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Aspectos da ilustracdo no Brasil* Tivemes como objetive neste trabalho estudar certos aspec: tos da mentalidade de uma geragio que participou da Indepen sdéncia e que tem rafzes nas primeiras tentativas dos brasilecos de Aadaptar as condigdes de seu meio, a cultura “ustrada” da Europa Ro século XVII; caracteristicas de pensamento que continuam Gepo's pelo século XIX adentro, motivo pelo qual nos preocupa- Mos também em tragar os seus reflexos nas manifestagdes pro- Bressistas © modernizadoras dos brasileiros durante o Império. Referimo-nos asatividades dos brasileiros formados nas prin- Sipais universidades curopéias, principalmente em Coimbra, a Parti de 1772, ¢ também em Montpellier, Edimburgo, Paris e Estrasburgo. Fendmeno sugestivo ¢ ao qual nao se tem dado a Holase merecida ¢ a acentuada tendéncia para os estudos cientifi- #05, maniestada por grande nimero desses estudantes, que tam- fm procuraram ocupar-se dos problemas de sua terra e nela Wtroduair reformas. Apesar do. prisma sesmopolita © universal Sha mentalidade de ilustrados, pode-se dizer que seus estudos, Hatureza empirica e objetiva, refletiram to de perto a reali. brasileira, que constituem valor documental mais acessivel I 0 historiador do que a simbologia da obra dos poetas ¢ Bic texto fi pubiicado pete primcica vee na Revists do Insti co Brastcro, vobume 27S, janeieo-margo de 1968, 4 Mara Odila Leite da Sitva Diss ‘oradores da mesma época, adstritos 20 formalismo dos: moldes do classicismo francés ¢ do arcadismo italiano, sob cujo arca- bouco europeu devem ser desvendadas as imagens da terra e as primeiras manifestagoes nativistas Suas atividades de pesquisa e de exploragao, desvendando o interior do Brasil e procurando inovagdes para 0 seu progresso material, tm um cunho pritico muite peculiar do meio ¢ do momento hist6rico em que viviam e, por isso, oferecem um inte- resse mais especifico para 0 estudo das origens de uma cultura brasileira do que a andlise das primeiras manifestagdes revolucio- nirias e republicanas da colOnia, das quais, € certo, muitos dentre cles participaram, mas que refletem a ideologia da Independén- cia norte-americana e da Revolucao Francesa, formas genera lizadas-de um movimento cosmopolita ¢ universal, simbolizada nas lojas magOnicas. ‘Nao pretendemos, contudo, negar a influéncia fundamental das idéias secularizadoras da mentalidade ilustrada européia so- bre esses intelectuais brasileiros dos fins do sécule XVIII ¢ inicio do XIX, tuma das rardes, aliés, para explicar sua vocagao cientifica. “Annova ética do Século das Luzes, segundo a.qual os homens poderiam aspirar a liberdade e & realizagdo de sua felicidade na terra, dera um vigoroso impulso ao estudo das ciéncias.Os ho- mens, como lembra Carl Becker em seu livro sabre a cidade divi- na do século XVII, passaram a tentar edificar o paraiso celeste no mundo de todo dia, aliando-a0 seu otimismo ut6pico a men- talidade pragmitica das reformas concretas. Daf o renascimento Gentifico de meados do século XVIII, prineipalmente no campo 1 echex Cah La cna de Die del siglo XVI. Mec: Fondo de Culrs Econ, 90. ‘A interioriaagto da metnipole © outros estodos 41 ‘das citncias naturais e mecanicas, a exaltagdo do sib e do cien- tista como o homem pritico e de apo: caberia a eles construir a felicidade dos homens com inventas e descobertas titeis ao ber estar e a satide € a0 proveito da sociedade. ~ © antiintelectualismo de Rousseau, com seu horror aes in: Nentores ¢ cientistas, que tamanha atragao exerceria sobre os eu~ Topeus impressionados com a miséria dos