca de profissões, também havia
itens que permitiam que alguém aprendesse novas magias quando usado.
Em outras palavras, livros que continham dados visuais para espadas, escudos, arma-
duras e similares. Qualquer pessoa com habilidades específicas de ferreiro poderia usar
esses livros com as matérias-primas necessárias para produzir uma skin de item.
O quinto tipo eram romances distribuídos em forma de livro. Os exemplos mais comu-
mente vistos foram peças de literatura clássica cujos direitos autorais haviam expirado,
Dentro da Grande Tumba de Nazarick, a grande maioria dos livros dentro de sua bibli-
oteca pertencia ao primeiro tipo — livros reunidos para invocar monstros mercenários.
Claro, não havia necessidade de coletar tantos livros.
Na verdade, mesmo que alguém despejasse os cofres da guilda aqui, não seria possível
invocar nem 1/10º dos monstros dos livros que preenchiam esse lugar. Então por que
eles tinham tantos livros? Isso porque os livros de invocação não eram particularmente
caros, então os membros da guilda decidiram pôr mãos à obra e fizeram uma enorme
pilha de cópias. Isso também serviu ao propósito de ocultar itens importantes.
♦♦♦
O fantasma usava uma túnica preta e parecia se fundir na escuridão. Havia uma varinha
de joias na cintura e várias joias amarradas ao cinto.
Sob o capuz havia um rosto esbranquiçado que já havia se transformado em cera cada-
vérica. Suas mãos eram pele e ossos. Toda vez que se movia, a escuridão fraca que o
rodeava se movia também.
Todavia, ele diferia dos Elder Lich em geral, ele tinha uma braçadeira no braço esquerdo.
“Bem-vindo, Mare-sama.”
O Elder Lich falou em voz rouca e truncada, depois se curvou em deferência, lenta, mas
profundamente, com uma das mãos agarrada ao peito em um movimento firme e digno.
“Obrigado.”
Enquanto Mare o seguia, ele olhou para os outros Elder Liches e undeads do tipo magic
caster enquanto se dirigiam à sua destinação.
“Oh, sim, gostaria que eu levasse esse livro de volta para o senhor?”
“Mm, foi muito interessante! Estou pensando no que devo ler agora.”
“Muito obrigado.”
O que deveria ter sido uma sala espaçosa parecia opressiva e apertada, graças às gran-
des prateleiras de todos os lados.
É claro que esses não eram todos os recursos que a Grande Tumba de Nazarick possuía.
Havia várias centenas de vezes esse valor armazenado na Tesouraria.
Apenas os suprimentos que seriam prontamente usados eram armazenados nesta sala.
Havia uma mesa extragrande no centro, com um pedaço de pergaminho aberto sobre
ela.
Diante da mesa havia um corpo esquelético que parecia uma fusão de ossos humanos e
animais.
Dois chifres de aparência demoníaca projetavam-se de sua cabeça e tinha as mãos com
apenas quatro dedos. Abaixo de seus tornozelos havia patas fendidas.
Esta criatura bizarra estava envolta em um himation de cor açafrão. Além disso, um
capuz de material semelhante encobria sua cabeça sem ser perfurado pelos chifres, e
havia outro pedaço de pano em volta da cintura.
Além disso, ele usava uma pulseira de prata com uma joia multicolorida, também havia
um ankh dourado em volta do pescoço, e tinha vários anéis estranhos e com aparência
complexa em seus dedos ossudos, que pareciam estar enrolados ao redor dos dedos. Ha-
via joias anexadas ao himation que fazia as vezes de uma faixa. Cada uma delas era um
item mágico bastante poderoso.
Embora tivesse uma roupa única, na verdade era um Mago Skeleton. Era uma das espé-
cies básicas de undeads e o estágio antes do Elder Lich.
No entanto, este Mago Skeleton era o principal bibliotecário desta enorme biblioteca —
Titus Annaeus Secundus.
Este ser não foi criado pelos Seres Supremos para se concentrar no poder de combate,
mas na capacidade de criação de itens. De fato, seu nível total era maior do que o do
Elder Lich de antes.
“Ah-sim. Hum. Eu gostaria de pedir emprestado seus vassalos que estão acima do nível
setenta e cinco.”
“...Eu nunca esqueci as palavras do meu governante, Ainz-sama. Depois disso, conside-
rei sua situação e adivinhei imediatamente — muito bem.”
“Eu lhe empresto os Overlords desta biblioteca: Cocceius, Ulpius, Aelius, Fulvius e Au-
relius.”
“Eh? S-sério!?”
“Mas é claro. Com toda honestidade, seu potencial de batalha é um tanto excessivo para
a biblioteca. Em vez de fazê-los ficar em ócio durante todo o dia, é muito melhor que eles
sejam seus acompanhantes. Tenho certeza que isso os deixaria muito felizes.”
“Dito isto, alguma recompensa é necessária. Eu gostaria que o senhor me ajudasse com
uma tarefa, a criação de pergaminhos.”
“Não se preocupe. Assim que eu disser ‘Agora’, gentilmente conjure uma magia de
quarto nível neste pergaminho. Isso é tudo.”
“A escolha é sua.”
Mare pareceu intrigado. Ser dito para decidir por si só era muito difícil. Ele não sabia se
deveria usar apenas uma magia comum.
Havia uma pequena mesa ao lado da mesa de desenho com o pergaminho. Titus esten-
deu a mão ossuda para a mesa e tocou uma pilha de ouro brilhante —moedas de ouro
de YGGDRASIL.
“Agora.”
Mare — que aguardava nervosamente sua sugestão — lançou sua magia como se ti-
vesse sido surpreendido.
Normalmente, isso teria concluído o pergaminho. Isso foi o que Mare pensou.
♦♦♦
Mare olhou em estado de choque quando o pergaminho queimou como se tivesse sido
embebido em álcool, mas dentro de alguns momentos, o fogo tinha se apagado.
♦♦♦
Os eventos agora pareciam uma ilusão. Não havia vestígios de fogo. Nem mesmo o
cheiro de queimado permaneceu.
No entanto, havia evidências na mesa que provavam que o que acabara de acontecer
não era uma ilusão.
Titus parecia ter antecipado isso e, suavemente, pegou as cinzas para examiná-las.
“Então não pode impregná-los com magias de quarto nível. Parece que confirmei que
não tem nada a ver com o poder de quem conjura.”
“Não se preocupe. Eu tentei usar os materiais deste mundo para fazer pergaminhos, a
fim de economizar em custos de pergaminho, mas a qualidade disso é simplesmente
atroz.”
♦♦♦
O nível de uma magia limitava os materiais que poderiam ser usados para fazer um
pergaminho que a contivesse.
Por exemplo, pergaminhos feitos de rolo de nível médio podem conter uma magia de
2º nível no máximo, mas não de um nível mais alto. Se alguém usasse o grau mais alto de
pergaminho —feito de couro de Dragão — poderia escrever uma magia de 10º nível nele.
Naturalmente, o couro de Dragão era um material especial, que exigia matar um Dragão.
Por essa razão, os membros da guilda Ainz Ooal Gown se uniram para fazer um criatório
de Dragões, mas isso foi nos dias de YGGDRASIL. Até que pudessem verificar que este
mundo continha Dragões — bem como outras feras — Ainz havia imposto uma leve res-
trição ao uso de couro de Dragão.
Ele não podia fazer algo tolo como gastar um recurso não renovável. Afinal, não havia
como dizer quando ele poderia precisar usá-lo.
♦♦♦
“Mas é claro. Jamais faria tal coisa. Ainda mais que seus Dragões, seres especialmente
invocados pela manifestação da vontade dos Seres Supremos. Prejudicá-los é estrita-
mente proibido.”
Mare soltou um suspiro de alívio. Titus olhou para ele com interesse em seus olhos,
depois varreu as cinzas em uma lixeira.
“Er, bem, s-significa que os materiais deste mundo não são adequados para fazer per-
gaminhos?”
“Mas... tem certeza? Se é apenas um fracasso, não poderia ser culpa do pergaminho?”
“Se for apenas um com defeito, diz nesse sentido? Eu já usei os pergaminhos deste
mundo para vários experimentos, mas sempre que eu tento imbuir uma magia acima do
terceiro nível, recebo o mesmo resultado — a destruição. É bem provável que o perga-
minho se desintegre porque o poder mágico não pode ser infundido nele.”
“...Mas os magic casters deste mundo usam só esse tipo de pergaminho, não é?”
“—Os resultados experimentais foram ainda piores; eles estavam limitados a magias de
primeiro nível.”
“Então, isso significa que os humanos sabem fazer bom uso de materiais mais pobres?”
“Talvez. Na verdade, creio que pode ser uma diferença tecnológica. Mesmo que me doa
admitir, a técnica deles é, até certo ponto, mais refinada do que a nossa. Eu adoraria ad-
quirir essa nova tecnologia e melhorar minhas habilidades.”
“Q-que incrível!”
Mare não sentiu nada além de respeito pelo espírito de autoaperfeiçoamento do Bibli-
otecário-Chefe.
“Tudo isso é para o bem do Supremo. Então, Guardião Mare, como concordamos, eu lhe
emprestarei os Overlords. Venha comigo.”
Ele entregou o anel a outra pessoa ao longo do caminho e depois chegou à superfície.
Lá, Mare e companhia realizaram um teleporte em massa e chegaram no meio de uma
sala dentro de uma estrutura de pedra na aldeia Lizardman.
Este edifício foi construído de uma pedra densa e resistente. Ele só poderia ser cons-
truído em um local com solo suficientemente firme, exigindo técnicas de construção que
A razão para ter pessoas vindo de Nazarick para construir essa estrutura estava atrás
das costas de Mare. O objeto que estava dentro das profundezas deste edifício explicava
tudo.
Uma estátua de pedra feita à imagem de Ainz Ooal Gown, governante da Grande Tumba
de Nazarick, erguia-se sobre uma plataforma elevada. Era tão natural que parecia que o
original havia sido transformado em pedra. O modo em que elevava seu bastão irradiava
a dignidade e a seriedade de um governante.
Todo tipo de oferendas adornavam o altar diante da estátua. Naturalmente, essas ofe-
rendas eram inúteis aos olhos de Mare, escassas homenagens de flores, peixes e coisas
do gênero.
Isso porque quem fizera essas oferendas estava cheio de genuíno respeito e reverência.
Por exemplo, flores frescas não cresciam no pântano, mas nas florestas que eram muito
perigosas para os Lizardmen — eles devem ter arriscado a vida para colhê-las. Os peixes
eram a dieta básica dos Lizardmen, mas as oferendas eram muito maiores do que o ta-
manho médio dos peixes. Mare entendeu que eles tinham escolhido apenas os espécimes
mais impressionantes para oferecer.
“Mm...”
Ver a ralé expressar seu respeito por seu grande mestre o deixou muito feliz.
“Bom trabalho.”
Eles eram o pessoal responsável pela limpeza deste santuário. Possuíam habilidades
druídicas, que eram raras entre os Lizardmen, também usavam crachás com o emblema
da guilda de Ainz Ooal Gown no pescoço.
Havia uma grande diferença entre seus postos e o de Mare, entre a dos conquistados e
seus conquistadores, de modo que não havia necessidade de agradecê-los pelo árduo
trabalho. Porém, pelas razões mencionadas anteriormente, Mare ficou tão satisfeito com
seus trabalhos que decidiu agradecer-lhes por isso.
De fato, eles perderam muitos durante a guerra. No entanto, as cinco tribos eram agora
uma e, no final, formaram uma aldeia maior e mais forte.
A cerca de fronteira abrangia uma ampla área. Em algum momento, torres de vigia ha-
viam sido construídas no pântano lamacento, e em cima de cada uma delas havia um
Skeleton — provavelmente um Old Guarder de Nazarick — examinando os arredores
com uma flecha encaixada em seu arco. Vários Old Guarders de Nazarick podiam ser
vistos andando pelo pântano; presumivelmente, eles estavam realizando reconheci-
mento em caso de ataque inimigo.
Cocytus destacava-se de muitas maneiras. Se ele estivesse na aldeia, deveria ser imedi-
atamente visível daqui; se estivesse dentro de uma construção, deveria haver vassalos
como os que Mare trouxe esperando lá fora. Com isso em mente, ele olhou ao redor de
toda a aldeia, mas não conseguiu encontrá-lo.
Mare olhou para o pântano — na pacata aldeia dos Lizardmen. Ninguém aqui era cau-
teloso com os Old Guarder de Nazarick. Até as crianças Lizardmen eram do mesmo jeito.
Ambos os lados pareciam estar coexistindo como se fosse a coisa natural a fazer.
Embora eles tenham sido atacados e conquistados pelos undeads, não parecem guardar
nenhum ressentimento por eles. Foi por causa da política de amizade do Cocytus-san? Ou
esta é a natureza dos Lizardmen?
Uma vez que o grupo saiu da floresta, eles viram um projeto de construção em grande
escala em andamento no outro lado do pântano.
O fluxo de água aqui havia sido represado e cerca de dez Golems de Pedra estavam es-
cavando o solo. A areia e a lama que desenterraram foram levadas por Lizardmen com
carrinhos de mão na margem.
Enquanto Mare observava o que estavam fazendo, um Lizardman robusto correu com
pressa.
Este Lizardman estava coberto de feridas antigas. Seu físico era imponente e ele era
distintamente diferente de um Lizardman comum. A medalha em volta do pescoço ba-
lançava descontroladamente devido à sua pressa.
A medalha era um símbolo de lealdade e também uma marca de proteção. Não era má-
gico, mas ao usá-lo, eles poderiam provar que eram propriedade de Ainz. Portanto, nin-
guém da Grande Tumba de Nazarick que reverenciava os Seres Supremos como deuses
poderia prejudicar intencionalmente os Lizardmen. Claro, seria diferente se eles mere-
cessem a morte, mas felizmente os Lizardmen não eram tão estúpidos. Eles sabiam seu
lugar e reconheciam os fortes como seus soberanos.
“Ah, eu... eu ouvi do Cocytus-san... ah, você sabe onde o Cocytus-san está agora?”
“Eu me lembro que o Cocytus-sama levou vários de seus subordinados e várias dezenas
de Lizardmen em sua expedição para subjugar os Toadmen.”
“Toadmen?”
“Eles são os demi-humanos que vivem nos confins à nordeste do lago. Se parecem com
sapos, nós não nos damos muito bem com eles. Eles possuem a habilidade de controlar
grandes monstros e feras mágicas, então são oponentes muito complicados pra nós. Eu
ouvi dizer que houve uma guerra uma vez durante o tempo do meu avô. Fomos derrota-
dos e uma das nossas tribos foi dissolvida como resultado.”
Este lago tinha a forma de dois lagos menores unidos, ou uma cabaça invertida. O lago
menor no sul, onde os Lizardmen residiam, era meio pântano e meio lago, e devido às
águas rasas haviam poucos monstros grandes. Em comparação, a água no lago do norte
maior era mais profunda, muitos monstros grandes viviam lá e eram mais fortes que os
monstros do sul. Claro, essa diferença era irrelevante para Mare.
“Ah, me responde uma coisa, quando você mencionou Toadmen, estava falando de uma
espécie chamada Tuvegs?”
Mare estava se referindo aos monstros que viviam no pântano venenoso ao redor de
Nazarick no passado. Ele sabia que sua irmã tinha vários desses monstros como serven-
tes.
“Bem, eu não tenho muita certeza disso. Talvez possa perguntar ao Cocytus-sama de-
pois que ele voltar? Provavelmente voltará em breve.”
“Compreendo. Então, eu vou perguntar sobre outra coisa, sobre... sobre aquilo. Parecem
estar construindo algo grande aqui, o que é isso? É bem distante da aldeia, mas não pa-
rece uma cerca ou algo defensivo...”
Era bom que as tribos Lizardman pudessem se unir. Mas uma vez que sua população
crescesse, a escassez de alimentos naturalmente apareceria. E já que muitas pessoas
morreram durante a guerra, elas não podiam caçar ou capturar o suficiente para alimen-
tar seu povo. Claro, eles poderiam resolver esse problema voltando para suas antigas
aldeias para pescar, mas Cocytus, o novo governante dos Lizardmen, não concordou.
Uma coisa era toda a aldeia se mudar como uma para outra parte do pântano, mas se
apenas algumas pessoas se mudassem sozinhas, havia uma grande chance de serem ata-
cadas por monstros. Os números dos Lizardmen já estavam grandemente diminuídos.
Cocytus não queria perder mais deles.
A fim de garantir a prosperidade dos Lizardmen, Cocytus tomou medidas para resolver
este problema — o problema alimentício.
“Sim. O que nós... não, o que meu irmão aprendeu não foi criá-los desde alevinos, mas
criar peixes já crescidos. Mas graças à orientação de Demiurge-sama, fizemos preparati-
vos para cultivar alevinos também. Se tudo correr conforme o planejado, teremos sus-
tento uma população várias vezes maior que a atual através da produção dos criatórios
de peixes.”
“Quê... que maravilha. Dentro de alguns anos não precisarão pegar peixes de Nazarick.
Ah, claro, se surgir uma emergência, imagino que seja sempre bem-vindo para pescar lá.”
A comida que Cocytus lhes dera era feita com um item mágico chamado Cauldron of the
Daghdha.
“O quê!? Ainz-sama realmente poderia fazer peixe suficiente para alimentar a todos!?”
“Quando Zaryusu e os outros visitaram a fortaleza dos Supremos e voltaram com histó-
rias do que viram, pareceu mais um sonho. Eles disseram que a Grande Tumba de Naza-
rick continha muitos mundos menores por dentro, uma verdadeira terra dos deuses.
