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Salon Européen des Jeunes Créateurs - 2005

Quer ser regra ou excepção?1

Rosa Almeida, Carlos Roque, Diogo Pimentão, Fernanda Fragateiro, José Loureiro,
Fernando José Pereira, Nuno Ramalho+Manuel Santos Maia+Pedro Barateiro, Maria
Capelo, Pedro Valdez Cardoso e Mariana Viegas

“Onde começo, onde acabo,


Se o que está fora está dentro
Como num círculo cuja
Periferia é o centro?”2

“Esse fundir-se total é insuportavelmente bom - como


se morte fosse o nosso bem maior e final, só que não é a morte, é a vida
incomensurável que chega a se parecer com a grandeza da morte.”3

Aparentemente ou é regra ou excepção; assim como, em tempos medievos, os filósofos


contrapunham: providência divina ou livre arbítrio. Enfim, na formatação de pensamento
judaico-cristã predomina o maniqueísmo; usando, em seu primado, modelos antinómicos e
dualistas: impera o dogma da irreversibilidade.
Ora, nem muito se acredita que a Arte seja, toda ela ou nenhuma, boa ou má; antes, e por vezes,
tão-somente assim-assim. Um “assim-assim” feito, edificado numa construção dos 600 tons de
cinzento que se reconhecem em Vieira da Silva. Mas cinzentos – um pouco mais ou menos –
nunca cessam de emergir, em superfícies arenosas ou em sopros de artista.
Então, centrem-se as argumentações em alternância de regra e excepção – quiçá? Nessa viagem
à volta do meu quarto, que Xavier de Meistre estabeleceu em além-tempos, regra e/ou excepção
correspondem a uma dialéctica intrínseca que cada um ignora, condescende ou venera.
Antes e assim, se lembre Hermes Trimegisto,

“Tira-me ao tempo a que escapaste brusco


Dá-me de dentro o que teu perto estende” 4

“Aí é tudo diferente: pessoas, objectos, paredes,


E ninguém nos reconhece – somos alheios.”5

Maria de Fátima Lambert

1
Para o Paulo R., “on the road” – fev.2005
2
Ferreira Gullar, “Extravio”, Obra Poética, Vila Nova de Famalicão, Quasi, 2003, p.513
3
Clarice Lispector, “O prazer nascendo” - 23 novembro 1968, A Descoberta do Mundo, p. 227
4
Walter Benjamin, Os Sonetos de Walter Benjamin, trad. Vasco Graça Moura, Porto, Campo das Letras,
1999, 15
5
Anna Akhmatova, “Elegias do Norte - Quarta”Poemas, Lisboa, Relógio d’Água, 2003, p.83

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