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LIÇÃO Nº 8 – O ABORTO E A EUTANÁSIA

                            Um dos pontos mais angustiantes do relativismo ético do


mundo de hoje é a sua posição diante do aborto e da eutanásia que, de formas
de homicídio que são, passaram a ser tratados como simples problemas de
saúde, o que tem permitido ceifar milhões e milhões de vidas todos os anos.

INTRODUÇÃO

-   A vida humana é um mistério que demonstra o grande poder de Deus.


Apesar de toda sua ciência e tecnologia, o homem não é capaz de definir o
exato instante em que veio a surgir como ser, pois ninguém sabe o momento
em que foi concebido, como também é incapaz de definir o exato instante em
que vem a deixar este mundo com a morte. Estas coisas são apenas uma
pequena demonstração de que somente Deus tem o controle de tudo e que,
portanto, deve ser adorado como Senhor do Universo (Ec.8:17)

OBS: Neste ponto, aliás, como faremos ainda neste esboço em outras
passagens, devemos anotar as considerações feitas pelo Papa João Paulo II,
líder da Igreja Romana de 1978 a 2005, sobre o assunto na sua encíclica
"Evangelium vitae" (O Evangelho da vida). Não podemos deixar de reconhecer
que o Papa foi o mais vigoroso adversário do aborto e da eutanásia na
atualidade. Quanto ao valor da vida humana, assim se expressou Karol
Woytila: "... O homem é chamado a uma plenitude de vida que se estende
muito para além das dimensões da sua existência terrena, porque consiste na
participação da própria vida de Deus.A sublimidade desta vocação
sobrenatural revela a grandeza e o valor precioso da vida humana, inclusive já
na sua fase temporal. Com efeito, a vida temporal é condição basilar, momento
inicial e parte integrante do processo global e unitário da existência humana:
um processo que, para além de toda a expectativa e merecimento, fica
iluminado pela promessa e renovado pelo dom da vida divina, que alcançará a
sua plena realização na eternidade (cf. 1 Jo 3, 1-2). Ao mesmo tempo, porém,
o próprio chamamento sobrenatural sublinha a relatividade da vida terrena do
homem e da mulher. Na verdade, esta vida não é realidade « última », mas «
penúltima »; trata-se, em todo o caso, de uma realidade sagrada que nos é
confiada para a guardarmos com sentido de responsabilidade e levarmos à
perfeição no amor pelo dom de nós mesmos a Deus e aos irmãos....
Espezinhada no direito fundamental à vida, é hoje uma grande multidão de
seres humanos débeis e indefesos, como o são, em particular, as crianças
ainda não nascidas" (Evangelium vitae, nº 2,5
adiante este pensamento, concluiríamos que o aborto induzido seria
biblicamente permitido. Ora, isso seria forçar a aplicação da lei do Êxodo, que
trata de um aborto acidental, e não induzido, o que são duas coisas
absolutamente distintas: uma, é acidentalmente alguém provocar o aborto a
outrem, outra, e com consentimento da mãe, provocar-se o aborto. Todavia,
mesmo acidental, lemos que em tal caso havia uma sanção, o que denota a
gravidade desse aborto acidental, precisamente porque estava em causa a
vida...." (O que a Bíblia diz sobre o aborto. www.bussola.cjb.net)

c)      O salmista não deixa qualquer dúvida a este respeito, ao escrever, no


salmo 139, ao anunciar que Deus nos entretece, ou seja, conforme o
Dicionário Michaelis, Deus faz-nos construir por meios de laçou ou tecidos,
compõe-nos intercaladamente, no ventre de nossa mãe. Ou seja, temos
nitidamente aí a informação de que há vida no ventre materno e que o
processo de nossa formação é dirigido pelo próprio Deus (Sl.139:12-14).

d)     Deus, ao se dirigir ao profeta Jeremias, em sua chamada, afirma que o


escolheu e o santificou “antes que saísses da madre” (Jr.1:5). Ora, é sabido
que Deus só escolhe e só santifica seres humanos, prova de que, antes que
saísse do ventre materno, Jeremias já era um ser humano.

e)      Ao anunciar a salvação do homem através do Messias, a expressão


cunhada pelo profeta Isaías não foi a de que alguém nasceria, mas antes que
a virgem conceberia, ou seja, o início da existência do Messias não estaria em
Seu nascimento mas em Sua concepção no ventre de Sua mãe (Is.7:14). Em
outra profecia, Isaías reforça a idéia de que a chamada do Messias era desde
o ventre de Sua mãe (Is.49:1,5)

f)       Cumprindo a promessa feita através do profeta Isaías, Deus manda o


anjo Gabriel anunciar a Maria a concepção do Salvador, ou seja, seria na
concepção que se iniciaria a redenção definitiva da humanidade (Lc.1:31-33).
g)      Numa comprovação claríssima de que a vida se inicia com a
concepção, Lucas nos relata o encontro de Maria com Isabel, quando, então,
os dois fetos, respectivamente, Jesus e João Batista, demonstraram a
evidência de que a vida se inicia com a concepção. João foi cheio do Espírito
Santo diante da presença de Jesus. Temos, então, aqui, não só Jesus
operando, mesmo antes de nascer, como um servo de Deus já recebendo a
operação do Espírito Santo também antes de nascer (Lc.1:39-45).

h)      O próprio apóstolo Paulo, a quem Jesus revelou coisas diretamente (I


Co.11:23), afirmou, com convicção, que foi escolhido por Deus ainda antes de
sair do ventre de sua mãe (Gl.1:15).

-         O início da vida humana, portanto, conforme nos ensinam as


Escrituras, dá-se com a concepção, de forma que o embrião já é uma pessoa e
como tal deve ser tratada, tendo pleno direito à vida e se constituindo em
pecado a sua eliminação. Isto vale tanto para o feto como para os embriões
surgidos das inseminações artificiais.

-         Sendo uma pessoa, já dentro do ventre materno o embrião e o feto


possuem, desde a concepção, alma e espírito, sendo demonstração clara disto
a passagem já aludida do encontro de Maria com Isabel, em que se mostra
claramente que João Batista era dotado de alma e de espírito ainda no ventre
de sua mãe (Zc.12:1, Is.44:24).

III. A QUESTÃO DAS CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS

- Neste ponto, devemos aqui fazer algumas considerações a respeito das


chamadas “células-tronco embrionárias”, que tanta celeuma tem gerado no
mundo inteiro, inclusive no Brasil onde, lamentavelmente, foi aprovada,
recentemente, a chamada “lei da biossegurança”, a lei 11.105/2005, que
permitiu, no território nacional, a pesquisa com células-tronco embrionárias, lei
esta que, aliás, está sendo contestada pelo Ministério Público no Supremo
Tribunal Federal, por ser flagrantemente contrária ao princípio de preservação
do direito à vida constante na Constituição da República.

- “…Células-tronco funcionam como um sistema biológico de manutenção, com


potencial para se transformar em vários tipos de célula especializada do
corpo(…). Há décadas vêm sendo feitos tratamentos com elas. O exemplo
mais conhecido é o transplante de medula óssea para tratar leucemia e outras
doenças do sangue; a técnica funciona porque a medula está cheia de células-
tronco sangüíneas…” (Clive COOKSON. Mãe de todas as células. Scientific
American Brasil ano 4 n.39 ago.2005 p.64).

- As células-tronco são, portanto, células que podem se transformar em células


de qualquer tipo e, por isso, são muito utilizadas na medicina regenerativa.
Existem dois tipos de células-tronco: as chamadas células-tronco adultas ou
somáticas e as células-tronco embrionárias, que são embriões humanos,
resultantes da fertilização de óvulos e espermatozóides, na chamada
“inseminação artificial” (“o bebê de proveta”). “…Os embriões normalmente são
doados por casais que se submeteriam à fertilização in vitro e que os
descartariam.…” (Clive COOKSON, op.cit., p.64).

- As pesquisas científicas indicam que há possibilidade de estas células-tronco


embrionárias serem muito mais eficazes no tratamento de várias doenças
degenerativas do que as células-tronco adultas, algo, porém, que não foi ainda
confirmado, não passando de hipótese dos cientistas. O fato é que, como
sabemos e já dissemos supra, a vida começa com a fecundação e, portanto, a
partir do instante em que um óvulo se junta a um espermatozóide já há vida.
Assim, o embrião já é um ser humano e, portanto, não pode ser destruído para
que se façam pesquisas em prol de outros seres humanos.

- Alguns cientistas defendem que só há vida no embrião humano a partir de


alguns dias da fecundação, o que, entretanto, não passa de apenas uma
hipótese. No afã de driblarem as objeções ético-religiosas, muitos cientistas
têm, inclusive, recorrido ao Corão, o livro sagrado dos muçulmanos, que afirma
que a vida somente começa quando há a formação da alma, o que se daria,
segundo o texto básico do islamismo, após o quarto mês, o que, inclusive, foi
decisivo para que o Irã, país cujo regime é fundamentalista islâmico, aprovasse
o aborto recentemente, num gesto sem-precedentes na história dos países
muçulmanos.

OBS: O texto do Corão que “fundamentaria” a tese de que o embrião só é vida


a partir de alguns dias de existência é o seguinte: “Criamos o homem de
essência de barro. Em seguida, fizemo-la uma gota de esperma, que inserimos
em um lugar seguro. Então, convertemos a gota de esperma em algo que se
agarra, transformamos o coágulo em feto e convertemos o feto em ossos;
depois, revestimos os ossos de carne; então o desenvolvemos em outra
criatura. Bendito seja Deus, Criador por excelência.” (23:12-14).

- A circunstância de que, para serem utilizadas nas pesquisas, as células-


tronco embrionárias terem de ser destruídas, leva-nos à conclusão de que,
para que algumas pessoas tenham chance de tratamento e de cura, seja
necessário matar outras vidas, ainda que ainda em estado de embrião. A vida
não é algo que possa ser alvo de negociação ou de doação por parte de
qualquer ser humano e, por isso, tal espécie de pesquisa é totalmente contrário
aos princípios da Palavra de Deus. Permitir que alguém morra para que outro
seja salvo é a mesma filosofia que foi utilizada pelos nazistas alemães, que,
como iam matar mesmo os judeus confinados em campos de concentração,
antes de matá-los, usavam-nos como cobaias para novos medicamentos e
tratamentos que eram desenvolvidos pelos cientistas a serviço de Adolf Hitler.

- A lei brasileira é bem clara ao permitir que embriões humanos que estejam
congelados há mais de três anos possam ser doados a pesquisa por seus
“pais” (art.5º, II da lei 11.105/2005), admitindo, assim, que se tratam os
embriões de “filhos”, como, aliás, está previsto no artigo 1.597, incisos III e IV
do Código Civil. São, portanto, pessoas humanas, visto que já concebidas.
Como, então, admitir que um ser humano doe outro para fins de pesquisa, para
ser destruído em prol de outrem? Como admitirmos, em pleno século XXI, que
uma vida seja meio para salvamento de outra? E o que é pior, sem que haja
comprovação de que, realmente, as células-tronco embrionárias têm maior
poder de eficácia que as células-tronco adultas e, mais, que não haja outro
meio de pesquisa a não ser pela destruição?

