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OverlorD 7 Os Invasores da

Grande Tumba
オーバーロード Ilustrado por so-bin
Aviso Legal:
A tradução de OVERLORD — para inglês e português — é feita e revisada de fã para fã,
não monetizem em cima da obra e não compactuem com quem o faz. Se quiserem e pu-
derem contribuir com o autor, comprem o livro ou ebook (japonês, inglês ou português)
em sua livraria de preferência.

Sobre:
A obra faz uso de muitos anglicismos, ainda mais por se basear em RPGS, então há mui-
tos termos em inglês e tentei preservar vários desses aspectos em alguns termos, nomes
de armas, itens, raças e coisas do tipo.
Claro, algumas coisas precisam de adaptação, outras é preciso generalizar. Dito isso,
pode não agradar aos adeptos do Dia do Saci em vez do Halloween. Estejam avisados.

Tentei remover o máximo possível de erros de português e concordância, mas, somos


apenas pessoas com boa vontade e não especialistas da língua portuguesa.
Quando encontrarem algum erro, sintam-se à vontade para entrarem em contato atra-
vés do e-mail disponível no blog :)

Créditos:
CRÉDITOS PT-BR:
ainzooalgown-br.blogspot.com
CRÉDITOS EN-US:
skythewood.blogspot.com
REFERÊNCIA DE NOMES:
overlordmaruyama.wikia.com

Atenção: Se baixou este arquivo de outro link que não o oficial do blog. Ou se tem muito
tempo que baixou e deixou guardado, que tal dar uma conferida no blog? Talvez esta seja
uma versão desatualizada :)

Revisão: 5.0 | Versão: 5.6


Sumário
Prólogo .......................................................................................................................................................... 5
Capítulo 01: Convite Para a Morte ......................................................................................... 19
Parte 1 ................................................................................................................................................................................... 20
Parte 2 ................................................................................................................................................................................... 31
Parte 3 ................................................................................................................................................................................... 57
Capítulo 02: Borboleta Presa na Teia de Aranha ........................................................... 71
Parte 1 ................................................................................................................................................................................... 72
Parte 2 ................................................................................................................................................................................... 98
Parte 3 ................................................................................................................................................................................ 115
Parte 4 ................................................................................................................................................................................ 132
Capítulo 03: A Grande Tumba .............................................................................................. 146
Parte 1 ................................................................................................................................................................................ 147
Parte 2 ................................................................................................................................................................................ 159
Parte 3 ................................................................................................................................................................................ 186
Interlúdio................................................................................................................................................ 203
Capítulo 04: Punhados de Esperança ................................................................................... 209
Parte 1 ................................................................................................................................................................................ 210
Parte 2 ................................................................................................................................................................................ 248
Parte 3 ................................................................................................................................................................................ 257
Parte 4 ................................................................................................................................................................................ 264
Epílogo .................................................................................................................................................... 280
Posfácio .................................................................................................................................................. 286
Ilustrações .............................................................................................................................................. 289
Glossário ................................................................................................................................................ 305
OverlorD
オーバーロード
-Volume 07-
Os Invasores da Grande Tumba

Autor:

Maruyama Kugane
Ilustrador:

so-bin
Prólogo
o Andar inferior da Grande Tumba de Nazarick, no coração do 10º Andar,

N
o ar do Salão do Trono —adornado com 40 bandeiras — estava cheio de
um ardor silencioso.

As filas silenciosas de vassalos curvavam-se profundamente em direção


ao trono para mostrar sua lealdade.

Suas fileiras estavam cheias de formas inumanas. Guardiões de Andar, todos os NPCs
que tinham sido feitos à mão pelos 41 Seres Supremos juntamente com os vassalos di-
retos dos Guardiões de Andar estavam presentes. Havia facilmente mais de 200, desde
a sua chegada a este novo mundo, esta foi a primeira vez que tantos foram reunidos
neste lugar.

No entanto, havia uma grande diferença entre esta ocasião e a anterior. Os vassalos
reunidos aqui não eram os rostos usuais, mas todos eram entidades poderosas e de alto
nível. Em média, cada um estava acima do nível 80.

Shalltear Bloodfallen — Guardiã do 1º ao 3º Andar — era tipicamente ajudada por suas


Vampire Brides. Hoje, no entanto, ela estava acompanhada pelos seres undeads do mais
alto nível que haviam sido concedidos a ela. Além disso, até Mare — um dos Guardiões
do 6º Andar — havia trazido os dois Dragões que estavam diretamente subordinados a
ele e Aura, eles nunca haviam saído de seu Andar antes. Esses Dragões só poderiam ser
obtidos em gashapons da loja de cash — com uma taxa de drop extremamente baixa —
e estavam perto do nível 90.

Entre esses vassalos cuidadosamente selecionados, um grupo estava separado do resto.

Eles eram um grupo de undeads que estavam abaixo das outras entidades presentes.
Se muito, eles estavam no nível 40, sua força numérica estava na casa dos 100 indivíduos.
Eles foram ordenados em fileiras separadas das 200 entidades mencionadas anterior-
mente.

Esses undeads deveriam ter ocupado lugares nos fundos desse domínio sagrado ao se-
rem aqui convocados, logo atrás das fileiras dos outros vassalos. Contudo, eles foram
ordenados em fileiras, e as entidades chefes ocupavam posições que estavam ainda mais
próximas do trono — a proximidade do trono sendo uma indicação de status — até que
chegasse aos Guardiões de Andar.

Havia uma explicação perfeitamente razoável para esse tratamento, que seria conside-
rado irracional para seres undeads.

Isso porque esses undeads eram as criações pessoais do governante da Grande Tumba
de Nazarick, Ainz Ooal Gown. Portanto, não podiam ser menosprezados.

Prólogo
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Todos os presentes eram subordinados de Ainz, ninguém aqui duvidava de sua absoluta
lealdade à guilda Ainz Ooal Gown. Também havia uma hierarquia clara entre eles. Natu-
ralmente, os mais bem hierarquicamente posicionados eram os NPCs que haviam sido
criados pessoalmente pelos Seres Supremos e, dentre eles, os Guardiões de Andar que
haviam recebido pesadas responsabilidades, assim sendo, essa parcela estava no ápice
do grupo.

Atrás dos NPCs estavam os monstros criados naturalmente (POP), ou monstros convo-
cados através do sistema de mercenário herdado de YGGDRASIL — vassalos. Seu status
era determinado por seu poder e deveres designados, mas foram todos organizados em
fileiras, sem levar em conta seus andares de origem.

Nesse caso, onde os undeads criados pelo Ainz-sama devem ser colocados?

Esta questão perturbou a Supervisora Guardiã, Albedo. Ela não sabia se devia ou não
lhes conceder o mesmo status que os NPCs.

Quando perguntado, Ainz riu e declarou que seria bom colocá-los na posição mais baixa.

A capacidade de Ainz para criar undeads tinha um número limitado de usos por dia,
mas não havia custo monetário necessário para usá-la. Em comparação, os vassalos de
alto nível que os Guardiões haviam trazido eram seres criados através do sistema de
mercenário de YGGDRASIL e exigiram gastos em moeda do jogo ou dinheiro real. Os pri-
meiros poderiam ser criados novamente de graça se fossem destruídos, mas o dinheiro
gasto com o último seria desperdiçado caso morressem. Portanto, para Ainz, os undeads
que ele criou — mesmo exigindo cadáveres, ainda eram gratuitos — eram mais baratos
que os seres que nasceram através do uso do dinheiro.

É claro que esse era o ponto de vista de Ainz, não o de seus leais subordinados. Albedo
foi levada às lágrimas depois de ouvir a decisão de seu mestre magnânimo, mas ela não
pôde responder: “Eu entendo”. Depois de agonizar sobre o problema por meio dia, final-
mente decidiu romper com a tradição, alinhando os undeads em fileiras, contornando o
problema.

Sentado no trono, a posição mais alta dentro deste salão, Ainz olhava para os vassalos
— que Albedo tinha despendido tanto esforço em organizar — e falou com eles como se
estivesse dando uma revelação. Ou mais precisamente, para aqueles que juraram fideli-
dade a ele, as palavras de Ainz eram nada menos que a vontade manifestada dos deuses.

♦♦♦

“Para começar, agradeço a todos por suas longas horas de coleta de informações. Sebas,
Solution, trabalharam muito bem.”

Ainz olhou para baixo sobre as duas pessoas se curvando diante dele e assentiu em sa-
tisfação. No entanto, o problema estava no que viria a seguir. Era muito difícil para um

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mero assalariado imitar o comportamento de um governante, e Ainz sentiu-se esmagado
pela pressão. Ele viu seus inúmeros subordinados diante dele. E seus olhos brilhavam
com respeito e adoração.

Seu estômago supostamente inexistente se contorcia de dor, já seu coração — que de-
veria estar igualmente ausente — pulsava dentro de seu peito.

No entanto, isso durou apenas um momento. O intenso desejo de fugir a toda velocidade
foi suprimido pela supressão emocional, uma característica especial de seu corpo.

Ainz finalmente sentiu que poderia desempenhar o papel de um governante apropriado,


e ordenou:

“Vocês dois, venham diante de mim.”

O par convidado subiu. Eles se moviam em perfeita harmonia nos degraus diante do
trono, como se tivessem ensaiado isso antes. Então pararam diante de Albedo, que es-
tava ao lado de Ainz.

Os dois então genuflectiram mais uma vez, com movimentos perfeitamente coordena-
dos.

“Levantem a cabeça. Por seus desempenhos exemplares, eu lhes concederei uma re-
compensa.”

Ainz olhou para Sebas.

“Sebas, quando você implorou por misericórdia em nome de Tsuare, eu estendi minha
proteção para pagar uma dívida. Não teve nada a ver com o seu desempenho no trabalho,
então eu lhe concederei o que desejar. Vamos, diga o que deseja.”

Elogiar os subordinados diante de um público estimularia outros a trabalhar mais. Pro-


vavelmente por isso os prêmios de departamento e similares eram dados com todos os
funcionários reunidos. Quando os subordinados trabalhavam com paixão na esperança
de serem elogiados da mesma forma, isso melhoraria o desempenho da organização. As-
sim, Ainz fez uso de sua experiência de trabalho e reuniu muitos de seus subordinados
no Salão do Trono exatamente para esse propósito.

No entanto, isso também representava um grande risco. Ainz precisava agir como um
bom mestre diante de seus muitos subordinados, mostrando seu carisma como um go-
vernante. Esta era uma tarefa hercúlea para um mero assalariado. Todavia, como o úl-
timo membro remanescente na Grande Tumba de Nazarick, ele precisava superar este
desafio.

Eu preciso recompensar a lealdade dos NPCs.

Prólogo
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Quando essa determinação inabalável cresceu no coração de Ainz, o bigode de Sebas
estremeceu.

“Dedicar este corpo para servir-lhe já é minha recomp—”

De fato, eles são realmente subordinados leais. Mas, ao mesmo tempo, isso coloca muita
pressão em mim...

“—Basta. É responsabilidade do mestre recompensar o bom desempenho de seus su-


bordinados. Eu gostaria que você soubesse que, em certos momentos, a falta de desejo
dos subordinados às vezes desagrada um mestre.”

“Tem toda razão! Por favor, perdoe seu humilde servo! Sendo assim...”

Sebas fez uma pausa para pensar por alguns segundos e depois disse:

“Eu gostaria de receber roupas e suprimentos para o uso diário de Tsuare, a humana
que o senhor tão graciosamente colocou sob minha responsabilidade, Ainz-sama.”

“...Eu posso dar-lhe roupas e acessórios do meu inventário pessoal.”

Em YGGDRASIL, uma vez perdida a chance de adquirir itens de disponibilidade limitada


ou roupas feitas pelo jogador, as chances de poder obtê-las novamente no futuro eram
muito baixas. Portanto, ele havia comprado toda e qualquer roupa que chamava sua
atenção. Ainz não foi o único que fez isso — todos os seus amigos tinham as mesmas
tendências. Não, com toda a probabilidade, qualquer jogador faria isso.

Peroroncino, o membro da guilda que criou Shalltear, tinha algo a dizer sobre esse tipo
de tendência: “É tipo um pornô que te chame a atenção, basta salvar na hora e se preocu-
par em usar mais tarde”. Depois disso, ele acrescentou: “Embora, eu acabei esquecendo
onde salvei...”

Na verdade, ele estava correto. Ainz tinha comprado uma vasta quantidade de roupas,
tanto masculinas quanto femininas, mas ele apenas as guardou e nunca usou. Desde en-
tão, só serviram para ocupar espaço em seu guarda-roupas, então seria mais sensato
fazer uso delas.

Ainz pensou nas variedades de roupas que havia comprado. As roupas de YGGDRASIL
eram amplamente bem trabalhadas em design, mas deve haver algo adequado para Tsu-
are.

“Não, não há necessidade de incomodá-lo para tanto, Ainz-sama. A Tsuare certamente


aprecia sua generosidade; mas isso seria pedir demais.”

“Mesmo...? Tudo bem, então. Porém, quanto às roupas...”

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Este foi um problema complicado para Ainz, que nunca havia comprado roupas femini-
nas antes. E se achassem que ele tinha mau gosto? Isso poderia por ruir a opinião cole-
tiva que as donzelas de Nazarick tinham dele.

“Posso contar com a Narberal para essa tarefa? Eu não poderia incomodar o soberano
de Nazarick com um assunto tão trivial, Ainz-sama.”

Sebas provavelmente não sentiu o desconforto de Ainz, mas sua sugestão tinha sido de
grande ajuda para Ainz.

“...Narberal, você se importaria?”

Ao ouvir a voz de Ainz, uma das NPCs imóveis abaixo dele inclinou a cabeça profunda-
mente.

“Muito bem, Sebas. Eu vou deixar a Narberal lidar com essa tarefa. Além dis—”

Ainz sorriu timidamente. Claro, seu rosto não se mexeu; foi apenas implícito.

“Você também pode fazer compras junto com a Tsuare. Considere isso como um encon-
tro.”

Ainz já tinha ouvido falar das coisas entre Sebas e Tsuare através da Empregada Chefe.
Mesmo que um relacionamento físico ainda não tivesse começado, Demiurge havia dito
que era apenas uma questão de tempo.

Falando nisso, por que o Demiurge disse que uma relação carnal entre Sebas e Tsuare
seria bom? Bem, talvez está desejando ao seu colega tudo de bom nessa aventura român-
tica. Mas até chegar a esse ponto, eles teriam que se dar muito bem. Quando estávamos na
Capital Real tinha um climão pesado, mas talvez tenha sido devido às circunstâncias. Ainda
assim, um desejando o bem do outro é ótimo; seria péssimo se brigassem todo santo dia...

A razão pela qual os membros da guilda Touch Me e Ulbert estavam em desacordo sur-
giu de uma razão externa a YGGDRASIL. Na verdade, foi por causa do ciúme que Ulbert
tinha pela vida real de Touch Me.

Eu lembro que o relacionamento deles ficou mais tenso desde aquela discussão... talvez
aquele foi o começo de tudo.

Ainz sentia como se estivesse olhando para uma vasta extensão de terreno baldio, agora
sentia que os entendia. Só então, a voz surpresa de Sebas limpou os pensamentos em sua
mente.

“O senhor realmente me permitirá fazê-lo? Então, eu gostaria de ir com a Tsuare.”

—Não é como se eu fosse bullyinar esse doce casal porque eu sou solteiro.

Prólogo
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[Máscara d a I n v e j a ]
Se tiverem um encontro em E-Rantel, vou colocar minha Mask of Envy e seguir vocês de
fininho. Enquanto pensava em coisas sem sentido como essas, Ainz levantou o queixo,
indicando que a outra pessoa ajoelhada deveria falar.

“Se divirtam. Vejamos, Solution; fale seus desejos.”

“...Eu gostaria de vários humanos vivos, se possível. Idealmente, eles seriam humanos
puros.”

Ainz considerou os humanos que tinha capturado. Muitos dos humanos sobreviventes
estavam associados à Oito Dedos, a organização que desrespeitou Ainz. Segundo os re-
latórios, todos os que eram úteis foram torturados e mentalmente quebrados. Além
disso, tem aquelas que ousaram desobedecer a algumas regras, e com isso foram aprisi-
onadas.

Esses não vão servir. Pestonya e Nigredo estavam dispostas a desafiar minhas ordens para
protegê-los.

“Providenciarei isso. Eu lhe darei vários humanos vivos. No entanto, não posso garantir
a pureza. Perdoe-me por não poder satisfazer completamente o seu pedido.”

“Por favor, não diga isso! Em primeiro lugar, sua serva não merece seres humanos pu-
ros! Eu já sou eternamente grata por receber humanos vivos!”

Ainz ponderou Solution, que tinha abaixado a cabeça profundamente, e assentiu de um


jeito que acreditava ser mais adequado a um governante.

“...Agradeço sua compreensão. Pode voltar ao seu lugar agora. A próxima será, Entoma.
Venha diante de mim.”

Quando os dois saíram, Entoma genuflectiu diante de Ainz.

“E então, Entoma.”

“SiIiM!”

Ainz não pôde deixar de sorrir amargamente para sua voz truncada.

“Parece que sua voz ainda não se recuperou.”

O Inseto Boca que Entoma usava não surgia naturalmente em YGGDRASIL, mas isso não
significava que não existissem. Havia vários monstros conjurados através da moeda de
YGGDRASIL em seu quarto, e ela poderia usá-los para restaurar sua voz a qualquer mo-
mento. Havia apenas uma razão para ela não ter feito isso — rancor.

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“SeRá qUe a mInHa vOz lHe dEsAgRaDa? cOrRiGiReI ImEdIaTaMeNtE!”

“De modo algum. Sua voz atual não me desagrada.”

“ObRiGaDa, AiNz-sAmA!!”

“Bem, você deu tudo de si, até mesmo sacrificou sua voz. Entretanto, seus esforços não
foram suficientes para qualificá-la para uma recompensa. Porém, embora eu possa não
ser capaz de concedê-la algo equivalente como eu fiz para os outros dois, eu gostaria de
ouvir seus desejos.”

Ainz achava que entregar recompensas à toa não era generosidade, mas uma falta de
consideração. Qualquer coisa que estivesse prontamente disponível a qualquer um per-
deria seu valor.

Desse ponto de vista, os esforços de Entoma não atingiram os padrões que Ainz havia
estabelecido para que ganhasse recompensa. Dito isso, ela ficou gravemente ferida no
cumprimento do dever e não reconhecer isso seria lamentável.

Eu acredito que eles chamam isso de Coração Púrpura? Não sei muito dessas coisas mili-
tares. Ele poderia me ensinar essas coisas se estivesse por aqui.

Ainz lembrou de um membro da guilda que era conhecido como um otaku militar.

“EnTãO... AInZ-SaMa. Se a cHaNcE De mAtAr aQuElA DeSgRaÇaDiNhA sUrGiR, pOr fA-


vOr mE EnViE. eU DeSeJo ArRaNcAr A VoZ DeLa.”

Ainz sabia que ela estava se referindo à menina suspeita que usava máscara e se cha-
mava Evileye, então deu seu consentimento.

“Muito bem. Eu lhe chamarei quando chegar a hora. Pode retornar, Entoma.”

Ele a observou retornar à sua posição anterior.

“Vamos passar ao próximo tópico.”

Naturalmente, ninguém contestou. Contudo, Ainz não conseguia se sentir feliz presen-
ciando isso.

Eles o consideravam como seu supremo governante; se Ainz dissesse que branco se
tornaria preto, ou qualquer coisa do tipo, todos concordariam. Este silêncio em si não
corroborava que suas palavras estavam corretas.

Parece que preciso instalar algumas auditorias e outras agências similares...

Prólogo
1 2
A primeira coisa que ele deveria criar era um departamento responsável por distribuir
recompensas. O problema era que os NPCs e vassalos acreditavam que servir Ainz era
um estado natural das coisas e não exigia qualquer tipo de recompensa. Além disso, os
critérios para serem recompensados eram muito vagos e essencialmente determinados
por Ainz, o que era outro problema.

Se vamos trabalhar como um grupo, precisarei estabelecer algumas diretrizes... é tudo


minha culpa por deixar a Albedo responsável por tudo e fugir de minhas responsabilidades,
agora tudo isso veio me azucrinar. É muita pressão, isso é bem além das capacidades de
uma pessoa normal. Quase nenhuma das minhas experiências de vida foram aplicáveis até
agora.

Até poucos meses atrás, Ainz (Suzuki Satoru) tinha sido um simples escravo do sistema,
toda a tensão da liderança estava lhe dando dores de cabeça. Ainda assim, ele lutava para
controlar isso. Era melhor deixar para se preocupar com isso quando estivesse sozinho
em seu quarto, com toda a liberdade de rolar em sua cama perfumada.

“Eu decidirei a direção que Nazarick tomará no futuro. Demiurge, venha.”

A mente mais afiada de Nazarick subiu as escadas, tomando seu lugar ao lado de Albedo.

“Supervisora Guardiã de Nazarick, Albedo. O intelecto mais profundo de Nazarick, De-


miurge. Metade do nosso plano original está completo. Eu ordeno que vocês expliquem
o nosso plano de ação para o futuro. Se alguém tiver alguma sugestão, levante a mão e
fale.”

A primeira prioridade de Ainz estava na sobrevivência contínua de Nazarick. Não, na


pior das hipóteses — mesmo se perdesse o lugar conhecido como Nazarick — ele estava
o suficientemente preparado para proteger os NPCs, os filhos de seus antigos amigos.
Afinal, ele poderia criar um abrigo e usar outros métodos para superar esse problema.

A segunda consistia de espalhar o nome de Ainz Ooal Gown para o mundo inteiro. Isso
porque Ainz considerou que se seus amigos estivessem neste mundo, isso criaria um
farol para se guiarem até ele. Mas esse objetivo poderia ser adiado e outras prioridades
surgissem.

A terceira era fortalecer Nazarick. Talvez devesse mudar a prioridade dessa também.

E seguramente, quanto mais ele entendia este mundo, mais sentia que Nazarick era uma
fortaleza inexpugnável, ou seja; a Guilda Ainz Ooal Gown parecia ser a organização mais
forte. Mesmo cada vez mais acreditando nisso, alguém já tinha sido capaz de controlar a
mente de Shalltear, embora com o uso de um item World-Class, então sustentar tal arro-
gância e orgulho poderia levá-lo ao precipício. Em particular, já que os Itens World-Class
existiam neste mundo, seria melhor supor que outras guildas existissem também, até
mesmo poderiam armar emboscadas. Assim, eles tiveram que tomar medidas para au-
mentar o poderio de Nazarick.

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Atualmente, eles recrutaram os Lizardmen e Ainz havia produzido hordas de undeads,
mas precisavam buscar vorazmente por mais poder.

Sua quarta prioridade consistia em reunir informações. Essa tinha sido originalmente
sua principal preocupação, mas desde que já havia sido parcialmente concluída, ele ha-
via diminuído sua prioridade.

Este foi o processo de pensamento de Ainz. No entanto, eram meramente os pensamen-


tos de um assalariado. Poderia haver um furo em algum lugar, ou ele pode não ter anali-
sado bem as informações antes de usá-las como base.

Por causa disso. Ainz tinha chamado um par de intelectos afiados. Assim, só precisaria
usufruir da sabedoria deles. Não havia necessidade de arriscar que todos soubessem que
ele não tinha grande inteligência, fazer um grande espetáculo para falar sobre esse pro-
blema seria o bastante.

No entanto, isso seria um erro.

Como mestre, ele precisava fazer esse misancene do papel no qual os NPCs o imagina-
vam. Embora achasse que fosse praticamente enganá-los. Ele teve que desempenhar o
papel de Ainz Ooal Gown — um ser de intelecto incomparável cujas idéias continham
ramificações insondáveis — e interpretá-lo desde que chegara a este mundo.

“Vocês dois explicarão claramente a todos os presentes. Estes são os vassalos de elite
selecionados pelos vários Guardiões. Deixe-os ouvir sobre nossa direção futura e não
deixem de fora nenhum detalhe.”

De fato, Ainz foi forçado a empregar esse estratagema. Seus dizeres de “não deixem de
fora nenhum detalhe” faziam parte de um plano sagaz. Seu plano era usar essa desculpi-
nha de explicar a todos para ele próprio entender o plano, ao mesmo tempo fingir que
sabia tudo de antemão.

“Então, Demiurge. Você explicará claramente o que sabemos para aqueles que não en-
tendem os detalhes. De todo modo, comece contando as ações que Nazarick fez no Reino.”

“Entendido.”

Demiurge então começou a se dirigir aos NPCs à sua frente;

Isso era o que Ainz estava esperando. Naquela época, Ainz concordou com seus planos.
Ele achava que o sábio Demiurge não podia errar, mas depois de pensar mais sobre o
assunto, sentiu que Demiurge acabara por vezes fazendo coisas desnecessárias.

“Do lado do Reino, conseguimos subjugar os membros da liderança de um sindicato


criminoso com a ajuda de Mare, Neuronist e Kyouhukou. Tudo o que precisamos fazer a

Prólogo
1 4
partir de agora é permear lentamente até que estejamos em posição de governar o sub-
mundo do Reino.”

“...Mm?”

Sem querer, Ainz fez um ruído audível de dúvida. Por que tiveram que assumir o sindi-
cato do crime do Reino? Parecia um pouco diferente da explicação simples que ouvira
antes. Pensando bem, seria razoável fazer isso para obter dinheiro a longo prazo ou obter
informações facilmente.

Enquanto Ainz ponderava, Demiurge se calou e olhou para trás, diretamente para ele.
Dando graças que seu corpo não suava, Ainz o questionou:

“O que há de errado, Demiurge? Algum problema?”

“Não, eu simplesmente pensei ter ouvido o senhor dizer alguma coisa, Ainz-sama.”

“Oh, não foi nada. Eu estava simplesmente indicando o meu acordo. Parece que me en-
tendeu mal. Enfim, continue. Diga a todos o significado de assumir a organização crimi-
nosa do Reino.”

“Sim. Então, meus caros. Assumir o sindicato é a base para alcançar o objetivo de Ainz-
sama; isto é, a dominação mundial. Eu confio que ninguém é estúpido o suficiente para
não saber disso.”

Ainz olhou para o rosto de todos. Todos pareciam entender, sem exceção.

Ainz foi o único que não entendeu.

“...Dominação mundial?”

Mas de onde veio essa maluquice? Quando as coisas acabaram assim...?

Todavia, ele não podia dar voz às suas dúvidas.

Este foi o maior exercício mental de Ainz até hoje. Ele passou vários segundos refletindo
e examinando a si mesmo.

Foi algo muito inesperado e até difícil de aceitar. Como as coisas acabaram assim? Tudo
o que ele desejava era manter um perfil discreto, evitar fazer inimigos, melhorar sua
reputação e depois encontrar uma maneira de se comunicar com seus velhos amigos,
que poderiam estar neste mundo. O mantenimento e realização desses singelos desejos
fofinhos eram tudo o que queria.

Agora, porém—

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Conquistar o mundo!? Mas que porra aconteceu para virem com isso!?

Ainz queria muito rejeitar a proposta, mas ele não teve coragem de fazê-lo.

Não eram apenas os NPCs, mas todos os vassalos tinham semblantes de compreensão
em seus rostos, como se as palavras “Mas é claro” estivessem escritas ali. Era evidente
em relance que isso era de conhecimento comum, algo que estava gravado a ferro quente
em seus corações. Ainz sentia algo semelhante a uma brisa de ar quente emanando na
área ao redor do trono.

Ainz Ooal Gown era o mais elevado governante de Nazarick, um Ser Supremo. Agora
que se tornara um objeto de adoração, o que aconteceria se ele pessoalmente destruísse
essa imagem?

Até onde sabia, ele poderia acabar como uma idol envolvida em algum escândalo graças
aos paparazzi. Embora fosse triste uma idol perder fãs, assim como seu sustento, Ainz
teve a sensação de que um destino mais trágico do que esse o aguardaria.

Parece que investiram muito tempo e esforços para eu desistir agora...

Ainda assim, ao pensar calmamente a respeito, a dominação mundial não soava nada
mal.

Claro que não seria tão simples como nos jogos. Para um plebeu como Ainz, esse plano
de grande escala era muito vago para entender. Entretanto, ele podia entender que isso
era um meio perfeito para construir sua reputação — embora também pudesse criar
uma infâmia.

O problema agora estava em tentar saber o que seus amigos pensariam disso. Nesse
ponto, tudo o que ele podia fazer era pedir desculpas por sua incapacidade de adminis-
trar Nazarick.

Se isso der certo, podemos descobrir quem foi e como lidar com o inimigo que fez lavagem
cerebral na Shalltear. Acho que posso usar isso como desculpa, né? Eles me perdoarão por
isso... eu acho.

Tendo inventado uma desculpa, Ainz acenou com a cabeça para Demiurge, que parecia
estar esperando por elogios.

“Então... você ainda se lembra.”

“Mas é claro, Ainz-sama. Eu, Demiurge, gravei todas as palavras que o senhor falou em
minha memória.”

“Mesmo... eu disse aquela vez, não foi?”

Prólogo
1 6
“De fato, meu senhor.”

“...Então, a partir daquele momento quê...?”

“De fato.”

“Desde aquele dia... sei. Isso me agrada, Demiurge...”

“Obrigado, Ainz-sama.”

“No entanto, a dominação mundial é bastante difícil.”

“Certamente, Ainz-sama.”

“Então... o que acha que devemos fazer?”

Ainz queria elogiar a si mesmo por não tremular a voz.

“Eu proponho que Nazarick deve tomar o seu lugar de direito no palco global, como
parte de nossa linha guia para o futuro. Como as entidades que controlaram a Shalltear
estão agindo às escondidas, isso pode causar problemas para nós, mesmo que permane-
çamos escondidos.”

“...É como diz.”

Mas será que é mesmo? Ainz achava que seria melhor permanecer escondido. Ele não
tinha idéia de como Demiurge havia chegado a essa conclusão.

“Eu concordo com ele, Ainz-sama. Se nos tornarmos conhecidos para o mundo, podere-
mos lidar com os problemas de uma maneira franca. Não precisaremos enviar pequenos
grupos do nosso pessoal para conduzir investigações secretas.”

“Ah, faz todo sentido.”

A iluminação surgiu de repente em Ainz quando ouviu a explicação de Albedo.

A idéia de não ter que procurar uma agulha no palheiro e ser capaz de se mover com a
mesma ousadia que desejava, era, de fato, muito atraente.

“É por isso que devemos governar o Reino através das sombras e alcançar legitimidade
para Nazarick de várias formas e meios, não é mesmo? Porém, Demiurge, eu não posso
concordar com a idéia de permitir que a terra que o Ainz-sama governe torne-se subor-
dinada a qualquer outro país.”

Demiurge concordou com a pergunta de Albedo.

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“Claro, Albedo. Eu também não seria capaz de tolerar algo do tipo. Além disso, depois
de examinar e contemplar nossas informações sobre o Reino, cheguei à conclusão de que
o Reino — como está agora — não é atraente para nós, exceto por uma pessoa. O mesmo
se aplica a todas as outras nações. Eu sinto que ter a nossa organização servindo qual-
quer outro país seria um caminho insensato.”

“Por que diz isso?”

“Se servirmos uma nação, nosso leque de ações será limitado. Se as pessoas que contro-
laram a Shalltear pertencerem a algum país, e estivermos comprometidos com um de-
terminado país, talvez não possamos responder prontamente se surgirem problemas.
Portanto... Ainz-sama.”

Demiurge olhou para Ainz e solenemente entregou sua proposta.

“Proponho que fundemos uma nação conhecida como a Grande Tumba de Nazarick.”

Prólogo
1 8
Capítulo 01: Convite Para a Morte

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


1 9
Parte 1

rwintar, a Capital Imperial, situa-se na região oeste do Império Baharuth.

A
No seu centro estava o Palácio Imperial, a residência do homem conhecido
como o “Imperador Sangrento” — Jircniv Rune Farlord El-Nix. Era cercada
por edifícios acadêmicos, a Academia Imperial de Magia e todos os tipos de
edifícios do governo que irradiavam na área circundante, e poderia ser con-
siderado o coração do Império.

Embora sua população fosse menor que a da Capital Real do Reino Re-Estize, era maior
em escopo do que a Capital Real. Além disso, vários anos de reformas resultaram que o
Império estava atualmente no meio de sua maior expansão da história, com inovação
ininterrupta e um fluxo constante de recursos e talentos humanos chegando. O antigo
estava sendo demolido para dar lugar a um futuro promissor. Todos seus cidadãos ti-
nham semblantes brilhantes.

Ainz e Narberal caminhavam pelas ruas movimentadas da cidade.

Em circunstâncias normais, Ainz ficaria boquiaberto diante de tudo enquanto cami-


nhava, como um caipira recém-saído da fazenda. Ao mesmo tempo, ele teria ficado pro-
fundamente comovido com o quão diferente este lugar era do Reino.

No entanto, essas emoções estavam quase ausentes em Ainz. O estado de seu coração
se refletia em suas ações e em seus passos conturbados. O que o governava agora era o
sentimento de infelicidade.

Vir para o Império tinha sido parte do plano de Demiurge, e quanto mais ele pensava a
respeito, mais suas sobrancelhas — ilusórias — se tricotavam.

O conceito de “paciência” era completamente desnecessário para Ainz Ooal Gown, o su-
premo governante de Nazarick. Ele não precisava reprimir seus sentimentos de frustra-
ção. A palavra de Ainz era lei e, como líder, tudo o que tinha que fazer era falar e assim o
preto se tornaria branco. Por isso, não havia nada que não fosse como ele desejava.

Sendo esse o caso, por que as coisas acabaram assim? Ele queria ter rejeitado a proposta
de Demiurge, mas não o fez por várias razões.

O objetivo do plano — demonstrar o poder de Nazarick — era simples o suficiente para


entender, seus efeitos se mostrariam de imediato. Dito isso, Ainz não gostava desse
curso de ação, pois achava que isso mancharia as criações feitas à mão por seus amigos.

Era bastante desagradável rejeitar um excelente plano baseado apenas em sentimentos


pessoais, mas também não queria que os outros o vissem como um líder supremo sem
altruísmo algum. Além disso, ele não tinha outras propostas como alternativa.

Capítulo 1 Convite Para a Morte


2 0
Ir contra as propostas de alguém sem preparar nada à altura era essencialmente com-
prar a briga desnecessárias, pura implicância. Quem o disse não foi seu status de gover-
nante, mas suas experiências como assalariado.

Ainz começou a murmurar as palavras que já usara várias vezes para se consolar.

Eu preciso ficar calmo. Preciso esfriar a cabeça. Preciso ser racional. Entre a razão e o
coração, um superior deve escolher a razão. O pessoal que age com o coração pode conse-
guir colher grandes recompensas caso seja focado, mas na maioria das vezes nunca acaba
bem. Além disso, a—

“—A sorte foi lançada?”

Ainz não tinha pulmões, mas ainda assim respirou fundo e expirou.

Os cidadãos circundantes olharam perplexos para este guerreiro que de repente estava
puxando e expelindo o ar enquanto caminhava, mas pareceram não se importar.

Sua forma heroica e imponente muitas vezes atraía os olhares dos transeuntes. Em par-
ticular, era ainda mais comum os outros olharem para ele depois o saudarem como herói.
Portanto, ele não dava atenção aos olhares dos outros, claro, se estivesse fazendo um
show de heroísmo, montando Hamsuke ou alguma outra circunstância especial surgisse,
então seria algo diferente, mas não era o caso agora.

Depois de repetir o ciclo respiratório algumas vezes, apenas um pouco de aborreci-


mento permaneceu dentro dele. Foi quando notou Narberal, que estava vindo logo atrás.

“Sinto muito, parece que andei depressa demais.”

Por ser homem, o modo como ele dava grandes passos de armadura era completamente
diferente do modo feminino que Narberal se movia sob seu manto. Depois de considerar
seus atributos físicos, ela provavelmente não estava tendo muita dificuldade, mas como
homem, ele teve que se desculpar por andar à frente enquanto só pensava em si mesmo.

“Não tem problema, tudo bem.”

“Certo...”

Será que ela falou isso por ser minha serva, ou é porque ela realmente não se importa?
Ainz não sabia, então tudo que podia fazer era encurtar seu passo enquanto procurava
algum assunto.

Ele sentia-se incomodado pelo clima estranho de agora e atormentou seu cérebro a
pensar em algo. Contudo, nada de interessante ou adequado vinha à mente.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


2 1
Empresários em geral tendem a usar assuntos triviais em situações assim e com isso
iniciar uma conversa. Discutir esportes também não era nada mal, o problema era que
exigia conhecimento prévio sobre qual equipe a contraparte torcia.

Enquanto ponderava sobre como iniciar a conversa, de repente Ainz sentiu um tipo de
asco em seu coração.

Por que estou agindo como se estivesse pisando em ovos em torno da Narberal, minha
própria subordinada? Esta é uma rara oportunidade de testar o método de como mestre e
servo devem interagir. O que um governante — um “ser supremo” na visão dela — falar
com uma subordinada?

Ainz recordou suas conversas do dia a dia com seus chefes. Essas seriam apropriadas?
Ainz estava confuso. Ele era a autoridade suprema dentro da Grande Tumba de Nazarick,
não o diretor de uma empresa. Estritamente falando, ele estava mais perto do presidente
de uma empresa.

Não, um presidente ainda é pouco... o que o Rei do Reino diria ao Gazef Stronoff? Se eu
pudesse usar isso como referência...

Mesmo com isso em mente, não fazia sentido pensar nisso agora. Porém, caminhar em
silêncio assim fez o clima ficar muito sombrio. Ainz decidiu jogar a cautela ao vento e
dizer a primeira coisa que lhe veio à mente.

“...Nabe... o que você acha da minha voz?”

Ainz tocou suas cordas vocais com o dedo indicador — ou, para ser preciso, o lugar
onde suas cordas vocais deveriam estar. Ele usou sua mão coberta pela manopla para
pressionar a garganta. Ele não deveria ter sentido nada através do metal, mas havia uma
sensação de apertar algo ao fazê-lo. Havia também uma umidade estranhamente fora do
lugar.

“Eu rezo para que o senhor perdoe minha franqueza, mas eu não gosto muito dessa voz.
Não é porque soa estranho, mas porque acho sua voz normal maravilhosa, Momon-sa—
n. Eu entendo que tem razões que o impedem de fazê-lo, mas não posso deixar de desejar
que volte a usar sua voz normal, Momon-san.”

“Entendo. Eu acho que essa voz tem uma qualidade magnética, é um timbre agradável...
Neuronist selecionou entre cinquenta pessoas, então eu sinto que tem um certo charme
que não pode ser descrito em palavras.”

Ainz de repente lembrou como sua própria voz soava em uma gravação, e acabou gru-
nhindo com vergonha. Mas sua supressão emocionou o estabilizou novamente.

“Foi por isso? Mas eu prefiro sua voz normal, Momon-san.”

Capítulo 1 Convite Para a Morte


2 2
“Obrigado, Nabe. Bem, sendo honesto, nem eu mesmo esperava fazer uso disso...”

Não havia como dizer se Ainz sendo sincero ou apenas dizendo umas cortesias baratas.
Enquanto refletia, ele cutucou a garganta mais uma vez. Ele podia sentir uma forma de
vida agarrada lá — um Inseto Boca. Talvez fosse bem incômodo se fosse humano.

Será que só eu não sabia disso ou foi adicionado em alguma atualização de última hora?
Não posso dizer que me incomoda, mas o contrário também é incerto. Não é apenas o meu
conhecimento deste mundo que preciso verificar, mas também o meu próprio conheci-
mento sobre YGGDRASIL. Que saco.

A empresa do jogo queria que os jogadores de YGGDRASIL pudessem aproveitar a sen-


sação de explorar o desconhecido. Eles queriam que seus jogadores jogassem e experi-
mentassem todo tipo de coisa, então os desenvolvedores produziram uma quantidade
impressionante de conteúdo de jogos e incluíram sistemas que pudessem ajustar esses
dados.

Assim, o desconhecido desdobrava-se diante dos jogadores.

Eles sequer forneceram informações sobre o mapa do mundo do jogo, também foram
imprudentes o suficiente para não fornecerem notícias sobre as dungeons do jogo e coi-
sas como mineração, preparação de alimentos ou a criação de feras mágicas.

Em um mundo como aquele, era preciso investigar e descobrir coisas por conta própria.
Na verdade, mesmo o conhecimento se algum item poderia ou não ser usado só seria
adquirido através de tentativas de erros e acertos por parte do jogador.

Havia sites de tutoriais e sites de notícias, mas hospedavam apenas compilados de in-
formações de conhecimento público ou rumores não confiáveis. YGGDRASIL foi um jogo
de explorar o desconhecido. Assim, qualquer informação descoberta seria muito valiosa.
Não havia mérito em publicar informação valiosa para qualquer estranho ver gratuita-
mente.

Por fim, só se podia confiar em informações que sua própria guilda descobrisse ou em
informações trocadas por uma guilda confiável. Todo o resto não passava de coisas irre-
levantes e inúteis.

Houve até um período em que as pessoas haviam deixado postagens suspeitas em fó-
runs juntamente com a frase “E aí, galera? Saí da guilda, por isso tô revelando essas coisas”.

Bem... algumas das informações eram verdadeiras, mas ainda assim...

♦♦♦

Uma vez existiu uma guilda chamada Three Burning Eyes.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


2 3
Era uma guilda formada por um dono de um site que oferecia informações em troca de
adesão paga mensal, e eles frequentemente praticavam o mau hábito de enviar espiões
para guildas de alto nível para roubar suas informações. No entanto, os desenvolvedores
não consideraram isso um “mau hábito”. Eles concordaram tacitamente que esse era um
meio válido de obter informações. Contudo, isso não caiu nada bem para os grupos que
tiveram suas informações roubadas.

As guildas de alto nível ficaram furiosas, então formaram uma aliança e atacaram à
Three Burning Eyes. A aliança posicionou jogadores nos locais de respawn dentro dos
templos da cidade que continham a base da guilda, e então começaram PKing membros
da guilda. Eles prosseguiram repetidas vezes com o PK assim que renasciam. Eventual-
mente, Three Burning Eyes desmoronou e os membros da guilda se espalharam como
cinzas ao vento.

E no fim, publicaram todas as informações deles gratuitamente na web. Aquilo tinha


sido uma lembrança nostálgica.

Bem, não havia espiões na Ainz Ooal Gown... mas se esse incidente não tivesse acontecido,
talvez tivéssemos permitido mais membros.

Esse incidente fez com que a Ainz Ooal Gown parasse de recrutar. Com apenas 41 mem-
bros, eles eram os menos populosos entre as guildas bem classificadas.

Talvez tenha havido sites altamente confiáveis nos últimos dias de YGGDRASIL. Porém,
Ainz só tinha visitado esses sites durante a era de ouro da Ainz Ooal Gown, quando es-
tavam em toda a sua glória. Naquela época, havia pouca informação útil nesses sites.

Meu conhecimento pode estar defasado desde aquela época. Bem... eu prestei atenção às
atualizações do desenvolvedor... certamente deve haver outros jogadores de YGGDRASIL
neste mundo além de mim. Eu preciso considerar que eles devem saber muito mais coisas
do que eu.

Depois de trazer a Oito Dedos sob sua bandeira, Ainz aprendeu muito sobre a região ao
redor de Nazarick. Isso incluía uma grande quantidade de informações sobre o Reino e
o Império, que estavam sendo bem aproveitadas. No entanto, havia pouca informação
sobre o Reino Sacro, a Teocracia e o Estado do Conselho, então ele teria que coletar cui-
dadosamente informações sobre esses lugares no futuro.

“Que pena. Pensar demais nisso só traz ansiedade. Queria falar de algo mais descontra-
ído.”

Ainz fez uma pausa aqui, então casualmente olhou ao redor:

“Falando nisso, o Império é realmente muito vívido.”

“O senhor acha? Para mim, é o mesmo que E-Rantel.”

Capítulo 1 Convite Para a Morte


2 4
Depois de ouvir o que Narberal tinha a dizer, Ainz olhou para os arredores novamente.

“As ruas estão cheias de vida, os transeuntes tem um certo brilho nos olhos. Há uma
ambientação aprazível no ar, algo que só visto em pessoas que acreditam que suas vidas
vão melhorar.”

“Como esperado de Momon-san!”

Disse Narberal há uma pequena distância atrás dele. No entanto, Ainz se sentiu enver-
gonhado por suas próprias palavras e não respondeu nada. Isso foi simplesmente uma
impressão que ele teve, mas não estava confiante na exatidão de sua avaliação.

Não me diga que eu fui infectado pelo Pandora’s Actor... “Ambientação aprazível”, é sério
que eu disse isso sem nem ficar envergonhado? Estou tentando ser o que, um poeta!?

Na Capital Real, ele precisava agir como um herói até certo ponto, então Ainz havia atu-
ado como um. E parece que ainda não tinha saído totalmente do papel.

O rosto sob o elmo fechado ficou vermelho de um leve constrangimento — embora o


rosto de um esqueleto não pudesse corar. Pouco depois Ainz viu a pousada que Fluder
havia dito, ainda estava a uma certa distância.

Essa era a pousada de mais alto nível da Capital Imperial e, mesmo ao longe, podia-se
dizer que era mais luxuosa do que a melhor pousada de E-Rantel. Se alguém conside-
rasse que as pousadas da Capital Real tinham uma longa e distinta história, então essa
pousada da Capital Imperial seria equivalente a um hotel recém-inaugurado e de alto
nível. Mas no fim a questão de qual pousada era a melhor seria decidida apenas por pre-
ferência pessoal.

“Bem, não podemos ter certeza sem dar uma olhada, mas acho que estamos no lugar
certo.”

Ainz sentiu brevemente a placa de adamantite pendurada em seu peito, e então se diri-
giu para a entrada da pousada.

Assim como em E-Rantel, a entrada era ladeada por guardas musculosos em armaduras
de couro. Os homens lançaram olhares desconfiados para Momon e Nabe enquanto atra-
vessavam o arco. Então, quando viram um certo item, seus olhos de repente se arregala-
ram.

“É... é ele mesmo? Só pode ser... dado o seu equipamento, então...”

Ele podia ouvi-los sussurrando um para o outro.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


2 5
Enquanto Ainz caminhava diante dos guardas tensos e nervosos, eles educadamente
perguntaram a ele em tons firmes:

“Peço desculpas de antemão caso isso o ofenda, Honorável Aventureiro Adamantite,


mas posso, por favor, ver a prova de sua identidade?”

Ainz tirou sua plaqueta e perguntou:

“Esta pousada não acompanha os hóspedes?”

“Senhor. Infelizmente, a fim de manter o tom apropriado, o nosso estabelecimento não


acomoda os hóspedes que não foram previamente apresentados. Mas, claro, o senhor
seria uma exceção, Honorável Aventureiro Adamantite.”

Um dos guardas secou as mãos nas roupas, curvou-se profundamente e depois cautelo-
samente aceitou a plaqueta de identidade como se fosse algo frágil.

Ele então virou e leu as letras lá escritas.

“Momon... o Negro-sama?”

“De fato.”

“Eu verifiquei e não há dúvidas! Obrigado por nos oferecer a prova da sua classificação
como Adamantite!”

Assim como antes, o guarda devolveu cuidadosamente a placa a Ainz. As placas que
indicavam a classificação de um aventureiro eram feitas do material correspondente ao
ranque, e esse pequeno pedaço de adamantite custava uma boa soma. Claro, Adamantite
era um metal muito duro e não seria amassado ou arranhado apenas por deixá-lo cair
no chão, mas se o perdessem, teriam que pagar uma boa quantia. Por exemplo, um Qu-
ranberat — um pássaro parecido com um corvo — poderia roubá-lo enquanto estava
sendo devolvido.

Não era uma fábula inventada para lembrá-los de ter cuidado ao manusear itens valio-
sos. Mas sim um exemplo real do que aconteceu no passado.

Depois que Ainz pegou de volta, os dois guardas pareciam visivelmente aliviados, como
se um peso tivesse sido retirado de seus ombros.

“Então, posso entrar?”

“Claro, Momon-sama. Por favor, permita-me acompanhá-lo ao recepcionista.”

“Claro. Por favor, me guie.”

Capítulo 1 Convite Para a Morte


2 6
O Reino não tem a prática de dar gorjeta. O mesmo vale no Império?

Ainz pensou em coisas assim enquanto deixava o guarda guiá-los.

Depois de entrar na pousada, passaram por um salão cujo piso parecia ser feito de gran-
des placas de pedra antes de seguir direto para o recepcionista.

“Eu tenho comigo o aventureiro classificado com adamantite, Momon-sama e sua com-
panheira.”

O homem de aparência culta sentado no balcão olhou para o guarda. O guarda então se
inclinou reverentemente para Momon (Ainz) antes de retornar ao seu posto.

“Eu lhe dou boas-vindas, Momon-sama. Por favor, aceite meus mais sinceros agradeci-
mentos por escolher residir em nosso humilde estabelecimento durante toda a sua es-
tada na Capital Imperial.”

O homem no balcão inclinou-se profundamente para Ainz.

“Claro. Eu vou ficar aqui por uma noite.”

“Muito bem. Então, posso incomodá-lo para assinar nosso registro de convidado?”

Ainz sorriu sob o elmo fechado, depois pegou a caneta e escreveu.

Sua assinatura dizia “Momon” na língua do Reino. Ele havia praticado escrever dezenas
de vezes.

“Muito obrigado. Posso saber que tipo de quarto gostaria?”

Pessoalmente, Ainz não se importava com um quarto barato. No entanto, como de cos-
tume, ele não podia fazer isso.

Eu não posso comer, então um quarto sem refeições seria bom.

Ainz lembrou dos vários pratos deste mundo.

Havia um suco de fruta de cor verde com uma fragrância doce. Havia algo rosa que pa-
recia ovos mexidos. Havia também pedaços de carne fatiada cobertos com algum tipo de
líquido azul. Todos despertaram sua curiosidade, mas ele não podia comê-los.

...Libido, apetite e a necessidade de dormir. Este corpo tem muitos benefícios, mas eu perdi
muitas coisas. Que pena. Ah... se eu ainda tivesse meu corpo de carne, haveria uma grande
possibilidade de me perder em meus desejos...

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


2 7
Ainz se imaginou na cama com Albedo, e seu rosto torceu ligeiramente. Isso porque a
imagem mental de um superior cometendo assédio sexual a uma funcionária — ou coisa
ainda pior — apareceu em sua mente.

É certo que a Albedo parece me amar... mas é um sentimento complicado. Se eu não tivesse
feito aquilo no passado... oops!

“Perdoe-me, apenas nos dê um quarto apropriado... a propósito, já que não temos a mo-
eda comum, podemos pagar com moedas do Reino?”

“Claro. A moeda do Reino e a moeda do Império sempre foram permutadas em uma


base um-para-um.”

“Ótimo. Contos com seus serviços.”

“Como desejar. Vamos preparar um quarto adequado para o senhor, Momon-sama.


Posso incomodá-lo para aguardar em nosso bar?”

Ainz olhou para o bar em questão. Era muito espaçoso e emanava uma sensação muito
elegante, parecia poder acomodar cerca de 50 pessoas. As cadeiras pareciam muito con-
fortáveis. Um bardo estava tocando músicas calmas ao fundo.

“Comidas e bebidas já estão inclusas, sintam-se à vontade para relaxarem o quanto qui-
serem.”

Aqueles que pagavam mais recebiam mais regalias que outros. Foi em qualquer outro
lugar que Ainz visitara. Infelizmente, este tipo de serviço não era algo realmente rele-
vante para Ainz.

“Hm. Então, vamos, Nabe.”

Ainz levou Nabe ao bar e sentou-se em uma cadeira próxima. Havia vários outros con-
vidados no salão, os quais pareciam ser aventureiros.

Aventureiros de alto nível receberiam pagamentos maciços apenas por um único tra-
balho, e seus padrões de vida subiriam para corresponder. Viver em uma pousada como
esta dificilmente era um problema para eles.

Isso provavelmente era verdade para qualquer cidade, seja a Capital Real ou E-Rantel.

Ainz verificou se a placa de adamantite em volta do pescoço era visível para os outros.
Permitir que os presentes conversassem entre si e construíssem sua reputação sem ele
fazer nada era uma boa idéia.

Ainz sentiu os outros olharem para ele enquanto examinava o menu de bebidas à sua
frente.

Capítulo 1 Convite Para a Morte


2 8
Não consigo ler nada...

Ele folheou as páginas aleatoriamente. Ele passou pelo cardápio apesar de não ser ca-
paz de lê-lo, a fim de afastar as suspeitas.

Ainz tinha trazido os óculos de leitura que emprestara a Sebas como precaução, mas
não podia usá-los aqui.

“Sebas... Tsuare, huh.”

Ele se lembrou do rosto de seu subordinado e falou em voz baixa o nome da mulher
cujo aparecera em sua mente.

“O que tem ela?”

“Ah, não, não é nada. Eu só estava pensando em como ela se adaptou bem a tudo que
aconteceu.”

Mesmo tendo confiado Tsuare aos cuidados de Sebas, Ainz havia prometido a ela sua
proteção e, como proprietário de uma empresa, era obrigado a prestar atenção ao bem-
estar de seus empregados.

“Se me permite, creio que ficarão bem. Atualmente... a Empregada Chefe está em confi-
namento, então o Sebas-sama está a ensinando a ser uma empregada adequada. Depois
que aprender a etiqueta apropriada, ela aprenderá a cozinhar e a executar outras tarefas.
Uma vez que tenhamos determinado quais deveres se adequam às suas habilidades, ela
será oficialmente designada a um cargo.”

“Sim. Bem, não deve haver problemas deixar que o Sebas lide com tudo. Além disso,
acho que já é hora de soltarmos aquelas duas do confinamento... A raiva da Albedo por
elas deve ter passado.”

Narberal não respondeu. Tudo o que ela fez foi acenar com a cabeça.

Sentindo uma pausa na conversa, o garçom se aproximou deles.

“Já decidiram o que desejam?”

“Eu gostaria de um macchiato gelado. Nabe?”

“O mesmo para mim.”

“Pode escolher algo diferente, não me importo.”

“Sim, mas eu realmente quero o mesmo. Ah, mais leite no meu, por favor.”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


2 9
“Muito bem.”

O garçom inclinou-se profundamente e recuou em silêncio.

Macchiato era uma bebida que Ainz tinha visto nas hospedarias de E-Rantel, e parecia
com café latte. O cheiro lembrava também um latte, mas Ainz também havia visto cafés
latte e comum em categorias separadas. Aliás, Ainz sequer sabia o sabor que tinha. Es-
cusado dizer que ele é incapaz de beber sem fazer uma lambança. Ele havia tentado, é
claro, mas tudo havia vazado pelo fundo do queixo, no fim nem conseguiu sentir o gosto
de nada.

No entanto, ele acabou pedindo de qualquer maneira, porque parecia algo que apenas
estabelecimentos de alta classe venderiam. Ele achava que isso combinava com lugares
como esses.

Quando enxugou seu suor inexistente, Ainz fez uma pergunta à Narberal de maneira
trivial.

“...Nabe, como é o gosto do macchiato?”

Ele a perguntou porque sabia que ela havia bebido antes.

Narberal fez uma pausa para pensar. Era provavelmente o tipo de olhar que alguém
teria se estivesse pensando em como explicar o gosto do café para uma pessoal que
nunca experimentara antes.

“Como devo colocar isso. É muito parecido com um café shakerato. Porém, o gosto do
leite condensado fica muito presente na paladar, não gosto muito.”

“...Entendo. Isso parece delicioso.”

Shakerato? Eu nunca ouvi falar de uma bebida como essa antes. Deve ser uma bebida ex-
clusiva deste mundo.

“Eu sinto que é meramente bebível.”

Ainz casualmente respondeu, e então as bebidas chegaram.

“Não se importe comigo, apenas faça a sua parte. Seria estranho se nós dois não tocás-
semos nossas bebidas.”

Ainz estava tão se acostumado a não remover seu elmo no Reino, que tinha esquecido
completamente de tirá-lo quando as bebidas chegaram. A maneira como ele disse isso
de uma maneira tão natural pareceu muito forçado.

Capítulo 1 Convite Para a Morte


3 0
“Obrigada.”

“Beba, e escute meus planos enquanto o faz. Pretendo passar dois dias passeando pelos
pontos turísticos da Capital Imperial. Ouvi dizer que os mercados centrais têm uma
grande variedade de consumíveis, e apenas dar uma boa olhada já será bem interessante.
Além disso, há os mercados do norte, que parecem conter a maioria das lojas que arma-
zenam itens mágicos. Aventureiros vão lá regularmente.”

Essa informação foi fornecida pela Oito Dedos, que agora não passavam de marionetes
para Ainz. Eles também haviam fornecido muitas notícias sobre o submundo, mas Ainz
não tinha a intenção de se envolver em tais assuntos, então só havia desnatado essa in-
formação.

“Vamos à Guilda dos Aventureiros no terceiro dia. Eu gostaria de encontrar e conhecer


os aventureiros do império, mas se isso não for possível, vamos apenas pegar uma tarefa
simples e rápida para espalhar a nossa fama... se tudo correr como planejado, seremos
capazes de voltar dentro de sete dias. Alguma sugestão, Nabe?”

Narberal — que não havia tocado em sua bebida, mas estava apenas ouvindo em silên-
cio — simplesmente negou com a cabeça.

Parte 2

A Capital Imperial era a cristalização da autoridade do Império, e continha muitos pon-


tos turísticos que fariam as pessoas ficarem sem fôlego. Um deles fez quase todos os
visitantes da Capital Imperial exclamarem maravilhados. E tal ponto turístico era — o
fato de que quase todas as ruas eram pavimentadas com bloquetes ou pedras.

Definitivamente era algo que não se via nos países vizinhos — exceto a Teocracia Slane,
que era ainda mais avançada do que este lugar. É claro que nem todas as cidades do
Império eram desse modo. Ainda assim, era uma prova sutil, mas potente, da riqueza e
poder do Império, que impressionou os embaixadores dos países vizinhos.

Principalmente a Avenida Central. Era a via principal da Capital Imperial e, assim como
outras ruas públicas, o centro era para cavalos e carruagens, enquanto os lados eram
para o tráfego humano.

A diferença era que havia anteparos de segurança instaladas ao longo das linhas divi-
sórias entre as partes para as pessoas, cavalos e carruagens, tudo a fim de garantir a
segurança dos pedestres. Luzes mágicas ativadas automaticamente ao anoitecer ladea-
vam os dois lados da rua nas duas extremidades. Falando nisso, muitos cavaleiros esta-
vam em patrulha, atentos à segurança de seus arredores.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


3 1
Um homem sorridente caminhava casualmente por essa estrada — a mais segura do
Império — cantarolando.

O homem tinha aproximadamente 175 centímetros de altura e parecia ter cerca de 20


anos de idade.

Seu cabelo era loiro e seus olhos azuis, já sua pele tinha um bronzeado saudável. Sua
aparência dificilmente era incomum no Império.

Não se podia dizer que ele fosse particularmente bonito, suas feições eram do tipo que
facilmente se misturavam na multidão. No entanto, ele irradiava um carisma sutil. A
fonte desse carisma parecia vir do sorriso vazio, mas com vivacidade em seu rosto, assim
como seus gestos confiantes e livres.

A cada passo que dava, o som de elos de corrente tilintava por baixo de sua impecável
roupa de alta qualidade. Um indivíduo atento seria capaz de dizer que era o som de uma
cota de malha.

Ele tinha lâminas embainhadas nos quadris. Cada uma em torno do comprimento de
uma espada curta. Elas tinham protetor de articulações redondos e totalmente fechados
e, embora suas bainhas não fossem de bom gosto, não eram de materiais baratos. Atrás
de sua cintura havia uma maça para ataques de impacto e uma adaga pontiaguda para
ataques perfurantes.

Carregar uma ou até duas armas era uma coisa perfeitamente razoável neste mundo.
Mas pouquíssimas pessoas carregariam todas as armas necessárias para executar méto-
dos de ataque por impacto, perfuração e corte.

Qualquer um com vivência o reconheceria como aventureiro. Mas essas pessoas com
vivência também notariam que não tinha a típica placa que os aventureiros usavam, e
assim concluiriam que ele era um “Trabalhador”.

♦♦♦

Trabalhadores. Eles eram aqueles que se desviaram do caminho de um aventureiro.

A Guilda dos Aventureiros iria investigar e atribuir pedidos aos aventureiros devida-
mente classificados. Em outras palavras, a Guilda investigaria minuciosamente a legiti-
midade de qualquer pedido de emprego feito a partir deles.

Assim sendo, a Guilda às vezes rejeitava trabalhos perigosos — coisas que colocariam
em risco civis ou que eram de natureza ilegal. Dependendo das circunstâncias, eles po-
deriam até considerar o solicitante como um inimigo. Por exemplo; a Guilda se oporia se
o pedido fosse algo como procurar ingredientes para os narcóticos.

Capítulo 1 Convite Para a Morte


3 2
A Guilda também rejeitaria pedidos que ameaçassem o equilíbrio da natureza. Por
exemplo, a Guilda nunca aceitaria solicitações para matar o predador de uma floresta.
Isso era para evitar a perturbação da ordem natural causada pela morte de uma criatura
assim, como outros monstros deixando a floresta. É claro que, se o monstro deixasse a
floresta por conta própria e invadisse terras humanas, isso seria uma questão total-
mente diferente.

Em outras palavras, os aventureiros eram como aliados da justiça.

No entanto, esses ideais que soariam bem aos ouvidos das massas não eram as única
coisas que faziam o mundo girar.

Era muito fácil imaginar que alguns estavam dispostos a fazer trabalhos perigosos por
dinheiro. Também havia pessoas que simplesmente gostavam de matar monstros.

Essas pessoas — que não buscavam o glamour da vida de aventureiro, mas que ansia-
vam pela escuridão — eram dissidente da carreira de aventureiro. Eram conhecidos
como Trabalhadores, e as pessoas falavam esse nome com zombaria e cautela.

No entanto, não poder-se-ia dizer que todos os Trabalhadores eram farinha do mesmo
saco.

Por exemplo — se houvesse um menino ferido em uma aldeia e um aventureiro que por
acaso estivesse passando lá conhecesse magia curativa, se ele curar seus ferimentos de
graça, o aventureiro estaria certo ou errado?

Segundo as regras, estaria errado.

As regras da Guilda afirmavam que os aventureiros tinham que cobrar uma taxa fixa
por tal tratamento, não podiam curar de graça.

Em circunstâncias normais, a magia de cura era manipulada pelos templos, então o pa-
ciente precisaria fazer uma “doação” (pagamento) antes que os templos lançassem uma
magia sobre ele. Se um aventureiro desconsiderasse isso e fornecesse cura gratuita, ele
estaria negligenciando os negócios dos templos.

Portanto, os templos fizeram um pedido usando termos fortes às Guildas, para que res-
tringissem tais atividades.

Se alguém não pudesse aceitar essas regras, só restaria ser um Trabalhador.

Desta perspectiva, os templos podem ser considerados praticamente como vilões, mas
justamente por essas arrecadações vindas da cura que eles poderiam trabalhar indepen-
dentes da política. Os fundos serviam para treinar sacerdotes, exorcizar undeads, desen-
volver novas magias cura e, no geral, fazer as pessoas terem vidas mais alegres e seguras,
tudo graças ao dinheiro arrecadado.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


3 3
Se os aventureiros lançarem magias de cura gratuitamente, os templos acabariam por
serem forçados a se tornarem mais secularistas e abandonar lentamente seus ideais.

Havia dois lados em cada moeda e os Trabalhadores não eram exceção. Drogas baratas
eram feitas porque eles caçavam animais a troco de dinheiro, que por sua vez, melhorava
a vida das pessoas.

♦♦♦

Este homem — Hekkeran Termite — era um Trabalhador, e ele estava sorrindo.

“O que comprar hoje?”

Havia inúmeros itens mágicos que ele queria, mas no final sua maior prioridade era o
equipamento defensivo e, havia mais uma coisa. Era um assunto não relacionado, mas
havia algo mais que ele queria.

“Vou reservar o dinheiro pra isso... o resto pode ir pros itens mágicos. Hm? Não é o
contrário? Eu devo comprar os itens mágicos primeiro e juntar o que sobrou pra isso.”

Hekkeran coçou a cabeça.

Nesse caso—

“Como vanguarda, eu preciso aumentar minhas resistências mágicas... É, acho que é


hora de deixar de ser mão de vaca. Se bem que, podemos continuar matando undeads
nas Planícies Katze por dinheiro... vejamos, a fim de evitar toxinas de cadáveres, eu de-
veria comprar itens mágicos que aumentem minha resistência a veneno, paralisia e do-
enças.”

O equipamento mágico era muito caro, em particular o tipo que os aventureiros usavam
em combate. Itens exclusivos poderiam ser tão caros que Hekkeran não poderia sequer
pagar por eles.

De qualquer forma, os itens que Hekkeran queria não eram tão caros, mas ainda custa-
vam tanto quanto a média de salários da plebe. É claro que ele consideraria cuidadosa-
mente fazer uma compra tão cara.

Enquanto aguardava ansiosamente suas compras, por um instante seus olhos se encon-
traram com os dos cavaleiros parados à beira da estrada, sua expressão despreocupada
pela antecipação das comprar ficou séria imediatamente.

Uma dupla de cavaleiros, um de armadura pesada e outro de armadura leve, estava pa-
rada na esquina da rua, examinando as condições do entorno.

Capítulo 1 Convite Para a Morte


3 4
Todos sabiam que os templos dos Quatro Deuses estavam nas vizinhanças, por isso a
segurança era especialmente rigorosa aqui. Mesmo duvidando que prenderiam tran-
seuntes por pura implicância, Hekkeran podia sentir seus olhares direcionados para as
armas em sua cintura.

Se fosse um aventureiro as coisas poderiam ser diferentes, mas como um Trabalhador


sem qualquer forma de apoio, ele não queria ir contra os cavaleiros que reforçavam a
segurança do Império.

Os deuses pareciam estar de bom humor hoje, pois os cavaleiros compararam seu rosto
a uma lista de procurados, mas aparentemente não encontraram nada. Assim, ele passou
pelo distrito do templo densamente lotado.

Com um peso tirado de seus ombros, Hekkeran olhou ao longe e viu um prédio de apa-
rência singular. Ao mesmo tempo, o vento trouxe o som de ovações — ele podia ouvir
vozes sedentas de violência e gritos de guerra.

Esse edifício singular era uma grande arena que só poderia ser encontrada na Capital
Imperial do Império. Era um ponto turístico muito popular dentro da Capital Imperial.

Não havia necessidade de ir até lá. Ele já havia visto sangue mais do que suficiente no
decorrer de seus afazeres, e não tinha interesse em apostar, certamente alguém poderia
dizer que aquele lugar não o interessava. No entanto, ainda era a maior fonte de entre-
tenimento para o homem comum na Capital Imperial — os nobres preferiam o teatro.
Considerando que os gritos chegaram até aqui, a arena deveria estar cheia até a borda
mais uma vez.

“O povão parece bem animado; será uma luta final?”

A equipe de Trabalhadores que Hekkeran liderava havia travado uma série de batalhas
contra feras mágicas na arena para lucrar alguns trocados. Render-se seria um curso de
ação inútil contra feras mágicas, então só restava lutar até vencer, pois a derrota signifi-
cava a morte. É claro que batalhas contra seres humanos poderiam ser fatais, mas era
muito raro atividades assim na arena que não terminassem sem uma única fatalidade.
Ou melhor dizendo, quanto mais pessoas morressem, mais a multidão se animava.

Os espetáculos mais frequentados eram os grandes torneios de luta, onde muitas pes-
soas morriam das mais variadas formas.

Hekkeran balançou os ombros.

Ele não tinha interesse nisso. Não sentia vontade de olhar para um campo de batalha
ensopado de sangue justo no seu dia de folga. Contudo, ele não afastou totalmente isso
de sua mente, porque os vários eventos dentro da arena poderiam render em boas con-
versas.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


3 5
Não tô nada afim de entrar na arena de novo, mas quando eu voltar pode ser uma boa
perguntar aos outros sobre os detalhes da programação de hoje.

Depois de fazer nota mental, ele continuou andando por uma estrada cheia de lojas.
Logo, ele viu uma placa familiar com as palavras “Pavilhão da Maçã Cantante”.

Aparentemente, um grupo em que todos os bardos usavam instrumentos de madeira


de macieira se uniram para fundar esta taberna.

Parecia velha, mas o interior era surpreendentemente robusto e limpo. Não havia gre-
tas nas paredes para deixar entrar o vento, e as tábuas do piso estavam polidas. Natural-
mente, ficar aqui não era barato, mas também não era completamente inacessível. Para
Hekkeran e seu bando; não, para todos os Trabalhadores, esta era sem dúvida a taberna
de mais alto nível.

Claro, não poderia ser comparada com os melhores estabelecimentos da Capital Impe-
rial. Mas esses lugares eram mais adequados para aventureiros honestos; porém nem
tanto para os Trabalhadores.

Para começar, as pessoas que contratavam Trabalhadores geralmente tinham empre-


gos sujos para oferecer. Portanto, seus clientes hesitariam em ter que andar em locais
visíveis. No entanto, se eles definissem seu ponto de encontro em um local com pouca
segurança, esse curso de ação poderia causar problemas inesperados.

Além disso, o fato de muitas outras equipes de Trabalhadores terem usado esse local
como base fez com que a Maçã Cantante fosse popular entre os solicitantes. Isso porque,
ao contrário da Guilda dos Aventureiros, alguém que procurava contratar Trabalhado-
res precisava encontrá-los com suas próprias conexões. E ter os Trabalhadores espalha-
dos por todo o lugar era muito problemático para os solicitantes.

Outra razão para os Trabalhadores permanecerem nesta taberna foi porque permane-
cer no mesmo lugar promovia uma sensação de proximidade mútua, o que reduziria as
chances de pedidos gerarem disputas entre os Trabalhadores. E por fim — e mais im-
portante — a comida era deliciosa.

Hekkeran já pensava no jantar enquanto entrava pela porta. Ele esperava que pudesse
ter seu caldo de carne de porco favorito.

Enquanto ponderava sobre o assunto, a primeira coisa que o cumprimentou não foi o
fato de seus amigos dizerem “oh, você voltou” ou “obrigado por ter se esforçado tanto”.

“—Eu já te disse! Eu não sei!”

“Assim vai me colocar numa fria...”

Capítulo 1 Convite Para a Morte


3 6
“E eu lá tenho cara de ser a mãe dela, guardiã ou seja lá o quê? Como eu vou saber onde
ela foi?”

“Vocês não são amigas? Veja meu lado, não posso ir embora assim só porque diz que
não sabe. Não é nada pessoal, é só o meu trabalho.”

Um homem e uma mulher estavam olhando um para o outro no meio do primeiro andar
da área de jantar.

O rosto da mulher era muito familiar para ele.

Seu rosto não tinha o menor traço de gordura, seu olhar tinha uma expressão de seve-
ridade. As características mais atraentes desta mulher eram as orelhas, que eram muito
mais longas do que as das pessoas comuns. Ainda assim, eles tinham apenas metade do
tamanho de uma Elfa da Floresta. De fato, ela era uma mestiça.

Os Elfos da Floresta eram mais magros que humanos e, ao ver seu corpo, ficava claro
que ela havia herdado essa característica genética. Ela era magra da cabeça aos pés, seus
seios e glúteos não tinham a sinuosidade típica de humanas. Parecia mais que haviam
chapas de ferro os pressionando contra a pele; se um cego a tateasse, provavelmente a
confundiria com um homem.

Ela usava um conjunto bem justo de armadura de couro. O arco e aljava que normal-
mente carregava não estavam em sua posse. A única arma que ela tinha era a espada
curta na cintura.

Era Imina. Uma das companheiras da equipe de Hekkeran.

Entretanto, ele não reconheceu o homem na frente de Imina.

O homem parecia estar se curvando, mas não havia nenhum sinal de desculpas em seus
olhos. Na verdade, havia um olhar que irritou Hekkeran. Ainda assim, pelo menos ele
estava sendo educado, então pelo menos tinha bom senso.

Os braços e o peito do homem estavam briosos de músculos, mesmo parado ele parecia
intimidador. Pessoas como ele provavelmente não hesitariam em usar a violência, mas
a força bruta era inútil contra Imina.

Isso era porque Imina parecia frágil, mas ela tinha habilidades de primeira classe, era
capaz de abater facilmente um capanga presunçoso que se achasse grande coisa.

“Isso é o que eu tô te dizendo, cara!”

Ao ouvir aquela voz irritada e aguda, Hekkeran interrompeu apressadamente.

“O que tá rolando, Imina?”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


3 7
Foi só quando ouviu a voz de Hekkeran que Imina o notou e se virou. Então, um olhar
de surpresa apareceu em seu rosto.

Uma ranger com sentidos aguçados como ela estava tão imersa na discursão que nem
notara a presença de Hekkeran. Isso indicava o quanto estava estressada com a situação.

