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A Teoria da Concorréncia Imperfeita 1. Algumas observacées criticas ‘A um observador imparcal, a teora da conconténcia impereita, em seu esta- 4o atual, parece um tanto paradoxal. Seu concelto bésico, por boos razbes, fol con- ddenado como irealista* De fato, no era necessério um exame muito extenso pa- ‘a determiner que os homens de negéeios ndo esto famllarzados com 0 conceit de recat marginal. A situacdo @ ainda pior, quando sabemos que eles ndo pode- ram formar uma ideia razoavel sobre ela, mesmo que assim desejassem. Essa opt nigo ¢ partlhada por algumas pessoas que prestaram valiosa contibuigdo & teora: Joan Robinson acha que, para explcarmos a margem de lucros, talvez devesse- «tos reconer 00 acidente histico, ou & “opin conente entre os empresérios so- bre o que e mats sensato".* De fio, “parece que a clenda economica ainda nao solucionou o seu prime problema — 0 que determina o prego de uma mercado- ‘Anda assim, 0s principais ensinamentos que a “conconéncia imperteta” pre- tende tirar estéo, sem divide, corretos. De fato, ela foi concebida com a intencso de considerar as realidades esquecidas por economistas anteriores, e nesse sentido obteve ésito. Porém, 20 tentarmos demonsiré-a a um novo estudante, deparamo- nos com a diiculdade de explcar algo verdadeiro, importante relativamente sim- ples de uma maneira que parece abstrusa e complicada, ‘A difculdade didatica sugere que nossos instrumentos analicos talvez nBo se- Jam 0$ ideais para 0 objetivo a que nos propomos. Essa sensagéo de insatistagso toma forma ainda mais concreta nos seguintes pontos, que se acham expostos de maneia bastante geral e sucinta, pols © seu inlenio nBo é a crftca enquanto ta, masa procura de uma abordagem alternativa. {) Ao contrério da antiga doutrina da concorréncia perfeita, a moderna teoria dos precos esta repleta de indeterminagées. Os problemas mais elementares — as cconseqiléncias de um aumento na demanda, do aparecimento de novas fontes de HALL BLL sHITCH.C 3. “Price Theory and Buses Behavour™ Oxford Economic Paper. N° 2 GBR Ar Enon Monin comes sOpctee 3 14 PREGOS, CUSTOS E MARGENS DE LUCRO oferta ou de novos produtos — admitem solugSes ambfguas, a menos que se intro- duzam pardmetros muito especificos. Por si $6, iss no seria motivo de condena- Bo; 0 que acontece & que os fatos s8o complexos. Mas o instrumental analitico dis. onivel no € de molde a estimular a pesquisa empirica que conduziria 8 elimina Go dessas indeterminagbes; seus conceitos se mostram singularmente infrutiferos, pois néo se destinam a estimular a investigaco empirica, mas a especulagao casuls- fica. Um exemplo marcante desse aspecto € a teoria do oligopdlio, ) 0 conceito de incerteza dificimente desempenha fungSo essencial na teoria ‘existente, Isso € surpreendente, pois deveriamos esperar que os empreséios, caso fizessem calculos sobre elasticidade, se mostrasem bastante insegutos acerca dela, Alem disso, as condigdes relevantes de mercado (curvas de demanda) dever, em ‘muitos casos, referir-se ao futuro e, desse modo, constiturse em estimativas incer- tas feltas pelos empreséios. Houve tentativas no sentido de considerar esses fato- res, porém sem levar a nenhuma abordagem fundamentalmente nova. Em outros campos da teoria econémica, entretanto, © conceito de incerteza passou a desem Penhar um papel muito mais importante. Na teoria da moeda, 0 conceito de incer- feza 6 a propria base para explicr a retengdo de moeda sonante e a preferéncia pela liquidez. Parece que ninguém cogitou em aplicar idéias semelhantes & manu fengéo da capacidade excedenie Em geral, percebemos também que, em seu conjunto, a teoria dos precos e da concorrencia imperteta néo esté ligada de modo suficientemente estreto @ ou tras partes da teoia econémica, em partculr & teora do investimento ¢) A caractristica mais conhecida de certas prticas monopolistas (carts, lide- ranga de pregos) ¢ @ rigidez dos precos. E surpreendente como a teoria se presta tBo pouco & Sua explicacso. Apresenta-se uma explcagao, porém partindo apenas do principio da maximizacdo dos lucros: a rigidez dos