s povos da Nubia do Indico ‘Brasil, costuma-se falar da Aftica como se se tratasse de um expago homogéneo © compacto, mas isso é tum grande engano. A parte do continente em referéncia em geral & a ocidenral, banhada pelo ‘oceang Atkintico. Mas ao Norte, seus territérios 0s povos quic habitaram 0 Magreb e 0 Egito. E ‘em sua porcao oriental, a proximidade do mar Vermelho ¢ do oceano Indico ofereceit condi- bes préprias de vida aos grupos humanos que ali se instalaram. Neste capitulo, 0 foco de anilise diré ito apenas aos povos que habitaram essas 1as_regides, porque, embora diferentes entre si, vistos em conjunto cles vivenciaramee REE 24 susromanaaruce experiéncias similares. Nos préximos capitulos, serio enfocados os de- mais povos do int torineos ¢ aqueles que ocuparam os desertos ¢ as florestas ACIVILIZACAO EGIPCIA E MEROITICA Desde o nordeste, na regio do Delta (onde desigua) até 0 Lago » préximo da linha do Equador (onde nasce), 0 extenso tettitério continental ¢irrigado pelos 7 mil km das éguas do maior rio do mundo: 0 Nilo. Ele oferece as condigbes de vida para iniimeras espécies de animais ¢ vegetais, 3s suas margens formaram-se as primeiras comunidades seden- tirias organizadas. Vite A mais antiga dessas comunidades, descoberta pelos arquedlogos em 1960 em Wadi Kubbanniya, data de 15 mil anos. Entre os vestigios encontrados, foram identificados 25 tipos de sementes e frutos comes veis, tubérculos ¢ pedras empregadas para moer grdos, além de animais domesticados, entre os quais bovinos ¢ carneiros. E a prova mais antiga da ‘cupagdo humana no vale do Nilo, onde floresceria uma das mais antigas ofisticadas civilizagses: 0 Egico. Por volta de 3.200 a.c.c., toda a regio do vale do Nilo, que abriga- va intimeras comunidades aldeds sedentétias, foi unificada ¢ controlada por um Estado de caréter teocritico, isto é religioso, centralizado na figura dos farads, Vistos como seres divinos ou izados, os faraés cram consi- de Osiris, 0 senhor da terra dos mortos. Apoiado numa elite governante constituida por aliados e dependentes pessoais, de onde provinham escribas, sacerdotes e chefes militares, © poder fara 0 se prolongou ao longo dos milénios, através de sucessivas dinastias. Os principais cestemunhos arquiteténicos da grandeza egipcia, fossem wimulos, palécios ou remplos, reproduzem visualmente 0 poder sagrado atribuido aos governantes. As gigancescas piramides e obeliscos, os santudtios edificados em pedra e as estituas colossais de entidades divinas e osrovospanomaznowsoico 25 farads, as belissimas pinturas ¢ 0s relevos nas paredes dos edificios avestam 0 alto grau de desenvolvimento das técnicas arquitetdnicas entre 0s egip- cios, Mas criagdes menos extravagantes, entre as quais os conhecimentos astrondmicos, matematicos, médicos ¢ as invengées simples, como o shaduf” (um balde empregado para recolher 4gua contrabalancado por um peso) ¢ a sagia (uma coda hidrdulica movida por animais), foram instrumentos es- senciais para o aproveitamento das dguas do Nilo na irtigagio dos campos. ‘Ao longo de seu extenso canal, © Nilo funciona como um corredor, através do qual os diferentes povos que habitaram as suas margens se ela- cionaram, Das florestas ¢ savanas situadas em sua nascente, ele se projeta para o norte, recortado por varias cataratas, ¢ atravessa todo o territério onde habicavam os povos negros da Niibia, que, em contato com o Egito, dariam origem & mais antiga civilizagio negra da Africa, Meroé. A presenga mibia era constance ao longo dos milénios da histéria do Império Egipcio ¢ ¢ atestada nas pinturas das paredes das pirtmides, nas ilustragSes dos papiros ¢ na rica estatudria. Como € possivel verificar pela belissima pega que se conserva no Museu do Cairo, onde se pode ver uma fileira de arqueiros negros da Nabi fabricante de cerveja, de aucoria