Você está na página 1de 10

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA

2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Processo Nº. : 0016846-85.2010.8.05.0274


Classe : RECURSO INOMINADO
Recorrente(s) : LUCAS LOPES MENEZES
:
Recorrido(s) : TNL PCS
:
Origem : 1ª VARA DO SISTEMA DOS JUIZADOS- VIT. DA
CONQUISTA
Relatora Juíza : MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE

EMENTA

RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. BANCO.


NEGATIVAÇÃO. COBRANÇA INDEVIDA. AUSÊNCIA DE
CONTRATAÇÃO. TELAS SISTÊMICAS DE PRODUÇÃO
UNILATERAL QUE NÃO PODEM SER CONSIDERADAS
COMO MEIO EFETIVO DE PROVA. AUTOR QUE JUNTA
CERTIDÃO COMPROBATÓRIA DA NEGATIVAÇÃO.
DANOS MORAIS EXISTENTES. SENTENÇA
REFORMADA.

ACÓRDÃO
Acordam os Senhores Juízes da 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais
Cíveis e Criminais do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, MARIA AUXILIADORA
SOBRAL LEITE - Relatora, CÉLIA MARIA CARDOZO DOS REIS QUEIROZ -
Presidente, LEÔNIDES BISPO DOS SANTOS SILVA, em proferir a seguinte decisão:
RECURSO CONHECIDO E PROVIDO . UNÂNIME, de acordo com a ata do julgamento.
Sem custas e honorários advocatícios, por ser a parte beneficiária da justiça gratuita.

Salvador, Sala das Sessões, 24 de Setembro de 2015.


PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA
2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

BELA. MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE


Juíza Relatora
BELA. CÉLIA MARIA CARDOZO DOS REIS QUEIROZ
Juíza Presidente
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA
2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Processo Nº. : 0016846-85.2010.8.05.0274


Classe : RECURSO INOMINADO
Recorrente(s) : LUCAS LOPES MENEZES
:
Recorrido(s) : TNL PCS
:
Origem : 1ª VARA DO SISTEMA DOS JUIZADOS- VIT. DA
CONQUISTA
Relatora Juíza : MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE

EMENTA

RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. BANCO.


NEGATIVAÇÃO. COBRANÇA INDEVIDA. AUSÊNCIA DE
CONTRATAÇÃO. TELAS SISTÊMICAS DE PRODUÇÃO
UNILATERAL QUE NÃO PODEM SER CONSIDERADAS
COMO MEIO EFETIVO DE PROVA. AUTOR QUE JUNTA
CERTIDÃO COMPROBATÓRIA DA NEGATIVAÇÃO.
DANOS MORAIS EXISTENTES. SENTENÇA
REFORMADA.

RELATÓRIO

Dispensado o relatório nos termos da Lei n.º 9.099/95.


Circunscrevendo a lide e a discussão recursal para efeito de registro,
saliento que o Recorrente LUCAS LOPES MENEZES, pretende a reforma da sentença

3
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA
2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

lançada nos autos que julgou improcedentes os pedidos formulados pela exordial, nestes
termos:: “Ante o exposto, e considerando tudo que dos autos consta, JULGO
IMPROCEDENTES os pedidos do autor, porque não comprovado o fato constitutivo do
direito alegado na inicial (art. 333, I, CPC), com fulcro no artigo 269, inciso I, do
Código de Processo Civil. Julgo improcedente, também, o pedido contraposto, tendo em
vista que Requerida não comprovou que enviou notificações ao Requerente, informando sobre o
débito.”

Em suas razões recursais, o autor recorrente pugna pela reforma da


sentença, aduzindo que: “o recorrente, em sua manifestação, impugnou os fatos
noticiados pela acionada, sobretudo porque a linha a qual ela fazia referência havia sido
cancelada, sem qualquer débito, no ano de 2007, tanto que a TNL nunca havia, durante
todos esses anos, enviado qualquer cobrança ao demandante, sequer tendo efetuado uma
ligação, o que de praxe é feito pela demandada e por todas as empresas de telefonia do
país. Além disso, impugnou, também, os documentos, na medida em que se tratavam de meras telas
do próprio sistema da TNL, sendo, por conta disso, inservível como meio de prova.”

