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Tost ão (/ colunas/ tostao/ )

Costumes e comportamentos obsoletos


demoram décadas para mudar
Muitas opiniões e ideias antigas impregnaram o inconsciente individual e
coletivo do futebol

16.dez.2018 às 2h00

EDIÇÃO IMPRESSA (https:// www1.folha.uol.com.br/ fsp/ fac-simile/ 2018/ 12/ 16/ )

Percebo que muitas opiniões e ideias antigas, que têm sido


progressivamente mudadas e abandonadas, continuam ainda
repetidas por vários treinadores e comentaristas, mesmo pelos que
estão atualizados, ex-atletas ou não. São vícios que, por longo tempo,
impregnaram a mente e o inconsciente individual e coletivo do
futebol.

As pessoas repetem compulsivamente. O mesmo ocorre na vida


social. Costumes e comportamentos obsoletos demoram décadas
para serem substituídos.

Há dezenas de exemplos. Um deles é a excessiva dependência dos


clássicos meias de ligação, centralizados, que atuam entre o
meio-campo e o ataque (https:// www1.folha.uol.com.br/ esporte/ 2018/ 11/ tite-busca-ponto-

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de-equilibrio-no-meio-campo-em-amistoso-contra-camaroes.shtml) e que não participam da


marcação. Nesta época de contratações, são os mais desejados.

Quando um time atua mal, sempre falam que falta um camisa 10,
para "assumir a responsabilidade", "colocar a bola debaixo do braço"
e outros clichês.

Na difícil conquista do Athletico, nos pênaltis, da Copa


Sul-Americana (https:// www1.folha.uol.com.br/ esporte/ 2018/ 12/ nos-penaltis-athletico-pr-conquista-
a-copa-sul-americana.shtml), o que mais escutei foi que o bom meia Raphael
Veiga não fazia a transição da bola do meio-campo para o ataque,
como se ele fosse o único responsável. Mesmo assim, foi dele o belo
passe para o gol de Pablo.

Na maior parte do jogo, o Junior Barranquilla foi melhor, criou várias


chances de gol e ainda perdeu um pênalti.

Jogadores do Athletico-PR comemoram conquista com a taça da Copa Sul-Americana -


Nelson Almeida/ AFP

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Está cada vez mais frequente os rivais sul-americanos terem mais o


domínio da bola, trocarem mais passes e mostrarem mais habilidade
que os brasileiros, que priorizam a marcação, as bolas longas e os
contra-ataques.

Isso ocorreu recentemente nos jogos de Cruzeiro, Palmeiras


(https:// www1.folha.uol.com.br/ esporte/ 2018/ 12/ nem-consegui-pegar-a-taca-diz-prass-sobre-festa-do-brasileiro-

com-bolsonaro.shtml) e Grêmio (https:// www1.folha.uol.com.br/ esporte/ 2018/ 12/ reforco-do-corinthians-


ramiro-era-prodigio-no-tenis-e-fa-de-guga-kuerten.shtml) contra River Plate e Boca
(https:// www1.folha.uol.com.br/ esporte/ 2018/ 12/ tensao-e-adiamento-fizeram-tecnicos-de-river-e-boca-

adotarem-misterio.shtml) e também nos amistosos entre as seleções sub-20 do


Brasil e da Colômbia. Isso é preocupante.

Enquanto os times brasileiros sonham com um clássico meia de


ligação, quase todas as melhores equipes do mundo não têm esse
tipo de jogador. Atuam com um trio no meio-campo, formado por um
volante e um meio-campista de cada lado, que marcam como
volantes e avançam como meias, em vez de ter dois volantes em linha
e um meia centralizado, avançado.

Quando as grandes equipes perdem a bola, marcam com cinco no


meio-campo (três armadores e um jogador de cada lado), e, quando a
recuperam, atacam com cinco (dois dos três armadores, os dois pelos
lados e o centroavante), além do avanço dos laterais.

Dias atrás, escutei um comentarista atualizado dizer que os volantes


precisam ser rápidos para fazerem a cobertura dos laterais. Essa é
uma estratégia obsoleta. Ele não disse por que não sabe, e sim por
que escuta, há décadas, esse conceito. Repete, automaticamente.

Atualmente, a marcação pelo lado é feita pelo lateral e pelo ponta que
recua. Quando a bola é lançada nas costas do lateral, é o zagueiro
daquele lado que faz a cobertura, pois está de frente para a bola. O
volante é jogador de meio-campo. Não é apenas protetor de
zagueiros e de laterais.

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Atualizar-se não é desprezar o passado nem ser modernoso. Muitas


coisas antigas continuam presentes e atuais. Às vezes, é necessário
adaptá-las à realidade de hoje. Por outro lado, há muitos conceitos e
condutas antigas, ultrapassadas, que são repetidas com a justificativa
de que são práticas de experientes profissionais.

A experiência é importante, ilumina, desde que acompanhada por


novos conhecimentos. Em muitas ocasiões, como escreveu o
memorialista Pedro Nava, "a experiência é um farol voltado para
trás". Na frente, continua tudo escuro.

Tost ão
Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em
medicina.

ENDEREÇO DA PÁGINA

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