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FORMULAS DE TRATAMENTO NO PORTUGUES ARCAICO (SUBSIDIOS PARA © SEU ESTUDO) (1) PREFACIO Seja qual for a tipoca considerada, surpreender alg ‘mas palavras na sua fungto de farmulas de tratamento 6 uma tarefa de grande interesse. Penctra-se no ambiente social de uma toca e, na medida em que as palaoras 0 consentem, descobrem-se aspectos curiosos da sua vida intima. (Os periodos antigas nao so os menos atraentes ¢, ape- sar disso, as referincias a formulas de tratamento no portugués arcaico, qe chegaram ao mes conhecimento, st0 reves e redigidas, quase sempre, em termos vagos. Esfor- ceirme por ajudar a preencher essa lacuna. "Mesmo relativamente a outras épocas, nfo sio muitos ‘os trabathos que possuimos sobre firmutas de trata- mento (2). (1) Dissertaglo de Heeneiatara em Filologis Roma, apre- sentais’ 2 Faculdede de Letras da Universidade de Coimbra, em Ino dt rae os argon de Cd Bast de it A = net detonate os ee setts on epi ta i Pe ‘rata metal pel genta tras ig vena Ge St By Deve a lade 1 ret bles, Be, 38 aa 2 Marthna dos Santos Li Prestei mais atencio ao periodo final do portuguts arcaico, sem me deter, todavia, uo ano da publicarto da nossa prinicira gramdtica, 1536 (data que, um pouco ar traviamente, & costume indicarse para marcar 0 fim daguele periodo). Ultrapassei equele ano para ndo por fin ao panorama do tratamento no portugués arcaico de uma forma abrupta e numa data gue, sob o ponto de vista do tratamento, nada significa A literatura medieval portuguesa mio oferece muitos textos com as condirdes ideais para estudos desta natureza. ‘As formulas de tratamento deven procurar-se, preferen- feminte, em didlogos, ¢ «0s didlogos (...), na literatura portuguesa medieval ¢ quinkentisia, reprodusem por veses ‘com deliberada infidelidade o tratanento que teria a segunda pessoa na vida real» (palavras de Said Ali, no artigo citado). Também os didlogos da literatura contempord- nea nao espetham com absoluta nitides 0 tratamento actual, com todos os seus matises. Sendo assim, a «verdade lin- guistica» divorcia-se da «verdade historicay, mas nem por isso tem menos valor. Se, mum texto literdrio, um rei é tratado por tu por uma pessoa de classe social inferior d sua, 9 que mais importa, sob o ponto devista linguistico, fassina- lar que a tradigao latina ndo foi completamente esquecida, “Além de textos literdrios, analisei documentos de outra Textos de cortes foram-me particularmente tteis, ide quantidade de elementos sobre esplete porque forneceram gran: 0 tratamento dado ao rei fe, depols, em: A Line ‘embora muito rest Revista de Cultura, 0.9 129, setembro de 1 gue Portuguesa, vol. ¥, 1857), por reconstteit, ‘nidamente, a evolagie de algumas (ormalas Tlarrl'Mfeier oeupowse do arpecto sintéctico do nosso trata mento, em Dis Syntns der -Amrede im Fortugiesischen, separata Romanisehe Forschungen, Wl 63.12, 1951). ‘Lin 191%, fl apreneatada & Faculdade de Letras de Colmbra ‘oma dinsertagso de licenciatera, ainda Inédita, de Derinds F. R. ‘Auualacs, Firmulas de iratamento om ortugnis no séeulo 31%, onde fe encontram stein informagies sobre 0 tr asa — ‘irmulas de tratamento no portuguis arcaico 3 Tive, portanto, de aproveitar ¢ de coordenar material proveniente de fontes muito diversas De pragmiticas medicoais, nto consegui obter infor- magies. Resultaram ‘vis as tentations feitas nesse sentido, quer no Ministirio dos Negécios Estrangeiros, quer na Torre do Tombo, Na pragmétiea mais antiga de que tive conhecimento, a de D. Afonso 1V, nfo esta codifcado @ uso de férmulas de tratamento. Infeliemente (ou felis mente...) 08 nossos antepassades mais remotes preocupas am-se pouco com palavras de cortesia. Nosteulo XY, respira-se um ar diferente D. Afonso V tem 0 cuidado de distribuir as designarées de excelente, lustre, honrado, segundo os méritos de cada um. Um senor’ excelente era muito superior a uma pessoa hon- rada, As firmulas de cortesia ganham importancia, 0 que no quer diser gue, neste sCeulo, 0 tratamento esteja jd comprimido dentro de regras fixas. O que caracterisa 0 fratamento medicoal & justamente a sua mobilidade, as alterndncias bruscas,o$ saltos frequents de wma formula para outra Por jim, devo dirigir a expresso de um sincero reconhecimento a todas as pessoas que tiveram a generosi= dade de me ausiliar. Cumpre-me agradecer, em especial, ao Senhor Dou- tor Manuel de Paiva Boléo a orientagiio constante e solicita do meu trabalho, as numerosas indicarbes bibliogrdficas, assim como os valiosos consethos que permitiram elaborar esta muito modesta contribuigdo para o estudo de férmu= las arcaicas de tratamento, = 253 —

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