Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Sobre:
A obra faz uso de muitos anglicismos, ainda mais por se basear em RPGS, então há mui-
tos termos em inglês e tentei preservar vários desses aspectos em alguns termos, nomes
de armas, itens, raças e coisas do tipo.
Claro, algumas coisas precisam ser adaptadas, outras é preciso generalizar. Dito isto,
àqueles que são adeptos do Dia do Saci em vez do Halloween podem não gostar. Estejam
avisados.
Créditos:
CRÉDITOS PT-BR:
ainzooalgown-br.blogspot.com
CRÉDITOS EN-US:
skythewood.blogspot.com
REFERÊNCIA DE NOMES:
overlordmaruyama.wikia.com
Atenção: Se baixou este arquivo de outro link que não o oficial do blog. Ou se tem muito
tempo que baixou e deixou guardado, que tal dar uma conferida no blog? Talvez esta seja
uma versão desatualizada :)
Autor:
Maruyama Kugane
Ilustrador:
so-bin
Conto 1 - Os Dias Revoltos e Agitados de Enri
Parte 1
nri Emmot levantou-se antes do sol nascer para fazer o café da manhã. Ela
E
não era tão boa cozinheira quanto sua falecida mãe, no entanto, havia
muita comida para preparar.
Contando Nemu, a própria Enri e os 19 Goblins leais a ela, era preciso fazer
café da manhã para 21 bocas. Havia ainda mais 2 pessoas nesse amonte de vez em
quando, fazendo um total de 23. Preparar muita comida era muito trabalho e poderia
ser considerado uma batalha por si só. Enri estremeceu enquanto olhava para a vasta
quantidade de comida à sua frente e percebeu que tudo ia acabar em uma refeição.
Depois de respirar fundo, ela arregaçou as mangas, empinou o peito e começou a tra-
balhar.
Embora Enri não fosse especialmente talentosa na culinária, o fato de ter aprendido a
lidar com uma tarefa tão enorme em tão pouco tempo era um exemplo de como os dia-
mantes eram feitos sob pressão.
Sua irmãzinha acordou com o som de Enri fazendo café da manhã e esfregou o sono de
seus olhos.
“Bom dia, Nemu. Não precisa ajudar com isso, mas ainda tem aquela coisa que te disse
ontem pra me ajudar...”
A infelicidade passou sobre o rosto de Nemu por um momento, mas no final, ela não
reclamou, embora tenha baixado a cabeça obedecendo Enri e respondido “...Tá bom”.
Nemu tinha 10 anos agora, e ela era uma garota engraçada e animada antes. Depois
desse incidente, a outrora ingênua e despreocupada Nemu era agora servilmente obedi-
ente a sua irmã, sem nenhuma brincadeira ou birra de crianças de sua idade. Ela era uma
boa menina agora — tão gentil que doía.
Se tivessem morrido por alguma doença, ela poderia ter se preparado para isso. Se eles
tivessem morrido em um acidente ou desastre natural, ela não teria odiado mais nin-
guém por isso, e talvez nem mesmo atormentado seu coração. Mas seus pais foram as-
sassinados diante de seus olhos e seu coração agora estava cheio de ressentimento. Não
havia como ela pensar ou sentir o contrário.
Enri fechou os olhos com força. Se houvesse alguém por perto, ela poderia se esforçar
para que não notasse sua fraqueza. Mas quando ela estava sozinha, a solidão reabria as
feridas em seu coração.
Ela ainda via os sorrisos bondosos de seus pais flutuando na escuridão atrás de seus
olhos. Mesmo quando ela os abriu, suas formas não desapareceram de sua visão. Ela re-
petiu os momentos de ternura do passado em sua mente, uma e outra vez.
Depois disso veio o turbilhão de emoções negras em seu coração — seu ódio pelas pes-
soas que assassinaram seus pais. Guiada por isso, Enri bateu seu cutelo na carne com
toda a força, dividindo-a ao meio.
No entanto, já que ela usou muita força, ela também picou um naco da taboa de corte, o
que a fez franzir a testa em frustração.
Enri encobriu o naco enquanto se desculpava por danificar o cutelo que era seu único
elo com sua falecida mãe.
Ela gentilmente correu um dedo ao longo da borda para se certificar de que estava tudo
bem, e naquele momento, a porta ao lado dela, que levava à sala de estar, se abriu.
A pessoa que entrou não era humana, mas alguém menor — um dos demi-humanos
comumente conhecidos como Goblins.
“Bom dia, Ane-san. Hoje é a minha vez de... aconteceu alguma coisa?”
O Goblin parou no meio de uma saudação arqueada perfeita para virar os olhos preo-
cupados para as mãos de Enri.
Enri era uma mera garota de um vilarejo, mas os Goblins a serviram sem hesitação pois
ela era a convocadora deles.
Inicialmente os aldeões ficaram surpresos e com medo dos Goblins, já que apareceram
de repente do nada, mas se acalmaram quando Enri lhes disse que havia convocado os
Goblins com um item de seu salvador, Ainz Ooal Gown. Escusado dizer que isso foi de-
vido à gratidão e confiança que sentiam em relação a Ainz. Depois disso, o trabalho que
os Goblins fizeram foi suficiente para os aldeões deixarem de lado suas suspeitas e re-
cebê-los das profundezas de seus corações.
Kaijali era um dos Goblins convocados de Enri. Ele franziu as sobrancelhas — pare-
cendo um urso comedor de homens acordando de sua hibernação de inverno — e colo-
cou uma expressão preocupada em seu rosto antes de olhar para Enri.
“Isso não é bom, você precisa cuidar desse cutelo. O Vilarejo não tem ferreiro, então
também não podemos consertar o nosso equipamento.”
“É como diz...”
“Bem, está tudo bem. Vamos pensar em uma solução quando chegar a hora.”
Kaijali falou com uma voz sincera e alegre enquanto a ajudava a preparar o café da ma-
nhã. Ele puxou um pavio fumegante do pote que estava segurando e, com uma manobra
prática, acendeu o fogão. A facilidade com que ele transformou uma brasa fraca em um
fogareiro era prova de sua habilidade.
Os Goblins não podiam preparar nem as refeições mais simples. Como eles comiam
carne crua e legumes sem reclamar, ela achava que eles poderiam gostar mais de comida
crua, mas ficou claro que preferiam refeições cozidas — embora ainda pudessem comer
alimentos crus sem problemas.
Uma mera garota do vilarejo, como ela, não tinha resposta para essa pergunta e, com
isso, se focou em seu trabalho mais uma vez. Felizmente, o fio do cutelo ainda estava
intacto.
Havia uma variedade maior de pratos na mesa em comparação com os dias em que sua
mãe cozinhava.
A Grande Floresta de Tob oferecia sua recompensa sob a forma de lenha, comida na
forma de frutas e vegetais silvestres, animais para carne e pele e até mesmo ervas medi-
cinais.
A maior mudança foi que os aldeões agora podiam entrar facilmente na floresta e colher
seus recursos. O trabalho dos Goblins, que eram seres fortes, foi um fator chave para
isso; a carne, que antes era difícil de obter, agora podia ser facilmente adquirida, e suas
mesas eram enfeitadas com frutas e vegetais frescos. Como resultado, a situação alimen-
tar do vilarejo melhorou drasticamente.
Além disso, já que os Goblins eram subordinados de Enri, eles agiam como uma alcateia
de leões, onde as fêmeas — Goblins — entregavam parte de sua caçada para o leão —
Enri.
Além disso, uma das mais recentes adições ao vilarejo foi uma ranger que fez contribui-
ções para as provisões.
Era uma mulher que costumava ser uma aventureira em E-Rantel. Vários motivos a le-
varam a se mudar para o vilarejo e estava aprendendo os caminhos da caçada para ser
uma ranger de vilarejo. Como tinha sido uma guerreira durante seus dias de aventuras,
suas habilidades com o arco eram excelentes, e ela podia derrubar até mesmo a maior
das presas com algumas flechas. Foi em parte por causa de seus esforços que a distribui-
ção de carne no vilarejo melhorou.
O melhor padrão de vida trouxe mudanças, que se refletiram nos corpos dos moradores.
Enri varreu da mente sua forma final idealizada pelos Goblin e começou a servir o café
da manhã.
Isso também era uma tarefa tediosa. Enquanto os Goblins não se importariam com uma
pequena diferença no tamanho das porções, a quantidade de carne em sua sopa era um
grande problema. Enri garantiu que todos os pratos e tigelas tivessem uma quantidade
semelhante de carne antes de passar para a próxima tarefa.
“Hm, sim~”
Quando Enri se virou, viu Nemu de pé atrás dela com os olhos brilhantes.
Enri não tinha idéia de como responder à súbita exclamação de sua irmãzinha. Kaijali
acenou com a cabeça gentilmente para Nemu, presumivelmente indicando que ele con-
fiaria a ela essa tarefa.
Embora isso deixasse a casa vazia, não era algo que incomodava Enri. Afinal, nunca
houve nenhum problema com ladrões invadindo antes.
Neste dia calmo, fresco e claro, Enri seguiu para a casa ao lado dela.
Fôra deixada sem dono devido à tragédia que se abatera sobre o vilarejo recentemente
e se tornara o lar dos alquimistas de E-Rantel, os Bareares.
A casa foi ocupada por duas pessoas. Uma delas era uma velha, a experiente herborista
Lizzie Bareare. O outro era seu neto e amigo de Enri, Nfirea Bareare. Os dois passaram
os dias confinados na casa, processando ervas para fazer poções e outros remédios.
Não trabalhar em conjunto com outros aldeões era uma boa razão para ficar isolado e,
na pior das hipóteses, o resultado seria a expulsão do vilarejo. Mas foi diferente para
esses dois.
Isso valia o dobro para um lugar como o Vilarejo Carne, que não tinha acesso a sacer-
dotes que poderiam usar magia de cura.
Os sacerdotes cobravam uma taxa equivalente por sua magia de cura. Ou melhor, talvez
seja mais preciso dizer que cobrar essa taxa era obrigatório. Se os aldeões não pudessem
pagar, ofereceriam trabalho como pagamento. Se mesmo assim fosse demais para paga-
rem, os sacerdotes usavam remédios compostos de ervas, uma vez que as curas com
ervas eram mais baratas que a cura mágica.
Um dos Goblins do vilarejo era um clérigo, e ele podia curar ferimentos leves com faci-
lidade, mas os aldeões haviam se reunido com a opinião de que ele deveria economizar
seu poder para uma emergência, a menos que alguém estivesse muito ferido. Sem men-
cionar que as magias de cura do clérigo eram muito limitadas e não tinham a capacidade
de curar doenças ou neutralizar venenos.
Portanto, todos ficaram agradecidos aos Bareares pelo trabalho que fizeram.
Mesmo assim, os aldeões não ousaram abordá-los apesar do trabalho vital que realiza-
ram.
Enri franziu o nariz, assim como Kaijali — embora a expressão parecesse mais maligna
em seu rosto.
Um cheiro acre enchia a casa que eles estavam se aproximando. O odor não era real-
mente tão horrível, embora ainda os fizesse sentir-se mal. O cheiro liberado pela moa-
gem de ervas pode ser desconcertante, mas no final das contas era apenas o cheiro das
plantas, e não era perigoso por si só.
Ela bateu algumas vezes, mas ninguém a atendeu. Quando achou que ninguém estava
em casa, o som de alguém se aproximando veio do outro lado. Ela ouviu alguém apres-
sadamente mexer na fechadura do outro lado, e então a porta se abriu.
—!?
Ela não queria reagir com sua expressão ou palavras, mas o cheiro vindo de dentro da
casa era realmente insuportável.
Foi doloroso.
Uma dor aguda e pungente queimava seus olhos, nariz e boca. Pior ainda, o mau cheiro
de dentro da casa sugeria que o miasma ao redor da casa não era nada mais do que uma
branda parcela que havia vazado de dentro.
Os olhos de Nfirea, visíveis entre as aberturas de seus cabelos compridos, estavam bem
abertos e avermelhados. Como de costume, ele deve ter ficado acordado a noite toda
fazendo experimentos alquímicos.
Ela não queria abrir a boca para falar já que estava envolvida pelo odor de dar água aos
olhos, mas seria rude não devolver uma saudação.
Enri estava prestes a acrescentar “o café da manhã está pronto, venha com a Obaa-sama”,
mas Nfirea interrompeu. Ou melhor, em vez de dizer que ele a interrompeu, seria melhor
dizer que ela foi sobrecarregada pelo entusiasmo do menino.
“É incrível, Enri!”
Nfirea correu até ela. Suas roupas de trabalho cheiravam ao mesmo odor pungente que
enchia o resto da casa. Embora Enri quisesse muito se afastar dele, ela se forçou a su-
portá-lo, pois Nfirea era seu amigo de infância.
“Você tem que ouvir isso! Nós finalmente conseguimos aperfeiçoar o procedimento
para preparar um novo tipo de poção. Isso vai mudar o mundo! Mesmo que tudo o que
fizemos foi misturar as ervas que juntamos na solução, conseguimos produzir uma po-
ção roxa!”
Enri não tinha idéia de como isso era incrível. A poção era roxa porque infundiram re-
polho roxo nela?
“E isso pode curar feridas! A velocidade de cura está a par com poções alquimicamente
refinadas!”
Nfirea ergueu as mãos, mostrando os braços delicados e esguios que não estavam feri-
dos. Enri pensou:
“Claro que vai. Eu vou jogar um pouco de água fria no rosto dele e quando se acalmar,
eu o levo. Se você demorar muito, os outros ficarão preocupados. Diga, e quanto a Baa-
san?”
“A Obaa-chan ainda está com a cabeça enterrada na pesquisa... Não acho que ela virá
para o café da manhã. Me desculpe, teve todo esse trabalho em preparar o café da manhã
para nós...”
“Ah, não se preocupe com isso. Já pensava que a Lizzie-sama estaria fazendo algo assim.”
Situações como essas já apareceram algumas vezes, então não foi uma surpresa.
Com isso dito, não havia nada a fazer a não ser sair.
♦♦♦
Enquanto observava Enri sair, Kaijali virou um olhar frio para Nfirea.
“O que estava fazendo lá atrás, rapaz? O único motivo para uma garota escutar um ho-
mem falando de seus gostos, é se essa garota estiver apaixonada. Se a mulher não tiver
a fim, então essa tagarelice sua só vai servir pra ela ficar entediada!”
“...Não sabia... eu tinha pensado que, como fizemos aquela descoberta incrível... mas foi
realmente incrível! Me arrisco dizer que é revolucionária—!”
“Olhe, Ani-san. Tá tudo bem com isso, de deixar ela assim? Você está apaixonado pela
Ane-san, não é?”
“Não. Não tente. Faça... ou não faça. Não existe tentativa. Você precisa conquistar o co-
ração dela. Eu e o resto dos rapazes faremos o nosso melhor pra te apoiar. Além disso,
não somos apenas nós, até mesmo a Imouto-san concordou em te ajudar. Espero que me
ajude a te ajudar, e que faça sua parte, Ani-san.”
“Mmm...”
“Se está esperando que ela diga primeiro “eu gosto de você”, então é mais provável que
alguém chegue antes e pegue, sabia? Você tem que ter coragem para dizer a ela como
realmente se sente.”
“Apesar disso, parece que você está se saindo muito bem por hora, Ani-san. Antiga-
mente não conseguia nem dizer uma palavra na frente dela. Agora pode continuar uma
conversa normal, certo?”
“Isso foi porque eu não tive muita chance de conversar com a Enri, a menos que eu
viesse para colher ervas... Agora que eu mudei para o vilarejo, estou muito mais perto
dela.”
“Assim que eu gosto, esse é o espírito. Só precisa reunir sua coragem e tomar a iniciativa.
Talvez deva mostrar sua força primeiro. Segundo as aldeãs, homens fortes são os mais
atraentes. Bem, as quarentonas daqui falam isso, enfim.”
“Não tenho muita confiança na minha força. Talvez eu deva fazer mais trabalho agrícola
ou algo assim?”
“Compense as coisas com isso. E então aprimore sua magia. Se eu ou um dos rapazes
achamos que você tem a chance de marcar pontos com ela, vamos posar desse jeito. Essa
é a dica pra dizer algo ou partir pra cima, aí ela vai ficar caidinha por você.”
Kaijali flexionou os braços fazendo os músculos dos bíceps tencionarem. Eles se arre-
galavam poderosamente sob sua pele.
Nfirea se perguntou:
No entanto, ele podia sentir a boa vontade de Kaijali, então não fez essa pergunta. Ainda
assim, havia uma pergunta que queria fazer.
“Eu... eu estou curioso, por que vocês estão fazendo isso? Quero dizer, eu sei que vocês
são subordinados da Enri e leais a ela, mas eu não entendo o porquê está me ajudando.”
Kaijali respondeu com uma expressão inescrutável no rosto. Em um tom mais adequado
para persuadir as crianças a se comportarem, ele respondeu:
“É porque todos nós queremos que a Ane-san seja feliz. E até onde sabemos, você se
encaixa perfeitamente pra isso. Então, quanto mais rápido se casarem, melhor é.”
“N-não precisa de tanta pressa! N-Nós dois podemos lentamente reduzir a distância en-
tre nós, né...?”
“...Isso seria lento demais. Quero dizer, os humanos não demoram muito entre engravi-
dar e ter filhos?”
Os olhos de Nfirea se arregalaram e seu rosto ficou rosado quando a conversa de re-
pente saltou para a gravidez, a forma final das relações homem-mulher.
“Hm, então levaria muito tempo para cerca de dez filhotes — quero dizer, dez crianças,
é isso?”
Então, uma mulher que desse à luz 10 filhos não seria apenas um pouco, mas muito
além da média.
“Tudo bem, acho que nossas raças têm diferenças... mas ainda assim, você tem que ter
muitas crianças para fazer a Ane-san feliz.”
“...Tudo bem, eu não posso negar que ela pode ficar feliz com uma casa cheia de crian-
ças... mas ainda parece meio errado...”
“Mesmo?”
Nfirea estava sem palavras quando viu Kaijali olhando para ele com a cabeça inclinada
em um ângulo. Mas, no geral, ele ainda estava grato por sua ajuda.
“Então, vamos indo, Ani-san. Eu espero que você faça sua jogada em breve. E fique avi-
sado que se deixar ela esperando por muito tempo pode causar problemas... bem, acho
que um avanço tático constante no objetivo principal é uma estratégia que vale a pena
perseguir.”
Muito provavelmente, ela estava no meio de repetir um experimento e não tinha tempo
para se preocupar com coisas triviais como comer.
Quando ele perguntou a ela sobre os solventes e o uso adequado dos instrumentos, tudo
o que ele recebeu em troca foi um “descubra sozinho ~su”, o que não foi de ajuda.
Então, os dois haviam abandonado a comida e dormido em sua busca incessante para
aprender a usar esses dispositivos para experimentos. Foi um processo lento, mas eles
finalmente fizeram algum progresso. Claro, eles também cometeram erros.
Os frutos de seu trabalho estavam sobre a mesa, aquela garrafa de poção roxa, que Liz-
zie examinou interminavelmente e encheu Nfirea de alegria excitada.
Nfirea falou quando ele fechou a porta atrás dele. Então, ele se virou para Kaijali:
“Vamos.”
♦♦♦
Embora todos devessem comer juntos, a casa de Enri estava longe de ser grande o sufi-
ciente para acomodar todos. Como tal, eles costumavam comer fora quando o tempo es-
tava bom.
Por estarem ao ar livre, uma certa quantidade de desordem era esperada e tolerada. Se
estivessem lá dentro, poderia ter sido insuportável, mas mesmo nas atuais circunstân-
cias, a situação rapidamente se tornara agravante.
“Ei, esquentadinho, tá esquecendo o acordo que todos nós fizemos para não tocar na
Ane-san!?”
“É isso aí, se você tentar passar a perna em nós, eu não vou deixar barato!”
No entanto, a raiva nos olhos dos Goblins não diminuíra nem um pouco.
Um dos Goblins, Kuunel, levantou a colher para provar seu argumento, exibindo um
pedaço de carne que os espectadores poderiam ter confundido com uma ervilha. Não
era nada mais do que um pouquinho a mais que Enri sentira ao dividir a comida com
todo mundo.
“Você só pode estar de palhaçada comigo! Isso não é nada mais que um pedaço de carne
que a Ane-san confundiu com um pedaço de vegetais!”
“Talvez isso seja apenas um desejo de sua parte? Talvez a “carne” que você comeu fosse
apenas batata ou algo assim, e mesmo se não fosse, a carne que comeu era quase um
fiapo. É melhor tomar cuidado, pode ser a prova de que a Ane-san não gosta de você.
Além disso, meu deus claramente me disse: “Você deve deixar a Enri feliz”.”
Metade dos Goblins estava de pé e a outra metade estava sentada e brigando, abanando
as chamas do conflito. Mesmo Nemu de alguma forma se juntou aos agitadores. Apenas
algumas pessoas não estavam participando desta batalha. Aquelas pessoas tinham a ca-
beça abaixada na mesa e a mais proeminente delas era Nfirea.
“...Rubi em pó... penas arcanas... pilão de madeira... made... madeira... de... lei?”
Nfirea estava murmurando para si mesmo enquanto colocava a comida na boca, mas a
comida na colher caia toda novamente na tigela antes de chegar à boca. Seus olhos esta-
vam escondidos por seus longos cabelos, mas com toda a probabilidade ele estava an-
dando na linha fina entre os sonhos e a realidade.
Os Goblins ainda estavam discutindo, e embora provavelmente não fosse seguro deixá-
los sozinhos por muito tempo, para que o conflito não ficasse fora de controle, Nfirea
estava realmente de fora disso, e ela não podia ignorá-lo. Provavelmente estava sofrendo
de privação de sono, a julgar pelo modo como começau a cambalear no momento em que
se sentou, como se estivesse prestes a cair ao seu lado a qualquer momento. Quando ele
realmente começou a tomar café da manhã, parecia um zombie, completamente despro-
vido de vida ou inteligência.
“Além disso, não foi você quem disse que “Nemu é minha esposa” e coisas assim mais
cedo?”
“Isso foi antes, mas agora é diferente. Eu só percebi isso recentemente. Eu costumava
pensar que já que a Nemu-san tem dez anos e tem quase a mesma altura que nós, era
uma idade de casar. Mas os humanos... eles só os consideram adultos aos quinze anos!”
Os Goblins saltaram de tópico para tópico com velocidade incomparável. Enri queria
perguntar-lhes o que era um “hob-humano”, mas antes que ela pudesse abrir a boca, os
Goblins já haviam se cansado da discussão e começado todo um novo argumento para
que todos participassem.
“Todos vocês!”
Enri estava gritando neste momento, mas a voz dela ainda não podia limpar a algazarra
que os Goblins estavam gerando. Colheres e pratos voavam, enquanto gritos e rugidos
de ira subiam e desciam como ondas em uma baía agitada pela tempestade. Claro, tudo
que estava sendo jogado estava vazio, pois nenhum dos Goblins sequer sonhava em des-
perdiçar a comida que Enri fazia para eles. Ainda assim, era totalmente indesculpável.
“Os lobos não comem carne? Só porque você é mais alto que eu, não pense que eu não
posso te enfrentar, punho a punho!”
“Punho a punho? Já que tá com tanta fome, que tal um sanduíche de socos?”
E assim que Enri se levantou, todos imediatamente voltaram para seus lugares e calma-
mente retomaram a refeição como se nada estivesse errado.
O furioso grito de Enri ecoou pelo ar silencioso acima da mesa do café da manhã.
“Ah...”
Surpresa, Enri olhou ao redor, mas a única coisa que ela podia ver eram os Goblins
olhando para ela com expressões em seus rostos que diziam: “Estávamos todos tomando
café da manhã tranquilamente, isso é um problema”, ou “Ser calado de repente por razão
alguma é realmente irritante”. Depois de ficar em silêncio por um tempo, ela se sentou
de volta em seu assento, com o rosto vermelho.
“Pfhahahahaha!”
Esse clima subsequente não poderia ter ocorrido sem uma discussão e preparação cui-
dadosa. Foi incrível como eles se prepararam seriamente para uma brincadeira como
essa.
“Ah, isso foi estranho. Estavam planejando zombar de mim desde o começo?”
Mesmo que ela estivesse lacrimejando porque estava rindo muito, Enri fez uma de-
monstração de raiva quando ela lhes perguntou.
“Claro, Ane-san. Nós não discutiríamos sobre coisas como essa de verdade.”
“Isso, isso!”
“Veja bem, como eu digo isso... nós pensamos que parecia um pouco desanimada, Ane-
san.”
“Vocês—”
“Isso mesmo!”
“Isso mesmo, isso mesmo. Agora, Ane-san e Nemu-san, estão aqui no meio, assim...”
“Eh? Eu também?”
Mesmo que ela lhes desse o benefício da dúvida, essa postura fazia com que parecessem
sapos esticando os braços para o céu.
“Assim, eu entendo suas boas intenções, e para começar, você não precisa ser meu
guarda-costas... certo, Enfi?”
Enri virou a cabeça para seu amigo de infância sentado ao seu lado em busca de ajuda,
mas descobriu que não havia ninguém lá.
Ela tinha um mau pressentimento sobre isso, mas ainda mudou sua linha de visão um
pouquinho para baixo... e descobriu que a cabeça de Nfirea estava descansando de bru-
ços em sua tigela de sopa.
“Enfi!”
“...Ele está apenas dormindo. Se deixar ele assim até o meio-dia, ele deve ficar bem.”
Enri estava pensando que deveria devolver Nfirea a sua própria cama. Então ela o colo-
cou de costas, e começou a levá-lo, deixando para trás pérolas de conversação como “Eles
não estão em posição contrária?”, “Nemu-san, você não pode dizer essas coisas...”, “Ani-san,
você...”.
Depois que o trigo fosse colhido, os coletores de impostos viriam para o vilarejo.
Enri estava obviamente preocupada sobre como ela explicaria a presença dos Goblins.
Ela deveria dizer que eles eram bestas conjuradas, ou que eram seus capangas, ou talvez
ela deveria dizer...
Enri tinha a sensação de que eles estavam sempre preocupados com ela.
Eles não se preocupavam apenas em proteger sua vida, também pensavam sobre seus
sentimentos. O que ela poderia fazer por esses Goblins?
O que ela poderia fazer por esses novos membros da sua família...
♦♦♦
O corpo dela estava cansado de trabalhar longas horas no campo e a maneira como suas
roupas suadas de suor se agarravam ao seu corpo deixavam Enri desconfortável.
O trigo que haviam plantado crescera lenta, mas firmemente, e à medida que a época
da colheita se aproximava, o trigo lentamente se tornava dourado. Embora um campo
dourado de trigo fosse uma bela vista, o trabalho de capinar antes disso era essencial e
irritante. Se não fosse feito, a cor dourada seria pouco distribuída.
Ela endireitou o corpo para relaxar os músculos rígidos e dar ao corpo fadigado um
momento de descanso. O vento parecia refrescantemente fresco em sua pele que havia
sido superaquecida por longas horas de trabalho de campo.
O vento também trouxe o som de uma comoção do vilarejo para seus ouvidos.
Parecia algo batendo em alguma coisa, e gritos para sincronizar suas forças de trabalho
como uma só. Estes eram sons que nunca tinham sido ouvidos antes no vilarejo. Neste
momento, o vilarejo estava trabalhando para transformar todos os tipos de planos e
idéias em realidade.
Destes planos, os que tinham maior prioridade eram para o muro que cercava o vilarejo
e a construção das torres de vigia. Não é preciso dizer que todos esses projetos tinham
a intenção de transformar o vilarejo em uma fortaleza.
♦♦♦
O Vilarejo Carne ficava na beira da Grande Floresta de Tob, e a floresta era o lar de
muitas feras selvagens; em outras palavras, era território perigoso. Seria impossível vi-
ver em paz lá sem a proteção de muros resistentes.
Para esse fim, o líder da Tropa Goblin — Jugem — propusera a fortificação do vilarejo
como uma contramedida para tal cenário. Uma vez mencionado que os Goblins seriam
incapazes de proteger o vilarejo, caso fosse atacado novamente devido à falta de núme-
ros, a moção imediatamente recebeu a aprovação unânime de todas as partes envolvidas.
Isso porque, mesmo agora, muitos dos aldeões ainda não conseguiam esquecer o pesa-
delo que ocorrera.
Como resultado da tarefa, a cautela dos moradores em relação aos Goblins desapareceu
quase completamente. Parte disso foi porque os cavaleiros que os atacaram eram huma-
nos, assim como eles. Tentaram matar os aldeões, apesar de serem membros da mesma
espécie. Em contraste, os Goblins poderiam ser de espécie diferente, mas eles trabalha-
ram com afinco para o vilarejo de Enri. A decisão de qual lado confiar não era mais aquela
que poderia ser facilmente resolvida ao se decidir linhas raciais.
E a razão mais importante era que os Goblins eram mais fortes que qualquer outro.
Como guerreiros, eles poderiam conduzir patrulhas, e quando as pessoas fossem feridas,
o Goblin clérigo — Cona — poderia curá-los.
Como o destino quis, o Sábio Rei da Floresta, que mantivera os monstros afastados do
vilarejo, tornou-se um seguidor de um guerreiro de armadura preta incrivelmente hábil
e abandonou seu território. Embora tivessem conseguido completar as cercas com
grande esforço, os aldeões não conseguiam se alegrar com sua realização, mas suspira-
vam sobre sua má sorte.
Tudo isso graças aos Golems — Golems de Pedra — que a bela empregada que servia
ao salvador do vilarejo — Ainz Ooal Gown — trouxera consigo.
Golems eram construtos inesgotáveis; quando recebiam uma ordem, executavam-na si-
lenciosamente, e sua força superava em muito a de um ser humano. Claro, sua falta de
destreza significava que não poderiam executar certas tarefas que exigissem precisão,
ainda assim, sua participação no trabalho permitia reduzir em muito o tempo para cons-
truição. Com o esforço dos Golems de Pedra incansáveis e sem a necessidade de dormir,
a construção do muro ficou pronta praticamente em um instante.
Eles poderiam realizar as tarefas que os aldeões e os Goblins não podiam, como derru-
bar árvores e transportá-las em grandes quantidades, cavar buracos ou colocar as fun-
dações dos muros. O que deveria levar anos para ser concluído em teoria, em vez disso,
terminara em questão de dias, e o muro construído era ainda maior e mais resistente do
que o esperado.
Eles não apenas ajudaram a construir os muros; até mesmo a construção das torres de
vigilância foi acelerada. Sua tarefa atual era completar as torres de vigia nos flancos leste
e oeste do vilarejo.
“Ah, obrigada.”
Embora Paipo acenasse a sujeira e as mãos manchadas de grama para afastar o agrade-
cimento de Enri, Enri ainda sentia que devia aos Goblins uma dívida que nunca poderia
ser paga.
Virando-se para a direção de onde seu nome era chamado, Enri viu uma mulher gorda
de pé ao lado de um campo. Ao lado dela estava um Goblin.
“Muito obrigada, Enri-chan. Por causa da ajuda do Goblin-san, o trabalho de campo está
quase pronto.”
“Mesmo? Isso é maravilhoso. Foi idéia deles ajudar nas tarefas, então se quiser agrade-
cer a alguém, agradeça a eles.”
“Ah, já agradeci ao Goblin-san. Ele disse que ele era apenas seu subordinado, então es-
perava que eu agradecesse a Ane-san também.”
Ouvir a palavra “Ane-san” fez Enri franzir as sobrancelhas, que ela rapidamente cobriu
com um sorriso amargo.
Os próprios Goblins haviam sugerido que deveriam ajudar as famílias que perderam os
trabalhadores rurais no ataque, e a mulher diante dela era uma dessas pessoas.
Não havia como os aldeões evitarem as contribuições dos Goblins. O moral dos Goblins
no Vilarejo Carne aumentou tanto, que era muito comum ouvir as pessoas dizerem que
Goblins eram melhores vizinhos do que humanos.
“Falando nisso, estão os outros Goblins-sans por aí? Eu queria que todos viessem para
uma refeição em agradecimento.”
“Conto com você pra isso, Enri-chan. Quando chegar a hora, vou garantir que todos pos-
sam desfrutar de um banquete feito com todas as minhas habilidades. Até lá, acho que
vou fazer o almoço para este Goblin-san primeiro.”
“Mesmo? Então, já que fui convidado, seria rude recusar. Ane-san, desculpe, eu não
posso me juntar a você, mas eu vou almoçar na casa da Morga-san.”
“Seria bom se as pessoas recém-chegadas percebessem que vocês não são ruins.”
“A maioria dos vilarejos, tirando esse, trataria Goblins como o inimigo, isso é certo...”
“É por isso que enviamos muitas pessoas para ajudar os aldeões com o trabalho. Não é
fácil.”
“Mas agora a suspeita é bem menor. Acabei de ver como eles podem cumprimentá-lo
normalmente.”
“Bem, algumas dessas pessoas lembram como seus familiares foram atacados e mortos.
Ou não, as memórias que eles carregam podem ser ainda mais pesadas do que isso.”
Apesar do Vilarejo Carne ter sido devastado pelo ataque, cerca de metade dos aldeões
conseguiram sobreviver. Por outro lado, os outros vilarejos que haviam sido atacadas
por cavaleiros haviam perdido a maior parte de seu povo.
Quando o Vilarejo Carne começou a receber imigrantes, muitos dos que vieram eram
sobreviventes desses vilarejos.
Enri esticou as costas uma vez mais e olhou para o céu. Embora a campainha do almoço
ainda não tivesse tocado, parecia que já estava na hora. Eles haviam trabalhado o sufici-
ente no campo para fazer uma pausa também.
Apesar do rosto de aparência esmagada, Paipo fez o que era instantaneamente reco-
nhecível como um sorriso.
“Não, não, estou falando sério! Ajudar você nos campos é uma das posições mais dispu-
tadas entre nós. Isso é porque podemos comer seus deliciosos almoços, Ane-san.”
“Ahaha, então eu deveria fazer o almoço para todos? Assim como lidamos com o café da
manhã?”
Havia algumas razões pelas quais seria difícil fazê-lo. Por exemplo, havia uma diferença
entre o almoço para 3 e o almoço para 20. Mesmo cortar os legumes seria uma tarefa
“Oh, não, nós não poderíamos impor uma coisa dessas. Além disso, desfrutar do seu
almoço feito à mão é algo como um bônus para quem ganha o direito de te ajudar, Ane-
san.”
“Perfeito pra—”
As palavras de Paipo foram cortadas na metade enquanto ele olhava para a distância
com seus olhos aguçados. Com uma respiração profunda, o até então relaxado e alegre
pequeno demi-humano se tornou um guerreiro veterano em um instante. Enri seguiu a
visão de Paipo ao longe.
Eles viram um Goblin montando um lobo negro. Eles pareciam deslizar pela planície
enquanto se aproximavam do vilarejo em alta velocidade.
“É o Kyumei-san...”
Entre a Tropa Goblin que Enri havia convocado, havia doze Goblins Soldados de nível 8,
dois Goblins Arqueiros de nível 10, uma Goblin Maga de nível 10, um Goblin Clérigo nível
10, dois Goblins Cavaleiros de Lobo de nível 10 e um Goblin Líder de nível 12, um total
de 19 Goblins.
Kaijali desta manhã e Paipo que ajudaram com as tarefas eram Goblins Soldados de ní-
vel 8, enquanto Kyumei, que estava montado em um lobo preto, vestindo uma armadura
de couro e carregando uma lança, era um Goblin Cavaleiro de Lobo nível 10.
O trabalho dos Goblins Cavaleiros de Lobos era patrulhar as planícies e atuar como ba-
tedores. Os cavaleiros que retornavam periodicamente ao vilarejo para entregar relató-
rios eram uma visão comum.
“...Parece que.”
No entanto, o tom de Paipo era muito sombrio. Isso a fez pensar que algo ruim havia
acontecido.
“...É cedo demais para ele voltar. Deveria estar rondando a floresta hoje... aconteceu al-
guma coisa?”
“Algum problema?”
Ouvindo a pergunta de Paipo, Kyumei se curvou para Enri de cima de seu lobo enquanto
respondia:
“...O quê?”
“Não tenho muita certeza, mas acho que é como antes. Um monte de caras desconheci-
dos estão se movendo em direção ao norte.”
“—São cavaleiros?”
Enri inconscientemente interrompeu os dois. Mesmo que ela fosse impotente para mu-
dar alguma coisa, ela ainda não podia ignorar a conversa. Ela ainda não conseguia es-
quecer o medo quando o vilarejo foi atacado.
“Eu não tenho nenhuma prova, mas acho que é diferente daquela vez. Sinto que algo
está acontecendo no fundo da floresta.”
“Certo.”
Depois de acenar para os dois, Kyumei esporeou o lobo e partiu. Enri e Paipo observa-
ram-no entrar pelas portas do vilarejo que se abriram lentamente.
“Sim, vamos.”
♦♦♦
Depois de lavar as mãos ao lado do poço, Enri e Paipo tinham acabado de chegar em
casa quando ouviram a voz de uma jovem garota.
A voz foi acompanhada pelo som de pedra roçando em pedra. Seguindo o som até sua
fonte, Enri viu Nemu girando um pequeno moinho de pedra atrás da casa.
Um cheiro pungente veio do moinho. Embora fosse semelhante ao cheiro que se agar-
rava às mãos de Enri logo antes, era várias vezes mais intenso, o suficiente para que se
pudesse sentir o cheiro a certa distância.
Nemu estava acostumada com o cheiro, ela estava bem, mas os olhos de Enri quase se
encheram de lágrimas quando o odor a surpreendeu. Paipo, parado atrás dela, parecia
não ser afetado em comparação. Não ficou claro se isso acontecia porque o cheiro só
afetava certas espécies, ou porque seria terrivelmente rude fazer uma careta assim para
a irmã mais nova de sua mestra.
Enri olhou a linha de visão de Nemu e viu que as ervas que ela empilhou antes de sair
da casa haviam sido reduzidas a um pequeno punhado.
Antes de sair de casa, Enri pediu a Nemu para ajudá-la a moer as ervas em uma pasta.
Isso porque algumas ervas tinham que ser secas para serem preservadas, mas outras
precisavam ser trituradas para serem preservadas.
As ervas eram a maior parte da fonte de renda do Vilarejo Carne. Pode-se dizer que é a
exportação de uma especialidade que não exige muita mão de obra para um vilarejo de
fronteira produzir.
Dado que era um método crucial para que obtivessem moedas de valor, todos os mora-
dores do Vilarejo Carne conheciam pelo menos um pouco sobre ervas e onde elas cres-
ciam.
“Eu quero ir num novo local para colher ervas, poderia vir comigo?”
Logicamente falando, não havia necessidade de Enri ir sozinha. Tudo o que precisava
fazer era pedir aos Goblins, que sabiam se cuidar, entrar na perigosa Grande Floresta de
Tob sob suas ordens. No entanto, os Goblins que ela convocara tinham uma fraqueza
estranha.
Isso quer dizer que eles não tinham aptidão alguma para a colheita de ervas ou agirem
como açougueiros, esses tipos de trabalho.
Sua falta de destreza em cozinhar se refletia nas ervas, eles não seriam capazes de com-
biná-las com ervas idênticas na frente deles. O mais surpreendente foi que era como se
tivessem nascido incapazes de fazer esse tipo de coisa, ou mesmo de aprender, como se
alguém tivesse removido a capacidade de fazê-lo.
Portanto, se eles fossem designados para colher ervas, os Goblins precisavam ter um
não-Goblin com eles.
“Tudo vai ficar bem, mas pode ser um pouco difícil se vir conosco, Ane-san.”
“Bem, como o Kyumei disse, há algum tipo de mudança nas profundezas da floresta. Se
for esse o caso, o interior da floresta estará uma bagunça agora.”
“Mesmo os cautelosos vão querer expandir seu território. Se for assim, por um tempo,
o território deles vai se sobrepor aos outros, e isso vai causar todo tipo de desordem.
Simplificando, as chances de encontrar um monstro vão aumentar e o perigo também. E
se tiver azar, pode até encontrar algo fora da floresta. A gente sabe que você é corajosa
e legal, mas não precisa entrar em perigo, Ane-san.”
“Certo...”
Eu não tenho muita certeza sobre a parte corajosa e legal, mas deve ser os Goblins sendo
cordiais...
Enri pensou.
“Eu não sei. O certo seria ter enviado alguém familiarizado com as condições da Grande
Floresta para investigar... Mas se formos, as defesas do vilarejo serão enfraquecidas... ah,
isso pode dar certo! Por que não contratar aventureiros pra verificar isso?”
“Entendo...”
“Se como resultado coletarmos muitas ervas, vendê-las depois deve ajudar com uma
parte desse problema... caso contrário, tudo o que podemos fazer é vender o item que
recebemos do Gown-sama.”
Ela recebeu duas trombetas das mãos de Ainz Ooal Gown. Embora uma delas tivesse
desaparecido depois que a assoprara, a outra estava escondida em segurança na casa de
Enri.
Enri não queria se tornar o tipo de pessoa desprezível que iria vender um presente dado
por boa vontade. Também existia a possibilidade de que talvez nem fosse possível
vendê-lo, então ela decidiu não o fazer. Mesmo agora, ainda estavam se beneficiando da
generosidade da empregada que trouxera os Golems para o vilarejo. Ela nunca iria co-
meter um ato tão ingrato.
“Mas isso vai ser problemático. As ervas só podem ser colhidas nesta temporada, então
embora seja um pouco perigoso, eu ainda tenho que...”
Enri sorriu para Nemu, que tinha uma expressão preocupada no rosto. Ela não queria
entristecer a última sobrevivente de sua família, nem queria deixar passar essa chance
de ganhar muito dinheiro. Embora, quando considerou suas prioridades, isso seria cla-
ramente um erro. Ainda assim, ela deveria apostar sua vida pelo bem de todo o vilarejo
e reembolsar os Goblins com um amonte justo, mesmo que eles a considerassem como
uma mestra.
Eu preciso ganhar mais dinheiro e ver que tipo de equipamento posso comprar para os
Goblins. Armaduras completas parece que poderia proteger muito bem. Falando em arma-
dura completa, há aquele cavalheiro na armadura de cor preta... qual era o nome dele
mesmo?
Embora não soubesse quanto custava a armadura e as armas, ela tinha quase certeza
de que não era uma quantia pequena. Nesse momento, Paipo estendeu a mão na frente
de Enri, indicando que ela deveria esperar um pouco.
“Erm... embora esta seja apenas minha opinião pessoal, que tal discutir o assunto com
o Líder? Você não precisa tomar a decisão tão rápido assim, Ane-san. Não quero ser re-
preendido pelo Líder porque abri a boca sem pensar. Além disso, acho que o Ani-san
também gostaria de colocar as mãos em todos os tipos de ervas.”
Assim que os problemas de Enri estavam enchendo sua cabeça, um som adorável e gor-
golejante veio do lado dela. Virando-se para olhar, ela viu Nemu olhando para ela com
uma carranca no rosto.
“Mm, desculpe. Lave as mãos depois de juntar as ervas. Eu vou deixar as coisas prontas.”
“Tá bom~!”
A resposta de Nemu foi cheia de energia. Depois de desmontar o moinho, ela raspou a
pasta verde acumulada em um pequeno pote. Enri voltou para casa, imaginando o que
deveria fazer para o almoço.
Enri estava diante da Grande Floresta de Tob. Claro, ela não estava sozinha. Ao lado dela
estavam os membros leais da Tropa Goblin.
Os Goblins estavam equipados com cotas de malha, escudos redondos e facões resis-
tentes, que pendiam de seus cintos. Eles usavam túnicas de cor marrom sob sua arma-
dura e botas de couro lanzudas em seus pés. Em seus cintos haviam sacos para pequenos
itens. Não se pode dizer que eles estavam armados amadoramente.
Todos estavam bem preparados, mas carregavam pouca bagagem. Isso porque o plano
era concluir rapidamente seu trabalho e não montar uma longa expedição na floresta.
Nem todos na tropa foram designados para a proteção de Enri. Seu objetivo era vascu-
lhar a área ao redor e verificar as informações que os Goblins Cavaleiros de Lobos ha-
viam coletado. Ou seja, eles deveriam observar atentamente a situação atual dentro da
Grande Floresta. Para continuar a proteger o vilarejo, os Goblins decidiram explorar os
arredores e o interior.
Havia também mais uma pessoa: Nfirea. Também fizera os preparativos, vestindo rou-
pas adequadas para coletar ervas em uma floresta. Com Nfirea por perto, a viagem de
colheita de ervas seria definitivamente um sucesso.
“Qual o problema?”
Embora Enri tivesse acenado com as mãos como se dissesse “nada não”, um dos Goblins
ao redor percebeu e se aproximou do lado de Enri.
Ele era um Goblins cujo corpo era tão musculoso e atlético que seria difícil para os es-
pectadores pensarem que ele ainda era um Goblins. Seu torso era protegido por uma
couraça bruta, mas prática, e a espada que ele usava estava embainhada em suas costas.
Este era Jugem, o líder dos Goblins, o nome foi dado por Enri, pois ele lembrava a lenda
de um herói Goblin chamado “Jugem Juugem”. Como um aparte, havia outros cavaleiros
nomeados que lutaram ao lado do herói Goblin, e ela usou seus nomes para os outros
Goblins.
“Isso é ótimo, acho... mas uma vez que estamos numa floresta, você pode perder sua
vida até mesmo com um pequeno deslize. Se alguma coisa acontecer, me avise.”
“Isso mesmo, Ane-san. Assim como nós concordamos antes, estamos explorando a flo-
resta, então se alguma coisa acontecer e nós não pudermos chegar lá a tempo... tudo vai
ficar bem, não é?”
O rosto brutal de Jugem se contorceu com o que parecia uma expressão de preocupação,
e ele olhou para o rosto de Enri. Vendo isso, Enri sorriu e respondeu a ele.
“Vai ficar bem. Não vamos muito fundo, e eles vão me proteger.”
Jugem seguiu a linha de visão de Enri para os três Goblins à frente dele. Então ele gritou:
“Ei! Seus rebeldes! É melhor vocês não deixarem a Ane-san receber um único arranhão,
entendido!?”
“Alto e claro!”
Enri de repente notou que Kaijali, sem nenhuma razão aparente, estava flexionando os
músculos em uma pose frontal mostrando os dois bíceps.
“Fazer isso agora?... Grhum! Claro! Você pode contar comigo para proteger a Enri!”
Por um momento, Enri imaginou Nfirea mostrando seus dentes brilhantes enquanto
irradiava autoconfiança através de seu sorriso. Sua atitude agora era muito diferente do
habitual e, sendo sincero, parecia meio vulgar. No entanto, isso foi provavelmente ape-
nas a sua excitação sobre a caminhada na floresta.
Estranho, ele está fazendo uma pose lateral agora...? O que isso significa?
Depois de ver o segundo sorriso brilhante de Nfirea, o sorriso sem graça no rosto de
Enri ficou ainda mais evidente.
“Ah, bem, isso foi resolvido... embora. Sendo honesto, mesmo que não estivéssemos fa-
zendo esse trabalho perigoso, uma coisa assim...”
Jugem virou-se para olhar para Enri, com uma expressão amarga no rosto. Enri estava
começando a ficar um pouco irritada depois de ouvir essa pergunta novamente depois
de responder tantas vezes no vilarejo, mas ele estava apenas perguntando para apazi-
guar a preocupação por ela, então ela não podia simplesmente ignorar.
“Isso pode ser verdade, mas o fato é que sem as ervas, não podemos trazer dinheiro...”
“Não tocaremos no dinheiro dos Bareare. Precisamos ajudar uns aos outros e dividir os
benefícios. Nós não podemos apenas tirar vantagem deles.”
Ajudar uns aos outros em situações difíceis era o alicerce da vida no vilarejo — portanto,
uma família não poderia sobreviver se fosse isolada dos outros. Ainda assim, isso não
era uma desculpa para tirar vantagem dos outros, porque isso implicaria que uma pes-
soa não poderia se sustentar, e o vilarejo não poderia cuidar das pessoas até esse ponto.
A autossuficiência era um requisito estrito.
“Kaijali-san, por favor, entenda o clima aqui e pare de fazer essas poses estranhas...”
“Se esse é o caso, então definitivamente... e tem isso também... bem, se você vivesse com
o Ani-san, certamente poderia reunir a riqueza... mas... parece que nada impediria isso...”
Embora Enri não quisesse dificultar as coisas para Jugem e os outros que cuidavam dela,
ela não se deixaria influenciar por seu pulso firme.
Afinal, ela havia decidido se aventurar na floresta apesar de saber seus perigos, porque
ela tinha ouvido Kaijali dizer: “Não podemos consertar o nosso equipamento”.
Um cutelo de cozinha era uma coisa, mas os Goblins precisavam dos serviços de um
ferreiro profissional para preservar suas armas e armaduras. O que significava que um
perigo sutil pairava sobre todos os Goblins. Se o equipamento deles se deteriorasse, isso
significaria que suas vidas estariam em perigo. A manutenção de seus equipamentos de
batalha era essencial.
O que ela poderia fazer por eles — que haviam prometido suas vidas para protegê-la?
Como ela poderia se esconder em segurança e aproveitar os frutos do trabalho deles? Já
que eles deram tudo de si, ela também teve que fazer tudo o que podia por eles. Essa foi
a conclusão de Enri.
Independentemente do que tivesse que fazer, Enri simplesmente estava tentando pagar
o serviço dos Goblins através de seu próprio esforço. Esta expedição era a prova disso.
“Normalmente, a coisa mais segura a fazer seria confirmar que a área estava livre de
perigo antes de você entrar...”
Dyno era uma magic caster arcana que usava um cajado com crânio de animal.
Ela carregava um cajado retorcido que parecia surrado, mas era ainda mais alto do que
ela. Ela estava adornada com estranhos ornamentos tribais por todo o corpo, e seu busto
era ligeiramente volumoso. Seu rosto parecia mais suave do que os dos Goblins machos.
Enri podia reconhecer isso pois era a mestra, mas as pessoas normais provavelmente
não seriam capazes de entender esses detalhes.
“Ainda assim, você não pode confirmar que é seguro, não é?”
“Mm, isso mesmo. Infelizmente, não podemos fazer isso. O máximo que podemos fazer
é confirmar que a floresta parece ser pacífica, mas mesmo isso gastaria algum tempo. E
Depois de ouvi-la repetir a resposta várias vezes, Jugem finalmente percebeu que ele
não podia mudar a mente de Enri. Em vez disso, ele olhou para os três Goblins que via-
jariam com ela. O que ele disse foi basicamente o mesmo que havia dito antes.
“Não poderemos proteger a Ane-san, então vocês terão que fazer isso por nós. E prote-
jam-na com suas vidas! E você também, Ani-san!”
“Entendido!”
“Seria mais seguro se todos ficássemos juntos como de costume. Dividir a nossa força
de luta é apenas pedir problemas...”
“Se fizéssemos isso, então seríamos forçados a reagir ao inimigo, não é isso?”
“Está certo. Se algum dos monstros se estabelecer na floresta próxima, então livrar-se
deles para sempre seria extremamente problemático. Uma vez que construam um ninho,
eles nunca irão embora. Mesmo se nós os expulsássemos, eles voltariam depois de um
tempo.”
Este seria o primeiro passo. Por ser o primeiro, implicava diretamente que o perigo era
o maior. Como tal, eles só poderiam mandar três escoltas para proteger Enri.
“Ótimo. Bem, então vamos lá! Terminaremos rápido e nos encontraremos com a Ane-
san!”
♦♦♦
No momento, a floresta era dominada pelo silêncio. Além dos sons suaves dos galhos
das árvores balançando e dos chilreios ocasionais de pássaros ou animais, não havia
mais nada. Os passos de Enri e seus companheiros ecoaram alto. A outra equipe liderada
por Jugem já havia se aprofundado, e não podiam mais ser ouvidos.
Era muito difícil manter uma formação ampla na floresta. Normalmente, eles teriam ido
em fila indiana, mas para proteger os dois, os Goblins insistiram em fazer as coisas dessa
maneira. Eles perderam velocidade como resultado, mas isso não poderia ser evitado.
Enri não era novata em coleta de ervas. Uma menina da idade dela saberia tudo sobre
quais ervas poderiam ser tomadas por via oral ou emplastro em uma área afetada, ou as
ervas comuns usadas como ingredientes para poções. No entanto, neste campo, ela era
completamente superada por Nfirea. Não apenas já estava completamente familiarizado
com ervas medicinais, mas até mesmo sabia quais eram úteis como bases para compos-
tos alquímicos.
De todas as perguntas que Enri havia feito, parecia que esta era a que ele estava espe-
rando. Os Goblins circundantes começaram a posar simultaneamente.
Enri estava de cabeça inclinada e não notou a leve expressão de aborrecimento no rosto
do resmungante Nfirea.
“Poderia ter dito a eles para pararem de posar... é uma droga não ter coragem. Bem, vê
aquele musgo marrom ali?”
Enquanto girava o corpo, um musgo marrom foi visto crescendo onde Nfirea estava
apontando.
“Sério? Eu pensei que era apenas um simples pedaço de musgo, nem tinha notado. Sem
o Enfi, é bem certo que eu teria ignorado isso completamente. Isso é uma boa prova do
quanto você é bom, Enfi.”
“Vale um pouco de dinheiro... ah, espere. Não pegue isso agora. O que a Enri e eu pre-
tendemos vale ainda mais. Se não conseguirmos encontrá-lo, vamos pegar isso no cami-
nho de volta.”
“Entendo. Sim, nós entendemos. Falando nisso, para o Ani-san, esta floresta deve ser
como um tesouro, já que é tão fácil fazer riqueza dela. Ah~ eu me sinto muito mais à
vontade com você por perto, Ani-san.”
“—Sim, hm, bem, pode ser que seja assim. Uma coisa é certa, as pessoas que viajam
comigo não terão dificuldade. Estou muito confiante disso.”
“Hm? Não, na verdade eu, nada... ah... pensando nisso, há uma pergunta que esqueci de
perguntar. Que tipo de ervas está procurando?”
“Não contamos a você? É uma erva chamada Enkaishi. Depois, vamos deixar a Nemu
fazer a moagem.”
“Entendo, entendo. Tudo certo. Embora, mesmo que você descreva para nós, não pode-
remos dizer a diferença. Vamos seguir em frente, pessoal.”
Passo a passo, eles se aventuraram mais na floresta. Enquanto continuavam, seus nari-
zes começaram a pinicar devido ao aroma denso da fragrância da floresta.
“Vamos começar a olhar por aqui. Estamos procurando lugares com muita sombra e
umidade... há alguma fonte de água por perto? Essa erva cresce perto delas. Não há sinais
de atividade de monstros por aqui, acho que demos sorte.”
“Entendo, Ani-san.”
Com sua vasta experiência como herborista, era improvável que Nfirea cometesse um
erro. Os Goblins e Enri responderam em aprovação.
“Ah, sim, isso mesmo. Enfi deve ficar abarrotado se ficar sozinho.”
Enri foi até onde Nfirea largara a bagagem e o ajudara em seus trabalhos.
“Obrigado, Enri.”
“Sem problemas, Enfi. Nossa, agora que me dei conta, todo esse equipamento especia-
lizado é incrível. Você precisa de muitas coisas...”
Com o canto dos olhos, Enri pôde ver os Goblins balançando a cabeça como se quises-
sem dizer “muito bom, muito bom”. Embora ela estivesse surpresa do porquê eles esta-
vam tão felizes, ela finalmente decidiu que sua primeira prioridade era fazer o trabalho.