precos, segundo a explica ho corrente, deve-se & desutildade enfrentada pelo empresério em sua tarela de Suste de pregos* Fol preciso, pos, intoduar um principio complementar, @ him de ‘explicar uma das caractersticas mais notaveis do monopdlio. No entanto, gostara ‘mos que essa explicago emanasse da teoria de maneira t8o fécile natural quanto © faz 0 “"ponto de Court” (0 produto que maximiza os lucros). d) A grande virtude da teoria da concorréncia imperfeita esté em explicar a existéncia de capacidade excedente em uma situagéo de equilibrio. Para tal, ba seia-se na suposigao de um excesso de preco acima do custo marginal, que, den- tro dos limites de uso quase total de capacidade e além dela (onde 0 custo margi- nal é igual ou superior ao custo médio), deve signficar lucros “anormais”. Com @ hipotese complementar de que o livre ingresso tende a eliminar os lucros anor- mais, concli-se que a concorréncia imperfeita deve criar capacidade excedente. (0 problema n8o termina af, pois ainda ¢ preciso explicar como o empresério dimensiona sua planta para determinada capacidade. Essa questo ¢ tratada por ‘meio do conceito de curvas de custo a longo prazo.° Estas se originam das curvas de custo a cutto prazo, para diversos tipos de planta com diferentes capacidades. segundo 0 seguinte principio: a curva de custo a longo prazo é 0 lugar geométrico dos pontos de equilibrio nas curvas de custo a curto prazo dos diversos tipos de planta de diferentes capacidades. Os pontos de equilforio s8o determinados de tal maneira que as variagdes a curto e a longo prazo listo é, uma mudanca na utiiza- THOS AR Ear. 88 SCTONSY Teme Pon son, 94, er HARROD. RF “Doce amperes Competnan” fr Query ceuma of Economies 1938 [ATEORIADA CONCORRENCIAIMPERFEITA. 15 80 de capacidade © ura modificago no tamanho da planta) nesses pontos impl- auem a mana modiiagb de cscs, Ou sa cio mara cro ¢ {go prazo devem ser iguais, pols se 0 custo marginal a curto prazo, por exemplo, {osse meior do que o custo marginal a longo prazo, seria conveniente reduzir 0 grau de utlizagéo de capacidade e, ao mesmo tempo, aumentar a capacidade da planta. A curva de custo médio a longo prazo seré tangendial em relagao as curvas de custo médio a curto prazo, para satisfazer as condicoes acima. Determinando-se assim a curva de custo a longo prazo, encontraremos o tamanho da planta preten- dida pelo empresério, se soubermos a curva de demanda individual. Por meio de lum raciocinio anélogo ao que fot empregado anteriormente, podemos demonstrar que o live ingresso mais uma vez tenderé a reduzit os luctos, que a planta escolhi- da seré, portanto, menor do que o ideal, e que, além disso, sua capacidade nao se- 16 totalmente utiizada, Nenium dos argumentos acima, contudo, ajuda-nos a explicar a capacidade ‘excedenta nas inddstrias em que o livre ingresso no pode ser considerado com al- gum realsmo. Isso se aplica a todas as inddstias onde grande parte da produgao rovém de uma s6 ou de poucas firmas, e onde o ingresso de novos competidores @ dificil, devido a exigencias onerosas de capital ¢ & grande escala das operagdes — em suma, indistrias tipicamente oligopolistas. Pode-se notar que a ameaca de novos concorrentes potenciais, que em todos esses casos ainda pode persistir, no tera as mesmas conseqtiéncias do ingresso real de novos competidores. Enquanto este cria capacidade excedente, custos mais elevados e talvez precos mais altos, a simples ameaca da concorréncia potencial em uma situagio oligopolista no deve- tia apresentar esse resultado; ao contrério, tenderia a conservar os pregos mais bai- x0s do que na sua auséncia, Assim, em todas essas situacoes relativas a inddstrias oligopolistas, a explicago acima sobre a capacidade excedente nfo se aplica. A ca- pacidade excedente apareceria, nesses casos, somente se a curva de demanda esti- vvesse. por acaso, em uma posic&o onde a maximizac&o dos lucros implicasse capa- cidade excedente.