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Continuada a Distância
Curso de
Farmacologia Geral
Aluno:
MÓDULO I
Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para
este Programa de Educação Continuada, é proibida qualquer forma de comercialização do
mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores
descritos na Bibligrafia Consultada.
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MÓDULO I
INTRODUÇÃO À FARMACOLOGIA
HISTÓRIA E CONCEITOS FUNDAMENTAIS
A farmacologia pode, ainda, ser definida como o estudo do modo pelo qual a função
dos sistemas orgânicos é afetada pelos agentes químicos. A farmacologia foi reconhecida
como ciência na segunda metade do século XIX, onde os princípios científicos passaram
a serem considerados no estabelecimento das práticas terapêuticas. No entanto, desde
as civilizações mais antigas, remédios baseados em ervas ou outros produtos naturais de
origem vegetal, animal ou mineral eram amplamente utilizados para combater as diversas
enfermidades que acometiam o homem e os animais domésticos, que com ele conviviam.
Até o século XIX, a terapêutica era pouco influenciada pela ciência. A partir desta fase,
alguns cientistas importantes contribuíram para que esta influência fosse aumentada,
dentre eles podemos citar o patologista alemão Rudolf Virchow, que naquela época
comentou o fato da seguinte forma: “A terapêutica é um estágio empírico apreciado por
clínicos e médicos práticos, e é através da combinação com a fisiologia que precisa
ascender para ser uma ciência, o que ela não é nos dias de hoje”.
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A falta de conhecimentos à cerca do funcionamento do organismo e o sentimento de
que doença e morte eram assuntos semi-sagrados dificultavam o atendimento dos efeitos
das drogas e facilitava o emprego de doutrinas autoritárias e nada científicas.
Com o passar do tempo, as formas empíricas de tratar as doenças forma dando
lugar aos sistemas terapêuticos mais definidos. A alopatia proposta por James Gregory no
século XVIII dispunha como recursos terapêuticos somente a sangria, agentes eméticos e
purgativos, cujos efeitos indesejáveis costumavam levar à morte muitos pacientes. Logo
depois, no início do século XIX, Hahnemann introduziu os princípios da homeopatia.
Muitos sistemas terapêuticos surgem e desaparecem ao longo do tempo, muitos
deles baseados em princípios dogmáticos. Rang et al. (1997) comentam este fato de
forma bastante contundente, conforme o fragmento de texto abaixo, transcrito destes
autores:
“Os sistemas terapêuticos cujas bases se assentam fora dos domínios da ciência
estão, é claro, muito em prática hoje em dia, e vem até ganhando espaço sob o título de
medicina ‘alternativa’ ou ‘holística’. Em sua maioria, rejeitam o ‘modelo médico’ que atribui
a doença a um desarranjo subjacente da função normal que pode ser definido em termos
bioquímicos e estruturais, detectado por meios objetivos e influenciado beneficamente por
intervenções físicas ou químicas apropriadas. Dá maior importância, sobretudo ao mal-
estar subjetivo, que pode estar associado ou não a doença. O abandono da objetividade
na definição e na medida da doença segue junto com um afastamento similar dos
princípios científicos em fixar a eficácia terapêutica. Disto resulta que princípios e práticas
podem ganhar aceitação sem satisfazer a qualquer critério de validade para convencer os
cientistas, validade exigida por lei antes que uma nova droga possa ser introduzida numa
terapia. Como acontece com os” secadores de mãos elétricos”, a aceitação pública tem
pouco a ver com a eficácia demonstrável; isso talvez seja esperado numa economia de
mercado.”
A indústria farmacêutica tem evoluído e se modernizado muito ao longo do século
XX e graças aos avanços da química e dos métodos biotecnológicos, uma infinidade de
produtos se encontram disponíveis para o uso na prática clínica. Os produtos químicos
sintéticos começaram a serem introduzidos na década de 20. Os primeiros fármacos
efetivamente desenvolvidos em laboratório foram às sulfas, descobertas por Domagk a
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partir do corante prontosil. Depois vieram os antibióticos, que tornaram possível a cura de
uma série de enfermidades infecciosas antes tidas como verdadeiros flagelos da
humanidade. O desenvolvimento dos fármacos anti-hipertensivos representou uma vitória
na luta pela longevidade, o que reduziu significativamente a mortalidade pelas doenças
vasculares.
