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ii QOOOOOOOOOOOOK QOOOOOOOOOOOOL QOOOOOOOOOOOOL QOOOOOOOOOOOOE QOOOOOOOOOOOOL QOOOOOOOOOOOOL OQOOOOOOOOOOOOE OQOQOOOOOOOOOOOE OOOOOOOOOOOOOE QOOOOOOOOOOOOE OQOOQOOOOOOOOOOOL OQOOOOOOOOOOOO QOOOOOOOOOOOO‘ QOOOOOOOOOOOO ILIYYVVM YN OOO OOOO NNO OOOOOOO@OOQOOO@ @ EDITORIAL [ESTRUTURA E DESCONSTRUCAO. sta edigio de Mente, Cérebro & Filosofia ~ 0 sécitlo XX focaliza dois autores fundamentals para o pensamento contemporineo: (0s fiunceses Claude Lévi-Strauss e Jacques Derrida. © primeiro, aseando-se no estruturalismo lingtstico, examinou os siste- mas de parentesco e outras insttuicdes dos povos sem escrita como se fossem os termos de uma lingua, destacando as rekagdes © oposi- oes entre eles. Em pouco tempo o método estruturlista tomou conta do cenirio intelectual francés, estenclendo-se por campos to diversos quanto a crtica lteriria ¢ a biologia. Derrida, por sua vez, despontou em 1967, quan- aia pealer o folego inicial. Fle mostrou que do a onda estruturlista comeg a noglo de escritura abrangia cada vez mais a linguagem — tanto a falacda quanto a esctita. Seu método, conhecido como desconstrugo, submeteu a uma critica acirada toda 2 tradiglo metafisica ocidental Além de apresentarem as linhas mestras do pensamento dos dois autores, 6 artigos desta edicio examinam, em especial, as rekigdes que estabvelece- ram com os estudos do psiquismo. Lévi-Strauss reconheceu a grandeza do pensamento dle Freuc, mas criticou virias de suas concepgdes € nao hesi- 12 noglo de inconsciente estrutural é hem diferente do inconsciente freudiano, Além disso, sua obra procura aproximar etnologia e psicanlise, mas sob a hegemonia da primiei- 12, conceituada como uma psicologia capaz. de produizir leis universais. Tais idéias tulvez pudessem afistar os adeptas lo pensador austriaco ~ mas, a0 contririo, as concepgdes estruturalistas refletiram-se na obra te6rica de um. dos gigantes da psicandlise contemporinea: o francés Jacques Lacan, 0 desconstrutor Derrida considera que siti nogio de eseritura abar- ca e explica conceito de recalque, vendo no psiquico ur Ele também procurou aproximar suas idéias de escritura © differance de concepgdes como « do inconsciente freuciano: todas as trés falam cle uma alteridade radical que se insere em toda parte, mas no se localiza em lugar algum. Mais ainda, na leitura desconstrutora cle Além do prineipio do prazer, Demida aponta para a possibilidade de “com Freud, a partir de Freud, ir além de Freud”, “Todos esses aspectos convickam os leitores interessaclos em psicologia € psicanalise a conhecer mais de perto o estrutural desconsirugio de Derrida, indispensivels para o entendimento clas varias dimensoes do humano em nosso tempo. tou ema iproximar @ psicandlise do xamanismo, 5 efeito dela ano de Lévi-Strauss e a Cantos Eouanvo Maros Editor de Mente, Céxelsro & Filosofia - 0 século XX MENTE-CEREBROE FILOSOFIA MENTO ra Clas Fea -enygA0 MENTE CEREBRO & FLOSOFA Na Bore eo Cd: Ue Suse Mare ah aaa enagAo MENTE & CEREBRO TOMA be DTORADE ATE: Seo Ota Vira ATE a Fas Maes ES009A OOSHURCK Sr att rea orca earre Cama FSSTENTE OE REDAHO Ee ga Pn EMO Lan Wat one ROOUGD GABE Satis yes es TRATAMETO DE NAGE Care Wor cea 2 era cbt 8 sa oe seo a Met Cre, esse ens Spree as, ata rae es pt GR eS Art, Duetto fs Cn G42. 4. 38 -Pebios SP) GP 0921-00 — Ts ON) 271380 faoryargaiar IELODNDE ‘aaiccnetelrceoaeottettcomin DETER Ure Sets BETO GE COMDS tara Pristo arcu maKETN NTE Re Mars SOSTENTES usa ces «ta Fut ENTE SSRFTRAS De X ar Cae TEDE ENDAS AULS: Gat Lones oe.go mario SEEN Uns Mend ATA Si NES DESIER:Ae odies CONTROLADOR E RUNS DETR Ua Ga SOME RAL TEND 0 ASSHUATE BRAS: 01) 500-000 (rnernaeteesortcor ty) NUS ASSRUTURS (ureassiarOdontttalco) EDNGDES AWSASEESPEGS economy Foor Peng Foo 2, SN SBA HS. Dare om cae par tao 0 FASE: DPS Ra Dv Kel Shinra, 1678 mars nds an ssl oi, cea ot terme a ate) 388-800 <0 lst watson toon ew ees sat Goce pxagon (onesslo GE Gatca A [DBETOR RESPONSE: Area Matar ANER 1PP ee Sis ae ned : Ti nahaeeas Orrico sec . aor 3 a soc HT, RE Loess RIAN S oixes sends, B eo BOsesicavause rea JS devs ea rca EDITORIAL LEVESTRAUSS DO IMPOSSIVEL Segundo 0 crlador da Pare Derrida, toda relagdio com antropotogia esinutural, 0 outro toda éitea ~ supbe states meonucso Inconsciente ndo é nem tum certo sacrificlo, como CLAUDE LEVESTRAUSS pulsional, nem constitiido um juramenio secrevo O méiodlo estrunural de : bE vito INCONSCIENT loeb vein Dee aura sh come avi eroele é TA iancas erensoes Q2xannecrecuom — 48 nogtis vawws anf, Daria laud sage Levi-Strauss 0 método estrutural de Lévi-Strauss favoreceu abordagens inovadoras nos mais diversos campos do conhecimento rox GUIUMERME cASTELO ARANCO Ao LONGO bo sicuto XX, num processo que ainda esti Jonge de se encerrar, as relagdes da filosofia com as ciéncias humanas permanecem em aberto, € passam por muitas flutuagdes, ora de colaboragto miitua, ora de hostilidade franca ¢ direta, Com a psicologia, com a psi- candilise, com as ciéncias sociais, com a lingilistica, com 4 antropologia, entre outtos saberes da modemidade, os filésofos comportam-se de maneira muito diversa, num arco que vai da rejeicho incondicional das contribuigdes tuazidas por esses campos de conhecimento 2 aceitagio dk insuficiéncia do discurso flos6fico em lidar com certos EM SINTESE +O prsene wal sprsata temas aborcados pelos novos saberes. @ Com o francés Ne oaeda tant Claude Lévi-Strauss, cube alertar, surge uma situagao eras, coma seine corcem de expasigo: 0 * especial, pois rata-se de um pensador oriundo de forma- bic natrte 10 em filosofia, ¢ que foi levado, pela roda da fortuna, a afloaa eas lacs 2 Iumaas a viral do él £ trabalhar com a antropologia social, convertendo-se no Mitpaa0 Xk desc é das hipéteses de trabalho © somente num dos teéricos que inauguraram esse recente 2 a Bt Jeantaas pelo anirop logo ramo do saber, mas também num dos mais renomados e ‘raneés, ea exposigdo de alguns importantes problemas Asics aides pela contribuigdes a0 conhecimento antropalégico, sapol esau conhecidos intelectuais do planeta por suas importantes Trazido da tarefa de ensinar flosofia numa escola secundaria sem maior importincia do interior da. Franga_ para ‘rabalhar numa missio francesa em 1934 junto ® recém-fundada Universidade de Sio Paulo, mas enquanto professor de sociologia, LeveStrauss, jovem filésofo, vise dante da necessiade de adequar :1 com teoria sociologia antropolégica, de maneira 4 realizar tum trabalho de pesquisa com a devia consisiéncia epistemoligiea, Para iss, © pesquisador foi levado a discutir nto Somente com as teorias antropolégicas {que 0 antecederam, como também com as correnies que debatiam o higar € 0 estatuto das ciéneias humanas na passa ‘gem do século XIX para 0 XX. CHOQUE EPISTEMOLOGICO Nos iltimos decénios do século XIX, quadro epistemol6gico alteow-se se siveimente com o triunfo da teeno- logia responsivel pelos avangos. da Revoluglo Industral dos séculos XVII € XIX, que foi compreendida por muitos ‘como sendo resultado da evolugao do 0 SECULO XX - 902 Levi-Strauss percebeu que 0 estudo dos povos sem escrita exigia novos meétodos de pesquisa e uma teorizagao ainda a ser criada conhecimento cientitico € do racionalis- smo ocidental. A postura triunfante dos partidrios do pensamento cientifico foi chamada de "cientificsmo', os seguido- res dessa corrente im que @ cincia no apenas solucionaria todos (0s problemas da humanidade como tam- bém j teria superadoos ultrapassados e niunea resolvidos impasses tedricos que haviam desafiado a religiio e a Filosofia, a0 longo da hist6ria. O positivismo do 1e&5 Aujguste Comte, por exemplo, seria uma variante do cientficismo, que concede espaco i religio e 2 filosofia ‘como estidios anteriores e jt superados pelo momento presente, marcado pelo espitito cientifico, Todas as variantes do Cientificismo, portanto, concedem valor absolut aos fatos € 2 realidade emp a, 2 explicagio pela causa e efeito, a descrigio do mundo objetivo. Para essa ccorrente do pensamento, 2 flosofia, em especial a metafsia, era coisa do pas- sido, objeto de museu, (Os metaisicos, por sua vez, espon- detain aos ataques dos cientiicsts, lembrando que 0 esptito ¢ 0s valores hhumanas jamais poderiam ser esgotados pelas assertvas ckntifias, uma vez que somente 0 mundo natural obetleceria ao ritmo e seis da causalidade. O que cexplicara tal atitude, que se mantinha francamente metafsica, talvez fosse a seguranga trazida pela estrutura eorpo- nativa das universidades (3 época), que 0 adeptas dessa comrente julgavam ser = inatacivel, Narianes infelectuais dessa postura slo 0 inielectualismo, posigl0 que enxerga no intelecto 0 apice da > vida humana, e 0 espiritualismo, que entende que 0 espitito ¢ o funéamento € 0 sentido maior da exisacia Tal posicao resolutamente metafisca ra verlade, demorou décadas para ser abalada, como 0 foi, de maneira avas- saladora, pelos jovens contesatirios de Palcandie PN), relia pox Jn. theca (cengua ama) Mx Wertheimer veal peices Sebreapercepcéo a movimoxto ue condi picobdinds Gist aio de 68 na Franga (mas 0 alcance da critica dleles era muito maior, assim como 0s reais efeitos da onda de con- testagio cos fins dos anos 60). Em 1968, até mesmo. merafisicos-hermeneutas inovadores, como Paul Ricoeur, foram lteraimente jogados pelos estudantes na lata de ix. Sem pena alguma, SUPERACAO DO IMPASSE Uma tenuativa de concliagao, ainda no século XIX, fol ensaiada por Wilhelm Dilthey, que buscou classificar as cién- sem dois tpos, as cléncas explica- & tivas © as citmcias compreensvas, Os 2 primelnos tipos de eacias huscartam Z entender os fatos, que sera expli- § cados segundo procedimentos induti- E vos e cassis, enquanto as segundas puscaniam caprar 0 sentido das coisas 8 humanas e psicol6gicis, numa atitude 5 compreensiva e de simpatia com os 5 fendmenos estudados. Tal ensaio de conciliagd0 foi percebido, por muitos pensadores, como uma ‘maneira de salvaguardar as cigncias humanas, mas = ao custo de fazer delas ciéncias menos ten importantes € menos objtivas que as ciBncias explicativas Para resolver 0 impasse entre 0 positvismo e intelecualismo, surgi © movimento fenomenokigico. Lév- Strauss foi contemporineo desse pro jeto que procurou refundar a filosofia sem se apolar nos eléssicos binémios corpo-alma, experiéncia-pensamento, subjetvo e objetivo, A idéia de inten- cionalidade (a de que toda consciéncia € conscidneia de alguma coiss) © a ogo de que a filosofia pode ser wma 10 da experiencia originria ou ie predic nda centusiasmam geragdes de filésofos. A psicologia da Gestalt, 0 existencialismo, 4 psiologia existencial, por exemplo, foram diretamente influenciados pelas idéias de Edmund Husserl, 0 grande precursor da fenomenologia, abrindo ‘espago para a descrico da vida cogni- tiva e das atvidades da consciéncia, A fenomenologia, em imo caso, ainda é uma corrente centrada no cogito e em suas diversas manifestagdes, sem muita afinidade com correntes que procuram encontrar fundamentos.inconscientes a vida psiquica e social NOVO ESPAGO, NOVO SABER LéviSuauss, desde © momento em ‘que se deparou com as sociedades ‘itas “primitvas", percebeu que tinha ante de si um material coletivo que merecia novos métados de estudo € tuma teorizaglo que deveria ainda ser m primeira lugar, havia 0 sistema de mitos, que um racionalis- ta ocidental, a partir de uma tomada de posigio logocénirica ~ referente & centraldacle do fagos 0 pensamento ocidental -, considerava. um conjunto inacional de relatos, mas que para © antropélogo deveria possuir Wgiea propria, bastand encontrar elementos para sua elucidagio, Em segundo higar, haveria que entender a organizago da vida social dos poves extudados, na qual até mesmo a estrutura familiar, a esteatieago econémica ea. posiglo das casts na organizaglo espacial dos povoados poderiam obedecer 2 umt cordem prévia e nto explictada nos dliscursos dos membros dessas popula ees, Finalmente, havia um problema abesto para o proprio. pesquisador: como estudar tals organizagbes socias sem se deixar envolver pelo farto mate tal empitico e pelos elementos recolhi dos, sem caie no eolecionismo de itens exéticas (sem nenhum nexo posse Pportanto), sem se deixar contaminar pelo preconceto de origem einoctn trea, portanto logocénircs, a respel to de sua maneira de pensar, © sem supor ~ ademais ~ que as onganizacBes soci seriam uma sobrevi ua focma de viver “prima e distame da época aul Para resolver as questdes, Levi Sirauss escolhe partic dos relatos € experiéncias (que ele denomina de ‘eventos ou acontecimentos) dos nasa dores para reconduzi-los a um principio de organizacio mais amplo e sistem co, ot sefa, uma estrutura. A estat portanto, nto € um mero produto dos dados empiricos, mas sim um model formal que procura elucidar, de manci- ra genérica, as experiéncias sociais estudidas pela amtropologia, segundo tum método elaborido 2 luz do estn turalismo Hinghisieo Gnspirado, entre ‘outros, por Jackobson). Esse modelo formal € uma construglo do. pensi- mento; todavia, nao € nem frato dito dha experiéneia vivid nem um astefato fonelectual fechado em si mesmo. ‘0s elementos que fazem parte da cstrutura, segundo pensa Lévi-Strauss, sto parte da engrenagem da lingua ‘gem, e por isso mesmo partcipam seit do mundo da Natwreza seja do mundo da cultura, pols ambos estio inseridos nesse grande campo de expresso. Tais elementos, ademas, ambém esto presentes nos relatos dos membros dos {grupos sociais, nas priticas econOmi- as, nas 4oCIS simbolicas etc, © tem commo caractetisiea mais importante o fato de serem inconscientes. ‘A nogio estrutural do inconscente tal como foi apresentada por Levi Stas, permite realizar a econeliaglo entre modelo e experiéncia_vivida entre mundo subjetivo € mundo obje vo, unui vex que esse inconsciente nao € fundacional € operante como 6 inconsciente de Freud, Na verdad, ecessitando ser desvel bert, trazido 2 luz, mas capturado nos relatos, nas regras organizadonss da vida dts coletividades, assim como nos valores e conviecdes dos individuos, 0 inconsciente “esrutural” €, como bem formulou Michel Foucault, um *incons- clente da coisa dita’. Tal inconsciente, bem entendido, 0 ‘seria um. inter mediirio entre o mundo subjetivo © a vida. social, mas uma alteridade que se presenta diferencialmente num ¢ not to, & maneica de uma inceligibilidade anonima ¢ sem nenhuma fundamenta ‘20 ontol6gica possivel, do, redesco: SOCIEDADES SEM HISTORIA Por outto ido, @ nogio de esincura © 56 pode ser desenvolvida, num exame etoldgico, a partir do primado do tempo real da pesquisa, irefutive, a partir dos dads com os quais 0 etn6logo lida le mente no trabalio de campo, A relagao entre esiutura hist, asim, entra no centro da problematizagio de Lévi Strauss, como era comum em meados do século X%, devido & enorme influéncia do hegeliaismo e do marxismo. Lévi- poe, iz uma defesa bastante corajosa: numa pesquisa einogrifica, em campo estrutural, a questo da diacroniz, tal como foi pensada pela lingtiiica cesutural, consegue explicar melhor as descontinuidades que pocemos perceber nas diferengis que Sio reveladas pla ccomparigio entre estruturas do que 0 cesqueleto imeligivel do hegeianismo a seqincia coustl do marxismo, uma vez que esas sempre partem da suposigio de uma ratio de carter universal que presi- 3 ates ‘curso das sociedades ocideatais sto ambém denominadas como “sem histéra’ foi um desifio enfrentado por LéviStrausse que o levoua uma a @ tacao da dieronia concebida com base nos resultados da pesquisa estrutural, Sut hipotese € a de que, a partir do prima- = do do presente, a partir da pesquisa de campo, seria possivel comparar as esr turas que sobredeterminariam as priticas 5 socias e as experitncas individuals, pelo Strauss, historia em sociedades que Pensar a histéria em sociedades que sao também denominadas como "sem histéria" foi um desafio enfrentado por Lévi-Strauss cotejamento des modes formals cons: tnd pelos antropélogos, de manera sempre posterior 0 que acontece a pa tide pesquisasrealizadas tempos depois com o mesmo grupamento social, ONDA ESTRUTURALISTA Por ironla do destino, uma obra discreta restita a um mundo de especialisas aacabou entrando no centro da fama, O {que parecia ser um trabalho isolado de tum antropélogo acabou senda associa do a uma série de ours pesquisas em diversas jas humanas, como a este itera, 2 psicandlise © até mesmo a biologla, rizendo uma onda iresistivel de pensaimento que ganhou 0 nome amplo € controverso de “estrutu- ralismo’, e que dominow o cenitio inte= lecual a0 longo dos anos 69 do sécuilo XX, Muitos intelectuas tiveram forte anteulagio com os métodos € as iias estruturalisas, como Barthes, Foucault Lacan, Duméail, Monod, Althusser, den- tre outros. alguim tempo depois, entre- tanto, nenhum desses pensadores ace tava mais ser chamado de estraturalisa Todos evitaram tal indicaao, 4 exces de LEv-Siess, © antopblogo foe con- tina sendo coerente com os postlacios outinirios e metodolbgicos do que ee chara de esirturalsmo até hoje. Suas ideias, pois, forum discus pelos mais diversos campos do saber, como por om transbordamento, ¢ muifos conceitos por ele deseavolvidos também trouxe ram novos problemas para a filosofia, Denire as idéias de Lévistrauss que provocaram a inguicagao flosica, a principal e mais imporante é, como se deta imaginar, sua nogto de est em Antropologia exraural, ele fala. de algumas coadigBes para que os melas tedrioos meregam o nome de «srt. Diz ele: “Em primeiro lugar, uma extra coferece um carter de sistema, El conse UM DIALOGO DIFICIL ‘Sem divi, rade corrente a flosfa continental do sco XK fla fenomenologia Atontativa de eindagdo do pnsamento floss relzada or Edmund Hussert jamais Abvcu de catia graces de intlectai, sedis peo carder otmita dss projt. Ofatoé que a empretada Lembremas:trata-se, para a fenomenlogia, de realizar uma superagdo definitive de vas oposiges como como alma, realism eidelismo, conhecimento wir @ conhecimentocentfico, para relic, a part da ida de ‘ntencinaldede, uma descrigdo ts conteidos eftvos da relagdo entre pensamento mundo. final, segundo a loi de intenlonalidae, toe consolénca 6 consiéncla le alguma cosa que ale se apresenta,e a questi flsdtioa ‘que se abre@a da descriedo de experincis origina, patindo do postuiado de que a consclncia @© mundo doam- @ um ao outo, antes de oda formulagSo do uz igi da argumentagéoe estrutraggo Alscursiva Projeto floséficoe método feromenclgico, dessa ‘maneia, imbricamse para procurar realizar uma inovadora rmodaldade de tundamentacéo lo conhecimento, A anfropoogia estruturl, certamente, nunca procurou trazer uma solugdo para a crise da metafisca, Peo contro, 12 MENTE, CEREBRO ¢ FILOSOFIA tavez tena contbuido para ez crosora questi, ‘an apontar para as nies inovadoras deestrutura, de inconscient etrutural de sobredeterminaego. Assim, a partcpacdo do movimento estrtualita, sobretudo a partir dos anos 60, importou ara‘ mundo intelectual mais pelos seus efeitos que pelos sous objetos de estudo, Para Lévi-Strauss, o universo com 0 qual teve dese deparar 0 hos relatos ities objets de ate “primitivs®, estrturas fomilores,estruturas do Parentesca—levou-oaprocurar tum método que permitisse encontrar nexos presents esse material de pesquisa, ‘aparentement incongruent 2 desprovido de tagoslgicos, sem ter de buscar nenfuma continuidade entre pensamento Sociedade ocidental. Mais: 0 ensementoestuturalsta de Lvi-Strauss deser® do potencial milter do coi cartsion, {ue passe a ser compreentido como mais um dos modos Dssiveis de organizacdo infeletual. Que nao se ida, enretanto aqueles que imaginam que o estrturasma desmerece a razéo e quer Assinar 0 logos Lévi-Strauss sustent, veementemente, que ‘seu projeto de antropologia & de carter centfico que sua asprardo& ade que ele tena lugar na cidade cinta, Cabe alrtar,ademais, que 1 processo de constitu da ‘antropologia estrutural, para Lévi-Strauss, & 0 que decorre la constugéo intelectual de ‘um modelo de estrutura, que na verdade combinatria e intelectual, similar a um ‘modelo matemtioo, que tem ‘como destino o conhecimento simultineo tanto d indviduo como da coletividade, Para isso, primado 60 do presente da comunidado o dos Invicuos estucados, presente que ¢ compreencid como contingents e no desdobrével de modo continuo no futur, segundo uma causalidade mecénica ou obediente a uma teleologiahistérca, como sera, por exemplo, no hegelianismo. Present € descontinuldade, mals que a sineroniae ciacronia, sto categorias mais vinculadas 20 espirito do pensamento da antopologiaestrutural. Na verdad, o mundo real suas transformagdes nao teriam nena organizagdo, ‘ranscendente, 0 que exigira, do peszuisador,atencéo desdobrada e humildade diante dos fatos observados dos povos estudades. Lévi-Strauss, lidando na pesquisa de campo ‘nto com um mundo visceral como dstante, bem dante dele, percebe que tem de Tar com ocontatohumano exercendo distanciamento metodolégico, Seu pensamento no ¢ intelectualmente distante do humano; 0 antropdtogo jamais deixou de demonstrat sua enorme afeigao pees coletvdades com as quais travou conta, assim como rnunea deixou seu trabalho ser desviado pela emogbes do convivio com as pessoas dos ovos estudados. Curosaments, o maior ivuigaor do pensamento de Litas, nos anos 60, no eo floseficoeintefectua, fl Meleau-Ponty, 0 fdsofo maior a fenomenologi francesa abr, de maneia generosa, ‘as ports do mundo co pesamentoparaaantopologia estrutural, Merleau-Ponty influeciou Lévi-Strauss, 20 abordar as reaches entre pensamento e 0 concreo, eteve © mii de formula grande questo para a fenomenologia e oestruturalsmo, qu ola questo da intrsubatividade, Para el, rata-se de um brobfema maior, oda superanao ao soipsismo (todo pensamento. exprime um mundo peivado) ela intersubjetividade (existe um mundo coletvo,expresséo eum modo coletve de pensamento ae ideologla ‘¢ manipulag cole), ‘A proposta de cilogo propesta por Meleau-Ponty ‘oi bem recebida por Lévi- Strauss Mas claro que é um Cldlog ttc Exist, todavia, ilogo facil que nao seja atraessad pela agonistica ¢ pela dspardade deintaresses € perspectives? Guilherme Castelo Branco CRONOLOGIA 1908 Nascneto be CLauoe Liv Sms tar BRismas, BMI, 1925 Iscwes No Paro Socauis. Prascts, A tnocs DeNOMNABO Serdo Feascrsa a IsTERMACIONAL (Onna (SFO). 1927 Cua As ekeuupAs De oso" # Ds ‘pazro DA Usvinsbsot De Pans 1952 Covet as us erapuagons& OFT fs cam DE nLoson, Iss SU TaADAUNO COowO feomEssoR Do Lic De Monr-pe Marsa. Cst3: com Dist Dremus. 