agrupamentes urbanos € dos operdrios, nas minas ¢ fabricas das regides industrializadas, fobretudo da Inglaterra, nio teria grande repercussio. entre os ‘studantes brasleiros, asim como também ndo os entusiasma. Fiam suas idéias democriticas ~ ciosos como eram de seus PHivilégios de aristocratas; do ponto de vista humanitério, viam ina mecaniza¢o um meio de aliviar as softimentos dos escravos ¢ Ae liberté-los de um jugo, condenado pelas leis da natureza. Mui- fomaior,portanto, entre os brasileiro dessa época, seria a influén- Gia de uma corrente de pensamento diretamente filiada a Voltaire € 20s enciclopedistas franceses e que desempenharia papel histéri £9 decisivo no cstabelecimento de relagbes pragmiéticas entre os Intelectuais ¢ a sociedade. Profetas do movimento cientiico, os neiclopedistas franceses reivindicavam, nas palavras de Diderot, umm incremento da ciémcia natural, da anatomia, da lien ee fica experimental’, como um primeiro-passo na reforma da so Siedade. Além de D'Alambert, © grande fisico e matemstico da Franga pré-revoluciondria, diversos cientistas eontribuiriam para sua obra £ sugestiva da sua escala de valores a segao F do grande liciondrio, em que o verbete “Fornalhas” ultrapassa bastante em atensio o artigo sobre a“Fé".? I Yes ev 1 if tec Seif lhe Pipl nd Sap Oriin W/ Modemn Science), New York: Basic Books Inc. Publishers, 1963. p.281. = 42 Mari Oils Leste ds Sites Dias ‘A penetracao desse espirito em Portugal explica 0 fate de, entre 0s 568 estudantes formados em Direito (maioria significa- tiva no total de 866 brasileiros formados em Coimbra) de 172.4 1822, 281, ou seja, cerca da metade, terem-se formado simulta- neamente em Leis ¢ Matemitica ou Citncias Naturais, acumu- lando as duas ou trés especialidades,” fenomeno que era bastante ‘comum naquele tempo. Baltazar da Silva Lisboa ilustra bem a atragio que as ciéncias exerciam naquele momento; quando cur- sava em Coimbra o segundo ano do curso juridico, seguia por ‘sua prépria conta, além das matérias que figuravam no curriculo, cursos de Geometria, Historia, Fisica Experimental ¢ Quimica.* ‘Com referéncia a0s restantes, formadas exchusivamente em ‘humanidades, isto 6,em Leis, Teologia e Artes, podemas opor 141 diplomados somente em ciéncias. Em dados globais, referentes &s matriculas e aos cursos seguidos e ndo individualmente aos estu- dantes, desdobrando, portanto, o ntimero dos que acumularam virios diplomas, temas que, dos 866 estudantes, oitocentos forma- ram-se em pelo menos um ramo das ciéncias; dentre os quais 450 em Matematica, 285 em Filosofia Natural e 65 em Medicina. Masa ‘maioria des que deixaram obras escritas voltaram-se de preferén- cia para as Cigncias Naturais ¢ a Medicina, predominando, pois, na literatura “cientifica” desse periodo, as estuclos de Cigncias Na- turais, em detrimento de pesquisas nas Ciencias Puras ou Exatas, 3 Morais, Francisco de List don eatudantes Brasileiros ma Universidade de Coimbra. ‘Anais de Biblioteca Nacional, 62, p14. CE também Maris, Francisco de. Est ‘acts da Universidade de Caimbea nascidos no Bras le: Basti, suplemento 20 ‘volume 4. Publicagto Comemorativa do 4”-Centenirte da Cidade de Salvador, 199, p260 55 4 Lisbon, Hento da Silva, Biopraia de Baltaar da Siva Lion. Revste Istituto Hiacico e GeogrifceBrasieire (RIFE), 140, 2, p36. A interioriagio da metripole ¢ outros etados 43 Diversos fatores gerais de condicionamento histérico, pr6- prios de seu tempo, explicam essa preferéncia e, muito em particular, tendéncia pragmitica de suas mentalidades.