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OverlorD 8 Os Dois Líderes

オーバーロード Ilustrado por so-bin


Aviso Legal:
A tradução de OVERLORD — para inglês e português — é feita e revisada de fã para fã,
não monetizem em cima da obra e não compactuem com quem o faz. Se quiserem e pu-
derem contribuir com o autor, comprem o livro ou ebook (japonês, inglês ou português)
em sua livraria de preferência.

Sobre:
A obra faz uso de muitos anglicismos, ainda mais por se basear em RPGS, então há mui-
tos termos em inglês e tentei preservar vários desses aspectos em alguns termos, nomes
de armas, itens, raças e coisas do tipo.
Claro, algumas coisas precisam de adaptação, outras é preciso generalizar. Dito isso,
pode não agradar aos adeptos do Dia do Saci em vez do Halloween. Estejam avisados.

Tentei remover o máximo possível de erros de português e concordância, mas, somos


apenas pessoas com boa vontade e não especialistas da língua portuguesa.
Quando encontrarem algum erro, sintam-se à vontade para entrarem em contato atra-
vés do e-mail disponível no blog :)

Créditos:
CRÉDITOS PT-BR:
ainzooalgown-br.blogspot.com
CRÉDITOS EN-US:
skythewood.blogspot.com
REFERÊNCIA DE NOMES:
overlordmaruyama.wikia.com

Atenção: Se baixou este arquivo de outro link que não o oficial do blog. Ou se tem muito
tempo que baixou e deixou guardado, que tal dar uma conferida no blog? Talvez esta seja
uma versão desatualizada :)

Revisão: 6.2 | Versão: 5.0


Sumário
Conto 1 - Os Dias Revoltos e Agitados de Enri ................................................................ 5
Parte 1 ....................................................................................................................................................................................................................... 6
Parte 2 .....................................................................................................................................................................................................................34
Parte 3 .....................................................................................................................................................................................................................83
Parte 4 .................................................................................................................................................................................................................. 123

Epílogo .................................................................................................................................................... 151


Conto 2 - Um Dia Em Nazarick ........................................................................................... 166
Parte 1 .................................................................................................................................................................................................................. 167
Parte 2 .................................................................................................................................................................................................................. 202
Parte 3 .................................................................................................................................................................................................................. 225
Parte 4 .................................................................................................................................................................................................................. 280

Posfácio .................................................................................................................................................. 301


Ilustrações .............................................................................................................................................. 304
Glossário ................................................................................................................................................ 322
OverlorD
オーバーロード
-Volume 08-
Os Dois Líderes

Autor:

Maruyama Kugane
Ilustrador:

so-bin
Conto 1 - Os Dias Revoltos e Agitados de Enri
Parte 1

nri Emmot levantou-se antes do sol nascer para fazer o café da manhã. Ela

E não era tão boa cozinheira quanto sua falecida mãe, no entanto, havia
muita comida para preparar.

Contando Nemu, a própria Enri e os 19 Goblins leais a ela, era preciso fazer
café da manhã para 21 bocas. Havia ainda mais 2 pessoas nesse amonte de vez em
quando, fazendo um total de 23. Preparar muita comida era muito trabalho e poderia
ser considerado uma batalha por si só. Enri estremeceu enquanto olhava para a vasta
quantidade de comida à sua frente e percebeu que tudo ia acabar em uma refeição.

“É quase seis vezes mais do que antes...”

Depois de respirar fundo, ela arregaçou as mangas, empinou o peito e começou a tra-
balhar.

Silenciosamente cortou os legumes e depois a carne. O processo estava gravado em sua


mente.

Embora Enri não fosse especialmente talentosa na culinária, o fato de ter aprendido a
lidar com uma tarefa tão enorme em tão pouco tempo era um exemplo de como os dia-
mantes eram feitos sob pressão.

Sua irmãzinha acordou com o som de Enri fazendo café da manhã e esfregou o sono de
seus olhos.

“Bom dia, onee-chan. Deixa eu ajudar também!”

“Bom dia, Nemu. Não precisa, mas ainda tem aquela coisa que te disse ontem pra me
ajudar...”

A infelicidade passou sobre o rosto de Nemu por um momento, mas no final, ela não
reclamou, embora tenha baixado a cabeça obedecendo Enri e respondido “...Tá bom”.

As mãos de Enri pararam.

Seu coração doeu.

Nemu tinha 10 anos agora, antigamente era uma menina muito brincalhona e engra-
çada. Depois desse incidente, a outrora ingênua e despreocupada Nemu era agora ser-
vilmente obediente à sua irmã, sem nenhuma brincadeira ou birra de crianças de sua
idade. Ela era uma boa menina agora — tão gentil que até doía.

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


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Os rostos sorridentes de seus pais apareceram na mente de Enri. Embora vários meses
se passaram, as feridas daquele incidente ainda não haviam sarado.

Se tivessem morrido por alguma doença, ela poderia ter se preparado para isso. Se eles
tivessem morrido em um acidente ou desastre natural, ela não teria odiado mais nin-
guém por isso, e talvez nem mesmo atormentado seu coração. Mas seus pais foram as-
sassinados diante de seus olhos e seu coração agora estava cheio de ressentimento. Não
havia como ela pensar ou sentir o contrário.

Enri fechou os olhos com força. Se houvesse alguém por perto, ela poderia se esforçar
para que não notasse sua fraqueza. Mas quando estava sozinha, a solidão reabria as fe-
ridas em seu coração.

“—Foi justo?”

Ela ainda via os sorrisos bondosos de seus pais flutuando na escuridão atrás de seus
olhos. Mesmo quando ela os abriu, suas formas não desapareceram de sua visão. Ela re-
petiu os momentos de ternura do passado em sua mente, uma e outra vez.

Depois disso veio o turbilhão de emoções negras em seu coração — seu ódio pelas pes-
soas que assassinaram seus pais. Guiada por isso, Enri bateu seu cutelo na carne com
toda a força, dividindo-a ao meio.

No entanto, como usou muita força, ela também tirou um naco da taboa de corte, o que
a fez franzir a testa em frustração.

Se ficar com endentações vai ser difícil consertar... desculpe, mamãe-san.

Enri encobriu o naco enquanto se desculpava por danificar o cutelo que era seu único
elo com sua falecida mãe.

Ela gentilmente correu um dedo ao longo do fio para se certificar de que estava tudo
bem, naquele momento, a porta ao lado que levava à sala de estar se abriu.

O que entrou não era humano, mas alguém menor — um dos demi-humanos comu-
mente conhecidos como Goblins.

“Bom dia, Ane-san. Hoje é a minha vez de... aconteceu alguma coisa?”

O Goblin parou no meio de uma saudação arqueada perfeita para virar os olhos preo-
cupados para as mãos de Enri.

Enri era uma mera garota de um vilarejo, mas os Goblins a serviram sem hesitação pois
ela era a convocadora deles.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


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Depois daquele incidente, quando os aldeões se perguntaram se precisavam passar por
turnos montando guarda, Enri se lembrou da trombeta que recebera e usou para chamar
os Goblins.

Inicialmente os aldeões ficaram surpresos e com medo dos Goblins, já que apareceram
do nada, mas se acalmaram quando Enri lhes disse que havia convocado os Goblins com
um item de seu salvador, Ainz Ooal Gown. Escusado dizer que isso foi devido à gratidão
e confiança que sentiam em relação a Ainz. Depois disso, o trabalho que os Goblins fize-
ram foi suficiente para os aldeões deixarem de lado suas suspeitas e os acolherem de
bom grado.

“Bom dia, Kaijali-san. É só que eu tentei cortar, mas exagerei um pouco na força...”

Kaijali era um dos Goblins convocados de Enri. Ele franziu as sobrancelhas — pare-
cendo um urso comedor de homens acordando de sua hibernação de inverno — e colo-
cou uma expressão preocupada em seu rosto antes de olhar para Enri.

“Que problema, hein? Precisa cuidar melhor desse cutelo. O Vilarejo não tem ferreiro,
nem nós podemos consertar o nosso equipamento.”

“Pois é...”

“Sem estresse. Vamos pensar no que fazer quando chegar a hora.”

Kaijali falou com uma voz sincera e alegre enquanto a ajudava a preparar o café da ma-
nhã. Ele retirou uma brasa do pote que estava segurando e, com competência, acendeu
o fogão. A facilidade com que ele transformou uma brasa fraca em um fogareiro era
prova de sua habilidade.

Mas eles não podem cozinhar... Por quê?

Os Goblins não podiam preparar nem as refeições mais simples. Como eles comiam
carne crua e legumes sem reclamar, ela achava que eles poderiam gostar mais de comida
crua, mas ficou claro que preferiam refeições cozidas — embora ainda pudessem comer
alimentos crus sem problemas.

Será porque seres convocados não sabem cozinhar?

Uma mera aldeã, como ela, não tinha resposta para essa pergunta e, com isso, se focou
em seu trabalho mais uma vez. Felizmente, o fio do cutelo ainda estava intacto.

Eventualmente, o café da manhã ficou pronto.

Havia uma variedade maior de pratos na mesa em comparação com os dias em que sua
mãe cozinhava.

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


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Por exemplo, havia carne. Embora os caçadores locais frequentemente compartilhas-
sem suas caças, a quantia que poderiam trazer de volta agora não era nada se comparado
ao passado. A razão pela qual eles tinham muito mais carne agora era porque os aldeões
expandiram sua área de atividade.

A Grande Floresta de Tob oferecia sua recompensa para aqueles que adentravam, lá
tinha lenha, frutas, vegetais silvestres, carne, pele e até mesmo ervas medicinais.

Embora a floresta fosse legitimamente considerada um tesouro, também abrigava pe-


rigos na forma de animais selvagens e monstros, que poderiam atacar o vilarejo. Como
resultado, a floresta não era um lugar onde os aldeões pudessem entrar casualmente.
Mesmo os especialistas como caçadores profissionais foram forçados a se esconder
como ladrões que buscavam tesouros nas bordas do território do Sábio Rei da Floresta.
No entanto, com o desaparecimento do Rei da Floresta e a aparição dos Goblins, a situa-
ção mudou radicalmente.

A maior mudança foi que os aldeões agora podiam entrar facilmente na floresta e colher
seus recursos. O trabalho dos Goblins, que eram seres fortes, foi um fator-chave para
isso; a carne, que antes era difícil de obter, agora podia ser facilmente adquirida, frutas
e vegetais frescos agora enchiam as mesas de todos. Como resultado, a situação alimen-
tar do vilarejo melhorou drasticamente.

Além disso, já que os Goblins eram subordinados de Enri, eles agiam como uma alcateia
de leões, onde as fêmeas — Goblins — entregavam parte de sua caçada para o leão —
Enri.

Além disso, uma das mais recentes adições ao vilarejo foi uma ranger que fez contribui-
ções para as provisões.

Era uma mulher que costumava ser uma aventureira em E-Rantel. Vários motivos a le-
varam a se mudar para o vilarejo e ela estava aprendendo os caminhos da caça para ser
uma ranger de vilarejo. Como tinha sido uma guerreira durante seus dias de aventuras,
suas habilidades com o arco eram excelentes, ela podia derrubar até mesmo a maior das
presas com algumas flechas. Foi em parte por causa de seus esforços que a distribuição
de carne no vilarejo melhorou.

O melhor padrão de vida trouxe mudanças, que se refletiram nos corpos dos moradores.
Enri já estava com bíceps bem definido.

Seus ganhos foram bastante impressionantes. Flexionando seus músculos, ela pensou:

Mm, me sinto tão musculosa... acho que vão crescer ainda mais...

Os Goblins elogiaram Enri em todas as oportunidades com frases como “Ane-san tá trin-
cadona!”, “Isso aí, puxa mais uma vez!”, “Ela vai ficar bem definida!”, “Mantenha o foco, vai

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ficar com barriga de tanquinho!”, “Ela é tão fofa fazendo isso!”. Eles a elogiaram com a
melhor das intenções, mas enquanto menina, era difícil aceitar tais elogios.

Seria esquisito ficar musculosa como os Goblins querem...

Enri varreu de sua mente a forma final idealizada pelos Goblin e começou a servir o café
da manhã. Seria mais uma tarefa minuciosa.

Os Goblins não se importavam com uma pequena diferença no tamanho das porções,
mas a quantidade de carne na tigela de cada um era um grande problema. Enri garantiu
que todos recebessem uma quantidade semelhante de carne antes de passar para a pró-
xima tarefa.

Por fim, o desjejum estava pronto e o suor escorria de sua testa.

“Bem, vou ir chamar meus colegas e o Nfirea também!”

“Hm, tá bom!”

“Eu vou! Deixa eu ir chamar eles! Deixar eu ir, vai, diz que siiim~!”

Quando Enri se virou, viu Nemu de pé atrás dela com os olhos brilhantes.

“Já fez suas tarefas?”

Sua irmã assentiu em resposta, e Enri continuou:

“Mesmo? Então vá buscar o Nfi—”

“—Não! Eu quero chamar os Goblins!”

Enri não tinha idéia de como responder à súbita exclamação de sua irmãzinha. Kaijali
acenou com a cabeça gentilmente para Nemu, presumivelmente indicando que ele con-
fiaria a ela essa tarefa.

“Tudo bem. Eu vou buscar o Nfirea.”

“É assim que se fala! Gostei! Ane-san, eu vou com você.”

Embora isso deixasse a casa vazia, não era algo que incomodava Enri. Afinal, nunca
houve nenhum problema com ladrões invadindo antes.

Juntamente com Kaijali, Enri saiu de casa logo depois de Nemu.

O vento refrescava no rosto de Enri, carregando o cheiro de grama juntamente com o


calor suave vindo da luz do sol matinal. Enri respirou fundo e, quando se virou para olhar

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


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Kaijali, ele estava respirando o suave aroma também. Enri não pôde deixar de sorrir ao
ver que Kaijali fez uma careta ao perceber, porém tentou recuperar a dignidade perdida
com uma expressão ferina. Talvez a Enri do passado ficasse com medo, mas a atual es-
tava acostumada a viver com os Goblins, que sabia que era assim que ele sorria.

Neste dia calmo, fresco e claro, Enri seguiu para a casa ao lado.

Fôra deixada sem dono devido à tragédia que se abatera sobre o vilarejo recentemente
e se tornara o lar dos alquimistas de E-Rantel, os Bareares.

A casa estava ocupada por duas pessoas. Uma delas era uma velha, a experiente herbo-
rista Lizzie Bareare. A outra era seu neto e amigo de Enri, Nfirea Bareare. Os dois passa-
ram os dias confinados na casa, processando ervas para fazer poções e outros remédios.

Não trabalhar em conjunto com outros aldeões era uma boa razão para ficar isolado e,
na pior das hipóteses, o resultado seria a expulsão do vilarejo. Mas foi diferente para
esses dois.

Em todos os vilarejos, um Apotecário — alguém que pudesse preparar remédios em


caso de doença ou lesão — era indispensável. Pode-se dizer que eles eram importantes
o suficiente para que os aldeões mesmo insistissem que: “Vocês não precisam fazer nada,
apenas criem remédios pra nós”.

Isso valia o dobro para um lugar como o Vilarejo Carne, que não tinha acesso a sacer-
dotes que poderiam usar magia de cura.

Aliás, sacerdotes cobravam o dobro que qualquer apotecário de vilarejos ou vilas.

Os sacerdotes cobravam uma taxa equivalente por sua magia de cura. Ou melhor, talvez
seja mais preciso dizer que cobrar essa taxa era obrigatório. Se os aldeões não pudessem
pagar, ofereceriam trabalho como pagamento. Se mesmo assim fosse demais para paga-
rem, os sacerdotes usavam remédios compostos de ervas, uma vez que as curas com
ervas eram mais baratas que a cura mágica.

Um dos Goblins do vilarejo era clérigo, e ele podia curar ferimentos leves com facilidade,
mas os aldeões haviam se reunido com a opinião de que ele deveria economizar seu po-
der para uma emergência, a menos que alguém estivesse muito ferido. Sem mencionar
que as magias de cura do clérigo eram muito limitadas e não tinham a capacidade de
curar doenças ou neutralizar venenos.

Portanto, todos ficaram agradecidos aos Bareares pelo trabalho que fizeram.

Curiosamente, apesar do trabalho vital que realizavam, os aldeões tinham um certo re-
ceio ao abordá-los.

A razão para isso ficava óbvia assim que se aproximasse da residência dos Bareares.

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Enri franziu o nariz, assim como Kaijali — embora a expressão parecesse mais maligna
em seu rosto.

Um cheiro acre emanava da casa que estavam se aproximando. O odor não era tão hor-
rendo, embora ainda os fizesse sentir-se mal. O cheiro liberado pela moagem de ervas
pode até ser enjoativo, mas no final das contas era apenas o cheiro das plantas, não tinha
nada de nocivo por si só.

Respirando pela boca, Enri bateu na porta.

Ela bateu algumas vezes, mas ninguém a atendeu. No momento que pensou que nin-
guém estava em casa, o som de passos foi ouvido do outro lado da porta. Ela ouviu al-
guém apressadamente mexer na fechadura do outro lado, então a porta se abriu.

—!?

Ela evitou expressar com palavras ou reações, mas o cheiro vindo de dentro da casa era
realmente insuportável.

Era pungente.

Uma ardência que queimava seus olhos, nariz e boca. Pior ainda, o mau cheiro de dentro
da casa sugeria que o miasma ao redor da casa não era nada mais do que uma branda
parcela que havia vazado de dentro.

“Bom dia, Enri!”

Os olhos de Nfirea, visíveis entre as aberturas de seus cabelos compridos, estavam bem
abertos e avermelhados. Como de costume, ele deve ter ficado acordado a noite toda
fazendo experimentos alquímicos.

Enri se viu em um beco sem saída. Se ela o cumprimentasse, consequentemente engo-


liria lufadas de ar pungente que a fazia lacrimejar, mas se ficasse calada, seria rude. Re-
solvendo por fim fazer seu pequeno sacrifico do dia, Enri devolveu a saudação.

“B-Bom dia, Enfi.”

Ela sentiu a garganta secar quando disse isso.

“Bom dia, Ani-san.”

“Ah, bom dia Kai... Kaijali-san... Huh, já é manhã? Eu estava trabalhando tanto que nem
percebi. Ver o sol me faz perceber como o tempo passou... ahhh, eu tenho feito muitos
experimentos recentemente, eu preciso sair de casa.”

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Nfirea se esticou como um gato e bocejou.

“Parece que está virando noites seguidas de novo, huh—”

Enri estava prestes a acrescentar “o café da manhã está pronto, venha com a sua Obaa-
sama”, mas Nfirea interrompeu. Ou melhor, em vez de dizer que ele a interrompeu, seria
melhor dizer que ela foi sobrecarregada pelo entusiasmo do menino.

“É incrível, Enri!”

Nfirea correu até ela. Suas roupas de trabalho cheiravam ao mesmo odor pungente que
enchia o resto da casa. Embora Enri quisesse muito se afastar, ela se forçou a suportá-lo,
pois Nfirea era seu amigo de infância.

“O que aconteceu, Enfi?”

“Você tem que ouvir isso! Nós finalmente conseguimos aperfeiçoar o procedimento
para preparar um novo tipo de poção. Isso vai mudar o mundo! Mesmo que tudo o que
fizemos foi misturar as ervas que juntamos na solução, conseguimos produzir uma po-
ção roxa!”

A única resposta que ele recebeu foi um “Hein?”

Enri não tinha idéia de como isso era incrível. A poção é roxa porque colocaram repolho
roxo?

“É muito potente! A velocidade de cura está a par com poções alquimicamente refina-
das!”

Nfirea ergueu as mãos, mostrando os braços delicados e esguios que não estavam feri-
dos. Enri pensou:

Meus braços são mais grossos que os dele.

Mas Nfirea não parou por aí.

“O que quer dizer...!”

“Sim, sim, isso é maravilhoso, fale sobre isso depois.”

Kaijali falou ao dar um passo à frente.

“Ane-san do meu ver, parece que ele está dormindo pouco e festejando muito. Será que
ele ficou doidão ou algo assim? Pode deixar que eu dou um jeito. Por que não volta pri-
meiro?”

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Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri
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“Vai ficar tudo bem?”

“Claro que vai. Só vou jogar um pouco de água fria no rosto dele e quando se acalmar,
aí eu levo. Se demorar muito, os outros vão ficar preocupados. E a sua avó, ela vem?”

“A Obaa-chan ainda está com a cabeça enterrada na pesquisa... Duvido muito que ela
queria tomar café da manhã agora. Me desculpe, sei que teve trabalho a mais ao preparar
o café da manhã para nós...”

“Ah, que nada. Já pensava que a Lizzie-sama estaria fazendo algo assim.”

Situações como essas já ocorreram algumas vezes, não era nada de mais.

“Então, Ane-san, melhor ir logo.”

Com isso dito, não havia nada a fazer a não ser sair.

“Não demore, ou vai esfriar.”

♦♦♦

Enquanto observava Enri sair, Kaijali olhou friamente para Nfirea.

“O que estava fazendo lá atrás, rapaz? O único motivo para uma garota escutar um cara
falando do que gosta, é se ela estiver na sua. Se ela não tivesse afim, então esse conversa-
fiada sua só serviria pra ela ficar entediada!”

“...Eu não sabia... eu tinha pensado que, como fizemos aquela descoberta incrível... assim,
foi realmente incrível! Me arrisco dizer que é revolucionária—!”

Kaijali interrompeu lero-lero de Nfirea com um movimento de corte com a mão. Clara-
mente, Nfirea não recebera a mensagem que ele estava tentando transmitir.

“Preste atenção, Ani-san. Tem certeza que quer isso, de deixar ela assim? Está apaixo-
nado por ela, não é?”

Nfirea respondeu com um “Mm” e acenou com a cabeça vigorosamente.

“Então tem que fazer dela a prioridade na sua vida. Ela precisa estar acima de qualquer
poção.”

“...Tudo bem, vou tentar.”

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“Não venha com essa de tentar, faça! Você precisa conquistar o coração dela. Eu e o
resto dos rapazes faremos o nosso melhor pra te apoiar. Além disso, não somos apenas
nós, até mesmo a Imouto-san concordou em te ajudar. Você tem que me ajudar a te aju-
dar, faça sua parte, Ani-san.”

“Mmm...”

“Se eu fosse você, não ficava esperando ela vir se declarar, como diz o ditado; cobra que
não anda, não engole sapo, entendeu? Você tem que ter coragem pra dizer a ela como
realmente se sente.”

Essa frase perfurou o coração de Nfirea como um punhal entre as costelas.

“Mas, você até que tem se saído bem, Ani-san. Antigamente não conseguia nem dizer
uma palavra na frente dela. Agora pode continuar uma conversa normal, não é?”

“Isso foi porque eu não tive muita chance de conversar com a Enri, a menos que eu
viesse para colher ervas... Agora que eu mudei para o vilarejo, estou muito mais perto
dela.”

“Isso aí, esse é o espírito. Só precisa reunir sua coragem e tomar a iniciativa. Talvez deva
mostrar o quanto é forte. Segundo as mulheres daqui, caras fortes são os mais atraentes.
Bem, foi o que eu ouvi as quarentonas comentarem, enfim.”

“Não sei se tenho esse tipo de força. Talvez eu deva fazer mais trabalho agrícola ou algo
assim?”

“Nada disso, o que deveria estar usando é isso, Enfi-niisan—”

Kaijali falou enquanto gentilmente cutucava a cabeça.

“Compense as coisas com isso. E então aprimore sua magia. Se eu ou um dos rapazes
achamos que você tem a chance de marcar pontos com ela, vamos posar desse jeito. Essa
é a dica pra dizer algo ou partir pra cima, aí ela vai ficar caidinha por você.”

Kaijali flexionou os braços fazendo os músculos dos bíceps tencionarem. Eles se incha-
ram poderosamente sob sua pele.

“Algo assim. E se precisar ser mais incisivo...”

Em seguida, Kaijali flexionou os peitorais. Embora ele fosse bastante baixo, seu corpo
musculoso e atlético atestava o fato de que ele era um guerreiro nato.

Nfirea se perguntou:

Por que essas poses?

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No entanto, ele podia sentir a boa vontade de Kaijali, então não deu voz a seus pensa-
mentos. Ainda assim, havia uma pergunta que queria fazer.

“Eu... eu estou curioso, por que estão fazendo isso? Quero dizer, eu sei que são subordi-
nados da Enri e leais a ela, mas eu não entendo o porquê está me ajudando.”

“Ah, isso é simples...”

Kaijali respondeu com uma expressão inescrutável no rosto. Em um tom mais adequado
para persuadir as crianças a se comportarem, ele respondeu:

“É porque todos nós queremos que a Ane-san seja feliz. E até onde sabemos, você se
encaixa perfeitamente pra isso. Então, quanto mais rápido se casarem, melhor é.”

“N-não precisa de tanta pressa! N-Nós podemos ir nos aproximando aos pouquinhos,
né...?”

“...Lento demais. Quero dizer, quanto tempo os humanos demoram entre engravidar e
ter filhos?”

Os olhos de Nfirea se arregalaram e seu rosto ficou rosado quando a conversa de re-
pente saltou para a gravidez, a forma final das relações homem-mulher.

“Is-isso seria cerca de nove meses?”

“Hm, levaria muito tempo para cerca de dez filhotes— digo, dez crianças, é isso?”

“DEZ!? Não acha que isso é muito!?”

A média de famílias em vilarejos agrícolas era de 5 crianças. Em tempos difíceis, quando


era difícil sobreviver até a idade adulta, esse número aumentaria. Na cidade, esse nú-
mero costumava ser menor, com a ajuda de sacerdotes para curar doenças ou o uso de
contraceptivos.

Logo, uma mulher que desse à luz 10 filhos não seria apenas um pouco, mas muito além
da média.

“O que é que tem? É bem normal para os Goblins.”

“Mas não somos Goblins!”

“Que seja, acho que nossas raças têm diferenças... mas ainda assim, vocês têm que ter
muitas crianças para fazer a Ane-san feliz.”

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“...É, não posso negar que ela pode ficar feliz com uma casa cheia de crianças... mas ainda
parece meio errado...”

“Sei...”

Nfirea estava sem palavras quando viu Kaijali olhando para ele com a cabeça inclinada.
Mas, no geral, ele ainda estava grato por sua ajuda.

“Então, vamos indo, Ani-san. Eu espero que faça sua jogada em breve. E fique avisado,
se der bobeira, outro cara pode chegar na sua frente... bem, acho que um avanço tático
constante no objetivo principal é uma estratégia que vale a pena perseguir.”

“Onde aprendeu tudo isso?”

Perguntou Nfirea, mas depois sacudiu a cabeça e gritou para o interior da casa:

“Ei, Obaa-chan, eu vou na casa da Enri tomar o café da manhã, e a senhora?”

A resposta que veio da casa foi uma recusa à pergunta de Nfirea.

Muito provavelmente, ela estava no meio de repetir um experimento e não tinha tempo
para se preocupar com coisas triviais como comer.

Nfirea sabia como era este sentimento.

As ferramentas alquímicas e outras parafernálias da casa eram de uma qualidade ex-


tremamente alta e não sabiam como usar a maioria delas. A empregada a serviço do
grande Ainz Ooal Gown as havia trazido. Os dois tinham sido ordenados a usar esses
materiais para produzir novas poções e itens alquímicos. A empregada até mesmo pro-
veu uma erva lendária que curava todas as doenças.

Quando perguntou a ela sobre os solventes e o uso adequado dos instrumentos, tudo o
que ele recebeu em troca foi um “descubra sozinho ~su”, o que não foi de ajuda.

Assim, os dois haviam passado diversas noites sem comer e dormir em prol de sua
busca incessante para aprender a usar esses dispositivos. Foi um processo lento, mas
finalmente estavam conseguindo fazer algum progresso. Claro, eles também cometeram
erros.

Os últimos dois meses tinham sido muito ocupados para Lizzie, mas Nfirea também não
teve vida fácil.

Os frutos de seu trabalho estavam sobre a mesa, aquela garrafa de poção roxa, que Liz-
zie examinou interminavelmente e encheu Nfirea de alegria.

“Eu vou trazer de volta um pouco de comida, então.”

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Nfirea falou quando fechou a porta atrás dele. Então, se virou para Kaijali:

“Vamos.”

♦♦♦

Embora todos devessem comer juntos, a casa de Enri estava longe de ser grande o sufi-
ciente para acomodar todo mundo. Como tal, eles costumavam comer fora quando o
tempo estava bom.

Por estarem ao ar livre, uma certa quantidade de desordem era esperada e tolerada. Se
estivessem lá dentro, poderia ter sido insuportável, mas mesmo nas atuais circunstân-
cias, a situação rapidamente se tornara agravante.

“Eu já disse antes e digo novamente, a Ane-san vai ser a minha esposa!”

“Ei, esquentadinho, tá esquecendo o acordo que todos nós fizemos para não tocar na
Ane-san!?”

“É isso aí, se tentar passar a perna na gente, eu não vou deixar barato!”

“E vai fazer o quê? Eu fui o primeiro!”

Vários Goblins chutaram as cadeiras quando subitamente se levantaram e alguns até


pularam na mesa. Enri engoliu a raiva e falou gentilmente com eles.

“Façam o favor de se acalmarem.”

No entanto, a raiva nos olhos dos Goblins não diminuíra nem um pouco.

“Apenas desistam, rapazes. O vencedor já foi decidido. Apenas contemplem o pedaço a


mais de carne que ganhei!”

Um dos Goblins, Kuunel, levantou a colher para provar seu argumento, exibindo um
pedaço de carne que os espectadores poderiam ter confundido com uma ervilha. Não
era nada mais do que um pouquinho a mais que Enri sentira ao dividir a comida com
todo mundo.

“Eu comi os pedações de carne da minha sopa, mas para minha surpresa, havia mais um
no fundo da tigela! Vocês têm algo assim? Duvido! Isso não é nada menos que uma prova
de amor!”

“Tá achando que urubu é louro!? Isso não é nada mais que um fiapo de carne que a Ane-
san confundiu com as verduras!”

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“Não acha que está sonhando acordado? Talvez a tal carne seja apenas batata queimada,
ou algo assim, e mesmo que não fosse, é tão pequeno que não tampa nem um buraco do
dente. Cuidado, hein... isso me parece mais uma prova de que a Ane-san não gosta de
você. Além disso, o meu Deus já me deu a revelação de que eu sou o único capaz de deixa-
la feliz.”

“Mas Cona, o deus que acredita não é maligno!?”

Metade dos Goblins estava de pé e a outra metade estava sentada e brigando, abanando
as chamas do conflito. Mesmo Nemu de alguma forma se juntou aos agitadores. Apenas
algumas pessoas não estavam participando desta batalha. Aquelas pessoas tinham a ca-
beça abaixada na mesa e a mais proeminente delas era Nfirea.

“...Rubi em pó... penas arcanas... pilão de madeira... made... madeira... de... lei?”

Nfirea estava murmurando para si mesmo enquanto colocava a comida na boca, mas a
comida na colher caia toda novamente na tigela antes de chegar à boca. Seus olhos esta-
vam escondidos por seus longos cabelos, mas com toda a certeza ele estava andando na
fina linha entre sonho e realidade.

“Enfi, você tá bem?”

Os Goblins discutiam sem parar. Ela não queria deixar isso se prolongar, já que poderia
desencadear alguma nesga por bobagens, mas Nfirea realmente não estava normal e
precisava de sua atenção. Provavelmente estava sofrendo de privação de sono, ele co-
meçou a cambalear no momento em que se sentou, como se estivesse prestes a tombar
para um lado a qualquer momento. Quando ele realmente começou a tomar café da ma-
nhã, parecia um Zombie, completamente desprovido de vida ou inteligência.

“Ah... não... se... preocupe... comigo... Enri... hu...”

“Minha nossa, Enfi, acorda!”

“Além disso, não foi você quem disse mais cedo; a Nemu é minha esposa e blablabla?”

“Isso foi antes, agora é diferente. Só percebi esses dias, antigamente eu costumava pen-
sar que pela Nemu-san ter quase a mesma altura que nós, ela já estava pronta pra casar,
mas ela tem só dez anos. Fiquei sabendo que os humanos... só se consideram adultos
depois dos quinze anos!”

“Eh? Sério mesmo...? Ane-san não é uma espécie de hob-humano??”

Os Goblins saltaram de tópico para tópico com velocidade incomparável. Enri queria
perguntar-lhes o que era um “hob-humano”, mas antes que pudesse abrir a boca, os
Goblins já haviam se cansado da discussão e começado todo um novo argumento para
que todos participassem.

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


2 0
“Ah! Devolve meu pão!”

“Eu não, meu lobo ainda tá com fome, deixa de ser guloso!”

“Pessoal!”

Enri estava gritando neste momento, mas a voz dela ainda não podia limpar a algazarra
que os Goblins estavam gerando. Colheres e pratos voavam, enquanto gritos e rugidos
de ira subiam e desciam como ondas em uma baía agitada pela tempestade. Claro, tudo
que estava sendo jogado estava vazio, pois nenhum dos Goblins sequer sonhava em des-
perdiçar a comida que Enri fazia para eles. Ainda assim, era totalmente indesculpável.

Curvando-se, Enri franziu as sobrancelhas e respirou fundo.

“Os lobos já não comem carne? Só porque é mais alto que eu, não pense que eu não
posso te dar uns tabefes, aqui é no mano a mano!”

“Mano a mano? Já que tá com tanta fome, que tal eu encher sua boca de socos?”

E assim que Enri se levantou, todos imediatamente voltaram para seus lugares e calma-
mente retomaram a refeição como se nada estivesse errado.

“CHEGA! SE ACALMEM!”

O furioso grito de Enri ecoou pelo ar silencioso acima da mesa do café da manhã.

“Ah...”

Surpresa, Enri olhou ao redor, mas a única coisa que ela podia ver eram os Goblins
olhando para ela com expressões em seus rostos que diziam: “Estávamos todos tomando
café da manhã tranquilamente, isso é um problema”, ou “Ser calado de repente por razão
alguma é realmente irritante”. Depois de ficar em silêncio por um tempo, ela se sentou
de volta em seu assento, com o rosto vermelho.

“Pfh! Hahahahaha!”

A primeira a quebrar o silêncio foi Nemu. Então, incapaz de se conter, Enri seguiu o
exemplo, segurando seu estômago enquanto ela ria e então os Goblins também se junta-
ram.

Esse clima subsequente não poderia ter ocorrido se não tivesse planejado tudo de an-
temão. Foi incrível como eles se prepararam seriamente para uma brincadeira como
essa.

“Ah, seus malditos. Planejaram isso desde o começo, é?”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


2 1
Mesmo que ela estivesse lacrimejando porque estava rindo muito, Enri fez uma de-
monstração de raiva quando lhes perguntou.

“Claro, Ane-san. Jamais íamos brigar por uma coisa dessas.”

“É como ele diz, Ane-san.”

“Isso, isso!”

Os Goblins se gabavam sem o menor indício de vergonha, se safando das perguntas de


Enri com expressões alegres em seus rostos. Em resposta, Enri olhou para Kaijali, o en-
carando com um olhar feroz. Sob o olhar severo, Kaijali murchava, desviando os olhos
enquanto respondia em voz baixa que abdicava de toda a responsabilidade.

“Veja bem, como eu digo isso... nós pensamos que parecia um pouco desanimada, Ane-
san.”

Vários Goblins próximos se afastaram, estavam de cabeça abaixada enquanto olhavam


ao redor desconfortavelmente sem dizer uma palavra.

“Mas vocês...”

“Fizemos isso porque... todo mundo adora ser seu guarda-costas, Ane-san.”

“Isso mesmo!”

“Sim! Guarda-costas!”

“Até criamos uma pose nova para fazer.”

“Unhum, essa pose nova coloca a Ane-san e Nemu-san bem no meio, assim—”

“Eh? Eu também?”

“É claro, vocês duas! Levantem os dois braços assim, desse jeito, agora ajam como se
fosse descoladas. Assim mesmo!”

Mesmo que ela lhes desse o benefício da dúvida, essa postura fazia com que parecessem
sapos esticando os braços para o céu.

“Pessoal, eu entendo suas boas intenções, mas pra começo de conversa, eu não preciso
de guarda-costas aqui dentro... né, Enfi?”

Enri virou a cabeça para seu amigo de infância sentado ao seu lado em busca de ajuda,
mas descobriu que não havia ninguém lá.

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


2 2
Ela tinha um mau pressentimento sobre isso, mas ainda mudou sua linha de visão um
pouquinho para baixo... e descobriu que a cabeça de Nfirea estava descansando de bru-
ços em sua tigela de sopa.

“Enfi!”

Enri imediatamente balançou Nfirea debruçado sobre a mesa, lagrimas apareceram e


seu rosto ficou pálido. Cona rapidamente correu e abriu os olhos de Nfirea com os dedos.

“...Ele só está dormindo. Se deixar ele descansar até o meio-dia deve resolver.”

“Enfi... você não toma jeito mesmo, hein?”

Enri estava pensando que deveria devolver Nfirea à sua própria cama. Então ela o colo-
cou de costas, e começou a levá-lo, deixando para trás trechos de conversa como:

“Não deveria ser ao contrário?”

“...Não diga essas coisas, Nemu-san.”

“Assim não, Ani-san...”

Depois que o trigo fosse colhido, os coletores de impostos viriam ao vilarejo.

Enri estava obviamente preocupada sobre como ela explicaria a presença dos Goblins.

Será que eu digo que que conjuramos eles? Talvez seja melhor dizer que são meus capa-
tazes? Ou...

Enri tinha a sensação de que eles estavam sempre preocupados com ela.

Eles não se preocupavam apenas em proteger sua vida, mas também levavam em conta
seus sentimentos. Ela se perguntava o que poderia fazer por esses Goblins?

Os Goblins eram muito barulhentos, mas também confiáveis. Eles eram sua nova família
— devia haver algo que ela pudesse fazer por eles...

♦♦♦

Enri juntou as ervas daninhas que acabara de cortar e usou as costas ainda limpas da
mão para enxugar o suor escorrendo pelo pescoço. A grande pilha de matéria vegetal
desfiada exalava o cheiro de grama recém-cortada.

O corpo dela estava cansado de trabalhar longas horas no campo e a maneira como suas
roupas suadas de suor se agarravam ao seu corpo deixavam Enri desconfortável.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


2 3
Para elevar os ânimos, Enri se espreguiçou.

Quando ela o fez, seus olhos percorreram os vastos campos.

O trigo que haviam plantado crescera lenta, mas firmemente, à medida que a época da
colheita se aproximava, o trigo lentamente se tornava dourado. Embora um campo dou-
rado de trigo fosse uma bela vista, se lembrar do trabalho que dava para capinar tirava
um pouco dessa beleza. Se não fosse feito, a plantação ficaria cheia de falhas.

Seu trabalho agora era inteiramente por causa da colheita vindoura.

Ela endireitou o corpo para relaxar os músculos rígidos e dar ao corpo fadigado um
momento de descanso. O vento parecia anormalmente fresco em sua pele que havia sido
superaquecida por longas horas de trabalho de campo.

O vento também trouxe o som de uma comoção do vilarejo para seus ouvidos.

Parecia o som de coisas se batendo, assim como gritos para sincronizar suas forças de
trabalho como uma só. Estes eram sons que nunca tinham sido ouvidos antes no vilarejo.
Neste momento, o vilarejo estava trabalhando para transformar todos os tipos de planos
e idéias em realidade.

Destes planos, os que tinham maior prioridade eram para o muro que cercava o vilarejo
e a construção das torres de vigia. Nem era preciso dizer que todos esses projetos tinham
a intenção de transformar o vilarejo em uma fortaleza.

♦♦♦

O Vilarejo Carne ficava na beira da Grande Floresta de Tob, uma floresta que era o lar
de muitas feras selvagens; em outras palavras, um território perigoso. Seria impossível
viver em paz lá sem a proteção de muros resistentes.

O leiaute do Vilarejo Carne era de casas ramificando da praça central em todas as dire-
ções. Sem nada parecido com um muro, qualquer um podia ir e vir sem passar por por-
tões. Anteriormente, o vilarejo tinha sido pacífico e sem monstros, mesmo que fosse ao
lado da floresta.

Isso porque a poderosa criatura conhecida como o Sábio Rei da Floresta expandia con-
tinuamente seu território e, como tal, nenhum animal se atrevia a rondar a floresta perto
do vilarejo. Assim, as defesas do vilarejo eram inexistentes.

Mas tudo isso mudou quando um bando de soldados atacou.

Cavaleiros com trajes do Império atacaram e mataram seus pais. Como resultado, nin-
guém no vilarejo manteve a esperança de que as coisas voltariam a ser como antes.

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


2 4
Para esse fim, o líder da Tropa Goblin — Jugem — propusera a fortificação do vilarejo
como uma contramedida para tal cenário. Uma vez mencionado que os Goblins seriam
incapazes de proteger o vilarejo, devido à falta de números, a moção imediatamente re-
cebeu a aprovação unânime de todas as partes envolvidas. Isso porque, mesmo agora,
muitos dos aldeões ainda não conseguiam esquecer o pesadelo que ocorrera.

O primeiro passo foi desmantelar as casas desocupadas e usá-las para construir um


muro. Naturalmente, esses materiais eram insuficientes, então teriam que entrar na flo-
resta para derrubar árvores para madeira. Já que entrar nas profundezas da floresta
pode significar invadir o território do Sábio Rei da Floresta, eles tiveram que percorrer
um longo caminho, nos arredores da floresta.

Naturalmente, os Goblins prontamente forneciam segurança para os aldeões cortarem


madeira.

Com o convívio continuo, a cautela dos moradores em relação aos Goblins desapareceu
quase completamente. Parte disso foi porque os cavaleiros que os atacaram eram huma-
nos, assim como eles. Ou seja, sua própria espécie assassinou seus amigos e famílias. Em
contraste, mesmo sendo de uma espécie diferente, os Goblins trabalhavam com afinco
para melhorar o vilarejo de Enri. A decisão de qual lado confiar não era mais aquela que
poderia ser facilmente resolvida com base racial.

Além do mais, os Goblins eram mais fortes que qualquer aldeão. Como guerreiros, eles
poderiam conduzir patrulhas e, se alguém se ferisse, o Goblin clérigo — Cona — poderia
curá-los.

Difícil mesmo era achar algo para falar mal nestes Goblins.

Com essa conjuntura de acontecimentos, os Goblins conseguiram se estabelecer no vi-


larejo em poucos dias e rapidamente se tornaram parte indispensável no dia a dia. Isto
podia ser visto da casa em que os Goblins viviam; nenhuma consideração fôra feita do
fato de que eram de outra raça, pois uma grande casa tinha sido construída perto da casa
de Enri, em meio ao vilarejo.

Embora os aldeões e os Goblins tivessem trabalhado juntos no plano de defesa, sim-


plesmente não havia mãos suficientes para fazer o trabalho avançar rápido. Como tal, no
começo eles tinham construído apenas cercas simples.

Como uma jogada do destino, o Sábio Rei da Floresta, que mantivera os monstros afas-
tados do vilarejo, tornou-se um seguidor de um guerreiro de armadura preta incrivel-
mente hábil e abandonou seu território.

Embora tivessem conseguido completar as cercas com grande esforço, os aldeões não
conseguiam se alegrar com sua realização, apenas suspiraram cansados por mais um
golpe de azar que tinha recebido.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


2 5
Mas como uma tempestade que precede dias melhores, um muro robusto agora defen-
dia o vilarejo.

Tudo isso graças aos Golems — Golems de Pedra — que a bela empregada que servia
ao salvador do vilarejo — Ainz Ooal Gown — trouxera consigo.

Golems eram construtos inesgotáveis; quando recebiam uma ordem, executavam-na si-
lenciosamente e sem falar de sua força, que superava em muito a de um ser humano.
Claro, sua falta de destreza significava que não poderiam executar certas tarefas que exi-
gissem precisão, ainda assim, sua participação no trabalho permitia reduzir em muito o
tempo para construção. Com o esforço dos Golems de Pedra incansáveis e sem a neces-
sidade de dormir, a construção do muro ficou pronta em um piscar de olhos.

Eles poderiam realizar as tarefas que os aldeões e os Goblins não podiam, como derru-
bar árvores e transportá-las em grandes quantidades, cavar buracos ou colocar as fun-
dações dos muros. O que deveria levar anos para ser concluído em teoria, na pratica ter-
minara em questão de dias e, de brinde, o muro construído ficou ainda maior e mais
resistente do que o esperado.

Eles não apenas ajudaram a construir os muros; até mesmo a construção das torres de
vigilância foi acelerada. Sua tarefa atual era completar as torres de vigia nos flancos leste
e oeste do vilarejo.

“Ane-san, já terminei aqui.”

Os pensamentos de Enri foram interrompidos pelo Goblin ajudando-a na capina, um


Goblin chamado Paipo.

“Ah, obrigada.”

“Que isso, não precisa agradecer não, Ane-san.”

Embora Paipo acenasse a sujeira e as mãos manchadas de grama para afastar o agrade-
cimento de Enri, Enri ainda sentia que devia aos Goblins uma dívida que nunca poderia
ser paga.

Depois de perder seus pais, Enri se encontrava em uma situação complicada, onde cui-
dar sozinha dos deveres para com sua própria família já era quase impossível. Ela queria
pedir ajuda aos outros aldeões, mas dada a falta geral de mão de obra no vilarejo, já era
difícil o suficiente para cada família cuidar de suas próprias plantações. Com a ajuda dos
Goblins, esse problema foi facilmente resolvido. Além disso, ela não era a única quem os
Goblins tinham ajudado.

“Muito obrigada, Enri-chan. Graças à ajuda do Goblin-san, o trabalho está quase pronto.”

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


2 6
Virando-se para a direção de onde seu nome era chamado, Enri viu uma mulher rechon-
chuda de pé ao lado de um campo. Ao lado dela estava um Goblin.

“Mesmo? Que bom. Foi idéia deles ajudar nas tarefas, então se quiser agradecer a al-
guém, agradeça a eles.”

“Ah, já agradeci ao Goblin-san. Ele disse que ele era apenas seu subordinado, então disse
que era pra eu agradecer a Ane-san também.”

Ouvir a palavra “Ane-san” fez Enri franzir as sobrancelhas, que ela rapidamente disfar-
çou com um sorriso desajeitado.

Os próprios Goblins haviam sugerido que deveriam ajudar as famílias que perderam os
trabalhadores rurais no ataque, a mulher diante dela era uma das afetadas.

Não havia como os aldeões evitarem as contribuições dos Goblins. O moral dos Goblins
no Vilarejo Carne aumentou tanto, que era muito comum ouvir as pessoas dizerem que
Goblins eram melhores vizinhos do que humanos.

“Falando nisso, os outros Goblins estão por aí? Eu queria que todos viessem pra uma
refeição em agradecimento.”

“Os outros devem estar patrulhando ou ajudando os novos moradores. Mas vou passar
a mensagem pra eles.”

“Conto com você, Enri-chan. Quando todos tiverem livres, vou garantir que se deleitem
com o banquete. Vou fazer do bom e do melhor com as minhas habilidades. Bem, vou ir
me aquecendo fazendo um almoço pra este aqui primeiro.”

“É sério? Só se for agora! Recusar um almoço é muito rude. Ane-san, sinto muito, mas
te vejo mais tarde, agora vou almoçar na casa da Morga-san.”

Enri assentiu e a mulher voltou para o vilarejo com o outro Goblin.

“Seria bom se os recém-chegados percebessem logo que vocês não são maus.”

“É, a maioria não parecia nada feliz e ver a gente. Mas eu até entendo, tem coisas que
não mudam da noite pro dia, no fundo ainda acham que somos inimigos.”

“Sim, a maioria dos vilarejos, tirando esse, trataria vocês como inimigos, isso é certo...”

“É por isso que tivemos que enviar pessoas pra ajudar os aldeões com o trabalho. Não
é fácil.”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


2 7
“Mas agora parece ter diminuído mais. Vejo eles cumprimentando vocês e coisas assim
às vezes.”

“Acho que alguns lembram como seus familiares foram atacados e mortos. É um longo
caminho até uma cicatriz dessa parar de doer.”

Apesar do Vilarejo Carne ter sido devastado pelo ataque, cerca de metade dos aldeões
conseguiram sobreviver. Por outro lado, os outros vilarejos que haviam sido atacadas
por cavaleiros haviam perdido a maior parte de seu povo.

Quando o Vilarejo Carne começou a receber imigrantes, muitos dos que vieram eram
sobreviventes desses vilarejos.

Os dois ficaram em silêncio.

Enri esticou as costas uma vez mais e olhou para o céu. Embora a campainha do almoço
ainda não tivesse tocado, parecia que já estava na hora. Eles haviam trabalhado o sufici-
ente no campo para fazer uma pausa também.

“Então, vamos almoçar?”

Apesar do rosto achatado, Paipo fez o que era instantaneamente reconhecível como um
sorriso.

“Adoraria, suas refeições são sempre deliciosas, Ane-san.”

“Não, não são não.”

Enri riu um pouco envergonhada.

“Ora, tô falando sério! Te ajudar nos campos é uma das tarefas mais disputadas. Pois
sabemos que a recompensa é comer suas comidas, que são muito boas, Ane-san.”

“Ha-ha-ha, engraçadinho. Então vou fazer pra todos, que tal? Assim como fazemos no
café da manhã.”

Mesmo dizendo isso, ela imaginou quão difícil seria fazê-lo. Por exemplo, havia uma boa
disparidade entre um almoço para 3 e um almoço para 20. Mesmo cortar os legumes
seria uma tarefa árdua. Além disso, ela tinha que garantir que todos tivessem porções
suficientes, o que seria cansativo. Dito isso, em comparação com a quantidade de traba-
lho que os Goblins tinham investido no vilarejo e os elogios que receberam em troca, não
eram nada que pagasse seu árduo esforço.

“Oh, não, aí seria se aproveitar demais. Até porque, desfrutar do seu almoço feito à mão
é algo como um bônus pra quem ganha o direito de te ajudar, Ane-san.”

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


2 8
Enri só pôde devolver um sorriso atrapalhado ao rosto radiante do diminuto demi-hu-
mano. Embora ela soubesse que os Goblins decidiram quem aceitaria o trabalho através
de pedra, papel & tesoura, Enri duvidava de seus dotes culinários e não achava que va-
lessem tudo isso.

“Então, vamos voltar e comer?”

“É pra j—”

As palavras de Paipo foram cortadas na metade enquanto ele olhava para o horizonte
com seus olhos aguçados. Com uma respiração profunda, o até então relaxado e alegre
pequeno demi-humano se tornou um guerreiro veterano em um instante. Enri seguiu a
visão de Paipo ao longe.

Eles viram um Goblin montando um lobo negro. Eles pareciam deslizar pela planície
enquanto se aproximavam do vilarejo em alta velocidade.

“É o Kyumei-san...”

Entre a Tropa Goblin que Enri havia convocado, havia doze Goblins Soldados de nível 8,
dois Goblins Arqueiros de nível 10, uma Goblin Maga de nível 10, um Goblin Clérigo nível
10, dois Goblins Cavaleiros de Lobo de nível 10 e um Goblin Líder de nível 12, um total
de 19 Goblins.

Kaijali desta manhã e Paipo que ajudaram com as tarefas eram Goblins Soldados de ní-
vel 8, enquanto Kyumei, que estava montado em um lobo preto, vestindo uma armadura
de couro e carregando uma lança, era um Goblin Cavaleiro de Lobo nível 10.

O trabalho dos Goblins Cavaleiros de Lobos era patrulhar as planícies e atuar como ba-
tedores. Os cavaleiros retornando periodicamente ao vilarejo para entregar relatórios
eram uma visão comum.

“...Parece que é.”

No entanto, o tom de Paipo era muito sombrio. Isso a fez pensar que algo ruim havia
acontecido.

“Algum problema?”

“...Ele só deveria voltar mais tarde. Era pra estar rondando a floresta hoje... será que
aconteceu alguma coisa?”

Depois de ouvir a explicação de Paipo, uma onda de desconforto aumentou no coração


de Enri, e ela temia que algum desastre sangrento os aguardasse.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


2 9
Enquanto os dois esperavam em silêncio, o grande Lobo e seu cavaleiro chegaram na
frente de Enri. Dado a respiração rápida, ela podia adivinhar o quão rápido ele tinha
corrido até aqui.

“Aconteceu algo?”

Ouvindo a pergunta de Paipo, Kyumei se curvou para Enri de cima de seu lobo enquanto
respondia:

“Sim, na floresta.”

“...O quê?”

“Não tenho muita certeza, mas acho que é como antes. Um monte de caras desconheci-
dos estão se movendo em direção ao norte.”

“—São cavaleiros?”

Enri inconscientemente interrompeu os dois. Mesmo que ela fosse impotente para mu-
dar alguma coisa, ela ainda não podia ignorar a conversa. Ela ainda não conseguia es-
quecer o trauma de quando teve o vilarejo atacado.

O “Um monte de caras desconhecidos estão se movendo em direção ao norte”, referiram-


se aos rastros que encontraram milhares de pessoas marchando para o norte. Embora
as pegadas fossem similares em tamanho às dos humanos, elas eram feitas de pés des-
calços, então no final concluíram que não eram seres humanos.

“Eu não tenho provas, mas acho que é diferente daquela vez. Sinto que algo está acon-
tecendo no fundo da floresta.”

“Oh.”

Ouvindo isso, Enri não pôde evitar suspirar de alívio.

“...Então, é melhor eu me apresentar ao Líder.”

“Tudo bem. Bom trabalho.”

“Obrigado.”

Depois de acenar para os dois, Kyumei esporeou o lobo e partiu. Enri e Paipo observa-
ram-no entrar pelas portas do vilarejo que se abriram lentamente.

“Então, vamos voltar também?”

“É o jeito.”

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


3 0
♦♦♦

Depois de lavar as mãos ao lado do poço, Enri e Paipo tinham acabado de chegar em
casa quando ouviram a voz de uma menina.

“Bem-vinda de volta, Onee-chan.”

A voz foi acompanhada pelo som de moagem. Seguindo o som até sua fonte, Enri viu
Nemu girando um pequeno moinho de pedra atrás da casa.

Um cheiro pungente veio do moinho. Embora fosse semelhante ao cheiro que se agar-
rava às mãos de Enri logo antes, era várias vezes mais intenso, o suficiente para que se
pudesse sentir a certa distância.

Nemu estava acostumada com o cheiro, ela estava bem, mas os olhos de Enri quase se
encheram de lágrimas quando o odor a surpreendeu. Paipo, parado atrás dela, parecia
não ser afetado em comparação. Não ficou claro se isso acontecia porque o cheiro só
afetava certas espécies, ou porque seria terrivelmente rude fazer uma careta assim para
a irmã mais nova de sua mestra.

“Cheguei. Como estão as coisas? Já fez tudo isso?”

“Mm, eu fiz. Olha aí.”

Enri olhou a linha de visão de Nemu e viu que as ervas que ela empilhou antes de sair
da casa haviam sido reduzidas a um pequeno punhado.

“Eu fiz certinho, né? Tem só um tiquinho agora.”

Antes de sair de casa, Enri pediu a Nemu para ajudá-la a moer as ervas em uma pasta.
Isso porque algumas ervas tinham que ser secas para serem preservadas, mas outras
precisavam ser trituradas para serem preservadas.

“Nossa, se esforçou muito no seu trabalhou, Nemu!”

Enri abriu os braços para elogiar sua irmã e um olhar de orgulho floresceu no rosto de
Nemu. Talvez ela tivesse sido influenciada por Nfirea, ou talvez ela quisesse ajudar sua
irmã de alguma forma, mas Nemu sempre fazia rapidamente suas tarefas.

As ervas eram a maior parte da fonte de renda do Vilarejo Carne. Poder-se-ia dizer que
era uma fonte de renda que não exigia muita mão de obra para um vilarejo fronteiriço.

Dado que era um método crucial para que obtivessem moedas, todos os moradores do
Vilarejo Carne conheciam pelo menos um pouco sobre ervas e onde elas cresciam.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


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Enri silenciosamente considerou a situação. As ervas do Vilarejo Carne eram incrivel-
mente lucrativas. Contudo, elas só poderiam ser reunidas dentro de uma janela de tempo
extremamente curta, antes que as flores florescessem, e só poderiam ser consideradas
como uma renda temporária na melhor das hipóteses. No entanto, todos os lugares que
eles conheciam tinham sido totalmente colhidos, então eles precisariam se aprofundar
na floresta para encontrar ervas que ainda não haviam sido colhidas.

Porém, o fundo da floresta era onde os monstros espreitavam, dificilmente eram um


lugar onde pessoas como Enri pudessem passear em um piquenique. Agora, porém, eles
tinham os Goblins e o experiente herborista Nfirea. Se pudesse conseguir a ajuda deles,
eles seriam capazes de ganhar muito dinheiro.

Depois de alguma hesitação, Enri falou de seu plano para Paipo.

“Eu quero ir num novo local pra colher ervas, poderia vir comigo?”

Pela lógica, não havia necessidade de Enri ir sozinha. Tudo o que ela precisava fazer era
pedir aos Goblins, fortes e destemidos, para entrarem na perigosa Grande Floresta de
Tob sob suas ordens. Entretanto, os Goblins que ela convocara tinham uma fraqueza es-
tranha.

Ou seja, eles não tinham aptidão alguma para a colheita de ervas, simplesmente não
levavam jeito para trabalhos assim.

Sua falta de destreza em cozinhar se refletia nas ervas, eles não eram capazes de com-
biná-las mesmo com indicações claras na frente deles. Era estranho e surpreendente,
parecia que tinham nascido incapazes de fazer esse tipo de coisa, ou mesmo aprender,
como se alguém tivesse removido a capacidade de fazê-lo.

Portanto, se eles fossem designados para colher ervas, os Goblins precisavam ter um
não-Goblin com eles.

“Posso sim, mas pode ser um pouco complicado se vier com a gente, Ane-san.”

“Hm? Por quê?”

“Bem, como o Kyumei disse, tem alguma coisa acontecendo nas profundezas da floresta.
E dependendo do que seja, pode estar um caos danado lá.”

Vendo a expressão de surpresa no rosto de Enri, Paipo explicou-se pacientemente.

“Mesmo os monstros mais cautelosos vão querer expandir o território. Vai ficar nesse
vai e vem por um tempo, com os territórios se sobrepondo aos outros, e isso vai causar
todo tipo de bagunça. Resumindo, as chances de encontrar monstros aumentam e o pe-
rigo também. E se tiver azar, pode até encontrar algo fora da floresta. A gente sabe que
você é corajosa e foda, mas não precisa entrar em perigo, Ane-san.”

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


3 2
“Tá...”

Eu não tenho muita certeza sobre isso de ser corajosa e “foda”, mas deve ser os Goblins
sendo cordiais...

Pensou Enri.

“Houve uma grande movimentação aquela vez. Era o quê?”

“Eu não sei. O certo seria ter enviado alguém familiarizado com as condições da Grande
Floresta pra investigar... Mas se a gente for, as defesas do vilarejo vão ficar fracas... ah,
acho que já sei! Por que não contratar aventureiros pra verificar isso?”

“Difícil...”

Disse Enri, entortando as sobrancelhas e completou:

“Segundo o Enfi, o serviço deles custa bem caro. Embora as ladys de E-Rantel ajudem
alguns desses custos, é muito difícil um vilarejo como o nosso conseguir pagar aventu-
reiros com nossas economias.”

“Entendo...”

“Se der muitas ervas na coleta, o valor da venda deve ajudar com parte desse problema...
caso contrário, tudo o que resta é vender o item que recebemos do Gown-sama.”

Ela recebeu duas trombetas de Ainz Ooal Gown. Embora uma delas tivesse desapare-
cido depois que a assoprara, a outra estava escondida em segurança na casa de Enri.

“Esqueça isso, Ane-san. Preferimos que sopre a trombeta em vez disso.”

“É até errado eu pensar em vender aquele presente.”

Enri não queria se tornar o tipo de pessoa desprezível que vendia presentes dados por
boa vontade. Também existia a possibilidade de que talvez nem fosse possível vendê-lo,
então ela decidiu não o fazer. Mesmo agora, ainda estavam se beneficiando da generosi-
dade da empregada que trouxera os Golems para o vilarejo. Ela nunca iria cometer um
ato tão ingrato.

“É um problema atrás do outro. As ervas só podem ser colhidas nesta temporada, eu sei
que é perigoso, mas eu preciso...”

Enri sorriu para Nemu, que tinha uma expressão apreensiva no rosto. Ela não queria
entristecer a última sobrevivente de sua família, nem queria deixar passar essa chance
de ganhar muito dinheiro. Quando considerou suas prioridades, ela sabia que isso era

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


3 3
errado. Ainda assim, ela deveria apostar sua vida pelo bem de todo o vilarejo e reembol-
sar os Goblins com um amonte justo, mesmo que eles a considerassem como mestra.

Eu preciso ganhar mais dinheiro e ver que tipo de equipamento posso comprar pros
Goblins. Armaduras completas devem ajudar muito. Falando em armadura completa,
aquele cavalheiro de armadura preta... qual era o nome dele mesmo?

Embora não soubesse quanto custava armas e armaduras, ela já tinha quase certeza que
não era barato. Nesse momento, Paipo estendeu a mão na frente de Enri, indicando que
ela deveria esperar um pouco.

“Erm... minha opinião eu já dei, mas não acha melhor discutir o assunto com o Líder?
Não precisa decidir as coisas tão rápido, Ane-san. Não quero ser repreendido pelo Líder
porque abri a boca sem pensar. Além disso, acho que o Ani-san também gostaria ir catar
umas ervas, ele gosta dessas coisas.”

Assim que os problemas de Enri estavam enchendo sua cabeça, um som adorável e gor-
golejante veio do lado dela. Virando-se para olhar, ela viu Nemu olhando para ela com
uma carranca no rosto.

“Onee-chan, minha barriga tá roncando. Podemos comer?”

“Mm, desculpe. Lave as mãos depois de juntar as ervas. Eu vou deixar as coisas prontas.”

“Tááá~!”

A resposta de Nemu foi cheia de energia. Depois de desmontar o moinho, ela raspou a
pasta verde acumulada em um pequeno pote. Enri voltou para casa, imaginando o que
deveria fazer para o almoço.

Parte 2

Enri estava diante da Grande Floresta de Tob. Claro, ela não estava sozinha. Ao lado dela
estavam os leais membros da Tropa Goblin.

Os Goblins estavam equipados com cotas de malha, escudos redondos e facões reforça-
dos, que pendiam de seus cintos. Eles usavam túnicas de cor marrom sob sua armadura
e botas de couro lanzudas em seus pés. Em seus cintos haviam algibeiras para pequenos
itens. Definitivamente não estavam paramentados amadoramente.

Os Goblins totalmente armados fizeram suas verificações finais de seus equipamentos


pessoais. Eles encheram os odres de água e certificaram-se de que seus facões estavam
afiados.

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


3 4
Todos estavam bem preparados, mas carregavam pouca bagagem. Isso porque o plano
era concluir rapidamente seu trabalho e não montar uma longa expedição na floresta.

Nem todos na tropa foram designados para a proteção de Enri. Seu objetivo era vascu-
lhar a área ao redor e verificar as informações que os Goblins Cavaleiros de Lobos ha-
viam coletado. Ou seja, eles deveriam observar atentamente a situação atual dentro da
Grande Floresta. Para continuar a proteger o vilarejo, os Goblins decidiram explorar os
arredores e o interior.

Apenas três Goblins acompanhariam Enri.

Havia também mais uma pessoa: Nfirea, que também fizera os preparativos, vestindo
roupas adequadas para coletar ervas na floresta. Com Nfirea por perto, a viagem de co-
lheita de ervas definitivamente seria um sucesso.

Talvez ele tenha sentido Enri o observando, e se virou, perguntando:

“Qual o problema?”

Embora Enri tivesse acenado com as mãos como se dissesse “nada não”, um dos Goblins
ao redor percebeu e se aproximou do lado de Enri.

Ele era um Goblins cujo corpo era tão musculoso e atlético que seria difícil para os es-
pectadores pensarem que ele ainda era um Goblins. Seu torso era protegido por uma
couraça bruta, mas prática, e a espada que ele usava estava embainhada em suas costas.

Este era Jugem, o líder dos Goblins, o nome foi dado por Enri, pois ele lembrava a lenda
de um herói Goblin chamado “Jugem Juugem”. Como um aparte, havia outros cavaleiros
nomeados que lutaram ao lado do herói Goblin, e ela usou seus nomes para os outros
Goblins.

“Hmm, sei... então, qual o problema?”

“Nada, é sério...! Só olhei pra ele e pronto.”

“Isso é ótimo, acho... mas como vamos entrar na floresta, sua vida corre risco com o
menor deslize. Se alguma coisa acontecer, me avise.”

“Isso aí, Ane-san. Assim como concordamos antes, explorar uma floresta não é nada
fácil, então se alguma coisa acontecer e não der para chegar lá a tempo... me garante que
vai ficar bem?”

O rosto brutal de Jugem se contorceu com o que parecia uma expressão de preocupação,
e ele olhou para o rosto de Enri. Vendo isso, Enri sorriu e respondeu a ele.

“Vai ficar bem sim. A gente não vai muito fundo, e eles vão me proteger.”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


3 5
“Menos mal...”

Jugem seguiu a linha de visão de Enri para os três Goblins à frente dele. Então ele gritou:

“Ei! Seus badernistas! É melhor não deixarem a Ane-san receber um único arranhão,
entendido!?”

“Alto e claro!”

Os três Goblins, Gokou, Kaijali e Unlai, responderam com um grito sincero.

“E Ani-san, trate de cuidar bem da Ane-san também, entendeu?”

Enri de repente notou que Kaijali, sem nenhuma razão aparente, estava flexionando os
músculos em uma pose frontal mostrando os dois bíceps.

“Fazer isso agora?... Grhum! Claro! Pode contar comigo para proteger a Enri!”

Por um momento, Enri imaginou Nfirea mostrando seus dentes brilhantes enquanto
irradiava autoconfiança através de seu sorriso. Sua atitude agora era muito diferente do
habitual e, sendo sincero, parecia meio vulgar. No entanto, isso foi provavelmente ape-
nas a sua animosidade para a caminhada na floresta.

Parece um garotinho.

Enri sorriu, sentindo-se como sua irmã mais velha.

“Obrigada, Enfi. Conto com você.”

E agora essa pose lateral...? O que isso significa?

“Ahhh, isso... ah, er, eu preparei um monte de itens alquímicos que fiz para mim mesmo,
então deixe comigo!”

Depois de ver o segundo sorriso brilhante de Nfirea, o sorriso sem graça no rosto de
Enri ficou ainda mais evidente.

“Uh... mm. Você vai dar conta.”

“Ah, bem, pelo menos isso foi resolvido... Sendo sincero, eu não sei se realmente precisa
fazer algo tão perigoso...”

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


3 6
Jugem virou-se para olhar Enri, com uma expressão amarga no rosto. Enri estava come-
çando a ficar um pouco irritada depois de ouvir essa pergunta novamente depois de res-
ponder tantas vezes no vilarejo, mas ele estava apenas perguntando para apaziguar a
preocupação por ela, então ela não podia simplesmente ignorar.

“Eu sei que tem lá seus riscos, mas acontece que sem as ervas, não podemos trazer di-
nheiro...”

“E quanto as peles de animais? Podemos conseguir algumas.”

“Rende algumas moedas, mas as ervas são as mais valiosas.”

Peles de animais e ervas medicinais estavam em categorias de preços completamente


diferentes. A diferença era comparável entre os céus e a terra. Claro, alguns animais es-
pecialmente raros tinham peles que valiam uma fortuna, mas tais animais eram raros.

“Se o Ani-san pudesse compartilhar seu...”

“Não vamos tocar no dinheiro dos Bareare. Cada um precisa fazer sua parte e contribuir.
Não dá pra tirar vantagens deles e não fazer nada.”

Ajudar uns aos outros em situações difíceis era o alicerce da vida no vilarejo — portanto,
uma família não poderia sobreviver se fosse isolada dos outros. Ainda assim, isso não
era uma desculpa para tirar vantagem dos outros, porque isso implicaria que uma pes-
soa não poderia se sustentar, e o vilarejo não poderia cuidar das pessoas até esse ponto.
A autossuficiência era um requisito essencial.

Os dois começaram a desviar o olhar de Nfirea, que estava dizendo baixinho:

“Kaijali-san, entenda a situação que estamos e pare de fazer essas poses estranhas...”

“Eu sei, mas... Ah, tem isso também... digo, se você vivesse com o Ani-san, certamente
poderiam usar do mesmo dinheiro... e... parece que nada impediria isso...”

As palavras espaçadas de Jugem gradualmente perderam sua força. Ele sabia que não
poderia impedir Enri de entrar na Grande Floresta.

Embora Enri não quisesse dificultar as coisas para Jugem e os outros que cuidavam dela,
ela não se deixaria influenciar por sua relutância.

Afinal, ela havia decidido se aventurar na floresta apesar de saber seus perigos, porque
ela tinha ouvido Kaijali dizer: “Não podemos consertar o nosso equipamento”.

Um cutelo de cozinha era uma coisa, mas os Goblins precisavam dos serviços de um
ferreiro profissional para preservar suas armas e armaduras. O que significava que a

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


3 7
sombra do perigo pairava sobre todos os Goblins. Se o equipamento deles se deterio-
rasse, isso significaria que suas vidas estariam em perigo. A manutenção de seus equi-
pamentos de batalha era essencial.

O que ela poderia fazer por eles — que haviam juramentado suas vidas para protegê-
la? Como ela poderia se esconder em segurança e aproveitar os frutos do trabalho deles?
Já que eles deram tudo de si, ela também teve que fazer tudo o que podia por eles. Essa
foi a conclusão de Enri.

Os Goblins não eram apenas os guarda-costas de Enri, também eram os protetores do


vilarejo. Se ela decidisse insistir em sua motivação, provavelmente poderia arranjar o
dinheiro necessário para equipar de Goblins a aldeões. No entanto, Enri decidiu desistir
dessa idéia.

Independentemente do que tivesse que fazer, Enri simplesmente estava tentando pagar
o serviço dos Goblins através de seu próprio esforço. Esta expedição era a prova disso.

“Normalmente, a coisa mais segura a fazer seria confirmar que a área estava livre de
perigo antes de você entrar...”

Interrompendo por trás estava a Goblin Maga, Dyno.

Dyno era uma magic caster arcana que usava um cajado com crânio de animal.

Ela carregava um cajado retorcido que parecia surrado, mas era ainda mais alto do que
ela. Ela estava adornada com estranhos ornamentos tribais por todo o corpo, e seu busto
era ligeiramente volumoso. Seu rosto parecia mais suave do que os dos Goblins machos.
Enri podia reconhecer isso pois era a mestra, mas as pessoas normais provavelmente
não seriam capazes de entender esses detalhes.

“Mas no momento ninguém pode confirmar que é seguro, não é?”

“Mm, isso mesmo. Infelizmente, não podemos fazer isso. O máximo que podemos fazer
é confirmar que a floresta parece ser pacífica, mas mesmo isso gastaria algum tempo. E
se quisermos descobrir quando os conflitos vão aumentar novamente, isso levaria ainda
mais tempo.”

Se fizessem isso, perderiam a oportunidade de reunir as ervas desejadas. Depois de ou-


vir as palavras de Dyno, uma firme convicção reuniu-se em seus olhos e ela entregou sua
resposta:

“Vai ficar tudo bem, a gente não vai entrar muito fundo na floresta.”

Depois de ouvi-la repetir a resposta várias vezes, Jugem finalmente percebeu que ele
não podia mudar a mente de Enri. Em vez disso, ele olhou para os três Goblins que via-
jariam com ela. O que ele disse foi basicamente o mesmo que havia dito antes.

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


3 8
“Não vamos poder proteger a Ane-san, cabe a vocês fazerem isso em nosso lugar. Ai de
vocês se não protegerem ela com suas vidas! E você também, Ani-san!”

“Entendido!”

“Seria mais seguro se todos ficássemos juntos como de costume. Dividir a nossa força
de luta é orar por problemas...”

Dyno murmurou baixinho.

“Mas assim demoraria muito, não?”

“É. Mas seria mais fácil espantar algum monstro antes que se estabeleça perto do vila-
rejo. Uma vez que construa um ninho, nunca mais vão embora. Mesmo se conseguir ex-
pulsar, volta e meia eles retornam.”

Como o equilíbrio de poder na floresta havia mudado, fazer o reconhecimento da


Grande Floresta — especialmente a área ao redor do vilarejo — era crítico.

Este seria o primeiro passo. Por ser o primeiro, implicava diretamente que o perigo era
o maior. Como tal, eles só poderiam mandar três escoltas para proteger Enri.

“Enfim. Vamos nessa! Quanto mais rápido terminar, mais rápido podemos ir de encon-
tro com a Ane-san!”

Em resposta ao chamado de Jugem, a tropa dos Goblins trovejou seu consentimento.

♦♦♦

Este era o interior da Grande Floresta.

Embora tivessem viajado apenas cerca de 150 metros, a temperatura já havia caído vá-
rios graus. Isso foi simplesmente porque a luz do sol não brilhava aqui. Dito isto, o inte-
rior não estava completamente escuro como breu, e Enri ainda podia ver o que estava
acontecendo ao seu redor. Enri e os outros quatro membros de seu grupo avançaram
para a floresta, cercados de ar frio.

No momento, a floresta era dominada pelo silêncio. Além dos sons suaves dos galhos
das árvores balançando e dos chilreios ocasionais de pássaros ou animais, não havia
mais nada. Os passos de Enri e seus companheiros ecoaram alto. A outra equipe liderada
por Jugem já havia se aprofundado e não podiam mais ser ouvidos.

Enri e companhia fizeram uma formação aproximadamente triangular enquanto avan-


çavam para a floresta. No centro da formação estavam Enri e Nfirea.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


3 9
Era muito difícil manter uma formação ampla na floresta. Normalmente, eles teriam ido
em fila indiana, mas para proteger os dois, os Goblins insistiram em fazer as coisas dessa
maneira. Eles perderam velocidade como resultado, mas era o preço a se pagar.

Enquanto se moviam mais adentro, Nfirea começou a olhar para o norte.

Ele procurava o tesouro que repousava na densa floresta — ervas medicinais.

Enri não era novata em coleta de ervas. Uma menina da idade dela saberia tudo sobre
quais ervas poderiam ser tomadas por via oral ou emplastro em uma área afetada, ou as
ervas comuns usadas como ingredientes para poções. No entanto, neste campo, ela era
completamente superada por Nfirea. Não apenas já estava completamente familiarizado
com ervas medicinais, mas até mesmo sabia quais eram úteis como bases para compos-
tos alquímicos.

“Encontrou alguma erva rara?”

De todas as perguntas que Enri havia feito, parecia que esta era a que ele estava espe-
rando. Os Goblins circundantes começaram a posar simultaneamente.

De novo flexionando os bíceps... será uma moda que inventaram ou coisa assim?

Enri estava de cabeça inclinada e não notou a leve expressão de aborrecimento no rosto
do resmungante Nfirea.

“Deveria ter dito a eles para pararem de posar... é uma droga não ter coragem. Bem, vê
aquele musgo marrom ali?”

Enquanto girava o corpo, um musgo marrom foi visto crescendo onde Nfirea estava
apontando.

“Aquilo aí é Bebeyamokugoke. Misture alguns com uma poção de cura e isso vai melho-
rar um pouco seus efeitos.”

“Sério? Eu pensei que era só musgo, nem tinha notado. Sem você aqui, Enfi, é bem certo
que eu teria deixado passar batido. Isso é uma boa prova do quanto você é bom.”

“Nossa, você é incrível mesmo, Ani-san. E vale quanto?”

“Vale um pouco de dinheiro... ah, espere. Não pegue agora. O que a Enri e eu pretende-
mos vale ainda mais. Se não conseguirmos encontrá-lo, vamos pegar isso no caminho de
volta.”

“Beleza, como quiser. A propósito, Ani-san, esta floresta deve ser como um tesouro pra
você, pois consegue fazer riqueza dela. Uhum, me sinto até mais à vontade com você por
perto, Ani-san.”

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


4 0
“Não precisa exage—”

As poses dos Goblins ao redor mudaram.

“—Ah, claro. Isso mesmo. Uma coisa é certa, quem viajar comigo não passa dificuldades.
Sou muito experiente nessa área.”

“Mmm. Confio que consegue mesmo, Enfi.”

Um clima estranho encheu a floresta silenciosa.

“E aí, Ane-san, vai deixar por isso mesmo?”

“Hm? Como assim, Kaijali-san?”

“Hm? Não, nada... ah... sim, esqueci de perguntar mais cedo. Que tipo de ervas está pro-
curando?”

“Não te contamos? É uma erva chamada Enkaishi. Se a gente achar, vou deixar a Nemu
fazer a moagem.”

“Hm, entendi. O ruim é que mesmo que descreva pra nós, não vamos poder dizer a di-
ferença. Vamos seguir em frente, pessoal.”

Passo a passo, eles se aventuraram mais na floresta. Enquanto continuavam, seus nari-
zes começaram a pinicar devido ao aroma denso de mato.

Não havia sinal de atividade humana aqui. Imerso neste lugar, Nfirea sentiu que este
era um mundo onde os humanos eram insignificantes. Então, abriu a boca para falar.

