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PROF. AELFO MARQUES LUNA Materiais de Engenharia Elétric Volume I Revisdo das Propriedades dos Materiais Estudo dos Dielétricos MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA VOLUME | PROF. AELFO MARQUES LUNA APRESENTACAQ Desde 1973, quando comesamos @ lecionar a disciplina de "Materiais Elétricos Magnéticos" para os alunos do curso de Engenharia Elétrica da UFPE ¢ da Escola Politécnica, pertencente a extinta FESP, hoje UPE, observamos além da caréncia de obras didéticas em lingua patria sobre o tema considerado, uma certa dificuldade na abordagem dos assuntos pelo fato de estarem dispersos em muitos livros, em publicagdes técnieas, ou ‘em catélogos e artigos apresentados em congressos ou seminatios de engenharia, Assim sendo, em margo de 1979, com © propésito de tentar reunir numa s6 obra todas as informagGes possiveis sobre os materiais usados pela engenharia elétrica, reunimos nossas notas de aula e publicamos o primeiro volume do livro texto "Materiais para Engenharia Elétrica", editado pela Companhia Hidroelétrica do Sdo Francisco- CHESF, empresa na qual, na época, exercia minhas atividades profissionais, concomitante com as de docente, Neste primeiro volume foi apresentado uma introdugdo as propriedades gerais da matéria e um estudo sobre os materiais dielétricos. A idéia original era publicar mais 4 volumes tratando respectivamente do estudo dos materiais condutores, dos semicondutores € dos magnéticos, encerrando 0 quinto volume com uma abordagem sobre os principais problemas da construgao elétrica, Por razies varias esse projeto ficou restrito ao primeiro volume ¢ a elaboragdo de trés apostilas sobre materiais condutores, semicondutores ¢ magnéticos, complementando de forma parcial o nosso projeto inicial. Decorridos mais de 20 anos da nossa primeira tentativa editorial observamos no horizonte nacional a surgimento de poucas obras tratando do tema, além das reedigdes do clissico “Eletrotécnica Geral" do prof. Emnani da Mota Rezende, cita-se entre elas a obra de prof Walfredo Schmidt ("Materiais Elétricos", em dois volumes, publicados pela Edgard Blucher, editados por sina! em 1979) ¢ posteriormente o livro de Deleyr Barbosa Saraiva, "Materiais Elétricos" editado pela Guanabara-2, em 1983. Deste modo constatamos a permanéneia, da falta de um maior oferta de livros didéticos em lingua portuguesa sobre 0 assunto, um pouco atenuada pelas obras anteriormente citadas. Tal constatagéo nos animou, desde 0 ano de 2000, a voltar a trabalhar no projeto de fazer um livro texto mais completo, ou methor dizendo compilar numa obra mais completa ¢ atualizada sobre os materiais usados pela engenharia elétrica, baseado como sempre cm minhas notas de aula e na compilagiio de varios autores conceituados. cujas obras constam na nossa bibliografia Entendemos que o objetivo da disciplina, hoje chamada na UFPE, de "Tecnologia dos Materiais", é de capacitar os alunos no conhecimento das propriedades e das téenicas de processamento dos materiais utilizados pela Engenharia Elétrica, visando subsidiar sua selegio criteriosa , baseada na anélise de suas propriedsides, permitindo assim que se possa ‘aumentar a eficiéncia, a vida Gtil e a confisbilidade das maquinas e equipamentos elétricos, bem como reduzir os seus custos de manufatura ¢ de manutengao, Depreende-se dei a importincia do estudo das propriedades dos materiais, tanto nos seus aspectos qualitatives, quanto quantitativos. A abrangéncia dos assuntos tratados nesta disciplina caractetiza uma abordagem de natureza multidisciplinar, transformando-se numa excelente oportunidade para aplicagao dos conhecimentos de Fisica e Quimica, aprendidos no inicio do curso de engenharia. O conceito de propriedade ¢ percebido nesse trabalho como a “a reagio peculiar que 0 material apresenta quando solicitado por um agente externo”. A modema Ciéncia dos Materiais vé uma importante correlagio entre a estrutura dos materiais ¢ as suas propriedades, prinefpio este que possibilitou um extraordinrio desenvolvimento desta nova ciéncia Neste primeiro volume, nos Capitulos II ¢ IIL, é feito inicialmente uma recapitulagao das principais teorias sobre a estrutura da matéria, bem como sobre as diversas formas de agregago da matéria, Em seguida, nos Capitulos IV a IX, ainda obedecende um eritério de revisio, so abordadas as principais propriedades mecéinicas, térmicas, clétricas, magnéticas dticas € quimicas dos materiais, sendo esta diltima propriedade enfocada mais sob o ponto de vista dos fendmenos de degradago dos materiais, No Capitulo X ¢ realizada uma introdugdo geral ao estudo dos dielétricos, descrevendo as suas principais caracteristicas, tais como os fendmenos de polarizagiio e de perdas.. Nos capitulos XI e XII sfo estudados os materiais dielétricos gasosos, explorando-se com mais detathes 9 seu comportamento condutivo e a sua rigidez dielétrica, quando submetidos a campos elétricos uniformes e no uniformes. A seguir so consideradas as principais propriedades e aplicagbes do ar, nitrogénio, hidrogénio, diéxido de carbono, gases nobres e gases eletronegativos, destacando 0 hexafluoreto de enxotre (SFs). O efeito Corona ¢ as "descargas parciais" so também objeto de uma andlise no Capitulo XII, No Capitulo XIIT_ so examinados os liquidos dielétricos, em particular os éleos isolantes de origem mineral, enumerando as suas principais caracteristicas, aplicagdes , ensaios laboratoriais e os métodos de recuperagio de dleos contaminados. No capitulo XTV também. sio tratados os dleos sintéticos a base de bifenis policlorados (ascareis) e outros dleos resistentes ao fogo, tais como 0s fluidos de silicone, ésteres organicos e outros. No capitulo XV € desenvolvida uma introdugao mais detalhada dos dielétricos sélidos, abordando-se os fendmenos de condutividade e diversos tipos de rigidez dielétrica que se ‘manifestam, em especial a disrupgao de natureza eletrotérmica, onde o fator temperatura & relevante. Nesta Capitulo, ainda ¢ elaborado um estudo minucioso sobre o envelhecimento térmico dos materiais ¢ dos fatores que afetam este processo, culminando com a apresentagao da_classificagdo térmica dos materiais isolantes elétricos, estabelecida pela IEC (Comissao Elétrica Internacional). Encerrando este Capitulo as mais extenso, é feita uma descrigio_analitica dos _fenémenos que ocorrem quando do aquecimento/reftigeragao das méquinas elétricas, destacando a importancia dos dispo de arrefecimento utilizados por elas. ‘Nos capitulos XVI ¢ XVI sdo estudados os polimeros de origem natural ¢ sintética e suas aplicagdes sob a forma de produtos plastics, salientando-se entre eles os silicones. No ‘Capitulo XVIII sao abordados os vernizes, as massas “compund", os betumes e asfaltos ¢ as ceras. Nos Capitulos XIX e XX sio considerados os materiais dielétricos fibrosos (papel e papeldo) as micas. Finalmente nos Capitulos XXIa XXII sio vistos a porcelana e © vidto como materiais diclétricos e suas aplicagdes mais importantes sobre a forma de adores no Capitulo XXIII. E nosso proposito, no Volume If, desenvolver um estudo semelhante sobre os materiais condutores, semicondutores e magneticos, encerrando assim este extenso e multidisciplinar conjunto de informag6es sobre os materiais usados pela engenharia elétrica. Esperamos que este livro texto possa set itl aos nossos alunos de Curso de Engenharia Fleniea, modalidede Fletrotéenica e ficamos na expectativa de receber as criticas ¢ contribuigdes que possam aprimora-lo. Para a elaboragio de um trabalho desta natureza foram despendidas muitas horas de trabalho, muitas vezes noites a dentro, em detrimento de nosso lazer e da companhia de nossa familia, mas que nos proporcionou imenso prazer fo vé-lo concluido, Sem sombra de dividas elaborar um livro técnico é um ideal digno de qualquer sacrificio © nos conforta a certeza de dividir com os nossos leitores os conhecimentos e experiéncias que aqui tentamos transmitir. Fazemos questo de frisar que as figuras e graficos usados neste trabalho tiveram todos eles as suas fontes de origem devidamente indicadas, Por fim queremos dedicar este nosso trabalho a minha querida esposa Vania, que muito no» estimulou e aos nossos preciosos filhos ¢ netos.. Prof. Aelfo Marques Luna emf MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA - PROF. Aelfo Marques Luna - Volume [DICE DOS ASSUNTOS Volume 1 Tem | Assunto Pagina ‘Capitulo 1 Introdugi li Tntroducllo ¢ perspectivas histéricas 7 12 ‘Ciéneia dos Materiais ¢ Engenharia 2 13 ‘Conceito de propriedade 3 1a ‘Criterios de selegto dos materials 7 15 (Classifieagao dos materiais 4 16 [Qualitatividade —e — quantitatividade das, s propriedades 7 Relevincia da metrologia é 18 no Brasil eos orgios 7 19 Cielo dos materia a 1.10 [Recursos ¢ reservas de materials 9 ‘Um exemplo da multiplicidade dos materials no] 12 ‘campo da engenharia el6trica Capitulo HM - Estrutura atémica e Nignsbes| interatémicas 21 Estrutura da matéria- Breve histérico 3 22, ‘A dualidade do elétron 16 23) ‘Caracteristicas importantes das partieulas| 16 subatémicas ‘A tabela periédica de Mendeleyev 7 ‘As ligagées atémicas wo Ligacdes idnicas 19 ‘Ligacies covalentes 19 Ligacdes metilicas 2 Ligacdes secundirias ow fracas 23 Em busea dos tijolos fundamentals da matéria =| 24 Leitura para reflexio > ‘Capitulo III - Estados da matéria 3a [O estado gasoso 28 32 ‘O estado liquide 29 33 ‘O estado sélido 31 33.1 __ [As extruturas eritaiinas 31 33.2 | Estruturas amorfus 32 333 [Bstruturas mistas 33 38 Classificacio dos materiais slides 34 36 ‘Algumas conclusées 36 Capitulo IV - Propriedades mecdnicas ‘Natureza dos esforcos mecinicos B Deformagbes elisticas e plisticas 40 Duetilidade e maleabilida a z Dureza a a5 ‘Outras propriedades 45 Capitulo V - Propriedades termicas EI Escalas termomeétricas e unidades de calor B MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA - PROF. Aelfo Marques Luna - Volume I Capacidade calories e “Transmissio do calor 50 Expansio t€rmica 52. Capitulo VI- Propriedades elétricas Condutividade e resistividade eletrica 5 Bandas de energia nos materials s6lidos 57 ‘Conduglo elétrica em termos das bandas del 60 energia 6a ‘Mobilidade dos elétrons a 65 Resistividade dos metais eo (65.1 | Influéncia da temperatura oS 6.5.2 [Infuénein das impurezas 4 65.3 |Tnfluéneia das deformagbes plisticas a) a ‘Semicondutividade 65. 67, ‘Os materias isolantes (delétricos) 6] 67A___| Capacitincia e constante dielétrics 5 6.7.2 [Rigider delétriea o Capitulo VII - Propriedades magnéticas 7a (Os fendmenos magnéticos 7h 72 Dipolos magnéticos 7 73 ‘Campos magnéticos outros parimetros| 72 magnéticos a ‘NogGes sobre a origem dos fendmenos magnticos a 73 Classifiensfo dos materiais magnéticos 75. ‘Capitulo VIN - Propriedades éticas ar tos basicos, 9 82. Ses da luz com 0s sides aL [8.3 _[Polarizagfo eletrdnica - 2 84 Propriedades ticas dos metals 83 os Propriedades Gtieas dos nto metals 84 8.6 Fendmenos de luminescéncia 35 Lasers 85 Capitulo IX - Propriedades quimieas 3 Reatividade quimica 3 92 ‘Corrosio e degradasio dos materia $8 93. ‘Conceito de corrosio 39 94 Processo de deterioragio por dissolugio quimica 39 95 ‘Oxidacio eletroquimica dos metais 90 96 ‘Oxidagio eletroquimica do ferro em atmosfera[” 92 imida a7 Fendmenos de corrosio galvinien % 98 Prevengo da corrosio 37 9.8.1 | Revestimentos protetores 98, Protesio catédica 9, Uso de inibidores de corrosio 99, vitar a formagio de pares galvinicos 39) ‘Capitulo X- Fstudo dos dielétricos 10.1 | Conceito de dilétrico 102 10.2 |Dieiétrico Ideal versus dielétrico real 103. ‘Mecanismos de polarizaeio nos dielétrisos 104 Perdas nos materiais dielétricos 107, Propriedades higroseépicas Wos materinis 110) Capitulo XI - Propriedades gerals dos gases dielétricos u a 9 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA - PROF, Aelfo Marques Luna - Volume | Til [ Coniideragies init Tia 11.2 {Os gases dielétricos its ;3 | Condatividade dos aaea 5 11.4 | Pera dilétrieas nos goer HT 115 | Disrupedoelétrica dos gases 118 ‘Capitulo XI1 = Dieléricos gatosos suas apliengbes 121 | Vantagens da téeniea de isolasio gatosa 1 2 | studo do ar 127 12.3 | Beito corona 128 124 [Descargas incompleias 131 125 | Descargas parcials 131 12.6 [Estado do nitrogénio 133 [13:7 —T Gis earbinieo 133 12.8 | Estudo do hidrogénio 133 12.9 | Estudo dos gases nobres 134 12.10 | Estudo dos guseseletronegativos 138 1.11 | Estudo do SF, e suas aplicaSes 135 12:12 [Outros gases eletronegatives 138 (Como aconteceoefeito pelicalar 139 Capitulo XIII = Liquidosdielétricos ‘Comportamento-dosliguldos dieléricor ia Condlutvidade das dielétricoslquides tai Rigiderdielétricn dos guidosisolantes 143 Gteo nineral derivado do petréleo 148 Propriedades dos dleos minerais isolantes: 146 Garacteristinsfisieas 146 (Caracteristcaselétricas 146 (Caracteristieas quimicas 17 ‘Campos de aplicagSes dos deosisolantes 148 ‘Anilise do éleo mineral isolante 150 Ensaio de rigider\ dilérica 1S “Teor de dgwa 153 “Teor de acidez ou indice de neutralizagio 153 “Tensto interfacial 153 Fator de poténcia 154 ‘Andlise cromatografica dos gases disolvidos 155 Gases permanentss 158 Métodos « equipameator usados para realizar a] ~~ 157 andlisecromatografica Recuperagio dos eos mineriasisvlantes 57 “Técnicas de revondiclonamento 158 “Féenieas de regeneracio 159 ‘Capitulo XIV = Geos sinticos stu dos ascares : 1a Processo de obtengso do ascarel 163 Propriedades do ascarel 163 Aplicagdeseletrotéenicas do ascarel 164 ‘Outras aplcasées do ascarel 168 O acidente de Yusho, no Japio 166 Interdisfo descarte do asearel no Brasil 166 Fluidos de silicone 167 [Outros liquidos dieldricosresistentes no fogo 166 Esteres orginicos 169 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA - PROF. Aelfo Marques Luna - Volume 1 143.3 [Novos liquidos resistentes a0 fogo 170 ‘Capitulo XV = Dielétricos silidos isa Estudo da condutividade dos dielétricas sdlidos 17 15.2 | Estudo da rigidez dielétriea dos s6lidos 173 152.1 [Fatores que influenciam a variaglo da rigidez| 174 dielétrien dos s6lidos 15.22 | Tipos de disrupgio dielétriea dos sélidos 175 153 |Rnvelhecimento térmico 178 153.1 [Lei de Montsinger 178 1532 [Lei de Dakin 179 154 |Classificagio térmica dos materials Weolantes| 181 létricos. TSS |[Fatores “que afetam 0 envelhecimento dos] 183 materinis isolantes 156 | Mecanismos de aquecimento/refrigeraglo das| 184 smquinas elétricas Refrigerasdo direta__ de enrolamentos de] 188 hidrogeradores Capitulo XVI - Polimeras 16a Introdugio Dr 162 [Os hidrocarbonetos 192 16.3 Moléculas poliméricas 192 164 | Processos de obtenco dos polimeros 193 16.4.1 |Polimerizagio por adigao 194 16.4.2 | Polimerizacio por condensagio 195 16.5 |Estrutura molecular dos polimeros 197 16.6 | Comportamento térmico dos pe 199 168 | Polimeros naturais 199 16.9 | Pollmeros sintéticos 201 16.9.1 | Pollmeros termoplisticos 201 16.9.2 | Polimeros termoestaveis 204 16.11 | Elastmeros ou borrachas 205 16.111 [Principals tipos de elastémeros 207 16.2 |Modalidades de aplicagies dos polimeros 208, ‘Uma reflexto ecolégica 208 ‘Capitulo XVII - Plisticose silicones Td Definigées e composigUes dos plisticos 2 17.2 | Obtengio industrial dos produtos plisticos 212 17.3 [ Aplicagdes dos materials plisticos 215 17.4 [Siticones 215 17.5 | Propriedades gerais dos silicones 216 17.6 | Processos de obten¢do dos silicones 217, 17.7 | Diferentes tipos de silicones 219 ‘Capitulo XVIII ~ Vernizes, miassas “compound”, betumes/asfaltos e ceras 18.1 [Os vernizes aE 18.1.1 | ClassificagSes dos vernizes 223, 18.1.2 | Cuidados na aplicasto dos veralzes . 226 18.1.3 | Métodos de Impregnacdo 237, 18.2 | Massas ¢" compound” 229 18.3 | Betumes 0 asfaltos 230) 184 |Ceras 231 "Transformadores encapsulados em resina (eecos) _ (Capitulo XIX - Materiais fibrosos Vv < 4 a a a « q q « « < a « q q 4 4 « 4 4 4 4 4 4 q 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 « 4 4 « 4 4 4 4 4 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA - PROF. Aelfo Marques Luna - Volume | 19:1 [Os materials fbrosos Ba 19.2 [Madeira 235, 19.3 |Fapet 35 ‘Um pouco de historia 236, 1a 8 de papéis usados como isolantes 238. 1S, .g5es do papel ~ 239, 19.6 Papelio dielétrico 241 19.7 ras sintéticas 242 Uso de capacitores para corregiio do fator de| 243 poténeia Capitulo XX ~A mica ‘Amica PG Processos de extragio da mica 246. cipais propriedades das micas 246 Produtos micacéos usados pela inddstria elétrica 247 Mica sintética 299 ‘Capitulo XXI - Produiot cerfimicos FIR Porcel 251 21.1.1 | Obtengio da porcelana 252 22 Prineipais propriedades da porcelana 258, 21.3 [Aplicagses eletrotécnicas da porcelana 259 21.4 | Outras variedades de poreclana 260 ‘Capitulo XXII - Estudo do vidro ma ‘O que é 0 vidro 102, 22.2 | Fendmeno de transigio vitrea 262 2.3 Tmportincin da velocidade de resfriamento do} 264 videp 2a.4___ | Tipos de video 266 22,5 Processos de obtengao do vidro 269 22.6 | Propriedades do vidro 270. 22.7 | Aplicagbes eletrotéenicas do vidro 270. 22.8 | Fibras ae vidro 27 Tim poueco da hist6ria do video 213, (Capitulo XXIII - Estudo dos isoladores 2B Estudo dos isoladores usados em linhas de] 275 transmissio ‘Tipos de isoladores Te Nivel de isolamento para as linhas de alta tensto 280, Caracteristicas mecinicas ¢ elétricas dos Isoladores |__281 ‘Correntes de fuga nos isoladores 282 Poluigho nos isoladores 282 Esforgos solicitantes nos isoladores 283, Distribuigdo das tensdes nas cadeias de isoladores 286 Estudo comparativo entre os diversos isoladores 288, Bibliografia consultada Dados biograficos do autor ‘Tabelas de conversio -MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF, AELFO MARQUES LUNA ~ VOL 1 CAPITULOI 1.1 - INTRODUCAO E PERSPECTIVAS HISTORICAS (Os materiais cercam o homem de todos os lados e desempenham um papel crucial na cultura e desenvolvimento da humanidade. Na habitagdo, no transporte, nas vestes, ‘nas comunicagées, no lazer ¢ na alimentaglo, ou seja em cada segmento do uotidiano os materiais influenciam, em grau maior ou menor, a qualidade de vida do homem na ‘Terra. Historicamente a ascensio das civilizagSes no mundo esta estreitamente relacionada com as habilidades do homem de roduzir e manusear os materiais de acordo com as suas necessidades. De fato as civilizagBes mais antigas foram designadas pelo ntvel de conhecimento desenvolvimento dos materiais por elas utilizados. Deste modo a propria histéria Estrutura—* — Propriedades > Desempenho MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF, AELFO MARQUES LUNA ~ VOL I 1.4- CRITERIOS DE SELECAO DOS MATERIAIS critérios nos quais so baseadas as decisbes finais para selegdo adequada 'O primeira de todos é a caracterizacio das condigBes de servigo, a partir das quais € possivel delinear as propriedades requeridas pelo material a ser Utilizado, Somente em raras oportunidades as propriedades de.um material atendem dde forma ideal as condig6es de servigo, onde € entdo necessério buscar uma solugao de compromisso entre as propriedades. Exemplo cldssico envolve a resisténcia mecinica e ductitidade dos materiais:.normalmente, um material que tem alta resisténcia mecénica tem uma limitada ductilidade, Em tal condigdo um razodvel ‘compromisso entre duas ou mais propriedades pode tornar-se necessério. ‘Um segundo critério considera a degradacdo das propriedades que pode ocorrer com o material quando em servio. Exemplo: redugio da resisténcia mecénica como decorréncia de temperaturas elevadas ou de corrosio ambtental Finalmente, um aspecto que provavelmente supera em importincia aos outros ros citados 6 a questdo econémica. Quanto custard o produto final 2 material é ‘encontrado com facilidade na natureza’? E também em quantidades adequadas para atender a demanda comercial ? Seu processamento é complexo ou simples 2. Muitas ‘vezes um material pode ser encontrado com um elenco ideal de propriedades, fentrelanto, 0 seu custo é proibitivo. Mas uma vez. ¢ inevitével adotar uma solugao de compromisso entre os diversos requisites. 1,5-CLASSIFICAGAO DOS MATERIAL Existe uma imensa variedade de materiais e sob o ponto de vista de suas aplicagdes na Engenharia _podem ser classificadas de varios modos. (Os materiais podem ser agrupados segundo o seu estado de agregagto, assim tem-se ‘os materiais no estado gasoso, liquide e sélido. A Ciéncia pesquisa atualmente outros estados de agregagiio dos materiais tais como 0 “plasma” e a “matéria condensada” Os materiais podem ser de origem natural ou sintétiea ¢ também podem ser de natureza inorgdnica ou orgdnica. (Os materiais inorgdnicos compoem a maior parte da crosta teragtre. So encontrados nas rochas ¢ constituidos de metais ¢ seus derivados, 6xi iroxidos, sulfetos, silicatos, cloretos etc. Isto é, pertencem ao denominado reifo Mineral. ncluem ainda ‘compostos de todos elementos, com exceso do carbono cm \ubstincias organicas. ‘Os materiais orgénicos compreendem a grande parte dos produtos renovaveis, pertencentes aos reinos Animal e Vegetal. Todos contém carbono hidrogénio, podendo apresentar também em sua composi¢do atomos de oxigénio, nitrogénio, tenxofte ou fésforo. Um exemplo desses materiais © dos mais antigos é a madeira. ‘Aos materials naturals 0 homem acrescentou uma grands diversidade de outros produtos , destacando-se entre eles os pollmeros sintéticos, cuja caracteristica principal & apresentarem pesos moleculares elevados. Os polimeros so produtos rgdnicos, para os quais a matéria prima principal 0 petréleo. Sn ke OH EOOHHLOO4404048 EVLA MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA - PROF. AELFO MARQUES LUNA ~ VOL 1 1.6- ASPECTOS DE QUALITATIVOSS E QUANTITATIVOS DAS P ROPRIEDADES © conhecimento cientifico de uma propriedade, ou seja, 0 conhecimento cientifico da reapfo que 0 material apresenta quando solicitado por um estimulo extemo, pode ser de natureza qualitativa ou quantitative. © primeiro resulta de representagdes cesqueméticas que ajudam 0 observador a determinar previamente quais as variaveis ue podem ser controladas. Como exemplo considere-se a informagao qualitativa de que a resistividade dos metais condutores aumenta com a temperatura., ou seja, Timita-se a uma descrigdo fendmenolégica da propriedadé e dos fatores nela intervenientes. Por outro lado 0 conhecimento cientifico quantificado , como o préprio nome diz, mede os resultados produzidos pela reago do material ao estimulo cexterno, este também devidamente mensurado. A propriedade € assim caracterizada por um nimero, que & expresso mediante um “sistema de unidades”, bem definido e tuniversalmente aceito, némero este obtido por meio de procedimentos ou processos de medigdo devidamente “normalizados”, os quais parametrizam a ago dos fatores extemos varidveis que podem influenciar a quantificagao do conhecimento. ‘Adotar procedimentos ou processos normalizados significa dizer que as medigSes da propriedade devem obedecer a um conjunto padronizado de operagies © usar instramentos de medi¢do devidamente aferidos. Esses procedimentos assim padronizados constituem a origem das normas. AS normas so acordos documentados que contém especificagdes técnicas ou outros critérios precisos destinades « ser utilizades de forma sistemitica, tanto sob formas de regras, diretrizes ou definicdo de caracteristicas para assegurar que os materiais, produtos, processus e servicos sito aptos para seu emprego adequado e confidvel. ‘A idéia de medir esté intrinsecamente associada as atividades do engenheiro. Pitdgoras, famoso matematico que viveu alguns séculos antes de Cristo, dizia que os “ndmeros regem o mundo”. Lord Kelvin dé também uma mensagem muito importante sobre a quantificagiio dos fendmenos observados pelo homem: “Quando podemos medir alguna cousa de que falamos e podemos expressa-ta em mimeros nds sabemos algo sobre ela; mas quando ndo podemos expressa-ta em ‘mimeras, nosso conhecimento um conkecimento pobre e insuficiente © conhecimento cientifico quantificado das propriedades dos materiaié possibilita seleciona-los de forma correta e adequada, ou seja, permite a escolha criteriosa de materiais de BOA QUALIDADE. Nos dias atuais, de economia globalizada fortemente competitiva valoriza-se muito a “qualidade” dos materiis, entendendo-se como tal esse atributo ou condiggo dos materiis que os distingue de outros e Ihes determina uma ceracteristica peculiar mais valiosa.. Por este conceito acima expresso a qualidade parece ser, a primeira vista, uma idéia Yaga, se 0 processo de sua avaliagao permanecer no campo puramente qualitativo, ou seja, no cxpressar-se quantitativamente por melos de ntimeros, como ¢ recomendado por Lord Kelvin, Pode-se afirmar que a METROLOGIA, consituida pelos sistemas de ur fs tmetricas, reconhecidos universalmente, tais como o Sistema Internacional SI, sistema CGS ete, em conjunto com « NORMALIZACAO, constituida por sta ¥ MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA — VOL 1 pelo conjunto de normas, técnicas intemacionais e nacionais, formam um “continuum” que desdgua na caracterizagio da QUALIDADE. METROLOGIAS—— NORMALIZACAO Zo QUALIDADE, Nao pode haver qualidade sem normalizagéo e esta para sua aplicaglo, depende de mediges com instrumentos aferidos adequadamente ¢ da expressto das grandezas medidas, segundo um sistema metrol6gico universalmente consagrado. Tem-se , portanto, a METROLOGIA como base, a NORMALIZACAO como referers @ QUALIDADE como fim, O nimere que meds, of aeiay 9 niimore etrico, € 0 fundamento de todos 0s conhecimentos cientificas ¢ técnicos e veio transformar a QUALIDADE ~ uma idéia relativamente vaga - em QUANTIDADE, ‘uma idéia precisa. 1.7- RELEVANCIA DA METROLOGIA. E preciso frisar que a metrologia ndo se preocupa tio somente com uso adequado de sistemas de unidades padronizadas © reconhecidas, mas também com a aferigo © calibragio dos instrumentos de medigfo utilizados nos provessos produtivos ¢ comerciais. Para tal mister existe no Brasil uma autarquia federal, vinculada ao Ministério da Indistria , do Comércio ¢ do Turismo, denominada INMETRO ~ Instituto Nacional de Metrologia, Normalizagio ¢ Qualidade Industrial que atua como érezo executive do Conselho Nacional de Metrologia, Normalizagdo ¢ Qualidade Industral ~ CONMETRO, colegiado este que € drgio normative do Sistema Nacional de Metrologia, Normalizacto e Qualidade Industrial - SINMETRO. Esta estrutura fol crlada pelo Governo Federal pela Lei n. 5966 de 11/11/1973, cabendo a0 INMETRO substtuir 0 entdo Instituto Nacional de Pesos e Medidas — INPM e ampliar seu raio de ago a servigo da sociedade brasileira. Historicamente, desde o Primeiro Império, 0 pals preocupou-se com a uniformizagso das medidas brasileiras, que eram na época numerosas e confusas, sendo, portato, causadoras de transtomos comerciais prejutzos financeiros. Mas apenas em 1862, D Pedro TL promulgava a Lei Imperial n. 1137 e com ela oficializava, em todo terrt6rio nacional , o sistema métrico decimal francés, tendo sido o Brasil uma das primeiras nnagBes a adotar 0 novo sistema decimal, que seria paulatinamente utilizado em todo o mundo. Em 1961, com a criag%o do Instituto Nacional de Pesos e Medidas - INPM, jé mencionado anteriormente, foi implantado no pais o Sistema Nacional de Unidades ‘em todo territério nacional. MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA — PROF. AELFO MARQUES LUNA VOL 1 1.8- A NORMALIZACAO NO BRASIL E OS ORGAOS INTERNACIONAIS No Brasil 0 conjunto de Normas Técnicas para as engenharias € coontenado ¢ elaborado pela “Associagao Brasileira de Normnas Técnicas ABNT”. AABNT ¢ uma entidade privada, sem fins lcratives fundada em 1940 e reconhecida bito nacional como intemacional,sendo a epresentante no Brasil da IEC ¢ dais ‘rabalhos de elaboragdo das normas técnicas sto realizados por meio de Comités, Nestes Comités so reunidos diversos profissionais de cada setor especifice, de renomada experineia técnica, ‘A ABNT jé tem no seu acervo mais de 7500 Normas Técnicas, A obedigncia ry as Normas Técnicas é, sem sombra de dividas, o aval mais valionn da engerhewrs Pare sssegurar, tanto a qualidade dos materiais como dos produtos © DAS obras resultant. A nalureza das normas da ABNT pode ser identifcada por mieio das siglas que precedem a sua numeragto: —[Classificagio NB |Procedimento Especificagio PB |Padronizagao Método, SB_|Simbologia Terminologia Convém anotar que nas normas INMETRO (precedido pelas let foi registada na ABNT. Dente os diversos Comités da ABNT, 0 de n.03, trata especificamente dos assuntos relacionados com a érea da Engenharia Elétrica Observa-se que as Normas Técnicas da drea clétrica so fortemente jn hormas européias, especialmente nas normas da Intern ABNT, além do nimero de registro da norma no tras NBR), também consta o ndmero com que a norma rganiza¢do mundial que elabora e publica pezinas internacionais para tudo aquilo que é tratado pela eletrotéenica . eletroniee ¢ do fomentar 0 desenvolvi Conexas no mundo, tendo em vista a facilitagto do comérc as nagdes, bem como desenvolver a cooperagio nos dor tecnico e econdmico, de bens e servigos entre ios intelectual, cientifico, y Ce & MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA — VOL 1 ‘Outros paises possuem também Srgiios de normalizagio que sio influentes no ccontexto internacional, tais como: ANSI- American National Standards Institute. - ASTM- American Society for Testing Materials yor NEC- National Electrical Code eo DIN- Deutsches Institut ftir Normung AFNOR- Association Frangaise de Normalisation ? BSI- British Standards Institute : GOST- Russia VDE- Alemanha * IRAM- Instituto Argentino de Racionalizacion de Materiales CoPanT — MN ALSOR Mer 1,9~CICLO DOS MATERIAIS eect Eusepern. at PIN, (Os materiais consumidos pela humanidade podem se ‘ou seja, poucos so 0s materiais que podem ser usados no seu vasto ciclo de mat X Sho Me makivacin, > Reds jsualizados como fluindo num estado natural ou bruto. Na sua grande maioria eles sio elaborados, ow seja, submetidos a diversos processos de transformagées fisicas © quimicas que 0 ‘conduzem a sua forma final de uso. Assim as diversas etapas do processamento sto: Estado bruto [Sao exiraides da terra por meio de processos de minerago, perfurasio. exploragio et. Exemplos: petréleo, metais. Extragao das arvores nas florestas ete Estado broto intermediario ‘Os materiais 80 convertides em! materiais BASE, ou seja,| beneficiados. (Os metais por processos metalirgicos fo transformados em lingotes; 0 ppetréleo em produtos petroquimicos (afta); em madeira serrada; em ipedras compostas etc. Materiais de engenharia (Os lingotes de metal alumiinio so transformados em fios isolados com [produtos potiméricos derivados do petréleo; @ madeira € transformada| em madeira compensada; os produtos petroquimicos sfo transformados em componentes plisticos etc ‘Urilizagao como produto final Ultimo estégio & a cua utilizagdo nos] cquipamentos, méquinas, dispositivos| etc. -MATERIAIS DE ENGENHARIA FLETRICA ~ PROF, AELFO MARQUES LUNA VOL 1 A capacidade de produgio dos materiais ¢ estreitamente ligada aos recursos naturais © as possibilidades de reciclagem dos residuos. Nos dias atuais a acumulagao de equipamentos ¢ de bens de consumo ¢ acompanhada de um excess0 localizado de ‘materiais usados (sucatas). Apés seu desempenbo a servigo do homem, os matcriais fetomam como sucata ou sob a forma de residuos e percorrem 0 caminho de volta a terra, ou se vidvel penetram no denominado “cielo de reprocessamento”. Exemplos significativos sto exibidos pelo aluminio, ferro, cobre, vidro, papel etc. H, portanto, um sistema global de transformagao regenerative. A recuperagio para os polimeros orgtinicos é mais dificil em face de sua estrutura quimica ser mais complexa Neste ciclo existe uma forte interagdo entre a matéria, a energia envolvida nos rocessos e 0 meio ambiente. matéria ik J enercia MEIO | Avibren ris Po Esses trés elementos nfo podem ser desassociados, particularmente nos dias de hoje quando a qualidade do espago vital & muito questionada pelos ambientalistas.. Muitos dos materiais que usamos sio derivados de fontes niio renovaveis, isto &, de recursos impossiveis de serem regenerados. Nestes incluem-se 05 polimeros, para os quais a matéria prima bisica € 0 petnileo. Estes recursos esto se tomando aradualmente escassos, o que demandaré as seguintes providencias: 4) Descoberta de novas reservas adicionais; b) © desenvolvimento de novos materisis que possuam —propriedades comparéveis, porém apresente impacto ambiental menos adverso; ©) Maiores esforgos de reciclagem e/ou o desenvolvimento de novas teenologias de reciclagem. Como decorréncia desse quadto esté se tomando cada vez mais importante considerar © ciclo de vida dos materiais “desde 0 bergo até o seu timulo”, em relagéo ao seu processo global de fabricacto. Na Fig, 1.3 € apresentado um diagrama descrevendo o ciclo dos matetiais, com as suas maliplas fases de transformagées sucessivas, que vlo da exploragio dos recursos naturais até a formagdo dos residuos. Uma gestio dtima deste ciclo & muito dificil de se realizar na pritica. 1.10 - RECURSOS E RESERVAS DE MATERIAIS Os recursos de um elemento quimico sfo constituldos pela quantidade deste elemento disponivel na crosta terrestre, nos oceanos e na atmosfera e que podem ser extrafdos no futur. Para calcular os recursos de um elemento deve-se ter em conta a sua concentraszo ‘media na crosta terrestre até uma profundidade relativamente baixa, ou seja, 1 km de rofundidade. Esta porgdo limitada da crosta terrestre corresponde a uma massa de MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA - PROF. AELFO MARQUES LUNA ~ VOL cerca de 10 ton. A concentragio media dos elementos quitmicos na crosta terrestre & geralmente muito baixa para que os trabalhos de extragio ¢ obtengdo da maioria dos metais sejam rentéveis, Somente as jazidas, ou seja, somente nas zonas onde a concentragto de um mineral € importante, valem a pena ser exploradas comercialmente. AA parte dos recursos que é atualmente susceptivel de ser explorada economicamente & ) 4 Ee=energia final £ hh =constante de Planck (6,5262 x 10° Js) e v a freqléncia da radiagdo. "Uw'>") ook sale 6 WBF MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA ~ VOL 1 Se E,> E,, 0 dtomo absorverd um féton; se, a0 contrario, E; >Es ele emitiré um fiton. Entretanto, a teoria de Bohr ndo foi capaz de explicar diversos problemas relevantes levantados pelos cientistas. Na verdade Bohr usava os conhecimentos da mecanica clissica de Newton ¢ estes eram insuficientes para esclarece-los, ‘Novas contribuigdes foram sendo propostas e a teoria de Bohr foi modificada com base na mecénica quntica. Entre as novas contribuigdes importantes tais como a proposi¢a0 de Sommerfeld, em 1916, afirmando que os elétrons de um mesmo nivel néo estéo igualmente distanciados do nécleo, porque as érbitas além de circulares podem ser elipticas. Esta abordagem sugere que todos os elétrons de uma mesma camada nfo so iguais. Esses clétrons se subdivide om subsamadas energéticas ou subniveis...Esaes subniveis podcin set de 4 tipos: s, p, de f. Estas designagdes derivam do inglés: s de ‘sharp”; p de “principal”; d de “difuse” e f de “fine”. Nacleo Fig, 2,2 — Represemtagto do étomo de aluminio segundo modelo de Bohr. (Adaptado de Angelo Fernando Padilha ~*Materiais de Engenharia ~ Microestrutura e Propriedades"- Edt, Hemus -SP), As camadas ou niveis eletrOnicos K,L.M... ete, anteriormente citadas, podem também ser identificadas em fungiio do seu numero de ordem (n), a partir do niicleo, conforme indicado abaixo kK oL Oo P @Q nS a=6n=7 Cada capa ¢ limitada a um némero maximo de elétrons dado por 2.n°, onde n é também denominado de NUMERO QUANTICO PRINCIPAL. De acordo com esta restri¢ao sto preenchidas as diversas camadas, até que o tomo alcance o seu niimero total de elétrons. A tabela abaixo mostra a seqiléncia de preenchimento de conformidade com a equagdo 2n”. Cama |S, a Elétrons EK z L 5 M if N 32 o 30 = > 7 g 3 1s 4% MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA ~ VOL 1 Por sua vez o numero maximo de elétrons em cada subnivel ¢ 2, 6, 10 € 14. A representagio mais usada ¢ a segui Syphalle tt No sentido de melhor entender a redistribuigdo de energia nos subniveis das camadas eletronicas uma boa ajuda é prestada pelo PRINCIPIO DA EXCLUSAO DE PAULI, 0 qual postula que cada um destes subestados energéticos nao pode ser ocupado por mais de que dois elétrons, ¢ assim mesmo de “spins” opostos. O conceito de “spin” esté relacionada com 0 movimento de rotagio que 0 elétron tem em tomo de si mame, algm daquele movimento de translagao ao redor da niiclea, Este “spin” gera um momento magnético quéntico denominado de MAGNETO DE BOER e cujo valor € 9,29 x 10° apap.” Dove® 2.2- A DUALIDADE DO ELETRON Mas a revolugdo produzida pela mecénica quantica foi mais além ao ser estabelecido por Louis de Broglie, em 1924 a dualidade sobre a natureza do elétron. De Broglie props que em determinadas circunstincias os elétrons poderiam se comportar ‘como ondas. Assim foi demonstrado experimentalmente que um feixe de elétrons ao atingir a superficie de um cristal apresentava uma difragdo semelhante a uma onda. ‘Ao interpretar esta dualidade onda-particula do elétron Werner Karl Heisenberg formulou 0 principio da ineerteza, segundo 0 qual ndo é possivel determinar com preciso a posigao a quantidade de movimento de um elétron em um étomo.. ‘Assim, na mecénica clissica pode-se falar em raio do tomo, enquanto na mecénica quantica diz-se valor mais provavel do raio, ou seja, esta variavel € tratada em termos de probabilidade. No modelo quiintico, o elétron pode ser visualizado como uma “névoa de eletricidade” ao invés de uma simples particula. Veja a Fig. 2.3. 2.3 - CARACTERISTICAS IMPORTANTES DAS PARTICULAS SUBATOMICAS Observou-se que todos os atomos, com exce¢do do atomo de hidrogénio, possuem uma massa maior do que teriam se fosse levado em conta apenas 0 nimero de prétons de seus nnicleos. Tal observago conduziu a descoberta de outra particula no nicleo, chamada de neutron. Sua descoberta é creditada a James Chadwick, em 1932 Resumindo-se: cada étomo € constituido de um niicleo muito pequeno composto de protons e néutrons, envolvido pelos elétrons. . Os elétrons e prétons tem carga elétrica idéntica, ou scja, de 1,6022 x10" coulomb, mas de sinais opostos. Os néutrons sto eletricamente neutros. Prétons ¢ néutrons tém aproximadamente a mesma massa (1,6725 x 107” kg), a qual € cerca de 1836 vezes maior que a massa do elétron (9,1095 x 10°" kg) wa te eee eee e0e002002028400080808020200808088 "MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOL 1 O niicleo € muito pequeno (107% cm), extraordinariamente denso e carregado positivamente, Em um étomo eletricamente neutro o numero de protons é igual ao némero de elétrons. numero de protons de um tomo identifica 0 elemento quimico ¢ & chamado de numero atémico (representado pela letra Z). Por definig’o 0 numero de massa de um étomo (representaco pela letra A) € a soma das massas de seus prétons e néutrons.. Na realidade é ‘a massa média dos étomos neutros de um elemento e resulta na maioria dos casos de varios isdtopos (étomos com o mesmo numero de prétons, porém com um numero de néutrons diferentes; notar ainda que a palavra is6topo significa isomigual e topo=lugar, ou seja, elementos istopos tém mesmo numero atémico e estio no mesmo lugar na classificagao periddica de Mendcleycy.) Os iséwpos de umn elemento tm as mesmas propriedades quimicas, mas tém massas diferentes. Oraio do nticleo ¢ aproximadamente de 10 a 10 do raio do étomo. Isso leva a cret que a ‘matéria é praticamente um grande vazio. O chio sob os pés de uma pessoa consiste em Atomos que, em mais de 99,9 %, so espagos vazios. Em proporgao ao tamanho de seu niicleo o sistema atmico é to vazio quanto 0 vazio césmico. Outra constante muito importante ¢ o numero de Avogadro (6,020 x 10” )que representa a quantidade de Stomos que hé em um atomo-grama de um elemento. Representa também o ‘numero de moléculas que ha em uma molécula-grama. | i i Iatdncia do ndclect Fig. 23 — Comparago entre © modelo clissico de Bohr (a) © © miodelo quantico (b) em termos de probabilidade. (adapatado de Z.D. Jastrzebsky ~ “The Nature and Properties of Engineering Materials”. Eat John Wiley & Sons- NY -US) 2.4— A TABELA PERIODICA DE MENDELEYEV A tabela periddica dos elementos foi criada por Dimitri Ivanovich Mendeleyev, em 1869. Naquela época eram conhecidos apenas 63 clementos, hoje so conhecidos 107, sendo 92 naturais. O principio bdsico que norteou Mendeleyev foi de que as propriedades dos elementos sto fungdes periddicas de seus nimeros atémicos. 7 -MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOL 1 ‘A grande contribuiglo da tabela periédica dos elementos para a quimica foi a sua capacidade em prever a existéncia de clementos desconhecidos, para os quais Mendeleyev deixou posigoes vagas na sua tabela. Com o auxilio da tabela periddica, o estudo da quimica tornou-se muito sistemético. A orgenizago da tabela esta relacionada com a configuragio eletrénica dos étomos. A seqiiéncia dos elementos é disposta na ordem crescente de seus miimeros al®micos, em linhas horizontais, denominadas “periodos”. Tomou-se 0 cuidado de deixar na mesma coluna, elementos de propriedades quimicas semelhantes, ou seja, os elementos que esto na mesma coluna vertical formam compostos semelhantes. De forma mais deseritiva a tabela periédica de Mendeleyev apresenta-se composta de 7 porfodas, duas séries on familins de terras raras e de dezoite calunas, conforme a Fig. 2.4. Existem ainda duas séries ou familias de terras raras, denominadas de “Lantanideos” ¢ de “Actinideos”. A primeira citada compreende 15 elementos ( La ao Lu). Esses quinze elementos deveriam ficar na terceira casa do sexto periodo, entretanto, por comodidade foram discriminados numa linha fora da tabela. AA segunda série, também com 15 elementos ( Ac ao Lw) deveriam ficar na terceira casa do sétimo periodo, mas costuma-se colocé-los numa linha & parte. Cada uma das dezoito colunas reiine os elementos quimicos que mais se assemelham entre sina formacao de compostos. vara og mans om ye Ne Nites —Mevas-| Moe) NZ PREENCHDAS te] Pelctulol rine) }} ee pis [cifar| }}} "tv [er oan] Fel Colts] cu] z0] “{60/ce| aa) Se [Br [er] ) } +” _[e[i [iol Te [io] Rf | hal Cal 7 (Sn) so| te lt [xe] FP PEE Cal [iel Pe [elf [Ee [un] of [eo [tole fan] PPE ED te i ae == af [or nal m| se €n| co) ro [Oy] to er tm| volte] ) PP Ft T L_—fef et ol al all ssa CIES] ) PPEPLD Fig 2.4~ Tabela Peridica de Mendeleyey 8 aan 2024406004820 020282000408 ‘MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF, AELFO MARQUES LUNA ~ VOL I 2.5- AS LIGACOES ATOMICAS Os tggnos raramente podem ser encontrados isoladamente., com excegio dos gases nobi ralmente 0s tomos tendem a agrupar-se para formar agregados dos quais resultant’ as estruturas dos materiais. O estado de agregacdo pode ser sélido, liquido ou gasoso, dependendo do tipo de direcionalidade e da intensidade das forgas de coesio atémica denominadas de “ligacdes interatmicas”. As forcas de ligagdo interatémica podem ser classificadas segundo sua intensidade em “ligagdes primdrias ou fortes” © “ligagdes secundérias ou fracas”, sendo aquelas dez vezes mais intensas que estas. AS ceeigias de Tigayao primérias sfc da ordem de 100 keal/mol, enquanto aa consideradas fracas envolvem energia de coesto da ordem de 10 keal/mol. As ligages primédrias podem ser de trés tipos: Ligagdo Ionica Ligagao Covatente Ligagdo Metética 2.5.1 -LIGACOES IONICAS A ligagao idnica, também conhecida como eletrovalente, resulta da atragio entre fons positivos e negativos. Os elétrons de valéncia cedidos pelo Stomo ionizado positivamente passam a orbitar na camada de valéncia do atomo ionizado negativamente, formando pélos eletrostiticos de atrag8o coulombiana. Um exemplo tipico de ligagao idnica é 0 da formagao de cristais de cloreto de sédio, o conhecido sal de cozinha. Assim o atomo do sédio que possui um unico elétron na sua camada externa, cede este elétron ao étomo de loro, o qual por sua vez ja continha sete elétrons em sua camada externa. Por meio desta transferéncia, a particula do sédio fica com a camada externa completa € estivel (i ‘camada do ne6nio); a particula de cloro também fica com a camada externa completa (igual & camada de arg6nio). As particulas produzidas por transferéncias de elétrons, tal como descrito, so conhecidas como fons. Veja a Fig. 2.5. As ligagdes iGnicas so caracteristicas nos cristais de sais inorgénicos em geral (cloreto de sédio, cloreto de magnésio, fluoreto de litio etc) € de certos compostos cerdmicos, tais como éxido de aluminio, éxido de magnésio etc. Vale observar que neste tipo de ligag4o hé um comprometimento total de todos elétrons cconstituintes da tiltima camada dos étomos envolvidos na liga. 2.5.2 ~ LIGACOES COVALENTES Na ligacdo covalente, um ou mais elétrons sto compartilhados, entre dois étomos gerando uma forga de atragdo entre os dtomos que participam da ligagdo. Nestas condi¢Ses, seus elétrons de valéncia passam a orbitar indiferentemente nas camadas externas dos tomos envolvidos. Este tipo de ligago é muito comum na maioria das moléculas orgénicas. 19 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF, AELFO MARQUES LUNA ~ VOL 1 Suponha-se, para ilustrar: dois étomos do gis. fliiorcombinam-se por meio de ~AL compartthemento de um par de elérons, confore fig. Or formagdo da molécula do flor. fig i Pig, 2.5 - A transferéncia de clétrons na formapao do NaC! produz camadas extemas estavels. Os fons negatives © positivos que se formam se atracin mutuamente através de forgas coulombianas, constituindo assim as igagGes iGnicas. ( Adaptado de Mauricio Prates de Campos Filho - "A estrutura da materia’ - Editora dda Unicamp - 1991 - SP) Desta maneira cada étomo fica com a sua camada externa composta por oito elétrons, como se fosse 0 gés nednio. Os dois dtomos mantém-se ligados por meio das forgas elétricas envolvidas pelo compartilhamento dos elétrons que pertencem aos otbitais extemos de ambos os tomos. Por esta razfo, a ligagio covalente é uma ligago quimica forte e estavel. Dois atomos de hidrogénio combinam-se de forma similar, assim como 0 oxigénio e nitrogénio (Fig. 2.6). A particula formada pela combinagio de dtomos é chamada de molécula.Esta combinagao pode conter mais de dois dtomos e pode também ser constituida de atomos de elementos distintos. Desta forma a agua ¢ formada pela ligago covalente de dois étomos de hidrogénio e um Atomo de oxigénio A. ligagéo covalente apresenta freqllentemente caracteristicas de direcionalidade preferencial . Em outras palavras, ela geralmente resulta em um determinado angulo de ligaca0, como indicado na Fig. 2.7 que representa a formagdo da molécula de agua. Numa ligago covalente ideal, os pares de elétrons so igualmente compartilhados. Na ligag3o covalente da égua, por exemplo, ocorre uma transferéncia parcial de carga fazendo com que © hidrogénio fique levemente positive ¢ 0 oxigénio levemente negativo. Este 20 2222286024086 2 28 0 0 EEDEGASEALAALALLEDSLLALASEAELLOAD MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA - PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOL I compartithamento desigual resulta numa ligagdo “polar”. Somente nos casos onde os dois Jados da molécula sao idénticos, como no He no No, a ligagdo ¢ totalmente apolar. A ligagfo entre Atomos distintos tem sempre algum grau de polaridade. Nas ligagdes covalentes observa-se também um comprometimento total dos clétrons das iltimas camadas dos atomos envolvidos. bisoad bitoad ota, w 0 © bres ke ® Fig. 26 ~ Arrano esquemético dos elétons da camads mais externa, nas igagSes covalentes para: (2) Oxgini: () Nitrogénio () Hidrogenio;() for () Hidreto de flor. (Adaptada de Lawrence H. Van Vlack ~~Prinetpios de Ciencia ‘dos Materias” - Bat. Edgard Blicher SP, Fig. 2.7 ~ Formagao da motéeuta polar da Sgua por meio da ligaglo covelente (Adaplado de Meurfcio Prates de Campos Fillo esirutura dos Meteriais"- Editora da Unieamp- 1991 ~ SP) ar MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF, AELFO MARQUES LUNA ~ VOL 1 2.5.3~ LIGACOES METALICAS A ligagio metalica resulta da interagio de stomos iguais ou muito similares que apresentam a tendéncia de se ionizar positivamente. Nestas condigdes os étomos perdem seus elétrons de valencia e formam fons positivos, Os elétrons assim liberados, denominados de elétrons livres, formam uma espécie de gas ou nuvem eletrénica ao redor dos fons, criando um aglomerante eletro-magnético que atrai os fons positivos em todas diregdes do espaco, mantendo-os ligados fortemente entre si. Veja a Fig, 2.8. QOL OL OO OLS: TONS CARKEEABOS DOO OOO G.O.o-— RANE $G.0'99:9O:0.0.0. war censors GOGOCOO OG cemeemeawaere Fig. 28 — Representaydo simpliicada da natureca de ligagdo matdica, A nuvem cletrinica funciona como um aglomerante, mantendo os nicleos postivos unidos(Adaptado de R. Higgins ~“Propriedades e Esteuturas dos Materiais ‘ers Engenharia". Diel - SP) Este tipo de ligago & peculiar dos metais, como o préprio nome indica. Os metais tém um, dois ou no maximo trés elétrons de valencia. Estes eléirons fracamente presos ao niicleo rio esto ligados a um iinico étomo, mais esto mais ou menos livres para se movimentar por todo o metal, formando o gis eletrdnico. A Fig, 2.9 ilustra a explicagdo et Fig. 29 — Formagdo da esutura do cristal de sida por meio de uma ligusdo metilicn.(Adaptado de Mauricio Prates de ‘campos Filho "A Estrutura dos Mateviais™ Hit. da Unicamp- SP) 2, q : q 4 « q a q a a q a < < a q a a a « « a « d 4 a 4 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA ~ VOL 1 Os atomos de um metal, assim ligados estio distribuidos de tal maneira, que seus fons se posicionam segundo uma configuragio cristalina regular. Este tipo de ligago interatmica & peculiar dos metais, que constituem cerca de trés quartos dos clementos existentes. Apenas uma oitava parte dos elementos sfo “no metais” (a outra ojtava parte sfo os metaldides). So os elétrons livres, resultantes da ligagdo metalica, que concedem aos metais suas Principais caracteristicas: alta condutividade elétrica e térmica, opacidade, brilho superficial doformabilidade plastica, 2.84 — LIGAGOES SECUNDARIAS OU FRACAS Vv As ligagdes secundarias ou fracas esto associadas a ligagdes primétias covalentes/eomo < por exemplo, nas estruturas moleculares ¢ recebem a denominagio de forcas de van der Waals. em homenagem ao fisico holandés que estudou este tipo de interagto entre as moléculas. A direcionalidade caracteristica das ligages covalentes causa um desbalanceamento da carga elétrica, fazendo com que as moléculas atuem como dipolos elétricos e se atraiam entre si , como no caso das moléculas de Agua, ilustrada na Fig. 2.10(a) s_polimeros em geral tém sua estrutura formada por longas moléculas covalentes unidas entre si por meio de ligagdes dipolares fracas fornecidas por pontes de ‘hidrogenio € outros radicais. A Fig. 2.10 (b). mostra a ligagdo entre duas cadeias do polimero PVC. Por fim deve ser destacado 0 fato de que em geral, mais de um tipo de ligaglo estard atuando na formagdo da estrutura de um material, podendo haver, isto sim, a predominancia de um determinado tipo. cy onto © 4. 4 FEEL er si oe oe @ . ) Fig. 2.10 (a) Ligagdes secundrias entre mol&culas de fgua (Adaptado de Mauricio Prates Campos Filho —"A Bsirura ‘dos Materiais™- dt. da Unicamp ~ SP) - (b) Ligagda secundéia entre daae cadeias de PVC ( Adapted de Angelo Fernando Padilha ~ "Materais de Eogenhariw- Microestruurae Propriedades"-ah. Hemus+ SP) 2B MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA ~ VOL 1 No caso dos metais, quanto menor o numero de elétrons de valéncia do étomo maior seré a predomindncia das ligagées metalicas. E 0 caso do Sédio, Potdssio, Cobre, Prata ¢ Ouro, que apresentam elevada condutividade elétrica e térmica, devido a alta mobilidade de elétrons livres na formagao de suas estruturas cristalinas. No caso dos metais com elevado numero de elétrons de valéncia nos étomos, como é¢ o caso do Niquel, Ferro, Titdnio, Tungsténio e Vanddio, j4 aparece uma parcela aprecifvel de ligagdes covalentes atuando ‘em conjunto com as ligagdes metélicas. Isto também explica a menor condutividade elétrica e térmica destes metais, assim como a sua maior resistencia mecanica (ligagdes reforgadas) € seu maior ponto de fusto. A predomindncia das ligagbes covalentes em relagio as ligagSes metilicas j4 aparece nos materiais semicondutores como 0 Germénio, Silicio e Selénio De uma maneira generalizada pode-se afirmar que as ligagdes metélicas sfo tipicas nas estruturas dos elementos a esquerda da tabela Periédica de Mendeleyev e as ligagdes covalentes dos elementos a direita da mesma, havendo uma proporgao varidvel dos dois tipos de ligagdes nos elementos intermedisrios Da mesma forma, as ligagdes iOnicas sfo peculiares na formacdo de estruturas de compostos resultantes da combinagao de elementos opostamente situados nos extremos da tabela Periédica. Se o material é composto de elementos ndo situados nas extremidades da tabela, haverd uma proporgdo varidvel de ligagdes idnicas e covalentes na sua estrutura, Por outro lado combinagio de elementos situados & da tabela pode resultar em moléculas por meio de ligagdes covalentes (compostos organicos em geral). Nestas condigées as ligagdes secundarias surgem para manter as moléculas unidas entre si na estrutura como um todo. Outra observagtio importante: a ligago metélica ndo existe na compostos orgénicos¢ inorgénicos. Os compostos cermicos sfo formados por ligagdes idnicas coadjuvadas por ligagdes covalentes. Nos compostos cerdmicos as ligagdes covalentes reforcam as ligagdes idnicas, concedendo a estes materiais alta dureza ¢ alto ponto de fusao. No caso dos compostos organicos, em particular os polimeros que formam os plastics ¢ borrachas, predominam totalmente as ligagées covalentes coadjuvadas pelas ligagées secundérias (fracas). Observe-se que a auséncia de ligagdes metalicas na formagto estrutural dos materiais cerimicos e poliméricos (auséncia de elétrons livres) explica a baixa condutividade elétrica e tét “a destes materiais, isolantes térmicos e elétricos. Leitura para reflexio EM BUSCA DOS TIJOLOS FUNDAMENTAIS DA MATERIA Desde Demécrito sabe-se que tudo no mundo ¢ feito de étomos. Embora o tomo dos gregos seja diferente do ‘tomo modemo, a idéia de que a materia e feta de entidades fundameniais indivisiveis, sobreviveu até hoje ‘como uma das herangas culturais da Grécia Antiga, 0 tomo modemo nfo € indivisivel como o das gregos antigas. Os étomos tém um micleo composte pro ‘rotons e néutrons, por sua vez orbitado por elétrons. O mais simples dos étomos ¢ 0 da hidragénio, eujo nicleo tem apenas um priton ¢ um elétron, enquanto 0 de ur8nio tem 92 protons e 92 elétrons e pode ter até 146 néutrons | Os fisicos estudaram esse axsunto nas décades de 30 a 50 e empregaram processos envolvenda 2s particulas em niveis de energia cada vez maiores. A idéia do processo ¢ fazer colidir objetos com energias altissimas em fantisticas méquinas denominadas de “aceleradores de particulas” e ver o que acontece. Por 24 ‘MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA — PROF. AELFO MARQUES LUNA ~ VOL 1 ‘exemplo, a colisdo de um préton ¢ um nicleo de um étomo de ouro ¢ observeda por meio de detectores de partculas, que sfo méquinas capazes de fotografar 0 que acontece durante © apbs a colisfo. Os resultados ‘turpreenderam 08 cientistas. Esses experimentos rovelaram a existéncia do contonas do outres particules “elementares”, resultados da transformacio entre energia e massa, prevsta pela teoria da relatividade especial 4de Einstein, A'energia de movimento das parculas & transformada em matéria, em novas perticuls, durante & coliso. AA descoberta dessas centenas de particulas conduziu 05 fisicos a questionar 0 proprio conceito de “particula lementar”, dado originalmente ao elétron, proton e néutron. Afinal, os fisicos se depararam com uma ‘embaragosa situagdo; a matéria €feita de eentenas de tjolos fundamentais. Nos anos 60 0 fisico americano Murray Gell-Mann sugeriu d que essas particulas eram compostas por outras menores que ele chamou de “quarks”, expresso tirada de um romance do. famoso escritor inglés Charles Dickens. A idéia proposta por Murray Gell-Mann é simples. Do mesmo modo que os vérios étomos podem ser explicadas por combinagBes de prétone, neutroe» estrone, oresevérine particulae podem ser explodes por sombinapSee de apenas eigune ‘quarks. Com iss0, 0s fisicos chegaram a uma nova clasificagdo das partculas fundamentals da matéria: as ue slo compostas por quarks e as que ndo S80 compostas por eles. As particulas que nfo sfo compostas por ‘quarks sdo chamadas de léptons, do grego leve. O elton, por exemplo, € um Képton. Os Iépton so particulas {que viajam sozinhas, Por sua vez todas as particulas compostas por quarks interagem através da forca nuclear forte, responsével pela cossio do nucleo atémico. Como nécleo ¢ feito de protons e néutrons, os prétons softem uma repulsto eléricae algo mais forte que essa repulsto tem de estar agindo para manter a coesto do nicleo, Essa “cola” nuclear é a forga nuclear forte © deriva dos quarks que constituem o niicleo at6mico. Portanto, protons ¢ néutrons sto feitos por quarks, trés para ser preciso. Outra caracteristca dos quarks & que les sto particulas que esto presas no interior de particulas maiores e nunca so encontradas isoladamente, Sabe-te que existem seis quarks, todos observiveis em aceleradores de particulas. O mais pesado 6 0 “top” ‘quark, foi observado em 1996 no Fermilab, notévellaboratdrio de pesquisasfisicas existente perto de Chicago — BUA. A esses seis quarks so acrescentados_seis l¢ptons e com iss0 chegamos aos 12 tjolos fundamentals dda matéria, em sua versfo atual. Fica no ar a seguinteindagagSo: o que acontecerd quando os aceleradores de particulas desenvolverem maiores niveis de energia em seus experimentos ? Pariealas que estie presas no Tnterior de na. poticulas maiorea © munen 3B encontradasisoladamente ELETRON ELETRON. [UP ~——Tpown ‘em tomo do| NEUTRINO — |0 proton contém | ndutron contém formada por este| nicleo alémico e é| Neutrinos sfo| dois, 0 néutron| dois; 0 préton grupo responsivel pela| particulas sem| eontém apenas um. | contém apenas un, cletricidade. earga; bilhSes de | elétrons neutrinos atravessam corpo humane | cada segundo A matoria dessas| MUON MUON. ‘CHARM | SERANGE pariculas 6 existiu| “Parente” mais [NEUTRINO [Parente mais) "Parente mais depois do Big Bang | pesado do eléron | Surgem —_cm| pesado do up” | proximo do “down” fe hoje & produzida algumas | apenas em) TAU desintepragies. de| TOR |portom aceleradores Mais pesado ainda | particulas Recentemente Mais pesado sinda ‘A matéria formada| descoberto dessas particulas ¢ TAL: chemeda de NEUTRINO “materia exética Ainda nto escobero, $6 existe nateoria 25 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AFLFO MARQUES LUNA - VOL 1 SERVACOES e ANTIMATERIA: A cada uma das 12 particulas indicadas no quadro anterior, corresponde uma antiparticula gémea (com a mesma masse ¢ carga trocada). "antiglmeo” do elétroné o pésitron, porque tem carga elética positva 2) Recomenda-se a leitura dos livros de Marcelo Gleiser: “Retalhos Césmicos” e “A danga do Universo”, ‘ambos editados pela Edt. Companhia das Letras. Outro livro interessante e “Gigantes da Fisica”, de Richard Brennan, capitulo 8, que trata das teorias de Murray Gell-Mann, editado por Jorge Zahar Editor CONCEITOS CHAVES Atomo Elétron, proton e néutron ‘Camadas ou capas eletrinicas Numero quantico principal Principio de exclusio de Pauli Spin Magneto de Bohr Numero atmico ‘Numero de massa Numero de Avogadro ‘Tabela Periddica de Mendeleyev Ligagio idnica Ligagao covalente Ligagao metélica Ligagao secundaria ( van der Waals) QUESTOES PARA ESTUDOS. 