Com um “Oh!” moderado para manter o barulho baixo, eles começaram. Os Goblins ob-
servaram o perímetro, enquanto Enri e Nfirea começaram a procurar.
Embora Enri estivesse preparada para o trabalho ser difícil, eles tiveram sorte e logo
encontraram um crescimento denso de ervas das rachaduras dos troncos das árvores.
“Está ali. Encontramos bem rápido onde elas crescem. Como eu pensei, é muito melhor
quando estou com o Enfi.”
“Não, não é nada disso. Tivemos foi sorte de encontrá-las em uma área erma. Se hou-
vessem pegadas de monstros, seria muito desagradável.”
No entanto, Enri ajoelhou-se e começou a arrancar, prestando atenção nas raízes das
ervas.
O valor medicinal da Enkaishi residia em suas raízes. Mas eles não podiam simples-
mente arrancar as raízes desse jeito. Gramíneas como essas eram incrivelmente resis-
tentes, e elas cresciam novamente enquanto as raízes permanecessem. Parecia vergo-
nhoso se conter diante de uma erva, mas esgotar essa moita — que antes era um grande
desafio encontrar —, colhendo demais seria como matar a galinha dos ovos de ouro.
Um odor forte fazia seu nariz arder quando fez a colheita, mas ela estava acostumada
com esse tipo de coisa, então o cheiro não impedia seu trabalho. Comparado com a casa
de Nfirea, isso era como cheirar o paraíso.
Ela arrancou o pé de ervas por um talo, segurando-o com cuidado para evitar esmagá-
lo por acidente, e então cuidadosamente colocou-o na bolsa abaixo das axilas. Se os
Goblins viessem ajudar, provavelmente poderiam ter terminado mais rápido, mas eles
estavam ocupados demais observando os arredores. Enri não era estúpida ao ponto de
tirá-los de seus deveres como sentinelas só para ajudá-la a escolher ervas.
Enri observou silenciosamente Nfirea, que estava olhando para as ervas com uma ex-
pressão zelosa no rosto. O rosto, que até então era familiar, havia dado lugar a outra,
parecia alguém completamente diferente agora.
“...Algo de errado?”
Nfirea de repente olhou para cima. Ele deve ter percebido que Enri havia parado de
trabalhar.
Enri não fizera nada de errado, mas ela ainda assim reagiu sem jeito.
“Mesmo? Não acho isso nada de mais. Eu sou apenas um diletante quando se trata de
herborismo. Meu nível é bem básico.”
Kaijali gesticulou para Enri ficar quieta. Uma situação de emergência surgiu. Enri, que
entendeu, levantou as orelhas. Ao longe, ela podia ouvir o som das plantas sendo pisote-
adas.
“Isto é...”
“Algo está vindo. Está vindo para nós... ou melhor, está avançando e provavelmente aca-
bará aqui, então precisamos tomar uma distância daqui.”
“Isso mesmo, Ani-san. É melhor que não tenhamos que usá-los, as coisas podem acabar
mal se a gente fizer. Venha, vamos nos mexer.”
A árvore não era muito grande, não podia ocultar todos eles. O máximo que podiam
fazer, era se agachar em suas raízes e confiar que não ficariam muito perceptíveis.
Dessa forma, os cinco silenciaram a respiração e rezaram para que a fonte do som fosse
em outra direção. Mas, infelizmente, isso não aconteceu, e a figura que fez o barulho fi-
nalmente entrou no campo de visão de Enri.
“Eh!?”
Seu corpo estava coberto de pequenas feridas que sangravam profusamente. Sua res-
piração era rápida e irregular, e o cheiro de sangue e suor se espalhou pela área.
A criança Goblin olhou com medo para a retaguarda, na direção de onde ele tinha vindo.
Não havia necessidade de ouvir o som de pisotear a vida vegetal que vinha de trás dele.
Pela aparência das coisas, ele estava em um jogo de caça e presa.
“Aquilo—”
Gokou nem mesmo olhou para Enri para silenciá-la. Aqueles olhos implacáveis estavam
fixos na direção de onde a criança tinha vindo.
Era uma enorme fera mágica que se assemelhava a um lobo negro. A razão pela qual
eles poderiam dizer imediatamente que não era um lobo comum era por causa da cor-
rente enrolada em torno de seu corpo. A corrente serpentina não impedia seus movi-
mentos, se comportavam como se fosse apenas uma ilusão e dois chifres emergiam de
sua cabeça.
“Barghest...”
Embora não tivesse a audição aguçada, o Barghest farejava como um cachorro, e então
seu rosto se contorceu. Foi um sorriso maligno que nenhuma mera fera poderia fazer.
Ele lentamente olhou em volta e seus olhos se fixaram na árvore onde a criança Goblin
havia se escondido.
Como um animal caçador, o Barghest tinha uma grande destreza em rastrear cheiros
de sangue. Não havia como não conseguir farejar a criança Goblin que havia sangrado
no caminho até aqui.
Pelo que parece, a razão pela qual o Goblin conseguira chegar até aqui não foi porque
conseguira fugir do Barghest. Pelo contrário, foi porque o Barghest era uma criatura sá-
dica; ou talvez fosse porque estava caçando por esporte.
De repente, o Barghest parou de se mexer, com uma surpresa no rosto e olhou para o
lugar onde haviam juntado as ervas.
Atrás do tronco da árvore, Enri abriu as mãos. Sua pele era verde e salpicada de pedaços
soltos de matéria vegetal. Ao lado dela, Nfirea fez a mesma coisa.
Este era o mesmo tipo de coisa em que Nemu estava encharcada quando ela moía as
ervas. Apesar de não afetar os narizes entorpecidos (como os deles), o poderoso fedor
ainda pairava no ar. Ela achou a batida repentina de seu coração ruidosa.
“Começou a se mover... Está se afastando? Será que não sentiu nosso cheiro?”
Unlai estava com o ouvido em uma árvore e um ponto de interrogação apareceu acima
de sua cabeça.
“O que quer dizer, Ani-san? Os monstros não têm narizes muito sensíveis...?
O ponto principal era que, por ter um senso de olfato extremamente sensível, o fedor
que flutuava nessa área era particularmente eficaz contra ele. O Barghest confundiu o
aroma das mãos e da bolsa de Enri com o das áreas já colhidas. Melhor ainda, o aroma
encobria seu aroma original.
Também era possível que o Barghest fosse arrancar ervas para diferenciar entre os aro-
mas de ervas e da criança Goblin.
“Então, vamos usar o garoto como um sacrifício e acabar com isso. Não sabemos o quão
forte é esse Barghest e se intrometer nisso sem conhecimento prévio é muito arriscado.”
Essa resposta de sangue frio fez Enri olhar para o rosto de Gokou.
No entanto, Enri não gostava disso. Mesmo que fossem de espécies diferentes, não aju-
dar alguém que poderia ajudar seria uma desgraça para si mesma como ser humano.
Vai saber, se não fosse uma garota ingênua do vilarejo que nunca soube como um ata-
que de Goblins era e não tivesse uma sensação de perigo, ela poderia não ter pensado
assim.
Enri olhou para os outros. Os Goblins conheciam o desejo de Enri. Eles simplesmente
não queriam falar isso. Depois disso, Enri olhou para Nfirea.
“Enfi...”
“Haa... eu vou ajudar. Quem sabe, essa criança Goblin pode se tornar uma valiosa fonte
de informação. Se não descobrirmos o porquê ele fugiu para cá, isso pode acabar cau-
sando perigo ao vilarejo.”
“Certamente. Mas se isso é um Barghest, estamos com sorte. Líderes mais arrogantes
são bem fortes. Mas pela aparência das correntes desse cara e pelo tamanho de seus
chifres, não acho que ele seja desse tipo. Se é apenas um Barghest comum, então temos
boas chances.”
Enri engoliu em seco. Ela sabia que o que ela estava preste a dizer era apenas para sa-
tisfazer seu ego, e suas palavras tolas colocariam em perigo não apenas a si mesma, mas
os outros ao seu redor. Mas mesmo assim, Enri ainda abriu a boca para falar.
“...Se abandonarmos alguém que poderíamos ter ajudado, seria tão ruim quanto ator-
mentá-lo. Eu não quero ser como aquelas pessoas que prejudicam os fracos. Por favor!”
Enri sentiu uma dor terrível e dolorosa em seu coração enquanto observava os guerrei-
ros que iam para a batalha cumprir seus desejos.
Então, Enri pensou, no mínimo eu deveria ficar aqui e observá-los seriamente, sem piscar
sequer uma vez.
♦♦♦
Os quatro que saltaram para fora viram o Barghest pressionando a criança Goblin no
chão. A criança Goblin exibia novas feridas, mas ainda não estava morta, pois o Barghest
tinha o péssimo hábito de brincar com sua presa.
Os movimentos do Barghest pararam, e ele olhou para o grupo de pessoas que haviam
saltado e depois para a criança Goblin. Talvez tenha medo de que sua presa a tenha le-
vado a uma armadilha.
“Não precisa pensar muito. Eu vou ensinar um cachorro velho como você novos truques.
Que tal começarmos com “fingir de morto”?”
“Agyaaaa!”
Em resposta às provocações dos Goblins, o Barghest apertou a criança Goblin que es-
tava pisando, como resultado, a criança chorou de dor.
Embora não pudesse falar, suas ações deixaram claras suas intenções. Faça um movi-
mento e eu mato o pirralho. Contudo—
♦♦♦
O Barghest não poderia saber que os Goblins não tinham aparecido com a intenção de
salvar a criança Goblin. Eles só estavam aqui por causa do desejo de Enri, e a atitude
deles era de “contanto que tentemos salvá-lo, já é bom o suficiente”.
Já que eles foram para um confronto, sua preciosa Enri poderia se machucar se não
derrotassem o Barghest. Como resultado, precisavam matar o Barghest sem pestanejar.
Então, se a criança Goblin fosse assassinada, isso desperdiçaria a primeira ação do opo-
nente e permitiria que tomassem a iniciativa, então os Goblins deixariam alegremente o
garoto morrer.
Vendo-se refletido nas lâminas de três facões, o Barghest entendeu que não podia usar
seu refém contra eles e parou de se mover. Ficou confuso se deveria ou não acabar com
o garoto que estava pisando.
Tirar a vida dele seria fácil. Bastaria uma mordida. No entanto, se fizesse isso, não havia
dúvida de que seria cortado em pedaços pelas armas de seus inimigos.
Ignorando a criança Goblin, o Barghest saltou para a tropa Goblin pronto para enfrentar
seu ataque.
Por ser mais pesado que um Goblin. O Barghest esperava imobilizar seus inimigos e
acabar com eles dilacerando suas gargantas com suas presas.
Uma lâmina foi desviada pelas correntes do Barghest, mas a outra cortou seu corpo,
enviando sangue para todos os lados.
“Gyaaaaah!”
O vil miasma que agora entupiu seus olhos e nariz provocou um uivo agonizante do
Barghest.
Podia sentir que estava sem saída apenas pelo fluxo de sangue. O Barghest soltou um
grito de lamento, sua visão tremeu e se confundiu, partiu para seu próximo movimento.
Seu alvo era aquele que jogara o frasco — um humano.
No entanto, o Barghest tinha dado apenas alguns passos quando seus pés grudavam em
algo abaixo e não podiam se mexer.
Olhando para baixo, viu que o chão estava coberto de um lodo estranhamente colorido.
O líquido bizarro não foi absorvido pela terra.
“A cola não resistirá por muito tempo à força de uma fera mágica! Derrube ele de uma
só vez!”
“SHAAAAAAAA!!!”
O Barghest usou toda a sua força para arrancar os pés do chão. Embora seus movimen-
tos fossem retardados porque seus pés ainda estavam cobertos de adesivo e sujeira,
ainda era capaz de lutar.
Ele reconheceu que estes eram diferentes dos Goblins regulares de uma forma crucial
— eles eram inimigos que poderiam matá-lo.
Este Barghest conhecia três métodos de ataque. Poderia perfurar, faria uma investida
no inimigo com seus chifres. Poderia morder. Poderia derrubar seu oponente e rasgar
com suas garras. Ao contrário dos Barghests mais fortes, esse certamente não teria ne-
nhuma habilidade especial. Mas na verdade, tinha um trunfo.
“「Reinforce Armor」!”
Talvez isso os tenha feito imprudentes, mas com suas armaduras reforçadas, os Goblins
avançaram como um. Talvez possa ser chamado de movimento tolo, mas também se
pode dizer que foi um passo corajoso para acabar rapidamente com o que poderia ser
uma longa batalha.
De fato, seria este o caso — se o Barghest não esperasse que eles fizessem isso.
As correntes em seu corpo balançaram como uma cobra. Então, as correntes que liga-
vam o Barghest de repente vieram à vida.
A habilidade especial da fera era conhecida como 「Chain Cyclone」 iria ferir severa-
mente os Goblins, isso se não os matar imediatamente.
O Barghest estava fazendo isso com toda sua força. Este foi um grande movimento que
só poderia ser usado uma vez por dia, e depois que as correntes fossem usadas, seria
incapaz de usá-las como armadura por pelo menos dez segundos. O risco era alto.
O ataque inesperado atrapalhou a esquiva dos Goblins por um segundo. Este foi um erro
fatal. Contudo—
“Abaixem-se!”
O Barghest que apostou tudo nesse ataque encarou o outro humano que gritara e arre-
galava os olhos.
Os Goblins, que deveriam estar muito acima do golpe para evitá-lo, caíam agilmente no
chão, como se a voz tivesse injetado uma nova dose de vitalidade.
O Barghest olhou para a comandante que estava por trás do magic caster.
E então, as patas dianteiras do Barghest e uma perna traseira foram arrancadas de seu
corpo, quando levou golpes de facão. Ele uivou de dor. Ele tentou recuperar suas corren-
tes, mostrar suas presas, ameaçá-los, mas os Goblins não davam a mínima para isso.
O Barghest, que sabia que já havia perdido, estava desesperadamente tentando fugir.
Seu corpo normalmente flexível agora era pesado e lento. Isso era natural, conside-
rando que três de suas quatro pernas eram como meros troncos mortos. Mesmo assim,
o Barghest queria fugir com toda a força.
♦♦♦
Sangue pegajoso cobria a grama ao redor e o fedor de ferro sobrepujava o odor das
plantas.
O Barghest estava morto, as vísceras saindo do cadáver ainda quentes do calor do corpo.
Os Goblins se afastaram do Barghest, com seus facões manchados de sangue na mão, e
se viraram para olhar o garoto Goblin.
O garoto havia sido ferido gravemente e perdera a força para fugir, mas ele ainda for-
çava o corpo a se erguer contra uma árvore.
Nos olhos um do outro, eles discutiram sem palavras a estratégia para que tipo de ati-
tude renderia o maior número de benefícios e que tipo de informação eles deveriam re-
velar, mas Enri sentiu que havia assuntos mais urgentes do que isso.
O garoto ficou muito machucado e já havia perdido muito sangue. Deixando-o sozinho,
ele definitivamente iria morrer. Embora Enri não tivesse idéia de como ajudá-lo, ela es-
perava que seu amigo de infância soubesse o que fazer.
“As ervas mais normais podem servir, mas só em parar o sangramento, não vai ajudar
contra a perda de sangue. Contudo...”
“Há uma poção de cura recém-criada. Eu queria entregá-la para o Gown-sama, mas...
Você poderia me mostrar suas feridas?”
Hostilidade passou pelo rosto assustado da criança quando viu a poção roxa. Do ponto
de vista de Enri — talvez até do ponto de vista de Nfirea — essa foi uma reação natural.
A poção parecia muito com veneno, era normal estar em guarda. No entanto, os Goblins
ficaram muito aborrecidos com as palavras da criança, e eles imediatamente se aproxi-
maram dele.
“—Ei, rebeldezinho. A Ane-san é quem decidiu te salvar, junto com o Ani-san. É melhor
você tomar cuidado com o que fala, eles salvaram sua vida... Isso é para o seu bem tam-
bém, entendeu?”
O garoto se virou para olhar as lâminas brandidas diante dele. Embora ele fosse apenas
uma criança, ele ainda sabia que os Goblins diante dele estavam muito zangados. Com
isso, ele se encolheu diante de seus olhos.
Enri achava que seria melhor se eles não tivessem que intimidar a criança, mas ela sabia
que os Goblins tinham suas próprias regras e comportamentos. Não seria uma boa idéia
para ela se intrometer com sua sensibilidade humana.
“Muito bom. Sendo assim, posso dizer ao Gown-san que o experimento foi concluído
sem problemas.”
Nfirea olhou em volta, buscando aprovação. Enri e os Goblins, que entenderam o que
ele queria dizer, acenaram em resposta.
A poção criada por Nfirea foi feita a partir dos materiais fornecidos pelo grande magic
caster Ainz Ooal Gown, o salvador do Vilarejo Carne. Não apenas não havia necessidade
O fato de Nfirea ter decidido usá-la por conta própria era um grande problema, mas
talvez ele pudesse considerar uma avaliação prática dos efeitos da poção.
Se ele explicar isso ao Gown-san depois do fato, ele provavelmente vai permitir... os her-
boristas também têm suas próprias regras, eu acho.
Incapaz de ler nas entrelinhas, o garoto engasgou em choque, enquanto Enri e Nfirea
sorriam amargamente em resposta. Uma reação como essa era natural de alguém que
não conhecia todos os detalhes da situação.
Embora os dois tivessem pelo menos conseguido sorrir diante da reação, havia outros
presentes que não possuíam sua tolerância. Os Goblins estavam claramente furiosos;
eles estalavam suas línguas e alguém ainda disse, “Esse desgraçadinho!”.
Enri estendeu as mãos para tentar acalmá-los. Ele não sabia de nada, então era de se
esperar que reagisse dessa maneira. Além disso, ele era apenas uma criança, então não
havia necessidade de pensar muito sobre isso.
“Bem, se você diz, Ane-san... de qualquer forma, devemos sair daqui. Quem sabe que
outros monstros serão atraídos pelo cheiro de sangue, não?”
“E, apesar de termos vencido... Ane-san. Por favor, não faça esse tipo de coisa nova-
mente, tá bom? Nosso trabalho é te proteger.”
“Exatamente. Ainda assim, ouvir a Enri gritar daquele jeito realmente me assustou.”
“...Bem, é por causa daquele grito que estamos bem — ei, pirralho, é melhor você não
fugir. Temos muitas perguntas pra fazer e se você não quiser ir para casa em pedaços, é
melhor responder sem mentir.”
“Unlai-san...”
O garoto levantou-se devagar e meticulosamente. Suas feridas foram curadas, então não
deveriam ter dificultado sua mobilidade, mas sua resistência teimosa fazia seus movi-
mentos serem lentos.
“...Ane-san, não se preocupe, não vou matar ele. Eu só quero fazer algumas perguntas
sobre o que está acontecendo. Além disso, não acha que ele vai morrer se ficar aqui?”
Parecia que a pergunta era mais direcionada a criança Goblin do que a própria Enri. Ele
pareceu entender, e a resistência em seus olhos desapareceu.
“Isso é bom. Então, quanto mais cedo sair daqui, melhor. Você pode dar a certeza de que
há apenas um desses Barghests, garoto?”
“...Eu não posso. Além deles, há vários Ogros também. Não sei se algum deles me perse-
guiu. E eu não sou garoto, sou Agu, o quarto filho de Ah, o chefe da tribo Gigu.”
“Agu-kun, hm.”
“Falamos disso mais tarde. Não tem tanta importância assim para ser discutido aqui. Já
que o Agu quer que usemos seu nome, talvez devêssemos, para construir confiança entre
nós?”
“Ani-san, você é realmente maduro. Então vamos recolher nossas coisas e ir embora.”
Embora Enri quisesse aliviar o clima com uma conversa, a floresta não era um lugar
para a humanidade. Ela não podia agir levianamente aqui, especialmente considerando
que poderia haver mais perseguidores por perto.
♦♦♦
Eles deixaram a floresta fria e sombria, e depois de se banharem na luz do sol, a tensão
que enchia seus corpos dissipou, substituída pela flexibilidade e relaxamento que havia
retornado. Naquele momento, eles sentiram como se tivessem voltado ao mundo dos
homens mais uma vez.
Nfirea estava caminhando ao lado de Enri, e um alto “fuwaah~” escapou dele, soando
como um suspiro e um bocejo.
“Monumento da Ruína?”
“Isso mesmo. É um lugar assustador que apareceu na Grande Floresta. Qualquer um que
chegar perto de lá morre. Eles dizem que há undeads também.”
“Você parece saber muito deste lugar, estranho não? Já que todos que chegam perto
morrem.”
“...Enquanto ainda construíam Monumento da Ruína, os bravos de nossa tribo foram até
lá e viram monstros de ossos erguendo o lugar.”
“Lamento, mas não. Isso é algo novo para nós também, Ani-san. Se a gente for fundo na
floresta, podemos encontrar inimigos que nem o nosso Líder pode derrotar. Por isso que
nunca fomos tão fundo.”
“...Ei, de qual tribo vocês três são? São mais fortes que outros Goblins que já vi antes,
então onde—”
Agu deu uma olhada em Enri e depois murmurou algo parecido com “Normalmente os
humanos são apenas...” para si mesmo.
“Mas pessoas fortes... não, quer dizer, eu ouvi que os humanos como uma raça têm
membros fortes e membros fracos... mas você é uma mulher, né? E aquele com o cabelo
cobrindo o rosto é um homem?”
Os olhos de Enri se arregalaram. Se ela não fosse mulher, então seria o quê? Não, era só
que ele não sabia se Nfirea era do sexo masculino. Será que os Goblins não sabiam dis-
tinguir o sexo dos humanos?
“Como eu disse, ele não sabe coisas assim. Todos os Goblins não usam a mesma coisa,
independentemente de serem masculinos ou femininos? É claro que às vezes há Goblins
civilizados com um país próprio, mas ele não é um deles.”
Entendo...
Enri de repente percebeu, e então percebeu que não tinha respondido à pergunta de
Agu ainda.
“Ehhhh!?”
“Não, quero dizer, para algumas raças, as esposas podem usar o poder e a autoridade
do marido... não é assim?”
Os Goblins ao redor pareciam querer dizer algo, mas diante da inflexível recusa de Enri,
tudo o que fizeram foi abaixar os ombros em silêncio.
“Então... o que está acontecendo? Como é que essa mulher é a número um?”
“Por isso te chamamos de criança porque você não entende o porquê. A força da Ane-
san não é algo que possa ser visto com os olhos.”
“Então, mais uma pergunta. Por que você estava sendo perseguido por esses caras? O
que aconteceu?”
“É que—”
O que eles viram foi uma beleza estonteante. Ela era uma mulher com tranças duplas e
pele morena. Ela estava vestida com o que ela chamava de uniforme de empregada, e
carregava uma arma estranha nas costas.
Lupusregina Beta.
Ela era uma empregada servindo sob Ainz Ooal Gown, o salvador do Vilarejo Carne, e
ela tinha sido responsável por entregar os itens alquímicos e aparelhos para os Bareares,
bem como comandar os Golems de Pedra. Sua atitude alegre e despreocupada a tornou
muito popular entre os aldeões.
No entanto, ela tinha o hábito de aparecer do nada, assim como ela tinha feito agora. Os
aldeões acreditavam que era natural que uma empregada a serviço de um grande magic
caster conhecesse alguma magia que permitisse isso, e Enri também compartilhara essa
opinião. Mesmo assim, aparecer assim de repente ainda era assustador.
“Se preocupando com isso agora, En-chan? Eu tenho seguido atrás de vocês desde o
come~su. Hã? Não me diga que nem notaram ~su? Eu pensei que todos estavam me
ignorando porque eu não tenho presença ~su.”
“Eh? Ehhhh?”
“Uwah~ as pessoas pensam que sou apenas uma brincalhona ~su. Só queria que se
lembrassem de mim ~su... Não, tava só brincando ~su. Apenas uma piada ~su...”
“Bem, não há algo errado com isso. Então, quem é esse pequeno Goblin? ...Poderia —
Será que—!”
“Então foi is~su. Um amor puro e inocente de um menino, pisoteado assim. Ah, que
revoltante! Perdeu hein! ...Tudo bem, chega de brincadeira, o que realmente aconteceu?”
O corpo de Agu tremia ferozmente, como se tivesse visto algum tipo de monstro.
“Aw, não se preocupe, não vou te comer ~su. Tudo bem ~su. Vamos lá, conte para a
onee-chan aqui sobre is~su.”
“Lupu-neesan. Devemos falar sobre isso depois. Você não concordou com isso?”
“...”
“...Ah! Espero que você possa entregar esta poção para o Gown-sama, Beta-san. Ela foi
desenvolvida recentemente, mas seus efeitos foram testados e comprovados.”
“Isso mesmo. Infelizmente, não é completamente vermelha, mas acho que fizemos um
progresso significativo.”
“—Bem, isso é ótimo. Tenho certeza que o Ainz-sama ficará muito feliz em ouvir.”
“Ahhhh, que animador... Realmente, eu escolhi um ótimo dia para visitas ~su. Além
disso, não precisa me chamar de Beta. Lupusregina já tá bom. Exceção especial só pra
você ~su.”
Com o (aparentemente) alto astral de Lupusregina pairando no ar, eles entraram nos
portões do vilarejo.
Os aldeões não disseram nada quando viram a desconhecida criança Goblin. Pode-se
dizer que não estavam nervosos, mas também pode-se dizer que confiavam muito em
Enri. Talvez eles tivessem assumido que a criança Goblin era parente de um dos outros
Goblins.
Eles atravessaram o vilarejo e passaram pela casa de Enri. Seu destino era a casa dos
Goblins.
“Me deem licença por um instante. Vou chamar a Britta-san, ela será útil para ouvir o
que o Agu tem a dizer.”
“Parece um bom plano, Ani-san. Ela está treinando para ser uma ranger, já que ela en-
trará na floresta mais vezes, significa que seria bom compartilhar essas informações com
ela... Então, o que devemos fazer, Ane-san?”
“Eeh? Eu?”
Enri entrou em pânico por um momento, sem esperar que o nome dela surgisse na con-
versa. Sem nenhum motivo especial para se opor, ela simplesmente assentiu com a ca-
beça.
“Mm. Bem, não é como se eu fosse contra ou algo assim. Pelo contrário, espero que ela
ouça o que o Agu tem a dizer. Eu estou contando com você, Enfi.”
“Não quero ficar assim sem fazer nada... talvez eu deva fazer bebidas.”
“...Lupu-neesan, você não é uma empregada? Isso significa que você sabe fazer delicio-
sas bebidas, não é?”
Embora a conversa de Unlai e Lupusregina parecesse normal, Enri ainda sentia um ca-
lafrio.
Este era um edifício enorme, com um amplo pátio onde se podia criar e deixar os lobos
correrem, capazes de abrigar quase vinte pessoas. Havia amplo espaço para treinar e
preparar suas armas.
“Sim, sim ~su. Não dá pra entrar sem convite ~su. Bem, é apenas coisa de etiqueta, não
é como se eu realmente não pudesse entrar. Eu acho que a única com uma lenda tão
estranha assim é a Sempeito-san ~su.”
“Sempeito-san...?”
“Isso mesmo, En-chan ~su. É o nome de uma beleza trágica ~su. Bem, não é como se
essa pessoa realmente não pudesse entrar, sabe? São apenas lendas, mitos e folclore.
Beeeeemm, chega de falar disso. Estamos aqui para ouvir o que o Goblin tem a dizer,
certo ~su?”
“Ah, sim. Então, bebida... ehm, que tal água de ervas e água de fruta? Há chá de capim
preto e água com infusão de Hyueri...”
“Hyueri são frutas cítricas, você as abre e as infunde na água e tem um gosto suave e
bom. O chá de capim preto é um pouco amargo.”
“Ah, é melhor mesmo. Ei, garoto... quero dizer, Agu, venha também. Tem que se limpar.
E parceiro, desculpe por isso, mas se importa de dar um jeito nas nossas armas sujas?”
“Posso mesmo?”
“Claro que sim. Não é como se pudesse fazer qualquer coisa. Nossas regras aqui são
muito simples.”
Enri viu que as mãos de Agu estavam muito sujas; a palavra limpeza não poderia ser
colocada em nenhum lugar aqui.
“Sua opinião é irrelevante. Este é o dono da casa dizendo para você se lavar. Ou você
está dizendo que vai desafiar o dono da casa?”
Enri despejou a água do tanque grande nos baldes. Depois de preparar quatro conjun-
tos, enfiou as mãos na água inesperadamente fria e começou a lavar-se. O verde preso
nas aberturas de suas unhas se dissolveu. Depois que ela teve certeza de que tudo havia
acabado, ela levou as mãos à frente do rosto. O fedor se foi.
Satisfeita, ela então olhou em volta. Gokou e Unlai também estavam lavando as mãos e
a água estava tingida de vermelho pelo sangue do Barghest.
Em seguida, ela olhou para Agu, mas o que viu a deixou perplexa.
Até uma criança humana saberia maneira melhor de se lavar. Ele enfiava os braços na
água, balançava-os um pouco e só. Ele nem mesmo se secou.
Foi só depois de Enri ter lavado o cheiro das plantas em suas mãos que ficou evidente,
Agu ainda cheirava a folhas. Para os Goblins que viviam na floresta, um cheiro como esse
era uma forma de autodefesa contra feras mágicas que tinham sentidos aguçados de ol-
fato. Como tal, eles podem nunca ter desenvolvido o hábito de tomar banho.
Agu fez uma careta aborrecida quando Enri tentou ensiná-lo. No entanto, ele pensou
em sua própria posição e no que os outros Goblins tinham dito antes e sobre a má von-
tade, ele começou a se limpar completamente.
“Ei, depois use isso para limpar seu corpo. E tenha certeza de tirar as manchas de san-
gue.”
Agu parecia infeliz, mas ele ainda pegou a toalha com as mãos úmidas e a usou para se
limpar.
Enri aproveitou essas palavras e dirigiu-se à mesa próxima. Estava cercado por cadei-
ras, já que muitos Goblins moravam aqui. Quando ela escolheu um lugar para se sentar,
de repente percebeu como estava cansada. Seus braços e pernas eram como troncos e
sua cabeça estava pesada.
Embora parte da razão fosse na coleta de ervas, o que realmente a esgotara fôra a bata-
lha contra o Barghest.
Tudo que eu fiz foi assistir... Enfi e os Goblins estavam brigando, mas ainda estão se mo-
vendo depois de tudo isso... parece que eu nunca vou ser uma guerreira... ainda assim, Enfi
ficou mais forte...
Mesmo sabendo que seu amigo de infância poderia usar magia, ela não esperava que a
magia fosse tão poderosa.
Ele é incrível...
Um som nítido trouxe Enri de volta aos seus sentidos, e seus olhos caíram sobre as xí-
caras de cerâmica na mesa. Elas foram preenchidas com um líquido transparente que
emitia um cheiro de frutas cítricas, e Enri decidiu se servir de uma xícara.
“...Hm? Que foi? Tem me espreitado assim ultimamente. Essa não, está apaixonada por
mim? Ahhhhh~ quem diria, estou chocada e pensar que a En-chan é lésbica. Parece que
eu preciso contar a todos ~su.”
Enri não sabia como responder e sua boca se estreitou em linha reta.
“Ainda assim, que demora a dele... hm? Parece que chegaram ~su.”
Enri se virou para a porta, mas ela não conseguia sentir ninguém do lado de fora.
“Isso, isso, eu não sei sobre isso, mas não acho que a Lupusregina-san mentiria sobre
esse tipo de coisa... mesmo que ela gosta de... brincar um pouco com as pessoas.”
“Não, realmente, eu os ouvi. Eles estão vindo com certeza. Você é incrível.”
“Hm? Nem sou ~su. Comparado com a Enri-san, não sou nadinha ~su.”
Agu pareceu engolir a seco e olhou para Enri com uma expressão surpresa.
Enri se perguntou como ela deveria contar a verdade a Agu, mas antes disso, uma batida
veio da porta.
Britta, a antiga aventureira, mudou-se para o vilarejo depois que Nfirea fez o mesmo.
Originalmente, ela tinha sido uma aventureira em E-Rantel, mas se aposentou depois de
certos eventos. Mesmo assim, ela ainda precisava ganhar a vida, e então respondeu às
solicitações do vilarejo e se mudou para cá.
Ela começou a estudar para ser uma ranger, já que levara jeito. Mesmo sendo mais fraca
que Jugem, ainda era uma das pessoas mais fortes do vilarejo e líder da força de autode-
fesa, embora dificilmente pudesse ser chamada assim.
Eles a trouxeram aqui porque ela liderava a força de defesa, e porque entrava na flo-
resta para praticar sobrevivencialismo característicos de rangers.
“Ah— é realmente um novo Goblin... não, hm, eu continuo pensando do ponto de vista
de um aventureiro... eu não deveria tratá-lo como um inimigo.”
Britta sorriu amargamente. Não era como se Enri não entendesse de onde ela veio. Nas
histórias, os Goblins eram os inimigos da humanidade. Matá-los à vista era a coisa certa
a fazer. Contudo, este vilarejo era diferente. E para ser franco, os aldeões sentiam que os
humanos pareciam ser os verdadeiros inimigos neste caso.
“Então, já que todos estão aqui, vamos ouvir o que ele tem a dizer. Agu, você pode nos
dizer o porquê estava correndo coberto de todas aquelas feridas?”
“Não, não é uma questão de como o chamamos, nem sabíamos que ele existia até agora.
Britta-san, você sabe alguma coisa sobre isso?”
A pessoa mais estudada neste local era Nfirea, mas quando chegou à floresta, Britta
ainda sabia mais do que ele. Mesmo assim, tudo o que ela podia fazer era sacudir a cabeça.
“Eu sinto muito. Eu não ouvi nada sobre este Gigante do Leste. E não acho que o Mestre
Latimon também saiba. Nós nunca nos aventuramos nas profundezas da Floresta, então
não sabemos muito sobre o que mora lá.”
Enri entendeu a confusão de Agu. Em situações como essas, era melhor fazer perguntas
discretas uma a uma, então seria mais fácil para ele responder.
“Bem, pra mim os Barghests e os Ogros são todos fortes... mas se fala sobre coisas no
nível do Gigante do Leste, então na floresta existem os poderosos chamados os Três
Monstros. A primeira é a Fera do Sul. Eles dizem que é incrivelmente forte e mata todos
que entram em seu domínio. Mas a gente nunca ouviu nada sobre isso recentemente e,
parece que não o viram mesmo quando entraram no seu território, então eu não sei o
que aconteceu com ele. Então tem o Gigante do Leste. Ele construiu um exército além da
floresta murcha. E no fim, a Serpente Demônio do Oeste. Eu ouvi dizer que é uma cobra
repugnante que pode usar magia.”
“Estranho... e o norte?”
“Parece haver um lago no norte com todos os tipos de raças. Mas não sei quem governa
lá. Parece haver umas bruxas gêmeas no pântano. E quando a Fera do Sul desapareceu,
a floresta ficou estranha. Eu não tenho certeza do que exatamente aconteceu, aparente-
mente, um cara realmente assustador apareceu, e então o equilíbrio de poder mudou...”
“Sim. Eu também ouvi dizer que o mestre do Monumento da Ruína pode comandar os
undeads, pequenas sombras negras que podem se mover através da escuridão. Isso é o
que os sobreviventes nos disseram.”
A primeira coisa seria a Fera do Sul. Como seu território deveria estar próximo, então,
quando se pensava sobre isso, a criatura certamente deveria ser a fera mágica domesti-
cada pelos aventureiros que haviam escoltado Nfirea aqui — ou, mais especificamente,
aquele que usava uma armadura preta. Certamente tinha a aparência poderosa e força
para isso, e então a descrição se encaixava perfeitamente.
Britta disse ao ouvir Nfirea. Ela não estava no vilarejo naquela época.
“Até recentemente, os três se mantinham em cheque. A Fera do Sul não saia do seu ter-
ritório, mas ninguém poderia garantir que seria sempre assim. Se o Leste e o Oeste lu-
tassem, não importava quem vencesse, sempre haveria a chance de que quando ficassem
descuidados com a vitória, eles fossem mortos por estarem enfraquecidos. Por isso ne-
nhum dos três poderes realmente se envolvia em batalha.”
“Tudo bem, eu posso aceitar isso. No entanto, se o Leste e o Oeste cooperassem e... não,
a Fera do Sul não deixaria seu domínio, então não há necessidade de aliar-se a derrotá-
lo. Não há necessidade de provocar isso...”
“Eu não sei o que esses caras pensam. Eles apenas reivindicaram seu próprio território
e o transformaram em seus próprios reinos. Só que o dono do Monumento da Ruína ba-
gunçou a distribuição de poderes. Por causa disso, o Leste e o Oeste decidiram guerrear
contra o Rei da Destruição e eles passaram a reunir tropas descartáveis para suas forças.”
“Eles nos forçaram a nos aliar a eles. Mas acontece que dificilmente seriamos aliados. É
mais como se nós, os Goblins, não valêssemos nada para eles. Eles nos usam e jogam fora,
e se atrapalhamos eles, somos torturados. Foi por causa disso que fugimos. Mas aí...”
“Sim, isso mesmo. Os Barghests e Ogros vieram atrás de nós. Não conseguimos lutar
contra eles, então nos separamos. Eu fugi nesta direção com mais alguns outros para o
território da Fera do Sul, mas nenhum de nós esperava que viessem atrás sem hesitar.”
Ele disse que havia algumas pessoas, mas não havia sinal de ninguém além de Agu.
“...Temos pessoas explorando a floresta, se alguém ainda estiver vivo, podemos trazê-
las de volta aqui, desde que elas não resistam.”
“Sim, tem isso. Os olfatos dos lobos são muito sensíveis. Então... a questão é, além do
Barghest, o que mais está lá fora? Eles tinham amigos que vieram também? Se der errado,
os perseguidores podem acabar vindo até aqui. Ei, Agu, que outros monstros estão lá?”
“Há Barghests, Ogros, Boggarts, Bugbears e algo que parece um tipo de lobo...”
“Eu não sei dos detalhes. Só que o Gigante do Leste carrega uma grande espada, e a
Serpente Demônio do Oeste tem uma cabeça como a sua, mas que tipo de magia ele usa,
eu não sei.”
A atenção de todos foi para Nfirea, que balançou a cabeça. Havia simplesmente pouca
informação para trabalhar.
“A questão agora é, o que vamos fazer? Se algo que pode lutar uniformemente com a
Fera do Sul aparecer, serei franco, será nosso fim. O máximo que a força de autodefesa
pode fazer é escoltar as mulheres e crianças para a segurança.”
“Realmente. Se tudo o que precisássemos for de uma defesa firme, então tudo bem, ou
talvez devêssemos pensar em alguns outros métodos. Se a perturbação na floresta aca-
basse por conta própria, seria ótimo.”
Para eles, como pessoas que viviam fora da floresta, seria melhor se as questões dentro
da floresta se resolvessem. No entanto, isso significaria que seriam incapazes de entrar
na floresta, o que seria problemático. Ainda assim, eles podem não ter escolha a não ser
fazê-lo se o pior acontecer.
“...No entanto, se o inimigo pode facilmente tirar uma tribo da floresta, isso significa que
eles devem ter reunido muito poder de luta.”
“Errado! ...Antigamente, nossa tribo era muito mais forte. Mas quando fomos em busca
de novos lugares pra morar, nossa tribo despachou equipes mistas de Ogros e Goblins
adultos. Se eles ainda estão vivos, ainda podemos lutar!”
Enquanto Britta falava, Nfirea inclinou a cabeça, como se estivesse pensando em al-
guma coisa.
“Sobre isso... embora este seja um tópico completamente diferente, posso perguntar so-
bre algo que está me incomodando? Você fala da mesma maneira que outros Goblins?”
“Não, é só que sou bem inteligente para um Goblin. A maioria dos Goblins fala em sílabas
únicas. Isso tornou a conversa na tribo realmente problemática, posso te dizer isso. Eu
estava seriamente me perguntando se eu era de outra tribo. Até tenho uma dúvida, deixe
perguntar, eu nasci em uma tribo por aqui? Já ouviu falar alguma coisa sobre mim?”
“Não, não sabemos... Você... Poderia ser... Ane-san, Ani-san, poderiam vir aqui um
pouco?”
Hobgoblins eram ramificações da raça Goblin, e eram superiores aos Goblins de várias
maneiras. Quando adultos, os Goblins seriam tão grandes quanto crianças humanas, mas
os Hobgoblins podiam atingir a altura de um ser humano adulto.
Eles eram semelhantes aos humanos não apenas em habilidades físicas, mas em atribu-
tos mentais. Como eles podiam se reproduzir com Goblins, e normalmente formavam
comunidades mistas com eles. No entanto, os Hobgoblins não eram tão férteis quanto os
Goblins, e assim tendiam a ser líderes ou guardas de elite dentro de uma tribo.
“Mas se meu pai ou minha mãe fossem Hobgoblin, eles não saberiam disso?”
“...É a primeira vez que vejo a Enri fazer uma cara assim... mas infelizmente, não acho
que seja a resposta. Assim como os humanos adotam crianças, acho que os Goblins po-
deriam ter feito algo semelhante.”
“Isso é bem possível. Bem, nesse caso, não precisamos nos preocupar muito com isso.”
Os três voltaram para a mesa e, quando o fizeram, a até então silenciosa Lupusregina,
abriu a boca para falar.
“Beeem, tomou uma decisão ~su? Se precisar de algo, você sempre pode pedir ajuda ao
Ainz-sama. Pede ele pra te ajudar a resolver o problema e tudo o mais ~su.”
Enri murmurou para si mesma, e os Goblins concordaram. Apenas Britta e Agu, que não
conheciam Ainz, ficaram perplexos. Nfirea tinha uma expressão complexa no rosto.
“Este vilarejo é o nosso. Isso significa que devemos fazer o máximo que pudermos por
nós mesmos. Embora algumas pessoas possam pensar que eu não deveria me considerar
digna de tomar essa decisão, já que eu não sou a líder e nem lutei por nós, ainda assim
eu...”
“Não, é isso mesmo, eu concordo com a opinião da Ane-san. Este vilarejo é da Ane-san...”
“Você está tentando dizer que este vilarejo pertence a todos que vivem aqui?”
“Isso mesmo, Ani-san. Você entendeu, como eu esperava! Bem, mesmo assim, acho que
tomar emprestado o poder desse Magic Caster-sama deve esperar até que estejamos
completamente sem opções.”
“Mas se forem por esse caminho, todo mundo pode morrer ~su... Ser dilacerado dói,
sabia não ~su.”
“Hah! Lupusregina-san, não vamos deixar isso acontecer. Vamos nos sacrificar para que
todos tenham tempo de fugir.”
“Britta-san, não que eu queira falar mal dos aventureiros, mas durante as emergências,
o custo de contratação sobe demais, eles podem até rejeitar. Por que fazem isso?”
“Os aventureiros não querem morrer, e a Guilda não quer que eles morram também.
Portanto, a Guilda eleva os preços para atrair aventureiros de alto ranque para lidar com
um problema, mesmo que a situação, no final, não os justifique. É basicamente isso.”
Como uma simples garota do vilarejo, Enri achou as palavras dessa ex-aventureira fá-
ceis de engolir. Mas era muito difícil ter que aceitar isso quando eles estivessem sendo
coagidos. No entanto, quando pensou do ponto de vista dos aventureiros, isso infeliz-
mente fazia sentido.
“Bem, mesmo que a Guilda verifique, as pessoas ainda podem rejeitar, esse tipo de coisa
acontece muito...”
“—Quando eu penso naquele ataque daquela Vampira, eu não posso deixar de tremer...
antigamente eu não conseguia nem dormir sem tomar remédio...”
“Vampira? Onde?”
“É um segredo. Ou melhor, nem me faça pensar sobre isso. Não quero me urinar de
medo.”
“Então, o plano, por enquanto, é informar à Guilda e se a situação permitir, faremos uma
solicitação. Provavelmente será assustadoramente caro, mas devemos pelo menos obter
uma cotação da Guilda. Além disso, teremos que contar ao Jugem-san e ao Líder sobre
isso depois. Pode fazer isso, Enri?”
“Eu vou cuidar da força de autodefesa. Francamente falando, eu teria feito a mesma
coisa também.”
“Sim. Gostaríamos de fazer o máximo possível por nós mesmos. Se possível, gostaría-
mos que você dissesse isso ao Gown-sama.”
“Entendi ~su.”
Quando Agu olhou para Enri e Nfirea, que estavam se afastando, um sentimento difícil
de descrever brotou dentro dele.
“Hah!?”
Agu sentiu que os Goblins adultos eram mais fortes do que qualquer outro em sua aldeia.
Era natural que ele se arrepiasse quando ameaçado por eles.
Do ponto de vista de Agu, Enri não parecia particularmente forte. Embora ela tivesse
alguns músculos em seus braços e pernas, não estava nem perto do suficiente. Ela não
precisava ser tão musculosa quanto um Ogro, mas como líder, ela ainda precisava muito
mais do que o que tinha agora.
Se ela fosse uma magic caster, ele ainda poderia entender. As mulheres que se tornaram
líderes nas tribos dos Goblins usavam esse poder misterioso. No entanto, essa mulher
não se parecia com uma magic caster.
Francamente falando, Agu não entendia o porquê Enri era superior aos Goblins.
“...Aquela mulher caçadora que veio depois era mais forte que ela, certo?”
“Bem, a Britta não é ruim do jeito dela. Mas nós somos melhores.”
A opinião de Agu sobre o Goblin adulto na frente dele subiu outro entalhe. Ele era mais
baixo que aquela mulher, mas ele falou com uma convicção inflexível. Certamente existia
uma razão para sua autoconfiança.
“Aquela mulher que apareceu do nada... o nome dela é Lupusregina, e ela... ela é muito
perigosa. Já que você vai ficar aqui por um tempo, nunca vá perto e nem fale com ela. É
para o seu próprio bem.”
“E eu tenho que dizer isso logo. Só pra deixar claro, se não tiver notado o óbvio, se você
fizer alguma coisa para as pessoas daqui... sejamos honestos aqui, você não vai se safar,
é melhor estar preparado para morrer.”
“Eu-eu entendi. Então eu sou basicamente como alguém de uma tribo derrotada, certo?
Eu prometo que não vou prejudicar ninguém da Tribo Carne.”
Agu entendeu o misto de cautela e pavor no coração do Goblin adulto, e gravou o aviso
em seu coração. Com isso feito, ele percebeu que sua primeira pergunta não havia sido
respondida, e então ele perguntou novamente.
Até Agu poderia aprender. Ou melhor, era fácil para ele aprender, já que era o mais
esperto da tribo e não podia falar muito com outros Goblins, então entendia coisas assim
rapidamente.
“Eh!?”
“Você é muito fraco, por isso não consegue perceber. Se a Ane-san ficar enfezada, ela
pode esmagar um Barghest ou qualquer coisa até a morte com apenas uma mão, ela até
espreme o sangue em uma xícara e bebe, sacou?”
“É sério!?”
“A Ane-san finge ser fraca. Se suas perguntas a deixarem zangada, ela irá te esmagar até
a morte com uma mão. Tenho pena de quem vai limpar o local depois. Haverá sangue
por toda parte.”
“Certo... então por que, por que ela tem que fingir ser fraca? Se ela fosse forte, não ha-
veria menos problemas?”
“Se você mostrar sua força, vai levar pessoas de todo o mundo a te desafiar. Isso é muito
problemático também, sacou?”
Agu pensara que a força era a solução para todos os problemas, mas esse não era o caso.
Trancado em um labirinto de autorreflexão, ele não percebeu que o Goblin adulto à sua
frente tinha uma expressão de brincadeira no rosto.
♦♦♦
No meio da noite, Enri de repente acordou de seu sono. Embora não parecesse haver
nada estranho por perto, Enri permaneceu imóvel enquanto movia os olhos para verifi-
car seu entorno. O mundo à sua frente era escuro como breu, iluminado apenas por um
fino raio de luz da lua entre as persianas das janelas. Ela não conseguia ver nada de es-
tranho nessa luz fraca.
Não havia sons de cavalos relinchando, cavaleiros armados fazendo barulho, ou pessoas
gritando. Ela não podia ouvir nada disso. Era apenas uma noite normal.
Enri suspirou baixinho e fechou os olhos. Ela estava dormindo profundamente até
agora, então ainda estava entorpecida pelo alento do sono e não conseguia se levantar
imediatamente.
Muita coisa aconteceu hoje. Depois da conversa com Agu, ela foi explicar as coisas ao
chefe do vilarejo e a Jugem, que retornara de seu escotismo.
Para confirmar a nova informação, Jugem decidiu entrar na floresta novamente e eles
partiram à noite. Mover-se à noite na floresta era muito perigoso. Os Goblins eram dife-
rentes dos humanos; mas podiam ver com pequenas quantidades de luz, para que pu-
dessem se mover livremente. No entanto, havia muitas feras mágicas noturnas e mons-
tros, e eles se tornariam ativos após o pôr do sol.
Se não houvesse necessidade de confirmar urgentemente que não havia mais monstros
perseguindo Agu, Jugem nunca teria saído.
Era verdade que os Goblins eram fortes, mas isso era apenas em comparação com Enri.
Havia muitas criaturas na floresta que eram mais fortes que os Goblins, por exemplo; os
Três Monstros.
Uma sensação de medo e perda caiu sobre Enri, a fazendo se contorcer, e por causa
disso, sua irmã gemeu em seu sono, se aproximando do corpo de Enri.
Parece que não a acordou. Ela podia até ouvir seu ronco suave.
Hehe...
Assim que Enri riu em sua garganta, o som de batidas suaves ressoou na porta. Isso
definitivamente não era um truque do vento.
Enri franziu a testa. O que poderia haver tão tarde da noite? Porém, precisamente por-
que era tão tarde da noite já significava o grau de importância.
As tábuas rangeram quando saiu da cama, fazendo o coração de Enri bater mais rápido,
ela se preocupava em acordar Nemu.
Depois daquele incidente, Nemu teve que dormir com Enri à noite. Ela sofrera um
trauma psicológico muito grave.
Enri não tinha intenção de repreendê-la por isso. Isso porque Enri se sentia mais segura
quando dormia com sua irmã.
Mas ela sabia que mesmo quando estavam juntas, Nemu às vezes era acordada por seus
pesadelos. Por causa disso, Enri insistiu em estar com Nemu mesmo quando ela estava
dormindo.
Silenciosa e, portanto, lentamente, ela avançou em direção ao limiar, mas a batida não
parou.
Enri espiou nervosamente pela janela, e o luar iluminou a silhueta de Jugem. Ela suspi-
rou de alívio.
“Sim, Ane-san. No final, tudo correu bem. Desculpe te acordar, mas acho que deve saber
disso o mais rápido possível.”
Enri abriu a porta ligeiramente e se espremeu na fina abertura. Ela estava preocupada
que a luz da lua acordasse Nemu. Entendendo por seus movimentos, Jugem baixou a voz
e falou.
“Justo agora?”
Enri seguiu os passos de Jugem enquanto lhe dizia para não se desculpar. Poderia ser
melhor se Nemu estivesse acordada, ela considerou isso, mas Jugem tinha vindo sabendo
que todos estavam dormindo. Tinha de haver uma razão para isso.
Ele geralmente falava mais levemente, mas quando se tratava de trabalho — ou o que
Jugem julgava ser trabalho — seu tom era mais rígido.
Embora Enri achasse que não havia problema em ser mais casual com uma simples al-
deã como ela, porém Jugem se recusara a mudar essa parte dele, por isso Enri desistiu
da idéia.
“Isso é maravilhoso!”
“...Mas eles estão emocionalmente frágeis, e eu acho que precisam descansar por alguns
dias. Tivemos que emprestar a força do Ani-san para isso.”
“Quando os resgatamos, capturamos cinco Ogros. Embora só tenhamos feito isso para
questioná-los... parece que os Ogros normalmente coexistem com Goblins, e enquanto
os Ogros lutam, os Goblins fornecem alimento, abrigo e assim por diante, em um relaci-
onamento mutuamente benéfico. Por causa disso, eles disseram que estão dispostos a
lutar pela nossa tribo. De acordo com Agu, isso não é incomum... então, o que devemos
fazer?”
“Agu diz que sim. Os Ogros têm um estranho hábito; eles não vão lutar por ninguém
além dos Goblins de sua tribo, e eles traíram o Gigante do Leste porque não era da tribo
deles. É algo assim.”
“Uma vez que aceitarem as pessoas do vilarejo como parte da tribo, tudo o que precisa
fazer é alimentá-los e tudo ficará bem. Você também pode dar a eles qualquer tipo de
comida. Felizmente, eles são onívoros.”
Honestamente falando, esta decisão era muito difícil para uma simples aldeã fazer.
“Serei honesto, não tenho problemas em matá-los de imediato. Isso nos pouparia uma
grande pilha de problemas. Em primeiro lugar, seres como eles que traem os outros po-
dem se voltar contra nós se as coisas começarem a dar errado. Agu diz que não vão, mas
acreditar cegamente em tudo que uma criança diz é um pouco...”
“Se eles pudessem lutar por nós, seria ótimo. Não sabemos quantos perseguidores po-
dem vir da floresta, então alguns escudos de carne extras ajudariam muito.”
“...Ane-san. Embora os Ogros tenham uma reputação de comer humanos, eles são ape-
nas monstros que comem carne. Acontece que é mais fácil pegar humanos para comer
do que animais selvagens.”
“Bem, se você lhes der algo para comer, eles não atacarão os aldeões. Basicamente, eles
só atacam as pessoas para encher seus estômagos. Você tem a minha palavra que vamos
caçar animais suficientes para encher suas barrigas. Claro, eles ainda precisam ser su-
pervisionados e teremos que ver como as coisas vão acontecer. Eu prometo que não va-
mos deixar ninguém aqui se machucar.”
“...Nesse caso, seria bom se pudéssemos confiar neles o suficiente para torná-los subor-
dinados. Não apenas por agora, mas também pelo futuro.”
“Que bom que você entende. A única coisa é que há uma pequena contradição com o
que eu disse agora. Se depois disso tudo, as coisas ainda saírem do controle, teremos que
matar todos eles. Na verdade, estou pensando em como impressionar aqueles Ogros,
pois você será a chefe deles, Ane-san.”
“Ehh!?”
Enri soltou um ruído que soou como se ela tivesse sido virada de cabeça para baixo.
Este era um grande salto para ela. Por que uma simples garota de um vilarejo, como ela,
teria que se tornar a líder de um bando de Ogros? Não bastaria apenas Jugem ser o líder?
“Estamos planejando para o futuro. Será problemático se os Ogros pensarem que é ape-
nas uma humana qualquer, Ane-san. Nós te obedecemos, mas uma situação em que tais
ordens precisarem serem transmitidas através de nós para eles pode surgir. Goblins são
potencialmente muito perigosos. Como comandante da linha de frente, qualquer coisa
pode acontecer comigo a qualquer momento, por isso sinto que precisamos de alguém
seguro na retaguarda que possa comandar os Ogros.”
“Então significa que você precisa de duas pessoas que podem comandá-los?”
Jugem assentiu.
“Entendo...”
Enri de repente entendeu e assentiu. Alguém em um lugar seguro como ela deve ser útil
também. Isso também era o que Enri queria. Contudo—
♦♦♦
Os portões frontais e traseiros do vilarejo levavam para fora e Jugem a levou até o por-
tão dos fundos. Além dela, cinco Ogros estavam ajoelhados no chão. Eles também eram
a fonte do mau cheiro que pairava no ar.
