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XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no


Cenário Econômico Mundial
Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

DEGRADAÇÃO CAUSADA AO MEIO


AMBIENTE POR OBRA DE
DRAGAGEM PORTUÁRIA EM SUAPE
Maurilio Jose dos Santos (UFPE)
producao@ufpe.br

Este artigo analisa a degradação causada ao meio-ambiente por obra


de dragagem portuária, no porto de Suape, Pernambuco, a partir de
uma abordagem comparativa dos períodos de 1985/86 e 2008/2009, e
busca identificar e discutir algumas dimeensões do problema. Ele
alerta para a degradação que poderá ser causada, comparativamente
com a já efetuada, ao ecossistema da região em virtude da implantação
prevista do projeto de expansão do complexo portuário. Atribui
parcela de envolvimento aos órgãos responsáveis pela fiscalização e
aos executores do projeto neste processo de degradação, e identifica
aspectos da legislação, ou do projeto, que podem contribuir com falhas
no sistema de fiscalização e prevenção;

Palavras-chaves: : dragagem, degradação, meio ambiente, suape


XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
Cenário Econômico Mundial
Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

1. Introdução
Devido à sua extensão e diversidade, a Zona Costeira e a Zona Marinha brasileiras,
apresentam uma situação impar em termos de ecossistemas e espécies, visto que à
biodiversidade local e às inúmeras espécies endêmicas se sobrepõem rotas migratórias e sítios
de condicionamento e desova de várias espécies migratórias de distribuição global, assim
afirmado no site ambientebrasil. Logo, a preservação ou degradação de nossos ecossistemas,
aparentemente com reflexo local, passa a ter dimensão global, com o empobrecimento da
biodiversidade mundial ao afetar as rotas migratórias, interferindo na dinâmica de
ecossistemas distantes da área afetada. (AMBIENTEBRASIL, 2009).

Visando avaliar os efeitos da implantação, é necessária a adoção de uma sistemática eficaz


para identificar os impactos capazes de produzir alterações susceptíveis de provocar danos
ambientais, caracterizar esses impactos, propor medidas mitigadoras ou compensadoras que
permitam minimizar os impactos e elaborar plano de monitoramento, com controle ambiental
rigoroso para ser executado antes, durante, e após a implantação da obra.

Ocorrendo um processo de destruição, de qualquer intensidade, haverá uma perda de


produtividade nas atividades de pesca, tanto de peixes como de crustáceos, moluscos e demais
componentes da cadeia alimentar das espécies. Isto acarreta um grave problema para a
população que tira o seu sustento da atividade pesqueira na região afetada, bem como da
população que seria abastecida por esta atividade comercial.

Vivenciamos as atividades de dragagem no Complexo Industrial Portuário de Suape em


1985/86, e agora recentemente, em 2008/2009. Esta nossa experiência pessoal, documentada
também através de algumas imagens fotográficas, mostra-nos uma agressão ao meio ambiente
de grande monta, com conseqüências imediatas ao eco-sistema e outras, provavelmente,
futuras que deverão ser acompanhadas e estudadas pela comunidade científica local.

Assim, buscaremos demonstrar que o exercício constante da fiscalização e monitoramento


sobre os impactos que podem ser causados ao meio-ambiente por obras de dragagem
portuária, deve ser o paradigma de todos os empreendimentos desta área, sendo
responsabilidade de todos os envolvidos atuarem de forma a mitigá-los ou evitá-los.