“Vamos começar a olhar por aqui. Estamos procurando lugares com muita sombra e
umidade... há alguma fonte de água por perto? Essa erva cresce perto delas. Não há sinais
de atividade de monstros por aqui, acho que demos sorte.”

“Confio no que decidir, Ani-san.”

Com sua vasta experiência como herborista, era improvável que Nfirea cometesse um
erro. Os Goblins e Enri responderam em aprovação.

O grupo colocou suas coisas no chão, o que aliviou sua carga.

“Ahhh... Ane-san, poderia dar uma mão ao Ani-san?”

“Ah, sim, claro. O Enfi fica todo atrapalhado se ficar sozinho.”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


4 1
Enri foi até onde Nfirea largara a bagagem e o ajudara em seus trabalhos.

“Obrigado, Enri.”

“Não por isso, Enfi. Nossa, agora que me dei conta, todo esse equipamento especializado
é incrível. Você precisa de muitas coisas...”

Com o canto dos olhos, Enri pôde ver os Goblins balançando a cabeça como se quises-
sem dizer “muito bom, muito bom”. Embora não soubesse do porquê eles estavam tão
felizes, ela preferiu não pensar a respeito e deu prioridade à tarefa.

“Então, vamos começar a nossa procura!”

Com um “Oh!” moderado para manter o barulho baixo, eles começaram. Os Goblins ob-
servaram o perímetro, enquanto Enri e Nfirea começaram a procurar.

Embora Enri estivesse preparada para o trabalho ser difícil, eles tiveram sorte e logo
encontraram um crescimento denso de ervas das rachaduras dos troncos das árvores.

“Bem ali. Encontramos bem rápido onde elas crescem. Como eu pensei, é muito melhor
com você junto, Enfi.”

“Não, que isso... Foi sorte de encontrá-las em uma área tão erma. Se houvessem pegadas
de monstros, seria muito complicado.”

Para ambos, a grande quantidade de ervas, embora não fosse exatamente um tesouro,
era semelhante a uma montanha de moedas. Enri lutou desesperadamente contra o de-
sejo que ardia em seu coração, ela queria recompensar os Goblins, mas não poderia ar-
riscar a segurança de todos. Este lugar era perigoso; era melhor que ela deixasse sua
ganância de lado e trabalhasse para concluir o trabalho.

No entanto, Enri ajoelhou-se e começou a arrancar, prestando atenção nas raízes das
ervas.

O valor medicinal da Enkaishi residia em suas raízes. Por isso tinham que prestar aten-
ção ao arrancar. Gramíneas como essas eram incrivelmente resistentes, e elas cresciam
novamente enquanto as raízes permanecessem. Parecia vergonhoso se conter diante de
uma erva, mas esgotar essa moita — que antes era um grande desafio encontrar — co-
lhendo demais, seria como matar a galinha dos ovos de ouro.

Um odor forte fazia seu nariz arder quando fez a colheita, mas ela estava acostumada
com esse tipo de coisa, então o cheiro não impedia seu trabalho. Comparado com a casa
de Nfirea, isso era como cheirar o paraíso.

Ela arrancou o pé de ervas por um talo, segurando-o com cuidado para evitar esmagá-
lo por acidente, e então cuidadosamente colocou-o na bolsa abaixo das axilas. Se os

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


4 2
Goblins viessem ajudar, provavelmente poderiam ter terminado mais rápido, mas eles
estavam ocupados demais observando os arredores. Enri não era estúpida ao ponto de
tirá-los de seus deveres de sentinelas só para ajudá-la a escolher ervas.

Em comparação, os métodos de colheita de Nfirea eram como poesia em forma de mo-


vimento. Ele rapidamente os tirou do chão sem parar, de uma forma que não prejudicava
sua potência como remédio. Apenas um profissional como ele era capaz de tal façanha.

Enri observou silenciosamente Nfirea, que estava olhando para as ervas com uma ex-
pressão zelosa no rosto. O rosto, que até então era familiar, não era mais visto, ele pare-
cia alguém completamente diferente agora.

...Ele é um homem agora.

“...Que foi?”

Nfirea de repente olhou para cima. Ele deve ter percebido que Enri havia parado de
trabalhar.

Enri não fizera nada de errado, mas ela ainda assim reagiu sem jeito.

“Ah, eu só tava aqui pensando no quanto você é incrível, Enfi...”

“Mesmo? Não acho isso nada de mais. Eu sou apenas um aprendiz quando se trata de
herborismo. Meu nível é bem básico.”

“...Tem certeza?”

“Eu acho que sim.”

A conversa terminou e as bolsas foram se enchendo lentamente de ervas. Depois disso


os Goblins de repente se abaixaram e se agacharam ao lado dos dois, como se estivessem
procurando um lugar para se esconder.

Kaijali gesticulou para Enri ficar quieta. Uma situação de emergência surgiu. Enri, que
entendeu, levantou as orelhas. Ao longe, ela podia ouvir o som das plantas sendo pisote-
adas.

“Será quê...?”

“Tem algo vindo. E bem na nossa direção... ou melhor, tá avançando e provavelmente


vai passar aqui, a gente precisa sair do caminho.”

“...Não seria melhor usar chamarizes para fazer barulho?”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


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“Se nada mais der certo, Ani-san. É melhor esperar e usar na hora certa, ou as coisas
podem ficar muito feias. Venha, vamos esconder.”

Os cinco começaram a se afastar da direção do som, escondendo-se à sombra de uma


árvore próxima. Eles não foram mais longe porque não queriam fazer barulho na vege-
tação circundante. Se a outra parte estivesse apenas avançando, não haveria necessi-
dade de arriscar ser descoberto.

A árvore não era muito grande, não podia ocultar todos eles. O máximo que podiam
fazer, era se agachar em suas raízes e confiar que não ficariam muito perceptíveis.

Dessa forma, os cinco silenciaram a respiração e rezaram para que a fonte do som fosse
em outra direção. Mas, infelizmente, isso não aconteceu, e a figura que fez o barulho fi-
nalmente entrou no campo de visão de Enri.

“Eh!?”

Um pequeno suspiro de surpresa escapou da boca de Enri.

Era um pequeno Goblin de aparência maltrapilha.

Seu corpo estava coberto de pequenas feridas que sangravam profusamente. Sua res-
piração era rápida e irregular, o cheiro de sangue e suor se espalhou pela área.

Mesmo que os Goblins já fossem menores que os humanos, esse Goblin era pequeno
mesmo para um Goblin. Enri e os Goblins concordaram que este Goblin era uma “cri-
ança”.

A criança Goblin olhou com medo para a retaguarda, na direção de onde ele tinha vindo.
Não havia necessidade de ouvir o som de pisotear a vida vegetal que vinha de trás dele.
Pela aparência das coisas, ele estava em um jogo de gato e rato.

Ele moveu seus pés espasmódicos bem rápido, tomando cobertura em um pedaço de
sombra diferente do de Enri.

“Aquilo—”

“—Por favor fique quieta.”

Gokou nem mesmo olhou para Enri para silenciá-la. Aqueles olhos implacáveis estavam
fixos na direção de onde a criança tinha vindo.

Pouco mais de dez segundos depois, o perseguidor se revelou.

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


4 4
Era uma enorme fera mágica que se assemelhava a um lobo negro. A razão pela qual
eles poderiam dizer imediatamente que não era um lobo comum era por causa da cor-
rente enrolada em torno de seu corpo. A corrente serpentina não impedia seus movi-
mentos, se comportavam como se fosse apenas uma ilusão e dois chifres emergiam de
sua cabeça.

Nfirea murmurou o nome da besta para si mesmo.

“Barghest...?”

Embora não tivesse a audição aguçada, o Barghest farejava como um cachorro, e então
seu rosto se torceu. Foi um sorriso maligno que nenhuma mera fera poderia fazer. Ele
lentamente olhou em volta e seus olhos se fixaram na árvore onde a criança Goblin havia
se escondido.

Como um animal caçador, o Barghest tinha uma grande destreza em rastrear cheiros
de sangue. Não havia como não conseguir farejar a criança Goblin que havia sangrado
no caminho até aqui.

Ao que tudo indicava, a razão pela qual o Goblin conseguira chegar até aqui não foi por-
que conseguira fugir do Barghest. Pelo contrário, foi porque o Barghest era uma criatura
sádica; ou talvez fosse porque estava caçando por esporte.

De repente, o Barghest parou de se mexer, com uma surpresa no rosto e olhou para o
lugar onde haviam juntado as ervas.

Ah—

Enri puxou o rosto para trás. Os outros rapidamente seguiram o exemplo.

Atrás do tronco da árvore, Enri abriu as mãos. Sua pele era verde e salpicada de pedaços
soltos de matéria vegetal. Ao lado dela, Nfirea fez a mesma coisa.

A seiva e os sumos das ervas que colhemos...

Este era o mesmo tipo de coisa em que Nemu estava encharcada quando ela moía as
ervas. Apesar de não afetar os narizes entorpecidos (como os deles), o poderoso fedor
ainda pairava no ar. Ela achou a batida repentina de seu coração ruidosa.

“Tá se movendo... acho que tá se afastando... Será que não sentiu nosso cheiro?”

Unlai estava com o ouvido em uma árvore e um ponto de interrogação apareceu acima
de sua cabeça.

“...Talvez não seja possível identificar de onde vem o aroma?”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


4 5
“O que quer dizer, Ani-san? Os monstros não têm narizes muito sensíveis...?

“Sim, mas...”

—Nfirea calmamente explicou.

O ponto principal era que, por ter um senso de olfato extremamente sensível, o fedor
que flutuava nessa área era particularmente eficaz contra ele. O Barghest confundiu o
aroma das mãos e da bolsa de Enri com o das áreas já colhidas. Melhor ainda, o aroma
encobria seu aroma original.

Também era possível que o Barghest considerasse que o arrancar de ervas tinha sido o
último esforço da criança Goblin para tentar se esconder.

Embora o fedor poderoso estivesse em toda parte, se fugissem às pressas, o ar deslo-


cado de onde estavam fugindo poderia chamar a atenção do Barghest.

“Então, vamos usar o garoto como sacrifício e acabar com isso. Não dá pra saber se esse
Barghest é forte, se intrometer com um monstro que a gente nem conhece é arriscado
demais.”

Essa resposta a sangue frio fez Enri olhar para o rosto de Gokou.

No entanto, ele estava sendo totalmente lógico. Os Goblins têm a segurança pessoal de
Enri como sua principal prioridade. Com isso em mente, evitar o combate com essa fera
mágica era de se esperar. Eles até sacrificariam um de seus semelhantes por isso sem
pensar duas vezes.

Ele provavelmente estava correto, dada a convicção com a qual havia falado aquelas
palavras.

Porém, Enri não gostava nada disso. Mesmo que fossem de espécies diferentes, negar
ajuda a alguém que se pudesse ajudar era praticamente falhar como humano.

Talvez fosse apenas a idéia tola de uma mera aldeã que nunca havia sido atacada por
Goblins e não tinha noção do perigo.

Ela olhou para todos os outros Goblins. Provavelmente já entenderam seus sentimentos,
mas mantiveram a boca fechada. Em seguida, ela olhou para Nfirea.

“Enfi...”

“Haa... eu vou ajudar. Quem sabe, essa criança Goblin pode se tornar uma valiosa fonte
de informação. Se não descobrirmos o porquê ele fugiu para cá, isso pode acabar cau-
sando perigo ao vilarejo.”

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


4 6
Os Goblins franziram as sobrancelhas.

“A gente pode não dar conta, sabia?”

“Eu sei. Mas tem vários tipos de Barghest. Os líderes são mais arrogantes e bem fortes.
Mas pela aparência das correntes e tamanho de seus chifres, não acho que ele seja desse
tipo. Se for apenas um Barghest comum, então temos boas chances.”

“Calma aí. Ane-san tá aqui. Devemos evitar o perigo.”

Enri engoliu em seco. Ela sabia que o que estava preste a dizer era apenas para satisfa-
zer seu ego, suas palavras tolas colocariam em perigo não apenas a si mesma, mas os
outros ao seu redor. Mas mesmo assim, Enri deu voz às suas palavras.

“...Se abandonarmos alguém que poderíamos ter ajudado, seria tão ruim quanto ator-
mentá-lo. Eu não quero ser como aquelas pessoas que prejudicam os fracos. Por favor!”

Kaijali, que estava observando a expressão séria de Enri, suspirou em derrota. Ao


mesmo tempo, o estranho latido do monstro ecoou. Eles podiam ouvir claramente o som
da risada zombeteira naquele latido. Em resposta veio o grunhido de lamento da criança
Goblin.

Não havia mais tempo para confusão ou debate.

“Não dá pra evitar. Peguem ele, rapazes!”

Os Goblins assumiram a liderança ao sair de trás da arvore, seguido por Nfirea.

Enri sentiu uma terrível ansiedade em seu coração enquanto observava os guerreiros
que iam para a batalha cumprir seus desejos.

Tudo o que ela podia fazer era observá-los por trás.

No mínimo, eu preciso ficar atenta aos esforços deles.

Pensou Enri.

♦♦♦

Os quatro que saltaram para fora, viram o Barghest pressionando a criança Goblin no
chão. A criança Goblin exibia novas feridas, mas ainda não estava morta, pois o Barghest
tinha o péssimo hábito de brincar com sua presa.

Os movimentos do Barghest pararam, e ele olhou para o grupo de pessoas que haviam
saltado e depois para a criança Goblin. Talvez tenha medo de que sua presa a tenha le-
vado a uma armadilha.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


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“Ei, ei, vem cachorrinho!”

Disse Unlai, apontando para si mesmo com o polegar:

“Gosta de brincar, né? Eu brinco com você. Cai dentro!”

O Barghest rosnou em tom ameaçador.

Em um movimento natural e fluído, Kaijali puxou o facão em sua cintura. Os outros


Goblins seguiram o exemplo.

“Tá com medinho, é? Vou te mostrar que cachorro velho aprende truque novo. Que tal
aprender a fingir de morto?”

“Agyaaaa!”

Em resposta às provocações dos Goblins, o Barghest apertou a criança Goblin que es-
tava pisando, como resultado, a criança chorou de dor.

Embora não pudesse falar, suas ações deixaram claras suas intenções. Faça um movi-
mento e eu mato o pirralho. Contudo—

♦♦♦

“Isso! Vamos matar esse merda!”

Os três Goblins ignoraram a provocação do Barghest e atacaram com gritos.

Essa resposta inesperada trouxe confusão aos olhos do Barghest.

Talvez o Barghest pensasse que os Goblins tinham vindo para salvar sua cria. Mas a
verdade era que só estavam aqui por causa do desejo de Enri, a atitude deles era a de
“pelo menos tentamos salvar, o que vale é a intenção”.

Já que eles foram para um confronto, sua preciosa Enri poderia se machucar se não
derrotassem o Barghest. Como resultado, precisavam matar o Barghest sem pestanejar.
Assim sendo, se a criança Goblin morresse no processo, isso acabaria com a premissa do
oponente de usar um refém e permitiria que tomassem a iniciativa, então os Goblins
deixariam alegremente o garoto morrer.

Vendo-se refletido nas lâminas de três facões, o Barghest entendeu que usar o refém
seria perda de tempo. Ficou confuso se deveria ou não acabar com o garoto que estava
pisando.

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


4 8
Tirar a vida dele seria fácil. Bastaria uma mordida. Todavia, se o fizesse, não havia dú-
vida de que seria cortado em pedaços pelas armas de seus inimigos.

A ameaça à sua vida levou o Barghest a se decidir.

Ignorando a criança Goblin, o Barghest saltou para a tropa Goblin pronto para enfrentar
seu ataque.

Por ser mais pesado que um Goblin. O Barghest esperava imobilizar seus inimigos e
acabar com eles dilacerando suas gargantas com suas presas.

No entanto, esta foi uma má escolha.

O Goblin alvo facilmente se desvencilhou do caminho da tentativa de ataque e, ao


mesmo tempo, os outros dois Goblins à esquerda e à direita golpearam o Barghest com
seus facões.

Uma lâmina foi desviada pelas correntes do Barghest, mas a outra cortou seu corpo,
enviando sangue para todos os lados.

Ao mesmo tempo, um pequeno frasco arremessado quebrou depois de atingir a ponta


do nariz do Barghest.

“Gyaaaaah!”

O vil miasma que agora entupiu seus olhos e nariz tirou um uivo agonizante do Barghest.

E, naquele momento, mais três fincadas de dor percorreram seu corpo.

Podia sentir que estava sem saída apenas pelo fluxo de sangue. O Barghest soltou um
grito de lamento, sua visão tremeu e se confundiu, partiu para seu próximo movimento.
Seu alvo era aquele que jogara o frasco — um humano.

No entanto, o Barghest tinha dado apenas alguns passos quando seus pés grudavam em
algo abaixo e não podiam se mexer.

Olhando para baixo, viu que o chão estava coberto de um lodo estranhamente colorido.
O líquido bizarro não foi absorvido pela terra.

“A cola não resistirá por muito tempo à força de uma fera mágica! Matem ele rápido!”

Em resposta à voz do humano, os Goblins bradaram seus gritos de guerra e atacaram.


Além disso, o humano lançou uma poderosa magia em direção a ele.

“GWRAAAAAA!!!”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


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Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri
5 0
O Barghest usou toda a sua força para arrancar as patas do chão. Embora seus movi-
mentos ficassem retardados pelo forte adesivo grudando detritos nas solas, ainda era
capaz de lutar.

Observando os Goblins se aproximarem para matá-lo novamente, o Barghest usou seu


intelecto superior (comparado a uma fera normal) e reconheceu o fato de que “esses
Goblins são inimigos poderosos”.

Ele reconheceu que estes eram diferentes dos Goblins regulares de uma forma crucial
— eles eram inimigos que poderiam matá-lo.

Este Barghest conhecia três métodos de ataque. Poderia perfurar, faria uma investida
no inimigo com seus chifres. Poderia morder. Poderia derrubar seu oponente e rasgar
com suas garras. Ao contrário dos Barghests mais fortes, esse certamente não teria ne-
nhuma habilidade especial. Mas na verdade, tinha um trunfo.

Essa tática abandonava completamente a defesa e, se o Barghest falhasse, ele estaria


condenado. Mas agora não era hora de se preocupar em se conter. Teve que fazer pleno
uso do que poderia ser os últimos segundos de sua vida.

O Barghest uivou como um cão raivoso, verificando o avanço dos Goblins que o circun-
davam.

“「Reinforce Armor」!”

A magia da retaguarda, lançado pelo humano, fez a armadura dos Goblins brilhar inten-
samente. O Barghest entrou em pânico, prevendo que era algum tipo de magia de apri-
moramento e os Goblins à sua frente simplesmente sorriram.

Talvez isso os tenha feito imprudentes, mas com suas armaduras reforçadas, os Goblins
avançaram como um. Talvez possa ser chamado de movimento precipitado, mas tam-
bém se pode dizer que foi uma aposta corajosa para acabar rapidamente com uma pos-
sível longa batalha.

De fato, seria este o caso— isso se o Barghest não esperasse que eles fizessem isso.

Se um Barghest pudesse mudar suas características faciais tão facilmente quanto um


humano, ele estaria sorrido para si mesmo.

As correntes em seu corpo ondularam como uma cobra. Então, as correntes que ligavam
o Barghest de repente vieram à vida.

As grossas correntes começaram a serpentear com força tremenda.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


5 1
A habilidade especial da fera era conhecida como 「Chain Cyclone」 iria ferir severa-
mente os Goblins, isso se não os matar imediatamente.

O Barghest estava fazendo isso com toda sua força. Era uma grande técnica que só po-
deria ser usada uma vez por dia, mas depois que as correntes fossem usadas, seria inca-
paz de usá-las como armadura por pelo menos dez segundos. O risco era alto.

O bote inesperado atrapalhou a esquiva dos Goblins por um segundo. Um erro fatal.
Contudo—

“Se abaixem!”

—Uma ordem estrondosa cortou o ar antes que as correntes pudessem fazer contato.

O Barghest que apostou tudo nesse ataque encarou uma humana que gritara de olhos
arregalados.

Já era tarde demais para os Goblins escaparem, mas, como se desafiassem a ordem na-
tural, caíram agilmente no chão, como se a voz tivesse injetado uma nova dose de agili-
dade.

O Barghest olhou para a comandante que estava por trás do magic caster.

E então, as patas dianteiras do Barghest e uma perna traseira foram decepadas de seu
corpo, quando levou golpes de facão. Ele uivou de dor. Ele tentou recuperar suas corren-
tes, mostrar suas presas, ameaçá-los, mas os Goblins não davam a mínima para isso.

“Ani-san, não precisa de dar mais suporte mágico. Por segurança, coloque um alarme
nos arredores.”

O Barghest, que sabia que já havia perdido, estava desesperadamente tentando fugir.

Seu corpo normalmente flexível agora era pesado e lento. Isso era natural, conside-
rando que três de suas quatro pernas eram como meros troncos mortos. Mesmo assim,
o Barghest queria fugir com toda a força.

Mas os Goblins não permitiriam isso.

♦♦♦

Sangue viscoso cobria a grama ao redor e o fedor de ferro sobrepujava o odor das plan-
tas.

O Barghest estava morto, as vísceras saindo do cadáver ainda quentes do calor do corpo.
Os Goblins se afastaram do Barghest, com seus facões manchados de sangue na mão, e
se viraram para olhar o garoto Goblin.

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


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O garoto havia sido ferido gravemente e perdera a força para fugir, mas ele ainda for-
çava o corpo a se erguer contra uma árvore.

“Q-quem são vocês? De qual tribo cês são?”

Os Goblins se entreolharam, perguntando-se como responder às perguntas de uma cri-


ança meio assustada e desconfiada.

Nos olhos um do outro, eles discutiram sem palavras a estratégia para que tipo de ati-
tude renderia o maior número de benefícios e que tipo de informação eles deveriam re-
velar, mas Enri sentiu que havia assuntos mais urgentes do que isso.

“A gente precisa cuidar das feridas dele primeiro. O que podemos fazer, Enfi?”

O garoto estava muito machucado e já havia perdido muito sangue. Se deixado sozinho,
ele definitivamente iria morrer. Embora Enri não tivesse idéia de como ajudá-lo, ela es-
perava que seu amigo de infância soubesse o que fazer.

“As ervas mais normais podem servir, mas só em parar o sangramento, não vai ajudar
contra a perda de sangue. Mas...”

Nfirea começou a vasculhar sua bolsa.

“Há uma poção de cura recém-criada. Eu queria entregá-la para o Gown-sama, mas...
Você poderia me mostrar suas feridas?”

Nfirea avançou, retirando o frasco da poção de seu manto.

“P-pera aí, que treco esquisito é esse? É veneno?”

Hostilidade passou pelo rosto assustado da criança quando viu a poção roxa. Do ponto
de vista de Enri — talvez até do ponto de vista de Nfirea — essa foi uma reação natural.
A poção parecia muito com veneno, era normal estar em guarda. Entretanto, os Goblins
ficaram muito aborrecidos com as palavras da criança, e eles imediatamente se aproxi-
maram dele.

“—Ei, pirralho. A Ane-san é quem decidiu te salvar, junto com o Ani-san ali. Toma cui-
dado com suas palavras, tá me ouvindo? Eles salvaram sua vida... Isso é pro seu bem,
entendeu?”

O garoto se virou para olhar as lâminas brandidas diante dele. Embora ele fosse apenas
uma criança, ele ainda sabia que os Goblins diante dele estavam muito zangados. Com
isso, ele se encolheu diante de seus olhos.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


5 3
Enri achava que seria melhor se eles não tivessem que intimidar a criança, mas ela sabia
que os Goblins tinham suas próprias regras e comportamentos. Não seria uma boa idéia
se intrometer com sua sensibilidade humana.

“Me-me desculpa.”

“Ah, tudo bem. Não se preocupe.”

Enquanto respondia, Nfirea despejou a poção no corpo da criança. As feridas estavam


visivelmente fechando.

“Uuuoooh! O que é isso? A cor é feia demais da conta, mas funciona!”

O garoto sentiu os olhares dos Goblins ao redor e tremeu:

“Ah... eu não, ah, o-ob-obrigado...”

“Oh, parece que o pirralho tem alguns bons modos, afinal.”

“Deu certo. Acho que posso dizer ao Gown-san que o experimento foi concluído sem
problemas.”

Nfirea olhou em volta, buscando aprovação. Enri e os Goblins entenderam o que ele
queria dizer e acenaram em resposta.

A poção criada por Nfirea foi feita a partir dos materiais fornecidos pelo grande magic
caster Ainz Ooal Gown, o salvador do Vilarejo Carne. Não apenas não havia necessidade
de gastar dinheiro em taxas de pesquisa, mas ele até fornecia todos os ingredientes ne-
cessários. Com isso em mente, o significado e o valor da poção que ele criara era visivel-
mente óbvio.

O fato de Nfirea ter decidido usá-la por conta própria era um grande problema, mas
talvez ele pudesse considerar uma avaliação prática dos efeitos da poção.

Se ele explicar direitinho ao Gown-san, acho que não vai ter problemas... os herboristas
também têm suas próprias regras, eu acho.

“Cê— você me usou de cobaia!?”

Incapaz de ler nas entrelinhas, o garoto engasgou em choque, enquanto Enri e Nfirea
sorriam amargamente em resposta. Uma reação como essa era natural de alguém que
não conhecia todos os detalhes da situação.

Embora os dois tivessem pelo menos conseguido sorrir diante da reação, havia outros
presentes que não possuíam sua tolerância. Os Goblins estavam claramente furiosos;
eles estalavam suas línguas e alguém ainda disse, “Seu desgraçadinho!”.

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


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Enri estendeu as mãos para tentar acalmá-los. Ele não sabia de nada, então era de se
esperar que reagisse dessa maneira. Além disso, ele era apenas uma criança, então não
havia necessidade de pensar muito a respeito.

“Bem, se diz, Ane-san... Enfim, melhor dar o fora daqui. Quem sabe que outros monstros
serão atraídos pelo cheiro de sangue, não?”

“E mesmo vencendo desta vez... Ane-san. Não faça esse tipo de coisa novamente, tá
bom? Nosso trabalho é te proteger, então é tudo que eu te peço.”

“Eles têm razão. Mas aquele grito que deu agora a pouco, Enri, realmente me assustou.”

“...Bem, é por causa daquele grito que a gente saiu com vida— ei, pirralho, é melhor você
não fugir. Temos muitas perguntas pra fazer e se não quiser voltar pra casa que nem
peneira, é melhor responder tudinho e sem mentir.”

“Unlai-san...”

“—Ane-san, isso é pelo bem do vilarejo também... venha aqui, garoto.”

O garoto levantou-se devagar e com receio. Suas feridas foram curadas, então não de-
veriam ter dificultado sua mobilidade, mas sua resistência fazia seus movimentos serem
lentos.

Gokou, cujo facão estava tingido de vermelho, cuspiu no chão.

Enri olhou para Nfirea em busca de ajuda. No entanto, ele silenciosamente balançou a
cabeça. Quando ela se virou para olhar para os Goblins, viu que havia força de vontade
dura como aço em seus olhos e, com isso, a aprovação silenciosa das ações de seus cole-
gas.

“...Ane-san, não se preocupe, não vou matar ele. Eu só quero fazer algumas perguntas
pra tentar saber o que tá acontecendo. Além disso, não acha que ele vai morrer se ficar
aqui?”

Parecia que a pergunta era mais direcionada à criança Goblin do que a própria Enri. Ele
pareceu entender, e a resistência em seus olhos desapareceu.

“Tá bom... não vou fugir...”

“É assim que se faz. Então, quanto mais cedo sair daqui, melhor. Você confirmar que
tinha apenas esse Barghest, garoto?”

“...Não. Tinha alguns e vários Ogros também. Não sei se algum deles veio atrás de mim.
E não me chame de garoto, sou Agu, quarto filho de Ah, o chefe da tribo Gigu.”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


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“Agu-kun, hm.”

“Por mim, chamava de pirralho, tá bom até demais pra ele...”

“Falamos disso mais tarde. Não tem tanta urgência assim para ser discutido aqui. Já que
o Agu tem esse nome, melhor usar e talvez devêssemos tentar construir elos de confi-
ança, o que acham?”

“Ani-san, você é mais maduro do que parece. Vamos ir recolher nossas coisas e dar o
fora.”

De acordo com as palavras de Kaijali, o grupo partiu em silêncio enquanto observava o


ambiente com cautela. A atmosfera pesada que pairava ao redor deles era quase visível
a olho nu.

Embora Enri quisesse aliviar o clima com uma conversa, a floresta não era um recanto
de paz para humanos. Ela não podia agir levianamente aqui, especialmente conside-
rando que poderia haver mais perseguidores por perto.

♦♦♦

Eles deixaram a floresta fria e sombria, e depois de se banharem na luz do sol, a tensão
que enchia seus corpos dissipou, substituída pela flexibilidade e relaxamento que havia
retornado. Naquele momento, eles sentiram como se tivessem voltado ao mundo dos
homens mais uma vez.

Nfirea estava caminhando ao lado de Enri, e um alto “fuwaah~” escapou dele, soando
como um suspiro e um bocejo.

Os movimentos dos Goblins perderam a tensão, mas a expressão de Agu ainda parecia
rígida. Ele parecia angustiado com a luz do sol e os espaços largos, e isso aparecia em
seu rosto. Isso foi provavelmente porque ele cresceu na floresta sombreada.

“Lá, o vilarejo está lá.”

O rosto de Agu contraiu quando ele seguiu o dedo de Enri à distância.

“O quê? Aquele muro? Parece... parece o Monumento da Ruína.”

“Monumento da Ruína?”

“Sim, é um lugar assustador que apareceu na Grande Floresta. Qualquer um que chega
lá perto morre. Dizem que tem até undeads lá.”

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


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“Parece saber até demais desse lugar, estranho né? Você mesmo disse que qualquer que
chega perto morre.”

“...Enquanto tavam construindo o Monumento da Ruína, os bravos da minha tribo foram


lá e viram monstros de ossos erguendo o lugar.”

“Sabia disso?”

“Lamento, mas não. Isso é algo novo pra nós também, Ani-san. Se a gente for fundo na
floresta, podemos encontrar inimigos que nem o nosso Líder pode derrotar. Por isso que
nunca fomos tão fundo.”

“...Ei, de qual tribo cês três são? São os Goblins mais fortes que já vi, então onde—”

Agu deu uma olhada em Enri e depois murmurou algo parecido com “acho que são hu-
manos, mas....” para si mesmo e completou:

“Cês servem os humanos?”

“Isso é estranho? Não é normal trabalhar pra alguém que é forte?”

“Humanos fortes...? Bem, já ouvi falar que tem uns humanos que são bem fortões... mas
apenas homens, você é mulher, né? E aquele com o cabelo cobrindo o rosto é homem?”

Os olhos de Enri se arregalaram. Se eu não sou mulher, seria o quê? Não, era só que ele
não sabia se Nfirea era do sexo masculino. Será que os Goblins não sabiam distinguir o
sexo dos humanos?

“Enri, eu acho que ele nunca tinha visto humanos antes. Deve que ele só sabe o que
ouviu de outros Goblins da tribo. E também... será que é difícil para eles diferenciarem
humanos?”

“Bem, mulheres se vestem... diferentes...”

“Como eu disse, ele não sabe coisas assim. Todos os Goblins não usam a mesma coisa,
independentemente de serem masculinos ou femininos? É claro que às vezes há Goblins
civilizados com um país próprio, mas ele não é um deles.”

Faz sentido...

Enri de repente percebeu, e então se deu conta de que não tinha respondido à pergunta
de Agu.

“É isso mesmo, eu sou uma garota.”

“Então você é uma magic caster?”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


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“Não, por quê?”

Uma expressão profundamente perturbada apareceu no rosto de Agu.

“Eu sou o magic caster. Um magic caster arcano.”

“...Os dois são marido e mulher?”

“Ehhhh!?”

Os dois exclamaram em perfeita harmonia.

“Digo... tem umas raças que as esposas podem usar o poder e a autoridade do marido...
não é assim?”

“N-Não, não, não é nada disso!”

Os Goblins ao redor pareciam querer dizer algo, mas diante da inflexível recusa de Enri,
tudo o que fizeram foi abaixar os ombros em silêncio.

“Então... como assim? Como uma mulher é a líder?”

“Por isso que tu é um pirralho, não entende o porquê. A força da Ane-san não é algo que
possa ser visto com os olhos.”

Enri queria negar, mas os olhos sinceros de Agu exerceram uma pressão que a deixou
incapaz de falar. Enquanto Enri estava confusa, Kaijali fez uma pergunta.

“Então, me responde uma coisa. Por que aquele monstro estava te perseguindo? O que
aconteceu?”

“É quê—”

“—Pessoal, isso pode esperar até a gente voltar pro vilarejo?”

E quem respondeu a sugestão de Enri foi—

“Concordo com is~su. Vai ser melhor assim ~su.”

—Uma mulher que apareceu do nada.

Todos exclamavam de surpresa e olhavam para a fonte do som.

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


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O que viram foi uma beleza estonteante. Ela era uma mulher com tranças duplas e pele
morena. Ela estava vestida com o que chamava de uniforme de empregada, e carregava
uma arma estranha nas costas.

Ela era uma pessoa de aparência suspeita e, ao mesmo tempo, familiar.

Lupusregina Beta.

A empregada a serviço de Ainz Ooal Gown, o salvador do Vilarejo Carne, e ela tinha sido
responsável por entregar os itens alquímicos e aparelhos para os Bareares, bem como
comandar os Golems de Pedra. Sua atitude alegre e descontraída a tornou muito popular
entre os aldeões.

No entanto, ela tinha o hábito de aparecer do nada, assim como ela tinha feito agora. Os
aldeões acreditavam que era natural que uma empregada a serviço de um grande magic
caster conhecesse alguma magia que permitisse isso, e Enri também compartilhara essa
opinião. Mesmo assim, aparecer assim de repente ainda era assustador.

“Lupu-san, o-onde você estav...?”

“Tá preocupada por que, En-chan? Eu tenho seguido atrás de vocês desde o come~su.
Hã? É sério que não me viu ~su? Até pensei que tavam me ignorando porque não tenho
importância pra vocês ~su.”

“Eh? Ehhhh?”

Embora ela soasse como se estivesse brincando, seu tom era muito sério. Enri procurou
por ajuda dos outros.

“Eh— Lupu-neesan, não é hora de brincadeiras...”

“Uwah~ todo mundo pensa que sou uma brincalhona ~su. Só queria que me notassem
~su... Hah! Tava brincando mesmo ~su! Apenas uma piada ~su.”

O silêncio recomeçou, até que alguém suspirou cansado com um “Haaaah~”.

“Bem, chega de gracinhas por ora ~su. Mas então, quem é esse Goblinzinho? ...Ele—
Será que é—?”

Enri sentiu os Goblins entre ela e Lupusregina trocando olhares aborrecidos.

“Fufu — Ei, Enfi-chan, foi trocado por um Goblin, é? Fufufu~!”

Enquanto todos reviravam os olhos, Lupusregina ainda estava rindo.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


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“Então foi is~su. Que triste um amor tão puro sendo pisoteado assim. Ah, que dó! Per-
deu hein! ...Tudo bem, chega de brincadeira, o que realmente aconteceu?”

O corpo de Agu tremia ferozmente, como se tivesse visto algum tipo de monstro.

Embora, Enri pudesse entender o porquê. A expressão alegre de Lupusregina mudou


em um instante, como uma pessoa sobrecarregada e estressada. A maneira como ela po-
deria ir de risonha a séria em um piscar de olhos era assustadora à sua própria maneira.

“Aw, relaxa, não vou te comer ~su. Tá tudo bem ~su. Vamos lá, conte pra onee-chan
aqui sobre is~su.”

“Lupu-neesan. Melhor falar disso mais tarde. Não tinha concordado com isso agora a
pouco?”

“Ué? Ah, é, eu realmente me lembro de dizer algo assim ~su.”

“...”

“...Ah! Espero que possa entregar esta poção ao Gown-sama, Beta-san. Ela foi desenvol-
vida recentemente e seus efeitos já foram testados e comprovados.”

“...Oh? Enfi-chan, você finalmente conseguiu ~su?”

“Isso mesmo. Infelizmente, não é completamente vermelha, mas acho que fizemos um
progresso significativo.”

“—Tem meus parabéns. Tenho certeza que o Ainz-sama ficará muito feliz em saber
disso.”

Com isso, a atitude de Lupusregina parecia ter se tornado a de uma pessoa normal, e
não a garota descontraída brincalhona de antes. No entanto, essa expressão durou ape-
nas um momento. No seguinte, ela estava de volta ao seu antigo eu.

“Ahhhh, que legal... sou boa mesmo, escolhi um ótimo dia pra visitas ~su. Além disso,
não precisa me chamar de Beta. Lupusregina já tá bom. Exceção especial só pra você ~su.”

Com o (aparentemente) alto astral de Lupusregina pairando no ar, eles entraram nos
portões do vilarejo.

Os aldeões não disseram nada quando viram a desconhecida criança Goblin. Pode-se
dizer que não estavam nervosos, mas também pode-se dizer que confiavam muito em
Enri. Talvez eles tivessem assumido que a criança Goblin era parente de um dos outros
Goblins.

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


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Eles atravessaram o vilarejo e passaram pela casa de Enri. Seu destino era a casa dos
Goblins.

“Me deem licença, já volto. Vou chamar a Britta-san, ela será útil para ouvir o que o Agu
tem a dizer.”

“Parece um bom plano, Ani-san. Como ela quer ser ranger, seria bom compartilhar es-
sas informações que tem a ver com a floresta com ela... Ane-san, o que a gente faz agora?”

“Quê? Eu?”

Enri entrou em pânico por um momento, sem esperar que seu nome surgisse na con-
versa. Sem nenhum motivo especial para se opor, ela simplesmente assentiu com a ca-
beça.

“Mm. Bem, não é como se eu fosse contra ou algo assim. Pelo contrário, espero que ela
ouça o que o Agu tem a dizer. Conto com você, Enfi.”

Com um “Já volto”, Nfirea deixou o grupo para trás.

“Não quero ficar atoa enquanto isso... querem tomar algo?”

“Ótima idéia ~su! Tô com sede ~su.”

“...Lupu-neesan, a senhorita é uma empregada, né? Então sabe fazer todos os tipos de
bebidas deliciosas?”

“Beeem~ eu sou a empregada do Ainz-sama, e os outros Seres Supremos, entããão... Ti-


rando eles, não trabalho pra mais ninguém ~su. Só quero sombra e água fresca. Tô cor-
rendo de trabalho ~su.”

“Ah, tá... bem, que pena.”

Embora a conversa de Unlai e Lupusregina parecesse normal, Enri ainda sentia um ca-
lafrio.

Enquanto caminhavam e conversavam, chegaram à casa dos Goblins.

Este era uma casa enorme, com um amplo pátio onde se podia criar e deixar os lobos
correrem, capazes de abrigar quase vinte pessoas. Havia amplo espaço para treinar e
preparar suas armas.

Os Goblins abriram a porta e abriram caminho para Enri, Agu e Lupusregina.

“Noooossa! Eu não sabia que era assim ~su.”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


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“Hmm? Lupusregina-san, não vai entrar?”

“Sim, sim ~su. Não dá pra entrar sem convite ~su. Bem, é apenas coisa de etiqueta, não
é como se eu realmente não pudesse entrar. Eu acho que a única com uma lenda tão
estranha assim é a Sempeito-san ~su.”

“Sempeito-san...?”

“Isso aí, En-chan ~su. É o nome de uma beleza trágica ~su. Bem, não é como se ela re-
almente não pudesse entrar, sabe? São apenas lendas, mitos e folclore. Ahhh, chega de
falar disso. Viemos aqui pra ouvir o que o Goblin tem a dizer, né ~su?”

“Ah, claro. Então, bebida... ehm, que tal água de ervas e água de fruta? Há chá de capim
preto e água com infusão de Hyueri...”

Agu e Lupusregina pareciam completamente desconcertados com a pergunta de Unlai,


então Enri ajudou a explicar por eles.

“Hyueri são frutas cítricas, você as abre e deixa descansando na água, tem um gosto
suave e bom. O chá de capim preto é um pouco amargo.”

“Eu gostaria de água Hyueri.”

“O mesmo pra mim ~su.”

“Anotado. O que me diz, Ane-san?”

“Eu acho que vou querer água Hyueri também. E... que tal lavar as mãos? O nariz vai se
acostumando com o cheiro e a gente nem percebe...”

“Ah, é melhor mesmo. Ei, pirralho... digo, Agu, venha também. Tem que se limpar. E par-
ceiro, desculpe incomodar, mas se importa de dar um jeito nas nossas armas sujas?”

“Posso mesmo?”

“Claro que sim. Não tem motivo pra te impedir. Nossas regras aqui são muito simples.”

“Vai ficar limpinho... vou lá.”

Kaijali saiu da sala com três conjuntos de armas.

“Agu, anda, sem fazer gracinha, hein.”

“Pra que lavar? Nem tá sujo.”

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


6 2
Enri viu que as mãos de Agu estavam muito sujas; a palavra limpeza não poderia ser
colocada em nenhum lugar aqui.

“Não importa o que você acha. É ordem do dono da casa e você obedece. Ou quer dizer
que vai desafiar o dono da casa?”

Agu estufou as bochechas e caminhou lentamente até o lado de Enri.

Enri despejou a água do tanque grande nos baldes. Depois de preparar quatro conjun-
tos, enfiou as mãos na água inesperadamente fria e começou a lavar-se. O verde preso
debaixo de suas unhas se dissolveu. Depois que ela teve certeza de que tudo havia aca-
bado, ela levou as mãos à frente do rosto. O fedor se foi.

Satisfeita, ela então olhou em volta. Gokou e Unlai também estavam lavando as mãos e
a água estava tingida de vermelho pelo sangue do Barghest.

Em seguida, ela olhou para Agu, mas o que viu a deixou perplexa.

Até uma criança humana saberia maneira melhor de se lavar. Ele enfiava os braços na
água, balançava-os um pouco e só. Ele nem mesmo se secou.

Foi só depois de Enri ter lavado o cheiro das plantas em suas mãos que ficou evidente,
Agu ainda cheirava a folhas. Para os Goblins que viviam na floresta, um cheiro como esse
era uma forma de autodefesa contra feras mágicas que tinham sentidos aguçados de ol-
fato. Como tal, eles podem nunca ter desenvolvido o hábito de tomar banho.

Mesmo assim—

“É assim que se faz, ó.”

Agu fez uma careta aborrecida quando Enri tentou ensiná-lo. No entanto, ele pensou
em sua própria posição e no que os outros Goblins tinham dito antes e sobre a má von-
tade, ele começou a se limpar completamente.

“Assim mesmo, agora fez certo...”

“Ei, depois use isso pra limpar seu corpo. E vê se tira as manchas de sangue.”

Agu parecia infeliz, mas ainda pegou a toalha com as mãos úmidas e a usou para se
limpar.

“Então é só jogar fora a água suja?”

“Sim, só fazer isso. Ane-san, pode ir descansar. Vamos cuidar do resto.”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


6 3
Enri aproveitou essas palavras e dirigiu-se à mesa próxima. Estava cercada por cadeiras,
já que muitos Goblins moravam aqui. Quando ela escolheu um lugar para se sentar, de
repente percebeu como estava cansada. Seus braços e pernas pareciam troncos inertes
e sua cabeça estava pesada.

Embora parte da razão fosse na coleta de ervas, o que realmente a esgotara fôra a bata-
lha contra o Barghest.

Não fiz nada, só fiquei assistindo... Enfi e os Goblins lutaram e ainda estão com disposição
depois de tudo.... acho que nunca vou ser pra ser guerreira... Hum, o Enfi ficou tão forte...

Mesmo sabendo que seu amigo de infância poderia usar magia, ela não esperava que a
magia fosse tão poderosa.

Ele é incrível...

Enquanto pensava no quanto seu amigo de infância havia mudado, o coração de Enri se
encheu de emoção que ela não conseguia expressar em palavras. Era um sentimento
misterioso que parecia ser surpresa, mas, novamente, parecia algo completamente dife-
rente.

Um som nítido trouxe Enri de volta aos seus sentidos, e seus olhos caíram sobre as xí-
caras de cerâmica na mesa. Estavam preenchidas com um líquido transparente que emi-
tia um aroma de frutas cítricas, e Enri decidiu se servir de uma xícara.

O sabor refrescante, embora doce-amargo, lavou todo o seu corpo, e ela sentiu como se
estivesse cheia de energia. Agu sentou-se ao lado dela em algum momento, e ele tomou
em um gole e imediatamente queria mais.

Lupusregina ainda não havia tocado em sua xícara.

Pensando bem, acho que nunca vi a Lupusregina-san comer ou beber.

“...Hm? Que foi? Tem me olhado muito de canto de olho. Essa não, tá caidinha por mim?
Ahhhhh~ quem diria, tô chocada, nem sabia que era lésbica, En-chan. Parece que eu pre-
ciso contar a todos ~su.”

“Quê— não! Não! Não é isso!”

“Wahahahaha~ É brincadeira, sua boba. Eu sei que gosta de machos, En-chan ~su.”

Enri não sabia como responder e sua boca se estreitou em linha reta.

“Tão demorando chegar... hm? Parece que chegaram ~su.”

Enri se virou para a porta, mas ela não conseguia sentir ninguém do lado de fora.

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


6 4
“Sério? Parece que não tem ninguém na porta.”

Agu segurou a orelha com a mão.

“Ei, humanos têm audição boa?”

“Ah, não sei, mas não acho que a Lupusregina-san iria mentir com uma coisa dessas...
mesmo que ela goste de... brincar um pouco com as pessoas.”

Mas será que ela mentiu agora?

Os olhos de Agu de repente se arregalaram quando ele olhou para Lupusregina.

“É, tô ouvindo alguém vindo mesmo. Devem ser eles. Você é incrível mesmo.”

“Hm? Nem sou ~su. Comparada com a Enri-san, não sou nadinha ~su.”

Agu pareceu engolir a seco e olhou para Enri com uma expressão surpresa.

Não, não acredita nisso. Esse sorriso no rosto da Lupusregina-san é falso!

Enri se perguntou como deveria contar a verdade a Agu, mas antes disso, uma batida
veio da porta.

Pouco depois, Nfirea e uma mulher com armadura de couro entraram na sala.

Britta, a antiga aventureira, mudou-se para o vilarejo depois que Nfirea fez o mesmo.
Originalmente, ela tinha sido uma aventureira em E-Rantel, mas se aposentou depois de
certos eventos. Mesmo assim, ela ainda precisava ganhar a vida, e então respondeu às
solicitações do vilarejo e se mudou para cá.

Ela começou a estudar para ser uma ranger, já que levara jeito. Mesmo sendo mais fraca
que Jugem, ainda era uma das pessoas mais fortes do vilarejo e líder da força de autode-
fesa, embora dificilmente pudesse ser chamada assim.

Eles a trouxeram aqui porque ela liderava a força de defesa, e porque entrava na flo-
resta para praticar sobrevivencialismo característicos de rangers.

“Ah— mais um Goblin... não, hm, eu continuo pensando do ponto de vista de uma aven-
tureira... não posso tratar ele assim, como inimigo.”

Britta sorriu sem graça. Não era como se Enri não entendesse de onde ela veio. Nas
histórias, os Goblins eram os inimigos da humanidade. Matá-los à vista era a coisa certa
a fazer. Contudo, este vilarejo era diferente. E para ser franco, os aldeões sentiam que os
humanos pareciam ser os verdadeiros inimigos neste caso.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


6 5
“Então, já que todos estão aqui, vamos ouvir o que ele tem a dizer. Agu, você pode nos
dizer o porquê fugindo cheio de feridas?”

“Eu tava fugindo de um ataque.”

“Resumido demais... que tipo de monstro te atacou?”

“Os servos do Gigante do Leste.”

“Gigante do Leste? Quem é?”

“...Como cês chamam ele?”

“Não, não é uma questão de como o chamamos, nem sabíamos que ele existia até agora.
Britta-san, sabe alguma coisa a respeito?”

A pessoa mais estudada neste local era Nfirea, mas quando se tratava de floresta, Britta
era a que estudava o assunto. Mesmo assim, tudo o que pôde fazer foi sacudir a cabeça.

“Eu sinto muito. Nunca ouvi falar nada desse Gigante do Leste. Também não acho que o
Mestre Latimon saiba de algo. Meu antigo grupo nunca se aventurava nas profundezas
da Floresta, então não sabemos muito sobre o que vive lá.”

“Agu, conte tudo, cada detalhe.”

“Cada um...?”

Enri entendeu a confusão de Agu. Em situações como essas, era melhor fazer perguntas
várias perguntas simples do que esperar um resumo detalhado, assim seria mais fácil
para ele responder.

“Então, você pode nos contar sobre os poderosos monstros da Floresta?”

“Ah, pra mim os Barghests e os Ogros são todos fortes... mas se tá falando de coisas no
nível do Gigante do Leste, então na floresta existem os poderosos chamados os Três
Monstros. O primeiro é a Besta Mágica do Sul. Dizem que é muito forte e mata todo
mundo que entra na área. Mas a gente não ouviu nada mais ultimamente, uns guerreiros
da minha tribo passaram lá no território dele e ninguém viu nada, ninguém sabe o que
aconteceu. Depois tem o Gigante do Leste. Ele construiu um exército depois da floresta
murcha. E no fim, a Serpente Demônio do Oeste. Eu ouvi dizer que é uma cobra nojenta
que sabe usar magia.”

“Estranho... e o norte?”

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


6 6
“No norte tem o lago, várias raças vivem lá. Mas não sei quem governa lá. Uns dizem
que são as bruxas gêmeas do pântano. Aí quando a Besta Mágica do Sul desapareceu, a
floresta ficou estranha. Eu não sei bem o que aconteceu, mas uns monstros estranhos
deram as caras lá e o equilíbrio mudou...”

“Esses monstros fizeram o Monumento da Ruína?”

“Sim. Eu também ouvi dizer que o mestre do Monumento da Ruína pode comandar os
mortos, alguns até veem sombras negras se movendo através da escuridão. Isso é o que
os sobreviventes nos disseram.”

Todos — com exceção de Lupusregina — pareciam desconfortáveis uns com os outros.

A primeira coisa seria a Besta Mágica do Sul. Como seu território deveria estar próximo,
então, quando se pensava, a criatura certamente deveria ser a fera mágica domesticada
pelos aventureiros que haviam escoltado Nfirea aqui — ou, mais especificamente, aquele
que usava uma armadura preta. Certamente tinha a aparência poderosa e força para tal,
e então a descrição se encaixava perfeitamente.

“Besta Mágica... é o Sábio Rei da Floresta, Hamsuke-san?”

“Deve ser! É, certamente cumpre os requisitos...”

Britta disse ao ouvir Nfirea. Ela não estava no vilarejo naquela época.

Aparentemente, ela tinha o visto em E-Rantel, mas apenas de longe.

E havia mais duas criaturas monstruosas na floresta de poder equivalente. Ninguém


conseguia esconder o choque e o medo ao se dar conta.

“Então, como você escapou?”

“Até então, cada um puxava a forca do outro. A Besta Mágica do Sul nunca tinha deixado
seu território, mas ninguém imaginou que ia sumir assim do nada. Acho que o Leste e
Oeste chegaram à conclusão de que se lutassem, mesmo se um vencesse, acabariam mor-
rendo, já que o vencedor sairia muito ferido e poderia trombar com algum monstro forte
e ser morto. Por isso nunca lutaram.”

“Isso faz muito sentido. Mas se o Leste e o Oeste unissem forças contra o Sul... Oh, mas
o Sul nunca saía do território, então não fazia sentido uma aliança para derrota-lo... Não
houve necessidade...”

“Aí eu já não sei. Só sei que cada um reivindicou um território e criou um reino de cada
lado. Aí veio o dono do Monumento da Ruína e bagunçou tudo. Então, Leste e Oeste uni-
ram forças pra guerrear contra o Rei da Ruína, passaram a juntar muitas tropas que tra-
tam que nem lixo pra guerra que tão tramando.”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


6 7
Agu apenas continuou falando e falando, sem uma pausa.

“Aqueles malditos forçaram as tribos a ficar do lado deles. Nunca que a gente ia querer
ser aliado deles. Pra eles, os Goblins não valem nada. Eles usam meu povo e depois jogam
fora, até usam meu povo como ração. Foi por causa disso que fugimos. Mas aí...”

“Não funcionou, né?”

“Sim, isso mesmo. Os Barghests e Ogros vieram atrás bem rápido. A gente não dava
conta de lutar, aí cada um foi pra um lado. Eu e mais alguns fugiram pra cá e invadimos
o território da Besta Mágica do Sul, mas ninguém pensou que o Barghest ia continuar
seguindo.”

Ele disse que havia mais alguns, mas não havia sinal de ninguém além de Agu.

Uma expressão de condolência atravessou o rosto de Enri e Gokou falou.

“...Temos um pessoal explorando a floresta, se tiver alguém vivo do seu bando, podemos
trazer eles pro vilarejo, contanto que não resistam.”

“Sim, bem lembrado. Os olfatos dos lobos são bem sensíveis. Então... a questão é, além
do Barghest, o que mais eles têm? Será que tinham aliados ajudando na caçada? Isso é
sério, se der errado, podemos acabar trazendo o inimigo para a nossa porta. Ei, Agu, o
que mais tem no exército deles?”

“Há Barghests, Ogros, Boggarts, Bugbears e um bicho lá que parece um tipo de lobo...”

“São monstros bastante comuns. Eu gostaria de ouvir mais sobre o Gigante do Leste e a
Serpente Demônio do Oeste, especificamente, aparência, habilidades, esse tipo de coisa.
Você sabe algo?”

Agu sacudiu a cabeça.

“Eu não sei dos detalhes. Só que o Gigante do Leste carrega uma espada bem grandona,
e a Serpente Demônio do Oeste tem uma cabeça igual a sua, mas os tipos de magias eu
não sei.”

A atenção de todos foi para Nfirea, que balançou a cabeça. Havia simplesmente pouca
informação para trabalhar.

“A questão é; o que vamos fazer? Se esses dois vierem para o nosso lado, sendo tão
poderosos quanto a Besta Mágica do Sul, sendo sincera, será o nosso fim. O máximo que
a força de autodefesa pode fazer é escoltar as mulheres e crianças para um local seguro.”

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


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“Pois é. Se uma boa defesa resolvesse tudo seria ótimo, mas é melhor pensar em alguns
planos por precaução. Seria tão bom se a perturbação na floresta acabasse por conta
própria.”

Todos começaram a pensar.

Para eles, pessoas que viviam fora da floresta, seria melhor se as questões dentro da
floresta se resolvessem sozinhas. Entretanto, enquanto não se resolvesse, implicava que
seriam incapazes de entrar na floresta, o que seria deveras problemático. Assim, se a
situação do vilarejo se complicasse, teriam que entrar lá correndo mais riscos ainda.

“...O problema é que se essa dupla pode subjugar uma tribo inteira como se fosse nada,
significa que, no mínimo, eles devem ter reunido muito poder de luta.”

“Errado! ...Antigamente, a minha tribo era muito mais forte. Mas no começo do caos os
líderes mandaram tropas pra achar um local novo pra morar, aí a gente perdeu vários
grupos mistos de Ogros e Goblins adultos. Se não tivessem ido, minha tribo teria resis-
tido!”

“Então esses Goblins adultos ainda não voltaram?”

Enquanto Britta falava, Nfirea inclinou a cabeça, como se estivesse pensando em al-
guma coisa.

“Me responde uma coisa...? Sei que estou mudando de assunto, mas isso tem me inco-
modado há um tempo. Você fala da mesma maneira que outros Goblins?”

“Como assim?”

“Ah, isso pode ser meio difícil de entender. No passado, já me deparei com Goblins, du-
vido que tenha entendido errado, mas eles falavam como retardados. Mas esses que tem
no vilarejo, Jugem-san e os outros, falam normalmente. E agora você— que também fala
muito bem. Por isso a minha dúvida, os que vi pertenciam às tribos selvagens de Goblin
ou algo assim?”

“Não, é só que sou bem inteligente pra um Goblin. A maioria fala apenas o básico. É bem
complicado conversar coisas complicadas com eles, experiência própria. Até cheguei a
me perguntar se eu era adotado de outra tribo. Mas agora que falou, até estranhei por
ver tantos Goblins que falam bem aqui, cês vieram de alguma tribo que tem mais gente
como eu? Sabem de alguma coisa sobre mim?”

“Não, não sabemos... Será... Poderia ser... Ane-san, Ani-san, poderiam vir aqui um segun-
dinho?”

Nfirea e Enri seguiram Kaijali para o canto da sala.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


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“Será que o Agu não é um Goblin, mas sim um Hobgoblin?”

Hobgoblins eram ramificações da raça Goblin, e eram superiores aos Goblins de várias
maneiras. Quando adultos, os Goblins seriam tão grandes quanto crianças humanas, mas
os Hobgoblins podiam atingir a altura de um ser humano adulto.

Eles eram semelhantes aos humanos não apenas em habilidades físicas, mas em atribu-
tos mentais. Como ainda podiam se reproduzir com Goblins, normalmente formavam
comunidades mistas. Todavia, os Hobgoblins não eram tão férteis quanto os Goblins, e
assim tendiam a ser líderes ou guardas de elite dentro de uma tribo.

“Mas ele não ia saber se a mãe ou pai fossem Hobgoblins, ficaria na cara, não?”

“E se ambos os pais eram Goblins e ele nasceu um Hobgoblin?”

“Eh? Isso não é coisa das lendas!?”

“...É a primeira vez que te vejo fazer essa cara, Enri... infelizmente, não acho que seja o
caso. Assim como os humanos adotam crianças, acho que os Goblins podem ter feito algo
semelhante.”

“Pode ser. Bem, uma coisa a menos pra digerir.”

Os três voltaram para a mesa e, quando o fizeram, a até então silenciosa Lupusregina,
abriu a boca para falar.

“E aí, decidiram o quê ~su? Se precisar de algo, só pedir uma mãozinha pro Ainz-sama.
Pede ele pra te ajudar a resolver o problema e tudo o mais ~su.”

Realmente seria tudo o que queriam.

Se o herói que salvou o vilarejo decidisse fazer um movimento, nem mesmo os Três
Monstros poderiam ficar contra ele. Contudo—

“Seria abusar demais da generosidade dele.”

Enri murmurou para si mesma, e os Goblins concordaram. Apenas Britta e Agu, que não
conheciam Ainz, ficaram perplexos. Nfirea tinha uma expressão complexa no rosto.

“Este vilarejo é nosso. Quem deve ser esforçar pra proteger ele somos nós. Eu sei que
nem todo mundo daqui vai concordar com isso e que nem sou digna de tomar uma deci-
são dessas, não sou líder nem lutei por ninguém, mas ainda assim eu...”

“Não, não tem nada disso, Ane-san. Este vilarejo é seu sim...”

Kaijali fez “Hm?” e depois inclinou a cabeça enquanto se corrigia.

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


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“É da Ane-san e do... não, isso não é certo também.”

“Está tentando dizer que o vilarejo pertence a todos que vivem aqui?”

“Leu minha mente, Ani-san. Foi direto ao ponto! Enfim, também acho que pedir empres-
tado o poder dessa Magic Caster-sama deve ser coisa de último caso.”

“Mas se forem por esse caminho, todo mundo pode morrer ~su... Ser dilacerado dói,
sabia não ~su?”

“Hah! Lupusregina-san, não vamos deixar isso acontecer. A gente se sacrifica feliz se for
pra deixar que escapem.”

Lupusregina parecia desapontada.

“Ah, tá... É melhor dar seu melhor, então ~su.”

“E eu também quero entrar em contato com a Guilda dos Aventureiros de E-Rantel —


talvez reportar seria mais adequado. A Guilda enviará alguém para cuidar e aceitar o
nosso pedido. Seria falta de bom senso correr atrás de algo depois que virar uma emer-
gência.”

Britta seguiu após a sugestão de Nfirea.

“Concordo totalmente. A última coisa que a Guilda dos Aventureiros quer é ter baixas
por causa de monstros vindo do nada. Tem uns malucos e Trabalhadores sem noção que
zombam dizendo que a Guilda mima demais os aventureiros, mas não passam de um
bando de gananciosos encrenqueiros. É natural que uma organização queira proteger
seus próprios membros.”

“Britta-san, não querendo falar mal dos aventureiros, mas durante as emergências, o
custo de contratação sobe demais, tem vez que até rejeitam. Por que fazem isso?”

“Bem, quanto vale uma vida? Eles não querem morrer e nem a Guilda quer. Por isso que
o preço sobe, pois o alto valor atrai aventureiros de alto ranque, que são realmente ca-
pazes de dar conta com coisas grandes, às vezes não passa de fogo de palha, mas é basi-
camente isso.”

Como uma simples aldeã, Enri achou as palavras dessa ex-aventureira fáceis de engolir.
Mas era muito difícil ter que aceitar isso quando se estava do lado necessitado. No en-
tanto, quando pensou do ponto de vista dos aventureiros, infelizmente fazia sentido.

“Bem, mesmo que a Guilda verifique, pode demorar muito até alguém aceitar a tarefa,
esse tipo de coisa acontece muito...”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


7 1
Britta mordeu o lábio inferior.

“—Isso me lembra do ataque daquela Vampira, meu tremo toda até hoje... antigamente
eu nem conseguia dormir sem tomar remédio...”

“Vampira? Onde foi isso?”

Agu perguntou sem qualquer reserva, e Britta sorriu amargamente.

“É um segredo. Ou melhor, não gosto nem de lembrar. Quase que me mijo toda de medo.”

“Até parece que só eu fiquei curioso—”

“Oh, pirralho, você não tá em posição de fazer perguntas aqui.”

“Então, até o momento o plano é informar a Guilda e, caso dê, faremos uma solicitação.
Aposto que vai ser caro, muito caro, mas pelo menos precisamos fazer um orçamento.
Além disso, precisamos informar o Jugem-san e o Líder também. Pode fazer isso, Enri?”

“Eu vou cuidar da força de autodefesa. E sendo sincera, a meu ver já disse tudo, faria o
mesmo.”

Nfirea assentiu para a pontuação de Britta.

“Então, eu acho que vou dar uma voltinha por aí ~su. Tem certeza que não pedir ajuda
ao Ainz-sama ~su?”

“Tenho sim. Queremos lutar pelo o que é nosso até quando der. Se não for te incomodar,
eu e todo mundo do vilarejo ficaria muito feliz se dissesse isso ao Gown-sama.”

“Digo sim ~su.”

Quando Agu olhou para Enri e Nfirea, que estavam se afastando, um sentimento difícil
de descrever brotou dentro dele.

“O que de mais cês viram nessa mulher?”

“Hã!?”

O tom ameaçador na voz do Goblin adulto fez o corpo de Agu tremer.

Agu sentiu que os Goblins adultos eram mais fortes do que qualquer outro em sua aldeia.
Era natural que ele se arrepiasse quando ameaçado por eles.

No entanto, isso ainda não conseguiu superar sua curiosidade infantil.

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


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“As mulheres da tribo Carne são tão boas assim?”

Do ponto de vista de Agu, Enri não parecia particularmente forte. Embora ela tivesse
alguns músculos em seus braços e pernas, nem de perto era o suficiente. Ela não preci-
sava ser tão musculosa quanto um Ogro, mas como líder, ela ainda precisava ter muito
mais do que o que tinha agora.

Se ela fosse uma magic caster, ele ainda poderia entender. As mulheres que se tornaram
líderes nas tribos dos Goblins usavam esse poder misterioso. No entanto, essa mulher
não se parecia com uma magic caster.

Com toda honestidade, Agu não entendia o porquê Enri era superior aos Goblins.

“Não é desse jeito.”

“...Aquela mulher caçadora que era mais forte que ela, né?”

“Bem, a Britta é boa do jeito dela. Mas a gente é melhor.”

A opinião de Agu sobre o Goblin adulto na frente dele subiu outro entalhe. Ele era mais
baixo que aquela mulher, mas ele falou com uma convicção inflexível. Certamente existia
uma razão para sua autoconfiança.

“E aquela outra mulher, a que apareceu do nada àquela hora, ela é forte também, ou
não? O jeito que ela apareceu do nada me assustou, pensei era meu fim.”

O Goblin adulto subitamente se aproximou e olhou para Agu.

Sentindo uma pressão estranha em cima dele, Agu perguntou nervosamente:

“Q-que foi? O que tem ela?”

“Aquela mulher que apareceu do nada... o nome dela é Lupusregina, e ela... ela é muito
perigosa. Já que vai ficar aqui por um tempinho, vou te dar uma dica; fica longe dela, nem
converse. Falo pro seu próprio bem.”

“Eh. Ahhhh. Entendi.”

“E eu tenho que dizer isso logo. Só pra deixar claro, se não tiver notado o óbvio, se você
fizer alguma coisa para as pessoas daqui... sejamos honestos aqui, você não vai se safar,
é melhor estar preparado pra morrer.”

“J-já entendi. Sou quase que um cativo de uma tribo derrotada, né? Eu prometo que não
vou prejudicar ninguém da Tribo Carne.”

“Isso aí... e fique longe da Lupusregina, entendeu?”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


7 3
Agu percebeu o misto de cautela e pavor no coração do Goblin adulto, e gravou o aviso
em seu coração. Com isso feito, ele percebeu que sua primeira pergunta não havia sido
respondida, e então ele perguntou novamente.

“Mas por que a Enri-san é tão boa?”

Até Agu poderia aprender. Ou melhor, era fácil para ele aprender, já que era o mais
esperto da tribo e não podia falar muito com outros Goblins, então entendia coisas assim
rapidamente.

“Ha... Enri... a verdade é quê... ela é muuuito forte.”

“Eh!?”

“Você é um fracote, por isso não consegue perceber. Se a Ane-san ficar enfezada, ela
pode esmagar um Barghest, ou qualquer coisa, até a morte com apenas uma mão, ela até
espreme o sangue numa xícara e bebe, sacou?”

“É sério!?”

“Oh, sim, claro que é.”

Agu pensou em Enri. Quando considerou com calma, era verdade que ela tinha sido ca-
paz de dar ordens poderosas que abalaram a alma. Talvez aquilo fosse apenas a ponta
do iceberg?

“A Ane-san finge ser fraca. Se ficar fazendo pergunta besta que irrite ela, ela vai te es-
magar até a morte, e usando uma mão só. Tenho até pena de quem vai limpar a sujeira
que ficar. Sangue pra tudo que é lado.”

“E-entendi... mas por-por que ela tem que fingir ser fraca? Mostrando que é forte logo
de cara não evitaria problemas?”

“Se ela ficasse por aí se exibindo, gente do mundo todo iria vir desafiar ela. E ela não
tem saco pra essas coisas também, sacou?”

Agu pensara que a força era a solução para todos os problemas, mas esse não era o caso.

Trancado em um labirinto de autorreflexão, ele não percebeu que o Goblin adulto à sua
frente tinha uma expressão de brincadeira no rosto.

♦♦♦

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


7 4
No meio da noite, Enri de repente acordou de seu sono. Embora não parecesse haver
nada estranho por perto, Enri permaneceu imóvel enquanto movia os olhos para verifi-
car seu entorno. O mundo à sua frente era escuro como breu, iluminado apenas por um
fino raio de luz da lua entre as persianas das janelas. Ela não conseguia ver nada de es-
tranho nessa luz fraca.

Mas os ouvidos de Enri podiam ouvir bem.

Não havia sons de cavalos relinchando, cavaleiros armados fazendo barulho, ou pessoas
gritando. Ela não podia ouvir nada disso. Era apenas uma noite normal.

Enri suspirou baixinho e fechou os olhos. Ela estava dormindo profundamente até
agora, então ainda estava entorpecida pelo alento do sono e não conseguia se levantar
imediatamente.

Muita coisa aconteceu hoje. Depois da conversa com Agu, ela foi explicar as coisas ao
chefe do vilarejo e a Jugem, que retornara de sua missão de reconhecimento.

Será que vai ficar tudo bem?

Para confirmar a nova informação, Jugem decidiu entrar na floresta novamente e eles
partiram à noite. Mover-se à noite na floresta era muito perigoso. Os Goblins eram dife-
rentes dos humanos; mas podiam ver com pequenas quantidades de luz, para que pu-
dessem se mover livremente. No entanto, havia muitas feras mágicas noturnas e mons-
tros, e eles se tornariam ativos após o pôr do sol.

Era muito mais perigoso do que no dia.

Se não houvesse necessidade de confirmar urgentemente que não havia mais monstros
perseguindo Agu, Jugem nunca teria saído.

Era verdade que os Goblins eram fortes, mas isso era apenas em comparação com Enri.
Havia muitas criaturas na floresta que eram mais fortes que os Goblins, por exemplo; os
Três Monstros.

Uma sensação de medo e desolação caiu sobre Enri, a fazendo se contorcer e, por causa
disso, sua irmã gemeu em seu sono, se aproximando do corpo de Enri.

Enri entreabriu os olhos e espiou sua irmãzinha.

Parece que não a acordou. Ela podia até ouvir seu ronco suave.

Hehe...

Assim que Enri riu por dentro, o som de batidas suaves ressoou na porta. Isso definiti-
vamente não era um truque do vento.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


7 5
Enri franziu a testa. O que poderia haver tão tarde da noite? Porém, precisamente por
ser era tão tarde da noite já significava o grau de importância.

Ela cautelosamente se separou de Nemu e do cobertor e lentamente saiu da cama, mo-


vendo-se com cuidado para não acordar sua irmãzinha.

As tábuas rangeram ao se mover, fazendo o coração de Enri bater mais rápido, ela se
preocupava em acordar Nemu.

Depois daquele incidente, Nemu teve que dormir com Enri à noite. Ela sofrera um
trauma psicológico muito grave.

Enri não tinha intenção de repreendê-la por isso. Até porque Enri se sentia mais segura
quando dormia com sua irmã.

Mas ela sabia que mesmo quando estavam juntas, Nemu às vezes era acordada por seus
pesadelos. Por causa disso, Enri insistiu em estar com Nemu mesmo quando ela estava
dormindo.

Silenciosa e, portanto, a passos brandos, ela avançou em direção a cortina, mas a batida
não parou.

Apreensiva, Enri espiou pela janela, e o luar iluminou a silhueta de Jugem. Ela suspirou
de alívio.

Para não acordar Nemu, Enri falou em voz baixa do lado de fora da janela.

“Jugem-san, que bom que está bem.”

“Obrigado por se preocupar, Ane-san. Deu tudo certo. Desculpe te acordar, mas tem
uma coisa que precisa saber o quanto antes.”

Enri abriu a porta ligeiramente e se espremeu na fina abertura. Ela estava preocupada
que a luz da lua acordasse Nemu. Entendendo por seus movimentos, Jugem baixou a voz
e falou.

“É algo que requer sua presença, Ane-san.”

“Uma hora dessas?”

Enri sorriu divertidamente e continuou:

“Tá bom, já tô indo.”

“Eu realmente sinto muito.”

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


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Enri seguiu os passos de Jugem enquanto lhe dizia para não se desculpar. Poderia ser
melhor se Nemu estivesse acordada, ela considerou isso, mas Jugem tinha vindo sabendo
que todos estavam dormindo. Tinha de haver uma razão para isso.

“Te explicarei no caminho.”

Ele geralmente falava mais descontraidamente, mas quando se tratava de trabalho —


ou o que Jugem julgava ser trabalho — seu tom era mais rígido.

Embora Enri achasse que não havia problema em ser mais casual com uma simples al-
deã como ela, Jugem se recusara a mudar essa parte dele, por isso Enri desistiu da idéia.

“Primeiramente, encontramos alguns membros da tribo do Agu.”

“Isso é maravilhoso!”

“...Mas eles estão meio abalados, eu acho que precisam descansar por alguns dias. Tive-
mos que pedir ajuda do Ani-san para isso.”

Sentindo a expressão surpresa de Enri, Jugem seguiu com uma explicação.

“Quando encontramos os sobreviventes da tribo de Agu, eles estavam sendo mantidos


como prisioneiros por um Ogro do Gigante do Leste e usados como comida. Embora a
Cona tenha curado as feridas físicas, suas mentes ainda estão cicatrizadas. Ani-san deu
uns remédios para acalmá-los, agora contamos com a ajuda dele no tratamento. Além
disso, há um problema um pouco mais cabeludo.”

Jugem observou a expressão de Enri antes de continuar.

“Quando resgatamos eles, capturamos outros cinco Ogros. Fizemos isso só para ter a
quem questionar... parece que os Ogros coexistem com Goblins normalmente; enquanto
os Ogros lutam, os Goblins fornecem alimento, abrigo e tal, é um relacionamento mutu-
amente benéfico. Por causa disso, eles disseram que estão dispostos a lutar pela nossa
tribo. De acordo com Agu, isso não é incomum... então, o que devemos fazer?”

“E dá pra confiar neles?”

“Agu diz que sim. Os Ogros têm um estranho hábito; não lutam por ninguém além dos
Goblins de sua tribo, eles só traíram o Gigante do Leste porque não era da tribo deles. É
algo assim.”

“Mm. Mas ter por aqui Ogros devoradores de homens é meio assustador...”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


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“Quando aceitarem as pessoas do vilarejo como parte da tribo, tudo o que precisa fazer
é alimentá-los e tudo ficará bem. Fiquei sabendo que comem qualquer coisa. Felizmente,
eles são onívoros.”

Com toda honestidade, esta decisão era muito difícil para uma simples aldeã fazer.

“Podemos matar todos, o que acha?”

Ela disse em tom casual.

“Da minha parte, não tenho problemas em matá-los agora mesmo se quiser. Isso nos
pouparia uma grande pilha de problemas. Em primeiro lugar, seres como eles que traem
os outros podem se voltar contra nós se as coisas começarem a dar errado. Agu diz que
não vão, mas acreditar cegamente em tudo que uma criança diz é um pouco...”

“E o que você acha, Jugem-san?”

“Se pudessem lutar por nós, seria ótimo. Não sabemos quantos perseguidores podem
vir da floresta, então alguns escudos de carne extras ajudariam muito.”

“Então, mais uma pergunta, eles vão comer pessoas?”

“...Ane-san. Embora os Ogros tenham uma reputação de comer humanos, eles são ape-
nas monstros que comem carne. Acontece que é mais fácil pegar humanos para comer
do que animais selvagens.”

Digamos que, para os Ogros, era mais vantagem pegar humanos do que coelhos. Era
natural quando se considerava que os humanos eram mais fáceis de capturar e davam
mais carne também.

“Bem, se você lhes der algo para comer, eles não atacarão os aldeões. Basicamente, eles
só atacam as pessoas para saciar a fome. Você tem a minha palavra que vamos caçar
animais suficientes para encher suas barrigas. Claro, eles ainda precisam ser supervisi-
onados e teremos que ver como as coisas vão acontecer. Eu prometo que não vamos
deixar ninguém aqui se machucar.”

“...Nesse caso, seria bom confiar neles de verdade, pelo menos o bastante pra serem
subordinados. E digo não apenas por agora, mas também no futuro.”

“Que bom que entende. Só há um problema a ser resolvido agora. Se não der certo e as
coisas saírem do controle, teremos que matar todos. Na verdade, estou pensando em
como impressionar aqueles Ogros, pois você será a chefe deles, Ane-san.”

“Ehh!?”

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


7 8
Enri soltou um ruído que soou como se ela tivesse sido virada de cabeça para baixo.
Este era um grande salto para ela. Por que uma simples garota de um vilarejo, como ela,
teria que se tornar a líder de um bando de Ogros? Não bastava apenas Jugem ser o líder?

“Também estou pensando no futuro. Daria muitos problemas se os Ogros pensarem que
é apenas uma humana qualquer, Ane-san. Nós te obedecemos, mas uma situação em que
tais ordens precisarem serem transmitidas através de nós para eles pode surgir. Goblins
são potencialmente muito perigosos. Como comandante da linha de frente, qualquer
coisa pode acontecer comigo a qualquer momento, por isso sinto que precisamos de al-
guém seguro na retaguarda que possa comandar os Ogros.”

Enri considerou o problema com as sensibilidades de uma simples aldeã.

“Tá dizendo que precisa de duas pessoas para comandá-los?”

Jugem assentiu.

“Nesse caso, Enfi poderia—”

“O Ani-san pode acabar na linha de frente também.”

“Entendo...”

Enri de repente aceitou e assentiu. Alguém em um lugar seguro como ela deve ser útil
também. Isso também era o que Enri queria. Contudo—

“Tem certeza que eu consigo controlar os Ogros?”

“É isso que estamos prestes a descobrir, Ane-san. Você é boa em atuar?”

♦♦♦

Ambos os portões do vilarejo levavam para fora e Jugem a levou até o portão dos fundos.
Além dele, cinco Ogros estavam ajoelhados no chão. Eles também eram a fonte do mau
cheiro que pairava no ar.

Ao redor deles estava a Tropa Goblin, todos presentes e ilesos.

De um lado da porta havia uma plataforma de observação, que normalmente seria ocu-
pada por aldeões ou Goblins, mas não agora. Os Goblins deixaram-na temporariamente.

Nfirea também estava lá, junto com Agu, que estava a alguma distância.