2.1 ~ Sob 0 ponto de vista cientifico e tecnolégico explique o que se entende por “propriedade” de um ‘material ¢ qual a importincia do seu conhecimento, tanto qualitative, como quantitativo, no estudo da engenharia dos materiais. 2.2 ~De onde derivam as propriedades dos mater 23 — Enumere 2 natureza das principais propriedades que interessam mais de perto a tecnologia dos rmateriais? 2.4 ~ Quais sto os critérios uilizados para uma seleslo crteriosa dos materiis? 2.5 — De quantos modos os atomos se igam na constituigso intema da materia? 2.6 ~ Dadas as configuragdes eletrénicas abaixo apresentadas, identifique os elementos quimicos que os caracterizam: a) 18°2s22p%3e"3p° 1) 1s!2s!2p'3e'3pa! ©) 8282p" 2.7 ~ Quais séo 0s tipos que caracterizam as ligagOes primérias ou fortes e porque elas s4o assim chamadas em ‘ontraposigao com as denomlnadas ligagoes secundarias ou fracas? 2.8 - Explique o que se entende por forgas de van der Waals ? 6 eee ee ee ee eee eee MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOL | 29-Cite exemplos de ligagdes secundérias 2.10- Qual a caracteristica principal das partculas chamadas "eptons" ? 2.10 Como & constituldo a estrutura interna de um néutron e de um préton ? 7 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOL | CAPITULO HI Neste capitulo ¢ abordado os diversos estados da matéria. Todos os elementos ¢ seus compostos podem existir sob a forma de gases, liquidos e sélidos. O estado no qual um elemento ou um composto existe, depende da combinacdo de temperatura ¢ pressiio a que o mesmo esté submetido Em especial sera discutido neste capitulo as estruturas cristalinas e no cristalinas dos sélidos 31-0 ESTADO GASOSO Neste estado os atomos ou moléculas do composto estio em movimento continuo e aleatério e colidem entre si e com as paredes do recipiente que os contém. As colisées contra as paredes do recipiente dao origem & pressio exercida pelo gis. Considerando 0 volume do gas constante, devido a expansdo restringida, 0 resultado € que a pressio ird aumentar com o aumento das colisdes com as paredes do recipiente. Esse movimento rand6mico das particulas deve sua descoberta ao boténico Robert Brown, em 1827 e so peculiares nos gases e nos liquidos, tendo isto levado a formulagao da teoria cinética da matéria. Este estado da matéria 6, portanto, caracterizado pela desordem total ou caos. A velocidade média dos étomos ou moléculas de um gés € proporeional a temperatura absoluta e pode ser encontrada pela formula: Vo =V3kTim ms (3.1) Onde: 2 Vp velocidade media avs , constante de Boltzman (1,38 x 107 J/K) ; temperatura absoluta Kelli massa molecular do gés,’gramas . Bae Exemplo; o hidrogenio a 300 K, a velocidade média de suas particulas € de 1600 m/s. Na sua caética e permanente agitagdo térmica os Stomos ou moléculas do gas esto também continuamente colidindo umas com as outras . A distncia média que uma molécula do gis poderd percorrer antes de colidir com outra molécula é chamada de “livre percurso médio” (A). © caminho médio livre dependerd da densidade do gés. Exemplo: um gés posto a | atmosfera de pressdo ( que corresponde a 101.300 pascal — unidade de pressio do SI) ea.uma temperatura de 273 K apresenta um “livre pércurso médio” de 10° cm. 8 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOL I 3.2-O ESTADO LiQUIDO Se no estado gasoso a temperatura baixar a energia média dos étomos decresce ¢ pode-se atingir um nivel de energia média, no qual as forgas de van der Waals que atuam entre os dtomos slo capazes de sobrepor-se 20 movimento cinético dos étomos. Eno, aqueles dtomos que estiverem em nivel energético menor que a energia cinética média, atraem-se mutuamente, de tal maneira, que se juntam, Deste modo eles se condensam, formando gotas de liquidos que caem sob a agao da gravidade. Neste ponto, 0 restante da energia cinética transforma-se em calor (calor latente de vaporizagao). Nos liquides nio eniete arranjo ordenado dos étomos ou moldculas; estas particulas ainda estio livres para movimentar-se, isto é, um Iiquido possui mobilidade. Nos liquidos, os étomos ou moléculas resvalam umas sobre as outras ¢ variam algo em suas localizagées mituas Continuam estando juntas, mas ndo detém uma disposig4o regular determinada; em lugar disso o agrupamento de moléculas varia continuamente em torno de uma posigdo dada. ‘A natureza da agitago térmica de uma molécula no liquido difere daquela no gis, no obstante as moléculas de um liquido se moverem em zig-zag, contudo, elas demoram-se por um certo tempo em cada ponto de mudanga de diregéo, onde vibram com a uma freqiéncia de 10'? a 10" c/s. Sio vibragdes térmicas dadas pela expressao! ___F= kWh _onde: 62) constante de Planck ( 6,6262 x 10% J.s) cconstante de Boltzman (1,38 x 10” J/K) > — T=temperatura absoluta Kelvin be ‘A mais importante caracteristica dos liquidos ¢ a viscosidade ¢ esta resulta do atrito intemo entre as partfculas que oferecem ao cscorregamento de umas sobre as outras. A viscosidade pode ser concebida como o coeficiente de resisténcia ao escoamento. Os liquidos so mais viscosos que os gases, pois aqueles tém uma densidade muito maior. A viscosidade pode ser definida a partir da lei de Stockes, cuja expressio ¢ formulada a seguir: v =F/ 6am, 63) é a velocidade desenvolvida por um corpo esférico de raio x, impelido por uma forca F num liquido cuja viscosidade dindmica é 1. No SI a viscosidade dindmica é expressa em Pas, e no sistema CGS medida em Poise. Denomina-se viscosidade cinematica dos iquidos o quociente da sua viscosidade dindmica pela sua densidade. As unidades usadas para viscosidade cinematica nos sistemas SI e CGS sto respectivamente m’/s e cm/s, esta liltima também chamada de stocke, abreviadamente St. O inverso da viscosidade € denominado de “fluidez”. Na Tabela 3.1 estilo indicados os valores da viscosidade dinamica de alguns liquidos A viscosidade dos liquids pode ser medida por varios processos empiricos. Um método classico € baseado na medida do tempo despendido para uma certa quantidade de liquido fui através de um orificio, Usando o viscosimetro de Engler verifica-se quanto mais lento 29 eee tte eee eee ee eee2eeaeenee MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOL 1 ° by. x Tabela 3.1 —VISCOSIDADE BIVAMI ca De LIQUDOS 10° Pas 10° Pas Agua 1,01 |Alcool metilico 0,59 Mereétio 1,69| Aleool etilico 119 Benzeno 0,65) Bter 0,23 Glicerina 850 peratura considerada de 20°C © liquido se escoa em relago a uma mesma quantidade de agua a 20°C. O resultado é expresso em grau Engler, 0 qual apresenta o inconveniente de no poder ser utilizado nos chleulos de viscosidade, segundo as definigdes dadas anteriormente. Entretanto, conduz. a uma melhor avaliaedo fisica desta erandeza . Misia a ilustracio da Fig. 3.1. Existem outros tipos de viscosimetros, tais como. de Sherwood (usado na Gré-Bretanha) ¢ © de Saybolt, empregado nos Estados Unidos. O viscosimetro de Engler € muito utilizado na, Europa Continental. Fig. 3.1 - Viscosimetro de Engler (Adaptado de A.Reiny/ M, Gay ¢ R. Gonthier ~*Materiais”-Edt Hemus- SP) ‘recipients em lato A cont oiquido do qual se quer conheoer a vscosidade.O replete B eantém Agua. Um copa Ae aquecimento(resistécin)C permite levara gua & temperature deseada, com ajuda do termometto DO termometo E indie temperatura de ensio do liguido a medi. ‘Quando esa temperatura € tingid eeva-se a este FO liquid escre pelo bocal G na proveta 1 Duas marcas Hi eH Idan un vole de 200 cr es i oie an hy apr am ont, © depois dep guns ¢ guido chegn 8 Hy, Os raus de Engler represenam o quociente do tempo de eseoumento de 200 eit do iuido ‘onsiderado pelo tempo de escoamento de 200 em’ de Agus a 20°C, sendo as duas medidas fetes aravés dem mesmo iio de 2,8 mm de dimer invero, Tendo asim o tempo de escoamento de 200 onde guido i temperature de °C, divides ei tempo pelo tempo de ‘excoamentoT, de 200 en de 4gua destilada a 20°C. Es timo tempo é dado por um aimero que @ caacersticn do viscostmetro xe valor é proxi de 1,655 Assim emvse;"E, = T/ Te 30 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOL 1 3.3- 0 ESTADO SOLIDO ‘A uma temperatura mais baixa, 0 I{quido comega a solidificar-se. Este é um processo onde 6s étomos ou as moléculas passam de um estado desordenado para um estado de arranjo no espago, ou seja, as particulas ocupam posigdes definidas no espago, porém vibram em torno de uma posigio de equilibrio. A natureza dos deslocamentos das moléculas ou étomos é diversa daquela apresentada pelos liquidos e gases Os s6lidos 980 divididos om tr6s grupos, de aoordo com 0 arranjo da cua estrutura intema: cristais, amorfos e mistos. Os cristais sto caracterizados por uma rigorosa e regular ordem de arranjo das suas particulas constituintes no espago, formando as denominadas estruturas cristalinas. Os sélidos amorfos sao caracterizados pela falta de uma ordem regular das posigoes relativas no espago das suas particulas constituintes. © préprio vocébulo amorfo significa sem forma. Costuma-se denominar os sélidos amorfos de liquidos super resfriados. Exemplos: 0 vidro, as resinas etc, O material amorfo difere do cristalino porque néo tem “ponto de fusto” definido. Por fim os s6lidos de estrutura mista so aqueles em que seus elementos constituintes esto na fase cristalina e amorfa, Exemplo: os materiais cerémicos. 3.3.1 — AS ESTRUTURAS CRISTALINAS ‘A maioria dos materiais usados pela engenharia, em particular os metais, apresenta-se sob a forma de estrutura cristalina. Isto &, segundo um arranjo atémico no qual os étomos (fons) se agrupam ordenadamente no espaco, obedecendo a um padrdo repetitivo e sistematico nas 1wés dimens6es, dando lugar formagdo de um ou mais cristais. O material de estrutura cristalina pode ser monocristalino ( um Gnico cristal) ou policristalino ( constituidos de diversos cristais unidos entre si pelos seus limites). A forma policristalina é a mais frequentemiente encontrada. trabalho mais importante descrevendo ¢ classificando os reticulados cristalinos deve-se a0 fisico francés Auguste Bravais. Segundo este fisico existem sete sistemas primarios de uulados, a seguir enumerados: cubico, hexagonal, tetragonal, ortordmbico, romboédrico, monoclinico e triclinico. Observe a Fig, 3.2 Estes sistemas podem estar arranjados de 14 maneiras diferentes. Assim tem-se o sistema ‘cubico de corpo centrado (CCC) e o sistema cilbico de face centrado (CFC), ilustrados na Fig. 3.3 Um dos pardmetros que determinam o tipo de estrutura cristalina € 0 numero de coordenagio, definido como o nimero de tomos vizinhos a qualquer 4tomo da estrutura, Os mimeros’ de coordenagdo das estruturas CFC e CCC da fig 33 sto 12 e 8 respectivamente. Numa rede cristalina, a menor unidade geométrica tridimensional que se repete é denominada de célula elementar da rede. 31 ‘MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOL 1 Grande parte dos s6lidos se apresenta sob forma cristalina, em especial a maioria dos metais comuns se cristaliza no sistema cubico. Scio atts - CEC (cubo de face centrada) ~ Ag, Al, Au, Cu, Ni, PL, Fe-yetc. CCC (eubo de corpo centrado) — Cr, K, Li, W, Mo, Na, Fe-c ete No sistema hexagonal (H) temos os seguintes metais: Be, Cd, Mg , Zn ete, Veja a Fig. 3 ‘Um exemplo muito lembrado € do cristal de cloreto de sédio, cristalizado no sistema cibico de face centrada (CFC), veja Fig. 3.5 As substincias cristalinas exibem anisotropia de varias propriedades, tais como: constantes elésticas, constantes ticas, condutividade elétrica e térmica, dilataglo térmica e até a weatividade yutmica de suas superficles depende da orlentagao cristalina (anisotropia significa que o material tem propriedades varidveis com a direg0). Aa i 4 Mopodisico Mee” Teinigo—Haragonal_Rombotarco Sotraday Soe ake Sgpiehew Siphon ac Sn Ease mo Teragoan fees Cento Getadas simples Cate Fig. 3.2~ Os 14 retculados de Bravais.(Adaptado de Lawrence Van VIack - “Prineipios de Ciencia dos Matriais” Et gant Blacher ~ SP) 3.3.2 - ESTRUTURAS AMORFAS Como foi salientado nem todos sélidos sto cristalinos. Assim alguns apresentam um arranjo de seus atomos ou moléculas com uma contiguragtio geométrica irregular, decorrendo dai o uso da expresso amorfo, ou seja, sem forma definida, Situam-se nesta classificagéo os vidros © as resinas termofixas. Costuma-se chamar os s6lidos amorfos como liquidos super esfriados e de fato, sob 0 ponto de vista estrutural nfo existem diferengas significativas entre um solide amorfo e um liquide. Por convengao, a 32 + MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOL 1 viscosidade € utilizada para distinguir um vidro de um liquido; acima de 10" poise, a substincia é considerada amorfa.. Estes sélidos amorfos no se fundem a uma temperatura definida, como no caso dos materiais cristalinos. Ao contrério, eles amolecem, gradualyemtfa tomando-se mais fluidos © com o aspecto de liquidos com clevada ming Asan amorfas séo habitualmente isotrépicas. Fig. 3.3 ~ Celulas unitirias, supondo-se serem os fora esferasrigidas: a) cubica de faces centradas © ) cbiea de corpo centrado ( Adpatado de Angelo Fernando Paiilha ~"Materais de Engenharia ~ Miccoesirutiras ~ propriedadesda Edt Homus- SP) Fig. 3.4 Fig. 3.5 strona hexagonal compacta, (a) Vista esquemitica, mostrendo a localiza dos cents dos &tomos. (3) sfeas ines Fig, 3.5~ Esintura tridimensional do clorto de so. 0 ction de sii € igualmenestraido por todos os sis Gnions de clove que o cercem, (Ambas figuras adapadas de Lawrence Van Viack ~ "Prinipios de Citncla dos Materais”- Ed. Fagacd Bicher~ SP) Fig. 34 3.3.3 - ESTRUTURAS MIST AS. Classificam-se neste grupo as resinas termoplisticas © as cerémicas. Nestes materiais ocorrem regides cristalinas em uma matriz amorfa, ou seja, apresentam um certo grau de 3 Se anmeamaseecesacecenanesaaaeesanseeseseneneace MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOL I 3.4— CLASSIFICACAO DOS MATERIAIS SOLIDOS Os diversos materiais s6lidos podem ser classificados segundo suas composigSes, suas microestruturas ou por suas propriedades. Normalmente sio considerados trés grandes grupos de materiais: © Os metais e suas ligas—~ \ * Os polimeros organicos /n sateramne \ Fig. 3.6 ~ Iustracio interessante apresentads por William Callister Jrem seu livro "Cigncia Engenharia de Materiais: Uma introdugao" - Edt. LTC-Sde Paulo, onde o recipiente de um produto de consumo mundial & fabricado a partir de trés tipos de materiais diferentes. As bebidas slo ‘comercializadas em Iatas de alumfnio (metal), na foto superior; em garrafas de vido (cerémica) na figura central e plésticas (polfmeras), wa foto inferlor. 4 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA — PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOL 1 Esta classificagao pode ser melhor entendida com a ajuda da Tabela Periddica de Mendeleyev, na Fig. 2.4. A parte da esquerda e centro da Tabela esto ocupados pelos metais, ou seja, quase 2/3. A parte da direita ¢ preenchida pelos denominados ndo-metais, como por exemplo, o oxigénio. No dominio intermediario, entre os metais e no metais, encontram-se um certo numero de elementos como o carbono, silicio e germanio, chamados de semicondutores e que escapam uma classifica¢do mais simples. Os metais, na temperatura ambiente sdo sblidos atOmicos (a excegdio do merctirio que se apresenta no estado liquido na temperatura ambiente). Os metais mais utilizados so 0 ferro, aluminio © o cobre. As ligas metélicas sio em geral combinagdes de dois, ou de virios elementos coma, por exemple, @ latio (liga de cobre @ zinco) © 0 bronze (liga de cobre e estanho), entretanto, as ligas podem conter elementos no metalicos. Entre estes Lltimos encontra-se, por exemplo, 0s agos que sto ligas de ferro e carbono. Os metais se caracterizam por sua alta condutividade elétrica e térmica, S30 opacos lua visivel e podem receber polimento até que assumem grande brilho. Além do mais so freqiientemente duros ¢ rigidos ¢ plasticamente deformaveis. O que faz com o que 0s metais apresentem tais caracteristicas? Isso se deve a fato de que os metais perdem com facilidade os elétrons a fim de formar a ligag&o metélica, Ou seja, os elétrons sto deslocaveis e podem facilmente transferir carga elétrica e energia térmica. Os polimeros orginicos so materiais compostos de moléculas que formam geralmente longas cadeias de atomos de carbono sobre as quais esto fixados elementos tais como 0 hidrogénio e 0 cloro, ou de agrupamentos de étomos como o radjeal metil (-CH3). Outros elementos podem, como o enxofre, nitrogénio, silicio etc., ‘Gn igualmente integrar a ‘composigao da cadeia. Diferentemente dos metais, os quais dispéem de elétrons migrantes (livres), os elementos nao metilicos do canto superior direito da Tabela Perisdica tém uma afinidade para atrair ou compartilhar elétrons, portanto apresentam —ligagGes predominantemente covalentes.. Os polimeros orginicos apresentam propricdades bastante diversificadas (vidros plasticos, borrachas etc.) Sao quase todos isolantes elétricos © térmicos, sio leves € faceis de serem moldados. Contrariamente aos metais eles so pouco rigidos nto suportam, maior parte do tempo, a temperaturas superiores a 200 °C. Os polimeros mais conhecidos sto 0 polietileno, policloreto de vinila (PVC), poliamidas (nylon), o poliestireno, o metacrilato de metila (Plexiglass) de politetrafluoretileno (teflon) entre outros numerosos polimeros As cerdimicas so materiais inorgénicos ¢ que resultam da combinagio de um certo numero de elementos metilicos (Mg, Al, Fé..) com elementos no metilicos, onde o mais correntemente encontrado é 0 oxigénio. Tais compostos apresentam tanto ligagdes iénicas como covalentes. Originariamente 0 termo cerdmica ara reservado aos éxidos de silicio ¢ aluminio (SiO2 e ALO;), contudo, de mais a mais a tendéncia é alargar esta classificagdo ¢ incluir entre elas as combinagées de dtomos como carbono e tungsténio (WC) ou (SiC), ‘obtidos por meio de processos de aglomeracao térmica (sinterizagao). ‘Os materiais cermicos se distinguem por suas caracteristicas de refratarias, ou seja, les sio materiais que apresentam alta resisténcia a temperaturas elevadas e boas propriedades meciinicas. A maior parte deles sio isolantes elétricos e térmicos, muito embora, entre eles se encontrem os melhores condutores térmicos (exemplos; o diamante, o grafite etc.) As cerimicas sio em geral muito duras e frageis. Os vidros minerais, que 35 OO 4S 6 OO 6 44 04 44646468 640400000000000000000800000008 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOL | sto combinagdes de dxidos (SiOz + Na,O + CaO) ¢ tem uma estrutura amorfa, pertencem igualmente a classe dos materiais cerdmicos. METAIS ELIGAS METALICAS Fe, Al,Cu,latto,agos,bronze CERAMICAS + -ALA05,8iC Vidros POLIMEROS ORGANICOS Fig. 3.7 - Compésttos Os trés tipos de materiais podem ser combinados para formar uma nova classe chamada de compésitos. So materiais constituldos de dois ou de varios outros materiais diferente que se combinam de forma sinérgica as suas propriedades especificas. A palavra sinergia deriva do prego, que significa “cooperagao”. Sinergia 6, portanto, a zssociaga0 simultdnea de Varios fatores que contribuem para uma ago coordenada, Um interessante exemplo de compésito € a associagiio de resinas de epoxy (polimeros) com fibras de vidro e que formam um compésito leve e de alta resisténcia mecdnica, encontrada em algumas estruturas de automéveis. O concreto armado & outro compésito muito usado e que resulta da combinagdo de cimento, ferro e brit A divisio dos materiais nas trés classes aqui apresentadas & baseada, sobretudo em suas caracteristicas atémicas, estruturais e sobre suas propriedades, Ela é evidentemente cémoda, mas é arbitraria. As trés categorias nao sao nitidamente delineadas. Assim sfio 36 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOL 1 encontrados certos materiais, 0s silicones, por exemplo, cuja natureza é intermediaria entre os materiais cerdmicos e poliméricos; analogamente materiais como 0 GaAs (arsenieto de galio) que é um semicondutor pode ser classificado quer seja como metal, quer seja como material cerémico. Finalmente o grafite que nao se encaixa em nenhuma das trés categories, Jd que apresenta propriedades comuns com as trés. A condutividade elétrica nao é apandgio ‘dos metais, desde que certos éxidos como 0 éxido de vanddio (que é um material ceramico) conduz eletricidade, bem como alguns polimeros organicos. af - ALGUMAS CONCLUSOES ‘A engenhatia lida basicamente com materiais ¢ energia sq} suas mais diversas formas Cabe ao engenheiro adaplar materiais e energia visando & obtengao de utilidades para 2 sociedade. Para isso esforga-se em selecionar_}hateriais com propriedades étimas c que atendam de forma mais adequada possivel aos seus propésilos, tanto em termos téenicos como econédmicos. Para efetuar este processo seletivo dos materiais, de forma criteriosa, ele precisa ter um intimo conhecimento das. propriedades e caracteristicas dos materiais que ele se propdem a usar. As propriedades sao as reacées que os materiais oferecem aos estimulos externos e sao ‘fatores limitadores do seu préprio campo de aplicacito, ‘Como ja citado anteriormente, as propriedades dos materiais podem ser agrupadas em seis categorias de acordo com a natureza do estimulo (ou agente extero atuante sobre os materiais), conforme quadro 3.1, As propriedades e © comportamento de um material originam-se na sua estrutura interna, onde os elétrons, particularmente os mais afastados do nicleo, sdo os que mais afetam a dessas caracteristicas. S20 esses clétrons da ultima camada do Atomo que determinam as propriedades quimicas, estabelecem a natureza das ligagdes interatdmicas, controlam 0 tamanho do tomo, afetam a condutividade clétrica e influenciam as caracteristicas dticas dos materiais. Quadro 3.1 PROPRIEDADES ESTIMULOS (AGENTES EXTERNOS) ‘Mecanicas Forgas aplicadas ‘Térmicas [Excitagdo térmica (calor) Eletricas ‘Campos elétricos ‘Magnéticas ‘Campos thagnéticos Oticas Radiagbes eletromagnéticas (luz) [Quimicas Reatividade dos elementos quimicos 37 £222062009202022220220222829292802922289098829288822922929 ‘MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA ~ VOL | Em decorréncia disso o engenheiro pode selecionar ¢ também modificar as estruturas intemnas dos materiais, visando o atendimento das exigéncias do projeto desejado, da mesma forma que 0 projetista de um circuito elétrico altera seus componentes elétricos Entretanto, para fazer isso é necessério conhecer as relagées entre as estruturas internas dos materiais as suas propriedades. Os materiais necessitam ser processados para atingir as especificagdes que o engenheiro requer para 0 produto projetado. O processamento usualmente' envolve mais do que uma simples mudanga de forma, seja por tratamentos térmicos, mecdnicos e quimicos. Nao raro, © proceso de fabricagdo muda as propriedades de um material. Modificagées das propriedades devem ser esperadas sempre que 0 processo de fabricagdo alterar a estrutura interna do matertal. Por fim, um material, na forma de produto acabado, possui um conjunto de propriedades, escolhidas para atender as exigéncias do projeto. Ele manterd essas propriedades indefinidamente, desde que ndo haja mudanga na sua estrutura intema. Esse aspecto caracteriza 0 desempenho esperado do material. Entretanto, se 0 material for submetido a uma condigao de servigo capaz de alterar sua estrutura intema, deve-se esperar que as propriedades e o seu desempenho mudem, CONCEITOS CHAVES Viscosidade Esteutura cristalina Sistemas cristalinos Estrutura amorfa Estrutura Estrutura mista Livre pereurso médio QUESTOES PARA ESTUDO. 3.1 - Qual a caraeteristica principal apresentada pela estrutura intema de um material gasoso? 3.2- No estado gasoso da matéria o que se entende por “livre percurso médio" de uma particula? 3.3-B possivel calcular a velocidade de deslocamento de uma particula do gis? 3.4—Qual a caracteristica prineipal que um material no estado liquido apresenta? 3.5 —Enuncie a lei de Stockes. E qual a unidade usada no SI para medir a viscosidade? 3.6 ~ Explique o funcionamento do viscosimetro de Engler? * 3.8 ~ Baseado no funcionamento do viscosimetro de Engler indique (explicando) qual dos liquidos A ou B apresenta maior fluidez, sabendo-se que o liquido A tem uma viscosidede de 2,5 graus Engler e 0 liquide B de 1,8 grau Engler. 38 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF, AELFO MARQUES LUNA - VOL 1 3.9 —O que se entende por viscosidade cinemética ¢ quais as unidades usadas para medi 3.10-~m qual sistema cristalino a maioria dos metals ee organiza espacialmente? 3.11 A prota crstaliza-se no sistema CFC e seu raio atbiico & 1,44 A. Qual 0 comprimento do lado de sua célula unitiria? 3.12 Quais 0s tipos de ligages quimicas existentes nos materiais metélicos, ceramicos ¢ poliméricos? 3.13 —0 que sto compésitos? Dé alguns exemplos. 39 - ee eee 222202 eeeeeeeaeee =" MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOL. 1 CAPITULO IV PROPRIEDADES MECANICAS E de obrigagio do estudante de engenharia clétrica entender como as varias propriedades mecdnicas dos materiais sio medidas e 0 que essas propriedades representam. Elas podem ser necessarins para o projeto de estruturas ou componentes ‘que utilizem determinados materiais, a fim de que no ocorram niveis de deformagio cou falhas mecfnicas. 4.1-NATUREZA DOS ESFORGOS MECANICOS Os esforgos mecénicos podem ser de tragilo, de compressio, de cisalhamento ¢ de torso, conforme a Fig. 4.1. Basicamente as mais importantes sto as tensGes de tragdo € compressio.Provavelmente estas slo as primeiras propriedades de um material que sto lembradas pelo engenheiro, particularmente quando sto relacionadas com as estruturas que suportam esforgos externos e devem apresentar uma resisténcia mecénica adequada, ou seja, sofrer apenas deformagdes bastante pequenas. Via de regra o engenheiro esti interessado na tensdo ou na “densidade de forga” externa necesséria para provocar uma determinada deformago, que pode ter um carter tempordrio ou permanente. ‘A tensio é definida como a forga por unidade de area e no sistema SI é expressa em ‘Newton/m?, muito embora quando se trata do estudo dos materiais seja mais usual expressé-la em Newton/mm? ou em’, Vale lembrar que a forga por unidade de area é ‘medida no SI pela unidade denominada Pascal (1 MPa~10° Newton/m’). Freqtientemente empregam-se as unidades kgf/cm? ou kgf/mm’; outra unidade usada é a libra por polegada quadrada (pound per square inch - psi. Fig, 4.1 ~ (a) Esforgo de traglo; (b)esforga de compressiio; (c) esforgo de cisalhamento; (d)esforgo de forgo. (adapiado do livro de William D. Callister Jr= “Ciénia e Engenharia de Materia: Usa introdugo"— LTC Editora-SP) 40 MATERIAIS DE ENGENHARIA FLETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOL. I 4.2 -DEFORMAGOES ELASTICAS E PLASTICAS A deformagao se refere a alteragio (de forma) produzida em um material sob a influéncia de uma tensio mecdinica, A deformagdo mecénica é expressa da seguinte maneita Deformagio “(Ir= 1b (4.1). onde: 1,= comprimento inicial Ir= comprimento final Na realidade a deformacao sofrida pelo material uma relagdo numérica adimensional, que mede a deformagao sofrida pelo material por unidade do comprimento original. Normalmente a deformagio ¢ expressa em percentagem e designada pela letra miniscula e, que significa “elongagdo”, outra expresso muito usada, A deformagao produzida pelos esforgos externos pode ser eldstica ou plastica, A deformacdo elistica ¢ reversivel e desaparece quando a tensio é removida. Quando a deformagio é de natureza eldstica, os atomos séo deslocados de suas posigdes iniciais pela aplicagao da tensfio, Porém quando esta tensio é removida, os atomos retornam as posigées iniciais que tinham em relagdo a seus vizinhos. A deformagao elistica € proporcional a tens4o aplicada e obedece a Lei de Hooke, a qual estabelece que, para um corpo elistico, a deformagao, é diretamente proporcional & tensio aplicada, Entende-se como médulo de Young (E) a relag&o linear que existe entre a tensdo aplicada e ‘8 deformaso eldstica que cla produz, conforme se pode observar na fig, 4.2 (i), O médulo de Young esté vinculado ao conceito de rigidez de um material ¢ seu valor é muito importante para o engenheiro. 41 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA.~ PROF. AELFO MARQUES LUNA ~ VOL. I E=tensio/deformagio (4.2) Como a deformagao é um numero adimensional (mm/mm), resulta que o médulo de Young € medido nas mesmas unidades de tensfo, ou seja, Pa ou Newton/mm?, Em virtude do elevado valor numérico de E , ele é normalmente expresso em GN/mm? ou MN/mm?. Na Tabela 4.1 so indicados valores do médulo de Young para alguns metais ¢ ligas, expressos em GP TENSAO. TENSKO DEFORMACAG PERMANENTE (1) DEFGRNIAEAS (== GEFOAMAGRO Fig. 4.2 — Diagrama da tensto versus deformagao. (i) a deformagio clastica é reversivel quando a tensto & 80 plistica, mesmo com a remogao da carga a deformacio permanece. (adaptado do iro de R.A. Higgins ~ “Propriedades e Estruturas dos Materiais em Engenharia” ~ Edt Difel -SP), TABELA 4.1 ALUMINIO. 69[ TUNGSTENIO 407 COBRE Ti0|TITANIO 107 ACO. 207|_NIQUEL. 207 MAGNESIO__45[ BRONZE 7 a nee ek traci lo elasticamente soirend de 1 (leur gcse iso ‘© médulo de Young: a2 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOL. ‘A deformagao plastica se dé quando o material é tensionado acima do seu limite de elasticidade. Com a deformagao plastica, os étomos se movimentam dentro da estrutura do ‘material, adquirindo novas posigdes permanentes com respeito a seus vizinhos. Quando a tensto é removida, apenas a deformagdo eldstica desaparece e toda a deformagio plistica produzida permanece, Veja o diagrama tensto versus deformagao da fig. 4.2 (i). 4.3 - DUCTILIDADE E MALEABILIDADE Deste aspecto da plasticidade dos materi que sto a maleabilidade e a ductilidade. A maleabilidade se relaciona com a capacidade do material se deformar, sem fraturar, quando submetido’a esforgos de compresséo, ou seja, é a propriedade que possui o material de ser redutivel a Kiminas mais ou menos finas, sem ruptura, sob efeito da martelagem ou da laminagdo. A maleabilidade pode ser entendida como o atributo que permite a conformagao do material por deformasiio. A ductilidade se refere a capacidede do material se deformar sem se fraturar, quando submetido 2 esforgos de trago. Todos os materiais dicteis so maleaveis, mas nem todos materiais maledveis so necessariamente dicteis. Isto porque um material macio pode ter pouca resisténcia e romper facilmente quando submetido a trag%o. A ductilidade & também conhecida como a propriedade que possui o material de ser estirado em fios e essa caracteristica € peculiar da maioria dos metais. Pode-se dizer corretamente que a ductilidade & a deformagao plastica total até o ponto de ruptura do material. Uma medida da ductilidade 6 a estrice@o que expresse a redugdo da érea da seqd0 transversal em termos percentuais em relago a rea original transversal, antes de ruptura, ou seja; decorrem duas outras relevantes propriedades % redusio drea = (area inicial — area final) /‘rea inicial x 100 A fabricago dos fios e cabos condutores resulta da aplicagtio dessa valiosa propriedade apresentada pelos metais, em particular pelo cobre e aluminio, amplamente usados pela engenharia elétrica. ‘Um conhecimento da ductilidade dos materiais ¢ importante pelo menos por dois motivos. Em primeiro lugar, ela dé uma indicago para o projetista do grau, segundo a qual uma esirutura poderd se deformar plasticamente antes de fraturar. Em segundo lugar, ela determina 0 grau de deformagio permissivel durante os processos de fabricagdo. Os materiais dicteis sio denominados de “generosos”, no sentido de que eles podem sofrer uma deformago local sem que ocorra fratura, caso haja algum erro nas grandezas de calculo das tenses de projeto. a 222M OO OO 4 444 444424 42446488462404000006068008 28080008 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF, AELFO MARQUES LUNA ~ VOL. I 4.4-DUREZA A dureza & outra propriedade mecinica que € definida como a resisténcia que a superficie do material apresenta & penetrago por outro material. Existe mais de uma dezena de ensaios de dureza. Historicamente a mais antiga escala de dureza é devido a Mohs (1822) que é baseada na capacidade de um material riscar 0 outro, ou seja, na sua resisténcia & fabrasao superficlal eta mals utlllzada na uiedida ielativa da dureza dos mincrais. Assim, nesta escala o diamante encabega a lista com uma dureza igual a 10, enquanto o talco ¢ 0 Ultimo da escala com um {indice de dureza igual a um. Existem novos ensaios e escalas. Serio mencionadas de forma breve os ensaios de dureza de Brinell, Vickers , Knoop (pronuncia-se nup) e Rockwell Tabela 4.2 ‘Técnicas de ensaio de dureza —Femedeimoresie __——_pargtaparao Nimero rio Pomerat Vs Latent” Wi Supeior Crp. ee Dre? int Exe om 10 2 OL! a “em a9. cathe * son We detungtéaio ote - Wawa tie de ss Saha P water ieee <= > Sie! po Rese rena ve Reel ‘cotta im 1889 | Rosese Sopot. Uae i pot @ ‘te delat ll y oc Sper ( cosede dame 2 ed deca eng ere Gee : ates Wr tec Ws Matte} Wa 7 Ses od Ppt of oad, Ye, Mea Beker Cotas © 198 a Rea Ye Reap be Wy Sng Be Li © primeiro deles, proposto por Brinell, consiste em comprimir uma esfera de ago, de didmetro D sobre a superficie plana do material que se pretende ensaiar, por meio de uma forga P. A compressio da esfera na superficie do material causa uma mossa permanente, Esta mossa tem a geometria de uma calota esférica, de didmetro d. A dureza na escala 4 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA - PROF. AELFO MARQUES LUNA ~ VOL. Brinell (HBN- Hardness Brinell Number) é calculada pelo quociente da forga aplicada pela rea da mossa produzida (calota). A dureza Brinell tem unidade de pressto, pois é expressa normalmente em kgfimm?, A escala Vickers surgiu em 1925 e neste caso o elemento penetrador é uma pirimide de diamante de base quadrada e com um angulo de 136 graus entre as faces opostas. A mossa, quando vista a0 microscépio, tem a geometria de um losango retangular de lado d. A dureza Vickers também tem unidade de presso ¢ é normalmente expressa em kgfimm?. A escala Knoop usa um penetrador de diamante muito pequeno, de forma piramidal. Tanto Vickers como Knoop aplicam cargas também pequenas, entre | a 1000 gramas e destina-se arealizagio de ensaios de micro-dureza Finalmente o ensaio Rockwell (1922) que 4 0 método maia correntemente usado, pois é muito simples de executar no exige habilidades especiais. O método de Rockweel permite o ensaio de todos os metais ¢ ligas, desde os mais duros aos mais macios, Diversas escalas so usadas a partir de combinagbes possiveis de varios penetradores ¢ diversas cargas. Os penetradores utilizados nestes ensaios sao do tipo esférico (esfera de ago temperado) ou cénico (de diamante com conicidade de 120 graus), conforme ilustrados na Tabela 4.4. Neste método o numero indice de dureza ¢ determinado pela diferenca de profundidade de penetrago que resulta de uma carga inicial menor seguida por uma carga principal maior. Com base na grandeza das cargas citadas, a maior e a menor, existem dois tipos de ensaios: Rockwell e Rockwell superficial. No primeiro caso, a carga menor é de 10 kg, enquanto as cargas principais so de 60, 100 e 150 kg. Cada escala é representada por uma letra do alfabeto e esto listadas com seus penetradores ¢ cargas respectivas na Tabela 4.2. Tabela 4.3 Escala de dureza de Rockwell ‘Slanbaio da ssl Penoiador ‘Carga pins A Diamante 60 B Tea com 1/16 poh 100 c ~___ Diamante 150 D Diamante 100. E fra com U8 po 10 F Esfera com 1/16 pol 60. € sfera com W/16 pol 156) i ‘Esera com 1/8 pol 60 K Esfera com Lif pol 150) ara ensaios superficiais, a carga menor é de 3 kg; valores possiveis para a carga principal sio 15, 30 ou 45 kg. Essas escalas estio identificadas por um 15, 30 ou 45 (de acordo com a carga) seguido pelas letras N,T, e W, dependendo do tipo do penetrador. Os ensaios superficiais so feitos para corpos de prova mais fino e delgados. A Tabela 4.4 apresenta as varias escalas superticiai Ao especificar a dureza Rockwell ¢ superficial, tanto o nimero indice de dureza como 0 simbolo da escala deve ser indicado. A escala Rockwell ¢ sempre indicada pelo simbolo HR, seguido pela identificagio da escala apropriada, Exemplos: 80 HRB representa uma 45 aaeeaescennaananaanaasisgtesacanan a a a a a a2 eee MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA ~ VOL. dureza Rockwell de 80 na escala B; 60HR30W indica uma dureza superficial de 60 na escala 30W. O dispositivo modemo para efetuar medigdes de dureza Rockwell é automatizado e muito simples de usar; a leitura da dureza é direta ¢ exige apenas alguns segundos. Tabela 44 Escalas de dureza Rockwell superficial ‘Simbolo da escala ‘Penetrador_ ‘Carga principal kg. 15N Diamante 15 aN Diamante 0 aN iaman as ist Fata com 1/16pol is Or Estes oom 1716 pol 30 ‘sr stra com 1716 pol a5 sw. Esfera om 18 pol 15 30W Esfera com 18 pol a0 4507 Esfera com 18 pol 45 4.5 - OUTRAS PROPRIEDADES ‘A tenacidade & a medida da energia necesséria para tomper o material. Difere da resistencia & tragdio (ou & compresséo), que é a medida da tensio necesséria para romper 0 material. ‘A maneira como a carga é aplicada é muito importante para determinagao da tenacidade. Para uma condigdo dindmica e quando um entalhe ou ponto de concentragdo de tensfo est presente, a tenacidade é determinada por ensaios padronizados de Charpy e Izod. Outrossim, a tenacidade medida por ensaio de impacto é uma propriedade indicativa da resisténcia do material a fratura quando uma fenda esté presente. Para a tenacidade medida sob a condigao estética cla pode ser determinada pelos resultados obtidos no diagrama tensio versus deformaglo; é representada neste caso pela drea sob a curva tenslo versus deformagéo até 0 ponto de fratura ¢ sua unidade € energia por unidade de volume do material (J / m’). A resiliéncia & a capacidade do material absorver energia quando deformado elasticamente ¢ devolver esta energia quando a carga aplicada é removida. Ela também é mensurada pela rea sob a curva tensdo versus deformago (no regime elastico) ¢ expressa em unidades de energia por unidade de volume do material. Denominam-se materiais resilientes aqueles que apresentam uma elevada tensio (trago ou compressio) associada a um baixo modulo de elasticidade, Materiais com tais caracteristicas so usados para fabricagao de molas. A fluéncia (na literatura técnica inglesa conhecida como “ereep”) ¢ outra propriedade que pode ser definida como uma deformagao continua que ocorre, com a passagem do tempo, em materiais sujeitos a uma tens%o constante. Esta deformagio ¢ plastica ¢ se verifica mesmo que a tensio atuante esteja abaixo do limite de escoamento do material A 46 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA ~ VOL. I resisténcia ao escoamento de um material é a medida da tensio estitica que este pode ssuportar sem que apresente qualquer deformago permanente. Um exemplo interessante de fluéncia tem ocorrido com os cabos aéreos das linhas de transmissao elétricas de alta tensfio. Grandes vaos sujeitos a uma tensio mecénica constante, durante muitos anos, sofrem um processo de fluéncia, acarretando um aumento da flecha dos condutores e alteragdes das distancias minimas do condutor energizado a0 solo. Finalmente a “fadiga” que se refere a uma forma de falha do material sob a ago de tensdes ‘lutuantes ou repetidas. Sob estas condigdes é possivel ocorrer a fratura do material, mesmo que o nivel de tense aplicado saja consideravelmente mais baixe que o valor limite que ‘material pode suportar sob uma carga estitica. O termo “fadiga” é usado porque este tipo de falha normalmente ocorre apés um longo periodo de tensdes ciclicas. A fadiga & importante porquanto é apontada como a responsavel por 90% das faléncias metélicas. Outrossim, a fadiga é catastréfica e insidiosa, ocorrendo sua falha de forma sibita e sem aviso. Muitas causas da fadiga so devidas a vibragdes nao previstas e muitas vezes no detectadas. No campo da engenharia elétrica ocorrem casos de fadiga, com rompimento de fios condutores dos cabos de aluminio usados em linhas aéreas de alta tensiio. No ponto de sustentagéo, 0 cabo sofre esforgos altemativos provocados pela vibragdo produzida pelos ventos. Veja a foto da Fig. 4.3, Fig. 4.3 ~ Danificagio produzida num eabo condutor ACSR de uma vibragao edliea. Observam-se virias pernas partidas do cabo. Foto do autor. ia de transmissf0 produzida por " e222 2228 4424444420444 28446 2040286080608022800028 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF, AELFO MARQUES LUNA - VOL. I CONCEITOS CHAVES Tensio de tragio Tensio de compresstio Deformagao elistica Deformagao plastica Elongagio Midulo de elasticidade ou de Young Lei de Hooke Maleabilidade Ductilidade Dureza Escala Brinell ‘Tenacidade Resitigncia Fluéneia Fadiga QUESTOES PARA ESTUDO 4.1 ~ Enumere as propriedades mecénicas mais importantes dos materiais utilizados em engenharia elétrica? 4.2~ O que se entende por deformagao elssticae plistca de um material? 43 ~ Faga um gréfico mostrando as relagdes entre as tenses mectnicas aplicadas a um material e as ‘doformagies devorrentes. Explique a lei de Hooke e fale sobre 9 médulo de Young, 44 ~ Uma barra com o ditmetro igual a 1,25 cm, suporta uma carga de 6500 kgf. Qual a tensio que solicita a barra? Seo material da barra possui um médulo de elasicidade de 21000 kef/mm’, qual a deformaggo que a barra softe ao ser solicitada pela carga de 6500 kgf? ‘4.5 — Uma barra de aluminio com 1,25 cm de difmetro possui duas marcar que distam entre si de 50 em. Os seguintes dados s80 obtidos quando cargas de trafo slo progressivamente aplicadas na barra. Carga — kg Distincias enire as marcas, em mm 900, 30,03 1800, 50,09 2700 50,15 3600 54,80 Pergunta-se qual & 0 médulo de elasticidade da barra? 46-0 que se entende por “dureza” de uma material.? Como medir esta grandeza? 4.7— 0 que se entende por “ductilidade” “maleabilidade” de um material? Ressalte a importincia dessas propriedades nas aplicagSes em engenharia elétrca 4.80 que se entende por “tenacidade” de um material ? 4.9~ Explique o que significa “resiliéncia” de um material equal o campo de aplicagSes que esta propriedade muito apreciads. ? 4.10 ~Considere uma barra cilindrica fabricada com uma determinada liga de metais e que tem um diémetro de 8mm. Uma forga de 1000 N ¢ aplicada axialmente na barra cilindrica, produzindo no seu diémetro uma Fedugéo elistica de 2,8 x 10 mm. Calcule 0 modulo de elasticidade desta pesa, sabendo-se que a relaylo. ‘entre as elongagGes radial ¢ axial ¢ de 0,3. MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOL. I CAPITULO V PROPRIEDADES TERMICAS ‘As propriedades térmicas estio relacionadas com o comportamento material perante a aplicago de calor. & importante fazer uma distingio entre calor ¢ temperatura. Calor é energia sob forma térmica ¢ a temperatura representa 0 1 de atividade térmica do material. 5.1 -ESCALAS TERMOMETRICAS E UNIDADES DE CALOR © material ao absorver energia sob forma de calor, sua temperatura aumenta € suas dimensdes sio alteradas. A energia calorifica pode ser transportada para regides mais frias, tanto pertencentes ao mesmo espécime como para outros materiais, desde que estas regides ou estes corpos estejam sujeitos a temperaturas diferentes. No caso de ‘um mesmo corpo fala-se em gradiente de temperatura, {As escalas termomeétricas mais utilizadas sfo: as escalas Kelvin,de graus centigrados Celsius © de graus Farenheit, usada pelos ingleses e americanos. © SI recomenda utilizar a escala de graus absolutos Kelvin, cujas relagdes com Celsius e Farenheit sdo as seguintes: K =273,15° +t °C K =255,37 +5/9t°F As relagdes entre Celsius e Farenheit sfio dadas pelas expresses abaixo; °F =9/5 °C +32°C °C -=5/9 CF -32) A energia sob forma de calor, assim como a energia mecdnica, é uma coisa intangivel. ‘A unidade de calor nfio pode ser conservada no Instituto de Padrées. Trés unidades existem de uso muito freqtiente: Grande caloria ou quilo-caloria -keal Pequena caloria ou caloria-grama -cal Bristish Thermal Unit -BTU A grande caloria é definida como a quantidade de calor necesséria para aumentar de um grau centigrado a temperatura de um quilograma de égua. A caloria-grama é a quantidade de calor necessaria para aumentar de um grau centigrado um grama de agua. O BTU por sua vez, corresponde a quantidade de calor necesséria para elevar de um grau Farenheit uma libra d’dgua (1 libra = 0,45359 ke). I keal = 1000 cal 1 BTU = 0,252 keal = 252 cal 49 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOL. I Uma relagdo importante entre as unidades de calor ¢ as unidades mecénicas de energia foi obtida pelas experiéncias de Joule para determinagao do equivalente mecénico do calor. Nesta experiéncia certa quantidade de energia mecénica mensurdvel é completamente transformada em uma quantidade de energia térmica, também mensuravel. Nos processos mais modemos a energia elétrica ¢ convertida em calor por meio de uma resisténcia elétrica imersa na gua. Os resultados dao até hoje: 1 keal leal 4.186 joules 4,186 joules ua 5.2 - CAPACIDADE CALORIFICA Um material quando aquecido experimenta um aumento de temperatura significando que alguma energia foi absorvida pelo mesmo. A capacidade calorifica é a propriedade indicativa da habilidade do material absorver energia calorifica de uma vizinhanga extema. Representa a quantidade de energia requerida pelo material para produzir um aumento de uma unidade de temperatura. Ou, em outras palavras, a capacidade calorifica & a relagio entre a quantidade de calor cedida ao material € 0 acréscimo de temperatura correspondente que se verifica no material Matematicamente pode ser expressa assim: CHdQidT 1) Onde dQ é a energia requerida para produzir a mudanga de dT de temperatura, ou ainda: C=QAT (52) pode ser expresso em keal ou cal por graus centigrados ou Kelvin, No caso de AT = 1, 8 capacidade calorifica ¢ igual numericamente a quantidade de calor que deve ser cedida a0 corpo para aumentar sua temperatura de um grau. Denomina-se de capacidade calorifica especifica de um material a, sua capacidade calorifica por unidade de massa (mm) desse material. Designa-se pela letra ¢ minascula: c=Q/maT (5.3) A capacidade calorifica especifica é expressa em Jkg.K, ou J/g.K e também por cal/g°C ‘A equagdo acima, quando escrita assim: Qz=meAT |, (6.4) representa a equaco geral da teoria calorimétrica, ou seja, diz da quantidade de calor que é absorvida por um corpo de massa m e capacidade calorifica especifiea c, quando submetido a uma variagio de AT graus. 50 ‘MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOL. 1 Na realidade a capacidade calorifica especifica pode ser mensurada, de acordo com as condigdes ambientais que acompanham 0 processo de transferéncia do calor. Uma deles considera a capacidade calorifica especifica cy mantendo o espécime da amostra sob volume constante, outro considera constante a pressdo e neste caso ¢ denotado de fp. A grandeza de ¢p € sempre maior que ¢,, entretanto, esta diferenga é muito pequena para a maioria dos materiais sdlidos, na temperatura ambiente, Abaixo sio indicados alguns valores de cp (expressos em J/kg.K) x Tabela 5.1 - volones DE