Ainz Ooal Gown-sama é realmente um deus...?”
“Mas é claro.”
Por que esse Lizardman declara o óbvio? Mare não pôde entendê-lo e inclinou a cabeça
em confusão.
Ainz Ooal Gown era mais que um deus. Ele era o criador.
“Incrível. Tudo nos foi concedido pelo poder de Ainz-sama. Meus agradecimentos a
Ainz-sama.”
Ainz fez um gesto com a mão esquerda e manteve uma postura imponente.
Mais uma vez, ele gesticulou com a mão esquerda e congelou no meio da pose. Ele veri-
ficou o reflexo de si mesmo no espelho e ajustou ligeiramente a posição da mão esquerda.
“...Aceitável... será o ângulo? Não... e se eu estender a mão um pouco mais para a es-
querda?”
Finalmente satisfeito com a pose, Ainz pegou o bloco de anotações na mesa ao lado.
“Terminei de treinar poses... não sei se pratico mais um pouco as falas aproveitando
meu tempo extra.”
Ele circulou a frase que ele estava praticando anteriormente com uma caneta e, em se-
guida, virou uma página.
A maioria das frases escritas lá eram variações na frase “Eu considerarei isto.” As frases
que eram muito maçantes ou muito exageradas e, portanto, muito vergonha alheia, fo-
ram todas riscadas.
Para Ainz, que costumava ser uma pessoa comum, agir como um líder era difícil. Assim,
ele repetidamente praticou esse papel apenas no caso de uma situação exigida. É claro
que todo o bloco de notas estava cheio de frases que Ainz havia pensado.
Mesmo tendo passado uma hora desde que Ainz começou a praticar, ele não precisava
de descanso.
Ainz era o supremo governante, mas na realidade, ele mal fazia algo. A menos que hou-
vesse decisões importantes ou situações de emergência que exigissem sua liderança, não
havia nada a fazer. Albedo cuidava de todos os detalhes e tudo o que Ainz tinha que fazer
era folhear os relatórios.
Todas as organizações corretas devem ser desse jeito. Não é bom alguém que está acima
dos outros trabalhar nas linhas de frente.
Era uma jogada tola para o comandante supremo de um exército participar dos comba-
tes nas linhas de frente, a menos que ele estivesse lá para levantar o moral. Se ele fizesse,
seria muito perigoso.
Eu deveria desistir desse negócio de aventureiros e reunir conhecimento para lidar com
situações de emergência — sei que tenho que treinar minha mente também, mas o que
devo fazer? Quem vai me ensinar...? Não posso arruinar a imagem do Ainz Ooal Gown em
que todos acreditam...
Ainz sentiu como se fosse expelir sangue enquanto folheava as páginas. Ainda havia
muitas outras frases que ele havia inventado em seu tempo livre, e a linha de chegada
parecia nada à vista.
Ainz Ooal Gown era undead e as emoções acima de um certo limite seriam suprimidas.
Mas—
Depois de se repreender por tentar fugir, os olhos de Ainz se encheram de força e ele se
olhou no espelho novamente.
O som vindo da pulseira no braço esquerdo era como música para os ouvidos de Ainz.
Ele desligou o sinal súbito e suspirou profundamente.
“Não posso fazer mais nada se o tempo acabou. É... faz parte.”
Ainz devolveu o bloco de notas para uma caixa. Quando fechou a tampa, ele pôde ouvir
o som de várias travas sendo ativadas. Se alguém tentasse abrir a caixa à força, isso aci-
onaria uma extensa série de magias de ataque, todas centralizadas na caixa para destruí-
la. As defesas na caixa eram formidáveis o suficiente para que ninguém, a não ser um
personagem Ladino de nível 90, ou um personagem extremamente especializado com
profissão Ladino de nível 80 pudesse violá-las.
Depois de travar o item com segurança, ele o retornou à sua dimensão de bolso. Havia
muitos outros itens raros lá também. Ainda assim, um Ladino de alto nível poderia rou-
bar itens de um lugar como esse também. Dito isto, um Ladino não poderia apenas imo-
bilizar seus oponentes e roubá-los sem ninguém ver. Eles estavam limitados a um ou
dois itens no máximo. Ainda assim, a perspectiva de ser assaltado apenas uma ou duas
vezes fazia com que Ainz — que não deveria ter medo algum graças aos seus traços ra-
ciais — estremecesse de terror.
Além disso, poderes desconhecidos como Talentos existiam também. Foi por isso que
ele colocou a caixa entre outros itens raros, para que ladrões os roubassem em vez da
caixa.
Depois que ele guardou, ele verificou novamente para ter certeza.
Era como se fosse uma dona de casa verificando se a porta principal estava trancada
antes de sair de casa. Depois que fez isso, ele finalmente deu um suspiro de alívio.
Só depois dessa seara de contramedidas, Ainz finalmente saiu do quarto. O lugar para
o qual estava indo era uma sala que ele usava regularmente em seus estudos. Os que se
curvaram profundamente a ele foram uma empregada regular, Albedo e Mare.
As duas primeiras dificilmente eram uma visão rara, mas o menino não vinha aqui com
frequência e surpreendeu Ainz. Ele atravessou a sala, circulou em torno de sua mesa de
ébano e sentou-se, de uma maneira que havia praticado mais de 30 vezes antes.
Sentar-se assim significava não pisar no manto ou fazer barulho ao empurrar a cadeira.
Mas eu não sei como os reis se sentam... eu deveria observar como um rei se senta...
Portanto, tudo o que Ainz poderia fazer era montar a imagem de um rei ideal em sua
mente.
“Levantem a cabeça.”
Foi só então que os três olharam para cima. Ainz estava aborrecido pelo fato de que não
levantariam a cabeça sem um comando explícito, e sentiu que isso era uma perda de
tempo. Ainda assim, ele não podia ignorar a lealdade que mostravam ao seu mestre. Por-
tanto, Ainz suportava isso toda vez e respondia da mesma maneira.
“A-a-ah, s-sim!”
Talvez Mare estivesse nervoso, sua voz falhava um pouco. Ainz sorriu. É claro que não
havia como seu rosto sem carne se torcer, mas ele ainda fazia o melhor que podia para
exalar um ar de bondade. Talvez Mare tivesse sentido isso, mas deu um suspiro de alívio.
Ele parecia menos travado agora.
Ainz não era um superior cruel que diria “O que você trouxe?”. Já que Mare tinha trazido,
Ainz deveria receber em mãos. Por tudo o que sabia, poderia ter sido uma ordem que ele
havia dado e esquecido.
Ainz estendeu a mão para parar a empregada do dia, já que ela tentava pegar o item do
Mare.
“Sim!”
Mare segurou seu peito enquanto caminhava até Ainz e entregou a pasta que estava
segurando.
“Por direito, Cocytus deveria ter enviado um lacaio para me entregar isso. Sinto muito
por causar-lhe esse inconveniente, Mare.”
“N-não tem problema, não é na-nada do tipo! Cocytus-san estava ocupado, então eu in-
sisti em ajudá-lo. E além disso—”
...É o anel de Ainz Ooal Gown. Fico feliz que ele o valoriza tanto, mas usá-lo naquele dedo
significa... Calma aí, por que ele me olha com esses olhos lacrimejantes...?
Ainz estremeceu, e então olhou discretamente para Albedo. Ela estava sorrindo gentil-
mente, como sempre.
Como esperado, ela usava o Anel ali também, assim como Mare. Parecia que era o lugar
certo para usar o anel.
Ele se lembrou do que Yamaiko lhe dissera sobre o significado de usar um anel em de-
dos diferentes.
Aparentemente, os antigos gregos acreditavam que havia um vaso sanguíneo que vai do
dedo anelar esquerdo até o coração, aí se o dedo anelar esquerdo tocasse algo prejudicial
ao corpo, ele enviaria um sinal ao coração, por isso eles dispensavam medicina com seus
dedos anelares esquerdos... Sous-Chef faz a mesma coisa também? Ah, tem algo errado...
ele está me encarando de novo.
“O que foi, Mare? Viu alguma coisa estranha? Tem alguma mancha no meu rosto?”
Ele escolheu suas palavras com cuidado, certificando-se de que sua resposta não soasse
como escárnio.
“Não... de... de jeito nenhum. Eu simplesmente me dei conta de como o senhor é incrível,
Ainz-sama.”
“Não é bajulação!”
Depois da breve resposta, Ainz levantou-se de seu assento e caminhou até Mare, em
seguida gentilmente acariciou a cabeça do menino que tinha ficado tenso em antecipa-
ção a uma bronca.
“Ai-Ainz-sama...”
Foi incrivelmente embaraçoso dizer isso, mas ele não demonstrou nenhuma dessas
emoções semelhantes a Suzuki Satoru.
“Eu sempre estive pensando nisso; eu deveria agradecer aos meus amigos.”
“Precisamente. Quero agradecer por terem feito a Grande Tumba de Nazarick e por te-
rem feito você e todos os outros. Vocês — e com isso quero dizer a Albedo e Cixous tam-
bém—”
“Obrigada, Ainz-sama.”
“Quando todos os Seres Supremos deixaram este lugar, só o senhor permaneceu aqui
até o fim, todos em Nazarick são gratos por isso. Talvez tenhamos deixado de satisfazer
suas expectativas e talvez tenhamos o aborrecido. Eu entendo que falar dessa maneira
ao nosso criador é profundamente rude, mas eu rezo para que o senhor permita que—
prometamos nossa lealdade eterna.”
“Eu permito. Eu me lembro que, no passado, Albedo e Demiurge disseram algo seme-
lhante a mim, então ouça isso — eu sou o mestre de Nazarick; eu sou seu mestre, Ainz
Ooal Gown.”
Ainz nunca havia ensaiado essas frases antes, então ficou surpreso com a facilidade com
que conseguia recitá-las. Contudo, quando pensou a respeito, isso era de se esperar.
Como era algo vindo de seu coração, fazia sentido que ele pudesse fazê-lo de uma ma-
neira tão natural.
Ele sentiu uma sensação úmida se espalhando pelo manto sobre seus ombros, mas Ainz
deixou Mare se afagar nele. Quando o som do choro e soluços de Mare gradualmente
diminuiu. Ainz gentilmente acariciou a cabeça do menino.
Ele nunca tinha limpado o rosto de outra pessoa antes, então talvez seus movimentos
fossem um pouco grosseiros, mas Mare permitiu que Ainz o limpasse.
“Ah, eu vou para E-Rantel depois. Eu preciso encontrar o Chefe da Guilda. Eu adiei por-
que é chato, mas não posso mais demorar. Então—”
Ainz olhou para Albedo, que permanecia em silêncio por todo esse tempo. Seus longos
cabelos cobriam o rosto e ele não conseguia ver sua expressão. Entretanto, o tremor sem
parar de seu corpo foi o suficiente para tacar terror no coração de Ainz. A imagem de um
vulcão emanando gases, à beira da erupção, passou por sua mente.
E naquele momento—
“—Gu-guwaargh!”
—O campo de visão de Ainz mudou quando ele sentiu um impacto nas costas.
Naturalmente, não doeu. O corpo de Ainz só poderia ser prejudicado por meios mágicos.
Ele não sentiu dor pelos impactos leves que resultaram do choque nas coisas. No entanto,
os remanescentes de sua humanidade o fizeram fechar os olhos em reflexo.
“Nh, ngghhh...”
Ele abriu os olhos e viu os Eight-Edge Assassins no teto. Em outras palavras, ele estava
de costas no chão. Quando percebeu isso, Ainz imediatamente tentou se levantar, mas
um objeto estranhamente macio prendia seu corpo inteiro e, graças a isso, foi difícil se
mexer.
Ainz checou para ver qual era a forma de vida suave que o prendia, e como esperado —
era Albedo.
“Ainz-samaaa!”
Albedo estava montada em Ainz que estava preso no chão e o empurrou para baixo com
a pélvis enquanto ele tentava se levantar.
Albedo de repente abriu os olhos. Suas pupilas douradas chamejantes enviaram um ar-
repio na espinha de Ainz.
Albedo ignorou a pergunta em pânico de Ainz e levou as mãos para a frente do vestido.
Como uma mulher em sites de entretenimento adulto +18, ela tentou retirá-las, mas não
conseguiu movê-las.
“Roupas mágicas são tão irritantes!!! Precisa de uma habilidade para destruí-la ou tirá-
la normalmente.”
Ainz pensou em empurrá-la com força bruta, mas Albedo era uma guerreira de nível
100. Além disso, sempre que Ainz tentava afastá-la, suas mãos faziam contato com algo
macio e mole, então ele não podia usar sua força total. As mãos de Albedo se moveram,
procurando remover o manto de Ainz.
“Ah, awawawawa...”
“A culpa é sua, Ainz-sama! Eu tenho suportado isso por tanto tempo, mas o senhor disse
aquilo e eu não pude mais me segurar! É tudo culpa sua, Ainz-sama! Eu só preciso de um
pouquinho! Só um pouco! Só um pouquinho do seu amor! Vai ser rápido, vai acabar antes
que conte os Eight-Edge Assassins no teto!”
Se Albedo tivesse escolhido esse momento para repreender Ainz por mudar sua narra-
tiva, talvez ele tivesse perdido a vontade de resistir a isso.
Todavia, Albedo parecia que comê-lo-ia por inteiro, então ele não sentia culpa, mas sim
o terror de alguém que estava prestes a ser devorado. Isso o fez lutar ainda mais deses-
peradamente.
Foi só então que seus subordinados, que ficaram aturdidos com o desenvolvimento re-
pentino, finalmente entraram em ação.
“Albedo-sama enlouqueceu!”
“Albedo-sama enlouqueceu!”
“Estamos com problemas! Sua força é absurda! Eu não esperaria nada menos da Super-
visora Guardiã! Mare-sama, nos ajude!”
“—Awawa! Ce-certo!”
♦♦♦
No fim, Ainz foi finalmente liberto, e depois de suavizar suas vestes amarrotadas, ele
olhou para Albedo, que foi agarrada pelas mãos e pés pelos Eight-Edge Assassins, e disse:
“Eu estou perfeitamente bem... Albedo sempre foi tão estranha assim? Ela comeu algo
estranho? ...Com certeza, demônios não precisam comer nem beber, mas não é como se
não pudessem.”
“Entendo... não, bem, hm. Muita coisa deve estar acontecendo com ela. Pelo que sei,
pode ser um estresse reprimido do trabalho.”
Ainz levantou-se e chamou a empregada. Ele recuperou sua dignidade — que antes es-
tava espalhada pelos ventos — e falou em tom de comando.
Ainz puxou as rédeas de onde ele estava montado nas costas de Hamsuke, fazendo-a
parar. Ele silenciosamente ponderou os portões da cidade de E-Rantel.
Ainz gostava bastante destes portões grossos e robustos, que pareciam poder repelir
um exército. Embora houvesse muitos portões em YGGDRASIL que eram maiores e mais
legais (na aparência) do que esse, afinal, esse portão não era um amontoado de dados,
mas algo feito pelas mãos da humanidade — mesmo eles podendo ter assistência mágica.
No passado, Ainz não gostava muito dessas palavras, mas quando ele pensava agora,
eram boas lembranças.
Hamsuke ficou curiosa e fez sua pergunta pois seu mestre havia dito que parasse e, no
entanto, não fizera nada. A resposta curta de Ainz havia encerrado o assunto. Sentiu-se
envergonhado por deixar que Hamsuke soubesse que estava relembrando o passado.
Ele poderia ter ficado em uma pousada em E-Rantel, mas não tinha o luxo de fazer tais
gastos desnecessários. A razão pela qual Ainz — que não comia ou bebia — tinha que
reservar um quarto nas estalagens mais sofisticadas era puramente destacar seu status
como um dos poucos aventureiros adamantite. Depois disso, era uma questão de fazer
conexões. Contudo, ele já havia conhecido todas as pessoas influentes nesta cidade, e
estava certo de que elas o receberiam calorosamente se as procurasse. Portanto, Ainz
não tinha necessidade de reservar um quarto na pousada.
Além disso, sempre que Ainz se registrava em uma pousada, ele imediatamente se tele-
transportava de volta para Nazarick, onde produzia undeads e trabalhava em outras coi-
sas. Sendo esse o caso, seria mais sensato ter uma missão de extermínio de monstros e
deixar a cidade o mais rápido possível.
E francamente, ele não sentia que havia mais mérito em ficar perto de E-Rantel.
“Não é como se eu gostasse. Além disso, quando eu destruo monstros, eu os mato ime-
diatamente e passo a maior parte do tempo em Nazarick.”
“Eu pretendo dar-lhe todos os tipos de treinamento para que possa usar armas e arma-
duras.”
“Este aqui sempre dá tudo de si! Este aqui pediu aos Lizardmen que ensinassem este
aqui vários tipos de truques, e logo este aqui certamente será capaz de aprender um
super golpe!”
“Hum. Bem, seria perfeito se pudesse aprender Artes Marciais. Além disso, e quanto ao
seu discípulo? Acha que ele vai poder usar Artes Marciais?”
“Milorde fala dele? Ele nunca fala, então este aqui não sabe. No entanto, este aqui sente
que ele não pode ser útil ainda.”
Que pena.
Pensou Ainz. Não havia como alguém gostar de falar com aquilo, e Ainz sentiu que as
chances de aprender Artes Marciais eram pequenas. Se tratava pouco mais que uma ex-
periência. Dito isto, se aquilo — um Death Knight criado por Ainz — pudesse realmente
aprender técnicas de guerreiro, seus planos futuros teriam que ser muito alterados. Isso
porque, se ele pudesse fortalecer os monstros treinando-os, então provavelmente se tor-
naria uma prioridade máxima.
