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Psicologica 7? edicdo Anne Anastasi Department of Psychology, Fordham University Susana Urbina Department of Psychology, University of North Florida IFT - Faculdade Catélice RAINHA BO SERTAO Traducao; MARIA ADRIANA VERISSIMO VERONESE Ce Pricéloga ek Consultria, supervisio e reviséo técnica desta edigao: CLAUDIO 5. HUTZ, PhD. Professor titular do Instituto de Psicologis da Unirersidade Federal do Rio Grande do Sul Caro usuario Lembre-se de que atém te . OUtTaS pesos também utilizarao 28 tro. Ponanto, fach a ewan anametes no cadernn ou \ bm tina a pete, fOrTo RA” Porto Alegre, 2000 1 Critérios de cientificidade dos métodos projetivos Lucila Moraes Cardoso Anna Elisa Villemor-Amaral A importancia dada as qualidades psicomé- tricas dos testes psicolégicos, fundamentada nos capitulos anteriores, evidencia os avangos ¢ 0 re- conhecimento dos instrumentos de avaliagio psi- col6gica do ponto de vista cientifico. Os estudos que visam assegurar as qualidades psicométricas sio relevantes para garantir que os profissio- nais possam contar com ferramentas confidveis quando usadas adequadamente, Acompanhando essa tendéncia psicométrica, 0 Conselho Fede- ral de Psicologia (CFP), por meio da Resolugio 1, 02/2003, definiu que todos os testes psico- logicos devem obedecer a requisitos minimos ¢ obrigatérios relativos a sua padronizagao, nor- matizacao, validade e precisao para serem consi- derados adequados para uso profissional. Essa normativa do CEP, que visa 0 rigor psi- cométrico, tem sido alvo de polémica na drea de avaliagio psicolégica, em especial quando se tra- ta dos métodos projetivos. O termo “projetivo” tradicionalmente € atribuido as tarefas em que é dada uma instrugdo relativamente aberta ¢ cujos estimulos, suficientemente vagos ou ambiguos, impdem & pessoa avaliada a necessidade de se utilizar de referenciais prdprios para estruturar Sua resposta, externalizando desse modo carac- teristicas pessoais (Meyer & Kurtz, 2006). As di- Versas tarefas propostas a partir desses métodos, tais como dizer com que manchas de tinta se pa- recem, fazer desenhos, montar esquemas de pird- mides, contar histérias, entre outros, estimulam respostas que vém impregnadas de informagées sobre 0 que se passa internamente com a pessoa. O examinando executa a tarefa a partir de seus recursos e habilidades, ao mesmo tempo em que expressa, indiretamente, significados simbélicos, necessidades, angistias e fantasias que habitam seu mundo interno, sem que tenha plena cons- ciéncia disso (Fensterseifer & Werlang, 2008). Este capftulo tem o objetivo de sistematizar algumas das particularidades envolvidas nos es- tudos sobre as qualidades psicométricas dos mé- todos projetivos. Antes, entretanto, é necessdrio contextualizar o tema tendo em vista as polémi- cas que envolvem esses métodos, a comegar pela historica e amplamente divulgada dicotomia dos instrumentos de avaliagao da personalidade agrupando-os como testes objetivos e projetivos, hoje j4 questionada, Essa divisdo procurava dis- tinguir aqueles testes em que o rigor psicomé- trico prepondera, uma vez que demandam res- postas diretamente quantificdveis e compardveis com medidas estatisticas. A prdpria construgéo dos itens dos chamados testes objetivos é feita com base em estratégias estatisticas rigorosas. Por outro lado, considerava-se a maioria dos chamados testes projetivos pouco rigorosos do ponto de vista psicométrico e pautados em and- lises mais qualitativas, a partir do pressuposto tedrico da projecao. Ainda que os termos objetivo e projetivo sejam adotados em artigos cientificos ¢ livros didaticos, Meyer e Kurtz (2006) defendem que essas nomenclaturas sejam revistas, pois trazem uma conotacao diferente do que se concebe so- bre esses instrumentos. A dicotomia objetivo vs. projetivo conduz a diversos equivocos, incluin- do uma precipitada dedugdo de que os métodos projetivos seriam radicalmente opostos aos tes- tes objetivos no que tange ao grau de objetivida- de dos resultados. O grande engano inclui a ilu- so de que os dados obtidos por meio dos testes objetivos teriam maior aproximagao da realidade do construto avaliado e de sua veracidade, en- quanto os métodos projetivos envolveriam um grau extremo de subjetividade. Outro equivoco frequente é vincular os testes projetivos 4 teo- ria psicanalitica, quando essa é apenas uma das alternativas de respaldo te6rico para a interpre- tagio dos resultados. E possivel analisar e inter- pretar o desempenho de uma pessoa nas técnicas projetivas sob pontos de vista tedricos diferentes do da psicandlise, como € 0 caso da teoria sisté- mica, para citar apenas um exemplo. Entretanto, a0 contrério da simplificagao que essa dicoto- mia propunha, conforme jé sinalizaram Meyer e Handler (1997), ambos os tipos de instrumentos apreendem aspectos distintos de um mesmo es- tado motivacional, trago ou necessidade, sendo antes complementares do que opostos. O termo objetivo, além do rigor psicomé- trico na construgao do instrumento, também considera como objetivo o processo de resposta ea anidlise da mesma. Isso considerando o fato de que o estimulo é uma proposico ou pergun- = u<:ta Moraes Cardoso e Anna Elisa Villemor-Amaral ta, cabendo ao examinando escolher 8e any, se aplica ou no a sua pessoa ou em qury dida aquilo melhor descreve sua personaly A suposta objetividade neste procedinen gy, no fato de que nao € preciso confiar na day cago ou na interpretagao do examinador, Pi a resposta em si seré “contabilizada”, com by no relato do préprio examinando. No eran, nesta perspectiva, desconsidera-se a subjei. de existente na autopercepgao. Meyer ¢ kin (2006) chamam a atengio para o nivel de ui, tividade implicada no ato de responder she mesmo em um inventirio de personalidade, Para esses autores a propria nogio de op tividade, implicita nos instramentos objins, seria questiondvel na medida em que, se de fay fossem objetivos, dispensariam os diversos er levantes estudos sobre estilos de resposta, soir, as possiveis manipulagées dos examinanda, sobre as limitagdes em relagao ao autoconh: mento e autopercep¢ao, entre outros. Equivows dessa natureza também ocorrem no Ambito ds métodos projetivos, cujo nome pode levaraum compreensio errdnea de que a projesio si) nico, ou talvez o principal, mecanismo cut nas respostas dadas a esses métodos. Isso fat. perder de vista, por exemplo, que process nitivos importantes estao na base das esposs de modo que algumas delas permitem ip compreender esses mecanismos, e nada st temas, fantasias, conflitos ou preocupagiess? jacentes da pessoa, considerados, genuinamet® como material projetivo. Entretanto é pe lembrar que a projegdo, em seu sentido a € “um fendmeno que integra outros pro? psicolégicos em seu dinamismo, tais «8° identificagao ¢ a introjegio, que partt® estruturacio do mundo interno do siéi®* auxiliam, igualmente, a modelar sua if —_ OO 11. Critérios de cientficidade dos métodos projetivos Pato 6h ¢ percepgio do meio externo” (Fensterseifer & erlang, 2008, p. 17). E com base nesse sentido mais amplo que termo continua sendo usado com certa legitimidade, apesar da polémica bas- tante pertinente. Os estudos de teste-reteste realizados com 0 Método de Rorschach pela equipe de John Ex- net, por exemplo, possibilitaram compreender que mesmo que as respostas fornecidas consti- tuam uma representacdo indireta das operagées psicolégicas da pessoa avaliada, isso nao signifi ca que cada resposta ou partes dela sejam pro- duto de projecdo. Isto €, a projecao € possivel, mas nao inevitével na formulagao de uma res- posta, Assim, 0 funcionamento psiquico obser- vado a partir desses métodos nao se restringe @ projecio, ja que por vezes a resposta fornecida tem mais relacao com 0 estilo de resolucio de problemas do que com a projecio em si, Um bom exemplo disso sdo as respostas populares, aquelas que estio tao proximas do formato da mancha que a maioria das pessoas as identifica naquela area bastando para isso ter uma boa ade- quacio perceptiva. Os estimulos dos métodos projetivos devem, portanto, ser pouco estruturados, viabilizando desse modo a manifestagio de aspectos do fun- cionamento interno do individuo e dificultando que este se refugie em dados externos facilmente controléveis (Fensterseifer & Werlang, 2008). O material apresentado como estimulo precisa ser bastante impreciso ou indefinido de modo a Permitir que, ao responder s instrugées dadas, a pessoa defina o estimulo & sua propria maneira, teyelando mais de si mesma e de sua subjetiv dade, Se o material fosse claramente definido, 20 falar sobre ele a pessoa estaria bem proxima de uma descrigéo objetiva da realidade externa © sua percepgio seria puramente cognoscitiva (Bellak, 1967, apud Cunha & Nunes, 2010), ancorada na realidade do estimulo propriamen- te dito. A premissa basica no caso é a de que, diante das indefinigdes do material, a pessoa est mais propensa a expressar seu mundo interior, seu modo de enfrentar e solucionar problemas, associado inevitavelmente aos registros mnémi cos de experiéncias vividas. Isso permite, por meio da interpretagio e atribuigao de sentidos, imprimir contornos mais precisos ambiguidade externa, carregando-a de mais subjetividade. Em resumo, pode-se dizer que as pontuagdes em me- didas autoatribuidas, tais como os inventarios de personalidade, geram respostas daquilo que é re- conhecido como préprio, isto é, trata-se de res- postas intencionais e conscientes para quem as relata, enquanto que o desempenho nas medidas projetivas fornece informagées mais subjetivas € motivadas por necessidades implicitas (Villemor- -Amaral & Pasqualini-Casado, 2006). ‘No Ambito dessa discussio, uma nova e im- portante questao se impée aos pesquisadores da rea e os debates atuais incluem a pergunta “Qual seria a nomenclatura mais adequada para substituir 0 termo projetivo?” Na literatura, ha algumas tentativas de denominacio, tais como “intuitivas” (Cunha, 2000), “impressionistas” (Pasquali, 2001) ¢ mais recentemente “técnicas de desempenho”, “de resposta livre”, “expres- sivas”, “implicitas” (Meyer & Kurtz, 2006) ou “Métodos de autoexpressio” (Rietzler, 2006). Cada uma das propostas representa parcialmen- te algum aspecto contemplado por esse tipo de método, nem sempre exclusivos a eles. Reconhe- ce-se, portanto, que é improvavel que qualquer um desses vocabulos satistaga a todos os especia- listas, pois a complexidade esta em encontrar um termo que represente a esséncia comum a todos esses instrumentos, respeitando as distintas mo- dalidades ¢ suas fungées. As peculiaridades e a complexidade dos mé- todos projetivos carregam outras polémicas, para além da nomenclatura, que envolvem a propria natureza do objeto de estudo e o cardter idiogrd- fico do fendmeno apreendido pela técnica, o que remete a aplicabilidade das exigéncias relativas as propriedades psicométricas desses métodos. Krugman (1938) ¢ Ainsworth (1954) citados por Weiner (2000), por exemplo, preocupavam- -se com a dificuldade em demonstrar a precisao ea validade dos resultados do Rorschach e de- fendiam que esse método poderia ter seu valor avaliado segundo sua utilidade e produtividade ao invés de ser submetido a procedimentos de anilise estatistica de suas propriedades psicomé- tricas. O conceito de validade consequencial, tal como postulado por Messick (1995) parece no momento 0 caminho mais promissor. Isso signi- fica que o resultado ¢ 0 efeito que esse resultado produz poderé ser a melhor demonstracdo de validade. Essa controvérsia prevalece nos dias atuais, conforme descrito por Cunha e Nunes (2010, p. 371-372) “o problema da validade das técnicas projetivas néo é simples e parece nao ter solugio a vista, pelo menos em termos que pos- sam ser satisfatérios para a tradicao psicométrica mais ortodoxa”. Outros pesquisadores, como Meyer e Kurtz (2006), Villemor-Amaral e Pasqualini-Casado (2006) e Miguel (2014) defendem que uma ou- tra classica dicotomia projetivos vs. psicométri- cos precisa também