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INTRODUÇÃO
OBS: Neste ponto, aliás, como faremos ainda neste esboço em outras
passagens, devemos anotar as considerações feitas pelo Papa João Paulo II,
líder da Igreja Romana de 1978 a 2005, sobre o assunto na sua encíclica
"Evangelium vitae" (O Evangelho da vida). Não podemos deixar de reconhecer
que o Papa foi o mais vigoroso adversário do aborto e da eutanásia na
atualidade. Quanto ao valor da vida humana, assim se expressou Karol
Woytila: "... O homem é chamado a uma plenitude de vida que se estende
muito para além das dimensões da sua existência terrena, porque consiste na
participação da própria vida de Deus.A sublimidade desta vocação
sobrenatural revela a grandeza e o valor precioso da vida humana, inclusive já
na sua fase temporal. Com efeito, a vida temporal é condição basilar, momento
inicial e parte integrante do processo global e unitário da existência humana:
um processo que, para além de toda a expectativa e merecimento, fica
iluminado pela promessa e renovado pelo dom da vida divina, que alcançará a
sua plena realização na eternidade (cf. 1 Jo 3, 1-2). Ao mesmo tempo, porém,
o próprio chamamento sobrenatural sublinha a relatividade da vida terrena do
homem e da mulher. Na verdade, esta vida não é realidade « última », mas «
penúltima »; trata-se, em todo o caso, de uma realidade sagrada que nos é
confiada para a guardarmos com sentido de responsabilidade e levarmos à
perfeição no amor pelo dom de nós mesmos a Deus e aos irmãos....
Espezinhada no direito fundamental à vida, é hoje uma grande multidão de
seres humanos débeis e indefesos, como o são, em particular, as crianças
ainda não nascidas" (Evangelium vitae, nº 2,5
adiante este pensamento, concluiríamos que o aborto induzido seria
biblicamente permitido. Ora, isso seria forçar a aplicação da lei do Êxodo, que
trata de um aborto acidental, e não induzido, o que são duas coisas
absolutamente distintas: uma, é acidentalmente alguém provocar o aborto a
outrem, outra, e com consentimento da mãe, provocar-se o aborto. Todavia,
mesmo acidental, lemos que em tal caso havia uma sanção, o que denota a
gravidade desse aborto acidental, precisamente porque estava em causa a
vida...." (O que a Bíblia diz sobre o aborto. www.bussola.cjb.net)
- A lei brasileira é bem clara ao permitir que embriões humanos que estejam
congelados há mais de três anos possam ser doados a pesquisa por seus
“pais” (art.5º, II da lei 11.105/2005), admitindo, assim, que se tratam os
embriões de “filhos”, como, aliás, está previsto no artigo 1.597, incisos III e IV
do Código Civil. São, portanto, pessoas humanas, visto que já concebidas.
Como, então, admitir que um ser humano doe outro para fins de pesquisa, para
ser destruído em prol de outrem? Como admitirmos, em pleno século XXI, que
uma vida seja meio para salvamento de outra? E o que é pior, sem que haja
comprovação de que, realmente, as células-tronco embrionárias têm maior
poder de eficácia que as células-tronco adultas e, mais, que não haja outro
meio de pesquisa a não ser pela destruição?
- “…Conforme a Bíblia e a opinião dos cientistas éticos, a vida não pode ser
banalizada. Ela começa no momento da concepção e deve ser respeitada. O
embrião é uma pessoa inocente, indefesa, mas viva e com todas as
características herdadas dos pais através do código da vida, o DNA. E a
Palavra de Deus determina: ‘De palavras de falsidade te afastarás e não
matarás o inocente e o justo; porque não justificarei o ímpio”, Ex. 23.7.
Devemos ser amorosos e sensíveis aos males dos que sofrem sem encontrar
solução para seus graves problemas de saúde. Mas, ao mesmo tempo,
devemos ser firmes na defesa dos princípios éticos, emanados da Palavra de
Deus, pois vivemos num mundo em que quase tudo é tornado relativo,
inclusive a vida. Um mundo em que o que é certo, de acordo com a Bíblia, é
visto como errado; e o que é errado, é visto como certo, conforme escreveu o
profeta Isaías: ‘Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal! Que fazem da
escuridade luz, e da luz, escuridade, e fazem do amargo doce, e do doce,
amargo, Is.5.20…” ( Elinaldo Renovato de LIMA. Não ao uso de células-tronco
embrionárias. Mensageiro da paz, ano 75, n. 1440 maio 2005, p.14).