“...E você, quem é?”

O homem pensou que Hekkeran era um intrometido metido a besta e questionou-o em


tom ameaçador. O olhar do homem era aguçado, ele irradiava uma aura sugerindo que
socaria alguém a qualquer momento. Contudo, Hekkeran estava calejado de tanto en-
frentar monstros e sobreviver para contar história, então o que fez foi dar um sorriso
jocoso.

“...É o nosso líder.”

“Ohhhh, que maravilha. Você deve ser Hekkeran Termite-san, né? Já ouvi falar.”

A expressão do homem mudou imediatamente, dando lugar a um sorriso simpático que


encheu Hekkeran com leve repulsa.

Hekkeran não sabia o porquê aquele homem tinha vindo para cá, mas o fato de ter che-
gado a essa taberna — a base de operações do grupo de Hekkeran — significava que era
improvável que ele não soubesse o que Hekkeran fazia para ganhar a vida.

Talvez o seu tom ameaçador de agora tivesse sido planejado para avaliar Hekkeran. Se
Hekkeran tivesse se encolhido, o homem continuaria falando em tom arrogante.

Entre os Trabalhadores e aventureiros, havia pessoas que poderiam matar monstros


sem hesitar, no entanto, recuariam de seres humanos. Pessoas como essas, só poderiam
dar um passo atrás momentaneamente. Se pressionados, eles sacariam suas armas e po-
deriam acabar matando a oposição.

A gente acabou de se conhecer e ele já tá tentando me assustar pra mostrar quem manda...
esse sujeitinho... Não fui com a cara dele.

Hekkeran entendeu que essa era uma técnica de negociação. Claro, foi muito óbvia. En-
tretanto, Hekkeran não gostava de negociações como essas. Ele preferia falar o que
pensa e ir direto ao que interessa.

“...Tá fazendo um escândalo que só. Estamos numa taberna. Tem gente que veio aqui na
paz, só pra relaxar. Quer mesmo fazer um tumulto aqui?”

Dito isso, quase não havia convidados por perto, e até mesmo o pessoal da taberna tinha
ido embora.

Capítulo 1 Convite Para a Morte


3 8
Não era que eles tivessem se escondido, pois brigas como essa eram como aperitivos
para os Trabalhadores. Foi uma simples coincidência que ninguém estava por perto.

Hekkeran olhou para o rosto do homem. O homem não podia se segurar ante o brilho
de um guerreiro mythril. Ele imediatamente se acovardou como se estivesse diante de
uma fera mágica.

“N-não, não foi minha intenção, sinto muito. Tive minhas razões.”

O homem baixou um pouco a voz, mas ainda queria continuar falando. Dada a maneira
como estava com as mãos a postos em suas armas em face do olhar de Hekkeran, ele
deveria ser bem versado na aplicação de força — particularmente... violência.

Por que um sujeito desse veio aqui?

Era verdade que Hekkeran estava envolvido em negócios obscuros, mas ele não reco-
nheceu esse homem, nem fez nada para justificar tal atitude. Nem parecia que ofereceria
algum emprego.

Desconcertado, Hekkeran decidiu aliviar seu olhar e lhe fez uma pergunta direta:

“...Por que veio aqui?”

“Nada de mais. Eu só queria me encontrar com a Furt-san, Hekkeran-san.”

Havia apenas uma pessoa em que Hekkeran poderia pensar quando a palavra “Furt”
surgiu.

Hekkeran não sentiu que ela estaria conectada a este homem por meio algum, afinal,
era uma companheira que tinha passado por inúmeras lutas de vida ou morte ao seu
lado. Sendo esse o caso, ela havia se envolvido em algum tipo de problema enquanto fora
de suas aventuras.

“A Arche? O que tem ela?”

“Arche... ah, isso mesmo. O pessoal e eu a conhecemos como Furt-san, tinha até me es-
quecido que o nome dela é esse. Mm, acho que é Arche Eeb Rile Furt, né?”

“Mas e daí!? O que quer com a Arche?”

“Nada de mais, eu só quero falar com ela... é um assunto privado, então eu gostaria de
saber onde ela tá, ou quando ela volta...”

“Como vou saber?”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


3 9
Hekkeran interrompeu rudemente o outro homem. Tal era a sua brusquidão que o ou-
tro homem estava perto de revirar os olhos em aborrecimento:

“E aí, satisfeito?”

“Eu... assim não me deixam escolha. Vou ter que esperar aqui então...”

“Dá o fora, cara.”

Hekkeran moveu o queixo para a porta, essa atitude fez o homem o olhar com uma cara
de estúpido.

“Vou deixar as coisas bem claras aqui. Tô de saco cheio de você, não suporto ver essa
sua fuça nem mais um segundo.”

“Esta é uma taberna, eu—”

“Ah, sim. É uma taberna. É também um lugar onde os bêbados brigam por qualquer
coisinha.”

Hekkeran sorriu maldosamente para o homem e continuou:

“Já que se garante, relaxa e fica aí. Mesmo que se machuque feio numa briga, temos um
sacerdote que conhece magia de cura. Claro, se pagar por isso.”

“E é melhor pagar uma boa quantia, ou os templos vão ficar irritadinhos. Eu não quero
assassinos atrás de mim.”

—Imina acrescentou, com um sorriso malicioso no rosto:

“Relaxa, te damos um desconto, assim ficamos quites, né?”

“—Sacou?”

“Tá me ameaçando, garot—”

As palavras do homem foram cortadas na metade, porque ele viu a expressão no rosto
de Hekkeran mudando rapidamente.

Hekkeran de repente deu um passo à frente, tão perto que o rosto do homem tomou
conta da sua linha de visão.

“Mas, hein? Ameaçando? Quem tá te ameaçando? As brigas são comuns numa taberna,
não entendeu? Eu aqui, todo solícito te dando um conselho de amigo, e você vem falar
de ameaça? Você veio afim de caçar problemas, hein!?”

Capítulo 1 Convite Para a Morte


4 0
As veias na testa de Hekkeran estavam grossas. Seu rosto era o de um homem que ex-
perimentara numerosos encontros com a morte.

Assustado com a sua presença, o homem deu um passo para trás soltando um “tch”, não
querendo admitir a derrota. Então se dirigiu à porta. Ele tentou o seu melhor para fingir
o contrário, mas estava claro para todos que ele tinha se assustado. Quando chegou à
saída, virou-se e disse com rispidez sua resposta para Hekkeran e Imina:

“Diga à menina Furt que o prazo acabou!”

“Ahhh!?”

O rosnado baixo de Hekkeran mandou o homem fugir da estalagem.

Depois que o homem exaltado desapareceu, Hekkeran retomou sua expressão original.
Essa mudança foi tão brusca que foi quase cômica. Na verdade, Imina estava aplaudindo-
o em silêncio.

“Então, o que foi isso tudo?”

“Sei lá. Sei tanto quanto você.”

“Que saco. Deveria ter tentando extrair algo dele.”

Ele agarrou a cabeça em aborrecimento.

“Perguntaremos quando ela voltar.”

“...É, mas sei lá... Não curto muito meter o nariz nos negócios dos outros.”

“Mm, sei como é. Ainda assim, você é o líder, então faça algo.”

“Eu invoco a autoridade da minha liderança e ordeno que você, como uma companheira,
pergunte a ela, Imina.”

“Sem essa! Quem disse que eu quero perguntar?”

Os dois sorriram sem graça um para o outro.

Tantos os aventureiros quantos os Trabalhadores tinham vários tabus.

Em primeiro: não podiam vasculhar ou perguntar sobre o passado do outro.

Em segundo: ficar falando muito abertamente sobre desejos íntimos.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


4 1
Já que o desejo levava muitas pessoas a se tornarem Trabalhadores, era inevitável o
assunto surgir. Todavia, se abrir demais para outrem impedia que o time funcionasse
normalmente. Por exemplo, se um colega de equipe sempre falasse muito sobre dinheiro,
alguém confiaria nele quando um trabalho envolvesse lidar com uma grande soma em
dinheiro, ou sobre segredos envolvendo dinheiro? Se um colega falasse de sexo o tempo
todo, alguém ficaria confortável em dormir no mesmo quarto que tal pessoa? Todos ti-
nham que contar uns com os outros quando suas vidas estavam em perigo. No mínimo,
cada membro de uma equipe tinha que confiar um no outro.

O fato de Arche ter se metido em problemas, como aparentava, criava uma enorme ra-
chadura em sua confiabilidade. Definitivamente não era algo que pudesse ser desconsi-
derado com um simples “Relaxa, relaxa”.

Como pessoas que trabalhavam com um risco muito real de morte, não podiam permitir
que quaisquer fatores de desconforto permanecessem.

Hekkeran coçou a cabeça, sua expressão estava claramente relutante.

“É, não vai dar pra evitar. Eu pergunto a ela quando voltar.”

“Obrigadinhaaa!”

Imina sorriu e acenou, e Hekkeran olhou para ela.

“Quê? Acha que vai se safar dessa? Você vai perguntar junto comigo.”

“Quêêê?”

Imina fez beicinho, mas só a restou desistir quando viu que o rosto de Hekkeran estava
inalterado:

“Tá bom... Só espero que a situação não seja muito séria.”

“Então, onde ela foi?”

“Hm? Ah, ela foi coletar informações extras daquele trabalho lá.”

“Não seria o Rober e eu?”

Depois que Hekkeran e os outros terminaram de derrotar undeads das Planícies Katze,
eles retornaram à Capital Imperial, onde receberam um novo pedido. Os termos do pe-
dido foram muito bons para a equipe, então todos estavam inclinados a aceitá-lo. No
entanto, eles precisavam investigar primeiro.

Capítulo 1 Convite Para a Morte


4 2
Eles haviam concordado previamente que seu melhor orador, Roberdyck, investigaria
os detalhes de seu empregador e as razões pelas quais ele os procurara, enquanto Hek-
keran iria para os escritórios do governo do Império — eliminar os undeads das Planí-
cies Katze era um negócio nacional — recolher o pagamento por matá-los e depois aju-
daria Roberdyck em suas investigações.

Imina e Arche deveriam ter esperado por mais instruções.

“Pois é, mas já foram. Ela disse que queria investigar as condições e a história do lugar,
essas coisas.”

Não é de se admirar.

Hekkeran assentiu. Arche poderia ter abandonado seus estudos na Academia Imperial
de Magia, mas ela ainda mantinha suas conexões. Ninguém conseguia reunir conheci-
mento acadêmico como ela. Além disso, tinha meios de consultar a Guilda dos Magistas
para obter informações.

“Então é por isso que ela saiu com o Rober. Ele também sabe bastante e tem conexões
com os templos. E aquilo que ia fazer, deu certo?”

“Bem, sobre isso...”

Hekkeran sentou-se enquanto falava em baixo tom:

“Digamos que eu sei o porquê querem Trabalhadores. Ou melhor, eu sei o porquê não
puderam contratar aventureiros para ir ao lugar em questão. Mas o solicitante também
disse que estava procurando outras equipes, deve ser coisa grande.”

“É sério que a gente vai trabalhar com outras pessoas? Esse lugar aí podem ser ruínas
que ninguém nunca entrou antes, mas o solicitante tem certeza mesmo que vai dar tanto
lucro assim?”

“A equipe que eu perguntei — o pessoal do Gringham — também disse isso. A equipe


Heavy Masher parece preparada pra aceitar, agora só precisamos decidir se vamos acei-
tar, temos até amanhã.”

Eles só ouviram os detalhes do pedido e ainda não o aceitaram. Mesmo tendo até ama-
nhã para responder, haveria preparações adicionais a serem feitas caso aceitem.

“E aquele cara caçando confusão numa hora dessas... acha que tem algo a ver?”

“Não dá pra descartar completamente a possibilidade de ter o dedo de alguma equipe


envolvida nisso. Mas é melhor ouvir a Arche antes de decidir qualquer coisa. Pode ser
outra equipe armando algo contra nós, aí seria melhor não aceitar. Ou talvez agora que
a gente sabe, podemos aceitar, já podemos nos preparar?”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


4 3
“É claro que vamos aceitar! Se eles tiverem alguma nesga com a gente, vamos meter a
porrada neles até que que saiam correndo catando os dentes quebrados pelo caminho.
Isso vai dar uma boa lição pra saberem com quem tão mexendo.”

“Calma, isso aí é muito extremo.”

Imina era muito mais intensa do que sua aparência sugeria, mas Hekkeran sentiu que
sua proposta tinha mérito.

Não tinha problemas outros olhassem torto para eles por conta isso, porém poderia
prejudicar sua reputação no futuro. Considerando que os Trabalhadores estavam com
um pé no submundo, ter má fama era algo que precisavam evitar.

Uma luz de determinação encheu seus olhos quando assentiu silenciosamente, e então
o som de ringir de madeira ecoou pela taberna. As formas de duas pessoas entraram pela
porta aberta.

“—Voltei.”

“Retornamos.”

A primeira voz pertencia a uma garota e soava como um sussurro. Uma batida depois,
foi seguida por uma voz masculina elegante e pomposa. Com toda a probabilidade, ele
queria evitar abafar as palavras calmas da garota.

A primeira pessoa a entrar foi uma mulher magra, chamá-la de adolescente não seria
um erro incomum. Ela parecia estar no final da adolescência. Seu cabelo brilhante estava
aparado na altura do ombro, seus olhos e nariz estavam perfeitamente alinhados. Ela
não possuía uma beleza elegante. No entanto, tinha uma beleza inorgânica, como se fosse
uma boneca.

Em sua mão havia um cajado de metal que era tão alto quanto ela. Inúmeras inscrições
que se pareciam com letras e símbolos cravejavam metal. Ela usava um manto solto e
comprido. Embaixo, havia várias partes grossas de roupas que davam a ela um mínimo
de defesa. Pode-se dizer de relance que era uma magic caster.

O homem usava uma armadura completa — embora sem elmo — e sobre ela havia uma
túnica costurada com um símbolo sagrado. Ele tinha uma morningstar em sua cintura e
um símbolo sagrado que combinava com o seu tabardo pendurado no pescoço.

Seus traços faciais eram ásperos e seu cabelo estava repartido. Seu minúsculo bigode
estava aparado bem rente à pele, suas feições davam a impressão de que sempre estava
relaxado. Ele parecia ter cerca de 30 anos de idade.

Eles eram outros amigos de Hekkeran, Arche Eeb Rile Furt e Roberdyck Goltron.

Capítulo 1 Convite Para a Morte


4 4
“Oh, vocês voltaram.”

Chegaram na hora certa ou errada? Hekkeran dirigiu-se aos dois em tons firmes.

“O que aconteceu com vocês dois?”

Roberdyck falou em um tom que não soava como um senpai dirigindo-se a seus dois
kouhais. Parte disso foi por causa de seu caráter, mas também porque ele os via como
Trabalhadores iguais a ele mesmo.

“Não... não é nada.”

“É... nada não.”

Os dois olharam suspeitosamente para Hekkeran e Imina enquanto acenavam com as


mãos.

“Er, enfim, não vamos conversar aqui. Vamos pra lá.”

O rosto de Hekkeran ficou sério e ele parou de brincar. Então, apontou para uma mesa
redonda nos recantos da taberna.

“Antes disso, que tal bebidas... Ei, Imina, cadê o dono da taberna?”

Imina olhou para ele com um rosto que parecia dizer: “Por que tá perguntando isso?”

“...Ele foi comprar umas coisas. Tô tomando conta no lugar dele.”

“Sério? Então, o que devemos beber? Qualquer coisa que quisermos?”

“—Vou passar.”

“Ah, não me importo de ficar sem.”

“...Fala sério. Então, mm... que seja, vamos começar a reunião da Foresight.”

Todas as expressões originais não existiam mais. Inclinaram-se ligeiramente, aproxi-


mando os rostos entre si. Eles não podiam evitar, embora não houvesse mais ninguém
por perto; pode-se dizer que era um hábito profissional.

“Fui verificar os detalhes da solicitação.”

Depois de garantir que todos os olhos estavam voltados para ele, Hekkeran continuou
falando. Seu tom era muito diferente de antes. Ele falava sério quando tinha que ser sério,
assim como um líder de equipe deveria ser.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


4 5
“Nosso cliente é o Conde Femel, e o pedido é investigar um conjunto de ruínas dentro
das fronteiras do Reino — parece ser algum tipo de tumba enterrada. Vão pagar duzen-
tos adiantado e cento e cinquenta após a conclusão. Sei lá o porquê, o pagamento inicial
é maior do que o restante, é uma soma bem grande tudo. Além disso, pode haver uma
bonificação, dependendo dos resultados da investigação. Mas, todos os itens mágicos
encontrados serão do Conde. Segundo ele, pagarão a quem descobrir metade do valor
de mercado por qualquer coisa que encontrem. Pedras preciosas, obras de arte e assim
por diante serão valorizadas e depois divididas em metade pra ele, metade pra nós. Além
disso, o solicitante também tem negociado com outros grupos de Trabalhadores ao
mesmo tempo e, dependendo das circunstâncias, podem haver mais equipes nesta ex-
pedição — provando o que eu disse anteriormente.”

Hekkeran compartilhou a notícia que soube com Arche e Roberdyck e depois explicou
os detalhes.

“A expedição vai durar no máximo três dias e nosso objetivo é realizar uma investigação
completa das ruínas. O maior problema é que essas ruínas provavelmente tão lotadas
até a borda de monstros, então precisaremos descobrir onde se escondem e assim por
diante. Em outras palavras, uma ruína cavernosa padrão.”

Cidades abandonadas e afins geralmente eram ninhos para monstros, e assim, quando
os Trabalhadores “investigavam ruínas”, era mais como uma “força tática de reconheci-
mento”.

“Ainda assim, o mais importante é que parece uma tumba ainda não descoberta.”

O clima no ar mudou quando esse fato foi mencionado.

200 anos atrás, vários países haviam sido destruídos quando os Deuses Demônios inva-
diram a terra. Não foram apenas os reinos humanos que foram devastados, mas os demi-
humanos e heteromórficos também. Às vezes esses reinos arruinados escondiam tesou-
ros inestimáveis; ou seja, itens mágicos. Descobrir algo assim era, sem dúvida, o sonho
de aventureiros e Trabalhadores. Portanto, aventureiros e Trabalhadores frequente-
mente ansiavam por descobrir ruínas inexploradas. E agora, uma dessas ruínas havia
aparecido diante de seus olhos.

Ao ver o brilho nos olhos de seus camaradas, Hekkeran cedeu o papel de orador a seus
dois amigos que retornaram após coletar informações.

“Além disso, o Conde cuidará do transporte para a tumba, bem como de nossas provi-
sões. Bom, é isso aí. Agora, Arche, Roberdyck, conte o que aprenderam.”

“—Primeiro, a posição do Conde Femel no tribunal é precária. Aparentemente, o Impe-


rador Sangrento vem tratando ele com frieza. Segundo as fontes, ele não está em dificul-
dades financeiras.”

Capítulo 1 Convite Para a Morte


4 6
“Com relação a essa ruína dentro do Reino, Arche e eu fizemos algumas pesquisas, mas
não ouvimos falar de nenhuma ruína na área ou de quaisquer cidades no passado. Já que
é uma tumba, deveria haver alguma informação sobre isso deixada para trás... Sendo
honesto com vocês, não tenho idéia do porquê haveria uma tumba lá. A única coisa na
área é um pequeno vilarejo; talvez pudéssemos aprender alguma coisa se perguntásse-
mos por aí. O que acha?”

“Não dá pra fazer isso. Pediram sigilo. O solicitante disse que não deseja eliminar teste-
munhas, ou melhor, espera que não precisemos fazer isso.”

“—Claro, a região é território controlado pela Coroa. Se agirmos precipitadamente, fa-


remos inimigos na Família Real Vaiself, do Reino.”

O fato de que estavam mergulhando em uma ruína em uma nação estrangeira era pra-
ticamente um crime, razão pela qual não haviam contratado aventureiros, mas sim Tra-
balhadores.

“Em outras palavras, é mais um trabalho sujo, não é?”

“É o que parece. No entanto, existem alguns problemas cabeludos.” disse Roberdyck.

“E tem mesmo. Trabalhadores do Império causando problemas no Reino, imagina o


tanto de problema que pode sair disso? E se der alguma merda, pode até afetar o próprio
Conde.”

“Com tudo isso, resta apenas mais um problema.”

“A origem da informação sobre a tumba, acertei?”

“Isso aí. Tem alguma coisa nisso que não cheira bem, sabe?”

“Esse lugar aí, não é perto da Grande Floresta de Tob? E se encontraram enquanto cor-
tavam a floresta?”

“—Acho que não faz sentido. Veja isso.”

Arche abriu um mapa e traçou um círculo usando os dedos em um determinado local:

“—A localização exata não é clara, mas deve ser em torno desta área.”

Seu dedo delicado deslizou sobre a superfície do mapa e, em seguida, bateu duas vezes.

“—E então tem uma vila aqui, embora seja muito pequena, vamos chamá-la de vilarejo.
Eu não acho que um vilarejo desse porte poderia cortar uma floresta.”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


4 7
“Realmente. Um pequeno vilarejo deve ter dificuldade em cortar uma floresta perigosa...
Talvez o Reino tenha autorizado algum empreendimento nacional, mas não há nada por
perto que ofereça quaisquer benefícios em escala nacional nas proximidades, e mais ao
ponto, nenhuma notícia sobre isso vazou.”

Os quatro estavam preocupados. Eles não sabiam se deveriam aceitar essa tarefa.

Como não tinham uma Guilda dos Aventureiros para apoiá-los, eles tinham que inves-
tigar o trabalho por conta própria, começando com o histórico de seu empregador e a
localização do trabalho. Depois disso, deveriam verificar os detalhes do trabalho antes
que pudessem aceitá-lo. Mesmo depois de tudo isso, eles ainda se depararam com pro-
blemas várias vezes.

Seus trabalhos eram uma aposta com suas vidas. Nenhum Trabalhador poderia fazer o
trabalho sem dizer a si mesmo que, por mais que checassem, ainda não seria suficiente.
Se eles notassem uma dica de perigo que não poderiam lidar, então teriam que recusar
o trabalho, não importando quão bons fossem os termos.

“...Fiz umas verificações extras sobre pagamento, e quanto ao depósito...”

Hekkeran colocou uma placa de metal na mesa. Se eles rejeitarem o trabalho, teriam
que devolvê-la ao cliente. Vários pequenos caracteres estavam inscritos em sua superfí-
cie.

“—Verifiquei a placa de crédito com o Banco Imperial e é válida. Podemos trocá-la por
dinheiro a qualquer momento.”

Placas de crédito eram uma garantia de pagamento do Banco Imperial que funcionava
como um cheque.

Foram intrinsecamente feitas como uma contramedida contra a falsificação. Suas des-
vantagens incluíam ser tedioso de usar e o fato de que alguém tinha que pagar taxas de
processamento para usá-las, mas tinha lá suas vantagens.

A Guilda dos Aventureiros geralmente lidava com esse tipo de coisa em outros países,
porém, o próprio país garantia isso no Império.

“No mínimo não é uma armadilha... menos mal. A verdade é que eu tive a sensação de
que o outro lado tava falando sério desde o momento em que deram estas placas.”

Se estavam planejando montar uma armadilha, então não haveria necessidade de pagar
um depósito tão grande como taxa de contratação — é claro, a oposição poderia ter feito
exatamente isso para pegar as pessoas de surpresa, mas Hekkeran não conhecia esse
nobre e não tinha nenhuma intriga com ele.

“Eu...”

Capítulo 1 Convite Para a Morte


4 8
“Calma aí, Imina. Ainda não terminei. Espero que possa ser um pouco mais flexível com
isso, tá?”

“Tá, tá, tudo bem. Me diga uma coisa. Ainda tem umas coisas esquisitas nesse trabalho,
como a contratação de várias equipes. Por que isso?”

Imina levantou uma questão interessante. Seria insensato usar mais de uma equipe
para uma tarefa, ainda mais considerando considerar o tempo necessário para contatar
cada uma delas. Ficou claro que isso desafiava a explicação.

“—Não tenho certeza. Sendo sincera, eu não sei o porquê eles estão com tanta pressa
para verificar o lugar. Eu não ouvi falar de nenhuma emergência envolvendo o Conde ou
qualquer pessoa relacionada a ele, nem mesmo cerimônias a serem realizadas nos pró-
ximos dias. Se querem uma resposta pessoal da minha parte, talvez ele tenha medo de
alguém do lado do Reino encontrar as ruínas, certo? E talvez contratar várias equipes
seja para aumentar as chances de sucesso, não?”

“Diz aí, Hekkeran? Você não perguntou isso ao Gringham?”

“Acha mesmo que ele abriria o bico? Apenas pra falar se o nosso cliente o contratou, me
fez gastar um bom trocado. Também tive que impedir que nossas informações vazassem.”

Hekkeran deu de ombros, indicando que estava sem idéias.

“—Há outra possibilidade, alguém indo contra o Conde.”

“É possível. Se for isso mesmo, a investigação apressada e a contratação de muita gente


faria sentido. Tá, tá. Aparentemente, algo grande aconteceu no Reino recentemente, mas
não parece estar diretamente ligado às ruínas perto de E-Rantel...”

“Sério, Rober? O que aconteceu?”

“Não sei bem a fundo, apenas alguns rumores—”

Disse Roberdyck, e então ele soltou em uma explicação confusa da perturbação na Ca-
pital Real. Coletar mais informações levaria tempo, mas ele não tinha informações con-
fiáveis agora.

“Hmmm~ não parece que tem a ver, e ao mesmo tempo parece que tem. Mesmo assim,
o que a Arche disse é mais provável. Concorda com isso também, né, Rober?”

“Supondo que esse seja o caso... considerando o planejamento do cliente de contratar


várias equipes de Trabalhadores e o fato de estarmos trabalhando no território do Reino,
vamos acabar concorrendo com muitos aventureiros do Reino? Se esse é o caso, então

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


4 9
estamos apenas perdendo nosso tempo, não importa quantas informações coletamos
dentro das fronteiras do Império.”

“A gente precisa ter cautela com as equipes contratadas por outro cliente — em outras
palavras, traidores. Eu não quero acabar sendo esfaqueado nas costas por equipes alia-
das quando tivermos terminado a nossa parte.”

“Traidores ou aventureiros. Se eu tivesse que escolher, talvez os aventureiros pudes-


sem ser melhores. Pelo menos dá para argumentar com eles e evitar que as coisas saiam
do controle.”

“Isso mesmo, pode acabar num banho de sangue se der confusão entre os Trabalhado-
res.”

“—O que pretende fazer, líder?”

Todos tinham dito o que pensavam. Tudo o que restava agora era tentar descobrir coi-
sas e prever o curso de ação futura.

“Antes de decidir, preciso dizer uma coisa... ou melhor, perguntar uma coisa. Isso é vital.”

Hekkeran respirou fundo e, ao lado dele, Imina suspirou.

“Arche, um homem estranho estava procurando por você.”

O rosto de Arche já era bem pálido, como um manequim, mas naquele momento, suas
sobrancelhas se contraíram. A julgar pela reação, Hekkeran tinha certeza de que ela co-
nhecia aquele homem.

“Aquele cara disse alguma coisa no final... o que foi mesmo?”

Hekkeran virou-se para Imina, e ela imediatamente lançou um olhar que dizia: “Que
joguete pretende fazer!?” No final, ela percebeu que Hekkeran realmente não se lembrava,
e ela respondeu em um tom cansado:

“Diga à menina Furt que o prazo acabou! Ou algo nesse sentido.”

Todos os olhos focaram-se em Arche. Ela fez uma pausa e depois falou em tom inerte.

“—Eu o devo dinheiro.”

“Você deve pra ele!?”

Hekkeran exclamou surpreso. Claro, não foi apenas Hekkeran, mas Imina e Roberdyck
ficaram chocados também. O dinheiro que eles fizeram como Trabalhadores era dividido
entre eles, então sabiam exatamente quanto cada um de seus colegas ganhava. Quando

Capítulo 1 Convite Para a Morte


5 0
pensavam no pagamento que recebiam, era difícil imaginar que ela acabasse devendo
dinheiro a alguém.

“Quanto você deve?”

“—Trezentas moedas de ouro.”

Depois de ouvir a resposta de Arche, todos se olharam novamente.

Era uma soma surpreendente quando se considerava a quantidade de dinheiro que uma
pessoa normal ganhava. Mesmo os Trabalhadores do seu calibre não poderiam ganhar
tanto dinheiro de uma só vez. O pagamento total para este trabalho era de 350 moedas
de ouro, mas isso para toda a equipe. Depois de deduzir as despesas necessárias e trans-
formá-las em um fundo compartilhado usado para comprar itens consumíveis e outros
recursos da equipe, o dinheiro restante seria dividido entre eles. No final, cada pessoa
receberia apenas cerca de 60 moedas de ouro.

Sua equipe estava muito bem classificada entre os Trabalhadores. Se alguém fosse pelo
sistema de classificação dos aventureiros, eles estariam em torno do nível mythril. Con-
tudo, mesmo um grupo ao seu nível não poderia fazer tanto dinheiro em um único paga-
mento. Como ela acabou devendo tanto dinheiro?

A expressão de Arche ficou sombria. Ela provavelmente sentiu os olhares duvidosos de


todos.

Era natural que ela não quisesse falar disso, mas não tinha escolha senão fazê-lo. Se ela
decidisse interromper a discussão aqui, ser expulsa da equipe seria um resultado per-
feitamente compreensível.

Talvez ela estivesse consternada demais para se abrir, mas, no final, Arche finalmente
falou.

“—Eu mantive segredo sobre isso todo esse tempo, porque é uma vergonha para a fa-
mília... minha família costumava ser nobre, mas fomos destituídos de nosso status pelo
Imperador Sangrento.”

♦♦♦

Imperador Sangrento — Jircniv Rune Farlord El-Nix.

Seu epíteto surgiu por ser um imperador cujas mãos estavam manchadas de sangue.

Seu pai — o Imperador anterior, morreu e deixou sua posição vazia. Depois disso, ele
rompeu laços com um dos Cinco Grandes Nobres — em outras palavras, a família da
Imperatriz viúva — por suspeita de conspirar para assassinar o Imperador. Depois disso,
ele matou seus irmãos um após o outro. Como se tivesse sido pega na tempestade da

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


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morte que varreu a cidade, sua mãe havia morrido de um acidente durante este tempo
também.

Claro, houve oposição a ele. No entanto, o Imperador Sangrento havia assumido o con-
trole dos cavaleiros com suas proezas militares durante seu tempo como o Príncipe Her-
deiro, então a oposição não foi párea para ele.

Apoiado com um poder militar esmagador, ele eliminou os nobres influentes como se
estivesse colhendo grãos. No fim, tudo o que restou na superfície foi um grupo que pro-
meteu lealdade ao Imperador, independentemente de suas verdadeiras intenções, e as-
sim ele consolidou todo o poder em si mesmo.

Entretanto, o Imperador Sangrento não parou por aí. Ele tirou muitos nobres de suas
posições sociais em prol de eliminar os incompetentes. Em contraste, indivíduos talen-
tosos poderiam ascender à aristocracia, mesmo se fossem pessoas comuns, e assim ele
construiu a base de seu poder sobre essa política.

Havia dois pontos sobre tudo isso que impressionavam aqueles que testemunharam. O
primeiro foi a maneira magistral com que ele orquestrou seu expurgo dos nobres de
modo a não diminuir o poder do Império, mesmo sendo na finalidade de destituí-los. O
segundo foi que o Imperador que havia realizado esse feito tão incrível antes de comple-
tar 15 anos de idade.

Muitos nobres caíram em tempos difíceis por causa dele. Contudo—

♦♦♦

“—Mas, meus pais ainda estão vivendo um estilo de vida nobre. Claro, nós não tínhamos
dinheiro para sustentar esse estilo de vida, então eles tiveram que pegar dinheiro em-
prestado de lugares obscuros para pagar as contas.”

Hekkeran, Imina e Roberdyck se entreolharam.

Arche havia disfarçado, mas sua voz ainda estava com um toque de aborrecimento, des-
contentamento e raiva.

“—Estou confiante em minhas habilidades mágicas, por favor, me deixem participar.”

Era o que a garotinha magra — que segurava um cajado que era mais alto do que ela —
disse. Hekkeran não foi o único que lembrou a maneira estupefata em que a encararam
no passado, assim como o olhar de choque em seus rostos quando viram o verdadeiro
poder da magia de Arche. Todas essas lembranças retornaram a suas mentes.

Mais de dois anos se passaram desde aquele dia, e desde então passaram por muitas
aventuras juntos. No entanto, mesmo depois de arrecadar uma boa quantia em dinheiro
de aventuras repletas de risco de morte, o equipamento de Arche não mudou muito.

Capítulo 1 Convite Para a Morte


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5 3
Agora, eles finalmente entenderam a razão disso.

“É sério isso? Posso socar um pouco de bom-senso na fuça deles, que tal?”

“Eles precisam ouvir a palavra de Deus. Não, talvez precisem sentir o punho de Deus e
acordarem para a vida.”

“Acho que faz tempo que não limpam os ouvidos, vou fazer uns buraquinho pra ver se
escutam!”

“—Por favor, se acalmem. As coisas são assim e ponto final, eu falarei com eles, é sério.
Dependendo das circunstâncias, posso ter que fugir com as minhas irmãs.”

“Você tem irmãs?”

Depois de ver Arche acenar com a cabeça, os outros três se entreolharam novamente.
Eles não disseram, mas todos sentiram que talvez ela devesse abandonar este emprego.

Era verdade que os Trabalhadores ganhavam mais dinheiro do que os aventureiros. Por
sua vez, os riscos que eles assumiram eram muito altos. Todos assumiram empregos
depois de garantir que estavam seguros, mas os acidentes que não podiam prever eram
frequentes.

Se algo desse errado, ela poderia acabar morrendo e deixando suas irmãs sem ninguém.
Entretanto, todos sentiram que seriam intrometidos se dissessem mais alguma coisa.

“Tá certo... mas é o seguinte, pelo menos agora a gente sabe, né , Arche? Vamos deixar
você lidar do seu jeito com isso... Voltando ao tópico de aceitar ou não esse emprego.”

Depois de dizer isso, Hekkeran olhou friamente para Arche:

“Arche, sinto muito, mas você não terá voz ativa nesta decisão.”

“—Não precisa se desculpar. Está bem. Eu entendo que não posso dar uma resposta
adequada, já que estou em dívida.”

Isso era o que eles chamavam de ser cegado pela ganância.

“—Sendo sincera, eu tenho sorte de não ter sido expulsa da equipe.”

“De onde inventou isso? Sorte tivemos nós de ter uma magic caster habilidosa como
você na nossa equipe.”

Não foram bajulações vazias. Mas um fato compartilhado por todos. Em particular seu
Talento. Seus olhos místicos tinham salvado Hekkeran e os outros incontáveis vezes.

Capítulo 1 Convite Para a Morte


5 4
Se alguém tivesse que nomear o Talento de Arche, talvez chamá-lo de “Olhos da Visão-
Total”, isso poderia ser apropriado.

Aparentemente, todos os magic casters arcanos irradiavam uma aura invisível de magia.
O Talento de Arche permitia que ela percebesse essa aura e entendesse qual nível de
magia alguém poderia usar.

A utilidade de ser capaz de perceber a força de um oponente dispensava explicações.

Hekkeran conhecia apenas uma outra pessoa no Império com um Talento como o de
Arche. Esse seria o maior magic caster do Império — Fluder Paradyne.

Em outras palavras, apenas pelo poder de seus olhos, Arche estava de igual para igual
com o poderoso Fluder.

“É sério, até hoje eu não acredito que a Academia Imperial de Magia te liberou de lá,
você leva muito jeito.”

“É mesmo, tão jovem e já é capaz de usar a magia do meu nível. Pelo que sabemos, ela
pode acabar sendo capaz de atingir o sexto nível.”

“—Isso provavelmente seria muito difícil. No entanto, apenas sabendo que a possibili-
dade existe, fico muito feliz.”

Depois que o clima esfriou novamente, Hekkeran bateu palmas. O som claro e nítido
chamou a atenção de todos.

“E aí, devemos ou não aceitar este trabalho? Roberdyck.”

“Eu acho que não terá problema.”

“Imina?”

“Não tem nada de muito suspeito, então... Além disso, não temos um bom trabalho há
um bom tempo.”

Os Trabalhadores não conseguiam emprego com frequência. Mesmo matando undeads


nas Planícies Katze há dois dias, isso era um extermínio regularmente programado, e
não era o mesmo que um pedido de um cliente.

“Então...”

“—Se estão preocupadas comigo, podem relaxar. Eu tenho outras maneiras de ganhar
dinheiro mesmo sem aceitar esse emprego.”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


5 5
Os três se entreolharam e então Imina sorriu fracamente.

“Até parece. Pense bem, esse trabalho vale muito a pena, e o pagamento é realmente
generoso. Né, Rober?”

“Exatamente. Não é por você, mas pelos os tesouros dormem nas ruínas. Não é verdade,
Hekkeran?”

“Ouviu isso, Arche? A única coisa ruim nisso tudo é que a gente não vai levar crédito
nenhum e nem pode anunciar que descobrimos essas ruínas.”

“—Obrigada, pessoal.”

Arche se curvou em agradecimento e os três sorriram.

“Hey, Arche, quer vir comigo para trocar essa placa de crédito por dinheiro? Quanto a
vocês dois, vão ter que ficar com a difícil tarefa de ajudar a preparar nossos equipamen-
tos de aventura.”

Equipamentos de aventura incluíam coisas como corda, óleo e itens mágicos. Isso exigia
uma verificação cuidadosa. O meticuloso Roberdyck e Imina com suas habilidades da
profissão Ladino estavam bem adaptados à tarefa. No entanto, a verdadeira razão era
que Hekkeran não era adequado para fazer essas coisas.

“Sem perder tempo, vamos logo. Ainda assim... Arche.”

Arche inclinou a cabeça, como se perguntasse “Hm?” Hekkeran falou a questão que es-
tava em sua mente.

“Diz aí, o pagamento deste trabalho será suficiente para limpar seus débitos?”

“—Não se preocupe. Se eu pagar esse dinheiro primeiro, poderemos durar mais um


tempo.”

“Se não der, posso te empresar, tá bom?”

“É como ele diz, pode pagar nos próximos trabalhos.”

Eles nunca diriam “Nós pagaremos por você”. Isso era apenas esperado. Os membros da
Foresight eram iguais, afinal.

“—Permita-me recusar. Eu acredito que é hora dos meus pais pagarem suas próprias
dívidas. Tudo o que posso fazer é dar-lhes algum tempo, como um ato de piedade.”

“Como quiser.”

Capítulo 1 Convite Para a Morte


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Os quatro se entreolharam e então começaram suas respectivas tarefas.

Parte 3

Era um bairro residencial de alto padrão na Capital Imperial, cujos terrenos espalhados
eram cobertos por mansões antigas, porém robustas e luxuosas. A maioria dos morado-
res dessas casas veneráveis, ainda que certamente não decrépitas, eram nobres.

A residência de um nobre era seu símbolo de status. Qualquer um que não pudesse ar-
car com os gastos financeiros em sua casa seria o alvo da sociedade nobre.

Coisas como acessórios, joias, roupas, casas e pátios; todos esses itens decorativos eram
ativos militares no campo de batalha conhecido como sociedade nobre. Isso porque es-
ses itens não eram apenas um sinal de riqueza, mas também da amplitude e profundi-
dade de suas conexões. Então, viver em um lar austero era razão suficiente para zomba-
ria. Portanto, a menos que fossem de inclinação militar e não tivessem interesse em
questões políticas, os nobres lutaram com unhas e dentes para decorar a si mesmos e
suas casas.

Em outras palavras, era como uma demonstração de força militar; apenas pessoas com
força suficiente poderiam fazer uma coisa dessas.

Se alguém olhasse em volta, notaria algumas coisas.

Este lugar era em uma parte da Capital Imperial com excelente segurança, de fato, era
muito tranquilo. Contudo, havia outro motivo para o silêncio da região circundante além
da segurança. Também foi porque muitas das casas aqui não pareciam habitadas.

Na verdade, ninguém morava em muitas dessas mansões. Eram casas vazias, antiga-
mente pertencentes aos nobres que haviam sido destituídos de seus títulos pelo Impe-
rador Sangrento e tiveram que abandoná-las quando não puderam pagar a manutenção
dessas moradias.

Em meio a esse mar de residências vazias, uma mansão ainda era habitada. No entanto,
as paredes externas não haviam sido mantidas adequadamente, e parece que alguém
havia negligenciado o cuidado com a vegetação no pátio.

Os pais de Arche receberam-na com expressões duras na sala de visitas da mansão. Seus
rostos exibiam os trejeitos esperados daqueles com educação nobre. E ambos usavam
roupas de qualidade superior.

“Oh, você voltou, Arche.”

“Seja muito bem-vinda.”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


5 7
Antes que Arche respondesse, seus olhos notaram o enfeite de vidro na mesa. Era um
copo de vinho primorosamente esculpido e irradiava um ar de classe e elegância.

O rosto de Arche se contorceu, porque ela nunca tinha visto aquele item antes.

“—O que é aquilo...?”

“Oh, isso é do renomado artesão Jean...”

“—Não é isso que estou perguntando. Não tínhamos isso quando saí, por que temos
agora?”

“É porque eu o comprei esta manhã.”

Quando ela ouviu o tom casual de seu pai — como se ele estivesse discutindo o clima
de hoje — o corpo de Arche tremeu.

“—Quanto foi?”

“Hmm... eu acredito que foram quinze moedas de ouro. Barato, não?”

A cabeça de Arche se inclinou em desespero. Qualquer um teria feito o mesmo, se a


dívida que tivessem de pagar aumentasse novamente depois que eles pagassem parte
com o depósito para o trabalho.

“—Por que comprou?”

“Como nobres, as pessoas vão rir de nós se não gastarmos dinheiro com essas coisas.”

Seu pai riu com orgulho, e Arche não pôde deixar de encará-lo com hostilidade.

“—Não somos mais nobres.”

Aquelas palavras fizeram o rosto de seu pai endurecer e ficar vermelho.

“Errado!”

Seu pai bateu com o punho na mesa com um baque. Felizmente, a mesa da sala de visitas
era grossa o suficiente para que a taça de vinho mal se mexesse. Arche não se importaria
em quebrar, seu pai também não se importaria. Ele teria simplesmente pensado que era
uma despesa de apenas 15 moedas de ouro.

Quando Arche tentou suprimir a irritação, seu pai continuou amaldiçoando soltando
perdigotos.

Capítulo 1 Convite Para a Morte


5 8
“Quando aquele desgraçado morrer, poderemos retomar nosso status de nobre imedi-
atamente! Somos nobres que serviram como espinha dorsal do Império por mais de cem
anos! Como ele pode nos expulsar assim!? Isso aqui é um investimento para quando re-
cuperarmos nosso status! Além disso, essa demonstração de força mostrará a todos que
não vamos ceder àquele idiota!”

O idiota é você.

Essa era a opinião de Arche sobre o pai que bufava “Àquele idiota” como um buldogue,
provavelmente se referia ao Imperador Sangrento, mas certamente ele não se importa-
ria com uma família tão insignificante quanto a de Arche. Nesta altura do campeonato,
tinha que haver maneiras melhores de mostrar desafio do que isso.

Porém, seu pai era como um sapo no fundo de um poço, que não podia ver nada que
não passasse por cima de sua cabeça.

Arche sacudiu a cabeça cansada.

“Vocês dois, já chega.”

Os tons relaxados de sua mãe provocaram um cessar-fogo temporário entre Arche e seu
pai.

Ela então se levantou e ofereceu à Arche um pequeno frasco.

“Arche, comprei este perfume para você.”

“—Quanto custou?”

“Três moedas de ouro.”

“Ah... obrigada.”

Agora já são dezoito moedas de ouro...

Arche calculou em sua cabeça enquanto agradecia sua mãe, então cuidadosamente
guardou o pequeno frasco em seu bolso.

Era muito difícil para Arche tratar friamente sua mãe. Isso porque, comprar perfume
ou cosméticos era uma compra muito sensata de um certo ponto de vista.

Ficar bela, frequentar jantares elegantes e chamar a atenção de nobres ricos. A alegria
de uma mulher era se casar, engravidar, ter filhos e criá-los; então isso foi muito apro-
priado do ponto de vista de uma nobre. Investir em cosméticos para esse objetivo não
seria um erro.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


5 9
Mesmo assim, comprar perfume era demais quando a família estava em situação tão
precária. Para efeito comparativo, 3 moedas de ouro seriam suficientes para uma família
plebeia viver por um mês.

“—Já perdi a conta de quantas vezes te disse, não gaste sem pensar. Apenas gaste o
mínimo necessário para sobreviver.”

“Isso é o que estou tentando dizer-lhe! Foi uma despesa necessária!”

Arche olhou cansada para o pai, que estava tão zangado que seu rosto estava coberto
de manchas vermelhas. Eles haviam discutido assim várias vezes no passado e termina-
ram inconclusivamente todas as vezes. Por um lado, Arche tinha culpa por ter deixado
as coisas nesse estado. Se ela não tivesse pagado as contas de casa tantas vezes, talvez
as coisas não tivessem acabado assim, e ela não teria dado problemas à Foresight.

“—Essa vai ser a última vez que verão o meu dinheiro. Vou sair dessa casa e levar mi-
nhas irmãs comigo.”

Seu pai começou a ofegar pesadamente ao ouvir sua voz calma.

Pelo menos ele tem noção para saber o que vai acontecer se ninguém trouxer o ganha-
pão. Pensou Arche friamente.

“Se esqueceu de quem pagava suas contas até um dia desses!?”

“—Já o ressarci mais do que merece.”

O pronunciamento de Arche foi simples e definitivo. O dinheiro que ela tinha dado a
seus pais era uma quantia considerável. Além disso, esse dinheiro foi ganho através de
aventuras. Era o dinheiro que deveria ter sido usado para se fortalecer com seus compa-
nheiros. Embora fosse verdade que todos estavam livres para gastar seu dinheiro como
bem entendessem, havia um entendimento tácito de que a maior parte deles iria para o
fortalecimento de si mesmos.

O que os amigos de Arche pensariam quando vissem como ela mal comprava novos
equipamentos?

Não fortalecer seu traje de guerra significava que permaneceria fraca para sempre.

No entanto, os membros da Foresight não a disseram nada. E Arche sempre fôra grata
por esta gentileza da parte deles.

Arche virou um olhar fulminante para seu pai. Sob seu olhar inflexível, seu pai se aco-
vardou e se virou, isso era de se esperar. Arche caminhou à beira da morte inúmeras
vezes. Ela não poderia se amedrontar diante de um nobre covarde.

Capítulo 1 Convite Para a Morte


6 0
Arche olhou para o pai mais uma vez, viu que ele não ousava falar novamente, e com
isso saiu da sala.

Ela fechou a porta atrás dela e suspirou. Uma voz a chamou, como se estivesse espe-
rando por esse momento.

“Jovem Mestra.”

“—O que foi, Jimes?”

Era Jimes, o mordomo que os servira fielmente ao longo dos anos. Seu rosto enrugado
estava rígido e apreensivo. Arche imediatamente percebeu o motivo disso. Isso porque
muitas vezes ele fez essa cara nos anos desde que seu pai tinha sido despojado de seu
status nobre.

“Peço desculpas por ter que falar sobre isso, Jovem Mestra, mas...”

Arche levantou a mão para interrompê-lo. Os dois sentiram que não se tratava de um
assunto que deveria ser discutido no corredor do lado de fora da sala de visitas, então
foram para um lugar mais reservado.

Arche pegou uma bolsa de couro de um bolso oculto e abriu. Várias cores diferentes
brilhavam lá. Os mais numerosos eram os lampejos de prata, seguidos pelos de cobre, e
os menos numerosos eram os de ouro.

“—Isso será o suficiente para te ajudar por ora?”

Jimes pegou a bolsa. Sua expressão tinha suavizado um pouco depois de ver as moedas
dentro.

“Meu salário e o dinheiro para os comerciantes... acredito que será suficiente, Jovem
Mestra.”

“—Ótimo.”

Arche suspirou de alívio. Mesmo assim, isso estava apenas financiando uma dívida.

“—Não conseguiu impedir o pai de comprar besteiras?”

“Infelizmente, não. O vendedor veio com um nobre que ele conhecia. Eu tentei lembrar
o Mestre várias vezes, mas ele...”

“—Entendo.”

Ambos suspiraram.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


6 1
“—Eu gostaria de fazer uma pergunta. Se demitirmos todos que estamos empregando
agora, quanto precisaremos de indenização por demissão?”

Os olhos de Jimes se arregalaram e ele sorriu tristemente. Não houve choque em sua
expressão facial; um sinal de que ele estava preparado para isso.

“Compreendo. Vou calcular o valor e informá-lo à senhorita, Jovem Mestra.”

“—Conto com você.”

Só então, o som de passos rápidos atingiu seus ouvidos. Ela sabia quem tinha feito isso
mesmo sem se virar para olhar.

A pequena boca de Arche suavizou as expressões e, quando ela se virou, viu alguém
correndo. A outra parte não diminuiu a velocidade, simplesmente correu de cabeça nos
braços de Arche.

A pessoa que a atacara tinha menos de um metro de altura e com cerca de 5 anos, a
forma de seus olhos era muito semelhante aos de Arche. A garota estufou as bochechas
rosadas, aparentemente muito descontente.

“É tão duuuuro!”

Isso não era uma crítica ao fato de seu peito ser muito plano depois de se jogar no
abraço de Arche.

Seu traje constituía de muito couro para fornecer excelente força defensiva. A couraça,
em particular, era feita de couro endurecido. Certamente a garota deve ter se sentido
como se seu rosto tivesse sido achatado quando ela a atacou de cabeça.

“—Se machucou?”

Arche tocou o rosto da menina e acariciou a cabeça dela.

“Mmm, não mesmo, onee-sama!”

A menina sorriu alegremente e Arche sorriu para a irmã também.

“...Então, eu me despeço.”

O mordomo partiu, não querendo perturbar as duas e, quando Arche o observou, ela
fez um afago na cabeça da irmã.

“—Urei... correr no corredor não é...”

Capítulo 1 Convite Para a Morte


6 2
Arche engoliu as palavras no meio do caminho. Ela queria dizer que correr pelos corre-
dores não era condizente com uma filha nobre, mas Arche já havia dito a seu pai que eles
tão tinham mais status de nobres. Nesse caso, que mal faria se ela corresse no corredor?

A mão de Arche não parou enquanto pensava, e a garota cujos cabelos ficaram bagun-
çados riu inocentemente. Arche olhou em volta e percebeu que a outra não estava.

“—Onde está a Kuuderika?”

“No quarto dela!”

“—Sei... Tenho que contar uma coisa. Vamos juntas para o seu quarto.”

“Uhum!”

Sua irmãzinha sorriu feliz. Proteger esse sorriso era a sua obrigação. Arche apertou a
pequena mão de sua irmãzinha enquanto aquela emoção poderosa tomava conta de seu
coração.

Arche podia sentir o calor através da mão que era ainda menor que a dela.

“Onee-sama, sua mão é tão dura.”

Arche olhou para a outra mão vazia. Ela havia sido cortada várias vezes durante suas
aventuras, suas mãos agora eram ásperas e duras, não mais a mão de uma nobre. Mas
ela não tinha arrependimentos. Suas mãos eram a prova de que ela tinha sobrevivido
com seus amigos — com a Foresight.

“Mas eu gosto muito mesmo assim!”

As mãos da irmãzinha fecharam em torno da mão de Arche, que sorriu.

“—Obrigada.”

♦♦♦

O Mercado Norte da Capital Imperial era tão animado e movimentado como sempre. No
entanto, poucos dos cidadãos comuns viriam aqui para comprar coisas, então, ao con-
trário do Mercado Central lotado, podia-se percorrer as barracas livremente sem esbar-
rar em ninguém.

Hekkeran e Roberdyck soltaram a tensão de seus ombros ao darem de cara com a visão
familiar e começaram a olhar as vitrines.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


6 3
Eles estavam relaxados e despreocupados, como se a palavra “cautela” não existisse em
suas mentes. Isso porque não havia batedores de carteira ou ladrões no Mercado Norte
— poderia muito bem ser o lugar mais seguro em toda a Capital Imperial.

“E então, Hekkeran? Compraremos o quê?”

“Itens de cura primeiro. Espero que tenha algumas varinhas com 「Cure Light Wounds」
na promoção. E pelo jeito dessa missão, varinhas com 「Cure Middle Wounds」 vão ser-
vir também... mas compre aquelas que tem pelo menos metade da carga. Já o lugar é um
tumba, pode ser útil contra os undeads. E por falar neles, um kit básico de contra medi-
das vai cair bem, itens pra resistir a veneno e doenças. Também seria bom encontrar
alguma maneira de lidar com a energia negativa ou incorpóreos... O problema é que itens
permanentes custam o olho da cara, sei lá... então os pergaminhos com magias relevan-
tes podem servir. Complicado...”

As varinhas eram itens mágicos infundidos com múltiplas conjurações da mesma magia
e eram mais baratas do que os pergaminhos no quesito uso x preço. Portanto, comprar
varinhas com magias usadas frequentemente — como magia curativa — era mais eco-
nômico do que os pergaminhos.

“Aham. Mas pensei que estava planejando comprar um presente... e por isso que me
pediu para acompanhá-lo, para ouvir minha opinião.”

“Presente, é?”

“...Nada não, Hekkeran. Ponha algum esforço para encontrar algo bom.”

“...Er, tá certo.”

Quase tudo vendido nesse mercado era lixo.

Na maior parte, o mostruário era simplesmente um monte de itens feitos de metal la-
minado. Poucos deles eram novos, sendo sincero; todos pareciam bens velhos ou surra-
dos de segunda mão.

Quase todos os comerciantes aqui pareciam que poderiam lutar, a julgar pelos bíceps
protuberantes. Isso, ou eles estavam vestidos como magic caster que pareciam mais ade-
quados para a batalha do que barganha.

De relance, eles pareciam guarda-costas, mas a verdade era que eram os chefes de suas
respectivas barracas. Contudo, eles eram apenas chefes do dia. Ganharam mesmo a vida
como aventureiros ou Trabalhadores. Em outras palavras, eles estavam no mesmo ne-
gócio que Hekkeran e Roberdyck.

O que vendiam aqui eram itens que já haviam usado, ou itens que haviam descoberto
durante suas aventuras, mas que os membros do grupo não podiam usar. Nesse caso, em

Capítulo 1 Convite Para a Morte


6 4
vez de vendê-los a um revendedor da Guilda dos Magistas, seria melhor encontrar clien-
tes interessados e poupar as despesas de um intermediário no processo. Essa aborda-
gem oferecia muitos benefícios tanto para o comprador quanto para o vendedor. Mesmo
depois de contabilizar os custos de pagar a Guilda dos Comerciantes para montar uma
barraca, eles ainda poderiam lucrar.

Por essa razão, muitos aventureiros e Trabalhadores como Hekkeran e sua turma
viriam a este lugar para procurar tesouros escondidos. Algumas pessoas até vieram aqui
todos os dias durante a sua estadia na Capital Imperial em busca de um bom negócio.
Essa também foi a razão pela qual havia poucos crimes no Mercado Norte. Quem em sã
consciência tentaria arrumar confusão com tantos veteranos em combate por perto?

Os dois andaram pelas barracas por um tempo. Eles não ficaram desapontados, mas
também não estavam contentes.

“Não achei nada.”

“Nem eu.”

Todos os itens à venda eram itens que Hekkeran e os outros não precisavam ou que não
podiam usar. Talvez se os dois fossem aventureiros de baixo nível ou Trabalhadores no-
vatos pudessem achar algo que lhes fosse útil, mas, infelizmente, não havia nada que a
dupla — ou mesmo seus colegas — quisessem comprar.

“Que pena, talvez seja mais rápido se formos numa loja comum.”

“Bem, a gente só tava caçando umas pechinchas aqui mesmo, fazer o que se não tem
anda que interessa. Ah, bem, lugares assim só servem pra poupar umas moedas.”

“Poupar, huh... Hekkeran, o que acha que vai acontecer?”

“Se eu soubesse o que tá falando sendo tão vago, eu seria um magic caster de elite... Tá
falando da Arche, é?”

“Viu, só? Você sabe.”

“Bem, pelo tom da conversa deu pra adivinhar...”

“Então já entendeu onde quero chegar, não é?”

“...Que esta pode ser nossa última aventura?”

“Por favor, não fale uma coisa dessas maneira tão pouco auspiciosa...”

Roberdyck sorriu amargamente e continuou:

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


6 5
“Ainda assim, não está muito longe da verdade. Arche disse que estava levando suas
irmãs para criá-las sozinha. Se ela conseguir mesmo, nos aventurarmos juntos não será
nada fácil.”

“É... Mas com o Talento dela, tenho certeza que ela vai encontrar um bom emprego —
um mais seguro — e não vai precisar se aventurar.”

“Encontrar trabalho não será difícil. Ela é uma magic caster de terceiro nível. Embora
eu não saiba quantas pessoas existem em sua família — quantas irmãs ela tem e coisas
assim — ela deve ser capaz de sustentar três ou quatro pessoas.”

“Penso o mesmo. Com certeza ela vai dar conta de criar as irmãs sozinha.”

“Nesse caso, somos nós que teremos problemas. Uma vez que a Arche-san deixar a
equipe, quem devemos colocar no lugar dela?”

“Não sei, podemos tirar a sorte grande e trombar em um magic caster arcano de terceiro
nível que alguém deixou à beira da estrada?”

“Me faça um favor, deixe seus sonhos para quando estiver dormindo... Se fôssemos
aventureiros, poderíamos pedir a Guilda que colocasse um aviso... mas estamos por
conta própria, tudo se resume à sorte.”

Os dois se entreolharam e depois suspiraram ao mesmo tempo.

A morte de um amigo, alguém incapaz de manter um ritmo, ou até ser mais capaz de o
resto da equipe. Nestas situações, um aventureiro ou um Trabalhador deixaria sua
equipe. Não era uma situação rara. Em contrapartida, permanecer na mesma equipe du-
rante toda a carreira seria a raridade; na maior parte, todos mudariam de equipe duas
ou três vezes.

Hekkeran, Roberdyck e Imina eram exemplos vivos disso.

Entretanto, mesmo se fosse esse o caso, isso não significava que poderiam facilmente
encontrar um magic caster arcano — e um capaz de lançar magias de terceiro nível —
que também era um Trabalhador sem equipe alguma.

“Que tal deixar um magic caster de segundo nível entrar e depois treiná-lo?”

“Assim, só em último caso, sabe? Se possível, eu prefiro evitar uma coisa assim.”

“Temos que aceitar que pessoas talentosas não ficam em cada esquina. E quem vira
Trabalhador geralmente têm algum tipo de defeito de personalidade, e justamente por
isso, aceitar qualquer um pode gerar problemas no futuro. Imagina se vier um daqueles
maníacos por batalhas.”

Capítulo 1 Convite Para a Morte


6 6
“...Passando as coisas a limpo agora, somos praticamente um milagre.”

“Da última vez que refleti a respeito, nossa equipe faz as coisas por dinheiro, o que é
uma raridade. Bem, a Arche se juntou depois de ouvir os rumores sobre nós, então ela é
uma exceção.”

“Quando a Arche-san chegou, a gente pensava em como obter nosso último membro.”

Roberdyck olhou para longe. Hekkeran percebeu que provavelmente tinha uma expres-
são semelhante em seu próprio rosto.

“Ainda me lembro do que estava bebendo naquela época... Arche-san veio na hora certa.
Aquilo me fez sentir como se os deuses estivessem nos dizendo para formar uma equipe.”

“Caramba, que incrível. Minha memória não é muito boa pra essas coisas. Mas o que
tava bebendo naquela época, Rober?”

“Água.”

“Mas você bebe isso todo dia, não...? Você não chegado em coisa alcoólica mesmo. Ainda
bem, imagina se bebesse igual à Imina.”

“Fazer o quê? Meu estômago não gosta muito. Mas o vício da Imina-san no álcool é um
problema pessoal...”

“Ah, é... você é do tipo que muda de cor de vermelho, azul e branco já no primeiro gole.
Se não fosse pela magia de antídoto, não sei onde teria parado daquela vez que tentou
beber.”

“Talvez estivesse no além-vida e estaria tendo essa conversa com outro. Pessoas mor-
reram de envenenamento por álcool antes.”

Roberdyck deu de ombros e continuou:

“Mas voltando ao assunto. Se a Arche-san sair, o que pretende fazer? É possível que
dissolva a equipe?”

“...Se não der pra reunir membros suficientes, vou ficar em um beco sem saída. Se aven-
turar só com três é perigoso demais... ou quer voltar a ser um aventureiro?”

“Eu não quero voltar àqueles dias de implorar aos templos permissão para salvar al-
guém. Eu prefiro me aposentar do que fazer isso.”

“Aposentadoria, huh... até que não soa nada mal.”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


6 7
“Já tenho uma boa reserva de dinheiro e espero encontrar um emprego onde possa aju-
dar os fracos e se tornar uma fonte de força para os outros. Talvez eu pudesse ir a um
vilarejo de fronteira e ser um sacerdote de meio expediente enquanto aro os campos. E
você, Hekkeran?”

“Ainda não sei direito.”

O canto da boca de Roberdyck se encolheu.

“...Sei, é que não depende só de você, não é?”

Hekkeran não entendeu o significado das palavras de Roberdyck por um momento. No


final, ele finalmente entendeu o que o outro homem queria dizer, e o rosto de Hekkeran
se contraiu.

“—Como você—!?”

“He Heeh!” Ele sorriu maldosamente e:

“Pensou mesmo que eu não tinha notado?”

“Ah, ahhhhhh~! Não é o que tá pensando, eu não tava escondendo isso de propósito!
Olha meu lado, é que não achei um bom momento pra contar a vocês... ah, era isso que
quis dizer com presente...?”

“Mas e então, quem confessou primeiro?”

“Ei, Rober! Olhe aquilo—!”

Hekkeran estava apontando para um par de pessoas que estavam inspecionando a mer-
cadoria dentro de uma tenda de luxo.

Um deles era um guerreiro de armadura preta. Uma capa carmesim e um par de espadas
grandes cruzadas adornavam as costas dele.

“Mudando de assunto, huh... tudo bem, que assim seja. Eu vou perguntar sobre isso mais
tarde. Hmm, o equipamento parece de primeira qualidade; se ele é tão bom quanto seu
equipamento, então ele deve ser um poderoso guerreiro. Conhece ele, ou já o viu com-
prando coisas aqui?”

“Não sei, mas tenho a sensação de que nunca vi esse sujeito na Capital Imperial. Quero
dizer, olha aquela garota ao lado dele. De onde tá não deve dar pra ver direito. Mas ela é
novidade por aqui.”

“Sim, o ângulo está ruim. Mas me diga, entre ela e a Imina-san, quem é mais bonita?”

Capítulo 1 Convite Para a Morte


6 8
“—Para com isso! Quer que eu te responda o quê...? Tá... digamos que a companheira do
cara é mais fofa.”

“E a Imina-san é bela do jeito dela? Entendi. É como dizem, a pessoa amada é a mais
bela dentre todas, você é desses, não é, Hekkeran...? Enfim. Acho que sei o que aquela
dupla é, são viajantes, ou aventureiros estrangeiros. Também podem ser uma equipe que
acaba de transferir sua base de operações para a Capital Imperial.”

“Pode ser, mas estão comprando itens mágicos de uso diário, não acha estranho?”

A tenda de aparência luxuosa estava enfeitada com todos os tipos de itens mágicos. No
entanto, esses itens não eram do tipo que os aventureiros ou Trabalhadores usariam,
mas, sim, eram itens destinados ao uso diário. Por exemplo, uma caixa que gerava tem-
peraturas frias e mantinha comida fresca, ou um ventilador que poderia criar correntes
de ar para manter as pessoas frescas.

Muitos desses itens foram inovações há 200 anos atrás, feitos por um Minotauro conhe-
cido como o “Sábio Falastrão” ou mesmo como “Sábio Atrevido”.

Aquele guerreiro teve idéias para todos os tipos de dispositivos, mas ele não tinha a
capacidade de fazê-los, e ele não conseguia explicar o porquê esses itens tinham que ter
a aparência ou os princípios que os impulsionavam, daí seu apelido.

Todavia, o Minotauro em si era um guerreiro de primeira linha, que havia deixado um


rastro de contos inacreditáveis atrás dele, como a habilidade de conjurar furacões com
um golpe de seu machado ou criar terremotos batendo-o no chão, coisas assim. Além
disso, ele se tornou famoso ao elevar o status de raças humanoides de mera comida para
escravos, tudo isso dentro de uma nação Minotauro.

O fato de que os aventureiros — que normalmente viviam em pousadas — realmente


se interessariam por esses itens mágicos de uso diário, pois haviam sido projetados por
semelhantes, era bastante incomum.

“Não é tão estranho assim. A tecnologia mágica do Império é bastante avançada e esses
itens são mais baratos do que em outras nações. Eles provavelmente estão pensando que
valerá a pena levá-los para casa, mesmo que seja necessário um pouco mais de esforço.”

“Ah, faz sentido. Realmente pode ser o caso.”

“É estranho do nosso ponto de vista, mas se considerar isso da perspectiva de um via-


jante, não é estranho.”

“Sim. Desse jeito que colocou, posso entender o porquê ficam pegando e analisando com
tanta concentração.”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


6 9
O guerreiro armadurado parecia estar mexendo cuidadosamente no item mágico. Ele
abriu e fechou as portas do item, pegou e depois virou. Quase se podia ver o suor se
formando na testa do vendedor.

“Melhor irmos comprar nossas coisas com a mesma seriedade dele.”

“Não discordo, viu...”

Capítulo 1 Convite Para a Morte


7 0
Capítulo 02: Borboleta Presa na Teia de Aranha

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


7 1
Parte 1

sol ainda não havia nascido, mas já havia um bom número de Trabalhado-

O res reunidos no pátio do Conde. Os últimos a chegar foram Hekkeran e os


membros da Foresight, para um total de 18 pessoas. Todas as pessoas reu-
nidas para este trabalho eram Trabalhadores conhecidos dentro da Capital
Imperial.

Cada time mantinha uma distância fixa dos outros, e ao mesmo tempo eles mediam um
ao outro com cautela, então o fato de que todos os olhos fossem para os membros da
Foresight quando chegavam por último foi uma visão bastante intimidadora.

“Ah, existem alguns rostos familiares. Por falar nisso, não encontramos o Sr. Besourão
lá nas Planícies Katze?”

“Huh, pensei que tinha falado disso. A equipe do Gringham também foi contratada... es-
tranho... Eu não contei pra você? Eu tenho a sensação de que eu falei... enfim, como pode
ver, a nata dos Trabalhadores do Império estão reunidos sob o mesmo teto! Um caloroso
aplauso para as amplas finanças do nosso cliente!”

“Creio que podemos dispensar os aplausos. Vamos deixar isso de lado por enquanto; os
que estão lá devem ser os líderes de equipe.”

Todos os presentes foram divididos em suas equipes e, entre eles, um grupo de três
pessoas discutia informações.

“Gringham também tá lá. Certo, vou lá dizer oi.”

“...Nossa! Credo, aquele desgraçado tá aqui também? Grh! É sério isso? Então aquelas
Elfas devem ser... que merda. Morra, seu filho da puta.”

Imina murmurou amargamente para si mesma. Ela poderia estar mantendo a voz baixa,
mas Hekkeran e os outros ainda estavam em pânico enquanto examinavam os arredores
em busca de sinais de hostilidade.

“Imina-san!”

“Eu sei, Rober. Ele vai ser nosso colega neste trabalho... mas eu só queria que eu não
tivesse que ver o rosto dele.”

“—Eu não gosto dele também.”

“Olha, eu também não vou com a cara dele, nem apoio o que ele faz, mas você precisa
ter cuidado com essa sua atitude.”

Capítulo 2 Borboleta Presa na Teia de Aranha


7 2
Hekkeran se interpôs entre Roberdyck e Imina, cujo rosto dizia “Ah, cala a boca”, depois
sorriu ao dar os ombros de forma caricata.

“...Ei, vou lá dar um oi. Evite falar essas coisas por agora. Não quero parecer um cara de
pau lá.”

“Dê seu melhor, líder.”

Depois de ouvir Roberdyck animá-lo, Hekkeran deliberadamente franziu o rosto e res-


mungou:

“Ah, claro, só eu, né...”

E então foi até o grupo de três pessoas.

O primeiro a cumprimentar Hekkeran quando ele se aproximou foi um Trabalhador


com uma armadura completa da cor de aço.

Devido à estrutura estranha e arredondada das placas e às curiosas dimensões das om-
breiras, ele não se parecia muito com um humano, mas sim com um gigante besouro
bípede.

Um chifre grande estava preso no elmo, um sinal de que ele estava deliberadamente
cultivando essa imagem.

No entanto, o restante da aparência não foi intencional. As pernas do homem eram


muito curtas, então ele realmente parecia um besouro-rinoceronte forçado a ficar em pé
sobre as patas traseiras. Uma maneira mais agradável de dizer isso seria dizer que suas
pernas curtas e atarracadas estavam firmes no chão, e ele parecia um Dwarf, só que bem
alto e era bem adequado para ser um guerreiro.

“Como eu esperava, vosso grupo nos deu o ar de sua graça, Hekkeran.”

“Pois é, Gringham. Os termos desta vez não eram tão ruins.”

Hekkeran acenou para as outras duas pessoas. Sua atitude não foi digna, mas nenhum
deles parecia infeliz. Isso porque os quatro poderiam ter tido diferentes idades e expe-
riências diferentes, mas eram igualmente qualificados como Trabalhadores.

“Então, os membros do grupo...” Hekkeran olhou para a equipe de Gringham e contou-


os antes de responder:

“Há apenas cinco; o que aconteceu com os outros?”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


7 3
“Meus estimados companheiros estão descansando e aliviando a fadiga. Além disso,
eles trabalharam da mesma forma que eu, agora precisam consertar ou substituir a pa-
nóplia danificada ou destruída.”

Este homem — Gringham — o líder da equipe chamada Heavy Masher, uma grande
equipe de Trabalhadores com 14 membros.

Havia méritos em terem tantos. Um era a capacidade de abordar um trabalho de vários


ângulos diferentes, o que dava muitas maneiras de resolver problemas. Em particular, a
capacidade de se recombinar em uma equipe para adaptar as intempéries e a qualquer
solicitação era uma grande vantagem.

No entanto, essa abordagem também continha deméritos. Um deles era o fato de que o
pagamento era dividido entre o número de pessoas e, portanto, cada indivíduo receberia
menos. A segunda falha foi que decidir que algo levaria muito tempo, resultaria em abor-
dagens lentas.

Depois de somar os prós e contras, o fato de que esse homem poderia agrupar Traba-
lhadores com base em tendência e conflitos de personalidade, para logo em seguida ajus-
tar o grupo e fazê-los trabalharem sincronamente era uma prova de sua grande habili-
dade como líder.

“Caramba... é complicado. Mas e aí... porque não atua como nosso apoio? Aí os amigos
que deixou não vão te odiar por ganhar mais dinheiro, que tal?”

“Ultrajante. Como um líder em meus plenos direitos, cabe à minha pessoa acalmar os
subordinados afoitos uma vez que a tarefa seja concluída. Lamentavelmente, nosso
bando deve buscar o melhor resultado possível para nós mesmos.”

“Ei, ei, calma. Só tô dizendo que tudo bem se falar normalmente com nós aqui.”

Gringham sorriu fracamente. Hekkeran viu que ele ficou sem graça, então deu de om-
bros e se virou para o outro homem:

“É a primeira vez que eu falo cara a cara com você.”

Ele estendeu a mão para o outro homem como uma demonstração de respeito, e esse
homem aceitou. Sua mão era firme e forte.

Seus olhos estreitos piscaram, depois de encarar Hekkeran.

“—Foresight. Eu ouvi falar de vocês.”

Sua voz era tão limpa quanto um sino. Pode-se dizer que se encaixa muito bem em sua
aparência.

Capítulo 2 Borboleta Presa na Teia de Aranha


7 4
“Vocês também, Tenmu.”

Não havia ninguém que não conhecesse esse espadachim gênio, que estava invicto na
arena. A equipe deste homem — Tenmu — era essencialmente uma equipe composta de
um homem, até certo ponto. No entanto, também era por isso que o rosto de Imina se
contorcia de desgosto.

“É bom ter o gênio da espada capaz de rivalizar com o mais poderoso guerreiro do Reino
— o grande Gazef Stronoff — nessa tarefa.”

“Obrigado. Mas, o correto não seria dizer que ele pode rivalizar comigo — o grande Erya
Uzruth?”

“Oh~ ousaaado.”

Erya sorriu cinicamente, um olhar arrogante no rosto. Depois de ver sua expressão,
Hekkeran piscou várias vezes para esconder a emoção que quase revelara.

“Enfim, tô ansioso pra ver sua técnica espadachim a todo vapor nas ruínas.”