Ty a tensfio introduzida seré de compressio (<0) . Se a barra for resfriada (Tf < To) a tensdo imposta ao material serd de tragdo (0 > 0 ). Tabela 5.3 (propriedades térmicas de alguns materiais) [Material GORER) [CCI ]_ECWinRY ‘METALS € LIGAS ‘Aluminio 300 236 27 ‘Cobre 386; 179 398 ‘Ouro 128 142 315 Ferro) a8 118 30 Niguel 443 13,3 90 Prata 235 197 428 Tungstéaio 138 45 178 “Ago 1025 “486 12,0 31.9 ‘Ago puro 316 302 16,0 ie Latao(70Cu-30Zn) 375 20,0 120 Kovar (54Fe-29Ni-17C0) |__460__| 5,1 1 Tavar (64Fe-36Ni) 500. i ‘CERAMICOS Alumina (ALO3) 7, 76 3 Magnesia (MgO) 940 13,5 31,7 Silica fundida (SiO) 740. 14 Vidro Pyrex 850 La idro soda-cal 340 9.0 ir POLIMEROS Polietileno (alta 1850 106-198 0,46-0,50 densidade) Polipropileno 1925 145-180 O12 Teflon 1050 126-216 0,25 Baquelie 1590-1760 12 Os Nylon 6.6 1670 lad O24 Tabela adaptada de William D. Callister Jr. ~ “Citncia ¢ Engenharia de Materiais: Uma Introdueto” - LTC Editora-SP 35 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOL. 1 CONCEITOS CHAVES ‘Temperatura Escalas termométricas Caloria Capacidade calorifica Capacidade calorifica especifica Coeficiente de condutividade térmica Condugao térmica por convecg0 Condugao térmica por irradiagao Coeficiente linear de expansio térmica ‘Tensdes térmicas QUESTOES PARA ESTUDO 5.1 ~ Caleule a quantidade de energia necesséria para elevar a temperatura de 20 para 150°C de 5 kg. dos seguintes materais:aluminio, fero e polietileno. 5.2 ~ Qual a elevagtio de temperatura necesséria para que uma amostra de ago (steel 1025, veja tabela), ‘com 25 libras de massa ea 25 °C, absorva 125 BTU de energia térmica. ? 5.3 - Enuncie quais sto as diversas formas que o calor pode ser transmitido e destaque qual destas Formas & a mais largamente utilizada para o arrefecimento dos equipamentos eletro-eletrOnicos, 54 — Uma parede com 12,5 om de espessure possui uma condutividede térmica de 0,000495 calemfem? °C, Qual a perda de calor por hora, através desta parede, se a temperatura interna € de 55 Cea externa de 20°C 5.50 coeficiente médio de dilatago térmica de uma barra de ago € de 13,5 x 10°C. Qual variagho de temperatura ¢ neessia para produzir a mesma variago linear que uma tensBo de 63 kgf? 5.6 ~ Os sistemas de arrefecimento dos dispositivos eletro-cletrGnicos so extremamente importantes na definigdo da poténcia que pode ser posta em jogo pelos equipamentos, sem prejuizo da estabilidade térmica dos materiais que os constituem, especialmente os dielétricos © semicondutores. Explique porque um diodo tem sua potencia aumentada quando se coloca sobre ele uma “aleta” metalica. Qual a natureza da dissipagdo térmica que se verifica e qual o fator predominante que concorre para esse aumento ? 5.7 « Um condutor com isolagio de PVC € colocado no interior de um eletroduto metélico fechado, ‘exposto ao tempo. Descreva como a energia térmica gerada pelo condutor energizado ¢ dissipada no meio ambiente. Quais 0s recursos que poderiam ser utiizados para aumentar a poténcia de dissipayao com o mei de ambiente? 5.8 ~ Descreva os mecanismos tmicos de arrefecimento de um transformador. Indique quai s80 os agentes geradores de calor neste tipo de equiparnento ? 56 O66 OOOOH AAEAEAAEAEAAAEHOHAABADALE MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA - PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOL. I 7 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOL. I CAPITULO VI PROPRIEDADES ELETRICAS As propriedades clétricas dos materiais decorrem da interagio de campos elétricos com as particulas eletricamente carregadas existente no seio do material, 6.1 -CONDUTIVIDADE E RESISTIVIDADE ELETRICA. A condutividade elétrica revela a facilidade do material transmitir uma corrente elétrica quando sujeito 2 um gradiente de tensio elétrica, A lei de OHM relaciona a intensidade da corrente elétrica I (carga elétrica por unidade de tempo que atravessa a segdo reta do material condutor) com a fensao elétrica aplicada U. U=R (6.1) onde R é a resisténcia que o material oferece a passagem da corrente, U ¢ expresso em volts (1/C), a corrente I em ampéres (C/s) eR em ohms (U/A). A grandeza de R ¢ influenciada pela natureza do material ¢ pela geometria do corpo. Deste modo: R=pWVA,onde: (6.2) p € a resistividade, ou seja, a caracteristica do material que independe da sua geometria, | a distancia entre os dois pontos na qual a tensio elétrica é aplicadae a segdo transversal A. Tem-se assim: p =RA/L 63) As unidades da resistividade so expressas em ohm.metro. O conceito de condutividade elétrica também é usado para caracterizar o material. A condutividade elétrica € simplesmente o inverso da resistividade assim como 2 condutincia é 0 inverso da resisténcia , expresso no SI pela unidade Siemens. E um indicativo da maior ou menor facilidade de condugao elétrica que o material apresenta. As unidades de condutividade sio (ohm.m) “! ou Sicmens/m, os =l/p (6.4) Na discussdo sobre as propriedades elétricas dos materiais ambos os conceitos de condutividade e resistividade serdo considerados. Aduz-se ainda que a lei de Ohm pode ser também assim formulada: J=0E (6.5) 56 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA ~ VOL. I Onde J é a densidade de corrente do espécime (ou seja VA) e E representa a intensidade do campo elétrico, ou seja, a tensio elétrica aplicada entre os dois pontos do material dividida pela distancia que os separa, isto é: E-uA (5.6) ‘A demonstragao da equivaléncia das duas expresses da lei de Ohm & deixada aqui como um exerefcio para o leitor. Os materiais apresentam uma fantastica série de valores de condutividade elétrica, estendendo-se sobre 27 ordens de grandeza. Provavelmente nao hé outra propriedade fisica que exiba uma to larga faixa de variago quanto a condutividade elétrica. De fato uma das maneiras de classificar os materiais é de acordo com a sua maior ou menor facilidade com que conduzem a corrente elétrica. Desta forma os materiais podem oor agrupados om condutorat, somicondutores o ixolantes ou dialétricos. Os metais se apresentam como os methores condutores, com uma condutividade tipica de 10’ (Q.m)'. No outro extremo desta série esto os materiais de baixa condutividade, variando de 10" a 107° (Q.m)', sio os denominados materiais isolantes. Materiais com condutividade intermediéria, geralmente de 10° a 10° (Q.m)''sio chamados de semicondutores, 6.2 - BANDAS DE ENERGIA NOS MATERIAIS SOLIDOS Como jé foi abordado no capitulo 2 para cada stomo individualmente existem niveis discretos de energia que sio ocupados pelos elétrons, arranjados em camadas ¢ subcamadas. As camadas so designadas por nimeros inteiros (1,2,3, etc.) ; as sub- camadas pelas letras (s, p ,d ,¢ f). Para cada uma dessas subcamadas existem, respectivamente, um, trés, cinco e sete estados energéticos. Os elétrons, na maioria dos dtomos preenchem primeiramente os estados de mais baixos niveis de energia, Iembrando ainda que apenas dois elétrons, de spins opostos, podem ocupar cada estado energético, conforme o principio de exclusdio de PAULI. A configuragio dos elétrons em um dtomo isolado é representada pelo amranjo.desses elétrons dentro dos estados permitidos O material sélido pode ser concebido como constituido de um elevado mimero de fitomos, N dtomos, que inicialmente esto separados uns dos outros ¢ que sto reunidos, juntos uns aos outros ¢ ligados entre si por ligagdes interatomicas, de modo a formarem um arranjo atOmico ordenado, como por exemplo, nos materiais cristalinos, Quando os dtomos esto separados entre si por relativas longas distancias, cada étomo independente um dos outros e ele tera niveis e configuragdes energéticas dos seus elétrons como se fosse isolado. Entretanto, quando se avizinham de outros tomas, os elétrons de cada étomo so perturbados ou agitados pelos elétrons ¢ niicleos dos tomos adjacentes. Essa influéncia é tal que cada distinto estado atémico pode desdobrar-se em uma serie de novos estados dos elétrons, bastante préximos uns dos outros, entretanto, espacados entre si, de tal forma que se obtém 0 que se denomina de banda de energia dos elétrons. A largura dessa banda depende da separagao interatémica e comega com os elétrons da camada mais externa, desde que eles so os primeiros a serem perturbados quando os étomos sto aproximados. E ¢ dentro de cada banda os estados de energia so ainda 37 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOL. 1 discretos, muito_embora as_diferencas entre estados _adjacentes_sejam ‘sxtremamente pequenas. © nimero de estados dentro da cada banda sera igual a0 total de todas contribuigdes. proporcionados pelos N dtomos que foram reunidos juntos. Por exemplo, uma banda s consistiré de N estados, com 2N elétrons; uma banda p de 3N estados, com 6N elétrons, etc.. Na distancia interatémica de equilibrio, pode ocorrer a ni formagio de bandas para 0s elétrons que se encontram em estados energéticos muito proximos do niicleo, com ilustrado na Fig. 6.1 Contudo, intervalos (ou gaps) podem existir, entre bandas adjacentes, tal como ilustrado na fig. 6.1. Normalmente os niveis energéticos existentes no interior dessas bandas proibidas nao sto dispontveis para serem ocupados pelos elétrons. O modo convencional de representar a estrutura das bandas de energia dos materiais solidus esta indicado da Fig, 6.2. Observa-se que so exibidas apenas as bandas de valéncia, ou seja, aquelas que contém os mais altos niveis de energia e pela banda de condugdo que € a banda seguinte de mais alta energia e que na maioria das circunstncias encontra-se virtualmente desocupada de elétrons. As propriedades elétricas do um material sélido so, portanto, uma conseqiléncia das estruturas das bandas de energia de seus elétrons, ou seja, do arranjo dos elétrons da camada mais externa, ou seja, mais especificamente, da banda de valéncia e da maneira como ela ¢ preenchida pelos elétrons. Evargy Earn seston ‘eecg a w Fig. 6.1 — (a) Representacto convencional da estrutura das bandas de energia dos elétrons num material sélido, na posiglo de separasdo interatomiea de equilibrio. (b) Nesta parte da figura observa-se as energias dos elétrons versus a sua separagio interatdmica para um agregado de tomos, ilustrando como a estrutura de banda de energia é gerada na posigao de separagio interatdmica equilibrads, visto na parte esquerda (a) do desenho. (adaptado de 2.D. Jastrzebski = “The nature and properties of engineering materials” - Edt. John Wiley and Sons ~ 1987 — EUA). Sio possiveis quatro diferentes tipos de estruturas das bandas de energia, conforme Fig. 6.2. a) A banda de valéncia ¢ somente parcialmente preenchida pelos elétrons. A energia correspondente ao mais alto estado preenchido pelo elétron é denominado de nivel 58 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF, AELEO MARQUES LUNA ~ VOL. 1 de Fermi ( Ej) como indicado na figura mencionada por iltimo. Esse tipo de estrutura de bandas de energia € tipico de alguns metais, em particular daqueles que tém uma camada s com apenas um elétron, (exemplo: o cobre). A estrutura do cobre é 1s°2s°2p°3s°3p°3d!°4s'. Assim, cada atomo de cobre tem apenas um elétron na banda 4s, entretanto quando juntos N dtomos. a banda 4s é capaz de acomodar 2N elétrons. -Dessa forma somente metade das posigdes dentro da valéncia 4s esté preenchida. Como existem estados de energia vazios adjacentes aos estados ocupados, a aplicagio de um campo elétrico pode acelerar faciimente 60s elétrons produzindo a.corrente elétrica. ) O segundo tipo € também encontrado nos metais cuja banda de valéncia esta totalmente preenchida, porém essa banda recobre a banda de condugao, a qual, como € sabido na auséneia desta superposigao seria completamente vazia. O megnéaio 6 wm motal que pode servis de exemplo para esto caso: 12289p/e, cada tomo isolado de magnésio tem dois elétrons de valéncia, entretanto, quando © sblido formado as bandas 3s ¢ 3p se sobrepem. Os elétrons de valéncia podem ter suas enetgias aumentadas, pela ago do campo elétrico, dentro da banda 3p, de tal forma que o magnésio conduz eletricidade muito facilmente. A situagio ilustrada na Figura 6.2, letras (a) e (b) sto peculiares dos metais, onde a passagem de elétrons da banda de valéncia para a banda de condugdo ¢ relativamente facil de ser efetivada. ©) Finalmente as duas iltimas estruturas de bandas (Fig. 6.2, letras c) e d) sd0 semelhantes: para cada uma delas todos os estados energéticos na banda de valéncia esto completamente ocupados, contudo, néo ha superposigao entre elas. Entre elas existe uma banda proibida. A diferenga entre esses dois tipos de bandas epende da magnitude de suas respectivas larguras. Para materiais denominados de isolantes, a banda proibida ¢ relativamente larga (> 2eV), enquanto que para os materiais chamados de semicondutores ¢ estreita (<2eV). O nivel de Fermi para esses dois tipos de bandas situa-se perto da parte central da banda proibida. Years ‘nna a © Fig, 6.2 —-As possivels e variiveis possibilidades de estruturas de bandas de energia nos sélidos. (a) A estrutura de banda de energia dos elétrons encontrada em metais tais como 0 cobre, na qual esto disponiveis estados energéticos acima e adjacente aos estados preenchidos na mesma banda, (b) A estrutura de banda de energia dos elétrons tipiea de metals tais como o magnésio, na qual ha uma superposie#o da banda preenchida de valencia com a banda vazia de condugSo. (c) Estrutura de banda de energia de materiais isolantes; a banda preenchida de valencia é separada da banda vazia de condugo por uma relativamente grande banda proibida (“gap"> 2eV). (0) A estratura de banda de energia de elétrons ¢ encontrada em semleonautores, com a mesma configuragho dos isolantes, excetuando neste caso que a largura dla banda proibida ("gap") & relativamente estreita (< 2eV). (Adapatado de William D. Callister Jr ~ “Ciéneia e Engenharia de Materiais ~ Uma Introduc0” ~ Kditora LTC - Sao Paulo) 39 ae ee OOO OOOO EOOOEAOAADKLABAADAEAEABEOOE MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA — PROF. AELFO MARQUES LUNA — VOL. I 6.3 - CONDUCAO ELETRICA EM TERMOS DAS BANDAS DE ENERGIA E importante anotar que somente os elétrons com niveis de energia maiores que o nfvel. de Fermi podem ser influenciados © acelerados na presenga de um campo elétrico(num metal o nivel de ‘Fermi é a energia que corresponde ao estado eletrénico preenchido mais elevado a 0 K) .Esses elétrons que participam do proceso de condugo elétrica stio denominados de “elétrons livres”. Para os materiais que exibem o modelo de ligagGes metélicas, supde-se que os elétrons de valencia tém liberdade de movimento e formam o chamado “gés eletrénico” que € distribuido de forma uniforme através da estrutura cristalina cujos vértices so ocupados pelos fons formados pelos nicleos dos étomos metélicos. Muito embora eo0es elétrons ndo estejam vinouladoo a nenhum étomo em partioular, oles devem experimentar alguma excitago externa para tomarem-se portadores de carga. Os materiais semicondutores ¢ isolantes exibem modelos de ligagdo tipo iénica ou covalente, onde todos elétrons da camada de valéncia esto comprometidos. Os estados energéticos vazios adjacentes ao topo da banda de valéncia preenchida no sto disponiveis. Para tomar-se livre 0 elétron tem de ser algado através da banda de energia proibida, na diresdo dos estados energéticos vazios que existem na banda de condugdo, Iss0 somente sera possivel com o aporte ao elétron de uma certa quantidade de energia que é igual a diferenga entre esses dois estados, ou seja aproximadamente igual a diferenga entre as energias das bandas de valencia e condugao. Como jé visto, em muitos materiais a banda proibida apresenta uma largura relativamente grande, expressa em elétron-volts ( eV = 1,602 x 10"! J). Muitas vezes esse aporte de energia pode ser de origem nao elétrica, tais como: calor, radiagSes (lu2), sendo mais usual esse aporte ser de natureza elétrica, niimero de elétrons que podem ser excitados termicamente para alcangarem a banda de condugo depende da largura da banda bem como da temperatura. Para uma dada temperatura, quanto maior for a largura da banda proibida, menores serlio as probabilidades de que um elétron de valéncia alcance um novo estado energético dentro da banda de condugdo, isso resulta em muitos poucos elétrons condutores, Em outras palavras, numa dada temperatura uma banda proibida de grande largura resulta em baixa condutividade elétrica. A distingdo basica entre semicondutores e isolantes reside, portanto, na largura da banda proibida; para os semicondutores ela € estreita e para os materiais isolantes ela é relativamente larga. Acrescente-se que nos materiais isolantes as ligagdes atémicas sio idnicas ou covalentes e deste modo os elétrons sio fortemente ligados aos seus dtomos individuais. Por outro lado aumentando-se a temperatura, de um semicondutor ou de um isolante, resultaré num aumento da energia térmica que € disponivel para a excitago do elétron, Deste modo mais elétrons podem ser algados para a banda de condugao, o que resulta num engrandecimento da condutividade elétrica do material. Nos semicondutores as ligagdes sto covalentes (ou predominantemente covalentes) € relativamente fracas, o que significa que os elétrons de valéncia nao estao fortemente vinculados aos seus tomos individuais. Consequentemente esses elétrons podem ser removidos mais facilmente por uma excitagfio térmica do que nos isolantes. 60 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOL. 6.4 - MOBILIDADE DOS ELETRONS A interagio do campo elétrico aplicado com os elétrons livres existentes no seio do material determina uma aceleragiio dessas particulas, em direg&o oposta ao sentido do campo, em virtude de ser uma carga negativa. De acordo com a teoria quantica ndo existe nenhuma interago entre um elétron livre acelerado ¢ os atomos que constituem uma rede cristalina perfeita. Como se sabe 0 elétron € uma particula pertencente a familia dos “leptons”, ou seja, das particulas vigjantes © se desloca com uma velocidade escalar média de 10° em/s Em tais condigdes todos os elétrons livres poderiam ser acelerados continuamente pelo ‘campo, enquanto sua ago perdurasse, o que acarretaria uma elevagdo continua da corrente com a tempo, Entretanto, observa-se que a corrente elétrica busca um valor constante, a partir do instante que o campo ¢ aplicado, indicando assim que existe 0 que poderia ser denominado de “forgas friccionais” que contrariam a aceleragio dos elétrons pelo campo extern. Essas “forgas friccionais” decorrem do espalhamento ou as deflexdes no percurso dos elétrons provocadas pelas imperfeigdes existentes na rede cristalina, tais como: impurezas de tomos,(étomos intersticiais ou substitucionais), vacdncias, deslocamentos ¢ vibragdes térmicas dos proprios étomos. Quando da ocorréncia de um evento de espathamento, o elétron perde energia cinética e muda de dirego de seu movimento, conforme esti ilustrado na Fig. 6.3. Contudo, registra-se um deslocamento real do elétron, na direg%o oposta a do campo e ¢ este fluxo direcionado de portadores de carga que constitui a corrente elétrica, Esse deslocamento efetivo do elétron sob a ago do campo (drifty velocity, ou velocidnde de arraste)) é designado de vj e sua ordem de grandeza é da ordem de 107 em/s Seating eves bags Fig. 63 — Diagrama esquemstico mostrando © caminho percorrido por um elétron que sofre deflexdes provocadas pelos eventos de espalhamento a que & submetido.( Adaptadp de William D. Calister ~“Ciéncia « Engenharia de Materiis- Uma Introdusao * ~ Editora LTC ~ Sio Paulo) © fendmeno da dispersio sofrida pelos elétroris é a manifestagdo da resisténcia oferecida pelo material a passagem da corrente elétrica Varios parametros podem descrever este fenémeno do espalhamento dos elétrons. O primeiro deles é a velocidade va de deslocamento efetiva do elétron (arraste) sobre a ago do campo elétrico . Ela representa a velocidade média de deslocamento do a ant tn eee eeneenaee MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOL. I elétron na diregdo imposta pelo campo. Esta velocidade ¢ proporcional ao campo elétrico. Va =He-B (67) A constante de proporcionalidade jig € denominada de “mobilidade” e é uma medida com que se desenvolve o movimento de arraste das cargas (clétrons). Sua unidade & 0 metro quadrado por volt.segundo (m’/ V.s). Acondutividade o da maioria dos materiais pode ser expressa como: o =n. ee (6.8) onde, m representa o numero de clétrons livres por unidade de volume ¢ representa carga elétrica do elétron ( valor absoluto ) que é de 1,6 x 10” C. Conelui-se assim que a condutividade ¢ proporeional ao nimero de elétrons livres ¢ a mobilidade do elétron. 6.5 — RESISTIVIDADE DOS METAIS Como ja observado anteriormente os metais so excelentes condutores de eletricidade. A tabela a seguir apresentada relaciona a condutividade, na temperatura ambiente, dos prineipais metais condutores utilizados pela industria elétrica. Tabela 6.1 Metal ‘Condutividade (Q-m)"" x 10" Prata 68 |__—“Cobre 60 Ouro a3 lumtnio 38 1 Ferro io Plating 094 ‘Ago puro 02 Sabe-se que a alta condutividade dos metais decorre da clevada quantidade de elétrons livres existentes neste tipo de material e que podem ser facilmente excitados para ‘ocuparem estados energéticos vazios, acima do nivel de Fermi, Nesta altura é conveniente discutir a condutividade dos metais em termos da resistividade, a reciproca da condutividade, ou seja: p= lle =1/n.e. pe (6.9) Desde que as imperfeigdes da rede cristalina atuam como principais causadores do espalhamento dos elétrons, o aumento delas determina o aumento da resistividade do metal, A concentraglo dessas imperfeigbes depende dos seguintes fatores: temperatura, composigao ¢ grau de encruamento do metal. a MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA ~ VOL. 1 ‘Tom-se notado experimentalmente que a resistividade total de um metal ¢ a soma das contribuigdes oriundas das vibragdes (érmicas, das impurezas e das deformagdes plasticas sofridas pelo material.. Isso pode ser assim representado: Prout = Pr + pit Pa (6.10) nas quais p, pr, pa representam as contribuigdes individuais das vibragdes térmicas, imperfeigdes e deformagées, respectivamente. Esta expressio & conhecida como “regra de Matthiessen”. A influéncia de cada uma das p varidveis da equagdo 6.10 sobre o total da resistividade do material é demonstrada pela Fig. 6.4, a qual representa aa variagSee da resistividade verous temperatura do cobre © do algumas ligas deste metal com o niquel (estados recozido e encruado). A natureza dos aumentos individuais de cada uma das parcelas da regra de Mathiesen esto indicadas para a temperatura 100 °C , na figura mencionada. Temperate) 400-300-200 =190_ oso cos saz hei vests (2m x 10-6) Tiss 100 $50 Tempers) Fig, 64 Grito representativo da variacdo da resstividade versus a temperatura para o cobre puro e tris liges de cobre-niquel tem fuma eles submetide a wm processo de deformarae mecdnica, AS uigbes pera aumento da resistividade decorrentes da excitagho térmica, impurczas ¢ deformacio estao indicadas na ordenada de -100C — (Adaptado de William D. Callister Jr. ~“Citncia e Engenharia de Materiais - Uma Lotrodugao" - Editora LTC ~ Sao Paulo) 6.5.1 - INFLUENCIA DA TEMPERATURA Para os metais puros a resisti ‘equago abaixo: idade varia linearmente com a temperatura, conforme a Pr = Po + Pot(T To) (6.11) a MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOL. I Nesta expresso anterior cy representa o coeficiente de variagdo da resistividade do metal com a temperatura, peculiar a cada metal e é definido por: a=AT/p,Ap (12) Essa dependéncia do componente de resistividade térmica é decorrente do aumento da vibragio da rede cristalina e das outras irregularidades do cristalino, que funcionam como centro de eventos de espalhamento dos elétrons. 6.5.2- INFLUENCIA DAS IMPUREZAS. A introdugio de impurezas no metal, sob forma de solugdo sélida, determina um acréscimo de sua resistividade do material. Na temperatura ambiente, a influéncia produzida no cobre puro pela introdugdo de um impureza como 0 niquel pode ser vista na Fig. 6.5. verifica-se que um porcentagem de niquel acima de 50% toma-o solivel no cobre. Os dtomos de niquel no cobre agem como centro de espalhamento dos elétrons livres. Eo aumento da concentragao de niquel resultaré num aumento da resistividade. eleuicaeisthaty (10 A= md CSCS Corocetin vt Ni Fig. 6.5 ~ Grafica representative da variagfo da resistividade do cobre versus a composigo da liga cobre-iquel, na temperatura ambiente. ~ (Adaptado de William D. Callister Jr ~“Ciéncia e Engenharia de Materiais — Uma Introdugio” ~ Editora LTC ~ Sio Paulo) 6.5.3 - INFLUENCIA DAS DEFORMAGOES PLASTICAS As deformasées plisticas também determinam a clevagio da resistividade dos materiais, como resultado de um acréscimo do nimero de deslocamentos na rede cristalina’ do metal, provocando um aumento da freqiiéncia de cspalhamento dos elétrons, O efeito das deformagdes plisticas sobre a resistividade pode ser também observada na Fig. 6.4. MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOL. 6.6 - SEMICONDUTIVIDADE A condutividade dos materiais semicondutores nfo é tio alta como a dos metais, entretanto, eles apresentam caracteristicas outras que tornam o seu emprego especialmente itil no campo da Microeletrénica. As propriedades elétricas desses materiais sio extremamente sensiveis a presenga de concentragdes minimas de impurezas em sua composigao. Denominam-se semicondutores intrinsecos aqueles materiais cujo comportamento elétrico é baseado na estrutura intrinseca do material puro; quando as caracteristicas clétricas sio ditadas pelas impureza neles introduzida, o semicondutor é chamado de axtrincaco. Em capitulos mais adiante este assunto serd estudado com mais detalhes. 6.7 - OS MATERIAIS ISOLANTES (DIELETRICOS Sido considerados isolantes aqueles materiais que apresentam uma _baixa condutividade, ou em outras palavras, materiais que exibem uma alta resistividade e sto utilizados para impedir a passagem da corrente elétrica, conforme ja foi visto nas, segdes 6.1 ¢ 6.3. Dicionétio Brasileiro de Eletricidade, da ABNT, define isolante como "wm ‘material no qual a banda de valéncia é uma banda cheia, separada da banda de conducdo por uma banda proibida, de largura tal que, para passar elétrons da banda de valéncia para a banda de conducao, é necesséria uma energia tho grande que & capaz de causar a ruptura do material”. O dielétrico ou isolante pode também ser conceituado como um material cuja propriedade fundamental é a de ser polarizével por um campo elétrico. Os dipolos nos materiais isolantes decorrem de um arranjo assimétrico das cargas positivas e negativas dos atomos ou moléculas. Normalmente estas cargas tém uma simetria elétrica, ou seja, os centros de cargas negativas e positivas coincidem. Sob a ago de um campo elétrico estas cargas experimentam uma distorgao dessa simetria criando pequenos dipolos elétricos, denominados de dipolos “induzidos”. Pode cocorrer que determinados tipos de materiais, em virtude de uma natural assimetria elétrica exibem a presenga de dipolos “permanente”, cuja existéncia independe da agio do campo elétrico externo. A interago dos dipolos com 0 campo elétrico resulta em uma das mais importantes aplicagdes dos dielétricos que so os capacitores. 6.7.1. ~ CAPACITANCIA E CONSTANTE DIELETRICA Quando uma tensio clétrica é aplicada num capacitor, uma das placas toma-se positivamente carregada e a outra negativamente carregada, com o sentido do campo elétrico do positive para o negative. 65 2a ee eee nnnanangesancanannnananannaantansanananea MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA ~ VOL. 1 A capacitincia C é definida como a relagio entre a carga elétrica Q das placas por unidade de tensto aplicada V, tem-se assim: : c=Qiv (6.13) A unidade de capacitancia é coulomb/volt ou farad. Ao se considerar um capacitor de placas paralelas, conforme Fig. 6.7(a), tendo o vacuo na regio entre as placas, a capaciténcia pode ser calculada pela expresso: Cos eeA/L 14) Der 6 / Diiete i Fig, 6.6 ~ Um capacitor de placas paralelas. (2) quando o vicuo esti presente; (b) quando um dielétrico € inserido entre as placas. (Adaptado de K.M. Ralls, T.H. Courtney and J. Wulff “Introduction to Materials Science" Edt. John Wiley and Sons ~ EUA) Onde A representa a area das placas ¢ | o espagamento entre elas. A constante 6 ¢ chamada de permissividade elétrica absoluta do vicuo € é uma constante universal, cujo valor € 8,85 x 10"? farad/metro. Se um material dielétrico for inserido na regidio entre as placas do capacitor ora considerado na Fig. 6.7(b), entao, a capacitincia ¢-determinada por: CHeA/l (6.15) 66 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA ~ VOL. I Onde ¢ € a permissividade absoluta do meio dietétrico interposto, ¢ © qual exibe uma grandeza bem maior que €, Denomina-se permissividade relativa, muitas vezes também chamada de constante dielétrica a seguinte relagao: = 8/ & 616 A constante dielétrica pode também ser definida como a relag&o entre as capacitincias Ce Co, anteriormente estabelecidas pelas equagdes 6.15 ¢ 6.14, respectivamente. Outrossim, pode-se caracterizar a constante dielétrica como a relagao entre as energias armazenadas pelo capacitor nas situagdes (b) e (a) da Fig. 6.7, ou seja: er (UCVAV/UEN?) (6.17) A energia armazenada refere-se a0 trabalho realizado pelo campo elétrico no deslocamento relativo das cargas elétrica (positiva ¢ negativa) existentes no seio do material dielétrico. Esse fenémeno, que serd estudado mais adiante se denomina polarizagao. ‘A constante dielétrica é uma grandeza adimensional ¢ maior que a unidade. Ela representa o aumento da carga clétrica armazenada no capacitor pela insergao do meio dielétrico entre as suas placas. A constante dielétrica é uma das propriedades de importincia fundamental a ser considerada no projeto de um capacitor. Na tabela abaixo esto indicados os valores da constante dielétrica de alguns materiais sélidos: Tabela 6.3 Material €,(60hz) |__e (1Mbhz) Mica 48 15-1000 Porcelana 60 6.0 Vidro 69 6.9 Nylon 6,6 40 3,6 Polietileno 23 2,3 Teflon 21 2 Para os gases a constante dielétrica é aproximadamente igual a 1; para os liquidos varia numa faixa maior que a dos sdlidos. Exemplos: dgua 80; dlcool etilico 26; dleo mineral isolante 2,2 ete. significado fisico da constante dielétrica pode ser mais bem entendido como sendo ‘uma caracteristica de elasticidade elétriea do dielétrico. Nessa hipétese os elétrons orbitdrios, parecem estar elasticamente ligados ou restritos ao niicleo do étomo, como se fossem presos por tiras elésticas. Conquanto esses elétrons possam ser relativamente deslocados das suas drbitas, 0 deslocamento ¢ limitado ¢ diretamente proporcional ao campo eléirico a que esto submetidos. Deste modo, considere-se um capacitor de placas paralelas em presenga de um dielétrico de espessura d, sendo A a area das placas e Q a carga acumulada em cada uma delas. Como a intensidade do campo € uniforme, tem-se que: 07 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA — PROF. AELFO MARQUES LUNA ~ VOL. Q=CV=c(AM).V (6.180 Ou fazendo um novo algébrico: QA = (Vid) = ee (Vd) (6.19) Donde extrai-se a expressio: & = (QUA)! (Vid) (6.20) Analisando a expresso acima obtida, observa-se que a constante dielétrica pode ser assoclada analogicamente com o Inverso da relayau mecauica tcnsao/(deformagao) (modulo de elasticidade de Young) que rege as deformagées elasticas dos materiais (lei de Hooke). Assim 0 esforgo do campo elétrico V/d produz a deformagao elétrica na estrutura do material expressa pela densidade de carga elétrica acumulada (Q/A). Isso mostra que a concepgio de atribuir aos materiais diclétricos uma clasticidade elétrica é apropriada. 6.7.2, ~ RIGIDEZ DIELETRICA Quando um campo elétrico, bastante clevado, é aplicado através de um material dielétrico, um grande mimero de elétrons pode subitamente ser excitado para niveis de energia da banda de condugdio. Como resultado deste fendmeno a corrente elétrica através do dielétrico aumenta de forma considerével dramética, podendo acarretar irreversiveis degradagées no material ¢ talvez sua perda definitiva, Esse aumento considerivel da corrente conduz a formagSo de um arco elétrico (centelha) e conseqdente perfuragiio do material. Este fendmeno é conhecido como “disrupgdo dielétrica”. A rigidez dielétrica representa a grandeza do campo elétrico necessério para produzir a disrupgao dielétrica do material Sendo um campo elétrico, a rigidez dielétrica é expressa pelo gradiente da tensiio elétrica, ou seja, volt por unidade comprimento do Sistema Internacional (SI). Pode-se também dizer que a rigidez dielétrica é o valor limite de campo elétrico que o material isolante pode suportar sem romper-se cletricamente. Normalmente a tensio elétrica é medida em kV e a medida de comprimento, no caso a propria espessura do dielétrico, em cm ou mm. Nos Estados Unidos costuma-se medir a rigidez dielétrica em Volt/mil (mil corresponde a um milésimo da polegada; 1 mil = 0,001 polegada). No caso dos materiais sblidos, quando da disrupgio dielétrica, ocome a sua perfuragdo, verificando-se a destruigao parcial ou total do dielétrico, os quais ndo mais recuperam as suas propriedades isolantes originais, mesmo com a retirada do campo elétrico, A danificago do material tem caracteristicas irreversiveis. Entretanto, nos materiais gasosos ¢ liquidos a perfuragio dielétrica nao tem caracteristicas inreversiveis. Cessada a ag3o do campo elétrico o material regenera-se e readquire sua 68 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA ~ VOL. I propriedade dielétrica. Mais adiante esses aspectos serdo abordados quando do estudo mais detalhado dos materiais dielétricos. Varios fatores influem no valor da rigidez dielétrica de um material isolante, podendo-se alinhar de forma suméria os seguintes: a) Natureza do proprio material; b) Espessura do material dielétrico; ©) Temperatura; d) Natureza do campo elétrico (constante ou alternado); ©) Geometria dos eletrodos; 1) Freqiiéncia; g) Progressto da carga aplicada. Na scopic dedicada a0 ostude dos materiais dielétricas estes fatores sero mais estudados e avaliados. CONCEITOS CHAVES Condutividade elétrica Resistividade elétrica Resisténcia elétrica Densidade de corrente Material condutor Material semicondutor Material isolante (dielétrico) Banda de energia Banda de valencia Banda de condugdo Nivel de Fermi Mobilidade dos elétrons Espalhamento dos elétrons na rede cristalina Forgas friccionais Velocidade de arraste dos elétrons Regra de Mathiessen Capaci Constante dielétrica Permissividade elétrica absoluta do vacuo Permissividade elétrica relativa Rigidez dielétrica QUESTOES PARA ESTUDO 6.1 —A que temperatura a prata tem a mesma resistividade do ouro a 50°C? 6.2 ~ Determine a temperatura na qual a resistividade da prata é 10 ohm.nm (atengto para as unidades)? 6.3 ~ A resistividade do cobre dobra entre 20°C @ 300 °C. A que temperatura a resistividade do aluminio se iguala ao valor maior para 0 cobre? 6.4 -Um fio de cobre possui um didmetro de 0,0027 em. O cobre possui uma resistividade p de 1,7 x 10° ohm.cm, Quantos metros de fio so necessérios para se obter uma resistencia de 3,0 ohm ? 6.5 ~ Se se usar um flo de cabre puro (resistividade ~ 1,7 x 10% ohm.cm) com 0,1 em de didmetro em ‘um cireuito eltrico transportande uma corrente de 10 A, quantos watts de calor sfo perdidos, por ‘metro de fio? Quantos watts mais sero perdidos, e o fio de cobre for substituldo por um de latdo (liga, de cobre + zinco) de mesmo diametro (resistividade do latfo = 3,3 x 10 ohm.cm)? 69 2220222 OOEEOEAAEEDKEDEEAEADHRHADADRHADEODSOADDADE ‘MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA - PROF, AELFO MARQUES LUNA - VOL. 1 6.6 ~ Defina 0 que é constante dielética e explique o seu significado flsico fazendo uma analogia com lei de Hooke, 6.7 A constante dielétrica de uma tira de vidro é 5,1. Um capacitor usando esta tira de vidro com 0.01 ‘em de espessura deveria ter maior ou menor capacitancia que um outro semethante (com mesma area ‘das placas) usando um isolante plastico com 0,005 cm de espessura e de constante dielétrica igual a2. ? {6.8 — Defina o que é rigidez dielética e quais so os_principais fatores que afetam sua determinaglo? © que se entende perfuragio dilétrica de carder “imreversivel” "reversivel”? 6.9 — Dois materiais isolantes A ¢ B tém rigidez dieietrica de 20 ¢ 40 kV/cm, respectivamente, ¢ s80 utilizados como dieléiricos em dois capacitores de mesmas dimensGes geométricas ¢ associados em paralelo, Indaga-se qual o valor da rigidez dielétrica do conjunto? 6.10 Qual a constant dielétricarequerida para um capacitor reter a mesma intensidade de carga, s¢ 0 espayamento entre as duas placas for reduzido de 0.10 mm para 0,06 mm, sem alteragSo da tensdo clética aplicada ? 0 isolamento atual possui uma constant dielétria de 3,3 6.11 — A pesquisa no campo dos materiais plasticos levou a um novo tipo de isolante. A sua rigidez dielétrca 6 de 38 V/u, na frequéncia de 60 c’s. Que espessura deve ter uma camada deste novo plastico para isolar um fio na tenstio de 18500 volts, na mesma freqaéncia e um fator de seguranga de 15% ? 6.12 ~ Considerando como valida a variagio linear da rigidez dielétrica, obtenha a espessura minima para 0 isolamento de um cabo de 25 kV, com uma rigidez dieldtrica de 10 V/u e adotando um coeficiente de seguranga de 20% ? 6.13 — Um capacitor de placas paralelas com um dielétrico de Sxido de tintalo, de espessura de 1 um, tem uma capacitincia de | uF . Pede-se calcular : a) Qual a tensio maxima de operago do capacitor ? ») Calcutar a densidade de cargas livres quando a tensdo aplicada € de 10 V. ( dados: permissividade relativa do éxido de tintalo 28 e rigidez dielétrica de 100 x 10° V/cm.) 6.14 - Um capacitor de placas paralelas, usando um dielétrico de permissividade elétrica relativa de 2,2, tem um espagamento intereletrodico de 2 mm, Se um outro material isolante, com uma constante ielétrica de 3,7 € inserido entre as placas do capacitor dado, pergunta-se qual seré 0 novo espagamento nevessério entre as placas para que a sua capacit6ancia permanega constante ? 6.15 ~ Uma carga de 2,0 x 107” coulombs e armazenada em cada uma das placas paralelas de um capacitor, cujas placas tém uma érea de 650 mm e um espagamento de 4,0 mm. Pergunta-se: a) Qual 0 valor da tensdo elétrica requerida para aquela acumulacfo de carga se entre as placas for inserido um ‘material de constante dielétrica igual a 3,5 7 b) Qual a tensio elétrica requerida se fosse © vacuo utitizado como dielétrico? Para esta Ultima hipdtese pergunta-se qual seria 0 valor da capaciténcia ? c) Caleule os valores do deslocamento eltrico (D) ¢ da polarizagao (P) para a hipétese proposta em a)? 70 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROP. AELFO MARQUES LUNA - VOL. 1 CAPITULO VII PROPRIEDADES MAGNETICAS Uma compreenséo dos mecanismos que explicam 0 comportamento magnético dos materiais permite alterar ou moldar as suas propriedades magnéticas, de modo a atender as conveniéncias de um projeto, 71-083 FENOMENOS MAGNETICOS © magnetismo ¢ um fendmeno pelo qual alguns materiais apresentam uma forga de atrasdo ou de repulsio, ou uma certa influéncia sobre outros materiais, a qual ¢ conhecido pelos homens ha milhares de anos, Os principios e mecanismos que explicam os fendmenos magnéticos so complexos ¢ sutis, © a sua completa compreensdio ainda escapa aos cientistas atuais. Entretanto, ‘numerosos dispositives usados pela tecnologia modema tm o seu funcionamento respaldado nas propriedades magnéticas dos materiais, tais como geradores, motores, ttansformadores, rédio, televisto, computadores, telefones, sistemas de som e video etc. 0 ferro, alguns tipos de ago e alguns minerais como, por exemplo, as magnetitas, so os mais conhecidos exemplos de materiais que exibem propriedades magnéticas. Entretanto, um aspecto nfo muito familiar € 0 fato de que todas substincias so influenciadas, num grau maior ou menor pela presenga do campo magnético. Neste capitulo seré abordado as principais grandezas que quantificam os fendmenos magnéticos, ou seja, os varios vetores de campo e outros pardimetros magnéticos, bem como uma répida descrigao de sua origem. Este tema seré mais desenvolvido no estudo especifico dos materiais magnéticos, em capftulos mais adiante. 7.2-DIPOLOS MAGNETICOS E conveniente supor as forgas magnéticas em termos de campos, ou seja, de linhas de foreas imagindrias que podem ser desenhadas para indicar a dirego e sentido que elas podem atuar em posigdes préximas a fonte geradora do campo magnético. E importante no esquecer que as forgas magnéticas sfio geradas pelo movimento de particulas eletricamente carregadas. A Fig. 7.1(a) ilustra a distribuigaio de campos magnéticos, representados por suas linhas de forga e produzidos por duas fontes: a circulagao de uma corrente elétrica numa espira toroidal © por uma barra de material magnético (ima). Em varios aspectos os dipolos magnéticos sto anstogos aos dipolos elétricos. Os magnéticos podem ser concebidos como sendo produzidos por uma pequena barra magnética, composta de pélos norte ¢ sul a0 invés da-carga elétrica, positiva e negativa, como ocorre nos dipolos elétricos. Os momentos magnéticos dos dipolos sao rtepresentados por um vetor, como indicada na Fig. 7.1 (b). 0s dipolos magnéticos so influenciados pelos campos magnéticos de modo similar a0 que ocorre com os dipolos elétricos sob a agtio dos campos clétricos, ou seja, a forga do n MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA ~ VOL. I ‘campo magnético exerce um torque no dipolo que tende a orienta-lo na diregtio do campo. Um exemplo cldssico deste fendmeno é demonstrado por uma agulha magnética (Dissola) que € orientada pela ago do campo magnético terrestre. () Fig, 7.1- (a) Linhas de forsa de campos magnéticos formadas em volta de uma espira circular ¢ de uunia barra megnética. (b) O momento magnético de uma barra representado por um vetor, ( ‘Adaptado de William D. Callister Jr. , obra Ja cltado em figuras anteriores) 7.3- CAMPOS MAGNETICOS E OUTROS PARAMETROS MAGNETICOS s fonémenos magnéticos podem ser descritos por varios vectores de campo. O primeiro deles é 0 campo magnético H que ¢ aplicado extemamente, chamado também de “campo de excitagao magnético. Se 0 campo H ¢ gerado por meio de uma corrente I que circula numa bobina cilindrica (ou num solendide), constituido de N espiras e com um comprimento 1, conforme esquema da Fig. 7.2, tem-se a expressao 7.1 onde H é expresso em amperé.espira por metro: H=NI/I thie noth @ Fig. 7.2 ~(a) © campo de excitagto magnética H gerado pot uma bobina cilindriea, com N espiras ¢ ‘um comprimento Le na qual circula uma corrente elétriea de intensidade 1. O vetor B, de densidade de fluxo magnético, na presenga do vacuo, é y,H. (b) A densidade de fuxo magnético no material sélido inserido na bobina é igual a ull. - (Adaptado de AG. Guy ~ “Essentials Materials Seience”- Me Graw-Hill Book Co. — New York ~ EVA) n esmeaceeananeaneeeceseneataenennencte2eea£en’4e0n20e0220608 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF, AELFO MARQUES LUNA ~ VOL. Outro vector importante ¢ a “indugao magnética” ou “densidade de fluxo magnético”, denotado pela letra B e que representa a grandeza do campo interno no interior de um ‘material que é submetido & ago de um campo de excitagao H. A unidade de B 0 Tesla ou weber por metro quadrado (Wb/m?). Os vetores B e H so relacionados entre si pela equagaio seguinte; B=pH (7.2) © pardimetro p € denominado de “permeabilidade magnética absolua” , 0 qual & uma propricdade cspecifica de um melo no qual H € introduzido e no qual B é mensurado, tudo conforme ilustrado na Fig. 7.2. A permeabilidade tem dimensdes de henry por metro ‘ou weber por amperé.metro. No vacuo tem-se B= pH (73) Onde po “permeabilidade magnética absoluta do vacuo” e se constitui numa constante universal, cujo valor é 4m x 107 (1,257 x 10°) henry/metro © vector Bo representa a densidade de fluxo no vacuo, como indicado na Fig. 7.2. Outros parémetros sio usados para descrever as propriedades magnéticas nos sélidos, um destes € a denominada “permeabilidade magnética relativa” que é mensurada pela relagio entre a permeabilidade magnética absoluta de um material e a permeabilidade ‘magnética absoluta do vacuo, Trata-se de um nimero adimensional Hr = WI Ho 7A) A permeabilidade magnética relativa é a medida do grau de maior ou menor facilidade pelo qual um material pode ser magnetizado, ou seja, a maior ou menor facilidade com a qual o vector B pode ser induzido no material ante a presenga do vector H Outra grandeza vectorial magnética é a “magnetizag@o” que é denotada pela letra M ¢ definida pela expressio: B=p,H + p.M (7.5) Na presenga do campo H, os dipolos magnéticos existentes no interior do material tendem a se alinhar com o campo extemo H, reforgando sua ago magnetizante. O termo HoM na equagao 7.5 representa a medida desta contribuigao. ‘A grandeza de M é proporcional ao campo externo aplicado, tem-se assim: M= nH . (7.6) B MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA ~ VOL. 1 A constante Ym ¢ chamada de “susceptibilidade magnética” e € uma. grandeza adimensional. A susceptibilidade magnética e a permeabilidade relativa sfo relacionadas entre si pela expressio: to = wee 1 a7) As grandezas magnéticas podem ser eventualmente fontes de algumas confusdes porque texistem dois sistemas de unidades de uso muito corrente. O primeiro ¢ 0 SI (Sistema Internacional MKS racionalizado, cujas unidades primarias so metro, quilograma ¢ 0 segundo) O outro ¢ oriundo do sistema cgs-uem, ou seja, sistema baseado nas unidades centimetro, grama, segundo e unidade eletromagnética). As unidades de ambos, s{mbolus ¢ 05 fatores apropriados de conversio esto indicados na Tabela 7.1 Tabela 7.1 Grandeza | Simbolo | Unidades SI | Unidades | Fatores de conversio egs.vem Indugao B ‘Tesla ou Gauss T Woim? = 10° gauss magnética Weber/m? (densidade de fluxo) Excitagfio H “Amperé.espira Oersted Tamp.espira/m= magnética por metro 4m x 10° oersted Magnetizagio | M | Amperé.espira | Maxwell por Tamp.espira/m = por metro centimetra 10° maxwell/cm™ quadrado Permeabilidade |p, Fienry/m ‘Adimensional | 4nx 107 henry/m= no vacuo Juem Permeabilidade |, | Adimensional | Adimensional rey relativa | w’(ogs) ‘Susceptibilidade | y,,(S1) | Adimensional |” Adimensional n= Hw magnética | 7°m (cgs) 7.4- NOGOES SOBRE A ORIGEM DOS FENOMENOS MAGNETICOS ‘As propriedades magnéticas macroscépicas dos materiais derivam dos momentos magnéticos associados aos elétrons de seus étomos. ‘So conceitos complexos e que envolvem principios da mecanica quantica, os quais fogem do escopo deste trabalho. Em decorténcia disso algumas simplificagdes serio introduzidas para facilitar a compreensio do leitor. " 2k 2 OOS OABEEAEAAEALADAGALORAASSOESEDAAADTEDDEDDSD -MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA ~ VOL. 1 Cada elétron num dtomo tem momentos magnéticos que sto oriundos de duas fontes. A imeira esti relacionada com 0 movimento orbital do clétron em toro do niicleo do tomo; constituindo-se no movimento de uma carga, um elétron pode ser considerado como sendo uma pequena espira toroidal (loop), produzindo um pequeno magneto ¢ tendo um momento magnético a0 longo de seu eixo de rotagao, como esté representado ‘esquematicamente na Fig, 7.3(a). Pesivecurent direction ue j= 7 2 ts a wy Fig. 73 ~ (a) Dipoto magnético produzido por elétron orbital. (b) Dipolo magnético produride pelo spin” do elétron. (adaptado de Arthur L. Ruoff —*Materials Science” ) Por outro lado, a cada elétron pode esta associado com 0 momento magnético do “spin”. “Spin’ & uma palavea inglesa, consagrada pela literatura técnica e que significa giro, volta, movimento em parafuso etc, Este movimento pode ser entendido como se o elétron fosse suposto como um esfera de carga elétrica negativa girando em torno do seu proprio eixo, conforme Fig. 7.3 (b). Deste modo cada elétron pode ser concebido como um pequeno dipolo magnético, produzindo momentos magnéticos permanentes (ao longo do €ixo de rotagdo), oriundos do movimento orbital e do spin. © momento magnético gerado pelo spin pode ser somente numa direcao chamada “up” ou numa diregio anti-paralela chamada de “down” 0s atomos dos materiais magnéticos constituem assim dipolos magnéticos permanentes, decorrendo dai que magnetismo € um fendmeno de polarizagio envolvendo dipolos magnéticos, podendo scr descrito com muita semelhanga com os fenémenos dielétricos, 05 quais esto associados aos dipolos elétricos. 7.8— CLASSIFICAGAO DOS MATERIAIS MAGNETICOS Em cada dtomo os pares de elétrons orbitais situados num mesmo estado energético (principio de Pauli), orbitam em sentidos contririos de modo que 0s efeitos magnéticos produzidos se anulam, bem como os momentos magnéticos produzidos pelos spins também se cancelam entre si (spin up x spin down). 75 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOL. I Para a grande maioria dos materiais magnéticos © campo magnético eriado pelas correntes orbitais e pelo spins dos elétrons apresenta uma resultante fraca e, portanto, no € observado nenhum efeito final expressivo. Assim sendo 0s materiais apresentam os seguintes tipos de magnetismo: diamagnetismo, paramagnetismo e ferromagnetismo. © diamagnetismo é uma forma muito fraca de magnetismo que no é permanente ¢ somente persiste enquanto um campo de excitago externo ¢ aplicado. A grandeza do momento magnético induzido é extremamente pequena e de diregio oposta ao campo externo aplicado. A permeabilidade relativa é menor que a unidade e a sua susceptibilidade magnética negativa, isto é, a grandeza do campo B é menor no interior do material diamagnético do que no véeuo. O paramagnetismo também é uma forma muito fraca de magnetismo e resulta do fato de que cada tomo possui um momento de dipolo permanente como resultado de um cancelamento incompleto dos momentos magnéticos orbitais e de spin. Na auséncia de um campo externo, a orientagao destes dipolos magnéticos é randdmica, de tal forma, que uma porgdo macroscépica desse material apresenta uma magnetizagdo resultante nula. Entretanto, esses dipolos so livres para se rotacionarem e se alinharem com a diregdo do campo extero, quando aplicado. Esses dipolos se alinham de forma individual e no interagem com os dipolos adjacentes (formagio de dominios). Esse alinhamento dos dipolos faz com que haja um aumento da permeabilidade relativa, que se manifesta com 6 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA ~ VOL. 1 grandezas maiores que a unidade, porém de valores bem préximos a ela. A susceptibilidade magnética dos paramagnéticos é po: iva. Os materiais diamagnéticos e paramagnéticos oferecem apenas interesse cientifico € pouca ou quase nenhuma aplicagdo importante pela engenharia elétrica. Os materiais ferromagnéticos sfo aqueles que possuem momento magnético permanente, mesmo na auséncia de um campo extemno aplicado, ou seja, apresentam uma permeabil idade relativa magnética muito elevada, muitas vezes maior do que a unidade. Trés meiais apresentam pronunciadas propriedades magnéticas: o ferro, o niquel € 0 cobalto. A susceptibilidade magnética destes materiais ¢ elevada, da ordem de 10°. ‘Tabela 7.2 Tipos Permeabilidade Exemplos magnética DIAMAGNETICOS ‘Cobre,prata,ouro,merciirio,chumbo,gdlio ,bismuto, os metaldides, com excegde do oxigénio, et. PARAMAGNETICOS oT ‘Aluminio, paladio.platina,oxigénio,berilio,estanho, ccromo,s6dio,potissio,manganés, etc. FERROMAGNETICO| —_>>>>1 Ferro, niquel e cobalto (érbio, térbio, s hélmio, disprésio, gadolinio). ‘Assim sob 0 ponto de vista prético os materiais podem ser classificados em materiais ferromagnéticos (permeabilidade magnética relativa muito alta) e materiais n&o ferromagnéticos (permeabilidade magnética relativa aproximadamente igual a 1). Em capitulo mais adiante estes assuntos serfio abordados com mais detalhes, inclusive 0 estudo dos chamados materiais ferrimagnéticos e antiferromagnéticos, que se constituem em uma subclasse do ferromagnetismo. PALAVRAS CHAVES Dipolo magnético Campo de excitagtio magnético Permeabilidade magnética absoluta Magnetizagao Spin Diamagnetismo n Momento magnético Densidade de fluxo magnético Perteabilidade magnética relativa Susceptibilidade magnética Paramagnetismo Ferromagnetismo MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOL. I QUESTOES PARA ESTUDO 7.1 ~0 que te entende por permeabilidade magnética absoluta 7 Em quais unidades ela ¢ expressa ? 7.20 que se entende por permeabilidade magnética relativa ? Ela é uma grandeza dimensional ? 7.3 ~ Defina o que ¢ forga magnetomotriz ea unidades uilizada para expressa-la no SI? 74 — Fecreva a firmula que relaciona as trés grandezas magnéticas seguintes: vetor Bde densidade magnética de fluxo (ou vetor indugo magnética) ; vetor H campo de excitago magnético e o vetor M de magnetizacto. 7.5 ~ Como se classificam 0s materiais magnéticos a luz da permeabilidade magnética.? 7.6 — Uma bobina com niicleo de ar, com 1200 espiras, tem 60 cm de comprimento ¢ uma seglo de 100 ‘em?, Quais sfo 0s valores da induydo magnética e do fluxo magnético, sabendo-se que ela é percorrida por uma corrente elétrica de 0,5 ampére. (adotar a permeabilidade do ar igual a do vacuo, ou seja, 1,256 x 10* him)? 7.1 ~O que se entende por materiais paramagnéticos e diamagnéticos ? 7.8 — Quais os trés materiais ferromagnéticos mais importantes ? 7.9 Como se expressa o momento magnético de um dipolo consttuido por uma espira circular de rea A qual circula uma corrente 17 7.10 ~ Qual a relagao clissica entre o campo de excitagdo He 0 vetor B de indugo magnética ? 18 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AFLFO MARQUES LUNA ~ VOL. I CAPITULO VIII PROPRIEDADES OTICAS Quando os materiais sio expostos a radiagio eletromagnética & importante ser capaz de prever e alterar as respostas desses materiais. Isso é possivel quando estamos familiarizados com as suas propriedades e compreendemos os mecanismos responsdveis pelos seus comportamentos. 8.1 - CONCEITOS BASICOS Entende-se por propriedades dticas as respostas que os materiais oferecem quando interagem ou so expostos as radiagdes eletromagnéticas, em particular a luz visivel. No sentido clissico as radiagbes so consideradas ondas, constituidas de componentes de campos elétricos e magnéticos, que séio perpendiculares entre si e também a diregdo de propagagio, conforme Fig. 8.1. ‘ Fig, 8.1 ~ Uma onda eletromagnética, mostrando seus componentes, 0 campo elétrico E, 0 campo magnético H e 0 comprimento de onda 2, ( adaptado de Wiliam D. Callister Jr, de obra ja citada em figuras anteriores). A luz, calor (radiago térmica), radar, ondas de radio, raios-X so todas as formas de radiages eletromagnéticas conhecidas. Cada um destes tipos de radiagdio ¢ caracterizado priméria por uma especifica ordem de comprimento de onda e de acordo com a técnica usada para gera-las. O espectro eletromagnético das radiagdes, apresentado pela Fig. 8.2 exibe os comprimentos de ondas das radiagdes, desde os raios-y (emitidos por materiais radioativos), com comprimentos de onda da ordem 10m, passando, pelos raios-X, ultravioleta, visivel, infravermelho ¢ finalmente as ondas longas, com comprimentos da ordem de 10° m. ‘A luz visivel ocupa uma faixa bastante estreita do espectro das radiagdes luminosas, ficando num intervalo entre 0,4 ¢ 0,7 um. A percepgio das cores da luz visivel € uma fungdo pelas variagdes do comprimento de onda no interior desta faixa do espectro. Por exemple, uma radiagéo com 0,4 jm aparece como violeta, enquanto verde ¢ vermelho 0 - MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF, AEJLFO MARQUES LUNA - VOL. | ocorrem proximos de 0,5 ¢ 0,65 jum, respectivamente. A luz branca é uma mistura de todas as cores (vide experiéncia do disco de Newton). ‘Todas as radiagdes magnéticas atravessam 0 vacuo com a mesma velocidade, que € chamada de velocidade da luz e cujo valor & 3 x 10° mvs. Esta velocidade, denotada pela letra ¢ é uma constante universal e esté relacionada com a permissividade elétrica absoluta do vacuo €, ¢ a permeabilidade magnética absoluta do vacuo [M., pela seguinte expresséo: 1/ Veet (1) Lunidade X 1A Ane Aum ‘Ondas médias AM Lem ‘Ondas longs e rkdio Fig. 8.2 ~ Espectro de radiagtes eletromagnéticas. (Adaptado da livro de " ‘Zemansky e H.D. Young) a" de F.Sears, MW. Verifica-se, portanto, a existéncia de uma associagao entre a constante ¢ (velocidade da luz) «© essas outras constantes (elétrica e magnética). Por outro lado observa-se que a freqiléncia ve o comprimento de onda 4 numa radiagio magnética so uma funedo de e, conforme expressio abaixo: Yo © c=2) (82) A freqiiéncia ¢ expressa em hertz (Hz), onde | Hz= | ciclo por segundo. Va = veboutont Le dove f° @r=™ QAAAHEALHEHREACEHAEEAHGAAHRACLALLLABLAaARaALRRAAHRALAARALE MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOL. | ‘Muitas vezes ¢ mais conveniente observar uma radiagdo eletromagnética sob a perspectiva da mecfinica quéntica, Sob este enfoque a radiago é vista como composta de grupos de pacotes de energia, que so chamados de fotons. A energia E do foton é quantizada, ou seja, somente pode ter valores especificos, definidos pela relagdo abaixo: E = hy shea (83) Onde h é a constante universal chamada de “constante de PLANCK”, a qual tem um valor de 6,63 x 10™ J.s. Deste modo a energia do féton € proporcional a freqiiéncia da radiagao, ‘ou entio, ersamente proporcional ao comprimento de onda. Quando ‘da descriga0 de determinados fenomenos Oticos, envolvendo Interagoes entre a matéria © as radiagSes, uma explicagéo dos mesmos pode ser mais bem facilitada se considerarmos a radiag&o em termos de fétons. Em outras ocasides, uma radiagao sob forma de onda pode ser mais apropriada. 8.2 - INTERACOES DA LUZ COM OS SOLIDOS ‘Quando a luz passa de um meio para outro meio (exemplo: do ar para o uma substéncia s6lida) muitas coisas podem acontecer. Certa parte da radia¢do luminosa pode ser transmitida através do meio, outra parcela poderd ser absorvida ¢ finalmente uma outra poderd ser refletida na interface entre os dois meios considerados. Deste modo a intensidade de luz I, incidente na superficie do sélido deve ser igual a soma das intensidades de luz que foram transmitida, absorvida e refletida, denotadas por ly, ls € I respectivamente. Tem-se assim a expressio; h=h+h+k (4) A intensidade da radiago luminosa pode ser expressa por watts por metro quadrado € corresponde a energia que esté sendo transmitida por unidade de tempo através de uma unidade de area perpendicular a diregao da propagagao. Uma forma alternativa de apresentar a equago 8.4 pode ser a seguinte; THAR (8.5) Onde T, A e R representam respectivamente a “transmitincia” (relago IyI,), a absortncia (i/l,) € a refleténcia (W/I,), o¥ seja, as fragdes da luz incidente que so transmitidas, absorvidas e refletidas pelo material; a soma destas parcelas é igual a unidade. Com relago a estas caracteristicas os materiais podem apresentar os seguintes comportamentos, resumidos na Tabela 8.1. Na Fig. 8.3 € mostrada uma fotografia da transmitancia da luz em trés espécimes diferentes de oxido de aluminio, a - MATERIATS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA ~ VOL. I 8.3 - POLARIZACAO ELETRONICA Uma das caracteristicas da onda eletromagnética ¢ a répida flutuagdo do campo elétrico. Para a faixa de freqliéncia das radiagdes visiveis, este campo elétrico variével interage com os elétrons que formam a nuvem eletrGnica existente em volta do niicleo de cada étomo induzindo uma polarizagio eletrénica, ou seja, acarreta um deslocamento da nuvem (no sentido oposto do campo) em relago ao micleo de cada étomo 0 qual muda de dirego com ‘a mudanga de diro¢o da componente de campo elétrico. Duas consequéncias derivam deste fenémeno: a) parte da energia pode ser absorvida; b) as ondas de luz tém sua veloi retardada quando passam através do material Tabela 8.1 Materiais que sto capazes de transmitir a] Séo chamados de materiais luz, com relativamente pequena absorgdo | TRANSPARENTES, reflexdio (pode-se ver através deles) Quando @ luz através do material é|Sa0 chamados materiais transmitida de forma difusa, isto é, a luz é) TRANSLUCIDOS espalhada pelo seu interior. Os objetos ndo so claramente distinguidos quando vistos através de um espécime do material Quando “0 material & impenetravel a] Séo chamados de materials transmissdo da luz OPACOS ‘Os metais em sua grande maioria so opacos para todo 0 espectro visivel. A radiagio & absorvida ou refletida Po" y = lattice parameter: unit cell + w Shear strain (6.2) : die! ~ Da esquerda para diceita: um monocristal de Sxido de aluminio (safira) que é transparente; jum mesmo espécime desse material, entretanto, policristaling, bastante denso (nio poroso) que é translicido e finalmente uma outra mesma espécime desse material, também policristaling, vontendo sproximadamennte 5% de porosidade que é opaco.(Adaptado de William D. Callister Jv de obra jd citada em figuras anteriores) 2 COMO O88 OO 008004442 4404028 004844464400 8044282 0202222244 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOL. 1 A absorgio ¢ a emissio de radiago eletromagnética pode envolver transigdes de elétrons de um estado energético para outro. Considere-se, para um melhor entendimento do assunto, um étomo isolado, com o diagrama de energias representado pela Fig. 8.4 Pela absorgao de um féton um elétron pode ser excitado e passar de um estado E para um estado energético vazio Ex, de tal forma que a mudanga de estados energéticos experimentada pelo elétron, AE depende da freqliéncia v da radiagio, de acordo com a seguinte equago, onde h é a constante de Planck: AE=hv (8.6) Alguns conceitos importantes depreendem-se da equago acima. Primeiro, desde que as bandas de energia sto discretas, somente valores especificos de AE’s existem entre os & exciton, age Ba ie Inge ake 5, —e— bs Hig. 8.4 — Esquema Mlustrando a absorgto de f6ton por um dtomo isolado, decorrente da exeitagao de lum elétron de um estado energético para outro, A energin do féton (hva) deve ser exatamente igual a dliferensa de energia entre os dois estados Ey E>, (Adaptado de William D, Clallister Je. de obra ji citada em figuras anteriores). niveis energéticos, deste modo somente fotons de freqliéncia correspondente a possiveis AE's para o tomo, podem ser absorvidas para que ocorra a transigdo dos elétrons. Segundo, o elétron estimulado nao pode permanecer em estado excitado indefinidamente; depois de um certo tempo ele decai para seu estado energético anterior, ou seja, para um nivel ngo excitado com a reemissdo de radiag&o eletromagnética. A conservagao da energia deverd ser observada tanto na absoredo como na emissdo dos elétrons em transig&o, 8.4— PROPRIEDADES OTICAS DOS METAIS. ‘Os metais sto opacos para quase toda extenso do espectro eletromagnético, desde as tadiagdes de baixa freqléncia ( ondas de radio, infravermethos, radiagao visivel ) até cerca da metade do espectro da radiado ultravioleta, sendo, entretanto, transparentes para as Tadiagdes de alta freqiiéncia ( raios X e y ). A opacidade dos metais decorre do fato da 8 ‘MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOL. I continua disponibilidade de estados energéticos desocupados, a qual permite mais facilmente as transigdes de elétrons, conforme a equagio (8.6) e por conseqléncia a radiagao € absorvida. ‘A maioria da energia absorvida reemitida pela superficie sob forma de radiagao visivel (luz) com o mesmo comprimento de onda, aparecendo sob forma de luz refletida. A refletincia dos metais é da ordem de 0,90 a 0,95; pequenas fragdes de energia no processo de decaimento do elétron é dissipada sob forma de calor. 