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A importância e propósitos da carreira cristã

Texto: 1 Co 9.24-27; Hb 12.1,2

Francisco Alves de Oliveira (*)

Pelo que lemos em 1 Co 9.24-27; Gl 5.7; Fp 3.13,14 e ainda em 2 Tm 4.7,8, notamos que o apóstolo Paulo
era profundo admirador dos esportes, sobretudo do atletismo. O mesmo podemos concluir em relação ao
escritor aos Hebreus, que em 12.1-3 faz semelhantes e claras aplicações sobre a nossa vida espiritual
comparada a uma corrida, assim como Paulo o fez em vários dos seus escritos.

O pastor Josivaldo de França Pereira, discorrendo sobre este assunto, destaca três motivos pelos quais
devemos fazer parte ativamente da corrida espiritual: (a) Porque ela é determinada por Deus (a carreira nos
está “proposta”); (b) Porque ela é incentivada pelos heróis da fé (Hb 11); e (c) Porque ela é inspirada na
vitória de Cristo (Hb 12.2,3). De fato, por tudo o que temos lido na Bíblia a respeito da nossa carreira
espiritual, não só no Novo Testamento, mas também em Is 40.31, precisamos refletir sobre a importância e
os propósitos dessa “corrida”.

De início, lembremo-nos de que Jesus nos ensinou que o reino de Deus é tomado “à força”, e que devemos
“porfiar” por entrar pela porta estreita (Lc 9.62). o verbo porfiar usado por Jesus tem um sentido bom, de
competição, de lutar por algo bom, de sentido contrário ao substantivo porfia, usado por Paulo em Gl 5.20,
referindo-se às lutas e dissenções como obras da carne. Em muitas passagens a Palavra de Deus nos
alertar a “lutarmos” pela nossa salvação, como em Hb 2.3. A nossa carreira cristã, portanto, é representada
por lutas constantes que devem ser vencidas.

Todos competem em busca do prêmio, e devem se fixar nele. “Correi de tal maneira que o alcanceis” foi a
recomendação de Paulo em 1 Co 9.24. Em Fp 3.14 Paulo recomenda que devemos esquecer as demais
coisas e prosseguirmos firmemente em busca do nosso prêmio. Ou seja, nada neste mundo pode desviar a
nossa atenção daquilo pelo qual lutamos, que é a nossa coroa. Zequinha Barbosa, velocista brasileiro que
participou de várias competições internacionais no atletismo, pagou caro nas Olimpíadas de Barcelona, em
1992, ao desviar a sua atenção da linha de chegada, preferindo preocupar-se com os outros atletas que
estavam atrás dele. Zequinha, que vencera todas as prévias dos 800 metro rasos, chegou na competição
final como o grande favorito à medalha de ouro. Ele começou bem a prova e logo passou correr com bons
metros de vantagem em relação aos seus concorrentes. Foi assim em quase todo o percurso. Porém, nos
metros finais, quando já se podia avistar a linha de chegada, olhou para trás ao perceber que alguns atletas
do Quênia estavam se aproximando dele e, ao olhar para trás, desequilibrou-se, permitindo que os atletas o
alcançassem e, por fim, o ultrapassassem. Zequinha, por um descuido, ficou sem medalha, terminando a
prova em quarto lugar. Disto podemos tirar uma grande lição para a nossa carreira espiritual. Temos que
nos fixar em Jesus, que há de nos coroar (2 Co 5.10), e não colocarmos a nossa carreira espiritual e risco.

Paulo afirma uma verdade em 1 Co 9.25: “o que luta, de tudo se abstém”. Todo atleta, para ser bem
sucedido em sua careira, precisa submeter-se a rigorosa disciplina alimentar e abster-se do lazer e outros
afazeres, como o convívio diário com a família, para dedicar-se a muitas horas de concentração, a fim de
envolver-se única e exclusivamente com a sua carreira. É assim mesmo que deve acontecer com o cristão.
Deve ter disciplina e boa conduta, e abster-se de toda a aparência do mal (1 Ts 5.22). Isso fala de caráter, e
caráter fala de Fruto do Espírito (Gl 5.16, 22).

O escritor ao Hebreus, em 12.1, afirma que estamos rodeados de uma grande nuvem de testemunhas, ou
seja, muitos estão nos olhando, e torcendo por nós, certamente numa menção aos heróis da fé,
mencionados no capítulo 11. Porém, uma realidade não podemos esconder: estamos competindo no campo
do adversário, pois aqui somos estrangeiros e forasteiros (1 Pe 1.17; 2.11; Fp 3.20). isso mostra que, na
verdade, na “grande nuvem de testemunhas” há uma enorme torcida contra a nossa vitória. O nosso “eu”
torce contra nós, o mundo e o que nele há torcem contra nós. Mas, além disso, há uma grande e terrível
força espiritual torcendo contra nós, conforme nos alerta Paulo em Ef 6.11-18, e Pedro em 1 Pe 5.8,9. Para
isso, precisamos estar revestidos da armadura de Deus e lutar com armas espirituais 2 Co 10.4; 1 Co 9.26.
Imaginem uma final de Copa do Mundo entre Brasil e Argentina, sendo disputada em Buenos Aires!!! O que
faria a torcida argentina aos jogadores brasileiros?! É assim mesmo que ocorre em nossa carreira cristã.
Temos que estar alertas e preparados para não nos intimidarmos com as ameaças do inimigo das nossas
almas.