“Sim. Espere e verá. Isso se tiver algum monstro nessas ruínas que possa me dar um
desafio.”

Erya deu um tapinha na arma em sua cintura.

“...Vai saber quais monstros têm lá. Tipo, podemos até encontrar um Dragão!”

“Realmente seria uma visão e tanto. Talvez um monstro poderoso como um Dragão
possa me desafiar. Mas no fim, eu sempre venço.”

“Sei... Sei...”

Hekkeran sorriu, embora só por fora. Ele olhou para ver a reação da última pessoa e se
esforçou para reprimir seus próprios sentimentos.

Ele se lembrava dos boatos sobre o espadachim solitário, Erya. Por ser alguém além de
um aventureiro orichalcum, talvez a resposta dele não fosse mero orgulho. Até porque,
ter confiança em suas próprias habilidades era algo bom; se gabar era muito importante
para os Trabalhadores.

Claro, enquanto não se cegassem por isso.

Os Dragões eram as espécies mais poderosas do mundo.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


7 5
Eles voavam pelo céu e expulsaram a respiração trovejante de suas bocas. Suas escamas
eram robustas e seus atributos físicos eram extraordinários. Os Dragões mais velhos po-
diam até usar magia. Eles possuíam um tempo de vida incomparável aos dos seres hu-
manos, e até mesmo um sábio teria que admitir derrota à sua sabedoria acumulada.

Devido ao seu poder, as histórias frequentemente os descreviam como inimigos per-


versos, ou seres que vez ou outra ajudavam os heróis. O objetivo final da última aventura
dos Treze Heróis foi o Dragão conhecido como “Deus Dragão”. E como dita as lendas, o
adversário final de um herói era frequentemente alguém das raças dracônicas.

Era bastante surpreendente como ele podia se comparar a um ser tão poderoso e agir
de modo tão convencido, mesmo que fosse brincadeira. Seu tom arrogante soava como
se estivesse brincando, mas infelizmente os olhos de Erya estavam sérios. Quão conven-
cido ele realmente era?

Ninguém sabia que tipo de monstros habitavam as ruínas que visitariam. Ele previu que
o estado mental de Erya era muito perigoso e poderia acabar arrastando todos ao desfi-
ladeiro. Esse deveria ser o caso.

É melhor eu ficar longe dele.

Se ele quisesse morrer, tudo bem, mas seria problemático se viesse envolver mais gente
nisso. Hekkeran sorriu para ele, e tendo tomado essa decisão, modificou sua abordagem
para com Erya; na visão dele estava claro que seria “usado e depois descartado”.

“E aqueles ali devem ser os membros da Foresight. Ora, ora...”

Um olhar de desdém e desprezo se fez presente nos olhos de Erya no momento em que
viu Imina.

Aparentemente, Erya nasceu na nação religiosa que reverenciava a humanidade como


a maior de todas as raças; a Teocracia Slane. Os cidadãos daquele país geralmente viam
pessoas com ascendência não-humana como cidadãos de segunda classe.

Do ponto de vista desse homem, ter uma mestiça como Imina trabalhando de igual para
igual com ele era algo muito perturbador.

Os rumores desse seu mau-caráter são verdadeiros... mas se esse cara realmente nasceu
na Teocracia, então ele deveria ter um nome de batismo. Mas tem aquele boato de que ele
abandonou o nome de batismo.

Hekkeran resmungou internamente e, só por precaução, ele disse:

“Ei ei, nem pense em se meter com meus amigos, beleza?”

“Claro. Seremos companheiros enquanto o serviço durar. Eu trabalho bem em equipe.”

Capítulo 2 Borboleta Presa na Teia de Aranha


7 6
“Vou tentar acreditar nisso.”

Esse homem, Erya, era como uma criança muito forte que se tornara adulto de repente.
Ele enervava os outros facilmente; ou melhor, ele estava mentalmente desequilibrado
em um certo grau. O clima ao seu redor era desagradável para os outros, e mesmo depois
de lembrar disso, Hekkeran não conseguia ficar relaxado.

“Não diga isso. Pode acreditar, tenho palavra. Enfim, vamos voltar ao tópico anterior.
Gostaria de deixar claro que não pretendo ficar no comando desta expedição. Desde que
não seja algo sem sentido, vou obedecer às instruções de qualquer um. Sintam-se à von-
tade para me deixarem de vanguarda durante a batalha; eu vou cortar todos os inimigos
com minha katana.”

“Tá, tudo bem.”

“...Nesse caso, voltarei para minha equipe. Se tiver algo a dizer é só me procurar lá.”

Erya fez uma reverência e saiu.

Quando viu as mulheres esperando por Erya, o rosto de Hekkeran se torceu por um
momento. Entretanto, ele não podia deixar seus sentimentos aparecerem em seu rosto.
Permitir que os outros saibam como ele se sente poderia ter suas vantagens às vezes,
mas a depender da situação os levaria a pensar que ele não estava apto a liderar uma
equipe.

Ele reprimiu suas emoções e disfarçou sua expressão.

Ele se virou, como se tivesse visto algo imundo, e cumprimentou a última pessoa.

“Como vai, honrado ancião? Saudável como sempre.”

“Bem, Hekkeran. Você parece ótimo também.”

Ele quase assoviava sempre que falava, pois quase todos os dentes da frente tinham
caído.

Ele era Parpatra “Green Leaf” Ogrion.

A fonte de seu apelido era a armadura que usava, que lembrava folhas verdes brilhando
com o orvalho da manhã. Essa armadura não era feita de metal, mas das escamas de um
Dragão esverdeado. Parpatra e sua equipe obtiveram sucesso na caçada. É claro que não
era um Dragão muito grande, mas mesmo um pequeno Dragão não era um inimigo que
um Trabalhador comum ou um aventureiro pudesse menosprezar.

Parpatra era um homem velho que estava na casa dos 80 anos.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


7 7
Normalmente, as pessoas nesse ramo de trabalho aposentam-se depois dos 45 anos.
Havia também algumas que se aposentariam pouco antes dos 40 anos. Poucos permane-
ceram como aventureiros após os 50 anos. Aqueles que trabalham em algo tão pesado,
onde a morte era um perigo muito real, não podiam ignorar os efeitos da idade mur-
chando seus corpos.

Mas na verdade, Parpatra era uma exceção, sua força havia se deteriorado muito desde
quando ele estava no auge — aparentemente, antes alcançou o nível orichalcum. Mesmo
assim, Parpatra se recusou a sair da vanguarda.

Parpatra e a maneira como continuava a aventurar-se apesar de sua idade avançada se


tornou um objeto de admiração por muitos nesse meio.

“Mhm, ele pode dar uns problemas pra nós.”

Ainda mais rugas apareceram no rosto já enrugado de Parpatra, e ele baixou a voz, um
gesto do qual Hekkeran aprovou.

“Sim. Se ele quer morrer, isso é o problema dele, mas eu prefiro não ir com ele também.”

“Indubitavelmente, sua força é real, mas confiança excessiva pode acabar colocando em
perigo seus compatriotas. Ele é extremamente perigoso.” Gringham parecia estar mur-
murando algo como “Quão problemático”. Depois de ver a atitude de Erya, provavel-
mente todos os Trabalhadores estavam pensando a mesma coisa.

“Na real, quão forte ele é? Faz tempo desde que fui lá na Arena.”

“Não sabe, meu caro? Tenho uma noção... o mesmo não valeria para o senhor, reveren-
ciado ancião?”

“Só ouvi falar que ele é bom, mas eu mesmo nunca vi. Talvez um dos meus companhei-
ros tenha visto, depois vou perguntar. Precisamos de um ponto de referência. Por exem-
plo, vamos colocar o Gazef Stronoff no topo, agora precisamos de algo mais familiar...
digamos assim... os Quatro Cavaleiros Imperiais estão nesse nível?”

“Os Cavaleiros também chamados de Explosão Pesada, Intangível, Relâmpago e Venda-


val Feroz, huh... Creio que usá-los como referência complicariam as coisas. Meu caro,
aqueles quatro são inferiores àquele grande homem — ao Capitão Guerreiro do Reino.
Mas, todavia, a era de ouro de Gazef Stronoff está com os dias contados. Com o passar do
tempo, novos guerreiros poderosos surgirão.”

“Então tá dizendo dizer que o Uzruth veio pra tomar o lugar dele, ele é forte assim? O
ruim é que eu nunca vi o poder dos Quatro Cavaleiros de perto... o cara mais forte que
eu já vi é o líder da Guarda Imperial Platina, aquele que age diretamente sob as ordens
do Imperador. O homem é dos bons... Ele tá no mesmo nível dos Quatro Cavaleiros?”

Capítulo 2 Borboleta Presa na Teia de Aranha


7 8
“As entidades mais poderosas que conheço são os Dragonlords do Estado do Conselho.
A humanidade não pode derrotar inimigos como aqueles.”

“Alguns dizem que há cinco, outros dizem que há sete... Mas enfim, estamos procurando
uma maneira de avaliar a força do Uzruth. Melhor focar apenas em espadachins huma-
nos.”

“Sendo assim, os espadachins do Estado do Conselho de Argland são quase todos demi-
humanos, vamos ter que ignorar eles também. O mesmo vale para o Senhor Marcial. Bem,
citarei a senhorita paladina do Reino Sacro Roble, que empunha uma espada sagrada.
Não duvido da força, mas não tenho certeza da técnica dela.”

Coletar informações sobre indivíduos poderosos era muito importante para um Traba-
lhador, principalmente quando se tratava de lidar com ofertas de emprego. Isso porque
a presença ou ausência de tais informações geralmente determinava vitória ou derrota.
E claro, ignorando isso, todos aqui eram guerreiros, era natural quererem saber mais
sobre indivíduos que habitavam o mundo das Artes Marciais com eles.

Sua conversa atual era um claro exemplo disso. A conversa começou discutindo a força
de Erya, mas ficou mais abrangente e se tornou algo como um encontro de troca de no-
tícias sobre seres poderosos. Era como um grupo de crianças discutindo sobre quem era
mais forte.

“O pessoal da Teocracia Slane tende a ser de um nível uniformemente alto, mas eu não
tenho ouvido falar de nenhum indivíduo particularmente notável entre eles. Quero dizer,
sei de magic casters divinos, mas sairia fora do escopo desta discussão.”

“Ouvi dizer que tem uma guerreira muito boa na equipe de aventureiras adamantite do
Reino. O que acham dela?”

“Se refere à peituda sem peitos? É uma donzela assustadoramente forte. Embora, porém,
soube que ela perdeu um duelo com o Capitão Guerreiro.”

“...Ouvi dizer que o aventureiro ousou chamar ela disso quase morreu de tanto apanhar.
Hyahyahya, que moça assustadora!”

“Agora que mencionei os fortes, me vejo diante de algo intrigante, não existem muitos
espadachins puramente humanos que sejam poderosos. Há o Cavaleiro das Trevas e o
Bravo Herói da Aliança Cidade-Estado de Karnassus. Depois, há o “Cintilante Audaz”, Ce-
rebrate, da equipe de aventureiros adamantite do Reino Dragonic, a Crystal Tear. O “Car-
mesim” Optixs, da equipe de Trabalhadores “Inferno Ardente”. E por fim no Reino há...
Brain Unglaus.”

A conversa parou aqui pela primeira vez.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


7 9
“Brain Unglaus? Quem seria esse?”

Parpatra perguntou intrigado a Gringham.

“Não conhece, reverenciado ancião? É um famoso espadachim do Reino... e quanto a ti,


meu caro, nunca ouviste falar...?”

Hekkeran balançou a cabeça em resposta à pergunta. Ele nunca tinha ouvido esse nome
antes.

“Então nenhum dos senhores o conhece...”

Gringham não conseguiu esconder o olhar de decepção em seu rosto. Então, ele falou
em uma voz que não tinha confiança, como se estivesse lendo as memórias do passado:

“Esta é uma questão de anos passados, quando uma vez participei do grande torneio
marcial do Reino. Durante as semifinais, tive o privilégio de medir suas habilidades com
lâminas. Naquela época, minhas habilidades não podiam sequer comparar-se às dele.”

“Fala do torneio que o Gazef Stronoff venceu, é esse?”

“Certamente. No final, Unglaus encontrou a derrota nas mãos de Stronoff, mas a batalha
desses antagonistas foi realmente um espetáculo sem igual, que maravilhou quem a tes-
temunhou. Eram ambos espadachins singulares; como ele desviou aquele lampejo de
luz? E ser capaz de atacar apenas fazendo uma única curva da lâmina sob aquelas cir-
cunstâncias... eu abri meus olhos após testemunhar tais cenas.”

Dado o modo como Gringham estava jorrando de elogios, e o fato de que ele poderia
lutar uniformemente com Gazef Stronoff, o mais poderoso guerreiro das nações vizinhas,
estava claro que sua força deveria ser algo fantástico.

Então foi uma questão que não estavam cientes que o mundo continha expoentes tão
habilidosos. Hekkeran estava cheio de admiração.

“Mhm... então, quem acha que é mais forte, esse Unglaus ou o Uzruth?”

“Uzruth!” Respondeu Gringham sem demora e:

“Caso lutasse no grande torneio marcial daqueles tempos, definitivamente seria ele.
Testemunhei Uzruth lutando na Arena recentemente, tenho certeza disso.”

“Então ele é igual ao Capitão Guerreiro de vários anos atrás!? Esse cara é forte assim?
Caramba...”

Exclamou Hekkeran em um momento de excitação, e ele apressadamente baixou o vo-


lume.

Capítulo 2 Borboleta Presa na Teia de Aranha


8 0
“Entendi. Unglaus, bom saber. Parece que vou ter que prestar atenção às notícias do
Reino... E dos novatos, já ouviram falar? Da terceira equipe de aventureiros no Reino?”

“Ah, claro que sim, reverenciado ancião.”

“Ah, foi mal, eu não.”

“Hekkeran... a ignorância ainda vai colocar tua equipe em perigo.”

“Eu sei, só que não sou de desperdiçar dinheiro pra saber de tudo que rola no Reino.
Dinheiro não dá em árvore.”

“Hyahyahya, essa foi boa! Eu não desgosto dessa coragem!”

“Reverenciado ancião, busco sua opinião sobre um determinado assunto. Tendo ouvido
os rumores da equipe “Escuridão” e lá tem um homem chamado Momon, o senhor não
acha que os rumores são exagerados? Dizem que os dois integrantes da equipe mataram
um Basilisco Gigante, e isso sem meios para se curarem.”

“Santo Deus, deve ser apenas um boato.”

Um poderoso inimigo (Basilisco Gigante) não poderia ser abatido por apenas duas pes-
soas, nem mesmo se fossem adamantites.

“Agora viste o porquê me preocupo, Hekkeran? Quanto mais notícias eu recolho, mais
duvidosa é a proveniência disso. Chegou até meus ouvidos que, durante o distúrbio do
Reino, ele afugentou um demônio de mais de duzentos de dificuldade, isso com apenas
um único golpe. Para mim, isso pode ser uma invenção da Guilda dos Aventureiros do
Reino, para assustar os desinformados. Aliás eles concederam a essas pessoas o ranque
de adamantite.”

“É bem capaz, viu? Porque assim, o surgimento de um aventureiro adamantite é quase


um evento único. Mas por que a Guilda contaria mentiras? A Guilda é bastante teimosa
e rígida com essas coisas.”

“O Chefe de Guilda de cada cidade lida com as coisas de maneira diferente. O Chefe de
Guilda dos meus dias de aventuras era desonesto. Então eu dei um soco nas ventas dele!
Hyahyahya! Eu sou um Trabalhador agora, graças a isso!”

Parpatra riu alto e com bom humor.

Suas razões para se tornar um aventureiro eram bem conhecidas. Qualquer um no ne-
gócio dentro da Capital Imperial teria ouvido falar disso. Parpatra repetia o incidente
sempre que se sentava para beber.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


8 1
“Mesmo considerando esses pontos, sinto que a Guilda não faria algo assim.”

“Então acha que é verdade?”

“É difícil de acreditar. Mesmo que o veja com a melhor das intenções, dificuldade de
duzentos... esse número por si só é suspeito; qualquer inimigo que fosse tão poderoso
não poderia ser derrotado em um único golpe. A meu ver, essa parte é um exagero espa-
lhado em demasia e de forma deliberada. Se um demônio tão poderoso assim tiver
mesmo aparecido, é certo que várias equipes pereceram, para só então essa Escuridão
dar o golpe final.”

“Parece mais provável.”

“É, mas só considerar que todos os aventureiros superiores ao ranque orichalcum po-
dem ser considerados adamantite... então pode ter algum adamantite realmente acima
dos outros, sabe? Afinal, o ranque adamantite é meio vago, não tem nada além dele.”

“Hekkeran e eu pensamos bem parecido. Reverenciado ancião, não acha que tem um
pingo de verdade?”

“Hyahyahya. Eu fico com um pé atrás quanto a isso, mas nunca se sabe.”

“Como dizem, é ver pra crer. Eu gostaria de conhecer o sujeito em carne e osso... Ah, se
bem que pode não ser uma boa.”

Assim que os outros dois estavam expressando sua concordância com Hekkeran, eles
ouviram o som de bofetadas, seguido por uma mulher tentando suprimir o grito de dor.

Todos os Trabalhadores presentes viraram os olhos para o mesmo lugar. Vários deles
já haviam se reduzido a posições prontas para a batalha, acreditando que algo havia
acontecido.

A fonte do grito estava diante de Erya — uma de suas companheiras, que jazia no chão.
A julgar pelas circunstâncias, Erya provavelmente a socou. A mulher olhou para o rosto
de Erya, que estava torcido de raiva. Seu próprio rosto estava cheio de medo enquanto
ela implorava pateticamente por perdão.

Hekkeran lutou contra uma onda crescente de ânsia, e um pensamento passou pela sua
mente. Ele rapidamente voltou sua atenção para sua companheira — Imina.

Assim como imaginou, ela estava se segurando para manter a calma. Havia um ar peri-
goso em volta dela, como se fosse lançar um ataque se as coisas fossem mais longe.

Hekkeran apressadamente sinalizou para Roberdyck e Arche que estavam de pé ao lado


dela, dizendo-lhes para segurá-la.

Capítulo 2 Borboleta Presa na Teia de Aranha


8 2
Por sua vez, Hekkeran estava tão zangado quanto Imina. No entanto, ele conseguia evi-
tar meter o nariz nos problemas de outras equipes. Claro, ele poderia se intrometer se
assim o quisesse. Porém, se o fizesse, precisaria estar pronto para suportar todas as con-
sequências dessa escolha. Essa foi a razão pela qual as outras equipes simplesmente
franziram as sobrancelhas em desgosto, porém não se intrometeram.

A razão de Imina finalmente superou seu desejo de lutar, e ela cuspiu no chão depois
de direcionar um gesto lascivo para as costas do homem.

“...Acho que a única coisa dele que é comparável ao Capitão Guerreiro é a esgrima
mesmo. A personalidade que é bom, passou longe desse aí, às vezes é pedir demais. En-
fim, acho que a gente já jogou muita conversa fora.”

“...É como diz, meu jovem, temos coisas importantes a decidir.”

“Como ele recusara a liderança, quem será o nosso líder?”

Os três ficaram em silêncio.

Havia quatro equipes presentes aqui. Enquanto todos possuíam um amplo poder de
luta, sem alguém para coordenar e liderar todos, eles não seriam capazes de tomar me-
didas efetivas. Era como ter muitas armas, mas ser incapaz de usá-las ao mesmo tempo.

Ser capaz de fazer uso efetivo de equipes fortes não era nada fácil, fazê-lo sem reclama-
ções de ninguém era ainda mais difícil. Se as instruções resultassem em falha, ou se os
outros achassem que uma delas estava colocando o ganho de sua própria equipe acima
da sua, isso provocaria a ira das outras equipes.

Francamente falando, a posição exigia excelentes habilidades, mas havia mais deméri-
tos do que méritos em aceitar.

Cada líder de equipe entendia esse ponto, então todos permaneceram em silêncio en-
quanto observavam os rostos um do outro. Cada um deles queria despejar esse fardo na
primeiro que abrisse a boca. Após cerca de um minuto de silêncio, Hekkeran sugeriu
cansadamente:

“Sejamos honestos, a gente precisa mesmo de um líder geral?”

“Será apenas atrasar o inevitável. Podemos ficar em desvantagem quando os combates


começarem.”

“...Eu humildemente proponho uma alternância. Deste modo, o ressentimento não será
acumulado. Eu sinto que podemos discutir o assunto com mais acuidade ao alcançarmos
as ruínas.”

“Ohh.”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


8 3
“Justo.”

Ambos aprovaram a sugestão de Gringham.

“Nesse caso, vai ser na ordem de quem chegar lá primeiro?”

“E quanto ao Uzruth e sua Tenmu?”

“Aquele rebeldezinho não vai se importar se for ignorado. Ele é incapaz de liderar
mesmo.”

“Concordo, reverenciado ancião. Então, como líder da Heavy Masher e propositor dessa
idéia, eu assumirei a primeira liderança.”

“A gente tá contando contigo, Gringham.”

“Por favor faça isso, meu jovem.”

“Será uma honra. Vamos deixar claro logo, dificilmente haverá monstros malignos den-
tro do Império. O problema está no Reino; uma situação pode surgir quando nos aproxi-
mamos de Tob.”

“Ahhh~ Quer trocar de vez comigo não?”

Hekkeran fez um gracejo jocoso agarrando a cabeça em falso arrependimento, en-


quanto os outros dois sorriram baixinho. Depois disso, imediatamente reprimiram suas
expressões faciais ao notarem um homem vindo na direção deles. Os Trabalhadores ao
redor já se viraram para encará-lo.

O mordomo do Conde passeava orgulhosamente pelo pátio pouco iluminado pelo dia
claro, com uma pose que convinha a um servo de um conde.

Ele chegou diante dos Trabalhadores e fez uma reverência. Ninguém o respondeu, mas
ele não se importou; em vez disso, disse:

“Está na hora. Meus agradecimentos a todos por aceitarem o pedido de meu mestre.
Vamos despachar dois charreteiros com vocês e seis aventureiros como escolta. O obje-
tivo é uma ruína inexplorada dentro do Reino — muito provável que seja uma tumba,
dado a sua estrutura. A duração da expedição será de três dias, a bonificação será con-
cedida com base no que o meu mestre descobrir com isso tudo, logo depois acertaremos
o restante. Há alguma pergunta?”

O mordomo dissera a mesma coisa que a solicitação de emprego; a única diferença con-
siderável era a presença de aventureiros como guarda-costas.

Capítulo 2 Borboleta Presa na Teia de Aranha


8 4
Eles queriam saber como o Conde descobrira as ruínas, mas os Trabalhadores sabiam
quais perguntas poderiam ser respondidas e quais perguntas não poderiam. Se o empre-
gador estivesse disposto a contar, ele teria dito isso ao contratá-los.

Além disso, se esse trabalho fosse realmente tão limpo e honesto, os aventureiros po-
deriam cuidar disso. Como era um trabalho sujo, o empregador precisava ficar quieto e,
portanto, não perguntar seria mais seguro.

“...Nesse caso, eu levarei os senhores e seus pares para as carruagens que os aguardam.”

Ninguém se opôs, e todos seguiram atrás dele.

Hekkeran e o resto da Foresight estavam no final da fila.

“Aquele merda filho de uma puta, porque uma desgraça dessa ainda não morreu? Que
tal a gente matar ele?”

Imina não podia tolerar Erya, e ela sussurrou seu descontentamento no ouvido de Hek-
keran no momento em que ela estava ao lado dele, a fim de desabafar sua raiva.

Sua voz era muito suave; não havia como dizer se era porque estava totalmente furiosa
ou porque estava tentando se conter. Hekkeran não sabia e só podia esperar que fosse o
último.

“Eu já tinha ouvido falar, mas ele é realmente um homem rude.”

“Sujeitinho repugnante.”

Os outros dois responderam baixinho, sem tentar esconder seu descontentamento.

Era natural que todos da Foresight pensassem assim. Tendo Imina como companheira
de equipe, não havia como tolerar as ações de Erya.

Além do próprio Erya, o resto do time era todo feminino, e todas eram Elfas.

Imina e os outros membros da equipe não teriam se revoltado apenas pela cena ante-
rior. Mas havia uma razão pela qual todos tinham uma opinião unânime sobre Erya ser
um escória da humanidade.

As Elfas foram minimamente equipadas com equipamentos de baixa qualidade. Além


disso, seus cabelos curtos expunham suas longas orelhas — características de sua raça
—, que haviam sido cortadas ao meio.

A razão pela qual os membros da equipe de Erya eram assim era porque todas elas eram
escravas da Teocracia Slane.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


8 5
O sistema anterior de escravidão no Império havia passado por uma grande reforma
sob o imperador anterior. Elas ainda eram escravas no nome, mas a situação era com-
pletamente diferente. No entanto, assim como os demi-humanos na arena, as condições
de alguns escravos não foram melhoradas.

As escravas Elfas que Erya carregava pertenciam a esse tipo.

As três nações, Império Baharuth, Reino Re-Estize e Teocracia Slane eram quase todas
compostas unicamente por humanos, assim, tinham um preconceito profundamente en-
raizado contra outras raças, mais do que qualquer outra nação vizinha. Assim, até
mesmo espécies humanoides — como Elfos e mestiços — tinham dificuldade em viver
nesses países.

Somente os Dwarfs eram exceção à regra. A Cordilheira Azerlisiana situada entre o


Reino e o Império continha o Reino dos Dwarf e, devido à relação comercial que o Impé-
rio mantinha com os Dwarfs, eles estavam seguros segundo a lei.

“Sinto muito pelas Elfas. Mas não acho que vai dar pra salvar elas agora.”

Imina suspirou pesadamente. Ela entendeu esse fato em sua cabeça; mas seu coração
estava simplesmente demorando para aceitar.

“Vamos.”

Imina respondeu e foi até o líder do grupo depois daquela resposta silenciosa, os outros
aceleraram o ritmo para não ficarem para trás. Então, os olhos de todos se arregalaram
de surpresa.

Havia dois grandes vagões cobertos esperando no lugar onde o mordomo os levara, que
os conduziriam para as ruínas. Havia também um grupo de pessoas ajudando a carregar
sua bagagem nas carruagens. Esses deveriam ser os aventureiros que o mordomo men-
cionou, porque as placas de metal ao redor de seus pescoços cintilavam com uma luz
dourada.

No entanto, o que os surpreendeu não foram os aventureiros, mas os cavalos puxando


as carruagens.

“—Sleipnirs...”

Alguém engasgou em surpresa.

Os Sleipnirs de oito patas eram maiores que um cavalo médio e possuíam excelente
força física, resistência e mobilidade. Algumas pessoas consideravam-nos a criatura
ideal para viagens terrestres.

Capítulo 2 Borboleta Presa na Teia de Aranha


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Naturalmente, eles também tinham um preço surpreendente. A maioria dos nobres não
podia comprar uma montaria que custasse cinco vezes mais que um cavalo de guerra.

Ainda assim, havia duas carruagens de dois cavalos diante delas, um total de 4 Sleipnirs.
Talvez o empregador tivesse considerado o risco da perda durante a aventura, e assim,
sua análise foi muito admirável. Ou poderia será que tem tantos tesouros que só os
Sleipnirs podem movê-los?

Todo mundo provavelmente pensava a mesma coisa. O som de engolir veio de algum
lugar.

“Por favor, usem essas carruagens. Suas rações e outros suprimentos estão dentro do
compartimento do veículo. Além disso, contratamos aventureiros para proteger a carru-
agem e seu acampamento. De acordo com o contrato, eles não podem entrar nas ruínas,
então oro para que tenham isso em mente.”

Hekkeran percebeu que havia algo que precisava ser resolvido imediatamente, e então
ele deixou seus companheiros e correu para Gringham.

“Licença, Gringham. Preciso discutir um negocinho com você.”

“O que te incomoda para que busque meu conselho?”

“Quando for organizar quem vai aonde nas carruagens, poderia nos separar da Tenmu?”

“―Hm? Ah, entendi. Tuas preocupações são conhecidas por mim; teme por aquela jo-
vem senhorita, hm? Nesse caso, vamos viajar com a Tenmu.”

“Sinto muito por isso e obrigado. Te devo uma.”

“Não é nada; nesta jornada, somos todos camaradas. Uma briga mesmo antes de chegar
às ruínas seria um assunto espinhoso, e eu também...”

“—Acha que um bando de aventureiros ranque ouro protege alguma coisa!? São um
bando de vermes! Eu não quero voltar para um acampamento destruído ou acordar
sendo trucidado por monstros!”

Um grito alto foi ouvido. Duas pessoas se entreolharam e as tensões subiram.

Erya expressou sua insatisfação ao mordomo, mas não fez qualquer tentativa de dimi-
nuir o escândalo de suas palavras. Os aventureiros pararam de carregar as bagagens,
como se o tempo tivesse parado.

Na longa escada do aprendizado, sempre haveria degraus para escalar. Ser capaz de
subir todos era algo ainda a ser testemunhado. No entanto, para aqueles que precisavam
subir muito, tal declaração de Erya foi muito infeliz para essas pessoas. Eles estavam

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


8 7
engajados para provarem do que são capazes e, uma vez que sua competência fosse
questionada — especialmente se o cliente duvidava de sua capacidade — isso afetaria
as tarefas futuras que lhes seriam atribuídas. Nesse caso, eles tinham que provar seu
valor de uma maneira simples e rápida.

Este homem, cujas palavras não podiam ser toleradas nem pelos aventureiros nem pe-
los Trabalhadores, não sabia como considerar as coisas do ponto de vista dos outros.
Portanto, ele praticamente ignorou o clima desagradável que causou, e continuou bal-
buciando para si mesmo.

“Eu sei que eles estão aptos a manusear nossa bagagem, apenas estou preocupado que
não possam ajudar se ameaças surgirem.”

Ah, fala sério! Qual o problema desse cara? Gosta de ferrar o humor das pessoas? Tá na
cara, se tão aqui pro trabalho, então devem dar conta do básico, é cada uma...

Em termos de nível, todas as equipes de Trabalhadores aqui estavam no mesmo nível


dos aventureiros mythril, o que significava que eram melhores do que esses aventurei-
ros. No entanto, algumas coisas não devem ser ditas em voz alta.

Podia aparecer alguém e dar um soco bem no meio da boca dele.

Vários dos Trabalhadores tinham lampejos malignos em seus olhos, todos trocavam
olhares. Hekkeran correu apressadamente para Imina. Não importava o que acontecesse,
ele não podia deixar que ela desembainhasse sua lâmina.

No entanto, a pessoa que veio parar isso não foi um Trabalhador.

“O senhor deve ser Uzruth-sama, hm? Garanto-lhe que não haverá problemas.”

“...Diz isso porque faremos a segurança também? Se for algo assim, eu poderei entender
sem problemas.”

“Não. Isso porque haverá um indivíduo mais forte viajando com os senhores — Momon-
san.”

Um guerreiro com armadura completa saiu de dentro de uma das carruagens, como se
em resposta aos tons gelados do mordomo. Ele provavelmente estava envolvido em le-
var bagagem para a carruagem.

“Permita-me apresentar-lhes à equipe de aventureiros adamantite, Momon-san da Es-


curidão e sua companheira de equipe, Nabe. Os dois viajarão com vocês e defenderão
seu acampamento. Eu confio que o senhor será capaz de aceitar isso, correto?”

Capítulo 2 Borboleta Presa na Teia de Aranha


8 8
O ar mudou novamente. Um pináculo dentre aventureiros e Trabalhadores — aquele
que lidava com situações impossíveis — agora estava diante deles. Nenhum dos Traba-
lhadores poderia falar em face desta prova de força absoluta.

Os aventureiros recuperaram o bom humor ao verem a reação nua e crua dos Traba-
lhadores ao ver este auge de poder e voltaram ao seu trabalho alegremente. Um homem
que parecia o líder da equipe de aventureiros sorriu e depois falou com o guerreiro ne-
gro:

“Nós fazemos o resto; Momon-san, se importaria de interagir com os Trabalhadores? Já


que é o nosso líder, espero que discuta nossa posição com eles.”

“Bem. Se todos os demais concordarem, eu humildemente aceito falar por vocês. Mas
acredito que seu time deve ser o responsável pela segurança. Afinal, estão em maior nú-
mero, então seria mais conveniente seguir o líder.”

“Ah, não! Não fale uma coisa dessas! Está sendo muito humilde! Além disso, como po-
deríamos desconsiderar o grande Momon-sa—”

“—Pare. Eu insisto que você seja responsável pela segurança. Contarei com você para
nos comandar habilmente. Vamos, Nabe.”

Momon riu baixinho e depois desceu lentamente da cabine. Uma mulher surpreenden-
temente linda seguiu atrás dele.

Quando uma mulher bonita deu as caras, as pessoas vez ou outra faziam um semblante
de choque. Claro, como sua aparência era surreal, as pessoas não foram capazes de evitar.
Em face da verdadeira beleza, tudo o que meros mortais podiam fazer era permitir que
seus olhares fossem roubados.

“Hekkeran, é ela...”

“Uhum, Rober. Pensou o mesmo que eu. Vimos ela antes, lá no Mercado Norte. Então
esse é o famoso... Momon da Escuridão e sua companheira. Olhando ele assim de perto,
começo a acreditar que aqueles rumores do Basilisco Gigante não sejam tão exagerados
assim.”

“Gigan...! Tem certeza disso?”

“Foi o que eu ouvi. Agora a pouco tava conversando com o Gringham, ele disse que o
cara afugentou um demônio de dificuldade duzentos num golpe.”

“—Isso não pode ser real, uma dificuldade de duzentos não está no reino da possibili-
dade para um ser humano... Não confundiu com cem?”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


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“Mesmo se fosse cem, já seria incrível. Como vou explicar... sei lá, mas depois de ver o
modo que ele age, sinto que é a verdade.”

Ele havia notado a personalidade de Momon de sua breve interação com o líder dos
aventureiros de ranque ouro. Ele achava que o homem exalava a dignidade e o carisma
condizentes com um aventureiro de posição adamantite, o que naturalmente agradava
a outros.

“Antes de nos conhecermos... tenho uma pergunta a fazer.”

Sua voz era suave, mas seu tom encorpado permitia que todos sentissem seu espírito
heroico através de sua armadura azeviche.

“Por que estão indo para as ruínas? Eu sei que é porque aceitaram o contrato. Mas vocês
não são como aventureiros, que têm dificuldade para recusar certas tarefas. Por que vo-
cês, cujas ações não estão vinculadas a ninguém, escolheram aceitar? O que os motiva a
fazer isso?”

Os Trabalhadores se entreolharam. Eles hesitaram sobre quem deveria responder e, no


final, foi alguém da equipe de Parpatra que falou.

“Por dinheiro, é claro.”

Foi uma resposta perfeita; não havia melhor razão do que essa. Os Trabalhadores não
hesitaram em saber que resposta deveriam ter dado, e Momon deveria ter esperado uma
resposta tão concreta deles. O fato de ele ainda ter feito a pergunta de qualquer maneira
os deixava perplexos quanto às suas verdadeiras intenções.

Depois de ver os Trabalhadores murmurarem seu acordo, Momon continuou pergun-


tando:

“Ou seja, se o seu cliente pagar muito dinheiro, vale a pena colocar sua vida em risco?”

“Certamente. Nosso cliente nos ofereceu uma recompensa satisfatória. Além disso, po-
dem haver bonificações dependendo do que encontrarmos dentro das ruínas. É de mi-
nha opinião pessoal que, por tamanha conjunção de fatores positivos, nossas vidas va-
lem a pena o risco.”

Gringham respondeu.

“Claro... então é isso que decidiram? Tudo bem. E perdão por perguntar algo tão tolo a
todos.”

“Uma questão tão insignificante não requer desculpas... não permita que isso pese no
teu coração.”

Capítulo 2 Borboleta Presa na Teia de Aranha


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“Hyahyahya! E então, se terminou de perguntar, posso fazer uma pergunta?”

“Vá em frente, senhor.”

“Quero verificar um boato que ouvi. Dizem por aí que a sua força é extraordinária; posso
ver se isso é verdade?”

“Entendo, é ver para crer, afinal. Claro que pode. Eu lhe mostrarei meu poder se isso
significa que aceitará minha... não, a nossa proteção. Então, como devo demonstrar meu
poder?”

“A melhor maneira é através de um duelo, é claro!” Todos olharam para Parpatra—

“—E, vai ser apenas você e eu.”

“O quê? Tem certeza? ...Sinto muito, mas não estou acostumado a me segurar. Eu não
quero machucá-lo, mas não tenho confiança em me conter... É isso mesmo que quer?”

“Hyahyahyahya! Esses jovens adamantites! Espero que esteja falando da possibilidade


de eu poder te machucar!”

Uma risada silenciosa veio de baixo do elmo.

“Mas é claro, senhor. Esta é a diferença em nossas respectivas forças — mas eu sou forte,
mais forte que qualquer um de vocês. É por isso que posso suportar ser um adamantite.”

Apesar de sua extraordinária arrogância e senso de superioridade, isso não desagradou


aqueles que a viram.

Esta era a presença do homem chamado Momon. Sua declaração transbordou de poder
persuasivo, além de uma pungência assustadora que poderia matar incontáveis inimigos.

“...Que incrível.”

“Sim, incrível demais.”

Os murmúrios febris apareciam e desapareciam.

Homens fortes atraiam muitas mulheres. Também, de certo modo, como um sinal de
respeito, muitos homens ficavam fascinados por homens fortes. Eram como mariposas
fascinadas por uma chama. Para aqueles que viviam em um mundo de sangue e aço, o
fortes eram as chamas de suas vidas. Eles não podiam se afastar do encanto que os pren-
dia, embora soubessem que seriam inconvenientes se fossem entendidos do jeito errado.

“Hyahyahya! Eu duvido que alguém tenha dúvidas que seja classificado como adaman-
tite agora. Mas por falar nisso, é raro ter uma chance dessa, então eu gostaria de receber

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


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algumas dicas suas. Essas carruagens vão atrapalhar, então eu poderia pegar empres-
tado aquele pedaço vazio de terra, mordomo-dono?”

Depois de receber permissão, Parpatra levou todos ao pátio. Não foram apenas os Tra-
balhadores que o seguiram, mas também os aventureiros e o mordomo.

“Conhecendo o Parpatra, temo que ele não dê conta.”

“—É, o cara parece forte.”

“Mm, creio que forte passa longe de defini-lo, seria melhor dizer que estão separados
por um precipício. Mesmo as duas equipes de aventureiros do Império, classificadas
como adamantite, dificilmente o fariam suar.”

“Acho o mesmo. Os caras da Pássaro Fio-Prateado têm vocações muito exóticas, é muita
coisa diferenciada, mas suas habilidades gerais ficam abaixo da média. E ouvi dizer que
os membros da Oito Ondas obtêm força de seus números e trabalho em equipe.”

Pássaro Fio-Prateado era liderada por um bardo heroico, todos seus membros tinham
vocações exóticas. Oito Ondas era uma equipe de nove homens. Devido a seu número,
alguns diziam que sua força não era de nível adamantite, mas outros também diziam que,
enquanto trabalhassem juntos com um propósito em comum, eles poderiam lidar com
problemas que até mesmo outros aventureiros não poderiam enfrentar.

Ainda assim, era de se questionar se essas duas equipes eram mesmo dignas de serem
qualificadas como armas secretas da humanidade, adamantites, aqueles que poderiam
tornar o impossível possível.

Hekkeran podia ouvir sussurros de seus companheiros de equipe a respeito do assunto.

Os três não foram os únicos a fazê-lo. Se alguém ouvisse com atenção, poder-se-ia ouvir
os demais passando por tópicos semelhantes. A pergunta mais comum era quanto tempo
Parpatra poderia aguentar. Ninguém sentiu que poderia vencer Momon, pois mesmo de-
pois de um breve tempo juntos, todos reconheceram que a aura em torno de Momon era
a mais adequada para um aventureiro classificado como adamantite.

Hekkeran pensava enquanto caminhava e, nesse momento, alguém chegou ao seu lado.
Depois de ouvir o barulho da armadura de metal, não havia necessidade de perguntar
quem era.

“Gringham, como acha que a luta vai ser?”

“Embora isso possa chatear o reverenciado ancião, não há dúvidas de que Momon ven-
cerá. Não obstante, há a questão de quanto tempo o ancião suportará. Não queres fazer
a honra e ser o próximo?”

Capítulo 2 Borboleta Presa na Teia de Aranha


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“Até parece, me deixa quieto na minha. E quanto a você?”

“Permita-me humildemente recusar. Testemunhar um guerreiro sobre-humano em


ação é mais do que suficiente para mim. Embora, eu não me oporia a algumas lições so-
bre esgrima durante o curso de nossa jornada.”

“O mesmo pra mim... ah!”

Momon e Parpatra estavam diante um do outro no pátio, mantendo uma distância entre
eles e olhando um para o outro.

Os olhos de Parpatra não eram os de um homem comum. Eles eram os de um soldado


veterano.

A aura ao redor dele endurecera em intenção assassina, como uma agulha, o clima não
mantinha nenhum vestígio de ser apenas um simples duelo.

Todos os presentes começaram a suar frio, seus corações cheios de desconforto.

“...Arriégua! O véio caducou de vez!”

Mesmo Gringham havia perdido sua fala pomposa, retornando brevemente ao normal.

“Tipo, o adversário dele é um adamantite, ele não tem escolha a não ser levar a sério. E
mesmo assim...”

Tendo acabado de falar, Hekkeran imediatamente engasgou ao ver como o guerreiro


negro se portava.

Ele não conseguia sentir nada de Momon.

Seus braços estavam pendidos sem pose alguma, ele parecia completamente desprote-
gido, não parecia estar prestes a duelar. Estava tão preparado quanto um adulto olhando
para uma criança segurando uma espada.

“É incrível, o cara não reage mesmo diante de uma intensão assassina dessas. Não há
como ele não ter percebido isso. Então é assim que um guerreiro perfeito se porta. Ou
seja, esse cara aprimorou a mente vazia!”

“É o estado da Não-Mente? Ou o Reino de Nuvens-Água? Ele está extremamente calmo


apesar da disparidade de armas. Deve confiar muito em suas habilidades... Ah, isso me
deixa maravilhado.”

Parpatra estava segurando uma lança mágica cuja ponta era feita da presa de um dra-
gão. Em contraste, Momon tinha um bastão que havia pegado emprestado de um dos
aventureiros. Não parecia mágico nem nada. Armas mágicas tinham todos os tipos de

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


9 3
efeitos especiais, fio aprimorado, melhorar a capacidade de seus detentores de causar
dano adicional e assim por diante. Neste momento, Parpatra tinha uma vantagem esma-
gadora em termos de armamento.

“Não, não pode ser. Na questão de armas eu não duvido, mas essa armadura do Momon-
san deve ter uns encantamentos muito mais fortes que os do velho. Seus outros itens
mágicos devem ser de primeira. No geral, eu diria que estão em pé de igualdade, talvez
o Momon-san tenha a vantagem.”

“Não acha que és precipitado no teu julgamento? Não sabe que os itens mágicos que o
ancião carrega valem mais do que uma panóplia de aventureiro adamantite? O ancião
completou inúmeras tarefas ao longo dos anos. Pode-se dizer que ele era o homem mais
bem pago do Império!”

“Nãonãonão, pera aí, pera aí...”

“Tenha calma e verá...”

Enquanto os dois discutiam, o desejo crescente de batalha levava ao início do duelo.

“Então, devo ir primeiro?”

“Há trabalho a ser feito depois disso. Não se esforce muito, venha para mim de uma
maneira mais relaxada, senhor...”

Sem deixar Momon terminar, Parpatra instantaneamente entrou em cena com uma des-
treza, velocidade e poder que um homem de 80 anos não deveria ter. Em contraste, Mo-
mon sequer levantou o bastão em sua mão.

“—《Estocada Presa do Dragão》!”

Os olhos de Hekkeran se arregalaram quando viu Parpatra abrir com uma Arte Marcial
sem a menor hesitação.

A técnica fazia a lança curvar, permitindo que perfurasse duas vezes, como uma presa
de dragão. Além disso, poderia causar dano elementar.

Esta foi uma ramificação da Arte Marcial 《Estocada》, sendo uma técnica que Parpatra
aparentemente desenvolveu há mais de 40 anos, e tornou-se amplamente conhecida de-
vido ao seu excelente equilíbrio. Desde então, muitos outros guerreiros a aprenderam
com o passar dos anos.

E entre as 《Estocada Presa do Dragão》, Parpatra escolheu a 《Presa Perfurante do


Dragão Azul》, com o efeito adicional de causar dano elétrico.

Capítulo 2 Borboleta Presa na Teia de Aranha


9 4
Realmente o velho ficou caduco!? Temos como curar feridas, mas nem por isso é pra co-
meçar um duelo amistoso usando uma técnica dessas!

Um movimento como esse, que poderia infligir dano elétrico considerável, era ideal
para uso contra um oponente armadurado. O uso de Parpatra dessa técnica foi um sinal
de quão sério ele estava.

No entanto, Momon facilmente evitou esse golpe, que teria sido a ruína de alguém em
uma armadura. Mesmo em sua armadura de placas pretas, seus movimentos eram tão
graciosos quanto um bailarino. Mais surpreendente foi o fato de que ele não havia sal-
tado, mas permaneceu no lugar e se esquivou enquanto quase não se movia.

Isso é impossível! Que tipo de destreza e visão de rastreamento de alvo é essa!?

“—《Ventania Veloz》!”

Parpatra continuou usando suas Artes Marciais.

Tá indo longe demais velho! A idade veio te afetar agora, é!?

“《Estocada Presa do Dragão》!”

Ele novamente usou o mesmo movimento de antes em Momon. Porém, agora vapores
congelantes brancos como neve encobriam a ponta da lança; era a 《Presa Perfurante
do Dragão Branco》.

Uma série de quatro ataques incrivelmente rápidos—

Uma grande comoção surgiu dos espectadores.

Isso era apenas esperado. Afinal de contas, nenhum desses quatro ataques conseguiu
tocar a armadura de Momon.

Parpatra saltou de volta. Sua testa estava coberta de suor; ele não estava exausto de
atacar, mas o esforço mental de empunhar sua lança em duelo fôra demais para ele.

“Nossa!”

“—É mais forte que você, Hekkeran.”

“Mas é claro, Arche. Nem faz sentido me comparar a ele. Esse cara é o que chamam de
aventureiro de nível mais alto, o auge de todos. Esse é o poder de um aventureiro ada-
mantite.”

“Acredito que é a minha vez.”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


9 5
Momon elevou lentamente seu bastão em uma posição intermediária. Em contraste,
Parpatra pegou a lança que ele estava segurando e colocou em seus ombros. Essa não foi
uma postura de luta; era a postura de um homem que perdera a vontade de lutar — que
desistira da batalha.

“Isso foi incrível. Desisto. Minhas habilidades nem conseguem te arranhar, muito me-
nos te acertar.”

“...Certo.”

“Oh...”

Suspiros de admiração se ergueram das pessoas assistindo quando Parpatra anunciou


sua rendição. Foi uma exibição verdadeiramente avassaladora; todos tinham visto com
os próprios olhos uma diferença como a que existe entre crianças e adultos.

A multidão debateu animadamente, discutindo onde que ele aprendera tais esquivas e
assim por diante, compartilhando as emoções dentro de seus corações.

Já Hekkeran não lhes deu atenção e chamou Gringham enquanto se dirigia até Parpatra,
que estava enxugando o suor e conversando com Momon.

“Já terminou, senhor?” O tom de Momon e o ar ao redor dele se tornaram gentis:

“...Isso de agora a pouco foi seu verdadeiro poder?”

“...Hyahyahya! Sou apenas um velho, não diga essas coisas. Mas sim, foi o meu verda-
deiro poder agora a pouco. O que viu foi a extensão total de minhas habilidades, Momon-
dono.”

“—Ah, peço perdão. Creio que fui rude com o senhor.”

“Não é pra tanto. Isso também me encheria de vergonha. Além disso, não precisa me
chamar de senhor, nosso valor não é medido em anos, mas em quão habilidosos somos.
O senhor sim merece respeito, me sinto até mal vendo o senhor me tratar com tanta
educação.”

“...Claro, então vou dispensar as formalidades, por mais necessárias que sejam. Fique
sabendo que gostaria de uma revanche. Se tivermos outra chance, eu gostaria de ser o
primeiro a atacar. Bom, ainda tenho que ajudar a transportar as bagagem para as carru-
agem. Vejo você mais tarde.”

“Transportar bagagem é algo trivial; outras pessoas podem cuidar disso, não? Certa-
mente não foi contratado pra isso.”

Capítulo 2 Borboleta Presa na Teia de Aranha


9 6
“Melhor não. Não importa qual posição eu possa ocupar, ainda devo fazer o trabalho
que me foi designado.”

Com essas palavras, Momon voltou para a carruagem, seguido por aquela linda garota.
As duas pessoas que os encontraram enquanto se dirigiam a Parpatra observaram-nos
partir.

Todos encaravam suas costas maciças partir.

“Hyahya, a julgar pelas suas expressões, parece que têm perguntas.”

“—Reverenciado ancião, o que o achou do duelo?”

Seu rosto enrugado se torceu. Parecia um sorriso azedo e, ao mesmo tempo, como outra
coisa.

“Ele é muito forte. Quero dizer, de aventureiros adamantites qualquer um espera uma
força bem acima da média, mas honestamente... não esperava que ele fosse tão poderoso.
Assim que eu tentei o primeiro golpe, tive a impressão de que tudo que eu tentasse seria
em vão.”

Hekkeran sentia o mesmo. Ele também sentiu que qualquer ataque que ele tivesse lan-
çado teria sido facilmente bloqueado e prontamente combatido pelo homem chamado
Momon. E mesmo que tudo tivesse saído conforme o planejado, ele poderia imaginar
como seus ataques teriam sido desviados por aquela armadura. Parpatra enfrentara-o
de frente, por isso devia ter sentido isso ainda mais intensamente.

“Então, isso... é um aventureiro adamantite.”

“Isso mesmo. Esse é um aventureiro adamantite, alguém que pertence a um reino que
somente os favorecidos pelos Deuses podem ousar trilhar. Ah, chega a ser bonito ver
algo que nem podemos sonhar em ser um dia... e quanto a você, deve ter ficado feliz
apenas por ter um gostinho, não?”

“Sem sombra de dúvidas! Pude observar seus movimentos claramente, um deleite sem
igual. Se eu estivesse enfrentando-o pessoalmente, certamente não teria sido capaz de
notar tantos detalhes. Pessoalmente — com todo respeito e desde já peço perdão, reve-
renciado ancião — eu teria gostado muito de ter visto a força de Momon-dono em modo
ofensivo.”

“Isso é impossível. Momon-dono não tinha intenção de me atacar, eu nem conseguia


sentir o espírito de luta dele. Provavelmente foi como ele disse, se esforçou pra se conter.
Deve ter sentido que se tivesse realmente me acertado, poderia facilmente ter tirado
minha vida.”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


9 7
Se fosse esse o caso, então alguém poderia dizer que o pensamento de Momon era muito
arrogante. Isso porque o idoso — Parpatra — era um guerreiro habilidoso, mas Momon
o havia desdenhado sem sequer olhar seus movimentos.

Porém, justamente por fazer uma coisa dessas que ele poderia ser chamado de um
aventureiro adamantite.

“Não dá pra chorar sobre o leite derramado, a diferença entre a força dele e a minha é
grande demais. No começo, eu também estava infeliz, mas ele acabou pegando a defesa
e evitando todos os meus ataques. O que eu poderia dizer depois disso?”

Era isso que significava ser forte.

Ele havia usado uma arma com a qual ele não estava familiarizado — cujo equilíbrio e
peso eram completamente diferentes do que normalmente usava — para mostrar o quão
confiante estava. Essa foi a diferença entre os dois.

Parpatra lamentou:

“Ahhh, cansei, vou ir descansar...”

Então virou as costas para eles e saiu. Naturalmente, foi em direção à carruagem.

Enquanto observava Parpatra sair, Hekkeran ouviu um resmungo silencioso:

“Mesmo nos meus tempos de juventude, jamais passei perto disso. Ser adamantite é
isso... que pico inatingível...”

As costas de Parpatra se encolheram diante deles. Em contraste, as costas de Momon,


mesmo ao longe, pareciam enormes e opressivas.

“...Isso é o poder dos pináculos dos aventureiros, um adamantite.”

“É, incrível demais.”

Ninguém ao redor deles poderia contestar suas palavras de admiração.

Parte 2

Uma carruagem luxuosa viajava como o vento nas estradas pavimentadas da Capital
Imperial de Arwintar.

Capítulo 2 Borboleta Presa na Teia de Aranha


9 8
A fera mágica que a puxava tinha oito patas — era um Sleipnir. Um par de guerreiros
de aparência hábil ocupavam o assento do condutor, enquanto acima da cabine da car-
ruagem —um lugar modificado onde normalmente ficava o suporte de carga — havia
quatro magic caster e guerreiros empunhando arcos, observando atentamente os arre-
dores.

A razão pela qual um destacamento tão excessivo do pessoal de segurança — como uma
formação defensiva móvel — estava viajando tão audaciosamente pelas estradas ficou
imediatamente óbvio quando se viu quem estava na carruagem.

Qualquer um com o mínimo conhecimento acadêmico reconheceria imediatamente o


emblema de três báculos cruzados no lado da carruagem, e de lá eles saberiam a quem
pertencia e quem estava dentro dela. Era por isso que os cavaleiros de guarda na beira
da estrada não pararam a carruagem e os passageiros para interrogá-los.

Havia três homens na carruagem. Todos vestidos com longas túnicas e pareciam magic
casters.

Todos os três eram indivíduos renomados dentro da sociedade mágica do Império, mas
suas atitudes mostravam diferenças distintas em seu status. Entre eles, o mais impor-
tante era um velho de cabelos brancos.

Assim como Gazef Stronoff era um guerreiro famoso, quando se falava em magic caster,
o nome de ninguém ecoava mais alto pelas nações vizinhas como a deste homem. Era
ninguém menos que o mais poderoso magic caster do Império, “Tríade” Fluder Paradyne.

Sentados em frente a Fluder estavam seus discípulos-acólitos, que podiam usar magia
de quarto nível.

Depois de deixar a Capital Imperial, um ar de silêncio encheu o interior da carruagem.


Como se incapaz de suportar a pressão esmagadora, um de seus discípulos perguntou
nervosamente:

“Mestre, e as ordens de Sua Majestade Imperial?”

O silêncio encheu a carruagem mais uma vez, mas apenas por um momento. Fluder res-
pondeu com uma voz calma e inescrutável:

“Esta é a vontade de Sua Majestade Imperial e, como seu vassalo, devo investigar. No
entanto, fazê-lo através da magia é perigoso demais. Devemos começar pesquisando os
arquivos e depois conjurar demônios para coletar informações.”

“Então, quer dizer que o senhor também não sabe, Mestre?”

Fluder fechou os olhos e os abriu alguns segundos depois.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


9 9
“Infelizmente, estou há muito tempo isolado e nunca ouvi falar de um demônio pode-
roso chamado Jaldabaoth.”

Um mês atrás, um exército de demônios atacou a capital do Reino. De acordo com as


informações obtidas, tanto Jaldabaoth quanto seus asseclas demônios tinham poderes
incompreensíveis.

Esse distúrbio demoníaco fez com que o exército imperial — que invadia o Reino todos
os anos — permanecesse parado. Normalmente, era perfeitamente sensato em tempos
de guerra atacar um inimigo sitiado.

Contudo, o fato era que havia dois motivos principais para o Império guerrear com o
Reino anualmente.

O primeiro era esgotar indiretamente a força do Reino. Em contraste com as forças ar-
madas profissionais do Império, o Reino precisava de recrutamento. Portanto, toda vez
que o Império mobilizava suas tropas, o Reino não teria escolha a não ser mobilizar as
massas para compensar o déficit de qualidade individual de suas tropas. Por essa razão,
o Império havia embarcado em um plano de longo prazo: eles declaravam guerra du-
rante a época da colheita, forçando o Reino a reunir seus camponeses e fazê-los entrar
em campo. Como resultado, os camponeses não tinham a mão de obra necessária para
uma colheita adequada, o que, por sua vez, prejudicava a produção agrícola do Reino.

O segundo consistia em enfraquecer a força dos nobres dentro do Império. A nação co-
brava um imposto especial de guerra aos nobres que se opunham ao Imperador, esvazi-
ando aos poucos suas reservas. Caso se recusassem a pagar, seriam acusados de traição
e despojados de suas posses. No fim, era como se tivessem que escolher entre morrer
aos poucos ou serem decapitados de uma vez, de um jeito ou de outro encontrariam sua
ruína.

Por estas razões, o Imperador — Jircniv — acreditava que uma vez que o Reino se es-
gotasse, o Império não precisaria se forçar a ir à guerra. Afinal, os nobres do Império
estariam quase todos desapossados.

No entanto, um novo problema se fez presente... Onde estava o ímpio chamado Jaldaba-
oth? Que tipo de ser ele era? Essas eram questões muito perturbadoras.

Foi por isso que ele ordenou a Fluder, o principal magic caster do Império, que investi-
gasse Jaldabaoth. Pode-se dizer que era apenas esperado.

“Além disso, havia a equipe Escuridão de Momon — que derrotou Jaldabaoth — e sua
companheira, a Bela Princesa Nabe. Ambos são bastante interessantes. Ainda há o mis-
terioso magic caster Ainz Ooal Gown. Por que esses heróis ocultos finalmente decidiram
dar às caras? Talvez uma batalha intensa como aquela contra os Deuses Demônios de
duzentos anos atrás esteja em seus estágios iniciais.”

Capítulo 2 Borboleta Presa na Teia de Aranha


100
“...Realmente haverá outra?”

“Ainda não sabemos. Mas apenas um tolo deixaria tudo para última hora. Sábios são
aqueles que sempre estão de olho no futuro.”

Eventualmente, a carruagem chegou ao seu destino.

Vastos jardins de grama verdejante eram cercados por paredes espessas e imponentes,
com torres de vigilância para vigiar tanto o interior quanto o exterior. Cavaleiros esco-
lhidos a dedo da 1ª Legião — a elite das oito Legiões de Cavaleiros Imperiais — foram
misturados com vários magic casters em várias equipes de segurança, que estavam en-
carregadas da vigilância.

No céu, podia-se ver membros da guarda do Imperador, a Guarda Imperial Aérea, mon-
tada em feras voadoras, bem como os magic casters de alto nível usando magia de voo
enquanto estavam de vigia.

Este lugar era o símbolo do poder do Império, no qual o Imperador anterior havia ca-
nalizado a maior parte de seus esforços — o Ministério Imperial da Magia.

Produção de equipamentos mágicos para os cavaleiros, desenvolvimento de novas ma-


gias, pesquisa para elevar o padrão de vida por mágicos e assim por diante; tudo isso
poderia ser considerado a essência da magia do Império, tudo era desenvolvido aqui. E
a pessoa geral encarregada deste lugar — embora o Ministério da Magia não tivesse um
oficial de comando — era Fluder.

A carruagem passou pelos jardins e finalmente parou em uma torre no centro do ter-
reno.

Eles tinham passado por muitos prédios de formas estranhas no caminho até aqui, com
várias pessoas entrando e saindo de cada edificação, mas neste em particular, não havia
praticamente ninguém. Mas em contraste, a segurança em torno desta torre era muito
mais rígida do que as demais.

Para começar, os cavaleiros aqui estavam paramentados de maneira diferente. Não


eram os mesmos que os cavaleiros da 1ª Legião em outros lugares.

Eles estavam vestidos da cabeça aos pés de armaduras completas encantadas, portando
escudos mágicos e com armas mágicas embainhadas cinturas. Suas capas carmesins —
que foram bordadas com o emblema do Império — também eram itens mágicos como
todo o resto.

Mesmo os encantamentos não sendo os mais poderosos, cavaleiros comuns não podiam
ostentar equipamentos assim, nem mesmo os do Império. Até porque, cavaleiros co-
muns nunca seriam designados para uma instituição estatal tão vital.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


101
Esses cavaleiros da suprema elite eram parte da guarda-costas do Imperador, a Guarda
Imperial Terrestre.

Os magic casters alinhados aqui não eram menos impressionantes do que os próprios
cavaleiros. Esses experientes, e valiosos, magic casters emanavam uma aura de vetera-
nos de muitas batalhas.

Além disso, havia quatro Golems de Pedra, cada um com mais de dois metros e meio de
altura, vigiando a entrada. Eles não dormiam, descansavam e sequer comiam, eterna-
mente concentrados em seu dever como guardiões.

A segurança em torno dessa instalação era tão pesada quanto a que defendia o corpo
do Imperador, e apenas permitiam-se magic caster de elite cujos níveis estavam no topo
do terceiro nível ou pouquíssimas exceções direcionados para orientação pessoal. Natu-
ralmente, Fluder e seus dois discípulos tiveram permissão para entrar nessa torre.

Os três levantaram as mãos para o reconhecimento dos cavaleiros e os magic casters


que lhes apontavam armas e assim entraram no edifício. Depois de caminhar por uma
passagem reta, os três chegaram ao nível superior de uma sala em forma de cúpula. Mui-
tos magic casters trabalhavam aqui. O mais bem classificado dentre eles correu às pres-
sas para Fluder.

“Houve algum progresso?”

“Nenhum, Mestre.”

Os discípulos engoliram em seco e o pomo-de-adão subiu e desceu lentamente. A res-


posta usual tinha dois significados, bons e ruins.

Fluder simplesmente balançou a cabeça, com uma expressão complexa no rosto, então
se virou para os 30 discípulos que ele tinha pessoalmente instruído — eram discípulos
particularmente famosos, conhecidos como os Trinta Escolhidos — e encarou um deles,
que era o supervisor-assistente deste prédio.

“Que pena. Sem progressos ao induzir a gênese natural?”

“Exatamente. Nem mesmo um Skeleton, o mais inferior de todos os undeads, apareceu


até agora. Atualmente, estamos colocando cadáveres ao lado, na esperança de induzir a
criação de Zombies.”

“Mhm...”

Fluder acariciou sua longa barba e depois olhou para a cena abaixo dele.
[Esqueletos]
A uma certa distância havia dez Skeletons lavrando um campo.

Capítulo 2 Borboleta Presa na Teia de Aranha


102
Cada Skeleton levantava a enxada e depois a descia, de forma síncrona, estavam alinha-
dos lado a lado. Se alguém os olhasse do ângulo certo, suas formas sobrepostas dariam
a ilusão de apenas um único Skeleton.

Esse espetáculo altamente coordenado, que lembrava vagamente uma forma de exercí-
cio grupal, era a verdadeira identidade do projeto de grande escala que o Império vinha
conduzindo. Em outras palavras, era “Mão de obra Não-Viva”.

Os undeads não precisavam comer, beber ou dormir, e não se cansavam. Em outras pa-
lavras, eram operários perfeitos. Com certeza, undeads de baixo nível não eram inteli-
gentes; eles só podiam ouvir pedidos e não podiam executar tarefas complexas. No en-
tanto, esse problema poderia ser resolvido se alguém estivesse à disposição para super-
visioná-los a cada avanço.

Os méritos de ordenar que os undeads executassem tarefas em um campo de cultivo


excederam suas expectativas. A redução dos custos de mão de obra reduziria os preços
das plantações, expandiria as fazendas e campos, eliminaria o risco de danos causados
por seres humanos e assim por diante. Era realmente um plano dos sonhos.

Havia outros planos semelhantes, usando monstros conjurados ou Golems, mas depois
de levar todos os fatores em consideração, os undeads ainda eram a opção mais econô-
mica.

No entanto, ainda havia uma razão pela qual um plano aparentemente perfeito não po-
deria ser colocado em prática em larga escala.

Isso porque as pessoas se opunham a isso — em particular, as facções lideradas pelos


sacerdotes. Eles acreditavam que compactuar com undeads, criaturas da morte que odi-
avam a vida, era um ato que manchava a alma.

Houve também problemas de uma perspectiva religiosa.

Eles usaram os cadáveres de criminosos para fazer undeads, mas o ponto de vista reli-
gioso era que, o pecado de um criminoso era pago com a execução de sua sentença. Ir
mais longe que isso seria uma forma de blasfêmia, e convencê-los do contrário seria uma
tarefa muito difícil.

Talvez pudessem convencê-los do contrário se o país estivesse enfrentando uma escas-


sez de alimentos sem precedentes com muitas pessoas morrendo de fome. No entanto,
os estoques de alimentos do Império eram amplos e não tinham problemas com a mão
de obra.

Por estas razões, o clero se opôs a esse plano.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


103
Em última análise, a verdadeira razão para esse plano era aumentar o poderio militar.
Com os undeads lidando com a produção alimentícia, eles poderiam mover seus recur-
sos humanos para outros lugares, aumentando potencialmente a quantidade de talentos
para o corpo de cavaleiros e outras áreas.

Além disso, quando o trabalho de undeads se popularizasse, pessoas ficariam preocu-


padas que os operários humanos fossem aposentados. Não obstante, ainda havia o re-
ceio dos undeads não sempre submissos para sempre, e grandes quantidades de unde-
ads poderiam perturbar o equilíbrio entre a vida e morte, levando assim, à gênese es-
pontânea de undeads mais poderosos. Não foram apenas os sacerdotes, mas quem soube
deste plano ficou ansioso com isso.

A razão para a existência desta instalação era abordar cada uma dessas preocupações
e encontrar uma solução para elas.

“Ainda não encontrou o motivo?”

“Não, Mestre. Sinto muitíssimo por isso, Mestre.”

Por que os undeads surgiam sozinhos? Explorar umas das grandes dúvidas da humani-
dade teria uma influência decisiva no futuro.

Havia um lugar que estava perpetuamente envolto em um nevoeiro leve que só se er-
guia quando o Reino e o Império batalharam. Aquele lugar era uma terra amaldiçoada,
conhecida como as Planícies Katze. Undeads apareciam lá a uma velocidade assustado-
[ D r a g õ e s Es q u e l ét i c o s ]
ramente alta, até mesmo Skeletal Dragons — alguns dos seres undeads mais poderosos
— que eram imunes à magia comum.

Mesmo que o Império quisesse conquistar a região em torno de E-Rantel no futuro, eles
não queriam ter terras de desova nos seus domínios. Assim, descobrir o processo que
levava os undeads a surgirem seria um ponto-chave. Talvez até possam encontrar uma
maneira de evitar que os undeads voltem a desovar.

“Tudo bem, eu entendo.”

O supervisor-assistente curvou-se, grato por ter sido poupado de uma repreensão. Flu-
der passou por ele, entrando em um grande círculo ao redor da sala em forma de cúpula.

Quando Fluder chegou à porta situada no outro lado, havia mais discípulos atrás dele.

Os cavaleiros que guardavam a porta a empurraram e o grupo passou por ela. Atrás da
porta havia uma passagem com aparência de feita recentemente, era vazia e muito mais
fria do que o exterior. O cheiro de pó pairava no ar, a luz ambiente não era forte o bas-
tante para iluminar seu interior.

Capítulo 2 Borboleta Presa na Teia de Aranha


104
Eles caminharam ao longo do corredor preenchido com a atmosfera de medo, após pou-
cos minutos chegaram a uma escada em espiral que se desdobrava para baixo.

Eles passaram por muitas portas no processo e não perderam tempo descendo a escada
espiralada; provavelmente já estavam cinco andares abaixo do solo. Mesmo descendo
tão pouco, o ar estava pesado, como se estivessem nas profundezas da terra.

Não foi porque o local em si tinha alguma propriedade especial. A melhor prova disso
era que todos — incluindo Fluder — tinham uma expressão séria em seus rostos.

Quando chegaram ao fundo — em uma sala vazia — todos tinham expressões sombrias
em seus rostos. Estavam visivelmente tensos, talvez até prontos para batalhar.

Todos olhavam fixamente para uma única porta pesada. Aquela porta emanava uma
sensação de opressão agourenta, parecia separar este mundo do além-mundo. Para evi-
tar sua destruição ou fácil abertura, a porta foi reforçada com várias camadas de prote-
ções físicas e mágicas. Uma porta feita para selar quaisquer interações de ambos os lados.

Além disso, as muitas portas resistentes que atravessarem até chegar aqui já sinaliza-
vam o quão perigoso era estar aqui. Se a ameaça por detrás dessa porta saísse do con-
trole, todas essas barreiras poderiam lhes comprar algum tempo; em outras palavras,
elas eram efetivamente um selo.

Fluder emitiu um aviso para seu discípulo com uma voz tensa.

“Não seja descuidado.”

Foi uma declaração simples e concisa, o que só tornara tudo mais assustador.

Os magic casters que o acompanhavam assentiram profundamente, como um só. Fluder


dava-lhes o mesmo aviso toda vez que vinham para cá, mas, como sabiam o que se es-
condia por trás daquela porta, suas expressões nunca haviam afrouxado sequer uma vez.

Isso porque o undead derradeiro estava atrás daquela porta. Se permitido escapar
desse lugar, ele provocaria uma tragédia de proporções sem precedentes na Capital Im-
perial.

Várias pessoas começaram a lançar magias de proteção. Essas magias não apenas de-
fenderiam contra ameaças físicas, mas também incluíram magias que protegiam a mente.
Depois de lhes dar tempo suficiente para se prepararem, Fluder olhou para os rostos de
seus discípulos e viu que estavam cheios de determinação.

Ele assentiu e depois pronunciou a palavra-chave que desfaria o selo.

As portas pesadas foram destrancadas e, pelo poder da magia, se abriram lentamente.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


105
O ar frio que saiu da sala escura fez com que vários de seus discípulos estremecessem,
como se estivessem nus em uma noite de inverno. Mesmo com itens mágicos que lhes
permitiam se adaptar ao ambiente, o ódio pelos vivos que emanavam das profundezas
da sala era o suficiente para arrepiar suas almas.

O som de engolir em seco parecia particularmente ressonante aqui.

“Vamos.”

Depois de ouvir as palavras de Fluder, seus discípulos criaram várias luzes mágicas
para dispersar a escuridão. No entanto, por alguma razão, parecia que a escuridão aqui
era mais densa e intensa, quase como se engolisse qualquer luz.

Liderado por Fluder, o grupo entrou na sala permeada pelo agouro da morte.

Não era muito grande, então logo as luminárias mágicas iluminaram os recantos mais
profundos do ambiente.

Ali estava um gigantesco pilar cravado no chão e teto. Este pilar semelhante a uma lá-
pide certamente chamava a atenção. Mas o que realmente lhes dragou a atenção foi a
entidade crucificada com correntes grossas e pesadas.

Cada elo das correntes que o prendera era muito mais grosso que o polegar de um ho-
mem adulto, tornando-o completamente imóvel. As correntes estavam presas ao chão
rochoso da sala. Além disso, seus braços e pernas estavam presos com gigantescas bolas
de ferro.

Nenhuma entidade poderia sequer mover um dedo nessas condições. Este método ex-
cessivamente rigoroso de prisão só mostrava quão cautelosos eram com essa entidade.
E, mesmo cientes das grossas correntes que o prendiam, eles ainda se sentiam descon-
fortáveis. Eles temiam que essa criatura quebrasse as correntes e reivindicasse sua li-
berdade.

A julgar pela aparência externa, parecia um cavaleiro de armadura preta. No entanto,


havia uma enorme diferença entre ele e um homem totalmente armadurado.

A primeira coisa que chamou a atenção foi sua estrutura maciça. Mesmo uma estimativa
casual de sua altura o colocaria acima dos 2 metros de altura.

Além disso, havia sua armadura completa e grossa. A armadura estava coberta de ra-
mificações que parecia vasos sanguíneos, toda cravejada de espigões de aparência pro-
fana. Um par de chifres de aparência demoníaca brotava de seu elmo, expondo seu rosto
humano putrefato. Dois pontos vermelhos de luz brilhavam nas órbitas vazias, cristali-
zando seu ódio pelos vivos e pelo anseio pelo massacre.

Capítulo 2 Borboleta Presa na Teia de Aranha


106
Não era um ser vivo, mas um dos mortos. Caso contrário, não poderia irradiar um ódio
tão intenso pelos vivos.

“Death... Knight.”

Um dos discípulos, que veio aqui pela primeira vez, falou o nome da lendária criatura
undead. Como era um ser de lendas, não era particularmente bem conhecido.
[Cavaleiro d a M o r t e ]
Os pontos vermelhos de luz dentro dos olhos do Death Knight se moveram, avaliando
todos os magic casters como se estivesse os farejando com o olhar. Curiosamente, eles
não eram capazes de ver nenhum movimento de dentro daqueles orbes dançantes de
luz. No entanto, o terror arrepiante fez com que sentissem que o Death Knight os despia
e olhava diretamente para suas almas.

Todos que puseram os pés aqui conquistaram o poder através do esforço e dedicação,
cada um era capaz de conjurar magias de terceiro nível no mínimo. Contudo, nem mesmo
esses humanos bem instruídos conseguiram impedir o trepidar de seus dentes.