2. Obras de dragagem no porto de SUAPE

2.1 – Desenvolvimento e sustentabilidade

O direito ao desenvolvimento foi inscrito, de fato, na Declaração Universal dos Direitos


Humanos, cujo sexagenário aniversário foi celebrado no tumultuado ano de 2008.
Mesmo reconhecendo o direito ao desenvolvimento dos países e cidades, tem-se que repensar
as atuais estratégias de desenvolvimento, buscando o objetivo de transformá-las em
socialmente includentes e ambientalmente sustentáveis. Entretanto, para que se materializem,
sabe-se ser necessário o crescimento econômico para sustentá-las, ou seja, as soluções devem
preencher as expectativas seguintes: social, já que os objetivos de desenvolvimento devem ser
sempre sociais; ambiental, reconhecendo que não se tem o direito de legar aos filhos e netos

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um planeta inabitável; e econômico, porque sem viabilidade econômica não haverá


investimento para gerar o desenvolvimento desejado pela sociedade. Um duplo conceito ético
sustenta esse tripé de ecodesenvolvimento: de solidariedade sincrônica com todos os
habitantes da terra, e de solidariedade diacrônica com as gerações futuras. (SACHS, 2009).

O Brasil pode liderar a implantação deste modelo de desenvolvimento includente e


sustentável, mostrando para o mundo que sabe usar e cuidar da sua biodiversidade, suas
florestas naturais remanescentes, preservando os seus recursos hídricos e tirando proveito da
variedade de climas no país, sem deixar de buscar o desenvolvimento econômico e social.
Para conseguir estes resultados de maneira equilibrada e compatível com a sustentabilidade
desejada, deve investir em pesquisa e organização social de maneira adequada aos objetivos
da produção e de seus investimentos em novos empreendimentos (SACHS, 2009).

Ninguém, de sã consciência, pode admitir o crescimento econômico de maneira infinita, sem


levar em consideração a limitação biofísica de nosso planeta, em termos de recursos naturais
que podem ser retirados e da limitada capacidade para absorver e reverter os impactos
ambientais causados pelo homem (SACHS, 2009).

Desenvolvimento Sustentável é um conceito que foi proposto pela “Comissão Mundial do


Desenvolvimento e Meio Ambiente”, em 1987. Essa comissão, constituída pela ONU em
1984, teve como sua coordenadora a então primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem
Brundtland, e produziu o relatório final cujo título foi “Nosso Futuro Comum”. Neste
relatório, foi definido o conceito de desenvolvimento sustentável:“ Atender às necessidades
da geração presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras de atenderem às
suas próprias necessidades” (RIBEIRO, 2009).

O uso dos recursos da natureza pode ser efetivado de maneira sustentável ou predatória, tendo
por base o conhecimento do seu potencial. O grande adversário da sustentabilidade é a
ignorância, que induz a atos e costumes que impactam, negativamente, o ambiente e a
sociedade. (RIBEIRO, 2009).

2.2 – Obra de dragagem e suas conseqüências

As dragagens de manutenção/aprofundamento distinguem-se da dragagem de implantação de


portos, canais de acesso e bacias de evolução, pelo porte das intervenções realizadas e pelo
potencial das alterações ambientais decorrentes, muito menores no caso da dragagem de
manutenção. A dragagem de manutenção/aprofundamento, pelas suas próprias definições,
pressupõe a existência prévia de um sistema portuário e de vias de acesso marítimas que
requerem manutenção periódica.

Despejar substâncias poluidoras ou que causem modificação acentuada na turbidez da água


pode perturbar o meio ambiente aquático. Esta ação é muito comum durante a execução de
obras de dragagem, tanto de forma deliberada, na construção de aterros, por exemplo, como
de forma acidental, por rompimento de tubulações de transporte de material ou de óleo dos
equipamentos (BRAGA e outros, 2007).

Então, uma obra de dragagem deverá ser sempre objeto de um estudo cuidadoso, antecedido
de um planejamento, capaz de torná-la eficiente, econômica e ambientalmente viável.