OBS: “…Na teoria, várias propostas permitiram que os cientistas obtivessem


essas preciosas células sem danificar os embriões (igualmente preciosos para
alguns) no processo. Para os profissionais da biotecnologia, seria quase que
bom demais para ser verdade — é provável que seja mesmo. William B.
Hurlbut, da Universidade Stanford e integrante do Conselho de Bioética da
presidência americana, grande entusiasta da ‘dignidade moral implícita’ do
embrião, chamou a atenção ao sugerir uma combinação de engenharia
genética e clonagem chamada transferência nuclear modificada. Em um dos
esquemas propostos, o núcleo de uma célula madura seria extraído e
modificado para desligar os genes essenciais durante o desenvolvimento do
embrião. O núcleo seria injetado em um óvulo preparado, que então seria
ativado por eletricidade, como na clonagem. Se tudo funcionar direito, essa
entidade biológica, que, para Hurlbut, ‘nunca chegaria ao nível de ser chamada
de ser vivo’, torna-se-ia no máximo um grupo desorganizado de células
embrionárias, adequado às pesquisas científicas e possíveis tratamentos
clínicos.…”(Gary STIX. Contornando a moralidade. Scientific American Brasil
ano 4 n.39  ago.2005 p.84). Como se percebe, jeito existe para que se ter a
tecnologia que trará cura de doenças degenerativas sem que se destrua o
embrião, mas é mais fácil matar, destruir…

- “…Conforme a Bíblia e a opinião dos cientistas éticos, a vida não pode ser
banalizada. Ela começa no momento da concepção e deve ser respeitada. O
embrião é uma pessoa inocente, indefesa, mas viva e com todas as
características herdadas dos pais através do código da vida, o DNA. E a
Palavra de Deus determina: ‘De palavras de falsidade te afastarás e não
matarás o inocente e o justo; porque não justificarei o ímpio”, Ex. 23.7.
Devemos ser amorosos e sensíveis aos males dos que sofrem sem encontrar
solução para seus graves problemas de saúde. Mas, ao mesmo tempo,
devemos ser firmes na defesa dos princípios éticos, emanados da Palavra de
Deus, pois vivemos num mundo em que quase tudo é tornado relativo,
inclusive a vida. Um mundo em que o que é certo, de acordo com a Bíblia, é
visto como errado; e o que é errado, é visto como certo, conforme escreveu o
profeta Isaías: ‘Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal! Que fazem da
escuridade luz, e da luz, escuridade, e fazem do amargo doce, e do doce,
amargo, Is.5.20…” ( Elinaldo Renovato de LIMA. Não ao uso de células-tronco
embrionárias. Mensageiro da paz, ano 75, n. 1440 maio 2005, p.14).

- Oremos para que o Supremo Tribunal Federal reconheça a


inconstitucionalidade da lei 11.105/2005 e retire esta verdadeira chaga e
mácula que veio a nossa nação que, até então, era um dos países cuja
legislação mais se adequava à ética bíblica de defesa da vida.

- Como se não bastasse isso, como noticiado no Mensageiro da Paz de


outubro de 2005, cientistas descobriram recentemente um método de criação
de células-tronco embrionárias (conhecidas pela sigla de CTE) a partir de
células de pele humana, o que representa mais uma demonstração de que não
há qualquer necessidade de destruição de embriões humanos para a salvação
de vidas. Ainda em outubro de 2005, foram também divulgadas na imprensa a
respeito de outras técnicas que foram desenvolvidas e que permitem a
obtenção de pesquisas com células-tronco embrionárias sem que haja a
destruição do embrião.

OBS:  “…o períódico científico ‘Nature’ publicou eletronicamente domingo


passado dois estudos que tentam derrubar com as artes da tecnologia
obstáculos erguidos por considerações éticas ou morais(…). O primeiro deles
partiu da empresa americana Advanced Cell Technology (ACT). O grupo de
Robert Lanza produziu linhagem de CTEs sem destruir embriões de
camundongos(…). O outro estudo foi realizado no Instituto de Tecnologia de
Massachussets (EUA). Rudolph Jaenisch (…) para não destruir um embrião,
fisicamente, destruiu sua condição de embrião. Fez isso manipulando um gene
(Cdx2) de uma célula adulta que, ao ser fundida com um óvulo sem núcleo,
começou a se multiplicar como um embrião anormal, incapaz de se fixar na
parede de um útero. Ou seja, um não-embrião. Em resumo: duas admiráveis
novas realizações da biotecnologia.” (Marcelo LEITE. Embriões desarmados.
Folha de São Paulo, Mais!, 23 out.2005, p.9).

IV. ESPÉCIES DE ABORTO

-   O aborto, como já se disse, é a expulsão do feto do ventre materno antes de


seu pleno desenvolvimento, seja esta expulsão espontânea ou provocada.
Sem dúvida alguma, a expulsão espontânea é um fato estranho à vontade da
mãe ou de outrem, sendo um infortúnio, um lamentável incidente da natureza,
que, portanto, não traz qualquer implicação ética, pois se trata de um desígnio
divino ao qual temos apenas de nos conformar. É o chamado aborto natural.

-   Existe, também, o aborto acidental, aquele ocasionado por um problema de


saúde da própria mãe ou algum acidente, que precipita a expulsão do feto. A
Bíblia nos traz o exemplo da nora de Eli que, diante das notícias horríveis
recebidas, acabou por precipitar o parto, a mostrar que é possível que as
circunstâncias levem a mãe a ter acelerado o parto, sem que isto implique em
qualquer condenação da mãe (ainda que o exemplo bíblico mencionado não
seja um aborto, vez que o feto já se encontra completamente desenvolvido - I
Sm.4:19,20)

-   Coisa diversa é o chamado aborto provocado, este, sim, um verdadeiro ato
de matar, em que, alguém, com ou sem o consentimento da mãe, provoca a
expulsão do feto do ventre materno, impedindo que venha a completar seu
desenvolvimento e possa nascer. Este aborto é o que traz implicações éticas e
que gera toda a sorte de discussões no mundo hodierno, notadamente em
países como o Brasil, em que tal ato constitui crime frente ao direito penal,
como, aliás, era considerado na lei de Moisés.

-   No Brasil, apesar dos muitos movimentos que existem buscam a


legalização do aborto em nome da “saúde da mulher” ou da “liberdade da
mulher”, o aborto ainda é crime, conforme se vê dos artigos 124 a 127 do
Código Penal. A provocação do aborto pela própria mãe ou o seu
consentimento para que outrem o provoque é apenado com um a três anos de
detenção. Já se o aborto é provocado por terceira pessoa que não a mãe, a
pena é de três a dez anos de reclusão, se não houver consentimento da mãe e
de um a quatro anos de reclusão, se houver o consentimento materno. Se, por
causa do aborto,  houver a morte da gestante, a pena do aborto passa a ser de
dois a oito anos de reclusão. No Brasil, o aborto é julgado pelo tribunal do júri.

-   Com relação aos embriões resultantes da inseminação artificial, a legislação


brasileira, também, é rigorosa, punindo a manipulação de embriões que leve
ao aborto com um a três anos de detenção, a mesma pena do crime de aborto
(art.24 da lei 11105/2005).

-   A lei brasileira, entretanto, isenta de pena o chamado “aborto necessário”,


ou seja, aquele aborto que é praticado para salvar a vida da gestante, numa
opção entre a vida da gestante e do feto, como também permite o aborto nos
casos em que o feto é produto de estupro da gestante (artigo 128 do Código
Penal). Estes abortos permitidos pela legislação têm de ser praticados por
médicos. Apesar de a norma existir desde 1940, somente há alguns anos
algumas administrações resolveram criar serviços para permitir o aborto nos
casos de estupro da mulher, revelando, assim, uma tendência de certos
políticos na legalização do aborto.
-   Do ponto-de-vista bíblico, a questão referente ao aborto resultante do
estupro da mulher é tão pecaminoso quanto outra espécie de aborto, pois não
dá a Palavra de Deus poder do homem sobre a vida de um semelhante. Não
resta dúvida de que a gravidez resultante é altamente indesejada e que seria
humanamente inexigível que a mulher se submetesse a uma obrigatoriedade
de criar e educar uma criança surgida em condições tão terríveis, mas daí a
permitir que a mulher dê cabo a uma outra vida há uma grande distância, não
tendo a Bíblia autorizado tal estado de coisas. O ideal seria que a mulher fosse
conscientizada a manter a gravidez e que a criança, assim que nascida, fosse
entregue a alguém que não possa ter filhos para que seja criada numa nova
família que lhe possa dar carinho, afeto e educação exemplares.

-   Outro caso de aborto que existe é o chamado “aborto eugênico”, aquele que
se permite diante da constatação de que o feto tem problemas graves de
saúde que o farão nascer com defeitos ou enfermidades. Este tipo de aborto
não é permitido pela legislação brasileira, embora algumas decisões judiciais
tenham já autorizado o aborto de fetos que estavam sem cérebro. Apesar
destes casos extremos, em que se sabe que a vida será inviável, o fato é que o
aborto eugênico tem graves implicações éticas, mormente no atual estágio da
ciência e da tecnologia genéticas, qual seja, o de se permitir que os pais
“montem” filhos segundo o seu desejo e a sua predileção e, assim, passem a
descartar fetos não por problemas graves de saúde, mas por capricho, não
aceitando filhos que tenham tendência à obesidade, que sejam baixos ou altos,
que não tenham olhos azuis etc. etc.  Já se tem conhecimento do descarte de
vários embriões em clínicas de fertilização simplesmente porque não se
satisfazem os desejos dos pais. É a verdadeira banalização da vida humana.