- Coisa diversa é o chamado aborto provocado, este, sim, um verdadeiro ato
de matar, em que, alguém, com ou sem o consentimento da mãe, provoca a
expulsão do feto do ventre materno, impedindo que venha a completar seu
desenvolvimento e possa nascer. Este aborto é o que traz implicações éticas e
que gera toda a sorte de discussões no mundo hodierno, notadamente em
países como o Brasil, em que tal ato constitui crime frente ao direito penal,
como, aliás, era considerado na lei de Moisés.
- Outro caso de aborto que existe é o chamado “aborto eugênico”, aquele que
se permite diante da constatação de que o feto tem problemas graves de
saúde que o farão nascer com defeitos ou enfermidades. Este tipo de aborto
não é permitido pela legislação brasileira, embora algumas decisões judiciais
tenham já autorizado o aborto de fetos que estavam sem cérebro. Apesar
destes casos extremos, em que se sabe que a vida será inviável, o fato é que o
aborto eugênico tem graves implicações éticas, mormente no atual estágio da
ciência e da tecnologia genéticas, qual seja, o de se permitir que os pais
“montem” filhos segundo o seu desejo e a sua predileção e, assim, passem a
descartar fetos não por problemas graves de saúde, mas por capricho, não
aceitando filhos que tenham tendência à obesidade, que sejam baixos ou altos,
que não tenham olhos azuis etc. etc. Já se tem conhecimento do descarte de
vários embriões em clínicas de fertilização simplesmente porque não se
satisfazem os desejos dos pais. É a verdadeira banalização da vida humana.
OBS: "...E se nascer ... deformado? Esta é uma desculpa apresentada para se
considerar a hipótese do aborto, que aliás, a nossa legislação atualmente já
prevê. Em primeiro lugar importa notar que Deus criou o homem com
características tais que, mesmo em condições à primeira vista adversas,
consegue sobreviver e adaptar-se. Por outro lado, quando essa vida é
impossível, a morte vem por si própria. Assim sucede por exemplo quando a
criança nasce com deformações encefálicas anormais (cérebro). Geralmente, a
criança morre passados poucos minutos depois do parto. Mas, mesmo que
haja seguros motivos de que a criança venha a nascer deficiente, será esse
um motivo para se aceitar o aborto? Vejamos o que a Palavra de Deus nos diz
a este respeito: «Quem fez a boca do homem? Ou quem fez o mudo ou o que
vê, ou o cego ? Não Sou Eu, o Senhor?» (Êxodo 4:11). «E passando Jesus,
viu um cego de nascença. E os seus discípulos lhe perguntaram, dizendo:
"Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Jesus
respondeu: "Nem ele pecou nem seus pais, mas foi assim para que se
manifestem nele as obras de Deus"» (S. João 9:1-3).A resposta da Bíblia é
clara. Aceitar a morte de crianças ainda não nascidas,conduz a aceitar também
a eutanásia infantil, isto é, o homicídio de bebês recém-nascidos que sejam
doentes ou deficientes. E a aceitar isto, não faltaria muito para aceitar também
a eutanásia dos inválidos, idosos e todos os que, independentemente da sua
idade, não possam cuidar de si mesmos ou se sintam à parte da sociedade. Se
entender-se que o universo se formou por acaso e que o homem é
descendente duma criatura pré-histórica, não há razão para se preocupar com
a vida humana. Mas, sabendo que o homem foi criado e que tem um destino
especial diante do seu Criador , então concluiremos que a defesa da dádiva
divina, que é a vida humana, é de fato inalienável. (O que a Bíblia diz sobre o
aborto. www.bussola.cjb.net)
- A vida humana é uma dádiva de Deus, é algo sobre o que os homens
não têm qualquer domínio. As atitudes recentes que permitem o aborto e a
eliminação de embriões apresentam diversas justificativas, mas são, à luz da
Bíblia, demonstrações da auto-suficiência humana, de sua rebeldia contra
Deus e de sua submissão ao pecado e ao seu desejo (Gn.4:7). Enquanto
dissemina a prática do aborto e da eliminação de embriões, o homem nada
mais faz senão contribuir para o trabalho de destruição do adversário de
nossas almas. A Igreja, que é o corpo de Cristo, tem de lutar decididamente
contra isto, pois está aqui para fazer a obra de Jesus que é desfazer as obras
do diabo ( I Jo.3:8). Como devemos lutar contra isto ?
