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Catalogação-na-fonte
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.

M921 Muitas globalizações / [coordenação] Peter L. Berger,


Samuel P. Huntington; tradução d e Alexandre Martins. -
Rio de Janeiro: Record, 2004.

T r a d u ç ã o de: Many globalizations


ISBN 85-01-06670-2

1. Cultura. 2. Globalização. I. Berger, Peter L„ 1929-.


II. Huntington, Samuel P„ 1 9 2 7 - .

C D D - 306
04-0041 C D U - 316.7

Título original em inglês:


MANY GLOBALIZATIONS

Copyright © 2002 by Peter L. Berger and Samuel P. Huntington

This translation of Many Globalizations, originally published in English


in 2002, is published by arrangement with Oxford University Press,
Inc., U.S. A.

Esta tradução de Many Globalizations, originalmente publicada em inglês


em 2002, é publicada em acordo com Oxford University Press, Inc., U.S.A.

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ISBN 85-01-06670-2
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BERGER, Peter L.; HUNTINGTON, Samuel P. (coord).
Muitas globalizações.
Rio de Janeiro: Record, 2004.

1
Globalização administrada

O PODER D O ESTADO E A TRANSIÇÃO


CULTURAL NA CHINA

Yutixiang Yan

E m u m ensaio incisivo sobre o impacto da hegemonia americana na sociedade


chinesa, u m analista chinês c h a m o u a atenção para o fato de q u e d u r a n t e as
manifestações estudantis de 1999 contra o b o m b a r d e i o pela O t a n da embaixa-
da chinesa em Belgrado no dia 7 de m a i o de 1999, m u i t o s jovens b e b i a m Coca-
Cola entre u m grito e o u t r o de "fora c o m o imperialismo a m e r i c a n o " e m frente
à embaixada americana em Pequim. A ironia é m u i t o maior. Q u a n d o alguns
jovens ativistas m a n d a v a m mensagens pela internet defendendo u m m o v i m e n t o
de resistência à invasão da cultura ocidental, não pareciam estar conscientes de
que as mensagens e r a m escritas em inglês e assinadas c o m n o m e s p r ó p r i o s in-
gleses c o m o "Joan" o u "Frank". O u t r o s i a m fazer u m lanche e m u m a loja
Kentucky Fried Chicken logo após colar cartazes c o m slogans a n t i - M c D o n a l d ' s
nas ruas. 1 Da m e s m a f o r m a , e m j u n h o de 1999, q u a n d o a Estação Central de
Televisão da China cancelou a transmissão dos jogos da NBA, o c a m p e o n a t o
a m e r i c a n o de basquete, c o m o u m gesto de protesto, u m g r a n d e n ú m e r o de
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telespectadores reclamou, alegando que eventos esportivos não t i n h a m n e n h u -


m a relação c o m a política.
/ D u r a n t e a última parte de m i n h a pesquisa de campo, n o verão de 1999, eu
entrevistei u m estudante universitário que era ao m e s m o t e m p o u m dos líde-
res das manifestações estudantis e m frente à embaixada americana e u m dos
y q u e telefonaram para protestar contra o cancelamento das transmissões dos
jogos da NBA. Ao ser perguntado sobre a razão pela qual agia de f o r m a tão
O-
contraditória, ele pareceu genuinamente surpreso, e respondeu: "Não, n ã o há
y n e n h u m a contradição. Sim, eu odeio a hegemonia americana, e eu adoro os
f jogos da NBA. M a s são duas coisas diferentes. Os jogos da NBA pertencem ao
m u n d o , e todos t ê m o direito de desfrutar deles." O l h a n d o dentro de seus olhos,
eu p u d e ver sinceridade e inocência. Eu então percebi que, pelo m e n o s para
jovens c o m o ele, talvez realmente haja u m a verdadeira cultura global que p o d e
ser desfrutada e i n c o r p o r a d a p o r pessoas de diferentes padrões culturais que
ao m e s m o t e m p o c o n t i n u a m sendo politicamente nacionalistas.
//Este capítulo é c o m p o s t o de duas partes. Eu p r i m e i r a m e n t e estudo as q u a -
/ tro facetas da globalização cultural (como definidas p o r Peter Berger) n o c o n -
texto chinês: a elite do m u n d o dos negócios, faculty club, cultura popular e
m o v i m e n t o s sociais. 2 N ã o foi difícil detectar a presença das q u a t r o forças
globalizantes no final dos anos 90, m a s sua influência sobre a vida social chine-
sa varia e m f o r m a e grau. Geralmente a força globalizante da cultura p o p u l a r
parece ser a maior, e n q u a n t o o m o v i m e n t o social tende a variar de caso para
caso; c o n t u d o , a m b o s influenciaram diretamente o cotidiano das pessoas co-
m u n s . Por o u t r o lado, a influência da intelectualidade transnacional e da elite
empresarial transnacional t e m seu desenvolvimento limitado a segmentos so-
ciais específicos. O partido-estado esforçou-se m u i t o para assumir o controle
a ^ das q u a t r o forças globalizantes, m a s em geral não foi tão b e m - s u c e d i d o q u a n t o
,\f t gostaria.
/ N a segunda p a r t e eu estudo os agentes e o contexto social d o processo. No
final dos anos 90, t a n t o a maioria dos cidadãos chineses c o m u n s q u a n t o a elite
d o país aceitavam a idéia de que a globalização era u m estágio inevitável do
c
c processo de m o d e r n i z a ç ã o da China, b e m c o m o u m a o p o r t u n i d a d e de se apro-
x i m a r d o s países desenvolvidos. Para tirar vantagem dessa o p o r t u n i d a d e , o
Estado chinês d e s e m p e n h o u u m importante papel na formação de u m consenso
nacional, facilitando a participação da China no processo de globalização, con-
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t r o l a n d o os r u m o s d a integração e c o n ô m i c a e p e s a n d o os p r ó s e os c o n t r a s d a
globalização cultural, u m papel c o m p l e x o q u e de m u i t a s f o r m a s l e m b r a o de
u m a d m i n i s t r a d o r de empresas. Daí o título deste capítulo, "Globalização ad-
ministrada".

IDENTIFICANDO AS QUATRO FACETAS DA


GLOBALIZAÇÃO CULTURAL

Cultura de Davos ou mercador confuciano?

/'Éstaria s u r g i n d o n a C h i n a u m a elite empresarial t r a n s n a c i o n a l e a c u l t u r a d e


Davos a ela associada? C o m o p o d e ser visto n o s dois p r ó x i m o s exemplos, essa
y^" p e r g u n t a n ã o p o d e ser r e s p o n d i d a c o m u m simples sim o u n ã o . D u r a n t e m e u
t r a b a l h o de c a m p o e m 1998, e n c o n t r e i - m e c o m u m a b e m - s u c e d i d a m u l h e r d e
negócios de trinta e t a n t o s anos. Ela é p r o p r i e t á r i a d e c o m p a n h i a s imobiliárias
^ e m d u a s cidades d o c o n t i n e n t e e de u m a e m p r e s a de i m p o r t a ç ã o e e x p o r t a ç ã o
e m H o n g Kong. T a m b é m possui u m a casa e m C o n n e c t i c u t e h á alguns a n o s
passou a residir nos Estados Unidos, e m b o r a f r e q ü e n t e m e n t e precise viajar p a r a
a C h i n a de m o d o a a d m i n i s t r a r seus negócios. Ela disse q u e b a s i c a m e n t e divide
seu t e m p o e m partes iguais entre os dois países, m a s q u e só t e m a sensação d e
estar e m casa q u a n d o está na residência a m e r i c a n a , o n d e p o d e se desligar intei-
r a m e n t e d o t r a b a l h o . "Penso q u e sou u m a cidadã d o m u n d o " (shijiegongmin),
c o n s t a t o u ela certa vez J/
l/o s e g u n d o exemplo é o d e o u t r a m u l h e r d e negócios b e m - s u c e d i d a , a sra.
W u , q u e foi a principal executiva da M i c r o s o f t e m P e q u i m até j u n h o d e 1999,
q u a n d o pediu demissão pelo q u e foi classificado de razões pessoais. P o r é m , p o r
i n t e r m é d i o d e u m g r a n d e a m i g o q u e t r a b a l h o u c o m a sra. W u e m sua a u t o b i o -
grafia, descobri q u e o verdadeiro m o t i v o p o r trás de sua d e m i s s ã o era a insatis-
fação c o m a f o r m a pela q u a l a M i c r o s o f t t o m o u conta d o m e r c a d o chinês. Ela
acreditava q u e algumas das estratégias utilizadas pela M i c r o s o f t p a r a c o m p e t i r
c o m empresas chinesas e r a m i m o r a i s e, p o r t a n t o , inaceitáveis. D i v i d i d a e n t r e
ser u m a b o a executiva e u m a b o a cidadã chinesa, ela escolheu se afastar a p ó s
t r a n s m i t i r suas queixas e protestos a seus superiores na sede d a M i c r o s o f t . "Afi-
nal", disse ela s i n t e t i c a m e n t e a m e u a m i g o após sua demissão, "eu s o u chinesa".
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Ao final de m i n h a pesquisa de c a m p o em 1999 eu estava convencido de que


ainda era m u i t o cedo para identificar u m a clara cultura de Davos nos círculos
empresariais chineses. E verdade que alguns elementos nos círculos empresa-
riais realmente a d o r a m estilos de vida extremamente ocidentalizados, estão
m u i t o ligados à cultura ocidental e n o trabalho c o m p o r t a m - s e de m o d o simi-
lar a seus equivalentes em Nova York o u Londres. Ao m e s m o tempo, ainda n ã o
é possível dizer em que grau a cultura de Davos poderá p e n e t r a r na vida social
chinesa e m e s m o se as elites empresariais p o d e m realmente atuar c o m o parte
de u m a classe capitalista transnacional (na expressão de Sklair) q u a n d o h o u -
ver conflitos entre os interesses da empresa e as tradições nacionais o u cultu-
rais. 3 Especialmente no que diz respeito a essa última, eu encontrei u m g r a n d e
n ú m e r o de h o m e n s e mulheres de negócios bem-sucedidos q u e d e m o n s t r a v a m
u m g r a n d e interesse e m p r o m o v e r u m rushang, o u m o d e l o de " m e r c a d o r
c o n f u c i a n o " local de elite empresarial — u m f e n ô m e n o que irei abordar rapi-
damente.
tfk grande questão de u m a cultura de negócios especificamente chinesa p o d e
yV/> ser levantada em função dos múltiplos m o d e l o s de propriedade e da incomple-
>; V ta e c o n o m i a de m e r c a d o d u r a n t e o período de transição do socialismo. U m a
empresa p o d e ser de propriedade do Estado, u m a joint-venture ou u m empreen-
' d i m e n t o estrangeiro independente. As pessoas e m diferentes tipos de empresas
< t ê m diferentes graus de acesso ao m u n d o exterior, diferentes éticas de trabalho
e diferentes valores e padrões de c o m p o r t a m e n t o ,
v / E m geral, aqueles que trabalham e m empresas estatais t e n d e m a ser mais
, conservadores e m e n o s sensíveis às m u d a n ç a s no m u n d o exterior; isso, p o r é m ,
n ã o p o d e necessariamente ser aplicado aos que o c u p a m altos postos nessas
empresas. Na verdade, em f u n ç ã o das ligações íntimas entre as c o m p a n h i a s es-
tatais e o governo, m u i t a s vezes baseadas e m a p a d r i n h a m e n t o , os executivos e
administradores dessas empresas t ê m a forte sensação de que fazem parte não
apenas da elite empresarial, mas t a m b é m da elite política. Muitos deles viajam
regularmente para a Europa e a América do Norte, e alguns e s t u d a r a m no exte-
r i o r ^ ) sr. Li, p o r exemplo, é vice-presidente de u m a empresa de propriedade da
Academia Chinesa de Ciências, que é u m instituto de pesquisas e u m órgão do
governo para a c o m u n i d a d e científica. O sr. Li é bem-sucedido e divide seu tem-
p o entre Los Angeles e Pequim, com sua m u l h e r e filha vivendo em Santa M ô -
nica, Califórnia, nos Estados Unidos. Ele, p o r é m , insiste em que e m b o r a admire

i
GLOBALIZAÇÃO ADMINISTRADA 35

o sistema de valores e o estilo d e vida dos Estados Unidos, t e m sua carreira n a