Em contrarrazões, a recorrida pugna pela manutenção da sentença.


Os autos foram distribuídos à 2ª Turma Recursal, cabendo-me a função de
Relatora.
Presentes as condições de admissibilidade do recurso, conheço-o,
apresentando voto com a fundamentação aqui expressa, que submeto aos demais
membros desta Egrégia Turma.

VOTO

Sem preliminares, passo ao exame do mérito.

4
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA
2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Trata-se de ação na qual o autor alega que teve seus dados pessoais

incluidos pela ré indevidamente nos cadastros de proteção ao crédito, referente à dívida

to que alega desconhecer, no valor de R$ 220,04 ( duzentos e vinte reais e quatro

centavos ) relativo a contrato supostamente firmado com a empresa demandada. .

Requereu indenização por danos morais oriundos da indevida inclusão. A demandada, por

outro lado, sustenta que agiu no exercício regular de um direito, cobrando dívida

regularmente constituída.

A sentença merece reforma.

O exame dos autos evidencia que a empresa recorrente deixou de trazer


elementos probatórios que refutassem as alegações da parte autora, não apresentando
elementos que legitimassem a cobrança da dívida em comento. Tendo a parte autora
alegado desconhecer ter pactuado o contrato em tela, incumbia àparte ré trazer aos autos
prova suficiente da contratação, através de documentos que a comprovassem. Nestes
termos vem decidindo a jurisprudência pátria:

AÇÃO INDENIZATÓRIA. BANCO. INSCRIÇÃO DO NOME DO


AUTOR NOS SERVIÇOS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO QUE SE
AFIGURA INDEVIDA. DÉBITO NÃO RECONHECIDO. AUSÊNCIA
DE PROVA DO BANCO ACERCA DA CONTRATAÇÃO. DANO
MORAL CONFIGURADO. SENTENÇA REFORMADA. RECURSO
PROVIDO. (Recurso Cível Nº 71005328604, Terceira Turma
Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Cleber Augusto Tonial,
Julgado em 12/03/2015).

5
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA
2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Ao revés, a alegação da parte autora, de que desconhece a origem da


dívida que vinha sendo cobrada, é dotada de verossimilhança, e não fora impugnada por
elementos probatórios idôneos.

Assim, caberia à empresa trazer aos autos elementos que indicassem a


efetiva contratação , em documento idôneo que contivesse a assinatura da parte
demandada, , o que justificaria a cobrança em tela e a inscrição do nome da autora nos
cadastros de proteção ao crédito.
.. Mas se assim não o fez, precluída esta a oportunidade, restando-lhe
suportar o ônus da sua inabilidade processual. Vale aduizir que a parte autora alega que
não possuia qualquer contrato com a demandada desde 2007, quando solicitara o
encerramento da linha que mantinha, portanto desconhece a origem da dívida cuja
inclusão se dera em 2010. A juntada pela empresa demandada de telas de seus sistemas
internosa de per si, não comprova a regularidade da contratação existente e nem torna
legítima a cobrança, haja vista se tratar de prova unilateral. Nesse sentido vem decidindo
a jurisprudência:

RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA


DE DÉBITO CUMULADA COM INDENIZATÓRIA POR DANOS MORAIS. INSCRIÇÃO
INDEVIDA. AUSÊNCIA DE PROVA DA CONTRATAÇÃO. RÉ QUE SE LIMITA A
APRESENTAR TELAS UNILATERAIS DO SEU SISTEMA. INVERSÃO DO ÔNUS DA
PROVA. DESCONSTITUIÇÃO DO DÉBITO. DANO MORAL IN RE IPSA. QUANTUM
FIXADO EM R$ 7.000,00. SENTENÇA REFORMADA. RECURSO PROVIDO. (TJ-RS -
Recurso Cível: 71004927042 RS , Relator: Roberto José Ludwig, Data de Julgamento:
01/08/2014, Quarta Turma Recursal Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia
04/08/2014)

RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. TELEFONIA. AÇÃO DE


DESCONSTITUIÇÃO DE DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
COBRANÇAS INDEVIDAS POR SERVIÇO SUPOSTAMENTE CONTRATADO.
AUSÊNCIA DE PROVAS QUE DEMONSTREM A EFETIVA CONTRATAÇÃO DO