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2.3 Normas de meio-ambiente inerentes à obras de dragagem portuária


A Lei 6.938/81, de 31 de agosto de 1981, regulamenta e institui a Política Nacional do Meio
Ambiente - PNMA. Em seu artigo 2º, diz:

“A Política Nacional do Meio ambiente tem por objetivo a


preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à
vida, no País, condições ao desenvolvimento sócioeconômico, aos
interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida
humana”

Desde então o licenciamento ambiental é um dos mais importantes instrumentos da Política


Nacional do Meio ambiente – PNMA, para o controle de atividades efetivas ou
potencialmente poluidoras, partindo da obrigatoriedade do Estudo de Impacto Ambiental,
corroborado pela Constituição Federal de 1988, que dispõe no art. 255, parágrafo 1º, que é
poder e dever do Poder Público exigi-lo. Esta Lei 6938/83 também institui o zoneamento
ambiental. (CARACIOLO, 2009).

A Política Nacional do Meio ambiente consagra um Princípio muito importante quanto à


responsabilidade do poluidor. Em questões ambientais ela é objetiva, isto é, independente da
existência de dolo (intenção de causar dano) ou culpa (negligência, imperícia ou imprudência)
existe a responsabilidade. (CARACIOLO, 2009).

A lei 7.661/88 institui o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, como parte integrante da
Política Nacional para os Recursos do Mar – PNRM e da Política Nacional do Meio Ambiente
– PNMA.

Saliente-se também que esta lei traz a definição do conceito de praia, que até então dificultava
a limitação deste bem público. (CARACIOLO, 2009).

O Decreto Federal nº 99.274/90, em seu artigo 19, determina que o Poder Público, no
exercício de sua competência de controle, expedirá as seguintes licenças: Licença Prévia (LP);
Licença de Instalação (LI); e Licença de Operação (LO).

No Estado de Pernambuco o licenciamento está a cargo de seu Órgão Ambiental: a


Companhia Pernambucana do Meio Ambiente – CPRH.

Já a lei 8.630/93, conhecida como a Lei de Modernização dos Portos, cria a Autoridade
Portuária em seu artigo 3º; determina a segurança e respeito ao meio ambiente, em seu artigo
33; e torna imprescindível a confecção e aprovação do Relatório de Impacto ao Meio
Ambiente - RIMA em seu artigo 4º. (CUTRIM, palestra 2010).

Em 18 de dezembro de 1997, foi publicada a resolução Conselho Nacional do Meio-Ambiente


– CONAMA Nº 237, que dispõe sobre a revisão dos procedimentos e critérios utilizados no
licenciamento ambiental instituída pela Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA. Estão
inseridas nesta norma as atividades de dragagem e derrocamento em corpos d’água como
serviços de utilidade sujeitas ao Licenciamento Ambiental. Em seu artigo 1º, esta Resolução

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nos fornece as definições de Licenciamento Ambiental, Licença Ambiental, Estudos


Ambientais e de Impacto Ambiental Regional.

O parágrafo 1º, do artigo segundo da Resolução CONAMA nº 237/97, trata das atividades e
empreendimentos que estão sujeitos ao licenciamento ambiental, e relaciona a atividade de
Dragagem e Derrocamentos em corpos d`água, no conjunto de Serviços de Utilidades, como
uma das atividades sujeitas à obtenção deste licenciamento.

Culminando toda esta legislação com a Norma Complementar 008/98 que cria a Comissão
Interministerial para os Recursos do Mar – CIRM, a qual institui a Agenda Ambiental
Portuária, com o fim de promover o controle ambiental nas atividades portuárias; inserir a
atividade ambiental no âmbito do gerenciamento costeiro; implantar unidades de
gerenciamento ambiental nos portos e nas instalações portuárias fora dos portos; capacitar
recursos para a gestão portuária; promover o desenvolvimento de um modelo de gestão
portuária pautada nas políticas de meio-ambiente, recursos do mar e recursos hídricos.
(CUTRIM, 2010).

A Lei de Crimes Ambientais (Lei Federal nº 9.605/98) tipifica o crime ambiental por falta de
Licenciamento em seu artigo 60 e as sanções aplicáveis quando de infrações administrativas
em seu artigo 72. As sanções variam de advertência, multa simples ou diária, embargo de obra
ou até a demolição da obra, e, suspensão parcial ou total da atividade (CARACIOLO, 2009).