8.5 — PROPRIEDADES OTICAS DOS NAO METAIS Os materiais nio metilicos podem ser transparentes a luz visivel, tal fato decorre dos elétrons de sua estrutura de bandas de energia, entretanto, além dos fenOmenos de reflexio © absorgdo ja comentado no caso dos metais, os fendmenos de refragéio precisam ser aqui considerados. A. luz que é transmitida pelo interior dos materiais transparentes experimenta um decréscimo em sua velocidade, e como resultado, a sua diregdo de propagacdo sofre uma deflexdo na interface que separa os dois meios. Este fendmeno é conhecido como refragdo da luz. O indice de refragdo n de um material é definido pela relagto entre a velocidade da luz no vacuo ¢ ea velocidade da luz no meio considerado, v . Tem-se assim: = ely (8.7) Pode-se demonstrar que a expressdo acima pode também ser assimn escrita n=Veu/ Vepo = Ven (8.8) considerando que py = 1, tem-se: ns ve 8.9) Entdo, para os materiais transparentes h uma relagdo entre o indice de refragio e a constante dielétrica. Como jé foi mencionada anteriormente a redug80 da velocidade da radiagdo no meio resulta da polarizagao eletrénica e do tamanho dos 4tomos ou fons constituintes da estrutura do material considerado. Quanto maior o étomo ou fon, maior serd a polarizacdo eletrénica e por conseqiiéncia menor a velocidade da radiaco no meio e maior o indice de refracao. A Tabela 8.2 exibe indices médios de refrago de alguns materiais transparentes. Tabela 8.2 Viddto de si Las ‘Quartz 147 ‘Alumina 1,76 Teflon 1,35 Polimetilmetaerilato 1.49 Polipropileno 1,49 Polietileno 1.49 84 AHRARARARAAARAAHRAAAAALARADLAAAAARAAAARAAAH ALZADO ‘MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA ~ VOL. 1 8.6 - FENOMENOS DE LUMINESCENCIA Alguns materiais so capazes de absorver energia e reemiti-la sob forma de luz visivel num fendmeno chamado de /uminescéncia. A energia & absorvida quando um clétron é promovido para um estado de excitagdo energética. A energia absorvida pode ser suprida por radiagdes eletromagnéticas de alta energia, por aquecimento (calor), energia de origem mecinica ou quimica, Contudo, a luminescéncia ¢ classificada de acordo com a extensio do tempo entre os eventos da absorgao e da reemissdo. Se a reemisso ocorre em um tempo menor que um segundo, 0 fendmeno € chamado de fluorescéncia. Quando ocorrer em um tempo superior é chamado de fosforescéncia. A luminescéncia oferece um numeroso campo de aplicagdes comerciais, como por exemplo, as denominadas lampadas fluorescentes que so constituidas por um tubo em cujas paredes ¢ fixado um material fluorescente ¢ no interior do qual ocorre uma descarga. clétrica, a baixa pressdo, em presenga de vapor de mereirio, Produz-se, entio, uma radiago ultravioleta que, na presenga do material fluorescente existente nas paredes, se transforma em luz visivel. Outros exemplos: as imagens produzidas nos tubos de TV sao produtos da luminescéncia.O lado intemo da tela ¢ revestido com um material que fluoresce & medida que um feixe de elétrons dentro do tubo de imagens atravessa muito rapidamente a tela. Algumas jungdes retificadoras p-n, também podem ser usadas para gerar luz visivel, segundo um processo conhecido por eletroluminescéncia. Tais diodos que emitem luz visivel sto os familiares light-emitting diodes (LED), usados nos mostradores digitais.. Outros fenémenos éticos importantes e suas aplicagdes tais como o laser (light amplification stimulated emission radiation), cabos éticos e fotocondutividade.podem ainda ser citados. LASERS ‘Um elétron decai de um estado de alta energia para um estado de menor energia sem qualquer provocagio ‘externa. Esses eventos de transigfo ocorrem independentemente uns dos outros e em momentos aleatérios, produzindo uma radiagto que ¢ incoerente, ou seja, as ondas de luz esto fora de fase umas com as outras Com os lasers uma luz coerente & gerada por transigbes eletrBnicas que s4o iniciadas por um estimulo externo. Por esta razio a expresso Laser significa simplesmente o acrénimo em inglés para ampliagio da luz por emissto estimulada de radiagao ( ight amplification by stimulated emisson of radiation). Embora existam varios tipos diferentes de laser, os principios de operaglo sertio explicados utilizando-se ‘conto referéncia um laser de rubi em estado sélido. O rubi é simplesmente um monoeristal de Al,O; (sefira) ‘0 qual foi adicionado um teor de fons de Cr (de aproximadamente), 05%. Esses fons de Cr além de conferir 20 rubi a sua colorago vermelha caracteristica proporcionam também estados eletrénices essenciais ‘para o funcionamento do laser. © laser de rubi encontre-se na forma de um bastio, cujas extremidades s8o planas, paralelas, e altemente polidas. Ambas as extremidades sio prateadas, de modo tal que uma das extremidades é totalmente reflexiva, enquanio a outra é parcialmente transmissora, O rubi éiluminado com a luz oriunda de uma lampada de flash de XenGnio, conforme ilustrado na Figura 8.5 85 ‘MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA — PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOL. I Extremidade planat, semiprateada Extremidade plana prateada / Nel ARRARE Feixe de luz monocromatica Coerente Lampada “fash” Fig. 8.5 — Esquema de um “laser”. A energia dos fotons é absorvida pelo rubi e reemitida na forma de tum feixe intenso de luz monocromatiea cocrente(adaptado do livro "Prinelpios de Ciéncia dos Materiais" de Lawrence H. Van Viack - Edt. Edgard Blicher- SP) Estado excitado Excitaslo do elétron Foton incidente (lampada de xenénio) Foton de laser Estado fundamental a Fig. 8.6 - Diagrama esquemitico da energia para o laser de rubi, mostrando as trajetérias para excitacto e o decaimento dos elétrons. ‘Antes de ser exposto a luz do flash todos os fons de Cr” encontram-se em seus estados fundamentais, isto 6 6s elétrons preenchem os niveis de energia mais baixos, como esté representado esquematicamente na Fig. 86: Entretanto, os fotons da limpada de xendnio, com comprimento de onda de 0,56 jim, exeitam 05 elétrons dos fons de Cr para estados de energia mais altos. Esses eléirons podem decair novamente para o seu estado fundamental conforme duas trajetérias diferentes. Alguns decaem diretamente; as emissbes de fotons que estBo associadas com esse tipo de decaimento nfo fazem parte do feixe de laser. Outros elétrons decaem para um estado intermediério metaestivel (trajetiria FM da figura), onde eles podem ficar por até 3 ms antes de hhaver uma emissio espontinea ( trajetGria MG). Em termos de processos eletrénicos 3 ms & um tempo relativamente longo, o que significa que grandes nimeros desses estados metaestveis podem ficar ocupados. A emissio espontinea inicial de fStons por uns poucos desses elétrons € o estimulo que dispara uma avalanche de emiss6es dos demais elézrons no estado metaestével. Dos fétons direcionados paralelamente 20 longo do eixo do bastio do rubi, alguns so transmitidos através da extremidade parcialmente prateada; ‘outros,que incidem contra a extremidade totalmente prateada sto refletidos, Os fStons que néo s8o emitidos ‘MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA ~ VOL. I nessa direglo axial sfo perdidos. O feixe de luz viaja repetidamente para frente © para trés ao longo do M™ + ne 9.1) No qual M torna-se um ion de carga n+ € © proceso conduz a perda de n elétrons de valéncia, onde e simboliza o elétron. Por exemplo, a expresso (9.2) para a oxidagao do ferro em ions ferrosos ¢ a expressio (9.3) para a oxidagio dos fons ferrosos em férricos. Fe» Fe* + 2¢€ (9.2) Feet —> Fe + (9.3) © local onde se verifica essa reagdo & chamado de anodo; a oxidagdo ¢ muitas vezes chamada de reagaio anddica. © elgtron gerado de cada atomo de metal que ¢ oxidado deve ser transferido para outro tomo e torna-se parte de um outro espécime quimico. Este processo de transferéncia é denominado de redusao. Por exemplo, metais submetidos a um processo de corrosdo em solugdes dcidas, ou seja, aquelas que possuem uma alta concentrago de ions de hidrogénio, 08 fons de H* so reduzidos, como indicado na equac&o abaixo: 2H'+ 2e —H, A) O local onde se verifica esta reagfio é chamado de catodo, Para melhor fixar as fazer 0 seguinte quadro resumo: OXIDAR-SE__|REDUZIR-SE Perder clétrons Ganhar_eléirons ‘Anodo Catodo i A palavra oxidago nasceu do fenémeno quimico “combinar-se com o oxigénio”. Com a descoberta da estrutura eletrOnica, verificou-se que quando um elemento (metal) combina- se com 0 oxigénio, 0 metal perde elétrons para o oxigénio. Diz-se que metal oxidou-se (perdeu clétrons) ¢ 0 oxigénio reduziu-se (ganhou elétrons), 90 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOLT ‘A oxidagdo dos metais pode ocorrer a qualquer temperatura e mani acentuada em temperaturas elevadas. Tem-se: Metal + 0;—* cxidodometal (9.5) A oxidagdo comega na superficie do metal e a crosta (carepa) de éxido resultante tende a formar uma barreira que restringe a continuidade do processo de oxidagio. Para que a oxidago possa continuar, ou 0 metal ou o oxigénio deve se difundir através desta crosta, Veja a Fig. 9.1. Ambos os processos ocorrem, entretanto, migrago do metal para fora é, geralmente, mais répida que a do oxigénio em sentido contrério, em virtude do fon metélico scr apreciavelmente menor que o ion de oxigénio @ desta forma aproconta maior mobilidade. Apesar de muitos metais terem tendéncia a se oxidar, até um certo ponto em qualquer temperatura, a maioria dos metais nao constitui camadas de 6xidos de grande espessura, a no ser em altas temperaturas, Fea Felt ai 2-440) + 0 / zion egtrOnicos Fig, 9.1 ~ Mecanismo de formacio de crostas de bxido. Os elétrons ¢ os fons de Fe" se difundem mais facilmente através do éxido do que os fans de O. Consequentemente a reagia Fe" +r FeO se dé predominantemente na interface ar-éxido, (Adaptado de Lawrence H.. Van Vlack ~ “Principios de Cigncia dos Materiais- Eat. Edgard Blicher ~ SP - Brasil) Como o surgimento da crosta restringe 0 processo de oxidagdo, a velocidade de crescimento dx/dr de uma crosta no porosa é uma fungo do inverso da espessura x. difat = f (11s) 0.6) Ou oY =kt @7) Onde a constante k depende da temperatura e dos coeficientes de difuusdo. A velocidade de oxidago de muitos metais obedece bastante a relagdo parabolica indicada pela express40 (9.7). Contudo, determinados metais como 0 magnésio, Iitio, potéssio e sédio, que formam uum volume de éxido menor que o metal original, sfo excegées. Esses metais citados possuem raios metalicos grandes e raios iGnicos pequenos. Portanto, a oxidacao implica ‘numa contragao que origina uma crosta porosa, tendo, pois, 0 oxigénio acesso livre para a superficie do metal; deste modo, a velocidade de oxidaga0 ndo diminui com a acumulagto 4a crosta de éxido. Também se tém desvios da equagdo parabélica normal (9.7), quando a 9 AROMA OOO ORE REAEEEADALASHKAEEHhEDEASGHADODREDRE RED ADBALE MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA - PROF. AELFO MARQUES LUNA ~ VOL 1 crosta de éxido ndo ¢ aderente ao metal e consequentemente nao oferece protego contra a oxidago posterior. © efeito de restrigdo provocado por uma camada de dxido fortemente aderente pode ser bem ilustrado através da velocidade de oxidago do aluminio. A tendéncia de oxidago do aluminio ¢ maior que a do ferro, entretanto, como a barreira do Sxido que se forma no aluminio € extremamente aderente e muito impermedvel a difusio, a velocidade de oxidagdo cai rapidamente. Dois fatores contribuem para este efeito restritivo: a) a0 contrério dos outros 6xidos, 0 aluminio ¢ o oxigénio sdo fortemente ligados entre si ¢ b) as estruturas cristalinas do éxido do aluminio podem ser orientadas de forma a se ter uma combinasaio quase perfeita e uma continuidade considerével de uma’ fase para outra, Dai repulta uma forte cosrénoia entre 0 filme de éxido de aluminio © o metal. Veja as ilustragdes da Fig. 9.2 () Oxido nito-coerenre Fig. 9.2 -Coeréncia metal-dxido (desenho esquemtico). A estrutura do éxido coerente coincide com a do metal. Na verdade alguns dtomos pertencem as duas estruturas. (Adaptado de Lawrence H. Van Viack —“Principios de Ciéncia dos Materiais” - Kt. Edgard Bucher - SP) 9.6 - OXIDACAO ELETROQUIMICA DO FERRO EM ATMOSFERA UMIDA Em uma atmosfera contendo umidade, rapidamente comega a se desenvolver um depésito marrom-vermelho de hidroxido férrico, também chamado correntemente de. “ferrugem”. A reagio quimica que representa fendmeno do enferrujamento pode ser expressa pela expresso: 4Fe + 6H:0 + 30: " 4Fe(OH); (9.8) Para haver a formagao da ferrugem a partir do ferro, as reagOes apresentadas pelas equagdes (9.2) e (9.3) devem ocorrer e tanto oxigénio como a umidade devem estar presentes. ferro nfo enferrujaré numa atmosfera seca, entretanto, na pratica, a quantidade de umidade necesséria para produzir a ferrugem € surpreendentemente pequena, ‘Nas regides de alta umidade relativa a ferrugem é um flagelo constante. Na Fig. 9.3 & mostrada uma pega de ferro corroida pela ferrugem. Nota-se que as crostas de hidréxido férrico formadas se desprendem do material, como numa espécie de processo de esfoliagso, reduzindo a segto util da pega atacada, Na Fig. 9.4 sfio exibidos fotos de um caso de ferrugem registrado no pino de um isolador de disco de alta tensfio. Nestas fotos observa-se claramente a redugao da sega itil do pino, provocada pela ago danosa da ferrugem. 92 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOL I Fig, 9.3 ~ Coluna de ferro de uma escada de antige usina hidrociétrica de Delmiro Gouveia, em Paulo Afonso- Ba, situnda nas escarpas do “canyon” do rio Sdo Francisco, fortemente atacada pelo processo de fertugem. Observa-se claramente 0 desprendi crostas de ferrugem (esfoliagho) ¢ ‘continuago inexoravel do proceso destruidor, com reduclo da sect util du pesa. (foto do autor). 9.7 ~ FENOMENOS DE CORROSAO GALVANICA A corroséo galvinica € um fendmeno que core quando dois metais dissimilares sto postos em contato na presenga de um eletrdlito. Nesta modalidade de corrosio, um dos metais € destruido e 0 outro € preservado. A corrosio galvanica decorre da formag3o de uma célula ou pilha galvanica, produzida pelos dois metais dissimilares imersos num cletrlito (4gua/umidade). O metal que é a sede da reagdo anddica é desirufdo, A corrosio galvanica ocorre através dos processos ‘de dissolugio & oxidago, ja vistos anteriormente. © mecanismo da corrosto galvénica 6 complexo, mas uma compreensio dele ¢ importante para 0 engenheiro. Com algumas modificag3es simples, 0 mecanismo da corrosio do ferro pode ser aplicado a todos os metais ¢ mesmo a nfio-metais. As equagdes (9.2) € (9.3) podem ser reescritas como se segue abaixo: 93 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA - PROF. AELFO MARQUES LUNA ~ VOL I Fig. 9.4 ~ Processo de ferrugem num pino de isolador de diseo de linha de transmissio. Na foto da esquerda observa-se 9 processo de formago de crostas. Na foto da esquerda, # pega jd esfoliada, observa-se a siguificativa redugio na sesao dil do pino. (Foto do autor) 2 . Fe => Fe* + 20 09) Fe <— Fe” + (9.10) Pela observagdo da Fig. 9.5(a) verifica-se que quando o ferro entra em solugo, produz-se um excesso de elétrons, entretanto, em geral, 0 equilibrio é atingido rapidamente pois os fons ¢ elétrons em pouco tempo se recombinam com a mesma velocidade que se formam. Hy Tubo-de plating va (>) Fig. 9.5 ~(a) Dissociago do ferro em solugdo. A reasio (8.9) prevalece sobre (8.10). Formam-se ions de ferro. Os elétrons produzem um potencial elétrico. (b) Dissociagto do hidrogénio em soluglo. O potencial elétrico desta reagio (8.11) ndo é tio clevado como (8.9). (Adaptado de Lawrence H. Van Viack - “Prineipios de Ciéncias dos Materiais-Eat. Edgard Blicher ~ SP)”. A produgio de fons e elétrons origina um potencial elétrico denominado de potencial de eletrodo, 0 qual depende a) da natureza do metal e b) da natureza da solugao. Nem todos os tomos metalicos se oxidam a ions € elétrons com a mesma facilidade, 94 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA ~ VOL Para medir (quantificar) o potencial de eletrodo de qualquer metal (ou seja, sua tendéncia & corrosio) deve-se, em: primeiro lugar, determinar a diferenca de potencial entre o metal € um eletrodo padrao de hidrogénio. No caso do hidroggnio - Fig. 9.5 (b) - 0 equilibrio ¢ atingido através da seguinte reagdo: Hy = 2H +24 © 11) A diferenga de potencial, medida através de um voltimetro, entre os eletrodos de ferro e hidrogénio é + 0,44 V, conforme ilustrado na Fig, 9.6 (a). Medidas semelhantes para outros metais conduziram a montagem da Tabela 9.1, onde potencial de eletrada do hidragénio (padria) é arbitrado coma zero. (roferéncia). Os metais alcalinos ¢ alcalino-terrosos, cujos elétrons da camada de valencia so fracamente ligados, apresentam um potencial superior ao do ferro, Por outro lado, os metais nobres, tais como a prata, platina € ouro, produzem menos elétrons que 0 hidrogénio, razio pela qual seus potenciais so mais baixos.( Tabela 9.1). Fig. 9.6 -(a) Diferenca de potencial, Fe versus H;. 0 ferro produz um potencial elétrico maior que 0 H;, portanto, o ferro é 0 anodo € 0 hidrogénio ¢ 0 catodo. b) Diferenga de potencial H; versus Ag, o Hy produz um potencial eigtrico superior ao da prata e, portanto, é0 anodo. A prata € 0 catado, (Adaptado de Lawrence H. Van Vlack, obra jé citada em figuras anteriores) Os pares de eletrodos mostrados na Fig. 9.6 (a) ¢ (b), envolvem exemplos com o ferro ¢ a rata, respectivamente, constituindo-se as denominadas células galvanicas, que dio origem ‘a0 processo de corrosiio de mesmo nome. 0 eletrodo que fornece os elétrons para o circuito extern & denominado de anodo. Enquanto que 0 eletrodo que recebe os elétrons do circuito é chamado de catodo. Ao se fazer 0 contato elétrico entre os dois eletrodos, 0 maior potencial do anodo faz com que os elétrons se dirijam do anodo pata 0 catodo. A introducdo do excesso de elétrons no catodo faz com que 0 equilibrio descrito pela equaco (9.11) se desloque para a direita, Desta 95 Bee eee een ene nnn eee e eee ee eeeeennnene MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA - PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOL 1 forma € libertado Hz no catodo, formado a partir dos fons de hidrogénio da Agua. Essa reagdo remove parte dos elétrons do eletrodo de ferro fazendo com que 0 equilibrio descrito pelas equagdes (9.2) ¢ (9.3) se desloque para a direita. Consequentemente, essas reagdes continuam a ocorrer espontaneamente, dissolvendo o metal do anodo e produzindo hidrogénio no catodo. Esse exemplo demonstra 0 mecanismo da corrosto galvanica, © hidrogénio se desprende no catodo porque esta abaixo do ferro na série das tensdes eletroliticas. © Hp € proveniente dos fons hidrogénio presente na agua em virtude da reago(a concentraco de fons de hidrogénio na 4gua é medida pelo fator pH, no caso da ‘gua pura pH =7): Hop Ht + OF 0.12) TABELA 9.1 ‘Poisbcials de Hlotrodo de Motais ‘solucio IM des iont metélicos LiF thisicot xe cate Net Mai ape Int cee Fet* NBs Sn? Phi> Fet* HY co or ag’ pret ‘Aut (nobre)_ * Fever sinais sto consistentes com a tetmadinA- rice € usados pelos fsicoquimicos. Ox sinais postos so ainda nsadas por mites eletroa- micas e esnecialising em cotrasto, Resumindo: para que ocorra uma corrostio galvénica os seguintes requisitos slo necessarios: a) a existéncia de dois metais dissimilares; b)um eletrdlito no qual os metais ‘stejam imersos; c) uma ligagdo eléirica entre os dois metais. Aquele metal que estiver na Parte superior da serie de potenciais de eletrodo da Tabela 9.1, se comportaré como anodo e MATERIAIS DE ENGENHARIA FLETRICA - PROF. AELFO MARQUES LUNA ~ VOL I softerd corrosto, sendo destruido. O outro metal se comportaré como catodo, no seré corroido e serd preservado. (Os efeitos danosos da corrostio provocam: a) efeitos quimicos com a formagzio de oxidos e sais; b) efeitos fisicos com a diminuigo de peso, mudanga de aspecto do material (cor); c) efeitos mecfnicos com redugao da resisténcia mecnica; d) efeitos elétricos com o aumento da resisténcia elétrica; e) efeitos econdmicos acarretando aumento das despesas de manutengdo ¢ a prépria destrui¢ao do material, obrigando a realizagtio de reposigSes. ‘Na Fig, 9.7 (a) e (b) sflo mostrados dois exemplos de corrosio galvanica. O primeiro refere- se a0 aco galvanizado, ou seja, ao ago recoberto com uma pelicula de zinco para protege-lo da corrosio e na qual ocorre uma perfuragao da camada protetora, expondo 0 ago a intempério (umidade). Neste caso, 0 zinco ve comporta cama anado (veja tabela 9.1) «0 ago & preservado, Na Fig. 9.7 (b) a camada protetora é exercida pelo estanho, ¢ na hipétese de uma perfuragao da pelicula protetora, o estanho funciona como catodo ¢ 0 ferro como anodo, sendo, portanto, destruido. LL Protegido contra Produtos de Atacado por ambiente ataque da correo corrosto corrosive (@) (b) Fig. 9.7 ~ (a) Aga galvanizado (segio transversal). © zinco atua como anodo € 0 ferro coma catodo. Portanto, o ferro esté protegido, mesmo que a camada de zinco seja perfurada. (b) Aco estanhado (sesio transversal). O estanho protege o ferro, enquanto a camada for continua, Quando a camada é perfurada, o ferro funciona como anodo ¢ estanho como catodo, o que acelera a corrosio do ferro. (Adaptado de Lawrence H. Van Viack de obra ji citada em figuras anteriores) 9.8—- PREVENCAO DA CORROSAO ‘Apenas em condigdes ideais a corrosio pode ser completamente evitada, Embora seja impossivel atingir essas condigées, é possivel minimizar a corrosio consideravelmente, 0 que implica num aumento da vida itl do produto. Existem trés métodos principais de a corrosio: (1) protegdo por meio de revestimentos protetores metélicos, inorgénicos e organicos; (2) uso de protegao galvénica; G3) emprego de inibidores de corrosdio; (4) evitar a formagao de pares galvénicos. ” a te eee eemnmeeene MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA ~ VOLT 9.8.1 - REVESTIMENTOS PROTETORES, A protegdo da superficie de um material ou objeto por um revestimento protetor 6, provavelmente 0 mais antigo dos métodos comuns de se evitar a corrostio. Uma superficie pintada, por exemplo, isola o metal do eletrdlito corrosivo. A tinica limitagao desse método € 0 desempenho em servigo do revestimento protetor. Por exemplo: os revestimentos ‘orginicos (tintas)causam problemas, se usados em temperaturas elevadas ou em condigées de abrasao severa; além disso, necessitam de um recobrimento periédico da superficie, em Virtude da degradagio da camada com o tempo. Entrotanto, 09 reveatimentos protetores no procisam ser nccessariamente organives. Pur exemplo, pode-se usar estanho como uma pelicula protetora para 0 ago (estanhagem). Superficies podem ser prateadas, niqueladas ou cobreadas, constituidas assim de metais que resistem bem a corrosio. Estes metais podem ser depositados por imersio a quente em banhos metilicos liquidos ou por processos eletroliticos (galvanoplastia). Também podem ser usados revestimentos protetores de materiais cerdmicos. Por exemplo, os esmaltes vitreos formam camadas a base de dxidos e so aplicados sob a forma de um pd, 0 qual posteriormente fundido a fim de originar uma camada vitrea protetora. Uma comparagio das vantagens e desvantagens dos varios tipos de camadas esta feita na Quadro 9.2 Quadro 9.2 Tipo ‘Exemplo Vantagem Desvantagem Orgainicas Tintas Flexibilidade Degrada Facilidade de Camada mole aplicagao (elativamente) Baixo custo Limitagdes de temperatura Metalica Metals Deformavel Podem formar eletrodepositados Insoldvel em células galvanicas, ao solugdes orginicas | serem perfuradas Condutividede térmica Ceramica Esmaltes vitreos Resisténcia a Fragilidade temperatura Isolantes térmicos Dureza Nao formam células com o metal base 98 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOL I 9.8.2 - PROTECAO CATODICA E possivel restringir a corrosio, usando-se alguns dos préprios mecanismos de corrosaio para fins de protesdo. Um bom exemplo ¢ 0 ago galvanizado, discutido anteriormente. A camada de zinco serve como um anodo de saerificio que se corréi no lugar do ago. O mesmo método pode ser empregado em outras situagées. A Fig. 9.8 mostra trés exemplos. Uma vantagem desse método é que 0 anodo pode ser substituido facilmente. Por exemplo, as placas de magnésio da Fig. 9.8 (a) podem ser substituidas por uma fragdo do custo de troca das tubulagdes. [Um segundo método do protege eatédica 6 0 uso de uma tonctio elétrica aplicada no metal A Fig, 9.9 ilustra este procedimento. Tanto 0 método do anodo de sacrificio, como a da tensio elétrica aplicada envolvem 0 mesmo principio de protegdo, ow seja, fornecimento de celétrons ao metal, de forma que o mesmo se torna catddico e as reagdes de corrosio deixam de ocorrer. 9.8.3 - USO DE INIBIDORES DE CORROSAO. Os inibidores so substincias que, quando adicionadas ao ambiente em concentragdes relativamente baixas, diminuem a sua corrosividade. E claro que 0 inibidor especifico depende tanto da liga como do ambiente corrosivo. Existem varios mecanismos que podem ser responsdveis pela eficdcia dos inibidores. Alguns reagem e virtualmente eliminam um ‘componente quimicamente ativo presente na solugao (como o oxigénio dissolvido). Outras moléculas inibidoras se fixam A superficie que esté sendo atacada por corrosao e interferem ‘ou na reagéo de oxidag&o ou na de redugdo, ou formam um revestimento protetor muito fino. Os inibidores so usados normalmente em sistemas fechados, como os dos radiadores de automéveis ¢ as caldeiras de vapor. Cano subterraneo Navio ‘Tangue de Agua o © o Fig. 9.8 - Anodos de sacrificio, (a) Anodes de magnésio enterradas ao longo de um oleoduto. (b) Anodos de zinco aplicadas em casco de navio. (e) barras de magnésio em uni tanque industrial de digua quente. Todos esses anodos de sucrificio podem ser facilmente substituidos. (Adaptado de Lawrence H. Van Viack de obra jf citndas em figuras anteriores) 9.8.4 - EVITAR A FORMACAO DE PARES GALVANICOS Por fim 0 método mais simples de se evitar a formagdo de pares galvnicos ¢ limitar os projetos a um dinico metal, mas isto nem sempre 6 possivel. Em circunstincias especiais, as MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA ~ VOL 1 células podem ser evitadas através de um isolante elétrico entre os metais de composigoes diferentes. Fig. 9.9 - Tensao elétrica aplienda. Uma pequena tensio continua fornece elétrons su permanega catédico. Aduptado de Lawrence H. Van Vlack de obra ji 3) jentes para que ila em figuras CONCEITOS CHAVES Reatividade quimica Corrostio Degradagio Anodo Cotrosio por dissolugo quimica Catodo Reagao anédica Reagio catédica Oxidagao Redugaio Camada de dxido coerente Camada de éxido no coerente Ferrugem Corrosio galvanica Potencial de eletrodo Tabela de potenciais de eletrodo Revestimento protetor Proteciio catédica Anodo de sacrificio QUESTOES PARA ESTUDO 9.1 ~ Considere as ts seguintes condigdes de trabalho de uma pega de ferro ( no protegida) de um ‘equipamento elétrico: a) em uma atmosfera seca: b) em uma atmosfera Gimida; c) em Contato com outro metal, ‘em atmosfera absolutamente seca. Quais os tipos de corrosto que ocorrem nas condigdes citadas © m0 caso © cexplique as razdes, '9.2~ Explique porque uma placa de ferro “eparentemente” puro apresenta um processo de corrosBo galvnica superficial, quando exposta a uma aimosfera Gmida ou quando imersa numa solugdo aquoza 9.3 ~ Uma pega de ferro cromada softe um risco em sua superficie; sob a ago da umidade do meio ambiente (2) identifique qual a natureza da corroso que ocorre neste caso ? (b) Considerando ainda o exemplo dado, indique qual dos metais seré sacrificado. 9.4 — Um grampo conector de aluminio realiza a ligagto entre dois condutores elétricos de cobre, conforme Fig. 9.10. A conexao est exposta a intempérie e inicia-se um.processo de corrosio galvanica na referida conexto. Responda as seguintes perguntas: (a) quais s80 os componentes basicos necessiios para que se processe uma apao de corrosio galviinica? (b) no presente caso os componentes bésicos existem? Identifique- ‘os. ©) conriderande ainda a conexto aqui mostrada, indique qual dos motais atuaré como enody © ‘consequentemente seré sacrificado. 100 + MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOL I "Sipe de atuntnie 9.5 - Na Fig. 9.11 0 contato elétrico esté imerso numa atmosfera mide, Pergunta-se: a) qual o tipo de ccorrosto que ocorre neste contato elétrico? b) qual dos materiais metilicos seré sacrificado? ¢) qual o valor da tensto de decomposiglo eletroquimica que ataca a jungdo cobre-aluminio; demonstre que ele é igual a soma das tensdes de decomposigdo eletroquimica que atacam os outros dois pares de metais; d) 0 ago aumenta 0 rocesso de decomposigo (corrosio) do metal sacrificado? 9.6 ~ Cite trés formas mais usuais de protegto dos materis contra os danosos efeitos da corrosto, 9.7 ~ Una placa de uma determinada liga de metal ¢ encontrada submersa no fundo do mar. Estima-se que a frea original desta placa era de 800 em? e que aproximadamente 7,6 kg de material da placa foi corrofdo durante 0 processo de submersio. Supondo que o avango do processo corrosivo sobre a superficie da placa tenha se processado uniformemente e a uma velocidade de 4 mm/ano, estime o tempo em que a placa esteve submersa no mar. A densidade do material submerso é de 4,5 kg/cm’, 9.8 — Explique como se pode combater a corrosto com a utilizaglo de anodos de sactficio. Exemplifique 9.10 ~O que se entende por galvanizagao a quente? Atominio PARA Pos0 be Ago co “Fines cobee Paagevco ‘ AGO) Je Fie, 2 tea 0 snl teenre” Fig. 9.11 101 « « « a < tI « < iJ a a a a « ). Chama-se massa de saturago (mss) a quantidade maxima de vapor de agua que pode ser contida na unidade volumétrica de ar (m3). Para cada temperatura corresponde um valor determinado de umidade absoluta maxima, ou seja, de saturago (mq). Quando o ar encontra-se saturado ja no pode conter mais égua sob forma de vapor e entio se precipita sob a forma de orvalho (chuvisco).. Com 0 aumento da temperatura a umidade absoluta aumenta bruscamente. Nas condigées de temperatura e pressdo normais (20 °C e | atm) o valor da massa de saturagao do ar & de 173 gm’ Denomina-se umidade relativa do ar a relagio, expressa, em porcentual, entre a massa m de vapor contida num dado volume de ar pela massa de saturagdo suportivel por este mesmo volume, em determinadas condigdes de temperatura e presséo. Assim, tem-se: @=m/ Mar X 100 (10.10) Pode-se definir, também, a umidade relativa como sendo a razao percentual entre a pressto de vapor de fgua na atmosfora ¢ a pressio de vapor saturado, na mesma temperatura., ou seja: =P! Psa X 100 (10.11) Na Fig. 10.6 so aprosentados valores da umidade absoluta do ar ( na pressio normal) correspondentes a distintos valores da umidade relativa. A curva superior representa o ar totalmente saturado. ‘A Agua ¢ um dielétrico muito polar, com baixa resistividade (da ordem de 10° a 10‘ ohm.m) € por isso sua introdugo nos poros dos dielétricos sélidos ocasiona uma queda brusca de suas propriedades elétricas. A agdo da umidade se nota especialmente quando as temperaturas so elevadas (30-40°C) e os valores de @ altos, ou seja, préximos de 100%. 110 MATERIAIS PARA ENGENHARIA ELETRICA- Prof. Aelfo Marques Luna ~ Volume I ie am oe yy ‘wat : My ‘ z ep ws Umidade absoluta do ar 4 pressio atmosférica normal e diversos valores da umidade sm fungdo da temperatura. (do livro "Materiales electrotécnicos” de Bogordditski, Pasinkoy ‘Taréiv, ja citaday Estas condigées somente se verificam em paises de clima tropical imido, nos quais ‘ocorrem longos periodos de chuvas, o que influi negativamente no desempenho dos equipamentos elétricos. Em primeiro lugar a ag#o da umidade elevada influi na resisténcia superficial dos dielétricos. Para protege-los da agao da umidade, as superficies dos dielétricos sio recobertas com vernizes que ndo so molhados pela égua., A capacidade dos dielétricos para ser molhados pela 4gua (ou por outro liquido) se caracteriza pelo éngulo de contato 0 formado pela tangente a gota de Agua com a superficie plana do corpo sobre o qual se deposita. Quanto menor seja 8, mais se molhara 0 corpo, conforme ilustrado na Fig 10.7. E se 0 > 90° o liquido nao motha o corpo. oo. 4) xO fy fa Fig.10.7 — Gota de liquido sobre a superficie de um dielétri outro que nio se motha (b).( do liveo "Materiales eletrotéeni citado) {que se motha no easo (a) ¢ sobre a de ‘de Bogoréditski, Pasinkov e Taréiv, a © grau de absorgao de umidade é varidvel em fungio do material e do tempo o qual 0 isolamento esta exposto & mesma, saturando-se pds um certo intervalo de tempo como pode-se notar na Fig. 10.8. O processo inverso, ou seja, a secagem do corpo, tem um comportamento semelhante. Tanto a umidificagaio como a secagem so referidas a 20 °C. Os efeitos da umidade se manifestam sob formas de alteragSes nas propriedades elétricas ddos materiais, bem como nas suas propriedades fisico-mecdnicas e quimicas, Desempenham papel importante as dimensdes dos espacos capilares que existem no interior uM 2200080220424 2442808 q q a q d 4 4 « « é 4 « a 4 4 4 4 4 a 4 u 4 ( ( { ‘ { ‘ ' i) ( MATERIAIS PARA ENGENHARIA ELETRICA- Prof. Aelfo Marques Luna— Volume | Fig, 10.8 — Variagéo, em fungio do tempo, do teor de uimidade de um corpo de prova nas fnses de absorsio de umidade (1) © secagem @). ( do livro "Materiales Electrotéenicos” de Bogoréditski, Plsinkov e taréiv, j6 citado) do material e pelos quais se penetra a umidade, Os materiais muito porosos, e em particular 08 fibrosos so mais higroscépicos que os materiais de estrutura compacta. Abaixo, so indicados os tamanhos aproximados, em Angstrém, de alguns materiais isolantes: Poros macroscépicos da ceramica 10° a 10° Capilares nas fibras da celulose 1000 Poros nas paredes das fibras 10~100 Poros intermoleculares de varios materiais 10-50 Poros intramoleculares até 10 Para termo de compara, considere o didmetro da molécula de gua de aproximadamente igual a 2,7 Angstrém. Por esta razio as pequenas moléculas de égua podem penetrar nos poros intramoleculares dos materiais celulésicos. CONCEITOS CHAVES Angulo de perdas Material isolante Constante dielétrica Polarizacao eletronica Correntes de fuga superficiais Polarizacao iénica Correntes de fuga volumétricas Polarizagao direcional Freqléncia de relaxagzio Perdas nos dielétricos Fator de perdas Poténcia ativa Material dielétrico Relaxagio Higroscopicidade Umidade absoluta Umidade relativa QUESTOES PARA ESTUDO 1)- Defina o que ¢ um dielétrico? Dietétrico ¢ isolante so a mesma coisa ? Quais as funges dos materiais dielétricos? 2)- O que voce entende por um dielétrico “ideal”(ou seja perfeito) versus um dielético “real” ? Como pode ser configurado o circuito equivalente de um dielético. Explique. 412 MATERIAIS PARA ENGENHARIA ELETRICA- Prof. Aelfo Marques Luna ~ Volume I 3-0 material dietético idea! apresenta correntes de fuga? Como se classifica as correntes de Fuge? dos dielétricos sélidos explique a importincia do estado “sanitirio” de sua 5}- A formula que permite caleular as perdas que ocorrem num dielétrico, quando submetido & apo de_ um ‘campo elétrico Ac é da por P= wCU"tgS. Identifique os elementos componentes da formula faga um ‘rifico vetorial indicando o Angulo de perdas. Explique o que ocorre quando a tensto aplicada U & constante (DC) eindique qual a expresso que dé as perdas no dielétrico neste caso. 6)- Aida se reportando a questo anterior, explique camo se relaciona o Angulo do fator de potéacia (@) com 0 dngulo da tangente de perdas. 7)- Dois dielétricos Ae B de mesma geometria, apresentam constantes dicitricas Gy = 1,5 ¢ 4 == 2, respectivamente, e sto inseridos, um de cada vez, entre duas placas metélicas submetidas a uma tensdo U alternada, de freqtigncia f, Sabendo-se que as perdas P apresentadas pelos dois materiis sio iguais ¢ que a tangente do angulo de perdas do material A é 6 x 10%, solicita-se determinar a tangente do angulo de perdas do material B. 8)- Um condensador plano, cujas placas so quadrados de 100 mm de lado ¢ utiliza um dielétrico sélido com ‘uma espessura de 1 mm, resistividade de 10"° ohm.m ¢ uma constante dicléirica igual a 3. Calcule: a) as pperdas por unidade de volume do dielétrico considerado ( W/em") quando o mesmo é submetido a uma tensto constante de | kV; b) ealeule ae perdst por unidade de volume (W/em") quando a tensio, com a.mesma intensidade (valor eficaz) toma-se altemada (AC), com freqlléncia de 60Hz, sabendo-se que a tangente do Angulo de perdas do referido material é 10°. desprezar os efeitos de borde e as correntes superficias. 9)- Demonsire que a tangente do Angulo de perdas € igual a expresso /aRC, onde Re C sto respectivamente a resiséncia elétrica e a capacitincia do dilétrico. 10)- Um dielétrico, com dimensdes de 100 mm x 100 mm x 1 mm, tem uma constante dielérica igual a 3, uma resistividede p = 10" ofm.m , ¢ submetido & ago de um campo elétrico AC, com freqiéncia de 60 Hz. Solicita-se determinar a tangente 8. (dados ¢5~ 8,85 x 10" Fim) 3 226640640444 4444480446444462424044802824602802884080220888008808 MATERIAIS PARA ENGENHARIA ELETRICA- Prof. Aelfo Marques Luna ~ Volume I CAPITULO XI PROPRIEDADES GERAIS DOS GASES DIELETRICOS Todos os corpos em estado gasoso sio dielétricos, a menos que especiais condicdes estejam presentes, quando entio ocorreri a dissociagio de suas moléculas, aumentando, portanto a disponibilidade de portadores de carga, Os diclétricos gasosos sio os que mais se aproximam dos dielétricos ideais 11.1 - CONSIDERAGOES INICIAIS Os gases constituem um dos trés estados de agregagdo em que se encontra a matéria no universo. Nas moléculas dos gases todos os elétrons estio fortemente presos aos seus ricleos e como os apresentam uma baixa densidade, pode-se considerar suas moléculas ‘como corpos livres ¢ separados, no formando nenhum sistema, tal como nos casos dos quidos mais densos ¢ dos sdlidos. A principal propriedade dos gases é a mobilidade de suas moléculas, as quais estio sempre em movimento cadtico , desordenado © cujas velocidades de deslocamento so proporcionais a temperatura absoluta a que esto submetidas. A agitagdo térmica dos gases é de natureza aleatéria (zig-zag em diferentes direydes), como por exemplo, a um dado instante todas as particulas de um gés podem estar se deslocando em diregdes as mais diversas possiveis. A velocidade média de uma particula pode ser determinada pela seguinte equagio: vy = V3kT/m (10.1) onde: v= velocidade média da particula em m/s k= constante de BOLTZMAN, igual a 1,38 x 10°23 Joule/ K m= massa molecular do gas, em gramas. T = temperatura em graus Kelvin Exemplo: o hidrogénio a 300 K, a velocidade média de suas particulas 6 de1600 m/s. Na sua caética e permanente agitago térmica, as moléculas do gés esto continuamente colidindo umas com as outras. A distincia média que uma molécula de gis pode percorrer antes colidir com outra particula ¢ chamada de "livre percurso médio" da molécula. O caminho do livre percurso médio depende da densidade do gis. Por exemplo, na pressio de 101.300 pascal ( pascal & a unidade de pressfo no SI, expressa em Newton/m2, corresponde a 1 atmosfera de presstio) e na temperatura de 273 K, um m3 de qualquer gas, conterd 2,687 x 1019 moléculas (ntimero de LOCHSCHMIDT) ¢ nestas condigées, 0 livre percurso médio é igual a 10°5 em, a sua velocidade sera de centenas de metros por segundo. Os gases podem ser classificados como monoatémicos ou poliatdmicos (moleculares). Os gases nobres podem ser citados como exemplos do primeiro grupo ¢ 114 MATERIAIS PARA ENGENHARIA ELETRICA- Prof, Aelfo Marques Luna Volume I no segundo grupo podem ser mencionados 0 hidrogénio, 0 nitrogénio , o SF6, entre outros. 11.2 - OS GASES DIELETRICOS . Entre os gases mais importantes nas aplicagdes eletrotécnicas situam-se: 0 ar atmosférico (que na realidade é uma mistura de gases e vapor de agua), o nitrogénio, o hidrogenio, o diéxido de carbono, os gases nobres , 0 hexafluoreto de enxofre (SF6) ¢ outros gases eletronegativos. ‘A baixa densidade dos gases decorre das grandes distincias que existem entre suas moléculas ou dtomos que vagueiam desordenadamente:no espago que os contem. Por este motivo a permissividade dielétrica relativa (constante dielétrica ) de todos os gases é muito pequena e proxima da unidade. Isto revela que a polarizagii eletrénica nos gases é menos pronunciada que nos liquidos e slidos. Na Tabela 11.1 sto listadas as constantes dielétricas de alguns gases a pressio atmosférica de 760 mm Hg e a temperatura de 20 °C. Basicamente comportamento dos gases ¢ influenciado pelas condigdes de pressio e temperatura a que esto submetidos. TABELA 11.1 HELIO 1,000072] HIDROGENIO 1,00027 OXIGENIO 1,00055|"ARGONIO 1,0056 NITROGENIO 1,0060| DIOXIDO DE 1,096 CARBONO: AR 1,00058 SF6 7,002084 11.3 - CONDUTIVIDADE DOS GASES Quando a intensidade do campo elktrico é débil, os gases possuem uma condutividade ‘extraordinariamente pequena. A corrente elétrica somente pode produzit-se nos gases ‘quando neles existem elétrons e fons livres. Em todos os gases, mesmo antes de ficarem sujeitos ao efeito do campo elétrico, existe sempre uma certa quantidade de portadores de carga , isto é, elétrons ¢ ions animados de movimento térmico irregular. A formagao de particulas carregadas no gas se deve a ionizagdo do gas produzida por fontes externas de energia, denominadas de FATORES EXTERNOS DE IONIZAGAO, dentro dos quais se incluem os césmicos ¢ solares, as emissOes radioativas da crosta terrestre, 0s raios X e a agdo térmica (aquecimento do gés). A condutividade do gas decorrente da agiio destes fatores externos se denomina de NAO AUTONOMA ou NAO AUTOMANTIDA. © processo de ionizagiio promovido pelos agentes externos consiste na transmissio de sua energia as moléculas do gés , produzindo a sua desintegrago cm fons e elétrons. Os elétrons de valéncia adquirem uma energia adicional ¢ se separam dos respectivos dtomos ou moléculas, os quais ficam transformadas em ions us amaccenaeneeeceeecaeecacaececanaeeaeeaecsesaeesetatasesenets MATERIAIS PARA ENGENHARIA ELETRICA- Prof. Aelfo Marques Luna ~ Volume positivos.Os elétrons livres formados deste modo tanto podem ficar durante muito tempo animados de movimento independente no seio do gés como, depois de um curto intervalo de tempo, associar-se aos éiomos ou moléculas eletricamente neutros, transformando-os em fons negativos. Uma parte dos elétrons também ¢ recapturada pelos ions positives do gis, formando novamente étomos ou moléculas neutras. Este proceso chama-se de RECOMBINACAO. A existéncia da recombinag%o evita 0 crescimento ilimitado do némero de fons e elétrons livres no gis ¢ explica o estabelecimento de uma concentragao determinada de fons ao cabo de certo tempo depois de iniciado 0 processo extemo de ionizagao. Esta concentragdo estacionéria, que ocorre quando o numero de fons niio varia com 0 tempo, estabelece um equilfbrio dindmico entre os processos de ‘geragio e recombinagao das particulas carregadas. A condutividade dos gases apresenta praticamente 0 mesmo comportamento. independente da sua propria natureza. Por exemplo, 0 ar, que é 0 mais universal dos gases pode ser usado como modelo no estudo da condutividade dos gases que a seguir abordado. Suponha-se que o ar ionizado sc encontra entre dois eletrodos planos, paralelos entre si, e sobre os quais se aplica um campo elétrico E, crescente a partir de zero. Os portadores de carga existentes no gis serio influenciados pelo campo aplicado ¢ no circuito se produzira uma densidade de corrente J. J ° a b E Fig. 11.1 - Curva mostrando a variag4o da condutividade de um gas com o campo elétrico A Fig. 11.1 mostra 0 cardter de dependéncia da densidade deforrente com respeito ao campo elétrico aplicado e pde em evidéneia que no dominio dos campos létricos fracos, nos quais as forgas elétricas atuantes sobre as particulas carregadas relativamente débeis (trecho até a), a corrente no gas cresce proporcionalmente a tqfisio aplicada. Neste trecho a intensidade de corrente desenvolve-se de acordo com a Iei de OHM. Neste dominio a reserva de elétrons, fons positivos ¢ negativos ¢ suficient@e, pode considerar-se constante. A densidade de corrente ¢ assim proporcional a’ ténsio! aplicada no espaco gasoso. N A medida que aumenta a tensto aplicada, os fons ¢ elétrons se dirigem cada vez mais rapidamente aos eletrodos, sem ter tempo de se recombinar. A uma tensio determinada todos os ions e elétrons que se criam no espaco gasoso considerado, produzidos pela ago dos agentes extemnos, se descarregam nos eletrodos. E evidente que, nesta situago, continuando-se a aumentar a tensGo, a corrente jé no cresceré, o que corresponde a parte horizontal da curva (trecho a-b) da Fig, 11.1 Este valor de densidade de corrente € chamada de saturagio. Neste trecho (a-b) 0 ‘campo solicitante atua sobre o processo de recombinagdo, impedindo-o de realizar-se. O 116 MATERIAIS PARA ENGENHARIA ELETRICA- Prof, Aelfo Marguss Lana— Volume T niimero de portadores de carga pelo processo de decomposigo é constante e usado pelo ‘campo como portadores de carga A corrente de saturagiio para o ar, cm condigées normais ¢ com uma distancia entre os eletrodos de 10 mm é obtida quando a intensidade do campo ¢ aproximadamente de 0,6 V/m. O valor real da densidade de corrente de saturaglo no ar € muito pequeno , ao redor de 10-15 A/m?, Por isto o ar pode ser considerado como um dielétrico bastante perfeito, desde que ndo se criem as condigdes para ionizagio por colisdes. Se a tensto aumenta, a densidade de corrente permanecerd constante, enquanto a ionizagdo se efetuar pela ago dos agentes extemos. Com 0 aumento posterior da tensdo (trecho depois de b) a intensidade de corrente deixa de ser constante. A partir deste ponto o crescimento do campo elétrico jé imprime um crescimento consideravel na velocidade das particulas carregadas, o que da lugar a colisSee freqilenter delas com ae particulas neutrae do gée. Os olétrons 0 ions durante tais colisdes transmitem uma parte da energia acumulada neles as particulas neutras do gis, dando como resultado disso, a separago dos elétrons dos respectivos lomos ou moléculas, No decurso deste processo formam-se, numa verdadeira avalanche, novas particulas carregadas: elétrons ¢ fons. A ionizagio do ar devido as colisdes que ocorrem em avalanche recebe o nome de AUTOMANTIDA ou AUTONOMA e independem da ago dos fatores ionizantes externos. ‘A formagio de novas particulas eletricamente caregadas & muito intensa e a densidade de corrente cresce muito depressa, mesmo com pequenos aumentos da tensio, como pode ser observado na Fig. 11.1. O processo de ionizagio automantido por Colisdes & seguido de uma diminuigdo brusca da resistividade volumétrica do gas ¢ do aumento da tangente do angulo de perdas dielétricas (tg6). Na pagina seguinte a Fig. 11.2 apresenta um diagrama explicativo dos fendmenos descritos neste item. 11.4 - PERDAS DIELETRICAS NOS GASES Quando as intensidades dos campos elétricos se encontram abaixo dos valores necessarios para que se desenvolva o processo de ionizagdo por choques das particulas do gis, as perdas dielétricas nos gases sto praticamente insignificantes, Nestes casos 0 gs pode considerar-se como um dielétrico perfeito As perdas nos dielétricos gasosos sto oriundas de sua condutincia, desde que a polarizago molecular ndo implica em perdas dielétricas. Os gases se distinguem por ter uma condutividade elétrica muito pequena e em virtude de tal fato o angulo de perdas dielétricas também € insignificante, sobretudo se as freqiiéncias sto altas. A grandeza de tg 8 pode ser calculada pela formula abaixo indicada: tg8 = 18x10" /efp (1.2) onde f se mede em Hz, p em Q.me ¢, 6 constante dielétrica. A resistividade volumétrica dos gases ¢ da ordem de 10" a 10" Q.m, e, menor que 4 x 10°. le tgd é 7 2646000608 00460000080468000000080 4 « « @ e e 6 e 4 « q 4 MATERIAIS PARA ENGENHARIA ELETRICA- Prof. Aclfo Marques Luna ~ Volume 1 RAIOS COSMICOS E SOLARES EMISSOES RADIATIVAS: RAIOS X AUSENCIA DO CAMPO ATUAGAO DO CAMPO ELETRICO ELETRICO a camnosians Trecho O-a da curva A.CORRENTE E PROPORCIONAL A TENSAO (ei de Ohm) A DECOMPOSICAO E A RECOMBINACAO DAS MOLECULAS NAO SAO ACAO TERMICA MoLECULs ‘CAMPOS MAIS INTENSOS ‘OCORREM FENOMENOS DE ‘Trecho a-b da curva RECOMBINACAO E ARECOMBINACAO E DECOMPOSI¢AO Das AFETADA . MOLECULAS. CORRENTE DE SATURACAO HA UM EQUILIBRIO DINAMICO ENTRE ESTES FENOMENOS QUE NAO VARIA COM O TEMPO. ‘CAMPOS MUITO INTENSOS ‘Trecho para direita da curva INICIA-SE UM PROCESSO DE DECOMPOSICAO DO GAS ‘Trecho 0-b- DESCARGA NAO- AUTONOMA. ‘Trecho b para direita DESCARGA. AUTONOMA Fig. 11.2 - Dingrama explicativo dos fendmenos de condutividade nos gases. 115 - DISRUPCAO ELETRICA DOS GASES A rigidez dielétrica é 0 valor limite do campo elétrico que o material isolante pode suportar sem romper-se, ou melhor dizendo, antes de ser perfurado. A tensao elétrica em que ocorre este fendmeno é chamada de TENSAO DISRUPTIVA. © comportamento disruptivo dos gases pode ser ‘adequadamente explicado pelo mecanismo das colisSes idnicas, que ¢ considerado como o primeiro estigio de sua 118, MATERIAIS PARA ENGENHARIA ELETRICA- Prof. Aelfo Marques Luna ~ Volume 1 disrupso A perfuragio dos gases é um fendmeno puramente elétrico e por isto todos os dados se referem aos valores maximos (amplitude) de tensiio. A rigidez dielétrica dos gases depende de varios fatores, a seguir enumerados: 4) natureza do gas; 5) distancia entre os eletrodos; ©) grau de uniformidade das lihas de forca do campo elétrico solicitant @) natureza do campo elétrico; ©) pressio e temperatura; fi freqiiéncia; ®) influéncia da umidade. A seguir € feita uma abordagem detalhada de cada um destes fatores: a) natureza do ge AA rigidez, diclétrica do gas é influenciada por sua composigdo, ou seja, pela sua natureza, A maioria dos gases conhecidos (Oz , N2 , CO2 ete) tém rigidez dielétrica proxima a do ar (no entorno de 31 a 32 kV/cm, nas condigdes normais de pressao ¢ temperatura), Este valor € menor para os gases raros (hélio, argdnio, xenénio etc) ¢ vapores metilicos. E bastante superior para os gases eletronegativos, ou seja, aqueles gases que contem cloro ou flior, Por exemplo, o gas hexafluoreto de enxofre - SF¢ tem ‘uma rigidez dielétrica da ordem de 90 kV/cm. A Tabela 11.2 lista as relagdes da rigidez dielétrica de diversos gases comparadas com a do at. Tabela 11.2 Gis FORMULA QUIMICA | RIGIDEZ DIELETRICA DO GAS EM RELACAO A DO AR NiTROGENTO x 10 ‘OXIGENIO o 09 HIDROGENIO i, 06 DIOXIDO DE CARBONO, CO, 09. HEXAFLUORETO DE ENXOFRE SF, 23025 FREON CCU 24026 TETRACLORETO DE CARBONO cc 63 b) distdncia entre os eletrodos Tomando o ar como exemplo, verifica-se, na Fi diclétrica com respeito a distancia entre os eletrodos. Quando a distancia entre os eletrodos & pequena observa-se um aumento importante da rigidez dielétrica do ar. Este comportamento pode ser explicado pela dificuldade com que se defronta 0 processo de formagio da descarga, quando a distincia entre os eletrodos é pequena. Com a redugo da distancia entre os eletrodos as colisdes inicas ocorrem mais dificilmente pelo encurtamento do livre percurso médio das cargas, Este efeito toma-se mais pronunciado quando a distincias entre os eletrodos sto 11.2, a dependéneia da rigidez 119 0200000002600 00000000000000082820080209990802 09009909 MATERIAIS PARA ENGENHARIA ELETRICA- Prof. Aelfo Marques Luna — Volume I comensuraveis com o livre percurso médio, cujo comprimento é da ordem de 10° em, para condigdes barométricas normais. =} 110 bei ‘a -—|- 0 we TM aol\ -f4 n mftet td a0} 1 ~ 50|-—| +P 1 40) » + I x0 t Sul ani fine ans ar az as aS a7 23 SF Wem Fig. 11.2 - Varingto da rigider. dielétrica do ar submetida a um campo elétrico uniformemente distribufdo, em fungdo da distancia entre os cletrodos. (Adaptado de Yu. Koritsky - “Electrical Engineering Materials” - Edt. Mir Publishers - Moscou) Nas condigées normais de pressio e temperatura, a rigidez dielétrica do ar é de 32 kV/cm quando a distancia entre os eletrodos é de 1 em. Quando este espago se reduz para 0,02 em, a rigidez dielétrica atinge o valor de 70 kV/em. Por outro lado quando o gap eletrédico & muito grande o efeito da distancia decresce rapidamente. O livre percurso médio das cargas toma-se mais longo, fazendo as cargas acumularem uma energia cinética maior sob a agdo de campos elétricos menores, facilitando assim o processo de ionizagéo. ©) grau de uniformidade na distribuicao das linhas de forca do campo elétrico © grau de uniformidade do campo influi de forma preponderante no comportamento dielétrico do gés. O campo € dito uniforme quando as linhas de forga sio distribuidas regularmente no espago; quando tal nflo se verifica 0 campo mostra-se distoreido com concentragées de linhas de forga em determinadas regiées do espago, Depreende-se deste aspecto que a reparti¢o do campo elétrico depende da forma geométrica dos eletrodos. Dai a normalizaglo das formas geométrieas dos eletrodos utilizados nos ensaios de rigidez dielétrica, consagrados pelas normas técnicas internacionais, tais como ASTM, VDE, NEMA ete. Para campos homogéncos a disrupeo dielétrica se verifica de "“golpe”, ou seja, a perfurago se produz de modo praticamente instantineo ao alcangar uma tensao critica rigorosamente determinada, a qual depende também das condigdes de pressiio © ‘temperatura. O gas ¢ atravessado por uma chispa elétrica que pode transformar-se num arco, a depender da poténcia da fonte, Nao so observadas manifestagdes luminosas que antecedem a chispa elétrica. No instante da disrupedio a corrente sobe bruscamente, a0 asso que a tenso cai a valores proximos de zero. fendmeno da disrupgao dos dielétricos gasosos num campo uniforme exprime-se pela lei de PASCHEN, cuja formula é a seguinte: 120 MATERIAIS PARA ENGENHARIA ELETRICA- Prof, Aelfo Marques Luna — Volume 1 U, = Aph (11.3) em que Uy. €a tensio de disrupg0 do gés, p ¢ a pressio do gas ¢ h a distincia entre os eletrodos mergulhados no gas; A é uma grandeza que depende da presséo p ¢ da espessura h da camada de gis. A lei de PASCHEN ¢ ilustrada na Fig. 11.3, desenhada para o ar ¢ 0 hidrogénio. Segundo a lei de PASCHEN, o valor da tensio de disrupgtio de qualquer gis € proporcional ao produto da pressto do gis pela distancia entre os eletrodos. Com a diminuigSo da pressio e da distancia, diminui também a tensdo. Entretanto, esta ultima, apés transpor um minimo, volta a erescer no dominio do gés rarefeito ou de pequenas distincias entre os eletrodos (parte esquerda da curva). Isto ¢ légico porque no gas rarefelto diminul a quaniidade de éwinus © moléculas do gis passiveis de corem jonizados e por conseqiéncia o processo de ionizagfio por choques somente ¢ alcangado ‘com tensdes maiores. ‘No caso das pequenas distncias entre os eletrodos (com bh igual ou menor a 0. mm) a perfuragto do gis ocorre também devido a grandes valores de tensio. Isto se deve a diminuigdo do‘“livre percurso médio" e por isso as particulas deixam de acumular a energia necesséria para © desenvolvimento do processo de ionizagio por colisdes, conforme jé visto anteriormente. Para permitit a instalagio deste processo so necessérias também tenses mais elevadas. fi Bue 10! ws mm ig-om 30108 FIG. 11.3 - Curvas ilustrando a lei de Paschen ( Adaptado de Yu. Koritsky - “Electrical Engineering Materials” - Ed. Mir Publishers - Moscou) Isto quer dizer que a camada menos espessa de um gis possui uma rigidez dielétrica maior do que a de um gas com camada mais espessa. Nesta tltima hipdtese a rigidez dielétrica diminui. Na Fig, 11.3 observa-se que para cada gis existe um determinado valor mfnimo de tensdo disruptiva; para uma tensdio menor que esse valor, a camada de gas de qualquer espessura e pressfio nfo pode ser perfurada. Para o ar a tensio minima & 326 V (0 qual ocorre quando o produto pressfo x espessura ¢ igual a 5,67 mm.Hg.mm.) ‘A disrupgo de um dielétrico gasoso pode assumir um comportamento muito variado, em fung&o da n&o uniformidade do campo elétrico solicitante, constituindo-se num proceso que passa por uma série de fascs intermediatias, as quais precedem 0 proceso disruptivo propriamente dito. 121 ee tt ee ee eeannennane MATERIAIS PARA ENGENHARIA ELETRICA- Prof. Aelfo Marques Luna ~ Volume | Nestas circunstncias considere-se ainda como exemplo o ar . Imagine-se um eletrodo sob forma de ponta e um outro plano e no espago entre os eletrodos o ar seja introduzido e submetido a um campo crescente a partir de zero, Observa-se a seguinte série de fenémenos: a) DESCARGA ESCURA. b) DESCARGA LUMINESCENTE ©) PERFURACAO DA CAMADA GASOSA primeiro estégio caracteriza as correntes elétricas que se manifestam decorrentes da existéncia de elétrons e fons no ar, produzidos pela agdo dos agentes ionizantes externos € pelo inicio do processo de decomposigio do gas (correntes de fuga). Esta fase inicial 4 denominada de eseura porque no surge nenhuma manifostagdo Juminosa no gas. No segundo estagio, verifica-se a perfuragfo da camada de ar préximo do eletrodo de forma de ponta, devido' da alta intensidade do campo elétrico naquele ponto. Esta perfuracdo incompleta do ar provoca o surgimento de um eflivio luminoso (glow discharge). A palavra eflivio significa fluido sutil que emana dos corpos organizados, também € chamada de "emanago". No caso em tela, o eflivio é uma descarga elétrica que ocorre antes de atingida a disrupgao total do gés. E acompanhada de uma emissio luminosa, de cor violeta clara e de ruidos caracteristicos sibilantes. Nota-se também, no caso do ar, a formagio de OZONIO (O;), que é uma forma alotrdpica do oxigénio, altamente oxidante. Perturbagdes em radio e TV sdo também observadas. Esta forma particular de eflivio recebe o nome de EFEITO CORONA e ¢ observavel mais freqtientemente nas linhas de transmisso ou em equipamentos elétricos de alta tensiio, Este efeito serd objeto de uma abordagem mais detalhada, quando for estudado 0 ar. Importa registrar que este efeito é acompanhado de desprendimento de calor e, portanto, significa uma perda de energia nas linhas e nos equipamentos. aumento posterior da tensio faz com o que o eflivio venha a transformar-se num penacho" luminoso mével que sai do eletrodo de raio menor, quando o campo elétrico ultrapassa um certo valor, mas permanece insuficiente para a formagio de uma centelha ‘ou faisca. O crescimento progressivo da tensdo termina por acarretar a perfuragdo completa do gés com o surgimento de uma centelha (falsca). Este tltimo fenémeno é luminoso e brilhante, de curta duragdo ¢ caracteriza a descarga disruptiva do gés. O arco entre os eletrodos pode advir desde que a fonte de corrente seja suficientemente poderosa para manté-lo, O arco caracteriza-se por uma grande densidade de corrente ¢ fraco gradiente de potencial, freqiientemente associado & volatilizagaio parcial dos eletrodos, Constata-se que a disrupcdo do gés sujeito a um campo uniforme se verifica geralmente com uma tensio superior 4 que se da no caso da disrupg4o da mesma camada de gas quando sujeito a um campo nao uniforme. Acrescente-se ainda que no segundo caso , uma série de fendmenos ,conforme descritos, precede a perfuragdo final do gés. Nas aplicagdes praticas encontra-se, com maior freqiiéncia, campos elétricos nfo uniformes, como por exemplo, entre dois condutores paralelos, sob alta tensfo, entre uma aresta e um plano, entre duas arestas ou pontas ete. Perto destes corpos energizados a densidade de linhas de forga do campo elétrico € muito intensa c, portanto, precisamente nestes pontos se observam grandes valores do campo elétrico capazes de causar a ionizagdo do gas (descarga automantida). A medida que se afasta da aresta ou 122 MATERIAIS PARA ENGENHARIA ELETRICA- Prof. Aclfo Marques Luna — Volume 1 da ponta, na dirego do lado plano, a densidade das linhas diminui e, por consequéncia, diminuj também 0 campo elétrico, reduzindo-se assim sua ago ionizante. No caso em que os eletrodos sfio uma ponta e uma placa ¢ se a ponta tem polaridade positiva, a perfuragio se efetua com uma tensio menor do que ocorreria se a polaridade fosse inversa. Isto se explica da seguinte mancira: a ionizagdo do gis, qualquer que seja a polaridade dos eletrodos, se produz na regido do eletrodo de forma aguda, que é exatamente onde existem os valores mais intensos do campo elétrico ¢ por conseqiléncia, junto a ele se forma uma nuvem de ions com carga positiva, isto é, de moléculas de cujas érbitas foram arrancados os elétrons. Quando a polaridade da agulha é positiva, Fig. 11.4 (a), esta carga espacial comporta-se como um prolongamento da ponta ¢ encurta 0 espaco entre os eletrados de descarga do gas. De fato, a carga espacial positiva de ions € repelida pela ponta, que também € positiva, afastando-a dela, entretanto, of elétrons maie ripidos e determinantes da process de ionizacdo. restabelocem com a mesma velocidade a carga espacial positiva, com novas ionizagées. Tudo entdo se parece como que do cletrodo em forma de ponta "brotasse e crescesse” ‘em diregaio ao eletrodo plano negativo. Deste modo a perfurago se produz com valores menores de tensdo. No caso inverso, Fig. 11.4 (b), 0 eletrodo negativo ird acelerar e afastar os clétrons livres existentes, 08 quais sendo suficientemente acelerados produzirdo novos elétrons e fons positivos, estes liltimos sendo de massa bem maior se deslocardo para o eletrodo negetivo com velocidade bem menor, formando uma nuvem de cargas positivas junto 4 ponta. Em decorréncia o campo elétrico vai diminuindo de intensidade e os elétrons deixam de ser acelerados, cessando o fendmeno de avalanche; neste instante o campo volta a aumentar 0 fendmeno se repete com freqiiéncia elevada. Lovination dve to ‘Seclron Toaiztion de’ positive tons @ ) Fig, L144 - Distribuiglo das cargas elétricas numa ponta positiva (a) ¢ numa ponta negativa (b) - (Adaptado de Yu. Koristsky -" Electrical Engineering Materials". Edt. Mir Publishers - Moscow) d) natureza do campo elétrico (constante ou alternado) A rigidez. dielétrica dos gases revela-se mais fraca quando submetidos a campos de natureza alternada do que quando a campos constantes. Comparando-se a tensdo continua (DC) com a altemativa (AC), a segunda quanto maior for a freqiiéncia rompera o gas dielétrico com mais facilidade. ©) da pressio eda_temperatura 123 OOO OOE 020 OOOO O4OOOOSOO44 R444 4HHAAOBOBBABBABEA MATERIAIS PARA ENGENHARIA ELETRICA- Prof, Aelfo Marques Luna — Volume A rigidez dielétrica dos gases depende da densidade absoluta do gas, esta por sua vez € proporcional A pressfo e inversamente a temperatura absoluta. A temperatura rio tem muito efeito se a presstio varia a volume constante, assim sendo, apenas ¢ considerada a variagao da pressio na Fig. 11.5 que ilustra a dependéncia da rigidez dielétrica em fungio da pressio, Na figura é destacado o ponto correspondente a rigidez, dielétrica nas condigdes normais de temperatura (20 °C) e pressdo ( 1 atmosfera = 760 mmHg) ento dos valores da rigidez dielétrica mostrada no lado direito da curva, pode ser justificado pelo encurtamento do "livre percurso médio” dos elétrons, desde que esses portadores de carga encontram maior dificuldade de adquirir a energia cinética nevessétia para promover a ionizagdo das moléoulas do és, cob a agdo do campo elétrico. A redugto do “livre percurso médio" é decorrente da maior pressio a que esta sendo submetido o gas. Solicitagdes de campo elétrico cada vez maiores sio necessérias, para inicio do processo de colisdes iénicas. A partir de valores inferiores a uma atmosfera observa-se que a curva passa por um valor minimo da rigidez dielétrica. O gas nesta regio esté submetido a sub-pressdes atmosféricas ¢ 0 livre percurso médio dos elétrons tornam-se mais longos, permitindo que a ago de campos menores determinem facilmente o proceso de ionizagio. aijem by, Fig. 11.5 - Gréfico representative da variagfo da rigider dielétrica do gis em fungio da presstio.