OBS: Cabe, aqui, uma vez mais, observar a análise feita por Karol Woytila: "...
Por um lado, as várias declarações dos direitos do homem e as múltiplas
iniciativas que nelas se inspiram, indicam a consolidação a nível mundial de
uma sensibilidade moral mais diligente em reconhecer o valor e a dignidade de
cada ser humano enquanto tal, sem qualquer distinção de raça, nacionalidade,
religião, opinião política, estrato social. Por outro lado, a estas nobres
proclamações contrapõem-se, infelizmente nos fatos, a sua trágica negação.
Esta é ainda mais desconcertante, antes mais escandalosa, precisamente
porque se realiza numa sociedade que faz da afirmação e tutela dos direitos
humanos o seu objetivo principal e, conjuntamente, o seu título de glória. Como
pôr de acordo essas repetidas afirmações de princípio com a contínua
multiplicação e a difusa legitimação dos atentados à vida humana? Como
conciliar estas declarações com a recusa do mais débil, do mais carenciado,
do idoso, daquele que acaba de ser concebido? Estes atentados encaminham-
se exatamente na direção contrária à do respeito pela vida e representam uma
ameaça frontal a toda a cultura dos direitos do homem. É uma ameaça capaz,
em última análise, de pôr em risco o próprio significado da convivência
democrática: de sociedade de « con-viventes », as nossas cidades correm o
risco de passar a sociedade de excluídos, marginalizados, irradiados e
suprimidos. Se depois o olhar se alarga ao horizonte mundial, como não
pensar que a afirmação dos direitos das pessoas e dos povos, verificada em
altas reuniões internacionais, se reduz a um estéril exercício retórico, se lá não
é desmascarado o egoísmo dos países ricos que fecham aos países pobres o
acesso ao desenvolvimento ou o condicionam a proibições absurdas de
procriação, contrapondo o progresso ao homem? Porventura não é de pôr em
discussão os próprios modelos econômicos, adotados pelos Estados
frequentemente também por pressões e condicionamentos de caráter
internacional, que geram e alimentam situações de injustiça e violência, nas
quais a vida humana de populações inteiras fica degradada e espezinhada?19.
Onde estão as raízes de uma contradição tão paradoxal? Podemo-las
individuar em avaliações globais de ordem cultural e moral, a começar daquela
mentalidade que, exasperando e até deformando o conceito de subjectividade,
só reconhece como titular de direitos quem se apresente com plena ou, pelo
menos, incipiente autonomia e esteja fora da condição de total dependência
dos outros. Mas, como conciliar tal impostação com a exaltação do homem
enquanto ser « não-disponível »? A teoria dos direitos humanos funda-se
precisamente na consideração do facto de o homem, ao contrário dos animais
e das coisas, não poder estar sujeito ao domínio de ninguém. Deve-se acenar
ainda àquela lógica que tende a identificar a dignidade pessoal com a
capacidade de comunicação verbal e explícita e, em todo o caso,
experimentável. Claro que, com tais pressupostos, não há espaço no mundo
para quem, como o nascituro ou o doente terminal, é um sujeito
estruturalmente débil, parece totalmente à mercê de outras pessoas e
radicalmente dependente delas, e sabe comunicar apenas mediante a
linguagem muda de uma profunda simbiose de afetos. Assim a força torna-se o
critério de decisão e de ação, nas relações interpessoais e na convivência
social. Mas isto é precisamente o contrário daquilo que, historicamente, quis
afirmar o Estado de direito, como comunidade onde as « razões da força » são
substituídas pela « força da razão ». A outro nível, as raízes da contradição
que se verifica entre a solene afirmação dos direitos do homem e a sua trágica
negação na prática, residem numa concepção da liberdade que exalta o
indivíduo de modo absoluto e não o predispõe para a solidariedade, o pleno
acolhimento e serviço do outro. Se é certo que, por vezes, a supressão da vida
nascente ou terminal aparece também matizada com um sentido equivocado
de altruísmo e de compaixão humana, não se pode negar que tal cultura de
morte, no seu todo, manifesta uma concepção da liberdade totalmente
individualista que acaba por ser a liberdade dos « mais fortes » contra os
débeis, destinados a sucumbir. Precisamente neste sentido, se pode
interpretar a resposta de Caim à pergunta do Senhor « onde está Abel, teu
irmão? »: « Não sei dele. Sou, porventura, guarda do meu irmão? » (Gn 4, 9).