“Os undeads não precisam dormir e nem se cansam. Eles podem realizar o treinamento
de combate para sempre. Então, em teoria, ele deveria ter aprendido Artes Marciais an-
tes da Hamsuke. E não ter aprendido até hoje, indica que isso não é possível.”
“Um momento por favor, Milorde! Ele se esforça do jeito dele! Mesmo depois disso, ele
volta para a morada deste aqui, ele continua treinando sem uma única palavra de
queixa... Este aqui pede que poupe a vida dele!”
“...Calma, eu não pretendia matá-lo, sabia disso? Por que pensou uma coisa dessas?”
“De fato, não há ninguém mais misericordioso em todo este mundo do que o Ainz-sama.
Ainz-sama até teve pena de uma criaturinha patética como você e poupou sua vida.”
Essas palavras frias vieram de Narberal, que estava andando atrás deles, o que fez Ham-
suke estremecer.
“Entendido.”
Ainz queria dizer, mas não importa como ordenasse, Narberal não aprendia, então re-
centemente ele decidiu não se incomodar. Isso porque se Narberal Gamma tivesse sido
projetada para se referir inconscientemente aos seres humanos de tal maneira, forçá-la
a se corrigir seria essencialmente passar por cima dos desejos de seu amigo que a pro-
jetou dessa maneira.
“Sim, Milorde.”
Ele podia ver várias pessoas alinhadas em frente ao portão. Era de se esperar que a
imigração fosse mais rigorosamente controlada do que a emigração, e todos os itens que
transportassem seriam cuidadosamente inspecionados. Portanto, se comerciantes ou
vendedores itinerantes quisessem entrar em E-Rantel, eles poderiam ter que passar
muito tempo na fila para uma inspeção.
Ela estava certa. Quando Ainz chegou pela primeira vez aqui, ele também tinha sido
submetido a testes extremamente problemáticos, mas como seu recorde de aventuras
cresceu, o processo de inspeção ficou mais simples, e agora praticamente tinha um passe
livre para passar por eles. Além disso, às vezes ele recebia permissão para entrar prefe-
rencialmente na cidade.
Esse privilégio não era exclusivo da Escuridão; quase todos os aventureiros mythril e
acima receberam um tratamento mais especial. Talvez fosse porque a cidade não queria
desagradar seus trunfos.
“Não podemos furar fila... a menos que haja uma emergência, ou temos que entrar na
cidade com a devida prontidão.”
Ele viu Narberal curvar-se do canto do olho e Ainz olhou à sua frente, de onde estava
montado nas costas de Hamsuke.
A fila era como uma estrada bloqueada por um engarrafamento; ninguém estava se mo-
vendo.
“O que é aquilo...? Parece que estão inspecionando uma carroça... e fazendo com muita
cautela. Não, isso não é normal... Será que encontraram algum contrabando? Com li-
cença.”
“Não se preocupe, só notei que a fila não está se movendo, estava me perguntando se
por acaso sabe o que está acontecendo?”
“Não tenho muita certeza, parece que apenas levaram uma aldeã para verificação. E
então—”
Depois de ouvir o homem, Ainz ainda não tinha idéia do que estava acontecendo. Ele
deu uma olhadela para o posto de serviço. Ele inclinou a cabeça tentando captar algum
som e ouviu o som de uma discussão.
Quando ele chegou a essa cidade pela primeira vez, eles lhe fizeram uma pilha de per-
guntas no portão principal, mas ele não esperava deixar passar tão facilmente. Ele ficara
surpreso na época e achava que esse mundo era surpreendentemente gentil com pes-
soas sem raízes fixas, como mercenários, aventureiros ou viajantes, mas a verdade não
era o que ele esperava. Nesse caso, o que eles estavam perguntando a essa aldeã?
Todos os soldados exclamaram surpresos ao ver Ainz. Não havia ninguém aqui em E-
Rantel que não conhecesse o aventureiro Momon.
“Uooooh!”
Os dois homens exclamaram com a mesma surpresa que os soldados do lado de fora. A
aldeã ficou atordoada quando viu.
“Tudo bem, o que está acontecendo aqui... hm? Aquela garota é...”
Ela parecia familiar. Ainz sentiu que a conhecia e procurou em seu hipocampo — em-
bora ele não possuísse tal órgão — por informações confirmando suas suspeitas.
“Sim! Estávamos investigando uma garota suspeita e levou tempo demais. Nós sincera-
mente pedimos desculpas por incomodá-lo, Momon-sama—”
“Er, ah, você é... er, não, eu sou. Ah, o senhor foi quem veio com o Nfirea naquele dia, né?
Não me lembro de falar com o senhor...”
Droga! Eu falei na minha voz normal! Fiz merda. Preciso sair daqui agora. Ainda assim, o
que ela está fazendo aqui? Talvez não tenha problema conversar com ela— não, ela acha
que Ainz Ooal Gown está aqui? Preciso esclarecer isso.
Ela não parecia ter descoberto sua verdadeira identidade da conversa agora, mas ele
não podia descartar a possibilidade de que tivesse sido exposto. Com certeza, ele não
achava que ela teria comparado sua voz de vários meses atrás a algumas palavras ditas
através de uma camada de armadura, mas era melhor ser prudente.
Ainz acenou para o magic caster. Ele sentiu que o homem deveria saber mais do que os
soldados.
Ele conduziu o magic caster para fora do posto de trabalho, eles se afastaram um pouco
para evitar serem ouvidos pelas sentinelas.
“Bem... aquela menina é amiga de um amigo. Pode me dizer o que aconteceu com ela?”
Ele não estava mentindo, já que Nfirea era de fato um amigo de Ainz/Momon.
Os olhos do magic caster se arregalaram. Ele parecia estar chocado, mas esse não era o
caso. Era mais como conectar pontos para formar uma linha perfeita. Era como se um
mistério em seu coração tivesse sido resolvido.
Ainz queria muito dizer isso, mas ele aguentou e esperou que o homem falasse.
“Ela disse que era apenas uma aldeã, mas ela carrega um poderoso item mágico, uma
trombeta feita de chifre. Eu não sabia o porquê ela tinha um item tão poderoso. Isso me
encheu de dúvidas, então eu queria esclarecer as coisas.”
Depois de ouvir toda a explicação, Ainz não pôde deixar de olhar para o céu.
Isso porque ele estava tentando fugir do fato de que era um item que ele deu a ela.
Vou ter que livrar ela dessa. Eu não fiz nada de errado, mas fui eu quem deu o item, no fim
eu meio que sou responsável por isso... se eu a abandonar e cair nas mãos de outra pessoa,
vai acabar dando mais problemas ainda. Além disso, se ela for presa—
Nfirea sabia que Momon e Ainz Ooal Gown eram uma e a mesma coisa. Dadas estas
circunstâncias, se Enri comentasse isso com Nfirea, ele certamente pensaria que Ainz a
deixara a bel prazer do destino.
Pode criar um climão entre nós... Eu não me importo com o sofrimento de humanos sem
valor, mas ele é muito valioso. É como dizem por aí; preciso transformar o perigo em opor-
tunidade. Se eu ajudar ela, o Nfirea vai ficar ainda mais grato. Isso pode fazer ele se esfor-
çar ainda mais no que está fazendo.
Ainz falou em um tom que acreditava que passaria calma e dignidade ao mesmo tempo:
“Não há necessidade de se preocupar. Conheço ela há algum tempo e lhe garanto que
ela é uma boa pessoa, ela não vai sair por aí causando problemas, então poderia fazer o
favor de deixá-la passar? — Faria essa gentileza?”
“Mas é claro. Se ela é uma amiga de Momon da Escuridão, e o senhor a garante, então
permitiremos que ela entre, mesmo que ela não fosse de boa índole.”
“É mesmo...? Bom, agradeço a confiança e sou grato a você por permitir isso. Há mais
uma coisinha, se não for pedir demais, poderia permitir que nós — a Escuridão — en-
tremos na cidade primeiro?”
Ele montou nas costas de Hamsuke e contornou a fila de pessoas. Todos olharam para
ele, mas, uma vez que viram sua armadura negra, suas espadas, Hamsuke e Narberal,
todos desviaram os olhos. Eles entenderam que o status de Ainz era muito maior do que
o deles.
Já que ambos eram aventureiros, não parecia bom que ela demonstrasse tanta lealdade
nas ruas. No entanto, Ainz tinha gradualmente percebido que era inútil instruí-la, e as-
sim ele continuou falando:
Depois disso, Ainz encontrou um lugar para se esconder. Isso porque ele queria evitar
conversas longas com Enri.
Ele inspecionou o ambiente e viu uma pilha alta de engradados de madeira que ele pro-
vavelmente poderia se esconder atrás, e então ordenou a Hamsuke que se apressasse
em direção aquilo. Os soldados que lá trabalhavam entraram em pânico quando viram
Ainz e Hamsuke se aproximando.
Assim que teve certeza de que não seria visto nos portões da cidade, Ainz se dirigiu a
um dos soldados. Claro, ele não estava interessado nos engradados. Ele simplesmente
inventou um pretexto para estar lá porque estava preocupado que outros pudessem
afastá-lo por interferir em seu trabalho.
“Ah... tudo bem. Estamos muito felizes que o senhor tenha interesse em nosso trabalho,
Momon-sama. Os engradados estão cheios de vegetais da província de Grandel, são co-
nhecidos como Kinshu. Estes vegetais—”
Enquanto Ainz escutava a explicação sincera do soldado, ele soltava umas respostas de
“Entendo” e “Interessante”. O soldado não pareceu se importar com as respostas indife-
rentes e continuou sua palestra. Depois de aprender a cozinhar os vegetais chamados
Kinshu com detalhes precisos, ele sentiu Narberal se aproximando por trás dele.
“Perdoe-me por interromper sua explicação. Eu aprendi muito, obrigado. Mas minha
companheira voltou, temos assuntos a resolver.”
“Como foi?”
“Primeiramente, ela queria que eu lhe agradecesse, Momon-san. Depois disso, ela disse
que tinha três objetivos: vender as ervas que havia coletado, verificar os templos para
pessoas que poderiam querer se mudar para vilarejo e, finalmente, ir até a Guilda dos
Aventureiros.”
“Não precisa. Até porque, também vamos à Guilda dos Aventureiros, vamos perguntar
e eles quando chegarmos lá.”
Certamente ela não pretendia agradecer diretamente a Ainz Ooal Gown. Se fosse por
esse objetivo, ela poderia simplesmente deixar uma mensagem com Lupusregina, que
ocasionalmente visitava o vilarejo.
Narberal negou com a cabeça e Ainz franziu as sobrancelhas — que naturalmente eram
inexistentes.
Ele tinha planejado originalmente colocar um Shadow Demon no vilarejo, mas em vez
disso enviou Lupusregina para forjar relações amigáveis. Ele ordenou que Lupusregina
relatasse imediatamente qualquer coisa que acontecesse. Entretanto, nenhuma informa-
ção chegou até Ainz até este ponto.
Portanto, ele acreditava que o Vilarejo Carne estava bem. Não era esse o caso?
Embora não houvesse necessidade de contar trivialidades como “Enri foi sozinha para
E-Rantel”, a inquietação ainda envolvia o coração de Ainz como uma nuvem.
“Eu sempre achei que a Lupusregina era uma trabalhadora. Nabe, o que você acha?”
“É como diz, Ainz-sama. O tom dela a faz parecer muito casual, isso é apenas uma atua-
ção. Ela é cruel e astuta; uma excelente Empregada.”
Não havia como crueldade e astúcia serem tomadas como elogios. Ainz olhou para o
rosto de Narberal, pensando que ela via Lupusregina com negatividade, mas sua expres-
são fria só continha respeito por uma colega.
“Então, Milorde, este aqui deve proceder para a Guilda dos Aventureiros, como o senhor
disse anteriormente?”
“Sim, se lembra de onde fica? Narberal, sente atrás de mim. Como já guardou a Statue
of Animal: War Horse, não precisa se dar ao trabalho de tirá-la novamente.”
Ainz agarrou a mão de Narberal e a pôs atrás dele. Hamsuke parecia ansiosa para sair
e acelerar o passo. Ele não estava mais envergonhado de montar Hamsuke pelas ruas.
Além disso, Hamsuke conseguia entender a linguagem e receber ordens, o que lhe agra-
dava. Parecia apenas andar de cabriolé.
“...Cheguei tarde. Hamsuke, vamos entrar pela porta dos fundos. Circule por trás.”
“Entendido, Milorde!”
Normalmente, os aventureiros não podiam entrar na Guilda pela porta dos fundos. Con-
tudo, tudo era possível para aventureiros adamantite. Aliás, também foi a primeira vez
que Ainz fez isso. Mesmo sendo de uma classe privilegiada, abusar de seus privilégios
prejudicaria sua reputação.
Depois de entrar na Guilda pela porta dos fundos, ele perguntou ao primeiro funcioná-
rio da Guilda para que o levasse para a sala do Chefe de Guilda. Felizmente, o Chefe de
Guilda estava lá.
O Chefe de Guilda — Ainzach — abriu os braços para receber Ainz e depois o abraçou.
Mesmo não sentindo nada, já que estava usando sua armadura e um elmo, havia muitas
razões que teria escolhido para evitar aquele abraço ardente se estivesse em uma fina
camada de roupa. Ainzach acariciou intimamente Ainz nas costas antes de lentamente
soltá-lo.
“Tem tempo que não vem, tenho me sentido tão solitário ultimamente. Venha, sente-se.
Vamos conversar um pouco antes que os outros apareçam.”
O Chefe de Guilda parecia estar recebendo um amigo que não via há muito tempo, en-
quanto indicava alegremente o sofá.
“Obrigado.”
Os dois estavam muito próximos. Seus joelhos estavam se tocando e estava sufocante.
“Momon-kun, nos conhecemos há tanto tempo; certamente podemos falar sem tantas
firulas um com o outro, hm?”
“Não, deve haver educação mesmo que haja familiaridade. Isto é muito importante; é o
que meus anciões me ensinaram.”
Claro, se ele fosse um assalariado, ele teria falado com mais proximidade — algumas
vezes, ele até falou com os clientes em um tom normal. Porém, ele não queria tanta pro-
ximidade com o Chefe de Guilda. Ele achava que manter uma atitude comercial era o
caminho certo a seguir.
O que deu nele para se sentar tão perto de mim? Normalmente, você deixaria a Narberal
se sentar ao meu lado e se sentaria à minha frente, não...?
Sua proximidade o fazia ficar desconfortável; não era de admirar que Ainz começasse a
suspeitar que o Chefe de Guilda fosse gay.
Eu ouvi o Chefe da Guilda dos Magistas dizer que ele é casado... será que a esposa é apenas
uma fachada? Eu pensei que ele estava apenas tentando me colocar do lado dele... mas está
tendo o efeito oposto. Ou ele acha que eu sou gay?
Ainz era heterossexual. Ou melhor, ele costumava ser até onde sabia. Aliás, Suzuki
Satoru preferia peitos grandes. Esse ponto (provavelmente) não mudou, mesmo depois
de ganhar este corpo. Isso porque ele preferia as curvas de Albedo em comparação a...
digamos, a Cocytus.
Ainz ajustou sua posição sentado, movendo-se levemente para longe do Chefe de Guilda,
e então ele se virou para encará-lo.
“Perdoe minha grosseria, mas eu vim aqui porque queria perguntar uma coisa. Eu gos-
taria de— bem, uma de minhas amigas deve estar na Guilda dos Aventureiros neste mo-
mento, e eu gostaria de saber que tipo de solicitação ela vai apresentar.”
“Eu sei, mas espero que compreenda meu pedido. Eu entendo que estou impondo e en-
tendo a necessidade de obedecer às regras da Guilda. Mas espero que me dê uma ajuda
nisso.”
“Tudo bem.”
♦♦♦
Em pouco tempo, o Chefe de Guilda retornou. Em seu encalço estava uma das recepcio-
nistas que Ainz tinha visto antes. Ela andava rigidamente quando entrou na sala.
“Momon-sama! Me desculpe!”
Esta foi a primeira vez que Ainz viu alguém andar enquanto movia ambos os braços e
pernas em sincronia com o corpo. Ele pensou:
Mas no final, ele ainda balançava a cabeça com arrogância. Parte do desafio de ser um
aventureiro adamantite, era que ele não poderia parecer muito relaxado.
“Esta recepcionista atendeu Enri Emmot do Vilarejo Carne. Seria melhor perguntar di-
retamente a ela. Pergunte o que quiser saber.”
“Sério? Então— não, antes disso, talvez ela devesse se sentar, Chefe de Guilda. Mas es-
tamos na sua sala, então não cabe a mim decidir.”
Talvez Suzuki Satoru pudesse ter sentido que era muito errado estar sentado enquanto
a outra parte estava em pé. Contudo, no processo de ser Ainz Ooal Gown — de ser o líder
da Grande Tumba de Nazarick — ele gradualmente perdeu tais sentimentos. Ele estava
lentamente se acostumando com a diferença entre um líder e um servo. Talvez isso fosse
uma indicação de que suas ações como mestre (suas interpretações) não eram um des-
perdício de esforço, mas ele realmente havia acumulado pontos de experiência.
“Como preferir. Bem, vamos aos negócios. Eu gostaria que me contasse sobre o pedido
dela, não poupe os detalhes se possível. Este é um assunto muito importante, então pode
me contar tudo?”
“S-Sim!”
“Não, é quê...”
“Acho que não fui claro. ...Talvez, vamos tentar isso. Ela estava procurando alguém em
particular para algum pedido?”