“O grau de aplicacio de uma citncia” — escrevia o brasileiro Alexandre Rodrigues Ferreira, em 1783 — “mede-se pela sua utilidade"? Vol- tava-se, nessa época, o conhecido zodlogo, mineralogista e etnégrafo, que comandou a primeira expedigao cientifica a vir explorar o sertao brasileiro, de 1786 a 1792 (percorrendo os rios Amazonas, Negro, Branco, Madeira, Guaporé, a Serra de Cua- mur € de Cuiabi, retomanda a Belém com uma colegio enor- ime e preciosa de espécimens da flora ¢ fauna brasileiras), contra © amadorismo antieconémico e a mods, entio corrente em Lis- boa, de colecionar conchas.! ‘A mesma orientasio caracteriza as obras de José Bonificio. ‘A primeira meméria que escreveu para a Academia Real de Citn- cas de Lisboa tratava de aperfeicoar a técnica da pesca da baleia? © 2 epigrafe de seus trabalhos valorizava apenas aqueles estuds de queresultasse alguma utilidade para a sociedade. Para o patriar- 15 Coma Fh, Vigo. Aleandoe Reigns Fetina, vide cbr do grande matraina ‘brariira, Sto Paulo: Companhia Editoza Nacional, 1939. p.22; Soars, Antonio, (Candido de Mello ¢ Frmajto da hiratund bse So. Paloe Martins 1959. x, pas, 16 Ferreiza, Alexandre Rodrigues. Abuso da Conchyologis em Lishos para servi de fnrodacto 4 sus Theologia dos Verses (1781). Drummond, Anténio de Meneses Yasconcclos. Noticia dos escritos do Dr. Alerandre Rodrigues Fervera. RING, 2, 1840, p22 7 Aoicads « Sta, Jo Bonificio. Membre sobre = paca da bala € extras de ex sect; com sigumas reflxies 2 respeito das nouss pectin. ln: Merri eon ice de Academia Real dat Citecias de Listoa, 1790.2, 9.388. Oa em Andeads € ‘Sir, José Honificia, Chas cenificas, police «sci de Joe Bonificide Anaad «Si (cligidas € reprodutidas por Egard de Cerqucra Falco). Edigto come Imoraiva do bicestenitio de sew nascimento. Santos, 1968 eh, p24. 44 Maria Odils Leite da Stra Diss a da nossa independéncia, o sentido vivo dos estudos cientificos achava-se no fomento do progresso material ¢ das condigbes de vida dos homens." Assim € que, a0 vollar a Portugal, depois de passar dez anos viajando ¢ colecionando material para pesquisa ‘em varios paises da Europa, nao pode se contentar em lecionar na mato de propa feria 2s roe aerate watriota 2eloso € amante dx felicidade pablica” (O' Patriota, n.4, ce 1 tides rum mimero posterior ines dc 1h p2) Sm erguenon for rebtdos Slo ner pose ht Henig Fer oe rips pss citer scama cu hcndema Gets do Ris den. CL Seo {Geum ectraene do Cocos no ral e i brags qu ere ete nce. © Pinna pe ocr de 184 9. ape de Azad Reiger, eo wm inci ect 7 eofa ts rodunr n Rr a smentcls du vor da ca © Ga plans do tbame (atagn Fanci Ado der pc 9, 9274)A peop fomentacie, apetncan einoees com mato Bel xt a (ices de nce do Auda Mae Uhre, ends ton tna Bic Nes 3, 334363038 8 #8 A intecorinacte da metripale e outros etades 51 nando plantas para a Flora fluminense.™ Baltazar da Silva Lisboa, rTecém-chegado ao Rio por essa época, como juiz de fora, também {foi por ele incumbido de fazer exames de hist6ria natural na Serra dos Orgios, onde permaneceu seis meses, remetendo em seguida ‘uuites produtos para Lisboa, além de um mapa que fizera levan- tar daquela serra e dos “lugares mais notiveis” que visitara™ Em troca de promessas de privilégios fiscais, de monapélios pregos especiais, apareceram de inicio memérias de cunho es- tritamente técnico, coma a do empresirio Manuel Luis Vieira, “Idéia da constituigao e estudo da fébrica de descascar arroz”, ‘escrita no Rio, em julho de 1770, e enderecada a0 Marqués do Lavradio, ou a sua “Brevissima instrugao para o uso dos fabri- ‘cantes de anil” (1785). Os primeiros resultados da nova politica foram memOrias e experitncias préticas de comerciantes ¢ lavra- ores “ilustrades", como as do holandés Jo3o Hopman, que plan- tou o café no sul do Brasil, em sua chécara de Mataporcos, nos arredores do Rio, e ensaiou a cultura da amoreira, como outros tentariam a do cinhamo, a manufatura do anil, da seda e novos tipos de moinhas e engenhos de arroz e agticar.” 