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JOSE DE OLIVEIRA ASCENSAO DIREITO DE AUTOR VERSUS DESENVOLVIMENTO TECNOLOGICO? Separata Estupos EM MEMORIA DO ProrEssor Doutor ANTONIO MARQUES DOS SANTOS VOLUME 12005 ALMEDINA. KN New DIREITO DE AUTOR VERSUS SENVOLVIMENTO TECNOLOGICO? Jost DE OLIVEIRA ASCENSAO. Professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lishoa ‘SuMARIO; I. Um caso paradigmitico: 0 caso Napster: 2. As repercussées da revolugao informética; 3. A disciplina das operagdes em rede; 4, A reducao das potencialidades da internet; 5. O atague ao uso privado: o intercdmbio de fichei- 10s musicais; 6. O “processo contra a cidade”. 1. Um caso paradigmético: 0 caso Napster Vamos partir de um caso de todos conhecido, porque ilustra © per- curso a ser trilhado, desenvolvimento tecnol6gico permitiu o interc’imbio de ficheiros através da internet. Por meio do programa designado MP3 pode fuzer-se a comunicagio de contetidos sonoros, nomeadamente musica. Programas anilogos foram desenvolvidos posteriormente para possibilitar o inter- climbio de ficheiros audiovisuais. (Os contetidos transmitidos podem consubstanciar obras musicais ou ‘outras; mas também podem nao consistir em obras de nenhuma categoria (irechos de um jogo de futebol, por exemplo). A nova tecnologia repre sentou tim grande avango, permitindo formas muito mais aperfeigoadas le comunicagao. Mas suscitou a reacgao por parte de entidades de gestao colectiva de direitos autorais, particularmente dos produtores de fonogramas, Foi invor wo de direitos autorais que tais praticas implicariam. © pro- cedimento teenoldgico entrou em choque com a estrutura juridiea de pro: teogiio do direito de aut cada a viola 788__Esuudos em Meméria do Professor Dowtor Anténio Marques dos Santos Na base estava a ameaca financeira que representava a possibilidade de as obras serem descarregadas de modo praticamente gratuito de utente para utente, Isso foi apresentado como um dano das gravadoras, ou pelo menos como um lucto cessante!. Mas o interc’imbio de contetidos, de terminal para terminal, pode ser um acto de uso privado, Sob reserva do aprofandamento posterior, avan- {amos que em termos de Direito Autoral o uso privado é tendencialmente livre, porque o direito respeita como regra & exploragao publica de obras, Isto obriga a esclarecer qual o modo técnico de funcionamento do sis- tema. ‘A empresa particularmente em causa, a Napster, nio disponibilizava cla propria as obras musicais em causa. A sua prestacdo consistia em loca- lizar os ficheiros disponiveis em rede para intercdmbio. Seria depois 0 interessado quem, de posse dessa informagio, realizava por si a operaciio de descarga. Isso nfo foi considerado suficiente pela jurisprudéncia norte-ameri- ‘ana que acabou por prevalecer, O argumento principal foi encontrado no prejuizo que essa pritica trazia para as gravadoras. No common law, a0 contririo do que acontece no nosso sistema, 0 prejuizo causado a outrem na vida comercial & um elemento de ponderagio auténomo do fair use® Admitido esse prejuizo, a pritica foi considerada ilicita No que respeita ao audiovisual, a situagao era ainda mais radical prestador de servigas em rede ni localizava sequer 0s ficheiros dispo- niveis. Limitava-se a fornecer aos interessados um programa de computa- dor adequado, Na posse deste, cada utente podia localizar 0 que desejava e obter a transferéncia, Se tudo era realizado exclusivamente pelo utente, tudo poderia limitar-se ao exercicio de uso privado. Mas a questio no chegou a ser sequer debatida ou especificamente configurada. A decisio teve por bastante considerar aplicével ao audiovisual quanto se dissera para o intercambio de ficheiros musicais, nomeadamente por extrapolagio da valoracio feita com base no prejuizo, | Veja-se por exemplo una descrigéo completa do desenvolvimento do caso e do

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