Sim, todo o homem é « guarda do seu irmão », porque Deus confia o homem
ao homem. E é tendo em vista também tal entrega que Deus dá a cada homem
a liberdade, que possui uma dimensão relacional essencial. Trata-se de um
grande dom do Criador, quando colocada como deve ser ao serviço da pessoa
e da sua realização mediante o dom de si e o acolhimento do outro; quando,
pelo contrário, a liberdade é absolutizada em chave individualista, fica
esvaziada do seu conteúdo originário e contestada na sua própria vocação e
dignidade... Reivindicar o direito ao aborto, ao infanticídio, à eutanásia, e
reconhecê-lo legalmente, equivale a atribuir à liberdade humana um significado
perverso e iníquo: o significado de um poder absoluto sobre os outros e contra
os outros. Mas isto é a morte da verdadeira liberdade: « Em verdade, em
verdade vos digo: todo aquele que comete o pecado é escravo do pecado »
(Jo 8, 34)." (Evangelium vitae, nº 18,19,20).
"...Se você está considerando abortar .O aborto não é uma escolha. É
um assassinato. Mas não se desespere, Deus está no controle. Não existe
situação sem esperança para Ele. Tenha seu filho. Deus redimirá a situação,
assim como Ele fez para José. Os irmãos de José intentaram matá-lo, mas
Deus o preservou e usou a seqüência dos exemplos para salvar uma nação
inteira. José declarou a seus irmãos: "Foi Deus quem me enviou adiante de
vós para vos preservar a posteridade na terra e salvar as vossas vidas pôr uma
grande libertação". Talvez você esteja transportando um filho proveniente de
uma união ilícita. Muitos de nós tem membros da família, até cônjuges, que
não estariam vivos hoje se as crianças ilegítimas ou indesejadas tivessem sido
abortadas. A vida que está dentro de você é um precioso Dom de Deus, não a
mate...." (Aborto, o que a Bíblia declara. www.bussola.cjb.net).
- Neste convencimento para que não se faça o aborto, a Igreja não deve
apenas usar de palavras, mas, sim, de gestos concretos (I Co.2:4,5; I Jo.3:18),
como a própria assistência à gravidez e o próprio encaminhamento da criança
para um lar substituto assim que houver o nascimento caso a mãe não queira,
de modo algum, ficar com a criança, decisão que devemos respeitar, pois
depende da individualidade de cada um. A Igreja deve lutar para preservar a
vida humana e não pode querer controlar a consciência e o arbítrio da mãe.
Neste sentido, aliás, de se louvar o trabalho de várias igrejas locais nos
Estados Unidos (onde o aborto está legalizado em quase todos os Estados),
que têm um serviço eficiente de busca de mulheres grávidas que queiram
abortar, de assistência durante a gravidez e de encaminhamento para adoção,
em colaboração com a justiça da infância daquele país. Também aqui se deve
ressaltar o trabalho realizado na Índia pela católica Madre Teresa de Calcutá,
que foi Prêmio Nobel da Paz, cuja ordem religiosa se incumbia de cuidar das
crianças das mães que desistiam de abortar.