* Em um mercado em expansdo, contudo, a curva de demanda __ se deslocania para a diteita, e a capacidade excedente tenderla a desaparecer. Poderia exist, ainda, um método que talvez explicasse a capacidade exceden- te, mesmo em tais casos. Dirfamos, simplesmente, que 0 custo médio de produgéo com maiores equipamentos ¢ certo volume de capacidade excedente ¢ inferior em comparacao aquele que envolve equipamentos menores ¢ capacidade plena; em outras palavras, a curva de custo a longo prazo é descendente. Se, contudo, a cur- va de denanda se deslocasse o suficiente para a direita (devido a um mercado em expansic), a dimenso ideal dos equipamentos seria atingida. Em algumas indis- trias em expansao, de caréter oligopolista (aco ¢ cimento, nos Estados Unidos), as grandes companhias possuem muitas plantas, de modo que podem escolher a di- menséo Weal de uma nova planta, sem criar excesso de capacidade. Poderiam ter alguma cificuldade ef-atingir exatamente a capacidade ideal, nem mais nem me- NOS, mas nesse caso seria preciso perguntar por que, na realidade, existe sempre um viés em direco & capacidade excedente e nao na direc3o oposta. Condluimos, pois, que nas indtstrias em expansio, nas quais o livre ingresso ¢ consideravelmente resto, a existencia eo predominio da capacidade excedente no so facilmente explicaveis com 0 auxflio da andlise comum da concorréncia im- perfeita, a menos que tal capacidade excedente seja considerada, sempre, unica- mente como decorrente de um desequilbrio. HARROD Loe ce 14 PRECOS, CUSTOS E MARGENS DE LUCRO oferta ou de novos produtos — admitem solugBes ambfguas, a menos que se intro- duzam parémetros muito espectficos. Por si s6, isso no seria motivo de condena- Bo; 0 que acontece & que 0s fatos s80 complexos. Mas o instrumental analiico dis- Ponivel no € de molde a estimular a pesquisa empfrica que conduzira & elimina- ‘Bo dessas indeterminacdes; seus conceitos se mostram singularmente infrutiferos, pois no se destinam a estimular a investigaco empirica, mas a especulagdo casuis- fica. Um exemplo marcante desse aspecto 6 a teoria do oligopdlio. ) O conceito de incerteza difcimente desempenha fun3o essencial na teoria ‘existente. Isso € surpreendente, pois deveriamos esperar que os empresérios, caso fieessem célculos sobre elasticidade, se mostrassem bastante inseguros acerca dela, ‘Além disso, as condigbes relevantes de mercado (curvas de demanda) devem, em ‘muitos casos, referi-se ao futuro e, desse modo, constituir-se em estimativas incer- ‘campos da teoria econdmica, entretanto, © conceito de incerteza passou a desem- penhar um papel muito mais importante. Na teoria da moeda, 0 conceito de incer teza & a propria base para explicar a reten¢go de moeda sonante a preferéncia liquidez. Parece que ninguém cogitou em aplicar idéias semelhantes & manu- ‘da capacidade excedente. ‘Em geral, percebemos também que, em seu conjunto, a teoria dos pregos & cconcorréncia imperfeita no esié ligada de modo suficientemente estreito a ou: partes da teoria econdmica, em particular & teoria do investimento. if i ©) A caracteristica mais conhecida de certas préticas monopolistas (cari, lide de precos) é a rigidez dos precos. E surpreendente como a teoria se presta 2 sua explicagao. Apresenta-se uma explicacao, porém partindo apenas plo da maximiza¢8o dos lucros: a rigidez dos pregos, segundo a explica: ‘corrente, deve-se & desutlidade enfrentada pelo empressrio em sua tarefa de ‘de pregos Foi preciso, pols, introdusir um principio complementar, a fim de luma das caracterisicas mais notveis do monopélio. No entanto, gostaria: ‘que essa explicagao emanasse da teoria de maneira to fécil ¢ natural quanto ‘0 “ponto de Cournot” (o produto que maximiza os lucros). ee ri d) A grande virtude da teoria da concorréncia imperfeita esta em explicar a ‘existencia de capacidade excedente em uma situagao de equiliorio. Para tal, ba- ‘mais, concli-se que a concorréncia imperieita deve criarcapacidade excedente. ‘0 problema nao termina af, pols ainda ¢ preciso explicar como o empresatio sdimensiona sua planta para determinada capacidade. Essa questéo é tratada por meio do conceito de curvas de custo a longo prazo.