10934 twos Na 94860 UaveRSTARA RANaESA QUE VEN PABA A LUytriaDA0e oF Sho Patto (USP), TRNDO OM FUNEAO LEOONAR 1035 Reaua curras Aces Pos INOS be Sho PALD, PARA Maro Grosso, mia tin ETUDES rNocnsnKs 1938 Pamocxavo reo Must Do owt (ase), ean Dew sIEDICO No Bas CENTRAL, NDO DE (CLARE 40 no MADHARA, EsTUDANDO PRINCIALMETE 05 NINA. 1940 Terra seu Teamuno No Museu D0 Homa, Sens 08 POS, Fe SL Petono bE FACLLDADES WAKA (© astnorei0¢0 ~ jupmy Nu Ps {COLADORNCIONSTAE COM UAL MARTE SU TIRITOO OCLAADA PELOS ALIAS. Rena, pocut2ONabo, 04 SHO, 1941 Vuua nara Nowa Yon, 1800 LEONA xa Nrw Soot row Soctat RSEA3C “Toast atmco bo UNCITA Rows sso, com ut weeacaN, IsTUub0s # clos cursos MagtENTA 1945 TaNDO RETOHNADO A Pans 40 FA 0 coNPUTO MUNDIAL, £ NOMEADO. CConseuneno Charurst x Eaxaps neenouek 1x Franca kos Estapos UNan0s, ESDINDO BL Noss York. CaSt-SE oat Rose-MAUE Vio, INIA tS ANTAADE ‘DuRabouNs CoM MERLEAt-PONTY F LACAN 1948 Passa 9 raxaatan cos sumrToR DO ‘Miss no How, 1a Pans, Dares AS ESAVTURAS HEMETARDS DO PEIISCD, 1950 Vices 4 foo, Paguitio Butabest Tous-se OrEsoR Ds Boone Pranigar bes Haves frupes Da UNYrISID Of Pans, FesiAo (Gu OcumAek a 1974 1952 Ponca Rica e moro. 1955 Pouca Tans monios 1988 Pomuca Avraoroiocu ssn 1959 E nowano momsson De xvtROAOLOGIA Soar po Coubce be France 1962 Layca 0 masures79 ce O rors wo 1964 Puma 0 ca 0 enzo, 1967 Pomc Du waco 1971 A mpino bs Usesco, ats, cos ta Conrrcis, 0 Axo INMRACIONAL te Uri Conmia © Raaso, Peauca O mews 1975 ISORESGA NA ACADENA FRANCA De LAS, Pomica Aimmorotoa MUTA 1. 197 Pomc Za vou 1s ase 1982 Avossxnsst 90 Cour or Feancr 1983 Lasea 6 unno oe exsnos O ou 2008 CLavoe Len-Srauuss pee suas AmDADes BILECTUNS ATE © HRESESTE NONPNTO, QUANDO COMPU CB ANOS cem elementos tas que uma moxiicagto qualquer de um deles acareta uma moci- fieaglo de todos os outros’, Elaborando ‘um eonstrutoteérco, uma andlise estat: ral de cariter formal, 2 antopologia esmn- tual no necesita de um dado origin {que muitos julgavam ser imprescindivel 0 thomem. Na verte, a einologia inves ‘lugar que toma possivel a oconténcia de certis manifesagdes humanas, na qual o hhomem, enquanto tal, no & tema central Nao € a razio que esti no foco das pes- ‘guises, nem a consciéncia humana, mas antes, aquilo que se apresenta € que esca: aa consciéncia, A estrutura~ ela sim, & clara, 0 homem € que se mostra nebur Joso, © por isso nada mas Higico, para léviStauss, do que cissolver © homem. Aeridace tanto para 0 sujito. quanto para 0 universo das relades socials, a esrutura desvela um mundo de descrigao como 0 das matemiticas, motivo pelo qual LéviStauss cé que & antropologia esrutural fari pare, mais cedo ou mais tarde, das ciéncias posiivas, Em segundo lugar na lista das pro- vocagées 2 filosofia esti 0 esatuto. do fnconsciente antropol6gico, pois ele ito € fiosomente um dado do mundo pst {quico, mas cima de tudo um fato incon: tornével da vida social. Tal inconsciente, rmtlgrado as impresses iniias, nao esta alicereado nos individuos empiricos, nem cexprime 2 forea do mundo cultural, pelo contri, tratase de um inconsciente que se revela de modo incompleto € parcial nos reltos das pessoas, € que pode tomar sentido maior na reconduio dt fala parcial dos personagens socais quan- do da elaboragio sisémica do modelo estratural, Deste modo, nem. os sistemas podem existr sem 05 sujeitos, nem os sujetos poem existr sem 05 sistemas, "Nem culturalsmo nem espiciualsmo; tio- somente, esruturalsine, PESTE LOGOCENTRICA TTerceiro ponto importante: as zagBes socials prinitivas nto si uma sobrevivencia de um tempo ultrapas- saddo ¢ intelectualmente inferior diante ‘CLAUDE LEMLSTRAUSS om acampamento& beira do ro Machado, om 1938, durante sua ‘expedigao ao Contro-Oeste brasileiro (© INCONSCIENTE FSTRUTURAL F 0 HOMES 13 ESTRUTURALISMO E LINGUISTICA ‘Ocstruturaismo de Lévi- _pesquisador evidenciar esse tanto sincronicamente, a Tis oposigdes estéo ‘Strauss tem suas raizes _conjunto de relagdes entre uma linguagem tal como presents, por exemplo, fos desenvolvimentos da os elementos, ou seja, a se apresenta na atualidade, no exame dos costumes lingistica no século XX, estrutura subjacente, 0 foco quanto diacronicamente_—_culinarios realizado por, Nao por acaso,0 termo do nteresse de Saussure - a uma linguagem em sua Lévi-Strauss em O cru @ 0 +e ofigina do Cours de consistia no exame de como evolugao.O5 dis linaistas coz, e na andlise de textos linguistique générale de 08 elementos de wma lingua exerceriam uma influéncia__iterérios empreendida por Ferdinand de Saussure se relacionavam no presente dcisiva sobre as teorias de Jakobson, £m sua classica (1916). Para esse autor, _—_(sincronicamente),¢ ndo em Lévi-Strauss. A concepedes abordagem de “O corvo”, uma lingua um fonfémeno sua evolueao aa longo do de Trubetzkay refletiram-se _poema de Edgar Allan Poe, social Ela ¢ estruturada ‘tempo iacronicamente). na énfase na relagéo entre 0 pesquisador chama a como um sistema culos CCoube aos integrantes da os terms de determinada _ateneo para as palavras ‘elementos sa inter- cchamada Escola Lingdistica estrutura, endo nos termos _emitidas pela ave, “Never relacionados de maneira _—_de Praga, entre os quals os em si mesmos.Por sua vez, more” (Nunca mals), que io-arbitraria, segundo russes Nikolay Trubetzkoy os trabalhos de Jakobson _servem de refrao ao poema, regras seguidas em geral dee Roman Jakobson (depois serviram de fundamento Ora, “never” @a inversdo ‘maneirainconsciente pelos radicado nos Estados Unidos), pate o método analitica _—_fonoligica de “raven” (corvo, falantes.Nesse sistema, cada a dinamizacao do esquema co antropbiogo, segundo oem Inglés). O par de opastos elemento é definido pelas de Saussure, Em 1928, ‘qual uma “metaestrutura” _raven-never,destecado por relagdes de equivaléncia ou eles anunciaram que seus _inconsciente emerge do__-—_-Jakobson,expressa, desse de oposigdo que mantém —_métodos de estudo dos sons processo mental de formar modo, a riqueza da andlise coms demais, abe ao da falapoulam ser aplicados pares de opastos. estrutural na literatura, 14 MENTE, CEREBRO 6 FILOSOFIA wiv. ateatecerebro.com.bt las sociedades contemporineas. Para ‘uma analise estrutural, inexistem socie des que no sejam complexas ou culturas que sejam cudimeniares, Nas saciedades ltas primitivas os mitos sto relatos elaborados, as trocas simblicas apresentam arranjos nada simples, 0 ‘pensamento selvagem" possui uma taxionomia © principios ordenadores do real bastante eficazes, Uma conse quéncia importante dessa constatagho aniropol6giea € 0 fato de que a Fazio predominante no mundo ocidental nto seria to nece ions ce poplar upd es oedetal ea Tal valorizagio d fem consideragle apenas nosis. pro ugdes espirituais, o que faria dos oci criaglo, uss alerta para 0 fato de que emos mudar tal atitude, para acabar com racismo, mas também para evitar a destruiglo da vida no planeta, A lua deve ser conta a barbie rcista e pela propria sobrevivencia dos seres vivos, s, em maio de 2008, Foto de um dentais 08 senhores tnicos ¢ Levit Hi poucos d publicada um que foi visio, pela p Talvez o logocentrismo contribua com 0 racismo e 0 preconceito contra parcelas inteiras da populacéo mundial ver, nus clstantes fronteiras do Acre. (Os habitantes da selva atravam flechas contra o avito de onde foi feito 0 regis tro. Mais que © contraste entre tecno- logias © calturas, o mals temeritio € 0 {que vai acontecer com esse pequeno ferupo a partir do contato com a nossa iilizaglo, Os indigenas descobririo que levamos, para todos os cem todos os semtidos, a peste, © CGIMERNE CASTLO BANCO ¢ per sca I Shiharnen de lst. one ee 0 abn de lon Conenporte Ao 6 de ‘ee ns ep biggonro es eel ee Cond © “acne Deze dougo sii, pablo argon temp e-Do Pe dg (nt Bal 07) (© INCONSCIENTE ESTRUTURAL & 0 HOMES sory eee Cer ores eer) Gite ‘OPONTO DE PARTIOA © Esturatsmo Alga de tees tors. unc Prado oeho Og). Mar one, © Acontovésia estuturalista. As linguagens a crt eas cincias do homem,Evgério Donal ita Mackaey Org) uti 19768, © Hist doestutrafso 1,0 eam do sono, T9AS/196. Frags Dose. rsa 19, ‘© Destruturasma de Lévi-Strauss. Lu Costa ia (Org, Vnes, 1970, ‘OESSENCIAL 00 AUTOR (© Tiles Tropiques, Clause Lév-Steuss. Pn, 1885. © Opensamento sehagem. Gaul Li ‘Strauss Peps, 1969, © Aaopoogia estutural. ude LéviSraus. Tempo Base, 1970, © Aatopoogia estutural dos. ste Ly Strauss Tempo Bras, 1975. PARA IR AIS LONGE © Em que se pode reconhecer 0 esiruturalsma? Giles Dsleue, en Frans Chateet 1g). str ca fost vl 8. Tar Ed, 1974 © Los mots ets choses. Mich! Fowcaul Satire, 1988. © Sons ot non-sens. Maurice Macao Nagel. 1948. © LeveStrous,antropoogla arte: rminiselo-ncomensurvel. Dorothea Yoel asset, Educ, 2008. ee] Ce es Perey eur or Jonge asc on CLAUDE Lév-STRALSS MARCOU PROFUNDAMENTE a cultura € 0 pensamento contemporineos. O etndgrafo francés, um dos artifices da antropologia do século XX é, de fato, um dos mais importantes, sento 0 mais significative, clos for- muladores do estr mura no. Idéias como, por exemplo, de eficicia simbdlica, presente no mito e em suas nam ti que inyestem de poder seus “mestres da verdade’ = tais quais os xamas ~, so notérias para 0 entendimento da cultur de nosso tempo em sua dimensio socie Também diriamos que essa mesma idéia, por sua vez, nos langa elementos decisivos para pensarmos acerca da pporéncia das forcas inconscientes do humano e do poder das crencas sociais. A andlise estrutural dos mitos destaca, ter de universalidade dessas ademais, para além do ca narrativas, meios de pensar 3 urdidura presente em um podleroso paralelismo entre © fisiokigico € © psiquico, influéncia decisiva dos saberes psicol6gicos contempo- raneos, em especial da psicandlise, Nesse sentido, faz-se necessirio explicitar as caracteristicas dessa perspectiva @ su ef cestrutural clos mitos e iia simbélica, presentes no estruturalismo de Lévi-Strauss. Mito, sszssn inconsciente uma forma moderna de xamanismo, prdxima dos ritos e do pensamento magico € Cura LEvI-STRAU © esrualssno do artropslogo francs ede todos os demas pen- sacores que acabaram_gankan- do a akeanha de estas, meso quando nio se intitl- sam desse modo ou mio s fi sam 2 cause’, deve ser entend- do como bem mais do que movimento intelectual transitrio cou uma moda passages os ejtudos culturs da Europa kt segunda meade do séaulo XX rats, antes, de um poder divisor de dguas no plano do ppensamento pura todasasciéncias o perodo, seam elas as humae niides, camo, por exemplo, a canologia ea psicologi:sejam a hanadas citcias da Natueza 4 lnguagem, entre elas a fisica a biologa, sem esquecer da ‘mpportincia ca materia para saber" estutualisa, Além cso, os pressupostes flosfcos esrunalsas fizeran dele um dss movimento de kas mas inflyrtes de nos tempo, rvalizan- do com 0 marssmo ea psicanlve, Melhor dizendo, aproprando-se, incusive, dessas dhuas amplas dimenses tecricas em sua damarche na consinigho de seu faze Sab ese aspect, 0 papel de LeviSrauss, que 0 anunciner mais como um método do que cone movimento proprimente to, & decsivo para entendermos 0 que 0 0 "pens" € o Tazeresrturl, t €, 2 pric exrutualisa. Dito is, a questio inicimente proposa aqui, enti, em «que media posemos denominar de ex ‘urls cetemiado pensamertc? CONTABILIDADE GERAL Em primeito lugar, & preciso dizer que 0 estuturlismo, em las genis, examina 2 infirestrtuas inganscientes dos fend menos cultura, considerindo os eemen tos dest infaetrutra como relacina- dos, n20 como entidades independents, mas procurindo, ain assim, compreen- der a coertna desses fendmenos das formagtes cuiturais como um. sistema. Nese sentido, 0 esrutualismo prope tum expécie de contabildade ger dis Jes que rege ¢ oganizam as sociedad Bsus seria esabdecklas por padtDes que seriam constitutes em toda © qualquer 18 MENTE, CEREBRO FILOSOFIA (QUIMERA, oquarela de Gustavo Moreau, c. 1888, Para Lévi-Strauss, ‘ Inconsclente ¢ totalmente estranhe Bs imagens que occupam vidla social, Esses padres que sio subja centes as sociedades podem ser lidos € sinaliscos estturalmente Em. segundo lugar, o estutualiso Tanga as bases part uma nova flosoia © uuma renovagio das sabres psicokigicos =e ern especial da psicandlse - principal- mente na Franca. Esse segundo pono & aque mais nos interes na inlexio estru- turalixa para analisimnos a relacio entre cestrururalismo e os mitos, 0 inconsciene © ( simipslico, ema deste antigo. NOGAO-CHAVE © francés Gilles Deleuze, no texto “Em aque 8 pode reeorhecer 0 esrturalsno? (1967, aponta alguns exis oma «que se possa defn um pensamento como cetraual 0 simbélico, 0 citériok de pos, o difeencal € 0 singular: 0 diferenciante ¢ 2 diferenciagio; o serial; a cast vari, Panindo desst analise, pie ater 0 iter relaionado a0 sinistico em relagio ao pensar sual € 20 es turismo de Léve Strauss. Segundo Delevze, estamos conditions dos a uma determinada dsting2o entre © real € 0 imaginério ou mesmo a uma core Iagio, quase que daca, entre esas dss rows A novidide propos pelo ent turismo ~ que incalmente fo elaboracls por Marcel Mauss (@ fungio simp) € Levi Saas (a eficiciasimboica), pants dos principios da ling fsa swssuriama ~ a0 introduair 4 nocio do simbdlico dlivou, & como que sobredeterminou esis uas nogies, tanto © real quanto, © imagindo, Nessa perspectva, © simbélico passa ento a. ser uma nogochave para o enten- dimento dos. processes. incons- lentes, sejim eles indivais (do sujeito) ou coletvos (nas telagdes sociais), © simb mesmo tipo de filiag0 mati ou pari neat, Ampliando a anilise, 0 pesquisador francés conclui que sempre hd a. mesma relaglo fundamental entre os quatro if sistema; marido/mulher, rm inna; pa filo; tio matemo/Sobrinho, que slo rela es de oposigo necessirios para 0 é01P0 E ANTIGONA,patura de Charts Fran nr ae esas a As mulheres, identificadas como bens por exceléncia por serem escassas € essenciais, so 0 objeto da troca entre os grupos es marcadus positizamente como livres ¢ familiares cu negativamente como hos AS posi Ges negativa e postiva aparecem nas diferentes sociedades indigenas observa- has, independentemente do sistema de fliaglo (mati ou pasiline todas as possibilidades de combinagio ene positivo e negatvo. LeviStrauss conelui que 0 avuncu- lado deve ser tratado como relagio imerior a um sistema € que exe deve ser ‘considerado em seu conjunto, tormando possivel perceber sua estrutura fundada Sobre os quatro termos (irmio, irme, tis, antagonicas ou. reservadas. Jalabort. Amora cries qu ina pai, filho) unidos por dois pares. de ‘oposigdes cortelatas, existindo sempre ‘uma poritiva e uma negativa em geruclo, Ele encontrou, assim, a estruns ra de parentesco mais simples que pode ser concebida © que realmente existe, © elemento. do parentesco, que une (os trés tipos de relagdes familiares de ‘qualquer sociedade humana: consangi reas (iemao ~ iema), de alia ido ~ mulher) ¢ de iliagd0 ¢pai/mie — filho) Essa estrutura minima permice saisfazer a triplice ext res, segundo 0 principio de mator eco: nnomia, produzido a panir de redugdes do sistema de parenteseo, Ao contro do que se poder i nar, Alo estamos diante de conse absirtas, dia LéviStrauss, pois o cariter imedhuivel do elemento do parentesco resulta da exiséncia universal da proibi= ‘@o do incestor um. homem obsém uma mulher de outro homem, que cede sia 5 pmibia inna ou filha, O tio matemo mo aparece 1 estar, pois € sua condigos primeiro deve ceder uma mulher e, depo's, seri 0 tio, Impora, para chegar a isso, comside aselagdes entre os terms no os temo isoladamente. A exianga, flbo ou sobrinho, acreseenta o antropélogo, garante o cariter dindmico dessa estrutur, afimando desse modo que o parentesco, longe de ser est- tio, existe para se pespetuas ‘TROCA E RECIPROCIDADE LéviSauss entende que determinads regnis, como 0 casimento preferencal entre primos cruzados, equivalem 20 sistema mais simples de reciprocidade tam sistema de teas. que inevitavel mente atinge a todos numa sociedad Primos cruzados nunca serio membros do mesmo grupo de pareatesco, que & formado pela fliagio uniteral adotada para a. socieciade inteita. Um sixema ddsses € a ase fundamental em todas as imodbaldides de casimento, pois todxs estio.submissas A exogamia, Assim, alguém de um grupo de parentesco, como uma linhagem ou um ca, s6 pode xxi de onto grupo. As mulheres sto 0 objeto dt toca, idenicadas por Levisirass como Fens ‘por exeelBnca pot serem escassis. € ‘ssencais. A importinia predominante mente econdmica, e menos erica, do caisumento ness sociedad, argumenta 6 autor, € acrescd do fato’ da profun- da tendéncia.poligima que poderia ser admitida por todos os homens, Isso faz sempre 0 mimero de mulheres parecer menor que 0 dos homens, Os homens fem posigdes de maior presigio conse ‘quem para sia prerrogativa de casamen- tos poligimicas, diminuindo 0 mero de mulheres dsponiveis para 0s outs Fora deste mecanismo de produg3o de escassez, deve-se considerar que mulle- tes boas part casar sto as que sabem podem wahalhar © procrat, € estas tambxém sto escassas, Mas so essencais, pois os homens dependem delas para ivi o trabalho e pare te bes, e710 dizindo dessa forma a sociedad. CConehise que a reget universal da dh incest poe ser eel como uma obrigicio de reciprocidade, rasa di didiva por excenci, terme ‘A RAUNNA VITOR E MEWBROS DA FAMILIA REAL. ‘problemas genétics, os casamentos consangiinees sho uma tracigdo entre as familias reals incorponido por Lévi-Strauss de Eisato sobre a dédive de Marcel Mauss, que a define como uma toct de presentes acompanbada da obrigacto de retribir. Se tum homem una ima para um outro se casar com ela, recebers, em tro, de um tereeio, ur mauler para casa ESTRUTURAS COMPLEXAS Impossivel encontrar no casimeo de sociedades nlovindigenas nem tradicio- ais a mesma motivaglo. © ineesto eon- tinua proibido,seguindo restrgbes legs, rmonis, eligiosase atualmente, com maior fore, as da biologia genética. Ele causa hortor, € 2 transgressio de sua proibic, constantemente noticiada como terrvel excegio, deixa a todos constemados Mas a continuidade dessa probigio mio jusifica a permanéncia do easamento, A familia consituida pelo casamento det ‘ou de ser tanto 0 local obrigat6rio para f reprodugio, quanto a unidade econd- mica de producio e consumo, da cvisio sexual do trabalho, ou da alana, Nada jusifi 0 casimento em socieddes com estraturas complexas para a escolba do parceiro, a niio ser a moral sustentada plas insttuigdes do Estado € 0 eonjunto de direitos. © easamento € a insituigio que 0 direto impée a todos, mesmo no sendo obrigatério, @ Gravura do LM. Raley, 1877. Apesar de causarem Sameer pec Depo phigh gn aa Neale Seas PR che Aig opesm ud cir an la Ss cpr ear nse rome ‘Ghee, 38 ind esa ape UatSeu comet gc lp a (priverigdea RCSt 207) soto Feguswvpusp topes PARA CONHECER MAIS ‘0 PONTO DE PARTIOR A fami, Cue Léd Stas em 0 ofr distancia gs 70,1985. ‘OESSENCIAL 00 AUTOR ‘ ASestruturaselementares do parertesco ‘laut Lé-Svass Ves, 1976. «A andls esntrl em ingistica e em anbopoogia. Cauce Lév-Srass em ‘atop esttural Tempo rast, 2008 PARA I MAI LONGE * Rotropolgia etutural, Clade Lév-Srauss. Tempo raster, 2008, «© Reflexes sobre odtomo do prenesce. (auc Lav-Srauss, em Antoplon este dois Tempo Bresier, 1989. | * otha distnciado, Caco Lév-Sbass. fees 70, 1986 ‘© Os rigors do casamento, Cade Li Sass «DierErtn, am Oe perio a ioe Casa Nay, 2005, Ensaio sobre adda. Mare tas, ‘Scola eantopalagi Coser & Nay, 2008 # Ocnigma do cesta. Geos Bia, am 0 ‘ole Pig, 198, © INCONSCIENTE ESTRUTURAL E 0 HOMEM 29 30 ysicanalise para Levi-Strauss 0 esvaziamento da dimensao afetiva ox c4Rtos aucusto rersoro yoston EM Thisres mOncos, uvwo no qual relata sua expe Hiéncia de viagem pelo Brasil a0 final dos anos 30, Claude Lévi-Strauss afirmava que todo investigador dos fendmenos humanos deve acrescentar 5 paricu- laridades individuais e as atitudes sociais. motivagdes de natureza propriamente intelectual. Considerando o periodo entre 1920 e 1930, época da difusio das teorias Psicanaliticas na Franga, o antropslogo dizia ter aprendi= do com elas que as antinomias estiticas — racional/irra- ional; intelectual/afetivo; Igica/ps J6gico =, em torno das quais os intelectuais da época eram aconselhados a construir suas dissertagdes filos6ficas, no passavam de ‘um jogo gratuito, De saida, existria para além do racio- jogo P nal uma categoria mais valida € mi importante, a. do ificante, expressio mais elevada dk ricionalicace, amas cujo nome seus professores ~ certamente, segundo © autor, mais preocupados com a leitura do Ensaio sobre as dados tnediatos da consciéncia de Henri Bergson do que com o Curso de lingitisica geral de Ferdinand de Saussure ~ nem sequer pronunciavam, 0 inconsciente lévi-straussiano nao é nem pulsional, nem constituido pelo recalque, e sim uma instincia nao t6pica, puramente estruturante EM SfNTESE * Cosderand as lags de Las com a teria pica, basse no decor deste aio mostrar como, para oestabelecimeio de sea pono devs strum a respi do Inconscire,torse inpresindi puro tor um eer stem angi liga dosgitcae. Nese sent, procure «Inca tanbn om esa inerpetagio «srt do icone cabo promoiendo ‘ma abrdagem predominastnente rcionalista da pscaise, que desoonsidera sua dimensio ati, HoOURA Repetidas veres, a obra de Freud (a quem Lévi-Strauss se refere de maneira explicit como um de seus mestes) mostavadhe que escas opexighes no existiam de fato, uma vez que as formas de conc ‘aparentemente mais afetivas, as oper {Ges menos racionais, as _manifestagdes considers prédgieas seriam precisi- mente as mais signiicativas. Mais signif cativas porque esruturalmente rcionsis. Nas palavras do pensador fi lugar dos autos-de-f@ ou das petigoes de principio do bergsonismo, que reduziam 08 seres @ as coisis ao estado deci para melhor poderem realgar a sua natue inefivel, convencime de que setes ‘¢ coisis podem conservar os seus valores proprios sem perdenem a nitlez de com tomos que os definem uns em rel ‘outs, dando a cada um deles una estru- ‘ura inteligivel, O conhecimento no x Daseia numa rentincia ou uma toca, mas sim numa selesio dos aspectos verdadet rox, isto 6 aqueles que coincidem com as propriedades clo meu pensamento* ‘Como se pode observar, nesst puss gem, a referencia 2 psicandlse € utliza pelo autor pari alcangar alguns de seus principals propeistes: a ertea 20 existen- alismo e 4 fenomenologia ~a despeiio de seu aprego pelas teorias de Mesleaur-Ponty, de quem clegou a ser amigo préximo -, (0 clogio a lingtistca e 20 signiicante ~ 0 elemento mais ricional dent: todos 08 racionais -, e a defesa incondicional do estuturalimmo como método de invest- gaglo, Esses dois tikimas aspectos serio zdos no decomer dese artigo, ROCHAS E RECALQUES Anes disso, porém, cabe obsenar que a cevolugio intelectual que LéviStrauss teria cexperimentado a pari dt descoberta da psicundlise inga-se de algumas tansor mages hastante peculares, em virude de uma intenst curiosidadl: que 0 havia lo, desde a infanca, para a geolog. © eandlogo afma que, quando velo a cone eras teoriasfreudianas, elas teiam surgido para ce, de maneica muito natural, como a aplicagto ao home inlvical de um imétodo cua reg fundamental podria se representada pea geologia. Do seu. porto de visa, nox dois casos, 0 invesigador verse de imediato colocado dante de 12 MENTE, CEREBRO & FILOS\ Segundo Lévi-Strauss, 0 gedlogo e 0 psicanalista procurariam projetar, no tempo, certas propriedades fundamentais do universo fisico ou psiquico fendmenos aparentemente impenetrivis. TTodavia, a ordem introduzida num con- junto 8 primeira vise incoerente, no sei ‘contingente nem arbiniri. Ao contro d hisria dos hisioriadows, a do godlogo © ‘a do psicanalst procurasiam proxtar, no tempo, certs propriedades fundamentais do universo fico ou psiquico Suas primeins referencias explicias a ‘0 METRONOMO, pietura de Olga Rosanova,t teoria freudlana aparece a0 final de As estnuniras elememares dbo pareniesco (4549), Al, 0 antopélogo francés. liza que 0 mulogro de Totem e tabu (1912) Tonge de ser inerente uo propesto de Freud, se prenderin mas & hesitagio que © teria imperiklo de se prevalecer até 0 fim de algumas consequénciss implicadas ‘em suas premisss. Era necesirio que ele tivesse percebido que ferximenos referidos a esruturt_ mais importante do espirito hhumano mo teriam porto apaneoer de medio, Hles se repetisiam.interamente no interior de cada consciéacia © a expl cago de que dependem pertencera a uma frcem que trunscende 20 mesmo tempo as sueeses histOncas € as comelagdes lo presente, Par 0 etdlogo, @ ontoygnese indo reproduz a filogenese, ov 0 contri, ra ullrapassardicotomias do ipo ‘acional-iracional, Lévi-Strauss recare a inguistica UM SONHO ANTIGO Na leurs de LéveStraus, Totem e tabu conduc a tum esteanho ¢ duplo parse doxo. F sud explicaria de bem-sucedlla mas seu presente, Tendo partido em busca hori gem de-uma_proibici, ele teria conseguido exph ar mio por que 0 incesto seri conscientemente conde- nado, mas como acontece que sejainconscienternente desejado, Levi-Sirauss lembra que muitos fl teriam repetido © que tomar Totem tabu uma interpretagao inadmissivel da proibiglo do inceso ¢ de suas orgens, saber, a gratuidade da hipstese da honda ddos machos € do assissinato. primitivo, érculo vicioso que fara nascer estado atividades que o supdem, anio, em sua opinio, como todos 0s mios, 6 que € apresentaclo pelo atigo freudiano admite das interpre tagdes, O desejo dai mae ou da itm, 0 assasinio do pai e o amependiimento dos fills, sem civida, nto corresponderiam «qualquer fato, ou conjunto de fatos, que ‘ocupat na hist6ra um lugar defini, Ms, take, eles tackzam, em forma simbeli <2, um sono a0 mesmo tempo antigo duradouro, O prestigio desse sonlo, seu poder de model, sem que se saiba, os ensamentos hniminos, provirit exit mente do fato de os atos por ee provec dos nunca terem sido cometidos, porque s-cultura sempre © em tox parte se Ops iso, Para 0 aniropdlogo franc, satis fagoes simbolcas nas quis se expande © sertimento do ineeso no constniiam a comemonago de um acontecinnt seriam a expressio permanente do desejo de desordem, ou antes, de contra-ondem, As fests representariam a vida socal as avessis, mo porque tenha sido ta outro- mas 1a, mas porque nunca foi nem poderia jamais ser de outro modo, Os carateres ddo passado s6 teram valor explicatvo na ‘medic em que coincidissem com 0s do = futuro e do presente, Anka no ano de 1949, em “0 fetice- fo e sua magia”, Lévi-Strauss volta fazer referéncias & psicandlie, agora n0 intito ‘1806-1808, A posigao entre oe ‘pode ser superada no terreno inconscente e estabelecer paralelos entre ea ea cura ‘operada pelo xan. Na sua letra, 0 Feiti- ‘eo n20 se contentara em repro 0 representar.minicimente determinados acontecimeatos,revivenio~s de maneia ftv em toda a sua vivacidade, origina Idade ¢ viokkneia, No decorres da ses8t0 de magi, ele passarin por algo préximo Ge wma aba, tal como ela seria vis pela pskcandlise, ito 6, como um momen to decisvo no qual o doente revive inten ssimente a stuaelo oxginal que estaia i origem de sua perturba superi-la em definitvo. Nesses termos pra 0 etnblogo fianeés, 0 uma seria uma espécie ce “ab-reator proisional io, antes de POLOs EM RELACAO Analsindo © par feticeio-doente, 0 autor considera que o doente estaria sitado m0 polo passivo da relacho, enguanto 0 fet- ceo se caracerizaria pela atid € pelo etavasamento de si mesmo. A cura colo- «aria esses dois polos opastos em reac, assegurand a passagem de um a0 out, «¢ manistando, em uma experiénca tot, 4 coeréncia do universo psiquico, ele pr pio proj do univer socal. Assim, na perspectiva ev-straussiana, seria necessiio estendler & nogd0 de ab ragio exauminando os sentdas que ea toma nas terapeuticas psicolé- sicas distintas da psicanlise, ‘qual teria tido 0 mézito de descobridae insist sobre ‘seu valor essencial. Ainda que se costume dizer que na psicandlse existe apenas a ab-reaglo do doente, do onto de visa do etndl- gp esnitnlisa, iso nao seria Jo ceo, Certamente a cure xamanistiea, 0 fei ‘faz abyreacio para 6 doente que se cals, 20 paso que na psicandlse & 0 doente que fala e faz ab-eacdo comira 0 médica {que 0 escuta, Enietanio, a ab-reaglo ‘do méuico nao seria menos exigida, posto que sera necessrio ele ter ido analisido ara se fornar analisa Ji © papel reservacio a0 grupo por ambas as téenicas seria mais dificil de defini. A magia readapta a comunicade 2 problemas predefinidos, por interme do doente, 20 passo que a psicandlise ret dapraria 0 doente a0 grupo, por meio de solugoes introduzidas, Mas a inguieante qvolugio, que tenderia a. tansformar 0 sistema psicalitieo de compo de hips teses-centifcas.verificive’s.experimen- talmente em casos precios e fimiados, fem uma espécie de mitologia difusa que permeia a consciéncia do grupo ~ fend- meno abjetivo que se traduziia, no psiob- Jogo, pela tendencia subjetiva a extender 20 pensamento normal um sitema de ineerpretagoes concebido em funcio do pensimento patokigioo, ¢ a aplicar a da pricologia colktiva um méeato adaptado apenas ao estudo da psicologia individual propiciaria um ripido esabe- leximento do parallismno. Ento,afiema 0 antropologo, 0 valor do sistema deisaria de estar fundado em cura reais, as quais beneficiarum individuos particulates, e se assentara no sentimento de segurunct tnazido a0 grupo pelo mito que funds ‘menta a cura, e no sistema popular em confonnidide com o qual 0 se mundo se encontarit reconsinud. UNIVERSO REORGANIZADO Dai em diane, continua © autor, a com paragao entre a psicanslise €terapeuticas pasicoléigicas mais antgas poderia ineitar INCONSCIENTE ESTRUTURAL £ 0 HOMESE 33, IMMLDER SHORES OF LOVE, pitura de Cy Twombly, 1988. Qual ura pode ser considerada como tam conunte de sistemas simbclces ns quas, rimeirameni,o que se destaca €alnguagern a primeira a reflexdes dels acerca de seu metodo e de seus principios. Deixando desenvolverse sem cessar 0 recruts ‘memo de seus jurisdicionados que, de anormais caractesizudos, tormar-se-iain paulatinamente exemplos representati- vos do grupo, a psicandlise tansformaria seus tratamentos em conversdes. Com isso, um considerivel perigo surgiria: © de que o tratamento (sem que 0 médico co souidese),longe de chegar resolugio cle uma perturbacao precisa sempre den- tro do contexio, se reduzisse & reongani- zagao do universo do paciente em funcio clas proprias interpretagdes psicanaliticas, © que significa a possibilidade de cai, como ponto de chegada, na situagio que oferece seu ponto de partda, Se isso for exato, seria necessirio ver nas condutas migieas a respostr 4 uma ivaglo que se revela 3 consci manifesagdes afetivas, mas cua mate reza profunda & intelectual. Sozinha, 3 histiria da fungao simbéica permtisia 34 “MENTE, CEREBRO ¢ FILOSOFLA explicar essi_condicio intelectual do homem, Considerando algumas erica aque Ihe foram feitas & época quanto a uma abordagem demasiado. simplista das relagies entre xamanismo e psica lise, Lévi-Strauss tentari nuancar esse paralelo na sua “Introducao 2 obra de Marvel Mauss” (1950), INCONSCIENTE VAZIO Feitas essas consid eragbes iniciais,torna se necessirio observar de forma min cosa « maneira pela qual o autor abordla 6 conceito de inconsciente, para acom. panhuarmios de perio © papel da psicand lise em sua obra. Partndo da Fetura de seus principaistrabalhos, pode que 0 inconsciente lévi-straussiino xem pulsional, nem consituido pelo jue. Ble no poderia ser entenclido como 0 reservatério de algum contet- do e, portanto, no podria, enquan- (0 tal, ser estruturada, 1s60 significa que © inconsciente seria uma instin cia nao tépiea, puramente estruturane. uilizada por Lev Sirauss para designar esse inconsciente € fuuante, Com efeito, ele emprega termes como “espiito’, “pensimento inconsciente’, “pensumento simbslico", struturas meakais univers, “catego Fas inconsciertes” “lpia inconscien- te’, para falar de fendmenos como a inconscigncia, a “estuturagio mental” smbolsmo". Um bom exemplo dessa caracterizagio do. inconsciente = nesse e280, em oposieo 20 subcons- ‘ente individual ~ pode ser encontrado fem seu aitigo sobre *A eficicia sim blica™ (1949). Li, ele afrma que 0 inconsciente & sempre vazio, ou, mais cezatumente, 0 estanho 38. imagens anto 0 estmago aos alimentos que vessan, Ele poderia ser concebido ‘como dro de uma funedo espectia {que se limita a impor les estruturais 2 elementos inartculados provenientes, das mais divers instinciaspsiquica @ que esgotam 31 sua realidade, Dentre esses elementos, destacamse as pu s emoxdes, as representacoes © as Jembrangas. Asim, 0 autor pode consi- dlerar que 0 subconsciente seria 0 Léxico individual no qual cada um acumla © ‘ocabulio de sua histra pessoal, mas que esse voeabulisio s6 adquire signi cacao, individual ou coletivs, na mectkla fem que 0 inconsciente 0 omganize de acordo com suas leis, fzendo dele um Aiscuso, Ji da, fea evidente que 0 que impona de fa & a esrutura, € 180 0 proprio voeabutivo, Pode-se ni dente ¢ asimilado 2o papel de um ope- rad, responsivel pela atbuigho de for ‘mas; ele organiaa em dlscurso elementos «que Ihe Sto externos. Diferentemente do subconsciente individual, esse incons- Gente € universal, Tratse, na verdade, de um “érgio” comum a todos os seres houmanos, 6 qual torn possive! a com nieagio ene os homens, e 4 compree sto das culturas de povos distantes no tempo e no espago. Em titima instinct, de se reduz a uma fungio que Lévi Strauss chama de “fungho, simbetica Esa se exeree, em todos os homens, segundo as mesmas leis. Partin dessa jpotese, 0 autor conc, em “Hisxia tendo, que © incons- € etnologia” (1949), que basta atingir ‘strutura inconsciente, subjacente a qual quer instiuigao ou costume, para que se dobrenha um principio de interpretagao vilido universalmente Considerando-se essa conclusto, 0 rural pode ser tomado emas simbysicos, inciuindo a prc pria linguagem, Em seu artigo sobre “Lingistica€ antropologi” 1952) 0 exndlogo francés nas diz que, part ele, lingua e cultura so duas modalidades paralelas le uma atividade mais impor tante, isto €, 0 “espirito umano", No 90, 0 uso dessi expresso tem por ‘objetivo insist ma especificidade da ‘order cultural SELVAGEM OU DOMESTICADO Dado que a funcao simbdlica eria a sig- nificagto, Lévi-Strauss é levado a falar de um pensimento inconsciente, Se esse pensamento € dito inconscieme, & porque 0s inclviduos jgnoraum a natu reza das leis estruturais que regem a onganizacdo de suas representagdes © de suas priticas, © que no os impede de produzir uma significacdo, E justamente ‘colocago em evidencia dessas leis que vai se constituir em uma das principais tarefas assumidas pelo emdlogo frances Os principais resultados desse trabalho serio apresentados em alguns de seus livros mais importantes, tais como O tote mismo boje (1962), O pensamento selea- gem (1962) € as Mitoligicas (94-1971). ‘A partir desss obras, podemos conside- rar que o pensmento inconscenteorce- int os elementos de qualquer dspositivo simbélico segundo relagdes bindrias de tromologis, oposigio e inversio No caso da mitologia, alids, esses ‘elementos podem ser constituidos por: grupos. complexos. 0 pensamento inconscieate ou “selvagem’, diferen- temente do pensamento conceitual, sera puramente operat6rio. Nao sendo rellesivo, ele mio. se formaliza, € por = ess rizao uiliza qualidades sensiveis ‘como conceitos, inclusive pars a reso- lugtio de problemas que poderiam ser 5 consiceraclos cientficos ou filosoticos. EO pensamento “seagem™ nado € 0 © pensamento dos selvagens; cle também wwmemecerebro.com.br 0 inconsciente estrutural pode ser tomado como uma espécie de principio de todos os sistemas simbélicos, incluindo a prépria linguagem € 0 dos individuos que pertencem a ilizagdes avancadas, quando eles no recorrem a0 pensimento abstrato ou “domesticado", como Lévistriuss ds vvezes © chama RELAGOES ENTRE TERMOS Vistas esas cartctersticas gers do inconsciente na eturn de LeviSiruss, textos anda de compreerdler melhor ‘como 6 nropélogo Frances ulapassa- fi, pamit de sew apreadizado com a psicanilise, aqueks dicotomias estitics, ‘do tipo racionabirracional, &s quais pos referimos no comego deste artigo. Para além da teoria psicanalitica, © autor ve- se obvigado a recorer & linglisica , ‘em temmos mais especificas, conforme tumbém indicames ameriorment, 2 cate- goria do signifiante, para realizar tal llrapassager, Se, em st mesma, 2 ordem significante no é ruclonal, dado que em linguisica ela deve ser considerida sem- ‘pre em oposigio & ordem do significado, la pote, no minim, se ida €omo est turida. Haveria af, portant, uma espécie dde eséict transcendental responsivel por reger 0 exercicio do pensamento, a (qual fora previamente 2 exrutuea dis proclucdes simbeélicas ideais ou materials, entre as quais se destacam os sistemas de parentesco, 0s rituals e as mitologias Para aprender & natureza daquilo que se stuart aquém a razto_ conscierte, LéviSiauss se inspira na fonclogia que, ‘como ramo da lingiistica, the oferece 0 melhor modelo de andlise estrutural, Conforme ele afirma na “Introdugao a obrt de Marcel Mauss’ ingen ester 0 teria familiarizado com a idéia de que os fenimenas findamentas da viz do esp tito, aqueles que a condicionam ¢ determi: ran sus formats mais geri, Stuamse 10 ‘estigio do pensumento inconscicnte, Akém disso, a fonologia deisa de lado as signif- ges, pr se interessar apenas pelo que consti a condigio de posiidade do fendmeno da sigifcanca Desde 1945, em seu artigo sobre a “Andlse estrtural en lingistica © antio- pologia, Lévi-Strauss cia ter retido da fonologiaelaborada por Trubetzkoy 0 ft cde que cla passa do esto dos fendme- os lingisticos conscientes para 0 de sua inaestuturainconsciente. Fla se recs trata os termos comio entiades indepen- lentes, tomurddo como base de sa anil- Se, 20 contro, as relagdes entre Os ter nos, Com iso, elt inreduzi noo de sistema, absolutamente fundamental para a perspectva emoldgic esrturalista, EXPERIENCIA INDIVIDUAL Para akém ca enorme impordincia assumi= da pela lingtistica em seu trabalho, Lévi- PRANKENTHALER, Vendo a ua em um dia de vero, 1987, Para Ln-Strauss, ‘Tungéo simbolica era a signifiagso (0 INCONSCLENTE ESTRUTURAL FO HOMEM 35 ‘Sas também aime, em © pertsamento seluagen: (1982), que a cinologia deve ser «principio uma psicologia, a qual deve Privleyiar aspectos cogniivos € milo a afetvidade individual, Esa psicologs, 20 centanto, deve sar, ela mesma, subord- nada a dimensao sociokogica. Anda assim considerando que 0 espinto humane no tena contetido proprio e que ee set ape- ras uma fungo, © antropblogo considera que a etnoggafa, tal como @ psicandlise, relicionaese com o particular, com socie dades paticulaes & no com a sociedide ‘como um todo. Partindo clo pressuposto de que os individuos seam como que *atualzadores’ do inconsciene, ee critica 4 nogio de inconsciente coletvo, sina que suponha que 0 espito humno 40 ual se refere sea comum a todos. Dado que 0 inconsciente sera vazio, 4 fungio simbolica se exerceria necessa- riamente sobre conteddos oferecilos peta sociedade & qual perience o individu e, entre esses cometidos, alguns tuiro que o autor chama de subconsciente defini Jmaagens colecionadasa0 longo de cada vide. Daf que 0 individuo, S80 ou doente, faz falar sua subjetivitae utlizando-se dese vocabolirio, através cle cls senais,relsioos, ceniicos et, eles préprias estrturadios segundo as leis da Fungo simbolica Sea sociedade se exprime de mane! ‘ simbolica (costumes € snstituigdes, entre outros), Lévi-Strauss pode afirmar, novamente a “Introducio 2 obra de Marcel Mauss’, que, 20 contrtio, as con ‘dutas individuais norma nunca so sim: bolicas por si mesmas. Apenas as condu- tas anormais, porque mo-socalizidas, realizam, no plano individual, & ilusio de um simbolismo auténomo, Neses termos, etndlogo poderia passa sem 1 psicologia, e certamente também sem 4 psicanilise, porque © grupo completo tultrapassaria 0 psiquismo individual; 0 indlogo esclarecera, portanto, psicilo- 08 € psicanalisss,€ nto 0 contro Enireanto, © autor fiz questo de ressaar que 0 “ito socal total’, tal como definido por Mauss, encamase necessitia € unicamene em uma experiéncis indi Vidal. Como conseqiéncia, a prova do 36 MENTE, CEREBRO & FILOSOFIA 0 etndlogo poderia passar sem a psicologia e também sem a psicandlise, porque 0 grupo completo ultrapassaria o psiquismo individual sexial 6 podria ser “mental”, € apreendi- dda apenas em uma experincia “coneet’, mesmo que toro fenbmeno psicigico seja um fendmeno socioligico. Quanto a isc, UaviSrauss é bastante explicto a0 dlr que nio se pode estar seguro deter atingido 0 senso a functo de ume n= tiniglo, x no se puderreviver sua inc ci Sobre uma consciét inivi Mesmo assim, a enologia. compor- tara @ grande vaniagem de apreseniar sob uma forma experimental © concreta 6 processo ilimitado de objetivacio do sijelo, feito que, para 0 individo, seria Ciclmente reaizivel, Essa_vantagem ependera, sem dtvda, do recurso 20 inconsciente, tal como ele foi definido pelo etndlogo frane’s. Pois, do seu ‘SEGUNDO LEM-STRAUSS,oinconslante 6 puramente estrturante, universal e sempre vaio, ou se, ‘io estranho 4s Imagens que 0 poroam quanto oestomago aos alimentos que o atravessam pponto de vista, apesar de as subjetivida- des serem hiposeticamente incompar- veils ¢ incomunicives, a opos ‘6 eu €0 outro pode ser superada no ter reno inconsciente, que é aquele no qual © objetivo € o subjeivo se encontram. QUESTAO EM ABERTO Com isso, pode-se perceber que 0 pr jeto Kévistraussano € bustanie preciso er "a vida do esp” €, se i, 0 phino ‘0 pensumento He dispoe de inconsciente’, Para tant, uum método que é 0 da lingistca estru- tural, No psiquismo, 0 etnélogo parece Incluir nao somente as operagives da vida intelectual, mas também a esfera afetiva Entretanto, como 0 afetivo € dotado de uum indice de singularidade superior 30 intelectual, L6vi-Strauss sera conduzido, fem sua Ansia pelo universal, a elimi afetividadie de suas andlises, posto que a considera tio confusa quanto as teorias que procuririm deserevéda, Dito de foutra maneira, 0 afetivo no pode dar lugar a um dominio de inteligiiidade racional flo claro quanto acuele preten- ESTA DOS INDOS CAMACAS WA MATA 0 RO LLEUS, BAHL, Vustragto do principe Maximilian de Basta ating a esiruturaInconsclano, subjacent a qualquar nstitiedo costume, para bter um principle deinlerpretaéo vio niversamente ido pelo autor, Poranto, © pensamento inconsciente 6 pode ser apreendido pelo estudo dos sistemas simblices, ‘nda na “Inroduio 8 obra de Marcel Mauss", LéviStauss constata que quale quer cultura pode ser consierada como lum conjunio de sistemas sibelicos nos quais, primeiramente, 0 que se destaca & a inguagem. Toxlos ees sstemes procu- mn exprimir certos aspects da realidad fisica ca realidade social e, mais ainda as relagbes que esses dois tipos de reali dade mantém entre si, que os prprios sistemas simbsicos estaelecer uns com 6s outros, Para 6 antropdlogo estar {2,0 simbélico est no apenas na origem de priticas ¢ discursos especificos, mas tamisém suscta uma expécie de metas tema, eno objeto ou 0 fim niio & sendio a colocagaio em evidencis das relagdes que uunem os diferentes sistemas. No Ambito individual, eriamos uma massa de siste- ‘mas simbelicos que preexistem a ee, for mando previamente suas representagGes Considerando-se que esses sistemas no cexbem de imediato suas estruturas in mas, cles precsariam ser decodificados = Deacordo com esse tipo de perspec: = tiva, se 0 tedrico pode pretender atingir aquele metasistema, & porque, para © além das pamticulaidades de cada um = dos sistemas, alguma coisa em comum www. mentecerehro,com.br fo engendira a toxos, e, além disso, por ‘que 0 pensamento do tesco, a despeito dda présformagio de suas representagoes ligada ao seu pertencimento cultural, € ome sustentar © seu empreendimento, Lévi iss acaba se vendo levado a buscar ‘6 minimo denominador comm do sim- bolico, a saber, o inconsciente Se esis S10 algumas das principais caracterieas do inconsciene para Lév- Strauss, podemos considerar que, com ‘la, foi possivel ver, em linhes gers, 0 ‘que a psicandlie representa para 0 ein6- logo francés. Objeo de inelectualizao, racionalizacio & sistematizaglo Kgico- formal, € evidente que el: ewaziada daquilo que hk Pertinent, ou sej, sua cimensio afetiva. Certamente, resaria, ainda, perguntar 0 ue foi Lévi-Strauss para a pscanilise 04, mais especificamente, para a psicandlise tal como concebida por Jacques Lacan, haja vista que nenhum outro psicanalista de renome mostrou qualquer interesse maior pela sua proctugtointeleenal, Teia ( recurso 8 obra do antropélogo estrat ral francés trazido algurm contribui- to mais efetva para 0 aprimoramento tebitico clinica da psicandlise? Essa 6 uma pergunta que, &.nosso ver, até hoje pesmanece em aberto para todos: os ps éneo 8 esséncia do sistema, Para (© INCONSCIENTE ESTRUTURAL £ 0 HOME adios aust PTO NOR pgs do rece ons rene pap Bled Ess elise en sgh yb st de ee Sd UE Friese sav do Duran Pcp Fog des gaduginem tong Gea c UCR Frigid ago (Carr, 2009) Ess be aaron 0 seal 8a der sean ‘olrea free (rao bk. 19%) Sa ale cine clr aes Bp dens ars {bese ecogs pce face deca Pinna ‘OPONTO DE PARTIOA « Tistestepions. Claus Lov Sass. Comptia das Las, 1998. 