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AVALIAÇÃO NUTRICIONAL DE PROTEÍNAS DO

GRÃO-DE-BICO (Cicer arietinum L.) POR MÉTODO


QUÍMICO E MICROBIOLÓGICO*

Olga Luisa TAVANO**


Sinézio Inácio da SILVA JÚNIOR**
Aureluce DEMONTE**
Valdir Augusto NEVES**

RESUMO: Um método microbiológio para determinação industrial, o método deve ser capaz de avaliar os efeitos dos
do valor nutricional relativo (VNR) de proteínas de diferentes processamentos sofridos pelos produtos
alimentos, utilizando o Enteroccocus zymogenes, foi alimentícios sobre suas características nutricionais,
estudado com relação a sua factibilidade e sensibilidade oferecendo ao mesmo tempo, rapidez de resposta e baixo
em detectar diferenças na qualidade nutricional de custo.
proteínas de grão-de-bico e o efeito do tratamento Ford6 propôs um método baseado na resposta de
térmico nestas. Neste trabalho também foi avaliada a crescimento de Enterococcus zymogenes frente à qualidade
possível correlação entre os resultados do método da amostra de proteínas. A resposta está relacionada com
microbiológico e aqueles determinados pelo do Cômputo as necessidades de aminoácidos para crescimento desse
de Aminoácidos Corrigido pela Digestibilidade Protéica microrganismo, que apresenta como essenciais um conjunto
(CACDP). O método microbiológico mostrou-se de aminoácidos muito semelhante ao descrito para seres
eficiente em distinguir entre os diferentes aspectos humanos. No entanto, suas necessidades absolutas são:
nutricionais das frações protéicas do grão-de-bico, e foi valina, metionina, isoleucina, leucina, arginina, histidina,
sensível aos efeitos do tratamento térmico. Uma triptofano e ácido glutâmico. Dessa maneira, a lisina,
correlação positiva significativa entre os métodos também considerada um dos aminoácidos essenciais para
testados foi encontrada (R=0,8142). Os resultados os seres humanos, não é considerada de necessidade
encontrados para o método do E. zymogenes corroboram absoluta, embora sua ausência prejudique o crescimento do
seus aspectos de rapidez e simplicidade. microrganismo6. Quando comparado a outros métodos in
vivo, suas principais vantagens são: a pequena quantidade
PALAVRAS-CHAVE: Grão-de-bico; Enteroccocus zy- de amostra necessária, sua simplicidade e rapidez de
mogenes; avaliação nutricional; digestibilidade de resposta.
proteínas; cômputo químico. O método do CACDP (Cômputo de Aminoácidos
Corrigido pela Digestibilidade Protéica) foi primeiramente
recomendado pela FAO/WHO, em 1989, como alternativa
Introdução ao PER (Protein Efficiency Ratio)11, tomando como base o
computo químico de aminoácidos da proteína avaliada e
Os métodos de avaliação da qualidade nutricional sua digestibilidade verdadeira, determinada através de
de proteínas que se utilizam de modelos animais, como ratos ensaios in vivo, com ratos. Porém, trabalhos recentes já
ou porcos, em substituição a seres humanos, nem sempre apresentam resultados de CACDP em que a digestibilidade
podem se tornar rotina, considerando-se as instalações protéica in vitro é utilizada para tal correção, tornando o
físicas exigidas, grandes quantidades de amostras, tempo método mais simples e de mais rápida realização. Neste
necessário, custos, além das questões bioéticas, em que toma trabalho foram utilizados resultados de digestibilidade in
importância a discussão da substituição do uso de animais. vitro das amostras de grão-de-bico para determinação do
Nesse sentido, novos métodos são propostos e estudados, CACDP.
buscando a maior correlação com a situação real para Os objetivos deste trabalho foram: verificar a resposta
humanos, pela medida de um ou mais dos principais do método microbiológico na avaliação da qualidade
parâmetros que determinam a qualidade de uma proteína, nutricional de amostras de proteínas de grão-de-bico, bem
a saber, a quantidade de aminoácidos essenciais, a como sua sensibilidade aos efeitos do tratamento térmico.
digestibilidade protéica e a biodisponibilidade de seus Também foi verificado a possível correlação entre os resultados
aminoácidos7,10. Para atender as necessidades da dinâmica do método microbiológico e do Cômputo de Aminoácidos

*Trabalho realizado com auxílio financeiro do PADC-FCF-UNESP.