Apesar das magias para proteger suas mentes, eles não conseguir impedir o medo ori-
undo do fundo de suas almas. Todavia, a razão pela qual eles se uniram e não fugiram
provavelmente foi por causa de suas proteções mágicas.

“—Sejam fortes. Os fracos perecerão.”

Depois de emitir seu aviso, Fluder se aproximou do Death Knight. Que, por sua vez, re-
agiu a ele; irradiando intenção assassina enquanto tensionava os músculos.

As correntes gemeram quando o Death Knight lutou e puxou suas amarras, e seu corpo
estremeceu.

Fluder estendeu a mão diretamente para o Death Knight.

Seu encantamento reverberou pela sala escura, iluminada pela luz mágica. Esta foi uma
versão modificada do 「Summon Undead 6th Tier」, uma magia original escrita por Flu-
der.

“「—Obey」.”

A magia tomou efeito — as palavras calmas de Fluder fluíram e encheram a sala.

Ainda assim, os olhos do Death Knight estavam cheios de ódio pelos vivos. Todos per-
ceberam que a magia havia falhado.

“...Mesmo depois de tudo isso, ainda sou incapaz de controlá-lo?”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


107
Havia um tom de arrependimento na voz de Fluder. Isso porque ele tentou controlar
essa criatura undead nos últimos cinco anos, sem sucesso.

♦♦♦

Eles descobriram esse monstro naquele lugar conhecido por ser assombrado pelos
undeads, as Planícies Katze.

Um esquadrão de cavaleiros imperiais que havia descoberto um monstro nunca tinha


visto isso antes, como estavam sob ordens, atacaram-no de acordo com o procedimento
padrão. Depois da primeira onda de ataques, perceberam como tinham sido impruden-
tes e tolos. Os rostos dos cavaleiros imperiais, até então conhecidos por sua habilidade
e bravura, estavam cheios de medo e desespero.

Eles tinham sido total e unilateralmente oprimidos — sua oposição era demasiada-
mente forte.

Depois que seu inimigo ceifou incontáveis cavaleiros como um furacão mortífero, eles
finalmente perceberam que não havia nada que pudessem fazer contra ele e começaram
a recuar.

Claro, eles não poderiam simplesmente deixar um monstro desses fazer o que bem en-
tendesse, especialmente depois de testemunharem pessoalmente seus companheiros
mortos se tornarem undeads, servindo o monstro como lacaios. Claramente, quanto
mais tempo dessem ao seu oponente, pior a situação se tornaria.

Após intenso debate entre a liderança do Império, eles decidiram usar seu trunfo; a
força de combate mais poderosa do Império, então mobilizaram Fluder e seus discípulos.

E assim, o Death Knight foi capturado e aprisionado aqui, resultando em Fluder e com-
panhia vitoriosos na batalha. No entanto, a razão pela qual Fluder e os outros venceram
foi simplesmente porque o Death Knight não tinha como voar. Eles lançaram consecuti-
vamente um ataque de área —não foi diferente de bombardeios utilizando tapete voa-
dor —, uma repetida chuva de 「Fireballs」 caindo como meteoros, o que retardou os
movimentos do Death Knight, mas, no final, Fluder havia ficado tão fascinado por seu
poder derradeiro, que o capturara “vivo”.

Atualmente, Fluder o mantinha prisioneiro aqui, passando a criatura por inúmeras ma-
gias, incontáveis itens mágicos e inúmeros meios — pesquisando através de todos os
meios que poderiam controlar um undead para assim, para tentar controlá-lo.

♦♦♦

“Que pena... se eu pudesse controlar esse monstro, eu seria capaz de ser o maior magic
caster de todos os tempos.”

Capítulo 2 Borboleta Presa na Teia de Aranha


108
Se ele conseguisse, seria muito superior à necromante dos Treze Heróis, Rigrit Bers
Caurau.

Na verdade, Fluder não estava particularmente interessado em ser o mais forte. Sua
verdadeira ambição estava em investigar o abismo da magia. Este seria apenas um passo
para sua longa jornada rumo ao desconhecido.

Seus discípulos não entendiam muito bem o porquê isso, mas mesmo assim o consola-
ram de forma vazia...

“Mestre, o senhor há muito excedeu aquela aventureira.”

“Isso mesmo. Os Treze Heróis são coisa do passado; não há como lhe vencerem, Mestre.
O senhor está no auge da magia moderna.”

“Eu também sinto que o Mestre há muito superou os Treze Heróis. No entanto, se o
Mestre pudesse assumir o controle do Death Knight, o Império teria uma fonte de poder
incrível.”

“Muitas vezes dizem que um não pode subjugar muitos, mas isso é apenas porque o
indivíduo em questão é muito fraco. O Death Knight à nossa frente é o indivíduo mais
poderoso do mundo.”

Fluder estava de pé à frente do grupo, então nenhum deles o viu sorrir amargamente
para si mesmo. Apenas os olhos cheios de ódio do Death Knight testemunharam seu pe-
sar.

“Ainda assim, se até mesmo o Mestre não pode assumir o controle... então, quão pode-
roso é esse Death Knight, afinal?”

“Bem... quem sabe? Teoricamente, essa criatura deveria ser controlável. O que estamos
deixando passar desapercebido? Alguém tem alguma idéia?”

Sem saber como responder, o grupo ficou em silêncio.

Segundo as lendas, um undead podia ser controlado através da magia, e uma integrante
dos Treze Heróis tinha feito exatamente isso. O poder de Fluder era tal que ele podia
controlar seres undeads de um nível muito alto. Talvez com um pouco mais de esforço
ele pudesse até assumir o controle do Death Knight diante de seus olhos.

No entanto, ainda estavam no campo da teoria. Controlar um undead com magia envol-
via mecanismos mais complexos. Fundamentalmente falando, controlar ou banir unde-
ads era o domínio dos sacerdotes, que usavam o poder emprestado dos deuses. Os magic
casters usavam o poder arcano para emular o poder divino, portanto, várias discrepân-
cias precisavam ser consideradas.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


109
“...Não é minha intenção insultá-lo, Mestre, mas...”

Um de seus discípulos o abordou cautelosamente, por sua vez, Fluder pediu que conti-
nuasse:

“Poderia ser que o senhor simplesmente não é forte o suficiente, Mestre? Se magia do
sétimo nível existir, então talvez o Death Knight possa requerer magia de conjuração de
tal nível para comandá-lo...”

“Bem observado.”

“Ouvi dizer que a Guilda dos Aventureiros geralmente resume os dados de vários mons-
tros e os converte em uma classificação de dificuldade. Talvez desenvolver um estudo
nessa linha pensamento possa valer a pena, o que o senhor acha?”

“Ouvi dizer que esses valores são muito grosseiros, são essencialmente sem sentido de-
vido às mudanças no corpo e na idade.”

—Disse outro discípulo.

“Ainda assim, além de monstros desconhecidos, não há métricas mais fáceis de enten-
der. Pois esses valores são baseados nos informes de combate dos aventureiros e outras
formas de dados; não usam um método preciso de avaliação.”

“Mesmo levanto tudo o que disse em conta, ainda seria impossível usá-lo tendo em
mente que estamos diante de um monstro lendário como o Death Knight.”

“Ah, sim, Mestre. Aquele tomo secreto que registra todos os tipos de monstros menci-
ona esse monstro em particular?”

“Não...”

Disse Fluder enquanto acariciava a barba e continuou:

“Talvez a versão completa do Eryuentiu o tenha, mas as únicas cópias que circulam são
incompletas.”

Um de seus discípulos parecia ter uma pergunta, que ele dirigiu a um discípulo ao lado.
Mesmo sua voz sendo muito suave, a sala, que era a personificação do silêncio, fizeram
assim suas palavras parecer surpreendentemente altas.

“O que é o Eryuentiu?”

“Não é o nome de uma cidade?”

“Disso eu sei, mas soa muito estranho.”

Capítulo 2 Borboleta Presa na Teia de Aranha


110
“Hm... eu pesquisei por alto. Acho que é uma palavra de uma língua antiga que significa:
A Grande Árvore no Coração do Mundo.”

Fluder bateu no chão com seu cajado, como um aviso para seus discípulos conversando.
Este era um lugar perigoso que encarcerava um monstro lendário. O descuido era estri-
tamente proibido.

Seus discípulos ouviram a advertência, e o status quo da câmara (silêncio) a governou


mais uma vez, apenas os sons do Death Knight lutando contra suas correntes na tenta-
tiva de quebrá-las se fez presente.

“Que pena. Não há mais necessidade de ficarmos aqui. Vamos.”

“Sim.”

Depois de ouvir o coro de respostas aliviadas, Fluder se afastou do Death Knight a gran-
des passos.

♦♦♦

Mesmo alguém como Fluder não conseguia manter o ritmo calmo ao sair da sala. Seus
passos aceleraram quando ele sentiu o olhar cruel do Death Knight abrasando suas cos-
tas. O efeito em seus discípulos fora ainda mais intenso.

Quando finalmente atravessou a escuridão, Fluder se lembrou da palavra que seus dis-
cípulos haviam mencionado.

Eryuentiu.

Era a capital do reino fundado pelos Oito Reis da Ganância e também a última cidade
que restara. Mesmo sendo a última, era a única cidade defendida por 30 guardiões equi-
pados com armas e armaduras mágicas que superavam a razão convencional.

Segundo as lendas, se tivesse acesso aos itens mágicos deixados para trás pelos Oito
Reis da Ganância, ele certamente seria capaz de melhorar muito suas próprias habilida-
des mágicas. Assim Fluder pensava. Esses incríveis itens nunca haviam caído nas mãos
de ninguém, apenas os Treze Heróis tiveram permissão para levar várias peças.

Uma chama negra cintilou no coração de Fluder.

Apenas os Treze Heróis; figuras do passado. Fluder tinha potencial latente para ter sido
tão poderoso quanto eles, porém jamais teve a chance. Por que eles tiveram permissão,
mas não eu?

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


111
Fluder tentou apagar a inveja bruxuleante em seu coração, pensando em outras coisas
para se tranquilizar. Até onde havia chegado e todas as coisas que havia conquistado não
eram inferiores às conquistas dos Treze Heróis. Ou melhor, entre os magic casters do
Império, o status de Fluder era maior até do que os Treze Heróis.

Claro, uma vez que o fogo negro — chamas da inveja — ardia, não poderia ser facil-
mente extinta, pois o que ele invejava não era o poder, conhecimento ou suas habilidades,
mas sim o fato de que tinham obtido uma chance para explorar o abismo da magia.

Fluder era um magic caster da mais alta ordem; ninguém duvidava isso. As únicas pes-
soas que poderiam se comparar a ele eram os Treze Heróis do passado. No entanto, ele
ainda era incapaz de controlar o Death Knight e, dos 10 níveis de magia que diziam exis-
tir — embora a confiabilidade dessa informação fosse um pouco baixa —, ele só podia
usar magias do 6º nível.

Esta situação era um lembrete gritante do quão longe estava do abismo da magia.

Fluder era velho.

Entre as artes sábias que aprendera como magic caster espiritual, havia uma ramifica-
ção conhecida como artes proibidas. Ele tentara usar essa magia proibida para impedir
seu envelhecimento. Claro, não era uma magia fácil, isso mais uma vez provava o poder
de Fluder. Mas, no final, ele mal conseguiu lançá-la em um ritual normal.

Porém, uma vez que isso era essencialmente torna o impossível possível, fazê-la parecia
tão difícil quanto a lógica sugeria. A magia que deveria ter garantido imortalidade se
executada corretamente, mas, ao invés disso, apenas o permitiu experimentar a passa-
gem do tempo de forma bem lenta.

Por enquanto ele podia aceitar esse reavultado. No entanto, no fim, a marcha do tempo
se aceleraria, o que seria um problema.

De fato. Fluder morreria antes que ele pudesse contemplar o abismo da magia.

Talvez se um antecessor qualificado surgisse, ele poderia alcançar seu sonhos mais
cedo. Mas nunca houve ninguém à sua frente, então tudo que o restou foi trilhar use
próprio caminho.

Fluder olhou com indiferença para os discípulos ao seu redor.

Ele olhou em volta para as pessoas que caminhavam ao longo da trilha que Fluder havia
aberto.

A decepção era combustível para o fogo de seu ciúme, que ardia cada vez mais feroz-
mente.

Capítulo 2 Borboleta Presa na Teia de Aranha


112
Quantos anos se passaram desde que iniciara sua iniciativa de descobrir talentos para
o guiar? Nem precisava pensar muito a respeito; o fato era que ele era muito mais antigo
e experiente que seus discípulos. Esse simples fato já era mais que expressivo, pois de-
notava que ninguém havia surgido para guiá-lo, sem ninguém para mostrar-lhe o cami-
nho.

Por que até hoje não encontrei um bom mestre?

Fluder tentou pensar em uma direção diferente para mascarar as queixas que costu-
mava ter.

♦♦♦

—Como seria? Eu entraria para a história como um desbravador? Cada magic caster da-
ria graças a mim pelos ensinamentos que deixei? E tudo isso seria graças ao caminho que
trilhei décadas atrás. Meus pupilos são o meu tesouro; desde que qualquer um avance mais
que eu, meus desejos também se realizarão—

♦♦♦

Fluder pensou em uma de suas discípulas enquanto se consolava. Aquela discípula há


muito havia partido de seu lado.

Que nível a garota poderia ter alcançado?

“—Arche Eeb Rile Furt.”

Ela levava muito jeito. Havia dominado o 2º nível de magia ainda jovem, e até começou
seus primeiros passos no 3º nível. Se ela continuasse treinando, poderia muito bem ter
conseguido alcançar o domínio de Fluder. É uma pena que ela abandonou seus estudos
por algum motivo...

Fluder ficou muito desapontado naquela época. Tudo o que pensou foi que ela tinha
sido terrivelmente tola.

“Que pena.”

A frase que resumia tudo que sentia em relação a sua antiga pupila.

Por onde será que ela anda?

Fluder pensou.

E se eu a encontrasse? Se ela já puder usar o terceiro nível, talvez eu o possa dar uma boa
posição.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


113
Dito isso, ainda havia coisas que tinham que ser feitas.

Fluder incitou a palavra de comando e abriu a pesada porta.

Após finalmente sair, ele respirou fundo várias vezes com seus discípulos. Isso porque
o ar da sala do Death Knight estava denso com o fedor, o oxigênio naquele lugar não
parecia suficiente para seus pulmões.

“—Mestre!”

Uma voz baixa e grave o chamou. Ali estava um de seus discípulos-adeptos, que também
era um famoso aventureiro. Devido à amplitude de sua experiência, ele era o segundo no
comando das forças de segurança do Ministério da Magia.

“...O que aconteceu? Uma emergência?”

“Não, nada do tipo. Dois aventureiros de ranque adamantite desejam uma audiência
com o senhor, Mestre.”

Fluder olhou descrente para o homem.

Ele não tinha agendado reunião com ninguém. Fluder era o magic caster mais impor-
tante do Império. Ele tinha muito trabalho a fazer, fora que precisava conduzir sua pró-
pria pesquisa sobre magias. No fim das contas, ele simplesmente não tinha tempo livre.
Ele não podia receber qualquer curioso. No Império, apenas o Imperador podia vê-lo
sem marcar hora.

Dito isso, alguém de ranque tão distinto não poderia ser rejeitado de antemão. Afinal,
aventureiros adamantite eram figuras heroicas. Mesmo não tendo o mesmo grau de im-
portância de um imperador, ainda tinha importância o bastante para não serem ignora-
dos. Fluder os classificava com essa importância. Além do mais, às vezes ele os contra-
tava para encontrar objetos exóticos, logo, a visita deles não era algo a ser menosprezado.

“São da Pássaro Fio-Prateado? Ou seria a Oito Ondas?”

Ele falou os nomes das duas equipes de aventureiros do Império.

Contudo, seu discípulo negou com a cabeça.

“Não, senhor. Eles são a dupla que chamam a si mesmos de Escuridão. Até mesmo mos-
traram plaquetas de adamantite como prova de sua identidade.”

“Como é?”

O nome da equipe de aventureiros autointitulada “Escuridão”, era bem conhecido em


todo o Reino. Mesmo com apenas dois membros, eles realizaram muitas ações heroicas.

Capítulo 2 Borboleta Presa na Teia de Aranha


114
Aparentemente, eles haviam desafiado e expurgado Jaldabaoth, que causou caos na Ca-
pital Real.

Por que essa gente queria vê-lo? Várias questões desnortearam seu coração, mas mais
do que isso, seu desejo de discutir conhecimento mágico com a Bela Princesa Nabe, que
aparentemente era uma magic caster de alto nível, se fez presente. Ele imediatamente
jogou suas dúvidas para escanteio.

Além do mais, ele era um servo do Imperador Jircniv, que já havia expressado desejo de
vê-los.

Ele trataria do assunto o quanto antes. Fluder ordenou seus discípulos assim que deci-
diu qual rumo seguir:

“Dê-lhes boas-vindas. Vou me arrumar e os atenderei em instantes.”

Parte 3

“Ah! E não é que tem ruínas mesmo!? Olha só o tamanho disso. Impressionante! Pelo
pagamento, não achava que seria mentira, mas é difícil acreditar que exista mesmo uma
ruína inexplorada no meio duma planície gramada. É realmente surpreendente, não é?”

Quando ouviram Hekkeran perguntar, seus camaradas responderam com seu acordo.

Fôra os informado ser algum tipo de tumba, mas quando realmente a viram, parecia
estar afundada na própria terra — como se algo a tivesse pressionado, como uma de-
pressão terrestre.

Uma possível razão pela qual ruínas como essas não haviam sido exploradas era porque
a terra ao redor era grama, tanto quanto os olhos podiam ver, sem remanescentes de
cidades antigas próximas atraindo a atenção de aventureiros. Além disso, pequenos
montes de terra estavam espalhados no entorno, como estrelas no céu, por isso, mesmo
que houvesse ruínas enterradas em um deles, eles não teriam visto. A construção central
projetava-se um pouco, mas só se podia vê-lo depois de subir a uma grande colina como
esta.

Parte da parede de terra ao redor das ruínas desmoronara, expondo parte das paredes,
que era como as ruínas haviam sido descobertas. Essa foi a opinião compartilhada das
várias equipes.

“Com certeza. E, sendo sincero, estou bem animado com isso. Afinal, ruínas inexplora-
das podem conter tesouros surpreendentes.”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


115
“Aí eu não sei dizer, mas só de ver essa tranquilidade nas redondezas eu sinto que pelo
menos não deve ter monstros perigosos lá dentro. Na verdade, única coisa que tá me
incomodando é o nosso cliente, o cara indicou um local ideal pra montar acampamento,
isso é muito raro.”

O acampamento estava situado nas planícies. Pode-se dizer que era uma localização
ideal.

Uma vez que estava cercada por morros dispersos, que bloqueavam a linha de visão,
eles não precisavam se preocupar em ser vistos de longe. Tudo o que tinham que fazer
era estar atento à luz de seus fogos e tochas, e seria muito difícil para os outros detectá-
los.

E por causa disso — ele estava com medo.

“Como nosso cliente sabia sobre esse lugar?”

A resposta mais provável era que o cliente tinha procurado por um local ideal para um
acampamento por aqui por algum motivo. Isso explicaria muita coisa.

Mas se fosse esse o caso, levantaria mais questões. Por exemplo, por que o cliente pen-
sou em tê-los acampados em um local tão isolado e, por que um nobre imperial entraria
no território do Reino?

“—Ouvi uma vez que há uma grande organização criminosa no Reino, chamada Oito
Dedos, mas não sei se é verdade. Dizem que a organização fez muitas coisas más.”

“Já ouvi dizer que contrabandeiam até pro Império. Uns ladinos que conheço reclama-
ram do tanto que são influentes lá no Reino, sempre que o pessoal tentava investigar não
dava em nada, ou pior, acabava em sangue.”

Imina arrumou o cabelo encrespado pelo vento e falou depois que Arche terminou. Ro-
berdyck falou em voz baixa, como se estivesse cuspindo no chão:

“Ouvi falar das drogas. Quando usado corretamente, os medicamentos podem ser muito
úteis. Mas essa gente transforma remédios em narcóticos, para os quais vendem e usam
para prejudicar os fracos. Acho isso muito desagradável.”

Ele levantou a voz ligeiramente, não conseguiu evitar. Afinal, Roberdyck havia se tor-
nado um Trabalhador para ajudar os menos favorecidos.

“Já falamos demais desse lero-lero que não tem nada a ver com o trabalho. Enfim, de
acordo com a pesquisa da Arche, nosso cliente não tá fazendo nada duvidoso, mas pode
ser um experimento de expurgo, não?”

“—Talvez eu não tenha investigado o suficiente, ou estava muito bem escondido.”

Capítulo 2 Borboleta Presa na Teia de Aranha


116
Disse Arche calmamente. No entanto, Hekkeran não prestou atenção e olhou para os
outros em busca de confirmação.

“É, mas acho que todos já entenderam.”

“Sim, e preferi não mencionar isso na frente das outras equipes. Afinal de contas, tem
alguns Trabalhadores que aceitam pedidos da Oito Dedos pra contrabando. Então é me-
lhor não dar um tiro em nossos pés se houver a chance de qualquer outra equipe estar
envolvida com esse pessoal. Pelo menos até a gente terminar o serviço.”

“E não dá para dizer quantas lágrimas entraram em nosso pagamento e o quão sujo é.”

“—Mesmo que o dinheiro seja sujo, um pagamento ainda é um pagamento e dá para


sobreviver com ele.”

Roberdyck olhou para Arche, depois respirou profundamente para se acalmar.

“—Sinto muito, eu fui rude.”

“Tudo bem, até eu quase disse algo rude. Por favor me perdoe.”

“—Não se preocupe com isso, pois não disse nada de mais. Eu só queria que soubesse o
que penso a respeito. Não estou procurando paz espiritual, mas satisfação material. En-
tão...”

Arche levantou a mão rapidamente, para indicar que ainda não terminara, e continuou:

“—Eu tenho feito o meu melhor para evitar fazer coisas que prejudiquem meus compa-
nheiros, porque eu vi muitas pessoas que se destruíram em busca de seus desejos.”

“Eu acredito em você, Arche.”

Arche assentiu e ninguém disse mais nada. Mesmo sem palavras adicionais todos en-
tenderam. Todos discutiram entre si várias vezes no passado e desde então construíram
uma relação de confiança mútua.

“Mas e aí, o que acham disso? Tô sentindo que a tumba pode ser governada por algum
tipo de entidade.”

Os olhos de Hekkeran estudaram cuidadosamente a grama cortada. Além disso, as es-


tátuas de deuses e anjos, posicionadas em todo o lugar, eram muito bem esculpidas, ao
ponto de deixarem os espectadores ofegantes. Era evidente em um relance que alguém
cuidava da manutenção.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


117
Em contraste, as árvores em todos os lugares ao redor do cemitério estavam torcidas e
caídas, criando uma atmosfera sombria. Não havia ordem no modo como as lápides es-
tavam acomodadas, erigidas do chão como os dentes tortos de alguma bruxa velha. Ha-
via um sentimento de desconforto advindo do contraste entre o organizado e o inorga-
nizado.

Alguém estava encarregado deste lugar. Mas e se esse alguém não fosse uma pessoa nor-
mal?, essa conjectura assustadora subia queimando de seus estômagos às suas bocas.

A fim de banir as garras do medo, Hekkeran voltou sua atenção para a enorme constru-
ção. No norte, sul, leste e oeste havia um pequeno mausoléu, já no centro havia um mag-
nífico mausoléu. Oito altas estátuas de guerreiros foram posicionadas ao redor do
grande mausoléu. Elas irradiavam um sentimento opressivo, como se estivessem deci-
didos a eliminar todas as ameaças e malfeitores que se aproximassem.

“A vegetação do cemitério tá bem aparada. Não tem nem sinais de ervas daninhas aqui,
então alguém deve estar cuidando daí. Mas que tipo de gente mora aí?”

De fato, cada equipe — exceto a Tenmu — sentiu que alguma peça não se encaixava
quando pesquisaram os registros sobre o trabalho.

Só viam planícies e mais planícies nas redondezas. Um lugar singularmente inadequado


para construir uma tumba.

Para começar, era preciso considerar o fator de conveniência. Construir uma tumba tão
luxuosa em um lugar tão deserto não fazia nenhum sentido; era muito inconveniente.

Seria compreensível se a tumba não fosse para honrar os mortos, mas para servir como
um memorial para as gerações futuras. Afinal de contas, às vezes as pessoas construíam
monumentos em lugares onde grandes feitos ocorriam.

No entanto, nesse caso, o fato de que essa grande construção não tivesse nenhum regis-
tro histórico parecia totalmente antinatural. Todas as equipes haviam compartilhado as
informações que haviam coletado, mas não havia dados relevantes entre elas, o que in-
dicava que essa ruína poderia ter sido apagada da história.

Muita coisa não se encaixava.

Havia uma sensação bizarra, como algo preso em sua garganta, os fazendo franzir as
sobrancelhas.

“Pois é, dependendo de quem mora aí , isso pode acabar num massacre. Já verificou?”

“...Odiaria que tivesse inocentes morando aí.”

Capítulo 2 Borboleta Presa na Teia de Aranha


118
“—Os mais sábios de cada equipe concluíram que a Guilda não sabe nada a respeito
dessas ruínas. Também é bem longe dos vilarejos vizinhos, por isso não é provável que
haja plebeus por aí. Se houver alguém, não passam de invasores — aqueles que estão
fugindo de algo — ou monstros. Como não há vestígios de pegadas saindo das ruínas, o
que descobrimos foi que as criaturas lá dentro não precisam comer nem beber, ou o in-
terior das ruínas é autossustentável. Sem informação suficiente, ficamos limitados à ela-
boração de teorias e até no que pensar. E foi isso que concluímos dessas ruínas.”

Uma vez que alguém descobrisse ruínas, as notícias sobre isso seriam disseminadas
para várias organizações governamentais através da Guilda dos Aventureiros, os pionei-
ros da descoberta teriam direitos de investigação por um período limitado. Sob esse ar-
ranjo, se a Guilda dos Aventureiros ou as nações as quais as ruinas pertencessem não
tivessem quaisquer conhecimentos a respeito, era permitido exterminar qualquer inva-
sor que lá residisse sem permissão prévia.

Em relação a isso, eles adotariam a política de “matar por precaução”.

Talvez fosse uma política brutal, mas os humanos eram criaturas fracas neste mundo.
Portanto, conviver com seres de procedência desconhecida em território à margem de
terras humanas seria muito problemático.

Um temor oriundo da história recente, aproximadamente há 20 anos, um grupo cha-


mado Zurrernorn ocupou um conjunto de ruínas, realizaram experimentos assustadores
e causaram um grande desastre. Uma cidade inteira foi destruída enquanto ficaram de
mãos atadas devido à falta de informação.

Por isso a Guilda fez essa regra, para evitar um incidente semelhante no futuro.

“Ah, se for como de costume, devem ter undeads aí. Se forem eles que tomam conta
dessas ruínas, a gente vai precisar expurgar e consagrar o lugar pra dispersar a energia
negativa, ou vai ser um pé no saco, o que acham?”

“Concordo, seria péssimo. Deixar os undeads livres só vai levar ao aparecimento de


undeads mais poderosos. É por isso que os mais poderosos frequentemente aparecem
em lugares como ruínas, cavernas e assim por diante.”

“Seria tão bom se só tiver uns Golems cuidando das ruínas, sabe? Digo, sob ordens de
seus antigos senhores. E aí, o que pretende fazer agora?”

“—Acho que você deveria comparecer à reunião no meu lugar, Hekkeran.”

“Relaxa, os outros líderes de equipe também não participaram, né? É isso que chamam
de fazer uso total dos recursos?”

Hekkeran piscou para Arche e ela suspirou alto de propósito.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


119
“—Em qualquer caso, todas as equipes se moverão depois de escurecer. Nós entrare-
mos nas quatro direções ao mesmo tempo e nos encontraremos no mausoléu central.”

“Beleza, até porque daria muito na cara entrar pelo dia.”

“—Sim.”

O terreno circundante era bem amplo e não havia sinais de observadores ou viajantes
ao longe. Assim, entrar diretamente também era uma opção válida, mas eles precisavam
estar atentos a situações inesperadas. Então, ao contrário do que se pensa, nesse caso
era mais seguro se movimentar à noite.

Além disso, eles ainda poderiam aprender algo se continuassem observando as ruínas,
mesmo não restando muitas horas antes do anoitecer. O tempo é curto, mas não deve
fazer mal algum perder um tempinho nisso. Provavelmente os mais espertos pensariam
assim.

E, no fundo, talvez até quisessem continuar observando o local por mais alguns dias.

“Ainda assim, não daria pra investigar com segurança usando 「Invisibility」?”

“Eu também pensei nisso. Mas acho que se surgir alguma situação tensa, seria melhor
ter todos envolvidos diretamente, pelo menos poderíamos aprender alguma coisa.”

Magias de invisibilidade não eram perfeitas; havia muitas maneiras de ver através delas.
Se os Trabalhadores se aproximassem com magia e fossem vistos por alguém — pelas
sentinelas da tumba — isso aumentaria o nível de alerta, e eles poderiam não conseguir
entrar nos próximos dias.

Para evitar isso, eles optaram por um plano onde todos iriam juntos.

Hekkeran entendeu esse ponto e assentiu. Embora ainda houvesse alguns furos no
plano, esse era o melhor equilíbrio que eles poderiam encontrar entre risco e eficácia.

“E então, a gente vai dar uma descansada agora?”

“—Sim, Escuridão e Screaming Whip estarão encarregados da segurança; mas por pre-
caução e para manter todos em alerta, as várias equipes designarão sentinelas para ficar
de olho nas coisas. Os grupos irão na ordem de chegada à propriedade do Conde, tro-
cando a cada duas horas.”

“Hm, seremos os últimos.”

“—Sim, vai demorar um pouco até chegar a nossa vez.”

Dizendo isso, Arche fez um afago no pescoço e rodeou os ombros.

Capítulo 2 Borboleta Presa na Teia de Aranha


120
“Obrigado por seu árduo trabalho.”

Arche assentiu para Roberdyck.

“—Estou tão cansada. Passamos tanto tempo porque aquele idiota queria invadir direto
sem pensar. Levamos muito tempo para convencê-lo. Aquele homem não sabe o signifi-
cado do trabalho em equipe.”

“...Ah, o gênio da espada...”

“Melhor chamar ele de Arrombado—Filho—da—Puta.”

Hekkeran sorriu para Imina — cuja intenção assassina estava transbordando — e ten-
tou mudar de assunto.

“Enfim, vamos voltar pro acampamento e esperar a nossa vez.”

“Eu aprovo. Eu não acho que vai chover por um tempo, mas é melhor se preparar para
isso. Imina-san, é a sua vez, apenas te peço que tente não parecer tão assustadora.”

“Aiaiai... Grrrh! Fazer o que se ele me irrita ao ponto de querer furar ele todinho com a
faca. Vou montar minha barraca longe deles.”

“Contanto que não saia da área designada de acampamentos, tudo bem.”

Ficar afastado não era o ideal, mas era muito melhor do que montar uma tenda nas
proximidades e acabar entrando em confusão.

Os quatro deram as costas às ruínas e partiram.

“—Ainda assim, quanto mais penso, mais estranho fica. Não me admira que o Conde
tenha feito um pedido como esse.”

O grupo deu uma viradela quando ouviu a voz de Arche e a viram encarando as ruínas.

“—Eu não sei sua idade ou sua história. É como se aparecesse de repente nesta era.
Parece fora de lugar. Esses entalhes lembram as esculturas que existiam na região que
foi invadida pelos Deuses Demônios, mas elas tinham um estilo oriental. Mas aqui tem
essas lápides em forma de cruz... não consigo entender.”

Enquanto ouvia a dissertação acadêmica de Arche, Hekkeran teve que reprimir o sor-
riso malicioso em seu rosto e ele mal conseguiu esconder a emoção em seu coração.

“Então tá dizendo que pode ter coisas valiosas daquele tempo seladas aí, é isso?”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


121
“É, tenho certeza de que haverá algum tesouro incrível lá.”

“...Ou isso, ou uns undeads muito sinistros.”

“---Essa nããão! Que assustadoor~!”

“—Que imitação horrível, Hekkeran. Nada a ver comigo. E tentar copiar minha voz o fez
parecer um esquisitão.”

“Brincadeira, foi mal.”

“Mas falando sério, pessoal... tô ansiosa por isso.”

“Eu também. Por que essa tumba existe e quem foi enterrado aqui? Isso desperta minha
curiosidade.”

“Né? Explorar o desconhecido sempre me deixa meio nervosa.”

“—E dinheiro. Espero que haja muitos tesouros.”

Hekkeran olhou para os rostos sorridentes de seus companheiros e a satisfação encheu


seu coração. Mesmo que todos aqui tenham feito trabalhos sujos por dinheiro, não foi
realmente de livre vontade. Na verdade, todos aqui preferiam o ideal que o estilo de vida
de um aventureiro representava.

Não havia como dizer se Arche seria capaz de continuar a se aventurar quando comesse
a sustentar suas irmãs. Uma vez que Arche deixasse a equipe, poderia demorar um pouco
para preencher a vaga e, mesmo que encontrassem logo, teriam que aceitar trabalhos
mais fáceis para enturmarem.

Talvez esse trabalho, talvez o último com seus membros atuais, tenha sido a melhor
escolha.

No futuro... talvez a gente possa trabalhar como aventureiros... bom mesmo seria sair pra
explorar o desconhecido sem se preocupar com nada.

Pensou Hekkeran olhando para o céu, para a cúpula azul-celeste sem fim.

♦♦♦

Enquanto o pôr do sol lentamente cobria o mundo, os Trabalhadores saíam de suas


tendas baixas camufladas. Como se fossem encarregados de operações clandestinas, sa-
íram para fazerem os preparativos.

Os aventureiros já haviam preparado uma refeição para eles.

Capítulo 2 Borboleta Presa na Teia de Aranha


122
Começaram acendendo vários tabletes brancos de combustível sólido e depois acres-
centaram carvão a eles. Como de antemão haviam lançado 「Darkness」 no fogo, não
havia a iluminação esperada das chamas. 「Darkness」 era uma magia que apenas eli-
minava a luz; não extinguia as chamas. No potente fogaréu, eles ferveram a água vinda
de um cantil de água infinita.

Depois despejaram a água fervida em tigelas de madeira, e as rações de viagem perde-


ram a forma compacta, um cheiro perfumado de sopa tomou conta. Isso, junto com o pão
duro, seria a refeição básica de todos.

Depois disso, dependia da preferência de cada um.

As tigelas estavam cheias de sopa flavescente — do tipo que os Trabalhadores gosta-


vam, feita para fornecer nutrição e para ser armazenada por um longo tempo. Algumas
pessoas adicionavam fatias finas de carne seca à sopa, alguns temperos polvilhados, e
outras simplesmente a consumiam do jeito que estava.

O jantar fôra servido e logo terminado. Quando se considerava a quantidade de ativi-


dade que logo realizariam, parecia uma pouca quantidade.

No entanto, comer demais afetaria as tarefas que teria de executar. Ao mesmo tempo,
não comer o suficiente também era perigoso, porque não havia como saber quando po-
deriam comer de novo.

O fornecimento de barras rações de emergência também era limitado, porque trans-


portar muitas dificultaria o movimento. Um acordo teve que ser feito nesta área.

Depois de devolver as tigelas vazias aos aventureiros, os Trabalhadores carregaram


suas malas pré-embaladas.

Sob o olhar atento dos aventureiros, os Trabalhadores partiram em bando. Os aventu-


reiros guardariam esse acampamento e não os seguiriam até as ruínas.

Para começar, eles circularam ao redor da base da colina e depois se dispersaram em


torno das ruínas. Eles já haviam providenciado para lançar um sinalizador no céu se fos-
sem atacados nesse estágio.

Muitas pessoas usavam armadura completa, cujo volume e barulho pesados não pare-
ciam adequados para operações secretas, mas isso estava apenas dentro das restrições
do pensamento normal. Para aqueles que poderiam usar magia para violar o senso co-
mum, era uma questão trivial.

Primeiro, eles lançam 「Silence」. Essa magia abafava todos os sons a uma certa dis-
tância, seja o barulho das placas metálicas ou o de correr pelo chão.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


123
Logo em seguida vinha 「Invisibility」. Essa magia tornava difícil para observadores
detectá-los a olho nu.

Por segurança, eles tinham um ranger no céu para ficar de olho nos arredores, lançaram
「Invisibility」, 「Fly」 e 「Hawk Eye」 para ajudá-los em sua tarefa. Para lidar com
qualquer situação súbita que pudesse se desenvolver, ele estava equipado com flechas
especiais imbuídas de um efeito paralisante.

O grupo chegou ao seu destino sob essa dupla camada de proteção.

Chegara a hora do evento principal.

O plano consistia de subir a encosta, depois descer nas ruínas vários metros abaixo.
Depois de feito com sucesso, sinalizariam para reunir-se no mausoléu central. Tudo isso
seria feito enquanto as magias de 「Invisibility」 estivessem em vigor.

Dito isso, todos precisaram se mover com sincronia para evitar atrasar o grupo. Con-
tudo, como era tarde da noite e todos estavam invisíveis, seria muito difícil saber a exata
localização um do outro.

Mas por serem experientes, já haviam levado em consideração esse problema.

Em um piscar de olhos, estranhos bastões, cada um com cerca de 30 centímetros de


comprimento, apareceram no chão. Depois os bastões “flutuaram” no ar como uma mão
invisível os segurasse; que, após dobrados, passaram a emitir uma luz fluorescente su-
ave.
[ B a s t õ e s Fluorescentes]
Esses bastões estranhos eram chamados de “Fluorescent S t i c k s ”. Quando dobrados,
soluções alquímicas internas se combinariam e emitiriam luz. O motivo para terem sido
jogados no chão foi porque 「Invisibility」 também afetava tudo o que o usuário carre-
gava. Para deixá-lo visível, era preciso afastá-lo de si brevemente .

Após pegar o bastão e balançá-lo algumas vezes de um lado para o outro, quebraram os
bastões que já serviram ao seu propósito. Então encharcaram o chão com a solução al-
química fluorescente que logo se apagou.

Desta forma, souberam duas coisas; que tudo estava indo bem para os Trabalhadores,
e que aguardavam a próxima etapa do plano.

Mesmo não podendo ver um ao outro devido à distância, quatro cordas foram simulta-
neamente baixadas para a superfície da Grande Tumba de Nazarick. Esta era uma corda
de escalada, e tinha nós amarrados em intervalos regulares ao longo de seu compri-
mento.

As extremidades da corda estavam amarradas a chapeletas de ferro cravadas na rocha,


e rangiam a cada balanço.

Capítulo 2 Borboleta Presa na Teia de Aranha


124
Se algum dos presentes pudesse ver através da invisibilidade, seria capaz de notar um
grupo de pessoas descendo nas cordas.

Fazer esse esforço físico não era nada mesmo para alguém como Arche, que tinha se
concentrado em afiar suas proezas mágicas em vez do corpo físico. Ou melhor, seria mais
preciso dizer que isso seria o mínimo esperado tanto de Trabalhadores quanto de aven-
tureiros.

Graças ao treinamento e aos nós bem dados, cada Trabalhador desceu sem problemas,
aterrissando dentro do terreno da tumba.

O primeiro destino de cada equipe foi se infiltrar em um dos quatro mausoléus menores
em norte, sul, leste e oeste.

Agora que a duração efetiva de 「Invisibility」 chegara ao fim, todos ficaram visíveis.
Cada equipe correu em direção ao seu respectivo mausoléu.

Eles estavam agachados, escondendo-se nas lápides, árvores ou estátuas. Corriam es-
poradicamente de ponto a ponto pelo cemitério escuro. Durante esse tempo, a magia
「Silence」 ainda estava em vigor, então não fizeram nenhum barulho, e até mesmo os
guerreiros de armadura correram a pleno pique enquanto procuravam abrigo. Seus mo-
vimentos eram rápidos e fluídos, como sombras deslizando pela terra.

♦♦♦

O líder da Heavy Masher, Gringham, aproximou-se lentamente do mausoléu e seus


olhos se arregalaram.

Isso porque o mausoléu era mais grandioso do que imaginava.

Embora fosse um dos menores mausoléus, isso era apenas em comparação com o
enorme mausoléu central. Olhando mais de perto, a estrutura era tão impressionante
que sua incrível grandiosidade os deixou com falta de ar.

As paredes de pedra branca davam a impressão de brilharem, era como se tivessem


sido polidas. Muitos anos deveriam ter passado desde que foram construídas, mas não
havia vestígios de intemperismo ou manchas advindas do vento e da chuva.

Uma enorme porta de aço estava no topo de um lance de três degraus feitos com uma
única placa de pedra. A porta em si estava polida e sem ferrugem, emitindo um brilho
metálico escuro.

Em mero relance já ficou claro para todos que a estrutura era bem cuidada.

—Em outras palavras, alguém morava nesta tumba.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


125
Quando Gringham chegou a essa conclusão, o seu companheiro ladino — obviamente
com níveis na profissão Ladino — deu um passo à frente e começou a inspecionar os
degraus.

Gringham viu seu companheiro gesticular — devido ao uso de 「Silence」 — para afas-
tarem, todos recuaram lentamente em acordo. Isso foi para evitar serem pego em uma
armadilha de efeito de área.

O ladino checou com muito cuidado. Era um pouco frustrante esperar, mas era melhor
prevenir do que remediar.

Segundo as conjecturas, a alma residia no corpo e, quando o corpo começava a se pu-


trefazer, a alma seria chamada para o lado dos deuses. A plebe não tardava em enterrar
seus mortos, para que o acalento da terra acelerasse o processo, mas isso era diferente
para certos nobres e figuras de poder.

Pois se enterrassem o corpo imediatamente, verificar o estado de putrefação do corpo


exigiria uma exumação do túmulo. Portanto, a fim de verificar pessoalmente a putrefa-
ção do falecido, essas pessoas poderosas não seriam enterradas imediatamente após a
morte, mas assim deixadas expostas por um tempo. No entanto, ninguém escolheria co-
locar seus cadáveres em suas próprias casas.

Em vez disso, optariam por ter seus corpos armazenados nos mausoléus dos cemitérios.
O cadáver seria colocado lá por um período de tempo. Quando a putrefação começasse,
os sacerdotes dariam testemunho do fato de que a alma tinha, de fato, partido do corpo
para estar com os deuses.

Os corpos em questão seriam colocados dentro de um espaço comum dentro do mau-


soléu. Haveria várias placas de pedra dentro de um amplo espaço aberto e os cadáveres
estariam dispostos nas placas. A visão de cadáveres putrefatos dispostos em fila deveria
ser uma visão horrível, mas era extremamente normal dentro do quadro de referência
deste mundo.

No entanto, se alguém fosse tão rico e poderoso como um Grande Nobre, as coisas se-
riam mais uma vez ligeiramente diferentes. Eles não usariam um mausoléu comunal,
mas uma tumba ancestral. As pessoas acreditavam que estes eram lugares de descanso
temporário para os poderosos permanecerem antes de serem convocados diante dos
espíritos de sua família, e assim poder possuir um mausoléu de família era um símbolo
de poder.

Não era de todo incomum decorar mausoléus com mobilhas ou joias. Em outras pala-
vras, os mausoléus eram essencialmente tesouros para os ladrões. Portanto, esses luga-
res eram tipicamente fortificados com armadilhas letais e semelhantes para afastar in-
trusos.

Capítulo 2 Borboleta Presa na Teia de Aranha


126
Portanto, um mausoléu tão magnífico certamente deve ser atado com armadilhas ainda
mais perigosas.

Depois de verificar os passos, o ladino começou a inspecionar a porta e, de repente, os


sons ao redor voltaram ao normal.

A duração do 「Silence」 expirou, talvez na hora certa. O ladino se aproximou silenci-


osamente da porta e começou a checar novamente. No final, ele colocou algo como uma
xícara contra a porta e tentou ouvir o que estava além dela.

Depois de alguns segundos, o ladino virou-se para Gringham e companhia e balançou a


cabeça.

Significava que: “Não tem nada”.

O ladino ficou bastante surpreso e inclinou o pescoço várias vezes.

A porta nem estava trancada, o que desafiava a compreensão, mas como o ladino não
encontrara nada, seria a vez da vanguarda agir.

Gringham se adiantou e estendeu a mão para empurrar a porta que o ladino já havia
lubrificado. O guerreiro atrás dele levantou o escudo.

Com um empurrão forte, a pesada porta começou a se mover. Talvez fosse o óleo, ou
porque as pessoas encarregadas deste lugar tinham sido muito meticulosas em seu tra-
balho, mas a porta se abriu suavemente apesar de seu enorme peso.

O guerreiro que estava de pé se moveu entre a porta recém-aberta e Gringham, segu-


rando seu escudo para frente, de modo que Gringham não fosse atingido por um ataque
ou armadilha.

Nenhuma flecha ou coisa parecida disparou em sua direção. A porta de metal ficou com-
pletamente aberta e uma escuridão vazia apareceu diante dos membros da Heavy Mas-
her.

“「Continual Light」.”

O cajado que o magic caster arcano segurava brilhou com luz mágica. Através de sua
iluminação variável e controlável, eles tinham uma visão clara do interior do mausoléu.
O magic caster incitou outra magia e a arma do guerreiro brilhou também.

As fontes gêmeas de luz iluminavam o que parecia ser uma câmara pertencente a um
monarca.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


127
No meio da sala estava o que parecia um altar religioso, sobre o qual foi colocado um
sarcófago de pedra branca. O referido sarcófago tinha mais de 2,5 metros de compri-
mento e estava encravado de padrões complexos. Nos quatro cantos da sala havia está-
tuas brancas de guerreiros de armadura e carregando espadas e escudos.

E também—

“—Hm, alguém sabe alguma coisa sobre esse emblema?”

“Não, nunca vi nada assim antes.”

Uma bandeira pendia da parede. Tinha um estranho brasão costurado com fio de ouro.
O ladino e o magic caster conheciam a maior parte da heráldica usada pelas nações vizi-
nhas, de modo que, se não se lembrassem desse emblema em particular, provavelmente
não pertencia à realeza do Reino.

“Poderia ser um emblema dos nobres antes da fundação do Reino?”

“Você quer dizer que isso é uma relíquia de mais de dois séculos atrás?”

Muitos países foram destruídos pelos Deuses Demônios há 200 anos, por isso havia
pouquíssimas nações por aqui, que fôra palco de algo grande. O Reino, o Reino Sacro, o
Estado do Conselho e o Império foram todos fundados nos últimos 200 anos.

“Se for como dizes, então de que exatamente a bandeira é feita? Pois ela está bem con-
servada mesmo parecendo muito antiga.”

“Talvez tenham usado magia de preservação, ou alguém vem usando magia para con-
sertar as partes danificadas ao longo do tempo.”

“Tá certo. Ei, líder, não precisa mais falar daquele jeito estranho. Somos os únicos aqui.”

“Humm...”

As sobrancelhas de Gringham se inclinaram para um ângulo inclinado, e então o rosto


dele imediatamente abriu um sorriso.

“Ahhh, cê tem razão, dá uma canseira da peste ter que lembrar dessas papagaiada toda
na hora de falar, às vez me sinto mais bocó que burro manco.”

“Agradecemos por se esforçar nisso. Mas sabe, é como ele disse; quando for apenas a
gente, pode falar normalmente.”

“Num— não posso! Falar formalmente me faz soar mais como um grande Trabalhador.
E além disso, mudar a maneira como eu falo aqui e ali me confunde todo, então melhor

Capítulo 2 Borboleta Presa na Teia de Aranha


128
ficar em uma coisa só. Sabe como meus princípios são; maior vantagem pelo menor es-
forço.”

Gringham respondeu aos sorrisos sem graça de seus companheiros com um sorriso irô-
nico.

Gringham tinha sido originalmente o terceiro filho de um fazendeiro no Reino.

Se os agricultores dividissem seus campos de maneira uniforme entre cada um de seus


filhos ao longo das gerações, então os campos encolheriam, o que, por sua vez, faria com
que o rendimento das colheitas diminuísse até que a linhagem familiar terminasse. As-
sim sendo, “dividir os campos” tornou-se sinônimo de “loucura”. Por causa disso, os cam-
pos de uma família de agricultores geralmente iam para o filho mais velho, o segundo
filho podia escolher ajudar nas tarefas domésticas e nos campos, mas o terceiro filho não
passava peso morto. Por isso, eles geralmente preferiam deixar suas casas e ganhar a
vida na cidade.

Por sorte, Gringham foi abençoado com habilidades físicas excepcionais e amigos, com
os quais ele tinha conquistado sua fama. Entretanto, ele tinha nascido em uma fazenda
e, por ser o terceiro filho — peso morto —, sequer se esforçaram para alfabetizá-lo, ja-
mais recebendo educação formal. Como resultado, ele não sabia ler, escrever e nem en-
tendia de etiqueta.

Era verdade que os Trabalhadores precisavam de força para concluir seus trabalhos,
não de educação. No entanto, haveria problemas se ele, como seu líder, fosse ignorante.

Ele se esforçou ao máximo para estudar, mas sua mente não era tão capaz quanto seu
corpo, e ele acabou fracassando. Mesmo assim, a razão pela qual não havia sido remo-
vido de sua posição de líder foi porque seus camaradas aprovavam seu desempenho, não
se importando com suas habilidades acadêmicas. Para não desapontar seus amigos,
Gringham tomou a liberdade de tentar ser um líder que eles mereciam ter, daí toda a
pompa de sua fala.

Isso de certo modo passava a impressão para seus clientes de: “Cada equipe tem suas
peculiaridades, então esse jeito estranho que ele fala não tem nada de mais”.

No fim apenas achariam engraçado e só. Contudo, era muito melhor do que deixar os
outros dizerem: “Uma equipe liderada por um fazendeiro bronco não é grande coisa.”

“Muito bem, já perdemos tempo em demasia. Vamos embora, cavalheiros.”

Ninguém se opôs à declaração de Gringham, e assim eles continuaram em frente.

À sua frente estava o ladino, que cuidadosamente entrou no mausoléu e revistou o in-
terior.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


129
Os outros membros da equipe colocaram fortes barras de ferro nas aberturas da porta.
Dessa forma, não importava quais tipo de armadilhas tivesse, a porta não fecharia com-
pletamente. Depois disso, eles meio que “cobriram” as portas para evitar que a luz esca-
passe do interior. Enquanto o ladino inspecionava cuidadosamente o ambiente, Grin-
gham e os outros observavam atentamente o que os rodeava, esforçando-se para não
deixar nada passar despercebido. Às vezes eles não tinham alternativa a não ser usar luz,
o que também aumentaria a chance de serem vistos.

Quando Gringham se agachou para observar os arredores, o ladino já havia chegado ao


fundo, no local da bandeira. Depois de examinar cuidadosamente a bandeira, ele se de-
cidiu a tocá-la e, no instante em que o fez, imediatamente se afastou.

“Tudo limpo, podem vir.”

O ladino olhou para trás, depois de ver que Gringham e companhia tinham se aproxi-
mado, ele apontou para a bandeira.

“...Isso deve valer alguns trocados; foi tecido com fios de metais preciosos.”

“Queeê!? Metais preciosos? Quem é louco para pendurar uma coisa dessas aqui?”

Todos exclamaram surpresos. Então, correram para a base da bandeira e se revezaram


para sentir o material. A sensação fria era, sem dúvida, de metal.

Pela maneira como brilhava, o ladino provavelmente tinha razão. Uma bandeira desse
tamanho deveria ser muito pesada, e depois de calcularem seu valor artístico, concluí-
ram que valia uma fortuna.

“Parece que a aposta do nosso cliente valeu a pena. Merecemos ser mais bem pagos...
quero dizer, todas as equipes merecem um agrado, deve haver muitos tesouros assim
por aqui.”

“Vamos levar?”

Gringham respondeu ao ladino:

“Seria demasiadamente volumoso e pesado. Coletaremos isto depois. Alguém discorda?”

“Não, carregar isso por aí só ia nos atrasar. Ei, já dei uma boa analisada no ambiente;
não achei nenhuma armadilha ou portas secretas.”

“...Muito bem. Conto com teus serviços.”

Gringham acenou com a cabeça para o magic caster arcano — mago — e seu colega
lançou uma magia em resposta.

Capítulo 2 Borboleta Presa na Teia de Aranha


130
“「Detect Magic」... não consigo perceber nenhum mecanismo mágico, a menos que
estejam imunes a magias de detecção.”

“...Então não há mais nada para inspecionar. Vamos continuar com a nossa principal
diretriz.”

Os olhos de todos foram para o sarcófago no centro da sala.

O ladino passou muito tempo inspecionando e julgou que não havia armadilhas.

Gringham e o guerreiro acenaram um para o outro e então abriram a tampa do sarcó-


fago. Pela tampa ser enorme, pensaram que seria igualmente pesada, mas era muito mais
leve do que o esperado. Os dois puseram as costas para empurrá-la e quase perderam o
equilíbrio.

Depois de remover a tampa, um brilho ofuscante e cintilante encheu seus olhos.

Havia ornamentos e joias de ouro e prata e várias pedras preciosas. De relance, viram
mais de 100 moedas de ouro dentro do sarcófago.

Mesmo já esperando algo do tipo após avaliar a bandeira, Gringham não pôde deixar de
sorrir quando o viu. O ladino examinou cuidadosamente o interior, depois enfiou a mão
no sarcófago e tirou o objeto brilhante — um colar de ouro.

Uma primorosa joia que tirava o fôlego de qualquer um que se atentasse à sua qualidade.
Em um mero olhar, o colar de ouro parecia comum, os elos estavam cravejados com re-
quintadas inscrições.

“...Vale pelo menos cem moedas de ouro. Até umas cento e cinquenta a depender do
comprador.”

Todos reagiram de forma diferente quando ouviram os resultados da avaliação do la-


dino. Alguns assobiaram, alguns sorriam tão largamente que não conseguiam fechar a
boca. Mas havia algo que todos tinham em comum; seus olhos estavam cheios das cha-
mas do prazer e do desejo.

“Já fizemos metade... Creio que pelo menos já temos cinquenta moedas de lucro. Dez
por pessoa. Esse bônus vai ser dos bons!”

“Quem diria... que essas ruínas eram mesmo uma mina de tesouros.”

“Nossa! Isso é incrível!”

“Exatamente, mas que idéia estranha de deixar todo esse tesouro aqui. Sorte a nossa,
vamos fazer bom uso disso.”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


131
Quando disse isso, o mago alcançou a pilha de tesouros e tirou um anel com um rubi
enorme, que ele beijou.

“É grandão.”

O sacerdote alcançou o sarcófago e puxou um punhado de moedas de ouro, que ele len-
tamente deixou escapar entre os dedos.

As moedas tiniam umas contra as outras com um som alto e nítido.

“Eu nunca vi moedas de ouro como essas antes. Será que é de qual país?”

O ladino arranhou uma das moedas com uma faca e disse com uma voz cheia de emoção:

“Nunca vi moedas de qualidade tão boa. Elas têm o dobro do peso das normais e dá para
conseguir ainda mais dinheiro se considerar o valor artístico delas.”

“Quer dizer quê... he... he-he-he...”

O grupo não conseguiu se controlar e começou a rir baixinho. Apenas a parte deles
desse tesouro seria uma soma surpreendente.

“Aos deuses meus profundos agradecimentos pela sorte de antemão. Vamos levar estes
tesouros o mais rápido possivel para o edifício principal. Se demais demorarmos, nossos
ganhos diminuirão!”

“—É isso aí!”

As palavras de Gringham foram recebidas com uma aprovação sem igual. Suas vozes
estavam cheias de emoção e paixão.

Parte 4

Eles estavam no mausoléu central. Era cercada por estátuas gigantescas de guerreiros
e cavaleiros que pareciam estar protegendo seu suserano. Eram tão realistas que pare-
ciam prestes a se mover. Hekkeran estava escondido ao pé de uma das estátuas, obser-
vando atentamente um dos quatro mausoléus menores.

Depois de algum tempo, notou cinco pessoas correndo em alta velocidade de um dos
mausoléus. Ele continuou escondido, tentando ver se corriam por alguma anormalidade,
também tentava ver se alguém os observava. Depois de finalmente confirmar que ape-
nas vinham correndo como planejado, Hekkeran respirou aliviado.

Capítulo 2 Borboleta Presa na Teia de Aranha


132
Ele se inclinou atrás da estátua e deu um sinal. Gringham — que estava correndo à
frente de seu grupo — percebeu e rumou para Hekkeran.

“Por que demorou tanto, Gringham?”

“Minhas sinceras desculpas; parece que lhe fiz esperar.”

“Bem, não é como se a gente tivesse definido horário, então relaxa. Até porque, vamos
pra um lugar diferente, aí só depois a gente vai decidir o que fazer.”

Hekkeran abaixou sua postura, liderando o caminho enquanto ficava atento aos arre-
dores.

Pouco depois de começarem a se mover, Gringham perguntou:

“Uma pergunta; a tua equipe descobriu tesouros?”

Depois de ouvir a excitação mal disfarçada na voz de Gringham, Hekkeran lembrou o


modo como seu próprio time se sentiu momentos antes.

“Oh, sim, encontramos. A gente riu à toa. O mesmo rolou com o ancião.”

“Então todos compactuamos da mesma experiência? A sorte sorriu para nós hoje.”

“É sim, temos que agradecer a seja lá quem for o figurão que tá enterrado aqui.”

“Uhum. Todavia, depois de descobrirmos tantos tesouros, talvez tenhamos que nos pre-
parar para a possibilidade de que a tumba em si não tenha nada.”

“Duvido, quer apostar que vai ter mais tesouros lá?”

“Em tuas palavras... quanto ousa apostar?”

“Agora tá falando a minha língua. Além de ganhar bônus por achar tesouros, ainda vou
ganhar umas moedas suas. Aí eu vi vantagem! O único problema é que vamos apostar no
mesmo local...”

Nenhum dos dois gargalhou, simplesmente sorriram amplamente.

“Indubitavelmente. Falando nisso, tenho uma pergunta a lhe fazer; o que és isso?”

Ante os olhos de Gringham tinha uma estátua enorme, havia algo como uma placa de
pedra aos seus pés.

“Aquilo ali?”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


133
Hekkeran contou os resultados de suas investigações enquanto continuavam andando.
As outras três equipes viram os caracteres na placa, mas ninguém entendia. Ele tinha a
fraca esperança de que Gringham pudesse entender o sentido.

“Parece um monumento com uns símbolos naquela placa, parece algum tipo de mensa-
gem inscrita nela.”

“Não achas que o que dizes está vago...?”

“É que ninguém sabe o que é. Não é do Reino, nem do Império, muito menos parece ser
uma das línguas antigas daqui. Pode nem ser algo que os humanos usam. Só entendemos
que tem uns numeros escritos, dois-ponto-zero.”

“Número? Tentando ver isso com alguma lógica, digamos que essa possa ser a data em
que o mausoléu foi construído. Porém, seria um número muito pequeno.”

“A Arche disse que pode ser um enigma ligado às ruinas... ah, enfim, fique atento a isso
aí.”

“Certamente, eu certamente ficarei.”

Depois de passar pela enorme estátua, subiram um longo e suave declive de escadas
que pareciam ser feitas do mesmo material que o sarcófago de pedra. Após alguns passos,
a entrada do mausoléu central se estendeu diante deles.

“É o fedor dos mortos.”

“Sim, isso mesmo. É aquele mesmo fedor das Planícies Katze.”

Hekkeran expressou sua concordância com o murmúrio de Gringham.

Embora não fosse tão nauseante quanto o cheiro vil de decadência, o fraco fedor exclu-
sivo de undeads dos cemitérios pairava no ar frio.

Havia undeads presente em uma tumba tão bem cuidada?

O grupo se preparou quando entraram no mausoléu. Diante deles havia um grande sa-
lão. Inúmeras mortuárias de pedra se alinhavam em cada lado do corredor e, em frente
a elas, havia uma escada que descia. A porta que levava ao andar de baixo estava escan-
carada. Uma rajada estranhamente gelada de ar frio fluiu por trás dela.

“Por aqui.”

Liderado por Hekkeran, o grupo de Gringham desceu as escadas.

Capítulo 2 Borboleta Presa na Teia de Aranha


134
Uma abóbada funerária de portas duplas estava ao pé da escada. Parecia ser a única nos
arredores.

Mesmo sendo mais apertado que o ambiente acima — mausoléu —, ainda era largo o
bastante. Os companheiros de Hekkeran da Foresight, a Tenmu de Erya e o grupo de
Parpatra estavam todos aqui.

“E aí, o que a gente faz agora? O plano original era se dividir aqui e investigar o interior,
mas agora que todo mundo inspecionou os mausoléus, alguém tem outra idéia?”

Depois de dizer isso, Hekkeran olhou para todos os outros.

Ninguém parecia afim de propor nada. Era desejo, ou mero truque da luz? Ele não podia
ter certeza de onde vinha aquele brilho nos olhos de todos. Seus rostos estavam cheios
de excitação enquanto ansiavam para sair correndo até as profundezas da tumba.

“Então eu tenho uma. Meu time vai verificar as paredes pra ver se tem portas ocultas.”

Mesmo sendo uma sugestão do líder da equipe, os membros não ficaram muito conten-
tes.

Afinal, todos tinham testemunhado quantos tesouros poderiam descobrir. Mesmo que
essa opinião viesse de seu veterano líder, era muito difícil concordarem. Certamente de-
vem ter imaginado o tesouro criando pernas e fugindo diante de seus olhos.

“Que tal isso? Até já verificamos a superfície, mas não posso dizer que passamos um
pente fino. Talvez tenha algum caminho secreto embaixo dos mausoléus, o que me di-
zem ? E também não demos uma boa olhada no cemitério...”

“Eu acredito que o reverenciado ancião está fazendo uma alusão às canções dos bardos
sobre as grandes ruínas — digo, as Ruínas de Sasashal — havia uma passagem segura
perto da entrada que poderia levar todos diretamente ao coração das ruínas.”

“Ei, Gringham. Já verificamos as paredes, infelizmente não tem portas secretas aqui.”

“Olha aí, jovens... Por isso, eu e minha equipe estamos dispostos a criar uma, mas em
troca, vocês dão um tiquinho dos tesouros que encontrarem neste nível. Que tal dez por
cento de cada time? Além disso, se tiver outro nível abaixo, dariam o direito da nossa
equipe entrar e procurar primeiro. Vale a pena, não?”

“Não tenho objeções a tua proposta.”

O primeiro a responder foi Gringham. Pouco depois disso, Hekkeran também expressou
seu acordo.

“Bem, parece que ninguém tem nada contra. Já ia me esquecendo, e você, Uzruth?”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


135
“Não gostei muito, mas apenas dez por cento não significará nada para quanto lucrarei.”

O velho riu alegremente da resposta farpada de Erya. Como o ditado “O feitiço virou
contra o feiticeiro”, Erya acabou ficando descontente por suas palavras terem sido leva-
das com zombaria.

“Oh, ancião. Tenho um favorzinho pra te pedir. Encontramos uma bandeira imensa te-
cida de fios de metais preciosos lá no mausoléu que a gente foi. Não deu pra trazer por-
que era grande demais. Será que poderia pegar ela pra nós?”

“Assim como a equipe de Hekkeran, a nossa também achou uma. Embora me envergo-
nhe tirar proveito, eu ficaria feliz se o reverenciado ancião pudesse nos ajudar a recupe-
rar a nossa também.”

“Se vai levar a de todos, pode levar a minha de uma vez.”

Erya apontou o queixo para uma das Elfas, e a garota magra tirou um grande rolo de
pano que estava carregando nas costas e o colocou no chão.

“Claro que levo. Tem mais coisas que queiram deixar ou levar pra o acampamento?”

Ninguém respondeu à pergunta de Parpatra.

“Bom! Então vamos indo investigar a superfície. Tenham cuidado aqui em baixo. E se
encontrarem algo de valor, deixem um pouquinho pra nós.”

“Haha. Reverenciado ancião, de bom grado vamos deixar monstros para ti, já quanto ao
tesouro, o senhor não sentirá nem o cheiro!”

O grupo riu e então Hekkeran perguntou a todos:

“E aí, vamos?”

O grupo concordou imediatamente, com isso, todos saíram. Seus olhos brilhavam com
desejo e esperança assim que deram seu primeiro passo para as ruínas desconhecidas
— a tumba subterrânea.

♦♦♦

Depois de abrir a porta da sala, uma passagem conduzia diretamente para as profunde-
zas. Talvez já era de se esperar, mas a passagem também estava muito limpa.

Esta era uma passagem de pedra sem mofo ou ervas daninhas crescendo nela. Havia
alcovas em ambos os lados, cada uma preenchida com objetos do tamanho de humanos

Capítulo 2 Borboleta Presa na Teia de Aranha


136
envoltos em mortalhas funerárias. Não havia nenhum fedor que fosse exclusivo dos ca-
dáveres. Havia apenas o ar frio e claro, assim como um cheiro parecido com o dos mortos.

Havia luzes brancas espaçadas em intervalos regulares ao longo do teto, mas devido à
grande distância entre elas, ainda havia muitos cantos sombrios ao longo da passagem.
Embora isso não afetasse sua movimentação, a luz fraca da lâmpada fazia com que se
perguntassem se haviam deixado algo passar despercebido. Mover-se sem iluminação
própria parecia bastante perigoso.

“Rober, sente alguma reação undead desse corpo?”

“Não, absolutamente nada.”

“—Sério?”

Arche respondeu, e então caminhou até um cadáver embrulhado, cortando a mortalha


com um punhal. Depois de ver suas ações, dois dos homens do grupo se adiantaram para
ajudar a expor o cadáver embaixo das mortalhas.

“A julgar pela altura e pelo físico, é mais provável que seja humano. Um homem adulto.”

“Está nu, não podemos dizer de que época as ruínas vieram.”

“Essas ruínas são realmente um mistério. Não podemos dizer a idade a partir do estilo
funerário ou da arquitetura. Até onde sabemos, essas ruínas podem ser de mais de seis-
centos anos atrás.”

“—Se for isso mesmo, então seria um achado histórico.”

Talvez esse tópico possa ter sido interessante para um acadêmico, mas eles estavam
aqui para trabalhar.

Enquanto Hekkeran e Gringham olhavam friamente para eles, os três rapidamente


acrescentaram: “—Mas ainda não sabemos de quando as ruínas são, ou qual sua história.”

“Que seja. Podemos seguir em frente agora? Eu quero matar monstros.”

O indignado Erya expressou sua falta de paciência, o grupo continuou avançando nova-
mente. No entanto, eles pararam novamente depois de dar alguns passos.

Todos sacaram suas armas, preparando-se para o combate.

O som do bater de ossos veio à frente deles.

Graças à iluminação das luzes do teto, logo viram criaturas undeads vindo pela frente.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


137
Quando a distância entre eles diminuiu e finalmente viram o que estavam enfrentando,
uma comoção surgiu dos Trabalhadores chocados, como se tivessem visto algo que não
ousavam acreditar.

“Oh, só pode estar de sacanagem comigo...”

“Ei, ei, é isso...?”

“Eh? Skeletons? É sério?”

No momento em que alguém mencionou os nomes dos monstros, suas risadas ecoaram
incontrolavelmente preenchendo toda a passagem.

“Que piada... Skeletons? Olha o nossos números, isso não vai fazer nem cócegas!”

Monstros do tipo Skeletons não variam muito na aparência e, às vezes, podem não ser
capazes de distingui-los rapidamente.

No entanto, a julgar pela impressão que deram, os Trabalhadores estavam certos de


que estes eram apenas Skeletons comuns.

“Se isso é algum tipo de tropa de reconhecimento, então deveriam enviar monstros
mais fortes — eu mereço mais! Ou ninguém está encarregado dessas ruínas, ou a oposi-
ção não soube avaliar nossas forças, ou são tão estúpidos que nem notaram que têm
intrusos!”

Eles não paravam de rir.

“Ainda não creio que são apenas Skeletons. É pessoal, acho que os tesouros estavam só
no andar de cima mesmo.”

“Isso seria terrível.”

Skeletons eram muito fracos em comparação com esses Trabalhadores, que eram com-
paráveis aos aventureiros mythril. Além disso, eram em menor número do que os Tra-
balhadores, então todos ficaram sem saber onde a oposição estava com a cabeça.

Diante dos seis Skeletons bloqueando o caminho, todos se entreolharam, sem saber
quem deveria ir primeiro.

“Não contem comigo.”

Erya declarou abertamente sua opinião, todos puderam entender como ele se sentia.

“Então eu irei.”

Capítulo 2 Borboleta Presa na Teia de Aranha


138
Depois disso, Gringham deu um passo à frente.

Não havia como dizer o que estava passando pelas cabeças vazias dos Skeletons. Será
que pensavam que o guerreiro solitário havia sido expulso de seu grupo? Ou alguma ou-
tra coisa?

Os Skeletons atacaram imediatamente e então—

Seu machado e escudo se quebraram facilmente em pedaços.

Levou apenas o espaço de alguns segundos. Não, na verdade, tinha sido ainda menos
que isso.

Depois de quebrar os seis Skeletons e trilhar seus restos sob os pés, Gringham suspirou
cansado. Não foi porque estava cansado pela batalha, mas porque estava muito desapon-
tado com o fato de que depois de chegar a estas ruínas inexploradas que eram o sonho
de um Trabalhador, a primeira batalha que seria o sabor de sua aventura se resumiria
apenas a meros Skeletons, o mais fraco dos tipos undeads. Ele achou muito deprimente.

“Que decepção. Apenas Skeletons. Mesmo assim não sejam descuidados, meus caros.
Onde há fumaça, há fogo. Considere que undeads mais poderosos podem aparecer, avan-
cem em alerta!”

Todo mundo apertou os lábios quando ouviram as palavras de Gringham. Eles avança-
ram, mais profundamente nas ruínas, seus corações cheios de expectativa pela monta-
nha de tesouro que os aguardava.

♦♦♦

“Nossa, eles se foram mesmo.”

“Sim, se foram. Mesmo que sejam Trabalhadores, comemos na mesma mesa e acabamos
por nos tornar companheiros de trabalho. Espero que eles voltem em segurança... o que
acha, Momon-san?”

“Que todos vão morrer.”

Ainz respondeu em tom sombrio, e o líder dos aventureiros que o interrogara congelou.

Merda, falei direto o que estava pensando...

“Er, n-não, o que eu quis dizer é que deveríamos estar mentalmente preparados para
esse resultado. Ninguém sabe nada deste lugar, não há como dizer quais perigos estão
esperando por eles lá dentro. Ser muito otimista é prejudicial.”

“Claro, faz todo o sentido... obrigado pela sua... preocupação.”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


139
...Ficou parecendo meio forçado... Mas acho que deu certo, não? Por mim, tudo bem.

O motivo do líder acenar sem parar foi provavelmente por serem palavras ditas por um
homem de ranque adamantite, como tal, ele acreditava cegamente nele, que certamente
tinha razão.

Dada a atitude favorável do homem, parece que os esforços de Ainz — de ser amigável
e acessível com todos durante a jornada à Nazarick — deram frutos.

“Bem, de acordo com o plano, vou descansar primeiro.”

Ainz se dirigiu à sua tenda — naturalmente, compartilhada com Narberal. Já que ficava
à alguma distância das outras tendas, ele sabia que algumas pessoas estavam espa-
lhando rumores de que era para abafar certos... barulhos. Na verdade, o líder dos aven-
tureiros havia lhe dito isso agora mesmo.

Comparado com os Trabalhadores, o líder parecia querer se aproximar de Momon, que


era um companheiro aventureiro, foi por isso que ele contou o que tinha ouvido dos Tra-
balhadores.

“...Mesmo que chamem isso de ninho de amor, acho que tomei uma decisão boa de não
negar. Pelo menos não suspeitarão do porquê de estarmos mais afastados, também não
vão ficar prestando atenção demais, ou tentando chegar perto para espiar.”

Ainz e Narberal entraram juntos na tenda e a fecharam, em seguida, apenas para pre-
venir, deram uma olhadela por uma fenda no lado de fora. Ninguém parecia observá-los;
na verdade, pareciam estar deliberadamente tentando não olhar na direção deles.

Ele poderia ter perdido uma coisinha aqui e outra ali, mas ganhou muito mais em troca.

Ainz tirou o elmo, expondo seu rosto esquelético.

“Vejamos, Nabe... não, Narberal, voltarei à Nazarick. Eu pretendo que o Pandora’s Actor
assuma meu lugar; se alguma coisa acontecer antes disso, pense em uma maneira inte-
ligente de lidar com quaisquer imprevistos.”

“Entendido, Ainz-sama.”

“Mm. Se acontecer algo, entre em contato imediatamente. Conto com você.”

Ainz dispersou sua armadura e espadas magicamente criadas. O peso do elmo em suas
mãos também desapareceu. Ele não se sentia cansado, mas depois de ser libertado das
amarras da armadura completa, ele não pôde deixar de suspirar contente. Ele girou os
ombros — que não doíam —como um remanescente de sua personalidade humana.

