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Catalogação-na-fonte
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.
C D D - 306
04-0041 C D U - 316.7
Impresso no Brasil
ISBN 85-01-06670-2
PEDIDOS PELO REEMBOLSO POSTAL
Caixa Postal 23.052
Rio de Janeiro, RJ - 20922-970 EDITORA AFILIADA
BERGER, Peter L.; HUNTINGTON, Samuel P. (coord).
Muitas globalizações.
Rio de Janeiro: Record, 2004.
1
Globalização administrada
Yutixiang Yan
t r o l a n d o os r u m o s d a integração e c o n ô m i c a e p e s a n d o os p r ó s e os c o n t r a s d a
globalização cultural, u m papel c o m p l e x o q u e de m u i t a s f o r m a s l e m b r a o de
u m a d m i n i s t r a d o r de empresas. Daí o título deste capítulo, "Globalização ad-
ministrada".
i
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j
GLOBALIZAÇÃO ADMINISTRADA 37
//k cultura popular é claramente uma área em que a influência global é dominante.
Seriados de TV tanto do Ocidente quanto dos países vizinhos, superproduções de
Hollywood, música pop de Hong Kong e Taiwan, desenhos animados japoneses, as
finais da NBA e os jogos da Copa do M u n d o de Futebol estão entre os principais
itens de consumo cultural da maioria do público em geral "Quando Michael Jordan
se retirou das quadras em 1999, muitos fãs chineses ficaram bastante abalados e
durante semanas jornais e revistas chinesas publicaram matérias sobre ele.10
» *-L -
MOVIMENTOS RELIGIOSOS
MOVIMENTOS SECULARES
Propriedade e agentes
O e l e m e n t o f u n d a m e n t a l aqui é a p r o p r i e d a d e da e m e r g e n t e c u l t u r a global. E m
o u t r a s palavras, valores culturais e p r o d u t o s culturais o r i g i n a d o s n o O c i d e n t e
c o n t i n u a m a p e r t e n c e r ao O c i d e n t e m e s m o depois d e t e r e m sido e x p o r t a d o s
p a r a u m a sociedade n ã o - o c i d e n t a l ? É s t u d o s a n t r o p o l ó g i c o s d e t r a n s n a c i o n a -
lismo d e m o n s t r a r a m q u e a e m e r g e n t e c u l t u r a global é m a r c a d a m a i s pela di-
versidade q u e pela u n i f o r m i d a d e , pois, c o m o n o t a Richard A d a m s , as c u l t u r a s
locais " c o n t i n u a m a p r o d u z i r novas entidades sociais emergentes, c o n t i n u a m a
surgir novas f o r m a s de a d a p t a ç ã o de m o d o a objetivar a sobrevivência e a re-
p r o d u ç ã o t a n t o p o r i n t e r m é d i o do t r a b a l h o específico d o capitalismo q u a n t o
apesar dele". 18 A análise feita p o r Daniel Miller de u m a novela d e T V a m e r i c a n a
GLOBALIZAÇÃO ADMINISTRADA 47
Nos anos 90, o tema da globalização já não era u m a novidade para os acadêmi-
cos e políticos chineses, que estavam envolvidos nessas discussões desde o iní-
^ cio dos anos 80/Átfais i m p o r t a n t e ainda, o discurso chinês da globalização se
l<' apresenta c o m o u m a continuação da grandiosa história d o projeto de m o d e r -
Vy nização, e m oposição à maioria das discussões ocidentais, que consideram a
/ globalização u m f e n ô m e n o pós-industrial, p ó s - m o d e r n o . "
A maioria dos intelectuais e políticos vê a globalização c o m o u m a t e n d ê n -
cia histórica ao m e s m o t e m p o inevitável e inescapável — c o m u m forte t o q u e
de teleologia histórica, em o u t r a s p a l a v r a s . ^ e g u n d o alguns d e f e n s o r e s da
globalização, por exemplo, toda a história m o d e r n a da China pode ser vista c o m o
fr j u m a série de tentativas de enfrentar os desafios do m u n d o exterior e recuperar
j, seu status na c o m u n i d a d e global de estados-nações. D u r a n t e o primeiro está-
J
f gio (1840-1949), o Estado chinês t r a n s f o r m o u - s e e m vassalo das potências
ocidentais d u r a n t e o processo de globalização. O segundo estágio (1949-1978)
foi m a r c a d o pelos esforços do Partido Comunista Chinês para resistir à globa-
lização d o m i n a d a pelo Ocidente por intermédio de sua via socialista, q u e teve
c o m o modelo a União Soviética. E e m b o r a a resistência à globalização tenha
assegurado a independência política da China, t a m b é m fez c o m que enfrentas-
se u m grande atraso no que diz respeito à sua economia e à sua cultura. Apenas
d u r a n t e o atual terceiro estágio a China participou ativamente de todos os as-
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A
C/-
^J todo esforço para vender seus produtos sem desafiar o partido-estado. Assim, a
