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POURDEY , Plone A tderhaeds ¢ 0 nupanente coe FlemerTos prra were sagtox ke ULE pols 3 SS At epee. pinned ies. wack Bw, oe te poo ve pe AAR. ig 4X 1P2_ CAPITULO V A identidade e a representacao Elementos para uma reflexiio critica ‘sobre a ideia de regido 'A intengéo de submeter os instrumentos de uso mais ‘comum nas ciéncias sociais a uma critica epistemolégica alicercada na bistéria social da sua ginese ¢ da ragao encontra 20 fo particular’, Com efeito, es que vissem nest to de tomar para objecto os ramentos de construgio do objecto, de fazer a histéria social das categorias de pensamento do mundo social, espécie de desvio perverso da intencio cient objectar que a certeza em nome da qual eles ‘conhecimento da «realidade> em relacio a0 conhec | Bste texto € o resultado de um trabalho empreendido, com 0 apoio lum grupo composto por economistas, etn6logos, 'S6 um conjunco de escudos de caso orientados das representa- logos, 0 campo social no seu con) ada pelos movimentos regionalis ressuposcos, mais ou menos sm cada um dos usos do conceito. E por isso que, a estes se juneatio mais tarde @ de Rémi Ponton sobre os romancisas ‘evolucio da temética dos romances regionais (em do sistema escola) € 0 de ‘na produgio picrérica em Ilia ‘do Renascimento. {Este sltimo estudo seri publicado em versio aguesa na obra incitulada A Mivo-bistiria de C. Ginzburg, que sisi na ccolecgio Meméria © Sociedade} 108 A IDEIA DE REGIAO instrumentos de conhecimento nunca é, indubitavelmente, Pouco fundamentada como no caso de uma «ealidade» e, sendo em primeiro lugar, representacao, depende tio profanda. mente do conhecimento e do reconhecimento. As lutas pelo poder de di-visdo Primeira observagio: a regido € 0 que esté em jogo como objecto de lutas entre os cientistas, no s6 gedgrafos é claro, que, por terem que ver com o espaco, aspitam 20 monopélio da definigéo legitima, mas também riadores, etndlogos ¢, sobretudo desde que existe uma politica de «tegionalizacio. € movimentos «regionalistas», economistas € socidlogos. Basta~ 4 um exemplo, colhido dos prestar homenagem aos gedgrafos, eles foram os primeitos a interessarem-se pela economia regional. Por vezes mesmo eles tendem a reivindicé-la como uma coutada». A este respeito, escreve Maurice Le Lannou: «Admito que deixemos ao cuidado do socidlogo © do economista a descoberta das regras gerais — se as hi — a partir do comporcamento das sociedades humanas ¢ do mecanismo das produces ¢ das trocas. A nés, Pettence-nos o concreto presente e diversificado que é a manta de retalhos multicolor das economias regionais(...). Os inqué- ritos tegionais dos gedgrafos apresentam-se frequentemente como estudos extremamente minuciosos, extremamente apro- fundados de um espaco determinado. Em geral, estes trabalhos tém 0 aspecto de monografias descritivas de pequenas regioes; a sua multiplicidade, a abundancia dos potmenores impedem que se compreendam os grandes fenémenos que levam 20 Progresso ou ao declinio das regides consideradas. Dé-se igual. mente demasiaca importincia aos feadmenos fisicos, como s¢ 0 Estado ao interviesse, como se os movimentos de capitais ou as decisées dos grupos nio ptoduzissem efeitos. O geégrafo prende-se talvez demasiado ao que se vé, enquanto 0 economis- fa se deve prender ao que se no vé, O geégrafo limita-se frequentemente & anilise do contetido do espaco; ele otha muito Pouco para além das fronteiras politicas ou administrativas da CAPITULO V 109) regio. Daqui, a tendéncia que ele cem para tratar a economia de uma regido como uma entidade em que as relacdes internas siio preponderantes. Para o economista, pelo contririo, a regio seria tribucéria de outros espacos, tanto no que diz respeito aos seus aprovisionamentos como no que diz. respeito aos seus escoamentos; a narureza dos fluxos e a importancia quantitativa desces, por acentuarem a ineerdependéncia das regibes, seria uum aspecto a privilegiar. Se o gedgrafo considera a localizagio das actividades numa regio como um fenémeno espontineo € comandado pelo meio natural, 0 economist inroduz nos seus estudos um instrument de andlise particular — 0 custo» ?, Este texto, que merecia ser citado mais longamente ainda, mostra bem que a relacio propriamente cientifica entre as duas cigncias tem as suas raizes na relagao social entre as duas disciplinas ¢ 0s seus tepresencantes*. Com efeito, na luta para anexar uma regitio do espago ciemific j& ocupada pela geografia, 0 economista — que reconhece aquela o mérito de pri ocupante — designa de modo inseparivel os estratégias cientificas do ge6grafo (a sua tendé smo» e a sua inclinacao para aceitar o deter «geogeifico») e os Fundamentos sociais dlestas esrat feito por meio das qualidades e dos limites que ‘geogtafia e que sao claramente reconbecidos pelo porta-vor desta disciplina dominada e dada a contentar-se «modestamente» jo que Ihe € concedido, a isolar-se na regiio que as mais «ambiciosas», sociologia e economia, Ihe dio izet, © pequeno, o particular, 0 concreto, 0 \icia, 0 