Capítulo 2 Borboleta Presa na Teia de Aranha


140
OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba
141
“...Que alívio.”

Ele sentia que os fragmentos de seus sentimentos humanos eram um empecilho.

Se ele pudesse lidar calmamente com todos os seus problemas, talvez suas atuais cir-
cunstâncias fossem diferentes. Mas se ele não possuísse os restos de sua humanidade
consigo, ele ainda apreciaria à Grande Tumba de Nazarick? Talvez seus pensamentos
como Suzuki Satoru e suas boas lembranças de seus amigos desaparecessem junto.

Ainz sorriu amargamente enquanto conjurava uma magia. Ele não podia perder tempo
ponderando a questão de sua humanidade. Ainz não era o tipo de homem que conseguia
lidar com dois ou três problemas de uma vez. Sendo assim, ele precisava se concentrar
em sua tarefa atual e descartar todo o resto.

E, por fim, ele lançou 「Greater Teleportation」.

Por estar usando o Anel, Ainz contornou a barreira posicionada sobre Nazarick e che-
gou imediatamente à antessala antes do Salão do Trono.

Logo depois, uma voz feminina melodiosa o cumprimentou:

“Bem-vindo, Ainz-sama.”

“Estou de volta, Albedo.”

A mulher profundamente curvada levantou a cabeça sorrindo, como uma flor desabro-
chando, algo que foi intensificado por suas feições arrebatadoras.

Uhhhh...

Quando ele viu o olhar de adoração apaixonado em seus olhos, Ainz sentiu um comichão
em todo o corpo e queria rolar no chão. No entanto, ele não poderia agir de uma maneira
que não se encaixasse com Ainz Ooal Gown, soberano da Grande Tumba de Nazarick.

A fim de suprimir as emoções fracas e persistentes dentro de si mesmo, Ainz delibera-


damente tossiu, algo que seu corpo esquelético não exigia.

“Se tudo está seguindo de acordo com o planejado, os invasores devem chegar em breve.
Não, talvez eles já tenham chegado. Os preparativos de boas-vindas foram feitos?”

“Estão perfeitos. Tenho certeza de que poderemos entreter nossos convidados.”

“Perfeito... Albedo, estou ansioso para a recepção que você preparou.”

Capítulo 2 Borboleta Presa na Teia de Aranha


142
Ainz entrou no coração de Nazarick; o Salão do Trono. Albedo estava um passo atrás
dele, mas logo chegara ao seu lado. Ainz havia dado à Albedo uma ordem em relação aos
invasores desta vez. Ele havia expressado o desejo de observar o desempenho das defe-
sas que ela havia erigido sob condições de batalha ao vivo.

No passado, seus amigos decidiram onde os monstros POP iriam aparecer em Nazarick
e onde posicionar os monstros. Os arranjos criados por seus amigos eram perfeitos. Mas
agora que a situação havia mudado, não havia garantia de que talvez não houvesse uma
maneira melhor.

Nesse caso, pode-se dizer que a reavaliação dos arranjos de segurança era uma neces-
sidade urgente. Portanto, ele queria aproveitar esta oportunidade para analisar pesso-
almente.

“...Os intrusos são muito fracos, então obviamente será impossível usá-los para verificar
todos os sistemas. Ainda assim, espero que aprendamos algo com essa operação.”

“Sim, senhor. Eu garanto que vou satisfazer suas expectativas, Ainz-sama.”

“Muito bom. Além disso — como já sabe — espalhar gás venenoso nos invasores antes
da investida dos undeads, e outras armadilhas que utilizem moedas devem ser evitadas
a todo custo. Espero que se atenha às armadilhas que utilizam monstros POP. Pode lidar
com as coisas assim?”

Ainz assentiu quando viu o sorriso de Albedo.

“Então eu vou ficar aqui e aproveitar a diversão. Enfim, onde estão os outros Guardiões
de Andar?

“Ordenei que todos se reunissem ao seu retorno. Logo estarão aqui. Isso é aceitável?”

“Sim. Afinal, é mais divertido se todos estiverem aqui.”

Quando Ainz lentamente se sentou no trono, vários objetos semelhantes a monitores


de televisão apareceram diante dele. Os monitores mostravam cenas de dentro de Naza-
rick; ou em outras palavras, as cenas que Albedo — que estava controlando — queria
que Ainz assistisse.

Este deveria ter sido o resultado dos ajustes de Albedo na rede de defesa, mas Ainz não
tinha certeza do que havia sido alterado.

...Para que esse exercício de treinamento seja frutífero, preciso aprender algo com essas
imagens. Senão vou passar vergonha quando o exercício estiver concluído e trocarmos opi-
niões.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


143
Ainz era o governante supremo de Nazarick. Tal homem de hierarquia sem igual não
poderia alegar ignorância dos sistemas defensivos para seus próprios subordinados.

“Ah, só por curiosidade, gostaria de confirmar que Ariadne não vai ativar, correto?”

Ele abriu o console de controle e viu que tudo estava bem, mas ele ainda não pôde dei-
xar de perguntar.

“Creio que não. Mas uma dúvida surgiu, Ainz-sama. Se os intrusos bloquearem a entrada,
Ariadne irá ativar?”

Ainz lembrou-se das Perguntas & Respostas que havia visto antes em YGGDRASIL.

Ou será que foi explicado em patch?

“Não me lembro com exatidão... até onde sei, não... mas preciso confirmar.”

Tinha sido assim em YGGDRASIL, mas ninguém podia garantir que ainda seria assim
neste mundo. Além disso, eles não podiam ter certeza se o sistema Ariadne existia.

“Então, e se houvesse algum tipo de manipulação feita por eles? O que aconteceria?”

“Pode não ser ativado, mas depois de pensar nas perdas que teremos, se preferir, pre-
firo não correr esse risco.”

O Sistema Ariadne.

Este foi um dos mecanismos de verificação envolvidos no sistema de criação de bases


de YGGDRASIL.

A maneira mais simples de construir uma fortaleza inexpugnável era simplesmente blo-
quear todas as entradas para que ninguém pudesse entrar. Para uma grande tumba
como Nazarick, bastaria enterrá-la no subsolo. No entanto, isso era intolerável do ponto
de vista da jogabilidade.

O sistema Ariadne foi usado para monitorá-los, a fim de impedir que os jogadores cons-
truíssem uma base nesses moldes, que era difícil de invadir. As especificações do sistema
exigiam que houvesse um caminho contínuo desde a entrada até o coração da dungeon.
Além disso, o sistema Ariadne também mediria a distância percorrida dentro da dun-
geon, o número de portas pelas quais passariam e muitas outras categorias, todas com
detalhes precisos.

Uma vez que detectasse alguma dungeon violando esses requisitos em YGGDRASIL,
uma penalidade seria cobrada e uma grande quantidade de fundos seria subtraída dos
cofres da guilda. Para Nazarick, os Andares 5 e 6 tinham resolvido todos os possíveis

Capítulo 2 Borboleta Presa na Teia de Aranha


144
problemas — isso, e a ajuda de uma grande quantidade de itens de cash os ajudou a
sustentar uma dungeon tão grande.

Um dos monitores que Ainz controlava mostrava os Trabalhadores.

“Tch! Tudo bem, eles finalmente entraram. Eu estava ficando cansado de esperar.”

Ainz ficou profundamente descontente ao ver essas formas de vida inferiores entrarem
na fortaleza que ele construíra com seus companheiros, manchando-a com seus pés
imundos. Uma onda de emoção surgiu dentro dele até exceder os limites e, logo depois,
foi imediatamente suprimida. Mesmo assim, não conseguia esconder completamente as
chamas do descontentamento.

“Albedo, não permita que nenhum deles escape, entendeu?”

“Mas é claro. Espero que se deleite com o destino que aguarda os tolos ladrões que ou-
saram profanar o santuário dos Seres Supremos. Também... eu acredito que o senhor
disse anteriormente que queria que ratos de laboratório testassem sua esgrima. Que lote
deveremos usar?”

“Hmm, bem lembrado. Eu já testei o velho antes, pratiquei com o outro na estrada,
aquele time não é adequado para a prática. Por processo de eliminação, restam esses
aqui.”

Ainz mudou o monitor para que Albedo pudesse ver e apontou para um grupo de pes-
soas.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


145
Capítulo 03: A Grande Tumba

Capítulo 2 Borboleta Presa na Teia de Aranha


146
Parte 1

equipe de Trabalhadores liderada por Parpatra Green Leaf Ogrion despe-

A
diu-se dos outros — que eram movidos por antecipação e desejo — e de-
pois olhou para o exterior das escadas que levavam à entrada do mausoléu
central.

Nada passou despercebido sob seus olhos enquanto observaram o cemitério silencioso.
Só havia silêncio, escuridão e luz das estrelas. Quando Parpatra deu um passo em direção
às escadas, seus companheiros disseram:

“Vovô, não acha que isso é uma pena? Deveríamos ter deixado as outras equipes procu-
rarem no cemitério, não?”

“Tem razão. Todos os times... bem, sem contar aquele time merda, os outros têm mais
ou menos as mesmas habilidades. Qualquer coisa que possamos fazer, Heavy Masher ou
a Foresight também podem fazer.”

“Então por quê—”

Parpatra interrompeu seu companheiro no meio de suas palavras e disse:

“Agora temos a prioridade na busca de tesouros amanhã, por isso não estamos per-
dendo nada. E até lá, já teremos terminado a investigação da superfície. E ainda podem
ter o azar do último time não ser capaz de encontrar nada, podem até ser colocados para
proteger o acampamento base.”

“Faz sentido...”

“Além disso, ser o primeiro a entrar em ruínas desconhecidas é perigoso demais. Eles
são como canários de mineradores pra nós, mas esperamos que eles voltem vivos.”

Parpatra se virou, com uma expressão fria nos olhos. Os Trabalhadores que haviam in-
vadido as ruínas não mais eram visíveis na direção que olhava.

Havia um indício de desdém em seu rosto, completamente diferente do velho benigno


que foi chamado de “vovô” por seus companheiros. No entanto, seus companheiros de
equipe o conheciam bem e não ficaram alarmados.

Parpatra tinha uma personalidade muito meticulosa. Ele era um homem que pensava
várias vezes o mesmo assunto, do tipo que tocava uma ponte de pedra para testá-la antes
de atravessar. Foi por isso que ele foi capaz de se aventurar na vanguarda por tanto
tempo e ainda matar um Dragão. Por outro lado, sua personalidade excessivamente pre-
cavida resultou na perda de várias chances de lucrar. Apesar disso, ele nunca perdera
nenhum de seus companheiros, por isso todos os membros de sua equipe confiavam nele.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


147
A vida era o bem mais valioso que uma pessoa poderia possuir. Mesmo assim, não pu-
deram deixar de invejar o tesouro que escorregara por entre os dedos.

“Podemos ter perdido a chance de achar uns itens mágicos incríveis! Não acha que vale
a pena apostar a vida nisso?”

“Eu sei como se sente. Mas olhe pra este cemitério todo limpo e arrumado. Claramente
tem alguém arrumando tudo, tem monstros aqui, só não achamos ainda. Não é melhor
deixar os outros verem que tipo de monstros existem? E sendo franco com vocês, esse
trabalho não me cheira nada bem, tem muita coisa que não se encaixa.”

Depois de ouvir Parpatra resmungar, os membros de sua equipe perguntaram leve-


mente:

“Mas ainda aceitou, não é mesmo?”

“Claro. Mas só porque as outras equipes também aceitaram. Senti que se algo der errado,
ainda podemos fugir enquanto se sacrificam por nós.”

O grupo desceu as escadas e chegou ao piso.

“É por isso que escolheu investigar a superfície? Ficaria mais fácil fugir se ouvir eles
gritando?”

“Isso também, mas é mais por eu estar com um pé atrás com este trabalho... E é como
disse, podemos acabar não lucrando tanto. Mas o seguro morreu de velho, só resta saber
se isso será mesmo uma vantagem. Mas se eu errei em minhas decisões, peço que me
desculpem.”

“Não se preocupe, vovô. Sempre confiamos no senhor; quase sempre acerta nas coisas.”

“Sim, mesmo saindo no prejuízo, tudo o que precisamos fazer é nos esforçar e encontrar
outro emprego com um bom pagamento. Já disse isso antes, não é vovô? Enquanto viver
e tiver forças, sempre haverá uma oportunidade. Não precisamos correr riscos sem mo-
tivo.”

“Pois é, aqueles foram bons dias. Éramos todos jovens naquela época.”

“Ora, mas você não é jovem ainda?”

“Heh, com todo respeito, vovô. Não ajuda muito quando o senhor chama alguém de jo-
vem.”

O grupo sorriu ironicamente enquanto se dirigiam para o pequeno mausoléu.

Capítulo 3 A Grande Tumba


148
“Enfim, eu deveria ter discutido isso com vocês primeiro, mas acabei tomando a decisão
precipitadamente. Sinto muito.”

“Bem, era o que dava pra fazer na hora. Além disso, o senhor é o líder da equipe que
escolhemos, vovô. Quando nosso líder de confiança toma uma decisão, todos ficamos
felizes em obedecer.”

“...Você estava todo deprimido lá atrás, mas agora sorri como nunca, é? Hyahya, vamos
indo. Se fizermos isso rápido, pode sobrar tempo pra ter umas palavrinhas com o Mo-
mon-dono, quem sabe ele não me dá umas dicas? É uma chance rara, e tratem de prestar
atenção, quem sabe não aprendem umas coisinhas também.”

“Mm, aquela luta te marcou mesmo hein, vovô. Aquele é um aventureiro adamantite de
verdade.”

“...Há muitos tipos de aventureiros no ranque adamantite. Oito Ondas do Império, sin-
ceramente não acho que eles deveriam ser considerados adamantite. O Momon-dono
sim é um verdadeiro aventureiro digno de adamantite. Ele está em um nível que eu não
posso esperar alcançar...”

“Não fala isso, vovô...”

“Hyahyahya, não se preocupe. Quando eu estava no meu auge, eu poderia ter ficado com
ciúmes, mas agora sou apenas um velho carcomido. Não é como se eu estivesse chocado
ou algo assim. E vi vários aventureiros adamantite no meu tempo, mas o Momon-dono é
único mesmo dentre eles. A presença que emana faz dele um adamantite entre os ada-
mantites.”

“Acha mesmo?”

“Oh, sim, e é por isso que estou dizendo pra pegarem algumas dicas dele. Depois que eu
morrer, ganhar experiência será útil se quiserem continuar a se aventurar.”

“Que papo é esse de morrer, vovô? Não consigo imaginar o senhor se aposentando.”

“Isso aí. O senhor é forte e saudável, então viver tanto quanto o Fluder-san é fácil, não
é, vovô?”

“Hyahyahya, não, não, nem mesmo eu poderia fazer algo assim. Aquele homem é um
anômalo.”

“Que equipe maravilhosa a sua.”

De repente, a voz suave de uma mulher chegou até eles.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


149
As únicas mulheres entre os membros desta expedição eram as duas damas da Fore-
sight de Hekkeran e as três escravas Elfas da Tenmu de Erya. No entanto, a voz não per-
tencia a nenhuma delas.

O grupo imediatamente levantou armas e se virou.

Quando observaram as escadas que acabavam de descer, viram um grupo de mulheres


em uniformes de empregada de pé bem na entrada do mausoléu. Havia cinco delas no
total.

Cada uma era inacreditavelmente bela, mas, ao mesmo tempo, isso as tornava especial-
mente destoantes no ambiente.

O estranho era que cada uma delas estava vestida com uma roupa que se assemelhava
a um uniforme de empregada, mas eram diferentes das roupas que Parpatra já vira an-
tes; pois as roupas brilhavam com um brilho quase metálico.

“Mas... quem são vocês? Eu não vi vocês chegan... oh, então realmente tem uma passa-
gem escondida...”

“Mulheres? São tão bonitas quanto a Bela Princesa Nabe, da Escuridão... claramente não
são qualquer uma.”

“Elas não parecem hostis, mas... duvido muito que tenham contratado elas e esquece-
ram de nos informar até agora.”

“Quais as ordens, vovô?”

Seus companheiros não ousaram ser descuidados. Eles observaram as garotas de perto
enquanto se faziam perguntas.

A melhor opção seria negociar, mas no fundo sentiam que elas não seriam capazes de
concluir isso amigavelmente.

“Nossos números são mais ou menos iguais... então devemos ser capazes de dar conta
disso, não?”

A força de suas oponentes deve ser a mesma que a deles, ou até pouca coisa a mais.

Como não os atacaram enquanto todos os Trabalhadores estavam reunidos. Isso impli-
cava que elas não tinham poder de luta nem armadilhas para lidar com tantas pessoas
ao mesmo tempo. Mas ao mesmo tempo, escolheram aparecer para conversar, evitando
pegá-los de surpresa; isso implicava que estavam confiantes em derrotar o grupo de Par-
patra.

Capítulo 3 A Grande Tumba


150
Seu corpo envelhecido dificilmente suava muito, mas naquele momento, Parpatra sen-
tiu a mão que segurava a lança fria e úmida.

“Que coisa sem sentido, empregadas na tumba... quem fez uma coisa dessas não deve
ter bom gosto.”

No instante seguinte, seu companheiro, que fizera um comentário jocoso, estava suando
frio, tremendo e com o rosto pálido.

Parpatra achou que a temperatura à sua volta despencara por um momento. No entanto,
os arrepios que cobriam seu corpo não eram ilusórios.

Mesmo com apenas a luz da lua para iluminá-las, ele podia ver claramente o olhar as-
sassino nos olhos das empregadas perfeitamente alinhadas. Parecia que seus olhos ti-
nham luz própria.

“VaAaMoS mAtAr ElEeEs.”

“...Agora vão morrer.”

“Não podemos simplesmente matá-los. Precisamos tornar o sofrimento deles lendário.”

Um intenso desejo por sangue agitou em torno das empregadas. Sua raiva era tal que
parecia que deslocava camadas de ar.

“Calma, calma.”

A empregada de aparência mais madura disse batendo suas mãos, e continuou:

“Nosso mestre nos ordenou que ninguém escape, de uma forma ou de outra mataremos
eles. Ainda assim estou muito satisfeita por ver todas tão motivadas.”

Houve um barulho, um som de metal que parecia vir das escadas que haviam sido cor-
tadas de uma chapa de pedra. O som vinha dos saltos altos de metal que as empregadas
usavam.

Abalado, Parpatra e companhia recuaram.

Dada à sua falta de armas, a oposição deveria ser composta de magic caster. Nesse caso,
permitir que elas tomassem o terreno elevado e lutar neste espaço que favorecia as ar-
mas com longo alcance não era uma estratégia inteligente.

Para Parpatra e os outros, a tática ideal para eles seria encurtar a distância entre a opo-
sição. O contrário seria a vantagem das empregadas. No entanto, por que essas empre-
gadas desceram as escadas? Elas estavam planejando voar com 「Fly」 se alguma coisa
acontecesse?

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


151
Os rostos inexpressivos das empregadas eram como uma máscara, e seus movimentos
eram tão régios quanto um soberano que descia lentamente as escadas. Parpatra e seu
grupo estavam perdidos em como responder, mas ainda assim, eles se abrigaram atrás
de seus escudos e discutiram o que fazer e quais táticas usar.

*Clang!*

Um som particularmente estridente soou pelo ar. As empregadas pararam no meio dos
degraus.

“Aqui está bom, vamos começar nos apresentando. Mim... perdão... Eu sou a líder assis-
tente das Sete Irmãs — Pleiades —, Yuri Alpha. Mesmos nos conhecendo a poucos mi-
nutos, foi um prazer conhecê-los. Então, voltando ao tópico principal, se lutássemos di-
retamente seria mais rápido, porém, nós não podemos lutar por certas razões. É uma
pena.”

O vento carregou uma risada adorável para eles e era semelhante a um harmonioso
sino.

Os sorrisos dessas donzelas belíssimas transbordavam de um encanto que instantane-


amente capturava os corações de qualquer um que as contemplasse.

Sendo um ex-aventureiro e atualmente um Trabalhador, Parpatra tinha visto todo o


tipo de coisas ao longo dos anos. Entre elas estavam monstros sobrenaturalmente sedu-
tores como fadas e assim por diante. No entanto, mesmo ele nunca tinha visto moças
bonitas assim, cujas feições calmas pareciam atiçar a alma.

Contudo, suas palavras desdenhosas transbordaram com uma sensação de superiori-


dade, e abaixo do fino verniz de suas feições calmas estava a arrogância que pertencia a
algo esmagadoramente poderoso. Para esses homens, que tinham andado de mãos da-
das com a morte e que tinham muito orgulho de suas habilidades, tanto desprezo era
intolerável. Até os fez querer mostrar às empregadas exatamente quem elas estavam
desprezando.

Todavia, em contraste com suas adoráveis aparências, eles haviam testemunhado vá-
rias evidências sutis que sugeriam que essas empregadas eram incrivelmente poderosas.
Seus rostos ainda estavam cheios de terror pela intenção assassina de agora a pouco,
agora a batalha estava praticamente batendo na porta.

A melhor opção seria sair correndo e deixar os aventureiros — especialmente Momon


— se envolverem na luta.

“Então, permita-me apresentar seus oponentes.”

Yuri bateu palmas e o cemitério tremeu, como se em resposta ao som ecoante.

Capítulo 3 A Grande Tumba


152
[Guarda V e l h a ]
“Venham, Old Guarders de Nazarick.”

“Quê!?”

Parpatra exclamou em choque.

A terra atrás dele se abriu e vários esqueletos apareceram.

Um ataque de pinça!? Não...

Olhando para cima, viu que as empregadas ainda eram hostis, mas não tinham vontade
de lutar. Talvez estivessem lá apenas como espectadoras. Embora parecesse um pensa-
mento ingênuo, aparentemente as empregadas não os atacariam; ou melhor, evitaram a
todo o custo qualquer ataque.

Parpatra chegou à conclusão de que os únicos inimigos em seu caminho eram os Skele-
tons atrás deles, então ele começou a avaliar o novo lote de inimigos.

Skeletons dificilmente seriam oponentes poderosos. Dada a força de Parpatra e seu


grupo, eles poderiam dar conta de algumas centenas deles sem problemas. Sendo esse o
caso, esses Skeletons que emergiram da terra — oito no total — não eram páreos para
eles.

Entretanto, havia um problema.

Os companheiros de Parpatra engoliram em uníssono e, inconscientemente, recuaram


um passo.

Esses Skeletons pareciam diferentes dos quais já lutaram ao longo da vida, o equipa-
mento deles também era diferente.

Estavam trajados com couraças grossas, como as que a guarda real de um país usaria.
Seus escudos estavam enfeitados com um grifo e empunhavam todos os tipos de armas,
além de arcos longos compostos nas costas. Em adição, todo esse equipamento emanava
uma luz característica de itens mágicos.

Skeletons equipados com equipamento mágico não podiam ser esqueletos comuns.

“O que são essas coisas?”

“Também não sabe, vovô? Não tenho certeza... mas eu acho que podem ser um subtipo
de Guerreiros Skeletons.”

“Subtipo? Eles não se parecem com Guerreiros Skeletons Vermelhos...”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


153
Era inquietante lidar com adversários que nunca haviam encontrado antes, especial-
mente inimigos equipados com itens mágicos de efeitos desconhecidos.

“—Esses números devem ser suficientes para lidar com os senhores. Por favor, façam o
seu melhor e mostre-nos até onde podem aguentar.”

“Estamos honrados por ter enviado undeads poderosos contra nós. Mas...”

Parpatra ponderou calmamente o assunto.

Não importa de onde olhasse, elas não poderiam ter muitos undeads equipados com
tantos itens mágicos. Então, provavelmente estavam usando suas forças mais fortes con-
tra eles logo de cara.

Caso contrário, elas não teriam deixado entrar nas ruínas; elas teriam lidado com eles
há muito tempo.

“Esses são os lutadores mais fortes das ruínas? Acha que só isso é o suficiente pra nos
impedir?”

Olhando para cima, Parpatra viu que Yuri parecia abalada por sua pergunta, seu olhar
estava vagando.

Acertei na mosca! Só pode ser... então já colocaram alguma armadilha durante àquela
conversa...?

A maneira mais sábia de usar suas melhores tropas era neutralizar cada grupo de inva-
sores aos poucos. Obviamente, depois de considerar que elas podem não ser capazes de
igualar sua oposição, seria mais inteligente concentrar suas forças no grupo que ficaria
ocioso após completar suas explorações, principalmente se estivessem física e mental-
mente cansados; em outras palavras, descansando na entrada.

Seguindo essa lógica, eles entenderam parte do objetivo de suas oponentes. Quando a
empregada disse, “mostre-nos até onde podem aguentar”, ela estava tentando convencê-
los a desistir, para que tivessem uma chance de atacá-los por trás. Do ponto de vista das
empregadas, eles prefeririam evitar várias batalhas, pois desejariam minimizar qual-
quer perda ou desgaste de suas forças.

Portanto, havia apenas uma coisa que eles tinham que fazer.

“Então tudo que precisamos fazer é derrotar esses Skeletons e sair dessa arapuca?”

Eles deveriam derrotar os Old Guarders de Nazarick para o bem das outras equipes
além de sua própria.

Capítulo 3 A Grande Tumba


154
As outras equipes podem ser rivais, mas ainda havia algum senso de companheirismo.
Além disso, como queriam que eles fugissem, ficar de pé e lutar incorreria em um risco
menor de cair em armadilhas. Ele também pensava em pedir a Momon para lutar se a
oposição deles fosse muito forte, mas apenas em último caso. Ainda assim, mesmo no
meio de incertezas, eles deveriam lutar agora.

“Nosso plano foi por água abaixo, agora viramos os canários... Haaah, que diacho de azar.
Enfim, o que vocês acham disso tudo?”

“Dado o quão bem esses undeads estão equipados, duvido que haja mais deles.”

“Posicionaram as melhores tropas na rota certa que os invasores teriam que passar,
usaram estratégia. Sendo assim, devem haver apenas esses Skeletons deste tipo. E já que
a oposição é minimamente esperta, provavelmente não seriam burros o suficiente para
dividir suas forças.”

“...Sei não, acho que deve haver mais alguns nas ruínas. Mas acho que o resto deles deve
ser uns de baixo nível.”

“Vovô... devemos fugir agora. Isso não é bom. Na verdade, é muito ruim.”

“Estamos cercados, não tem pra onde fugir! Mesmo que seja voando eles nos derruba-
rão com arcos! Aguentem firmes rapazes! Precisamos derrotá-los se quisermos sair da-
qui!”

A resposta ao grito de Parpatra foi uma voz resignada e surpresa.

“Bem, é um meio válido de conseguirem. Vamos torcer por vocês. Bem, avancem.”

E com isso, os Old Guarders de Nazarick começaram a marchar.

♦♦♦

Yuri e as outras tinham olhares preocupados em seus rostos enquanto continuavam a


“torcer” por eles.

Elas tinham sido duramente pressionadas para esconder sua consternação desde o co-
meço.

E pensar que eles realmente seriam...

“Eita, agora já era ~su.”

“...Não pensei que seria assim.”

“Cocytus-sama ficará chocado.”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


155
“SeEe IsSo CoNtInUaRrR... NãO rEsTarÁ nAdA pArA eU fAzEeEr.”

Yuri e as outras observaram um martelo levantado e descendo.

“Oh, essa não, ele vai morrer is~su.”

Assim que Lupusregina murmurou para si mesma, o homem em questão recebeu um


golpe no peito e caiu no chão.

O som de metal cortado e um objeto pesado em colapso de alguma forma conseguiu se


destacar apesar da intensa batalha.

A primeira vítima foi o guerreiro humano, mas o Old Guarder de Nazarick, que segurava
um martelo faiscando partículas elétricas, não pareceu particularmente animado com
isso, logo depois procurou outro alvo.

“Sacerdote-san, ele vai morrer se não o curar.”

“...Isso é tão sem sentido. Morreu instantaneamente e a linha de frente caiu com ele.”

Yuri murmurou preocupada para si mesma, enquanto Shizu acenou a cabeça em con-
cordância.

Dois dos Old Guarders de Nazarick que o guerreiro estivera segurando agora estavam
livres, então um deles foi lidar com o sacerdote, enquanto outro planejava rodear para
atacar a retaguarda. O sacerdote já estava ocupado com dois deles, e agora com outro
para aumentar seu fardo, ele não tinha mais tempo ou energia para lançar magias. Ele
estava com as mãos ocupadas tentando se defender de ataques selvagens de três dire-
ções ao mesmo tempo.

Parpatra era o único que parecia estar dando alguma resistência durante a luta, mas
estava lidando com três inimigos de uma só vez, de modo que não tinha janela de tempo
livre para ajudar seus companheiros.

“O ladino não é forte o bastante. Será que eles têm algum trunfo?”

O ladino lutava a toda para proteger o magic caster arcano, mas infelizmente mais um
inimigo chegara, computando dois. A arma leve e ágil do ladino não fazia nada em seus
inimigos — os Old Guarders de Nazarick não podiam ser mortos em um golpe e usavam
uma armadura resistente. O ladino mal conseguiu evitar seus ataques com movimentos
ágeis, mas havia uma grande diferença entre os undeads incansáveis e os seres humanos
que poderiam ficar fatigados.

“O jeito que nos olham parece que estão prestes a chorar.”

Capítulo 3 A Grande Tumba


156
“Quer acenar ~su?”

“Eu AcHo qUeEe aCeNaR nÃo mAcHuUuCa.”

“Tá ~su.”

Lupusregina sorriu docemente e acenou para Parpatra.

“...Acertaram ele.”

“Tudo porque foi distrair ele, Lupu.”

“Uééé~ Culpa minha ~su?”

“...Mn. Mas ainda podemos torcer por eles... Yay.”

“Concordo, espero que possam aguentar mais um pouco.”

As empregadas assentiram com as palavras de Yuri.

Os Old Guarders de Nazarick mantiveram a vantagem durante toda a batalha contra a


equipe de Parpatra. Neste ponto, esta batalha unilateral poderia ser descrita como resis-
tência fútil. Mesmo Yuri e as outras não podiam deixar de sentir pena deles.

A princípio, elas até riram e disseram: “Mas não era vocês que estavam tão confiantes
antes da batalha?”, Mas depois perderam todo o interesse e começaram a bocejar, e
agora estavam torcendo por Parpatra e os outros.

“Urr, a diferença de forças é tanta que nem sei o que dizer ~su.”

“...Não têm trunfos?”

“Eu acho que a magia que ele conjurou era para ser.”

“Terceiro nível?”

“Não, isso é muito fraco para uma arma secreta. Embora, usar um monstro conjurado
como escudo de carne foi uma boa idéia.”

“Foi mesmo ~su. Enquanto puderem impedir que os ataques se conectassem, eles po-
derão se reorganizar.”

“MaS, UsAr mAgIiIa dE VoO DePoIs dIsSo fOi sImPlEsMeEeNtE EsTúPiDo. AqUeLe vE-
lHoTe NãO DiSsE AlGo aSsIiIm?”

“Eu não sei se ele estava planejando voar ou usar magia lá do alto...”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


157
“...Ele se tornou um alvo primário.”

O magic caster arcano entrou em colapso depois de receber um golpe mortal. Se alguém
pudesse lançar uma magia de cura nele ou aplicar uma poção, ele poderia ter voltado à
luta, mas ninguém tinha energia para isso. No final, tudo o que puderam fazer foi deixar
o ladino impedindo o inimigo de acabar com ele.

“Mas por que pensaram que existiam apenas esses Old Guarders?”

Isso foi realmente um mistério.

Teriam eles inconscientemente imaginado o cenário indo a seu favor? Seria isso uma
prova de sua estupidez? Talvez os humanos pensassem assim quando não queriam pa-
recer desesperados; seus instintos de sobrevivência subvertiam os fatos para aumentar
a coragem.

“Ah, mas eles nem tinham chance mesmo ~su.”

“Sim, não importa como analisemos isso.”

“E SeEe eLeS EsTiVerem GaNhAnDo tEmPo pAaArA Os oUtRoS LaDrÕeS VoLtArEeEm?”

Todas olharam para Entoma.

“Até parece que vão voltar ~su.”

“...Nem precisa falar.”

“É impossível, não? É impossível que eles saírem vivos da Grande Tumba de Nazarick.”

Houve um grito de dor insuportável, seguido pelo som de algo em colapso. As Empre-
gadas de Batalha voltaram-se a olhar para a fonte do som e depois falaram tristemente.

“aH, O lAdIiInO cAiU tAmBéÉéM.”

“Fim de jogo ~su.”

“Como eu disse, talvez devêssemos ter escutado eles implorar por misericórdia nos de-
graus...”

“Mas não estavam tão confiantes naquela hora? É claro que eu queria saber se eles ti-
nham algum plano em mente.”

O cheiro forte de sangue fresco flutuou para as empregadas, veio do corpo do ladino.

Capítulo 3 A Grande Tumba


158
“ChEiRa TãO bEeEm...”

“Nem pense nisso!”

Yuri repreendeu Entoma.

Seu mestre havia emitido uma ordem para recuperar todos os que estavam incapacita-
dos, quer estivessem vivos ou mortos. Naturalmente, elas não poderiam apresentar um
corpo mastigado por insetos ao seu mestre. Seria terrivelmente rude.

“CaRnEeE fReScA...”

“Perguntaremos ao Ainz-sama se poderá comer mais tarde. Por enquanto se contente


apenas com o cheiro.”

“Mas esse resultado é ruim, não? O plano original não era ver se poderíamos lidar com
intrusos em fuga?”

“É o que tem pra hoje ~su. Mas o problema foi que colocaram uns undeads muito fortes
pra eles, não deram conta ~su.”

“CoCyTuSsS-SaMa dEvE TeR PrEvIsTo qUeEe iRíAmOs aLcAnÇá-lOs fAcIlMeNtE, mAs...”

“...Não esperava que lutassem assim.”

“Bem, isso é o que acontece quando não se compreende a força do seu oponente. Enfim,
vamos curar os que ainda estão respirando e mandá-los para a Sala da Verdade. Quanto
aos mortos... reportaremos ao Ainz-sama.”

E assim, Parpatra e a equipe de Trabalhadores que ele liderou desapareceram naquela


noite.

Parte 2

“EMPURREM ELES!”

O grito furioso de Gringham soou através da abóbada funerária que estava preenchida
com o fedor de mofo e cadáveres putrefatos.

A sala tinha 20 metros de comprimento de cada lado e o teto tinha pelo menos 5 metros
de altura. Esta sala, iluminada pela luz que o magic caster conjurou, assim como tochas
caídas no chão, estava cheia de pessoas.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


159
Gringham e os membros da Heavy Masher foram forçados para o canto da sala. O resto
da abóbada foi inundada com enormes quantidades de undeads fracos, como Zombies e
Skeletons.

Havia tantos que contá-los seria um exercício de inutilidade.

Gringham e o guerreiro que carregava o escudo impediram a inundação da morte, for-


mando uma defesa para impedir que os undeads chegassem à retaguarda.

Um Zombie bateu na armadura completa de Gringham com ambas as mãos. Mesmo os


Zombies sendo relativamente mais fortes que os seres humanos normais, eles ainda não
eram fortes o bastante para arranhar uma armadura de aço. As mãos frágeis e apodreci-
das se esmigalhavam ao contato, deixando pedaços pútridos de carne apodrecida gru-
dados na armadura completa.

O mesmo valia para os Skeletons. As armas enferrujadas que seguravam não poderiam
prejudicar uma armadura completa e encantada.

Claro, eles tiveram um pouco de sorte. Mas chamar de sorte seria injusto com suas pre-
cauções, pois isso foi graças à magia protetora.

Gringham manejou o machado de mão, mas toda vez que ele derrubava um, outro ser
undead corria para preencher a lacuna. Eles se aproximavam cada vez mais, como se
quisessem esmagar Gringham e os outros até a morte.

“Droga! Há muitos!”

O guerreiro portando o escudo ao lado de Gringham grunhiu de dor. Seu escudo cobria
todo o corpo, então ele não havia tomado nenhum ataque, mas o escudo em questão
estava coberto de fluidos sujos e fétidos.

Ele esmagou os crânios de Zombies e Skeletons com sua maça, mas não conseguiu re-
sistir à pressão do inimigo e foi lentamente forçado a recuar.

“De onde vieram tantos!?”

A pergunta do guerreiro fôra muito razoável.

Depois que o grupo de Gringham se separou dos outros em uma encruzilhada, eles vas-
culharam várias salas. Infelizmente, nenhum dos cômodos continham riquezas como
nos mausoléus, mas haviam encontrado vários itens valiosos. Eles continuaram explo-
rando lentamente dessa maneira. Então, entraram na sala e começaram a procurar, po-
rém, de repente, a porta se abriu e uma enorme horda de undeads invadiu do nada.

Zombies e Skeletons dificilmente eram inimigos fortes. Mas um grande número era uma
ameaça própria.

Capítulo 3 A Grande Tumba


160
Uma vez que fossem pisoteados ou pressionados, eles não seriam capazes de se mover
mesmo se não morressem. Nesse ponto, a horda de undeads atacaria as retaguardas.

As retaguardas de trás provavelmente não cairiam facilmente, mas os números que en-
frentavam os deixavam desconfortáveis.

Se as coisas acontecessem assim, um golpe de azar poderia levar à desintegração das


linhas de frente. Tendo chegado a essa conclusão, Gringham decidiu usar o poder que
ele queria conservar.

“Precisamos terminar isso agora! Conto com vocês, meus caros!”

As retaguardas — que haviam apenas atirado pedras até agora — fizeram sua jogada.

Normalmente, undeads como este não eram um problema para Gringham e o resto da
Heavy Masher. Contudo, essa também foi a razão pela qual as retaguardas escolheram
esperar e conservar sua força. Uma vez que a retaguarda fizesse sua jogada, eliminar
undeads como estes seria tão fácil quanto derrubar um cepo.

“Meu senhor, ó Deus da Terra! Clamo-te que expurgues o que é impuro!”

O sacerdote apertou seu símbolo sagrado e seu grito se transformou em energia. Algo
frio e puro surgiu através da sepultura que estava preenchida com ar impuro, uma po-
tente onda de força divina tomou conta. O sacerdote usou sua habilidade para purgar os
undeads.

No alvorecer da energia, o undead mais próximo do sacerdote desintegrou em cinzas.

Quando havia uma grande diferença entre os respectivos níveis de potência de ambos
os lados, a habilidade de purgar undeads poderia destruí-los diretamente. No entanto,
destruir muitos undeads de uma só vez era extremamente difícil, um usuário capaz de
tal feito precisava estar acima da média.

Mas no fim, essa única técnica desintegrou mais de 20 undeads.

“Eu vou desintegrar você! 「Fireball」!”

O magic caster arcano lançou sua 「Fireball」, que voou para o fundo da horda de
undeads, então detonou. Em um único e feroz instante de fogo, as não-vidas de todos os
Zombies e Skeletons dentro da área de efeito da magia foram consumidas, deixando
nada além de cinzas e fumaça.

“Ainda não terminei! 「Fireball」!”

“Meu senhor, ó Deus da Terra! Clamo-te que expurgues o que é impuro!”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


161
As retaguardas lançaram mais uma rodada de ataques de efeito de área e o número de
undeads diminuiu drasticamente.

“Avancem!”

“Entendido!”

O guerreiro deixou de lado seu escudo, segurando sua maça em ambas as mãos, e junto
com Gringham, eles atacaram a horda de undeads. Teria sido fácil para os magic casters
eliminá-los, mas Gringham havia escolhido uma investida mesmo assim, pois a verdade
era que queria conservar a mana deles. Em particular, a capacidade do sacerdote de pur-
gar undeads tinha um número limitado de usos. Sua profissão o tornava particularmente
hábil em lidar com os undeads, e era sem dúvida sua arma secreta nessa tumba.

Gringham atacou a horda de undeads, seu machado não ficava parado. Fluidos pegajo-
sos escorriam — talvez jorrassem se os monstros tivessem corações pulsantes — das
partes do corpo que voam. O odor das feridas abertas nos cadáveres era nauseante, mas
não insuportável.

Ou melhor, pode-se dizer que os narizes deles estavam entorpecidos.

Gringham e o guerreiro trabalharam juntos, cortando, perfurando e espancando inú-


meras vezes. Eles não pensavam em defesa.

Só puderam fazer tal ataque por causa da ajuda mágica e da armadura robusta que os
protegia, além do fato de que eles estavam enfrentando undeads fracos.

De vez em quando, algo golpeava a cabeça de Gringham, mas sua armadura absorvia o
impacto, e ele mal sentia algo em seu pescoço. Mesmo quando seu peito e barriga foram
atingidos, ele mal sentiu os golpes.

Afinal, como seus inimigos eram os mais fracos dos undeads, não era nada de mais. O
único perigo agora era a tática de atacar em ondas; uma vez que as fileiras inimigas ti-
vessem diminuído até esse ponto, a luta seria muito mais fácil. O guerreiro continuou
desferindo golpes e gritou:

“Todos os undeads que encontramos até agora são fracos como vermes, mas há muitos
nesta tumba!”

“Não há garantia de que undeads mais fortes não apareçam! Mas se houver undeads
mais fortes, não tenho idéia do porquê ainda não apareceram!”

Quem o respondeu foi o sacerdote, que estava observando a batalha pela retaguarda
enquanto pegava o escudo do guerreiro.

Capítulo 3 A Grande Tumba


162
“...Não, talvez os undeads são convocados por algum meio. Pode ter sido algum tipo de
ritual ou algum item.”

O estranho era que os cadáveres desapareciam após um certo tempo, de modo que o
chão não estava acarpetado de corpos. Essa parte parecia com as conjurações de mons-
tros que desapareciam depois de serem mortos, por isso essa linha de pensamento pas-
sou por eles.

“Um meio de convocar um grande número de undeads fracos? ...Nem pensar, meu caro!
Não me faça imaginar essa tumba cravejada de Zombies!”

Respondeu Gringham quando derrubou vários Skeletons como árvores e depois exami-
nou o interior da sala. Haviam poucos undeads, menos do que o número de dedos nas
duas mãos. Não parecia que um novo lote chegaria pela porta, a batalha terminaria em
breve.

Enquanto pensava, uma sensação de arrepiar os cabelos os deixou paralisados até as


solas dos pés.

Seu senso de perigo ordenou que fugisse imediatamente, mas ele não podia fazer isso
agora. Mesmo assim—

“Tenham cuidado! Tem algo acon—!”

O ladino parecia tê-lo sentido quando gritou.

No entanto, já era tarde demais. Em instantes, o piso originalmente robusto cedeu de


repente. Uma sensação flutuante os envolveu. Momentos depois, seus corpos caíram pe-
sadamente no chão.

Seus companheiros gritaram de dor. Gringham, por outro lado, ainda segurava seu ma-
chado que não havia soltado nem mesmo durante a queda. Quando seu pesado corpo
esmagou os esqueletos caídos, ele se levantou.

“Destruam o inimigo!”

Os undeads também haviam sido danificados pela queda — em particular, os Skeletons


eram fracos contra ataques impactantes e, portanto, sofriam muito dano — então com-
batê-los estava muito mais fácil do que antes.

Depois de destruir os undeads restantes, Gringham finalmente teve o luxo de olhar em


volta.

Eles provavelmente estavam no fundo de um poço abaixo de uma armadilha mágica


que fez o chão sumir. Olhando para cima, o teto parecia muito longe. De relance, aparen-
tava ter 12 metros de altura. Porém, 3 metros acima do chão havia uma porta fechada. E

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


163
mais 3 metros acima — um total de seis metros acima do solo —uma porta aberta,
aquela através da qual Gringham e os outros haviam originalmente entrado na sala.
Pode-se dizer que eles caíram a uma altura de aproximadamente dois andares.

A forma geral do lugar era como uma pirâmide quadrangular. O chão descia em direção
a um centro, e devido à inclinação íngreme, podia-se acabar rolando para o fundo — o
centro — se não fosse cuidadoso. Na verdade, um dos seus camaradas tinha rolado até
lá e ficou preso no fundo. Ele quase foi enterrado vivo pelos Zombies que caíram em cima.

Era difícil acreditar que mal haviam se machucado ao cair em um lugar como este.

O estranho era que havia quatro estruturas semelhantes a túneis em cada parede na
marca de três metros, no mesmo nível da porta fechada, um total de 16.

“Parece uma sala de tortura por afogamento. Se não se importarem, prefiro sair daqui.
Aposto que vai jorrar água daquelas coisas semelhantes a túneis.... Urg— também podem
ser Slimes, o que seria ainda pior.”

“Concordo. Vamos dar uma olhada nessa porta, se não tiver problemas usaremos para
sair.”

Escalar dois andares de uma parede praticamente lisa era bastante difícil. No máximo,
apenas o ladino poderia fazê-lo; pessoas como Gringham em sua armadura completa te-
riam muita dificuldade. Em contraste, essa porta desconhecida pode não ser segura, mas
chegar parecia muito mais fácil.

Enquanto discutiam como subir, cabeças surgiram quase simultaneamente dos dezes-
[Bombardeiros
seis túneis. Eram cadáveres tão inchados que pareciam prestes a explodir — Plague
d a p e s t e ]
Bombers.

Seus corpos estavam inchados da energia negativa acumulada dentro deles, e explodi-
ram quando mortos. Suas explosões ao morrer prejudicaram os vivos e curaram os
undeads ao mesmo tempo, tornando-os undeads muito problemáticos.

Os undeads parecidos com bolas de carne saltaram pelo ar. Os corpos dos Plague Bom-
bers atingiram o chão e emitiram um som molhado. O problema foi o que aconteceu de-
pois. Seus corpos rotundos não ficaram reféns do declive, mas rolaram como pedregu-
lhos na direção de Gringham e dos outros.

“Cuidado! Desviem deles!”

“Eu sou o intelectual do grupo, não me diga o que fazer!”

Todos — incluindo o mago que estava quase soluçando — mal conseguiram evitar o
ataque, e então os undeads rolaram para o centro da pirâmide invertida. A próxima onda

Capítulo 3 A Grande Tumba


164
de Plague Bombers já havia mostrado seus rostos feios, o que deixou Gringham e os ou-
tros saberem que naquele momento sobreviveram apenas a primeira onda. Ao mesmo
tempo, eles também adivinharam o que aconteceria depois.

“Corram! A sala vai ser inundada com eles!!”

Se eles fossem dragados até o centro pelas explosões dos undeads, eles certamente se-
riam esmagados até a morte. Mesmo se não fossem esmagados, eles seriam imobilizados,
e então morreriam das repetidas explosões de energia negativa dos outros undeads e
sendo achatados por seus companheiros.

“Que armadilha desprezível! Alguém aí, me dê um impulso aqui!”

“Até parece que dá! Se cair lá você tá acabado!”

Mesmo que alguém conseguisse escapar de um ataque, no momento em que perdesse


o equilíbrio, não seria capaz de evitar o próximo ataque. Ninguém ousou impulsionar
mais ninguém nessas circunstâncias.

“Então eu vou usar magia!”

“Não use 「Fly」! Você não é forte o suficiente para nos puxar!”

“Não— Arg! Essa foi por pouco! Vou usar 「Web Ladder」!”

“Isso deve funcionar! Amarre-a na porta mais próxima! Gringham, dê cobertura!”

“—Não! Essa aí não! Precisamos fugir pela porta do segundo andar, senhores, por onde
entramos! A mais baixa é demasiadamente perigosa!”

Seu companheiro não questionou de onde tirara tanta certeza, mas confiavam em Grin-
gham.

“「Web Ladder」!”

A magia entrou em vigor e uma teia de aranha subiu a parede até chegar ao segundo
andar.

A teia de aranha magicamente criada tinha uma aderência ímpar. Quando alguém não
queria se soltar, seria adesivo, mas quando alguém queria se mover, não seria impedido,
tornando-a uma escada muito adequada.

Gringham e os outros estavam apreensivos, mas no final conseguiram subir a escada


em fila indiana.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


165
Gringham finalmente alcançou a porta que estava aberta durante todo esse tempo e
estudou cuidadosamente a passagem através dela. Se fossem atingidos e derrubados
agora, eles certamente encontrariam um destino horrível.

Ele suspirou de alívio. Parece que o que temia — undeads acima dos túneis — não havia
acontecido.

Depois que teve certeza disso, ele pulou em cima dos túneis e depois puxou seus com-
panheiros.

“Estamos salvos! Ser esmagado até a morte por undeads é uma das formas mais horrí-
veis de morrer!”

“...Essas ruínas foram projetadas de maneira maliciosa. Eu torci meu tornozelo quando
caímos, espero que possa me curar.”

“Eu acho que a explosão de energia negativa atingiu meus dedos! Foi assustador pra
caramba!”

“Consegui desviar por um triz. É exigir demais de um mago naquela situação.”

Seus companheiros ofegavam, trocando reclamações e xingamentos entre respirações.

“Ei, Gringham, por que quer que evitemos aquela porta? Eu pensei que seria a escolha
certa. Eles não colocam sempre a rota certa no lugar mais perigoso?”

“Foi um palpite... pega uma arma aí que cê num precise e ataque aquela porta ali.”

Por estar exausto, Gringham havia voltado ao modo fala normal. Depois de ouvir sua
resposta, o ladino sacou imediatamente um punhal e o jogou na porta. A adaga voou em
linha reta e atingiu em cheio — ou, quase isso, quando estava prestes a fazer, parte da
porta se esticou e se transformou em um tentáculo, que desviou a adaga voadora.
[Imitador d e P o r t a ]
“Isso é um... Door Imitator! Não, dada a cor desse tentáculo, provavelmente é um Door
Imitator Undead. É um monstro chato, captura a presa com fluidos corporais pegajosos
e depois ataca usando os tentáculos.”

“Tch! Uma armadilha dupla, isso é muito perverso. Mas sua percepção foi incrível, hein?
Viu que tinha algo errado.”

“Foi um mero palpite. Melhor dizendo, eu apenas considerei o desconhecido. Além disso,
considere o local que a porta está; ela levara muitas explosões de energia negativa. Po-
rém, explosões de energia negativa provavelmente não causariam muito dano a uma
porta inanimada, eu tive a sensação de que colocariam algo astuto lá. Então, vamos nos
mover—”

Capítulo 3 A Grande Tumba


166
Neste ponto, Gringham calou a boca. Isso porque o ladino, que continuava observando,
tinha um dedo nos lábios e inclinava a cabeça para escutar.

Gringham também levantou as orelhas. Ele podia ouvir uma batida rítmica de algo ba-
tendo contra o chão.

Todos olharam para a fonte do som — em direção à passagem.

“Seria... um inimigo? Esses caras não podem dar um minuto de descanso?”

“Uhum, tem um som mesmo e seja lá quem está fazendo, não parece que está tentando
ser furtivo, ou no mínimo é incapaz disso. Espero que seja o último...”

Todos levantaram suas armas, e o guerreiro na frente ergueu o escudo que seu colega
lhe entregara, escondendo metade de seu corpo atrás dele. O mago apontou a ponta bri-
lhante de seu cajado na passagem à frente, onde o som estava vindo, pronto para lançar
uma magia a qualquer momento. O sacerdote ergueu seu símbolo sagrado e o ladino
mirou com seu arco na direção do ruído.

O som de *tak tak tak* ficou mais alto, e a outra parte finalmente se mostrou.

Ele usava um manto — embora bastante envelhecido, que cobria um corpo mais magro
do que o de uma mulher ou um adolescente. Segurava um cajado retorcido em uma das
mãos — provavelmente a fonte do som crepitante.

Seu rosto esquelético estava coberto por uma fina camada de pele podre e havia uma
inteligência malévola em seus olhos. A energia negativa envolvia seu corpo como névoa.

Este era um magic caster undead. Era um—


[ L i c h Ancião]
“—Um Elder Lich!”

Gritou o mago, foi o primeiro a assumir sua identidade.

E ele acertou. Depois que um magic caster perverso morria e o corpo fosse infundido
com energia negativa, ele daria origem a um monstro maligno como este.

No momento em que Gringham e os outros ouviram que se tratava de um Elder Lich,


eles imediatamente mudaram de formação. Ninguém estava mais atrás de ninguém, e
cada um deles mantinha distância um do outro, para se defenderem contra magias de
efeito de área.

Elder Liches eram oponentes bastante poderosos. Para os aventureiros, os classificados


como platina não seriam capazes de derrotar um facilmente, mas as equipes classifica-
das como mythril teriam capacidade de fazê-lo. Se Gringham e os outros desconsideras-

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


167
sem o cansaço, seriam capazes de vencê-lo. Além disso, tiveram a sorte de ter um mem-
bro da equipe que era excepcionalmente poderoso contra os undeads, o que era uma
grande ajuda para a equipe.

Além disso, os Elder Liches eram difíceis de lidar à distância, mas, dada a distância atual,
as condições de batalha eram muito favoráveis para eles.

“Será o mestre da tumba!?”

Essa foi a conclusão de Gringham. Elder Liches eram controladores. Às vezes, eles con-
trolavam hordas de undeads e, dependendo das circunstâncias, podiam até fazer acor-
dos com os vivos.

Bons exemplos disso eram o capitão do navio fantasma que navegava através da ne-
blina das Planícies Katze, ou do Elder Lich que ficou famoso por governar um castelo
abandonado, histórias assim não eram particularmente raras.

Portanto, não era de todo incomum que um Elder Lich fosse o mestre dessa tumba.

“Chegamos no fim? Isso é um golpe de sorte!”

“Assim, não é como se o trabalho exigisse que matássemos o mestre da tumba, sabe?”

“Devemos mostrar a ele o poder da Heavy Masher?”

“Comtemplem a proteção divina dos deuses!”

Seus outros colegas estavam gritando. Eles estavam fazendo isso para banir o medo que
sentiam quando enfrentavam um poderoso inimigo como um Elder Lich.

“Magias defensivas e—”

Assim que Gringham estava prestes a começar a ditar ordens de batalha para seus com-
panheiros, uma sensação estranha surgiu dentro dele. Ele imediatamente encontrou o
motivo para esse sentimento. Era o inimigo poderoso diante deles, o Elder Lich.

“...Qual o problema?”

“Ele não parece querer... nos atacar?”

O Elder Lich estava claramente olhando para Gringham, mas não havia feito nada. Não
havia levantado seu cajado e nem começara a incitar encantamentos. Ele simplesmente
os assistia em silêncio.

Capítulo 3 A Grande Tumba


168
Gringham e os outros foram duramente pressionados para esconder sua confusão. Isso
porque eles achavam que iriam combater o ataque, mas não ousaram dar o primeiro
passo.

Era verdade que os undeads tinham hostilidade em relação aos vivos. No entanto, tam-
bém era verdade que certos undeads inteligentes estavam dispostos a negociar com a
humanidade. Mesmo que partissem de um ponto simples, se abrissem as negociações
primeiro, às vezes o undead pediria um cessar-fogo, e alguém poderia ganhar itens má-
gicos feitos com técnicas perdidas há muito tempo.

A coisa mais importante era que, evitar o combate era o curso ideal de ação quando se
enfrentava um inimigo poderoso como um Elder Lich. Talvez ele tenha aparecido porque
estava cansado de não conseguir eliminar o grupo com suas armadilhas, mas também
porque conhecia sua força e queria negociar pacificamente.

Depois de considerar essas possibilidades, atacar primeiro seria muito imprudente.


Isso seria essencialmente abandonar toda possibilidade de negociação. Estavam no co-
ração do poder do inimigo. Seria muito arriscado mergulhar em batalha sem garantir
que houvesse uma maneira de recuar.

Gringham e o resto do grupo observaram os rostos um do outro e verificaram que todos


estavam pensando a mesma coisa.

Era seu trabalho como líder falar em nome deles.

“Perdoe meu desrespeito, mas o senhor parece ser o mestre desta tumba. Nós—”

O Elder Lich virou o rosto arrepiante para Gringham e depois pousou um dedo esguio
nos lábios.

Em outras palavras — Silêncio.

Embora tal gesto fosse muito inadequado para um Elder Lich, eles não eram corajosos
— não, eles não eram suicidas o suficiente para dizer a essa poderosa entidade tal coisa.

Gringham obedientemente calou a boca. Então, ele ouviu um som novamente da passa-
gem silenciosa, e ele imediatamente duvidou de seus ouvidos.

Ele ouvira esse som antes, algo como um *tak tak tak tak tak* ecoava. E havia muitos
deles—

Gringham e seu grupo trocaram olhares novamente. Eles não queriam acreditar na res-
posta que o som lhes dizia.

E então — todos gritaram de uma só vez.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


169
“Quê!? Quem disse que o Elder Lich era o mestre desta tumba!?”

“Eu sinto muito! Fui eu!”

“Tá de sacanagem comigo!? Isto é ridículo!”

“Ei-ei-ei-ei, não podemos ganhar disso!”

“Até a proteção divina tem seus limites!”

Mais Elder Liches apareceram atrás do original; seis deles, na verdade.

Agora havia sete desses poderosos magic casters undeads.

Claro, sendo seres do mesmo tipo, eles atacariam da mesma maneira. Em outras pala-
vras, se eles tivessem uma maneira de negar todos os ataques que o inimigo poderia
reunir, derrotar sete deles não seria um problema.

O problema agora era que eles não tinham tal maneira.

Em face de tais probabilidades absolutamente impossíveis, o grupo de Gringham per-


deu sua vontade de lutar.

“Então, vamos começar?”

Quando o Elder Lich falou, nenhum vestígio de negociação tinha naquele tom frio e sete
cajados ergueram-se. Ao mesmo tempo, Gringham gritou:

“Bater em retirada!!”

Todos na equipe corriam a toda a força, como se esperassem por essa palavra. Eles cor-
reram na direção oposta dos Elder Liches. Claro, mal tiveram o luxo de contemplar o que
estava à frente deles; tudo o que conseguiam pensar era fugir do poder de fogo abrasa-
dor do cajado do Elder Lich e comprar alguma chance de sobrevivência.

À sua frente estava o ladino. Depois estava Gringham, o mago, o sacerdote e o guerreiro.

Eles correram sem parar, sem hesitar.

Eles chegaram a um canto. Estes eram lugares onde deveriam estar em guarda contra
armadilhas ou monstros, mas como estavam sendo pressionados, não tinham tempo li-
vre para checar com cuidado. Nada importava agora; tudo o que podiam fazer era fugir.

Havia duas portas esculpidas em pedra em ambos os lados da passagem, mas depois de
considerar que poderiam ser becos sem saída, ninguém foi corajoso o suficiente para
entrar.

Capítulo 3 A Grande Tumba


170
Os membros armadurados fizeram um som cacofônico de metal enquanto corriam, o
que ecoava ao longo da passagem. O som poderia atrair monstros, mas ninguém tinha
tempo ou energia para conjurar 「Silence」.

Eles correram e correram e correram um pouco mais.

Eles moveram as pernas, sem se importar com todo o resto. Virando cantos e correndo
loucamente fez com que perdessem o senso de direção, e eles não tinham mais idéia de
onde estavam agora. Se possível, eles gostariam de voltar à entrada, mas ninguém tinha
energia para considerar isso.

“—Ainda estão atrás de nós!?”

Gringham gritou enquanto corria. O guerreiro no fim do grupo respondeu:

“Estão sim! E se aproximando!”

“Droga!”

“Porra, por que estão correndo! Não era só voar?”

“Não dê idéia, idiota! Não só eles viriam voando, mas um monte de magias também!”

“Vamos... achar alguma salinha para se esconder e.... discutir isso...”

O magic caster ofegou. Ele era o membro fisicamente mais fraco do grupo, e parecia que
ele entraria em colapso a qualquer momento.

Gringham decidiu que isso não funcionaria. A resistência de seu companheiro estava
perto de acabar.

Monstros undeads como os Elder Liches não se cansariam. Se isso continuasse, eles se-
riam encurralados e. uma vez que a resistência se acabasse, tudo o que os aguardava
seria morrer lentamente.

“Como pode haver tantos Elder Liches aqui...?”

Tal coisa era impossível se alguém fosse pelo bom senso.

“Não me diga que o mestre desta tumba é mais poderoso que um Elder Lich!”

Essa foi a única resposta que puderam pensar. No entanto, realmente havia um ser
undead tão poderoso? Gringham estava confuso, ansiando por uma resposta.

“Droga! Essa tumba desgraçada!”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


171
O guerreiro correndo no final da fila amaldiçoou entre respirações ofegantes.

Um círculo mágico brilhante flutuou no chão naquele exato momento. O círculo mágico
era muito grande, grande o suficiente para abranger Gringham e sua equipe dentro de
sua extensão.

“Quê—!?”

Não havia como dizer a quem pertencia, mas ele ouviu algo que soou como um grito—

♦♦♦

—Houve uma sensação de flutuação, diferente de quando eles haviam caído anterior-
mente.

A visão de Gringham estava tomada pela escuridão. Os sons de trituração e esmaga-


mento vieram de debaixo de seus pés, e ele sentiu seu corpo afundar lentamente. Foi
como cair em um pântano. Ele entrou em pânico por um momento, mas esse lugar como
um pântano não era muito profundo, e ele parou de afundar depois que chegou a sua
cintura.

Nesse mundo silencioso da escuridão, Gringham gritou desconfortável, como uma cri-
ança que perdeu seus pais:

“...Tem alguém aí?”

“—Estou aqui, Gringham.”

Ele imediatamente recebeu uma resposta de um companheiro — o ladino. Além disso,


ele não estava longe. Provavelmente estava na mesma distância que os separara en-
quanto eles estavam correndo.

“...Os outros estão aqui?”

Não houve resposta. Ele adivinhara; não havia luz aqui, então o mago e o guerreiro não
estavam presentes. Ele teve sorte o suficiente para que o ladrão estivesse aqui.

“Parece que somos os únicos por aí.”

“Tua presun... Tch! É, cê tá certo.”

Ele ficou no lugar, analisando o clima no ar ao redor. A escuridão se estendia infinita-


mente independentemente de onde olhasse, enchendo-o com o medo de não saber onde
a escuridão terminava e onde começava.

Capítulo 3 A Grande Tumba


172
Nada parecia estar se movendo—

“Precisa de luz?”

“Seria bom.”

Isso quebraria o silêncio? Isso provocaria uma armadilha? Apesar das inúmeras dúvi-
das que enchiam seu coração, era um fato lamentável que os olhos humanos não pudes-
sem ver através da escuridão. A luz era indispensável.

“Tá bom, um minutinho.”

A voz do ladino parecia estar se movendo na escuridão. E então, houve uma fonte de
luz.

A primeira coisa que viu foi o ladino, segurando um bastão de luz na mão. Então, ele viu
a luz refletida de inúmeras superfícies menores. Isso o fez pensar no tesouro brilhante
que ele havia visto no mausoléu.

No entanto— não era.

Gringham lutou contra o desejo de gritar, enquanto o rosto do ladino se enrugava.

Eles viram inúmeros reflexos. Os reflexos eram dos insetos que preenchiam cada cen-
tímetro da sala; o que os humanos chamavam de baratas. As menores eram apenas do
tamanho da ponta do dedo mindinho, enquanto as maiores tinham mais de um metro de
comprimento. A sala estava cheia de baratas de todas as formas e tamanhos, e elas se
moviam umas sobre as outras.

Então, a sensação de esmagamento sob seus pés foi causada por esmagamento de ba-
ratas. O pensamento de estar submerso até a cintura em baratas era muito mais repug-
nante.

A sala era muito larga, então a luz do bastão luminoso não alcançava as paredes. Dado
o raio de iluminação efetivo do bastão luminoso era de cerca de 15 metros, pôde-se es-
timar o tamanho da sala a partir disso. Ele olhou para o teto e viu incontáveis baratas
refletidas no brilho.

“Onde... estamos?”

O ladino falou como se estivesse sem fôlego, e Gringham podia entender como se sentia.
Ele deve ter tido a sensação de que, se ele emitisse um som, todas essas baratas começa-
riam a se mover.

“O que aconteceu aqui?”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


173
“...Caímos no fosso?”

Enquanto o ladino olhava nos arredores com medo, Gringham pensou na última coisa
que tinha visto antes que seu mundo fosse engolido pela escuridão — o círculo mágico
que havia flutuado sob seus pés — e então ele disse ao ladino:

“Acho que não. Num parece um fosso comum, lembro que pisamo num círculo mágico...”

“E pensar que haveria armadilha de teletransporte... ou foi uma magia do Elder Lich?”

Magias de teletransporte existiam; por exemplo, a magia do 3º nível 「Dimensional


Move」. No entanto, essa magia só funcionava no próprio conjurador. A habilidade de
teletransportar os outros e várias pessoas de uma só vez era—

“—Se num tô enganado, acho que era magia de quinto ou sexto nível que pode tele-
transportar várias pessoas de uma só vez, né?”

“É... lembro que é algo assim.”

“Será que o mandachuva daqui é desses...?”

Eles sabiam que pouquíssimas pessoas poderiam usar magia do 5º nível. No entanto,
Gringham podia aceitar essa hipótese. Se um ser poderoso como esse existisse, então a
coexistência pacífica de vários Elder Liches era fácil de explicar. Isso porque certamente
seria brincadeira de criança para uma entidade tão poderosa governar ou comandar os
Elder Liches.

Um calafrio tomou conta do coração de Gringham ao perceber o perigo desta tumba. Ao


mesmo tempo, sentiu um intenso ressentimento em relação ao Conde que lhe oferecera
esse emprego. É claro que foram Gringham e os outros que haviam aceitado o trabalho,
e eles sabiam que haveria riscos, e ainda assim eles tinham suas vidas arrumadas como
fichas na mesa de cartas. Talvez o fato de que ele estivesse procurando um bode expia-
tório não poderia ser ignorado.

No entanto, o Conde deveria saber algo sobre esse lugar. Caso contrário, ele não teria
oferecido um pagamento tão alto e reunido tantos Trabalhadores e oferecido o trabalho
para investigar a tumba.

“Quer dizer que ele num quis abrir o jogo? Fí duma ronquifuça... Vamo sair daqui! Essas
ruínas... A gente veria ter passado bem longe disso.”

“Ah, agora mesmo. Então, Gringham, eu vou primeiro e pode me seguir.”

Parece que o ladino ainda não havia percebido. Mas felizmente as baratas não estavam
se movendo, o que foi uma sorte e tanto.

Capítulo 3 A Grande Tumba


174
Gringham deu uma boa olhada nas baratas à sua frente.

Suas antenas estavam vibrando levemente, de modo que provavelmente ainda não es-
tavam mortas, mas simplesmente estavam paradas. Um ar misterioso de pavor encheu
a área.

“—Não, os senhores não vão a lugar nenhum.”

De repente, a voz de um terceiro apareceu.

“Quem tá aí!?”

Gringham e o ladino olhavam freneticamente ao redor, mas não conseguiam sentir nin-
guém se mexendo.

“Oh, perdoem-me. Por ordem de Ainz-sama, ganhei domínio sobre este lugar. Me chamo
Kyouhukou. E senhores, é um prazer conhecê-los.”

Seus olhos foram para a fonte do som, onde eles viram uma cena bizarra. Algo estava
abrindo o caminho através da pilha de baratas como se fosse emergir de baixo.

Suas armas brancas não conseguiriam chegar tão longe. O ladino silenciosamente sacou
seu arco, enquanto Gringham planejava retirar seu estilingue— mas logo parou. Se a ba-
talha começasse, ele poderia facilmente atravessar esse mar de baratas até a cintura e
atacar seu inimigo com o machado.

Logo, eles viram que a entidade que havia atravessado as baratas era, na verdade, outra
barata.

No entanto, essa barata parecia diferente das demais. Tinha apenas 30 centímetros de
altura, mas estava ereta sobre duas pernas.

Estava envolta em uma capa vermelha de aspecto majestoso, adornada com fios de ouro,
e usava uma minúscula coroa de ouro reluzente na cabeça. Suas patas dianteiras segu-
ravam um cetro de ouro branco cuja ponta tinha um grande cristal envolto por um halo
cravejado de pedras preciosas.

O mais estranho era que estava olhando diretamente para Gringham e o ladino, apesar
de estar de pé. Um inseto olharia naturalmente para cima se estivesse em pé sobre duas
pernas, mas o ser diante de seus olhos era diferente.

Fora isso, não era muito diferente das outras baratas. Não, apenas isso já era uma
grande diferença.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


175
Gringham trocou olhares com o ladino e concordaram que Gringham negociaria com a
oposição. Depois de verificar que o ladino havia preparado o arco e a flecha, Gringham
perguntou a Kyouhukou:

“Quem... é você?”

“Humm. Parece que não ouviu a minha introdução. Devo declarar meu nome mais uma
vez?”

“Não, não é isso que eu quis dizer—”

Na metade, Gringham percebeu que não fez a pergunta correta e se corrigiu:

“—Bem, direto ao ponto; gostaria de fazer um acordo, senhor?”

“Oh, um acordo. Eu sou muito grato aos dois, sempre estou disposto a negociar.”

Havia algo de estranho — por que era tão grato aos dois? Isso incomodou Gringham,
mas dadas as circunstâncias esmagadoramente desfavoráveis, ele não podia fazer a ou-
tra parte uma pergunta assim.

“...Gostaria de... gostaríamos de pedir-lhe, senhor, para nos permitir sair com segurança
desta sala.”

“Entendo, é natural que pense assim. No entanto, mesmo que os dois cavalheiros con-
sigam sair daqui, sua localização atual é dentro do Segundo Andar da Grande Tumba de
Nazarick. Cabe a mim mencionar que voltar à superfície será muito difícil.”

O segundo andar—

Aquelas palavras fizeram os olhos de Gringham se arregalarem.

“Passamos pelo mausoléu na superfície, descemos um lance de escadas e passamos por


uma porta — era o primeiro andar?”

“Muitos o considerariam como tal, não?”

“Sim, só queria confirmar.”

“Hahaa! Bem, dado que os cavalheiros foram teleportados para cá do Primeiro Andar.
Sua confusão atual é justificada.”

De alguma forma, Kyouhukou estava assentindo. Gringham sentiu como se tivesse sido
esfaqueado por gelo quando o viu.

Este foi um terror nascido de suas suspeitas sendo provadas corretamente.

Capítulo 3 A Grande Tumba


176
Em outras palavras, embora ele não soubesse como eles haviam feito isso, sua oposição
usava magia de teletransporte como uma armadilha. Que tipo de magia era, e que tipo
de tecnologia mágica eles usaram? Ele sabia como isso era chocante, apesar de não ser
um magic caster.

“...Certamente, seria maravilho se o senhor em toda sua boa vontade pudesse nos dizer
como deixar essa tumba, mas não me atreverei a pedir tanto. Só nos permitir sair desta
sala será o suficiente.”

“Hmhm.”

“Nós... estamos dispostos a dar-lhe tudo o que o senhor deseja.”

“Sei...”

Kyouhukou acenou com a cabeça profundamente, e parecia estar mergulhado em pen-


samentos.

Por um breve momento, o interior da sala ficou em silêncio mortal. No final, Kyouhukou
parecia ter decidido. Ele assentiu e disse:

“O que eu desejo já está ao meu alcance. Os termos que os senhores propõem... não me
satisfazem.”

Gringham estava prestes a abrir a boca, mas Kyouhukou levantou uma pata dianteira
para detê-lo dizendo:

“Antes disso, parece que não entendeu o motivo da minha gratidão para com os senho-
res. Então, permita-me explicar. Na verdade, meus familiares se cansaram de comer uns
aos outros. Assim, agradeço por se disporem a serem seus alimentos.”

“Qu—!?”

O ladino soltou uma flecha imediatamente ao ouvir isso.

A flecha sibilou no ar, mas a capa carmesim de Kyouhukou a pegou, a fazendo cair im-
potente.

Então a sala começou a se contorcer.

Incontáveis barulhos ruidosos ecoaram, logo se tornou uma torrente de som.

Momentos depois— um tsunami erigiu acima deles.

Era um fluxo agitado de escuridão.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


177
“Lamentavelmente, há apenas dois, mas mesmo assim, espero que satisfaçam a barriga
dos meus familiares.”

A onda de maré viva engoliu Gringham e o ladino. Parecia ser devorado pelo oceano.

Quando Gringham afundou no redemoinho negro, ele golpeou freneticamente as bara-


tas que haviam penetrado nas aberturas de sua armadura.

Armas eram inúteis contra um enxame de minúsculos insetos, e Gringham não conhecia
nenhuma Arte Marcial que pudesse atacar em área. Nesse caso, bater com as mãos seria
mais rápido. Portanto, ele já havia deixado de lado sua arma e não sabia para onde tinha
ido.

Ele lutou e tentou agitar os braços, mas as incontáveis baratas que pesavam sobre ele
já haviam tomado sua liberdade de movimento. Suas ações eram como um homem se
afogando, agitando os braços. Tudo o que Gringham pôde ouvir foi o farfalhar de incon-
táveis baratas.

A voz de seu companheiro ladino era abafada pelo farfalhar e ele não conseguia ouvi-lo.