VI – A EUTANÁSIA
- Dentro da “cultura de morte” que reina no presente século, que, como
já vimos, aceita práticas como o aborto e a destruição de embriões humanos,
temos outro tema que demonstra o interesse de nosso adversário em ceifar as
vidas para levá-las à perdição eterna: a eutanásia, prática que tem sido
estimulada e incentivada na atualidade, mas que se constitui em grave
transgressão aos preceitos da Palavra de Deus.
OBS: A expressão “cultura de morte” foi cunhada pelo Papa João Paulo II,
líder da Igreja Romana de 1978 a 2005, em passagem da sua encíclica
“Evangelium vitae” que se deve reproduzir: “ ... 21. Quando se procuram as
raízes mais profundas da luta entre a « cultura da vida » e a « cultura da morte
», não podemos deter-nos na noção perversa de liberdade acima referida. É
necessário chegar ao coração do drama vivido pelo homem contemporâneo: o
eclipse do sentido de Deus e do homem, típico de um contexto social e cultural
dominado pelo secularismo que, com os seus tentáculos invasivos, não deixa
às vezes de pôr à prova as próprias comunidades cristãs. Quem se deixa
contagiar por esta atmosfera, entra facilmente na voragem de um terrível
círculo vicioso: perdendo o sentido de Deus, tende-se a perder também o
sentido do homem, da sua dignidade e da sua vida; por sua vez, a sistemática
violação da lei moral, especialmente na grave matéria do respeito da vida
humana e da sua dignidade, produz uma espécie de ofuscamento progressivo
da capacidade de enxergar a presença vivificante e salvífica de Deus.
Podemos, mais uma vez, inspirar-nos na narração da morte de Abel provocada
pelo seu irmão. Depois da maldição infligida por Deus a Caim, este dirige-se ao
Senhor dizendo: « A minha culpa é grande demais para obter perdão.
Expulsas-me hoje desta terra;obrigado a ocultar-me longe da tua face, terei de
andar fugitivo e vagabundo pela terra, e o primeiro a encontrar-me matar-me-á
» (Gn 4, 13-14).Caim pensa que o seu pecado não poderá obter perdão do
Senhor e que o seu destino inevitável será « ocultar-se longe » d'Ele. Se Caim
chega a confessar que a sua culpa é « grande demais », é por saber que se
encontra diante de Deus e do seu justo juízo. Na realidade, só diante do
Senhor é que o homem pode reconhecer o seu pecado e perceber toda a sua
gravidade. Tal foi a experiência de David, que, depois « de ter feito o que é mal
aos olhos do Senhor » e de ser repreendido pelo profeta Natã (cf. 2 Sam 11-
12), exclama: « Eu reconheço os meus pecados, e as minhas culpas tenho-as
sempre diante de mim. Pequei contra Vós, só contra Vós, e fiz o mal diante dos
vossos olhos » (Sal 5150, 5-6).22. Por isso, quando declina o sentido de Deus,
também o sentido do homem fica ameaçado e adulterado, como afirma de
maneira lapidar o Concílio Vaticano II: « Sem o Criador, a criatura não
subsiste. (...) Antes, se se esquece Deus, a própria criatura se obscurece ».17
O homem deixa de conseguir sentir-se como « misteriosamente outro » face às
diversas criaturas terrenas; considera-se apenas como um de tantos seres
vivos, como um organismo que, no máximo, atingiu um estado muito elevado
de perfeição. Fechado no estreito horizonte da sua dimensão física, reduz-se
de certo modo a « uma coisa », deixando de captar o carácter « transcendente
» do seu « existir como homem ». Deixa de considerar a vida como um dom
esplêndido de Deus, uma realidade « sagrada » confiada à sua
responsabilidade e, consequentemente, à sua amorosa defesa, à sua «
veneração ». A vida torna-se simplesmente « uma coisa », que ele reivindica
como sua exclusiva propriedade, que pode plenamente dominar e
manipular.Assim, diante da vida que nasce e da vida que morre, o homem já
não é capaz de se deixar interrogar sobre o sentido mais autêntico da sua
existência, assumindo com verdadeira liberdade estes momentos cruciais do
próprio « ser ». Preocupa-se somente com o « fazer », e, recorrendo a
