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ENSAIO ACADÊMICO

Uma modalidade de texto bastante usada na academia, especialmente nas áreas de


Ciências Humanas, é o ensaio que consiste na exposição das idéias e pontos de vista do
autor sobre determinado tema, buscando originalidade no enfoque, sem, contudo,
explorar o tema de forma exaustiva.

Para redigir um ensaio acadêmico é bom que você saiba:

Em um ensaio acadêmico, uma tese (idéia principal) é defendida pelo autor ou


autores e, portanto, é preciso expressar claramente qual é essa tese. O leitor de
um ensaio acadêmico espera ser informado corretamente sobre o tema a ser
tratado e como o mesmo será trabalhado.
Para ensaios acadêmicos é adotada, normalmente, a estrutura lógica típica de um
texto científico (título, lista de autores, resumo, introdução, ...). A tese a ser
defendida (isto é, a idéia relacionada ao tema a ser tratado) já aparece de forma
sucinta no título e no "Resumo", posteriormente é apresentada com mais
detalhes, na "Introdução".
O tema deve ter uma certa dose de ousadia para capturar a atenção do leitor. Um
"bom" tema pode ter uma ou mais das seguintes características: ser
controvertido, pouco usual ou ter alto grau de relevância para o leitor; ter uma
hipótese passível de ser comprovada com evidências adequadas; contrapor-se ao
senso comum; ser a chamada para uma ação contra algo; ou qualquer promessa
que consiga captar a atenção do leitor.
A introdução de um ensaio acadêmico apresenta a idéia a ser explorada e
trabalhada, sugere a linha de argumentação a ser adotada e esboça a organização
do restante do texto.
Um ensaio acadêmico, portanto, requer um tópico interessante e claramente
caracterizado. Converse com outras pessoas sobre os materiais de que você
dispõe para tentar identificar um tópico envolvente e instrutivo. De conversas
assim costumam surgir propostas muito interessantes.
Os leitores de seu ensaio acadêmico esperam que você se posicione claramente
em relação ao tema proposto e defenda o seu ponto de vista com argumentos e
evidências sólidas. Para tal é necessário que você realize previamente uma
pesquisa bibliográfica mais exaustiva sobre o tema escolhido, sobre a área em
que se insere o tema, bem como sobre áreas correlatas. Possivelmente você
também precisa coletar dados complementares. Não relate apenas aquilo em que
você acredita ou o que aprendeu nas suas investigações, mas mostre evidências
convincentes para fundamentar seus pontos de vista e convencer seus leitores.
Dedique cada parágrafo a apenas uma questão, isto é, cada parágrafo deve servir
a apenas um propósito, expressando as etapas de seu raciocínio. Não se esqueça
de criar "elos de ligação" através de recursos coesivos entre parágrafos para
promover "transições suaves" entre questões apresentadas de forma sucessiva
(coesão). Normalmente a transição de um parágrafo para outro é feita na
primeira sentença do parágrafo que se sucede com destaque para a forma de
relação dos dois parágrafos entre si. Algumas expressões que sugerem uma
transição são: "mesmo assim", "em contraposição", "todavia", "embora" e
"ademais" entre outras que se constituem em recursos coesivos.
Não seja categórico demais. Relativize as suas afirmações, pois as "verdades"
não são absolutas. Não emita juízo em seu texto. Deixe o leitor tirar a suas
próprias conclusões.Evite termos que possam ocasionar viés preconceituoso e
que possam ofender leitores ou qualquer outra pessoa.
Redija com cuidado as suas conclusões e dedique especial atenção à última
frase, local ideal para retomar e reforçar a mensagem principal do seu texto que
você quer que seus leitores levem consigo.
Depois de concluída a primeira versão, distancie-se do seu texto. Aguarde um
dia ou mais para retomá-lo e revisá-lo. Você certamente o verá com "outros
olhos" e isso o ajudará muito a melhorá-lo. Falhas e pequenos defeitos de que
você não se deu conta, dois dias depois, saltam aos olhos.
Caso você peça ajuda a outros para revisar o seu texto, analise as sugestões de
melhoria recebidas e veja se você concorda com elas. O texto é seu e cabe a
você a decisão sobre a sua versão final.