1 As ostura elamentares do parenesea, (Cau Lv Stauss. ze, 182 ‘OESSENCIAL D0 AUTOR «© Aalvopoloia estrtral. aude Lv-Sraus, Tego Basle, 1970 © Cotes oj. Cisne Liv Stas. Ab (ata 1978, ‘© Opensamento seagem luce Lev- Srauss Paps 1997. ‘© Airopatoi estrtral eis. Ce LA ‘Srauss Tengo Basen 1576. ‘© Introdue obra de Marcl Mauss. ace Liv Sraus, om Mara Maus, Sagi antopaog Cos & ay, 2008. PARA IR MS LONGE ‘© O char istanciado, Claus Le Straus, sigs 70,1988. # Aakeira uments, Clase Lisi Stas, Brass, 1986, «De pert de lange, Cade Leu Srauss € Dr Eten, Cosa & Naty 205, ao Q inconsciente estrutura A nau de Argos: “Navegar € preciso” Lévi-Strauss viu no inconsciente estrutural 0 principio de todos os sistemas simbélicos, incluindo alinguagem rok MAa10 seuKo QuemENDO aecUPERAR © THONO a que tem direito, © herdi _grego Jasio aceita a tarefa impossivel de ir ao fim do mundo buscar 0 velocino de ouro (a li de um carneiro alado, feita de ouro). Para tal viagem, o amigo de Jasto, Argos, compae uma esiranha embarcaglo. Esse navio era um objeto de combinagdes, cada uma de suas pegas era sempre renovada €, no entanto, 0 bareo continuawa sempre 0 mesmo, @ Os leitores poderto perguntar em que o mito dle Argos e de Jasio tem a ver com 0 tema dese artigo Direi que o teérico de literatura Roland Barthes, em seus EM SiNTESE nsaios erticos, compara a pritica do escritor & atividade gee arg bisa apres dle um argonauta sempre alesta 20 jogo combinatério dos cco de incnsoe rua dsm plo signos: “O navio Argos ilo comportava — na sua long gaflogo Gunde Lt Sus 0 Fst expres nga poo, historia ~ nenhuma criago, apenas combinagdes; ligada a st epressa sug pore F segundo persecna uma funco imével, cada pega era, no entanto, infnitaren ery, sempre um te renovada, mas © conjunto nunca deixava de ser 0 navio inconsciente de signos que : os «ican onaos mm eo, Argos’. Creio que essa analogia de Barthes nos ajuaré uma esta Es signs mpreender essa nau de Argos que chamaremos de Prsupden tna sult {A compreender ess mau de Argos que ¢h é ease) & “inconsciente estrutual pelos ges qo up Outta questio que talver seja levanta € por que comecar com 0 lema dos ‘vipulantes do navio de Argos, “Navegar € preciso", tantas vezes retomado na poesia? Como observa Anténio Jardim, fem Msica: vigéncia do pensar poé- Heo, no ditame angondutico, “preciso opde-se a “impreciso". Navegar é pre- ciso, porque se processa de modo mensurivel, em conformidade com uta dle instrumentos ¢ calculos prefixados, Quanto a0 nosso tem: hhoje a distancia no tempo permite mensurar com mais “preciso” © que eine caine? cane Jia cearcvatt a ‘Gadling als fsderx? Ser estruturalista € acreditar que s6 ha estruturas daquilo que é linguagem, nem que seja uma linguagem esotérica ou mesmo néo-verbal foi o estruturalismo, Isso nos fax erer (que navegar é preciso. ‘Como 0s leitores vao pereeber, este artigo abrange duas séries de wpicos, a primeira sobre © estruturalismo, a seguin a sobre o inconseiente, ‘MERCADO ORS PULGAS, om Pars. Quando adolescent, Lev-Straussgostava de vistar antiquarios ede faze ongas caminhadas pela campo 40 MENTE, CEREBRO € FILOSOFIA ‘SER ESTRUTURALISTA © que define um pensidor como sini tural? Forum denominados de estru- turalstas: um lingtista. como Ro Takobson; um anropéiogo como Claude LéviStrauss; um psicanalista como Jacques Lacan; un erica literano come Roland Banhes, ¢ ours, Apenas alguns acetaram essa designagzo. Comecemos pela 1043 ites de ser incomporada ao repenrio Ww6rico dos pensidores. franceses da deca de 60, Tal nog surgi em 1929 ras tees da Escola LingUitica de Praga 5 lingtisas Louis Hjelmslev € Nikolay Trubetzkoy, ulzando 3 nogdo de “sis ma” desenvolvida por Saussure, criatam uum metodo de “compariglo esrutual’ Para cles, a estrutura rat tnha que ver «com a consist fica do objeto est- dado, Ou se é um modelo comp sistema de diferengas fsa teria da exrrura, desenvolvida «em 1923, fol revstada pelos franceses de pesguerma, Nesse sentido, a vantagem ert ter um modelo que se caracterizva pela sua transponiilte de fendmeno Fendmeno. Para os pensadones ue adotaram est metodologia, 08 estudos lingoisticos tornaram-se_ fundamen Apesar das muitasdiferencas, havi entre les algo em comum, € por isso fe nomeados de esiuturlists. Ser est rasa & acrediar que: °S6 hi estruturas daguilo que € linguagem, nem que sea uma linguagem eserériea ou mesmo nio- verbal”, illes Dekez, A tha desea ¢ outros textos, pig. 221) O Jove LEviSTRauss Far do nascimento do esruurlismo € referirse a un nome que é uma espécie de pai dessa metodologia na Franca Claude Lévi-Sirss, De origem judi, ele nasceu én 1908 no seto de uma fai de asa: seu pai era pintor © 0 bind, volnisa, Sabemos que, quando ete, 0 futuro etndlogo gosta de visitarantiquicios e de fazer caminha das no campo que duavam de 10 a 15, horas, Muito precoce, fascinouse por O = Capital, de Mars, 208 17 anos, em 1928, fo eleio secretivio-geral da Federio = dos Estudantes Socialistas. (Frangois © Dosse, Hira do estrutralismo, 1. 0° adok campo do signo, 1945/1966, pig. 31) Seu caminho como antropélogo negou no outono de 1934, quando Célestin Bouglé, ditetor na Franga da Escola Normal Superior, props apre- senna a candidlatura de Levis par professor de sociologia na recémiun- ada Universidade de Sto Paulo. As intengdes dhe Bouglé eram as melhores, ele sibia que Lévi-Strauss nao desejava dicar sua vida 2 flosofia especulativa, esse sentido, trbalhar no Brasil sera ankie oportunidad, Bouglé acre- que os subvithios de Sto Paulo cestrvam coalhados de indios. Em tais ‘concigdes, Lévi-Strauss poderia dar aulas luraate a semana, ¢ nos fins de sem qisar 08 grupos indigenas na. ci cunvizinhanga da Universidacle de Sa0 Paulo. idem, pai 32) E desnecessiro explicar que essa pr mein iia de pesquisa de campo ni se coneretizoa, embora Lévi-Stravss tena sido professor em Slo Paulo durante ‘um bom tempo. Fort 80, no periodo no Brasil, realizou breves viagens pelos estados de Sio Paulo, Panini € Mato Grosso, part realizar estudos etnogriticos (1935), e em 1938 conseguitfinanciamentos do Museu do Homem, na Frangi, para montar uma expedicio ao Brasil cena, durante a qual teve opostunidade de pesquistr principalmente os indios nhambiquara Em 1939, Lévi-Strauss voltou Franc, 1mas logo foi obrgado a pani em exo, fem virtue da ocupagio nazista de boa parte do pais. Nessa época, migrou no desconfortivel navio Capitatne Paul: emerle para os Estados Unicis, Li che: gando, ministrou aulas na New School for Social Research de Nova York, inst tuigio eriada pela fundacio Rockefeller para resgatar intelectuais europeus. 0 4g Perfodo ci gua. Em Nova York, foi = aconsethado em que ‘4 mio utilizar seu nome ‘completo para evitar confusties com © nome da famosa grife americana, Por iso, passou a usar 6 L. Strauss. 0 onGprio antropslogo diz, que Ihe foram cenviadas, por engano, virias encomen- ds de jeans. (dem, pig. 33) ‘Aantropologia estruturalisia nfo sur- sgiu na Franga, mas na New School, a partir do encontro de Lé EWA DN PEGA chap de pala da la. Coméie-Franise 1947, Prareseandoo fen Liv Straus aconselhou os psleanalistas @comerem seus chapéus © linguista exlado. Roman_fakobson, {A conselho de Jakobson, Lévi-Strauss ‘comegou a redigi, em 1943, sua funda- mental obra. As esruturas elementares dio parentesco. Em 1948, Levi Strauss retomou defn tivamente 3 France, send elit logo a seguir para a 5* secio da Ecole Pratique des Hautes Brudes, Assumiu. uma cite dn cujo, nome no. seria consideri- o hoje ‘em dia politicamente cometo Religides dos povos mo-civilizados”. F verdade que esst desgnacao recebeu severas exiticas, sobrenudo de alicanos aque fam estudar na Franga, Com cena asticia, Lévi-Strauss mucou 0 nome para “Religides dos povos sem escrita’. (dem, pig. 33), Veremos mais aciante 2 que remete essa idéia de povos sem escrita ou sociedad gras, INOCENCIA E PERFIDIA Sucessiamente derrotado em 1949 1950 em suis ds primes candi turas a0 Coll ss consagra seu tempo a escrever Tries Imipices. Quanto ao projeto, essa obra & France, Levi um fracasso, ele desejava aproveitar sua cexperignela de etndgrafo para escrever tum romance, Acaba por escrever um livro sobre a aculturaclo dos povos primitivos; em consequéncia disso, fal também da etnografia, cujo objeto estava em vias de extingto. (Idem, pig. 158) ‘Tastes irdpicos & tamisém um relate pessoal. LéviStruss fair de sua inie ciagio em antopologia e descreve os estudos de campo realizados na «cada de 30 no Brasil Por motivos diversos, essa obra mere= ce ser lia relida, Mas vamos nos deter nicialmente no capitulo. denominado Ligh de Nele, Lévi-Strauss arma imayens idealizadas dos. indios nhambiquara, vistos como um povo fnocente e simples. Dessas imagens des- creveremos das cenas, Na primeira delas, 0 etndlogo dis tnbui papel € lépis a fim de observar ws reagdes dos indigenas. Os nhambi- ‘quar, informa Lévi-Strauss, no sabem ler e eserever nem tampouco desenhar TTodavia, ele fea espantado a0 ver que, aapés alguns das, os fndios comegam © INCONSCLENTE FSTRUTURAL E 0 HOMES lesenhar linha horizontais onculadas sobre 0 papel. Ohserva também que o chefe € 0 mais empreendedor © parece ter compreendido a funcao da eserita Vejamos a segunda cena. © etndlo- go pede para ser levado a um grupo hambiquara hostil A presenga de estrangeiros, Para acalmar os Animos, a troca de presentes. Naquele momento, o chefe pega um bloguinho de fothas em que havia feito uns rabis- os € finge estar lendo. Essa “comédia’ Strauss, tem a ‘Ainda atormentado por esse incidente ridiculo, dormi mal e enganei 2 insé nia rememorando a cena das trocas", Grits tipices, pig, 216) Terminada est passagem, 0 eindlogo especula sobre a fungo histrica da escrit De acordo com LévisStauss, 0 pert oxo crucial no desenvolvimento da hist6ria do homem foi o Neoltco, € esse ocorreu. na auséncin de qualquer Pra, 42 MENTE, CERUIRO 6 FILOSOFIA tipo de eserita, Logo, a eserita tem um papel secundirio na busca desinteres- sada de conhecimento. E complementa “Inversamente, desde a invengio da escrita até 0 nascimento da ciéncia moderna, 0 mundo ocidental viveu ca de mil anos durante os quais seus rents flurwaram mais do que r dem, pig. 317) Por outro lado, continua etndlogo, © Gnico relato constante da aparigio da 10 de cidades e de impérios com grav ako de distingio de classes e casts. Dizenas LéviStrauss ‘Se minha hipctese for exata, € preciso cit da coms nicacio eseita € faciltara escavizacio” (idem, pig. 318) Conclusio de Lévi-Strauss: 4 fungio Primaria da escrita consiste em subor nar €escravizar. Nesse sentido 2 cena do chefe-nhambiquara havia incomexlado vivamente 0 etndlogo, pois se tattava de um pov indigena inocente com sua fala pS Sen uma tinguager composta viva, tomando contato com uma agres so vinda de fora, a inflirago da asticia da pesfidia da palavra escrita ESCRITA E VIOLENCIA Num lvro que ainda precisa ser devi mente estudado, Gramaiolgu, 0 fl6- sofo Jacques Deri eritcn Lévi-Strauss or apresentar essa experiéacia como lum modelo mo questonével da rel lo entre palavraplena, inocente, ¢ a sri que tra germes da opress, (Gramatcloia, pig. 156) Deas censura em Lévk visto de que 08 primitivos esto nos “tistes tipicos", co limbo ahengoado, separidos das petits do poder, mergulhados no presente etemo de sua pobreza e ignorincia Para Deri, excita, eiferenga © vioe Hencia mio so algo que “ucontee” wm siema previamente puro, Ext, iferen- ie violéncia nio advém de fora, esta "sempre ja” ali. Postular quanclo a escrita de relagoes entre seus clomentos conaitutvas omega 6 buscar uma origem que ni hi Ess origem & vempre mia. (Miro Bruno, ‘era, lneranira e fiesofa cap. 1) Aandlse deidiana de Tries tripicas € muito detalbada, mio teriamos condi bes de repeti- aqui, Resumiremos dois Pontos que julgamos fundamentas em seu aryumento 18) Ao apresentar 0s nhambiquara como um povo nio-violento que desco- nhece a eseria, LeviStraus no deisa de repetir a concepeio mien do “bom se vagem” devenvolvd por Jean-Jacques Rousseau. Numa pespeciva moni, 0 Bem, 0 paraiso melanciico da socied de nlambiquara, & ameagado pelo Mal, « violénia externa da eseita trazida por uma Gviizagio que pode envenenar ieremediavelmente a inocéncia prima 2) Paradoxalmente, a definiglo de ;pavos sem eserita” leva em considera ‘G40 somente 08 conceitos coerentes de fala escrita, Noutras palavras, movido or um gesto etnocéntrico, Lévi-Strauss compreende como escrita somente 0 sentido resto de eserta fonética, 0 que poderia justifcar uma suposta superior dade dos povos dotacos de: uma eserta menos. espacalizada e predominante mente submetida & lnearidade da vow Por iso, 0 enguadramento. em Trites inépicos éa cena dos shambiquara. extremamente resitvo. ‘COMO TORNAR-SE ETNOLOGO. “Como torncime um eindlogo™ & um capitulo especial de Tristes tipicas Nele, Lévi-Strauss afirma que com: preender consiste em reduzir um tipo de realidade a out, jd que a verdadera realiade jamais se manifesta, Mas de ‘que forma podemos reduzir « realidade a ponto de compreender algo que jamais se manifesta? A resposa de LeviStauss foi voltrse para a obra de Saussure. E De avordo com 0 etndlogo, a lingua é menos que 0 todo social, contudo esse § moro € objeivamente universal a 2 lingua & um predicado humano inerente todas as sociedades Nese sentido, a lingtisica perm te 2 antropologia esrutural desenredar squemas concetais.ativos na vida seal, presentes em insttuigdes como os milos ou as relagdes de parentesco, Numa sociedade, nenhum dom é gratuito: as mulheres s30 trocadas entre as familias porque a esséncia da cultura é a troca Pode-se dizer que a pretensio de Levi Sauss cra extrait universais humanos. Mesmo quando se tratava de investigar corpus regionals exiensos, 0 objetivo cra a aplicaglo de alguns universais. A preocupagio do pensidor frane’s com (0s simbolos tinha como origem essa procura de um inventirio universal de padoes ments MULHERES SAO MENSAGENS? LévisSirauss encontrou em Mauss © Durkheim uma dupla de protagonists para 4 reconstrugto do fito social. Com cles, dois concetos assumirum grande importa: a idéia de sistema aplcado 40 conjunto da realidad social ea iia do papel inconsciente das represen- tagdes socials, Com essa conjugaeto, LéviStrauss teve condigdes de investr nos estudos sobre a liga de um incon- sciemte que nos condiciona, mnobei & esrtura as formas da expressio social primeito grande trabalho em dite fo a esse inconsciente estrtural foi a As estruturas elententares do praren- tesco, Para 0 einélogo, 0 parentesco apresentava-se como uma linguagem ccomposta de oposigées ¢ relagbes entre seus elementos constiutvos. Tratav de wma gramitica © de uma sintaxe, como toc lingua — paifilho, to-sobri- no, itmio-iema, Com isso, temtos op0- sigGes taxinémicas que entram num sis tema de comunicagio cultural: a8 regras do matriménio exigem a cirulacio de mulheres, Ceder 4 outros da casa permite a trot de pessoal cenie familias. Pais © imtios mo devem usar sexualmente as filhas e irs, nio apenas por motivos xe provados no século XX, mas também para troci-las com outras familias da mesma sociedade, Nesse sentido, para LéviStrauss, a comunicigo € 0 maior imperativo eriador de cultura as mulhe- res si mensagens para serem trocidas mulheres (© INCONSCIENTE ESTRUTURAL EO HOMES 43 [MENIMA CROW, c, 1805. Foto de Richard Throssel. Para Liv-Strauss, a mulheres sdo mensagens para serem trocadas entre as fails centre as familias. Para que isso ocora, a proibigao do incesto é a grande lel, uni versal € normativa, que forga e584 comt- nicaeao, fazendo com que as familias rio se tomem néicleas fechados. Com cess le, as relagdes natura cke consn- ‘linidade s8o superadas petas aliancas ceulturas. (As estruturas elemeniares do pareniesco, pig. 66) As mulheres slo trocadas entre as Famitias porque a esséncia da cultura € a troca. Na penpestiva de Lévi-Strauss, run sociedade nenhum dom é gratito, A eciprocidade social € um. principio de mio-grituidade, Cultura € sinénimo de toca sob a forma de tres grandes campos: troca de mensagens (lingua), twoca de bens © servigos (economia), twoca de mulheres (orginizacio social Dentro dessa visho de fendimeno soci as mulheres slo os bens mais preciosos 4 sere tocados. Porque elas também sgeram mensigens e eriam bens econd- micas. (Antropelogta esrutural, pig, 77) ‘alert num trabalho de mar folego retomar de Deleuze Guta em 0 antefiipn, que questiona esse inconsciente woquista ¢ estruturante no qual as mulheres So moedas & mo ha nenhuma gratuidade, como se 0 proprio nconsciente i fosse regio pela esséncia do capital: 0 valor de toes PERPETUUM MOBILE Para que bia circulago de signos, onavio de Argos denominado estruturt necessta de uma espécie de “cara eovinga” que peri 0 deslocunento dos sgnfcanes Desde © inicio dos estudos estrutuniis, esse exh elemento aparece, Vamos iniialmenteJakobson e Lévi-Strauss, Ha uma conespondénda entre a definigao de Jakobson de foneraa zer0 © 4 de LéviSiruss de valor simbeico 2210.0 fonema zero opie-s¢ a tolos os ‘outros fonemas na medida em que nao comparta nenhum valor fondtico cons: tante, su fungio € oporse & auséncia de fonemas. fio valor simbico zex0 € um signo assinalando « necessidade de ‘um contedido simbélico suplementar do significado, que pode ser um valor qual quer. Giistéria do esuturalism, 1. 0 campo do signo, 1945/1966, pig, 51) Como observa Giles Deleuze, em A tha deserta, esses elementos paradoxzis falam ao seu lugar (no sendo, assim, 44 MENTE, CEREBRO 6 FILOSOFIA Dr arn eras Porat pret erry pene Peeenesirn ts Lévi-Strauss considera a etnologia uma psicologia capaz. de reconstituir leis universais. Em sua obra, etnologia e psicandllise se unem. alguma coisa de real), eles faltam a sua propria semelhanca (no sendo, assim, tua imagem), fltam a sua identiade (nao sendo, assim, um eonceito) Isso focorme dessa maneimt porque, numa ‘strtura, 5 gars relatives dos termos ‘dependlem antes de tudo do lugar abso- Ito de cad um, em cada momento, com relagio a esse objeto circulant. Deleuze chamou tal objeto de “cast varia" ou “objeto = x°, Podemos dizer ‘que 0 deslocamento no & um cariter acrescentado de fora, mas uma proprie= dade que define a ‘ordem dos lugares que varia em fungio das relagbes, Esses objetos em desiocse mento distibuem as diferengas no inte Flor da estrutura, Diz 0 autor: “O objeto = x consul 0 diferenciador da propria iferenca’. (A ilha desert, pig, 239) (© pensamentoy esirutal, desde 0 seu mais Jonginquo inicio, aa idéta de sistema em Saussure, surge relacionado 3 teoria dos jogos. Nao por aeaso, Saussure falava do tabuleiro de xacdez (Curso de lingistica geral, pig. 104-105) Os jogos, mo $6 0 de xadrer, tém necessidade de casts vazias, sem 0 que nenhum jogo avangaria ou funcionaria. Os estruturalistas e os que se apro- simaram teoricamente do estru lismo constantemente falam de um objeto = x. Lacan referiu-se a0 lugar do morto no bridge, & carta roubada de Allan Poe, ao falo; Foucault invoea, em As palavras ¢ as coisas, um lugar do rei no quadro de Velazquez em relagio ao qual tudo se destoca, tudo sliza (Deus, © Homem ...) ¢ nada 1.A Miller tomow de empréstimo a posigio do zero na matemética de Frege para pensar esse objeto = x. (A ilha deserta, pag, 240) LéviStrauss, que segundo Deleuze ler em certs aspectos “o mais postvisea dos estruturalistas, o menos romintica, © ‘menos inelinado a acolher um el fugidio’, como vimos, apontou part a cexisténcia cle um *significante Mutuante 4 valor simbélico igual a zero, reen- contrando, com isso, 0 fonema zero da lingoistiea de Jakobson. © objeto = x € 0 perpen mobi e, 0 objeto em movimento perpétuo. Lacan viu nesse elemento um modo de rupturt com as interpretagdes biologi zantes da obra de Freud, Sendo assim, lisa francés apresentou um abjto = x, que ce denominou de flo 0 flo nao € o Ongio real, mem a série das imagens associadas ou associdveiss falo simbslico.” dem, pig, 241) 0 falo nio & um dado sexual, nem a deter rminagio empirica de um dos sexos, ‘mas um drgio simblico. A sexualidade como estrutura prescinde desse Gro para funda, O fal falta & sua propria ‘demtidade e esti sempre deslocado em relaglo a si: esté onde nio é procurado, senclo encont lo onde no es ETNOLOGIA E PSICANALISE Sabemos que Lévi-Strauss vit aa obea de Marcel Mauss novos. ramos para 4 ineerrogalo anteopoldgica. A. partic de Mauss, a psicanilse e a etnolo- gia encontraram um objeto comum: 0 campo do simbélico, Lévistrauss nitida- mente apoiouse em Mauss, O autor de Ensaio sobre o dom havia definido a vida social como um universo de relagdes simbélicas, Nisso Mauss secomeu com cconstincia a nogio de inconsciente para fornccer um casiter comum € espectico 08 Fatos sociais, Influenciado por Mauss, Lévi-Strauss fez da no consciente um oper dor fundamental em seus estudas etno- lgicos. Para ele, a psi uma proximidacle com a etnologia pelo fato de nos permit anhar acesso 10 {que hi de mais esranho em nés. LéviStrauss considerou a einologia ‘como ma psicologin capaz de recons- it leis universais, Em sua obma, etno- psicanilise se uniram, ambas apoiadas numa outra cigncia: a Lings- tica. Naquele momento, os estudos de pilise martinha Saussure passaram a funcionar como uum modelo heurstco, Lévi-Siraus inicia uma operaglo de reioma mento do signo saussuriano. Direciona seus estudos para uma teoria que torna (8 signos autdnomos em relaio ao real tease da idéia de que 0 signifiante precede determina significado. Com Lévi-Strauss, dli-se inicio a tese candnica do inconsciente estrutural: 0 cédigo € independent da mensagem © 0 sujeifo etd submetido 2 lei do significance. O INCONSCIENTE VAZIO No Liceu de Janson, por meio de um colega cujo pai ent psiquiatra em estrita colaboragio com Marie Bonaparte, Lévie Strauss entrou em contato muito cedo com a psicandlise, Esta amplava os limi- tes do yelho racionalismo e trazia para ele uma logica nova na intempretacio dos fendmenos. A idéia freudiana de que as realidades manifestas 0 So as mais profundas servivthe de ensinamento, Havia. sértas discordincias de Lévi- Surauss em relago @ obmi de. Freud, (© que & comprovado pelo estudo de 1962, 0 fotemtsmo hoje. Contuddo, essas divergencias nao fizeram com que ele se de imediato da psicanslse Em Antropologia esirutural, Lévi- Strauss, considerando que © incons- iente mio € 0 refigio de uma histéria puramente individ, o reduz 2 fun- 940 simbdlica. Assim, abelece uuma distingo entre © subconsciente, enquanto reservatério de recomlagbes € ‘imagens guardadas durante uma vida, ¢ © inconsciente que esti sempre vazio. © papel do inconsciente & impor leis cestruturais. Nesse sentido, ele & estra ‘Aho 40s afetos ¢ a qualquer cont (que componha a histéria de um int duo, © ineonseiente & pensado a partir EFICACIA SIMBOLICA E PODER DA PALAVRA ‘O.campo do simbdlico tam» em especial para aflosoia contre seus conceitos-chave politica contemporanea. 