**Departamento de Alimentos e Nutrição-Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Araraquara-UNESP-14801-902-Araraquara-SP-Brasil

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Corrigido pela Digestibilidade Protéica (CACDP). Determinação de proteínas

Os teores de proteínas foram determinados pelo


Material e métodos método de Kjeldahl2 utilizando-se os fatores 6,25 e 6,38,
para conversão dos teores de nitrogênio em proteínas,
Material respectivamente para as proteínas do grão-de-bico e caseína
.
Foram utilizadas sementes de grão-de-bico (Cicer Tratamento térmico
arietinum L.), variedade IAC-Marrocos, provenientes do
Instituto Agronômico de Campinas, Campinas, S.P. As Parte da farinha e frações protéicas foram submetidas
enzimas pepsina e pancreatina, pronase, componentes do a tratamento térmico em autoclave (121°C/15 min), em
tampão glicerofosfato foram obtidas da Sigma Chemical presença de água destilada (proporção de 1:6 m/v),
Co., St. Louis, MO. A cepa de Enterococcus zymogenes imediatamente resfriada, novamente liofilizada e tamisada
(NCDO 592) foi obtida do “American Type Culture até passagem em peneira de 60 mesh.
Collection”, Rockville, USA. Todos os outros reagentes
foram de grau analítico. Determinação do valor protéico pelo método
microbiológico
Métodos
As amostras foram previamente hidrolisadas com
Preparo da farinha uso de pronase (1:25, enzima:substrato) em tampão -
glicerofosfato de sódio, pH 8,0, 48ºC/3 h, sob agitação. Após
As sementes foram maceradas em água destilada ajuste de pH para 7,2 e esterilização a frio por ultrafiltração,
(4°C/12 h) e manualmente descorticadas. Os cotilédones foram ensaiadas em quadruplicata, com base no descrito
foram secos em estufa com circulação forçada de ar (40 C), por Ford6, pela inoculação de cultura de Enterococcus
moídos e tamisados até passagem em peneira de granulação zymogenes em meio contendo todos os nutrientes necessários
de 60 mesh. A farinha obtida foi desengordurada utilizando- para seu crescimento excetuando-se os aminoácidos,
se n-hexano, sendo então utilizada para os diferentes estudos provenientes da proteína teste. A cultura foi incubada por
e extrações de proteínas. 48 horas a 37°C. Ao final do período as amostras foram
esterilizadas em autoclave (121°C/15 min) e as medidas de
Isolamento das frações protéicas crescimento realizadas por acidimetria, titulando-se o
conteúdo de cada tubo com NaOH 0,1N até pH 7,2. Os
O isolamento das frações protéicas do grão-de-bico resultados das médias dos volumes gastos na titulação,
foi realizado com base nas diferenças de solubilidade entre subtraído o volume do branco de cada amostra (com inóculo
proteínas em soluções extratoras diversas. A extração das inativo), foram utilizados para expressão do valor nutritivo
frações protéicas, albumina, globulina total e glutelina, foi relativo (VNR) das amostras como percentuais do valor
realizada com base no descrito por Sathe & Salunkhe12. A encontrado para a caseína (Sigma C-7078).
farinha descorticada e desengordurada foi dispersa em NaCl
0,5 M (1:10 m/v) e após agitação (1h/ 4°C) e centrifugação Determinação da digestibilidade in vitro
(9000g x 60min) o sobrenadante, contendo a fração solúvel
em sal, reservado. A fração prolamina foi extraída do resíduo A determinação da digestibilidade protéica in vitro
remanescente em etanol 70%, e a fração glutelina extraída foi realizada através da medida do percentual de hidrólise
na seqüência utilizando-se solução de NaOH 0,1N. As de cada amostra após tratamento com seqüência de enzimas
proteínas solúveis em sal foram separadas em albuminas e pepsina e pancreatina, como descrito por Akeson &
globulinas por diálise contra água destilada (24h a 4°C) e Stahman1. Os percentuais de hidrólise foram calculados pela
centrifugação (9000g x 60 min), onde as globulinas foram quantificação dos grupamentos amino liberados por reação
recuperadas na forma de precipitado. As frações obtidas com reagente OPA (ortoftaldialdeído), conforme descrito
foram congeladas (-20°C) e liofilizadas. por Church et al4. Uma curva analítica do aminoácido L-
A globulina principal (11S) foi separada da globulina leucina foi utilizada como referência.
total como descrito por Kumar & Venkataraman9. Uma
alíquota da globulina total foi suspensa em NaCl 10% (1:20 Determinação do perfil de aminoácidos
m/v) e esta solução diluída 10 vezes com água destilada.
Após centrifugação (5000g x 30min) o precipitado foi A análise das amostras foi efetuada após hidrólise a
novamente suspenso em NaCl 10% e esta suspensão diluída 110°C/22 horas em HCl 6N a vácuo. A separação foi
20 vezes com água destilada, seguido de centrifugação. O realizada em coluna de troca iônica, seguida de reação pós-
precipitado obtido contendo a globulina principal foi coluna com ninidrina em analisador de aminoácidos da
removido com água destilada, congelado (- 20°C) e marca Dionex (DIONEX Ion chromatography, Model DX-
liofilizado. 300, Dionex Corporation, USA). A determinação de