29 Gama, Jost de Salanha du. Bograia do botinice brasiciro fee sé Mariano da ‘Concegso Veloso, Revita do Initio ¢ Geogrfico Bras, 37, 1868, p a8. 30 Lisbon, Bento da Siva, op cit, 1840, 2, p85. 31. Anttnio Gongalves Pecera de Fars dedicon parte de sua vids a tenativas de ploniar 0 céahamo em Santa Catarina «:no Rio Grande de Sto Pedew: Francico. Jo de Sampaio Peizota inventau um novo proceso pars mansfitura ail na ‘captania de S80 Paulo; no Paci, um engenhto militar consrasa vito tpos de engenba de arroz com farsa de ecravos e de cvalor (Alden, Daur op. dt, 1959, p.537). Desticon-ae também entre os leradovesiusrados deste periodo, ‘no norte do pus. 0 islandés Loarenyo Belfort, qe acimatoa corn sucess e fer 4 primeira exportagdo de aror Carolina no Maranhio em 1767, iinguindo-se sinda pela criagdo do bicho da seda (Ferreica Reis, Arthur Cétae. O comércio colonial ¢a8.companbins priviegiadas. In: Holanda, Sérgio Buargue de (One) ei gral da credo base. Sdo Pau: Dill, 190. v2 p.336-7). 52 Maria Odi Leite da Sava Dias ‘Ao mesmo tempo que ativava os lavradores mais dindmicos © vidos de Iucro com promessas de ganho, a Coroa procurou desenvolver na colnia o estudo “das ciéncias naturais, da Fisica, da Quimica e da Agricultura, da Medicina Cinargica e Farmi- " aprovando a fundagio da Academia Cientifica do Rio (1772- 1779). Entre os seus sécios fundadores, médicos e cirurgides em sua maioria, constava um Ant6mio Castrioto, “curioso da agri- cultura’: De fato, teria sido gracas-aos trabalhos dessa Academia ‘que se difundiu no Rio de Janeiro a cultura do anil, do cacau, da cochonilha, do café e que comesaram os levantamentos sistemé- ticas da flora brasileira. Sob os seus auspicios, publicaram-se em Lisboa alguns tratados de histéria natural do Brasil.” Dissolvida em 1779, foi de certa forma reencarnada na Socie- dade Literéria (1786-1794), criada pelo Marqués do Lavradio a fim de promover a felicidade publica por meio da agricultura ¢ -desenvolver “idéias proficuas adormecidas em cabegas que pare- -ciam obtusas € pouco cientificas”. A Sociedade dedicou-se em ‘seus primeiros anos quase que exclusivamente a assuntos “cienti- ficos" ou de ordem pratica, como a observagio de eclipses © as experiéncias com a tinta do urucu.* -Alin306 se tratava de Filosofia, Matemitica, Astronomia, mo- dos de facilitar os trabalhos do agricultor, fazendo-the conhecer a ‘qualidede do terrenu para ndo scr infrutmosaa sualavoura, como se tratava da saiide pablica entre osm édiens ecirurgites peritos edig- 432 Rodolfo Garcia lembra entre as iniciativas da Academia, além de urna Meena sobee a Cocbonia, wn tratado de HistSria Natural, Quimica, Agrcutar, Artes « Medicina, pubbicados em 1790 em Lisboa (Varnhagen, Francisco Adolfo de, op. it, 1965, eA, 9265) 33 0 Parrots, n4, oumubro de 2813, p12. 34 Varnhagen, Francisco Adolfo de, op. cit 1965. WA 265. CE ES’”SCSC“ ‘A intcorizarto da mewépole © autros etudes. 53 ‘os deserem membros daqucla sociedade;rspondendo acon: decidiam questbes sob; és a Te as moléstias que grassavam, analisando ‘Aguas e mais substincias necessérias a vida do homem, 2° Em fins do seulo XVIII, foi decretada a fundagao de um horto botanico na Bahia™ que nao chegou a concretisar-se. No Rio de Janeiro, Luts de Vasconcelos oxganizou a Casa dos Passa, interessante e digna de nota foia fundacao, em 1798, i ji do Seminario ‘4° Olinda, pelo bispo D. José Joaquim de Azeredo Coutinho, com ‘tm curriculo inteiramente voltado para a modemizagao do ensi. no, dando énfase especial & Boténica e 3 Mineralogia.