0 de eficcla simbelica, Castres construiu uma xaminad nesta ediedo no radical tora politica a artigo “ito, inconsciente e partir de uma polarigade: as ‘sociedades néo-hierarquizadas _falassem. Nas sociedades ‘da América do Sul adotavam —_primitivas, 0 chefe ndo tem principios comunistase tribals esse direito& patavra, sim, Dorestrtigia poltca e por um dover de falar. so porque -concepeao filesifica. Elas,na nas sociedades de Estado a cura”, de Jorge Vasconcelse sociedades com Estado x verdade, recusavam a forma-_palava ¢o diefto do poder, Siva Pimenta Veloso Rocha. as sociedades sem Estado. _Estado, Esses indos Esso idéia de Lévi-Strauss Sua tose defende que 2s foi retomade pelo francés. _sociedades primitivas, Pierre Clases, talvez 0 nico identifica como socledades a produzit uma teflexdo ‘sem Estado no S80 em nada politica a partir do marco devedoras as sociedades com _primitivas no esto teérico do estruturalismo - a Estado elas se optem, isto sim, antropologiapoltca, ‘Morma-Estado. Sua cca _soctedades contra Falecido prematuramente _orienta-se em drecdo @visdo fem um acidente de carro de que as sociedades indigenas (om 1971, Clastres deixou da bala América do Sul sto lume obra por vir para a ‘mals “primitvas” ou *menos cconstitui¢do do pensamento _desenvolvidas culturalments” nas socledades primi antropolégico contempordneo, do que aquelas sociedades cont ‘mas néo s6.Suas pesquisas mals hierarquizadas, como a etnografics com algumas inca, amaiaeaasteca,nas_ poder sem ‘ages indigenas das terras _quals a presenga do Estado 6 haixas da América do Sul mais evident. = 0s quayakl,0s quaranie os Castres considerava esse Janomami~ séo marcantes _pressuposto flo. Os ideals de também paraa socologia © _igualdade esoldariedades das ‘como a diam —_enquanto nas sociedades “No” 20 poder veticalizado, sem Estado 6 justamente ao centralizado na figura de contro, ochefe tem o dever ‘um chefe ou um pajé. Para para com sua palava. Pierre Clastres, as sociedades _Ochefe da tribo deve falar ‘aquém para ndo dizer quase nada, do Estado; sao, de fato, le silencia. Ele fala ese cal, Estado, dante daqueles que ngo sao Em “0 dever da palavra", seus siditose sim seus igus. ‘capitulo do lio A Sociedade Sua palavra é avalizada e Contra 0 Estado eos claro _avaliada pela tribo. Ele no ‘que a figura do chefe indigena fala porque é 0 chefe ele 60 itvas_chefe porque est aia falar. de Aidéia de eficacia simbelica, detentor de un _consttuda por Lévi-Strauss, edeum gana um novo componente, A Aiscurso sem interlocutores. iia de crenca na palavra que Nas sociedades ocidentas, 0 texerccio do poder assegura cura, &substtulda pea idéia 0 dominio da palavra, como de dever-palava que constitu se somente os senhores _o-chefe que nfo manda. sustenta 0 paj,o produtor da (© INCONSCIENTE ESTRUTURAL E © NOMEN 45 a estrutural em que a invariante prevalece sobre as variagdes, 2 forma sobre 0 conteddo, o significante sobre o significado, Puramente formal e vario, 0 i lente € 0 lugar das estruturas. Nio se trata de uma interioridade do sujeito, 0 inconsciente € definido por uma func? de troca simbélica, ele € sempre fora € interior, f que € 0 mediador entre o eu € © outro, O que se postula aqui é a auto- rnomia do simbélico caante precede e determina o significado. Nao € clic compreender que do inconsciente lévi-straussiano para 0 inconsciente facaniano foi apenas um paso, Lacan vit no paradigma estrutural as bases para uma “algebra do si ante’, (Robert Georgin, De Lér!-Stranss @ Lacan, pig. Sahemos que a metapsicologia freu: diana leva em consideragio we de vista: 0 t6pico, 0 dindmico e o econ mico. A t6pica é uma teoria dos lugares, 5) 46 MENTE, CEREBRO 6 FILOSOFIA ou do espago, onde se desenrolam os Fendmenos inconscientes, O ponto de vista dinimico tem como preocupasio bisica as ue no seio do incons- ciente entram em conflto, © ponto de vista econdmico é uma tworia pulsional fou uma teorit das forgas pensada sob dois aspectos: livre € igido, (Mario Bruno, Lacan € Deleuze, pig.136) Fer evidente que, dt metapsieslogia freuclana, LéviSimuss reteve apenas a dimensio t6pica. Sut preocupago est com una topologia que permits sitar wares cas fungdes sib ddo-os das contingéncias espaporempe INVARIANTES ESTRUTURAIS Em 1950, a0 escrever “introducio & obra de Marcel Mauss", Lévi-Strauss citou 0 texto de Lacan *A agressividade em psi- canilise’, que fora publicado na Revista Srancesa de psicanditise, n2 3. 0 que ‘chamou a atengo do antropélogo foi © fato de Lacan ter definidlo 0 homem sstudvel a partir de uma alienaglo do eu em relaglo a0 outro, (Histinta do estruturalismo, 1. O campo do signo, 1945/1966, pig.137) Isso & de fio aba: cia ocorreu deta ‘curioso: Lévi-Strauss conheceu os thos de Lacan de maneira precoce, obstante, mente de forma inversa, A releitura que Lacan fez da obra de Freud teve larga inspiragio.na_antropologia estrutural. © entio psiquiatra francés, nos Escritos (Pig. 654), nos dizia que a definigio, por ele utiizada, da nogto de estrutura provinha da obra de LéviSteauss, Allis, la viu nos estuclos do etndlogo a caugio entifca para renovar as teorias sobre © inconseiente A buscx por invarlantes estruturais na cobra de Lévi-Strauss atendia ao objetivo lacaniano de deabiologizar 0 discurso de Freud, Lacan encontrou na antropologia 3 uum modelo para pensar cstruturl,afastando-se assim das teorias psicologizantes e behaviorisas. E incontestavel que L amplamente na obea de LéviSauss 20 £ desenvolver su ciente, Todavia, sabemos que est tiltimo { afirmou virias vezes “nto compreender 0 ‘que dizia Lacan”. (Histéria do estrutura- nil cessou de citar Levis-Strauss, Apoiouise teses sobre © incons: Pee ke eet en Poerri Peet) pest lismo. 1. 0 campo do signo, 1945/1966, ig137) Claro que podemos duvidar dessa afirmagoes do etndlogo. RIVALIDADES CIUMENTAS. © psicanalista 1é nos sintomas as pala- vrais de uma lingua, As falas clo scurso apontam para-um segundo “discus” Diz-nos Lacan; °O inconsciente, partir de Freud, € uma cadcia de significantes que em algum lugar (numa outra cena, cexreve cle) se repete © insise, part etferir nos cortes que the oferecem 0 dscuro efetiva e na cogiagao a que ee i forma”, Brits, pig, 813) O incons- ciente de Lacan, como em geril 0 do ‘esrutralsmo, uma forma vazia. Nese sentido, o sistema de uma doenga, como: © sistema de qualquer instituigio, €0 sig nificante de um significado secaleado Como vimos antcriommente, Lévi- Sirauss aproximou psicologia €. psici- nilse, ¢ Lacan soube tar dh anto- pologia estrutural pecas fundamentals para construir sua prépria nau de Argos. Todavia, nas relagdes entre antropologia psicanilise, nem tudo coreu de modo: trangtilo ou equilibrado, A proximidade de Lévi-Strauss com: = a prcanilse no fer com ce ele mio 6 rivalzase com est, Em um de seus vos ‘www mentecetebro.com.br Lacan soube tirar da antropologia estrutural pegas fundamentais para construir sua propria nau de Argos mais recentes, A otra ciumerta, severasrticas ci psicanaic retoma uma comparagio, que jf havis feito, entre os psicanlistas ¢ os xamis. De condo com esst obra, Freud operava com imiios e a psicandlse € somenie um camo da etnologia comparada que _procurou amplar seus estudos no campo do psig ‘mo inconscient. Tendo Feo esse outras cluras aimagdes, autor de Tries pcos termina cand apex de Fuge Tabiche, MARIO BRUNO é professor do Instinuto de Letras dt VERY, vee ds. plain eel em foie ell) ps ao emia dca ‘upd ecsmpact el dune ea Iiecaeer eva pica pela UFR E autor dos. Tra Das erase Lesia 2100 rd, Hata ya (Rae Unetns, SUN dena era rr cla Ua Pu, 3. 0 chapeu de patha da dia, A ama conta histria de Fadinard, que se em aparos no dia de seu easamenio, quando seu cavalo come 0 chapéu de Anaile, ue cesava, num encantro 38 escondidas com seu amante Emilio. Sem 0 seu chapeu, Anaide nao poder voli pa cas, pois ‘eu. marido, Beaypertuls, desconfara da tmiglo, A panied, Lt Siaussrecomen- ‘a com iron aos pslcanalsas:“comam os seus padprios chaps". @ ERI (0 PONTO DE PARTIOA Lacan & Deleuze: rgco para am do ‘rina do razr Mio run, Frese Unhersitir, 200, sci, rata eflsoia er, Bates, Foucault e Deleuze. Mero Bruno Forense erst, 2008. © Ria deserts e outs textos (1859-1978). (Ges Deleuze. luminures, 2008. «© Hitra do estrturalsmo. 1.0 campo signa, 195/196, Fanos Dose. Esl, 1998 (ESSENCIAL D0 AUTOR © Intoducin owe de Marcel Mauss. Clute Lévi-Strauss. PUF 1950 © Tits trios. Clade Liv Strauss Aa ‘ae 1957. © Las estructura elementals dl perentesco. aut Lévi-Strauss. Pals, 1959. © pensamento sehvagem Cisue Li ‘Strauss Pops, 1988, «© Ariroplgia estrtural. aude LS. Tempo Base, 186, © Lapotiejalouse, Cause Liv-Stauss. Po, 1885, PARA IR MAIS LONGE © Ensaio rios. land Bates. ges 70,197. © Oantdio, Giles Deleuze Fe Gata ‘mago 1976, © Gramatologia. Jacques Deri. Parscectva, 1973. 1 De Lev-Straus & Lacan. Robert Geocin, ‘it, 1988. © Misc: vignca do pensar poitin Aino hci. 7 eas, 2005. Foes. Jacques Lacan. ore Zatar Eco, 1986, © Foucaut, Lacan, Lévi-Strauss «Barthes. oan Sates, om Roland Barthes por Palas Bares Cut, 1875 "Curso de ingustca gua Fernand co ‘Sass Cut, 80, © INCONSCIENTE ESTRUTURAL E 0 HODIEM 47 8 Jacques Derrida Primeiros passos: da linguagem 4 escritura ror ruto cesar ougee-esteaps —_O filésofo Ben xo inicio pe Geanarouost, publi- francés Jacques cado em 1967, livro que é uma refe- Derrida mostra réncia central de seu pensamento, COMO 4 escritura Jacques Derrida fala de uma transfor- “abrange a linguagem, em macéo iminente do problema da lin- todos os sentidos _guagem. Pois, nos anos 60, periodo em que exreve oli, Denia ese. 1 Palavra ‘munka uma significativa prolifer de dierenes pos delingagemede IM SINTESE abordagens qua estao da lin- gens quanto & queso da in. ci gitagem, Entre elas estio, por exem- para compreeso de ‘as diversas teorias lingosticas, lt 20brde Deri, plo, as diversas teorias linghistins, 4 el (8 problemas em tomo de questies _paresteecompleo tha de oma como comunicagto, tradugio, arma Paani zenamento de informacdes, além, 1957 quem rio com ervidertemente, das vsias abordagens Steen age floséficas sobre o tema da linguagem 60 mesmo ao, rojcaram , Denia mo cei da = enfim, intimeros desdobramentos lots entempories 0 da linguagem ¢ sobre a lingua; arign pretend apresena, eae wusgem smile, pals aque vém ocorrendo desde as primel= ponents ma oman ras décadas do século XX, de modo Sesitegio que nomen ‘imbue dora. 0 cada vez mais acelerado. Pensimento da desconstragio, 49 hiss Giyeisds ee Bir san Petes Be iis Mas 0 que Derrida tem em mente, 10 testemunhar ese inflagio em torne da questio da linguayem, quando diz que algo. novo, em relaglo a ess ques- to, esti acontecendo? O que quer le dizer quando afirna que ba “uma transformagio iminente do problema da linguagem’? Para responder de um modo muito breve, eke percebe que & *esertura® (Geriture) ~ que sempre foi considerada algo sem relevincin para 0 pensamento, meta extensio da palavra falada ~ comega a torn-se um proble- ‘mi televante, Mais precisamente, € @ propria escrtura que se enconta, agora, mn vias de tomar o lugar do problema dda linguagem. & ele diz que isso ocomre ‘como um lento © quase imperceptivel ‘movimento que vem de muito longe: tudo 0 que, ao longo de 20 séeullos, Foi reunido sob 0 temo “linguagem” ver se agripando, de um modo ou de outro, sob 0 termo “escritura’; €, nesse movie mento, Derrida percebe que a escritura comeci a ir além, comega a exceder a cextensio mesma da linguager. Ele res- ‘me; “Fi todos os sentidos da pala, & cesctitura abrange a inguagem”. © que diz Derrida € que tudo 0 que, ao longo da tradicio do pensamento ci- dental, sempre esteve envolvido no que tusualmente entendemos como “lingua ‘gem’, encontra-se agora num processo de ultrapassagem da extenso ou do dominio da linguagem, em diregio 20 escopo, s¢ assim se pode dizer, da esc tura, Mas, antes de tudo, € imporame 50 MENTE, CERFHRO 6 FILOSOFIA Se existe uma hierarquia entre os componentes de uma estrutura conceitual, existe também um conflito potencial entre eles cenfaizar que Demida nto est se refe- rindo aqui a escritra no sentido estito da inguagem exerita como oposigao linguagem falda; esestua, rite, 0 6 exatamente 0 mesmo que linguagem esorta, Essa €, alls, a radio pele qual 6 termo “escrtura” me parsce mais apropriado do que “escrita” para captar © que esti-em jogo ma argumentagio do fil6sofo. Se a escritura, como afirmst Derrida, “esti comecando a ir além cit cestensto di linguagem’, a it além do conceito mesino de linguagem, ela esti, conseqjilentemente, indo além do. pri- prio conceito de linguagem escrta, CONCEITOS EM CONFLITO. Ms, afin, 0 que pensa Demida com 6 termo “cscritura? B justamente iso que precisamos compreende, ¢ uma boa mancira de faé-o € observar aten- tamente dois aspecios bisicos do. set pensamento, ses dois aspectos, ou momentos, consituem © que ele deno rminou, cert vez, de estratégia geval da desconstrugdo™ Como entende-12 F importante observar que Denia ‘uso 0 termo “estatégia ger", no inicio de sua tmjetiria, e que depois 0 indlonou, pois, como veremos adien- te, no se trata propriamente de vima cestraggia, mas vamos, por enquanto, nos deter nesst linha dé raciocnio, © tentar, primeimamente, entender 0 que le quer dizer quando utiliza 3 expres- so “estraréyta gerald desconstrugao". Essa expressio estd relacionada 20 fo, enfatizaclo por Denida, de que toda eserutura conceltual, nto importa quio refinada ou sofistcada ela seja, tem ‘uma earacterisica hierirquica intrnseea 2 sua priprin consituicio interna; sejt, em tock © qualquer estrturt ou eilificio conceit pode se constatar que tum conceito & sempre & mecttavelmente centendido como sendo mais importante ‘que outro, ou como tendo ume pesigio. superior” a outro conceito, determinado conceito & considerido central, em opo- ‘Sicho a outro que ocupa um lugar mag nal, perférico; ou, ainda, un conceito & consklerado mais original do que out, tide apenas como um coaeeito derivado cc, Derrida considera muito importante & reconecer esse aspecto, pois, se hii uma = hhierarquia, se a esirutura conceitual é 3 cconstiida hierarquicamente, entio, ti = ‘uma imposiglo, assumida ou no, e, $€ 1nd uma imposicto, hii também e neces: ssaiamente algum tipo de violencia ¢, www mentecerehro. com br JACQUES DERRIDA, flo de 1986. Expoonte do chamado pés-etruturallsmo,ofésofo empreende ‘a desconstrugio do coneate de inguagem en obras come Gramatologiae Esriua eaiferenea portanto, também um confito potencial cenire os componentes ca estutura Isso significa que, segundo Derrida, tensto e conflto nunct estlo ausentes a universlidade dos conceitos. E, se € assim, se a establlidade, a Fimezs, 0 rigor ce coeréncia da Logica intema a toda estru- tra conceitual baseia-se em algum tipo de violénala, em algum tipo de impasigo de ‘uma hierarquia constitu, € ume conse. quéneia inevikivel que, em urn determina cdo momento, algum tipo de perturbacio in, mecesariamente, ocomer dentro ca cesrutura ou do sister. Essa perturacao xz respeito, portato, a uma necessidlade earutural, devido 20 catiter constutdo ‘04 instituido do sistema, ¢ nao a algo que Dera cleseje ou almeje com seu pensit- mento ou coma aplicagio de um supasto “metodo desconsinaivo”. Ea “esianégia .geral da desconsirugao”, a que se refere Derrida, est4 intimamente rekicionada a essa. necessidade, Eu diria que o pens mento de Derida tem um compromisso integral em responder a esse fato, a tal necessidade que, repetimos, nio & posta pelo seu pensimento. O termo “esttégia geval da desconstrucao” teferese, assim, sadois momentos que, provenienies dessa necessidade, encontram respostt no pen- ssumento de Derrida INVERSAO E DESLOCAMENTO © 0 pric momento ~ que r20. dexe ser entendido no sentido cronolégico = conse naqullo que ele chama de intersdo dos concios oposts deniro 4o sistema; como ele diz em Posies, para fizer justica a ess necessidade, & preciso reconhecer que toda oposicio filosfica clés una, coexisenca pacifca entre os ter mos emvolvclos, mas sim. sobre uma hierarquia violent, onde, de um modo fou de outro, um dos dois termas da ‘oposigio comand 0 out, € tido como superior ao outro etc. & desconstrusa0 4a oposigio comega, necessariamente, ‘com a inversto dessa hieraquia que resulta num abullo da religio de confi € subordinacio até entio esabilzada na esirutura de oposigio conceit ~ por exempio, mente/corpo; razio/sensbil dade; espirio/matéria; eséncia/exisen cia; sujeitoobjo histéra/Natureza ete ‘Mais uma vez, fica caro que, para Derrida, univeralidade no equivale a neuttalidade, Pelo contro, a univers lcade no € jamais neutra, mas sim 0 resiltado de um conjunto de opesicies conceitutis hierarquicamente insiuas que constivem uma determinads esine tum. Uma opesigio hierirquica muito imponante para Demida, ¢ que € a que nos iteressa aqui, & enconttda deni do pripeo conceito de linguagem. Mas antes de ertrar nessa queso, vamos slivar 0 segundo aspecto ou: momento do pensamenzo de Dersida, que diz respetto 2 necessira desconsirugto do sistema Além do momento de inversto das coposigdes, Dena refere-se também a0 momento do deslocamento da oposici0 inveridla. A que ele se refer, precist repoust sobre CRONOLOGIA 1930 Nason pe Jaegs Dawns pF. 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Seti angimento podria ser sinttizado da seguinie maneita: se apenas inverse as oposigbes, ficando embaixo © que cesava cima’ © vice-versa, a esraturn mesma do edfcio conceal perma: rece intacta, A cinica cies «aso, seria que 0 eonceito subordinado passa a ser o dominante © vice-rerst, © «que equivaeria a uma fals transgressio ‘ou subversio que, na verdide, apenas femaria 0 termos cle uma violencia ja estrutura de confi. permaneceria inevitvelmente a mesma. Por is80, hi também a necessitade de deslocar a esrutura part outro lugar. Esse “outro Jogir™ tem uma importincia decsiva no ppensamento de Dervic, Consideremes apenas, € muito brevemente, dhs 0 sas; primeira, que toda experincia de pensameato aberta por Derik desdo- tase em diego a0 que estamos aqui chamando de “outro lugar’; ¢, segando, {que a expresso “outro lugar” pode ser tomas como um outo termo para “o ateridade". No sendo pos sivel tatar disso agors, continuemos a seguir seu pensamento passo a pass. Percebemos que se nos limitares ao momento da simples inversto das ‘oposigdes conceinuais, a exrutura do sis tema de oposicies permanece a mesma Por isso, € necessirio um deslocamento para além desse sitema, ct arguitetura desve sistema e280 conto, continua remos fslando a mesma linguagem do terior, continuaremas pen: sando segundo as regras estabelecidas por ele. Derida explicta em Pasco Permanecer na fase da simples inv das oposigdes € ainda operar no e dena ddo terreno do sistema desconstruido”. FE € somente através desse duplo mo mento, de inversio e deslocamento, que pode emergir um novo “conceto’, um conceito. que excede, que nao pode nunca ser includ no sistem anterior. Mas 0 que significa exatamente um ‘novo conceit’, ito € um “conceito™ que excede o regime anterior? Como eo RR set Sar TET, 52 MENTE, CEREMKO 6 FILOSOFIA deridana, ¢semente por melo ‘de duplo movimento de Inversio e desiocamente “ave pode emersr um nove Yeoncito" Derrida nao esta interessado na aquisigao de novas identidades conceituais, no enriquecimento dos conceitos com camadas de sentido podemos entender esse movimento de deslocamento mn.” a0 qual Derrida se refere? Nao devems entender ‘esse movimento como um simples movi mento de mudang, ou migraglo, de um me discursive ou conceitval para um ‘outro regime, em que o conceito, a cada deslocamento, e uma vez integrado em lum novo regime, adquirise uma nova identidade, um novo sentido. Isso € 0 (que caracteriza « polissemia: cada vez ‘que 0 conceito & incegrado e “funciona”, “opera” dentro de um novo sistema, ele adquire uma nova identidade, um novo sentido, uma nova cumada de sentido, Mas no é essa a idéia de Derrida. Ele 10 es interessado na aquisiglo de rnovas identidacks conceituais, no enti quecimenta dos conceitos com novas camadas de Na verdade, 0 sentido nao € a principal questo para Derrida, € no porque cle simplesmente 1h OB a Rl o ignore, mas, pelo contro, porque ele reconhece, todo 0 tempo, a necessida- de de compreendé-to da maneira mais rigorose possivel. E que ele reconhece também, © ao mesmo tempo, que 0 sentido, qualquer que seja, € sempre algo insitufdo: ele nao € nunca natural, reutro, niio & jamais algo dado, em si © por si, como tal, Essa esinuturt do “como tal’, als, qualquer estrutura que se mosire ou se quer passar “com ta & sempre o resultado, mais ow menos cstivel, de miltiplos fatores; pontanto, ‘nunca algo “como tal". Nunca como tal, ‘numa palavea, porque sempre é ja um consirtcto, uma consirugio. E, como toda construgio, como foi dito antes, baseia-se, ineviavelmente, em algum tipo de hierarquia insttuida, €, como ‘conseqiiéncia, em algum tipo de violen- ia € conflito, Se nao reconhecemos isso, alo porlemos pensar, © pensar com 0 necessirio rigor, o sentido no seu carter ‘essencialmente institutdo. Tal € a rizao pela qual o peasamen- to de Derrida nao se eneontra centrado na questto do sentido, como, aliis, fem nenhuma quest2o especfica. Longe isso, seu pensimento 6, por excelén- escentrlizado, Quanto ao sentido © pensamento demridiano compreend ‘um tipo de relagio paracoxal entre, dl uum lado, a configuraga0. do i de outro, aguilo ‘que, de um modo accessirio, if se encontra em processo de pesturbar ou abalar a estrutura mesma do “como tal" do senti- do instituido. RECAPITULANDO Mas, antes de avangay,fagamos tama breve sinese dos pass aque nes wouseram até aqui. D Comecames. com a afirmagio de Derrida, haseadh a inflagdo problema da inguagem, 1 seh na ila de que 0 conceto dla sua linguagem, das suas leis © regres proprias ec, Ou seja, quer ceviar, como afimma, permanecer dentro do “campo fechado des: ss opesigdes. Podemos agora dar mais un ppasso adiante, Tendo em vista a énfase que Derrida confere 0 cariter hierirquico, e nao neutro ou pacifico, do siste ma, vamos, primeico, enfocar 0 ‘eoncelto tradicional da escritue ra, ou seja, entender a eseritura a luz do conceito de linguagem eserita, para, num segundo momento, entender caramente de esriura comega a ie além ca 4 REUMAO DA ALMA E D0 CORPO, squarala de Wiliam Blake para o © sentido, derrdiano, desloca cextensio da linguagem. 2) Se 0 cconceito de eseritura vai além a estensio ct linguagem, no pademos entio entender a esc- tra simplesmente como linguagem escrit. 3) Seguese, poranio, 2 questio. s ‘seria m0 pode ser entendi simples mente como a linguagem escrta, como podemos site a idéla de “escritua” tal ‘como Demi entende? 