Ensaios podem ter preponderância de um ou mais dos propósitos abaixo:

ensaio descritivo
Apresenta, de forma expressiva, objetos, locais e eventos para que o leitor
consiga vislumbrar e tenha uma sensação clara sobre aquilo que foi descrito.
ensaio explicativo
Tem por objetivo descrever um termo ou fato específico através de outros
termos, fatos e metáforas.
ensaio narrativo
Descreve uma sucessão de eventos a partir de uma perspectiva subjetiva
privilegiada e explicita o desenvolvimento pessoal do narrador em termos de
experiências e reflexões.
ensaio comparativo
Visa demonstrar relações e diferenças mais substanciais entre dois ou mais itens
analisados.
ensaio de persuasão
Pretende convencer o leitor sobre as idéias ou opiniões do autor. O autor precisa
(a) demonstrar que seu ponto de vista é razoável, (b) manter a atenção do leitor
ao longo do texto e (c) fornecer evidências fortes para sustentar o seu ponto de
vista.
ensaio reflexivo
Inicia-se com uma proposição e um argumento, a seguir apresenta um contra-
argumento e, por fim, derruba o contra-argumento com um novo argumento.

Redação Científica/Unicamp.
Estrutura do Ensaio
1. INTRODUÇÃO

Observações: Dentro do parágrafo introdutório de um ensaio, o autor afirma a idéia central e


qualquer informação prévia de que o leitor necessite saber. Geralmente, a idéia (tema) é
declarada na segunda ou última sentença do parágrafo introdutório.
Assim, lembre-se destes pontos importantes que você deve ressaltar na introdução:

Definição do tema
Por que é que escolheu este tema
O que é que vai argumentar
Descrição da estrutura do ensaio

2. CORPO DO ENSAIO

O corpo do ensaio consiste de vários parágrafos. Cada parágrafo contém os pontos principais,
necessários para provar ou desenvolver a idéia central. Cada ponto principal pode servir como
o tópico do parágrafo. O parágrafo principal geralmente é afirmado no que é chamado de uma
sentença-tópico ou argumento. Como cada ponto principal deve ser provado para o leitor, o
autor também inclui fatos, razões, exemplos, ou outros detalhes de apoio, com os quais
desenvolve cada ponto principal. Resumindo:
- Analisar e desenvolver o tema escolhido;
- Estruturar o ensaio de forma que o leitor possa seguir a sua argumentação;
- Dar exemplos do texto que irá estudar;
- Mencionar a bibliografia secundária para justificar suas idéias e conclusões;
- Dividir o ensaio em pequenos capítulos para tornar os argumentos mais
compreensíveis;
- Indicar sempre a origem das suas citações (siga as convenções definidas pela ABNT).

3. CONCLUSÃO

A conclusão do ensaio pode ser uma sentença simples, um parágrafo ou, ainda, vários
parágrafos. O parágrafo conterá declarações concluintes que reafirmem e apontem a idéia
central. As sentenças concluintes podem também resumir os pontos principais do ensaio. O
objetivo da sentença concluinte é fazer o fechamento do texto. Assim, as declarações não
devem introduzir nenhuma idéia nova. Portanto, lembre-se:
- Apresente os resultados da sua análise;
- Deixe clara a conclusão do seu trabalho;
- Poderá ser introduzido um comentário pessoal ao tema;
- Poderá ser indicada outra área relacionada com o seu tema, que seria interessante
estudar e pesquisar.

4. BIBLIOGRAFIA

Indique, por ordem alfabética, os livros que usou no seu ensaio, de acordo com as normas de
citação bibliográfica. Veja normas ABNT.
a) Um ensaio é uma composição breve, baseada em uma idéia.
b) A idéia na qual o ensaio está baseado é chamada de idéia central/controle (ou
tese defendida).
c) Um ensaio é organizado em três partes ou seções, chamadas de introdução,
corpo (argumentação e estratégias de convencimento) e conclusão.
d) Cada parte do ensaio contém um ou mais parágrafos.
e) A idéia central geralmente é afirmada no parágrafo(s) introdutório(s).
f) A idéia central é explicada pelas idéias chamadas de pontos principais.
g) Os pontos principais são explicados no corpo dos parágrafos.
h) Cada corpo de parágrafo está baseado em um tópico. Em muitos casos, o
tópico é um ponto principal do ensaio.
i) O tópico de cada corpo do parágrafo é geralmente afirmado em uma
sentença-tópico.,
j) Os pontos principais são explicados pelos detalhes de apoio.
k) Os detalhes de apoio consistem de exemplos, fatos, razões, ou outras
informações específicas que reafirmem o ponto principal.
l) O parágrafo concluinte geralmente contém declarações que reafirmam e
apontam a idéia central. As afirmações concluintes podem também resumir os
pontos principais do ensaio.