Dentre uma série de outras descobertas, podemos citar a dos neurolépticos, aos
quais proporcionam melhoras significativas na qualidade de vida dos pacientes
psiquiátricos e destaque deve ser dado aos agentes imunossupressores que participaram
e participam do grande êxito no transplante de órgãos.
Os produtos naturais ainda são importantes, sobretudo na quimioterapia visando o
tratamento das doenças infecciosas, mas os produtos sintéticos estão se tornando cada
vez mais numerosos. Com o avanço da biotecnologia, principalmente através do domínio
da técnica do DNA recombinante, hoje existe uma gama de novos agentes terapêuticos
na forma de anticorpos, enzimas, hormônios, fatores de crescimento e citosinas. Mais
recentemente tem se realizados ensaios visando à terapia gênica, onde se introduz novo
segmento de DNA no genoma do indivíduo para adicionar, restaurar ou substituir genes
ausentes ou anormais no sentido de reparar defeitos inatos do metabolismo.
Diante do exposto acima, deve-se dizer que a compreensão de como as drogas ou
outros compostos agem nos componentes do corpo em nível molecular deve aprimorar-se
acentuadamente nos anos vindouros. Este conhecimento vai oferecer boa base para o
uso racional de drogas na terapia medicamentosa, assim como fornecer uma base para o
desenvolvimento de novas drogas com um mínimo de efeitos colaterais indesejáveis.
Assim, podemos concluir que o estado da farmacologia reveste-se de grande importância
para os profissionais que militam no campo das ciências biomédicas, onde as drogas se
constituem em ferramentas importantes, seja na prática clínica, ou seja, na
experimentação biológica ou biotecnológica.
Em termos gerais, de uma forma mais didática, a farmacologia, bem como as
drogas, podem ser caracterizadas e a farmacologia correlacionada com as demais áreas
do conhecimento conforme o fluxograma e a figura abaixo:
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Divisões da Farmacologia
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A Farmacologia pode ser vista como uma vasta área do conhecimento científico e nas
suas diferentes abordagens pode se subdividir em cerca de seis áreas principais.
Optamos pela divisão proposta abaixo, apesar de que, consultando os diferentes autores
podemos observar algumas diferentes quanto à inclusão ou não de determinadas
subdivisões. As diferentes áreas da farmacologia são as seguintes:
a) Farmacodinâmica (do grego dýnamis = força): Estuda o mecanismo de ação
dos fármacos, as teorias e conceitos relativos ao receptor farmacológico, a
interação droga-receptor, bem como os mecanismos moleculares relativos ao
acoplamento entre a interação da droga com o tecido alvo e o efeito
farmacológico;
b) Farmacocinética (do grego knetós = móvel): Estuda o caminho percorrido pelo
medicamento no organismo. A farmacocinética corresponde às fases de
absorção, distribuição e eliminação (biotransformação e excreção) das drogas.
Através da farmacocinética se consegue estabelecer relações entre a dose e
as mudanças de concentração das drogas nos diversos tecidos em função do
tempo;
c) Farmacotécnica: Estuda o preparo, a manipulação e a conservação dos
medicamentos, visando conseguir melhor aproveitamento dos seus efeitos
benéficos no organismo;
d) Farmacognosia (do grego gnósis = conhecimento): Cuida da obtenção,
identificação e isolamento de princípios ativos a partir de produtos naturais de
origem animal, vegetal ou mineral, passiveis de uso terapêutico;
e) Farmacoterapêutica: Refere-se ao uso de medicamentos para o tratamento
das enfermidades, enquanto o termo terapêutico é mais abrangente,
envolvendo não só o uso de medicamentos, como também outros meios para
a prevenção, diagnóstico e tratamento das enfermidades. Esses meios
envolvem cirurgia, radiação e outros;
f) Imunofarmacologia: Área relativamente nova que tem se desenvolvido muito
nos anos graças à possibilidade de se interferir, através do uso de drogas, na
realização dos transplantes e de se utilizar com fins terapêuticos substâncias
normalmente participantes da resposta imunológica. Além disso, se verifica
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uma grande inter-relação entre farmacologia e imunologia quando se
considera o desenvolvimento cada vez maior de drogas capazes de interferir
com as diversas fases do processo inflamatório.
