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BITCOIN E BLOCKCHAIN : APLICAÇÕES ALÉM DA MOEDA VIRTUAL.

Área Temática: 11. INOVAÇÃO E PROPRIEDADE INTELECTUAL

Joao Guilherme de Miranda Lyra


joaolyra@id.uff.br

Marcelo Jasmim Meiriño


marcelomeirino@gmail.com

No Brasil, poucos conhecem a moeda virtual Bitcoin, como ela surgiu , os impactos deste novo
modelo e como são realizadas as trocas comerciais. Nosso artigo não se restringirá a criptomoeda
Bitcoin mas também a tecnologia subjacente, o Blockchain e suas aplicações. A plataforma
Blockchain possibilita operações transparentes, sem necessidades de intermediários, com base em
confiança distribuída, em uma rede ponto-a-ponto. O objetivo é fomentar a discussão e pesquisa no
meio acadêmico brasileiro sobre o modelo de confiança distribuídas e como irá redesenhar diversas
áreas das empresas e da sociedade. Apresentar as aplicações revolucionárias que já ocorrem no
mundo, que oferecem empoderamento social e ajudar no desenvolvimento sustentável. Este artigo
buscou revisar a literatura sobre os assuntos abordados, citando autores que vêm se destacando no
tema por suas publicações e citações. Também foi explorada fontes além da literatura acadêmica,
pois os temas propostos possuem open-sources, que fomentam a inovação colaborativa e oferecem
constantes aperfeiçoamentos, novas aplicações e abordagens a serem exploradas.

Palavras-chave: Blockchain, Bitcoin, Criptomoeda


1. Introdução
O Bitcoin foi desenvolvido em 2008 e implementado em 3 de janeiro de 2009. O criador do
Bitcoin assina a proposta de Bitcoin pelo pseudônimo Satoshi Nakamoto. Como no mercado
de Bitcoin não é necessário cadastrar sua verdadeira identidade, muitos acreditam que se trata
apenas de um pseudônimo. Há muita especulação sobre a real identidade de Satoshi
Nakamoto e não se pode nem afirmar que é uma pessoa ou um grupo de pessoas.
(ECONOMIST, 2015)

O jornal Newsweek chegou a publicar em sua capa, em 2014, a descoberta da identidade de


Satoshi Nakamoto, que seria um físico japonês. Noticia desmentida rapidamente pelo físico.
Em 2015 um australiano, Craig Steven Wright, se apresentou como o possível inventor do
Bitcoin, mas ainda restam dúvidas. A real identidade do criador do Bitcoin continua um
mistério até hoje, mas o artigo não aprofundará no tema por não ser seu foco principal.

O importante é contextualizar o surgimento desta moeda digital, que ocorreu logo após a crise
americana de Subprime de 2008. O texto base do modelo Bitcoin é: “Bitcoin: A Peer-to-Peer
Electronic Cash System”. O artigo de Nakamoto (2008) além de expor as fraquezas dos
“intermediários confiáveis”, os quais toleram percentuais de fraudes no sistema de
pagamentos, critica também os custos das transações financeiras atuais, a demora da
concretização e a necessidade destes intermediários para suas realizações.

Como propostas de melhorias nas realizações financeiras do modelo Bitcoin, Mougayar


(2017) destaca :
 Uma versão puramente peer-to-peer de dinheiro eletrônico, que permite transações
financeiras sem necessidade de instituição financeira.
 Uma terceira parte não é necessário para evitar gastos duplos.
 Criação de uma rede de transações progressiva e criptografando a partir de prova-de-
trabalho, formando registros que não podem ser modificados sem refazer a prova-de-
trabalho.
 As mensagens são transmitidas na rede da melhor forma possível, de forma
minimalista, podendo deixar e voltar a rede conforme necessário.
Embora os temas apresentados estejam aumentando exponencialmente o numero de
publicações nos últimos três anos, ainda há poucas publicações sobre blockchain, bitcoins,
criptomoedas e suas aplicações no idioma português, conforme busca realizada no Portal
CAPES dia 28 de maio de 2017