OBS: "...E se nascer ... deformado? Esta é uma desculpa apresentada para se
considerar a hipótese do aborto, que aliás, a nossa legislação atualmente já
prevê. Em primeiro lugar importa notar que Deus criou o homem com
características tais que, mesmo em condições à primeira vista adversas,
consegue sobreviver e adaptar-se. Por outro lado, quando essa vida é
impossível, a morte vem por si própria. Assim sucede por exemplo quando a
criança nasce com deformações encefálicas anormais (cérebro). Geralmente, a
criança morre passados poucos minutos depois do parto. Mas, mesmo que
haja seguros motivos de que a criança venha a nascer deficiente, será esse
um motivo para se aceitar o aborto? Vejamos o que a Palavra de Deus nos diz
a este respeito: «Quem fez a boca do homem? Ou quem fez o mudo ou o que
vê, ou o cego ? Não Sou Eu, o Senhor?» (Êxodo 4:11). «E passando Jesus,
viu um cego de nascença. E os seus discípulos lhe perguntaram, dizendo:
"Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Jesus
respondeu: "Nem ele pecou nem seus pais, mas foi assim para que se
manifestem nele as obras de Deus"» (S. João 9:1-3).A resposta da Bíblia é
clara. Aceitar a morte de crianças ainda não nascidas,conduz a aceitar também
a eutanásia infantil, isto é, o homicídio de bebês recém-nascidos que sejam
doentes ou deficientes. E a aceitar isto, não faltaria muito para aceitar também
a eutanásia dos inválidos, idosos e todos os que, independentemente da sua
idade, não possam cuidar de si mesmos ou se sintam à parte da sociedade. Se
entender-se que o universo se formou por acaso e que o homem é
descendente duma criatura pré-histórica, não há razão para se preocupar com
a vida humana. Mas, sabendo que o homem foi criado e que tem um destino
especial diante do seu Criador , então concluiremos que a defesa da dádiva
divina, que é a vida humana, é de fato inalienável. (O que a Bíblia diz sobre o
aborto. www.bussola.cjb.net)

-         A vida humana é uma dádiva de Deus, é algo sobre o que os homens
não têm qualquer domínio. As atitudes recentes que permitem o aborto e a
eliminação de embriões apresentam diversas justificativas, mas são, à luz da
Bíblia, demonstrações da auto-suficiência humana, de sua rebeldia contra 
Deus e de sua submissão ao pecado e ao seu desejo (Gn.4:7). Enquanto
dissemina a prática do aborto e da eliminação de embriões, o homem nada
mais faz senão contribuir para o trabalho de destruição do adversário de
nossas almas. A Igreja, que é o corpo de Cristo, tem de lutar decididamente
contra isto, pois está aqui para fazer a obra de Jesus que é desfazer as obras
do diabo ( I Jo.3:8). Como devemos lutar contra isto ?

OBS:  Cabe, aqui, uma vez mais, observar a análise feita por Karol Woytila: "...
Por um lado, as várias declarações dos direitos do homem e as múltiplas
iniciativas que nelas se inspiram, indicam a consolidação a nível mundial de
uma sensibilidade moral mais diligente em reconhecer o valor e a dignidade de
cada ser humano enquanto tal, sem qualquer distinção de raça, nacionalidade,
religião, opinião política, estrato social. Por outro lado, a estas nobres
proclamações contrapõem-se, infelizmente nos fatos, a sua trágica negação.
Esta é ainda mais desconcertante, antes mais escandalosa, precisamente
porque se realiza numa sociedade que faz da afirmação e tutela dos direitos
humanos o seu objetivo principal e, conjuntamente, o seu título de glória. Como
pôr de acordo essas repetidas afirmações de princípio com a contínua
multiplicação e a difusa legitimação dos atentados à vida humana? Como
conciliar estas declarações com a recusa do mais débil, do mais carenciado,
do idoso, daquele que acaba de ser concebido? Estes atentados encaminham-
se exatamente na direção contrária à do respeito pela vida e representam uma
ameaça frontal a toda a cultura dos direitos do homem. É uma ameaça capaz,
em última análise, de pôr em risco o próprio significado da convivência
democrática: de sociedade de « con-viventes », as nossas cidades correm o
risco de passar a sociedade de excluídos, marginalizados, irradiados e
suprimidos. Se depois o olhar se alarga ao horizonte mundial, como não
pensar que a afirmação dos direitos das pessoas e dos povos, verificada em
altas reuniões internacionais, se reduz a um estéril exercício retórico, se lá não
é desmascarado o egoísmo dos países ricos que fecham aos países pobres o
acesso ao desenvolvimento ou o condicionam a proibições absurdas de
procriação, contrapondo o progresso ao homem? Porventura não é de pôr em
discussão os próprios modelos econômicos, adotados pelos Estados
frequentemente também por pressões e condicionamentos de caráter
internacional, que geram e alimentam situações de injustiça e violência, nas
quais a vida humana de populações inteiras fica degradada e espezinhada?19.
Onde estão as raízes de uma contradição tão paradoxal? Podemo-las
individuar em avaliações globais de ordem cultural e moral, a começar daquela
mentalidade que, exasperando e até deformando o conceito de subjectividade,
só reconhece como titular de direitos quem se apresente com plena ou, pelo
menos, incipiente autonomia e esteja fora da condição de total dependência
dos outros. Mas, como conciliar tal impostação com a exaltação do homem
enquanto ser « não-disponível »? A teoria dos direitos humanos funda-se
precisamente na consideração do facto de o homem, ao contrário dos animais
e das coisas, não poder estar sujeito ao domínio de ninguém. Deve-se acenar
ainda àquela lógica que tende a identificar a dignidade pessoal com a
capacidade de comunicação verbal e explícita e, em todo o caso,
experimentável. Claro que, com tais pressupostos, não há espaço no mundo
para quem, como o nascituro ou o doente terminal, é um sujeito
estruturalmente débil, parece totalmente à mercê de outras pessoas e
radicalmente dependente delas, e sabe comunicar apenas mediante a
linguagem muda de uma profunda simbiose de afetos. Assim a força torna-se o
critério de decisão e de ação, nas relações interpessoais e na convivência
social. Mas isto é precisamente o contrário daquilo que, historicamente, quis
afirmar o Estado de direito, como comunidade onde as « razões da força » são
substituídas pela « força da razão ». A outro nível, as raízes da contradição
que se verifica entre a solene afirmação dos direitos do homem e a sua trágica
negação na prática, residem numa concepção da liberdade que exalta o
indivíduo de modo absoluto e não o predispõe para a solidariedade, o pleno
acolhimento e serviço do outro. Se é certo que, por vezes, a supressão da vida
nascente ou terminal aparece também matizada com um sentido equivocado
de altruísmo e de compaixão humana, não se pode negar que tal cultura de
morte, no seu todo, manifesta uma concepção da liberdade totalmente
individualista que acaba por ser a liberdade dos « mais fortes » contra os
débeis, destinados a sucumbir. Precisamente neste sentido, se pode
interpretar a resposta de Caim à pergunta do Senhor « onde está Abel, teu
irmão? »: « Não sei dele. Sou, porventura, guarda do meu irmão? » (Gn 4, 9).
Sim, todo o homem é « guarda do seu irmão », porque Deus confia o homem
ao homem. E é tendo em vista também tal entrega que Deus dá a cada homem
a liberdade, que possui uma dimensão relacional essencial. Trata-se de um
grande dom do Criador, quando colocada como deve ser ao serviço da pessoa
e da sua realização mediante o dom de si e o acolhimento do outro; quando,
pelo contrário, a liberdade é absolutizada em chave individualista, fica
esvaziada do seu conteúdo originário e contestada na sua própria vocação e
dignidade... Reivindicar o direito ao aborto, ao infanticídio, à eutanásia, e
reconhecê-lo legalmente, equivale a atribuir à liberdade humana um significado
perverso e iníquo: o significado de um poder absoluto sobre os outros e contra
os outros. Mas isto é a morte da verdadeira liberdade: « Em verdade, em
verdade vos digo: todo aquele que comete o pecado é escravo do pecado »
(Jo 8, 34)." (Evangelium vitae, nº 18,19,20).

-    Em primeiro lugar, a Igreja deve pregar o evangelho, notadamente para


adolescentes e jovens que são os primeiros alvos da propaganda e da prática
abortista. Com efeito, o aborto é conseqüência da promiscuidade e da
libertinagem sexual que é apregoada e defendida pela sociedade deste século.
Somente o evangelho pode trazer o respeito à vida, pois Jesus veio para que
tenhamos vida e vida com abundância (Jo.10:10). Em Jesus está a vida e só
tendo Jesus é que poderemos dar valor à vida (Jo.1:4). Isto faz com que a
Igreja tenha um efetivo trabalho de educação e de orientação dos seus jovens,
adolescentes e crianças, pois devemos começar pelos domésticos da fé
(Gl.6:10).

-   Em segundo lugar, a Igreja deve assistir as grávidas, notadamente aquelas


que tiveram gravidezes indesejadas, buscando convencê-las a não abortar.
Deve ir ao encontro destas pessoas, que, certamente, estarão passando por
crises existenciais, muitas vezes sem Deus e sem salvação, levando-lhes uma
palavra de amor, de salvação, de consolo e oferecendo a água da vida. Tal
qual Jesus procedeu seja com a mulher samaritana(Jo.4:13-19), seja com a
mulher adúltera(Jo.8:1-11), a Igreja não deve agir de forma condenatória e
incriminadora, mas levando a palavra de misericórdia, de perdão e de amor
que é a mensagem que nos foi concedida por Jesus(Jo.6:63,68). Muitos têm
falhado e contribuído para milhares e milhares de abortos pela sua atitude
preconceituosa, condenatória e farisaica para com mulheres que erraram e,
por causa de seus erros na conduta moral, acabam engravidando e, diante de
uma atitude desumana de “pseudo-cristãos”, ao pecado de prostituição
acabam adicionando o pecado do aborto.

OBS: "...Surgindo uma jovem solteira grávida qual a posição da igreja?


Evidentemente que não se deve aconselhar o aborto, antes o mal deve ser
remediado logo que possível. Em primeiro lugar, a jovem deve arrepender-se
do pecado cometido e, se possível, casar-se para evitar outros problemas. A
Igreja neste ponto tem um papel importante no aconselhamento com a Palavra
de Deus e com informações das mulheres casadas experientes e ainda no
conforto e acompanhamento..." (O que a Bíblia diz sobre o aborto.
http://www.bussola.cjb.net/)

          "...Se você está considerando abortar .O aborto não é uma escolha. É
um assassinato. Mas não se desespere, Deus está no controle. Não existe
situação sem esperança para Ele. Tenha seu filho. Deus redimirá a situação,
assim como Ele fez para José. Os irmãos de José intentaram matá-lo, mas
Deus o preservou e usou a seqüência dos exemplos para salvar uma nação
inteira. José declarou a seus irmãos: "Foi Deus quem me enviou adiante de
vós para vos preservar a posteridade na terra e salvar as vossas vidas pôr uma
grande libertação". Talvez você esteja transportando um filho proveniente de
uma união ilícita. Muitos de nós tem membros da família, até cônjuges, que
não estariam vivos hoje se as crianças ilegítimas ou indesejadas tivessem sido
abortadas. A vida que está dentro de você é um precioso Dom de Deus, não a
mate...." (Aborto, o que a Bíblia declara. www.bussola.cjb.net).