pormenor, a monografia, a descricio — por oposigdo a0 grande, ao geral, ao abseracto, & teoria, etc. Assim, por um efeito que caractetiza, de modo PR. Gendarme, Llenalse éonomique rigionale, Pacis, Cujas, 1976, Pp. 12-13 (€ M. Le Lannou, La Gérgraphie Humaine, Pacis, Flammarion, 1949, p. 244), 3 Sabe-se que os geéagrafos da hierarquia social (medida po professores) das ‘let fem niveis mais altos do que as faculdades de Lecrss nesta hierarquia, 0 A IDEIA DE REGIAO Proprio, as relacdes de (mal)conhecimento* e de reconhecimen- to, os defensores da identidade dominada aceitam, quase sem pre tacitamente, por vezes explicitamente, os principios de identificagio de que a sua identidade & produto. Outra observacéo importante: esta luta pela autoridade cientifica € menos auténoma do que querem crer os que nela se acham envolvidos ¢ verificar-se-ia facilmente que as grandes etapas da concorréncia entre as disciplinas a respeito da nogio cotrespondem, através de diferentes mediacées — entre as quais 0s contratos de pesquisa no sio das menos importantes — a momentos da politica governamental em matéria de € reduz 0 ‘interesse por » obedece a procura da maximizagéo do ganho simbélico. 14 A IDEIA DE REGIAO em voltada para a privica (e desprovida de uma ciéncia verdadeita quer da ciéncia quer cia). Nao ha vida de que a classe. Mas a incapacidade di ‘que o primado das relagie 1cdes vidveis» ou para pr £. G. Haupt, M. Lowey, ual, Patis, Maspero, 1974) Cc, Weill, pparecem depender reger ¢ de dirig 124 A IDEIA DE REGIAO Dominagio simbilica ¢ lutas regionais ismo) & apenas um caso lutas propriamente siml estio envolvidos quer individualmente ¢ em estado de dis, Si0, quer colectivamente ¢ em estado de organizacio, e em qs estd em jogo a conservagio ou a transformacio das relacoes de forgas simbélicas e das vaneagens corteacivas, tanto cconbrcs ou, se se prefere, a conservacio ou a trans. as de formagio dos Pregos materiais ou simbéli- 08 ligados as manifeseacées simbilicas (objectivas ou iran nais da identidade social. Nesta luta pelos 1 ios de eal $0 legitima, os agentes empenham interesses poderosos, vitais Por vezes, a medida em que é valor da peston enguanto tedugda socilmente 4 sue entade social que ext em Quando os dominados nas relacoes de ic entra na ut em ead solo, come cae ae Sas da vida quotidiana, no tém outra escolha a nio ser # de aceitagao (resignada om provocante, submissa ou revoltada) da dfinicio dominante desu idemtidade ou da bosch da ile ¢40 a qual supde um trabalho qu: lesapar Sinais destinados a lembrar o egg foo ern (Ou 8 @, a luta colectiva pela ul s icas — que tem em vista no a supressio das caracteristicas estigmatizadas mas a destrui, $40 da tibua dos valores que as constieui como estigmas — * Sabe-se que os it classificagio todo 0 sew ser social detes os 608 stapes invest ais Tuas de tudo 0 que define a ideia que eles rémm Io qual ae CAPITULO V 125 que procura impor senio novos principios de , pelo menos uma inversio dos sinais atribuidos as classes produzidas segundo os antigos principios, € um esforgo pela autonomia, entendida como poder de definis os principios de defini¢éo do mundo social em conformidade com os seus préptios interesses (nomos, a partitha legal, a atribuigio legal, a lei, liga-se a nemo, partilhar segundo a lei). O que esti nela em jogo é 0 poder de se aproptiar, se nao de todas as vantagens simbdlicas associadas a posse de uma identidade legitima, quer dizer, suscep ser publicamente e oficialmente afirmada e reconhecida (identi- dade nacional), pelo menos as vantagens negativas implicadas no facto de jé se nfo estar sujeito a ser-se avaliado ou a avaliar-se (pondo-se & prova na vergonha ou na timidez ou ‘procurando acabar com o velho homem mediante um esforco incessante de correega0) em funcao dos critérios mais desfavori- veis. {A revolucio simbélica contra a dominacdo simbélica € os efeitos de intimidacao que ela exerce tem em jogo no, como se diz, a conquista ou a reconquista de uma identidade, mas a reapropriagao colectiva deste poder sobre os principios de construcao € de avaliacio da sua propria identidade de que 0 dominado abdica em proveito do dominante enquanto aceita ser negado ou negar-se (e negar os que, entre 0s seus, io querem ou no podem negar-se) para se fazer reconhecer”! rma produz a revolta contra o estigma, que comeca pela reivindicagio publica do estigma, consticufdo assim em ou menos toralmente) estigmatizacio. E, com ¢ nao sé as suas determinantes icas mas também os seus fundamentos econémicos e principios de unificagéo do grupo e pontos de apoio ivos da accio de mobilizagio. Os que julgam poder condenar 0 sionismo ao condenarem o racismo esquecem que Esta alternativa impSe-se também aos membros das classes domina- das, na medida em que a dominagio econémica € acompannada quase inevitavelmente de uma dominacio. simbslice, 126 A IDEIA DE REGIAO sionismo é, na sua origem, o produto histérico do também que, como mostram, por exemplo, politica que tém em vista reconhecer a

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