2. Revisão da Literatura
2.1 Bitcoin
A ideia de moeda digital descentralizada se tornou um desafio que ultrapassou décadas.
Protocolos de e-cash ( dinheiro eletrônico ) anônimos foram criados nos anos 80 e 90 e, já
com uso de criptografia possuíam elevado grau de privacidade, mas os protocolos em grande
parte não conseguiram ganhar força devido à sua dependência de um intermediário. O b-
money, criado por Wei Dai em 1998, foi o pioneiro em introduzir a proposta de resolução de
puzzles (quebra-cabeças) computacionais para um consenso descentralizado. A fragilidade
do b-money estava nos detalhes sobre como o consenso descentralizado poderia ser
implementado. Em 2005, Hal Finney desenvolveu um conceito de “provas reutilizáveis de
trabalho”. Sistema que usava a ideia do b-money juntamente com os enigmas computacionais
de Hashcash criado por Adam Back, e criou o conceito de Cryptocurrency, mas ainda não era
satisfatório quanto ao quesito da saída do processo (backend), o que dificultava o processo de
consenso descentralizado. O principal obstáculo para todas essas moedas pré-Bitcoin eram as
falhas bizantinas, que foram resolvidas somente em partes. (BUTERIN, 2014)

Muito citado nos artigos do tema, a resolução do “Problema dos Generais Bizantinos” na
computação compartilhada se apresenta como um dos principais avanços tecnológicos do
sistema de Bitcoin. Esboçado na Teoria dos Jogos e com aplicação na segurança da
computação, o dilema dos generais bizantinos poderia ser ilustrado próximo a situação: Dois
generais, cada um no topo de uma montanha, que se preparam para um ataque conjunto a seus
inimigos que estão abaixo, no vale que os separam. O ataque ao inimigo deve ser em conjunto
e no mesmo horário. Como os generais poderiam enviar mensageiros informando o horário
sem que eles fossem capturados por seus inimigos? E mesmo se os mensageiros
conseguissem escapar dos inimigos, como os generais saberiam que a mensagem foi
recebida? Seria necessário o envio de outro mensageiro para confirmar o recebimento da
mensagem. Mas mesmo assim sempre ficaria a dúvida se a mensagem de confirmação do

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recebimento foi realmente entregue. Essa ilustração criaria uma infinita necessidade de
confirmações de recebimento de mensagens, e a Teoria dos Jogos ainda é acrescentada ao
dilema a possibilidade de traição de algum dos generais, o que aumenta a insegurança das
transmissões da informação. (KENNARD, 2015). Um ambiente inseguro e traiçoeiro muito
próximo ao que ocorre no compartilhamento de dados nos ambientes de redes atuais.

O sistema Bitcoin criou a solução pratica para as falhas bizantinas que ainda não haviam sido
resolvidas para a computação distribuída. O maior desafio era alcançar um consenso sem uma
autoridade central confiável e a solução de Satoshi Nakamoto, com a aplicação de prova de
trabalho (PoW- Proof of Work), representa um enorme avanço para a computação distribuída
e pode ser aplicada em eleições, loterias, registros de bens e outros. (ANTONOPOULOS,
2016)

E em meios a esse emaranhado revolucionário trazido pelo Bitcoin, vem se destacando a


tecnologia subjacente que é o blockchain.

2.2 Blockchain

Embora a moeda bitcoin seja para alguns uma coisa anárquica, usadas por traficantes,
degenerados, muitos a associam a “internet negra”(dark net). A flutuação selvagem da moeda
também é bastante questionável[?]. Seria injusto não reconhecer o potencial revolucionário
nas relações humanas e a evolução tecnológica que Nakamoto alcançou com sua solução.
Seria ainda mais injusto fechar os olhos para o potencial de aplicações que os blockchains
proporcionam (ECONOMIST, 2015). Essa associação do Bitcoin a criminosos tem um viés
difamatório. Como associar uma moeda virtual a meliantes ignorando o fato que durante
séculos os meliantes sempre usaram as moedas convencionais?

No mesmo artigo a The Economist, conceitua o blockchain como “a máquina da confiança”.


O artigo afirma que seria injusto associá-lo a insegurança e volatilidade dos bitcoins. Os
negócios baseados em blockchains proporcionam confiar em usuários anônimos e em canais
não confiáveis, como a internet.