-   Neste convencimento para que não se faça o aborto, a Igreja não deve
apenas usar de palavras, mas, sim, de gestos concretos (I Co.2:4,5; I Jo.3:18),
como a própria assistência à gravidez e o próprio encaminhamento da criança
para um lar substituto assim que houver o nascimento caso a mãe não queira,
de modo algum, ficar com a criança, decisão que devemos respeitar, pois
depende da individualidade de cada um. A Igreja deve lutar para preservar a
vida humana e não pode querer controlar a consciência e o arbítrio da mãe.
Neste sentido, aliás, de se louvar o trabalho de várias igrejas locais nos
Estados Unidos (onde o aborto está legalizado em quase todos os Estados),
que têm um serviço eficiente de busca de mulheres grávidas que queiram
abortar, de assistência durante a gravidez e de encaminhamento para adoção,
em colaboração com a justiça da infância daquele país. Também aqui se deve
ressaltar o trabalho realizado na Índia pela católica Madre Teresa de Calcutá,
que foi Prêmio Nobel da Paz, cuja ordem religiosa se incumbia de cuidar das
crianças das mães que desistiam de abortar.

-   Com relação à eliminação de embriões, deve a Igreja conscientizar os


casais que farão uso da inseminação artificial das suas implicações éticas e da
conduta que deve ter um casal cristão, procurando também se fazer ouvir aos
casais não crentes.
-   Em termos sócio-políticos, a Igreja jamais deve deixar de se pronunciar e de
buscar influenciar as decisões políticas, no sentido de impedir, isto em termos
de Brasil, que seja aprovada qualquer legislação abortista ou que menospreze
a vida humana, seja através de manifestos, notas oficiais ou mesmo de um
“lobby” direto junto ao Congresso Nacional e ao Poder Executivo. Por ocasião
das eleições, deve buscar saber a posição de cada candidato a respeito do
tema e orientar o povo de Deus a que não compactue com qualquer
movimento ou grupo que defenda o aborto, dada a sua contrariedade à Palavra
de Deus. A Igreja deve buscar tudo o que é lícito na sociedade e aborrecer o
mal (Fp.4:8, Rm.12:9)

OBS:  Elucidativa é a posição oficial da Igreja Romana sobre o tema, como se


vê na encíclica já tantas vezes mencionada aqui, a saber: "... No referente ao
direito à vida, cada ser humano inocente é absolutamente igual a todos os
demais. Esta igualdade é a base de todo o relacionamento social autêntico, o
qual, para o ser verdadeiramente, não pode deixar de se fundar sobre a
verdade e a justiça, reconhecendo e tutelando cada homem e cada mulher
como pessoa, e não como coisa de que se possa dispor. Diante da norma
moral que proíbe a eliminação directa de um ser humano inocente, « não
existem privilégios, nem excepções para ninguém. Ser o dono do mundo ou o
último "miserável" sobre a face da terra, não faz diferença alguma: perante as
exigências morais, todos somos absolutamente iguais ».53« Vossos olhos
contemplaram-me ainda em embrião » (Sal 139138, 16): o crime abominável
do aborto.58. Dentre todos os crimes que o homem pode realizar contra a vida,
o aborto provocado apresenta características que o tornam particularmente
grave e abjurável. O Concílio Vaticano II define-o, juntamente com o
infanticídio, « crime abominável ».54 .Mas hoje, a percepção da sua gravidade
vai-se obscurecendo progressivamente em muitas consciências. A aceitação
do aborto na mentalidade, nos costumes e na própria lei, é sinal eloquente de
uma perigosíssima crise do sentido moral que se torna cada vez mais incapaz
de distinguir o bem do mal, mesmo quando está em jogo o direito fundamental
à vida. Diante de tão grave situação, impõe-se mais que nunca a coragem de
olhar frontalmente a verdade e chamar as coisas pelo seu nome, sem ceder a
compromissos com o que nos é mais cómodo, nem à tentação de auto-
engano. A propósito disto, ressoa categórica a censura do Profeta: « Ai dos
que ao mal chamam bem, e ao bem, mal, que têm as trevas por luz e a luz por
trevas » (Is 5, 20). Precisamente no caso do aborto, verifica-se a difusão de
uma terminologia ambígua, como « interrupção da gravidez », que tende a
esconder a verdadeira natureza dele e a atenuar a sua gravidade na opinião
pública. Talvez este fenómeno linguístico seja já, em si mesmo, sintoma de um
mal-estar das consciências. Mas nenhuma palavra basta para alterar a
realidade das coisas: o aborto provocado é a morte deliberada e directa,
independentemente da forma como venha realizada, de um ser humano na
fase inicial da sua existência, que vai da concepção ao nascimento.A
gravidade moral do aborto provocado aparece em toda a sua verdade, quando
se reconhece que se trata de um homicídio e, particularmente, quando se
consideram as circunstâncias específicas que o qualificam. A pessoa eliminada
é um ser humano que começa a desabrochar para a vida, isto é, o que de mais
inocente, em absoluto, se possa imaginar: nunca poderia ser considerado um
agressor, menos ainda um injusto agressor! É frágil, inerme, e numa medida tal
que o deixa privado inclusive daquela forma mínima de defesa constituída pela
força suplicante dos gemidos e do choro do recém-nascido. Está totalmente
entregue à protecção e aos cuidados daquela que o traz no seio. E todavia, às
vezes, é precisamente ela, a mãe, quem decide e pede a sua eliminação, ou
até a provoca.É verdade que, muitas vezes, a opção de abortar reveste para a
mãe um carácter dramático e doloroso: a decisão de se desfazer do fruto
concebido não é tomada por razões puramente egoístas ou de comodidade,
mas porque se quereriam salvaguardar alguns bens importantes como a
própria saúde ou um nível de vida digno para os outros membros da família. Às
vezes, temem-se para o nascituro condições de existência tais que levam a
pensar que seria melhor para ele não nascer. Mas estas e outras razões
semelhantes, por mais graves e dramáticas que sejam, nunca podem justificar
a supressão deliberada de um ser humano inocente.59. A decidirem a morte
da criança ainda não nascida, a par da mãe, aparecem, com frequência, outras
pessoas. Antes de mais, culpado pode ser o pai da criança, não apenas
quando claramente constringe a mulher ao aborto, mas também quando
favorece indirectamente tal decisão ao deixá-la sozinha com os problemas de
uma gravidez: 55 desse modo, a família fica mortalmente ferida e profanada na
sua natureza de comunidade de amor e na sua vocação para ser « santuário
da vida ». Nem se podem calar as solicitações que, às vezes, provêm do
âmbito familiar mais alargado e dos amigos. A mulher, não raro, é sujeita a
pressões tão fortes que se sente psicologicamente constrangida a ceder ao
aborto: não há dúvida que, neste caso, a responsabilidade moral pesa
particularmente sobre aqueles que directa ou indirectamente a forçaram a
abortar. Responsáveis são também os médicos e restantes profissionais da
saúde, sempre que põem ao serviço da morte a competência adquirida para
promover a vida.Mas a responsabilidade cai ainda sobre os legisladores que
promoveram e aprovaram leis abortistas, e sobre os administradores das
estruturas clínicas onde se praticam os abortos, na medida em que a sua
execução deles dependa. Uma responsabilidade geral, mas não menos grave,
cabe a todos aqueles que favoreceram a difusão de uma mentalidade de
permissivismo sexual e de menosprezo pela maternidade, como também
àqueles que deveriam ter assegurado — e não o fizeram — válidas políticas
familiares e sociais de apoio às famílias, especialmente às mais numerosas ou
com particulares dificuldades económicas e educativas. Não se pode
subestimar, enfim, a vasta rede de cumplicidades, nela incluindo instituições
internacionais, fundações e associações, que se batem sistematicamente pela
legalização e difusão do aborto no mundo. Neste sentido, o aborto ultrapassa a
responsabilidade dos indivíduos e o dano que lhes é causado, para assumir
uma dimensão fortemente social: é uma ferida gravíssima infligida à sociedade
e à sua cultura por aqueles que deveriam ser os seus construtores e
defensores. Como escrevi na Carta às Famílias, « encontramo-nos defronte a
uma enorme ameaça contra a vida, não apenas dos simples indivíduos, mas
também de toda a civilização ».56 Achamo-nos perante algo que bem se pode
definir uma « estrutura de pecado » contra a vida humana ainda não
nascida.60. Alguns tentam justificar o aborto, defendendo que o fruto da
concepção, pelo menos até um certo número de dias, não pode ainda ser
considerado uma vida humana pessoal. Na realidade, porém, « a partir do
momento em que o óvulo é fecundado, inaugura-se uma nova vida que não é a
do pai nem a da mãe, mas sim a de um novo ser humano que se desenvolve
por conta própria. Nunca mais se tornaria humana, se não o fosse já desde
então. A esta evidência de sempre (...) a ciência genética moderna fornece
preciosas confirmações. Demonstrou que, desde o primeiro instante, se
encontra fixado o programa daquilo que será este ser vivo: uma pessoa, esta
pessoa individual, com as suas notas características já bem determinadas.
Desde a fecundação, tem início a aventura de uma vida humana, cujas
grandes capacidades, já presentes cada uma delas, apenas exigem tempo
para se organizar e encontrar prontas a agir ».57 Não podendo a presença de
uma alma espiritual ser assinalada através da observação de qualquer dado
experimental, são as próprias conclusões da ciência sobre o embrião humano
a fornecer « uma indicação valiosa para discernir racionalmente uma presença
pessoal já a partir desta primeira aparição de uma vida humana: como poderia
um indivíduo humano não ser uma pessoa humana? ».58Aliás, o valor em jogo
é tal que, sob o perfil moral, bastaria a simples probabilidade de encontrar-se
em presença de uma pessoa para se justificar a mais categórica proibição de
qualquer intervenção tendente a eliminar o embrião humano. Por isso mesmo,
independentemente dos debates científicos e mesmo das afirmações
filosóficas com os quais o Magistério não se empenhou expressamente, a
Igreja sempre ensinou — e ensina — que tem de ser garantido ao fruto da
geração humana, desde o primeiro instante da sua existência, o respeito
incondicional que é moralmente devido ao ser humano na sua totalidade e
unidade corporal e espiritual: « O ser humano deve ser respeitado e tratado
como uma pessoa desde a sua concepção e, por isso, desde esse mesmo
momento, devem-lhe ser reconhecidos os direitos da pessoa, entre os quais e
primeiro de todos, o direito inviolável de cada ser humano inocente à vida ».59
61. Os textos da Sagrada Escritura, que nunca falam do aborto voluntário e,
por conseguinte, também não apresentam condenações directas e específicas
do mesmo, mostram pelo ser humano no seio materno uma consideração tal
que exige, como lógica consequência, que se estenda também a ele o
mandamento de Deus: « não matarás ».A vida humana é sagrada e inviolável
em cada momento da sua existência, inclusive na fase inicial que precede o
nascimento. Desde o seio materno, o homem pertence a Deus que tudo
perscruta e conhece, que o forma e plasma com suas mãos, que o vê quando
ainda é um pequeno embrião informe, e que nele entrevê o adulto de amanhã,
cujos dias estão todos contados e cuja vocação está já escrita no « livro da
vida » (cf. Sal 139138, 1.13-16). Quando está ainda no seio materno — como
testemunham numerosos textos bíblicos 60 — já o homem é objecto muito
pessoal da amorosa e paterna providência de Deus. A Tradição cristã — como
justamente se realça na Declaração sobre esta matéria, emanada pela
Congregação para a Doutrina da Fé 61 — é clara e unânime, desde as suas
origens até aos nossos dias, em classificar o aborto como desordem moral
particularmente grave. A comunidade cristã, desde o seu primeiro confronto
com o mundo greco-romano onde se praticava amplamente o aborto e o
infanticídio, opôs-se radicalmente, com a sua doutrina e a sua praxe, aos
costumes generalizados naquela sociedade, como o demonstra a já citada
Didaké.62 Entre os escritores eclesiásticos da área linguística grega,
Atenágoras recorda que os cristãos consideram homicidas as mulheres que
recorrem a produtos abortivos, porque os filhos, apesar de estarem ainda no
seio da mãe, « são já objecto dos cuidados da Providência divina ».63 Entre os
latinos, Tertuliano afirma: « É um homicídio premeditado impedir de nascer;
pouco importa que se suprima a alma já nascida ou que se faça desaparecer
durante o tempo até ao nascer. É já um homem aquele que o será ».64 Ao
longo da sua história já bimilenária, esta mesma doutrina foi constantemente
ensinada pelos Padres da Igreja, pelos seus Pastores e Doutores. Mesmo as
discussões de carácter científico e filosófico acerca do momento preciso da
infusão da alma espiritual não incluíram nunca a mínima hesitação quanto à
condenação moral do aborto.62. O Magistério pontifício mais recente
reafirmou, com grande vigor, esta doutrina comum. Em particular Pio XI, na
encíclica Casti connubii rejeitou as alegadas justificações do aborto; 65 Pio XII
excluiu todo o aborto directo, isto é, qualquer acto que vise directamente
destruir a vida humana ainda não nascida, « quer tal destruição seja pretendida
como fim ou apenas como meio para o fim »; 66 João XXIII corroborou que a
vida humana é sagrada, porque « desde o seu despontar empenha
directamente a acção criadora de Deus ».67 O Concílio Vaticano II, como já foi
recordado, condenou o aborto com grande severidade: « A vida deve, pois, ser
salvaguardada com extrema solicitude, desde o primeiro momento da
concepção; o aborto e o infanticídio são crimes abomináveis ».68A disciplina
canónica da Igreja, desde os primeiros séculos, puniu com sanções penais
aqueles que se manchavam com a culpa do aborto, e tal praxe, com penas
mais ou menos graves, foi confirmada nos sucessivos períodos históricos. O
Código de Direito Canónico de 1917, para o aborto, prescrevia a pena de
excomunhão.69 Também a legislação canónica, há pouco renovada, continua
nesta linha quando determina que « quem procurar o aborto, seguindo-se o
efeito, incorre em excomunhão latae sententiae »,70 isto é, automática. A
excomunhão recai sobre todos aqueles que cometem este crime com
conhecimento da pena, incluindo também cúmplices sem cujo contributo o
aborto não se teria realizado: 71 com uma sanção assim reiterada, a Igreja
aponta este crime como um dos mais graves e perigosos, incitando, deste
modo, quem o comete a ingressar diligentemente pela estrada da conversão.
Na Igreja, de facto, a finalidade da pena de excomunhão é tornar plenamente
consciente da gravidade de um determinado pecado e, consequentemente,
favorecer a adequada conversão e penitência.