(Adaptado de Yu. Koristky - "Electrical Engineering Materials" - Edt. Mir - Moscow) Entretanto, a medida que a pressio se reduz (aumento da rarefagdo gasosa), observa-se na porgo mais a esquerda da curva que a rigidez dielétrica do gas aumenta fortemente devido a menor ionizagao, fato este resultante da redug20 probabilistica de choques dos cl¢trons com as moléculas do gés sob as condigées de pressio bastante baixas. medida que a rarefagio gasosa aumenta (vécuo), as descargas sao determinadas néo mais pelas colisdes idnicas, porém por descargas eletrOnicas oriundas do catodo. No trecho esquerdo da curva da Fig. 10.5, e para intervalos relativamente pequenos de ‘temperatura e pressio, o valor U da tensio disruptiva do ar, nas condigées de presso p temperatura t, pode ser encontrado a partir da expresso abaixo (11.4), onde Up ¢ a tensto disruptiva do ar nas condigdes normais de temperatura e pressio (CNTP) ¢ 8 é um fator denominado “fator densidade” ou "densidade relativa" do ar..O "fetor densidade” ¢ dado pela relagao entre a densidade do ar na pressdo p € a temperatura t. nas condigdes CNTP, podendo ser caleulado pela formula 11.5 124 MATERIAIS PARA ENGENHARIA ELETRICA- Prof. Aelfo Marques Luna ~ Volume Ut = Uo a4) 8 = 4392p/ 273+10C (11.5) f) freatiéncia Observa-se que quanto maior a freqiléncia do campo solicitante menor o valor da tensio disruptiva. Esta observagao é bem ilustrada na Fig. 11.6, onde é epresentada a variagio da tensfo disruptiva em relagio ao afastamento entre os eletrodos para os seguintes valores de freqiéncia: f = 3,85 x 10°Hz e =50 Hz. WW me 738510" sssegeus eg 8s a OF WH 25 een Fig. 11.6 — Variagdo da tensio disruptiva do ar em fungio da distancia entre os eletrodos, para diferentes freqiténcias. (Adaptado de N.P. Bogoréditski, V.V. Pésinkoy e B, M. Targiv ~ * Materiales Eletrotéenicos” — Edt, MIR ~ Moscow 9) influéncia da umidade Em campos uniformes ou nfo muito irregulares a umidade nao afeta valor da tensao disruptiva, Entretanto, tal nfo ocorre quando 0s campos sfo fortemente deformados, caso em que a tensio disruptiva varia com a umidade absoluta do ar, aumentando aquela a medida que a umidade aumenta. Esta influéncia ¢ maior para tensbes alternadas de freqiiéncia industrial do que para tensdes de impulso. A corregio da tensio disruptiva ¢ feito acrescentando-se um percentual k sobre a tensio disruptiva do ar na condigio de umidade absoluta, fixada pela IEC em 11 g/m’, conforme Tabela 11.3. A tensdo disruptiva em uma umidade absoluta u & dada pela expresso: Uy = Un + cou - k %, sendo Uj, a tensfo disruptiva na condigdo de umidade absoluta normalizada pela IEC. A tensio disruptiva pode elevar-se em’ decorréncia da fixago dos ions ¢ eléirons pelas gotas de agua. 125 a a a a a ‘ < « ‘ ‘ ‘ q « ‘ ‘ ‘ q q MATERIAIS PARA ENGENHARIA ELETRICA- Prof, Aelfo Marques Luna ~ Volume J Tabela 11.3 Densidade absoluta | (Freqiiéncia 50/60Hz) gin’ Fator k % 254 -9,1 5 6,5) 10 =A,l i 0 15 +46 155 +51 20 49,7 25, 43,7 30 16,3 ‘Tabela extraida do livro" Técnica de Ia alta tension", de Arnold Rath (editorial Labor S/A.). CONCEITOS CHAVES Mobilidade das moléculas do gis Gases monoatmicos ¢ poliatémicos Fatores externos de jonizagiio Condutividade dos gases Condutividade nao auténoma Condutividade auténoma Decomposigao do gés Recombinagao do gas Perdas dielétricas nos gases Rigidez dielétrica dos gases Lei de Pachen Campos elétricos uniformes Campos elétricos nao uniformes Descarga escura Descarga luminescente Efeito Corona Effivio luminoso Disrupgao do gas QUESTOES PARA ESTUDO- 11.1 - Quais sto 05 fatores externos ionizantes responsaveis pela condutividade nfo auténoma dos gases dielétricas? O que se entende por condutividade auténoma ou auto-mantida dos gases dielétricos? 11.2 -Quais 0s fatores mais importantes que afetam a rigidez dieltrica dos gases? 11.3 - Explique por que quando submetidos a campos elétricos nao uniformes a disrupeo dos gases dielétricos é precedida de fendmenos luminosos, ao contrério do que ocorre quando submetidos a campos celétricos uniformes. 11.4 Explique como se comporta a rigidez dielétrica de um gis dielétrico em fungo da variagdo da pressvo, Faca um gréfico aproximado deste comportamento. 126 MATERIAIS PARA ENGENHARIA ELETRICA- Prof. Aelfo Marques Luna Volume I CAPITULO XII DILETRICOS GASOSOS E SUAS APLICACOES Emprega-se freqiientemente um gis como dielétrico, no dominio da alta tensio. As linhas de transmissio os disjuntores so os exemplos mais representatives. A subestacdo blindada de alta tensio, isolada a gis SF é outro importante exemplo. 12.1- VANTAGENS DA TECNICA DE ISOLACAO GASOSA A técnica de isolago gasosa é atualmente objeto de desenvolvimento tecnologico importante, em virtude da elevago das tensdes € das correntes utilizadas nos grandes sistemas de poténcia, Para este tipo de aplicagtio os isolantes gasosos apresentam duas principais vantagens: a) Constituem um meio homogéneo, envolvendo perfeitamente os condutores, ‘qualquer que soja a complexidade de suas formas geométricas, quer sejam eles estéticos ou méveis, como nos disjuntores (no caso de uso dos dielétricos sélidos, sempre surgem intersticios que podem ser a origem de descargas destrutivas); ») Apos a disrupgio os gases sto 0s dielétricos que recuperam mais rapidamente suas propriedades isolantes (os sdlido sso degradados definitivamente por carbonizago, apés a passagem do arco) ‘Como ja mencionado anteriormente, os gases dielétricos que oferecem maior interesse eletrotécnico sio os seguintes: o ar, o nitrogénio, o diéxido de carbono, o hidrogénio, 0 hexafluoreto de enxofre (SFs), os gases nobres ¢ outros. 12.2 - ESTUDO DO AR O ar € 0 mais importante dos dielétricos gasosos por causa de sua universal prevaléncia na vida terrestre. O ar é uma mistura de diversos gases, no qual predomina o nitrogénio com 78,1 %, seguido do oxigénio com 20,9 % , cerca de 0,9 % de argénio e de pequenas proporgées de didxido de carbono, hidrogénio, outros gases nobres ¢ vapor d'égua. ‘O ar é um material isolante altamente confidvel (ele rodeia todos os aparelhos elétricos dele depende, em grande parte, o funcionamento seguro dos mesmos). Por exemplo: 08 condutores nus e aéreos das linhas de transmissio de alta tensdo, suspensos nas torres, por meio de isoladores de porcelana ou vidro, encontram-se isolados uns dos outros € em relagdo a terra, em toda extensio da linha, apenas pela camada de ar existente entre eles. ‘As correntes de fuga pelo ar so insignificantes, sto bem menores do que através dos liquidos e sdlidos sob as mesmas condigdes. O Angulo de perdas é praticamente nulo. A constante dielétrica do ar é 1,00057 e sua rigidez dielétrica entre eletrodos planos, postados entre si de 1 cm, a presso atmosférica normal é de 32 kV/cm; nas mesmas 127 MATERIAIS PARA ENGENHARIA ELETRICA- Prof. Aclfo Marques Luna ~ Volume I condigdes geométricas ¢ a pressio de 10 atmosferas a rigidez dielétrica aumenta para 226 kV/cm. A pressdo tem considerdvel influéncia sobre a rigidez dielétrica do ar, bem como dos ‘outros gases, como anteriormente. foi mencionado, Quando submetido a pressbes clevadas, o ar apresenta um excelente comportamento dielétrico, n&io obstente a rigidez dielétrica do ar e dos outros gases se tornar mais fraca a baixas presses (chamadas subpress6es), entretanto, tem valores elevados no alto vécuo, conforme se pode observar na Fig. 11.5, onde foi desenhado o comportamento da rigidez. dielétrica do ar em fungio da pressio. O ar e os gases altamente rarefeitos, que praticamente niio podem ser considerados ‘como substincias propriamente ditas, possuem notiveis propriedades dielétricas. ‘Métodos modernos permitem a produgdo de vacuo com 10-7 mm Hg. Neste valor de pressao, malgrado seu infimo valor, obtém-se ainda 4 x1U? moléculas de ar por cm? a °C , em lugar de 2,7 x 1019, que se tem quando a presso atmosférica ¢ normal. Nestas condigées, o ar esti tio rarefeito que no pode produzir a ionizagio. Nesta situagao somente os elétrons poderdo ser extraidos do eletrodo quando o campo atinge valores extremamente elevados. Na Fig. 11.5, jé citada, observa-se que a rigidez dielétrica do ar rarefeito ¢ muito alta ¢ alcanga valores inigualaveis, nem mesmo atingido pelos melhores isolantes sdlidos. Em contrapartida, 0 ar apresenta o inconveniente de determinar a formagdo de oz6nio (€feito corona, explicado em com mais detalhes adiante) sob a aco de eflivios e este gas , altamente oxidante, provoca a destruigdo lenta dos isolantes. Outrossim, 0 ar Gmido determina a corrosio de um grande nimero de metais ¢ ligas. Como se sabe a umidade diminui consideravelmente as qualidades dielétricas dos isolantes em contato com o ar. Por fim, outra desvantagem, o ar pode formar com outros gases (0 hidrogénio, por exemplo) misturas detonantes perigosas. Aplicagées: na pressao atmosférica normal o ar é aplicado no isolamento de numerosos aparelhos neles imersos, tais como: chaves seccionadoras, isolamento dos cabos nus das linhas de transmissao ¢ barramentos aéreos de subestag0es. Sob presso ¢ utilizado em disjuntores pneuméticos de alta tensdo ¢ também quando rerefeito (disjuntores a vacuo). 12.3 -- EFEITO CORONA 0 efeito corona, ou simplesmente corona, é a formago de descargas em tomo de um elemento energizado como conseqtiéncia de solicitago dicl¢trica do ar a gradientes superiores a um valor critico, provocando a perfuracao dielétrica das primeiras camadas de ar vizinhas ao elemento energizado. efeito corona ¢ compreendido por alguns autores como uma forma incompleta de disrupgdo num gas, ou seja, uma descarga incompleta no gas. Este conceito pode ser confundido com o conceito de descarga incompleta nos dielétricos sélidos. Esta iltima sto as descargas que se formam extemamente a um dieléirico sélido, através das camadas de ar vizinhas que envolvem o dielétrico e que ndo chegam a curto-circuita-lo totalmente. Distingue-se, portanto, do efeito corona por sua grande amplitude. Pode-se dizer que quando é aplicado um diferenga de potencial a um eletrodo em relagGo a outro © ambos esto imersos no ar, aumentando-se progressivamente esta tenso ocorre uma seqiiéncia de fendmenos. Primeiramente verifica-se IONIZACAO 128 MATERIAIS PARA ENGENHARIA ELETRICA- Prof, Aelfo Marques Luna ~ Volume 1 DO AR, ou seja quando o campo se toma suficientemente forte, inicia-se a formagio de particulas carregadas por choque com os elétrons livres que existem na atmosfera. Em seguida, aumentando-se mais a tensdo aplicada ocorre o efeito CORONA, ou seja, quando 0 campo em tomno do elétrodo de menor raio de curvatura se torna maior que um determinado valor critico, iniciam-se as descargas nas primeiras camadas de ar proximas do eletrodo. O corona ¢ melhor observavel no escuro, tome-se por exemplo um eletrodo em forma de ponta, ou esférico de didmetro pequeno, nota-se, entio, a formagio de um eflivio juminoso, acompanhado de um ruido sibilante e desprendimento de oz6nio. Se as vibragdes emitidas forem da ordem de kHz, produzirdo audfo-rufdo, se forem da ordem de MHz, produzirio rédio-ruido, ou finalmente se forem da ordem de centenas de MHz, produzirao 0 chamado tele-ruido. As medidas destas interferéncias denominam-se de RADIO INTERFERENCE VOLTAGE (RIV) ¢ TELEVISION INTERFERENCE VOLTAGE (TIV) O corona € conhecido também como um fendmeno peculiar que se estabelece quando uma determinada diferenga de potencial é aplicada entre os cabos condutores de uma linha de transmissio, imersos no ar, a uma distancia grande em relagtio ao diémetro dos cabos. A formagio do efeito corona nas linhas de transmissiio corresponde a um desprendimento de calor, ¢ portanto, a uma perda de energia elétrica. Pelo efeito pelicular(veja box explicativo no fim deste capitulo) as correntes elétricas em tensdes alternadas se concentram na periferia das seg6es dos condutores, mais intensamente quanto maior for a frequéncia considerada. Em conseqiiéncia da ionizaso do at nas camadas vizinhas a0 condutor, a corrente eletrénica passa também a manifestar-se através desta camada de ar ionizada, a qual oferece uma resistividade maior do que 0 proprio condutor, fazendo com isto aumentar as perdas por efeito Joule (calor desprendido) . Quanto mais altas forem as tenses postas em jogo, maiores serdo as perdas que ocorrerfio. Na pratica estas perdas s6 comegam a oferecer valores significativos a partir de tenses superiores a 138 kV. Outro aspecto importante neste fendmeno de perdas por efeito corona nas linhas é 0 estado da superficie do condutor. Quanto mais lisa se apresentar sua superficie, menor seré 0 efeito corona. Com efeito, uma superficie aspera, irregular, promove pelo efeito das pontas, uma distribuigdo nfo homogénea das linhas de forga e por conseqliéncia campos elétricos mais intensos e um efeito corona mais intenso se manifestaré (dai a azo pela qual o langamento de cabos condutores em linhas de transmissio sob tensio igual ou superiores a 500 KV é efetuado sob-tenso mecénica, isto é, sem tocar no solo, onde poderia ser arranhado ¢ aumentar 0 efeito de pontas, propicio ao efeito corona) Nas linhas de transmissao as perdas por efeito corona so dadas pela formula: P= 2425 (£+25)Vild (V-Vo)?.10°5 kWkm (12.1) onde: 3,92b/273 +t pressio barométrica em em temperaturaem°C frequéncia da linha em Hz raio do condutor em em d_ = distancia efetiva entre os condutores, em cm V = tensao de trabalho, kV, entre fase e neutro, valor eficaz. 8 b t £ r 129 MATERIAIS PARA ENGENHARIA ELETRICA- Prof, Aelfo Marques Luna - Volume 1 Vo = tensto disruptiva critica, kV, entre fase ¢ neutro,valor eficaz. A tensiio critica do efeito corona ¢ obtida pela formula: Vo= 21,1 mr loge dir KV (fase-neutro) (12.2): Onde: m = fator de irregularidade da superficie do condutor. 0 fator m depende das condig6es de superficie dos condutores, por exemplo: m= 1 para condutores cilindricos lisos, macigos ou tubos; m= 0,93 a 0,98 para condutores macigos € pouco finos ou afetados pela intempérie; m = 0,80 a 0,87 para condutores cabeados € de diametro até 1 polegada. 0 conhecimento atual do efeito corona ¢ ainda objeto de muitos estudos por parte de numerosos investigadores. Provavelmente os maiores conhecimentos adquiridos sobre este tema devem-se aos trabalhos de F. W. PEEK. As descobertas de Peek vém sendo utilizadas desde 1912 com excelentes resultados. Por fim, ainda no que tange a0 efeito corona, no obstante tratar-se de um fendmeno peculiar das linhas de transmissio, suas manifestagdes so também estudadas no projeto de todas instalagées elétricas de alta tensdo, especialmente em subestagdes. 130 ee eee ee sebsaae ~ MATERIAIS PARA ENGENHARIA ELETRICA- Prof. Aelfo Marques Luna-- Volume I 12.4- DESCARGAS INCOMPLETAS Quando a tenstio é aumentada ainda mais, observam-se as descargas externas que no chegam a completar 0 percurso entre 03 elétrodos. (0 contornamento completo do dielétrico chama-se de "flash-over” ¢ caracteriza a perfuragao extera do s6lido, através do ar que 0 envolve).Distingue-se do efeito corona por sua grande amplitude e das descargas parciais, por serem externas. Na Fig. 12.1 ilustra uma descarga completa superficial sobre um isolador de pedestal de porcelana. A passagem do arco pela superficie do isolador deixa um rastro carbonizado. uma fungiio da geometria do corpo e do estado sanitirio da ouperficie. Fig. 12.1 - Foto de uma desearga "flash-over"” 12.5 - DESCARGAS PARCIAIS Se os elétrodos estiverem aplicados entre as faces de um s6lido (ou no interior de um dielétrico Iiquido), a partir de um determinado valor da tensio aplicada, iniciam-se descargas no interior dos vazios (inclusdes gasosas ou bolhas de ar) existentes no interior da massa s6lida ou liquida do dielétrico; séo as denominadas descargas parciais, as quais serdo melhor estudadas a seguir. AS descargas parciais distinguem-se do efeito corona ¢ das descargas incompletas porque ocorrem nos. vazios (inclusdes gasosas) existentes no interior do sdlido ou da massa liquida, enquanto que as duas outras mencionadas so descargas que ocorrem externamente ao diclétrico. Sabe-se que um material dielétrico sdlido ou liquido tem rigidez diclétrica varias vezes superiores & do ar, entretanto, o gradiente de potencial dentro da isolagao ultrapassa 131 MATERIAIS PARA ENGENHARIA ELETRICA- Prof. Aclfo Marques Luna ~ Volume 1 quase sempre a rigidez dielétrica do ar, fazendo com que o ar contido nas bolsas se jonizem e sejam estabelecidas condigdes para a sua disrupgo. Por outro lado é sabido que o gtadiente de potencial aplicado através de dielétricos postos em série (pode-se considerar as bolhas de ar/material s6lido ou liquido como dispostos em série) reparte- ‘se em proporgdes inversas as constantes dielétricas dos respectivos materiais. Como as constantes dielétricas do material sélido ou liquido so maiores do que a do ar (¢,= 1), resulta numa absorgiio maior do gradiente na inclusio gasosa de ar, submetendo-a a valores superiores a0 valor critico de disrupgao. ——— Bolha de ar Ou Ei Ep fa ea @) Fig. 12.2) ) Na Fig. 12.2(a) € feita uma representagdo esquemética de uma incluso gasosa( bolha de at) no interior da massa slida do dielétrico. Pode-se considerar a bolha com o sdlido (ou liquido) como dielétricos dispostos em série, como indicado na Fig. 12.2(b). As linhas do campo elétrico entre os eletrodos so paralelas e normais a superficie limite, donde se pode escrever: ~ Di=Dr e1E; = e2E2 donde decorre: Ey / Ep = 82/ 81= &2/ &41 Verifica-se assim que a intensidade de campo em cada um dos dielétricos postos em sétie é inversamente proporcional a sua constante dielétrica.. ‘A titulo de exercicio pede-se ao leitor deduzir as seguintes expresses: Ei= Ue! dite + dren En= Usn / dita + det LB ee Fig yd Estas pequenas descargas no interior das bolhas produzem dois efeitos de destruigio lenta do dielétrico: 132 MATERIAIS PARA ENGENHARIA ELETRICA- Prof, Aelfo Marques Luna ~ Volume a) por efeito do arco as paredes da bolha séo carbonizadas e as descargas vao se alastrando pelo interior da massa (arvorejamento) até produzir a disrupedo total do dielétrico; ) as descargas provocam no ar dessas inclusdes gasosas a formacao de oz6nio ou ainda, se 0 ar contiver umidade, a formagéo de dcido nitrico que, com o ozdnio, tem efeito corrosivo sobre 0 dielétrico. As descargas parciais so responsiveis por uma degradagio lenta e insidiosa dos dielétricos s6lidos. Raramente sio detectadas pelos ensaios normais de tenséo aplicada, tanto de freqiléncia industrial como de impulso. S40 necessérios ensaios especiais com aparelhos de detecgiio adequados para sua captago. 12.6 ESTUDO DO NITROCENIO nitrogénio, também conhecido como azoto, tem uma rigidez dielétrica vizinha a do ar nas mesmas condigSes de pressio ¢ temperatura, e um pouco inferior quando sob pressdes elevadas, A grande vantagem em relagdo ao ar é a sua inércia quimica, ou seja, € um gas quimicamente neutro, portanto, no oferece 0 inconveniente do ar, que contém oxigénio , agente oxidante dos materiais que estio em contato com ele. E incolor, inodoro insipido e forma cerca de quatro quintos da atmosfera terrestre. B utilizado, sob press%o, para encher transformadores ¢ protegé-los da umidade ¢ oxidag&o, quando ainda n&o colocados em operagao; em cabos de alta tensio, condensadores ¢ para-raios. 12.7- GAS CARBONICO O gis carbnico ou djéxido de carbono,tem também uma tigidez dielétrica préxima ado ar, em todas as pressGies. Apresenta uma vantagem sobre o ar: ¢ ineomburente, ou seja, nio alimenta a combustio, Por este aspecto encontra largo emprego em dispositivos de combate a incéndio nas instalagdes elétricas. Entretanto, produz ozénio como 0 ar, quando sob o efeito dos eflivios. 12.8 - ESTUDO DO HIDROGENIO A rigidez dielétrica do hidrogénio ¢ inferior a do ar, aproximadamente 60% . Nao desenvolve nenhuma agdo quimica indesejavel. E um gas bastante leve, tendo uma capacidade calorifica especifica e uma condutividade térmica elevadas. Apresenta-se, portanto, como um excelente agente de reftigerag4o, despertando grande interesse para diversas aplicagdes eletrotécnicas. ‘A Tabela 12.1 lista os mais importantes pardmetros fisicos do hidrogénio, ar, nitrogénio ¢ dioxido de carbono, todos considerados em condig0es iguais de temperatura e pressao. (todos os parametros do ar foram tomados como igual a unidade) 133 MATERIAIS PARA ENGENHARIA ELETRICA- Prof, Aelfo Marques Luna ~ Volume! © hidrogénio ¢ aplicado na refrigerago de altemnadores térmicos e motores sincronos de grande poténcia, em substituigdo ao ar. Apresenta uma fraca resisténcia a rotagio do rotor, devido a sua baixa densidade, o que determina a redugo das perdas rotacionais ¢ de ventilagdo. Estas perdas so proporcionais & densidade do gis, que € muito pequena (0,07 p/cm3). ‘A agao do hidrogénio como agente de refrigeragdlo é fortalecida pelo seu alto coeficiente de transferéneia do calor de um corpo sdlido para o gés ¢ sua alta condutividade térmica, (veja quadro) Desde que 0 hidrogénio ndo exerce 0 efeito oxidante do oxigénio da atmosfera, 0 isolamento da maquina é menos susceptivel de envelhecimento térmico e de incendiar- se (auséncia mais uma vez do oxigénio, elemento comburente). as escovas do comutador trabalham em condig6es mais confidveis, quando imersas em atmosfera de hidrogénio. Entretanto, o usa da hidrogénio como elemento de arrefecimento exige uma selagem de grande eficiéncia para conservar o ar fora do interior da maquina, onde flui o hidrogénio. Sabe-se do perigo decorrente da mistura; em determinadas proporgdes 0 ar ¢ 0 hidrogénio produzem misturas detonantes altamente perigosas. Um excesso de pressio ¢ mantido no interior da méquina com o objetivo de evitar a entrada de ar extemo. Tabela 12.1 Gases Ar Ne CO; Hi Densidade i 097 1,52 0,07 Condutividade térmica 1 1,08 0,64 6,69 | Capacidade calorifiea 1 1,05 0,85 14,35 Coef. Transf. calor I 1,03 1.13 151 Rigidez dielétrica 1 1 09 06 12.9 - ESTUDO DOS GASES NOBRES (RAROS) ‘A rigidez dielétrica dos gases nobres (hélio, nednio argOnio, xendnio, radénio ¢ cripténio) é inferior a do ar, cerca de 1/5. Estes gases nao so usados como isolantes, a0 contratio, por exemplo, 0 argénio, é utilizado em processos industriais de soldagem devido a sua fraca tensto disruptiva. Os gases raros so também utilizados para encher bulbos de determinados tipos de lampadas, em particular, de ne6nio, argénio e outros. Extraordindria importineia tem 0 hélio como agente de refrigerago, em particular para 08 dispositivos que utilizam o fenémeno da supercondutividade. A sua temperatura de liquefagiio € de 4,216 K. ‘As vezes utiliza-se 0 ne6nio Iiquido como agente de reftigeragao, cuja temperatura de liquefacdo é de 27,6 K, um pouco maior do que a do hidrogénio. Entretanto, o neOnio ¢ muito caro; tomando-se como unidade de prego relativo de 01 m3 de nitrogénio, 0 134 ea ee nee eee eee eeneeeneeeneneadenenees MATERIAIS PARA ENGENHARIA ELETRICA- Prof. Aetfo Marques Luna - Volume I hidrogénio vale aproximadamente 2 vezes mais, 0 hélio 80 e 0 neGnio 30.000. Notar que o nitrogénio se obtém de modo mais facil do ar, separando-o do oxigénio. 12.10 - ESTUDO DOS GASES ELETRONEGATIVOS Denomina-se gas eletronegativo aquele que contem em suas moléculas étomos de elementos halogénios. A estrutura particular dos halogénios confere a este tipo de gés uma certa afinidade por elétrons, 0 que inibe fortemente o desenvolvimento das descargas. Os halogénios so os elementos da coluna VIIA do classificagiio periddica de Mondeleiov. A configuragao oletrénica destos elementos é semelhante aquela dos gases nobres ¢ na qual foi retirado um elétron da ultima capa. Sao elementos quimicamente muito ativos pelo fato de apresentarem um nivel energético vago com uma energia de acesso muito baixa (dai'a sua facilidade de atrair elétrons) . Exemplos de halogénios: ior, cloro, bromo, iodo e astatinio. Entre estes gases destaca-se 0 hexafluoreto de enxofre (SF), disponivel a partir de uma base industrial e de custos razoaveis, é 0 mais largamente utilizado. Outros gases que também merecem noticia sao os fréons, cuja formula geral & Cx Cly Fz, , do qual o mais comum é 0 fréonl2 (C Clz Fay, 12,11 - ESTUDO DO SF, E SUAS APLICACOES A histéria do SF comega em 1900 quando foi pela primeira vez sintetizado, ficando, entretanto, sem grande interesse industrial, até que no inicio da década de 40 foi sugerido a sua utilizag#o como gés isolante em geradores Van de Graaff, durante @ Segunda Guerra Mundial. A partir dai rapidamente cresce 0 interesse em usa-lo em aparelhos elétricos, gragas a sua alta rigidez dielétrica, particularmente em disjuntores. A Fig. 12.3 mostra a estrutura molecular do gés SF, Fig. 12.3 — Molécula do gis SF 135 MATERIAIS PARA ENGENHARIA ELETRICA- Prof. Aelfo Marques Luna - Volume As principais caracteristicas do SF, so as seguintes: a) é um gés muito pesado, cerca de cinco vezes mais pesado do que o ar; +b) nao € t6xico, é inodoro e incolor; ©) nio ¢ inflamavel e apresenta uma boa estabilidade quimica; 4) tem um extraordinério poder extintor de arco, estimado em duas vezes superior a0 do ar; e) sua rigidez dielétrica é excelente. nas condicdes normais de pressio atmosférica; ¢ 2,3 vezes maior do que a do ar, ou seja, cerca de 74 kV/em; 4) ndo se liquefaz. a temperatura ordinaria, a ndo ser que seja submetido a pressdes bastante elevadas, da ordem de 20 a 22 atmosferas; g) apresenta fraca condutibilidade s6nica; h) a sua condutividade térmica é elevada, o que facilita os problemas de dissipagdo do calor (nas condig6es normais seu coeficiente de condutividade é 1,6 maior do que o do ar; na pressio de 2 kg/cm’ este coeficiente € 25 vezes maior do aquele do ar nas condigSes normais); ‘aparethos elétricos isolados com SF so mais leves e mais competitives do que aqueles isolados com dielétricos Kquidos. Por outro lado o SF¢ apresenta algumas desvantagens: i) ndo obstante a sua rigidez dielétrica ser maior do que a do ar e do nitrogénio, em . condigdes normais de pressdo, para igualar-se com um isolante liquido (6leo), 0 gas deve ser usado debaixo de pressdes elevadas; ii) 0 requisito anterior implica na utilizagio de tanques selados, capazes de manter as pressdes que serdo desenvolvidas pela variago da temperatura, quando do seu uso comercial. iii) embora seja um gas caracterizado por sua alta estabilidade quimica, a presenga de enxofre em sua molécula, debaixo de certas condigdes produz, uma corrosividade que € de significativa importancia, iv) mesmo sendo no téxico o $F¢ quando decomposto por calor ou pelo arco elétrico descnvolve misturas gasosas que contem ingredientes téxicos., as quais so incolores ¢ inodoras, dificultando a sua deteesao. Os principais campos de aplicago do gas SF como dielétricos sio os seguintes: * disjuntores de alta tensfio * subestagdes blindadas * transformadores: * isolamento de cabos de alta tensiio * outras aplicagées 136 MATERIAIS PARA ENGENHARIA ELETRICA- Prof. Aeifo Marques Luna ~ Volume T Os disjuntores podem ter uma cémara ou duas cémaras de extingdio em série; a extingdo do arco se faz por sopragem autopneumética, a simples pressdo ou a dupla pressfo, Na Fig.. 12.4 € mostrado um disjuntor a gas SF, de fabricagdo francesa, tensio de 245 kV, com trés polos c duas cimaras de extingao em série em cada caboga. As dimens6es das subestagSes ao tempo (intempérie), ditas convencionais, ‘sio determinadas pela capacidade de isolagao do ar, capacidade esta que varia dentro de largos limites, Uma subestago de 500 kV ao tempo envolve uma area de quase dois hectares. As subestagdes abrigadas permitem a redugZo do volume ocupado, entretanto, os custos crescerio de forma intensa, e suas dimensdes ainda séo considerdveis Existem ainda os fatores ambientais, tais como a umidade do ar, a poluigo ambiental, ete Fig, 12.4 ~ Disjuntores de alta tensto a gas SF, Vale ainda acrescentar que 0 aumento continuo da demanda de energia elétrica em centros consumidores urbanos conduz a pesadas densidades de carga, principalmente nas grandes metrépoles. Os sistemas de distribuigo para atender tais necessidades so projetados em alta e extra-alta tensdo, decorrendo dai a necessidade de construir subestagdes de grande poténcia nas Areas urbanas., onde os projetistas encontram sérias dificuldades de natureza estética, ambiental e econdmica (elevados custos dos terenos nas Areas urbanas). A soluglo dbvia é usar subestagdes abrigadas ¢ compactas, Mesmo assim as dimensdes sdo grandes ¢ as éreas demandadas sio caras. ‘A solugdo somente seria possivel com a utilizagdio de um outro meio isolante, superior a0 ar, que possibilitasse reduzir apreciavelmente as distancias entre as partes ‘condutoras ¢ ao potencial da terra, Dai a vantageri extraordinaria de empregar 0 SF, como meio diclétrico, ou seja, concentrar sob uma forma homogénea e bastante compacta toda aparelhagem (este nome genérico designa os diferentes aparclhos tais como disjuntores, seccionadores, seccionadores de terra, redutores de medida, os barramentos e todas as conexées et.) que compée uma subestagao de alta tensio, 137 MATERIAIS PARA ENGENHARIA ELETRICA- Prof. Aelfo Marques Luna ~ Volume 1 Todos os elementos sob tensio, seus suportes isolantes ¢ dielétricos (inclusive 0 gis SF¢) so encerrados dentro de tubos metilicos aterrados ¢ pressurizados com gas SFs com 4 a 5 x10° Pa, constituindo uma blindagem total da aparelhagem. A conjugagao destes dois materiais, o material da blindagem e 0 gés SF's conferem a esta instalag&o um conjunto de caracterfsticas particularmente interessantes, no somente para permitir uma operago segura da subestagdo, mais ainda por resolver de forma plenamente satisfat6ria problemas relacionados com o meio ambiente (cada vez mais numerosos e agudos), bem como atender as dificuldades de espago. Em resumo, as subestagdes blindadas isoladas A gis SFs oferecem as seguintes vantagens quando comparadas as subestagdes convencionais: + espago reduzido * alta confiahilidade: * diminuigo da mfo de obra para instalago e manutengdo * menor custo para Extra Alta Tensdo (EAT) e Ultra Alta Tenséo (UAT) Como todas as partes energizadas so encerradas em compartimentos aterrados, as subestagdes blindadas sao: * insensiveis a poluigao externa * segura ao contato manual * no dao problemas de rédio interferéncia Uma subestagaio blindada ocupa um volume correspondente a cerca de 10 a 15% do volume que seria ocupada por uma subestago convencional (ao tempo). Veja ilustragdo da Fig. 12.5 de uma subestago nas tenses de 88 e 245 KV, no centro de Sao Paulo (Delle Alsthom). © gés SF também encontra emprego nos transformadores como fluido de reftigerago, gragas a sua grande capacidade de transferéncia de calor, nao inflamabilidade e n&o toxicidade. Conferem ainda ao produto peso reduzido, projeto compacto, baixo nivel de ruido, Sdo recomendados para emprego em areas de seguranga, tais como minas, hospitais, lojas de departamento ete. Ultimamente vem se desenvolvendo tecnologia visando a utilizagtio do SF6 em cabos de alta tensto, resultante de sua condutividade térmica alta que permite maiores amperagens nos condutores. Finalmente o SF¢ ainda encontra uso na isolagdo de geradores de alta tensio, em aceleradores de particulas, tais como acelerador de Van der Graaff, betatrons © geradores de néutrons e em outras pesquisas cientificas. 12.12 - OUTROS GASES ELETRONEGATIVOS O fréon (C Cly Fz) ¢ 0 tetracloreto de carbono (C Clg) tém uma rigidez dielétrica superior a do er, porém apresentam as seguintes desvamtagens, as quais tomam bastante dificil sua ulilizago como isolantes: 138 ath ne OO OOO OOOO 4 OOO 2OOS 24244044448 CEOREOESDEEE MATERIAIS PARA ENGENHARIA ELETRICA- Prof. Aelfo Marques Lima — Volume 1 a) © figon se decompde facilmente em produtos t6xicos © se liquefaz a temperatura ordinéria quando submetido a pressdes de algumas atmosferas; ) 0 tetracloreto de carbono é liquido a temperatura ordinéria Nestes tltimos anos foram estudados 0s hidrocarbonetos perfluorados, ou seja hidrocarbonetos em cujas moléculas foram substituidos todos os étomos de hidrogénio Por étomos de Mor, exibem a formula geral CF Destacam-se entre eles os liquidos fluorginicos C7F 14 , CgF16, C1424 € outros, os quais, sob forma de vapores, apresentam valores de rigidez dielétrica que ultrapassam de 6 a 10 vezes a do ar. A adigao de vapores destas substincias ao ar ou a0 nitrogénio aumenta sensivelmente sua rigidez dielétrica. Fig, 12.5 ~ Aspecto de uma subestapto blindada a gis SF, -88/245 kV — Sao Paulo COMO ACONTECE 0 EFEITO PELICULAR (efeito skin) B sabido que em torno de qualquer condutor pelo qual circula corrente se estabelece um campo magnético, cuja intensidade varia na mesma proporgto da variagao da corrente. Se a corrente circulante ¢ alternada, entio 0 campo magnético também seré alternado, com a mesma freqiiéncia da corrente. As variagSes de campo que assim se manifestam influem , por sua vez, sobre 0 condutor, induzindo neste tensdes de auto-indugfo, que atuam no sentido contrério das tensdes que hes deram origem (forga contora. 139 MATERIAIS PARA ENGENHARIA ELETRICA- Prof. Aelfo Marques Luna ~ Volume 1 eletromottiz, fem). As tenses de autoindugdio geram uma corrente cuja intensidade se eleva na diregao do centro do condutor, ¢ que esté orientada em sentido contrério & corrente inicial que the deu origem (veja figura neste box), forgando a corrente a se desviar do centro para a superficie do condutor. Este fendmeno aparece em qualquer condutor de corrente alternada, tornando-se porém mais acentuado conforme a elevagio da fragiléncia, Assim, o seu valor para freqiléncias maiores se acentua cada vez mais. CONCEITOS CHAVES Ar como gis dielétrico onizagao do ar Efeito Corona Perdas por efeito Corona Descargas ineompletas Flash-over Descargas parciais Nitrogénio Hidrogénio Didxido de carbono Gases nobres Hexafluoreto de enxofie Gases eletronegativos Subestagies blindadas a SF Disjuntores a gas SF QUESTOES PARA ESTUDO 12.1 ~ Enumere as principais vantagens oferecidas pelo uso de dielétricos gasosos no dominio da alta tensto. 12.2 Quais os inconvenientes apresentados pelo uso do ar como dielétrico? 12.3 — 0 que se entende por efeito Corona? Explique? Quais s8o os efeitos danosos causados pelo efeito Corona? 124 - Qual a diferenga entre descarga incompleta e o efeito Corona? 12.5 ~ Qual a diferenga entre descargas parciais e descargas incompletas? 12.6 ~ Deserevaofendmeno das descargas parcns esas consequence danoss par o dieérico. 12.7 —Explique o que sto as descargas superficiais? 12,8 ~ © que 6 um gis eletronegativo? Qual a vantagem de usa-lo num processo de extingo de arco? 12.9 ~ Quais as principais vantagens e desvantagens do gis SF,? 12.10 12.10 ~ Quais as vantagens oferecidas pelo uso das subestapdes blindadas? 140 MATERIAIS PARA ENGENHARIA ELETRICA- Prof. Aelfo Marques Luna Volume 1 141 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA ~ VOLI CAPITULO XI LIQUIDOS DIELETRICOS O conhecimento das propriedades dos éleos isolantes ¢ muito importante para o engenheiro eletricista tendo em vista o largo uso deste material como elemento de isolago, arrefecimento ¢ extingio de arco em transformadores, capacitores € disjuntores de alta tensio. A andlise periddica do Gleo, mediante adequados ensaios laboratoriais, assegura um melhor monitoramento do desempenho dos equipamentos que utiizam este ttpo de material, O tratamento dos éleos contaminados por sua vez permite a sua reutilizagio de forma eficiente ¢ econdmica. 13.1 - COMPORTAMENTO DOS LiQUIDOS DIELETRICOS 0s liquidos se comportam de tr8s maneiras diferentes quando sob a ago de um campo elétrico: a) Como Iiquidos condutores b) Como eletrélitos ©) Como Iiquidos isolantes No primeiro grupo esto compreendidos os liquidos que oferecem uma fraca resisténcia a passagem da corrente elétrica, sem decomposi¢ao do material. Exemplos so os metais ‘em fuslo e o mereério, Este iltimo é o que apresenta possibilidades de aplicagdes por encontrar-se no estado Iiquido na temperatura ambiente. Os eletrélitos por sua vez so constituidos de sais fundidos ou de dcidos, bases e sais dissolvidos na agua ou em um solvente. S40 decompostos pela passagem da corrente elétrica com 0 transporte da matéria (fons positivos € negativos). Os eletrolitos so muito usados nos processos de galvanoplastia. Finalmente, ‘comportam-se como dielétrieos aqueles que apresentam uma forte resisténcia & passagem da corrente elétrica. Exemplos so os éleos minerais, derivados do petrdleo e€ os dleos sintéticos. 13,2- CONDUTIVIDADE DOS DIELETRICOS LiQUuIDOS Todos os liquidos, incluindo-se os dielétricos, tornam-se contaminados. A natureza da contaminagao variaré de um caso a outro. Uma das formas ¢ quando certas impurezas sto inerentes ao proprio liquido em consideragio. Por exemplo: a formago de dcidos orginicos que ocorrem nos éleos minerais, como decorréncia de um processo de oxidagaio. 141 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA VOL 1 Nos liquidos higroscépicos um contaminante importante é a Agua absorvida pelo dielétrico diretamente da atmosfera sob forma de vapor de agua. No estudo dos liquidos dielétricos considera-se que a égua num liquido dielétrico pode se apresentar sob trés estados: a) Molecularmente dissolvida (H* e OH); b) Emulsificada (dissolvida sob forma de coléides), ou seja, sob a forma de pequenissimas goticulas em suspenstio na massa do liquido; ©) Nio dissolvida, neste caso, precipita-se para o fundo do recipiente que o contem quando o peso especifico do liquido ¢ menor que a unidade (como no caso do 6leo de transformador) ou sobrenada sobre a superficie do liquide quando sua densidade € maior que a unidade (Exemplo: o ascarel). ‘A figua no liquido dielétrico pode passar de um estado para outro em fungdo da variagao de temperatura. Quando a temperatura do liquido eleva-se a agua emulsificada pode ppassar para o estado molecular “dissolvido” e a agua “ndo dissolvida” pode passar para o estado emulsificado. Além da Agua, o liquido dielétrico pode ter outros contaminantes, constituido de toda sorte de particulas s6lidas, que ficam em suspenstio no seio da massa liquida. Podem ser finas fibras ¢ outras particulas sélidas, como por exemplo, o cobre ¢ ferro. Todos estes contaminantes contribuem para o aumento da condutividade intrinseca do liquido, pois sob a agdo do campo elétrico formam as denominadas pontes condutoras, responsiveis pelo incremento das correntes de fuga através do lquido. A condutividade intrinseca dos liquidos dielétricos, ndo obstante a forma com que cles tenham sido purificados, nfo ¢ anulada. Existir sempre uma certa condutividade residual. A condutividade intrinseca dos liquidos dielétricos é de natureza idnica ¢ resulta do transporte pelo campo elétrico dos ions formados pela parcial dissociagtio das suas moléculas. A diferenga entre Iiquidos dielétricos e eletrélitos situa-se no fato de que nos liquidos dielétricos as suas moléculas se dissociam com grande dificuldade, ou seja, a azo entre o mimero de moléculas dissociadas ¢ o nimero total de moléculas € muito ‘Pequena. Por outro lado deve-se observar que 0 grau de dissociagao molecular num liquide dielétrico depende de sua estrutura molecular. As estruturas moleculares ndo polares oferecem menor capacidade de dissociagao do que as estruturas de moléculas polares. Como uma regra, pode-se afirmar que os liquidos dielétricos com uma baixa constante dielétrica apresentam uma condutividade elétrica menor do que aqueles que exibem uma constante dielétrica mais alta, recordando que a constante dieléuica ¢ também conhecida como a "constante de elasticidade elétrica". Comparem-se as constantes dielétricas do leo mineral (ndo polar) que é 2,2 com a da agua (polar) que é 80; a condutividade elétrica da égua é muito maior. Observe a tabela 13.1 onde sdo feitas comparagdes de valores de ee p de diversos liquidos. A condutividade de um liquido dielétrico também depende muito da temperatura, pois a0 aumentar-se a temperatura cresce a mobilidade dos ions, em virtude da diminuigdo da viscosidade do liquido, fazendo com que ocorra também um aumento da capacidade de dissociagio molecular do liquido, concorrendo, portanto, para o aumento da condutividade. 142 ‘ q q « ‘ < e a e « « 6 e « a « a « « « q a q q ‘ a a q a a a 4 4 q 4 « « 4 4 a (] MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA - PROF. AELFO MARQUES LUNA ~ VOLT ‘A partir da expressdo a seguir indicada, que foi obtida combinando a lei de Stockes , com a equagio o = net, substituindo-se e por q, tem-se: o=ng?/ 6m (13.1) Tabela 13.1 Liquide Peculiaridade| Resistividade | Constante daestrutura | __Qma20°C Benzeno Nao Polar 10°T= 10" Oleo mineral para transformador Gasolina 10" - 10" [Bifenil clorado (ascarel) Polar 10% 10" Oleo de ricino ‘Acetona Intensamente 10° 10° Alcool etilico polar [Agua destilada 10°- 10* Pela expresso 13.1. verifica-se que a condutividade dos liquidos aumenta quando iminui a sua viscosidade. Quanto mais fluido tomna-se o liquido, menor torna-se a sua resistividade. Com a elevagao da temperatura aumenta-se a fluidez dos liquidos, como decorréncia de uma maior capacidade de dissociag’o das moléculas e do ‘enfraquecimento das forgas de Van der Waals, Por fim, a tensto elétrica influi na condutividade dos liquidos dielétricos. Para valores mais elevados do campo a experiéncia demonstra que eles nao seguem a lei de Ohm, fato este explicado pelo aumento do nimero de fons que se deslocam influidos pela ago do campo elétrico, conforme a Fig. 13.1 Ew E Fig. 13.1 - Variaglo da corrente elétrica nos dielétricos liquidos, em fungdo da intensidade do ‘campo elétrico. 13.3 - RIGIDEZ DIELETRICA DOS LiQUIDOS ISOLANTES A tigidez dielétrica dos Iiquidos isolantes € muito maior do que a dos gases em condigdes normais. 143 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA — PROF. AELFO MARQUES LUNA ~ VOLT Nos liquidos dielétricos 0 mecanismo de disrupgio elétrica depende fortemente do estado de pureza do Iiquido, Deste ponto de vista, pode-se classificar os liquidos dielétricos nas trés seguintes categorias: 'a) Liquidos dielétricos contaminados ~ so aqueles que contém gua emulsificada ¢ particulas sélidas. b) Liquidos dielétricos tecnicamente puros ~ so aqueles praticamente livres de gua emulsificada e de particulas sélidas. ©) Liquidos dielétricos altamente purificados ~ sto aqueles completamente livres de umidade, particulas s6lidas ¢ inclusdes gasosas (Liquidos desgaseificados). ‘A obtengo de liquidos completamente puros é extraordinariamente dificil, pois nos dielétricos liquidos so quase constantes as presengas de impurezas tais como a gua, iculas sdlidas ¢ os gases. ‘A disrupgdo elétrica em liquidos contaminados resulta da formacao de pontes ‘condutoras produzidas pelas gotinhas de agua emulsificada ¢ pelas particulas mecdnicas cexistentes em suspensio no liquido. Particularmente tormam-se desfavoraveis quando ‘estas particulas mecfnicas so constituidas de materiais fibrosos, os quais absorvem umidade e tendem a se arranjarem, elas proprias em cadeias continuas ou em pontes condutoras, de um eletrodo a outro sob a agéo do campo elétrico. Nestas situagdes a rigidez dielétrica do liquido pode assumir valores catastroficamente baixos. Qualquer porgdo de gua, por menor que seja, afeta sensivelmente o valor da rigidez dielétrica do liquido. Isto pode ser claramente visualizado na Fig. 13.2 que mostra a influéncia da Agua emulsificada contida no dleo para transformador (50 Hz de freqiéncia e um “gap” entre os eletrodos de 2,5 mm). Miele often e x 4 4 [nti de oF Ae 0 go qoe goa gon qo5% no oleo de Pasinkov e Fig, 13.2 ~ Dependéncia da rigidex dielétrica com respeito ao teor de gua co transformador, (Adaptado de “Materiales Eletrotécineos” - N. P. Bogordditski, V. RM. Taréiy Eat. MIR ~ Moscou) 0s liquidos dielétricos tecnicamente puros so os que oferecem maior interessee nas aplicagdes eletrotécnicas, pelo fato de serem livres de agua emulsificada e de particulas sélidas, nfo formando, sob a ago do campo elétrico, cadeias ou pontes de impurezas, como aquelas que ocorrem nos liquidos contaminados, Dai decorre um valor mais elevado ¢ estivel da rigide dielétrica. © mecanismo da disrupgio nos liquidos dielétricos tecnicamente puros comega com a jonizagdo dos gases inclusos no liquido. Primeiro porque todos os liquidos sao capazes de dissolverem certos gases, inclusive 0 ar, em quantidades que variam com a pressdo. Em segundo lugar, quantidades microscépicas de gases aderem as superficies intemas das carcagas dos transformadores antes de as mesmas serem imersas no Hiquido isolante. 144 an ee eee eee meee enenneee MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA ~ VOL I 0 gis assim absorvido se comporta, sob a ago do campo elétrico, como se fossem inclusées gasosas de alta condutividade, concorrendo assim para a disrupeio elétrica do liquido. ‘A perfuragio dos Iiquidos que contém inclusdes gasosas ¢ explicada pelo aquecimento Tocal do liquido, as expensas da encrgia que se desprende do borbulhamento do gis, tornando-se relativamente faceis de se ionizar e que formam um canal gasoso entre os eletrodos. Os liquidos so praticamente incompressiveis, entretanto, verifica-se, quando o liquido é submetido a altas pressGes uma redugo das inclustes gasosas nele contidas ¢ a sua rigidez dielétrica aumenta de valor. Por fim, nos Ifquidos altamente purificados (desgaseificados) o mecanismo da disrupgao & devido a ionizagio doas moléculas do Kquido por elétrons que sto arrancados dos eleirodus péla ayo de campo elétrice. Desde que 4 muito dificil manter um liquido de alta pureza, nfo apresente interesse maior nas aplicagdes praticas. 13.4- OLEO MINERAL DERIVADO DO PETROLEO 0s éleos minerais derivados do petréleo constituem a mais antiga classe de isolantes liquidos e apresentam propriedades e comportamentos bem conhecidos. Siio obtidos a partir da destilagao fracionada do petréleo natural, entre as temperaturas de 250 °C a 400 °C. Uma fragio com 20 cSt de viscosidade € obtida por meio de processos especiais de refinagio. Suas moléculas sto constitufdas basicamente por carbono e hidrogénio, formando hidrocarbonetos, pertencentes aos seguintes grupos: PARAFINICOS (alcanos) - sio formados de hidrocarbonetos saturados de cadeia aberta linear ou ramificada. Obedece a formula geral Cy Hane2- NAETENICOS (cicloalcanos) — sto formados de hidrocarbonetos saturados de cadeia fechada, da forma Cy Hzs AROMATICOS — normalmente presentes em pequenas quantidades. Os éleos isolantes mais usados so os de origem nafténica, onde apenas 15% das reservas mundiais sAo classificadas nesta categoria. Esta preferéncia deve-se ao fato de que os éleos nafténicos apresentam um baixo ponto de fluidez, conhecido como “pour point”. Entende-se como tal a mais baixa temperatura na qual 0 éleo ainda flui, ou seja, possa fluir com facilidade, mesmo nos dias de baixa temperatura. Estas condigdes sao peculiares dos paises que enfrentam invernos muito rigorosos. 5 dleos derivados da série parafinica por sua vez so de natureza “cerosa”, contém n- parafinas que se cristalizam a temperaturas no muito baixas, separando-se sob forma de fase sélida no seio do leo, e, além disso, a sua presenga provoca um brusco aumento da viscosidade do éleo, a temperaturas que ainda sio moderadamente baixas..Dai a necessidade de prever na refinaglo de um processo especial, visando a desparafinagao do dleo. Os éleos isolantes assim obtidos apresentam também boas caracteristicas elétricas ¢ de estabilidade a oxidagao. 145, MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA - PROF. AELFO MARQUES LUNA ~ VOLI No Brasil uma experiéncia conjunta da Petrobris com a CESP, esté utilizando dleo parafinico em transformadores de classe de tens%o de 500 kV e vem apresentando bons resultados. 13.5- PROPRIEDADES DOS OLEOS MINERAIS ISOLANTES 13,5.1- Caracteristicas fisicas ‘As principais caracteristicas fisicas dos 6leos minerais isolantes esto indicadas na ‘Tabela 13.2, abaixo apresentada. Tabela 13.2 ‘Cor ‘Amarelo claro Densidade 0,85 a 0,95 giem™ Viscosidade 40°C 9,2 6St 190°C 2,3 0St Ponto de inflamagiio (iemperatura de inflamagio dos > 145°C vapores do éleo — flash point) Ponto de combustdo continua do dleo (ponto de fogo - >165°C fire point) Ponto de fluidez (pour point) =50°C (Calor especifico 039 Como se pode observar pelos dados da Tabela acima, o leo mineral ¢ inflamavel. Devido a essa inflamabilidade relativamente facil, os dleos minerais nfo stio de uso recomendével em éreas onde se pretende oferecer uma grande seguranga em relago aos riscos de incéndio, tais como prédios habitacionais ou comerciais, industrias como a petroquimica, navios, minas subterraneas, hospitais etc. A necessidade de dielétricos iquidos adaptados a esta situagio peculiar fez surgir varios tipos de produtos alternativos, conforme sera visto mais adiante. 13.52 - Caracteristicas elétricas 0 dleo tecnicamente puro, ou seja, isento de impurezas ¢ de umidade, apresenta uma rigidez dielétrica de cerca de trés vezes superior 2 do ar, entretanto, a presenga de impurezas, umidade e de produtos acidos, reduzem-na de forma considerével. ‘A Tabela 13.3 exibe alguns valores dessas grandezas elétricas. Tabela 13.3 Rigider dielétrica 90a 100 KV/em ‘Constante dielétrica 2022 Resistividade 10-10" Qem Angulo de perdas 0,004 146 2222 AS24848 804080228220828 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF, AELFO MARQUES LUNA - VOL I 13.5.3 - Caracteristicas quimicas © dleo mineral isolante absorve com muita facilidade a umidade do ar, determinando uma diminuigdo considerivel de sua rigidez dielétrica ¢ de sua resistividade. Por outro lado o dleo mineral também se oxida quando em contato com o ar, ¢ este fendmeno se manifesta de forma mais intensa sob temperaturas mais clevadas. No caso dos transformadores de forga a temperatura de operagio é da ordem de 60 a 90°C. No proceso de oxidagio do éleo ha a formagao de produtos dcidos, chamados de “borras” ou “lamas” (devide a eva cor escura), of quai¢ determinam um anmento da viscosidade e do poder higroscépico do dleo, bem como uma redugto da rigidez diclétrica ¢ da resistividade. ‘A “borra” produzida pela oxidagao do éleo mineral se deposita nas paredes e no fundo do tangue, sobre 0 mticleo e bobinas, nos dutos dos radiadores dificultando o esfriamento do equipamento ¢ originando pontos de superaquecimento. Conclui-se que 0 leo mineral quando em operagao ¢ susceptivel de um proceso de degradagao, 0 que vale dizer sofre considerdveis mudangas em suas propriedades ‘quimicas, fisicas e eltrieas, alterando, portanto, seu desempenho sob a aco dos campos elétricos, afetando também a sua capacidade de transferéncia de calor (causado pelo aumento da viscosidade) e mudangas de sua cor, tudo isso devido ao mecanismo de oxidagfio e absoryao de umidade. Os fatores que concorrem para a intensificagtio do processo de oxidagio sto seguintes: a) a agdo dos campos elétricos atuantes; b) Concentragio de oxigénio dissolvido no éleo; ©) Temperatura e umidade; 4) Efeitos da luz: e) Efeitos resultantes da reatividade quimica do leo em telagdo aos materiais usados na construgdo do equipamento. Para se obter um prolongamento da vida iitil do dleo isolante, ¢ necessirio selar 0 equipamento para que 0 dleo nio entre em contato com o oxigénio atmosférico ¢ nao ‘ocorra também absorgio da umidade contida no ar. Nos transformadores de forga, de maior porte, utiliza-se um dispositive construtivo chamado de “conservador de éleo”, dotado de um sistema de preservagio constituido tunicamente de silica-gel que apenas seca o ar que a variagtio de volume do éleo no transformador leva para dentro do mesmo, contudo, nfo evita de forma eficiente 0 contato do éleo com 0 oxigénio e a conseqiiente oxidagdo precoce do leo. Observe este detalhe construtivo na Fig. 13.3 (a). Um sistema mais eficiente ¢ obtido mediante a selagem do equipamento com nitrogénio, evitando 0 contato do éleo com o oxigénio ¢ mantendo-o sob uma atmosfera inerte quimicamente, veja Fig. 13.3.(b). Ha ainda um sistema que usa urna bolsa ou membrana, embora nfo seja tio eficiente como o selado com nitrogénio, também evita 0 contato do dleo diretamente com o oxigénio da atmosfera. Veja Fig. 13.3 (©). 