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UNESP - Universidade Estadual Paulista Instituto de Artes JOANA MARIZ ENTRE A EXPRESSAO E A TECNICA: A TERMINOLOGIA DO PROFESSOR DE CANTO - UM ESTUDO DE CASO EM PEDAGOGIA VOCAL DE CANTO ERUDITO E POPULAR NO EIXO RIO-SAO PAULO S&o Paulo, 2013 45 Ambos os métodos sao fundamentados no modelo fonte-filtro, mas isso ndo impede que a comparagao entre a terminologia de Estill e a de Sadolin aponte para a idiossincrasia terminolégica encontrada nos métodos de canto popular e cross- ‘over, em que cada fundador tende a rebatizar os efeitos e ajustes vocais do canto com novos termos, numa tendéncia parecida com a encontrada nos manuais de canto dos séculos XIX e primeira metade do XX. Aqui, porém, a questéo terminolégica surge com uma preocupagéo comercial muito mais evidente. A terminologia especialmente misteriosa de Sadolin demonstra 0 quanto a linguagem utilizada nestes métodos tem também a ver com o controle de poder sobre a informago e com a necessidade de cunhar novos produtos para abastecer o mercado vocal. 3.2. O papel da respiracéo Um dos desafios que os pesquisadores da voz cantada influenciados pelo modelo fonte-fitro encontram pela frente é o de explicar a importancia preponderante da respiragao na pedagogia vocal De acordo com 0 modelo, o papel do aparelho respirat6rio é simplesmente o de fomecer pressao aérea positiva nos pulmées, ou presséo subglotica, para dar inicio & fonagao. Existem duas principais maneiras de se atingir esse objetivo: na primeira, 0 sujeito pode reabastecer os pulmées de ar, aumentando assim o volume pulmonar e estabelecendo uma situagéo de pressdo expiratéria causada pelas forgas eldsticas de recolhimento do tecido pulmonar; na segunda, pode recrutar ativamente diferentes grupos musculares de natureza expiratoria, que comprimiréo 0s pulmées e conseqiientemente também gerarao pressdo positiva (SUNDBERG, 1987, p. 25, 32). A escolha da estratégia utilizada e dos grupos musculares envolvidos no estabelecimento do nivel de presso subglética adequado para o canto pode variar conforme 0 trecho cantado, o contexto musical, a técnica utilizada e as preferéncias estéticas e pessoais do cantor. 46 Segundo Sundberg, 0 grupo de musculos responsaveis pela geragao da presséo subglética néo é capaz de afetar o funcionamento das pregas vocais. Portanto, a escolha de misculos utilizados para geré-la nao deveria afetar a fonagao ou o som resultante, j4 que a maneira como as pregas vocais vibram ¢ inteiramente determinada pela ago da musculatura intrinseca da laringe (SUNDBERG, 1987, p. 25). Assim, néo se pode afirmar que exista apenas uma estratégia correta e universalmente adequada de utilizagaio da musculatura abdominal e respiratéria para © canto. Por outro lado, 0 nivel de presséo subglética influi diretamente na intensidade da voz e exerce também influéncia no controle da frequéncia de fonagao. Isto acontece porque a pressdo subglitica depende no somente do volume pulmonar, mas da forga adutéria (de fechamento) das pregas vocais, que pode conferir maior ou menor resisténcia® a passagem do ar, aumentando ou diminuindo a presséo, num mecanismo de funcionamento semelhante ao de uma valvula de escape regulavel Logo, embora a musculatura do aparelho respiratério néo possa atuar diretamente sobre a fonacdo, a influéncia mutua entre pressdo subglética e fonacéo leva o cantor a desenvolver estratégias musculares respiratorias que propiciem o maximo de controle sobre os niveis de fluxo de ar expirado e a pressdo (SUNDBERG, 1987, p. 38; HIXON, 1987, p. 333). Se devido ao volume pulmonar ou a forga expiratéria a pressdo estiver demasiado alta para possibilitar a emissdo da frequéncia e da intensidade sonora pretendidas para a voz, por exemplo, a tendéncia é que as pregas vocais reajam aumentando a forga adutoria, a fim de controlar a afinagdo e a dinamica. Porém, 0 aumento exagerado da aducéo causaria um impacto qualitative perceptivel na sonoridade resultante, que poderia ser indesejado ao resultado final do canto. LEANDERSON, SUNDBERG, VON EULER (1987) relatam que numa situagéo em que a pressdo subglotica ¢ mais alta do que seria o ideal para a fonagao pretendida devido ao excesso de compressdo pulmonar, os musculos inspiratorios (como o diafragma e os intercostais externos) podem ser recrutados. A aco inspiratoria destes musculos expande a caixa tordcica e oferece resisténcia a0 * Tambem chamada de resistencia ou impedancia glética,

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