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DA EXCLUSÃO DE RESPONSABILIDADE DAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS

Devido a Teoria do Risco Profissional, que possui o pressuposto de que a


Instituição Financeira, ao exercer suas atividades com fins lucrativos, assume os riscos
destas atividades, devendo arcar com os danos que vier a causar. É inerente à atividade
bancária este risco ao consumidor, sendo que nestes termos, cabe ao banco o dever de
indenizar. Devido às dimensões e a complexidade tomadas pelos serviços apresentados
pelos bancos, os clientes de seus serviços se encontram em situação de inferioridade de
informação, haja vista não possuírem conhecimento suficiente a respeito dos
mecanismos dos serviços fornecidos.

Resta salientar que os clientes ao se depararem frente uma Instituição


Financeira possui a segurança como um serviço legitimamente esperado. O cliente
deposita seus recursos no banco pois acredita que seus bens serão devidamente
resguardados, a segurança é o serviço fim, não mero meio. Tendo sido exposto isto, ao
ser quebrada tal segurança o banco está descumprindo com suas obrigações contratuais.
Nestes termos, pela natureza dos serviços prestados pelos bancos, este responde
objetivamente pelos danos causados.

Conclui-se, deste modo, os preceitos que levaram os tribunais à auferir


aos bancos a responsabilidade objetiva de seus atos, sendo necessária apenas a
comprovação do dano e do nexo de causalidade entre os atos do banco com eventual
dano. No entanto, a responsabilidade dos bancos pode vir a ser diminuída, ou até
mesmo nula. A lei, bem como o entendimento jurisprudencial, discorre a respeito dos
excludentes de responsabilidade, sendo eles: a culpa exclusiva da vítima, o fato de
terceiro, as excludentes de ilicitude (legitima defesa, estado de necessidade, exercício
regular de direito), o caso fortuito e a força maior, e a Ação de Regresso. No tocante a
tais matérias, devido ao Código de Defesa do Consumidor, a exclusão da
responsabilidade objetiva torna-se extremamente limitada, prevendo apenas a culpa
exclusiva da vítima e o fato de terceiro.
I) Da Culpa Concorrente e Exclusiva do Cliente e o Fato de Terceiro

A responsabilidade dos bancos pode ser atenuada frente culpa


concorrente ou exclusiva da vítima, ou de terceiros. Ocorre que, de acordo com Código
e Defesa do Consumidor de 1990, os bancos são considerados fornecedores de serviços
e por isso devem responder pelos danos causados, ainda que haja culpa concorrente do
cliente. Desta forma, a exclusão da responsabilidade do banco (prestador de serviços) só
ocorreria nos casos de culpa exclusiva de terceiro ou do consumidor.

Conforme o disposto no Código Civil, mais precisamente em seu art.


945, se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização
será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do
dano. Ou seja, a majoração dos valores indenizatórios terá que levar em consideração,
além da responsabilidade objetiva do banco, eventual grau de culpabilidade da própria
vítima, observando se há imperícia, negligência ou imprudência de sua parte, ou até
mesmo dolo. Se configurada a culpa concorrente da vítima, o valor indenizatório devido
pelo banco pode ser diminuído, conforme a proporção da culpa comprovada.

No entanto, as Instituições Financeiras estão sujeitas ao Código de


Defesa do Consumidor, conforme a súmula 297 do STJ, de seguinte teor “O Código de
Defesa do Consumidor é aplicável as instituições financeiras”, por serem consideradas
fornecedoras de serviços, que em seu art. 14, §3°, incisos I e II, dispõe que “o
fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar que, tendo prestado
o serviço, o defeito inexiste; a culpa é exclusiva do consumidor ou de terceiro”.
Afastando, desta maneira, a responsabilização da vítima em casos onde há culpa
concorrente.

Como se vê, dentre as causas de exclusão da responsabilidade do


fornecedor está a culpa exclusiva do consumidor ou terceiro. Por conta disso, os bancos,
ao enfrentarem fraudes, roubos e ataques hackers, por exemplo, passaram a alegar a
excludente da culpa exclusiva de terceiros, principalmente quando as fraudes praticadas
eram reconhecidamente sofisticadas. Contudo, tais episódios foram configurados, pelo
STJ, como fortuito interno, ou seja, os atos dos terceiros se relacionam diretamente com
os riscos assumidos da própria atividade econômica dos bancos, sendo assim, não
excluem o dever de indenizar os danos causados. De acordo com o professor Pablo
Stolze, a diferença entre caso fortuito interno e externo é aplicável, especialmente, nas
relações de consumo. O caso fortuito interno incide durante o processo de elaboração do
produto ou execução do serviço, não eximindo a responsabilidade civil do fornecedor.
Já o caso fortuito externo é alheio ou estranho ao processo de elaboração do produto ou
execução do serviço, excluindo a responsabilidade civil.