China e precisa preservar o estilo chinês de fazer negócios.
/ A s elites administrativas de joint-ventures e empresas estrangeiras são mais
V ocidentalizadas que seus equivalentes em empresas estatais, e muitas delas ob-
tiveram MBAs e outros títulos acadêmicos n o exterior. É interessante que essas
pessoas de fato estimulem a cultura ocidental n o local de trabalho, n o que diz
respeito, p o r exemplo, a u m sistema de administração institucionalizada ou a
^ ferramentas de comunicação e de socialização. ( O caso mais extremo q u e iden-
a ^(jj-% tifiquei foi aquele em que f o r a m impostas a todos os funcionários regras oci-
/ V dentais referentes ao vestuário, sendo que os funcionários do sexo feminino
f o r a m submetidos ainda a regras adicionais no q u e diz respeito à m a q u i a g e m ) .
Na vida privada, p o r é m , m u i t o s dos m e m b r o s dessas elites p e r m a n e c e m em
g r a n d e m e d i d a tradicionais, especialmente n o q u e diz respeito à f o r m a c o m o
lidam c o m relações de gênero, educação dos filhos e relações interpessoais. Eles
referiam-se a si m e s m o s c o m o u m novo tipo de "mercador confuciano" (neste
caso a palavra "mercador" refere-se a todos os tipos de h o m e n s de negócios), e
m u i t o s se o p u n h a m fortemente ao que consideravam a completa aceitação de
"aspectos superficiais da cultura ocidental" p o r jovens p r o f i s s i o n a i s . /

/ A idade faz g r a n d e diferença na China. Os jovens profissionais (pessoal téc-


nico, científico e de marketing na faixa dos vinte anos) que f o r m a m a maioria
do incipiente g r u p o social dos "colarinhos-brancos" c o s t u m a m abraçar os va-
lores e estilos de vida ocidentais c o m grande entusiasmo. Tendo crescido n o
ambiente mais arejado do final dos anos 80, esses yuppies apreciam a música
pop, os filmes e os valores morais ocidentais, c o m o a liberdade individual, a
independência e u m forte c o m p r o m i s s o c o m desfrutar u m a vida melhor. Eles
t a m b é m são os primeiros a adotar as novas tendências na m o d a , nos esportes,
no entretenimento e em outras atividades de c o n s u m o . C o m o são jovens e, na
maioria d o s casos, solteiros, eles t ê m a possibilidade e o privilégio de experi-
m e n t a r as n o v i d a d e s . ^
^ U m desdobramento interessante n o caso dos yuppies é q u e as mulheres ten-
d e m a se adaptar melhor e a se sentirem mais satisfeitas c o m seus empregos
que seus equivalentes do sexo masculino. Assim, u m grande n ú m e r o de m u -
v
. V- . - ^ l h e r e s entre vinte e cinco e trinta e cinco anos de idade o c u p a hoje postos ad-
/ ministrativos de nível m é d i o em muitas joint-ventures e empresas estrangeiras.
X Ademais, u m n ú m e r o crescente de profissionais d o sexo f e m i n i n o está encon-
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trando dificuldade em achar parceiros aceitáveis em função de seu novo status


e de seus salários mais altos no mercado de trabalho e de seu estilo de vida mais
ocidentalizado na esfera íntima. 5 ^
^Muitos desses jovens profissionais trabalham nos níveis mais baixos de ge-
rência, e suporte técnico, tanto em empresas estrangeiras quanto nas estatais.
Porém, à medida que envelhecem e passam a ocupar postos mais altos, tendem
J) j
a ser mais conservadores e tradicionais. Muitos acabam optando por se trans-
* f o r m a r e m e m "mercadores confucianos" ou bem-sucedidos h o m e n s de negó-

/ cios eruditos, semelhantes aos funcionários eruditos da China imperial. Aqui a


expressão "mercador confuciano" significa que o h o m e m de negócios é tam-
b é m u m erudito que d o m i n a a essência da tradicional cultura chinesa, dedica-
se à promoção da erudição e das questões culturais e m a n t é m fortes laços com
a elite p o l í t i c a ^ e g u n d o Chen Tiansheg, de Pequim, ele m e s m o u m conhecido
m e m b r o dessa classe, é u m equívoco definir "mercador confuciano" apenas
c o m o u m erudito que se t r a n s f o r m o u em h o m e m de negócios. "A base cultural
não pode, sozinha, transformar alguém em u m mercador confuciano. É f u n -
damental que o c o m p o r t a m e n t o da pessoa se adapte às n o r m a s confucianas,
c o m o benevolência, correção, propriedade, inteligência e sinceridade." 6
As características únicas do m u n d o dos negócios na China parecem ser a
razão fundamental para tantos dos m e m b r o s da elite empresarial abraçarem
os ideais dos mercadores confuciano^Apesar de duas décadas de reformas orien-
YJ tadas para o mercado, o mercado chinês ainda é caracterizado por u m sistema
^ misto em que o Estado controla recursos estratégicos, é proprietário da maio-
ria das grandes empresas e pode, em grande medida, determinar o destino de
empresas privadas por intermédio da implementação de políticas e regulamen-
tações específicas/Na maioria dos casos, ligações especiais com pessoas-chave
encarregadas de órgãos governamentais importantes são a chave para o suces-
so empresarial. Assim, a emergente classe empresarial depende do apoio do
governo (central ou local) e de seus agentes (os funcionários), u m f e n ô m e n o
batizado de "clientelismo simbiótico" por David Wank. Além disso, redes pes-
soais baseadas no parentesco e nos laços de amizade (guanxi) t a m b é m são ex-
tremamente importantes no m u n d o dos negócios. 7
Conseqüentemente, c o m o destacaram diversos entrevistados, na prática o
estilo ocidental de gerenciar e as habilidades nos negócios têm u m papel se-
cundário no que diz respeito ao sucesso de muitos empreendedores privados,

j
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e m b o r a em público m u i t o s a t r i b u a m seu sucesso a princípios de administra-


ção e tecnologia m o d e r n o s , de m o d o a reforçar o discurso oficial de m o d e r n i -
zação, q u e é a m p l a m e n t e aceito. N ã o é de e s t r a n h a r , p o r t a n t o , q u e t a n t o s
administradores e profissionais da elite empresarial chinesa t e n h a m u m a visão
de m u n d o f u n d a m e n t a l m e n t e restrita, apesar de seus sapatos italianos, seus
relógios suíços e seu inglês fluente.

Aprendendo com o Ocidente e a significação da erudição

C o m o já foi m o s t r a d o , u m a das principais razões pelas quais a elite empresarial


chinesa n ã o se sente compelida a se ocidentalizar é que a f o r m a chinesa de fazer
negócios a ajuda a sobreviver e obter sucesso na China. Isso, porém, não se aplica
a intelectuais e pesquisadores nas áreas de ciências sociais e h u m a n a s , que des-
c o b r i r a m que a m e l h o r f o r m a de conseguir sucesso é i m p o r t a r m é t o d o s de
pesquisa e teorias ocidentais. Parece-me que n o segundo c a m p o da globalização
cultural — cultura d e f a c u l t y club — o caso da China apresenta algumas carac-
terísticas da fase helenística da intelligentsia ocidental.
É reconhecido que a hegemonia da ideologia marxista e a economia plane-
jada são os dois pilares que sustentam a base de poder e a legitimidade do Par-
tido C o m u n i s t a C h i n ê s / M a s q u a n d o os líderes do Partido decidiram r e f o r m a r
^ a economia, t a m b é m esperavam manter intacta a antiga ideologia. Embora Deng
t^ Xiaoping t e n h a introduzido o p r a g m a t i s m o n o desenvolvimento econômico,
\ S t a m b é m insistiu e m que o partido-estado deveria m a n t e r os q u a t r o princípios
básicos: o c a m i n h o socialista, a ditadura do proletariado, a liderança do Parti-
do C o m u n i s t a e o p e n s a m e n t o marxista-leninista-maoísta^fesses quatro p r i n -
A ^ cípios p e r m a n e c e m considerados sacrossantos pelo partido desde q u e f o r a m
apresentados em 1979 e c o n t i n u a m sendo o núcleo da velha ideologia, assim
V «/ j S c o m o o símbolo da administração comunista. O partido-estado p u n e severa-
^s^" m e n t e qualquer u m que ouse c o n t e s t á - l o s /
A m e l h o r estratégia para os intelectuais que não contestam abertamente o
partido-estado mas b u s c a m conquistar m a i o r espaço intelectual e liberdade é
evitar o discurso marxista p o r intermédio da elaboração de o u t r o s sistemas.
Isso significa i m p o r t a r teorias ocidentais e paradigmas de pesquisa e utilizá-los
para criticar a sociedade e a cultura c o n t e m p o r â n e a s . Daí o c h a m a d o novo
38 PETER L. BERGER E SAMUEL P. HUNTINGTON

I l u m i n i s m o d o s anos 80, época em que floresceram todos os tipos de pensa-


m e n t o ocidental e foi publicado u m grande n ú m e r o de livros e artigos traduzi-
dos. Liberdade, democracia e a economia de m e r c a d o f o r a m introduzidas na
China c o m o as palavras mágicas da m o d e r n i d a d e , e os n o m e s de pensadores
ocidentais c o m o Weber, Freud, Sartre e Lévi-Strauss faziam parte do vocabulá-
rio corrente de intelectuais e estudantes universitários./
/ U m a forte tendência pró-ocidental ficou clara d u r a n t e os anos 80, culmi-
v
„"- n a n d o c o m o d o c u m e n t á r i o de televisão em seis partes River Elegy, transmiti-
K / d o entre 1988 e 1989. Essa série de TV desacreditou inteiramente a tradicional
;
^ v cultura chinesa e p r o p ô s u m a adoção incondicional da cultura ocidental. Nes-
<j ' * se p e r í o d o a maioria dos intelectuais chineses acreditava na universalidade d o
m o d e l o ocidental de modernização. Para eles, a única f o r m a pela qual a China
poderia se m o d e r n i z a r seria a p r e n d e n d o c o m o Ocidente. Essa tendência che-
gou ao fim c o m os incidentes da Praça da Paz Celestial em 4 de j u n h o de 1989.
/ N o s anos 90, enquanto alguns intelectuais tentavam redescobrir fontes úteis na
tradição (daí o renovado interesse no confucionismo), a maioria dos acadêmicos
atuantes utilizava o desconstrucionismo, o pós-colonialismo e outras teorias pós-
modernas para criticar o projeto de modernização. Michel Foucault, Edward Said,
Pierre Bourdieu e Jacques Derrida transformaram-se nos novos heróis culturais
dos pós-modernistas chineses, e houve u m a nova onda de tradução de livros es-
trangeiros, especialmente ingleses e franceses/Paralelamente à tendência pós-mo-
dernista, houve a tradução e divulgação por novos intelectuais liberais dos trabalhos
de Jürgen Habermas e Friedrich Hayek. Isso foi acompanhado, após 1997, de u m
acalorado debate entre a chamada Nova Esquerda e os novos liberais sobre o papel
do capitalismo global na China, com cada u m dos dois lados acusando o outro de
aplicar irrefletidamente as teorias ocidentais à realidade chinesa/
^ / O u t r o fator que contribuiu para a "globalização da intelectualidade" t e m
o r i g e m m u i t o mais m u n d a n a : apoio financeiro. C o m o na área de ciências so-
• ciais e h u m a n a s virtualmente só há u m a f u n d a ç ã o m a n t i d a pelo Estado, que
°r oferece bolsas apenas para projetos politicamente corretos, m u i t o s intelectuais
independentes e de m e n t e aberta são obrigados a buscar financiamento no ex-
terior, c o l a b o r a n d o c o m estudiosos estrangeiros o u apresentando projetos di-
retamente a fundações de outros países. Algumas instituições de financiamento
c o m escritórios na China d e m o n s t r a r a m grande interesse em estabelecer u m a
relação mais direta. A Fundação Ford, p o r exemplo, criou u m projeto de pes-
GLOBALIZAÇÃO ADMINISTRADA 39

