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capitulo 1 O pragmatismo e seus criticos Assim como 0 protestansme feqientemente parece As mente papa uma mera bagunga de snarquls © confusd, sem divida da mesma rraneira 9 pragiratismo amide parscerd 3¢ ents uta raionaisas em fof, Wass Joes (777 prsgatiomo sug nes primers anos da década the 1870, quando im pequeno grupo de rapazes de \P canbridge, Massachisets, so eneontrava regular mente para convertar sobre lost. O grupo incl, entre futros, Willan James, Charles Sanders Pelrce, Oliver Werdell Holmes Jee Nickolas Saint Join Green, Essex homens charavam a si mesmo, meio desafiadora, meio itonicamente, 0 Cube Metafsoej8 que nes prime, anos de 1870 a metatsica era considerada fora de toda A defnigdo de erenga de Alexander Bain, segundo 4 qual tuna crenga ¢ “aquilo com base em que umm homer esta prepara para agi, era central em suas discusses, Quan- 4o easa deingdo €'aceta, Pence mals tarde lemrou, 0 pragmtismo segue quase imedatamente como st Teal tado natural Isso no signifi qu esses homens acredtassem que 6 pragmatismo era algo radicalnente novo, um método 1 WH, 86, SOUREPRAGMATISMO revolucionério nunca antes desceberto, Em vez disso, 0 pragmatismo cera a adogio sistematica e consciente de um método que 08 filésofos vem praticando desde a Antiguidade. Peirce ousadamente declarou que a novidade de uma idéia flos6fica ¢ um dos sinais mais certos de suafalsidade. E, para mostrar a nobreza de pedigree do pragmatistao, até Jesus ele chamou de pragmatista, lendo sua maxima “conhece-0s pelos seus frutos” como uma versio precoce da maxima prasyntica James buscou resumir o mesmo ponto quando pds, em seu famaso livro Pragmatismo, o subtitulo: “Um novo nome para algumas anti- ‘gas maneiras de pensar". O pragmatista britinico Ferdinand Schiller Via Protdgoras como o primeiro pragmatista, situando, com isso, 0 rnascimento do pragmatismo no séeulo ¥ a.C. Considerado amplamente, o pragmatismo deseriha uma conexio {intima entre teoria e pritiea, entre pensamento ¢ ago. Em sua in- lerpretagio mais estreita, sustentada de maneira proeminente por Peirce, 0 pragmatisimo € somente um critério de significacao, que estipula ser o significado de qualquer conceito nada mais do que a soma total de suas consequéneias préticas coneebiveis. Desse ponto de vista, conceitos que no tenham consequléncias praticas concebt- veis rio tém significado e, se as conseqdéncias praticas concebiveis de dois conceitos sio idénticas, ambos os conceitos sfo sinénimos, Em sua interpretagio mais ampla, que comecou com James, 0 ‘pragimatismo nao 6 somente uma teoria do significado, mas também, fe de maneira mais proeminente, uma teoria da verdade, Como 0s rmanuais de filosofla gostam de dizer, para o pragmatista uma coisa é verdadeira quando 6 vantajoso acreditar nela ‘A estreita ligagao entre significado e efeitos priticos niio est presente somente na obra de Peirce e James, mas também na dos outros membros do Clube Metafisico. Em um artigo de 1870 para & American Law Review, Nicholas Saint John Green argumenta que a responsabilidace legal nao deveria ser definida abstratamente era termos da distancia entre os alos dos individuos e seus efeitos (a outrina classica das causas remotas e préximas), mas em termos de se 0 individuo seria capaz de predizer que esses efeitos resultariam de seus atos. Na mesma linha, 0 juiz Oliver Wendell Holmes Jr. iden- tifica o significado de uma lei a como ela faz 0 juiz prescrever regras ‘em casos particulares 1.1 © pragmatism e a América © pragmatismo € frequentemente saudado como a contribuigio dda América para a filosofia mundial. A doutrina se originou nos Ks- tados Unidos da América e, diferentemente da filosofia norte-ameri- cana de antes, ¢ verdadeiramente uma escola americana de pensa- mento. Escolas anteriores, como os transcendentalistas da Nova Tn- ‘laterra, ou os hegelianos de Saint Louis, eram, na maior parte, ex- tensdes da filosofia européia, que os colonizadores trouxeram com eles e implantaram no Novo Mundo Que o pragmatismo tenha se originado nos Estados Unidos nao 6 fato sem importancia. Como Dewey angutamente observa, em Reconstruction in Philosophy, ‘a fungio distintiva, as problemas © assuntos da filosofia crescem de forgas ¢ tensées na comunidade de vida em que uma dada forma de filosofia surge” (MW 12, 256). As opiniées se dividem, entretanto, com relagdo a quais foram essas, forcas e tensdes. Sugesties incliem o punitanismo, a mentalidace pioneira dos colonos e a guerra civil. Em seu monumental A ética prolestante ¢ 0 expirito do capitalismo, Max Weber vé uma cone- xdo intima entre o calvinismo e o argumento da vontade de acreditar, de James, acrescentando que “a valoragdo pragmitica, por James, da significagdo das idéias religiosas de acordo com su influéncia sobre a vida ¢ [| uma verdadeira crianca do mundo de idéias do lar pu- ritano desse eminente académico™. Michael Novak, em American Philosophy and the Futuro, atvibui 0 corte distintivo do pragmatisma 8 mentalidade pioneira que