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triptofano foi realizada após hidrólise enzimática com além das recomendações da FAO/WHO8 para humanos na
pronase e reação colorimétrica com p-dimetil amino idade pré-escolar e adulta. Em uma análise geral, destacam-
benzaldeído (DAB), segundo Spies13. se as albuminas e as glutelinas, apresentando melhores perfis
de aminoácidos. As globulinas (total e principal) foram as
Cálculo do cômputo de aminoácidos corrigido pela frações mais deficientes em aminoácidos essenciais, com
digestibilidade quantidades de metionina, triptofano e treonina para
globulina total e principal, e valina no caso da globulina
O cômputo dos aminoácidos corrigido pela principal, inferior ao recomendado (Tabela 1).
digestibilidade foi calculado considerando-se os aminogramas Apesar dos teores de sulfurados terem apresentado
das amostras, como descrito por Sarwar & McDonough11, valores baixos, 78% da recomendação da FAO/WHO, o
corrigidos pelos valores de digestibilidade in vitro. primeiro limitante na proteína total da farinha de grão-de-
bico foi o triptofano, com percentual inferior ao
Resultados e discussão recomendado (56,4%). O restante dos aminoácidos da
farinha apresentou teores superiores às recomendações.
A farinha descorticada e desengordurada de grão- De acordo com os dados de digestibilidade in vitro
de-bico apresentou 25,01% de proteína, sendo suas (Tabela 2) pode-se verificar a mesma tendência detectada
principais frações constituintes: a globulina total, pelo método microbiológico (Tabela 4) quanto ao efeito do
representando cerca de 47,85% da proteína total, seguida aquecimento sobre as amostras. Esse tratamento mostrou-
pela fração albumina (18,63%) e fração glutelina (10,02%). se benéfico em relação a maioria das proteínas, excetuando-
A globulina 11S, globulina majoritária no grão-de-bico, se, a glutelina, onde podemos perceber um prejuízo nos
representou 42,52 % da globulina total. A fração prolamina, valores relativos à amostra aquecida.
que representou apenas 0,17% da proteína total da farinha, A redução na digestibilidade da glutelina após seu
não foi utilizada nos demais ensaios realizados. aquecimento reflete-se no cálculo do cômputo de
Na Tabela 1 foram reunidos os cômputos de aminoácidos corrigido pela digestibilidade (Tabela 3) que
aminoácidos das proteínas de grão-de-bico e da caseína, passa de 41,66 para 27,35.

Tabela 1 - Composição de aminoácidos essenciais (mg/100 mg proteína) de proteínas de grão-de-bico (Cicer arietinum
L.) var IAC - Marrocos, caseína e comparação com os padrões da FAO/WHO.

Padrões FAO/WHO
Cômputo de Aminoácidos

Pré-
Aminoácido Adultos Globulina Globulina
escolares Farinha Albumina Glutelina Caseína
Total Principal
TRE 3,4 0,9 3,93 5,21 2,95 2,88 4,35 3,8
(115%) (153%) (86,8%) (84,7%) (128%) (112%)
VAL 3,5 1,3 4,06 4,55 2,95 4,15 5,05 5,5
(116%) (130%) (84,3%) (119%) (144%) (157%)
MET + 2,5 1,7 1,95 4,75 0,99 0,87 1,87 3,5
CIS (78,0%) (190%) (39,6%) (34,8%) (74,8%) (140%)

ILE 2,8 1,3 3,83 4,27 4,05 4,06 4,52 4,4


(137%) (152%) (145%) (145%) (161%) (157%)
LEU 6,6 1,9 7,73 7,18 7,81 7,60 7,68 7,6
(117%) (109%) (118%) (115%) (116%) (115%)
TIR + 6,3 1,9 9,0 7,71 9,64 9,32 9,18 7,0
FEN (143%) (122%) (153%) (148%) (146%) (111%)