Droga: Qualquer substância química, exceto aquelas que servem como alimento,
capaz de produzir efeito farmacológico em um organismo ou tecido vivo. Vale ressaltar
que as drogas não criam funções no organismo, mas simplesmente as alteram. Os efeitos
provocados pelas drogas podem ser tanto benéficos quanto maléficos.
Remédio: Do Latim remedium (re = inteiramente mais mederi = curar). Remédio é
uma palavra normalmente usada pelo leigo como sinônimo de medicamento ou
especialidade farmacêutica. Portanto, remédio pode ser tudo aquilo que cura ou evita as
enfermidades. Não só as substâncias químicas podem ser consideradas como remédios,
mas também alguns agentes físicos como massagens, duchas e etc.
Tóxico ou veneno: Por tóxico ou veneno compreende-se uma droga ou uma
preparação com drogas que produz efeito farmacológico maléfico.
Iatrogenia ou Iatrogênese: Quando um medicamento é administrado a um indivíduo
provoca uma lesão ou uma doença de forma não intencional, dizemos que houve uma
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lesão ou doença iatrogênica. Essa situação pode vir a ocorrer, por exemplo, nos dois
casos abaixo:
• Por administração excessiva do medicamento;
• Por hipersensibilidade do indivíduo que recebe o medicamento.
Terapêutica: Pode ser definida como a aplicação clínica da farmacologia, ou seja,
como administrar determinado medicamento para tratamento e/ou prevenção de doenças.
Medicamento: Do Latim medicamentum. É uma droga devidamente preparada para
ser administrada ao paciente. Destinada a prevenir, curar, diminuir e/ou diagnosticar as
enfermidades, ou seja, é uma substância química empregada visando um efeito benéfico.
Podemos dizer que todo medicamento é uma droga, mas nem toda droga é um
medicamento. A ANVISA classifica o medicamento como um produto farmacêutico,
tecnicamente obtido ou elaborado, com finalidade profilática, curativa, paliativa ou para
fins de diagnóstico.
Posologia: (do grego poso = quanto, mais logos = estudo). É o estudo da dosagem
do medicamento com fins terapêuticos.
Dose: É a quantidade capaz provocar uma resposta terapêutica desejada no
paciente preferivelmente sem outra ações no organismo.
Dosagem: A dosagem inclui, além da dose, freqüência de administração e duração
do tratamento.
Idiossincrasia: O termo idiossincrasia refere-se às reações particulares ou especiais
do organismo às drogas, comumente chamadas reações idiossincrásicas. Essas são
nocivas, às vezes fatais e ocorrem em uma pequena minoria dos indivíduos. Na maioria
dos casos a causa não bem compreendida, mas acredita-se que os fatores genéticos
possam ser responsáveis em algumas situações.
Forma Farmacêutica: Forma farmacêutica é a maneira como os medicamentos são
preparados, apresentados e conseqüentemente comercializados e utilizados, ou seja,
comprimido, xarope, suspensão e outros. Na forma farmacêutica, além do medicamento
principal ou princípio ativo, entram outras substâncias na composição, como veículo ou
excipiente, coadjuvante, edulcorante, ligante, preservativo e etc.
As formas farmacêuticas podem ser classificadas conforme se exemplifica abaixo:
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Preparações líquidas
Preparações sólidas
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Preparações Pastosas
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O índice terapêutico (IT) é definido pela relação DL50/DE50. Vários autores ainda
transmitem a idéia de que quanto maior o índice terapêutico de uma droga, maior a sua
margem de segurança, pois ele indica a distância entre a dose letal mediana e a dose
efetiva mediana. Erlich definiu inicialmente o índice terapêutico como: IT = Dose máxima
não tóxica/Dose mínima eficaz, infelizmente a variabilidade entre indivíduos não é levada
em conta nesta definição, portanto esse conceito caiu em desuso. O conceito de IT =
DL50/DE50 ainda é amplamente utilizado, apesar de hoje reconhecermos que este
apresenta limitações claras. O IT é capaz de dar uma idéia da margem de segurança no
uso de um fármaco, mas não é efetivamente um guia útil para a segurança de um
medicamento no uso clínico. As razões para isso são as seguintes:
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racionalidade no mercado e garanta o uso correto de medicamento. Esta tarefa é sem
dúvida para o farmacêutico.