ser repensada, uma vez que nao se justifica opor os dois termos. Desde sua origem, tomando o Rorschach como exemplo, 6s instrumentos projetivos buscaram atingir os critérios de cientificidade fundados na psicome- tria, nas teorias da medida e em normas estatisti- cas. Fensterseifer e Werlang (2008), Finn (2011) argumentam que tanto os instrumentos projeti- DD ste Moraes Cardoso e Anna Elisa Vilernor-Amaral vos quanto os objetivos sao importantes estudo da personalidade humana, nio com, mas se complementam, sendo precisg que tam técnicas de validagao cientifica adequig, qualificagio de ambos. Assim, diversos 2 defendem que tanto o cardter idiogratico, ny Ihor captado em uma abordagem clinica, gy, © nomotético, que pressupde dados Stati, sio importantes e complementam-se, NGO pp. dendo ser desconsiderados para uma compl ¢ profunda compreenso sobre a pessoa ((jy. tert, 2000; Tavares, 2003; Villemor-Amanl y Pasqualini-Casado, 2006; Fensterseifer & We, lang, 2008). Para suscintamente exemplificar como cn tece a integragdo entre os aspectos idiogrifcy e nomotéticos na avaliacao da personalidad: cita-se o Método de Rorschach que, mesmocin os diversos sistemas de anilise e interpreajo existentes, todos incluem escalas ¢ indices ge funcionam a maneira dos testes ¢ medem viru caracteristicas com referéncia & norma de ot grupo. Portanto ha uma perspectiva nomottic: ao mesmo tempo em que envolve mais dog avaliagées quantitativas, pois estimula resposs cujas peculiaridades vao desde o comportamet do examinando enquanto responde a tari a relagio singular entre as informagées que «tt pdem o conjunto, numa configuragio dinimi ¢ idiogrfica. Lilienfeld, Wood e Garb (200) destacaram a importancia de se conhecer 8 pacidades e limitagGes de cada uma das sé” projetivas, sugerindo a relevancia de pes continuas. Fensterseifer e Werlang (2008), visto acima, também destacaram a mi de se investir em pesquisas e reforcam are cia dos estudos de validade dos métodosF®™ tivos para superar a ideia equivocada de" baixa cientificidade e pouca confiabilda™ caracteristicas inerentes a esse tipo dem 11 Citérios de centiicidade dos métodos projetves Pans Ean Estudos de precisdo e evidéncias de validade dos métodos projetivos Considerando-se que para estudar a confia- bilidade de um instrumento de avaliagéo psico- légica deve-se identificar quais seriam as possi- veis fontes de erro do mesmo, destaca-se que as possiveis fontes de erros dos métodos projetivos se referem a subjetividade do avaliador na co- dificagio das respostas ou as situagdes adversas que podem interferir no desempenho do exami- nando durante a realizagao da tarefa proposta, Por isso, os estudos de precisio mais indicados para esses métodos sio de precisio entre ava- liadores, que considera a concordancia entre avaliadores ao classificarem e interpretarem os protocolos dos mesmos sujeitos de maneira in- dependente, e precisio teste-reteste, que analisa a estabilidade das respostas do mesmo exami- nando em momentos distintos. Os demais indices de precisao nao tem apli- cabilidade com os métodos projetivos devido as caracteristicas proprias do estimulo e da tarefa, Por exemplo, conforme foi apontado por Fens- terscifer ¢ Werlang (2008), a verificagao da pre- cisio baseada na consisténcia interna do instru- mento (coeficiente alfa) nao é um procedimento estatistico adequado, ja que o tipo de estimulo demanda respostas que nao correspondem as ta- refas como a escolha de itens em um inventario. Dentre os diversos tipos de estudos psicomé- tticos que buscam por evidéncias de validade dos instrumentos psicolégicos, 0 mais comumente utllzado com os métodos projetivos se refere 4s evidéncias baseadas nas relagées com outras varidveis, Neste tipo de evidéncias de validade, levantam-se os dados sobre os padrdes de corre- lacio entre os escores do teste ¢ varidveis exter- ‘as que medem a mesma caracteristica, validade concorrente, ¢ as caracteristicas diferentes, vali- dade divergente (Alves, Souza & Baptista, 2011). Entretanto, para Fensterseifer e Werlang (2008), 0 uso de correlagéo com critérios exter- nos € contrario A natureza dos testes projetivos, que considera a personalidade como um sistema dinamico de elementos em intercorrelacio. Assim, busca-se sobretudo a compreensio en- tre as relagGes em detrimento da identificagéo de relagées conforme os ditames estatisticos. Além disso, Villemor-Amaral e Pasqualini-Casa- do (2006) justificam que as baixas correlagdes entre os métodos projetivos ¢ os inventarios de personalidade podem ocorrer justamente pelas diferencas entre os métodos usados, isto é por caracteristicas préprias dos estimulos. Outra critica que se faz sobre a validade dos métodos projetivos refere-se ao alto indice de casos que recebem um diagnéstico que nio existe (falso positivo) ou deixa de ser atribuido um diagnéstico existente (falso negativo) quan- do os critérios externos adotados sio sintomas ou diagndsticos avaliados por medidas de psico- patologia. Villemor-Amaral e Pasqualini-Casado (2006) contra-argumentam ao explicar que os métodos projetivos visam descrever caracteristi- cas de personalidade e que por vezes essas po- dem corresponder a padrées psicopatolégicos descritos como sintomas em manuais de diag- néstico psicopatolégico. Destaca-se que os mé- todos projetivos tem como foco compreender a dindmica intrapsiquica ¢ nao necessariamente a pretensio de fornecer uma medida especifica de sintomas psicopatolégicos, que muitas vezes esto distantes da trama interna, constituindo apenas a ponta do iceberg (Villemor-Amaral, 2008). Nao se pode negar que o rigor psicométri- co garante, indiscutivelmente confiabilidade aos métodos projetivos e, portanto, é um quesito Lucila Moraes Cardoso e Anna Elisa Villemor-Amaral necessirio a estes instrumentos. No entanto, “a validade do enfoque clinico nas interpretages dos resultados, correlacionada a outros dados provenientes de virias fontes sobre 0 mesmo individuo é mais condizente com a complexida- de da natureza humana, com a busca da com- preensio global e da dinamica de sua singulari- dade e com uma via mais eficaz para propostas interventivas nos varios campos de atuagio do psicdlogo” (Villemor-Amaral & Pasqualini-Ca- sado, 2006, p. 190). No mesmo sentido, Tavares (2003), ao introduzir o conceito de validade cli- nica, enfatizou a relevancia do raciocinio clinico € a importancia do treinamento clinico supervi- sionado para utilizagéo dos métodos projetivos em geral, defendendo que sio esses aspectos que Ppromovem a compreensio completa e integrada dos individuos. Padronizacao e normatizagdo dos métodos projetivos Além das questées relacionadas & precisio € as evidéncias de validade das técnicas proje- tivas, Cunha e Nunes (2010) apontam que um dos principais problemas relacionados utili- zagio dos métodos projetivos consiste em que, por vezes, a hip6tese interpretativa baseia-se na observacéo de casos clinicos isolados ow em in- dicios pesquisados apenas em pacientes psiquid- tricos. Dados como esses ratificam a relevancia dos estudos de normatizagio e da uniformidade de aplicagio. O desenvolvimento do Sistema Compreen- sivo do Rorschach (Exner, 1999), por exemplo, foi motivado pela demanda de um método de avaliagio que tivesse uma aplicagao e codifica- do homogénea e padrdes normativos rigorosos do ponto de vista psicométrico. Para tal, foram excluidos dos sistemas de anélise do { anteriores, todos 0 dados que no foram gy siderados suficientemente precios ou vign dando maior énfase ao rigor cientffico, Oseuidy dos ao estabelecer a padronizagio ¢ a norman, gio para o Sistema Compreensivo do Rorscag permitiram romper com certas inconsisteng., dos sistemas antecessores, tais como indicadory que nio possufam suficientes evidéncias de yy validade (Villemor-Amaral 8& Pasqualini-Ce,. do, 2006). Ao realizar os estudos de padronizagio 4 aplicagio e codificagao do Rorschach pelo Si. tema Compreensivo, a equipe de Exner demons trou que esse atende substancialmente aos equ- sitos psicométricos (Weiner, 2000), o que troux uma importante contribuigao para o método ex sie demonstrou que estudos psicométricos po dem ser realizados, instaurando assim uma nova perspectiva ao status cientifico dos métodas projetivos. No entanto, a realizagio de estuds desse porte com os métodos projetivos nio é refa facil e envolve diversas dificuldades que vio desde a coleta de dados até o complexo sistem: de interpretagdo das informagées obtidas. Os métodos projetivos, assim como qut quer outro instrumento, exigem uniformidxe nos procedimentos de administracdo. No ent to, diferem da maioria dos testes psicolégicoss medida em que seus estimulos so menos és turados € as instrugdes sao mais abertas ¢ gett ricas, permitindo que o examinado expres maneira de resolver problemas na relagio com? estimulo e instrugio propostos (Fensterseifer & Werlang, 2008), Essa livre-expressio de sift damental no uso desses métodos, incisive ** do sugerido que durante o rapport o psicloe? esclareca ao examinando sobre a inexistensa® respostas certas ou erradas, deixando-o mis! 11 Critérios de cienticidade dos métodos projetivos yontade para se expressar livremente. Toda res posta € um ponto de partida para uma interpre- tagio e ndo um fim em si mesma, Outra caracteristica, ainda sobre a relagio do examinando com o estimulo, trata do fato deque embora o objetivo mais amplo, que é 0 de conhecer melhor sua personalidade, seja comu- nicando ao examinando, 0 modo como isso ser4 feito permanece inacessivel, de modo que dificil- mente o respondente sabe como suas respostas sero avaliadas e interpretadas (Fensterseifer & ‘Werlang, 2008). Essa caracteristica é importante na medida em que diminui as possibilidades de manipulagio durante a execugdo da tarefa. Além disso, o nao saber o que se espera de seu desem- penho, faz. com que o examinando tenha menos controle consciente de suas agées, possibilitan- do que externalize contetidos ou caracteristicas mais encobertas, menos influenciado pela dese- jabilidade social. Essa liberdade que € dada ao examinando no se estende ao examinador que deve seguir as orientacées estritas de uso desses métodos. Nos manuais dos testes projetivos ha recomendagdes sobre como o material deve ser manuseado, so- bre como as instrugées devem ser passadas 20 examinando, sobre controle do tempo, a posigio do examinador em relagao ao examinando, a se- quéncia a ser seguida na apresentagdo dos esti- inulos e assim por diante, Uma das criticas comuns a esse tipo de instru- mento é de que “as respostas do sujeito estariam demasiadamente influenciadas pelo examinador, assinalando para a impossibilidade de 0 profis- sional no deixar marcas de sua propria persona- lidade sobre a técnica por ele empregada” (Fens- terscfer & Werlang, 2008, p. 23). Ainda que de fato examinadores com pouca experiéncia nos - métodos projetivos possam deixar essas marcas, assim como em qualquer outro tipo de teste, a0 seguir rigorosamente as recomendages contidas no manual esse viés é minimizado. Cunha ¢ Nunes (2010) por sua vez, aponta- ram que a necessidade de administragao indi dual, bem como a infinidade de respostas possi- veis sio complicadores para o estabelecimento de normas para os métodos projetivos. Esses aspec- tos tém relagao direta com o cardter idiografico dos resultados e, portanto, as pesquisas requisi- tam um longo tempo para compor uma amostra representativa em termos de quantidade. Além disso, essa demanda por administragées indivi- duais cria uma série de situagGes que requerem uma convergéncia de diversos fatores favoraveis Acoleta de dados, como, por exemplo, intimeros tramites para ter acesso ao local onde a coleta seré realizada e, consequentemente, aos partici- pantes que se adequem aos critérios de incluso das pesquisas (Villemor-Amaral et al., 2014). Analise dos estudos sobre as qualidades psicométricas de alguns métodos projetivos Na medida em que no Brasil se tenta avan- car nas dificuldades relacionadas ao desenvolvi- mento