“...Na verdade, ela não fez um pedido em si, apenas disse que poderia fazer um no futuro.
Ela mencionou algo sobre monstros chamados o Gigante do Leste e Serpente Demônio
do Oeste, que são comparáveis ao Sábio Rei da Floresta que o senhor domou, Momon-
sama. Isso, er, isso é tudo.”
Ainz ficou bastante surpreso ao ver como ela estava com a língua presa, mas ele conti-
nuou perguntando:
“N-não me entenda mal! Eu... eu não sabia que ela era uma amiga sua, Momon-sama! Se
eu soubesse, teria perguntado mais coisas e evitado essa situação! Eu juro!”
Ainz ficou bastante perturbado com a recepcionista, que gritava à beira das lágrimas.
Alguém tão emotivo assim poderia mesmo lidar com pessoas?
“—Chefe de Guilda.”
Depois de ouvir a conversa, Ainz percebeu como eles tinham interpretado mal suas in-
tenções.
A recepcionista e o Chefe de Guilda acreditavam que Ainz e Enri eram amigos e, embora
ele tivesse pretendido aceitar o trabalho de graça, ele decidiu dar à Guilda dos Aventu-
reiros a sua devida deferência e assim eles providenciaram para que ele aceitasse seu
pedido através da Guilda.
Não, se isso fosse a regra de uma organização, ela não estaria certa em obedecer?
Ainz olhou para o Chefe de Guilda enquanto repreendia a recepcionista, e sua opinião
sobre o homem caiu.
Se um subordinado cometer um erro, seu superior deve assumir. Ou isso é algum tipo de
técnica de alto nível em que ele a repreende com selvageria na frente de um cliente para
ganhar a simpatia do cliente e, assim, seu perdão? Quero dizer, olhe como ele está se im-
pondo na frente dela.
Ainz sentiu que a recepcionista havia lidado com isso corretamente, e o Chefe de Guilda
deveria saber disso também. No entanto, do mesmo modo que entrou pela porta dos
fundos e pediu ao Chefe de Guilda um favor, os aventureiros adamantite poderiam facil-
mente ignorar as regras. Isso porque eles eram valiosos o suficiente para que a Guilda
quisesse mantê-los por perto, mesmo se desrespeitassem as regras. Graças a isso que os
dois estavam discutindo agora.
“Obedecer às regras é muito importante, mesmo que devam ser negligenciadas de tem-
pos em tempos. Eu não vou guardar mágoas deste incidente contra você.”
“Então, posso pedir para que pergunte ela os detalhes. Ah, e por favor, não diga que eu
vou aceitar, só que eu quero estar pronto para agir a qualquer momento.”
“...Eu percebi que queria ganhar minha simpatia, mas eu preferiria que não culpasse
levianamente alguém inocente. Isso me desagrada.”
Então as técnicas do trabalhador japonês são universalmente aplicáveis. Mas o real pro-
blema é—
Por que a Lupusregina não tinha informações sobre monstros que até mesmo uma aldeã
como a Enri tem? Será um furo na construção da rede de inteligência? Eu preciso ter cer-
teza.
Enquanto Ainz esperava que a recepcionista se reportasse novamente, ele pensou que
precisaria retornar à Nazarick e resolver isso.
Depois de ver o olhar confuso em seu rosto, ele ponderou se ela realmente não sabia de
nada. Ainz decidiu repetir o que ouviu a respeito do Gigante do Leste e a Serpente De-
mônio do Oeste na Guilda dos Aventureiros.
No entanto, quando percebeu que Lupusregina parecia saber muito bem do que se tra-
tava, o humor de Ainz se deteriorou rapidamente. Ele exclamou em alto tom.
“Sua idiota!”
Governado pela raiva, o grito cheio de ira de Ainz ecoou pela sala.
Enquanto os outros recuavam como se tivessem sido atingidos por um raio, Ainz sentiu
algo reprimir suas emoções, mas mesmo depois que o pico de raiva fôra cortado, sua
raiva aumentou novamente, não havia como ele controlar totalmente sua ira.
“Então por quê!? Por que fiquei sabendo disso por terceiros!? Qual o motivo?”
“P-porque eu pen-pensei que não era grande coisa, então eu não relatei...”
Por alguma razão, a visão da Empregada de Batalha assustada que o espreitava apenas
o incitou ainda mais.
Lupusregina não foi a única que se encolheu de medo com isso. Nabe e Cixous também
estavam tremendo, e os Eight-Edge Assassins no teto pareciam ter congelado também.
“Eu lhe dei arbítrio ao lidar com o vilarejo, mas isso não significa que pode fazer o que
bem entender! Disseram-lhe para relatar qualquer coisa que acontecesse lá, qualquer
coisa. Então qual é o significado disso!?”
“É quê...”
O rosto de Ainz se contorceu quando olhou para baixo, para uma Lupusregina que não
conseguia responder.
Este era um pecado imperdoável para um funcionário; não, para qualquer um.
Eram regras óbvias para qualquer um que fizesse negócios, ou melhor, para qualquer
pessoa que trabalhasse na sociedade, o R.C.D: era a abreviação de relatar o que apren-
deu, comunicar claramente com os outros e discutir os problemas à medida que sur-
giam. Era a pirâmide de uma empresa saudável; a força vital dos gigantes que trabalha-
vam na sociedade.
Se nem isso ela pode fazer, não acho que posso perdoá-la da perspectiva de um líder...
mas...
Enquanto ele olhava para uma Lupusregina aterrorizada, Ainz não podia deixar de pen-
sar que parte da culpa era dele. Esses erros só resultariam se um superior não fosse
confiável e não pudesse alocar adequadamente seus subordinados.
Uma falha nas comunicações do grupo é minha culpa. Eu não pude tomar o controle ade-
quado disso... talvez eu deva dar um passo atrás e deixar o Demiurge ou a Albedo lidarem
com esse tipo de coisa.
“Não é isso que perguntei; quero dizer, o que você, pessoalmente, acha valioso sobre o
vilarejo?”
“Ah, então é por isso. Bem, então... me desculpe. Eu que errei. Eu não sabia que você
pensava assim...”
Ainz riu cansado. Ele percebeu que tinha sido culpa dele afinal:
“Eu retiro o que eu disse sobre você ser uma decepção. Eu fui longe demais. Por favor
me perdoe.”
“O-o que o senhor está dizendo? Eu sou a errada aqui, o senhor não tem culpa de nada!”
“Apenas seja mais cuidadosa da próxima vez. Vou explicar novamente, então preste
muita atenção. Aquele vilarejo é muito valioso para nós. Especialmente aquele menino,
Nfirea, e sua avó, Lizzie. Eles são de grande importância para Nazarick.”
Lupusregina gritou de repente aquela última parte quando seu rosto ficou pálido. Ela
pegou um frasco de poção roxa e Narberal, que estava mais próximo dela, pegou e en-
tregou a Ainz.
“E isto é...”
A raiva de Ainz explodiu novamente, e ele tentou o seu melhor para anulá-la.
Esta poção roxa que Nfirea fez foi inventada usando vários itens fornecidos por Naza-
rick. O mais importante era que, sem possuir as habilidades de criação de poções de
“Para começar, as poções de cura deste mundo são azuis. Mas as poções de cura que eu
conheço são vermelhas. Curioso, não acha?”
Ainz divagou.
O conhecimento e os poderes de YGGDRASIL eram usáveis neste mundo. Dos anjos que
ele encontrou pela primeira vez, até a aparente existência de itens World-Class, havia
uma chance muito grande de que os jogadores estiveram aqui no passado. Nesse caso,
por que as poções não eram vermelhas como no YGGDRASIL?
Primeira, a queda de um país pode ter resultado na perda dessas técnicas de fabricação
de poções. Essas técnicas deveriam ter sido bastante difundidas, se não fossem, a des-
truição de um país inteiro seria capaz de acabar com elas.
Segunda, pode ter sido que Nfirea simplesmente não conhecia essas técnicas, uma vez
que elas não se espalhavam para os países vizinhos. Talvez países distantes possam es-
tar usando poções vermelhas. Afinal, no Japão, a mesma sopa de macarrão parecia com-
pletamente diferente quando preparada em diferentes partes do país.
“Isso quer dizer, exceto pela segunda possibilidade, essa poção que o Nfirea fez...”
Disse Ainz fazendo o líquido roxo circular em seu frasco antes de completar:
“Pode ser uma revolução tecnológica única deste século, isso até onde sei. Bem, se é a
terceira possibilidade, isso pode acabar sendo um produto falho, afinal. Porém, seu tra-
balho com afinco no futuro me dará a resposta.”
O que Ainz queria de Nfirea era, ele fazer poções de YGGDRASIL sem usar materiais de
YGGDRASIL. Ou ele pode até mesmo inventar outra coisa e acabar fazendo uma terceira
poção completamente diferente.
“Nesse caso, não seria mais eficaz deixar mais pessoas pesquisarem o assunto?”
Em tempos de YGGDRASIL essa lei regia os jogadores e não era diferente neste mundo,
então Ainz poderia dizer isso com confiança.
“Por exemplo, existe a possibilidade de criar uma poção e refiná-la ao ponto de me ma-
tar com um único ataque. Então, seria mais seguro monopolizar esse conhecimento do
que disseminá-lo... É melhor que os escravos sejam um pouco ignorantes, mas é preciso
estarem sempre a par dos avanços tecnológicos. Isto vale para o Nfirea e suas poções. O
meio mais seguro seria prendê-lo em Nazarick e fazê-lo se concentrar apenas em pes-
quisa e desenvolvimento, mas...”
Os olhos de Narberal pareciam dizer que ela faria isso imediatamente, se ordenada, e
por isso Ainz apressadamente deu uma resposta.
“Ao invés de aprisioná-lo e forçá-lo a trabalhar, eu o farei confiar em nós, como um ne-
gócio a longo prazo que trará melhores benefícios para Nazarick. Demiurge analisou a
situação e concluiu que era melhor prendê-lo a nós com uma dívida de obrigação— Hm?
O que há de errado, Lupusregina?”
“Há uma coisa que eu não entendo, o senhor poderia explicar isso para uma tola como
eu? Por que o senhor deu a poção para alguém como a Britta, Ainz-sama?”
Ainz não tinha idéia de quem era essa Britta apenas por ouvir o nome. Enquanto tentava
manter um olhar que dizia “tudo está na palma da minha mão” — o que significava uma
expressão cuidadosamente vazia —, ele lutou freneticamente para pensar em uma solu-
ção.
Quando se lembrou do que dissera na época, Ainz ficou grato por seu corpo não conse-
guir mais transpirar.
Demiurge! Albedo! Cadê vocês quando eu mais preciso? Não, Demiurge está trabalhando
fora no momento, já a Albedo está confinada! Não posso chamar ela agora!
Para de perguntar!
Ainz queria gritar. No entanto, ele não tinha outras opções, então tudo que ele podia
fazer era jogar os dados e esperar pelo melhor. Coragem encheu-o quando ele decidiu
seu curso.
“Fufu... hahahaha. Como dizem, você gosta de jogar verde, Lupusregina, mas tem o di-
reito de ser curiosa. Aquilo quase foi o resultado de um desenvolvimento que não pode-
ríamos controlar. Contudo, houve um motivo para assumir tais riscos.”
“U-Um motivo? Não foi apenas para compensá-la pela perda de uma poção?”
A interrupção de Narberal fez Ainz engolir as palavras que ele estava prestes a dizer.
Seu cérebro funcionava em alta velocidade, e ele lutava para recordar esse encontro em
E-Rantel.
Ela se lembra!? Droga! Só fiz aquilo naquela época porque não queria ter fama de bader-
neiro!
Ainz manteve seu comportamento sereno. Ele teria que mentir para encobrir outra
mentira. Ele lutou para reunir os vestígios de sua coragem rapidamente desaparecendo.
“Sinto muito!”
“...Tudo bem, não precisa se desculpar por isso. Na época, eu não estava confiante de
que meu plano funcionaria, então escolhi uma explicação mais simples.”
Diante das perguntas de Narberal, o queixo de Ainz ficou aberto por um momento por
uma perda de palavras. Mas naquele momento, foi como se uma luz tivesse acendido
sobre sua cabeça. Com isso como base para sua confiança, Ainz foi curto e direto:
“...Nfirea.”
Quando lentamente abriu a boca, Ainz ganhou ainda mais atenção dos subordinados ao
seu redor. Se Demiurge ou Albedo estivessem presentes, eles provavelmente iriam in-
terromper e dizer: “Ah, então é isso. Como esperado de Ainz-sama”.
“...Nfirea...?”
Ainz segurou seu queixo com um silencioso “Unhum”. O medo começou a rastejar sobre
os rostos de Narberal e os outros, porque eles pensavam que a pose de Ainz significava:
“Você ainda não entende, mesmo depois de eu ter dito?” Na verdade, Ainz fez aquele gesto
inconscientemente, sem saber o que fazer com as mãos.
Em um curto período de tempo, Ainz foi submetido a uma tensão extrema e à supressão
de emoções que o acalmava. Entre essas duas forças conflitantes, uma epifania foi de
encontro com Ainz. Sem saber onde iria acabar, Ainz entrou de cabeça na idéia de ser
um cara de pau e completou:
“...Mm. Eu consegui chamar a atenção do herborista conhecido como Nfirea; isso não
basta como resposta...? Resumidamente... que faria se pusesse as mãos em uma poção
completamente diferente de qualquer outra poção que já tivesse encontrado?”
Ele lembrou que Nfirea aparentemente havia dito algo parecido quando se conheceram
no Vilarejo Carne.
“Finalmente entendeu. Aquilo foi a isca para o meu anzol para pegar um mestre alqui-
mista. Embora houvesse uma chance de o tiro sair pela culatra e causar problemas, ainda
assim valeu a pena tentar.”
Assim que Ainz estava prestes a suspirar mentalmente em alívio, uma pergunta repen-
tina e inesperada veio.
“Eu... eu entendo que estou sendo muito rude, mas eu poderia fazer mais uma per-
gunta...”
Ainz estava gritando por dentro, mas seu rosto permaneceu impassível.
“Obrigada.”
“O senhor sempre pensa dois ou três passos à frente quando faz planos, Ainz-sama?”
Na maioria das vezes, Ainz inventava as coisas na hora. Claro, às vezes ele tentava pla-
nejar seu próximo passo, mas na maioria das vezes, os resultados eram completamente
diferentes do pretendido. Claro, não podia dizer nada disso.
“É óbvio. Eu sou o governante da Grande Tumba de Nazarick, Ainz Ooal Gown, não sou?”
As palavras ofegantes de Lupusregina fizeram Aura franzir a testa e ela deu um passo à
frente. No entanto, Ainz a parou.
“Então, er, eu tenho outra. Não seria melhor se deixássemos os monstros atacarem o
vilarejo, e então o senhor os salvasse, isso não seria melhor, Ainz-sama? Quero dizer,
Nfirea e sua avó não se sentiriam muito gratos por tirá-las do fogo cruzado? Isso os tor-
naria mais úteis... correto, Ainz-sama?”
“Bem, seu plano é muito bom, vale a pena considerá-lo, mas se isso acontecesse, Nfirea
poderia acabar odiando os monstros e então não estaria mais disposto a cooperar co-
nosco... porém, seria um assunto diferente se fossem humanos a fazê-lo. Nesse caso, tal-
vez fosse mais eficaz se salvássemos a Enri Emmot também, para melhor acorrentar seu
coração ainda mais.”
Contudo, o Vilarejo Carne já havia sido salvo pelo magic caster Ainz Ooal Gown. Era um
lugar útil, então deixar que fosse destruído seria bem questionável.
“Lupusregina, está perdoada por seu deslize. Já que conhece meus objetivos, você não
será perdoada da próxima vez. Fui claro?”
“Sim, senhor!”
Lupusregina fez uma reverência e saiu do escritório, seguida de perto por Narberal, que
parecia mais uma policial escoltando uma criminosa. Depois que as duas saíram pela
porta, Ainz se virou para a Guardiã ao lado dele.
“Então, Aura. Sabe alguma coisa sobre o Gigante do Leste e a Serpente Demônio do
Oeste—”
“Sério, Ainz-sama é incrível demais ~su! Não acredito que ele tenha pensado tão à
frente e com tantos detalhes! Ele deve ser algum tipo de monstro ~su!”
A voz que veio pela porta grossa não foi muito alta, mas foi o suficiente para interrom-
per a conversa. Dado que eles podiam ouvir suas palavras tão claramente, quão alto ela
estava gritando no corredor do lado de fora?
“Ela tá muito animadinha pro meu gosto, vou lá ensinar uma lição—”
Houve um som esmagador do lado de fora da porta e, em seguida, o som de algo pesado
sendo arrastado para a distância.
“...Acho que não é preciso, Aura. Voltando ao assunto; diga-me o que encontrou.”
“Sim. Er, sinto muito, mas não sei de nada desse Gigante do Leste ou Serpente Demônio
do Oeste. Depois que a gente lutou contra aquele monstro chamado Zy'tl Q’ae, eu fiz uma
varredura rápida da floresta, mas só lembro de umas cavernas subterrâneas, que não
investiguei ainda. Nem encontrei inimigos fortes...”
“Bem, se são tão fortes quanto a Hamsuke, eu entendo o porquê você não teria notado
eles.”
“Eu realmente sinto muito. Então, Ainz-sama, vamos fazer limpeza lá?”
“Gostei da idéia. Hora de exterminar alguns mosquitos irritantes e colocar a floresta sob
o controle completo de Nazarick.”
“É pra já! Ah, vou enviar alguns dos meus animaizinhos também!”