De um lado da porta havia uma plataforma de observação, que normalmente seria ocu-
pada por aldeões ou Goblins, mas não agora. Os Goblins deixaram-na temporariamente.
Nfirea também estava lá, junto com Agu, que estava a alguma distância.
“Ei! Vocês aí! A nossa Ane-san está aqui! Ela segura suas vidas nas mãos!”
Quando os cinco Ogros ouviram isso, levantaram a cabeça para olhar para Enri. Parecia
que havia uma pressão palpável esmagando-a, mas Enri se forçou a não dar um passo
para trás. Se ela cedesse, o plano falharia e os Goblins eliminariam problemas potenciais
pela raiz matando os Ogros no local.
Enri já podia ver as mãos dos Goblins indo para suas armas. Enfi estava calmamente
pegando uma garrafa de poção.
Enri suportou os olhares dos Ogros e os devolveu com um dos seus. Seu olhar era firme
e inflexível.
Em seus olhos, a imagem dos Ogros se sobrepunha com a imagem dos cavaleiros que
os atacaram no passado.
Não me subestimem. Todos estão se esforçando para proteger o vilarejo, então eu tenho
que protegê-lo também!
“Eu avisei a vocês, certo. Nossa chefe, nossa Ane-san, é a mais forte.”
A força da voz de Enri surpreendeu até a si mesma, e Agu na borda de sua visão se con-
torceu violentamente, mas tudo bem. O importante era que os Ogros haviam baixado a
cabeça para ela.
“Bem, então, o que vocês têm a dizer para a nossa chefe, a chefe do Vilarejo Carne, nossa
Ane-san?”
Com as cabeças ainda abaixadas, o que emergiu dos Ogros foi uma torrente de vozes
confusas.
Por “sua tribo”, os Ogros provavelmente se referiam a tribo de Agu. Embora a realidade
fosse um pouco diferente, foi mais fácil para eles entenderem a situação, já que para eles,
Agu e seus companheiros faziam parte da “Tribo Carne”. Foi um bom resumo, a fim de
evitar sobrecarregar o cérebro dos Ogros.
Essa última declaração foi feita com a essência de seu espírito que ela poderia reunir.
Ela só dissera duas ou três frases, Enri já estava muito cansada. Foi tão ruim quanto o
encontro com o Barghest.
A força diminuíra visivelmente dos corpos dos Ogros. Dado que eles poderiam ser mor-
tos a qualquer momento, isso era uma reação natural.
Ela não havia considerado isso ainda. Porém, se ela não soubesse, bastava delegar isso
à outra pessoa.
“Jugem-san, eu vou deixar você cuidar deles. Use-os como achar melhor.”
“Entendo, Ane-san.”
O líder dos Goblins curvou-se para Enri, depois voltou-se para os ogros.
“Vejamos. Primeiro de tudo, vamos montar barracas fora do vilarejo. Vocês aí, vão mo-
rar logo ali. E você também, ajude com as barracas.”
“Montar barracas fora do vilarejo pode causar todos os tipos de problemas futuros; nós
precisamos fazer um lugar para eles morarem no vilarejo. Mesmo assim, precisamos
treiná-los para não atacar os aldeões primeiro.”
“Será preciso sair e conversar com muitas pessoas para fazê-las aceitar.”
“Sim. Embora, eu acho que vai ficar bem se você fizer isso, Enri. E amanhã...”
De acordo com o plano, Enri e Nfirea partiriam para E-Rantel, com vários Goblins como
guardas.
“Eu sinto muito. Eu ainda preciso ajudar a tratar os sobreviventes da tribo de Agu, então
eu não posso ir.”
Afinal, eles viveriam no mesmo vilarejo com os Ogros que queriam comê-los. O trauma
mental tinha que ser tratado junto com suas feridas físicas, e a personalidade de Lizzie
só os assustaria, causando o efeito oposto. No final, não havia ninguém melhor para isso
do que Nfirea.
O chefe do vilarejo tinha que manter a ordem local, fazer reparos e ficar de olho nos
novos moradores. Seria muito difícil para ele viajar muito longe.
“Mm. Bem, sendo sincera, não há mão de obra o suficiente aqui. Costumava ser assim
antes e agora é ainda pior.”
O Vilarejo Carne tinha uma população muito pequena. Como resultado, quando seus
números diminuíram, sua capacidade de fazer qualquer coisa diminuiu também. Foi por
isso que os aldeões haviam reprimido sua oposição e aceitaram convidar mais morado-
res para ficar com eles.
“Quando eu for a E-Rantel, precisarei ir aos templos e ver se há alguém que queira se
mudar para cá... Realmente, isso é demais para uma garota do vilarejo fazer...”
Enri fez beicinho ao ouvir as palavras de Jugem. Parte dela estava pensando: “Você sabe
me irritar”. Afinal, eles eram uma das razões pelas quais Enri estava tão ocupada.
Nfirea resmungou em tom deprimido e depois cobriu-o com uma onda de desesperada
agitação.
“Va-vai ficar bem, eu vou cuidar da Nemu-chan. Então você pode ir sem preocupações.”
“...Tudo bem, eu entendo, eu sou a única no mundo que tem que passar por isso? Num
momento as pessoas me santificam, no outro eu tenho que ir a algum lugar que eu nunca
estive antes e fazer coisas que eu nunca fiz antes...”
“Não seja tão pessimista, Enri. Tem que haver alguém por aí que possa acompanhar
você.”
Jugem e Nfirea riram baixinho quando viram seus ombros caírem em fadiga. Agu assis-
tiu à distância, murmurando para si mesmo.
Parte 3
Como o nome indicava, a cidade fortaleza de E-Rantel era cercada por três anéis con-
cêntricos de muralhas fortificadas. Dos portões colocados naquelas muralhas, aqueles
nas muralhas mais externas eram os mais espessos e sólidos, irradiavam um ar de força
e peso.
Era uma visão comum ver viajantes na rua olhando boquiabertos para os portões da
cidade que se dizia ser capaz de repelir qualquer invasão feita pelo Império. E as pessoas
nas ruas certamente haviam feito expressões semelhantes no passado.
Além disso, esses portões eram postos de inspeção alfandegária, chefiados por vários
soldados que estavam relaxando na sombra.
Embora algumas pessoas pudessem ter perguntado se estava tudo bem para os solda-
dos de uma cidade próxima à linha de frente estarem tão relaxados, a verdade era que
as tropas nos postos de inspeção estavam lá para avaliar os viajantes. O trabalho deles
era descobrir contrabando e espiões de outros países, então eles não tinham nada para
fazer quando não detectavam ninguém estranho entrando na cidade.
Com o sol no ponto mais alto do céu, os viajantes começaram a aparecer nas ruas em
pequenos grupos, dispersos esparsamente entre os outros pedestres. Era natural que as
pessoas viajassem em números, dado que este era um mundo habitado por monstros.
Quando eles aparecem, eles aparecem em força; vamos estar ocupados em breve...
Pensou o guarda que estava contemplando ociosamente as ruas de sua janela. Seus
olhos descansaram em uma carroça prestes a entrar na rua, esperando que alguns pe-
destres passassem.
Uma mulher sentava-se no banco do condutor. Não viu mais ninguém na carroça des-
coberta. Ela estava viajando sozinha.
—Pensando isso, o soldado inclinou a cabeça, enquanto pensava em alguma outra pos-
sibilidade em segundo plano.
Aldeões de vilarejos vizinhos dificilmente eram uma visão rara aqui. No entanto, uma
mulher viajando sozinha era completamente diferente. Mesmo a área ao redor de E-Ran-
tel não estava completamente livre de bandidos e monstros. Graças aos esforços da len-
dária equipe de aventureiros “Escuridão”, a maioria dos monstros e bandidos perigosos
foram eliminados. Mas “a maioria” não significava “todos”, e ainda havia feras mundanas
como lobos e coisas do tipo que precisavam caçar.
Essa situação não era exclusiva de E-Rantel; Aplicava-se a todas as outras cidades tam-
bém. E pensando nisso, as meninas poderiam viajar sozinhas?
Talvez ela tivesse fugido de um encontro de bandidos, mas ele não sentia qualquer ten-
são ou nervosismo dela. Ela parecia estar à vontade, como se soubesse que sua jornada
seria segura.
O soldado desviou seu olhar agora desconfiado para o cavalo, e foi quando sua confusão
se aprofundou.
O cavalo era excepcional, não algo que uma mera garota de algum vilarejo teria. Sua
saúde e casco lembraram um cavalo de guerra.
Uma pessoa normal precisaria de dinheiro e conexões para obter tal cavalo de guerra,
e uma simples aldeã não teria nada disso.
Também era possível que ela tivesse roubado o cavalo de seu dono original, mas qual-
quer um que roubasse um item tão valioso seria perseguido e alvo de punição. Por isso
que bandidos não ousariam atacar pessoas montadas em cavalos de guerra.
Em suma, depois de considerar todas as evidências visíveis, as chances de que ela real-
mente fosse uma simples aldeã se tornaram muito baixas. Então, quem era essa pessoa
posando como uma garota simples de algum vilarejo?
Essa foi uma resposta que ele poderia aceitar. Se pressionado pela razão, era porque os
magic casters, ou os aventureiros em geral, eram ricos e cheios de conexões, então a ob-
tenção de um cavalo de guerra seria fácil.
“Pode ser...”
Para começar, sua arma primária, a magia, era uma coisa interna invisível a olho nu. Em
outras palavras, os guardas não podiam dizer quais armas um magic caster estava es-
condendo.
Em segundo lugar, eles poderiam contrabandear itens perigosos com sua magia e des-
cobrir isso é difícil.
Em terceiro lugar, geralmente tinham muita bagagem com itens estranhos, então checá-
los um por um era problemático.
Honestamente falando, ele odiava lidar com essa gente. Por causa disso, eles tinham um
homem da Guilda dos Magistas os auxiliando — depois de pagar uma taxa adequada, é
claro. Contudo...
“Não podemos evitar. Se nós não a checarmos e qualquer coisa acontecer, será proble-
mático.”
“Sim. Pelo menos daria para saber se é uma magic caster. Ou isso, ou forçamos todos na
Guilda dos Magistas a usarem um emblema, como os aventureiros usam...”
Sob o olhar atento dos soldados, a carroça foi guiada até a porta e parou.
A moça desembarcou. Sua testa estava escorregadia de suor, mas parecia acostumada
a viajar sob o sol. Suas mangas e calças eram longas para afastar as queimaduras solares.
Suas roupas não pareciam caras ou bem costuradas. Independentemente de como a ob-
servasse, ela era uma simples garota de algum vilarejo.
No entanto, já dizia o velho ditado; não se pode julgar um livro pela capa. Ela poderia
estar escondendo alguma coisa. E o trabalho deles era descobrir.
“Gostaríamos de lhe fazer algumas perguntas. A senhorita poderia vir conosco para o
posto de inspeção?”
Eles falaram com expressões e tons suaves. Eles estavam tentando enviar a mensagem
de que não estavam preocupados com ela, então ela poderia baixar sua guarda.
A fim de proteger contra o uso de magias e outras formas de manipulação mental, mais
dois soldados seguiram a uma distância de vários metros. Os outros a observavam com
cuidado, desconfiados de quaisquer movimentos suspeitos.
Alguém que pudesse notar as pequenas mudanças no ar não poderia ser uma pessoa
comum. Os guardas a trouxeram para o posto de inspeção com isso em mente.
“Sim.”
Para administrar seus moradores, o Reino mantinha informações deles na forma de re-
gistros. Dito isto, os registros eram assuntos grosseiros, e os detalhes relevantes de nas-
cimento e morte eram atualizados muito lentamente, isso quando eram. Alguém havia
estimado uma vez que havia dezenas de milhares de erros neles. Como resultado, confiar
demais nos registros seria uma má idéia, mas mesmo assim, eles tinham seus usos.
Esse registro estava confuso, mas tinha muitas entradas, então a pesquisa demoraria
muito tempo. Os soldados entenderam isso e decidiram tentar cuidar de outra coisa en-
quanto isso.
Normalmente, todos que entravam em uma cidade tinham que pagar um pedágio —
algo como um imposto ambulante. No entanto, cobrar dos residentes esse dinheiro cau-
saria a paralisação do comércio e, como resultado, todos os vilarejos recebiam licenças
de viagem com as quais podiam entrar na cidade gratuitamente. Naturalmente, como
havia nobres diferentes em cada região, também havia regras diferentes para cada re-
gião.
Eles desenrolaram-no na mesa para que todos pudessem ver. Embora a taxa de alfabe-
tização entre os cidadãos do Reino fosse muito baixa, era factual que todos os soldados
posicionados em um posto de controle pudessem ler e escrever. Ou melhor, eles estavam
aqui precisamente porque eram alfabetizados.
“Entendo. Bem, parece tudo bem. Esta é definitivamente a permissão emitida para o
Vilarejo Carne. Confirmado.”
Os soldados olhavam para o lado de fora da carroça, cujas urnas estavam sendo revis-
tadas no momento.
“Isso mesmo.”
Enkaishi era uma erva que só podia ser colhida durante um curto período de tempo,
mas era um ingrediente importante nas poções de cura. A demanda era muito alta e,
portanto, o preço era bom. Se ela tivesse seis urnas como disse, isso significava que ela
teria muito dinheiro quando as vendesse.
Embora ela não morasse mais lá, Lizzie tinha sido a pessoa mais importante nos negó-
cios farmacêuticos de E-Rantel até recentemente. Se ela tinha um relacionamento co-
mercial com os Bareares, isso significava que Lizzie confiava muito nela.
A verdade é que, embora o trabalho deles fosse impedir que coisas perigosas entrassem
na cidade, investigar essas coisas assim que entraram na cidade não era mais problema
deles.
Ela falara normalmente até agora, e eles não sentiam que estava mentindo.
Uma vez que a inspeção de carga estivesse completa, seu trabalho terminaria.
No entanto, esse registro simplesmente dizia que havia uma garota chamada Enri nas-
cida no Vilarejo Carne. Sem qualquer garantia de que a pessoa à sua frente fosse a ver-
dadeira Enri, e também não havia provas do tipo de vida Enri levara. Talvez durante suas
viagens, ela tivesse adquirido alguma magia poderosa, ou tivesse morrido em sua jor-
nada e alguma criminosa estivesse usando seu nome.
“Eh?”
Uma expressão de surpresa surgiu no rosto de Enri. O soldado se apressou para emba-
sar suas palavras.
“Oh, não é porque houve outros problemas. Me desculpe, mas estas são as regras. E nós
não faremos nada de estranho, então não se preocupe.”
Vendo que Enri estava bem com isso, o soldado suspirou de alívio. Ele não queria ser o
único a irritar uma possível magic caster.
O soldado que saiu retornou mais uma vez, desta vez com um homem atrás dele.
Seu nariz se projetava como o bico de uma águia, enquanto seu rosto magro era amare-
lado e pálido. Seu corpo estava envolto em um manto negro que parecia muito quente.
Seu suor escorria livremente e suas mãos parecidas com garras apertavam com força
seu cajado retorcido.
Pessoalmente, o soldado sentiu que deveria ter tirado o manto se estivesse tão quente,
mas o magic caster gostava desse estilo, e teimosamente se recusou a trocar de roupa.
Talvez fosse por isso que a temperatura da sala parecia subir alguns graus quando o
magic caster entrou.
Embora parecesse ser um homem na casa dos 20 anos, sua voz extremamente rouca
tornava impossível determinar quantos anos ele tinha apenas pelo som. Será que sua
aparência era anormalmente jovem ou sua voz que estava anormalmente rouca?
“Ah...”
Enri virou um olhar surpreso para o magic caster que havia substituído o soldado. Em
seu coração, o soldado pensou que sua surpresa não poderia ser evitada. Afinal, ele tam-
bém ficara assustado na primeira vez que viu o homem.
“Este é um magic caster da Guilda dos Magistas. Ele vai fazer uma simples verificação,
então, por favor, espere.”
O soldado gesticulou para que Enri permanecesse sentada e depois acenou para o magic
caster.
“Claro.”
O magic caster deu um passo em direção a Enri e então lançou sua magia.
“「Detect Magic」.”
Depois disso, o magic caster apertou os olhos. Ele parecia uma fera avaliando sua presa.
No entanto, Enri permaneceu calma apesar de estar sujeita a um olhar que chacoalhava
até mesmo os soldados, que estavam acostumados a esse tipo de coisa.
Como já passaram por isso antes, todos os soldados imaginavam como seria a reação.
Alguém que pudesse permanecer calma sob um olhar tão intenso não poderia ser uma
simples garota de algum vilarejo. No mínimo, ela deve ter tido experiência em lutas de
vida ou morte contra monstros ou pessoas que queriam tirar sua vida. A visão diante
deles só cimentou a impressão no coração dos soldados.
“Você não pode enganar meus olhos. Está escondendo um item mágico. Está na sua cin-
tura.”
“Fala disso?”
“Correto. Vocês foram enganados pela aparência. Essa coisa é imbuída de magia pode-
rosa.”
Os soldados ficaram sem palavras. Se este era um item que o magic caster considerava
poderoso, então quão poderoso era?
Quando começaram a pensar que a garota estava completamente vestida por um mo-
tivo, sentiram como se uma lâmina estivesse pungindo seus peitos.
O rosto do magic caster passou por várias expressões em poucos segundos. Inicial-
mente foi choque, depois medo, depois terror e depois — confusão.
“O que, o que é isso? Mesmo chamar isso de poderoso ainda não faz jus... Impossível!
Mas que coisa é esta!?”
O rosto do magic caster estava vermelho, e manchas de saliva voaram dos lados de sua
boca.
A súbita mudança de atitude do magic caster pegou os soldados de surpresa, e Enri não
foi exceção quando seus olhos se arregalaram.
“Ninguém, eu sou apenas uma pessoa normal! Uma simples garota do Vilarejo Carne! É
sério!”
“Uma garota do vilarejo? Você... por que está mentindo? Ou melhor, como você poderia
ter obtido um item mágico como este? Se você realmente é uma simples garota do vila-
rejo, como poderia ter conseguido algo assim!?”
“Todos vocês! Entre aqui! Há algo muito errado sobre essa garota!”
Embora os soldados não entendessem o que estava acontecendo, até hoje eles nunca
tinham visto o magic caster reagir assim antes. Então, se isso fosse uma emergência, eles
deveriam largar o que quer que estivessem fazendo e responder à convocação.
“Entrem! Rápido!”
“Você disse que alguém te deu esse item? Absurdo! Como conseguiu isso? Você não
pode ser uma mera garota de algum vilarejo!”
“É a verdade, foi o Gown-sama que me deu! Por favor, o senhor tem que acreditar em
mim!!”
Os soldados olharam entre os dois. O magic caster era um colega deles, eles o haviam
contratado, e queriam acreditar nele. No entanto, dada a reação nervosa de Enri à re-
pentina mudança na situação, eles não puderam deixar de pensar que ela era uma garota
normal.
“Por, por que essa reação? Me diga por que acha que ela é suspeita!?”
“Hnh! Para começar, esta trombeta pode convocar um grupo de Goblins — embora eu
não tenha certeza de quantos ela possa chamar, mas esse item pode fazer uma coisa des-
sas.”
Os soldados franziram a testa. Seria problemático se algo assim fosse usado nas ruas.
No entanto, isso era realmente um problema? Certas pessoas, como aventureiros, pos-
suíam uma infinidade de itens mágicos. Não seria estranho que eles possuíssem um item
como esse entre suas panóplias.
“E o chamado testemunho dessa garota está repleto de inconsistências. Esse item vale
dezenas de milhares de moedas de ouro; por que alguém apenas daria a uma mera al-
deã?”
“Dezenas de milhares!?”
Essa soma inacreditável atraiu gritos de descrença dos soldados e da própria Enri.
Dezenas de milhares de moedas de ouro eram uma soma que nenhuma pessoa normal
poderia ganhar em toda a sua vida. Era difícil acreditar que uma trombeta tão simples
pudesse valer tanto.
“Isso mesmo. Ninguém entregaria tal item sem uma boa razão, muito menos para uma
garota mundana! Eu poderia até acreditar se ela fosse uma aventureira de primeira
classe ou uma magic caster. Mas ela diz que é apenas uma garota de vilarejo! É muito
suspeito!”
“Além disso, eu nunca ouvi falar de nenhum Ainz Ooal Gown. Pelo menos, ele não faz
parte da nossa Guilda, nem eu nunca ouvi falar de um aventureiro com esse nome.”
“Porque ele foi ao resgate do nosso vilarejo também! É verdade! Vá perguntar a ele e
você saberá!”
Seria impossível se comunicar com o Capitão Guerreiro, que residia na Capital Real, de
E-Rantel. Em outras palavras, se ela realmente fosse uma simples garota do vilarejo, era
improvável que ela permanecesse na memória do Capitão Guerreiro, então provar sua
identidade seria difícil.
“Detenham-na por enquanto, então investigue-a mais. Como não escondeu a trombeta
e estava planejando levá-la à cidade abertamente, não temos certeza, mas ela pode não
ser uma espiã ou uma terrorista.”
Ela parecia uma garota normal de algum vilarejo vizinho. Se isso foi uma atuação, então
com certeza ela era uma atriz muito boa.
Quando se viraram para a voz, viram um homem vestindo uma armadura completa de
chapas pretas.
“Uooooh!”
“Tudo bem, o que está acontecendo aqui... hm? Aquela garota é...”
“Sim! Nós estávamos investigando uma garota suspeita, que levou algum tempo. Nós
sinceramente pedimos desculpas por incomodá-lo, Momon-sama—”
O ar na sala pareceu congelar. Por que um aventureiro lendário saberia o nome de uma
garota mundana?
“Er, ah, você é... er, não, eu sou. Ah, o senhor foi quem veio com o Nfirea naquele dia, né?
Não me lembro de falar com o senhor...”
Momon colocou a mão no queixo, como se estivesse pensando. Depois, ele gesticulou
para o magic caster e eles saíram da fortificação. Embora os soldados quisessem seguir,
eles não poderiam deixar Enri sozinha.
“Deixe-a ir. Aquele grande homem, Momon, O Negro, atesta-a com seu status de aven-
tureiro adamantite. Nesse caso, pense que não faz sentido mantê-la aqui. O que você
acha?”
Depois de se curvar rapidamente para eles, Enri saiu da fortificação. Quando as costas
dela recuaram para a distância, o soldado virou-se para o magic caster.
“E quanto ao Momon-sama?”
“Como se eu soubesse... Momon-dono contou-me o que eu lhe disse, ele atestou e pediu
que a deixássemos ir.”
“Então, outra pergunta. Aquela garota, Emmot. Você realmente acha que ela é apenas
uma garota do vilarejo?”
“Duvido muito. Não há como ela ser uma simples garota de algum vilarejo, caso contrá-
rio, por que um grande herói como ele a ajudaria? E não foi uma coincidência que ela
estava carregando esse item... Poderia ter algo a ver com a Teocracia?”
“Para ser honesto, eu não sei. Afinal, Momon-dono já garantiu a autenticidade dela. Se
deixarmos as pessoas no topo saberem que alguém que ele atestou é perigoso... bem,
você estaria apenas fazendo seu trabalho, mas realmente quer perturbar o Momon-
dono?”
A saga de como ele abriu caminho através de uma horda de dezenas de milhares de
undeads, colocou os corações de todos que o ouviram em chamas. Além disso, poder-se-
ia ver claramente a sua postura heroica e ações até a distância. Ele havia subjugado uma
poderosa criatura mágica com seu incrível poder, e seu majestoso estilo de cavalgar dei-
xava os soldados loucos por ele.
Assim como as mulheres eram atraídas por homens fortes, muitos guerreiros admira-
vam Momon, o Herói Negro, e podia-se dizer que a maioria das forças armadas de E-
Rantel eram seus fãs.
Como um fã de Momon, apenas ser acariciado no ombro por seu ídolo foi o suficiente
para ele se vangloriar sobre isso para todos que conhecia. Como tal, ele não tinha inten-
ção de perturbar o homem que admirava.
“É uma possibilidade. Bem, já que o Momon-sama atestou ela, acho que vai ficar tudo
bem.”
“Eu também acho. Se tratarmos mal uma amiga do Momon-dono, isso pode dar proble-
mas pra gente. Eu acho que tudo o que podemos fazer é evitar cutucar onça com vara
curta. Enfim, me avise se mais alguma coisa acontecer.”
♦♦♦
Enri conduziu a carroça de ré para a entrada dos portões da cidade de E-Rantel, per-
guntando-se o que acabara de acontecer. Parece que o homem da armadura azeviche —
ela lembrou que ele era um dos aventureiros que vieram para o Vilarejo Carne com
Nfirea para colher ervas — a ajudou a sair de uma situação cabeluda.
Por direito, ela deveria ter ido imediatamente agradecer-lhe, mas infelizmente ela o
perdeu de vista assim que entrou na cidade.
Se eu lhe agradecer na próxima vez que nos encontrarmos... ele vai me perdoar?
Isso... vale dezenas de milhares de moedas de ouro? Nem pensar. Por favor, alguém me
diga que não é verdade...
De repente, ela começou a suar frio. Ela não esperava que as trombetas que recebera
tão casualmente fossem tão valiosas. Não, Nfirea tinha dito que era um item mágico de
alta qualidade... mas a quantia estava além de sua imaginação.
Não tem problema alguém como eu usar um item assim? Vai ficar tudo bem?
Se lhe pedissem para devolver a outra que já assoprara, o que ela deveria fazer?
Além disso, ela tinha outro item no valor de milhares de moedas de ouro.
É o Gown-sama um homem que pode distribuir tais itens tão facilmente!? Ou talvez, ele
não soubesse o seu valor... não é possível, não tem como alguém como ele não saber... mas,
se ele não soubesse...
Ela olhou ao redor com suspeita. Não havia muitas pessoas por perto, mas ainda era
várias vezes mais do que no Vilarejo Carne. Pensamentos desagradáveis como se alguém
planejasse roubar sua trombeta surgiram em sua mente.
Se eu não tivesse trazido isso. Há muito crimes por aqui, né? E se essa trombeta for rou-
bada... Essa não... se a trombeta for soprada e os Goblins aparecessem para causar proble-
mas, isso não me tornaria uma criminosa?
Assim que o suor frio se acumulava ao redor de Enri, uma pessoa desceu sobre o as-
sento ao lado do dela. A maneira como ela pousou como uma pluma, desafiando a gravi-
dade deve ter sido mágica.
Quem—
Ela era uma beldade de cabelos negros cujo rosto poderia lançar ao mar mil navios. Foi
ela quem veio com o aventureiro de armadura negra até o seu vilarejo. Seus olhos gela-
dos pareciam ônix quando encararam Enri.
“Tão linda...”
Ao ver a consternação nos olhos que a olhavam, Enri imediatamente se arrependeu das
coisas estúpidas que havia dito. Ela provavelmente nem sabia sobre Lupusregina. No
entanto, não havia mais ninguém que pudesse se aproximar da bela aventureira diante
de seus olhos.
“A-ah, Lupusregina é uma pessoa muito bonita que vive no meu vilarejo—”
“—Obrigada.”
“Eh!?”
Seus olhos eram firmes, e também sua voz, e até suas sobrancelhas estavam tensas. Mas
os agradecimentos que ela deu eram genuínos.
“...Haaaah. Momon-sa—n tem algumas coisas para lhe perguntar, e é por isso que vim.
Me responda. Por que está aqui?”
Enri não tinha obrigação de responder. No entanto, esta era a parceira de alguém que a
ajudou. Se ele queria saber, então não custava nada responder.
“Ah, bem, antes disso, posso pedir um favor seu? Momon-san me ajudou mais cedo e
sou muito, muito grata. Por favor, diga isso a ele.”
“Ah, sim, eu estou aqui porque há muitas coisas que precisam ser feitas, por exemplo,
vender as ervas.”
A mulher gesticulou com o queixo, indicando que Enri deveria continuar falando.
“Então, vou ao templo para ver se há alguém que queira se mudar para nosso vilarejo e
viver lá. E então eu preciso ir para a Guilda dos Aventureiros avisar sobre algumas coisas.
Também preciso comprar algumas coisas que não podemos conseguir no vilarejo, como
armas. Algo parecido...”
A impressão de Enri sobre ela foi a de um furacão congelado que destruía as pessoas.
“Que mulher incrível... ela parece dezenas de vezes mais poderosa que a Britta-san...”
Não havia meninas no vilarejo como ela. Teria ela se tornado uma aventureira porque
sua personalidade era assim, ou ser uma aventureira tornava sua personalidade assim?
De repente, ela não se sentiu muito interessada em visitar a Guilda dos Aventureiros.
Enri conduziu sua carroça por um portão enquanto repreendia a si mesma por seu des-
cuido.
♦♦♦
E-Rantel poderia ser dividida em três zonas, separadas pelos muros da cidade. A zona
intermediária era onde as pessoas viviam.
Idealmente, teria sido mais seguro vender as ervas na Guilda dos Farmacêuticos. No
entanto, isso teria envolvido muita papelada problemática, então ela escolheu ir para a
Guilda dos Aventureiros em vez de usá-los como intermediários. Ela considerou utilizar
a ajuda de Lizzie para isso, mas Enri decidiu que usar o nome da avó de seu melhor amigo
seria muito desavergonhado, e reconsiderou.
Depois de levar em consideração os desejos de Enri, Nfirea sugeriu ir à Guilda dos Aven-
tureiros.
Se Nfirea tivesse vindo pessoalmente, eles não precisariam usar a Guilda, ele teria ven-
dido tudo sem intermediários. No entanto, Enri não estava confiante em lidar com os
negociadores da Guilda dos Farmacêuticos, então decidiu não ficar com raiva da taxa de
serviço e usar a Guilda dos Aventureiros como uma mediadora.
Enri seguiu pela estrada que Nfirea e Britta haviam lhe dito.
Embora estivesse viajando com os Goblins no caminho para a cidade, eles decidiram
esperar nas cercanias, para Enri terminar seus negócios sem maiores problemas. Ela
percebeu que era a primeira vez que estava sozinha desde que saíra do vilarejo, e suas
mãos agarraram-se às rédeas ainda mais fortemente.
A tensão enrijeceu os ombros de Enri. Finalmente, incapaz de aguentar mais, ela olhou
em volta em todas as direções e seu destino estava na frente dela.
“Eu encontrei!”
Ela entregou as rédeas de sua carroça para uma sentinela parada na porta da Guilda
dos Aventureiros e abriu a porta.
No interior, guerreiros com armadura completa, caçadores com arcos nas costas e ma-
gic casters arcanos e divinos, andavam por ali. Alguns estavam entusiasticamente tro-
cando informações sobre os monstros próximos, outros estavam olhando atentamente
para os pergaminhos no quadro de avisos próximo, e alguns estavam avaliando o equi-
pamento recém-comprado.
O lugar estava cheio de calor e atividade que deixou Enri instável em seus pés, era um
mundo de cuidado e tensão implacáveis. Este era o mundo dos aventureiros.
A boca de Enri se abriu quando ela viu uma visão que nunca veria em seu vilarejo, então
apressadamente fechou de volta.
Era verdade que ela vinha de uma terra esquecida, e não era vergonhoso se assustar
com o clima da cidade grande. Ainda assim, uma garota de sua idade olhando estupida-
mente com a boca aberta seria apenas algo embaraçoso.
Enri entrou, suas costas estavam eretas, verificando conscientemente seus movimentos,
de modo que não movesse os braços e as pernas na ordem errada ou qualquer coisa que
provocasse risos. No entanto, Enri começou a ter suas dúvidas sobre se estava tudo bem
para uma garota do vilarejo, obviamente fora do lugar, andar com arrojo entre esses
aventureiros musculosos.
“Bem-vinda.”
Enri trocou olhares com a recepcionista. Depois disso, as duas sorriram amargamente.
Enri sentiu os ombros relaxarem, pelo que poderia ter sido a primeira vez desde que
chegou a E-Rantel.
“Então, posso perguntar qual negócio tem com a Guilda dos Aventureiros?”
“Mm. Ah, em primeiro lugar, gostaria de pedir ajuda com a venda de ervas.”
Enri disse-lhe que estavam na carroça do lado de fora e a recepcionista se virou para
falar com uma mulher ao lado dela.
“Entendido. Então, outra coisa... embora não vamos oficializar um pedido imediata-
mente, poderemos fazê-lo no futuro.”
Enri explicou a situação para a recepcionista sorridente. O sorriso da outra mulher per-
deu a graciosidade quando ouviu a história de Enri.
“Então é isso... Sou apenas uma recepcionista, e não decido a dificuldade dos pedidos,
mas se envolver o Sábio Rei da Floresta, pode ser uma tarefa que apenas o Momon-san,
que é adamantite, possa lidar. Nesse caso, as taxas seriam muito caras.”
Parecia ter havido uma mudança no humor da recepcionista. Ela parecia completa-
mente desmotivada, como se tivesse decidido “Foi inútil, mesmo depois de ter passado
por tudo isso, que saco...”.
Já que morava com Goblins, Enri se tornara adepta da leitura das emoções dos outros,
mesmo as sutis. Os Goblins eram feios e pareciam muito diferentes dos humanos, mas
ela tinha trabalhado arduamente para reconhecer e deduzir as mudanças em seus sen-
timentos. Desta forma, Enri evoluíra seus sentidos.
Ela deve estar pensando que o vilarejo não tem tanto dinheiro, huh... bem, dada a minha
roupa, é uma conclusão razoável... afinal, ela está bem vestida.
Mas roupas como essas são um desperdício para os trabalhos que existem no vilarejo, só
dificultam a movimentação.
“Correto. No entanto, o subsídio é apenas uma parte da taxa e terá que pagar o restante
por conta própria. Os aventureiros do nível adamantite são muito caros e, mesmo após
o subsídio, ainda custam muito dinheiro para contratar. Claro, você poderia oferecer me-
nos dinheiro para uma solicitação, mas a Guilda dos Aventureiros pode não permitir. Se
oferecer menos dinheiro do que o valor estipulado, sua solicitação será de baixa priori-
dade, portanto, talvez não haja interessados. Por favor, leve isso em consideração.”
Ela deve ter memorizado os regulamentos, dada a maneira como ela pronunciou tudo
aquilo sem pestanejar. Parece que a recepcionista estava tratando Enri como um cliente
que não estava comprando nada.
É por isso que o Ainz Ooal Gown-sama é nosso salvador. Ele até deu a uma simples garota
do vilarejo como eu um tesouro tão valioso como aquele.
Ela se perguntou como a recepcionista reagiria se ela usasse a trombeta como paga-
mento. Seria ótimo ver o olhar no rosto dela, mas Enri sabia que não podia fazer uma
coisa dessas. Este item foi dado a ela por aquele grande magic caster com a instrução de
“use-o para se proteger”. Ela não podia vendê-lo, nem pelo bem do vilarejo. Ela não podia
ser tão ingrata.
“Compreendo. Então, por favor, pode me dizer o valor? Dessa forma, posso voltar para
meu vilarejo para discutir as coisas.”
“Entendo... então que tal isto? Por favor, volte após a inspeção e assim poderemos rea-
lizar a compra. Deveremos ter terminado de calcular as taxas de sua solicitação até lá.”
Cada momento desde que ela entrou nos portões da cidade tinha sido uma grande aven-
tura. Ou melhor, quando ela pensava sobre isso, desde o dia em que seus pais morreram,
todos os dias tinham sido revoltos e agitados.
Tudo o que eu queria era levar uma vida simples e constante no vilarejo...
Ela pensou sobre o que aconteceu depois disso — os Goblins, seu amigo de infância, e
então ela balançou a cabeça.
Se ela tivesse algo para fazer, não teria tempo livre para pensar em coisas tão depri-
mentes. Ela preferia esvaziar sua mente e se concentrar no trabalho do que pensar em
coisas que a deixavam triste.
“A taxa é—”
Neste momento, Enri ouviu o som de alguém caminhando, praticamente correndo para
ela. Quando ela se virou, viu a recepcionista de antes na frente dela.
“Haaa— haaa— Enri-san do Vilarejo Carne. Não, quero dizer, Enri-sama. Eu poderia ter
um minutinho do seu tempo para discutir um assunto?”
Era a mesma recepcionista de antes, mas a atitude dela era completamente diferente.
Até os olhos dela estavam vermelhos.
“Ah, me desculpe, mas eu estava prestes a contar a ela sobre os resultados da avalia-
ção—”
“Se estiver tudo bem com a senhorita, se importaria de discutir isso tomando alguns
licores na sala de recepção?”
Ela estava sorrindo, mas o sorriso não se refletia nos olhos, era um sorriso social. Havia
um olhar estranho e desesperado neles.
Talvez ela tivesse sentido algo da confusa Enri. Os olhos da recepcionista estavam úmi-
dos e as mãos dela estavam entrelaçadas como se estivessem rezando.
“Por favor, eu estou te implorando, a senhorita tem que me deixar ouvi-la! Ou estarei
com problemas!”
Depois de ouvir aquele apelo desesperado, quase patético, Enri não tinha idéia do que
estava acontecendo, mas não dar a ela uma chance seria cruel demais. Ela olhou de volta
para o comerciante, que parecia entender suas intenções, pois assentiu levemente para
ela.
Enri olhou em silêncio pelo interior do cômodo. Não havia ninguém lá além dela, e es-
tava primorosamente decorada, a ponto de ter dúvidas sobre estar sentada no sofá.
No momento em que se sentou, uma voz do canto de sua mente se perguntou se seria
presa ou encontraria outro destino semelhante.
No entanto, nada aconteceu quando ela se sentou no sofá. Tudo o que sentiu foi a mo-
bília confortável, aconchegando seu peso corporal.
“Gostaria de algo para beber? Nós temos um excelente licor! Que tal algum aperitivo?
Ou é muito cedo para isso? Sim, tipo de... que tal frutas... não, doces e sobremesas, talvez?”
Mas por que ela mudou da água pro vinho? Foi por causa da trombeta de novo?
“Não, não, o que está dizendo? Tudo é possível para a senhorita. Podemos fornecer licor,
conhaque e lanches para acompanhar se assim desejar.”
“Não, não precisa mesmo... e, além disso, estou ficando sem tempo. Podemos começar a
discutir o assunto?”
“Certamente! A senhorita está absolutamente correta! Então por favor, perdoe a de-
mora!”
A recepcionista tirou uma folha de papel branco e fino. Todo o papel que ela tinha visto
antes tinha sido muito mais grosso e tinha outras cores misturadas. Isso deve ser algo
de alta classe aqui. Estava tudo bem em usá-lo?
Enri começou a falar. Ela só tinha dado um breve resumo agora, então ela teve que ex-
plicar pacientemente os detalhes desta vez.
“Estou profundamente grata! Há algumas bebidas aqui, por favor, beba antes de sair!
Não há problema em deixar as xícaras aqui, agradecemos encarecidamente pela prefe-
rência!”
Claro, não havia ninguém aqui para responder à sua pergunta murmurada.
♦♦♦
No final, Enri não passou a noite em E-Rantel, mas rumou de volta para o Vilarejo Carne.
Ela dormiria nas planícies, mas não se sentia desconfortável. Pelo contrário, ela teve
uma boa noite de sono. Isso porque, ao contrário de sua jornada para a cidade, ela tinha
um grupo de passageiros andando com ela desta vez.
Diante dela estava o muro do Vilarejo Carne. Embora os troncos cuidadosamente ar-
ranjados parecessem impressionantes, Enri não pôde deixar de pensar que pareciam
puídos em comparação com as fortificações de E-Rantel.
Enri estava respondendo a um dos Goblins deitados na carroça. Cinco Goblins tinham
escoltado Enri para E-Rantel, incluindo o Goblin Clérigo (Cona), e havia um Goblin Cava-
leiro de Lobo (Chosuke) mantendo uma vigília a alguma distância de sua carroça.
“Bem, metade dos problemas foram resolvidos, mas aparentemente o pedido do chefe
não foi muito bem, não foi, Ane-san?”
“Sim, sobre isso... de acordo com o sacerdote-san, quase ninguém quer se mudar para
um vilarejo.”
“Isso é estranho. Quero dizer, já existem outros imigrantes de vilarejos próximos aqui.
Por que não há mais pessoas? O sacerdote estava mentindo?”
“Para ser honesta, vilarejos fronteiriços são muito perigosos, então preferem manter
distância. A gente esperava que os terceiros filhos viessem aqui na promessa de terras...
mas muitas pessoas não virão aqui se não forem ordenadas. E as pessoas que se muda-
ram recentemente já haviam vivido em vilarejos fronteiriços. Então são casos diferentes.”
“Certo...”
Provavelmente seria muito difícil para pessoas normais formar um bom relaciona-
mento com Goblins e ainda mais conviver sob o mesmo vilarejo. Qualquer imigrante da
cidade provavelmente empalideceria com a visão e faria o possível para ficar longe.
Nesse momento, a carroça sacudiu e o som de algo metálico batendo na carroça bateu
atrás dela.
Embora os Goblins estivessem sentados na mesa da carroça, havia alguns sacos ali, um
dos quais fazia barulho metálico quando a carroça sacudiu.
“Ah, estamos bem, Ane-san. Não precisa se preocupar. Falando nisso, com tantas flechas,
poderemos caçar o que nossos corações desejarem.”
Os Goblins pareciam tão felizes quando olhavam para a bolsa que Enri se esqueceu de
responder, simplesmente sorrindo em vez disso.
Depois de cumprimentar todos, Enri levou a carroça ao ponto de encontro original, para
descarregar a carga.
Quando ela parou a carroça no ponto de encontro, os Goblins, depois de ouvir a carroça,
saíram para saudá-la.
“Oh! Bem-vinda de volta, Ane-san. Fico feliz que nada tenha acontecido.”
Enri sorriu. As boas-vindas foram o que fez Enri sentir que ela realmente havia retor-
nado, pois para ela, os Goblins eram parte de sua família.
“Já vou!”
“Ah, Ane-san, pode deixar que cuidamos do resto. Por que não vai ver sua irmã e o Ani-
san? Não tenho certeza, talvez o Ani-san ainda está ajudando o pessoal do Agu.”
“Mesmo? Entendi. Então, só por segurança, eu vou com você. Afinal, ainda há a questão
dos Ogros.”
Gokou falou com alguns de seus camaradas depois de sair do local da reunião, e então
ele pulou na carroça ao lado de Enri, que estava dirigindo. Os outros Goblins que estavam
guardando Enri na estrada para E-Rantel olhavam para ele com ciúme em seus olhos,
mas nenhum expressou qualquer oposição. Provavelmente concordaram que ele estava
fazendo a coisa certa.
“Nada de mais. A grande coisa foi que construímos um lugar para os Ogros morarem
dentro do vilarejo. Claro, os Golems de Pedra fizeram a maior parte do trabalho, e foi
feito de madeira sem muito acabamento, mas no final acabou ficando um lugar bem legal.
Só que ainda não podemos fazer nada sobre o cheiro deles. Até as toalhas que lhes damos
acabam fedendo.”
“E a Lupusregina-san?”
“...Não vamos falar dessa Lupusregina por enquanto. Eu não quero agradecer a ela nem
nada. Tem algo nela que me irrita.”
Enri achou difícil acreditar em seus ouvidos. Esta foi a primeira vez que Gokou falou
mal de alguém.
“Como eu devo colocar isso... ela é muito assustadora, é como um monstro nos obser-
vando... Eu não acho que percebeu isso ainda, Ane-san...”
“Mas ela é a empregada daquele que salvou nosso vilarejo, Ainz Ooal Gown, então ela
não pode ser tão ruim assim.”
Os ombros de Enri e Gokou se contorceram. Essa era a voz da mulher que eles tinham
acabado de mencionar.
Enri olhou para trás freneticamente, e assim como no dia anterior, a empregada estava
sentada na mesa da carroça como se ela sempre estivesse ali.
“Talvez, talvez antes disso, deveria nos dizer como você aparece do nada.”
“Nunca te vimos voar. Há algumas vezes que veio de cima agora, mas não conseguimos
sentir você.”
“Eu posso ficar invisível ~su.... estou tentando ser sutil ~su. Veja o tanto que sou legal~”
Gokou virou o rosto para a frente mais uma vez. Irritação escrita por toda parte de seu
corpo.
“Mas, ah, sim. É meio raro que a gente veja você dois dias seguidos, Lupusregina-san.
Aconteceu alguma coisa?”
Lupusregina olhou para Enri. Enri não pôde deixar de pensar; ela é tão fofa e bonita,
mesmo quando faz uma cara assim.
“Ah, porque nós resgatamos mais alguns Goblins de sua tribo, oras? Eles vão ficar lá
enquanto construímos um lugar para os Goblins ficarem aqui no vilarejo.”
“Ah— sim, faz sentido, Agu é filho do chefe da tribo. Ele deve sentir que tem o dever de
protegê-los ou algo assim ~su. Curioso, ele é apenas uma criança, mas é tão maduro~”
Embora Lupusregina estivesse apenas sorrindo levemente, qualquer um que visse sua
aparência seria cativado pelo encanto que irradiava dela. Até mesmo Enri se viu olhando
para ela com admiração apesar do fato de que ambas eram mulheres.
“Is-isso mesmo!”
Enri rapidamente olhou para a frente mais uma vez, as pontas das orelhas vermelhas.
“Então, vou levar o cavalo de volta para os estábulos ~su. Não tô afim de incomodar lá.
Me conte os detalhes da conversa depois~”
“Tudo bem. Então, me desculpe por impor, mas vou deixar isso para você.”
Enri inclinou-se para Lupusregina, que respondeu com um “hoi hoi” e um sorriso antes
de levar a carroça.
Enri bateu na porta, anunciou em voz alta o suficiente para todos dentro ouvirem e
abriu a porta.
“Oh, bem-vinda de volta. Por favor sente-se. Como estavam as coisas na cidade?”
Enquanto o chefe falava, Enri sentou-se ao lado de Agu. Por um momento, o corpo de
Agu pareceu ficar rígido, mas ela deve ter imaginado coisas.
“Ah, vou indo então. Nesse caso, Chefe, por favor, cuide de nós.”
No entanto, Agu estava olhando para ela, com as costas rígidas e os lábios franzidos.
Enri olhou nos olhos de Agu, e em seu olhar firme, sem piscar, ela percebeu que ele não
estava brincando ou zombando.
“Eh... eh!?”
“Ei! Espere—”
Isso pesava em sua mente, mas ela poderia esclarecer suas dúvidas mais tarde. O rela-
tório era mais importante por enquanto.
Depois de decidir isso, Enri relatou nítida e concisamente os eventos que ocorreram na
cidade. A parte mais importante era que ninguém queria se mudar para o Vilarejo Carne.
No entanto, o chefe parecia ter antecipado isso, porque não havia arrependimento em
seu rosto, apenas uma solene aceitação.
“Então é assim que é. Bem, não podemos fazer nada quanto a isso. Somos um vilarejo
fronteiriço e monstros aparecem frequentemente por estas bandas, por isso faz sentido
que quase ninguém queira vir aqui.”
O chefe do vilarejo disse o que Enri estava pensando. Podia ter sido o que todos neste
vilarejo já haviam aceitado.
O chefe abaixou a cabeça e Enri disse “Não seja por isso” em resposta. Foi um tanto
conturbado, mas tinha sido uma boa experiência.
“Então—”
A linha de visão do chefe cintilou para Gokou por um segundo antes de continuar:
“...Eu espero que você assuma minha posição como chefe deste vilarejo.”
A enorme variedade de expressões que brilhavam no rosto de Enri era como uma peça
de arte performática.
“Haaaaaaah!? Como assim? Ei! Não me diga que o Agu estava dizendo aquilo para... eh-
hhh!?”
“Não me interrompa quando estou nervosa! Chefe, o senhor ficou caduco!? Por que tá
dizendo isso!?”
“...Talvez caduco seja um pouco demais. Eu entendo que você está acalorada e nervosa
sobre isso — sei muito bem como é, mas espero que possa se acalmar e me ouvir.”
“Me acalmar!? Como posso me acalmar? Eu sou apenas uma garota qualquer deste vi-
larejo, por que justo eu que tenho que lidar com essa porcaria toda de ser chefe!?”
“Controle-se!”
A voz estava cheia de poder, mas para Enri foi apenas um som um pouco alto. Mesmo
assim, ajudou a recuperar um pouco de sua compostura. Não, se ela não escutasse o
chefe, ela não retornaria a si, ou pelo menos era o que parte dela estava pensando.
“Eu entendo que está muito confusa. No entanto, espero que você possa sentar e consi-
derar as coisas com calma. Para começar, quem é o coração deste vilarejo?”
“Isso seria incorreto. Eu sinto que você é o coração do nosso vilarejo. Os Goblins e os
Ogros recém-chegados te reconhecem como líder, certo?”
“Então, há os Goblins que você ajudou. Pelo que o Agu me disse, eles também te veem
como a chefe.”
A boca de Enri se transformou na forma de um “へ”. Pode ser verdade que os Goblins
eram assim, mas o que os aldeões pensariam? Eles nunca aceitariam isso.
“Eu posso adivinhar o que está pensando. Os aldeões vão se opor, é isso? Já falei com
todos e consegui a aprovação deles. Ontem à noite, tivemos uma reunião e obtivemos
suas opiniões. E foi unânime — todos eles desejam que você seja a nova chefe.”
“...Aquele ataque foi um grande choque para todos nós, Enri. Todos anseiam por um
líder forte.”
“E o que tem de forte em mim? Eu sou apenas uma garota qualquer do vilarejo!”
Embora houvesse algum músculo em seus braços, ela ainda era uma garota que mal
podia usar uma arma. Se eles queriam força, certamente deveriam ter escolhido entre os
membros da força de segurança, não?
“A força não é medida apenas pela coragem de uma pessoa. Você não acha que ser capaz
de ordenar os Goblins também é uma forma de força? Os Bareares também acham que
você é adequada como chefe.”
“Enfi!”
“Isso, e eu estou neste posto por muito tempo e já estou velho. Eu preciso encontrar um
sucessor em breve.”
“O que quer dizer com “Velho”? O senhor não está nem perto de ser velho, Chefe. É por
isso que está falando como um homem velho?”
O chefe estava na casa dos 40 anos, por isso ainda era um pouco cedo para chamá-lo de
velho. Afinal, ele ainda estava em uma idade em que poderia trabalhar.
“Deixando de lado a questão de falar como um homem velho, você deveria ter notado
agora, mas a floresta está passando por uma série de mudanças. Desde que o Sábio Rei
da Floresta se foi, há uma chance maior de monstros saírem da floresta para atacar. Tudo
o que posso fazer é usar minhas experiências de quando ainda vivíamos em segurança
para nos liderar, mas minha visão não é mais útil para nós.”
“Chefe, isso pode ser rude, mas eu preciso perguntar. Está apenas tentando fugir disso,
não é?”
“...Olha, sendo honesto. Eu não posso dizer que você está errada...”
O que Enri viu foram os olhos de um homem que honestamente falava de sua mente.
“Ainda me lembro daquele dia mesmo agora. Aquele dia horrível quando meus amigos
foram mortos. Eu conhecia bem os Emmots. Se não estivéssemos acostumados com a
tranquilidade, se tivéssemos construído um muro, se estivéssemos em guarda, talvez
Pensou Enri. Este vilarejo também tinha muitos imigrantes que eram sobreviventes dos
outros vilarejos destruídos. Seus vilarejos tinham muros resistentes — embora não tão
fortes quanto os do Vilarejo Carne —, mas ainda haviam sido atacadas e abatidas. Mas
esses muros poderiam ter atrasado os atacantes apenas um pouquinho e permitido que
mais pessoas fossem salvas. Enri concordou com essa parte.
“A maneira antiga de pensar que eu tinha não vai mais funcionar. Precisamos reorgani-
zar e proteger, criar a segurança com nossas próprias mãos. Os únicos que podem fazer
isso são os flexíveis e os jovens. E essas pessoas precisam de força também.”
Enri ouviu as palavras do chefe e as considerou seriamente. No começo, ela queria re-
cusar, pois tal responsabilidade era um fardo muito pesado. Se eles fossem atacados da-
quela maneira, ela não tinha certeza se poderia assumir a responsabilidade pelas vidas
de seus colegas. No entanto, como ela havia dito ao chefe agora, não era só fugir do pro-
blema?
“Essa é uma reação natural. Eu posso ajudar com a administração, e os Goblins vão te
apoiar nas questões de segurança. Mesmo assim, eu sei que tomar a decisão final ainda
é assustador.”
“Para ser franco, eu pensei nisso mesmo. Mas quanto maior o problema, mais provavel-
mente surgirá algo que dividirá o grupo e os deixará paralisados pela indecisão. No final,
sem uma pessoa dando as cartas, não poderemos resolver problemas de maneira eficaz.”
“Isso não vai funcionar. Não vai priorizar nossos líderes. As pessoas seguirão seus líde-
res em emergências e trabalharão juntas pois sabem que esses líderes também são ca-
pazes em tempos de paz.”
A vontade do chefe era firme e ele explicou suas razões. Com uma expressão amarga,
Enri fez sua última pergunta.
“Sim, senhor.”
♦♦♦
“Então, quero pensar sobre isso. Poderia me deixar sozinha por um tempo?”
“Tudo bem, Ane-san. Então, fique o tempo que precisar e pense sobre isso. O resto de
nós te apoiará, Ane-san. Se precisar de alguma coisa, é só nos avisar.”
Depois de observar Gokou sair, Enri voltou para sua própria casa.
Quem sabe, quando chegar a hora, ela pode ter que dar uma ordem que não gosta —
sacrificar os poucos para o bem maior.
Todos aqui pensam muito bem de mim. Pra começar, há os Goblins que todos dizem que
são a minha força. Eles nem são aliados que eu fiz com meu próprio carisma e conexões.
No final, eles foram meramente convocados da trombeta que me foi dada pelo grande ma-
gic caster Ainz Ooal Gown.
Estranho, fui a primeira pessoa que ele ajudou? Eu me lembro de Gown-sama em uma
máscara... Hm? Ele estava usando uma máscara?
De repente, a sequência de eventos parecia confusa para ela, mas isso era de se esperar,
dado o caos da situação.
De todo modo...
A primeira pessoa que veio à mente de Enri foi Nfirea. Ele havia morado na cidade
grande antes, visto muitas pessoas, e Enri achava que ele saberia se ela poderia ser a
próxima chefe. E por ser amplamente letrado, ele definitivamente seria capaz de lhe dar
uma resposta.
No entanto, o chefe havia dito que Nfirea — ou melhor, os Bareares — haviam aprovado
sua sucessão. Isso significava que mesmo que ela falasse com Nfirea, era muito provável
que recomendasse a aceitar a responsabilidade.
Ele não vai servir... e nenhum dos aldeões também. Isso me deixa o Agu e os Ogros, mas o
Agu já pensa em mim como a chefe, e os Ogros são simplesmente burros.
Neste momento, alguém chamou Enri em sua feição carrancuda com uma voz alegre.
“Yo~ Parece que terminaram a conversa... Oyan~? Que foi, que olhar estranho é esse?
Enri, qual o problema ~su?”
Essa voz fez Enri se mexer, como se eletricidade estivesse passando por sua pele. Isso
mesmo. Ela era uma pessoa de fora, uma terceira parte neutra que podia avaliar calma e
logicamente a situação.
“Lupusregina-san!”