Para Swan (2015) os novos paradigmas da computação surgem a cada década. Nos anos 70
surgem os mainframes, em 80 os computadores pessoais (Pcs), na década de 90 se populariza
a internet, já no início do século XXI surgem as mídia sociais e dispositivos móveis com
internet. Ao fim, os Blockchains seriam a revolução da década de 2010.

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Mas como funciona o Blockchain?

Zheng (et al, 2016) esclarece que o blockchain é essencialmente um livro razão ou conhecidos
como ledger público no qual todas as transações realizadas são armazenadas em uma cadeia
(ou uma lista). Essa cadeia cresce progressivamente quando as novas transações são
confirmadas. A fim de proteger o blockchain de adulteração em sistemas distribuídos um
mecanismo complicado, mas seguro e baseado em criptografia assimétrica e consenso
distribuído é utilizado para criptografar os registros das transações. A tecnologia de cadeias de
blocos tem essencialmente as características chave como, a descentralização, a resistência, o
anonimato, tolerância a falhas e a auditabilidade, o que permite que uma transação ocorra de
forma descentralizada sem a necessidade de um intermediário central.

Para se entender a radical mudança de paradigma do blockchain é importante entender o


conceito de “consenso descentralizado” e entender que ele quebra o velho paradigma de
conformidade unificada, no qual uma base centralizada valida e controla as transações. Este
modelo retira a entidade central e transfere a todos os usuários o controle e validação para
uma rede peer-to-peer (P2P). (MOUGAYAR, 2017)

Todas as transações de bitcoins são enviadas para os usuários do blockchain, que


contabilizam as operações em seus registro individuais de transações, os ledgers. Esse livro
contábil ao se tornar público e compartilhado se mantém atualizado por meio dos
blockchains. As transações que não forem reconhecidas pelos ledgers dos usuários do bloco
não são validas. (MEIKLEJOHN 4te l, 2016)

Todos os usuários interagem com a rede blockchain através de um nodo no qual um usuário
blockchain está instalado. Um grande número de nodos em toda a rede formam uma rede
descentralizada. Uma vez que um nodo recebe dados de outro nodo, ele verifica a
autenticação dos dados em seus ledger. Em seguida, transmite os dados validados para cada
outro nó conectado a ele. Desta forma, os dados são espalhados por toda a rede. (ZHENG,
ZIBIN, et al., 2016). Tentaremos ilustrar nas figuras abaixo o processo de consenso dos
blockchains de transações validas.

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1- Figura de processo de consenso no blockchain
1- X realiza transação para Y, e a 2- A validação dos nodos gera 3- Quando o bloco se completa
transação sendo aceita pelos nodos, é consenso, que propagam a transação de transações validas , B recebe a
propagada para os outros nodos. até o bloco em formação. transação valida de A.

Fonte: Elaborada pelos autores

Já na hipótese de uma transação invalidada, ao consultar os registro próprios o nodo não


reconhecer a transação, este retorna a transação ao emissor, não propagando uma informação
invalida ao sistema todo. ( ANTONOPOULOS , 2014).

Este ledger público, esta cadeia de blocos com registro imutáveis que é o blockchain,
armazena o histórico de todas as transações já realizadas e validadas na cadeia de blocos. As
transações que se propagam por estas redes estão todas criptografadas, sendo preservadas as
identidades e as chaves de seguranças dos usuários, fato que não ocorre nas atuais transações
de cartões de créditos. Dessa forma, não importa a confiabilidade do usuário e as redes que
recebem as informações de uma transação de bitcoin. O fato mais importante é que as
transações sejam propagadas e validadas entres os nodos do sistema. (ANTONOPOULOS,
2016). Mougayar (2017) ainda ressalta que o maior caminho da transação não é empecilho
para o modelo blockchain, pelo contrário, quanto mais validada e reconhecida a transação,
mais confiável ela será.

Este consenso compartilhado é que descentraliza o sistema e o transforma numa rede ponto a
ponto (P2P). Não há usuários especiais. Todos os computadores conectados ao blockchain
participam da rede e validações do sistema.