“Hum. Não tão rápido. Eu gostaria de ver que tipo de monstros esse Gigante do Leste e
a Serpente Demônio do Oeste são, já que podem rivalizar com a Hamsuke.”
“Não, melhor eu ir fazer uma visita. Graças a Hamsuke, encontrei outra maneira de
apreciar o valor das antiguidades também.”
“Bem, mas isso não é tudo. Eu também quero ver se a Lupusregina vai passar em um
teste que farei...”
Fenrir movia-se sem pressa pela floresta noturna. Nem os galhos que se estendiam ou
as videiras enroladas dificultavam os movimentos de Fenrir ou as duas pessoas em suas
costas. De fato, eles pareciam se mover como fantasmas incorpóreos, sem sequer encos-
tar em um galho.
Este foi o efeito de uma das habilidades de Fenrir, conhecida como 「Landwalker」.
“De acordo com os relatórios dos meus vassalos, o covil do Gigante do Leste deve tá
logo à frente.”
Não havia tensão na voz de Aura, mesmo neste mundo de escuridão, separado da luz
das estrelas pelas árvores densamente compactadas. Ainz e os outros não eram como os
humanos, que não tinham outros meios para ver no escuro. Eles observaram a floresta
escura ao redor deles como se fosse dia claro.
“Tá bom! Farei o meu melhor! Mas como vou lidar com os bobões que ousarem levantar
a mão pro seu lado, Ainz-sama?”
Aura olhou para trás — para Ainz — com um olhar confuso no rosto.
“Isso porque o Gigante do Leste e a Serpente Demônio do Oeste são monstros desco-
nhecidos. Tentar uma comunicação racional traz mais vantagens do que o contrário. Se
são monstros que não existiam em YGGDRASIL, então eu gostaria de tê-los para mim.”
“É... é mesmo? Eu sinto que apenas os dignos merecem minha gentileza — seguidos por
aqueles que pertencem à Nazarick... Eu estou fazendo isso porque eles podem ter algum
valor se estiverem no nível da Hamsuke. Eu suponho que poderia chamar isso de apro-
veitar as oportunidades que a vida dá, o que me diz?”
Hamsuke estava atualmente treinando para ser uma guerreira sob os cuidados de
Zaryusu dos Lizardmen. Aliás, um dos Death Knights feitos por Ainz também estava trei-
nando com ela.
Embora sentisse que era provavelmente impossível, ele ainda tinha que conduzir o ex-
perimento para ter certeza.
“Então mandou o ferreiro fazer armaduras pra Hamsuke porque ela é muito impor-
tante?”
“Vejo que anda bem informada. Isso é um dos motivos. Futuramente, se eu tiver que
colocá-la no campo de batalha, aumentar a defesa dela pode ser crucial.”
Hamsuke não deve ter problema em usar a armadura completa quando tiver níveis na
profissão de Guerreiro. Atualmente, colocá-la em armaduras diminuía muito suas taxas
de evasão e mobilidade devido ao peso. Ainz sentiu que ela precisava de treinamento
por esse motivo. Porém—
Essas restrições que se pareciam com as do jogo ainda eram um mistério. Se ele dei-
xasse Demiurge e os outros investigarem mais a fundo, eles poderiam encontrar a res-
posta certa, mas por algum motivo, Ainz não queria fazer isso.
É um mundo mágico, a física pode funcionar muito diferente do esperado. Talvez tudo que
eu possa fazer seja me forçar a aceitar que é apenas um dos princípios que regem este
mundo. Apenas supondo que tudo poderia acontecer...
“Não, é que parecia que você tava pensativo, aí fiquei me perguntando se queria que eu
fizesse algo.”
“Oh, claro. Mas não é nada de mais, apenas pensei umas coisas sem importância.”
“Tá bom.”
Aura parecia aliviada e olhou para frente mais uma vez. Ainz olhou para a parte de trás
de sua cabeça — que estava coberta de cabelos dourados e sedosos. Seu olhar desceu,
passando por suas costas esbeltas, e então se concentrou em suas mãos — que estavam
em volta de sua cintura esbelta.
Como nunca tivera filhos, Ainz estava curioso e não resistiu à vontade de acariciar sua
cintura, como se a inspecionasse. Então, Ainz levantou a mão para afagar as costas dela.
No entanto, não usou muita força pois estavam montados em Fenrir.
Na verdade, era tão vermelho que até alguém sem visão no escuro poderia ver como
era vermelho.
“Po... posso sim. Eu não ganho nenhum aprimoramento mágico disso, mas posso comer
sem problemas.”
Enquanto seus companheiros não estavam por perto, o crescimento dessas crianças era
responsabilidade de Ainz.
Ainz não tinha idéia do motivo pelo qual Shalltear foi inserida na conversa, mas ele pre-
feriu não perguntar.
“...Itens que eliminam a necessidade de comer e beber podem afetar o crescimento, de-
pendendo da situação, talvez seja melhor trocá-los por outros itens. Crescer... talvez um
dia, vocês dois até namorem...”
Aura e Mare eram crianças muito fofas e, quando crescessem, certamente seriam muito
bonitas(os). Ainz imaginou homens e mulheres de todos os tipos declarando seu amor
por eles — embora Ainz nunca tivesse tido experiências como essas, então o que ele
imaginava vinham de programas de TV.
Talvez tivesse sido influenciado pelo tópico anterior, mas por algum motivo ele imagi-
nou uma enorme pilha de Hamsukes.
“—Hm?”
Ele visualizou uma jovem Aura e Mare sendo cercada por vastas quantidades de Ham-
sukes. Parecia bastante agradável, mas era completamente diferente do plano que Ainz
tinha em mente.
Hamsuke está relacionada com roedores, então a Hamsuke deveria ser capaz de se repro-
duzir em grandes quantidades. Seria melhor castrar? Eu gostaria de deixar ela se reprodu-
zir antes disso... Será que existem machos de sua espécie?
“Eu... eu lhe entendo, tem razão. Ainda é jovem. Por curiosidade, Aura, de quem você
mais gosta em Nazarick? Qual é o seu tipo?”
Já que Ainz não tinha experiência no amor, ele ainda ficava com um pouco de inveja
sempre que via rapazes e garotas bonitas sendo amorosos à beira da estrada. Todavia,
Ainz tinha certeza de que poderia desejar o bem dos NPCs com todo seu coração.
Ainz ficou muito feliz ao ouvir lisonja de uma criança como Aura. Ele amava muito os
filhos (NPCs), como não poderia ficar contente em saber que era recíproco?
“—Eh?”
Ainz acariciou a cabeça de Aura por trás. Os fios macios do cabelo dela passaram entre
os dedos.
“—Eh!?”
Devo começar a considerar a questão da educação sexual? Se existir escolas para Elfos
Negros, será que envio a Aura e o Mare para estudar lá, isso pode ajudar a se transforma-
rem em bons adultos? O que a Bukubukuchagama-san acharia disso se estivesse aqui? Mas
ainda assim, escolas... Comédias românticas escolares... Peroroncino-san adorava este tipo
de coisa, ele disse que queria fazer uma Nazarick Gakuen com o Suratan-san. Onde foi pa-
rar os rascunhos?
“—Eh—!”
“Ah! Desculpa. O covil do Gigante do Leste era pra estar por aqui, mas...”
“O... o futuro?”
“Oh, sim. Eu estava pensando que, se houvesse um reino de Elfos Negros, talvez valesse
a pena visitar e, se isso acontecer, queria que me acompanhasse.”
“Eh? ...Ah, sim... claro! Então foi isso que quis dizer com o futuro. Saquei! Vai ser uma
honra te acompanhar quando achar um. Ah— é ali pertinho, Ainz-sama.”
Na escuridão à sua frente, eles puderam ver uma fonte de luz categoricamente antina-
tural através das lacunas na floresta.
“Entendi. Aura, poderia posicionar todos os animais mágicos que trouxe ao redor desta
região? Vou fazer alguns preparativos também.”
“Hum, creio que quatro devem bastar. Venham, Pale Riders. Voem para o céu e aguar-
dem, se alguém tentar fugir, capture-os.”
[Cavaleiros P á l i d o s ]
Os P a l e Riders indicaram o seu entendimento sem dizer uma palavra e, com um puxão
nas rédeas, os cavalos pálidos saltaram e galoparam para o céu. Os Pale Riders ficaram
etéreos, passaram pelos galhos das árvores e voaram.
“Vamos guardar isso como um último recurso. Meu objetivo é resolver isso sem qual-
quer combate. Primeiro, vou tentar discutir tópicos que mutuamente serão benéficos.”
Essa era a verdade. Ainz não estava procurando por uma briga. Já que estava perfeita-
mente disposto a ser implacável se houvesse benefícios, isso não significava que ele era
uma pessoa cruel. Ainz não iria pisar propositalmente nas formigas em seu caminho. Um
diálogo racional seria o melhor.
Esta área estava coberta de árvores murchas, assim como a região montanhosa ao re-
dor da Árvore Maligna. Havia algumas áreas que acabaram se tornando florestas mur-
chas por razões especiais. Havia muitas razões para isso e, neste caso, foi provavelmente
por causa de monstros.
“Que risível. Aura, creio que estavam tentando construir uma estrutura como a sua. O
trabalho dos tolos é realmente desagradável. Eles vivem em cavernas e não sabem o
quão atrasados estão, então resulta nesse tipo de coisa.”
Havia uma fissura no chão cheio de marcas, que havia sido queimado à esterilidade.
“...Ninguém está de vigia. Que descuidado. É, não podemos evitar. Nós vamos bater na
próxima vez.”
Com Aura ao seu lado, Ainz caminhou em direção à entrada da caverna subterrânea. Ele
olhou para dentro, parecia um declive suave, e o interior parecia bastante espaçoso. O
teto era alto e parecia que até grandes criaturas poderiam viver dentro sem problemas.
...Isso me lembra as dungeons de YGGDRASIL. Naquela época, todo mundo ficava curioso
e animado sempre que descobríamos cavernas nas montanhas e coisas do tipo.
Se isso fosse no passado, eles teriam deixado Tigris Euphrates e pessoas como ele lide-
rarem o caminho, enquanto Ainz — Momonga — seguiria atrás. Então, eles invocariam
monstros e, no caso de Ainz, ele faria com que os undeads andassem à frente deles, per-
mitindo que acionassem as armadilhas enquanto avançavam cuidadosamente. Isso era
conhecido como o desarmamento de guerreiro ou um desarmamento de invocação.
Bons tempos...
O fedor emanando da caverna fez enrugar as sobrancelhas inexistentes. Não era gás
venenoso, mas sim um odor rançoso e decadente que anuviava o ar.
É uma armadilha de gás fedorento? Não acho que quem mora aqui pode montar uma
armadilha tão elaborada... talvez se formou naturalmente.
Por ser undead, Ainz não precisava respirar. Ele estava completamente imune aos ata-
ques de gás. Aura também era protegida por itens mágicos, então se esse fedor fosse
algum tipo de ataque, deveria ser ineficaz. Também havia outra possibilidade, de que
este era apenas um fedor natural.
“Pois é. Mas tenho minhas dúvidas. Olha essas pegadas, esta caverna parece abrigar
muitas formas de vida do mesmo tipo, mas todo mundo fica descalço. As pegadas são
grandes e, pelo tamanho, parecem ter mais de dois metros de altura.”
Ainz e Aura não pararam de andar e, ao descerem a encosta, viram dois monstros na
base do declive.
Os dois Ogros estavam rasgando alguma coisa e empurrando-a goela abaixo. Um novo
cheiro subiu para Ainz e Aura.
“...Eu não estou aqui para massacrar, então eu preciso me comunicar de uma maneira
amigável — Ei, Ogros, desculpe interromper a sua refeição.”
Os dois Ogros se viraram simultaneamente para olhar para Ainz, e então rugiram.
Os ecos dentro da caverna foram intensos, e não havia como julgar com precisão a po-
sição, mas pareceria um uivo similar vindo das profundezas da caverna.
“Que saco...”
Ainz suspirou. Isso porque ele percebeu que eles não desejavam se comunicar com ele.
O Ogro gritou roucamente quando chegou a Ainz, e então balançou seu tacape em Ainz
sem esperar.
“Eu tenho—”
Acertou Ainz com um baque, mas um mero tacape sem magia alguma não poderia ma-
chucá-lo.
“—Sua casa—”
O campo de visão de Ainz tremeu um pouco quando o tacape bateu em sua cabeça. Não
doía, mas era muito irritante. Dito isto, se alguém pisasse em Nazarick, Ainz certamente
estaria com raiva o suficiente para querer matá-los. Com isso em mente, era natural que
eles quisessem atacá-lo, então Ainz provavelmente deveria suportar os golpes.
Uma vez que nenhum sinal de trégua surgisse, não haveria nada a dizer.
O outro Ogro se aproximou um pouco mais tarde. Não balançava um tacape, mas esten-
deu a mão para Ainz. Provavelmente tinha visto como os ataques do outro Ogro tinham
se mostrado ineficazes, e queria agarrá-lo em vez disso.
Ainz arqueou as sobrancelhas. Claro, não havia nada em um rosto esquelético que pu-
desse se mover.
Ainz estava originalmente disposto a deixar o Ogro agarrá-lo. No entanto, seus olhos
capazes de visão no escuro viram o sangue na mão do Ogro.
“Que nojo.”
“É muito irritante me comparar com outros Skeletons. Estou aqui para ver seu chefe, o
Gigante do Leste. Poderia ir buscá-lo? Embora eu tenha certeza de que ele virá mesmo
se você não o chamar.”
Ainz acenou para que o Ogro fosse imediatamente, e ele prontamente se virou e correu
caverna adentro.
“...Que chatice. Se eles tivessem visto a discrepância em nossos respectivos pontos for-
tes desde o início, não teríamos que perder tempo.”
Havia vários Goblins — corpos mastigados, na verdade — onde os Ogros estavam agora.
Enquanto seus restos eram pouco mais do que pedaços de carne e era impossível dizer
quantos havia, mas não deveria haver mais do que apenas um ou dois.
“Que gafe. Acabei usando muita força. Tinha planejado evitar o assassinato antes que as
negociações fossem interrompidas, é difícil prosseguir da maneira mais amigável possí-
vel...”
“Não tinha outra saída! A culpa é desses Ogros imundos que tentaram te tocar, Ainz-
sama!”
“Obrigado por compreender meu lado. Punitto Moe-san disse uma vez, “Socá-los na cara
é uma boa maneira de fazer a outra parte se comportar” ...ou foi o Takemikazuchi-san
quem disse isso?”
“Se foi algo que os Seres Supremos disseram, então deve tá certo!”
Ainz não conseguia lembrar qual desses dois polos opostos havia dito isso. Só então,
uma horda de monstros emergiu das profundezas da caverna. Todos eram muito mais
altos que um ser humano.
“Ora ora, se não é uma horda de Trolls. Mas chamá-los de gigantes é propaganda enga-
nosa, se bem que não é como se fosse totalmente mentira.”
Trolls eram altos com orelhas e narizes longos. Eles tinham rostos muito feios e seus
corpos musculosos eram tão grotescos quanto os de qualquer heteromorfo. Eles usavam
o que pareciam ser roupas de pele de tigre, pois as cabeças dos mesmos eram vistas na
altura de seus ombros.
Eles tinham quase 3 metros de altura, eram mais fortes que os Ogros e possuíam pode-
rosas habilidades regenerativas. Dizia-se que, a menos que fossem mortos com fogo ou
ácido, eles poderiam voltar dos mortos mesmo depois de serem reduzidos a pedaços de
carne. Havia 6 Trolls aqui, além de 10 Ogros.
Era mais musculoso que os outros Trolls, e seu rosto feio exalava confiança.
Ele usava uma armadura de couro que parecia ter sido costurada de várias peles de
animais. Seus braços poderosos tinham uma espada grossa que era maior do que as que
“É o que dizem.”
Sendo esse o caso, este Troll deveria ser o Gigante do Leste. Assim sendo, que tipo de
Troll ele era? Ainz estudou o Gigante do Leste com cuidado.
Trolls eram monstros altamente adaptáveis. Eles variavam muito de acordo com o am-
biente.
Por exemplo, havia Trolls Vulcânicos que viviam em vulcões e eram resistentes ao fogo.
Havia Trolls Aquáticos que eram adeptos de nadar no oceano e respirar debaixo d'água.
Havia Trolls Montanhosos, que viviam nas montanhas e eram especialmente fortes. Ha-
via também Trolls Pedintes, tipos raros que viviam sob pontes. Havia uma variedade
interminável de espécies e sub-raças mutantes como essas.
Trolls adaptados para a vida na caverna eram chamados Trolls Cavernosos. Mas eles
pareciam diferentes disso.
Esta era uma nova espécie de Troll que ele encontrou pela primeira vez neste mundo
— este monstro desconhecido despertou o espírito de colecionador de Ainz.
♦♦♦
O Troll conhecido como o Gigante do Leste havia alcançado uma forma muito rara de
evolução.
Ele era um Troll que nasceu em meio a inúmeras batalhas, adaptado a eles e especiali-
zado em habilidades de luta. Se alguém tivesse que nomeá-lo, sua espécie seria Troll de
Guerra, um exemplo particularmente notável entre as muitas sub-raças de Trolls.
Pode-se dizer que sua destreza no combate era incomparável entre outros da mesma
idade que ele.
Claro, o corpo dele era menor que aquele de um Troll Montanhoso. No entanto, os mús-
culos de seu corpo — suas habilidades físicas — superaram em muito os da segunda
espécie. Além disso, ele não usava um tacape primitivo que podia ser facilmente manu-
seado com força bruta, mas usava suas habilidades inatas para empunhar habilmente
uma espada — uma arma que era inferior mesmo a um tacape se não soubesse como
usá-la. Pode-se dizer que ele era um Troll que despertou habilidades de guerreiro.