qualquer forma de tecnologia, moureja a programar, controlar e dominar o
nascimento e a morte. Estes acontecimentos, em vez de experiências
primordiais que requerem ser « vividas », tornam-se coisas que se pretende
simplesmente « possuir » ou « rejeitar ».Aliás, uma vez excluída a referência a
Deus, não surpreende que o sentido de todas as coisas resulte profundamente
deformado, e a própria natureza, já não vista como mater 1, fique reduzida a «
material » sujeito a todas as manipulações. A isto parece conduzir certa
mentalidade técnico-científica, predominante na cultura contemporânea, que
nega a ideia mesma de uma verdade própria da criação que se há-de
reconhecer, ou de um desígnio de Deus sobre a vida que temos de respeitar. E
isto não é menos verdade, quando a angústia pelos resultados de tal «
liberdade sem lei » induz alguns à exigência oposta de uma « lei sem liberdade
», como sucede, por exemplo, em ideologias que contestam a legitimidade de
qualquer forma de intervenção sobre a natureza, como que em nome de uma
sua « divinização », o que uma vez mais menospreza a sua dependência do
desígnio do Criador.Na realidade, vivendo « como se Deus não existisse », o
homem perde o sentido não só do mistério de Deus, mas também do mistério
do mundo, e do mistério do seu próprio ser.23. O eclipse do sentido de Deus e
do homem conduz inevitavelmente ao materialismo prático, no qual prolifera o
individualismo, o utilitarismo e o hedonismo. Também aqui se manifesta a
validade perene daquilo que escreve o Apóstolo: « Como não procuraram ter
de Deus conhecimento perfeito, entregou-os Deus a um sentimento pervertido,
a fim de que fizessem o que não convinha (Rm 1, 28). Assim os valores do ser
ficam substituídos pelos do ter.O único fim que conta, é a busca do próprio
bem-estar material. A chamada « qualidade de vida » é interpretada prevalente
ou exclusivamente como eficiência económica, consumismo desenfreado,
beleza e prazer da vida física, esquecendo as dimensões mais profundas da
existência, como são as interpessoais, espirituais e religiosas.Em tal contexto,
o sofrimento — peso inevitável da existência humana mas também factor de
possível crescimento pessoal —, é « deplorado », rejeitado como inútil, ou
mesmo combatido como mal a evitar sempre e por todos os 23. O eclipse do
sentido de Deus e do homem conduz inevitavelmente ao materialismo prático,
no qual prolifera o individualismo, o utilitarismo e o hedonismo. Também aqui
se manifesta a validade perene daquilo que escreve o Apóstolo: « Como não
procuraram ter de Deus conhecimento perfeito, entregou-os Deus a um
sentimento pervertido, a fim de que fizessem o que não convinha (Rm 1, 28).
Assim os valores do ser ficam substituídos pelos do ter.O único fim que conta,
é a busca do próprio bem-estar material. A chamada « qualidade de vida » é
interpretada prevalente ou exclusivamente como eficiência económica,
consumismo desenfreado, beleza e prazer da vida física, esquecendo as
dimensões mais profundas da existência, como são as interpessoais,
espirituais e religiosas.Em tal contexto, o sofrimento — peso inevitável da
existência humana mas também factor de possível crescimento pessoal —, é «
deplorado », rejeitado como inútil, ou mesmo combatido como mal a evitar
sempre e por todos os modos. Quando não é possível superá-lo e a
perspectiva de um bem-estar, pelo menos futuro, se desvanece, parece então
que a vida perdeu todo o significado e cresce no homem a tentação de
reivindicar o direito à sua eliminação.Sempre no mesmo horizonte cultural, o
corpo deixa de ser visto como realidade tipicamente pessoal, sinal e lugar da
relação com os outros, com Deus e com o mundo. Fica reduzido à dimensão
puramente material: é um simples complexo de órgãos, funções e energias,
que há-de ser usado segundo critérios de mero prazer e eficiência.