Não, só fazia sentido que ele não pudesse ouvir a voz do ladino. Isso porque a boca, a
garganta e o estômago do ladino estavam cheios de baratas e ele não conseguia vocalizar.

A dor arrepiante encheu o corpo de Gringham da cabeça aos pés. Era a dor das baratas
que haviam se infiltrado através das aberturas de sua armadura e estavam mastigando
sua carne.

“Pare—”

Gringham queria gritar, mas as baratas entrando em sua boca bloquearam tudo. Ele
tentou freneticamente cuspir as baratas, mas toda vez que ele abria a boca, outra barata
se forçava entre seus lábios e rastejava pela sua boca.

Baratas minúsculas pareciam ter se fincado em seus ouvidos. O farfalhar ficou mais alto,
e suas orelhas estavam coçando insuportavelmente.

Inúmeras baratas subiam e desciam pelo rosto, mordendo em todos os lugares. A dor
cobria suas pálpebras. No entanto, ele não conseguia abrir os olhos. Ele podia imaginar
o que aconteceria com seus olhos se fizesse isso.

Gringham entendeu que tipo de destino o esperava. Ele seria comido vivo por baratas.

“Eu não quero isso!”

Capítulo 3 A Grande Tumba


178
Ele gritou em voz alta, e as baratas prontamente fluíram para sua boca. Elas se contor-
ciam por toda parte e então se enterravam nas profundezas de sua garganta. Então, ele
sentiu algo deslizar pela garganta até o estômago. A sensação de uma barata viva se de-
batendo em suas tripas o fez querer vomitar.

Gringham lutou desesperadamente mais uma vez.

Ele não suportaria morrer assim.

Ele queria que seus dois irmãos mais velhos olhassem para ele com olhos diferentes.
Este era o propósito único e motivador que o incentivara e lhe permitira alcançar sua
posição atual.

Gringham economizara o suficiente para poder passar seus dias em lazer, mesmo sem
se aventurar novamente, e, com sua reputação, podia casar-se facilmente com uma mu-
lher bonita, como as que não se podia encontrar em vilarejos. Seja em termos de força
ou riqueza, ele era muito superior aos seus irmãos mais velhos, que o expulsaram da
casa. Ele deveria ter sido um vencedor na vida.

Ele não queria morrer em um lugar como este.

“Abbboo—aarhgh! Quero voltar vivooo!”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


179
—Ele Gritou enquanto cuspia baratas mastigadas.

“...Ora, ainda pode suportar. Então, tenho o lugar certo para o senhor.”

Os gritos de Gringham desapareceram no vórtice negro alguns segundos depois.

♦♦♦

Seus olhos abriram de repente.

Um teto apareceu. O referido teto era feito de chapas de pedra, havia um objeto que
emitia luz branca. Ele não sabia como chegara ali, mas quando pensou em olhar ao redor,
percebeu que sua cabeça não podia se mexer. Não, não era apenas a cabeça dele. Seus
braços, pernas, cintura e peito estavam presos e imobilizados por alguma coisa.

Essas circunstâncias incompreensíveis provocaram terror dentro dele. Ele queria gritar,
mas algo estava preso em sua boca. Ele não podia falar e não conseguia fechar a boca.

Tudo o que podia fazer era mover os olhos. Apavorado, ele tentou ver o que estava
acontecendo ao seu redor, então uma voz se dirigiu a ele.

“Aran~ então você está acordado.”

Era uma voz estranha. Era difícil determinar se pertencia a uma mulher ou um homem.

Um monstro horrível entrou em seu campo de visão imobilizado, aparecendo diante


dele.

Aquela coisa tinha um corpo humano, mas sua cabeça era um objeto bizarro que parecia
um polvo deformado. Seis tentáculos longos balançaram, se movendo até as coxas.

Sua pele era turva com manchas brancas, como um cadáver afogado. Seu corpo inchado
também era o de um cadáver afogado, com algumas faixas de couro preto para substituir
a roupa. Ditas tiras apertavam sua pele, parecendo apenas como barbante de açougueiro
usado para amarrar pedaços de carne, era inacreditavelmente horrendo. Talvez fosse
provocante em uma mulher formosa, mas em um monstro arrepiante como esse, era
menos sedutor do que um estômago às avessas.

Das mãos do monstro brotaram quatro dedos delgados cada, com membranas entre
eles. Cada um tinha unhas compridas, cada uma com lindos esmaltes aplicados e ainda
adornadas com estranhas artes de manicure.

Este ser bizarro olhava para ele com olhos nublados e sem pupila.

“Ufufufu~ Dormiu bem, docinho?”

Capítulo 3 A Grande Tumba


180
“Hghhh... hghhh...!”

Sua respiração estava pesada sob os ataques psicológicos duplos de medo e espanto. O
monstro acariciou sua bochecha com um gesto gentil, como uma mãe consolando uma
criança.

A sensação estranhamente fria enviou um arrepio em todo o seu corpo.

Teria sido perfeito se emitisse um forte cheiro de sangue ou podridão. No entanto, em


vez disso, irradiava uma fragrância floral. O que só serviu para aumentar o terror que
arranhava sua alma.

“Ara~ não há necessidade de ficar com medinho.”

A linha de visão da criatura moveu-se para sua virilha, e a sensação de uma corrente de
ar na sua pele o fez finalmente perceber que estava nu.

“Mmm~ eu deveria perguntar o seu nome?”

O monstro colocou a mão no que parecia a bochecha e inclinou a cabeça. Certamente


teria sido um gesto sensual se uma mulher tivesse feito isso, mas não em uma criatura
de cabeça de polvo semelhante a um cadáver afogado. Tudo o que ele sentiu foi nojo e
medo.

“...”

Ele só conseguia mover os olhos, o monstro apenas riu. Sua boca estava coberta por
seus tentáculos e sua expressão não parecia ter mudado. No entanto, ainda era possível
dizer que estava rindo, porque seus olhos frios, vítreos e de mármore estavam estreita-
dos.

“Ufufufu~ não quer me dizer, docinho? Você é tão tímido e adorável.”

A mão do monstro deslizou sobre seu peito, como se estivesse tracejando letras, mas
tudo o que ele sentiu foi pânico, como se seu coração pudesse ser arrancado a qualquer
momento.

“Deixe-me—lhe—dizer—o—meu—nome ❤.”

A criatura disse, em uma voz sacarina, embora truncada, que soava como se estivesse
acrescentando corações ao final de cada frase que dizia.

“Eu sou Neuronist, a Oficial Especial de Coleta de Inteligência da Grande Tumba de Na-
zarick. Mas, também me chamam de Torturadora ❤.”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


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Os longos tentáculos se moveram, expondo a boca redonda. A boca estava repleta por
uma fileira de dentes afiados e um tubo fino e reluzente que parecia uma língua serpen-
teada, como um canudo.

“Depois, eu vou usar isso para lhe chupar todinho até secarrr~.”

Chupar todinho até secar!?

Ele estava com tanto medo que tentou mexer seu corpo, mas estava firmemente amar-
rado.

“Relaxe, as coisas são assim. Você está na palma das nossas mãos.”

De fato, suas últimas lembranças eram do ladino e Gringham correndo à frente dele e
desaparecendo. Depois disso, ele não se lembrava de nada até então.

“Você sabe onde está, não é?”

Neuronist riu e, em seguida, continuou:

“Esta é a Grande Tumba de Nazarick, entendeu? O Reino do único membro dos Qua-
renta & Um Seres Supremos que ficaram para trás, Momo— não, Ainz-sama. É o lugar
mais honrado do mundo.”

“Hainz-hana?”

“Isso mesmo, Ainz-sama.”

Neuronist entendeu suas palavras mal pronunciadas enquanto deslizava a mão pela
pele do homem.

“Ele é um dos Quarenta & Um Seres Supremos e o líder que uma vez coordenou os ou-
tros Seres Supremos. E ele também é um homem muito, muito charmoso. Qualquer um
que o veja gostaria de jurar lealdade eterna a ele. Quanto a mim, se eu tivesse a sorte de
ser chamada para a cama de Ainz-sama, eu ficaria feliz em oferecer a ele minha virgin-
dade ❤.”

A maneira como este monstro atritava timidamente seu corpo não podia ser conside-
rada adorável, mas abominável.

“Mmmm~ escute isso aqui.”

O monstro começou a traçar letras em seu peito, como uma menina fantasiando sobre
sua primeira paixão:

Capítulo 3 A Grande Tumba


182
OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba
183
“A última vez que o Ainz-sama me visitou, eu o notei olhando meu corpo. Seu olhar era
como de uma fera máscula selecionando sua presa. Depois disso, ele pareceu envergo-
nhado e desviou os olhos. Isso fez meu coração disparar e minha espinha arrepiar~!”

Neste ponto, a criatura parou de se mover e trouxe seu rosto para cima, olhando em
seus olhos. Ele tentou desesperadamente se distanciar daquele rosto assustador, mas
seu corpo não podia se mover.

“A fedelha da Shalltear e a bruaca da Albedo parecem estar gostando das atenções do


Ainz-sama, mas deixe elas acharem que estão por cima da carne-seca, no fim, eu sou mais
atraente do que elas. Você não acha?”

“Ahh. Heh euh pensho isho hambem!”

Que tipo de destino o aguardaria se ele ousasse discordar disso? O medo fez com que
ele concordasse.

Neuronist estreitou os olhos em deleite e bateu palmas olhando para o vazio. Parecia
um zelote rezando para o céu.

“Fufufu~ você é gentil. Ou está apenas dizendo a verdade? Infelizmente, por alguma
razão, o Ainz-sama nunca me chamou... ahhh, Ainz-sama... essa sua atitude estoica é tão
atraente...❤”

O monstro ficou tão comovido que estremeceu, e isso o fez parecer um verme segmen-
tado rastejando.

“...Ah, eu fiquei toda arrepiada. Ara~ perdão, só eu tenho falado aqui.”

Até esqueça que eu tô aqui!

Obviamente Neuronist ignorou a oração mental e continuou:

“Deixe-me dizer-lhe qual será o seu destino. Sabe o que é um coral, não sabe?”

Ele revirou os olhos com a pergunta repentina. Depois de ver sua reação confusa, Neu-
ronist pareceu achar que não sabia e começou a explicar.

“Eles são um coro que cantam hinos e salmos, louvando o amor e a glória de Deus. Eu
quero que se junte ao coral, junto com seus amigos.”

Se isso fosse tudo, então não seria nada de mais. Mas ele não estava muito confiante em
sua voz, já que seu timbre não era grande coisa. Entretanto, o objetivo desse monstro
era realmente tão simples? Ele não conseguia esconder o desconforto que surgia e olhou
para Neuronist com o canto dos olhos.

Capítulo 3 A Grande Tumba


184
“Oh, sim! É um coral~! Mesmo um tolinho como você, que não jurou tudo ao Ainz-sama,
pode fazer uma jura ao cantar de corpo e alma. Teremos seu cântico em uníssono como
o nosso objetivo. Ahh~ meu corpo se arrepiou novamente. Esta será a música gospel que
eu, Neuronist, oferecerei ao Ainz-sama.”

Uma cor esfumaçada encheu aqueles olhos nojentos. Talvez o monstro estivesse ani-
mado com a idéia. Seus dedos estreitos e delgados se contorciam como vermes.

“Fufufufu~ Bem. Vou apresentá-lo às pessoas que o ajudarão a cantar em harmonia.”

Eles provavelmente estavam esperando em um canto da sala, mas várias formas apare-
ceram de repente em seu campo de visão.

Assim que as viu, ele momentaneamente esqueceu de respirar, porque sabia que eram
criaturas do mal em um mero relance.

Usavam aventais bem justos de couro preto. Seus corpos eram quase tão brancos como
creme. Abaixo dessa pele estavam — se é que sangue pode ser roxo — vasos sanguíneos
arroxeados.

Suas cabeças estavam cobertas de máscaras de couro preto sem costura. Não havia
como dizer como podiam ver ou até mesmo respirar. Seus braços também eram muito
longos. Cada um tinha cerca de dois metros de altura, mas os braços estendiam-se abaixo
dos joelhos.

Os cintos na cintura continham inúmeras ferramentas de trabalho.

Havia quatro dessas criaturas vis.

“—Eles são os Torturers. Essas crianças vão ajudá-lo a cantar com uma voz doce ❤.”

Ele tinha um mau pressentimento sobre isso. De repente, percebeu o que significava
“cantar”, e ele desesperadamente mexeu o corpo em uma tentativa de escapar, mas seu
corpo ainda não conseguia se mover.

“É inútil, bobinho. Você não tem força para quebrá-las. Esses meninos vão usar magia
de cura em você, para que possa treinar de corpo e alma. Eu sou muito gentil, não sou?”

Neuronist disse com uma voz sutil de maldade.

“Nho fahsa hisho!”

“Hmm, o que foi? Quer que eu pare, é?”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


185
Neuronist perguntou enquanto ele gritava com lágrimas brotando em seus olhos. Então,
balançou levemente seus seis tentáculos.

“Ouça bem, não tem problema, viu~? Nós, as criações dos Seres Supremos, temos valor
em existir porque nosso grande mestre ficou por nós. Servi-lo é o nosso motivo de exis-
tência. Como poderíamos ter pena de ladrõezinhos pífios como vocês, que sujam a casa
do Supremo com seus pezinhos imundos? Realmente acha que eu ficaria com peninha
de você?”

“Ah, herdão!”

“Sim. Isso é bom. O arrependimento é muito importante.”

Neuronist pegou uma haste fina de algum lugar. Em sua ponta havia uma seção de cinco
milímetros de comprimento coberta de espinhos.

“Vamos fazer umas preliminares, que tal?”

Ele não tinha idéia do que era, mas o Neuronist estava muito feliz em explicar.

“Ouvi dizer que meu criador foi afligido por uma doença chamada Cálculo Renal. Para
mostrar meu respeito por ele, começaremos com isso. Esse seu corpinho é tão pequeno,
imagino que será fácil.”

“Nho fahsa hishoo!!”

Ele lamentou quando percebeu o que iria acontecer com ele, e Neuronist aproximou
seu rosto do dele.

“Vamos passar um longo tempo juntinhos. Se for um menino levado, se chorar e gritar
demais, vou dar-lhe uma liçãozinha que não vai gostar, entendeu?”

Parte 3

Cada equipe havia tomado uma rota diferente na encruzilhada e, entre eles, Erya Uzruth
simplesmente seguia em frente, supondo que haveria um forte inimigo esperando por
ele nas profundezas da tumba.

Ele encontrou portas de pedra e inúmeras curvas ao longo do caminho, simplesmente


pegou cada uma ao acaso, andando silenciosamente pela tumba. Seu caminho era pací-
fico, o que o entediava. Eles não tinham encontrado armadilhas e muito menos monstros.

Talvez eu tenha escolhido o caminho errado.

Capítulo 3 A Grande Tumba


186
Assim que Erya pensou, ele estalou sua língua.

“Ande rápido, sua lesma!”

Erya vociferou para a Elfa andando 10 metros à frente quando ela estava prestes a parar.
A escrava Elfa estremeceu por apenas um segundo antes de andar cansadamente. Ela
andava continuamente desde que haviam entrado na tumba, e não lhe permitiram dimi-
nuir o ritmo.

Felizmente, nada havia acontecido até agora, mas se houvesse armadilhas, ela poderia
muito bem ter morrido.

A maneira como ele estava usando suas escravas não era tão diferente quanto ter um
canário em uma mina. A equipe de Erya era composta por ele mesmo e três escravas
Elfas com habilidades diferentes, sendo uma ranger, uma sacerdotisa e uma druida. Dar
tais diretivas a alguém como ela, que possuía habilidades insubstituíveis de detecção,
parecia um erro de principiante.

No entanto, ele tinha suas razões.

Resumidamente; ele estava enjoado da Elfa à sua frente.

Certamente, alguém ficaria chocado quando ouvisse essa resposta. Por essas bandas,
seu choque não seria uma questão de ética, mas financeira.

Os escravos da Teocracia Slane não eram baratos. Isso era particularmente verdadeiro
para Elfos, cuja aparência e habilidade faziam seu preço subir. Na maioria dos casos, os
Elfos eram mercadorias incrivelmente caras, não algo que um cidadão comum pudesse
pagar.

Nessa perspectiva, aquelas Elfas com habilidades especiais custam tanto quanto uma
arma mágica encantada com efeitos especiais. Mesmo alguém como Erya não podia sim-
plesmente comprar uma porque queria.

Todavia, a renda da Tenmu era monopolizada por Erya e, assim, se um trabalho fosse
produtivo, ele poderia recuperar o dinheiro rapidamente. Assim sendo, uma vez que se
cansasse de uma escrava, nem mesmo se importaria caso ela morresse.

Vou comprar uma bem peituda da próxima vez...

Pensou Erya, enquanto olhava para as costas cansadas da Elfa.

Apertar uns peitões quando a vadia grita de dor deve ser divertido.

Como esse trabalho era um esforço cooperativo com outras equipes, já havia alguns
dias que não transava com as Elfas. É verdade que ninguém diria nada mesmo se tivesse,

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


187
mas o ciúme provocaria descontentamento. Isso não era vantajoso e, como Trabalhador,
Erya tinha noção disso.

Portanto, sua luxúria reprimida levou Erya a esses pensamentos.

“Ou talvez da próxima eu compre uma como aquela.”

Um dos membros da Foresight apareceu em sua mente, a mestiça que olhava para ele
enojada.

Aquela puta é realmente se acha.

Ela era até atraente. Erya sentia que o desgosto da garota por ele era compreensível. As
mulheres muitas vezes não entendiam a libido dos homens, uma jovem como ela prova-
velmente nem sabia se dar prazer ainda. Para Erya, formas de vida que eram inferiores
aos humanos não tinham o direito de olhar para ele com aquela cara.

Só de pensar nisso encheu os belos traços de Erya com raiva.

“Queria bater naquela cara de puta dela, bater até ela não conseguir resistir...”

As escravas Elfas eram física e mentalmente quebradas antes de serem entregues a seus
mestres, garantindo subserviência total.

Mas se ele fizesse um movimento para cima daquela mestiça, ela certamente lutaria
como uma fera ensandecida. Não era difícil para Erya quebrar e conquistá-la. No entanto,
ele também se machucaria, e Erya não estava confiante em sua capacidade de subjugar
uma presa viva. Enquanto se perdia imaginando como seria socar Imina no rosto várias
vezes, ele ficou um segundo atrasado ao notar que a Elfa na frente dele havia parado de
se mover.

“Por que parou? Continue.”

“Aiieee... ah, eu ouvi um barulho.”

“Barulho?”

Erya franziu as sobrancelhas quando a Elfa juntou coragem para responder. Ele se con-
centrou em ouvir. O ambiente estava silencioso, tão quieto, de fato, que fazia seus ouvi-
dos zunirem.

“...Eu não ouço nada.”

Normalmente, ele simplesmente teria dado um soco na cara dela, mas Elfos tinham uma
audição mais aguçada que humanos. Pode ser que ela tenha ouvido algo que a audição

Capítulo 3 A Grande Tumba


188
humana de Erya era incapaz de detectar. Para verificar isso, ele perguntou as duas Elfas
ao lado dele:

“E você, ouviu algo?”

“S-sim, posso ouvir alguma coisa.”

“Parece... parece metal colidindo.”

“...Interessante.”

Não havia como o som de metal colidindo com metal pudesse ocorrer naturalmente.

Nesse caso, deve certamente ter sido feito por alguém. Em outras palavras; esta pode
ser a primeira luta desde a entrada na tumba. Enquanto pensava nisso, o coração de Erya
se encheu de emoção.

“Vamos verificar a origem desse som.”

“Si-sim, mestre.”

Ele deixou a escrava Elfa andar à frente dele, e viajaram na direção do barulho.

Logo, Erya ouviu o som de metal também. Foi o som de uma intensa colisão entre um
objeto e outro, acompanhado por rugidos e gritos.

“Será outro time lutando? Não acho que cruzei o caminho deles depois da encruzilhada,
deve ser que todas as rotas culminam aqui.”

Foi apenas uma alegria passageira, e Erya suspirou desanimado.

“Oh, bem... que se dane. Pelo menos deve dar para dar suporte e matar alguns monstros.”

Erya continuou em direção à fonte dos sons, mas começou a sentir-se estranho. Isso não
soava como uma batalha. Parecia mais—

Quando ele virou a esquina, suas dúvidas foram respondidas.

Depois de virar a esquina, ele viu uma ampla sala diante de seus olhos. Era grande o
suficiente para que várias dezenas de pessoas pudessem correr dentro dela. Havia dez
Lizardmen dentro da sala, trajavam armaduras requintadas. Todos usavam colares que
tinham correntes quebradas presas a eles, e as pontas balançavam livremente.

Eles estavam treinando com espadas. Cada poderoso ataque foi desviado por um es-
plendor sem hesitação. Cenas como essa se repetiam por todo o ambiente. Poderia ter
parecido uma batalha intensa, mas Erya imediatamente viu que estavam treinando.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


189
Quando Erya e companhia entraram na sala, os Lizardmen pararam de manejar suas
espadas, o que indicava que seu palpite estava correto.

Além dos Lizardmen, havia um sujeito gigantesco com um enorme escudo torre e
usando uma armadura de placa preta raiada de vasos sanguíneos, e mais uma pessoa —
ou melhor, mais uma criatura.

Era uma fera mágica enorme, com uma camada de pêlo prateado e um par de olhos de
aparência astuta.

“Então finalmente chegou, intruso-dono.”

Feras mágicas falantes eram frequentemente adversários difíceis. As feras mágicas


eram geralmente do tipo que atacavam, impulsionando seus corpos poderosos, mas al-
gumas feras mágicas inteligentes também podiam usar magia.

Erya era um gênio na esgrima, mas suas habilidades mágicas não eram excepcionais.
Ele canalizava sua força em seu interior, fortalecia sua alma e se preparava para resistir
à magia hostil quando perguntou:

“E você, quem é?”

Não havia necessidade de se preocupar. Como estava aqui esperando por ele, isso im-
plicava que era o guardião dessas ruínas. A questão agora era o quão poderoso este guar-
dião era.

Pelo que pareceu ser, poderia até ser o supervisor do local. Nesse caso, matar esta fera
mágica seria uma grande conquista. Em outras palavras, sua equipe seria a mais desta-
cada de todos os outros Trabalhadores. Tenmu era uma equipe de um homem composta
pelo próprio Erya, o que significaria que Erya era o mais forte de todos os Trabalhadores.
A sorte também era uma habilidade importante para os Trabalhadores.

“Alguém designou este aqui para enfrentar-te e realizar vários testes ao mesmo tempo...
mas dado à tua força, temo que seja um pouco insuficiente, este aqui sente isso.”

Desapontamento e frustração surgiram em seu coração.

A primeira era porque a fera mágica era simplesmente uma sentinela, e a última porque
o havia desprezado.

“Já está me desprezando sem nem mesmo cruzar as lâminas comigo? Hey!”

“S-sim, mestre!”

Capítulo 3 A Grande Tumba


190
A Elfa estremeceu quando seu mestre se dirigiu a ela. Sua reação enchia Erya com sa-
tisfação. Esse era o tipo de atitude a qual ele tinha direito. Apesar de ter sido apenas
alguns dias, ele teve que passar um tempo em torno de Momon, uma classe claramente
superior de ser, isso o desagradou profundamente. Mas extrair essas reações de seres
inferiores aliviava um pouco o aborrecimento.

“Que tipo de criatura é essa?”

“E-e-eu... sinto muito. E-eu... não nunca ouvi falar de uma fera mágica assim antes.”

“Tch! Sua inútil.”

Ele bateu no rosto “inútil” da Elfa com o cabo de sua espada.

A Elfa desabou no chão, protegendo o rosto enquanto pedia desculpas freneticamente,


mas Erya não lhe deu atenção; em vez disso, ele examinou o corpo da fera mágica.

A fera mágica era bem grande; combatê-la de frente seria muito desfavorável. Mas como
se por padrão, feras mágicas eram geralmente muito grandes, não que significasse muita
coisa, dado que Erya havia matado várias no passado. Não havia necessidade de ter
medo, mesmo que fosse de uma fera mágica que ele não tinha visto antes.

Claro, ele tinha que ser cauteloso, mas se fosse demasiadamente cauteloso e se retraísse
diante de seu inimigo, então não passaria de um covarde.

“Eu tenho uma pergunta; o que te faz pensar que pode me vencer?”

“Bem, este aqui viu logo de relance que é muito fraco...”

O rosto de Erya se contorceu e ele apertou mais sua espada.

“...Parece que seus olhos não enxergam bem. Vou te dar uma ajudazinha e tirar esses
olhos defeituosos da sua cara, que tal?”

“Este aqui te pede que poupe este aqui. Muito bem, o mestre ordenou que este aqui te
mate aqui... então vamos começar imediatamente.”

Pareceu extremamente casual. Isso irritou Erya ainda mais.

Ele queria dispensar as brincadeiras e começar a batalha, mas se exagerasse e matasse


a fera mágica, já que aparentemente não levava as coisas a sério, ele acabaria se sentindo
como um aproveitador. Portanto, engoliu sua raiva e bufou.

“Vamos logo— besta.”

“Este aqui se pergunta o porquê de tanta pressa? As Elfas também não vão se preparar?”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


191
“Não preciso delas. E você, esses Lizardmen aí atrás...”

“Ah, eles não estão envolvidos nisso. Os Lizardmen atrás deste aqui são apenas para
assistir a luta. Não se preocupe com eles.”

“Então está jogando fora sua única chance de vitória por nada? Que coragem.”

“Este aqui agradece pelo teu louvor.”

Provocar não funcionou. Talvez essa fera mágica até possa falar, mas não é muito inteli-
gente.

Enquanto Erya ponderava isso, os bigodes da criatura vibraram quando se dirigia a ele:

“Dito isso, este aqui deve matar-te sem misericórdia, por isso este aqui deseja que ata-
que com toda a tua força. Afinal, como este aqui já disse antes, isso também é um teste
para este aqui.”

“Um teste? Para um mero cão de guarda?”

“Mm~ um teste para ver se a habilidade de guerreiro deste aqui melhorou. Enfim, va-
mos começar. Este aqui não atacará as Elfas atrás de ti, mas somente a tua pessoa.”

“Faça como quiser.”

“Este aqui é conhecido como Hamsuke! Lembre-se do nome daquele que reivindica a
tua vida na tua jornada para o próximo mundo! Diga seu nome também!”

“...Um mero animal falante não merece saber meu nome.”

“Então este aqui te apagará da memória deste aqui, como um tolo sem nome!”

O corpo massivo foi impulsionado para ele em um instante.

Não havia como ter imaginado um corpo tão grande se movendo tão rápido. Um guer-
reiro menos talentoso poderia ter sido abalado pela imensa pressão e teria sido incapaz
de evitar ser golpeado por aquele corpo enorme, recebendo assim feridas severas.

Eu não sou como aqueles caipiras.

Erya esperou até Hamsuke se aproximar e depois deslizou para o lado, sem mover as
pernas.

Este foi o efeito do 《Shukuchi Aprimorado》, uma versão melhorada da Arte Marcial
《Shukuchi》.

Capítulo 3 A Grande Tumba


192
O 《Shukuchi》 básico era uma Arte Marcial que só podia ser usada para encurtar a
distância do inimigo, mas o 《Shukuchi Aprimorado》 podia ser usado para se mover
livremente em todas as direções. Deslizar sem mover as pernas era assustador, mas
muito prático.

Grandes movimentos ao desviar faria o corpo ficar desestabilizado. Mas alguém poderia
evitar isso com 《Shukuchi Aprimorado》; em outras palavras, pode-se converter uma
defesa em um ataque, mantendo um centro de gravidade estável.

“Yargh!”

Ele moveu a espada—

“—Guuwaaargh!”

Mas o corpo de Hamsuke alcançou-o, quebrando o golpe de Erya e o arremessando


longe.

Que duro!

O que parecia um pêlo macio era tão duro quanto metal; para Erya, era como ser atin-
gido por uma bola de demolição. O impacto apagou sua mente por um momento.

Quando caiu fortemente no chão, ele subconscientemente confirmou que ainda podia
se mover.

Mesmo estando machucado e contundido, ele não tinha ossos quebrados nem nada do
tipo. Ele ainda poderia lutar.

No entanto, o fato de que estava rolando no chão e que tinha recebido um ataque do
inimigo, quase o fez ficar furioso. Porém, Erya, como um guerreiro, repreendeu a si
mesmo; agora não era a hora de perder o controle.

Enquanto se levantava, Erya já estava ciente da posição de Hamsuke. Dessa vez apontou
a espada para frente, apoiando-a para receber a investida de sua oponente.

Um fluido escorreu de seu nariz. Ele limpou com uma mão e, como esperado, era sangue.

“Seu merda...”

Hamsuke olhava calmamente Erya se levantar. Mas a palavra “estudava” descreveria


melhor a expressão em seu rosto.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


193
Aqueles não eram os olhos de uma fera selvagem que diziam: “Posso comer isso? Posso
vencer isso?”, mas os olhos de um guerreiro, tentando determinar as melhores táticas de
seu breve confronto de agora.

Estão me usando como boneco de treino para um animal falante que se acha guerreiro!?

Mesmo que o irritasse, a sequência de eventos agora o forçou a reconhecer que sua
oponente não era um animal burro. O ataque agora tinha sido uma reação instantânea
ao perceber que Erya havia circulado em torno de si mesmo, e com um pulo o atingiu em
cheio. Mesmo o ataque em si não sendo tão forte, o fato de poder responder imediata-
mente foi certamente devido ao treinamento.

“Entendo... então se este aqui continuar lutando em um ritmo lento como esse, este aqui
deve ser capaz de vencer... Ah, peço para não dar atenção. Este aqui nunca viu um ser
humano que pudesse superar este aqui.”

“Se quer tagarelar, que tal esperar até depois de ver isso, hein? Ao contrário de uma
mera fera, os guerreiros podem usar Artes Marciais!”

Ele achava que poderia ganhar facilmente, por isso não os usara. No entanto, ele não
tinha mais o luxo da arrogância.

“Artes Marciais! 《Impulso de Habilidade》! 《Aumentar Impulso de Habilidade》!”

Essas Artes Marciais eram seu orgulho e alegria. 《Aumentar Impulso de Habilidade》,
em particular, pois era uma Arte Marcial que alguém do nível de Erya nunca deveria ter
aprendido.

Mas eu aprendi, por isso eu sou um gênio! Eu realmente sou muito forte!

Ele rodeou a espada na mão. A lâmina era leve e seus movimentos suaves. A espada
moveu com um reles pensamento.

Erya sorriu timidamente. Agora seria sua vez de brilhar.

“Umu~ este aqui lembra que se deve manter uma distância quando não se pode medir
a força de um oponente, é isso? Mas este aqui também deve enfrentar a batalha como
um guerreiro... Infelizmente este aqui não pode fazer nada quanto a isso.”

Hamsuke usou suas patas traseiras para andar, passo a passo, até os olhos de Erya.

“Este aqui quer lutar de perto; queres aceder ao pedido deste aqui?”

“Não me despreze, besta.”

Capítulo 3 A Grande Tumba


194
No momento em que entrou em seu raio de ataque, Erya moveu a espada para seu ini-
migo.

Hamsuke usou suas garras afiadas para defletir os ataques que haviam sido feitos com
a ajuda dos aprimoramentos físicos. Ou melhor, tentou se defender, mas não conseguiu.
A lâmina havia passado por cima do braço. No entanto, a força do golpe foi dissipada, e
não pôde romper a pele dura e cortar os músculos por baixo.

Erya não puxou a espada de volta, mas a empurrou para os olhos de Hamsuke. Algumas
feras mágicas tinham uma película protetora em seus olhos que poderia repelir lâminas
não muito bem afiadas, alguns guerreiros poderiam usar ki ou uma aura para desviar os
ataques de um amador. No entanto, Hamsuke não parece ter tais técnicas defensivas.

Portanto, Hamsuke não deixaria o ataque de Erya atingi-la.

O corpo de Hamsuke girou e, à medida que escapava da lâmina, a cauda rasgou o ar e


atingiu Erya.

Erya bloqueou o golpe com sua espada. Um impacto inacreditável entorpeceu seu braço.

“Gwaargh!”

O corpo de Hamsuke mais uma vez se tornou um borrão giratório em seu campo de
visão. Isso significava que o mesmo ataque viria novamente.

Erya deu um pulo para trás. Ele havia medido bruscamente o comprimento da cauda;
depois que a cauda passasse, ele usaria 《Shukuchi Aprimorado》 para atacar de volta
o inimigo.

Assim que estava prestes a passar por seus olhos, a cauda parou de repente.

“Hnggg!”

Foi para distraí-lo. Hamsuke usou essa abertura para recuperar o equilíbrio e puxou a
cauda ao mesmo tempo. Erya franziu a testa, tendo perdido a chance de encurtar a dis-
tância com Hamsuke.

Os movimentos da cauda eram completamente diferentes dos do corpo. Não era a cauda
de um rato, mas uma cauda serpente como a de uma Chimera; poderia se mover de forma
independente.

“Então a cauda pode se mover livremente?”

Erya alterou as informações sobre Hamsuke em sua cabeça enquanto corria para o seu
abraço. Hamsuke estava esperando por isso e respondeu ao ataque.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


195
Lâmina e garra cruzaram, e o sangue fresco voando pelo ar veio de Erya.

Hamsuke poderia atacar com as duas garras e, assim, ele poderia atacar com mais fre-
quência do que Erya, que tinha apenas uma espada.

O combate próximo não era favorável a ele.

Seus atributos corporais poderiam ter sido melhorados, mas Hamsuke ainda era supe-
rior. Nesse caso—

Ele usou 《Shukuchi Aprimorado》 para se retirar.

“Umu...”

Já que Hamsuke não seguiu. Erya ergueu a espada e depois desceu com força.

“《Corte de Ar》!”

Seu golpe rasgou o ar em direção a Hamsuke.

Hamsuke cobriu o rosto e se preparou, e sua pele desviou o golpe cortante.

Como havia percorrido uma longa distância, seu potencial de dano também diminuíra,
e seria muito difícil causar um golpe mortal. No entanto—

“Então não pode bloquear tudo? Bom saber! Essa é a diferença entre um homem e uma
mera fera.”

“Hng... Isso dói... Que dor...”

Ele continuou usando 《Corte de Ar》, mas a pele de Hamsuke era muito dura, então
romper sua proteção certamente seria muito difícil. Foi por isso que teve que continuar
usando as Artes Marciais em seu rosto, que deveria ser o menos protegido.

Hamsuke permaneceu no lugar, cobrindo o rosto com as patas dianteiras. Ele falou atra-
vés dos pequenos espaços entre os dedos.

“Espere!”

“Implorando por misericórdia? Realmente não passa de um animal, afinal de contas.”

“Este aqui não fala com você. Este aqui fala com o que está dentro da boca desde aqui...
ahhh, que dor!”

Ele não entendeu nada.

Capítulo 3 A Grande Tumba


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Bem, não é surpresa humanos não serem capazes de entender o que as feras confusas di-
zem... Melhor fazer minha investida agora!

“Ahhhh, você é muito chato! Este aqui irá a ti agora!”

“Venha!”

Hamsuke não tinha ataques à distância, então suas opções eram limitadas. Provavel-
mente tentaria se apressar, mas isso serviria bem aos propósitos de Erya.

Era difícil dar um golpe mortal usando 《Corte de Ar》, então ele teria que derrotá-la
com um ataque direto. Quando Hamsuke correu, fez isso como uma fera, mostrando seu
rosto, e durante esse tempo, Erya podia usar uma Arte Marcial que era mais potente que
o 《Corte de Ar》 para parar seus movimentos. Depois disso, tudo o que ele precisaria
fazer era continuar atacando sua face e a vitória estava garantida.

Assim como Erya sorria com crueldade, certo de sua vitória, a cauda de Hamsuke de
repente se contraiu. Então—

“Abbbahhhhh!”

A cauda se moveu como um chicote, atingindo o ombro de Erya com uma velocidade
sobrenatural.

Sua ombreira amassou para dentro com um guinchar de metal se entortando junta-
mente com carne sendo espremida. O som de ossos quebrando crepitava em seu corpo
e a agonia inundou seu cérebro como um choque elétrico.

Erya cambaleou para trás, tamanha a dor que ele estava babando.

A cauda maciça e serpentina se contorceu atrás de Hamsuke. Estava estranhamente


longa.

“Este aqui estava dizendo que a cauda deste era muito forte. Foi por isso que este aqui
queria acabar com isso em combates corpo a corpo.”

Que merda.

Erya engoliu um grito.

Se seu inimigo o atacasse nessas condições, sua derrota era certa.

“Vocês aí! Suas lerdas do caralho! Usem magia de cura! Anda, porra, me cure! Rápido
suas escravas desgraçadas!”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


197
Depois de ouvir a ordem de seu mestre, uma das Elfas lançou apressadamente uma ma-
gia sobre ele.

A dor no ombro desapareceu instantaneamente.

“Isto não é suficiente! Conjurem magias de fortalecimento também!”

Magias para melhorar as habilidades físicas, magias para afiar brevemente a lâmina,
magias para endurecer a pele, magias para melhorar os sentidos... Hamsuke simples-
mente observou em silêncio enquanto incontáveis magias de aprimoramento voavam
pelo ar.

Depois de ser aprimorado por diversas magias, o sorriso arrogante voltou ao rosto de
Erya.

Uma imensa força percorria o corpo de Erya.

Ele nunca perdeu depois de ser fortalecido por tantas magias. Sempre foi assim, inde-
pendentemente da força de seus inimigos.

Ele moveu sua lâmina, o ar sibilou. A lâmina se moveu mais rápido que o normal. Desta
vez, ele estava certo de que ele estava em pé de igualdade com a fera; talvez até mais
veloz que ela.

“Humanos e feras sempre foram separados pela diferença de atributos físicos! Mas
agora isso não importa mais!”

“Este aqui originalmente pretendia ir com tudo, então isso era de se esperar, não? Em
vez disso, se tu podes lutar em termos iguais agora, isso agradaria a este aqui.”

“Besteira!”

Erya avançou. Ele planejou usar o poder extra em seu corpo para abater sua oponente
em um único golpe e impedir a criatura de falar mais baboseiras. Usaria o 《Shukuchi
Aprimorado》 para se aproximar e o 《Corte de Ar》 para suprimir.

“Toma essa!”

Com um grito poderoso, ele moveu a espada com toda a força que tinha. Se a pele da
criatura fosse grossa, então ele simplesmente teria que balançar mais forte para cortá-
la.

Sua lâmina acelerou a toda velocidade e—

“《Golpe Cortante》!”

Capítulo 3 A Grande Tumba


198
Um ataque cortante de cima dele conectou com seus braços.

Algo girou no ar, depois caiu pesadamente no chão. Ele ouviu o som estridente de metal
e um som como um saco molhado caindo no chão.

Erya não conseguia entender.

Seus braços, que ainda estavam segurando sua espada, haviam desaparecido. Mesmo
quando o sangue jorrou dos tocos cortados no rimbombar do batimento cardíaco, ele
não pôde aceitar a realidade.

Agonia veio dos braços. A certa distância, seus braços caíram no chão, ainda segurando
a espada.

Só depois de ver esse fato, Erya finalmente percebeu o que acabara de acontecer.

Ele tropeçou para trás de Hamsuke e gritou:

“MEUS BRAÇOS, MEUS BRAAAAÇOS! CU-CURE ISSO, RÁPIDO! ME CURE!”

As Elfas não se mexeram.

A alegria silenciosa do sofrimento alheio iluminava seus olhos tristes.

“Este aqui conseguiu! Um sucesso retumbante! Este aqui pode usar Artes Marciais!
Agora Milorde certamente fará um elogio a este aqui!”

“HIIIIIIEEEEE!”

Gritava Erya com uma voz rouca.

Neste mundo, onde criaturas mais fortes que a humanidade vagavam nas sombras,
aventuras significavam que a dor era uma companhia constante.

Erya experimentou muitos tipos de dor. Ele havia sido atingido por raios, queimado
com fogo, congelado pelo frio, seus ossos haviam sido quebrados, ele havia sido espan-
cado, golpeado e cortado, mas apesar de tudo, ele nunca havia soltado sua espada. Isso
foi apenas senso comum; neste mundo, soltar uma arma indiretamente equivalia à
morte. Melhor ainda, ele estava confiante de que, enquanto brandisse sua espada, pode-
ria superar qualquer dificuldade.

No momento que se deu conta de onde sua espada estava, sua autoconfiança foi destru-
ída.

Esta foi a primeira vez em sua vida que Erya ficara tão abalado.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


199
“MEUS BRAÇOS! RÁPIDO!”

Sangue fresco continuava a jorrar, seu corpo começou a ficar frio a partir feridas, e sen-
tiu-se ficando cada vez mais pesado.

Quando ouviram os gritos de Erya, as Elfas ficaram com sorrisos de orelha a orelha.

Enquanto Erya estava perplexo ao descrever as sensações lancinantes que inundavam


sua mente, uma voz com uma pitada de gentileza alcançou seus ouvidos.

“Meus agradecimentos a ti! Este aqui não se deleita em atormentar os outros, assim
acabarei com isso imediatamente.”

Houve um *whoosh*.

Um momento depois, algo atingiu o rosto de Erya. A dor era tal que ele até esqueceu
seus braços, como se toda a sua individualidade tivesse sido destruída.

Essa foi a última explosão de agonia que Erya experimentou em sua vida.

♦♦♦

O cadáver com metade do rosto amassado caiu no chão com um baque oco.

Hamsuke assentiu e recuou. Se estivesse ao lado do cadáver, provavelmente não ousa-


riam aproximar-se do corpo do homem. Mesmo que as Elfas parecessem magic casters,
elas ainda poderiam atacar Hamsuke com espadas. Hamsuke não queria impedi-las de
fazer isso.

“Tudo bem, vocês não vêm para este aqui...?”

Depois de deixar o cadáver, Hamsuke começou a falar, mas suas palavras ficaram sem
resposta. Isso porque as Elfas estavam rindo enquanto chutavam o corpo do guerreiro
que deveria ter sido seu aliado.

“Que estranho, este aqui não entende... É assim que Elfos se despedem dos mortos?”

Hamsuke tentou achar algum sentido, mas ela não compreendeu o sentimento delas.
Isso porque havia uma expressão de deleite nos olhos enevoados e tristes. Não impor-
tava como as olhasse, não poderia ser outra coisa senão malícia.

“...Oh, este aqui não entendeu foi nada.”

A fim de mostrar os frutos de seu treinamento, Hamsuke usara as técnicas que estava
aperfeiçoando no intruso. Ela só tinha lutado por esse motivo, mas atacar adversárias

Capítulo 3 A Grande Tumba


200
não hostis extrairia algum resultado de seu treinamento? Hamsuke achava que não. Por
isso esperava que, no mínimo, elas desafiassem-na.

“Aparentemente, às vezes é preciso proferir uma provocação verbal... mas que tipo de
provocação este aqui deve usar? Este aqui não sabe... que pena; melhor esperar Milorde
entrar em contato com este aqui. Oh, sim...”

Ele se virou para os Lizardmen que estavam avaliando seu desempenho.

“Zaryusu-dono, o que achou? Este aqui passou no rito de passagem?”

“Claro, fez tudo certo. Isso que usou agora a pouco era uma Arte Marcial.”

O Lizardman que o orientara em técnicas de guerreiro assentiu e Hamsuke sorriu am-


plamente.

“Que maravilha! Serão aulas de armadura depois?”

“Isso mesmo. Vamos começar com armaduras leves e depois lentamente vamos aumen-
tando a carga.”

Hamsuke não tinha conseguido usar armadura até agora, porque usar armadura dei-
xava-a completamente desconfortável e não podia se mover livremente. O movimento
normal e a corrida eram bons, mas uma vez que entrasse em batalha, perdia o equilíbrio
quando balançava a cauda, também não conseguia atingir com precisão o alvo com a
cauda. Portanto, eles haviam ordenado os Lizardmen como tutores e treinadores.

“Este Hamsuke aqui se tornará mais forte por causa de Milorde, por isso Milorde irá
olhar para este aqui com olhos diferentes! Mas por quanto tempo este aqui terá que trei-
nar para virar um guerreiro de verdade? Hamsuke será um guerreiro!”

“Bem... eu diria que poderia ser uma guerreira em um, talvez mais dois meses, Ham-
suke-san.”

“...Ainda falta tanto!?”

“Pra mim tá evoluindo bem rápido, Hamsuke. A maioria leva um ano antes de aprender
Artes Marciais. Se ver as coisas por esse lado, vai ver que tá evoluindo muito rápido
mesmo.”

Acrescentou Zenberu, o Lizardman ao lado de Zaryusu.

“Sério mesmo!?”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


201
“Sim. Você lutou batalhas verdadeiras e foi curada por suas feridas, e ainda aprimorada
com magia de suporte em batalhas mortais contra inimigos mais fortes. Fez muito pro-
gresso depois desse regime infernal.”

O corpo de Hamsuke tremeu. Os dois Lizardmen também tremeram. Todos recordaram


o treinamento que receberam.

“...Pelo bem da sanidade deste aqui, este aqui ora para que nossa próxima sessão de
treinamento não tenha a palavra morte.”

“A meu ver, é mais fácil evoluir quando luta à beira da morte... mas é o que eu acho. O
problema é que seria uma pena se o maridão recém-casado aqui morresse num treina-
mento.”

“Ohhh! É verdade que tu és casado?”

“Sim. Acho que minha esposa está grávida.”

“Esse é meu garoto! Um guerreiro de verdade sempre acerta no alvo. Quantas catraca-
das até acertar? Duas, três?”

Zaryusu deu um soco no ombro de Zenberu.

“Chega de conversa fiada, vamos começar a treinar. O que devemos fazer com as Elfas?”

“Ah, este aqui prefere deixar elas em paz por enquanto.”

As Elfas, que estavam chutando e batendo no cadáver, caíram em uma posição sentada
no chão, como marionetes cujos cordéis haviam sido cortados. Hamsuke não podia sen-
tir vontade de lutar emanando delas. Portanto, decidiu que, a menos que seu mestre
desse a ordem, ou que elas tentassem fugir, até a segunda ordem seriam deixadas em
paz.

Capítulo 3 A Grande Tumba


202
Interlúdio

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


203
ouve um ligeiro deslocamento de ar diante de seu nariz, isso acordou um

H
[Soberano Dragão d e P l a t i n a ]
Dragão cujo pseudônimo era Platinum Dragonlord — Tsaindorcus=Vai-
sion — de seu sono leve.

O que encheu sua consciência desperta foi a emoção de surpresa. Não teria
sido um exagero chamar de choque.

As habilidades sensoriais afiadas dos Dragões excediam em muito as da humanidade.


Mesmo que seus inimigos se escondessem ou tentassem enganá-los com ilusões, os Dra-
gões poderiam imediatamente sentir seus oponentes de longe, mesmo se estivessem
dormindo.

Como um Dragonlord, seus sentidos eram mais aguçados do que os Dragões comuns.
Sendo esse o caso, qualquer um que pudesse chegar tão perto dele deve possuir habili-
dades incríveis.

Mesmo um ser longevo como ele só encontrara alguns seres com tais habilidades ao
longo de sua vida. Primeiro foram seus companheiros Dragonlords. Então, um dos Treze
Heróis que não estava mais neste mundo, o assassino Ijaniya. E então, havia—

Ao sentir a pessoa que sua mente estava esboçando, Tsaindorcus=Vaision — Tsa, abre-
viado — levantou o canto da boca e abriu os olhos devagar.

Aos olhos de um Dragão, a noite mais escura seria o dia mais brilhante.

No lugar onde supôs haver uma presença, havia uma velha mulher humana orgulhosa-
mente de pé, com a mão na cintura. Ela evitou seus sentidos aguçados e chegou até aqui
— o sorriso brincalhão se espalhou por seu rosto enrugado pela idade.

“Há quanto tempo.”

Tsa não respondeu, simplesmente analisou a velha senhora.

Seus cabelos brancos mostraram quanto tempo ela viveu. No entanto, seu rosto trans-
bordava com uma vivacidade jovial que não correspondia à sua idade.

A idade poderia tê-la deixado magra e fraca, mas não mudara seu coração.

Tsa comparou a mulher de suas memórias com a presente diante de si. As sobrancelhas
da velha senhora se levantaram, em um ângulo inclinado.

“O que é? Não pode nem cumprimentar uma velha amiga? Minha nossa, quem diria que
até os Dragões ficam senis.”

Tsa mostrou suas presas e riu amavelmente.

Interlúdio
204
“Me perdoe. Vendo uma velha amiga me emocionou tanto que até estremeci, fiquei atô-
nito por um momento.”

Era difícil acreditar que uma voz tão gentil pudesse vir de um ser tão massivo. Em con-
traste, a resposta da velha senhora era exatamente como Tsa esperava, cheia de sar-
casmo.

“Velha amiga, né? Eu fui velha amiga daquela armadura vazia ali ó... toda surrada, como
deve ser.”

No passado, Tsa tinha viajado com a velha senhora e seu grupo controlando uma arma-
dura vazia como um substituto para si mesmo. Portanto, quando sua verdadeira identi-
dade surgiu, seus companheiros ficaram furiosos por serem enganados. O ressentimento
do passado ainda não tinha morrido, e ela ainda estava fazendo chacota disso até hoje.

Por um lado, ele esperava que ela esquecesse isso nem que fosse por um tempo. Por
outro lado, sentia que ser capaz de brincar com uma velha amiga como nos velhos tem-
pos era uma dádiva.

Sua conversa habitual trouxe um sorriso ao rosto de Tsa, que notou algo faltando no
dedo da velha senhora.

“Hm? O anel parece ter desaparecido. Onde que o puseste? Lembro-me de que ninguém
deveria poder tirar nada de você... é um poderoso item mágico além do domínio da hu-
manidade. Espero que não tenha chegado às mãos de elementos perigosos; particular-
mente, a Escritura Preta da Teocracia Slane.”

“Tentando mudar o tópico, né? Ainda assim, seus olhos estão afiados; são seus sentidos
de avareza dracônica entrando em vigor... oh, bem, não se preocupe. Eu o dei para um
jovem. É um bom homem.”

Esse item não era algo que pudesse ser simplesmente doado.

Era um item mágico feito através do uso de Magia Selvagem. Nos dias atuais, a magia
antiga estava poluída e distorcida, portanto, fazer outro item desse tipo era muito difícil.
Como um dos poucos raros praticantes de Magia Selvagem, ele queria muito perguntar
nas mãos de quem o anel estava.

No entanto, ele ainda confiava em sua velha amiga.

“Entendo. Bem, como é algo vindo de você, eu duvido que tenha errado... Ouvi dizer que
você foi uma aventureira uma vez, então está aqui a negócios?”

“Claro que não! Só vim visitar um amigo. E eu já me aposentei, não sou mais aventureira.
Não peça a uma velhinha como eu que trabalhe tanto; passei a vez para a Bebê Chorona.”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


205
“Bebê Chorona?”

Tsa pensou por um tempo e depois um lampejo de inspiração apareceu:

“...Se refere a... ela?”

“Sim, a jovem Invern.”

“Ohhh.” Tsa parecia perplexo.

“Você é provavelmente a única que pode chamá-la de jovem.”

“É sério? Tenho certeza que combinaria mais com você falar isso. Eu e ela temos a
mesma idade, mas você é muito mais velho do que isso, né?”

“Isso é verdade... ainda assim, não posso acreditar que a convenceu a ser aventureira. O
que usou para convencê-la?”

“Hmph. Aquela chorona era teimosa demais, então eu disse: Se eu puder te vencer, então
vai ter que me ouvir, então eu dei uma surra bem dada nela!”

A velha senhora riu “kakaka!”. Sua risada parecia vir do fundo do seu coração.

“...Eu acho que você é a única humana que pode vencer aquela garota.”

Se fosse humano, Tsa pareceria alguém suando frio e sacudiu a cabeça. Ao mesmo
tempo, lembrou outro de seus velhos amigos — um que lutou com os Deuses Demônios
ao seu lado, que haviam realizado grandes feitos na batalha contra o Deus Demônio Ver-
min.

“Bem, eu tive amigas me ajudando. Além disso, é fácil saber como vencer se conhecer
bem os tipos de undeads. Mesmo se ela não conseguir vencer com magia, ela tem meios
de virar à maré a seu favor. A Bebê Chorona é muito forte, mas há outros mais fortes que
ela. Por exemplo, você a venceria com as patas nas costas. Se não se limitasse, seria o ser
mais poderoso deste mundo.”

O olhar da velha senhora mudou para o traje de armadura de platina. A velha senhora
imaginou que teria recebido uma resposta casual, mas a voz de Tsa foi grave:

“Não sei do que fala. Mas o poder que polui o mundo pode ter começado a se mover
mais uma vez.”

Havia um buraco no ombro direito da armadura, como se tivesse sido perfurada por
uma lança.

Interlúdio
206
“...Os tremores de cem anos atrás estão chegando? Não é alguém a favor do mundo,
como o Líder?”

“...Poderia ser apenas um encontro infeliz, mas eu sinto que a Vampira que encontrei
era de natureza maligna. Mesmo assim, ainda não consigo decidir se foi sorte ou azar
que me levou a encontrar aquele ser.”

“Dois lados da mesma moeda, então? Eu já mencionei isso antes, mas por que não pedir
ajuda aos outros Dragonlords?”

“A resposta ainda é a mesma; é muito difícil. Afinal, são os que não lutaram na guerra
[Soberano Dragão C e l e s t i a l ]
contra os Oito Reis da Ganância. Por exemplo, eu sinto o Heavenly Dragonlord — que só
[Soberano D r a g ã o d a Escuridão Profunda]
sabe voar no céu — ou o Deep Darkness Dragonlord — que se esconde naquela caverna
subterrânea fazendo quem sabe o que — possivelmente não vão nos ajudar.”
[S ob er ano Dr agão B r i l h a n t e ]
“Pois é. Não há outros como o Brightness Dragonlord? Dragonlords que tiveram filhos
com humanas? Tente conversar com eles; quem sabe, as coisas podem dar certo, não?”

“...Possivelmente. Mas, pessoalmente, sinto que seria melhor acordar aquela que dorme
nos níveis mais baixos da cidade que flutua no mar; pedir por ajuda. Você teria melhores
chances de sucesso.”

“Ela aguarda na terra dos sonhos, não é? Se tivéssemos preservado todo o conhecimento
do Líder, as coisas não seriam tão problemáticas. Ele morreu tão jovem.”

“Agora é tarde demais. Ele... matou um companheiro — Um Jogador — com quem pas-
sou sua jornada, no fim, as coisas ficaram assim. Eu posso entender o porquê ele recusou
a ressurreição. Rigrit, você também ficou chocada, não foi?”

A velha senhora olhou para o longe e assentiu lentamente com uma expressão de dor
no rosto.

“Sim, sim... é verdade ... você tem razão.”

“Rigrit, peço desculpas por perguntar-lhe isso, mesmo que não seja mais uma aventu-
reira, mas posso pedir-lhe um favor?”

“O que seria? Já imagino por alto o que seja, mas eu quero ouvir de você.”

Os olhos de Tsa foram para uma espada. A espada não parecia adequada para cortar,
mas o fio era afiado além do comparável. Era de um padrão que a magia moderna não
poderia fazer.

A espada — uma das oito grandes armas que os Oito Reis da Ganância deixaram para
trás — foi a razão pela qual Tsa não pôde deixar este lugar.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


207
“Só eu tenho feito isso até agora, mas espero que possa me ajudar. Eu gostaria que você
coletasse informações sobre itens mágicos que podem rivalizar com aquela espada ali...
que possa rivalizar com Armas de Guilda. Ou talvez, itens especiais de YGGDRASIL como
a armadura reforçada que a Gota Vermelha — aqueles aventureiros adamantite do Reino
— possuem.”

Interlúdio
208
Capítulo 04: Punhados de Esperança

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


209
Parte 1

al era a ferocidade do ataque que se assemelhava a uma inundação de uma

T
represa quebrada.

O inimigo era apenas uma massa de undeads fracos. Eles não eram nada
para a Foresight ter medo. No entanto, o que só poderia ser descrito como
um ataque em ondas não mostrava sinais de parar tão cedo.

Hekkeran limpou o suor do rosto depois de vencer o décimo grupo de adversários


[Lívidos]
desde o início da batalha, um par de Ghasts.

Embora ele quisesse descansar, não havia tempo para isso. Ele engoliu um pouco de
água de um cantil na cintura e sinalizou uma retirada enquanto acalmava a respiração.
No entanto, ou melhor, como esperado, o inimigo não tinha intenção de dar-lhes tempo
para descansar.

Um grupo composto de três Guerreiros Skeletons, cada um segurando escudos redon-


dos e um par de Skeletons Magos com báculos na mão, saltaram de uma passagem lateral.

“Conserve a mana!”

“Entendido.”

“—Entendido alto e claro.”

Em uma situação como essa, em que poderiam ser surpreendidos a qualquer momento,
a magia — que poderia facilmente lidar com qualquer situação — era um trunfo que não
podiam usar casualmente. Por causa disso, eles haviam conservado o máximo de mana
possível.

Dito isso, várias de suas habilidades com usos limitados por dia já haviam sido esgota-
das. Este foi o resultado de ser inundado pela grande quantidade de armadilhas e unde-
ads.

Havia Arqueiros Skeletons alinhados atrás de janelas gradeadas e fora do alcance das
espadas. Era difícil derrubá-los, já que os Skeletons eram resistentes a ataques perfuran-
tes, mas Roberdyck era capaz de expurgar undeads.

Ele também era capaz de erradicar os undeads que jogavam ampolas de gás venenoso.
[Imitador d e C h ã o ]
Quando os monstros conhecidos como Floor Imitator grudavam suas vítimas ao chão,
undeads voadores atacavam. Roberdyck os destruía um após o outro com sua habilidade
de expurgar undeads.

Capítulo 4 Punhados de Esperança


210
Ele também exorcizou um gripo misto de vários undeads que poderiam causar efeitos
negativos como veneno, doença e maldição.

Como resultado, Roberdyck só tinha alguns usos de suas habilidades. Por outro lado,
eles conseguiram conservar outras habilidades, bem como mana. A única batalha difícil
tinha sido algo parecido com um Golem de Carne que tinha sido misturado com um ba-
talhão de Zombies.

“Atenção! Vários passos vindo de trás!”

“Reação undead detectada! Há seis deles!”

Quando Imina gritou sua advertência — seguida imediatamente por Roberdyck — as


tensões aumentaram. A razão pela qual os cinco Skeletons à sua frente ainda não tinham
lançado um ataque era provavelmente porque estavam esperando por uma chance de
executar um ataque de pinça.

Hekkeran considerou seu próximo passo.

Várias opções apareceram em uma lista mental. Primeiro, eles poderiam fazer um ata-
que preventivo contra os inimigos à frente e derrotá-los. Poderiam lançar um ataque
supremo contra os inimigos na frente deles, depois virar para atacar seus perseguidores.
Esse plano exigiria boas habilidades de observação para determinar a força das tropas
na frente e atrás, para só então se encarregar do grupo mais fraco primeiro. Eles também
podem usar a magia para impedir um lado e aproveitar a oportunidade para romper o
outro.

Eram todos métodos eficazes, mas nenhum poderia reverter a situação. Em um mo-
mento de inspiração, Hekkeran decidiu confiar em seus instintos.

“E agora, Hekkeran!?”

“Retornem! Tem um caminho na lateral! Recuem pra lá!”

No instante em que sua voz soou, Imina, que era a retaguarda, começou a correr. Arche
e Roberdyck a seguiram. Hekkeran estava um passo atrás deles.

O fato de Imina estar correndo significava que não era uma distância impossível. Seus
outros companheiros de equipe estavam correndo com todas as forças, Hekkeran tam-
bém correu o mais rápido que pôde. É claro, o inimigo não os deixaria escapar facil-
mente; eles ouviram os passos de vários undeads perseguindo-os implacavelmente.

“Comam isso!”

Hekkeran pegou um saco de cola alquímica e jogou-o para trás.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


211
O fluido alquímico estourou e espalhou-se pelo chão.

Os resultados foram imediatos; o som de passos parou instantaneamente.

Undeads inteligentes poderiam ter feito um desvio, mas tal pensamento era impossível
para undeads mais simples. Além disso, os Skeletons não tinham força muscular e, assim,
seria muito difícil se libertar uma vez que estivessem presos.

“Mais reações undeads! Quatro na direita!”

“É uma parede!”

“Não, é uma ilusão!”


[Carniçais]
Quatro Ghouls fizeram uma investida através da parede. Embora fossem undeads ma-
gricelas que eram pouco mais que pele e ossos, eles ainda eram uma visão assustadora
ao atacar com suas garras longas e amareladas. Dito isso, não havia ninguém nessa
equipe que se assustasse com tal ataque.

“Tá achando que sou o quê!?”

Aparentemente não afetada pela emboscada, Imina imediatamente desembainhou sua


espada curta e a moveu no pescoço de um Ghoul. Um líquido de aparência suja escorria
no lugar de sangue e a criatura caiu. Ao lado dela, Roberdyck moveu seu mangual com
toda a força e esmagou o crânio de outro Ghoul.

Julgando que era seguro deixar os dois sozinhos, Hekkeran voltou sua atenção para a
retaguarda. Eles ainda estavam sendo perseguidos. Ele deveria jogar outro saco de cola
só para garantir?

Assim que Hekkeran estava prestes a lançar um, a forma de um undead aterrorizante
apareceu à vista.

“Elder Lich!”

Ao mesmo tempo, ele notou um raio crepitando no dedo do Elder Lich. Hekkeran estava
familiarizado com a magia em questão.

「Lightning」 produzia uma linha reta de eletricidade penetrante e só havia uma ma-
neira de evitá-la.

“—Empurre os Ghouls!”

Nem Imina nem Roberdyck entendiam o porquê Hekkeran dava esse comando, mas
obedeciam sem hesitação.

Capítulo 4 Punhados de Esperança


212
Um raio branco relampejou pelo corredor assim que os quatro empurraram os Ghouls
pela parede ilusória.

O ar crepitava e Hekkeran sentiu um círculo mágico se ativar sob seus pés. No momento
seguinte, eles foram envolvidos em uma pálida luz azul, a paisagem diante deles mudou.

“Tenham cuidado! Fiquem alerta!...?”

Embora os Ghouls tivessem desaparecido e os arredores fossem diferentes, eles ainda


estavam no limite da batalha. Mesmo assim, depois de uma ocorrência tão inesperada,
não foi surpresa que eles ficaram estupefatos por alguns instantes.

Hekkeran balançou a cabeça, recuperando o foco. A coisa mais básica que ele tinha que
fazer — embora aprender sobre sua situação atual também fosse importante — era ga-
rantir a segurança de seus companheiros.

Imina, Arche e Roberdyck.

Todos os outros membros da Foresight mantiveram sua formação quando o círculo má-
gico foi ativado, ninguém ficou para trás.

Depois de confirmarem que todos estavam sãos e salvos, os quatro continuaram obser-
vando os arredores.

Este lugar era um corredor largo, mal iluminado e com um teto alto. Até um gigante
podia andar sem problemas por aqui. As chamas bruxuleantes das tochas distantes pro-
porcionavam uma iluminação instável e, à sua luz, as longas sombras pareciam dançar.
Ao longo do túnel e à frente deles havia algum tipo de portão de treliça, como um rastri-
lho. Raios de luz branca e mágica brilhavam através das aberturas de sua superfície.
Atrás deles, o caminho se estendia na escuridão; ao longo do caminho, várias portas se
abrindo para o corredor podiam ser vistas, iluminadas por tochas.

Com todos permanecendo quietos, apenas o crepitar das tochas podia ser ouvido.

O mais importante, era que eles não pareciam estar em perigo imediato. Depois que
perceberam isso, a tensão diminuiu.

“Não faço a menor idéia da onde a gente tá, mas tem uma atmosfera completamente
diferente do que vimos até agora.”

O estilo deste lugar era completamente diferente da tumba que eles tinham acabado de
deixar. De fato, sinais de civilização podem ser vistos aqui. Os membros da Foresight
examinavam o ambiente ao redor e, enquanto tentavam entender onde ficava esse lugar,
só a atitude de Arche era diferente das demais.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


213
“—Este lugar...”

Percebendo o significado por trás das palavras, Hekkeran perguntou à Arche:

“Sabe de algo? Ou talvez tenha uma pista?”

“—Parece familiar. Me lembra a grande arena do Império.”

“Ah... realmente, tem razão.”

Roberdyck grunhiu de acordo. Embora Hekkeran e Imina não tenham dito nada, eles
também compartilhavam a opinião de Roberdyck.

Quando a Foresight fez sua estreia na arena, eles passaram por um lugar parecido com
este quando estavam indo da sala de espera para a arena.

“Então deve ter uma arena depois daquilo.”

Roberdyck apontou para o portão de treliça.

“Então... quer dizer que, já que transportaram a gente pra este lugar... isso significa o
que tô pensando ser?”

Eles deveriam lutar em uma arena. Embora não soubessem quem ou o que poderia es-
tar esperando por eles.

“—É perigoso. Teletransporte de longa distância é considerado magia do quinto nível.


Ser capaz de usar esse tipo de magia como uma armadilha era algo que só ouvi em lendas.
Este lugar deve ter sido construído por alguém com habilidade inimaginável em magia.
Não é sábio aceitar o convite do adversário. Sugiro que prossigamos na direção oposta.”

“Mas, se a gente aceitar o convite do adversário, não acha que pode haver um caminho
pra sobrevivência? Rejeitar levaria pro lado oposto, não?”

“Ambos os lados parecem perigosos. Rober, o que você acha?”

“Preciso mesmo argumentar contra vocês dois? Mas tenho algumas dúvidas sobre o que
a Arche-san disse. Será mesmo que isso é uma armadilha colocada por quem atualmente
mora aqui? Ou será que estão apenas usando algo criado por um terceiro desconhecido?”

Eles se entreolharam e expiraram em uníssono. Não havia sentido em ficar aqui e dis-
cutir o assunto mais adiante. Eles não tinham informações suficientes e suas opiniões
não combinavam, mas precisavam tomar uma decisão agora.

“—O que o Rober disse faz sentido. Quem sabe, talvez tenha sido feito há quinhentos
anos.”

Capítulo 4 Punhados de Esperança


214
“É. As técnicas mágicas eram mais avançadas no passado.”

“Está se referindo aos seres que dominaram o continente? Tudo deles ruiu, exceto por
uma capital que permanece até hoje, não?”

“—Os Oito Reis da Ganância. Eles são considerados aqueles que espalham a existência
da magia por este mundo. Se isso é uma relíquia daquela época, então talvez...”

“...Entendo. Então sou a favor de darmos o fora dessa arena. De qualquer forma, já que
fomos trazidos aqui por uma armadilha, eles não nos permitirão escapar.”

Em resposta à declaração de Roberdyck, todos concordaram, reuniram sua determina-


ção e começaram a se mover.

Quando se aproximaram do portão, ele subiu com velocidade impressionante, como se


estivesse esperando por eles todo esse tempo. A primeira coisa que viram quando en-
traram na arena foram filas e mais filas de assentos na plateia ao redor do anfiteatro.

A arena não era menos impressionante que a do Império. Na verdade, era ainda mais,
dado que estava coberta de lamparinas encantadas com 「Continual Light」, que ilumi-
nava tão intensamente o terreno como se fosse o dia.

Todos da Foresight ficaram surpresos, especialmente quando vislumbraram o público


acima deles.

Isso porque sentados ali havia inumeráveis figuras de barro, os bonecos conhecidos
como Golems.

Golems eram criaturas inorgânicas criadas através de meios mágicos, que cumpriam
obedientemente os comandos de seu mestre assim que os recebiam. Sem a necessidade
de comida ou sono, e imunes à fadiga e até à devastação do tempo, eles eram guardados
como guardiões e mão de obra. Além disso, como a produção exigia tempo, esforço e
custo consideráveis, até mesmo os mais fracos custavam um preço formidável.

Mesmo Hekkeran e os outros, que eram bem pagos, achariam difícil comprar um Golem.

Eles eram construtos valiosos, e essa arena parecia estar cheio até a borda com eles.

Para Hekkeran, isso mostrava quão rico era o dono dessa arena, mas também do quão
solitário se sentia.

Eles olharam brevemente para o rosto um do outro, como se já tivessem vindo aqui
muitas vezes antes, então caminharam silenciosamente em direção ao centro da arena.

“Saímos da tumba, é?”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


215
Em resposta à voz de Imina, eles ergueram os olhos e viram o céu noturno. A iluminação
ao redor era forte e eclipsava a luz das estrelas, mas, mesmo assim, não havia dúvida de
que era um arena a céu aberto.

“Fomos teletransportados pra fora?”

“—Então, poderíamos usar magia de voo para escapar—”

“Yahoo!”

Uma figura pulou da sacada da área VIP, no mesmo ritmo da voz que havia interrom-
pido as palavras de Arche.

A figura deu uma cambalhota no ar quando descia de uma altura que parecia mais ou
menos equivalente a um prédio de seis andares, fazendo pensarem que poderia ter asas
quando aterrissou graciosamente no chão. Não havia magia nessa manobra, apenas pura
capacidade física. Mesmo Imina, a ladina, teve sua respiração levada pela perfeição do
movimento.

A figura que havia absorvido o impacto com uma mera flexão dos joelhos sorriu bri-
lhantemente.

Diante deles estava um jovem Elfo Negro.

As longas orelhas que emergiam dentre os fios dourados e sedosos de seu cabelo se
contraíram levemente, e ele sorriu tão brilhantemente quanto o sol.

Ele estava completamente vestido com uma armadura leve de couro, feita de escamas
de Dragão de cores pretas e vermelho carmesins, sobre as quais ele usava um colete
branco bordado com fios dourados. Havia um emblema costurado no peito da jaqueta.

Vendo seus olhos heterocrômicos, Imina soltou um suspiro de surpresa.

“...Oh!”

“—Os desafiantes chegaram!”

O garoto falou com o objeto que segurava, parecia uma vareta, suas palavras amplifica-
das ressoaram por toda a arena.

A arena vibrou e estremeceu com a voz exclamada e alegre do menino.

Olhando em volta, parecia que os Golems que permaneceram imóveis até então esta-
vam pisando no chão para fazer barulho.

Capítulo 4 Punhados de Esperança


216
“Os desafiantes são quatro tolos imprudentes que invadiram à Grande Tumba de Naza-
rick! E, de frente pra eles, está o mestre da Grande Tumba de Nazarick, o Supremo Rei
da Morte, Ainz! Ooal! Gown-sama!”

O rastrilho do lado oposto da arena subiu ao mesmo tempo em que a voz do Elfo Negro
soou. Da passagem sombria, um ser entrou na luz. Em uma palavra, era algo esquelético.

A luminosidade carmesim cintilava dentro das cavidades oculares do crânio branco.

Estava equipado com uma vestimenta que parecia um roupão e, como não havia mús-
culos em que o roupão estivesse preso na cintura, parecia incrivelmente magro. A julgar
pelo fato de não portar armas, era provavelmente um tipo de magic caster.

“Ooh! E acompanhando-o, a Supervisora Guardiã, Albedo!”

Os membros da Foresight prenderam a respiração quando viram a mulher que seguia


atrás como uma criada.

Ela era de uma beleza inigualável que superava até mesmo a Bela Princesa Nabe, da
Escuridão. Sua beleza nunca poderia ser alcançada por seres humanos, dois chifres
saiam de cada lado da parietal e se curvavam suavemente de ambos os lados ao chegar
na testa. Na cintura havia um par de asas negras. Ditas asas pareciam tão realistas que
não poderiam ter sido criadas artificialmente.

A arena vibrou, como se quisesse saudar a estreia desses dois novos participantes, an-
tes de se transformar em aplausos estrondosos. Foi uma recepção condizente com a che-
gada de um Rei.

As duas pessoas se aproximaram da Foresight em meio aos aplausos estrondosos dos


Golems ao redor.

“—Sinto muito...”

Resmungou Arche:

“—Acabamos assim por minha causa.”

O que se seguiria provavelmente seria a batalha mais cansativa que a Foresight jamais
enfrentara. Com toda a probabilidade, um ou mais deles morreriam. Arche provavel-
mente achava que haviam mergulhado em uma situação tão terrível por causa de si
mesma. Sem sua dívida, talvez eles não tivessem aceitado essa tarefa para investigar
uma tumba que obviamente não conheciam o suficiente.

Contudo—

“Ei, deu pra falar besteiras agora, é?”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


217
“Preste atenção. Foi a decisão de todos de ir a este trabalho. Não teve nada a ver com
você. Não acha que teríamos feito isso mesmo se não tivesse dito nada?”

“É isso aí, então pare de falar bobagens, tá?”

Hekkeran e Roberdyck sorriram enquanto falavam, e Imina deu um afago na cabeça de


Arche.

“Bem, embora não haja nada planejado, acho melhor termos uma discussão rápida. Ar-
che, consegue identificar o que é a criatura undead?”