Frente a semelhante unanimidade na tradição doutrinal e disciplinar da Igreja,


Paulo VI pôde declarar que tal ensinamento não conheceu mudança e é
imutável.72 Portanto, com a autoridade que Cristo conferiu a Pedro e aos seus
Sucessores, em comunhão com os Bispos — que de várias e repetidas formas
condenaram o aborto e que, na consulta referida anteriormente, apesar de
dispersos pelo mundo, afirmaram unânime consenso sobre esta doutrina —
declaro que o aborto directo, isto é, querido como fim ou como meio, constitui
sempre uma desordem moral grave, enquanto morte deliberada de um ser
humano inocente. Tal doutrina está fundada sobre a lei natural e sobre a
Palavra de Deus escrita, é transmitida pela Tradição da Igreja e ensinada pelo
Magistério ordinário e universal.73Nenhuma circunstância, nenhum fim,
nenhuma lei no mundo poderá jamais tornar lícito um acto que é
intrinsecamente ilícito, porque contrário à Lei de Deus, inscrita no coração de
cada homem, reconhecível pela própria razão, e proclamada pela Igreja.63. A
avaliação moral do aborto deve aplicar-se também às recentes formas de
intervenção sobre embriões humanos, que, não obstante visarem objectivos
em si legítimos, implicam inevitavelmente a sua morte. É o caso da
experimentação sobre embriões, em crescente expansão no campo da
pesquisa biomédica e legalmente admitida em alguns países. Se « devem ser
consideradas lícitas as intervenções no embrião humano, sob a condição de
que respeitem a vida e a integridade do embrião, não comportem para ele
riscos desproporcionados, e sejam orientadas para a sua cura, para a melhoria
das suas condições de saúde ou para a sua sobrevivência individual »,74
impõe-se, pelo contrário, afirmar que o uso de embriões ou de fetos humanos
como objecto de experimentação constitui um crime contra a sua dignidade de
seres humanos, que têm direito ao mesmo respeito devido à criança já nascida
e a qualquer pessoa.75A mesma condenação moral vale para o sistema que
desfruta os embriões e os fetos humanos ainda vivos — às vezes « produzidos
» propositadamente para este fim através da fecundação in vitro — seja como
« material biológico » à disposição, seja como fornecedores de órgãos ou de
tecidos para transplante no tratamento de algumas doenças. Na realidade, o
assassínio de criaturas humanas inocentes, ainda que com vantagem para
outras, constitui um acto absolutamente inaceitável. Especial atenção há-de
ser reservada à avaliação moral das técnicas de diagnose pré-natal, que
permitem individuar precocemente eventuais anomalias do nascituro. Com
efeito, devido à complexidade dessas técnicas, a avaliação em causa deve
fazer-se mais cuidadosa e articuladamente. Quando estão isentas de riscos
desproporcionados para a criança e para a mãe, e se destinam a tornar
possível uma terapia precoce ou ainda a favorecer uma serena e consciente
aceitação do nascituro, estas técnicas são moralmente lícitas. Mas, dado que
as possibilidade de cura antes do nascimento são hoje ainda reduzidas,
acontece bastantes vezes que essas técnicas são postas ao serviço de uma
mentalidade eugenista que aceita o aborto selectivo, para impedir o
nascimento de crianças afectadas por tipos vários de anomalias. Semelhante
mentalidade é ignominiosa e absolutamente reprovável, porque pretende medir
o valor de uma vida humana apenas segundo parâmetros de « normalidade » e
de bem-estar físico, abrindo assim a estrada à legitimação do infanticídio e da
eutanásia. Na realidade, porém, a própria coragem e serenidade com que
muitos irmãos nossos, afectados por graves deficiências, conduzem a sua
existência quando são aceites e amados por nós, constituem um testemunho
particularmente eficaz dos valores autênticos que qualificam a vida e a tornam,
mesmo em condições difíceis, preciosa para o próprio e para os outros. A
Igreja sente-se solidária com os cônjuges que, com grande ansiedade e
sofrimento, aceitam acolher os seus filhos gravemente deficientes, tal como se
sente grata a todas as famílias que, pela adopção, acolhem os que são
abandonados pelos seus pais por causa de limitações ou doenças.
(Evangelium vitae, nº 58 a 63)

- Neste particular, devemos lembrar aos amados irmãos que o ex-ministro da


Saúde, senhor Humberto Costa, foi um incentivador sem precedentes da
prática e da legalização do aborto em nosso país, tendo sido o principal
responsável pela distribuição gratuita em todos os postos de saúde do Brasil
da chamada “pílula do dia seguinte”, como se este fosse o medicamento mais
necessário ao pobre povo brasileiro, que tem muito mais prioridades do que o
estímulo e o incentivo ao sexo e à paternidade irresponsável. Como se não
bastasse isso, também está em curso um trabalho de conscientização dos
parlamentares com vistas à descriminalização do aborto. Foi montada uma
comissão que, recentemente, terminou seus trabalhos, que teve por finalidade
fazer uma série de palestras e audiências com os congressistas para
convencê-los a liberar o aborto no Brasil. Que a “bancada evangélica” do
Congresso Nacional e, principalmente, as orações da Igreja impeçam que esta
iniciativa seja vencedora em nosso país.

VI – A EUTANÁSIA

-          Dentro da “cultura de morte” que reina no presente século, que, como
já vimos, aceita práticas como o aborto e a destruição de embriões humanos,
temos outro tema que demonstra o interesse de nosso adversário em ceifar as
vidas para levá-las à perdição eterna: a eutanásia, prática que tem sido
estimulada e incentivada na atualidade, mas que se constitui em grave
transgressão aos preceitos da Palavra de Deus.