O sistema descentralizado evita a duplicidade de pagamentos porém, torna as transações


irreversíveis. Não há como mandar uma mensagem de cancelamento da transação a todos os
nodos, nem interromper a propagação de informações válidas aos blockchains. Uma analogia
ao modelo tradicional de comércio, seria o pagamento errôneo, em notas de dinheiro, a um
taxista. Dificilmente conseguiríamos encontrar o condutor novamente, e mais impossível

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ainda, seria impossibilitar o repasse da nota de dinheiro. A irreversibilidade das operações se
deve ao alto nível de segurança da criptografia do sistema.

As informação no Bitcoin só podem ser compartilhadas de forma pública graças a criptografia


utilizada. A criptografia das transações de bitcoins utilizam o modelo de curvas elípticas,
sendo assimétricas, baseadas em logaritmos discretos, expressado pela adição e multiplicação
nos pontos de uma curva elíptica. Essas funções matemáticas não podem ser derivadas. São
funções que podem produzir novos resultados, mas não voltam ao resultado anterior.
Simplificando a ideia, os cálculos só andam pra frente. (ANTONOPOULOS, 2016)

O modelo utilizado no Bitcoin é a curva secp256k1, estabelecida pelo Instituto Nacional de


Padronização e Tecnologia (NIST). Sendo que, o mod p (módulo de número primo) indica
que essa curva está sobre um campo finito de números primos p , também escrito em formato
latex: [\(\mathbb{F}_p\)], onde p = 2256 – 232 – 29 – 28 – 27 – 26 – 24 – 1, um número
primo muito grande. (ANTONOPOULOS, 2014)

A criptografia do Bitcoin é utilizada para criação dos endereços e senhas dos usuários, para os
códigos das transações e para a formação dos blocos da cadeia. Essas criptografias são
conhecidas como hash.

No sistema Bitcoin, para se gerar um novo bloco e manter a descentralização do sistema é


necessário a resolução de uma prova-de-trabalho. Os nodos que buscam a solução das prova-
de-trabalho para a criação de um novo bloco são conhecidos como mineradores. Para se criar
os blocos há um desafio a ser resolvido pelos mineradores. Se parece com uma corrida, em
que o minerador que consegue aglutinar as transações e resolver o desafio primeiro se torna o
criador de um novo bloco. Esse trabalho é recompensado pelo sistema com bitcoins. Também
é dessa forma que são emitidos os novos bitcoins. Hoje para cada novo bloco descoberto o
minerador recebe 12,5 bitcoins, e taxas sobre as transações no bloco minerado. Esse valor
chegará a zero em 2040, quando os mineradores somente receberão as taxas sobre as
transações. (ANTONOPOULOS, 2014)

Foi citado o modelo Blockchain do Bitcoin e de fato que as informações foram apenas
introdutórias. Para futuras pesquisas do modelo Bitcoin, seus scripts estão disponíveis na
internet, mas de forma esparsa. No site https://bitcoin.org estão os principais códigos para esta
aplicação. Como há ausência de órgão centralizador, os Bitcoins se desenvolvem por
inovação colaborativa, sendo público o aperfeiçoamento do sistema e qualquer programador

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pode contribuir no seu desenvolvimento com sugestões para atualizações de melhorias. As
melhorias aceitas estão disponíveis no site https://github.com/bitcoin/bips .

2.3. Blockchains e aplicações além da moeda virtual

O Blockchain do Bitcoin foi desenvolvido para a validação da moeda digital. Com o


aprofundamento das pesquisas sobre a moeda digital, a tecnologia Blockchain foi separada do
Bitcoin e foi se incorporando as tecnologias já existentes, como criptografia, topologia de rede
e algoritmos de consenso. (ZHANG, 2016).

Hoje existem vários tipos de blockchains - blockchain público, blockchain privado e


blockchain híbrido. Cada tipo tem suas vantagens e desvantagens, permitindo-lhes atender às
necessidades de várias aplicações.

Como diferenciação alguns autores denominam as novas cadeias de blocos de altchain, por
serem blocos alterativos ao Blockchain do Bitcoin. Os autores levantaram alguns blocos que
se diferem do modelo original do Bitcoin para auxílio em novas iniciativas para
aperfeiçoamento de pesquisas futuras.