“O que, o que é isso? Essa não~ Meu coração tá até acelerado. Por favor não se confesse
para mim ~su. Eu não sou lésbica, gosto do sexo oposto. Nããããooo~ Me solta~ eu vou
ser estuprada ~su.”
As mãos de Enri deixaram os ombros dela, porque ela estava planejando cobrir a boca
de Lupusregina. Mas Lupusregina esquivou da mão de Enri e sorriu para ela.
“Ahhhh, desculpe, foi mal, mas você parecia tão animada, achei que precisava te acalmar
um pouco. Foi só uma piadinha ~su.”
“Não sei do que está falando, mas podemos conversar enquanto andamos, não é ~su?
Eu não quero que os aldeões me olhem estranhamente ~su.”
O rosto de Enri ficou vermelho vivo. Lupusregina até tinha razão. Contudo—
“Tehe~”
Para Enri, que não sabia nada sobre esses assuntos, ela certamente parecia adulta o
suficiente. Não houve mudança óbvia, mas por algum motivo Lupusregina parecia mais
madura agora.
“...Hã?”
“Ei — você não disse que eu poderia deixar meus problemas em você?”
“Mas eu nunca disse que responderia, ou disse... hm, bem, tanto faz. Para começar, se
está sendo forçada para essa posição e sabe que vai se arrepender, é melhor não aceitar.
Primeiro pense em que tipo de coisas você pode e não pode lidar.”
A garota despreocupada habitual tinha ido embora, e em seu lugar havia uma beleza
assombrosa e fascinante. Os olhos antes abertos estavam estreitados, e seu sorriso fino
enviou um arrepio por sua espinha.
“Mas é só minha opinião, eu não estou dizendo o que deve fazer ou algo assim. Você
deve se sentar e pensar cuidadosamente sobre isso. Sendo franca, não importa se você
ou outra pessoa será o chefe, quem assumir essa responsabilidade vai errar mais cedo
ou mais tarde. Há apenas Quarenta & Um seres que nunca cometeram um erro. Então,
não faz sentido se preocupar com o que acontece quando você falha. Mas se realmente
pensar nisso com calma, ninguém é mais adequado para o trabalho do que você.”
“Pergunte aos Goblins~. Quando o vilarejo for atacado por monstros assustadores e
eles souberem que não podem ganhar, o que acontecerá? Imagine a situação com você
sendo a chefe e não sendo a chefe.”
“Ahhhh, isso é chato. Haaa, isso não combina comigo ~su. Hum, seria mais divertido se
você não se tornasse a chefe, então uma grande tragédia acontecesse com o vilarejo, En-
chan~”
“—Eh?”
“Hehe~”
“Mas cá entre nós, acho que você seria uma grande chefe, En-chan~ Além disso... por
que não pergunta àquele garoto lá ~su?”
Depois de tirar a mão do ombro de Enri, Lupusregina girou no lugar. Foi um movimento
que parecia distante de qualquer conceito da palavra “fricção”.
Nemu deve ter ficado muito preocupada, porque ela abriu um grande abraço enquanto
corria a toda velocidade para Enri. Por um momento, Enri achou que ela poderia cair,
mas seus robustos músculos das pernas absorveram o impacto.
“Bem-vinda, Enri. Voltou mais cedo do que o esperado. Não quis dormir lá?”
“Então é por isso... fico feliz que não tenha sido atacada por monstros. Mas fazer isso é
bem perigoso. Os Goblins são fortes, mas ainda há monstros que são mais fortes que eles.
Mesmo não tendo visto nenhum daqueles perto das planícies...”
Nemu disse isso enquanto se agarrava firmemente às roupas de Enri. Enri era o único
membro da família sobrevivente que sua irmãzinha tinha. Sua vida não era mais apenas
dela. Parece que ela esqueceu esse pequeno detalhe.
“Mm! Tá perdoada!”
“Obrigada. Falando nisso, você tem sido uma boa menina, Nemu? Não deu problemas
ao Enfi, não é?”
“Já sou grande~ oneechan! Eu não sou mais uma garotinha! Não é, Enfi-kun?”
“Ahaha... bem, eu tenho tratado a tribo do Agu, então eu não a olhei muito de perto, mas
eu confio que a Nemu se comportou.”
“Nemu-chan! Esse é o cheiro de ervas! Quando amassa sai esse cheiro, você não disse
que suas mãos fediam também?”
“...Não, é diferente. Isso é de fazer itens alquímicos, então não é como se eu fedesse ou
qualquer coisa assim.”
“Mm, está em todas as suas roupas de trabalho, Enfi. Então talvez devesse tirá-las
quando não estiver trabalhando, não é?”
“Eu não tenho nenhuma outra roupa, embora... em E-Rantel eu usasse isso o tempo
todo.”
“Enfi, pensa que sou o quê? Ainda posso fazer roupas simples sozinha.”
“Mesmo? Eu comprei todas as minhas roupas, então poder fazer suas próprias é incrí-
vel.”
“Bem, obrigada por isso. Mas todos aqui no vilarejo podem... Nemu, é melhor você co-
meçar a aprender também.”
“Táá~”
“Então, Nemu, se importa de voltar primeiro? Eu preciso discutir algo com o Enfi.”
Nemu cobriu a boca com as mãos, mas o sorriso já estava fazendo seus olhos brilharem.
“Por que ela é tão obediente? Estão escondendo alguma coisa de mim?”
“Não, acho que não... há coisas mais importantes do que isso! Você ia me dizer alguma
coisa? Acho que já posso adivinhar, já que participei da reunião de ontem.”
Isso não foi tudo. Ela também contou tudo sobre sua inquietação e sua discussão com
Lupusregina. Depois que terminou, Nfirea olhou Enri diretamente nos olhos e falou:
“Eu acho que você deveria fazer o que acha certo, Enri. Não importa qual seja a sua
resposta, eu sempre irei te apoiar... ugh, frase extravagante, né? Mas espero que você se
torne a nova chefe.”
“Não. Você não é apenas uma simples garota do vilarejo. Você é a líder dos Goblins, Enri
Emmot. Quer dizer que a força dos Goblins não é sua força, é isso? Mas no final, os
Goblins são realmente sua força. Lupusregina disse para perguntar a eles, mas vou ex-
plicar. Se você não for a chefe e o vilarejo ficar em perigo, os Goblins vão evacuar você e
somente você se ainda tiverem forças para lutar.”
“...Eles podem não dizem isso em tempos de paz. Mas durante uma crise, farão exata-
mente isso. Eu também ouvi isso deles.”
Enri olhou incrédula para Nfirea. Ela sentiu que ele deveria estar mentindo. No entanto,
ela não podia sentir qualquer falsidade ao redor dele.
“O mais importante para eles não é o vilarejo, é você. Mas se você se tornar a chefe,
então o vilarejo se tornará sua propriedade, e os Goblins lutarão por todos até o amargo
fim. Pode não parecer uma grande diferença, mas na verdade é. Até me disseram que se
uma emergência como essa acontecer, eles esperam que eu pegue a Nemu e fuja atrás
de você. Enri... se quiser verificar com eles, tudo bem. Mas espero que, se o fizer, mante-
nha o fato de que eu lhe contei um segredo.”
Nfirea levantou o cabelo quando ouviu a resposta curta e direta, revelando seus grandes
olhos.
“—Impossível. Você nunca mentiria para mim, Nfirea. Eu confio em você. Ainda assim,
eles realmente colocam muita importância em quem for mestre deles.”
É claro que nenhum dos aldeões diria esse tipo de coisa em voz alta. No entanto, era
verdade que ela não conseguia se lembrar de nenhum dos moradores os agradecendo
de maneira concreta.
“Isso é um sinal de gratidão por você. É como dizer que eles pagam os custos da comida
ou poupam o trabalho de preparar uma refeição. Você já viu alguém aqui chamar algum
deles pelo nome?”
Ninguém tinha. No começo, ela pensou que era simplesmente porque eles não podiam
distingui-los, mas talvez eles nunca tivessem a intenção de distingui-los desde o começo.
“Tem razão.”
No entanto, em sua voz não era simplesmente desânimo, mas seus olhos brilhavam com
a luz da determinação.
“Então... É por isso que eu sinto que você será uma boa chefe. No mais simples dos casos,
quando for a chefe, as coisas vão mudar para os Goblins também.”
“Tudo bem. Então, eu vou aceitar ser a chefe. É melhor eu fazer isso antes que eu mude
de idéia!”
Seu sorriso foi gentil, mas austero. Era como se ele entendesse que ela estava esperando
por um último empurrão nas costas.
Ela assentiu em resposta, e depois sem olhar para trás, pôs o pé no caminho para se
tornar a nova chefe do Vilarejo Carne.
Do céu, Lupusregina pôde ver que quase todos no vilarejo estavam reunidos na praça.
Enri caminhava até eles, quando chegou se virou para todos. Lupusregina não podia ou-
vir o que Enri estava dizendo.
“Ha... então acabou assim, afinal ~su. Ahhhh, que divertido, uhihihi~”
“Correto. Ainz-sama concedeu isso a mim pessoalmente. Este seria... o Vilarejo Carne, é
isso? Por isso você foi repreendida pelo Ainz-sama.”
“É isso mesmo ~su. Ahhh, agora a verdadeira diversão está prestes a começar~”
“Uma nova líder acaba de surgir dentro do vilarejo. Para os aldeões, eles estão prestes
a virar uma nova página em sua história, para um novo mundo de possibilidades. Fico
imaginando o que aconteceria se, neste momento glorioso, o vilarejo fosse atacado e
tudo fosse destruído em um grande incêndio. Eu me pergunto, que tipo de rostos os al-
deões fariam?”
Seu rosto alegre e bonito desabrochou, e algo fluiu de dentro que só poderia ser descrito
como maligno.
“E eu pensei que se desse bem com essas pessoas. Então é isso que você sente em seu
coração?”
“Isso mesmo, Yuri-nee~ cada uma dessas palavras. Eu me emociono toda vez que penso
nas pessoas com quem me deparo sendo brutalmente pisoteadas como insetos.”
“Você é uma sádica completa. Tão má quanto a Solution. Por que minhas irmãs mais
novas gostam disso? Minha única salvação é a Shizu, francamente... ainda suponho que
a Entoma não seja uma menina má.”
Lupusregina riu quando sua irmã mais velha resmungava e franzia as sobrancelhas.
“Ah~ será que o vilarejo será destruído depois de tudo que fizemos?”
Enri largou a pequena lousa que ela estava segurando na mesa e desabou, sem energia.
Ela ouviu uma risada silenciosa e, quando se virou para olhar para a fonte, viu o profes-
sor (Nfirea) lá com um sorriso no rosto.
“Não diga isso. Você já aprendeu a escrever seu próprio nome, não é? E a Nemu-chan
também.”
“Mm... bem, isso é uma coisa boa... não consigo me virar apenas com isso?”
“Nem pensar! Estas são apenas o básico. Pense desse modo; você só começou a apren-
der por cinco dias, nós ainda não alcançamos as partes importantes.”
Um olhar que dizia “Só pode ser brincadeira uma coisa dessas” apareceu no rosto de Enri.
“Ahhh, não faça essa cara. Depois de aprender o básico, tudo o que resta é aplicar na
prática. É por isso que elas são tão importantes.”
“...Uuug~”
“Você parece muito cansada. Então, vamos parar por aqui hoje.”
Enri se levantou da cadeira como se esperasse que ele dissesse exatamente isso.
“Estou feliz que tenha usado parte do tempo nos seus experimentos para me ensinar
tudo isso. Mas eu não me sinto grata de jeito nenhum...”
“Mm. Bem, é preciso. Dizem que é melhor para um professor ser odiado por seus alunos
do que ser apreciado por eles.”
“Mm. Boa noite. Não trabalhe muito quando voltar e trate de dormir mais cedo.”
Nfirea sorriu para mostrar que entendia e saiu pela porta da frente. Depois de observar
a partícula flutuante de sua luz mágica recuar na distância, Enri voltou para sua casa. Na
escuridão, parecia especialmente solitária.
Enri preguiçosamente tirou a roupa e se enfiou embaixo das cobertas. Ela tinha sido tão
barulhenta quando aprendia, mas agora tudo que podia ouvir eram os sons fofos de sua
irmãzinha dormindo. Enri fechou os olhos em silêncio.
Tendo esforçado tanto seu cérebro, Enri tinha certeza de que cairia no sono imediata-
mente. Assim como esperava, ela desmaiou segundos depois de fechar os olhos.
Ela não sabia quanto tempo tinha dormido, mas um som distante a despertou de seu
sono.
Enri percebeu o que aquele ritmo significava e então forçou os olhos a se abrirem na
escuridão. Sua mente acordou com velocidade anormal e percebeu que ainda estava em
casa, e então ela praticamente pulou da cama. No mesmo momento, sua irmã também
acordou.
“Mm.”
Sua voz tinha um tom de medo, mas parecia que ela ainda podia se mover.
Acender uma lâmpada despenderia muito tempo, então Enri se preparou para fugir no
escuro.
Quando o som dos sinos tocou, Enri e Nemu se prepararam rapidamente. A rapidez foi
uma velocidade nascida não apenas de repetidos exercícios de evacuação, mas do velho
terror que restava de quando o vilarejo havia sido atacado no passado. E depois de ouvir
as palavras de Agu, ela teve uma idéia do que estava por vir.
Sem esperar pela resposta da irmã, Enri pegou a mão de Nemu e saiu correndo pela
porta.
O sino ainda ecoava alto, informando a todos que havia uma situação de emergência.
Além disso, sinalizou que definitivamente estavam sob ataque.
Um canto de seu coração ainda esperava que fosse apenas um dos muitos exercícios de
treinamento, mas o frio no ar negava isso. Foi o mesmo frio que ela sentiu quando os
soldados atacaram antigamente.
Depois de fazer isso, Enri foi brevemente preenchida com o impulso de segui-la, para
ter certeza de que pelo menos entrou no abrigo antes de sair.
No entanto, como uma chefe agora — mesmo fazendo poucos dias —, Enri teve que
considerar como ela iria evacuar todo o vilarejo.
Sem pensar, Enri deixou as palavras escaparem de sua boca. Este era o pior momento
possível para algo assim acontecer.
“Ane-san!”
Com o Goblin liderando o caminho, Enri logo chegou ao portão principal. Ela viu que as
barricadas noturnas estavam armadas e os Goblins estavam reunidos aqui. Eles pare-
ciam veteranos experientes nas armas e armaduras que Enri havia comprado para eles.
Quando se aproximou, sentiu um fedor no ar, o que deixou Enri indiferente ao fato de
que havia Ogros presentes. Os Ogros agarravam seus novos tacapes, que pareciam rús-
ticos e ameaçadores.
Enri e o Goblin alcançaram o portão principal ao mesmo tempo que o ofegante Nfirea e
os membros da força de autodefesa liderada por Britta. Além disso, Agu e alguns de seus
companheiros Goblins, aqueles cujas mentes se recuperaram o suficiente do trauma e
estavam prontos para lutar, se juntaram com eles também.
A avó de Nfirea, Lizzie, era uma magic caster habilidosa por si só. Por direito, ela deveria
ter participado na defesa do portão principal.
“Não, a Obaa-chan não virá. Ela está no ponto de encontro. Defender lá é importante
também.”
“Nós enviamos nossos caras que não são bons com arcos por ali. Já que vocês são fortes,
pode despachar alguém para ir até lá e manter os ânimos elevados?”
Jugem e os outros não haviam feito isso por malícia em relação aos aldeões com quem
ele havia vivido e trabalhado. A tensão crescente fez Enri engolir, Jugem explicou sua
posição.
“Britta-san, o inimigo estava à espreita na floresta. Não há como julgar com precisão
seus números. Mas conseguimos obter uma estimativa... sete Ogros, várias Cobras Gi-
gantes, vários Wargs, várias formas parecendo Barghest e algo enorme seguindo atrás
deles.”
“Wargs viajando com Cobras Gigantes e Ogros? Existe um druida por trás deles?”
Wargs são feras mágicas que pareciam lobos, mas maiores. Eles eram mais espertos
que lobos, uma má notícia se os encontrasse na floresta.
“É bem possível. As coisas vão ser muito ruins se eles tiverem um magic caster do lado
deles. É certo que podemos supor que também atacarão à distância. Então seria melhor
organizar todo o nosso poder de luta aqui, não? Devo chamar a Obaa-chan?”
“Isso... é difícil dizer, Ani-san. O ponto de encontro é um dos edifícios mais sólidos aqui.
Se alguma coisa acontecer, será a linha defensiva final ou, em outras palavras, a torre.
Não podemos deixar ninguém que protege aquele lugar sair de lá.”
“Britta-san, você liderará a força de defesa. Espero que você possa transmitir clara-
mente minhas ordens para eles e fazer o que a situação exigir.”
“Então, vamos usar a estratégia anti-invasão dois? Depois de enchê-los de flechas, usa-
remos barricadas para mantê-los afastadas enquanto os apunhalamos pelas brechas
com lanças. Eles não precisarão mirar nos alvos, apenas manterão os ataques.”
“Isso mesmo, será a responsável por isso, então. No entanto, Wargs e Barghests são
muito ágeis. Se permitidos vagar livremente, eles causarão muitos danos. Alveje-os pri-
meiro. Além disso, quando o druida aparecer, você se importaria de voltar?”
“Nada contra isso, mas tem pessoas suficientes na frente se a força de defesa recuar?”
“Entendo... como eu pensei, é melhor eu dizer a todos aqui para estarem prontos para
morrer. Pelo menos, se estivermos nos fundos, não seremos atacados, para que possa-
mos concentrar o ataque à distância no druida. Você sabe, eu já fui uma aventureira, mas
esta é a primeira vez que eu vi aldeões tão corajosos... muito mais se comparado quando
eu os vi treinando com arcos.”
Enri, que estava em silêncio até agora, concordava com os sentimentos de todos os
membros das forças de defesa.
A verdade era que, apesar de seus rostos pálidos, ninguém aqui queria fugir. Eles ti-
nham que ficar e lutar, tinham que proteger seu vilarejo, suas famílias. Afinal, seus ami-
gos e entes queridos estavam por trás deles.
“Falando nisso, uma força tão grande deve ter sido reunida por um ser poderoso. Isso
significa que eles foram enviados pelo Gigante do Leste ou pela Serpente Demônio do
Oeste?”
Se fosse esse o caso, significaria que Agu tinha atraído os monstros aqui. Foi por isso
que Jugem baixou a voz, para que a força de defesa não percebesse e direcionasse sua
agressividade para Agu.
Eles já tinham contado aos aldeões sobre o Gigante do Leste e a Serpente Demônio do
Oeste, bem como o fato de que seu poder rivalizava com o do Sábio Rei da Floresta.
Embora a Fera do Sul tivesse sido domada pelo Herói Negro, a forma e a presença do
poderoso monstro haviam sido gravadas indelevelmente nos corações dos aldeões. O
medo era a resposta apropriada ao pensamento de lutar contra algo no mesmo nível que
isso, inimigos que eles não tinham chance de derrubar.
“Então a Serpente Demônio do Oeste usa magia estranha? Porra, que saco.”
“Geralmente, os monstros com magias raciais não têm mais de dez, mas se forem do
tipo que pode praticar e aprender magia, então terão acesso a muitas mais, o que os
torna problemáticos. Se eles souberem magia que lhes permitisse atravessar paredes,
então...”
“Fico feliz que o Enfi e os Goblins possam usar, mas se o inimigo usar magia também,
isso será muito injusto.”
Enri disse isso em um tom infeliz, que atraiu sorrisos sombrios dos aldeões.
Isso deve aliviar um pouco as coisas, pensou Enri. Embora fosse ruim se eles estivessem
muito relaxados, ficar muito tenso também os impediria de lutar efetivamente. O clima
agora parecia certo.
Jugem olhou agradecido para Enri. Parece que ele entendeu esse ponto também.
“Força de defesa, não se preocupem. Apenas fiquem longe e atirem. Nós vamos lidar
com a vanguarda.”
Os Goblins haviam treinado a força de defesa precisamente para momentos assim, en-
tão essa era a melhor maneira de implantá-los.
Reunir espadas e armaduras suficientes para equipar todos na força de defesa era
muito difícil em um pequeno vilarejo, que nem ferreiro tinha. Além do mais, eles ainda
eram aldeões. Podem ter braços fortes de tanto usar enxadas e pás, mas isso não se tra-
duz em habilidades de espada. Apenas um gênio poderia treinar-se para ser um guer-
reiro de um nível que poderia derrotar monstros em seu tempo livre entre as tarefas.
Com esses pontos em mente, os Goblins perceberam que não poderiam treinar a força
de defesa a um nível em que pudessem lidar com o dever da vanguarda. Em vez disso,
eles decidiram ensiná-los a usar arco e flecha para deixá-los lutar na linha de trás.
Embora sua técnica tenha melhorado e pudessem atingir seus alvos, eles não conse-
guiam puxar os arcos fortes que tinham bom poder de penetração, tornando difícil infli-
gir dano a monstros de pele grossa. Porém, se tivessem sorte e disparassem sincroniza-
damente, havia uma chance de que pudessem atingir um ponto vulnerável.
“Tudo bem, assim como nós treinamos, alinhamos e miramos no outro lado do portão!
Agu, você agirá só depois que o portão principal for quebrado. Fique em pé com a força
de defesa e apunhale o inimigo com lanças. Trate os comandos da Britta-san como se
eles viessem da Ane-san e obedeça!”
“Esse é o espírito. Agora, ouça. Eu te proíbo de fugir. Lute com sua ira, até morrer.”
“Seu garoto idiota! Se eu deixasse você fazer isso, acabaria morrendo em poucos segun-
dos. Se um dia ficar forte, eu te coloco lá!”
Eles foram os últimos forasteiros a chegarem no vilarejo. Embora não tivessem sido
evitados ou maltratados, ainda havia uma distância entre eles. No entanto, do ponto de
vista das coisas, essa lacuna desapareceria se eles ganhassem hoje. Era irônico que o
campo de batalha fosse o melhor lugar para construir laços de amizade.
E por isso sentiu que a divisão de Agu lutaria ferozmente. Seu objetivo era contribuir e
elevar a posição de si mesmo e de seu povo. Era o mesmo na sociedade humana, que
respeitava aqueles que derramaram sangue por eles. Considerando que o status de seu
pessoal dependia muito de como Agu e seus dois amigos mostrariam seu valor, era na-
tural que ele estivesse tão entusiasmado por isso.
“Oh, não, mas é um pouco — ah. Mm. entendi. Então — Agu, eu tenho algo para confiar
a você e seus amigos, está tudo bem? Eu vou te dar meus itens alquímicos, então eu es-
pero que você os use com sabedoria.”
Nfirea abriu sua mochila. Dentro havia muitas garrafas e saquinhos de papel.
“Use estes e arremesse nos inimigos. Você errará se estiver muito longe, então tente
usá-las em alcance médio... pronto pra isso?”
Agu aceitou a bolsa e, enquanto esperavam, um dos Goblins gritou para eles.
“Tudo bem, força de defesa para suas posições! Ane-san, cuidado! Ani-san, você tam-
bém!”
“Sim! Entendi! Não morram, isso vale para todos vocês, por favor!”
Nfirea correu até Enri como sua escolta. O trabalho deles era inspecionar cada casa para
ver se alguém não havia notado a emergência.
“Força de autodefesa, para seus lugares. Esperem o inimigo entrar na área alvo.”
Não havia linha direta de fogo para os monstros do lado de fora do muro. Eles precisa-
riam atirar em uma parábola para fazê-lo, mas os amadores não podiam fazer isso e não
tinham tempo para treiná-los nesse nível. Portanto, os Goblins responsáveis pelo treina-
mento da força de defesa decidiram especializá-los em uma única tarefa.
Eles treinaram a força de defesa para acertar flechas no outro lado do muro. Isso signi-
fica aprender o quanto de força usar, e praticar o ângulo certo para atirar, a fim de acer-
tar com precisão uma área específica. Era um treinamento que seria completamente inú-
til fora de circunstâncias muito específicas. No entanto, uma vez que o objetivo do ini-
migo era derrubar o portão e eles estavam concentrados na frente dele para atacar o
portão, o treinamento se provaria muito eficaz.
Os gritos dos monstros se aproximaram, e o portão principal estremeceu sob uma série
de impactos que podiam ser sentidos nos muros próximos também.
“Força de defesa — aguardem! Não levante seus arcos até que seja ordenado!”
Eles foram orientados a não atirar enquanto o inimigo não tivesse chegado ao local em
que haviam passado incontáveis horas aprendendo a atirar. No entanto, no instante se-
guinte, todos que olharam para as torres entenderam a razão disso.
Rochas foram arremessadas do outro lado do muro. Cada uma tinha o tamanho de uma
cabeça humana.
Embora muitas tenham errado, até mesmo um golpe de sorte nas torres de observação
os fez tremer visivelmente.
“Cada um tem cerca de três pedras e cerca de vinte e uma pedras no total— whoa!”
Era verdade que a força de defesa estava fora de vista do inimigo e sua precisão seria
baixa. No entanto, se eles fossem azarados, um único golpe poderia matar pessoas.
Mesmo uma rocha mal atirada poderia ferir gravemente alguém.
Pode-se dizer que Jugem ordenou que eles não atacassem por segurança. Também mos-
trou que Jugem não queria que ninguém morresse antes que a batalha prolongada pu-
desse começar.
“Não vão achando que não podemos te derrotar só porque estão jogando pedras em
nós!”
Gurindai gritou com raiva, e começou a atirar novamente enquanto tecia através da sa-
raivada de pedras arremessadas. A força de defesa não conseguia tirar os olhos dele,
observando o modo como ele destemidamente respondia com disparos, mesmo sabendo
que seria gravemente ferido se fosse atingido. No entanto, Jugem não deu atenção a isso.
Ele rapidamente examinou o campo de batalha e encontrou novos inimigos em um ins-
tante.
“Kyumei! Cobras escalando no flanco esquerdo! Consegue lidar com isso sozinho?”
Kyumei, que estava parado na retaguarda, incitou seu lobo para frente. À sua frente
estavam as Cobras Gigantes subindo o muro.
Não havia necessidade de palavras de Jugem. Nenhum indício de medo podia ser visto
nas posições de tiro dos dois arqueiros no topo da torre de vigia. Embora a torre desa-
basse sob eles mesmo sem mais ataques, eles continuaram mirando nos monstros e pro-
vocando ataques de pedra. No flanco esquerdo, Kyumei parecia estar bem contra as co-
bras.
Essa voz era como o treinamento deles e, por um momento, os arqueiros da força de
defesa esqueceram que estavam no campo de batalha. Eles ignoraram o som das madei-
ras rangendo e executaram os mesmos movimentos que aprenderam durante a prática.
“Disparar!”
Quatorze flechas traçaram belos arcos pelo céu e desapareceram atrás do muro, tirando
mais gritos de dor dos monstros.
“Incrível.”
Murmurou para si mesmo, mas Jugem não teve tempo para se preocupar.
“Segunda onda preparar! — Não entrem em pânico! — Respirem fundo! Puxa — Solta!
Puxa — Solta!”
A esta altura, Shuringan e Gurindai foram curados e tomaram seus lugares na força de
defesa.
“Disparar!”
Mais uma vez, quatorze flechas voaram para a frente, seguidas um pouco depois por
outras duas. A porta rangeu mais alto quando os gritos do inimigo se intensificaram. As
flechas devem ter os deixado com raiva — e os fizeram bater mais forte.
A força de defesa moveu-se em grupo atrás das barricadas posicionadas atrás do portão
principal. Qualquer um que estivesse entrando ficaria preso nas barras e pontas do obs-
táculo. O arranjo estava em forma de “L”, levando os atacantes até onde Jugem e os Ogros
estavam esperando por eles. Para os intrusos, romper o portão seria como saltar da fri-
gideira para o fogo.
“Líder!”
Depois de mostrar que eles entenderam, Agu e seus companheiros de tribo se afastaram
como um só. Kyumei retornou após derrotar as Cobras Gigantes e se dirigiu imediata-
mente ao Goblin Clérigo para receber a cura.
Jugem zombou dos novos inimigos. Eles haviam cometido um erro fatal.
Os monstros só tinham quebrado um lado das portas. Uma vez que o lado estava para
baixo, eles desistiram de quebrar o outro lado e forçaram sua entrada, especialmente
porque tinham medo de ser atingidos por flechas se permanecessem do lado de fora. No
entanto, com apenas um lado por portão derrubado, eles só poderiam vir um de cada
vez, o que significava que muitos inimigos estavam presos na entrada. Além disso, eles
foram pegos no ângulo de uma emboscada em forma de L, onde todos os defensores
poderiam concentrar seus ataques em um pequeno número de atacantes de cada vez.
Os Ogros armados do vilarejo tinham uma vantagem em uma luta contra seus colegas
selvagens, e a força de defesa tinha lanças para ajudar. Qualquer Ogros que tentasse der-
rubar as barricadas seria derrubado pelos Arqueiros Goblins, a Goblin Maga e os itens
alquímicos de Agu. Os Goblins lidariam com qualquer fera que atravessasse o caos.
Uma substância úmida fluía do meio da lâmina até as bordas. Provavelmente alguma
forma de magia.
Certamente parecia assim. Seu corpo forte parecia ter sido treinado até que fosse tão
duro quanto o aço e era completamente diferente de qualquer Troll que Jugem conhecia.
De relance, ele podia ver como poderia estar a par com a Fera do Sul.
Apenas um Troll já exigiria que todos os Goblins unissem suas forças. Era um inimigo
mais difícil do que qualquer outro que já enfrentaram.
Parecia sem esperança. A melhor maneira seria cobrir a fuga de Enri. Se ela não qui-
sesse, então mesmo que eles tivessem que forçá-la—
“...Não, não é o melhor caminho. Esse é o pior caminho e nosso último recurso.”
“...Ei, vocês aí. Hoje jantaremos no inferno. Nem pensem em coisas infantis como recuar.
Marquem suas presenças heroicas nos olhos de todos!”
“Aqui vamos nós rapazes! Vamos mostrar a eles o poder dos rapazes da Ane-san!”
♦♦♦
Depois de circundar o vilarejo e confirmando que ninguém havia sido deixado para trás,
Enri soltou um suspiro de alívio. Só então, o som de algo quebrando veio da frente. Foi
seguido por gritos de batalha de ambos os lados, e os sons graves estrondosos agitaram
suas entranhas.
Enri também tinha sido treinada no uso de um arco, mas agora que o portão havia sido
quebrado, a batalha seria favorecida com o uso de lanças. Para ser honesta, mesmo que
Enri fosse lá agora, havia pouco que ela pudesse fazer.
“Eu não posso fazer isso. Escolhi liderar os Goblins e os aldeões e, enquanto puder, pre-
ciso fazer isso. Recuar até pode ser a coisa certa a fazer, não posso fazer isso.”
Ela tinha que ficar na linha de frente e ver como a batalha seria travada. Depois de ver
a convicção nos olhos de Enri, Nfirea afastou o cabelo para revelar suas feições ríspidas.
A expressão séria no rosto normalmente calmo de seu amigo de infância fez o coração
de Enri bater de formas estranhas e maravilhosas.
“Mm? O que há de errado, Enri? Eu sei, não sou tão legal quanto o Gown-san, mas eu
não vou deixar você morrer.”
Ao ver seu amigo de infância lutando pelas palavras para usar, como ele sempre fazia,
Enri sorriu.
“Vamos, Enfi!”
Os dois correram para o portão da frente. Como tinham começado a correr do portão
traseiro, que ficava mais distante, levariam algum tempo para chegar lá, mesmo que cor-
ressem em alta velocidade. E se chegassem lá sem fôlego, eles só entrariam no caminho
se a luta estivesse acontecendo. Para não deixar que a pressa excessiva acabasse os atra-
sando, eles prosseguiram a uma velocidade moderada.
As palavras de Nfirea foram cortadas pela metade e sua boca ficou aberta. Enri se virou
freneticamente para olhar o que o surpreendeu e acabou fazendo a mesma expressão.
Algo estava subindo lentamente no muro. Algo que não poderia ser um ser humano.
Quando ela ouviu Nfirea sussurrar essas palavras, Enri olhou para o monstro emer-
gente.
“É a primeira vez que eu vejo um, é exatamente como ouvi que seria. Se isso é realmente
um Troll, estamos com graves problemas... Trolls são oponentes que até mesmo os aven-
tureiros ranques ouro teriam dificuldade em vencer. E sendo sincero, até o Jugem e os
outros também teriam dificuldade.”
Enri sentiu o sangue escorrer enquanto ouvia falar de algo mais forte do que o ser mais
poderoso do vilarejo. O Troll que estava revelando sua silhueta maciça bufou, e lenta-
mente olhou em volta, nos arredores.
“Enri, os Trolls têm olfatos muito sensíveis. Tudo bem por agora, já que estamos a favor
do vento, mas é cedo demais para relaxar. Você precisa sair daqui... depois se encontrar
com os Goblins.”
“Eu não posso, Enfi. Se a gente deixar esse cara avançar rumo ao portão, todos morrerão
no ataque de pinça.”
Entre a lacuna no cabelo, os olhos de Nfirea olharam para Enri como se ela tivesse en-
louquecido. Com certeza, Enri percebeu que acabara de pedir que os dois fizessem o im-
possível, mas não havia outro jeito.
“Não precisamos vencer ou derrotar. Nós só precisamos atrasar. Enfi, por favor, me em-
preste sua força.”
“Como vamos atrasar isso? Atrair esse cara para longe? Eu até poderia lutar direta-
mente... mas duvido que algum ataque meu cause algo.”
As palavras calmas de Nfirea revelaram uma determinação calma dentro dele. Em res-
posta, Enri apresentou seu plano.
♦♦♦
O Troll olhou brevemente para uma casa de madeira feita pelo homem e começou a se
mexer.
Todas as casas cheiravam a seres humanos macios e deliciosos, mas sabia que era ape-
nas um resquício de aroma. Depois de verificar que não havia outros aromas na área,
começou a caminhar na direção de onde vinha o som da batalha. O som de humanos
lutando contra seus irmãos o fez babar, e imaginou os humanos que estariam lá.
Como gourmet entre os Trolls, ele amava os membros carnudos e não gostava das en-
tranhas amargas. Portanto, era raro que pudesse se satisfazer, mas agora parecia que
teria a chance de fazer exatamente isso.
Havia Ogros.
Ele franziu a testa. Embora os Ogros fossem seus aliados, havia uma ligeira diferença
no cheiro que estava captando. Foi um dos que ele não tinha memória anterior. E agora
vinha de trás da casa, cercando-o.
É claro que não chegara a essa conclusão porque seu olfato era tão sensível quanto o de
um cão de caça, mas porque lembrava o odor único de seus aliados Ogro. Como tal, não
sabia quantos Ogros havia.
E isso trouxe uma questão. Havia um cheiro misterioso aqui também, como o cheiro de
grama esmagada, mas muito mais forte.
Ele ponderou sobre essa questão e ficou confuso. O forte odor de ervas pungiu seu nariz
e suas lágrimas estavam prestes a fluir. Se os Ogros podem suportar esse mau cheiro,
deve ter sido porque tinham um olfato ruim.
Isso poderia levá-los cara a cara. Por ser um Troll, era muito mais forte que qualquer
Ogro. No entanto, isso não significava que poderia escapar ileso, e levaria tempo para
lidar com eles.
Desde que a oposição se dispersou, eles devem estar planejando atacar todos de uma
vez quando se moverem para atacar.
Seu objetivo era destruir todos eles rapidamente. Assim, o fato de seus oponentes terem
se separado foi uma oportunidade de ouro. Tudo o que precisava fazer era matar os
Ogros um por um, começando com o que estava à beira do grupo.
Em contraste com o Troll que havia sido surpreendido pela inação, o humano de capa
espirrou algo sobre ele.
“Uguooooaaaahhh!”
O Troll gritou do fedor avassalador. O material verde emitia um poderoso fedor que
penetrava em seu nariz. Esse cheiro era várias vezes mais forte que o dos Ogros man-
chados de grama.
Mesmo que pudesse se regenerar, isso não era uma ferida que poderia curar. Simples-
mente não aguentava o cheiro. Seus olhos lacrimejaram e deu um passo em direção ao
humano, mas já havia corrido para dentro da casa.
A razão pela qual o humano conseguiu chegar tão perto, apesar do senso de olfato do
Troll, era porque o cheiro do humano tinha sido mascarado pelo cheiro da grama esma-
gada.
Irritado com a perda de seu alvo, o Troll retornou ao seu alvo anterior — os Ogros.
Primeiro, mataria os Ogros e então descobriria aquela comida tentadora (humanos),
pensou o Troll.
O Troll circulou a casa com raiva, mas não encontrou nenhum sinal dos Ogros. Era como
se tivessem desaparecido no ar.
“Guuuuu, onde?”
A criatura olhou em volta. Os Ogros eram grandes, apesar de serem menores que um
Troll, mas mesmo assim nenhum Ogro era visto. Uma vez que movessem seus corpos
maciços, o Troll eventualmente deveria tê-los visto. Poderia aqueles Ogros insignifican-
tes ficarem invisíveis assim como seu mestre? O Troll estava confuso com outra situação
que não conseguia descobrir e bufou.
No entanto, o forte cheiro de ervas que subiam de seu próprio corpo interferia em seu
olfato e não podia seguir a trilha do cheiro dos Ogros.
“Guuuuuuuuuu...”
O Troll gemendo raspou experimentalmente o fluido em seu corpo. Desta vez, seus de-
dos fediam. Olhando em volta, o Troll encontrou um pedaço de pano caído no chão.
Ele tinha confundido este pano que fedia a Ogro como sendo um Ogro.
“Humanos!”
Rugindo com raiva, o Troll começou a olhar em volta dos arredores. Sem humanos. En-
tão eles ainda devem estar em suas casas.
O punho do Troll bateu furiosamente em uma casa próxima e, depois de martelá-lo vá-
rias vezes, estendeu a mão para arrancar o teto, com a intenção de destruir o interior.
♦♦♦
O alvo (o Troll) estava perseguindo-a. Isso significava que o plano estava funcionando.
Embora fosse grata por isso, seu coração estava à beira de apoderar-se e ela queria cho-
rar. Um monstro gigantesco e devorador de homens a pressionava a correr, e esse jogo
de pega-pega — se ela perdesse, ela desapareceria na garganta daquele monstro — era
algo que levaria uma garota comum a lágrimas.
O fato de não saber quanto tempo teria para jogar esse jogo a fez querer chorar muito
mais.
Se soubesse quando terminaria, ela poderia ter sido capaz de continuar fugindo até o
final. No entanto, ela não sabia quando a batalha no portão terminaria ou se alguém ha-
via notado esse jogo mortal de gato e rato, e sempre que pensava sobre essas coisas des-
confortáveis, sentia sua força se esvaindo.
Enri lamentou não enviar alguém para o portão principal para fazer um relatório, mas
os preparativos demorariam demais.
Ela correu com todas as suas forças, correndo para a casa onde Nfirea estava esperando.
Por sua vez, Nfirea saiu correndo pela porta dos fundos, usando a mesma capa de antes.
Enri prendeu a respiração, engolindo em seco e esperando que o inimigo não tivesse
notado o esquema deles. O Troll continuou perseguindo Nfirea, não tendo notado o cha-
mariz.
Trolls eram muito superiores aos humanos em resistência, comprimento de passo e ca-
pacidade física, portanto, uma única pessoa fugindo definitivamente seria capturada. A
fim de recuperar a resistência e se mover por longos períodos, eles decidiram mudar um
com o outro sem deixar o inimigo perceber. Isso foi planejado para comprar tempo e
evitar que ele chegasse ao ponto de encontro onde as pessoas estavam.
Como os Trolls podiam distinguir os humanos? Talvez, se vivessem juntos por tempo
suficiente, teriam algumas maneiras, mas isso não era tempo suficiente. Praticamente
falando, seria pela aparência, especialmente roupas. Como tal, Nfirea e Enri tinham
usado as mesmas capas de chuva e ponchos.
Em seguida, eles tiveram que evitar que se diferenciasse entre os dois através de seu
olfato, e o suco de ervas foi para desativar seu olfato aguçado.
Enri havia preparado duas armadilhas baseadas no cheiro — uma era usar o fedor de
Ogros para detê-lo no meio do caminho, e a outra estava usando o fedor das ervas para
desorientá-lo.
Depois que ela conseguiu manter sua respiração sob controle. Enri começou a se mover
furtivamente para a próxima casa.
Ela entrou no interior escuro da casa, espiando a situação do lado de fora. Com um som
de *dong*, Nfirea correu para dentro à toda velocidade. Nesse momento, Enri saiu cor-
rendo pela porta dos fundos por onde entrara.
Mas então Enri percebeu que o Troll não a estava seguindo, embora ela tivesse fugido
da casa.
O Troll bufou, depois olhou entre Enri e a casa. Sua cara feia se contorceu ainda mais.
Ela adivinhou que o olhar em seu rosto poderia ser surpresa.
Suor frio escorria no pescoço de Enri. Ela se tocou inconscientemente, quando sua mão
retornou, estava fria e molhada.
O Troll se acostumara com o cheiro das ervas, e agora suspeitava do cheiro do suor.
Parecia ter percebido que havia dois humanos.
O Troll levantou a mão e a moveu para a casa. Nfirea correu novamente. No entanto,
seus passos pararam, e ele não parecia que ia fugir.
“É certo que vai nos alcançar! Mesmo se usarmos as casas como escudos!”
“Eu sou mais forte, então há uma chance maior de eu sobreviver se me usar como cha-
mariz!”
Nfirea conjurou uma magia e seu próprio corpo foi envolvido por uma bolha de luz su-
ave e bela.
O que ele disse fez muito sentido, e ela não pôde refutá-lo. Vendo isso, Nfirea sorriu
novamente.
Nfirea se virou para o monstro feroz, erguendo o punho e apontando o polegar para si
mesmo.
“Vamos lá, grandalhão, eu brinco com você! Venha, se for forte o bastante! 「Acid Ar-
row」!”
O Troll fixou seus olhos enlouquecidos pela raiva em Nfirea. Não prestou mais atenção
a Enri.
♦♦♦
Era uma batalha tão desesperadora que ser capaz de aguentar um minuto sequer era
digno de elogios.
Nfirea sorriu amargamente enquanto observava o Troll, que se aproximava com cautela.
Sem poder regenerar danos causados por ácido e fogo. O Troll foi especialmente cuida-
doso em torno de Nfirea, que poderia inviabilizar sua maior vantagem. Poderia ter ven-
cido imediatamente se tivesse feito uma investida, ainda mais dadas as circunstâncias,
Nfirea não pôde deixar de rir.
“Se funcionasse, eu poderia ter aguentado um pouco mais... não tive essa sorte. Ahh, que
pena.”
Nfirea parecia ter desistido. Isso porque era uma batalha completamente invencível,
que havia cruzado a linha da bravura e imprudência. Mas mesmo assim—
Sem perder de vista o Troll com o braço esquerdo erguido, ele correu para a frente e
para a esquerda. Buscando a vida na morte, ele mergulhou de cabeça no perigo para
alcançar a segurança além dela. O punho do Troll o seguiu, e o vento de sua passagem
bagunçou seu cabelo. E na frente de Nfirea, uma poderosa perna o chutou como uma
parede em movimento.
A visão de Nfirea girou descontroladamente enquanto ele voava pelo ar, seu corpo fazia
sons estridentes como galhos quebrados de árvores.
Ele bateu no chão com força e rolou várias vezes, como um pedaço de lixo jogado fora.
Ele se agarrou à vida foi por causa dos efeitos de sua magia defensiva e do fato de que
o pé do Troll estava sem proteção de armaduras quando o chutou. Ignorando a dor que
o atravessava a cada respiração, Nfirea se levantou e lançou outra magia.
“「Acid Arrow」!”
Houve momentos em que não queria encarar os fatos, mas a situação obrigava a pessoa
a fazê-lo. Essa era uma situação dessas.
—Era que ele morreria aqui. Não havia dúvida de que morreria.
Ele queria correr. Talvez se ele corresse com todas as suas forças, ele poderia escapar.
Mas se isso acontecesse, que tipo de tragédia ocorreria?
“Bem, eu me confessei a Enri... eu não. Eu não quero morrer antes de ouvir a resposta.”
O Troll se aproximando sem parar não conseguia entender o coração de um jovem apai-
xonado.
“—「Acid Arrow」!”
Tudo o que Nfirea podia fazer era ferir o Troll, a fim de facilitar as coisas para seus
aliados que enfrentariam o Troll depois dele.
O Troll ergueu o punho, o rosto torcido pela dor de ser queimado pelo ácido. Nfirea —
que estava com dor, mesmo permanecer em pé já consumia toda sua força — não tinha
como resistir ao próximo ataque.
♦♦♦
A razão pela qual eles se encontraram não foi porque Enri havia chegado ao portão
principal, mas porque Enri e Nfirea não haviam retornado, e os uivos que vinham da
retaguarda preocuparam Jugem o bastante para mandar três Goblins para investigar.
Se eles pudessem ter percebido antes, os Goblins teriam salvado ela e Nfirea. Como Enri
pensou, seu coração estava retalhado pela culpa.
“Lá!”
Enri apontou para Nfirea, na frente deles. E elevando-se sobre ele, o Troll levantava o
punho.
Eles não podiam alcançá-lo para ajudar. A distância era longa demais.
A mão do Troll caiu como um raio. Poderia destruir uma casa em um único golpe. Nfirea
seria morto além de qualquer dúvida razoável.
Sua resposta fora do lugar levou Enri a abrir os olhos com medo.
Lupusregina carregava uma enorme arma que parecia uma espécie de símbolo religioso
exagerado, segurando-a e usando-a como um escudo para bloquear o punho do Troll. O
tamanho da arma e o braço esguio da empregada pareciam completamente incompatí-
veis ao ponto da surrealidade, mas isso não era um sonho ou uma ilusão.
“Então, eu cuido desse grandalhão... Oh, espere ~su. Você está ferido, Enfi-chan.
「Heal」.”
O Troll recuou da cena incompreensível diante dele. O golpe no qual ele havia colocado
toda sua força fora bloqueado por um humano, de modo que sua reação era apenas es-
perada. Não, talvez achasse que havia algum tipo de magia trabalhando aqui.
Nfirea tinha um olhar atordoado no rosto quando virou as costas para o Troll e saiu
mancando. Era uma postura completamente desprotegida, mas o Troll não pressionou o
ataque. Não, não podia simplesmente ignorar a recém-chegada que havia assumido o
lugar de Nfirea.
“Enfi!”
Sua resposta fraca, como se estivesse sonhando, disse à Enri que ele estava no limite.
Embora ele estivesse fora de perigo, ele ainda sofreu grandes danos mentais.
“—V-você também.”
Enri sentiu o calor voltar ao seu coração, substituindo o frio que a preenchera no mo-
mento que pensara que Nfirea havia morrido.
“Eu também.”
Nfirea estendeu os braços para abraçar Enri em retorno. Embora eles estivessem abra-
çando um ao outro com força, parecia muito confortável.
“...Idiota.”
“Lupusregina-san!”
Enri deixou a força fluir de seus braços e, ao mesmo tempo, Nfirea afrouxou o aperto.
Sentindo-se um pouco desapontados, ambos olharam para Lupusregina.
“O Troll—”
Mudando sua linha de visão, Enri viu algo que era difícil de descrever.
“Ah, is~su? Parece um hambúrguer cru, não é? Tudo o que precisa é de um bom chur-
rasco.”
Uma bola de carne salpicada de sangue se mexeu e se contorceu sob a ponta ensanguen-
tada do Crosier de Lupusregina. Não havia nada sobre a pilha de carne picada que suge-
ria que outrora fôra um Troll. No entanto, o que se tornou repugnante foi o fato de que
ele estava se regenerando lentamente e ainda respirando.
“Ahhh bem~ ainda bem que estão bem ~su. Acho que dou conta de limpar as coisas por
aqui ~su.”
Enri ouviu as vozes dos Goblins se aproximando. Parecia que a batalha pelo portão prin-
cipal havia sido vencida.
“E lá vem ele~”
Parecia que fogo havia descido do céu quando um pilar de chamas vermelhas engolfou
o Troll, produzindo o fedor de carne queimada.
“E era uma vez um Troll ~su. Já que meu trabalho terminou, vou indo nessa ~su. Ah,
Enfi-chan, Ainz-sama quer te recompensar por ter criado aquela poção roxa, então te
convidou para a casa dele. Espero que seus assuntos estejam em ordem ~su. Ou quer
que eu diga algo mais ~su?”
“Muito obrigada!”
Lupusregina não parou nem retrocedeu em resposta à gratidão gritada de Enri, apenas
acenou com a mão.
Pensou Enri, mas sua preocupação com Nfirea anulou isso, por isso ela lhe emprestou
o ombro para se apoiar.
“Haaaa.”
Os dois suspiraram juntos. Então, os dois olharam quase simultaneamente para o céu
noturno.
“Mmm.”
“Mmm.”
“Mmm.”
O silêncio fluiu entre os dois. Enri de repente falou as palavras em seu coração.
“Eu não sei se isso é amor ou não, mas eu não quero que você vá para longe de mim,
Enfi.”
“...Mmm...Mmm.”
“Isso é amor?”
Enri e Nfirea não disseram mais nada, apoiando-se ombro a ombro e observando as
estrelas até os Goblins chegarem—
A Comentou Jugem sobre a aparência de Enri quando ele entrou em sua casa.
Quando perguntou a Jugem, Enri olhou para o vestido que estava usando — um dos
melhores que tinha, ela normalmente o reservava para o festival da colheita.
“Mesmo!”
Com um rosto vermelho, Enri olhou para Jugem e Nemu enquanto sorriam. Ou melhor,
o sorriso de Nemu não era apenas travesso, mas totalmente malvado.
Desde que o relacionamento de Enri e Nfirea deu um passo à frente, eles vinham obser-
vando-os com cada vez mais frequência. No entanto, ela percebeu que dizer qualquer
coisa sobre isso só iria envergonhá-la ainda mais, então sabiamente escolheu manter a
boca fechada.
No entanto, fingir que não acontecia também era perigoso. Especialmente para Nemu.
Às vezes, sua irmãzinha fazia perguntas que ela não conseguia responder.
Parece que ela amadureceu mentalmente nos últimos dias... talvez eu devesse pedir ajuda
ao Enfi sobre isso...
“Umm, ghrun! Falando nisso, Jugem-san, pode usar bem essa espada mágica? Ouvi dizer
que não é como as espadas normais, e que usar isso cansa muito.”
A enorme espada que Jugem estava segurando foi obtida no ataque há vários dias.
“Eu me acostumei com o peso da espada e o centro de gravidade, posso usá-la assim
como a minha antiga espada. Seu fio e assim por diante são muito melhores que a outra,
como esperado de uma arma mágica. No entanto... esse veneno aqui enfraquece as pes-
soas que corta, mesmo assim, é um pouco estranho...”
“Bem, não é um veneno tão forte. Alguém no meu nível pode resistir facilmente. No en-
tanto, contra adversários mais fracos...”
“Que foi?”
“Ah—”
Jugem disse enquanto olhava para o teto, falando com uma voz irritada:
“Eu estava pensando no Troll de quem eu peguei essa espada. Alguma coisa não se en-
caixa.”
“O cadáver não parece diferente de um Troll normal. Talvez fosse um Troll mutante?”
“Não, não, eu não quis dizer isso, Ani-san. De seus movimentos, sua falta de regeneração,
o modo como eu senti quando eu cortei... parecia estranho... isso é certo, parecia com um
corpo que já estava morto. Algo bizarro e agourento assim.”
Com o sol às suas costas, Lupusregina entrou prontamente na casa de Enri. Enquanto
Enri e os outros observavam em silêncio atordoado, um som agudo veio do topo da ca-
beça de Lupusregina.
“Ah, ow!”
“Sua idiota. Como pode ser tão rude? Caros convidados, peço desculpas por ela.”
“Sou a empregada de Ainz-sama, Yuri Alpha. Estou aqui para conduzir Nfirea-sama,
Enri-sama e Nemu-sama. Peço desculpas pela intrusão.”
A mulher que entrara com Lupusregina tinha uma beleza sobrenatural, assim como a
Lupusregina.
Epílogo
154
“Te-teletransporte? Pode se teletransportar!?”
Nfirea estava praticamente gritando. Embora Enri não soubesse o porquê Nfirea estava
tão surpreso, ela podia adivinhar que era algo grandioso.
Acho que foi incrível teletransportar o Capitão Guerreiro e seus homens aquela vez.
“Ah não. Este não é o meu poder, mas o de um item mágico que o Ainz-sama concedeu
a mim.”
“...A trombeta, as poções também. Ele é incrível. Ele é tão incrível que não tenho idéia
do que está acontecendo.”
Os ombros de Nfirea caíram. Percebendo uma oportunidade, Enri decidiu fazer uma
pergunta.
Hoje foi o dia em que o salvador do vilarejo, Ainz Ooal Gown, convidou Nfirea para sua
casa. No entanto, ela se sentiu desconfortável quando soube que até uma mera garota do
vilarejo, como ela, poderia acompanhá-lo. Seu anfitrião era um poderoso magic caster, e
eles eram pessoas que viviam em mundos completamente diferentes. A idéia de que ela
pudesse acidentalmente fazer algo rude fazia seu estômago doer.
“Relaxa ~su. Será celebrado a nova invenção do Enfi-chan, então a sua namorada, En-
chan, pode vir, tem problema não. Foi o Ainz-sama também disse isso, ele sabe das coisas.
Não esquente a cabeça com formalidades.”
Yuri suspirou com um “Haaa...”, então caminhou até a frente de uma parede próxima.
De repente, um gigantesco armário de madeira apareceu, como se fosse do nada. Era
grande o suficiente para as pessoas passarem com facilidade, e seu exterior era intrin-
secamente esculpido, parecia um armário decorativo.
“...Isso é uma dimensão de bolso? Não, isso é muito grande, deve ser uma magia de nível
maior.”
“Por favor, entrem. Lupus, posso confiar a segurança deste lugar para você?”
“Claro ~su.”
Ela foi seguida por Nfirea, um pouco depois veio Enri, que segurava firmemente a mão
de Nemu.
Não houve resistência quando passaram pela parede à frente deles, e se encontraram
dentro de um vasto e grandioso caminho, ladeado por estátuas dos dois lados que pare-
ciam tão reais que poderiam até se mover.
“Uwah~”
Nemu exclamou suavemente enquanto olhava para o teto, a boca tão larga quanto os
olhos. Enri a segurou para evitar que caísse, e ela olhou para cima também.
“Surpreendente...”
Era uma passagem de aparência digna, cujo piso era feito de rocha polida, sobre a qual
havia sido colocado um tapete colorido que os guiava para o caminho a seguir. Enri ficou
muda de admiração; ela imaginou que isso deveria ser como os palácios pareciam.
A voz de Yuri tirou-a do seu torpor e pensou em correr um pouco para alcançar as duas
pessoas à sua frente. Mas como isso seria inteiramente inadequado para um lugar como
este, Enri apenas acelerou os passos para avançar rapidamente.
Depois de caminhar por uma curta distância, uma parede apareceu com uma porta de
armário sobre ela, semelhante à que eles tinham usado para entrar. No entanto, havia
duas diferenças principais. A primeira foi que essa porta era várias vezes maior que a
primeira, grande o suficiente para várias pessoas entrarem ao mesmo tempo. A segunda
foi porque não conseguiam ver o que havia dentro, apenas uma película colorida, fina e
cintilante.