Em 1960 surgiu o primeiro conceito de Farmácia Clínica, definido como a parte da
farmácia que trata do cuidado do enfermo com particular ênfase na terapia farmacológica,
seus efeitos adversos e interações indesejáveis. Em 1990 foi descrito o conceito de
Atenção Farmacêutica, como a prestação responsável de cuidados integrais relacionados
com a medicação tendo como objetivo a melhoria da qualidade de vida dos pacientes.
Ambos os conceitos estabelecem novos papéis e responsabilidades para o farmacêutico,
orientado ao cuidado e assessoramento do paciente em todos os aspectos relacionados
com o uso dos medicamentos, ou seja, o papel do farmacêutico que no passado se
orientava ao produto, na atualidade se orienta ao paciente.
A farmácia Clínica supôs a introdução da prestação de serviços farmacêuticos
orientados ao paciente. Houve uma evolução e os serviços não somente se orientaram ao
paciente, como também os farmacêuticos passam a se conscientizar de que sua
intervenção melhoraria a qualidade de vida dos pacientes.
Em 1995, em uma conferência sobre “As direções para prática clínica em farmácia”,
patrocinada pela ASPH (American Society of Hospital Pharmacisitis, hoje denominada
American Society of Health-System Pharmacist), na qual Hepler apontava que deveria ser
estabelecido um compromisso para desenvolver a Farmácia como uma verdadeira
profissão clínica. Indicava que “deveria existir um convênio ou pacto entre os
farmacêuticos e seus pacientes e, por extensão, entre a profissão de Farmácia e a
Sociedade”.
Sem saber que Brodie havia usado o termo sete anos antes Hepler descreveu na
sua idéia como atenção farmacêutica em outra reunião na Carolina do Sul, em 1987:
“Proponho que os farmacêuticos clínicos mudem sua ênfase de realizar somente funções
isoladas aos pacientes e aceitam uma parcela de responsabilidade na atenção ao
paciente”.
Em 1988, Hepler descreveu a atenção farmacêutica como “uma relação pactuada
entre um farmacêutico e um paciente, na qual o farmacêutico leva a cabo as funções de
controle do uso dos medicamentos, governado pela consciência e o compromisso de
interesse pelo paciente”.Strand define como, “o componente da prática da farmácia que
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supõe a interação direta do farmacêutico com o paciente, com a finalidade de atender às
necessidades do mesmo relacionadas com medicamentos”.
Em qualquer âmbito da prática profissional, os farmacêuticos têm diante de si um
grande desafio. Ou se integram profissionalmente ao sistema, assumindo novos e
protagônicos papéis na informação sobre medicamentos, o tratamento de patologias
menores e racionalização dos custos sanitários, ou continuam com a deteriorização
profissional onde as técnicas de comercialização cedo ou tarde, os deixarão de lado. Esta
crise de identidade atravessa o farmacêutico á que justifica uma mudança rápida,
enérgica e penetrante.
A farmacologia clínica evoluiu com a necessidade de se comprovar a eficácia e
segurança dos fármacos em seres humanos, em função das leis que regulamentam o
desenvolvimento, produção e comercialização dos medicamentos. Atualmente, a
Farmacologia Clínica é a expressão contemporânea do emprego do método científico
para a racionalização da terapêutica medicamentosa. Os ensaios clínicos, os quais
seguem princípios éticos e científicos de experimentação, são os responsáveis pelas
bases da avaliação de eficácia e segurança dos fármacos. O ensino da farmacologia
clínica e a pesquisa com medicamentos é uma realidade recente no país. Portanto, os
profissionais da área de saúde, médicos, biomédicos, farmacêuticos e enfermeiros, que
trabalham ou pretendem trabalhar nas indústrias farmacêuticas, nas empresas privadas
que pesquisam e monitorizam medicamentos (contract research organizations) ou nas
instituições públicas de vigilância sanitária, não recebem a devida qualificação durante a
sua formação acadêmica.
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