* na colnia a reforma da 35 0 Patron. oursbro de 1813, p13. 3% Awa Len pe ce SL Lak Me ped trait Ba oP: Compe 7% (Obs Lies, Manel de D. Jods VI me Beas Rio de lnc: Sout lpm, SH Maris Odi Leite da Siva Diss ney, introduzindo em Portugal o estudo das citncias experimen- tais, que marcaram o eco retardado da cultura ocidental do século XVIII naquele reino.* Durante os primers dez anos que se segui- ram & reforma, 238 brasileiros diplomaram-se em Matematica, Giéncias Naturais ¢ Medicina, para 157 em humanidades (princ- palmente Leis). Ena década seguinte, isto é, de 1782.a 1792, assina- laram-se 192 diplomados em ciéncias para 105 em Leis, da.que se pode inferir a atra¢io crescente exercida pelos estudos cientificos. No periodo entre 1794 € 1804, 0s cursos de Citncias Natu- rais foram mais frequentados (84 estudantes) do que os de Mate- miatica (75 estudantes) eo de Medicina (dez estudantes).* Foi sugestiva da orientagao pritica desses estudos a obra de Baltazar da Silva Lisboa, Discurso histérico politica e econdmica dos pro- sgressos e estado atual da Filosofia Natural ene Portugal, acompa- mhado de algumas reflexdes sobre o Estado do Brasil (Lisboa, 1786), demonstrando a finalidade de desenvolvimento € de “progresso técnico” a que se destinavam tais estudantes. yee de eh i 1-2). Ve tab suas Data de Asma” (Reira Sanches, op cit, 1959, vl, pez). Ver também s Caras obec a daca da mocidic page em qe desc am pice fu Isborstérie de citcias experimentas c as vantagens da aprendizado Hiscin satura para 2 medina, as aces eras emecinias (PST). 48) Moecada, Luis Cbeal de. Us suinies portguds elo slo XVI: Lae Ansiaio ‘ermey. Coirara, Arménio Amado, 1941. ; 11 CE Gite, Hemari. Lites de calor ¢ trata portauess. Corns: Coimbra itor, 1938, Corts, nine. Aecandve de Gusmto «0 Traine de Madi Rio de Incite: Instat Rio Beanco ~ Minis das Belapies Exeioes, 1958; Dis, ose ‘Sehastio da Sitva. Portal e+ eukusa curopéin. Bibles (Coimbra), ¥28, 1952, ASE. Mesoo ent proSewores e abanos niveriirias, era pequens a 1777, 3 porcentagem de portapoeesintcrctados em assantos cientifices (Marques, Ma Fis Adelaide Salvadoc. A Real Mess Conséia a culture nacional. Aspectos da ‘gropafia cular poctageesa no séalo XVI. Coimbra, 1968. p76) AS bras de ‘losofia, cicis e atemsticassparcems em geal er Inga senda nas Ustas das bibliceecs portagacros Ivastadas pela Mess Centra de 1788 2 1770, peeo~ Iminando nate elementos lgados 20 Exéesto, artists om notes (p93). 2 Ch pes. A imteriorizagto da metrépole« outros etudos 55 ‘A Coroa tratou de incentivar ¢ de aproveitar os bacharéis brasileiros: em 1799, conferia bolsas para formagao de dois en- genheiros topograficos, dois hidréulicos, um contador e dois mé- dicos-* A certa altura das Jnstrugdes do:ministro Martinho de Mela € Castro para o vice-rei Luis de Vasconcelos, acha-se uma referén- cia, bastante sugestiva, a um certo bacharel Joaquim de Amorim de Castro, que nao deveria ser deixado no esquecimento, pois dedicara-se com 0 maior zelo ao fomento da cultura e fabrico do fumo em Cachoeira, na Bahia, onde era juiz de fora." Amorim de Castro distinguira-se em Coimbra, ¢ seus escritos compro- vam 0 esforgo de aplicagao pritica dos conhecimentos adquiti- dos, bem caracteristico de sua época. Em Lisboa, na Academia Real de Ciéncias, publicou uma meméria sobre a cachonilha ¢ ‘outra sobre o malvaisco do distrito da Vila de Cachoeira. Diri- sgiu