1. BigChainDB, um sistema de código aberto que 10. Namecoin: é uma tecnologia experimental de código
"oferece possibilidade de blocos privados ou públicos. aberto que melhora a descentralização, a segurança, a
controle descentralizado, imutabilidade e transferência censura, a privacidade e a velocidade de certos
de ativos digitais. (www.bigchaindb.com) componentes da infra-estrutura da Internet, como DNS e
identidades. (https://namecoin.org/)
2. Chain Core, uma plataforma centralizada, voltadas 11. Hyperledger Iroha: um sistema de contabilidade
para modelo bancário atual. Para a emissão e distribuída mais “simples” e modularizado com ênfase no
transferência de ativos financeiros em uma desenvolvimento de aplicações móveis.
infraestrutura de blocos de permissão. (https://www.hyperledger.org)
(https://chain.com/technology/)
3. Corda: uma plataforma distribuída do livro com 12. Hyperledger Sawtooth Lake: um conjunto de
consenso pluggable. Possibilidade diversos tipos de blocos modulares em que a lógica de negócios de
consenso no mesmo ambiente. transações é desacoplada da camada de consenso.
(https://www.corda.net/) (https://www.hyperledger.org)
4. Credits : uma estrutura de desenvolvimento para 13. Symbiont Assembly: um livro distribuído inspirado
construir ledgers distribuídos autorizados. por Apache Kafka. Possibilita troca de ativos.
(https://credits.vision/) (https://symbiont.io)

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5. Domus Tower: projetado para ambientes regulados, 14. Openchain: um sistema de contabilidade distribuída
com capacidade de transmissão mais de 1 milhão de de código aberto para emissão e gerenciamento de ativos
transações por segundo. (http://domustower.com/) digitais. (www.openchain.org)

6. Elements: uma tecnologia de código aberto, de 15. Stellar: uma infra-estrutura de pagamentos
nível de protocolo, para estender a funcionalidade do distribuídos de fonte aberta que fornece servidores
Bitcoin. Proposta de blocos laterais (sidechain) ao RESTful HTTP API que se conectam ao Stellar Core, a
Bitcoin. (https://elementsproject.org) espinha dorsal da rede Stellar. (www.stellar.org)
7. Hyperledger Burrow ( antigo Eris:db): um código 16. Quorum: um ledger distribuído de código aberto e
aberto, tecnologia de nível de protocolo para estender a uma plataforma de contrato inteligente baseada no
funcionalidade do Bitcoin. (www.hyperledger.org) Ethereum. E desenvolvida pelo banco JP Morgan.
(https://www.jpmorgan.com/country/US/EN/Quorum)
8. Ethereum: uma plataforma descentralizada de 17. Multichain: uma plataforma de código aberto,
cadeia de blocos, que executa contratos inteligentes e baseada no blockchain do bitcoin, para transações
buscam outras funcionalidades. (www.ethereum.org) financeiras multi-ativos. (www.multichain.com)

Fonte: Elaborado pelos autores.

A maioria dos blockchains robustos são de código aberto, o que permite a inovação
colaborativa. O código de um blockchain ser aberto não é uma fragilidade e sim uma
característica poderosa pois, quanto mais transparente for seu código, mais forte será todo seu
ecossistema. (MOUGAYAR, 2017)

Ressalta-se que de todos os blockchains levantados nenhum foi desenvolvido na América do


Sul e África. Fato curioso pois, segundo a economista do Banco Mundial, Mariana Dahan
(2016), esta falta de confiança nas entidades tradicionais e controladoras dos sistemas
mundiais de troca são históricos, sendo muitas vezes os próprios controladores dos sistemas
responsáveis pelas crises. O problema seria maior ainda nos países em desenvolvimento,
onde suas instituições regulamentadores e controladoras do mercado são vista com pouca
credibilidade e instáveis por seus usuários. Assim Dahan (2016) vê nos Blockchains uma
enorme evolução, por ser um modelo de confiança compartilhada e descentralizada.

Então, além do Bitcoin, qual outras aplicações se pode vislumbrar com os blockchains?

Mougayar (2016) explica que os blockchains são uma Metatecnologia, porque afeta outras
tecnologias e é feito de diversas delas. Por isso é importante ressaltar que os potenciais das
aplicações dos blockchains se associarão com tecnologias de contratos inteligentes, Internet
das Coisa (IoT) e outras.