“E aí, Enri. Noite bonita, não?”

“Sim, Enfi. A lua tá realmente bonita.”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


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“Verdade. É tão grande e brilhante.”

“Desculpe interromper a conversa, mas vamos dar início à encenação.”

Jugem sussurrou para Enri antes de gritar:

“Ei! Vocês aí! A nossa Ane-san está aqui! Ela tem a vida de vocês na palma da mão!”

Quando os cinco Ogros ouviram isso, levantaram a cabeça para olhar para Enri. Parecia
que havia uma pressão palpável esmagando-a, mas Enri se forçou a não dar um passo
para trás. Se ela cedesse, o plano falharia e os Goblins eliminariam problemas potenciais
pela raiz matando os Ogros no local.

Enri já podia ver as mãos dos Goblins indo para suas armas. Enfi estava calmamente
pegando uma garrafa de poção.

Uma eternidade pareceu passar sob a pressão.

Enri suportou os olhares dos Ogros e os devolveu com um dos seus. Seu olhar era firme
e inflexível.

Em seus olhos, a imagem dos Ogros se sobrepunha com a imagem dos cavaleiros que
os atacaram no passado.

Enri fechou os punhos, lembrando-se de como se sentira naquela época, quando ela so-
cou o elmo de um cavaleiro.

Não me subestimem. Todo mundo se esforça pra proteger o vilarejo, preciso dar o meu
melhor também!

Depois de um segundo de tensão — um segundo que parecia se estender para sempre


na percepção de Enri —, os Ogros hesitaram.

Eles espiaram um ao outro e depois a Jugem.

“Eu avisei. Nossa chefe, nossa Ane-san, é a mais forte.”

“Olhem pra baixo na minha presença!”

Enri gritou assim que Jugem terminou.

A força da voz de Enri surpreendeu até a si mesma, e Agu na borda de sua visão se tre-
meu todo, mas era isso mesmo que ela precisava. O importante era que os Ogros haviam
baixado a cabeça para ela.

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


8 0
Por enquanto, os Ogros reconheceram a superioridade de Enri.

“Bem, então, o que vocês têm a dizer para a chefe do Vilarejo Carne, a nossa Ane-san?”

Com as cabeças ainda abaixadas, o que emergiu dos Ogros foi uma torrente de vozes
confusas.

“Tão, tão assustadora, pequena chefe. Perdoar.”

“Desculpar, nóis atacar tribo sua. Perdoar, for favor.”

Por “tribo sua”, os Ogros provavelmente se referiam à tribo de Agu. Embora a realidade
fosse um pouco diferente, foi mais fácil para eles entenderem a situação, já que para eles,
Agu e seus companheiros faziam parte da “Tribo Carne”. Foi um bom resumo, a fim de
evitar sobrecarregar o cérebro dos Ogros.

“Pra pequena chefe, nóis trabalhar.”

“Acho bom que sim! Trabalhem pra mim e minha tribo!”

Essa última declaração foi feita com a essência de seu espírito que ela poderia reunir.
Ela só dissera duas ou três frases, Enri já estava muito cansada. Foi tão exaustivo quanto
o encontro com o Barghest.

Assim que Enri estava prestes a abandonar seu Modo Chefe devido ao cansaço, Jugem
interveio na hora certa.

“Tiveram sorte! Parece que a Ane-san quis poupar suas vidas!”

A tensão diminuíra visivelmente dos corpos dos Ogros. Dado que eles poderiam ser
mortos a qualquer momento, isso era uma reação natural.

Um Ogro olhou para Enri e falou.

“Chefe, nóis, o que fazer?”

Ela não havia considerado isso ainda. Porém, se ela não soubesse, bastava delegar isso
à outra pessoa.

“Jugem-san, estão sob seus cuidados. Use eles como achar melhor.”

“Entendido, Ane-san.”

O líder dos Goblins curvou-se para Enri, depois voltou-se para os ogros.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


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“Vejamos. Primeiro de tudo, vamos montar barracas fora do vilarejo. Vocês aí, vão mo-
rar logo ali. E você também, ajude com as barracas.”

Os Ogros saíram acompanhados dos Goblins.

“Montar barracas fora do vilarejo pode causar todos os tipos de problemas depois; pre-
cisamos fazer um lugar para eles morarem no vilarejo. Mas antes disso, é preciso ter uma
boa conversa com os aldeões, além de treinar esses Ogros.”

“Vou ter que conversar com muita gente.”

“Sim. Mas acho que vai se sair bem, Enri. E sobre amanhã...”

De acordo com o plano, Enri e Nfirea partiriam para E-Rantel usando Goblins como
guardas.

“...Eu sinto muito. Eu preciso ajudar a tratar os sobreviventes da tribo de Agu, então eu
não vou poder ir.”

Afinal, eles viveriam no mesmo vilarejo com os Ogros que queriam comê-los. O trauma
mental tinha que ser tratado junto com suas feridas físicas, e a personalidade de Lizzie
só os assustaria, causando o efeito oposto. No final, não havia ninguém melhor para isso
do que Nfirea.

“Ehhh? Mas se eu for sozinha, eu... não sei se vai dar certo...”

Enri não tinha nenhuma experiência em visitar uma cidade grande como E-Rantel, en-
tão, do seu ponto de vista, o fardo parecia bastante pesado.

“Posso tentar conversar com o chefe do vilarejo, aí ele pode ir junto, quem sabe?”

“Duvido que vai dar...”

O chefe do vilarejo tinha que manter a ordem local, fazer reparos e ficar de olho nos
novos moradores. Seria muito difícil para ele viajar muito longe.

“...Que tal a esposa do chefe?”

“Mm. Bem, não tem mão de obra suficiente aqui. Antes já era assim e agora é ainda pior.
Não sei se ela vai estar livre.”

O Vilarejo Carne tinha uma população muito pequena. Como resultado, quando seus
números diminuíram, sua capacidade de fazer qualquer coisa diminuiu também. Foi por
isso que os aldeões haviam reprimido sua oposição e aceitaram convidar mais morado-
res para ficar com eles.

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


8 2
“Quando eu for à E-Rantel, precisarei ir aos templos e ver se há alguém que queira mo-
rar aqui... Realmente, isso é demais para uma aldeã fazer...”

“Sei que fará seu melhor, chefe.”

Enri fez beicinho ao ouvir as palavras de Jugem. Parte dela estava pensando: “Você sabe
me irritar”. Afinal, eles eram uma das razões pelas quais Enri estava tão ocupada.

“Eu realmente queria ir junto...”

Nfirea resmungou em tom deprimido e depois cobriu-o com uma onda de desesperada
agitação.

“V-vai ficar bem, eu vou cuidar da Nemu-chan. Então pode ir sem preocupações.”

“...Tudo bem, já aceitei... Será que eu sou a única no mundo que tem que passar por isso?
Num momento as pessoas me santificam, no outro eu tenho que ir pra um lugar que
nunca fui e fazer coisas que nunca fiz...”

“Não seja tão pessimista, Enri. Deve ter alguém por aí que possa te acompanhar.”

Jugem e Nfirea riram baixinho quando viram seus ombros caírem em fadiga. Agu assis-
tiu à distância, murmurando para si mesmo.

“Então ela realmente assumiu o controle dos Goblins à força... a Chefe do Vilarejo Carne,
Enri-anesan...”

Parte 3

Como o nome indicava, a cidade fortaleza de E-Rantel era cercada por três anéis con-
cêntricos de muralhas fortificadas. Dos portões colocados nas muralhas, as muralhas
mais externas eram os mais espessos e sólidos, irradiavam um ar de robustez.

Era uma visão comum ver viajantes na rua olhando boquiabertos para os portões da
cidade que se dizia ser capaz de repelir qualquer invasão feita pelo Império. E as pessoas
nas ruas certamente haviam feito expressões semelhantes no passado.

Além disso, esses portões eram postos de inspeção alfandegária, chefiados por vários
soldados que estavam relaxando na sombra.

Embora algumas pessoas pudessem ter perguntado se estava tudo bem para os solda-
dos de uma cidade próxima à linha de frente estarem tão relaxados, a verdade era que
as tropas nos postos de inspeção estavam lá para avaliar os viajantes. O trabalho deles

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


8 3
era descobrir contrabando e espiões de outros países, então eles não tinham nada para
fazer quando não detectavam ninguém estranho entrando na cidade.

Como resultado, os soldados atualmente inativos — mesmo mantendo a disciplina em


vez de passar o tempo jogando cartas — não conseguiram resistir à vontade de bocejar.

Embora parecessem frouxos no momento, quando ficavam ocupados, eles realmente


ficavam muito ocupados. Em particular, a enorme quantidade de trabalho que tinham
que fazer de manhã, logo após a abertura dos portões, praticamente desafiava a capaci-
dade de descrição detalhada.

Com o sol a pico, os viajantes começaram a aparecer nas ruas em pequenos grupos,
dispersos esparsamente entre os outros pedestres. Era natural que as pessoas viajassem
em números, dado que este era um mundo habitado por monstros.

Quando eles vêm, eles vêm com tudo mesmo; hoje vai ser cansativo...

Pensou o guarda que estava contemplando ociosamente as ruas de sua janela. Seus
olhos ficaram fisgados em uma carroça prestes a entrar na rua, esperando que alguns
pedestres passassem.

Uma mulher sentava-se no banco do condutor. Não viu mais ninguém na carroça des-
coberta. Ela estava viajando sozinha.

Estava desarmada e sem armadura. A partir disso, o guarda concluiu que—

Ela deve ser de algum vilarejo.

—Pensando isso, o soldado inclinou a cabeça, enquanto pensava em alguma outra pos-
sibilidade em segundo plano.

Aldeões de vilarejos vizinhos dificilmente eram uma visão rara aqui. No entanto, uma
mulher viajando sozinha era completamente diferente. Mesmo a área ao redor de E-Ran-
tel não estava completamente livre de bandidos e monstros. Graças aos esforços da len-
dária equipe de aventureiros “Escuridão”, a maioria dos monstros e bandidos perigosos
foram eliminados. Mas “a maioria” não significava “todos”, e ainda havia feras mundanas
como lobos e coisas do tipo que precisavam caçar.

Essa situação não era exclusiva de E-Rantel; aplicava-se a todas as outras cidades tam-
bém. E pensando nisso, as meninas poderiam viajar sozinhas?

Talvez ela tivesse fugido de um encontro de bandidos, mas ele não sentia qualquer ten-
são ou nervosismo dela. Ela parecia estar à vontade, como se soubesse que sua jornada
seria segura.

Quem será que ela é, hein?

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


8 4
O soldado desviou seu olhar agora desconfiado para o cavalo, e foi quando sua confusão
se aprofundou.

O cavalo era excepcional, não algo que uma mera garota de algum vilarejo teria. Seu
porte evocava a sensação de um cavalo de guerra.

Cavalos de guerra eram extremamente valiosos. Mesmo se alguém pudesse realmente


juntar dinheiro para comprar um, uma pessoa normal não seria capaz de adquirir um
facilmente. Deixando de lado montarias monstruosas como Wyverns e Griffins, cavalos
de guerra eram o pináculo dos corcéis.

Uma pessoa normal precisaria de dinheiro e conexões para obter tal cavalo de guerra,
e uma simples aldeã não teria nada disso.

Também era possível que ela tivesse roubado o cavalo de seu dono original, mas qual-
quer um que roubasse um item tão valioso seria perseguido e alvo de punição. Por isso
que bandidos não ousavam atacar pessoas montadas em cavalos de guerra.

Em suma, depois de considerar todas as evidências visíveis, as chances de que ela real-
mente fosse uma simples aldeã se tornaram muito baixas. Então, quem era essa pessoa
posando como uma garota simples de algum vilarejo?

O fato de que ela estava viajando sozinha insinuou sua verdadeira identidade. Em ou-
tras palavras, ela estava muito confiante em suas habilidades, e essas habilidades não
foram limitadas pelo fato de que escolheu se vestir como uma menina simples — por seu
equipamento, ou pela falta dele. Com isso em mente, era provável que fosse uma magic
caster, já que seu equipamento e poder raramente correspondiam à sua aparência.

Essa foi uma resposta que ele poderia aceitar. Se pressionado pela razão, era porque os
magic casters, ou os aventureiros em geral, eram ricos e cheios de conexões, então a ob-
tenção de um cavalo de guerra seria fácil.

“Ela é uma magic caster?”

Seu parceiro ao lado dele passara pelo mesmo processo de pensamento.

“Talvez...”

O soldado franziu a testa respondendo.

Magic caster eram tipinhos muito irritantes de inspecionar.

Para começar, sua arma primária, a magia, era uma coisa interna invisível a olho nu. Em
outras palavras, os guardas não podiam dizer quais armas um magic caster estava es-
condendo.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


8 5
Em segundo lugar, eles poderiam contrabandear itens perigosos com sua magia e des-
cobrir isso é difícil.

Em terceiro lugar, geralmente tinham muita bagagem com itens estranhos, então checá-
los um por um era problemático.

Do fundo do coração, ele odiava lidar com essa gente. Por causa disso, eles tinham um
homem da Guilda dos Magistas os auxiliando — depois de pagar uma taxa adequada, é
claro. Contudo...

“A gente tem mesmo que revistar a moça? Não estou afim, cara.”

“Não podemos evitar. Se não checar ela e qualquer coisa acontecer, a bronca vai vir na
gente.”

“Já ajudaria bastante se ela pelo menos se vestisse como uma magic caster.”

“De cajado estranho e vestindo um manto esquisito?”

“É. Pelo menos daria pra saber se é uma magic caster logo de cara. Ou isso, ou forçamos
todos na Guilda dos Magistas a usarem um emblema, tipo os aventureiros...”

Os dois soldados se levantaram ao mesmo tempo, rindo um para o outro. Isso foi para
receber a garota que poderia ser uma magic caster.

Sob o olhar atento dos soldados, a carroça foi guiada até a porta e parou.

A moça desembarcou. Sua testa estava escorregadia de suor, mas parecia acostumada
a viajar sob o sol. Suas mangas e calças eram longas para afastar as queimaduras solares.
Suas roupas não pareciam caras ou bem costuradas. Independentemente de como a ob-
servasse, ela era uma simples garota de algum vilarejo.

No entanto, já dizia o velho ditado; não se pode julgar um livro pela capa. Ela poderia
estar escondendo alguma coisa. E o trabalho deles era descobrir.

Os soldados se aproximaram cuidadosamente da garota.

“Gostaríamos de fazer algumas perguntas. A senhorita poderia acompanhar a gente até


o posto de inspeção?”

Eles falaram com expressões amenas e tons suaves. Eles estavam tentando enviar a
mensagem de que não estavam preocupados com ela, então ela poderia baixar sua
guarda.

“Tá, sem problemas.”

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


8 6
Os soldados escoltaram a garota até o posto de controle.

A fim de proteger contra o uso de magias e outras formas de manipulação mental, mais
dois soldados seguiram a uma distância de vários metros. Os outros a observavam com
cuidado, desconfiados de quaisquer movimentos suspeitos.

A garota inclinou a cabeça várias vezes, como se sentisse a tensão no ar.

“...Tem alguma coisa errada?”

“Quê? Ah, não, nada de errado.”

Alguém que pudesse notar as pequenas mudanças no ar não poderia ser uma pessoa
comum. Os guardas a trouxeram para o posto de inspeção com isso em mente.

“Então, poderia se sentar ali?”

“Tá bom.”

A moça estava sentada em uma das cadeiras da pequena fortificação.

“Vamos começar com seu nome e local de nascimento.”

“Sim. Me chamo Enri Emmot. Eu venho do Vilarejo Carne, perto da Grande Floresta de
Tob.”

Os soldados trocaram olhares e um deles saiu da fortificação. Ele ia verificar os arquivos


para quaisquer registros correspondentes.

Para administrar seus moradores, o Reino mantinha informações deles na forma de re-
gistros. Dito isto, os registros eram bem rústicos, e os detalhes relevantes de nascimento
e morte eram atualizados muito lentamente, isso quando eram. Alguém havia estimado
uma vez que havia dezenas de milhares de erros neles. Como resultado, confiar demais
nos registros seria uma má idéia, mas mesmo assim, tinham seus usos.

Esse registro estava confuso, mas tinha muitas entradas, então a pesquisa demoraria
muito tempo. Os soldados entenderam isso e decidiram tentar cuidar de outra coisa en-
quanto isso.

“Como é daqui, não precisa do pedágio, nesse caso poderia me mostrar sua permissão?”

Normalmente, todos que entravam em uma cidade tinham que pagar um pedágio —
algo como um imposto. No entanto, cobrar dos residentes esse dinheiro causaria a para-
lisação do comércio e, como resultado, todos os vilarejos recebiam licenças de viagem

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


8 7
com as quais podiam entrar na cidade gratuitamente. Naturalmente, como havia nobres
diferentes em cada região, também havia regras diferentes para cada região.

“Hmmm, só um minutinho... tá na minha bolsa.”

O soldado impediu Enri de colocar a mão através de sua bolsa.

“Ah, faremos isso. Poderia ceder sua bolsa por um momento?”

Enri entregou sem protestar. Os soldados procuraram cuidadosamente o interior e en-


contraram um pergaminho.

Eles desenrolaram-no na mesa para que todos pudessem ver. Embora a taxa de alfabe-
tização entre os cidadãos do Reino fosse muito baixa, era factual que todos os soldados
posicionados em um posto de controle pudessem ler e escrever. Ou melhor, eles estavam
aqui precisamente porque eram alfabetizados.

“Hm. Tudo certo. Com certeza é a permissão emitida pro Vilarejo Carne. Confirmado.”

O soldado enrolou o pergaminho de volta e o devolveu à bolsa.

“A seguir, diga o que veio fazer em E-Rantel.”

“Sim. É, primeiramente, vim vender ervas medicinais que colhemos no vilarejo.”

Os soldados olhavam para o lado de fora da carroça, cujas urnas estavam sendo revis-
tadas no momento.

“Poderia dizer os nomes e as quantidades das ervas?”

“Quatro urnas de Nyukuri, quatro urnas de Ajina e seis urnas de Enkaishi.”

“Seis urnas de Enkaishi?”

“Isso mesmo.”

Um olhar de orgulho se espalhou pelo rosto de Enri. O soldado entendeu o porquê.

Afinal de contas, ao ocupar um posto de controle, um deles acabou adquirindo um co-


nhecimento prático de ervas medicinais.

Enkaishi era uma erva que só podia ser colhida durante um curto período de tempo,
mas era um ingrediente importante nas poções de cura. A demanda era muito alta e,
portanto, o preço era bom. Se ela tivesse seis urnas como disse, isso significava que ela
teria muito dinheiro quando as vendesse.

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


8 8
“Então, onde planeja vender?”

“Eu pretendo vender na antiga residência da Madame Bareare.”

“Bareare? Fala da herborista Lizzie Bareare?”

Embora ela não morasse mais lá, Lizzie tinha sido a pessoa mais importante nos negó-
cios farmacêuticos de E-Rantel até recentemente. Se ela tinha um relacionamento co-
mercial com os Bareares, isso significava que Lizzie confiava muito nela.

É bobagem perder tempo demais nisso, pensaram os soldados.

A verdade é que, embora o trabalho deles fosse impedir que coisas perigosas entrassem
na cidade, investigar essas coisas assim que entraram na cidade não era mais problema
deles.

O soldado assentiu com um grunhido, depois olharam para o rosto de Enri.

Ela falara normalmente até agora, e eles não sentiam que estava mentindo.

Uma vez que a inspeção de carga estivesse completa, seu trabalho terminaria.

Nesse momento, o soldado que acabara de voltar assentiu com a cabeça.

Ou seja, uma garota chamada Enri estava presente no registro.

No entanto, esse registro simplesmente dizia que havia uma garota chamada Enri nas-
cida no Vilarejo Carne. Sem qualquer garantia de que a pessoa à sua frente fosse a ver-
dadeira Enri, também não havia provas do tipo de vida Enri levara. Talvez durante suas
viagens, ela tivesse adquirido alguma magia poderosa, ou tivesse morrido em sua jor-
nada e alguma criminosa estivesse usando seu nome.

Por causa disso, eles precisariam realizar uma verificação final.

“Entendido. Chame ele, pra gente finalizar logo.”

O soldado assentiu e saiu da fortificação.

“Agora só falta examinar seu corpo. Tudo bem?”

“Eh?”

Uma expressão de surpresa surgiu no rosto de Enri. O soldado se apressou para emba-
sar suas palavras.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


8 9
“Oh, ninguém encontrou nada de errado. Sinto muito, mas é o procedimento. A senho-
rita tem a minha palavra que não faremos nada de estranho, não se preocupe.”

“...Se é assim, então tá bom.”

Vendo que Enri estava bem com isso, o soldado suspirou de alívio. Ele não queria ser o
único a irritar uma possível magic caster.

O soldado que saiu retornou mais uma vez, desta vez com um homem atrás dele.

Este homem era um magic caster.

Seu nariz se projetava como o bico de uma águia, enquanto seu rosto magro era amare-
lado e pálido. Seu corpo estava envolto em um manto negro que parecia muito quente.
Seu suor escorria livremente e suas mãos parecidas com garras apertavam com força
seu cajado retorcido.

Pessoalmente, o soldado sentiu que deveria ter tirado o manto se estivesse tão quente,
mas o magic caster gostava desse estilo e, teimosamente, se recusou a trocar de roupa.
Talvez fosse por isso que a temperatura da sala parecia subir alguns graus quando o
magic caster entrou.

“Então, é essa a garota?”

O magic caster falou com calma para o soldado que o escoltava, como de costume.

Embora parecesse ser um homem na casa dos 20 anos, sua voz extremamente rouca
tornava impossível determinar quantos anos ele tinha apenas pelo som. Será que sua
aparência era anormalmente jovem ou sua voz que estava anormalmente rouca?

“Ah...”

Enri olhou surpresa para o magic caster que havia substituído o soldado. Em seu cora-
ção, o soldado pensou que sua surpresa não poderia ser evitada. Afinal, ele também fi-
cara assustado na primeira vez que viu o homem.

“Este é um magic caster da Guilda dos Magistas. Ele vai fazer uma simples verificação,
então, peço que aguarde um momento.”

O soldado gesticulou para que Enri permanecesse sentada e depois acenou para o magic
caster.

“Pode dar conta disso?”

“Claro.”

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


9 0
O magic caster deu um passo em direção a Enri e então lançou sua magia.

“「Detect Magic」.”

Depois disso, o magic caster apertou os olhos. Ele parecia uma fera avaliando sua presa.
No entanto, Enri permaneceu calma apesar de estar sujeita a um olhar que abalava até
mesmo os soldados, que estavam acostumados a esse tipo de coisa.

Como já passaram por isso antes, todos os soldados imaginavam como seria a reação.

Alguém que pudesse permanecer calma sob um olhar tão intenso não poderia ser uma
simples garota de algum vilarejo. No mínimo, ela deve ter tido experiência em lutas de
vida ou morte contra monstros ou pessoas que queriam tirar sua vida. A visão diante
deles só cimentou a impressão no coração dos soldados.

“Você não me engana. Está escondendo um item mágico. Está na sua cintura.”

Enri ouviu e olhou para a cintura, surpresa.

Os soldados imediatamente entraram em alerta. Eles entendiam armas como espadas,


mas seu conhecimento não cobria itens mágicos.

“Fala disso?”

Enri retirou uma pequena trombeta debaixo de suas roupas, pequena o suficiente para
caber nas duas mãos. Mesmo a observado, os soldados não entenderam bem o signifi-
cado.

“...Isso é um item mágico?”

“Correto. Vocês foram enganados pela aparência. Essa coisa é imbuída de magia pode-
rosa.”

Os soldados ficaram sem palavras. Se este era um item que o magic caster considerava
poderoso, então quão poderoso era?

Quando começaram a pensar que a garota estava completamente vestida por um mo-
tivo, sentiram como se uma lâmina estivesse pungindo seus peitos.

“Ah, isso foi um—”

“Não precisa falar. Minha magia decifrará tudo.”

Para calar Enri, ele lançou outra magia.

“「Appraisal Magic Item」— UOOOOOH!”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


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O rosto do magic caster passou por várias expressões em poucos segundos. Inicial-
mente foi choque, depois medo, depois terror e depois — confusão.

“O-o q-que é isso? Essa coisa é muito poderosa— não, mais que isso... Impossível! Mas
que coisa é esta!?”

O rosto do magic caster estava vermelho, e manchas de saliva voaram dos lados de sua
boca.

“Quem é você, garota!? Não tente me enganar!”

A súbita mudança de atitude do magic caster pegou os soldados de surpresa, e Enri não
foi exceção quando seus olhos se arregalaram.

“Ninguém, sei lá, uma pessoa normal! Só mais uma aldeã do Vilarejo Carne! É sério!”

“Uma aldeã? Ora, sua... por que ainda mente? Vamos, diga, como pôs as mãos nesse item
mágico? Se realmente é uma simples aldeã, como poderia ter conseguido algo assim!?”

“Eh? Isto... isto é um presente daquele que salvou o meu vilarejo, Ainz Ooal Gown-
sama—”

“Mais mentiras! Um sacerdote da Teocracia deve ter dado isso a você!”

“Eh? E o que isso tem a ver com a Teocracia?”

“Soldados! Entrem! Há algo muito errado sobre essa garota!”

Embora os soldados não entendessem o que estava acontecendo, até hoje eles nunca
tinham visto o magic caster reagir assim antes. Então, se isso fosse uma emergência, eles
deveriam largar o que quer que estivessem fazendo e responder à convocação.

“Entrem! Rápido!”

Em resposta aos gritos do soldado, vários de seus camaradas interromperam as inspe-


ções de carga e entraram na sala.

“Você disse que alguém lhe deu esse item? Absurdo! Como conseguiu isso? Você não
pode ser uma mera aldeã de algum vilarejo!”

“É a verdade, foi o Gown-sama que me deu! O senhor tem que acreditar em mim, por
favor!!”

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


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Os soldados olharam entre os dois. O magic caster era um colega deles, eles o haviam
contratado, e queriam acreditar nele. No entanto, dada a reação nervosa de Enri à re-
pentina mudança na situação, eles não puderam deixar de pensar que ela era uma garota
normal.

“P-pra que isso tudo? Pelo menos diga o porquê ela suspeita?”

“Hnh!? Para começar, esta trombeta pode convocar um grupo de Goblins — embora eu
não tenha certeza de quantos ela possa chamar, mas esse item pode fazer uma coisa des-
sas.”

Os soldados franziram a testa. Seria problemático se algo assim fosse usado nas ruas.
No entanto, isso era realmente um problema? Certas pessoas, como aventureiros, pos-
suíam uma infinidade de itens mágicos. Não seria estranho que eles possuíssem um item
como esse entre suas panóplias.

“E o chamado testemunho dessa garota está repleto de inconsistências. Esse item vale
dezenas de milhares de moedas de ouro; por que alguém apenas daria a uma mera al-
deã?”

“Dezenas de milhares!?”

“—Dezenas de milhares!?”

Essa soma inacreditável atraiu gritos de descrença dos soldados e da própria Enri.

Dezenas de milhares de moedas de ouro eram uma soma que nenhuma pessoa normal
poderia ganhar em toda a vida. Era difícil acreditar que uma trombeta tão simples pu-
desse valer tanto.

“Isso mesmo. Ninguém entregaria tal item sem uma boa razão, muito menos para uma
garota mundana! Eu poderia até acreditar se ela fosse uma aventureira de primeira
classe ou uma magic caster. Mas ela diz que é apenas uma aldeã! É muito suspeito!”

Isso os soldados entenderam. Pessoas excepcionais tenderiam a reunir itens excepcio-


nais para si mesmos. No passado, ambos os grandes homens de boas e más convicções
eram conhecidos pela aquisição de equipamentos poderosos. Era o destino deles e isso
era inevitável.

“Mas é sério, sou apenas uma aldeã do Vilarejo Carne...”

“Além disso, eu nunca ouvi falar de nenhum Ainz Ooal Gown. Pelo menos, ele não faz
parte da nossa Guilda, nem eu nunca ouvi falar de um aventureiro com esse nome.”

“O Capitão Guerreiro conhece o Gown-sama!”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


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“O Capitão Guerreiro do Reino, Gazef Stronoff-dono? ...Dizendo mais bobagens. Como
uma simples aldeã saberia dessas coisas?”

“Porque ele foi tentar resgatar o vilarejo! Eu juro! Só perguntar pra ele que vai ver!”

Seria impossível se comunicar com o Capitão Guerreiro, que residia na Capital Real, de
E-Rantel. Em outras palavras, se ela realmente fosse uma simples aldeã, era improvável
que ela permanecesse na memória do Capitão Guerreiro, então provar sua identidade
seria difícil.

“E agora, fazemos o quê?”

“Detenham-na por enquanto, então investigue-a mais. Como não escondeu a trombeta
e estava planejando levá-la à cidade abertamente, não temos certeza, mas ela pode não
ser uma espiã ou uma terrorista.”

Enri olhou nos arredores em pânico.

Ela parecia uma garota normal de algum vilarejo vizinho. Se isso foi uma atuação, então
com certeza ela era uma atriz muito boa.

De repente, um dos soldados que observava o perímetro exclamou surpreso. No mesmo


momento, uma voz familiar soou.

“Queremos entrar na cidade, mas... o que está acontecendo?”

Quando se viraram para a voz, viram um homem vestindo uma armadura completa de
chapas pretas.

“Ooooh!”

Os soldados e o magic caster exclamaram em surpresa. Todos em E-Rantel conheciam


o homem que usava aquela armadura. A placa de adamantite, que balançava sobre o
peito, era a prova conclusiva de sua identidade. Ele era uma lenda viva, um homem que
tornou o impossível possível, o guerreiro supremo.

Não era ninguém menos que Momon, O Negro.

“O senhor é—! Momon-sama! Sentimos muito pelo incomodo!”

“Tudo bem, o que está acontecendo aqui... hm? Aquela garota é...”

“Sim! Estávamos investigando uma garota suspeita e levou tempo demais. Nós sincera-
mente pedimos desculpas por incomodá-lo, Momon-sama—”

“—Enri, é isso? Enri Emmot?”

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


9 4
O ar na sala pareceu congelar. Por que um aventureiro lendário saberia o nome de uma
garota mundana?

“Er, ah, você é... er, não, eu sou. Ah, o senhor foi quem veio com o Nfirea naquele dia, né?
Não me lembro de falar com o senhor...”

Momon colocou a mão no queixo, como se estivesse pensando. Depois, ele gesticulou
para o magic caster e eles saíram da fortificação. Embora os soldados quisessem seguir,
eles não poderiam deixar Enri sozinha.

Eventualmente, o magic caster voltou sozinho para a sala, tendo se acalmado.

“Deixe-a ir. O grande Momon, O Negro, atesta a inocência dela com seu status de aven-
tureiro adamantite. Nesse caso, não mais faz sentido mantê-la aqui. Alguém se opõe?”

“Claro que não... mas, é realmente certo?”

“Se é certo? Eu que te pergunto se é realmente certo duvidar dele, dentre todas as pes-
soas?”

“Cl-claro que não! Entendi. Vamos conceder a passagem a ela. Enri Emmot do Vilarejo
Carne, a senhorita está autorizada a entrar na cidade. Pode ir.”

“Ah, sim. Muito obrigada.”

Depois de se curvar rapidamente para eles, Enri saiu da fortificação. Quando as costas
dela recuaram para a distância, o soldado virou-se para o magic caster.

“E quanto ao Momon-sama?”

“Ele já se foi.”

“Então... qual conexão um herói teria com aquela garota?”

“Até parece que eu sei... Momon-dono me disse aquilo e pediu para que a deixássemos
ir.”

“Agora sim as coisas ficaram estranhas. Aquela garota, Emmot. Você realmente acha
que ela é apenas uma aldeã?”

“Duvido muito. Não há como ela ser uma simples garota de algum vilarejo, caso contrá-
rio, por que um grande herói como ele a ajudaria? E não foi uma coincidência que ela
estava carregando esse item... Poderia ter algo a ver com a Teocracia?”

“Aquele Ainz sei lá o quê. Se ele é da Teocracia, não é melhor a gente deixar um aviso?”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


9 5
“Assim, eu não sei. Afinal, Momon-dono já garantiu a autenticidade dela. Imagina se o
pessoal do topo souber que o Momon-dono deixou alguém perigoso entrar...? Sei que
isso faz parte do trabalho informar, mas realmente quer perturbar o Momon-dono?”

O rosto do soldado se torceu.

As façanhas heroicas de Momon nos cemitérios de E-Rantel eram um tema de conversa


comum quando os soldados se reuniam.

A saga de como ele abriu caminho através de uma horda de dezenas de milhares de
undeads fazia o coração de homens barbados arder como fãs adolescentes de um herói.
Além disso, poder-se-ia ver claramente a sua postura heroica e ações mesmo ao longe.
Ele havia subjugado uma poderosa criatura mágica com seu incrível poder, e seu majes-
toso estilo de cavalgar deixava os soldados boquiabertos.

Assim como as mulheres eram atraídas por homens fortes, muitos guerreiros admira-
vam Momon, o Herói Negro, e podia-se dizer que a maioria das forças armadas de E-
Rantel eram seus fãs.

Este soldado era um deles.

Como um fã de Momon, apenas ser tocado no ombro por seu ídolo foi o suficiente para
ele se vangloriar sobre isso para todos que conhecia. Como tal, ele não tinha intenção de
perturbar o homem que admirava.

“É uma possibilidade. Bem, já que o Momon-sama atestou ela, acho que vai ficar tudo
bem.”

“Eu também acho. Eu que não quero tratar mal uma amiga do Momon-dono, jamais
quero estar na mira dele. Como dizem, melhor evitar cutucar onça com vara curta. Enfim,
me avise se mais alguma coisa acontecer.”

“Beleza. Então, vou voltar pro trabalho.”

♦♦♦

Enri conduziu a carroça de ré para a entrada dos portões da cidade de E-Rantel, per-
guntando-se o que acabara de acontecer. Parece que o homem da armadura azeviche —
ela lembrou que ele era um dos aventureiros que vieram para o Vilarejo Carne com
Nfirea para colher ervas — a ajudou a sair de uma situação cabeluda.

Por direito, ela deveria ter ido imediatamente agradecer-lhe, mas infelizmente ela o
perdeu de vista assim que entrou na cidade.

Será que vai ficar tudo bem... se eu agradecer ele depois?

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


9 6
Embora estivesse pensando que deveria imediatamente começar a procurá-lo quando
tivesse tempo, havia razões pelas quais não podia. Essas razões atualmente a incomoda-
vam. A única coisa que deixava seu coração à vontade era sentir algo através da barreira
de suas roupas.
[Trombeta d o General G o b l i n ]
—O Horn of the Goblin General.

Isso... vale dezenas de milhares de moedas de ouro? Nem pensar. Tudo o eu que quero é
que alguém me diga que isso é mentira...

De repente, ela começou a suar frio. Ela não esperava que as trombetas que recebera
tão casualmente fossem tão valiosas. Não, Nfirea tinha dito que era um item mágico de
alta qualidade... mas a quantia estava além de sua imaginação.

Não tem problema alguém como eu usar um item desses? Vai ficar tudo bem?

Se lhe pedissem para devolver a outra que já assoprara, o que ela deveria fazer?

Eu teria de colher milhares de urnas de ervas... talvez nem consiga pagar passando a vida
colhendo ervas...

Além disso, ela tinha outro item no valor de milhares de moedas de ouro.

Será que o Gown-sama dá itens caros assim pra todo mundo!? Ou talvez, ele não soubesse
o seu valor... não pode ser, não tem como alguém como ele não saber... mas e se não sou-
besse...

O estômago de Enri roncou e doeu.

Ela olhou ao redor com suspeita. Não havia muitas pessoas por perto, mas ainda era
várias vezes mais do que no Vilarejo Carne. Pensamentos desagradáveis como se alguém
planejasse roubar sua trombeta surgiram em sua mente.

Se eu não tivesse trazido isso. Tem muito crimes por aqui, né? E se me roubarem... Essa
não... se a trombeta for soprada e os Goblins aparecessem pra causar problemas, então eu
viraria criminosa?

Assim que o suor frio se acumulava, uma pessoa desceu sobre o assento ao lado do dela.
A maneira como ela pousou como uma pluma, desafiando a gravidade deve ter sido má-
gica.

Quem—

Quando a surpresa de ver a recém-chegada desvaneceu, uma surpresa ainda maior a


aguardava.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


9 7
Ela era uma beldade de cabelos negros cujo rosto poderia lançar ao mar mil navios. Foi
ela quem veio com o aventureiro de armadura negra até o seu vilarejo. Seus olhos gela-
dos pareciam ônix quando encararam Enri.

“Criatura inferior (mosca-de-cavalo). Momon-san queria que eu fizesse algumas per-


guntas...”

“Tão linda...”

“Bajulação não vai adia—”

“Tão bela quanto a Lupusregina...”

Ao ver a consternação nos olhos que a olhavam, Enri imediatamente se arrependeu das
coisas bobas que havia dito. Ela provavelmente nem conhecia Lupusregina. No entanto,
não havia mais ninguém que pudesse se aproximar da bela aventureira diante de seus
olhos.

Que droga, acho que aborreci ela... bem, o que faço agora...?

“A-ah, Lupusregina é uma mulher muito bonita que vive no meu vilarejo—”

“—Obrigada.”

“Eh!?”

Seus olhos não titubearam, muito menos sua voz, até suas sobrancelhas mostravam seu
semblante sério. Mas o agradecimento que ela deu foi genuíno.

“...Haaaah. Momon-sa—n deseja perguntar algumas coisas, é por isso que vim. Me res-
ponda. Por que está aqui?”

Enri não tinha obrigação de responder. No entanto, esta era a parceira de alguém que a
ajudou. Se ele queria saber, então não custava nada responder.

“Ah, bem, antes disso, posso pedir um favor seu? Momon-san me ajudou mais cedo e
sou muito, muito grata. Por favor, diga isso a ele.”

“Eu o farei. Então, por que está aqui?”

“Ah, claro. Ei vim aqui resolver um monte de coisas, tipo; vender essas ervas.”

A mulher gesticulou com o queixo, indicando que Enri deveria continuar falando.

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


9 8
“Depois vou no templo pra ver se tem alguém lá que queira se mudar pro vilarejo e viver
lá. E então eu preciso na Guilda dos Aventureiros avisar sobre umas coisas. Também
preciso comprar suprimentos que não tem no vilarejo, como armas. Acho que só...”

“Certo. Eu entendi o que disse. Eu vou retransmitir para o Momon-san.”

Com movimentos etéreos e graciosos que pareciam independentes da gravidade, a mu-


lher desceu da carroça e saiu sem olhar para trás.

A impressão de Enri sobre ela foi a de um furacão congelado que destruía as pessoas.

“Que mulher incrível... ela parece dezenas de vezes mais forte que a Britta-san...”

Não havia meninas no vilarejo como ela. Teria ela se tornado uma aventureira porque
sua personalidade era assim, ou ser uma aventureira tornava sua personalidade assim?
De repente, ela não se sentiu muito interessada em visitar a Guilda dos Aventureiros.

“Ahhhh, essa não!”

Nabe era uma aventureira poderosa, mas Enri só notou depois que ela desapareceu.
Além disso, era a parceira do homem que subjugou o Sábio Rei da Floresta. Ela poderia
ter contado a Enri sobre o que estava acontecendo na floresta.

“O Gigante do Leste e a Serpente Demônio do Oeste... também tem o Monumento da


Ruína... podia ter perguntado ela. Ah, sou tão idiota, por que não pensei nisso antes?”

Enri conduziu sua carroça por um portão enquanto repreendia a si mesma por seu des-
cuido.

♦♦♦

E-Rantel poderia ser dividida em três zonas, separadas pelos muros da cidade. A zona
intermediária era onde as pessoas viviam.

Também era onde a Guilda dos Aventureiros poderia ser encontrada.

Idealmente, teria sido mais seguro vender as ervas na Guilda dos Farmacêuticos. Toda-
via, isso teria envolvido muita papelada problemática, então ela escolheu ir para a Guilda
dos Aventureiros em vez de usá-los como intermediários. Ela considerou utilizar a ajuda
de Lizzie para isso, mas Enri decidiu que usar o nome da avó de seu melhor amigo seria
muito desavergonhado, e reconsiderou.

Depois de levar em consideração os desejos de Enri, Nfirea sugeriu ir à Guilda dos Aven-
tureiros.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


9 9
Se Nfirea tivesse vindo pessoalmente, eles não precisariam usar a Guilda, ele teria ven-
dido tudo sem intermediários. Porém, Enri não estava confiante em lidar com os nego-
ciadores da Guilda dos Farmacêuticos, então decidiu não ficar com raiva da taxa de ser-
viço e usar a Guilda dos Aventureiros como uma mediadora.

Enri seguiu pela estrada que Nfirea e Britta haviam lhe dito.

Embora estivesse viajando com os Goblins no caminho para a cidade, eles decidiram
esperar nas cercanias, para Enri terminar seus negócios sem maiores problemas. Ela
percebeu que era a primeira vez que estava sozinha desde que saíra do vilarejo, e suas
mãos agarraram-se às rédeas ainda mais fortemente.

A tensão enrijeceu os ombros de Enri. Finalmente, incapaz de aguentar mais, ela olhou
em volta em todas as direções e seu destino estava na frente dela.

“Eu encontrei!”

Enri exclamou de alegria. Agora que tinha chegado até aqui, provavelmente não se per-
deria.

Ela entregou as rédeas de sua carroça para uma sentinela parada na porta da Guilda
dos Aventureiros e abriu a porta.

No interior, guerreiros com armadura completa, caçadores com arcos nas costas e ma-
gic casters arcanos e divinos, andavam por ali. Alguns estavam entusiasticamente tro-
cando informações sobre os monstros próximos, outros estavam olhando atentamente
para os pergaminhos no quadro de avisos próximo, e alguns estavam avaliando o equi-
pamento recém-comprado.

O lugar estava cheio de calor e atividade que deixou Enri instável em seus pés, era um
mundo de cuidado e tensão implacáveis. Este era o mundo dos aventureiros.

A boca de Enri se abriu quando ela viu uma visão que nunca veria em seu vilarejo, então
apressadamente fechou de volta.

Era verdade que ela vinha de uma terra esquecida, nem era vergonhoso se assustar com
o clima da cidade grande. Ainda assim, uma garota de sua idade olhando ao redor com
uma cara estúpida e de a boca aberta seria apenas algo embaraçoso.

Enri entrou, suas costas estavam eretas, verificando conscientemente seus movimentos,
de modo que não movesse os braços e as pernas na ordem errada ou qualquer coisa que
provocasse risos. Entretanto, Enri começou a ter suas dúvidas sobre se estava tudo bem
para uma aldeã, obviamente fora do lugar, andar com arrojo entre esses aventureiros
musculosos.

No balcão, ela foi recebida pelo sorriso da recepcionista.

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


100
“Bem-vinda.”

“Vo-voce também, me sinto bem-vinda.”

Enri trocou olhares com a recepcionista. Depois disso, as duas sorriram amargamente.
Enri sentiu os ombros relaxarem, pelo que poderia ter sido a primeira vez desde que
chegou a E-Rantel.

“Então, posso perguntar qual negócio tem com a Guilda dos Aventureiros?”

“Mm. Ah, em primeiro lugar, gostaria de pedir ajuda com a venda de ervas.”

“Entendido. Onde estão as ervas agora?”

Enri disse-lhe que estavam na carroça do lado de fora e a recepcionista se virou para
falar com uma mulher ao lado dela.

“A avaliadora vai verificar agora, peço que aguarde dentro da Guilda até que esteja
pronto.”

“Tá bom. Ah, outra coisa... queria fazer um orçamento de uma coisa, não será pra agora,
mas podemos precisar no futuro.”

Enri explicou a situação para a recepcionista sorridente. O sorriso da outra mulher per-
deu a graciosidade quando ouviu a história de Enri.

“Entendo... Sou apenas uma recepcionista, eu não decido a dificuldade dos pedidos, mas
se é algo a par com o Sábio Rei da Floresta, temo que apenas o Momon-san, que é ada-
mantite, possa lidar. Nesse caso, as taxas seriam muito caras.”

Parecia ter havido uma mudança no humor da recepcionista. Ela parecia completa-
mente desmotivada, como se tivesse decidido “Foi inútil, mesmo depois de ter passado
por tudo isso, que saco...”.

Já que morava com Goblins, Enri se tornara adepta da leitura das emoções dos outros,
mesmo as sutis. Os Goblins eram feios e pareciam muito diferentes dos humanos, mas
ela tinha trabalhado arduamente para reconhecer e deduzir as mudanças em seus sen-
timentos. Desta forma, Enri evoluíra seus sentidos.

Ela deve estar pensando que o vilarejo não tem tanto dinheiro, huh... bem, com essa roupa
que estou usando, é uma conclusão razoável... afinal, ela tá bem vestida.

Enri brevemente comparou suas roupas com as da recepcionista e concluiu que, em


termos de moda, ela foi completamente superada.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


101
Mas roupas chiques são um desperdício pros trabalhos que existem no vilarejo, só serviria
pra dificultar a movimentação.

Assim, de acordo com Enri, esta batalha já havia sido designada.

“Ah, eu ouvi que a cidade daria uma ajuda de custo...”

“Correto. Mas esse subsídio é apenas uma parte da taxa e terá que pagar o restante por
conta própria. Os aventureiros do nível adamantite são muito caros e, mesmo após o
subsídio, ainda custam muito dinheiro. Claro, a senhorita poderia oferecer menos di-
nheiro para uma solicitação, mas a Guilda dos Aventureiros pode não permitir. Se ofere-
cer menos dinheiro do que o valor estipulado, sua solicitação será de baixa prioridade,
portanto, talvez não haja interessados. Espero que leve isso em consideração.”

Ela deve ter memorizado os regulamentos, dada a maneira como ela pronunciou tudo
aquilo sem pestanejar. Parece que a recepcionista estava tratando Enri como um cliente
que não estava comprando nada.

Faz sentido. Um cliente que não gasta dinheiro não tem prioridade.

Tudo o que a recepcionista dissera estava se desenrolando como Nfirea previu, de


modo que ela não se sentiu muito chateada. Era a realidade do mundo, ninguém ajudaria
os fracos.

É por isso que o Ainz Ooal Gown-sama é nosso salvador. Ele até deu a uma simples aldeã
como eu um tesouro tão valioso como aquele.

Ela se perguntou como a recepcionista reagiria se ela usasse a trombeta como paga-
mento. Seria ótimo ver o olhar no rosto dela, mas Enri sabia que não podia fazer uma
coisa dessas. Este item foi dado a ela por aquele grande magic caster com a instrução de
“use-o para se proteger”. Ela não podia vendê-lo, nem pelo bem do vilarejo. Ela não podia
ser tão ingrata.

E então, Enri assentiu.

“Tudo bem. Poderia me dizer o valor pelo menos? Aí será mais fácil discutir as coisas
com o pessoal do meu vilarejo.”

“Claro... então que tal isto? Ainda vai levar um tempinho para terminar de avaliar suas
ervas. Até lá devemos ter terminado de calcular as taxas de contrato também. Então
quando voltar acertaremos os valores, etc. Tudo bem assim?”

Enri assentiu e agradeceu à recepcionista, depois saiu do balcão e sentou-se em um sofá


na sala, olhando para o teto para passar o tempo enquanto a inspeção se arrastava.

Isso é tão cansativo...

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


102
Cada momento desde que entrou nos portões da cidade tinha sido uma grande aventura.
Ou melhor, quando ela pensava sobre isso, desde o dia em que seus pais morreram, to-
dos os dias tinham sido revoltos e agitados.

Só queria levar uma vida simples e pacata no vilarejo...

Enquanto pensava nas coisas que havia perdido, Enri suspirou.

Ela pensou sobre o que aconteceu depois disso — os Goblins, seu amigo de infância, e
então ela balançou a cabeça.

Tá demorando demais, não...?

Se ela tivesse algo para fazer, não teria tempo livre para pensar em coisas tão depri-
mentes. Ela preferia esvaziar sua mente e se concentrar no trabalho do que pensar em
coisas que a deixavam triste.

“Emmot-san, a avaliação está completa.”

Enri levantou-se e dirigiu-se ao som da voz do comerciante.

“Obrigada, muito obrigada!”

“A taxa é—”

Neste momento, Enri ouviu o som de alguém caminhando, praticamente correndo para
ela. Quando ela se virou, viu a recepcionista de antes na frente dela.

“Haaa— haaa— Enri-san do Vilarejo Carne. Não, perdão, digníssima Enri-sama. Eu po-
deria ter um minutinho do seu tempo para discutir um assunto?”

Era a mesma recepcionista de antes, mas a atitude dela era completamente diferente.
Até os olhos dela estavam vermelhos.

“Ah, calma aí, só vou comentar com ele o preço e o resultado da avaliação—”

“Cale a sua boca, eu estou falando aqui.”

A resposta da recepcionista fez o comerciante estranhar a situação.

“Se estiver tudo bem com a senhorita, se importaria de discutir isso tomando alguns
licores na sala de recepção?”

Ela estava sorrindo, mas o sorriso não se refletia nos olhos, era um sorriso social. Havia
um olhar estranho e desesperado neles.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


103
Talvez ela tivesse sentido algo da confusa Enri. Os olhos da recepcionista estavam úmi-
dos e as mãos dela estavam entrelaçadas como se estivessem rezando.

“Por favor, eu estou lhe implorando, a senhorita tem que me deixar ouvi-la! Ou estarei
com problemas!”

Depois de ouvir aquele apelo desesperado, quase patético, Enri não tinha idéia do que
estava acontecendo, mas não dar a ela uma chance seria cruel demais. Ela olhou de volta
para o comerciante, que parecia entender suas intenções, pois assentiu levemente para
ela.

“Sim, sem problemas. Pode me mostrar onde é?”

Nesse momento, o corpo da recepcionista relaxou visivelmente.

“Muito obrigada! Realmente muito obrigada! Venha, deixe-me mostrar-lhe o caminho.”

Enri a seguiu, banhada pelos olhares curiosos de todos ao redor. A recepcionista segu-
rava fortemente sua mão direita, como se não quisesse que Enri escapasse.

Eu fui precipitada também?

Ela entrou na sala de espera, traços de desconforto habitavam seu coração.

Enri olhou em silêncio pelo interior do cômodo. Não havia ninguém lá além dela, e es-
tava primorosamente decorada, a ponto de ter dúvidas sobre estar sentada no sofá.

“Vamos, sente-se por favor.”

No momento em que se sentou, uma voz do canto de sua mente se perguntou se seria
presa ou encontraria outro destino semelhante.

No entanto, nada aconteceu quando ela se sentou no sofá. Tudo o que sentiu foi a mo-
bília confortável, aconchegando seu peso corporal.

“Gostaria de algo para beber? Temos um excelente licor! Que tal algum aperitivo? Ou é
muito cedo para isso? Sim, tipo de... que tal frutas... não, doces e sobremesas, talvez?”

“Ah, não precisa...”

A mudança dramática na atitude da recepcionista estava começando a assustar Enri.


Em primeiro lugar, ela não considerou o tratamento da recepcionista como sendo parti-
cularmente fria. Foi uma reação bastante razoável, e não realmente negativa. Estranho
mesmo era como ela agia agora.

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


104
Por que ela mudou da água pro vinho? Foi por causa da trombeta de novo?

“Não, não, não diga uma coisa dessas. Tudo é possível para a senhorita. Podemos forne-
cer licor, conhaque e lanches para acompanhar se assim desejar.”

“Obrigada, mas não precisa mesmo... e, até porque tenho outras coisas pra fazer. Será
que podemos discutir o assunto bem rápido?”

“Certamente! A senhorita está absolutamente correta! Por favor perdoe a demora!”

A recepcionista tirou uma folha de papel branco e fino. Todo o papel que ela tinha visto
antes tinha sido muito mais grosso e tinha outras cores misturadas. Provavelmente algo
de alta classe. Ela se confundiu com os papéis?

Enri começou a falar. Ela só tinha dado um breve resumo agora, então ela teve que ex-
plicar pacientemente os detalhes desta vez.

Eventualmente, assim que a garganta de Enri estava começando a secar, a conversa fi-
nalmente chegou ao fim.

“Estou profundamente grata! Há algumas bebidas aqui, por favor, beba antes de sair!
Não há problema em deixar as xícaras aqui, agradecemos encarecidamente pela prefe-
rência!”

De repente, a recepcionista levantou-se e saiu da sala privativa, como se tivesse sido


expulsa.

“Mas... O que aconteceu?”

Claro, não havia ninguém aqui para responder à sua pergunta murmurada.

♦♦♦

No final, Enri não passou a noite em E-Rantel, mas rumou de volta para o Vilarejo Carne.

Ela dormiria nas planícies, mas não era nada que a incomodava. Pelo contrário, ela es-
tava sossegada. Isso porque, ao contrário de sua jornada para a cidade, ela tinha um
grupo de passageiros andando com ela desta vez.

“Ahh~ finalmente posso ver.”

Diante dela estava o muro do Vilarejo Carne. Embora os troncos cuidadosamente ar-
ranjados parecessem impressionantes, Enri não pôde deixar de pensar que pareciam
puídos em comparação com as fortificações de E-Rantel.

“Tem tanta coisa pra fazer ainda, preciso relatar tudo ao chefe, e rápido.”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


105
Enri estava respondendo a um dos Goblins deitados na carroça. Cinco Goblins tinham
escoltado Enri para E-Rantel, incluindo o Goblin Clérigo (Cona), e havia um Goblin Cava-
leiro de Lobo (Chosuke) mantendo uma vigília a alguma distância de sua carroça.

“Bem, metade dos problemas foram resolvidos, mas o pedido do chefe não foi muito
bem, né, Ane-san?”

“É, pois é... de acordo com o sacerdote do templo, quase ninguém quer se mudar pra um
vilarejo.”

“Isso é estranho. Quero dizer, já existem outros imigrantes de vilarejos próximos aqui.
Por que não há mais pessoas? Ele mentiu?”

“Não, um sacerdote nunca mentiria.”

Enri sorriu amargamente e completou:

“Sabe... vilarejos fronteiriços são muito perigosos, então é normal preferirem manter
distância. A gente esperava que os terceiros filhos viessem aqui na promessa de terras...
mas tem gente que não virá pra cá nem se for uma ordem. E as pessoas que se mudaram
recentemente já haviam vivido em vilarejos fronteiriços. Então são casos diferentes.”

“Sei...”

“A vida tem dessas coisas. Mas, na verdade, me sinto aliviada.”

Provavelmente seria muito difícil para pessoas normais formar um bom relaciona-
mento com Goblins e ainda mais conviver sob o mesmo vilarejo. Qualquer imigrante da
cidade provavelmente empalideceria com a visão e faria o possível para ficar longe.

E francamente falando, se Enri fosse forçada a escolher entre os moradores da cidade e


os Goblins, ela escolheria os Goblins sem hesitação.

Nesse momento, a carroça sacudiu e o som de algo metálico batendo na carroça bateu
atrás dela.

“Ah, desculpe. Está tudo bem aí?”

Enri virou a cabeça para olhar para trás.

Embora os Goblins estivessem sentados na mesa da carroça, havia alguns sacos ali, um
dos quais fazia barulho metálico quando a carroça sacudiu.

“Ah, estamos bem, Ane-san. Relaxe. Falando nisso, com esse tanto de flechas, vai dar pra
caçar o que der na cabeça.”

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


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Os Goblins pareciam tão felizes quando olhavam para a bolsa que Enri se esqueceu de
responder, simplesmente sorrindo em vez disso.

Atravessaram os campos de trigo e entraram em um portão semiaberto.

Depois de cumprimentar todos, Enri levou a carroça ao ponto de encontro original, para
descarregar a carga.

Quando ela parou a carroça no ponto de encontro, os Goblins, depois de ouvir a carroça,
saíram para saudá-la.

“Oh! Bem-vinda de volta, Ane-san. Fico feliz que nada tenha acontecido.”

Enri sorriu. As boas-vindas foram o que fez Enri sentir que ela realmente havia retor-
nado, pois para ela, os Goblins eram parte de sua família.

“Voltei!”

“Trouxe muita coisa. Vai descarregar tudo isso?”

“Sim, me dão uma mãozinha nisso?”

“É pra já!”

Os Goblins se moviam como um só, descarregando habilmente a carga. Independente-


mente de como Enri os administrasse, eles organizavam tudo sem cometer um erro até
que tudo estivesse bem organizado. Esta foi a prova de quanto os Goblins haviam se in-
tegrado na vida no vilarejo.

“Ah, Ane-san, pode deixar que cuidamos do resto. Por que não vai ver sua irmã e o Ani-
san? Não tenho certeza, mas acho que o Ani-san ainda tá ajudando o pessoal do Agu.”

“Obrigada, mas ainda preciso relatar ao chefe primeiro.”

“Mesmo? Entendi. Então, só por segurança, eu vou com você. Tem os Ogros por aí, en-
tão...”

Gokou falou com alguns de seus camaradas depois de sair do local da reunião, e então
ele pulou na carroça ao lado de Enri, que estava dirigindo. Os outros Goblins que estavam
guardando Enri na estrada para E-Rantel olhavam para ele com ciúme em seus olhos,
mas nenhum expressou qualquer oposição. Provavelmente concordaram que ele estava
fazendo a coisa certa.

“Então, Ane-san, vamos!”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


107
Enri sorriu fracamente e disse:

“Conto com vocês, hein! E muito obrigada!”

Depois de agradecer aos Goblins, ela esporeou o cavalo em movimento.

“E aí, o que aconteceu quando eu estava fora?”

“Nada de mais. De importante mesmo foi que construímos um lugar pros Ogros mora-
rem dentro do vilarejo. Claro, os Golems de Pedra fizeram a maior parte do trabalho, e
foi feito de madeira sem muito acabamento, mas ficou até confortável. Ainda não conse-
guimos dar um jeito no fedor deles. As toalhas que usamos a gente teve que jogar fora,
ficou fedido demais.”

“Entendi... Mas fizeram bem rápido!”

“Como eu disse, os Golems de Pedra fizeram a maior parte do trabalho. Se você quiser
agradecer a alguém, agradeça ao magic caster que deu eles pra nós.”

“E a Lupusregina-san?”

“...Não vamos falar dessa Lupusregina por enquanto. Eu não quero agradecer a ela nem
nada. Tem algo nela que não me cheira bem.”

Enri achou difícil acreditar em seus ouvidos. Esta foi a primeira vez que Gokou falou
mal de alguém.

“Como explico isso... ela é meio assustadora, é como se tivesse um monstro dentro dela
que fica olhando pra gente... Eu não acho que percebeu isso ainda, Ane-san...”

“Mas ela é a empregada daquele que salvou nosso vilarejo, Ainz Ooal Gown, então ela
não pode ser tão ruim assim.”

“...Ah, que problemão is~su.”

Os ombros de Enri e Gokou se contorceram. Essa era a voz da mulher que eles tinham
acabado de mencionar.

Enri olhou para trás atônita, e assim como no dia anterior, a empregada estava sentada
na mesa da carroça como se ela sempre estivesse ali.

“Realmente, um problemão, En-chan ~su.”

“Ah, como assim?”

“Que-que tal explicar como apareceu do nada?”

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


108
“Mm? É moleza explicar ~su. Eu caí do céu ~su.”

“Nunca te vimos voar. Você diz que vem de cima, mas nunca sentimos você pousando.”

“Eu posso ficar invisível ~su... Eu que não gosto de ficar me mostrando, mas pode ad-
mitir, sou legal demais né ~su?”

Gokou virou o rosto para a frente mais uma vez. Irritação escrita por toda parte de seu
corpo.

“Mas.. er... É meio raro que a gente te ver dois dias seguidos, Lupusregina-san. Aconte-
ceu alguma coisa?”

Lupusregina olhou para Enri. Enri não pôde deixar de pensar; ela é tão fofa e bonita,
mesmo quando faz essa cara.

“Bem, tipo isso. Maaas é que eu fiquei curiosa em saber o que tava rolando ~su. Falando
nisso, e aquele Goblin nanico, cadê ele?”

“...Ele tá bem. Acho que ele está na casa do chefe.”

“Por que?”

“Ah, porque o pessoal resgatou mais alguns Goblins da tribo dele, não soube? Aí vão
ficar lá enquanto construímos uma casa pra eles no vilarejo.”

“Ah— sim, faz sentido, Agu é filho do chefe da tribo. Ele deve sentir que tem o dever de
proteger eles ou algo assim ~su. Curioso, é apenas uma criança, mas é tão maduro~!”

Embora Lupusregina estivesse apenas sorrindo levemente, qualquer um que visse sua
aparência seria cativado pelo encanto que irradiava dela. Até mesmo Enri se viu olhando
para ela com admiração apesar do fato de que ambas eram mulheres.

“Ei, não acha melhor olhar pra estrada ~su?”

“Is-isso mesmo!”

Enri rapidamente olhou para a frente mais uma vez, as pontas das orelhas vermelhas.

Depois de parar em frente à casa do chefe, Enri e Gokou saíram da carroça.

“Então, vou levar o cavalo de volta pros estábulos ~su. Não tô afim de incomodar lá. Me
conte os detalhes da conversa depois~.”

“Conto sim. Obrigada e desculpe pelo incômodo.”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


109
Enri inclinou-se para Lupusregina, que respondeu com um “hoi hoi” e um sorriso antes
de levar a carroça.

Enri bateu na porta, anunciou em voz alta o suficiente para todos dentro ouvirem e
abriu a porta.

O Chefe e Agu estavam de frente um para o outro do outro lado da mesa.

“Oh, que bom que voltou. Por favor sente-se. Como estavam as coisas na cidade?”

Enquanto o chefe falava, Enri sentou-se ao lado de Agu. Por um momento, o corpo de
Agu pareceu ficar rígido, mas ela deve ter imaginado coisas.

“Uh, vou indo então. Obrigado por ajudar tanto a gente, Chefe.”

Enri não tinha idéia de para quem essas palavras eram destinadas. Como os únicos ou-
tros presentes eram Enri, Gokou e o Chefe, parecia óbvio que eles tinham sido destinados
ao chefe do vilarejo.

Contudo, com as costas rígidas e os lábios franzidos Agu disse isso olhando para ela.
Enri olhou nos olhos de Agu, e em seu olhar firme, sem piscar, ela percebeu que ele não
estava brincando ou zombando.

“Mas... Hein!?”

Por que tem que ser ela?

Em meio à confusão de Enri, Agu se desculpou e saiu da casa do chefe.

“Ei! Espere—”

“Então, Enri, pode me contar como foi?”

“Eh? Não, isso... bem... ah, sim. Claro.”

Isso pesava em sua mente, mas ela poderia esclarecer suas dúvidas mais tarde. O rela-
tório era mais importante por enquanto.

Depois de decidir isso, Enri relatou nítida e concisamente os eventos que ocorreram na
cidade. A parte mais importante era que ninguém queria se mudar para o Vilarejo Carne.
No entanto, o chefe parecia ter antecipado isso, porque não havia arrependimento em
seu rosto, apenas uma solene aceitação.

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


110
“Então foi isso. Bem, acho que só resta aceitar. Somos um vilarejo fronteiriço e monstros
aparecem frequentemente por estas bandas, por isso faz sentido que quase ninguém
queira vir aqui.”

O chefe do vilarejo disse o que Enri estava pensando. Podia ter sido o que todos neste
vilarejo já haviam aceitado.

“Você fez muito por nós. Obrigado.”

O chefe abaixou a cabeça e Enri disse “Não seja por isso” em resposta. Foi um tanto
conturbado, mas tinha sido uma boa experiência.

“Então—”

A linha de visão do chefe cintilou para Gokou por um segundo antes de continuar:

“Há uma coisa que eu gostaria de confiar a você, Enri Emmot.”

“Ah, sim. O quê? O senhor parece muito sério, Chefe...”

“...Eu espero que você assuma minha posição como chefe deste vilarejo.”

A enorme variedade de expressões que brilhavam no rosto de Enri era como uma peça
de arte performática.

“Hããã!? Como assim? Ei! Não me diga que o Agu estava dizendo aquilo para... ehhhh!?”

“Ficar nervosa não vai adiantar...”

“Não me chame de nervosa! Chefe, o senhor tá caduco, é!? De onde tirou uma coisa des-
sas!?”

“...Talvez caduco seja um pouco demais. Eu entendo o motivo de se sentir assim— sei
muito bem como é, mas espero que tente se acalmar e me ouça.”

“Me acalmar!? Como posso me acalmar? Sou só mais uma aldeã desse vilarejo, por que
justo eu que tenho que lidar com essa porcaria toda de ser chefe!?”

“Calma!”

A voz estava cheia de poder, mas para Enri foi apenas um som um pouco alto. Mesmo
assim, ajudou a recuperar um pouco de sua compostura. Não, se ela não escutasse o
chefe, ela não retornaria a si, ou pelo menos era o que parte dela estava pensando.

“Eu te entendo, eu sei que está confusa. Mas espero que possa sentar e considerar as
coisas com calma. Antes de tudo, quem tem feito tudo funcionar aqui?”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


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“Não é o senhor, Chefe?”

“Claro que não. Você é o coração do nosso vilarejo. Os Goblins e os Ogros que chegaram
esses dias te reconhecem como líder, não é?”

“Isso aí. Tudo o que fazemos gira em torno da Ane-san.”

“Também soube dos Goblins que você ajudou. Pelo que o Agu me disse, eles também te
veem como a chefe.”

A boca de Enri ficou na forma de um “へ”. Pode ser verdade que os Goblins eram assim,
mas o que os aldeões pensariam? Eles nunca aceitariam isso.

“Até imagino o que está pensando. Os aldeões vão se opor, é isso? Já falei com todos e
consegui a aprovação deles. Ontem à noite eu fiz uma reunião e escutamos todos. E foi
unânime — todo mundo deseja que você seja a nova chefe.”

“Eh? Por quê!?”

“...Aquele ataque abalou todo mundo, Enri. E todos anseiam por uma líder forte.”

“E o que tem de forte em mim? Eu já disse, sou apenas mais uma aldeã deste vilarejo!”

Embora houvesse alguns músculos em seus braços, ela ainda era uma garota que mal
podia usar uma arma. Se queriam alguém forte, deveriam ter escolhido alguém da força
de segurança, não?

“A força não é só o que vemos por fora. Não acha que ser capaz de ordenar os Goblins
também é uma forma de força? Os Bareares também te acham adequada como chefe.”

“Enfi!”

Enri soou como uma galinha sendo estrangulada.

“Ah, minha jovem, já ocupo este posto por muito tempo, estou velho. Eu preciso encon-
trar um sucessor em breve.”

“Como assim velho? O senhor não está nem perto de ser velho, Chefe. É por isso que
começou a falar como um velho?”

O chefe estava na casa dos 40 anos, por isso ainda era um pouco cedo para chamá-lo de
velho. Afinal, ele ainda estava em uma idade em que poderia trabalhar.

“Acho que ainda não tenho prática pra falar assim, mas deixando isso de lado; você já
deve ter notado que os tempos estão mudando, a floresta está mudando. Desde que o

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


112
Sábio Rei da Floresta se foi, há uma chance maior de monstros saírem da floresta pra
atacar. Tudo que posso oferecer são minhas experiencias passadas, de um tempo onde
tudo era paz. Isso não tem mais utilidade nos dias de hoje, por isso precisamos de algo
novo, o vilarejo precisa.”

“Chefe, não quero te ofender, mas preciso perguntar. Tá tentando fugir disso, né?”

“...Bem, sendo honesto. Não posso dizer que está totalmente errada...”

O que Enri viu foram os olhos de um homem que honestamente falava o que pensava:

“Ainda me lembro daquele dia quando fecho os olhos. Eu conhecia bem seus pais...
aquele dia horrível levou muito dos meus amigos... Se nosso povo não tivesse se acostu-
mados com a tranquilidade, se tivéssemos construído um muro, se estivéssemos em
guarda, talvez as coisas seriam outras... talvez pudéssemos ter resistido até Gown-sama
nos salvar.”

Isso seria difícil.

Pensou Enri. Este vilarejo também tinha muitos imigrantes que eram sobreviventes dos
outros vilarejos destruídos. Seus vilarejos tinham muros resistentes — embora não tão
fortes quanto os do Vilarejo Carne —, mas ainda haviam sido atacados e abatidos. Mas
esses muros poderiam ter atrasado os atacantes apenas um pouquinho e permitido que
mais pessoas fossem salvas. Enri concordou com essa parte.

“A maneira antiga de pensar não vai levar nosso povo pra lugar algum. Precisamos re-
organizar e proteger, criar a segurança com nossas próprias mãos. Os únicos que podem
fazer isso são os flexíveis e os jovens. Todos precisam da força da juventude.”

Após dizer seus pensamentos, ele olhou calmamente para Enri.

Enri ouviu as palavras do chefe e as considerou seriamente. No começo, ela queria re-
cusar, pois tal responsabilidade era um fardo muito pesado. Se eles fossem atacados da-
quela maneira, ela não tinha certeza se poderia assumir a responsabilidade pelas vidas
de seus colegas. No entanto, como ela havia dito ao chefe agora, isso não era só fugir do
problema?

“Eu não sei se posso lidar com isso, é muita responsabilidade.”

“É natural pensar isso. Eu posso ajudar com a administração, e os Goblins vão te apoiar
nas questões de segurança. Mesmo assim, eu sei que tomar a decisão final assusta bas-
tante.”

“Que tal um conselho de aldeões?”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


113
“Já cheguei a considerar isso. Mas quanto maior o problema, maior a chance de surgir
algo que dividirá o grupo, se cada um puxar a corda pro seu lado, ninguém sai do lugar.
No final, sem alguém que guie todos, não dá pra resolver problemas de maneira eficaz.”

“E se tiver dois sistemas, um pra lidar com as coisas em situações normais e outro pra
emergências?”

“Não vai dar certo porque não prioriza o líder. O povo segue seus líderes quando a situ-
ação fica mais complicada, pois nos tempos de paz esses líderes os fizeram trabalhar
juntos e isso provou o quanto é capaz.”

A vontade do chefe era firme e ele explicou suas razões. Com uma expressão amarga,
Enri fez sua última pergunta.

“...Quando o senhor precisa da minha resposta?”

“Eu não vou te apressar por isso. Tome seu tempo e pense com calma.”

“Sim, senhor.”

Depois de dizer isso, Enri se levantou e saiu.

♦♦♦

Quando ela saiu da casa do chefe, Gokou seguiu atrás de Enri.

“Então, preciso pensar um pouco. Poderia me deixar sozinha por um tempo?”

“Sem problemas, Ane-san. Fique o tempo que precisar. Todo mundo vai te apoiar nisso,
Ane-san. Se precisar de algo, é só avisar.”

“Aviso sim. Até depois.”

Depois de observar Gokou sair, Enri voltou para sua própria casa.

Eu posso ser uma boa chefe?

Enri pensava que não.

Quem sabe, quando chegar a hora, ela pode ter que dar uma ordem que não gosta —
sacrificar os poucos para o bem maior.

Não posso fazer uma coisa dessas...

Todos aqui pensam muito bem de mim. Pra começar, há os Goblins que todos dizem que
são a minha força. Eles nem são aliados que eu fiz com meu próprio carisma e conexões.

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


114
No final, eles só me servem porque usei a trombeta que me foi dada pelo grande Ainz Ooal
Gown.

Esse item foi a primeira boa sorte que o vilarejo recebeu—

Hm? Fui a primeira que ele ajudou? Eu lembro do Gown-sama de máscara, mas... Hm? Ele
sempre usou aquilo?

De repente, a sequência de eventos parecia confusa para ela, mas isso era de se esperar,
dado o caos da situação.

Enri balançou a cabeça para esclarecer suas dúvidas.

Enfim...

Se a trombeta tivesse sido dada a qualquer outra pessoa, essa pessoa teria sido o pró-
ximo chefe, não ela mesma. O que significava que o problema não era uma questão da
competência de Enri, mas simplesmente que o destino decidira deixar cair esse fardo no
colo dela.

Preciso falar com alguém sobre isso...

A primeira pessoa que veio à mente de Enri foi Nfirea. Ele havia morado na cidade
grande antes, visto muitas pessoas, e Enri achava que ele saberia se ela poderia ser a
próxima chefe. E por ser amplamente letrado, ele definitivamente seria capaz de dar-lhe
uma resposta.

Entretanto, o chefe havia dito que Nfirea — ou melhor, os Bareares — haviam aprovado
sua sucessão. Isso significava que mesmo que ela falasse com Nfirea, era muito provável
que recomendasse a aceitar a responsabilidade.

Ele não vai servir... e nenhum dos aldeões também. Com isso resta o Agu e os Ogros, mas o
Agu já tava me tratando como chefe, os Ogros são simplesmente burros.

Neste momento, alguém chamou Enri em sua feição carrancuda com uma voz alegre.

“Eeeaí~? Parece que terminaram a conversa... Uééé? Qual foi, que olhar estranho é esse?
Enri, qual o problema ~su?”

Essa voz fez Enri se mexer, como se eletricidade estivesse passando por sua pele. Isso
mesmo. Ela era uma pessoa de fora, uma terceira parte neutra que podia avaliar calma e
logicamente a situação.

Enri correu em direção a Lupusregina com todas as suas forças.

“Lupusregina-san!”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


115
Ela apertou firmemente os ombros da empregada surpresa.

“Que-que isso? Essa nããão! Meu coração tá até acelerado. Por favor não se confesse pra
mim ~su. Não sou lésbica, eu gosto de homens. Nããããooo! Me solta~! Eu vou ser estu-
prada ~su.”

“Calma! Fala baixo, por favor!”

As mãos de Enri deixaram os ombros dela, porque ela estava planejando cobrir a boca
de Lupusregina. Mas Lupusregina esquivou da mão de Enri e sorriu para ela.

“Ahhhh, foi mal, não resisti. Você precisava de uma animada, aí quis te dar uma ajudinha.
Foi só uma piadinha ~su.”

“Piada de mau gosto, isso sim...”

Enri abaixou os ombros. No entanto, ela imediatamente se recuperou novamente. Lu-


pusregina era uma pessoa que surgia e sumia do vilarejo como bem entendesse e, se não
aproveitasse essa oportunidade, ela desapareceria de novo.

“Pode me ouvir, por favor? Preciso de sua opinião pra algumas coisas.”

“Não sei se eu sirvo, mas a gente vai conversando enquanto anda, que tal ~su? Vai que
os aldeões desconfiem da nossa relação, não quero isso não ~su.”

O rosto de Enri ficou vermelho vivo. Lupusregina até tinha razão. Contudo—

“Era só não gritar que eu ia de estuprar, mas que coisa...”

“Tehe~.”

Lupusregina mostrou a língua para Enri de uma maneira adorável.

“Você— Sabe me envergonhar, Lupusregina-san!”

“Qual é... Vem, vamos andar um pouco ~su.”

Sem esperar por uma resposta, Lupusregina partiu e Enri seguiu.

“Bem, conte seus problemas pra Lupusregina-oneesan aqui — eu posso te ensinar todo
tipo de coisa, desde coisas pervertidas à sedução de homens ~su.”

“Ah, jura? Deve ser bem experiente então, Lupusregina-san...”

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


116
Para Enri, que não sabia nada sobre esses assuntos, ela certamente parecia adulta o
suficiente. Não houve mudança óbvia, mas por algum motivo Lupusregina parecia mais
madura agora.

“Hehe, é porque eu sou uma mimidoshima, afinal de contas.”

“...Hã?”

E o que diabos é mimidoshima?

Enquanto Enri ponderava sobre o estranho termo, Lupusregina a chamou com um


gesto de “vem cá”, indicando que ela deveria fazer suas perguntas. Enri começou a contar
o que havia acontecido na casa do chefe.

“Então, o que eu faço agora?”

“Hm? Sei lá.”

Isso foi tudo.

“Ei— você não acabou de dizer que eu poderia contar meus problemas?”

“Sim, ué, mas eu nunca disse que ia te responder, ou disse... hm, bem, tanto faz ~su. Para
começar, se está sendo forçada para essa posição e sabe que vai se arrepender, é melhor
não aceitar. Sempre tenha em mente os seus limites, até onde aguenta.”

A garota despreocupada habitual tinha ido embora, e em seu lugar havia uma beldade
misteriosa. Os olhos antes abertos estavam estreitados, e seu sorriso fino enviou um ar-
repio por sua espinha.

“Mas é só minha opinião, eu não estou dizendo o que deve fazer ou algo assim. Você
deve se sentar e pensar com calma nisso. Sendo franca, não importa se você ou outra
pessoa será o chefe, quem assumir essa responsabilidade vai errar cedo ou tarde. Há
apenas Quarenta & Um seres que nunca cometeram um erro. Então, não faz sentido se
preocupar com o que acontecerá se falhar. Mas se realmente pensar nisso com calma,
ninguém é mais adequado para o trabalho do que você.”

“Como assim?”

“Pergunte aos Goblins. Se o vilarejo for atacado por monstros assustadores e eles sou-
berem que não podem ganhar, o que acha que vão fazer? Agora imagine o que vão fazer
com você sendo a chefe e não sendo a chefe.”