Enri e Nfirea seguraram as mãos. Da esquerda para a direita estavam Nemu, Enri e
Nfirea, e juntos eles entraram pela porta.
Epílogo
156
Em um instante, em meio a uma chuva de pétalas cor-de-rosa, havia uma visão de uma
mulher com roupas vermelhas em cima e brancas em baixo—
“Sejam bem-vindos~”
Olhando ao redor, eles chegaram em um corredor ainda mais luxuoso, com duas fileiras
de empregadas surpreendentemente bonitas flanqueando-as em ambos os lados. No fi-
nal de uma passagem estava um homem com um manto preto que parecia sugar toda a
luz ao redor dele, usando uma máscara bizarra. Ele era o salvador do vilarejo, Ainz Ooal
Gown.
Uma passagem magnífica e empregadas bonitas todas em duas fileiras. Era como entrar
em um mundo de fantasia.
Nemu gritou ao topo de sua voz enquanto corria. Ela correu pelas duas fileiras de em-
pregadas e em direção a Ainz.
Diante de um mundo que sobrecarregava sua capacidade emocional, ela não conseguia
mais se controlar e se deixar correr solta.
“Nemu! Volte!”
Enri começou a correr uma fração de segundo depois. Ela começou a suar com o com-
portamento vergonhoso de Nemu.
No entanto, este era um reino divino, onde ela era ladeada por belas empregadas. O som
de seus passos como uma garota do vilarejo correndo a fez hesitar. Os passos autocon-
traditórios de Enri revelavam como ela se sentia e, no final, ela mancava como um sapo
moribundo.
“Siiim! É incrível!”
A essa altura, Nfirea e Enri haviam chegado nervosamente aos dois. Enri apertou firme-
mente a mão de Nemu, determinada a nunca soltar.
“Não há necessidade de tal formalidade. Estamos aqui para celebrar a produção de sua
nova poção. Fiquem à vontade.”
“Gown-sama, eu realmente sinto muito. Minha irmã, Nemu, foi rude com o senhor.”
“Não se preocupe, não leve isso para seu coração. Ela ficou comovida com a visão da
minha residência, não foi? Então isso não é um insulto para mim.”
“Então... eu pretendia falar com o Nfirea-kun, mas depois disso... Nemu, o que me diz?
Você quer ver a casa que eu, não, nós criamos juntos?”
“Sim! Eu quero ver! Eu quero ver a casa incrível que o Gown-sama e seus amigos fize-
ram!”
“Hahaha. Muito bem, muito bem! Existem muitos lugares belos que te mostrarei.”
Epílogo
158
Enri não pôde falar quando viu o bom humor em que Ainz estava.
♦♦♦
Ela se sentou em uma poltrona reclinável, lembrando que lhe pediram para esperar na
sala de recepção, enquanto Nemu conhecia os arredores.
Em vez de dizer que foi convidada para cá, seria mais correto dizer que ela era como
um pequeno animal que havia sido retirado de seu ninho. Ela sentou-se desconfortavel-
mente e olhou em volta. Ao lado dela — apesar do tamanho desse lugar, os dois se enca-
raram — seu amado Nfirea também não conseguiu se manter imóvel, como um pequeno
animal.
Enri podia entender que o salvador, o magic caster conhecido como Ainz Ooal Gown,
era um ser poderoso, mas o que ela tinha visto hoje foi além de suas mais loucas imagi-
nações. Era como se ela tivesse entrado em uma paisagem brilhante, ou uma história
onde princesas e outras grandes figuras ocupassem o centro do palco.
A lareira estava decorada com pássaros de vidro que haviam sido esculpidos para a
perfeição real. Se ela quebrasse um, ela poderia trabalhar toda a sua vida e ainda ser
incapaz de pagar por isso.
O sofá em que ela estava sentada era excelente, e Enri se perguntou se ela estava o su-
jando com suas roupas.
O candelabro, o primeiro que ela vira em sua curta vida, não era iluminado por tochas,
lanternas ou velas, mas por magia. Ela tinha visto luzes mágicas antes na Guilda dos
Aventureiros de E-Rantel, mas elas não podiam se comparar em brilho ou estilo.
A mobília era de bom gosto e emanava luxo. De particular interesse era a robustez da
mesa de ébano diante dela. Mesmo que Enri não tivesse idéia de como esse tipo de coisa
era valiosa, ela ainda era capaz de dizer que essa era uma peça muito custosa.
Até o carpete no chão fez Enri hesitar em pisar nele com os sapatos. Era tão suave que,
quando se sentou no sofá, imaginou se deveria levantar os pés para que não tocassem
no chão.
Embora ela não pudesse recusar Ainz, a idéia de Nemu ir sozinha fez seu estômago fer-
ver de ansiedade.
“Vai ficar tudo bem, não se preocupe. O Gown-sama é muito generoso. Acho que ele
ignorará qualquer pequena grosseria de uma garotinha.”
“Mm, mas, você sabe como as coisas são, se irritar um nobre, você será executado...”
“Já ouvi falar disso, mas para ser sincero, nunca vi isso antes. E-Rantel e os territórios
circundantes são administrados pelo próprio Rei, então eu não acho que os nobres se
atrevam a fazer algo assim... será o Gown-sama um nobre?”
“Ele, não é? Qualquer um com uma mansão tão luxuosa e tantas empregadas bonitas
teria que ser um nobre poderoso, não? Não há como reunir todas essas coisas de outra
forma.”
“Mmm? Será mesmo? Para ser sincero, não acho que até mesmo um nobre possa reunir
belas empregadas como estas.”
Ela foi a primeira a dizer que as empregadas eram bonitas, mas quando Nfirea disse
isso a fez se sentir com ciúmes. Assim como ela estava pronta para encarar Nfirea —
houve uma batida na porta.
“Hiiiee!”
“Me desculpe.”
O modo como Nfirea dera a resposta correta com Enri, tão confusa e misteriosa, e o que
entrou foi uma empregada empurrando um carrinho de prata. Ela era uma mulher bo-
nita, vestida com roupas limpas e imaculadas que até mesmo um amador podia reconhe-
cer como uma roupa de empregada de alta classe. Um sorriso gentil e caloroso adornava
seu rosto. No entanto, Enri estava preocupada que a qualquer momento isso iria se
transformar em uma expressão de raiva quando ela exclamasse: “O que vocês estão fa-
zendo!?”.
Epílogo
160
“N-não, obrigada!”
O rosto da empregada exibiu uma confusão atordoada por um momento enquanto ela
analisava a resposta rápida de Enri. Então ela virou o olhar para Nfirea e depois de volta
para Enri.
“Ah sim.”
Talvez ela sentisse como Enri estava tão tensa que seu corpo tinha congelado, ou o ner-
vosismo inato de Nfirea, mas a empregada sorriu, doce e gentilmente. Ela disse um sim-
ples “Peço desculpas”, e sentou-se ao lado de Enri. Então gentilmente colocou a mão no
ombro petrificado de Enri.
“Emmot-sama, por favor, não fique tão tensa. Tanto Emmot-sama como Bareare-sama
são hóspedes aqui, então tudo que precisa fazer é ficar à vontade e relaxar.”
“Por favor, fique à vontade. Ainz-sama não se incomodará, mesmo que os objetos aqui
estejam danificados.”
Até mesmo pensar sobre o custo das coisas que ela podia ver em um rápido olhar ao
redor da sala fez sua cabeça doer. Como ela pararia de pensaria que tais itens não eram
grande coisa?
“Iss-isso eu sei.”
Afinal, ele era o tipo de homem que podia distribuir itens valiosos e potentes, como
aquelas trombetas.
“É por isso que eu gostaria que a senhorita ficasse à vontade. Danos deliberados à parte,
Ainz-sama irá sorrir e perdoá-los por quaisquer acidentes. E mesmo que algo esteja da-
nificado, pode ser consertado com magia.”
“Compreendo. Então, por favor, tome uma bebida. Dessa forma, a senhorita poderá re-
laxar.”
Enri olhou para o serviço de chá no carrinho de mão prateado. Eles eram primorosa-
mente feitos de porcelana, com bordas de ouro, e o verso era um azul profundo vibrante,
com desenhos intrincados. Eles pareciam delicados o suficiente para Enri se preocupar
que no momento em que ela os tocasse, quebrariam imediatamente.
“Entendido... hmm. A fragrância e o sabor do chá de ervas pode divergir de pessoa para
pessoa. A senhorita preferiria chá preto tradicional?”
“S-sim, obrigada.”
A empregada sorridente preparou o chá para eles com movimentos graciosos e elegan-
tes. Depois de enxaguar as xícaras com água quente, ela serviu o chá. Além disso, colocou
mais dois pequenos contêineres diante deles.
Enri abriu o pote de açúcar. O que ela viu foram sólidos brancos que pareciam nada
mais do que neve em pó. A garota do vilarejo colocou vários cubos de açúcar no copo,
seus movimentos pareciam com um autômato feito por uma criança, mexendo-os até se
dissolverem. Depois disso, ela acrescentou leite. Então, Enri tomou um gole e sentiu que
seu rosto ia derreter.
“Do-doce!”
“Mm. Acho que adicionar açúcar faria isso. Não é sempre que dá para provar coisas do-
ces no vilarejo e também não criamos abelhas... se não me engano, só tem algo parecido
com xarope, né? Eu lembro que havia magia de fazer especiarias, mas isso é algo com-
pletamente diferente...”
Depois de ouvi-lo dizer “Ah, hum, sim” e fazer outros ruídos, Enri tomou outro gole do
chá avermelhado, e o doce sabor deixou seu coração se acalmar.
Epílogo
162
“Ainz-sama e sua irmã mais nova retornaram.”
Quando a porta se abriu, Nemu entrou correndo, seu rosto estava radiante de felicidade.
Ainz seguiu atrás dela.
Enquanto Nemu abraçava sua irmã pela cintura, Enri se levantou para se curvar a Ainz,
o tempo todo tomando cuidado para não deixar os pés de sua irmãzinha sujarem o sofá.
“Gown-sama! Peço desculpas por qualquer grosseria que minha irmãzinha tenha feito
com o senhor!”
“Certamente não. Sou eu quem devo desculpas por ficar com ela por tanto tempo.”
Ainz acenou com a mão para indicar que não era um problema.
“Isso é para garantir que meu acordo com o Nfirea-kun mais tarde seja favorável para
mim.”
“Para começar, não tenho intenção de vender abertamente a poção que você fez. Ou
melhor, sem os ingredientes que eu forneço, você não pode fabricar a poção roxa. Con-
corda?”
“Correto. Tem sido difícil chegar até aqui, mesmo quando estamos usando o material
fornecido pelo senhor, Gown-sama. Ainda há muitos fatores desconhecidos, como o po-
tencial e os outros efeitos.”
Enri respondeu em seu coração. Quando eles ouviram o rugido monstruoso vindo de
trás — feito pelos Trolls a Enri e Nfirea — os Goblins simplesmente não tinham tempo
nem a habilidade de aprisionar ninguém, e apenas terminar a luta já exigiu muito deles,
não havia inimigos sobreviventes.
“Certo. Bem, isso é uma pena... Eu considerei as razões pelas quais seu vilarejo possa
ter sido atacado, e foi o que eu acabei de dizer. À medida que as defesas do vilarejo se
tornarem mais fortes, isso criará mais problemas. Quando um objeto é mais valioso, será
desejado por mais pessoas, não? Da mesma forma, se as notícias da poção vazassem...”
“Fico feliz que entenda, Nfirea-kun. Se pudéssemos fazer a poção vermelha usando ape-
nas os ingredientes do vilarejo, não haveria razão para manter isso em segredo... isto é,
tudo o que discutirmos depois do jantar terá de ser mantido estritamente confidencial.
Diz respeito ao dever de guardar um segredo. Então, os preparativos para a refeição se-
rão finalizados em breve. Devemos?”
“Ah, não, não há necessidade, como poderíamos participar de algo tão chique...?”
“...Bem, embora eu não vá forçá-la... sabia que preparamos o filé du d’dragão para um
prato principal, não é?”
“Dragão?”
Dragões. Em todas as histórias que Enri ouvira, eles eram inimigos da humanidade, mas
alguns deles eram amigos da justiça. No entanto, não importa em que histórias eles apa-
recessem, eles sempre foram seres poderosos. Poderiam tais seres se tornar comida?
Impossível. Só poderia ser uma brincadeira. Se Ainz não tivesse sido o único a dizer isso,
ela teria pensado assim.
No entanto, uma vez que era um grande magic caster na frente dela dizendo isso, isso
significava que havia uma grande chance de ser verdade.
Epílogo
164
“Também temos sobremesas. Já tomou sorvete? Apesar de E-Rantel ter alguns... não
acho que os de lá sejam como os nossos. Eles são gelados e doces... e derretem na boca.
Algo como gelo doce ou neve.”
“Isso é um luxo da alta classe. Apenas um deles custaria mais do que um dia de comida.”
“Parece que você já experimentou algo assim antes, Nfirea-kun. Então eu vou providen-
ciar os mais deliciosos sorvetes que se possa imaginar. Além disso— onde está o menu?”
“Para o menu de almoço de hoje, serviremos dois canapés. O primeiro será um prato de
Lagosta Perfurante, que é uma forma de frutos do mar Noatun, em um molho velouté. O
segundo será um prato de foie gras de Poiret de Víðópnir. A sopa será um creme de ba-
tata doce e sopa de castanha ao estilo de Alfheim. Nós selecionamos carne para o prato
principal, que seria o bife marmoreado feito dos antigos Frost Dragon de Jotunheim
mencionado anteriormente pelo Ainz-sama. Depois vem a sobremesa, que seria a com-
pota de Pomos de Ouro, servida em vinho branco e coberta com iogurte. Além disso,
temos sorvete de chá preto com cobertura de folha de ouro. Para as bebidas após as
refeições, consideramos que o café pode não agradar ao gosto de todos, por isso também
temos suco de pêssego fresco. Isso é tudo. Se qualquer parte do menu exigir alteração,
informe-nos e faremos isso imediatamente.”
Isso é um encantamento mágico!? Enri, que não tinha idéia do que ela acabara de recitar,
isso era certo.
“Nem todos gostam de foie gras, não é? Duvido que os jovens gostem. É um prato de-
masiadamente exagerado. Que tal algo leve?”
“Sim. Então, vamos adicionar salada de vieiras e ameixas secas como aperitivos.”
Enri, que havia sido subitamente colocada no local, respondeu freneticamente. Seria
muito ruim se ela tivesse que continuar falando sobre essas coisas que ela não sabia nada.
Levou todo o seu esforço para obter uma única frase. Ainz instruiu a empregada a pre-
parar a refeição, como sugerido.
Pessoas ricas podiam gastar dinheiro em luxos. E ser capaz de comer, não apenas para
encher o estômago, mas para nada mais do que prazer, era parte disso. Riqueza, conhe-
cimento e poder. Um magic caster que tinha tudo isso.
Ele era um ser que Enri, uma simples fazendeira, não tinha esperança de alcançar, uma
pessoa melhor referida como um rei que estava acima do topo das nuvens.
“Então vamos. Embora, eu não pretenda desfrutar dos pratos. Os três — isso é, sua fa-
mília deve aproveitar a refeição sem reservas. Depois disso, discutiremos negócios. Ah,
eu preciso dizer a Lupusregina que estou adicionando mais uma pessoa à lista.”
O rosto de Enri tinha ficado um pouco quente por Ainz ter se referido a eles como uma
família, mas ela notou algo estranho sobre Nfirea, que estava se levantando lentamente.
Sua boca era achatada em uma linha reta, sem intenção de abri-la. No entanto, Enri sa-
bia o segredo para relaxá-lo. Isso era para olhar para ele. Através da brecha no cabelo,
os olhos de Nfirea cintilaram de um lado para o outro, até que, finalmente, como se de-
sistindo, ele suspirou.
“Eu estava pensando que não posso vencê-lo. Não, eu sei que não posso vencê-lo. Ele é
muito melhor que eu como homem.”
“Mas você sabe que eu gosto de você do jeito que é agora, não é, Enfi?”
A diferença em seus níveis como homens era uma coisa tão importante?
Como mulher, ela não conseguia entender o quanto isso era significativo. O rosto de
Nfirea ficou vermelho e ele segurou a mão de Enri.
Embora ela não soubesse o porquê os sentimentos de seu amado haviam mudado, ani-
mar-se de repente significava que estava feliz. De mãos dadas, Enri e Nfirea seguiram
Ainz e Nemu.
Epílogo
166
Conto 2 - Um Dia Em Nazarick
U
mente aumentou, até que finalmente foi puxada pela gravidade e espirrou
no chão do banheiro.
Alguém encharcou uma banheira de pedra que era grande o suficiente para acomodar
várias pessoas ao mesmo tempo.
A água azul pingava de um corpo branco e escorregadio. Essa cor azul não era uma alu-
são literária, mas uma cor azul real, como se tivesse sido produzida por meio de uma
aplicação deliberada de corante.
Um líquido de cor azul lambia o corpo branco como porcelana, começando pelos pés.
Seu corpo escorregadio desafiava a força da gravidade e se arrastava para cima, ao con-
trário da água que fluía em todas as direções.
“...Fuaahhhh...”
O banheiro era muito propenso ao eco, e as palavras assim que inconscientemente es-
caparam eram inesperadamente altas dentro de seus confins.
Talvez se envergonhasse de sua própria voz, mas de repente uma mão esbelta emergiu
do líquido azul. O som esperado de gotículas de água e ondulações na superfície da água
não foi encontrado em lugar nenhum. Isso porque esse líquido era anormalmente vis-
coso.
A mão erguida acariciou um rosto que muitas elogiaram por sua beleza.
“Haa~”
Depois de agarrar sua presa, o líquido começou a se contorcer, como se estivesse satis-
[ S l i m e Sáfira]
feito. Na verdade, era um Sapphire Slime, uma variante de Slimes de alto nível.
O Slime Safira começou a mover os longos e finos tentáculos que envolviam o corpo.
“—Ahhhhhh...”
O grito soou mais uma vez. Embora fosse mais alto do que antes, aquela pessoa não
pensou em abaixar a voz dessa vez, simplesmente focada nas sensações que o Slime pro-
porcionava ao redor ao se contorcer dentro de seu corpo.
♦♦♦
Ele pegou um punhado do Slime e despejou sobre a cabeça. O Slime trabalhava sem
parar limpando as fendas de sua pélvis, parecia sentir onde seu mestre queria que fosse
limpo. Logo depois, Ainz sentiu o Slime rastejando em sua cabeça.
Ele não tinha metabolismo, de modo que seu corpo não fedia nem se sujava de resíduos
corporais. No entanto, isso não significava que não precisasse tomar banho. Afinal de
contas, pó e fuligem ainda se acumulavam nele, e às vezes ele era salpicado pelo sangue
de seus inimigos. Desse modo, ainda poderia ficar sujo.
Além disso, pela cultura japonesa estar enraizada, ele se sentia muito desconfortável
por não tomar banho.
Ele passou pelos movimentos de exalar enquanto afundava ainda mais no Slime. A sen-
sação escorregadia recebeu e aceitou seu corpo.
Ainz abaixou a cabeça para olhar a parte mais problemática de seu corpo.
Suas costelas.
Limpar cada costela uma por uma era muito problemático. Ainz lembrou sua luta de
quando ele tinha feito isso antes, e suspirou — apesar do fato de que ele não precisava
respirar.
Sua coluna era do mesmo jeito. As protuberâncias prendiam a toalha, e ele não podia
limpá-las facilmente em um único movimento rápido. Ele tinha que limpar lentamente
cada vértebra individual.
No começo, Ainz tomara muito cuidado ao se banhar. No entanto, Ainz logo começou a
achar isso cansativo, apesar de sua suposta resiliência mental. Demorava pelo menos
meia hora para se banhar, e ele não pôde deixar de pensar: “É algum tipo de piada?”.
Depois disso, ele decidiu mergulhar em água com sabão e ficar girando dentro dela
como uma máquina de lavar roupa. Essa foi uma boa idéia. O problema era que não se
sentia limpo. Caso não se esfregasse, não se sentiria limpo o suficiente.
Depois disso, ele usou uma escova longa para se esfregar. Isso foi bastante eficaz.
Claro, o sabão e a espuma espirraram em todos os lugares, mas não era como se Ainz
fosse o único que pudesse se limpar. A limpeza era o trabalho das empregadas, e elas
ficaram encantadas com a chance de mostrar suas habilidades. Era verdadeiramente
uma situação de matar dois coelhos com uma cajadada só.
No final, Ainz bateu nesta alternativa, que era deixar um Slime envolvê-lo.
Ele murmurou para si mesmo, enquanto olhava para o Slime de cor azul que rastejava
sobre seu corpo.
Ainz assentiu feliz, satisfeito com o método que ele inventou para um banho fácil. Por
tudo o que ele sabia, isso poderia ter sido a melhor coisa que ele imaginou desde que
veio a este mundo.
Enquanto Ainz se elogiava mais uma vez, ele olhou para o Slime que, diligentemente,
escorria em cima dele.
Que fofo...
Monstros como estes eram extremamente cruéis; eles podiam dissolver seus inimigos
com ácido e eram fortes o suficiente para dobrar barras de ferro com facilidade. No en-
tanto, para Ainz, eles eram seus assistentes na casa de banho, que ajudaram a limpá-lo.
Até certo ponto, eram como animais de estimação.
Ainda assim, mesmo que banhos de Slimes sejam bons... eu gostaria de tomar um banho
normal em algum momento.
Havia todo tipo de instalações no 9º Andar de Nazarick. Uma delas era um grande banho.
Era um complexo de várias subinstalações de banho com temáticas, uma delas era um
spa resort.
Dito isto, tomar banho sozinho era muito chato. Sendo esse o caso—
“É isso! Vou chamar os Guardiões para irem comigo. Seria bom se houvesse um tempo
em que todos estivessem livres.”
Um grupo era o das Empregadas de Batalha, representadas por Yuri Alpha, e o outro
era as empregadas regulares que não tinham habilidades de combate. As últimas eram
homunculi, com um nível racial e profissional combinado de 1, e eram responsáveis por
vários trabalhos no 10º e 9º Andar de Nazarick. Em particular, limpar os vários aposen-
tos dos Seres Supremos era uma tarefa da maior importância para elas.
Uma dessas empregadas regulares, conhecida como Cixous, movia-se rapidamente pelo
corredor, pois estava com pressa. Esta era uma técnica simples — não uma habilidade
especial ou qualquer coisa do tipo — e no fim, terminou no refeitório.
Quando ela chegou, quase todas as suas colegas já haviam se reunido para o café da
manhã e começaram a comer.
O refeitório era predominantemente branco, com decoração esparsa. Os ecos dos sons
alegres das garotas ecoavam pelas paredes como ondulações na água. Não teria sido um
grande problema se houvesse apenas uma pessoa, mas como havia muitas pessoas fa-
lando, suas vozes se misturavam em um ruído incompreensível. Além disso, o som de
talheres tilintando deixava ainda mais ruidoso.
Os primeiros três grupos eram classificados de acordo com seus criadores. Havia 41
empregadas regulares no total, mas não era porque cada Ser Supremo havia criado sua
própria empregada. Em vez disso, as empregadas regulares foram criadas por White-
brim, HeroHero e Coup De Grâce.
Estritamente falando, o último grupo não era um grupo adequado por si só. Era com-
posto pelas empregadas que haviam se separado dos três primeiros grupos para comer
em silêncio, para comer enquanto liam ou conversavam sobre as outras empregadas cri-
adas por outros Seres Supremos.
Ela acenou para as empregadas feitas pelo mesmo Ser Supremo como ela — de certo
modo, eram suas irmãs— e então se dirigiu ao seu lugar habitual.
“Bom Dia. E sim, nós já comemos. O café da manhã estava tão bom~ tão cremoso e ma-
cio e saboroso~”
Contrastando ela estava Lumière, que tinha uma aura de pureza sobre sua aparência.
Havia um brilho misterioso em seu cabelo loiro, que brilhava como se houvessem estre-
las.
“Bom Dia — Foire, já que fez sua refeição, pode esperar por nós aqui. Ainda não tomei
café da manhã, então vou pegar um pouco. Venha, Cixous, vamos lá.”
Lumière se levantou, seguida de perto por Foire, que estava freneticamente dizendo:
Depois de concluir o diálogo habitual, as três foram até o balcão do bufê de self-service.
Naturalmente, havia uma empregada chamada Increment, que estava lendo em silêncio
um livro ao lado delas, vigiando seus assentos.
A primeira coisa que Cixous fez no bufê foi uma porção de bacon crocante. Como um
membro da facção que acreditava que “bacon mole é coisa do diabo”, ela sempre fazia
isso em primeiro lugar. Em seguida, ela se serviu de sopa. Dos três sabores de hoje —
especial do dia, milho e cebola — ela escolheu o último. Depois disso foram salsichas,
batatas fritas e danishes. Seu outro prato estava cheio de salada de cebola, quase ao
ponto de derramar. Finalmente, Cixous fez uma ordem para um criado mascarado.
Cixous voltou para seu lugar, organizou os pratos na mesa e depois serviu-se de um
copo de leite antes de voltar para onde o criado estava esperando com sua omelete re-
cém-preparada.
“Muito obrigada.”
“Vamos comer~”
“Vamos comer.”
Foire mastigava enquanto suas bochechas ainda estavam cheias de comida, Lumière
comia elegantemente, mas seu garfo se movia a uma velocidade feroz, e Cixous comia a
uma taxa entre as duas.
Logo, seus pratos esvaziaram com rapidez surpreendente, e as três beberam de seus
copos depois disso.
“Huuu...”
“Vamos repetir?”
“Por mim tudo bem, mas vamos fazer uma pausa primeiro.”
“Eu aprovo~ Me sinto meio inchada agora, enfim. Diga, Cixous, não é a sua vez de servir
o Ainz-sama hoje? Hoje parece mais determinada do que o habitual.”
♦♦♦
Os quartos dos governantes supremos de Nazarick eram enormes em escala, tanto que
uma pessoa precisaria de meio dia ou mais para limpar um deles com cuidado. Enquanto
as empregadas tinham os números brutos para limpá-los todos em uma base diária,
mesmo com o quarto de reposição de Albedo levado em conta, isso exigiria que muitas
pessoas trabalhassem o dia todo sem qualquer descanso.
No entanto, isso não era um problema para as empregadas. Elas haviam sido criadas
pelos governantes da Grande Tumba de Nazarick, a guilda Ainz Ooal Gown; Era justo que
elas trabalhassem com afinco da pele até os ossos, porque era um ato de venerar seus
deuses, seus criadores.
E então, essas trabalhadoras fanáticas foram instruídas a descansar, graças ao ser di-
vino, Ainz Ooal Gown.
Ele lhes dissera: “Não limpe os aposentos não utilizados com tanta frequência”, e depois
“Vocês vão trabalhar e descansar em turnos”.
Não era que houvesse poucos dias de folga, mas o contrário. Elas pediram que o dia de
folga fosse cancelado.
Em última análise, trabalhar para os Seres Supremos foi o motivo de sua existência.
Dizer que elas não precisavam trabalhar prejudicava seu senso de autovalor e as fazia
sentir que não eram mais necessárias.
Como tal, as empregadas decidiram discutir o assunto com Ainz. Elas disseram: “Por
favor, não tire nossos empregos”, “Queremos fazer isso dia e noite”, e assim por diante.
Essa tarefa implicava ficar ao lado de Ainz para atender a todas as suas necessidades e
caprichos, e as empregadas se revezavam para preencher esse papel.
Para as empregadas, essa oferta era tão tentadora quanto o açúcar aspergido com mel,
pois a maior alegria na vida era servir os Seres Supremos. Elas aceitaram a sugestão sem
pensar duas vezes, junto com a ordem de que “Vocês precisam cuidar de si mesmas e des-
cansar bem no dia anterior, para que possam servir com todas as suas forças quando for a
sua vez.”.
♦♦♦
“Você já ouviu? Dizem que vão cozinhar usando ingredientes do mundo exterior e fazer
uma degustação de comida.”
Pensou Cixous.
Poucas empregadas pensavam bem do mundo exterior — o mundo que ficava além de
Nazarick. Algumas delas sentiam que o mundo exterior era inferior a Nazarick, mas a
maioria delas temia, porque o chão logo acima de sua casa, o 8º Andar, já fôra invadido
por pessoas de fora.
Assim que Cixous estava prestes a responder à pergunta de Foire, a atmosfera no refei-
tório mudou. O ar em si parecia aquecer.
“Shizu-chan!”
“É a Shizu-chan!”
A pessoa que acabara de entrar no refeitório era uma das Pleiades, CZ2128 Delta.
CZ segurava um pinguim debaixo do braço e um criado aflito estava atrás dela. Era o
Mordomo Assistente, Eclair. Ele batia asas com todas as suas forças, mas não havia como
escapar com a força de um Birdman de nível 1. Suas lutas desesperadas rapidamente
perderam o vigor quando as empregadas observaram.
No fim, o pinguim ficou mole e sem forças, como um verdadeiro boneco de pelúcia.
“Jogue esse mordomo fora! Jogue ali que vai ficar tudo bem!”
“Mande esse pássaro inútil para o Head Chef, pelo menos ele vai contribuir para Naza-
rick dessa maneira!”
“Até aquele pássaro parece fofo quando a Shizu-chan o segura, que estranho.”
“Eu quero um dakimakura da Shizu-chan. Albedo-sama parece saber como fazer isso,
será que ela me ensinaria?”
“Albedo-sama é muito gentil, tenho certeza que ela vai concordar. Por que não pergunta
a ela da próxima vez?”
O som de um livro se fechando com um baque oco veio da mesa ao lado, e quando Cixous
se virou para olhar, seus olhos encontraram os de Increment.
“Este lugar está ficando barulhento, então vou voltar. Já que servirá o Ainz-sama hoje,
espero que termine o café da manhã rapidamente e vá até ele. Qualquer erro que cometa
refletirá em todas nós.”
“Tudo bem, vou pegar mais algumas coisas para comer enquanto todas estão focadas
na Shizu-chan!”
“Lu-Lupusregina-san!”
Com as mãos cruzadas sobre o coração, Cixous se virou para a fonte da voz. Não havia
ninguém lá há pouco, mas Lupusregina apareceu do nada enquanto todas estavam dis-
traídas por Shizu ou olhando para outro lugar. Ela se sentou de lado em uma cadeira com
as pernas em cima da mesa e até compartilhou uma parte de sua própria comida.
Lumière mal prestou atenção a Foire, que se agarrava a ela. Ela falou baixinho, como se
estivesse com medo de sua inteligência.
“Nishishi~ acho que valeu a pena os experimentos no vilarejo ~su. Adorei as reações
de vocês ~su.”
A maneira como Lupusregina apoiou seu rosto com o braço sobre a mesa, ao mesmo
tempo em que exibia um sorriso maligno no rosto, fazia com que ela se parecesse com
um gato de sorriso perverso saindo de um livro de fantasia. Embora seu sorriso não fosse
nada além de travesso, ainda era surpreendentemente encantador. Cixous viu a Empre-
gada de Batalha sorrir por um tempo, e ficou totalmente fascinada por ela.
“Vilarejo?”
Foire inclinou a cabeça, o que fez seu cabelo curto roçar no rosto de Lumière.
Lumière resistiu ao desejo de espirrar e empurrou Foire para longe, e então ela se re-
organizou para que estivesse olhando diretamente para Lupusregina.
“Não, que nada ~su! Como o Ainz-sama ordenou, vale a pena fazer! ...Mas confesso que
é meio chato lá... Assim, seria muito mais divertido que fossem esmagados sob meus pés
~su.”
Cixous não tinha opinião particular sobre essa afirmação. Humanos e seus vilarejos e
tudo mais não eram importantes para ela. Se prosperaram ou fossem destruídos, a única
coisa que importava era se seriam úteis para Nazarick.
“Falando nisso, o Ainz-sama disse que o vilarejo é bem valioso, não sei como, mas tudo
bem ~su.”
“Dada a personalidade do Ainz-sama, ele deve ter dito em sua imensa misericórdia dos
miseráveis humanos que moram lá.”
“Não, não, Ainz-sama é como um furacão de morte. Tenho certeza que ele está apenas
esperando o momento certo para matar todos, não?”
“O que está dizendo? Você não sabe que o Ainz-sama é um gênio? Tudo isso deve fazer
parte do seu plano.”
“Ara~ não posso fingir que não ouvi is~su. O poder do Ainz-sama não é a melhor parte
dele ~su?”
“Oh, parece que todas têm impressões diferentes do Ainz-sama ~su. Uma competição
então; qual de vocês pode escolher o título mais adequado para o Ainz-sama.”
Em um instante, todas ficaram em silêncio. Lupusregina usava seu sorriso habitual, mas
tinha certa compreensão das qualidades de seu soberano e não estava disposta a admitir
a derrota. No entanto, Cixous e suas duas amigas sentiram o mesmo.
As empregadas regulares eram seres fracos, mas seu respeito e adoração ao seu mestre
não era menor que o de qualquer outra pessoa.
“Nesse caso...”
“Então, como disse antes, gostaria de elogiar a beleza do Ainz-sama. Então, que tal; Mais
perfeito que as porcelanas mais belas, o mais brilhante e sem falhas, o gentil Senhor da
Misericórdia.”
“Bem, se vamos elogiar o Ainz-sama, então devemos elogiar seu incrível poder, não é!
Como governante da morte, o que poderia ser mais adequado do que; Memento Mori?”
“Ainz-sama foi quem coordenou os Seres Supremos, então suas habilidades de gerenci-
amento são sem iguais. Então seria; Rei Sábio.”
Embora todos os nomes se ajustassem bem ao seu mestre, no final todas pensaram que
as suas próprias escolhas eram as melhores.
Lupusregina tossiu gentilmente quando Cixous, Foire e Lumière olharam para ela. Com
um sorriso travesso, ela disse:
A fonte da voz calma era CZ. O Mordomo Assistente Eclair que ela estava segurando
debaixo do braço tinha desaparecido para partes desconhecidas.
Uma raiva quente como o sol ardia sob o rosto sem emoção de CZ. Cixous tinha a sen-
sação de que ela não deveria estar mais aqui.
No final, elas não conseguiram repetir o café da manhã. Foi uma pena, mas era preciso
se recompor agora.
Cixous não prestou atenção ao perigo no ar atrás delas. Em vez disso, ela bateu leve-
mente as bochechas para se concentrar. Seu rosto tinha a expressão severa e corajosa
de um soldado indo para uma guerra, mas seus passos eram leves e rápidos.
Os undeads que vagavam pela tumba não estavam à vista, mas animais mágicos —
como os controlados por Aura — defendiam esse local no lugar de monstros POP. Esta
área — conhecida como a mais expansiva na Grande Tumba de Nazarick — era em
grande parte coberta por uma densa floresta, a ponto de poder ser descrita como um
mar de árvores.
Dito isto, os antigos membros da guilda Ainz Ooal Gown foram muito meticulosos
quanto aos detalhes. Eles certamente não pintariam essa área de verde e se contenta-
riam.
Havia um Coliseu, uma árvore gigante, vestígios de uma aldeia que havia sido engolida
pela selva, um lago, uma caverna venenosa, um bosque retorcido, um manguezal e um
pântano sem fundo, tudo isso acrescentando variedade ao mar de árvores. Recente-
mente, eles construíram uma pequena aldeia para receber novos residentes.
Seus residentes — o primeiro deles era Aura, Guardiã de Andar. Ela montou facilmente
em cima de um lobo gigante com pêlo negro, e apenas um olhar foi o suficiente para dizer
que ela tinha muita experiência em fazer isso.
No entanto, isso era apenas esperado. Afinal, quando patrulhava essa grande área, ela
preferia fazê-lo enquanto cavalgava as feras mágicas sob seu domínio, embora correr
por conta própria fosse bastante fácil dadas suas habilidades físicas sobrenaturais.
Uma delas era a Supervisora Guardiã, Albedo. Ela não estava usando o habitual vestido
branco de sempre, mas a armadura de placas preta que vestia para o combate. No en-
tanto, ela não estava carregando sua arma ou escudo.
A outra era Shalltear. Que parecia a mesma de sempre, seus olhos tinham um olhar es-
tranho que flutuava entre desinteresse e prazer.
♦♦♦
Uma fera mágica emergiu do nada, tão negra quanto a armadura que ela usava.
Esta fera tinha crina e cauda branca e parecia um cavalo. Estava equipado com uma
armadura de placas, rédeas e uma sela.
Era um pouco menor que um cavalo. No entanto, sua presença era muito mais opressiva
do que a de um cavalo comum. A diferença mais definidora poderia ser encontrada em
sua cabeça. Lá, encontrariam dois chifres que se projetavam para fora.
A primeira resposta à fera mágica que apareceu de repente veio de Aura, que sabia mais
sobre tais criaturas.
“Oh! Não é como um Bicorn comum! Seus chifres são grossos e parecem muito fortes
também.”
“Fufu~”
“Não, não pode. É fundamentalmente o mesmo que um Bicorn normal; Ele não tem ne-
nhuma habilidade especial, apenas melhora a resistência, força e destreza.”
“Parece que não pode realmente fortalecer sua montaria sem as habilidades de equita-
ção — nesse caso, já que suas habilidades especiais são muito fracas, pode atrapalhar se
ele participar de nossas batalhas de nível cem.”
“Correto. No entanto, posso compensar isso usando minhas habilidades para proteger
esse garoto, para que ele possa lutar por períodos mais longos.”
“Mas isso não significa que vai desperdiçar seus recursos nisso ~arinsu? Vai ser um
grande incômodo em combate, não é? Por que não aprimorar seu equipamento? Eu ouvi
que monstros do tipo montaria podem ser equipados com bardado e ferraduras e assim
por diante ~arinsu.”
Albedo deu um leve toque no flanco da fera mágica. Talvez ela tivesse usado muita força,
mas o Bicorn estremeceu.
Não havia como uma fera mágica que ela invocasse fosse desequilibrada por tanto. As-
sim como Albedo franziu a testa enquanto se perguntava se estava fazendo de bobo,
Aura fez uma pergunta.
“Não, eu não falo do nome da espécie, quero dizer nome como um indivíduo.”
“Precisa de um?”
Ela olhou para Shalltear por sua reação. A Vampira não disse nada, simplesmente enco-
lheu os ombros.
Ao ouvir a pergunta de Albedo, Shalltear teve uma ótima idéia, que decidiu comparti-
lhar.
“Que tal perguntar ao Kyouhukou ~arinsu? Ele é bom em conjurar seus companheiros,
então deve saber muito sobre esse tipo de coisa ~arinsu.”
“...Me dá um tempo. Ele é um membro de Nazarick, e sei que não deveria odiá-lo, mas...”
“Ah — realmente. Não fazem por maldade, mas elas rastejam em suas roupas do mesmo
jeito. Ouvir dizer que a Entoma parece visitá-lo de vez em quando.”
“Isso é asqueroso! Pare de falar sobre coisas que me fazem sentir comichão... aquele
lugar é realmente uma casa de horrores. Eu posso estar no comando daquele Andar, mas
sinceramente não quero entrar lá ~arinsu.”
“UGEEEH—! Sério? Sério mesmo!? Uwah — Eu não quero mais chegar perto da Entoma.”
Albedo sentia o mesmo. Ela não queria abordar ninguém que pudesse chamar aquilo de
um lanche. Assim que o clima começou a ficar estranho, Aura decidiu levantar a voz e
limpar o ar:
Albedo murmurou para si mesma quando caiu em contemplação. Já que ela nomearia
sua montaria, então, obviamente, tinha que dar um nome que não iria constrangê-la. Ela
pensou em várias palavras e frases, e então um flash de inspiração a atingiu como uma
música surgindo em sua mente.
“Ah, perdão.”
“Hmm — esse é um bom nome ~arinsu. Significa No Topo do Mundo? Você quer dizer
que o Ainz-sama, é isso?”
Quando a tensão cresceu no ar, foi Aura quem teve que quebrá-las, como de costume.
“Bem, acho que serve. Já que você nomeou o seu Bicorn, vamos realizar o próximo ex-
perimento!”
“Mm, entendido.”
Tendo sido tratada como uma criança fazendo birra, Shalltear estreitou os olhos e olhou
para Albedo quando ela se virou para o Bicorn e colocou um pé nos estribos. Albedo
montou nele com uma graça que não parecia ter vindo de alguém vestindo uma arma-
dura. No momento em que tocou a sela, pôde sentir o corpo do Bicorn tremendo quando
se tocaram.
Albedo não pôde deixar de exclamar. Ela não conseguia pensar em nenhuma razão para
que este Bicorn de nível 100 ficasse trêmulo. De repente, ela se lembrou do que aconte-
ceu quando deu um tapinha no Bicorn. Algum problema ocorreu? Se fosse esse o caso,
então qual seria a causa?
“Aura! Shalltear! Algo estranho está acontecendo com o meu Bicorn. Poderia me ajudar
a saber o porquê?”
Nesse momento, o Bicorn começou a tremer. Parecia que não podia mais ficar de pé. As
duas observaram e perceberam que havia algo de anormal acontecendo aqui.
Depois de ouvir Aura dizer isso, Albedo finalmente respondeu saltando da criatura.
Shalltear não estava dizendo isso para tirar sarro dela. Qualquer observador teria pen-
sado a mesma coisa.
“Então, pode ser que os músculos dele tenham enfraquecido porque você não cavalga
regularmente? A propósito, eu caminho sempre com os meus, e costumo levar eles nas
patrulhas pelo Sexto Andar.”
“Eh? Como poderia ser... falando nisso, 「Summon Bicorn」 — não é como qualquer
fera conjurada? Não há como ficar mais fraco.”
“Sinto muito, mas não vai funcionar. Por ser a minha montaria, ninguém mais pode
montá-lo. Se alguém tentar, ele irá automaticamente se desconjurar.”
“Então, que tal perguntar o que aconteceu? Ei, Bicorn-san, o que há de errado?”
Aura fez uma pergunta. Não era que Aura pudesse falar com cavalos, mas feras mágicas
como os Bicorn deveriam ter uma inteligência muito alta, então Aura esperava que en-
tendesse a fala humana. Naturalmente, o Bicorn não podia falar, então tudo que podia
fazer era relinchar como um cavalo.
“Não pode falar... não me diga que não pode escrever também?”
As três se entreolharam.
“Aura, você pode usar suas habilidades para fazer algo incrível?”
“Eu não posso. Além disso, como assim incrível? Já não me perguntou minas habilidades
quando tivemos nosso bate-papo aquela vez? Não vai me dizer que já esqueceu, Super-
visora Guardiã-dono!”
“Então você fala com ele, certo? Então, se tentar, você deve ser capaz de se comunicar
com este Bicorn, estou certa?”
“Só porque eu posso me comunicar com as feras que eu controlo, não significa que eu
possa falar com todas. Já até tentei em outros animais. Os Lizardmen têm um animal de
estimação chamado Rororo, acho que é isso. Eu não sei o porquê, mas não consigo falar
com ele de jeito nenhum.”
“...Já que estamos sem saída, o único para o qual podemos contar é com o Demiurge
~arinsu.”
“Infelizmente ele está trabalhando no exterior sob as ordens de Ainz-sama. Ele não
passa muito tempo em Nazarick ultimamente. Eu posso entrar em contato com ele, mas
para ser honesta, realmente não quero consultá-lo se não for algo relacionado ao traba-
lho.”
Um olhar de ciúme apareceu nos olhos de Shalltear e Aura. Demiurge — que trabalhava
arduamente para seu mestre — era o objeto da inveja dos Guardiões.
“Ah~ eu realmente invejo ele. Eu sei que a defesa de Nazarick é um trabalho importante,
mas se ninguém invadir, não teremos a chance de mostrar do que somos capazes, e isso
me faz pensar se sou realmente útil. Eu quero sair e realizar algo para que eu possa tra-
balhar arduamente para o Ainz-sama.”
“Não se preocupe, Shalltear. Sinto que terá a chance de trabalhar para o Ainz-sama em
breve— ou melhor, tenho certeza que você fará isso. Mas precisa ser um pouco mais
esperta, caso contrário, ou então será complicado.”
“Ahhh, mas é fato que você trouxe muitos problemas. Precisa produzir resultados dig-
nos de uma Guardiã.”
Shalltear cerrava os dentes e, de repente, seu rosto se iluminou, como se uma lâmpada
tivesse se acendido acima da cabeça.
“Ku, ku, ku~ por que estão falando mal de mim ~arinsu? O que eu queria dizer era que;
já que o Demiurge não está por perto e nós não pudéssemos perguntar a ele, então eu
lhe daria uma ajuda. Bem, já que não tenho escolha, procurarei por você!”
Shalltear tirou um livro. Parecia grosso e pesado, como se tivesse mil páginas no mí-
nimo. No entanto, para Shalltear — que parecia uma garota por fora, mas que o mesmo
não se refletia por dentro — seu peso não era quase nada.
Não foi apenas Aura; até mesmo Albedo olhou para Shalltear com ciúme em seus olhos.
Mesmo isso sendo mais um prêmio de consolação e reconhecimento, mas para Shalltear
era a melhor forma de elogio e ela sorria de satisfação. Não, isso foi apenas natural. Um
item de seu criador era mais valioso do que qualquer forma de incentivo.
♦♦♦
Este livro fôra chamado a Enciclopédia. Era um item que todo jogador recebia depois
de iniciar o jogo, e não poderia ser roubado ou perdido, a menos que seu dono decidisse
descartá-lo. Além disso, era único.
YGGDRASIL era um jogo de apreciar o desconhecido, e esse item poderia ser conside-
rado uma expressão física do desejo dos desenvolvedores de transformar o desconhe-
cido em conhecido.
A fim de fazer uso efetivo deste item em formato de livro, seria necessário inserir pes-
soalmente a informação que alguém havia reunido no livro. Tais informações incluíam
as habilidades especiais de um monstro ou suas fraquezas e assim por diante.
No entanto, muito do conteúdo que o Peroroncino adicionou foi apagado. Era como se
Peroroncino tivesse medo de deixá-lo para trás, portanto o rasurou.
Como resultado, o item não era muito útil, mas Shalltear não se importava com isso.
Este foi um item que seu criador já usou. Isso era o importante.
♦♦♦
“B—, Bi—, Bic.”
Aura e Albedo se inclinaram para dar uma olhada, mas Shalltear usou seu corpo para
encobrir o livro e depois recuou, antes de fixar as duas no lugar com um olhar penetrante.
Aura gentilmente acariciou seu bracelete de prata. Da mesma forma, Albedo acariciou
o anel em seu dedo indicador esquerdo. No entanto, ela não foi a única a receber esse
anel.
Eu quero uma recompensa especial para mim, algo que seja só meu. Eu quero um item
especial do Ainz-sama—
Assim que Albedo começou a acariciar seu abdômen, Shalltear exclamou. Parece que
ela encontrou a página que estava procurando.
Albedo questionou nervosamente Shalltear quando ela olhou para o livro novamente e
leu a entrada.
“—Uma espécie mutante de Unicorn ~arinsu. Assim como os Unicorns devem estar as-
sociados à pureza, os Bicorns estão associados à impureza. Os Unicorns só permitirão as
donzelas puras montá-los, mas, inversamente, os Bicorns nunca permitirão donzelas pu-
ras montá-los... haaah!?”
Enquanto Shalltear lia essa parte, os olhos de Aura ficaram tão arregalados que pare-
ciam cair das órbitas.
“O que você quer dizer com “impossível”? O que você acha que eu sou?”
“S—Su—Succ—Succubus...”
“Isso mesmo, eu sou uma Succubus! Mas eu não tenho experiência com homens, des-
culpe por isso! Mas o que posso fazer? Eu sou a Supervisora Guardiã, então estou sempre
presa no Salão do Trono! Eu quase nunca me encontro com mais ninguém! Além disso,
Ainz-sama nunca me chamou para a cama dele... e eu não quero fazer nada assim com
um homem que não seja o Ainz-sama...”
Albedo olhou para Aura e depois negou com a cabeça. Se Aura não fosse assim, haveria
um problema enorme.
“E você, Shalltear?”
“...Eu não tenho experiência com homens ~arinsu. Mas não posso dizer o mesmo sobre
mulheres...”
Aura não entendeu por um momento e inclinou a cabeça. Então, ela pareceu entender,
porque franziu a testa e disse “Uwah~” enquanto seu rosto se contorcia e dizia sem pa-
lavras “não, obrigada”.
“Ahhh! É porque não há bons homens por perto! Eu gosto dos mortos, mas cadáveres
em decomposição não podem ficar... entenderam? Né?”
“Não me procure procurando aprovação, Shalltear. Seus fetiches são muito estranhos e
eu não consigo e nem quero entendê-los.”
“...Tudo bem, pelo menos sabemos o porquê eu não posso montar um Bicorn agora...
não posso acreditar que era esse o motivo.”
O rosto de Albedo se torceu em infelicidade. O Bicorn pensou que tinha sido repreen-
dido e se encolheu.
“Ainda assim, não é como se você fosse realmente boa em combate em montarias
~arinsu. É apenas uma habilidade que você não pode usar, não? Se não pode montar seu
Bicorn, então que tal uma das feras da Aura ~arinsu? Talvez um Unicorn sirva.”
“Não tem outra alternativa? Tudo bem se Ainz-sama me ajudar a montar o Bicorn,
certo?”
O sorriso de Albedo parecia dizer às outras duas que não havia melhor maneira do que
essa.
“Que rude, Shalltear. Isto é necessário para que eu faça pleno uso de meus poderes
como Supervisora Guardiã de Nazarick para o Ainz-sama.”
“Fufufu. Hmph! Então você não pode obter o amor de Ainz-sama sem usar suas obriga-
ções oficiais como uma desculpa... Isso é muito triste para uma mulher ~arinsu. Isso sig-
nifica que você não pode ganhar de mim apenas com seu “charme”.”
“Haaaah?”
“Vocês duas parecem ter se desviado para um assunto estranho novamente... se impor-
tariam de deixar isso de lado? Parem de falar sobre coisas sem sentido. Além disso, não
é como se isso fosse causar um problema imediatamente. Não pode conjurar outras
montarias, Albedo?”
“Usar um item mágico para conjurar uma montaria requer que eu mude meu equipa-
mento ou tire o item, então é mais esforço do que conjurar uma montaria com uma ha-
bilidade. E este Bicorn tem um poder de luta muito melhor...”
“Então faça o Bicorn tomar os ataques do inimigo e use a abertura para invocar uma
montaria! Essa é uma tática básica para um domador de feras.”
“Poderia falar as coisas evitando parecer que está rindo do infortúnio alheio?”
“Mas você não se delicia com o meu sofrimento também, Albedo ~arinsu?”
“Eu não—!”
“—Você sim!”
“Isso mesmo.”
Albedo finalizou dizendo isso, e Shalltear — que estava discutindo com ela — também
assentiu. No entanto—
“...Ele nos pediu para tirar uma folga, mas o que devemos fazer? Fomos feitas para pro-
teger a Grande Tumba de Nazarick e trabalhar para os vários Seres Supremos. Trabalhar
é a nossa vida...”
“Mesmo assim, quando Ainz-sama quer que descansemos, temos que descansar
~arinsu.”
As três se reuniram aqui porque seu mestre lhes disse: “Todas vocês trabalham ardua-
mente todos os dias. Como o tempo livre como esse é difícil de ser conseguido, vocês, Guar-
diãs, devem se organizar para saírem e se divertirem juntas.”.
“Nós nos divertimos, então isso significa que não temos mais nada para fazer? Isso re-
almente conta como diversão?”
“Eu tenho minhas dúvidas sobre isso. Claro, nos divertimos um pouco, mas ainda tenho
minhas dúvidas. É isso mesmo, o que costuma fazer?”
“Eu patrulho entre o Primeiro e o Terceiro Andar. Então eu recebo relatórios dos Guar-
diões de Área, ou eu verifico a prontidão do Andar inteiro ~arinsu. Se eu tiver tempo,
tomo um banho ou faço um tratamento facial...?”
“É isso!”
“Sério?”
“Na verdade, os outros Guardiões também estiveram aqui. O primeiro foi o Cocytus,
veio para ver os Lizardmen. Demiurge veio também para verificar a situação. Os outros
também aparecem de tempos em tempos. Hm — então vamos dar uma olhada. Nem é
longe daqui.”
A aldeia construída no 6º Andar de Nazarick era pouco mais do que uma fileira de dez
casas de toras. Mal se qualificava como um assentamento. Havia um campo de cultivo no
lado direito da aldeia, e do lado esquerdo havia um pomar que era várias vezes maior
que o campo de cultivo.
Naturalmente, era cercada por florestas e, quando se olhava de baixo para cima, podia
parecer um buraco na floresta; o chamado Buraco Verde. As árvores aqui haviam sido
derrubadas e depois escavadas pelas raízes, de modo que, à direita, o solo deveria ter
sido irregular. No entanto, o terreno da aldeia estava artificialmente nivelado. Esse foi o
efeito da magia de Mare.
A primeira pessoa que viram foi uma fêmea de aparência humana, cuja pele era tão
lustrosa quanto uma casca de árvore. Ao lado dela havia uma criatura que só poderia ser
descrita como uma árvore ambulante.
A primeira era uma Dryad, enquanto o segundo era um monstro conhecido como Tre-
ant.
O Treant colocou a Dryad em suas mãos semelhantes a galhos e a levantou até chegar à
copa de uma árvore frutífera.
“Há também dez ou mais Lizardmen morando aqui. Às vezes eles vão para o norte —
para o lago onde acabamos de visitar — vão se divertir. Não é como se vivessem na água
ou algo assim. Que estranho.”
“A aldeia é maior do que a última vez que vim. Parece haver mais residentes também
~arinsu.”
“Sim. Isso porque encontramos algumas espécies que foram autorizadas a entrar em
Nazarick depois que conquistamos a Grande Floresta de Tob.”
“Mm, isso é o que o Ainz-sama nos disse. Embora a condição “não precise de comida”
seja mais “deve ser autossuficiente”... as Dryad e os Treants absorvem nutrientes da terra,
por isso não precisam comer. Porém, será ruim se os nutrientes da terra acabarem ou se
não chover.”
“É basicamente trabalho do Mare fazer isso. Mesmo com a restauração dos nutrientes
da terra. Algumas magias permitem grandes colheitas, e eu ouvi que essas magias podem
restaurar completamente os nutrientes da terra. As Dryads e os Treants dizem que é tão
delicioso que eles acabariam engordando se comessem muito... mas eu não sei sobre o
gosto.”
Enquanto Shalltear conversava com Aura, Albedo examinou lentamente a aldeia com
um olhar frio e clínico reservado para examinar os experimentos. Então, uma sugestão
de emoção penetrou em seus olhos pela primeira vez.
Elas olharam ao longo de sua linha de visão, e lá, dentro de um trecho de terra cercado
— aparentemente se escondendo atrás de um grande talo com frutos vermelhos cres-
cendo por toda parte — havia um monstro parecido com um cogumelo se contorcendo
ao redor. Analisando mais a fundo, ele estava vestindo roupas que poderiam ficar man-
chadas enquanto colhia frutas vermelhas.
“É ele mesmo. Às vezes ele vem aqui coletar ingredientes, tem umas plantas que cultiva
também. Vamos lá dar uma olhada.”
Albedo e Shalltear se entreolharam. Depois de verificar que nenhuma das duas estava
contra isso, e que estaria tudo bem, desde que não interferissem no trabalho dos colegas,
elas foram dar uma olhada.