Com base no artigo 24, parágrafo 2º, da Constituição Federal de 1988, os Estados e
Municípios podem exercer a sua competência suplementar relativa às normas e controle do
meio ambiente em seu território, acrescentando outros tipos de exigências, condutas e
infrações. (CARACIOLO, 2009).

A Resolução CONAMA nº 303/02, de 2002, veio estabelecer os parâmetros, definições e


limites referentes às áreas de preservação permanente, definas pela Lei Federal nº 4.771, de
15 de setembro de 1965, em seu artigo 2º, com alterações efetuadas pela Lei Federal nº 7.803,
de 18 de julho de 1989, que transcrevemos trechos a seguir.

Art. 2º - Considera-se de preservação permanente, pelo só efeito desta


Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas:

a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d`água desde o seu nível


mais alto em faixa marginal cuja largura mínima será:

1 – de 30 (trinta) metros para os cursos d`água de menos de 10


(dez) de largura;

[...].

f) nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de


mangues;

[...].

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Em 25 de março de 2004 a resolução CONAMA Nº 344, estabeleceu as diretrizes gerais e os


procedimentos mínimos para a avaliação do material a ser dragado em águas jurisdicionais
brasileiras.

3.4 O Porto de SUAPE e o histórico da dragagem

Com a globalização em plena concretização, e a conseqüente abertura dos mercados, a busca


por transporte de mercadorias com menor custo tem sido uma meta de todas as nações. O
Brasil, como um país em desenvolvimento, também procura atingir este objetivo. O transporte
marítimo é, sem nenhuma contestação, o que oferece melhor relação entre frete e quantidade
de mercadoria transportada (PAGNONCELLI, 2008).

Nessa linha, visando atender às mudanças, com advento de novas tecnologias, e construção de
navios, seguidamente, de maior porte, o Governo Federal promulgou a Lei de Modernização
dos Portos (Lei Nº 8.630/93), abrindo um leque de obras de ampliação e modernização dos
principais portos nacionais (PAGNONCELLI, 2008).

O Porto de Suape, cujo embrião do seu projeto aconteceu na década de 60, por determinação e
visão empresarial do governador Nilo Coelho, seguindo o modelo dos portos de Marseillee-
Fos, na França, e de Kashima, no Japão, com o conceito de integração porto – indústria, foi
um dos contemplados com investimentos do Governo Federal, de acordo com reportagem da
revista Algomais.

A proposta, hoje, é transformar o Complexo Portuário de Suape em um hub port, porto


concentrador de cargas, buscando a distribuição para toda a área de sua influência, incluindo
os Estados de Alagoas, Sergipe, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, Tocantins, Goiás
e, cidades pernambucanas, utilizando o transporte intermodal, marítimo, rodoviário e
ferroviário. (REVISTA ALGOMAIS, 2008).

Entretanto, para que este Complexo Portuário torne-se realidade concreta, o meio-ambiente
será agredido e modificado, em suas diversas variáveis, como ar, água e solo. Deve-se
lembrar que “a gestão ambiental é um conjunto de programas e práticas administrativas e
operacionais, voltados à proteção do ambiente e à saúde e segurança dos trabalhadores,
usuários e comunidades.”, como salientam Dione Kitzmann e Milton Asmus.

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Plano Diretor do Complexo de Suape de 2008.

Este era o Plano Diretor do Complexo Portuário de Suape vigente no final de 2008. Esta foi a
primeira vez que o Plano Diretor apresentou um grande avanço sobre as áreas restantes de
manguezal do complexo.

O Plano anterior previa o acesso ao Estaleiro Atlântico Sul através do mangue, sem entretanto
haver a previsão de dragagem para construção de berços de atracação, conforme vê-se neste
projeto de 2008.

Houve a intenção de desmatamento, dragagem e destruição total da região do manguezal


atual, na área que adentra ao litoral, para obtenção de lotes para instalação de indústrias com
os seus respectivos berços de atracação.

