Você está na página 1de 1

As duas faces de Francisco Acuña de Figueroa (1791-1862)

O poeta uruguaio Francisco A. de Figueroa é o autor da letra do hino nacional do


Uruguai, cujo refrão consiste dos seguintes versos:

“Orientales la Patria o la Tumba!


Libertad o con gloria morir!
Es el voto que el alma pronuncia,
Y que heroicos sabremos cumplir!”.

Mas o escritor, além da face cívica e patriótica, foi também um compositor de versos satíricos e
de poemas eróticos, durante aquele período da história uruguaia que o grande historiador José
Pedro Barrán (1934-2009) denominou como época da cultura “bárbara” (1800-1860), marcada
por uma “sensibilidad de los ‘excesos’”.

E excesso certamente é o que o leitor de “La Malambrunada” (publicado nos anos 1830)
encontrará ao percorrer o relato desta “guerra de las viejas impúdicas com las doncellas”, cuja
personagem principal é a viúva “Malambruna”, que ataca as “ninfas” por inveja de sua
juventude, beleza e da atração que exercem sobre os homens.

Em contraste com a divisa do hino nacional (Libertad o com gloria morir!), o lema da viúva é
“gozar de amor o morir”:

Amor, con sus goces


Nos llama a la lid
¡Juremos, oh viejas!
Gozar a morir

E por aí vai…sem refinamento algum, radicalmente popular.


E podemos imaginar, o quanto se deleitou Figueroa com o contraste entre seus dois papéis
naquele país “bárbaro”, de violência política e social (“a guerra era o estado normal da
República”) e de uma sexualidade exacerbada que conseguia escapar do controle da Igreja e
do Estado.

Você também pode gostar