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Titulo original em inglés: A philosophical enquity Into the org of cur ideas of tha ‘sublime and the beaut Tradugdio: Enid Abrou Dobrérszky Foto de capa: Renato Testa (Francesco Guard, Ruinas, deta) ‘Composi¢ao e capa: Papinus Esitora Equipe Editorial (Coordenagao: Vanderlei Rotta Gomide Copidesque: Margareth Siva de Olvera Dados Internacionas de Catalogs (Clara Brasileira do Liv a Pabliagto (CIP) SP, Brasil) Burke, Edmund 1729-1797. Unaiavestgisio ilossficasobrea origem de aossasidtiasdo sublime edo belo. / Edmund Burke; tadusio, apresentaio, nota: [Enid Abreu Dobrinscky. — Campinas, SP: Papivas :Eitora 4a Universidade de Campinas, 1993, 1. Eaten - Obras anteriores a 1800 2. Sublime 1 Tle ss2r13 cp-111-85 facices para caslogo sistemitico: 1. Bates: Filosofia 11185 ISBN 85-308-0241-1 DIREITOS RESERVADOS PARA LINGUA PORTUGUESA: Eaitora da Universidade Estadual de Campinas Unicamp Reitor- Catios Vogt CCoordienador Geral dla Universidade: José Martin Filho Conselho Edltoriat Aécio Perera Chagas, Alredo Miguel Ozorio de Almeida, Anto- io Carlos Bannwart, César Francisco Ciaceo (Presidente), Eduardo Guimaries, Hermégenes de Freitas Leitio Fo, Jayme Antunes Maciel init, Lulz Ceca Nat- {ques Filho, Geraldo Severo de Souza Ala, Diretor Exccutivo: Eduardo Guimaras Editora da Unicamp ua Cecio Feltin, 253 Cidade Universtivia ~ Bardo Geraldo (CEP 12084-1 10 - Campinas ~ SP ~ Brasil Tol. (0182) 33 3720 ~ Fax (0182) 39 3157 ©M.R. Coracchia & Cia. Lida, BE Rea a Filial - Fone: (011) 510-2877 - Sip Plo = Brasil PAPIRUS Proibida a reprodugio total ou parcial por qualquer melo de impressdo, em forma inca, resumida ou medificads, em lingua portuguesa ou qualquer oto idioms SECAOT Novidade A curiosidade ¢ a primeira e mais elementar emogio que encon- {ramos no espirito humano. Por curiosidade entendo qualquer dese- jo nosso pela novidade ou qualquer prazer dela obtido, Vemos criangas incessantemente correndo de um lugar a outroem busca de algo novo; elas agartam com grande avidez.e indistingdo tudo que Gem; qualquer objeto Ihes chama a atencio, pois, nesse estégio.da vida, tudo tem o encanto da novidade, que o torna atraente. Porém, como aquelas coisas que nos atraem apenas por sua novidade nio podem prender nossa atengio por muito tempo, a curiosidade é, de todos os sentimentos, o mais superficial; ela passa sem cesar de um objeto para outro, tem um apelitebestante aud, mas muito facil mente satisfeito, e sempre uma aparéncia de aturdimento, ing de e ansiedade. A curiosidade ¢, por sua propria natureza, um principio bastante ativo; ela examina rapidamente a maioria de seus objetos e logo esgota a variedade que comumente se encontra na natureza; as mesmas coisas freqientemente reaparecem e retornam com um efeito cada vez menos agradavel, Em suma, os eventos da vida, quando chegamos a deles ter um certo conhecimento, seriam incapazes de afetar o espirito mediante quaisquer outras sensagbes, exceto as de aversao e tédio, se muitas coisas nao tivessem a virtude de impressioné-lo por meio de outros poderes além da novidade e ‘outras paixdes que ndo nossa curiosidade. Esses poderes e paixes deverio ser oportunamente objetos de reflexdo. Contudo, sejam a1 forem elas ousob que principio afetem o espirito, elas necessa- rlamente jamais se exercem naquelas coisas que um uso habitual e comum tenha investido de uma fami ie corriqueira e indife- rente. Dentre os componentes de todo instrumento que age sobre 0 espirito deve haver um certo grau de novidade, ea curiosidade esté mesclada, em maior ou menor quantidade, com todas as nossas qu SEGAO II Dor é prazer Parece, pois, necessério para mover as paixdes em um grau considerdvel em pessoas de uma certa idade que os objetos destina- dos a esse objetivo, além de terem algum grau de novidade, sejam capazes de incitardor ou prazer por outros motivos. Dor e prazer sio idéias simples, nao