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Vê-se também a ligação da ilha de Cocaia à ilha da Tatuoca, fechando o canal existente entre
elas, ficando a ilha de Cocaia incorporada ao continente, deixando a sua atual condição
geográfica de ilha.

O canal de entrada e saída principal da água do mar para o mangue será totalmente
modificado, dando lugar ao canal de acesso aos novos lotes para as instalações das indústrias.

Houve um enorme volume de material já retirado pela dragagem da bacia de evolução e nas
diversas regiões para atracação de navios.

A área imensa abaixo do cais corresponde à área original de praia e manguezal, estando agora
totalmente aterrada com a disposição do material (areia e tabatinga) retirado durante a
execução dos diversos serviços de dragagens efetuados no Complexo. Áreas de praia foram
suprimidas pela dragagem para construção dos berços de atracação e bacia de evolução atual.

O projeto do Plano Diretor do Complexo Portuário de Suape previsto em 2010, dragagem na


área hoje ocupada pelo manguezal para que seja executada a obra de construção do canal de
acesso aos futuros estaleiros e novas indústrias. Esta dragagem levará o canal com suas águas
marinhas próximo à avenida principal de acesso rodoviário ao Complexo.

Nos serviços de Dragagem é fundamental o Estudo de Impacto Ambiental, que avaliará os


riscos que serão ocasionados pela atividade de dragagem no local, e, bem como, o Plano de
Controle Ambiental, que orientará sobre as medidas de acompanhamento, controle e
mitigação dos efeitos desta atividade.

4. Metodologia adotada

Foi realizada uma pesquisa essencialmente qualitativa, desenvolvida no empreendimento de


implantação/ ampliação do porto de Suape, município de Ipojuca, em Pernambuco.

A investigação foi realizada por análise dos projetos dos Planos Diretores do Complexo e os
impactos ambientais causados, com as variáveis e interferências no habitat onde será
executado o empreendimento.

O procedimento de pesquisa adotado para conduzir a um resultado, foi um estudo


comparativo das condições ambientais antes do início do empreendimento (no período de
1985/86) e depois (2008/2009), apresentadas em projetos, e os impactos esperados e/ou
constatados após o início ou conclusão dos serviços.

Com base nos estudos que foram desenvolvidos pela nossa pesquisa, buscou-se definir a
responsabilidade que cabe a cada um dos envolvidos em um projeto de ampliação ou
implantação de um porto, o qual sempre incluirá a atividade de dragagem, pela retirada do
assoreamento ou aumento da profundidade requerida.

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5 – Conclusões

5.1 – Indagações esclarecedoras

Inicia-se colocando as indagações que levaram às respostas que procurou-se quanto às


parcelas de envolvimento dos órgãos responsáveis pela fiscalização e a dos executores do
projeto, na degradação ambiental de Suape, identificando aspectos da legislação, ou do
projeto, que contribuíram para ocasionar falhas na fiscalização e prevenção, permitindo a
degradação constatada. São elas:
1 - Conflitos entre atividades portuárias e os ecossistemas, em especial a dragagem,
são um mito ou uma realidade?
2 - A estratégia da abordagem que busque uma solução orientada para a
sustentabilidade, em Suape, deve ser técnica, legal ou política?
3 - Os atores envolvidos buscam um objetivo comum, conscientizados e preparados
para vencer etapas desafiadoras?

5.2 – Primeira resposta

No Complexo de Suape foi necessário, a partir de um terreno praticamente intacto, no sentido


ambiental, ser construído os acessos rodoviário, ferroviário e marítimo, interligando os três
modais de transporte. Além de estação de tratamento de água, subestação de energia elétrica,
centro administrativo, guaritas etc.

Estando a área destinada ao porto situada na região estuarina de rios da região, estas obras
impactaram muito o meio ambiente, cuja vulnerabilidade dos ecossistemas amplia as
restrições de usos e ocupação dos espaços.