quisa sobre trabalhadores rurais migrantes nas cidades chinesas e f o r m o u oito


equipes de pesquisa para desenvolver o projeto. O interessante é que seis das
oito equipes de pesquisa eram oriundas de centros de pesquisa financiados pelo
Estado; u m a era da Universidade de Pequim, e n q u a n t o a última era da Acade-
mia Chinesa de Ciências Sociais. /
^ / C o m o destacam intelectuais chineses, a ajuda externa de m o d o algum dispen-
sa u m a espécie de contrapartida. Para concorrer às bolsas, os pesquisadores preci-
sam elaborar seus projetos de acordo c o m as n o r m a s acadêmicas ocidentais e
produzir pesquisas que atendam aos interesses das instituições financiadoras/As-
sim, os pesquisadores chineses acabam adotando os padrões acadêmicos ociden-
tais tanto na teoria quanto no método, incluindo o trabalho dos mais radicais
pós-modernistas, que, aos olhos dos mais antiquados intelectuais liberais, podem
/ ser considerados os piores macacos de imitação da intelectualidade ocidental.
^ A j m desdobramento é que empresas transnacionais começaram a criar bol-
f sas e cadeiras nas principais universidades da China, dessa f o r m a exercendo
grande influência sobre os e s t u d a n t e s ^ e g u n d o u m a reportagem de 1997, aci-
m a de 70 p o r cento dos 4 milhões em bolsas de estudos da Universidade de
P e q u i m e r a m oferecidos p o r empresas transnacionais, e n q u a n t o na vizinha
Universidade de Qinghua, 50 por cento das bolsas p r o v i n h a m de fontes exter-
nas. C o m o essas duas escolas de elite são consideradas a versão chinesa de
Harvard e do MIT, respectivamente, m u i t o s c o m e ç a r a m a ficar p r e o c u p a d o s
c o m a influência a longo prazo que as bolsas estrangeiras p o d e r i a m ter sobre
os círculos intelectuais e científicos da China. 8
/ C o m o destacaram muitos dos m e u s entrevistados, esse é u m duplo dilema
para os pesquisadores chineses que defendem a independência e a liberdade de
• çxpressão. N o plano econômico, eles precisam escolher entre as fundações go-
. ' vernamentais controladas pelo partido e as fontes externas de financiamento
que de m o d o algum são apolíticas no m o m e n t o de gastar dinheiro c o m bolsas
na China; no plano político, eles desejam se o p o r ao opressivo regime político
autoritário (o que de f o r m a alguma significa aplaudir o capitalismo e a econo-
m i a de m e r c a d o ) , m a s t a m b é m querem defender a cultura chinesa do poder
avassalador d o capitalismo global, sem d i m i n u i r o r i t m o das reformas que irão
abrir o país para o m u n d o exterior.^
C o m o reação à cada vez mais forte influência da intelectualidade ocidental
na China (deve-se notar que m e s m o pesquisadores de literatura chinesa antiga
40 PETER L. BERGER E SAMUEL P. HUNTINGTON

são obrigados a fazer u m teste de inglês q u a n d o indicados para promoção), pas-


sou a ser popular nos últimos anos u m a tendência a sinificar as ciências sociais, e
há mais de dois anos as normas acadêmicas têm sido motivo de debate nos prin-
cipais círculos acadêmicos. U m grande n ú m e r o de intelectuais atribui isso à po-
sição débil da China na política e na economia mundiais. Eles a r g u m e n t a m que
q u a n d o a China atingir seu objetivo de modernização suas tradições acadêmicas
serão amplamente aceitas pela comunidade intelectual global. 9

A vitória do Big Mac e das superproduções de Hollywood

//k cultura popular é claramente uma área em que a influência global é dominante.
Seriados de TV tanto do Ocidente quanto dos países vizinhos, superproduções de
Hollywood, música pop de Hong Kong e Taiwan, desenhos animados japoneses, as
finais da NBA e os jogos da Copa do M u n d o de Futebol estão entre os principais
itens de consumo cultural da maioria do público em geral "Quando Michael Jordan
se retirou das quadras em 1999, muitos fãs chineses ficaram bastante abalados e
durante semanas jornais e revistas chinesas publicaram matérias sobre ele.10
» *-L -

> / U m o u t r o exemplo é o crescimento d o M c D o n a l d s em Pequim. U m dos


maiores símbolos da cultura americana e empresa líder da indústria do fastfood,
o McDonald's fez sucesso desde que entrou no mercado chinês n o início dos
anos 90. E m Pequim, o McDonald's abriu sua primeira lanchonete e m abril de
1993; n o verão de 1998, já eram 37 lojas espalhadas pela cidade. C o m o já desta-
quei, o que atraía os consumidores às lojas do McDonald's de m o d o algum eram
apenas os hambúrgueres, mas os elementos culturais associados aos america-
nos e o espaço social especial onde o público c o m u m p o d e u s u f r u i r da comida
americana e da versão chinesa da cultura popular americana. 1 1 ^
São particularmente notáveis alguns novos d e s d o b r a m e n t o s no c a m p o da
cultura popular. Primeiramente, o c o n s u m i s m o agora serve c o m o cenário ideo-
lógico para a cultura popular, e a cultura popular, por sua vez, encoraja o c o n -
s u m o de massa/Desde o início dos anos 90 o c o n s u m o t r a n s f o r m o u - s e em u m a
nova ideologia cultural na sociedade chinesa, silenciosamente substituindo tanto
a ideologia marxista q u a n d o os valores chineses tradicionais. Diferentemente
do c o n s u m o de massa dos anos 80, concentrado em eletrodomésticos c o m o
geladeiras e aparelhos de TV, o c o n s u m i s m o dos anos 90 apresenta u m novo
GLOBALIZAÇÃO ADMINISTRADA 41

interesse em u m a g r a n d e variedade de atividades de lazer, muitas das quais es-


tão n o cerne da cultura popular, c o m o esportes, ginástica, MTV, bares c o m
karaokê e assim p o r d i a n t e à o m e s m o tempo, valores hedonistas e o desejo de
bens materiais são expostos cruamente em séries de televisão, na música pop,
em filmes e em outras formas de p r o d u t o s de massa, encorajando as pessoas a
consumir mais e mais. Essa m u d a n ç a , p o r sua vez, d e t e r m i n o u o desenvolvi-
m e n t o da cultura popular. 1 ^
F f Depois, o rápido desenvolvimento da cultura popular de certa f o r m a aju-
vj d o u a criar u m n o v o tipo de espaço social — u m espaço que é a l t a m e n t e
comercializado mas está além da vigilância e do controle do EstadoAntre muitas
outras coisas, isso inclui o rápido crescimento das editoras privadas, de jornais
e revistas não-ofíciais e de filmes e séries de TV financiados pela iniciativa pri-
vada. E m 1997 havia mais de 5 mil jornais e 9.175 o u t r o s periódicos na China.
A maioria deles dependia do mercado, e para sobreviver precisava se colocar
n o m e r c a d o da cultura popular.
/ F i n a l m e n t e , a influência ocidental não é a única força globalizante no c a m -
p o da cultura popular. Novelas de TV e música popular, p o r exemplo, são in-
fluenciadas principalmente p o r H o n g Kong, Taiwan, Cingapura e Japão.fcomo
m o s t r a T h o m a s Gold, a cultura popular produzida e m H o n g Kong e Taiwan,
incluindo canções pop, musicais, filmes de artes marciais, novelas de TV e lite-
ratura de ficção, é particularmente atraente para os consumidores na região da
China (bem como na Coréia do Sul). O conteúdo ameno, a perspectiva escapista
e a língua chinesa fazem c o m que sejam m u i t o mais acessíveis à grande m a i o -
ria do público chinês, diferentemente da cultura p o p u l a r ocidental, que precisa
passar por u m processo de localização. 13 De qualquer f o r m a , o a r g u m e n t o da
proximidade cultural não explica a igual popularidade dos desenhos a n i m a d o s
japoneses e dos filmes de Hollywood na sociedade chinesa.

Direitos individuais e movimentos sociais

MOVIMENTOS RELIGIOSOS

Movimento social, e particularmente movimento religioso, é u m campo sob cui-


dadosa vigilância do partido-estado em função de seu potencial para o desenvolvi-
42 PETER L. BERGER E SAMUEL P. HUNTINGTON

m e n t o de forças de oposição. O cristianismo, por exemplo, desenvolveu-se rapida-


mente na sociedade chinesa das últimas duas décadas, mas apenas as igrejas protes-
tante e católica, autorizadas pelo Estado, têm permissão para existir e se desenvolver.
Aquelas que se recusam a cooperar com o Estado são consideradas subversivas e
proibidas. Uma pesquisa de 1993 mostrou que havia mais de seis milhões de pro-
testantes e perto de quatro milhões de católicos na China, mas esses números são
incompletos, pois incluem apenas os cristãos oficialmente registrados. Atividades
religiosas clandestinas e/ou não-registradas provavelmente envolvem u m número
muito maior de praticantes. Alguns estudiosos estimam o número total de protes-
tantes e católicos na China em algo entre 30 milhões e 40 milhões. 14 //
O recente ataque à seita Falun G o n g m o s t r o u mais u m a vez que o p a r t i d o -
estado n ã o irá tolerar n e n h u m a f o r m a de organização independente na socie-
dade. Tendo surgido n o início dos anos 90 c o m o u m m o v i m e n t o popular que
combinava exercícios respiratórios, cura pela fé e u m a mensagem milenarista,
a Falun Gong já tinha 70 milhões de seguidores e m 1999, além de outros 30
milhões ou mais espalhados pelo m u n d o . Esse n ú m e r o excede o total de m e m -
bros do Partido C o m u n i s t a (cerca de 62 milhões) e preocupa os líderes do PC.
Foi noticiado que o f u n d a d o r da Falun Gong, mestre Li Hongxhi, foi obrigado
a m u d a r - s e para Nova York p o r pressão do governo. Q u a n d o vários líderes da
seita f o r a m presos e m abril de 1999, mais de dez mil seguidores reuniram-se
em frente a Z h o n g n a n h a i , complexo de escritórios e residências dos principais
líderes chineses, para u m protesto. A manifestação t e r m i n o u r a p i d a m e n t e após
u m a negociação c o m os líderes do g r u p o , m a s a reunião, que ocorreu e m data
p r ó x i m a ao décimo aniversário dos incidentes da Praça da Paz Celestial, foi u m
i m p o r t a n t e alerta para os líderes do PC chinês e para o m u n d o exterior. Foi
lançada e m julho de 1999 u m a c a m p a n h a nacional patrocinada pelo Estado
c o n t r a a Falun Gong, c o m o partido-estado mobilizando virtualmente toda a
mídia e todos os recursos de organização para atacar a Falun Gong e utilizando
o sistema legal para p u n i r u m b o m n ú m e r o de líderes da seita. 15

MOVIMENTOS SECULARES

Vamos agora examinar três m o v i m e n t o s sociais seculares — defesa do consu-


m i d o r , proteção ambiental e f e m i n i s m o — que estão, de várias formas, ligados
ao processo de globalização.
GLOBALIZAÇÃO ADMINISTRADA 43

^ E m b o r a o m o v i m e n t o de defesa d o consumidor tenha surgido espontanea-


^ mente, sem n e n h u m a ligação clara com fontes ocidentais, o partido-estado desde
o início d e s e m p e n h o u u m i m p o r t a n t e papel de liderança. A primeira organi-
zação nacional de defesa do c o n s u m i d o r foi criada em u m distrito da região
central da China e m 1983. Um a n o depois, foi criada a Associação dos C o n s u -
midores da China, com forte apoio do partido-estado. E m 1998, a associação
tinha estabelecido u m a rede nacional c o m mais de três mil escritórios nos ní-
veis provincial, municipal e distrital, além de 45 mil organizações de base abai-
xo do nível distrital. O governo paga os salários de todos os funcionários da
associação acima do nível distrital e as verbas operacionais v ê m de i m p o r t a n -
tes órgãos g o v e r n a m e n t a i s / E m b o r a a associação seja registrada c o m o u m a
"organização de massa" no Ministério dos Assuntos Civis, o presidente e o vice-
presidente, e m todos os níveis, devem ser m e m b r o s do partido transferidos do
Escritório de Administração de Indústria e Comércio. 1 6 Além do apoio oficial à
associação, o partido-estado t a m b é m pressionou p o r m a i o r controle legal so-
bre o m e r c a d o de consumo, c o m o a Lei de Proteção dos Interesses e d o Poder
do Consumidor, implementada em 1995.