de pesquisas e que existe uma variedade limitada de bons testes psicolégicos, os pesqui- sadores da Area de avaliagio psicolégica despen- dem esforcos na perspectiva de resgatar a legiti- midade e 0 status dos instrumentos padroniza- dos (Noronha, Freitas, Sartori & Ottati, 2002). Vale lembrar que “o status de um instrumento de avaliagéo psicolégica determina-se a partir de: (a) suas propriedades psicométricas, (b) proposta presumidas em suas aplicagdes préticas ¢ (c) fre- quéncia com que é aplicado e valores atribuidos pelos usuarios” (Villemor-Amaral & Pasqualini- ase ‘Lucila Moraes Cardoso e Anna Elisa Villemor-Amaral -Casado, 2006, p. 189), esses tiltimos atrelados ao conceito de Messick (1995) de validade con- sequencial, conforme jé mencionado. Cronbach (1996) sugere que os profissionais, antes de escolherem os instrumentos a serem utilizados ov comprados, consultem os respecti- vos manuais e guias técnicos, tais como 0 Buros ou Mental Measurement Yearbook (MMY), que oferecam revisées com informagées sobre cons- trucio, aplicagao ¢ parimetros psicométricos de diversos instrumentos. Embora no Brasil nao se tenha um manual tinico que abarque tais infor- magées sobre todos os instrumentos, no que se refere aos métodos projetivos ha o livro Atua- lizagdes em métodos projetivos para avaliagdo psicologica, que sistematiza algumas das prin- cipais pesquisas com os projetivos mais estuda- dos e usados no Brasil. Nesse livro organizado por Villemor-Amaral e Werlang (2008), ha uma proposta didética de agrupamento dos métodos projetivos em quatro grandes categorias de acor- do com a tarefa proposta. Dessa forma, pode-se citar aqueles em que a tarefa envolve (1) a per- cepcio de estimulos nao estruturados, tais como 0 Rorschach e o Zulliger; (2) o contar histérias a partir de estimulos tematicos, como os testes de apercepgao temética tais como Teste de Aper- cepgao Tematica (TAT) para adultos ¢ jovens ou o Teste de Apercepcao Infantil Figuras de Ani- mais (CAT-A) para criangas, as Técnicas de Apercepgao para Idosos (SAT) ou ainda o Teste de Apercepcio Familiar (FAT); (3) os métodos graficos como 0 House, Tree and Person (HTP) ¢ 0 Desenho da Figura Humana (DFH) entre ‘outros € (4) os métodos de estimulos diversos, como 0 Teste de Fotos de Profissées (BBT) e o Teste das Piramides Coloridas de Pfister (TPC). Neste capitulo optou-se por selecionar um método de cada um dos grupos acima citados para fazer uma breve descricio sobre g psicométricos dos mesmos. O que esbogar uma sintese que exemplifiqy, estio sendo desenvolvidas as qualidade, métricas de alguns métodos projetivos pay a partir disso, se possa argumentar sobre dos métodos projetivos no campo da a psicol6gica, Os mérodos de Zallige, 4), HTP e TPC servirao como exemplos, Teste de Zulliger O teste de Zulliger esta inserido no gry das técnicas com estimulos nao estrururadgs», medida em que a tarefa do examinando cong em observar trés cartées com manchas de i. ta e dizer, a seu ver, com que tais manchas y parecem. Apés dar todas suas respostas a0 1 cart6es, o examinando é questionado sobre qu foi a 4rea da mancha em que viu o que disse ey que na mancha fez parecer com aquilo, Hit, verses do Zulliger que foram submetidas pus apreciagao do Sistema de Avaliagio de Testes - colégicos (SATEPSI), a saber, 0 Z-Teste de Freias (1996), 0 Z-Teste — forma coletiva (Vaz, 198i}¢ © teste de Zulliger no Sistema Compreensivy- ZSC aplicacao individual (Villemor-Amard & Primi, 2009). As duas dltimas versées possuen parecer favoravel para uso. O Zulliger tem como objetivo fornect it formagées sobre a dindmica de personalidadedt pessoa avaliada, proporcionando informasis sobre seu modo de tomada de decisio, autope cep¢ao, afetividade, relacionamento interpeso! e sobre seu funcionamento cognitivo (Villeno- -Amaral & Primi, 2009). Trata-se de um méte do indicado para uso na clinica, pois é itil pat auxiliar no diagndstico e intervengdes terapt™ ticas, e também tem sido amplamente adou? 11. Critérios de cientificidade dos métodos projetivos no contexto organizacional (Villemor-Amaral & Franco, 2008). Além disso, ha relatos de uso do Zaller para porte de armas (Caneda & Teodo- 10, 2012). Em um levantamento da literatura nacional, Gomes, Pinheiro e Cardoso (2014) analisaram 4 produgio de artigos sobre o teste de Zulli- get nas bases de dados completas da Bibliote- ca Virtual de Satide em Psicologia (BVS-Psi) e encontraram dezessete artigos publicados no petiodo entre 2003 ¢ 2013. Desses estudos, dex. (58,8296) buscavam por evidéncias de va- lidade para o Zulliger, dois (11,7896) tratavam da precisio do teste e um (5,88%) envolvia a padronizagéo ou normatizagéo. A somatéria dessas pesquisas indica que treze (76,48%) dos estudos realizados com 0 Zulliger visavam asse- gutar suas qualidades psicométricas, enquanto que os outros (23,52%) se referiam ao uso desse método em algum contexto especifico. Destaca- ‘se que a maioria desses estudos tinha como pi- blico-alvo somente adultos (n = 14, 82,36%) e dois (11,7696) envolviam criangas. CAT-A OCAT-A é uma técnica de apercepcao tema- tice publicada por Leopold Bellak e Sorel Bellak, em 1949, composto por 10 pranchas que con- tém gravuras de animais em cenas tfpicas de hu- manos. Para realizagio do CAT-A, 0 examinador ‘Mostra, uma a uma, as pranchas a crianga e pede que ela conte uma histéria a partir da imagem (Tardivo & Xavier, 2008). O CAT-A se fundamenta em trés proposi- ‘bes basicas, a saber, a projego inclui aspectos ‘eptativos ¢ defensivos; o referencial teérico da Pscandlise fundamenta a escolha das figuras que "epresentam os conflitos tipicos das fases do de- senvolvimento da crianga e 0 favorecimento da identificagao mais espontinea das criangas com personagens animais ao invés de figuras huma- nas (Tardivo & Xavier, 2008). No ano de 2013, © SATEPSI atribuiu parecer favordvel para uso do CATA. Schelini e Benczik (2010) realizaram um levantamento de pesquisas com o CAT-A nas bases PsycINFO, Scientific Eletronic Library Online, Medline ¢ Indexpsi periédicos. Foram obtidos seis estudos que contribuiram para com- preensao de aspectos interpretatives do CAT-A e dez relacionados s qualidades psicométricas, sendo trés de preciso entre avaliadores e sete de evidéncias de validade. Dos estudos que con- tribuiram a interpretagao do CAT-A trés cria- ram novas categorias de andlise, um identificou indicadores relacionados a abuso sexual, outro considerou inadequado 0 uso do CAT-A como instrumento projetivo com criangas menores que cinco anos e meio. Dos sete estudos citados por Schelini ¢ Benczik (2010) que visavam estudar as evidén- cias de validade do CAT-A, um obteve validade concorrente entre o CAT-A, HTP e Escala Mul- tidimensional de Auto-Estima (EMAE-A) e seis contribuiram para evidéncias de validade por gru- po contrastante seja com criangas com problemas de conduta e adaptadas a escola, dificuldade de aprendizagem e sem tais problemas, enuréticas € no enuréticas, inibidas ou ndo, com e sem hist6- ico de abuso sexual, com e sem diagnéstico de TDAH. Jé os trés estudos de precisio indicaram elevado grau de concordancia entre avaliadores. Para além desse levantamento, ha o estudo de Xavier e Villemor-Amaral (2013), que bus- cou por evidéncias de validade do CAT-A para avaliagao do funcionamento cognitivo em crian- as, obtendo convergéncia entre os indicadores Lucila Moraes Cardoso e Anna Elisa Villemor-Amaral cognitivos no CAT-A, Desenho da Figura Hu- mana ¢ Rorschach no Sistema Compreensivo. Ademais, no manual do instrumento sio relata- das outras pesquisas que apresentam bons indi- ces de qualidade psicométricas culminando no parecer favordvel para uso pelo SATEPSI. HTP O HTP, também conhecido como teste casa- -Arvore-pessoa, € um método que avalia a perso- nalidade a partir do grafismo. A tarefa proposta no HTP é de que o examinando realize desenhos de uma casa, uma drvore e uma pessoa, sempre nesta ordem, € posteriormente responda a um inquérito com perguntas sobre cada um de seus desenhos. Duas versées do HTP foram avalia- das pelo CFP via SATEPSI, sendo elas 0 Manual Pratico de Avaliagao do HTP e Familia (Reton- do, 2000) e 0 Manual e Guia de Interpretagao (Buck, 2003). Apenas a segunda versio possui parecer favoravel para uso. A aplicabilidade do HTP fundamenta-se no pressuposto que o individuo expressa pelas qua lidades do grafismo caracteristicas de sua per- sonalidade a0 mesmo tempo em que inclui em seus desenhos contetidos do seu mundo interno revelando também seu modo de interagir com as pessoas e com o ambiente (Buck, 2003), O HTP tem sido usado em pesquisas que buscam avaliar autoestima, imagem corporal e outros aspectos psicolégicos no contexto clinico (Silva, 2008). Buscou-se, por meio da BVS-Psi, os estudos que envolviam o teste HTP e foram encontrados ito artigos, que foram publicados entre 1999 e 2014. Das publicagées obtidas, seis tinham o objetivo de avaliar aspectos especificos da dina- mica emocional de pacientes ou grupos clinicos (Franco, 2012; Hazin, Frade & Falcio, 2010; Jacob, Loureiro, Marturano, Linhares & Mach, do, 1999; Pereira, Menegatti, Percegona, Ata Riella, 20075 Silva, Silva, Nascimento & Samo 2010; Siqueira, Doro & Santos, 2003), Em um dos artigos, o HTP foi adotado para auxilia n; busca de precisio e evidéncias de validade dg TPC (Farah, Cardoso & Villemor-Amaral, 2014) ¢ em outro foi feita uma anilise critica sobre ¢ uso dessa técnica (Borsa, 2010), TPC No TPC, a tarefa proposta consiste no preen- chimento de trés esquemas de pirimides com quadriculos coloridos. Ha duas versdes do TPC submetidas para avaliagao no SATEPSI ¢ ambas foram aprovadas, sendo uma versio para adultos (Villemor-Amaral, 2005) e outra para criangas¢ adolescentes (Villemor-Amaral, 2014). 0 TPC for nce prioritariamente informag6es sobre a dinin- ca emocional ¢ contribui para compreensio do funcionamento cognitivo do examinando. Tiate -se de um instrumento usado com maior frequen cia no contexto clinico, auxiliando nos diagnést- cos diferenciais (Cardoso & Franco, 2005), em bora também haja relatos de seu uso no contexto do transito (Tawamoto & Capitdo, 2010). Silva e Cardoso (2012) realizaram uma ani- lise dos doze artigos completos sobre 0 TPC que foram publicados na BVS-Psi entre 2001 ¢ 2011. As pesquisadoras identificaram que nove (74,9%) analisavam as qualidades psicomésricas do instrumento, sendo sete (58,3%) de evidén- cias de validade e dois (16,6%) de normatiza- 40. Dos sete estudos que buscavam por evidéw cias de validade, seis trabalharam com grupos contrastantes € um com a correlagao entre 0 TPC e o DFH. Trés estudos (25,19) tratavam de situagdes de uso do TPC em algum comer TT 41. Crthrine da cient 11 Critérios de cientifcidade dos métodos projetivos Pate 169 to especifico, Desses estudos, apenas um tinha como piblico-alvo criangas. Para atualizar 0 levantamento feito por Silva ¢ Cardoso (2012), foram realizados os mesmos procedimentos buscando desta vez identificar as produces cientificas que ocorreram entre os anos de 2012 até 2014. Verificou-se que neste periodo foram publicados mais oito artigos, sen- do trés para avaliagdo de aspectos clinicos e cin- co para andlise das qualidades psicométricas do instrumento. Destaca-se que dos estudos sobre as qualidades psicométricas, um estabeleceu pa- dries normativos para idosos (Bastos-Formighie- ri & Pasian, 2012), um identificou boa precisio entre avaliadores e obteve evidéncias de valida- de por meio da comparagao entre um grupo de ctiangas que apresentou estabilidade emocional ¢ outro que nao demonstrou estabilidade emo- cional por meio do HTP (Farah, Cardoso & Vil- lemor-Amaral, 2014), outros dois contribufram para evidéncias de validade do TPC para uso com criangas (Villemor-Amaral, Pardini, Tavel- la, Biasi & Migoranci, 2012; Villemor-Amaral & Quirino, 2013) e um sugerin validade incre- mental entre TPC e ZSC (Franco & Villemor- -Amaral, 2012). Consideragées finais Ao tratar dos testes projetivos, muitas criti- cas centralizam-se na suposta