A segurança, como já exposto, é o serviço fim de um estabelecimento


bancário, sendo inerente às atividades econômicas dos bancos, cabendo ao mesmo
fornecer devidamente tal serviço, sendo que atos lesivos de terceiros, são previsíveis e
evitáveis, observando que a quebra na segurança é, portanto, considerada uma falha no
serviço bancário.

Neste sentido, a Súmula 479 do STJ foi criada no ano de 2012 para fixar
a responsabilidade objetiva das instituições financeiras por fraudes e delitos praticados
por terceiros (como, por exemplo, abertura de conta-corrente por falsários, clonagem de
cartão de crédito, roubo de cofre de segurança ou violação de sistema de computador
por crackers), porquanto tal responsabilidade decorre do risco do empreendimento,
caracterizando-se como fortuito interno. Senão, vejamos:

“STJ/Súmula 479: As instituições financeiras respondem objetivamente pelos


danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por
terceiros no âmbito de operações bancárias”.

Nas palavras de Carlos Gonçalves, “quando o evento danoso acontece


por culpa exclusiva da vítima, desaparece a responsabilidade do agente. Nesse caso,
deixa de existir a relação de causa e feito entre seu ato e o prejuízo experimentado pela
vítima. Pode-se afirmar que, no caso de culpa exclusiva da vítima, o causador do dano
não passa de mero instrumento do acidente. Não há liame de causalidade entre o seu
ato e o prejuízo da vítima”.

Frente a todo o consignado até então, tem-se o entendimento majoritário,


doutrinário e jurisprudencial, de que os Estabelecimentos Bancários respondem
objetivamente pelos danos causados, podendo ser excluída tal responsabilidade nos
casos onde há culpa exclusiva da vítima.
II) Das Excludentes de Ilicitude

Nos ditames do ordenamento jurídico brasileiro, “aquele que, por ato


ilícito, gerar dano a outrem, fica obrigado a repara-lo”. Ao auferir-se tal preceito aos
Estabelecimentos Bancários, por ser sua responsabilidade objetiva, fica obrigado a
reparar os danos independentemente de culpa, devido a natureza de suas atividades. No
entanto, conforme o dispositivo do art. 188, do Código Civil, a responsabilidade pode
ser excluída frente aos excludentes de ilicitude. Senão vejamos:

“Art. 188. Não constituem atos ilícitos:

I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de


um direito reconhecido;

II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a


pessoa, a fim de remover perigo iminente.

Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo


somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente
necessário, não excedendo os limites do indispensável para a
remoção do perigo”.

Assim sendo, a responsabilidade dos bancos pode ser excluída quando


seus atos estão sob a tutela da legitima defesa, estado de necessidade e exercício regular
de um direito.

III) Do Caso Fortuito e da Força Maior

O caso fortuito e a força maior, previstos no art. 393, do Código Civil,


excluem a responsabilidade dos estabelecimentos bancários, caso este não tenha se
responsabilizado expressamente por tais casos, pois deixam de fora o quesito culpa,
observando que são estes eventos imprevisíveis e inevitáveis, estando excluídos os
fortuitos internos, conforme já explanado.
IV) Da Ação de Regresso

Tal possibilidade de exclusão da responsabilidade das Instituições


Bancárias não interfere no direito de ressarcimento do lesado, apenas diz no tocante a
quem cabe indenizar. A hipótese tem embasamento legal no artigo 934 do Código
Civil Brasileiro de 2002, que explicita:

“Art. 934. Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver
pago daquele por quem pagou, salvo se o causador do dano for descendente seu,
absoluta ou relativamente incapaz”

Ou seja, o banco possui o dever de indenizar pelos danos causados aos


seus clientes ou à terceiros, devido a sua responsabilidade objetiva. Contudo, nada
impede a ação regressiva, para a responsabilização de quem efetivamente possui culpa
pelos danos causados.