O apoio oficial à associação deu a ela o p o d e r necessário para lidar c o m


fabricantes e prestadores de serviços no que diz respeito às queixas do consu-
midor, chegando a obter u m a taxa de sucesso de 90 p o r cento na obtenção de
^ compensação para os consumidores. Em f u n ç ã o disso, o n ú m e r o de queixas de
c / consumidores pulou de m e n o s de oito mil e m 1985 para mais de 700 mil em
^ 1997, o que p o r sua vez levou a u m a u m e n t o na consciência do público dos
direitos do consumidor e da identidade individual (ou seja, o consumidor c o m o
u m i n d i v í d u o ) / l n s p i r a d o no sucesso da associação, u m g r a n d e n ú m e r o de in-
divíduos começou a defender seus direitos, e o n ú m e r o de processos m o v i d o s
p o r consumidores a u m e n t o u rapidamente. 1 7 Porém, o apoio oficial ao movi-
m e n t o de defesa do c o n s u m i d o r t a m b é m a u m e n t o u a dependência d o cidadão
do governo. C o m o a associação é u m órgão semi-oficial, o envio de queixas
t o r n o u - s e u m a f o r m a dos consumidores fazerem petições ao governo, u m a
so prática q u e r e m o n t a à China antiga.
y , rfSe o m o v i m e n t o de defesa do c o n s u m i d o r só p o d e ser genericamente atri-
b u í d o a influências externas (por intermédio da i m p o r t a ç ã o de algumas idéi-
^ v, as e p o n t o s de vista), o m o v i m e n t o ambientalista chinês foi a l i m e n t a d o , e de
)f certa f o r m a até m e s m o conduzido, p o r várias forças globais, desde f u n d a ç õ e s
44 PETER L. BERGER E SAMUEL P. HUNTINGTON

privadas até as Nações Unidas/Ademais, e m f u n ç ã o de sua g r a n d e d e p e n d ê n -


cia de a p o i o externo t a n t o para a teoria q u a n t o para o f i n a n c i a m e n t o , as or-
g a n i z a ç õ e s a m b i e n t a l i s t a s c h i n e s a s p a r e c e m ser m a i s i n d e p e n d e n t e s d o
controle g o v e r n a m e n t a l e, assim, a s s u m e m algumas das características das
associações voluntárias. O m a i o r g r u p o ambientalista é o Amigos da N a t u r e -
za, c o m sede e m Pequim; em 1998 ele tinha c o m o m e m b r o s mais de q u a t r o -
centas pessoas e vários grupos. Suas atividades incluem p r o g r a m a s educativos,
reflorestamento, proteção a espécies animais e m o n i t o r a m e n t o da mídia. O u -
tra organização ambientalista, Aldeia Global, concentra-se exclusivamente em
atividades educativas. Os dois g r u p o s recebem r e g u l a r m e n t e verbas de f u n -
dações estrangeiras, e seus líderes v i a j a m f r e q ü e n t e m e n t e p a r a o exterior
(deve-se n o t a r que esses líderes falam inglês f l u e n t e m e n t e , o q u e provavel-
m e n t e é u m a exigência da f u n ç ã o ) .
Recentemente esses g r u p o s f o r a m criticados p o r seu interesse exagerado na
exposição na mídia e sua dependência do apoio externo. C o m o alertou u m es-
tudioso, e m b o r a haja u m g r a n d e n ú m e r o de questões a serem abordadas em
Pequim e nas vizinhanças, o g r u p o Amigos da Natureza sempre desenvolve pro-
jetos em lugares distantes e exóticos, c o m o Yunnan ou Tibete, que atraem a aten-
ção da imprensa e de instituições de proteção da natureza estrangeiras, c o m o a
Sociedade para a Proteção de Espécies Ameaçadas.
p v O terceiro m o v i m e n t o secular, o f e m i n i s m o , ainda n ã o se e x p a n d i u além
v , de u m p e q u e n o círculo de estudiosos, jornalistas, artistas e o u t r o s m e m b r o s
* da elite cultural. É interessante n o t a r que os estudiosos chineses do feminis-
m o t e n t a r a m se afastar do c a m p o dos estudos sobre a m u l h e r , i n d i c a n d o q u e
eles c o n s i d e r a m o f e m i n i s m o diferente da libertação da m u l h e r — u m a ex-
pressão m u i t o politizada utilizada pelo p a r t i d o - e s t a d o / f a a s ú l t i m a s décadas,
os e s t u d o s da m u l h e r em particular e as questões da m u l h e r em geral e r a m
p r e s u m i d a m e n t e a b o r d a d a s pela Associação de Mulheres de Toda a China,
que, c o m o o u t r a s organizações semi-oficiais, t e m escritórios e m t o d o s os ní-
veis da a d m i n i s t r a ç ã o ^
^Segundo algumas intelectuais feministas, foi a Conferência M u n d i a l da
Mulher, p r o m o v i d a pela O N U em Pequim em 1995, q u e q u e b r o u o gelo e in-
troduziu na C h i n a u m a genuína perspectiva feminista. Na época o partido-es-
v V t a d o estava ansioso para sediar a conferência, pois queria restaurar a imagem
reformista e de abertura logo após os incidentes da Praça da Paz Celestial,®es-
é
GLOBALIZAÇÃO ADMINISTRADA 45

sa f o r m a , aceitou t o d o u m c o n j u n t o de noções n o r m a l m e n t e utilizadas no dis-


curso feminista n o Ocidente, c o m o teoria d o gênero e estudo de gênero, que
e r a m inteiramente novas para aqueles que t i n h a m estado envolvidos c o m o
. trabalho da m u l h e r ou estudos da m u l h e r sob a liderança da Associação. Por
intermédio de seus representantes na associação de mulheres, o partido-estado
t a m b é m aceitou a idéia de que u m p o n t o de vista de gênero deveria ser incor-
p o r a d o à formulação das políticas, sem perceber que essa teoria, que tinha sur-
gido n o Ocidente, era em muitos aspectos conflitante c o m a teoria marxista da
libertação da mulher.//
^O reconhecimento pelo partido-estado da teoria do gênero levou, segundo
algumas intelectuais feministas, a u m a revolução nos estudos convencionais da
m u l h e r e no m o v i m e n t o feminista na China, p o r q u e deu u m status de legitimi-
dade às teorias feministas e abriu u m novo espaço para o crescimento d o m o -
v i m e n t o / D e 1993 ( d u r a n t e os preparativos para a conferência da O N U ) a 1998
f o r a m criados mais de trinta institutos de pesquisa, f o r a m realizados mais de
cem seminários ou conferências e publicados mais de 150 livros e quase dois
mil artigos. Várias intelectuais feministas a r g u m e n t a m que essa atividade não
teria sido possível sem a Conferência Mundial da Mulher. Ao m e s m o t e m p o ,
estudiosos e funcionários da associação de mulheres, c o m apoio ideológico e
prático d o partido-estado, esforçaram-se para defender u m a perspectiva m a r -
xista n o s estudos da mulher.
Estudiosos do feminismo t e n d e m a receber verbas e bolsas do exterior, en-
q u a n t o os estudiosos dedicados aos estudos convencionais da m u l h e r são apoia-
dos pela associação de mulheres oficial. Isso a u m e n t a ainda mais a distância
entre os dois grupos, dificultando as relações entre influência global e resistên-
cia local. Segundo u m acadêmico ligado à associação de mulheres, e m várias
o p o r t u n i d a d e s intelectuais feministas b e m conhecidas tiveram dificuldade de
obter permissão para viajar ao exterior, pois seus rivais nas associações locais
de mulheres estavam insatisfeitos c o m suas pesquisas orientadas para o exte-
rior e seus contatos estrangeiros. Ademais, alguns estudiosos f o r m a d o s n o Oci-
dente t a m b é m f o r a m acusados de tentar monopolizar os estudos de gênero nos
t e r m o s definidos pelos estudiosos feministas ocidentais. Segundo vários entre-
vistados, a competição e o conflito entre forças externas e internas n o c a m p o
dos estudos de gênero ainda n ã o f o r a m resolvidos.
46 PETER L. BERGER E SAMUEL P. HUNTINGTON

"CHINA PARA O M U N D O " : AGENTES E INSTRUMENTOS


DE GLOBALIZAÇÃO CULTURAL

C o m o já foi m e n c i o n a d o , n o final d o s a n o s 90 era clara a forte p r e s e n ç a d a


c u l t u r a ocidental ( b a s i c a m e n t e a m e r i c a n a ) e m t o d o s os q u a t r o aspectos d o
processo de globalização cultural n a C h i n a , e m b o r a sua influência n a c u l t u r a
chinesa variasse n o s diferentes g r u p o s , g ê n e r o s e áreas sociais. A t e n d ê n c i a à
ocidentalização t a m b é m era c l a r a m e n t e d e m o n s t r a d a e m m u d a n ç a s n a v i d a
cotidiana, c o m o as crescentes d e m a n d a s p o r a m o r r o m â n t i c o e liberdade sexual,
a crescente taxa de divórcios e o s u r g i m e n t o d o s pais solteiros, a vitória d o
c o n s u m i s m o e d o fetichismo d o s bens, a febre p o r MBAs e a língua inglesa, a
p o p u l a r i d a d e das redes a m e r i c a n a s defastfoodea competição entre a juventu-
de u r b a n a p a r a ser "cool".
Será possível identificar a q u i u m processo de convergência cultural? A res-
p o s t a p o d e ser sim se for contabilizado s i m p l e s m e n t e o n ú m e r o de itens c u l t u -
rais ocidentais i m p o r t a d o s pela C h i n a e c o n s u m i d o s pela p o p u l a ç ã o local. M a s
u m a o b s e r v a ç ã o atenta m o s t r a q u e n o r m a l m e n t e a c u l t u r a i m p o r t a d a é t r a n s -
f o r m a d a e localizada, c o m o n o caso d o M c D o n a l d ' s e m P e q u i m . M a i s i m p o r -
t a n t e ainda, p r e c i s a m o s prestar m u i t a atenção na ação da p o p u l a ç ã o local, p o i s
e m m u i t o s casos elas n ã o p a r t i l h a m a m e s m a perspectiva q u e os o b s e r v a d o r e s
externos.