auséncia de rigor Cientifico durante a construgao do instrumento edaqueles que os utilizam (Fensterseifer & Wer- lang, 2008). E importante lembrar que, como todo e qualquer teste, os métodos projetivos sio submetidos & avaliagio de uma comissio consul- tiva de avaliagio psicoldgica, que apoia o CFP tas decisdes sobre os instrumentos que rece- betéo parecer favorével ou nao para uso pelos psicélogos. Os métodos projetivos que possuem parecer favordvel para uso atendem aos critérios cientificos indicados como pré-requisito para se considerar um instrumento adequado. Ao fazer uma breve leitura dos estudos com 0s quatro métodos projetivos selecionados, verificou-se que os testes de Zulliger, CAT-A e TPC apresentaram estudos de precisio além dos contidos nos manuais desses instrumentos. O teste de Zulliger possuia dois estudos, sendo um de concordancia entre avaliadores e outro de teste-reteste, o CAT-A tinha trés estudos de concordancia entre avaliadores e 0 TPC um es- tudo, também de concordancia entre avaliado- res. O fato de o CAT-A eo TPC para criangas e adolescentes néo apresentar estudos de confia- bilidade temporal se justifica pelo fato de eles destinarem-se a0 uso com criangas, podendo o resultado ser bastante influenciado pelas répidas mudangas que ocorrem nesse perfodo do desen- volvimento humano (Tardivo & Xavier, 2008). No que se refere as pesquisas de evidén- cias de validade, o Zulliger, o CAT-A e 0 TPC acumulam diversos estudos que contribuem as evidéncias de validade, sendo para tal adotados principalmente procedimentos de grupos con- trastantes e validade concorrente e destinados majoritariamente para 0 diagnéstico diferencial, isto é, utilizagdo em contexto clinico, Embora al- guns desses instrumentos estejam sendo adotados em diversos contextos como o porte de arma de fogo, transito ou mesmo organizacional, nota-se que foram escassas as pesquisas de evidéncias de validade para tal. Destaca-se que o parecer favo- ravel do SATEPSI nao necessariamente significa que um instrumento esta adequado para uso em todos esses contextos, sendo preciso que os pro- fissionais se mantenham atualizados sobre quais, ™~ a Lucila Moraes Cardoso e Anna Elisa Villemor-Amaral métodos tém estudos de evidéncias de validade para cada contexto. ‘Ao tratar dos estudos de padronizagio ¢ normatizagio, obteve-se um ntimero ainda mais reduzido de publicagdes, sugerindo que a inves- tigagao dessas qualidades psicométricas esta res- trita quase que exclusivamente 4 produgio dos manuais. £ importante destacar que, conforme Resolugao CFP n. 06/2004, esse tipo de estudo precisa ser revisto a cada 15 anos. Estudos constantes sobre as qualidades psi- cométricas dos métodos projetivos sio neces- sdrios no sentido de aprimorar os métodos € elevar seu status cientifico. O conjunto de da- dos obtidos evidencia que as pesquisas com o ZSC, CAT-A e TPC esto sendo realizadas e tem apontado resultados que contribuem para 0 uso desses instrumentos. E indispensavel, no entan- to, que se compreenda que estudos nomotéticos nao podem ser superestimados ou compreendi- dos como inica perspectiva de compreensio dos métodos projetivos, pois o ponto de vista idio- grafico que é inerente & proposta desses métodos também deve ser valorizado enquanto ciéncia. E a perspectiva idiografica desses métodos que per- mite 0 aprofundamento na compreensio daqui- lo que € singular no examinando, possibilitando compreender a pessoa em seus aspectos tinicos. Referéncias Alves, G.A, Souza, M.S. & Baptista, M.N, (2011). Validade de preciséo dos testes psicol6gicos. In: R.A.M. Ambiel, 1.5. Rabelo, .V. Pacanaro, G.A. Alves & LEA.S. Leme (Orgs.). Avaliagao psicolégi- ca: guia de consulta para estudantes ¢ profissionais de Psicologia. S40 Paulo: Casa do Psicélogo. Bastos-Formighieri, M.S. & Pasian, S.R. (2012). O TTeste de Pfister em idosos. Avaliacao Psicol6gica, 11 (3), 435-448, Como as pesquisas de cunho mais idiogtiigg buscam investigar as peculiaridades de cada im, nem sempre os dados gerados sio passivis serem replicados como € esperado nas pesquis, numa perspectiva nomotética (Villemor-Amara, 2008), mas de modo algum a auséncia da replica. bilidade do que é particular pode ser considers. do como algo que desqualifique o instrument, Além disso, esse carster idiografico permite que no se vincule esses métodos a uma inica teria, uma vez que os fendmenos observados podem ser interpretados & luz de perspectivas tecricas distintas (Villemor-Amaral, 2008), o que ampla seu alcance. Compreende-se que os métodos projetivos sio caracterizados por um alto grau de complei- dade que requer profundos conhecimentos te- ricos 0 que, conforme j apontado por Miguel (2014), demanda uma formagao sélida que per mita aos psicdlogos compreenderem ¢ se ula rem corretamente das informagées geradas sobre o examinando. Portanto, fica clara a responsil- dade do profissional da Psicologia no uso dosins trumentos psicolégicos pois, além de dever esar sempre atualizado sobre os estudos relacionados as qualidades psicomeétricas dos métodos projet vos, deve também estar ele qualificado para su utilizagdo profissional e ética, evitando assim os riscos aos quais a impericia conduz. Borsa, J.C. (2010). Consideragdes sobre o uso do Test da Casa-Arvore-Pessoa — HTP. Avaliagdo Psicoligich 9 (1), p. 151-154, Buck, J.N. (2003). HTP: Manual e Guia de interpret [Trad. de Renato Cury Tardivo). 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Manuela Ramos Caldas Lins Juliane Callegaro Borsa (Organizadoras) Avaliacao Psicoldgica Aspectos tedricos e praticos ) EDITORA VOZES Petrépolis © 2017, Editora Vozes Ltda. Rua Frei 100 25689-900 Petropolis, RJ www.vozes.com.br Brasil ‘Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra podera ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrénico ou mecanico, incluindo fotocdpia e gravagao) ‘ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissio escrita da editora. CONSELHO EDITORIAL Diretor Gilberto Gongalves Garcia Editores Aline dos Santos Carneiro Edrian Josué Pasini José Maria da Silva Marilac Loraine Oleniki Conselheiros Francisco Moras Leonardo A.R.T. dos Santos Ludovico Garmus ‘Teobaldo Heidemann Volney J. Betkenbrock Secretario executivo Joao Batista Kreuch Editoragao: Maria da Conceigao B. de Sousa Diagramacao: Sheilandre Desenv. Gratico Revisdo grifica: Nilton Braz da Rocha Capa: Y gor Moretti Iustragao de capa: Wassily Kandinski. Jaune-Rouge-Bleu, 1925. Musée National dArt Moderne, Paris, ISBN 978-85-326-5414-4 Editado conforme o novo acordo ortogrifico. Este livro foi composto e impresso pela Editora Vozes Ltda. Capitulo 9 Os Testes Projetivos Graficos Antes de passar direto ao assunto gostaria de relembrar 0 que {oi dito a esse respeito por alguns autores renomados, verdadeiros especialistas no assunto. Jaime Bernstein, no prélogo do livro de E. Hammer, coloca: Oinstrumento principal da clinica psicologica é a entrevista; os testes projetivos estio aservico da mesma pois, a rigor, nao sao senao mecanismos para conduzir uma forma de entre- vista. Mais adiante comenta o desenvolvimento precoce da grafologia dizendo: Essa precoce preferéncia pelo exame psicologico através do comportamento grificomestra uma percepcao precoce do seu valor comunicativo, da sua eficiéncia para coletar informagées mais verdadeiras, menos disfargadas que aquelas obtidas pela via enganosa da linguagem. 1A cultura alenta e compele o individuo desde o inicio do seu desenvolvimento a transmitirereceber quase exclusivamente mensagens verbais levando-o a abandonar, mais cedo ou mais tarde, qual- quer tentativa de comunica¢ao por outras vias.... (mas) o psicélogo clinico sabe que o tragoe as figuras Ihe dardo acesso aos estratos basicos ¢ que constituem expressées menos controladasda personalidade do sujeito. Ele sabe que pode conflar nessa linguagem mais ingénua e espontanea mais complexa e dificil; nessa linguagem estranha que, com a sua formacao humana ja bem avangada, deve aprender a decifrar profissionalmente além de exercitar-se para poder manejé-a Nessa oportunidade Bernstein lembra daqueles que foram pioneiros nesse assunto: psicanalistas do quilate de Paul Schilder, Lauretta Bender, John Buck. Karen Machover, Abrams e Schwartz, entre outros. Cita também Harrower, autor do teste do conceito mais desagradavel e Kinget com sua técnica de completar dese- nhos ¢ a técnica da garatuja livre. Por sua vez, Caligor? fala que o homem tem usado o desenho como forma de comunicacao desde 0 tempo das cavernas. Menciona Paul Schilder, para quem 0s desenhos podem ser estudados durante o tratamento analitico com adultos da mes- ma forma que 0 material oferecido pelos sonhos. Schilder’ descobriu a permanéncia dos esquemas graficos que podiam ser observados e descritos. Deduziu entao que 1. Hammer, E. Las tests ptroyectivas graficos. Buenos Aires: Paidés, 1969. 2. Cali L- Nueva interpretacin pscoegica det dibujo deta figura humana. Buenos Ales: Kap 3. Schilder,P. Imagen y apartencia del cuerpo humano, Buenos Aires: Paidés, 1958. 84 PsicodiagnOstico Clinico 85 havia nos desenhos aspectos estruturais relativamente persistentes. A partir dai, lembra Caligor, eles tém sido muito usados. Caligor é autor do TD8H, o teste das 8 folhas, certamente muito interessante ja que cada folha modifica o desenho da folha anterior conseguindo diferencas significativas entre a primeira e a ultima producao. Biedma e D’Alfonso* trabalharam sobre um teste cujo autor é Wartegg’. Esse psicdlogo escolheu temas graficos segundo o poder de sugestdo de cada um (um ponto no centro, uma curva, duas linhas curtas paralelas, etc.). Baseado na teoria da Gestalt, tenta conhecer a orientacao dinamica e genética da personalidade do sujeito e estuda em etapas distintas 0 processo da estruturacao no teste do dese- nho. Baseia-se na Psicologia do carater e na Tipologia, muito em voga naquela épo- ca. Biedma e D’Alfonso acrescentaram oito aspectos aos originais de Wartegg (WZTSD) para ampliar a informacao obtida com a primeira série. E proibido usar borracha e a instrucdo é: “Complete o desenho.” Podemos ver assim que 0 interesse pelas técnicas graficas surgiu a partir de fontes diferentes: a grafologia, a psicanalise, a teoria da Gestalt, a Psicologia do cariter ¢ a Tipologia. Gostaria de mencionar outro autor: Joseph Di Leo*, que ficou impressionado com algumas semelhangas entre os desenhos de criancas contemporaneas e dos egipcios antigos. Como, por exemplo, o desenho do corpo humano e as extremida- des para a frente, 0 rosto de perfil e um olho na testa. Lembra, como Caligor, que nossos antepassados recorreram ao desenho porque as imagens eram entendidas por todos como uma linguagem universal. Partindo desse ponto lanca a hipétese de que o desenvolvimento da escrita na raga é paralelo ao do individuo, Para isso apia- se na teoria psicolégica de Stanley Hall, discutivel mas atraente, a qual considera que a historia ancestral da raga € reproduzida no desenvolvimento do individuo. Essa teoria afirma que “a ontogenia recapitula a filogenia”. Di Leo dedica seu livro a analisar as semelhangas, certamente assombrosas, entre as duas séries de desenhos (egipcios antigos e criancas de hoje) e tambem aquelas que surgem ao comparar pinturas de famosos pintores de séculos passados com as de criancas da atualidade. Lauretta Bender’ criou seu Teste Gestaltico Visomotor baseada na teoria da Gestalt (como indica 0 seu nome). Mas, como coloca Bernstein ao escrever 0 prologo do seu livro, John Bell ¢ Hutt, da Universidade de Michigan (E.U.A.) 0 classificaram como um teste projetivo, acrescentando ao mesmo a livre associacao sobre as figu- ras desenhadas € outros procedimentos similares. Finalmente chegamos 4 década de 60-70, época durante a qual a escola inglesa de Melanie Klein tomou uma enorme importancia na Argentina. Como catedraticos de Técnicas Projetivas da Universidad de Buenos Aires tivemos que trabalhar ardorosamente para neutralizar um certo furor que estimu- lava a criagdo de técnicas sem a devida validagao, com o conseqitente risco de diag- nosticos errados. Atualmente chegamos a demonstrar que é imprescindivel que um teste seja submetido a provas de validade e confiabilidade antes de ser langado para fins diag- nésticos. Biedma y D’Alfonso, Ellenguaje del dibujo. Buenos Aires: Kapelusz, 1960. Wartegg. El test de Wartegg. Buenos Aires: Paidos. Dilzs J Eldibyoy eldiagnesticepsicol6gic detniionormal yanormal de 1 a Gas. Buenos Aes: ido, 1974, 7. Bender, Lauretta. Elteste guestdlticoo visomotor Buenos Aires: Paidés. 