andnima, que se encontra preservada no Museu de Hildesheim, na Alemanha. Os habitantes de Nuibia constituiam uma ameaga para a estabilidade do poder farabnico. Os farads relacionaram-se, as veres, de modo pacifico, 1u pela conhecida estatueta de um outras pela guerra com os povos nibios que habitavam os tertitérios de Yam, Kerma Kush, abaixo da primeira catarata do Nilo, até que, por volta de 1530 a.e.., foram dominados. Da Nubia provinha uma série de produtos apreciados em Ménfis ou Tebas, como peles de animais e temperos, mas sobretudo minerais pr domésticos e nos templos. O préprio termo “Niibia” deriva de noub, que Josos ¢ cativos que seriam empregados como escravos em servicos a0 longo n mesmo a in- m 751, 0 liderApés essa data, os stalando a sede de governo ‘Napata (até cerca de 500 a.e.c.) ¢ depois na cidade de Meroé (entre 500 a.cc ¢ 350 e.c.). Tratava-se, nesses casos, de organizagdes politicas tipica- mente negras que traziam consigo a mat Do esplendore prosperidade da ci izagio de Meroé restaram diver- pirimides de pequena proporsio, templos em homenagens aos deuses, timulos ¢ sarcéfagos de granito com peso de cerca de 25 coneladas cada um. © acesso ao templo dedicado a Amon era feito por uma extensa avenida delimitada por grandes estituas de carnciros feitas de pedra. Havia também o Templo do Sol ¢ 0 Templo de Naga, em paredes prescrvam-se ainda em alto-televo as imagens de divindades cultuadas no Egito © legado de Meroé. Por muito tempo se repetiu o erro dos escritores romanos que confundiram o titulo das governantas de Meroé com seu nome préprio, chamando-as de Candace ou Candécia. Para eles, Cand: nha. Sabe-se, entretanto, que o referido termo & da palavra kdke, empregada para designar o tiulo de todas as esposas dos governantes mi sos monumentos, entre 0s qué smitidas aos povos negros da Nubia através do ticos. Governavam com eles, ou sozinhas, desempe- hando o papel de~ na auséncia de melhor expressio ~, rainhas-mies ou de sacerdotisas. Um dos tagos dis vos ¢ originais das sociedades afticanas antigas foi o papel diferencial das mulher © estatuto feminino fosse melhor ou pior do que o es fato é que o papel reservado as mulheres era osrovosmawoniaenownico 27 Com war que noutras sociedades africanas tradicionais ‘em que vigoravam relag6es matrilineares, as mulheres desfrutaram de boa posigio social. Entre os berberes ¢ tuaregues que habitavam o deserto do Sara, elas tinham grande liberdade nas ‘ocupavam posigio de mando, No antigo ages matrim: um duplo governo, algumas pois a esposa do governante dispunha de um poder paralelo a cle, Em certas comunidades, como a do Segou, mesmo quando o poder era con- trolado por homens, havia dois reis, e um deles personificava o fe Esse trago distintivo comegou am adogio do cris ou do islamismo, cujos valores culrurais reproduzem tragos de uma orga- nizago social de tipo patrilincar. Entre tantas personagens femininas de relevo, merecem destaque ada numa das trés pirimides existentes na parte meridional governado entre 284 ¢ 275 ae.c. A ela devem-se acrescentar os nomes de Amanetinas ~ que, por volta de 25 a.c.c.,resistiu Barrare, de Meroé e que « 20 avanco dos romanos ¢ rerminou exilada na Ilha de Samos, na atual “e de Amanitere, cujo governo data de 25-41 e.c. ¢€ considerada a tiltima governance da fase éurea da civilizaso merot No sécul perceber no empobrecimento e diminuigio do tamanho dos rimulos de ec, a influa de Meroé diminuiu, 0 que se pode seus iimos governantes, de quem as vezes nio restam nem os nomes. ‘Outros poderes emergiriam na regio da Nubia ¢ do mar Vermelho, ¢ 0 ‘ais influente seria exercido pelo Estado de Axum. OCRISTIANISMO EM AXUM E NA ETIOPIA ,,o mar Vermelho se sm afticana e de orige .o de Babelmandeb nas encostas das montanhas da regio do Tigeé estavam Outro desses grupos, 0 Ag'as, deixou seu