Propriedade e agentes

O e l e m e n t o f u n d a m e n t a l aqui é a p r o p r i e d a d e da e m e r g e n t e c u l t u r a global. E m
o u t r a s palavras, valores culturais e p r o d u t o s culturais o r i g i n a d o s n o O c i d e n t e
c o n t i n u a m a p e r t e n c e r ao O c i d e n t e m e s m o depois d e t e r e m sido e x p o r t a d o s
p a r a u m a sociedade n ã o - o c i d e n t a l ? É s t u d o s a n t r o p o l ó g i c o s d e t r a n s n a c i o n a -
lismo d e m o n s t r a r a m q u e a e m e r g e n t e c u l t u r a global é m a r c a d a m a i s pela di-
versidade q u e pela u n i f o r m i d a d e , pois, c o m o n o t a Richard A d a m s , as c u l t u r a s
locais " c o n t i n u a m a p r o d u z i r novas entidades sociais emergentes, c o n t i n u a m a
surgir novas f o r m a s de a d a p t a ç ã o de m o d o a objetivar a sobrevivência e a re-
p r o d u ç ã o t a n t o p o r i n t e r m é d i o do t r a b a l h o específico d o capitalismo q u a n t o
apesar dele". 18 A análise feita p o r Daniel Miller de u m a novela d e T V a m e r i c a n a
GLOBALIZAÇÃO ADMINISTRADA 47

em Trinidad, p o r exemplo, revela que a audiência local tentava apropriar-se


daquele p r o d u t o cultural estrangeiro em sua vida social. A origem geográfica
da cultura importada tornou-se cada vez m e n o s importante. Miller destaca que
o que realmente i m p o r t a são as suas conseqüências locais. 19
/ D e fato, a localização da cultura estrangeira e a f o r m a nativa de aproxima-
jJ* ção de u m a cultura i m p o r t a d a são f u n d a m e n t a i s para a compreensão do atual
processo de globalização cultural na China, já que a maioria dos chineses ado-
tou u m a p o s t u r a ativa e positiva em relação à cultura estrangeira i m p o r t a d a . '
Isso está refletido oficialmente n o slogan dos anos 90, Zhongguo zouxiang shijie,
shijie zouxiang Zhongguo (A China para o m u n d o e o m u n d o para a China),
que e m b u t e u m a mensagem dupla. E m u m nível, a ênfase é na m ã o dupla, o
processo equivalente pelo qual a China está ativamente se a b r i n d o para o m u n -
d o ao m e s m o t e m p o em que o m u n d o está se abrindo para a China. E m u m
nível mais p r o f u n d o , o slogan indica u m m o v i m e n t o em direção a u m a cultura
estrangeira, o q u e é revelado pelo verbo zouxiang, que significa " c a m i n h a n d o /
m a r c h a n d o r u m o a".
/ N o nível social, m u i t o s intelectuais, elites e m p r e s a r i a i s e profissionais
se a p r o p r i a r a m p o s i t i v a m e n t e de valores c u l t u r a i s e p r o d u t o s c u l t u r a i s d o
O c i d e n t e , c o m o já foi descrito. Para eles, a p r o p r i e d a d e da c u l t u r a o c i d e n -
tal n ã o é imutável n e m intransferível; ao c o n t r á r i o , eles t ê m u m a sensação
de posse ao c o n s i d e r a r a c u l t u r a estrangeira localizada c o m o s e n d o sua, o u
c o m o p a r t e da c u l t u r a global emergente na qual eles t a m b é m d e s e m p e n h a m
um p a p e l /
U m b o m exemplo é o estudante universitário citado n o início deste capítu-
lo. C o m o ele disse, jogos da NBA, Coca-Cola, filmes de Hollywood e a declara-
ção de Independência dos Estados Unidos pertencem ao novo m u n d o ao qual
ele se sente ligado. E m jargão acadêmico,"a cultura global emergente transcen-
de as fronteiras nacionais"; ou, c o m o afirma sem rodeios u m i m p o r t a n t e escri-
tor, se u m a cultura p o d e ajudar a melhorar o desenvolvimento econômico e os
padrões de vida de outras nações, essa cultura deve ser partilhada p o r todas as
sociedades h u m a n a s e ser c h a m a d a de " u m a cultura partilhada da raça h u m a -
na". Desnecessário perguntar se os elementos dessa cultura partilhada da raça
h u m a n a pertencem ao socialismo ou ao capitalismo, ao Ocidente ou ao O r i e n -
te. 20 U m a postura tão positiva e m relação à cultura i m p o r t a d a m o s t r a clara-
m e n t e o papel central da ação na escolha da globalização cultural pela China.
48 PETER L. BERGER E SAMUEL P. HUNTINGTON

Q u a t r o grupos sociais, ou agentes, são particularmente importantes por seu


papel ativo na p r o m o ç ã o da globalização cultural: (1) empresas transnacionais
e outras instituições estrangeiras que p r o d u z e m e/ou e x p o r t a m p r o d u t o s cul-
turais para a China; (2) o Estado chinês, que administra o influxo de cultura
estrangeira p o r intermédio do controle do m e r c a d o cultural; (3) intelectuais
chineses e o u t r a s elites culturais, que f u n c i o n a m t a n t o c o m o comentaristas
q u a n t o c o m o praticantes da globalização cultural; e (4) a juventude chinesa,
que f o r m a o mais leal e entusiasmado núcleo de consumidores da cultura im-
p o r t a d a . E m b o r a os q u a t r o g r u p o s t e n h a m seu papel no processo de globa-
lização cultural, o globalizador/exportador e os principais c o n s u m i d o r e s da
emergente cultura global (categorias 1 e 4) parecem d e s e m p e n h a r u m papel
m e n o s i m p o r t a n t e que os o u t r o s dois agentes, os intelectuais chineses e o Esta-
do chinês.
, ^Resumindo, u m a preocupação c o m u m do globalizador/exportador é c o m o
penetrar no m e r c a d o chinês e obter lucros rápidos. Para atingir esse objetivo, a
localização parece ser a principal estratégia a d o t a d a pelas e m p r e s a s t r a n s -
nacionais. C o m o m e foi dito p o r u m gerente de alto escalão do McDonald's de
Pequim, o McDonakFs não é u m a empresa multinacional, mas u m a empresa
multilocal, e o McDonald's de Pequim tem o c o m p r o m i s s o de fazer dos h a m -
búrgueres parte integrante da cultura culinária local/ÍÒepois que a Kodak c o m -
p r o u sete e m p r e s a s de filmes chinesas e t o r n o u - s e u m a das d u a s m a i o r e s
c o m p a n h i a s d o r a m o na China, seu principal executivo disse ao público chinês
q u e a China Kodak C o m p a n y queria se t r a n s f o r m a r em " u m a empresa chinesa
de primeira linha". 21
^ C u r i o s a m e n t e , e m b o r a eles sejam os mais entusiasmados c o n s u m i d o r e s da
cultura i m p o r t a d a , os jovens de hoje parecem ser mais nacionalistas que aque-
les nascidos nos anos 50 e 60/^Como já foi mostrado, a maioria dos jovens urba-
nos gosta dos valores ocidentais, como a liberdade individual e a independência,
prefere c o n s u m i r bens i m p o r t a d o s sempre que pode e t a m b é m deseja apren-
der inglês e estudar n o exterior, preferencialmente nos Estados Unidos (o exa-
m e TOFEL, por exemplo, permaneceu popular entre os estudantes universitários
ao longo de toda a década de 1990).
J k o m e s m o t e m p o , u m g r a n d e n ú m e r o de jovens tem opiniões negativas
sobre os Estados Unidos p o r ser u m a superpotência hegemônica, c o m o m o s -
t r a r a m duas pesquisas realizadas c o m jovens u r b a n o s em 1994 e 1995. 22 /Em
GLOBALIZAÇÃO ADMINISTRADA 49

maio e em j u n h o de 1999, Beijingqingnianbao (Diário da Juventude de Pequim),


u m dos dois mais populares jornais da China, publicou u m a série de artigos e
debates sobre temas c o m o direitos h u m a n o s , liberdade de expressão, c i n e m ã o
americano e cultura ocidental em geral. Um dos temas centrais dessas discus-
sões, que fizeram grande sucesso entre os jovens leitores, era a crítica à hege-
m o n i a americana. que deve ser levado em conta aqui é que a globalização
cultural não implica necessariamente no desaparecimento do nacionalismo
político — sob certas circunstâncias os dois p o d e m m u i t o b e m coexistir./
Os mais importantes agentes de globalização cultural na China, porém, são
os intelectuais e o Estado, e as interações de a m b o s constituem u m discurso de
duas décadas sobre as estratégias e esforços da China para se abrir para o m u n d o .

Como os intelectuais chineses vêem a globalização cultural

Nos anos 90, o tema da globalização já não era u m a novidade para os acadêmi-
cos e políticos chineses, que estavam envolvidos nessas discussões desde o iní-
^ cio dos anos 80/Átfais i m p o r t a n t e ainda, o discurso chinês da globalização se
l<' apresenta c o m o u m a continuação da grandiosa história d o projeto de m o d e r -
Vy nização, e m oposição à maioria das discussões ocidentais, que consideram a
/ globalização u m f e n ô m e n o pós-industrial, p ó s - m o d e r n o . "
A maioria dos intelectuais e políticos vê a globalização c o m o u m a t e n d ê n -
cia histórica ao m e s m o t e m p o inevitável e inescapável — c o m u m forte t o q u e
de teleologia histórica, em o u t r a s p a l a v r a s . ^ e g u n d o alguns d e f e n s o r e s da
globalização, por exemplo, toda a história m o d e r n a da China pode ser vista c o m o
fr j u m a série de tentativas de enfrentar os desafios do m u n d o exterior e recuperar
j, seu status na c o m u n i d a d e global de estados-nações. D u r a n t e o primeiro está-
J
f gio (1840-1949), o Estado chinês t r a n s f o r m o u - s e e m vassalo das potências
ocidentais d u r a n t e o processo de globalização. O segundo estágio (1949-1978)
foi m a r c a d o pelos esforços do Partido Comunista Chinês para resistir à globa-
lização d o m i n a d a pelo Ocidente por intermédio de sua via socialista, q u e teve
c o m o modelo a União Soviética. E e m b o r a a resistência à globalização tenha
assegurado a independência política da China, t a m b é m fez c o m que enfrentas-
se u m grande atraso no que diz respeito à sua economia e à sua cultura. Apenas
d u r a n t e o atual terceiro estágio a China participou ativamente de todos os as-
50 PETER L. BERGER E SAMUEL P. HUNTINGTON

pectos do processo de globalização, pelo que os esforços reformistas do parti-


do-estado, entre outros, devem ser reconhecidos. 24 /(
A globalização cultural foi apresentada c o m o u m tema importante pela
primeira vez nos anos 80, durante u m debate sobre o status da China no m u n -
do contemporâneo. Tudo começou com u m artigo publicado em 1987, alertando
para o fato de que, a não ser que a China acelerasse seu processo de reformas, o
país provavelmente seria mais u m a vez deixado para trás na nova era pós-in-
dustrial. Se isso ocorresse, a China iria acabar perdendo seu lugar na emergen-
te aldeia global (qiuji em chinês, ou lugar global). O artigo imediatamente atraiu
a atenção da mídia e levou a u m a discussão do lugar global nos meios acadêmi-
cos e em outros círculos da elite. Na base da discussão estava u m apelo urgente
por reformas mais radicais e maior abertura na sociedade chinesa, assim como
u m a forte tendência pós-ocidental, defendendo u m a introdução mais agressi-
va da cultura ocidental na sociedade chinesa (ou o aprendizado com o Ociden-
te, como diziam r u d e m e n t e alguns dos defensores da tese). 25
/ N o início dos anos 90, o t e m a da globalização novamente se t o r n o u o foco
de u m debate entre dois grupos opostos. Segundo intelectuais liberais e refor-
madores em círculos oficiais, a globalização é u m novo estágio no processo de
modernização, e u m a oportunidade de desenvolvimento que a China não pode
se dar o luxo de perder. Alguns sustentam que a globalização pode trazer paz
p e r m a n e n t e ao m u n d o , eliminar as desigualdades entre países desenvolvidos e
em desenvolvimento e levar ao desenvolvimento e à prosperidade. Outros ar-
g u m e n t a m que a globalização cultural irá levar para a China valores universais
como liberdade, democracia e direitos humanos, sendo, portanto, politicamente
benéfica para o povo chinês. 26
A postura dominante entre os intelectuais chineses é receber de braços aber-
tos o processo de globalização e participar ativamente dele. O principal argu-
m e n t o é o de que a globalização é o mais alto estágio de m o d e r n i z a ç ã o e
desenvolvimento h u m a n o / U m a crítica da globalização na China, portanto,
t a m b é m precisa levar em conta o tema da modernização, e por isso as críticas à
globalização são feitas principalmente por u m pequeno grupo de intelectuais
que f o r a m classificados de Nova Esquerda ou Neomarxistas. Segundo sua vi-
são, o capitalismo global acabará fazendo mais mal à China do que bem, e o
modelo ocidental de modernização não é o caminho adequado para o país. Eles
estão mais preocupados com as crescentes desigualdades sociais provocadas pela
GLOBALIZAÇÃO ADMINISTRADA 51