1964. 86 Garcia Arzeno Caracteristicas Gerais dos Testes Graficos — A linguagem grafica, assim como a litdica, ¢ a que est mais proxima dp inconsciente ¢ do Ego corporal. Conseqiientemente, oferece maior confiabilidade que a linguagem verbal, a qual é uma aquisicao mais tardia e pode ser muito mais submetida ao controle consciente do individu. — E um instrumento acessivel as pessoas de baixo nivel de escolaridade ¢/ ‘ou com dificuldades de expressdo oral. — Por esse mesmo motivo os testes graficos sao de grande utilidade com criancas pequenas que ainda nao falam com clareza, mas que ja possuem um nivel excelente de simbolizacao nas atividades graficas e lidicas. — Sua administracao ¢ simples e econémica. — E imprescindivel considerar que todo teste grafico deve ser complementado com associagdes verbais que possibilitaréo uma correta interpretagao dos mesmos — Também deve-se considerar 0 nivel socio-econdmico-cultural do indivi- duo, a sua idade cronolégica e o seu nivel evolutivo e de maturidade. Muitos erros de interpretagao devem-se ao desconhecimento da producdo tipica de cada idade € de cada grupo social. — Os graficos mostram uma producdo muito proxima do inconsciente. Por- tanto mostram o que ha de mais regressivo € patolgico. Sendo assim, é imprescin- divel a sua comparacao com 0 material coletado em outros testes projetivos ¢ objetivos da personalidade para completar a visdo geral que se possui e fazer o diagnéstico sobre bases mais confiaveis. Podemos entao, por exemplo, aplicar o Phillipson e 0 Rorschach em adultos e adolescentes, e 0 CAT de Bellak ¢ 0 Rorschach em criancas. — Quando se trabalha em instituigdes, os testes graficos so escolhidos pela simplicidade da sua administracao e economia de tempo. Mas ¢ importante, conforme 0 exposto anteriormente, que eles sejam complementados com um teste verbal. 0 Questionario Desiderativo é de facil administracao entdo para contar as- sim com uma “minibateria”. No entanto, nao é possivel fazer um diagnéstico fino ¢ exaustivo mas sim descartar as patologias graves. — E de muita utilidade considerar os indicadores formais do grafico para fazer 0 diagnéstico e, principalmente, 0 prognéstico. Eles estao menos sujeitos a0 controle consciente que aqueles de contetido. O sujeito desconhece o significado do seu traco fragil e entrecortado ou grosso e emplastado, mas pode imaginar a dife- renga entre desenhar um esqueleto ou uma pessoa viva. — Para fazer 0 acompanhamento de uma tratamento psicoterapéutico de um paciente € importante administrar os mesmos testes graficos ¢, sempre que possivel, seguindo a mesma instrucdo, para poder compara-los. Espera-se que apa recam diferencas nos indicadores formais e de contetido. Os formais sao os que devem aparecer modificados positivamente, pois sao eles que nos dao informagoes sobre os aspectos estruturais da personalidade. E interessante fazer a correlagao dos indicadores formais dos graficos com os dois protocolos do Rorschach. Os indi cadores formais sio os de modificacao mais dificil. Os de contetido, no entanto, sio tao varidveis quanto 0 contetdo de um sonho, os seus detalhes, nao a sua estrutu- ra. — Aestereotipia nos graficos indica uma falha em aspectos estruturais da personalidade. Nao indica estabilidade e sim rigidez. A estereotipia pode ser total ou parcial. Por exemplo, desenhar todas as figuras humanas seguindo 0 mesmo esque- ma sem diferenga de idades, sexos, papéis, etc. Ou entdo, pode acontecer a inclusio dessas diferencas mas sempre omitindo os rostos ou entéo desenhando trés dedos nas maos em todas as figuras. Nesses casos, os problemas registram-se no nivel da propria identidade (sem rosto) ou de sentimentos de castracao (trés dedos em dese- PsicodiagnOstico Clinico 87 nhos de pessoas com mais de 6 anos). Se, no entanto, desenha a sua familia e omite o rosto da mae, esta demonstrando mais um transtorno no seu vinculo com ela, € nesse caso nao falariamos de estereotipia. — A plasticidade nos desenhos indica maior forca do Ego, que pode se adap- tar a situagdes diferentes. — Os testes graficos podem servir também como excelentes recursos para melhorar a comunicacdo com um paciente quando ha falhas na possibilidade de comunicacao verbal. Isso é freqtiente com criangas e com adolescentes muito jo- yens, sem que isso possa significar necessariamente a existéncia de resisténcias. A proposta de desenhar alguma coisa costuma provocar entusiasmo. Isso ocorre tam- bém com a proposta de desenhar alguma coisa entre os dois no estilo da técnica do rabisco de Winnicott ou de fazer um desenho cada um, rompendo assim uma assimetria que poderia estar perturbando o sujeito. Oferecer-nos como centro de suas criticas a nossa producao pode favorecer a comunicacdo com pacientes que se envergonham de desenhar “mal” ou que devido ao seu narcisismo nao suportam ser observados por um profissional passivo. Enquadre em Graficos — Usar folhas de papel oficio ou papel de carta (segundo a preferéncia de cada um, mas sempre 0 mesmo) mas sem linhas ou outros tragos na frente ou verso da folha, pois isso distorce a produgao apresentando parametros que de certo modo guiam ou perturbam a conduta do paciente. Isso deve ser respeitado muito especi- almente no teste de Bender. As vezes ocorre que sao usadas folhas nao totalmente em branco. Os resultados desses graficos nao teriam que ser descartados, mas nao poderiam ser incluidos em trabalhos de investigacdo nos quais é necessario padro- nizar ao maximo a administracdo. Por exemplo, se um sujeito desenhar um marci- ano, os tracos no verso da folha nao importam muito. Mas nao podemos deixar de pensar no que ele teria desenhado se tivesse recebido uma folha totalmente em branco. Talvez 0 marciano esteja relacionado com o “outro” desconhecido que escre- veu antes na mesma folha. Para evitar essas duvidas € preferivel ter o trabalho de usar 0 material adequado. — 0 fato de usar sempre 0 mesmo tamanho de folhas esta relacionado com 0 de oferece-Ihe sempre 0 mesmo espaco psicolégico quanto a dedicacdo. Também tem relacao com o fato de o espaco diante do qual ele deve se organizar ser constan- te. Se ele desenhar figuras maiores porque Ihe damos folhas maiores, nao podere- mos depois interpretar essas diferencas de tamanho como algo significativo, enquanto que se em folhas do mesmo tamanho ele desenhar figuras menores e outras maio- res, teremos todo o direito de fazé-lo. — Usar lipis n° 2 (nem claro nem escuro). Dessa forma saberemos que 0 traco claro deve-se 4 pouca pressdo exercida pelo paciente. — Usar borracha macia. Para todos os testes projetivos graficos a borracha deve estar proxima do sujeito. Devemos registrar se a usa ou nao, com que freqién- cia e quais os detalhes que apaga e em que figura. Também devemos registrar se deveria usa-la e nao o fez. Ao aplicar o Bender retira-se previamente a borracha, ja que é importante conservar o registro de todas as tentativas feitas pelo sujeito. Ele Poderd fazer tantas tentativas quanto desejar e nds registraremos a sua ordem. Nao sio conflaveis aqueles protocolos que aparecem como excelentes devido ao uso cors- tante da borracha. — Ao aplicar 0 H.T-P. cromatico retira-se também o Lapis e sao entregues os Sia de cera, seguindo as indicagdes do autor. O sujeito deve desenhar diretamente com 0 giz de cera, sendo assim possivel a observa¢do nao sé de como desenha ¢ 88 Garcia Arzeno colore mas também de como reage quando eles quebram ou 0 trago sai com desvio, emplastado, etc, — E conveniente comecar a bateria de testes com os graficos porque sao os mais simples. Criangas gostam de desenhar. Os adolescentes ¢ adultos também, apesar de as vezes rejeitarem essa tarefa por considera-la coisa “de crianca’. Se for contraproducente insistir poderemos comecar com um teste verbal e esclarecer que logo apés desenharao porque precisamos comparar tudo. Assim, por exemplo, se a pessoa diz que nao sabe desenhar e insiste para que Ihe demos uma idéia, aplicaremos antes o teste das Duas Pessoas ¢ deixaremos © Desenho livre para uma outra ocasiao. Se insistir que s6 sabe copiar, usaremos Bender, mesmo nao estando previsto administra-lo, pois essa atividade vai encanta- la e aos poucos iremos animando-a para que tente alguma coisa mais livre, por exemplo, Familia Cinética e finalmente algum dos outros testes mais projetivos. — Se trabalharmos com criangas ou adolescentes jovens podera acontecer que desenhem durante a Hora de Jogo Diagnéstica. Nesse caso, pedir 0 Desenho Livre seria uma redundancia. Pode ocorrer a mesma coisa com outros desenhos que coincidam com os que pensiivamos pedir-Ihes. Se desenhou uma casa, arvores, sol etc., suprimiremos o HTP a nao ser que o que ele tenha feito antes nao satisfaca as, condigées requeridas. Em alguns casos 0 HTP é administrado na mesma folha, em outros, é entre- gue uma folha em branco para cada conceito porque assim se evita que o sujeito venha a “encobrir” algum deles. Por exemplo, se disser que a pessoa esta dentro da casa ¢ nao vai embora. Nesse caso é conveniente solicitar-Ihe logo 0 Duas Pessoas, se ja nao as desenhou. Alguns psicélogos aplicam 0 HTP em trés folhas e apis, nuina quarta folha, solicitam uma figura humana do outro sexo, seguindo o estilo do teste de Karen Machover. — O Desenho da Familia Cinética em suas formas individual e de consenso, atual e prospectiva, da uma informagado muito rica, principalmente para a devolu- ¢a0 dos resultados do psicodiagnéstico e especialmente se o trabalho vai ser feito com os pais e com toda a familia. Em alguns casos é quase iatrogénico aplica-lo como, por exemplo, quando um dos membros do grupo familiar acabou de falecer, quando os pais acabaram de separar-se, quando houve a perda de um filho ou saiu de casa devido a desavencas sérias. A inclusao desses membros seria tao angustian- te como a sua exclusdo e a insisténcia em aplica-lo perturbaria 0 bom rapport da relacao sujeito-psicdlogo. Outro caso pode ser o de filhos de casais separados, cada um com novos parceiros e filhos de casamentos anteriores. Se bem que isso pode nao gerar angistia, é certo que pelo menos colocaremos 0 sujeito em uma situagio de confusao ¢ de conflito de lealdades. Nesses casos costumo seguir a instrugao de Corman: “Desenhe uma familia como vocé quiser”. Assim 0 sujeito fica 4 vontade para ater-se a realidade ou nega-la, idealiza-la, ete. — No que se refere ao pedido de associagées verbais devemos agir com liber- dade absoluta, pois so equivalentes as associagées livres que pedimos para inter- pretar um sonho, Alguns testes tém um tipo de inquérito fixo, mas é melhor solicitar todo tipo de associagdes complementares. Por exemplo: “Este sol, esta nascendo ou é um entardecer? Para onde vai este senhor? Esta saindo fumaca da chaminé, por qué? Para onde da essa janelinha? E essa outra? Para onde vai esse caminho? Que passaros sao estes? Esta paisagem lembra a vocé alguma coisa?”, etc. Interpretacgdo dos Testes Graficos — Visdo gestaltica. E a primeira recomendagao de Hammer, autor do HTP. Observa-lo na sua totalidade com uma atitude de “atencao flutuante” e ficar atentos PsicodiagnOstico Clinico 89 para a primeira impressdo causada contratransferencialmente, 0 primeiro que as- sociarmos com o que vemos € 0 detalhe que mais chama a nossa atencao: algum contra-senso, alguma omissdo, alguma distorcao, alguma adigao estranha, © movi- mento, a monotonia, a énfase sobre algum ponto especial, a disperséo, a compreen- ‘sao, etc. — Apés essa visao global