Exemplo de Ensaio

Da difícil arte da conceituação


Por Bruno Gripp

Quando Platão separou as obras literárias em gêneros, diferenciou a epopéia da


tragédia e expulsou ambas da República. Aristóteles, seu discípulo, distinguiu
uma da outra, procurou qualificá-las, conceituá-las, tornando-se o primeiro
teórico da história da literatura e também uma referência no estudo literário. Sua
Poética tornou-se um paradigma da rotulagem literária, desde então os gêneros
diferenciam-se pelo modo da imitação (mimese) e não pelo seu conteúdo ou sua
origem, outros métodos de classificação possíveis.

Com o posterior desenvolvimento da literatura, outros gêneros, além da epopéia


e da tragédia, surgiram, como o romance, o conto, a lírica e o ensaio, estando
estas noções tão integradas ao senso comum, a ponto de ser impossível nos dias
de hoje estudar literatura sem estudar a teoria dos gêneros. Costuma-se
classificar o romance como um texto em prosa de longa-duração temporal; o
conto como um texto, também em prosa, de curta duração temporal; a lírica, em
verso, com forte presença de um eu central, e o ensaio como um “texto,
geralmente em prosa, livre, que versa sobre um determinado assunto sem esgotá-
lo, reunindo pequenas dissertações menos definitivas que um tratado”, segundo
Houaiss.

Quanto ao ensaio, a definição mais usual, encontrada em dicionários e até em


alguns teóricos, tende a abarcar mais do que o próprio senso comum reconhece
como ensaio. Por exemplo, toda a produção epistolar de Cícero e Sêneca e até,
se formos rigorosos, o poema didático De rerum natura de Lucrécio, se encaixa
perfeitamente nestas definições, mas ninguém chamaria Lucrécio e Cícero de
ensaístas. Onde estaria o que faz reconhecer um ensaio de um “não-ensaio?”
Embora descartando de início a tautologia “ensaio é aquilo que nós chamamos
de ensaio”, é importante partir do senso comum, “do que nós chamamos de
ensaio”, para chegar no que o ensaio é. Procuro a descrição, pois a prescrição
mostrou-se ser demasiado problemática.

O que faz a Odisséia ou a Divina Comédia serem “não ensaios” já é esclarecido


por qualquer classificação encontrada, também é explicada a razão de um conto
não poder ser um ensaio – o ensaio mantém um certo caráter dissertativo – e
também porque um tratado não é um ensaio – este é mais concludente.

Resta ainda a dúvida do que faz com que as epístolas de Cícero não sejam
ensaios, pois são livres dissertações curtas sobre determinado assunto, não
concludentes, e até bastante individuais. A conclusão só pode ser feita ao
analisar a história do ensaio. Pois continua descartada a chance de serem alguns
latinos ensaístas.

O gênero apareceu pela primeira vez com esse nome no final do século XVI, nos
Essais, de Montaigne. Em 1597, antes mesmo da tradução para o inglês, já
apareciam os primeiros ensaios ingleses, na pena de Francis Bacon, sem seguir
fielmente o modelo do francês, e estes dois pioneiros foram seguidos por muitos
outros. Corria então o Renascimento, era de grande produção intelectual, de
contato entre o passado medieval e a mentalidade clássica.

A maior diferença encontrada entre os modernos e os clássicos é, evidentemente,


o tempo. E arriscaria a dizer que é justamente este fator que os diferencia. O
ensaio está profundamente ligado ao mundo moderno, algo não facilmente
definível e ausente das definições mais sucintas. A individualidade do ensaio é a
individualidade do homem moderno. Portanto, Cícero jamais poderia sonhar em
ser ensaísta, por mais individual que ele seja, pois esta individualidade é
diferente da moderna, é a individualidade clássica, que desconhecia o
relativismo que transborda os ensaios de um Montaigne. O ensaio é, então, um
gênero literário inseparável do homem moderno.

Esta breve investigação acerca da natureza do gênero ensaístico, do porquê de


chamarmos certos textos de ensaios, mostra que a conceituação deve ser mais
uma tarefa restritiva, de procurar ordenar o já existente do que uma demiurgia.
Deve-se também repudiar a crença em uma verdade absoluta, uma entidade
platônica, para procurar no senso comum sua própria verdade. A conceituação é,
então, um mergulho no senso comum para a descoberta de seus princípios.
Referência Bibliográfíca Dicionário Houaiss da língua portuguesa, 2001, p.
1148. Fonte: Ensaios em arte final. FALE/UFMG. (Faculdade de Letras).
Oficina de Produção de Textos em Língua Portuguesa: Ensaios. Organização de
Regina Lúcia PéretDell’Isola. 2002.

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