encontrou seu caminho nos efreulos in- telectuais da. América Neste continente & primeira vista escuro, @ agora nas searas eset ras © deaeonhecidse do poder toenolégico, oa amerieance compre sentiram que nao pode haver regras criadas de antemdo, nenhum mundo acabado © a prior’ “ié fora" a operar como um padrio absoluto © seguro pelo qual medir a si mesmos’. Louis Menand, em The Metaphysical Club, enfatiza a infiuéncia da guerra civil americana (1861-65), que desacreditou radicalmente 2, Max Wiese, A dtica protesiante « 0 espirito do capitalism, New Yor 1968, 222; primwirs publica em 1904-5. ‘3, Nowax (New York, 1958), 87, Ver tambim Waldo Fha, Qu America, New ‘ork, 1919, 26-2, ‘Dproormati wap ein SOREPRAGMATIEMO as pressuposigdes e crencas basicas que definiam a vida intelectual antes dela’ 1.2 Criticos do pragm: Griticos do pragmatismo também adoram apontar que o pragma- tismo se originou nos Estados Unidos da América. Sua énfase nos “efeitos priticas” e no "valor em caixa’ [cash-walue] de nossas idéias tomon relativamente fitcil desconsiderar 0 pragmatismo como ura produto do capitalisino americano crasso e sua apologia®. O pragma- tismo € aqui visto como o reflexo de uma culture em que 0 valor de ‘uma pintura € deverminado, e quantificado precisamente, num lance de lelldo, © em que a grandeza de um filme ou producao teatral se iguala A sua arrecadagio. O que ndo gera beneficio material é sem sentido, Como diz Bertrand Russell, um dos primeiros ¢ declarados criticos do pragmatismo, inconscientemente confirmando a observa- ‘gio de Novak acerca da mentalidade pioneira do pragmatismo: “O pragmatismo apela ao temperamento mental que encontra na super ficie deste planeta o toda de seu material imaginativo; que se sente Contiante no progresso e descuidado das limitagdes nao-humanas a0 poder humano™! [Na visto de Russell, a perspectiva pragmatista & demasiado es~ treita. Ela rouba da vida “tudo que Ihe da valor, e [faz] 0 proprio homem menor, desprovendo de todo seu esplendor 6 universo que le contempla"?. O autor e eritico cultural brittinico G. K. Chesterton faz uma observacio semelhante, quando afirma: "o pragmatismo & assunto de necessidades humanas; ¢ uma das primeiras necessidacles hhumanas € ser algo mais do que um pragmatista” Sentimentos parecidos so expressos por Max Horkhelmer, ura membro da Escola de Frankfurt, que via no pragmatismo 0 triunfo dos meios sobre os fins, jf que 0 pragmatismo define todo fim com- pletarmente em termos dos meios pelos quais o atingir. O que nao pode ser praticamente alcangado deve ser inteiramente vazio. E a 4, Mosaxo (Mew York, 2001), x 5, Tal como Anti-Pragmatim, de Albert Sows: (Boston, 1909) 6. Bertrand Reset, Philosophical Essays, New York, 1963, 110; publicado crginakmente em Bduiurph Review (abt. 1919). "Bid GK. Ciemnon, Ordnoday, London, 198, 64 flosofia de uma sociedade que no tem tempo a gastar com a refle- xo ou a meditagdo, escreveu Horkheimer em 1947. Para o praginatista, afirma Horkhelmer, somente slo significativas as idéias que produzem “respostas concretas a questdes concretas, tis como ‘postas pelos interesses dos individuos, dos grupos ou da comunida. do”; todas as outtras idéias no sA0 produtivas, sho sem sentido e urna perda de tempo’. Essas criticas continunm ainda hoje, O bioeticista americano Leon Krass recentemente desqualificou 0 pragiuatiseno como um avanco impensado na diregao de qualquer coisa que sieva a expediéncia' John Dewey ridiculariza essas comparagoes apressadas e ficeis do pragmatismo com certos tragos pereebidos de povo american, afirmando que esse tipo de critica 6 da ordem da interpretagdo que diria que o neo-realismo inglés 6 um reflexo da arrogancia aristocrética esnabe dos ingleses; a tendéncia do persamento francés ao dualismo, uma expresso de uma alegada disposigao galica para ter uma amante e uma mulher ao mesmo tempo (MW 13, 307). ‘Ao mesmo tempo, Dewey reeonheceu que o pragmatism, como qualquer empreendimento intelectual, é de maneiras importantes um reflexo do ambiente social e cultural do qual surgiu, Mas, desse ponto, ainda hé um longo caminko & alegagao de que o pragmatismo é ‘meramente “uma aquiescéncia formulada nos tragos imedistamento predominantes de seu dia” (LW 8, 147). Numa eritica a “The Attack fon Western Morality” [0 alaque & moralidade ocidentall, de Julien Benda, Dewey foi direto 20 contra-ataque: 0 absolutismo, nao o pragmatismo, que racionaliza 0 sucesso Go statu quo, identificando 0 real com o racional e a existéncia ‘com o real. £ ainda 0 absolutismo, € nao o pragmatismo, que faz sucesso ao fazer de um resultado particularmente inventado seu objetivo ultimo © supersantificado ao prego de quaisquer meios aw 15, 25). 9. Max Hower, Botipes of Reason, New York, 1974, 60. 10, Leon Kass, Toward a More Natural Setence, New York, 198, 98. Para tna viedo mais muangada ver Glenn MeGHe, Th Poroct Bay pragmatic approach to genetics, Lanharn, 1977, Pragmatic Biowthics, Nastvile, 1999, ed, McGee. i z

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