Este é o entendimento jurisprudencial, senão vejamos:

ATO ILÍCITO - As instituições financeiras respondem objetivamente por danos gerados


por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de
operações, decorrentes do defeito de serviço, resultantes do descumprimento do dever
de segurança pessoal e patrimonial dos consumidores, nos locais utilizados na prestação
dos serviços bancários, o que compreende não só as agências e estacionamentos a ela
vinculados, mas também caixas eletrônicos em terminais de autoatendimento ainda que
localizados fora das agências, visto que também vinculados à prestação de serviços
bancários – Reconhecimento da existência de falha na prestação do serviço pelo banco,
consistente no descumprimento do dever de resguardar a segurança dos funcionários da
parte autora, vítimas de roubo em estacionamento da agência, mediante uso de arma de
fogo. RESPONSABILIDADE CIVIL - Caracterizado o defeito de serviço, consistente
em não resguardar a segurança de seus clientes em estacionamento disponibilizado pela
agência bancária, no qual foram vítimas de roubo mediante uso de arma de fogo, de
rigor, o reconhecimento da responsabilidade e a condenação do réu na obrigação de
indenizar a parte autora pelos danos decorrentes do ilícito em questão. DANO
MATERIAL - O roubo de valores da parte autora em ação criminosa praticada no
estabelecimento da parte ré, em razão de defeito de serviço, é fato gerador de dano
material, porquanto implicou diminuição do patrimônio do correntista - Manutenção da
r. sentença na parte em que determinou a devolução, a título de indenização por danos
materiais, da quantia correspondentes ao montante roubado da parte autora, durante a
ação de criminosos no estacionamento da agência bancária do réu. Recurso
desprovido. (TJSP; Apelação 1002054-58.2013.8.26.0068; Relator (a): Rebello Pinho;
Órgão Julgador: 20ª Câmara de Direito Privado; Foro de Barueri - 3ª Vara Cível; Data
do Julgamento: 04/09/2017; Data de Registro: 06/09/2017)

DA RESPONSABILIDADE DOS ESTABELECIMENTOS BANCÁRIO FRENTE


A ATOS DE SEUS EMPREGADOS

Os empregadores, conforme o entendimento jurisprudencial, bem como o


disposto no art. 932, são responsáveis pelos atos de seus empregados, serviçais e
prepostos, no exercício de suas funções ou em razão delas. A Súmula nº 341, do STJ,
dita que é “presumida a culpa do patrão ou comitente pelo ato culposo do empregado ou
preposto”. Devido aos princípios da culpa in elegendo, que diz respeito a
responsabilidade da contratação, e da culpa in vigilando, que diz respeito à obrigação
dos empregadores de vigiar seus empregados, este é o entendimento que diz respeito a
responsabilidade dos empregadores por atos de seus empregados. Assim sendo, os
Estabelecimentos Bancários estão sujeitos à indenização pelos atos danosos de seus
subordinados.

É certo, porém, que o empregador que por ora responde de forma


objetiva ante os fatos danosos, pode ajuizar ação regressiva contra o empregado, com o
intuito de reembolsar os valores despendidos, em razão à letra da lei do artigo 934
do Código Civil, que assim dispõe:

“Art. 934. Aquele que ressarcir o dano causado por outrem


pode reaver o que houver pago daquele por quem pagou, salvo
se o causador do dano for descendente seu, absoluta ou
relativamente incapaz”.
Nestes termos, o empregador pode aplicar a ação de regresso contra o
empregado, podendo optar o patrão pela denunciação a lide, que se faz através de uma
ação secundária no próprio curso da ação principal, que será julgada simultaneamente
com a ação principal, ou esperar que seja proferida a sentença transitada em julgado,
para que posteriormente possa o empregador ingressar com ação de regresso contra o
empregado, responsável pelo dano.

Este é o entendimento jurisprudencial, senão vejamos:

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CIVIL, DO CONSUMIDOR E PROCESSUAL.