4) Para situar 0 termo demidaano “escitura’, mencionamos (0 dois momentas ou aspectos basicos do pensimento de Demida que constiuem (© que ele chama de “estatégia geral da desconstrugio’: a inversio © 0 desloea- mento, Com a inversio, Demida quer ‘evar qualquer tipo de neutralizaglo das ‘oposigdess conceituais trazer 2 luz Fito de cad opesigio conceliual ser marcad por uma hieraruia. violenta; como ele dd, *Passar por cima desse momento de inversto é esquever-se da esrucura conll- ruosa e suborinadora ca opesigto", Com © deslocamento, Derrida quer escapar «kt lausura do sistema de oposigdes concei uals ~ quer escapar da sus. Kigica interna 0 DESCONSTRUTOR ‘Quando morreu, em 2004, a desconstrugo, por melo Jacques Derrida foi saudado da qual Derrida oolocou pel jomal francés Le Monde em questio toda a tradigéo como 0 filésofo francés __metafisieaocidental. proposigses. mais comentado em todo o Sua primeira obra mundo", Nascido na Argélia —tradugao, para o francés, em 1930, pensador queda Origem da geometria de até 0s 19 anos munca havia —Husser, em 1982, Cinco anos saido de seu pais natal ‘depois, publicaria trés titlos ‘ganhou o mundo parase que marcariam toda a sua ‘ransformar no principal _—_trajoldra: A esortura @ a ‘nome do pensamento pos- _aliferenca, A voz @ 0 fendmeno ‘struturalista contemporaneo. e Gramatologia. Ao morret, Otero, utilized ‘405 74 anos, tinha deixado ‘uma obra de quase 70 livros, Foucault. ‘raduzidos para diversos idiomas, alem de centenas (© INGONSCHENTE BSTRUTURAL £ 0 1 poem "A sepltura", de Robert Bla, 1005.0 pensamente de Derida co “pars culo lugar” ~ ‘paral {uostona toda a tradigdo molatisia ocdental alén" do conceito de lingua gem escrta ~ de eseritura LINGUAGEM ESCRITA Pensacla como linguagem eseric, a esr tuna € concebida segundo uma. égica de derivagéo que € propria 20 conceito de linguagem € que pode ser descrita em dois momentos. Prime momento: sempre que hou ver um sentido, hi também, rlaconada aes sentido, uma determinach pala uma vez que esta & pronuncada, la alta no aperuis como sigiicame desse de entrevista, depoimentos Derrida dedica-se mais. ce documentirios sobre seu diretamente aos temas peroursofloséficoe suas politicos, © que para muitos ‘comentadores significa 0 ja —__Emumma dessas entrevista, inicio de uma segunda fase ‘ele afirmou que tudo 0 que —_de sua obra. Engaja-se em fez, pensou e escreveu esta debates sobre pena de morte diretamente influenciado por —¢ apartheid e dedica-se a Nietzsche, Heidegger e Freud, acompanhar os tibunsis de ‘mas outros autores também —reconciliagdo na Africa do Sul. ‘aparecem como importantes A partir dessa experiéncia, ‘em seus textos, como 0 ‘vai pensar sobre a questo do filésofo lituano Emmanuel perdao, tema de sua titima Lévinas ¢ 0 francés Michel conferéncia piblica, realizada ‘0 Rio do Janeiro meses ‘Apartirde 1993, quando antes de sua morte. publica Espectros de Marx, Paulo Cesar Ouque-Estrada significado ou sentido, mas, € principal: mente, como seu signifcante principe Pois, como um significante il palavra pronunciada € consiia como uma estutuna de signficasto que € ime- diacamente préxima da origem, ito. & meciatamente prosimar dosent, de modo tal que @ fungio ot. 0 papel da palavra pronunciada € apenas expressar © sentido. Assim, o sentido encontri-se imediatamente atado & palavra falada; cle ‘crigern~ lef esti, desde © comego pakivra fala ¢ seu significant prin- ial, que imediatamente stack a ele Segundo momento: 0 signiicante principal - a palavra falada ~_ pode ser fixado, a qualquer momento, numa determinada forma escrta e, quando isso ‘ocome, # palavra escrita funciona como tum signifeante menor ou secundiro, pois, a0 conuririo da palavra falada, ela, «1 polavra escrita, no est imediatamente colada’ 2 origem, ao sentido, A palavea esctita encontrase relacionada apenas 2 palavra falada, e, desse modo, ela io tem acesso 2 origem, mas tlo-somente a seu sgnificante principal. Assim, waa vez escrita, & palavra nfo tem mais 0 papel de significante ce um significado, nas apenas © de significante de outro significane, razio pela qual ela € um significarte menor ou secuncliio Desa condicio de signiticante do significarte, uma vez que ela mio se encontra imediatamente ligada do, decorte que a existéncia da palavt escrta no € necessiria~ ea & acidemta, pode ot nio estar presente, a0 passo que a linguagem falada € necessitia, A palavra escita € concebida, port to, como algo exterior, uma ‘superficie cesterior” a linguagem, diz Derrida, um ‘compo estranho que pode se enxertar a linguagem, mas que nio € essential a ela, Além disso, e precisamente devido «seu aspecto secunckirio de significane do significante, a escrtura é percebida como enjganosa, por uina rio preci como a palavra escrita no esi creta- mente conectad a0 sentido, original mas & por natureza, desconectada da rigem, os significantes escritos, por padecerem de uma desconexio endd- sgena, podem se diseminar em qualquer dliregio, part além do sentido original 54 MENTE, CEREBRO 6 FILOSOFTA pretendido pelo autor e, claro, para além do contexto original no qual © autor expressou 0 sentido do que ele queria cizet. Como conseqiéncia, o.mal-enten- ido, a repetigha mecinica do discurso, sem o conhecimento comespondente tele, € um perigo potencial que sempre sompanha 4 eseritura Em sua abordgem critica dessa Kigica do conceito ele linguagem, Derrida enfa tiza que a voz viva, 0 discurso (phon, segundo essa concepea0 tradicional dt linguagem, consiste no meio de expres so imediata do sentido original (lego, Assim, phone e degas, discurso e sentido, sto insepariveis um do outro. Derricka que a unidade phoné-togos cons- titi a esséncta da linguagem. Nox sentido, portanto, mas nunc a escritura = ainda pensida aqui simplesmente como escita; esta nlo diz respeito cesséncia da linguagem. O primado desst tunidacl, de um lado, juntamente com a conseqiiente depreciagio da escriturs, ‘por outro, constitu o que Desrida perce- be como a caracteristica fonologocéntrica ndo apenas do coneeito de linguag snus da metafisica em geral “linguagem’ VLADIMIR ATL, projoto 40 "Monumento a Tercera Intmaconal, 1919. Para Dera, 0 sentido 6 ‘sempre una constugdo para Derrida, € um conceito metafisic. im varios de seus livios © ensdios, Derrida mostra que, apesir de todas as mudingas ocomidas na histria do pensamento ocidental, a depreciagio ia eserturs, inurinseca a ess histéria, ppermanece a mesma. Mas, de que forma a concepg0 demidiana de eseritura vai alga do conceito de linguagem? A DESCONSTRUCAO 1 porlemos entrever que se a escrtura ‘ai akém do conceto de lingusgem, se ela é mais do que linguagem escrita, ela também deve it além da caracterizacdo cessencial di linguagem descr Entramos entao a desconstnugdo. do conceto dé lingoagem que, como tod desconstrugio, ¢ mio s6 da linguagem, acontece segundo dois momentos que, repetimos, no inicio de saa tajeeia Derrida nomeou conto inversio € deslo- ‘momentos trabalham na desconstrucio do conceito tradicional de linguagem. Em relagao ao momento da inversdo, Derrida prope uma nova concepcio de escritura que tem como inicio seu eww mentecerebroicom bt o, Neremos agora como esses dois © restabelecimento, entendida no seu sene tido tradicional, mas com uma pequena modificagto: a escriturs & restabelecida rum sentido positivo, ov seja, a estuturat “significante do significante’ no € mais considemac como um aspecto secundi- cante do significante", como diz Dera, tem a ver com 0 prprio. movimento da linguagem, com sua pris origem, Ou seja, a estutura “significante do sig- nifiante” sempre esteve ali, na oFigem da propria linguagem Ou, precisamente, a origem € fi © sempre tum “significante do significane” a inversio:“significante do sig ndo se mostra mais como tim estrutura derivada, us, antes, como a “esate ra? mesma da origem. Iss0 ocome m0 porque Derrida decreta ou deseja que assim sen; que, dagui por diante, “signi- ficante do signifcante” € a origem, mas, pelo conirino, porque ao testemunhar a inflagio de linguagens e das cileremtes abordagens sobre 0 tema da linguagem ~ algo que, nos anos 60, apenas antec pava 0 que hoje presenciamos de um modo muito mais intenso ~ , ele perce bea que “significance do significant’ cem thkima andlise, « propria lingu Yelamos isso mais de pert. Quando dizemos que o *significante do signifcante” é, em aitima 3 prépria linguagem, quer dizer que 0 Sige nificado foi abolido, removilo. De que modo e como isso & possivel ‘A aboligio do significado tem de ser ceotendida cle um modo bem preciso. Ne verdade, oque est em questio € abo 4 idéin de um significado que existe em si proprio, imdependentemente do sisters conceitual ou lingiistico a0 qual pertence Como se a linguagem, fads ou escrt, tivesse somente 4 funcdo de express teansportar, comunicar, um seme Cou sigaificado) previamerte exiente. Deri cchama de significado transcendental texio significado que é asim concehido, io & ‘como algo que exis previamente, em si mesmo; desse modo, a aboligho a qual ‘0s referimos aqui diz respeito 2 abobcl0 do signeado. transcendental, Mas. nio evernos conduir a partir dat que, pat Derrida, o que quer que lames, ouvimos cu dizems nao tem sentido algum. N20 & rww.mentecerebro.com.br Se a estrutura “significante do significante” é a prdpria linguagem, isso quer dizer que 0 significado foi abolido, removido ‘esata sua questio, mas sim apontar que € necessiso) manter sob uma vigitinia crea permanente todi suposta presen ca de um seniilo original, auio-klenico, preexistente 3 condigo de set teferido por uma palive: ou, na terminologia de Saussure, por um significinte, Ou ja, © aque deve estar sob um vinci cr permanente nio a refeén- ‘Ga a0 sentido, mas, antes, aida de que © sentido jf esti li, nto contaminacks pea refertne © 0 sentido esivese fi dado antes mesmo de qualquer referencia Abolir qualquer pressupo- do significado transcene dental significa, na verdade, remover uma iusto, uma iusto metafsien que, como ‘acontece com qualquer meti- fisica, e Derrida enfatiza iso 0 tempo todo, 6 iusto da pre sonca. B, nesse «280 pac lar, presenca de um sentido auio-ientico, desgamado de toda referéncia,E imporante resaltar que, para Deri, a iléla de- um sentido preexis tente mo 6 apenas uma ida centre otras, mas, como ele esereve em Gramatolegia, & a “eondigio mesma da iin de verdade”, Di isso, nd0 & dite perceber que, desfeta 10 ch presenca previa ¢ soberana lo significado, a dela referencial ce signi- ficanes, ow seja, a escritura, ver 2 fona Mas hd ainda outro momento, 0 deslocamento. sa signcate tem vor com @ ‘préprio movimento da nguagem 8 Até aqui, seguimos a inversto dt oposi- to hierdequiea que tem, no nivel supe- sor, @unidade entre o significado ea vor, ‘como significante prineipal que express imedlatamente o significado, e, no nivel inferior, & pakivra esctia, como mero significante do signiicante falado, Vimos ‘que com a inversio, a estutura “signifi ceante do significame’ sobe para 0 nivel superior. E quanto ao deslocamento? JOGO DE DIFERENGAS ‘Na verdade, f2 vimos algumas coisas sobre o deslocamento; até porque no se trata de momentos separados ~ pi reiro a inversto © depois © desloce INCONSCIENTE ESTRUTURAL E 0 HOMEM DERRIDA SCRITU mento. Na vendade, no Ambito do pen- samento derriiano, a inversio ocome por meio do deslocamento € vice-versa. Deste modo, quando a estrutura do signficante do signficante € trazida para uum nivel superior, 80 nao signi- fica que o significado (que estava no nivel superior) desea. part 0 inferior. Pelo coniriio, jh aqui um destoca- mento, de modo que passamos a pensar nna oposiglo signficado/significamte de ‘uma outra forma, e i880 porque per cebemos, com a inversio, que no hit © significado, Em vez disso, hit apenas ‘um movimento referencial interminavel de significante para signficamte. E nesse movimento referencia interminavel de um significante para outro, 0 que cha- ramos “significado” & somente niffcante que, num sistema dete dle teferénciis, opera ou tem a fungio de significado, Podemos perceber agora que jf nto estamos mais pensando dentro do mesmo lugar em que estiva- mos antes, Nao estamos mais pensando segundo a lei da oposigio hierirquica significado significant Mas vamos tentar avangar mais um ppasso em diregio a esse momento de desiocamento que, como mencionei, é lum movimento de parida, de afasta- mento em relago ao regime ou sistema tradicional da nossa maneira de pensar, fem diresio a *algum outro lugar’, de modo que nés comecemos a pensar diferentemente. Se a linguagem nto € senlo 0 movimento referencial de um signficamte para outro significante, ¢ se 0 significado € uma iiusio, se tudo © que temos slo significantes, entio vamos olhar mais atentamente para 0 significante, Como ele oper? Como uma unidade da signiticacdo, © significante opera segundo 0 lugar que ocupa dentro de uma determinada cadeia de significantes. Por exemplo, nat frase “0 oé € azul”, os significantes “o", *céu’, "€° e “azul” funcionam de acordo com © lugar que oeupam dentro do sistema referencial de_significantes em ue eles se encontram. Fora da frase “o céu € azul’, € mais ainda, fora do léxico lingua portuguesa, fora, enfim, do sistema referencial a que pertence, um significante permanece completamente 56 wenve, céaenna ¢ Fosorta Se nao ha significado em si, se 0 significado € uma ilusao, nao pode existir 0 significante, esim rastros de significantes indeterminado, ele munca funciona como significant. Além disso, dentro da frase ‘ou do sistema lingiistico a0 qual cle ppestence, 0 significante pode apenas desempenhar seu papel, sua fancto, como este ou aquele significante, no Ambito da multiplicidade de diferencas «em relagio a todos os outros signficantes da frase ou do sistema lingiistco que ‘BOCAS. Vor e sentido constituem o gue Derrida perbe come a caractrstia | fonologodatrica sb do concelto de linguagem, mas da metaisica em gra: Minguagem é um conceltometaisce no ele (no 56 0 significance “eeu, na nos frase, ndo & todos os outros signi- ficantes da frase, ¢ isso vale para cada tum dos. outros significantes. da frase, ras também “cu” ido & todas as outs palavras da lingua portuguesa), E se & assim, chegams 2 seguinte conclusto: se ‘ndo ba significado em si, s¢ 0 significado € uma ilusio, fambsm ndo pode existir ‘algo como 0 sgnificamie, precisamente porque o significante € o que & somen- te segundo 0 lugar que ocupa em um sistema de diferencas, Por is Derrida abandona o temo “signficante™ e ado, ‘como alterativa, 0 termo “rast, por- ‘que cada “significante’, cack palavra, ‘cada termo — numa frase, num discurs, ‘9 FERECEA @ECHVaEKTLORS mage ee rah Re si IT) ret oe a aes eae TONS, ROLES, oe sai epost Saas .SACKSON MACLOW, Vocabulério para Sharon Bile Matin, 1973. Derida abandons o term "significant eadotao terme “rasta, porque cada pelavra, coda *signifcante” ~ numa frase, nam digourto, num sistema ingstlco qualquer -traz orastr da todos os damals significantes Js, 0 significado ou signficante, mas ALLO CESAR DUOUEESTRNDA Eyer do 1 “diferencialidace”, um sistema, ou como gatinnto de lauds POC. eet: do : beset Nien detsas en Pi eDsaso ed 7UC dz Derrida, um jogo de diferencas, Ro. yar apn Tendo em visin a ideia de deslo- re LC Reals ane ‘aes Dri (Bi, PAR a, 30), camento, comegamos aqui a lifer ‘outro modo. Bl pensada no mais como uma relaga 6 sighificanie “1° iniz © termos Opostos, mas, antes, como uma 25>" ec’, o signi- diferencialidade que Derrida chama de Eine ‘OPONTO OE PARTION «© Pnsaradesconstrudo, rend Nascent 9 rasto dos signiicanies que cere, na lifémmce | | Oy) Eero ets 28, “difiérence”, na cliferenga | # Sobre a desconstrugo, ont Cole Rosa ° Geen ada ordem da presenca, 0 € muiio menos o significa do, mas sim 0 rastro, que é sempre ras- cexemplo, tro do rastro do rasiro... A eseritu dliferente da coist significa seniido dersdiano, & 0 moviment por diante, A diferenga em consideragio jogo da différance. Isso & escritura; nela aqui é de outra natureza, Nao é uma habit ‘OESSENCIAL DO AUTOR © GramatoogiaJaccues Demi Perspect, | OL © Margens da lost. eques Ded. Pens, 199 2 Poskes. anaes Dal. Attica, 2001, Tore de Babel. Jacques Dri. Es, FG, 2002 PARA IR MANS LONE ‘Lorelle de Faure, Caute Levesque Oise ‘McDonald Es) VB, 1962. ‘La disséminaton. Jats Dei, Seul, 871 © Limited ie Joos Daida. Pains, 1981 2 utas, A dference aqu é uma diferenca vale dlact, das memdrias © promessis de rasros ~ ¢ no de coisas ~e isso sig- que nos atravessam e, para al riffle que © que € primeiro no Sio as nossas vidas, do cessam de brota. r0.com.br (0 INCONSGIENTE ESTRUTURAL FO MOMEM 57 Derrida e a ética (lo i impossive Um pensamento totalmente outro ow RAFAEL HADEOCE:to8O Para Derrida, E irossivet raLak NO PEASAMENTO DA desconstrugo sem falar em alte- toda telagao ridade. Mais ainda, seria possivel arriscar-se a dizer que, mais do que com 0 outro empreender um pensamento do outro, Jacques Derrida dedica-se a — toda ética — pensar outras possibilidades do pensar. Desse modo, mais do que tratar supde um certo do outro, mais do que tomar © outro um objeto de seu pensamento, sactificio, como Detitaypeetende wollns'o permanent Tite uaente“wo ina, ade um juramento sentido, percebe-se que, em seu movimento mais proprio, o pensamen- secreto ou uma to da desconstrugio é, desde sempre, ético ~ se por ética se entende, devogao como antes o filésofo lituano Enimanuel Lévinas definiu, simplesmen- te a “relagdd com o outro", @ Além disso, se Derrida mesmo diz que desconstruir nao & destruir, mas sim conhecer € respeitar as leis dos eae diversos di if ca i sua dk cio (, caeeeeaial iversos discursos que jf caregam em si sua desconstrugio (e, nesse desconsrogio poyost por sentido, desconstruir € estar atento as desconstrugdes que acontecem jes Ded aber fen aces no mundo), seu pensamento deve procurar receber na estrutura de seu ‘Sea desconstrugio € algo que préprio discurso os textos € as linguas do outro, E, por essa razio que sconce no mundo, pena ia as iia ema parece dificil, como se costuma fazer, dividir o pensamento de Derrida brechas do quese cham em duas “fases", Certamente, pode-se constatar que, a partir da década de ride. Asin, podese : oc ue Dea prope de 80, com a queda do Muro de Berlim, ele comega « abordar temas a pemaaaen enero mais propriamente éticos e politicos. Mas isso, segunilo o proprio fléso- 5 mesmo movimento quo fx Oe Pe y RERUNS Spee z ropa um oo peasaneno fo, consiste apenas em um desdobramento de um pensimento que ele = erect tentou desenvolver desde os anos 60, a desconstrugo, que apresentaria do pensamento mete, uma estrutura de pensamento radicalmente voltada a0 outro, PENSAMENTO DO IMPOSSIVEL {Um dos aspectos da intima relagao com cesst alteridade “completamente outa’ «disse no que Derida chama de pensa mento do imposctel, Em seus. terms, se hi alguma espécie de deseo ou de interesse ca desconsinigo, este seria uma certa experigneia do impossivel, cou seit, do outro: “A experiéncia do outro como invengiio do impossivel, em outros termos, como a tinica invencao ossivel’. (yché: inventions de Hauare, ig, 27) Cabe ressaltar que esse tema dia alteridade na desconstructo refere-se a uma exclusto em geral do outro, & no apenas de uma apropriago, ou de tuma represso de um outto especiico. Tratase de buscar romper ssi barre ra de exclusto constiuinte do préprio pensamento, 2 fim de liberar essa alter dade. E & nesse sentido que este outro deve necessariamente ser da ordem do imprevisivel: ele surgicé como um acontecimento inesperado e incalcul vel, justamente por ter rompido a orde da inteligiblidade, que nada mais era do que 0 prprio bloqueio do outro. Mas se falar de um pensamento do impossivel pode parecer uma loucura quando se focaliza a obra de um filé- $0f0, isso fica muito mais complicado ‘quando se trata de uma ética do impos sivel, No entanto, se paramos para Pensir que se, nos termos de Derrida, © impossivel € aquilo que rompe com a order das possibilidades, com @ ordem do cileulo, poderemos compreender por que toda ética (se for pensada segundo 2 definigto de Lévinas, como *relagio com 0 outro") pode set terizada sempre como uma ética da ‘orem desse impossivel Contudo, para que isso no parega insano, deve-se entto compreender a ética de um outro modo, para ale do que se entende normalmente por Gtica ou por moralidade, E isso € muito imponante para afastar as eiticas de que a desconstrugio apresentaria ua postu i nilista em face do mundo, sobretudo porque, como Derrida faz questio de sublinhar, tratase, 20 contrétio, de um pensumento absolutamenteafirmativo Seyundo 0 filésofo, a desconsinicto € lum pensamento que comporia um dyplo 60 MENTE, CFRENRO ¢ FILOSOFIA ‘Ua mcLES EM MOSCOU, obra de Kazimir Maivitch, 1914.0 ‘manlerpreso ao solo, que no Ihe perience, deve partir ramo a wna terra estangelrs sim ou um ‘sim, ns em que o primeito sim’ seria o sim inevitivel, que dliz res peeito 2 chegada do outro, & invasio do outro que de modo algurn podemos bar rar (pois somos desde sempre invadidos pelo outro, ja como linguagem, afetos t., seja como estranho ou estrangcito} ‘© o segundo “sim’, 0 sim do acolhimento ce da hospitalidade, consistra apenas no fato cle dizermos sim a0 primeiro sim que nos é imposto pelo outro. Aliis, uma atitude nila. seria jus amente 0 contrio do cuplo sim, pois tratase do desejo de nio aceitar es vinda do outro, um dizer “ni! que busca a desconsirugo é justamente comparecer diante desses outros que se impdem a pensamento e que este, por wsamenlondo pode se seu desujo de seguranga, de controle de defines precisas, de classiicagdes, acaba por excluir. Um pensamento afi ‘mativo seria, entio, um pensiment que, em um duplo. movimento, carregaria a nosio de hespitaidace de Lévinas e 0 “eissme aqui” de Kierkegaard, Ao lado de Nietzsche, Freusl e Heidegger ‘que foram fundamentais para 0 desen- volvimento do pensamento da descons tmuglo, Lévinas ¢ Kierkegaard vio marcar profundamente a dimensio ética da des- construglo em su2 relacd dade. E 50 0 “sim, sim? envolve sempre a 2 aceitagio de uma tarefa, de uma heranga, © podese ar que tal pensamento psa por uma estrinha delegaco pro 3 veniente dos espectras. A LINGUA DO OUTRO Dese seu primeito grande Gramatologia, le 1967, Dervida. vai aposiar no seu quase-conceito de “eser- tua” para falar de uma experiéncia mais radical da linguagem, Nesse lvro, Derrida constata um fransbordamento do conceito de linguagem que sobrevém no momento em que a extensio de tl conceto apaga todos os seus limites, € entlo que o figsofo aciona a nogo de eseriturt para mostrar a necessilade de ulrapassar e deslocar a antiga iden de linguagem. Quase 30-anos depois, em tum livro de 1996 chamado O monotin fom do utr, Derrida val retomer seu ppensimento sobre a linguagem a. partir 60 problema da in E importante lembrar que, quando Derrida fala de “lingua’, ele est falando propria lingua, 0 frances. Mas, fis 0 fl6sofo, tal extrema singularidade pode certamente aleancar diversas expe- figncias, desde a lingua que aqui fala- mos, 0 portugues, até as muitas linguas que lemos ¢ esrevemos em nosso dara dia, como a filosofia, a céncta, a politica, economia, 0 diteto ete tis, mesmo dent dessis linguas, podemos identficar indmeros idiomas que acabam por solapar sua pretensi identdade. Por exemplo, ni propria filosofia podemos falar a. ingua Ge Heidegger, de Husserl, de Roussea, Ge Hegel ¢ asim por dante i imeressante notar a coeréneia de tum filésofo que, ji na déeada de 70, antecipava que “6 necessirio falar varias linguas e produzir vétios textos simula rneamente”. (Margens da filosofia, pig. 176) E ese pensamento hospitaleiro parece mais radicalizado quando, em ‘seu “monolingtismo", Derrida diz que se tivesse de arriscar uma dnict defi niigio para a desconstrucio, ela seria: ‘mals de uma lingua". Mas part se compreender a cimensio dessa relacio 0 com i aterichide ~ © que se express na lingua que se guarde em mente que ta envolve a esfera do segredo, jf qui 6 sempre na order do incizvel Para Derrida, a lingua comport. a dimensio mais verdaeira da aleridade 6 fato de que 0 outo sempre me escapa, live, é preciso a0 vwirwmeatecerebro,com.be Derrida observa que, se tivesse de arriscar uma tinica definic&o para a desconstrugao, esta seria: "mais de uma lingua" tlrapassa._minha comproens’ ‘no dito esti 0 indiztvel; no incalculivel; no possivel, o impossi E essa alteridade ndo-representavel $0 se mostra, contudo, na “minha lingua’ nesta que eu falo, que eu acrecito ser ‘minha e que ereio poder manipula, ins- ‘rumentalizar, Demi vai, endo, mostrar {que ¢ justamente nessa tensio da lingua, nessa horda, nessis margens, que eu pposso falar, © lugar de onde eu falo est desde sempre contaminado pelo outro, um lugar totalmente estranto: “eu mo tenho sendo uma lingua’, diz a Jet do monolingiis- mo, ¢ “ela nao € minha”, ‘completa. (O monolingits: mo do ouiro, pig. 13), Hi que esta minha lin ‘gue, minha agua Unie, ‘chega-me do outro, Mas a aporia da lingua vai n longe: 0 monolinguis. mo diz. que “no falamos rhunca senio uma tinica Tingua’, ao mesmo tempo que “no falamos nunca ‘uma ‘nica lingua” Udem, pag, 19). Isso porque se a Hingua que me chega vem do outro, isto €, do impos- sivel, tal lingua, apesar de tinica, mo pode nunca suportar uma identidade, sendo essa estranha e pre: ria unidade sempre mil tiplae singular Como se pode ver, tipo de abordagem que Derrida utiliza em seus textos no. vai seguir a Jogica de tipo analtico, ‘BENL-INDO EM vriosiomas, Falarvrislinguas a0 mesmo tempo 6 ler" 20s espectos ‘que no legam nassas herangas (© INCONSCIENTE ESTRUTURAL & © HOMEM 67 pois no se trata aqui de seguir um tiscurso linearmente. & por isso que Derrida vai dizer que constatva € sempre obiqu. Ainda que © term “obliquo” io set de todo feliz 6 que Derida quer mostar € que uma ahordagem dicta, 0 fito de se querer “abordar « questo ow o problema de frente, de modo direo, sem rodeios (Pats, pag, 2, sobretudo quando se trata dk alteridade, aim de émpossve! ‘ot inapropriado, serin um desrespeto 8 propria estrada lingua sabordagem des- LUGAR DE ESTRANHAMENTO Isso faz pensar no ero recorrente em toda teoria do. conhecimento baseada nas concepgbes de sujet e de objeto. 