também ao Marqués do Lavradio uma “Relagao das madei- tas descritas que se encontravam no termo da Vila da Cachoei- ra", que permanece manuscrita, assim como sua “Historia natural do Brasil segundo o Sistema de Linew”® Em 1796, D. Rodrigo de Souza Coutinho, absolutista ilustrado, incansavel homem de projetos reformas, tornou-se “48 Risin, Calon, pio de Coscae :Comei Breslin, Sto: Pao: Compania Faitora 1952. ps7, Varnhagen, Francisco. Adoifo de, op cit, 1965, 4, p28. ‘Gostro, Jt de Amovion. Memevias sobre a cochoniba do Brasl- Memes end micas da Academia Real de Citncas de Lisboa, 1790. 2, p35, ¢ també comma suplemento & Mem sre a fndagae ecco de ur aso ma Provincia do Ri se Jancio plo Barto do Paty do Alferes. 2d. Rio de fncio,185%; Menaiia sobre © mahnisca do dirt da vis da Cachocrs. Mera eomimics da Academia de (bis de Lisho, 1791, «3, 391; Hiscia natura do Beas segundo 0 sstema de ‘ine, Memérias econimicis da Academia de Cini de Lisa, 1798... B dos ‘manuseris no Enstituto Hstérico e Geogrifce Beasira: Reli0 das madeiess escrits que 1 compreendem no termo da Vila ds Cachocira © Representacso. cuntenda cbeeragses sobre a agricltura e manuatera do abeco. oe 56 Maris Odds Leite da Siva Dias ministro de D. Maria I, € toda uma equipe de bacharéis e cientis- tas brasileiras passou a se agitar em torno dele, em razio de uma politica de renovacao da agricultura e da introdugio de no- vas técnicas rarais. ‘Animar as culturas existentes ¢ naturalizar no Brasil todos os produtos que se extraem de outros paises, deve ser outro grande projeto-do Legislador Politico, unindo- Ihe também ocuidado de se- _gurar-Ihes com a mais extenss navegagao 0 seu eomércio,na Europa, ‘por meio da Metrépole e, as outras partes do mundo, por meio-de ‘outros dominios que a nossa Real Coroa possui.” Nesse intuito, mandava pedir aos governadores das capi- tanias relatérios sobre os processos empregadas mo preparo € cultivo dos géneros exportiveis:* ordenava que se procedessem {4 “A rend outro pertaguts mais de que 2 D. Rodrigo de Souza Coutinha deve © Beat tantorcsidados « inichtvas des” (Mendonsa, Marcos Carneiro de. O Zntendente Cli, Sto Proc Compass Editora Nacional, 1958. p.193) “7D. Rodcign de Soaza Coutinho. Sisters Polite que mais comm que w me cro abrace para a conserve des sews vests domes periclarmente ds ala Amica (1798) (apa Memdonga, Marcon Carreira de, op. ct, 1988, p284).D. Radigo de ‘Seaza Coutinho jlgavs mais vantajoso desenvover a apicltur do que a indi tis no Bra: “que artes pode o Brasil desjar por muitos séculos, quando 5 uss ‘mias de cao, dinenite, ec, at uae mate €arvceedos para madera de coer (Gn sine Ht caierates «qc ml podem epaeetcarsel esis aon, « Cecan, aft 0 Sndigo, 0 arroz,o linko cinkamo, a cares slgadss ee, ¢ 25 ‘novas cultures de canla, do crv da India, da noe moscuta, ds Srvore-pso the [Procter justament, coon a extemsSo dss mavegeeSo, uma senda muito supe fine a0 que jamie poderism opera das manfaturas « ates que mito meas een ‘oat, por wa poliics bem entrada, poser tras da Metsopoe?” (p85) 48 Em um oficio de Antonie Mamuel de Meio Casto e Mendooga para D. Rodrigo ‘de Souza Costinho,datado de 8 de janerw de 1880, comtenicans © povermator da (Copitscis de Sto Paulo que extava providencando 0 resteis sobre 0s process. ‘emprcgndos na lavours (Decurtents Ineressants, 29, p-142), tarefs que Ibe pareca cheia de difculdades dads a varedade de condites locas © mitodos touidos € a “necessdade de repetidas andlises e um maduro exame comparative | interioriagio da metnipole-¢ eotos estaden 57 a levantamentos de plantas nativas a serem remetidas para 0 Reino® eas