147 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA ~ VOL I it en a Menta obit [J \ ¥ Ste Cn de gt @ © © Fig. 13-3 — Sistemas de preservago do 6leo do transformador: a) sistema de preservagio com silica gel para secagem do ar; b) sistema selado com nitrogénio obtido através de um cilindro de compensago, neste caso 0 conservador de dleo no é usado; c) sistema com membrana ou bolst € siliea-gel. 13.6—- CAMPOS DE APLICACOES DOS OLEOS ISOLANTES Os 6leos isolantes tém uma grande aplicagdo na industria elétrica, destacando-se a sua utilizaglo em transformadores de poténcia, transformadores de instramentos. Sio também usados em disjuntores de média/alta tensdo, em capacitores e em cabos de alta tensfio, com isolagdo estratificada. A) Transformadores de poténcia Neste caso 0 dleo mineral desempenha uma fungéo dupla: reforga o isolamento entre as espiras de uma mesma bobina ou das bobinas em relag3o ao niicleo ¢ as, partes aterradas do transformador. O isolamento eKtrico das bobinas € realizado por ‘meio de papel isolante, tipo Kraft, que é um material fibroso. O dleo impregna 0 papel preenchendla seis vazios e reforcando assim o isolamento. ‘A outra fungao importante do 6leo € a de “agente de refrigeragio” do transformador, ou seja, remove para o exterior, por meio de correntes convectivas, 0 calor gerado internamente pela corrente elétrica circulante nas bobinas ~ efeito Joule ce pelos efeitos Foucault e de histerese. 0s requisitos para utilizago dos éleos minerais em transformadores de forea podem ser assim alinhados: . ‘© Propriedades dielétricas elevadas; Perdas reduzidas; Condutividade térmica elevada; Fluidez, mesmo em baixas temperaturas; Isento de impurezas, acidez e umidade. 148 eee eee aes SARAAesenanaeee MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA ~ VOL I As seguintes disposigdes construtivas so necessérias para assegurar a estabilidade dos 6leos nos transformadores: conservador de dleo ou atmosfera de nitrogénio e o emprego de “inibidores”. Um dos inconvenientes da aplicago dos oleos minerais em transformadores ¢ a necessidade de tratamentos periédicos para conserva-los em condigdes tecnicamente satisfatorias de operago. No caso de aplicagdes onde se requer condigdes de seguranca contra riscos de incéndio, os dleos minerais apresentam a desvantagem de serem inflamaveis. B) Disjuntores s disjuntores sto seccionadores especiais que permitem a abertura de circuitos de poténcia em condigées de carga, como por exemplo, numa situagéo de curto- Clrcullo. Para tamo seus contatos interno sao Imersus emt Muldus dicléuices, tais como 0 6leo mineral ou um gs, como 0 hexafluoreto de enxoffe (SF.) ou proprio ar comprimido. Na abertura dos contatos manifesta-se um arco entre as partes, onde sio desenvolvidas elevadissimas temperaturas, da ordem de mithares de graus. Como resultado dessa elevagao instantinea de temperatura, violentas correntes convectivas sto formadas no seio da massa liquida do isolante, fazendo com que, gragas a0 deslocamento abrupto destas correntes, 0 arco seja extinto © o espago entre os contatos seja renovado por uma nove massa liquida de isolante, com elevada rigidez dielétrica, Sabe-se que, quando da ocorréncia da perfuragdo num fluido (Iiquido ou is) ela nko € irreversivel como nos soldos, o fluido readquire suas propricdades dielétricas. Conclui-se assim que além da fungdo bisica de extinguir 0 arco na ocasio do corte, © dleo funciona como “agente de regeneragio” do meio dielétrico, assegurando 0 isolamento entre os contatos elétricos do disjuntor, quando abertos. O inconveniente do uso do 6leo mineral em disjuntores € a necessidade de filtra-lo com freqiéncia para eliminagio dos produtos carbonizados, entretanto, isto depende da propria freqUéncia de operagdes do equipamento, que para sistemas de grande poténcia é muito baixa. Os requisitos necessérios ao éleo mineral para sua utilizagao nos disjuntores siio os seguintes: © Rigidez dielétrica e resistividade elevada; © Fraca tendéncia a carbonizar-se sob & ago do arco elétrico ( este requisito é decorrente das altas temperaturas atingidas no corte € que determinam a decomposig%o parcial do dleo, com a formagio de produtos gasosos — hidrogenio, acetileno, metano etc ~ e de produtos sélidos carbonizados que se depositam). C) Capacitores © papel do 6leo nesta aplicago é reforgar o isolamento, ou seja, impregnar 0 papel utilizado como dielétrico entre as placas do capacitor, contribuindo também no proceso de arrefecimento do equipamento. Observa-se que 0 dleo € confinado no capacitor, 0 qual ¢ totalmente selado, ficando assim ao abrigo do ar e da umidade, nao podendo ser substituido, nem tratado, Quando em funcionamento o leo é submetido a campos elétricos elevados (superiores a 100 kV/em) os quais tendem a decompé-lo em produtos ‘gasosos e sélidos. 149 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA ~ VOLT D) Cabos de alta tensio Nesta aplicagao a fungdo do éleo mineral ¢ também reforgar 0 isolamento, jimpregnando 0 papel € impedindo a penetragdo da umidade pelos vazios do material celuldsico. Trata-se de um tipo especial de isolagao denominado de “estratificado”, e onde 0 papel é disposto sobre camadas sobre o condutor, dai o nome estratificado, O éleo é mantido no interior do cabo sob pressio. Os aspectos construtives dessa aplicagao sero abordados com mais detalhe nos capitulos que tratam do estudo dos materiais condutores. Como nos capacitores sto requeridas aos dleos nesta fungiio as seguintes caracteristicas: © Bleyada rigidez diclétrica; ©» Perdas fracas; ‘© Baixo desprendimento de gases. 13.7- ANALISE DO OLEO MINERAL ISOLANTE Como foi visto o dleo mineral é produto que esté sujeito a um processo de deterioragio quando em operagio. ‘J analise do éleo mineral ¢ executada mediante a realizagio de uma série de ensaios laboratoriais e que seguem rigorosamente a procedimentos estabelecidos por Normas ‘Técnicas nacionais ¢ internacionais e visam a acompanhar seu desempenho, mediante a mensuragdo de suas propriedades essenciais, em niveis tolerdveis pelas citadas Normas ‘Téenieas, durante 0 maior tempo possivel. Trata-se de um importante ¢ indispensavel recurso de apoio enaliticos & manutengio elétrica preventiva dos equipamentos que utilizam 0 éleo mineral. ‘A andlise pode servir também para examinar com grande rigor seas especificagoes ‘exigidas por ocasiao da aquisigao de um dleo novo esto sendo cumpridas ‘Antes de iniciar uma descrigo das. écnicas de andlise do dleo ¢ importante enfatizar os procedimentos que devem adotados para a coleta de amostras, pois confiabilidade dos, resultados dependeré da forma como for conduzida essa fase inicial. Os contaminantes de uma massa liquida de dleo isolante no esto dispersos nela de forme uniforme, dai a necessidade de fazer uma coleta da amostra em um ponto onde haja maior possibilidade de localizagio desses contaminantes. No caso do leo mineral, cuja densidade & menor que a unidade, é mais provavel que a gua ¢ as outras impurezas Se encontrem no fundo do tanque que os contém, Para tanto, os transformadores, por exemplo, so dotados, na sua pare inferior, de uma apropriada tomeira de drenagem. ‘Os frascos usados para a coleta das amostras devem ser transparentes ¢ previamente submetidos a rigorosos processos de lavagem e de secagem em estufa, para eliminayo de impurezas e umidade residual. Deve também dispor de uma perfeita vedaglo, que deve ser mantida, tanto antes da coleta, quanto apés o recolhimento da amostra. Outrossim, é importante o uso de rétulos identificando a origem das mesmas. Na Fig. 13.4 sto vistas, sobre a bancada, diversos frascos contendo amostras de éleo. 150 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROP. AELFO MARQUES LUNA ~ VOL I Fig. 13.4 — Frascos contendo amostras de dleo, (Foto de autor) Sao os seguintes os ensaios realizados num 6leo mineral isolante para apoio & manutengo preventiva; + Rigidez dielétrica; Teor de agua; Teor de acidez ou indice de neutralizagio; Tensto interfacial; Fator de poténcias ou Angulo de perdas Cor 13.7.1 - Ensaio de rigidez dielétrica A rigidez dielétrica indica a capacidade do éleo resistir a tensfo elétrica (média) sem falhar. E expressa pela tensdo na qual ocorre a descarga entre dois eletrodos, sob determinadas condigdes. O resultado deste ensaio pode fornecer uma idéia sobre a presenga de contaminantes (gua, particulas s6lidas etc) no éleo e desse modo permitir ‘uma primeira avaliagao do seu estado. A unidade de medida é kV. As normas mais usadas so as seguintes: Rigidez dielétrica VDE 370 (IEC 176) - NBR-10859 |Rigidez dielétrica com eletrodo de disco ASTM D877 - NBR 6869 Para equipamentos de classe superior a 230 kV Rigidez dielétrica com espagamento entre eletrodos de 2,05mm - ASTM 1816 Rigidez dielétrica com espagamento entre eletrodos de 1,02mm — ASTM 1816 Para equipamentos até a classe de 230 kV ‘| | | Segundo qualquer uma das normas citadas, hé a considerar os seguintes fatores importantes: Forma e espagamento dos eletrodos; Volume do dleo; Material usado na construgo da cuba; Com ou sem agitagaio do dleo antes dos ensaios; Taxa de crescimento da tensio aplicada e © tempo entre as disrupsbes sucessivas. 151 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA ~ VOL I A forma ideal dos eletrodos para a realizagfio dos testes sempre foi um ponto critico. Ocorre que nos eletrodos em forma de discos plarios, forma-se um campo uniforme no centorno da linha correspondente ao eixo central dos discos e um campo nfo uniforme nas margens, resultando no denominado efeito de borda, onde o campo elétrico apresenta-se de forma nfio uniforme. Para se obter um campo elétrico uniforme ideal em todos os pontos dever-se-ia usar eletrodos esféricos. Entre os extremos de um campo distorcido e um campo ideal, chega-se a uma terceira configuragao adotada pela VDE-370 (norma alema) na qual se utilizam eletrodos chapeados de forma esférica (didmetro de 36 mm ¢ raio de curvatura de 25 mm). Cada amostra € testada seis vezes (apés cada perfuragio o 6leo restaura suas caracteristicas originais) e calculada a médiae 0 desvio padrao. As Fig. 13.5 ¢ 13.6 ilustram 0 equipamento no qual sio realizados os testes de rigidez dielétrica, bem como detalhes da cuba que contem os eletrodos. Fig. 13.5 Equipamento onde 6 realizado 0 ensaio deri ‘Na tabela abaixo so mostrados os resultados de ensaios realizados com uma amostra de 6leo, segunda a norma VDE-370. ‘Teast rpiura KV , 38 395 50,0 316 321 382 67 152 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA — PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOL I Fig. 13.6 — Detathe da cuba que contem os eletrodos de ensaios, 13,7.2- Teor de dgua Embora seja formada no dleo mineral como subproduto de sua oxidago, a maior parte da Agua existente no dleo é absorvida da atmosfera. A norma internacionalmente utilizada para determinar o teor de agua no éleo é a ASTM D1533 — NBR-10710. 0 teste se baseia na titulagao da égua contida na amostra pelo reagente Karl Fisher. A unidade de medida é mg/kg ou “partes por milh3o” ~ ppm. 13.7.3- Teor de acidez ou ice de neutralizacio O teste de acidez mede 0 teor de acidos formados pela oxidagio do dleo, os quais so diretamente responsveis pela formaco da borra ou lama no dleo. A acidez é expressa em mg de hidréxido de potdssio (KOH) requeridos para neutralizar a acidez contida em 1 grama de dleo. E um ensaio muito importante porque permite avaliar 0 grau de deterioragdo do éleo ¢ também estimar a sua capacidade de regeneragao. Um teste que evele uma teor de acidez maximo de 20 mg/KOH/g revela um processo avangado de deterioragao. A norma utilizada para determinagao do indice de neutralizagiio 6 a ASTM-D974 e a ABNT-MB 101. 13.7.4 -Tensao interfacial A tenso interfacial 6 definida como a forga de atragio existente entre as moléculas diferentes do dleo e da agua, As particulas que formam a borra sdo polares, isto é, atraem umas as outras. O teste de tensdo interfacial mede a concentragdo dessas moléculas polares em solugto no dleo, fomecendo uma medida sobre a incidéncia da borra no éleo. O teste se bascia na tenséo interfacial da dgua contra o dleo: a forga de atragdo enre as moléculas da égua e do dleo, na interface ¢ influenciada pela presenca de 153 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA - PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOLI tais moléculas polares no leo. Quanto mais numerosas forem as moléculas polares no) dleo, menor a tensdo obtida, isto é, menor sera a forga de atragdo entre s moléculas dé Agua e do éleo. ‘A norma para determinaco da tensio interfacial é a ASTM-D971 — NBR - 6234; é determinada medindo-se a forga necesséria para afastar, no sentido ascendente, um anel plano de platina colocado na interface agua-Sleo. A intensidade desta forga medida por um dinamémetro, denominado de Du Norey, ¢ a unidade usada para expressa-la é mN/m. Os valores minimos que devem ser observados para assegurar a inexisténcia de bora no dleo variam de 22 a 28 mN/m, de acordo com o s niveis de tensio usados.Este ensaio fornece uma boa idéia sobre o grau de deterioragaio do dleo. 13.7.5- Fator de poténcia O fator de poténcia represcnta a medida das perdas dielétricas e da energia dissipada soty forma de calor peld“6leo isolante. Um baixo fator de poténcia indica que o dleo tem um baixo nivel de contaminagio ¢ degradacao. As perdas do dielétrico so causadas pela condutividade adquirida pelo dleo em decorréncia de seu maior ou menor grau de contaminagiio. © fator de poténcia € uma quantidade adimensional, expressa geralmente em porcentagem ¢ a norma usada para a sua determinago é a ASTM- D924 — NBR 12133, O instrumento usado para realizago deste ensaio é mostrado na Fig. 13.7 baseia-se na aplicagio de uma tensio senoidal, de freqiiéncia determinada e na leitura da corrente resultante. O angulo de perdas 8 ¢ um complemento do fngulo @, quanto menor for 0 fator de poténcia, menor sera também o angulo de perdas 8. Pode-se demonstrar a seguinte expresso: cosp= tg8/V1+tgS (13.1) ‘Como tg"6 é muito pequena, pode ser desprezada, tem-se entio: cosp = 18 (13.2) IL It Ie Fig. 13.7— Diagrama yeetoria, Indicando os Angulos @ e 3. 154 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA ~ VOLI ‘A determinagio do fator de poténcia do éleo mineral d4 uma indicagdo segura sobre o seu grau de contaminagio e degradacio. O aumento do fator de poténcia esté sempre relacionado com a presenga de substincias que clevam a condutividade do éleo, principalmente se essas substincias se encontram no estado coloidal. Na Fig. 13.8 é ilustrado o aparelho que permite a realizagdo deste ensaio. Fig, 13.8 —Instrumento usado para medigio do fator de pottacia em oleos isolantes, Foto do autor, ‘Na Tabela 13.4 apresentada a seguir séo indicados os valores limites considerados ‘como satisfatorios para 0 estado do dleo em operagao, de acordo com a classe de tensio dos equipamentos. 13.8- ANALISE CROMATOGRAFICA DOS GASES DISSOLVIDOS 13.8.1 -G: jases permanentes Os hidrocarbonetos que compdem os Gleos minerais quando submetidos a esforgos térmicos e elétricos se decompéem, gerando produtos que esto relacionados com a quantidade de energia envolvida no processo. Esta propriedade ¢ de grande utilidade para a manutengdo, uma vez que a grande maioria das falhas que ocorrem nos transformadores envolve alteragdes térmicas ou descargas elétricas. Deste modo, 0 conhecimento dos gases permanentes dissolvidos no éleo isolante permite diagnosticar a existéncia de uma fatha em estagio incipiente (inicial), quando ainda no houver danos apreciaveis no equipament. 155 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA - PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOLT Tabela 13.4 Ensaio ‘Método | Unidade |Limites] Classe de | Classe de | Classe de Tensio | Tensio | Tensao | <230kV | 230kV_|_500kV Jindice ~~ de|ABNT-MB__|mgKOH/g| Max. | 0,20 015 | 0,10 neutralizagio| 101 (ASTM, D974) Tensio NBR 6234 | mNin | Min. | 23 28 28 (AST™ D971) Teor de agua [NBR =| ppm | Max, | 35 30 20 107010 5) 20) (15) (ASTM 1833) Rigidez NBR- 6869 KV | Min. | (0) (43) dielétriea | (ASTM D877) Rigidez NBR-10859 | _kV | Min. | 40 30 60 dielétriea | TEC-156 (60) (60) (70) (VDE- 370) ASTM DI8I6|__kV_| Min 60 0,04”) 70) ‘ASTM D18i6| kV | Min, 34 diclétrica (0,08") (60) Fator —_de|NBR- 12133 % | Max. | 20 20 15 potenciaa | (AASTM 100°C D924) Os procedimentos adotados para colher subsidios sobre a natureza ¢ os quantitativos desses gases dissolvidos constituem a denominada “andlise cromatogréfica dos gases", Esta moderna metodologia de diagnéstico & uma ferramenta valiosa nas novas técnicas usadas pela denominada manutengao “preditiva” O principal beneficio trazido por esta metodologia é eliminar as paradas imprevistas dos equipamentos, uma vez que as falhas sdo observadas e acompanhadas desde 0 seu estagio inicial, sendo assim possivel realizar o reparo necessario de forma programada, evitando prejuizos decorrentes de luctos cessantes. Além do mais, o reparo do equipamento seria menos dispendiosos, acaso a falha prosseguisse até a sua detec¢ao por outros meios ( relé Bucholz). Os gases formados e sua quantidade dependem da reatividade quimica do éleo com os ‘materiais nele imersos, sob a ago do calor e das tensdes elétricas. Os gases so os seguintes: 156 SSAA HALHAA SHARE OKKEELLESELOSALAOALARLAROHAARAARAADAD: MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA - PROF. AELFO MARQUES LUNA ~ VOLT Hy - Hidrogénio OF = Oxigénio Nz = Nitrogénio CH, — - Metano CO - Monéxido de carbono Oz - Didxido de carbono GH, - Etileno Cs CaHo 13.8.2 — Métodos e equipamentos usados para realizar a andlise cromatogrifica Para a realizago do ensaio ¢ usado 0 método da ASTM D3612 ¢ que consiste em exttair os gases dissolvidos no éleo, em um recipiente com vcuo e volume conhecido, A seguir 0s gases so comprimidos para a pressio atmosférica normal e o volume é medido. Uma quantidade de 0,25 ml de gés é injetada em uma parelho chamado “Cromatégrafo Gasoso”, conforme ilustrado na foto da Fig.13.9; este instrumento é equipado com colunas de materiais adsorventes, os quais separam os gases. Em seguida, os gases separados so detectados e medics. Os resultados silo remetidos para uum registrador onde um grafico com 0s varios picos dos gases detectados sao tragados. eritério mais simples para diagnéstico € chamado “método do gés chave”, que relaciona a existéncia de certos gases em quantidades expressivas com as diversas possibilidades de falhas. O Quadro abaixo resume este método. Existem outros critérios mais precisos, que utiliza relagdes quantitativas e que foi adotado pela IEC (599/78) e pela ABNT. Quadro Resumo Gis chave Falha Caracteristica Hidrogénio Descargas parciais no leo ‘Metano ‘Acetileno ‘Areo no deo Etileno Sobreaquecimento no dleo Monéxido de carbono Descargas parciais no papel (Monéxido de e Diéxido de carbono Sobreaquecimento no papel 13.9- RECUPERACAO DOS OLEOS MINERAIS ISOLANTES Constatou-se que 0 6leo mineral isolante “envelhece”, ou seja, sofre ao longo do tempo lum processo de mudanga que alteram suas caracteristicas fisico-quimicas, mudangas estas mais ou menos acentuadas, dependendo de fatores diversos. Como conseqiiéncia 0 leo torna-se contaminado com os proprios produtos resultantes do proceso de deterioracao. 157 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA VOLI ‘Ainda tem-se que considerar a contaminag4o com substancias adventicias como poeita, gua, particulas metalicas etc, Fig. 13. 9~ Aparetho usado para realizado da andlise cromatogréfiea, Foto do autor Tratar o Sleo significa separa-lo das impurezas nele contidas ¢ cuja presenga foi identificada pela andlise fisico-quimica, descrita anteriormente. De acordo com o tipo de contaminante que o éleo apresenta, distingui-se duas técnicas de -tratamento: fisico € fisico-quimico ou quimico. Denomina-se “recondicionamento” o tratamento de natureza fisica, 0 qual cuida de remover do dleo a égua e as particulas sélidas por meios mecdnicos. O proceso denominado de “regenerago” cuida da remogao dos contaminantes acidos coloidais por meio fisico-quimicos ou quimicos, propriamente ditos. 13.9.1 ~ Técnicas de recondicionamento O processo de recondicionamento do 6leo mineral isolante utiliza basicamente técnicas de filtragem e desidratago a vacuo. Os filtros comumente empregados tais como o filtro prensa, ilustrado na Fig. 13.10 utilizam cartuchos de celulose de varios tipos e sua eficiéncia depende do estado de secagem e da freqlléncia com que so substituidos. Os desidratadores a vacuo so os mais eficientes equipamentos recondicionadores de 6leo mineral isolante, porque removem nao somente a 4gua, como também os gases ¢ 0 cidos mais voléteis, O dleo aquecido a uma temperatura aproximadamente de 35/60 °C ¢ nebulizado através de um orificio no interior da camara a vacuo. Nessa temperatura a Agua se separa do dleo e ¢ retirada, sendo assim eliminada. Sempre é aconselhavel passar o 6leo através de um filtro prensa antes de permitir sua entrada na cdmara a 158 a8 8888288828280 0202200802008 020 OOREAOOEE MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA — PROF, AELFO MARQUES LUNA - VOLI ‘vacuo, a fim de evitar que as particulas contaminantes s6lidas possam obstruir 0 orificio nebulizador. Na Fig. 13.11 vé-se a foto de um desidratador a vacuo Fig. 13.10~ Filtro prensa. Foto do autor 13.9.2 - Técnicas de regeneragio A regeneragdo por processos fisico-quimicos se fundamenta na capacidade de “adsorgdo” que diversos materiais possuem (nao confundir com absorgéio). A adsorgao ¢ a propriedade apresentada por um sélido de reter em sua superficie uma fina camada de gases, liquidos, solutos, vapores ¢ coléides com os quais entrar em contato. Os sélidos que possuem esta propriedade sdo denominados de “adsorventes”, podendo ser naturais ou ativados, isto é, adquirirem esta propriedade por tratamento especifico. Um adsorvente natural dos mais eficientes é a “Terra Fuller”, uma argila que tem grande afinidade pelos acidos e contaminantes dos dleos. Entres os adsorventes ativados destaca-se 0 emprego da bauxita, como o mais usado, A regenerago por adsorgo é feita por percolagio, isto é, éleo € filtrado através do adsorvente pela ago da gravidade ou por presto. A regeneragdo por adsorgao é economicamente viavel, dependendo das condigées de acide. do dleo. Quanto este se encontra fortemente oxidado, isto é, sua acidez ¢ maior que 0,4 mgKOH/g, aconselha-se usar processos quimicos na sua regeneragdo, uma vez que seria necessério varias operagdes de percolagdo através dos adsorventes para a obtengo das caracteristicas desejadas do éleo, A tegeneragdo por meio de_processos quimicos se bascia na eliminago das impurezas or reagio com certas substincias quimicas. A substdncias quimicas utilizadas geralmente como neutralizadoras da acidez sio as seguintes: ‘© Meta silicato de sédio ( NazSiO;.5H;0) © Fosfato tri-sédico (Na PO, 12H;0) 159 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOL No processo quimico de regeneragio, para o mesmo 6leo, 0 consumo de fosfato sédico € 1,75 vez 0 consumo de meta-silicato de sédio, Como 0 prego/kg do fosfato é trés vezes maior do que do meta-silicato e levando-se em conta o maior consumo do fostato, torna-se economicamente mais atraente 0 uso do meta silicato. Ainda com a finalidade de prolongar a vida itil do éleo regenerado costuma-se adicionar um antioxidante, denominado DBPC (éi-tércio-butil-para-cresol) numa proporgao de 0,3% em peso. Esta substincia antioxidante assim adicionada é chamada também de “inibidor”, pois reduz a capacidade quimica do dleo de oxidar-se. Fig. 13.11 ~ Foto de um desidratador a vacuo. Foto do autor CONCEITOS CHAVES Liquidos condutores Liquidos isolantes Eletrélitos Agua molecularmente dissolvida Agua emulsificada Liquidos dielétricos contaminados Liquidos dielétricos tecnicamente puros Gleos parafinicos Oleos nafténicos Ponto de inflamagao Ponto de fogo Ensaio de rigidez dielétrica Tensdo interfacial Teor de Agua Teor de acidez ow indice de neutralizagao Fator de poténeia Anélise cromatogréfica Recuperagdo de dleos isolantes Técnicas de recondicionamento de 6leos Técnicas de regeneragiio de éleos 160 we ee ee one mnan MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ PROF. AELFO MARQUES LUNA - VOL I QUESTOES PARA ESTUDO 15:1 Bnuncie s principai Fatores que influem no comportamentacondutivo doe iquidosdieléticos? 13.2~A gua é um liquide dietérico? 13.3 ~ Em quantos equa estos e a égua pode se encontrar num lquido dieltrico? 134-0 que se entende por um liquide dilétrico “tecnicamente puro” e“contaminsdo”? [3.5 — Descreva o papel desempenhado pelo dleo mineral isolante quando aplicado nos transformadores de forga ¢ os requisitos exigidos para o seu emprego nesta funcio? 13.6- Descreva o papel desempenhado pelo 6leo isolante mineral quando apticado nos disjuntores e os 137 Alem das duas aplicagdes citades nas duas questbes anteriores enuncie outrgs duas grandes aplicagdes do dteo mineral isolante em eletrotéenica? 13.8 — Enumere as principais propriedades quimicas do 6leo mineral isolante? 13.9 = © leo mineral quendo contaminado ¢ jogado fora? Quais os procedimentos utilizados para recupera-lo? 13.10 - Enumere os ensaios que s8o realizados numa andlise do 6leo mineral isolante visando a avaliaso do seu estado e explique a importéncia da execugio destes testes, 161 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA - Prof. Aelfo Marques Luna — Volume I CAPITULO XIV Os Gleos isolantes de origem mineral apresentam o inconveniente de serem Produtos inflamaveis, Hi situagdes em que as condigées de riscos de incéndio e explosdes devem ser minimizadas, tais como em instalagies elétricas subterriineas, hospitais, prédios publicos ete. Durante muito tempo a solucdo encontrada para atender a essa exigéncia foi a utilizagio de um éleo sintético nfo inflamavel, denominado genericamente de ascarel. Entretanto, 0 uso deste proibido, praticamente no mundo inteiro, de 0 meio ambiente. Outros dleos sintéticos rosistentes a0 fogo foram. descnvolvidos, destacando-se entre eles os fluidos de silicone. 14.1 - ESTUDO DOS ASCAREIS O ascarel € 0 nome genérico de um produto formado de dois ciclos benzénicos onde alguns dtomos de hidrogénio so substituidos por étomos de cloro, numa quantidade varivel de 2 a 10, razo pela qual so tecnicamente chamados de bifenis policlorados, abreviadamente PCB (sigia inglesa), A utilizago em equipamentos elétricos (transformadores ¢ capacitores) de Ifquidos isolantes a base de PCB's, notabilizou-se em razo destes dleos, além de apresentarem boas qualidades dielétricas (clevada rigider dielétrica) e térmicas (grande capacidade de absorydo calorifica) sto resistentes ao fogo, 0 que os recomenda empregé-los em instalapdes onde as condigdes de seguranga contra incéndios sio mandantes, tais como em usinas hidrelétricas, subestagSes instaladas em subsolos, minas subterrdneas etc. Os ascareis sfio conhecidos por uma grande variedade de nomes comerciais alguns dos 4quais sto indicados no Quadro abaixo: Nome. Fabricante Clophen Bayer Pyranol General Electric Therteen ‘Westhinghouse [Pyroclor Monsanto ‘Sowol Ruissia Quando usado como liquido isolante nos equipamentos clétricos os ascareis so misturados com triclorobenzeno (TCB), visando a aumentar a sua fluidez, fator importante no processo de refrigeragio dos equipamentos elétricos. 162 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ Prof. Aelfo Marques Luna- Volume I Fig. 14.1 - Foto de um incéndio em um transformador de forga. As paredes "eorta-fogo" {desempenham um papel importante ne combate a propagagio do inc 14.1.1 - PROCESSO DE OBTENGAO DO ASCAREL O ascarel ¢ obtido fazendo passar pelo bifenil (C12H;») em fusio o cloro em presenga de um catalisador apropriado (pode ser ferro, estanho etc). Nestas condigSes decorre uma Teagdo de substituigao dos étomos de hidrogénio pelos dtomos do cloro no seio da molécula do bifenil. Existem 209 tipos diferentes de ascareis, a depender do mimero de étomos de cloro que sio introduzidos nas moléculas dos bifenis. A formula geral pode obedecer a C12 Hite ‘Cl,., onde n define o grau de cloragao. O ascarel foi fabricado pela primeira vez, em escala comercial, em 1929, 14.1.2 - PROPRIEDADES DO ASCAREL Tratarse de um liquido cor amarelo-claro ow incolor, com uma densidade absoluta de 1,3 gem’, portanto, superior a do dleo mineral que ¢ de 0,85 a 0,95 g/cm’ ; é mais denso que a agua e a sua viscosidade € maior que a dos 6leos minerais isolantes. No que tange as suas propriedades quimicas o ascarel apresenta uma clevada estabilidade contra os agentes externos. Resistem & temperaturas elevadas sem alterar suas propriedades. Nao apresentam o perigo de inflamabilidade que é encontrada nos Oleos minerais. Devido a sua grande estabilidade, torna-se desnccessério sua analisce quanto ao numero de acidez e as conseqiiéncias de envelhecimento 163 AA nt tet tt te meme eee memes eannnnnaanane ‘MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA — Prof. Aelfo Marques Lufa ~ Volume 1 Os metais normalmente usados na construgao de transformadores, a saber, cobre, ferro, ago ¢ alum{nio permanecem inalteréveis em contacto com o ascarel. Entretanto o ascarel apresenta 0 inconveniente de dissolver certo numero de isolantes, tais como determinados vernizes, obrigando assim a realizagdo de ensaios prévios ¢ cuidadosos de ‘compatibilizagaio. Pegas isolantes a base de resinas fendlicas alteram as caractéristicas do ascarel, todas as vezes que possuem na sua estrutura fendis no completamente polimerizados. Nao apresentam dificuldades 0 uso conjunto de ascareis com os papeis, 0 algodio, as resinas polimerizadas e algumas borrachas sintéticas. Os varios tipos de ascareis podem ser substituidos ou misturados sem que haja alteragSes significativas. De qualquer forma, nunca devem ser misturados com 0 éleo mineral. Uma mistura acima de 2% de éleo mineral faz. com que 0 ascarel comece a perder a sua resisténcia a inflamabilidade. Um dos inimigos do ascarel é a contaminago por égua. Esta ultima é mais leve que o ascarel ¢ sohrenacla na superficie em lugar de se precipitar para a parte inferior da carcaga que contem o liquido, resultando dai um risco de curto-circuito, pois na parte superior afloram as ligagdes dos enrolamentos com as conexdes exteriores do equipamento (por exemplo, no caso dos transformadores). No que se refere as propriedades elétricas 0 ascarel é um excelente diclétrico; sua tigidez dielétrica 6 superior a do 6leo mineral, ou seja, 200 kV/em aproximadamente. Uma vez que a molécula do ascarel tem estruturas assimétricas, 0 ascarel é um liquido polar. A sua constante dielétrica varia de 4,5 a 5,5.; as perdas dielétricas do ascarel sto superiores a do éleo ( tg6 = 0,015) ¢ sua resistividade volumétrica a 20 °C fica entre 10 a 10" Om. 14.1.3- APLICACOES ELETROTECNICAS DO ASCAREL ascarel pode substituir 0 dleo mineral nos transformadores, condensadores e cabos de alta tensdo. Nos transformadores apresenta grande vantagem de seguranga de funcionamento, desde que nio oferece perigo de incéndio ou de explosio, devido a sua no inflamabilidade. fato do ascarel nao inflamével baseia-se no seguinte: 0 6leo mineral se inflama quando decomposto pelo calor ou por um arco elétrico, ja que entre seus produtos de decomposigao esté 0 hidrogénio que reage violentamente com 0 oxigénio atmosférico ¢ esta reago ¢ acompanhada de incéndio ¢ de explosdo. Para suprimir qualquer risco de ineéndio um dielétrico liquido decomposto pelo calor ou por um arco elétrico nao deve liberar hidrogénio livre © ademais os gases de decomposiga0 devem ser estiveis, inclusive cm temperaturas superiores as que provocaram a decomposigao.No caso do ascarel a sua decomposi¢ao por meio de um arco elétrico gera acido cloridrico e diéxido de carbono. O écido cloridrico HCI é constituido pela combinagao de um atomo de cloro ¢ um de hidrogénio, respondendo assim perfeitamente a condigéo de evitar a liberagao de hidrogénio livre. © ascarel pode também ser concebido como 0 nome genérico de liquido dielétrico sintético o qual, quando decomposto pela ago de um arco elétrico, gera somente gases nao explosivos. (HCI CO,). 0 uso do ascarel em disjuntores nao ¢ apropriado devido a elevada concentragéo de Acido clorfdrico que se produz nas cémaras de extingio como conseqliéncia dos 164 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA — Prof. Aelfo Marques Luna — Volume I freqlientes arcos elétricos que se formam durante as -operagdes de conexto ¢ desconexio, Os custos de manutengao, decorrentes do uso do ascarel nos transformadores so reduzidos desde que nfo sao feitos tratamentos periédicos como aqueles exigidos para 0 6leo mineral. Por outro lado o ascareL apresenta os seguintes inconvenientes: prego mais elevado, mais pesado (dai a necessidade de carcagas metélicas mais espessas € Pesadas para os transformadores), perdas mais elevadas, perigo de condensagdo da 4gua na superficie, Transformadores imersos em ascarel so recomendaveis para emprego em minas subterraneas, hospitais, em iméveis, em industrias quimicas e outros locais onde as especificagées com os riscos de incéndio stio mandantes,. Sua aplicago nos capacitores reside no fato de apresentar uma constante dielétrica mais ¢levada do que a do dleo mineral, determinando entio um aumento da capacidade do capacitor (aproximadamente 40% a volume igual) ou diminuigdo de volume para uma mesma capacidade, As desvantagens decorrem das perdas que sio maiores e dos perigos de condensagdo da agua, Por fim o ascarel pode ser usado como impregnante de cabos de alta tensto isolados com papel, reforgando assim o isolamento do conjunto. 14.1.4 -OUTRAS APLICACOES DO ASCAREL Os ascareis so fabricados desde a segunda década do século passado e entravam na composi¢ao de diversos produtos, tais como vernizes, tintas, colas, papel carbono, lubrificantes, plastirizantes, pesticidas e até mesmo, por incrivel que possa parecer em “gomas de mascar”. Na industria ainda encontra aplicagdes como flufdo transportador de calor, fluido hidrdulico, fluido para bombas a vicuo e compressores ceras e adesivos especiais, Entretanto, a par destas inumeraveis aplicayOes existe o reverso da medalha, o ascarel revelou-se um material t6xico capaz de provocar nefastos efeitos sobre os homens ¢ animais ¢ esta desvantagem decorre de ser uma substincia nao biodegradavel e possuir luma indesejével persisténcia de seus compostos, ou seja, apresentar caracteristicas de bio-acumulagao, O PCB foi encontrado em todos os niveis da cadeia alimentar e, sobretudo no sew elo final, que 0 homem e o animal, Estudos toxicolégicos realizados com cobaias tem demonstrado que a contaminagdo por PCBs pode alterar principalmente as fungdes reprodutivas dos organismos. Foram observados disturbios na maturagfo sexual ¢ efeitos teratogénicos (produto de ‘monstruosidades) trazendo como conseqiiéncia a degradagdo da progénie (geraso da prole).No ambiente estes efeitos podem se propagar ao longo de toda cadeia alimentar através da bio-acumulagao afetando todas as espécies.Nos humanos os principais sintomas observados foram: cloracne, hiperpigmentagao, problemas oculares, além da clevagio do indice de mortalidade por cancer do figado e vesicula biliar. Recentemente observou-se no arquipélago de Svalbard (perto do Pélo Norte) uma certa incidéneia de ursos polares hermafroditas (ou seja, 0 animal possui dros reprodutivos de ambos sexos). A causa seria a poluigo industrial trazida do norte da Europa pelo vento ¢ égua do mar ¢ 0 principal agente causador dessas mudangas genéticas ¢ atribufdo ao ascarel, s ursos polares se tomam particularmente vulneréveis por estarem no topo da cadeia 165 a a a a a a a a a a 3 a a a a a a < a a a a a a a a a a « a a a a a a a a a MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ Prof. Aelfo Marques Luna ~ Volume 1 alimentar do Artico, que ¢ curtissima: a base ¢ o plancton, conjunto de microorganismos de que se alimentam os peixes. Estes so comidos pelas focas, que, por sua vez, so a base da alimentagaio dos ursos. Acrescente-se que nos anos 80 outro risco foi colocado em evidéncia quando do inendio de instalagSes elétricas, os ascareis aquecidos a temperaturas entre 300 a 1000 °C e em presenga do oxigénio, em combustio incompleta, desprendem substincias policloradas, denominadas “furanos” e “dioxinas”, as quais apresentam um certo grau de toxicidade. O Japio, depois de acidente ocortido com o ascarel em 1968, foi o primeiro pais a proibir 0 seu uso, em 1969. Os Estados Unidos e o Canada seguiram o exemplo, em 1977, 0 mesmo ocorrendo, em outras épocas, com diversos paises do mundo, inclusive © Brasil, através da Portaria Interministerial n. 019, datada de 10 de junho de 1981 O ACIDENTE DE YUSHO, NO JAPAO ‘A fuga do ascarel contamina 0 solo e a um prazo mais ou menos longo atinge o lengol fredtico ¢ da a cadcia alimentar. Um exemplo dramético deste processo de poluicdo, ocorreu em 1968, numa fabrica em Yusho, no Japo, provocando um acidente de graves conseqiléncias e sendo um dos primeiros sinais reveladores de que o ascarel, além de suas otimas qualidades, possui caracteristicas nocivas. Naquela ocasitio 0 ascare! cra utilizado como lubrificante de uma maquina de extrago de arroz, onde por uma falha qualquer vazou e misturou-se a0 leo comestivel, provocando sérias intoxicagées em cerca de 15 mil pessoas que © consumiram e a morte de 700.000 galinhas de granjas existentes nas vizinhangas e que também foram contaminadas. Isso motivou um exame mais acurado do ascarel, que comprovou os seus efeitos nocivos ao homem, animais € plantas. Seus sintomas ficaram conhecidos como “doenga de Yusho”. ‘No Brasil se tem noticias de ocorréncia de diversos acidentes com o ascarel, Em 1988 0 vazamento de ascarel de um fomo da Fundig&o Thyssen, estado do Rio de Janeiro, foi parar no rio Paraiba do Sul ¢ poderia ter causado um desastre de grandes proporgdes, pois aquele manancial contribui para o abastecimento de Agua daquele estado. Outro acidente que se tem noticia ocorreu em 1987 na subestagao de Grajad, de Fumas Centrais Elétricas, com o vazamento de cerca de 10 mil litros de ascarel que atingiu 0 solo ¢ contaminou funcionérios daquela estatal. Em 2001 a RFFSA foi multada pelo Ibama pelo vazamento de 40 mil litros de ascarel, numa subestago desativada existente em Iperé, também com contaminagdo do solo ¢ atingindo uma reserva florestal ‘nas proximidades.Outro caso que se tem noticia, mais recente, refere-se a depredagio ocorrida numa subestagio desativado metro carioca, em Iraja, com 0 vazamento de 400 litros de PCB. 14.1.5-INTERDIGAO E DESCARTE DO ASCAREL NO BRASIL A Portaria Interministerial n. 019 estabelece que € proibido a, fabricacdo, a comercializagao € 0 uso do ascarel no pais, como fluido diclétrico em transformadores, capacitores, como aditivo para tintas, plasticos, lubrificantes e dleos de corte, bem como outras aplicagSes que nfo as citadas, 166 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA — Prof, Aelfo Marques Luna - Volume I Entretanto, 0 item Ill da citada Portaria, estabelece que “os equipamentos de sistemas elétricos, em operagiio, que usam 0 ascarel, como fluido diclétrico, poderao continuar com este dielétrico, até que seja necessdrio 0 seu esvaziamento, apés o que somente poderdo ser preenchidos com outro que no contenha PCBs” (sic) Isto significa a necessidade de um monitoramento permanente desses equipamentos, pois a fuga do ascare! decorre da corrosio ou de falhas na retengdo das carcagas dos equipamentos, quer em operagiio, quer estocados. Em 10/06/1983 a Secretaria de Meio Ambiente SEMA, érgio do Governo Federal, emitiu a Portaria n. O01, que foi também o primeiro documento a disciplinar as condigées de manuseio, armazenamento e transporte. Em 1984 a ABNT trouxe a luz a NBR-8371, (revista em 1996) tratando especificamente de capacitores ¢ transformadores isolados com o ascarel. Esta Norma informa todas as condigdes de manuseio, acondicionamento, armazenamento, manuteng0, transporte, acidentes, primeiros socorros, eliminagtio e reaproveitamento de equipamentos. 0 monitoramento dos equipamentos que ainda usam ascarel (em operagaio ou estocados) € um trabalho que exige muita diligéncia, entretanto, é imperioso considerar uma limitagao temporal para tal obrigagio, (visto que os custos de monitoragio e armazenagem sio onerosos ¢ exigem condigdes especiais) esto fortemente associados aos permanentes riscos de acidentes de contaminagao. I1a, portanto, necessidade de uma ago de eliminagio destes perigosos residuos. O descarte definitivo do ascarel se da por queima em fornos de altas temperaturas, (entre 1200 a 1600 °C) nos quais ¢ efetuado um rigoroso controle dos gases efluentes do processo, especialmente os furanos e as dioxinas. No Brasil algumas industrias possuem instalagdes para tal fim, citando-se entre eles a Bayer, em Belfort Roxo, no Rio de Janeiro. Por fim uma outra alternativa desenvolvida nos Estados Unidos € um processo de descontaminagio por meios néo térmicos. Este procedimento conhecido como de “solvatagfo eletrénica” ¢ efetuado pelo tratamento do ascarel com uma solugdo de ambnia ¢ célcio (ou sédio) resultando na transformagao do PCB nos inofensivos bifenis. 14.2- FLUIDOS DE SILICONE -A IEC define os fluidos de silicone, como “liquidos isolantes constituidos por potiorganosiloxanos, cuja estrutura consiste normalmente em cadeias lineares formadas por uma alternéineia de atomos de silicio de oxigénio, e em que cada étomo de silfcio esté ligados radicais orgnicos". Na pratica, apenas tem tido aplicagdo em equipamentos elétricos os polidimetilsiloxano, cuja estrutura ¢ apresentada na Fig. 14.1.. Trata-se de um produto da familia dos silicones, cujo estudo mais detalhado seré abordado no capitulo XVII. Os silicones so compostos conhecidos hi muito tempo; o seu desenvolvimento remonta ao inicio do século passado e sua menor resisténcia ao fogo do que o ascarel e 0 prego relativamente elevado, porém, sé fizeram encarar a sua introdugo como liquido dielétrico a partir de 1974, quando os problemas ecolégicos associados aos PCBs comegaram a tomar vulto. As principais caracteristicas desta classe de isolantes constam da Tabela 14.1. vale realgar ainda a boa estabilidade térmica, a resistencia oxidagdo ¢ a sua inéreia quimica. 167 a tee enannean MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ Prof. Aelfo Marques Luna ~ Volume 1 Fig. 14.1 ~ Motécuta do polidimetilsiloxano, onde se observa a disposigo alternada dos étomos de sillcio © origénio e os radieais de dimetil fixados aa valéncias do silicio. Este arranjo repete-se cerca de 3S vezes, ou seja n= 38... Na Tabela 14.1 observa-se que 0s pontos de fulgor e de fogo sio elevados, os que faz chamé-los de Iiquidos “resistentes 20 fogo” Apresentam, outrossim, boa inocuidade fisiolégica, toxicolégica ¢ ambiental. Essa inéreia quimica permite o contato com uma ampla gama de materiais isolantes sdlidos sem ataca-los Por outro lado a rigidez dielétrica destes fluidos, tal como em outros liquidos ¢ afetada pela umidade ¢ impurezas sélidas. No processo disruptivo do fluid de silicone ha formagio de depésitos de silica, carbeto de silicio © polimeros lineares (siloxanos reticulados), 0 que origina uma ponte entre os eletrodos entre os quais ocorreu a descarga, Dai resulta uma dificuldade de, na pritica, se estabelecer um dimensionamento seguro para tensdes mais elevadas, que é, portanto um fator limitante para suas aplicagdes,(seu emprego limita-se para transformadores de pequeno e médio Porte) A excelente estabilidade quimica dos fluidos de silicone permite a operago até 150°C, Por periodos bastante longos ou mesmo sob temperaturas mais elevadas 3s fluidos de silicone quando submetidos a temperaturas superiores a0 ponto de fogo (340°C) entram em combustdo, entretanto, formam-se grandes quantidades de cinzas de silica na superficie do liquido que esta queimando, a qual restringe 0 acesso do oxigénio (clemento comburente) € desacelera paulatinamente o processo de propagagiio do fogo do liquido de silicone ¢ extingue o fogo. Vale ainda ressaltar que, enquanto os liquidos & base de hidrocarbonetos liberam grande quantidade de calor, além de uma fumaga preta € t5xica, 0 fluido de silicone libera pouquissimo calor e fumaga néo é téxica. 14.3 - OUTROS LiQUIDOS DIELETRICOS RESISTENTES AO FOGO Com_o banimento do ascarel, iniciou-se por toda a parte a procura dos Ifquidos substitutos, isto é, liquidos que apresentem um clevado grau de n&o inflamabilidade, Além dos fluidos de silicones, sto merecedores de referéncia os ésteres orginicos, os hidrocarbonetos de alto peso molecular (R-Temp) alguns outros fluidos desenvolvidos na Franga e nos Estados Unidos, os quais serdo anotados a seguir. 168 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ Prof. Aelfo Marques Luna'~ Volume I ‘Tabela 14.1 ‘Aparéncia Transparente cristal Densidade g/em 0,96 Capacidade calorifica especificea [0,36 cal/g.°C Condutividade térmica 0,00036 cal/seg.cm? °C Coefic. Dilatagio"CT 0,0010 Viscosidade 25°C cSt 50 Ponto de fulgor °C 300 Ponto de foga "C 340 [Rigidez dielétrica kV (ASTM D877) |40 Constante dielétrica «42,7 Resistividade Qcm io" ‘Angulo de perdas (0,015 14.3.1 - ESTERES ORGANICOS Varios tipos de ésteres apresentam caracteristicas que os permitem situar como dielétricos liquidos. Ha registros de longe data do uso do dteo de rfcino, que é um éster natural, em condensadores e recentemente tem vindo a ganhar em importancia, como liquidos dielétricos para transformadores, os ésteres sintéticos obtidos pela reagdo de um écido carboxilico com um élcool. Sto liquidos apolares, suas caracteristicas de inflamabilidade so préximas dos fluidos de- silicone, exibem melhores caracteristicas de transferéncia térmica, so biodegradaveis, fisiologicamente comparaveis aos éleos minerais ¢ inofensivos sob 0 ponto de vista toxicoldgico e ecoldgico. A sua viscosidade é relativamente clevada em comparagiio com os liquidos até agora estudados, O uso destes liquidos esta sendo introduzido, particularmente no reino Unido e na Alemanha, Na Tabela 14.2, seguem alguns dados sobre os ésteres organicos sintético. Tabela 14.2 Densidade plem3 0,98 Viscosidade 25°C cSt 90. Ponto de fulgor °C 260, Ponto de fogo "C 310, Constante dielétrica 32 169 ‘MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA — Prof. Aelfo Marques Luna Vohime I 14,3.2-HIDROCARBONETOS DE ALTO PESO MOLECULAR (R-TEMP) R-Temp ¢ a designagao pela qual é conhecido nos Estados Unidos um liquide isolante que vem adquirindo popularidade € que ¢ essencialmente um dleo mineral de elevada ‘massa molecular, obtido a partir de frages pesadas ¢ contendo aditivos que tem por fim melhorar os pontos de fulgor fluidez. Sto hidrocarbonetos parafinicos refinados , com a formula geral de CnHm. Exibem estrutura apolar ¢ tém dtimas qualidades térmicas, Apresenta o inconveniente de ter uma elevada tendéncia a geragfo de gases sob a ago de um campo elétricos. Na Tabela 14.3 algumas caracteristicas do R-Temp. Tabela 14.3 Viscosidade 25°C eSt 800 Ponto de fulgorC 284 Ponto de fogo C 312 Constante dielétrica 24 idez dielétrica KV (ASTM| 40 D877, 14,3.3-NOVOS LiQUIDOS RESISTENTES AO FOGO Na Franga um liquido que é essencialmente uma mistura de 60% de diclorobenzildiclorotolueno .¢ 40% de triclorobenzeno,. comercialmente conhecido ‘como Ugilec. Menos denso ¢ menos viscoso que o ascarel, no é inflamével e tem boas caracteristicas témicas. E considerado inofensivo, atoxico, no mutagénico, sé fracamente bioacumulativo, facilmente biodegradavel_e elimindvel. A sua decomposigio pirolitica ndo dé origem a compostos t6xicos. Nos Estados Unidos verifica-se uma crescente utilizago do tetracloroetileno (C2Cl) em transformadores até 5 MVA de poténcia, Também nao é inflamavel. Os dados atuais permitem classifica-lo com um liquido seguro, sob o ponto de vista ecolbgico. ESPACONAVE TERRA Algumas reflexdes sobre a Ecologia © nosso planeta Terra assemetha-se a uma grande espagonave que se desloca por este espaco sem fm, tendo a bordo cerca de 6 bilhdes de terraqueos, Neste viagem sem fim pelo universo, nossa azulada espagonaye transporta também trés grandes. problemas: Primeiro: os passageiros continuam reproduzindo-se a bordo num ritmo da aritmética demogrifica dos coelhos. Mesmo com as tragedias mienares da fome, da docnga ¢ da guerra a populacto embarcada tera um acréscimo de cerca de 1,2 bilhdo de novos assentos neste primeira década do século 21. Em segundo lugar a espagonave Terra no tem como fazer parada técnica para reabastecimento das provisdes de bordo, A sobrevivencia da hhumanidade embarcada dependerd unicamente dos recursos j disponiveis, de preferéncia, os recursos renovéveis, se forem utilizadas com diligencia, sem perdas por deslexo, ignordncia ou incompeténcia. O {ereeiro problema é que os tripulantes e tripulados 56 despertaram para o dilema do erescimento infinito dentro da biosferafinita hi menos de trés décadas, ao fim e ao cabo de sinais de perigo emitidos pela natureza hd mais de cinco milénios. 170 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA — Prof. Aelfo Marques Luna — Volume 1 O grave problema ¢ que 70% dos estragos ambientais j4 cometidos, em especial no séeulo passado, sao de carder irreversivel. © "efeito estufa", por exemplo, ainda pode ser contido, mas no mais revertido. A. ‘levagio da temperatura do planeta ¢ uma das conseqdéncias concretas desta monumental agressio natureza, Felizmente 0 instinto da preservaco da espécie humana tem se manifestado desde a 1° Conferéncia da ONU sobre o Meio Ambiente, em 1972,alastrando-se por quase todo mundo uma eruzada «do protepdo ambientel, agora apoiada cm estatutos cada vez mais severos, Penta que os Estados Unidos, ‘emissor de um tergo de carbono do planeta ndo seja caudatério do Protocolo de Kioto, que pretende, com a adesto de centenas de paises reduzir estas emissGes de carbono nos préximos anos. Discute-se nos dias, de hoje a necessidade de um desenvolvimento auto-sustentivel, respaldado no prinefpio de que a natureza nfo se defende e para tanto tem de ser respeitada., Ela apenas se vinga. E como se vinga! {inspirado em artigo do jornalista Joelmir Beting e no livro "Manual de Operego para a Espagonave ‘Terra’, de R. Buckminster Fuller- Edt.. UNB) CONCEITOS CHAVES Ascarel Bifenis poli clorados (PCBs) Fluidos de silicone Polidimetilsiloxano teres Hidrocarboneto de alto peso molecular Ponto de fogo Ponto de fulgor QUESTOES PARA ESTUDO 14.10 que € 0 ascarel ? Cite as suas vantagens em relagto ao dleo mineral 14.2 — Por que o ascarel teve o seu uso banido ? Quando ocorreu este fato no Brasil ? 14.3 — Quais as altemativas encontradas para substituir o ascarel como material nfo inflamavel? 14.4 Qual a caracterstca mais notével que o fuido de silicone apresenta quando em combust%0? 14.5- Dados dois capacitores de mesma capacitincia C, um deles utiliza 6le0 mineral e 0 outro utiliza ascarel. Pergunta-se: qual deles teré um menor volume e por que ? 14.5 ~ Desereva as vantagens oferecidas pelos ésteres sintéticos, 146-0 quesi ifica éleo R-Temp? i aeRO REREAD EELADAARALAALOAAAAREDEEAAEEDGE, MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ Prof, Aelfo Marques Luna - Volume CAPITULO XV Os dielétricos sélidos constituem um de materiais muito numerosos, | especialmente apés o ndvento dos polimeros sintéticos. Os dielétricos sélidos podem ser classificados em dois grupos: os dielétricos sélidos que so aplicados no estado liquido ow pastoso € que sio constituidos pelas resinas, vernizes, ceras ¢ massas “compound”, © outro grupo é constituide dos matei estado s6lido propriamente dito, situando-se entre eles os produtos.fibrosos, produtos de mica ¢ cerdmicos. Neste capitulo serdo estudados os principais fatores que de forma geral ‘influenciam a condutividade ea rigider dielétrica dos isolantes solidos, bem como as teorias que estabelecem a vida util dos dielétricos ¢ 4s limitagdes de temperatura que so impostas para o seu uso continuado. 18.1 - ESTUDO DA CONDUTIVIDADE DOS DIELETRICOS SOLIDOS Os materiais dielétricos nio sto isolantes perfeitos, ao contrério pode-se constatar que ainda apresentam uma reduzida condutividade, a qual, entretanto, € to pequena que pode ser geralmente desprezada, quando o material é usado dentro dos limites a que se destina, © comportamento da condutividade nos dielétricos s6lidos varia amplamente, fevando- ‘em conta a grande variedade de tipos cxistentes. (Os seguintes fatores exercem influéncia significativa na condutividade dos sélidos desta natureza; a) As impurezas contidas no material eas imperfeigdes estruturais; ) As condigtes térmicas a que estd submetido o material; ©) Anatureza do campo eléirico aplicado; 4d) Umidade ©) Estado da superficie do dictétrico A natureza da condusdo ¢ principalmente iGnica quando perante solicitagbes de campos elticos pouco elevados. Nesta suposig#o 0 dielétrico ndo pode ser exposto ‘continuamente @ uma tensdo CC, pols a condutividade em sendo de natureza isnica leva 4 decomposigao eletrolitica do material Quando o campo elétrico eleva sua intensidade, prevalece a condugdo eletrénica. Nos dielétricos sélidos a corrente ndo tem a mesma intensidade em todos os pontos pois se compde de diversos fetes e canais de corrente elétriea como decorréncia das diferengas de condutividade que existem no material devido as imregularidades de sua estrutura. Em solidos higroscépicos ou porosos 0 grau de absorgao da umidade & de vital importincia, Neste aspecto € saliente 0 papel desempenhado pela resistencia superficial do sélido, Em ambientes com uma umidade relativa superior a 50% 0 corpo dielétrico ¢ eoberto por uma camada de umidade que se deposita sobre sua superficie, tanto. mais intensamente quanto maior for a sua rugosidade superficial, fato que determina um aumento da sua condutividade superficial. Por esse motivo € freqliente a vidragem de m MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ Prof. Aelfo Marques Luna— Volume I corpos isolantes, sobretudo 0s cerdmicos, o que permite a obtengao de uma superficie lisa e impermedvel a umidade, bem como, oferece uma limpeza facil. -Além da rugosidade, 0 corpo 0 dielétrico sélido pode ser poroso, o que permite uma maior penetragdo da umidade, carecendo também de um processo de impregnago com vernizes ou resinas para preenchimento destes porcs. Entte os materiais dielétricos porosos citam-se: os materiais fibrosos (madeira, papel, papeldo, fibras de amianto) irmore, plésticos ¢ certos produtos ceramteos. A corrente que atravessa o dielétrico & denominada de corrente transversal, 20 lado dela hd uma outra corrente que é chamada de corrente de polarizaglo ou de absorgfo ¢ que resulta do deslocamento retardado de cargas, devido a agio da tensto aplicada. Esta ccorrente tem caracteristca reversivel. © processo ¢ idéntico a carga que aparece no capacitor, quando ao dielétrico entre as placas metdlicas ¢ aplicada uma tenséo © uma conseqlente polarizaglo do dielétrico. ‘Terminado 0 provesso da formacao de cargas espaciais, na camada préxima aos eletrodos metilicos, a corrente de polarizagdo se torna nula, permanecendo apenas a corrente transversal, A fig. 15.1 mostra a curva caracteristiea da corrente que passa nor tum dielétrico em fungao do tempo. Este fenémeno é muito importante quando se analisa a condutividade transversal de um dielétrico, pois, se 0 corpo de prova é ligado apenas durante um curto intervalo de tempo, estardo sendo medidas ambas as correntes, pois 0 processo de polarizaglo ainda esté em andamento, Fig. 15:1 Variagho da circulaedo da eorrente em fungto do tempo, em um dieitrico (Adaptado do livro “Materials Elétricos™ , volume 2, do prof. Walfrede Schmidt- Edt. Edgard Bllcher- SP) 15.2-ESTUDO DA RIGIDEZ DIELETRICA DOS SOLIDOS Segundo 0 Dicionirio Brasileiro de Bletrcidade (ABNT) a rigidez diolétrioa 6 a propriedade que um dielétrico tem de se opor a uma descarga disruptva, medida pelo gradiente de potencial sobre o qual se produz essa descarga. Ou seja, €0 valor limite do campo eldtrico suportével pelo dielétrico antes que ocorra a sua disrupo elética 1B MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ Prof. Aelfo Marques Luna - Volume 1 ‘Quando da ocorréncia da disrupedo, a passagem do arco determina sua perfuragao, verificando-se a destruigio parcial ou total do material dielétrico, que no retoma as, suas propriedades isolantes apés a retirada do campo elétrico (causa) ow mesmo apenas com a eliminago do arco. A danificagdo tem caracterisicas irreversiveis Por outro lado, pode-se ter em certos casos, antes que se produza a perfuragdo, uma descarga superficial (flash-over) por contornamento do arco sobre a superficie do dleletrico; arco segue a superticie do sélido. Deste modo pode-se dizer que existem Para os diléticos s6lidos dois tipos de rigidez dielétrica: ) uma rigidez dielétrica superficial, que ¢ fungdo da gcometria do isolante e do estado sanitério de sua superficie, ou seja, de sua limpeza ¢ da umidade depositada em sua superficie O arco contomante deixa um trago carbonizante que constitui um caminho de menor resistencia ¢ nestas circunstdncias a descarga se produz para tensbes de mais a mais menores. Este efeito varia com a natureza do dielétrico que apresenta uma resistencia maior ou menor a0 caminhamento do arco. +) Uma rigider dieléica transversal ou volumétrica que promove sua perfurago com Aanificapta irreveretvel do materia 15.2.1 - FATORES QUE INFLUENCIAM A VARIACAO DA RIGIDEZ DIELETRICA DOS SOLIDOS A disrupefo clétrica dos isolantes sélidos apresenta fenémenos mais complicados do ‘que em dielétricos liquidos. Em face da enorme variedade de sélidos dieléticos, experiéncias ‘demonstram a dependéncia da disrupg’io em fungdo de varios fatores e que muitas vezes exibem omportamentos contraditério. Trata-se de fenémeno complexo onde intervém uma certa quantidade de fatores tais ‘como: homogeneidade do dielétrico e do campo elétrica, eflivios nas vizinhas dos eléttodos (efeitos de borda), descargas parciais, forma dos eletrodos, correntes de fuga superfciais e pontos quentes no interior do dielétrice. A seguir sio comentados alguns destes fatores: 1) Espessura do isolante - A tensto disruptiva nio ¢ proporcional a espessura do dielétrico, Em outras palavras, a tensfo disruptiva aumenta muito menos sapidamente que a espessura do material isolante. Isso pode ser explicado admitindo-se que 0 calor desprendido no seio da massa do material isolante & evacuado através dos eletrodos. Ou, os dielétricos sendo fundamentalmente ‘maus condutores de calor, essa evacuagdo é mais fraca no caso dos matcriais ‘espessos, decorrendo dai uma elevagdo de temperatura que acarreta uma redugdo ‘no valor da rigidez dielétrica. No exemplo abaixo verifica-se que quando se mede o gradiente da disrupgao para diversas espessuras do dielétrico sno caso 0 vidro, pode-se verificar que este gradiente decresce com o aumento da espessura U= 120kV RD = 120 kV/mm = 90kV RD =180kV/mm- U= 32 kV RD =320 kV/mm 2) Impurezas —A presenga de impurezas, umidade, de ar incluso ou de gases dentro do isolante sélidos, diminuem de forma significativa a rigidez dielétrica. 