OBS:  A expressão “cultura de morte” foi cunhada pelo Papa João Paulo II,
líder da Igreja Romana de 1978 a 2005, em passagem da sua encíclica
“Evangelium vitae” que se deve reproduzir: “ ... 21. Quando se procuram as
raízes mais profundas da luta entre a « cultura da vida » e a « cultura da morte
», não podemos deter-nos na noção perversa de liberdade acima referida. É
necessário chegar ao coração do drama vivido pelo homem contemporâneo: o
eclipse do sentido de Deus e do homem, típico de um contexto social e cultural
dominado pelo secularismo que, com os seus tentáculos invasivos, não deixa
às vezes de pôr à prova as próprias comunidades cristãs. Quem se deixa
contagiar por esta atmosfera, entra facilmente na voragem de um terrível
círculo vicioso: perdendo o sentido de Deus, tende-se a perder também o
sentido do homem, da sua dignidade e da sua vida; por sua vez, a sistemática
violação da lei moral, especialmente na grave matéria do respeito da vida
humana e da sua dignidade, produz uma espécie de ofuscamento progressivo
da capacidade de enxergar a presença vivificante e salvífica de Deus.
Podemos, mais uma vez, inspirar-nos na narração da morte de Abel provocada
pelo seu irmão. Depois da maldição infligida por Deus a Caim, este dirige-se ao
Senhor dizendo: « A minha culpa é grande demais para obter perdão.
Expulsas-me hoje desta terra;obrigado a ocultar-me longe da tua face, terei de
andar fugitivo e vagabundo pela terra, e o primeiro a encontrar-me matar-me-á
» (Gn 4, 13-14).Caim pensa que o seu pecado não poderá obter perdão do
Senhor e que o seu destino inevitável será « ocultar-se longe » d'Ele. Se Caim
chega a confessar que a sua culpa é « grande demais », é por saber que se
encontra diante de Deus e do seu justo juízo. Na realidade, só diante do
Senhor é que o homem pode reconhecer o seu pecado e perceber toda a sua
gravidade. Tal foi a experiência de David, que, depois « de ter feito o que é mal
aos olhos do Senhor » e de ser repreendido pelo profeta Natã (cf. 2 Sam 11-
12), exclama: « Eu reconheço os meus pecados, e as minhas culpas tenho-as
sempre diante de mim. Pequei contra Vós, só contra Vós, e fiz o mal diante dos
vossos olhos » (Sal 5150, 5-6).22. Por isso, quando declina o sentido de Deus,
também o sentido do homem fica ameaçado e adulterado, como afirma de
maneira lapidar o Concílio Vaticano II: « Sem o Criador, a criatura não
subsiste. (...) Antes, se se esquece Deus, a própria criatura se obscurece ».17
O homem deixa de conseguir sentir-se como « misteriosamente outro » face às
diversas criaturas terrenas; considera-se apenas como um de tantos seres
vivos, como um organismo que, no máximo, atingiu um estado muito elevado
de perfeição. Fechado no estreito horizonte da sua dimensão física, reduz-se
de certo modo a « uma coisa », deixando de captar o carácter « transcendente
» do seu « existir como homem ». Deixa de considerar a vida como um dom
esplêndido de Deus, uma realidade « sagrada » confiada à sua
responsabilidade e, consequentemente, à sua amorosa defesa, à sua «
veneração ». A vida torna-se simplesmente « uma coisa », que ele reivindica
como sua exclusiva propriedade, que pode plenamente dominar e
manipular.Assim, diante da vida que nasce e da vida que morre, o homem já
não é capaz de se deixar interrogar sobre o sentido mais autêntico da sua
existência, assumindo com verdadeira liberdade estes momentos cruciais do
próprio « ser ». Preocupa-se somente com o « fazer », e, recorrendo a
qualquer forma de tecnologia, moureja a programar, controlar e dominar o
nascimento e a morte. Estes acontecimentos, em vez de experiências
primordiais que requerem ser « vividas », tornam-se coisas que se pretende
simplesmente « possuir » ou « rejeitar ».Aliás, uma vez excluída a referência a
Deus, não surpreende que o sentido de todas as coisas resulte profundamente
deformado, e a própria natureza, já não vista como mater 1, fique reduzida a «
material » sujeito a todas as manipulações. A isto parece conduzir certa
mentalidade técnico-científica, predominante na cultura contemporânea, que
nega a ideia mesma de uma verdade própria da criação que se há-de
reconhecer, ou de um desígnio de Deus sobre a vida que temos de respeitar. E
isto não é menos verdade, quando a angústia pelos resultados de tal «
liberdade sem lei » induz alguns à exigência oposta de uma « lei sem liberdade
», como sucede, por exemplo, em ideologias que contestam a legitimidade de
qualquer forma de intervenção sobre a natureza, como que em nome de uma
sua « divinização », o que uma vez mais menospreza a sua dependência do
desígnio do Criador.Na realidade, vivendo « como se Deus não existisse », o
homem perde o sentido não só do mistério de Deus, mas também do mistério
do mundo, e do mistério do seu próprio ser.23. O eclipse do sentido de Deus e
do homem conduz inevitavelmente ao materialismo prático, no qual prolifera o
individualismo, o utilitarismo e o hedonismo. Também aqui se manifesta a
validade perene daquilo que escreve o Apóstolo: « Como não procuraram ter
de Deus conhecimento perfeito, entregou-os Deus a um sentimento pervertido,
a fim de que fizessem o que não convinha (Rm 1, 28). Assim os valores do ser
ficam substituídos pelos do ter.O único fim que conta, é a busca do próprio
bem-estar material. A chamada « qualidade de vida » é interpretada prevalente
ou exclusivamente como eficiência económica, consumismo desenfreado,
beleza e prazer da vida física, esquecendo as dimensões mais profundas da
existência, como são as interpessoais, espirituais e religiosas.Em tal contexto,
o sofrimento — peso inevitável da existência humana mas também factor de
possível crescimento pessoal —, é « deplorado », rejeitado como inútil, ou
mesmo combatido como mal a evitar sempre e por todos os 23. O eclipse do
sentido de Deus e do homem conduz inevitavelmente ao materialismo prático,
no qual prolifera o individualismo, o utilitarismo e o hedonismo. Também aqui
se manifesta a validade perene daquilo que escreve o Apóstolo: « Como não
procuraram ter de Deus conhecimento perfeito, entregou-os Deus a um
sentimento pervertido, a fim de que fizessem o que não convinha (Rm 1, 28).
Assim os valores do ser ficam substituídos pelos do ter.O único fim que conta,
é a busca do próprio bem-estar material. A chamada « qualidade de vida » é
interpretada prevalente ou exclusivamente como eficiência económica,
consumismo desenfreado, beleza e prazer da vida física, esquecendo as
dimensões mais profundas da existência, como são as interpessoais,
espirituais e religiosas.Em tal contexto, o sofrimento — peso inevitável da
existência humana mas também factor de possível crescimento pessoal —, é «
deplorado », rejeitado como inútil, ou mesmo combatido como mal a evitar
sempre e por todos os modos. Quando não é possível superá-lo e a
perspectiva de um bem-estar, pelo menos futuro, se desvanece, parece então
que a vida perdeu todo o significado e cresce no homem a tentação de
reivindicar o direito à sua eliminação.Sempre no mesmo horizonte cultural, o
corpo deixa de ser visto como realidade tipicamente pessoal, sinal e lugar da
relação com os outros, com Deus e com o mundo. Fica reduzido à dimensão
puramente material: é um simples complexo de órgãos, funções e energias,
que há-de ser usado segundo critérios de mero prazer e eficiência.
Consequentemente, também a sexualidade fica despersonalizada e
instrumentalizada: em lugar de ser sinal, lugar e linguagem do amor, ou seja,
do dom de si e do acolhimento do outro na riqueza global da pessoa, torna-se
cada vez mais ocasião e instrumento de afirmação do próprio eu e de
satisfação egoísta dos próprios desejos e instintos. Deste modo se deforma e
falsifica o conteúdo original da sexualidade humana, e os seus dois
significados — unitivo e procriativo —, inerentes à própria natureza do acto
conjugal, acabam artificialmente separados: assim a união é atraiçoada e a
fecundidade fica sujeita ao arbítrio do homem e da mulher. A geração torna-se,
então, o « inimigo » a evitar no exercício da sexualidade: se aceite, é-o apenas
porque exprime o próprio desejo ou mesmo a determinação de ter o filho « a
todo o custo », e não já porque significa total acolhimento do outro e, por
conseguinte, abertura à riqueza de vida que o filho é portador.Na perspectiva
materialista até aqui descrita, as relações interpessoais experimentam um
grave empobrecimento. E os primeiros a sofrerem os danos são a mulher, a
criança, o enfermo ou atribulado, o idoso. O critério próprio da dignidade
pessoal — isto é, o do respeito, do altruísmo e do serviço — é substituído pelo
critério da eficiência, do funcional e da utilidade: o outro é apreciado não por
aquilo que « é », mas por aquilo que « tem, faz e rende ». É a supremacia do
mais forte sobre o mais fraco.24. É no íntimo da consciência moral que se
consuma o eclipse do sentido de Deus e do homem, com todas as suas
múltiplas e funestas consequências sobre a vida. Em questão está, antes de
mais, a consciência de cada pessoa, onde esta, na sua unicidade e
irrepetibilidade, se encontra a sós com Deus.18 Mas, em certo sentido, é posta
em questão também a « consciência moral » da sociedade: esta é, de algum
modo, responsável, não só porque tolera ou favorece comportamentos
contrários à vida, mas também porque alimenta a « cultura da morte »,
chegando a criar e consolidar verdadeiras e próprias « estruturas de pecado »
contra a vida. A consciência moral, tanto do indivíduo como da sociedade, está
hoje — devido também à influência invasora de muitos meios de comunicação
social —, exposta a um perigo gravíssimo e mortal: o perigo da confusão entre
o bem e o mal, precisamente no que se refere ao fundamental direito à vida.
Uma parte significativa da sociedade actual revela-se tristemente semelhante
àquela humanidade que Paulo descreve na Carta aos Romanos. É feita « de
homens que sufocam a verdade na injustiça » (1, 18): tendo renegado Deus e
julgando poder construir a cidade terrena sem Ele, « desvaneceram nos seus
pensamentos », pelo que « se obscureceu o seu insensato coração » (1, 21); «
considerando-se sábios, tornaram-se néscios » (1, 22), fizeram-se autores de
obras dignas de morte, e « não só as cometem, como também aprovam os que
as praticam » (1, 32). Quando a consciência, esse luminoso olhar da alma (cf.
Mt 6, 22-23), chama « bem ao mal e mal ao bem » (Is 5, 20), está já no
caminho da sua degeneração mais preocupante e da mais tenebrosa cegueira
moral.Mas todos esses condicionalismos e tentativas de impor silêncio não
conseguem sufocar a voz do Senhor, que ressoa na consciência de cada
homem: é sempre deste sacrário íntimo da consciência que pode recomeçar
um novo caminho de amor, de acolhimento e de serviço à vida humana...”
(JOÃO PAULO II, Evangelium vitae, texto retirado do site oficial do Vaticano).
-          A palavra “eutanásia” é um composto de duas palavras gregas : “eu”,
que quer dizer bom e “tanatos”, que quer dizer morte. “Eutanásia” é, portanto,
etimologicamente, “boa morte”. Denomina-se “eutanásia” a interrupção da vida
por motivos piedosos, ou seja, a determinação da morte de alguém por estar
ela sofrendo, sem que haja condições naturais de cura, de restabelecimento da
saúde do doente.

-          Como se percebe de pronto, na eutanásia há um julgamento feito por


alguém no sentido de que a morte é irreversível para alguém e que este
alguém não tem mais condições de viver, passando a sua vida a ser apenas
um sofrimento e um padecimento sem razão, visto que a morte é inevitável e,
deste modo, melhor será pôr fim a esta vida, visto que não há mais solução
para o caso, não sendo razoável que a pessoa fique sofrendo ou vegetando
por um prazo indeterminado. É um raciocínio perfeitamente lógico e que
demonstra uma aparente solidariedade e caridade para com o próximo: já que
a pessoa vai morrer mesmo, por que deixá-la sofrendo, por que não lhe dar
uma morte mais digna e menos dolorosa ?