As primeiras agressões ao meio ambiente marinho foram iniciadas com a construção do mole
de proteção, ainda na década de 70. Ao mesmo tempo foi iniciada a construção do primeiro
píer petroleiro e o aterro para receber as instalações iniciais da Petrobrás, com material
retirado da região onde hoje está situada a bacia de evolução, próximo à ilha da Cocaia.

Neste ponto já existia uma degradação de grande dimensão, com o aterro na região vizinha
aos arrecifes preenchendo a profundidade existente de dezessete metros, expulsando os
peixes, como melros de grande porte, e soterrando todo o ecossistema local. A poluição
sonora e atmosférica com a emissão de gases de descarga dos motores dos equipamentos,
naquela época sem maiores cuidados ambientais, também acontecia.

Em seguida houve a abertura da linha dos arrecifes e início da construção dos berços internos,
começando pelo cais do terminal de containers. Para viabilizar a operação dos berços internos
foi necessária a dragagem da área do berço, do canal de acesso e bacia de evolução,
acarretando uma modificação enorme do ecossistema da região, com a dragagem de
aprofundamento e implantação do Complexo suprimindo regiões de praias naturais e
executando o aterro de enormes áreas de manguezal, inclusive ao longo da avenida principal
de acesso à área portuária, criando os terrenos necessários para a implantação das indústrias.

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O início da operação dos berços internos, desde o terminal de containers, agravou a poluição
por geração de resíduos, que verificamos hoje ao longo da linha divisória atual do mar e
litoral, com o depósito de grande quantidade de material plástico e poluentes.

Avançando na cronologia, chega-se ao ano de 2005, quando é iniciada a obra para instalação
do Estaleiro Atlântico Sul e, em seguida, definida a construção da Refinaria Abreu e Lima.
Estes empreendimentos tomaram maior impulso e ritmo, a partir do ano de 2008, requisitando
novas obras de dragagem, aterros hidráulicos e armazenamento de material para uso futuro.
Nova conformação da linha do litoral foi desenhada com a dragagem para o acesso marítimo
ao estaleiro. E novo impacto ambiental e degradação foi efetivada.

Conclui-se que a atividade de dragagem é totalmente conflitante com os ecossistemas,


promovendo a sua destruição de maneira irremediável, alterando os biomas, e modificando a
paisagem natural da região do Complexo Industrial de Suape.

5.3 – Segunda resposta

Sendo tomada a estratégia técnica, considerando a agressão sobre o meio ambiente que
aconteceu até o momento, e que virá a acontecer com a implantação do novo Plano Diretor,
sacrificando importantes áreas de biomas, a inviabilidade do projeto seria decretada.

Predominando a abordagem política na análise do empreendimento, verificando o lado


econômico e do desenvolvimento, buscando nova posição para o estado na economia
nacional, considerando o impacto social positivo com os novos empregos criados e melhoria
da condição de vida de grande parte da população da região, melhoria das cidades no entorno
do complexo e aumento da arrecadação dos impostos municipais e estaduais, o
empreendimento passa a ser viável e prioritário.

Aqui fica confirmada a orientação política dada à abordagem, desde a idéia inicial do então
governador Nilo Coelho, buscando a adequação às leis que foram sendo editadas e aos
estudos científicos desenvolvidos relacionados à sustentabilidade durante todos estes anos de
implantação do projeto do Complexo.

5.4 – Terceira resposta

Os principais atores envolvidos são: o governo estadual, governos municipais da região,


órgãos federais de fomento e fiscalização, indústrias nacionais e multinacionais, empresários,
empresas de projeto e empresas construtoras.

Afirma-se que há uma busca de capacitação e preparação dos atores, mas que será difícil uma
equalização dos pensamentos, idéias e procedimentos, devendo ser criada uma norma interna
ao complexo como um todo, evitando diversidade de atitudes entre eles. Os municípios têm
este poder de regulamentar sobre o meio ambiente, tornando mais rigorosa a legislação
municipal em relação às legislações estadual ou federal.