174 [MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA - Prof, Aelfo Marques Luna ~ Volume T 3) FreqUéncia — Comprova-se que a rigidez dielétrica dos s6lidos diminui quando a frequéncia aumenta, 4) Temperatura — A rigidez dielétrica dos s6lidos também diminui quando a temperatura aumenta. Este € um dos fatores criticos, pois o seu aumento significa deficiéncia no sistema de arrefecimento do dielétrico decorrente do aumento de carga ou de falhas no préprio sistema de arrefecimento. Nos itens & seguir este fator seré visto com mais profundidade. 5) Tempo de aplicagdo da tensfo elétrica — A rigider dielétrica dos sélidos é fungdo da durago do tempo de aplicagéo da tensto. A rigidez.tende a diminuir quando a duragao do tempo aumenta, particularmente quando ocorre também 0 aumento da temperatura. Por outro lado a rigidez dielétrica de um isolante sido decresce lentamente com o tempo, quando sob a ago de tensbes elétricas repetidas ¢ da elevagdo de temperatura, A atuagio de todo este conjunto de fatores determina o fenémeno do envelhecimento térmico do isolante, fendmeno este responsivel pelo encurtamento da vida ail das aparelhagens ¢ equipamentos elétricos. Os dielétricos soffem uma deeradacio tenta. de onde Pode resultar uma deterioragdo precoce para um valor de tensto disruptiva pouco superior a tensto normal. 15.2.2 - TIPOS DE DISRUPCAO DIELETRICA DOS SOLIDOS ‘Trés tipos de perfuragaio sto possiveis de ocorrer nos dielétricos slik Disrupsio eletrotérmica Disrupsdo eletroquimica Disrupsao puramente elétrica (intrinseca) [Na pratica a disrupgdo eletrotérmicae a puramente elétrca s8o de maior importincia do que a eletroquimica. Cada tipo de disrupgéo ¢ predominantemente dependente das condigdes a que esté submetido o material sob prova. Assim sendo, em sendo alteradas as condigdes para um dado material pode-se obter como desejado uma disrupeao eletrotérmica ou puramente elétrica. DISRUPGAO ELETROTERMICA: A_perfuragdo eletrotérmica no sélido dielgrico consiste na sua destruigdo provocada pelo aquecimento produzido pelas perdas no dielétrico. ‘Como é sabido a quantidade de calor dissipada por unidade de volume ¢ tempo por um dado dielétrico, submetido a uma tensio alterna (AC) é diretamente proporcional a freqitncia, ao fator de perdas ¢ a0 quadrado da intensidade do campo elétrico , conforme a formula abaixo indicada: P= Ef etg6/1,8x10" Wim’ (15.1) Sabe-se ainda que sOlidos dlelétricos sdo condutores pobres de calor devido a sua baixa condutividade térmica, As perdas dielétricas, como uma regra, aumentam rapidamente com’a elevagdo da temperatura, Tal fato ¢ que toma os dielétricos de sofrerem um proceso de disrupeo eletrotérmica. 175 ‘ 4 4 4 4 ‘ « a 4 a nn te een MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA - Prof. Aelfo Marques Luna ~ Volume [ Sc a uma dada tensHo elétrica 0 isolante & incapaz de buscar um estado de equilibrio térmico interno e se esta tensio elétrica permanece aplicada por bastante tempo, 0 dielétrico certamente seré danificado, Ele se carbonizari ou se fundiré, isto 6, sera submetido a uma disrupgdo eletrotérmica, Concluséo importante: a possibitidade de ocorrer uma disrupgao eletrotérmica depende, portanto, de um balango térmico. Se o calor desenvolvido dentro do diclétrico devido as suas perdas internas exceder todo 0 tempo a quantidade de calor dissipada na atmosfera, uma disrupgao de natureza eletrotérmica é inevitavel, desde que a tensto elétrica permaneca aplicada por um tempo bastante longo. Na maioria dos casos, o modo pelo qual as perdas variam em um dielétrico sélido Pode ser expressa por meio da seguinte equagio, em fungio do “fator de perdas” E(B = Em tg de 5.2) Onde: _e,tg6 € igual a0 fator de perdas do dielétrico na temperatura t, © tg 8, representa 0 fatar de perdas do dielético na temporatura te, © por fim o euefieicite depende das propriedades peculiares do dielético considerado. Deste modo, a quantidade de calor desenvolvida por unidade de tempo em um diclétrico sélido devido as suas perdas intemas variard de forma exponencial, de acordo com a ‘equardo 15.2. Por outro lado sabe-se que a quantidade de calor dissipada pelo dielétrico sélido para o meio refrigerador vizinho serd diretamente proporcional aos seguintes fetores: a diferenca de temperatura existente, a drea da superficie do dielétrico e do coeficiente de convecgao do meio envolvente do dielétrico.. Na Fig, 15.2 as eurvas Q' representam as perdas intemas desenvolvidas pelo dielétrico ‘a reta Q” representa a energia calorifica dissipada pelo dielétrico com o meio ambiente, @ Fig. 182 - Curvas representativas do calor desenvolvide no dieétrico sélido em Fungo da temperatura (curvas @) ea reta_Q" repretentativa do calor disipade ‘como, mele ambiente(Adaptado do livro “Electrical Engineering Materile", de Yu. Koritsky ~ Edt Mir ~ Moscow) Para uma intensidade de campo elétrico retativamente baixo, como E;, 0 calor dissipado fo dielétrco seguird a curva Qs’ e a temperatura no dielétrico subird a um valor ty, no qual 0 equilrio do balango térmico € alcancado, ou seja, a quantidade de calor dissipada ¢ igual aquela desenvolvida internamente no material 176 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA — Prof. Aelfo Marques Luna ~ Volume | ‘Sob esta condigdo e com uma intensidade de campo Es o dielétrico operard sem nenhum perigo de disrupgdo térmica, Teoricamente com a elevagio de temperatura no dielétrico 4s condigdes de arrefecimento melhorario mais intensamente que as condigdes de geragdo de calor interno no dieletrco. Entretanto, mudando-se as condigdes dle resftiamento extemno, tal como a elevagao da temperatura ambiente, refletem-se de imediato com uma redusdo na transferéncia de calor pelo dielético. A sua temperatura pode subir a um,valor , acima da qual o bbalango térmico nfio pode ser mais obedecido e uma disrupgdo térmica podera ocorrer. Para um valor de campo elétrico E2, correspondente a curva Qs’, © balango térmico poderd ser instivel; ele somente pode estabilizar-se na temperatura representada pelo onto de tangéncia da curva Q;’ com a linha reta Q”. Sea intensidade do campo elétrico ¢ levada a valores mais altos, tais como, por exemplo Er, cuja curva de perdas ¢ representada pela curva Qi" , verfica-se que a ocorréncia do balango térmico sera sempre impossivel. Mesmo nestas circunstincias, a disrupeo eletrotérmica nfo se daré de imediato, desde que com a tenso aplicada a temperatura do dielétrico nao sobe instantaneamente a um valor perigaca. Com campo E, maior que E, © dielétrico serd perfurado mais cedo do que sob uma intensidade de campo E, De grande importincia para a disrupcdo eletrotérmica séo as condigbes de arrefecimento ‘8 que esté submetido o dielétrico. Se uma amostra de material dielétrica, de formato plano, testada entre cletrodos planos, a transmisslo de calor pode tomar lugar em duas diregbes, conforme a Fig. 15.3, ou seja, através das bordas e através da parte mais volumosa (parte representada pela sua espessura, ou seja, de um eletrodo para outro). Os fluxos de calor slo indicados pelas setas no sentido longitudinal e tambem ocorrem no sentido do canal central que liga os dois eletrodos. Fig. 15.3 Mecaniemos de dssipasao do ealor aur dielétrico sélido. Canal central de dissipagao me dielétrico me t ttl] AA principal dirego na qual o calor fluird € muito importante. Uma recente teoria para a isrupglo térmica supe que ela € somente possivel onde o dielétrico 6 marcadamente ‘ndo homogéneo, criando assim um ponto especial onde as perdas dielétricas $80 ‘grandemente inerementadas ¢ onde a maior parte do calor gerado é emitido, Este ponto € 0 sitio predeterminado para que se verifique a disrupg4o elettotérmica. DISRUPCAO ELETROQUIMICA: Este tipo de disrupedo nto constitul, estritamente falando, em um mecanismo independente. E compreendida como uma modificasdo estrutural produzida no dielétrico pela elevagao acentuada de temperatura e ambientes imidos. Desenvolvem-se processos corrosivos, de natureza eletrolitica no material e que conduzem 2 redugdo do set isolamento ¢ conseqtiente disrupgao. 17 SOO o 24442484 0244444444044 440484044646006468088 202020088 -MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA — Prof. Alf Marques Lana ~ Volume 1 DISRUPCAO PURAMENTE ELETRICA (INTRINSECA); Esta ocorre quando 0. material dielétrico é submetidos a campos elétricos bastante intensos, da ordem de 10° ‘Vem, quando entio € obtida no interior do dielétrico uma condutividade eletrOnica adicional, O mecanismo da disrupeo puramenteelétrica toma lugar em dois estagios 8) A rigidez dielétrica é diminuida pelo aumento da condutividade que € de natureza eletrOnica para campos elevados; b) Ocorre a destruipao térmica do material, que é um fenémeno secundditio © segundo estigio pode ser atribuido a efeitos térmicos, devidos evidentemente, 20 ‘aquecimento do canal no qual se confina a condutividade estabelecida no 1°. estagio. A destruigao térmica causada pela disrupedo elétrica intrinseca, em contraposig20 com o Que resulta da disrupgao eletrotérmica & 0 efeito da disrupgio ¢ nfo a sua causa, 153. ENVELHECIMENTO TERMICO Existe no mundo inteiro uma preocupago com a durabilidade e o tempo de operagio dos equipamentas elétricos. Devido aos seus custos elevads de aquisigdo c ‘manutengio, ¢ importante analisar estado de cada material (oii combinagio de materiais) eonstituinte dos equipamentos, visando 2 obtengio de informagdes que petmitam estabelecer conclusdes sobre o tempo de vida em operagto dos mesmos. Os materiais ue apresentam uma maior facilidade de degradagdo e envelhecimento sto os materiais isolantes, os quais podem sinalizar de forma significativa o “tempo de vida til" dos equipamentos. Em decorréncia deste fato estudos tem sido feitos sobre o fendmeno de envelhecimento dos materia isolantes, para quantifica-lo de forma mais precisa © ponderar sobre os fatores que influenciam o prolongamento de vida dos mesmos. Basicamente os estudiosos sobre 0 assunto concluiram que a temperatura é um dos fatores mais Dreponderantes no processo de envelhecimento dos dieléticos. ‘Um_ material isolante quando submetido a temperaturas elevadas pode ser Profundamente modificado por transformagbes quimicas, mectnicas © mesmo pode se Yetificar sua combusto ou fusBo etc. Entretanto, bem antes de produzir tais efeitos to definitivos, a temperatura age Ientamente sabre as propriedades diolétricas por meio de uma modificagao progressiva de sua natureza quimica, tendo por resultado a destruigto do material. 18.3.1 - LEI DE MONTSINGER © americano Montsinger, em 1930, estudando os isolantes a base de celulose, tais como, algodto © papel, colocou em primeira evidencia uma lei exponencial regendo 0 processo de envelhecimento com a temperatura, a qual se exprime pela seguinte equagao: L=c.e as.) 178 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA - Prof Aelfo Marques Luna ~ Volume 1 Onde L = duragao de vida, em horas, Ce b constantes e T temperatura. Montsinger constatou que hi uma duplicagdo da velocidade de envethccimento para estes materiais citados, 1 cada elevagdo de 8 °C de temperatura, Para outros isolantes, admiti-se que a duragdo de vida € reduzida pela metade para uma elevapto de : 8°C para isolantes organi 10°C para isolantes minerais com ligantes orgénicos 12°C para isolantes minerais Reciprocamente toda diminuiggo de mesmo valor da temperatura determina uma dduplicagao da vida atil; 153.2- LEI DE DAKIN W. Dakin, em 1948 mostrou que a duragdo de vida L. de um material isolante, ou de um sistema de isolagdo, € uma fungao da temperatura e pode se expresso pela equagio abaixo: LogeL= A+B/T (15.4) ‘Onde A ¢ b so constants. Com efeito se designarmos por C a concentragdo de um corpo em curso de uma reagdio, 2 lei de evolugso de um processo quimico ¢ da forma:: Cid = KC (155) Onde k ¢ a constante de velocidade da reagao e n € um numero compreendido entre 1 3 (n=l para reagdes de primeiro grau, que sio mais freqilentes). Trabalhando com 2 equagio 15.5, tem-se: dC =kCat CIC = kat CIC = k dt loge C + loge Cy = = kt Kt =~ loge C + loge Co Kt =logeCiC, (15.6) onde Co representa a concentragio do corpo ao inicio da reagao, no instante t= 0. De outro lado, partindo-se da lei de Svante Arrehentus (1859-1929 - Prémio Nobel em 1903) que relacionow a constante k com a temperatura T. =Ase WR (15.7) 179 aan 2042428844444444446442844464440468 80006800000 0088 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ Prof Aefo Marques Luna - Volume I Onde cconstante cenergia de ativagio da reago cconsiante dos gases perfeitos temperatura absoluta Kelvin aweP Da comparagao das equapdes 15.6 e 15.1, tom-se: Acte™FT = LogeciCy ‘A cada valor de C corresponde uma alterago determinada das propriedades do corpo, desde que essas propriedades variam com C (concentragao). Pode-se considerar que um isolante toma-se inutilizével quando determinadas caracteristicas elétricas, tais como rigidez dieléirica ou a resistividade, atingem um certo limite inferior. Mas essas caracterfsticas sto clas mesmas relacionadas com as concentragdes dos diversas slementos constituintes do sorpo, & C por enemplo, Tal conelusau vomnlus # afirmagdo de que CofC nto poderé ultrapassar um certo valor, sem que uma degradagao inaceitivel ocorra no material isolante considerado, Pode-se enti considerar log. C/C, como uma constante que faz-se igual a By. tem-se assim: Aate'W™T = loge C/Cy = By WRT = BYA = constante -WIRT + loget = loge Boe Jog. t = log BA, + WIRT fazendo WIR = Be loge Bu/Ao ~ A, tem-se a expresso 15.4; logeL =A +BT ow Vida wil =A.e*" (15.8) Esta relagdo permite ento definit um tempo L, em fungo de 7, além do qual as Aegradagdes do material dieltrico tornam precério seu emprego: Essc tempo denomina- se VIDA UTIL do isolante considerado. A aplicagdo da equacao 15.4 em diversos dielétricos demonstra que ocorre uma redusdo dda duragdo de vidas itil de 30% para todo aumento de T de 8 a 12 °C. Isto é 0 que cfetivamente se permite concluir apés ensaios efetuados, desde hi mais de 30 anos nos Estados Unidos e outros paises. Estas regras devem ser aceitas com prudéncia, Nem todos os especialistas estfo de acordo essas pesquisas € continuam estudando o assunto no sentido de precisar os diversos pontos ainda obscuros desta teoria. 180 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ Prof. Aelfo Marques Luna ~ Volume I Na pritica diversos ensaios so efetuados a vérias temperaturas, acompanhando-se em ‘cada caso as variagdes de uma dada propriedade ( mecéinia, elétrica, etc.) desde que ‘cada uma delas satisfaga um determinado critério de fim de vida, ou que a amostra seja climinada como conseqdéncia de uma falha, os tempos correspondentes so anotados. Em geral, 0 critério de degradagao é escolhido para uma perda de 50% do valor relative da propriedade, Na Fig. 15.4°€ apresentado um grifico da degradagio relativa da propriedade em fungio do tempo de envelhecimento, para diversas. farmilias de temperatura. © critério de degrada¢ao adotado € de 50%,Observa-se que para as altas a curva de degradagto ¢ mais répida. - 1990 - Editions Eyles -Paris- Franga) ‘A iilizagtio da relagto estabelecida por Dakin permitiu estudar a resisténcia térmica de isolantes, Estes ensaios ¢ estuios s4o usados para estabelecer asa rnogdes de classes térmiens dos materiais diclétricos ou dos sistemas dec isolagto. 184 - CLASSIFICACAO TERMICA DOS MATERIAIS ISOLANTES ELETRICOS A estabilidade térmica dos materiais isolantes diz respeito a0 seu. comportamento Perante temperaturas elevadas. Como jé foi observado as propriedades elétricas, Imectnicas e fisicas dos isolantes usados em eletricidade dependem de forma acentuada dda temperatura e como eles ficam frequentemente sujeitos, em servigo, a acentuadas variagdes de temperatura € muito importante conhecer os limites térmicos de um material qual a variagdo relativa das suas propriedades em fungio da temperatura e da sua eapacidade de conduzir calor. 181 A228 222 2444444444484402080460060000008000000000008 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA - Prof, Aofo Marques Luna ~ Volume 1 ‘Materiais de clevada estabilidade térmica ndo alteram suas caracteristicas basicas, que em isolantes sélidos so sobretudo mecfinicas e, nos liquidos, a viscosidade, além das elétricas que s8o fundamentais. Desta forma podem ser utilizados nestas temperaturas limites as quais podem suportar, em condipSes normais de operagao durante a sua vida at Fica, portanto, bastante evidente a importancia de se conhecer a temperatura méxima admissivel de um material, em regime continuo de trabalho, sem que ocorram degradagbes acentuadas de suas propriedades ¢ que possam concorrer para eventuais falhas de funcionamento, A possibilidade de se elevar a temperatura de servigo de um material isolante tem um valor extraordindrio na prética. Nas méquinas ¢ aparelhos elétricos a elevagio de temperatura de servigo, que geralmente € limitada pelos materiais isolantes, dé a Possibilidade de obter uma poténcia mais alta, conservando as dimensBes ou, por outro lado, manter a poténcia, ¢ conseguir uma diminuigo das dimensées e do seu prego. A clevagdo de temperatura tem especial importincia para os motores elétricos de tragio para os equipamentoe constituintes de objetor méveia (avides, trens ete) no quals Us problemas de diminuigto de volume e massa se colocam em primeiro plano. Com as temperaturas méximas tolerdveis estdo também _ligadas intimamente as medidas de seguranga contra incéndio © contra explosées. Finalmente nos fornos elétricos, em dispositivos para aquecimento, nas méquinas de soldar e outros onde altas temperaturas sto necessérias para sua operaglo, em fungao das suas diversas peculiaridades de funcionamento. Por essas razdes, uma das informagdes normalizadas, de maior utilizagto pritica, é a classificagdo térmica dos materiais isolantes, e que indica, para cada material de maior ‘uso, a temperatura limite admissivel. Resultam, assim, de diversos ensaios em miateriais isolantes submetidos a temperaturas criticas, as quais sejam as de amolecimento e de inflamabilidade, e a conseqilente andlise dos fendmenos de envelhecimento térmico do material. A temperatura méxima, até cujo valor, o material ainda possui suas propriedades iniciais Por um tempo suficientemente longo, foi estabelecido pela primeira vez em 1922, pela Norma n. 1, do AIEE (American Institute of Electrical Engineers). A Norma da ATEE distribuia os materiais isolantes em apenas quatro classes, caracterizadas pela temperatura méxima admissivel em servigo. AABNT, pela Norma NBR 7034, de dezembro de 1981, estabelece, de acordo com as recomendages da Comissdo Elétrica Internacional (IEC), Publicasao n, 85, de 1957, “as classes de temperatura dos materials isolantes elétricas utilizados em maquinas, aparelhos e equipamentos elétricos, com base na temperatura mdxima que podem suportar em condigbes normais de operacdo durante a sua vida itil." Alinda de acordo com a Norma 7034 as classes de teraperatura dos materiais isolantes as temperaturas limites sio distribuidas nas seguintes sote classes: Temperatura °C 0. 105 120 130 Bs 130. ‘Reina de 180 9} 3 =| hm] > if 182 (MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ Prof. Aelfo Marques Luna ~ Volume 1 No Quadro a seguir s8o indicados os materiais e seus sucedaneos por cada uma das classes térmicas anteriormente mencionadas: Classe Viaterial ‘Temperatura °C Y | Compreende mateais ou combinagnes Ww {ais como algodto, seda e papel, sem impeegnagio ‘A [Compreende materials ais como] 105 slgodto, seda © papel imersos em liguidos dielicos tais como. éleos| isolantes, ou convenientemente _impeegnades, E [Compreende mateiais ov combinagoes| 120 dos mesmos, cuj capacidade de suporar salisfetoriamente e temperatura atibuia| ‘nsaios ou pela experiéncia B__[Compreende materiis oa combinagies| 130 dos mesmos tis como mica, iba de| video, amianto ete, com aghitinante impregnante ou revetment adequados F_ [Compreende materiais ou combinagbes! 155 dos mesmos, tis como mies, fibea de Video, “amianto es, com aglutinante impregnante ou revestimento adequado HH |Compreende materais ou combinagées| 180 dos mesmes, tas como elasfmeras de ione, mica, bra de vido, amianto ete, com apltinante impregnante 08 revestimestos adequados tas coma resinas de silicone, | Compreende mates ou combinagées| —_>180 dos mesnos, tis como mica, prcelan, video, quarzo, com ou sem aglutnant | inorgnco ‘As materiais mencionadas em cada uma das classes acima, a Norma NBR7034 acrescenta que podem ser incluidos nesta classe outros materiaie ou combinagées dos ‘mesmos , se por meio de ensaio ou pela experiéncia, ficar demonstrado a sua capacidade de suportarsatisfatoriamente @ temperatura atribuida & classe considerada. 15.5 - FATORES QUE AFETAM O ENVELHECIMENTO DOS MATERIAIS Os materiais diclétricos nao respondem somente pelas soicitag6es eléticas que Thes so ipostas, mas desempenham papel importante como suporte mecdinico dos condutores e devern tambérn transmitit os esforgos eletromagnéticos normais ou excepcionais que se exercem durante o funcionamento Devem ainda suportare transmitir aos dispositivos de refrigeraglo 0 calor desenvolvido pelas diferentes partes da aparelhagem létrica (Condutores, circuitos magnéticos ¢ isolantes). Em assim sendo além das solicitagSes de 183 a tt te MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA - Prof, Aelfo Marques Luna ~ Volume t natureza elétrica, juntam-se solicitagdes de natureza mecdinica e térmica, bem como de natureza ambiental que jogam um papel importante na preservagio dos isolantes., ov seja, a agdo da umidade © do oxigénio da atmosfera, a acto das radiagbes UV ¢ da Poluigdo industrial, das radiagdes nucleares da agio de organismos vivos (bactérias, setos, roedores ete). No quadro a seguir aprescntado € feito um resumo destes fatores de influéncia e de modos de funcionamento relativos aos materais de isolagio e que ‘concorrem em conjunto para o processo de envethecimento dos materiais [SOLICITACOES ELETRICAS Tensbes de servigo Sobretenstes (regime transitério) Freqdéncia Descargas parciais Radiagdes ultra-violetas (UV) ‘Tracking Radiagdes nucleares Descargas de contornamento Umidade |SOLICITACOES MECANICAS Pohicain atmasté Esforcos em funcionamento normal: Bactérias,fungos Tensées. de tragdo, compressto, flexto,| Termitas torsto etc, Roedores Esforgos excepcionais de curta duragdo,| SOLICITACOES TERMICAS Jdecorrentes de curtos-cireuitos ou outras | Temperatura méxima causas elétricas. ‘Temperatura ambiente baixa Vibragdes e choques mechinicos ‘Temperatura ambiente alta Esforgos repetidos (fadiga) JChoque térmico © processo de envelhecimento dos materiais pode ser distinguido em dois tipos de fenémenos: envelhecimento fisico e envelhecimento quimico.] No primeiro caso a composigao quimica do materi ‘corte modificagio da composi¢do sob a influent cenvelhecimento quimico se superpde a0 15.6- MECANISMOS DE AQUECIMENTO/REFRIGERACAO DAS MAQUINAS ELETRICAS, Qualquer corpo gerando energia térmica transmite uma parte desta para ao. meio ‘exterior. Nas maquinas elétricas o fornecimento de energia térmica é dados pelas perdas de Joule, pelos efeitos de histerese e Foucault, bem como as perdas de origem mecdnica, Ao ser ligada, @ méquina deve produzir energia calorifica e perde-la até que haja um equillbrio entre a geragio € as perdas, ocorrendo uma temperatura constante que caracteriza 0 seu regime de operagao normal. Antes de mais nada € necessério frisar que uma maquina elétriea no & um corpo hhomogéneo, estando na realidade longe de sé-lo, pois fazem parte dele materiais de bea condugdo de calor como o cobre ¢ 0 ferro, ao lado de maus condutores térmicos como © matcriais isolantes. O estudo de um corpo homogéneo, porém, dard uma idéia do mecanismo de troca de calor. Partindo do prinefpio de que a quantidade de calor Q produzida pela maquina é igual a uantidade de calor usada para aquecimento do corpo da méquina, acrescida da 184 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ Prof. Aelfo Marques Luna ~ Volume I quantidade de calor dissipada pelo fluido refrigerante envolvente, pode-se escrever a seguintes equagiio: Q = mC dofdt + KS (8-8) (15.9) ‘Onde m € massa do corpo, C a sua capacidade calorifica, k € 0 coeficiente de convecgio, Sa érea expost ao anefevimento | Oe 4 temperatura. tempo, respectivamente. ‘A integragio desta equagdo diferencial dé a seguinte solugio: © = 0+ Q/kS(1-e™) (15.10) © aguecimento da méquina segue, portanto, a uma lei de variagdo exponencial, ccaracterizada por uma constante de tempo mC/kS. O aquecimento é tanto mais répido {quanto menor Tor a constante de tempo e inversamente. A construsto da curva de aquecimento € indicada na Fig. 15.5, com a indicagtio de alguns valores particulares: rah 0810828 rei One rO8G yegea Re rat OB t OE rnb OB 97 Fig1SS - Curva de aquecimento (Adaptado do ivro "Coors de Construction da Matériel Eleetrique" de H.Boyer, M. Norbert eR. Philippe - Editions dela Capitelle- Uses-Gard-Franga, A expressto1 5.10 mostra que se t tende para 0 infinito, @ tender para um valor limite de: 8=0,+Q/KS (5.1) Dai conclui-se que a temperatura de regime ¢ diretamente proporcional a Q e inversamente ao produto a dea e 20 coeficiente k de convecgio do corpo considerado. [Nao depende, portanto, da massa e do calor especifico do corpo. Nesta situago 0 calor 185 LALA ARAMA LAKAAARAARALARAAAARLASALOOOALOA4AAREAAAABAAREA ‘MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ Prof Aco Marques Luna — Volume | gerado € igual ao calor dissipado; no se re que: ta mais aumento de temperatura, ¢ tem-se Q=kS 6-8) (15.12) A curva de aquecimento é assintota a reta de ordenada 8, + Q// KS . A temperatura limite € atingida em principio para quando t tender para o infinito, mas pode-se observar que quando t = 8mC/ KS, tem-se 0 valor 8 = Q, + 0,99/kS, onde a temperatura limite & praticamente atingida. Convém destacar a importincia do fator mC com referéncia a velocidade de aquecimento e do fator kS. Se 0 aquecimento € de curta duragio, por exemplo, no caso de curto cireuito, pode-se admitir que 0 corpo nao teve tempo de resfriar-se adequadamente. A equagdio neste caso reduz-se a expresso: Q=me aovdt (15.13) ‘A velocidage de aquecimento pode set muito grande e © aquecimento muito rapido, hhavendo risco de avaria grave no material. A temperatura atingida ao fim de um tempo t € = 0,4 Q1/mC Suponha-se ento que a causa do aquecimento desaparece, a quantidade de calor Q tomna-se nula, 0 corpo quente cede calor 20 fluido refrigerante do ambiente até equalizar as temperaturas. curva de resfriamento é inversa da curva de aquecimento, como mostrado na Fig. 15.6, Quando tende para o infinito, a temperatura do corpo quente tende para a do fluido envolvente, Praticamente para t = 8 mC / KS, tem-se 0 = 8, + 0,001 Q/ KS, ou seja, a temperatura ambiente 6 praticamente atingida, te fe oxantegang || cape onettt-aan ge peg ph 0-8. 501-0908, : sea Fig. 156 - (MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~Prof, Aelfo Marques Luna - Volume 1 Por fim suponha-se um corpo aquecido durante um certo tempo ti, muito curto em relagdo a constante de tempo; a temperatura atingira um valor 6, ¢ o aquecimento se {ard segundo a curva AO da Fig. 15.7. Deixando-se em seguida 0 corpo esffiar-se durante um tempo ts, se obtém a curva de arrefecimento AB. Recomegando-se 0 mesmo ciclo de aquecimento, varias vezes seguido do arrefecimento, as temperaturas méximas atingidas sucessivamente 580 0. 02 8, tendentes a um limite O, evidentemente inferior a temperatura que seria obtida ‘mediante um aquecimento continuo. Este tipo de regime & denominado de intermitente peri Fig. 18.7 - Regime tntermitente peridicn de aguacie a figura 15.3) [Na pritica a constante de tempo térmica das méquinas varia de 0,5 a 3 e 4 horas, sendo maior para maquinas maiores. Exemplos: {Motores de 0.3 2 8000kW_ 25/30 min |Gcradores de 5000 a 30000 KW a) maquinas de pélos sal 25/60 min b) turbo alternadores 25/40 min -Transformadores de 10.8 1000017 a) entre 0 dleo eo ar ambiente 2,5a3h b) entre o dleo e Agua deyih refrigeragio Sa8min /c) entre o cabo e dleo Na Fig. 15.8.€ reproduzido um gréfico representative da curva de aquecimento em fungio do tempo de um pequeno motor de indugto. Verifica-se que as curvas de aquecimento da carcaga e do niicleo atingem 0 equilfbrio a 38 °C, para os enrolamentos ‘a temperatura é aleangada a 52,5 °C; a constante de tempo € de | hora ¢ 40 min. Do exposto resulta que aquecimentos elevados podem ser danosos para a vida itil dos isolantes que compoem a méquina, dai a necessidade de limitar a temperatura de trabalho em regime continuo @ um valor méximo compativel com a estabilidade térmica de tais materiais. 187 an ne 2222200 eoaeesee MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ Prof. Aelfo Marques Luna ~ Volume 1 2a Fine hours ‘Pesrearene mies Tacs Con Fig, 8.8 Curva de aguecimento ( Adaptado do livra "The perfor curreate machines” de M.G. S13) ce nnd design of alternating REFRIGERACAO DIRETA DE ENROLAMENTOS DE HIDROGERADORES O calor gerado durante a operago das méquinas elicas de constriglo convencional édisipado polo an ue age como meio refrigerante. O aquecimento nos componentes individuals € mantide nos limites impostos peas clases térmices dos materiasisolantes empregadon Este metodo de reffigeranto a ar, que € utlizado desde o inicio da fabricasto de méquinaselfricas, presente resultados excelente e acarreta um mfnimo de custos. Com a refigeragdo a ar em circuit bert, necessta-se somente de um ventilador, 0 qual frga a quantiade necesséra deat; na iors doe ‘as, para evitar a coataminagto do equipamento, emprega-se um Filo de a. im sirouitosfochedoa de cefigerag2o nenhum fro ecesdro, sendo que neste circuits o calor & Aissipado em trocadores de calor tipo ar/igua, Por razies ecootimicas, into a poténeis unitiria das mfquinas quanto a sus uilizago vim sendo ‘onstniemente aumentadss. Iso implica num aumento da densidade de correct dos enrolamentes do ‘stator € do rotor, © que se toma possivel ou através de uma clevacio das temperaturas ou ntensificando'e ‘efrgeraco. Como exstem limites esttos para a elevagto de temperetura, apesa: do sprimaraenne dos ‘matriaisisoantes, 6 €possivel aumentarse a densidade de coment lntensffeando a tefrigoragdo, 0 que 5 toma possvel, na refrigerag#o por ar, través do acréscimo da quantidade de ac, do acresciano da Pressio, ou, anda através de um projeto mais elaborado, A refrigeregdo ¢ mais ficient, earetant, se¢ cl—si—cl I CHs Dimetildiclorosilano 217 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ Prof. Aelfo Marques Luna — Volume 1 Como ja foi dito a segunda fase do processo ¢ constituida da hidrélise ¢ da polimerizagdo dos metilclorosilanos. A hidrolise dos metilclorosilanos conduz a formago de silanoxilas ou sinanoles (que so compostos derivados organosilicicos que contém radicais hidroxilas OH, por remanejamento de atomos de cloro por grupo de hidroxilas). Assim tem-se a seguinte reagao de hidrélise, obtendo-se o dimetilsilanodiol mais acido cloridrico, como subproduto: cH CHS | l Cl—Si—Cl + 2H,0 > HO—Si— OH + 2HCL 1 | CH cH Dimetildiclorosilane Dimetilsilanvdict Entretanto, estas silanoxilas no so estiveis e se condensam entre si, com eliminagao da Agua, para dar lugar aos siloxanos (isso ocorre quando os étomos de silicio esto enlagados entre si por um atomo de oxigénio). No exemplo dado, o dimetilsilanodiol tem a seguinte reacdo de polimerizagio por condensagdo: CH CH) CH) CH; CH, CH NZ i N37 So \ 7 si i aa fN 3 I E desta forma se obtém os enlaces do tipo: CHy va ‘CH ee & CH CHs 2. RO PRD ER ON, Ou chamando de R um radical orgénico qualquer (metil, fenil ete) a formula geral dos polisiloxanos ou silicones é: R R Ny if \, i ‘, i a i fo No ZN | ™~, w~ 0” ‘Ou de forma simplificada: CH sadebibod. a da 218 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA — Prof. Aelfo Marques Luna — Volume I 17.7- DIFERENTES TIPOS DE SILICONES Os silicones se apresentam sob as seguintes diferentes formas: © Resinas Fluidos ou dleos Elastémeros Graxas ‘As resinas de silicone sio geralmente liquidas a temperatura ambiente. Sao termoestiveis e polimerizadas podem suportar temperaturas bastante elevadas. Sob a forma de peliculas se constituem vernizes de cobertura hidr6fugos, com excelentes propriedades dielétricas. Sio altamente reviotentes a umidade © as intemperies, eit ‘como produzem uma pelicula dura. Em contato com 0 oxigénio do ar ou com 0 oz6nio apresenta notaveis qualidades de resisténcia, assegurando um envelhecimento quase nulo, Sob a forma de fluidos ou éleos os silicones se apresentam incolores e viscosidade muito varidvel, compreendida entre 0,65 a 10° centistockes. Os liquidos de muito baixa viscosidade so relativamente voléteis, entretanto, a partir de 50 centistockes, sua volatilidade ¢ muito pequena. Suas caracteristicas fisicas permanecem constantes dentro de uma ampla faixa de temperatura. Sao liquidos hidréfugos e apresentam ponto de inflamagao bem superior ao do éleo mineral, cerca de 360 °C. Ao inflamar-se o fluido de silicone autoextingue-se com a formagdo de uma pelicula de silica sob a superficie do liquido em combustio, impedindo progressivamente o seu contato com 0 oxigénio. O uso dos fluidos de silicone em transformadores de forga despontou como uma alternativa para substituigio dos ascareis, cuja utilizago foi praticamente proibida em todo 0 mundo, devido as suas caracteristicas t6xicas (vide eap. XIV). Os elastOmeros de silicone so moléculas lineares gigantes, na qual m (numero de meros associados em cadeia) pode atingir a valores proximos de 5000. Os radicais orginicos entrelagados sio de metil, portanto os elastémeros de silicone sao dimetilpolisiloxanos, anteriormente estudados neste capitulo. Estes produtos tem aspecto ¢ propriedades semelhantes a da borracha, dai a denominago de elastémero ou borrachas de silicone. Apresentam um alongamento de 100 a 800 %, operam numa faixa itil de temperatura entre ~115 @ 315 °C. Excelentes propriedades elétricas, ademais so resistentes as intempéries e aos éleos lubrificantes, As graxas de silicone sio obtidas adicionando-se aos fluidos de silicone uma massa especialmente selecionada por sua estabilidade. Caracterizam-se por excepcional resisténcia ao calor ¢ muito pequena variagdo de consisténcia, significando dizer que ni tem a tendéncia de fluir por ago do calor, nem de endurecer. So insensiveis a égua € tem grande resisténcia a oxidagio, So fabricados os mais diversos tipos de graxa de silicone: para rolamentos, para lubrificago em condigdes especiais e como material ara tomar hidréfobos as superficies dos isoladores usados em regides altamente poluidas. A poluigao dos isoladores nas linhas de transmissio inicia-se porque a agua forma sobre © Isolador um filme continuo de agua (que pode ser proveniente da umidade ou de eventuais chuvas), conforme se pode observar na Fig. 17.5 (a). Em seguida ocorre a absorgdo dos poluentes existentes na atmosfera que se depositam neste filme de Agua, 0 219 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA — Prof. Aelfo Marques Luna ~ Volume I qual seca e se umidifica em diversos ciclos que se repetem, conduzindo a formagtio de caminhos condutivos, que so seguidos de abertura de arcos superficiais, 0 que poderd acarretar falha no isolamento. A aplicagZo da graxa de silicone sobre a superficie dos isoladores, conforme Fig. 17.5 (b) evita a formagéo de um filme continuo de égua (observa-se que agua no molha o silicone; forma pequenas goticulas na superficie da graxa). Em segundo lugar os elementos poluentes (pés, particulas sdlidas, etc) absorvidos incrustam-se na massa da graxa, que tem uma certa consisténcia macia e ficam isolados entre si pela propria massa da graxa, evitando a formago de caminhos condutivos timidos sobre a superficie do isolador que fica assim mais protegido da degradagio. Fig. 178 ~ (a) Superficie do isolador de porcelana molhads. Obserya-se a formagio de um filme continuo de agua sobre a superficie da poreelana. (b) O isolador foi recoberto por uma camada de Braxa de silicones ¢ observa-se que & agua no motha 0 isolndor. Sto formadas goticulas de agua Sobre a sua superticie e gracas a sua consisténcia macia os pds e ass particulas poluentes incrustam. #09 graxa ¢ nfo formam caminhos condurivos. CONCEITOS CHAVES Plastico Plasticos termoplasticos Plasticos termoestaveis és de moldagem (molding powder) Massa de enchimento Plastirizantes Estabilizadores quimicos Corantes e catalisadores Retardadores de inflamago Lubrificantes Moldagem por compressio Moldagem por injego Moldagem por extrusio Moldagem por sopro Moldagem por deformagao a vécuo Calandragem Silicones Organopolisiloxano Resinas de silicone Fluldos de silicone Elastémeros de silicone Graxas de silicone 220 men en mem eemeeenonnen nnn ~~ MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ Prof. Aelfo Marques Luna ~ Volume I QUESTOES PARA ESTUDO 17.1— 0 que é um material plistico? O que ele difere de um polimero? 17.2 ~ Quais s80 05 componentes do pléstico? 17.3 ~ Explique a fungto dos retardadores de inflamasdo utilizados na composigo do pléstico? 174— Qual a fungo dos plastrizantes usados na fabricago dos plisticos? 17.5 ~ Enumere os principais procedimentos industri Utilizados para obtengto de produtos plasticos. 17.6 ~ Descreva de forma sucinta 0 processo de moldagem por extrustio ¢ destaque a sua importincia, 17.7 - O que so 0s sificones? 17.8 ~ Qual a dferenga entre os enlaces de Si-O © C-C e a vantagem decorrente? 17.9 — Enumere algumas das propriedades mais importantes dos silicones. 17.10 Como se apresentam os silicones para uso industrial no campo da engenharia elétrica? 17.11 ~ Porque os fluidos de silicone sto considerados tecni ascarcis? smente uma boa soluedo para substituir os 1712 ~ Descreva sucintamente a vantagem de recobrir os isoladores de linhas de transmissto com graxa de silicone, em regides altamente poluidas. 221 ‘MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA —Prof. Aelfo Marques Luna Volume I CAPITULO XVIII ais vezes, a umidade do ar circundante, os esforgos mecanicos a que o I dielétrice etd sujeito ¢ as préprias condigbes de servico influem negativamente sobre as caracteristicas dos materiais isolantes. Deste fato resulta a grande importincia eo vasto emprego dos vernizes dielétricos e das massas “compound”, como uma das formas mais recomendadas de protesdo dos isolantes sélidos sujeitos aos efeitos de tais fatores externos. Vernizes de composicio © comportamento diversos derivam do uso de polimeros, os quais sio aplicados no estado liquido, solidificando-se na sua forma final. As massas “compounds”, os betumes, asfaltos e ceras também desempenham importante fungao como elementos inihidores da ayia da umidade o agentes de dissipasio do calor. 18.1 - OS VERNIZES Os vemnizes compdem-se de solugdes coloidais de resinas, de dleos ¢ de outros elementos aos quais € acrescentado um solvente para se obter um liquido de comportamento adequado a aplicagdo a que se destina. Pode-se também afirmar que os vemnizes so solugdes poliméricas (resinosas) susceptiveis de formar peliculas (filmes) com solventes orginicos especiais. © solvente, aps a aplicagdo se evapora, motivo pelo qual o verniz endurece, num Periodo de tempo varidvel de acordo com o solvente e os métodos de secagem empregados. Os vernizes tém, portanto, uma parte volétil que desaparece pela evaporacdo, restando uma parte que permanece sélida. ‘Tem-se assim a equagiio abaixo representativa do comportamento dos vernizes no seu processo de aplicago: VOLATIZA ¢" 0 RESINA + SOLVENTE "=@@SOLIDO + SOLVENTE PELICULA OU IMPREGNACAO Em todas as suas aplicagdes os vernizes devem apresentar uma elevada rigidez dielétrica, pequena higroscopia e suficiente elasticidade residual. Outras caracteristicas deverdo possuir, de acordo com o seu emprego especifico. Um verniz é constituido essencialmente de uma base e de um solvente. Denomina-se base de um verniz, o elemento isolante principal de que & constituido, ou seja, um olimero ou resina. Os melhores vernizes isolantes sfio de base sintética e entre estes se +, destacam os seguintes: 222 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA -Prof. Aelfo Marques Luna— Volume I Poliésteres Epoxis Alquidicos Fendlicos Silicones Os vernizes com base asfaltica ¢ a base de resinas naturais sdio em geral mais baratos, mas so inferiores as qualidades com que se apresentam. Chamam-se de “s6lidos” as substincias que, apés a eliminagio do solvente permanecem formando 0 isolamento. Um bom verniz. deve apresentar um teor minimo de 30 a 40% de sélidos Os vemnizes isolantes encontram um vasto campo de aplicago no setor eletro- eletrénico, tanto para fins de protesio, como de acabamento. Por meio de uma escolha cuidadosa ¢ criteriosa do verniz, pode-se obter uma melhora consideravel das propriedades elétricas, mecéinicas, quimicas e témicas do equipamento ou do componente ¢letro-eletrénico. As vantagens que se obtém com a aplicagio de um verniz isolante sAo as seguintes: Melhoram as propriedades dielétricas do conjunto; Asseguram maior protecdo contra a umidade; Rediuzem a degradacdo dos elementos do conjunto devido & penetracao do ar: Protegem contra a corrosdo proveniente de atmosferas poluidas; Evitam os danos causados pela contaminagdo por fungos: Evitam 0 movimento das partes componentes de um equipamento elétrico, rincipalmente no caso de motores, avawnen 18.1.1 -CLASSIFICACOES DOS VERNIZES Como jé salientado 0 isolamento aplicado sob forma de verniz tem grande influéncia sobre a vida til dos equipamentos elétricos. Ainda que o conceito usual de verniz seja de pintura de uma superficie, os vernizes para isolamento elétricos so também empregados para preencher espagos nos isolamentos porosos e fibrosos, para encher os. intersticios de uma bobina na montagem de transformadores e de todas as formas de aparelhos rotativos. Outra finalidade do vemiz é produzir uma camada isolante sobre 0 condutor. Finalmente os vernizes tém também a propriedade de unir espiras de uma bobina ou colar materiais dielétricos entre si, tais como a mica colada sobre o papel, que resulta hum material isolante denominado de “micafolium”. Os vernizes so usados, portanto, para encher vazios existentes nos dielétricos, cobrir dielétricos ¢ condutores e colar dielétricos, produzindo um isolante elétrico dificil de ser obter por outros meios. Os vernizes podem ser classificados em trés grupos, segundo a sta modalidade de aplicagdo, ou seja: vernizes de impregnacio; vernizes de cobertura e vernizes de solagem, conforme apresentado na Fig. 18.1. Os vernizes podem ainda, de acordo com os métodos de secagem, ser agrupados em dois outros conjuntos: vernizes de sceagem a0 ar e vernizes de secagem por meio de calor. 223 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA -Prof. Aelfo Marques Luna ~ Volume I Fig. 18.1 VERNIZES DE IMPREGNACAO Destinam-se os vernizes de impregnago a precncher os vazios entre as fibras de ‘materiais isolantes, fibrosos ou porosos utilizados como dielétricos. A penetragio do verniz entre as fibras ou poros do material sob tratamento, aumenta a rigidez dielétrica e a condutividade térmica, reduz a higroscopicidade e fortalece a resisténcia térmica das fibras organicas do material, Portanto, a finalidade priméria dos vernizes de impregnagdo ¢ substituir todo o ar existente nos poros e nos intersticios entre as fibras do material REQUISITOS: Elevado netracto, boa condutis higroscépico e ter uma boa resisténcia mecdnica, A impregnagao de um material é feita apés a prévia retirada do ar e da umidade do seu interior. A quantidade ¢ qualidade da impregnagao dependem da adequada secagem (a0 ar ou por meio de estufa/vacuo) e da capacidade de penetragao do verniz usado. Vale ressaltar a importdncia da impregnagdo dos dielétricos: a maior parte dos isolantes é vida de umidade € a absorvem rapidamente do ar circundante, na temperatura ambiente, desde que os equipamentos/aparelhos elétricos estejam desligados. Deste modo ¢ indispensével que os isolantes se mantenham com as qualidades obtidas pela secagem, por meio da impregnago. Em segundo lugar os isolantes sélidos apresentam oclusdes de gases e de ar (vactolos), como por exemplo, entre as camadas de papel. 5 nevessirio preencher esses alvéolos por um corpo de material impregnante com vista de evitar a ocorréncia de descargas parciais. Acrescente-se ainda que 0 uso de um produto de impregnagdo, de constante dielétrica vizinha daquela do isolante, permite uma maior uniformizag#o do campo elétrico, evitando-se o surgimento de descargas locais, Por fim a impregnagio além de proporcionar methoria das propriedades térmicas, também Proporciona uma melhoria das propriedades mecénicas, uma vez que, com a complementagao do volume por um material sélido (preenchiments dos vazios), a transferéncia de tenses mecdnicas se faz em toda segio aplicada, o que reduz a concentragdo de esforgos ¢ eleva os valores que podem ser aplicados idade_térmic co 224 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~Prof. Aelfo Marques Luna — Volume I VERNIZES DE COBERTURA Os vernizes de cobertura servem a varios propésitos. Alguns so usados para criar uma pelicula dura ¢ lisa, com a qual se protege um dielétrico previamente impregnado, Esta pelicula prové o dielétrico de uma cobertura resistente a égua, aos agentes quimicos, ocira, sujeira e agentes corrosivos, bem como proporciona uma proteg#o contra as descargas (spark ) superficiais. Sendo a sua superficie lisa, toma-se mais dificil a deposigao de pociras e outros detritos, além de facilitar a limpeza. Quando aplicados sobre superficies metalicas recebem a denominagaio de ESMALTES © so utilizados no isolamento de condutores empregados em bobinagens (fios esmnaltados) e de chapas metilicas dos circuitos magnéticos. REQUISITOS: Devem apresentar uma boa resisténcia mectinica superficial e como elemento externo, ser liso e ter boa aparéncia. Sua higroscopia deve ser baixa ¢ letricamente apresentar uma rigider dielétrica e resisténcia contra as descargas Superficiais elevadas. Quimicamente deve ser estivel e ter boa resistencia ao ataque de lo ar. A aplicagao do verniz de cobertura deve ser precedida de uma limpeza cuidadosa das Partes sobre as quais desejamos depositar o filme protetor do verniz. VERNIZES DE COLAGEM A fungdo destes vernizes 6 a de unir dielétricos de pequenas dimensdes, tais como plaquetas de mica ou de isolantes colados sobre metais. REQUISITOS: Além do elevado poder de colagem que devem apresentar, necessitam ter boas caracteristicas dielétricas e pequena higroscopia. Na aplicagao pritica dos vernizes pode-se observar que so sempre encontrados produtos, cujas caracteristicas se enquadram em mais de um dos requisitos analisados para cada tipo de verniz, isto porque nenhum verniz apresenta-se somente como sendo de impregnagiio, ou s6 de cobertura ou de colagem, Os vernizes industriais apresentam uma combinagao dessas caracteristicas. Na escolha de um verniz para satisfazer um conjunto de qualidades especificas, a parte técnica deve scr a principal. Quando muitos vernizes satisfazem a um mesmo conjunto de requisitos técnicos a escolha final deverd recair preferencialmente pelos ‘mais econémicos. A comparagio econdmica de um verniz faz-se em relago a0 conteédo de 225 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA -Prof. Aelfo Marques Luna — Volume I Sélidos. Como se sabe os solventes sto expelidos durante 0 proceso de secagem ¢ somente 0s s6lidos que o verniz contém é que formario a pelicula isolante, ou o enchimento (dos vazios) ou a ligagdo. Portanto, & 0 teor de sdlidos (informado em Porcentagens nos catilogos dos fabricantes) 0 critério exalo para a comparagdo econémica de verniz. Quanto m: seré 0 isolamento produzido. for o teor de sélidos de um verniz, mais econdmico 18.1.2 ~ CUIDADOS NA APLICAGAO DOS VERNIZES Ao se pretender aplicar qualquer tipo de verniz, devem ser tomados certos cuidados: 1) E muito importante que 0 verniz. seja compativel com ac outras partes componentes do sistema de isolagdo. Um exemple disso € aquele diretamente ligado ao enrolamento feito com fio magnético esmaltado, Neste caso é muito importante a compatibilidade do verniz de impregnagdo com esse esmalte para que no possa ocorrer um ataque quimico do solvente usado, prejudicando a isolagio do equipamento elétrico. 2) O corpo a ser impregnado, recoberto ou colado deve estar limpo, livre de poeiras e umidade. 3) Toma-se necessdrio a eliminago da umidade que penetrou no corpo, sempre que este € fibroso ou poroso. A umidade é eliminada em estufa, ou perante o vécuo e temperatura apropriada ao material. O tempo necessério 4 secagem depende da geometria e do volume do material. 4) O verniz escolhido deve ser adequadamente adaptado ao material base. Se o material base € poroso ou fibroso, o primeiro verniz deve ser de impregnagdio; caso se necessite de um melhor acabamento superficial, pode-se aplicar, numa segunda fase um, verniz de cobertura. Tratando-se de corpos compactos, como as porcelanas elétricas, os métais ¢ Outros o verniz seré unicamente de cobertura. Fibras sintéticas, micas ¢ outros materiais de fibras compactas deverao ser usados vernizes de colagem. 3) Uma vez seco ¢ uma vez sclecionado o verniz correto, o material isolante poderd ser impregnado, recoberto na propria estufa, mediante a injego do verniz, ou sendo retirado da estufa e imerso em tanque préximo, contendo o verniz apropriado. A proximidade desse tanque da estufa ¢ condigao basica para nao se ter uma nova contaminagio do material isolante a ser protegido pelo verniz. 6) Se o verniz for de secagem por meio de calor, 0 material deve ser introduzido novamente na estufa para que se realize a climinag#o do solvente, novamente sob condigdes de presso ¢ temperatura, agora ajustadas ao solvente, que em geral, evapora 4 tempcraturas inferiores aquelas que limitam a estabilidade térmica dos materiais base ‘ou componente ao qual foi aplicado. A operagio de secagem pode também ser realizada, secando-se 0 vemniz temperatura ambiente ¢ & pressio atmosférica, Neste caso a secagem é lenta e 56 & possivel quando o solvente evapora a temperatura ambiente (exemplo: Alcool usado como. solvente da goma-laca). Os vernizes que secam ao ar, geralmente softem rapido envelhecimento, ¢ sio denominados de “lacas”, Com a eliminagao do solvente ocorre uma redusio da massa do verniz, que passa a ser apenas resina e nesta etapa surge um dos malores problemas que é a formagao de canais capilares ou de bolhas intermas ao verniz. Estas bolhas tornam-se elementos de ficil ‘onizagto e focos de descargas. Esta questio exige por parte das indistrias precauses 226 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA -Prof. Aelfo Marques Luna ~ Volume I especiais, para que © produto, sobretudo quando opera em altas tenses clétricas, presente qualidades isolantes condizentes com a responsabilidade que o material ird desempenhar. 18.1.3 - METODOS DE IMPREGNAGAO Existe grande variedade de instalag6es diferentes para impregnago e cura dos vernizes. ‘A seguir sfo apresentados esquematicamente os tipos mais importantes de instalagbes. 1-Instalacdo de impregnacio por imersio: consiste de um tanque, cheio de verniz de impregnagdo e de uma grelha para suporte e transporte das pecas a impregnar. Estas so mergulhadas no verniz ¢ permanecem até que nfo ocorra mais desprendimento de bothas de ar, As pegas siio entio retiradas e deixadas escorrer numa bandeja, onde o excess de vemiz volta av tanque. A operagdo desta instalagdo tom 0 inoonveniente de ser intermitente, ou seja, uma nova partida de pegas s6 pode ser imersa no verniz. depois, de concluida toda etapa anteriormente descrita, A Fig. 18.3(a) ilustra este método. B SLE Beles BBIRA t BRIRA imine. = @) (6) Fig. 18.3 (a)Anstalagao de impregnaso por imersfo. (b) ~ talagho de Nuxo e retluxo 2- Imstalaciio de fluxo e refluxo: E semelhante ao sistema de imersdo, todavia as pegas no so mergulhadas no verniz de impregnago, mas 0 nfvel do verniz.é elevado depois, que as pegas se encontram no tanque de impregnagao. Para o escoamento, o nivel do verniz € novamente abaixado. As pegas sio entio levadas diretamente do tanque & estufa de cura. Devido a elevagao lenta do vemiz, 0 ar é expelido mais rapidamente das pegas e, devido ‘ao abaixamento do nivel, obtém-se uma aplicag&io uniforme do verniz. E dispensével 0 transporte das pecas para o escorrimento. Esta instalagdo tem a vantage de ter uma operago continua, pois, enquanto se efetua a impregnagao num dos tanques, no outro tanque ao lado é feito o carregamento de um nova partida de pegas. A Fig. 18.3 (b) ilustra este método. 3- Instalagio de vacuo e pressiio: A operagio de impregnagdo é acelerada por meio de aplicagao de vécuo e pressdo. Este método assegura que os materiais isolantes fiquem plenamente impregnados. A Fig. 18.4 ilustra esquematicamente este método. A secagem do material se da na autoclave 3, onde so extrafdos o ar e a umidade com a bomba de vacuo 9. Quando termina a secagem dos materiais se abre A chave de passagem 2 do 227 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA -Prof. Aelfo Marques Luna ~ Volume I tubo que une a parte inferior da autoclave com 0-depésito 1 onde se encontra 0 verniz, Este Ultimo ¢ impulsionado pela presstio atmosférica para a autoclave.. Depois se desliga a bomba de vacuo e fecham-se as chaves 2 ¢ 6 e se abre a chave 7 e entio o Yeniz que esti na autoclave se submete a presses elevades por meio de um compressor, ou de um cilindro de gis carbénico comprimido 8. Deste modo a impregnagio é mais répida e profunda. © aquecimento da autoclave no é interrompido ara conservar © verniz, em estado suficientemente viscoso, até que se finalize 0 processo de impregnagaio, Fig. 18.4 - Esquema de uma instalagdo para impregnacto utilizando o vacuo e a pressio. 