A expressão de Lupusregina mudou novamente, e ela estava de volta ao seu eu alegre.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


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“Ahhhh, nossa que chatice. Haaa, isso não combina comigo ~su. Hum, seria tão mais
divertido se não se tornasse a chefe, imagina se uma grande tragédia acontecesse com o
vilarejo, En-chaaaan.”

“—Eh?”

“Hehe~.”

Lupusregina sorriu e acariciou o ombro de Enri.

“Mas cá entre nós, acho que você sai se sair muito bem, En-chaaan! Se não acredita...
por que não pergunta àquele mocinho ali ~su?”

Depois de tirar a mão do ombro de Enri, Lupusregina deu meia volta. Foi um movimento
que parecia distante de qualquer conceito da palavra “fricção”.

“Te vejo por aí ~su.”

Lupusregina se afastou, as mãos acenando pelo ar. Na frente dela estava Nfirea segu-
rando a mão de Nemu. Lupusregina deu um tapinha no ombro de Nfirea e, como se ti-
vesse acionado um interruptor, os dois voltaram à vida.

“Você voltou, onee-chan!”

Nemu deve ter ficado muito preocupada, porque ela abriu um grande abraço enquanto
corria a toda velocidade para Enri. Por um momento, Enri achou que ela poderia cair,
mas seus robustos músculos das pernas absorveram o impacto.

“Bem-vinda, Enri. Voltou mais cedo do que o esperado. Não quis dormir na cidade?”

“Obrigada pelas boas-vindas. Não, dormimos no cerrado ontem à noite.”

“Então é por isso... que bom que não tenha sido atacada por monstros. Mas fazer isso é
bem perigoso. Os Goblins são fortes, mas ainda há monstros que são mais fortes que eles.
Mesmo não tendo visto nenhum daqueles perto das planícies...”

“Nee-san, não faça coisas perigosas!”

Nemu disse enquanto se agarrava firmemente às roupas de Enri. Enri era o único mem-
bro da família sobrevivente que sua irmãzinha tinha. Sua vida não era mais apenas dela.
Parece que ela esqueceu esse pequeno detalhe.

“Vocês têm razão. Me perdoam?”

Enri sorriu e gentilmente bagunçou o cabelo de Nemu.

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


118
“Mm! Tá perdoada!”

Nemu olhou para cima e sorriu.

“Obrigada. Falando nisso, tem sido uma boa menina, Nemu? Não deu problemas ao Enfi,
né?”

“Já sou grande~ oneechan! Eu não sou mais uma criança! Não é, Enfi-kun?”

“Ahaha... bem, eu tenho tratado a tribo do Agu, então eu não fiquei tomando conta dela
o tempo todo, mas confio que a Nemu se comportou bem.”

“Como é, Enfi-kun? Ei, nee-chan sabia que o Enfi-kun é fedorento!?”

“Nemu-chan! Aquilo é o cheiro de ervas! Quando amassa sai esse cheiro, você não disse
que suas mãos fediam também?”

“Essas manchas aí são de ervas?”

“...Não, é diferente. Isso é de fazer itens alquímicos, então não sou fedido ou qualquer
coisa assim.”

“Mas sempre que chego perto, voce tá fedendo, por quê, Enfi-kun?”

O rosto de Nfirea congelou.

“Mm, é porque o Enfi sempre usa suas roupas de trabalho. É só ele tirar as roupas de
trabalho que para, né, Enfi?”

Enri tentou explicar as intenções de sua irmãzinha, e o rosto de Nfirea se suavizou ao


ouvi-la.

“É que eu não tenho muitas roupas, embora... em E-Rantel eu usava isso o tempo todo.”

“O que me diz se eu fizer um conjunto novo pra você?”

“Eh? Sabe fazer?”

“Enfi, não sou moça da cidade, esqueceu? Sei fazer minhas roupas simples sozinha.”

“Mesmo? Eu comprei todas as roupas que tenho, ser capaz de fazer suas próprias é in-
crível.”

“Ah, obrigada. Mas todo mundo aqui sabe dessas coisas... Nemu, é melhor já ir come-
çando a aprender também.”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


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“Táá~!”

“Ei, Nemu, por que não vai na frente? Eu preciso discutir algo com o Enfi.”

Nemu cobriu a boca com as mãos, mas o sorriso já estava fazendo seus olhos brilharem.

“Ah! Já sei! Pode deixar, eu vou primeiro. Faça o seu melhor, Enfi-kun!”

Nemu acenou para eles, então voltou para casa saltitando.

Enri a observou quando ela saiu, murmurando para si mesma.

“Por que ela tá tão obediente? Estão tramando algo, é?”

“Não, acho que não... mas tem coisas mais importante agora. Você ia me dizer alguma
coisa? Acho que sei, participei da reunião ontem.”

Sendo esse o caso, eles poderiam pular muita conversa inútil. Enri disse a Nfirea o que
ela e o chefe haviam discutido.

Isso não foi tudo. Ela também contou tudo sobre sua inquietação e sua discussão com
Lupusregina. Depois que terminou, Nfirea olhou Enri diretamente nos olhos e falou:

“Você deve fazer o que acha certo, Enri. Não importa qual seja a sua resposta, eu sempre
irei te apoiar... ugh, frase clichê, né? Mas é isso, eu gostaria que virasse a nova chefe.”

“Por quê? Eu sou apenas—”

“Nada disso. Você não é apenas uma simples aldeã do vilarejo. Você é a líder dos Goblins,
Enri Emmot. Fica pensando que a força dos Goblins não é sua força, é isso? Mas no final,
os Goblins são realmente sua força. Lupusregina disse para perguntar a eles, mas vou
explicar. Se você não for a chefe e o vilarejo ficar em perigo, os Goblins vão evacuar você
e deixar todo mundo para trás.”

“Nem pensar! Eles nunca fariam uma coisa dessas!”

“...Em tempos de paz não fariam mesmo. Mas na hora do desespero é isso que farão.
Eles mesmos já me disseram isso.”

“Não pode ser...”

Enri olhou incrédula para Nfirea. Ela tentou captar qualquer sinal de mentira, mas não
pôde sentir qualquer falsidade.

“O que importa para eles não é o vilarejo, é você. Mas caso se torne a chefe, então o
vilarejo se tornará sua propriedade, e os Goblins lutarão por todos até o amargo fim.

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


120
Pode não parecer uma grande diferença, mas na verdade é. Até me disseram que se uma
emergência acontecer, era para eu pegar a Nemu e tentar acompanhar vocês fugindo.
Enri... é só perguntar eles. Mas se perguntar, peço não revele que eu te disse isso, pois é
meio que um segredo.”

“Eu não vou perguntar nada.”

Nfirea levantou o cabelo quando ouviu a resposta curta e direta, revelando seus grandes
olhos.

“Tem certeza? Talvez eu esteja menti—”

“—Não está. Você nunca mentiria pra mim. Eu confio em você. Mas é quê... eles só me
dão importância porque e eu assoprei a trombeta.”

“Acha mesmo que é só por isso, Enri? Você se importa com eles, compra coisas para eles
também. Não acha que farão de você a principal prioridade por causa disso? ...Talvez não
tenha notado, mas os Goblins nunca receberam nada dos aldeões, pois a maioria das
pessoas os veem como os monstros que você conjurou. Um lado os trata como amigos,
enquanto o outro como servos. Quem acha que vão favorecer?”

É claro que nenhum dos aldeões diria esse tipo de coisa em voz alta. No entanto, era
verdade que ela não conseguia se lembrar de nenhum dos moradores os agradecendo
de maneira concreta.

“...Mas, os aldeões fazem o almoço pros Goblins de vez em quando.”

“É uma forma de agradecerem a você, não a eles. Eles pagam por emprestar a força deles
pagando um almoço, caso contrário iria comer na sua casa. Pense bem, lembra de alguém
aqui chamar algum deles pelo nome?”

Não havia ninguém. No começo, ela pensou que era simplesmente porque eles não po-
diam distingui-los, mas talvez porque nunca tiveram a intenção de distingui-los desde o
começo.

O pensamento encheu o coração de Enri com desolação.

“Tem razão.”

No entanto, em sua voz não era simplesmente desânimo, mas seus olhos brilhavam com
a luz da determinação.

“Então... É por isso que eu sinto que você será uma boa chefe. No mais simples dos casos,
quando for a chefe, até a vida dos Goblins vai mudar para melhor.”

“...Todos vão me ajudar, né?”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


121
“Claro. Difícil vai ter alguém aqui que não vai querer ajudar.”

“Tudo bem. Então, eu vou aceitar ser a chefe. É melhor eu ir fazer isso antes que eu
mude de idéia!”

Nfirea sorriu ao ouvir a declaração de Enri.

Seu sorriso foi gentil, mas austero. Era como se ele entendesse que ela estava esperando
por um último empurrão nas costas.

“Assim que se fala! Boa sorte, Enri!”

Ela assentiu em resposta, e depois sem olhar para trás, pôs o pé no caminho para se
tornar a nova chefe do Vilarejo Carne.

♦♦♦

Do céu, Lupusregina pôde ver que quase todos no vilarejo estavam reunidos na praça.
Enri caminhava até eles, quando chegou se virou para todos. Lupusregina não podia ou-
vir o que Enri estava dizendo.

Enri parecia ter terminado e os aldeões aplaudiram.

“Hm... que desfecho interessante ~su. Ahhhh, que divertido, uhihihi~!”

“—O que é tão divertido?”

A voz de trás fez com que Lupusregina se virasse para encarar.

“Oya~ se não é a Yuri-nee. Tá usando um item mágico pra voar, né?”

“Correto. Ainz-sama concedeu isso a mim pessoalmente. Este seria... o Vilarejo Carne, é
isso? Por isso você foi repreendida pelo Ainz-sama.”

“É ~su. Haah, a verdadeira diversão está prestes a começar~.”

“O que quer dizer?”

“Uma nova líder acaba de surgir dentro do vilarejo. Para os aldeões, eles estão prestes
a virar uma nova página em sua história, para um novo mundo de possibilidades. Fico
imaginando o que aconteceria se, neste momento glorioso, o vilarejo fosse atacado e
tudo virasse pó. Eu me pergunto quais feições eles teriam?”

Seu rosto alegre e bonito desabrochou, e algo fluiu de dentro que só poderia ser descrito
como maligno.

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


122
“E eu pensei que se desse bem com essa gente. No fundo do seu coração, é apenas isso
que sente?”

“Isso mesmo, Yuri-nee~ sem tirar nem pôr ~su. Fico excitada toda vez que penso neles
sendo brutalmente pisoteadas como insetos.”

“Você é uma sádica completa. Tão má quanto a Solution. Por que minhas irmãs mais
novas gostam disso? Minha única salvação é a Shizu, francamente... ainda suponho que
a Entoma não seja uma menina má.”

Lupusregina riu quando sua irmã mais velha resmungava e franzia as sobrancelhas.

“Ah~ será que vão ser destruídos depois tanto tempo gasto ~su?”

Parte 4

“Ah, que canseira.”

Enri largou a pequena lousa que estava segurando na mesa e desabou, sem energia. Ela
ouviu uma risada silenciosa e, quando se virou para olhar para a fonte, viu o professor
(Nfirea) lá com um sorriso no rosto.

“Você se esforçou bastante, Enri.”

“É muuuito difíííícil... não tenho cabeça pra isso...”

“Precisa aprender a ler e escrever, você sabe disso.”

A resposta de Enri foi um lamento triste.

Ela precisava de um nível básico de educação já que assumira a responsabilidade de


chefe, e era por isso que Nfirea a instruía pessoalmente, mas a cabeça de Enri parecia
estar latejando.

“Essas letras bobocas, só complicam as coisas, quem foi inventar isso...?”

“Não diga isso. Você já aprendeu a escrever seu próprio nome, não é? E a Nemu-chan
também.”

“Mm... bem, pelo menos isso... não consigo me virar apenas com isso?”

“Nem pensar! Estas são apenas o básico. Pense desse modo; você só começou a apren-
der por cinco dias, nós ainda não alcançamos as partes importantes.”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


123
Um olhar que dizia “Só pode ser brincadeira uma coisa dessas” apareceu no rosto de Enri.

“Ahhh, não faça essa cara. Depois de aprender o básico, tudo o que resta é aplicar na
prática. É por isso que elas são tão importantes.”

“...Uuug~.”

“Sei que está cansada. Vamos parar por aqui hoje.”

Enri se levantou da cadeira como se esperasse que ele dissesse exatamente isso.

“Ainda bem! Vamos terminar cedo amanhã também! Obrigada, Enfi!”

Nfirea sorriu fracamente antes de limpar as letras semelhantes a arranhões de galinha


da lousa.

“É melhor ir descansar um pouco. Amanhã começaremos no mesmo horário.”

“Estou feliz que tenha tirado parte do tempo nos seus experimentos pra me ensinar
tudo isso. Mas eu não me sinto grata de jeito nenhum...”

“Mm. Mas você precisa. É melhor um professor ser odiado por seus alunos do que ser
apreciado por eles.”

“Que mentira, e das cabeludas!”

“Ahahaha. Ah, vou ir fazer meus trabalhos agora. Boa noite, Enri.”

“Pra você também. Não vá trabalhar até tarde e durma cedo, hein.”

Nfirea sorriu para mostrar que entendia e saiu pela porta da frente. Depois de observar
a partícula flutuante de sua luz mágica recuar na distância, Enri voltou para sua casa. Na
escuridão, parecia especialmente solitária.

“Ah— cansei...”

Enri preguiçosamente tirou a roupa e se enfiou embaixo das cobertas. Havia tantos ba-
rulhos quando aprendia, mas agora tudo que podia ouvir eram os sons fofos de sua ir-
mãzinha dormindo. Enri fechou os olhos em silêncio.

Tendo esforçado tanto seu cérebro, Enri tinha certeza de que cairia no sono imediata-
mente. Assim como esperava, ela desmaiou segundos depois de fechar os olhos.

Ela não sabia quanto tempo tinha dormido, mas um som distante a despertou de seu
sono.

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


124
Três batidas. Uma pausa e depois mais três batidas.

Enri percebeu o que aquele ritmo significava e então forçou os olhos a se abrirem na
escuridão. Sua mente acordou com velocidade anormal e percebeu que ainda estava em
casa, e então ela praticamente pulou da cama. No mesmo momento, sua irmã também
acordou.

“Você tá bem?”

“Mm.”

Sua voz tinha um tom de medo, mas parecia que ela ainda podia se mover.

“Vista alguma coisa, agora!”

“Mm!”

Acender uma lâmpada despenderia muito tempo, então Enri se preparou para fugir no
escuro.

Quando o som dos sinos tocou, Enri e Nemu se prepararam rapidamente. A rapidez foi
uma velocidade nascida não apenas de repetidos exercícios de evacuação, mas do velho
terror que restava de quando o vilarejo havia sido atacado no passado. E depois de ouvir
as palavras de Agu, ela teve uma idéia do que estava por vir.

“Nemu! Vá pro ponto de encontro! Eu cuido de mim!”

Sem esperar pela resposta da irmã, Enri pegou a mão de Nemu e saiu correndo pela
porta.

O sino ainda ecoava alto, informando a todos que havia uma situação de emergência.
Além disso, sinalizou que definitivamente estavam sob ataque.

Um canto de seu coração ainda esperava que fosse apenas um dos muitos exercícios de
treinamento, mas o frio no ar negava isso. Foi o mesmo frio que ela sentiu quando os
soldados atacaram antigamente.

Quando se aproximaram do ponto de encontro, Enri empurrou Nemu para a frente.

“Tudo bem, vá!”

Nemu acenou com a cabeça muito ligeiramente em resposta e, em seguida, correu em


direção ao ponto de encontro sem olhar para trás.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


125
Depois de fazer isso, Enri foi brevemente preenchida com o impulso de segui-la, para
ter certeza de que pelo menos entrou no abrigo antes de sair.

No entanto, como uma chefe agora — mesmo fazendo poucos dias —, Enri teve que
considerar como ela iria evacuar todo o vilarejo.

Se eu não tivesse sido nomeada, ou se eu tivesse sido nomeada há mais tempo...

Esses sentimentos agora fluíam incontrolavelmente de seu coração.

“É como se algum deus do mal gostasse de azucrinar a gente.”

Sem pensar, Enri deixou as palavras escaparem de sua boca. Este era o pior momento
possível para algo assim acontecer.

“Ane-san!”

Um Goblin correu até Enri.

“O que é isso? O que tá acontecendo!?”

“Encontramos monstros na floresta. Alta chance de atacarem a gente.”

“Entendido, vamos logo!”

Com o Goblin liderando o caminho, Enri logo chegou ao portão principal. Ela viu que as
barricadas noturnas estavam armadas e os Goblins estavam reunidos. Eles pareciam ve-
teranos experientes nas armas e armaduras que Enri havia comprado para eles.

Quando se aproximou, sentiu um fedor no ar, o que deixou Enri indiferente ao fato de
que havia Ogros presentes. Os Ogros agarravam seus novos tacapes, que pareciam rús-
ticos e ameaçadores.

Enri e o Goblin alcançaram o portão principal ao mesmo tempo que o ofegante Nfirea e
os membros da força de autodefesa liderada por Britta. Além disso, Agu e alguns de seus
companheiros Goblins, aqueles cujas mentes se recuperaram o suficiente do trauma e
estavam prontos para lutar, se juntaram a eles também.

“Esse é o pessoal que temos? E a Lizzie-san? Alguma coisa a deteve?”

A avó de Nfirea, Lizzie, era uma magic caster habilidosa por si só. Por direito, ela deveria
ter participado na defesa do portão principal.

“Não, a Obaa-chan não virá. Ela está no ponto de encontro. Defender lá é importante
também.”

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


126
Os aldeões assentiram enquanto ouviam as palavras de Nfirea. Como os membros de
sua família haviam fugido para o ponto de encontro, também precisavam mantê-los em
segurança.

“Enviamos nossos caras que não são bons com arcos por ali. Tem muita gente forte aqui,
pode despachar alguém para ir até lá e manter os ânimos elevados?”

“Não podemos fazer isso.”

Jugem recusou terminantemente o pedido de Britta.

Jugem e os outros não haviam feito isso por malícia em relação aos aldeões com quem
ele havia vivido e trabalhado. A tensão crescente fez Enri engolir, Jugem explicou sua
posição.

“Há muitos monstros. E há muitas outras espécies, além de Ogros. Dividir-se seria muito
perigoso.”

“Sabe mais ou menos quantos?”

“Britta-san, o inimigo estava à espreita na floresta. Não há como julgar com precisão
seus números. Mas conseguimos obter uma estimativa... sete Ogros, várias Cobras Gi-
gantes, vários Wargs, várias formas parecendo Barghest e algo enorme seguindo atrás
deles.”

“Wargs viajando com Cobras Gigantes e Ogros? Existe um druida por trás deles?”

Wargs são feras mágicas que pareciam lobos, mas maiores. Eram mais espertos que
lobos, estaria na pior se os encontrasse na floresta.

“É bem possível. Para piorar, só falta terem um magic caster junto. É certo supor que
também atacarão à distância. Seria melhor organizar todo o nosso poder de luta aqui,
não? Devo chamar a Obaa-chan?”

“Isso... é difícil dizer, Ani-san. O ponto de encontro é um dos edifícios mais sólidos aqui.
Se alguma coisa acontecer, lá será a linha defensiva final, o bom que tem uma torre. Lá
precisa ser protegido e ela vai dar conta disso.”

“...Bem, então vamos recuar enquanto lutamos? Aonde vou lutar?”

“Britta-san, você vai liderar a força de defesa. Espero que possa transmitir claramente
minhas ordens para eles e fazer o que a situação exigir.”

“Então, vamos usar a estratégia anti-invasão dois? Recapitulando, fazer deles porcos-
espinhos de flechas, usar as barricadas e aproveitar a distância para apunhalar com as

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


127
lanças entre as brechas. É uma boa escolha, não precisa ter mira precisa, é só manter a
cadência.”

“Isso, contamos com você. O problema é que os Wargs e Barghests são muito ágeis. Se
deixar eles andarem por aqui atoa vão causar muitos danos. Mire neles primeiro. E por
fim, se o druida aparecer, se importaria de voltar?”

“Nada contra, mas tem gente suficiente na frente se a força de defesa recuar?”

“...Se a sorte tiver do nosso lado, sim.”

“É... como eu pensei, é melhor dizer a todos para estarem prontos para morrer. Pelo
menos vamos estar nos fundos, nossas chances são maiores. Vamos atacar sim se tiver
um druida à distância. Sabe... eu já fui uma aventureira e passei por poucas e boas, mas
esta é a primeira vez que vi aldeões tão corajosos... muito mais se comparado quando eu
vi eles treinando com arcos.”

“Isso é porque o vilarejo foi atacado no passado... odiamos lembrar que tanto que a
gente foi impotente.”

Enri, que estava em silêncio até agora, concordava com os sentimentos de todos os
membros das forças de defesa.

A verdade era que, apesar de seus rostos pálidos, ninguém aqui queria fugir. Eles ti-
nham que ficar e lutar, tinham que proteger seu vilarejo, suas famílias. Afinal, seus ami-
gos e entes queridos estavam por trás deles.

“Por falar nisso, uma tropa tão grande deve ter sido reunida por um ser poderoso. Já
podemos assumir que foram enviados pelo Gigante do Leste ou pela Serpente Demônio
do Oeste?”

“Acho que sim.”

Jugem confirmou suavemente as suspeitas de Britta.

Se fosse esse o caso, significaria que Agu tinha atraído os monstros aqui. Foi por isso
que Jugem baixou a voz, para que a força de defesa não percebesse e direcionasse sua
agressividade para Agu.

Eles já tinham contado aos aldeões sobre o Gigante do Leste e a Serpente Demônio do
Oeste, bem como o fato de que seu poder rivalizava com o do Sábio Rei da Floresta.

Embora a Besta Mágica do Sul tivesse sido domada pelo Herói Negro, a forma e a pre-
sença do poderoso monstro haviam sido gravadas indelevelmente nos corações dos al-
deões. O medo era a resposta apropriada ao pensamento de lutar contra algo no mesmo
nível que isso, inimigos que eles não tinham chance de derrubar.

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


128
“Então a Serpente Demônio do Oeste usa magia estranha? Porra, que saco.”

Nfirea acenou para Britta, resmungando.

“Geralmente, os monstros com magias raciais não têm mais de dez, mas se forem do
tipo que pode praticar e aprender magia, então o céu é o limite e seria problema dos
grandes. Se souberem magia capaz de permitir que atravessem paredes, então...”

“Fico feliz que o Enfi e os Goblins possam usar, mas saber que outros lá fora podem usar
também... nossa, será injusto demais.”

Enri disse isso em um tom infeliz, que atraiu sorrisos sombrios dos aldeões.

“...Mas não digam ao Gown-sama que eu disse isso, tá bom?”

O termino da frase fez os aldeões sorrirem.

Isso deve aliviar um pouco as coisas, pensou Enri. Embora fosse ruim se estivessem
muito relaxados, ficar muito tenso também os impediria de lutar efetivamente. O clima
agora parecia certo.

Jugem olhou agradecido para Enri. Parece que ele entendeu esse ponto também.

“Força de defesa, fiquem despreocupados. Mantenham a distância e atirem. Vamos lidar


com a vanguarda.”

Os Goblins haviam treinado a força de defesa precisamente para momentos assim, en-
tão essa era a melhor maneira de implantá-los.

Reunir espadas e armaduras suficientes para equipar todos na força de defesa era
muito difícil em um pequeno vilarejo, que nem ferreiro tinha. Além do mais, eles ainda
eram aldeões. Podem ter braços fortes de tanto usar enxadas e pás, mas isso não se tra-
duz em habilidades de espada. Apenas um gênio poderia treinar-se para ser um guer-
reiro capaz de derrotar monstros em seu tempo livre entre as tarefas.

Com esses pontos em mente, os Goblins perceberam que não poderiam treinar a força
de defesa a um nível em que pudessem lidar com o dever da vanguarda. Em vez disso,
eles decidiram ensiná-los a usar arco e flecha para deixá-los lutar na linha de trás.

Embora sua técnica tenha melhorado ao ponto de atingirem seus alvos, eles não conse-
guiam puxar os arcos longos que tinham bom poder de penetração, tornando difícil in-
fligir dano a monstros de pele grossa. Porém, se tivessem sorte e disparassem sincroni-
zadamente, havia uma chance de que pudessem atingir um ponto vulnerável.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


129
“Certo, assim como treinamos, alinhamos e miramos no outro lado do portão! Agu, você
só vai agir depois que o portão principal for quebrado. Fique junto com a força de defesa
e perfure eles com lanças. Obedeça aos comandos da Britta-san como se eles viessem da
Ane-san!”

“Ohhh! Conta comigo!”

“Esse é o espírito. E preste atenção, eu te proíbo de fugir. Solte sua raiva neles, até mor-
rer.”

“Tá! Eu vou retribuir a gentileza que cês mostraram pra mim, vou pagar em dobro! Ei,
por que não me colocar na linha de frente com os Ogros?”

“Mas você é um pirralho idiota, hein!? Se eu te deixasse fazer isso, acabaria morrendo
em poucos segundos. Mas se um dia ficar forte, eu te coloco lá!”

Depois de ser repreendido pelo líder, o rosto de Agu encheu-se de arrependimento e


alguns membros da força de defesa foram consolá-lo.

Enri suspirou aliviada ao ver isso. Por um lado, significava que os aldeões não o viam
como a razão para trazer os monstros para dentro. Por outro, era a prova de que Agu foi
aceito pelos aldeões.

Eles foram os últimos forasteiros a chegarem no vilarejo. Embora não tivessem sido
evitados ou maltratados, ainda havia uma barreira os separando. Contudo, do ponto de
vista das coisas, essa lacuna desapareceria se saíssem triunfantes. Era irônico que o
campo de batalha fosse o melhor lugar para construir laços de amizade.

Ela sentiu que a divisão de Agu lutaria ferozmente. Seu objetivo era contribuir e elevar
a posição de si mesmo e de seu povo. Era o mesmo na sociedade humana, que respeitava
aqueles que derramaram sangue por eles. Considerando que o status de seu pessoal de-
pendia muito de como Agu e seus dois amigos mostrariam seu valor, era natural que ele
estivesse tão entusiasmado por isso.

“Enfi, preciso te pedir uma coisa, se possível.”

Enri ficou ao lado de Nfirea e sussurrou em seu ouvido.

“Oh, não, mas é um pouco— ah. Mm, sei. Então— Agu, eu tenho algo para confiar a você
e seus amigos, tudo bem? Eu vou te dar meus itens alquímicos, então eu espero que você
os use com sabedoria.”

Nfirea abriu sua mochila. Dentro havia muitos frascos e saquinhos de papel.

“Use estes e arremesse nos inimigos. Vai errar se estiver muito longe, então tente usar
à médio alcance... posso te confiar isso?”

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


130
“Deixa comigo! Vou fazer tudo direitinho!”

Agu aceitou a bolsa e, enquanto esperavam, um dos Goblins gritou para eles.

“Estão em movimento! Sem dúvida, eles virão por lá!”

Se alguém prestasse atenção, poderia ouvir os sons de muitos monstros na noite.

“Força de defesa para suas posições! Ane-san, cuidado! Ani-san, você também!”

“Tá! Entendi! Não morram, é tudo que eu peço, isso vale pra todos vocês!”

“Pode contar com isso! Então, vamos lá, Enri!”

Nfirea correu até Enri como sua escolta. O trabalho deles era inspecionar cada casa para
ver se alguém não havia notado a emergência.

♦♦♦

Enquanto observavam Enri sair, os Goblins foram para as estações de batalha.

“Força de autodefesa, a seus postos. Esperem o inimigo entrar na área alvo.”

Não havia linha direta de fogo para os monstros do lado de fora do muro. Eles precisa-
riam atirar em uma parábola para fazê-lo, mas os amadores não podiam fazer isso e não
tinham tempo para treiná-los nesse nível. Portanto, os Goblins responsáveis pelo treina-
mento da força de defesa decidiram especializá-los em uma única tarefa.

Eles treinaram a força de defesa para acertar flechas no outro lado do muro. Isso signi-
fica aprender o quanto de força usar, e praticar o ângulo certo para atirar, a fim de acer-
tar com precisão uma área específica. Era um treinamento que seria completamente inú-
til fora de circunstâncias muito específicas. No entanto, uma vez que o objetivo do ini-
migo era derrubar o portão e eles estavam concentrados na frente dele para atacar o
portão, o treinamento se provaria muito eficaz.

Os gritos dos monstros se aproximaram, e o portão principal estremeceu sob uma série
de impactos que podiam ser sentidos nos muros próximos também.

“Ótimo! Inimigos entraram na área alvo! Fogo supressão — começar!”

“Aqui vamos nós!”

Em resposta ao grito de Jugem, os Goblins Arqueiros nas torres de vigia — Shuringan e


Gurindai — começaram a atirar. Enquanto o alvo estivesse dentro de sua linha de fogo,
os Goblins não poderiam errar. Gritos de agonia surgiram do outro lado do portão.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


131
O barulho horrível do campo de batalha encheu o ar, fazendo os membros da força de
defesa tremerem de medo e nervosismo. Em meio a tudo isso, Jugem gritou mais uma
vez.

“Força de defesa — aguardar! Não levante seus arcos até que seja ordenado!”

Eles foram orientados a não atirar enquanto o inimigo não tivesse chegado ao local em
que haviam passado incontáveis horas aprendendo a atirar. Entretanto, no instante se-
guinte, todos que olharam para as torres entenderam a razão disso.

Rochas foram arremessadas do outro lado do muro. Cada uma tinha o tamanho de uma
cabeça humana.

Embora muitas tenham errado, até mesmo um golpe de sorte nas torres de observação
os fez tremer visivelmente.

“Lançadores de pedras confirmados! Eles têm muita munição amontoada!”

“Cada um tem cerca de três pedras e cerca de vinte e uma pedras no total— Cacete!”

Outra rocha lançada atingiu uma torre de vigia e a madeira se estilhaçou.

Se eles começassem a atirar, a força de defesa se tornaria alvos também.

Era verdade que a força de defesa estava fora de vista do inimigo e sua precisão seria
baixa. No entanto, se eles fossem azarados, um único golpe poderia matar pessoas.
Mesmo uma rocha mal atirada poderia ferir gravemente alguém.

Pode-se dizer que Jugem ordenou que eles não atacassem por segurança. Também mos-
trou que Jugem não queria que ninguém morresse antes que a batalha prolongada pu-
desse começar.

“Não vão se achando porque acertaram essa pedrinha, a gente vai te por pra comer ca-
pim!”

Gurindai gritou com raiva, e começou a atirar novamente enquanto desviava da sarai-
vada de pedras arremessadas. A força de defesa não conseguia tirar os olhos dele, ob-
servando o modo como ele destemidamente respondia com disparos, mesmo sabendo
que seria gravemente ferido se fosse atingido. Contudo, Jugem não deu atenção a isso.
Ele rapidamente examinou o campo de batalha e encontrou novos inimigos em um ins-
tante.

“Kyumei! Cobras escalando no flanco esquerdo! Consegue lidar com isso sozinho?”

“Sem problemas, Líder! Deixa comigo!”

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


132
Kyumei, que estava parado na retaguarda, incitou seu lobo para frente. À sua frente
estavam as Cobras Gigantes subindo o muro.

“Quinze, dezesseis! Vocês dois aguentam um pouco mais!”

Não havia necessidade de palavras de Jugem. Nenhum indício de medo podia ser visto
nas posições de tiro dos dois arqueiros no topo da torre de vigia. Embora a torre desa-
basse sob eles mesmo sem mais ataques, eles continuaram mirando nos monstros e pro-
vocando ataques de pedra. No flanco esquerdo, Kyumei parecia estar bem contra as co-
bras.

Finalmente, a torre de vigia inclinou-se e quebrou sob a barragem de pedras atiradas.


Shuringan e Gurindai saltaram para o chão, rolando várias vezes para dispersar o im-
pacto de sua queda.

“Arqueiros da força de defesa prontos!”

Em resposta ao chamado, os arqueiros prepararam seus arcos.

“Respirem fundo! Puxa — Solta! Puxa — Solta!”

Essa voz era como o treinamento deles e, por um momento, os arqueiros da força de
defesa esqueceram que estavam no campo de batalha. Eles ignoraram o som das madei-
ras rangendo e executaram os mesmos movimentos que aprenderam durante a prática.

“Disparar!”

Quatorze flechas traçaram belas parábolas pelo céu e desapareceram atrás do muro,
tirando mais gritos de dor dos monstros.

“Incrível.”

Murmurou para si mesmo, mas Jugem não teve tempo para se preocupar.

“Segunda onda preparar! — Não entrem em pânico! — Respirem fundo! Puxa — Solta!
Puxa — Solta!”

A esta altura, Shuringan e Gurindai foram curados e tomaram seus lugares na força de
defesa.

“Disparar!”

Mais uma vez, quatorze flechas voaram para a frente, seguidas um pouco depois por
outras duas. A porta rangeu mais alto quando os gritos do inimigo se intensificaram. As
flechas devem ter os deixado com raiva — e os fizeram bater mais forte.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


133
“Deem apoio! Troquem de armas!”

A força de defesa moveu-se em grupo atrás das barricadas posicionadas atrás do portão
principal. Qualquer um que estivesse entrando ficaria preso nas barras e pontas do obs-
táculo. O arranjo estava em forma de “L”, levando os atacantes até onde Jugem e os Ogros
estavam esperando por eles. Para os intrusos, romper o portão seria como saltar da fri-
gideira para o fogo.

“Se virem qualquer magic caster, saiam do seu raio de visão!”

“Líder!”

“Qual o problema, Agu?”

“O Ani-san me deu esses itens alquímicos, tem até cola aqui no meio, quer que eu use
onde?”

“Será absorvido pela lama?”

“Sim, mas ele disse que só diminuiria a duração do efeito.”

“Então sim, espere por uma boa oportunidade e jogue na entrada.”

Depois de mostrar que eles entenderam, Agu e seus companheiros de tribo se afastaram
como um só. Kyumei retornou após derrotar as Cobras Gigantes e se dirigiu imediata-
mente ao Goblin Clérigo para receber a cura.

Ouviu-se o som de madeira se despedaçando e um dos lados do portão principal estava


abaixado. Inimigos Ogros surgiram através da brecha.

“Huhu, são uns burros mesmos.”

Jugem zombou dos novos inimigos. Eles haviam cometido um erro fatal.

Os monstros só tinham quebrado um lado dos portões. Uma vez que o lado estava para
baixo, eles desistiram de quebrar o outro lado e forçaram sua entrada, especialmente
porque tinham medo de ser atingidos por flechas se permanecessem do lado de fora.
Porém, com apenas um lado por portão derrubado, eles só poderiam vir um de cada vez,
o que significava que muitos inimigos estavam entalados na entrada. Além disso, eles
foram pegos no ângulo de uma emboscada em forma de L, onde todos os defensores
poderiam concentrar seus ataques em um pequeno número de atacantes de cada vez.

“Bem-vindo à zona de morte. Hora de morrer.”

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


134
Os Ogros armados do vilarejo tinham uma vantagem em uma luta contra seus colegas
selvagens, e a força de defesa tinha lanças para ajudar. Qualquer Ogros que tentasse der-
rubar as barricadas seria derrubado pelos Arqueiros Goblins, a Goblin Maga e os itens
alquímicos de Agu. Os Goblins lidariam com qualquer fera que atravessasse o caos.

A situação era esmagadoramente favorável a eles e ainda havia os Goblins Cavaleiros


de Lobos de prontidão. Se o inimigo não tivesse magic caster, sua vitória seria assegu-
rada. Contudo—

“—O que é aquilo!?”

Pânico entrou na voz de Jugem:

“Aquela coisa é um Troll?”

Parecia diferente de um Ogro, mas era do mesmo tamanho. Ele se inclinou para os de-
fensores, emitindo uma presença opressiva quando se aproximava. Em sua mão, segu-
rava uma grande espada com uma aura sobrenatural emanando dela.

Uma substância úmida fluía do meio da lâmina até as bordas. Provavelmente alguma
forma de encantamento mágico.

“O chefe entrou em campo? ...Será que é... o Gigante do Leste?”

Certamente parecia digno de tal alcunha. Seu corpo musculoso parecia ter sido aprimo-
rado até que fosse tão duro quanto o aço, era completamente diferente de qualquer Troll
que Jugem conhecia. De relance, poderia estar a par com a Besta Mágica do Sul.

Apenas um Troll já exigiria que todos os Goblins unissem suas forças. Era um inimigo
mais difícil do que qualquer outro que já enfrentaram.

“Se for isso mesmo...”

Jugem pensou sobre o que fazer.

Parecia sem esperança. A melhor maneira seria cobrir a fuga de Enri. Se ela não qui-
sesse, então mesmo que eles tivessem que forçá-la—

“...Não, não é o melhor caminho. Esse é o pior caminho e só em último caso.”

Tendo desistido dessa ação, Jugem falou com suas tropas.

“...Ei, vocês aí. Hoje podemos jantar no inferno. Então nem ousem pensar em recuar.
Marquem suas presenças heroicas nos olhos daqueles desgraçados!”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


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Os Goblins responderam com um rugido cheio de espírito de luta. Em um instante, ini-
migos e aliados pareciam congelar.

“Vamos nessa, rapazes! Vamos mostrar a eles o poder da escolta da Ane-san!”

♦♦♦

Depois de vasculhar o vilarejo e confirmando que ninguém havia sido deixado para trás,
Enri soltou um suspiro de alívio. Só então, o som de algo quebrando veio da frente. Foi
seguido por gritos de batalha de ambos os lados, e os sons graves estrondosos agitaram
suas entranhas.

Esse foi provavelmente o som do portão quebrando e os Goblins se juntando à batalha.


Ela engoliu a queimação que subia pela garganta devido ao estresse. O gosto amargo
permaneceu em sua boca, mas ela ignorou a fim de olhar para Nfirea.

“Enfi. A gente precisa ir pro portão.”

“Eu sei, mas não acha que seria melhor ir ao ponto de encontro e tranquilizar todo
mundo?”

As palavras de Enfi tinham o subtexto de não entrar no caminho de todos os outros.

Enri também tinha sido treinada no uso de um arco, mas agora que o portão havia sido
quebrado, a batalha seria favorecida com o uso de lanças. Para ser honesta, mesmo que
Enri fosse lá agora, havia pouco que ela pudesse fazer.

“Eu não posso fazer isso. Eu escolhi liderar os Goblins e os aldeões e, enquanto eu tiver
forças, preciso fazer isso. Recuar até pode ser o certo, mas não posso fazer isso.”

Ela tinha que ficar na linha de frente e ver como a batalha seria travada. Depois de ver
a convicção nos olhos de Enri, Nfirea afastou o cabelo para revelar suas feições ríspidas.

“Tem razão. Pode deixar, Enri, vou te proteger.”

A expressão séria no rosto normalmente calmo de seu amigo de infância fez seu coração
bater descompassado.

“Hm? Que foi, Enri? Eu sei, não sou tão bom quanto o Gown-san, mas eu não vou deixar
você morrer.”

“...Não diga isso.”

“Ah, sinto muito. Mas... é quê...”

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


136
Ao ver seu amigo de infância lutando pelas palavras para usar, como ele sempre fazia,
Enri sorriu.

“Vamos, Enfi!”

“Ah, sim! Já perdemos tempo demais enrolando aqui!”

Os dois correram para o portão da frente. Como tinham começado a correr do portão
traseiro, que ficava mais distante, levariam algum tempo para chegar lá, mesmo que cor-
ressem em alta velocidade. E se chegassem lá sem fôlego, eles só entrariam no caminho
se a luta estivesse acontecendo. Para não deixar que a pressa excessiva acabasse os atra-
sando, eles prosseguiram a uma velocidade moderada.

No entanto, só correram por alguns segundos. Os dois ouviram um som gorgolejante e


pararam de repente.

Olhando para trás, eles viram algo se revelando atrás do muro.

Era enorme e bizarro. Era muito maior que seu equivalente humano e, por um momento,
não conseguiram descobrir o que era. Na verdade, parecia um dedo. Algo segurava o
topo do portão dos fundos, que tinha 4 metros de altura, com a mão.

“—Isso, o que é isso? Um gigante?”

“Eu não sei! Ah—”

As palavras de Nfirea foram cortadas pela metade e sua boca ficou aberta. Enri se virou
freneticamente para olhar o que o surpreendeu e acabou fazendo a mesma expressão.

Algo estava subindo lentamente no muro. Algo que não poderia ser um ser humano.

“Será que é um Troll?”

Quando ela ouviu Nfirea sussurrar, Enri olhou para o monstro emergente.

“Que coisa é essa?”

“É a primeira vez que eu vejo um, é exatamente como ouvi que seria. Se isso é mesmo
um Troll, estamos com problemas graves... Trolls são oponentes que até mesmo os aven-
tureiros ranques ouro teriam dificuldade em vencer. Até o Jugem e os outros também
teriam dificuldade.”

Enri sentiu o sangue escorrer enquanto ouvia falar de algo mais forte do que o ser mais
poderoso do vilarejo. O Troll que estava revelando sua silhueta maciça bufou, e lenta-
mente olhou em volta, nos arredores.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


137
Nfirea agarrou Enri pela mão e a arrastou para as sombras de uma casa próxima. Ele
cobriu a boca e sussurrou em seu ouvido.

“Enri, os Trolls têm olfatos muito sensíveis. Tudo bem por agora, já que estamos a favor
do vento, mas é cedo demais para relaxar. Você precisa sair daqui... depois se encontrar
com os Goblins.”

Enri se aproximou de Nfirea e sussurrou de volta em seu ouvido.

“Não dá, Enfi. Se a gente deixar esse cara avançar rumo ao portão, todo mundo vai mor-
rer encurralado.”

“Eu sei, mas... mas não resta outra—”

“—Só tem a gente aqui. É nossa obrigação parar essa coisa.”

Entre a lacuna no cabelo, os olhos de Nfirea olharam para Enri como se ela tivesse en-
louquecido. Com certeza, Enri percebeu que acabara de pedir que os dois fizessem o im-
possível, mas não havia outro jeito.

“A gente nem precisa vencer ou matar. É só atrasar um pouco. Enfi, por favor, me em-
preste sua força.”

“Como vamos atrasar isso? Atrair esse cara para longe? Eu até poderia lutar direta-
mente... mas duvido que algum ataque meu faça algo.”

As palavras calmas de Nfirea revelaram uma determinação calma dentro dele. Em res-
posta, Enri apresentou seu plano.

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


138
“Eu tenho um plano. Pra começar, vamos precisar de alguns Ogros.”

♦♦♦

O Troll olhou brevemente para uma casa de madeira e começou a se mexer.

Todas as casas cheiravam a seres humanos macios e deliciosos, mas ele sabia que era
apenas um resquício de aroma. Depois de verificar que não havia outros aromas na área,
ele começou a caminhar na direção de onde vinha o som da batalha. O som de humanos
lutando contra seus irmãos o fez salivar, e imaginou os humanos que estariam lá.

Um banquete suave de carne humana.

Como gourmet entre os Trolls, ele amava os membros carnudos e não gostava das en-
tranhas amargas. Portanto, era raro que pudesse se satisfazer, mas agora parecia que
teria a chance de fazer exatamente isso.

Seus passos cresceram mais enquanto babava em antecipação.

No entanto, o Troll parou e olhou cuidadosamente nos arredores. Ou melhor, olhava


nas sombras de uma casa próxima.

Havia Ogros. E o cheiro deles emanava de lá.

Ele franziu a testa. Embora os Ogros fossem seus aliados, havia uma ligeira diferença
no cheiro que estava captando. Ele não lembrava de ter sentido esse nuance antes. E
agora vinha de trás da casa, cercando-o.

É claro que não chegara a essa conclusão porque seu olfato era tão sensível quanto o de
um cão de caça, mas porque lembrava o odor único de seus aliados Ogro. Como tal, não
sabia quantos Ogros havia.

E isso trouxe uma questão. Havia um cheiro misterioso aqui também, como o cheiro de
grama esmagada, mas muito mais intenso.

Será que aqueles Ogros se chafurdaram com os sucos de grama amassada? Ele ponderou
sobre essa questão e ficou confuso. O forte odor de ervas pungiu seu nariz e suas lágri-
mas estavam prestes a fluir. Se os Ogros podem suportar esse mau cheiro, deve ter sido
porque tinham um olfato ruim.

Isso poderia levá-los cara a cara. Por ser um Troll, era muito mais forte que qualquer
Ogro. No entanto, isso não significava que poderia escapar ileso, e levaria tempo para
lidar com eles.

Já que os Trolls tinham a capacidade racial de regeneração, suas feridas se recuperavam


com o tempo. No entanto, regenerar seus ferimentos ainda demoraria um pouco, o que

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


139
era problemático. Quem sabe, seus companheiros Ogros poderiam ter comido todos os
humanos, mas isso ele saberia quando chegasse lá.

Certamente sua oposição havia se dispersado, assim, planejavam atacar todos juntos
para pegá-lo desprevenido.

Ele sentiu um vislumbre de orgulho ao ver o plano de seus oponentes e lentamente co-
meçou a se mover novamente, pretendendo circular pela casa.

Seu objetivo era destruir todos rapidamente. Assim, o fato de seus oponentes terem se
separado foi uma oportunidade de ouro. Tudo o que precisava fazer era matar os Ogros
um por um, começando com o que estava à beira do grupo.

Ele moveu-se devagar, tomando cuidado para não fazer barulho, mas, de repente, uma
pequena sombra surgiu de uma casa próxima.

Não era um Goblin, mas uma de suas presas prediletas, um humano.

Em contraste com o Troll que havia sido surpreendido pela inação, o humano de capa
espirrou algo sobre ele.

“Ugwaaaaargh!”

O Troll gritou diante do fedor avassalador. O material verde emitia um poderoso fedor
que penetrava em seu nariz. Esse cheiro era várias vezes mais forte que o dos Ogros
manchados de grama.

Mesmo que pudesse se regenerar, isso não era uma ferida que poderia curar. Simples-
mente não aguentava o cheiro. Seus olhos lacrimejaram e deu um passo em direção ao
humano, mas já havia corrido para dentro da casa.

A razão pela qual o humano conseguiu chegar tão perto, apesar do senso de olfato do
Troll, era porque o cheiro do humano tinha sido mascarado pelo cheiro da grama esma-
gada.

Irritado com a perda de seu alvo, o Troll retornou ao seu alvo anterior — os Ogros.
Primeiro, mataria os Ogros e então acharia aquele petisco tentador, pensou o Troll.

O Troll circulou a casa com raiva, mas não encontrou nenhum sinal dos Ogros. Era como
se tivessem desaparecido no ar.

“Grrr, cadê?”

A criatura olhou em volta. Os Ogros eram grandes, apesar de serem menores que um
Troll, mas mesmo assim nenhum Ogro era visto. Uma vez que movessem seus corpos

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


140
maciços, o Troll eventualmente deveria tê-los visto. Poderia aqueles Ogros insignifican-
tes ficarem invisíveis assim como seu mestre? O Troll estava confuso com outra situação
que não conseguia descobrir e bufou.

Contudo, o forte cheiro de ervas que subiam de seu próprio corpo interferia em seu
olfato e não podia seguir a trilha do cheiro dos Ogros.

“Grrrrrrrr...”

O Troll gemendo raspou mediocremente o fluido em seu corpo. Desta vez, seus dedos
fediam. Olhando em volta, o Troll notou um pedaço de pano caído no chão.

O Troll considerou que seria bom se limpar com o pano e o pegou com uma expressão
curiosa no rosto. Levou o pano ao nariz e cheirou. Seu olfato pode ter sido inviabilizado,
mas ainda podia sentir um pouco de cheiro.

O Troll sentiu cheiro de Ogro no pano e, de repente, entendeu.

Ele tinha confundido este pano que fedia a Ogro como sendo um Ogro.

Isto não foi uma coincidência.

“Humanos!”

Rugindo com raiva, o Troll começou a olhar em volta dos arredores. Não havia humanos.
Então eles ainda devem estar em suas casas.

O punho do Troll bateu furiosamente em uma casa próxima e, depois de martelá-lo vá-
rias vezes, estendeu a mão para arrancar o teto, com a intenção de destruir o interior.

Um humano saiu correndo em pânico enquanto a casa desmoronava. Ansioso para o


humano se separar dos outros, ele o perseguiu.

♦♦♦

O alvo (o Troll) estava perseguindo-a. Isso significava que o plano estava funcionando.
Embora fosse grata por isso, seu coração estava à beira de sair pela boca, ela estava ao
ponto de chorar. Um monstro gigantesco e devorador de homens a pressionava a correr,
e esse jogo de pega-pega — cujo se o perdesse, desapareceria na garganta daquele mons-
tro — era algo que levaria uma garota comum a lágrimas.

O fato de não saber quanto tempo teria que fazer isso a fez querer chorar muito mais.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


141
Se soubesse quando terminaria, ela poderia ter sido capaz de continuar fugindo até o
final. Entretanto, ela não sabia quando a batalha no portão terminaria ou se alguém ha-
via notado esse jogo mortal de gato e rato. Sempre que pensava sobre essas coisas des-
confortáveis, ela sentia sua força se esvaindo.

Enri lamentou não enviar alguém para o portão principal para fazer um relatório, mas
os preparativos demorariam demais.

Ela correu com todas as suas forças, avançando para a casa onde Nfirea estava espe-
rando. Por sua vez, Nfirea saiu correndo pela porta dos fundos, usando a mesma capa de
antes. Enri prendeu a respiração, engolindo em seco e esperando que o inimigo não ti-
vesse notado o esquema deles. O Troll continuou perseguindo Nfirea, não tendo notado
o chamariz.

Enri acalmou sua respiração irregular e apertou as mãos em apreensão.

Trolls eram muito superiores aos humanos em resistência, comprimento de passo e ca-
pacidade física, portanto, uma única pessoa fugindo definitivamente seria capturada. A
fim de recuperar a resistência e se mover por longos períodos, eles decidiram mudar um
com o outro sem deixar o inimigo perceber. Isso foi planejado para comprar tempo e
evitar que ele chegasse ao ponto de encontro onde as pessoas estavam.

A questão, então, era como enganá-lo.

Como os Trolls podiam distinguir os humanos? Talvez, se vivessem juntos por tempo
suficiente, teriam algumas maneiras, mas isso não era tempo suficiente. Praticamente
falando, seria pela aparência, especialmente roupas. Como tal, Nfirea e Enri tinham
usado as mesmas capas de chuva e ponchos.

Em seguida, eles tiveram que evitar que se diferenciasse entre os dois através de seu
olfato, e o suco de ervas foi para desativar seu olfato aguçado.

Enri havia preparado duas armadilhas baseadas no cheiro — uma era usar o fedor de
Ogros para detê-lo no meio do caminho, e a outra estava usando o fedor das ervas para
desorientá-lo.

Depois que ela conseguiu manter sua respiração sob controle. Enri começou a se mover
furtivamente para a próxima casa.

Ela entrou no interior escuro da casa, espiando a situação do lado de fora. Com um som
de *dong*, Nfirea correu para dentro a toda velocidade. Nesse momento, Enri saiu cor-
rendo pela porta dos fundos por onde entrara.

Porém, Enri percebeu que o Troll não a estava seguindo, embora tivesse fugido da casa.

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


142
O Troll bufou, depois olhou entre Enri e a casa. Sua cara feia se contorceu ainda mais.
Ela adivinhou que o olhar em seu rosto poderia ser surpresa.

Suor frio escorria no pescoço de Enri. Ela se tocou inconscientemente, quando sua mão
retornou, estava fria e molhada.

“...O nariz dele voltou ao normal?”

O Troll se acostumara com o cheiro das ervas, e agora suspeitava do cheiro do suor.
Parecia ter percebido que havia dois humanos.

O Troll levantou a mão e a moveu para a casa. Nfirea correu novamente. No entanto,
seus passos pararam, e ele não parecia que ia fugir.

“Enri! Fuja! Eu vou te comprar algum tempo!”

“—Idiota! Fuja comigo!”

“É certo que vai nos alcançar! Mesmo se usarmos as casas como escudos!”

Os olhos de Enri se arregalaram e Nfirea sorriu para ela.

“Eu sou mais forte, então há uma chance maior de eu sobreviver se me usar como cha-
mariz!”

Nfirea conjurou uma magia e seu próprio corpo foi envolvido por uma bolha de luz su-
ave e bela.

O que ele disse fez muito sentido, e ela não pôde refutá-lo. Vendo isso, Nfirea sorriu
novamente.

“E além disso, eu— eu quero proteger a mulher que amo.”

Nfirea se virou para o monstro feroz, erguendo o punho e apontando o polegar para si
mesmo.

“Vamos lá, grandalhão, eu brinco com você! Venha, se for forte o bastante! 「Acid Ar-
row」!”

Quando Nfirea insultou o Troll de maneira decididamente fora de sua personalidade,


ele disparou uma flecha verde de ácido contra ele. Quando acertou, o vapor subiu com o
som de sibilos e bolhas, fazendo o Troll gritar em agonia, duas vezes mais alto que os
dele.

O Troll fixou seus olhos enlouquecidos pela raiva em Nfirea. Não prestando mais aten-
ção a Enri.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


143
“Vá! Vá e peça ajuda!”

Seria tolice perder tempo aqui.

“—Não morra, é uma ordem!”

Dizendo isso, Enri fugiu.

O Troll não parecia querer segui-la.

♦♦♦

Com toda honestidade, suas chances de sobrevivência eram zero. Havia uma diferença
esmagadora em suas respectivas capacidades físicas. E não havia como triunfar sobre
um inimigo que precisava de aventureiros em ranques como ouro, para só assim der-
rotá-lo.

Era uma batalha tão desesperadora que ser capaz de aguentar um minuto sequer era
digno de elogios.

“É, eu vou morrer.”

Nfirea sorriu amargamente enquanto observava o Troll, que se aproximava com cautela.

Sem poder regenerar danos causados por ácido e fogo, ele foi especialmente cuidadoso
em torno de Nfirea, que poderia inviabilizar sua maior vantagem. O Troll poderia ter
vencido imediatamente se tivesse feito uma investida, ainda mais dadas as circunstân-
cias, Nfirea não pôde deixar de rir.

“Bem, isso funciona para mim. 「Hypnotism」!”

A hostilidade do Troll parecia inalterada. Parecia ter resistido a magia.

Percebendo que havia sido alvo de uma magia, o Troll atacou. Seu corpo gigantesco se
aproximando era como um pesadelo ganhando vida.

“Se funcionasse, eu poderia ter aguentado um pouco mais... não tive essa sorte. Ahh, que
pena.”

Nfirea parecia ter desistido. Isso porque era uma batalha completamente invencível,
que havia cruzado a linha da bravura e imprudência. Mas mesmo assim—

—Ele precisava ganhar tempo para Enri.

Esse pensamento foi o que levou Nfirea a se mover.

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


144
Sem perder de vista o Troll com o braço esquerdo erguido, ele correu para a frente e
para a esquerda. Buscando a vida na morte, ele mergulhou de cabeça no perigo para
alcançar a segurança além dela. O punho do Troll o seguiu, e o vento de sua passagem
bagunçou seu cabelo. E na frente de Nfirea, uma poderosa perna o chutou como uma
parede em movimento.

A visão de Nfirea girou sem rumo enquanto ele voava pelo ar, seu corpo fazia sons es-
tridentes como galhos quebrados de árvores.

Ele bateu no chão com força e rolou várias vezes, como uma pedra caindo na ribanceira.
A dor que percorria seu corpo, que ainda rolava pela chão, era aguda. Essa foi a maior
dor que ele experimentou em sua vida.

“De—de alguma forma, consegui sobreviver. Quem diria. Eu sou incrível...”

Ele se agarrou à vida foi por causa dos efeitos de sua magia defensiva e do fato de que
o pé do Troll estava sem proteção de armaduras quando o chutou. Ignorando a dor que
o atravessava a cada respiração, Nfirea se levantou tossindo e lançou outra magia.

“「Acid— Arrow」!”

O Troll perseguidor parou em seu caminho, desconfiado da poça de ácido corrosivo a


seus pés.

Mmm, como planejado.

O objetivo de Nfirea era ganhar tempo. Se o inimigo parasse de atacar e estivesse em


guarda, ele esperava que continuasse assim.

“...Droga, isso dói. Eu não quero morrer...”

Nfirea deu voz a seu desespero.

No final, tudo o que a vida dele tinha conseguido—

Houve momentos em que não queria encarar os fatos, mas a situação obrigava a pessoa
a fazê-lo. Essa era uma situação dessas.

—Era que ele morreria aqui. Não havia dúvida de que morreria.

Ele queria correr. Talvez se ele corresse com todas as suas forças, ele poderia escapar.
Mas se isso acontecesse, que tipo de tragédia ocorreria?

Nfirea pensou em Enri. Ele foi capaz de lutar porque Enri estava lá.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


145
“Eu consegui me confessar... eu não—eu não quero morrer antes de ouvir a resposta.”

O Troll se aproximando sem parar não conseguia entender o coração de um jovem apai-
xonado.

Ele não podia mais demorar.

Ele não sabia como tinha feito isso, mas Nfirea conseguiu ler os pensamentos de seu
oponente através de sua cara feia. Estava determinado a matá-lo, mesmo que se machu-
casse. Assim sendo:

“—「Acid Arrow」!”

Tudo o que Nfirea podia fazer era ferir o Troll, a fim de facilitar as coisas para seus
aliados que o enfrentariam depois dele.

O Troll ergueu o punho, o rosto torcido pela dor de ser queimado pelo ácido. Nfirea —
que estava com muita dor, mesmo permanecer em pé já consumia toda sua força — não
tinha como resistir ao próximo ataque.

♦♦♦

Por favor, se apressem!”

Liderados por Enri, os três Goblins correram para salvar Nfirea.

A razão pela qual eles se encontraram não foi porque Enri havia chegado ao portão
principal, mas porque Enri e Nfirea não haviam retornado, e os uivos que vinham da
retaguarda preocuparam Jugem o bastante para mandar três Goblins para investigar.

Se eles pudessem ter percebido antes, os Goblins teriam salvado ela e Nfirea. Como Enri
pensou, seu coração estava retalhado pela culpa.

Isso foi realmente um golpe de azar.

Se as coisas não tivessem sido assim—

“Lá!”

Enri apontou para Nfirea, na frente deles. E elevando-se sobre ele, o Troll levantava o
punho.

Eles não podiam alcançá-lo para ajudar. A distância era longa demais.

A mão do Troll caiu como um raio. Poderia destruir uma casa em um único golpe. Nfirea
seria morto além de qualquer dúvida razoável.

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


146
OVERLORD 6 Os Dois Líderes
147
Enri fechou os olhos e, na escuridão, ouviu os Goblins engolir em surpresa.

Sua resposta fora do lugar levou Enri a abrir os olhos com medo.

“Uau~ seu HP tá nas últimas~ tá bem aí ~su?”

—E ela viu uma linda mulher segurando uma arma gigantesca.

Lupusregina carregava uma enorme arma que parecia uma espécie de símbolo religioso
exagerado, segurando-a e usando-a como um escudo para bloquear o punho do Troll. O
tamanho da arma e o braço esguio da empregada pareciam completamente incompatí-
veis ao ponto da surrealidade, mas isso não era um sonho ou uma ilusão.

“Deixa que eu cuido desse grandão... Oh, calma aí ~su. Você tá ferido, Enfi-chan.
「Heal」.”

O Troll recuou diante cena da incompreensível diante dele. O golpe no qual ele havia
colocado toda sua força fôra bloqueado por uma humana, de modo que sua reação era
apenas esperada. Não, talvez achasse que havia algum tipo de magia trabalhando aqui.

Nfirea tinha um olhar confuso no rosto quando virou as costas para o Troll e saiu man-
cando. Era uma postura completamente desprotegida, mas o Troll não pressionou o ata-
que. Não, não podia simplesmente ignorar a recém-chegada que havia assumido o lugar
de Nfirea.

“Enfi!”

Enri abraçou Nfirea com força.

“Ah, é você, Enri.”

Sua resposta fraca, como se estivesse sonhando, disse à Enri que ele estava no limite.
Embora ele estivesse fora de perigo, ele ainda sofreu grandes danos mentais.

“Que alívio que esteja bem!”

“—Vo-você também.”

Enri sentiu o calor voltar ao seu coração, substituindo o frio que a preenchera no mo-
mento que pensara que Nfirea havia morrido.

“Ainda bem que saiu inteiro!”

Enri abraçou Nfirea com toda a força.

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


148
“—Vo-você também.”

Nfirea estendeu os braços para abraçar Enri em retorno. Embora eles estivessem abra-
çando um ao outro com força, parecia muito confortável.

As lágrimas de Enri brotaram e se espalharam pelo rosto dela.

“Que foi?”

“...Seu idiota.”

“Ahhhh~ foi mal aí por interromper os dois pombinhos ~su.”

“Lupusregina-san!”

Enri deixou a força fluir de seus braços e, ao mesmo tempo, Nfirea afrouxou o aperto.
Sentindo-se um pouco desapontados, ambos olharam para Lupusregina.

“O Troll—”

Mudando sua linha de visão, Enri viu algo que era difícil de descrever.

“Ah, is~su? Parece carne moída, né? Daria pra fazer uns espetinhos ~su.”

Uma bola de carne ensanguentada se mexeu e se contorceu sob a ponta ensanguentada


do Crosier de Lupusregina. Não havia nada sobre a pilha de carne picada que sugeria que
outrora fôra um Troll. No entanto, o que se tornou repugnante foi o fato de que ele estava
se regenerando lentamente e ainda respirando.

“Ahhh~ Que bom que tá todo mundo ~su. Acho que dou conta de limpar as coisas por
aqui ~su.”

Enri ouviu as vozes dos Goblins se aproximando. Parecia que a batalha pelo portão prin-
cipal havia sido vencida.

“E lá vem eleee ~su.”

Parecia que fogo havia descido do céu quando um pilar de chamas vermelhas engolfou
o Troll, produzindo o fedor de carne queimada.

“E era uma vez um Troll ~su. Já que meu trabalho terminou, vou indo nessa ~su. Ah,
Enfi-chan, Ainz-sama quer te recompensar por ter criado aquela poção roxa, então te
convidou pra casa dele. Esteja preparado pra visita ~su. Ou quer que eu diga algo mais
~su?”

Depois de dizer isso, Lupusregina foi em direção ao portão dos fundos.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


149
“Muito obrigada!”

Lupusregina não parou nem retrocedeu em resposta à gratidão gritada de Enri, apenas
acenou com a mão.

“...Ane-san, Ani-san, pode deixar que a gente vai guiar o pessoal. Vocês dois devem ir
descansar um pouco ali.”

Os Goblins foram embora sem esperar por uma resposta.

Não deveriam ter deixado alguém aqui...? Pensou Enri, mas sua preocupação com Nfirea
anulou isso, por isso ela lhe emprestou o ombro para se apoiar.

Depois de deixar o cadáver do Troll para trás, os dois sentaram-se.

“Haaaa.”

Os dois suspiraram juntos. Então, os dois olharam quase simultaneamente para o céu
noturno.

“Você foi salvo.”

“Mmm.”

“Foi pura sorte.”

“Mmm.”

“Não faça isso de novo.”

“Mmm.”

O silêncio fluiu entre os dois. Enri de repente falou as palavras em seu coração.

“Enfi, eu não sei se é amor ou não, mas eu quero que sempre fique juntinho de mim.”

“...Mmm... uhum.”

“Isso é amor?”

“...Eu não sei. Mas se for, ficarei muito feliz.”

Enri e Nfirea não disseram mais nada, apoiando-se ombro a ombro e observando as
estrelas até os Goblins chegarem—

Conto 1 Os Dias Revoltos e Agitados de Enri


150
Epílogo

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


151
ne-san, parece que já se arrumou.”

A Comentou Jugem sobre a aparência de Enri quando entrou em casa.

“Sim, como pode ver... acha que ficou estranho?”

Quando perguntou a Jugem, Enri olhou para o vestido que estava usando — um dos
melhores que tinha, ela normalmente o reservava para o festival da colheita.

“Ficou bom. É, ou não é, Ani-san?”

“Uhum. Você ficou muito bonita, Enri.”

“Jura!?”

Com um rosto vermelho, Enri olhou para Jugem e Nemu enquanto sorriam. Ou melhor,
o sorriso de Nemu não era apenas travesso, mas totalmente malvado.

Desde que o relacionamento de Enri e Nfirea deu um passo à frente, eles vinham obser-
vando-os com cada vez mais frequência. No entanto, ela percebeu que dizer qualquer
coisa sobre isso só iria envergonhá-la ainda mais, então sabiamente escolheu manter a
boca fechada.

No entanto, fingir que não acontecia também era perigoso. Especialmente para Nemu.
Às vezes, sua irmãzinha fazia perguntas que ela não conseguia responder.

Parece que ela amadureceu muito nos últimos dias... acho que vou pedir pro Enfi me dar
uma mãozinha nisso...

Vendo o pedido nos olhos de Enri, seu amado — Nfirea — falou.

“Umm, ghrun! Falando nisso, Jugem-san, conseguiu usar essa espada mágica? Ouvi di-
zer que não é como as espadas normais, que usar ela cansa.”

A enorme espada que Jugem estava segurando foi obtida no ataque há vários dias.

“Já me acostumei com o peso e o centro de gravidade dela, consigo usar igual à minha
antiga espada. É muito mais afiada e bem feita que a outra, como esperado de uma arma
mágica. E ainda tem... esse veneno que enfraquece quem eu cortar, é meio estranho, mas
estou me acostumando...”

“Como assim? É um efeito poderoso?”

“Bem, não é um veneno tão forte. Alguém no meu nível pode resistir facilmente. Mas se
for contra adversários mais fracos...”

Epílogo
152
O rosto de Jugem assumiu uma expressão sombria.

“Que foi?”

“Ah—”

Jugem disse enquanto olhava para o teto, falando com uma voz irritada:

“Eu estava pensando no Troll de quem eu peguei essa espada. Alguma coisa não me
cheirava bem.”

“Cadáver de Troll não deve ser a coisa mais cheirosa. Talvez fosse um Troll mutante?”

“Não, não, eu não quis dizer isso, Ani-san. Desde seus movimentos, falta de regeneração
ao modo que cortei ele... parecia estranho... como direi isso...? Parecia com um corpo que
já estava morto. Algo esquisito e agourento assim.”

“Um cadáver andante? Como um Zombie?”

“Aí não sei. Pode haver uma espécie de Troll assim—”

“—Foi mal a demora ~su!”

A porta se abriu no instante daquela proclamação jovial e brilhante.

Com o sol às suas costas, Lupusregina entrou prontamente na casa de Enri. Enquanto
Enri e os outros observavam em silêncio atordoado, um som agudo veio do topo da ca-
beça de Lupusregina.

“Aí, doeu!”

“Sua idiota. Como pode ser tão rude? Caros convidados, peço desculpas por ela.”

Depois de puxar Lupusregina de volta, a mulher atrás de Lupusregina curvou-se para


eles.

“Sou a empregada de Ainz-sama, Yuri Alpha. Estou aqui para conduzir Nfirea-sama,
Enri-sama e Nemu-sama. Peço desculpas pela intrusão.”

“Ah, sim. Por favor entre, Lupusregina também.”

A mulher que entrara com Lupusregina tinha uma beleza sobrenatural, assim como a
Lupusregina.

“Então, quando estiverem prontos, poderemos começar o teletransporte imediata-


mente.”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


153
“Te-teletransporte? Consegue se teletransportar!?”

Nfirea praticamente gritou. Embora Enri não soubesse o porquê Nfirea estava tão sur-
preso, ela podia adivinhar que era algo grandioso.

Acho que foi incrível teletransportar o Capitão Guerreiro e os homens dele aquela vez.

“Ah não. Este não é o meu poder, mas o de um item mágico que o Ainz-sama concedeu
a mim.”

“...A trombeta, as poções também. Ele é incrível mesmo. Ele é tão incrível que eu nem
sei tem como alguém se comparar a ele.”

Os ombros de Nfirea caíram. Percebendo uma oportunidade, Enri decidiu perguntar:

“Er, tem certeza que eu posso ir? E minha irmãzinha também!?”

Hoje foi o dia em que o salvador do vilarejo, Ainz Ooal Gown, convidou Nfirea para sua
casa. No entanto, ela se sentiu desconfortável quando soube que até uma mera aldeã,
como ela, poderia acompanhá-lo. Seu anfitrião era um poderoso magic caster, ou seja,
alguém que vivia em um mundo completamente diferente. O simples pensamento de que
ela pudesse acidentalmente fazer algo rude fazia seu estômago doer.

“Relaxa aí ~su. Será celebrado a nova invenção do Enfi-chan, então como é a namorada
dele, pode vir junto, tem problema não. Foi o Ainz-sama que disse, ele sabe das coisas.
Não esquente a cabeça com formalidades.”

“...Lupus, preste atenção no seu tom.”

“Yuri-nee, o que há de errado com is~su? Somos amigas, né? En-chaaaan~!”

“Eh? Ah, sim. Sim. Isso mesmo. Unhum.”

Yuri suspirou com um “Haaa...”, então caminhou até a frente de uma parede próxima.
De repente, um gigantesco armário de madeira apareceu, como se fosse do nada. Era
grande o suficiente para as pessoas passarem com facilidade, e seu exterior era intrin-
secamente esculpido, parecia um armário decorativo.

“...Isso é uma dimensão de bolso? Não, isso é muito grande, deve ser uma magia de nível
maior.”

“Por favor, entrem. Lupus, posso confiar a segurança deste lugar a você?”

“Claro ~su.”

Epílogo
154
O armário de madeira deveria ter sido apoiado contra uma parede, mas quando se
olhava para dentro, seu interior parecia se estender para outro mundo.

Yuri deu o primeiro passo e foi até o outro lado do armário.

Ela foi seguida por Nfirea, um pouco depois veio Enri, que segurava firmemente a mão
de Nemu.

Não houve resistência quando passaram pela parede à frente, em um instante se depa-
raram dentro de um vasto e grandioso caminho, ladeado por estátuas dos dois lados que
pareciam tão reais que poderiam até se mover.

“Nooossa!”

Nemu exclamou suavemente enquanto olhava para o teto, a boca tão larga quanto os
olhos. Enri a segurou para evitar que caísse, e ela olhou para cima também.

“Surpreendente...”

Era uma passagem de aspecto digno, cujo piso era feito de rocha polida, sobre a qual
havia sido colocado um tapete colorido que os guiava para o caminho ao qual deveriam
seguir. Enri ficou muda de admiração; ela imaginou que isso deveria ser como os palá-
cios pareciam.

“Por favor, venham por aqui.”

A voz de Yuri tirou-a do seu torpor, ela pensou em correr um pouco para alcançar os
demais à sua frente. Mas como isso seria inteiramente inadequado para um lugar como
este, Enri apenas acelerou os passos para avançar rapidamente.

Depois de caminhar por uma curta distância, uma parede apareceu com uma porta de
armário sobre ela, semelhante à que eles tinham usado para entrar. No entanto, havia
duas diferenças principais. A primeira foi que essa porta era várias vezes maior que a
primeira, grande o suficiente para várias pessoas entrarem ao mesmo tempo. A segunda
foi porque não conseguiam ver o que havia dentro, apenas uma película colorida, fina e
cintilante.

“Por favor, entrem como fizeram anteriormente.”

Enri e Nfirea se entreolharam.

“Nesse caso, nós vamos juntos.”

Enri e Nfirea seguraram as mãos. Da esquerda para a direita estavam Nemu, Enri e
Nfirea, que juntos entraram pela porta.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


155
Em um instante, em meio a uma chuva de pétalas cor-de-rosa, havia uma visão de uma
mulher com roupas vermelhas em cima e brancas em baixo e—

“Sejam bem-vindos~.”

Um coro harmonioso de vozes os cumprimentou.

Olhando ao redor, eles chegaram em um corredor ainda mais luxuoso, com duas fileiras
de empregadas surpreendentemente bonitas flanqueando-as em ambos os lados. No fi-
nal de uma passagem estava um homem com um manto preto que parecia sugar toda a
luz ao redor dele, usando uma máscara bizarra. Ele era o salvador do vilarejo, Ainz Ooal
Gown.

Enri, boquiaberta, congelou no lugar.

Os lustres no teto brilhavam e o chão de mármore branco estava impecável.

Uma passagem magnífica e empregadas bonitas, todas em duas fileiras. Era como en-
trar em um mundo de fantasia.

Perdida nesse mundo efêmero e fantasioso, Enri acidentalmente perdeu o controle da


mão de Nemu. A parte de sua mente que não estava completamente sobrecarregada pelo
seu redor reconheceu isso e, no momento seguinte, Enri voltou à realidade.

Nemu correu à frente.

“Que lindo! É tão incrível!”

Nemu gritou alto enquanto corria. Ela correu pelas duas fileiras de empregadas e em
direção a Ainz.

Diante de um mundo que sobrecarregava sua capacidade emocional, ela não conseguia
mais se controlar e se deixar correr solta.

“É muito, muuuito incrível!”

“Nemu! Volte!”

Enri começou a correr uma fração de segundo depois. Ela começou a suar com o com-
portamento vergonhoso de Nemu.

No entanto, este era um reino divino, onde ela era ladeada por belas empregadas. O som
de seus passos como uma aldeã correndo a fez hesitar. Os passos autocontraditórios de
Enri revelavam como ela se sentia e, no final, ela mancava como um sapo moribundo.

Epílogo
156
Enquanto Enri ainda estava mancando, Nemu já havia alcançado o lado do salvador do
vilarejo.

“É realmente tão impressionante?”

“Siiim! É incrível!”

“Mesmo? Incrível... é, talvez seja verdade.”

Ainz estendeu a mão e acariciou calmamente a cabeça de Nemu.

“O lugar onde eu moro é tão maravilhoso assim?”

“Sim, muito maravilhoso! O senhor fez isso, Gown-sama?”

“Hahahaha, uma pequena parte. Meus amigos e eu fizemos.”

“Isso é incrível! Os amigos do Gown-sama são todos incríveis!”

“Hah! Hahahaha!” Uma risada clara e brilhante reverberou pelo corredor.

A essa altura, Nfirea e Enri haviam chegado nervosamente aos dois. Enri apertou firme-
mente a mão de Nemu, determinada a nunca soltar.

“Somo eternamente gratas pelo gentil convite que o senhor fez!”

“Não precisa ser tão séria. Estamos aqui para celebrar a produção de sua nova poção.
Fiquem à vontade.”

“Gown-sama, eu realmente sinto muito. Minha irmã, Nemu, foi rude com o senhor.”

“Não se preocupe, não foi nada de mais. Ela ficou comovida com a visão da minha resi-
dência, não foi? Isso jamais será um insulto para mim.”

Ainz respondeu de bom humor e completou:

“Então... eu pretendia falar com o Nfirea-kun, mas depois dessa, bem... Nemu, o que me
diz? Quer ver a casa que eu... não, nós criamos juntos?”

“Sim! Quero ver sim! Eu quero ver a casa incrível que o Gown-sama e seus amigos fize-
ram!”

Nemu falou antes que Enri pudesse recusar.

“Hahaha. Muito bem, muito bem! Existem muitos lugares belos que lhe mostrarei.”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


157
Enri não pôde falar quando viu o bom humor em que Ainz estava.

♦♦♦

Enquanto Nemu conhecia as cercanias, ela se sentou em uma poltrona reclinável em


uma sala de recepção.

Em vez de dizer que foi convidada para cá, seria mais correto dizer que ela se sentia
como um pássaro caído do ninho. Ela sentou-se desconfortavelmente olhando ao redor.
Ao lado dela — apesar do tamanho do cômodo, preferiram se sentar juntos — seu amado
Nfirea também não conseguia ficar quieto, como um animalzinho assustado.

Enri podia entender que seu salvador, o magic caster conhecido como Ainz Ooal Gown,
era um ser poderoso, mas o que ela tinha visto hoje excedeu muito qualquer fantasia que
já tivesse sonhado. Era como se tivesse entrado em uma pintura, ou um conto de fadas
onde princesas e outras grandes figuras ocupassem o centro do palco.

A prateleira da lareira estava decorada com pássaros de cristal que haviam sido escul-
pidos à imagem e semelhança de pássaros reais. Se quebrasse um, ela poderia trabalhar
toda a sua vida e ainda ser incapaz de pagar.

O sofá onde se sentara era excelente, Enri até se perguntou se estava sujando-o com
suas vestes.

O candelabro, o primeiro que ela vira em sua curta vida, não era iluminado por tochas,
lamparinas ou velas, mas por magia. Ela tinha visto luzes mágicas antes na Guilda dos
Aventureiros de E-Rantel, mas nem sequer não podiam se comparar em brilho ou estilo.

A mobília era de bom gosto e emanava luxo. De particular interesse era a robustez da
mesa de ébano diante dela. Mesmo que Enri não tivesse idéia de como esse tipo de coisa
era valiosa, ela ainda era capaz de dizer que custava uma fortuna.

Também havia um retrato realista de uma mulher bonita pendurado na parede, pintado
em detalhes intrincados.

Até o carpete do chão fez Enri hesitar em pisar nele com os sapatos. Era tão suave que,
quando se sentou no sofá, imaginou se deveria levantar os pés para que não o tocasse.

Enri estava tão nervosa que estava prestes a desmaiar.