Consequentemente, também a sexualidade fica despersonalizada e
instrumentalizada: em lugar de ser sinal, lugar e linguagem do amor, ou seja,
do dom de si e do acolhimento do outro na riqueza global da pessoa, torna-se
cada vez mais ocasião e instrumento de afirmação do próprio eu e de
satisfação egoísta dos próprios desejos e instintos. Deste modo se deforma e
falsifica o conteúdo original da sexualidade humana, e os seus dois
significados — unitivo e procriativo —, inerentes à própria natureza do acto
conjugal, acabam artificialmente separados: assim a união é atraiçoada e a
fecundidade fica sujeita ao arbítrio do homem e da mulher. A geração torna-se,
então, o « inimigo » a evitar no exercício da sexualidade: se aceite, é-o apenas
porque exprime o próprio desejo ou mesmo a determinação de ter o filho « a
todo o custo », e não já porque significa total acolhimento do outro e, por
conseguinte, abertura à riqueza de vida que o filho é portador.Na perspectiva
materialista até aqui descrita, as relações interpessoais experimentam um
grave empobrecimento. E os primeiros a sofrerem os danos são a mulher, a
criança, o enfermo ou atribulado, o idoso. O critério próprio da dignidade
pessoal — isto é, o do respeito, do altruísmo e do serviço — é substituído pelo
critério da eficiência, do funcional e da utilidade: o outro é apreciado não por
aquilo que « é », mas por aquilo que « tem, faz e rende ». É a supremacia do
mais forte sobre o mais fraco.24. É no íntimo da consciência moral que se
consuma o eclipse do sentido de Deus e do homem, com todas as suas
múltiplas e funestas consequências sobre a vida. Em questão está, antes de
mais, a consciência de cada pessoa, onde esta, na sua unicidade e
irrepetibilidade, se encontra a sós com Deus.18 Mas, em certo sentido, é posta
em questão também a « consciência moral » da sociedade: esta é, de algum
modo, responsável, não só porque tolera ou favorece comportamentos
contrários à vida, mas também porque alimenta a « cultura da morte »,
chegando a criar e consolidar verdadeiras e próprias « estruturas de pecado »
contra a vida. A consciência moral, tanto do indivíduo como da sociedade, está
hoje — devido também à influência invasora de muitos meios de comunicação
social —, exposta a um perigo gravíssimo e mortal: o perigo da confusão entre
o bem e o mal, precisamente no que se refere ao fundamental direito à vida.
Uma parte significativa da sociedade actual revela-se tristemente semelhante
àquela humanidade que Paulo descreve na Carta aos Romanos. É feita « de
homens que sufocam a verdade na injustiça » (1, 18): tendo renegado Deus e
julgando poder construir a cidade terrena sem Ele, « desvaneceram nos seus
pensamentos », pelo que « se obscureceu o seu insensato coração » (1, 21); «
considerando-se sábios, tornaram-se néscios » (1, 22), fizeram-se autores de
obras dignas de morte, e « não só as cometem, como também aprovam os que
as praticam » (1, 32). Quando a consciência, esse luminoso olhar da alma (cf.
Mt 6, 22-23), chama « bem ao mal e mal ao bem » (Is 5, 20), está já no
caminho da sua degeneração mais preocupante e da mais tenebrosa cegueira
moral.Mas todos esses condicionalismos e tentativas de impor silêncio não
conseguem sufocar a voz do Senhor, que ressoa na consciência de cada
homem: é sempre deste sacrário íntimo da consciência que pode recomeçar
um novo caminho de amor, de acolhimento e de serviço à vida humana...”
(JOÃO PAULO II, Evangelium vitae, texto retirado do site oficial do Vaticano).
- A palavra “eutanásia” é um composto de duas palavras gregas : “eu”,
que quer dizer bom e “tanatos”, que quer dizer morte. “Eutanásia” é, portanto,
etimologicamente, “boa morte”. Denomina-se “eutanásia” a interrupção da vida
por motivos piedosos, ou seja, a determinação da morte de alguém por estar
ela sofrendo, sem que haja condições naturais de cura, de restabelecimento da
saúde do doente.