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A startup alemã Slock (www.slock.it) oferece um aplicativo usando a plataforma blockchain
Ethereum onde a abertura da porta de apartamentos que foram alugados por prazos
específicos sejam abertas e fechadas automaticamente de acordo com os dados disponível nos
blocos, que possuem a informação do prazo de aluguel do apartamento. No site da empresa
Slock, já se pode ver a mesma aplicação desenvolvida para aluguéis de armários e bicicletas.

Tapscott (2016), no livro Blockchain Revolution, cita bAirbnb uma aplicação distribuída, que
é um conjunto de contratos inteligentes. No bAirbnb a solução é muito parecida com o
modelo Airbnb mas, o que difere é que toda relação entre os proprietários dos apartamentos e
os interessados em aluguéis de imóveis é feita de forma direta, por meio de blockchain. As
informações como fotos, reputação dos usuários, mensagens e os pagamentos são feito sem as
intermediações de terceiros, como é o atual modelo do Airbnb.

Dahan (2016) cita outras soluções que estão sendo desenvolvidas com base na Cadeia de
Blocos em relação a direito de propriedade de terra. Um projeto que está sendo desenvolvido
na Georgia para cadastramento de terras pretende mitigar os problemas que este país possuí
com o modelo atual de registro de propriedade. Vale lembrar que Georgia, como vários
países do leste europeu foi palco de guerras e vive em constante instabilidade política e social.
Um sistema de blocos poderia garantir as reivindicações de posse da terra, pois é um sistema
descentralizado de registro e independente das instabilidades dos órgãos de registros atuais.
Projetos semelhantes também ocorrem na Republica Dominicana.

Na China, país com maior população no mundo e de tamanho continental, alguns projetos de
regionalizações de sistemas financeiros para o fomento das startups são idealizados. Algumas
localidades poderiam ser beneficiadas com a criação desses centros. Mas para Zhu e Zhou
(2016) diversos centros regionais financeiros seriam custoso, de pouca transparência
operacional, e com pouca interface entre os demais centros. Fatores que dificultariam que
essas startups tivessem acesso aos financiamentos.

Para Zhu e Zhoe (2016), a melhor solução para este dilema e para incentivar o
desenvolvimento destas localidades seria a criação de BlockChains. Como é um sistema
descentralizado, com alta confiabilidade, facilidade na liquidez de operação, investidores do
mundo todo poderiam investir nas empresas locais chinesas e se tornar acionistas das
empresas. Pilkington (2016) lembra que, embora o BlockChain não resolva os problemas de

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gestão empresarial, pode diminuí-lo, se adicionado sistemas de votos de acionistas por meios
de blocos. ( apub ZHU, 2016).

A solução defendida por Zhu e Zhoe (2016) é muito parecida com uma bolsa de valores
voltada para investimentos em startups mas sem a burocracia que hoje afeta tantos as
empresas como os investidores para aplicações de recursos transnacionais. A solução seria
uma revolução no desenvolvimento mundial pois proporcionaria uma desconcentração de
investimentos.

Tapscott (2017) discorre em um capítulo de seu livro sobre a influência que os blockchains
podem exercer numa democracia realmente participativa. Eles acreditam que embora a
democracia representativa seja complexa e variada globalmente existe algo em comum, a
cidadania é exercida de forma passiva. Com o modelo de contratos inteligentes mesclados
com os livros-razão realmente públicos, a gestão governamental seria efetivamente
transparente.

As aplicações de blockchains não se restringem somente para o acompanhamento gerencial


do governo, vão mais além. Citam um modelo de votação baseado em cadeia de blocos
fazendo analogia com o modelo de várias urnas em que cada cidadão ganha uma ficha para
escolher onde depositar. No final da eleição, verificadas as urnas com mais fichas, saberíamos
os candidatos eleitos. Além dos benefícios sobre a descentralização das informações
eleitorais, o exercício da cidadania poderia ser realizado em qualquer lugar do mundo, não
sendo necessário justificar seu voto por estar fora do domicílio eleitoral ou distante de alguma
embaixada, como ocorre atualmente no modelo brasileiro. Os autores ainda citam os
aplicativos DEMO, da Universidade de Atenas e o NBV, de uma organização australiana que
já desenvolvem aplicação nestes moldes.(TAPSCOTT, 2017)