“Era melhor termos ido com ela.”

Embora ela não pudesse recusar Ainz, a idéia de Nemu ir sozinha fez seu estômago fer-
ver de ansiedade.

“Eu só espero que ela não incomode o Gown-sama...”

Epílogo
158
“Vai ficar tudo bem, não se preocupe. O Gown-sama é muito gentil. Acho que ele não vai
se importar com qualquer grosseria de criança.”

“Sim, mas você sabe como as coisas são. Quantas histórias que tem por aí de gente é
executada só por irritar um nobre...”

“Já ouvi falar, mas eu mesmo nunca vi. E-Rantel e os territórios circundantes são admi-
nistrados pelo próprio Rei, então eu não acho que os nobres se atrevam a fazer algo as-
sim... será o Gown-sama um nobre?”

“E ele já não é? Qualquer um com uma mansão tão chique e tantas empregadas bonitas
é no mínimo nobre poderoso, não? Nem sei como conseguiria isso tudo se não fosse algo
assim.”

“Mmm? Será? Sinceramente, não acho que qualquer nobre possa reunir empregadas
tão bonitas como estas.”

As sobrancelhas de Enri se ergueram em um ângulo inclinado.

Ela foi a primeira a dizer que as empregadas eram bonitas, mas quando Nfirea disse
isso a fez sentir ciúmes. Assim que estava pronta para encarar Nfirea — houve uma ba-
tida na porta.

“Hiiiee!”

Os ombros de Enri se encolheram bruscamente e, como os dois estavam lado a lado, o


tique nervoso foi transmitido para Nfirea, que estremeceu também.

As batidas vieram novamente. Enri pensou a todo vapor no que as batidas significavam
e, enquanto isso, Nfirea falou:

“Ah, er, por favor entre.”

“Com licença.”

Nfirea dera a resposta correta enquanto Enri ainda estava confusa. Logo depois, uma
empregada entrou empurrando um carrinho de prata. Era uma bela mulher, vestida com
roupas limpas e imaculadas que até mesmo um amador podia reconhecer como uma
roupa de empregada de alta classe. Um sorriso gentil e caloroso adornava seu rosto. No
entanto, Enri estava preocupada que a qualquer momento isso iria se transformar em
uma expressão de raiva quando ela exclamasse: “O que pensam que estão fazendo!?”.

“As bebidas estão prontas.”

“N-não, obrigada!”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


159
O rosto da empregada exibiu confusão por um momento enquanto analisava a resposta
rápida de Enri. Então ela olhou para Nfirea e depois de volta para Enri.

“...Hm, tem certeza?”

“Ah, sim.”

Talvez a empregada sentisse como Enri estava tão tensa que praticamente não se movia,
ou o nervosismo inato de Nfirea e, em resposta, ela apenas sorriu doce e gentilmente.
Ela disse um simples “Com sua licença”, e sentou-se ao lado de Enri. Então gentilmente
colocou a mão em seu ombro petrificado pela ansiedade.

“Emmot-sama, por favor, não fique tão tensa. Tanto Emmot-sama como Bareare-sama
são hóspedes aqui, então tudo que precisa fazer é ficar à vontade e relaxar.”

“Mas, mas... e-e se quebrarmos alguma coisa aqui...”

“Como eu disse, fique à vontade. Ainz-sama não se incomodará mesmo que os objetos
aqui sejam danificados.”

“Mas, mas como? Tudo aqui é...”

Até mesmo pensar sobre o custo das coisas visíveis em um rápido olhar ao redor da sala
fez sua cabeça doer. Como ela pararia de pensar que tais itens não eram grande coisa?

“O Ainz-sama é extremamente rico.”

“Di-disso eu sei.”

Afinal, ele era o tipo de homem que podia distribuir itens valiosos e poderosos, como
aquelas trombetas.

“É por isso que eu gostaria que a senhorita ficasse à vontade. Danos deliberados à parte,
Ainz-sama irá sorrir e perdoá-los por quaisquer acidentes. E mesmo que algo esteja da-
nificado, pode ser consertado com magia.”

“Mesmo dizendo essas coi-coisas...”

“Eu sei como se sente. Tome um pouco de chá, o que me diz? Dessa forma, a senhorita
poderá relaxar.”

“Mas...”

Enri olhou para o carrinho de serviço prateado. Tudo era primorosamente feito de por-
celana com bordas de ouro, o verso era em azul vibrante, com desenhos minuciosos e

Epílogo
160
bem complexos. Pareciam delicados o suficiente para Enri se preocupar que no mo-
mento em que ela os tocasse, quebrariam imediatamente.

“Enri, aceite a bebida. Seria rude continuar recusando.”

“Ah, bem, eh, obrigada.”

“Melhor assim... hmm. A fragrância e o sabor do chá de ervas pode divergir de pessoa
para pessoa. A senhorita preferiria chá preto tradicional?”

“S-sim, obrigada.”

A empregada sorridente preparou o chá para eles com movimentos graciosos e elegan-
tes. Depois de enxaguar as xícaras com água quente, ela serviu o chá. Além disso, colocou
mais dois pequenos contêineres diante deles.

“Por favor, adicione as quantidades desejadas de leite e açúcar a seu gosto.”

Enri abriu o pote de açúcar. O que ela viu foram cubos brancos que pareciam neve em
pó. A aldeã colocou vários cubos de açúcar no copo, seus movimentos pareciam com um
autômato feito por uma criança, mexendo-os até se dissolverem. Depois disso, ela acres-
centou leite. Então, Enri tomou um gole e sentiu que seu rosto ia derreter.

“Do-doce!”

“Mm. É o efeito que se espera do açúcar. Não é sempre que dá para provar coisas doces
no vilarejo e também não criamos abelhas... se não me engano, só tem algo parecido com
xarope, né? Eu lembro que havia magia de fazer especiarias, mas isso é algo completa-
mente diferente...”

Enri esqueceu onde estava e exclamou em voz alta para Nfirea.

“Tente o seu melhor pra lembrar!”

Depois de ouvi-lo dizer “Ah, hum, sim” e fazer outros ruídos, Enri tomou outro gole do
chá avermelhado, e o doce sabor deixou seu coração se acalmar.

“É tão... doce e delicioso.”

Logo depois, várias batidas vieram da porta. A empregada se moveu com graça e a abriu.

“Ainz-sama e sua irmã mais nova retornaram.”

Quando a porta se abriu, Nemu entrou correndo, seu rosto estava radiante de felicidade.
Ainz seguiu atrás dela.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


161
“Nee-san! É tudo incrível! É brilhante e bonito, é realmente incrível!”

Enquanto Nemu abraçava sua irmã pela cintura, Enri se levantou para se curvar a Ainz,
o tempo todo tomando cuidado para não deixar os pés de sua irmãzinha sujarem o sofá.

“Gown-sama! Peço desculpas por qualquer grosseria que minha irmãzinha tenha feito
com o senhor!”

“Certamente não. Sou eu quem devo desculpas por ficar com ela por tanto tempo.”

“Não há problema algum. Somos nós que agradecemos ao senhor.”

Ainz acenou com a mão para indicar que não era um problema.

“Então, antes de discutir assuntos com o Nfirea-kun, vamos comer.”

“Eh? Não queremos te incomodar tanto—”

Encarando Nfirea em pânico, Ainz respondeu com um gesto calmante.

“Isso é para garantir que meu acordo com o Nfirea-kun mais tarde seja favorável para
mim.”

“O que o senhor quer dizer com acordo?”

“...Eu vou explicar antes de comermos.”

Ainz sentou no outro lado do sofá.

“Para começar, não tenho intenção de vender abertamente a poção que você fez. Ou
melhor, sem os ingredientes que eu forneço, você não pode fabricar a poção roxa. Con-
corda?”

“Claro. Tem sido difícil chegar até aqui, mesmo quando estamos usando o material for-
necido pelo senhor, Gown-sama. Ainda há muitos fatores desconhecidos, como o poten-
cial e os outros efeitos.”

“Portanto, oferecê-la publicamente só causaria problemas. Mesmo o simples ato de in-


dagarem de onde vem os ingredientes é arriscado... ninguém pode garantir que não vão
tentar roubar seus segredos a todo custo, não acha? ...E pelo que a Lupusregina me disse,
seu vilarejo sofreu um ataque de monstros. Existe a possibilidade de que esses monstros
atacaram apenas porque buscavam a proteção de muros fortes. Mas sabem se tem algum
outro motivo? Fizeram algum prisioneiro?”

Nenhum.

Epílogo
162
Enri respondeu por dentro. Quando ouviram o rugido monstruoso vindo de trás — feito
pelos Trolls a Enri e Nfirea — os Goblins simplesmente não tiveram tempo nem a habi-
lidade de fazer qualquer prisioneiro, apenas tentar pôr um fim no ataque já exigiu muito
deles, não havia inimigos sobreviventes.

E aquela coisa com a espada mágica era muito forte...

“Entendi. Bem, que pena... Até onde consegui pensar, seu vilarejo ser atacado pode ter
sido o que comentei. À medida que as defesas do vilarejo se tornarem mais fortes, isso
chamará mais atenção. Um objeto valioso jogado ao léu dificilmente é notado, mas o
mesmo chamará atenção se estiver sendo altamente protegido, não? Da mesma forma,
se as notícias da poção vazassem...”

“...Devemos evitar chamar atenção.”

“Fico feliz que entenda, Nfirea-kun. Se pudéssemos fazer a poção vermelha usando ape-
nas os ingredientes do vilarejo, não haveria razão para manter isso em segredo... Logo
mais jantaremos, mas tudo o que discutirmos terá que ser mantido em segredo. Espero
que todos os presentes entendam isso. Enfim, os preparativos para a refeição serão fi-
nalizados em breve. Vamos indo?”

“Ah, não, não precisa, como vamos participar de algo tão chique...?”

Enri apressou-se a sacudir a cabeça.

“...Bem, jamais irei forçá-la... mas sabia que pedi para prepararem um filé du d’dragão
para um prato principal?”

“Dragão?”

Dragões. Em todas as histórias que Enri ouvira, eles eram inimigos da humanidade, mas
alguns deles eram amigos da justiça. No entanto, não importa em que histórias eles apa-
recessem, eles sempre foram seres poderosos. Poderiam tais seres se tornar comida?

Impossível. Só pode ser brincadeira. Se Ainz não tivesse sido o único a dizer isso, ela teria
pensado assim.

No entanto, uma vez que era um grande magic caster na frente dela dizendo, isso signi-
ficava que havia uma grande chance de ser verdade.

“Também terá sobremesas. Já tomou sorvete? Apesar de E-Rantel ter alguns... não acho
que os de lá sejam como os nossos. Eles são gelados e doces... derretem na boca. É uma
versão aprimorada da raspadinha de gelo.”

Enri e Nemu não podiam deixar de engolir.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


163
“É uma sobremesa de luxo. Apenas uma porção custa mais do que um dia de comida.”

“Parece que já experimentou algo assim antes, Nfirea-kun. Então eu vou providenciar
os mais deliciosos sorvetes que se possa imaginar. A propósito— qual o menu?”

Em resposta, a empregada recitou uma longa série de palavras.

“Para o menu de almoço de hoje, serviremos dois canapés. O primeiro será um prato de
Lagosta Perfurante do mar Nóatún, em um molho velouté. O segundo será um prato de
foie gras au Poiret de Víðópnir. Para sopa teremos creme de batata doce e sopa de casta-
nha ao estilo de Alfheim. O prato principal será bife marmoreado feito dos antigos Frost
Dragon de Jotunheim, já mencionado anteriormente pelo Ainz-sama. Para sobremesa,
compota de Pomos de Ouro, servida em vinho branco e coberta com iogurte. Além disso,
temos sorvete de chá preto com cobertura de folha de ouro. Quanto as bebidas para lim-
parem um trato, consideramos que o café pode não agradar a todos, por isso sugerimos
suco de pêssego fresco. Isso é tudo. Se qualquer parte do menu exigir alteração, informe-
nos e faremos isso imediatamente.”

Isso é um encantamento mágico!? Enri, que não tinha idéia do que ela acabara de recitar,
isso era certo.

“Nem todos gostam de foie gras, não é? Duvido que os jovens gostem. É um prato dema-
siadamente exagerado. Que tal algo leve?”

“Sim. Então, vamos adicionar salada de vieiras e ameixas secas como aperitivos.”

“Hmm, tem isso... esse menu é melhor que o anterior?”

“Eh!? O senhor pergunta pra mim!?”

Enri, que havia sido subitamente colocada no local, respondeu sem pensar. Seria muito
ruim se ela tivesse que continuar falando coisas que nem sabia:

“Ah, er. Não. U-uh. Eu confio nas escolhas do senhor.”

Levou todo o seu esforço para obter uma única frase. Ainz instruiu a empregada a pre-
parar a refeição, como sugerido.

Nemu olhou para Ainz com olhos de adoração, murmurando “tão incrível” para si
mesma. Enri sentia o mesmo. Isso era totalmente díspar do mundo em que cresceu.

Pessoas ricas podiam gastar dinheiro em luxos. E ser capaz de comer, não apenas para
encher e saciar a fome, mas também por prazer, era parte disso. Riqueza, conhecimento
e poder. Um magic caster que tinha tudo isso.

Epílogo
164
Ele era um ser que Enri, uma simples fazendeira, não tinha esperança de alcançar, uma
pessoa que seria melhor referida como o Rei dos reis.

Este magic caster mascarado era, de fato, muito singular.

“Então vamos. Embora eu não pretenda desfrutar dos pratos, os três— digo, sua família
deve aproveitar a refeição sem reservas. Só depois discutiremos negócios. Ah, eu preciso
dizer a Lupusregina que estou adicionando mais uma pessoa à lista.”

“Eh? Que lista, Gown-sama?”

“Nada, não é nada, Nemu.”

Ainz se levantou e a radiante Nemu se levantou também.

O rosto de Enri tinha ficado um pouco corado por Ainz ter se referido a eles como uma
família, mas ela notou algo estranho em Nfirea, que se levantava lentamente.

Sua boca estava tão fechada que parecia uma linha reta. Ele parecia coagido. Enri, po-
rém, sabia o segredo para relaxá-lo. Ela olhou com ternura para ele. Através da brecha
no cabelo, os olhos de Nfirea moveram de um lado para o outro, até que, finalmente,
como se tivesse desistido, ele suspirou.

“Eu só estava pensando que não posso competir com ele. Digo, não é de hoje que sinto
isso. É só que, ele é muito mais homem do que eu.”

“Nada disso me importa, entendeu? Pois eu gosto é de você, Enfi.”

Homens medem seus níveis tanto assim, isso importa mesmo?

Como mulher, ela não conseguia entender o quanto isso era significativo. O rosto de
Nfirea ficou vermelho e ele segurou a mão de Enri.

Ele respondeu “Vamos” e não havia mais escuridão naquelas palavras.

Embora ela não soubesse o porquê os sentimentos de seu amado haviam mudado, ani-
mar-se de repente significava que estava feliz. De mãos dadas, Enri e Nfirea seguiram
Ainz e Nemu.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


165
Conto 2 - Um Dia Em Nazarick

Epílogo
166
Parte 1

05:14 - Hora de Nazarick

ma gotinha de água se acumulou no final da torneira de ouro, ela lenta-

U
mente aumentou até que finalmente foi puxada pela gravidade e espirrou
no chão do banheiro.

Havia várias instalações para banho dentro da Grande Tumba de Nazarick,


e essa era uma delas.

Alguém encharcou uma banheira de pedra que era grande o suficiente para acomodar
várias pessoas ao mesmo tempo.

A água azul pingava de um corpo branco e escorregadio. Essa cor azul não era uma alu-
são literária, mas uma cor azul real, como se tivesse sido produzida por meio de uma
aplicação deliberada de corante.

Um líquido de cor azul lambia o corpo branco como porcelana, começando pelos pés.
Seu corpo escorregadio desafiava a força da gravidade e se arrastava para cima, ao con-
trário da água que fluía em todas as direções.

“...Fuaahhhh...”

O banheiro era muito propenso ao eco, por isso, as palavras assim que inconsciente-
mente escaparam eram inesperadamente altas dentro de seus confins.

Talvez se envergonhasse de sua própria voz, mas de repente uma mão esbelta emergiu
do líquido azul. O som esperado de gotículas de água e ondulações na superfície da água
não foi encontrado em lugar nenhum. Isso porque esse líquido era anormalmente vis-
coso.

A mão erguida acariciou um rosto que muitas elogiaram por sua beleza.

“Haah...”

A pessoa em questão suspirou baixinho, depois se deixou cair no líquido. No entanto, o


corpo dessa pessoa não afundava na água. Em vez disso, o líquido azul lentamente en-
globou a estrutura esbelta daquela pessoa. A suavidade se assemelhava a um colchão
d'água.

O líquido era claramente sapiente.

Esse ponto foi prontamente corroborado no momento seguinte.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


167
O líquido azul começou a se contorcer, extrudando vários tentáculos com a espessura
de um ou dois dedos cada. Esses tentáculos começaram a se mover, como se quisessem
abraçar aquela pessoa. Naturalmente, a mesma coisa estava acontecendo dentro do lí-
quido azul também.

Tocava o rosto, o peito, a barriga, os braços, as pernas — bem como os ombros.

Depois de agarrar sua presa, o líquido começou a se contorcer, como se estivesse satis-
[ S l i m e Sáfira]
feito. Na verdade, era um Sapphire Slime, uma variante de Slimes de alto nível.

O Slime Safira começou a mover os longos e finos tentáculos que envolviam o corpo.

Os tentáculos se infiltraram nas minúsculas fendas da virilha.

“—Urhhhh...”

O grito soou mais uma vez. Embora fosse mais alto do que antes, aquela pessoa não
pensou em abaixar a voz dessa vez, simplesmente focada nas sensações que o Slime pro-
porcionava ao redor ao se contorcer dentro de seu corpo.

O som de alguém falando consigo mesmo ecoou pelo banheiro.

“—Ah, isso é ótimo. É tão bom que nem consigo definir.”

♦♦♦

A pessoa dentro da banheira — Ainz — murmurou para si mesmo enquanto tomava


um banho de Slime.

Ele pegou um punhado do Slime e despejou sobre a cabeça. O Slime trabalhava sem
parar limpando as fendas de sua pélvis, parecia sentir onde seu mestre queria que fosse
limpo. Logo depois, Ainz sentiu o Slime rastejando em sua cabeça.

“Huuh, isso é o paraíso.”

O corpo undead de Ainz era composto inteiramente de ossos.

Ele não tinha metabolismo, de modo que seu corpo não fedia nem se sujava de resíduos
corporais. No entanto, isso não significava que não precisasse tomar banho. Afinal de
contas, pó e fuligem ainda se acumulavam nele e, às vezes, sangue de seus inimigos res-
pingava nele. Desse modo, ainda poderia ficar sujo.

Além disso, pela cultura japonesa estar enraizada, ele se sentia muito desconfortável
por não tomar banho.

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


168
“Eu só podia tomar banho de vapor naquele mundo. Quando soube que dava para tomar
banho aqui, só pensei em mergulhar de cabeça na banheira... talvez o banho seja uma
prática profundamente enraizada no povo japonês.”

Ele passou pelos movimentos de exalar enquanto afundava ainda mais no Slime. A sen-
sação escorregadia recebeu e aceitou seu corpo.

Não seria estranho se ele o tratasse como um líquido viscoso.

O banho normal é muito problemático.

Ainz abaixou a cabeça para olhar a parte mais problemática de seu corpo.

Suas costelas.

Limpar cada costela uma por uma era muito problemático. Ainz lembrou sua luta de
quando ele tinha feito isso antes, e suspirou — apesar do fato de que não precisava res-
pirar.

Essa não foi a única coisa problemática.

Sua coluna era do mesmo jeito. As protuberâncias prendiam a toalha, e ele não podia
limpá-las facilmente em um único movimento rápido. Ele tinha que limpar lentamente
cada vértebra individual.

No começo, Ainz tomara muito cuidado ao se banhar. No entanto, Ainz logo começou a
achar isso cansativo, apesar de sua suposta resiliência mental. Demorava pelo menos
meia hora para se banhar e, na ocasião, ele sempre pensava: “É algum tipo de piada?”.

Depois disso, ele decidiu mergulhar em água com sabão e ficar girando dentro dela
como uma máquina de lavar roupa. Até que deu certo, o problema era que não se sentia
limpo. Sem se esfregar ele não se sentia suficientemente limpo.

Depois disso, ele usou uma escova longa para o serviço. Foi bastante eficaz.

Claro, o sabão e a espuma espirraram para todos os lados, mas não era como se Ainz
fosse o único que pudesse se limpar. A limpeza era o trabalho das empregadas, e elas
ficaram encantadas com a chance de mostrar suas habilidades. Era verdadeiramente
uma situação de matar dois coelhos com uma cajadada só.

No entanto, mesmo essa boa idéia possuía falhas.

Essa falha era, não saber se ele realmente havia se limpado.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


169
Era como pegar uma cárie apesar de escovar cuidadosamente os dentes; embora
achasse que tinha se esfregado da cabeça aos pés, ainda estava preocupado por não ter
esfregado parte de si mesmo.

No fim, Ainz se deparou com essa alternativa de deixar um Slime envolvê-lo.

“Esta técnica... como eu pensava, é muito revolucionária e única, uma técnica perfeita
que não pode ser criticada.”

Ele murmurou para si mesmo, enquanto olhava para o Slime de cor azul que rastejava
sobre seu corpo.

Ainz assentiu feliz, satisfeito com o método que ele inventou para um banho fácil. Por
tudo o que sabia, isso poderia ter sido a melhor coisa que ele imaginou desde que veio a
este mundo.

“Me aplaudam!”

Enquanto Ainz se elogiava mais uma vez, ele olhou para o Slime que, diligentemente,
escorria em cima dele.

Que fofo...

Monstros como estes eram extremamente cruéis; eles podiam dissolver seus inimigos
com ácido e eram fortes o suficiente para dobrar barras de ferro com facilidade. No en-
tanto, para Ainz, eles eram seus assistentes na casa de banho, que ajudaram a limpá-lo.
Até certo ponto, eram como animais de estimação.

Ainda assim, mesmo que banhos de Slimes sejam bons... eu gostaria de tomar um banho
normal em algum momento.

Havia todo tipo de instalações no 9º Andar de Nazarick. Uma delas era um grande banho.
Era um complexo de várias subinstalações de banho com temáticas, uma delas era um
Spa Resort.

“Talvez eu vá tomar banho lá e ver como é...”

Dito isto, tomar banho sozinho era muito chato. Sendo esse o caso—

“Já sei! Vou chamar os Guardiões também. Seria bom se houvesse um tempo em que
todos estivessem livres.”

Ainz sorriu para sua boa idéia.

07:14 - Hora de Nazarick

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


170
Havia dois tipos de empregadas em Nazarick.

Um grupo era o das Empregadas de Batalha, representadas por Yuri Alpha, e o outro
era as empregadas regulares que não tinham habilidades de combate. As últimas eram
homunculi, com um nível racial e profissional combinado de 1, e eram responsáveis por
vários trabalhos no 10º e 9º Andar de Nazarick. Em particular, limpar os vários aposen-
tos dos Seres Supremos era uma tarefa da maior importância para elas.

Uma dessas empregadas regulares, conhecida como Cixous, movia-se rapidamente pelo
corredor, pois estava com pressa. Esta era uma técnica simples — não uma habilidade
especial ou qualquer coisa do tipo — e no fim, terminou no refeitório.

Havia apenas uma razão para ir ao refeitório neste momento.

Quando ela chegou, quase todas as suas colegas já haviam se reunido para o café da
manhã e começaram a comer.

O refeitório era predominantemente branco, com decoração esparsa. Os ecos dos sons
alegres das garotas ecoavam pelas paredes como ondulações na água. Não teria sido um
grande problema se houvesse apenas uma pessoa, mas como havia muita gente falando,
suas vozes se misturavam em um burburinho incompreensível. Além disso, o som de
talheres tilintando deixava ainda mais ruidoso.

As empregadas no refeitório poderiam ser separadas em quatro grupos principais.

Os primeiros três grupos eram classificados de acordo com seus criadores. Havia 41
empregadas regulares no total, mas não era porque cada Ser Supremo havia criado sua
própria empregada. Em vez disso, as empregadas regulares foram criadas por White-
brim, HeroHero e Coup De Grâce.

Estritamente falando, o último grupo não era um grupo adequado por si só. Era com-
posto pelas empregadas que haviam se separado dos três primeiros grupos para comer
em silêncio, para comer enquanto liam ou conversavam sobre as outras empregadas cri-
adas por outros Seres Supremos.

Cixous, que chegou atrasada no refeitório, pertencia ao último grupo.

Ela acenou para as empregadas feitas pelo mesmo Ser Supremo como ela — de certo
modo, eram suas irmãs— e então se dirigiu ao seu lugar habitual.

“Bom dia... já comeu?”

“Bom Dia. Já sim. O café da manhã estava uma delííícia! Tão cremoso, suave e sabo-
roso~.”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


171
A pessoa que entregou aquela resposta inexpressiva chamava-se Foire. Ela era uma
péssima mentirosa, mas mentia mesmo assim. Ela tinha cabelo curto e sua saia de em-
pregada era similarmente encurtada para combinar com sua aparência enérgica.

Contrastando ela estava Lumière, que tinha uma aura de pureza sobre sua aparência.
Havia um brilho misterioso em seu cabelo loiro, que brilhava como se houvessem estre-
las.

“Bom Dia — Foire, já que fez sua refeição, pode esperar por nós aqui. Ainda não tomei
café da manhã, então vou pegar um pouquinho. Venha, Cixous, vamos lá.”

Lumière se levantou, seguida de perto por Foire, que estava freneticamente dizendo:

“É brincadeira, é sério~.”

Depois de concluir o diálogo habitual, as três foram até o balcão do bufê de self-service.
Naturalmente, havia uma empregada chamada Increment, que estava lendo em silêncio
um livro ao lado delas, vigiando seus assentos.

A primeira coisa que Cixous fez no bufê foi uma porção de crispy bacon. Como um mem-
bro da facção que acreditava que “bacon mole é coisa do diabo”, ela sempre fazia isso em
primeiro lugar. Em seguida, ela se serviu de sopa. Dos três sabores de hoje — especial
do dia, milho e cebola — ela escolheu o último. Depois disso foram linguiça, batatas fritas
e danishes. Seu outro prato estava cheio de salada de cebola, quase ao ponto de derra-
mar. Finalmente, Cixous fez uma ordem para um criado mascarado.

“Hum, eu quero um queijo triplo com cebolas duplas e cogumelos extras.”

O criado assentiu e começou a fazer a omelete.

Cixous voltou para seu lugar, organizou os pratos na mesa e depois serviu-se de um
copo de leite antes de voltar para onde o criado estava esperando com sua omelete re-
cém-preparada.

“Muito obrigada.”

A omelete impecável estava perfeitamente preparada, sem uma única queimadura, e


ela retornou ao seu lugar exatamente como suas amigas.

“Então, vamos comer!”

“Vamos comeeer~!”

“Vamos comer.”

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


172
OVERLORD 6 Os Dois Líderes
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As três tomaram o café da manhã em silêncio. Lenta, mas firmemente, elas transferiram
as montanhas de comida — muito além do que uma garota normal consumiria — de seus
pratos para suas barrigas. Isso era uma característica racial que elas possuíam, um ape-
tite acima do normal, melhor dizendo, uma penalidade racial.

Porém, mesmo estando entre amigas, nunca conversavam enquanto comiam.

Foire mastigava enquanto suas bochechas ainda estavam cheias de comida, Lumière
comia elegantemente, mas seu garfo se movia a uma velocidade feroz, e Cixous comia a
uma taxa entre as duas.

Logo, seus pratos esvaziaram com rapidez surpreendente, e as três beberam de seus
copos depois disso.

“Huuu...”

As três exalaram, o cheiro de leite poderia ser sentido e depois se entreolharam.

“Vamos repetir?”

“Por mim tudo bem, mas vamos fazer uma pausa primeiro.”

“Eu aprovo~! Me sinto meio estufada agora, enfim. Ei, Cixous, não é a sua vez de servir
o Ainz-sama hoje? Hoje parece mais determinada do que o habitual.”

Foire sorriu maliciosamente, assim como Cixous.

“Sorte sua, quanto tempo será até a minha vez?”

Lumière contava os dias em seus dedos.

♦♦♦

Os quartos dos governantes supremos de Nazarick eram enormes em escala, tanto que
uma pessoa precisaria de meio dia ou mais para limpar um deles com cuidado. Enquanto
as empregadas tinham os números brutos para limpá-los todos em uma base diária,
mesmo com o quarto de reposição de Albedo levado em conta, isso exigiria que muitas
pessoas trabalhassem o dia todo sem qualquer descanso.

No entanto, isso não era um problema para as empregadas. Elas haviam sido criadas
pelos governantes da Grande Tumba de Nazarick, a guilda Ainz Ooal Gown; era justo que
elas trabalhassem com afinco da pele até os ossos, porque era um ato de venerar seus
deuses, seus criadores.

E então, essas trabalhadoras fanáticas foram instruídas a descansar, graças ao ser de


infinita bondade, Ainz Ooal Gown.

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


174
Ainz conhecia as dificuldades de trabalhar em empresas antiéticas, ele não suportava
deixar que essas doces meninas, que eram como as filhas de seus amigos, sofressem as-
sim.

Ele lhes dissera: “Não limpe os aposentos não utilizados com tanta frequência”, e depois
“Vocês vão trabalhar e descansar em turnos”.

Assim, as empregadas regulares de Nazarick foram organizadas em dois turnos; o turno


do dia e o turno da noite. O primeiro tinha 30 pessoas e o segundo 10, enquanto o res-
tante do pessoal tirava o dia de folga. Depois de calcular os dias úteis para as empregadas,
o anúncio de que elas teriam uma pausa a cada 41 dias foi recebido com reclamações.

Não era que houvesse poucos dias de folga, mas o contrário. Elas pediram que o dia de
folga fosse cancelado.

Pelo modo que falavam, trabalhar para os Seres Supremos era o motivo de sua existên-
cia. Dizer que elas não precisavam trabalhar prejudicava seu senso de autovalor e as
fazia sentir que não eram mais necessárias.

Como tal, as empregadas decidiram discutir o assunto com Ainz. Elas disseram: “Por
favor, não tire nossos empregos”, “Queremos fazer isso dia e noite”, e assim por diante.

Ainz ignorou a sugestão. O conceito de fadiga existia em YGGDRASIL e, embora pudesse


ser facilmente remediado com magia, não havia garantia de que a fadiga seria curada tão
facilmente neste mundo. Mesmo com a magia, ele estava preocupado com a possibili-
dade de degradar sua capacidade funcional, como uma engrenagem lentamente per-
dendo seus dentes.

No entanto, as empregadas se recusaram a recuar. Diante de suas lágrimas, Ainz cedeu


e propôs um novo tipo de trabalho para elas.

Elas teriam que servir pessoalmente a Ainz.

Essa tarefa implicava ficar ao lado de Ainz para atender a todas as suas necessidades e
caprichos, e as empregadas se revezavam para preencher esse papel.

Para as empregadas, essa oferta era tão tentadora quanto o açúcar aspergido com mel,
pois a maior alegria na vida era servir os Seres Supremos. Elas aceitaram a sugestão sem
pensar duas vezes, junto com a ordem de que “Vocês precisam cuidar de si mesmas e des-
cansar bem no dia anterior, para que possam servir com todas as suas forças quando for a
sua vez.”.

♦♦♦

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


175
“Sabe como é, precisamos dos nossos nutrientes para podermos trabalhar com tudo
que tivermos. Além disso, dependendo das circunstâncias, pode precisar pular uma re-
feição também.”

“Claro, quando servimos ao Ainz-sama, nosso cérebro precisa de todos os nutrientes


possíveis.”

“Eu quero algo doce...”

As três meninas assentiram em uníssono. A propósito, todas as empregadas carrega-


vam várias refeições com doces e outras guloseimas. Elas lanchariam sempre que tives-
sem tempo livre enquanto serviam Ainz. Entretanto, afortunadamente ou não, elas sim-
plesmente não poderiam encontrar esse tempo livre. Como tal, a refeição da manhã era
muito importante.

“Ficou sabendo da novidade? Dizem que vão cozinhar usando ingredientes do mundo
exterior e fazer uma degustação de comida.”

As outras duas engasgaram com a declaração de Cixous.

Não vejo a hora. Pensou Cixous.

Poucas empregadas pensavam bem do mundo exterior — o mundo que ficava além de
Nazarick. Algumas delas sentiam que o mundo exterior era inferior à Nazarick, mas a
maioria delas temia, porque o andar logo acima de sua casa, o 8º Andar, já fôra invadido
por hereges do mundo exterior.

“Todas as empregadas poderão participar? Ou apenas algumas?”

Assim que Cixous estava prestes a responder à pergunta de Foire, a atmosfera no refei-
tório mudou. O ar em si parecia aquecer.

Quando a recém-chegada apareceu à vista das empregadas, elas gritaram de felicidade.

“Shizu-chan!”

“É a Shizu-chan!”

A pessoa que acabara de entrar no refeitório era uma das Pleiades, CZ2128 Delta.

As Empregadas de Batalha eram como Idols para as empregadas regulares, e CZ era a


mais popular de todas. Havia lutas frequentes para se sentar ao lado dela.

“Ah, o pinguim está aqui também.”

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


176
CZ segurava um pinguim debaixo do braço e um criado aflito estava atrás dela. Era o
Mordomo Assistente, Eclair. Ele batia asas com todas as suas forças, mas não havia como
escapar com a força de um Birdman de nível 1. Suas lutas desesperadas rapidamente
perderam o vigor quando as empregadas observaram.

No fim, o pinguim ficou mole e sem forças, como um verdadeiro bicho de pelúcia.

“Shizu-chan! Por aqui, aqui! Venha comer com a gente!”

“Não, venha aqui! Shizu-chaaaan~!”

“Jogue esse mordomo fora! Jogue ali, ó!”

“Manda esse pássaro inútil para o Head Chef, pelo menos ele vai contribuir para Naza-
rick dessa maneira!”

Houve uma diferença marcante na recepção que o Mordomo Assistente e CZ receberam


das empregadas, mas isso era de se esperar. Não gostavam dele porque proclamava em
voz alta que queria assumir Nazarick, apesar de ser um mero mordomo assistente.
Mesmo se ele tivesse sido criado dessa maneira pelos Seres Supremos, seus frequentes
anúncios daquelas palavras indelicadas o tornava insuportável.

CZ olhou através da comoção ao seu redor, como se estivesse procurando alguém. A


maneira adorável em que ela fez isso, como se fosse uma criança que não sabia onde
sentar, fez com que muitos dos corações das empregadas batessem mais rápido.

“Até aquele pássaro parece fofo quando a Shizu-chan o segura, tão estranho, né?.”

“Eu quero um dakimakura da Shizu-chan. Albedo-sama parece saber como fazer isso,
será que ela me ensinaria?”

“Albedo-sama é muito gentil, tenho certeza que ela vai concordar. Por que não pergunta
a ela da próxima vez?”

O som de um livro se fechando com um baque oco veio da mesa ao lado, e quando Cixous
se virou para olhar, seus olhos encontraram os de Increment.

“Este lugar está ficando barulhento, então vou voltar. Já que servirá o Ainz-sama hoje,
espero que termine o café da manhã rapidamente e não se atrase. Qualquer erro que
cometa respingará em todas nós.”

Tendo dito isso, Increment se virou e saiu sem esperar por uma resposta. Enquanto ela
observava sua companheira empregada sair, Cixous pegou um relógio de bolso. Feliz-
mente, ela ainda tinha algum tempo. Depois de se acalmar, ela deveria estar pronta na
hora certa.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


177
“Vou aproveitar que todas estão focadas na Shizu-chan e comer mais!”

Foire e Lumière assentiram com a idéia da Cixous.

“Oh~ gostei dessa ~su.”

A repentina resposta do lado fez as três empregadas ofegarem.

“Lu-Lupusregina-san!”

Com as mãos cruzadas sobre o coração, Cixous se virou para a fonte da voz. Não havia
ninguém lá há pouco, mas Lupusregina apareceu do nada enquanto todas estavam dis-
traídas por Shizu ou olhando para outro lugar. Ela se sentou de lado em uma cadeira com
as pernas em cima da mesa e até compartilhou uma parte de sua própria comida.

“Não nos assuste assim. Por favoooor...”

Foire ainda estava agarrada firmemente a Lumière, com as sobrancelhas pressionadas


em forma de .

“Meu coração quase saiu pela boca...”

Lumière mal prestou atenção a Foire, que se agarrava a ela. Ela falou baixinho, como se
estivesse com medo de sua astúcia.

As três dirigiam vozes de reprovação para Lupusregina, mas na verdade a infelicidade


dessas palavras era muito diminuta. Isso porque Lupusregina era a única das emprega-
das de batalha que as tratava como amigas, embora suas ações fossem difíceis de prever.
Ela passou seu tempo se movendo entre os diferentes grupos de empregadas, então ser
abordada por ela era um sinal de boa sorte. A melhor prova foi como algumas dos outros
grupos estavam olhando para Cixous e seu grupo com inveja.

“Nishishiiii! Acho que valeu a pena os experimentos no vilarejo ~su. Adorei as reações
de vocês ~su.”

A maneira como Lupusregina apoiou seu rosto com o braço sobre a mesa, ao mesmo
tempo em que exibia um sorriso maligno no rosto, fazia com que ela se parecesse com
um gato de sorriso perverso saindo de um livro de fantasia. Embora seu sorriso não fosse
nada além de travesso, ainda era surpreendentemente encantador. Cixous viu a Empre-
gada de Batalha sorrir por um tempo e ficou totalmente fascinada por ela.

As outras duas pareciam se sentir da mesma maneira, mas a primeira a se recuperar


dos sentidos fôra Foire.

“Vilarejo?”

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


178
Foire inclinou a cabeça, o que fez seu cabelo curto roçar no rosto de Lumière.

Lumière resistiu ao desejo de espirrar e afastou Foire, e então ela se reorganizou para
que estivesse olhando diretamente para Lupusregina.

“Lupusregina-san, está trabalhando fora, não é?”

“Isso aí, no vilarejo humano ~su.”

“Humanos, huh... deve ser difícil.”

Lumière olhou para Lupusregina com olhos simpáticos.

“Não, que nada ~su! Como o Ainz-sama ordenou, vale a pena fazer! ...Mas confesso que
é meio chato lá... Assim, seria muito mais divertido que fossem esmagados sob meus pés
~su.”

Cixous não tinha opinião particular sobre essa afirmação. Humanos e seus vilarejos e
tudo mais não eram importantes para ela. Se prosperaram ou fossem destruídos, a única
coisa que importava era se seriam úteis para Nazarick.

“Por falar nisso, o Ainz-sama disse que o vilarejo é bem valioso, não sei aonde, mas con-
fio no que ele disse ~su.”

“Dada a personalidade do Ainz-sama, ele deve ter dito em sua imensa misericórdia dos
miseráveis humanos que moram lá.”

“Não, não, Ainz-sama é como um furacão de morte. Tenho certeza que ele está apenas
esperando o momento certo para matar todos.”

“De onde tirou isso? Não sabe que o Ainz-sama é um gênio? Tudo isso deve fazer parte
do seu plano.”

“Ara~ não posso fingir que não ouvi is~su. Tão dizendo que o poder esmagador do
Ainz-sama não é a melhor parte dele ~su?”

As quatro lindas garotas se encararam, nenhuma delas disposta a recuar.

“Ainz-sama é belo e compassivo.”

“Ainz-sama é a morte encarnada.”

“Ainz-sama é um gênio incomparável.”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


179
“Oh, parece que cada uma tem impressões diferentes do Ainz-sama ~su. Que tal uma
competiçãozinha, hein? Qual de vocês pode escolher o título mais adequado pro Ainz-
sama?”

Em um instante, todas ficaram em silêncio. Lupusregina usava seu sorriso habitual, mas
tinha certa compreensão das qualidades de seu soberano e não estava disposta a admitir
a derrota. No entanto, Cixous e suas duas amigas sentiram o mesmo.

As empregadas regulares eram seres fracos, mas seu respeito e adoração ao seu mestre
não era menor que o de qualquer outra pessoa.

“Então, podem começar ~su.”

“Nesse caso...”

Lumière foi a primeira a falar:

“Então, como disse antes, gostaria de elogiar a beleza do Ainz-sama. Bem, que tal; mais
perfeito que as mais belas porcelanas, mais brilhante que o sol e estrelas, o Senhor da Mi-
sericórdia.”

Em seguida foi Foire.

“Bem, se vamos elogiar o Ainz-sama, então devemos elogiar seu incrível poder, não é!
Como governante da morte, o que poderia ser mais adequado do que; Memento Mori?”

A terceira foi Cixous.

“Ainz-sama foi quem coordenou os Seres Supremos, então suas habilidades de gerenci-
amento são sem iguais. Então seria; Rei Engenhoso.”

Embora todos os nomes se ajustassem bem ao seu mestre, no final todas pensaram que
as suas próprias escolhas eram as melhores.

Lupusregina tossiu gentilmente quando Cixous, Foire e Lumière olharam para ela. Com
um sorriso travesso, ela disse:

“O certo é chamar ele de; Transcendental—”

“...Te achei.”

A fonte da voz calma era CZ. O Mordomo Assistente Eclair que ela estava segurando
debaixo do braço tinha desaparecido para partes desconhecidas.

“...Pare de usar sua invisibilidade o tempo todo.”

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


180
“Foi mal ~su. É um hábito—”

“...Já começou a comer.”

Uma raiva borbulhante como o sol ardia sob o rosto sem emoção de CZ. Cixous tinha a
sensação de que ela não deveria estar mais aqui.

“...Ah, o Ainz-sama me espera!”

“Er, já vou indo também.”

“Vou acompanhar vocês~.”

Cixous e as outras silenciosamente deixaram seus assentos, embora se sentissem um


pouco mal, ignorando os olhares suplicantes de Lupusregina para elas.

No final, elas não conseguiram repetir o café da manhã. Foi uma pena, mas era preciso
se recompor agora.

Cixous não prestou atenção ao climão atrás delas. Em vez disso, ela bateu levemente as
bochechas para se concentrar. Seu rosto tinha a expressão severa e corajosa de uma sol-
dada indo para uma guerra, mas seus passos eram leves e rápidos.

09:20 - Hora de Nazarick

No 6º Andar da Grande Tumba de Nazarick.

Os undeads que vagavam pela tumba não estavam à vista, mas animais mágicos —
como os controlados por Aura — defendiam esse local no lugar de monstros POP. Esta
área — conhecida como a mais expansiva na Grande Tumba de Nazarick — era em
grande parte coberta por uma densa floresta, a ponto de poder ser descrita como um
mar de árvores.

Dito isto, os antigos membros da guilda Ainz Ooal Gown foram muito meticulosos
quanto aos detalhes. Eles certamente não pintariam essa área de verde e se contenta-
riam.

Havia um Coliseu, uma árvore gigante, vestígios de uma aldeia que havia sido engolida
pela selva, um lago, uma caverna venenosa, um bosque retorcido, um manguezal e um
pântano sem fundo, tudo isso acrescentando variedade ao mar de árvores. Recente-
mente, eles construíram uma pequena aldeia para receber novos residentes.

No centro desse mar de árvores havia um grande lago — ainda era menor que a área
do Lago Subterrâneo no 4º Andar — que não era cercado por floresta, mas por pastagens.
Porém, a pastagem e o lago eram relativamente pequenos quando comparados com a
totalidade do 6º Andar, que era grande o suficiente para seus propósitos.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


181
Seus residentes — o primeiro deles era Aura, Guardiã de Andar. Ela montou facilmente
em cima de um lobo gigante com pêlo negro, o simples movimento foi o suficiente para
dizer que ela tinha muita experiência em fazer isso.

Todavia, isso era apenas esperado. Afinal, quando patrulhava essa grande área, ela pre-
feria fazê-lo enquanto cavalgava as feras mágicas sob seu domínio, embora correr por
conta própria fosse bastante fácil dadas suas habilidades físicas sobrenaturais.

Havia duas outras mulheres.

Uma delas era a Supervisora Guardiã, Albedo. Ela não estava usando o habitual vestido
branco de sempre, mas a armadura de placas preta que vestia para o combate. No en-
tanto, ela não estava carregando sua arma ou escudo.

A outra era Shalltear, que parecia a mesma de sempre. Seus olhos tinham um olhar es-
tranho que flutuava entre desinteresse e prazer.
♦♦♦

“Vamos começar — venha, minha montaria.”

A habilidade que Albedo usou se chamava 「Summon Bicorn」.

Uma fera mágica emergiu do nada, tão negra quanto a armadura que ela usava.

Esta fera tinha crina e rabo branco e parecia um cavalo. Estava equipado com uma ar-
madura de placas, rédeas e uma sela.

Era um pouco menor que um cavalo. No entanto, sua presença era muito mais opressiva
do que a de um cavalo comum. A diferença mais definidora poderia ser encontrada em
sua cabeça. Lá, encontrariam dois chifres que se projetavam para frente.

A primeira resposta à fera mágica que apareceu de repente veio de Aura, que sabia mais
sobre tais criaturas.

“Oh! Não é como um Bicorn comum! Seus chifres são grossos e parecem muito fortes
também.”

“Fufu~!”

Albedo riu e completou:

“Exatamente. Este Bicorn foi reforçado pelas minhas habilidades em War-Bicornlord...


bem, na verdade é um Bicorn de nível cem.”

“E isso pode voar, é!?”

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


182
“Não, não pode. É praticamente o mesmo que um Bicorn normal; ele não tem nenhuma
habilidade especial, apenas melhora a resistência, força e destreza.”

“Então não pode aprimorar de verdade sua montaria sem as habilidades de equitação—
o ruim é que suas habilidades especiais são bem fraquinhas, isso pode acabar te dando
problemas se entrar numa batalha de nível cem.”

“Correto. Porém, posso compensar isso usando minhas habilidades para proteger esse
meninão, para que ele possa lutar por períodos mais longos.”

“Mas isso não significa que vai desperdiçar seus recursos nisso ~arinsu? Vai ser um
grande incômodo em combate, não é? Por que não aprimorar seu equipamento? Eu ouvi
que monstros do tipo montaria podem ser equipados com bardado e ferraduras e assim
por diante ~arinsu.”

“Sim. É possível alterar o equipamento de montarias conjuradas através de habilidades.


Está relacionado com a pergunta de antes, Aura; por exemplo, eu poderia equipá-lo com
ferraduras que garantam o voo e ele seria capaz de voar. No entanto, eu já dei itens má-
gicos para aumentar a velocidade... é realmente uma decisão difícil.”

Albedo deu um leve toque no flanco da fera mágica. Talvez ela tivesse usado muita força,
mas o Bicorn estremeceu.

Não havia como uma fera mágica que ela invocasse fosse desequilibrada por tanto. As-
sim como Albedo franziu a testa enquanto se perguntava se ele estava brincando, Aura
fez uma pergunta.

“Ei, ele tem um nome?”

“É um Bicorn...? Isso não basta?”

“Não, não tô falando da espécie, tô falando do nome dele mesmo.”

“E precisa de um?”

Ela olhou para Shalltear por sua reação. A Vampira não disse nada, simplesmente enco-
lheu os ombros.

“Certamente precisa de um, não? Não é seu bichinho de estimação, Albedo?”

“Bem, não é realmente meu bichinho de estimação... além disso, eu realmente invoco o
mesmo toda vez?”

Ao ouvir a pergunta de Albedo, Shalltear teve uma ótima idéia, que decidiu comparti-
lhar.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


183
“Que tal perguntar ao Kyouhukou ~arinsu? Ele é bom em conjurar familiares, então
deve saber bastante coisa relacionada a isso ~arinsu.”

“...Me dá um tempo. Ele é um membro de Nazarick, e sei que não deveria odiá-lo, mas...”

“Ah— pois é. Não acho que fazem por maldade, mas elas sempre rastejam nas roupas.
Ouvir dizer que a Entoma faz umas visitinhas lá às vezes.”

“Que asqueroso! Pare de falar disso, me faz sentir comichões... aquele lugar é uma casa
de horrores. Eu posso estar no comando daquele Andar, mas sinceramente não quero
entrar lá ~arinsu.”

“...Hey, Shalltear, sabia que a Entoma chama lá de lanchonete?”

“UGEEEH—! Quê? Sério mesmo!? Nossa... Eu não quero mais chegar perto da Entoma.”

Albedo sentia o mesmo. Ela não queria abordar ninguém que pudesse chamar “aquilo”
de um lanche. Assim que o clima começou a ficar estranho, Aura decidiu levantar a voz
e limpar o ar:

“Enfim, por que não dá um nome pra ele?”

“Tudo bem. Se acha que nomear é melhor, então eu o farei.”

Albedo murmurou para si mesma quando caiu em contemplação. Já que ela nomearia
sua montaria, então, obviamente, tinha que dar um nome que não iria constrangê-la. Ela
pensou em várias palavras e frases, e então um flash de inspiração a atingiu como uma
música surgindo em sua mente.

“O que está murmurando ~arinsu?”

“Ah, perdão.”

Disse Albedo, como se tivesse acabado de acordar de um sonho e completou:

“Bem. Se o Ainz-sama permitir, eu gostaria de dar um nome que represente como me


sinto quando o vejo; Top of the World!”

“Hmm — esse é um bom nome ~arinsu. Significa Topo do Mundo? Está tentando dizer
que o Ainz-sama é isso?”

Albedo sorriu, mas não respondeu.

As sobrancelhas de Shalltear se ergueram em um ângulo perigosamente inclinado.

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


184
Quando a tensão cresceu no ar, foi Aura quem teve que quebrá-la, como de costume.

“Ah, acho que serve, né... Já que deu um nome pra ele, vamos realizar o próximo expe-
rimento!”

“Mm, Claro.”

Tendo sido tratada como uma criança fazendo birra, Shalltear estreitou os olhos e olhou
para Albedo quando ela se virou para o Bicorn e colocou um pé nos estribos. Albedo
montou nele com uma graça que não parecia ter vindo de alguém vestindo uma arma-
dura. No momento em que tocou a sela, pôde sentir o corpo do Bicorn tremendo quando
se tocaram.

“O que foi!?”

Albedo não pôde deixar de exclamar. Ela não conseguia pensar em nenhuma razão para
que este Bicorn de nível 100 ficasse trêmulo. De repente, ela se lembrou do que aconte-
ceu quando deu um tapinha no Bicorn. Algum problema ocorreu? Se fosse esse o caso,
então qual seria a causa?

“Aura! Shalltear! Algo estranho está acontecendo com o meu Bicorn. Poderiam me aju-
dar a descobrir o porquê?”

Nesse momento, o Bicorn começou a tremer. Parecia que não podia mais ficar de pé. As
duas observaram e perceberam que havia algo de anormal acontecendo aqui.

“...A-acho melhor você descer primeiro, Albedo!”

“T... tudo bem.”

Depois de ouvir Aura dizer isso, Albedo finalmente respondeu saltando da criatura.

O Bicorn oscilante rapidamente desmoronou. Estava ofegante e as partes visíveis de


seu pêlo estavam brilhantes devido ao suor.

“...Albedo, andou engordando ~arinsu?”

Shalltear não estava dizendo isso para tirar sarro dela. Qualquer observador teria pen-
sado a mesma coisa.

“Que grosseria! Estou sempre controlando meu peso porque tenho mais músculos do
que a maioria!”

“Será que os músculos dele ficaram mais fracos porque não cavalga regularmente? Sabe,
eu sempre dou umas voltas com os meus, costumo levar eles nas patrulhas pelo Sexto
Andar.”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


185
“Eh? Como assim... Mas o 「Summon Bicorn」 não o faz diferente de outros animais?
Não há como ficar mais fraco.”

“Quer que eu monte ele pra ver?”

“Sinto muito, mas não vai funcionar. Por ser a minha montaria, ninguém mais pode
montá-lo. Se alguém tentar, ele irá automaticamente se desconjurar.”

“Acho que perguntar não tira pedaço, né? Ei, Bicorn-san, por que tá agindo assim?”

Aura fez uma pergunta. Não era que Aura pudesse falar com cavalos, mas feras mágicas
como os Bicorn deveriam ter uma inteligência muito alta, então Aura esperava que en-
tendesse a fala humana. Naturalmente, o Bicorn não podia falar, então tudo que podia
fazer era relinchar como um cavalo.

“Não pode falar... nem pode escrever também, né?”

O Bicorn relinchou afirmativamente.

As três se entreolharam.

“Aura, tem alguma habilidade capaz de mudar isso?”

“Não. E que tipo de habilidades acha que eu tenho? Já te disse todas as minhas habilida-
des aquela vez lá que conversamos, vai dizer que esqueceu, Supervisora Guardiã-dono!”

“Ara... então como costuma se comunicar com o Fenrir?”

“Eu só digo pra ele fazer isso e aquilo e pronto.”

“E isso não é se comunicar com ele? Acho que se tentar você deve ser capaz de se co-
municar com meu Bicorn, ou tem algo a mais?”

“Só porque consigo conversar com meus animaizinhos, não significa que eu possa falar
com todos. Já até tentei em outros. Os Lizardmen têm um animal de estimação chamado
Rororo, algo assim. Eu não sei o porquê, mas não consigo falar com ele de jeito nenhum.”

As três se entreolharam mais uma vez.

“...Já que estamos sem saída, o único para o qual podemos contar é com o Demiurge
~arinsu.”

“Infelizmente ele está trabalhando fora sob as ordens de Ainz-sama. Ele não passa
muito tempo em Nazarick ultimamente. Eu posso entrar em contato com ele, mas para
ser honesta, realmente não quero consultá-lo se não for algo relacionado ao trabalho.”

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


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Um olhar de ciúme apareceu nos olhos de Shalltear e Aura. Demiurge — que trabalhava
arduamente para seu mestre — era o objeto da inveja dos Guardiões.

“Ah~, eu realmente invejo ele. Eu sei que a defesa de Nazarick é um trabalho importante,
mas se ninguém invadir, não teremos a chance de mostrar do que somos capazes, e isso
me faz pensar se sou realmente útil. Eu quero sair e realizar algo para que eu possa tra-
balhar arduamente para o Ainz-sama.”

“Eu só cometo erros... ~a...rin...su.”

“Relaxa, Shalltear. Sinto que vai ter a chance de se mostrar útil pro Ainz-sama em
breve— ou melhor, tenho certeza. Só precisa ser um pouco mais inteligente, senão com-
plica.”

“Aura, não acha que isso é... um pouco severo?”

“Ahhh, mas é verdade, ué... ela deu muitos problemas. Por isso precisa produzir resul-
tados dignos de uma Guardiã.”

Shalltear cerrava os dentes e, de repente, seu rosto se iluminou, como se uma lâmpada
tivesse se acendido acima da cabeça.

“Hu-hu-hu. por que estão falando mal de mim ~arinsu? O que eu queria dizer era que;
já que o Demiurge não está por perto e não podemos perguntar a ele, então eu lhe daria
uma ajuda. Bem, já que não tenho escolha, procurarei por você!”

Shalltear tirou um livro. Parecia grosso e pesado, como se tivesse mil páginas no mí-
nimo. No entanto, para Shalltear — que parecia uma garota por fora, mas que o mesmo
não se refletia por dentro — seu peso não era quase nada.

“Ohhh—! Não, não, não me diga que é...!”

“Hnnng, um tesouro conferido a você pelo Ainz-sama!”

Não foi apenas Aura; até mesmo Albedo olhou para Shalltear com ciúmes.

“De fato! Enciclopédia by Peroroncino-sama! É minha recompensa por completar as or-


dens do Ainz-sama ~arin-su!”

Mesmo isso sendo mais um prêmio de consolação do que reconhecimento, para Shall-
tear era a melhor forma de elogio e ela sorria de satisfação. Ou melhor, isso foi apenas
natural. Um item de seu criador era mais valioso do que qualquer forma de incentivo.

♦♦♦

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


187
Este livro fôra chamado a Enciclopédia. Era um item que todo jogador recebia depois
de iniciar o jogo, e não poderia ser roubado ou perdido, a menos que seu dono decidisse
descartá-lo. Além disso, era único.

YGGDRASIL era um jogo de apreciar o desconhecido, e esse item poderia ser conside-
rado uma expressão física do desejo dos desenvolvedores de transformar o desconhe-
cido em conhecido.

Isso porque a Enciclopédia registrava os dados visuais de todos os monstros que um


jogador já havia encontrado. No entanto, não exibia estatísticas — as pontuações de ha-
bilidade dos monstros — mas apenas sua aparência e nome típicos. Se fosse um monstro
da mitologia, também exibiria os conteúdos relevantes do mito em questão e outras in-
formações relevantes.

A fim de fazer uso efetivo deste item em formato de livro, seria necessário inserir pes-
soalmente a informação que alguém havia reunido no livro. Tais informações incluíam
as habilidades especiais de um monstro ou suas fraquezas e assim por diante.

A Enciclopédia que Shalltear possuía pertenceu ao homem chamado Peroroncino, e foi


ele quem digitou os dados dentro daquele livro. Ainz lembrou que ele havia deixado este
item na Tesouraria quando desistiu do jogo, e assim, Ainz o entregou para Shalltear.

Contudo, muito do conteúdo que o Peroroncino adicionou foi apagado. Era como se Pe-
roroncino tivesse medo de deixá-lo para trás, portanto o rasurou.

Como resultado, o item não era muito útil, mas Shalltear não se importava com isso. Era
um item que seu criador já usou. Isso era o que importava.

♦♦♦
“B—, Bi—, Bic.”

Shalltear murmurava enquanto folheava as páginas.

Aura e Albedo se inclinaram para dar uma olhada, mas Shalltear usou seu corpo para
encobrir o livro e depois deu alguns passos para trás, antes de fixar as duas no lugar com
um olhar penetrante.

“Hmph— Tá, né... Até porque eu também tenho um bracelete que Ainz-sama me deu de
presente.”

Aura gentilmente acariciou seu bracelete de prata. Da mesma forma, Albedo acariciou
o anel em seu dedo indicador esquerdo. No entanto, ela não foi a única a receber esse
anel.

Eu quero uma recompensa especial para mim, algo que seja só meu. Eu quero um presente
especial do Ainz-sama—

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


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Assim que Albedo começou a acariciar seu abdômen, Shalltear exclamou. Parece que
ela encontrou a página que estava procurando.

“Bicorn! Achei, me deixe ver—”

Shalltear de repente congelou e olhou em choque, em seguida, olhou para Albedo.

“O que foi? Descobriu o quê?”

Albedo questionou nervosamente Shalltear quando ela olhou para o livro novamente e
leu a entrada.

“—Uma espécie mutante de Unicorn. Assim como os Unicorns devem estar associados
à pureza, os Bicorns estão associados à impureza. Os Unicorns só permitirão as donzelas
puras montá-los, mas, inversamente, os Bicorns nunca permitirão donzelas puras
montá-los... Hein!?”

Enquanto Shalltear lia essa parte, os olhos de Aura ficaram tão arregalados que pare-
ciam cair das órbitas.

“Impossível... então a Albedo é...?”

“Como assim impossível? O que você acha que eu sou?”

“Eh, você não é uma Succubus, Albedo?”

“S—Su—Succ—Succubus...”

Shalltear parecia estar confusa e começou a procurar por Succubus na Enciclopédia.

“Isso mesmo, eu sou uma Succubus! Mas eu não tenho experiência com homens, vai me
julgar agora!? Eu sou a Supervisora Guardiã, então estou sempre presa no Salão do
Trono! Eu quase nunca me encontro com mais ninguém! Além disso, Ainz-sama nunca
me chamou para a cama dele... eu prefiro morrer do que me entregar para qualquer ou-
tro homem que não seja o Ainz-sama...”

Albedo baixou a cabeça e então de repente ela levantou novamente:

“Bem, posso assumir que você também é...”

Albedo olhou para Aura que confirmou. Se Aura não fosse assim, haveria um problema
enorme.

“E você, Shalltear?”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


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“...Nenhuma com homens ~arinsu. Mas não posso dizer o mesmo sobre mulheres...”

Aura não entendeu por um momento e inclinou a cabeça. Então, ela pareceu entender,
porque franziu a testa e disse “Credo~” enquanto seu rosto se contorcia e dizia sem pa-
lavras “não, valeu”.

“Ahhh! É porque não há bons homens por perto ~arinsu! Eu gosto dos mortos, mas
cadáveres em decomposição não podem ficar... entenderam? Né?”

“Nem venha procurar aprovação pro meu lado, Shalltear. Seus fetiches são muito esqui-
sitos e eu não consigo e nem quero entender isso.”

As três se entreolharam e então simultaneamente desviaram os olhos. Elas concorda-


ram silenciosamente em terminar este assunto aqui.

“...Enfim, pelo menos sabemos o porquê eu não posso montar um Bicorn agora... não
posso acreditar que era por isso.”

O rosto de Albedo se torceu em infelicidade. O Bicorn pensou que tinha sido repreen-
dido e se encolheu.

“Hm — é praticamente como isolar parte da sua força, Albedo.”

“Ainda assim, não é como se você fosse realmente boa em combate em montarias
~arinsu. É apenas uma habilidade que você não pode usar, não? Se não pode montar seu
Bicorn, então que tal uma das feras da Aura ~arinsu? Talvez um Unicorn sirva.”

“Hm — ainda não tenho esse. Mas eu quero um.”

“Fiquei sem alternativas, então? Acho que não vai dar para evitar, vou pedir ao Ainz-
sama para me ajudar a resolver esse problema, todas concordam?”

O sorriso de Albedo parecia dizer às outras duas que não havia melhor maneira do que
essa.

“Isso é golpe baixo ~arin-su!”

“Hmph!”

Albedo hmphou em Shalltear e continuou:

“Que rude, Shalltear. Isto é necessário para que eu faça pleno uso de meus poderes
como Supervisora Guardiã de Nazarick a serviço de Ainz-sama.”

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


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“Fufufu. Hmph! Então não pode obter o amor do Ainz-sama sem usar subterfúgios como
desculpas... é o fracasso de uma mulher ~arinsu. Pois está praticamente dizendo que não
pode ganhar de mim apenas com seu charme.”

“Hã!?”

Ambas se encararam. Aura não aguentando mais, disse:

“Vocês duas estão com esse papo estranho de novo... deixem isso pra depois, que tal?
Tá parecendo que falam outra língua quando entra nesse assunto. E até porque, não é
como se isso fosse causar problemas agora. Não pode conjurar outras montarias, Al-
bedo?”

“Eu tenho um item mágico que pode conjurar um corcel.”

“Já tá bom demais, né? Quer mais o quê?”

“Usar um item mágico para conjurar uma montaria requer que eu mude meu equipa-
mento ou tire o item, então é mais esforço do que conjurar uma montaria com uma ha-
bilidade. E este Bicorn tem um poder de luta muito maior...”

“Então é só fazer o Bicorn receber os ataques do inimigo e usar esse tempinho que ele
comprar pra invocar seu corcel! Isso é o bê-á-bá pra um domador de feras.”

“Parece que é o que me resta fazer.”

“Quer dizer que se tornou mais fraca, Albedo ~arinsu.”

“Pelo menos poderia falar de um jeito evitando parecer que está rindo do infortúnio
alheio?”

“Mas você não se delicia com o meu sofrimento também, Albedo ~arinsu?”

“Eu não—!”

“—Você sim!”

Ambas ficavam nesse vai e vem.

“Fala sério, não aguento mais vocês duas... Ei, parem com essa bobajada agora. Que tal
ir pra outro lugar? Ainz-sama deu um dia de folga pra gente mesmo.”

Albedo concluiu que ela tinha razão e Shalltear — que estava discutindo com ela —
também assentiu. No entanto—

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“...Ele nos pediu para tirar uma folga, mas o que devemos fazer? Fomos feitas para pro-
teger a Grande Tumba de Nazarick e trabalhar para os Seres Supremos. Trabalhar é a
nossa vida...”

“Mesmo assim, quando Ainz-sama quer que descansemos, temos que descansar
~arinsu.”

As três se reuniram aqui porque seu mestre lhes disse: “Todas vocês trabalham ardua-
mente todos os dias. Como o tempo livre como esse é difícil de ser conseguido, vocês, Guar-
diãs, devem se organizar para saírem e se divertirem juntas.”.

“A gente se divertiu bem, quer dizer que não tem mais nada pra fazer? Ou será que isso
que a gente fez conta mesmo como diversão?”

“Ainda não sei bem. Claro, nos divertimos um pouco, mas ainda tenho minhas dúvidas.
Já sei, o que costumam fazer?”

“Eu patrulho do Primeiro ao Terceiro Andar. Então eu recebo relatórios dos Guardiões
de Área, ou eu verifico a prontidão do Andar inteiro ~arinsu. Se eu tiver tempo, tomo
um banho ou faço um tratamento facial...?”

“Estou surpresa que seja tão trabalhadora.”

“Como assim surpresa ~arinsu?”

“Banho, huh... e você, Aura?”

“Hm~ Quando o Mare tá no Coliseu, eu patrulho a floresta. Um grupo de recém-chega-


dos tá morando lá. Então eu vou pra casa e durmo... acho que só.”

“É isso!”

Os rostos de Aura e Shalltear estavam cheios de surpresa.

“É isso, é isso. Os recém-chegados que mencionou devem ser os moradores da aldeia


que foi construída neste Andar, é isso? Ainda não estive lá. Vamos juntas.”

“Eh? Sério? E você, Shalltear, já foi lá antes?”

“Sim ~arinsu.”

“Sério?”

Quando ela viu o olhar perplexo no rosto de Albedo, Aura explicou:

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


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“É que os outros Guardiões já vieram ver. O primeiro foi o Cocytus, veio pra ver os Li-
zardmen. Demiurge veio também pra verificar a situação. Os outros também aparecem
de tempos em tempos. Hm — vamos lá dar uma olhadinha, ué. É pertinho.”

09:38 - Hora de Nazarick

A aldeia construída no 6º Andar de Nazarick era pouco mais do que uma fileira de dez
casas de toras. Mal se qualificava como um assentamento. Havia um campo de cultivo no
lado direito da aldeia, e do lado esquerdo havia um pomar que era várias vezes maior
que o campo de cultivo.

Naturalmente, era cercada por florestas e, quando se olhava de baixo para cima, podia
parecer um buraco na floresta; o chamado Buraco Verde. As árvores aqui haviam sido
derrubadas e depois escavadas pelas raízes, de modo que, à direita, o solo deveria ter
sido irregular. No entanto, o terreno da aldeia estava artificialmente nivelado. Esse foi o
efeito da magia de Mare.

Muitos seres eram vistos trabalhando no pomar.

A primeira pessoa que viram foi uma fêmea de aparência humana, cuja pele era tão
lustrosa quanto uma casca de árvore. Ao lado dela havia uma criatura que só poderia ser
descrita como uma árvore ambulante.

A primeira era uma Dryad, enquanto o segundo era um monstro conhecido como Tre-
ant.

O Treant colocou a Dryad em suas mãos semelhantes a galhos e a levantou até chegar à
copa de uma árvore frutífera.

“Também tem uns dez Lizardmen ou mais morando aqui. Às vezes eles vão pro norte
— naquele lago que a gente tava — vão lá se divertir. Não é como se vivessem na água
ou algo assim. É meio estranho.”

“A aldeia é maior do que a última vez que vim. Parece haver mais residentes também
~arinsu.”

“Sim. Isso porque algumas espécies foram autorizadas a entrar em Nazarick depois que
a gente conquistou a Grande Floresta de Tob.”

“Espécies que foram autorizadas a entrar em Nazarick... eu lembro que as condições


eram; têm que ser heteromórficas, não precisarem de comida, e precisam ser bem-hu-
moradas, certo?”

“É, segundo o Ainz-sama. Mas essa condição de não precisar de comida tá mais pra ser
autossuficiente... as Dryad e os Treants absorvem nutrientes da terra, por isso não pre-
cisam comer. Porém, será ruim se os nutrientes da terra acabarem ou se não chover.”

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“Ohh — Mare faz chuva com magia? Ou é um item ~arinsu?”

“Agora o Mare tá responsável por isso. Mesmo com a restauração dos nutrientes da
terra. Algumas magias permitem grandes colheitas, e eu ouvi que essas magias podem
restaurar completamente os nutrientes da terra. As Dryads e os Treants dizem que é tão
gostoso que tem que se conterem pra não comerem demais, acabariam engordando...
mas não sei como é o gosto.”

Enquanto Shalltear conversava com Aura, Albedo examinou lentamente a aldeia com
um olhar frio e clínico reservado para examinar os experimentos. Então, uma tênue emo-
ção brilhou em seus olhos pela primeira vez.

“Ara? Aquele é o Sous-Chef nos campos? O que ele está fazendo?”

Elas olharam ao longo de sua linha de visão e lá, dentro de um trecho de terra cercado
— aparentemente se escondendo atrás de um grande talo com frutos vermelhos cres-
cendo por toda parte — havia um monstro parecido com um cogumelo se mexendo. Ana-
lisando mais a fundo, ele estava vestindo roupas que poderiam ficar manchadas en-
quanto colhia frutas vermelhas.

“É ele mesmo. Às vezes ele vem aqui colher uns ingredientes, tem umas plantas que ele
cultiva também. Vamos lá dar um oi.”

Albedo e Shalltear se entreolharam. Depois de verificar que nenhuma das duas estava
contra isso, e que estaria tudo bem, desde que não interferissem no trabalho dos colegas,
elas foram dar uma olhada.

“Oooi~ Trabalhando até suar como sempre, né!”

Quando ouviu a voz alegre de Aura, Sous-Chef levantou a cabeça para olhar para as três.

“Bem, meu corpo não transpira.”

Sous-Chef grunhiu como um homem velho quando se levantou endireitando as costas.


Embora ele estivesse debruçado em uma postura de trabalhar nos campos, o fato de não
ter cintura — seu corpo tinha a mesma espessura de cima a baixo, então não havia uma
parte dele que fosse rapidamente identificável como uma cintura — não as ajudava a
saber se suas costas doíam ou se ele tinha mudado de disposição.

Depois disso, Sous-Chef girou o pescoço, como alguém com dores no ombro. Sua cabeça
era como um chapéu de cogumelo, revestido com algum tipo de líquido vermelho-arro-
xeado que parecia poder pingar a qualquer momento, mas o fato era que era muito só-
lido e misteriosamente elástico, parecia cola seca, então não havia como escorrer ou es-
pirrar ao redor.

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


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“Por acaso isso são tomates?”

Albedo parecia interessada no que Sous-Chef estava segurando e por isso perguntou.
Ele trouxe as frutas diante de seus olhos e balançou a cabeça, confuso.

“Realmente são tomates. Mas tomates normais. Não são do tipo que explodem depois
de absorver a luz do sol, nem atacam pessoas ou irradiam luz dourada quando os abre;
são tomates comuns.”

“Ou seja, são tomates comestíveis, amplamente disponíveis e comuns?”

“Exatamente. Eu não tenho as habilidades especiais necessárias para cultivar vegetais


que podem produzir efeitos especiais. Dado o seu interesse por estes tomates, posso as-
sumir que está interessada em pratos com tomate? Infelizmente, só posso fazer bebidas.”

“Não, eu estava simplesmente perguntando por curiosidade. Acredito que a Shalltear é


quem quer comer pratos com tomate.”

“...Por que todos acham que Vampiros gostam de suco de tomate ~arinsu? Mesmo que
os undeads comam alguma coisa, eles não receberão nenhum buff.”

“Há muitos aqui em Nazarick que não precisam comer.”

Graças a certos itens, a maioria dos NPCs não precisava comer ou beber.

“As coisas são assim. Comida e bebida só aumentariam as despesas de sustentar Naza-
rick. Teríamos que gastar muito dinheiro se todos comessem tanto quanto suas feras
mágicas.”

“Ah, não seria melhor eu trabalhar fora e ganhar algum dinheiro?”

“Não há necessidade disso. Isso porque o Ainz-sama e outros Seres Supremos fizeram
cálculos cuidadosos ao construir esta Tumba para equilibrar renda e gastos.”

“Oh, então é por isso que Ainz-sama decretou que apenas espécies autossuficientes po-
deriam entrar aqui. Dessa forma, independentemente de quantos entrassem, o saldo de
renda permaneceria intacto ~arinsu.”

“Uhum, hm...? Eh, não sabia disso?”

Albedo olhou para cada um dos aqui presentes:

“Que vergonhoso. Não entender o lugar que estava protegendo é um problema muito
grande. Tirarei algum tempo no futuro e explicarei tudo para você em detalhes.”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


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Albedo suspirou, então casualmente observou os campos. Foi então que percebeu que
havia visto as folhas de uma fileira de certas plantas antes.

“Aquelas cenouras... não, são cenouras mágicas?”

“Não, não é isso. Não ouviu falar deles antes, Supervisora-dono?”

“Creio que não, o que é?”

Os olhos de Sous-Chef se voltaram para Aura.

“Ah, ela não... claro, não falou sobre eles. Então, o que faremos, Aura-sama? A senhorita
vai chamá-los? Certamente deve tê-los treinado agora.”

“Apenas um pouquinho, até mandei o relatório.”

Aura sorriu maliciosamente. Então, ela respirou fundo e gritou:

“—Vida Longa a Ainz Ooal Gown!”

De repente, a fila de folhas reagiu às palavras dela e começou a se mover. Eles balança-
ram vigorosamente de um lado para o outro, depois se retiraram da terra e suas raízes
parecidas com cenouras apareceram na superfície.

Eles se pareciam com os ginseng asiáticos, mas eram nitidamente diferentes deles. Eles
tinham quatro membros distintos e moviam-se deliberadamente e não por reflexo. As
partes mais altas das raízes — perto do caule — tinham cavidades e sombras que pare-
ciam olhos e bocas.

Os olhos de Shalltear se arregalaram e ela falou o nome desses monstros.

“Seriam Mandrágoras ~arinsu? Não lembro de ter algo assim em Nazarick...”

“Ah! Então são eles! Eu vi o relatório, mas esta é a primeira vez que eu pessoalmente vi
um.”

As Mandrágoras cantavam “Vida Longa a Ainz Ooal Gown!”, “Vida Longa a Ainz Ooal
Gown!” ao se formarem em fileiras.

“Só que não são muito espertos. Os parentes deles tipo os Galgenmännlein, Alrunas e
Alraunes, devem ser mais espertos... mas não encontrei nenhum quando fiz uma busca
rápida na floresta. Mas sei lá, a floresta é grande, então talvez tenha em algum lugar. Fora
que tem uma caverna subterrânea enorme que leva até as montanhas. Parece que tem
um assentamento de Myconid lá, mas ainda não fui ver.”

“Ainda assim, ensiná-los a falar assim deve ter sido difícil. Estou muito impressionado.”

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


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Sous-Chef explicou enquanto pegava uma das Mandrágoras que estavam alinhadas.

A Mandrágora mexeu e remexeu; aparentemente ter seu caule agarrado era bem dolo-
rido.

“Vida Longa a Ainz Ooal Gown!”

“Vida Longa a Ainz Ooal Gown!”

As Mandrágoras romperam suas fileiras para cercar Sous-Chef, como se para protestar
contra os maus-tratos de seu amigo. Durante esse tempo, eles diziam a mesma coisa de
antes.

“Perdoe minha grosseria. Aura-sama, a senhorita pode pedir para voltarem?”

“Beleza~! Voltem!”

Sous-Chef gentilmente colocou a Mandrágora de volta no chão, e as outras a seguiram


enquanto se arrastavam de volta para os buracos que haviam ocupado antes. Em apenas
alguns segundos, as Mandrágoras voltaram aos seus recônditos, como se estivessem hi-
bernando.

“É como um chamado animal.”

“Pode se dizer que sim. Eles só repetem como papagaios imitando; nem sabem o que
estão dizendo. Aparentemente, há um nível mínimo de inteligência, abaixo do qual não
se entende a fala. Mas há investigações a serem feitas, isso segundo o Demiurge-sama;
estou simplesmente repetindo o que ouvi.”

Disse Sous-Chef.

“Hm— A propósito, Albedo, posso fazer-lhe uma pergunta ~arinsu? Como Guardiã, não
é ruim que você não saiba sobre os recém-chegados? E se um espião aparecesse com eles
~arinsu?”

Antes que Albedo pudesse responder, alguém fez uma objeção.

“Ahahaha, você é uma piadista, hein, Shalltear. É verdade que o Sexto Andar é muito
grande, é natural que pense que a captura e abate de intrusos seja difícil. Seria um saco
se conseguissem escapar do Coliseu correndo pra todos os lados feito aranhas...”

Seu sorriso ficou vazio e seus olhos tão frios como o gelo:

“Mas não acha que tá fazendo pouco caso de mim? Aqui é o meu terreno de caça. Mesmo
se cada um for pra um lado, eu posso caçar e matar um por um num piscar de olhos. E

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


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mesmo se alguém conseguir escapar do Sexto Andar e tentar prejudicar o Ainz-sama,
primeiro teria que passar pelo mundo infernal do Sétimo Andar, sem falar no Oitavo An-
dar que é intransponível. E se for pra sair, teria que passar pela vastidão gelada do
Quinto Andar, as águas escuras do Quarto Andar e, por fim, restaria os Andares que é
responsável... acha mesmo que é possível?”