Uma outra advertência contida no texto de Hb 12.1 é a que diz respeito aos embaraços e pecados que
poderiam comprometer a nossa carreira espiritual. Notemos que a Bíblia fala em embaraço e, depois, em
pecado, que tão de perto nos assedia. Isso mostra que determinadas atitudes, mesmo que não se
classifiquem como pecado, poderão ser um embaraço à nossa carreira. A Bíblia nos alerta veementemente
quanto aos perigos do mundo e do que nele há (Rm 12.1,2; 1 Jo 2.15-17); do cuidados excessivo pelas
coisas materiais e cuidados da vida (Lc 21.34); do amor ao dinheiro e aos bens materiais (1 Tm 6.10) e até
das más companhias. Paulo faz um questionamento aos Gálatas (5.7), indagando sobre o que estaria
impedindo a carreira espiritual deles, e alerta a Timóteo (2 Tm 2.4,5) que ninguém que milita deve se
embaraçar com os negócios desta vida,8 e que não será coroado se não militar legitimamente.

O que devemos fazer diante dos embaraços, ou obstáculos, que surgem na nossa carreira espiritual?
Devemos transpor essas barreiras, superá-las. Existem algumas modalidades esportivas que servem para
ilustrar isso. É o caso da corrida de 110 metros com barreiras e da de 400 metros com barreiras, assim
como a do salto com vara, o hipismo, etc. essas modalidades exigem muita habilidade dos atletas, que
devem percorrer todo o percurso sem tocar no obstáculo.

Há dois aspectos fundamentais na vida de um atleta: o treinamento e o preparo físico. Este dará condições
ao seu corpo para suportar por muito tempo e com grande proveito uma competição; aquele é fundamental
para o uso de técnicas adequadas que surpreendam o adversário e o levem ä vitória. O cristão precisa
adquirir um bom preparo “físico” (na verdade, espiritual) e muito “treinamento” para tornar-se um vencedor
em sua careira espiritual. Em que consiste esse preparo? Alguns elementos são: a oração (Ef 6.18; 1 Ts
5.17); a vigilância (Lc 21.36; 1 Pe 5.8); a leitura da bíblia (Sl 1.2; 119.9,11; Cl 3.16) e o jejum (Mt 17.21; 2 Co
6.5).

Em uma competição, a perseverança em participar até o fim é tudo o que todo atleta deseja e precisa. O
texto de Hb 12.1 nos mostra que devemos “correr com perseverança a carreira que nos está proposta”. Isso
quer dizer que jamais devemos desistir ou desanimar, mesmo diante das dificuldades. Aliás, sobre este
assunto Jesus foi muito franco: “Quem lança mão do arado e olha para trás não está apto para o reino de
Deus” (Lc 9.62). Ele dizia isto sobre a seriedade que devemos dar em seguir os seus passos (Hb 12.2).
Paulo ensinou com muita clareza aos Coríntios (1 Co 15.58): “...sede firmes e constantes, sempre
abundantes... sabendo que não é vão o vosso trabalho”. Nas olimpíadas de Atenas, em 2004, o brasileiro
Vanderlei Cordeiro de Lima mostrou ao mundo inteiro o valor da perseverança. Ele liderava a maratona que
encerraria os jogos olímpicos, e estava a poucos quilômetros a linha de chegada, sendo acompanhado por
muitos torcedores durante o trajeto e pelos que estavam no estádio, lotado, e o acompanhavam pelo telão.
O que ninguém esperava é que ele fosse brutalmente interrompido por um padre irlandês, que, no afã de
“aparecer” o empurrou para fora da pista. Forma segundos preciosos perdidos, que lhe custaram a medalha
de ouro, mas mesmo assim Vanderlei não desistiu. Ajudado por um anônimo grego, retomou sua corrida,
ainda mantendo-se à frente, sendo depois ultrapassado por dois atletas. Mas continuou sua carreira e
chegou em terceiro lugar, sendo aplaudido de pé por todos, durante muitos minutos. Recebeu muitos
prêmios e homenagens pela garra que mostrou durante a competição, a despeito do acidente que sofreu.
Foi uma grande lição para todos, da qual podemos extrair lições para nossa carreira espiritual, pois jamais
devemos desistir, mesmo quando isso pareça ser a atitude mais esperada por todos.