1. Tanque fontendo o verniz; 2.chave de passagem do tubo de aspiracao do verniz; 3.estufa de secagem € impregnadora (autoclave); 4. visor; $. manometro; 6. chave de passagem do tubo a bomba de vécuo; 7. chave de passagem do tubo de gis comprimido; 8. garrafio de gis comprimido; 9. bombs de vicuo, (Figura adaptada do livro Materiales Electrotéenicos de N.P.Bogoréditski, VV, Pésinkov ¢ BM, Taréiv Edt. Mir - Moscou). Ainda podem ser citados os seguintes métodos de impregnagéo: Por irrigaso: Impregnago por meio de um jato de verniz. : Por imersio das eabecas das bobinas: Imersio em recipiente raso com verniz de impregnagao.. Por impregnacio continua: Também por imersio, sendo que neste caso as pegas sto Penduradas numa corrente transportadora e passam pelo tanque de impregnagaio, do qual entram ¢ saem. Na safda 0 excesso de verniz. escorre numa chapa inclinada, retornando a0 tanque de impregnagao. A cura é feita pela passagem através de uma estufa. E um rocesso industrial de produgaio em escala. Citam-se ainda 0 processo de impregnacio por gotejamento ¢ outros semelhantes, 18.2 - MASSAS “COMPOUNDS” Sto utilizadas para impregnae%o ¢ como material de enchimento em equipamentos clétrcos, As massas “compounds” diferem dos vemnizes de impregnag2o porque nio utilizam solventes, liquefazendo-se seus componentes pela ago térmica Sio constitufdos por diversas resinas, betumes, ceras, leas ete. Se a massa “compound” & sblida em seu estado inicial, antes de utliza-ta ela é aquecida até uma temperatura necessiria para obter-se uma pasta de viscosidade suficientemente baixa para a sua aplicagao, 228 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA Prof. Aelfo Marques Luna — Volume 1 Para ainda melhor distingui-los dos vernizes, as massas “compounds” néio podem formar filmes, porque apresentam um tempo de secagem muito longo e além do mais. quando em pequenas espessuras se tornam quebradigas. Atendendo a sua aplicagdo as massas “compounds” se dividem em dois grupos: * “Compounds” para impregnagio, cujo fim € anilogo ‘ao dos vernizes de impregnagao; © “Compounds” de enchimento (ou recheio) cujo fim ¢ de enchimento de cavidades relativamente grandes, ou seja, ocos existentes entre os distintos elementos das méquinas ¢ aparelhos elétricos © para obter recobrimentos (encapsulamento) de pegas, aparelhos ou equipamentos elétricos. O uso da massa “compound” tem por objetivo a prote¢do dos isolantes contra a umidade e a ago das substincias quimicas ativas, aumentar suas caracteristicas dielétricas e melhorar as condicdes de extrac de calor dos equipamentos As massas “compounds” podem apresentar comportamento termoplastico ou termoestavel. Cronologicamente as massas “compounds” mais antigas que foram empregados pela industria létrica foram os betumes (veja item 18.3 mais adiante neste capitulo) com temperatura de amolecimento determinada. As massas “compounds” betuminosas sao empregadas para impregnar os enrolamentos dos estatores das méquinas eléiricas Comparados aos vernizes de impregnagdo estas “compounds” asseguram um isolamento com muito maior resisténcia a umidade e impermeabilidade, desde que ao esfriar-se depois da impregnagii se solidificam totalmente sem a formagdo de poros ou canais de fuga, os quais ocorrem freqtientemente quando 0 solvente do verniz se evapora do material no processo de endurecimento, As massas “compounds” betuminosas no servem para impregnar os enrolamentos dos. rotores, devido a sua termoplasticidade e sua baixa estabilidade térmica (amolecem a 100 °C e se liquefazem a 150 °C). O betume ao ser aquecido na temperatura de servigo da maquina, pode amolecer ¢ ser langado para fora dos enrolamentos pelas forgas centrifagas que atuam nos rotores. Para melhorar um pouco a resist€ncia ao calor adiciona-se ao betume 6leo de linhaga. Limitando sua temperatura maxima de operagao 120°C. Quando os espagos. livres entre os enrolamentos dos equipamentos elétricos ¢ suas caixas sto preenchidos com “compounds”, as condigdes de extrago do calor melhoram notavelmente., em virtude da qual se pode elevar a poténcia do equipamento. O betume misturado com areia de quartzo tem sua condutividade térmica extremamente elevada e a temperatura de amolecimento da massa também aumentada. Suponha um equipamento eletromagnético, constituido de enrolamentos colocados no interior de uma carcaga metalica. Experiéncias realizadas com um tipo de equipamento como o acima descrito, ¢ no qual a massa “compound” preenche os vazios entre as bobinas, apresentou os resultados a seguir enumerados quando submetido a determinadas condigGes nominais de regime operacional. * Sem utilizar massas compounds. O espago entre as bobinas e a carcaga do aparelho é ocupado pelo ar. Nas condig&es nominais de regime operacional, para uma dada corrente a temperatura do equipamento atingiu 100 °C. * . Preenchendo os vazios com betume puro, a temperatura alcangada pelo aparelho foi de 70 °C, nas condigdes nominais de regime operacional, para ‘uma mesma corrente. 229 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA —Prof. Aelfo Marques Luna — Volume I ‘+ Finalmente, preenchendo os vazios com o betume mais a areia de quartzo (na proporgo de uma parte de betume de trés partes de areia) a temperatura registrada foi de 45 °C, nas condigdes nominais de regime operacional para uma mesma corrente. A experiéncia acima descrita comprova que a poténcia nominal de um equipamento elétrico pode ser grandemente elevada quando um isolamento elétrico de alta condutividade térmica é utilizado. Existem ainda as massas “compounds” termoestiveis. Para este tipo de massa, depois da operagdo de enchimento o material, ao endurecer a massa torna-se insoliivel ¢ infusivel. Sto usados extensamente como isolamentos em equipamentos elétricos de alta voltagem, onde asseguram as seguintes caracteristicas: Alta resisténcia mecnica + Alta resioténoia ao calor * Excelente confiabilidade operacional * Alta resisténcia a umidade As massas “compounds” termoestéveis so largamente utilizadas para impregnagio, enchimento de vazios encapsulamento de numeras peas e equipamentos elétricos, tais. como transformadores secos, TC’s e TP’s, isolamento de méquinas elétricas a prova de gua, capacitores e componentes diversos de eletronica. O artigo elétrico a ser encapsulado € colocado dentro de um molde fechado, e em seguida o molde é preenchido com a “compound” que se solidifica sob a ago de calor ¢ pressio: Por fim, © molde ¢ retirado e 0 material fica encapsulado, Entretanto, vale frisar que o encapsulamento com“compounds” termoestveis dificulta eventuais reparos em caso de perfuragdo elétrica ou outra causa deteriordvel. Quando tal acidente ocorre a pega tem que ser substituida por outra.. Dentre as numerosas resinas sintéticas existentes a mais largamente usada como massa “compound” termoestavel é a de epéxi. Consiste na resina liquida de epéxi, com massa de enchimento de areia quartzosa, plastirizantes (para dar maior fluidez & massa durante a moldagem) e catalisadores especificos. Citam-se também como usadas como “compounds”, com excelentes resultados, as resinas de ‘silicone e de poliéster, adicionadas de massas inertes ¢ outros componentes. Na técnica de isolag&o de cabos de poténcia, de alta tensio, com isolamento estratificado de papel, utilizam-se “compounds” de impregnago a base de dleo mineral, onde séo adicionadas outras resinas sintéticas ou colofonio (material resinoso, residuo da destilagio de terebintinas), Esta mistura é denominada de “pasta de impregnagao para cabos” ¢ muito usado no isolamento dos cabos de alta tenso, tipo OF. ‘As massas “compounds” sao usadas também para enchimento de caixas de derivagao ¢ terminais (muflas). Neste caso o material usado € o betume, que confere uma alta resisténcia a penetragdo da umidade e melhora a performance dielétrica do conjunto. 18.3 - BETUMES E ASFALTOS Betumes so substincias amorfas, formadas por misturas complexas de hidrocarbonetos de cor negra, com propriedades similares as resinas. Sdo frdgeis, extremamente quebradigos a baixas temperaturas, porém amolecem quando a temperatura se cleva, Os betumes podem ser artificiais (resultantes da destilagiio do petrleo) ou naturais, obtidos por extrago mineral. Neste iltimo caso so denominados de asfaltos e possuem 230 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA -Prof. Aelfo Marques Luna — Volume I usualmente impurezas minerais e sto encontrados cam freqiiéncia perto dos campos petroliferos, desde que se originam do petréleo, Os betumes sio soliveis em hidrocarbonetos aromaticos, tais como benzeno, tolueno, nafta e muito mais dificilmente pela gasolina. Os betumes nio sao resistentes aos dleos, entretanto, so completamente insoliveis na agua e no dlcool. Apresentam uma baixissima higroscopicidade. Uma fina camada de betume apresenta uma inacess{vel barreira 4 penetrago da agua. Quando usados como vemizes ou compostos para impregnagio, particularmente na impregnagio de enrolamento de méquinas de alla rotagdo elétrica, ha o perigo do betume toma-se mole, devido a sua termoplasticidade, ¢ ser injetado sob a ago das forgas centrifuges. Os betumes apresentam uma excelente condutividade térmica, portanto, grande facilidade como agente de refrigeragio. Os betumes silo empregados para fazer vernizes e massas “compounds’/ Algumas caracteristicas dos betumes: Peso especifico de 1,4. 1,7 g/cm? Constante dielétrica: 2,5 a3 Angulo de perdas da ordem de 0,01 Rigidez dielétrica de 100 a 250 kV/em Resistividade de 10" a 10'*Qm Amolecem sob a agdo do calor a partir de 30 a 140 °C, segundo a sua composigao + Suas moléculas so debilmente polares. 18.4 -CERAS As ceras so substincias orgénicas de natureza complexa, sélidas, facilmente fusiveis, de estrutura cristalina e baixa resisténcia mecnica e higroscopicidade. As ceras apresentam a caracterfstica geral de possuirem um baixo ponto de fusiio, o qual facilita 0 seu emprego. A baixa temperatura, sua rigidez dielétrica € boa, oferecendo elevada protegdo 4 penetragiio da umidade. Quanto as caracteristicas mecénicas, seus valores so baixos, nao oferecendo a necesséria proteso, As ceras podem ser de origem natural ou sintética. De origem natural, menciona-se a cera das abelhas (origem animal) ‘a qual tem limitado campo de aplicagdes como isolante. Funde a 63 °C. As ceras de carnatiba, de origem vegetal, so extrafdas das folhas da carnaubeira, tem cor verde € seu ponto de fusdio varia de 83 a 85°C. Dentre os matcriais cércos aplicados em eletrotéenica, destaca-se principalmente a parafina, cujo uso é bastante difundido, sobretudo como material de impregnacao de bobinas ¢ capacitores, os quais nfo devem ser submetidos a uma elevagio de temperatura superior a de fuso da parafina, situado entre 50 e 55 °C, Quimicamente compie-se de hidrocarbonetos sblidos saturados, da forma CyHanea A parafina é obtida pela destilagio da turfa ou de dleos pesados de petrSleo, com clevada porcentagem de metano. A parafina é um sélido cristalino, de coloragio branca, aparéncia graxa, insoltivel na Agua ¢ nos dcidos, sohivel no Aleool ¢ éleos. Apresentam um custo muito baixo e destina-se, sobretudo a impregnagéo de materiais fibrosos, papel, madeira etc. Serve para proteger as resisténcias calibradas de instrumentos de medida e de laboratérios. Os enrolamentos de transformadores 231 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA -Prof, Aelfo Marques Luna — Volume I pequenos sio imersos em parafina, ficando assim protegidos contra toda umidade. Como elemento de cobertura suas fungées so restritas, em virtude da sua pequena resisténcia mecfinica. Algumas de suas caracteristicas so: Peso especifico: 0,85 a 0,9 g/cm’ Constante dielétrica: 2 Angulo de perdas: 0,0003 a 0,0007 Resistividade: 10° Om TRANSFORMADORES ENCAPSULADOS EM RESINA (SECOS) As exigéncias que a modema industria impde determina aos transformadores caracteristicas normalmente dificeis de serem atendidas pelos equipamentos convencionais, imersos em 6leo isolante, So solicitados destes equipamentos a mais alta seguranga confiabilidade e comportamento passivo no tocante a riscos de incéndio. Estas condig6es sto plenamente atendidas pelos transformadores a seco em resina. No ‘encapsulamento do transformador usa-se uma massa “compound” a base de epdxi, ou um “blending” de resinas com o pé de quartzo. Na Fig, 18.5 6 mostrado um transformador seco de 3000 kVA. Fig, 18.5 - Transformador encapsulado de 3000 kVA. Os transformadores secos oferecem além de uma grande confiabilidade operacional as seguintes vantagens: 1. -Sio insensiveis a umidade e condigSes climéticas adversas; 2. - Insensivel perante as elevadas variagSes de temperatura; 3. « Praticamente isentos de manutengio; 4, - Ocupam menor espago do que os transformadorés convencionais; 5.—Podem ser instalados junto ao centro de carga, acarretando uma economia de cabos; 6. Nao explodem, nem liberam gases tOxicos, 7. Dispensam paredes a prova de explosio e de fogo. 8. - Apresentam baixo nivel de ruido e so ecologicamente sem restrigécs. 232 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA -Prof. Aeifo Marques Luna — Volume I CONCEITOS CHAVES Vernizes Solventes. Vernizes de impregnagio Vernizes de cobertura Vernizes de colagem venizes de secagem ao ar Vemizes de secagem ao calor Teor de sélidos Massas “compounds” Massas “compounds” termoplsticas Massas “compounds” termoestiveis Betumes Asfaltos Ceras animais Ceras vegetais Parafina QUESTOES PARA ESTUDO 18.1 ~ Os diversos tipos ou grupos de vernizesisolantes podem ser classificados segundo varios crtérios. Enuncie quais so os grupos de vemizes que se classficam de acordo com o eritério de formas de aplicaeto, destacando-se para cada um dos grupos citados ax suns principais caracteristicas e fungoes dlesompenhadas. 18.2 - Qual 6 0 critério econdmico importante, além do prego, a ser utilizado na seleglo de vernizes que apresentam as mesmas caracteristicas técnicas? 183 ~ Sob o ponto de vista de aplicagto qual é diferenga bésica entre os vernizes de impregnagio ¢ as ‘massas “compounds” usadas com esta mesma finalidade? 18.4 ~ As massas “compounds” formam filmes ou peliculas? 18.5 ~ Cite exemplos de aplicagdes das massas “compounds”? 18.6 - Explique porque as ceras naturaist&m suas apicagdes limitadas em eletrotéenica? 18.7 - Enuncie as principais caracterstices da parafina ¢ exemplos de aplicagiies? 18.8 - Quais as vantagens do uso de transformadores encapsulados com massas “compunds”? 233 aasee a8 22260 eee eee sO ShSa Ohh EKEEEKEREE MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA — Ptof. Aelfo Marques Luna — Volume 1 CAPITULO XIX Os materiais fibrosos sio materiais constituidos de particulas alongadas chamadas fibras 0 so muito empregady pela inddstria elétrica, Em alguns destes materiais, como, por exemplo, nos produtos téxteis é evidente a olho nu a estrutura fibrosa do material. Em outros como 2 madeira, o algodio, a seda, 0 papel ¢ 0 papelio a estrutura fibrosa pode ser observada valendo-se do auxilio de um microscépio de Pouco aumento. O papel ¢ 0 papelio, derivados da celulose, encontram larga aplicagao como matérias isolantes, 19.1 OS MATERIAIS FIBROSOS As vantagens oferecidas pela maior parte dos materiais fibrosos sto a sua elevada resisténcia mecanica, a sua flexibilidade ¢ o fato de ser um material de custo baixo e de facil manufatura. Por outro lado as suas desvantagens decorrem da sua elevada higroscopicidade desde que sua superficie altamente fibrosa absorve prontamente a umidade. Essa absorgdo pode atingir até perto de 50% do volume da fibra, em se tratando de fibras organicas. Em segundo lugar, as fibras apresentam uma baixa tigidez diclétrica, resultante do fato de que a disrupgfo eletrica pode facilmente se verificar no ar existente entre as fibras. As propriedades dos materiais isolantes fibrosos podem ser substancialmente melhoradas pela impregnago com vemizes ou massas “compounds” adequadas. Ordinariamente todos os materiais fibrosos que so usados. em eletrotéenica sto impregnados, depois de retirado o ar timido de seus interiores. Uma grande maioria dos materiais fibrosos é de origem orgénica. A ela pertencem os materiais de origem vegetal, tais como a madeira, fibras de algodio, papel, papelao etc. Entre os de origem animal citam-se a seda e a 1A entre as de origem mineral tem-se o amianto ¢ as fibras de vidro. Por fim tém-se as fibras sintéticas que ultimamente vem adquirindo grande importéncia. O material bisico de todos materiais fibrosos de origem vegetal é a celulose e por tal sto denominados de materiais celulésicos. A celulose € um composto organico constitufdo de 46% de oxigénio, de 40% de carbono e 6% de hidrogénio; trata-se de um hidrato de carbono polimerizado e cuja formula geral € CHioOs, Estas moléculas da celulose contem em sua estrutura trés radicais polares de hidroxila OH o que as tommam muito higroscépicas. Sdo também pouco resistentes ao calor. No estado natural, sem impregnagao a celulose é destruida ao redor de 120 °C, nfo devendo, portanto, ser submetida @ temperaturas superiores a 90 °C, Quando impregnadas os limites de suportabilidade ao calor sto aumentados. A celulose em estado puro se apresenta como uma massa amorfa, similar ao amido, tem uma resistividade de 10° a 10° C.m na temperatura ordindria e uma constante dielétrica que varia de 3,9 a 7,5. A molécula da celulose tem comportamento polar devido a Presenga do grupo de oxidrila -OH e apresenta um ngulo de perdas que varia de 0,005 20,01, 234 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ Prof. Aelfo Marques Luna ~ Volume I 19.2- MADEIRA Por sua abundancia, baixo preco e fécil trabalhabilidade, a madeira foi um dos primeiros materiais isolantes e de construgdo que foram empregados pela industria elétrica. A madeira € constitufda por celulose, em uma proporgfo de 44%, associada a uma substéncia dura denominada de lignina que atua como tecido de sustentagao da celulose. De acordo com as diferentes variedades de madeira outras substancias também so encontradas e que determinam em boa parte as suas propriedades especificas. Essas ‘outras substancias so resinas, éleos, substncias corantes, tanino etc, A madeira é um material leve e resistente (suporta bem os esforgos de compressio). Seu Principal inconveniente, no. que se refere as suas aplicagdes elewotéonicas, é a sua igroscopicidade que é muito alta. A absorgo da 4gua determina o inchamento da madeira; a secagem uma contragéo ¢ estas variagdes de volume podem acarretar deformagées no material. A madeira seca ¢ um bom isolante, mas a umidade diminui consideravelmente suas qualidades dielétricas, assim a madeira para ser usada com fins dielétricos tem que ser melhorada por processos de impregnagao, tais como: + Impregnagaio com resina tipo baquelita; Impregnagdo ou tratamento superficial com parafina; Tratamento com dleo de linhaga; Tratamento com dleo de transformador; Laminagio e colagem sob pressio por resina; Aglomeragdo do pé de madeira com resina, sob pressio. Outro aspecto desvantajoso da madeira é que suas propriedades sio anisot6picas, ou seja, dependem da diregao ‘em que so medidas. Por exemplo, a constante dielétrica medida paralelamente as fibras mede de 2,5 a 4,8; na dirego perpendicular a fibra varia de 3,6 a 7,4. © mesmo vcomendo com a rigidez dieléirica. Esta dificuldade de normalizar suas propriedades, mesmo de madeira de mesma espécie é também influenciada pela diregiio em que ela ¢ cortada, da presenga de nds ou de outros defeitos naturais. ‘A madeira ainda é usada como material estrutural, como suportes, calgos, varas. de comando, cunhas em ranhuras das maquinas elétricas e como elementos de suporte (postes) em linhas de transmissio e de distribuigdo, Este Ultimo campo de aplicagao esta Praticamente em desuso sendo substituido por postes de concreto (mais duréveis). 19.3- PAPEL © papel € um produto constituido de fibras curtas de celulose que se encontram emaranhadas e aglutinadas entre si. Apresenta uma alta higroscopicidade em decorréncia dos motivos jé expostos anteriormente. Em condigdes normais o papel contem de 5 a 10 % de gua. Por esta razo, para aplicagdes como material isolante, 0 Papel deve passar por um processo de secagem, em estufa, e em seguida ser impregnado por vernizes, éleos isolantes ou resinas. 235, © OOS O46 666 EOEOEEEEEEOKEKHEDEEDHEALEOHEKOBOELED MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA — Prof. Aelfo Marques Luna — Volume I Para fabricago do papel de uso elétrico é usada a celulose da madeira, chamada também de “polpa da madeira”, Na composigao da madeira além da celulose e Agua, intervém diversas outras substancias como a lignina, resinas e sais. Para climinar essas impurezas da madeira e obter-se a celulose com uma pureza acima de 90% a madeira & mente cortada em pequenas lascas, as quais sfio submetidos a um cozimento em caldeiras que contém soluedes aquosas de dlealis ou de acidos que transformam aquelas substiincias em compostos sohiveis na égua, deixando a celulose inalterada. Quando esta pasta é lavada, todas as outras substincias sao removidas e a pura celulose & deixada, formando uma pasta. Os papéis comuns para escrever ¢ imprimir, como, por exemplo, o papel no qual esté impresso este capitulo, so fabricados com celulose obtida por cozimento da madeira em uma solugo que contem dcido sulfitrico; a celulose assim obtida adquire facilmente cor branea durante 0 processo de fabricacio, Quando se fabricam papéis para isolamento elétrico se utiliza uma celulose a base de sulfatos sédicos, obtidas por cozimento da madeira em solugdes que contem soda caustica (NaOH). A celulose obtida pelo processo alcalino conserva a cor amarelada, devido as substincias corantes nao eliminadas da madeira. A celulose assim refinada ¢ misturada com agua, formando uma capa continua sobre um transportador de telas metalicas. A pasta vai perdendo a agua através dos orificios das malhas metélicas, é prensada e secada passando entre os cilindros de ago (calandras) aquecidos, donde sai o papel em forma de bobina (Veja a Fig. 19.1).A natureza e qualidade do papel dependem principalmente do comprimento das fibras e dos aditivos utilizados no processo. UM POUCO DE HISTORIA Os “papiros” foram os pionciros dos papeis e foram usados pelos antigos egipcios para registros relativos a acontecimentos funerérios, legais, administrativos ¢ literarios, 0 que permitiu o acesso a muitas informagdes sobre a vida no Antigo Egito. Este material para escrita era feito de uma planta, denominada “Cyperus papyrus”, dai o nome “papiro”, que eresce no vale do rio Nilo. Os papiros subsistiram até os dias atuais, em face do lima seco da regio que favoreceu sua preservacaio. © papel foi inventado pelos chineses mais ou menos em 105 DC. O produto era inicialmente importado pela Europa do Oriente Médio, mas em meados do século 13 a fabricagao, do papel chegou & Espanha ¢ & Itilia, e espalhou-se pelo resto da Europa, O Papel curopeu era antigamente feito a mao ¢ desta mancira era grosso e Aspero. Posteriormente com a triturago mecénica da madeira obteve-se um encurtamento das fibras € subseqilentemente um papel mais fino ¢ liso, que foi ainda mais aperfeigoado pelos processos de engomagem e acetinagao. Em 1673 surgiu uma maquina de agitar a polpa ¢ em 1799 foi desenvolvida na Franga uma maquina para fabricago papel continuo. Os papéis utilizados em eletrotécnica devem preencher os seguintes requisitos: grande pureza, regularidade de espessura, boa resisténcia mecinica, auséncia de particulas metilicas ou carbonizadas e de corpos duros. A consisténcia porosa do papel procede da estrutura microscépica dos filamentos que constituem as fibras; estas estruturas dio ao papel propriedades capilares muito 236 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~Prof. Aelfo Marques Luna ~ Volume I mareantes, 0 que explica a grande facilidade que tem de impregnar-se por gases, liquidos e, sobretudo Fig. 19.1 Papel sendo-calandrado em uma moderna industria de fubrieagio de papel, pela 4gua. Mesmo depois de submetido & secagem. © papel nfo impregnando no tem luma boa rigidez dielétrica, devido sua porosidade, cerca de 40% do volume do papel & de fibras, o restante ¢ espagos livres... ar ocluso em seus poros se ioniza em campos clétricos relativamente débeis ¢ esta ionizagio provoca rapidamente a perfuragio diclétrica do isolante, como decorréneia do aquecimento produzido pelo aumento do fator de perdas dielétricas. Por todas estas razSes 0 papel seco, scm impregnago, somente se aplica em casos especiais, como por exemplo, no isolamento de cabos telefonicos, Mesmo assim o cabo telefénico € envolto por uma capa de material impermedvel & penetragio da umidade, que pode ser de chumbo (praticamente em desuso) ou aluminio politenado (APL). Em quase todas as aplicagées submetido a tratamentos especiais que eliminam sua umidade ¢ aumentam suas propriedades dielétricas.A rigidez dielétrica do papel é fungdio da espessura e apresenta Valores superiores para papeis finos, onde a vantagem de utilizar varias folhas finas superpostas (isolamento estratificado) do que um papel mais espesso.A sua constante dielétrica € varidvel, mais fica num entomo de 3,5 a 6. As perdas sfo também muito varidveis, segundo a umidade, temperatura ¢ freqiléncia da corrente. E um material leve, sua densidade varia de 0,8 a 1,3 g/cm’? Além das favordveis propriedades elétricas do papel, ele se destaca por uma elevada resisténcia mecénica, tanto ao longo da fibra quanto transversalmente. Esse 237 e222 HELD EOAEAHEAEREEOEE COO 00444 42048222222 ~~~ MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ Prof, Aelfo Marques Luna — Volume I comportamento é importante, por exemplo, no uso do papel como isolante de cabos, onde tanto na fabricagdo quanto no uso, os papeis ficam sujeitos a acentuados esforgos de tragdo e compressio, quando 0 cabo é tracionado e dobrado. A tragdo é mais acentuada durante a prépria aplicagio do papel como camada isolante sobre o material condutor. Nesse processo, aplica-se a uma acentuada forga de tragdio, para sc cvitar ao méximo a existéncia de bolhas de ar entre o condutor e o papel e entre as camadas do papel entre si. O papel também permite o dobramento acentuado sem quebrar suas fibras, caracteristica importante quando o didmetro da pega a ser isolada é pequeno ou quando existem angulos de pequeno valor. © comportamento térmico do papel é outro aspecto que deve ser observado, Nesse sentido, a propriedade de suportar ou: no certos niveis de temperatura depende fortemente da natureza da fibra. A celulose sulfatada no apresenta maior modificago de propriedades quando submetida a 100 °C durante algune dias. O envelhecimento da fibra desse papel de celulose é ainda minimo a 120 °C se forem aplicadds durante 48 horas ou a 135 °C durante algumas horas. Acima desses valores, procede-se a uma altera¢do molecular na estrutura da celulose, devido a ago do vapor de agua e de outros gases nocivos a sua integridade, 19.4— TIPOS DE PAPEIS USADOS COMO ISOLANTES PAPEL “KRAFT” © papel “Kraft” € o mais utilizado como papel isolante. Tem uma cor queimada e pode ser impregnado facilmente. E obtido a partir da polpa da madeira por tratamento com sulfato sédico. E econémico e convenientemente tratado apresenta boas propriedades mecfnicas € elétricas.Apresenta-se com espessuras variando de 0,03 a 0,30 mm. Sao usados para isolagdo de cabos de poténcia, capacitores, cabos telefSnicos, enrolamento de transformadores, reatores para iluminagio etc. PAPEL DE MANILHA Obtido a partir da fibra do cénhamo de Manilha ¢ de trapos velhos. E um papel fino, muito branco ¢ de grande resisténcia mecénica, apesar de sua leveza. PAPEL JAPON B fabricado a partir da polpa de amoreira (arvore tipica do Japfo), tem pequena espessura (0,025 mm) e apresenta cor branca, aspecto sedoso e grande resisténcia mecinica. E usado como material base para fabricagio do “micafolium”, material constitufdo de mica ¢ que seré descrito no capitulo seguinte. PAPEL CHIFFON Obtido a partir de fibras de algodio ou linho.Sao elaborados com um minimo de Produtos quimicos ¢ aditives, resultando em papeis forte, de resisténcia térmica algo maior que aqueles obtidos a partir da polpa da madeira, 238 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA - Prof. Aelfo Marques Luna - Volume I 19.5 ~ APLICACOES DO PAPEL s papéis so usados ainda hoje em mumerosas aplicag6es, apesar de ser um material em uso desde longa data e no obstante dos problemas e cuidados que devem ser tomados. Observa-se, porém, que a tendéncia é substitui-lo por materiais fibrosos sintéticos, que permanentemente estio sendo desenvolvidos ¢ produridos. Suas aplicagdes mais importantes sio as seguintes: Papel para revestir condutores: Como isolamento de fios nos enrolamentos dos ‘ransformadores, onde apés a sua secagem so impregnados com vernizes ou éleos. Para um funcionamento satisfatério dos transformadores € necessério que o papel, tenha e ‘mantenha, uma 6tima resisténcia mecénica, Quando em operacdo. 0 transfarmadar & submetido a solicitagées elétricas e também a esforgos mecanicos em fungio de curtos circuitos da rede elétrica no equipamento. Se a resisténcia mecnica for insuficiente, o papel se rompe e pode causar falhas elétricas no equipamento.Na Fig. 19.2 € vista a estrutura intema de um transformador de distribuigdo de 250 kVA, onde se observa 0 uso da madeira como material de sustentagéo estrutural e do papel e papelfo na ‘montagem dos enrolamentos..Todo este niicleo é introduzido numa carcaga de ferro ¢ imerso em éleo isolante. Fig, 19.2 ~ Detalhes da estrutura interna de umm transformador de distribuigo de 250 kVA. © papel € também usado no isolamento de cabos de poténcia, de alta tenso, sob a forma de diversas camadas aplicadas sobre o condutor (isolamento estratificado). Nessa aplicagao também as caracteristicas mecénicas sfio de grande importancia, tanto na tragdo, quanto na flexdo, porque os papéis ficam sujeitos a fortes esforgos de trago ¢ compressdo nos momentos que esto sendo aplicados. No entanto, umas das tragdes 239 meee eee eee eee ee eene nee neem ene mene nen ~~~ - MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA — Prof. Aelfo Marques Luna — Volume I mais acentuadas acontece durante a aplicago do papel como isolante sobre os cabos. Nessa fase do proceso ¢ necesséria uma grande forga de trago para se evitar a formagio ¢ existéncia de bolhas de ar entre o papel ¢ 0 cabo e entre as camadas superpostas do préprio papel; Em tais bolsas podem se manifestar descargas parciais, com © surgimento do ozénio Oy que é altamente oxidante © ataca fortemente as caracteristicas dielétricas do cabo. 2) Papel para isolamento de cabos telefénicos (j4 comentado anteriormente). 3) Papel para servir de suporte a produtos derivados da mica (micacéos). Veja capitulo seguinte. 4) Papel para capacitores: F uma aplicagio muito importante ¢ de responsabilidade, onde 0 papel impregnado com leo forma o dielétrico que preenche o espago entre as placas dos capacitores de media tensfo. Para se conseguir um capacitor de alta qualidade, além das boas propriedades elétricas da matéria prima, é necessério uma alta pureza de todos os componentes internos do capacitor e que eles sejam compativeis om o impregnante usado. Determinados materiais, nto sendo compativeis com 0 impregnante, provocam contaminagdes do capacitor, elevando suas perdas e conseqilentemente dando-Ihe uma vida util mais curta do que a esperada para um ‘capacitor normal. Cada bobina (ou elemento) do capacitor € constituido de duas folhas de aluminio de, geralmente, 6 um de espessura, separados por folhas superpostas de papel dielétrico com espessuras entre 10 a 25 pm. As bobinas depois de pronias sdo ptensadas para ter 0 seu volume reduzido ¢ posteriormente montadas em conjuntos onde € feita a ligagio serie paralelo das mesmas para se obter a capacitincia suficiente a fim de dar a poténcia reativa desejada, veja Fig. 19.3. itiva, mostrando os detalhes de seus principais componentes internos ¢ extornos ( Adaptado do tivro Manual de Equipamentos” do prof. Mamede.) Ao final do processo de secagem, feito a vécuo, o capacitor ¢ impregnando com um liquido dielétrico, nao inflamével ¢ de alta constante diclétrica.. Apds a impregnagao a 240 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA - Prof. Aelfo Marques Luna ~ Volume | caixa do capacitor deve ser vedada para evitar a entrada de umidade e impurezas, 0 que prejudicaria as boas caracteristicas elétricas do capacitor. As caixas ou carcagas que contem o capacitor devem ser resistentes 4 corros4o, para tanto recebem tratamento adequado & sua protegdo, apés 0 que é aplicada a tinta conveniente.Em media tensio as unidades adotadas para estes capacitores é de 25, 30 ¢ 100 kVAr, sempre monofésicas, conforme figura 19.4(a), onde sto mostrados capacitores de varias poténcias reativas. Em baixa tensto (600 V) a menor unidade ¢ a de 0,5 KVAr e as maiores nfo costumam superar 0s 30 KVAr, quer sejam monofisicas ou trifisicas. Mas recentemente os capacitores de poténcia vém utilizando cada vez mais como dielétricos, além do papel, de peliculas de polipropileno nao polar, que tem uma tg 8 bastante pequena ¢ uma resisténcia ao calor bastante elevada. Na Fig. 19.4 (b) & mostrado um rolo de Polipropileno usado na fabricagao de capacitores. Muitas vezes se fabricam também capacitores de pelicula e papel, cujo dielétrico passa a ter duas capas, uma de papel & outra de pelicula. Neste caso o papel faz As vezes de elemento principal de absorgao do impregnante, desde que a impregnagdo dos capacitores que 6 tém pelicula ¢ dificil. Fig. 19.3 - (a) Capacitores de media tensio de vérias poténclas rea polipropiteno, usada na fabricagdo de capacitores de potdh as. (b) Roto de pelicula de 19.6 - PAPELAO DIELETRICO © papelio isolante se fabrica com as mesmas matérias primas utilizadas para obtengo do papel, entretanto, a aplicagdo da pressio durante a fabricagfo é maior, resultando num material mais espesso, menos flexivel e mais denso que o papel. O uso de papelao caracteriza-se por uma fungao predominantementé mecfnica, porém sem perder sua fungo isolante. Em seu estado natural 0 papelio é higroscdpico ¢ deve ser impregnado com éleo isolante, veniz ou outros compostos para melhorar suas propriedades dielétricas. Apresenta-se sob formas de folhas, de laminados ou em rolos, normalmente 244 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA — Prof. Aelfo Marques Luna — Volume I tem a cor castanha natural ¢ ¢ usado na indistria de transformadores para execugao de cilindros de isolamento, flanges, colarinhos, barreiras, separadores, na intermediagao de agos e metais, embalagens especiais ete. Entre as diversas denominagdes que 0 papelao recebe destacam-se as seguintes: PRESSPAN é um papelio fabricado com fibras de madeira ¢ se apresenta sob a forma de folhas com espessuras compreendidas entre 0,5 a 60 mm. E um material muito empregado para baixas tenses, no isolamento de pegas de pequenos acessérios como interruptores ¢ comutadores e também em méquinas girantes no isolamento das ranhuras em transformadores como ceparadores, TRANSFORMERBOARD ¢ um papelio de qualidade superior constituido unicamente de celulose e pasta de trapos; suporta com facilidade o repuxo e os esforgos mec&nicos. Este material,, sem impregnar € comparivel, por suas qualidades dielétricas a0 “presspan” impregnado, PRESSBOARD ¢ um papelio isolante de grande capacidade de absorgio. Na sua constituigfio ha uma grande proporgio de algodio superior a 50%, o que resulta numa material de boas propriedades dielétricas. E facilmente se deixa impregnar por dleos e vernizes. Emprega-se, sobretudo, para aplicag6es em alta freqiéncia. LEATHEROID ¢ um papelo também a base de celulose, com uma cor cinzenta escura.. Suas propriedades so quase as mesmas do “presspan”, porém somente so fabricados em espessuras menores e so menos resistentes as dobraduras, 19.7 FIBRAS SINTETICAS. Além dos papéis ¢ papeldes obtidos a base de celulose, emprega-se eficazmente nos isolamentos elétricos papéis de celulose juntos com outros materiais fibrosos ¢ inclusive papeis que no contém celulose, Assim papeis a base de uma mistura de celulose com fibras de polietileno apresentam valores de ¢, tg 6 e higroscopicidade menores que os papeis fabricados somente com celulose. Outro interessante exemplo é oferecido pelos papeis denominados de Nomex® que sao fabricados com fibras sintéticas de poliamida. Nesse material as fibras esto soltas e misturadas com fibrilas, isto é, com fibras bem menores do material andlogo por sua composigfo ao das fibras principais (maiores). Entretanto, essas fibrilas tém uma temperatura de amolecimento mais baixa. Quando 0 papel Nomex® passa pelas calandras quentes, as fibrilas unem fortemente entre si as fibras principais. Estes papéis, cuja resisténeia ao calor é de 200 a 220 °C podem ser usados de forma singela ( isolamento da méquinas elétricas ¢ transformadores secos) ou combinados com peliculas, ou matetiais a base de mica.Sio flexiveis e capaz de suportar elevados esforgos de tragdo e fabricadas com espessuras que variam de 0,5 a 1,5 mm. 242 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA — Prof, Aelfo Marques Luna — Volume I USO DE CAPACITORES PARA CORREGAO DO FATOR DE POTENCIA Uma das aplicages muito importantes dos capacitores € na corregdo do “fator de poténcia” (F,) das instalagGes elétricas. O fator de poténcia ¢ definido pela relagao entre a poténcia real, em kW e a poténcia aparente, em kVA, ou seja, Fy = KW/KVA 0 fator de poténcia pode ser tamhém definido coma senda 0 co-seno da Angulo formada. entre o componente de poténcia ativo e o seu componente total, ou seja, F, = cos p De acordo com a Resolugo n. 456/200 da Agéncia Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), no seu artigo 64 estabelece que o F, indutivo ou capacitivo, tera como limite minimo permitido para as instalagdes elétricas 0 valor de Fy = 0,92. No caso da ocorréncia nas instalagées elétricas de componentes elevadas de energia reativa indutiva a corregiio do fator de potencia € necessiria e se faz através da injegao de reativos capacitivos por meio de bancos de capacitores, sob pena do pagamento de sobretaxas no faturamento da energia. A compensagdo da energia reativa indutiva pode também ser feita por meio de compensadores sincronos superexcitados, entretanto, trata-se de uma solugiio mais custosa. O uso de banco de capacitores é uma solugo mais econémica e simples. A energia reativa indutiva nfo produz trabalho util ¢ aumenta as perdas das instalages elétricas; ela é& gerada por motores de indugo trabalhando em vazio, ou superdimensionados; por transformadores em vazio ou com carga leve; por um grande nimero de reatores de baixo fator de potencia suprindo lampadas de descarga; por fornos a arco; por maquinas de soldas etc. CONCEITOS CHAVES Materiais fibrosos Celulose Polpa da madeira Madeira Papel Kraft Papelio dielétrico Presspan ‘Transformerboard Pressboard Leatheroid Fator de poténcia Capacitores QUESTOES PARA ESTUDO 19.1 0 que se entende por materia fibrosos. Quais so suas vantagens ¢ desvantagens? 243 ARAAAAAAHRAHNHRKLHHAANHRAARARARARORARARAAAARARALAARALS MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA — Prof. Aelfo Marques Luna ~ Volume I 19.2 Como se classificam os materiais fibrosos, relativamente a sua origem? 19.3 ~ Sob o ponto de vista dielétrico qual o inconveniente provocedo pela oclusio do ar entre os poros dos materiaisfibrosos. Como combater este inconveniente? 19.4 Qual o tipo de papel dielétrico mais usado? 19.5~Enumere as ras aplicagbes do papel dielétrico na indistria elétrica, 19.6 - Qual a fungao mais predominante do papelto? 19.7 — Enumere os principais tipos de papeldes usados na indtstra elétrica, 19.8 — Quais as vantagens de se usar papéis fabricados com fibras sintéticas ou com combinacBes entre as fbras de cetwtose e sinteticas, EXemplifique. 19.9 - Qual a principal vantagem oferecida pelos papé is feitos com fibras de poliaiida? 244 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ Prof. Aelfo Marques Luna — Volume I CAPITULO XX Entre os numerosos isolantes usados pela engenharia elétrica, se agrupam aqueles de origem mineral. Esses materiais sfo constituidos a base de silicatos, sao resistentes a temperaturas elevadas ¢ possuem geralmente uma boa caracteristica mecinica, como por exemplo, boa dureza, resistencia & compressio, fraco coeficiente de deformagao térmica ete. Os principais materiais de origem mineral, usados pela indiistria elétrica so os seguintes: a mica, a porcelana, 0 vidro e @ fibra de vidro.A mica é um dos melhores isolantes conhecidos ¢ constitui elemento bésico de todas os isolamentos das miquinas girantes de alta tensio. A mica é usada na forma de grandes laminas ou de pé, sempre reforcada por um Yorial de base © impregnada com vernizes. Eoscs materials sau chamados de Produtos micacéos. 20.1-A MICA Di-se o nome genérico de mica a um produto a base de silicatos de alumfnio hidratados de metais alealinos. A origem da palavra deriva do latim (micare) que significa brilhar. ‘A sua caracteristica comum & que podem esfoliar-se em laminas flexiveis, resistentes ¢ extremamente delgadas (podem ser encontradas com espessuras entre 0,015 a 0,033 mm). Podem ser usadas diretamente, como por exemplo, em dielétricos de capacitores u para outros usos em forma de isolantes, sendo para esta ultima finalidade preparados em laminas ou pé de mica aglutinada com aglomerantes adequados. Existem muitas variedades de micas, mas em eletrotécnica sio empregadas somente duas variedades; as micas Muscovitas e Flogopitas, A mica moscovita é a variedade mais largamente utilizada ¢ que se apresenta com a melhor transparéncia, melhor resisténcia dielétrica e maior perfeigao de clivagem. Sua superficie ¢ dura, lisa ¢ brilhante. Essa variedade de mica apresenta-se com trés colorages: branca, rosada e esverdeada, sendo que a primeira é a mais usada por suas superiores propriedades mecdnicas e elétricas. A formula quimica da muscovita é a seguinte: K2,0,A1,03 6Si0;.2H,0 Essas micas sto tidas também como micas potissicas ou brancas e so encontradas na India (maior produtor mundial), nos Estados Unidos, Africa e América do Sul. Apesar de apresentarem excelente estabilidade quimica, nao resistem a ago do Acido fluoridrico. Suas propriedades elétricas sio marcantes até 500/600 °C. As micas chamadas flogopitas possuem propriedades que podem concorrer com a ‘muscovita, entretanto, sio mais raras ¢ ndo sdo to bons isolantes quanto as moscovitas, Sao menos espessas, menos lisas, menos regulares, mesmo assim apresentam maior estabilidade ao calor, resistem até 700/100 °C e oferece maior dureza. A formula da flogopita é a seguinte: K,0.6Mg0.AL,0; .Si0,2H,0 245 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA — Prof. Aelfo Marques Luna ~ Volume I No Nordeste do Brasil as ocorréncias mais interessantes de mica se verificam no estado do Rio Grande do Norte.Na Fig. 20.1 ¢ ilustrada a mica muscovita, Fig. 20.1 — Muscovita 20.2 - PROCESSOS DE EXTRACAO DA MICA ‘As micas se encontram na natureza junto com outros minerais, tais como o quartzo e feldspato, formando veios disseminados nas rochas duras, geralmente pegmatitos. Depois dos trabalhos de extragio da mica dos veios da rocha ela € submetida a um processo de limpeza. Pois vem acompanhada de impurezas (6xidos metélicos). Neste estado original ela é chamada de mica bruta. O rendimento médio da mica bruta extraida das rochas é da ordem de 1 a 2% (raramente chega a 10%). A mica bruta ¢ trabalhada manualmente, sendo esfoliada sob forma de pequenas escamas ou laminas, de espessura maxima de 0,04 mm, mas de superficie muito pequenas (laminas correntemente com menos de 100 cm”), no maximo a 300 cm’, O processo de esfoliago da mica se dé segundo determinados planos, chamados planos de clivagem.A qualidade das laminas é determinada por sua Area. Esse tamanho da drea é definido convencionalmente como a rea do maior retngulo que se pode inscrever no contorno da lamina (relagdo entre os lados desde 1:1 até 1:3). Para escamas de mica com tamanhos compreendidos entre 6 a 0,5 em? a esfoliagao ¢ feita por meio de maquinas. A mica esfoliada é classificada também em fungo da quantidade de inclusdes minerais ue se manifestam sob a forma de manchas, pela lisura de sua superficie. Assim mesmo se tem conta como importante a forma da lamina (quanto mais se aproxima do quadrado; tanto mais alta a qualidade da mica, 20.3 - PRINCIPAIS PROPRIEDADES DAS MICAS © peso especifico da mica varia entre 2,7 a 3 g/cm’, Apresenta grande dureza, boa resisténcia a compress’o ¢ tem boa condutividade térmica ¢ excclente resisténcia a temperaturas elevadas. (na faixa de 500 a 1000 °C), segundo a variedade considerada. A mica pertence a classe mais resistente ao calor dos materiais isolantes conhecidos, ou 246 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ Prof, Aelfo Marques Luna — Volume 1 seja, a chamada classe C, estabelecida pela IEC. No que tange as suas propriedades quimicas as micas resistem quase que completamente a todos os agentes quimicos: Acidos, bases, solventes ¢ oz6nio. No que se referem as suas propriedades elétricas elas sto notaveis, tomando a mica um dos materiais isolantes mais conhecido e confiavel. Por exemplo, para espessuras de 0,01 mm a rigidez dielétrica pode alcangar valores da ordem de 500 kV/mm e decresce para 55 kV/mm para espessuras de 1 mm. Esses parimetros das propriedadcs elétricas da mica se referem ao caso em que 0 campo elétrico é medido perpendicularmente aos planos de clivagem da mica.. Ao largo desses planos essas propriedades se apresentam com valores bem inferiores. As micas so materiais de caracteristicas anisotrOpicas. Os valores aproximados de p , ¢, ¢ tg 8, para a moscovita e a flogopita estdo indicados na Tabela 20.1, Tabela 20.1 Tipoda_ | p (chm.cm) & tg 5 (SOHz) | tg 5 (1 kHz) | tg 8 (I MHz) mica Muscovita | 10!— 10! 6-8 0,0150 0,025 0,0003 Flogopita, 10!'-10 5-7 0,0500 0,0050 0.0015, Um outro aspecto notivel da mica é a sua inalterabilidade A ago dos eflivios e ao ozénio. Destaca-se também a sua alta resisténcia a “punctura”, ou seja, a resisténcia A perfurago pela faisca elétrica. 20.4 ~~ PRODUTOS MICACEOS USADAS PELA INDUSTRIA ELETRICA Como se pode observar a mica ¢ um material de excelentes caracteristicas dielétricas, entretanto, devido a pequena coesdo entre as suas pequenas liminas e a necessidade de maiores extensGes ¢ espessuras de isolante a sua utilizagao ¢ dificil limitada. Dal a sua grande aplicagao sob a forma de compostos a base de mica, denominados de produtos micacéos. De uma maneira geral esses produtos micacéos so constituidos das pequenas laminas de mica que ficam aglomeradas mediante 0 uso de adesivos organicos ou inorgiinicos (laca, resinas sintéticas) sobre um suporte que pode ser papel, fitas de seda ou fibras, papeldo, ou entio, pulverizados ¢ aglomerados por resinas vitreas. Devido a grande variedade desses produtos ¢ dificil intentar uma elassificago que englobe todo ele. Pode-se agrupa-los segundo diversos critérios: 1) Pela estrutura do material basico, ou seja, da mica: a) Materiais com mica sob forma de escamas ou laminas; 1b) Materiais com mica sob forma de pé, 2) Pela natureza do aglomerante empregado: 247 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ Prof. Aelfo Marques Luna — Volume I a) Materiais aglomerados com resinas naturais; b) Materiais aglomerados com resinas sintéticas; ©) Materiais aglomerados com resinas de silicone 4) Materiais aglomerados com produtos inorgéinicos. 3) Pela classe do material usado como suporte: a) Materiais sem suporte; b) Papel; ©) Telas 4) Materiais especiais, A seguir sto descritos alguns dos produtos micacéos usados pela engenbaria elétrica: MICANITE: A micanite foi introduzida no mercado hé bastante tempo e & constituida de laminas de mica, aglutinadas quente, sob presso entre si por meio de aglomerantes orgénicos naturais ou sintéticos (laca, gliptal, resinas fendlicas, epoxidicas, silicones etc). As micanites siio conhecidas por outros nomes comerciais, tais como Megomite, Supermicanite, etc. MICAFOLIO: (ou micafolium). E composto por uma ou duas camadas muito finas de escamas de micas, aglomeradas com uma resina sob um suporte de papel “Kraft”. E um material flexivel que se apresenta sob forma de rolos. Obtém-se micafdlios de diferentes classes térmicas: Aglomerante Classe Térmica°C Goma laca 130 Resina epoxidica 155 ‘Resina poliéster 155 Resina de silicone 180 MICASIN: E um produto micacéo obtido ao separar quimica e mecanicamente a mica em pequenissimas escamas e por sucessivos tratamentos térmicos e quimicos ‘transforma-las em uma “polpa de mica” que, como a pasta de papel passa logo por uma ‘maquina que a transforma cm folhas delgadas e regulares, cuja espessura varia de 0,04 a ©, 15 mm; 0 material se apresenta em rolos de | m de largura aproximadamente, O micasin tem maior regularidade e continuidade na distribuigdo das particulas de mica do que a micanite, (0 que resulta nas seguintes vantagens a) maior homogeneidade; b) grande regularidade de espessura ¢, portanto, tolerncias maiores; c) redugdo de vazios; 4) melhores propriedades dielétricas. Outros nomes comerciais do micasin: Samica, Mica-mat, Samicanita etc. 248 SMAARAMARenhOO0eeenee eee eee eee ee ee Renee nnn nes - MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ Prof. Aelfo Marques Luna — Volume I MICALEX: E um produto micacéo formado por pé de mica, obtido'por trituragdio e um aglomerante vitreo fusivel ou de borato de chumbo. Estes materiais so misturados ¢ aquecidos até uma temperatura quase 700 °C, 0 que provoca a fusdo do aglomerante, sem decompor a mica. Posteriotmente silo moldados & quente, em prensas hidréulicas até o seu resfriamento, O micalex é um material vitreo, duro e impermedvel aos liquidos gases. Apesar de sua dureza pode ser usinado com ago rapido (perfurado, rosqueado, tomneado etc). Permite a moldagem com grande finura de detalhes e sobre este material pode-se moldar aluminio, estanho ou qualquer liga de baixo ponto de fusio, sem prejudica-lo. Tem excelentes propriedades dielétricas, pequeno coeficiente de dilatagao, boas propriedades mecfnicas © é praticamente incombustivel. Suas propriedades létricas se mantém praticamente invaridveis até 300 °C. Sio fabricados com variedades que permitem obter constantes dielétricas controladas de 8 a 20. Outras denominagdes comerciais da micalex sto Microy ¢ Turx. 20.5 - MICA SINTETICA. A mica sintética € obtida pela fustio, em fornos de alta temperatura, de cargas de composigio quimica especialmente escolhidas, seguida da cristalizagio da massa fundida, mediante um esfriamento muito lento. De acordo com a composigao da carga pode-se obter uma mica sintética denominada fldor-flogopita, cuja estabilidade quimica, tesisténcia ao calor ¢ as radiagdes slo maiores que a da flogopita natural, A fluor- flogopita difere da flogopita natural porque na sua composigao os grupos oxidrilas OH so substituidos por fons de flor. A mica sintética é muito mais cara que mica natural. Bla € obtida sob a forma de cristais de dimensdes relativamente pequenas que se esfoliam com mais dificuldades que a flogopita natural. Esse produto sintético no pode considerar-se como um sucedineo da mica natural, entretanto, em virtude de suas altas propriedades e grande homogencidade é um material que oferece boas perspectivas. ‘Uma de suas aplicagoes ¢ direcionada para a fabricagao do micalex, com caracteristicas mais altas do que o micalex a base de mica natural PALAVRAS CHAVES: Produtos micacéos Micas flogopitas Micas muscovitas Mice icafélio Micalex Micanite Mica sintética (f1Gor-flogopita) QUESTOES PARA ESTUDO 20.1 ~ 0 que sto as micas? Enuncle algumas das propriedades mais importantes desses materiais e como ‘io classificadas, 249 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ Prof. Aelfo Marques Luna ~ Volume I 20.2 ~O que se entende por produtos micacéos? Por que a mica resent limitagdes em seu uso, quando aplicadas de forma singela? 20.3 - Entre os varios produtos micacéos, explique o que se entende por micanite ¢ micafélio. 20.4 — Desereva o produto micacéo denominade de micalex e suas principais propriedades 20.5 — Enuncie algumas das propriedades da mica sintética flior-flogopita e sua grande desvantagem, 250 ABARAEARAAOAOO OOOO EEDAEBAABMREABAAMAMABABDEDR MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA ~ Prof. Aelfo Marques Luna ~ Volume I CAPITULO XXI © conceito de material cerimico foi abordado de’ forma sucinta no capitulo IIT e se observou que eles so materiais inorgdnicos. A maioria das cerémicas consiste em compostos formados por elementos metélicos e elementos no metilicos, nos quais as ligagbes interatémicas ou sdo totalmente iGnicas ou slo predominantemente iGnicas com alguma natureza covalente. © termo “cerimica” vem da palavra grega keramikos que significa ‘matéria-prima queimada”, indicando que as propriedades desejaveis desses materiais sto atingidas através de um tratamento térmico a alta temperatura. Os produtos cerémivos trad ado a louya, u porvelana, 0s tiolos, as telhas, 0s azulejos € ainda os vidros. Sob o ponto de vista engenharia elétrica os produtos cerdmicos encontram notavel campo de aplicagao sob a forma de isoladores de porcelana e de vidro, usados nas instalagdes de média ¢ alta tensdo elétrica. 21.1-PORCELANA Entre os produtos cerdmicos a porcelana é mais importante. A porcelana ¢ o dielétrico de uso mais antigo ¢ até a presente data néo perdeu a sua importancia. As principais razées da predomindncia desse produto cerdmico so as seguintes: a) Reduzido prego das matérias-primas.A argila (ou caulim) que é o material bisico de sua composi¢io é um ingrediente barato, encontrado naturalmente e em grande abundancia, A esse componente fundamental se associam outros constituintes secundarios que sto 0 quartzo eo feldspato, também de custos baixos. b) A fabricagao ¢ simples. E grande a facilidade com que os produtos a base de argila podem ser moldados; quando misturados nas proporgées corretas, a argila e dgua formam uma massa plastica que é muito susceptivel a modelagem. A peca moldada, depois de secada para remover a umidade € cozida a uma temperatura elevada para melhorar suas propriedades, especialmente mecanicas ©) Suas caracteristicas dielétricas e mecanicas sio boas. Sao materiais duros, quebradigos, apresenta alta resisténcia a compressiv. Apresentam rigidez dielétrica elevada, além de uma excelente estabilidade térmica, Na composigiio da porcelana eletrotécnica a participagdo bésica de cada um dos ‘componentes citados & a seguintes: 50% de argila+ caulim 25% de quartzo 25% de feldspato. A argila & um silicato de aluminio hidratado ¢ o caulim é um tipo de argila pura, de cor branca (também chamada de barro branco, barro forte). © quartzo € éxido de silicio (Si02), 251 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA — Prof, Aelfo Marques Luna — Volume material de grande dureza que se funde a 1700 °C. O feldspato & nome genérico de um grupo de minerais petrogenéticos, ou seja, formadores de rocha. Sao silicatos anidros de aluminio, com potissio, sédio e calcio. O potassio € 0 mais usado. © feldspato ¢ o elemento mais fusivel dos trés componentes da porcelana e desempenha papel importante no cozimento da porcelana. Os componentes bésicos da porcelana tém, cada um, sua influéncia predominante no aspecto térmico, mecénico e dielétrico, segundo a andlise abaixo: ‘Aspecto térmico ‘© componente que influi termicamente ¢ 0 quartzo, portanto, quanta maior a sua porcentagom, maior € a temperatura suportada [pela porcelana, ‘Aspecto dielétrico E respondide pelo feldspato, componente que define 0 comportamento dielétrico, ou seja, esponde pelos valores de rigidez dielétrica, fator de perdas. Quanto maior sua porcentagem na composi¢éo maior sua caracteristica diclétrica. ‘Aspecto mecinico ‘As propriedades mecdnicas so) conseqiiéncia da porcentagem de argila e caulim presentes na massa cerémica.A porcelana apresenta valores de resisténcia a compresstio dez vezes superiores aos de tracao. Na preparaglo da massa a ser trabalhada, deve-se estabelecer primeiramente a aplicagao a que a porcelana teré, para entio, em fungdo das condigdes elétricas ou dielétricas, mecanicas ¢ térmicas que o material deve suportar, fixar as porcentagens de cada um. Observa-se que o aumento da porcentagem de um dos elementos componentes acarreta ui prejuizo nas propriedades regidas pelos outros elementos. Maior incidéncia de argila &18 one Vz > 10,38 co = = 15,68 : | - 40308 4g BT eisecanen, = Distribuigao das tens0es ao longo de uma cadcia de 7 elementos. Observa-se que os valores mos ocorrem em elementos intermedisrios, mais préximos da massa. (Deseno do autor) 23.9 - ESTUDO COMPARATIVO ENTRE OS DIVERSOS ISOLADORES Pode-se descrever a situagao dos materiais empregados para a fabricagao de isoladores: ISOLADORES DE PORCELANA: E 0 material de uso mais antigo e sobre 0 qual se i cia acumulada € cujo desempenho tem sido satisfatério através dos anos, tanto como dielétrico, sob o ponto de vista volumétrico, como isolante de superficie. As dificuldades de localizagéo de isoladores de suspensio defeituosos, ou seja, os que apresentam perfuragio volumétrica pela campanula, hoje é superada por métodos especiais de detecgio. Nas linhas de transmissio os isoladores de disco de porcelana foram praticamente superados pelos isoladores vidro temperado que apresentam a facilidade de 288 MATERIAIS DE ENGENHARIA ELETRICA - Prof. ‘Aclfo Marques Luna - Volume 1 luma ficil identificagao das unidades defeituosas nas cadeias, Ocorre, por outro lado, que isoladores de vidro slo mais sensiveis as agdcs vandlicas, tormardecce interessante substitui-los pelos de porcelana nos trechos de linha onde a freqiléncia dos ataques é maior. tien bes rags elétricos é ainda praticamente insubstiuivel, nfo obstante ja exictnens palicaebes também com o vidro. Na Fig. 23. 10 sko ilustradas eadeias de wloda ee porcelana. Fig. 23.10 - Cadeins de isoladores de poreelana, A da di NaeaEte Sentral da foto sio visto foladores de 10” de didmetro (porceia banca) e finaimente a cataege da a adeia de isoladores ant-poluicto, também com 10°" de tigen (Adaptado do catatégo da industria de isoladores Santana- Pedreira- So Paulo) ISOLADORES DE VIDRO: 0 vidro, como ja foi estudado em capitulo anterior é uma solusdo resultante da solidificacao progressiva, sem tragos de cristalizagdo, de uma mistura homogénea de dxidos e silicatos. Os vidros utlizados para fabricagio de isoladores sto Schretudo do tipo sédico-ealcico e cujos componentes principais sto ce oxidos de silicio, de Sédio € de edlcio (cal, com as seguintes proporgées mais ustais de Si0; - 65a73% NaO - 8a17% CaO - até 22% [a vantagem do isolador de video em relago ao de porcelana reside no proceso de Fabricago que € automatizado, resultando, portanto, uma redugio de custos e de Procedimentos de controle de qualidade mais faceis, O° isoladores de vidro podem ser temperados ou recozidos, de acordo com a velocidade de tesfriamento empregnda no processo de fabricagto, conforme explicado no item 22.3 do capitulo XI. Obtengio do vidro temperado: © vidro, em fusto © em quantidades dosadas fornecidas poids alimentadores (feeders) da fabrica, sob forma de gotas, de pese vant entre [a7 quilo, conforme o tipo do isolador desejado so despejadas, a uma cadéncia de 5 gotas por ipoladores donee Automaticas com as formas eas dimensoes correspondence hoe isoladores desejados. Na Fig. 23.11 (a) é mostrada um alimentade: a momento em que

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