Shalltear sacudiu a cabeça.

“De modo nenhum ~arinsu.”

“É o que eu tô falando. Então não precisa se preocupar, não importa quantos recém-
chegados venham pra este Andar.”

“Aura tirou as palavras da minha boca. Mm, ainda assim, há um plano acontecendo
agora para reunir todos os tipos de criaturas aqui.”

“Hã? Não é só os monstros do tipo planta?”

Quando ela ouviu a indagação surpresa de Aura, Albedo sorriu e respondeu:

“Era assim no começo, mas depois de alguma observação, descobrimos alguns proble-
mas graças ao seu árduo trabalho Aura, e do Mare também, de modo que o plano foi
alterado e melhorado. Mas esta é apenas uma fase do projeto, não há nenhuma garantia
de que vai ser colocado em prática. Creio que por isso, mesmo uma Guardiã de Andar
como você ainda não foi informada.”

Albedo disse-lhes para manter em segredo e, em seguida, descreveu o plano:

“O nome do plano é Projeto Utopia. É um projeto de grande escala começando com a


base secreta que a Aura construiu, seu estágio final é reunir monstros que podem convi-
ver com humanos e trazê-los para morar aqui.”

“E essa parte aí, por que ficar junto com humanos é uma condição?”

Albedo sorriu, como se dissesse “Eu sabia que perguntaria”. Aquele sorriso parecia até
meio malvado.

“Essa é a engrenagem-mor do plano, o foco do Projeto Utopia.”

“Sendo sincera, achei meio difícil. Nazarick é um refúgio para os Seres Supremos, o fruto
do trabalho deles. Qual o motivo desse nome ~arinsu?”

“É a fim de deixar o mundo exterior acreditar que pode coexistir com outras raças.”

“Ah, tá...... então é por isso ~arinsu.”

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


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“Aiai... acho que de novo a Shalltear não entendeu nadica de nada...”

O rosto de Shalltear estava preenchido com uma expressão que poderia quebrar um
amor de milhões de anos de idade, ela olhou com raiva para Aura.

“Acha que eu sou uma retardada ~ari-n-su!?”

“...Calma... calma aí, Shalltear. Só pensar um pouquinho antes de perguntar as coisas,


que tal? Por favorzinho, pense a respeito.”

E, de fato, por apenas um momento, Shalltear pensou em tudo o que ela tinha dito e
feito até agora, e suas pupilas se alargaram como a de um peixe morto. Depois disso, seus
olhos percorreram todos os lados, como se estivessem a ser atiradas em ondas de tem-
pestade.

Depois de ver seu estado absolutamente patético, Albedo graciosamente conduziu a


conversa de volta aos trilhos.

“Ghrum, enfim, o Ainz-sama sugeriu este plano. Quando discutimos sobre o Sexto Andar,
Ainz-sama uma vez mencionou que gostaria de coletar vários monstros. Certamente al-
guém com uma compreensão limitada do mundo nunca teria sido capaz de chegar com
uma idéia assim. No passado, eu discuti a sabedoria do Ainz-sama com o Demiurge, e a
conclusão a que chegamos foi que o Ainz-sama possui um intelecto inalcançável.”

“Qualquer um sabe disso, também ouvi falar que grandes homens geralmente falam
pouco.”

“Demiurge disse isso? Ainda assim... o Ainz-sama afirma que são apenas simples pensa-
mentos que ele tem, às vezes ele faz coisas misteriosas. Mas como diz o ditado; a verda-
deira coragem parece covardia, enquanto grande sabedoria parece tola. O Ainz-sama é
esse tipo de homem.”

Os olhos de Albedo estavam úmidos e ela balançou a cabeça:

“Eu sequer esperava que o Ainz-sama criasse a persona do aventureiro Momon. Real-
mente, ele é incrível... No começo não acreditei, mas tudo o que aconteceu até agora es-
teve na palma da mão de Ainz-sama...”

“Momon é o Ainz-sama se passando por aventureiro, né? Pra que serve isto?”

“Logo você entenderá... a persona de Momon se tornará a base para o governo de Ainz-
sama. Quantos passos à frente ele pensa...? Talvez até a conclusão do Demiurge tenha
sido prevista pelo meu amo—”

“O que está murmurando aí ~arinsu? Isso é meio assustador.”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


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A voz de Shalltear chamou Albedo de volta aos seus sentidos, e depois de tossir leve-
mente, ela olhou fixamente nos rostos dos presentes.

“Er, onde eu estava? Sim, sim, isso! Tudo o que Ainz-sama diz e faz contém um grande
significado. Portanto, mesmo que não consiga alcançar o nível dele, você precisa tentar
o melhor para ver as verdadeiras intenções do Ainz-sama com base em suas palavras.”

“Isso vai ser difícil. Ainz-sama é inteligente demais— ah, olha os Spear Needles.”

Duas bolas de penugem branca, cada uma com mais de dois metros de altura, aparece-
ram de dentro da aldeia e lentamente foram para o lado de Aura. Eram animais mágicos
que pareciam coelhos angorá.

“Eles são fofos ~arinsu.”

Shalltear acariciou uma das bolas de pêlo ao lado de Aura.

“Eles são tão macios, quero criar um ~arinsu.”

“É uma sensação confortável, né? Mas quando encontram inimigos, eles ficam tão afia-
dos quanto as agulhas, sabia?”

Spear Needles eram monstros de nível 67.

Uma vez que entrassem no modo de combate, eles se tornariam uma bola de espinhos
extremamente densos. Se os Spear Needles fossem mortos nesse estado, seus pêlos não
retornariam ao seu estado original e suave. Portanto, ao caçá-los, seria preciso pegá-los
de surpresa e matá-los instantaneamente. Foi por isso que os jogadores que os caçavam
eram frequentemente de níveis muito mais altos do que eles próprios.

“Ehh? Mesmo ~arinsu? Isso é assustador...”

Shalltear poderia ter dito isso, mas ela ainda estava acariciando-os sem parar.

“Pra sua sorte, eles só entram em combate se eu der o sinal. Mas se houvesse inimigos
por perto, aí seria uma questão diferente, só que nenhum invasor hostil seria capaz de
chegar aqui do nada. No mínimo, os outros Andares me mandariam um relatório antes.”

“Isso é verdade. É apenas o esperado. Os três últimos Andares estão cheios de vassalos
que possuem excelentes habilidades de detecção. Seria muito difícil alguém entrar aqui
sem ser notado por eles.”

Nesse exato momento, Aura pareceu surpresa e se virou para o Coliseu.

“Aconteceu alguma coisa, Aura-san?”

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


200
“O portão de teleporte pro Sétimo Andar foi ativado agorinha.”

“De baixo? Demiurge deveria estar fora nesse momento, então... poderia ser um de seus
subordinados? Não tem problema se não for olhar?”

“Hm— o Mare tá lá perto, então acho que tá de boa. Se alguma coisa a mais acontecer,
ele vai entrar em contato comigo.”

Aura cutucou o colar em volta do pescoço.

“Bem, faz parte. Tem que ir nos portais de teleporte em locais específicos se quiser subir
de um Andar inferior pra um superior, né? Ah, é, não vamos nos esquecer que certas
pessoas usam magia de teleporte, porque se correrem certas coisas caem—”

“Ghrum! Nazarick é uma fortaleza inexpugnável ~arinsu.”

“Concordo. Nem mesmo a magia de Super-Aba 「Sword of Damocles」 ou meu Item


World-Class poderiam destruir um Andar inteiro de uma só vez. É por isso que não de-
vemos deixar que o Anel de teletransporte seja roubado.”

Todos os olhos foram para o anel no dedo anelar esquerdo de Albedo.

“O Mare sempre entrega o anel pra outra pessoa quando sai, é mesmo uma questão de
segurança. Só por isso já tem noção do quanto ele dá valor— ah, o Mare tá me chamando.”

Aura afastou-se e agarrou o colar, e então começou uma conversa com Mare. Os três
olharam para Aura, cujo rosto estava ficando sério e, quando terminaram de falar, ela
parecia muito infeliz.

“Vou ter que ir, pessoal. Parece que o Mare precisa buscar algo, por precaução eu vou
voltar.”

“Sem problemas. Então... por que não voltamos a sós, Shalltear?”

“Eu não me importo ~arinsu.”

“Eu gostaria de fazer algo nos campos antes de ir. Além disso, gostaria de conversar
com a Dryad e os Treants.”

“Então cada um vai pra um lugar. Foi muito bom terem vindo. Graças a vocês, agora sei
como gastar meu tempo livre. Se a gente ficar livre algum outro dia... sim, da próxima
vez, vamos dar uma passada na casa de banho.”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


201
Parte 2

09:28 - Hora de Nazarick

Mare ergueu os olhos do livro que estava lendo, lentamente deslocando os olhos para
espiar o portão de teleporte que levava ao 7º Andar.

Sentindo uma leve onda de poder, ele colocou seu marcador entre as páginas abertas e
silenciosamente deixou o livro na cadeira ao lado dele. Então pegou o cajado que repou-
sava ao seu lado, o item divine-class conhecido como “Shadow of Yggdrasil”.

Mare pegou com sua mão vazia e levou em direção ao peito, mas depois parou no meio
do caminho.

Não havia necessidade de contatar sua irmã. Ele não recebeu nenhum relato de invasão,
então deveria ser alguém amigável.

Ele moveu as pernas e correu para o portão de teleporte logo abaixo dele.

Sua irmã mais velha gostava de saltar diretamente dos assentos da plateia, mas Mare
não gostava de fazer isso. Ele achava que, uma vez que havia escadas instaladas na arena,
ele deveria pegá-las na descida. Foi assim que alguém mostrava sua fidelidade aos Seres
Supremos. As escadas deveriam ser usadas, afinal.

Mas eu que não ouso dizer isso para a Onee-chan... ela vai me olhar daquele jeito assusta-
dor...

Mare decidiu que, no mínimo, ele não desperdiçaria os esforços dos Seres Supremos, e
desceu correndo os degraus, e então passou correndo pela área de descanso. Foi só aí
que viu alguém parado diante de um enorme espelho redondo que brilhava com todas
as cores do arco-íris.

“Me... me perdoe por manter-lhe esperando.”

“Oh! Se não é o Guardião de Andar, Mare-sama! Obrigado por ter vindo até aqui. Estou
absolutamente encantado.”

O palhaço à sua frente estava vestido de branco puro e usava uma máscara que lem-
brava o bico de um corvo. Ele se curvou e Mare assentiu em resposta.

“Olá, Pulcinella. O que aconteceu hoje?”

“Oh, sim, como o senhor sabe, Mare-sama, eu estou trabalhando atualmente com o De-
miurge-sama, e hoje eu vim como um enviado de Demiurge-sama. Por favor, pegue isso.”

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


202
O palhaço rapidamente entregou a pasta que estava carregando.

“Se o Demiurge-san quer que eu tenha isso, então seria um manifesto?”

“Precisamente. Ah, estou tão feliz que foi o senhor quem veio, Mare-sama. Que sorte. Se
a Aura-sama tivesse vindo, eu teria que pedir para que chamasse o senhor.”

“Por quê? O... o que tem aqui?”

O sistema de manifesto fôra inventado pelo governante da Grande Tumba de Nazarick,


Ainz Ooal Gown. Embora fosse pouco mais do que anotar notícias não urgentes e outros
assuntos diversos em um pedaço de papel e deixar os vários Guardiões de Andar circu-
larem e lerem entre si, algo como isto nunca tinha sido posto em prática.

Portanto, Mare olhou perplexo para a pasta que acabara de receber, murmurando “En-
tão, será quê...” para si mesmo.

“H-huh? P-Por que a Onee-chan não poderia receber isso?”

Aura e Mare eram ambos Guardiões de Andar, então não havia razão para não dar a ela.
Além disso, ela era bastante cuidadosa com essas coisas, e não iria simplesmente jogar
fora um manifesto.

“Eu não tenho certeza. Tudo o que sei é que o Demiurge-sama me instruiu a entregá-lo
diretamente ao senhor, Mare-sama, e não a Aura-sama.”

“Sei... ah... então, e Demiurge-san?”

Foi uma pergunta um pouco vaga, mas Pulcinella parecia entender o que ele estava per-
guntando.

“...Bem, eu não sei quais as intenções por trás disso. Mas sinto que a resposta ou razão
pode estar dentro dessa pasta.”

“Entendo... er, então, sim, isso mesmo, o Demiurge-san, o quê... o que ele está fazendo
agora?”

“Realizando experimentos de reprodução. Os humanoides podem se reproduzir entre


si, mas os demi-humanos não podem se reproduzir com humanoides; que trágico estado
de coisas. Um casal apaixonado é impedido da chance de suportar a fruição de seu amor
apenas por causa das diferenças em sua raça. Demiurge-sama está trabalhando ardua-
mente para salvar essas pobres almas. Ele criará possibilidades entre humanoides e
demi-humanos!”

O palhaço praticamente cantarolou sua resposta, abrindo os braços e olhando para o


céu. A repentina mudança de humor de Pulcinella fez Mare esbugalhar os olhos.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


203
“Ah, que rude da minha parte. Eu não pude deixar de ficar animado com a gentileza do
Demiurge-sama enquanto ele trabalha para fazer as pessoas sorrirem. Por favor me per-
doe.”

“Er, certo, eu não me importo.”

“Demiurge-sama chegou a dizer que permitiria que ele e os demais — os demônios —


fossem sacrifícios, que fossem mártires do ódio alheio. Que espírito nobre de auto-sacri-
fício! Eu, Pulcinella, sou levado às lágrimas por isso.”

Pulcinella esfregou os olhos pela máscara. Claro, ele não estava chorando. Até a voz dele
soava igual a de costume. Ele não parecia triste ou nem nada assim.

“...Por que odiariam ele?”

“Eu também não entendo. Seria porquê o gentil Demiurge-sama incorrera ódio nos ou-
tros? Ah, sim, por favor ouça isso, de como o Demiurge-sama é realmente gentil. Da úl-
tima vez, Demiurge-sama disse que seria uma pena deixar os animais morrerem de fome,
e então ele assou os filhos de ambos os lados e serviu-os um ao outro. Certamente uma
pessoa cruel e impiedosa não os teria se preocupado em alternar os lados, mas sim os
serviria diretamente, não acha?”

“M-mesmo?”

“Mas é claro. E para permitir que os pais de ambos os lados se despedissem de seus
filhos, Demiurge-sama os convidou para a mesa de jantar... Demiurge-sama permitiu que
eles dissessem adeus com um sorriso... Eu tenho certeza de que ninguém além dos Seres
Supremos poderia ser tão compassivo como ele é.”

Enquanto observava Pulcinella tagarelar, Mare disse “oh” em um tom desinteressado.

Essas pessoas não eram entidades de Nazarick, então não importava o que acontecesse
com elas. Seus sentimentos sobre a pecuária de Demiurge desapareceram de seu cora-
ção depois de alguns segundos.

“E quando alguém está com fome, o intestino pode ser incapaz de digerir comida
mesmo quando o cérebro a deseja. Demiurge-sama até considerou esse ponto aos ad-
vertir para comer bem. Sua bondade é verdadeiramente incomparável~!”

Mare sentiu que isso duraria para sempre, e então rapidamente o cortou:

“—Ah, então, e a... e o Guren-san? Eu pensei que poderia ser o responsável por entregas.
O que ele está fazendo agora?”

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


204
“...Ele, ou será ela? Eu acredito que Guren-sama não tem sexo, mas quando eu o vi há
alguns dias, estava esperando em uma emboscada perto do portão de teleporte do Sé-
timo Andar enquanto o Demiurge-sama estava fora.”

“En... entendi.”

Mare pensou na aparência de Guren.

Guren — um Guardião de Área que escondia seu corpo massivo dentro da lava fluente
e arrastava inimigos descuidados para um campo de batalha onde ele teria a vantagem,
assim lutava contra eles. Embora ele estivesse apenas no nível 90, estava otimizado para
o combate, e por pura bravura de luta sozinho, ele estava entre os primeiros combaten-
tes de Nazarick, e podia até mesmo se defender contra alguns dos Guardiões de Andar.
Assim, não havia melhor Guardião para o 7º Andar na ausência de Demiurge.

“Ah, parece que falei demais. Agora que entreguei o manifesto em suas mãos, Mare-
sama, mais trabalho me espera, devo espalhar mais sorrisos para os outros.”

“Obrigado... muito obrigado.”

Mare curvou-se e Pulcinella gentilmente respondeu:

“Não há necessidade de agradecimento. Estou satisfeito por poder ver seu sorriso,
Mare-sama.”

O palhaço encolheu os ombros de maneira brincalhona e finalizou:

“Bem, então até depois.”

Ele acenou, e depois desapareceu no portão de teleporte que levava ao 7º Andar.

Depois de Mare assisti-lo sair, ele abriu o manifesto. O fato de que isso era para ele e
não para sua irmã o encheu de uma mistura de emoções — superioridade e culpa — e
depois que rapidamente examinou o conteúdo, ele piscou algumas vezes.

“Isso... não é um mero manifesto, é como uma mensagem que o Ainz-sama queria enviar
para os Guardiões.”

Dizia: “A todos os Guardiões homens” e continha apreço e elogios por seu trabalho diário.
Em resumo, este era um convite para “tomar banho juntos e aliviar a fadiga”.

Havia uma lista de participantes, lia-se Ainz, Demiurge, Mare e Cocytus de cima para
baixo, cada um com uma opção de Vou/Não Vou ao lado. As duas primeiras entradas já
tinham circulado “Vou”. O nome de Sebas deveria estar lá também, mas ele estava sob
ordens de coletar informações com Solution em uma cidade humana.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


205
Er, a data é...

O manifesto afirmava que a data não era fixa e que seria realizado quando fosse mais
conveniente para os participantes, razão pela qual ele poderia circular “Vou” sem qual-
quer hesitação. Mesmo o manifesto declarando que ele poderia recusar, não havia como
Mare recusar o convite de seu generoso e compassivo mestre. Não, ninguém em Nazarick
faria isso.

Ele pegou o lápis na pasta e circulou o “Vou” ao lado de seu nome.

“...Eheheheee...”

Ele riu enquanto olhava para o “Vou” circulado. No entanto, em pouco tempo, as nuvens
envolveram seu coração.

“Ah, mas... como vou levar isso para o Cocytus?”

O manifesto repetidamente enfatizou não informar as Guardiãs sobre isso, então ficou
claro que seu mestre queria manter isso em segredo entre os homens. Nesse caso, a me-
lhor maneira era entregar pessoalmente.

Não é bom esconder as coisas da Onee-chan... certo? Vou precisar da Onee-chan para
guardar o Andar sozinha enquanto isso... Como se chama mesmo... troca de favores?

Uma coisa era sair sob ordens, mas quando eles tinham que visitar os outros Guardiões
para se divertir ou fazer outras coisas, Mare e Aura sempre diziam onde estavam indo.
Isso porque Aura e Mare foram designados para proteger este Andar por ordem dos Se-
res Supremos, então fazer isso era apenas o esperado.

Mare agarrou o item mágico pendurado no pescoço.

“O-onee-chan? Pode me ouvir?”

Ele recebeu uma resposta imediata.

『Posso sim. O que houve, Mare?』

“Ah, isso é ótimo. Er, hum, é que. Ah, preciso visitar o Cocytus. Mas não vou demorar,
volto em breve.”

『Visitar o Cocytus?』

“Uhum, eu preciso ver ele, é urgente.”

『O que aconteceu?』

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


206
Os ombros de Mare estremeceram de medo. Ele quase guinchou em vez de falar, e ele
mal conseguiu espremer uma voz normal.

“N-nada? Não é nada, só... eu sinto que tenho que ir lá rápido.”

『Sei...』

Aura parecia declaradamente suspeita, e as mãos de Mare ficaram úmidas de suor ao


ouvir sua irmã.

Mas, hum, eu preciso fazer isso. O Ainz-sama ordenou.

Além das palavras do criador de Aura e Mare, Bukubukuchagama, as palavras de Ainz


eram as de mais importância dentre os Seres Supremos. Era natural colocar o que ele
dizia como sua prioridade mais alta.

『Ah, acho que tá de boa. Pode ir. Mas o Quinto Andar é muito frio, então não vai se
esquecer de proteção... Ah... você deve se sair bem lá, Mare.』

“Humm. Hum, eu posso lidar com isso com magia. Não se preocupe. Eu vou lá e volto
logo.”

Se prolongasse a conversa, ele poderia acabar dizendo algo estranho. Portanto, Mare
apressadamente soltou o item mágico. Parece que sua irmã queria dizer alguma coisa,
mas se fosse um bom ou mal conselho, ele não a ouviu.

“Tudo... tudo bem! Eu preciso ir lá agora mesmo!”

Mare ativou o poder do Anel que seu mestre lhe dera.

♦♦♦

Depois do teletransporte, pedaços de uma substância branca voaram diretamente para


Mare e ficaram presos em seu rosto. Era neve, carregada pelo vento.

A bruma branca que Mare exalava instantaneamente foi soprada para trás. Isso foi por
causa do cisalhamento do vento super-resfriado.

A neve impulsionada pela nevasca percorria todas as direções, obscurecendo toda a vi-
são e encobrindo as pegadas. Isso era para atacar qualquer intruso, mas em circunstân-
cias normais o clima no 5º Andar não era tão ruim. As nuvens que cobriam o céu apenas
distribuíam flocos de neve dispersos e, mesmo o clima sendo sombrio, a visibilidade era
excelente.

“...Hm.”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


207
Mare olhou em volta. Já que ele se teletransportou através do Anel de Ainz Ooal Gown,
ele deve estar perto de seu destino.

Assim que encontrou o lugar onde precisava ir, Mare avançou com passos leves. Ele não
deixou pegadas na neve onde havia pisado. Seus pés não afundavam na neve, era como
se andasse em terra firme.

Neste ermo mundo branco, o som da neve caindo parecia bem alto aos ouvidos de Mare.
É claro que a magia de percepção extra-sensorial sempre presente de Mare o fez saber
que esse lugar não estava realmente deserto. Os emboscadores sabiam que ele era o
Guardião do 6º Andar, e assim não se mostraram.

Mare chegou ao seu destino em silêncio.

Diante dele havia uma grande esfera branca, que parecia um ninho de vespas invertido.

Seis cristais gigantescos rodeavam a esfera branca, suas pontas afiadas apontando para
o céu. Os cristais eram transparentes e havia pessoas visíveis por dentro.

Mare deu um passo, e um som desagradável que o deixou desconfortável saiu de de-
baixo de seus pés. Olhando para baixo, ele viu que o chão abaixo era diferente da neve
que pisara até agora; era uma camada brilhante de gelo. Parecia grossa o suficiente, mas
não havia nada além de escuridão sob a camada de gelo. Era claramente um grande bu-
raco.

Mare pisou no gelo. Ele andou sem hesitar, como se tivesse certeza de que o gelo abaixo
dele não racharia. Ele avançou entre ruídos rangentes e chegou aos arredores da esfera
branca.

“Ah... hum, Cocytus-san está aí?”

Mare não estava se dirigindo à enorme esfera branca, mas aos cristais ao redor.

Monstros que se pareciam com mulheres emergiram dos cristais em resposta à sua voz.
Havia diversos monstros em meio aos cristais, essas estavam vestidas de branco. Suas
peles eram pálidas e seus longos cabelos eram negros.
[ V i r g e ns d a G e a d a ]
Eram Frost Virgins — monstros do tipo gelo de nível 82, responsáveis pela defesa da
Terra Bola de Neve, que era o lar de Cocytus. Elas eram algo como um time de guarda-
costas.

“Bem-vindo, Mare-sama. Estamos felizes pelo senhor ter vindo pessoalmente visitá-lo.”

“Ah... hum, onde está o Cocytus-san?”

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


208
“Cocytus-sama está atualmente fora da Grande Tumba de Nazarick. Está visitando a al-
deia Lizardman.”

“É me... mesmo?”

A Frost Virgin inclinou a cabeça como uma afirmação.

“Posso entregar a mensagem em seu nome?”

Mare hesitou.

Já que tinha vindo até aqui, ele provavelmente poderia deixar o manifesto nos aposen-
tos de Cocytus e então deixar as Frost Virgins o informarem. No entanto, depois de pen-
sar sobre o conteúdo do manifesto, entregar diretamente seria a melhor maneira de re-
alizar as intenções de seu mestre.

Mas como ele poderia sair e encontrar Cocytus?

Não havia regra que os impedisse de deixar Nazarick. No entanto, havia uma exigência
que precisava ser satisfeita para sair. Isso porque seu mestre proibiu estritamente que
perambulassem sozinhos fora de Nazarick.

Depois de analisar os dados que haviam coletado até agora, o nível 100 dos Guardiões
de Nazarick o deixavam inimaginavelmente poderosos em comparação com o mundo
exterior, comparável a apocalipses ambulantes. Assim, sendo tal ser, Mare não estaria
em perigo quando se deslocasse sozinho para fora. Por outro lado, era o mundo que de-
veria ter medo dele. Contudo, qualquer pessoa com uma mentalidade tão imprudente
certamente deve ter esquecido alguma coisa.

Esse era o fato de Shalltear ter sofrido uma lavagem cerebral por um inimigo que —
com toda a probabilidade — possuía um Item World-Class. E também havia vestígios da
existência dos jogadores no passado.

Eles não sabiam o quão poderoso e amplo o alcance dessas pessoas eram, então preci-
savam ser mais cuidadosos.

“Er... hm— o que devo fazer...”

Qualquer um que fosse para fora tinha que ser escoltado por cinco vassalos de nível 75
ou mais, esse era o requisito mínimo. Mare tinha dois Dragões que lhe foram designados
diretamente como vassalos, mas trazê-los consigo seria muito óbvio. O caminho mais
rápido seria perguntar a sua irmã, mas quando pensou sobre o que tinha acontecido
quando veio para cá, não conseguiu reunir coragem para fazê-lo.

Só então, a iluminação atingiu sua mente. Seus números e níveis estavam certos.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


209
“Ah, poderia me acompanhar e procurá-lo comigo?”

“Eu... sinto muito. Cocytus-sama ordenou que defendêssemos este lugar. A menos que
o próprio Ainz-sama ordene, não podemos desobedecer às ordens de Cocytus-sama...
imploramos seu perdão!”

“Ah, não, não tem problema. Tudo bem.”

Era de se esperar; ou melhor, nem deveria ter perguntado se tivesse pensando um


pouco mais. Após a recusa, ocorreu a segunda boa idéia, que era pegar emprestado os
Evil Lords do 7º Andar. Entretanto, se ele simplesmente os perguntasse normalmente,
seu pedido provavelmente seria negado. Ainda assim, ele só poderia contar com Demi-
urge para o ajudar.

Isso porque ele queria fazer seu melhor para evitar envolvimento dos Guardiões cujos
nomes não estavam escritos no manifesto. Além disso, a maioria dos vassalos que esta-
vam acima do nível 80 eram os subordinados diretos de um Guardião, poucos eram in-
dependentes.

Devido a essas duas razões, ele precisaria entrar em contato com Demiurge para pegar
emprestado seus Evil Lords.

Mas como vou entrar em contato com ele?

Para contatar Demiurge, que estava do lado de fora, ele precisaria despachar um vas-
salo ou usar magia.

Também há os—

Mare pensou no livro que acabara de ler.

Ele tem subordinados do nível setenta e cinco e acima também, não é? Mas não é um Guar-
dião... hm — bem, ele é do sexo masculino, então não deve ter problemas. Vou ter que fazê-
lo jurar e manter isso em segredo...

“Ah... ah, obrigado a todas. Er, acho que vou descobrir algum meio por conta própria.”

“Mesmo? Como desejar.”

Mare ativou o poder do anel. Seu destino era a enorme biblioteca no 10º Andar de Na-
zarick — Ashurbanipal.

09:54 - Hora de Nazarick

Após o teletransporte, o cenário ante dos olhos de Mare mudou de um campo nevado
para uma sala ampla. A cor básica dos móveis da sala era ébano-amarronzado e parecia

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


210
bastante digna, pois estava iluminada por uma iluminação cálida. O teto era uma cúpula
suave e havia um par de portas duplas em frente a ele.

Essas portas maciças eram grandes o suficiente para rivalizar com as que se abriam
para o Salão do Trono, e eram flanqueadas por um par de Golems, cada um com quase
três metros de altura. Ambos os Golems pareciam guerreiros e tinham sido construídos
a partir de metais raros por um Ser Supremo, então eram mais poderosos que os Golems
comuns.

“Ah, por favor me ajude a abrir a porta.”

Em resposta às palavras de Mare, um Golem de cada lado colocou as mãos na porta e


lentamente a abriu. Ouviu-se um som pesado quando as portas se abriram de modo que
várias pessoas poderiam caminhar lado a lado, e assim, Mare entrou.

A cena que se desenrolava diante dele não parecia mais uma biblioteca, mas uma vista
de um instituto ou algo semelhante — sim, parecia uma galeria de arte. O chão e as es-
tantes estavam elaboradamente decorados, e as estantes de livros também pareciam or-
namentos.

O chão brilhante e imaculado era um mosaico de parquet com padrões complexos.

Acima havia um teto alto e uma sacada no mezanino no segundo andar. Além disso,
havia uma sala cercada por inúmeras estantes de livros. Cada centímetro do teto hemis-
férico estava coberto de afrescos magníficos.

Havia vitrines de vidro espalhadas pela sala, cada uma contendo vários livros.

Embora houvesse inúmeras fontes de luz, elas não produziam uma iluminação forte.
Um ser humano certamente encolheria, reclamando sobre a penumbra da sala.

Não se podia ver todo o ambiente com um único olhar. As estantes de livros bloqueavam
a visão.

As portas se fecharam lentamente atrás de Mare em meio ao silêncio adequado à bibli-


oteca. Sem a luz do lado de fora, o interior da sala parecia ainda mais escuro. Isso, com-
binado com o profundo silêncio, encheu a sala com uma atmosfera assustadora.

Claro, Mare podia ver no escuro como se fosse a luz do dia e, assim, ele não se sentiu
assustado.

Mare entrou, acelerando um pouco o passo.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


211
Ele estava atualmente no Salão da Lógica. Essa biblioteca fôra dividida em Salão da Ló-
gica, Salão da Sabedoria, Salão da Magia e em várias outras salas menores, com propósi-
tos específicos — como salas individuais para cada funcionário. Com isso em mente, seu
destino parecia bem distante.

Inúmeros livros enchiam as fileiras de estantes que se alinhavam na passagem de cada


lado.

♦♦♦

Havia aproximadamente cinco tipos de livros em YGGDRASIL.

O primeiro tipo era o de dados de monstros, que poderiam ser usados para invocar
monstros mercenários.

Havia três tipos de monstros em Nazarick:


• NPCs, feitos à mão pelos membros da Guilda;
• POP, monstros que nasciam automaticamente com nível 30 ou menos;
• Monstros invocados, que podiam servir como mercenários. Esses monstros mer-
cenários tinham que ser convocados através de um ritual que usava um livro e
depois gastava uma quantidade apropriada de moeda de acordo com seu nível.
Portanto, não se pode convocá-los sem um livro.

O segundo tipo eram itens mágicos.

Certos cristais de dados só poderiam ser incorporados em itens do tipo livro. Na maior
parte, os itens do tipo livro eram itens mágicos de uso único. A diferença entre eles e os
pergaminhos era que um deles precisava ser de uma profissão relacionada à conjurado-
res para usar um pergaminho, já itens do tipo livro poderiam ser usados por qualquer
pessoa.

O terceiro tipo eram itens de eventos. Não era incomum que os itens necessários para
mudar para uma profissão específica assumissem a forma de livros. Quando Ainz tinha
ido de um Mago Skeleton para um Elder Lich, ele precisara do item conhecido como o
Book of the Dead. Havia também coisas como a Bibliografia da Pesquisa de Armas e Ane-
dotas dos Quatro Grandes Espíritos. Além dos itens de troca de profissões, também havia
itens que permitiam que alguém aprendesse novas magias quando usado.

O quarto tipo eram dados visuais.

Em outras palavras, livros que continham dados visuais para espadas, escudos, arma-
duras e similares. Qualquer pessoa com habilidades específicas de ferreiro poderia usar
esses livros com as matérias-primas necessárias para produzir uma skin de item.

O quinto tipo eram romances distribuídos em forma de livro. Os exemplos mais comu-
mente vistos foram peças de literatura clássica cujos direitos autorais haviam expirado,

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


212
seguidos por material de apoio da equipe de desenvolvimento e, em seguida, histórias
originais criadas por jogadores de YGGDRASIL. Havia também algumas criações secun-
dárias no universo de YGGDRASIL, ou orientações ao estilo jornal.

Dentro da Grande Tumba de Nazarick, a grande maioria dos livros dentro de sua bibli-
oteca pertencia ao primeiro tipo — livros reunidos para invocar monstros mercenários.
Claro, não havia necessidade de coletar tantos livros.

Na verdade, mesmo que alguém despejasse os cofres da guilda aqui, não seria possível
invocar nem 1/10º dos monstros dos livros que preenchiam esse lugar. Então por que
eles tinham tantos livros? Isso porque os livros de invocação não eram particularmente
caros, então os membros da guilda decidiram pôr mãos à obra e fizeram uma enorme
pilha de cópias. Isso também serviu ao propósito de ocultar itens importantes.

♦♦♦

Mare olhava para os livros dos dois lados enquanto caminhava.

De repente, uma forma fantasmagórica apareceu entre as prateleiras, como se quisesse


bloquear seu caminho.

O fantasma usava uma túnica preta e parecia se fundir na escuridão. Havia uma varinha
de joias na cintura e várias joias amarradas ao cinto.

Sob o capuz havia um rosto esbranquiçado que já havia se transformado em cera cada-
vérica. Suas mãos eram pele e ossos. Toda vez que se movia, a escuridão fraca que o
rodeava se movia também.

Era um monstro especialmente famoso entre os magic casters undeads conhecidos


como Elder Liches.

Em YGGDRASIL, eles foram apelidados de Falsários Brancos da Não-Riqueza. Monstros


como estes eram de nível 30 e ficaram em segundo lugar entre os membros da família
Elder Lich. Havia outros monstros com paletas invertidas como esses em YGGDRASIL,
coloquialmente apelidados como Falsários Vermelhos da Não-Riqueza e Falsários Pretos
da Não-Riqueza.

Todavia, ele diferia dos Elder Lich em geral, ele tinha uma braçadeira no braço esquerdo.

A braçadeira dizia “Bibliotecário J”.

“Bem-vindo, Mare-sama.”

O Elder Lich falou em voz rouca e truncada, depois se curvou em deferência, lenta, mas
profundamente, com uma das mãos agarrada ao peito em um movimento firme e digno.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


213
“Ah... ah, vim procurar o Bibliotecário-Chefe. Ele está?”

O Elder Lich fez uma pose de pensador e depois respondeu:

“O Bibliotecário-Chefe está atualmente fazendo pergaminhos, então está na Sala de Ar-


tesanato.”

“Obrigado.”

“Permita-me mostrar-lhe o caminho. Por favor siga-me.”

“C-como eu poderia importuná-lo assim? Não posso afastar-lhe do seu trabalho.”

“Não se preocupe. Ajudar os usuários da biblioteca é meu dever.”

Como havia dito isso, continuar recusando seria rude.

“Tudo bem, então estou aos seus cuidados.”

Um sorriso apareceu no rosto medonho do Elder Lich e, em seguida, liderou o caminho


a seguir.

Enquanto Mare o seguia, ele olhou para os outros Elder Liches e undeads do tipo magic
caster enquanto se dirigiam à sua destinação.

“Oh, sim, gostaria que eu levasse esse livro de volta para o senhor?”

“Ah, por favor.”

O Elder Lich pegou o livro de Mare e olhou para o título.

“As Aventuras de Tom Sawyer, hm. O senhor gostou?”

“Mm, foi muito interessante! Estou pensando no que devo ler agora.”

“Permita-me recomendar-lhe um livro. Este é muito engraçado, diz respeito a um as-


sassinato— ah, chegamos.”

“Muito obrigado.”

Mare abriu a porta para onde o Elder Lich o guiara.

O que deveria ter sido uma sala espaçosa parecia opressiva e apertada, graças às gran-
des prateleiras de todos os lados.

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


214
As prateleiras estavam cheias de incontáveis reagentes — minérios, metais preciosos,
rochas imbuídas de elementos, vários pós, órgãos de vários animais — todos dispostos
em fileiras ordenadas. Havia também várias pilhas de pergaminhos — alguns foram en-
rolados, enquanto outros simplesmente foram jogados ali.

Todos esses eram os materiais necessários para fazer pergaminhos.

É claro que esses não eram todos os recursos que a Grande Tumba de Nazarick possuía.
Havia várias centenas de vezes esse valor armazenado na Tesouraria.

Apenas os suprimentos que seriam prontamente usados eram armazenados nesta sala.

Havia uma mesa extragrande no centro, com um pedaço de pergaminho aberto sobre
ela.

Diante da mesa havia um corpo esquelético que parecia uma fusão de ossos humanos e
animais.

Não era muito alto, cerca de 150 cm de altura.

Dois chifres de aparência demoníaca projetavam-se de sua cabeça e tinha as mãos com
apenas quatro dedos. Abaixo de seus tornozelos havia patas fendidas.

Esta criatura bizarra estava envolta em um himation de cor açafrão. Além disso, um
capuz de material semelhante encobria sua cabeça sem ser perfurado pelos chifres, e
havia outro pedaço de pano em volta da cintura.

Além disso, ele usava uma pulseira de prata com uma joia multicolorida, também havia
um ankh dourado em volta do pescoço, e tinha vários anéis estranhos e com aparência
complexa em seus dedos ossudos, que pareciam estar enrolados ao redor dos dedos. Ha-
via joias anexadas ao himation que fazia as vezes de uma faixa. Cada uma delas era um
item mágico bastante poderoso.

Usava vários pergaminhos no cinto, como se fossem espadas.

Embora tivesse uma roupa única, na verdade era um Mago Skeleton. Era uma das espé-
cies básicas de undeads e o estágio antes do Elder Lich.

No entanto, este Mago Skeleton era o principal bibliotecário desta enorme biblioteca —
Titus Annaeus Secundus.

Este ser não foi criado pelos Seres Supremos para se concentrar no poder de combate,
mas na capacidade de criação de itens. De fato, seu nível total era maior do que o do
Elder Lich de antes.

“Veio na hora certa, Guardião Mare. Eu lhe dou as boas-vindas.”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


215
“Ah, é um prazer encontrá-lo, Titus-san. Eu vim pedir-lhe um favor.”

“Entendo. Então me diga qual negócio o traz aqui.”

“Ah-sim. Hum. Eu gostaria de pedir emprestado seus vassalos que estão acima do nível
setenta e cinco.”

“Compreendo. O senhor pretende visitar o mundo exterior, correto?”

“Eh? S-sim, isso mesmo. Como sabia?”

“...Eu nunca esqueci as palavras do meu governante, Ainz-sama. Depois disso, conside-
rei sua situação e adivinhei imediatamente — muito bem.”

Ele passou apenas um momento em contemplação.

“Eu lhe empresto os Overlords desta biblioteca: Cocceius, Ulpius, Aelius, Fulvius e Au-
relius.”

“Eh? S-sério!?”

“Mas é claro. Com toda honestidade, seu potencial de batalha é um tanto excessivo para
a biblioteca. Em vez de fazê-los ficar em ócio durante todo o dia, é muito melhor que eles
sejam seus acompanhantes. Tenho certeza que isso os deixaria muito felizes.”

“Ah... ah, er, muito obrigado!”

“Dito isto, alguma recompensa é necessária. Eu gostaria que o senhor me ajudasse com
uma tarefa, a criação de pergaminhos.”

“Ah, c-certamente! O que devo fazer?”

“Não se preocupe. Assim que eu disser ‘Agora’, gentilmente conjure uma magia de
quarto nível neste pergaminho. Isso é tudo.”

“Quê... mas que tipo de magia eu deveria lançar?”

“A escolha é sua.”

Mare pareceu intrigado. Ser dito para decidir por si só era muito difícil. Ele não sabia se
deveria usar apenas uma magia comum.

Havia uma pequena mesa ao lado da mesa de desenho com o pergaminho. Titus esten-
deu a mão ossuda para a mesa e tocou uma pilha de ouro brilhante —moedas de ouro
de YGGDRASIL.

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


216
De repente, as moedas de ouro de YGGDRASIL derreteram abaixo de sua palma ossuda,
e elas fluíram ao longo do pergaminho como se fossem sencientes.

O líquido dourado serpenteou pelo pergaminho e depois se dispersou, como se já ti-


vesse decidido aonde ir.

No intervalo entre as respirações, um círculo mágico de ouro cobria o pergaminho. O


rendilhado místico era ao mesmo tempo complexo e delicado.

“Agora.”

Mare — que aguardava nervosamente sua sugestão — lançou sua magia como se ti-
vesse sido surpreendido.

Mare sentiu sua magia sendo sugada pelo círculo mágico.

Normalmente, isso teria concluído o pergaminho. Isso foi o que Mare pensou.

Até esse momento—

♦♦♦

Houve uma chama vermelha brilhante.

Algo impossível aconteceu na mesa de desenho.

Mare olhou em estado de choque quando o pergaminho queimou como se tivesse sido
embebido em álcool, mas dentro de alguns momentos, o fogo tinha se apagado.

♦♦♦

Os eventos agora pareciam uma ilusão. Não havia vestígios de fogo. Nem mesmo o
cheiro de queimado permaneceu.

No entanto, havia evidências na mesa que provavam que o que acabara de acontecer
não era uma ilusão.

Esses eram os restos do pergaminho — suas cinzas.

Titus parecia ter antecipado isso e, suavemente, pegou as cinzas para examiná-las.

“Então não pode impregná-los com magias de quarto nível. Parece que confirmei que
não tem nada a ver com o poder de quem conjura.”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


217
Tito murmurou algo como: “Amostra de dez anos de idade foi um fracasso” e fez anota-
ções.

“Er, o quê... aconteceu? O que eu fiz de errado?”

“Não se preocupe. Eu tentei usar os materiais deste mundo para fazer pergaminhos, a
fim de economizar em custos de pergaminho, mas a qualidade disso é simplesmente
atroz.”

♦♦♦

O nível de uma magia limitava os materiais que poderiam ser usados para fazer um
pergaminho que a contivesse.

Por exemplo, pergaminhos feitos de rolo de nível médio podem conter uma magia de
2º nível no máximo, mas não de um nível mais alto. Se alguém usasse o grau mais alto de
pergaminho —feito de couro de Dragão — poderia escrever uma magia de 10º nível nele.

Naturalmente, o couro de Dragão era um material especial, que exigia matar um Dragão.

Por essa razão, os membros da guilda Ainz Ooal Gown se uniram para fazer um criatório
de Dragões, mas isso foi nos dias de YGGDRASIL. Até que pudessem verificar que este
mundo continha Dragões — bem como outras feras — Ainz havia imposto uma leve res-
trição ao uso de couro de Dragão.

Ele não podia fazer algo tolo como gastar um recurso não renovável. Afinal, não havia
como dizer quando ele poderia precisar usá-lo.

♦♦♦

“Você não pode usar meus Dragões!”

“Mas é claro. Jamais faria tal coisa. Ainda mais que seus Dragões, seres especialmente
invocados pela manifestação da vontade dos Seres Supremos. Prejudicá-los é estrita-
mente proibido.”

Mare soltou um suspiro de alívio. Titus olhou para ele com interesse em seus olhos,
depois varreu as cinzas em uma lixeira.

“Er, bem, s-significa que os materiais deste mundo não são adequados para fazer per-
gaminhos?”

Os olhos de Mare olharam para os restos.

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


218
“Possivelmente. Ou melhor, não tenho certeza. Pode ser que meus métodos de fabrica-
ção não sejam ortodoxos neste mundo. Por exemplo, eles parecem produzir poções de
uma maneira notoriamente diferente.”

“Mas... tem certeza? Se é apenas um fracasso, não poderia ser culpa do pergaminho?”

“Se for apenas um com defeito, diz nesse sentido? Eu já usei os pergaminhos deste
mundo para vários experimentos, mas sempre que eu tento imbuir uma magia acima do
terceiro nível, recebo o mesmo resultado — a destruição. É bem provável que o perga-
minho se desintegre porque o poder mágico não pode ser infundido nele.”

“...Mas os magic casters deste mundo usam só esse tipo de pergaminho, não é?”

“Não, o que eu acabei de descartar dificilmente é um pergaminho típico usado pelos


magic casters deste mundo. Porém, depois de considerar que existem várias nações
neste mundo, não posso garantir que ninguém tenha usado um pergaminho como este.
Quando usei os pergaminhos das nações perto de Nazarick—”

Titus produziu uma pilha de pergaminhos que pareciam diferentes do de antes:

“—Os resultados experimentais foram ainda piores; eles estavam limitados a magias de
primeiro nível.”

“Então, isso significa que os humanos sabem fazer bom uso de materiais mais pobres?”

“Talvez. Na verdade, creio que pode ser uma diferença tecnológica. Mesmo que me doa
admitir, a técnica deles é, até certo ponto, mais refinada do que a nossa. Eu adoraria ad-
quirir essa nova tecnologia e melhorar minhas habilidades.”

“Q-que incrível!”

Mare não sentiu nada além de respeito pelo espírito de autoaperfeiçoamento do Bibli-
otecário-Chefe.

“Tudo isso é para o bem do Supremo. Então, Guardião Mare, como concordamos, eu lhe
emprestarei os Overlords. Venha comigo.”

10:28 - Hora de Nazarick

Ele entregou o anel a outra pessoa ao longo do caminho e depois chegou à superfície.
Lá, Mare e companhia realizaram um teleporte em massa e chegaram no meio de uma
sala dentro de uma estrutura de pedra na aldeia Lizardman.

Este edifício foi construído de uma pedra densa e resistente. Ele só poderia ser cons-
truído em um local com solo suficientemente firme, exigindo técnicas de construção que

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


219
os Lizardmens não possuíam. Escusado dizer que as pessoas que construíram este lugar
foram terceiros — um grupo da Grande Tumba de Nazarick.

A razão para ter pessoas vindo de Nazarick para construir essa estrutura estava atrás
das costas de Mare. O objeto que estava dentro das profundezas deste edifício explicava
tudo.

Mare inclinou-se profundamente para o objeto em questão. Os Overlords que viajavam


com ele também se curvaram.

Uma estátua de pedra feita à imagem de Ainz Ooal Gown, governante da Grande Tumba
de Nazarick, erguia-se sobre uma plataforma elevada. Era tão natural que parecia que o
original havia sido transformado em pedra. O modo em que elevava seu bastão irradiava
a dignidade e a seriedade de um governante.

Todo tipo de oferendas adornavam o altar diante da estátua. Naturalmente, essas ofe-
rendas eram inúteis aos olhos de Mare, escassas homenagens de flores, peixes e coisas
do gênero.

Todavia, Mare não estava descontente.

Isso porque quem fizera essas oferendas estava cheio de genuíno respeito e reverência.
Por exemplo, flores frescas não cresciam no pântano, mas nas florestas que eram muito
perigosas para os Lizardmen — eles devem ter arriscado a vida para colhê-las. Os peixes
eram a dieta básica dos Lizardmen, mas as oferendas eram muito maiores do que o ta-
manho médio dos peixes. Mare entendeu que eles tinham escolhido apenas os espécimes
mais impressionantes para oferecer.

“Mm...”

Mare acenou em satisfação.

Ver a ralé expressar seu respeito por seu grande mestre o deixou muito feliz.

“Bom trabalho.”

Ele falou para tranquilizar os Lizardmen que o espreitavam com medo.

Eles eram o pessoal responsável pela limpeza deste santuário. Possuíam habilidades
druídicas, que eram raras entre os Lizardmen, também usavam crachás com o emblema
da guilda de Ainz Ooal Gown no pescoço.

Havia uma grande diferença entre seus postos e o de Mare, entre a dos conquistados e
seus conquistadores, de modo que não havia necessidade de agradecê-los pelo árduo
trabalho. Porém, pelas razões mencionadas anteriormente, Mare ficou tão satisfeito com
seus trabalhos que decidiu agradecer-lhes por isso.

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


220
Mare deixou os Lizardmen se curvarem sem parar atrás dele e se afastou com os cinco
Overlords do santuário.

Diante dele havia um pedaço de pântano, o assentamento de Lizardman. Parecia mais


desenvolvido do que antes.

De fato, eles perderam muitos durante a guerra. No entanto, as cinco tribos eram agora
uma e, no final, formaram uma aldeia maior e mais forte.

A cerca de fronteira abrangia uma ampla área. Em algum momento, torres de vigia ha-
viam sido construídas no pântano lamacento, e em cima de cada uma delas havia um
Skeleton — provavelmente um Old Guarder de Nazarick — examinando os arredores
com uma flecha encaixada em seu arco. Vários Old Guarders de Nazarick podiam ser
vistos andando pelo pântano; presumivelmente, eles estavam realizando reconheci-
mento em caso de ataque inimigo.

“Ah, onde está o Cocytus-san?”

Cocytus destacava-se de muitas maneiras. Se ele estivesse na aldeia, deveria ser imedi-
atamente visível daqui; se estivesse dentro de uma construção, deveria haver vassalos
como os que Mare trouxe esperando lá fora. Com isso em mente, ele olhou ao redor de
toda a aldeia, mas não conseguiu encontrá-lo.

“Poderia um de vocês, por favor, perguntar onde o Cocytus-san está?”

“Certamente. Um momento por favor.”

Um dos Overlords — Aurelius — voltou para o santuário.

Mare olhou para o pântano — na pacata aldeia dos Lizardmen. Ninguém aqui era cau-
teloso com os Old Guarder de Nazarick. Até as crianças Lizardmen eram do mesmo jeito.
Ambos os lados pareciam estar coexistindo como se fosse a coisa natural a fazer.

Embora eles tenham sido atacados e conquistados pelos undeads, não parecem guardar
nenhum ressentimento por eles. Foi por causa da política de amizade do Cocytus-san? Ou
esta é a natureza dos Lizardmen?

Enquanto ociosamente ponderava sobre o assunto, Aurelius logo retornou.

“Perdoe o atraso, Mare-sama. Ninguém no santuário sabe o paradeiro de Cocytus-sama.


Entretanto, dizem que Shasuryu Shasha — o líder da aliança tribal — pode saber.”

“Ah, então, hum, vamos visitá-lo e dar uma olhada.”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


221
A comitiva de Mare prosseguiu sob a liderança de Aurelius. Eles não atravessaram o
pântano para ir até a aldeia Lizardman, mas seguiram a borda do lago, caminhando a
pouca distância pela floresta. As formas dos Old Guarder de Nazarick podiam ser vistas
ao longe.

Uma vez que o grupo saiu da floresta, eles viram um projeto de construção em grande
escala em andamento no outro lado do pântano.

O fluxo de água aqui havia sido represado e cerca de dez Golems de Pedra estavam es-
cavando o solo. A areia e a lama que desenterraram foram levadas por Lizardmen com
carrinhos de mão na margem.

Enquanto Mare observava o que estavam fazendo, um Lizardman robusto correu com
pressa.

Este Lizardman estava coberto de feridas antigas. Seu físico era imponente e ele era
distintamente diferente de um Lizardman comum. A medalha em volta do pescoço ba-
lançava descontroladamente devido à sua pressa.

A medalha era um símbolo de lealdade e também uma marca de proteção. Não era má-
gico, mas ao usá-lo, eles poderiam provar que eram propriedade de Ainz. Portanto, nin-
guém da Grande Tumba de Nazarick que reverenciava os Seres Supremos como deuses
poderia prejudicar intencionalmente os Lizardmen. Claro, seria diferente se eles mere-
cessem a morte, mas felizmente os Lizardmen não eram tão estúpidos. Eles sabiam seu
lugar e reconheciam os fortes como seus soberanos.

“Eu lhe dou boas-vindas, Mare-sama. Me chamo—”

“Você é Shasuryu Shasha-san, é isso?”

“Sim, sou eu. Estou honrado por saber meu nome.”

“Ah, eu... eu ouvi do Cocytus-san... ah, você sabe onde o Cocytus-san está agora?”

Shasuryu ficou pensativo um pouco.

“Eu me lembro que o Cocytus-sama levou vários de seus subordinados e várias dezenas
de Lizardmen em sua expedição para subjugar os Toadmen.”

“Toadmen?”

“Eles são os demi-humanos que vivem nos confins à nordeste do lago. Se parecem com
sapos, nós não nos damos muito bem com eles. Eles possuem a habilidade de controlar
grandes monstros e feras mágicas, então são oponentes muito complicados pra nós. Eu
ouvi dizer que houve uma guerra uma vez durante o tempo do meu avô. Fomos derrota-
dos e uma das nossas tribos foi dissolvida como resultado.”

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


222
“Como... como esperado das espécies do norte, elas são bem fortes.”

Este lago tinha a forma de dois lagos menores unidos, ou uma cabaça invertida. O lago
menor no sul, onde os Lizardmen residiam, era meio pântano e meio lago, e devido às
águas rasas haviam poucos monstros grandes. Em comparação, a água no lago do norte
maior era mais profunda, muitos monstros grandes viviam lá e eram mais fortes que os
monstros do sul. Claro, essa diferença era irrelevante para Mare.

“Ah, me responde uma coisa, quando você mencionou Toadmen, estava falando de uma
espécie chamada Tuvegs?”

Mare estava se referindo aos monstros que viviam no pântano venenoso ao redor de
Nazarick no passado. Ele sabia que sua irmã tinha vários desses monstros como serven-
tes.

“Bem, eu não tenho muita certeza disso. Talvez possa perguntar ao Cocytus-sama de-
pois que ele voltar? Provavelmente voltará em breve.”

“Compreendo. Então, eu vou perguntar sobre outra coisa, sobre... sobre aquilo. Parecem
estar construindo algo grande aqui, o que é isso? É bem distante da aldeia, mas não pa-
rece uma cerca ou algo defensivo...”

“Sim. Na verdade, estamos construindo nosso quarto criatório de peixe aqui.”

Ao ouvir as palavras de Shasuryu, a iluminação chegou a Mare.

Era bom que as tribos Lizardman pudessem se unir. Mas uma vez que sua população
crescesse, a escassez de alimentos naturalmente apareceria. E já que muitas pessoas
morreram durante a guerra, elas não podiam caçar ou capturar o suficiente para alimen-
tar seu povo. Claro, eles poderiam resolver esse problema voltando para suas antigas
aldeias para pescar, mas Cocytus, o novo governante dos Lizardmen, não concordou.

Uma coisa era toda a aldeia se mudar como uma para outra parte do pântano, mas se
apenas algumas pessoas se mudassem sozinhas, havia uma grande chance de serem ata-
cadas por monstros. Os números dos Lizardmen já estavam grandemente diminuídos.
Cocytus não queria perder mais deles.

A fim de garantir a prosperidade dos Lizardmen, Cocytus tomou medidas para resolver
este problema — o problema alimentício.

Primeiro, ele importou rações de Nazarick — com a permissão de Ainz, naturalmente


— e distribuiu para os Lizardmen. Depois disso, ele começou a estudar métodos para
garantir um suprimento sustentável de alimentos. Não é preciso dizer que a solução que
ele descobriu foi a piscicultura construída por Zaryusu. Depois disso, ele discutiu o as-
sunto com Demiurge e começou a construir criatórios mais requintados para peixes.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


223
Eles tinham trabalhado sem parar e construíram três gigantescos criatórios de peixes,
e este foi o quarto.

“Mas os alevinos ainda não foram criados, não é?”

“Sim. O que nós... não, o que meu irmão aprendeu não foi criá-los desde alevinos, mas
criar peixes já crescidos. Mas graças à orientação de Demiurge-sama, fizemos preparati-
vos para cultivar alevinos também. Se tudo correr conforme o planejado, teremos sus-
tento uma população várias vezes maior que a atual através da produção dos criatórios
de peixes.”

“Quê... que maravilha. Dentro de alguns anos não precisarão pegar peixes de Nazarick.
Ah, claro, se surgir uma emergência, imagino que seja sempre bem-vindo para pescar lá.”

“Cada membro da nossa tribo é profundamente grato à bondade e misericórdia de Ainz-


sama por nos dar tantos peixes... ainda assim, os peixes de lá não tem órgãos internos,
como eles vivem? Eles são como certos monstros que não precisam comer? Não, nem
mesmo ossos eles têm; que tipo de formas de vida são aquelas?”

“São alimento feito pelo poder de Ainz-sama e os outros Seres Supremos.”

A comida que Cocytus lhes dera era feita com um item mágico chamado Cauldron of the
Daghdha.

“O quê!? Ainz-sama realmente poderia fazer peixe suficiente para alimentar a todos!?”

Shasuryu sacudiu a cabeça e continuou:

“Quando Zaryusu e os outros visitaram a fortaleza dos Supremos e voltaram com histó-
rias do que viram, pareceu mais um sonho. Eles disseram que a Grande Tumba de Naza-
rick continha muitos mundos menores por dentro, uma verdadeira terra dos deuses.
Ainz Ooal Gown-sama é realmente um deus...?”

“Mas é claro.”

Por que esse Lizardman declara o óbvio? Mare não pôde entendê-lo e inclinou a cabeça
em confusão.

Ainz Ooal Gown era mais que um deus. Ele era o criador.

“Incrível. Tudo nos foi concedido pelo poder de Ainz-sama. Meus agradecimentos a
Ainz-sama.”

“Mm. Ainz-sama será informado de seus agradecimentos.”

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


224
Parte 3

10:30 - Hora de Nazarick

“Vocês estão fazendo muito barulho. Silêncio!”

Ainz fez um gesto com a mão esquerda e manteve uma postura imponente.

Ele deu um passo para trás e retornou à posição original.

“Vocês estão fazendo muito barulho. Silêncio!”

Mais uma vez, ele gesticulou com a mão esquerda e congelou no meio da pose. Ele veri-
ficou o reflexo de si mesmo no espelho e ajustou ligeiramente a posição da mão esquerda.

“...Aceitável... será o ângulo? Não... e se eu estender a mão um pouco mais para a es-
querda?”

Ele retornou à sua posição inicial.

“Vocês estão fazendo muito barulho. Silêncio!”

Finalmente satisfeito com a pose, Ainz pegou o bloco de anotações na mesa ao lado.

“Terminei de treinar poses... não sei se pratico mais um pouco as falas aproveitando
meu tempo extra.”

Ele circulou a frase que ele estava praticando anteriormente com uma caneta e, em se-
guida, virou uma página.

A maioria das frases escritas lá eram variações na frase “Eu considerarei isto.” As frases
que eram muito maçantes ou muito exageradas e, portanto, muito vergonha alheia, fo-
ram todas riscadas.

Para Ainz, que costumava ser uma pessoa comum, agir como um líder era difícil. Assim,
ele repetidamente praticou esse papel apenas no caso de uma situação exigida. É claro
que todo o bloco de notas estava cheio de frases que Ainz havia pensado.

Mesmo tendo passado uma hora desde que Ainz começou a praticar, ele não precisava
de descanso.

Ainz era o supremo governante, mas na realidade, ele mal fazia algo. A menos que hou-
vesse decisões importantes ou situações de emergência que exigissem sua liderança, não
havia nada a fazer. Albedo cuidava de todos os detalhes e tudo o que Ainz tinha que fazer
era folhear os relatórios.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


225
Como nunca havia nada nos relatórios que exigissem seu zelo, ele nem mesmo prestava
atenção ao ler. Era um pouco perigoso para um governante, mas enquanto Albedo esti-
vesse por perto e não houvesse emergência, não haveria problema.

Todas as organizações corretas devem ser desse jeito. Não é bom alguém que está acima
dos outros trabalhar nas linhas de frente.

Era uma jogada tola para o comandante supremo de um exército participar dos comba-
tes nas linhas de frente, a menos que ele estivesse lá para levantar o moral. Se ele fizesse,
seria muito perigoso.

Eu deveria desistir desse negócio de aventureiros e reunir conhecimento para lidar com
situações de emergência — sei que tenho que treinar minha mente também, mas o que
devo fazer? Quem vai me ensinar...? Não posso arruinar a imagem do Ainz Ooal Gown em
que todos acreditam...

Todos dentro de Nazarick respeitavam Ainz como um governante absoluto e se ajoe-


lhavam diante dele. Isso era um fato. Ainz recebia respeito de seus subordinados que
seus antigos companheiros criaram, que eram, de certa forma, seus filhos. Assim como
um pai não podia respeitar as birras dos filhos, ele também não podia traí-los. Foi por
isso que ele praticou atuar, na esperança de que pelo menos pudesse desempenhar o
papel de alguém digno.

Claro, Ainz estava plenamente consciente de que era vergonhoso.


[Assassino d o s
Caso contrário, por que ele iria trancar a porta e proibir as empregadas e os Eight-Edge
Oito-Gumes]
Assassin que o protegiam de entrar? Às vezes, ele até afundava o rosto no travesseiro e
gritava “Arrrghghh—!” quando não aguentava mais.

“Algo que se ajuste ao soberano de Nazarick... Uma forma digna de respeito...”

Ainz sentiu como se fosse expelir sangue enquanto folheava as páginas. Ainda havia
muitas outras frases que ele havia inventado em seu tempo livre, e a linha de chegada
parecia nada à vista.

Ainz Ooal Gown era undead e as emoções acima de um certo limite seriam suprimidas.
Mas—

“Minha mente precisa de férias...”

O remanescente de Suzuki Satoru estava cansado da fadiga mental, e um grito de “Estou


farto disso!” estava prestes a sair.

Porém — Ainz silenciou aquele grito com um rangido de dentes.

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


226
“O que eu estou fazendo? Preciso trabalhar dando tudo de mim.”

Depois de se repreender por tentar fugir, os olhos de Ainz se encheram de força e ele se
olhou no espelho novamente.

De repente, um ruído digital *pi-pi-pi-pi-pi* soou.

O som vindo da pulseira no braço esquerdo era como música para os ouvidos de Ainz.
Ele desligou o sinal súbito e suspirou profundamente.

“Não posso fazer mais nada se o tempo acabou. É... faz parte.”

Ainz devolveu o bloco de notas para uma caixa. Quando fechou a tampa, ele pôde ouvir
o som de várias travas sendo ativadas. Se alguém tentasse abrir a caixa à força, isso aci-
onaria uma extensa série de magias de ataque, todas centralizadas na caixa para destruí-
la. As defesas na caixa eram formidáveis o suficiente para que ninguém, a não ser um
personagem Ladino de nível 90, ou um personagem extremamente especializado com
profissão Ladino de nível 80 pudesse violá-las.

Depois de travar o item com segurança, ele o retornou à sua dimensão de bolso. Havia
muitos outros itens raros lá também. Ainda assim, um Ladino de alto nível poderia rou-
bar itens de um lugar como esse também. Dito isto, um Ladino não poderia apenas imo-
bilizar seus oponentes e roubá-los sem ninguém ver. Eles estavam limitados a um ou
dois itens no máximo. Ainda assim, a perspectiva de ser assaltado apenas uma ou duas
vezes fazia com que Ainz — que não deveria ter medo algum graças aos seus traços ra-
ciais — estremecesse de terror.

Além disso, poderes desconhecidos como Talentos existiam também. Foi por isso que
ele colocou a caixa entre outros itens raros, para que ladrões os roubassem em vez da
caixa.

Depois que ele guardou, ele verificou novamente para ter certeza.

Era como se fosse uma dona de casa verificando se a porta principal estava trancada
antes de sair de casa. Depois que fez isso, ele finalmente deu um suspiro de alívio.

Só depois dessa seara de contramedidas, Ainz finalmente saiu do quarto. O lugar para
o qual estava indo era uma sala que ele usava regularmente em seus estudos. Os que se
curvaram profundamente a ele foram uma empregada regular, Albedo e Mare.

As duas primeiras dificilmente eram uma visão rara, mas o menino não vinha aqui com
frequência e surpreendeu Ainz. Ele atravessou a sala, circulou em torno de sua mesa de
ébano e sentou-se, de uma maneira que havia praticado mais de 30 vezes antes.

Sentar-se assim significava não pisar no manto ou fazer barulho ao empurrar a cadeira.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


227
Depois disso, ele teve que ser cuidadoso sobre como se recostava na cadeira. Não ficaria
bom se seus movimentos fossem muito apressados ou se colocasse muito peso no en-
costo da cadeira. Os reis tinham um ar de realeza — talvez — ao se sentarem.

Mas eu não sei como os reis se sentam... eu deveria observar como um rei se senta...

Era recomendado que os empresários se sentassem levemente no meio da cadeira sem


se apoiar no encosto. Mas Ainz Ooal Gown não era mais um homem assim.

Portanto, tudo o que Ainz poderia fazer era montar a imagem de um rei ideal em sua
mente.

“Levantem a cabeça.”

Foi só então que os três olharam para cima. Ainz estava aborrecido pelo fato de que não
levantariam a cabeça sem um comando explícito, e sentiu que isso era uma perda de
tempo. Ainda assim, ele não podia ignorar a lealdade que mostravam ao seu mestre. Por-
tanto, Ainz suportava isso toda vez e respondia da mesma maneira.

“Então vou começar com uma pergunta. Mare, o que deseja?”

“A-a-ah, s-sim!”

Talvez Mare estivesse nervoso, sua voz falhava um pouco. Ainz sorriu. É claro que não
havia como seu rosto sem carne se torcer, mas ele ainda fazia o melhor que podia para
exalar um ar de bondade. Talvez Mare tivesse sentido isso, mas deu um suspiro de alívio.
Ele parecia menos travado agora.

“Ah... isso, er, eu trouxe isso.”

Ainz não era um superior cruel que diria “O que você trouxe?”. Já que Mare tinha trazido,
Ainz deveria receber em mãos. Por tudo o que sabia, poderia ter sido uma ordem que ele
havia dado e esquecido.

“Perfeito— Ah, não se incomode.”

Ainz estendeu a mão para parar a empregada do dia, já que ela tentava pegar o item do
Mare.

“Mare, entregue-me pessoalmente.”

“Sim!”

Mare segurou seu peito enquanto caminhava até Ainz e entregou a pasta que estava
segurando.

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


228
Ainz aceitou magnanimamente a pasta e a abriu.

Este é... o manifesto que enviei.

Todos os três Guardiões circularam “Vou” ao convite de Ainz.

“Por direito, Cocytus deveria ter enviado um lacaio para me entregar isso. Sinto muito
por causar-lhe esse inconveniente, Mare.”

“N-não tem problema, não é na-nada do tipo! Cocytus-san estava ocupado, então eu in-
sisti em ajudá-lo. E além disso—”

Mare carinhosamente acariciou o anel em seu dedo anelar esquerdo.

...É o anel de Ainz Ooal Gown. Fico feliz que ele o valoriza tanto, mas usá-lo naquele dedo
significa... Calma aí, por que ele me olha com esses olhos lacrimejantes...?

Ainz estremeceu, e então olhou discretamente para Albedo. Ela estava sorrindo gentil-
mente, como sempre.

A linha de visão de Ainz foi para o dedo anelar esquerdo de Albedo.

Como esperado, ela usava o Anel ali também, assim como Mare. Parecia que era o lugar
certo para usar o anel.

De onde veio essa prática? Foi da Grécia antiga?

Ele se lembrou do que Yamaiko lhe dissera sobre o significado de usar um anel em de-
dos diferentes.

Aparentemente, os antigos gregos acreditavam que havia um vaso sanguíneo que vai do
dedo anelar esquerdo até o coração, aí se o dedo anelar esquerdo tocasse algo prejudicial
ao corpo, ele enviaria um sinal ao coração, por isso eles dispensavam medicina com seus
dedos anelares esquerdos... Sous-Chef faz a mesma coisa também? Ah, tem algo errado...
ele está me encarando de novo.

Ainz fechou a mão.

“O que foi, Mare? Viu alguma coisa estranha? Tem alguma mancha no meu rosto?”

Ele escolheu suas palavras com cuidado, certificando-se de que sua resposta não soasse
como escárnio.

“Não... de... de jeito nenhum. Eu simplesmente me dei conta de como o senhor é incrível,
Ainz-sama.”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


229
“Eu sou incrível?”

Ainz inconscientemente acariciou seu rosto ossudo.

“Ahaaha... Você é bajulador, Mare.”

“Não é bajulação!”

O volume da voz não soou como se tivesse vindo de Mare.

“P-perdoe-me, Ainz-sama. Mas eu realmente penso que o senhor é incrível. Mesmo


agora, a maneira como o senhor se sentou parecia exatamente como o governante su-
premo de Nazarick deveria ser...”

Ainz olhou interrogativamente para a empregada. A Homunculus percebeu as inten-


ções de seu mestre e balançou a cabeça vigorosamente, como se quisesse dizer “Exata-
mente como ele diz”. Ainz não olhou para Albedo, mas ela também estava balançando a
cabeça do mesmo modo, e houve um som de *patapata* enquanto suas asas batiam.

“Agradeço por tais palavras.”

Depois da breve resposta, Ainz levantou-se de seu assento e caminhou até Mare, em
seguida gentilmente acariciou a cabeça do menino que tinha ficado tenso em antecipa-
ção a uma bronca.

Foi um ato casual, mas cheio de bondade.

“Ai-Ainz-sama...”

“Obrigado, Mare. Suas palavras sempre me agradaram.”

Foi incrivelmente embaraçoso dizer isso, mas ele não demonstrou nenhuma dessas
emoções semelhantes a Suzuki Satoru.

“Eu sempre estive pensando nisso; eu deveria agradecer aos meus amigos.”

“O senhor quer dizer os Seres Supremos?”

Ainz se ajoelhou, então seus olhos estavam no nível de Mare.

“Precisamente. Quero agradecer por terem feito a Grande Tumba de Nazarick e por te-
rem feito você e todos os outros. Vocês — e com isso quero dizer a Albedo e Cixous tam-
bém—”

As asas de Albedo ficaram totalmente eretas.

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


230
A empregada que acabara de ser abordada de repente entrou em pânico. Ela era tipica-
mente calma, então depois de ver esse raro lado dela, Ainz riu alegremente.

“Todos vocês são os meus tesouros.”

Ainz pegou Mare.

“Eu mal posso suportar imaginar a Bukubukuchagama-san tirar você de mim.”

“Obrigada, Ainz-sama.”

Lágrimas de alegria correram pelas bochechas de Cixous enquanto ela respondia em


nome de Mare.

“Quando todos os Seres Supremos deixaram este lugar, só o senhor permaneceu aqui
até o fim, todos em Nazarick são gratos por isso. Talvez tenhamos deixado de satisfazer
suas expectativas e talvez tenhamos o aborrecido. Eu entendo que falar dessa maneira
ao nosso criador é profundamente rude, mas eu rezo para que o senhor permita que—
prometamos nossa lealdade eterna.”

“Eu permito. Eu me lembro que, no passado, Albedo e Demiurge disseram algo seme-
lhante a mim, então ouça isso — eu sou o mestre de Nazarick; eu sou seu mestre, Ainz
Ooal Gown.”

Ainz nunca havia ensaiado essas frases antes, então ficou surpreso com a facilidade com
que conseguia recitá-las. Contudo, quando pensou a respeito, isso era de se esperar.
Como era algo vindo de seu coração, fazia sentido que ele pudesse fazê-lo de uma ma-
neira tão natural.

Mare abraçou Ainz e enterrou o rosto em seu ombro.

Ainda bem que eu não estou usando o meu equipamento habitual.

A parte calma da mente de Ainz disse.

Ele sentiu uma sensação úmida se espalhando pelo manto sobre seus ombros, mas Ainz
deixou Mare se afagar nele. Quando o som do choro e soluços de Mare gradualmente
diminuiu. Ainz gentilmente acariciou a cabeça do menino.

Ainz tirou um lenço do bolso.

Ele nunca tinha limpado o rosto de outra pessoa antes, então talvez seus movimentos
fossem um pouco grosseiros, mas Mare permitiu que Ainz o limpasse.

“Pronto, Mare. Vá lavar seu rosto.”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


231
“Ah... e o senhor, Ainz-sama?”

“Ah, eu vou para E-Rantel depois. Eu preciso encontrar o Chefe da Guilda. Eu adiei por-
que é chato, mas não posso mais demorar. Então—”

Ainz olhou para Albedo, que permanecia em silêncio por todo esse tempo. Seus longos
cabelos cobriam o rosto e ele não conseguia ver sua expressão. Entretanto, o tremor sem
parar de seu corpo foi o suficiente para tacar terror no coração de Ainz. A imagem de um
vulcão emanando gases, à beira da erupção, passou por sua mente.

“O que há de errado, Albedo?”

E naquele momento—

“—Gu-guwaargh!”

—O campo de visão de Ainz mudou quando ele sentiu um impacto nas costas.

Naturalmente, não doeu. O corpo de Ainz só poderia ser prejudicado por meios mágicos.
Ele não sentiu dor pelos impactos leves que resultaram do choque nas coisas. No entanto,
os remanescentes de sua humanidade o fizeram fechar os olhos em reflexo.

Este desenvolvimento repentino deixou-o incapaz de pensar. A composição mental dos


undeads significava que eles não entraram em pânico ou coisas do tipo, então essa con-
fusão deve ter sido a de Suzuki Satoru.

“Nh, ngghhh...”

Ele abriu os olhos e viu os Eight-Edge Assassins no teto. Em outras palavras, ele estava
de costas no chão. Quando percebeu isso, Ainz imediatamente tentou se levantar, mas
um objeto estranhamente macio prendia seu corpo inteiro e, graças a isso, foi difícil se
mexer.

Impossível. Meus itens me concedem imunidade a impedimentos de mobilidade, como fi-


car preso. Teria que ser libertado assim que fosse completamente imobilizado... em outras
palavras, alguém está usando uma técnica de enraizamento muito poderosa em mim!

Ainz checou para ver qual era a forma de vida suave que o prendia, e como esperado —
era Albedo.

“Ainz-samaaa!”

Albedo estava montada em Ainz que estava preso no chão e o empurrou para baixo com
a pélvis enquanto ele tentava se levantar.

“O q-que é isto? O que está acontecendo?”

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


232
OVERLORD 6 Os Dois Líderes
233
“Eu—Eu não aguento mais!”

Albedo de repente abriu os olhos. Suas pupilas douradas chamejantes enviaram um ar-
repio na espinha de Ainz.

“Você... o que está dizendo!?”

Albedo ignorou a pergunta em pânico de Ainz e levou as mãos para a frente do vestido.
Como uma mulher em sites de entretenimento adulto +18, ela tentou retirá-las, mas não
conseguiu movê-las.

“Roupas mágicas são tão irritantes!!! Precisa de uma habilidade para destruí-la ou tirá-
la normalmente.”

“Acalme-se, Albedo! Saia de cima de mim!”

Ainz pensou em empurrá-la com força bruta, mas Albedo era uma guerreira de nível
100. Além disso, sempre que Ainz tentava afastá-la, suas mãos faziam contato com algo
macio e mole, então ele não podia usar sua força total. As mãos de Albedo se moveram,
procurando remover o manto de Ainz.

“Não tire minhas roupas! Pare de mexer seus quadris! Espe—”

“Ah, awawawawa...”

“A culpa é sua, Ainz-sama! Eu tenho suportado isso por tanto tempo, mas o senhor disse
aquilo e eu não pude mais me segurar! É tudo culpa sua, Ainz-sama! Eu só preciso de um
pouquinho! Só um pouco! Só um pouquinho do seu amor! Vai ser rápido, vai acabar antes
que conte os Eight-Edge Assassins no teto!”

Se Albedo tivesse escolhido esse momento para repreender Ainz por mudar sua narra-
tiva, talvez ele tivesse perdido a vontade de resistir a isso.

Todavia, Albedo parecia que comê-lo-ia por inteiro, então ele não sentia culpa, mas sim
o terror de alguém que estava prestes a ser devorado. Isso o fez lutar ainda mais deses-
peradamente.

Foi só então que seus subordinados, que ficaram aturdidos com o desenvolvimento re-
pentino, finalmente entraram em ação.

“Albedo-sama enlouqueceu!”

“Albedo-sama enlouqueceu!”

Os Eight-Edge Assassins desceram como um do teto.

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


234
“Tirem ela de cima do Ainz-sama! Não, não tente imobilizá-la, ela vai escapar imediata-
mente! Apenas a afaste com força bruta!”

“Estamos com problemas! Sua força é absurda! Eu não esperaria nada menos da Super-
visora Guardiã! Mare-sama, nos ajude!”

“—Awawa! Ce-certo!”

♦♦♦

No fim, Ainz foi finalmente liberto, e depois de suavizar suas vestes amarrotadas, ele
olhou para Albedo, que foi agarrada pelas mãos e pés pelos Eight-Edge Assassins, e disse:

“Albedo deve ser confinada por três dias.”

Os Eight-Edge Assassins arrastaram Albedo da sala.

“Ah... Ainz-sama... o senhor está bem?”

“Eu estou perfeitamente bem... Albedo sempre foi tão estranha assim? Ela comeu algo
estranho? ...Com certeza, demônios não precisam comer nem beber, mas não é como se
não pudessem.”

Quando Ainz fez essa pergunta, Mare desviou os olhos.

“Entendo... não, bem, hm. Muita coisa deve estar acontecendo com ela. Pelo que sei,
pode ser um estresse reprimido do trabalho.”

