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O repmnauista N.” 78, ALexanper HAMaLTON Ao Povo vo Estapo DE New YORK: Passaremos agora & andlise do Poder Judiciétio do govemo pro- posto. ‘Nacexposigdio dos defeitos da atual Confederapio foram claramente acentuadas a utllidade ea necessidade de uma judicatur federal. Edispen- diividas quanto a maneira de o1 Assim nossas observagies yntos. compreende virios t6- ; segundo, 0 periodo da autoridade pelas diferentes cortes e as relagGes entre elas Primeiro. O processo de nomeagao dos juizes é igual ao observa do para 0s funcionirios piblicos dos Estados Unidos em geral e ja foi detalhadamente discutido nos dois tiltimos artigos, de modo que o que for dito aqui néo ser repetigio. Segundo. Quanto ao tempo em que os juizes deverdo ser mantidos em seus cargos, € preciso considerar o exereicio das fungdes, as remunera- gfes e as medidas para assegurar-Ihes a independ De acordo com 0 projeto apresentado pela conveneio, todos os juizes nomeados pelos Estados Unidos devem ser mantidos em seus car- iducirem, 0 qui ycordo com 0 que consta, igdes estaduais, inclusive a nossa. O fato de ter sido este dispositiyo contestado pelos adversirios dequele projeto consti- tui sintoma seguro de uma vocagio para discordar, que Ihes perturba a imaginag3o e os julgamentos no cargo da magistratura obstaculo no menos importante contra as usurpagdes e opressées do Le- 70 ALBuannes Haatt0%, JAMES Manioy, Jon Jay Sislativo. Ademais, é 0 melhor recurso de que dispoe um govemo para assegurar uma aplicago constante, correta e imparcial das leis. Quem analisar atentamente os diferentes ramos do poder percebe desde logo que, em um governo em que eles sao separados uns dos outros, © Judicidrio, pela propria natureza de suas fungdes, sera sempre 0 menos Perigoso para os direitos politicos previstos na Con: menor capacidade para ofendé-los ou violé-los. O apenas das honrarias, mas também da espada. O Le; 9 além de man- ter os cordées da bo!sa, prescreve as normas pelas quais cada cidadao deve lar seus direitos e deveres. O Judiciério, porém, nao tem a menor in- ia sobre a espada nem sobre a bolsa; néo participa da forya nem da rigueza da sociedade e néio toma resolugdes de. qualquer natureza. Na ver- dade, pode-se dizer que nao tem forca nem poderio, limitando-se simples- mente a julgar, dependendo até do a do ramo executivo para a efica- cia de seus julgamentos, Esta simples anélise do assunto sugere varias conclusdes impor: tantes, Ela prova, incontestavelmente, que o Judicidrio é, sem compara- ‘40, o mais fraco dos trés poderes®; que nunca poderd enfrentar com éxito qualquer dos outros dois; e que deve tomiar todas as precaugSes possiveis para defender-se dos ataques deles. Prova igualmente que —embora alguma opres- Sito individual possa, de vez, em quando, partir das cortes de justiga — a liber dade geral do povo nunca seré ameagada por esse lado, isto & enquanto o Judiciério permanecer separado tanto do Legislative como do Executivo, pois aceito que “nao haverdliberdade se o poder de julgar nao estiver separado dos poderes Legislativo e tema temer do Judicidro isoladamente, mas tem sobrados motivos para pre- caver-se contra a unio desse poder com qualquer dos outros dois; que tal unido deve dar margem a todos os efeitos negativos de uma dependéncia - do primeiro em relagao aos demais, apesar de uma separagio nominal e aparente; que, em conseqiiéncia de sua natural fraqueza, 0 Fudicidrio esta continuamente ameagado de ser dominado, intimidado ou influenciado Pelos outros ramos; ¢ que, como nada pode contribuir mais para sua fir- meza e independéncia do que a estabilidade nos. ‘cargos, esta condigo deve set encarada como fator indispensével em sua const parte, como a cidadela da justica e da seguranga publica. 