exploragdes mineralégicas;* prometia prémios aos Javradores mais industriosos;*! tratava de promover a introdu- ‘sa0 do arado* e a cultura de noves géneros.” Ordenava medidas os principio.” (v.29, p46). Ver também a8 “Relates sobre © estado erm (que se acha a agricultura na Captania de Sto Paulo” (0788), do marechal Tost ‘Avouche de Toledo Rendon (44, p95), 49 Ofcios de AntOnio Manuel de Melo Casto Mendoogs: de 24 de janeiro de 180 (Documentos Interezanis, 29, 7.16%; 30, pS}, ofcia de 19 de apm de 1797 (29, ph; eficio de 16 de agott de 1738, em que comics haver endenado 205 ‘apities mores que Ihe remetessem amosiras de todos os produtos naturais € ‘barreiros salgadon de capitania (X29, p75]: oficio de Antnia fost da Franca € Horta, ordensndo-» Martim Francisco Ribeiro de Andrads que proridencisse a ‘emenss de plantas nativas oa “bras” do iaterior ou da “sarnh’ ce Santon, 4 de maio de 1805 (v.35, p82); resposts a outro avito de 8 We jancize de 1804, ‘ordenando as remessas das sersentes para reno (¥57, p95) ee. 50 Ofcios de Antonio Manuel de Melo Castro e Mendonca pars D. Rodrigo de ‘Soura Coutinho: de 19 de agosto de 1797 sobre a vinda de Jodo Manso Pereira (Documentos Intresantes, 29, 7-8); ofa de 20 de nomemnbeo de 1797 (2%, AD; de 16 de agosto de 1798 (029, 65); carta do wice-rei Conde de Resende pts Anténio Manuel de Melo Castro e Mendon datads de 31 de outubro de 1797, sobre vinds de Joho Manso Perera pars 2 capitania de Sto Panlo (38, p.194-5); Anoio Jost da Franca e Horta comunicindo 2 Martin Frandico urs swviso régio de 24 de dezembro de 1810 patindo pars que rmctete 30 gahinete ‘minershica-do Arsenal Real da Cote do Rio de Facto “odes os mineras que sc puderem descobrir nessa captanis” (59, 98-9); licenga para o inglés Jorge alles pevcorrer a capitania “para pesquisar objetos de minerslogia em que & verde’ datada de 7 de feverin de 1822 (36, p52). 51 Ofie de Antonio foe da Franca'e Mora para captaa-mor da citade de Sto Paulo, datado de 9 de outubro de 1810 (Documentos Intretanis, 59, pl 10). \er também a "Membr aprescatada ao gavernador de S30 Prulo Anténio Jose 44s Francs e Horta peo seu antecevor Anttnio Manuel de Melo Castro © Men ons, 2 28 de dezembro de 82" (844, p42) oc. | Ofio de Antonio Manuel de Melo Castro-¢ Mendoogs para D.Radign de Sout Coutinho sobre a ditculdides para a introduo do arado- pa capitania de So Paulo, RHE, v1, 1849, p26%; DecumentrInirestntes, v23, p23; «29, pl dds 38, p28 WAR, pase 191. 58 Offcio de 20 de noverbro de 1797 sdbre as kroees da quis (Dict nirs ‘antes, "29, pA2);ofcio de 20 de sbrl de 1798 incentivndo a products de ‘avinha de mandiocs ma vis prices 20 mara fim de serem expoetadat ps © SS Maria Ouila Leite da Siva Dias para aumentar o comércio interno e 0 de exportagao incentivan- do, por exemplo, a produgio da farinha de mandioca para ser enviada 4 metrépole,** ou concedendo, mais tarde, em 1810, li- ‘cenga para comerciantes ingleses se estabelecerem em Santos ¢ Siio Sebastido, a fim de dar novo impulso @ exportarao de todo 0 sginero de mantimentos de que certamente hé de resultar para os lavradores grande interesse pela diferenca de preyos, porque The iio de pagar 0 milho, feijao, arroz, farinhas, azeites de mamona, amen- doim, toucinhos, earnes de porco etc. ‘A melhoria da produgao subentendia uma politica de ilus- tragao e de incentivo a0 progresso. A tipografia do Arco do Cega foi fundada em 1798 com a finalidade de divulgar conhecimen- tos de ciéncias naturais e de apricultura,** uma vez que raza0, ‘reine, principslmente em Paranagud de onde era enviada para Baia (x29 5); lca de 16 de jancre-de 