Quando ouviu a voz alegre de Aura, Sous-Chef levantou a cabeça para olhar para as três.
Depois disso, Sous-Chef girou o pescoço, como alguém com dores no ombro. Sua cabeça
era como um chapéu de cogumelo, revestido com algum tipo de líquido vermelho-arro-
xeado que parecia poder pingar a qualquer momento, mas o fato era que era muito só-
lido e misteriosamente elástico, parecia cola seca, então não havia como escorrer ou es-
pirrar ao redor.
Albedo parecia interessada no que Sous-Chef estava segurando, e por isso perguntou.
Ele trouxe as frutas diante de seus olhos e balançou a cabeça, confuso.
“Realmente são tomates. São tomates normais. Não são do tipo que explodem depois de
absorver a luz do sol, nem atacam pessoas ou irradiam luz dourada quando os abre; eles
são tomates comuns.”
“...Por que todos acham que Vampiros gostam de suco de tomate ~arinsu? Mesmo que
os undeads comam alguma coisa, eles não receberão nenhum bônus.”
Graças a certos itens, a maioria dos NPCs não precisava comer ou beber.
“Não há nada a ser feito sobre isso. Comida e bebida só aumentam as despesas de sus-
tentar Nazarick. Teríamos que gastar muito dinheiro se todos comessem tanto quanto
suas feras mágicas.”
“Não há necessidade disso. Isso porque o Ainz-sama e outros Seres Supremos fizeram
cálculos cuidadosos ao construir esta Tumba para equilibrar renda e gastos.”
“Oh, então é por isso que ele decretou que apenas espécies autossuficientes poderiam
entrar aqui. Dessa forma, independentemente de quantos entrassem, o saldo de renda
permaneceria intacto ~arinsu.”
“Que irritante. Não entender o lugar que você estava protegendo é um problema muito
grande. Tirarei algum tempo no futuro e explicarei tudo para você em detalhes.”
Albedo suspirou, então casualmente observou os campos. Foi então que percebeu que
havia visto as folhas de uma fileira de certas plantas antes.
“Ah, ela não... entendo, ela não falou sobre eles. Então, o que faremos, Aura-sama? A
senhorita vai chamá-los, Aura-sama? Certamente deve tê-los treinado agora?”
De repente, a fila de folhas reagiu às palavras dela e começou a se mover. Eles balança-
ram vigorosamente de um lado para o outro, depois se retiraram da terra e suas raízes
parecidas com cenouras apareceram na superfície.
Eles se pareciam com os ginseng asiáticos, mas eram nitidamente diferentes deles. Eles
tinham quatro membros distintos e moviam-se deliberadamente e não por reflexo. As
partes mais altas das raízes — perto do caule — tinham cavidades e sombras que pare-
ciam olhos e bocas.
“Esses seriam Mandrágoras ~arinsu? Nós não deveríamos ter algo assim em Nazarick...”
“Ah! É isso aí! Eu vi o relatório, mas esta é a primeira vez que eu pessoalmente vi um.”
As Mandrágoras cantavam “Vida Longa a Ainz Ooal Gown”, “Vida Longa a Ainz Ooal
Gown” ao se formarem em fileiras.
“Ainda assim, ensiná-los a falar assim deve ter sido difícil. Estou muito impressionado.”
Sous-Chef explicou enquanto pegava uma das Mandrágoras que estavam alinhadas.
As Mandrágoras romperam suas fileiras para cercar Sous-Chef, como se para protestar
contra os maus-tratos de seu amigo. Durante esse tempo, eles diziam a mesma coisa de
antes.
“Pode se dizer que sim. Eles só gritam como um papagaio imitando a fala; nem sabem o
que estão dizendo. Aparentemente, há um nível mínimo de inteligência, abaixo do qual
você não entende a fala. No entanto, isso ainda está sob investigação.”
Disse Sous-Chef.
“Hm — é verdade, Albedo, posso fazer uma pergunta ~arinsu? Como Guardiã, não é
ruim que você não saiba sobre os recém-chegados? E se um espião aparecesse com eles
~arinsu?”
Seu sorriso era vazio, e seus olhos eram tão frios como o gelo.
“Mas não acha que está me desprezando? Aqui é o meu terreno de caça. Mesmo se cada
um for para um lado, eu posso caçar e matar cada um, até o último, em um piscar de
olhos. E ainda assim, mesmo que de alguma forma consigam escapar do Sexto Andar e
tentem prejudicar o Ainz-sama, eles teriam que passar pelo mundo de chamas do Sétimo
Andar, e ainda há o Oitavo Andar que é intransponível. Isso sem falar que, se forem es-
capar, teriam que passar pelo inferno gelado do Quinto Andar, as águas escuras do
Quarto Andar, e, em seguida, restaria os Andares que é responsável... acha mesmo que é
possível?”
“É como eu disse. Portanto, não precisa se preocupar, não importa quantos recém-che-
gados venham para este Andar.”
“Aura tirou as palavras da minha boca. Mm, ainda assim, há um plano acontecendo
agora para reunir todos os tipos de criaturas aqui.”
“Era assim no começo, mas depois de alguma observação, descobrimos que problemas
foram percebidos graças a Aura e ao árduo trabalho do Mare, de modo que o plano foi
alterado e expandido. Mas esta é apenas uma fase do projeto, e não há nenhuma garantia
de que vai ser colocado em prática. Portanto, mesmo uma Guardiã de Andar como você
ainda não foi informada.”
“Essa parte aí, por que ficar junto com a humanidade é uma condição?”
Albedo sorriu, como se dissesse “Eu sabia que você perguntaria”. Aquele sorriso parecia
terrivelmente mal.
“Sendo sincera, acho que é difícil de entender. Nazarick é um refúgio para os Seres Su-
premos, o fruto do trabalho deles. Por que foi chamado dessa maneira ~arinsu?”
“É a fim de deixar o mundo exterior acreditar que pode coexistir com outras raças.”
O rosto de Shalltear estava preenchido com uma expressão que poderia quebrar um
amor de milhões de anos de idade, ela olhou com raiva para Aura.
“...Espera... espera aí, Shalltear. Reflita um pouco sobre o que você costuma dizer e fazer
antes de me perguntar, que tal? Por favor, pense sobre isso um pouco.”
E, de fato, por apenas um momento, Shalltear pensou em tudo o que ela tinha dito e
feito até agora, e suas pupilas se alargaram como a de uma criatura morta. Depois disso,
seus olhos percorreram todos os lados, como se estivessem a ser atiradas em ondas de
tempestade.
“Er, de todo modo, Ainz-sama sugeriu este plano. Quando discutimos sobre o Sexto An-
dar, Ainz-sama uma vez mencionou que gostaria de coletar vários monstros. Certamente
alguém com uma compreensão limitada do mundo nunca teria sido capaz de chegar com
uma idéia assim. No passado, eu discuti a sabedoria do Ainz-sama com o Demiurge, e a
conclusão a que chegamos foi que o Ainz-sama é um verdadeiro gênio.”
“Qualquer um saberia que o Ainz-sama é um gênio, embora eu ouvi que grandes ho-
mens tendem a falar pouco.”
“Demiurge disse isso? Francamente... o Ainz-sama afirma não simplesmente seus pen-
samentos, e às vezes ele faz coisas misteriosas. Ainda assim, como diz o ditado, “a verda-
deira coragem parece covardia, enquanto grande sabedoria parece tola”. Esse é o tipo de
pessoa que o Ainz-sama é.”
“Eu nem esperava que o Ainz-sama criasse a persona do aventureiro Momon. Real-
mente, ele é um homem incrível... Eu não esperava que tudo o que aconteceu até agora
estivesse na palma da mão de Ainz-sama...”
“Logo você entenderá... a persona de Momon se tornará a base para o governo de Ainz-
sama. Ainz-sama é muito incrível... talvez fosse a sua mão oculta no trabalho por trás da
sugestão do Demiurge—”
A voz de Shalltear chamou Albedo de volta aos seus sentidos, e depois de tossir leve-
mente, ela olhou fixamente nos rostos dos aqui presentes.
“Er, onde eu estava? Sim, sim sim! Tudo o que Ainz-sama diz e faz contém um grande
significado. Portanto, mesmo que não consiga alcançar o nível dele, você precisa tentar
o melhor para ver as verdadeiras intenções do Ainz-sama com base em suas palavras.”
“Isso vai ser difícil. Ainz-sama é muito inteligente— ah, são os Spear Needles.”
Duas bolas de penugem branca, cada uma com mais de dois metros de altura, aparece-
ram de dentro da aldeia e lentamente foram para o lado de Aura. Eles eram animais má-
gicos que pareciam coelhos angorá.
“É uma sensação confortável, né? Mas quando encontram inimigos, eles ficam tão afia-
dos quanto as agulhas, sabia?”
Uma vez que entrassem no modo de combate, eles se tornariam uma bola de espinhos
extremamente densos. Se os Spear Needles fossem mortos nesse estado, seus pêlos não
retornariam ao seu estado original e suave. Portanto, ao caçá-los, seria preciso pegá-los
de surpresa e matá-los instantaneamente. Foi por isso que os jogadores que os caçavam
eram frequentemente de níveis muito mais altos do que eles próprios.
Shalltear poderia ter dito isso, mas ela ainda estava acariciando-os sem parar.
“Por sorte, se eu não der o sinal, eles não entrarão em modo de combate. Mas se hou-
vesse inimigos por perto, aí seria uma questão diferente, só que nenhum invasor hostil
“Isso é verdade. É apenas para ser esperado. Os três últimos Andares estão cheios de
vassalos que possuem excelentes habilidades de detecção. Seria muito difícil alguém en-
trar aqui sem ser notado por eles.”
“De baixo? Demiurge deveria estar fora nesse momento, então... poderia ser um de seus
subordinados? Não tem problema se não for olhar?”
“Hm — Mare está por perto, então não precisa se preocupar. Se alguma coisa acontecer,
ele entrará em contato comigo.”
“Bem, isso acontece às vezes. É preciso ir aos portais de teleporte em locais específicos
se quiser subir ir de um Andar inferior para um superior, né? Ah, é, não vou esquecer
que certas pessoas usam magia de teleporte, porque se correrem certas coisas caem—”
“De fato. Nem mesmo aquela magia de Super-Aba 「Sword of Damocles」 ou meu Item
World-Class poderiam destruir um Andar inteiro de uma só vez. É por isso que não de-
vemos deixar que o Anel de teletransporte seja roubado.”
“Mare entrega o anel para outra pessoa quando sai, é mesmo uma questão de segurança.
Por conta disso, podemos mesmo dizer o quão importante são— ah, Mare me contatou.”
Aura afastou-se e agarrou o colar, e então começou uma conversa com Mare. Os três
olharam para Aura, cujo rosto estava ficando sério e, quando terminaram de falar, ela
parecia muito infeliz.
“Eu sinto muito. Parece que o Mare precisa buscar algo, então, por precaução, eu volta-
rei.”
“Então cada uma de nós seguirá nossos próprios caminhos. Agradeço a todas por virem.
Graças a vocês, sei como gastar meu tempo livre. Se ficarmos livres algum outro dia...
sim, da próxima vez, todas devemos nos banhar juntas.”
Parte 2
Mare ergueu os olhos do livro que estava lendo, lentamente deslocando os olhos para
espiar o portão de teleporte que levava ao 7º Andar.
Sentindo uma leve onda de poder, ele colocou seu marcador entre as páginas abertas e
silenciosamente deixou o livro na cadeira ao lado dele. Então pegou o cajado que repou-
sava ao seu lado, o item divine-class conhecido como “Shadow of Yggdrasil”.
Mare pegou com sua mão vazia e levou em direção ao peito, mas depois parou no meio
do caminho.
Não havia necessidade de contatar sua irmã. Ele não recebeu nenhum relato de invasão,
então a pessoa que veio deve ter sido amigável.
Ele moveu as pernas e correu para o portão de teleporte logo abaixo dele.
Sua irmã mais velha gostava de saltar diretamente dos assentos da plateia, mas Mare
não gostava de fazer isso. Ele achava que, uma vez que havia escadas instaladas na arena,
ele deveria pegá-las na descida. Foi assim que alguém mostrava sua fidelidade aos Seres
Supremos. As escadas deveriam ser usadas, afinal de contas.
Mas não ouso dizer isso para a Onee-chan... ela vai olhar para mim de uma maneira as-
sustadora...
Mare decidiu que, no mínimo, ele não desperdiçaria os esforços dos Seres Supremos, e
desceu correndo os degraus, e então passou correndo pela área de descanso. Foi só aí
que viu alguém parado diante de um enorme espelho redondo que brilhava com todas
as cores do arco-íris.
“Oh! Se não é o Guardião de Andar, Mare-sama! Obrigado por ter vindo até aqui. Estou
absolutamente encantado.”
“Oh sim, como o senhor sabe, Mare-sama, eu estou trabalhando atualmente com o De-
miurge-sama, e hoje eu vim como um enviado de Demiurge-sama. Por favor, pegue isso.”
“Se o Demiurge-san quer que eu tenha isso, então isso seria um manifesto?”
“Precisamente. Ah, estou tão feliz que foi o senhor quem veio, Mare-sama. Que sorte. Se
a Aura-sama tivesse vindo, eu teria que pedir para que chamasse o senhor.”
Portanto, Mare olhou perplexo para a pasta que acabara de receber, murmurando “En-
tão, é isso...” para si mesmo.
Aura e Mare eram ambos Guardiões de Andar, então não havia razão para não dar a ela.
Além disso, ela era bastante cuidadosa com essas coisas, e não iria simplesmente jogar
fora um manifesto.
“Eu não tenho certeza disso. Tudo o que sei é que o Demiurge-sama me instruiu a en-
tregá-lo diretamente ao senhor, Mare-sama, e não a Aura-sama.”
Era uma pergunta um pouco vaga, mas Pulcinella parecia entender o que ele estava
perguntando.
“...Bem, eu não entendo muito bem suas intenções. Mas sinto que a resposta ou razão
pode estar dentro dessa pasta.”
“Entendo... er, então, sim, isso mesmo, Demiurge-san, o que... o que ele está fazendo
agora?”
“Ah, que rude da minha parte. Eu não pude deixar de ficar animado com a gentileza do
Demiurge-sama enquanto ele trabalha para fazer as pessoas sorrirem. Por favor me per-
doe.”
“Demiurge-sama chegou a dizer que ele permitiria que ele e os outros — os demônios
— fossem sacrifícios para não fazer os outros odiarem a si mesmos. Que espírito nobre
de auto-sacrifício! Eu, Pulcinella, sou levado às lágrimas por isso.”
Pulcinella esfregou os olhos pela máscara. Claro, ele não estava chorando. Até a voz dele
soava igual a de costume. Ele não parecia triste ou nem nada assim.
“Eu também não entendo. Por que o gentil Demiurge-sama incorrera ódio nos outros?
Mas o Demiurge-sama disse isso mesmo. Sim, sim, por favor ouça isso, de como o Demi-
urge-sama é realmente gentil. Da última vez, Demiurge-sama disse que seria uma pena
deixar os animais morrerem de fome, e então ele assou os filhos de ambos os lados e
serviu-os um ao outro. Certamente uma pessoa cruel e impiedosa não os teria se preo-
cupado em alternar os lados, mas sim os serviria diretamente, não?”
“M-mesmo?”
“Mas é claro. E para permitir que os pais de ambos os lados se despedissem de seus
filhos, Demiurge-sama os convidou para a mesa de jantar... Demiurge-sama permitiu que
eles dissessem adeus com um sorriso... Eu tenho certeza de que ninguém além dos Seres
Supremos poderia ser tão compassivo como ele é.”
Essas pessoas não eram entidades de Nazarick, então não importava o que acontecesse
com elas. Seus sentimentos sobre a pecuária de Demiurge desapareceram de seu cora-
ção depois de alguns segundos.
Mare sentiu que isso duraria para sempre, e então ele rapidamente cortou:
“—Ah, então, e a... e o Guren-san? Eu pensei que ele seria o único enviando isso, mas o
que ele está fazendo agora?”
“...É ele, ou talvez ela? Eu acredito que Guren-sama não tem sexo, mas quando eu o vi
há alguns dias, estava esperando em uma emboscada perto do portão de teleporte do
Sétimo Andar enquanto o Demiurge-sama estava fora.”
“Eu... eu entendo.”
Guren — um Guardião de Área que escondia seu corpo massivo dentro da lava fluente
e arrastava inimigos descuidados para um campo de batalha onde ele teria a vantagem,
assim lutava contra eles. Embora ele estivesse apenas no nível 90, estava otimizado para
o combate, e por pura bravura de luta sozinho, ele estava entre os primeiros combaten-
tes de Nazarick, e podia até mesmo se defender contra alguns dos Guardiões de Andar.
Assim, não havia melhor Guardião para o 7º Andar na ausência de Demiurge.
“Ah, parece que falei demais. Agora que entreguei o manifesto para suas mãos, Mare-
sama, agora devo espalhar mais sorrisos para os outros.”
“Não há necessidade de agradecimento. Estou satisfeito por poder ver seu sorriso,
Mare-sama.”
Depois de Mare assisti-lo sair, ele abriu o manifesto. O fato de que isso era para ele e
não para sua irmã o encheu de uma mistura de emoções — superioridade e culpa — e
depois que rapidamente examinou o conteúdo, ele piscou algumas vezes.
“Isso... não é um mero manifesto, é como uma mensagem que o Ainz-sama queria enviar
para os Guardiões.”
Havia uma lista de participantes, lia-se Ainz, Demiurge, Mare e Cocytus de cima para
baixo, cada um com uma opção de Vou/Não Vou ao lado. As duas primeiras entradas já
tinham circulado “Vou”. O nome de Sebas deveria estar lá também, mas ele estava sob
ordens de coletar informações com Solution em uma cidade humana.
O manifesto afirmava que a data não era fixa e que seria realizado quando fosse mais
conveniente para os participantes, razão pela qual ele poderia circular “Vou” sem qual-
quer hesitação. Mesmo o manifesto declarando que ele poderia recusar, não havia como
Mare recusar o convite de seu generoso e compassivo mestre. Não, ninguém em Nazarick
faria isso.
“...Ehehehe~”
Ele riu enquanto olhava para o “Vou” circulado. No entanto, em pouco tempo, as nuvens
envolveram seu coração.
O manifesto repetidamente enfatizou não informar as Guardiãs sobre isso, então ficou
claro que seu mestre queria manter isso em segredo entre os homens. Nesse caso, a me-
lhor maneira era entregar pessoalmente.
Não é bom esconder as coisas da Onee-chan... certo? Porque enquanto estou recebendo o
seu... er, devo chamá-lo de carinho, eu vou precisar da Onee-chan para guardar o Andar
sozinha.
Uma coisa era sair sob ordens, mas quando eles tinham que visitar os outros Guardiões
para se divertir ou fazer outras coisas, Mare e Aura sempre diziam onde estavam indo.
Isso porque Aura e Mare foram designados para proteger este Andar por ordem dos Se-
res Supremos, então fazer isso era apenas para ser esperado.
『Visitar o Cocytus?』
『O que aconteceu?』
Os ombros de Mare estremeceram de medo. Ele quase guinchou em vez de falar, e ele
mal conseguiu espremer uma voz normal.
『Oh—...』
Mas, hum, não posso fazer nada quanto a isso. Ainz-sama ordenou.
『Bem, acho qeu não tem problema. Pode ir. Mas o Quinto Andar é muito frio, então
não se esqueça de se proteger... oh sim, você deve estar bem lá, Mare.』
“Humm. Hum, eu posso lidar com isso com magia. Não se preocupe. Eu vou lá e volto
logo.”
Se ele continuasse falando, ele poderia acabar dizendo algo estranho. Portanto, Mare
apressadamente soltou o item mágico. Parece que sua irmã queria dizer outra coisa no
final, mas se fosse um bom ou mal conselho, ele não a ouviu.
♦♦♦
“...Hm.”
Mare olhou em volta. Já que ele se teletransportou através do Anel de Ainz Ooal Gown,
ele deve estar perto de seu destino.
Assim que encontrou o lugar onde precisava ir, Mare avançou com passos leves. Ele não
deixou pegadas na neve onde havia pisado. Seus pés não afundavam na neve, como se
ele estivesse andando em terra firme.
Neste mundo solitário de branco, o som da neve caindo parecia levar diretamente aos
ouvidos de Mare. É claro que a magia de percepção extra-sensorial sempre presente de
Mare o fez saber que esse lugar não estava realmente deserto. Os emboscadores sabiam
que ele era o Guardião do 6º Andar, e assim não se mostraram.
Diante dele havia uma grande esfera branca, que parecia um ninho de vespas invertido.
Seis cristais gigantescos rodeavam a esfera branca, suas pontas afiadas apontando para
o céu. Os cristais eram transparentes e havia pessoas visíveis por dentro.
Mare deu um passo, e um som desagradável que o deixou desconfortável saiu de de-
baixo de seus pés. Olhando para baixo, ele viu que o chão abaixo era diferente da neve
que pisara até agora; Era uma camada brilhante de gelo. Parecia grosso o suficiente, mas
não havia nada além de escuridão negra sob a camada de gelo. Era claramente um
grande buraco.
Mare pisou no gelo. Ele andou sem hesitar, como se tivesse certeza de que o gelo abaixo
dele não racharia. Ele pisou no gelo, que fez um ruído trêmulo e rangente, e chegou aos
arredores da esfera branca.
Mare não estava se dirigindo à enorme esfera branca, mas aos cristais ao redor.
“Bem-vindo, Mare-sama. Estamos felizes pelo senhor ter vindo pessoalmente visitá-lo.”
“Cocytus-sama está atualmente fora da Grande Tumba de Nazarick. Está visitando a al-
deia Lizardman.”
“É me... mesmo?”
Mare hesitou.
Já que tinha vindo até aqui, ele provavelmente poderia deixar o manifesto nos aposen-
tos de Cocytus e então deixar as Frost Virgins o informarem. No entanto, depois de pen-
sar sobre o conteúdo do manifesto, entregar diretamente seria a melhor maneira de re-
alizar as intenções de seu mestre.
Não havia regra que os impedisse de deixar Nazarick. No entanto, havia uma exigência
que precisava ser satisfeita para sair. Isso porque seu mestre proibiu estritamente que
perambulassem sozinho fora de Nazarick.
Depois de analisar os dados que haviam coletado até agora, o nível 100 dos Guardiões
de Nazarick o deixavam inimaginavelmente poderosos em comparação com o mundo
exterior, comparável a desastres ambulantes. Assim, como um daqueles desastres am-
bulantes, Mare não estaria em perigo quando se deslocasse sozinho para fora. Por outro
lado, era o mundo que deveria ter medo dele. No entanto, qualquer pessoa com uma
mentalidade tão imprudente certamente deve ter esquecido alguma coisa.
Esse era o fato de Shalltear ter sofrido uma lavagem cerebral por um inimigo que —
com toda a probabilidade — possuía um Item World-Class. E também havia vestígios da
existência dos jogadores no passado.
Qualquer um que fosse para fora tinha que ser escoltado por cinco vassalos de nível 75
ou mais alto, isso como requisito mínimo. Mare tinha dois Dragões que lhe foram desig-
nados diretamente como vassalos, mas trazê-los consigo seria muito óbvio. O caminho
mais rápido seria perguntar a sua irmã, mas quando pensou sobre o que tinha aconte-
cido quando veio para cá, não conseguiu reunir coragem para fazê-lo.
Só então, uma revelação passou por sua mente. Seus números e níveis estavam certos.
“Eu... sinto muito. Cocytus-sama ordenou que defendêssemos este lugar. A menos que
o próprio Ainz-sama ordene, nós não podemos desobedecer às ordens do Cocytus-sama...
nós imploramos seu perdão!”
Não poderiam fazer nada; ou melhor, já teria percebido se tivesse pensado nisso. De-
pois disso, ocorreu a segunda boa idéia, que era pegar emprestado os Evil Lords do 7º
Andar. No entanto, se ele simplesmente os perguntasse normalmente, seu pedido pro-
vavelmente seria negado. Ainda assim, ele só poderia contar com Demiurge para o aju-
dar.
Isso porque ele queria fazer o melhor possível para evitar perguntar aos Guardiões cu-
jos nomes não estavam escritos no manifesto. Além disso, a maioria dos vassalos que
estavam acima do nível 80 eram os subordinados diretos de um Guardião, e poucos eram
independentes.
Devido a essas duas razões, ele precisaria entrar em contato com Demiurge para pegar
emprestado seus Evil Lords.
Para contatar Demiurge, que estava do lado de fora, ele precisaria despachar um vas-
salo ou usar magia.
Então, há—
“Ah... ah, obrigado a todos. Er, acho que vou descobrir algum meio por conta própria.”
“Mesmo? Entendido.”
Mare ativou o poder do anel. Seu destino era a enorme biblioteca no 10º Andar de Na-
zarick — Ashurbanipal.
Após o teletransporte, o cenário ante dos olhos de Mare mudou de um campo nevado
para uma sala ampla. A cor básica dos móveis da sala era ébano-amarronzado e parecia
bastante digna, pois estava iluminada por uma iluminação cálida. O teto era uma cúpula
suave e havia um par de portas duplas em frente a ele.
Essas portas maciças eram grandes o suficiente para rivalizar com as que se abriam
para o Salão do Trono, e eram flanqueadas por um par de Golems, cada um com quase
três metros de altura. Ambos os Golems pareciam guerreiros e tinham sido construídos
a partir de metais raros por um Ser Supremo, então eram mais poderosos que os Golems
comuns.
A cena que se desenrolava diante dele não parecia mais uma biblioteca, mas uma vista
de um instituto ou algo semelhante — sim, parecia uma galeria de arte. O chão e as es-
tantes estavam elaboradamente decorados, e as estantes de livros também pareciam or-
namentos.
Acima havia um teto alto e uma sacada no mezanino no segundo andar. Além disso,
havia uma sala cercada por inúmeras estantes de livros. Cada centímetro do teto hemis-
férico estava coberto de afrescos magníficos.
Havia vitrines de vidro espalhadas pela sala, cada uma exibindo vários livros.
Embora houvesse inúmeras fontes de luz, elas não produziam uma iluminação forte.
Um ser humano certamente encolheria, reclamando sobre a penumbra da sala.
Claro, Mare podia ver no escuro como se fosse a luz do dia, e assim ele não se sentiu
assustado.
Ele estava atualmente no Salão da Lógica. Essa biblioteca fôra dividida em Salão da Ló-
gica, Salão da Sabedoria, Salão da Magia e em várias outras salas menores, com propósi-
tos específicos — como salas individuais para cada funcionário. Com isso em mente, seu
destino parecia bem distante.
♦♦♦
O primeiro tipo era o de dados de monstros, que poderiam ser usados para invocar
monstros mercenários.
Havia três tipos de monstros em Nazarick: os primeiros eram os NPCs, que eram feitos
exatamente como os jogadores eram; os segundos eram os monstros que nasciam auto-
maticamente com nível 30 ou menos, e os últimos eram os monstros invocados que po-
diam servir como mercenários. Esses monstros mercenários tinham que ser convocados
através de um ritual que usava um livro e depois gastava uma quantidade apropriada de
moeda de acordo com seu nível. Portanto, não se pode convocá-los sem um livro.
Certos cristais de dados só poderiam ser incorporados em itens do tipo livro. Na maior
parte, os itens do tipo livro eram itens mágicos de uso único. A diferença entre eles e os
pergaminhos era que um deles precisava ser de uma profissão relacionada à conjurado-
res para usar um pergaminho, já itens do tipo livro poderiam ser usados por qualquer
pessoa.
O terceiro tipo eram itens de eventos. Não era incomum que os itens necessários para
mudar para uma profissão específica assumissem a forma de livros. Quando Ainz tinha
ido de um Mago Skeleton para um Elder Lich, ele precisara do item conhecido como o
Em outras palavras, eram livros que continham dados visuais para espadas, escudos,
armaduras e similares. Qualquer pessoa com habilidades específicas de ferreiro poderia
usar esses livros com as matérias-primas necessárias para produzir uma skin de item.
O quinto tipo eram romances distribuídos em forma de livro. Os exemplos mais comu-
mente vistos foram peças de literatura clássica cujos direitos autorais haviam expirado,
seguidos por material de apoio da equipe de desenvolvimento e, em seguida, histórias
originais criadas por jogadores de YGGDRASIL. Havia também algumas criações secun-
dárias no universo de YGGDRASIL, ou orientações em estilo diário para o jogo.
Dentro da Grande Tumba de Nazarick, a grande maioria dos livros dentro de sua bibli-
oteca pertencia ao primeiro tipo — livros reunidos para invocar monstros mercenários.
Claro, não havia necessidade de coletar tantos livros.
Na verdade, mesmo que alguém despejasse os cofres da guilda aqui, não seria possível
invocar nem 1/10º dos monstros dos livros que preenchiam esse lugar. Então por que
eles tinham tantos livros? Isso porque os livros de invocação não eram particularmente
caros, então os membros da guilda decidiram pôr mãos à obra e fizeram uma enorme
pilha de cópias. Isso também serviu ao propósito de ocultar itens importantes.
♦♦♦
O fantasma usava uma túnica preta e parecia se fundir na escuridão. Havia uma varinha
de joias na cintura e várias joias amarradas ao cinto.
Sob o capuz havia um rosto esbranquiçado que já havia se transformado em cera cada-
vérica. Suas mãos eram pele e ossos. Toda vez que se movia, a escuridão fraca que o
rodeava se movia também.
No entanto, ele diferia dos Elder Lich em geral, ele tinha uma braçadeira no braço es-
querdo.
“Bem-vindo, Mare-sama.”
O Elder Lich falou em voz rouca e truncada, depois se curvou em deferência, lenta, mas
profundamente, com uma das mãos agarrada ao peito em um movimento firme e digno.
“Obrigado.”
Enquanto Mare o seguia, ele olhou para os outros Elder Liches e undeads do tipo magic
caster enquanto se dirigiam à sua destinação.
“Oh, sim, gostaria que eu levasse esse livro de volta para o senhor?”
“Muito obrigado.”
O que deveria ter sido uma sala espaçosa parecia opressiva e apertada, graças às gran-
des prateleiras de todos os lados.
É claro que esses não eram todos os recursos que a Grande Tumba de Nazarick possuía.
Havia várias centenas de vezes esse valor armazenado na Tesouraria.
Apenas os suprimentos que seriam prontamente usados eram armazenados nesta sala.
Havia uma mesa extragrande no centro, com um pedaço de pergaminho aberto sobre
ela.
Diante da mesa havia um corpo esquelético que parecia uma fusão de ossos humanos e
animais.
Dois chifres de aparência demoníaca projetavam-se de sua cabeça e tinha as mãos com
quatro dedos. Abaixo de seus tornozelos havia os pés fendidos.
Esta criatura bizarra estava envolta em um himation de cor açafrão. Além disso, um
capuz de material semelhante encobria sua cabeça sem ser perfurado pelos chifres, e
havia outro pedaço de pano em volta da cintura.
Além disso, ele usava uma pulseira de prata com uma joia multicolorida, também havia
um ankh dourado em volta do pescoço, e tinha vários anéis estranhos e com aparência
complexa em seus dedos ossudos, que pareciam estar enrolados ao redor dos dedos. Ha-
via joias anexadas ao himation que tomavam o lugar de uma faixa. Cada uma delas era
um item mágico bastante poderoso.
No entanto, este Mago Skeleton era o principal bibliotecário desta enorme biblioteca —
Titus Annaeus Secundus.
Este ser não foi criado pelos Seres Supremos para se concentrar no poder de combate,
mas na capacidade de criação de itens. De fato, seu nível total era maior do que o do
Elder Lich de antes.
“Ah-sim. Hum. Eu gostaria de pedir emprestado seus vassalos que estão acima do nível
setenta e cinco.”
“...Eu nunca esqueci as palavras do meu governante, Ainz-sama. Depois disso, conside-
rei sua situação e adivinhei imediatamente — muito bem.”
“Eu lhe empresto os Overlords desta biblioteca: Cocceius, Ulpius, Aelius, Fulvius e Au-
relius.”
“Eh? S-Sério!?”
“Mas é claro. Com toda honestidade, seu potencial de batalha é um tanto excessivo para
a biblioteca. Em vez de fazê-los ficar em ócio durante todo o dia, é muito melhor que eles
sejam seus acompanhantes. Tenho certeza que isso os deixaria muito felizes.”
“Dito isto, alguma recompensa é necessária. Eu gostaria que o senhor me ajudasse com
uma tarefa, a criação de pergaminhos.”
“A escolha é sua.”
Mare pareceu intrigado. Ser dito para decidir por si só era muito difícil. Ele não sabia se
deveria usar apenas uma magia comum.
Havia uma pequena mesa ao lado da mesa de desenho com o pergaminho. Titus esten-
deu a mão ossuda para a mesa e tocou uma pilha de ouro brilhante —moedas de ouro
de YGGDRASIL.
“Agora.”
Mare — que aguardava nervosamente sua sugestão — lançou sua magia como se ti-
vesse sido surpreendido.
Normalmente, isso teria concluído o pergaminho. Isso foi o que Mare pensou.
♦♦♦
Mare olhou em estado de choque quando o pergaminho queimou como se tivesse sido
embebido em álcool, mas dentro de alguns momentos, o fogo tinha se apagado.
♦♦♦
No entanto, havia evidências na mesa que provavam que o que acabara de acontecer
não era uma ilusão.
Titus parecia ter antecipado isso e, suavemente, pegou as cinzas para examiná-las.
“Então não pode impregná-los com magias de quarto nível. Parece que confirmei que
não tem nada a ver com o poder de quem conjura.”
Tito murmurou algo como: “Amostra de dez anos de idade foi um fracasso” e fez anota-
ções.
“Não se preocupe. Eu tentei usar os materiais deste mundo para fazer pergaminhos, a
fim de economizar em custos de pergaminho, mas sua qualidade é simplesmente atroz.”
♦♦♦
O nível de uma magia limitava os materiais que poderiam ser usados para fazer um
pergaminho que a contivesse.
Por exemplo, pergaminhos feitos de rolo de nível médio podem conter uma magia de
2º nível no máximo, mas não de um nível mais alto. Se alguém usasse o grau mais alto de
pergaminho —feito de couro de Dragão — poderia escrever uma magia de 10º nível nele.
Naturalmente, o couro de Dragão era um material especial, que exigia matar um Dragão.
Por essa razão, os membros da guilda Ainz Ooal Gown se uniram para fazer um criatório
de Dragões, mas isso foi nos dias de YGGDRASIL. Até que pudessem verificar que este
mundo continha Dragões — bem como outras feras — Ainz havia imposto sensivel-
mente uma restrição ao uso de couro de Dragão.
Ele não podia fazer algo tolo como gastar um recurso não renovável. Afinal, não havia
como dizer quando ele poderia precisar usá-lo.
♦♦♦
Mare soltou um suspiro de alívio. Titus olhou para ele com interesse em seus olhos,
depois varreu as cinzas em uma lixeira.
“Er, então, isso significa que os materiais deste mundo não são adequados para fazer
pergaminhos?”
“Isso é bem possível. Não, eu não sei ainda. Pode ser que meus métodos de fabricação
não sejam ortodoxos neste mundo. Por exemplo, eles parecem produzir poções de uma
maneira marcadamente diferente.”
“Mas... tem certeza? Se é apenas um fracasso, não poderia ser culpa do pergaminho?”
“Se for apenas um com defeito, diz nesse sentido? Eu já usei o pergaminho do lado de
fora para vários experimentos, mas sempre que eu tento imbuir uma magia acima do
terceiro nível, recebo o mesmo resultado — a destruição. É bem provável que o perga-
minho se desintegre porque o poder mágico não pode ser infundido nele.”
“...Mas os magic casters neste mundo todos usam esse tipo de pergaminho, não é?”
“—Os resultados experimentais foram ainda piores; eles estavam limitados a magias de
primeiro nível.”
“Então, isso significa que os humanos sabem fazer bom uso de materiais mais pobres?”
“Não. Eu acredito que pode ser uma diferença tecnológica. Mesmo que me doa admitir,
a técnica deles é, até certo ponto, mais refinada do que a nossa. Eu adoraria adquirir essa
nova tecnologia e melhorar minhas habilidades.”
“Isso é incrível!”
Mare não sentiu nada além de respeito pelo espírito de autoaperfeiçoamento do Bibli-
otecário-Chefe.
Ele entregou o anel a outra pessoa ao longo do caminho e depois chegou à superfície.
Lá, Mare e companhia realizaram um teleporte em massa e chegaram no meio de uma
sala dentro de uma estrutura de pedra na aldeia Lizardman.
Este edifício foi construído de uma pedra densa e resistente. Ele só poderia ser cons-
truído em um local com solo suficientemente firme, exigindo técnicas de construção que
os Lizardmens não possuíam. Escusado será dizer que as pessoas que construíram este
lugar foram terceiros — um grupo da Grande Tumba de Nazarick.
A razão para ter pessoas vindo de Nazarick para construir essa estrutura estava atrás
das costas de Mare. O objeto que estava dentro das profundezas deste edifício explicava
tudo.
Uma estátua de pedra feita à imagem de Ainz Ooal Gown, governante da Grande Tumba
de Nazarick, erguia-se sobre uma plataforma elevada. Era tão natural que parecia que o
original havia sido transformado em pedra. O modo em que elevava seu bastão irradiava
a dignidade e a seriedade de um governante.
Todo tipo de oferendas adornava o altar diante da estátua. Naturalmente, essas oferen-
das eram inúteis aos olhos de Mare, escassas homenagens de flores, peixes e coisas do
gênero.
Isso porque quem fizera essas oferendas estavam cheios de genuíno respeito e reve-
rência. Por exemplo, flores frescas não cresciam no pântano, mas nas florestas que eram
muito perigosas para os Lizardmen — eles devem ter arriscado a vida para colhê-las. Os
peixes eram a dieta básica dos Lizardmen, mas as oferendas eram muito maiores do que
o tamanho médio dos peixes. Mare entendeu que eles tinham escolhido apenas os espé-
cimes mais impressionantes para oferecer.
“Mm...”
Vendo a gentalha expressar seu respeito por seu grande mestre o deixou muito feliz.
“Bom trabalho.”
Eles eram o pessoal responsável pela limpeza deste santuário. Possuíam habilidades
druídicas, que eram raras entre os Lizardmen, e usavam crachás com o emblema da gui-
lda de Ainz Ooal Gown no pescoço.
Havia uma grande diferença entre seus postos e o de Mare, entre a dos conquistados e
seus conquistadores, de modo que não havia necessidade de agradecê-los pelo árduo
trabalho. No entanto, pelas razões mencionadas anteriormente, Mare ficou tão satisfeito
com seus trabalhos que decidiu agradecer-lhes por isso.
Mare deixou os Lizardmen se curvarem sem parar atrás dele e afastou os cinco Over-
lords do santuário.
De fato, eles perderam muitas pessoas durante a guerra. No entanto, as cinco tribos
eram agora uma e, no final, formaram uma aldeia maior e mais forte.
A cerca de fronteira abrangia uma área ampla. Em algum momento, torres de vigia ha-
viam sido construídas no pântano enlameado, e em cima de cada uma delas havia um
Skeleton — provavelmente um Old Guarder de Nazarick — examinando os arredores
com uma flecha encaixada em seu arco. Vários Old Guarders de Nazarick podiam ser
vistos andando pelo pântano; presumivelmente, eles estavam realizando reconheci-
mento em caso de ataque inimigo.
Cocytus destacava-se de muitas maneiras. Se ele estivesse na aldeia, deveria ser imedi-
atamente visível daqui; se estivesse dentro de uma construção, deveria haver vassalos
como os que Mare trouxe esperando lá fora. Com isso em mente, ele olhou ao redor de
toda a aldeia, mas não conseguiu encontrá-lo.
Mare olhou para o pântano — na pacata aldeia dos Lizardmen. Ninguém aqui era cau-
teloso com os Old Guarder de Nazarick. Até as crianças Lizardmen eram do mesmo jeito.
Ambos os lados pareciam estar coexistindo como se fosse a coisa natural a fazer.
Uma vez que o grupo saiu da floresta, eles viram um projeto de construção em grande
escala em andamento no outro lado do pântano.
O fluxo de água aqui havia sido represado e cerca de dez Golems de Pedra estavam es-
cavando o solo. A areia e a lama que desenterraram foram levadas por Lizardmen com
carrinhos de mão na margem.
Enquanto Mare observava o que eles estavam fazendo, um Lizardman robusto correu
com pressa.
Este Lizardman estava coberto de feridas antigas. Seu físico era imponente e ele era
distintamente diferente de um Lizardman comum. A medalha em volta do pescoço ba-
lançava descontroladamente devido à sua pressa.
A medalha era um símbolo de lealdade e também uma marca de proteção. Não era má-
gico, mas ao usá-lo, eles poderiam provar que eram propriedade de Ainz. Portanto, nin-
guém da Grande Tumba de Nazarick que reverenciava os Seres Supremos como deuses
poderia prejudicar intencionalmente os Lizardmen. Claro, seria diferente se eles mere-
cessem a morte, mas felizmente os Lizardmen não eram tão estúpidos. Eles conheciam
seu lugar e reconheciam os fortes como seus soberanos.
“Ah, eu... eu ouvi do Cocytus-san... ah, você sabe onde o Cocytus-san está agora?”
“Eu me lembro que o Cocytus-sama levou vários de seus subordinados e várias dezenas
de Lizardmen em sua expedição para subjugar os Toadmen.”
“Toadmen?”
“Eles são os demi-humanos que vivem nos confins à nordeste do lago. Se parecem com
sapos, e nós não nos damos muito bem com eles. Eles possuem a habilidade de controlar
grandes monstros e feras mágicas, então são oponentes muito complicados pra nós. Eu
ouvi dizer que houve uma guerra uma vez durante o tempo do meu avô. Nós fomos der-
rotados e uma das nossas tribos foi dissolvida como resultado.”
“Como... como esperado das espécies do norte, elas são bem fortes.”
Este lago tinha a forma de dois lagos menores unidos, ou uma cabaça invertida. O lago
menor no sul, onde os Lizardmen residiam, era meio pântano e meio lago, e devido às
águas rasas haviam poucos monstros grandes. Em comparação, a água no lago do norte
maior era mais profunda, muitos monstros grandes viviam lá e eram mais fortes que os
monstros do sul. Claro, essa diferença era irrelevante para Mare.
“Isso mesmo, quando você mencionou Toadmen, estava falando de uma espécie cha-
mada Tuvegs?”
Mare estava se referindo aos monstros que viviam no pântano venenoso ao redor de
Nazarick no passado. Ele sabia que sua irmã tinha vários desses monstros como serven-
tes.
“Bem, eu não tenho muita certeza disso. Talvez possa perguntar ao Cocytus-sama de-
pois que ele voltar? Provavelmente voltará em breve.”
“Compreendo. Então, eu vou perguntar sobre outra coisa, sobre... sobre isso. Parecem
estar construindo algo grande aqui, o que é isso? É bem distante da aldeia, mas não pa-
rece uma cerca ou algo defensivo...”
Era bom que as tribos Lizardman pudessem se unir. Mas uma vez que sua população
crescesse, a escassez de alimentos naturalmente apareceria. E já que muitas pessoas
morreram durante a guerra, elas não podiam caçar ou capturar o suficiente para alimen-
tar seu povo. Claro, eles poderiam resolver esse problema voltando para suas antigas
aldeias para pescar, mas Cocytus, o novo governante dos Lizardmen, não concordou.
A fim de garantir a prosperidade dos Lizardmen, Cocytus tomou medidas para resolver
este problema — o problema alimentício.
Eles tinham trabalhado sem parar e construíram três gigantescos criatórios de peixes,
e este foi o quarto.
“Sim. O que nós... não, o que meu irmão aprendeu não foi criá-los desde alevinos, mas
criar peixes já crescidos. No entanto, graças à orientação do Demiurge-sama, fizemos
preparativos para cultivar alevinos também. Se tudo correr conforme o planejado, tere-
mos sustento uma população várias vezes maior que atual através da produção dos cri-
atórios de peixes.”
“Eu... eu entendo. Dentro de alguns anos não precisarão pegar peixes de Nazarick. Ah,
claro, se surgir uma emergência, imagino que seja sempre bem-vindo para pescar lá.”
“Eles são a comida que foi feita pelo poder de Ainz-sama e os outros Seres Supremos.”
A comida que Cocytus lhes dera era feita com um item mágico chamado Cauldron of the
Daghdha.
“O quê!? Ainz-sama poderia realmente fazer peixe suficiente para alimentar a todos!?”
“Quando Zaryusu e os outros visitaram a fortaleza dos Supremos e voltaram com histó-
rias do que viram, pareceu mais um sonho. Eles disseram que a Grande Tumba de Naza-
rick continha muitos mundos menores por dentro, uma verdadeira terra dos deuses.
Ainz Ooal Gown-sama é realmente um deus...?”
Por que esse Lizardman declarava o óbvio? Mare não pôde entendê-lo e inclinou a cabeça
em confusão.
Ainz Ooal Gown era o maior dos deuses. Ele era o criador.
“Entendo. Então tudo isso nos foi concedido pelo Ainz-sama. Meus agradecimentos a
Ainz-sama.”
Parte 3
Ainz fez um gesto com a mão esquerda e manteve uma postura imponente.
Mais uma vez, ele gesticulou com a mão esquerda e congelou no meio da pose. Ele veri-
ficou o reflexo de si mesmo no espelho e ajustou ligeiramente a posição da mão esquerda.
“...Ótimo? ...É este ângulo? Não... Seria mais legal se eu estendesse a mão um pouco mais
para a esquerda?”
Finalmente satisfeito com a pose, Ainz pegou o bloco de anotações na mesa ao lado dele.
“Já que terminei a pose... eu deveria praticar as falas enquanto eu tenho tempo extra.”
Ele circulou a frase que ele estava praticando anteriormente com uma caneta e, em se-
guida, virou uma página.
Para Ainz, que costumava ser uma pessoa comum, agir como um líder era difícil. Assim,
ele repetidamente praticou esse papel apenas no caso de uma situação exigida. É claro
que todo o bloco de notas estava cheio de frases que Ainz havia pensado.
Mesmo tendo passado uma hora desde que Ainz começou a praticar, ele não precisava
de descanso.
Ainz era o supremo governante, mas na realidade, ele mal fazia nada. A menos que hou-
vesse decisões importantes ou situações de emergência que exigissem sua liderança, não
havia nada a fazer. Albedo cuidava de todos os detalhes e tudo o que Ainz tinha que fazer
era folhear os relatórios.
Como nunca havia nada nos relatórios que exigissem seu zelo, ele nem mesmo prestava
atenção ao ler. Era um pouco perigoso para um governante, mas enquanto Albedo esti-
vesse por perto e não houvesse emergência, não haveria problema.
Todas as organizações corretas devem ser assim mesmo. Não é bom alguém que está
acima dos outros trabalhar nas linhas de frente.
Era uma jogada tola para o comandante supremo de um exército participar dos comba-
tes nas linhas de frente, a menos que ele estivesse lá para levantar o moral. Se ele fizesse,
seria muito perigoso.
Eu deveria desistir desse negócio de aventureiros e reunir conhecimento para lidar com
situações de emergência — sei que tenho que treinar minha mente também, mas o que
devo fazer? Quem vai me ensinar...? Não posso arruinar a imagem do Ainz Ooal Gown em
que todos acreditam...
“Algo que se ajusta ao soberano supremo de Nazarick... Uma forma digna de respeito...”
Ainz Ooal Gown era undead e as emoções acima de um certo limite seriam suprimidas.
Mas—
Depois de se repreender por tentar fugir, os olhos de Ainz se encheram de força e ele se
olhou no espelho novamente.
O som vindo da pulseira no braço esquerdo era como música para os ouvidos de Ainz.
Ele desligou o sinal súbito e suspirou profundamente.
“Se o tempo acabou, então já não há nada mais que posso fazer. Sim, o tempo acabou.”
Ainz devolveu o bloco de notas para uma caixa. Quando ele fechou a tampa, ele podia
ouvir o som de várias travas sendo ativadas. Se alguém tentasse abrir a caixa com força,
isso acionaria uma extensa série de magias de ataque, todas centralizadas na caixa para
destruí-la. As defesas na caixa eram formidáveis o suficiente para que ninguém, a não
ser um personagem Ladino de nível 90, ou um personagem extremamente especializado
com profissão Ladino de nível 80 pudesse violá-las.
Depois de travar o item com segurança, ele retornou à sua dimensão de bolso. Havia
muitos outros itens raros lá também. Ainda assim, um Ladino de alto nível poderia rou-
bar itens de um lugar como esse também. Dito isto, um Ladino não poderia apenas imo-
bilizar seus oponentes e roubá-los sem ninguém ver. Eles estavam limitados a um ou
dois itens no máximo. Ainda assim, a perspectiva de ser assaltado apenas uma ou duas
vezes fazia com que Ainz — que não deveria ter medo algum graças aos seus traços ra-
ciais — estremecesse de terror.
Além disso, poderes desconhecidos como Talentos existiam também. Foi por isso que
ele colocou a caixa entre outros itens raros, para que ladrões os roubassem em vez da
caixa.
Era como se fosse uma dona de casa verificando se a porta principal estava trancada
antes de ir em uma viagem. Depois que fez isso, ele finalmente deu um suspiro de alívio.
Só depois de fazer tudo aquilo, Ainz finalmente saiu do quarto. O lugar para o qual es-
tava indo era uma sala que ele usava regularmente em seus estudos. Os que se curvaram
profundamente a ele foram uma empregada regular, Albedo e Mare.
As duas primeiras dificilmente eram uma visão rara, mas o menino não vinha aqui com
frequência e surpreendeu Ainz. Ele atravessou a sala, circulou em torno de sua mesa de
ébano e sentou-se, de uma maneira que havia praticado mais de 30 vezes antes.
Sentar-se assim significava não pisar no manto ou fazer barulho ao empurrar a cadeira.
Depois disso, ele teve que ser cuidadoso sobre como se recostava na cadeira. Não ficaria
bom se seus movimentos fossem muito apressados ou se colocasse muito peso no en-
costo da cadeira. Os reis tinham um ar de realeza — talvez — ao se sentarem.
Mas eu não sei como os reis se sentam... eu deveria observar como um rei se senta...
Portanto, tudo o que Ainz poderia fazer era montar a imagem de um rei ideal em sua
mente.
“Levantem a cabeça.”
Foi só então que os três olharam para cima. Ainz estava aborrecido pelo fato de que não
levantariam a cabeça sem um comando explícito, e sentiu que isso era uma perda de
tempo. Ainda assim, ele não podia ignorar a lealdade que mostravam ao seu mestre. Por-
tanto, Ainz suportava isso toda vez e respondia da mesma maneira.
“A-ah, s-sim!”
Talvez Mare estivesse nervoso, sua voz falhava um pouco. Ainz sorriu. É claro que não
havia como seu rosto sem carne se torcer, mas ele ainda fazia o melhor que podia para
exalar um ar de bondade. Talvez Mare tivesse sentido isso, mas deu um suspiro de alívio.
Ele parecia menos travado agora.
Ainz estendeu a mão para parar a empregada do dia, já que ela tentava pegar o item do
Mare.
“Sim!”
Mare segurou seu peito enquanto caminhava até Ainz e entregou a pasta que ele estava
segurando.
“Por direito, Cocytus deveria ter enviado um lacaio para entregar isso para mim. Des-
culpa por causar te causar esse inconveniente, Mare.”
“N-não tem problema, não é nada, nada do tipo! Cocytus-san estava ocupado, então eu
insisti em ajudá-lo. E além disso—”
...Esse é o anel de Ainz Ooal Gown. Não, eu estou feliz que ele valoriza tanto, mas colocá-
lo naquele dedo significa... Espera aí, por que ele está olhando para mim com olhos lacri-
mejantes...
Ainz estremeceu, e então olhou discretamente para Albedo. Ela estava sorrindo gentil-
mente, como sempre.
Como esperado, ela usava o Anel ali também, assim como Mare. Parecia que era o lugar
certo para usar o anel.
Ele se lembrou do que Yamaiko lhe dissera sobre o significado de usar um anel em de-
dos diferentes.
“O que é, Mare? Viu alguma coisa estranha? Algo caiu no meu rosto?”
Ele escolheu suas palavras com cuidado, certificando-se de que sua resposta não soasse
como escárnio.
“Não... de... de jeito nenhum. Eu simplesmente pensei como o senhor é incrível, Ainz-
sama.”
“Não é bajulação!”
Depois daquela breve resposta, Ainz levantou-se de seu assento e caminhou até Mare,
em seguida gentilmente acariciou a cabeça do menino que tinha ficado tenso em anteci-
pação a uma bronca.
“Ai-Ainz-sama...”
Foi incrivelmente embaraçoso dizer isso, mas ele não demonstrou nenhuma dessas
emoções semelhantes a Suzuki Satoru.
“Eu sempre estive pensando nisso; Eu deveria agradecer aos meus amigos.”
A empregada que acabara de ser abordada de repente estava em pânico. Ela era tipica-
mente calma, então depois de ver esse raro lado dela, Ainz riu alegremente.
“Obrigada, Ainz-sama.”
“Quando todos os Seres Supremos deixaram este lugar, só o senhor permaneceu aqui
até o fim, e todos em Nazarick são gratos por isso. Talvez tenhamos deixado de satisfazer
suas expectativas e talvez tenhamos o aborrecido. Eu entendo que falar dessa maneira
ao nosso criador é profundamente rude, mas eu rezo para que o senhor permita — que
o senhor nos permitirá prometer nossa lealdade eterna.”
“Eu permito isso. Eu me lembro que, no passado, Albedo e Demiurge disseram algo se-
melhante a mim, então ouça isso — eu sou o mestre de Nazarick; Eu sou seu mestre, Ainz
Ooal Gown.”
Ainz nunca havia ensaiado essas frases antes, então ficou surpreso com a facilidade com
que conseguia recitá-las. No entanto, quando ele pensou sobre isso, isso era de se espe-
rar. Desde que ele estava falando do coração, fazia sentido que ele pudesse fazê-lo de
uma maneira tão natural.
Ele sentiu uma sensação úmida se espalhando pelo ombro de seu manto, mas Ainz dei-
xou Mare se afagar nele. Quando o som do choro e soluços de Mare gradualmente dimi-
nuiu. Ainz gentilmente acariciou a cabeça do menino.
Ele nunca tinha limpado o rosto de outra pessoa antes, então talvez seus movimentos
fossem um pouco grosseiros, mas Mare permitiu que Ainz o limpasse.
“Ah, eu vou para E-Rantel depois. Eu preciso encontrar o Chefe da Guilda. Eu adiei por-
que é chato, mas não posso mais demorar. Então—”
Ainz olhou para Albedo, que permanecia em silêncio por todo esse tempo. Seus longos
cabelos cobriam o rosto e ele não conseguia ver sua expressão. No entanto, o tremor sem
parar de seu corpo foi o suficiente para golpear o terror no coração de Ainz. A imagem
de um vulcão fervendo de raiva, à beira da erupção, passou por sua mente.
E naquele momento—
“—Gu-guwaargh!”
—O campo de visão de Ainz mudou quando ele sentiu um impacto nas costas.
Naturalmente, não doeu. O corpo de Ainz só poderia ser prejudicado por meios mágicos.