- Com efeito, diz a Bíblia que a vida de cada homem lhe pertence ( I
Sm.2:6), até porque foi Ele quem criou o homem (Gn.1:26,27), sendo, pois,
validamente, o senhor da vida de todos os homens (Sl.24:1; Jo.10:17,18). O
homem é um simples mordomo dos dons divinos, entre os quais, o dom da
vida, devendo administrá-la e, depois, prestar contas do que recebeu do
Senhor (Hb.9:27). Assim, se o homem não é senhor da sua vida, não pode
determinar quando e como deve ela findar. Vemos, pois, que, diante desta
verdade bíblica, o raciocínio da eutanásia não faz sentido algum, pois não
temos direito algum de pôr a nossa vida ou de qualquer semelhante por
motivos de “piedade”, “misericórdia” ou qualquer outra razão aparentemente
benemérita.
OBS: Neste sentido, aliás, recente artigo de jornal, que aqui reproduzimos em
parte: “...Sob o ponto de vista da ética médica, Hipócrates, pai da Medicina,
deixou bem claro no juramento que até hoje é repetido na diplomação de
novos médicos, que considera a vida como um dom sagrado e veda ao médico
a pretensão de ser juiz da vida ou da morte de alguém, condenando tanto a
eutanásia como o aborto...” ( HB – um amigo. Eutanásia: morte piedosa ou
homicídio ? Jornal Taperá , Salto/SP, 13.07.2002, Caderno 2, p.4).
OBS: Mesmo esta inovação não foi recebida pelos defensores da eutanásia,
como se vê neste trecho do artigo do doutor em Direito, Diaulas Costa Ribeiro,
que se transcreve : “...A palavra eutanásia tem sido utilizada como a ação
médica que tem por finalidade abreviar a vida de uma pessoa. Para os casos
de omissão, instituiu-se no Brasil a palavra ortotanásia, inspirada em trabalho
do penalista português Jorge de Figueiredo Dias. Eutanásia seria, entre nós,
eutanásia ativa; ortotanásia, eutanásia passiva. Contudo, não há qualquer
justificativa científica para essa distinção terminológica, antiquadamente
adotada pelo anteprojeto da parte especial do Código Penal — ambas
previstas como desdobramentos do homicídio —, que propõe punir a primeira
com pena de 3 a 6 anos de reclusão. A segunda, rotulada como causa de não-
crime (exclusão da ilicitude ou da tipicidade?), não teria obviamente qualquer
punição. Ao usar essa dicotomia, não se percebeu que no sistema brasileiro a
ortotanásia não passaria de uma eutanásia comissiva por omissão, não se
justificando o tratamento diferenciado que se pretende implementar. O tipo
penal, se fosse o caso de punir essas condutas, deveria ser o mesmo. Isso
porque o que merece distinção não é a forma de execução — se morte por
ação ou omissão —, mas o consentimento ou não do paciente. Sobre o
consentimento, também é injustificável a proposta do anteprojeto ao aceitar, na
ortotanásia, a autorização dos parentes como exclusão da ilicitude, e não
reconhecer, na eutanásia, o consentimento do próprio titular da vida. No
resumo, se a vida é a mesma, os critérios não poderiam ser diferentes.Toda
essa conceitualização está, há muito, superada na discussão jurídica do
assunto. Modernamente, eutanásia é a morte de uma pessoa com grande
sofrimento decorrente de doença, sem perspectiva de melhora, produzida por
médico, com o consentimento dela. O consentimento do paciente exclui a
ilicitude dessa intervenção, o que consagra o princípio da vontade livre como
garantia suprema do exercício e renúncia a direitos fundamentais. Eutanásia
não é morte por piedade; é morte por vontade...” (Diaulas Costa RIBEIRO.
Diaulas.com.br/artigos/eutanásia).
Por detrás da idéia de que se pode abreviar a morte de alguém por “motivos
piedosos”, está a velha artimanha satânica de indução do homem a ser Deus.
É a mesma história contada a Eva no jardim, segundo a qual o homem poderia
ser igual a Deus, conhecendo o bem e o mal (Gn.3:5). A defesa da eutanásia
esconde um desejo do homem de ser senhor de sua vida, como se isto fosse
possível dentro da ordem estabelecida pelo verdadeiro Senhor dos Senhores, o
único e Soberano Deus. Portanto, todo e qualquer cristão verdadeiro,
cumpridor da Palavra de Deus, abominará a eutanásia, reconhecendo nela
mais uma manifestação de rebeldia contra a Divindade.