Ainz levantou-se e chamou a empregada. Ele recuperou sua dignidade — que antes es-
tava espalhada pelos ventos — e falou em tom de comando.

“...Convoque Narberal e Hamsuke. É hora de partir para E-Rantel.”

13:35 - Hora de Nazarick

Ainz puxou as rédeas de onde ele estava montado nas costas de Hamsuke, fazendo-a
parar. Ele silenciosamente ponderou os portões da cidade de E-Rantel.

Ainz gostava bastante destes portões grossos e robustos, que pareciam poder repelir
um exército. Embora houvesse muitos portões em YGGDRASIL que eram maiores e mais
legais (na aparência) do que esse, afinal, esse portão não era um amontoado de dados,
mas algo feito pelas mãos da humanidade — mesmo eles podendo ter assistência mágica.

Enquanto estava diante desses gigantescos portões de aço, um sentimento indescritível


tomou conta dele.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


235
Havia guildas em YGGDRASIL que conquistaram cidades também. No passado, achei pro-
blemático usar um local que fosse tão difícil de defender como uma base de guilda, mas...
acho que posso entender as guildas agora. Governar uma cidade grande é quase que uma
ambição masculina.

Em YGGDRASIL, havia frequentes batalhas entre as guildas. Muitos membros da Ainz


Ooal Gown simplesmente assistiram friamente ao longe, incapazes de compreendê-los,
mas houve aqueles que disseram que queriam participar.

Eles eram maníacos por batalha...

No passado, Ainz não gostava muito dessas palavras, mas quando ele pensava agora,
eram boas lembranças.

“É algo importante, Milorde?”

“Não, não é nada.”

Hamsuke ficou curiosa e fez sua pergunta pois seu mestre havia dito que parasse e, no
entanto, não fizera nada. A resposta curta de Ainz havia encerrado o assunto. Sentiu-se
envergonhado por deixar que Hamsuke soubesse que estava relembrando o passado.

“Agora, para a Guilda dos Aventureiros, onde participaremos da reunião e, em seguida,


assumiremos imediatamente uma missão de extermínio de monstros.”

Ele poderia ter ficado em uma pousada em E-Rantel, mas não tinha o luxo de fazer tais
gastos desnecessários. A razão pela qual Ainz — que não comia ou bebia — tinha que
reservar um quarto nas estalagens mais sofisticadas era puramente destacar seu status
como um dos poucos aventureiros adamantite. Depois disso, era uma questão de fazer
conexões. Contudo, ele já havia conhecido todas as pessoas influentes nesta cidade, e
estava certo de que elas o receberiam calorosamente se as procurasse. Portanto, Ainz
não tinha necessidade de reservar um quarto na pousada.

Além disso, sempre que Ainz se registrava em uma pousada, ele imediatamente se tele-
transportava de volta para Nazarick, onde produzia undeads e trabalhava em outras coi-
sas. Sendo esse o caso, seria mais sensato ter uma missão de extermínio de monstros e
deixar a cidade o mais rápido possível.

E francamente, ele não sentia que havia mais mérito em ficar perto de E-Rantel.

“Mesmo? Milorde gosta mesmo de batalhas.”

“Não é como se eu gostasse. Além disso, quando eu destruo monstros, eu os mato ime-
diatamente e passo a maior parte do tempo em Nazarick.”

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


236
Ainz bateu levemente na cabeça grande de Hamsuke.

“Eu pretendo dar-lhe todos os tipos de treinamento para que possa usar armas e arma-
duras.”

“Este aqui sempre dá tudo de si! Este aqui pediu aos Lizardmen que ensinassem este
aqui vários tipos de truques, e logo este aqui certamente será capaz de aprender um
super golpe!”

“Hum. Bem, seria perfeito se pudesse aprender Artes Marciais. Além disso, e quanto ao
seu discípulo? Acha que ele vai poder usar Artes Marciais?”

“Milorde fala dele? Ele nunca fala, então este aqui não sabe. No entanto, este aqui sente
que ele não pode ser útil ainda.”

Que pena.

Pensou Ainz. Não havia como alguém gostar de falar com aquilo, e Ainz sentiu que as
chances de aprender Artes Marciais eram pequenas. Se tratava pouco mais que uma ex-
periência. Dito isto, se aquilo — um Death Knight criado por Ainz — pudesse realmente
aprender técnicas de guerreiro, seus planos futuros teriam que ser muito alterados. Isso
porque, se ele pudesse fortalecer os monstros treinando-os, então provavelmente se tor-
naria uma prioridade máxima.

“Os undeads não precisam dormir e nem se cansam. Eles podem realizar o treinamento
de combate para sempre. Então, em teoria, ele deveria ter aprendido Artes Marciais an-
tes da Hamsuke. E não ter aprendido até hoje, indica que isso não é possível.”

“Um momento por favor, Milorde! Ele se esforça do jeito dele! Mesmo depois disso, ele
volta para a morada deste aqui, ele continua treinando sem uma única palavra de
queixa... Este aqui pede que poupe a vida dele!”

“...Calma, eu não pretendia matá-lo, sabia disso? Por que pensou uma coisa dessas?”

“De fato, não há ninguém mais misericordioso em todo este mundo do que o Ainz-sama.
Ainz-sama até teve pena de uma criaturinha patética como você e poupou sua vida.”

Essas palavras frias vieram de Narberal, que estava andando atrás deles, o que fez Ham-
suke estremecer.

“—Nabe, estamos chegando em E-Rantel. Me trate como Momon a partir de agora.”

“Entendido.”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


237
“Além disso, Hamsuke é um ser com uma parte importante a desempenhar no plano
para fortalecer Nazarick... você deve tomar a atitude apropriada com aqueles que traba-
lham com amor por Nazarick. Não estou me referindo apenas a Hamsuke, então tenha
isso em mente.”

“Sim! Minhas mais profundas desculpas.”

E pare de chamar humanos de carrapatos, piolhos ou qualquer inseto que seja!

Ainz queria dizer, mas não importa como ordenasse, Narberal não aprendia, então re-
centemente ele decidiu não se incomodar. Isso porque se Narberal Gamma tivesse sido
projetada para se referir inconscientemente aos seres humanos de tal maneira, forçá-la
a se corrigir seria essencialmente passar por cima dos desejos de seu amigo que a pro-
jetou dessa maneira.

“Tudo bem, vamos.”

“Sim, Milorde.”

Ainz partiu em Hamsuke.

Ele podia ver várias pessoas alinhadas em frente ao portão. Era de se esperar que a
imigração fosse mais rigorosamente controlada do que a emigração, e todos os itens que
transportassem seriam cuidadosamente inspecionados. Portanto, se comerciantes ou
vendedores itinerantes quisessem entrar em E-Rantel, eles poderiam ter que passar
muito tempo na fila para uma inspeção.

“Espero que não demore muito...”

“O senhor não deveria ter prioridade, Momon-sa—n?”

Narberal perguntou enquanto estavam alinhados atrás de vários viajantes — incluindo


um grupo de aventureiro trajados.

Ela estava certa. Quando Ainz chegou pela primeira vez aqui, ele também tinha sido
submetido a testes extremamente problemáticos, mas como seu recorde de aventuras
cresceu, o processo de inspeção ficou mais simples, e agora praticamente tinha um passe
livre para passar por eles. Além disso, às vezes ele recebia permissão para entrar prefe-
rencialmente na cidade.

Esse privilégio não era exclusivo da Escuridão; quase todos os aventureiros mythril e
acima receberam um tratamento mais especial. Talvez fosse porque a cidade não queria
desagradar seus trunfos.

Se é assim, por que não acabar com o pedágio de entrada também?

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


238
Os pedágios eram baratos em comparação com os pagamentos que os aventureiros re-
cebiam, mas Ainz era um dos principais que trazia sustento para Nazarick e tinha que
dar bom exemplo. Dito isto, ele também não podia ignorar as paredes com magia de voo.

Momon era um herói. Portanto—

“Não podemos furar fila... a menos que haja uma emergência, ou temos que entrar na
cidade com a devida prontidão.”

Ele viu Narberal curvar-se do canto do olho e Ainz olhou à sua frente, de onde estava
montado nas costas de Hamsuke.

“Ainda assim, eles não estão se movendo...”

A fila era como uma estrada bloqueada por um engarrafamento; ninguém estava se mo-
vendo.

“O que é aquilo...? Parece que estão inspecionando uma carroça... e fazendo com muita
cautela. Não, isso não é normal... Será que encontraram algum contrabando? Com li-
cença.”

Ainz chamou um homem de aparência comum na frente dele.

“Ah, sim. O que o senhor deseja?”

“Não se preocupe, só notei que a fila não está se movendo, estava me perguntando se
por acaso sabe o que está acontecendo?”

“Não tenho muita certeza, parece que apenas levaram uma aldeã para verificação. E
então—”

Depois de ouvir o homem, Ainz ainda não tinha idéia do que estava acontecendo. Ele
deu uma olhadela para o posto de serviço. Ele inclinou a cabeça tentando captar algum
som e ouviu o som de uma discussão.

De repente, algo despertou a curiosidade de Ainz.

Quando ele chegou a essa cidade pela primeira vez, eles lhe fizeram uma pilha de per-
guntas no portão principal, mas ele não esperava deixar passar tão facilmente. Ele ficara
surpreso na época e achava que esse mundo era surpreendentemente gentil com pes-
soas sem raízes fixas, como mercenários, aventureiros ou viajantes, mas a verdade não
era o que ele esperava. Nesse caso, o que eles estavam perguntando a essa aldeã?

Atualmente, o status de Ainz como um aventureiro adamantite significava que pouquís-


simas cidades recusariam sua entrada.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


239
Era por isso que Ainz queria saber exatamente que tipo de perguntas estavam sendo
feitas. No futuro, ele pode ter que se infiltrar em uma cidade sem o disfarce de Momon,
o aventureiro adamantite. Ele tinha que aprender mais para que não houvesse dificul-
dades quando chegasse a hora.

“Vocês dois, esperem aqui. Eu vou ver o que está acontecendo.”

“Por favor, permita-me acompanhá-lo.”

“Não há necessidade disso. Vou apenas dar uma olhada.”

Ele desceu das costas de Hamsuke e caminhou em direção ao posto de verificação.

Todos os soldados exclamaram surpresos ao ver Ainz. Não havia ninguém aqui em E-
Rantel que não conhecesse o aventureiro Momon.

Ainz teve o cuidado de parecer o mais descolado possível enquanto se aproximava do


posto de serviço. Ele viu um magic caster de aparência bufante, um soldado e uma aldeã
sentada.

“Queremos entrar na cidade, mas... o que está acontecendo?”

“Uooooh!”

Os dois homens exclamaram com a mesma surpresa que os soldados do lado de fora. A
aldeã ficou atordoada quando viu.

“O senhor é—! Momon-sama! Sentimos muito pelo incomodo!”

“Tudo bem, o que está acontecendo aqui... hm? Aquela garota é...”

Ela parecia familiar. Ainz sentiu que a conhecia e procurou em seu hipocampo — em-
bora ele não possuísse tal órgão — por informações confirmando suas suspeitas.

“Sim! Estávamos investigando uma garota suspeita e levou tempo demais. Nós sincera-
mente pedimos desculpas por incomodá-lo, Momon-sama—”

Ainz estava começando a achar a conversa do homem intolerável. Então, a inspiração


aconteceu e ele se lembrou do nome da aldeã.

“—Enri, é isso? Enri Emmot?”

“Er, ah, você é... er, não, eu sou. Ah, o senhor foi quem veio com o Nfirea naquele dia, né?
Não me lembro de falar com o senhor...”

Naquele momento, Ainz instintivamente pressionou a mão sobre a boca.

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


240
Ele conheceu Enri quando era o magic caster Ainz Ooal Gown. Mas agora ele era o aven-
tureiro adamantite da Escuridão, Momon.

Droga! Eu falei na minha voz normal! Fiz merda. Preciso sair daqui agora. Ainda assim, o
que ela está fazendo aqui? Talvez não tenha problema conversar com ela— não, ela acha
que Ainz Ooal Gown está aqui? Preciso esclarecer isso.

Ela não parecia ter descoberto sua verdadeira identidade da conversa agora, mas ele
não podia descartar a possibilidade de que tivesse sido exposto. Com certeza, ele não
achava que ela teria comparado sua voz de vários meses atrás a algumas palavras ditas
através de uma camada de armadura, mas era melhor ser prudente.

Ainz acenou para o magic caster. Ele sentiu que o homem deveria saber mais do que os
soldados.

Ele conduziu o magic caster para fora do posto de trabalho, eles se afastaram um pouco
para evitar serem ouvidos pelas sentinelas.

“Bem... aquela menina é amiga de um amigo. Pode me dizer o que aconteceu com ela?”

Ele não estava mentindo, já que Nfirea era de fato um amigo de Ainz/Momon.

Os olhos do magic caster se arregalaram. Ele parecia estar chocado, mas esse não era o
caso. Era mais como conectar pontos para formar uma linha perfeita. Era como se um
mistério em seu coração tivesse sido resolvido.

“Hum... agora começa a fazer sentido...”

Poderia acelerar o pensamento aí e parar de enrolar?

Ainz queria muito dizer isso, mas ele aguentou e esperou que o homem falasse.

“Ela disse que era apenas uma aldeã, mas ela carrega um poderoso item mágico, uma
trombeta feita de chifre. Eu não sabia o porquê ela tinha um item tão poderoso. Isso me
encheu de dúvidas, então eu queria esclarecer as coisas.”

“Que tipo de trombeta é? Quais efeitos tem?”

“Seus efeitos são—”

Depois de ouvir toda a explicação, Ainz não pôde deixar de olhar para o céu.

Isso porque ele estava tentando fugir do fato de que era um item que ele deu a ela.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


241
Naquela época, Ainz não sabia que tal item estava além da compreensão deste mundo.
Ele lhe dera a trombeta simplesmente para que pudesse se proteger. Quem poderia ima-
ginar que isso teria criado tantos problemas para ela? Ainz provavelmente poderia ter
uma desculpa ao longo das palavras de “Eu não sabia de nada”, mas ignorar a situação
agora não seria bom.

Vou ter que livrar ela dessa. Eu não fiz nada de errado, mas fui eu quem deu o item, no fim
eu meio que sou responsável por isso... se eu a abandonar e cair nas mãos de outra pessoa,
vai acabar dando mais problemas ainda. Além disso, se ela for presa—

Nfirea sabia que Momon e Ainz Ooal Gown eram uma e a mesma coisa. Dadas estas
circunstâncias, se Enri comentasse isso com Nfirea, ele certamente pensaria que Ainz a
deixara a bel prazer do destino.

Pode criar um climão entre nós... Eu não me importo com o sofrimento de humanos sem
valor, mas ele é muito valioso. É como dizem por aí; preciso transformar o perigo em opor-
tunidade. Se eu ajudar ela, o Nfirea vai ficar ainda mais grato. Isso pode fazer ele se esfor-
çar ainda mais no que está fazendo.

Ainz falou em um tom que acreditava que passaria calma e dignidade ao mesmo tempo:

“Não há necessidade de se preocupar. Conheço ela há algum tempo e lhe garanto que
ela é uma boa pessoa, ela não vai sair por aí causando problemas, então poderia fazer o
favor de deixá-la passar? — Faria essa gentileza?”

“Mas é claro. Se ela é uma amiga de Momon da Escuridão, e o senhor a garante, então
permitiremos que ela entre, mesmo que ela não fosse de boa índole.”

“É mesmo...? Bom, agradeço a confiança e sou grato a você por permitir isso. Há mais
uma coisinha, se não for pedir demais, poderia permitir que nós — a Escuridão — en-
tremos na cidade primeiro?”

Depois de receber permissão, Ainz voltou para Narberal e Hamsuke.

“Fomos autorizados a entrar. Vamos indo.”

Ele montou nas costas de Hamsuke e contornou a fila de pessoas. Todos olharam para
ele, mas, uma vez que viram sua armadura negra, suas espadas, Hamsuke e Narberal,
todos desviaram os olhos. Eles entenderam que o status de Ainz era muito maior do que
o deles.

As sentinelas do portão curvaram-se profundamente para eles quando passaram, e en-


tão entraram em E-Rantel.

“Então, Nabe. Preciso que faça algo.”

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


242
“Imediatamente. Por favor, me comande como achar melhor.”

Já que ambos eram aventureiros, não parecia bom que ela demonstrasse tanta lealdade
nas ruas. No entanto, Ainz tinha gradualmente percebido que era inútil instruí-la, e as-
sim ele continuou falando:

“A garota que conduzia a carroça de agora a pouco — Enri — entrará na cidade em


breve. Vá perguntar o porquê ela veio para E-Rantel.”

Depois disso, Ainz encontrou um lugar para se esconder. Isso porque ele queria evitar
conversas longas com Enri.

Ele inspecionou o ambiente e viu uma pilha alta de engradados de madeira que ele pro-
vavelmente poderia se esconder atrás, e então ordenou a Hamsuke que se apressasse
em direção aquilo. Os soldados que lá trabalhavam entraram em pânico quando viram
Ainz e Hamsuke se aproximando.

“Senhores, estão livres? Eu gostaria de perguntar sobre esses engradados.”

Assim que teve certeza de que não seria visto nos portões da cidade, Ainz se dirigiu a
um dos soldados. Claro, ele não estava interessado nos engradados. Ele simplesmente
inventou um pretexto para estar lá porque estava preocupado que outros pudessem
afastá-lo por interferir em seu trabalho.

“Ah... tudo bem. Estamos muito felizes que o senhor tenha interesse em nosso trabalho,
Momon-sama. Os engradados estão cheios de vegetais da província de Grandel, são co-
nhecidos como Kinshu. Estes vegetais—”

Enquanto Ainz escutava a explicação sincera do soldado, ele soltava umas respostas de
“Entendo” e “Interessante”. O soldado não pareceu se importar com as respostas indife-
rentes e continuou sua palestra. Depois de aprender a cozinhar os vegetais chamados
Kinshu com detalhes precisos, ele sentiu Narberal se aproximando por trás dele.

“Perdoe-me por interromper sua explicação. Eu aprendi muito, obrigado. Mas minha
companheira voltou, temos assuntos a resolver.”

Depois de sua despedida unilateral do soldado, Ainz ordenou Hamsuke a seguir em


frente.

“Como foi?”

“Primeiramente, ela queria que eu lhe agradecesse, Momon-san. Depois disso, ela disse
que tinha três objetivos: vender as ervas que havia coletado, verificar os templos para
pessoas que poderiam querer se mudar para vilarejo e, finalmente, ir até a Guilda dos
Aventureiros.”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


243
“A Guilda dos Aventureiros? Que tipo de pedido ela pretende?”

“Perdão, mas não perguntei a respeito. Devo capturá-la e forçá-la a falar?”

“Não precisa. Até porque, também vamos à Guilda dos Aventureiros, vamos perguntar
e eles quando chegarmos lá.”

Certamente ela não pretendia agradecer diretamente a Ainz Ooal Gown. Se fosse por
esse objetivo, ela poderia simplesmente deixar uma mensagem com Lupusregina, que
ocasionalmente visitava o vilarejo.

“Oh sim, Nabe. Você recebeu algum relatório especial da Lupusregina?”

Narberal negou com a cabeça e Ainz franziu as sobrancelhas — que naturalmente eram
inexistentes.

Ele tinha planejado originalmente colocar um Shadow Demon no vilarejo, mas em vez
disso enviou Lupusregina para forjar relações amigáveis. Ele ordenou que Lupusregina
relatasse imediatamente qualquer coisa que acontecesse. Entretanto, nenhuma informa-
ção chegou até Ainz até este ponto.

Portanto, ele acreditava que o Vilarejo Carne estava bem. Não era esse o caso?

Embora não houvesse necessidade de contar trivialidades como “Enri foi sozinha para
E-Rantel”, a inquietação ainda envolvia o coração de Ainz como uma nuvem.

“Eu sempre achei que a Lupusregina era uma trabalhadora. Nabe, o que você acha?”

“É como diz, Ainz-sama. O tom dela a faz parecer muito casual, isso é apenas uma atua-
ção. Ela é cruel e astuta; uma excelente Empregada.”

Não havia como crueldade e astúcia serem tomadas como elogios. Ainz olhou para o
rosto de Narberal, pensando que ela via Lupusregina com negatividade, mas sua expres-
são fria só continha respeito por uma colega.

“Então, Milorde, este aqui deve proceder para a Guilda dos Aventureiros, como o senhor
disse anteriormente?”

“Sim, se lembra de onde fica? Narberal, sente atrás de mim. Como já guardou a Statue
of Animal: War Horse, não precisa se dar ao trabalho de tirá-la novamente.”

Ainz agarrou a mão de Narberal e a pôs atrás dele. Hamsuke parecia ansiosa para sair
e acelerar o passo. Ele não estava mais envergonhado de montar Hamsuke pelas ruas.
Além disso, Hamsuke conseguia entender a linguagem e receber ordens, o que lhe agra-
dava. Parecia apenas andar de cabriolé.

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


244
Logo, a Guilda dos Aventureiros apareceu diante de seus olhos. Ao mesmo tempo, ele
notou a carroça que vira mais cedo, e as costas de Enri entrando na Guilda.

“...Cheguei tarde. Hamsuke, vamos entrar pela porta dos fundos. Circule por trás.”

“Entendido, Milorde!”

Normalmente, os aventureiros não podiam entrar na Guilda pela porta dos fundos. Con-
tudo, tudo era possível para aventureiros adamantite. Aliás, também foi a primeira vez
que Ainz fez isso. Mesmo sendo de uma classe privilegiada, abusar de seus privilégios
prejudicaria sua reputação.

Depois de entrar na Guilda pela porta dos fundos, ele perguntou ao primeiro funcioná-
rio da Guilda para que o levasse para a sala do Chefe de Guilda. Felizmente, o Chefe de
Guilda estava lá.

“Oh, se não é Momon-kun! Bem-vindo!”

O Chefe de Guilda — Ainzach — abriu os braços para receber Ainz e depois o abraçou.
Mesmo não sentindo nada, já que estava usando sua armadura e um elmo, havia muitas
razões que teria escolhido para evitar aquele abraço ardente se estivesse em uma fina
camada de roupa. Ainzach acariciou intimamente Ainz nas costas antes de lentamente
soltá-lo.

“Tem tempo que não vem, tenho me sentido tão solitário ultimamente. Venha, sente-se.
Vamos conversar um pouco antes que os outros apareçam.”

O Chefe de Guilda parecia estar recebendo um amigo que não via há muito tempo, en-
quanto indicava alegremente o sofá.

“Obrigado.”

Depois que Ainz se sentou, o Chefe de Guilda sentou-se ao lado dele.

Os dois estavam muito próximos. Seus joelhos estavam se tocando e estava sufocante.

“Momon-kun, nos conhecemos há tanto tempo; certamente podemos falar sem tantas
firulas um com o outro, hm?”

“Não, deve haver educação mesmo que haja familiaridade. Isto é muito importante; é o
que meus anciões me ensinaram.”

Claro, se ele fosse um assalariado, ele teria falado com mais proximidade — algumas
vezes, ele até falou com os clientes em um tom normal. Porém, ele não queria tanta pro-
ximidade com o Chefe de Guilda. Ele achava que manter uma atitude comercial era o
caminho certo a seguir.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


245
Ser muito íntimo de um grupo só traz fardos. Eu não quero estar muito ligado à Guilda
dos Aventureiros de uma única cidade. Devo partir para pastos mais verdes em breve? Além
disso—

Ainz olhou para o Chefe de Guilda através da fenda de seu elmo.

O que deu nele para se sentar tão perto de mim? Normalmente, você deixaria a Narberal
se sentar ao meu lado e se sentaria à minha frente, não...?

Sua proximidade o fazia ficar desconfortável; não era de admirar que Ainz começasse a
suspeitar que o Chefe de Guilda fosse gay.

Eu ouvi o Chefe da Guilda dos Magistas dizer que ele é casado... será que a esposa é apenas
uma fachada? Eu pensei que ele estava apenas tentando me colocar do lado dele... mas está
tendo o efeito oposto. Ou ele acha que eu sou gay?

Essa imagem mental final fez Ainz estremecer.

Ainz era heterossexual. Ou melhor, ele costumava ser até onde sabia. Aliás, Suzuki
Satoru preferia peitos grandes. Esse ponto (provavelmente) não mudou, mesmo depois
de ganhar este corpo. Isso porque ele preferia as curvas de Albedo em comparação a...
digamos, a Cocytus.

Ainz ajustou sua posição sentado, movendo-se levemente para longe do Chefe de Guilda,
e então ele se virou para encará-lo.

“Perdoe minha grosseria, mas eu vim aqui porque queria perguntar uma coisa. Eu gos-
taria de— bem, uma de minhas amigas deve estar na Guilda dos Aventureiros neste mo-
mento, e eu gostaria de saber que tipo de solicitação ela vai apresentar.”

“Bem, as regras tornam um pouco difícil falar sobre isso.”

“Eu sei, mas espero que compreenda meu pedido. Eu entendo que estou impondo e en-
tendo a necessidade de obedecer às regras da Guilda. Mas espero que me dê uma ajuda
nisso.”

Ainz inclinou a cabeça, ao que o Chefe de Guilda respondeu, cruzando os braços e


olhando para o teto, com um olhar severo no rosto. No entanto, ele só manteve essa pos-
tura por um tempo curto.

“Tudo bem.”

Ele sorriu para Ainz e completou:

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


246
“Só porque é um pedido seu que não vou rejeitar, Momon-kun. Enfim, poderia me dizer
o nome dessa amiga?”

“Ela se chama Enri, Enri Emmot do Vilarejo Carne.”

“Enri? Isso vai demorar um pouco, tudo bem assim?”

♦♦♦

Em pouco tempo, o Chefe de Guilda retornou. Em seu encalço estava uma das recepcio-
nistas que Ainz tinha visto antes. Ela andava rigidamente quando entrou na sala.

“Momon-sama! Me desculpe!”

Esta foi a primeira vez que Ainz viu alguém andar enquanto movia ambos os braços e
pernas em sincronia com o corpo. Ele pensou:

Não é grande coisa, não precisa ficar tão tensa.

Mas no final, ele ainda balançava a cabeça com arrogância. Parte do desafio de ser um
aventureiro adamantite, era que ele não poderia parecer muito relaxado.

“Esta recepcionista atendeu Enri Emmot do Vilarejo Carne. Seria melhor perguntar di-
retamente a ela. Pergunte o que quiser saber.”

“Sério? Então— não, antes disso, talvez ela devesse se sentar, Chefe de Guilda. Mas es-
tamos na sua sala, então não cabe a mim decidir.”

“Não! Não precisa se preocupar comigo! Eu estou bem em pé!”

Talvez Suzuki Satoru pudesse ter sentido que era muito errado estar sentado enquanto
a outra parte estava em pé. Contudo, no processo de ser Ainz Ooal Gown — de ser o líder
da Grande Tumba de Nazarick — ele gradualmente perdeu tais sentimentos. Ele estava
lentamente se acostumando com a diferença entre um líder e um servo. Talvez isso fosse
uma indicação de que suas ações como mestre (suas interpretações) não eram um des-
perdício de esforço, mas ele realmente havia acumulado pontos de experiência.

Quanto mais até eu subir de nível... Oops.

“Como preferir. Bem, vamos aos negócios. Eu gostaria que me contasse sobre o pedido
dela, não poupe os detalhes se possível. Este é um assunto muito importante, então pode
me contar tudo?”

“S-Sim!”

A testa da recepcionista estava coberta de suor frio.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


247
“O que foi? Existe algum problema?”

“Não, é quê...”

Os olhos da recepcionista estavam piscando de um lado para o outro.

“Acho que não fui claro. ...Talvez, vamos tentar isso. Ela estava procurando alguém em
particular para algum pedido?”

“Não... n-não é o caso.”

“Ah, entendo... então, o que ela queria? Ou sequer foi um pedido?”

“...Na verdade, ela não fez um pedido em si, apenas disse que poderia fazer um no futuro.
Ela mencionou algo sobre monstros chamados o Gigante do Leste e Serpente Demônio
do Oeste, que são comparáveis ao Sábio Rei da Floresta que o senhor domou, Momon-
sama. Isso, er, isso é tudo.”

Ainz ficou bastante surpreso ao ver como ela estava com a língua presa, mas ele conti-
nuou perguntando:

“Por que ela optou por isso?”

“N-não me entenda mal! Eu... eu não sabia que ela era uma amiga sua, Momon-sama! Se
eu soubesse, teria perguntado mais coisas e evitado essa situação! Eu juro!”

Ainz ficou bastante perturbado com a recepcionista, que gritava à beira das lágrimas.
Alguém tão emotivo assim poderia mesmo lidar com pessoas?

“—Chefe de Guilda.”

“...Me desculpe. Não supervisionamos isso do modo devido.”

“Como assim? Não é assim que as regras da guilda funcionam!?”

Depois de ouvir a conversa, Ainz percebeu como eles tinham interpretado mal suas in-
tenções.

A recepcionista e o Chefe de Guilda acreditavam que Ainz e Enri eram amigos e, embora
ele tivesse pretendido aceitar o trabalho de graça, ele decidiu dar à Guilda dos Aventu-
reiros a sua devida deferência e assim eles providenciaram para que ele aceitasse seu
pedido através da Guilda.

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


248
No entanto, a recepcionista tinha afugentado Enri usando altas taxas como desculpa.
Portanto, os dois estavam discutindo sobre quem deveria estar assumindo a responsa-
bilidade de afugentar a amiga de um aventureiro adamantite.

Não, se isso fosse a regra de uma organização, ela não estaria certa em obedecer?

Ainz olhou para o Chefe de Guilda enquanto repreendia a recepcionista, e sua opinião
sobre o homem caiu.

Se um subordinado cometer um erro, seu superior deve assumir. Ou isso é algum tipo de
técnica de alto nível em que ele a repreende com selvageria na frente de um cliente para
ganhar a simpatia do cliente e, assim, seu perdão? Quero dizer, olhe como ele está se im-
pondo na frente dela.

Ainz sentiu que a recepcionista havia lidado com isso corretamente, e o Chefe de Guilda
deveria saber disso também. No entanto, do mesmo modo que entrou pela porta dos
fundos e pediu ao Chefe de Guilda um favor, os aventureiros adamantite poderiam facil-
mente ignorar as regras. Isso porque eles eram valiosos o suficiente para que a Guilda
quisesse mantê-los por perto, mesmo se desrespeitassem as regras. Graças a isso que os
dois estavam discutindo agora.

“Eu não sabia!”

Ainz gentilmente falou para consolar a recepcionista chorosa.

“A culpa não é sua.”

Os olhos da recepcionista se arregalaram e as lágrimas escorreram por suas bochechas.

“Obedecer às regras é muito importante, mesmo que devam ser negligenciadas de tem-
pos em tempos. Eu não vou guardar mágoas deste incidente contra você.”

“Obrigada! Muito obrigada!”

“Então, posso pedir para que pergunte ela os detalhes. Ah, e por favor, não diga que eu
vou aceitar, só que eu quero estar pronto para agir a qualquer momento.”

“Compreendo! Eu! Eu vou perguntar agora! Com licença!”

A recepcionista se virou e saiu correndo como a passagem de um tufão.

“...Eu percebi que queria ganhar minha simpatia, mas eu preferiria que não culpasse
levianamente alguém inocente. Isso me desagrada.”

“Como eu pensei... eu não engano seus olhos afiados, Momon-kun.”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


249
As palavras soaram como se tivessem sido espremidas das profundezas de sua alma, e
Ainz sabia que seu palpite estava correto.

Então as técnicas do trabalhador japonês são universalmente aplicáveis. Mas o real pro-
blema é—

A silhueta de Lupusregina veio à mente de Ainz.

Por que a Lupusregina não tinha informações sobre monstros que até mesmo uma aldeã
como a Enri tem? Será um furo na construção da rede de inteligência? Eu preciso ter cer-
teza.

Enquanto Ainz esperava que a recepcionista se reportasse novamente, ele pensou que
precisaria retornar à Nazarick e resolver isso.

16:41 - Hora de Nazarick

Uma Lupusregina apreensiva entrou no escritório de Ainz. O pânico e desconforto de


ser subitamente convocada estava estampando em seu rosto. Dentro do escritório esta-
vam Lupusregina, a empregada regular Cixous, a Empregada de Batalha Narberal, Aura,
a mais especializada com a floresta, os Eight-Edge Assassins no teto e o dono do escritó-
rio, Ainz. Aliás, Albedo ainda estava em confinamento.

Lupusregina estava prestes a se prostrar diante de Ainz quando ele a interrompeu.

“Lupusregina, há algo que anda escondendo de mim?”

Depois de ver o olhar confuso em seu rosto, ele ponderou se ela realmente não sabia de
nada. Ainz decidiu repetir o que ouviu a respeito do Gigante do Leste e a Serpente De-
mônio do Oeste na Guilda dos Aventureiros.

No entanto, quando percebeu que Lupusregina parecia saber muito bem do que se tra-
tava, o humor de Ainz se deteriorou rapidamente. Ele exclamou em alto tom.

“Então você estava ciente disso!?”

“Sim. Sobre isso—”

“Sua idiota!”

Governado pela raiva, o grito cheio de ira de Ainz ecoou pela sala.

Enquanto os outros recuavam como se tivessem sido atingidos por um raio, Ainz sentiu
algo reprimir suas emoções, mas mesmo depois que o pico de raiva fôra cortado, sua
raiva aumentou novamente, não havia como ele controlar totalmente sua ira.

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


250
“Por que não me relatou isso!? Queria esconder isso de mim?”

“N-não! Jamais faria isso!”

“Então por quê!? Por que fiquei sabendo disso por terceiros!? Qual o motivo?”

“P-porque eu pen-pensei que não era grande coisa, então eu não relatei...”

Por alguma razão, a visão da Empregada de Batalha assustada que o espreitava apenas
o incitou ainda mais.

“Lupusregina Beta! Estou completamente desapontado com você!!”

Lupusregina não foi a única que se encolheu de medo com isso. Nabe e Cixous também
estavam tremendo, e os Eight-Edge Assassins no teto pareciam ter congelado também.

“Eu lhe dei arbítrio ao lidar com o vilarejo, mas isso não significa que pode fazer o que
bem entender! Disseram-lhe para relatar qualquer coisa que acontecesse lá, qualquer
coisa. Então qual é o significado disso!?”

“É quê...”

O rosto de Ainz se contorceu quando olhou para baixo, para uma Lupusregina que não
conseguia responder.

Este era um pecado imperdoável para um funcionário; não, para qualquer um.

Eram regras óbvias para qualquer um que fizesse negócios, ou melhor, para qualquer
pessoa que trabalhasse na sociedade, o R.C.D: era a abreviação de relatar o que apren-
deu, comunicar claramente com os outros e discutir os problemas à medida que sur-
giam. Era a pirâmide de uma empresa saudável; a força vital dos gigantes que trabalha-
vam na sociedade.

Se nem isso ela pode fazer, não acho que posso perdoá-la da perspectiva de um líder...
mas...

Enquanto ele olhava para uma Lupusregina aterrorizada, Ainz não podia deixar de pen-
sar que parte da culpa era dele. Esses erros só resultariam se um superior não fosse
confiável e não pudesse alocar adequadamente seus subordinados.

Uma falha nas comunicações do grupo é minha culpa. Eu não pude tomar o controle ade-
quado disso... talvez eu deva dar um passo atrás e deixar o Demiurge ou a Albedo lidarem
com esse tipo de coisa.

“...Lupusregina, você está ciente do valor do Vilarejo Carne para Nazarick?”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


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“Hah? Não... digo, sim. Er, ouvi dizer que é muito valioso, Ainz-sama...”

“Não é isso que perguntei; quero dizer, o que você, pessoalmente, acha valioso sobre o
vilarejo?”

“B-bem, há muitos brinquedos lá, e...”

“Ah, então é por isso. Bem, então... me desculpe. Eu que errei. Eu não sabia que você
pensava assim...”

Ainz riu cansado. Ele percebeu que tinha sido culpa dele afinal:

“Eu retiro o que eu disse sobre você ser uma decepção. Eu fui longe demais. Por favor
me perdoe.”

“O-o que o senhor está dizendo? Eu sou a errada aqui, o senhor não tem culpa de nada!”

“Apenas seja mais cuidadosa da próxima vez. Vou explicar novamente, então preste
muita atenção. Aquele vilarejo é muito valioso para nós. Especialmente aquele menino,
Nfirea, e sua avó, Lizzie. Eles são de grande importância para Nazarick.”

“Eeh? É-é verdade?”

“Sim. Eu entreguei a tarefa de criar novas poções para aqueles dois.”

“Ah, isso-isso mesmo! Eu tenho algo para mostrar ao senhor, Ainz-sama!”

Lupusregina gritou de repente aquela última parte quando seu rosto ficou pálido. Ela
pegou um frasco de poção roxa e Narberal, que estava mais próximo dela, pegou e en-
tregou a Ainz.

“E isto é...”

Ainz olhou para a poção através da luz.

“S-Sim! Esta é a nova poção de cura de Nfirea!”

A raiva de Ainz explodiu novamente, e ele tentou o seu melhor para anulá-la.

“Com essa poção, a importância da família Bareare aumentou novamente.”

Ainz riu baixinho ao ver o rosto sem noção alguma de Lupusregina.

Esta poção roxa que Nfirea fez foi inventada usando vários itens fornecidos por Naza-
rick. O mais importante era que, sem possuir as habilidades de criação de poções de

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


252
YGGDRASIL, eles conseguiram usar ingredientes de YGGDRASIL para criar algo diferente
das poções “azuis” deste mundo ou das poções “vermelhas” de YGGDRASIL.

“Para começar, as poções de cura deste mundo são azuis. Mas as poções de cura que eu
conheço são vermelhas. Curioso, não acha?”

Ainz divagou.

O conhecimento e os poderes de YGGDRASIL eram usáveis neste mundo. Dos anjos que
ele encontrou pela primeira vez, até a aparente existência de itens World-Class, havia
uma chance muito grande de que os jogadores estiveram aqui no passado. Nesse caso,
por que as poções não eram vermelhas como no YGGDRASIL?

Havia três possibilidades.

Primeira, a queda de um país pode ter resultado na perda dessas técnicas de fabricação
de poções. Essas técnicas deveriam ter sido bastante difundidas, se não fossem, a des-
truição de um país inteiro seria capaz de acabar com elas.

Segunda, pode ter sido que Nfirea simplesmente não conhecia essas técnicas, uma vez
que elas não se espalhavam para os países vizinhos. Talvez países distantes possam es-
tar usando poções vermelhas. Afinal, no Japão, a mesma sopa de macarrão parecia com-
pletamente diferente quando preparada em diferentes partes do país.

Terceira, a otimização: fazer poções de YGGDRASIL exigiria materiais de YGGDRASIL.


Talvez esses materiais fossem difíceis de encontrar aqui, isso se estivessem disponíveis.
Talvez apenas as poções azuis existam, já que eram o melhor que poderiam fazer com os
materiais deste mundo.

“Isso quer dizer, exceto pela segunda possibilidade, essa poção que o Nfirea fez...”

Disse Ainz fazendo o líquido roxo circular em seu frasco antes de completar:

“Pode ser uma revolução tecnológica única deste século, isso até onde sei. Bem, se é a
terceira possibilidade, isso pode acabar sendo um produto falho, afinal. Porém, seu tra-
balho com afinco no futuro me dará a resposta.”

O que Ainz queria de Nfirea era, ele fazer poções de YGGDRASIL sem usar materiais de
YGGDRASIL. Ou ele pode até mesmo inventar outra coisa e acabar fazendo uma terceira
poção completamente diferente.

“Nesse caso, não seria mais eficaz deixar mais pessoas pesquisarem o assunto?”

A pergunta de Narberal fez Ainz franzir a testa — metaforicamente.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


253
“Essa é uma pergunta tola, Narberal. É claro que o trabalho seria mais rápido, mas seria
muito perigoso. Conhecimento é poder e distribuí-lo livremente é tolice.”

Em tempos de YGGDRASIL essa lei regia os jogadores e não era diferente neste mundo,
então Ainz poderia dizer isso com confiança.

“Por exemplo, existe a possibilidade de criar uma poção e refiná-la ao ponto de me ma-
tar com um único ataque. Então, seria mais seguro monopolizar esse conhecimento do
que disseminá-lo... É melhor que os escravos sejam um pouco ignorantes, mas é preciso
estarem sempre a par dos avanços tecnológicos. Isto vale para o Nfirea e suas poções. O
meio mais seguro seria prendê-lo em Nazarick e fazê-lo se concentrar apenas em pes-
quisa e desenvolvimento, mas...”

Isso evitaria a disseminação da técnica e o uso da poção.

“Por que o senhor não fez isso?”

Os olhos de Narberal pareciam dizer que ela faria isso imediatamente, se ordenada, e
por isso Ainz apressadamente deu uma resposta.

“Ao invés de aprisioná-lo e forçá-lo a trabalhar, eu o farei confiar em nós, como um ne-
gócio a longo prazo que trará melhores benefícios para Nazarick. Demiurge analisou a
situação e concluiu que era melhor prendê-lo a nós com uma dívida de obrigação— Hm?
O que há de errado, Lupusregina?”

“Há uma coisa que eu não entendo, o senhor poderia explicar isso para uma tola como
eu? Por que o senhor deu a poção para alguém como a Britta, Ainz-sama?”

Ainz não tinha idéia de quem era essa Britta apenas por ouvir o nome. Enquanto tentava
manter um olhar que dizia “tudo está na palma da minha mão” — o que significava uma
expressão cuidadosamente vazia —, ele lutou freneticamente para pensar em uma solu-
ção.

Será que ela fala daquela poção?

Ainz recordou a primeira noite que passou em E-Rantel.

Quando se lembrou do que dissera na época, Ainz ficou grato por seu corpo não conse-
guir mais transpirar.

—O que eu faço agora? O que devo dizer?

Ele não podia ficar calado para sempre.

Demiurge! Albedo! Cadê vocês quando eu mais preciso? Não, Demiurge está trabalhando
fora no momento, já a Albedo está confinada! Não posso chamar ela agora!

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


254
“—Aquilo? É sério que não entende?”

“Sim. Peço desculpas pela falta de conhecimento. Por favor, me esclareça.”

Para de perguntar!

Ainz queria gritar. No entanto, ele não tinha outras opções, então tudo que ele podia
fazer era jogar os dados e esperar pelo melhor. Coragem encheu-o quando ele decidiu
seu curso.

“Fufu... hahahaha. Como dizem, você gosta de jogar verde, Lupusregina, mas tem o di-
reito de ser curiosa. Aquilo quase foi o resultado de um desenvolvimento que não pode-
ríamos controlar. Contudo, houve um motivo para assumir tais riscos.”

“U-Um motivo? Não foi apenas para compensá-la pela perda de uma poção?”

A interrupção de Narberal fez Ainz engolir as palavras que ele estava prestes a dizer.
Seu cérebro funcionava em alta velocidade, e ele lutava para recordar esse encontro em
E-Rantel.

Ela se lembra!? Droga! Só fiz aquilo naquela época porque não queria ter fama de bader-
neiro!

Ainz manteve seu comportamento sereno. Ele teria que mentir para encobrir outra
mentira. Ele lutou para reunir os vestígios de sua coragem rapidamente desaparecendo.

“...E é apenas isso que pensou que eu estava fazendo, Narberal?”

“Sinto muito!”

“...Tudo bem, não precisa se desculpar por isso. Na época, eu não estava confiante de
que meu plano funcionaria, então escolhi uma explicação mais simples.”

“Então... qual era o verdadeiro objetivo?”

Diante das perguntas de Narberal, o queixo de Ainz ficou aberto por um momento por
uma perda de palavras. Mas naquele momento, foi como se uma luz tivesse acendido
sobre sua cabeça. Com isso como base para sua confiança, Ainz foi curto e direto:

“...Nfirea.”

Quando lentamente abriu a boca, Ainz ganhou ainda mais atenção dos subordinados ao
seu redor. Se Demiurge ou Albedo estivessem presentes, eles provavelmente iriam in-
terromper e dizer: “Ah, então é isso. Como esperado de Ainz-sama”.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


255
Narberal, por outro lado, só podia franzir as sobrancelhas com tensão.

“...Nfirea...?”

Ainz segurou seu queixo com um silencioso “Unhum”. O medo começou a rastejar sobre
os rostos de Narberal e os outros, porque eles pensavam que a pose de Ainz significava:
“Você ainda não entende, mesmo depois de eu ter dito?” Na verdade, Ainz fez aquele gesto
inconscientemente, sem saber o que fazer com as mãos.

Em um curto período de tempo, Ainz foi submetido a uma tensão extrema e à supressão
de emoções que o acalmava. Entre essas duas forças conflitantes, uma epifania foi de
encontro com Ainz. Sem saber onde iria acabar, Ainz entrou de cabeça na idéia de ser
um cara de pau e completou:

“...Mm. Eu consegui chamar a atenção do herborista conhecido como Nfirea; isso não
basta como resposta...? Resumidamente... que faria se pusesse as mãos em uma poção
completamente diferente de qualquer outra poção que já tivesse encontrado?”

“...Discutir com alguém?”

“Exatamente! Lupusregina, é exatamente como disse. Como eu previa, Britta levou a


poção para o herborista em quem mais confiava. Foi assim que entrei em contato com o
Nfirea.”

Ele lembrou que Nfirea aparentemente havia dito algo parecido quando se conheceram
no Vilarejo Carne.

“Ah! Brilhante! Esse foi o objetivo o tempo todo!”

“Finalmente entendeu. Aquilo foi a isca para o meu anzol para pegar um mestre alqui-
mista. Embora houvesse uma chance de o tiro sair pela culatra e causar problemas, ainda
assim valeu a pena tentar.”

Um senso de compreensão encheu o ar, e havia olhares de admiração em seus rostos.

Eu consegui juntar as histórias...

Assim que Ainz estava prestes a suspirar mentalmente em alívio, uma pergunta repen-
tina e inesperada veio.

“Eu... eu entendo que estou sendo muito rude, mas eu poderia fazer mais uma per-
gunta...”

Não, chega. Por favor, não faça mais perguntas.

Ainz estava gritando por dentro, mas seu rosto permaneceu impassível.

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


256
“Qual o problema, Lupusregina? Se tem algo que precisa discutir, fique à vontade para
me dizer.”

“Obrigada.”

Lupusregina engoliu e, com uma expressão séria no rosto, perguntou:

“O senhor sempre pensa dois ou três passos à frente quando faz planos, Ainz-sama?”

Na maioria das vezes, Ainz inventava as coisas na hora. Claro, às vezes ele tentava pla-
nejar seu próximo passo, mas na maioria das vezes, os resultados eram completamente
diferentes do pretendido. Claro, não podia dizer nada disso.

Ainz riu baixinho. Foi uma risada praticada.

“É óbvio. Eu sou o governante da Grande Tumba de Nazarick, Ainz Ooal Gown, não sou?”

Silenciosas exclamações de “Ohhhh!” foram ouvidas de todos os lados e os olhos de


Lupusregina se arregalaram.

“O que há de errado, Lupusregina?”

“Um Rei Erudito...”

As palavras ofegantes de Lupusregina fizeram Aura franzir a testa e ela deu um passo à
frente. No entanto, Ainz a parou.

“Não é preciso. Isso é tudo que queria perguntar?”

“Então, er, eu tenho outra. Não seria melhor se deixássemos os monstros atacarem o
vilarejo, e então o senhor os salvasse, isso não seria melhor, Ainz-sama? Quero dizer,
Nfirea e sua avó não se sentiriam muito gratos por tirá-las do fogo cruzado? Isso os tor-
naria mais úteis... correto, Ainz-sama?”

“Bem, seu plano é muito bom, vale a pena considerá-lo, mas se isso acontecesse, Nfirea
poderia acabar odiando os monstros e então não estaria mais disposto a cooperar co-
nosco... porém, seria um assunto diferente se fossem humanos a fazê-lo. Nesse caso, tal-
vez fosse mais eficaz se salvássemos a Enri Emmot também, para melhor acorrentar seu
coração ainda mais.”

Contudo, o Vilarejo Carne já havia sido salvo pelo magic caster Ainz Ooal Gown. Era um
lugar útil, então deixar que fosse destruído seria bem questionável.

“Aliás, a lista das pessoas mais importantes do vilarejo — em ordem decrescente —


Nfirea, sua amada Enri Emmot e por fim sua avó, Lizzie. Você deve proteger essas três

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


257
pessoas a todo custo. Todo o resto é dispensável. Se necessário, sacrifique sua vida para
proteger Nfirea. Bom, é isso. Isso é tudo que tinha a perguntar, Lupusregina?”

“Sim! Muito obrigada!”

“Lupusregina, está perdoada por seu deslize. Já que conhece meus objetivos, você não
será perdoada da próxima vez. Fui claro?”

“Sim, senhor!”

“Ótimo. Então vá. Complete as tarefas que foram atribuídas a você.”

Lupusregina fez uma reverência e saiu do escritório, seguida de perto por Narberal, que
parecia mais uma policial escoltando uma criminosa. Depois que as duas saíram pela
porta, Ainz se virou para a Guardiã ao lado dele.

“Então, Aura. Sabe alguma coisa sobre o Gigante do Leste e a Serpente Demônio do
Oeste—”

De repente, um grito veio de fora do escritório.

“Sério, Ainz-sama é incrível demais ~su! Não acredito que ele tenha pensado tão à
frente e com tantos detalhes! Ele deve ser algum tipo de monstro ~su!”

A voz que veio pela porta grossa não foi muito alta, mas foi o suficiente para interrom-
per a conversa. Dado que eles podiam ouvir suas palavras tão claramente, quão alto ela
estava gritando no corredor do lado de fora?

“...Devemos dizer a ela a espessura da porta?”

“Ela tá muito animadinha pro meu gosto, vou lá ensinar uma lição—”

Houve um som esmagador do lado de fora da porta e, em seguida, o som de algo pesado
sendo arrastado para a distância.

“...Acho que não é preciso, Aura. Voltando ao assunto; diga-me o que encontrou.”

“Sim. Er, sinto muito, mas não sei de nada desse Gigante do Leste ou Serpente Demônio
do Oeste. Depois que a gente lutou contra aquele monstro chamado Zy'tl Q’ae, eu fiz uma
varredura rápida da floresta, mas só lembro de umas cavernas subterrâneas, que não
investiguei ainda. Nem encontrei inimigos fortes...”

“Bem, se são tão fortes quanto a Hamsuke, eu entendo o porquê você não teria notado
eles.”

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


258
Mesmo um jardineiro não poderia saber quantas formigas estavam rastejando em seu
domínio. Porém, perder as coisas devido à diferença de força era um problema.

“Eu realmente sinto muito. Então, Ainz-sama, vamos fazer limpeza lá?”

“Gostei da idéia. Hora de exterminar alguns mosquitos irritantes e colocar a floresta sob
o controle completo de Nazarick.”

“É pra já! Ah, vou enviar alguns dos meus animaizinhos também!”

“Hum. Não tão rápido. Eu gostaria de ver que tipo de monstros esse Gigante do Leste e
a Serpente Demônio do Oeste são, já que podem rivalizar com a Hamsuke.”

“E se eu trazer eles aqui acorrentados?”

“Não, melhor eu ir fazer uma visita. Graças a Hamsuke, encontrei outra maneira de
apreciar o valor das antiguidades também.”

Ainz riu da expressão confusa no rosto de Aura.

“Bem, mas isso não é tudo. Eu também quero ver se a Lupusregina vai passar em um
teste que farei...”

19:16 - Hora de Nazarick

Fenrir movia-se sem pressa pela floresta noturna. Nem os galhos que se estendiam ou
as videiras enroladas dificultavam os movimentos de Fenrir ou as duas pessoas em suas
costas. De fato, eles pareciam se mover como fantasmas incorpóreos, sem sequer encos-
tar em um galho.

Este foi o efeito de uma das habilidades de Fenrir, conhecida como 「Landwalker」.

“De acordo com os relatórios dos meus vassalos, o covil do Gigante do Leste deve tá
logo à frente.”

Não havia tensão na voz de Aura, mesmo neste mundo de escuridão, separado da luz
das estrelas pelas árvores densamente compactadas. Ainz e os outros não eram como os
humanos, que não tinham outros meios para ver no escuro. Eles observaram a floresta
escura ao redor deles como se fosse dia claro.

“Teríamos muita sorte se o Gigante do Leste e a Serpente Demônio do Oeste estivessem


no mesmo lugar. Mas acho que isso é pedir demais. Se a Serpente Demônio do Oeste não
estiver aqui, eu deixarei que cuide disso, Aura.”

“Tá bom! Farei o meu melhor! Mas como vou lidar com os bobões que ousarem levantar
a mão pro seu lado, Ainz-sama?”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


259
“Vamos tentar conversar primeiro.”

Aura olhou para trás — para Ainz — com um olhar confuso no rosto.

“Eh? A gente não vai fazer eles implorarem?”

“Isso porque o Gigante do Leste e a Serpente Demônio do Oeste são monstros desco-
nhecidos. Tentar uma comunicação racional traz mais vantagens do que o contrário. Se
são monstros que não existiam em YGGDRASIL, então eu gostaria de tê-los para mim.”

“Você é muito gentil, Ainz-sama.”

Não havia zombaria no tom de Aura.

“É... é mesmo? Eu sinto que apenas os dignos merecem minha gentileza — seguidos por
aqueles que pertencem à Nazarick... Eu estou fazendo isso porque eles podem ter algum
valor se estiverem no nível da Hamsuke. Eu suponho que poderia chamar isso de apro-
veitar as oportunidades que a vida dá, o que me diz?”

“Entendi... Já que tá falando da Hamsuke, ela é realmente tão valiosa assim?”

“Oh, sim. É muito útil como cobaia.”

Hamsuke estava atualmente treinando para ser uma guerreira sob os cuidados de
Zaryusu dos Lizardmen. Aliás, um dos Death Knights feitos por Ainz também estava trei-
nando com ela.

Treinar os dois — um hamster e um monstro — tinha a intenção de ver se eles pode-


riam adquirir níveis de profissões Guerreiras. Isto especialmente para o Death Knight.
Se ele pudesse ganhar níveis de guerreiro, isso aumentaria muito o poder de combate de
Nazarick.

Embora sentisse que era provavelmente impossível, ele ainda tinha que conduzir o ex-
perimento para ter certeza.

“Então mandou o ferreiro fazer armaduras pra Hamsuke porque ela é muito impor-
tante?”

“Vejo que anda bem informada. Isso é um dos motivos. Futuramente, se eu tiver que
colocá-la no campo de batalha, aumentar a defesa dela pode ser crucial.”

Hamsuke não deve ter problema em usar a armadura completa quando tiver níveis na
profissão de Guerreiro. Atualmente, colocá-la em armaduras diminuía muito suas taxas
de evasão e mobilidade devido ao peso. Ainz sentiu que ela precisava de treinamento
por esse motivo. Porém—

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


260
A armadura dificulta os movimentos dela, já que não tem níveis de guerreiro, isso é o
mesmo que o jogo... não, eu nem mesmo posso usar armadura de metal devido às restrições
do jogo. Desse ponto de vista, suas restrições são muito mais frouxas... se houvesse uma
outra Hamsuke, eu poderia estudar as diferenças entre ambas...

Essas restrições que se pareciam com as do jogo ainda eram um mistério. Se ele dei-
xasse Demiurge e os outros investigarem mais a fundo, eles poderiam encontrar a res-
posta certa, mas por algum motivo, Ainz não queria fazer isso.

É um mundo mágico, a física pode funcionar muito diferente do esperado. Talvez tudo que
eu possa fazer seja me forçar a aceitar que é apenas um dos princípios que regem este
mundo. Apenas supondo que tudo poderia acontecer...

“Ainz-sama, aconteceu alguma coisa?”

“Hm? Não, não é nada, por quê?”

“Não, é que parecia que você tava pensativo, aí fiquei me perguntando se queria que eu
fizesse algo.”

“Oh, claro. Mas não é nada de mais, apenas pensei umas coisas sem importância.”

“Tá bom.”

Aura parecia aliviada e olhou para frente mais uma vez. Ainz olhou para a parte de trás
de sua cabeça — que estava coberta de cabelos dourados e sedosos. Seu olhar desceu,
passando por suas costas esbeltas, e então se concentrou em suas mãos — que estavam
em volta de sua cintura esbelta.

Tão magrinha; as cinturas das crianças são finas assim mesmo?

Como nunca tivera filhos, Ainz estava curioso e não resistiu à vontade de acariciar sua
cintura, como se a inspecionasse. Então, Ainz levantou a mão para afagar as costas dela.
No entanto, não usou muita força pois estavam montados em Fenrir.

No entanto, Aura deu um pulo e de repente se virou.

“Uwaaaah! O quê... o que é, Ainz-sama!?”

Seu rosto estava muito vermelho.

Na verdade, era tão vermelho que até alguém sem visão no escuro poderia ver como
era vermelho.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


261
“Ah, não é nada, só achei sua cintura muito fina. Está se alimentando bem? Sei que está
equipada com itens que negam a necessidade de comer e beber, mas ainda pode comer,
não pode?”

“Po... posso sim. Eu não ganho nenhum aprimoramento mágico disso, mas posso comer
sem problemas.”

Em jogos como o YGGDRASIL, os humanoides e os demi-humanos designavam o tempo


de vida e, por sua vez, podiam crescer; inversamente, os heteromorfos não tinham
tempo de vida máximo e, portanto, parariam de envelhecer após um certo período. Se
esse aspecto de caráter tivesse passado para este mundo, então Aura e Mare lentamente
envelheceriam. Ainz não queria que seu crescimento fosse afetado por não receberem
nutrição adequada quando crianças.

Enquanto seus companheiros não estavam por perto, o crescimento dessas crianças era
responsabilidade de Ainz.

“Você precisa comer direitinho, entendeu?”

“S-sim! Vou me alimentar muito bem e fazer a Shalltear se arrepender!”

Ainz não tinha idéia do motivo pelo qual Shalltear foi inserida na conversa, mas ele pre-
feriu não perguntar.

“...Itens que eliminam a necessidade de comer e beber podem afetar o crescimento, de-
pendendo da situação, talvez seja melhor trocá-los por outros itens. Crescer... talvez um
dia, vocês dois até namorem...”

Aura e Mare eram crianças muito fofas e, quando crescessem, certamente seriam muito
bonitas(os). Ainz imaginou homens e mulheres de todos os tipos declarando seu amor
por eles — embora Ainz nunca tivesse tido experiências como essas, então o que ele
imaginava vinham de programas de TV.

Talvez tivesse sido influenciado pelo tópico anterior, mas por algum motivo ele imagi-
nou uma enorme pilha de Hamsukes.

“—Hm?”

Ele visualizou uma jovem Aura e Mare sendo cercada por vastas quantidades de Ham-
sukes. Parecia bastante agradável, mas era completamente diferente do plano que Ainz
tinha em mente.

Hamsuke está relacionada com roedores, então a Hamsuke deveria ser capaz de se repro-
duzir em grandes quantidades. Seria melhor castrar? Eu gostaria de deixar ela se reprodu-
zir antes disso... Será que existem machos de sua espécie?

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


262
“Eh? Ainda é cedo pra isso, Ainz-sama. Só tenho setenta e poucos anos.”

“Eu... eu lhe entendo, tem razão. Ainda é jovem. Por curiosidade, Aura, de quem você
mais gosta em Nazarick? Qual é o seu tipo?”

Já que Ainz não tinha experiência no amor, ele ainda ficava com um pouco de inveja
sempre que via rapazes e garotas bonitas sendo amorosos à beira da estrada. Todavia,
Ainz tinha certeza de que poderia desejar o bem dos NPCs com todo seu coração.

“É claro que é você, Ainz-sama.”

“Haha, bom, isso me deixa feliz.”

Ainz ficou muito feliz ao ouvir lisonja de uma criança como Aura. Ele amava muito os
filhos (NPCs), como não poderia ficar contente em saber que era recíproco?

“Mas e você, Ainz-sama? De quem mais gosta entre a Albedo e a Shalltear?”

“Haha. Bem, eu gosto muito de você, Aura.”

“—Eh?”

Ainz acariciou a cabeça de Aura por trás. Os fios macios do cabelo dela passaram entre
os dedos.

“—Eh!?”

Devo começar a considerar a questão da educação sexual? Se existir escolas para Elfos
Negros, será que envio a Aura e o Mare para estudar lá, isso pode ajudar a se transforma-
rem em bons adultos? O que a Bukubukuchagama-san acharia disso se estivesse aqui? Mas
ainda assim, escolas... Comédias românticas escolares... Peroroncino-san adorava este tipo
de coisa, ele disse que queria fazer uma Nazarick Gakuen com o Suratan-san. Onde foi pa-
rar os rascunhos?

“—Eh—!”

“O que foi? Está gritando muito alto, Aura.”

“Ah! Desculpa. O covil do Gigante do Leste era pra estar por aqui, mas...”

“Tudo bem, não há necessidade de se desculpar. Voltando o assunto, sobre o futuro—”

“O... o futuro?”

“Sim, por quê? Você parece confusa... aconteceu alguma coisa?”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


263
“Não... de maneira alguma, não é nada disso. É quê... Hm, sobre o nosso futuro?”

“Oh, sim. Eu estava pensando que, se houvesse um reino de Elfos Negros, talvez valesse
a pena visitar e, se isso acontecer, queria que me acompanhasse.”

“Eh? ...Ah, sim... claro! Então foi isso que quis dizer com o futuro. Saquei! Vai ser uma
honra te acompanhar quando achar um. Ah— é ali pertinho, Ainz-sama.”

Na escuridão à sua frente, eles puderam ver uma fonte de luz categoricamente antina-
tural através das lacunas na floresta.

“Entendi. Aura, poderia posicionar todos os animais mágicos que trouxe ao redor desta
região? Vou fazer alguns preparativos também.”

Ainz usou uma de suas habilidades e convocou poderosas criaturas undeads.

Um cavaleiro de aparência sinistra apareceu, montado em um cavalo branco pálido. E


mais apareceram toda vez que Ainz usava sua habilidade.

“Hum, creio que quatro devem bastar. Venham, Pale Riders. Voem para o céu e aguar-
dem, se alguém tentar fugir, capture-os.”
[Cavaleiros P á l i d o s ]
Os P a l e Riders indicaram o seu entendimento sem dizer uma palavra e, com um puxão
nas rédeas, os cavalos pálidos saltaram e galoparam para o céu. Os Pale Riders ficaram
etéreos, passaram pelos galhos das árvores e voaram.

“Bem, criamos um cerco. Agora tudo o que temos a fazer é avaliá-los.”

“Sim! Ah, a gente não vai testar o quanto aguentam?”

“Vamos guardar isso como um último recurso. Meu objetivo é resolver isso sem qual-
quer combate. Primeiro, vou tentar discutir tópicos que mutuamente serão benéficos.”

Essa era a verdade. Ainz não estava procurando por uma briga. Já que estava perfeita-
mente disposto a ser implacável se houvesse benefícios, isso não significava que ele era
uma pessoa cruel. Ainz não iria pisar propositalmente nas formigas em seu caminho. Um
diálogo racional seria o melhor.

Fenrir se aproximou da brecha na floresta. O lugar foi chamado de fresta da floresta,


mas a verdade era que era simplesmente um lugar dentro da floresta onde as árvores
não cresciam.

Esta área estava coberta de árvores murchas, assim como a região montanhosa ao re-
dor da Árvore Maligna. Havia algumas áreas que acabaram se tornando florestas mur-
chas por razões especiais. Havia muitas razões para isso e, neste caso, foi provavelmente
por causa de monstros.

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


264
As árvores haviam sido derrubadas e espalhadas por toda parte. Parece que alguém
tentou construir alguma estrutura grande e falhou, e depois jogou os troncos em um
acesso de raiva.

“Que risível. Aura, creio que estavam tentando construir uma estrutura como a sua. O
trabalho dos tolos é realmente desagradável. Eles vivem em cavernas e não sabem o
quão atrasados estão, então resulta nesse tipo de coisa.”

“Isso mesmo. Ainz-sama, o covil deles tá lá.”

Havia uma fissura no chão cheio de marcas, que havia sido queimado à esterilidade.

“...Ninguém está de vigia. Que descuidado. É, não podemos evitar. Nós vamos bater na
próxima vez.”

Com Aura ao seu lado, Ainz caminhou em direção à entrada da caverna subterrânea. Ele
olhou para dentro, parecia um declive suave, e o interior parecia bastante espaçoso. O
teto era alto e parecia que até grandes criaturas poderiam viver dentro sem problemas.

...Isso me lembra as dungeons de YGGDRASIL. Naquela época, todo mundo ficava curioso
e animado sempre que descobríamos cavernas nas montanhas e coisas do tipo.

Se isso fosse no passado, eles teriam deixado Tigris Euphrates e pessoas como ele lide-
rarem o caminho, enquanto Ainz — Momonga — seguiria atrás. Então, eles invocariam
monstros e, no caso de Ainz, ele faria com que os undeads andassem à frente deles, per-
mitindo que acionassem as armadilhas enquanto avançavam cuidadosamente. Isso era
conhecido como o desarmamento de guerreiro ou um desarmamento de invocação.

Bons tempos...

As lembranças do passado trouxeram leveza para os passos de Ainz, mas em poucos


segundos seu humor alegre desapareceu.

O fedor emanando da caverna fez enrugar as sobrancelhas inexistentes. Não era gás
venenoso, mas sim um odor rançoso e decadente que anuviava o ar.

É uma armadilha de gás fedorento? Não acho que quem mora aqui pode montar uma
armadilha tão elaborada... talvez se formou naturalmente.

Por ser undead, Ainz não precisava respirar. Ele estava completamente imune aos ata-
ques de gás. Aura também era protegida por itens mágicos, então se esse fedor fosse
algum tipo de ataque, deveria ser ineficaz. Também havia outra possibilidade, de que
este era apenas um fedor natural.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


265
“Parece que o Gigante do Leste não é particularmente adepto de higiene. Espero que ele
seja pelo menos um pouco inteligente e possa falar comigo.”

“Pois é. Mas tenho minhas dúvidas. Olha essas pegadas, esta caverna parece abrigar
muitas formas de vida do mesmo tipo, mas todo mundo fica descalço. As pegadas são
grandes e, pelo tamanho, parecem ter mais de dois metros de altura.”

“Hum... então deve ser de um deles.”

Ainz e Aura não pararam de andar e, ao descerem a encosta, viram dois monstros na
base do declive.

“Ainz-sama, são... Ogros.”

Os dois Ogros estavam rasgando alguma coisa e empurrando-a goela abaixo. Um novo
cheiro subiu para Ainz e Aura.

Ainz lentamente estendeu o dedo e sorriu de desgosto. Se fosse um simples ataque de


dungeon, ele teria matado os Ogros em silêncio, e então avançaria sem fazer barulho
para eliminar todos os outros inimigos; no entanto, seu objetivo desta vez era diferente.

“...Eu não estou aqui para massacrar, então eu preciso me comunicar de uma maneira
amigável — Ei, Ogros, desculpe interromper a sua refeição.”

Os dois Ogros se viraram simultaneamente para olhar para Ainz, e então rugiram.

Os ecos dentro da caverna foram intensos, e não havia como julgar com precisão a po-
sição, mas pareceria um uivo similar vindo das profundezas da caverna.

“Bem, são boas-vindas bem rudes e barulhentas. Recue, Aura.”

Ele olhava enquanto um dos Ogros corriam em sua direção.

“Que saco...”

Ainz suspirou. Isso porque ele percebeu que eles não desejavam se comunicar com ele.

“Skelton! Skelton! Enuh-meu!”

O Ogro gritou roucamente quando chegou a Ainz, e então balançou seu tacape em Ainz
sem esperar.

“Eu tenho—”

O tacape do Ogro assobiava no ar.

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


266
“—Que me desculpar por invadir—”

Acertou Ainz com um baque, mas um mero tacape sem magia alguma não poderia ma-
chucá-lo.

“—Sua casa—”

O Ogro levantou seu tacape novamente e o martelou em Ainz.

O campo de visão de Ainz tremeu um pouco quando o tacape bateu em sua cabeça. Não
doía, mas era muito irritante. Dito isto, se alguém pisasse em Nazarick, Ainz certamente
estaria com raiva o suficiente para querer matá-los. Com isso em mente, era natural que
eles quisessem atacá-lo, então Ainz provavelmente deveria suportar os golpes.

Uma vez que nenhum sinal de trégua surgisse, não haveria nada a dizer.

O outro Ogro se aproximou um pouco mais tarde. Não balançava um tacape, mas esten-
deu a mão para Ainz. Provavelmente tinha visto como os ataques do outro Ogro tinham
se mostrado ineficazes, e queria agarrá-lo em vez disso.

Ainz arqueou as sobrancelhas. Claro, não havia nada em um rosto esquelético que pu-
desse se mover.

Ainz estava originalmente disposto a deixar o Ogro agarrá-lo. No entanto, seus olhos
capazes de visão no escuro viram o sangue na mão do Ogro.

“Que nojo.”

Ainz imediatamente produziu um cajado do ar e o manejou. Embora esse cajado não


possuísse nenhum poder mágico especial, estava focado em infligir dano por impacto, e
com um único golpe, a cabeça do Ogro que estava estendendo a mão para Ainz explodiu
como uma uva podre. Uma mistura de sangue fresco e matéria cerebral bombeava do
Ogro, ao lado dele o outro soltou o tacape e deu um passo para trás.

“Você... você, não, skelton...”

“É muito irritante me comparar com outros Skeletons. Estou aqui para ver seu chefe, o
Gigante do Leste. Poderia ir buscá-lo? Embora eu tenha certeza de que ele virá mesmo
se você não o chamar.”

Ainz acenou para que o Ogro fosse imediatamente, e ele prontamente se virou e correu
caverna adentro.

“...Que chatice. Se eles tivessem visto a discrepância em nossos respectivos pontos for-
tes desde o início, não teríamos que perder tempo.”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


267
Ainz sentiu a área onde o tacape o atingiu e terminou de descer o declive.

Havia vários Goblins — corpos mastigados, na verdade — onde os Ogros estavam agora.
Enquanto seus restos eram pouco mais do que pedaços de carne e era impossível dizer
quantos havia, mas não deveria haver mais do que apenas um ou dois.

Ainz e Aura contornaram essa área enquanto continuavam avançando.

“Que gafe. Acabei usando muita força. Tinha planejado evitar o assassinato antes que as
negociações fossem interrompidas, é difícil prosseguir da maneira mais amigável possí-
vel...”

“Não tinha outra saída! A culpa é desses Ogros imundos que tentaram te tocar, Ainz-
sama!”

“Obrigado por compreender meu lado. Punitto Moe-san disse uma vez, “Socá-los na cara
é uma boa maneira de fazer a outra parte se comportar” ...ou foi o Takemikazuchi-san
quem disse isso?”

“Se foi algo que os Seres Supremos disseram, então deve tá certo!”

Ainz não conseguia lembrar qual desses dois polos opostos havia dito isso. Só então,
uma horda de monstros emergiu das profundezas da caverna. Todos eram muito mais
altos que um ser humano.

“Ora ora, se não é uma horda de Trolls. Mas chamá-los de gigantes é propaganda enga-
nosa, se bem que não é como se fosse totalmente mentira.”

Trolls eram altos com orelhas e narizes longos. Eles tinham rostos muito feios e seus
corpos musculosos eram tão grotescos quanto os de qualquer heteromorfo. Eles usavam
o que pareciam ser roupas de pele de tigre, pois as cabeças dos mesmos eram vistas na
altura de seus ombros.

Eles tinham quase 3 metros de altura, eram mais fortes que os Ogros e possuíam pode-
rosas habilidades regenerativas. Dizia-se que, a menos que fossem mortos com fogo ou
ácido, eles poderiam voltar dos mortos mesmo depois de serem reduzidos a pedaços de
carne. Havia 6 Trolls aqui, além de 10 Ogros.

Aquele que chamou a atenção de Ainz foi o Troll que os liderava.

Era mais musculoso que os outros Trolls, e seu rosto feio exalava confiança.

Era melhor equipado do que os outros também.

Ele usava uma armadura de couro que parecia ter sido costurada de várias peles de
animais. Seus braços poderosos tinham uma espada grossa que era maior do que as que

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


268
Ainz usava em seu disfarce de Momon. A enorme espada parecia mágica, e do veio cen-
tral escorria um líquido viscoso em direção ao fio.

“Esse aí que tá no nível da Hamsuke?”

“É o que dizem.”

Sendo esse o caso, este Troll deveria ser o Gigante do Leste. Assim sendo, que tipo de
Troll ele era? Ainz estudou o Gigante do Leste com cuidado.

Trolls eram monstros altamente adaptáveis. Eles variavam muito de acordo com o am-
biente.

Por exemplo, havia Trolls Vulcânicos que viviam em vulcões e eram resistentes ao fogo.
Havia Trolls Aquáticos que eram adeptos de nadar no oceano e respirar debaixo d'água.
Havia Trolls Montanhosos, que viviam nas montanhas e eram especialmente fortes. Ha-
via também Trolls Pedintes, tipos raros que viviam sob pontes. Havia uma variedade
interminável de espécies e sub-raças mutantes como essas.

Nesse caso, qual a posição do Troll ante de Ainz se especializara?

Trolls adaptados para a vida na caverna eram chamados Trolls Cavernosos. Mas eles
pareciam diferentes disso.

Esta era uma nova espécie de Troll que ele encontrou pela primeira vez neste mundo
— este monstro desconhecido despertou o espírito de colecionador de Ainz.

♦♦♦

O Troll conhecido como o Gigante do Leste havia alcançado uma forma muito rara de
evolução.

Ele era um Troll que nasceu em meio a inúmeras batalhas, adaptado a eles e especiali-
zado em habilidades de luta. Se alguém tivesse que nomeá-lo, sua espécie seria Troll de
Guerra, um exemplo particularmente notável entre as muitas sub-raças de Trolls.

Pode-se dizer que sua destreza no combate era incomparável entre outros da mesma
idade que ele.

Claro, o corpo dele era menor que aquele de um Troll Montanhoso. No entanto, os mús-
culos de seu corpo — suas habilidades físicas — superaram em muito os da segunda
espécie. Além disso, ele não usava um tacape primitivo que podia ser facilmente manu-
seado com força bruta, mas usava suas habilidades inatas para empunhar habilmente
uma espada — uma arma que era inferior mesmo a um tacape se não soubesse como
usá-la. Pode-se dizer que ele era um Troll que despertou habilidades de guerreiro.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


269
♦♦♦

“Você é o Gigante do Leste, correto?”

Depois de não ouvir negações, Ainz apontou ligeiramente para a direita do gigante.

“Então, acredito que aquele sujeito ali é a Serpente Demônio do Oeste. Estou correto?”

Alguém com visão comum certamente pensaria que ele estava apontando para o ar va-
zio. No entanto, Ainz podia ver claramente o heteromorfo escondido, como se estivesse
iluminado pela luz do sol.

“Talvez você pense que se escondeu com invisibilidade, mas meus olhos podem ver
através disso. Pare de desperdiçar seu esforço e me responda.”

Um monstro surgiu do que originalmente era uma camada de ar. Provavelmente dissi-
pou sua invisibilidade.

De fato, era uma serpente. Não, para ser preciso, tinha o corpo de uma. Tinha o torso de
um homem velho do peito para cima, mas tinha uma forma serpentina abaixo dele. Era
um monstro heteromórfico.

Ao contrário do Gigante do Leste, Ainz tinha visto monstros como este em YGGDRASIL
antes, e assim ele poderia imediatamente declarar o nome de sua raça.

“Um Naga, então. Embora não seja errado chamá-lo de Serpente, você não tem um nome
melhor que esse? Se bem que já existe o caso do Sábio Rei da Floresta, então isso era de
se esperar, não é?”

“Se pode ver através da minha invisibilidade, então você certamente não é comum—”

“—Tá fazendo o que aqui, Skeleton!?”

O Naga estava apenas na metade de suas palavras quando uma voz estrondosa encheu
a caverna e o afogou. O Gigante do Leste deu um passo à frente.

Ainz se virou para encarar sua contraparte.

“Primeiro de tudo, para esclarecer as coisas; eu não sou um mero Skeleton. Desejo cor-
rigir esse erro.”

“E o que mais é, se não um Skeleton? O Rei das terras do leste, Gu, permite que você
diga seu nome!”

“—Gu?”

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


270
Ainz não tinha idéia do que ele estava falando por um momento. Ele achava que era
algum tipo de título, como um Rei ou um Chefe, e foi só depois de um tempo que perce-
beu que era o nome do Troll.

“Ah, então seu nome é Gu. Perdoe minha introdução atrasada; meu nome é Ainz Ooal
Gown.”

Naquele momento, o riso encheu a caverna.

“Huahuahuahua! Nome de covarde! Nome macio e fraco, meu nome é forte e poderoso!”

Os outros Trolls riram com desgosto em resposta a essas palavras.

“Covard—”

Ainz parou Aura antes que ela pudesse dar um passo adiante.

“Está bem. Não fique chateada com algo tão insignificante. Fique calma. Estamos aqui
para conversar, somos embaixadores da paz. Ah, só para saber, por que acha que eu sou
um covarde?”