rápida acumulação de capital e a acelerada degradação social-cultural-ambiental


provocada pelo desenvolvimento econômico cego estimulado pelo partido-es-
tado e a entrada de capital estrangeiro. 2 7 /
E m relação ao debate sobre o papel da China no processo de globalização,
o tema do nacionalismo t a m b é m foi u m a preocupação central entre os intelec-
tuais chineses nos anos 90. A tentativa fracassada chinesa de sediar os jogos
olímpicos de 2000, a longa negociação para a entrada da China na Organiza-
ção Mundial do Comércio, a tensão p o r causa do Estreito de Taiwan em 1996 e,
mais recentemente, o b o m b a r d e i o acidental, pela O t a n , da embaixada chinesa
e m Belgrado em 1999, f o r a m g r a n d e s a c o n t e c i m e n t o s sociopolíticos q u e
deflagraram u m debate acalorado acerca do nacionalismo d u r a n t e a década
passada. U m dos principais textos nacionalistas do período, publicado em 1996,
foi Zhongguo keyi shuo bu (A China que pode dizer não), u m livro provocativo
escrito p o r vários jovens autores radicais que diziam ter despertado de suas ilu-
sões pró-ocidentais e de seu endeusamento da cultura americana. O livro foi
u m sucesso instantâneo, c o m mais de dois milhões de exemplares vendidos. No
a n o seguinte foi lançado o livro Yaomohua Zhongguo de beihou (Nos bastidores
da demonização da China), e o fato de que todos os oito autores t i n h a m estu-
d a d o nos Estados Unidos fez com que o livro parecesse mais confiável para o
leitor chinês c o m u m . Então, em 1999, em resposta ao b o m b a r d e i o pela O t a n ,
houve outra onda de contestação à hegemonia ocidental e novo apelo ao nacio-
nalismo. 2 8
Parece-me que a maioria dos intelectuais chineses tem d e m o n s t r a d o tre-
m e n d o c o m e d i m e n t o na hora de enfrentar o dilema de lidar c o m a hegemonia
ocidental, p o r u m lado, e lutar p o r liberdade e democracia na China, p o r outro.
Entre outras questões, eles estão preocupados principalmente c o m a possibili-
dade de o partido-estado m a n i p u l a r as emoções nacionalistas da geração mais
V* nova e utilizar o nacionalismo político c o m o u m a f o r m a de m a n t e r o regime
(tf ^ a u t o r i t á r i o . ^ É l e s chegaram a fazer esforços para evitar o s u r g i m e n t o de u m
V»^ nacionalismo tacanho. 2 9 '
' f / è consenso entre a maioria dos intelectuais m a n t e r a China aberta ao m u n -
do e levar a C h i n a a participar ativamente do atual processo de g l o b a l i z a ç ã o . b
** nacionalismo radical tem sido rejeitado pela maioria dos intelectuais chineses
p o r ter o potencial de impedir a participação ativa da China n o processo de
globalização. Essa tese de desenvolvimento-modernização-globalização t a m b é m
52 PETER L. BERGER E SAMUEL P. HUNTINGTON

é partilhada p o r líderes do PC chinês, m a s o partido-estado sempre se apresen-


ta c o m o a incorporação do desejo da nação, p o r t a n t o pede a lealdade e o apoio
do povo chinês para atingir o objetivo final da nação, a modernização da China.

O partido-estado e a administração da transição cultural

Em seu e s t u d o das relações econômicas entre China e Estados Unidos, Phillip


Saunders tenta resolver u m quebra-cabeça empírico: apesar do m e d o chinês
da vulnerabilidade econômica e do perigo da hegemonia ocidental, ao longo
da última década a u m e n t o u significativamente a dependência econômica da
* China em relação aos Estados U n i d o s Á p ó s examinar as estratégias emprega-
das pelo Estado chinês nos anos 90, ele conclui que "os líderes chineses aceita-
" r a m a necessidade de u m a integração crescente à economia internacional, mas
^' t e n t a r a m a d m i n i s t r a r esse processo n o s seus p r ó p r i o s t e r m o s , de m o d o a
m a x i m i z a r os benefícios e m i n i m i z a r as vulnerabilidades". 3 0 /
/ E s s a observação t a m b é m p o d e ser aplicada ao papel do partido-estado no
c a m p o cultural. C o m o disse o último "líder supremo", Deng Xiaoping, "quan-
x
Y'* do se abre a janela, moscas e m o s q u i t o s entram". As moscas e m o s q u i t o s a que
D e n g se referia e r a m o inevitável influxo de p e n s a m e n t o ocidental e de valores
culturais que a c o m p a n h a m o investimento, a tecnologia e os m é t o d o s de ad-
ministração estrangeiros e que p o d e m representar u m sério desafio ao regime
c o m u n i s t a p o r intermédio da "evolução pacífica". Porém, apesar do m e d o e de
repetidas tentativas de m a n t e r afastados o p e n s a m e n t o e os valores culturais
ocidentais, os líderes do PC chinês sustentaram a política de portas abertas, e o
partido-estado gradualmente se afastou de muitas áreas da vida social. 31 C o m o
resultado, a influência das culturas estrangeiras t o r n o u - s e g r a d u a l m e n t e mais
forte nas últimas duas décadas.'
./ //K chave para as estratégias do Estado chinês é c o m p r e e n d e r que a sobrevi-
v / vência política do regime comunista depende da capacidade do Estado de manter
^ f u m acelerado crescimento econômico e criar maiores o p o r t u n i d a d e s de e m -
V' Preg° Para a
g r a " d e população de jovens desempregados. Isso é particularmente
V J ^ verdadeiro desde 1989 e dos incidentes da Praça da Paz Celestial, e decidida-
m e n t e não foi p o r acaso que nos anos 90 a China t o m o u parte b e m mais ativa
tanto na integração econômica quanto na globalização cultural. O melhor exem-
GLOBALIZAÇÃO ADMINISTRADA 53

pio da determinação do Estado de participar da globalização é certamente seu


longo esforço de ingressar na Organização Mundial do Comércio, que come-
çou ainda na década de 1980. 32 '
No contexto dos quatro aspectos da globalização cultural, o partido-estado
adotou diferentes estratégias para manter o controle e ao m e s m o tempo facilitar
o crescimento. A cultura da elite empresarial parece ser a m e n o r das preocupa-
ções dos líderes do PC chinês, e a mídia oficial tem tido u m papel f u n d a m e n t a l
na promoção de u m sistema de administração e de u m a cultura empresarial ao
estilo ocidental. A cultura popular é outra área que o Estado aparentemente deci-
diu deixar de lado, já que pode ser utilizada para reduzir as tensões sociais do
período pós-1989 e criar u m a imagem de prosperidade e felicidade. Em contras-
te, o Estado sempre observou cuidadosamente e controlou firmemente as áreas
do desenvolvimento intelectual e da movimentação social, pois a primeira repre-
senta u m a ameaça direta à ideologia comunista, enquanto a segunda pode levar
à ação coletiva em larga escala, o que é fonte de grande temor para o partido-
estado.
/ k f o r m a pela qual o Estado chinês controla e administra o m e r c a d o cultu-
ral na era da globalização cultural é u m a questão complicada que d e m a n d a u m
estudo a p r o f u n d a d o ; basta aqui m e n c i o n a r apenas algumas estratégias e m p r e -
^yr* gadas pelo partido-estado. Primeiramente, as c a m p a n h a s ideológicas contra a
crescente influência da cultura estrangeira, especialmente a ocidental, conti-
n u a m a ser as principais armas. Ataques político-ideológicos, c o m o as c a m p a -
n h a s estatais c o n t r a a "poluição espiritual" n o s a n o s 80 e a "liberalização
burguesa", n o início dos anos 90, f o r a m f r e q ü e n t e m e n t e lançados contra inte-
lectuais liberais e outras e l i t e s /
/ E m segundo lugar, o partido-estado n u n c a reduziu seu controle sobre or-
ganizações f u n d a m e n t a i s nas questões culturais e sobre i m p o r t a n t e s setores do
m e r c a d o cultural, c o m o as indústrias editorial, cinematográfica e televisiva, e a
imprensa. D u r a n t e u m curto período de comercialização no início dos anos
90, p o r exemplo, vários jornais influentes de Taiwan e H o n g Kong t e n t a r a m
penetrar n o m e r c a d o continental, m a s f o r a m rejeitados pelo partido-estado.
Segundo u m i m p o r t a n t e editor, pelo m e n o s u m g r u p o jornalístico de H o n g
Kong c o m p r o u várias revistas na China, t e n t a n d o abrir seu c a m i n h o para o
m e r c a d o chinês. Porém, as revistas f o r a m imediatamente fechadas assim que
as autoridades do governo central t o m a r a m conhecimento, /
54 PETER L. BERGER E SAMUEL P. HUNTINGTON

E m o u t r o caso, o jornal Dongfang (O Oriente) f u n c i o n o u c o m o u m im-


portante f ó r u m para intelectuais liberais, publicando debates sobre virtualmente
todos os temas sociais importantes, incluindo a globalização, até 1996, q u a n d o
u m g r u p o de acadêmicos t e n t o u publicar u m reexame da Revolução Cultural
em seu trigésimo aniversário. O Estado decidiu que o jornal tinha ido longe
demais e o r d e n o u seu fechamento. C o m o destacaram m e u s entrevistados, ca-
sos semelhantes o c o r r e r a m todos os anos em todas as áreas da indústria cultu-
ral — sempre houve livros, jornais ou filmes proibidos pelo Estado p o r motivos
ideológicos e/ou políticos.
J/k terceira e provavelmente mais "avançada" estratégia utilizada pelo Esta-
do para controlar o setor cultural é o que os m e u s entrevistados classificaram
de liyi daoxiang, o que poderia ser traduzido c o m o "jogo de interesses". Isso sig-
nifica que o estado recompensa aqueles que seguem a linha do p a r t i d o com
prêmios econômicos ou políticos e p u n e aqueles que o desafiam privando-os
de o p o r t u n i d a d e s lucrativas.^
Tome-se c o m o exemplo os meios de comunicação de massa. Tendo apren-
dido c o m suas congêneres ocidentais, a mídia chinesa passou p o r u m a siste-
mática r e f o r m a administrativa. No final dos anos 90, a maioria dos jornais e
emissoras de TV dependia f u n d a m e n t a l m e n t e das receitas geradas pelos comer-
ciais, e m u i t o s jornalistas trabalhavam por projeto ou c o m contratos t e m p o r á -
rios, e n ã o mais c o m o funcionários fixos do governo. Em 1998, dois terços dos
f u n c i o n á r i o s da Estação Central de Televisão da China, provavelmente a mais
i m p o r t a n t e empresa de c o m u n i c a ç ã o de massa do país, estavam t r a b a l h a n d o
p o r contrato, e a maioria dos p r o g r a m a s era produzida p o r equipes que n ã o
t i n h a m a obrigação de prestar contas diariamente de suas atividades de p r o d u -
ção aos líderes do partido.
/ Q u a n d o descobri essas m u d a n ç a s , eu as vi c o m o sinais da redução do con-
trole do Estado sobre a fortaleza ideológica. Porém, após participar da p r o d u -
ção de u m p r o g r a m a de TV eu descobri que de fato a comercialização fez m u i t o
p o u c o para abalar o p o d e r do Estado, pois a maioria, senão a totalidade dos
p r o d u t o r e s e diretores era c o m p o s t a de funcionários do Estado — em m u i t o s
casos, altos f u n c i o n á r i o s . Eles p o d i a m se beneficiar g r a n d e m e n t e dos p r o g r a -
m a s que p r o d u z i a m , m a s apenas se n ã o cometessem erros políticos que ofen-
dessem o partido-estado. C o m o resultado disso, esses produtores e/ou diretores
e r a m extremamente conservadores politicamente e m u i t o cuidadosos, fazendo
GLOBALIZAÇÃO ADMINISTRADA 55