passiveis de definigao'. E improvavel que as [pessoas se enganem quanto aos seus sentimentos, mas muitas vezes se equivocam quanto aos nomes que Ihes dao e quanto aos seus raciocinios sobre eles, Segundo muitos, a dor nasce invariavelmente da eliminagio do prazer, assim como julgam que a origem do prazer esté na cessacéo ou diminuigdo de uma dor. De minha parte, estou antes inclinado a crer que o efeito mais elementar e natural da dor e do prazer tem um cardter positivo, e que eles ndo devem necessaria- mente sua existéncia a uma dependéncia métua. O espirito humano, muitas vezes, e creio que na sua maioria, nao est do sou levado dessa disposigio de espirito para a de prazer real, ndo parece inevitavel que passe por alguma espécie de dor intermediéria. Se em tal estado de indiferenca, sossego ou tranqiiilidade, seja qual for a denominagio que se prefira, fosscis subitamente entretido por ‘uma pega musical, ou suponde que um objeto de forma bela e cores brilhantes e vivas vos fosse apresentado, ou imaginai que vosso olfato fosse gratificado com a fragrancia de uma rosa, ou se, sem sentir sede, tivésseis de beber um tipo saboroso de vinho, ou provar tum doce sem estar com fome: em todos os diferentes sentidos, da audigio, do olfato e do paladar, sem davida alguma experimenta- rieis prazer; entretanto, se eu perguntar sobre o estado anterior de vosso espirito, dificilmente me direis que esses prazeres vos encon- traram em um estado de dor, ou, tendo infundido nesses sentidos diferentes prazeres, direis que sobreveio alguma dor, embora 0 pra- 2 zer tenha cessado completamente. Suponde, por outro lado, que um homem no mencionado estado de indiferenca sofra um golpe violen- to, ou que beba uma pogio amanga, ou que seus ouvidos sejam feridos por um som dspero e rangente: aqui néo hi eliminagéo do prazer e, no entanto, sente-se em cada sentido atingido uma dor bastante perceptivel. Pode-se argumentar, talvez, que a dor, nesses casos, nasceu da cessagio do prazer de que ele gozava anteriormen- te, embora o seu grau fosse tio pequeno que somente quando elimi- nado se tornasse perceptivel. Mas isso me parece ser uma sutileza {que nao encontra respaldo na natureza. Pois, se anteriormente a dor rio sinto nenhum prazer real, no tenho motivo algum para julgar que tal coisa exista, uma vez que o prazer somente € prazer quando sentido. Pode-se dizer 0 mesmo quanto 4 dor e por razio idéntica. Nada pode me convencer de que o prazer e a dor sejam apenas relativos, que podem existir apenas quando contrastados; pelo con- trétio, julgo poder discernir claramente que ha © prazeres positivos, absolutamente indedependentes uns dos outros. Nada é mais evidente do que isso. Nao hi nada que eu possa distinguir com maior clareza em meu espfrito do que os trés estados: de indiferenca, de prazer e de dor. Posso perceber cada um deles sem qualquer idéia de sua relagio com alguma outra coisa. Caio sofre um ataque de célica: esse homem realmente sente dor, estendei-o em uma grade de tortura e ele sentiré uma dor ainda maior, mas teré esta Gltima dor nascido da eliminagio de algum prazer? Ou seré o ataque de célica um prazer ou uma dor, dependendo de como nos aprouver consideré-lo? SECAO IIL A diferenga entre a cessagao da dor 0 prazer positive Levaremos essa afirmagio um pouco mais longe ainda. Ousare- ‘mos avangar que a existéncia da dor e do prazer ndo apenas inde- pende de sua respectiva fo ou eliminagio, mas que, na verdade, a diminuigao ow cessagio do prazer nao atua como a dor positiva e que oefeito da eliminagao ou diminuigao da dor tem muito pouca semelhanga com o prazer positivo”. A primeira dessas afirma- Or, Laske (Enssio aarow do enlerimento umaro, 12.¢20. sogio 16) julga que a ‘liminagio ou atenuagio de uma dor € cgnsiderada um prazer,atua como lala perda ou moderaeiOds dor goa prazer Festa aliemagso que examinamos aqui B

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