-          Entretanto, temos, dentro deste raciocínio, mais um sofisma, mais um


grande engodo do adversário de nossas almas. Temos, mais uma vez, mais
uma comprovação do que diz a Escritura de que “há caminho que ao homem
parece direito mas cujo fim dele são os caminhos da morte” (Pv.14:12). Todo o
belo e tocante raciocínio da eutanásia parte de uma premissa falsa, qual seja,
a de que o homem é senhor de sua vida, o que não é verdade !

OBS:  Leia-se mais um trecho do documento de Karol Woytyla: “...39. A vida


do homem provém de Deus, é dom seu, é imagem e figura d'Ele, participação
do seu sopro vital. Desta vida, portanto, Deus é o único senhor: o homem não
pode dispor dela. Deus mesmo o confirma a Noé, depois do dilúvio: « Ao
homem, pedirei contas da vida do homem, seu irmão » (Gn 9, 5). E o texto
bíblico preocupa-se em sublinhar como a sacralidade da vida tem o seu
fundamento em Deus e na sua acção criadora: « Porque Deus fez o homem à
sua imagem » (Gn 9, 6).Portanto, a vida e a morte do homem estão nas mãos
de Deus, em seu poder: « Deus tem nas suas mãos a alma de todo o ser
vivente, e o sopro de vida de todos os homens » — exclama Job (12, 10). « O
Senhor é que dá a morte e a vida, leva à habitação dos mortos e retira de lá »
(1 Sam 2, 6). Apenas Ele pode afirmar: « Só Eu é que dou a vida e dou a morte
» (Dt 32, 39).

-          Com efeito, diz a Bíblia que a vida de cada homem lhe pertence ( I
Sm.2:6), até porque foi Ele quem criou o homem (Gn.1:26,27), sendo, pois,
validamente, o senhor da vida de todos os homens (Sl.24:1; Jo.10:17,18). O
homem é um simples mordomo dos dons divinos, entre os quais, o dom da
vida, devendo administrá-la e, depois, prestar contas do que recebeu do
Senhor (Hb.9:27). Assim, se o homem não é senhor da sua vida, não pode
determinar quando e como deve ela findar. Vemos, pois, que, diante desta
verdade bíblica, o raciocínio da eutanásia não faz sentido algum, pois não
temos direito algum de pôr a nossa vida ou de qualquer semelhante por
motivos de “piedade”, “misericórdia” ou qualquer outra razão aparentemente
benemérita.

-          Existem duas espécies de eutanásia, a chamada “eutanásia ativa”,


que é aquela em que o médico, a pedido do paciente, providencia a sua morte
e a “eutanásia passiva”,  a que se dá mediante o desligamento de aparelhos
que farão com que a vida se extinga. Tanto uma quanto outra são condenadas
pela Bíblia Sagrada. Há uma tendência de considerar que a questão da
eutanásia seja reduzida a uma questão técnica médica, como se o médico não
fosse um ser humano como qualquer outro, que não pode se constituir em
senhor da sua própria vida, que dirá da vida de seu paciente.

OBS: Neste sentido, aliás, recente artigo de jornal, que aqui reproduzimos em
parte: “...Sob o ponto de vista da ética médica, Hipócrates, pai da Medicina,
deixou bem claro no juramento que até hoje é repetido na diplomação de
novos médicos, que considera a vida como um dom sagrado e veda ao médico
a pretensão de ser juiz da vida ou da morte de alguém, condenando tanto a
eutanásia como o aborto...” ( HB – um amigo. Eutanásia: morte piedosa ou
homicídio ? Jornal Taperá , Salto/SP, 13.07.2002, Caderno 2, p.4).

-          Dentro da “cultura da morte” que se estabeleceu no mundo de hoje,


cada vez mais vozes se levantam a favor da eutanásia, que já está legalizada,
com certas restrições, em alguns países como a Holanda e, mais
recentemente, a Austrália. Recentemente, inclusive, uma senhora britânica
tentou obter o reconhecimento do seu “direito de morrer” perante a Corte
Européia de Direitos Humanos, já que este suposto direito lhe havia sido
negado pela justiça da Grã-Bretanha (Inglaterra, Escócia e País de Gales),
mas, pelo menos ainda desta vez, a decisão foi contrária ao reconhecimento
de um tal direito. Aliás, alguns dias depois do veredicto, a pessoa acabou
morrendo naturalmente. Melhor sorte, porém, não teve Therry Schiavo que,
apesar das tentativas e dos apelos inclusive do presidente americano George
W. Bush e do já agonizante Papa João Paulo II, não teve religados os
aparelhos que a mantinham viva e que haviam sido retirados a pedido de seu
marido, mais interessado em se casar novamente.

-          No Brasil, a lei penal nada fala sobre a eutanásia. Os juristas e os


tribunais têm considerado que a eutanásia permite a diminuição da pena do
homicídio, considerando-o uma espécie de “homicídio privilegiado”, o que
permite a redução da pena de seis a vinte anos de reclusão de um sexto a um
terço. Entretanto, o Projeto do novo Código Penal, que se encontra em
discussão no Congresso Nacional, permitirá a descriminalização da eutanásia
passiva. Por isso, recentemente, o desejo de um pai em Franca, no Estado de
São Paulo, de praticar a eutanásia em seu filho, idéia da qual foi demovido
pela reação amplamente negativa da sociedade com seus intentos, não tinha a
mínima chance de ser considerada no Judiciário brasileiro.

OBS: Mesmo esta inovação não foi recebida pelos defensores da eutanásia,
como se vê neste trecho do artigo do doutor em Direito, Diaulas Costa Ribeiro,
que se transcreve : “...A palavra eutanásia tem sido utilizada como a ação
médica que tem por finalidade abreviar a vida de uma pessoa. Para os casos
de omissão, instituiu-se no Brasil a palavra ortotanásia, inspirada em trabalho
do penalista português Jorge de Figueiredo Dias. Eutanásia seria, entre nós,
eutanásia ativa; ortotanásia, eutanásia passiva. Contudo, não há qualquer
justificativa científica para essa distinção terminológica, antiquadamente
adotada pelo anteprojeto da parte especial do Código Penal — ambas
previstas como desdobramentos do homicídio —, que propõe punir a primeira
com pena de 3 a 6 anos de reclusão. A segunda, rotulada como causa de não-
crime (exclusão da ilicitude ou da tipicidade?), não teria obviamente qualquer
punição. Ao usar essa dicotomia, não se percebeu que no sistema brasileiro a
ortotanásia não passaria de uma eutanásia comissiva por omissão, não se
justificando o tratamento diferenciado que se pretende implementar. O tipo
penal, se fosse o caso de punir essas condutas, deveria ser o mesmo. Isso
porque o que merece distinção não é a forma de execução — se morte por
ação ou omissão —, mas o consentimento ou não do paciente. Sobre o
consentimento, também é injustificável a proposta do anteprojeto ao aceitar, na
ortotanásia, a autorização dos parentes como exclusão da ilicitude, e não
reconhecer, na eutanásia, o consentimento do próprio titular da vida. No
resumo, se a vida é a mesma, os critérios não poderiam ser diferentes.Toda
essa conceitualização está, há muito, superada na discussão jurídica do
assunto. Modernamente, eutanásia é a morte de uma pessoa com grande
sofrimento decorrente de doença, sem perspectiva de melhora, produzida por
médico, com o consentimento dela. O consentimento do paciente exclui a
ilicitude dessa intervenção, o que consagra o princípio da vontade livre como
garantia suprema do exercício e renúncia a direitos fundamentais. Eutanásia
não é morte por piedade; é morte por vontade...” (Diaulas Costa RIBEIRO.
Diaulas.com.br/artigos/eutanásia).

- Aliás, em mais um gesto do ex-ministro da Saúde, senhor Humberto Costa,


tentou-se “legalizar” a eutanásia por intermédio de uma resolução do Ministério
da Saúde, que tentou estabelecer “critérios para internação de pacientes em
UTIs”, permitindo, na prática, que pacientes que fossem tidos como “sem
chances de sobreviver”, não fossem conduzidos à unidades de terapia
intensiva, “abreviando assim o sofrimento” delas. Graças a uma reação pronta
da sociedade civil, a norma acabou sendo abandonada pelo Governo.

OBS: “…Foi muita justa e pertinente a indignada reação da sociedade, dos


médicos e de entidades representativas do consumidor e da cidadania à
absurda proposta do Ministério da Saúde, de estabelecer normas para a
internação de pacientes do SUS em UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
Apesar da tentativa de recuo do ministro Humberto Costa, aparentemente
assustado com a repercussão negativa, as intenções do governo e de sua
Pasta estavam muito claras, uma imoralidade explícita na proposta.Em síntese,
a proposta estabelecia que apenas os doentes com chances reais de
recuperação fossem internados em uma unidade de terapia intensiva.
Perguntas: somente poderá lutar pela vida quem provar que não vai morrer na
UTI? Tem o governo o direito de decidir sobre as chances de viver ou morrer
de um ser humano? Ora, a adoção dessas novas e estapafúrdias normas pelo
Ministério da Saúde significaria, na prática, a instituição da eutanásia em larga
escala, ou seja, uma distorção constitucional, moral, ética e humana. Mesmo
que o governo recue, a população deve ficar atenta, pois a simples intenção,
no caso, é suficientemente grave e demonstra que a falta de critérios e limites
permeia no Executivo Federal. …”(Antonio Carlos PANUNZIO. O direito à vida.

Por detrás da idéia de que se pode abreviar a morte de alguém por “motivos
piedosos”, está a velha artimanha satânica de indução do homem a ser Deus.
É a mesma história contada a Eva no jardim, segundo a qual o homem poderia
ser igual a Deus, conhecendo o bem e o mal (Gn.3:5). A defesa da eutanásia
esconde um desejo do homem de ser senhor de sua vida, como se isto fosse
possível dentro da ordem estabelecida pelo verdadeiro Senhor dos Senhores, o
único e Soberano Deus. Portanto, todo e qualquer cristão verdadeiro,
cumpridor da Palavra de Deus, abominará a eutanásia, reconhecendo nela
mais uma manifestação de rebeldia contra a Divindade.