1800 sobre as dicubdades de promower 2 caltura Ge linho-cinhamno em Paranagad ¢ Curitiba (429, pt4S-e 156) “memisia sobee 1 plantacbo e cultura da chi e sua peepurapao até fiar em estado de entrar £0 ‘comércio" pelo marechal José Aroushe de Toledo Rendon, excita em Sie Psu 1,7 de sctembro de 1833 (129, 6%; «48, 7219); meméia do mesmo autor sobre a"extragdo do auete 4 semente do chi” (yt, p42}; cata do vice-e (Conde de Resende para Antfnio Manoel de Melo Castro € Mendooga, datada de 16 de sctembro de 1798, sobre a convenbtncia de se tenar acimataz 0 cinhamo cm Sto Patio por set “io neessico 20 consumo da Marinha Reale Mewante de SUM= (29, p28-9 © p.lei-t, “am das vantagens que se recashecem pela reciprocsdade do comércio nacional e mertalizacto de sua dependéncia para com os estrangetos “54 Ofcio de 20 de abril de 1798 wbee as peovidéncist para 0 incentive da prodoxio ds farinha de mandiocs nat vite do tora i fm de sex exporiada para © eeino {Documentos Interesentes, 29, pA 30, 7.122 ~ Ofek de 15 de decerbro de 101). S$ Oficio de Antinko Jost da Franca e Horta para © capitdormor davis de S80 Paso datado de 9 de eatsbro de 1810 (Documentos Irena ¥5%, p10). Si Fre Weloos, encaregado de diigo trabalhos dessa editor, fol morar em casa ‘do Coote de Linhares (Lagos, Manacl Ferseira. iograia de fei fost Mariano ‘Conceige Veloso. RIHGB, x2, 1840, 7603). A interiorizacto da metrépole ¢ autros tudes 59 natureza e pritica deveriam compor forgas para 0 bem da socie- dade. Dai a publicagao de uma série de tradugdes ¢ tratados so- bre a cana-de-acticar, o algodio, as bebidas “alimentosas", as es- peciarias da India e as novas técnicas agrétias, que formaram os ‘onze volumes do Fazendeiro do Brasil” os quais eram sistemati- ‘camente enviados por D. Rodrigo a fim de seem distribuidos entre 0s lavradores dos confins do sertio da colénia. Bem ilustrativa do animo desse ministro foi uma sua carta a D, Fernando José de Portugal, datada de 5 de outubro de 1795, em que recomendava: “Veloso € outros naturalistas que viajam por ordem de S. MI agradecendo de antemao toda atencao que Ihes pudesse proporcionar; referia-se aos modelos descritos no Fazendeiro do Brasil a serem utilizados para as inovagaes nas for- nalhas dos engenhos ¢ lembrava ainda outros livros ¢ impressos que Ihes vinha remetendo com modelos para arados etc.* Data SF Faconkire do Brest mlhorado a Beomoeis Rural ds Gboeresjé Calvados, e de utes que se podem radi; e as fibres que Ie a pips, segundo mahor |que se der crite ete assume, eligi de memnriasesrangeras, pot frei Jost ‘Mariano da Conceigbo Vetoso,Lishoa 1798-1806, em onze volumes sobre a ‘ultra fico da cana, 2 tinturaria eo india «cuhara do eatiro« cing da preocupando-se, sobretuda, com # ordem, ¢ lutando para manter a tunidade do pais e um executivo forte, Alguns terdo em sua earreira de homens pablicos a obses- sao da conduta puramente prética ou “téenica’, procurando es- quivar-se do “emaranhado" do jogo potitica e evitando em seis ddiscursos as abstracDes filos6ficas. Foi o- caso de Ferreira da Cé- ‘mara, 0 qual, como deputado, haveria de preocupar-se estrita- ‘mente em fomentar o progresso “técnico” e clentifico ¢ em zelar pela conservagio ¢ boa aplicagie dos recursos ‘minerais e vegetais do Brasil 0 fendmeno moderado de nossa Independencia, par- cialmente explicado pelas circunstancias politicas externas que trouxeram para o Brasil a Corte e 0 arcabougo administrativa da metrépote, também parece ter raizes na mentalidade dessssinte- Jectusis priticos ¢ homens de agio que imprimiram, na historia

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