Ele não sentiu dor pelos impactos leves que resultaram do choque nas coisas. No entanto,
os remanescentes de sua humanidade o fizeram fechar os olhos em reflexo.
“Nh, ngghhh...”
Ainz checou para ver qual era a forma de vida suave que o prendia, e como esperado —
era Albedo.
“Ainz-samaaa!”
Albedo estava montada em Ainz que estava preso no chão e o empurrou para baixo com
a pélvis enquanto ele tentava se levantar.
Albedo de repente abriu os olhos. Suas pupilas douradas chamejantes enviaram um ar-
repio na espinha de Ainz.
Albedo ignorou a pergunta em pânico de Ainz e levou as mãos para a frente do vestido.
Como uma mulher de sites de câmeras ao vivo +18, ela tentou retirá-las, mas não conse-
guiu movê-las.
“Roupas mágicas são tão irritantes. Precisa de uma habilidade para destruí-la ou tirá-la
normalmente.”
Ainz pensou em empurrá-la com força bruta, mas Albedo era uma guerreira de nível
100. Além disso, sempre que Ainz tentava afastá-la, suas mãos faziam contato com algo
macio e mole, então ele não podia usar sua força total. As mãos de Albedo se moveram,
procurando remover o manto de Ainz.
“Ah, awawawawa...”
Se Albedo tivesse escolhido esse momento para repreender Ainz por mudar sua narra-
tiva, talvez ele tivesse perdido a vontade de resistir a isso.
No entanto, Albedo parecia que comê-lo-ia por inteiro, então ele não sentia culpa, mas
sim o terror de alguém que estava prestes a ser devorado. Isso o fez lutar ainda mais
desesperadamente.
Foi só então que seus subordinados, que ficaram aturdidos com o desenvolvimento re-
pentino, finalmente entraram em ação.
“Albedo-sama enlouqueceu!”
“Albedo-sama enlouqueceu!”
“Tirem ela de cima do Ainz-sama! Não, não tente imobilizá-la, ela vai escapar imediata-
mente! Apenas a afaste com força bruta!”
“Nada bom! Que força absurda! Eu não esperaria nada menos da Supervisora Guardiã!
Mare-sama, nos ajude!”
“—Awawa! Ce-certo!”
♦♦♦
No final, Ainz foi finalmente libertado, e depois de suavizar suas vestes amarrotadas,
ele olhou para Albedo, que foi agarrada pelas mãos e pés pelos Eight-Edge Assassins, e
disse:
“Eu estou perfeitamente bem... Albedo sempre foi tão estranha assim? Ela comeu algo
estranho? ...Com certeza, demônios não precisam comer nem beber, mas não é como se
não pudessem.”
Ainz levantou-se e chamou a empregada. Ele recuperou sua dignidade — que antes es-
tava espalhada pelos ventos — e falou em tom de comando.
Ainz puxou as rédeas de onde ele estava montado nas costas de Hamsuke, fazendo Ham-
suke parar. Ele silenciosamente ponderou os portões da cidade de E-Rantel.
Ainz gostava bastante desses portões grossos e robustos, que pareciam poder repelir
um exército. Embora houvesse muitos portões em YGGDRASIL que eram maiores e mais
legais (na aparência) do que este, pois este portão não era um amontoado de dados, mas
feito pelas mãos da humanidade — mesmo eles podendo ter assistência mágica.
Havia guildas em YGGDRASIL que conquistaram cidades também. No passado, achei pro-
blemático usar um local que fosse tão difícil de defender como uma base de guilda, mas...
acho que posso entender as guildas agora. Governar uma cidade grande pode ser uma am-
bição masculina.
No passado, Ainz não gostava muito dessas palavras, mas quando ele pensava sobre
isso agora, eram boas lembranças.
Hamsuke ficou curioso e fez sua pergunta pois seu mestre havia dito que parasse e, no
entanto, não fizera nada. A resposta curta de Ainz havia encerrado o assunto. Sentiu-se
envergonhado por deixar que Hamsuke soubesse que estava relembrando o passado.
Além disso, sempre que Ainz se registrava em uma pousada, ele imediatamente se tele-
transportava de volta para Nazarick, onde produzia undeads e trabalhava em outras coi-
sas. Sendo esse o caso, seria mais sensato ter uma missão de extermínio de monstros e
deixar a cidade o mais rápido possível.
Francamente falando, ele não sentia que havia mais mérito em ficar perto de E-Rantel.
“Não é como se eu gostasse ou algo assim. Além disso, quando eu destruo monstros, eu
os mato imediatamente e passo a maior parte do tempo em Nazarick.”
“Eu pretendo te dar todos os tipos de treinamento para que possa usar armas e arma-
duras.”
“Este aqui sempre dá tudo de si! Este aqui pediu aos Lizardmen que ensinassem este
aqui vários tipos de truques, e logo este aqui certamente será capaz de aprender um
super golpe!”
“Ho~ Bem, seria perfeito se pudesse aprender artes marciais. Além disso, e quanto ao
seu discípulo? Acha que ele vai poder usar artes marciais?”
“Milorde quer dizer ele? Ele nunca fala, então este aqui não sabe. No entanto, este aqui
sente que ele não pode ser útil ainda.”
De fato.
Ainz pensou. Não havia como alguém gostar de falar com aquilo, e Ainz sentiu que as
chances de aprender artes marciais eram pequenas. Foi pouco mais que uma experiência.
Dito isto, se aquilo — um Death Knight criado por Ainz — pudesse realmente aprender
técnicas de guerreiro, seus planos futuros teriam que ser muito alterados. Isso porque,
se ele pudesse fortalecer os monstros treinando-os, então provavelmente se tornaria
uma prioridade máxima.
“Um momento por favor! Ele se esforça a seu modo! Mesmo depois disso, ele volta para
a morada deste aqui, ele continua treinando sem uma única palavra de queixa... Este aqui
pede que poupe a vida dele!”
“...Não, eu não pretendia matá-lo, sabia disso? Por que pensou uma coisa dessas?”
“De fato, não há ninguém mais misericordioso em todo este mundo do que o Ainz-sama.
Ainz-sama até teve pena de uma criaturinha patética como você e poupou sua vida.”
Aquelas palavras frias vieram de Narberal, que estava andando atrás deles, e fizeram
Hamsuke estremecer.
“Entendido.”
“Além disso, Hamsuke é um ser com uma parte importante a desempenhar no plano
para fortalecer Nazarick... você deve tomar a atitude apropriada com aqueles que traba-
lham com amor por Nazarick. Não estou me referindo apenas a Hamsuke, então tenha
isso em mente.”
Além disso. Pare de chamar humanos de carrapatos, piolhos ou qualquer inseto que seja!
Ainz queria dizer, mas não importa como ordenasse, Narberal não gostaria de ouvir,
então recentemente ele decidiu não se incomodar. Isso porque se Narberal Gamma ti-
vesse sido projetada para se referir inconscientemente aos seres humanos de tal ma-
neira, forçá-la a se corrigir seria essencialmente atropelar os desejos de seu amigo que
a projetou dessa maneira.
“Sim, Milorde.”
Ele podia ver várias pessoas alinhadas em frente ao portão. Era de se esperar que a
imigração fosse mais rigorosamente controlada do que a emigração, e todos os itens que
transportassem seriam cuidadosamente inspecionados. Portanto, se comerciantes ou
Narberal perguntou enquanto eles estavam alinhados atrás de vários viajantes — in-
cluindo um grupo de aventureiro trajados.
Ela estava certa. Quando Ainz chegou pela primeira vez aqui, ele também tinha sido
submetido a testes extremamente problemáticos, mas como seu recorde de aventuras
cresceu, o processo de inspeção ficou mais simples, e agora praticamente tinha um passe
livre para passar por eles. Além disso, às vezes ele recebia permissão para entrar prefe-
rencialmente na cidade.
Esse privilégio não era exclusivo da Escuridão; quase todos os aventureiros mythril e
acima receberam um tratamento mais especial. Talvez fosse porque a cidade não queria
desagradar seus trunfos.
Nesse caso, por que não acabar com o pedágio de entrada também?
“Não podemos furar fila... a menos que haja uma emergência, ou temos que entrar na
cidade com a devida prontidão.”
Ele viu Narberal curvar-se do canto do olho e Ainz olhou à sua frente, de onde estava
montado nas costas de Hamsuke.
A fila era como uma estrada bloqueada por um engarrafamento; ninguém estava se mo-
vendo.
“O que é aquilo...? Parece que estão inspecionando uma carroça... e fazendo um ótimo
trabalho também. Não, eles estão apenas cercando. Será que encontraram algum contra-
bando? Com licença.”
“Não tenho muita certeza, parece que apenas levaram uma garota do vilarejo para ve-
rificação. E então—”
Depois de ouvir o homem, Ainz ainda não tinha idéia do que estava acontecendo. Ele
esticou o pescoço para o posto de serviço. Ele inclinou a cabeça para ouvir e ouviu o som
de uma discussão.
Quando ele chegou a essa cidade pela primeira vez, eles lhe fizeram uma pilha de per-
guntas no portão principal, mas ele não esperava deixar passar tão facilmente. Ele ficara
surpreso na época e achava que esse mundo era surpreendentemente gentil com pes-
soas sem raízes fixas, como mercenários, aventureiros ou viajantes, mas a verdade não
era o que ele esperava. Nesse caso, o que eles estavam perguntando a essa garota do
vilarejo?
Era por isso que Ainz queria saber exatamente que tipo de perguntas estava sendo fei-
tas. No futuro, ele pode ter que se infiltrar em uma cidade sem o disfarce de Momon, o
aventureiro adamantite. Ele tinha que aprender mais para que não houvesse dificulda-
des quando chegasse a hora.
“Vocês dois, esperem aqui por um tempo. Eu vou ver o que está acontecendo.”
Todos os soldados exclamaram surpresos ao ver Ainz. Não havia ninguém aqui em E-
Rantel que não conhecesse o aventureiro Momon.
Ainz teve o cuidado de parecer o mais legal possível enquanto se aproximava do posto
de serviço. Ele viu um magic caster de aparência excitada, um soldado e uma garota do
vilarejo sentada.
“Uooooh!”
“Tudo bem, o que está acontecendo aqui... hm? Aquela garota é...”
Ela parecia familiar. Ainz sentiu que ele a conhecia, e ele procurou em seu hipocampo
— embora ele não possuísse tal órgão — por informações confirmando suas suspeitas.
“Sim! Nós estávamos investigando uma garota suspeita, que levou algum tempo. Nós
sinceramente pedimos desculpas por incomodá-lo, Momon-sama—”
“Er, ah, você é... er, não, eu sou. Ah, o senhor foi quem veio com o Nfirea naquele dia, né?
Não me lembro de falar com o senhor...”
Ele conheceu Enri quando era o magic caster Ainz Ooal Gown. Agora, ele era o aventu-
reiro adamantite de armadura preta, Momon.
Merda! Eu falei na minha voz normal! Isso é terrível. Preciso sair daqui imediatamente.
Mas ainda assim, o que essa garota está fazendo aqui? Não será problemático se ela me
encontrar — não, ela acha que Ainz Ooal Gown está aqui? Preciso esclarecer os detalhes
com ela.
Ela não parecia ter descoberto sua verdadeira identidade da conversa agora, mas ele
não podia descartar a possibilidade de que tivesse sido exposto. Com certeza, ele não
achava que ela teria comparado sua voz de vários meses atrás a algumas palavras ditas
através de uma camada de armadura, mas era melhor ser prudente.
Ainz acenou para o magic caster. Ele sentiu que o homem deveria saber mais do que os
soldados.
Ele conduziu o magic caster para fora do posto de trabalho, e eles se afastaram um
pouco para evitar serem ouvidos pelas sentinelas.
“É assim... essa garota é amiga de um amigo. Você pode me dizer o que aconteceu com
ela?”
Os olhos do magic caster se arregalaram. Ele parecia estar chocado, mas esse não era o
caso. Era mais como conectar pontos de dados para formar uma linha perfeita. Era como
se um mistério em seu coração tivesse sido resolvido.
Ainz queria muito dizer isso, mas ele aguentou e esperou que o homem falasse.
“Ela disse que era apenas uma garota do vilarejo, mas carrega um poderoso item mágico
em forma de uma trombeta de chifre. Eu não sabia o porquê ela tinha um item tão pode-
roso, e eu tinha outras dúvidas, então queria esclarecer as coisas.”
Depois de ouvir toda a explicação, Ainz não pôde deixar de olhar para o céu.
Isso porque ele estava tentando fugir do fato de que era um item que ele havia lhe dado.
Naquela época, Ainz não sabia que tal item estava além da compreensão deste mundo.
Ele lhe dera a trombeta simplesmente para ela se proteger. Quem poderia imaginar que
isso teria criado tantos problemas para ela? Ainz provavelmente poderia ter uma des-
culpa ao longo das palavras de “Eu não fiz nada de errado”, mas ignorar a situação agora
não seria bom.
Eu vou ajudá-la um pouco. Eu não fiz nada de errado, mas fui eu quem deu o item, afinal,
a responsabilidade é minha... se eu a abandonar e cair nas mãos de outra pessoa, vai aca-
bar sendo mais problemático ainda. Além disso, se ela for presa—
Nfirea sabia que Momon e Ainz Ooal Gown eram uma e a mesma coisa. Dadas estas
circunstâncias, se Enri lhe falasse sobre isso, ele certamente pensaria que Ainz a deixara
a bel prazer do destino.
Definitivamente deixará um sabor amargo entre nós... Eu não me importo em causar difi-
culdades para seres humanos sem valor, mas ele é alguém muito valioso. Como diz o ditado,
preciso transformar esse perigo em uma oportunidade. Se eu ajudar ela, o Nfirea será grato
a mim. Se eu fizer isso, posso amarrar seu coração mais perto de mim com mais obrigações.
Ainz falou em um tom que acreditava que passaria calma e dignidade ao mesmo tempo:
“Mas é claro. Se ela é uma amiga de Momon da Escuridão, e o senhor está garantindo a
ela, então nós permitiremos que ela entre, não importando o quão cruel ela fosse.”
“Jura... Minhas desculpas, então. Nesse caso, conto com você. Além disso, peço desculpas
por isso, mas poderia permitir que nós — da Escuridão — entrássemos na cidade pri-
meiro?”
Ele montou nas costas de Hamsuke e contornou a fila de pessoas. Todas as pessoas da
fila olhavam para ele, mas, uma vez que viram sua armadura negra, suas espadas, Ham-
suke e Narberal, todos desviaram os olhos. Eles entenderam que o status de Ainz era
muito maior do que o deles.
Já que ambos eram aventureiros, não parecia bom que ela demonstrasse tanta lealdade
nas ruas. No entanto, Ainz tinha gradualmente percebido que era inútil instruí-la, e as-
sim ele continuou falando:
Depois disso, Ainz encontrou um lugar para se esconder. Isso porque ele queria evitar
conversas longas com Enri.
Ele inspecionou o ambiente e viu uma pilha alta de engradados de madeira que ele pro-
vavelmente poderia se esconder atrás, e então ordenou a Hamsuke que se apressasse
em direção a ela. Os soldados que lá trabalhavam entraram em pânico quando viram
Ainz e Hamsuke se aproximando deles.
Assim que teve certeza de que não seria visto nos portões da cidade, Ainz se dirigiu a
um dos soldados. Claro, ele não estava interessado nos engradados. Ele simplesmente
“Ah... tudo bem. Estamos muito felizes que o senhor tenha interesse em nosso trabalho,
Momon-sama. Os engradados estão cheios de vegetais da província de Grandel, são co-
nhecidos como Kinshu. Estes vegetais—”
“Como foi?”
“Primeiramente, ela queria que eu te agradecesse, Momon-san. Depois disso, ela disse
que tinha três objetivos: vender as ervas que havia coletado, verificar os templos para
pessoas que poderiam querer se mudar para vilarejo e, finalmente, ir até a Guilda dos
Aventureiros.”
“Perdoe-me, mas não perguntei sobre isso. Devo capturá-la e forçá-la a falar?”
“Não há necessidade. Além disso, nós também vamos para a Guilda dos Aventureiros,
então podemos apenas perguntar à quando chegarmos lá.”
Certamente ela não pretendia agradecer diretamente a Ainz Ooal Gown. Se fosse por
esse objetivo, ela poderia simplesmente deixar uma mensagem com Lupusregina, que
ele ocasionalmente enviava para o vilarejo.
Narberal negou com a cabeça e Ainz franziu a testa — naturalmente, eram inexistentes
— sobrancelhas.
Ele tinha planejado originalmente colocar um Shadow Demon no vilarejo, mas em vez
disso enviou Lupusregina para forjar relações amigáveis. Ele ordenou que Lupusregina
relatasse imediatamente qualquer coisa que acontecesse. No entanto, nenhuma infor-
mação chegou até Ainz até este ponto.
Embora não houvesse necessidade de contar a ele sobre trivialidades como “Enri foi
sozinha a E-Rantel”, a inquietação ainda envolvia o coração de Ainz como uma nuvem.
“Eu sempre achei que a Lupusregina era uma trabalhadora. Nabe, o que você acha?”
“É como diz, Ainz-sama. O tom dela a faz parecer muito casual, isso é apenas uma atua-
ção. Ela é cruel e astuta; uma excelente empregada.”
Não havia como crueldade e astúcia serem tomadas como elogios. Ainz olhou para o
rosto de Narberal, imaginando se pensava negativamente sobre Lupusregina, mas sua
expressão fria só continha respeito por uma colega.
“Então Milorde, devemos proceder para a Guilda dos Aventureiros, como o senhor disse
anteriormente?”
“Sim, sabe sua localização? Narberal, sente atrás de mim. Como já guardou a Statue of
Animal: War Horse, não precisa se dar ao trabalho de tirá-la novamente.”
Ainz agarrou a mão de Narberal e a sentou atrás dele. Hamsuke parecia ansiosa para
sair e acelerar o passo. Ele não estava mais envergonhado de montar Hamsuke pelas
ruas. Além disso, Hamsuke conseguia entender a linguagem e receber ordens, o que lhe
agradava. Parecia apenas andar de cabriolé.
Logo, a Guilda dos Aventureiros apareceu diante de seus olhos. Ao mesmo tempo, ele
notou a carroça que vira mais cedo, e as costas de Enri entrando na Guilda.
“...Não há mais nada a ser feito. Hamsuke, nós entraremos pela porta dos fundos. Circule
por trás.”
“Entendido, Milorde!”
Normalmente, os aventureiros não podiam entrar na Guilda pela porta dos fundos. No
entanto, tudo era possível para os aventureiros adamantite. Aliás, também foi a primeira
vez que Ainz fez isso. Mesmo sendo de uma classe privilegiada, abusar de seus privilé-
gios prejudicaria sua reputação.
Depois de entrar na Guilda pela porta dos fundos, ele perguntou ao primeiro funcioná-
rio da Guilda para que o levasse para a sala do Chefe de Guilda. Felizmente, o Chefe de
Guilda estava lá.
O Chefe de Guilda — Ainzach — abriu os braços para receber Ainz e depois o abraçou.
Mesmo não sentindo nada, já que estava usando sua armadura e um elmo, havia muitas
“Eu tenho me sentido tão solitário já que não veio ultimamente. Venha, sente-se. Vamos
conversar um pouco antes que os outros apareçam.”
O Chefe de Guilda parecia estar recebendo um amigo que não via há muito tempo, en-
quanto indicava alegremente o sofá.
“Obrigado.”
Os dois estavam muito próximos. Seus joelhos estavam se tocando e estava sufocante.
“Momon-kun, nos conhecemos há tanto tempo; Certamente podemos falar mais livre-
mente uns com os outros, hm?”
“Não, deve haver educação mesmo que haja familiaridade. Isto é muito importante; é o
que meus anciões me ensinaram.”
Claro, se ele fosse um assalariado, ele teria falado com mais proximidade — às vezes,
ele até falou com os clientes em um tom normal. No entanto, ele não queria tanta proxi-
midade com o Chefe de Guilda. Ele achava que manter uma atitude comercial era o ca-
minho certo a seguir.
Ser muito íntimo de um grupo só traz fardos. Eu não quero estar muito ligado à Guilda
dos Aventureiros de uma única cidade. Devo partir para pastos mais verdes em breve? Além
disso—
Além disso, por que diabos ele está sentado tão perto de mim? Normalmente, você deixaria
a Narberal se sentar ao meu lado e se sentaria à minha frente...?
Sua proximidade fazia com que ele se sentisse desconfortável; Não era de admirar que
Ainz começasse a suspeitar que o Chefe de Guilda fosse gay.
Eu ouvi o Chefe da Guilda dos Magistas dizer que ele tinha uma esposa... será que a esposa
é apenas uma fachada? Eu pensei que ele estava apenas tentando me colocar do lado dele...
mas está tendo o efeito oposto. Ou ele acha que sou gay?
Ainz ajustou sua posição sentado, movendo-se levemente para longe do Chefe de Guilda,
e então ele se virou para encará-lo.
“Perdoe minha grosseria, mas cheguei aqui com uma pergunta. Eu gostaria de— uma
de minhas amigas deve estar vindo para a Guilda dos Aventureiros neste momento, e eu
gostaria de saber que tipo de solicitação ela vai apresentar.”
“Claro, mas busco compreensão sobre o assunto. Eu entendo que estou impondo e en-
tendo a necessidade de obedecer às regras da Guilda. Mas espero que me dê uma ajuda
nisso.”
“Eu entendo.”
“Como você está pedindo, Momon-kun, não me vejo rejeitando. Então, poderia me dizer
o nome dessa pessoa?”
“Enri, é isso? Então, levará um tempo para que seja feito, tudo bem?”
♦♦♦
Em pouco tempo, o Chefe de Guilda retornou. Em seu encalço estava uma das recepcio-
nistas que Ainz tinha visto antes. Ela andava rigidamente quando entrou na sala.
“Momon-sama! Me desculpe!”
Esta foi a primeira vez que Ainz viu alguém andar enquanto movia ambos os braços e
pernas em sincronia com o corpo. Ele pensou:
“Esta recepcionista atendeu Enri Emmot do Vilarejo Carne. Seria melhor perguntar di-
retamente a ela. Pergunte o que quiser saber.”
“É esse o caso? Então— não, antes disso, talvez ela devesse se sentar, Chefe de Guilda.
Mas estamos na sua sala, então não cabe a mim decidir.”
Talvez Suzuki Satoru pudesse ter sentido que era muito errado estar sentado enquanto
a outra parte estava em pé. No entanto, no processo de ser Ainz Ooal Gown — de ser o
líder da Grande Tumba de Nazarick — ele gradualmente perdeu tais sentimentos. Ele
estava lentamente se acostumando com a diferença entre um líder e um servo. Talvez
isso fosse uma indicação de que suas ações como mestre (suas interpretações) não eram
um desperdício de esforço, mas ele realmente havia acumulado pontos de experiência.
“Entendo. Então, vamos aos negócios. Eu gostaria que você me contasse sobre o pedido
dela, com o máximo de detalhes e possíveis. Este é um assunto muito importante, então
pode me contar em detalhes?”
“S-Sim!”
“Estou fazendo as perguntas erradas? ...Talvez, então vamos tentar isso. Ela estava pro-
curando alguém em particular para ajudar com seu pedido?”
“Ah, entendo... então, que tipo de pedido foi? Ou sequer foi um pedido?”
“...Na verdade, ela não fez um pedido imediatamente, apenas disse que poderia fazer
um no futuro. E então mencionou algo sobre monstros chamados o Gigante do Leste e
Serpente Demônio do Oeste, que são comparáveis ao Sábio Rei da Floresta que o senhor
domou, Momon-sama. Isso, er, isso é tudo.”
“Não, não é! Eu... eu não sabia que ela era uma amiga sua, Momon-sama! Se eu soubesse,
teria perguntado com mais cuidado! Eu juro!”
Ainz ficou bastante perturbado com a recepcionista, que gritava à beira das lágrimas.
Alguém tão emotivo como este realmente poderia ser um contador?
“—Chefe de Guilda.”
Depois de ouvir a conversa, Ainz percebeu como eles tinham interpretado mal suas in-
tenções.
A recepcionista e o Chefe de Guilda acreditavam que Ainz e Enri eram amigos e, embora
ele tivesse pretendido aceitar o trabalho de graça, ele decidiu dar à Guilda dos Aventu-
reiros a sua devida deferência e assim eles providenciaram para que ele aceitasse seu
pedido através da Guilda.
No entanto, a recepcionista tinha friamente afugentado Enri usando as taxas como des-
culpa. Portanto, os dois estavam discutindo sobre quem deveria estar assumindo a res-
ponsabilidade de afugentar a amiga de um aventureiro adamantite.
Não, se isso fosse a regra de uma organização, ela não estaria certa em obedecer?
Ainz olhou para o Chefe de Guilda enquanto repreendia a recepcionista, e sua opinião
sobre o homem despencou diante de seus olhos.
Se um subordinado cometer um erro, seu superior deve assumir. Ou isso é algum tipo de
técnica de alto nível em que ele a repreende com selvageria na frente de um cliente para
ganhar a simpatia do cliente e, assim, seu perdão? Quero dizer, olhe como ele está se im-
pondo na frente dela.
Ainz sentiu que a recepcionista havia lidado com isso corretamente, e o Chefe de Guilda
deveria saber disso também. No entanto, do mesmo modo que entrou pela porta dos
fundos e pediu ao Chefe de Guilda um favor, os aventureiros adamantite poderiam facil-
mente ignorar as regras. Isso porque eles eram valiosos o suficiente para que a Guilda
quisesse mantê-los por perto, mesmo se desrespeitassem as regras. Graças a isso que os
dois estavam discutindo agora.
“Obedecer às regras é muito importante, mesmo que devam ser negligenciadas de tem-
pos em tempos. Eu não vou guardar magoas deste incidente contra você.”
“Então, espero poder incomodá-la para obter os detalhes dela. Por favor, não diga que
eu vou aceitar, só que eu quero estar pronto para agir a qualquer momento.”
“...Eu percebi que queria ganhar minha simpatia, mas eu preferiria que você não cul-
passe falsamente alguém inocente. Isso me desagrada.”
Aquelas palavras soaram como se tivessem sido espremidas das profundezas de sua
alma, e Ainz sabia que seu palpite estava correto.
Por que a Lupusregina não tinha informações sobre monstros que até mesmo uma garota
do vilarejo como a Enri tem? Isso é um fracasso na construção da rede de inteligência? Eu
preciso ter certeza.
Enquanto Ainz esperava que a recepcionista se reportasse novamente, ele pensou que
precisaria retornar a Nazarick e resolver isso.
Depois de ver o olhar confuso em seu rosto, ele se perguntou se ela não sabia sobre isso
afinal. Ainz decidiu repetir o que ouviu sobre o Gigante do Leste e a Serpente Demônio
do Oeste na Guilda dos Aventureiros.
No entanto, quando percebeu que Lupusregina parecia saber disso muito antes, o hu-
mor de Ainz se deteriorou rapidamente. Ele exalou em alto tom.
“Sua idiota!”
Governado pela raiva, o grito cheio de ira de Ainz ecoou pela sala.
Enquanto os outros recuavam como se tivessem sido atingidos por um raio, Ainz sentiu
algo reprimir suas emoções, mas mesmo depois que o pico de raiva fôra cortado, sua
raiva aumentou novamente, e não havia como ele controlar totalmente sua ira.
“Por que não relatou isso a mim!? Queria esconder isso de mim?”
“Então por quê!? Por que nada disso chegou aos meus ouvidos! Qual foi a razão para
isso?”
“P-porque eu pen-pensei que não era uma grande coisa, então eu não relatei...”
Por alguma razão, a visão da Empregada de Batalha assustada que o espreitava apenas
o incitou ainda mais.
Lupusregina não foi a única que se encolheu de medo com isso. Nabe e Cixous também
estavam tremendo, e os Eight-Edge Assassins no teto pareciam ter congelado também.
“Eu lhe dei arbítrio ao lidar com o vilarejo, mas isso não significa que pode fazer o que
bem entender! Disseram-lhe para relatar qualquer coisa que acontecesse lá, qualquer
coisa. Então qual é o significado disso!?”
O rosto de Ainz se contorceu quando ele olhou para baixo, para uma Lupusregina que
não conseguia responder.
Este era um pecado imperdoável para um trabalhador; não, para qualquer um.
Essas regras eram óbvias para qualquer um que fizesse negócios, ou melhor, para qual-
quer pessoa que trabalhasse na sociedade: “Reportar, Comunicar, Discutir”. Era uma
abreviação de relatar o que aprendeu, comunicar-se claramente com os outros e discutir
os problemas à medida que surgiam. Eram muito importantes; a força vital dos gigantes
que trabalhavam na sociedade.
Se ela não pode fazer isso, não acho que posso perdoá-la da perspectiva de um líder... não...
Enquanto ele olhava para uma Lupusregina aterrorizada, Ainz não podia deixar de pen-
sar que ele era pelo menos parcialmente culpado. Esses erros só resultariam se um su-
perior não fosse confiável e não pudesse direcionar adequadamente seus subordinados.
Uma falha nas comunicações do grupo é minha culpa. Eu não pude tomar o controle ade-
quado disso... talvez eu deva dar um passo atrás e deixar o Demiurge ou a Albedo lidarem
com esse tipo de coisa.
“Hah? Não... sim. Er, ouvi dizer que é muito valioso, Ainz-sama...”
“Não, não, quero dizer, o que você, pessoalmente, acha valioso sobre o vilarejo?”
“Ah, é assim que é. Bem, então... me desculpe. Erro meu. Eu não sabia que você pensava
assim...”
Ainz riu cansado. Ele percebeu que tinha sido culpa dele afinal:
“Eu retiro o que eu disse sobre você ser uma decepção. Eu fui longe demais. Por favor
me perdoe.”
“Nesse caso, seja mais cuidadosa da próxima vez. Agora, explicarei novamente, então
preste muita atenção. Esse vilarejo é muito valioso para nós. Especialmente aquele me-
nino, Nfirea, e sua avó Lizzie. Eles são de grande importância para Nazarick.”
“De fato. Eu entreguei a tarefa de criar novas poções para aqueles dois.”
Lupusregina gritou de repente aquela última parte quando seu rosto ficou pálido. Ela
pegou um frasco de poção roxa e Narberal, que estava mais próximo dela, pegou e en-
tregou a Ainz.
“Isto é...”
A raiva de Ainz explodiu novamente, e ele tentou o seu melhor para anulá-la.
Esta poção roxa que Nfirea fez foi inventada usando vários itens fornecidos por Naza-
rick. O mais importante era que, sem possuir as habilidades de criação de poções de
YGGDRASIL, eles conseguiram usar ingredientes de YGGDRASIL para criar algo diferente
das poções “azuis” deste mundo ou das poções “vermelhas” de YGGDRASIL.
“Para começar, as poções de cura deste mundo são azuis. Mas as poções de cura que eu
conheço são vermelhas. Curioso, não acha?”
Ainz divagou.
O conhecimento e os poderes de YGGDRASIL podem ser usados neste mundo. Dos anjos
que ele encontrou pela primeira vez, até a aparente existência de itens World-Class, ha-
via uma chance muito grande de que os jogadores estiveram aqui no passado. Nesse caso,
por que as poções não eram vermelhas como no YGGDRASIL?
Primeiro, a queda de um país pode ter resultado na perda dessas técnicas de fabricação
de poções. Essas técnicas deveriam ter sido bastante difundidas, se não fossem, a des-
truição de um país inteiro seria capaz de acabar com elas.
A segunda razão pode ter sido que Nfirea simplesmente não conhecia essas técnicas,
uma vez que elas não se espalhavam para os países vizinhos. Talvez países distantes
“Isso quer dizer, exceto pela segunda possibilidade, essa poção que o Nfirea fez...”
Disse Ainz fazendo o liquido roxo circular em seu frasco antes de completar:
“Pode ser uma revolução tecnológica única deste século, isso até onde sei. Bem, se é a
terceira possibilidade, isso pode acabar sendo um produto falho, afinal. Porém, seu tra-
balho com afinco no futuro me dará a resposta.”
O que Ainz queria de Nfirea era, ele fazer poções de YGGDRASIL sem usar materiais de
YGGDRASIL. Ou ele pode até mesmo inventar outra coisa e acabar fazendo uma terceira
poção completamente diferente.
“Nesse caso, não seria mais eficaz deixar mais pessoas pesquisarem o assunto?”
“Essa é uma pergunta tola, Narberal. De fato, o trabalho seria mais rápido, mas seria
muito perigoso. Conhecimento é poder e, distribuí-lo livremente é uma ação tola.”
Em tempos de YGGDRASIL essa lei regia os jogadores e não era diferente neste mundo,
então Ainz poderia dizer isso com confiança.
“Por exemplo, existe a possibilidade de criar uma poção e refiná-la ao ponto de me ma-
tar com um único ataque. Então, seria mais seguro monopolizar esse conhecimento do
que disseminá-lo... É melhor que os escravos sejam um pouco ignorantes, mas é preciso
estarem sempre a par dos avanços tecnológicos. Isto vale para o Nfirea e suas poções.
Mesmo eu desejando prendê-lo em Nazarick e fazê-lo se concentrar apenas em pesquisa
e desenvolvimento...”
Os olhos de Narberal pareciam dizer que ela faria isso imediatamente, se ordenada, e
por isso Ainz apressadamente deu uma resposta.
“Ao invés de aprisioná-lo e forçá-lo a trabalhar, eu construirei sua confiança entre nós,
como um negócio a longo prazo que trará melhores benefícios para Nazarick. Demiurge
“Há uma coisa que eu não entendo, o senhor poderia explicar isso para uma tola como
eu? Por que o senhor deu a poção para alguém como a Britta, Ainz-sama?”
Ainz não tinha idéia de quem era essa Britta apenas por ouvir o nome. Enquanto tentava
manter um olhar que dizia “tudo está na palma da minha mão” — o que significava uma
expressão cuidadosamente vazia —, ele lutou freneticamente para pensar em uma solu-
ção.
Quando se lembrou do que dissera na época, Ainz ficou grato por seu corpo não conse-
guir mais transpirar.
Demiurge! Albedo! Por que vocês não estão aqui? Não, Demiurge está atualmente no ex-
terior executando suas tarefas, e a Albedo está confinada! É tarde demais para chamar ela!
Para de perguntar!
Ainz queria gritar. No entanto, ele não tinha outras opções, então tudo que ele podia
fazer era jogar os dados e esperar pelo melhor. Coragem encheu-o quando ele decidiu
seu curso.
“Fufu... hahahaha. De fato, essa foi uma jogada perigosa da sua parte, Lupusregina, tem
o direito de ser curiosa. Isso poderia ter resultado em um desenvolvimento que não po-
deríamos controlar. No entanto, havia um motivo para assumir tais riscos.”
“U-Um motivo? Não foi apenas para compensá-la pela perda de uma poção?”
A interrupção de Narberal fez Ainz engolir as palavras que ele estava prestes a dizer.
Seu cérebro funcionava em alta velocidade, e ele lutava para recordar esse encontro em
E-Rantel.
Ela está certa! Naquela época eu fiz aquilo para não ter uma fama ruim! Droga!
“Sinto muito!”
“...Não, isso não é algo pelo qual deveria se desculpar. Na época, eu não estava confiante
de que meu plano funcionaria, então escolhi uma explicação mais simples.”
Diante das perguntas de Narberal, o queixo de Ainz ficou aberto por um momento por
uma perda de palavras. Mas naquele momento, uma inspiração aconteceu. Com isso
como base para sua confiança, Ainz se preparou para falar.
“...Foi o Nfirea...”
Quando Ainz lentamente abriu a boca, ele ganhou ainda mais atenção dos subordinados
ao seu redor. Se Demiurge ou Albedo estivessem presentes, eles provavelmente iriam
interromper e dizer: “Ah, então é isso. Como esperado de Ainz-sama”.
“...Nfirea...?”
Ainz segurou seu queixo com um silencioso “Uhum”. O medo começou a rastejar sobre
os rostos de Narberal e os outros, porque eles pensavam que a pose de Ainz significava:
“Você ainda não entende, mesmo depois de eu ter dito isso?” Na verdade, Ainz fez aquele
gesto inconscientemente, sem saber o que fazer com as mãos.
Em um curto período de tempo, Ainz foi submetido a uma tensão extrema e à supressão
de emoções que o acalmava. Entre essas duas forças conflitantes, uma epifania foi de
encontro com Ainz. Sem saber onde ele iria acabar, Ainz agarrou-se a essa última gota e
deu um passo na escuridão.
“...Mm. Consegui chamar a atenção do herborista conhecido como Nfirea; Isso basta
como resposta...? É isso mesmo... Normalmente, o que você faria se pusesse as mãos em
uma poção completamente diferente de qualquer outra poção que já tivesse encon-
trado?”
Ele lembrou que Nfirea aparentemente havia dito algo parecido quando se conheceram
no Vilarejo Carne.
“Você parece entender. Aquilo foi a isca para o meu anzol para pegar um mestre alqui-
mista. Embora houvesse uma chance de ter acabado em um lugar estranho e causado
problemas, ainda assim valeu a pena tentar.”
Assim que Ainz estava prestes a suspirar mentalmente em alívio, uma pergunta repen-
tina e inesperada veio.
“Então... eu entendo que estou sendo muito rude, mas eu poderia fazer mais uma per-
gunta...”
Ainz estava gritando por dentro, mas seu rosto permaneceu impassível.
“Qual o problema, Lupusregina? Se tem algo que precisa discutir, fique à vontade para
me dizer.”
“Sim.”
“O senhor sempre pensa dois ou três passos à frente quando faz planos, Ainz-sama?”
Na maioria das vezes, Ainz inventava as coisas na hora. Claro, às vezes ele tentava pla-
nejar seu próximo passo, mas na maioria das vezes, os resultados eram completamente
diferentes do que ele pretendia. Claro, não podia dizer nada disso.
“É óbvio. Eu sou o governante da Grande Tumba de Nazarick, Ainz Ooal Gown, não sou?”
As palavras ofegadas de Lupusregina fizeram Aura franzir a testa e ela deu um passo à
frente. No entanto, Ainz a parou.
“Então, er, eu tenho outra. Não seria melhor se deixássemos os monstros atacarem o
vilarejo, e então o senhor os salvasse, isso não seria melhor, Ainz-sama? Quero dizer,
Nfirea e sua avó não se sentiriam muito gratos por tirá-las do fogo cruzado? Isso os tor-
naria mais úteis... correto, Ainz-sama?”
“Bem, esse é um plano muito bom, vale a pena considerá-lo, mas se isso acontecesse,
Nfirea poderia acabar odiando os monstros e então não estaria mais disposto a cooperar
conosco... porém, seria um assunto diferente se fossem humanos a fazê-lo. Nesse caso,
talvez fosse mais eficaz se salvássemos a Enri Emmot também, para melhor acorrentar
seu coração ainda mais.”
No entanto, o Vilarejo Carne já havia sido salvo pelo magic caster Ainz Ooal Gown. Era
um lugar útil, então deixar que fosse destruído seria bem questionável.
“Agora, Lupusregina, te perdoarei por seu deslize. Já que conhece meus objetivos, você
não será perdoada da próxima vez. Fui claro?”
“Sim senhor!”
“Muito bom. Então vá. Complete as tarefas que foram atribuídas a você.”
Lupusregina fez uma reverência e saiu do escritório, seguido de perto por Narberal, que
parecia mais uma policial que escoltava uma criminosa. Depois que as duas desaparece-
ram pela porta, Ainz se virou para a Guardiã ao lado dele.
“Então, Aura. Sabe alguma coisa sobre o Gigante do Leste e a Serpente Demônio do
Oeste—”
“Sério, Ainz-sama é incrível ~su! Não acredito que ele tenha pensado tão à frente e com
tantos detalhes! Ele deve ser algum tipo de monstro ~su!”
A voz que veio pela porta grossa não foi muito alta, mas foi o suficiente para interrom-
per a conversa. Dado que eles podiam ouvir suas palavras tão claramente, quão alto ela
estava gritando no corredor, do lado de fora?
“Eu acho que ela está muito animada, vou lá ensinar uma lição—”
Houve um som esmagador do lado de fora da porta e, em seguida, o som de algo pesado
sendo arrastado para a distância.
“...Aura, acho que não é preciso. Voltando ao assunto; diga-me o que você encontrou.”
“Sim. Er, sinto muito, mas eu não ouvi nada sobre o Gigante do Leste e a Serpente De-
mônio do Oeste. Depois que lutamos contra aquele monstro chamado Zy'tl Q’ae, eu fiz
uma rápida varredura da floresta, além das cavernas subterrâneas, que eu não investi-
guei. Eu não encontrei inimigos fortes...”
“Bem, se eles são tão fortes quanto a Hamsuke, eu entendo o porquê você não teria no-
tado eles.”
Mesmo um jardineiro não poderia saber quantas formigas estavam rastejando em seu
domínio. Porém, perder as coisas devido à diferença de força era um problema.
“Eu realmente sinto muito. Então, Ainz-sama, vamos fazer limpeza lá?”
“Parece uma boa idéia. Vamos dar uns tapas nessas moscas irritantes e colocar a flo-
resta sob o controle completo de Nazarick.”
“Pode deixar! Então, enviarei alguns dos meus animais de estimação juntos!”
“Hum. Parece um pouco chato assim. Eu gostaria de ver que tipo de monstros esse Gi-
gante do Leste e a Serpente Demônio do Oeste são, que podem rivalizar com a Hamsuke.”
“Não, acho que vou visitá-los pessoalmente. Graças a Hamsuke, encontrei outra ma-
neira de apreciar o valor das antiguidades também.”
Fenrir movia-se vagarosamente pela floresta noturna. Nem os galhos que se estendiam
ou as videiras enroladas dificultavam os movimentos de Fenrir ou as duas pessoas em
suas costas. De fato, eles pareciam se mover como fantasmas incorpóreos, sem sequer
encostar em um galho.
Este foi o efeito de uma das habilidades de Fenrir, conhecida como 「Landwalker」.
“De acordo com os relatórios dos meus vassalos, o covil do Gigante do Leste parece es-
tar à frente.”
Não havia tensão na voz de Aura, mesmo neste mundo de escuridão, separado da luz
das estrelas pelas árvores densamente compactadas. Ainz e os outros não eram como os
humanos, que não tinham outros meios para ver no escuro. Eles observaram a floresta
escura ao redor deles como se fosse dia claro.
“Sim! Farei o meu melhor! Mas como vou lidar com esses tolos que ousam fazer movi-
mentos hostis contra você, Ainz-sama?”
“Isso porque o Gigante do Leste e a Serpente Demônio do Oeste são monstros desco-
nhecidos. Começar com uma tentativa de comunicação racional deveria ser melhor de
praticamente todos os ângulos. Se são monstros que não existiram em YGGDRASIL, en-
tão eu gostaria de mantê-los.”
“É... é mesmo? Eu sinto que apenas os dignos merecem minha gentileza — seguidos por
aqueles que pertencem a Nazarick... Eu estou fazendo isso porque eles podem ter algum
valor se estiverem no nível da Hamsuke. Eu suponho que você poderia chamar isso de
aproveitar uma oportunidade, o que me diz?”
Hamsuke estava atualmente treinando para ser uma guerreira sob os cuidados de
Zaryusu dos Lizardmen. Aliás, um dos Death Knights feitos por Ainz também estava trei-
nando com ela.
Embora sentisse que era provavelmente impossível, ele ainda tinha que conduzir o ex-
perimento para ter certeza.
“Você está fazendo o ferreiro fazer armaduras para a Hamsuke porque ela é muito im-
portante?”
“Anda bem informada. Essa também é uma das razões. Se eu tiver que colocá-la no
campo de batalha no futuro, aumentar sua defesa pode ser crucial.”
Hamsuke não deve ter problema em usar a armadura completa quando tiver níveis na
profissão de Guerreiro. Atualmente, colocá-lo em armaduras diminuiu muito suas taxas
de evasão e mobilidade devido ao peso. Ainz sentiu que precisava de treinamento por
esse motivo. No entanto—
A armadura dificulta seus movimentos, já que não tem níveis de guerreiro, isso é o mesmo
que o jogo... não, eu não posso nem usar armadura de metal devido às restrições do jogo.
Desse ponto de vista, suas restrições são muito mais frouxas... se houvesse um segundo
Hamsuke, então eu poderia estudar as diferenças entre os dois...
Essas restrições que se pareciam com as do jogo ainda eram um mistério até agora. Se
ele deixasse Demiurge e os outros investigarem mais a fundo, eles poderiam encontrar
a resposta certa, mas por algum motivo, Ainz não queria fazer isso.
Este é um mundo mágico, a física pode funcionar muito diferente do esperado. Talvez tudo
que eu possa fazer seja me forçar a aceitar que este é apenas um dos princípios que regem
este mundo. Apenas supondo que tudo poderia acontecer...
“Oh, entendi. Eu estava apenas pensando em algumas coisas, não é nada de mais.”
“Tá bom.”
Aura parecia aliviada e olhou para frente mais uma vez. Ainz olhou para a parte de trás
de sua cabeça — que estava coberta de cabelos dourados e sedosos — e seus olhos des-
ceram. Seus olhos passaram por suas costas esbeltas, e então se concentraram em suas
mãos — que estavam em volta de sua cintura esbelta.
Como nunca tivera filhos, Ainz estava curioso e não resistiu à vontade de lhe acariciar
a cintura, como se a inspecionasse. Então, Ainz levantou a mão para afagar as costas dela.
No entanto, não usou muita força pois estavam montados em Fenrir.
Na verdade, era tão vermelho que até alguém sem visão no escuro poderia ver como
era vermelho.
“Ah, não é nada, só achei sua cintura muito fina. Está se alimentando bem? Sei que está
equipada com itens que negam a necessidade de comer e beber, mas ainda pode comer,
não pode?”
“Eu... eu consigo. Eu não ganho nenhum aprimoramento mágico ao fazer isso, mas ainda
posso comer.”
Enquanto seus companheiros não estavam por perto, o crescimento dessas crianças era
responsabilidade de Ainz.
Ainz não tinha idéia do motivo pelo qual Shalltear foi inserida de repente, mas ele não
perguntou sobre isso.
“...Itens que eliminam a necessidade de comer e beber podem afetar o crescimento, por-
tanto, dependendo da situação, talvez você deva trocá-los por outros itens. Crescer... tal-
vez um dia, vocês dois terão até mesmo alguém para amar...”
Aura e Mare eram crianças muito fofas e, quando crescessem, certamente seriam muito
bonitas(os). Ainz imaginou homens e mulheres de todos os tipos declarando seu amor
por eles — embora Ainz nunca tivesse tido experiências como essas, então o que ele
imaginava vinham de programas de TV.
Talvez tivesse sido influenciado pelo tópico anterior, mas por algum motivo ele imagi-
nou uma enorme pilha de Hamsukes.
“—Hm?”
Ele visualizou uma jovem Aura e Mare sendo cercada por vastas quantidades de Ham-
sukes. Parecia bastante agradável, mas era completamente diferente do plano que Ainz
tinha em mente.
Hamsuke está relacionada com roedores, então a Hamsuke deveria ser capaz de se repro-
duzir em grandes quantidades. É melhor esterilizá-la? Embora eu gostaria de deixar isso
se reproduzir um pouco mais... Será que existem machos de sua espécie?
“Eh? Ainda é cedo para isso, Ainz-sama. Eu tenho pouco mais de setenta anos.”
“Eu... eu entendo, tem razão. Ainda és jovem. Bem, de qualquer forma, Aura, quem você
mais gosta em Nazarick? Qual é o seu tipo?”
Já que Ainz não tinha experiência no amor, ele ainda ficava com um pouco de inveja
sempre que via rapazes e garotas bonitas sendo amorosos na beira da estrada. No en-
tanto, Ainz tinha certeza de que poderia desejar o bem dos NPCs com todo seu coração.
Ainz ficou muito feliz ao ouvir lisonja de uma criança como Aura. Ele amava muito os
filhos (NPCs), e como não poderia ficar contente em saber que era recíproco?
“Então, quem você mais gosta, Ainz-sama? De quem você mais gosta entre a Albedo e a
Shalltear?”
“—Eh?”
Ainz acariciou a cabeça de Aura por trás. Os fios macios da mão dela passaram entre os
dedos dele.
“—Eh!?”
Devo começar a considerar o problema da educação sexual? Se existem escolas para Elfos
Negros, devo enviar a Aura e o Mare para estudar para que possam se transformar em
bons adultos? O que a Bukubukuchagama-san pensaria se estivesse aqui? Mas ainda assim,
escolas... Comédias românticas escolares... Peroroncino-san adorava este tipo de coisa, e
ele disse que queria fazer uma Nazarick Gakuen com o Suratan-san. Para onde foram os
dados para isso?
“—Eh—!”
“Ah! Eu sinto muito. O covil do Gigante do Leste deveria estar perto, mas...”
“Tudo bem, não há necessidade de se desculpar. Deixando isso de lado, sobre o futuro—”
“O... o futuro?”
“Não... de maneira alguma, não é nada. Sim. Hum. Você estava falando sobre o futuro?”
“Oh, sim. Eu estava pensando que, se houvesse um reino de Elfos Negros, talvez valesse
a pena visitá-los e, se isso acontecer, você também deveria comparecer.”
“Eh? ...Ah, sim... claro! Então foi isso que quis dizer com o futuro. Entendi! Por favor,
permita que eu te acompanhe um dia. Ah— estamos quase lá, Ainz-sama.”
Na escuridão à sua frente, eles puderam ver uma fonte de luz categoricamente antina-
tural através das lacunas na floresta.
“Entendo. Aura, me perdoe, mas você poderia posicionar todos os animais mágicos que
você trouxe ao redor desta região? Vou fazer alguns preparativos também.”
“Tudo bem, criamos um cerco. Agora tudo o que temos a fazer é avaliá-los.”
“Vamos guardar isso como um último recurso. Meu objetivo é resolver isso sem qual-
quer combate. Primeiro, vou tentar discutir tópicos que mutuamente serão benéficos.”
Essa era a verdade. Ainz não estava procurando por uma briga. Já que estava perfeita-
mente disposto a ser implacável se houvesse benefícios, isso não significava que ele era
uma pessoa cruel. Ainz não iria pisar propositalmente nas formigas rastejando em seu
caminho. Um diálogo racional seria o melhor.
Esta área estava coberta de árvores murchas, assim como a região montanhosa ao re-
dor da Árvore Maligna. Havia algumas áreas que acabaram se tornando florestas mur-
chas por razões especiais. Havia muitas razões para isso e, neste caso, foi provavelmente
por causa de monstros.
As árvores haviam sido derrubadas e espalhadas por toda parte. Parece que alguém
tentou construir uma estrutura grande e falhou, e depois jogou os troncos em um acesso
de raiva.
“Que risível. Aura, eles provavelmente estavam tentando construir uma estrutura como
a sua. O trabalho dos tolos é realmente desagradável. Eles vivem em cavernas e não sa-
bem o quão atrasados eles estão, então resulta nesse tipo de coisa.”
Havia uma fissura no chão cheio de cicatrizes, que havia sido queimado a esterilidade.
“...Ninguém está de vigia. Que descuidado. Tudo bem, não podemos evitar. Nós vamos
bater na próxima vez.”
Se isso fosse no passado, eles teriam deixado Tigris Euphrates e pessoas como ele lide-
rarem o caminho, enquanto Ainz — Momonga — seguiria atrás. Então, eles invocariam
monstros e, no caso de Ainz, ele faria com que os undeads andassem à frente deles, per-
mitindo que eles acionassem as armadilhas enquanto avançavam cuidadosamente. Isso
era conhecido como o desarmamento de guerreiro ou um desarmamento de invocação.
Bons tempos...
O fedor de baixo o fez enrugar as sobrancelhas inexistentes. Não era gás venenoso, mas
sim um odor oleoso e decadente que anuviava o ar.
Isso é uma armadilha de nuvem de gás fedorento? Não acho que esses moradores de ca-
vernas podem montar uma armadilha tão elaborada... talvez se formou naturalmente.
Por ser undead, Ainz não precisava respirar. Ele estava completamente imune aos ata-
ques de gás. Aura também era protegida por itens mágicos, então se esse fedor fosse
algum tipo de ataque, deveria ser ineficaz. Sendo esse o caso, este era provavelmente
apenas um fedor comum.
“Parece que o Gigante do Leste não é uma pessoa particularmente limpa. Espero que
ele seja pelo menos um pouco inteligente e possa falar comigo.”
“Sim. Mas acho que será meio difícil. Indo pelas pegadas, esta caverna parece abrigar
várias formas de vida do mesmo tipo, mas estão todos descalços. As pegadas são grandes
e, julgando o tamanho, parecem ter mais de dois metros de altura.”
Ainz e Aura não pararam de andar e, ao descerem a encosta, viram dois monstros na
base do declive.
Os dois Ogros estavam rasgando alguma coisa e empurrando-a em suas bocas. Um novo
cheiro subiu para Ainz e Aura.
“...Eu não estou aqui para massacrar todos, então eu preciso me comunicar de uma ma-
neira amigável — Ei, Ogros, desculpe interromper a sua refeição.”
Os dois Ogros se viraram simultaneamente para olhar para Ainz, e então rugiram.
Os ecos dentro da caverna foram intensos, e não havia como julgar com precisão a po-
sição, mas pareceria um uivo similar vindo das profundezas da caverna.
“Que saco...”
Ainz suspirou. Isso porque ele percebeu que eles não desejavam se comunicar com ele.
O Ogro gritou roucamente quando chegou a Ainz, e então balançou seu tacape em Ainz
sem esperar.
“Eu tenho—”
Acertou Ainz com um baque, mas um mero tacape sem magia alguma não poderia ma-
chucá-lo.
“—Sua casa—”
O campo de visão de Ainz tremeu um pouco quando o tacape bateu em sua cabeça. Não
doía, mas era muito irritante. Dito isto, se alguém pisasse em Nazarick, Ainz certamente
estaria com raiva o suficiente para querer matá-los. Com isso em mente, era natural que
eles quisessem atacá-lo, então Ainz provavelmente deveria suportar os golpes.
Uma vez que nenhum sinal de paz surgisse na arma, não haveria nada a dizer.
Ainz arqueou as sobrancelhas. Claro, não havia nada em um rosto esquelético que pu-
desse se mover.
Ainz estava originalmente disposto a deixar o Ogro agarrá-lo. No entanto, seus olhos
capazes de visão no escuro viram o sangue na mão do Ogro.
“Que nojo.”
“É muito irritante me comprar com outros Skeletons. Estou aqui para ver seu chefe, o
Gigante do Leste. Você poderia ir buscá-lo? Embora eu tenha certeza de que ele virá
mesmo se você não o chamar.”
Ainz acenou para que o Ogro fosse imediatamente, e ele prontamente se virou e correu
caverna adentro.
“...Que chatisse. Se eles tivessem visto a discrepância em nossos respectivos pontos for-
tes desde o início, não teríamos que perder esse tempo.”
Havia vários Goblins — corpos mastigados, na verdade — onde os Ogros estavam agora.
Enquanto seus restos eram pouco mais do que pedaços de carne e era impossível dizer
quantos havia, mas deve haver mais do que apenas um ou dois.
“Que gafe. Eu estava aborrecido e usei muita força. Tinha planejado evitar o assassinato
antes que as negociações fossem interrompidas, para prosseguir da maneira mais ami-
gável possível...”
“Não tinha outra saída! É culpa dos Ogros imundos que tentaram te tocar, Ainz-sama!”