“Ah, é que a laia deles considera nomes longos como um sinal de covardia, caro undead
misterioso.”

O rosto velho do Naga se enrugou com um sorriso zombeteiro enquanto falava.

“Então ele não é dos mais sábios, é apenas lixo. E você, também acha que meu nome é
de covarde?”

“Este velho aqui certamente não pensaria assim, pois também tem um nome longo. De
fato, este velho aqui é a Serpente Demônio do Oeste da qual fala — Ryraryus Spenia Ai
Indarun, caro invasor Ainz Ooal Gown. Este velho aqui sempre esperou que a mente dele
fosse tão desenvolvida quanto o corpo, mas se fosse esse o caso, ele teria dominado esta
floresta há muito tempo; verdadeiramente um dilema.”

“...Acabou de salvar sua própria vida.”

Um olhar de suspeita cruzou o rosto de Ryraryus enquanto Ainz deixava seus pensa-
mentos mais íntimos escaparem. Infelizmente, assim que queria esclarecê-los, Gu e os
Trolls pararam de rir.

“E aí, seus fracotes, tão fazendo o que aqui, hein!? Querem ser a comida de Gu? Ossos
deliciosos e crocantes! Vou te comer, começar pela cabeça!”

“Fui eu quem ordenei que undeads e Golems construíssem a fortaleza na floresta. Você
já ouviu falar de lá, não é?”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


271
O clima mudou em um instante. Gu e seu bando irradiavam hostilidade, já Ryraryus
estava cheio de cautela.

“Eu sei, peste! Se não fosse essa desgraça de cobra enxerida, estaria palitando meus
dentes com seus ossos! Sem enrolação, seu covardão nanico de preto!”

“Ah, vim apenas para conversar. Na verdade, vim negociar com você.”

Ainz gesticulou para Gu se ajoelhar diante dele:

“Mas antes, jure lealdade se quiser viver.”

“Os vermes comeram seus miolos, é!!? Gu não serve covardes! Vou te comer aqui e
agora! Depois vou comer esse aí atrás!”

“Mas Gu... Ele governa aquela estrutura assustadora. Você o subestima por sua conta e
risco! E o Elfo Negro atrás dele; esta floresta pertencia a eles antes que a Árvore Maligna
os afugentasse. Eles podem ser inimigos poderosos— ah, não adianta falar.”

Ainz não pôde deixar de rir alegremente.

“Hahahaha! Você ladra mais que muitos cachorros por aí. Que tal isso? Eu, a quem
chama de covarde, desafia você, que tem um nome poderoso, para uma luta. Eu confio
em não vai fugir de medo? Se está com medo, então fique de joelho— ou melhor, de qua-
tro e implore por misericórdia, aí quem sabe ainda posso considerar permitir que se
torne meu escravo.”

“Que seja! Pra Gu, lidar com um fracote como você é moleza! Vou te picar em pedacinhos
e comer tudo depois!”

“Excelente. Já que fez sua escolha, as negociações foram interrompidas. Aura, afaste-se.
Eu quero brincar com ele sozinho.”

Assim que ele terminou de dizer isso, a espada já erguida cortou em direção a Ainz. Este
foi o golpe que Gu atingiu com a gigantesca espada que segurava, com mais de 3 metros
de comprimento.

Ainz não se moveu, simplesmente recebeu o golpe em seu corpo.

“—Hã?”

“O que foi? O que é tão surpreendente?”

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


272
Ainz estava intocado. O rosto feio de Gu foi desfigurado pela surpresa e, desta vez, ele
escolheu um golpe arrebatador. No entanto, o resultado foi o mesmo de antes; Ainz re-
cebeu o golpe de frente.

“Como é?”

Gu afastou vários passos. Ele olhou para a espada e depois para Ainz. Ele orgulhosa-
mente virou as costas para Ainz, em seguida, caminhou até um de seus asseclas.

No momento seguinte, a gigantesca espada girou e cortou um dos lacaios Trolls. A es-
pada se cravou no pescoço e no ombro do Troll, separando sem esforço sua carne, e um
gêiser de sangue fresco foi expelido.

O Troll gritou estupidamente, com o máximo de sua voz.

Gu assistiu em satisfação quando seu lacaio rolava caído no chão, e com isso assentiu.
Provavelmente foi para verificar se a arma estava funcionando.

“Interessante... Essa é a famosa regeneração Troll? Uma visão impressionante quando


se testemunha pessoalmente.”

A superfície da ferida se curou rapidamente. Não era como retroceder o tempo, mas um
processo de cura acelerado.

Gu sabia que o Troll se regeneraria antes de testar sua lâmina nele; mas o olhar maligno
em seu rosto quando olhou desprezando seu lacaio caído sugeriu que ele teria cortado a
criatura de qualquer maneira, mesmo que não pudesse se regenerar.

“É privilégio dos fortes decidir o que fazer com a vida dos fracos. Mas, esse seu jeito me
desagrada profundamente.”

Ainz se adiantou. Ele não estava mais com vontade de brincar.

Gu segurou sua espada com força, esperando Ainz se aproximar dele, passo a passo.

“Gu! Esse Ainz Ooal Gown não é qualquer um! Vamos—”

“Calado! Senta e assiste, cobra covarde! —Ugooooooh!”

Uma série arrebatadora de cortes choveu em Ainz. O ataque combinado foi feito usando
força física que superava em muito a capacidade do corpo humano, e estava entre os
ataques mais destrutivos que Ainz já havia enfrentado dos habitantes deste mundo.

Entretanto, seus ataques não conseguiam derrubar a muralha de um castelo, e tam-


pouco poderia assolar a terra. Como isso poderia prejudicar Ainz?

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


273
O enorme fio da espada cortou o vento, mas Ainz a segurou em seu corpo.

“Que tédio. Poderia parar de amassar minhas roupas?”

Ainz parecia achar tudo desinteressante, ele se virou depois de puxar suas vestes e en-
direitá-las. Então, um pensamento aparentemente veio à mente.

“Hm, já está satisfeito?”

“Goooooooh!”

Gu decidiu que os ataques cortantes eram ineficazes, então ele tirou uma das mãos de
sua espada e deu um soco. Este golpe o atingiu como uma enorme marreta. Um guerreiro
humano certamente sairia gravemente ferido, ou mesmo morto, se atingido por isso.

No entanto, Ainz recebeu este golpe diretamente no rosto. Logo após, ele calmamente
tirou o pó do lugar onde Gu o atingiu, como se tivesse sido tocado por mãos sujas.

Gu cessou seu ataque. Seu rosto feio se contorceu de uma forma ainda mais feia, e ele
olhou para o impassível Ainz.

“Então, é só isso que tem a me oferecer? O ataque que está tão orgulhoso é apenas isso,
criatura do nome corajoso?”

“Defesa desgraçada— Guwaaaargh!”

Ainz se adiantou para encurtar a distância entre eles e manejou o cajado, que destruiu
metade de uma das pernas de Gu. Incapaz de ficar em pé, Gu desabou pesadamente no
chão.

“Mesmo com o seu cérebro do tamanho de uma noz, você deveria estar começando a
perceber que covardes não são necessariamente fracos, não?”

Os Trolls e Ogros assistindo a luta gritaram em choque ao verem o estado vergonhoso


de seu líder.

“Haaaah...”

Ainz estava começando a se cansar disso, e suspirou. O fato de não entenderem a situ-
ação, até mesmo neste momento, provou que esses monstros eram inúteis. É claro que
seria diferente se eles fossem espertos o suficiente para tentar fugir.

“Aura, pegue ele. Não o deixe fugir.”

Aura imediatamente entendeu a ordem concisa de Ainz e entrou em ação. Em um piscar


de olhos, ela alcançou o Naga, que estava tentando se esgueirar invisivelmente.

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


274
“Peguei ele, Ainz-sama. E agora?”

Ainz não prestou atenção a Gu e olhou para Aura, que tinha o Naga pelo pescoço. A ma-
neira como ele tratou Gu deixou uma coisa clara para todos os presentes.

—Em outras palavras: ele não se incomodava em lidar com o tal Gu diante dele.

Gu rosnou entre os dentes diante dessa humilhação absoluta, mas Ainz não se importou.

“Pirralho maldito!”

O corpo serpentino do Naga começou a se contrair, e envolveu Aura:

“Eu vou te esmagar até— aiiiieeeee!”

Uma voz fria e calma veio do Naga ao tentar se enrolar em Aura.

“Não atrapalha, não posso ver o Ainz-sama assim. Se ficar de pirraça, vou esmagar sua
garganta. Mas relaxa, não vou te matar, ainda.”

Seus pequenos punhos eram suficientes para fazer o Naga perceber a diferença em suas
respectivas forças, e o Naga lentamente a soltou com um gemido estrangulado.

“Aura, tempo é dinheiro, o desperdício também é tolice. Por favor, se afaste um pouco
mais para que ele não acabe sendo morto por acidente.”

“Beleza!”

Aura vagarosamente arrastou o Naga — que pesava várias vezes mais do que ela —
enquanto recuava. Ainz olhou de volta para Gu, que mal tinha conseguido ficar em pé
depois que sua regeneração fez sua perna quebrada se espasmar fortemente enquanto
consertava sua carne dilacerada.

Ainz não era tão alto quanto seu oponente, mas ele se elevou sobre Gu.

“Oh, então já está curado. Vamos continuar.”

Ainz tocou os próprios ombros com o cajado, então calmamente assumiu uma postura
de luta. Sua atitude dizia que ele não tinha intenção de se defender.

“Você... você, o quê... o que fez? O que tá fazendo? Magia?”

Gu lentamente recuou enquanto segurava sua espada, enquanto Ainz se adiantou como
se estivesse perseguindo. Os passos de Gu estavam mais curtos que o de Ainz. A distância
entre eles era maior do que quando a batalha começou.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


275
Ainz bufou.

“—Hm? Estranho, não? Eu, aquele com o nome covarde, estou avançando, enquanto o
corajoso e imponente chamado Gu está recuando. Eu me pergunto, por que isso está
acontecendo?”

Alguém respondeu de trás em uma voz inexpressiva:

“Isso é porque o nome de Ainz-sama é corajoso, e esse cara chamado Gu é um covarde!


É, ou não é, cobra?”

“S-imhm! Ainzs Ooal Gown-shama é o maior!”

Depois de ouvir a voz doce da menininha e outra voz que estava à beira das lágrimas,
Ainz assentiu várias vezes.

“Sim, agora faz sentido. Nomes curtos são a marca de um covarde — o nome de Ainz
Ooal Gown pertence a alguém forte e imponente, estou correto?”

“Seu merd—!”

“Calado, covarde.”

A raiva de Gu superava seu medo, e ele balançou a lâmina para Ainz como se quisesse
cortá-lo em dois. Ainz não se desviou e nem se esquivou; simplesmente manejou seu
cajado. O golpe de Ainz não permitia que Gu bloqueasse sua espada ou fugisse.

O cajado quebrou parte do corpo de Gu.

“Blarwghhh!”

O lamentável gemido de Gu provocou medo nos corações de seus subordinados que


assistiam à batalha.

“Como esperado de um Troll; com essa regeneração, podem até voltar à vida depois de
serem reduzidos à carne picada. Mas ainda deve doer muito. Esse foi o ataque mais fraco
até agora. Tudo em que pensa é em se proteger. Está com medo de ser atingido por mim.
A esgrima de um covarde.”

Diante de Ainz estava Gu, cuja cabeça era metade da espessura normal. Uma criatura
normal teria morrido há muito tempo, mas sua cabeça estava retornando lentamente à
sua forma normal.

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


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O rosto restaurado de Gu estava torcido em uma forma especialmente repugnante. Es-
tava esculpida em terror. Ele estava com mais medo do que antes; a reação de alguém
que havia sido psicologicamente quebrado pelo medo.

“Você... o que, o que você é? Por que Gu não te machuca?”

Ainz inclinou a cabeça e, em seguida, abriu os braços lentamente.

“...Eu sou Morte. Eu sou quem traz a morte para você.”

“Vo... vocês aí! Matem ele!”

“Que ridículo... não esperava nada menos que um covarde, renegar os termos do nosso
duelo... mas, se adequa ao seu nome. Então o perdoarei.”

Ainz parecia muito feliz quando disse isso.

Os lacaios de Gu estavam assustados com esse misterioso monstro, e assim permane-


ceram imóveis. Isso porque, apesar de sua estupidez, eles podiam sentir o enorme poder
de Ainz, e certamente haviam testemunhado o suficiente. Eles provavelmente estavam
lutando consigo mesmos, incapazes de decidir quem era mais temível. Ninguém se atre-
veu a se mover; eles simplesmente olhavam de um lado para o outro, entre Ainz e Gu.

“Rápido!”

Mas eles ainda não se mexeram. Eles não podiam se mover.

O mesmo se aplicava a Ainz. Havia um delicado equilíbrio aqui, um que enraizou todos
no lugar. Se Ainz fizesse um movimento, esse equilíbrio entraria em colapso e todos eles
fugiriam para salvar suas vidas.

Vai ser um saco se escaparem—

Apenas o pensamento de caçar e matar todos e cada um deles já cansava Ainz.

“Creio que não há outro jeito. A brincadeira acabou.”

Ainz ativou uma de suas habilidades, que ele não teve a chance de usar, era muito po-
derosa para esse mundo.

「Despair Aura V」. Uma magia que causava morte instantânea.

Uma aura crescente saiu de Ainz.

Os Trolls, Ogros e Gu ficaram flácidos e desmoronaram como marionetes cujos cordéis


foram cortados, caindo no chão um após o outro.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


277
Os monstros caídos não se mexeram. Ficou claro que, embora seus corpos ainda esti-
vessem quentes, as chamas de sua vida tinham sido totalmente extintas.

A voz de um velho soou pela caverna silenciosa.

“O quê... fez?”

O Naga estava encolhido como um bebê, fazendo o seu melhor para ficar longe de Ainz.
Ainz se virou e respondeu:

“Apenas usei uma habilidade. Trolls podem se regenerar, mas isso não os imuniza para
ataques de morte instantâneos... francamente, um bando de inúteis. Em minha vã ilusão,
pensei que em vez de matá-los, eu deveria tentar fazer um bom uso deles, mas como se
recusaram a se ajoelhar, decidi matar todos.”

“Este velho aqui, de bom grado, consente em ser seu subordinado! É natural que os fra-
cos obedeçam aos fortes! De agora em diante, este velho aqui servirá a ti com dedicação!”

Ainz calmamente olhou para baixo sobre o Naga que se prostrava no chão, e depois
sacudiu ombros fracamente.

“...Eh, tanto faz. Afinal eu vim aqui para conversar.”

“Quão... quão horripilante. O senhor não considera nada deste velho aqui. Tu consideras
este velho aqui, que há muito governou a floresta do oeste, tão pouco mais do que um
seixo esculpido à beira da estrada.”

“Pelo contrário, estou mais interessado em você do que pensa. Mencionou algo sobre
os Elfos Negros, não foi? Conte-me tudo.”

“Mas é claro... claro que este velho aqui contará. Este velho aqui de bom grado lhe con-
tará tudo o que este velho aqui sabe! Embora, ah...”

Ainz acenou para pedir que o Naga continuasse, e ele disse:

“Poupará a vida deste velho aqui depois que este velho aqui contar o que sabe?”

“Tem a minha palavra. Se for leal a mim, se me servir com sinceridade, eu o recompen-
sarei apropriadamente... mas antes, uma pergunta. Onde estão seus lacaios? Ou você é
como a Hamsuke... a fera que governava a floresta do sul sozinha?”

“Não, este velho aqui tem subordinados. Porém, este velho aqui veio por causa de ne-
gociações, então não os trouxe. Isso porque os subordinados deste velho aqui não podem
se tornar invisíveis, então, uma vez que as negociações tenham sido quebradas, eles não
teriam como fugir.”

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


278
“Sei. Agora, à próxima pergunta: você tem algum lacaio Troll?”

“Apenas um.”

“Excelente. Nesse caso, posso fazê-lo tomar o lugar do Gigante do Leste? Não, isso é...
isso pode ser um pouco problemático. Muito bem. Em poucos dias, trarei meus subordi-
nados para— ainda melhor, você irá para a estrutura que ela construiu. Aura, solte-o.”

“Tem certeza?”

“Tenho sim. Ele já jurou sua lealdade a mim. Se me trair, vou pensar em outra maneira
de usá-lo.”

As mãos magras de Aura soltaram o pescoço do Naga, deixando hematomas em forma


de mão em sua carne.

O Naga ainda estava nervoso, mas muito mais aliviado agora. Ainz não lhe deu atenção,
mas caminhou até o cadáver de Gu.

“Eu me pergunto que tipo de dados um Troll Zombie contém.”

Ainz poderia criar seres undeads de cadáveres usando sua habilidade. Mesmos eles
sendo um pouco mais que Zombies ou Skeletons, ele poderia fazer Zombies mais fortes
se o cadáver da criatura base fosse poderoso o suficiente. Um exemplo mais famoso des-
ses seria os Zombie Dragons.

Ainz pegou a espada que caíra no chão. Era muito mais longa do que Ainz em altura,
mas graças ao princípio básico de armas e armaduras mágicas, ela diminuiu para um
tamanho que melhor se encaixava em Ainz.

Se Ainz tentasse manejar uma espada que ele não poderia equipar, ele seria desarmado
à força, mas apenas pegá-la não tinha problema.

“Eu deveria fortalecer o poder de luta daquele vilarejo? Nesse caso, talvez essa arma
mágica seja a melhor escolha. Além disso, isso não tem valor para Nazarick.”

“Ainz Ooal Gown-sama!”

Esse cara ainda quer falar?

Ainz se virou cansadamente para olhar o Naga.

“Este... este velho aqui nunca lhe trairá. Apenas os tolos que nunca viram o seu olhar
gelado que considera todos diante dele como meras formigas se atreveriam a traí-lo.”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


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“Eu não achava que meus olhos fossem tão expressivos assim... ou isso é uma habilidade
sua também? Mesmo o Demiurge, o mestre do escrutínio, não sabe dizer o que eu estou
realmente pensando.”

“Dificilmente se qualifica como uma habilidade, mas este velho aqui ainda pode sentir
se alguém está interessado neste velho aqui.”

Ainz pensou, talvez seja uma habilidade racial do Naga.

“Jura... muito bem, que seja. Mas pare de desperdiçar meu tempo e junte seus lacaios.
Esta é minha primeira ordem.”

“Sim!”

Parte 4

21:07 - Hora de Nazarick

A silhueta elegante de Demiurge apareceu no escritório de Ainz. Antes de tudo, ele in-
clinou-se profundamente para o Ainz sentado e depois assentiu em deferência a Mare e
Cocytus, que esperavam lá dentro. À empregada designada, ele deu um singelo aceno de
reconhecimento.

Após acenar em reconhecimento, Ainz falou com Entoma via 「Message」.

“Tudo bem. Entoma, diga a Lupusregina que ela tem permissão para partir. Esses três
devem ser protegidos, diga que use os meios necessários para isso.”

『Entendiiido. Transmitirei suas ordeeens para a Lupusregiiina.』

Livre de preocupações, Demiurge caminhou até o centro do escritório. Seus passos ele-
gantes deixaram Ainz com inveja.

Como descrevo... cada movimento que ele faz transborda confiança. Será porque as costas
dele são muito retas?

Demiurge parou, trazendo Ainz de volta aos seus sentidos.

“Fico feliz que tenha vindo, Demiurge.”

“É uma honra! Eu agradeço por me chamar diante de ti, Ainz-sama. Terminou de falar
com a Entoma?”

“Claro. Ela estava relatando alguns assuntos. Ela passou neste teste.”

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


280
“Maravilhoso. Além disso, agradeço por ter tempo para mim, Ainz-sama.”

“Isso não é nada de mais, Demiurge. É justo que eu me corresponda ao homem que tra-
balha arduamente para Nazarick. Além disso, você não está atrasado, então não se pre-
ocupe... vamos, me diga o que pensa.”

Ainz entregou o pedaço de papel que ele estava segurando para Demiurge. Assim que o
recebeu, Ainz o viu rapidamente escaneá-lo de cima para baixo antes de perguntar:

“Como pode ver, este é um menu, qual sua opinião a respeito? A refeição é para um casal
humano e possivelmente uma criança.”

“...Eu humildemente acho que qualquer humano deve consumir sem reclamar tudo o
que dignar a fornecer para eles, Ainz-sama. Porém, sinto que não é a resposta que o se-
nhor procura, assim sendo— creio que uma criança pode não gostar de foie gras. Além
disso... hm, pratos mais leves podem ser ideais para a situação.”

“Bom ponto. Certamente levarei isso em consideração. Muito obrigado.”

“O senhor me honra com o seu louvor... Ainz-sama, o senhor pretende convidar essas
pessoas para a Grande Tumba de Nazarick — no santuário dos Seres Supremos — como
convidados?”

“Exato. E pretendo ser hospitaleiro.”

Ou melhor, não era tanta hospitalidade ao ponto de entretê-los. Essa era uma forma de
coerção apoiada pela riqueza, destinada a criar elos amigáveis.

“Isso é sábio?”

“Por que pergunta? Existe algum problema?”

“Não, absolutamente nenhum. Afinal, tudo o que o senhor decide está correto, Ainz-
sama.”

No passado, quando tudo isso acontecia quando tudo era jogo, a Grande Tumba de Na-
zarick já havia sido palco de poucas pessoas além dos membros da guilda. No máximo,
eles convidaram a irmã mais nova de Yamaiko — cujo nome de jogador era Akemi-chan
— algumas vezes. No entanto, a guilda não proibia convidar amigos. Era simplesmente
que ninguém tinha o costume de fazê-lo.

Duvido muito que meus velhos amigos seriam contra isso, não há problemas se eu convi-
dar Nfirea e os outros. Invasores são diferentes dos convidados.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


281
Ainz então se virou para Demiurge — que estava ponderando algo — e os outros dois
Guardiões que estavam esperando na sala antes dele perguntar:

“Guardiões; estão prontos para entrarem nos banhos?”

“Sinto muito; Mare e eu estávamos planejando pegar emprestado equipamentos para


banho ao longo do caminho.”

“Claro, sem problemas. Então, Cocytus — oh, você já trouxe o seu. Então nos encontra-
remos nos banhos. Increment, se alguém vier, peça que esperem por mim aqui.”

“Como desejar.”

Ao ouvir a resposta da empregada, Ainz se levantou e saiu do escritório. Depois de or-


denar aos vassalos que normalmente o seguiam para permanecer onde estavam, ele li-
derou o caminho para os banhos, que se situavam no 9º Andar.

Ainz queria muito conversar com Cocytus enquanto caminhavam lado a lado, mas
Cocytus era muito sério e nunca faria uma coisa dessas. Isso fez Ainz se sentir um pouco
solitário. Cocytus provavelmente não tinha lido seu coração, mas ele se aproximou de
Ainz e perguntou:

“Ainz-sama, Parecia. Haver. Menos. Eight-Edge Assassins. No. Teto... O. Senhor. Os. En-
viou. Para. Algum. Lugar?”

Ainz ficou um pouco desapontado quando descobriu que era relacionado ao trabalho,
mas também se consolou pensando que isso era o que Cocytus considerava uma con-
versa casual, então ele respondeu a Cocytus. Ele quase deixou a emoção sair em sua voz,
mas no final decidiu que seria melhor manter isso em segredo.

“Eles estão na pousada de E-Rantel. Narberal está lá no momento, para o caso de visitas
inesperadas. Eles estão vigiando os arredores de longe.”

“Isto. Não. É. Perigoso? Deixar. A. Narberal. Sozinha.”

“Bastante. Se alguém planeja atacar, seria o momento ideal.”

“Entendo... Ela. É. A. Isca, Então?”

“Isso mesmo. Se a pessoa que fez lavagem cerebral em Shalltear estiver observando
cada movimento nosso, essa isca certamente os deixará babando.”

Depois que Momon derrotou a poderosa Vampira Shalltear — Claro, ela era conhecida
por um nome diferente — ninguém tentou se aproximar dele. Sendo esse o caso, se Mo-
mon não estiver por perto, deixar uma magic caster sozinha seria...

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


282
“Eles. Morderão. A. Isca?”

“Não sei. Mas se fizerem isso, se eu estiver certo, então certamente serei um mestre da
pescaria.”

Ainz imitou a ação de puxar uma vara de pescar.

“Mobilizaremos. Nossas. Forças?”

“Creio que não. Pelo menos não pretendo. Primeiro, vamos avaliar o nosso adversário.
Se são tão fortes quanto nós, ou mais fortes, então precisaremos ser mais humildes.”

Cocytus grunhiu. Ele entendeu o raciocínio por trás dessa decisão, então ele não teve
escolha senão suportar isso.

“Meu. Lado. Lógico. Entende. Que. É. Algo. Temporário, Mas. Meu. Lado. Emocional. Não.
Suporta. Essa. Possibilidade.”

“Aguente até que tudo seja verificado, precisamos descobrir as fraquezas da nossa opo-
sição. Uma vez que isso aconteça, eu vou fazer com que provem a mais pura dor. Eu não
vou perdoá-los por ousarem fazer lavagem cerebral na Shalltear, por me forçarem a der-
rotá-la.”

Mesmo se fossem jogadores, Ainz não sentia o menor grau de empatia por eles. As úni-
cas pessoas com quem Ainz se importava eram os NPCs ou seus velhos amigos. Se al-
guém despertasse sua ira, ele os sujeitaria a um destino pior do que a morte, a fim de
mostrar-lhes a tolice de suas ações.

“Pagar o bem com bondade e o mal com maldade. Não é justo?”

Ainz sorriu friamente, quando uma onda de excitação cresceu dentro dele. Se a oposição
realmente fossem jogadores, ele poderia conduzir experimentos muito melhores. O pri-
meiro deles provavelmente seria o que ele não ousaria testar em si mesmo — a morte.

“Olho. Por. Olho. E. Dente. Por. Dente?”

“Correto. Sabe onde surgiu isso? Essa frase foi originalmente destinada a alertar contra
a retribuição excessiva, então eu não a usei. Pois pretendo pagar de volta com juros.”

Punitto-san disse isso.

Acrescentou Ainz em seu coração.

“Oh! Eu. Não. Esperava. Nada. Menos. De. Ainz-sama... Não Apenas. Um. Grande. Guer-
reiro, Mas. Também. Possui. Um. Intelecto. Além. Da. Comparação... Eu. Estou. Verdadei-
ramente. Impressionado.”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


283
Ainz não precisou olhar para trás para sentir a onda de respeito pressionando-o por
trás.

“Então, Planeja. Ficar. O. Dia. Inteiro. Dentro. De. Nazarick, Ainz-sama?”

“Não, depois de tomar banho com vocês, eu vou adiantar alguns trabalhos aqui antes
de retornar, porque há muitas coisas que precisam ser resolvidas lá também. E você?”

“Eu. Planejo. Temporariamente. Retornar. Para. Minha. Posição. Como. Guardião. De.
Nazarick, Já. Que. Minhas. Obrigações. No. Lago. Foram. Concluídas.”

“Quando voltar, os únicos que trabalharão fora serão o Demiurge, que tem muitas tare-
fas para completar, Sebas e Solution, que estão reunindo informações na Capital Real,
Aura, que está construindo uma base na floresta, e por fim, Narberal e eu.”

“É. Difícil. Aceitar. O. fato. De. Um. Ser. Supremo. Ir. Lidar. Pessoalmente. Com. Trabalhos.
Que. Seriam. Nossa. Obrigaç—”

“Hahaha, perdão por lhe interromper, Cocytus.”

“Não. Há. Necessidade. Ainz-sama... O. Senhor. Governa. Este. Lugar. E. Cada. Uma. De.
Suas. Palavras. São. As. Leis. De. Nazarick— Eu. Estava. Apenas. Dizendo. Tolices, Além.
Disso—”

O clima no ar parecia ter mudado, e Ainz achou estranho. Olhando para trás, ele viu
Cocytus parecendo um pouco sombrio — embora ele não pudesse dizer pelo seu rosto.

“Se. Fossemos. Tão. Competentes. Como. O. Demiurge... O. Senhor. Não. Precisaria. Se.
Dar. Ao. Trabalho, Mas. No. Fim. Precisa, Por. Nossa. Falta. De. Habilid—”

“Isso não é verdade. Quando vocês foram feitos, meus amigos procuraram criar a pes-
soa certa para cada tipo de trabalho. Sendo esse o caso, a coisa mais importante que pode
fazer é terminar suas tarefas designadas. E sendo sincero, não importa se não pode fazer
ainda mais por mim. Porém, de fato, Demiurge é um pouco mais inteligente e mais bem
informado, com isso ele pode lidar com uma gama maior de problemas.”

Cocytus não parecia ser capaz de aceitar isso, então Ainz continuou:

“Nesse caso, no seu ritmo, você deve se concentrar em aprender a lidar com mais coisas.
Por exemplo, agora está no comando da aldeia Lizardman, então deve ter aprendido
muito com isso. Governar aquela aldeia certamente lhe ajudará no futuro. Contanto que
continue avançando, um passo de cada vez, um dia chegará a par com o Demiurge.”

“Eu. Posso. Realmente. Fazer. isso?”

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


284
“Eu sinto que para você, isso não é impossível.”

Respondeu Ainz de uma maneira indireta.

“Ninguém pode superar o intelecto do Demiurge. Para igualar a ele, você passará por
caminhos sinuosos. Mas tenho certeza que seus esforços não serão em vão.”

Os dois continuaram em silêncio ao longo do corredor. Logo, Cocytus disse calmamente:

“Obrigado. Ainz-sama.”

“Não disse nada de mais. Cocytus, estamos quase nos banhos. Anime-se antes que o De-
miurge e Mare venham.”

“Sim, Senhor!”

♦♦♦

O Spa Resort Nazarick estava localizado no 9º Andar de Nazarick. Era um local confor-
tável de lazer que ostentava 9 banheiras com termas externas e 17 banheiras com ter-
mas internas para homens e mulheres. O mais impressionante deles era o Banho Che-
renkov. Sua água quente irradiava uma luz azul, permitindo que os banhistas desfrutas-
sem de uma atmosfera soberba.

Ainz, que havia chegado aos banhos na companhia de Cocytus, ficou chocado ao ver
alguém inesperado.

“Ainz-sama♥!”

Era Albedo, que parecia estar terminando suas frases com corações hoje. Não, não foi
apenas Albedo. Shalltear estava atrás dela, junto com Aura, que estava com o cansaço
estampado no rosto.

Em contraste, Demiurge e Mare estavam longe de serem vistos. Talvez estivessem es-
perando por Ainz e Cocytus no vestiário.

“A-Albedo, o que está fazendo aqui?”

“Hm? Eu simplesmente vim me banhar com as outras... o senhor também, Ainz-sama?”

“Ah, erm— sim, eu também. Que coincidência, Albedo.”

“Que coincidência adorável, de fato! ...Eu ouvi que é melhor fazer algum exercício leve
antes de tomar banho, aprimora o relaxamento. Vamos dar uma suada juntinhos, Ainz-
sama?”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


285
Um arrepio percorreu a espinha de Ainz.

“Bem, tênis de mesa não seria uma má idéia...”

“Ah, não estava falando disso. Acho que o senhor precisa de umas dicas...”

Ela se aproximou de Ainz com a técnica de uma guerreira de nível 100 — algo que Ainz,
um magic caster, não podia esperar fugir — e estendeu um dedo para o peito de Ainz,
que estava coberto apenas com uma robe, na esperança de traçar letras. No entanto, seu
dedo, macio e delicado como um peixinho, entrou no espaço entre as costelas de Ainz.

“Ah.”

“Ah.”

Ambos fizeram o mesmo som em uníssono.

Que cena idiota...

Ainz sorriu amargamente, pretendendo se dirigir a Albedo, e então seu rosto congelou.

“Eu enfiei meu dedo no precioso templo de Ainz-sama...”

O rosto de Albedo estava vermelho, seus olhos em orvalhos e uma fragrância doce ema-
nava de seu corpo. Esse cheiro era muito semelhante ao perfume que ele às vezes chei-
rava em sua cama.

“—Ei, eu perguntei antes, mas ela sempre foi desse jeito?”

Ainz tentou o seu melhor para falar em um tom normal para Aura, que estava tentando
segurar Shalltear que lutava para se libertar.

“...Não sei, Ainz-sama. Tem acontecido muita coisa ultimamente. Espero que trate isso
como estresse por ela trabalhar tanto pra Nazarick. Pense desse jeito, por favor.”

“Se... se é assim, então não podemos evitar. Er... Ghrum. Albedo, obrigado pelo seu árduo
trabalho todos os dias.”

Ainz planejou se retirar rapidamente, mas alguém agarrou seu robe. Não, não havia ne-
cessidade de olhar; ele já sabia quem era.

“Albedo, o que está fazendo? Alguma coisa aconteceu que perdeu toda a vergonha que
tinha?”

“O que disse agora... acendeu um fogo no meu coração, meu ventre queima de vontade.
Então, Ainz-sama...”

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


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“Er, não, espere um minuto, acalme-se, Albedo! Co-Cocytus!”

“Entendido!”

Uma rajada de ar frio encheu a passagem. A súbita mudança de temperatura pareceu


ter trazido Albedo aos seus sentidos, e a luz da razão retornou a seus olhos.

“Eu. Não. Posso. Ficar. Sentado. Enquanto. Alguém. Desrespeita. O. Ainz-sama— Mesmo.
Se. For. A. Supervisora. Guardiã. Em. Pessoa.”

Cocytus irrompeu entre Ainz e Albedo. Ele tinha sua alabarda de platina na mão, uma
ameaça sem palavras que ele teria prazer em usar se Albedo tentasse alguma coisa en-
graçada.

“—Mil perdões, Ainz-sama. Parece que perdi o controle.”

“Eu aceito suas desculpas, Albedo.”

Depois de ouvir o julgamento de seu mestre, Cocytus se afastou. No entanto, ele não
guardou sua alabarda.

“Eu sei que seus deveres são pesados e que há momentos em que você deseja deixar
tudo de lado e aliviar suas frustrações. Mas, aproveite esse tempo para relaxar, tome um
bom banho e liberte-se do estresse. Obrigado, Cocytus.”

Dizendo isso, Ainz tentou correr para o banho masculino, mas os passos atrás dele o
fizeram parar.

“...Albedo, por que está me seguindo? Talvez não saiba, então eu vou dizer, mas este é o
banho masculino. Você deveria ir ao banho feminino.”

“Eu pensei que gostaria que eu lavasse suas costas, Ainz-sama.”

“...Negado. Até porque, não vou tomar banho sozinho. Os Guardiões estarão comigo.
Você deseja aparecer nua diante deles?”

Assim que Ainz pensou que ela diria, “Sou uma Succubus, é natural que eu faça isso”.

Albedo prontamente respondeu:

“Nesse caso, há banhos mistos em outro lugar—”

“Os banhos mistos não devem ser usados dessa maneira!”

“Mas Ainz-sama, é injusto o senhor agraciar apenas os homens.”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


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“Isso mesmo ~arinsu! É isso mesmo ~arinsu!”

Shalltear grunhia entre as mãos de Aura. No entanto, Aura — que foi arrastada à força
— simplesmente olhava para tudo com um ar de cansaço nos olhos. Atrás delas estava
Cocytus, que parecia bastante constrangido.

É só um banho juntos, o que ela quer dizer com “agraciar”... a mesma coisa aconteceu da
última vez; será que a Albedo está com problemas mentais? Será que foi culpa minha que
ela está ficando meio doida?

“Albedo, deixa eu esclarecer umas coisas. Eu prefiro mulheres a homens. Eu sou pura-
mente heterossexual.”

Albedo parecia querer dizer alguma coisa, mas Ainz levantou a mão para interrompê-
la.

“No futuro quem sabe qual tipo de relacionamento possamos ter. Mas agora, eu nem
sequer descobri o nosso lugar neste mundo, assim, como o líder desta organização, é
inadequado dar um passo a mais em qualquer relacionamento que tenho atualmente
com vocês.”

“Gurrr...”

Albedo franziu as sobrancelhas.

“Além disso... vocês são como as filhas dos meus amigos — e isso é algo muito confli-
tante para mim.”

“Eu estava me perguntando o que estava acontecendo. Parece que vocês estão incomo-
dando o Ainz-sama.”

“O... onee-chan... ela... ela está morta.”

“Eu não estou morta...”

A voz fraca de uma garota respondeu.

“Estava esperando você há um bom tempo.”

“Perdoe nosso atraso. Mas voltando ao assunto... a Supervisora Guardiã provavelmente


deveria aprender como refrear suas emoções.”

Os olhos tipicamente fechados de Demiurge se abriram um pouco, permitindo que a


hostilidade dentro deles fluísse. O ar ao redor dele se tornou perigoso, destacando o

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


288
quão assustador um homem tipicamente gentil poderia ser. Aparentemente afetado por
isso, Cocytus parecia pronto para lutar com Albedo.

O sorriso permanecia no rosto de Albedo. Não, tinha crescido mais.

“Seus tolos!!!”

Ainz não conseguiu conter sua raiva e gritou com eles.

“Eu proíbo vocês de brigarem na minha frente! Seus idiotas!”

Todos os Guardiões tremeram e caíram de joelhos ao mesmo tempo.

“Por favor, nos perdoe, Ainz-sama!”

“...Tá. Levantem-se.”

Depois de ver que todos haviam se levantado, Ainz usou um tom gentil, como se fosse
de repreensão para advertência.

“Não briguem por bobagens. Isso só vai me decepcionar. Vocês entendem?”

Ao ouvi-los simultaneamente responder que eles entendiam, Ainz deixou sua raiva de-
saparecer.

“Enfim, vamos tomar banho e espairecer nossas mentes. Os homens virão comigo. E
Aura, ordeno que você fique de olho nas mulheres. Fique de olho nessas duas e não deixe
que fujam.”

“Deixa comigo!”

Os olhos de Aura brilharam impetuosamente. Ela provavelmente sentiu que esta era
uma chance para um contra-ataque. Tal era o calor escaldante que Albedo e Shalltear
estavam visivelmente abaladas.

Ainz entrou na porta com a cortina escrito “Homens” e deliberadamente ignorou o cla-
mor vindo de trás.

Ele tirou as roupas no vestiário. Se estivesse normalmente equipado, ele teria que re-
mover muitos itens e isso seria muito problemático, mas ele havia se preparado antes
de vir, e então tirou as roupas rapidamente.

Depois de se despir rapidamente, ele entrou nos banhos.

Toda vez que removo minhas roupas, sempre me pergunto como exatamente posso me
mover...

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


289
Um corpo esquelético e sem músculos... Realmente, como ele poderia se mover era um
verdadeiro mistério para Suzuki Satoru. Dito isto, os undeads do tipo Skeleton eram uma
visão comum neste mundo, então tudo o que podia fazer era aceitar este fato. Mesmo
assim, ele tinha suas dúvidas de vez em quando.

“Eu vou entrar primeiro.”

“Por... por favor, espere por mim!”

Mare completamente nu correu atrás dele.

Ele poderia enganar a todos com seus trejeitos e traços femininos, mas ao ver correndo
nu, não restava dúvidas de que era um menino.

Tinha a fisionomia de uma criança, praticamente sem massa muscular. O fato de um


corpo tão delicado poder exercer tanta força, era provavelmente devido a alguma lei na-
tural desconhecida deste mundo, muito parecida com a que regia Ainz.

Enquanto olhava para o corpo nu de Mare e ponderava sobre essa questão, Ainz o re-
preendeu:

“Não corra assim. O chão está molhado e é perigoso.”

Era impossível para um Guardião morrer ao cair e bater a cabeça. Contudo, depois de
ver o corpo infantil de Mare, ele não pôde deixar de se preocupar.

“Er, s-sim. Eu sinto muito.”

Você tem que se desculpar por isso?

Ainz pensou.

“Perdoe o atraso, Ainz-sama.”

Depois disso, Cocytus e Demiurge apareceram.

O corpo de Demiurge estava envolto em músculos firmes e definidos, como um corpo


de um atleta olímpico. Não é possível projetar o corpo sob as roupas ao criar um perso-
nagem, então talvez Ulbert tenha escrito seu físico em sua narrativa.

“Cocytus, você parece o mesmo de sempre.”

“Bem, ele está tipicamente nu.”

“Poderia. Não. Dizer. Esta. Frase, Por. Favor? Me. Faz. Parecer. Um. Pervertido.”

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


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“Não fique chateado, Cocytus. Por usar um exoesqueleto, sua aparência habitual não
pode mudar.”

Exoesqueletos eram uma espécie de armamento natural, muito parecido com as unhas
e dentes de Shalltear. Tal equipamento ganhava dureza e durabilidade à medida que
seus usuários ficavam mais fortes, assim como melhorar as capacidades físicas usando
cristais de dados.

Seus méritos eram que eles não precisavam ser mudados com frequência e poderiam
ser usados por longos períodos. Mesmo se eles fossem destruídos por ataques ou racha-
dos por habilidades, eles poderiam ser restaurados junto com o HP de seus usuários
através do uso de magia curativa. Além disso, eles não seriam dropados após a morte,
entre muitas outras vantagens.

Por outro lado, eram inferiores às armaduras primárias que a maioria dos jogadores de
um nível equivalente usava, seja em termos de dureza, durabilidade e capacidade de
cristais de dados. Mesmo no nível 100, quase nenhuma arma natural e armadura pode-
riam corresponder a um item Divine-class. Talvez alguém pudesse ser capaz de fazê-lo
se possuísse profissões que fortalecessem esses armamentos corporais, mas até mesmo
Ainz não sabia se era possível.

Armas e armaduras naturais não eram muito vantajosas para os jogadores, mas eram
bastante úteis para os NPCs. Isso porque não era necessário reunir uma grande pilha de
armaduras e armas para eles — em outras palavras, o jogador que fez o NPC poderia se
poupar do trabalho de equipá-los.

“Obrigado. Ainz-sama.”

Cocytus se curvou em agradecimento, mas Ainz não falou em sua defesa. Ainda assim—

Será que todo mundo gosta de provocar ele assim— tirar sarro dele — ao ponto que ele
tem que me agradecer por intervir? Devo tentar dizer indiretamente que os outros manei-
rem nisso?

Seria o equivalente a uma situação típica para professores e valentões em salas de au-
las? Ele não sabia como Yamaiko lidava com esse tipo de coisa no passado. Enquanto
ponderava sobre o assunto, ele falou aos Guardiões:

“Bem, vamos entrar.”

O grupo entrou nos banhos, liderados por Ainz.

Havia 12 áreas nesta grande instalação balnear.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


291
A primeira era uma área de banho padrão, depois o banho na selva (que era o maior),
as antigas termas Romanas (que eram muito atmosféricas), os banhos de pomelo (onde
pomelos flutuavam na água), os banhos de enxofre, os banhos de jatos, os banhos elétri-
cos (que tinham uma leve corrente elétrica para entorpecer a pele), os banhos gelados
(com carvão flutuando), os banhos Cherenkov que brilhavam com uma misteriosa luz
azul, bem como banhos mistos ao ar livre (claro, o cenário exterior era falso). Havia tam-
bém as áreas de sauna e banho de pedras e, finalmente, a área de descanso.

“Então, qual gostariam de provar? Compartilhem suas opiniões.”

“Eu. Acho. Que. Os. Banhos. Gelados. São. Os. Melhores... Eu. Gostaria. Que. O. Ainz-sama.
Experimentasse. As. Virtudes. De. Um. Banho. Gelado.”

Ainz era resistente a danos causados pelo frio e até mesmo entrar nos frios banhos ge-
lados não seriam uma dificuldade para ele. Entretanto, algo parecia errado em sugerir
que alguém tomasse um banho frio logo após entrar na área balnear.

“Cocytus-san... nós viemos nos banhar, então...”

Depois de ouvir Mare, Cocytus pareceu ter percebido que havia cometido um equívoco.
Só então, alguém procedeu com uma provocação.

“Viemos aqui tomar banho, então talvez devesse ter recomendado um banho quente
para promover a circulação... ah, sim, isso me lembrou de algo. Você pode se banhar em
água quente? Não vai acabar como uma lagosta cozida, não é?”

“Sem. Problemas... Meu. Exoesqueleto. É. Resistente. A. Fogo, Algo. Impressionante.


Para. Um. Corpo. Nu.”

Cocytus disse orgulhosamente.

“Ah... ah, então eu acho que talvez devêssemos ir para um banho normal...”

“Banhos. Frios. São. Os. Melhores — Tomar. Banhos. Frios. Enquanto. Agarra. Um. Pe-
daço. De. Gelo. É. Muito. Confortável.”

“Eu não vou dizer que só você gosta dessas coisas, mas duvido que a maioria comparti-
lhe de seus gostos...”

“Er... bem, seria muito chato se cada um fosse se banhar em um lugar diferente, então
vamos revezar ficando um pouco em cada banho. Vamos começar com o banho na selva
— meus amigos se esforçaram muito para fazer isso.”

Depois que seus subordinados responderam, “não vejo a hora” — incluindo Cocytus um
tanto desanimado — Ainz levou-os para o banho na selva.

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


292
Havia árvores e grama falsa aqui, tudo fôra feito para parecer uma floresta. Mesmo sa-
bendo que era falso, era realista o suficiente para que todos esperassem que monstros
dessem o bote a qualquer instante.

“Este banho foi feito inspirado no rio Amazonas que existia no passado. Bellriver-san,
com a ajuda do Blue Planet-san que fizeram.”

Ainz virou as costas para os Guardiões impressionados, então ele levou sua bacia e ban-
quinho de banho para a área de limpeza.

Por que todas as bacias deste spa são amarelas? Quando perguntei na época, ele disse que
era tradição... Será que todos os spas têm bacias amarelas?

“Não preciso avisar, mas precisam se limpar antes de entrar no banho. Mas a maneira
como eu tomo banho faz muita bagunça, então talvez seja melhor ficarem longe de mim.”

Com essa mensagem concisa, Ainz jogou a bacia cheia de água quente em si mesmo. A
água passou direto por ele até o chão. Devido às muitas lacunas em seu corpo, era muito
difícil enxaguar todo o corpo de uma só vez. Depois de repetir isso várias vezes, certifi-
cando-se de que estava molhado, ele pegou uma escova.

Ainz colocou sabão líquido em uma escova e começou a se esfregar. Assim como antes,
as muitas lacunas em seu corpo denotavam que esfregar a si mesmo era como esfregar
uma peneira, e assim espuma e bolhas espalhavam por toda parte.

Uhum... talvez eu devesse ter trazido meu adorável assistente de banho, Sankichi-kun.

Ainz sentiu que seria desagradável deixar seus subordinados vê-lo todo coberto pelo
Slime, então não o havia trazido. Entretanto, ele não se banhava há algum tempo, o que
aumentou o problema.

Enquanto Ainz se esfregava com entusiasmo, Mare aproximou-se dele com um banqui-
nho amarelo em mãos. Ele estava claramente nervoso, mas sorriu para Ainz, seu rosto
estava vermelho pelo calor dos banhos.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


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Conto 2 Um Dia Em Nazarick
294
“A-Ainz-sama! Por favor... por favor, deixe-me o ajudar a lavar as costas!”

“Hm? Ah, sim. Então quer me ajudar a tomar banho? Esteja avisado que meu corpo é
muito tedioso para lavar, use essa escova. Limpar com a toalha é muito cansativo.”

Ainz virou as costas para Mare, e Mare começou a esfregar lentamente as costas com a
escova que recebera.

“Você está fazendo um bom trabalho.”

“Muito obrigado!”

Honestamente falando, Ainz não poderia dizer se era um trabalho bom ou ruim. No en-
tanto, ele dissera isso a Mare porque estava grato.

Ainz olhou para os outros dois. Eles estavam dizendo:

“Vou ajudar-lhe a lavar as costas, tudo bem?”

“Obrigado. Pela. Sua. Gentileza.”

Ainz não pôde evitar de sorrir, embora seu rosto esquelético não tivesse expressões
faciais.

—A Grande Tumba de Nazarick é realmente o melhor lugar.

Atrás dele, a voz de um menino dizia:

“Acho que lavei este lugar antes, não?”

E isso só ampliou o sorriso de Ainz.

“Obrigado, Mare. Agora é minha vez de ajudá-lo. Não seja tímido.”

Ainz agarrou os ombros do garoto e virou-o, depois aplicou espuma de banho na toalha
de Mare e começou a ensaboá-lo.

Ele gentilmente esfregou o corpo de Mare, tomando cuidado para não o machucar. Pen-
sou na força que usava para se lavar e tentou usar menos força do que isso.

“Isso dói?”

“Não... de jeito nenhum!”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


295
Depois de ajudar Mare — que tinha ficado todo rígido por algum motivo — a lavar as
costas, Ainz lhe devolveu sua toalha.

“Você pode fazer a frente você mesmo, certo?”

“Claro... Claro que sim!”

Ainz pegou a escova e esfregou as costelas. Mare estava se esfregando ao lado dele, en-
tão Ainz teve o cuidado de não o borrifar com sua espuma.

“Então, eu irei primeiro.”

Depois que Demiurge terminou de se enxaguar, foi até a banheira, balançando sua
cauda enquanto o fazia. Ele foi seguido por Cocytus, que provavelmente teve dificulda-
des banhando-se como Ainz, mas que poderia efetivamente usar todos os seus quatro
braços para economizar tempo. Naturalmente, Mare foi o próximo. Ainz finalmente ter-
minou de lavar vários minutos depois que todos terminaram.

A banheira era bastante larga, e uma estátua de leão habilmente esculpida despejava
água quente pela boca na banheira borbulhante. Ainz caminhou através do vapor de
água e notou que Cocytus estava especialmente distante dos outros. Os outros dois esta-
vam apreciando a água quente, a uma distância dele.

“Ah~ a água quente é boa.”

Ainz pensou que, como uma criança, Mare nadaria na banheira, mas em vez disso, ele
simplesmente dobrou a toalha e colocou-a na cabeça, um olhar relaxado no rosto. Essa
atitude era menos adequada para uma criança e mais adequada para um adulto sobre-
carregado. Quando Ainz o viu, ele se sentiu surpreso e então se perguntou:

O trabalho de um Guardião de Nazarick é mesmo cansativo?

“Oh, é tão bom. Eu sinto a fadiga fluindo para fora do meu corpo.”

Demiurge havia removido os óculos. Ele jogou um pouco de água quente em seu rosto
e disse “Ah~”, parecendo um tio de meia-idade.

“Bem. Quente.”

“Isso... que estranho, er, você não disse que era resistente a isso?”

“Eu. Sou, Mas. Geralmente. Não. Me. Banho. Em. Águas. Quentes... Por. Isso. Não. Estou.
Acostumado.”

“...Ainda assim, isso não é motivo para usar sua 「Frost Aura」. Espero que mantenha
sua distância; eu prefiro minha água quente um pouco escaldante.”

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


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Agora ele sabia o porquê Cocytus estava tão longe. A água que o circundava estava mais
fria.

“Você. É. Resistente. Ao. Fogo. Por. Isso. Está. Bem... Por. Que. Não. Experimenta. Os. Ba-
nhos. Gelados?”

“Isso não vem ao caso. Além disso, não me envolvi com minha resistência; estou sim-
plesmente aproveitando a água quente. Não consegue aguentar um quentinho desses,
Cocytus?”

“É. Bem. Raro. Provocações. Superficiais. Vindo. De. Você, Está. Bastante. Empolgado.”

“Parem com isso. Banhos devem ser agradáveis. Se quiserem testar sua resistência, fa-
çam na sauna. Ninguém é obrigado a tomar banho aqui.”

“Huwahh~...”

Mare exalou calorosamente, com a testa coberta de suor.

“Olhem, vocês precisam aproveitar o banho como o Mare está fazendo. Mare, não se
esforce demais. Se não se sentir bem, pode sair.”

“É... tudo bem, Ainz-sama! Se alguma coisa acontecer, eu posso usar magia!”

Usar magia uma ova.

Pensou Ainz. Todavia, ele não disse nada e simplesmente olhou para Cocytus.

“...É correto usar as resistências quando se está tomando banho?”

“Eu acho que algumas pessoas se banham assim, Ainz-sama. Por exemplo, por ser um
undead, o senhor não ficará atordoado, não importa quanto tempo absorva água. Não é
um tipo de resistência?”

“...Olhando por esse lado.”

Ele podia sentir o calor lentamente infiltrar-se em seu corpo, mas não parecia tão bom
quanto se ainda fosse humano.

Um corpo undead tem seus méritos e falhas...

Enquanto Ainz estava de luto por suas alegrias perdidas—

“Hm?”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


297
—Ele levantou a cabeça do vapor subindo da água e olhou em volta.

“O que foi?”

“Eu acho que alguém estava chamando meu nome...”

“Será. Que. Está. Vindo. Do. Outro. lado?”

Cocytus apontou para a parede atrás dele.

“Ali é— ah, claro. O banho das mulheres.”

“Faz sentido. Mas... as paredes não deveriam ser mais grossas?”

“Talvez os ecos tenham feito suas vozes mais altas.”

Ainz não pôde resistir ao desejo de levantar as orelhas e ouvir. Não havia má intenção
naquilo; ele estava simplesmente curioso sobre o que um grupo de mulheres falaria
quando não havia homens por perto. Claro, ele não colocou seu ouvido na parede; fazer
isso prejudicaria sua dignidade como governante da Grande Tumba de Nazarick. Ele até
se afastou da parede e virou a cabeça para o outro lado.

“—Albedo, você é tão cabeluda aí embaixo.”

Ainz franziu a testa enquanto se concentrava e ouvia a conversa do outro lado.

“—Aura, não descreva assim. Ah~ Ainz-sama deve estar por trás dessa parede. Será que
tem um buraco ou algo assim?”

Ainz analisou cuidadosamente a parede inteira, porque estava preocupado que alguém
pudesse ter instalado algum tipo de mecanismo estranho nela. Houve um tempo em que
alguns membros da guilda ficaram obcecados em fazer estranhos dispositivos e truques.
As relíquias daqueles tempos poderiam ter permanecido até agora.

“—Normalmente, ele nos espiaria, não?”

“—Eu duvido que seja o caso ~arinsu. Não há necessidade de nos espiar; se o Ainz-sama
ordenar, vamos deixá-lo nos espiar o quanto quiser ~arinsu.”

“—Oh, é raro ouvir você dizendo algo que faça sentido, Shalltear.”

“—O que quer dizer com ‘raro’, que rude. Enfim, isso é uma escova de dentes ~arinsu?
Poderia não escovar seus dentes aqui, por favor... Quero dizer, escove os dentes no banheiro,
não?”

Conto 2 Um Dia Em Nazarick


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“—Eu não posso evitar. Limpá-los é realmente cansativo, então tenho que fazê-lo em um
lugar espaçoso. Caso contrário, será muito problemático.”

A voz de Albedo veio de uma posição um pouco mais alta, seguida pelo som alto de
escovação.

“—Hm... parece bastante cansativo. Ah, se não dá pra evitar, então pode fazer, né.”

“—Obrigada.”

“—Credo, não balance a cabeça olhando pra mim, é muito nojento. Shalltear, não vai es-
covar também?”

“—Eu escovo sozinha no meu quarto, então não preciso ~arinsu. Ainda assim, vamos re-
almente ter cáries e coisas assim ~arinsu?”

“—Mesmo que não seja o caso, o mau hálito pode destruir até o mais antigo dos amores.”

O som de escovar repentinamente parou, substituído pelo som de passos arrastados.

“—Eh? Calma aí, não me diga que vai pular assim? Pelo menos mude de form...”

Primeiro, houve um ruído alto, seguido pelo som de respingos de água. Ela deve ter
pulado com força na banheira.

“—Waaah! Koffkoff, Koff, se eu fosse uma Vampira das lendas, eu já teria me afogado
~arin-su!”

“—Você não é mais uma criança, não pule desse jeito!”

“—Fufufu. Ahh~ isso é ótimo. Eu virei aqui para tomar banho a partir de agora.”

“—Você deveria é aprender umas etiquetas de banho, isso sim... huh?”

“—O que é isso? Que estranho, esse leão está se movendo?”

“—Mal-educados são proibidos no banho! Exterminar!”

Uma voz masculina de repente falou, o que fez Ainz e os outros homens se entreolharem.

“Er, ah, isso soou como a voz de um homem.”

“Eu. Não. Ouvi. Essa. Voz. Antes, Seria. Um. Guardião. Das. Áreas. De. Banhos, Mas. Por.
Que. Teria. Um. Homem. No. Lado. Das. Mulheres?”

“Não, eu já ouvi essa voz antes... é o Luci★Fer-san.”

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


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Ao ouvir a voz do maior encrenqueiro de Nazarick, Ainz lembrou-se de vários casos em
ele pregara peças. Honestamente, Ainz não gostava quando ele fazia isso.

“Esta. É. A. Voz. De. Um. Ser. Supremo?”

“—É tão duro! Este não é um Golem de Ferro comum! Albedo!”

“—Morra, seu Golem maldito!”

Houve um estrondo e, em seguida, o som de algo atingindo a parede em alta velocidade.


Aquilo bateu e até sacudiu as paredes dos banhos dos homens.

“...Apenas por precaução, peguem suas armas e preparem-se para atacar o banheiro fe-
minino se alguma coisa acontecer.”

Ordenou Ainz aos Guardiões claramente desmoralizados.

Se o fogo amigo não estivesse ativo, talvez terminasse em risadas, mas, dadas as cir-
cunstâncias atuais, alguém poderia realmente ser morto. O poder de luta delas estava
reduzido sem o seu equipamento e, dependendo das circunstâncias, realmente precisa-
vam ser resgatadas.

“...Eu gostaria de poder me banhar em paz da próxima vez.”

Ainz saiu da banheira espalhando um pouco de água e foi para o vestiário. Ao ouvi-lo
falar, os outros Guardiões assentiram em uníssono.

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Posfácio

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Ultimamente tenho ficado ocupado demais. Como resultado, minha barriga e meu
queixo ganharam mais massa adiposa. Aqui é o autor que evoluiu para o Leitão-san, Ma-
ruyama Kugane. Para aqueles que compraram este livro ou o tem em mãos, muito obri-
gado!

Na maioria das vezes, tenho estado ocupado por causa do projeto do anime, trabalho e
outras coisas.

Neste momento o anime está indo bem, apenas algumas notificações de “Como o Ainz
vai sorrir?” “Faça de alguma forma!” “Por favor, faça alguma coisa, Diretor-san!”

Além do anime, o mangá de OVERLORD (desenhado por Miyama Fugin-san) também


começou a serialização na Comp Ace.

Quando todos tiverem este livro nas mãos, o capítulo 2 deverá ter saído. O trabalho dele
lhe fará sentir que “Ainz é um personagem muito legal!”. Por favor, dê uma olhada, eu
ficaria muito grato!

Então, para este volume há uma capa reversível com uma ilustração interna incluída na
primeira edição limitada deste livro.

Esta obra de arte é facilmente equivalente a ilustrações coloridas de qualquer outra


light novel, o suprassumo do desejo imprudente de So-bin-sama de desenhar algo (a
cena de banho das personagens femininas), isso me abalou profundamente.

Embora eu tenha a impressão de que este é um caso único para este volume, espero que
os leitores que gostam desse tipo de coisa me enviem seus desejos em cartões postais.

Enfim, depois desses dizeres, é hora dos agradecimentos.

Muito obrigado ao So-bin-san, que resolveu muitos problemas, mesmo quando o traba-
lho aumentou cada vez mais.

Obrigado aos designers do Chord Design Studio, ao revisor Ohaku-sama, a editora F-ta
san e a todos que me ajudaram a finalizar OVERLORD.

Além disso, muito obrigado a Honey, que detectou um grande erro.

E finalmente, obrigado a todos os leitores por aí. Espero falar com vocês novamente no
futuro.

Maruyama Kugane
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Ilustrações
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Glossário
Glossário
-Magias, Habilidades & Passivas- Emplastro:Ou emplasto, cataplasma ou ainda malagma,
Tradução livre de seus nomes é uma forma de medicação transdérmica caracterizada
pela colocação sobre a pele de alguma substância sólida
Acid Arrow: .........................................................Flecha Ácida. aquecida, com o intuito de aquecer ou amolecer tecidos,
Appraisal Magic Item: ....................... Avaliar Item Mágico. acelerando o processo de cura. No Brasil também é co-
Chain Cyclone: .................................... Ciclone de Correntes. nhecido por compressa.
Despair Aura V: .................................. Aura do Desespero V. Fogo Amigo:Ou também fogo aliado, do inglês, Friendly
Detect Magic: ................................................. Detectar Magia. fire, é uma expressão eufêmica utilizada militarmente no
Frost Aura: ................................................... Aura Congelante. que tange os aspectos de ataques aliado a aliado, ou ini-
Heal: ....................................................................................Curar. migo a inimigo.
Hypnotism: ........................................................... Hipnotismo. Foie gras:Ou fuagrá em português – termo em francês
Landwalker: ........................................Caminhante da Terra. significa “fígado gordo” – é o fígado de ganso ou pato que
Message: .................................................................. Mensagem. foi forçosamente alimentado à exaustão, o que levou à hi-
Reinforce Armor: ................................. Reforçar Armadura. pertrofia lipídica do órgão.
Summon Bicorn: ........................................ Invocar Bicórnio. Gap Moe: ...Discrepância ente aparência e personalidade.
Sword of Damocles: ........................... Espada de Dâmocles. Ginseng:Uma raiz medicinal muito utilizada na medicina
chinesa devido às suas incríveis propriedades que aju-
dam a diminuir o estresse e o cansaço, melhorando a qua-
-Itens- lidade de vida e proporcionando a longevidade.
Hierofante:Uma vertente tanto de clérigos quanto de sa-
Tradução livre & Curiosidades
cerdotes voltados para o lado militar. No nosso mundo, é
o termo usado para designar os sacerdotes da alta hierar-
Book of the Dead: ..................................... Livro dos Mortos.
quia dos mistérios da Grécia e do Egito.
Cauldron of the Daghdha: ............ Caldeirão de Daghdha.
Himation:É uma antiga roupa grega usada por cima do
Horn of the Goblin General: Trombeta do General Gob-
ombro.
lin.
Shadow of Yggdrasil: ........................ Sombra de Yggdrasil. Idols:Na cultura pop japonesa, os Idols (アイドル, ai-
Statue of Animal: War Horse:Estátua de Animal: Cavalo doru) são pessoas da mídia (cantores, atores, modelos
de Guerra. etc.) jovens, em sua maioria adolescentes, com uma ima-
gem inocente e às vezes, mais chamativa. São uma cate-
goria separada de cantores japoneses. O termo implica
um apelo inocente e a capacidade de provocar admiração
-Termos & Terminologias- e de fazer uma pessoa se apaixonar por artista e é comer-
cializado por agências de talentos japonesas.
Álfheim:Na mitologia nórdica, Álfheim (Álfheimr em
Memento Mori:É uma expressão em latim que significa
nórdico arcaico, lar dos elfos) é um dos nove mundos, e o
algo como “lembre-se de que você é mortal”, “lembre-se
domicílio dos Álfar (elfos).
de que você vai morrer” ou traduzido ao pé-da-letra,
Ankh:Conhecida também como cruz ansata, era na es-
“lembre-se da morte”.
crita hieroglífica egípcia o símbolo da vida. Conhecido
Mimidoshima: .... みみどしま - Mulher jovem com muito
também como símbolo da vida eterna. Os egípcios usa-
conhecimento superficial sobre sexo e afins.
vam-na para indicar a vida após a morte.
Bardado: ............ Armadura que vai no peitoral do cavalo. Nazarick Gakuen:学園 – Substantivo para Universidade,
Cabriolé:Carruagem pequena, leve e rápida, de duas ro- campus, academia. Seria como “Universidade Nazarick”.
das, capota móvel, e movida por apenas um cavalo. Nóatún:Na mitologia nórdica, Nóatún (“Paraíso dos Na-
Crosier: Traduzido como Bastão Episcopal ou Báculo, é vios” em nórdico antigo) é a morada do deus Njörðr (Deus
um tipo de cajado usado pelos pastores para se apoiarem da costa marinha, terra firme, náutica), descrito no livro
ao andar e para conduzirem o gado. em Prosa Edda Gylfaginning como localizado em Asgard.
Dakimakura:(抱き枕) “travesseiro para abraçar” tam- Pomelo:Também chamada laranja-natal, cimboa, é uma
fruta cítrica, fruto de uma árvore da família Rutaceae com
bém chamado de love pillow no ocidente é um tipo de tra-
5 a 8m de altura.
vesseiro do Japão, considerado um brinquedo sexual por
Radiação Cherenkov:Também chamada de Efeito Tche-
alguns, geralmente possui a foto de algum personagem.
renkov. É o brilho azul tipicamente associado a reatores
Danishes: ........................................ São um tipo de pão doce.
nucleares subaquáticos Link para o vídeo.
Drop:Itens deixados por monstros após serem mortos
Ranger:Em RPGs, é uma classe de personagens com perí-
em jogos, o termo também vale para a taxa com qual os
cia a coisas relacionadas à floresta, rastreamento e caça,
itens vindos de sorteios e lootboxes.
além de proficiências com arcos, geralmente é traduzido
Dungeons:O termo é usado em jogos de RPG para desig-
como Patrulheiro, Guarda Florestal.
nar cavernas ou labirintos repletos de monstros, armadi-
Skin:Geralmente é um visual alternativo dado a um pro-
lhas e tesouros. Uma Dungeon normalmente é composta
grama computacional.
por salas e corredores que as conectam, podendo haver
TRPG:Acrônimo para Table Role Play Game. O famoso
também passagens secretas. Com etimologia na palavra
RPG de mesa.
francesa donjon. Substantivo significando calabouço ou
Velouté:É um molho da cozinha francesa. O preparo do
masmorra.
velouté consiste em um caldo claro, onde os ossos são

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usados sem serem torrados, podendo-se optar por car- Bicorn: .......................................................................... Bicórnio.
caça de frango - mais versátil - vitela ou peixe, engrossa- Birdman: ...................................................... Homem-Pássaro.
dos com roux. Esse molho é bastante semelhante ao Boggart:Monstros com aparência relativa a Goblins. No
béchamel, mas não é diluído em leite. folclore inglês, é um dos numerosos termos relacionados
Víðópnir:Na mitologia nórdica, Víðópnir é um galo. De usados para um espírito doméstico.
acordo com Fjölsvinnsmál, Víðópnir ou Víðófnir é um galo Bugbear:Monstros com aparência relativa a Goblins. Bug
que fica no topo de Mímameiðr, uma árvore frequente- vem do Inglês arcaico Bugge (uma coisa assustadora), ou
mente considerada idêntica à Árvore do Mundo Yggdrasil. talvez a antiga palavra galesa bwg (espírito maligno ou
goblin). No folclore inglês, é um dos numerosos termos
relacionados usados para um espírito doméstico. Consi-
-Nomes- derando a etimologia, talvez “Terrurso” seria um equiva-
lente... se considerando que também é um monstro aná-
Aelius, Aurelius, Cocceius, Fulvius, Ulpius: ... São os se- logo ao bicho-papão aqui no brasil, poderia ser “Bi-
gundos nomes de vários imperadores romanos. churso”.
Ashurbanipal:Em português Assurbanípal (ca. 690 a.C. Death Knight: ..........................................Cavaleiro da Morte.
— 627 a.C.) foi o último grande rei da Assíria. No seu rei- Dryad:Na mitologia grega, as dríades (em grego: Δρυάδες,
nado (por volta de 668 - 627 a.C.). Assurbanípal criou a Dryádes, de δρῦς, drýs, “carvalho”) eram ninfas associa-
grande Biblioteca de Nínive, com uma coletânea com das aos carvalhos. De acordo com uma antiga lenda, cada
obras em escrita cuneiforme, hoje responsável pela maior dríade nascia junto com uma determinada árvore, da qual
parte do que se sabe dos povos da Mesopotâmia. Esta bi- ela exalava. A dríade vivia na árvore ou próxima a ela.
blioteca continha milhares de textos escritos em tabui- Quando a sua árvore era cortada ou morta, a divindade
nhas de barro cozido. também morria.
Coup De Grâce: Significa o “sopro de misericórdia” em Eight-Edge Assassin: .............. Assassino dos Oito-Gumes.
francês, um golpe mortal final para acabar com o sofri- Elder Lich: ............................................................. Lich Ancião.
mento de uma pessoa gravemente ferida ou animal. A Fenrir:É um lobo monstruoso. Fenrir é atestada na Edda
frase também pode se referir ao evento final que causa em verso, compilada no século XIII a partir de fontes tra-
uma morte figurativa. dicionais anteriores, e a Edda em prosa e na Heimskringla,
Daghdha:é um deus importante na mitologia irlandesa. escritas no século XIII por Snorri Sturluson.
Um dos Tuatha Dé Danann, o Dagda é retratado como Frost Dragon: ...................................................Dragão Gélido.
uma figura paterna, chefe e druida. Seu caldeirão mágico Frost Virgin: ............................................... Virgem da Geada.
era conhecido como coire ansic (“o caldeirão não-seco”) e Galgenmännlein:É o alemão para “Homenzinho”, mas no
era considerado sem fundo, do qual nenhum homem fi- sentido da lore é uma Mandragora com flor na cabeça.
cava insatisfeito. Griffin:Em grego: γρύφων, grýphōn ou γρύπων, grýpōn,
Damocles:Dâmocles é protagonista de uma anedota mo- forma primitiva γρύψ, grýps; latim: grifo. É uma criatura
ral que figurou originalmente na história perdida da Sicí- lendária alada com cabeça e asas de águia e corpo de leão.
lia por Timeu de Tauromênio (c. 356 - 260 a.C.). Hobgoblin: ......................... Variedade superior de Goblins.
Foire: Uma palavra francesa para uma feira de diversões. Homunculus: Em latim, homunculus, "homenzinho",
Guren:É japonês para 'lótus vermelho'. Guren-jigoku, um (plural homunculi) tem sido aplicado em várias áreas do
dos oito infernos frios nos ensinamentos budistas, faz conhecimento humano. Na alquimia, o conceito do ho-
com que a carne de alguém se separe devido à tempera- múnculo parece ter sido usado pela primeira vez pelo al-
tura e se assemelhe a um lótus vermelho. quimista Paracelso para designar uma criatura que tinha
Lumière: ..............................Uma palavra francesa para luz. cerca de 12 polegadas de altura e que, segundo ele, pode-
Pulcinella:Ou Polichinelo é uma antiga personagem-tipo ria ser criada por meio de sémen humano posto em uma
e burlesca da commedia dell'arte, cujas raízes remontam retorta hermeticamente fechada e aquecida em esterco
ao teatro da Roma Antiga. Se caracteriza pelo nariz longo, de cavalo durante 40 dias. Então, segundo ele, se formaria
cifose, grande barriga, barrete, roupa multicolorida e fala o embrião. Outro alquimista que tentou criar homúnculos
tremida e esganiçada. foi Johanned Konrad Dippel, que utilizava técnicas como
Suratan:Seu apelido refere-se a Suān Làtāng, nome de fecundar ovos de galinha com sêmen humano e tapar o
uma sopa chinesa. orifício com sangue de menstruação.
Tigris Euphrates:O apelido vem dos dois rios da Ásia Lobisomem:Ou licantropo (do grego λυκάνθρωπος:
Ocidental, rio Tigre e rio Eufrates. λύκος, lykos, “lobo” e άνθρωπος, anthrōpos, “homem”), é
Zy'tl Q’ae:Seu nome originou-se de uma raça antiga de um ser lendário, com origem na mitologia grega,
monstros vegetais da mitologia de Cthulhu. Myconid: ................ Ou Miconídio, é um fungo humanoide.
Naga:Do sânscrito: नाग, nāga, é uma palavra em sânscrito
e páli que designa um grupo de divindades da mitologia
-Raças & Monstros- hindu e budista.
Old Guarder: ..................................................... Guarda Velha.
Overlord:Poderosa raça de undeads, os kanjis de seu
Alraune:O alemão para Mandrágora. É uma criatura ori-
nome podem ser lidos como “Governante da Morte”.
ginária na idade média alemã. Como o nome sugere, é um
Pale Rider: .................................................... Cavaleiro Pálido.
tipo de mandrágora, porém com aspecto humanoide.
Sapphire Slime: ................................................... Slime Safira.
Alruna: ......................................... O sueco para Mandrágora.
Shadow Demon: ........................................Demônio Sombra.
Barghest:Na mitologia, Bargtjest, Bo-guest, Bargheist,
Skeleton:....................................................................Esqueleto.
Bargeist, Barguist, Bargest ou Barguest é o nome empre-
Spear Needle: ...............................................Agulha de Lança.
gado no Norte da Inglaterra, para descrever um monstru-
Toadmen: ........................................................... Homem-Sapo.
oso cão negro com enormes dentes e garras.

Glossário
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Undead:................................................................... Morto-Vivo.
Unicorn: .....................................................................Unicórnio.
War-Bicornlord: ................. Soberano Bicórnio de Guerra.
Warg:Na língua norueguesa antiga, vargr é um termo
para “lobo”. Na mitologia nórdica, os wargs se tratam par-
ticularmente dos lobos demoníacos.
Zombie Dragon: .............................................. Dragão Zumbi.
Zombie: ..................................................................................... Zumbi.

-Honoríficos & Tratamentos-

Ane-san:No contexto utilizado pelo Goblins significa algo


como se Enri fosse uma Yakuza e eles seus capangas.
Ani-san:No contexto utilizado pelos Goblins significa
algo como se Nfirea estivesse em posição semelhante a
Enri.
Chan:ちゃ ん - O sufixo “chan” é um termo carinhoso
usado geralmente para crianças ou pessoas que temos
muita intimidade. O “chan” é usado após o nome inteiro
ou abreviado.
Dono:殿 | どの - O sufixo “dono” vem da palavra “tono”,
que significa “senhor”. Seria semelhante ao termo “meu
senhor”. Na época dos samurais, costuma-se denotar um
grande respeito ao interlocutor.
Imouto:Ao se referir à própria família ou a alguém que
não é diferente da família, como um amigo de infância ou
de uma vida inteira, pode ser dito apenas como imoto. No
entanto, ao se referir a outra família, você deve sempre
adicionar um sufixo no final, como imouto-san, a menos
que haja consentimento em contrário.
Kun:君 - O sufixo “Kun” é bastante utilizado na relação
“superior falando com um inferior”, mas apenas se hou-
ver um certo grau de intimidade e amizade entre ambos.
Oba-chan: バアさん – Forma carinhosa de chamar uma
mulher idosa.
Onee:Uma maneira informal de falar irmã mais velha, e
se junto com o sufixo “chan”, denota uma forma carinhosa.
Onii:Uma maneira informal de falar irmão mais velho, e
se junto com o sufixo “chan”, denota uma forma carinhosa.
Sama:様 | さま- O sufixo “Sama” é uma versão mais res-
peitosa e formal de “san”. A traduções mais próxima do
termo “sama” para o português seria “Vossa Senhoria”.
No Japão, é importante referir-se a pessoas importantes
ou a alguém que admira e é muito importante, no império
antigo era muito usado para se referir a rainhas.
San:さん - O sufixo “San” é um honorífico que pode ser
usado em praticamente todas as situações, independente
do sexo da pessoa. Normalmente é usado para pessoas
que temos pouca ou nenhuma intimidade. Também usado
quando a pessoa considera o interlocutor como um de
igual hierarquia.

OVERLORD 6 Os Dois Líderes


325
Notas de Tradução:
Lupusregina ~su. Como devem ter notado, “~su” é o tique verbal dela, ainda não achei
referência se é algo vindo de alguma região do Japão... e o mais próximo que achei, é que
denota um jeito descontraído... Também pode ter a ver com algo relativo à sua raça. Por
ela falar mais descontraidamente às vezes, tentei passar a descontração e informalidade
tais partes. Por isso Yuri a repreende no Volume 6 e aqui também...

Rosto poderia lançar ao mar mil navios. É uma analogia à história de Helena de Tróia.
Helena de Tróia é a história de uma mulher cujo rosto teve a reputação de “lançar ao mar
mil navios” em sua perseguição. Nascida de Leda, através de sua ligação amorosa com
Zeus, Helena era extraordinariamente bela desde o nascimento.

Sankichi-kun. Anteriormente era Miyoshi-kun na tradução, isso porque os kanjis de


seu nome (三吉君) podem ser lidos dos dois jeitos, Maruyama confirmou em um tweet
que o correto seria Sankichi. LINK

“Um gato de sorriso perverso saindo de um livro de fantasia...”. Referência ao Gato


de Cheshire de Alice no País das Maravilhas por Lewis Carroll.

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Enri Emmot e o Herborista Nfirea, ambos salvos por Ainz Ooal Gown, estão morando
no Vilarejo Carne, guardado pelos Goblins. Até hoje não houveram incidentes, mas uma
nova ameaça se aproxima devido ao desequilíbrio na floresta pela ausência do Sábio
Rei da Floresta—

“Os Dias Revoltos e Agitados de Enri”.

De empregadas normais a Guardiões, Ainz lidera os servos com absoluta fidelidade.


Ele sugere certas coisas para alguns Guardiões, incluindo Mare Bello Fiore. Os dias difí-
ceis para o governante de Nazarick—

“Um Dia Em Nazarick”.

ISBN 978-4047300842

ISBN 978-4047300842
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