A
C/-
^J todo esforço para vender seus produtos sem desafiar o partido-estado. Assim, a
/ censura é auto-imposta, e o partido-estado não precisa intervir. •)
C o m o o Estado ainda controla muitos recursos importantes e, mais que isso,
o acesso ao m e r c a d o cultural chinês, companhias estrangeiras e instituições
culturais precisam ser cuidadosas para não desafiar a autoridade e o p o d e r do
Estado; do contrário serão negadas a elas as o p o r t u n i d a d e s de fazer negócios
na China. D u r a n t e m e u trabalho de c a m p o em 1998 e 1999 eu ouvi muitas his-
tórias de c o m o companhias estrangeiras t i n h a m feito concessões ao governo
chinês simplesmente para penetrar no e n o r m e m e r c a d o cultural. Eu já m e n -
cionei que o rápido crescimento do M c D o n a W s n o m e r c a d o de Pequim teve
u m grande impacto tanto na indústria local de fast food q u a n t o na cultura d o
fastfood. T a m b é m deve-se notar que o M c D o n a W s de Pequim é uma joint-
venture na qual o parceiro chinês tem 51 p o r cento do negócio e que a c o m p a -
nhia tem u m a célula do partido Comunista (foi dito que q u a n d o houve u m
c o n f r o n t o em 1993 a célula do Partido no McDonald's a j u d o u a administração
da empresa a lidar com funcionários insatisfeitos)^
/ E m b o r a suas estratégias possam variar de t e m p o s em tempos, d e p e n d e n d o
ySç^í das m u d a n ç a s n o ambiente doméstico e n o internacional, os líderes d o PC chi-
>- nês sempre tiveram o m e s m o objetivo: permanecerem c o m o os únicos líderes e
xf'< administradores do projeto de m o d e r n i z a ç ã o e, p o r intermédio do projeto,
m a n t e r e m total poder e autoridade na China.^sso é dito claramente nos já
m e n c i o n a d o s "quatro princípios básicos" formulados p o r Deng Xiaoping n o
início do período de reformas. Qualquer tentativa de desafiar a liderança e o
poder do partido-estado sempre foi severamente punida. O ataque à Falun Gong
é a p e n a s o exemplo m a i s recente. D o p o n t o de vista d o p a r t i d o - e s t a d o , a
globalização cultural n ã o é u m a exceção: deve p e r m a n e c e r sob a liderança d o
Partido Comunista. T a m b é m é por isso que a China m o s t r o u m e n o s flexibili-
dade no que diz respeito ao mercado cultural nas negociações da O M C , insis-
tindo em limites para a importação de filmes estrangeiros e e m restrições a
editoras p r i v a d a s . ^
O partido-estado t a m b é m quer proteger a indústria cultural local e nacio-
nal do p o d e r o s o impacto p r o d u z i d o pelas empresas estrangeiras e t r a n s n a -
cionais. C o m o exemplo, de m o d o a preparar o país para a ameaça dos meios de
comunicação de massa estrangeiros após o ingresso da China na O M C , em 1998
o governo central estimulou a formação de grandes g r u p o s n o setor de mídia
56 PETER L. BERGER E SAMUEL P. HUNTINGTON

impressa por intermédio da fusão de diversos jornais. Estratégias semelhantes


foram adotadas no setor editorial, no cinema, na televisão e na indústria d e f a s t
food em 1998 e 1999.
Um dos últimos exemplos do papel do partido-estado na proteção da indús-
tria cultural chinesa contra o poder esmagador das forças transnacionais é a proi-
bição da viagem ao exterior de uma estrela do basquete. Nos últimos anos o Estado
de fato tem sido bastante flexível no tocante ao intercâmbio no esporte, com muitos
atletas e treinadores estrangeiros trabalhando na China e u m grande número de
atletas chineses competindo no exterioçj^Porém, quando a NBA tentou pela pri-
meira vez contratar Yao Ming, u m astro do basquete de 2,23 metros, as autorida-
des chinesas disseram não e ordenaram que ele permanecesse com seu time local
na preparação para as eliminatórias para os jogos o l í m p i c o s ^ administração da
NBA ficou desapontada, mas de acordo com muitas entrevistas telefônicas com
meus informantes em Pequim, a maioria das pessoas na China aplaudiu a deci-
são do Estado. 34 Desde então o partido-estado parece ter reconsiderado sua posi-
ção, e Yao Ming foi contratado pelo Dallas Mavericks em abril de 2001.
O partido-estado t a m b é m foi elogiado por ter t o m a d o outras decisões se-
melhantes no setor cultural. Entre os profissionais de mídia e outros especialis-
tas que eu entrevistei em 1998, mais de 70 por cento consideraram que, no atual
estágio do desenvolvimento econômico da China, u m certo grau de controle e
proteção estatal é fundamental para o crescimento de u m a indústria cultural
local e nacional.
/ C o n t u d o , deve-se notar que o partido-estado chinês já não é u m a institui-
ção monolítica. Há vários grupos de interesse dentro do PC chinês e do gover-
no que estão envolvidos em disputas, negociações e lutas políticas entre líderes
e diferentes órgãos governamentais/O desenvolvimento da indústria a u t o m o -
bilística, por exemplo, tem sido u m tema de debate recentemente, pois obvia-
mente não atende ao interesse geral do povo chinês a longo prazo, em função
do meio ambiente em rápida deterioração. Ainda assim, a indústria conseguiu
aliados tanto no governo quanto fora da China para u m plano de desenvolvi-
m e n t o radical. Da mesma forma, q u a n d o lidando com importação de cultura
estrangeira há conflitos de interesse entre órgãos governamentais c o m o o De-
p a r t a m e n t o de Propaganda do PC e o Ministério da Cultura, de u m lado, e a
Estação Central de Televisão da China e o Escritório de Administração do Ci-
n e m a da China, de outro.
GLOBALIZAÇÃO ADMINISTRADA 57

v * <
A d e m a i s , a e c o n o m i a chinesa teve u m desenvolvimento geográfico desigual
\ n a s ú l t i m a s d u a s décadas, c r i a n d o u m g r a n d e fosso entre as províncias m a i s
desenvolvidas da costa sudeste e as províncias d o interior. N o s ú l t i m o s a n o s
t o r n o u - s e c o m u m governos locais c o m p e t i r e m e n t r e si p a r a atrair i n v e s t i m e n -
to estrangeiro oferecendo vantagens especiais a investidores estrangeiros, c o m o
aluguéis m a i s baixos, isenções de i m p o s t o s e m e c a n i s m o s de c o n t r o l e t r a b a -
lhista./llm e x e m p l o recente aconteceu e m 19 de m a i o de 1999, m e n o s d e d u a s
s e m a n a s após o b o m b a r d e i o pela O t a n d a e m b a i x a d a chinesa e m Belgrado,
q u a n d o o governo m u n i c i p a l de P e q u i m c o n v i d o u f o r m a l m e n t e os principais
executivos de dezessete empresas t r a n s n a c i o n a i s p a r a t r a b a l h a r e m c o m o c o n -
sultores internacionais. O u t r a s províncias fizeram o m e s m o r a p i d a m e n t e . 3 5 D a
m e s m a f o r m a , a u t o r i d a d e s locais da área cultural e d a i n d ú s t r i a d o e n t r e t e n i -
m e n t o t a m b é m fizeram concessões p a r a atrair investimento e s t r a n g e i r o n o s
m e r c a d o s culturais locais. C o m o resultado, os esforços d o g o v e r n o central p a r a
a d m i n i s t r a r o processo de t r a n s f o r m a ç ã o cultural t ê m sido f r e q ü e n t e m e n t e
s a b o t a d o s a nível local.

CONCLUSÃO

(f O caso de globalização cultural d a C h i n a apresenta várias características inte-


ressantes. (1) A globalização t e m sido reinterpretada c o m o p a r t e d o esforço d e
m o d e r n i z a ç ã o , u m c o m p o n e n t e i m p o r t a n t e d o s objetivos d o p a r t i d o - e s t a d o ;
(2) a m a i o r i a dos m e m b r o s da elite cultural d e f e n d e a a b e r t u r a p a r a o p r o c e s s o
d e globalização e t e m sido f u n d a m e n t a l p a r a a t r a d u ç ã o c u l t u r a l e a localiza-
ção; (3) o p a r t i d o - e s t a d o chinês t e m d e s e m p e n h a d o u m papel d e liderança ati-
va e m quase t o d o s os aspectos d o processo, e a g i n d o assim p r e t e n d e g a r a n t i r
sua legitimidade e p o d e r ; e (4) a p o p u l a ç ã o t a m b é m t e m d e m o n s t r a d o u m f o r -
te desejo d e aceitar, localizar e m e s m o se a p r o p r i a r d e e l e m e n t o s d a c u l t u r a es-
trangeira importada. 7
T u d o isso indica q u e o p a r a d i g m a ocidental desafio-resposta d e interações
globais-locais p o d e n ã o ser universalmente aplicável. O caso c h i n ê s d e m o n s t r a
u m n o v o t i p o d e globalização cultural: u m processo a d m i n i s t r a d o n o q u a l o
Estado d e s e m p e n h a u m papel d e liderança e a elite e a p o p u l a ç ã o t r a b a l h a m
j u n t a s p a r a a t i v a m e n t e reivindicar a p r o p r i e d a d e da e m e r g e n t e c u l t u r a global.
58 PETER L. BERGER E SAMUEL P. HUNTINGTON

NOTAS

Este capítulo é baseado em pesquisa de campo realizada em 1998 e 1999 em Pequim e


em dados documentais reunidos nos últimos dois anos. Eu agradeço especialmente a
Peter Berger, Samuel Huntington, Liang Xiaoyan, Robert Weller e aos participantes do
Projeto Globalização Cultural por seus comentários sobre os primeiros rascunhos
do texto.