OBS: Além disto, diante do desenvolvimento tecnológico atual, há um


anacronismo na defesa da eutanásia, como bem argumenta o texto da
encíclica “Evangelium vitae”: “...46. Também no que se refere aos últimos dias
da existência, seria anacrónico esperar da revelação bíblica uma referência
expressa à problemática actual do respeito pelas pessoas idosas e doentes, ou
uma explícita condenação das tentativas de lhes antecipar violentamente o fim:
encontramo-nos, de facto, perante um contexto cultural e religioso que não
está pervertido por tais tentações, mas antes reconhece na sabedoria e
experiência do ancião uma riqueza insubstituível para a família e a
sociedade.A velhice goza de prestígio e é circundada de veneração (cf. 2 Mac
6, 23). O justo não pede para ser privado da velhice nem do seu peso; antes
pelo contrário: « Vós sois a minha esperança, a minha confiança, Senhor,
desde a minha juventude. (...) Agora, na velhice e na decrepitude, não me
abandoneis, ó Deus; para que narre às gerações a força do vosso braço, o
vosso poder a todos os que hão-de vir » (Sal 7170, 5.18). O ideal do tempo
messiânico é apresentado como aquele em que « não mais haverá (...) um
velho que não complete os seus dias » (Is 65, 20).Mas, como enfrentar o
declínio inevitável da vida, na velhice?Como comportar-se frente à morte? O
crente sabe que a sua vida está nas mãos de Deus: « Senhor, nas tuas mãos
está a minha vida » (cf. Sal 1615, 5); e d'Ele aceite também a morte: « Este é o
juízo do Senhor sobre toda a humanidade; e porque quererias reprovar a lei do
Altíssimo? » (Sir 41, 4). O homem não é senhor nem da vida nem da morte;
tanto numa como noutra, deve abandonar-se totalmente à « vontade do
Altíssimo », ao seu desígnio de amor.Também no momento da doença, o
homem é chamado a viver a mesma entrega ao Senhor e a renovar a sua
confiança fundamental n'Aquele que « sara todas as enfermidades » (cf. Sal
103102, 3). Quando toda e qualquer esperança de saúde parece fechar-se
para o homem — a ponto de o levar a gritar: « Os meus dias são como a
sombra que declina, e vou-me secando como o feno » (Sal 102101, 12) — ,
mesmo então o crente está animado pela fé inabalável no poder vivificador de
Deus. A doença não o leva ao desespero nem ao desejo da morte, mas a uma
invocação cheia de esperança: « Confiei mesmo quando disse: "Sou um
homem de todo infeliz" » (Sal 116115, 10); « Senhor, meu Deus, a vós clamei e
fui curado. Senhor, livrastes a minha alma da mansão dos mortos; destes-me a
vida quando já descia ao túmulo » (Sal 3029, 3-4).47. A missão de Jesus, com
as numerosas curas realizadas, indica quanto Deus tem a peito também a vida
corporal do homem. « Médico do corpo e do espírito »,37 Jesus foi mandado
pelo Pai para anunciar a boa nova aos pobres e para curar os de coração
despedaçado (cf. Lc 4, 18; Is 61, 1). Depois, ao enviar os seus discípulos pelo
mundo, confia-lhes uma missão na qual a cura dos doentes acompanha o
anúncio do Evangelho: « Pelo caminho, proclamai que o reino dos Céus está
perto. Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai
os demónios » (Mt 10, 7-8; cf. Mc 6, 13; 16, 18).Certamente, a vida do corpo na
sua condição terrena não é um absoluto para o crente, de tal modo que lhe
pode ser pedido para a abandonar por um bem superior; como diz Jesus, «
quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por Mim e
pelo Evangelho, salvá-la-á » (Mc 8, 35). A este propósito, o Novo Testamento
oferece diversos testemunhos. Jesus não hesita em sacrificar-Se a Si próprio
e, livremente, faz da sua vida uma oferta ao Pai (cf. Jo 10, 17) e aos seus (cf.
Jo 10, 15). Também a morte de João Baptista, precursor do Salvador, atesta
que a existência terrena não é o bem absoluto: é mais importante a fidelidade à
palavra do Senhor, ainda que esta possa pôr em jogo a vida (cf. Mc 6, 17-29).
E Estêvão, ao ser privado da vida temporal porque testemunha fiel da
ressurreição do Senhor, segue os passos do Mestre e vai ao encontro dos
seus lapidadores com as palavras do perdão (cf. Act 7, 59-60), abrindo a
estrada do exército inumerável dos mártires, venerados pela Igreja desde o
princípio.Todavia, ninguém pode escolher arbitrariamente viver ou morrer;
efectivamente, senhor absoluto de tal decisão é apenas o Criador, Aquele em
quem « vivemos, nos movemos e existimos » (Act 17, 28)....« Só Eu é que dou
a vida e dou a morte » (Dt 32, 39): o drama da eutanásia 64. No outro topo da
existência, o homem encontra-se diante do mistério da morte. Hoje, na
sequência dos progressos da medicina e num contexto cultural frequentemente
fechado à transcendência, a experiência do morrer apresenta-se com algumas
características novas. Com efeito, quando prevalece a tendência para apreciar
a vida só na medida em que proporciona prazer e bem-estar, o sofrimento
aparece como um contratempo insuportável, de que é preciso libertar-se a todo
o custo. A morte, considerada como « absurda » quando interrompe
inesperadamente uma vida ainda aberta para um futuro rico de possíveis
experiências interessantes, torna-se, pelo contrário, uma « libertação
reivindicada », quando a existência é tida como já privada de sentido porque
mergulhada na dor e inexoravelmente votada a um sofrimento sempre mais
intenso.Além disso, recusando ou esquecendo o seu relacionamento
fundamental com Deus, o homem pensa que é critério e norma de si mesmo e
julga que tem inclusive o direito de pedir à sociedade que lhe garanta
possibilidades e modos de decidir da própria vida com plena e total autonomia.
Em particular, o homem que vive nos países desenvolvidos é que assim se
comporta: a tal se sente impelido, entre outras coisas, pelos contínuos
progressos da medicina e das suas técnicas cada vez mais avançadas. Por
meio de sistemas e aparelhagens extremamente sofisticadas, hoje a ciência e
a prática médica são capazes de resolver casos anteriormente insolúveis e de
aliviar ou eliminar a dor, como também de sustentar e prolongar a vida até em
situações de debilidade extrema, de reanimar artificialmente pessoas cujas
funções biológicas elementares sofreram danos imprevistos, de intervir para
tornar disponíveis órgãos para transplante.Num tal contexto, torna-se cada vez
mais forte a tentação daeutanásia, isto é, de apoderar-se da morte,
provocando-a antes do tempo e, deste modo, pondo fim « docemente » à vida
própria ou alheia. Na realidade, aquilo que poderia parecer lógico e humano,
quando visto em profundidade, apresenta-se absurdo e desumano. Estamos
aqui perante um dos sintomas mais alarmantes da « cultura de morte » que
avança sobretudo nas sociedades do bem-estar, caracterizadas por uma
mentalidade eficientista que faz aparecer demasiadamente gravoso e
insuportável o número crescente das pessoas idosas e debilitadas. Com muita
frequência, estas acabam por ser isoladas da família e da sociedade,
organizada quase exclusivamente sobre a base de critérios de eficiência
produtiva, segundo os quais uma vida irremediavelmente incapaz não tem
mais qualquer valor.65. Para um correcto juízo moral da eutanásia, é preciso,
antes de mais, defini-la claramente. Por eutanásia, em sentido verdadeiro e
próprio, deve-se entender uma acção ou uma omissão que, por sua natureza e
nas intenções, provoca a morte com o objectivo de eliminar o sofrimento. « A
eutanásia situa-se, portanto, ao nível das intenções e ao nível dos métodos
empregues ».76.Distinta da eutanásia é a decisão de renunciar ao chamado «
excesso terapêutico », ou seja, a certas intervenções médicas já inadequadas
à situação real do doente, porque não proporcionadas aos resultados que se
poderiam esperar ou ainda porque demasiado gravosas para ele e para a sua
família. Nestas situações, quando a morte se anuncia iminente e inevitável,
pode-se em consciência « renunciar a tratamentos que dariam somente um
prolongamento precário e penoso da vida, sem, contudo, interromper os
cuidados normais devidos ao doente em casos semelhantes ».77 Há, sem
dúvida, a obrigação moral de se tratar e procurar curar-se, mas essa obrigação
há-de medir-se segundo as situações concretas, isto é, impõe-se avaliar se os
meios terapêuticos à disposição são objectivamente proporcionados às
perspectivas de melhoramento. A renúncia a meios extraordinários ou
desproporcionados não equivale ao suicídio ou à eutanásia; exprime, antes, a
aceitação da condição humana defronte à morte.78.Na medicina actual, têm
adquirido particular importância os denominados « cuidados paliativos »,
destinados a tornar o sofrimento mais suportável na fase aguda da doença e
assegurar ao mesmo tempo ao paciente um adequado acompanhamento
humano. Neste contexto, entre outros problemas, levanta-se o da licitude do
recurso aos diversos tipos de analgésicos e sedativos para aliviar o doente da
dor, quando isso comporta o risco de lhe abreviar a vida. Ora, se pode
realmente ser considerado digno de louvor quem voluntariamente aceita sofrer
renunciando aos meios lenitivos da dor, para conservar a plena lucidez e, se
crente, participar, de maneira consciente, na Paixão do Senhor, tal
comportamento « heróico » não pode ser considerado obrigatório para todos.
Já Pio XII afirmara que é lícito suprimir a dor por meio de narcóticos, mesmo
com a consequência de limitar a consciência e abreviar a vida, « se não
existem outros meios e se, naquelas circunstâncias, isso em nada impede o
cumprimento de outros deveres religiosos e morais ».79 É que, neste caso, a
morte não é querida ou procurada, embora por motivos razoáveis se corra o
risco dela: pretende- -se simplesmente aliviar a dor de maneira eficaz,
recorrendo aos analgésicos postos à disposição pela medicina. Contudo, « não
se deve privar o moribundo da consciência de si mesmo, sem motivo grave »:
80 quando se aproxima a morte, as pessoas devem estar em condições de
poder satisfazer as suas obrigações morais e familiares, e devem sobretudo
poder-se preparar com plena consciência para o encontro definitivo com
Deus.Feitas estas distinções, em conformidade com o Magistério dos meus
Predecessores 81 e em comunhão com os Bispos da Igreja Católica, confirmo
que a eutanásia é uma violação grave da Lei de Deus, enquanto morte
deliberada moralmente inaceitável de uma pessoa humana. Tal doutrina está
fundada sobre a lei natural e sobre a Palavra de Deus escrita, é transmitida
pela Tradição da Igreja e ensinada pelo Magistério ordinário e universal.82.A
eutanásia comporta, segundo as circunstâncias, a malícia própria do suicídio
ou do homicídio...”(JOÃO PAULO II, Evangelium  vitae, texto extraído do site
oficial do Vaticano).

- Como podemos perceber, nos dias em que vivemos, o “mistério da injustiça”


trabalha grandemente para estabelecer a sua “cultura da morte”, a fim de que
vidas sejam ceifadas. Como cristãos, devemos ser intransigentes defensores
da vida e da verdade bíblica de que só Deus é o dono da vida.

Colaboração para o Portal EscolaDominical: Prof. Dr. Caramuru Afonso


Francisco.

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