“—Parece ser inteligente, talvez seja um Skeleton de alto nível?”

O Skeleton em questão, Ainz, acenou com a mão diante deles. O movimento parecia
como se estivesse limpando alguma coisa.

Os sons desapareceram. Em um instante, os movimentos dos Golems pararam e o silên-


cio quase doloroso retornou. Hekkeran curvou-se educadamente para Ainz, que estava
se virando lentamente para encará-los.

“Primeiramente eu gostaria de me desculpar, Ainz Ooal... dono.”

“...É Ainz Ooal Gown.”

“Me desculpe. Ainz Ooal Gown-dono.”

Ainz parou e levantou o queixo, como se estivesse esperando por um inferior para con-
tinuar.

“Desejamos pedir desculpas por entrar na sua tumba sem permissão. Se puder achar
compaixão em seu coração pra perdoar a gente, teremos o prazer de pagar a compensa-
ção apropriada pra expiar nossas transgressões.”

O tempo passou em silêncio. Então Ainz suspirou. Claro, como um undead, Ainz não
tinha necessidade de respirar. No entanto, ele fez isso para transmitir sua mensagem.

“É assim que resolve as coisas de onde vem? Depois que alguém come em sua casa e
deixa resíduos atrás dos quais brotam vermes, você realmente lhe mostraria mais mise-
ricórdia do que uma morte rápida?”

“Humanos não são vermes!”

“Não vejo diferença. Pelo menos são para mim. Ou não, talvez os seres humanos sejam
ainda mais baixos que eles. Se uma larva nasce, a culpa é da mosca. Você, no entanto, é

Capítulo 4 Punhados de Esperança


218
diferente. Você não veio aqui contra sua vontade, nem tem qualquer razão particular-
mente convincente para tal. Você simplesmente invadiu minha tumba ciente de que po-
deria ter pessoas vivendo nela, com a intenção de saquear seus tesouros, puramente
para satisfazer sua ganância sem valor!”

Ainz riu:

“Ah, mas não tenha remorso. Eu não estou o culpando. É natural que o forte roube do
fraco. Já fiz isso sozinho e não me considero uma exceção à regra. Foi precisamente por-
que poderia haver alguém mais forte que eu estava em guarda... Enfim, o tempo para
conversar sem valor acabou. De acordo com o princípio do forte subjugar os fracos, eu
reivindicarei uma coisa sua.”

“Não, na verdade, há uma boa raza—”

“Silêncio!”

Ainz declarou em uma voz que não permitia nenhuma interrupção, e completou:

“Não me aborreça com suas mentiras! Pois você, ou melhor, todos vocês pagarão pelos
seus erros tolos com suas vidas.”

“E se tivermos permissão?”

Ainz parou instantaneamente. Aparentemente, isso havia ressoado nele.

Hekkeran ficou surpreso que uma única sentença pudesse ter tido um efeito tão grande,
mas é claro que ele não demonstrou isso em seu rosto. Quando tudo parecia perdido, um
raio de esperança brilhou na escuridão. Claramente, ele teve que aproveitá-lo.

“...Um absurdo.”

Era uma voz mansa e delicada, quase à beira de desaparecer.

“Totalmente absurdo, não é nada além de um blefe. O que você ganha me irritando?”

Seu desconforto estava se espalhando, e até o Elfo Negro ao lado dele estava começando
a parecer desconfortável. Quando olhou para a mulher, arrepios percorreram todo o
corpo de Hekkeran.

A beleza por trás deles ainda estava sorrindo. Mas ela irradiava uma intenção assassina
que fazia a testa de Hekkeran jorrar suor.

“E se for verdade?”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


219
“...Não... não... deve ser um blefe. Absolutamente impossível. Vocês não passam de ofe-
rendas dançando na palma da minha mão...”

Ainz balançou a cabeça e olhou fixamente para Hekkeran com um olhar que parecia
perfurá-lo.

“Mas... no entanto... eu... sim, isso mesmo, apenas para tirar qualquer peso de consciên-
cia, eu vou ouvir... quem lhe deu essa permissão?”

“Não conhece ele?”

“Quem...?”

“Ele não disse como se chamava, mas era uma criatura muito grande.”

Hekkeran pensou desesperadamente onde isso tudo chegaria, onde ele poderia escapar
do perigo.

Era uma pergunta que apenas uma pessoa paralisada pela indecisão faria, pois apenas
se perguntasse saberia se era verdadeiro ou falso.

Essa coisa até parece humana.

Pensou Hekkeran. Não parecia o modus operandi de um monstro, mas de um covarde.


Esta foi uma boa chance.

“Diga-me como ele era.”

“...Ele era brilhante, muito brilhante...”

“Brilhante...?”

Quando Ainz engoliu em outra rodada de enrolação, Hekkeran refletiu que haviam evi-
tado o perigo mais uma vez, e respiraram aliviados. Ele gesticulou para seus colegas com
pequenos movimentos de seus dedos, dizendo-lhes para encontrar uma rota de fuga.
Ainz não agia sem confirmar a verdade ou falsidade das palavras de Hekkeran. Isso foi
todo o tempo que eles tiveram que pensar em como sair daqui.

“O que ele lhe falou?”

A gente precisa ficar atento a charme ou magias de controle mental...

“Antes disso, espero que possa garantir a segurança de todos.”

“Como? ...Bem, se de fato obteve a permissão de um de meus amigos, então sua segu-
rança está garantida. Não tenha medo.”

Capítulo 4 Punhados de Esperança


220
Uma nova palavra— amigo.

Hekkeran analisou as informações que acabara de obter. Dos acontecimentos da nego-


ciação, ele havia aprendido que Ainz Ooal Gown tinha amigos, com os quais ele não es-
tava em contato.

O segredo do truque era expor as informações que sua oposição queria e forçá-lo a co-
meter um erro.

“...Que foi? Por que tão quieto? Ainda quero saber o que o ser que conheceu disse a você.”

Ele tinha feito isso em todas as alternativas para o sucesso no blefe. Agora ele tinha que
fazer isso de novo. Suas palmas suavam profusamente.

“Ele disse pra dar seus cumprimentos a Ainz da Grande Tumba de Nazarick.”

“...Ainz?”

Sua inquietação parou de repente. Hekkeran notou, e uma expressão de “fodeu” se es-
palhou pelo seu rosto.

“...Ele disse, para dar seus cumprimentos a Ainz?”

Hekkeran se fortaleceu. Afinal de contas, as palavras faladas não poderiam ser retoma-
das.

“...Sim.”

“Kuhahahahaha!”

Ainz riu quando ouviu a resposta de Hekkeran. Isso não foi uma risada feliz. Foi uma
risada que poderia ser melhor descrita como vulcânica.

“Hah... bem, perdemos tanto tempo por isso. Se bem que mesmo em algo tão curto, ao
se pensar com calma, dá para notar que sua historiazinha é cheia buracos.”

Os movimentos de Ainz pararam e ele se virou para olhar Hekkeran. Os fogos carmesins
brilhando em suas órbitas oculares ficaram escuros, consumidos pelas trevas que os ro-
deavam e reduzindo suas pupilas a pontos de luz vermelha. Hekkeran e os outros deram
um passo para trás, como se a mera linha de visão de Ainz estivesse exercendo pressão
física sobre eles.

Dentro daquele brilho estava a mais pura raiva.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


221
“SEUS LIXOOOOS! VOCÊS SE ATREVERAM A VIR ATÉ AQUI TRAZENDO SUA IMUNDI-
CEEE! PISAM COM BOTAS IMUNDAS EM NAZARICK, QUE EU, QUE NÓS, MEUS AMIGOS
E EU, CRIAMOS!?”

Tão intensa foi sua fúria que mesmo Ainz se surpreendeu. Suas omoplatas se moviam
como se ele estivesse respirando profundamente, e ele continuou.

“E VOCÊ! VOCÊ SE ATREVE A USAR O MEU NOME E FALAR EM NOME DOS MEUS QUE-
RIDOS AMIGOS!? VOCÊ OUSOU PROFANAR O LEGADO DELES PARA ME ENGANAR! SEU
MERDA! VOCÊ ACHA QUE ISSO PODE SER PERDOADO!?”

Ainz estava gritando furiosamente.

Não teria sido uma surpresa se sua raiva tivesse durado para sempre. No entanto, seu
rancor de repente desapareceu e ele voltou a sua calma habitual.

Foi uma mudança repentina, como se simplesmente tivesse desligado sua emoção. A
mudança abrupta foi suficiente para fazer Hekkeran e sua equipe, que estavam enfren-
tando Ainz, pensarem que algo estava errado.

“...Embora isso tenha me deixado com bastante raiva, a falha não é sua. Claro que con-
taria uma mentira ultrajante para se salvar. Para falar a verdade, ainda estou muito
bravo... acho que ainda sou muito obstinado. Albedo. Aura. E todos os Guardiões que
podem ouvir minha voz, todos, cubram suas orelhas!”

A beleza absoluta e o Elfo Negro ouviram atentamente. O Elfo Negro enfiou os dedos
nos ouvidos, enquanto a beldade cobria delicadamente os ouvidos com as mãos. Isto foi,
sem dúvida, para mostrar que não iriam ouvir o que ele diria.

“Desde o início, eu me opus a esse plano de convidar ladrões imundos para a minha
Grande Tumba de Nazarick. Mas dito isso, eu entendi que seria o melhor método, por
isso aceitei.”

Ainz olhou para trás e balançou a cabeça arrependido.

“Bom, isso é tudo. Meu monólogo acabou. Como uma misericórdia final, eu queria con-
ceder a morte digna de guerreiros a vocês, mas mudei de idéia. Agora vou me livrar de
vocês do jeito que merecem, como os ladrões que são.”

Enquanto conversava como se fosse problema de outra pessoa, Ainz abriu o manto.

Naturalmente, havia ossos abaixo. Um orbe vermelho escuro flutuava sob suas costelas,
emanando uma sensação de medo. Ele não tinha nada além de suas calças e caneleiras...
Não, havia mais um item. Havia um colar em volta do pescoço, com uma corrente que-
brada pendendo dele.

Capítulo 4 Punhados de Esperança


222
“Ohhhhh!”

Um som estranho veio de cima deles.

Olhando para cima, eles puderam ver a parte superior do corpo de uma menina de ca-
belos prateados inclinada para fora da área VIP. Ela foi imediatamente puxada de volta
por uma mão com luva azul.

“...O que ela pensa que está fazendo?”

“Mais tarde eu dou uma bronca nela.”

Quando conseguiram recuperar os sentidos e focalizá-los de volta em Ainz, ele havia


produzido uma espada preta de lâmina única e um escudo preto redondo do nada.

“Então, do meu lado estou pronto. Vamos começar.”

Ele abriu um pouco os pés — era uma postura de luta.

“Albedo e Aura, podem parar de cobrir os ouvidos.”

As duas pessoas abordadas reagiram imediatamente e retiraram as mãos.

“Estou de mau humor agora. Quem diria que encontraria gente assim. Pretendo brincar
um pouco sem matá-los, depois estarão à sua disposição. Agora vamos começar.”

Enquanto Hekkeran encarava Ainz, equipado com espada e escudo, o primeiro pensa-
mento de Hekkeran foi que seu oponente não era um guerreiro ou um espadachim. Se
pressionado, ele diria que ele era como um monstro, do tipo que usaria suas excelentes
habilidades físicas para dominar seu oponente.

Tanto a postura quanto a pose pareciam de um amador. Mas ele irradiava uma forte
pressão, parecendo maior que a vida.

Para um ser assim, o movimento temível que poderiam fazer seria simplesmente atacar.

“Não virão? Então, permita-me.”

Ainz avançou assim que acabou de falar.

Sua velocidade era assustadora, reduzindo a distância entre ele e seus inimigos em um
instante.

Ele seguiu com um grande golpe para baixo de cima.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


223
O ataque tinha aberturas por toda parte, mas também um grande poder destrutivo. Nas
mãos de um poderoso ser com incrível habilidade física, era um golpe de espada que
poderia matar qualquer coisa que atingisse.

—Receber isso seria muito perigoso.

Hekkeran chegou a essa conclusão em um instante, quando sentiu a lâmina de alta ve-
locidade descendo sobre ele. Um bloqueio duro transformaria isso em uma disputa de
poder, e ele sabia que ficaria sobrecarregado se colocasse sua força contra Ainz.

Sendo esse o caso, havia apenas uma opção—

A espada de Ainz desceu no chão, o eco persistente e a vibração de aço contra o aço se
desvaneceu no ar.

—Defletir o golpe e o conduzindo para longe de seu corpo.

Normalmente, quem atacasse perderia o equilíbrio depois de ter o golpe defletido, e


isso seria uma grande chance para um contra-ataque. Mas Ainz nem sequer se moveu.
Era como se soubesse que determinada sequência de eventos iria acontecer, pois havia
redefinido sua postura para sua posição original.

Hekkeran percebeu que havia cometido um grande erro.

Merda! Eu subestimei ele! Só resta lutar agora, que droga!

Ele apontou para a cabeça de Ainz. Ele usou uma Arte Marcial—

“《Golpe das Lâminas Gêmeas》!”

As duas espadas traçaram arcos reluzentes no ar enquanto iam em direção à cabeça de


Ainz. Normalmente, as armas de impacto seriam mais eficazes contra um inimigo do tipo
Skeleton como Ainz, mas Hekkeran era mais adepto de armas cortantes, sendo menos
proficiente com armas de impacto.

Seu principal objetivo era tentar ferir Ainz. Ele fez tantos ataques quanto pôde contra
Ainz, não se importando se acertassem ou errassem, na esperança de que pelo menos
um deles conseguisse infligir uma boa quantia de dano.

As espadas gêmeas dispararam na direção da cabeça do oponente.

Uma pessoa comum seria praticamente indefensável.

Um oponente de primeira classe poderia causar um arranhão.

Então qual deles esse monstro era?

Capítulo 4 Punhados de Esperança


224
“Hnh!”

Ainz interpôs seu escudo no caminho das espadas. Pessoas normais não teriam sido
capazes de realizá-lo, mas com força física e velocidade esmagadoras, esse feito foi pos-
sível.

“—「Magic Arrow」!”

“「Lesser Dexterity」!”

Quando o escudo bloqueou os dois ataques, a magia de Arche enviou um raio branco
para Ainz. Ao mesmo tempo, enquanto o som de metal ainda batia no ar, Roberdyck lan-
çou uma magia para aumentar a agilidade de Hekkeran.

“Brincadeira de criança.”

Ainz nem se incomodou em olhar para Arche. O míssil de luz cintilou e desapareceu da
existência antes mesmo de tocar Ainz. Uma expressão chocada apareceu no rosto de Ar-
che.

“Imunidade à magia? Mas como?”

“Hmph!”

Em resposta, Ainz mirou o escudo no rosto de Hekkeran.

Um golpe de escudo!?

Os fundamentos amplamente conhecidos das habilidades de luta ressoavam em sua ca-


beça. Hekkeran decidiu transformar esse perigo em uma oportunidade e fez seu movi-
mento. Ele apontou para a barriga, argumentando que a maior parte do escudo criaria
um ponto cego na defesa.

No entanto, Ainz facilmente deslizou sua lâmina com a espada preta.

—Ele percebeu!

Seus olhos se fixaram em um escudo, estava tão perto que parecia uma parede diante
de seus dentes, e Hekkeran mal conseguiu escapar do golpe — e então uma caneleira
veio por baixo e o chutou.

Um chute normal não era nada para se ter medo. No entanto, através de sua breve troca
de golpes de agora, ele estava plenamente consciente de que devido à incrível força de
Ainz — apesar de não ter músculos —, qualquer ataque que fizesse poderia matá-lo de
imediato. Recebendo um mero golpe poderia resultar em uma ferida mortal.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


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Hekkeran rolou para longe a toda velocidade. Sem o apoio de Roberdyck isso seria im-
possível. O vácuo na passagem do chute cortou vários de seus cabelos, e um calafrio per-
correu sua espinha.

“Por aqui!”

Imina atirou duas flechas de seu arco. Por ela gritar, não foi um ataque furtivo, e Ainz
casualmente evitou.

As flechas passaram por ele, errando o alvo.

Para começar, as flechas não eram eficazes em monstros do tipo Skeleton como Ainz.
Ela esperava que ele não se importasse em evitá-los e casualmente recebesse os acertos,
mas parecia que isso não ia acontecer. As flechas que ela havia disparado haviam pontas
achatadas, como uma pá; eram flechas mágicas especialmente projetadas que causariam
dano de impacto. Se não tivessem sido evitados, deveriam ter sido capazes de efetiva-
mente danificar até mesmo os adversários tipo Skeleton.

Pelo menos, era assim que deveria acontecer, mas mesmo que não fosse o caso, não
havia nada a lamentar. Hekkeran aproveitou a oportunidade para se levantar e aumen-
tar ligeiramente a distância entre ele e Ainz. O grito de Imina também foi para dar a Hek-
keran a chance de se levantar.

“《Golpe das Lâminas Gêmeas》!”

“Hah!”

Os dois cortes foram facilmente desviados pela espada. O choque da deflexão enviou
tremores através das mãos de Hekkeran.

Mas que saco! É isso que dá quando um monstro sobre-humano treina como guerreiro?
Qual o limite da força desse cara?

O preço de usar repetidamente suas técnicas fatais era o rápido esgotamento da resis-
tência mental. Seu cérebro parecia estar gritando de cansaço, então Hekkeran decidiu
recuar.

Claro, Ainz não permitiria isso.

“Como se eu fosse deixar você escapar!”

Ainz fez sua investida. Isso era de se esperar — recuar era mais lento do que avançar.

Assim, quando ele estava prestes a alcançar Hekkeran, algo assobiou pelo ar, voando
diretamente para a lateral de seu rosto.

Capítulo 4 Punhados de Esperança


226
Uma flecha de alta velocidade veio de trás das costas de Hekkeran — escondida por seu
corpo. Uma pessoa normal não teria sido capaz de evitá-la. No entanto, contra Ainz com
seus reflexos sobre-humanos, ainda não era o suficiente.

“—「Flash」!”

“「Lesser Strength」!”

Um clarão brilhante de luz estourou na frente de Ainz. Se ele resistisse ou não, a magia
iria cegá-lo por um momento, mas parecia inútil contra Ainz. Tudo o que fez foi irritá-lo.

“Interferências de intrometidos!”

Ainz estalou sua língua inexistente para Hekkeran, que havia fechado a lacuna graças à
sua força e destreza aumentadas.

“—「Reinforce Armor」!”

“「Anti-Evil Protection」!”

As magias de apoio de Arche e Roberdyck haviam solidificado a defesa de Hekkeran.

Tendo evitado o ataque de Hekkeran e desviado suas espadas, Ainz estava prestes a
responder à altura, mas outra flecha veio em seu rosto.

“...Hmph!”

A facilidade casual com que Ainz escapou da flecha simplesmente virando o rosto era
condizente com o soberano da Tumba, assim como um guerreiro monstruoso.

Hekkeran usou a breve abertura feita pelo fogo de cobertura para se afastar, o suor
percorria seu corpo do breve, porém intenso, combate.

Agora ele estava mais que ciente disso, que Ainz Ooal Gown era muito forte.

Os seres humanos não podiam esperar se equiparar às suas habilidades físicas. Se isso
não bastasse, ele sabia tirar proveito de sua força e velocidade sobre-humana com téc-
nicas de combate. Sua percepção era tanta que até mesmo antecipava distrações. Ele ti-
nha a noção exata de cada membro da Foresight. Combinado com sua resistência mágica,
espada e escudo encantados que brandia; ele era tudo que um guerreiro desejava ser.

Mas havia um motivo pelo qual ainda conseguiam resistir cara a cara contra uma cria-
tura dessas.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


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Claro, ele estava sendo pressionado ao extremo. Se tivesse interpretado mal o ângulo
da espada e não conseguisse aparar, suas espadas teriam sido quebradas e ele provavel-
mente teria sofrido um golpe fatal. Um pequeno erro em estimar a velocidade da espada
negra teria resultado em ser cortado ao meio. O fato de que todos os seus movimentos
foram bem executados não fôra mera questão de sorte.

No entanto, havia uma razão ainda mais importante nessa contenda.

Isso é, o trabalho em equipe.

Foi precisamente porque tinham caminhado à beira da vida e da morte juntos. Com isso,
estavam intimamente conscientes do que cada um dos outros estava pensando, de como
que poderiam se mover e agir como uma coletividade.

Desse modo, o grupo Foresight pôde enfrentar o indivíduo mais poderoso, Ainz Ooal
Gown.

Um leve sorriso levantou o canto da boca de Hekkeran.

Até agora, Ainz estava intocado.

Não tenho dúvidas de que ele é forte. Mas ele não é invencível.

Com essa convicção em seu coração, ele golpeou com suas espadas gêmeas.

O golpe de Hekkeran, o mais rápido que seu corpo aperfeiçoado poderia produzir, foi
desviado pelo escudo preto redondo. A flecha voando foi interditada pela espada negra.
Arche e Roberdyck usaram essa abertura para aperfeiçoar ainda mais o corpo de Hek-
keran.

A hostilidade em relação ao grupo estava enfraquecendo rapidamente desde que Ainz


estalara sua língua.

Depois de considerar se deveria ou não pressionar o ataque, Hekkeran decidiu recuar


e acalmar sua respiração frenética. Os undeads como Ainz não se cansavam independen-
temente do quanto lutassem, mas humanos como Hekkeran e os outros ficariam exaus-
tos. Prolongar a batalha era uma má idéia. Ele tinha que descansar sempre que tivesse a
chance.

“Então... como eu pensei, ainda não consegui dar um golpe decisivo. Pensei que tinha a
vantagem em força, habilidades e conhecimento sobre o que vocês poderiam fazer, mas
quando me envolvo a fundo com a batalha, acabo ficando com dificuldades... Por exem-
plo, por que eu ainda não abati ninguém?”

Ainz encolheu os ombros em aborrecimento. Hekkeran, que assistia do lado oposto de


Ainz, não se sentiu particularmente irritado com seu tom paternalista.

Capítulo 4 Punhados de Esperança


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Na verdade, esse era o poder do trabalho em equipe. Hekkeran sorriu como se tivesse
sido elogiado.

No meio de tudo isso, a beleza que estivera em silêncio até agora finalmente falou.

“—Ainz-sama. O senhor não acha que já é hora de temrinar esse gracejo?”

“Como?”

“Perdoe minha intransigência, mas acho ultrajante que o senhor permita esses bandi-
dos se sentirem minimamente superiores ao senhor, esses ladrões que ousaram usar o
nome dos Seres Supremos para enganá-lo. Talvez seja a hora da misericórdia, a que lhes
concederia um fim?”

“Ei, Albedo. Isso lá é jeito de falar com o Ainz-sama? Eu hein...”

“—Tudo bem, Aura. Essa é uma boa opinião.”

Ainz balançou a cabeça.

“E isso é o bastante. Eu ganhei experiência suficiente com esta batalha.”

“Maravilhoso, não esperava nada menos do supremo que me governa.”

“Hah, mesmo? Bem, é uma comemoração válida. Embora eu saiba que está me baju-
lando, o elogio de uma guerreira cujas habilidades excedem as minhas ainda soa agra-
dável para mim.”

“Jamais ousaria tecer falsos elogios ao senhor, essas palavras vieram do fundo do meu
coração.”

“Se é o que diz, então obrigado. Cocytus pode me avaliar mais tarde, e eu ainda preciso
ouvir suas opiniões sobre sessões de treinamento futuras como essa.”

Ainz assentiu com a cabeça várias vezes, parecendo muito satisfeito consigo mesmo, e
então se voltou para Foresight.

O ar entre eles havia mudado, e Hekkeran tinha um mau pressentimento sobre isso.

Seus instintos que o levaram a muitas situações de vida e morte gritavam para ele: há
um grande perigo aqui.

“Enfim, já brincamos muito de espadinhas. É hora de um tipo diferente de entreteni-


mento.”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


229
Ainz deixou de lado a espada e o escudo que estava segurando, e eles desapareceram
antes de atingirem o chão.

“Quê!?”

Descartar as armas era o sinal universal de desistir da luta. Contudo, a atitude de Ainz
não mostrava nem mesmo o menor indício de derrota, ou que ele estava em uma situa-
ção em que se renderia.

Não se tratava de um gesto de rendição.

Incapaz de descobrir o que Ainz estava pensando, Hekkeran estava cheio de confusão.

“...O quê?”

Com isso, Ainz sorriu. Ou melhor, ele parecia sorrir.

Ele lentamente abriu os braços. Era uma ação que se assemelhava a um anjo estendendo
mostrando sua graça para fiéis, ou uma mãe acolhendo seu filho em seu abraço; um gesto
amoroso para uma amada.

“Não entendeu? Então deixe-me colocar em termos que possa entender.”

—Ainz riu e completou:

“Eu vou brincar com vocês, então façam o melhor que puderem, humanos.”

O clima mudou—

Ele havia abandonado sua arma e escudo. Isso deveria significar que ele estava enfra-
quecido. Mas Hekkeran tinha a sensação de que o Ainz ante dele agora era mais poderoso
do que antes. De fato, parecia que seu corpo crescera fisicamente em tamanho diante de
seus olhos, tão opressiva era sua presença.

Alguém que fica mais forte descantando armas brancas...?

Quando se pensava a respeito, restavam apenas duas opções. Poderia ser um daqueles
monges guerreiros que aprimoravam seus corpos até virarem armas vivas. Mas se fosse
esse o caso, seu estilo de luta anterior — o modo como ele escapava dos ataques — não
parecia polido o suficiente para que ele fosse um deles.

Sendo assim, por eliminação restava—

“—Um magic caster!?”

Gritou Arche, que chegou à mesma conclusão que Hekkeran.

Capítulo 4 Punhados de Esperança


230
De fato. Só agora perceberam que o ser diante deles — Ainz Ooal Gown — era um magic
caster.

Era compreensível que não tivessem considerado isso antes. Quem poderia imaginar
que qualquer magic caster poderia lutar em pé de igualdade com Hekkeran, o lutador
mais forte do grupo e um guerreiro veterano?

Os magic casters — especialmente os magic casters arcanos — tinham corpos mais fra-
cos que guerreiros. Afinal, se um magic caster tivesse tempo de treinar um corpo, seria
fácil gastar esse tempo aprendendo magia. Como tal, magic casters que lutavam a par
com guerreiros eram inexistentes.

Isso era um simples senso comum.

Ainda assim, quem diria que encontrariam aqui uma criatura capaz de mudar esse pa-
radigma? Quem poderia imaginar que tal ser estaria bem na frente deles?

Por isso o grito de Arche trazia um tom suplicante de: “—Que não seja isso, por favor!
Não pode ser!”. Isso era péssimo, pois significava que Ainz estava muito mais confiante
em suas habilidades como magic caster do que como guerreiro. As implicações disso,
ninguém precisava dizer em voz alta.

Magias poderiam mudar a maré a seu favor, o sucesso de Hekkeran na batalha de agora
a pouco provava as vantagens que trazia. Usar várias magias de aprimoramento faziam
uma diferença dramática. Mas se esse fosse o caso—

“Você finalmente percebeu? Tolinha. Bem, é natural esperar esse nível de inteligência
de vermes, que tentam manchar a mim— não, meus amigos e Nazarick com sua podri-
dão.”

No entanto, enquanto Arche estivesse por perto, Hekkeran e os outros poderiam negar
isso.

“Arche! Esse cara é um magic caster!?”

“—Não! Tenho certeza! Pelo menos, ele não é um magic caster arcano!”

“Hm? Como assim?”

“—Não consigo sentir nenhum poder mágico dele.”

“Ohhh. Então estava usando magia de adivinhação. Que grosseria.”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


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Ainz mostrou a Hekkeran e companhia suas mãos. Como se poderia esperar de um
undead, não havia nada além de ossos. Ele abriu os dedos para mostrar que cada um
deles, em ambas as mãos, estava usando um anel.

“Uma vez que eu remover este anel, você entenderá. Também emprestei aos meus su-
bordinados.”

Dizendo isso, Ainz removeu um anel em sua mão direita. E então—

“Bléeeeehgh!”

Foi o som do vômito. Um líquido pegajoso sujou o chão da arena, um fedor azedo e ran-
çoso pairava em torno da Foresight.

“O que você fez!?”

Imina olhou para Ainz e correu para ajudar Arche. Ainz parecia um pouco desconfortá-
vel, mas ainda respondeu em um tom descontente.

“Qual o problema dessa menina!? Há um limite para o quão grosseira pode ser, vomi-
tando quando vê o rosto de alguém.”

“—Pe-pessoal, corram!”

Arche gritava e lágrimas escorriam do canto dos olhos.

“Ele é um monst—blueéeehg!”

Incapaz de suportar, Arche vomitou novamente. Naquele momento, Hekkeran enten-


deu o porquê ela vomitara.

Ainz não tinha feito nada para ela. Em vez disso, ela tinha sido incapaz de suportar a
combinação de terror e estresse causada por ver o enorme poder mágico que cercava
Ainz, e então vomitou.

E isso significava quê—

“—Não podemos vencê-lo! A força dele é imensurável! A palavra monstro sequer é ca-
paz de descrevê-lo!!”

Arche começou a chorar e as lágrimas escorreram por suas bochechas.

“—Não... não pode... não pode ser!”

Imina abraçou Arche com força ao peito. A garota sacudia violentamente a cabeça como
se tivesse enlouquecido.

Capítulo 4 Punhados de Esperança


232
“Acalme ela! Roberdyck!”

“Claro! 「Lion's Heart」!”

Sob a influência da magia de Roberdyck, Arche conseguiu se recuperar do pânico que a


dominara. Como um cervo recém-nascido, ela se ergueu instável sobre as pernas trêmu-
las, usando seu cajado como muleta.

“—Pessoal, temos que fugir agora! Nenhum humano pode vencer essa... essa coisa! É
um monstro inconcebível!”

“...A gente já entendeu, Arche.”

“Sim, eu percebi. Quando ele removeu o anel, o mundo inteiro pareceu mudar. Eu senti
na pele, meu corpo inteiro ficou arrepiado.”

“Sim. É até difícil encontrar palavras pra descrever esse cara.”

O nível de alerta dos três estava acima de todos os limites. Eles olharam para Ainz com
os nervos ainda mais tensos do que antes. Suas expressões sinalizavam que até mesmo
a perda de vigilância de um instante significaria a morte.

“Parece que não nos deixarão fugir.”

“Assim que a gente der as costas, morremos. Tenho a sensação de que até desviar os
olhos pode dar no mesmo.”

“A gente precisa ganhar tempo ou já era.”

“...Não virão?”

Claro, Hekkeran não respondeu a provocação de Ainz, que estava preguiçosamente co-
çando o crânio com o dedo indicador. O poder de luta do inimigo excedia largamente o
de qualquer ser que já existiu. Isso significava que eles só podiam contar com uma coisa.

Esse foi o momento em que Ainz começou a lançar uma magia — um magic caster era
mais vulnerável quando recitava um encantamento. Se ele pudesse conjurar uma magia
sem incitá-la, então tudo acabaria para eles, mas mesmo assim, essa era uma pequena
possibilidade, um fio de esperança.

Como o tensionar de um arco, Hekkeran reuniu forças dentro de si.

“Então, aqui vou eu. 「Touch of Undeath」.”

“Que tipo de magia é essa? Arche!”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


233
“—Não sei! Eu nunca ouvi falar disso antes!”

O nevoeiro negro que cobria a mão direita de Ainz era uma magia desconhecida que os
colocou em guarda. Hekkeran ficou tenso, pronto para se esquivar a qualquer momento.
Seus companheiros atrás dele também estavam cautelosos com um ataque de área de
efeito e começaram a se afastar.

De repente, Ainz começou a caminhar em direção a eles.

Os olhos de Hekkeran se arregalaram. Ele tinha aberturas de um amador enquanto


avançava. Estes não eram os movimentos de um guerreiro habilidoso. Hekkeran sabia
que Ainz estava tentando atraí-los para uma armadilha, mas não conseguia ler as inten-
ções de Ainz.

Ele tá tentando usar magia pra algo... é um tipo de curto alcance? Ou um tipo defensivo?

Hekkeran estava familiarizado com as magias mais famosas, mas como não tinha a pro-
fissão de Mago, ele não conseguia entender as intenções de Ainz.

“Fique longe!”

O grito de raiva de Imina perfurou o ar, assim como as flechas que ela atirou em Ainz.

Usando uma técnica especial, ela havia lançado três flechas ao mesmo tempo, mas Ainz
habilmente as derrubou do céu com uma mão ossuda.

“...Você está no caminho.”

Era uma voz baixa, mas fria.

A chama vermelha nas órbitas vazias dos olhos piscou, mas foi apenas Hekkeran, que
estava na frente estudando cada movimento de Ainz, que percebeu isso.

Assim que o mau pressentimento aconteceu, a forma de Ainz desapareceu.

Hekkeran se virou, confiando em seus instintos. Em seus olhos, ele viu os rostos choca-
dos de seus companheiros. No entanto, não houve tempo para explicar. Especialmente
para a Imina. Ainz estava de pé atrás de Imina, lentamente erguendo sua mão direita
para ela.

Imina! Ela não percebeu! Eu preciso gritar— não, não será rápido o bastante!

Quando ele usou uma Arte Marcial para se mover na velocidade máxima em direção à
Imina, uma pontada de confusão percorreu Hekkeran.

Capítulo 4 Punhados de Esperança


234
Era sensato protege-la?

Comparado à Arche e Roberdyck, que podiam usar magias de apoio para melhorar as
pessoas, a utilidade e a importância de Imina eram relativamente baixas. A melhor ma-
neira de aumentar sua taxa de sobrevivência era descartar os obstáculos nos pés deles.
Contudo—

Droga!

Um líder jamais deveria considerar isso. Mesmo que fosse quase equivalente a trair
seus companheiros, Hekkeran não diminuiu a velocidade de seus passos. Emoção anulou
a razão neste assunto.

Ele queria salvar Imina. Apenas isso.

De repente, uma imagem de Imina deitada em uma cama com ele cama apareceu em
sua mente. Ele sorriu sem graça para si mesmo, pois mesmo em uma situação de vida ou
morte, tudo o que ele conseguia pensar era em seu corpo tênue.

Mesmo assim, ele colocou ainda mais poder em seus pés.

Essa era a força de um homem que queria proteger sua mulher.

“Sai daí!”

A investida súbita de arrancou terra do chão e, assim, ele chegou a tempo. Antes de Ainz
poder tocá-la, ele já tinha tirado Imina do caminho.

Se Ainz não tivesse hesitado ao vê-lo atacar, Hekkeran poderia não ter chegado a tempo,
mas antes que Ainz pudesse tocar Imina, ele a derrubou.

Um pequeno grito soou quando ela reprimiu a dor, e era óbvio que Ainz estava tentando
decidir se priorizaria o homem que apareceu na frente dele ou a mulher que escapou.

“Ei! Sou eu, idiota!”

Ele seguiu seu grito com uma Arte Marcial.

Primeiro, ele usou 《Romper Limite》. Havia um preço a pagar, mas aumentava a quan-
tidade de Artes Marciais que ele poderia usar ao mesmo tempo. Em seguida foi a técnica
que fez seu corpo sentir como se algo estivesse sendo quebrado dentro dele, 《Suprimir
Dor》. Depois disso foi 《Impulso Físico》 e um 《Golpe das Lâminas Gêmeas》 feitos
sob a influência de 《Punho de Ferro》.

Seu ataque mais grandioso nasceu disso.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


235
Suas espadas gêmeas brilhavam.

Hekkeran estava contando com o fato de que Ainz estaria acostumado a seus ataques
de espada de sua luta anterior, então a súbita mudança de velocidade confundiria seus
sentidos e tornaria mais difícil escapar. Foi o prenúncio de um ataque que acabaria com
a batalha em um único golpe.

Ainz não reagiu a isso.

Eu matei ele!

Assim que imaginou suas espadas cortando o crânio indefeso, a sensação que subiu por
suas mãos definitivamente não era a sensação de aço cortando ossos.

Ele é imune a dano cortante?

Ele teve experiências semelhantes durante suas aventuras como Trabalhador.

É imune a ataques cortantes e perfurantes? Mas que monstro desgraçado é esse!?

Quando Hekkeran tentou recuar em pânico, sentiu uma sensação gelada envolvendo
sua testa. Era a mão de Ainz. Hekkeran sentiu como se tivesse sido preso, querendo es-
capar ainda incapaz de se mover.

“Hekkeran!”

“Imina! Ele é imune a cortes!”

Hekkeran tentou ignorar a dor intensa e relatar o que havia aprendido a seus colegas.
Enquanto era agarrado pela cabeça, sentiu seu corpo inteiro sendo levantado. Embora
martelasse o dorso de suas espadas no braço de Ainz, o aperto em sua cabeça não mos-
trava sinais de afrouxamento.

“Errado. Perfuração, corte ou impacto — acontece que ataques fracos são incapazes de
me arranhar.”

“...Mas como... assim...? Que brincadeira de merda é essa!? Isso não é justo!”

“É mentira dele, Imina! Se fosse verdade, ele não estaria lutando. Ele deve ter algum
tipo de fraqueza!”

“—Eu não vou cair nessa!”

“É realmente triste quando não pode acreditar na verdade que jaz diante de seus olhos.
Eu imaginei que teria percebido da batalha corpo a corpo, e da conversa que tivemos,

Capítulo 4 Punhados de Esperança


236
que vocês não eram nada além de cobaias. Será que essa pequena escaramuça deu a es-
perança de que poderiam realmente ganhar aqui? Considere aquele pequeno sonho
como minha misericórdia para com você, pois um verdadeiro inferno está por vir.”

“Misericórdia uma ova! Seu merda, desgraçado filho duma puta, solte o Hekkeran
agora!”

A flecha chegou ao mesmo tempo que sua voz. No entanto, Ainz simplesmente perma-
neceu imóvel e a dor na testa de Hekkeran continuou inabalável.

“Quer mesmo brincar disso? Pode acabar acertando esse homem.”

A dor na testa encheu Hekkeran de medo, o medo de que a qualquer momento sua ca-
beça pudesse ser esmagada pela mão que a segurava. Embora ele lutasse, Ainz não mo-
veu um milímetro. Era como atacar um bloco de aço — a única coisa que Hekkeran con-
seguiu, foi ferir a si mesmo.

“Está doendo? Não se preocupe. Eu não vou matá-lo assim. Um ladrão miserável como
você não merece essa misericórdia — em vez disso, 「Paralysis」.”

Seu corpo estava congelado. Ou melhor, estava paralisado.

“Hmm, se fosse somente para paralisar, então talvez usar 「Touch of Undeath」 tenha
sido um pouco exagerado.”

Hekkeran ouviu as palavras, mas não as entendeu.

A corda do arco de Imina sibilava enquanto ela disparava um fluxo contínuo de projé-
teis à curta distância, mas a única resposta foi o riso silencioso.

“Então, até onde você pode... Ignore, por favor, apenas lute o quanto quiser. Isso só vai
aprofundar seu desespero.”

Fujam!

A boca de Hekkeran não se movia para fazer os sons que queria.

Este era um adversário que eles não poderiam simplesmente fugir apenas correndo.
Mas lutar seria uma atitude ainda mais tola. A verdade nua e crua era que, uma vez que
a vanguarda fosse derrubada, a linha de batalha entraria em colapso.

“Então, quem será o próximo? Claro, todos podem vir de uma só vez, mas isso seria
muito chato, não?”

♦♦♦

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


237
Imina se virou com intuito de olhar para Hekkeran, que estava deitado no chão do coli-
seu.

Ele não estava morto, mas parecia que sim. Não havia como salvá-lo das garras do
monstro que desafiava a lógica, conhecido como Ainz Ooal Gown. Mas mesmo assim—

“—Seu idiota! Deveria ter me abandonado, era bom senso! Seu babaca!”

Ela estava brava.

“Idiota, idiota, idiota, idiota, idiota! Seu idiota!”

“...Dirigir ofensas a um homem que tão galantemente se arriscou para proteger seus
companheiros é bem perturbante.”

Foi uma declaração que mostrava uma completa falta de compreensão dos sentimentos
de Imina. Mas como já foi dito, seu oponente era um monstro; tentar fazê-lo entender as
emoções humanas seria impossível.

“Eu já sei! Ele é um líder bom até demais pra nós!” Ela respirou fundo:

“Mas você é um idiota! Por que foi agir por emoção!?”

“...O quê?”

Não fique confusa... Imina pensou para si mesma. Ela estava tentando reprimir os senti-
mentos de uma mulher que queria salvar seu homem.

Era preciso abandonar Hekkeran e suprimir esse sentimento. Ela tinha que contar ao
mundo exterior sobre essas ruínas, sobre o temível monstro que a habitava, e depen-
dendo de como as coisas acontecessem, elas poderiam até mesmo precisar reunir uma
força punitiva para lidar com isso.

—Deuses Demônios...

200 anos atrás, o rei demoníaco que devastou o continente deve ter sido uma criatura
assim.

Parecia que os mitos e lendas haviam profanado seu mundo. É claro que era dificil de
aceitar, mas uma parte dela, no fundo do coração, insistia que tudo não passava de um
pesadelo matinal.

Lendas, huh? É tão estranho pensar nisso. Quem deveria lutar contra esse monstro des-
graçado são os heróis...

A inspiração a atingiu como um relâmpago.

Capítulo 4 Punhados de Esperança


238
Era isso. Aqueles que lutaram contra os Deuses Demônios foram os Treze Heróis — eles
eram heróis. Então, o único que poderia lutar contra Ainz também era um herói.

“Traz o Hekkeran de volta! Se a gente não voltar no horário estipulado, as pessoas mais
fortes do mundo vão acabar com essa tumba! Mas se a gente ileso, você pode usar isso
usar pra negociar!”

“Vejam só, mais mentiras?”

Ainz suspirou, um som silencioso “haah”. O suor escorria na testa de Imina. Era genuíno.

“Não, não tô mentindo.”

“—Albedo. Existe alguém que possa ser considerado forte na superfície?”

“Não há ninguém, eu acredito que ela está apenas ladrando mentiras sem sentido.”

“—Não é mentira!”

A garota atrás de Imina gritou:

“—O aventureiro adamantite, Momon da Escuridão, está lá! Ele é o maior guerreiro de
todos! Ele é mais forte que você!”

Pela primeira vez, Albedo pareceu perturbada. Ela olhou para Ainz, com pânico escrito
em seu rosto, e abaixou a cabeça para ele.

“Sin-sinto muito! Isso de fato existe! P-por favor, me perdoe!”

“Mmm... ah, sim, eu nem percebi, Albedo. Momon da Escuridão, hmm. A propósito, ele
é... esqueça, não é importante. Ele não pode me derrotar.”

Ele estava agindo como um rei demoníaco até agora, mas a maneira como ele estava
dando de ombros sugeria que ele estava escondendo alguma coisa. Exatamente o que ele
estava escondendo, ninguém sabia.

“Momon é forte! Mais forte que você!”

“...Não, não vai conseguir nenhuma negociação com isso, desista.”

Ainz acenou com a mão preguiçosamente para descartar o assunto.

“Então, devemos começar?”

O tempo de conversa fiada acabou.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


239
“Arche! Corra!”

Roberdyck gritou e Imina concordou.

“Isso, suma daqui!”

“Lá em cima! Aquilo deve ser a parte externa! Se voar, há uma chance de escapar! Vai
ter que fugir sozinha! Vamos tentar comprar algum tempo, um minuto— não, dez segun-
dos!”

“Essa proposta é bem interessante. Aura, abra a saída. Eu vou conceder essa chance.”

“Tá bom!”

Ainz apontou na direção em que Roberdyck e os outros haviam entrado. Aura saltou, a
parte de baixo de seus sapatos brilhou e seu corpo desapareceu.

“Aura foi abrir o portão. Vá em frente e fuja. Abandone seus companheiros. Quem
mesmo que queria fugir?”

Ainz estendeu a mão. Seu rosto esquelético não podia exibir nenhuma expressão, mas,
pelo seu gesto, estava claro o suficiente. Se tivesse carne, estaria torcida formando um
sorriso maligno. Seria o tipo de sorriso que antecipava com ânsia por ver esses laços de
companheirismo ruindo em lutas internas.

Era verdade que os Trabalhadores eram diferentes dos aventureiros; eles formavam
grupos baseados no poder do dinheiro e em relacionamentos úteis, e em uma situação
como essa, as chances de pensar em si mesmo era uma realidade. No entanto, a Foresight
era diferente.

“Arche, fuja agora!”

“Rápido!”

Imina sorriu e continuou:

“Você tem suas irmãs, esqueceu? Não tem problema deixar a gente. Já deveria ter feito
isso!”

“—Como eu poderia? Isso é tudo minha culpa!”

Vendo que Ainz não tinha a intenção de pressionar o ataque imediatamente, Roberdyck
caminhou até Arche, e então retirou uma pequena bolsa de couro de algum lugar perto
de seu coração e deu para ela segurar.

Capítulo 4 Punhados de Esperança


240
“Vai ficar bem. Vamos dar uma surra nesse monstro chamado Ainz, e depois te seguire-
mos.”

“Isso aí. Pode ir separando a grana, você vai pagar as bebidas.”

Imina também tirou uma pequena bolsa e entregou para ela segurar.

“Agora vá. E pode usar o dinheiro que deixei na taberna como quiser.”

“O meu também.”

“—Eu vou acreditar nisso. Então, eu vou primeiro.”

Claro, nenhum dos três realmente acreditava nisso.

Derrotar o ser chamado Ainz, cujo poder estava muito além de sua imaginação, era algo
que eles nem poderiam esperar fazer. Arche sabia que esta era sua despedida final, ela
estava sufocando as lágrimas enquanto lançava sua magia.

“Mesmo que eu dê a chance de fugir, existem monstros no céu que ainda podem lhe
pegar...”

“—「Fly」!”

Ignorando o aviso de Ainz, a magia de Arche entrou em vigor. Ela olhou para seus com-
panheiros uma última vez, então voou para o céu sem dizer nada.

“...Ah, pode valer o risco. Bem, é mais rápido e menos cansativo do que correr.”

Disse Ainz de maneira casual, e completou em seguida:

“No entanto, é notável que vocês tenham decidido lutar um pelo outro. Eu pensei que
veria suas personalidades nojentas.”

“Você nunca entenderia. É porque somos amigos.”

“Uhum. Morrer pra proteger uma amiga não é uma coisa ruim—”

Um lampejo de inspiração atingiu Imina:

“—Seus amigos faziam isso, não?”

“Nrgh!”

“Eles fariam algo assim também, não é? Pois é, o que a gente sente um pelo outro é
provavelmente o mesmo que vocês sentiam.”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


241
“Concordo.”

A atmosfera maligna desapareceu como se nunca tivesse existido, e Ainz continuou em


um tom calmo:

“Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos —
o Evangelho de Marcos, eu acho?”

“...Tudo bem se morrermos. Você entende o vínculo que temos, pois tinha o mesmo pe-
los seus excepcionais companheiro. Em nome disso, por favor, deixe-a ir.”

“Mm...”

Ainz hesitou por alguns segundos e depois sacudiu a cabeça.

“Não haverá misericórdia para ladrões como vocês. Tudo o que os espera é sofrimento
em cima sofrimento e mais sofrimento, seguido pela morte. Mas por causa das vidas que
vocês estão dispostas a jogar fora por sua companheira, eu farei uma exceção para
aquela garota. Shalltear.”

Ainz descuidadamente deu as costas para os dois e chamou alguém na área VIP. Não
havia chance dele se machucar, sua atitude já dizia tudo.

Essa era a dura realidade. Não haviam ataques que eles pudessem usar para causar al-
gum dano. Pensar que sim seria uma mera fantasia depois de entender a verdade das
coisas. Os dois não tinham nenhum método que pudesse ferir o monstro chamado Ainz.
Mas no mínimo precisavam comprar tempo para Arche fugir.

Embora eles não tivessem trunfos para usar, eles ainda tinham que fazer isso. Imina e
Roberdyck trocaram olhares e assentiram.

Por outro lado, a voz de uma garota veio da área VIP em resposta ao chamado de Ainz.

Era uma garota humana com cabelos que brilhavam como platina. Embora ambos esti-
vessem cheios de raiva, não puderam deixar de ser cativados por essa beleza, os olhos
foram atraídos por seus encantos.

De repente. A garota bonita olhou para os dois. Seus olhos eram de um carmesim exta-
siante. Imina sentiu como se estivessem arranhando seu coração. Da mesma forma para
Roberdyck, ele estava tendo problemas para respirar com a pressão esmagadora em seu
peito.

Mesmo depois que os olhos da garota os deixaram, Imina e Roberdyck ainda se sentiam
um pouco prejudicados.

Capítulo 4 Punhados de Esperança


242
“Shalltear, ensine àquela criança o significado do terror. Mostre-a o quão grande é o
abismo entre a realidade e o raio de esperança de fuga ao qual ela se apega, mostre-a a
realidade que aguarda todos os que ousam invadir a Grande Tumba de Nazarick. Depois
disso, não lhe cause dor, mas mate-a com a mais profunda e sincera misericórdia.”

“Entendido, Ainz-sama ~arinsu.”

A garota — Shalltear — sorriu para Ainz. No entanto, quando Imina viu aquele sorriso,
um arrepio percorreu sua espinha. Seu instinto lhe dizia que aquilo era um lobo em pele
de cordeiro.

“Aproveite a caçada.”

“Assim pretendo ~arinsu.”

Shalltear inclinou-se profundamente para Ainz antes de sair. Cada passo que dava di-
minuía o tempo de vida de Arche, mesmo que Imina sentisse isso no fundo de seu cora-
ção, ela estava de mãos atadas quanto a isso. Imina e Roberdyck ficaram incapazes de se
mover.

Shalltear passou por eles sem dar nenhuma importante, sem lhes dar a menor atenção.
Talvez a Foresight pudesse diminuir a distância entre eles e Shalltear se corressem atrás
dela, mas ela parecia muito distante.

“O que foi? Ainda não vêm? Já que têm tempo para conversar, vocês têm tempo para
lutar... Quão inesperadamente honrado de vocês.”

Ele não estava desprezando-a. Seu sentimento era genuíno. Em resposta a isso, o espí-
rito de luta de Imina se recuperou um pouco.

“Um momento, por favor! Me responde só uma coisa! O que está acontecendo, onde está
a misericórdia nisso?”

“Sacerdote... deixe-me esclarecer. Em Nazarick, uma morte sem sofrimento é uma


grande misericórdia.”

O véu do silêncio caiu sobre todos. Eles não falariam mais com palavras, mas com armas.

“Vamos, Rober!”

“Sim! Ohhhhhhh!”

Com um grito de guerra não característico, Roberdyck tacou o mangual no rosto de Ainz.
Foi um golpe feito com todas as suas forças. Foi precisamente porque ele pensou que
Ainz não iria evitá-lo que ele colocou todas as suas forças no golpe.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


243
Embora Ainz tenha recebido o golpe de força total no rosto, ele não reagiu com a dor
como esperado. Roberdyck seguiu seu ataque, estendendo a mão nua.

“「Middle Cure Wounds」!”

A magia de cura foi direcionada a Ainz. Quando expostos à magia do tipo cura, os unde-
ads sofriam dano. No entanto, como o ataque mágico que Arche havia lançado anterior-
mente, essa também desapareceu diante uma parede invisível.

“Gwahhh!”

Imina tensionou a corda do arco enquanto gritava. Então ela soltou. Embora Roberdyck
estivesse ao lado de Ainz, ela não era ruim o suficiente para realmente acertá-lo. Em vez
disso, nesse intervalo, não havia como ela errar.

No entanto, as flechas atingiram Ainz e caíram no chão sem causar qualquer dano.

Ainz desapareceu.

Foi a mesma tática de antes.

“Teletransporte!”

“Não é bem assim.”

Como esperado, a voz veio de trás.

“Imin—!”

Antes que Roberdyck pudesse terminar, a mão de Ainz pousou suavemente no ombro
de Imina. Não houve hostilidade nesse gesto.

Entretanto, teve um efeito já visto. Toda a força em seu corpo desapareceu e ela caiu no
chão. Embora sua mente estivesse totalmente funcional e consciente, seu corpo parecia
uma marionete cujos cordéis foram cortados.

“O que fez com ela?”

Roberdyck fez sua pergunta com uma voz trêmula, enquanto seus olhos iam de Imina
desmoronada para Ainz, que estava ao lado dela.

“Fiz algo de mais? Não é nada especial.”

Ainz começou a explicar de maneira a quebrar o espírito de Roberdyck.

Capítulo 4 Punhados de Esperança


244
“Foi quase o mesmo que antes. Depois da conjuração de 「Silent Time Stop」, eu me
movi para cá e conjurei a mesma magia que usei naquele homem, 「Touch of Undeath」.
E então, eu acabei de tocá-la.”

O ar entre eles congelou em silêncio. O som de Roberdyck engolindo foi excepcional-


mente alto em comparação.

“...Você parou o tempo...?”

“Ah, sim. Contramedidas para anti-paragem do tempo são muito importantes, não sa-
bia? É preciso usar quando atingir o nível setenta. Ah, bem, você vai morrer aqui, então
no seu caso, é basicamente curiosidade acadêmica.”

Roberdyck rangeu os dentes.

Mentira. Se ele pudesse dizer isso. Se ao menos ele pudesse negar tudo o que esse mons-
tro — esse deus — estava dizendo. Quão bom seria se ele caísse de joelhos e apertasse
as orelhas para não escutar nada.

Ele entendeu que Ainz era muito poderoso.

Contudo, mesmo com isso considerado, parar o tempo e afins era algo que não deveria
existir neste mundo.

A marcha do tempo era um fluxo que não podia ser dominado ou controlado pela hu-
manidade. O que ele poderia fazer contra um inimigo que era capaz de tal façanha? Cor-
tar uma floresta inteira com uma única espada seria um objetivo mais fácil de conseguir.

Ainz Ooal Gown. Ele era um ser que a raça humana nunca poderia derrotar. Ele era um
homem que estava no reino das divindades.

Ele segurou seu mangual com as duas mãos—

—E sentiu um leve toque em seu ombro.

“Ah...”

O corpo de Roberdyck parou de se mover. Ele não precisava procurar saber quem havia
feito aquilo. Era Ainz Ooal Gown — aquele ser divino que podia controlar o fluxo do
tempo — que deveria estar de pé diante dele. Quando ele desapareceu de seu campo de
visão?

O frio fluindo nele fez sentir-se como uma escultura de gelo. Assim, qualquer senti-
mento e liberdade foram retirados de seu corpo.

“—Foi inútil, não foi?”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


245
Então falou a voz gentil que não trazia nenhum traço de inimizade para com Roberdyck.
O mangual escorregou através dos dedos trêmulos e caiu no chão—

Então, Ainz murmurou enquanto olhava para Roberdyck que perdera toda a vontade
de lutar.

“Bem, foi uma grande perda de tempo. Eu achei que me dariam alguma dificuldade.”

—Tudo foi inútil. Todas as táticas e truques que ele tentou não puderam causar o menor
dano a Ainz. Completamente derrotado, Roberdyck olhou para os pés de Ainz e calma-
mente fez uma pergunta a ele.

“Me responderia uma última pergunta? O que eu me tornarei?”

“Mm? Só por ser um magic caster divino, você acha que não vai acabar no mesmo estado
que os outros dois?”

Usando isso de premissa, Ainz começou sua explicação:

“Bem, vamos começar com esses dois. Aura, leve-os para a Grande Caverna. Gashoku-
kochuuou diz que está ficando sem ninhos.”

As orelhas do Elfo Negro se contorceram e seus olhos se arregalaram.

“Ai-Ainz-sama! O-o Mare! Eu posso mandar o Mare no meu lugar, né? Pede pra ele ir no
meu lugar, por favor!!”

“Oh, hm. Tudo bem.”

“Valeu! Vou falar com o Mare!”

“Bem, sinto muito. O destino que os aguarda não é bom. Quanto a você — a subordinada
que enviei é também uma magic caster divina, mas o deus em quem ela acredita é com-
pletamente diferente dos deuses que você cultua. Nesse ramo, não sei muito bem sobre
quem são os Quatro Grandes Deuses. Já que é um crente, então me diga uma coisa: todas
as divindades subordinadas têm nomes, mas os Quatro ou os Seis sempre seguem seu
tipo — Deus do Fogo, Deus da Terra e assim por diante. Por que isso?”

“Eu... eu não sei.”

“Entendo... então não são seres transcendentais detentores de poderes místicos, não
são nada além de grandes figuras do passado que foram deificados—”

“—Impossível!”

Capítulo 4 Punhados de Esperança


246
“Ouça, essa é apenas minha teoria. Mas se esse fosse o caso, se você usasse o poder dos
deuses para criar sua magia, pessoas mortas poderiam fornecê-la a você? Ou melhor,
quais são os deuses? Eles ainda existem? O poder que usa realmente vem deles?”

“...Como assim?”

“...Você já viu os deuses?”

“Os deuses estão sempre ao meu lado!”

“Isso quer dizer que nunca os viu diretamente, certo?”

“Não! Quando usamos nossas magias, sentimos a presença de um ser poderoso. Esse é
o nosso deus!”

“...E quem declarou que essa presença era um deus? O próprio deus? Ou alguma outra
pessoa usando esse poder?”

Roberdyck recordou os debates teológicos em que participou. Não havia uma resposta
clara para as perguntas de Ainz. Até hoje, os sacerdotes ainda debatiam calorosamente
se essa era a prova da existência dos deuses.

Assim que Roberdyck estava prestes a falar, Ainz o interrompeu.

“...Bem, supondo que esses seres superdimensionais — que generosamente denomina-


mos deuses para nossos propósitos — existam, eu me pergunto se isso significa que eles
eram originalmente sem características. Simplificando, eles são massas de poder. O que
realmente muda são as frequências que usam para se conectarem a eles... Enfim, estamos
em um mundo que opera pelas leis da magia, eu só queria alguém para conversar sobre
isso. Seria engraçado se realmente existissem deuses.”

“...”

“Me desculpe. Acabei saindo do tópico. Ainda me pergunto se poderei fazer uso dos po-
deres de seus deuses... então, quer participar de uma experiência humana?”

“...Uma experiência humana?”

“Isso mesmo. Por exemplo, se alteramos suas memórias e mudar a identidade dos deu-
ses que acredita, o que aconteceria?”

Ele é louco.

Esse foi o pensamento mais profundo e honesto de Roberdyck sobre a situação. Mas
Ainz era apenas um undead. Não existem tais estranhezas para seres assim.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


247
Ainz deu um passo para trás, olhando com profundo interesse para Roberdyck. Esse
olhar era o modo como um estudioso examinava um animal de laboratório, isso fez Ro-
berdyck querer vomitar.

“Por-por que você quer fazer isso?”

“Para provar que deus existe... Que seja, a verdade é que quero saber até onde mais eu
posso me fortalecer. Quero entender a natureza desse poder. E se esses seres que você
chama de deuses realmente existem, eu quero saber se eles têm emoções ou pensamen-
tos. Eu quero confirmar isso. Quanto a mim, nunca me considerei um escolhido. A pro-
pósito, podem existir milhares como eu neste mundo.”

Roberdyck não tinha idéia do que Ainz estava falando.

“Portanto, expandir os preparativos militares é essencial. Claro, pode ser que não exis-
tam inimigos, ou se eles existem, nenhum deles é tão forte quanto nós. No entanto, você
não acha que o líder de uma organização não deveria ser negligente? Afinal, se descan-
sarmos sobre nossos louros, provavelmente teremos nossos pés cortados quando me-
nos esperarmos. Confirmar a existência de deuses é parte disso.”

Ainz deu de ombros quando terminou seus dizeres.

Parte 2

Arche ofegava pesadamente.

Ela se assustava toda vez que a grama farfalhava ao vento. Como um pequeno animal,
ela olhava com medo em todas as direções.

Ela estava cercada por floresta, havia poucos lugares aqui onde a luz pudesse chegar.
As altas copas das árvores densamente presente bloquearam qualquer iluminação do
céu. Era dificil enxergar claramente no nível da superfície.

Embora esse ambiente dificultasse a navegação humana, Arche usou a magia 「Dark
Vision」, que fez com que seus arredores parecessem tão brilhantes quanto o dia, o que
não chamava atenção se comparado à luz mágica.

Todavia, mesmo com essa magia, ela ainda precisava de muita concentração para dis-
cernir os tufos de mata e troncos de árvores dos quais abrigariam inimigos, até ouvir os
galhos rangendo com o vento.

Por ser uma magic caster arcana, Arche não podia contar com sua própria força física
para livrar-se de quaisquer monstros que pulassem nela a imobilizando. Normalmente,

Capítulo 4 Punhados de Esperança


248
ela teria ajuda de seus amigos, mas agora não havia ninguém para apoiá-la, ninguém
para cobri-la e ninguém para curá-la.

Em outras palavras, tudo que ela podia fazer era ficar alerta para os inimigos que esta-
vam tentando se aproximar, manter distância e fugir. Ela estava nervosa porque estava
ciente disso. Isso enfraqueceu sua força mental até mais do que o normal.

Seu plano original era usar a magia 「Fly」 para fugir, já que estavam do lado de fora.
Mas quando tentou voar acima das árvores, ela viu uma enorme forma negra no céu que
parecia estar procurando por algo, então abandonou esse plano.

Assim que notou a presença do morcego gigante, ela desistiu de qualquer possibilidade
de transformar isso em uma competição de velocidade. Isso porque, embora a invisibili-
dade pudesse enganar os sentidos visuais, não poderia enganar os órgãos sensoriais de
morcegos, ainda mais gigantes.

Depois de verificar que seu entorno estava seguro, Arche alçou voo mais uma vez, a
passos de tartaruga.

Ela estava procedendo o mais lentamente possível com 「Fly」 pois queria observar o
ambiente ao redor. Se fosse a toda velocidade, não seria capaz de reagir rápido o sufici-
ente, mesmo se estivesse em alerta e visse uma ameaça, e isso implicava que estaria pu-
lando na boca de qualquer monstro que a perseguisse. Para evitar isso, ela deliberada-
mente diminuiu a velocidade.

Finalmente, Arche sentiu a camada de energia mágica ao seu redor ficando cada vez
mais fina. A duração do 「Fly」 estava prestes a acabar.

Ela desceu lentamente para o chão.

A questão agora era o que ela deveria fazer. Conjurar 「Fly」 novamente não seria um
problema. Ela podia sentir que tinha mana suficiente para tal. Entretanto, 「Dark Vision」
também era crucial, e ela também queria reservar mana suficiente para usar magias de-
fensivas em caso de combate.

A magia de 3º nível 「Fly」 era uma das magias de nível mais alto que Arche sabia usar.
Como resultado, era uma das magias que mais drenavam sua mana. Se possível, ela que-
ria evitar seu uso.

Ignorando as circunstâncias presentes, ela não sabia quanto tempo levaria para sair
desta floresta sem o uso de magias que aumentariam sua fadiga. E sem a capacidade de
voar, ela não podia nem confirmar sua localização atual.

No caminho para cá, Arche ocasionalmente subira acima da cobertura da floresta, sem-
pre usando a grande árvore ao lado do coliseu como um ponto de referência. Quando

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


249
usava 「Fly」 para fugir, ela perdia seu senso de direção. Se permanecesse na floresta,
ela não conseguiria ver a grande árvore e tampouco seria capaz de subir em árvores.

“—Onde posso descansar...?”

Arche murmurou para si mesma.

Certamente, se restaurasse sua mana durante o sono, ela poderia usar 「Fly」 com
mais frequência, e o movimento sob o sol seria mais seguro. Isto era particularmente
verdadeiro para a floresta, onde os monstros tendiam a ser noturnos.

Talvez o melhor a se fazer seria se aconchegar em algum canto e esperar pelo amanhe-
cer, em vez de se forçar a continuar na floresta escura.

No entanto, Arche não tinha idéia de onde estavam os locais seguros.

—Se a Imina estivesse aqui, ela provavelmente saberia. E se Roberdyck ou Hekkeran es-
tivessem por perto, ela poderia ficar tranquila mesmo em áreas perigosas. Entretanto,
seus confiáveis companheiros não estavam com ela.

“—Imina, Roberdyck...”

Arche se encolheu ao lado de uma enorme árvore e pensou em seus amigos.

“—Mentirosos.”

Depois que partiu não mais ouviu quaisquer vestígios da presença deles.

Como esperado, eles não conseguiram escapar.

Ou melhor, isso era algo que ela sabia desde o começo. Não havia como vencer a enti-
dade ridiculamente poderosa chamada Ainz. Mesmo assim, ela era uma tola por se agar-
rar à fraca esperança de vê-los novamente?

Arche sentou-se no chão, apoiou as costas na grande árvore e fechou os olhos. Ela sabia
que era perigoso.

Ainda assim, ela queria fechar os olhos.

Quando a lembrança dos três veio à mente, ela fechou as pálpebras.

A sensação gelada da casca rugosa contra sua cabeça era muito confortável. Foi só de-
pois de ter descansado por um tempo que percebeu o quanto estava cansada. Seu es-
tresse se transformou em exaustão emocional, e isso aumentou sem parar.

“—Haaaaa...”

Capítulo 4 Punhados de Esperança


250
Ela deixou a cabeça descansar contra a árvore.

E então ela abriu os olhos.

「Dark Vision」 pintava o mundo da noite em cores vivas e brilhantes, mas ela não
tinha explicação para o que viu em seu campo de visão.

Alguém estava observando Arche.

Não se parecia com nada que Arche já tivesse visto antes, e seus olhos pareciam parali-
sados com a visão da linda garota.

Ela estava vestida com um vestido de baile, era um veludo macio tingido no mais escuro
tom de preto, uma roupa que parecia completamente inadequada para o ambiente atual.
Sua pele era tão pálida quanto cera. Uma única mão acariciava seu longo cabelo plati-
nado, que parecia prestes a roçar o rosto de Arche.

Embora fosse filha de nobres, Arche nunca tinha visto uma garota tão bela antes. Se ela
aparecesse em uma dança formal, os homens se reuniriam como mariposas ao redor de
lamparinas, puramente por desejo de sua beleza. Suas pupilas vermelhas irradiavam um
charme irresistível que parecia atrair a alma de Arche para seus encantos.

Mas Arche imediatamente voltou a seus sentidos. Não havia como alguém assim estar
em um lugar como este. Especialmente alguém com em pé horizontalmente na árvore,
como um desafio à gravidade.

Era óbvio que esta era uma perseguidora enviada por Ainz. Ainda assim, não era com-
pletamente impossível que se tratasse de uma nativa da floresta.

“Te peguei ~arinsu.”

Suas esperanças fugazes tinham sido totalmente frustradas.

“—Uma perseguidora.”

Arche saltou para criar uma brecha, apontando o cajado para a garota. A moça parecia
desinteressada em Arche e desceu docemente do tronco da árvore até o chão.

“Anda logo, comece a correr ~arinsu.”

“—Se eu te derrotar aqui, posso fugir com mais segurança.”

Mesmo dizendo isso, Arche sorriu amargamente por dentro. Não havia como ela conse-
guir vencer um perseguidor enviado por Ainz, um ser que transcendeu o bom senso.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


251
Sabendo disso, a razão pela qual ela disse isso foi para avaliar a reação da outra parte.

“Então, por favor tente, eu quero brincar com você por um tempo ~arinsu.”

Sua atitude dizia que ela entendia completamente a disparidade de poder. O que signi-
ficava que, se ela lutasse contra Arche, não seria nada mais do que uma brincadeira.

“—「Fly」!”

Arche conjurou a magia e começou a fugir. Não havia o voo vagaroso e lento que ela
demonstrara antes. Em um movimento rápido, ela estava no alto, cobrindo o rosto com
os braços enquanto atravessava a cobertura da floresta e subia no ar.

Sob o céu noturno, Arche olhou em volta mais uma vez. Ela estava em guarda para o
monstro parecido com morcego que havia visto antes. No entanto, não era visto lugar
nenhum ao redor. E assim, tudo o que restou foi fugir.

“Isso, assim mesmo, continue, continue assim ~arinsu!”

A bela voz chamou Arche, que estava tentando fugir a todo custo. Seu coração deu um
pulo. Lançando olhares assustados ao redor, Arche tentou ver de onde estava vindo.

Era de frente e acima dela.

Quando ela olhou— a garota de antes estava lá.

“—「Lightning」!”

Relâmpagos branco-azulados saltaram da ponta de seu cajado e se enraizaram durante


a noite. Esta era a magia de ataque mais forte de Arche. Mesmo perfurando a garota, o
sorriso não desapareceu de seu rosto.

Arche tinha certeza disso. Este era um ser a par com Ainz, o que significava que não
havia como Arche conseguir derrotá-la. A garota falou alegremente com Arche, que es-
tava ansiosa para fugir.

“Venham, minhas crianças 「Summon Household」.”

Um enorme par de asas se estendeu por trás das costas da garota. Eram como as de um
morcego, porém diversas vezes maior. Um morcego enorme saiu de trás dela, como se
tivesse separado de seu corpo. E, obviamente, nenhum morcego com olhos em vermelho
sangue poderia ser um mero animal.

A moça sorria ao lado do morcego gigante, cujas asas batiam com firmeza no ar. Foi um
sorriso que congelou o corpo de Arche como gelo, um sorriso que não parecia pertencer
a alguém da idade dela.

Capítulo 4 Punhados de Esperança


252
“Ara~ Continue a fugir ~arinsu.”

♦♦♦

Arche fugiu.

Tudo o que ela poderia fazer era fugir.

Ela voou para a floresta a fim de despistar seu perseguidor, os ramos arranhavam seu
corpo enquanto ela fugia.

Desde que abandonara seus companheiros para escapar, significava que ela tinha que
sair daqui, não importava o que tivesse que fazer. Em sua mente, ela faria qualquer coisa
para honrar o sacrifício de seus amigos.

E depois de um voo sabe-se lá de quanto tempo, Arche ficou desesperada ao dar de cara
uma força invisível.

Era uma parede.

Uma parede invisível estava na frente dela.

O mundo ficava além dela, mas o corpo de Arche foi bloqueado por aquela parede. Arche
estava agora a 200 metros acima do nível do solo e a parede invisível alcançara esse
nível.

“—Isto é...?”

Arche murmurou para si mesma enquanto o desespero penetrava em seu coração. Ela
voou e sentiu o entorno com as mãos. Mas... tudo que ela tateava era uma parede.

Não importava para onde voasse, ela sempre tateava algo duro a separando do exterior.

“—Que droga é essa!?”

“Uma parede, é claro ~arinsu.”

Alguém respondeu seus murmúrios autodirigidos. Arche se virou, já com um palpite de


quem estava atrás dela.

Era como ela esperava. A garota de mais cedo. Mas agora tinha um trio de morcegos
gigantes como escolta.

“Embora pareça que você tenha a impressão errada ~arinsu. Este é o Sexto Andar da
Grande Tumba de Nazarick. Ou seja, você está no subsolo.”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


253
“...Mas isso?”

Arche apontou para o mundo. O céu, as estrelas, o vento suavemente soprando, a flo-
resta que se estendia até onde os olhos podiam ver. Embora ela não achasse que esse
lugar pudesse estar sob a terra, quando se tratava dessas pessoas, até mesmo isso pode-
ria ser uma possibilidade.

“Os Quarenta & Um Seres Supremos, nossos criadores mais majestosos, já dominaram
este lugar. Tudo isso fôra criado por eles e nem nós entendemos como funciona ~arinsu.”

“—Eles criaram um mundo? Isso faria deles divindades...”

“Exatamente ~arinsu. Por isso nós os consideramos deuses. Esses deuses tinham o
Ainz-sama como seu líder ~arinsu.”

Arche olhou em volta.

Ela aceitou. Como esperado, depois de ver tudo isso, a única coisa que ela poderia fazer
era aceitar essa verdade.

Não havia como ela sair daqui com vida.

“Então, não vai fugir ~arinsu?”

“—Isso seria minimamente possível?”

“Claro que não. Até porque, nunca houve intenção de deixar você escapar ~arinsu.”

“—Entendo.”

Arche segurou seu cajado firmemente com as duas mãos e atacou a garota. Ela não po-
dia mais usar magias já que estava sem mana. No entanto, mesmo nessa situação deses-
peradora, ela ainda tinha que tentar o seu melhor até o último momento. Este era o dever
de Arche, a única sobrevivente da Foresight.

“Isso, isso, você fez o seu melhor ~arinsu.”

A resposta da garota à ação totalmente determinada de Arche foi pouco mais do que
uma despedida entediada.

“Enfim, sua triste tentativa de fuga termina aqui... Ainda é uma pena que não lhe vi cho-
rando sem parar ~arinsu.”

A garota facilmente pegou o cajado com uma das mãos e puxou-a para si. Arche ficou
desequilibrada e caiu nos braços da garota. As duas acabaram se abraçando no ar.

Capítulo 4 Punhados de Esperança


254
OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba
255
Nessa posição, a garota enterrou o rosto no pescoço de Arche. Embora tentasse lutar, a
garota que grudava nela como cola não parecia se mexer. Ela exalava um vapor quente
no pescoço e o corpo de Arche estremeceu.