Há um outro fator fundamental em uma competição, quando se trata de uma modalidade esportiva: a união.
Foi assim que o Brasil ganhou duas copas do mundo, a de 1994 e a de 2002. Em 1994, todos se lembram
que os jogadores entravam em campo de mão dadas, atitude tomada ainda durante as eliminatórias para
aquela competição. Em 2002, a imprensa passou a chamar a Seleção brasileira de ‘”Família Scolari’, em
uma referência a Luis Felipe Scolari, então técnico da Seleção, que pregou a união entre os jogadores e
faturou nada menos que o 5º título mundial para o Brasil. Existem algumas modalidades que dependem
diretamente da união entre os atletas, que são as competições por revezamento, seja no atletismo
(revesamento 4 x 400), seja na natação (revezamento 4 x 100). Nessas modalidades, a sincronia entre os
atletas é de extrema importância, pois todos devem participar como se fora um só. Assim deve ser na nossa
carreira espiritual. Paulo nos alerta em Fp 2.2 que devemos “sentir uma mesma coisa”, e em 2 Co 13.11 que
sejamos “de um mesmo parecer”. Jesus, em sua oração sacerdotal, disse: “para que todos sejam um, como
tu, ó Pai, o és em mim e eu em ti; que eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste”
(Jo 17.21). A Bíblia tem outras recomendações a este respeito em Ec 4.9-12; 1 Co 12.12-31.

Como vimos no início deste estudo, tudo em uma competição deve girar em torno de uma única coisa: o
prêmio. É assim também em nossa carreira espiritual: tudo deve ser feito em prol da nossa coroa, que
Jesus nos dará “naquele Dia” (2 Tm 4.8). Há infelizmente, pessoas na igreja que não estão de fato
comprometidas com a salvação. Muitas estão ali para passar o tempo, e servir a Deus apenas na aparência
(Ef 6.6; Cl 3.23,24). Na Corrida de São Silvestre, que acontece em São Paulo em todo dia 31 de dezembro
e reúne atletas de vários países, há três pelotões na sua formação: (1) o pelotão de elite, formado atletas de
ponta e que estão ali para ganhar o prêmio. Qualquer um deles pode ser o vencedor, pois se prepararam o
ano inteiro para isso; (2) o pelotão intermediário, formado por atletas profissionais, mas que não apresentam
condições necessárias para lutar pelo naquele ano. Participam para “ganhar experiência” e conquistarem
uma vaga no pelotão de leite no ano seguinte; (3) os atletas anônimos, formado por uma grande multidão,
que aparece ali apenas para fazer “farra” e exibir suas fantasias. Muitos só conseguem correr poucos
metros, pois o objetivo é apenas aparecer na largada e curtir o evento, como uma diversão de final de ano.
Na igreja, infelizmente, há pessoas com procedimento semelhante, que estão lá apenas para “participar”,
mas sem nenhum compromisso com a salvação.
Há ainda um aspecto importante na vida de um atleta: ele precisa de um treinador, de um preparador físico,
e de toda uma comissão técnica para o acompanhar e o assistir. Na nossa carreira cristã é assim também.
Temos o nosso “técnico”, nosso “treinador”, que é o Espírito Santo (Jo 14.26; 16.13,15), e uma comissão
técnica designada por Jesus para nos acompanhar e orientar (Ef 4.11-13).

Outro fator importante para um time é o uniforme. É o uniforme que identifica o jogador e a qual time ele
pertence. Como cristãos que correm a corrida da fé, também temos o nosso uniforme, que é branco (Ec 9.8;
Ap 3.5; 6.11; 7.9) e a sua marca é o amor (Jo 13.35).

Por fim, em alguns torneios de futebol, o time que joga no campo do adversário tem a vantagem o empate.
Ou seja, por estar jogando “fora de casa”, o empate lhe é um bom resultado. Já vimos que estamos
“jogando fora de casa”, mas, no nosso caso, o empate não é um bom resultado. Só a vitória nos interessa.
É vencer ou vencer. Jesus jamais nos disse: “aquele que empatar se assentará comigo no meu trono”. Mas
a promessa é: “aquele que VENCER se assentará comigo no meu trono” (Ap 3.21). Há outras promessas
neste sentido: Ap 2.7,11,26-29; 3.5,12; 21.7.

Meu irmão, meu amigo: se você não está fazendo parte desta corrida, ingresse nela hoje. Você será um
vencedor. Você viu como é importante a carreira cristã e precisa estar fazendo parte dela, com propósitos
definidos, sabendo que Deus tem lhe dado todas as condições para participar dela e está pronto para lhe
entregar o seu prêmio.

Que Deus te abençoe.

(*) Presbítero e Superintendente da Escola Bíblica Dominical da Assembléia de Deus em Cordovil, Rio de Janeiro, RJ.
e-mail: f.alves@recall-ledger.com.br; francalves@uol.com.br

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