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141 A importancia da lingua grega Nilsa Aredn-Garcia Resumo: This article explains the history of the Greek language, showing its influences, the geography of Greece that changed several times, many years ago, because the wars. The importance of the Greek language during the last centuries for other languages, like the Turkish Ottomans. Palavras-chave: Hist6ria da Grécia e da lingua grega, influéncias da lingua gre- ga, geografia da Grécia antiga; A lingua grega faz parte da familia das linguas indo-européias, ainda que em seu léxico haja empréstimos que notadamente nao sejam do indo-europeu. Pode-se seguir 0 desenvolvimento da lingua grega durante um longo perfodo: desde os primeiros tragos em sua época micénica até o grego moderno, o que fornece um percurso de mais de trés mil anos de uma histéria politica e cultu- ral, nos quais se manteve uma lingua viva, que se desenvolveu até os dias de hoje, e ainda segue sua jornada de desenvolvimento. De acordo com Bucx (1952: 15-16), os primeiros gregos chegaram a penin- sula helénica pelo norte, por volta de 2.000 a.C. e ld se estabeleceram, bem como em suas ilhas. Entretanto, dos povos anteriores, conhecidos pelo nome de pelasgos, pouco se sabe, ainda que seus falares devam ter influenciado tragos do Nilsa Aredn-Garcia é doutoranda em Filologia Romanica, FFLCH-USP, sob orientagao do Prof. Dr. Mario Eduardo Viaro. Organon, Porto Alegre, n® 44/45, janeiro-dezembro, 2008, p. 141-149 42 Nilsa Aredn-Garcia o da Peninsula Balcnica, os povos que mais situavam-se ao norte desta, onde tiveram contato com varias linguas indo-européias. Porém, também depois da ocupa- ao do territério, limitou-se 0 contato com povos de linguas similares € de fron- teira, ilfrios e tracios, que segundo Hgropoto (5,351) apud Buck (1952: 16), era © maior povo estendendo-se desde o mar Tracio até as vertentes meridionais dos Cérpatos e dali emigraram atéa Asia Menor dominando também sua cos- ta, conforme 0 ilustrado no Mapa 1.1. Acredita-se que mais intensa tenha sido a influéncia dos povos que pertenci am ao grupo hitito-luvita do indo-europeu na formagao da lingua grega, pois na Asia Menor, com os avancos da coloniza- ao “grega” houve um contato cada ve7 maior com 0s lidios, cérios, licios, cilicios e paflagées, todos pertencentes a0 grupo lingiifstico anatélico ou hitito-luvita, conforme HoFrMaNn, DepRUNNER & SCHERER (1986: 32-35). Escritas em grego estao as tébuas micénicas dos séculos XV a XII a.C., feitas em argila, que documentam os arquivos de palacios mindico-micénicos como © Cnossos e que detém grande interesse de lingllistas ¢ historiadores. Segundo Menter (1930: 16-51), no século VIII a.C, introduziu-se e adotou-se 0 alfabeto a come¢ou com os poemas de origem fenicia. Na mesma época, a literatura greg atribuidos a Homero, que foi um grande marco, nao somente grego, como da literatura ocidental coma Tliada ea Odisséia. Desde entao, as formas de expres- sao na cultura grega foram sendo definidas: a épica, a lirica, a prosa historiografica, a oratéria, a filosofia e os tratados cientificos, 0 teatro, especial- mente as formas classicas: tragédia e comédia. Entretanto, a lingua grega usada na escrita é complexa, pois houve uma grande variedade dialetal depois que os gregos se estabeleceram na peninsula balcanica € confirmaram a separagao de sua lingua das demais indo-européias. Con forme Pisani (1954: 4-8), podem ser distinguidos quatro grandes grupos dialetais do grego: jnico-Atico, edlio, arcAdio-chipriota e dérico que engloba também o grego do noroeste. Os trés primeiros sao geralmente agrupados na categoria chamada grego aqueu. O jonico era falado na Asia Menor, nas ilhas Cicladas e na ilha Eubéia; 0 atico na ‘cticas o e6lio na Tessélia, Bedcia, na ilha de Lesbos € no litoral da Asia Menor; 0 chipriota na ilha de areddio na Arcadia e em algumas regides do Peloponesos 0 Chipre; 0 dérico na maior parte do Peloponeso, nas ilhas colonizadas pelos dérios: Creta, Rodes, Cés, Terd e outras, bem como em muitas regides do Sul da Ttalia, ou Magna Grécia, e na Sicilia; o grego do noroesté &8 falado na regio ais proxima ao mar Adridtico, no Epicuro € zones proximas. Para Menuet (1930: 73-109), 0 que é chamado de grego clissico 6, em geral, o grego Atico dos séculos V ¢ IV a.C., ou seja, 0 que se usava em ‘Atenas da época de Péricles, de Platao e dos oradores e dramaturgos. A variante atica teve um predominio so- bre as demais devido ao papel exercido por Atenas na cultura helénica, como a cidade da democracia, do teatro € da filosofia, durante a sua hegemonia politi- ie 7 lonizaram as diversas zonas helénicas, mostrada no Mapa D2. sae ambém houve a utilizagao das variantes de acordo comas canons 80s lite fries ate impuseram aos varios géneros uma ou outra forma. Por ioe : 7 loera da Be6cia, mas compés os seus poemas em j6nico. dat. ae cia, compés suas odes em dérico. Apesar das diferencas dialetai ; angi rege pectin tela eaitre uns ¢ outros grégos¢mes, os.dialetos siarm depend cms etena dossn dgiego mo imbtosomeci ae peti e de expansio do Império. Essa lingua comum gre; : oie A ies im avin a eae sobre o dtico, mas com caracteristicas ao , se consolidou como uma li teenies, ima lingua franca, de acordo com Pisani Sabe-se que is eek aie maiAnd idade houve um periodo de auge helenistico com a be eee are ‘a helénica e da koiné grega como lingua franca, em tod ened em io nas costas mediterraneas, conforme o Mapa 1.3: i nort ia c < : Be le Set et eo (como lingua oficial) e no Oriente Médio até as fronteiras da tn one aa de conquistas e colonizagées, promovidas em sua exandre, o Grande, no final do sé isla , > inal do século IV a.C. e administra- irae Sepois, Por seus sucessores. A criagao da biblioteca de ‘Alexandria spre cemia'ts grande influéncia exercida pela cultura dos con ite. pao aque 01 Império Alexandrino tenha sido fragmentado, a influéncta i ee 7 igus manteve-se por muito tempo nessas regides e s ior das conquistas de Al Hos qi le Alexandre, 0 Grande. ite notar, que durante a colonizacat : ' i lonizagdo romana no Ori édi ee a no Oriente M 9 be tana vel raneceut ainda como lingua franca, identificando seu poder ean simniasac ; povos que ali habitavam, j4 que, segundo Basserro (2001, 89) i: Pn batinisgas foi bastante superficial” Assim se explica que os li ‘i judaicos tenham sido escrit i five sagrados los em aramaico e hebraico, en Rover semen (evangelhos, cartas dos apéstolos e apocalipse). eas p . ae tenha sido escrito na koiné grega, e nao em latim. Dessa fi maa ome ns 0 do cristianismo, juntamente com a expansao do Império Roman . a die i a Mapa 1.4, principalmente apdés Constantino, eit oo ea iede Sermog do grego com o uso da biblia mesmo depois de 1 . Esses termos gregos foram manti j f : anes vet ae be por meio do latim clesissticn ena ele Tpeha Ce oiné gre; q Perens 8 meee também era a lingua que os fildsofos, mercadores e governante: aati izavam durante o Império Romano. Mesmo os romanos e: : aie i n na zona oriental do Império. Em Roma, estudava-se 0 gre; Gag nena sci pois era a lingua da filosofia e ciéncia. E curioso notar queo fnigeiads agian Marco Aurélio escreveu os seus Soliléquios em ress cis gua de grande prestigio, mesmo no Império Romano do Ocidente, Organon, Porto Alegre, n? 44/45, janeiro-denembro, 2008, p. 41-149 144 Nilsa Areén-Garcfa Entretanto, nao s6 a religido ea fraca latinizagao do Oriente foram os res- ponsaveis pela importancia da cultura grega- Os mais diversos fatores, como por exemplo, que muitos dos escravos feitos pelos romanos eram helénicos altos, ajudaram nessa disseminagao de termos gr B08 no latim. A cultura gre- im todos os campos da civilizagéo de Roma: na poesia, mitologia, ga aparece el ot t6ria, escultura e arquitetura. Na filosofia roman’ também houve grande das escolas filos6ficas influéncia das idéias filoséficas gregas, com discipulos gregas: cinicos, epicuristas, est6icos, pitagoricos, platonicos. Os romanos mais javam a Grécia para se educar, ou tinham professores destacados sempre via} gregos, como também, estudavam as artes helénicas continuando-as em ver~ gramatical € sintatica soes latinas. A propria lingua Jatina possui uma estrutura muito similar 4 grega. Entao, de certa forma, 0s romanos souberam absorver € adaptar grande parte da cultura helénica na formacao de seu Império, por isso © termo greco-latino, relativo & cultura. Apesar de nao se usar o mesmo termo em relacao a lingua, houve também um determinado grau de absorgao e adap- tacdo do grego no jatim. Desde que Constantino mudou a capital do Império Romano para Constantinopla, em 330, até a conquista desta pelos turcos-otomanos em 1453, ‘co e cultural