“...Mm, o cheiro de suor ~arinsu...”

Não ser capaz de manter o corpo limpo era parte categórica da vida de Trabalhadora
de Arche. Isso era verdade para todos os Trabalhadores, aventureiros, viajantes e qual-
quer um que passasse algum tempo se movendo mundo afora. Mesmo se sujassem, a
resposta apropriada seria “e daí?”

No entanto, ela ainda se sentia profundamente envergonhada por ter sido dito por uma
garota que era mais jovem e mais bonita do que ela.

O rosto da garota deixou o pescoço de Arche. Uma sensação de repulsa tomou conta de
Arche enquanto ela olhava naqueles olhos vermelhos. Dentro daqueles olhos ardia uma
luxúria pelo corpo feminino, manchado com o mesmo desejo carnal que os homens pos-
suíam pelas mulheres.

“Relaxe. Você vai morrer sem sentir qualquer sofrimento. Seja grata ao Ainz-sama por
sua misericórdia ~arinsu.”

“—!”

Arche queria responder, mas tudo o que ela sentiu foi surpresa — surpresa pelo fato de
seu corpo ter sido imobilizado. Era como se aquelas pupilas carmesins tivessem roubado
sua alma.

Por fim, Arche percebeu a verdadeira identidade da garota. Ela não era humana — ela
era uma Vampira.

“E agora....”

O rosto da garota se aproximou do de Arche, sua língua passou pelos lábios e lambeu
levemente as bochechas de Arche.

“...Salgado ~arinsu...”

A garota riu, e o desespero engoliu a alma de Arche.

Isso só fez a garota rir mais.

O som de lábios se abrindo foi ouvido. O vermelho de suas íris se espalhou para engolir
seus respectivos globos oculares.

Capítulo 4 Punhados de Esperança


256
Com um som de estalo, ela abriu a boca. O que outrora fora imaculado, dentes brancos
perolados agora eram objetos pontiagudos que evocavam a imagem de seringas médicas,
eram várias fileiras como a dentição de um tubarão. Sua voz lasciva era atada com tons
indecentes e uma saliva translucida escorria dos cantos de sua boca.

Só então, o terror envolveu Arche completamente.

“AhAhAhAhAhA!”

A mente de Arche perdeu a consciência diante do monstro risonho que cheirava a san-
gue.

A última coisa que passou pela sua mente foram os rostos de suas duas irmãzinhas es-
perando por ela.

“OoOoOoh? Já desmaiou? ...Então não há necessidade de nocauteá-la com magia. Você


pode abraçar a morte em seus sonhos ~arinsu.”

Parte 3

Depois de entregar os intrusos a seus subordinados, Ainz ativou o monitor no Salão do


Trono e examinou os dados de Nazarick. O que mais o preocupava — seus fundos res-
tantes — só havia abaixado ligeiramente. Isso porque dificilmente ativaram qualquer
armadilha de dinheiro. Assim, pode ser considerado como um exercício de treinamento
muito bem-sucedido.

Ainz se virou para Albedo — que estava nervosamente aguardando a opinião de Ainz
— e sorriu amplamente — embora um rosto esquelético não pudesse mostrar nenhuma
expressão — antes de elogiá-la:

“Excelente trabalho. Mesmo sendo intrusos fracos, eles eram bastante habilidosos entre
os humanos deste mundo. Além disso, você os eliminou com quase nenhum gasto. Parece
que posso confiar a tarefa de defesa futura a você.”

“Obrigada pelo seu elogio.”

Albedo pareceu visivelmente aliviada quando inclinou a cabeça em sinal de gratidão.

“Então, Ainz-sama, há algum problema com o tempo?”

“Nenhum. Já perguntei ao Pandora’s Actor; no momento acham que os Trabalhadores


estão dentro do estipulado, decidiram esperar um dia ou até que haja alguma mudança
nas ruínas.”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


257
Depois de ver que nenhum dos Trabalhadores havia retornado ao amanhecer, os aven-
tureiros entraram em pânico, mas Momon — Pandora’s Actor — sugeriu que esperas-
sem mais um dia para ver. Eles já haviam providenciado que deixassem o acampamento
e observassem de longe, em caso de emergência, a palavra de um aventureiro de posição
adamantite carregava mais peso do que seus planos prévios.

“Então, o senhor me cederia um pouco do seu precioso tempo? Na verdade, queria per-
guntar uma coisa, Ainz-sama.”

“Aguarde um momento... Pronto, pode dizer, Albedo.”

Ainz se virou depois de fazer uma verificação final em Hamsuke e os Lizardmen através
do monitor.

“O que quer perguntar?”

“...Sim.”

Ela olhou em volta antes de falar e:

“Isso diz respeito ao que aqueles idiotas disseram antes; quão alta está a prioridade
pela procura dos Seres Supremos em sua lista, Ainz-sama?”

“No topo. Contanto que não coloque a Grande Tumba de Nazarick em perigo, será nossa
prioridade mais alta.”

Ainz respondeu sem demora.

“Compreendo. Então, eu tenho uma proposta, o senhor me permitiria montar uma uni-
dade sob meu comando que irá procurar os Seres Supremos?”

“Como seria isso?”

O tom de Ainz inconscientemente ficou rígido, porque ele percebeu o lado escuro que
espreitava dentro de seu coração.

Até este exato momento, ele teve várias oportunidades de procurar ativamente por
seus amigos. No entanto, continuava adiando este plano porque sempre dizia “Não tenho
mão de obra” ou “Não tenho informação suficiente”.

Isso porque ele estava com medo de vasculhar todos os cantos do mundo e não encon-
trar nada, então ele não se sentia à vontade para tomar essa decisão. Em vez de trabalhar
arduamente apenas para confirmar que estava sozinho, tornar-se uma entidade famosa
era algo que dava uma esperança maior.

Capítulo 4 Punhados de Esperança


258
“Bem. As mentiras que aqueles tolos contaram ainda a pouco foram bem amadoras e
instantaneamente percebidas. Contudo, podemos encontrar informações no futuro cuja
veracidade não pode ser facilmente determinada. Assim sendo, gostaria de formar uma
equipe para verificar a confiabilidade dessas informações e, ao mesmo tempo, investigar
o paradeiro dos Seres Supremos. Depois de investigar em detalhes, posso relatar os re-
sultados para o senhor, Ainz-sama.”

Ainz acariciou o queixo com uma mão ossuda.

“Faz sentido...”

Ele murmurou para si mesmo. Pensou em sua conversa com os Trabalhadores, e o que
ele sentiu não fôra raiva, mas desolação. A oscilação entre a esperança e o desespero era
realmente uma coisa de cortar o coração. Deixando de lado seu próprio sentimentalismo,
parece que, como líder do grupo, era hora de decidir avançar, mesmo que fosse apenas
por um pequeno passo.

“Você não precisa fazer tudo sozinha, Albedo. Espero que possa continuar adminis-
trando bem Nazarick. Se pretende coletar informações mundo afora... Mare ou a Aura
não seriam escolhas melhores? Ouvi dizer que há Elfos Negros no mundo exterior.”

“Exatamente como diz. Porém, há um fator que me deixa desconfortável; a perda de


controle. Por exemplo, se a Shalltear pegasse o rastro do Peroroncino-sama, ela certa-
mente abandonaria tudo em prol disso. Da mesma forma, se a Aura e Mare acharem algo
da Bukubukuchagama-sama, não há como dizer o que os gêmeos farão.”

“Tem razão...”

Ainz sorriu sem graça enquanto pensava em Shalltear e completou:

“De fato, eu sinto que é uma possibilidade.”

“Para evitar isso, sinto que uma equipe que é diretamente leal a mim seria o mais apro-
priado.”

“...Mas quanto a você? Não sairá de controle quando souber do Tabula-san?”

“Peço que fique tranquilo quanto a isso. Por ser a Supervisora Guardiã de Nazarick, não
o farei sob nenhuma circunstância. Eu prometo.”

“Sei...”

Quando se tratava de Albedo, uma sábia mulher que era a mais habilidosa na adminis-
tração interna de Nazarick, as chances dela sair do controle devido a emoções deveriam
ser muito baixas. Embora ela ficasse meio desequilibrada de vez em quando, nunca

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


259
houve problemas, como fugir de Nazarick, enquanto Ainz se aventurava fora, então ela
era digna de confiança.

“Pessoalmente, sinto que o Demiurge se sairia muito bem nisso, mas ele já tem afazeres
demais. E impor mais uma tarefa, ainda mais do porte de encontrar vestígios dos Seres
Supremos, seria um tanto trabalhoso.”

“Concordo plenamente. Então, que tal despachar o Pandora’s Actor?”

“Eu estava prestes a mencionar isso. Se possível, eu gostaria de pedir que o senhor me
designasse o Pandora’s Actor como meu ajudante, Ainz-sama.”

“Entendo. Ter dois grandes intelectos de Nazarick trabalhando juntos reduzirá as chan-
ces de erros em comparação a apenas um, mas... ele é bem atarefado na Tesouraria.
Sendo assim, vou emprestá-lo quando surgir a necessidade.”

“Obrigada, Ainz-sama. Posso fazer mais alguns pedidos?”

Ainz levantou o queixo, indicando que ela deveria continuar.

“Eu gostaria que meus subordinados para a equipe de busca dos Seres Supremos fos-
sem poderosos.”

“Sem problemas, vou atribuir um grupo dos vassalos de nível mais alto a você.”

“Obrigada, Ainz-sama. Além disso, acho que seria muito útil se o senhor pudesse doar
[Tenente Morto-Vivo]
um Undead Lieutenant feito à mão pelo senhor.”

“Isso, eu não posso aprovar. De fato, os Undeads Lieutenant que posso fazer são de nível
noventa, mas—”

Em vez de NPCs mercenários, uma das habilidades de Ainz permitia que ele usasse pon-
[Overlord S á b i o ] [Tânatos o C e i f a d o r C r u e l ]
tos de XP para criar seres undeads como o Overlord Wiseman ou Grim Reaper Thanatos.
Eram muito poderosos, mas Ainz só podia ter um de cada vez. Todavia, este mundo não
era como YGGDRASIL, onde grandes quantidades de pontos de experiência eram fáceis
de encontrar e, assim, ele queria evitar habilidades que consumissem pontos de experi-
ência.

“Que seja, vou passar a respeito. Albedo, você estará no comando da equipe, seu aju-
dante será o Pandora’s Actor, e os outros membros da equipe serão monstros.”

“Entendido. Há também mais uma coisa; eu gostaria de manter este grupo em segredo
e não deixar que os outros Guardiões saibam disso.”

“Por quê? Não será melhor ter a ajuda dos Guardiões?”

Capítulo 4 Punhados de Esperança


260
“Não. Se as notícias vazarem de forma descuidada, os Guardiões ou outras criações dos
Seres Supremos poderão pedir-nos que os levemos para confirmar rumores. Nesse caso,
eles podem acabar caindo em armadilhas se tal notícia for uma isca. Minhas habilidades
são orientadas para a defesa, então eu poderia ser capaz de escapar sozinha, mas seria
mais difícil se eu tivesse que proteger os outros.”

“Isso faz sentido. Muito bem, Albedo. Vamos proceder como você achar melhor.”

“Obrigada, Ainz-sama!”

Albedo curvou-se profundamente em agradecimento e seus longos cabelos caíram co-


brindo seu rosto.

“Tudo bem. Conto com sua astúcia.”

“Oro para que não se preocupe, Ainz-sama! A unidade secreta que executará seus dese-
jos mais profundos não o desapontará.”

Ainz ficou intrigado. O fraseado da resposta dela pareceu um pouco estranho.

Bem, tanto faz.

“Então, vamos selecionar seus subordinados. Eu não tocarei nos vassalos já atribuídos
aos vários Andares, mas sim em novos. Quantos monstros de nível acima do oitenta você
precisa?”

“Creio que quinze.”

“Quinze? Isso é um pouco demais...”

No meio da conversa, Ainz balançou a cabeça. Procurar por seus antigos amigos era
uma tarefa importante; ele não deveria estar considerando a despesa:

“Ignore, é um número razoável.”

“Há outra coisa que gostaria de perguntar; posso ter autoridade de comando sobre a
Rubedo?”

“Negado.”

Ainz respondeu instantaneamente.

Rubedo era a entidade mais poderosa de Nazarick. Puramente em termos de combate


corpo a corpo, ela era mais forte que Sebas, Cocytus e Albedo. Com toda a probabilidade,
até mesmo um Ainz totalmente equipado não poderia vencê-la, mesmo Shalltear — a
mais forte Guardiã de Andar — seria considerada fraca em comparação a ela.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


261
Os únicos capazes de vencê-la estão no Oitavo Andar e, mesmo assim, precisam estar em
posse de um item World-Class. E dificilmente ela poderia levar um deles consigo, mas...

“Embora o experimento de ativação tenha sido um sucesso, não pretendo mobilizá-la


agora. Você me deixou intrigado, Albedo; por que precisa de tanto poder de luta?”

“Me envergonha ter que dizer isso, mas o senhor estaria disposto a ouvir, Ainz-sama?”

“Claro.”

“Como essa é uma chance rara, eu queria reunir o time mais forte possível.”

“Hahahaha—!”

O desejo de Albedo pode ter soado como o de uma criança, mas Ainz entendeu e não
pôde deixar de rir. A emoção foi prontamente reprimida, mas ondas de alegria perma-
neceram em seu rastro.

“Ainz-sama!”

Ao ver o olhar aflito no rosto de Albedo, Ainz sorriu para ela — embora seu rosto não
se movesse — e respondeu:

“Desculpe, desculpe. Não, hm, isso é bem interessante. Mas é claro. Nesse caso, como
ela é sua irmã, eu vou passar a autoridade de comando para você.”

“O senhor realmente vai permitir isso?”

“Claro; vá montar seu time dos sonhos. Até onde sabemos, podemos precisar usar o
poder dessa sua equipe no futuro.”

“Muito obrigada, Ainz-sama!”

Albedo curvou-se profundamente, o que escondeu seu rosto, mas Ainz imaginou que
ela estaria sorrindo benignamente como sempre. Ainz voltou sua atenção para os moni-
tores mais uma vez. Só então, alguém entrou no Salão do Trono; era Entoma. Ela cami-
nhou até o Trono, então genuflectiu diante dele e inclinou a cabeça.

“—Com licença.”

“O que é, Entoma?”

A voz de Albedo soou muito rígida. Entoma respondeu com um “—Sim” e continuou
respondendo mantendo a mesma posição.

Capítulo 4 Punhados de Esperança


262
“—Aura-sama e Mare-sama estão prestes a sair, e eu vim relatar.”

“Então é isso... levante a cabeça.”

Entoma respondeu com um grampeado “—Sim” mais uma vez e depois olhou para cima.

“Ainda há tempo, eu irei pessoalmente. Comunicar com magia é muito chato. Entoma,
perdoe-me, mas avise os dois.”

“—Entendido.”

Entoma levantou-se e foi embora. Albedo observou-a enquanto ela se afastava, depois
se inclinou para Ainz e perguntou:

“...Ainz-sama, o senhor não está descontente? Eles deveriam ter enviado uma empre-
gada diferente da Entoma. Vou repreendê-los mais tarde.”

“...Pelo o quê?”

“Bem, é que eu simplesmente senti que não deveriam ter deixado o senhor ouvir a voz
rude daquela humana, Ainz-sama—”

“Oh, eu não me importo. Na verdade, foi minha sugestão que a Entoma pegasse a voz
dela— Espere! Entoma!”

“—Sim, senhor! Algum problema?”

Entoma estava prestes a voltar apressadamente quando Ainz estendeu a mão para im-
pedi-la, indicando que ela deveria respondê-lo a partir de sua localização atual.

“O que aconteceu com as outras partes? Foram bem utilizadas?”


[Demônio Chapeu d e S e d a ]
“—Sim. A cabeça foi para um S i l k Hat Demon. Os braços foram compartilhados entre
[ M o r t o Briguento]
os Deadman Struggles. Demiurge-sama pegou a pele. As outras partes foram divididas
para as crianças de Grant. Eu acredito que não houve desperdício.”

“Mesmo? Excelente. O dever de um caçador é fazer bom uso de cada parte de sua caça.
Se todos os caçadores o fizessem, poderiam criar uma caça sustentável.”

“És realmente... muito gentil. Como esperado do Supremo, o senhor mostra bondade até
mesmo para ladrõezinhos imundos. Certamente todos em Nazarick iriam derramar uma
lágrima se ouvissem o que acabou de dizer, Ainz-sama.”

A voz de Albedo tremia de emoção enquanto falava. Os olhos de Entoma estavam cheios
de um respeito sem igual.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


263
“...Uhum. Ah, bem... isso é apenas minha opinião, não é para forçá-la a ser como eu. Em-
bora, eu ainda... sinta que fazer pleno uso disso é apenas cortesia comum.”

“—Sim, senhor. Tenho certeza que os outros farão bom uso deles também!”

Quando ele viu as duas se curvando profundamente diante dele, Ainz teve a sensação
de que havia perdido alguma coisa em algum lugar, e tudo o que ele pôde responder foi
“Mhn”.

Parte 4

O Ministério da Magia tinha várias salas de reunião e salas de hóspedes. Fluder estava
indo para a sala de hóspedes mais luxuosamente mobiliada de todas. Era uma sala que
só era usada para as visitas do Imperador ou de outras pessoas de alta classe.

Fluder ficou ao lado da porta do quarto e checou sua aparência.

Seu manto era requintado e adequado para ser usado nas galas noturnas organizadas
pelo Imperador, enquanto o esguicho de colônia em sua gola e mangas irradiava uma
fragrância jovial.

Fluder não tinha interesse em política ou interações sociais. Em vez disso, ele esperava
poder concentrar todos os seus esforços na pesquisa de magia, por isso achava todos os
outros assuntos irritantes. No entanto, ele sabia que não podia ignorar completamente
tais problemas.

Ele não queria ferir a dignidade do Império aparecendo despenteado.

Muito bem, assim está bom.

Depois de se assegurar de que suas vestes estavam em um estado imaculado, ele bateu
na porta e entrou.

Havia dois aventureiros na luxuosa sala. Um deles era um guerreiro, vestido com arma-
dura tão preta como a do Death Knight de antes. E então, a outra era uma linda mulher
tão graciosa que chegou a hipnotizar Fluder por um momento.

Então eles são Momon da Escuridão e a Bela Princesa Nabe?

“Perdoe-me por manter os dois esperando.”

Quando Fluder silenciosamente fechou a porta, de repente ele teve uma sensação es-
tranha.

Capítulo 4 Punhados de Esperança


264
“...Indefinível...”

Ele permaneceu na porta, olhando para a beleza de cair o queixo.

...Não consigo ver?

Os olhos de Fluder deveriam ter visto uma imagem sobreposta a ela. No entanto, ele
não podia ver agora, o que o deixou sem palavras por causa do choque e da perplexidade.

O Talento de nascença de Fluder era a capacidade de ver as auras ao redor de magic


caster arcanos e, portanto, os níveis de magias que eles poderiam usar.

No entanto, o Talento de Fluder não conseguia sentir as auras ao seu redor, apesar de
ouvir que a Bela Princesa Nabe da Escuridão era uma magic caster arcana.

Proteção contra adivinhações?

Essa era a única possibilidade, mas isso, por sua vez, levantou novas questões. Por que
ela se protegia contra adivinhações? Aventureiros normais não erigiriam tais defesas.
Isso porque reservar parte de seus poderes para isso seria problemático, eram raras as
situações onde algo do tipo seria necessário. Além disso, não tirar a proteção de adivi-
nhações quando encontrá-los era bastante rude.

Bem, eu mesmo usei uma habilidade de detecção, sei que fui um pouco indelicado tam-
bém... mas o que ela está escondendo de mim?

O Talento de Fluder era bem famoso, talvez ela tenha feito isso para se proteger, mas
ele ainda não sabia o motivo.

Ao ver Fluder intrigado, seus convidados um tanto surpresos perguntaram:

“Aconteceu algo?”

“Ohh, por favor, perdoe minha grosseria.”

Fluder sentou-se diante de Momon, mas não pôde deixar de encarar Nabe.

“Ah, claro. Bem, vamos começar.”

Começar o quê? Antes que Fluder pudesse perguntar, Momon tomou a iniciativa e disse:

“...Nabe, tire o seu anel.”

“Como desejar.”

Nabe retirou o anel. Naquele momento—

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


265
♦♦♦

Parecia que uma explosão havia deflagrado em seu rosto.

Um grito de “QUÊÊÊ—!?” Escapou de sua garganta.

O corpo de Nabe irradiava uma onda de poder forte o bastante para balançar o mundo.

Seu corpo não estava sendo realmente assaltado por uma onda de pressão excessiva.
Esta foi uma onda de força que só alguém com os Talentos de Fluder podia ver.

Fluder se enrolou em uma bola e tremeu, como um homem açoitado por ventos gelados.

“Im...possível...”

Não era possível, não poderia ser possível. Não havia jeito — de jeito nenhum havia
alguém mais poderoso que ele.

Mas ele não podia rejeitar os fatos, porque a cena diante dele era realidade. Sua habili-
dade nunca o havia traído antes — o poder da bela donzela era muito superior ao dele.
Essa era a mais puta verdade.

“Sétimo... não, não me diga que, esse fluxo de poder é... a prova do oitavo nível...?”

Se assim fosse, uma mulher digna das lestas estava diante dele.

Fluder não podia mais falar, afinal a magia do 5º Nível era o domínio dos heróis. E o 6º
Nível que Fluder alcançou pertencia ao desconhecido. E agora, alguém que facilmente
subira um degrau subitamente aparecera diante de seus olhos.

Uma mulher de idade e beleza ímpares.

Será que a aparência não corresponde à idade?

Quando Fluder tremeu em choque, ele notou Momon removendo uma de suas mano-
plas pretas, e então ele removeu um dos anéis que ele usava.

“—!”

Naquele instante, seu mundo se transformou em luz e Fluder sentiu sua consciência
desvanecer.

Ele não conseguia entender o que acabara de acontecer diante de seus olhos. Mesmo
Fluder, que viveu mais de 200 anos, mesmo esse homem que poderia usar os níveis mais

Capítulo 4 Punhados de Esperança


266
altos de magia que a humanidade poderia alcançar, não pôde compreender essa reali-
dade.

“Is-is-isso é... isso é impossível!”

Líquido quente correu pelas bochechas de Fluder. No entanto, ele não tinha a presença
de espírito ou a compostura para limpá-lo. O imenso choque dominou sua mente.

Quem poderia imaginar? Que o Guerreiro Negro das canções e da história era na ver-
dade um magic caster arcano e alguém que pertencia a um pico de poder tão grande que
Fluder jamais poderia esperar sequer tocar?

“Se esse é o oitavo nível... então este é o nono... não... minha nossa... oh, deuses...”

O esmagador poder que emanava do Guerreiro Negro Momon excedia em muito o de


Nabe, que se sentava ao seu lado. Desde que ele havia superado Nabe, uma magic caster
com nível equivalente à do 8º nível, então exatamente que alturas de magia Momon al-
cançou?

A alma de Fluder respondeu à pergunta que apareceu no canto de sua mente.

♦♦♦

—O 10º nível. Um zênite absoluto cuja existência era teorizada, mas que nunca havia
sido comprovada. E agora, um homem capaz de usar o ultimato derradeiro da magia
aparecera diante de seus olhos.

♦♦♦

Fluder levantou-se, depois se ajoelhou diante de Momon, com lágrimas escorrendo de


seus olhos.

“...No passado, eu acreditei que uma divindade menor governava a magia. No entanto,
se Vossa Onipotência não é esse Deus, então eu prontamente renunciarei a minha fé. Isso
porque o verdadeiro Deus se dignou a aparecer diante de mim.”

Fluder se curvou com todas as suas forças, colando a cabeça no chão. Doeu, mas a ale-
gria incontrolável em seu coração significava que a dor perdera todo o significado para
ele.

“Eu sei que isso é extremamente rude, mas eu vos imploro um favor, flua vossa benção
em minhas mãos e joelhos! Por favor, me conceda vossos ensinamentos! Desejo vislum-
brar o abismo da magia! Eu vos imploro! Eu vos imploro!”

“—E que tipo de preço está disposto a pagar por isso?”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


267
Aquela voz era tão fria quanto um iceberg. Isso seria um consenso em todos; ainda as-
sim, para os ouvidos de Fluder, era uma voz doce e agradável que deixava seu coração
agitado. Claro, ele sabia do veneno escondido dentro dessas palavras. Ainda assim — e
daí?

Fluder não hesitou nem por um momento. Ele estava disposto a pagar o preço. Ele es-
tava disposto a entregar sua alma.

“Tudo! Sim, prometo tudo o que tenho! Senhor do Abismo! O Ser Insondável!”

“...Muito bem. Se estiver disposto a me dar tudo, então meu conhecimento será seu. Eu
concederei seu desejo.”

“Ohhh! Ohhhhh!”

Fluder enterrou a testa no chão enquanto derramava lágrimas de alegria. Seu coração,
congelado e duro de ciúmes, havia derretido. Depois de esperar mais de 200 anos, ele
finalmente obteve a chance de cumprir o desejo que havia mantido por tanto tempo.

Fluder — totalmente extasiado — manteve a testa tocada no chão enquanto se arras-


tava até os pés de Momon e beijava suas botas. Ele planejara originalmente lambê-las.
No entanto, a parte calma de sua mente preocupava-se com o fato de que seu mestre e
deus ficaria enojado com ele, por isso se contentou com essa cortesia.

“Isso é o suficiente, eu entendo sua lealdade.”

“Ohhh! Obrigado! Meu Mestre!”

“Vejamos, sua primeira tarefa será... Entregue sacrifícios vivos à minha fortaleza—”

♦♦♦

“Velhote! Velhote! O que há de errado, velhote?”

Perdido em pensamentos, Fluder voltou a si quando ouviu alguém chamando por ele.

Fluder piscou algumas vezes, depois lembrou-se de onde estava e assentiu para a pes-
soa que o chamara.

“Perdoe-me, Vossa Majestade Imperial. Eu estava pensando em alguma coisa.”

Diante de Fluder era a única pessoa que poderia chamá-lo de “velhote”. Essa pessoa era
o Imperador do Império Baharuth, Jircniv Rune Farlord El-Nix.

Normalmente, haveria apenas algumas pessoas nesta sala, mas agora, havia muitos aqui.
Havia o Imperador Jircniv e quatro guarda-costas. Lá estava Fluder Paradyne, o mais alto

Capítulo 4 Punhados de Esperança


268
mestre de magia do Império. Depois, havia 10 ministros leais e capazes, cujas habilida-
des poderiam efetivamente apoiar seu imperador excepcionalmente inteligente. Além
disso, uma das pessoas saudadas como as mais fortes do Império — “Relâmpago” Bazi-
wood Peshmel dos Quatro Cavaleiros Imperiais — estava presente.

Todos estavam sentados onde queriam, e estavam discutindo a direção que o Império
tomaria desde agora. As folhas de papel espalhadas por toda parte testemunhavam a
intensidade de seu debate. Um deles até gritou rouco.

O jovem Imperador falou algo para Fluder, algo que ele nunca teria dito a ninguém mais.

“Não, não se preocupe. Há anos tem me ajudado. Eu sei que às vezes exijo muito de você
ainda mais pela sua idade, mas a situação não me permitiu considerar seu lado. Eu sinto
muito”

“Agradeço a preocupação, Vossa Majestade Imperial. No entanto, eu sou um servo fiel


de Vossa Majestade Imperial. Peça-me o que desejar, será uma honra ser útil.”

Depois de ser louvado por seu serviço, Fluder acenou com a cabeça ligeiramente.

Eu criei um bom menino.

Esses pensamentos passaram pela mente de Fluder quando ele olhou para o jovem bem
afeiçoado.

Fluder começou a trabalhar para o Império há cerca de seis gerações.

Sua relação com o imperador naquela época — seis gerações antes de Jircniv — tinha
sido muito ruim. No entanto, desde muito jovem Fluder era um habilidoso magic caster
capaz de conjurar magias de alto nível e, após entrar na vida pública, ele avançou rapi-
damente os altos escalões dos magos da côrte.

Com o passar do tempo, Fluder se tornou mais próximo do Imperador da quinta gera-
ção antes de Jircniv . Depois de se tornar o Chefe da Côrte de Magia, ele começou a ins-
truir o quarto Imperador antes de Jircniv sobre magia.

Desde a terceira geração antes de Jircniv subiu ao trono, ele assumiu o papel de ensinar
o imperador vigente sobre todos os tipos de conhecimentos, também teve considerável
influência na implementação de políticas.

E agora, havia o atual imperador — seu amado garoto.

Fluder testemunhou gerações de imperadores, e não havia um único incompetente en-


tre eles. Na verdade, os deuses pareciam ter sorrido para cada um deles; todos tinham
talento e inteligência — exceto o de seis gerações atrás, que já era velho na época. Dentre

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


269
todos, o atual Imperador possuía inteligência para superar todos antes dele. Mesmo em
tenra idade, Jircniv já havia superado os feitos de duas gerações passadas.

Fluder gostava profundamente de Jircniv Rune Farlord El-Nix.

Fluder lhe ensinara como se fosse seu próprio filho. Ele tinha certeza de que o Impera-
dor também o amava e respeitava como um segundo pai.

Mesmo assim—

♦♦♦

Mesmo que Fluder o amasse como seu próprio filho, ele ainda o descartaria.

Eu quero ver o abismo da magia, Jir. Eu deixarei de lado qualquer coisa sem hesitação. Até
um rapaz querido como você.

♦♦♦

“Então Vossa Majestade Imperial, decidimos parar completamente a ofensiva contra o


Reino, correto?”

“De fato. Isso porque investigar o demônio Jaldabaoth é mais importante. Velhote, des-
cobriu alguma coisa?”

“Lamento dizer que, apesar das minhas investigações, ainda não encontrei nenhuma
informação, Vossa Majestade Imperial.”

De fato, tudo foi organizado de antemão.

“Paradyne-sama. O senhor não pode usar magia para investigar?”

Fluder virou-se para o homem que se dirigira a ele, fingiu cuidadosamente uma expres-
são e depois olhou friamente para ele.

“De fato, a magia é potencialmente capaz de realizar o impossível. Isso é—”

“—Um momento, Velhote. Uma vez que começa a falar sobre esse tipo de coisa, você
tende a divagar o dia todo. Vamos pular os detalhes e ir direto ao ponto.”

“Como desejar, Vossa Majestade Imperial.”

Respondeu Fluder com um olhar um tanto infeliz em seu rosto. Então, começou a falar
novamente em um tom pedagógico:

Capítulo 4 Punhados de Esperança


270
“Existem maneiras de resistir à investigação mágica. Por exemplo, esta sala é à prova
de som; creio que todos saibam disso. Da mesma forma, impedir magia de adivinhação
é algo que pode ser feito da mesma forma.”

“...Entendo. Em outras palavras, se existem maneiras de resistir, então é muito difícil.”

“Precisamente. Mas é preciso ter sorte ao tentar algo assim. Os magic casters de alto
nível podem até preparar contra-ataques contra esse tipo de magia; se as coisas corre-
rem mal, podem matar diretamente o adivinho que tentou espionar.”

É lamentável minha compreensão da magia... O Supremo sim conhece tudo sobre magia.
Preciso demonstrar minha utilidade o mais rápido possível—

Várias pessoas tinham o olhares de pavor quando souberam que seu adversário pode-
ria matar instantaneamente quem tentasse espionar, mas Fluder estava totalmente de-
sinteressado.

“Então, de acordo com suas palavras.”

Disse um dos ministros enquanto pegava uma folha de papel:

“O fato de conseguir detectar a base deste magic caster Ainz Ooal Gown com uma magia
não significa que as habilidades dele estão abaixo da sua, Paradyne-sama?”

“Ingênuo!”

Fluder esforçou-se para não sorrir sem graça enquanto continuava em tom áspero, para
melhor impressionar as profundezas de seu aborrecimento com o outro grupo.

“Não seja tão otimista. Isso foi só depois que eu testemunhei ele salvando o Vilarejo
Carne... ou melhor, depois que eu soube como ele protegeu o Vilarejo Carne que realizei
uma vigilância mágica da área, só então eu notei as ruínas. Como eu não tinha lembrança
de ruínas por lá, continuei minha observação pelas redondezas; tempos depois notei um
ser com as características do dito Ainz Ooal Gown entrando nas ruínas. Creio que ainda
deve se lembrar de que eu o descobri inteiramente por acaso, caso contrário, aconselho
procurar um tratamento para demência!”

Parte disso era a verdade. Só um idiota levaria um ser tão bondoso com ânimos leves.
Não, para ser mais exato, ele também tinha sido muito tolo; a ignorância era uma coisa
verdadeiramente trágica.

Fluder riu silenciosamente da tolice do passado. Naquela época, ele realmente tinha
sido ignorante.

“Me perdoe.”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


271
Fluder acenou com a mão para aceitar o pedido de desculpas do homem.

“Por falar nisso, Velhote. E os Trabalhadores que enviou para a casa dele?”

“Um dos espiões que os seguia enviou um relatório via 「Message」. Parece que estão
todos mortos.”

Jircniv contou os dias em seus dedos e então seus olhos se arregalaram um pouco. Ele
ouvira dizer que os Trabalhadores eram bastante capacitados. O fato de que tal poder de
luta tinha sido aniquilado em um dia ou menos foi bastante surpreendente.

Escusado dizer que Fluder não ficou surpreso. Ele sabia que tal resultado era inevitável.
Ainda assim, portava um olhar de descrença.

“...Mesmo? Todos sabem que não se pode confiar cegamente em comunicação mágica.
Quanto tempo até os aventureiros retornarem?”

“Eles decidiram recuar imediatamente, pois ninguém voltou vivo, mas parece que le-
vará quatro dias para voltarem.”

“Melhor esperar pelo seu retorno... Pode levar até cinco dias. Até lá, só nos resta aguar-
dar.”

「Message」 era uma maneira pouco confiável de transmitir informações. Isso porque
quanto maior a distância entre eles mais ruído entrava na comunicação. Além disso, ha-
via outra razão pela qual o Império não confiava em métodos como 「Message」.

O exemplo mais famoso foi a tragédia de Gatenbarg.

Cerca de 300 anos atrás, esse país havia criado uma rede 「Message」 entre suas cida-
des para aumentar a velocidade de transferência de informações. Era uma nação huma-
noide governada por magic caster. Devido à sua excessiva confiança no 「Message」,
caiu no caos depois de receber apenas três relatórios falsos. As cidades guerrearam
umas contra as outras e, além disso, foram atacadas por monstros e demi-humanos, e
assim o país pereceu.

Além disso, os bardos também cantaram músicas sobre maridos que assassinaram suas
esposas depois de serem informados da traição, apenas para descobrir depois que eram
notícias falsas o tempo todo.

Como resultado, poucas pessoas confiavam em 「Message」 para passar informações.


Pelo contrário, aqueles que depositaram muita fé nesta magia eram tratados como tolos.
Jircniv era desses, ele fazia uso de 「Message」, mas sempre com redundâncias e nunca
confiando apenas na magia.

Capítulo 4 Punhados de Esperança


272
“O Conde foi um tolo. Se tivesse contratado Trabalhadores de E-Rantel, as coisas teriam
se encaixado melhor no nosso plano. Ainda assim, ser tão incompetente fez dele o fanto-
che perfeito, mas ele pode causar problemas demais. Nem para ser uma boa isca ele
serve.”

“É como Vossa Majestade Imperial diz.”

♦♦♦

Jircniv franziu as sobrancelhas ao ouvir Fluder concordar com ele.

Fluder havia proposto um plano há vários dias, e Jircniv o aceitara. Esse plano tinha
dois objetivos.

O primeiro consistia em apreender a personalidade de Ainz Ooal Gown.

De acordo com as investigações de Fluder, a reação de Ainz Ooal Gown foi não deixar a
tumba por vários dias, então eles determinaram que a tumba era sua base. Assim, eles
despacharam os Trabalhadores para lá, com a finalidade de observar como Ainz Ooal
Gown reagiria.

Restava saber se ele trataria as pessoas que invadissem seu lar com gentileza ou se ele
resistiria às visitas indesejadas?

Mas no fim, os Trabalhadores foram todos massacrados e, a partir daí, aprenderam so-
bre parte de seu caráter.

O outro objetivo era arruinar o relacionamento do Reino com Ainz Ooal Gown. Teria
sido melhor contratar Trabalhadores em E-Rantel, mas infelizmente as coisas não ti-
nham corrido tão bem.

Se bem que ele não é tão estúpido...

Tudo o que o Conde ouvira era que se tratava de ruínas desconhecidas. Ele já havia
assumido um grande risco ao ser um nobre do Império invadindo ruínas no território
do Reino, então contratar Trabalhadores do Reino exigiria ainda mais coragem. Era difí-
cil culpá-lo por usar os Trabalhadores do Império.

Contudo, isso significava que não puderam estragar a relação entre E-Rantel — ou tal-
vez o Reino Re-Estize — e Ainz Ooal Gown. Portanto, a fim de alcançar seu segundo ob-
jetivo, eles tiveram que enviar informações sobre essa tumba desconhecida para a Gui-
lda dos Aventureiros do Reino.

“A visita de Momon ao Império é a peça-chave.”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


273
“Certamente. E agora, ele contará à Guilda sobre as ruínas desconhecidas e como os
Trabalhadores foram eliminados. Dessa forma, o Reino saberá que o Império deseja re-
vistar essas ruínas e montará uma investigação oficial por conta própria.”

Foi para alcançar esse objetivo que eles forçaram o envolvimento da Guilda dos Aven-
tureiros nisso. Claro, eles não o fizeram no nome do imperador. Simplesmente espalha-
ram alguns rumores pelos espiões para encorajar tal ocorrência.

Este incidente precisava ser liderado por um nobre tolo agindo por conta própria. Dessa
forma, mesmo que o envolvimento do Império fosse revelado, a hostilidade de Ainz Ooal
Gown seria direcionada ao Conde, que seria um mero fantoche. Com tudo isso, Jircniv
poderia construir um relacionamento amigável se compadecesse com Ainz.

“Idealmente, os aventureiros do Reino invadirão o covil de Ainz Ooal Gown e serão res-
pondidos com força letal. Que tipo de resposta um poderoso magic caster fará contra o
Reino? E o que o Reino fará quando for atacado? Eu espero ansiosamente por isso.”

Jircniv riu. Então, apenas por desencargo de consciência, ele perguntou:

“Já tenho noção do poder de Ainz Ooal Gown. Já que ele pôde eliminar equipes de Tra-
balhadores sem o menor esforço. Então este assunto deve ser tratado e apurado minu-
ciosamente, oferecer a cabeça daquele Conde pode ser um bom pedido de desculpas.”

“Com certeza. Nos esforçamos muito para orquestrar tudo isso, somente as pessoas
aqui presentes sabem a verdade.”

“Ótimo. Mas por precauç— o que foi isso?”

Um tremor interrompeu as palavras de Jircniv. As janelas da sala e os móveis sacudiram.


No entanto, não parecia ser um terremoto. Era mais como um grande tremor causado
por alguma coisa massiva caindo no chão.

“O que aconteceu? Vejam o que— e que tumulto é esse!? O que está acontecendo!?”

Os lamentos que Jircniv ouviu não foram apenas de dentro da sala, mas também do lado
de fora. As paredes eram grossas e resistentes. Nesse caso, quão alto estavam as pessoas
do lado de fora gritando? O que provocou esse grito — o som menos esperado para esse
lugar?

Um de seus vassalos olhou para o pátio de onde os gritos vieram e depois de examinar
a situação, seu rosto ficou pálido quando ele respondeu à pergunta de Jircniv.

“Vossa Majestade Imperial! Um Dragão! Um Dragão pousou no pátio!”

Por um breve momento, uma onda de estupefação passou pela sala. Ninguém poderia
analisar imediatamente o significado dessa frase. Sequer fazia sentido. Todos sabiam

Capítulo 4 Punhados de Esperança


274
que ele não poderia estar mentindo, mas todos correram para a janela para ver com seus
próprios olhos.

Eles praticamente escancararam as pesadas cortinas. Depois de ver o que havia por trás
delas, a cena do lado de fora da janela de vidro translúcido — a de um Dragão no meio
do pátio —, cada um deles ficou sem palavras e boquiaberto.

“Por quê... por que há um Dragão lá? De onde veio o Dragão?”

“Ministro dos Negócios Estrangeiros! Foi informado de alguém atrevido o bastante para
pousar de Dragão no pátio hoje?”

“Obviamente não!”

“Viu os Dragões do Estado do Conselho antes? Será um Dragão deles?”

“...Esse Dragão não corresponde à descrição que me foi dada. O diplomata que me disse
isso é de confiança.”

“Nada disso importa; certamente o maior problema é deixar seja lá quem for tentar en-
trar no Palácio Imperial, não? Sua Majestade Imperial está aqui; o que a Guarda Imperial
Aérea está fazendo!?”

Os Dragões possuíam corpos poderosos embainhados em grossas escamas, suas expec-


tativas de vida excediam amplamente as da humanidade, eles tinham todo tipo de habi-
lidades especiais e mágicas, e eles eram os seres mais poderosos do mundo. É claro que
a força dos Dragões variava entre os indivíduos, e havia histórias ocasionais de um aven-
tureiro derrotando um Dragão. Mas ao longo do curso da história, também houve cida-
des devastadas por um Dragão em fúria, às vezes até países inteiros. Uma cidade em um
país do sul havia sido destruída por um Dragão há cerca de 20 anos, a lembrança ainda
estava fresca na memória das pessoas.

O fato de que tal ser apareceu no meio do Palácio Imperial alertava para algo possivel-
mente grave. E até mesmo Jircniv prendeu a respiração enquanto examinava a situação.
Nesse momento, ele viu duas pessoas descerem das costas do Dragão.

Ele apertou os olhos e viu que eram duas crianças de pele bronzeada.

“Aqueles devem ser Elfos Negros.”

Fluder afirmou calmamente as espécies desses dois.

“Paradyne-sama! De onde veio esse Dragão!? E quem são aquelas pessoas?”

“Bem, eu não reconheço esse Dragão...”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


275
O Dragão no pátio estava cercado pelos cavaleiros, para não falar das duas pessoas que
haviam acabado de descer dele. Aqueles cavaleiros eram o orgulho do Império, mas ele
não conseguia colocar sua fé neles quando estavam diante de um Dragão. Essa era a raça
dos seres mais fortes.

Um homem saiu do meio dos cavaleiros, um homem que carregava um escudo em cada
mão.

“Ei, ei, ele vai lá fora mesmo? É, tá certo que ele é o mais capaz pra isso... Mas seria uma
tragédia ele morrer, não?”

A pessoa que deu um passo em frente foi um dos Quatro Cavaleiros Imperiais, “O Intan-
gível” Nazami Enec.

Ele era um dos mais importantes guerreiros do Reino, o mais adepto dos Quatro Cava-
leiros em batalhas defensivas. Este guerreiro capaz de resistir a muitos ataques podero-
sos parecia quase insignificante quando comparado a um Dragão. Todos puderam ape-
nas concordar com a previsão de “Relâmpago” Baziwood Peshmel sobre o destino de seu
colega.

“Vossa Majestade Imperial, por favor, se abrigue!”

“Onde? Qual lugar é seguro em face de um Dragão?”

Bufou Jircniv ante a sugestão do ministro que havia caído em si.

“Mas—!”

“—Mas nada, eu já sei. Se abandonarmos o Palácio Imperial e fugirmos, nos tornaremos


alvo de piadas. O mesmo ainda vale se nosso adversário for um Dragão. Realmente não
pareça um Dragão do Estado do Conselho... Quer dizer que nosso inimigo fez isso sa-
bendo que eu não fugiria...? Dizem que os Dragões são muito inteligentes; parece que
esse conhece muito bem a situação política do Império.”

Jircniv poderia aplicar pressão aos nobres porque tinha o poderio militar dos cavaleiros.
Se o Imperador e seus cavaleiros deixassem o Palácio Imperial e fugissem apenas por
causa de um Dragão, então certamente fariam pouco caso do poderio militar do Impera-
dor e assim rebelariam. Ele tinha certeza que não perderia para qualquer grupo de de-
sajustados capazes de se organizar, mas isso ainda enfraqueceria severamente o Império.

Lutar ou fugir, ainda assim perderemos. Que situação complicada. Mas de onde veio esse
Dragão?

Logo, mais e mais pessoas se reuniram no pátio. Havia 40 guardas imperiais cercando
o Dragão e os dois Elfos Negros, além de 60 cavaleiros. Além disso, magic caster arcanos
e divinos espalhados entre eles.

Capítulo 4 Punhados de Esperança


276
“Cento e vinte pessoas não serão suficientes para lidar com isso. Creio que eu deva ir
também, Vossa Majestade Imperial.”

Jircniv franziu ligeiramente a sobrancelha. Fluder era o trunfo do Império. Mesmo


sendo algo lógico, ele não tinha certeza de usar esse trunfo contra um poderoso Dragão.
Contudo, ele estava confiante de que Fluder poderia escapar mesmo depois de ser pres-
sionado e ficar sem saída, e essa confiança interrompeu sua hesitação.

Jircniv não sabia se Fluder tinha se voluntariado para corroborar com sua narrativa de
não o teletransportar para um local seguro.

“Eu conto com você, Velhote. Além disso, poderia pedir ao Intangível para se acalmar?”

“Mas é claro. Porém, não sei o que esperar daqueles dois. Eu sinto que são incrivelmente
fortes; rogo que se prepare para fugir, Vossa Majestade Imperial.”

Com isso, Fluder abriu a janela. Ele pulou para fora e voou para o céu com uma magia
de voo.

♦♦♦

“Er, tá todo mundo me ouvindo? Somos subordinados de Ainz Ooal Gown-sama, e


meu nome é Aura Bella Fiora!”

♦♦♦

Só então, uma voz incrivelmente alta ecoou pelos arredores.

♦♦♦

“O imperador desta nação mandou um bando de capangas sem noção pra Grande
Tumba de Nazarick, onde o Ainz-sama fica! Ainz-sama tá muito infeliz. Então, se
você não se desculpar, vamos desintegrar seu país!”

♦♦♦

O rosto de Jircniv se torceu. Quem havia contado e como? Como ele seguiu as pistas
para descobrir a verdade?

Ele olhou ao redor da sala. Todos olhavam em choque para o Imperador. As pessoas
que entenderam as dúvidas no coração de Jircniv balançaram a cabeça.

♦♦♦

“Pra começar, vamos matar todo mundo daqui! Mare!”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


277
♦♦♦

A Elfa Negra — de vestes femininas — enfiou seu cajado na superfície do pátio. Naquele
momento, foi como se um terremoto localizado tivesse ocorrido no pátio. Foi muito es-
tranho, pois Jircniv não sentia a terra se mover. Porém, o chão ainda se abrira ao redor
do Dragão e dos Elfos Negros, fendas que se abriram em padrões mais complexos que a
teia de uma aranha.

Os cavaleiros, a Guarda Imperial, os magic casters — exceto Fluder, todos foram engo-
lidos pela terra.

Os Elfos Negros pareciam ter habilmente excluído eles e seus aliados do raio efetivo do
ataque. Ela ficou lá despreocupadamente, e uma vez que puxou o cajado, o chão se apres-
sou a se recompor, exatamente como quando o terremoto ocorreu. No entanto, desde
que se juntou muito rapidamente, o chão inchou, seguindo o padrão anterior de teia de
aranha, se torando pequenos amontoados de pedregulhos.

Os cavaleiros que haviam se reunido no pátio agora tinham desaparecido sem deixar
vestígios. O fim veio em um instante.

♦♦♦

“Agora sim~! Matamos geral. A seguir, pra todos os humanos nesta cidade... er, eu
não sei quem é o Imperador, então não importa! Se o Imperador não aparecer
agora, vamos destruir o resto! Imperador-san, dê as caras e não me faça repetir!”

♦♦♦

“Vo-Vossa Majestade Imperial.”

O Ministro-Chefe estava tremendo, com o rosto mortalmente pálido enquanto pergun-


tava:

“...Então eles mandaram um Dragão aqui porque nós pisamos na cauda do Dragão lá?”

Jircniv lutou para reprimir o tremor. O ser supremo no Império, o Imperador que deti-
nha todo o poder em suas mãos, não podia demonstrar medo diante de seus súditos.

“Ainz Ooal Gown... quem ele é...? Não, agora não é hora de pensar sobre esse tipo de
coisa.”

Jircniv gritou da janela:

“Eu sou o Imperador, Jircniv Rune Farlord El-Nix! Eu quero falar com vocês! Se não in-
comodar, eu vos convido para entrar no palácio!”

Capítulo 4 Punhados de Esperança


278
Ele se virou para o Ministro-Chefe:

“Prepare a melhor recepção para eles! Agora mesmo!”

Os ministros saíram correndo da sala, e os olhos de Jircniv foram de suas costas para os
Elfos Negros, que passaram a encará-lo.

“...Eu os subestimei. Se esses são apenas subordinados... Talvez ele esteja muito acima
do meu patamar...? Agora é tarde demais para voltar atrás. Se querem discutir... então
vamos ter uma guerra de palavras. Ainz Ooal Gown, veja como eu quebro suas ambições!”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


279
Epílogo

Capítulo 4 Punhados de Esperança


280
rontinho, aqui as cem moedas de ouro, como prometido. Aqui ó, tem que

P
assinar o recibo.”

Ele olhou para o conteúdo da bolsa, então assentiu em satisfação. O pai de


Arche assinou o pergaminho entregue a ele sem sequer hesitar. Finalmente,
ele colocou o selo de sua família nele. A natureza praticada desses movimentos provou
que ele os fizera várias vezes antes.

“Assim está certo?”

O homem olhou para o pergaminho e depois assentiu. Se Hekkeran e Imina estivessem


aqui, teriam aparência de nojo absoluto em seus rostos. Este homem foi quem apareceu
na estalagem onde a Foresight estava.

Ele examinou o pergaminho que lhe havia sido entregue várias vezes, certificou-se de
que tudo estava em ordem e que a tinta secara, assim, o enrolou e guardou na caixa de
pergaminho.

“Sim, certinho.” Então, o homem indicou a bolsa diante do pai de Arche:

“Não quer dar uma conferida?”

“Ahhh, uma moeda a mais ou menos não é grande coisa.”

“É mesmo, é?”

O homem respondeu ao pai de Arche enquanto afirmava usando longos movimentos de


cabeça.

Obviamente ele já havia verificado o valor, não faltava uma moeda. Ainda assim, era
muito ruim uma família nessas circunstâncias não se preocupar se faltasse moedas de
ouro. Bem, eles provavelmente estavam condenados à perdição pelo simples fato de ter
um herdeiro tão irresponsável chefiando o legado de sua família.

Para o homem, no entanto, nada disso era importante desde fizesse mais um cliente.

“Já sabe que o cronograma de juros e reembolso será o mesmo de antes, né?”

O chefe da casa respondeu à sua pergunta com o mesmo magnânimo — certo de seu
status superior — aceno de cabeça.

O homem assentiu em reconhecimento.

“...E a sua filha, ela tá bem?”

“Hm?”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


281
O homem lembrou que essa família tinha três filhas e acrescentou:

“Eu me refiro à Arche-san.”

“Oh, Arche. Ela está trabalhando.”

“...Sei.”

E enquanto sua filha trabalha, você fica fazendo uma coisa dessas, hein!?

O homem escondeu o olhar de desdém em seus olhos quando o pensamento passou por
sua mente.

Ele não podia deixar de ter pena da menina por ter um pai assim.

Afinal, ele não era um monstro sem coração.

Eram apenas negócios; uma hora ele precisava emprestas, outra hora tinha que vir co-
brar. Ele não tinha intenção de interferir nas famílias de outras pessoas.

“Ela fica insistindo em sair e trabalhar sem o menor motivo, mas fazer o quê?”

Ao ouvir a resposta infeliz do pai, o homem franziu as sobrancelhas. Seria problemático


se acontecesse alguma coisa complicada que atrapalhasse sua capacidade de pagamento.
Além disso, essa família era uma fonte de dinheiro, então ele gostaria muito de continuar
fazendo negócios com eles. Portanto, ele decidiu tentar perguntar sobre algo que nor-
malmente não teria se incomodado.

“Aconteceu alguma coisa?”

“Não, nada de mais. Apenas minha filha sendo uma grande mal-agradecida que esque-
ceu de quanto cuidado ela recebeu desde que era criança e indo contra seu pai.”

“É isso, bem...”

“Fracamente, viu!? Eu preciso dar a ela uma boa bronca! Ela precisa aprender a se por-
tar como uma nobre!”

O homem nunca falaria o que estava em seu coração. No entanto, ele tinha uma coisa a
dizer.

“É, deve ser difícil.”

“É sim. Como é tola minha filha...”

Epílogo
282
O homem não tinha especificado a quem ele estava se referindo, e assim o pai havia
assumido que o homem estava falando sobre suas próprias dificuldades e murmurou
para si mesmo.

Uma centena de moedas de ouro era uma soma enorme. Porém, dadas às circunstâncias
usuais, o pai provavelmente gastaria tudo imediatamente e logo os procuraria nova-
mente. Melhor não emprestar mais até que paguem esse empréstimo.

Enquanto pensava nisso, o homem examinou o interior da sala.

Aos olhos do homem, a sala estava cheia de móveis requintados. No mínimo, ele seria
capaz de recuperar o montante principal. E se vender a mobília não fosse suficiente para
levantar o dinheiro necessário, então—

O homem olhou para baixo para esconder a emoção súbita nos olhos.

“Minha filha, porque se rebaixou tanto...? Uma herdeira com o sangue da família Furt
não deveria andar com aquela gentalha. Ela trabalha com plebeus, que são, sem dúvida,
de caráter duvidoso.”

“...Mesmo?”

O homem recordou os dois rostos que viu no bar enquanto respondia. Não havia como
saber como ele interpretara a inflexão daquela resposta, mas o pai continuou explicando,
como se quisesse desculpar-se.

“Oh, eu não estou dizendo que todos os plebeus são assim. Falo daqueles tipinhos que
saem em aventuras.”

“Sei como é.”

“Viu? Tenho certeza que eles fizeram a cabeça da minha filha. Eu preciso encontrar uma
chance e ter uma boa conversa com ela. Honestamente, uma filha deveria ouvir seu pai.
Olha a ousadia dela; esses dias ela se atreveu a discutir comigo, quem ela pensa que é?”

O homem olhou para o pai furioso, depois se levantou da cadeira.

“...Sei. Mas então, eu tenho outros lugares pra ir, foi bom fazer negócios. Aguardo o pa-
gamento.”

♦♦♦

“Quando a onee-sama vai voltar?”

“Ela vai voltar logo!”

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


283
Havia duas meninas no quarto. Elas se sentaram na cama como se fosse uma cadeira, e
as duas meninas sentadas lado a lado pareciam idênticas.

Os rostos pálidos estavam levemente rosados, lembrando a imagem dos anjos. Dado
que pareciam muito semelhantes à sua irmã mais velha, era muito fácil imaginar como
ficariam quando crescessem.

Ambas estavam vestidas da mesma maneira, em vestidos brancos cheios de babados


feitos de uma peça única de tecido, suas pernas esbeltas e pálidas chutava o ar sob suas
saias.

“Mesmo?”

“Mesmo!”

“Jura?”

“Uhum!”

“Quando a onee-sama voltar, vamos mudar de casa, né?”

“Sim!”

As duas ficaram muito felizes. Elas não haviam pensado seriamente sobre o que a mu-
dança de casa implicava, apenas que a irmã mais velha que elas mais amavam não as
deixaria mais. Isso as deixou muito felizes.

Sua irmã mais velha — Arche — frequentemente saía. Elas não sabiam o que sua irmã
mais velha fazia, mas ambas sabiam estava fazendo algo muito importante. Portanto,
decidiram não ser desobedientes, mas não puderam deixar de querer brincar com sua
gentil irmã.

De fato. As duas gostavam de Arche mais do que qualquer outra coisa. Elas gostavam
do quão gentil, do quão sábia e de como as tratava bem.

“Por que ela não voltou aindaaa?”

“Não sei.”

“Quero ver ela, Kuuderika.”

“Mmm, eu também, Ureirika.”

“Eu quero que a onee-chan leia uma históriaaa!”

“Então eu quero dormir com ela!”

Epílogo
284
“Assim não vale, Kuuderika!”

“Mas você que começou, Ureirika!”

Depois disso, as duas se entreolharam e sorriram da mesma maneira feliz, antes de rir
de uma maneira adorável, como o tilintar dos sinos de prata.

“Então, pode ficar comigo quando a onee-sama ler, Kuuderika.”

“Mm, então pode dormir com a onee-chan também, Ureirika.”

As duas riram. Imaginaram os tempos felizes que logo estariam sobre elas...

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


285
Posfácio

Epílogo
286
Sete meses se passaram desde que o Volume 06 foi publicado. Já faz muito tempo, eu
sou Maruyama.

Quando este volume for publicado, será no final de Agosto, quando o verão estiver no
auge. Quando eu, Maruyama, era jovem, sentia o calor retroceder quando chegava o mês
de Setembro, mas hoje em dia é diferente, ainda está quente em meados de Setembro.
Essas são apenas minhas lembranças de quando eu era jovem, seria estranho se nada
tivesse mudado.

Graças à camada extra de roupas que eu uso — vulgo gordura — se comparado com
pessoas normais, eu mais uma vez afirmo que; EU ODEIO O VERÃO.

Embora eu geralmente esteja em uma sala com ar-condicionado, ainda fica meio quente
pelo calor que sai do meu computador, e eu suo muito durante o trajeto de ida e volta
para o trabalho. Minha colônia provavelmente desaparece com o suor, é péssimo. Pois é,
é quente assim.

Será que as pessoas que viram o banner acima da capa gritaram “Nossa!” em espanto?
Sei lá, vai que pensaram que fosse uma miragem causada pelo calor do verão. Mas é a
mais pura verdade! Até mesmo eu gritei: “É sério isso!?” enquanto o projeto progredia.
OVERLORD ganhará um anime!! Vou dar o meu melhor para que saia algo bom; deem
uma olhada quando sair! Agora, vou suprimir minha dor de estômago ao expressar mi-
nha gratidão.

Desta vez, é uma honra para a história das lightnovels ter o So-bin-sama fornecendo
suas ilustrações inacreditáveis em meus livros.

Você realmente fez o seu melhor. É assim que eu me sinto, tenho certeza de que os lei-
tores também são gratos! Vamos almoçar juntos da próxima! Para o Chord Design Stu-
dio-sama, muito obrigado por fazer um ótimo design, assim como sempre fizeram. Para
o revisor Ohaku-sama, obrigado por suas dicas.

Além disso, graças à editora, F-da-sama, que corrigiu de forma firme o indiferente e que
também recomendou o Kyouhukou para as ilustrações sem hesitação. Mas vá com calma,
não trabalhe tanto. Muito obrigado a todos que ajudaram na produção do OVERLORD.
Além disso, obrigado por tudo que você fez, Honey. E finalmente, obrigado queridos lei-
tores por adquirirem o meu livro!

Maruyama Kugane
Ilustrações
Glossário
Glossário
-Magias, Habilidades & Passivas- também passagens secretas. Com etimologia na palavra
Tradução livre de seus nomes francesa donjon. Substantivo significando calabouço ou
masmorra.
Anti-Evil Protection: ............................. Proteção Anti-Mal. Gashapons:Um tipo de máquina de venda automática
Continual Light: ................................................Luz Continua. muito popular no Japão que oferecem em troca de uma
Cure Light Wounds: .......................... Cura Leve de Feridas. ficha, diversos tipos de quinquilharias.
Cure Middle Wounds: ................... Cura Média de Feridas. Macchiato:Também conhecido como expresso macchi-
Dark Vision: ................................................. Visão no Escuro. ato, é um café com leite típico da Itália, consistindo num
Darkness: ..................................................................Escuridão. café expresso misturado com uma pequena quantidade
Detect Magic: ................................................. Detectar Magia. de leite quente com espuma. Macchiato significa “man-
Dimensional Move: .................... Movimento Dimensional. chado” em italiano, aludindo à mancha de leite, no caso do
Fireball: ............................................................... Bola de Fogo. caffè macchiato.
Flash: .................................................................................. Flash. Mangual:Ou malho, é um instrumento através do qual se
Fly: ........................................................................................ Voar. malha cereais para debulhá-los. Consiste em um pedaço
Greater Teleportation: ................... Maior Teletransporte. de madeira comprido e fino no qual se sustenta a base,
Hawk Eye: ........................................................ Olho de Falcão. chamado de mango, que serve de cabo.
Invisibility: ........................................................Invisibilidade. Morningstar:Estrela d'alva ou estrela da manhã (mor-
Lesser Dexterity: ........................................ Menor Destreza. ningstar em inglês e morgenstern em alemão) é uma
Lesser Strength: .............................. Menor Fortalecimento. arma medieval cuja característica principal é a protube-
Lightning: ............................................................... Relâmpago. rância esférica com espinhos, pregos ou cravos de ferro
Lion's Heart:.................................................Coração de Leão. em uma das extremidades, que justamente assemelha-se
Magic Arrow: ................................................... Flecha Mágica. a uma estrela ou ponto de luz.
Message: .................................................................. Mensagem. Otaku:É uma expressão de origem japonesa utilizada
Obey: ............................................................................. Obedeça. para designar pessoas que são consideradas fãs extremis-
Paralysis: ............................................................... Paralisia. tas de determinado assunto, esporte, programa de televi-
Reinforce Armor: ................................. Reforçar Armadura. são, hobby, etc. Na cultura ocidental (como a cultura bra-
Silence: ...........................................................................Silêncio. sileira), a palavra otaku ganhou um significado bastante
Silent Time Stop: ..................Parada de Tempo Silencioso. diferente do original e é utilizada como uma gíria que de-
Summon Household:............................ Invocar Familiares. fine as pessoas que são exclusivamente fãs de animes e
Summon Undead 6th Tier: ... Invocar Morto de 6º Nível. mangás.
Touch of Undeath:............................ Toque de Morto-Vivo. Outeiro: Do latim altāre, “altar” ou lomba (do latim lum-
Web Ladder: ....................................................Escada de Teia. bus, "lombo") é uma pequena elevação de terreno. Um ou-
teiro é menor que um morro.
Patch:Termo da língua inglesa que significa, literalmente,
"remendo", é um programa de computador criado para
-Itens- atualizar ou corrigir um software de forma a melhorar
Tradução livre & Curiosidades
sua usabilidade ou performance.
Ranger:Em RPGs, é uma classe de personagens com perí-
Fluorescent Stick: .............................. Bastão Fluorescente.
cia a coisas relacionadas à floresta, rastreamento e caça,
Mask of Envy: ............................................Máscara da Inveja.
além de proficiências com arcos, geralmente é traduzido
como Patrulheiro, Guarda Florestal.
-Termos & Terminologias- Respawn:Vem do termo inglês “desovar”, mas significa
simplesmente “nascer novamente” ou “reaparecimento”
Build:Configuração dos atributos de um personagem nos quando relacionado a jogos.
jogos eletrônicos conhecidos como RPG, onde cada perso- Shakerato:Um shakerato é uma bebida italiana prepa-
nagem tem características distintas e onde cada mudança rada com expresso e cubos de gelo. É popular e de fácil
afeta o comportamento do personagem no jogo podendo, obtenção na Itália.
assim, uma build fazer total diferença tornando cada per- Tabardo:É um capote com capuz abotoado que o Arauto,
sonagem único no jogo. o Passavante e o Rei de Armas utilizavam durante a Idade
Coração Púrpura:Ou Coração Púrpuro é uma condeco- Média.
ração militar dos Estados Unidos, outorgada em nome do
Presidente a todos os integrantes das Forças Armadas
que sejam feridos ou mortos durante o serviço militar, -Nomes-
desde 5 de abril de 1917.
Drop:Itens deixados por monstros após serem mortos
Ariadne: Vem dos contos gregos. De acordo com a lenda,
em jogos, o termo também vale para a taxa com qual os
ela dá a Teseu o “Fio de Ariadne” que permite que Teseu
itens vindos de sorteios e lootboxes.
saiba a saída do labirinto onde se encontra o Minotauro.
Dungeon:O termo é usado em jogos de RPG para desig-
Brightness Dragonlord: Soberano Dragão Brilhante. Os
nar cavernas ou labirintos repletos de monstros, armadi-
kanjis de seu nome abaixo do furigana são de 七彩 (Nana-
lhas e tesouros. Uma Dungeon normalmente é composta
por salas e corredores que as conectam, podendo haver sai), significa “sete cores”.
Crystal Tear: .............. Lágrima de Cristal/Rasgo de Cristal.

Glossário
306
Deep Darkness Dragonlord:Soberano Dragão da Escu- Onee:Uma maneira informal de falar irmã mais velha, e
ridão Profunda. Os kanjis de seu nome abaixo do furigana se junto com o sufixo “chan”, denota uma forma carinhosa.
são de 常闇 (Tokoyami), significa “escuridão eterna”. Sama:様 | さま- O sufixo “Sama” é uma versão mais res-
Foresight: .............................................................. Prospectiva. peitosa e formal de “san”. A traduções mais próxima do
Heavenly Dragonlord:Soberano Dragão Celestial. Os termo “sama” para o português seria “Vossa Senhoria”.
kanjis de seu nome abaixo do furigana são de 聖天 (Shou- No Japão, é importante referir-se a pessoas importantes
ten), significa “céu sagrado”. ou a alguém que admira e é muito importante, no império
Heavy Masher:......................................Espremedor Pesado. antigo era muito usado para se referir a rainhas.
Platinum Dragonlord:Soberano Dragão de Platina. Os San:さん - O sufixo “San” é um honorífico que pode ser
kanjis de seu nome abaixo do furigana são de 白金 (Shi- usado em praticamente todas as situações, independente
rogane), significa “platina”. do sexo da pessoa. Normalmente é usado para pessoas
Screaming Whip: ............................................. Chicote Gritante. que temos pouca ou nenhuma intimidade. Também usado
Tenmu:(天武) foi o nome de um Imperador Japonês, os quando a pessoa considera o interlocutor como um de
kanjis são algo como “Militar Celestial”. igual hierarquia.
Senpai:先輩 - senpai deve ser um exemplo em todos os
aspectos possíveis, para mostrar aos kohai qual a postura
-Raças & Monstros- que deve ser adotada. O senpai deve possuir habilidades
técnicas e de postura que inspirem seus kohai a fazer o
Brain Eater:Devorador de Cérebro – tem uma forte liga- mesmo. É um “veterano”.
ção com os Devoradores de Mentes/Illithids.
Chimera:Quimera (em grego: Χίμαιρα, transl.: Chímaira)
é uma figura mística caracterizada por uma aparência hí-
brida de dois ou mais animais.
Deadman Struggles: ................................. Morto Briguento.
Death Knight: .......................................... Cavaleiro da Morte.
Door Imitator: .......................................... Imitador de Porta.
Door Imitator Undead: .... Imitador de Porta Morto-Vivo.
Elder Lich: ..............................................................Lich Ancião.
Floor Imitator: .......................................... Imitador de Chão.
Ghast: ... Lívido. Aparentemente um subtipo de Ghouls, se
fosse traduzir de acordo com o kanji, ignorando o kata-
kana, seria algo como “Carniceiro Vasculhador”.
Ghoul: . Carniçal. Espécie de forma humanoide que se ali-
menta de carne humana.
Grim Reaper Thanatos: ...........Tânatos, O Ceifador Cruel.
Old Guarders: ................................................... Guarda Velha.
Overlord Wiseman: ..................................... Overlord Sábio.
Plague Bombers: ........................... Bombardeiros da Peste.
Silk Hat Demon: ......................... Demônio Chapéu de Seda.
Skeletal Dragon: ................................... Dragão Esquelético.
Skeleton: ................................................................... Esqueleto.
Sleipnir:Na mitologia nórdica, é a montaria mágica de
Odin. O lendário Corcel Negro de 8 patas era o cavalo mais
veloz do mundo, cavalgando em terra, no mar e no ar. Seu
nome significa suave ou aquele que plana no ar. Ele tam-
bém é associado com as palavras esguio e escorregadio.
Torturers: .......................................................... Torturadores.
Undead Lieutenant: ........................... Tenente Morto-Vivo.

-Honoríficos & Tratamentos-

Chan:ちゃん - O sufixo “chan” é um termo carinhoso


usado geralmente para crianças ou pessoas que temos
muita intimidade. O “chan” é usado após o nome inteiro
ou abreviado.
Dono:殿 | どの - O sufixo “dono” vem da palavra “tono”,
que significa “senhor”. Seria semelhante ao termo “meu
senhor”. Na época dos samurais, costuma-se denotar um
grande respeito ao interlocutor.
Kouhai:後輩 – Uma forma de tratamento baseada no sta-
tus, assim como senpai. É um pronome para tratar alguém
inexperiente. Seria algo como “Novato / Calouro”. Um
kouhai deve respeitar seu senpai.

OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba


307
Notas de Tradução:

Modo de Fala da Yuri. Às vezes a Yuri começa suas falas usando pronome masculino, ou seja,
ela começa a frase com Boku(eu), mas logo em seguida muda para Watashi(eu).
• Boku | 僕 = É usado por meninos, quando uma menina usa é para parecer mais com meninos.
Ou mesmo mais de criancice.
• Watashi | 私 = É uma variante mais neutra de gêneros.
Traduzir isso ao pé da letra praticamente não dá, então adaptei para ela começar com “Mim”
e depois mudar para “Eu”. A única coisa que consegui pensar.
Filosofia. É o estado da Não-Mente? Ou o Reino de Nuvens-Água? Ele está extremamente calmo
apesar da disparidade de armas. Deve confiar muito em suas habilidades... Ah, isso me deixa ma-
ravilhado.” Ambos são termos da filosofia budista.
• Não-Mente: Mushin (無心) não é um estado mental onde se deve parar de pensar, pois é
impossível, mas sim um desligamento do ego. Mais ao ponto, o mushin é quando a mente
se livra de preocupações, medos, alegrias, etc...
• Nuvens-Água: Unsui (雲水) vem de um poema chinês que diz: “Para flutuar como nuvens
e fluir como água”. O termo pode ser aplicado de forma mais ampla para qualquer prati-
cante do Zen, uma vez que os seguidores do Zen tentam se mover livremente ao longo da
vida, sem as restrições e limitações do apego, como nuvens flutuantes ou água corrente.
Shukuchi. Em japonês a Arte Marcial 縮地 pode ser lida literalmente como “Método da Terra
Encolhida”. Se fosse para adaptar, poderia ser “Translocação Espacial”. Mas raramente tradu-
zem esse nome, meio que se popularizou como Shukuchi.
Parpatra. Talvez os que tenham vindo do anime tenham notado, mas o nome de sua equipe
jamais é mencionado na Light novel. Foram nomeados na terceira temporada do anime, Dragon
Hunt o nome de sua equipe.
Evangelho de Marcos: Sim, o Ainz, como sempre, confundiu uma frase. Como dito no Volume
4, é de João 15:13.
Sala da Verdade. O nome também pode ser lido como “Dor Não é Para Ser Dita”.
Trabalhador. Sim, o termo mais correto seria usar “Worker”, mas quando fui saber disso, já
tinha muita coisa feita usando o termo “Trabalhador”. Então espero que me perdoem por este
erro. Daria muito trabalho refazer tudo para “Worker”, nem todos os arquivos aceitam busca
de termos, teria que ser feito manualmente em alguns casos. Vai ficar assim, perdão.
Posfácio. Lá o maruyama cita um banner informando que vai ter a primeira temporada do
anime. O banner em questão está na pasta de imagens do blog, (00-Extra.png, link), depois eles
mudaram e lançaram outro, que é o atual disponível no final do PDF.
Imina, A Mateira. Então... Isso aqui meio que não tem consenso na tradução, cada um acha o
que quer e eu achei o que faz mais sentido pra mim. Vamos lá, sua profissão é de “ブッシュワ
ーカー” (Busshuwākā), e ninguém chega a um consenso se o engurisho seria Bushwalker,
Bush Worker ou Bushwacker.
• Bushwalker é o equivalente a: Caminhante/Andarilho da Selva.
• Busk Worker seria algo como: Lenhador, Jardineiro, Trabalhador do Mato.
• Bushwacker seria algo como: Guerrilheiro, Sujeito Valente.
Então assim, o “Mateiro” meio que engloba praticamente esses 3, o mateiro é quem caminha
na floresta, quem trabalha no mato, quem é valente etc...

Glossário
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OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba
309
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OVERLORD 7 Os Invasores da Grande Tumba
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O próximo passo de Ainz Ooal Gown é para o Império Baharuth. Conectado
a isso, “sacrifícios” são reunidos na Grande Tumba.

É impossível escapar do pesadelo chamado de Nazarick?

Os invasores poderiam encontrar o caminho para retornarem com vida?

ISBN: 978-4047298095

ISBN: 978-4047298095
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