Para Dahan (2016), os blockchains contribuirão com o Desenvolvimento Sustentável, por


meio da Internet das Coisas (IoT), conceito que objetiva conectar todas as coisas a uma rede .
Juntando essas ferramentas, seriam garantidas redes distribuídas e descentralizadas de
energia. Comunidades de todo o mundo estão desenvolvendo a eficiência energética. As
novas placas solares serão conectadas em redes de comunicação nas quais as células de
energia solar serão interligadas as casas, de forma autônoma, auto-comunicando medidores
inteligentes com dispositivos elétricos locais trocando informação, elétrons e dinheiro uns

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com os outros. É a antítese do velho modelo centralizado, onde um utilitário público é
confiável para entregar o poder, monitorar e gerenciar o medidor de cada casa, manter o
controle de quanto os clientes usam e, em seguida faturar todos. As concessionárias de
energia pública não terão nenhuma participação econômica nessas transações locais e,
portanto, não poderão monitorar os dados e enviar faturas.

Aplicações sobre direitos autorais já estão bem avançadas e já são comercializadas. A IBM
também já desenvolveu soluções em blockchain para a parte de logística, em parceria com o
WallMart, na China.

Conclusões:
É notável a carência de literatura acadêmica na América do Sul sobre blockchains e suas
aplicabilidades, fato que nos encoraja ainda mais a divulgar e fomentar entre os pesquisadores
brasileiros o potencial desta tecnologia disruptiva.

Poderíamos comparar blockchains com uma locomotiva, a qual só terá funcionalidades


quando construirmos os trilhos. Agora, onde os trilhos nos levarão? Isso depende de nós.

O Bitcoin demostrou um potencial inovador e descentralizado de confiabilidade apresentando


um novo olhar de como são vistas as entidades tradicionais de controle, que por falta de
transparência estão perdendo sua credibilidade.

A plataforma tecnológica de Blockchain vem apresentando inúmeras aplicações, inclusive


para auxílio no desenvolvimento sustentável e emponderamento social. Especialista
acreditam que sua utilidade seja ainda maior em países em desenvolvimento. A instabilidade
politica, econômica, monetária e conflitos constantes são justificativas para que a cadeia de
bloco tenha potencializada suas aplicações nessas regiões

A facilidade de transferência de recurso de forma direta entre as pessoas, sem intermediários,


em nível global, sugere a ruptura do conceito tradicional que conhecemos de trocas de ativos.
Essa tecnologia disruptiva poderá auxiliar o desenvolvimento de startups, desconcentração de

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recursos financeiros, auxílio em registros de propriedades, cumprimentos de contratos
inteligentes, emponderamento social, criação de democracias realmente participativas e nos
auxiliar em muitos de nossos problemas de confiança.

Referencias Bibliográfica:

ANTONOPOULOS, Andreas M. Mastering Bitcoin: unlocking digital cryptocurrencies. " O'Reilly Media,
Inc.", 2014.

BUTERIN, Vitalik et al. A next-generation smart contract and decentralized application platform. white
paper, 2014.

ECONOMIST, T. The trust machine. The Economist, 2015.

GOODMAN, Leah McGrath. The face behind Bitcoin. Newsweek, March, v. 6, p. 2014, 2014.

KENNARD, Fredrick. Thought Experiments: Popular Thought Experiments in Philosophy, Physics,


Ethics, Computer Science & Mathematics. Lulu. com, 2015.

MEIKLEJOHN, Sarah et al. A fistful of bitcoins: characterizing payments among men with no names.
In: Proceedings of the 2013 conference on Internet measurement conference. ACM, 2013. p. 127-140.

MOUGAYAR, William. The Business Blockchain: Promise, Practice, and Application of the Next Internet
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SWAN, Melanie. Blockchain: Blueprint for a new economy. " O'Reilly Media, Inc.", 2015.

TAPSCOTT, Don; TAPSCOTT, Alex. Blockchain revolution. Portfolio Penguin, 2016.

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ZHENG, Zibin et al. Blockchain Challenges and Opportunities: A Survey. 2016.

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