1. Li Guoqing, "Kanbujian de baquan" (A hegemonia invisível), Xinzhoukan (Novo


Semanário), junho de 1999, pp. 13-16
2. Ver Peter Berger, "Four Faces of Global Culture", National Interest 49 (1997): 23-
29.
3. Ver Leslie Sklair, Sociology of the Global System (Baltimore: Johns Hopkins
University Press 1991), pp. 62-72.
4. Ver Pan Wenlan,"Zhongguo chengshi bailing de zhoumo" (O fim de semana dos
colarinhos-brancos na China urbana), Haishang wentan 6 (1998): 22-27.
5. Zhou Yiqian, "Shanghai: Nuxing fazhan de fudi" (Xangai: Lugar abençoado para
o desenvolvimento das mulheres), Shanghai wenhua (Cultura de Xangai) 6 (1998):
55-57.
6. Ver He Li e Dong Naijia, "Rushang shuo zhi" (O mercador confuciano na infor-
mação), in He Li, org., Yu 100 laoban duihua (Diálogo com cem executivos)
(Beijing: Jingji Guanli Chubanshe, 1998), p. 79.
7. Para um excelente estudo das relações entre homens de negócios e funcionários
do governo, ver David Wank, "Bureaucratic Patronage and Private Business:
Changing Networks of Power in Urban China", in Andrew Walder, org., The Waning
of the Communist State. Economic Origins ofPolitical Decline in China and Hungary
(Berkeley: University of Califórnia Press, 1995), pp.153-183. Para o papel das re-
des pessoais no m u n d o dos negócios chinês, ver, entre outros, Alan Smart e
Josephine Smart, "Transnational Social Networks and Negotiated Identities in
Interactions between Hong Kong and China", in Michael Smith e Luis Guarnizo,
orgs., Transnationalism from Below (Londres: Transaction, 1998), pp. 103-129.
8. Ver Zhang Ying, "Waiqi jiangxuejin denglu xiaoyuan" (Bolsas concedidas por
empresas privadas instaladas no campus), Diário da Juventude de Pequim, 6 de no-
vembro de 1997, p. 7.
9. Jiang Xiaoyuan, "Xueshu qiangshi libukai shehui jingji zhichi" (Boas bolsas
dependem de apoio econômico e social), Dongfang (Oriente) 4 (1994):19-22
(1994).
GLOBALIZAÇÃO ADMINISTRADA 59

10. Por exemplo, o Diário da Juventude de Pequim, um dos jornais mais populares,
publicou reportagens e notícias sobre o afastamento de Jordan quase que diaria-
mente de 13 de janeiro até 27 de janeiro de 1999. Outras publicações também
cobriram o acontecimento intensamente.
11. VerYunxiangYan,"McDonald's in Beijing:TheLocalization ofAmericana", in James
Watson, org., Golden Arches East. McDonald's in East Asia (Stanford: Stanford
University Press, 1997), pp. 39-76; e Yunxiang Yan, "Of Hamburgers and Social
Space: Consuming McDonald's in Beijing", in Deborah Davis, org., The Consumer
Revolution in Urban China (Berkeley: University of Califórnia Press, 2000), pp.
201-225.
12. Ver Linda Chão e Ramon Myers, "China's Consumer Revolution: The 1990s and
Beyond", Journal of Contemporary China 7, n° 18 (1998): 351-368; para estudos
de caso sobre o impacto do consumo na vida social nas cidades chinesas, ver
Deborah Davis, org., Consumer Revolution in Urban China (Berkeley: University
of Califórnia Press, 1999); para uma análise mais crítica do consumo de massa e
seu impacto sobre as crianças, ver Bin Zhao, "Consumerism, Confucianism,
Communism: Making Sense of China Today", New Left, março de 1997, pp. 43-59;
para as implicações políticas do consumismo, ver Yunxiang Yan, "The Politics of
Consumerism in Chinese Society", in Tyrene White, org., China Brieftng 2000
(Armonk, N.Y.: Sharpe, 2000), pp. 159-163.
13. Ver Thomas Gold,"Go with Your Feelings: Hong Kong and Taiwan Popular Culture
in Greater China", China Quarterly 136 (1993): 907-925.
14. Ver Li Liang, "Zhongguo Jiduojiao xianchuang de kaocha" (Uma pesquisa sobre o
quadro atual da cristandade chinesa), Dongfang (Oriente) 2 (1995): 53-58; e Wu
Fei, "Zhongguo noncun shehui de zongjiao jingying: Huabei moxian nongcun
Tianzhujiao huodong kaocha" (A elite religiosa na China rural: Uma pesquisa das
atividades católicas em um distrito do norte da China),Zhanlue Yu Guanli (Estra-
tégias e Administração) 4 (1997): 54-62.
15. Ver reportagens em Economist, I o de maio de 1999 e Los Angeles Times, 2 de no-
vembro de 1999, p. A4.
16. Para maiores detalhes, ver Associação de Consumidores da China, org., Zhongguo
xiaofeizheyundong shinian (Dez anos do movimento de consumidores na China)
(Beijing: Zhongguo Tongji Chubanshe, 1994).
17. Para reportagens mais detalhadas sobre o desenvolvimento da defesa do consu-
midor, ver Beverly Hooper, "From Mao to Market: Empowering the Chinese
Consumer", Harvard Asian Pacific Review 2, n° 2 (1999): 29-34; Leslie Pappas,
"Shoppers of China, Unite!" Newsweek, 5 de abril de 1999; e Yunxiang Yan, "The
60 PETER L. BERGER E SAMUEL P. HUNTINGTON

Politics of Consumerism in Chinese Society", in China Briefing 2000, pp. 159-


193.
18. Richard Adams,"The Dynamics of Societal Diversity: Notes from Nicaragua for a
Sociology of Survival", American Ethnologist 8, n° 2 (1981).
19. Daniel Miller,"The Young and the Restless in Trinidad: A Case of the Local and
Global in Mass Consumption", in Roger Silverstone e Eric Hirsch, orgs., Consuming
Technologies: Media and Information in Domestic Spaces (Londres: Routledge,
1992), pp. 163-182.
20. Liu Xinwu and Jiu Huadong,"Queli renlei gongxiang wenming guannian" (Rumo
a uma noção da cultura partilhada da raça humana), Dongfang (Oriente) 6 (1996):
21-25.
21. Dois gerentes do McDonald's em Pequim, entrevista ao autor, 1994 e 1998. Para a
decisão da Kodak de se tornar uma empresa chinesa, ver Zhang Ke e Dai Lan,"Keda:
Zuo yiliu Zhongguo gongsi" (Kodak: ser uma empresa chinesa de primeira linha),
Diário do Povo, 24 de novembro de 1999, p. 2, edição internacional.
22. Ver Yang Dongping,"Qiguai de minjian yizheng" (O estranho debate civil da po-
lítica), in Xiao Pang, org., Zhongguo ruhe miandui xifang (Como a China enfrenta
o Ocidente) (Hong Kong: Mirror, 1997), pp. 206-217.
23. Ver reportagens especiais e artigos publicados no Diário da Juventude de Pequim,
15-20 de maio de 1999,24 de maio de 1999 e 12 de junho de 1999.
24. Ver Yang Xudong e Wang Lie,"Guanyu quanqiuhua yu Zhongguo yanjiu de duihua"
(Diálogo sobre a globalização e os estudos da China), in Hu Yuanzi e Xue Xiaoyuan,
orgs., Quanqiuhua yu Zhongguo (A globalização e a China) (Pequim: Zhongyang
Bianyi Chubanshe, 1998), pp. 1-21. Argumentos semelhantes podem ser vistos em
vários dos ensaios reunidos nesse volume e em Yu Keping e Huang Weiping, orgs.,
Quanqiuhua de beilun (Antinomias da globalização) (Pequim: Zhongyang Bianyi
Chubanshe, 1998).'
25. Para uma completa coleção de ensaios sobre esse debate, ver Lu Yi, org., Qiuji: Yige
shijixing de xuance (Lugar global: Uma escolha do século) (Xangai: Baijia Chu-
banshe, 1989).
26. Ver, por exemplo, Li Shenzhi, "Quanqiuhua shidai Zhongguoren de shiming" (A
missão do povo chinês durante a era da globalização), Dongfang (Oriente) 4
(1994):13-18; Yang Chaoren e Han Zhiwei, "Quanqiuhua, zhidu kaifang.yu minzu
fuxing" (Globalização, abertura institucional e a renascença da nação); e Cai
Decheng, "Quanqiuhua shidai de shichang, kexue, yu minzhu" (Mercado, ciência
e democracia na era da globalização), in Yu Keping e Huan Weiping, orgs., Quan-
qiuhua de beilun (Antinomias da globalização) (Pequim: Zhongyang Bianyi Chu-
GLOBALIZAÇÃO ADMINISTRADA 61

banshe, 1998), pp. 137-147, 181-193; Wang Yizhou, "Quanqiuhua guocheng yu


Zhongguo de jiyu" (O processo de globalização e a oportunidade da China); Liu
Junning, "Quanqiuhua yu minzhu zhengzhi" (Globalização e política democráti-
ca); e Liu Li, "Jingji quanqiuhua: Fazhanzhong guojia houlaijushang de biyou zhi
lu" (Globalização econômica: O caminho inevitável que os países em desenvolvi-
mento podem tomar); todos os três ensaios estão em Hu Yuazi e Xue Xiaoyuan,
orgs., Quanqiuhua yu Zhongguo (A globalização e a China) (Pequim: Zhongyang
Bianyi Chubanshe, 1998), pp. 37-46,67-7Í1 136-146.
27. Ver Wang Hui, "Guanyu xiandaixing wenti dawen" (Perguntas e respostas sobre o
tema da modernidade), Tianya (Fronteiras) 1 (1999): 18-24.
28. Alguns autores de A China que pode dizer não lançaram no início de 2000 um ter-
ceiro livro de protesto chamado O caminho da China sob a sombra da globalização,
que não fez grande sucesso. Para uma análise detalhada do desenvolvimento do
nacionalismo nos círculos intelectuais chineses após 1989, ver Suisheng Zhao,
"Chinese Intellectuals' Quest for National Greatness and Nationalistic Writing in
the 1990s", China Quarterly 152 (1997): 725-745; ver também Geremie Barme,"To
Screw Foreigners Is Patriotic: China's Avant-Garde Nationalists", China Journal 34
(1995): 209-238.
29. Por exemplo: para criticar A China que pode dizer não um grupo de intelectu-
ais liberais publicou u m a coletânea de ensaios i n t i t u l a d a Zhongguo ruhe
miandui xifang (Como a China enfrenta o Ocidente), org. de Xiao Pang (Hong
Kong: Mirror, 1997). Em função do clima político na China naquele m o m e n -
to, o livro precisou ser publicado em H o n g Kong e, assim, teve circulação li-
mitada.
30. Phillip Saunders,"Supping with a Long Spoon: Dependence and Interdependence
in Sino-American Relations", China Journal 43 (2000): 55-81.
31. Para um estudo detalhado do declínio do poder estatal, ver Andrew Walder.org.,
The Waning of the Communist State: Economic Origins ofPolitical Decline in Chi-
na and Hungary (Berkeley: University of Califórnia Press, 1995).
32. Para as últimas visões oficiais sobre o ingresso da China na OMC, ver, por exem-
plo, He Meizhong, "Zhongmei jianshu woguo jianru shijie maoyi zuzhi shuangbian
xieyi de zhongyao yiyi" (O significado do acordo entre a China e os Estados Uni-
dos sobre o ingresso da China na Organização Mundial do Comércio), Diário do
Povo, 17 de janeiro de 2000, p. 1, edição internacional; e Guo Yan,"Zhengjue renshi
jiaru WTO de li yu bi" (Compreendendo corretamente os prós e os contras do
ingresso da China na OMC), Diário do Povo, 29 de fevereiro de 2000, p. 4, edição
internacional.
62 PETER L. BERGER E SAMUEL P. HUNTINGTON

33. Ver, por exemplo, Jonathan Peterson,"Cultural Issues Color Movie Export Picture",
Los Angeles Times, 31 de outubro de 1999, p. C l .
34. Ver Brook Larmer, "Boxed Out by Beijing", Newsweek, 10 de abril de 2000, pp.
40-41.
35. Ver, por exemplo, as notícias sobre o caso de Pequim em Diário do Povo, 20 de
maio de 1999, p. 1, edição internacional, e outras notícias sobre iniciativas simila-
res adotadas pelo governo provincial de Guangdong em Diário do Povo, 15 de no-
vembro de 1999, p. 1, edição internacional.

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