0 caro consiste no fito de que a exisiéncia de um sujeto € de um obo supori cm uma primeim instinca, um “eu” plenamente consciente, presente a si além disso, supe tarnbém que havea uum acesso pleno desse “eu” aos objetos @, por fim, para que houvesse esse tipo de conhecimento direto e objetivo, setia necessirio que tal “sujeito” dominasse totalmente a lingua que trata dos objetos, 0 fato & que, para Demida, essa lingua ria qual eu posso enfim adquirir ou pro duzie alguma espécie de conhecimento & sempre a lingua do outro; 11 lingua que me chega do outro ¢ famabémr a Kingut na qual devo responder 20 outro, Esirutura semi, portanio: eu no posso no responder a ess1 convocaa mais ancl, tal aporia da lingua (que diz que ekt me pertence sem me pertencer) leva a desconsirugio a um pensamento racicalmente ético, pois eu sou sempre uum estranho em minha propria lingus Em outros termos, a lingua € esse lugar de estranhameato, € onde fica patente uma tensio, E esse limite, essa bords € justamente o lugar em que Deri escre Ve @ assina seus textos dai o espanto que eles provocan Sux escritura, ob qua, emante, ldcida © conscientemente o-orientada, quer mesmo mostrar € provocar esse estranhamento qu verdadeiro lugar do pensamento, Se, para Derrida, a lingua segue a lei PEGADA DE cerea de 27 mil anos dscoberta na cavrna de Chauvet, 62 MENTE, céREORO & riLosorin Os espectros sempre nos enderecam questées, convocam-nos 4 acao, obrigam-nos a responder por todos os que nao esto presentes de um monolinggismo, pois s6 se tem uma lingua, 5 amamos, desejamos € softemos nesta lingua etal €0 paradoso da lingua esa minha lingua tnica 0 desde sempre interdict, Assim, eu para fentar expressur 0 inexpressivel, pois o que hd excede todo dizer falar & tentar fazer justia a0 impossive, fazer justica a isso que ¢ absolutamente outro, E-€ nese sentido que este monolingtis mo de que fala Derrida & um monolin- _gthismo do outro, Esta & a Ne da Ingo: 96 se fal uma lingua, mas essa lingua no € propria, aque ela traz sempre 0 rastro do outro, do estrangeiro, como uma taruagem em ‘que « escritura do outro se roma pele na marca da misura de tinta © sangue ‘que temos, festa mo nos perten F se essa lingua me vem do outro, nto posso me sentir proprietirio dela; devo, 20 contrino, acolher © outro em minha propria lingua, porque esta “é dissime- sul da Fangs, Para Derrida, nie, 4 ele regressando, sempre, do outro’, E mais: *Vinda do outro, pennanecendo do outro, 0 outro recon uzida’ (O- monolingitismo do oro, pig. 57). Em outras palavras, 0 outro & sett “comego" (ela ve do outro), seu ‘meio’ (eu sempre falo do outro) € seu fim (eu filo para 0 outro), ¢ & i880 que caracteriza 0 que Derida chama de alle. ridact inreutvel da lng. Enclo, permanecer ness borda, esse lugar sempre esta tinea maneini de respeltar ali diminuindo a postu autoritiria no modo como falamos do outro, como se tivéssemos de andar com respeito sob lum solo que nao € nosso, E, somente assim, acolhendo toda alteridade que se presenta a n6s, poderemos falar virias Jinguas ao mesmo tempo, € isso sim seria um pensumenio que respeita a ate falar vrias Kinguras so. mesmo tempo nuda mais € que dizer ‘sim’ intimeros espectros que nos aparecem € ‘nos legam nossas herane Derrida quer, com isso, abrir uma cexperigncia de bespitalidade na. propria gu € fornia verdadleiramente ética. las a desconstrugia nio quer apenas fazer uma filosofia da hospitalidade, mas sim trizer a experiencia da hospi de para a flosofia, o que ter intimeras implicagdes polticas. © pensamento ‘como hospitalidade & aquele que diz sim ao estrangeiro, que marea a. afimma- tividade de uma resposta aos chumados espectrais que nas chegam, que, enfim, nada mals € que responsabilidade ridade lide Os ESPECTROS Nis primeins déeacas de seu tnblho, cm los como Gramatoagia e Margers dds filosfts, Denis pretendia abla 0 aque ele entende por "metafsca da pre rasiro como desconsinugio do. conceto lingistico “Signo” (eer nesta edicao 0 artigo de Pawo. Cesar Dugue-Earada), Do mesmo modo, em seus textos mais recentes, tal desconstruglo da pretensa presentanclo © quase-conceito 3 presenga devia ter continuidde no que = dz respeito a esse our que se apre sent a mim (sendo Im pensimento, um limo ete). Para Dentida, ma_Pessou, nbém esse outro nO passa de mais um rastio entre outros rastos, sempre aparecendo de modo espectral rem. presenca ‘economia do “nem, nem" vem solapar a Jogica metatisica do “ou isto ou aquilo”) ontudo, isso em nada anula o fito de {que tais spargoes.produzem efeitos. Sea étict, ento, & entendig como regio com © outro, ela sempre seguir sonomia espectal. Ela aio tem “objeto”, mas deve se enderegar aos inf- nitos espectros nunca presentes "em st Isso quer dizer que € preciso fazer justica ess estranha alteridade que se apresen rem auséncia (em que a 12 ¢ conve 1 uma decisto responsive. set idéia, que aparece fortemente em xpeciros de Mare, abme uma novi expe ico politica, pois ela nos obriga $a pensar em todos aqueles que na AD presenites, sejam esses Outros seres Fhumanos ou nao, seam pessoas, animals ‘ou discursos; mas também a pensar em toxlos os outros, vivos ou 20, presents, passados ou futuros. Demida diz que *¢ preciso falar do fantasma, até mesmo ao faniasma ¢ cont cle", porque nenin= 0 sacmrica 0€ appato, tela de Rembrandt 1635. Werkegeard e Derrida fefltom sobre 0 patrarea sma etica € nenhuma politica. se tas, sem que sejam fundamentadas n0 espeilo por esses ‘outros, "quer jf este jar quer ainda alo tenham (spectros de Marx, pag. 11) Em outros ter ‘mos, isso quer dizer {que um pensaen: mottos, to efetivamente tes aquele ponsivel que herangas, cespectio 0. pai aparece a Hamlet, convocan- do 0 filho a uma heranga, tornando-o responsivel, Part Derrida, os espectros sempre nos ende reyam questes, nos convocim ’ aco a responder por todos jueles que mio esto presentes €, com i860, nos legim a responsibildade, Mas € preciso lembair que o espectro no existe ‘enquanto tal. HA intimeros espectos que nos ronclam, mas essa manifestiglo tam- bem se apresenta dle modo paradox ro 6 sempre mais de wm, uma mule dade de convocagies que nos che quando « tin ‘gum a cadx momento; mas ele também sempre menos que um, pois, por Ser spect, ‘uma unidace, uma identidade, Se hd alguma espécie de origem ou fundamento para a desconstrugio, essa setia 0 espectro, Podese dizer, entio, ‘que se a origem ou o fundamento sto ‘espectais, entto mo hi origem ou fundameato, E quando Demida diz que tudo comesa com o aparecimento. do cespecto, isso quer dizer apenas que € preciso se deixar tomar ¢ leva por esse ndspe fio, por esse Outro que aparece a mim e que tem seu tempo proptio. No hé como invoci-o, lembe Dentida, cle irompe temporalidade, que mescia vida e morte, porum lado, que nada esti plenameme vivo, que nada ex fou “enquanto tal lado, nad ‘ou a sua completude, E por esa razio que, par tnugio, toda questio € contemporinea, de Platao a Foucault, da filosofia 2 ‘ou 8 economia, Ia hiraruias, no hi prioridades absolutas, Devemes sempre responder 38 infinitss questdes que nos cchegim, quando © como nos chegam, ‘quando © coma somos canvocados. O problema é que 0 pensamento metafisico no sabe lidar com st expectratidade, ele precisa estar sempre seguro (isto €, ser co, objetivo, analitco, coerente, ‘eoeso te), nO consegue lidar com a dical alerdade totalmente outta. Para tanto, ele era diversas maneiras de tentar presentificar os espectos (ou Se, apis niivlos, conceitualzé-los, definios, anali- sstlos,categorixi-los et), mas sem nunca aadmitir que ess. presentificagio & sempre preciria © provisria, E ainda mas mando essa vioktacia de “verdad E essa strana {quer most mas que mone, nada che a descons literatura HERANCAS ETICAS Demida, nesse caminho para sua dtica npossve, & gual nc pols mio hi fim ou meta fina, encon- trse com dois pensidores de extrema impontineia no que diz respeito aerklade absolita € oro como um mandamerio inecusvel Emmanuel Lévinas e Soren Kierkegaard tim Lévinas, Denia vai sublinhar 0 ‘modo como 0 filésofo inuano defendew que 0 pensamento deveria se volt outro e que a ética deveria configura flosofia, 14 em alude a artigo no qual o rasro € do a relago com 0 ‘© rastz0 do outro dlesetto por Lévinas como “0 movimento da alteridade’ rompe com qualquer possibilidade de ‘9 rastro como aqullo que presen do outro, como o que perturixt a ordem estubelecida ¢ mostra que relaglo com 0 outro sempre conce:ne ralmente outro. Lévinas também quem inspira Derida a pensira relagio com esst alte INCONSCIENTE ESTRUTURAL E © HOMES 63 DERRIDA ridade iredutivel e absoluta, que ultra- passa qualquer conhecimento, e propor luma nova experiéncia: a experigneia da hospitalidade & da convocaio responsabildade. Lévinas ensina que 0 Pensimento mito pode se manter preso 0 solo, porque esse solo € sempre pro vis6rio € nao the pertence. Por isso, ele deve langarse ao estrangeiro ~ 0 que 6 se di quando o pensimento se abre a0 estrangeiro € se aceita como acolhi- >. Na logica de Levinas, se eu rato ou proprietirio de meu solo, entio nao tenho 0 diteito de manter minhas poras fechadas: devemos abandonar a idéaa habitual de “nossa cast” rumo a uma tera estrangeira — que nunca foi uma pitria e a qual nunca se chegar Por esse motivo, a relagio com 0 ‘outro & sempre dlssimétrica, e eu sou 0 polo constantemente convocado, Lévinas Uma relagao verdadeira com a alteridade absoluta do outro sempre diz. respeito a singularidade, na qual apenas eu posso decidir ddeiva a Dewida a idéia que apresentat: se diante do outro jé € ser responsdvel ppor ele. Isso concede ao “eu” um lugar secundhirio na relalo, em que “ser eu! consiste apenas em ser convocado, ser responsivel © responder a0 out, E tal chamado € irrecusivel, tanto para Levinas, como para Derrida, pois 6 isso justamente 0 que me toma um sa iico. No hi como ndo responder ~ ¢ este € 0 principio ca alteridacle radical diante do outro, eu no posse poder De modo diferente, Derrida vai retrar SILENCID, obra de Olon Redon, 1811. Segundo Derrida, soo misério @ aque que fez tremor ‘lant de que eseapa, 0 pensamento precisa tremer 64 MENTE, CEREURO ¢ FILOSOFIA stuportaro silnclo da responsabiiade de Kierkegaard uma out. igi sobre este sim incondiciona. Em sew tivo Donner la mor, Dera convoca 1 obra do fisofo cinamarqués Tenor eremor, que tata da tagédla de Abrato. Pura Ketkegaard, Abdo, que responde convocagio divina ao filicidio, represen- tatia 0 “cavaleiro da fé", e Derrida vai res- salar 0 panidoxo desta relagio em que ‘0 “homem santo" € a0 mesmo tempo {de modo nao excudente 0 “assassino” Abmio representa 2 tensdo necessina A responsibilidade: cle se questions, ele safe, mas responde em sitio & convocig2o. Eo silncio & um tago que Denia fer questo de sublinhar ‘Abra de Deri er ants momen tos retomao silencio € o mistrio cont os no relto de Kierkegaard. Como se antecipou no inicio, a responsabilidad dla desconsiigio tem una itm liga- «0.com o seared, Para Denia, ser res Ponsivel nio permite a co-paricipagio em uma vivéndia comunitria ou cole tva, tase antes de uma. experiénca ‘ecremamenteinividul singular Uma relagio verdedeira © respeit s3 com a alterklade absoluta do outro sempre diz respeito a singularidade, onde apenas eu poso decd, de modo insubstituvel. E nese sentido que, em Donner la mort, Derrida vei retntat a relaglo com essa alterklade toaimente ‘uira como mpsterium iromendim. Em Primeio lugar porque a éica & uma injungo para se responder, ou sj, dcigio responsive. Mas se 0 outro & totalmente outto, entio. essa relagao sempre comportari algum segredo: é um mistéro tremendo que nos fz emer tremer como Abra, LOGICA DO SACRIFICIO see segredo @ um dom tenvelmen: fico, um misiéio temendo permite que respondamos, legando-nos. uma infnita responsabi- lidade. Com isso, Derrida vib siuar a Aesconstrugo como um pensamento dio tromor, que treme € que visa © «i fiz tremer. O que 0 filbsofo herda de Kierkegaard & a necessade de o pen samento estabelecer preservar uina constanterelagio com 0 segredo ~ 0 que sem chivida € insuportvel CEMA DO FILME 0 tro de caboose, direqdo 1996. A descansiugto & ue quar manlr os ros sempre aborts, sempre om abort # ceno que sempre trememos diane 10 pode Ser cempreendido ot spreendldo, ou sef, sempre tremens dante do outro. Mas 0 que Derida quer mostrar € que nés temos como trea re- mer € suportar ess temor. Se 0 miséio que fiz tremer ante dk ‘© pensamento precisa tremet e suport 0 silencio da responsbilidade, Enieaato, preciso” da responsabilidade de modo algum segue a "ogiea do de para Derrida, no basa dizer que ele no deve set da ordem-do dever, pois “ele nem m form de uma regr, A injungdo aqui € que haa regra © ao mesmo feapo se invent a rear. “Sua reg reg, sem nunca se ater a cla.” Pate pig, 15) Por se ata de uma experi singular, a. mera aceitagio de regras 10 poesia ser chamada de responsablidace Ali, seria uma extrema imesponsabilida de, para Denia, agir meramente de acor do com a norma, Cada st exige que se invente uma nova regra que ainda que preci, teta f singularidade radical dessa de Alem diso, 0 time trago dese pensamento de Demida,¢ justo e responsive, € que de sempre vai supon ume gic seria iso nos terms da desconstuge? Succi € algo que se diem sinco, & ‘6 assim ha responsabilidade plo cot do estubelecems priordades em nossis Vicks: preferiro trabalho, por exemplo, & disso que er justiga o sacrifcto, Mas 0 que sacrificar nossa familia e 1n0s90s amigos versa, Quando dizemos “sim 2 uma convocagio © naca mais parece ter estamos dizendo ‘nao" a indimeras outras que também mereceriam nossa atengao © nossa dedicacio. £ por iss0 que, para Dertida, toda relaga0 com © outro suf 0 saerificio, como ‘um juramento seereto ou uma devosio, Derrida firma: "Um individuo s6 responsiivel para com algo ou alguém se ua em sua responsabilidede para com todas as outras coisas e todos os outios Donner a mon, pig. 69) Desse modo, uum outro pensamento seria esse que se compromete com as devogde: fespecttos, que se assume respon: que treme com isso, Nao se pode tentar afastar 0 tremor. em vez disso, devemas fenslo e as sparias do pensa- tento; devemos sempre trener dant ds espectose tentar Bier de to pa persist em tremor Esse outro pensamento que € a des constugio mostrinos que & preciso te mer diante de cada questo, de cada vo aque lemos, de cad autor que aprende tos; pot tar com a singular saber que nossa: vel, por mas tabalhosa e dedicada que Sef, ues fart jusige a ess tered radical que & indie, mus que nao pode nos pans. A porque 0 pensa mento poralsido ou parslsante€ aque que acha que respondeu dignamente & questi, que aleangoa a vertade © que permite, por fim, que se feche o lio E a desconsnigio, pelo conto, pensamento que quer manter os sros Sempre abertos, sempre em aberto. @ nos que nos deixemos espan- de cada outro € que ¢ Imecust RAFAEL HADDOCK 1020, autor en leaf ela PUC Rio épespscater de p-doralo a LT SP oat Fp. fer ca Nicene sds ‘mics Denso (Nee POC) eso ‘Da extinct ao nie: nate sobre Bema esis (POC Tala, 206) e Dra ders (ak, 3908) Etieotent nn ‘OFONTO DE PaRTION Jacques Dea. Gecty Bersincan¢ ‘aequs Denia. Jage Zaher Et, 1056, 1 Desconsruéo e ca: eos de Jacques Denia Pao Cosa Doque-Estrata (rg) UCL, 2004 ‘© ecersrucon ina rulshek: a cowerston wth Jacques Deda. Jorn Canin, Fordham Urey rss, 1657, ‘OESSENGIAL 00 AUTOR © Margens da flsofi, Jacques Dna Pris, 128, ‘© Omoncingtismo do outro ou prétese de orgem. Janus Daria Campo ds as, 20 «© Espectas de Maro estado de cv, trabalho dol ea nova niacin. Jacq Dania Rotume-Dumar, 1994 © Palos. Jacqs Dai Papas, 1995. © Da hsptaidade.aoques Dei sta, 008, | © Donner la mort. Lacqes Dera Cale, 200. | PARA IR MAIS LONGE © Polica da amizae.Jrques Did, Capo os ras, 2008. © Psych: inenions de Faure Jaoques Dai Gali, 1098. © 0 anima que logo sou, acaes Dera. toe nas, 202 © Papel Méquina Jeoques Dei Eto beri, 2004 © Ades a Emmanuel Lvnas Jacwes Doria Pspecta, 2004 © Da existéncia 2 into: ensacs sobre Emmanuel vias Pal HacockLobn PUC-RoLoyoa 2006, ‘© Tho tis of deconstruction: Derrida and Levinas Siren Cre. Puce University | Press, 1990 6 Derrida," eitor de paces TAY] FOR AKA MARIA ANADO CONTINENTINO ToDO © eSPORGO INICIAL DE DeKRIDA consiste em rom per com a idéia de origem que orienta € comand a metalisica, © movimento de seu pensamento consti- tui-se no acolher e no desdobrar de uma tendéncia & “inflacto” do conceito de lingus em, que tem como conseqiiéncias © “apagamento” desse conceito € a emerge Tal pensamento ndo remete mais a um centro, 2 U ia da escritira como novo parad origem, nao tem o que Derrida chamou de significado transcendental que 0 noxteie, ou seja, um significado que existria em si mesmo, independentemente de se encontrar referide por uma linguagem ou por uma cestrutura de significagao qualquer. Enfim, seria um significado que “excederia & cadeia dos signos’, Esse significado encerra @ pretensio de se constituir como fim ikimo do sistema em questio, garantindo assim sua harmonia € seu funcionamento. © rompimento com a idéia de origem imposto pelo surgimento da ra ver, justamente, deserdar o pensamento de toda orientagiio ga a, expondo-o a uma alter dade impossivel de ser apreendida, ou definida. Os conceitos freudianos privilegiados pela leitura de Derrida sto conceitos cuja l6gica interna comporta o conflito «impor de Frew 9 pensameno de Deri eseccanente, 0 sno pelo qual ara deniana de Freud garda 0 deseo de ear afonga dh psi, sex poder de raptor com ata, ¢ qual € sempre orem por tun dejo de fname, de org, de presen ‘Ness sent, ser dad ua fens pared s noes de csctura edifrance, 4 suet ss - ~ mana com esreng, s te : intra de Leon Sine, BE 1802 Segundo Dori, om Froud part ds REAR DERRIDA Manterse fila essa il exige nto se de- sxar mais conduzir pelos valores de presen- ¢4€ ausBacla que sempre comandara, as hierarquias opositvas que pontusram ‘ pensamento na trai ccidenta, Aci, ‘especfcamente, trata‘ do valor de pre= senca do significado e de sa auséacia na simples fungio referencia do seu respec- tivo significant. (© ieresse deridiano pela psicandlise concenir-se exatamenté num ir am nao apenas a oposilo presenca/austacis, ras tamipem de toda 2 sie de oposigtes bininias que cla comanda a0 longo ck istéria da metaisica (razto/sensibida- de, cspitto/matéria, substincia/acidemt, Naturez/cuitura ete). Os conceites freutianos privileyindos peb etude Demis, disutidos e etoma- dos diversas vezes, sto conceitos cut lig ca itera comporta 0 conto, a tensio, pois suporam e desfazem, acmiter ¢ apa- ‘am, divider ¢iiferencia, num meso ‘esto, a oposicto ene ees. E€nesse fg, sve gexo equvocane, que tis conccitos se estrturam, Por iso mesmo, des dest fam a légica tdicional em que as cife- rengis slo rigorosamente defini, Nas palavras de Sarah Kofian, ‘Freud poe fim 0s limites rigid assinalados pela logica és conseiénci, bara as oposies mets cas aquela do normale do patokégico, do cotdiano ¢ do sublime, do imaginaio € do real esa mistura dos limites assegurics ‘que inquies”. Lacnures cle Derrida, pi 55) desse modo que Denia enti que um sentimento de exranheza acompanha a aventura freudiana, ALLE] DA DIFERENCIALIDADE ‘Ao se deslocar do paracigma ca presenca pant as relagdes de ciferenga, a nolo derridiana de différance diz. respeito nto tras 2 orgem, mas 2 aed: Difrance v0 consise na direnga ‘entre coisas diferentes (estas vilimas ainda refers & presen, mas sim no jogo dle diferengas em que cada temo numa rekt ‘lo de dlferenga