helénico passou a ser essa capital. Depois 0 centro do poder politi de Teodésio, quando deixou de ser 0 centro de todo o Império Romano coma dfvisto (como esta ilustrado no Mapa 1.5), pata ser 0 cent do Império Orien- tal.a cidade de Constantino, Constantinop]a, Bizancio ou Istambul, continuow a exercer grande influéncia helénica na regiso. ‘Ainda depois da queda de Roma 4 ilustrado no Mapa 1.6), e do Império Romano do Ocidente em 476 (como esti o Império do Oriente ainda perdurou por quase mil anos, mesmo que suas fronteiras tenham sido reduzidas, suas relagdes com 0 mundo ocidental tenham sido dificultadas e a Igreja Catdlica, uma das fontes de irradiac’o do gtego, tenha sido dividida em Romana ¢ Ortodoxa. "Tamabém o Império Arabe foi transmissor de parte do legado helénico, por meio de suas vers6es nos livros de medicina, astronomia, geometria, algebra, Giancias, e mesmo em meio 4 sa expansio com & “Guerra Santa’, ainda que com menores proporgoes foi mantido o Império Bizantino, conforme mostra- do no Mapa 1.7. Contudo, 0 grego foi praticamente esquecido no Ocidente durante a Idade Média e s6 retomado no Renascimento, apds @ tomada de Constantinopla pelos turcos-otomanos. Constantinopla, em 1204, foi alvo das Cruzadas, organizadas inicialmente para combater a“Guerra Santa” dos islamicos, mas ainda continuou como cen- tro de uma civilizagao que conservava & tradigao e, principalmente, 0s textos “ide Clissica. Ap6s a queda de Constantinopla, tomada pelos gregos da Anti turcos, estes textos chegaram a0 Ocidente e produziram como fruto 0 Ve XV d.C., devido as tradugoes € Renascimento. Na Europa dos séculos XT estudos dos textos gregos da Antigiiidade Classica, sobretudo na Peninsula Ttdlica, nasceu o movimento Humanista Renascentista, a partir dos manuscri- Organon, Porto Alegre, n* 44/45, janeiro-dezembro, 2008, p. 141-149 Aimportincia da lingua grega 145 tos levados pelos sabio: i s que fugiram de Bizanci Batata Vv 5 cio com a Ocupa¢ao turco- ae into, durante muitos séculos o Ocidente ignorou ° we nant bo sant se manteve como lingua do mundo bizantino. ee es epois que o: ico e. Daal ai ve pera ° es politico e instauraram sua lingua ; , 0 Mapa 1.8, os i Nae zs P , OS gregos continuaram faland Js gus ee a aa a antiga Hélade. Somente no século XIX, 0 fego oficial de uma nova naga i ’ eee u \gdo, a nova Grécia. O nov Be nee eae uma pane da koiné que perdurou e tamben se rante o perfodo de lingua i io ht OnE gua franca do Império Alexandrino e do Assim, o Humanis! F mo recuperou no Ocidente éni ernie J uno | acultura helénica qu i- neu na cor pelo saber, nas Universidades e na base para a ‘ecinl eas Sitiniod solos Nesse afa de estudar o panorama do grego come aah og ei i é a - ona eeia Classica, com ensino da lingua grega em Cnhbede gesikncs seal aaa eee jausdun soe através do latim, e teclsrando-c y EZ-Emre (2003), € imprescil : i > indivel con! cone e o culturais e atuais das linguas caine or egundo E i i 7 =: egundo] ri ane 14),a influéncia do grego veiculado pelo latim foi muito pieevebite ee lo humanista e desde entao continua até os dias de hoj ortancia na formacao lexical “ a i ‘sendo porvent masta i in i porventura a lingua - gu ee as romanicas a que maior rendimento tirou e continua Mire dest gotavel manancial que sao as linguas classicas.” apres dese Bibliografia BASSET’ TO, Bruno F. Elementos de filologia roménica. $40 Paulo: Edusp, 2001 BUCK, Carl Darling. Ce i k g. Comparati i is Unive Chitags ore pee 've grammar of Greek and Latin. Chicago: The HOFMANN, , O.s DEBRUNNER, A. & SCHERER, A. Historia de la lengua griega.( titulo original: Geschichte d iechi: 7 ler griechi - Sanchez Pacheco). Madris mae ee LOPEZ- i j EIRE, Antonio. Una ejemplar historia de la lengua: la historia de la lengua griega. In: La lan; . In: 2 gre es Grecque, 2003. 101 loc grecque et son histoire. Atenas: Centre de la Langue EILLET, A.. Apergu d’une histoire de la langue grecque, Paris: Hachette, 1930. . Paris: e, 1930. PIEL, J.M. Estudos de Lingiiisti istéric oJ, istica Histé1 is LIM eae angie 2 istérica Galego-Portuguesa. Lisboa: Impren- PISANI, Vittore. Breve histori 1 . B joria de la lengua griega. Montevideo: Fa Humanidades y Ciencias — Universidad de la aia wee ea Organon, Porto Alegre, n¢ 44/45, janeiro-dezembro, 2008, p. 141-149

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