No texto Verdade e mentira no sentido extra-moral (1973), Nietzsche aborda o
problema da verdade levando em consideração a sua origem, que para o autor passa pela relação mais fundamental do homem com o mundo: a conservação da vida. Nos primeiros estágios das civilizações os homens fizeram uso do intelecto para que a vida humana fosse possível, usando, de forma astuta, meios para conservar-se perante as intempéries da natureza. Nessa atividade os homens inventaram a linguagem para a viabilidade da comunicação social e também inventaram o conhecimento acerca das coisas. O problema que Nietzsche aponta é que há uma soberba do intelecto humano na produção do conhecimento, julgando-o ser realmente verdadeiro, o que mostra o impulso pela verdade. Para Nietzsche, os homens não podem ter um conhecimento real das coisas, pois o conhecimento real lhes é totalmente inalcançável, e disso se esquecem. Das coisas somente se pode ter um conhecimento ilusório, pois tanto o processo de criação do conhecimento quanto o da linguagem tem origem em transposições metafóricas arbitrárias: a partir das coisas se tem estímulos nervosos e destes criam-se metaforicamente imagens, e das imagens metaforicamente passa-se aos sons, às palavras. Assim, a crítica de Nietzsche aponta para a consideração de que a vaidade do intelecto levou a humanidade a uma desonestidade consigo mesma, pois a humanidade esqueceu que, para se estabelecer no mundo segundo o uso do conhecimento, nada mais fez do que lançar mão de enganos e ilusões, de usar “metáforas usuais”.