se constinui. A nogio de dfrance pemste-nos. compreender que ‘cada terme 36 se constitul em fungko dos ‘utr termos que mito ee. Ela nas diz que ‘oque quer que se apresete apresent-se a paride une diferencialidde, que dis- solve qualquer spas origem. (68 MENT, CEREBRO € FILOSOFIA Adifférance destaca-se da presenga metafisica e coloca em cena 0 indecidivel, constituindo 0 proprio jogo da escritura Demid pense a diférance para além «a divisio fundadora da filosoia entre © szmsivel © 0 inteligfel. A-nogdo aponta par uma dimensio que, io caindo nessa ‘oposigio, a susteta. A diffrance € 0 pro- «asso mesmo de cio que tem como pro- duro 01 efeitos diferengas opostvas, € «que consi, como ele afma,*a ‘rige? mo pkna, nio simples, a origem esrutu- rida e diferente das diferencis. O nome de ‘organ, portanto, jé no le conver” CEnstio “A difeens’, pig. 41) Outo aspecto fundamental € que a difrance estacr-se da presrica metas € coloca ‘em cena 0 inidecidiel, 0 “entre”, const- tuindo © proprio jogo ca escrtura, rma Jogiea que acolhe © excede a oposicio presenca/auséncia, Nio sendo diferena entre duas coisas, nem entre duas orcens de coisas (ser/ent, diferenc onto), ha mlo ¢ bing, ela € a diferencialidade mesma, a clsseminagao. A diffinance ¢, ness sentido, a lei que comand a eseritura, mas o prépro conc to de ki, como cassicamente 0 conhece- mos, ser aqui abalado e marcado por uma dssimetria imecutvel que no the conce- er jamais um significa pleno. Lei para oxal, Tei da diférance, segundo a qual as coisis nunca se mostam em si mesmas, mas segundo ur regime de diferengas. Lei a ciferencialidade que se dissemina em cada relagio diferencia” (Duque-Bsrids, Desconsigdoe ec, pi. 52) Dois apectos comandam. difiamicee se inserevem marcadamenie em seu nome, deslocando-a em relagio & mera ciferenca ‘opositva. Apoiando-se nos dois sentido oferecidos pelo verbo “deri, em fran és, 0 temo difrance faz. ecoar, Ge um Indo, dferenea, separagio, distinc, 6, de outro, adiamento, taro, exravio. © “a” € 0 elemento esranho que ~ tanto na proaunciacio de diffrence quanto na de diférance =~ pode se lilo mas nto owido, provocindo asim uma atlencio sobre 0 Coperir dt escriturt. Movimento que &, a 0 complexo de Eapo", PAG & "issou ‘maser do Soman Fao, 1828 nar ota d naa lum 6 fempo, avo porque prodatvo, & paso porque sempre ji dado em toda avktde. No jogo deste mewimento, 0 fei consite na produgio de win tempo, como opeagio postegac 20 infin, 0 ‘que Derrida chama a femporalizago, e de tum produto de separac, que ee chara, de expacamento, Nesses dois momentos ~ ahamento © separagio ~ wcemse 0s tenmos das reaches diferencia. A diffrance demtdiana & cevesora da diferenca cniclgica_heideggeriana, mas ‘no apenas dela, Em Eeritura edliferenga «¢ Margens da loyfia, Deis argument que a difrance opera 180 56 0 (ex tos de Heidegges, mas também nos de outros pensadores, como Fred, Nietzsche e Levinas, como um lina de fg que as projets, através de um jogo de desloea- mento incessant, em diregio um het oote que aponta sempre pars um mia dé, This pensadoresapresentin em suas ‘obras um duplo movimento: poe um lado, 3 susteram e tazem a marci da relaclo com a alterdade, mas, por ouiro, nim = processo denegatio iniinseco propria 2 linguagem, acabam por resturar uma 5 ova order, uma nova clausur. Tetra lridina de Freud enfatiza a rupaura que a psicanlve representa, mas também seus & momentos de recuo, de cumplicidade com. = aguilo que ele mesma pretende abalat. — & vrentecerebro.com be DIFERENGAS Em trancés, différance divers -o que dhiférence tém 0 representou um sério ‘mesmo som, mas néo problema para os ‘a mesma forma de ‘radutores. escrever. Assim, o temo No Basi muitos Introduzido por Derrida tratulres de Derida Temete a0 primado da__optaram pelo nenbogismo esctitura, que, segunda deri, enquanto em ‘autor, atualmente Portugal precominou “abrange a linguagem”, _dferinca Outros, nos dois paises, mantiveram ‘temo francés, ‘aoompanando-o ou nfo vwwaysmentecerebro.com.b do uma nota explicativa. Também foram sugeridas, enteoutras, a formes tern, ference, diferensae doherenca.é ‘uma evidéncia de como os tradtores séo aetados lo jogo deriiano da iar. Nos artigos dost edi, os autores ‘optaram pelo termo forjado palo sof francés, ‘explicando seu significado, DIFFERANCE NA PSICANALISE Apresentaremos a seguir uma sintese da presenca da differance nos conceitos do uuniverso psicanaltico, © trago freudiano,responsivel pela operagio de insrigo, de constiuigao do aparelho psiguico que estruturamente 6 pode ser entendido como ums inseri- lo num sistema de ciferengas sustenta para Demi, a iia cle “origem’ como presenga ndo plena, como difrance. Se a palavra inconsciente ainda se insere e lembra, em sua negativdade, « logica cssica oposiva, Dersda destaca como 0 conceito em Freud! se afta de compreensio metafisica. O incons: ciente freudiano, assim como a escritura © a differance, fala de wma alteridade radical que mio se localiza em lugar algum, que se insere em to pacte sem nunca se fazer presente como tl = 0 efeito do duplo, Limbetntich, jogo inquietante, no qual a baereira ho € familia € suspenss dando hugar a uma outra Logica, Légiea a contaminagio na qual 0 domésic, a lel da casa, a economn desajusada por um outro no entanio, no he € totalmente calculavel, 6 ssombrada, c estranho, Efeito encontrado, p plo, no inc ‘morie, que trutiva da pulsio de momte, Suspensi a Darreira entre vida e morte, a economia, dda morte cede lugar a economia da differance ~ vida © morte se embarae Iham, contaminam-se, no mais const tuindo polos opositvos dlistintos, e uma inquictante estranheza se instala ~0 Nachtraglichkett, 0 s6-depots, 0 tempo deslocado da psicanilise — agui= lo que Derrida procama como a maior ousadia freudiana —, apresenta uma temporalidade que perverte completa mente © conceito clissico de tempo. Tal cemporatidade sponta para a. cis simetria, para a hewerogeneidade que hhabita toda experiéncia, expo presenga como uma construglo, uma ilusto, Nacbtraglich, emia 0 descons- trutor, quer dizer também suplemento, Assim, toda experiéncia demanda um venha ano a vida a acréscimo, um excesso que complementar, Em todo relato hi uma cexigéncia de mais relatos, configurando O INCONSCIENTE FSTRUTURAL E © HOMEM 69 a abertura de toda experiéncia para outras exper = A relaglo prazerdesprazer, sob » primado do principio do przer, 0 pesicionamento do principio de real dade, ndo como oposiglo, mas como Jugartenente do principio do. prazer. © desconstrutor yaloriza, em a colocagio de Freud se (Cespeculacio), entre principio do prizer € principio de realidade, jf que um € 0 ‘outro em différance © nio em oposicio. DIFFERANCE E O MAIS ALEM No texto Cartdo-posta, uma leit conserutora do Além do principio de pra- zer, Derrida acompanha 0 movimento hestante de Freud, que, pressionsdo por quests clincas, especul uum desvio que o kevaria a abrir mio do principio de peazer como let deter minante do psiquico. Derrida ress 2 tensa crescente no texto feeudino que resulta na reviravolt final, a do andin- cio da pulsio de morte como um para além do principio de prazet. In aqui mosirar a interengio dersidiana no texto freucano, Para Deri, se essa pulsio yem no lugar de um mats an «la no se opde ao principio do prize, pois, em sua Kigc, ese se opor, em vez te indkcar um mats além, apenas it hitizria 0 process diletico, processo que a psicinilise permite romper. Ao acompankar passo a passo 0 percurso freudiano que desemboca no mais até que 61 paso de monte, Denia prope uum mais alem do mais alm. 8 diferenc @ que esse mais além dentdiano nio se insere na l6gica opostiva, mas suspen- de seu jogo. Derrida 8 n0 mats atm freudiano a forca de uma relagdo com o immpossivel que i como um wnat elém do principto do preze, nada nals se opde 20 prizer. 0 empuxo ct pulsio de more, tendénc sem reserva que escapia lei da c280, a0 jogo restrito gerido pelo prazer, em vex de se colocir como wins outa polar dade viria, justamente, suspender ess des: sobre E1600 DA CATEDRAL de Floren ‘mostrar fi pintado por Pas Ueto, om Peicaaie ‘maior sada freutona, segundo Doria subnet @coneltacisscn de tempo 70 MENTE, CEREBRO & FILOSOFIA ‘Ao acompanhar 0 percurso freudiano que desemboca no mats além que é a pulsio de morte, Derrida propde um mais além do mats além lgica, embacalhando as fronteiras entre vida @ morte. Demida apreende essa imterferéncia, como foi aponta do indecidivel a vida a morte. Lg differance com seu jogo entre economia restrita (do prazeetealilade) ¢ economia geral (pulsio de more) Segundo 0 desconstrutor, em Freud, as economias excludentes que mio fobexlecem & mesma de um mesmo erm différance. Abertura para ta I6gica que, embaralhando as polaridades, ‘que 0 jogo opositivo de casa, do prazer, impoe-se como protegio em relacio 2 um empuxo que vist um dispéndio total, uma economia geral, que, diferen- temente do prazer, nao acumula, nd0 reserva, nilo.negocia. Porém, mesmo constatande que enixe principio do prazer € principio de realidade m0 hi oposi¢do ¢ sim negociagto, sendo nbos regidos por uma mesn 1 de reserva, de que protege a casa, 0 familse propo um mais aléim como wma nova polaridade, Para Derrida, Freud. no leva as imas consequéncias seu acha do, Segundo © filésofo, com Freucl, a partir de Freud, podemos pensar um onservagio ~ kei Freud INCONSCIENTE E ESCRITURA Em ‘Freud © a cena da escritura’, de 1967, Derriéa diz que pretende encon- trar alguns pontos de apoio na teoria reudiana, naguilo em que eta ndo se diva conter no “fechamento logocéntr- 0", mesmo sabendo que, “se aera freudiana tem wma origina histri- ca, naa ta da coexisténcia pacifica ou «ks cumplicidade te6rica com a inguisti- «a, € 0 sea fonologismo’ Tratase para Derrida de apontar 0 recalque da escitura como acuilo que inaugura 4 cena do pensimento ocide ta. Recalque que nao se confunde com exquecimento ou exclusio, mas. que, tal qual Freud © coneeher ddemarcago de una regio que funciona 4 pani dof como forca, como pélo tivo de repressio. Recalque que participa cesrumualmente da idéla de excriur ‘uj movimento se di partir mesmo dda auséncia, © cuja efetvacao como erin recalea, denega essa auséncia, € daa ilusio de presenca, seus efeitos le seatido. A escrtura aicula presenga e auséncia, vida € morte mum ceniro que mo € mais 0 da tradiglo. A importincia do pensamento freudiano se insere ai. Para Derrida, a nogio de cescrtura abarea € explica 0 conceto de recalque, € a panir dela teriamos vima aproximagio do psiquico como efeto de escriura, Hi wecalque, impossibilidade de consiuigao plena de sentido, ¢, por isso mesmo, hii exigéncia infin de tra balho, de habitacio na eseritura (© imponanie para 0 desconstrior assinalar como Freud, para pensar 0 psiquico, ecorre a modelos metaféricos «que, como diz, “nto so irados da Kngua falada, das formas verbs, nem mesmo a escritura fonética, mas le uma grata que nunca est sujet, exterior ou poste- rior, & palavra, Freud recome a sins que ‘nto vém transcrever uma. palavra vi e pena, presente a sie senhora de si (Preud ¢ a cena da esrtura, pig, 182) Por iso mesmo, alerta Derrida, no basta “falar de escriturs para ser i Freud’; € necessirio.precisar quam est nogio recebe, 2 partir deley u tratamento que a arunea do solo est. vel de uma abordagem tradicional. Nao dar atengo isso significa perder toda a riqueza e provocagio da psicandlise. Derrida resalta que 0 uso da metifo- ra, no texto de Freud, no tem como propisito, © que € carcteritico da = radigio, tomar caro 0 que & desco- nhecido atavés do conhecido, mas sim 3 promover um abalo, uma desorgani- consiste na ww memtecerebro.com be ATUREZA-MORTA VANTAS lade Pieter Clcsz, 1620. Desa ressalta a tnsio crescent no texto 20 naquilo que & considerado es belecido, Isso se registra em relaglo a nogio mesma de escritura, tendo come conseqténcia um destoc fem relagdo a sua concepcio dl lum deslocamento que promove @ sus: pensio dos recalques que tal concepgo opens sustenta, Segundo o desconstru- to, desde Phitlo € Anstoteles, se ilus- traram “por meio de imagens grificas clagbes da razio ¢ da experiéncia, da pereepgio © da meméria” (Idem), mas sempre se buscou com isso a tran qhilidade de um termo conhecido. Ao contririo, Freud, € sua abordagem do Psiquico como um aparelho de escritu- ra, abrem, como diz. Det ipo de questio sobre a metaforicidade, a eseritura e 0 espagamento em geral”. (dem) Metaforici técnica © psiquico se entreeruzam, se requisitam e se implicam numa logics que desafia 2s oposigées bindrias mento des APARELHO DE MEMORIA Ao longo de sua obra, Freud apresentou as versdes do aparelho psiquico. Desde 0 inicio, ele € pensado como um aparetho de memérit que, cada vez mais, em suas diferentes concepgtes, aticula memoria ¢ lingoagem €, por ct mo, meméia ¢ eseritur, Darel relevo a algumas pontuagdes de Derrida = Do Projeto para uma psleologia ientifica, Dertida resgata as nogdes de trago mnésico e de Babmung © na resulta no anelo da puso do morta como um para além do principio de pazer perspectiva de sua concepeio de rasir, «que, como inserigdo, marca, obedece a uma lgica que nao pode ser entendida como a da escita em geral, que sem: pre tem a linguagem como fiadora, © astro poe em questio a id criger simples que pode ser reconsti- ‘uid, retomadka, pois, como afinma, € contraditéro ¢ inadmissvel na ldgica dda ientidade. °O masro nao & somen ve a desaparicao da origem, ele quer dizer aqui ~ no discurso que pre © segundo 0 percu = que « origem do desapareceu sequer que ela jamais foi retroconstituida nao Set pot uma nao oFigem, 0 rast, que se torna, assim, a origem da origem. GEnsaio “A diferens, pig 43) = A-meméria em Freud € meméri de travos inscrtos 0 inconsciente, de tragos de uma inpressdo (percepsio) que, como tal, m0 constitu memoria $6 podemos falar de meméria a. par tir da tnsrigo das impressdes como Babnung, exploracio, faci 0s, trhamentos, num jogo de diferen Gas que consitul 0 texto inconsciente. A inscricto depende da inensidade d repeticdo dls impress. Dera resi como « meméria resume dese jogo € meméria de diferenc inset 9 de retenglo, Portato, ela niio se refere a nenhuma origem ~ no Jai onigem a serregguardada e, portato, resgatavel -, mas €a meméra do relevo Jo pela diferenga na inscricio dos D que seguimos INCONSCIENTE ESTRUTURAL © HOMEM 71 DERRIDA tragos, do jogo desenhado pela dife- renga, Segundo Derrida os conceitos de rast, Babrung, de forcas de “sulca- mento’ sio, desde 0 Projeto, insepari- veis do conceito de diferenca = 114 uma forga implicada na iin de Babnung, cone aberura de um ca iho, de uma vie, Ha uma viokncia € uma resistencia pressuposas nesst_ abertra, i inserigio do trago, ¢ 6 ess viokncia que 0 desconstutorvaloriza na Babung, Violeneia (quantidade de excitagao) © resiténcia (lugar de inserg20), conftone to de forgas, responsivel pela diferenca enite 6s sulcumentas, endo essa iferen- (91 origem mesa ds meri, = Violénciae resisténcia que niio tm. uma anterioridade, que nao antecedem a inserigao, mas surgem nessa operaglo mesma (Babninig)articulagao entre o trago © aquilo que, Ihe fopondo resisténcia, permite sua inscriglo, um espago, que, ‘no entanto, nto antecede 0 trago, mas que © préprio trgo insti, Conflito de forgas do ual s6 temos os rast, € que no exige que haja nenhuma forga, nenhuim lugar, que ante- ceda 0 proceso; haver uma antecedéncia seria eoncebé-los (orga € espago ~ come sign cados transcendlentais, Dertit insste que, para Freud, nao hi ‘um aparetho anterior & inseri- Go do trago, mas a inscrigio € 0 espago se do conjunta- ‘mente, a0 mesmo tempo, sem a anterioridsde de qualquer um dos dois; insite também na originalidade da icléia de repeticao no pensamento fre iano, onde a primeira vez ja € repeticao. & inscrigio como forca evia seu prdprio espaco, hhabitado desde sempre pelo poder de repetigio, habitado desde sempre por sua morte. A Fepeticdo nao repere a primeira vex, mas a primeira ver jf se coloca como repetigio. Nao hi ‘uma primeira vex que, res guardando, se ofereca 2 repe- Uiglo. A propria abertura, cro, jf € poder de repetic, ‘72 MENTE, CEREBRO 6 FILOSOFIA A linguagem do sonho evidencia a constituigéo de uma cena de escritura que excede, transgride, a cena da linguagem verbal rupturt, morte. $6 a morte na origem apaga a oposicio entre primeira ver e repeticio, Com a eseritura psiquica, diz Derrida, propria iia ce primeira vez torna-se enigmitica. = Na Interpretago dos sonbos, a oti ginalidade da esrutura do sonho escapa completamente a do texto falado: o texto onitico assemelha-se a uma escti- tura hieroglifica capaz de sustentar um policentrismo que ¢ impossive! 3 linear- IERGGLIFOS no Templo de Amon, om Luxor, Eglo, 0 tera oniico assomelta-se dade que comand a fala; rele, a palavra perde todo privilégio, subordinando-se toralmente 2 esirinha ldgica do sonho, 4 origiaidacle do sonkio nto obedece a nenhum e6dligo prévio, Diz, Derrida: *0 sonhador inventa sua propria gra itica, Nio hi material signifieante ou texto prévio que ele se cantentasse em usar, mesmo que jamais se prive dele”. Freud e a cona da escritura, 9.196) A auséncia de e¢xligo exterior ao sonhador leva Derrida a declarar que, na eseritura psiquiea, nio ha diferenga radical entre significante € significado, © sonho pro- sduz os seus préprios significantes “nto no seu corpo, mas na sua significincia”, Asim, ele conclu que no sonko no se ‘rata mais de signficantes propriamente ditos. Se no hi um c6cigo exterior & permanente, no hii também possbilidade de raducao, de, como afirma, transformar signi- ficantes conservando © mesmo significado, sempre presene apesar da aus€ncia desse ou daquele significante deter do. Se Freud requer uma certa tradutbilidade (Felagao entre 0 contetido manifesto € 0 conted- do latente do sonho), 0 fato de ‘mo haver eckligo orientador fz com que tora a operat de tradugio deise um resto. que resiste a uma apreensio plena = justamente © que caracteriza a escritura derrdiana, Nao existe um texto incons- ciente em algum lugar que deva ser traduaido ou que sirva de referéncia a uma possivel tra- ‘duclo, por iso, a passagerm 30 consciente no pore ser vista como tal, Nao ba, portato, texto de oigem. A linguagem do sonho evidencia a consttuigio sde uma cena de escritura que excede, transgride, a cena da linguagem verbal ~ A impossiiidade de ta dutiilidade do texto psiquico confirma, também, que m0 bi nnenhum agente que posta uni- ficar a psique quando esta se eerutra enquano rast. syrwamenteceredro.com.be © GERARD OEBEOROEIANG WAGES LimsTOOR 1 coneeito de recalqu,possitilitndo wma MAQUINA DE ESCRITURA Desde 0 Projeto, assinala Derrida, Freud esti envolvicio com a questio mis con- fltante na concep do psiquico como ‘um aparelho de meméria: “como reer sem saitirar 0 sistema"? Como inscrever fs tracos sem esgotar 0 espago de aco- lhimenio? Questo que se impee daran- te todo o percurso freudiano que $6 sect equacionada no pequeno texto inticulado. Notas sobre 0 bloco midgico, no qual 0 psiquico € eomparado 20 brinquedo bloc migico: “Maravilhosa miquina de escrtura” ssa hima versio do aparetho psiquico, a metifora grifica val des- crever no $6 0 contetido, mas tam bém 0 priprio qparetho que se defn entlo, como uma maquina de escriture, iiquina que vai responder & questio fundamental — recepgio iimitada € retencao dos trigos ~ relacionando os lugares piquicos e sikas fungdes per cepgio e meméra, Mas, principalmente, 66 desconstrutor aponta a originalidade da escrtura € do espaco que ela ria no Inrinquedo, Nele a impressto & escrite ra, meméria, Apaga-se a exclusdo entre piquica”ndo psiquico, dentio/fora, ori genviderivagio ete. Fread rio previsa mals procorar a relidace do psiquico na_memoria © excluir a impressio; << peisistr nessa diferenca seria nio set 5 fie A originalidade daquilo mesmo que 3 ele estava pondo em jogo. Seria ainda 5 persistr na Logica da origem, do deo’ 5 fora, interior/exterior, seria persstir no 3 jogo clissico ¢ seguro das oposictes Porém, © bloco migico, afirma Derrida, mio & uma miquina simples; wusew ‘www mentecerebro come CGARTA DE Vincent ven Gogh seu ine Theo. 10 de agosto de 1882. A sproximagéo do psiquico come serra antes de tudo, Dera desta afirma- ‘lo de Freud de que ele funciona com as duas mios. “E se imaginarmos una das mos escrevendo sobre a superficie do bloco, enquanio a outa eleva perion dicamente sua folha de cobertura da pranca de cera, teremos uma represen lugio conereta do moo pelo qual tentei representar © funcionamento do apare- Iho perceptual da mente (Freud, Notas sobre 0 bloco magico, pig, 20) Duas mos, dois movimentos, insc- 40 © apagimento necessirios na cons- twig de uma cena que mio guarda neniuuma simplicidade ‘A leitura denidiana de Freud nto , fqualmente, uma leitura simples. O desconstruor intervém no texto do ana- lisa tanto ressaltando 0 que ele oferece como originalidade, quanto denuncian- doo recalque dessa mesma originalida- de: Freud também escreve e apaga. Tal inibigao € constatida por Derrida no eso freudlano de insistir em ciferen- ciar 0 brinquedo, a ikéquina da espon- taneicade do psiquico, reintroduzindo, portanto, a distingdo © a distincia metafisica entre escritura ‘da alma” (espontinea) ¢ escitura no sentido de uma técnica secundaria. Depois de todo © esforgo para constiuir uma cena de ‘escritura, na qual esta nao é um simples suplemento de meméria, mas nt qual a meméria como escrtura requisit & suplementariedade como esirutural ro como simples acréscimo, Freud conclama a atificialidade do brinquedo, distinguindo-o da. espontaneidade da esoritura da alma. Contar de novo com esa dlstingdo vai contra o esforgo extra- ordinario. que significoa a. suspensio das barteiras entre as oposigdes ~ que, como dissemos, passam entio & Se Con- taminarem mutuamente ~ como aquilo que singolariza a psicandlise. Por ttimo ressaltamos, depois deste pequeno percurso, que a leitura. derti- Giana de Freud nao se faz sem violencia, la tem um poder le questionamenio © provocaglo da psicanilise, no sentido de esta redizer sua singulardade, sua fora desviante de tudo que se colo como pensamento da presenga, Derrida recomenda que toda infervencio num texto deve se fazer numa fidelicade infiel, aquela que resiste a sedlugao do desejo sempre ativo de restiuigao, de recomposigio dos discursos, para se ‘entregarafinal a uma leitura como scr- tura, na qual a interpretago se desloca como invengio. @ ANAMARLA ADD CONTINENTINO€ penal dou rpamnilegispds ACRoe min dN ser Bice Desorsio (Na POC Ro), ‘OPONTO DE PARTION ‘© De que amanhi.. Jacques Deri eEisabeth Routinesco, sage Zar Eto, 2008 ‘© Vocauésie de Dri, Charis Pam. Epes, 201 Denia ~ a cena da sorta. Crisp

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