devemos fazer uma andlise detalhada seguindo: (1) indicadores formais; (2) indicadores de contetdo; (3) andlise das associagées verbais; (4) andlise do conjunto das anteriores. — Seguindo 0 modelo da interpretagao dos sonhos de Freud (1900) podere- mos decifrar mais cficientemente 0 seu significado, especialmente, mas nao exclusi- vamente, no Desenho Livre que € tao dificil de ser padronizado como uma entrevista projetiva ou uma hora de jogo. — Sobre a base de tudo isto devemos elaborar uma hipétese sobre o diag- néstico e prognéstico depreendidos de cada desenho e do conjunto de graficos em eral. fea Logo apés faremos a correlagao dos graficos com as entrevistas projetivas, hora de jogo individual e familiar e com os outros testes aplicados (verbais e/ou lddicos).. No que se refere ao uso do modelo de Freud gostaria de lembrar alguns dos pontos desse trabalho que se aplicam perfeitamente a interpretacao dos graficos projetivos, tanto mais quanto mais livres eles forem. Freud esclarece que 0 sonho tem um contetido manifesto e um contetdo latente. Assim também os desenhos. (0 sonho é a realizacdo de um desejo reprimido do individuo submetido a um processo de elaboracao. Eu afirmo que um processo semelhante ocorre no sujeito quando dou a instrucdo seguinte: “Desenhe 0 que quiser; concentre-se em alguma coisa e tente desenhar a primeira idéia que vier 4 sua cabeca”, “Agora, fale-me do que desenhou”. Segundo Freud um sonho é: (1) a realizacao disfarcada de um desejo repri- mido; (2) 0s sonhos mostram um desejo nao reprimido; (3) os sonhos disfarcam um desejo reprimido; (4) os sonhos mostram sem disfarce um desejo reprimido e aquele que sonha acorda angustiado (0.C. Madrid, Biblioteca Nueva, 1948, vl, p. 244 e ss.). Acredito que isto se aplica perfeitamente a interpretagao dos graficos projetivos. Cada uma dessas possibilidades nos proporciona algum critério para interpretar um desenho. Por exemplo, se o sujeito desenhar a figura humana até a cintura porque “nao cabe na folha” veremos em funcionamento a repressao dos desejos sexuais proibidos. Se essa mesma figura for um homem que toca uma flauta dese- nhada minuciosamente de perfil e com énfase no detalhe dos dedos colocados cor- retamente para essa agao, observaremos em funcionamento 0 mecanismo de deslocamento para disfarcar um desejo reprimido (felacao?). Alguns graficos mos- tram claramente 0 que esta reprimido e 0 sujeito se esforca para apagar tudo e se angustia porque estragou a folha. Suponhamos que no Desenho Cinético da Fami- lia ele tenha desenhado os pais dormindo e ao dar-lhes nomes colocou o proprio nome no lugar do da mae ou do pai. Pode ocorrer também que inclua 0 amado pai morto e desenhe mas logo apague a odiada mae que sobreviveu. “Por transmutagdo dos valores psiquicos — diz Freud — 0 insignificante pode ser o essencial” (v. I, p. 241) Devemos ficar atentos a isso também nos graficos. Poderao aparecer ele- mentos muito chamativos que tentam atrair a nossa atencao. No entanto, uma andlise minuciosa pode mostrar que numa figura esta faltando um dedo, ou que os olhos estdo olhando para lados opostos na figura que o representa dentro da sua 90 Garcia Arzeno familia, ou entao, que uma pequena transparéncia superpée duas figuras sem que © sujeito 0 modifique de forma tal que aparece como um corte abrupto no discursp grafico. Em certos casos isso permite centralizar a atengao em ntcleos psicdticos muito bem “disfargados” pelo resto do desenho, que dava mostras de uma boa pseudo- adaptacao. Segundo Freud 0 sonho é um processo de regressao, o material é fragmenta. do, 0 processo de compressao 0 condensa e 0 deslocamento complementa o trabalho de elaboracao onirica para que o verdadeiro significado nao fique evidente. A elabo- ragdo interpretativa faz que o sonho se torne um relato compreensivel. Isto pode ser observado nos desenhos de pessoas normais ou neuréticas. Os psicdticos, no entanto, projetam as suas imagens e fantasias inconscientes sem esses “disfarces” e sem que possamos registrar neles qualquer angustia ou tentati- vas de racionalizar a sua produgdo. Por exemplo, dizendo: “Hoje estou com humor negro” ou “E um homem que tem passarinhos na cabeca” (o desenho mostra um homem cujo pescoco é o tronco de uma arvore e a cabeca é a copa da mesma com um ninho e um passarinho). Nem todos os graficos permitem a aplicagdo desse método, assim como nem todas as pessoas lembram todos os seus sonhos ou trazem ricas associagées livres. Freud aconselha a fazer a divisao do sonho em fragmentos, pedir associa- ges com cada um ¢ finalmente chegar a interpretagdo completa que vai revelar 0 desejo reprimido. Ele diz: “O sonho é semelhante a um ierdglifo ¢ este, a uma compo sigao pictorica” (sublinhado da autora) (v.I p. 394) Sendo que toda anilise de graficos projetivos parte da primeira captagio gestaltica, é impossivel estabelecer regras de interpretacao idénticas para todos os protocolos. Vejamos alguns exemplos. Um desenho livre feito por uma jovem de 14 anos mostrava uma casa bas- tante sébria, uma arvore A esquerda e outra a direita e um sol. A primeira idéia que me ocorreu foi observar que a arvore da esquerda tinha quatro “frutas”, que associei com um rosto pela distribuicao das mesmas (orificio dos olhos, nariz € boca) com uma imagem um tanto sinistra. Dobrei entao, a folha no sentido vertical ficando assim um fragmento a esquerda com essa arvore tao estranha e outro fragmento a direita com a casa, 0 sol e a outra Arvore mais convencional. O lado esquerdo esti relacionado com 0 passado, com 0 que é mais inconsciente e regressivo, com a mie inicial. O lado direito refere-se ao presente, a realidade atual; 0 sol, com a figura paterna ja que o seu papel é fecundante. Pensei que sobre uma relacao inicial com uma mée vivida como sinistra, essa jovem havia-se refugiado na figura paterna mais calorosa e realista. O tamanho das figuras era 0 normal e o trago era continuo, mas dava a sensagao de haver sido feito muito “as pressas”, 0 que foi confirmado pela psicdloga que trouxe esse material. Ficava assim encoberta uma grande dificul- dade para fechar as figuras. Tudo ficava sem acabar. Poderiamos dizer que esse fragmento passado da sua histéria ainda nao resolvido a impedia de continuar com um desenvolvimento normal na atualidade. A historia clinica revelou que essa me- nina havia sido criada por babas porque a mae a ignorou totalmente até ela comple- tar dois anos. O motivo da consulta eram dificuldades para dormir e pesadelos, 0 que era plausivel de explicacdo vendo o rosto sinistro do desenho livre. As associa- oes verbais foram poucas: “Uma drvore frutifera, outra qualquer, na casa nio mora ninguém, nao me faz lembrar nada”. Isso revelou-se pouco estimulante para a psi- céloga, que optou por nao fazer mais perguntas. Disso podemos inferir que, apesat do real abandono materno, essa menina nao reclamava a sua presenca, por exem plo, chorando, ¢ se conformava com qualquer presenga que mecanicamente a su- prisse, gerando 0 conseqiiente sentimento final de “casa vazia”, tal como ela se sentia interiormente. A auséncia de um caminho para entrar ou sair da casa ¢ra outro detalhe que coincidia com a sua atitude “fechada”, 0 que fazia inferir que seria PsicodiagnOéstico Clinico 91 uma paciente dificil, o que realmente estava acontecendo quando a psicéloga solici- tou uma consulta comigo. No caso do homem de 35 anos que desenhou a figura de uma arvore no lugar da cabeca, esse indicador de contetido revelou-se de tanto peso que demos pouca importancia a outros indicadores que poderiam ser aplicados. Mas, observando 0 seu traco decidido, continuo, sem cortes, podiamos acrescentar ao diagnéstico de psicose a presenga de uma estrutura de base “forte” o suficiente que lhe permitia suportar os embates dos surtos que certamente havia sofrido, ja que o desenho era, em si, uma tentativa de restituicao. Em outro caso, uma mulher de 28 anos desenhou uma folha cheia de zigue- zagues muito juntos ¢ entrecruzados, dando-lhe o titulo de “Mecanismos”. Asso- ciou-os a momentos vitais e muita mobilidade e estava consultando porque nesse momento estava atravessando um deles. O nivel de abstragao do desenho dava-nos um tnico indicador formal para a sua interpretacao: 0 traco. No entanto, ela foi extremamente eloqiente permitindo formular um prognéstico favoravel que acabou sendo confirmado apés trés anos de tratamento. Vejamos agora 0 Desenho Livre de um menino de dez anos. Claramente po- demos diferenciar dois fragmentos como nos sonhos. O superior e o inferior. A su- perficie das aguas de um mar divide ambos fragmentos. Sobre a superficie ha um barco com quatro janelinhas redondas (ha quatro membros na familia) e uma ban- deirinha sem nenhum detalhe de identificagao, um sol radiante e sorridente e duas nuvens alongadas no sentido horizontal. Por baixo do nivel da agua ha um polvo e um peixe-espada. Ha também um peixinho que parece estar observando 0 polvo e 0 peixe espada e outro, apoiado sobre a linha que define o nivel da agua. olhando o barco que esta no centro da folha. Ele diz: “Peixinhos, um peixe espada ¢ um polvo. Eles brigam e os peixinhos correm perigo: um quer subir no barco mas um pirata ‘com uma faca (nao aparecem no desenho) nao os deixa”. Esse menino tinha dificul- dades na escola, devido a falta de concentragao, e para dormir. A partir desse dese- nho podemos interpretar que nos mostra um conflito edipico precoce (abaixo do nivel da Agua) sem resolver, sobre 0 qual se apdia 0 conflito edipico mais tardio reativado pela proximidade da puberdade. O peixe-espada e 0 polvo, seguindo a conceituacao kleiniana, representam uma cena primaria cruel entre uma mae pré- edipica falica, bissexual e agressiva e um pai com um pénis terrivelmente castrador, mortifero. A cena primaria que esse menino retém ainda no seu inconsciente é, pois, uma luta sem tréguas, entre dois elementos igualmente perigosos. Predomina 0 sadismo. Os peixinhos sao representagdes de si mesmo. De um lado, ligado ao as- pecto mais regressivo, 0 que nao o deixa dormir nem concentrar-se. De outro lado, ligado ao mais atual ¢ conflituoso: uma situagao edipica na qual o pai é percebido de forma ambivalente, tanto como um sol radiante e sorridente mas também. por efeito de transferéncia do édipo precoce nao resolvido, como um pirata que nao permite que cle se salve jogando-o as diguas povoadas por seres tao amedrontadores. Como todos nés sabemos, 0 chamado Teste do Desenho Livre nao ¢ realmen- te um teste, mas uma técnica, pols é impossivel submeté-lo & padronizacdo. a nao ser que sejam selecionados quatro ou cinco parametros recorrentes. Nao sendo assim, como as instrugdes sao totalmente amplas, cada protocolo sera unico ¢ a quantidade de varidveis, infinita. Por isso alguns profissionais outorgam maior poder de fidedignidade aos indicadores formais do que aos de contetido, ja que sao mais faceis de isolar € classificar, 92 Garcia Arzeno Sistema de Escores para a Analise Formal do Desenho Livre Em 1933, G. W. Allport ¢ P. E. Vernan publicaram as conclusées dos seus estudos sobre 0 movimento expressivo. Tomaram como base os trabalhos de Werner Wolff, entre outros, ¢ dedica- ram-se a investigar a congruéncia intra-individual dos movimentos expressivos. 