/ censura é auto-imposta, e o partido-estado não precisa intervir. •)
C o m o o Estado ainda controla muitos recursos importantes e, mais que isso,
o acesso ao m e r c a d o cultural chinês, companhias estrangeiras e instituições
culturais precisam ser cuidadosas para não desafiar a autoridade e o p o d e r do
Estado; do contrário serão negadas a elas as o p o r t u n i d a d e s de fazer negócios
na China. D u r a n t e m e u trabalho de c a m p o em 1998 e 1999 eu ouvi muitas his-
tórias de c o m o companhias estrangeiras t i n h a m feito concessões ao governo
chinês simplesmente para penetrar no e n o r m e m e r c a d o cultural. Eu já m e n -
cionei que o rápido crescimento do M c D o n a W s n o m e r c a d o de Pequim teve
u m grande impacto tanto na indústria local de fast food q u a n t o na cultura d o
fastfood. T a m b é m deve-se notar que o M c D o n a W s de Pequim é uma joint-
venture na qual o parceiro chinês tem 51 p o r cento do negócio e que a c o m p a -
nhia tem u m a célula do partido Comunista (foi dito que q u a n d o houve u m
c o n f r o n t o em 1993 a célula do Partido no McDonald's a j u d o u a administração
da empresa a lidar com funcionários insatisfeitos)^
/ E m b o r a suas estratégias possam variar de t e m p o s em tempos, d e p e n d e n d o
ySç^í das m u d a n ç a s n o ambiente doméstico e n o internacional, os líderes d o PC chi-
>- nês sempre tiveram o m e s m o objetivo: permanecerem c o m o os únicos líderes e
xf'< administradores do projeto de m o d e r n i z a ç ã o e, p o r intermédio do projeto,
m a n t e r e m total poder e autoridade na China.^sso é dito claramente nos já
m e n c i o n a d o s "quatro princípios básicos" formulados p o r Deng Xiaoping n o
início do período de reformas. Qualquer tentativa de desafiar a liderança e o
poder do partido-estado sempre foi severamente punida. O ataque à Falun Gong
é a p e n a s o exemplo m a i s recente. D o p o n t o de vista d o p a r t i d o - e s t a d o , a
globalização cultural n ã o é u m a exceção: deve p e r m a n e c e r sob a liderança d o
Partido Comunista. T a m b é m é por isso que a China m o s t r o u m e n o s flexibili-
dade no que diz respeito ao mercado cultural nas negociações da O M C , insis-
tindo em limites para a importação de filmes estrangeiros e e m restrições a
editoras p r i v a d a s . ^
O partido-estado t a m b é m quer proteger a indústria cultural local e nacio-
nal do p o d e r o s o impacto p r o d u z i d o pelas empresas estrangeiras e t r a n s n a -
cionais. C o m o exemplo, de m o d o a preparar o país para a ameaça dos meios de
comunicação de massa estrangeiros após o ingresso da China na O M C , em 1998
o governo central estimulou a formação de grandes g r u p o s n o setor de mídia
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v * <
A d e m a i s , a e c o n o m i a chinesa teve u m desenvolvimento geográfico desigual
\ n a s ú l t i m a s d u a s décadas, c r i a n d o u m g r a n d e fosso entre as províncias m a i s
desenvolvidas da costa sudeste e as províncias d o interior. N o s ú l t i m o s a n o s
t o r n o u - s e c o m u m governos locais c o m p e t i r e m e n t r e si p a r a atrair i n v e s t i m e n -
to estrangeiro oferecendo vantagens especiais a investidores estrangeiros, c o m o
aluguéis m a i s baixos, isenções de i m p o s t o s e m e c a n i s m o s de c o n t r o l e t r a b a -
lhista./llm e x e m p l o recente aconteceu e m 19 de m a i o de 1999, m e n o s d e d u a s
s e m a n a s após o b o m b a r d e i o pela O t a n d a e m b a i x a d a chinesa e m Belgrado,
q u a n d o o governo m u n i c i p a l de P e q u i m c o n v i d o u f o r m a l m e n t e os principais
executivos de dezessete empresas t r a n s n a c i o n a i s p a r a t r a b a l h a r e m c o m o c o n -
sultores internacionais. O u t r a s províncias fizeram o m e s m o r a p i d a m e n t e . 3 5 D a
m e s m a f o r m a , a u t o r i d a d e s locais da área cultural e d a i n d ú s t r i a d o e n t r e t e n i -
m e n t o t a m b é m fizeram concessões p a r a atrair investimento e s t r a n g e i r o n o s
m e r c a d o s culturais locais. C o m o resultado, os esforços d o g o v e r n o central p a r a
a d m i n i s t r a r o processo de t r a n s f o r m a ç ã o cultural t ê m sido f r e q ü e n t e m e n t e
s a b o t a d o s a nível local.