Depois de não ouvir negações, Ainz apontou ligeiramente para a direita do gigante.
“Então, acredito que aquele sujeito ali é a Serpente Demônio do Oeste. Estou correto?”
Alguém com visão comum certamente pensaria que ele estava apontando para o ar va-
zio. No entanto, Ainz podia ver claramente o heteromorfo escondido, como se estivesse
iluminado pela luz do sol.
“Talvez você pense que se escondeu com invisibilidade, mas meus olhos podem ver
através disso. Pare de desperdiçar seu esforço e me responda.”
Um monstro surgiu do que originalmente era uma camada de ar. Provavelmente dissi-
pou sua invisibilidade.
De fato, era uma serpente. Não, para ser preciso, tinha o corpo de uma. Tinha o torso de
um homem velho do peito para cima, mas tinha uma forma serpentina abaixo dele. Era
um monstro heteromórfico.
Ao contrário do Gigante do Leste, Ainz tinha visto monstros como este em YGGDRASIL
antes, e assim ele poderia imediatamente declarar o nome de sua raça.
“Um Naga, então. Embora não seja errado chamá-lo de Serpente, você não tem um nome
melhor que esse? Se bem que já existe o caso do Sábio Rei da Floresta, então isso era de
se esperar, não é?”
“Se pode ver através da minha invisibilidade, então você certamente não é comum—”
O Naga estava apenas na metade de suas palavras quando uma voz estrondosa encheu
a caverna e o afogou. O Gigante do Leste deu um passo à frente.
“Primeiro de tudo, para esclarecer as coisas; eu não sou um mero Skeleton. Desejo cor-
rigir esse erro.”
“E o que mais é, se não um Skeleton? O Rei das terras do leste, Gu, permite que você
diga seu nome!”
“—Gu?”
“Ah, então seu nome é Gu. Perdoe minha introdução atrasada; meu nome é Ainz Ooal
Gown.”
“Huahuahuahua! Nome de covarde! Nome macio e fraco, meu nome é forte e poderoso!”
“Covard—”
Ainz parou Aura antes que ela pudesse dar um passo adiante.
“Está bem. Não fique chateada com algo tão insignificante. Fique calma. Estamos aqui
para conversar, somos embaixadores da paz. Ah, só para saber, por que acha que eu sou
um covarde?”
“Ah, é que a laia deles considera nomes longos como um sinal de covardia, caro undead
misterioso.”
“Então ele não é dos mais sábios, é apenas lixo. E você, também acha que meu nome é
de covarde?”
“Este velho aqui certamente não pensaria assim, pois também tem um nome longo. De
fato, este velho aqui é a Serpente Demônio do Oeste da qual fala — Ryraryus Spenia Ai
Indarun, caro invasor Ainz Ooal Gown. Este velho aqui sempre esperou que a mente dele
fosse tão desenvolvida quanto o corpo, mas se fosse esse o caso, ele teria dominado esta
floresta há muito tempo; verdadeiramente um dilema.”
Um olhar de suspeita cruzou o rosto de Ryraryus enquanto Ainz deixava seus pensa-
mentos mais íntimos escaparem. Infelizmente, assim que queria esclarecê-los, Gu e os
Trolls pararam de rir.
“E aí, seus fracotes, tão fazendo o que aqui, hein!? Querem ser a comida de Gu? Ossos
deliciosos e crocantes! Vou te comer, começar pela cabeça!”
“Fui eu quem ordenei que undeads e Golems construíssem a fortaleza na floresta. Você
já ouviu falar de lá, não é?”
“Eu sei, peste! Se não fosse essa desgraça de cobra enxerida, estaria palitando meus
dentes com seus ossos! Sem enrolação, seu covardão nanico de preto!”
“Ah, vim apenas para conversar. Na verdade, vim negociar com você.”
“Os vermes comeram seus miolos, é!!? Gu não serve covardes! Vou te comer aqui e
agora! Depois vou comer esse aí atrás!”
“Mas Gu... Ele governa aquela estrutura assustadora. Você o subestima por sua conta e
risco! E o Elfo Negro atrás dele; esta floresta pertencia a eles antes que a Árvore Maligna
os afugentasse. Eles podem ser inimigos poderosos— ah, não adianta falar.”
“Hahahaha! Você ladra mais que muitos cachorros por aí. Que tal isso? Eu, a quem
chama de covarde, desafia você, que tem um nome poderoso, para uma luta. Eu confio
em não vai fugir de medo? Se está com medo, então fique de joelho— ou melhor, de qua-
tro e implore por misericórdia, aí quem sabe ainda posso considerar permitir que se
torne meu escravo.”
“Que seja! Pra Gu, lidar com um fracote como você é moleza! Vou te picar em pedacinhos
e comer tudo depois!”
“Excelente. Já que fez sua escolha, as negociações foram interrompidas. Aura, afaste-se.
Eu quero brincar com ele sozinho.”
Assim que ele terminou de dizer isso, a espada já erguida cortou em direção a Ainz. Este
foi o golpe que Gu atingiu com a gigantesca espada que segurava, com mais de 3 metros
de comprimento.
“—Hã?”
“Como é?”
Gu afastou vários passos. Ele olhou para a espada e depois para Ainz. Ele orgulhosa-
mente virou as costas para Ainz, em seguida, caminhou até um de seus asseclas.
No momento seguinte, a gigantesca espada girou e cortou um dos lacaios Trolls. A es-
pada se cravou no pescoço e no ombro do Troll, separando sem esforço sua carne, e um
gêiser de sangue fresco foi expelido.
Gu assistiu em satisfação quando seu lacaio rolava caído no chão, e com isso assentiu.
Provavelmente foi para verificar se a arma estava funcionando.
A superfície da ferida se curou rapidamente. Não era como retroceder o tempo, mas um
processo de cura acelerado.
Gu sabia que o Troll se regeneraria antes de testar sua lâmina nele; mas o olhar maligno
em seu rosto quando olhou desprezando seu lacaio caído sugeriu que ele teria cortado a
criatura de qualquer maneira, mesmo que não pudesse se regenerar.
“É privilégio dos fortes decidir o que fazer com a vida dos fracos. Mas, esse seu jeito me
desagrada profundamente.”
Gu segurou sua espada com força, esperando Ainz se aproximar dele, passo a passo.
Uma série arrebatadora de cortes choveu em Ainz. O ataque combinado foi feito usando
força física que superava em muito a capacidade do corpo humano, e estava entre os
ataques mais destrutivos que Ainz já havia enfrentado dos habitantes deste mundo.
Ainz parecia achar tudo desinteressante, ele se virou depois de puxar suas vestes e en-
direitá-las. Então, um pensamento aparentemente veio à mente.
“Goooooooh!”
Gu decidiu que os ataques cortantes eram ineficazes, então ele tirou uma das mãos de
sua espada e deu um soco. Este golpe o atingiu como uma enorme marreta. Um guerreiro
humano certamente sairia gravemente ferido, ou mesmo morto, se atingido por isso.
No entanto, Ainz recebeu este golpe diretamente no rosto. Logo após, ele calmamente
tirou o pó do lugar onde Gu o atingiu, como se tivesse sido tocado por mãos sujas.
Gu cessou seu ataque. Seu rosto feio se contorceu de uma forma ainda mais feia, e ele
olhou para o impassível Ainz.
“Então, é só isso que tem a me oferecer? O ataque que está tão orgulhoso é apenas isso,
criatura do nome corajoso?”
Ainz se adiantou para encurtar a distância entre eles e manejou o cajado, que destruiu
metade de uma das pernas de Gu. Incapaz de ficar em pé, Gu desabou pesadamente no
chão.
“Mesmo com o seu cérebro do tamanho de uma noz, você deveria estar começando a
perceber que covardes não são necessariamente fracos, não?”
“Haaaah...”
Ainz estava começando a se cansar disso, e suspirou. O fato de não entenderem a situ-
ação, até mesmo neste momento, provou que esses monstros eram inúteis. É claro que
seria diferente se eles fossem espertos o suficiente para tentar fugir.
Ainz não prestou atenção a Gu e olhou para Aura, que tinha o Naga pelo pescoço. A ma-
neira como ele tratou Gu deixou uma coisa clara para todos os presentes.
—Em outras palavras: ele não se incomodava em lidar com o tal Gu diante dele.
Gu rosnou entre os dentes diante dessa humilhação absoluta, mas Ainz não se importou.
“Pirralho maldito!”
“Não atrapalha, não posso ver o Ainz-sama assim. Se ficar de pirraça, vou esmagar sua
garganta. Mas relaxa, não vou te matar, ainda.”
Seus pequenos punhos eram suficientes para fazer o Naga perceber a diferença em suas
respectivas forças, e o Naga lentamente a soltou com um gemido estrangulado.
“Aura, tempo é dinheiro, o desperdício também é tolice. Por favor, se afaste um pouco
mais para que ele não acabe sendo morto por acidente.”
“Beleza!”
Aura vagarosamente arrastou o Naga — que pesava várias vezes mais do que ela —
enquanto recuava. Ainz olhou de volta para Gu, que mal tinha conseguido ficar em pé
depois que sua regeneração fez sua perna quebrada se espasmar fortemente enquanto
consertava sua carne dilacerada.
Ainz não era tão alto quanto seu oponente, mas ele se elevou sobre Gu.
Ainz tocou os próprios ombros com o cajado, então calmamente assumiu uma postura
de luta. Sua atitude dizia que ele não tinha intenção de se defender.
Gu lentamente recuou enquanto segurava sua espada, enquanto Ainz se adiantou como
se estivesse perseguindo. Os passos de Gu estavam mais curtos que o de Ainz. A distância
entre eles era maior do que quando a batalha começou.
“—Hm? Estranho, não? Eu, aquele com o nome covarde, estou avançando, enquanto o
corajoso e imponente chamado Gu está recuando. Eu me pergunto, por que isso está
acontecendo?”
Depois de ouvir a voz doce da menininha e outra voz que estava à beira das lágrimas,
Ainz assentiu várias vezes.
“Sim, agora faz sentido. Nomes curtos são a marca de um covarde — o nome de Ainz
Ooal Gown pertence a alguém forte e imponente, estou correto?”
“Seu merd—!”
“Calado, covarde.”
A raiva de Gu superava seu medo, e ele balançou a lâmina para Ainz como se quisesse
cortá-lo em dois. Ainz não se desviou e nem se esquivou; simplesmente manejou seu
cajado. O golpe de Ainz não permitia que Gu bloqueasse sua espada ou fugisse.
“Blarwghhh!”
“Como esperado de um Troll; com essa regeneração, podem até voltar à vida depois de
serem reduzidos à carne picada. Mas ainda deve doer muito. Esse foi o ataque mais fraco
até agora. Tudo em que pensa é em se proteger. Está com medo de ser atingido por mim.
A esgrima de um covarde.”
Diante de Ainz estava Gu, cuja cabeça era metade da espessura normal. Uma criatura
normal teria morrido há muito tempo, mas sua cabeça estava retornando lentamente à
sua forma normal.
“Que ridículo... não esperava nada menos que um covarde, renegar os termos do nosso
duelo... mas, se adequa ao seu nome. Então o perdoarei.”
“Rápido!”
O mesmo se aplicava a Ainz. Havia um delicado equilíbrio aqui, um que enraizou todos
no lugar. Se Ainz fizesse um movimento, esse equilíbrio entraria em colapso e todos eles
fugiriam para salvar suas vidas.
Ainz ativou uma de suas habilidades, que ele não teve a chance de usar, era muito po-
derosa para esse mundo.
“O quê... fez?”
O Naga estava encolhido como um bebê, fazendo o seu melhor para ficar longe de Ainz.
Ainz se virou e respondeu:
“Apenas usei uma habilidade. Trolls podem se regenerar, mas isso não os imuniza para
ataques de morte instantâneos... francamente, um bando de inúteis. Em minha vã ilusão,
pensei que em vez de matá-los, eu deveria tentar fazer um bom uso deles, mas como se
recusaram a se ajoelhar, decidi matar todos.”
“Este velho aqui, de bom grado, consente em ser seu subordinado! É natural que os fra-
cos obedeçam aos fortes! De agora em diante, este velho aqui servirá a ti com dedicação!”
Ainz calmamente olhou para baixo sobre o Naga que se prostrava no chão, e depois
sacudiu ombros fracamente.
“Quão... quão horripilante. O senhor não considera nada deste velho aqui. Tu consideras
este velho aqui, que há muito governou a floresta do oeste, tão pouco mais do que um
seixo esculpido à beira da estrada.”
“Pelo contrário, estou mais interessado em você do que pensa. Mencionou algo sobre
os Elfos Negros, não foi? Conte-me tudo.”
“Mas é claro... claro que este velho aqui contará. Este velho aqui de bom grado lhe con-
tará tudo o que este velho aqui sabe! Embora, ah...”
“Poupará a vida deste velho aqui depois que este velho aqui contar o que sabe?”
“Tem a minha palavra. Se for leal a mim, se me servir com sinceridade, eu o recompen-
sarei apropriadamente... mas antes, uma pergunta. Onde estão seus lacaios? Ou você é
como a Hamsuke... a fera que governava a floresta do sul sozinha?”
“Não, este velho aqui tem subordinados. Porém, este velho aqui veio por causa de ne-
gociações, então não os trouxe. Isso porque os subordinados deste velho aqui não podem
se tornar invisíveis, então, uma vez que as negociações tenham sido quebradas, eles não
teriam como fugir.”
“Apenas um.”
“Excelente. Nesse caso, posso fazê-lo tomar o lugar do Gigante do Leste? Não, isso é...
isso pode ser um pouco problemático. Muito bem. Em poucos dias, trarei meus subordi-
nados para— ainda melhor, você irá para a estrutura que ela construiu. Aura, solte-o.”
“Tem certeza?”
“Tenho sim. Ele já jurou sua lealdade a mim. Se me trair, vou pensar em outra maneira
de usá-lo.”
O Naga ainda estava nervoso, mas muito mais aliviado agora. Ainz não lhe deu atenção,
mas caminhou até o cadáver de Gu.
Ainz poderia criar seres undeads de cadáveres usando sua habilidade. Mesmos eles
sendo um pouco mais que Zombies ou Skeletons, ele poderia fazer Zombies mais fortes
se o cadáver da criatura base fosse poderoso o suficiente. Um exemplo mais famoso des-
ses seria os Zombie Dragons.
Ainz pegou a espada que caíra no chão. Era muito mais longa do que Ainz em altura,
mas graças ao princípio básico de armas e armaduras mágicas, ela diminuiu para um
tamanho que melhor se encaixava em Ainz.
Se Ainz tentasse manejar uma espada que ele não poderia equipar, ele seria desarmado
à força, mas apenas pegá-la não tinha problema.
“Eu deveria fortalecer o poder de luta daquele vilarejo? Nesse caso, talvez essa arma
mágica seja a melhor escolha. Além disso, isso não tem valor para Nazarick.”
“Este... este velho aqui nunca lhe trairá. Apenas os tolos que nunca viram o seu olhar
gelado que considera todos diante dele como meras formigas se atreveriam a traí-lo.”
“Dificilmente se qualifica como uma habilidade, mas este velho aqui ainda pode sentir
se alguém está interessado neste velho aqui.”
“Jura... muito bem, que seja. Mas pare de desperdiçar meu tempo e junte seus lacaios.
Esta é minha primeira ordem.”
“Sim!”
Parte 4
A silhueta elegante de Demiurge apareceu no escritório de Ainz. Antes de tudo, ele in-
clinou-se profundamente para o Ainz sentado e depois assentiu em deferência a Mare e
Cocytus, que esperavam lá dentro. À empregada designada, ele deu um singelo aceno de
reconhecimento.
“Tudo bem. Entoma, diga a Lupusregina que ela tem permissão para partir. Esses três
devem ser protegidos, diga que use os meios necessários para isso.”
Livre de preocupações, Demiurge caminhou até o centro do escritório. Seus passos ele-
gantes deixaram Ainz com inveja.
Como descrevo... cada movimento que ele faz transborda confiança. Será porque as costas
dele são muito retas?
“É uma honra! Eu agradeço por me chamar diante de ti, Ainz-sama. Terminou de falar
com a Entoma?”
“Claro. Ela estava relatando alguns assuntos. Ela passou neste teste.”
“Isso não é nada de mais, Demiurge. É justo que eu me corresponda ao homem que tra-
balha arduamente para Nazarick. Além disso, você não está atrasado, então não se pre-
ocupe... vamos, me diga o que pensa.”
Ainz entregou o pedaço de papel que ele estava segurando para Demiurge. Assim que o
recebeu, Ainz o viu rapidamente escaneá-lo de cima para baixo antes de perguntar:
“Como pode ver, este é um menu, qual sua opinião a respeito? A refeição é para um casal
humano e possivelmente uma criança.”
“...Eu humildemente acho que qualquer humano deve consumir sem reclamar tudo o
que dignar a fornecer para eles, Ainz-sama. Porém, sinto que não é a resposta que o se-
nhor procura, assim sendo— creio que uma criança pode não gostar de foie gras. Além
disso... hm, pratos mais leves podem ser ideais para a situação.”
“O senhor me honra com o seu louvor... Ainz-sama, o senhor pretende convidar essas
pessoas para a Grande Tumba de Nazarick — no santuário dos Seres Supremos — como
convidados?”
Ou melhor, não era tanta hospitalidade ao ponto de entretê-los. Essa era uma forma de
coerção apoiada pela riqueza, destinada a criar elos amigáveis.