6
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA
2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

SERVIÇO. ÔNUS QUE COMPETE A RÉ. TELAS SISTÊMICAS DE PRODUÇÃO


UNILATERAL NÃO PODEM SER CONSIDERADAS COMO MEIO EFETIVO DE PROVA.
DÉBITOS DECLARADOS INEXISTENTES. DANOS MORAIS CONFIGURADOS.
INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 227 DO STJ. INSCRIÇÃO INDEVIDA NOS ÓRGÃOS DE
PROTEÇÃO AO CRÉDITO. OFENSA AO PATRIMÔNIO MORAL DA PESSOA JURÍDICA.
MONTANTE INDENIZATÓRIO FIXADO EM R$ 3.000,00, POIS ADEQUADO AO CASO
CONCRETO. SENTENÇA REFORMADA. RECURSO DO AUTOR PROVIDO. (TJ-RS -
Recurso Cível: 71005055298 RS , Relator: Paulo Cesar Filippon, Data de Julgamento:
29/08/2014, Quarta Turma Recursal Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia
02/09/2014)

IMPUGNAÇÃO À FASE DE CUMPRIMENTO DA SENTENÇA.


CONSUMIDOR. OBRIGAÇÃO DE FAZER IMPOSTA À RÉ. TELAS SISTÊMICAS DE
COMPUTADOR QUE NÃO SÃO SUFICIENTES PARA COMPROVAR O CUMPRIMENTO
DA OBRIGAÇÃO, POIS SE TRATA DE DOCUMENTO DE DIFÍCIL COMPREENSÃO AO
LEIGO E DE PRODUÇÃO UNILATERAL. ÔNUS DA PROVA DA FORNECEDORA DO
SERVIÇO QUANTO À REGULARIDADE DESTE. A tese da impugnante, que sua
obrigação foi atendida e que restabeleceu o serviço de telefonia e internet da autora, não
foi demonstrada, ônus que lhe incumbia. A juntada de telas de computador com termos e
dados técnicos, de difícil compreensão ao leigo, além de ser prova produzida
unilateralmente, não basta para comprovar o cumprimento da ordem judicial. Para tanto,
poderia a ré determinar que técnico fosse até a residência da autora e constatasse a
regularidade do serviço, colhendo declaração da consumidora. Não o fazendo e se
limitando a acostar cópias de documentos que estão em seu sistema informatizado, tem-
se como não provada a alegação de restabelecimento do serviço. A multa fixada não é
elevada e não implica em enriquecimento ilícito ou sem causa. O fato da multa ter atingido
o seu teto (60 dias multa) decorre da conduta da ré em não comprovar adequadamente o
cumprimento da ordem judicial. Minoração da multa que não merece acolhimento a fim de
não beneficiar a parte que descumpre a ordem judicial. RECURSO DESPROVIDO. (TJ-
RS - Recurso Cível: 71004054599 RS , Relator: Lucas Maltez Kachny, Data de

7
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA
2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Julgamento: 06/08/2013, Primeira Turma Recursal Cível, Data de Publicação: Diário da


Justiça do dia 08/08/2013)

Por outro lado, o autor junta com a exordial, no evento projudi 01, a
certidão da CDL que atesta o apontamento indevido , por solicitação da
demandada, desincumbindo-se assim do ônus de provar o fato constitutivo de seu
direito , nos termos do art.333, Ido CPC. É cediço na jurisprudência pátria que a
negativação do nome do consumidor nos cadastros de proteção ao crédito por
cobrança indevida gera dano moral in re ipsa, que prescinde de comprovação.
Nesse sentido :

RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. TELEFONIA. AUSÊNCIA


DE PROVA DA CONTRATAÇÃO. DÉBITO INEXISTENTE.
INSCRIÇÃO INDEVIDA NOS ÓRGÃOS DE PROTEÇÃO AO
CRÉDITO. DANO MORAL IN RE IPSA. 1. Diante da alegação do autor
no sentido de que jamais realizou algum tipo de contratação com a
requerida, incumbia à re apresentar as provas da contratação, seja por
contrato assinado pela parte e os documentos apresentados no momento da
instalação, seja a gravação pelo Call Center, caso tenha sido realizado via
telefone. 2. Todavia, nenhuma prova neste sentido veio aos autos e as telas
de sistema apresentadas pela ré são documentos unilaterais que podem ser
facilmente manipulados pela parte interessada, não servindo como único
meio de prova para comprovar as alegações da requerida. 3. A requerida
sustenta que a dívida refere-se a um terminal fixo de telefone, instalado em
02/05/2012 e retirado em 06/01/2013, por inadimplência. Tratando-se de
terminal fixo, mais fácil ainda era a comprovação de suas alegações, pois,
nestes casos, os prepostos da ré comparecem ao local de instalação e
solicitam a assinatura do cliente na ordem de serviço. No entanto, nenhum

8
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA
2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

documento foi apresentado aos autos. 4. Não havendo prova da


contratação, nem provas de que a ré tenha tomado as devidas providências
para evitar a contratação fraudulenta em nome do autor, o débito deve ser
declarado inexistente e a inscrição junto aos órgãos de inscrição ao crédito
considerada indevida. 5. A situação dos autos gerou ao autor angústias,
aborrecimentos, frustrações e abalo em sua paz psíquica, transtornos que
extrapolam os meros aborrecimentos do cotidiano. 6. O quantum arbitrado
pelo Juízo de origem (R$ 5.000,00) não comporta minoração, uma vez que
está abaixo dos parâmetros utilizados pelas Turmas Recursais em casos
semelhantes, sendo o patamar mínimo para atingir o caráter pedagógico,
evitando que a recorrente volte a praticar os mesmos erros novamente.
Ademais, deve-se considerar as peculiaridades do caso em apreço,
observando-se que o autor teve negado a renovação do seu crédito agrícola,
situação que por si só já configura a existência de danos extrapatrimoniais.
RECURSO IMPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA. (TJ-RS - Recurso
Cível: 71004824850 RS , Relator: Glaucia Dipp Dreher, Data de
Julgamento: 27/06/2014, Quarta Turma Recursal Cível, Data de Publicação:
Diário da Justiça do dia 03/07/2014).

Logo, vislumbrada a necessidade de reparação do dano moral decorrente da


cobrança indevida, conjugada com a negativação do nome do autor, passo a discutir o
quantum fixado.
Nesta seara obtempera Des. Luiz Gonzaga Hofmeister do TJ-RS no proc.
595032442:
O critério de fixação do valor indenizatório, levará em conta
tanto a qualidade do atingido, como a capacidade financeira
do ofensor, de molde a inibi-lo a futuras reincidências,
ensejando-lhe expressivo, mas suportável, gravame
patrimonial.

Diz ainda Wilson Melo Da Silva, em “O Dano Moral e sua Reparação”,


obra basilar sobre a matéria:

9
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA
2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

É preponderante, na reparação dos danos morais, o papel


do juiz. A ele, a seu prudente arbítrio, compete medir as
circunstâncias, ponderar os elementos probatórios, inclinar-
se sobre as almas e perscrutar as coincidências em busca
da verdade, separando sempre o joio do trigo, o lícito do
ilícito, o moral do imoral, as aspirações justas das miragens
do lucro, referidas por DERNBURG. E após tudo, decidindo
com prudência, deverá, depois, determinar, em favor do
ofendido, se for o caso, uma moderada indenização por
danos morais. (Forense, pg. 630/631).
Nesta senda, tendo em vista as peculiaridades do caso concreto, e levando
em conta os critérios acima aludidos, fixo o montante de R$ 2.000,00 ( dois mil reais ) a
títulode danos morais.
Assim sendo, ante ao exposto, voto no sentido de CONHECER DO
RECURSO e DAR-LHE PROVIMENTO, para declarar inexigível o débito que originou
a negativação indevida do nome do autor nos cadastros de proteção ao crédito, e
condeno a empresa demandada em R$ 2.000,00 ( dois mil reais) a título de danos morais.
Semcustas e honorários advocatícios, por ser a parte beneficiária da justiça gratuita.
Salvador, 24 de setembro de 2015

Bela. MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE


Juíza Relatora

10

Você também pode gostar