° Estas se originam das curvas de cusio a curto prazo, para diversos tipos de planta com diferentes capacidades, segundo 0 sequinte principio: a curva de custo a longo prazo é o lugar geométrico ddos pontos de equilbrio nas curvas de custo a curto prazo dos diversos tipos de planta de diferentes capacidades. Os pontos de equilrio so determinados de tal ‘maneira que as variacées @ curto e a longo prazo (isto é, uma mudanca na utiiza~ ‘HCKS 3 Economie, 1985, SCTOVSY de Jur of Pola Economy, 194. ‘Nee HAROD, WF "Dosis liners Compete Quon Jura of Economic 1934, ee [ATEORIADACONCORRENCIA MPERFETA 15 de capacidade e uma modificacéo no tamanho da planta) nesses pontos impli- Gum mesma modicago de cunos Ose, on cstos marginal cro aen- {90 prazo devem ser iguais, pois se 0 custo marginal a curto praz0, por exemplo, {Esse maior do que 0 cusio’ marginal a longo prazo, seria conveniente reduzi o grau de uilizagao de capacidade e, ao mesmo tempo, aumentar a capacidade da Planta. A curva de custo médio a longo prazo seré tangencial em relagio 8s curvas {de custo médio a curto prazo, para saisfazer os condises acima. Determinando-se ‘asim a curva de custo a longo prazo, encontraremos o tamanho da planta preten- dida pelo ampresério, se soubermos a curva de demanda individual. Por melo de lum raciocnio anélogo ao que foi empregedo anteriormente, podemos demonstrat {ue o livre ingresso mals uma vez tendera a reduatr os Iucros, que a planta escolh- dba sera, portant, menor do que o Ideal, e que, além diss, sua capacidade no se- ‘a toalmerte utizada. Nenhum dos argumentos acima, contudo, ajuda-nos explcar a capacidade excedente nas indiistnas em que © livre ingresso néo pode ser considerado com al- ‘gum realismo. Isso se eplica a todas as industias onde grande parte da produgao ‘de uma 56 ou de poucas frmas, e onde o ingresso de novos competidores difiel, devido a exigencies onerosas de capital e a grande escala das operacdes — em suma, indastrias tipicamente oligopolistas. Pode-se notar que a ameaga de ‘novos concorrentes potenciais, que em todos esses casos ainda pode pewisti no teré as mesmas consequéncias do ingresso real de novos competidores. Enquanto este eria cepacidade excedente, custos mais elevados e talvez precos mais altos, a simples ameaca da concorréncia potencial em uma situagSo oligopolista no deve: "ia apresenar esse resullado; ao contrario, tenderia a conservar os precos mais bai- x05 do que na sua ausencia. Assim, em todas essas situacdes relaivas a industias Cbgopolisias, a explicacdo acima sobre a capacidade excedente néo se aplica. A ca pacidade excedente apareceria, nesses casos, somente se a curva de demanda est esse, por acaso, em uma posigao onde a maximizagEo dos Iucros implicasse cape- Sade excedente.® Em um mercado em expansdo, contudo, a curva de demanda Se deslocaria para a drei, a capacidade excedente tenderia'a desaparecer. Poderia exis, ainda, um método que talvez explicasse a capacidade exceden- te, mesmo em tais casos. ‘Diiamos, simplesmente, que o custo medio de produgéo com maiores equipamentos e certo volume de capacidade excedente @ inferior em comparagao aquele que envolve equipamentos menores e capacidade plena: em utras palavras, a curva de custo a longo prazo é descendente. Se, contudo, a cur- va de demanda se deslocasse o suficiente para a direita (devido a um mercado em ‘expanséo), a dimensio ideal dos equipamentos seria atingda. Em algumas indus- tras em exansio, de caréter oligopolisa (aco ¢ cimento, nos Estados Unidos), as grandes companhias possuem muitas plantas, de modo que podem escolher a’ di- menséo ideal de uma nova planta, sem criar excesso de capacidade. Poderiam ter alguma difculdade em-atingr exatamente a capacidade ideal, nem mais nem me- ros, mas nesse caso seria preciso perguntar por que, na realidade, existe sempre um vies em direcdo & capacidade excedente e nao na direcao oposta, ‘Coneluimos, pois, que nas indistias em expans£o, nas quais 0 livre ingresso ¢ consideravelmente restito, a existéncia e 0 predominio da capacidade excedente 1n&o s80 facimente explcave's com o auxfio da andlise comum da concorréncia im- perfeita, 2 menos que tal eapacidade excedente seja considerada, sempre, unica- mente como decorrente de um desequilfio. * HARROD. Lae.

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