83 0 famoso Montesquieu esere cionados, 0 Judicidrio é quase nada.” 84 Tem, p. 181. Publius * respeito deles: “Dos trés poderes acima men- of laws, vol. p. 186.) Publius -cutivo".™ E prova, finalmente, que a liberdade nada. Em conseqiiéncia, cabe-Ihes interpretar seus disp. O Feoerausta an 's cortes de justiga 6 particularmente tada. Ao qualificar uma Constitui¢ao ida, quero dizer que ela contém certas ou concessGes particulares ser i Relativamente & competéncia das cortes para dec terminados atos do Legislativo, porque contririos & Constitu vido certa surpresa, partindo do falso pressuposto de que ta p ea em uma superioridade do Judicidrio sobre o Legislativo. Argumenta-se que a autoridadé que pode declarar nulos os atos de outra deve necessatia- ‘mente set superior asta outra. Uma vez que tal doutrina é muito observa~ da em todas as Constituigées americanas, convém uma breve andlise de seus funndamentos, Nio ha posigo que se apie em principios mais claros que ade declgrar Aulo o ato de uma autoridade delegada, que nio estefa afinada com as determinagies de quem delegou éssa autoridade. Consegiiente- mente, no seré vilido qualquer ato legislativo contrario & Constituicdo. Negar tal evidéncia corresponde a afirmar que o representante é superior a0 representado, que o escravo émais graduado que o senhor, que 0s dele- gados do povo esto acima do préprio povo, que aqueles que agem.em razio de delegagdes de poderes estio impossibilitados de fazer nfo apenas © qne tais poderes niio autorizam, mas sobretudo o que eles profbem. Se se imaginar que 0s congressistas devem ser 0s juizes constitu- cionais de seus priprios poderes e que a interpretage que eles decidirem seri obrigatéria para os outros ramos do governo, a resposta é que esta iio pode ser a hipotese natural, por ndo ter apoio em qualquer dispositivo da Constituigo. Por outro lado, nfo € de admitir-se que a Constituigdo tivesse pretendido habilitar os representantes do povo a sobreporem a pri- pria vontade & de seus constituintes. B muito mais racional supor que as ¢ peculiar das cortes se resume na interpretagio das leis. Uma Constitui- rada pelos juizes, fos, assim como 0 G80 &, de fato, a lei basica e como tal deve ser co! 472 ‘Auexannen Hava, Jats Manis, Jon JAY significado de quaisquer resolugGes do Legislativo. Se acontecer uma ir- vel discrepincia entre estas, a que tiver maior hierarquia e vali- dade deverd, naturalmente, ser a preferida; em outras palavras, a Consti- tuigdo deve prevalecer sobre a lei ordinéria, a intengdo do povo sobre a de seus agentes. Todavia, esta conclustio nao deve significar uma superioridade do Judicidrio sobre o Legislativo. Somente supe que o poder do povo é supe- rior ambos; e que, sempre que vontade do Legislativo, traduzida em suas se opuser & do povo, declarada na Const juizes devern obe- decer a esta, nfo aquela, pautando suas decisdes pela lei bisica; nfo pelas leis ordinérias, . O exercicio do critério judicial, no caso de leis cantraditérias, & exemplificado a seguir. Nao é rato acontecer que duas delas, aprovadas na ‘mesma época, sejam parcial ou totalmente conflitantes, nenhuma delas, contendo qualquer dispositivo revogavel. Nesse caso, cabe ds cortes deci-. dir, fixando-Ihes 0 sentido ¢ a atuago, Sempre que, por um eqilitativo artficio, for posstvel reconcil ica ea lei recomendam que isso s¢j¢ feito; quando tal solugao for impraticavel, sera necessério por em exe- cucio uma delas, excluindo a outra. A regra observada nas cortes para determinar-lhies 2 validade relativa é que a tltima, aa ordem cronolégica, Pretere as anteriores. Trata-se de uma simples norma de conduta nio resul-” tante de