“Isso é sábio?”
“Não, absolutamente nenhum. Afinal, tudo o que o senhor decide está correto, Ainz-
sama.”
No passado, quando tudo isso acontecia quando tudo era jogo, a Grande Tumba de Na-
zarick já havia sido palco de poucas pessoas além dos membros da guilda. No máximo,
eles convidaram a irmã mais nova de Yamaiko — cujo nome de jogador era Akemi-chan
— algumas vezes. No entanto, a guilda não proibia convidar amigos. Era simplesmente
que ninguém tinha o costume de fazê-lo.
Duvido muito que meus velhos amigos seriam contra isso, não há problemas se eu convi-
dar Nfirea e os outros. Invasores são diferentes dos convidados.
“Claro, sem problemas. Então, Cocytus — oh, você já trouxe o seu. Então nos encontra-
remos nos banhos. Increment, se alguém vier, peça que esperem por mim aqui.”
“Como desejar.”
Ainz queria muito conversar com Cocytus enquanto caminhavam lado a lado, mas
Cocytus era muito sério e nunca faria uma coisa dessas. Isso fez Ainz se sentir um pouco
solitário. Cocytus provavelmente não tinha lido seu coração, mas ele se aproximou de
Ainz e perguntou:
“Ainz-sama, Parecia. Haver. Menos. Eight-Edge Assassins. No. Teto... O. Senhor. Os. En-
viou. Para. Algum. Lugar?”
Ainz ficou um pouco desapontado quando descobriu que era relacionado ao trabalho,
mas também se consolou pensando que isso era o que Cocytus considerava uma con-
versa casual, então ele respondeu a Cocytus. Ele quase deixou a emoção sair em sua voz,
mas no final decidiu que seria melhor manter isso em segredo.
“Eles estão na pousada de E-Rantel. Narberal está lá no momento, para o caso de visitas
inesperadas. Eles estão vigiando os arredores de longe.”
“Isso mesmo. Se a pessoa que fez lavagem cerebral em Shalltear estiver observando
cada movimento nosso, essa isca certamente os deixará babando.”
Depois que Momon derrotou a poderosa Vampira Shalltear — Claro, ela era conhecida
por um nome diferente — ninguém tentou se aproximar dele. Sendo esse o caso, se Mo-
mon não estiver por perto, deixar uma magic caster sozinha seria...
“Não sei. Mas se fizerem isso, se eu estiver certo, então certamente serei um mestre da
pescaria.”
“Creio que não. Pelo menos não pretendo. Primeiro, vamos avaliar o nosso adversário.
Se são tão fortes quanto nós, ou mais fortes, então precisaremos ser mais humildes.”
Cocytus grunhiu. Ele entendeu o raciocínio por trás dessa decisão, então ele não teve
escolha senão suportar isso.
“Meu. Lado. Lógico. Entende. Que. É. Algo. Temporário, Mas. Meu. Lado. Emocional. Não.
Suporta. Essa. Possibilidade.”
“Aguente até que tudo seja verificado, precisamos descobrir as fraquezas da nossa opo-
sição. Uma vez que isso aconteça, eu vou fazer com que provem a mais pura dor. Eu não
vou perdoá-los por ousarem fazer lavagem cerebral na Shalltear, por me forçarem a der-
rotá-la.”
Mesmo se fossem jogadores, Ainz não sentia o menor grau de empatia por eles. As úni-
cas pessoas com quem Ainz se importava eram os NPCs ou seus velhos amigos. Se al-
guém despertasse sua ira, ele os sujeitaria a um destino pior do que a morte, a fim de
mostrar-lhes a tolice de suas ações.
Ainz sorriu friamente, quando uma onda de excitação cresceu dentro dele. Se a oposição
realmente fossem jogadores, ele poderia conduzir experimentos muito melhores. O pri-
meiro deles provavelmente seria o que ele não ousaria testar em si mesmo — a morte.
“Correto. Sabe onde surgiu isso? Essa frase foi originalmente destinada a alertar contra
a retribuição excessiva, então eu não a usei. Pois pretendo pagar de volta com juros.”
“Oh! Eu. Não. Esperava. Nada. Menos. De. Ainz-sama... Não Apenas. Um. Grande. Guer-
reiro, Mas. Também. Possui. Um. Intelecto. Além. Da. Comparação... Eu. Estou. Verdadei-
ramente. Impressionado.”
“Não, depois de tomar banho com vocês, eu vou adiantar alguns trabalhos aqui antes
de retornar, porque há muitas coisas que precisam ser resolvidas lá também. E você?”
“Eu. Planejo. Temporariamente. Retornar. Para. Minha. Posição. Como. Guardião. De.
Nazarick, Já. Que. Minhas. Obrigações. No. Lago. Foram. Concluídas.”
“Quando voltar, os únicos que trabalharão fora serão o Demiurge, que tem muitas tare-
fas para completar, Sebas e Solution, que estão reunindo informações na Capital Real,
Aura, que está construindo uma base na floresta, e por fim, Narberal e eu.”
“É. Difícil. Aceitar. O. fato. De. Um. Ser. Supremo. Ir. Lidar. Pessoalmente. Com. Trabalhos.
Que. Seriam. Nossa. Obrigaç—”
“Não. Há. Necessidade. Ainz-sama... O. Senhor. Governa. Este. Lugar. E. Cada. Uma. De.
Suas. Palavras. São. As. Leis. De. Nazarick— Eu. Estava. Apenas. Dizendo. Tolices, Além.
Disso—”
O clima no ar parecia ter mudado, e Ainz achou estranho. Olhando para trás, ele viu
Cocytus parecendo um pouco sombrio — embora ele não pudesse dizer pelo seu rosto.
“Se. Fossemos. Tão. Competentes. Como. O. Demiurge... O. Senhor. Não. Precisaria. Se.
Dar. Ao. Trabalho, Mas. No. Fim. Precisa, Por. Nossa. Falta. De. Habilid—”
“Isso não é verdade. Quando vocês foram feitos, meus amigos procuraram criar a pes-
soa certa para cada tipo de trabalho. Sendo esse o caso, a coisa mais importante que pode
fazer é terminar suas tarefas designadas. E sendo sincero, não importa se não pode fazer
ainda mais por mim. Porém, de fato, Demiurge é um pouco mais inteligente e mais bem
informado, com isso ele pode lidar com uma gama maior de problemas.”
Cocytus não parecia ser capaz de aceitar isso, então Ainz continuou:
“Nesse caso, no seu ritmo, você deve se concentrar em aprender a lidar com mais coisas.
Por exemplo, agora está no comando da aldeia Lizardman, então deve ter aprendido
muito com isso. Governar aquela aldeia certamente lhe ajudará no futuro. Contanto que
continue avançando, um passo de cada vez, um dia chegará a par com o Demiurge.”
“Ninguém pode superar o intelecto do Demiurge. Para igualar a ele, você passará por
caminhos sinuosos. Mas tenho certeza que seus esforços não serão em vão.”
“Obrigado. Ainz-sama.”
“Não disse nada de mais. Cocytus, estamos quase nos banhos. Anime-se antes que o De-
miurge e Mare venham.”
“Sim, Senhor!”
♦♦♦
O Spa Resort Nazarick estava localizado no 9º Andar de Nazarick. Era um local confor-
tável de lazer que ostentava 9 banheiras com termas externas e 17 banheiras com ter-
mas internas para homens e mulheres. O mais impressionante deles era o Banho Che-
renkov. Sua água quente irradiava uma luz azul, permitindo que os banhistas desfrutas-
sem de uma atmosfera soberba.
Ainz, que havia chegado aos banhos na companhia de Cocytus, ficou chocado ao ver
alguém inesperado.
“Ainz-sama♥!”
Era Albedo, que parecia estar terminando suas frases com corações hoje. Não, não foi
apenas Albedo. Shalltear estava atrás dela, junto com Aura, que estava com o cansaço
estampado no rosto.
Em contraste, Demiurge e Mare estavam longe de serem vistos. Talvez estivessem es-
perando por Ainz e Cocytus no vestiário.
“Que coincidência adorável, de fato! ...Eu ouvi que é melhor fazer algum exercício leve
antes de tomar banho, aprimora o relaxamento. Vamos dar uma suada juntinhos, Ainz-
sama?”
“Ah, não estava falando disso. Acho que o senhor precisa de umas dicas...”
Ela se aproximou de Ainz com a técnica de uma guerreira de nível 100 — algo que Ainz,
um magic caster, não podia esperar fugir — e estendeu um dedo para o peito de Ainz,
que estava coberto apenas com uma robe, na esperança de traçar letras. No entanto, seu
dedo, macio e delicado como um peixinho, entrou no espaço entre as costelas de Ainz.
“Ah.”
“Ah.”
Ainz sorriu amargamente, pretendendo se dirigir a Albedo, e então seu rosto congelou.
O rosto de Albedo estava vermelho, seus olhos em orvalhos e uma fragrância doce ema-
nava de seu corpo. Esse cheiro era muito semelhante ao perfume que ele às vezes chei-
rava em sua cama.
Ainz tentou o seu melhor para falar em um tom normal para Aura, que estava tentando
segurar Shalltear que lutava para se libertar.
“...Não sei, Ainz-sama. Tem acontecido muita coisa ultimamente. Espero que trate isso
como estresse por ela trabalhar tanto pra Nazarick. Pense desse jeito, por favor.”
“Se... se é assim, então não podemos evitar. Er... Ghrum. Albedo, obrigado pelo seu árduo
trabalho todos os dias.”
Ainz planejou se retirar rapidamente, mas alguém agarrou seu robe. Não, não havia ne-
cessidade de olhar; ele já sabia quem era.
“Albedo, o que está fazendo? Alguma coisa aconteceu que perdeu toda a vergonha que
tinha?”
“O que disse agora... acendeu um fogo no meu coração, meu ventre queima de vontade.
Então, Ainz-sama...”
“Entendido!”
“Eu. Não. Posso. Ficar. Sentado. Enquanto. Alguém. Desrespeita. O. Ainz-sama— Mesmo.
Se. For. A. Supervisora. Guardiã. Em. Pessoa.”
Cocytus irrompeu entre Ainz e Albedo. Ele tinha sua alabarda de platina na mão, uma
ameaça sem palavras que ele teria prazer em usar se Albedo tentasse alguma coisa en-
graçada.
Depois de ouvir o julgamento de seu mestre, Cocytus se afastou. No entanto, ele não
guardou sua alabarda.
“Eu sei que seus deveres são pesados e que há momentos em que você deseja deixar
tudo de lado e aliviar suas frustrações. Mas, aproveite esse tempo para relaxar, tome um
bom banho e liberte-se do estresse. Obrigado, Cocytus.”
Dizendo isso, Ainz tentou correr para o banho masculino, mas os passos atrás dele o
fizeram parar.
“...Albedo, por que está me seguindo? Talvez não saiba, então eu vou dizer, mas este é o
banho masculino. Você deveria ir ao banho feminino.”
“...Negado. Até porque, não vou tomar banho sozinho. Os Guardiões estarão comigo.
Você deseja aparecer nua diante deles?”
Assim que Ainz pensou que ela diria, “Sou uma Succubus, é natural que eu faça isso”.
Shalltear grunhia entre as mãos de Aura. No entanto, Aura — que foi arrastada à força
— simplesmente olhava para tudo com um ar de cansaço nos olhos. Atrás delas estava
Cocytus, que parecia bastante constrangido.
É só um banho juntos, o que ela quer dizer com “agraciar”... a mesma coisa aconteceu da
última vez; será que a Albedo está com problemas mentais? Será que foi culpa minha que
ela está ficando meio doida?
“Albedo, deixa eu esclarecer umas coisas. Eu prefiro mulheres a homens. Eu sou pura-
mente heterossexual.”
Albedo parecia querer dizer alguma coisa, mas Ainz levantou a mão para interrompê-
la.
“No futuro quem sabe qual tipo de relacionamento possamos ter. Mas agora, eu nem
sequer descobri o nosso lugar neste mundo, assim, como o líder desta organização, é
inadequado dar um passo a mais em qualquer relacionamento que tenho atualmente
com vocês.”
“Gurrr...”
“Além disso... vocês são como as filhas dos meus amigos — e isso é algo muito confli-
tante para mim.”
“Eu estava me perguntando o que estava acontecendo. Parece que vocês estão incomo-
dando o Ainz-sama.”
“Seus tolos!!!”
“...Tá. Levantem-se.”
Depois de ver que todos haviam se levantado, Ainz usou um tom gentil, como se fosse
de repreensão para advertência.
Ao ouvi-los simultaneamente responder que eles entendiam, Ainz deixou sua raiva de-
saparecer.
“Enfim, vamos tomar banho e espairecer nossas mentes. Os homens virão comigo. E
Aura, ordeno que você fique de olho nas mulheres. Fique de olho nessas duas e não deixe
que fujam.”
“Deixa comigo!”
Os olhos de Aura brilharam impetuosamente. Ela provavelmente sentiu que esta era
uma chance para um contra-ataque. Tal era o calor escaldante que Albedo e Shalltear
estavam visivelmente abaladas.
Ainz entrou na porta com a cortina escrito “Homens” e deliberadamente ignorou o cla-
mor vindo de trás.
Ele tirou as roupas no vestiário. Se estivesse normalmente equipado, ele teria que re-
mover muitos itens e isso seria muito problemático, mas ele havia se preparado antes
de vir, e então tirou as roupas rapidamente.
Toda vez que removo minhas roupas, sempre me pergunto como exatamente posso me
mover...
Ele poderia enganar a todos com seus trejeitos e traços femininos, mas ao ver correndo
nu, não restava dúvidas de que era um menino.
Enquanto olhava para o corpo nu de Mare e ponderava sobre essa questão, Ainz o re-
preendeu:
Era impossível para um Guardião morrer ao cair e bater a cabeça. Contudo, depois de
ver o corpo infantil de Mare, ele não pôde deixar de se preocupar.
Ainz pensou.
“Poderia. Não. Dizer. Esta. Frase, Por. Favor? Me. Faz. Parecer. Um. Pervertido.”
Exoesqueletos eram uma espécie de armamento natural, muito parecido com as unhas
e dentes de Shalltear. Tal equipamento ganhava dureza e durabilidade à medida que
seus usuários ficavam mais fortes, assim como melhorar as capacidades físicas usando
cristais de dados.
Seus méritos eram que eles não precisavam ser mudados com frequência e poderiam
ser usados por longos períodos. Mesmo se eles fossem destruídos por ataques ou racha-
dos por habilidades, eles poderiam ser restaurados junto com o HP de seus usuários
através do uso de magia curativa. Além disso, eles não seriam dropados após a morte,
entre muitas outras vantagens.
Por outro lado, eram inferiores às armaduras primárias que a maioria dos jogadores de
um nível equivalente usava, seja em termos de dureza, durabilidade e capacidade de
cristais de dados. Mesmo no nível 100, quase nenhuma arma natural e armadura pode-
riam corresponder a um item Divine-class. Talvez alguém pudesse ser capaz de fazê-lo
se possuísse profissões que fortalecessem esses armamentos corporais, mas até mesmo
Ainz não sabia se era possível.
Armas e armaduras naturais não eram muito vantajosas para os jogadores, mas eram
bastante úteis para os NPCs. Isso porque não era necessário reunir uma grande pilha de
armaduras e armas para eles — em outras palavras, o jogador que fez o NPC poderia se
poupar do trabalho de equipá-los.
“Obrigado. Ainz-sama.”
Cocytus se curvou em agradecimento, mas Ainz não falou em sua defesa. Ainda assim—
Será que todo mundo gosta de provocar ele assim— tirar sarro dele — ao ponto que ele
tem que me agradecer por intervir? Devo tentar dizer indiretamente que os outros manei-
rem nisso?
Seria o equivalente a uma situação típica para professores e valentões em salas de au-
las? Ele não sabia como Yamaiko lidava com esse tipo de coisa no passado. Enquanto
ponderava sobre o assunto, ele falou aos Guardiões:
“Eu. Acho. Que. Os. Banhos. Gelados. São. Os. Melhores... Eu. Gostaria. Que. O. Ainz-sama.
Experimentasse. As. Virtudes. De. Um. Banho. Gelado.”
Ainz era resistente a danos causados pelo frio e até mesmo entrar nos frios banhos ge-
lados não seriam uma dificuldade para ele. Entretanto, algo parecia errado em sugerir
que alguém tomasse um banho frio logo após entrar na área balnear.
Depois de ouvir Mare, Cocytus pareceu ter percebido que havia cometido um equívoco.
Só então, alguém procedeu com uma provocação.
“Viemos aqui tomar banho, então talvez devesse ter recomendado um banho quente
para promover a circulação... ah, sim, isso me lembrou de algo. Você pode se banhar em
água quente? Não vai acabar como uma lagosta cozida, não é?”
“Ah... ah, então eu acho que talvez devêssemos ir para um banho normal...”
“Banhos. Frios. São. Os. Melhores — Tomar. Banhos. Frios. Enquanto. Agarra. Um. Pe-
daço. De. Gelo. É. Muito. Confortável.”
“Eu não vou dizer que só você gosta dessas coisas, mas duvido que a maioria comparti-
lhe de seus gostos...”
“Er... bem, seria muito chato se cada um fosse se banhar em um lugar diferente, então
vamos revezar ficando um pouco em cada banho. Vamos começar com o banho na selva
— meus amigos se esforçaram muito para fazer isso.”
Depois que seus subordinados responderam, “não vejo a hora” — incluindo Cocytus um
tanto desanimado — Ainz levou-os para o banho na selva.
“Este banho foi feito inspirado no rio Amazonas que existia no passado. Bellriver-san,
com a ajuda do Blue Planet-san que fizeram.”