LIS 5,8 1,6 7,31 9,33 6,61 6,52 7,89 6,8


(126%) (161%) (114%) (112%) (136%) (117%)
HIS 1,9 1,6 2,86 3,02 3,08 2,97 2,99 2,5
(150%) (159%) (162%) (156%) (157%) (131%)
TRP 1,1 0,5 0,62 0,70 0,78 0,80 1,09 1,0
(56,4%) (63,6%) (70,9%) (72,7%) (99,1%) (90,9%)
Os resultados entre parênteses representam o computo químico, percentuais relativos de cada aminoácido ao valor de referência da
FAO/WHO8 para pré-escolares.
Valores sublinhados representam o primeiro limitante da amostra.
*Valores para caseína Sigma C-7078 obtidos através de informações do fornecedor.

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Tabela 2 - Digestibilidade in vitro de proteínas de grão-de-bico, após hidrólise com seqüência
de enzimas pepsina-pancreatina, antes e após tratamento térmico (121°C/15 min).

Digestibilidade in vitro
Amostra
% de hidrólise % relativo à caseína
a
Caseína C-7078 65,99 2,90 100

Farinha crua 42,20b 1,19 63,95ae 1,80


Farinha aquecida 53,00cde 4,76 80,31bcf 7,22

Albumina crua 40,10b 0,88 60,77a 1,34


Albumina aquecida 51,01c 0,47 77,31b 0,71

Globulina Total crua 47,51d 1,33 72,98c 2,02


Globulina Total aquecida 68,49a 2,04 103,79d 3,10

Globulina Principal crua 48,16cd 3,43 72,98bce 5,20


Globulina Principal aquecida 61,53e 3,91 93,25f 5,93

Glutelina crua 55,70ce 5,07 84,41bf 7,68


Glutelina aquecida 36,56b 3,84 55,40a 5,81
Resultados representam médias desvio padrão, de três determinações.
Valores em mesma coluna contendo letras iguais sobrescritas não apresentam diferenças significativas (p<0,05).

Tabela 3 - Cômputo Químico de Aminoácidos Corrigido pela Digestibilidade Protéica in


vitro, de amostras de grão-de-bico.
Cômputo de Aminoácidos Corrigido pela
Amostras Digestibilidade Protéica (CACDP)
% Caseina :
a
Caseína C-7078 54.98 2.63 100 %

Farinha crua 23.80b 0.67 39.68%a 1.12


Farinha aquecida 29.89cf 2.69 49.83%be 4.48

Albumina crua 25.50d 0.56 42.52%c 0.94


Albumina aquecida 32.44c 0.30 54.08%b 0.50

Globulina Total crua 18.81e 0.53 31.36%d 0.88


Globulina Total aquecida 27.12f 0.81 45.21%e 1.35

Globulina Principal crua 16.75g 1.19 27.94%f 1.99


Globulina Principal aquecida 21.41h 1.36 35.70%g 2.27

Glutelina crua 41.66i 3.79 69.46%h 6.32


Glutelina aquecida 27.35bdf 2.87 45.59%ace 4.78
Resultados representam médias desvio padrão, de três determinações.
Valores em mesma coluna contendo letras iguais sobrescritas não apresentam diferenças significativas (p<0,05).

Alguns trabalhos demonstram que o aquecimento aquecimento pode ter afetado alguns aminoácidos, como
não causa prejuízos significativos na composição de sugerem os resultados obtidos de digestibilidade in vitro
aminoácidos do grão-de-bico 3,5, e com base em tais (Tabela 2) e pelo método microbiológico (Tabela 4).
constatações os valores relativos às análises de aminoácidos Os dados referentes à avaliação nutricional, pelo
das amostras cruas foram utilizados também para as método microbiológico, das proteínas da farinha e frações
amostras aquecidas, nos cálculos do cômputo de protéicas isoladas estão expressos na Tabela 4, como
aminoácidos. No entanto, no caso da glutelina o percentuais relativos ao resultado obtido para a caseína.