4 importancia de demonstrar a validade dessa hipétese residia em que, por cariter transitorio, daria validade a outra hipétese subjacente, aquela segundo a qual todos estes movimentos possuem uma conexdo intima com tracos interiores da persona- lidade, de forma que partindo dos movimentos expressivos pode-se fazer um diag. néstico clinico da mesma. Os autores colocam: As acées motoras nao sao tao especificas a ponto de carecerem de sentido, e sendo organizadas, devem refletir em alto grau a organizacao do campo total do cérebro... Com certeza, é pertinente afirmar que quando a personalidade for organizada, 0 mon. ‘mento expressivo sera também harmonioso ¢ conseqdente consigo mesmo, ¢ quando. persona- lidade for desintegrada. o movimento expressivo sera contraditorio®. Idealizaram uma série de experimentos cuidadosamente controlados mas nao conseguiram ir além da seguinte conclusao: nao ha evidentemente generaliza- 40 completa nem especificidade completa. Mas deve-se levar em consideragao que estes autores concebiam os movi mentos como mensageiros portadores de uma informacao sobre a personalidade de cada um por separado. Wolff, por sua vez, partiu da mesma hipétese de trabalho, mas com uma concepcao mais gestaltica da personalidade. Além da medida objetiva dos movimen- tos, interessou-se por apreciar as suas diferencas considerando-os intimamente ligados a diferentes formas de organizagao da personalidade. Seus estudos abran- gem vinte anos de trabalho. E util transcrever a tabela de significagées graficas para a interpretacao grafolégica de um desenho livre, publicada em 1947.° 8 Allport, W. e Vernan, P.E. Studies in expressive movement. New York: McMillan, 1935. 9. wa, Whe personality off the preschool child. The child's search of his self. New York: Grune and Psicodiagnostico Clinico 93 Qualidade dos Tra¢gos Livre manejo das formas Exatidao Formas imaginarias Emolduragéo Comparacao dos Tragos Indicador Significado Pressio forte Forga, vitalidade Pressio fraca Fraqueza Linhas retas predominantes Rapidez, decisdo Linhas interrompidas Lentidao, indeciso Linhas em diferentes diregdes Impulsividade Restrigao nas linhas Inibigao Linhas curvas, linhas circulares Ritmo, balango Regularidade Ritmo Movimentos bruscos Impulsividade Movimentos mondtonos Passividade, indiferenga Movimentos grandes e amplos Expansio ‘Movimentos limitados Restrigao Qualidade das Formas Indicadtor Significado Formas em idade muito precoce Grande desenvolvimento Formas inventadas (nem ao acaso, nem cépia) Ingenhosidade Formas consistentes Decisio Formas diferenciadas Capacidade de adaptagao Formas nao diferenciadas Falta de ordem e nitidez Auséncia de sentido formal Falta de observacao ou de imaginagao Boa distribuigao em idade precoce Habilidade criadora Ma distribuigao em idade tardia Perturbagao ritmica Preferéncia pelas formas grandes Tendénciaa expansao Preferéncia pelas formas pequenas Tendénciaa restricao Grande contraste de tamanhos Conflito Conexao de formas por meio de linhas Habilidade para captar relagoes Inclusio de elementos pequenos em outros maiores _ Habilidade para integrar Livre acesso aos objetos Habilidade na observagao da realidade Predominio do mundo interior Diferenciagao, protegao, isolamento Indicador Significado Linhas fracas e vacilantes Vaguidade, passividade Linhas dentadas Irritagao Linhas nitidamente definidas Decisao, determinagao Preferéncia pelo sombreado Sensibilidade tatil Preferéncia por manchas amplas Etapa anal, falta de asseio, desordem Preferéncia pelos contrastes Decisao, determinagio Formas vagas erestritas Inibigdes, medos Interrupgoes Inflexibilidade, negativismo Limitea linhas pequenas Sonhador Grandes linhas tracadas impulsivamente Alividade 94 Garcia Arzeno Diregio dos Tragos Indicador ‘Significacto Preferéncia por linhas angulosas Tensio, reflexao, critica, divida, fei aesct me ‘de um desses termos depende dara og elementos grificos entre si) Preferéncia pelos movimentos circulares Oscilagao, mudangas de humor, fuga de ads decisio, maniaco-depressivo. Acao, determinacao, atividade nervosa, tendén cia masculina. Tranqdilidade, perseverana, fragilidade,tendén cias femininas Determinagao, seguranca Preferéncia pelos movimentos verticais Preferéncia pelos movimentos horizontais Diregao precisa Diregao imprecisa Falta de determinacdo, inseguranga Diregéo da ciispide a base Introversdo, ansiedade, masoquismo, tendéncs aensimesmar-see sonhar Extroversao, dominio, agressao, curiosdade Introversdo, auto-determinagao, isolamento, de salento Extroversao, tendéncia a mandar, conducéo, bs- cade apoio Cautela, premeditagao Vaguidade, inseguranga, auséncia de organiza. do Diregao da base para a ciispide Diregao da direita para aesquerda Diregao de esquerda paraa direita ‘Tragos com interrupcées Falta de direg4o e interrupgao Valor Tipolégico dos Indicadores Graficos Tipo realista Indicador Significado Representacao em forma realista ‘Temperamento mais cicloide Exatidao Observagao Preferéncia por contornos Tipo visual Preferéncia por curvas Tipo auditivo Preferéncia por contrastes Tipo emocional Movimentos seguros, Mobilidade Pressdo larga Agressividade Mudanga de movimento pronunciado Humor maniaco-depressivo Aspecto sujo Fase anal Exagero nos detalhes Auséncia de integragao Tipo abstrato Indlicador . Significado Representagao de forma abstrata Tipo mais esquizdide Falta de exatidao Mais sonhador Preferéncia por pequenos detalhes Auto-consciéncia Preferéncia por angulos Tensao, mundo interior Preferéncia por sombras Tipo tatil, sonhador Movimentos inseguros Inestabilidade ‘Movimentos esquematizados Rigidez, Pressio aguda Tendéncias sidicas Exatidao extrema ‘Submissao Figuras grotescas Bloqueio das reagdes naturals Dissolugao das formas Inseguranga, auséncia mental Psicodiagnostico Clinico 95 Estes indicadores devem ser valorizados por serem um trabalho pioneiro sobre 0 assunto e que ja tem mais de trinta anos de existencia, Se os analisarmos criticamente veremos que possuem alguns erros, ambigitidades ¢ superposigoes. Por exemplo, Wolf menciona como um indicador a pressao forte ou fraco do trago. Isso é a descrigao de um elemento observavel e, portanto, objetivo. Mas quando fala de “boa” ou “ma” distribuigéo ou de “formas consistentes” ou “diferenciadas”, reme- te a uma classificagdo do observavel que requer uma clara definigdo daquilo que 0 autor entender por uma e outra coisa. Portanto intervém mais a subjetividade da- quele que interpreta. Outra objecdo possivel é que os indicadores que sao contraditorios entre si deveriam ter um significado contrario. Mas Wolff diz, por exemplo, “Formas diferen- ciadas: capacidade de adaptacao”... “Formas indiferenciadas: falta de ordem e niti- dez”. Torna-se entao confuso se as segundas devem ser interpretadas como indicadores de incapacidade de adaptagao e as primeiras como capacidade de or- dem e nitidez ou se esse procedimento seria incorreto. Mesmo assim, usando-as com bom senso, sao ainda de muita utilidade e valeria muito a pena planejar uma investigacao para valida-las ou modifica-las. Por sua vez, Paula Elkisch trabalhou entre os anos 60 e 70 com o mesmo assunto, Estudou a expressao artistica livre e concluiu que ela revela um elemento que poderia ser denominado inconsciente, instintivo, primitivo, arcaico e que esta relacionado com as sensagdes e com a imagem corporal da pessoa". Ela analisou 2.200 graficos produzidos por criangas durante as sessdes individuais com ela, com- parados com outros tantos que podiam produzir durante a sua vida escolar. Eles manifestavam o estado egdico da crianca e as fixacdes em etapas prévias do desen- volvimento psicossexual. Para fazer a analise do material baseou-se em dois critéri- os: Ae B. Critério A Ritmo versus regra 1. Ritmo: Expressa-se: explicitamente através de qualidades de flexibilidade do traco, que é resultado kinestésico dos movimentos relaxados livres; implicitamente, através da distribuicao prazerosamente proporcionada do objeto re- presentado dentro do espaco disponivel. 2. Regra: expressa-se de duas maneiras opostas entre si: rigidez e inéreia. a regra como rigidez expressa-se através de uma qualidade rigida (adormecida) do trago, kinestesicamente afetado pelos movimentos espasmadicos tensos que freqdentemente tornam-se automaticos emecanicos. b) a regra como inércia expressa-se através da qualidade borrada e sem capricho do traco, kinestesicamente afetado pela imprecisao. A inércia parece escapar completa- mente ao controle regente da rigidez. Noritmo, a expressao grifica transmite uma sensagao de continuidade temporal dentro do espa- 0. Na regra nao ha um funcionamento dinamico do espago. As coisas estao detidas. (O predominio de cada uma dessas caracteristicas sugere diferentes caracteristicas egoicas. As- sim,a capacidade de uma crianga para se expressar ritmicamente ¢ a sua resposta espontanea ao ritmo sugerem flexibilidade. Pode-se diagnosticar um Ego que esta desenvolvendo defesas sadias. No entanto, se predominara regra, nas suas duas modalidades, nos encontramos diante de um Bu fragil Arigidez indica que as defesas sao fortes demais e se estabeleceram cedo demais. A repressio predomina ¢ 0 Superego é muito severo. Pode-se suspeitar da existencia de tracos fobicos ¢ de uma neurase obsessivo-compulsiva. A inércia indica que as defesas nao sdo solidas o bastante ¢ que a repres- sio néo se estabeleceu de forma satisfatéria. Se a capacidade de reprimir € uma aquisigao essencial 10. Pelkisch, “Pautas para la interpretacidn de los dibujos”.In: Rakin, A. ¢ Haworth, M., Téenioas proyectivas para nifios. Buenos Aires: Paidés, 1966. 96 Garcia Arzeno durante a laténcia, a inércia durante esse periodo é um sintoma mais sério que a rigidez. Sem tragos compensatérios, a inércia durante a laténcia poderia indicar regressao, limites egotcos defeituosose pos siveis tendéncias delituosas. Tanto a rigidez como a inércia supdem perturbagdes nos nivels mais precoces do desenvolvimento psicossexuall Complexidade versus simplicidade 1. Acomplexidadese expressa: a) através da tendéncia a uma representacao bastante completa es vezes detalhada do objeto, bem individualizado e diferenciado; 1b) estruturalmente, através de uma sensibilidade imaginativa em relagdo a forma ¢aos padroes gestalticos. 2. Assimplicidade se expressa reduzindo o objeto diferenciado ou a forma estrutural a0 seu padrao mais simples, ao seu esquema. Isto revela um empobrecimento na diferenciagio formal. A complexidade indica relacdes objetais potencialmente boas. A simplicidade suge rea fixacdoa etapas anteriores do desenvolvimento. Expansdo versus compressao 1. Aexpansdose expressa de quatro maneiras: a) poruma ampliacao do espaco de que se dispoe. desenhando somente uma parte do ‘objeto que a imaginacao completa; b) através da criagao de um fundo espagoso; pela representacao de um objeto que explode: 4) por uma espécie de expansao invertida na qual um objeto “entra” no campo visual desde um espaco exterior. 2. Acompressiiose expressa: a) noaspecto espacial do proprio objeto (minusculo em si}; b)__nasua relagdo espacial com outros objetos (objetos demais dentro do mesmo espacu), Acompressio revela um sentimento de mal-estar, de estar preso, de presso.e compulsso. Revela, ‘um Ego severamente limitado, propenso a transtornos fobicos ¢/ou obsessivo-compulsives a depressio ou ao retraimento esquizbide. A expansao indica limites egoicos bem estabelecidos. dentro dos quais nio € somente provavel que se estabelecam relacdes objetais boas, mas também que exista espontaneidade, independéncia, tendéncia a estabelecer contato ¢ vigor. A forma (a) de expansao indica maior extroversio. ‘Aforma (b) indica bom desenvolvimento egéico mas maior introversdo. As formas (c) ¢ (d)indicam vig agressividade sadia, dinamismo, sempre ¢ quando estas expressdes formais expressem também certo controle e organizagao, Integracdo versus desintegragao 1. Aintegragdo baseia-se na organizagao interna e pode aparecer de duas maneiras: como uma fungao sintética ou combinatéria, chamada “sintese”. Ha sensibilidade paraa totalidade: b) como “centricidade” ou integracao ao nivel comparavel ao de uma verdadeira obra de arte. As coisas parecem estar desenhadas no lugar adequado ¢ na proporgao ¢ relagéo reciproca apropriadas. Cada elemento desenhado é uma parte indispensavel do todo. 2. Adesintegracdoimplica desorganizagao interna. Todas as suas formas de expressio impli cam caréncia da fungao sintética, ou seja, de “centricidade”. As coisas podem estar repre- sentadas: a) fragmentariamente: nada tem relagao com nada; b} deforma contaminada (‘condensagao") ou seja, duas ou mais coisas sao representa das como uma s6 sem haver conseguido realmente uma unidade. O produto nao faz sentido, é frio e provoca rejeicao. Aiintegragao supée um alto grau de maturidade (real ou potencial): capacidade de relacionar € ‘combinar, de assimilar, unificar e organizar. A centricidade se refere a capacidade para a sublimacao. Centricidade durante a laténcia somente pode ser encontrada em uma crianga com um Ego sadiamente defendido e com talento adicional. Adesintegracao remete a limites egdicos defeituosos, relagdes objetais distorcidas, auséncia total do sentido da forma (gestalt). Predomina o pensamento segundo o processo primario ¢ portantoo nivel de desenvolvimento é primitivo. PsicodiagnOstico Clinico 97 Realismo versus simbolismo (refere-se ao contetido) 1. Norealismoo elemento representativo predomina sobre o estrutural. 