Ainz virou as costas para os Guardiões impressionados, então ele levou sua bacia e ban-
quinho de banho para a área de limpeza.
Por que todas as bacias deste spa são amarelas? Quando perguntei na época, ele disse que
era tradição... Será que todos os spas têm bacias amarelas?
“Não preciso avisar, mas precisam se limpar antes de entrar no banho. Mas a maneira
como eu tomo banho faz muita bagunça, então talvez seja melhor ficarem longe de mim.”
Com essa mensagem concisa, Ainz jogou a bacia cheia de água quente em si mesmo. A
água passou direto por ele até o chão. Devido às muitas lacunas em seu corpo, era muito
difícil enxaguar todo o corpo de uma só vez. Depois de repetir isso várias vezes, certifi-
cando-se de que estava molhado, ele pegou uma escova.
Ainz colocou sabão líquido em uma escova e começou a se esfregar. Assim como antes,
as muitas lacunas em seu corpo denotavam que esfregar a si mesmo era como esfregar
uma peneira, e assim espuma e bolhas espalhavam por toda parte.
Uhum... talvez eu devesse ter trazido meu adorável assistente de banho, Sankichi-kun.
Ainz sentiu que seria desagradável deixar seus subordinados vê-lo todo coberto pelo
Slime, então não o havia trazido. Entretanto, ele não se banhava há algum tempo, o que
aumentou o problema.
Enquanto Ainz se esfregava com entusiasmo, Mare aproximou-se dele com um banqui-
nho amarelo em mãos. Ele estava claramente nervoso, mas sorriu para Ainz, seu rosto
estava vermelho pelo calor dos banhos.
“Hm? Ah, sim. Então quer me ajudar a tomar banho? Esteja avisado que meu corpo é
muito tedioso para lavar, use essa escova. Limpar com a toalha é muito cansativo.”
Ainz virou as costas para Mare, e Mare começou a esfregar lentamente as costas com a
escova que recebera.
“Muito obrigado!”
Honestamente falando, Ainz não poderia dizer se era um trabalho bom ou ruim. No en-
tanto, ele dissera isso a Mare porque estava grato.
Ainz não pôde evitar de sorrir, embora seu rosto esquelético não tivesse expressões
faciais.
Ainz agarrou os ombros do garoto e virou-o, depois aplicou espuma de banho na toalha
de Mare e começou a ensaboá-lo.
Ele gentilmente esfregou o corpo de Mare, tomando cuidado para não o machucar. Pen-
sou na força que usava para se lavar e tentou usar menos força do que isso.
“Isso dói?”
Ainz pegou a escova e esfregou as costelas. Mare estava se esfregando ao lado dele, en-
tão Ainz teve o cuidado de não o borrifar com sua espuma.
Depois que Demiurge terminou de se enxaguar, foi até a banheira, balançando sua
cauda enquanto o fazia. Ele foi seguido por Cocytus, que provavelmente teve dificulda-
des banhando-se como Ainz, mas que poderia efetivamente usar todos os seus quatro
braços para economizar tempo. Naturalmente, Mare foi o próximo. Ainz finalmente ter-
minou de lavar vários minutos depois que todos terminaram.
A banheira era bastante larga, e uma estátua de leão habilmente esculpida despejava
água quente pela boca na banheira borbulhante. Ainz caminhou através do vapor de
água e notou que Cocytus estava especialmente distante dos outros. Os outros dois esta-
vam apreciando a água quente, a uma distância dele.
Ainz pensou que, como uma criança, Mare nadaria na banheira, mas em vez disso, ele
simplesmente dobrou a toalha e colocou-a na cabeça, um olhar relaxado no rosto. Essa
atitude era menos adequada para uma criança e mais adequada para um adulto sobre-
carregado. Quando Ainz o viu, ele se sentiu surpreso e então se perguntou:
“Oh, é tão bom. Eu sinto a fadiga fluindo para fora do meu corpo.”
Demiurge havia removido os óculos. Ele jogou um pouco de água quente em seu rosto
e disse “Ah~”, parecendo um tio de meia-idade.
“Bem. Quente.”
“Isso... que estranho, er, você não disse que era resistente a isso?”
“Eu. Sou, Mas. Geralmente. Não. Me. Banho. Em. Águas. Quentes... Por. Isso. Não. Estou.
Acostumado.”
“...Ainda assim, isso não é motivo para usar sua 「Frost Aura」. Espero que mantenha
sua distância; eu prefiro minha água quente um pouco escaldante.”
“Você. É. Resistente. Ao. Fogo. Por. Isso. Está. Bem... Por. Que. Não. Experimenta. Os. Ba-
nhos. Gelados?”
“Isso não vem ao caso. Além disso, não me envolvi com minha resistência; estou sim-
plesmente aproveitando a água quente. Não consegue aguentar um quentinho desses,
Cocytus?”
“É. Bem. Raro. Provocações. Superficiais. Vindo. De. Você, Está. Bastante. Empolgado.”
“Parem com isso. Banhos devem ser agradáveis. Se quiserem testar sua resistência, fa-
çam na sauna. Ninguém é obrigado a tomar banho aqui.”
“Huwahh~...”
“Olhem, vocês precisam aproveitar o banho como o Mare está fazendo. Mare, não se
esforce demais. Se não se sentir bem, pode sair.”
“É... tudo bem, Ainz-sama! Se alguma coisa acontecer, eu posso usar magia!”
Pensou Ainz. Todavia, ele não disse nada e simplesmente olhou para Cocytus.
“Eu acho que algumas pessoas se banham assim, Ainz-sama. Por exemplo, por ser um
undead, o senhor não ficará atordoado, não importa quanto tempo absorva água. Não é
um tipo de resistência?”
Ele podia sentir o calor lentamente infiltrar-se em seu corpo, mas não parecia tão bom
quanto se ainda fosse humano.
“Hm?”
“O que foi?”
Ainz não pôde resistir ao desejo de levantar as orelhas e ouvir. Não havia má intenção
naquilo; ele estava simplesmente curioso sobre o que um grupo de mulheres falaria
quando não havia homens por perto. Claro, ele não colocou seu ouvido na parede; fazer
isso prejudicaria sua dignidade como governante da Grande Tumba de Nazarick. Ele até
se afastou da parede e virou a cabeça para o outro lado.
“—Aura, não descreva assim. Ah~ Ainz-sama deve estar por trás dessa parede. Será que
tem um buraco ou algo assim?”
Ainz analisou cuidadosamente a parede inteira, porque estava preocupado que alguém
pudesse ter instalado algum tipo de mecanismo estranho nela. Houve um tempo em que
alguns membros da guilda ficaram obcecados em fazer estranhos dispositivos e truques.
As relíquias daqueles tempos poderiam ter permanecido até agora.
“—Eu duvido que seja o caso ~arinsu. Não há necessidade de nos espiar; se o Ainz-sama
ordenar, vamos deixá-lo nos espiar o quanto quiser ~arinsu.”
“—Oh, é raro ouvir você dizendo algo que faça sentido, Shalltear.”
“—O que quer dizer com ‘raro’, que rude. Enfim, isso é uma escova de dentes ~arinsu?
Poderia não escovar seus dentes aqui, por favor... Quero dizer, escove os dentes no banheiro,
não?”
A voz de Albedo veio de uma posição um pouco mais alta, seguida pelo som alto de
escovação.
“—Hm... parece bastante cansativo. Ah, se não dá pra evitar, então pode fazer, né.”
“—Obrigada.”
“—Credo, não balance a cabeça olhando pra mim, é muito nojento. Shalltear, não vai es-
covar também?”
“—Eu escovo sozinha no meu quarto, então não preciso ~arinsu. Ainda assim, vamos re-
almente ter cáries e coisas assim ~arinsu?”
“—Mesmo que não seja o caso, o mau hálito pode destruir até o mais antigo dos amores.”
“—Eh? Calma aí, não me diga que vai pular assim? Pelo menos mude de form...”
Primeiro, houve um ruído alto, seguido pelo som de respingos de água. Ela deve ter
pulado com força na banheira.
“—Waaah! Koffkoff, Koff, se eu fosse uma Vampira das lendas, eu já teria me afogado
~arin-su!”
“—Fufufu. Ahh~ isso é ótimo. Eu virei aqui para tomar banho a partir de agora.”
Uma voz masculina de repente falou, o que fez Ainz e os outros homens se entreolharem.
“Eu. Não. Ouvi. Essa. Voz. Antes, Seria. Um. Guardião. Das. Áreas. De. Banhos, Mas. Por.
Que. Teria. Um. Homem. No. Lado. Das. Mulheres?”
“...Apenas por precaução, peguem suas armas e preparem-se para atacar o banheiro fe-
minino se alguma coisa acontecer.”
Se o fogo amigo não estivesse ativo, talvez terminasse em risadas, mas, dadas as cir-
cunstâncias atuais, alguém poderia realmente ser morto. O poder de luta delas estava
reduzido sem o seu equipamento e, dependendo das circunstâncias, realmente precisa-
vam ser resgatadas.
Ainz saiu da banheira espalhando um pouco de água e foi para o vestiário. Ao ouvi-lo
falar, os outros Guardiões assentiram em uníssono.
Na maioria das vezes, tenho estado ocupado por causa do projeto do anime, trabalho e
outras coisas.
Neste momento o anime está indo bem, apenas algumas notificações de “Como o Ainz
vai sorrir?” “Faça de alguma forma!” “Por favor, faça alguma coisa, Diretor-san!”
Quando todos tiverem este livro nas mãos, o capítulo 2 deverá ter saído. O trabalho dele
lhe fará sentir que “Ainz é um personagem muito legal!”. Por favor, dê uma olhada, eu
ficaria muito grato!
Então, para este volume há uma capa reversível com uma ilustração interna incluída na
primeira edição limitada deste livro.
Embora eu tenha a impressão de que este é um caso único para este volume, espero que
os leitores que gostam desse tipo de coisa me enviem seus desejos em cartões postais.
Muito obrigado ao So-bin-san, que resolveu muitos problemas, mesmo quando o traba-
lho aumentou cada vez mais.
Obrigado aos designers do Chord Design Studio, ao revisor Ohaku-sama, a editora F-ta
san e a todos que me ajudaram a finalizar OVERLORD.
E finalmente, obrigado a todos os leitores por aí. Espero falar com vocês novamente no
futuro.
Maruyama Kugane
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Ilustrações
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Glossário
Glossário
-Magias, Habilidades & Passivas- Emplastro:Ou emplasto, cataplasma ou ainda malagma,
Tradução livre de seus nomes é uma forma de medicação transdérmica caracterizada
pela colocação sobre a pele de alguma substância sólida
Acid Arrow: .........................................................Flecha Ácida. aquecida, com o intuito de aquecer ou amolecer tecidos,
Appraisal Magic Item: ....................... Avaliar Item Mágico. acelerando o processo de cura. No Brasil também é co-
Chain Cyclone: .................................... Ciclone de Correntes. nhecido por compressa.
Despair Aura V: .................................. Aura do Desespero V. Fogo Amigo:Ou também fogo aliado, do inglês, Friendly
Detect Magic: ................................................. Detectar Magia. fire, é uma expressão eufêmica utilizada militarmente no
Frost Aura: ................................................... Aura Congelante. que tange os aspectos de ataques aliado a aliado, ou ini-
Heal: ....................................................................................Curar. migo a inimigo.
Hypnotism: ........................................................... Hipnotismo. Foie gras:Ou fuagrá em português – termo em francês
Landwalker: ........................................Caminhante da Terra. significa “fígado gordo” – é o fígado de ganso ou pato que
Message: .................................................................. Mensagem. foi forçosamente alimentado à exaustão, o que levou à hi-
Reinforce Armor: ................................. Reforçar Armadura. pertrofia lipídica do órgão.
Summon Bicorn: ........................................ Invocar Bicórnio. Gap Moe: ...Discrepância ente aparência e personalidade.
Sword of Damocles: ........................... Espada de Dâmocles. Ginseng:Uma raiz medicinal muito utilizada na medicina
chinesa devido às suas incríveis propriedades que aju-
dam a diminuir o estresse e o cansaço, melhorando a qua-
-Itens- lidade de vida e proporcionando a longevidade.
Hierofante:Uma vertente tanto de clérigos quanto de sa-
Tradução livre & Curiosidades
cerdotes voltados para o lado militar. No nosso mundo, é
o termo usado para designar os sacerdotes da alta hierar-
Book of the Dead: ..................................... Livro dos Mortos.
quia dos mistérios da Grécia e do Egito.
Cauldron of the Daghdha: ............ Caldeirão de Daghdha.
Himation:É uma antiga roupa grega usada por cima do
Horn of the Goblin General: Trombeta do General Gob-
ombro.
lin.
Shadow of Yggdrasil: ........................ Sombra de Yggdrasil. Idols:Na cultura pop japonesa, os Idols (アイドル, ai-
Statue of Animal: War Horse:Estátua de Animal: Cavalo doru) são pessoas da mídia (cantores, atores, modelos
de Guerra. etc.) jovens, em sua maioria adolescentes, com uma ima-
gem inocente e às vezes, mais chamativa. São uma cate-
goria separada de cantores japoneses. O termo implica
um apelo inocente e a capacidade de provocar admiração
-Termos & Terminologias- e de fazer uma pessoa se apaixonar por artista e é comer-
cializado por agências de talentos japonesas.
Álfheim:Na mitologia nórdica, Álfheim (Álfheimr em
Memento Mori:É uma expressão em latim que significa
nórdico arcaico, lar dos elfos) é um dos nove mundos, e o
algo como “lembre-se de que você é mortal”, “lembre-se
domicílio dos Álfar (elfos).
de que você vai morrer” ou traduzido ao pé-da-letra,
Ankh:Conhecida também como cruz ansata, era na es-
“lembre-se da morte”.
crita hieroglífica egípcia o símbolo da vida. Conhecido
Mimidoshima: .... みみどしま - Mulher jovem com muito
também como símbolo da vida eterna. Os egípcios usa-
conhecimento superficial sobre sexo e afins.
vam-na para indicar a vida após a morte.
Bardado: ............ Armadura que vai no peitoral do cavalo. Nazarick Gakuen:学園 – Substantivo para Universidade,
Cabriolé:Carruagem pequena, leve e rápida, de duas ro- campus, academia. Seria como “Universidade Nazarick”.
das, capota móvel, e movida por apenas um cavalo. Nóatún:Na mitologia nórdica, Nóatún (“Paraíso dos Na-
Crosier: Traduzido como Bastão Episcopal ou Báculo, é vios” em nórdico antigo) é a morada do deus Njörðr (Deus
um tipo de cajado usado pelos pastores para se apoiarem da costa marinha, terra firme, náutica), descrito no livro
ao andar e para conduzirem o gado. em Prosa Edda Gylfaginning como localizado em Asgard.
Dakimakura:(抱き枕) “travesseiro para abraçar” tam- Pomelo:Também chamada laranja-natal, cimboa, é uma
fruta cítrica, fruto de uma árvore da família Rutaceae com
bém chamado de love pillow no ocidente é um tipo de tra-
5 a 8m de altura.
vesseiro do Japão, considerado um brinquedo sexual por
Radiação Cherenkov:Também chamada de Efeito Tche-
alguns, geralmente possui a foto de algum personagem.
renkov. É o brilho azul tipicamente associado a reatores
Danishes: ........................................ São um tipo de pão doce.
nucleares subaquáticos Link para o vídeo.
Drop:Itens deixados por monstros após serem mortos
Ranger:Em RPGs, é uma classe de personagens com perí-
em jogos, o termo também vale para a taxa com qual os
cia a coisas relacionadas à floresta, rastreamento e caça,
itens vindos de sorteios e lootboxes.
além de proficiências com arcos, geralmente é traduzido
Dungeons:O termo é usado em jogos de RPG para desig-
como Patrulheiro, Guarda Florestal.
nar cavernas ou labirintos repletos de monstros, armadi-
Skin:Geralmente é um visual alternativo dado a um pro-
lhas e tesouros. Uma Dungeon normalmente é composta
grama computacional.
por salas e corredores que as conectam, podendo haver
TRPG:Acrônimo para Table Role Play Game. O famoso
também passagens secretas. Com etimologia na palavra
RPG de mesa.
francesa donjon. Substantivo significando calabouço ou
Velouté:É um molho da cozinha francesa. O preparo do
masmorra.
velouté consiste em um caldo claro, onde os ossos são
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Undead:................................................................... Morto-Vivo.
Unicorn: .....................................................................Unicórnio.
War-Bicornlord: ................. Soberano Bicórnio de Guerra.
Warg:Na língua norueguesa antiga, vargr é um termo
para “lobo”. Na mitologia nórdica, os wargs se tratam par-
ticularmente dos lobos demoníacos.
Zombie Dragon: .............................................. Dragão Zumbi.
Zombie: ..................................................................................... Zumbi.
Rosto poderia lançar ao mar mil navios. É uma analogia à história de Helena de Tróia.
Helena de Tróia é a história de uma mulher cujo rosto teve a reputação de “lançar ao mar
mil navios” em sua perseguição. Nascida de Leda, através de sua ligação amorosa com
Zeus, Helena era extraordinariamente bela desde o nascimento.
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Enri Emmot e o Herborista Nfirea, ambos salvos por Ainz Ooal Gown, estão morando
no Vilarejo Carne, guardado pelos Goblins. Até hoje não houveram incidentes, mas uma
nova ameaça se aproxima devido ao desequilíbrio na floresta pela ausência do Sábio
Rei da Floresta—
ISBN 978-4047300842
ISBN 978-4047300842
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