“Sendo algo que os Seres Supremos disseram, então deve estar certo!”
Ainz não conseguia lembrar qual desses dois polos opostos havia dito isso. Só então,
uma horda de monstros emergiu das profundezas da caverna. Todos eles eram muito
mais altos que um ser humano.
“Bem, se não é uma horda de Trolls. Mas chamá-los de gigantes é uma publicidade falsa
ao meu ver, bem, também não é como se fosse totalmente mentira.”
Trolls eram gigantes com orelhas e narizes longos. Eles tinham rostos muito feios e seus
corpos musculosos eram tão revoltantes quanto os de qualquer heteromorfo. Eles usa-
vam o que pareciam ser roupas de pele de tigre, pois as cabeças eram vistas na altura de
seus ombros.
Eles tinham quase 3 metros de altura, eram mais fortes que os Ogros e possuíam pode-
rosas habilidades regenerativas. Dizia-se que, a menos que fossem mortos com fogo ou
ácido, eles poderiam voltar dos mortos mesmo depois de serem reduzidos a pedaços de
carne. Havia 6 Trolls aqui, além de 10 Ogros.
Aquele que chamou a atenção de Ainz foi o Troll na frente dos outros.
Era mais musculoso que os outros Trolls, e seu rosto feio exalava confiança.
Ele usava uma armadura de couro que parecia ter sido costurada de várias peles de
animais. Seus braços poderosos tinham uma espada grossa que era maior do que as que
Ainz usava em seu disfarce de Momon. A enorme espada parecia mágica, e do veio cen-
tral escorria um líquido escorregadio em direção ao fio.
“Parece assim.”
Sendo esse o caso, este Troll deveria ser o Gigante do Leste. Assim sendo, que tipo de
Troll ele era? Ainz estudou o Gigante do Leste com cuidado.
Trolls eram monstros altamente adaptáveis. Eles variavam muito de acordo com o am-
biente.
Por exemplo, havia Trolls Vulcânicos que viviam em vulcões e eram resistentes ao fogo.
Havia Trolls Aquáticos que eram adeptos de nadar no oceano e respirar debaixo d'água.
Trolls adaptados para a vida na caverna eram chamados Trolls Cavernosos. Mas eles
pareciam diferentes disso.
Esta era uma nova espécie de Troll que ele encontrou pela primeira vez neste mundo
— este monstro desconhecido despertou o espírito de colecionador de Ainz.
♦♦♦
O Troll conhecido como o Gigante do Leste havia alcançado uma forma muito rara de
evolução.
Ele era um Troll que nasceu em meio a inúmeras batalhas, adaptado a eles e especiali-
zado em habilidades de luta. Se alguém tivesse que nomeá-lo, sua espécie seria Trolls de
Guerra, um exemplo particularmente notável entre as muitas sub-raças de Trolls.
Pode-se dizer que sua destreza no combate era incomparável entre outros da mesma
idade que ele.
Claro, o corpo dele era menor que aquele de um Troll Montanhoso. No entanto, os mús-
culos de seu corpo — suas habilidades físicas — superaram em muito os da segunda
espécie. Além disso, ele não usava um tacape primitivo que podia ser facilmente manu-
seado com força bruta, mas usava suas habilidades inatas para empunhar habilmente
uma espada — uma arma que era inferior mesmo a um tacape se não soubesse como
usá-la. Pode-se dizer que ele era um Troll que despertou suas habilidades de guerreiro.
♦♦♦
Depois de não ouvir negações, Ainz apontou ligeiramente para a direita do gigante.
“Então, acredito que aquele sujeito ali é a Serpente Demônio do Oeste. Estou correto?”
Alguém com visão comum certamente pensaria que ele estava apontando para o ar va-
zio. No entanto, Ainz podia ver claramente o heteromorfo escondido ali, como se esti-
vesse iluminado pela luz do sol.
“Talvez você pense que se escondeu com invisibilidade, mas meus olhos podem ver
através disso. Pare de desperdiçar seu esforço e me responda.”
De fato, era uma cobra. Não, para ser preciso, tinha o corpo de uma cobra. Tinha o torso
de um homem velho do peito para cima, mas tinha uma forma serpentina abaixo dele.
Era um monstro heteromórfico.
Ao contrário do Gigante do Leste, Ainz tinha visto monstros como este em YGGDRASIL
antes, e assim ele poderia imediatamente declarar o nome de sua raça.
“Um Naga, então. Embora não seja errado chamá-lo de Serpente, você não tem um nome
melhor que esse? Não, já existe o caso do Sábio Rei da Floresta, então isso era de se es-
perar, não é?”
“Se pode ver através da minha invisibilidade, então você certamente não é comum—”
O Naga estava apenas na metade de suas palavras quando uma voz estrondosa encheu
a caverna e o afogou. O Gigante do Leste deu um passo à frente.
“Primeiro de tudo, deixe-me ver se entendi; Eu não sou um Skeleton. Desejo corrigir
esse erro.”
“O que é então, se não um Skeleton? O Rei das terras do leste, Gu, permite que você diga
seu nome!”
“—Gu?”
Ainz não tinha idéia do que ele estava falando por um momento. Ele achava que era
algum tipo de título, como um Rei ou um Chefe, e foi só depois de um tempo que perce-
beu que era o nome do Troll.
“Entendo, então seu nome é Gu. Perdoe minha introdução atrasada; meu nome é Ainz
Ooal Gown.”
“Fuafuafuafua! Nome de covarde! Nome macio e fraco, meu nome é forte e poderoso!”
“Um covar—”
“Está bem. Não fique chateada com um assunto insignificante como este. Fique calma.
Estamos aqui para conversar, somos embaixadores da paz. Ah, sim, apenas para referên-
cia, por que acha que eu sou um covarde?”
“Ah, a laia deles considera nomes longos como um sinal de timidez, ó, undead misteri-
oso.”
“Então ele não é uma antiguidade, apenas lixo. E você, acha que meu nome também é
de covarde?”
“Este velho aqui certamente não pensaria assim, porque este velho aqui também tem
um nome longo. De fato, este velho aqui é a Serpente Demônio do Oeste da qual fala —
Ryraryus Spenia Ai Indarun, óh invasor Ainz Ooal Gown. Este velho aqui sempre esperou
que a mente dele fosse tão desenvolvida quanto o corpo, mas se fosse esse o caso, ele
teria dominado esta floresta há muito tempo; verdadeiramente um dilema.”
Um olhar de suspeita cruzou o rosto de Ryraryus enquanto Ainz deixava seus pensa-
mentos mais íntimos escaparem. Infelizmente, assim como ele queria esclarecer, Gu e os
Trolls pararam de rir.
“Então, seus fracotes, estão fazendo o que aqui!? Vieram ser comida? Ossos deliciosos e
crocantes! Vou comer você, começar pelo seu crânio!”
“Eu sei! Sua peste! Se não fosse essa maldita cobra fazendo barulho, teria matado você
há muito tempo! Isso economiza tempo! Um covarde, um nanico de preto!”
“É retardado!? Não servirei um covarde! Vou te comer aqui e agora! Depois vou comer
esse atrás de você!”
“Hahahaha! Você é melhor em latir do que um cachorro, seu cabeça oca. Que tal isso. Eu,
a quem você chama de covarde, desafia você, que tem um nome poderoso, para uma luta
em um a um. Eu confio em não vai fugir de medo? Se tem medo, então fique de quatro e
implore por misericórdia, e eu poderia encontrar algum lugar para criá-lo como um es-
cravo.”
“Ótimo! Posso lidar com um fracote como você sozinho! Vou te cortar em pedacinhos e
comer tudo depois!”
“Excelente. Já que fez sua escolha, as negociações foram interrompidas. Aura, afaste-se.
Eu quero brincar com ele sozinho.”
Assim que ele terminou de dizer isso, a espada já erguida cortou em direção à Ainz. Este
foi o golpe que Gu atingiu com a gigantesca espada que segurava, com mais de 3 metros
de comprimento.
“—Huh?”
Ainz estava intocado. O rosto feio de Gu foi desfigurado pela surpresa e, desta vez, ele
escolheu um golpe arrebatador. No entanto, o resultado foi o mesmo de antes; Ainz re-
cebeu o golpe de frente.
“Muuu?”
Gu afastou vários passos. Ele olhou para a espada e depois para Ainz. Ele orgulhosa-
mente virou as costas para Ainz, em seguida, caminhou até um de seus asseclas.
No momento seguinte, a gigantesca espada girou e cortou um dos lacaios Trolls. A es-
pada se cravou no pescoço e no ombro do Troll, separando sem esforço sua carne, e um
gêiser de sangue fresco foi expelido.
Gu assistiu em satisfação quando seu lacaio girava e caiu no chão, e com isso assentiu.
Provavelmente foi para verificar se a arma estava funcionando.
A superfície da ferida se curou rapidamente. Não era como retroceder o tempo, mas um
processo de cura acelerado.
Gu sabia que o Troll se regeneraria antes de testar sua lâmina nele; mas o olhar maligno
em seu rosto quando olhou desprezando seu lacaio caído sugeriu que ele teria cortado a
criatura de qualquer maneira, mesmo que não pudesse se regenerar.
“É privilégio dos fortes matar ou poupar os fracos. No entanto, isso me desagrada pro-
fundamente.”
Gu segurou sua espada com força, esperando Ainz se aproximar dele, passo a passo.
“Gu! Esse Ainz Ooal Gown não é um indivíduo qualquer! Vamos unir—”
Uma série explosiva de cortes caiu em Ainz. O ataque combinado foi feito usando força
física que superava em muito a capacidade do corpo humano, e estava entre os ataques
mais destrutivos que Ainz já havia enfrentado dos habitantes deste mundo.
Ainz parecia achar tudo desinteressante, e ele se virou depois de puxar suas vestes e
endireitá-las. Então, um pensamento aparentemente veio à mente.
“Goooooooh!”
Gu decidiu que os ataques cortantes eram ineficazes, então ele tirou uma das mãos de
sua espada e deu um soco. Este golpe o atingiu como uma enorme marreta. Se atingisse
um ser humano, eles certamente teriam sido afetados por seu poder.
Gu cessou seu ataque. Seu rosto feio se contorceu de uma forma ainda mais feia, e ele
olhou para o impassível Ainz.
“Então, é assim que termina o ataque que você está tão orgulhoso, criatura do nome
corajoso?”
Ainz se adiantou para encurtar a distância entre eles e manejou o cajado, que destruiu
metade de uma das pernas de Gu. Incapaz de ficar em pé, Gu desabou pesadamente no
chão.
“Mesmo com o seu cérebro do tamanho de uma noz, você deveria estar começando a
perceber que covardes não são necessariamente fracos, não?”
“Haaaah~”
Ainz estava começando a se cansar disso, e suspirou. O fato de não entenderem a situ-
ação, até mesmo neste momento, provou que esses monstros eram inúteis. É claro que
seria diferente se eles fossem espertos o suficiente para tentar fugir.
Ainz não prestou atenção a Gu e olhou para Aura, que tinha o Naga pelo pescoço. A ma-
neira como ele tratou Gu deixou uma coisa clara para todos os presentes.
—Em outras palavras: ele não se incomodava em lidar com o tal Gu diante dele.
Gu rosnou entre os dentes diante dessa humilhação absoluta, mas Ainz não se importou.
“Não atrapalha, não posso assistir o Ainz-sama assim. Se continuar lutando, vou usar
mais força e esmagar sua garganta. Não se preocupe, não vou te matar.”
Seus pequenos punhos eram suficientes para fazer o Naga perceber a diferença em suas
respectivas forças, e o Naga lentamente a soltou com um gemido estrangulado.
“Aura, tempo é dinheiro, o desperdício também é tolice. Por favor, se afaste um pouco
mais para que ele não acabe sendo morto por acidente.”
“Entendido!”
Aura vagarosamente arrastou o Naga — que pesava várias vezes mais do que ela —
enquanto recuava. Ainz olhou de volta para Gu, que mal tinha conseguido ficar em pé
depois que sua regeneração fez sua perna quebrada se espasmar poderosamente en-
quanto consertava sua carne dilacerada.
Ainz não era tão alto quanto seu oponente, mas ele se elevou sobre Gu.
Ainz bateu em seus ombros com o cajado, então calmamente assumiu uma postura de
luta. Sua atitude dizia que ele não tinha intenção de se defender.
Gu lentamente recuou enquanto segurava sua espada, enquanto Ainz se adiantou como
se estivesse perseguindo. Os passos de Gu estavam mais curtos que o de Ainz. A distância
entre eles era maior do que quando a batalha começou.
Ainz bufou.
“—Hm? Bem, isso não é estranho? Eu, aquele com o nome covarde, estou avançando,
enquanto o corajoso chamado Gu-sama está recuando. Eu me pergunto, por que isso está
acontecendo?”
“Sim, eu entendo agora. Nomes curtos são a marca de um covarde — o nome de Ainz
Ooal Gown pertence a uma pessoa corajosa e maravilhosa, estou correto?”
“Calado, covarde.”
A raiva de Gu superava seu medo, e ele balançou a lâmina para Ainz como se quisesse
cortá-lo em dois. Ainz não se desviou nem se esquivou; simplesmente manejou seu ca-
jado. O golpe de Ainz não permitia que Gu bloqueasse sua espada ou fugisse.
“Abbbahhhhhhhhh!”
“Bem, como esperado de um Troll; com essa regeneração, podem até voltar à vida de-
pois de serem reduzidos a carne picada. Ainda assim, dor ainda é dor. Esse foi o ataque
mais fraco até agora. Tudo em que pensa é em se proteger. Está com medo de ser atin-
gido por mim. Foi a esgrima de um covarde.”
Diante de Ainz estava Gu, cuja cabeça era metade da espessura normal. Uma criatura
normal teria morrido há muito tempo, mas sua cabeça estava retornando lentamente à
sua forma normal.
“Que ridículo... não esperava nada menos que um covarde, renegar os termos do nosso
duelo... ainda assim, se adequa ao seu nome. Então eu vou te perdoar.”
“Rápido!”
O mesmo se aplicava a Ainz. Havia um delicado equilíbrio aqui, um que enraizou todos
no lugar. Se Ainz fizesse um movimento, esse equilíbrio entraria em colapso e todos eles
fugiriam para salvar suas vidas.
Ainz ativou uma de suas habilidades, que ele não teve a chance de usar, era muito po-
derosa para esse mundo.
Os monstros caídos não se mexeram. Ficou claro que, embora seus corpos ainda esti-
vessem quentes, as chamas de sua vida tinham sido totalmente extintas.
O Naga estava encolhido como um bebê, fazendo o seu melhor para ficar longe de Ainz.
Ainz se virou e respondeu:
“Eu simplesmente usei uma habilidade. Trolls podem se regenerar, mas isso não os imu-
niza para ataques instantâneos de morte... francamente, vocês são inúteis. Eu estava sim-
plesmente pensando que, em vez de matá-lo completamente, eu deveria ver para que
servem, mas, como se recusaram a se ajoelhar, decidi matar todos.”
Ainz calmamente olhou para baixo sobre o Naga que se prostrava no chão, e depois
sacudiu ombros fracamente.
“...Eh, tanto faz, tudo bem. Afinal eu vim aqui para conversar.”
“Quão... quão horripilante. O senhor não considera nada deste velho aqui. Tu consideras
este velho aqui, que há muito governou a floresta do oeste, tão pouco mais do que um
seixo em forma de animal à beira da estrada.”
“Não, estou um pouco mais interessado em você do que você pensa. Mencionou algo
sobre os Elfos Negros, não foi? Conte-me tudo.”
“Mas é claro... claro que este velho aqui contará. Este velho aqui de bom grado te contará
tudo o que este velho aqui sabe! Embora, ah...”
“Poupará a vida deste velho aqui depois que este velho aqui contar o que sabe?”
“Prometo que sim. Se for leal a mim, se você me servir com sinceridade, eu o recompen-
sarei apropriadamente... mas primeiro, uma pergunta. Onde estão seus lacaios? Ou você
é como a Hamsuke... a fera que governava a floresta do sul sozinha?”
“Não, este velho aqui tem subordinados. No entanto, este velho aqui veio por causa de
negociações, então não os trouxe. Isso porque os subordinados deste velho aqui não po-
dem se tornar invisíveis, então, uma vez que as negociações tenham sido quebradas, eles
não teriam como fugir.”
“Entendo. Agora, para a minha próxima pergunta: você tem algum lacaio Troll?”
“Apenas um.”
“Excelente. Nesse caso, posso fazê-lo tomar o lugar do Gigante do Leste? Não, isso é...
isso pode ser um pouco problemático. Muito bem. Em poucos dias, trarei meus subordi-
nados para — não, você irá para a estrutura que ela construiu. Aura, solte-o.”
“Está bem. Ele já jurou sua lealdade a mim. Se ele me trair, vou pensar em outra maneira
de usá-lo.”
O Naga ainda estava nervoso, mas estava muito mais aliviado agora. Ainz não lhe deu
atenção, mas caminhou até o cadáver de Gu.
Ainz poderia criar seres undeads de cadáveres usando sua habilidade. Mesmos eles
sendo um pouco mais que Zombies ou Skeletons, ele poderia fazer Zombies mais fortes
se o cadáver da criatura base fosse poderoso o suficiente. Um exemplo mais famoso des-
ses seria os Zombie Dragons.
Ainz pegou a espada que caíra no chão. Era muito mais longa do que Ainz em altura,
mas graças ao princípio básico de armas e armaduras mágicas, ela diminuiu para um
tamanho que melhor se encaixava em Ainz.
Se Ainz tentasse manejar uma espada que ele não poderia equipar, ele seria desarmado
à força, mas apenas pegá-la não tinha problema.
“Eu deveria fortalecer o poder de luta daquele vilarejo? Nesse caso, talvez essa arma
mágica seja a melhor escolha. Além disso, não há valor em trazer de volta a Nazarick.”
“Este... este velho aqui nunca te trairá. Apenas os tolos que nunca viram o seu olhar
gelado que considera todos diante dele como meras formigas se atreveriam a traí-lo.”
“Eu não achava que meus olhos fossem tão expressivos assim... ou isso é uma habilidade
sua também? Mesmo o Demiurge, aquele mestre do escrutínio, não sabe dizer o que eu
estou realmente pensando.”
“Dificilmente se qualifica como uma habilidade, mas este velho aqui ainda pode sentir
se alguém está interessado neste velho aqui.”
“Jura... muito bem, eu entendo. Pare de perder tempo e junte seus lacaios. Está é minha
primeira ordem.”
“Sim!”
“Tudo bem, Entoma, diga a Lupusregina que ela tem permissão para partir. Esses três
devem ser protegidos, não importando o que ela tenha que fazer.”
Demiurge caminhou até o centro do escritório, livre de preocupações. Seu passo ele-
gante deixou Ainz com inveja.
Como devo descrevê-lo, cada movimento que ele faz transborda com confiança. É porque
as costas dele são muito retas?
“Sim! Eu agradeço por me chamar diante de ti, Ainz-sama. Terminou de falar com a En-
toma?”
“Tudo está bem. Ela estava relatando uns assuntos. Ela passou neste teste.”
“Maravilhoso. Além disso, agradeço por ter tempo para mim, Ainz-sama.”
“Não se apegue a isso, Demiurge. É justo que eu me corresponda ao homem que traba-
lha arduamente para Nazarick. Além disso, você não está atrasado, então não se preo-
cupe... então, me diga o que pensa.”
Ainz entregou o pedaço de papel que ele estava segurando para Demiurge. Demiurge
recebeu, e Ainz o viu rapidamente escaneá-lo de cima para baixo antes de perguntar:
“Como pode ver, este é um menu, qual sua opinião sobre? A refeição é para um casal
humano, e possivelmente uma criança.”
“O senhor me honra com o seu louvor... Ainz-sama, o senhor pretende convidar essas
pessoas para a Grande Tumba de Nazarick — no santuário dos Seres Supremos — como
seus convidados?”
Ou melhor, não era tanta hospitalidade ao ponto de entretê-los. Essa era uma forma de
coerção apoiada pela riqueza, destinada a criar elos amigáveis.
“Isso é sábio?”
“Não, absolutamente nenhum. Afinal, tudo o que o senhor fala está correto, Ainz-sama.”
No passado, quando tudo isso acontecia no mundo do jogo, a Grande Tumba de Naza-
rick já havia sido palco de poucas pessoas além dos membros da guilda. No máximo, eles
convidaram a irmã mais nova do membro da guilda Yamaiko — cujo nome de jogador
era Akemi-chan — algumas vezes. No entanto, a guilda não proibia convidar amigos. Era
simplesmente que ninguém havia pensado em fazê-lo.
É por isso que meus amigos não devem ter problemas comigo, convidando o Nfirea e os
outros. Invasores são diferentes dos convidados.
Ainz então se virou para Demiurge — que estava ponderando algo — e os outros dois
Guardiões que estavam esperando na sala antes dele perguntar:
“Entendo. Então, Cocytus — oh, você já trouxe o seu. Então nos encontraremos nos ba-
nhos. Increment, se alguém vier, peça que esperem por mim aqui.”
“Entendido.”
Ainz queria muito conversar com Cocytus enquanto caminhavam lado a lado, mas
Cocytus era uma pessoa muito séria e nunca faria uma coisa dessas. Isso fez Ainz se sen-
tir um pouco solitário. Cocytus provavelmente não tinha lido seu coração, mas ele se
aproximou de Ainz e perguntou:
“Ainz-sama. Parecia. Haver. Menos. Eight-Edge Assassins. No. Teto... O. Senhor. Os. En-
viou. Para. Algum. Lugar?”
Ainz ficou um pouco desapontado quando descobriu que era relacionado ao trabalho,
mas também se consolou pensando que isso era o que Cocytus considerava uma con-
versa casual, e então ele respondeu a Cocytus. Ele quase deixou a emoção rastejar em
sua voz, mas no final decidiu que seria melhor manter isso em segredo.
“Eles estão na pousada de E-Rantel. Narberal está esperando lá, caso tenhamos um vi-
sitante inesperado. Eles estão observando a situação de longe.”
“Exato. Se a pessoa que fez lavagem cerebral em Shalltear estiver observando cada mo-
vimento nosso, essa isca certamente os deixará babando.”
Depois que Momon derrotou a poderosa Vampira Shalltear — Claro, ela era conhecida
por um nome diferente — ninguém tentou se aproximar dele. Sendo esse o caso, se Mo-
mon não estiver por perto, deixar uma magic caster sozinha seria...
“Eu não sei. Mas se fizerem isso, se eu estiver certo, então certamente serei um mestre
da pescaria.”
“Creio que não. Eu não farei isso. Primeiro, vamos avaliar o nosso adversário. Se eles
são tão fortes quanto nós, ou mais fortes, então precisaremos ser mais humildes.”
“Meu. Lado. Lógico. Entende. Que. É. Algo. Temporário, Mas. Meu. Lado. Emocional. É.
Difícil. De. Se. Manter. Calmo.”
Mesmo se fossem jogadores, Ainz não sentia o menor grau de empatia por eles. As úni-
cas pessoas com quem Ainz se importava eram os NPCs ou seus velhos amigos. Se al-
guém despertasse sua ira, ele os sujeitaria a um destino pior do que a morte, a fim de
mostrar-lhes a tolice de suas ações.
“Pague o bem com bondade e o mal com maldade. Isso não é esperado?”
Ainz sorriu friamente, quando uma onda de excitação cresceu dentro dele. Se a oposição
realmente fossem jogadores, ele poderia conduzir experimentos muito melhores. O pri-
meiro deles provavelmente seria o que ele não ousaria testar em si mesmo — a morte.
“Correto. Sabe onde surgiu isso? Essa frase foi originalmente destinada a alertar contra
a retribuição excessiva, então eu não a usei. Pois pretendo pagar de volta com juros.”
“Oh! Eu. Não. Esperava. Nada. Menos. De. Ainz-sama... Não. Apenas. Um. Grande. Guer-
reiro, Mas. Também. Possui. Um. Intelecto. Além. Da. Comparação... Eu. Estou. Verdadei-
ramente. Aterrorizado.”
Ainz não precisou olhar para trás para sentir a onda de respeito pressionando-o por
trás.
“Não, depois de tomar banho com vocês, eu vou adiantar alguns trabalhos aqui antes
de retornar, porque há muitas coisas que precisam ser resolvidas lá também. E você?”
“Eu. Planejo. Temporariamente. Retornar. Para. Minha. Posição. Como. Guardião. De.
Nazarick, Já. Que. Minhas. Obrigações. No. Lago. Foram. Concluídas.”
“É. Difícil. Eu. Aceitar. O. fato. De. Um. Ser. Supremo. Ir. Lidar. Pessoalmente. Com. Tra-
balhos. Que. Seriam. Nossa. Obrigaç—”
“Não. Há. Necessidade. Ainz-sama... O. Senhor. Governa. Este. Lugar. E. Cada. Uma. De.
Suas. Palavras. São. As. Leis. De. Nazarick— Eu. Estava. Apenas. Dizendo. Tolices. Além.
Diss—”
O clima no ar parecia ter mudado, e Ainz achou estranho. Olhando para trás, ele viu
Cocytus parecendo um pouco sombrio — embora ele não pudesse dizer pelo seu rosto.
“Se. Nós. Fossemos. Competentes. Como. O. Demiurge... O. Senhor. Não. Precisaria. Se.
Dar. Ao. Trabalho, Mas. No. Fim. Precisa, Por. Nossa. Falta. De. Habilid—”
“Isso não é verdade. Quando todos fizeram vocês, eles procuraram criar a pessoa certa
para cada tipo de trabalho. Sendo esse o caso, a coisa mais importante para você é ter-
minar suas tarefas designadas. E sendo sincero, não importa se não pode fazer ainda
mais por mim. Porém, de fato, Demiurge é um pouco mais inteligente e mais bem infor-
mado, com isso ele pode lidar com uma gama maior de problemas.”
Cocytus não parecia ser capaz de aceitar isso, então Ainz continuou:
“Nesse caso, você deve se concentrar em aprender lentamente a lidar com mais coisas.
Por exemplo, você está agora no comando da aldeia Lizardman, então deve ter apren-
dido muito com isso. Governar aquela aldeia certamente o ajudará no futuro. Contanto
que você avance lentamente, passo a passo, um dia chegará a par com o Demiurge.”
“Ninguém pode superar o intelecto do Demiurge. Para igualar a ele, você deve andar
por um caminho turbulento e difícil. Mas acredito que seus esforços não serão desper-
diçados.”
“Obrigado. Ainz-sama.”
“Sim!”
♦♦♦
O Spa Resort Nazarick estava localizado no 9º Andar de Nazarick. Era um local confor-
tável de lazer que ostentava 9 banheiras com termas externas e 17 banheiras com ter-
mas internas para homens e mulheres. O mais impressionante deles era o Banho Che-
renkov. Sua água quente irradiava uma luz azul, permitindo que os banhistas desfrutas-
sem de uma atmosfera decadente.
Ainz, que havia chegado aos banhos na companhia de Cocytus, ficou chocado ao ver
alguém inesperado.
“Ainz-sama ♥!”
Era Albedo, que parecia estar terminando suas frases com corações hoje. Não, não foi
apenas Albedo. Shalltear estava atrás dela, junto com Aura, que estava com o cansaço
estampado no rosto.
Em contraste, Demiurge e Mare estavam longe de serem vistos. Talvez estivessem es-
perando por Ainz e Cocytus no vestiário.
“Que coincidência adorável, de fato! ...Eu ouvi que é melhor fazer algum exercício leve
antes de tomar banho, aprimora o relaxamento. Devo suar com o senhor, Ainz-sama?”
“Ah, eu não quis dizer isso. Realmente, o senhor quer uma dica...”
Ela se aproximou de Ainz com a técnica de um guerreiro de nível 100 — algo que Ainz,
um magic caster, não podia esperar fugir — e estendeu um dedo para o peito de Ainz,
que estava coberto apenas com uma robe, na esperança de traçar letras. No entanto, seu
dedo, macio e delicado como um peixinho, entrou no espaço entre as costelas de Ainz.
“Ah.”
Ainz sorriu amargamente, pretendendo se dirigir a Albedo, e então seu rosto congelou.
O rosto de Albedo estava vermelho, seus olhos em orvalhos e uma fragrância esmaga-
dora saía de seu corpo. Esse cheiro era muito semelhante ao perfume que ele às vezes
cheirava em sua cama.
Ainz tentou o seu melhor para falar em um tom normal para Aura, que estava tentando
segurar Shalltear que lutava para se libertar.
“...Perdoe-me, Ainz-sama, muitas coisas aconteceram. Por favor, trate isso como um es-
tresse que ela construiu depois de trabalhar arduamente para Nazarick todos os dias.
Sim, por favor pense dessa maneira.”
“Se... se é assim, então não podemos evitar. Er... Uhun. Albedo, obrigado pelo seu árduo
trabalho todos os dias.”
Ainz planejou se retirar rapidamente, mas alguém agarrou seu robe. Não, não havia ne-
cessidade de olhar; ele já sabia quem era.
“Albedo, o que você está fazendo? Alguma coisa te levou a abandonar todo o constran-
gimento?”
“O que disse para mim agora... acendeu um fogo no meu coração, e isso fez minha bar-
riga se contorcer. Então, Ainz-sama...”
“Entendido!”
“Eu. Não. Posso. Ficar. Sentado. Enquanto. Alguém. Desrespeita. O. Ainz-sama— Mesmo.
Se. For. A. Supervisora. Guardiã. Em. Pessoa.”
“—Eu peço desculpas, Ainz-sama. Parece que perdi o controle de mim mesma.”
Depois de ouvir o julgamento de seu mestre, Cocytus se afastou. No entanto, ele não
guardou sua alabarda.
“Entendo que seus deveres são pesados e que há momentos em que você deseja deixar
tudo de lado e aliviar suas frustrações. De qualquer forma, vá tomar banho e liberte-se
do estresse. Obrigado, Cocytus.”
Dizendo isso, Ainz tentou correr para o banho masculino, mas os passos atrás dele o
fizeram parar.
“...Albedo, por que você está me seguindo? Talvez não saiba, então eu vou te dizer, mas
este é o banho masculino. Você deveria ir ao banho feminino.”
“...Negado. Até porque, não vou tomar banho sozinho. Os Guardiões estarão comigo.
Você deseja aparecer nua diante deles?”
Shalltear grunhia entre as mãos de Aura. No entanto, Aura — que foi arrastada à força
— tinha olhos vazios e sem vida que simplesmente se abriram. Atrás delas estava
Cocytus, que parecia bastante infeliz.
“Albedo, permita-me dizer algo. Eu prefiro mulheres a homens. Eu sou puramente he-
terossexual.”
Albedo parecia querer dizer alguma coisa, mas Ainz levantou a mão para interrompê-
la.
“É certamente possível que tal relacionamento possa ocorrer algum dia. No entanto, eu
nem sequer descobri o nosso lugar neste mundo, e assim, como o líder desta organização,
é inadequado para mim buscar um relacionamento com vocês.”
“Uuuu...”
“Além disso... vocês são como as filhas dos meus amigos — eu estou em conflito sobre
isso.”
“Eu estava me perguntando o que estava acontecendo na entrada. Parece que vocês es-
tão incomodando o Ainz-sama.”
“Seus Tolos!!!”
Depois de ver que todos haviam se levantado, Ainz usou um tom gentil, como se fosse
de repreensão para advertência.
“Não briguem por questões tão mesquinhas. Isso só vai me decepcionar. Vocês enten-
dem?”
Ao ouvi-los simultaneamente responder que eles entendiam, Ainz deixou sua raiva de-
saparecer.
“Tudo bem, vamos tomar banho e limpar nossas mentes. Os homens virão comigo. Além
disso, Aura, ordeno que você fique de olho nas mulheres. Fique de olho nas duas atrás
de você e não as deixe fugir.”
“Entendido!”
Os olhos de Aura brilharam impetuosamente. Ela provavelmente sentiu que esta era
uma chance para um contra-ataque. Tal era o calor escaldante que Albedo e Shalltear
estavam visivelmente abaladas.
Ainz entrou na porta com a cortina escrito “Homens” e deliberadamente ignorou o cla-
mor vindo de trás dele.
Ele tirou as roupas no vestiário. Se estivesse normalmente equipado, ele teria que re-
mover muitos itens e isso seria muito problemático, mas ele havia se preparado antes
de vir para cá, e então tirou as roupas rapidamente.
Toda vez que removo minhas roupas, sempre me pergunto como exatamente posso me
mover...
Um corpo esquelético e sem músculos... Realmente, como ele poderia se mover era um
verdadeiro mistério para Suzuki Satoru. Dito isto, os undeads do tipo Skeleton eram uma
visão comum neste mundo, então tudo o que podia fazer era aceitar este fato. Mesmo
assim, ele tinha suas dúvidas de vez em quando.
Ele poderia ser uma trap, mas olhando para ele assim, certamente era um menino.
Seu corpo era de criança, praticamente sem massa muscular. O fato de um corpo tão
delicado poder exercer tanta força, era provavelmente devido a alguma lei natural des-
conhecida deste mundo, muito parecida com a que regia Ainz.
Enquanto olhava para o corpo nu de Mare e ponderava sobre essa questão, Ainz o re-
preendeu:
Era impossível para um Guardião morrer ao cair e bater a cabeça. No entanto, depois
de ver o corpo infantil de Mare, ele não pôde deixar de se preocupar por ele.
Ainz pensou.
O corpo de Demiurge estava envolto em músculos firmes e definidos, e ele dava a im-
pressão de ser tonificado. Não é possível projetar o corpo sob as roupas ao criar um per-
sonagem, então talvez Ulbert tenha escrito seu físico em sua narrativa.
“Poderia. Não. Dizer. Esta. Frase, Por. Favor? Me. Faz. Parecer. Um. Pervertido.”
“Peço perdão. Cocytus usa um exoesqueleto, então sua aparência habitual não pode mu-
dar.”
Exoesqueletos eram uma espécie de armamento natural, muito parecido com as unhas
e dentes de Shalltear. Tal equipamento ganhava dureza e durabilidade à medida que
seus usuários ficavam mais fortes, assim como melhorar as capacidades físicas usando
cristais de dados.
Por outro lado, eles eram inferiores as armaduras primárias que a maioria dos jogado-
res de um nível equivalente usava, seja em termos de dureza, durabilidade e capacidade
de cristal de dados. Mesmo no nível 100, quase nenhuma arma natural e armadura po-
deriam corresponder a um item Divine-class. Talvez alguém pudesse ser capaz de fazê-
lo se possuísse profissões que fortalecessem esses armamentos corporais, mas até
mesmo Ainz não sabia se era possível.
Armas e armaduras naturais não eram muito vantajosas para os jogadores, mas eram
bastante úteis para os NPCs. Isso porque não era necessário reunir uma grande pilha de
armaduras e armas para eles — em outras palavras, o jogador que fez o NPC poderia se
poupar do trabalho de equipá-los.
“Obrigado. Ainz-sama.”
Cocytus se curvou em agradecimento, mas Ainz não falou em sua defesa. Ainda assim—
Será que todos usam isso para provocá-lo — para tirar sarro dele — ao ponto em que ele
tem que me agradecer por intervir? Devo tentar sutilmente dizer aos outros para manei-
rar?
Era uma situação típica para professores valentões em suas aulas? Ele não sabia como
Yamaiko tinha lidado com esse tipo de coisa no passado. Enquanto ponderava sobre o
assunto, ele falou aos Guardiões:
A primeira era a área de banho padrão, depois o banho na selva (que era o maior), as
antigas termas Romanas (que eram muito atmosféricas), os banhos de pomelo (onde
pomelos flutuavam na água), os banhos de enxofre, os banhos de jatos, os banhos elétri-
cos (que tinham uma leve corrente elétrica para entorpecer a pele), os banhos gelados
(com carvão flutuando neles), os banhos Cherenkov que brilhavam com uma misteriosa
luz azul, bem como banhos mistos ao ar livre (claro, o cenário exterior era falso). Havia
também as áreas de sauna e banho de pedras e, finalmente, a área de descanso.
Ainz era resistente a danos causados pelo frio e até mesmo entrar nos frios banhos ge-
lados não seriam uma dificuldade para ele. No entanto, algo parecia errado em sugerir
que alguém tomasse um banho frio logo após entrar na área balnear.
Depois de ouvir Mare falar, Cocytus pareceu ter percebido que havia cometido um erro
em algum lugar. Só então, alguém procedeu continuando o ataque.
“Viemos aqui tomar banho, então talvez devesse ter recomendado um banho quente
para promover a circulação... ah, é isso mesmo, me lembrou de perguntar algo. Você
pode se banhar em água quente? Não vai acabar como uma lagosta cozida, não é?”
“Ah... ah, então eu acho que talvez devêssemos ir para um banho normal...”
“Banhos. Frios. São. Os. Melhores — Tomar. Banhos. Frios. Enquanto. Agarra. Um. Pe-
daço. De. Gelo. É. Muito. Confortável.”
“Eu não vou dizer que só você gostaria desse tipo de coisa, mas duvido que muitas pes-
soas compartilhem seus gostos...”
“Tudo... tudo bem, seria muito chato se fôssemos nos banhar sozinhos, então vamos
revezar usando todos eles. Vamos começar com o banho na selva — meus amigos se
esforçaram muito para fazer isso.”
Depois que seus subordinados responderam, “estamos todos ansiosos por isso” — inclu-
indo Cocytus um tanto desanimado — Ainz levou-os para o banho na selva.
Havia árvores falsas e grama falsa aqui, e era feito para parecer uma floresta. Mesmo
sabendo que era falso, era realista o suficiente para que todos esperassem que monstros
saíssem da floresta.
“Este banho foi modelado baseado no rio Amazonas que existia no passado. Seu criador
foi o Bellriver-san, com a ajuda do Blue Planet-san.”
Ainz virou as costas para os Guardiões impressionados, então ele levou sua bacia e ban-
quinho de banho para a área de limpeza.
“Não preciso avisar, mas precisam se limpar antes de entrar no banho. No entanto, a
maneira como eu tomo banho é bastante confusa, então talvez seja melhor ficar longe de
mim.”
Com essa mensagem concisa, Ainz jogou a bacia cheia de água quente em si mesmo. A
água passou direto por ele até o chão. Devido às muitas lacunas em seu corpo, era muito
difícil enxaguar todo o corpo de uma só vez. Depois de repetir isso várias vezes, certifi-
cando-se de que estava molhado, ele pegou uma escova.
Ainz colocou sabão líquido em uma escova e começou a se esfregar. Assim como antes,
as muitas lacunas em seu corpo denotavam que esfregar a si mesmo era como esfregar
uma peneira, e assim espuma e bolhas espalhavam por toda parte.
Uhum... talvez eu devesse ter trazido meu adorável assistente de banho, Sankichi-kun.
Ainz sentiu que seria desagradável deixar seus subordinados vê-lo todo coberto pelo
Slime, então ele não o havia trazido. No entanto, ele não se banhava há algum tempo, e
foi bastante problemático.
Enquanto Ainz se esfregava com entusiasmo, Mare aproximou-se dele com um banqui-
nho amarelo na mão. Ele estava claramente nervoso, mas sorriu para Ainz, seu rosto
estava vermelho pelo calor dos banhos.
“Hm? Ah, sim. Então quer me ajudar a tomar banho? Esteja avisado que meu corpo é
muito tedioso para lavar, então deve usar essa escova. Limpar com uma toalha é muito
cansativo.”
Ainz virou as costas para Mare, e Mare começou a esfregar lentamente as costas com a
escova que recebera.
“Muito obrigado!”
Honestamente falando, Ainz não poderia dizer se era um trabalho bom ou ruim. No en-
tanto, ele dissera isso a Mare porque estava grato.
Ainz olhou para os outros dois. Eles pareciam estar dizendo: “Então, eu vou ajudá-lo a
lavar as costas” e “Obrigado. Pela. Sua. Gentileza”. Ainz não pôde manter o sorriso de seu
rosto, embora os rostos esqueléticos não tivessem expressões faciais.
Ainz agarrou os ombros do garoto e virou-o, depois aplicou espuma de banho na toalha
de Mare e começou a ensaboá-lo.
Ele gentilmente esfregou o corpo de Mare, tomando cuidado para não o machucar. Pen-
sou na força que usava para se lavar e tentou usar menos força do que isso.
“Isso dói?”
Depois de ajudar Mare — que tinha ficado todo rígido por algum motivo — a lavar as
costas, Ainz lhe devolveu sua toalha.
Ainz pegou a escova e esfregou as costelas. Mare estava se esfregando ao lado dele, en-
tão Ainz teve o cuidado de não o borrifar com sua espuma.
Depois que Demiurge terminou de se enxaguar, foi até a banheira, balançando sua
cauda enquanto o fazia. Ele foi seguido por Cocytus, que provavelmente teve dificulda-
des banhando-se como Ainz, mas que poderia efetivamente usar todos os seus quatro
braços para economizar tempo. Naturalmente, Mare foi o próximo. Ainz finalmente ter-
minou de lavar vários minutos depois que todos terminaram.
A banheira era bastante larga, e uma estátua de leão habilmente esculpida despejava
água quente de sua boca na banheira fumegante. Ainz caminhou através do vapor de
água e notou que Cocytus estava especialmente distante dos outros. Os outros dois esta-
vam apreciando a água quente, a uma distância dele.
Demiurge havia removido os óculos. Ele jogou um pouco de água quente em seu rosto
e disse “Ah~”, parecendo um tio de meia-idade.
“Bem. Quente.”
“Isso... que estranho, er, você não disse que era resistente a isso?”
“Eu. Sou, Mas. Geralmente. Não. Me. Banho. Em. Águas. Quentes... Por. Isso. Não. Estou.
Acostumado.”
“...Ainda assim, isso não é motivo para usar sua 「Frost Aura」. Espero que mantenha
sua distância; Eu prefiro minha água quente um pouco escaldante.”
Agora ele sabia o porquê Cocytus estava tão longe. A água que o circundava estava mais
fria.
“Você. É. Resistente. Ao. Fogo. Por. Isso. Está. Bem... Por. Que. Não. Experimenta. Os. Ba-
nhos. Gelados?”
“Isso não me interessa. Além disso, não me envolvi com minha resistência; Estou sim-
plesmente aproveitando a água quente. Cocytus, você acha isso insuportável?”
“Tais. Provocações. Superficiais. Vindo. De. Você. É. Bem. Raro, Está. Bastante. Empol-
gado.”
“Pare com isso. Banhos devem ser agradáveis. Se quiser testar sua resistência, faça isso
na sauna. Você não precisa se forçar a tomar banho aqui.”
“Huwahh~”
“Olhem, vocês precisam aproveitar o banho como o Mare está fazendo. Mare, não se
esforce demais. Se não se sentir bem, pode sair.”
“É... tudo bem, Ainz-sama! Se alguma coisa acontecer, eu posso usar magia!”
Pensou Ainz. No entanto, ele não disse nada e simplesmente olhou para Cocytus.
“Eu acho que algumas pessoas se banham dessa maneira, Ainz-sama. Por exemplo, por
ser um undead, o senhor não ficará atordoado, não importa quanto tempo absorva água.
Não é um tipo de resistência?”
“...De fato.”
Ele podia sentir o calor lentamente infiltrar-se em seu corpo, mas não pareceria tão
bom se ainda fosse humano.
“Hm?”
“É algo importante?”
Ainz não pôde resistir ao desejo de levantar as orelhas e ouvir. Não havia má intenção
naquilo que fez; Ele estava simplesmente curioso sobre o que um grupo de mulheres
falaria quando não havia homens por perto. Claro, ele não colocou seu ouvido na parede;
fazer isso prejudicaria sua dignidade como governante da Grande Tumba de Nazarick.
Ele até se afastou da parede e virou a cabeça para o outro lado.
Ainz estudou cuidadosamente a parede inteira, porque estava preocupado que alguém
pudesse ter instalado algum tipo de mecanismo estranho nela. Houve um tempo em que
alguns membros da guilda ficaram obcecados em fazer estranhos dispositivos e truques.
As relíquias daqueles tempos poderiam ter permanecido até agora.
“—Eu duvido que seja o caso ~arinsu. Não há necessidade de nos espiar; se o Ainz-sama
ordenar, vamos deixá-lo nos espiar o quanto quiser ~arinsu.”
“—Oh, é raro ouvir você dizendo algo que faça sentido, Shalltear.”
“—O que quer dizer com “raro”, que rude. Enfim, isso é uma escova de dentes ~arinsu?
Você poderia não escovar seus dentes aqui, por favor... Quero dizer, escove os dentes no
banheiro, não?”
“—Eu não posso evitar. Limpá-los é realmente cansativo, então tenho que fazê-lo em
um lugar espaçoso. Caso contrário, será muito problemático.”
A voz de Albedo veio de uma posição um pouco mais alta, seguida pelo som de uma
sonoridade alta.
“—Hm... isso parece bastante cansativo. Oh, bem, já que não pode evitar, então vou dei-
xar passar.”
“—Obrigada.”
“—Uah, não balance a cabeça e olhe para mim, é muito nojento. Shalltear, não vai esco-
var?”
“—Eu escovo sozinha no meu quarto, então não preciso ~arinsu. Ainda assim, vamos
realmente ter cáries e coisas assim ~arinsu?”
“—Mesmo que não seja o caso, o mau hálito ao beijar pode apagar as chamas até mesmo
de um amor antigo.”
“—Eh? Espere, não me diga que você vai pular assim? Pelo menos faça algo sobre o seu
corpo...”
“—Waaah! Koffkoff, Koff, se eu fosse uma Vampira das lendas, eu já teria me afogado
~arin-su!”
“—Fufufu. Ahh~ isso é ótimo. Eu virei aqui para tomar banho a partir de agora.”
Uma voz masculina de repente falou, o que fez Ainz e os outros homens se entreolharem.
“Eu. Não. Ouvi. Essa. Voz. Antes, Seria. Um. Guardião. Das. Áreas. De. Banhos, Mas. Por.
Que. Teria. Um. Homem. No. Lado. Das. Mulheres?”
Ao ouvir a voz daquele homem problemático, Ainz lembrou-se de vários casos em que
aquele homem lhe causara problemas. Honestamente falando, Ainz não gostava muito
dele.
“...Apenas no caso, preparem suas armas e preparem-se para atacar o banheiro femi-
nino se alguma coisa acontecer.”
Se o fogo amigo não estivesse ativo, talvez terminasse em risadas, mas, dadas as cir-
cunstâncias atuais, alguém poderia realmente ser morto. O poder de luta delas estava
Ainz saiu da banheira espalhando um pouco de água e foi para o vestiário. Ao ouvi-lo
falar, os outros Guardiões assentiram em uníssono.
Na maioria das vezes, tenho estado ocupado por causa do projeto do anime, trabalho e
outras coisas.
Neste momento o anime está indo bem, apenas algumas notificações de “Como o Ainz
vai sorrir?” “Faça de alguma forma!” “Por favor, faça alguma coisa, Diretor-san!”
Quando todos tiverem este livro nas mãos, o capítulo 2 deverá ter saído. O trabalho dele
te fará sentir que “Ainz é um personagem muito legal!”. Por favor, dê uma olhada, eu
ficaria muito grato!
Então, para este volume há uma capa reversível com uma ilustração no interior incluída
na primeira edição limitada deste livro.
Embora eu tenha a impressão de que este é um caso único para este volume, espero que
os leitores que gostam desse tipo de coisa me enviem seus desejos em cartões postais.
Muito obrigado ao So-bin-san, que resolveu muitos problemas, mesmo quando o traba-
lho aumentou cada vez mais.
Obrigado aos designers do Chord Design Studio, ao revisor Ohaku-sama, a editora F-ta
san e a todos que me ajudaram a finalizar OVERLORD.
E finalmente, obrigado a todos os leitores por aí. Espero falar com vocês novamente no
futuro.
Maruyama Kugane
OVERLORD 6 Os Dois Líderes
305
Ilustrações
OVERLORD 6 Os Dois Líderes
307
OVERLORD 6 Os Dois Líderes
309
OVERLORD 6 Os Dois Líderes
3 1 1
OVERLORD 6 Os Dois Líderes
313
OVERLORD 6 Os Dois Líderes
315
OVERLORD 6 Os Dois Líderes
3 1 7
OVERLORD 6 Os Dois Líderes
3 1 9
OVERLORD 6 Os Dois Líderes
3 2 1
OVERLORD 6 Os Dois Líderes
323
OVERLORD 6 Os Dois Líderes
325
Glossário
Glossário
-Magias, Habilidades & Passivas- pela colocação sobre a pele de alguma substância sólida
Tradução livre de seus nomes aquecida, com o intuito de aquecer ou amolecer tecidos,
acelerando o processo de cura. No Brasil também é co-
Acid Arrow: .........................................................Flecha Ácida. nhecido por compressa.
Appraisal Magic Item: ....................... Avaliar Item Mágico. Fogo Amigo:Ou também fogo aliado, do inglês, Friendly
Chain Cyclone: .................................... Ciclone de Correntes. fire, é uma expressão eufêmica utilizada militarmente no
Despair Aura V: .................................. Aura do Desespero V. que tange os aspectos de ataques aliado a aliado, ou ini-
Detect Magic: ................................................. Detectar Magia. migo a inimigo.
Frost Aura: ............................................................ Aura Gélida. Foie gras:Ou fuagrá em português – termo em francês
Heal: ....................................................................................Curar. significa “fígado gordo” – é o fígado de ganso ou pato que
Hypnotism: ........................................................... Hipnotismo. foi forçosamente alimentado à exaustão, o que levou à hi-
Landwalker: ........................................Caminhante da Terra. pertrofia lipídica do órgão.
Message: .................................................................. Mensagem. Gap Moe: ...Discrepância ente aparência e personalidade.
Reinforce Armor: ................................. Reforçar Armadura. Ginseng:Uma raiz medicinal muito utilizada na medicina
Summon Bicorn: ........................................ Invocar Bicórnio. chinesa devido às suas incríveis propriedades que aju-
Sword of Damocles: ........................... Espada de Dâmocles. dam a diminuir o estresse e o cansaço, melhorando a qua-
lidade de vida e proporcionando a longevidade.
Hierofante:Uma vertente tanto de clérigos quanto de sa-
-Itens- cerdotes voltados para o lado militar. No nosso mundo, é
o termo usado para designar os sacerdotes da alta hierar-
Tradução livre & Curiosidades
quia dos mistérios da Grécia e do Egito.
Himation:É uma antiga roupa grega usada por cima do
Book of the Dead: ..................................... Livro dos Mortos.
ombro.
Cauldron of the Daghdha: ............ Caldeirão de Daghdha.
Horn of the Goblin General: .......... Trombeta do General Idols:Na cultura pop japonesa, os Idols (アイドル, ai-
Goblin. doru) são pessoas da mídia (cantores, atores, modelos
Shadow of Yggdrasil: ........................ Sombra de Yggdrasil. etc.) jovens, em sua maioria adolescentes, com uma ima-
Statue of Animal: War Horse:Estátua de Animal: Cavalo gem inocente e às vezes, mais chamativa. São uma cate-
de Guerra. goria separada de cantores japoneses. O termo implica
um apelo inocente e a capacidade de provocar admiração
e de fazer uma pessoa se apaixonar por artista e é comer-
cializado por agências de talentos japonesas.
-Termos & Terminologias- Memento Mori:É uma expressão em latim que significa
algo como “lembre-se de que você é mortal”, “lembre-se
de que você vai morrer” ou traduzido ao pé-da-letra,
Ankh:Conhecida também como cruz ansata, era na es-
“lembre-se da morte”.
crita hieroglífica egípcia o símbolo da vida. Conhecido
Mimidoshima: .... みみどしま - Mulher jovem com muito
também como símbolo da vida eterna. Os egípcios usa-
conhecimento superficial sobre sexo e afins.
vam-na para indicar a vida após a morte.
Bardado: ............ Armadura que vai no peitoral do cavalo. Nazarick Gakuen:学園 – Substantivo para Universidade,
Cabriolé:Carruagem pequena, leve e rápida, de duas ro- campus, academia. Seria como “Universidade Nazarick”.
das, capota móvel, e movida por apenas um cavalo. Pomelo:Também chamada laranja-natal, cimboa, é uma
Crosier: Traduzido como Bastão Episcopal ou Báculo, é fruta cítrica, fruto de uma árvore da família Rutaceae com
um tipo de cajado usado pelos pastores para se apoiarem 5 a 8m de altura.
ao andar e para conduzirem o gado. Radiação Cherenkov:Também chamada de Efeito Tche-
Dakimakura:(抱き枕) “travesseiro para abraçar” tam- renkov. É o brilho azul tipicamente associado a reatores
nucleares subaquáticos Link para Vídeo.
bém chamado de love pillow no ocidente é um tipo de tra-
Ranger:Em RPGs, é uma classe de personagens com perí-
vesseiro do Japão, considerado um brinquedo sexual por
cia a coisas relacionadas a floresta, rastreamento e caça,
alguns, geralmente possui a foto de algum personagem.
além de proficiências com arcos, geralmente é traduzido
Danishes: ........................................ São um tipo de pão doce.
como Patrulheiro, Guarda Florestal.
Drop:Itens deixados por monstros após serem mortos
Skin:Geralmente é um visual alternativo dado a um pro-
em jogos, o termo também vale para a taxa com qual os
grama computacional.
itens vindos de sorteios e lootboxes.
Trap:Na cultura japonesa contemporânea, otokonoko
Dungeons:O termo é usado em jogos de RPG para desig-
nar cavernas ou labirintos repletos de monstros, armadi- (男の娘 Otoko no ko, "filha-homem"), ou otoko no mu-
lhas e tesouros. Uma Dungeon normalmente é composta sume, refere-se a homens que fazem cross-dress de mu-
por salas e corredores que as conectam, podendo haver lher. Traduzido comumente na comunidade para traps.
também passagens secretas. Com etimologia na palavra TRPG:Acrônimo para Table Role Play Game. O famoso
francesa donjon. Substantivo significando calabouço ou RPG de mesa.
masmorra. Velouté:É um molho da cozinha francesa. O preparo do
Emplastro:Ou emplasto, cataplasma ou ainda malagma, velouté consiste em um caldo claro, onde os ossos são
é uma forma de medicação transdérmica caracterizada usados sem serem torrados, podendo-se optar por car-
Glossário
328
War-Bicornlord: ................. Soberano Bicórnio de Guerra.
Warg:Na língua norueguesa antiga, vargr é um termo
para “lobo”. Na mitologia nórdica, os wargs se tratam par-
ticularmente dos lobos demoníacos.
Zombie Dragon: .............................................. Dragão Zumbi.
Zombie: ..................................................................................... Zumbi.
Rosto poderia lançar ao mar mil navios. É uma analogia à história de Helena de Tróia.
Helena de Tróia é a história de uma mulher cujo rosto teve a reputação de “lançar ao mar
mil navios” em sua perseguição. Nascida de Leda, através de sua ligação amorosa com
Zeus, Helena era extraordinariamente bela desde o nascimento.
Glossário
330
OVERLORD 6 Os Dois Líderes
331
Glossário
332
OVERLORD 6 Os Dois Líderes
333
Enri Emmot, que já foi salva por Ainz Ooal Gown e o Herborista Nfirea, estão morando
no Vilarejo Carne, guardado pelos Goblins, até hoje não houvera nenhum incidente,
mas havia uma nova ameaça se aproximando devido ao desequilíbrio na floresta pela
ausência do Sábio Rei da Floresta—
ISBN 978-4047300842
Glossário
334