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Tabela 4 - Valor Nutricional Relativo (VNR), calculado No entanto, o método microbiológico registrou
com utilização de E. zymogenes, de amostras valores absolutos superiores para todas as amostras. Este
de proteínas de grão-de-bico antes e após fato pode, possivelmente, advir de uma diferença
tratamento térmico (121°C/15 min). quantitativa da necessidade de aminoácidos relativa do
microrganismo e daquela referente às recomendações da
Amostras VNR (% )* FAO/WHO para pré-escolares, adotada para os cálculos do
CACDP. Isto sugere que para tal faixa etária os resultados
Farinha crua 69,87a 2,78 do VNR poderiam estar superestimados. Isso pode ser
Farinha aquecida 93,94bc 6,96 observado no alto valor de VNR obtido para a glutelina
crua em contraposição aos teores de aminoácidos sulfurados
Albumina crua 87.98b 0.43 e da digestibilidade in vitro.
Albumina aquecida 98.48c 0.49 Por outro lado, observa-se uma melhor adequação
dos resultados do método microbiólogico às recomendações
Globulina Total crua 42.88d 0.88
de aminoácidos para adultos (Tabela 2), o que leva a supor
Globulina Total aquecida 85.33be 3.72
que esse método teria uma utilização mais adequada quando
o consumo do produto protéico por seres humanos adultos
Globulina Principal crua 43.15d 6.57
estivesse em questão.
Globulina Principal aquecida 83.23e 1.51

Glutelina crua 100.03c 1.45


Conclusões
Glutelina aquecida 69.18a 1.18
Valores na coluna com letras sobrescritas iguais não apresentam diferenças O método microbiológico (VNR) mostrou-se
significativas entre si (p 0,05). Os resultados representam médias desvio eficiente na avaliação das amostras de proteínas de grão-
padrão de quatro determinações.
de-bico, apresentando-se capaz de detectar as alterações
* caseína = 100%
sofridas pelas proteínas após tratamento térmico. O método
mostrou-se sensível às alterações relativas à melhoria da
Podemos observar que o método microbiológico digestibilidade protéica ou os prejuízos sofridos pelas
mostrou-se sensível em diferenciar significativamente o modificações de aminoácidos, ou seja, aquelas relacionadas
valor nutricional relativo (VNR) das amostras de proteínas à disponibilidade de aminoácidos. Também apresentou uma
do grão-de-bico (Tabela 4). O método também foi capaz de boa correlação com o CACDP (R = 0,8142), o que lhe
detectar alterações provocadas pelo tratamento térmico confere confiabilidade, muito embora os resultados tenham
(121°C/15 min) sobre tais proteínas, refletindo tanto as indicado melhor adequação às recomendações de
melhorias quanto os prejuízos nutricionais, ou seja, foi aminoácidos para adultos. Acrescente-se a isso a
possível observar um aumento do VNR para as amostras de confirmação dos aspectos de rapidez e grande simplicidade.
farinha, albumina e globulinas após aquecimento, assim
como o prejuízo na qualidade da amostra de glutelina
quando aquecida, conforme já mencionado. Agradecimentos
A farinha aquecida de grão-de-bico apresentou alto
valor nutricional em relação à caseína. Entre as amostras A Drª Vera S. Baldini do Instituto de Tecnologia de
não aquecidas os maiores resultados foram encontrados para Alimentos de Campinas (ITAL) pelas análises de
a fração glutelina (100% em relação à caseína) enquanto aminoácidos.
que as globulinas apresentaram os valores mais baixos,
sendo 42,88% para globulina total e 43,15% para globulina
principal. TAVANO, O.L.; SILVA JÚNIOR, S.I.; DEMONTE, A.;
Quanto ao efeito do tratamento térmico, embora as NEVES, V. A. Nutritional evaluation of chickpea protein:
amostras de farinha e albumina tenham apresentado os microbiological and chemical methods. Alim. Nutr.,
maiores resultados para o VNR (Tabela 4), as maiores Araraquara, v.15, n.1, p. 17-22, 2004.
alterações foram notadas para as amostras de globulina total
e principal, já que o aquecimento resultou em acréscimo de ABSTRACT: A microbiological method to measure the
99% e 93% em seus percentuais de VNR, respectivamente, relative nutritional value (RNV) of protein foods, using
em comparação a suas amostras não aquecidas. Enteroccocus zymogenes, was studied to detect the
Considerando-se os cálculos em percentuais relativos differences in nutritional quality of chickpea proteins
à caseína, uma boa correlação entre os resultados do cômputo and the effect of the heat treatment on these proteins.
de aminoácidos corrigido pela digestibilidade (Tabela 3) e This work also verified the possible correlation between
do método microbiológico (Tabela 4), foi encontrada (R = the microbiological method and protein quality
0,8142), evidenciando comportamento semelhante dos evaluation by Protein Digestibility Corrected Amino
métodos para amostras de proteínas de grão-de-bico. Acid Scoring (PDCAAS). The RNV microbiological

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method showed to be efficiently able to distinguish and isolated milk proteins. J. Dairy Sci., v.66, p.1219-
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30 Alim. Nutr., Araraquara, v.15, n.1, p.17-22, 2004


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