qualquer lei especifica, mas tio-somente da I6gica e da riatureza das coisas, nio sendo imposta &s cortes por qualquer di apenas adotado por elas, como mais condizente com arealidade ea just pata orientar-Ihes a conduta como intérpretes da lei. Elas julgaram razo: vel que, no caso de dois atos conflitantes ¢ de igual hierarquia, deve ter preferéncia o que mais recentemente expressa a vontade do legislador. Entretanto, se o conflito ocorrer entre atos de autoridades de hie- rarquia diferent jica ¢ a natureza das coisas indicam que deve ser obseryada regra diferente, devendo o ato anterior da autoridade mais hie- izada ter preferéncia sobre o subsegiiente da subordinada; em conse- sempre que uma lei ordinéria contrariar a Constituigao, é dever dos tribunais obedecer o prescrito por esta e ignorar aquel ‘Nao ser demais temer que as cortes, sob o pretexto de no gosta- tem de determinada lei, decidam, a seu bel-prazer, modificar as intengies acontecer tanto no caso de leis conflitantes como mesma lei. As tes devem esclarecer o senti- do do dispositivo legal ¢, se tentarem substituirjulgamento por vontade, as ‘conseqiiéncias serio as mesmas da predominncia de seus desejos sobre * mesmo conhecimento das i OFeoeausca 473 08 dos legisladores, Se tal procedimento fosse vélido, nao seria necessério que os juizes deixassem de pertencer ao Poder Legislativo. Aceitando, ent&o, que as cortes de justiga devem ser consideradas res de uma Constituigdo limitada, opondo-seas usurpages do uma vez que nada contribuiré tanto para a sensago de independéncia dos juizes — fator essencial ao fiel desempenho de suas ‘érduas fingoes. Bsta independéncia dos juizes ¢ igualmente necesséria & defesa da Constituigao e dos direitos individuais contra os efeitos daquelas perturba- ‘ges que, através des intrigas dos astuciosos ou da influéncia de determi- nadas conjunturas, algumas vezes envenenam 0 povo e que, embora este rapidamente se recupere apés ser bem informado e refletir melhor, ten- dem, entrementes, a provocat inovagSes perigosas no governo e graves opressGes sobre a parcela minoritiria da comunidade, Embora eu esteja certo de que os adeptos da Constituigdo proposta jamais concordario com “, questionando aquele principio fundamental do regime re- publicano, que admite o direito do povo de alterar ou abolir a Constituigio ‘em vigor, sempre que a julgar inconsistente com sua conveniéncia, no justo inferir do citado principio que os representantes do povo ~no caso de ‘uma momentiinea tendéncia colocar a maioria de seus const da Constitui¢do vigente ~tenham, por isso, ad- quirido o direito de violé-los; ou que as cortes devam ser té0 coniventes com intfragdes desse tipo como quando estas provinham totalmente das manobras do Legislativy. Até que o povo tenha, por algum ato solene e peremptério, anulado ou alterado as normas vigentes, elas devem ser obe- decidas tanto coletiva como individualmente e nenhum pressuposto ou tengtes do povo poder autorizar seus repre- sentantes a furtarem- s do referido ato, ao cumprimenta daquelas normas. Entretant ginar que serd necesséria uma forte dose de retidio, por parte dos juizes, para cumprirem seus deveres como fiéis guardides da Constituigéo, se as invasdes do Legislativo tiverem sido instigadas pela maioria da comunidade. Nao é, porém, apenas com vista is infragdes da Constituigdo que a independéncia dos juizes deve ser uma salveguarda essencial contra 08 efeitos de ocasionais perturbagées na sociedade, as quais algumes vezes no vao além de ferir os direitos privados de deterthinadas classes de cida- 85 Vide Protest ofthe minority ofthe Convention of Pennsylvania, Discurso de Martin te, Publius .

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