2. _Nosimbolismoo clemento desenhado se refere a outra coisa ou entao predominao estrutu- ral. Critério B Ritmo versus regra ‘As vezes o ritmo pode se dar sem tendéncia para forma alguma. Esse deslizar continuamente semintengao de representar coisa alguma é indicador de transtorno mental. Oaspecto positive da regra é quea estatica é importante como sindnimo de solidez. Complexidade versus simplicidade Aexcessiva multiplicidade de objetos representados ou a énfase desnecessaria em detalhes po- dem tornar-se negativos por quanto seriam sinénimos de escrupulosidade. Por sua vez, a simplicidade torna-se positiva enquanto implicar simplicidade de formas com conservacao da multiplicidade das mesmas, tal como pode ser observado em algumas obras de grandes pintores. Expansdo versus compressao A expansao pode aparecer como fuga de idéias ou como uma fuga de si mesmo. Se a dinamica nao aparecer controlada vai sugerir estados de elacdo, infla- cdo ou agressividade. Se os movimentos forem mais passivos e controlados sugerem uma capacidade excessiva de ser sugestionado. O aspecto positive da compressao é que cla expressa auto-disciplina e bom controle sobre os impulsos do Id. Integragdo versus desintegragao A integracao corre o risco de ser repetitiva ou estereotipada. Entao torna-se “esteril”. devido a ‘queum certo grau de desintegracao, mesmo que seja potencial, é titil como confirmagao do valor de uma verdadeira integragao. Realismo versus simbolismo O doyainio exclusivo de qualquer um dos dois é negativo. Sintetizando, esta autora baseia-se na cconcepsao de Bleuler segundo a qual todo impulso ¢ antindmico. Essa ambitendéncianormal nunca leva ‘a uma inibigdo ou alteracao da acdo. Muito antes pelo contrario, é requisito indispensavel para a sua perfeigdo ¢ coordenacdo. A autora recomenda avaliar cada traco segundo esta interrogacdo: “Que outros tragos ou tendéncias esto em combinagao com esta caracteristica?”. A patologia € entao diagnosticada por excesso ou defeito das possibilidades defensivas do Ego, e para isso se observa a integracaio dos significados dos diferen- tes indicadores levados em consideracao. Elkish esclarece que o valor discriminativo dos critérios diagnésticos refere- se especificamente ao funcionamento egdico da crianga e usa como parametro a enumeragao que Anna Freud faz das “fungdes egoicas essenciais”!. Assim, a “prova de realidade interna ¢ externa” é avaliada no critério A. N° V: realismo versus sim- bolismo; a “construcao de recordagdes” corresponde ao critério A N° II: complexida- de versus simplicidade; a fungao de “sintese do Eu” corresponde ao critério A N° IV: integracao versus desintegracao e o “controle egdico da motilidade” é avaliado pelo critério AN? I: ritmo versus regra. Atualmente nés usamos todos esses indicadores, nao de um modo esquematico mas numa inter-rela¢do constante com indicadores de contetido, tudo 1. Freud, Anna. Neurosis y sintomatologia en la inyfancia. Buenos Aires: Paidés, 1977. “Indications for child analysis", Psych. Stud. Child, 1945, 1. 98 Garcia Arzeno sendo considerado como emergente de um aparelho psiquico entendido conforme um esquema referencial predominantemente kleiniano, ja que € 0 que mais tem desenvolvido 0 conceito de identificacao projetiva e de que toda obra do ser human € uma projecdo de si mesmo. Conseqiientemente, tem-se tentado relacionar a constancia de certos indi- cadores em determinados quadros psicopatologicos. Como exemplo, poderiamos tomar 0 tipo de traco e observar que no esquizofrénico a pressdo é varidvel e 0 trago € geralmente entrecortado; no melancélico a pressdo é muito fraca tanto quanto na depressao ¢ os tracos sao geralmente curtos e dirigidos para dentro; na neurose obsessiva 0 traco é duro, as linhas fortes claramente demarcatorias ¢ freqiientemente refeitas, correlacionadas com os mecanismos de dissociacao e isolamento tipicos desse quadro, etc. Resumindo, a interpretagao dos testes graficos ¢ feita com o somatorio de todos os fatores ou enfoques citados, a observacao detalhada da série de graficos administrados na ordem em que foram aplicados e a leitura do restante do material projetivo. Alguma vezes, somente depois de ler todo o material e voltar ao Teste das Duas Pessoas ou ao HTP compreendemos claramente algum detalhe que havia pas- sado despercebido ou ao qual nao haviamos dado importancia. Para um maior aprofundamento nesse assunto remeto 08 leitores aos traba- Ihos realizados por Elsa Grassano de Piccolo.'? A seguir, farei uma sintese dos critérios que devem ser levados em considera- ao para diagnosticar a predominancia de mecanismos neuroticos ou psicéticos nos testes projetivos graficos. Indicadores de neurose ou psicose nos testes graficos de figura humana Neurose Psicose — Odesenho mostra uma sintese aceitavel. — Asintese ¢ defeituosa. E uma massa confusae desordenada de detalhes sem nenhuma idéia diretriz (nas esquizofrenias) — Existe uma idéia diretriz — Napsicose maniaco-depressiva ha melhor sintese nos momentos mais estavels, — Gestalten conservadas: integradas. — Gestalten rompidas, desintegradas, desvirtuadas, com distorgdes fora do comum a qualquer idade. Exemplo: um homem com pes de ave e flores como maos — Provocam sentimentos agradaveis — Aparecem elementos sinistros que ou nao, mas toleraveis. — Sio figuras realizadas de acordo com a idade cronolégica, sexo e grupo sécio- econémico-cultural do individuo. provocam medo. rejeigdo ou consternagioa nivel contratransferencial. — Sao atipicas para qualquer idade. Nas ‘squizofrenias simples sao regressivas mas nao idénticas as da erianca pequena. ‘So de um primitivismo cada vez mais regressivo. Por exemplo: corpo como saco com olhios, boca. extremidades unidimensionais, etc. 12. Ocampo, M.L.S. de; Garcia Arzeno, M.E. ¢ Grassano, E. Ob. cit. O processo psicodiagnéstico € as técnicas projetivas, Cap. VIII: Os testes graficos. Grassano, E. Indicadores psicopatolégicos en técnicas proyectivas. Nueva Visién: Buenos Aires, 1977. Psicodiagnoéstico Clinico 99 Neurose — Ousoda cor é adequado € os limites io respeitados, pelo menos a partir dos cinco anos. — Seaparecerem figuras sombreadas, 0 uso ¢ discriminado como assinalando 0 que provoca angiistia; 0 Ego pode diseri- mminar eassinalar esses focos de anguistia. = Ostragos sao mais plisticos, de pressio média, com ritmo (segundo Elkish) — Nos “border” sto tracos ansiosos mas gestalt é boa, e acompanhados de visivel ansiedade. Nas neuroses obsessivas graves sio tracos muito fortes erigidos, — Asfiguras “fecham” bem sem énfase excessiva como a observada nas neuroses obsessivas graves ("Nada deve entrar, nada deve sair’), Pode faltar fecho mas sea gestalt for boa indicara sentimentos de perda, dificuldades para reter ou para se defender mas dentro de limites neurdticos. — Otamanhoéo habitual, dois tergos dafolha. Sao menores se predominar um sentimento de “menos-valia’ ou emestados depressivos. — Odesenho sadio e também 0 neurético comunicam algo. — Nunca desenham nus, nem os Orgaos internos, a nao ser que {sso sea solicitado expressamente. — Exceto nas eriancas muito pequenas nao aparece o animismo de figuras nao humanas, pelo predominio do pensamento magico ea necessidade de projetar em tudoa imagem materna de quem ainda tanto depende. Psicose — Uso inadequado da core descontrolado, sem respeitar limites nem realidade (tronco verde. folhas vermethas da arvore) — Sao desenhos que prescindem absolutamente do sombreado ou entao fazem uso dele massivamente como cor preta. — Ostragos sao interrompidos, mudam de rumo ou sao sem rumo (rigidez ou inércia, Elkish) — Siio tracos descontrolados, nao acompanhados de sinais visiveis de ansiedade. — Os"fechos” ndo existem, se ocorrem é por acaso, o individuo nao se incomoda por nao-fechar, nao-encaixar, comas transparéncias, as superposi¢hes ¢ as falhas de perspectiva. Ele nao se queixa nem tenta corrigl-las. Por exemplo, uma figura mistura-se coma outra sem que seja possivel distinguir se o braco é de um ou de outro homem, se o olho ¢ do homem ou da mulher. Isto é comum em casos de simbioses psicéticas, quandoa confusao é total. — Nas esquizofrenias o tamanho pode guardaras proporedes, masa gestalt est “rompida”. Nas psicoses maniaco- depressivas o tamanho varia: € enorme nos momentos maniacos ¢ minimo ou muito fraco na melancolia. (Expansao versus Compressio de Elkish) — Odesenho psicético é um “monélogo interno” absolutamente subjetivo, inexplicavel. Do ponto de vista psicanalitico sempre tem um significado (a Logica da ilogica igual 4 dos sonhos), mas devemos lembrar a diferenca entre equagao simbélica e verdadeira simbolizagao (Marion Milner, Melanie Klein). — Aparecem figuras nuas ou com orgios internos visivets como se fossem transparentes sem que tenha sido solicitado. Isto indica a falta de pudor pela falta de sentido de realidade, a preocupacao por ter perdido 8 genitais ou pelo que ocorre dentro do corpo especialmente se ha delirios hipocondriacos. — Asvezes aparece o animismo de casas rvores, nuvens, flores, pela qualidade parandide da sua psicose. Por ex.:a ‘casa tem quatro olhos no teto, dois em cada janela, um na chaminé, ete. ‘Ou seja, tampouco se parecem com os rostinhos que o pequeno projeta nos objetos como reprodugao da imagem materna, 100 Garcia Arzeno Neurose Psicose — Presenga de movimento ou expresso — Auséncia total de movimento ede nas figuras. As kinestesias desenhadas expresso. Sdo figuras estaticas, aparecem somente aos 10 anos para inexpressivas. representar que alguém esta correndo, cumprimentando, lendo, ete. — Aparecem contradigées como indicadores, — Aprodugdoé monotonamente de conflito, Por ex: a figura feminina sem homogenea ¢ se ha contradigdes so maos ¢ a masculina com maos. bizarras e nao perturbam o individuo. Por exemplo: a figura que parece feminina tems um olho no meio da testa. Asomissées ¢ distorgdes que aparecerem pertencem ao mundo interno bizaro do individuo, conseqiiéncia da ruptura psicética do discurso grafico. Nao encerram um verdadeiro sentido simb6lico. Estao mais proximos da equagao simbélica. Ex: um homem desenhado ‘com 0 pescogo como tronco de arvore ea cabera como a copa. Outro desenhou todas as figuras humanas com cubos no lugar da cabega — Omissies e distorgdes sao significativas - eencerram grande valor simbdlico edos pés. — Predomina a integracao porque as — Predomina a desintegracao pela perda fungdes sintéticas do Ego estao das fung6es egdicas. a fragmentacao conservadas. do Ego ¢ a projecao direta do mundo interno povoado por objetos bizarros. — Predomina o realismo ou um simbolismo — Predomina a simbélica” interna, 0 auténtico. sentido do sem-sentido, a logica da ilbgica — Simbolizacao — Equagao simbélica — Freqdientemente misturam desenho e eserta num esforco para compensar uma sensacao de ruptura da comunicagdo basica, diz Hammer, € cita Malraux, que expressou que “o artista insano ‘mantem um mondlogo interno no qual s fala para ele mesmo, mas hoje sabe-se, continua Hammer, que as projegdes simbdlicas dos doentes mentais ssio todas significativas independentemente de que no momento o psicdlogo possua ou ndoa capacidade de compreendé-las”, Bibliografia para Desenho Livre ¢ Testes Graficos em Geral Aberastury, A. 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