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Soneto: Coitado!

Que em um tempo choro e rio

Coitado! que em um tempo choro e rio;


Espero e temo, quero e aborreço;
Juntamente me alegro e entristeço;
De uma coisa confio e desconfio.

Voo sem asas; estou cego e guio;


E no que valho mais menos mereço.
Calo e dou vozes, falo e emudeço,
Nada me contradiz, e eu aporfio¹. 1- discutir

Queria, se ser pudesse, o impossível;


Queria poder mudar-me e estar quedo²; 2- estar parado
Usar de liberdade e estar cativo³; 3- estar preso

Queria que visto fosse e invisível;


Queira desenredar-me e mais me enredo 4: 4- enredar= embaralhar
Tais os extremos em que triste vivo!

Se o soneto (o de nº 6) é clássico, este é um grande exemplo de um maneirista. Veja


que, em todos os versos, as contradições (paradoxos) se anunciam e isso mostre um
embate entre o período clássico, em que a razão, a harmonia, o equilíbrio, a ordem
são características de uma época em que o homem estava no centro
(Antropocentrismo) e o período maneirista, que revela a crise da épocas das
conquistas humanas. Resumidamente, a crise do período renascentista (clássico).

Como exemplo do que foi dito acima, tomemos a 3ª estrofe:

Queria, se ser pudesse, o impossível ; PODER X IMPOSSIBILIDADE


Queria poder mudar-me e estar quedo; MUDANÇA X ESTAGNAÇÃO
Usar de liberdade e estar cativo; LIBERDADE X PRISÃO

No último verso do poema deixa explicitamente o estado em que se encontra: Tais os


extremos em que triste vivo!

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