CONCLUSÃO
NOTAS
10. Por exemplo, o Diário da Juventude de Pequim, um dos jornais mais populares,
publicou reportagens e notícias sobre o afastamento de Jordan quase que diaria-
mente de 13 de janeiro até 27 de janeiro de 1999. Outras publicações também
cobriram o acontecimento intensamente.
11. VerYunxiangYan,"McDonald's in Beijing:TheLocalization ofAmericana", in James
Watson, org., Golden Arches East. McDonald's in East Asia (Stanford: Stanford
University Press, 1997), pp. 39-76; e Yunxiang Yan, "Of Hamburgers and Social
Space: Consuming McDonald's in Beijing", in Deborah Davis, org., The Consumer
Revolution in Urban China (Berkeley: University of Califórnia Press, 2000), pp.
201-225.
12. Ver Linda Chão e Ramon Myers, "China's Consumer Revolution: The 1990s and
Beyond", Journal of Contemporary China 7, n° 18 (1998): 351-368; para estudos
de caso sobre o impacto do consumo na vida social nas cidades chinesas, ver
Deborah Davis, org., Consumer Revolution in Urban China (Berkeley: University
of Califórnia Press, 1999); para uma análise mais crítica do consumo de massa e
seu impacto sobre as crianças, ver Bin Zhao, "Consumerism, Confucianism,
Communism: Making Sense of China Today", New Left, março de 1997, pp. 43-59;
para as implicações políticas do consumismo, ver Yunxiang Yan, "The Politics of
Consumerism in Chinese Society", in Tyrene White, org., China Brieftng 2000
(Armonk, N.Y.: Sharpe, 2000), pp. 159-163.
13. Ver Thomas Gold,"Go with Your Feelings: Hong Kong and Taiwan Popular Culture
in Greater China", China Quarterly 136 (1993): 907-925.
14. Ver Li Liang, "Zhongguo Jiduojiao xianchuang de kaocha" (Uma pesquisa sobre o
quadro atual da cristandade chinesa), Dongfang (Oriente) 2 (1995): 53-58; e Wu
Fei, "Zhongguo noncun shehui de zongjiao jingying: Huabei moxian nongcun
Tianzhujiao huodong kaocha" (A elite religiosa na China rural: Uma pesquisa das
atividades católicas em um distrito do norte da China),Zhanlue Yu Guanli (Estra-
tégias e Administração) 4 (1997): 54-62.
15. Ver reportagens em Economist, I o de maio de 1999 e Los Angeles Times, 2 de no-
vembro de 1999, p. A4.
16. Para maiores detalhes, ver Associação de Consumidores da China, org., Zhongguo
xiaofeizheyundong shinian (Dez anos do movimento de consumidores na China)
(Beijing: Zhongguo Tongji Chubanshe, 1994).
17. Para reportagens mais detalhadas sobre o desenvolvimento da defesa do consu-
midor, ver Beverly Hooper, "From Mao to Market: Empowering the Chinese
Consumer", Harvard Asian Pacific Review 2, n° 2 (1999): 29-34; Leslie Pappas,
"Shoppers of China, Unite!" Newsweek, 5 de abril de 1999; e Yunxiang Yan, "The
60 PETER L. BERGER E SAMUEL P. HUNTINGTON
33. Ver, por exemplo, Jonathan Peterson,"Cultural Issues Color Movie Export Picture",
Los Angeles Times, 31 de outubro de 1999, p. C l .
34. Ver Brook Larmer, "Boxed Out by Beijing", Newsweek, 10 de abril de 2000, pp.
40-41.
35. Ver, por exemplo, as notícias sobre o caso de Pequim em Diário do Povo, 20 de
maio de 1999, p. 1, edição internacional, e outras notícias sobre iniciativas simila-
res adotadas pelo governo provincial de Guangdong em Diário do Povo, 15 de no-
vembro de 1999, p. 1, edição internacional.