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As soluções devem ser buscadas por todos os envolvidos, tendo o Governo Estadual papel
fundamental na orientação que deve ser dada, mas, primeiramente, há de reconsiderarmos a
máxima que determina a ambição econômica a qualquer preço.

5.6 – Considerações finais

Houve muita degradação ao meio ambiente na região do Complexo Portuário de Suape,


durante todos esses anos transcorridos, para a implantação de suas várias fases, algumas de
acordo com a legislação vigente na época, mas fora da atual legislação.

É imprescindível que haja uma uniformização e harmonização na atuação dos órgãos


ambientais competentes no que se refere ao processo de licenciamento ambiental das
atividades de dragagem, evitando que um tipo de obra extremamente semelhante seja
licenciada em um estado e vetada em outro. A coerência e a padronização das análises,
reduzindo significativas diferenças de procedimentos, metodologias, formas de apresentação
dos resultados e exigências/condicionantes adotadas pelos diversos órgãos ambientais, levarão
ao aperfeiçoamento da atividade de dragagem em busca de minimizar os impactos ao meio
ambiente, em prol da sustentabilidade.

A tecnologia já alcançou o estágio que possibilita, através de métodos de planejamento,


modelos matemáticos e equipamentos para controle, avaliar e estimar, antecipadamente,
efeitos e impactos de situações hipotéticas futuras por meio de simulações com modelos
físicos e matemáticos (BRAGA e outros, 2007).
.
Este movimento de novos atores envolvidos nas decisões visa agregar ONGs, os governos
federal, estadual, municipal, os empresários, a sociedade, as comunidades locais, as
universidades, enfim, todos os diretamente, ou indiretamente, afetados pelo empreendimento
e os setores que podem contribuir de maneira sensata e fundamentada.

Acredita-se s que este deve ser o caminho a ser trilhado no encaminhamento dos estudos e
soluções aplicáveis ao novo Plano Diretor do Complexo Portuário.

Referências

ASMUS, M. L.; KITAMANN, D.I.; LAYDNER, C. Gestão Costeira no Brasil: estado


atual e perspectivas. In: ENCUENTRO REGIONAL COOPERACIÓN EM EL ESPACIO
COSTERO, 59, Montevideo, Uruguay, 2004. Anales... Montevideo: Universidad Nacional de
Mar Del Plata/Ecoplata/Gapas/Freplata/Probides, 2005.

CIRM (COMISSÃO INTERMINISTERIAL PARA OS RECURSOS DO MAR), Agenda


Ambiental Portuária. Brasília, DF: Cirm, Gi-gerco e subgrupo Agenda Ambiental Portuária,
1998.

BRAGA, B.; HESPANHOL, I. Introdução à Engenharia Ambiental. São Paulo: Pearson


Prentice Hall, 2005.

CARACIOLO, P. M. Apostila de legislação Ambiental sobre Licenciamento e


Fiscalização. Recife: CPRH, 2009.

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CUTRIM, C. Palestra: Sustentabilidade da Atividade Portuária Rumo à Agenda


Portuária no Porto do Itaqui. São Luis: 2010.

REVISTA ALGOMAIS, Suape Chega aos 30 Anos sem Pisar no Freio, Recife, Ano 3,
Nº32, p.28-31, novembro de 2008.

RIBEIRO, M. A. Desenvolvimento, Justiça e Meio Ambiente; Origens mineiras do


desenvolvimento sustentável no Brasil. Belo Horizonte: Editora UFMG; 2009.

SACHS, I. Ecodesenvolvimento e Justiça Social no Brasil; Prefácio. Belo Horizonte:


Editora UFMG; 2009.

TAGLIANI, P. R. A.; ASMUS, M. L. (Coords.). Estudo de impacto ambiental do Porto de


Rio Grande, RS. Fundação Universidade Federal do Rio Grande, 1997. (Documento
técnico.)

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