PRELIMINAR DE NULIDADE DA SENTENÇA REJEITADA. MÉRITO. ATO
ILÍCITO PRATICADO POR FUNCIONÁRIO DO BANCO RÉU NO EXERCÍCIO
DAS FUNÇÕES. EMPRÉSTIMO BANCÁRIO EFETUADO SEM A
AUTORIZAÇÃO DO CORRENTISTA. INCIDÊNCIA DA RESPONSABILIDADE
OBJETIVA (ART. 14, § 3o, DO CDC). INSTITUIÇÃO FINANCEIRA QUE
RESPONDE PELO EVENTO DANOSO, SENDO RESGUARDADO, NO ENTANTO,
O SEU DIREITO DE REGRESSO CONTRA O CAUSADOR DO ATO ILÍCITO.
SENTENÇA MANTIDA. APELO DESPROVIDO. DA PRELIMINAR DE
NULIDADE DA SENTENÇA AFASTADA - Argui o Apelante a preliminar de
nulidade da sentença, por estar a decisão de piso desprovida de fundamentação jurídica.
No entanto, tenho que razão alguma lhe assiste, porquanto o Julgador primevo apreciou
o pedido inicial e expôs as razões do seu deferimento, não sendo obrigado a analisar
todas as teses apresentadas pela parte, quando existe argumento que por si só é hábil
para formar a sua convicção. Preliminar rejeitada. No mérito, cuida-se de Apelação
interposta pelo Banco Bradesco contra a sentença que julgou procedente o pedido
formulado na Ação Declaratória de Nulidade de Empréstimo Bancário, para condenar o
Réu no pagamento ao Autor da quantia equivalente a R$ 20.000,00 (vinte mil reais),
acrescida de juros e correção monetária. Na hipótese, restou comprovado nos autos que
o Autor possui o direito de ver declarada a nulidade do empréstimo bancário, porquanto
tal negócio foi efetuado por funcionário da Instituição Financeira em comento, sem a
autorização do correntista, ora Apelado. Em que pese ter o empréstimo bancário sido
feito pelo ex-gerente do Banco Bradesco, no caso, a responsabilidade recai sobre a
Instituição Financeira/Ré, em razão da incidência da responsabilidade objetiva. Em
verdade, no caso, incumbia à Ré o ônus de provar a existência de fatos impeditivos,
modificativos e extintivos do direito do Autor (art. 333, II, do CPC) ou a ocorrência de
qualquer das hipóteses excludentes de sua responsabilidade, mas como assim não agiu,
a ela é imposta a obrigação de responder pelo episódio ocorrido. No caso, como a
responsabilidade incidente é objetiva, responde o Banco por ato cometido por seu
funcionário, resguardado, obviamente, o seu direito de regresso contra o causador do
evento ilícito (art. 934, do CC). Sentença mantida. Apelo desprovido. (Classe:
Apelação,Número do Processo: 0001503-70.2008.8.05.0225, Relator (a): Gesivaldo
Nascimento Britto, Segunda Câmara Cível, Publicado em: 11/09/2015 ) (TJ-BA - APL:
00015037020088050225, Relator: Gesivaldo Nascimento Britto, Segunda Câmara
Cível, Data de Publicação: 11/09/2015)

Apelação. Ação de indenização por danos materiais. Ilícito cometido por ex-funcionário
da autora e preposto instituição financeira. Fraude na transferência de valores oriundos
de financiamento de bens móveis. Sentença de procedência. Processual Civil. Sentença
proferida e publicada na vigência do CPC de 2015. Princípio "tempus regit actum" e do
isolamento dos atos processuais. Sentença. Nulidade. Decisão "extra petita". Não
ocorrência. Valor da causa fixado em incidente de impugnação. Preliminar afastada.
Responsabilidade Civil. Culpa, nexo causal e dano comprovados e incontroversos.
Atuação do preposto do banco em conjunto com corréu, ex-funcionário da empresa
autora. Desvio de valores comprovados e confessados pelo corréu. Empregador que
responde pelos atos praticados por seus prepostos. Aplicação do artigo 932 do CC.
Condenação solidária mantida. Honorários recusais. Majoração para 15% sobre o valor
da condenação em relação ao recorrente. Inteligência do artigo 85, § 11 do CPC.
Recurso não provido. (TJSP; Apelação 0008657-98.2010.8.26.0318; Relator
(a): Edson Luiz de Queiróz; Órgão Julgador: 9ª Câmara de Direito Privado; Foro de
Leme - 3ª Vara Cível; Data do Julgamento: 17/04/2018; Data de Registro: 18/04/2018)
BIBLIOGRAFIA

 https://gercijr.jusbrasil.com.br/artigos/143401485/a-responsabilidade-civil-do-
empregador-nos-atos-praticados-por-seus-empregados-e-suas-excludentes.
(30/10/2018)
 https://jus.com.br/artigos/43219/responsabilidade-civil-dos-estabelecimentos-
bancarios. (27/10/2018)
 https://esaj.tjsp.jus.br/cjsg/consultaCompleta.do?f=1. (30/10/2018)

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